Revista Viração - Edição 89 - Outubro/2012

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s o r i e c r a p s o s Nos

Sexo e Saúde

pelo Brasil

Ciranda – Curitiba (PR) Central de Notícias dos Direitos da Infância e Adolescência www.ciranda.org.br

Rede Sou de Atitude Maranhão São Luís (MA) www.soudeatitude.org.br

Auçuba - Comunicação e Educação Recife (PE) aucuba.org.br

Catavento Comunicação e Educação Fortaleza (CE) www.catavento.org.br

Mídia Periférica - Salvador (BA) www.midiaperiferica.blogspot.com.br

Movimento de Intercâmbio de Adolescentes de Lavras – Lavras (MG)

Casa da Juventude Pe. Burnier – Goiânia (GO) www.casadajuventude.org.br

Universidade Popular – Belém (PA) www.unipop.org.br

Agência Fotec – Natal (RN)

Projeto Juventude, Educação e Comunicação Alternativa Maceió (AL)

Jornal O Cidadão – Rio de Janeiro (RJ) ocidadaonline.blogspot.com

Lunos - Boituva (SP) www.lunos.com.br

Avalanche Missões Urbanas Underground Vitória (ES) www.avalanchemissoes.org

Cipó Comunicação Interativa Salvador (BA) www.cipo.org.br

Grupo Conectados de Comunicação Alternativa GCCA - Fortaleza (CE) www.taconectados.blogspot.com

Oi Kabum - Rio de Janeiro (RJ) www.oikabumrio.org.br

Projeto Araçá - São Mateus (ES) www.projetoaraca.org.br

Gira Solidário Campo Grande (MS) www.girasolidario.org.br

Grupo Makunaima Protagonismo Juvenil (RR) grupomakunaimarr.blogspot.com

União da Juventude Socialista – Rio Branco (AC) ujsacre.blogspot.com

Coletivo Jovem - Movimento Nossa São Luís São Luís (MA)


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e d a d i m e t Trabalho

al a iedade atu abalho m na soc u m o ado de tr c rc é e m o inda n o s res ência. ão do ing a adolesc te n ra valorizaç ão do u d inos a formaç as e men nte para a rt essa o p de menin im m contra oce é r de sere alho prec a b s a e ra p tr a o iz , s e minim a . Outro rmam qu ativa para abilidade s rn n e o Muitos afi lt p a s o re om de -juvenil c do senso caráter e lho infanto a b a tr . s o infância e família nxergam e muitas durante a d o prática, e e de lh d a a b id a il b omentos ue o tr de vulnera pedindo m pontam q a im s ade e ta situação id s s il o li b d ia onsa s estu to, espec so, é resp is alhando o d p a No entan m tr a lé A l, . a, judicia ento sadio neira dign ncia é pre am de ma esenvolvim iv d v adolescê o s spesas ra e te a d n p e s adolesc r com a amental a e d n s rc a a fu ç e n r, d a e laz rabalho ue cri ições segurar q tem cond de capa T s o a m ã e o n g d a ia ta rt íl s repo do E do a fam saúde. Na ente quan entro da ntação e e m li fica por d principalm a e , s o ã e ç o a c tã u s d e sàe a qu ente. referente e Adolesc ê entende l c ti o n v de ! fa a In ir e cad diversida balho não é brin em sobre conta! Tra g a a s rt s o o p n re a ma aÉd sões que ainda lê u campanh ais discus ão, você iç ip c d e n , ri p ta s s e N nicadores ferir a m de con nas comu e lé a íg d , a in s e io relig ontro d e m um enc no final d orientara m Ilhéus e u e c te n que aco ura! . Boa leit setembro

A “

Quem somos A

Viração é um uma organização não governamental (ONG), de educomunicação, sem fins lucrativos, criada em março de 2003. Recebe apoio institucional do Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF), da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO), do Núcleo de Comunicação e Educação da Universidade de São Paulo e da ANDI - Comunicação e Direitos. Além de produzir a revista, oferece cursos e oficinas em comunicação popular feita para jovens, por jovens e com jovens em escolas, grupos e comunidades em todo o Brasil. Para a produção da revista impressa e eletrônica (www.viracao.org),contamos com a participação dos conselhos editoriais jovens de 22 Estados, que reúnem representantes de escolas públicas e particulares, projetos e movimentos sociais. Entre os prêmios conquistados nesses oito anos, estão Prêmio Don Mario Pasini Comunicatore, em Roma (Itália), o Prêmio Cidadania Mundial, concedido pela Comunidade Bahá'í. E mais: no ranking da Andi, a Viração é a primeira entre as revistas voltadas para jovens. Participe você também desse projeto. Veja, ao lado, nossos contatos nos Estados. Paulo Pereira Lima Diretor Executivo da Viração – MTB 27.300

Conheça os Virajovens em 20 Estados brasileiros e no Distrito Federal Belém (PA) Boa Vista (RR) Boituva (SP) Brasília (DF) Campo Grande (MS) Curitiba (PR) Fortaleza (CE) Goiânia (GO) João Pessoa (PB) Lagarto (SE) Lavras (MG) Lima Duarte (MG) Maceió (AL) Natal (RN) Picuí (PB) Recife (PE) Rio Branco (AC) Rio de Janeiro (RJ) Salvador (BA) S. Gabriel da Cachoeira (AM) São Luís (MA) São Mateus (ES) São Paulo (SP) Teresina (PI) Vitória (ES)

Conteúdo

Copie sem moderação! Você pode: • Copiar e distribuir • Criar obras derivadas Basta dar o crédito para a Vira!

Apoio Institucional

Asso

ciazione Jangada

Quem faz a Vira Juliana Cordeirio, do Virajovem Curitiba (PR)

Dhiene Aparecida, do Virajovem Curitiba (PR), anota fala de palestrante sobre durante a 2ª Assembleia Popular da Juventude. Saiba mais na seção Parada Social, na página 34.

Revista Viração • Ano 10 • Edição 89

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Eleições

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Apesar de muito criticado, o voto nulo é defendido por quem rejeita o atual processo de escolha de candidatos e representantes

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Feitas por fãs

Conheça as fanfics, adaptações de fãs, que têm ganhad o cada vez mais adeptos na internet, inspiradas em históri as de grande sucesso

14 Crenças e tradições

Engajamento

Entenda a relação entre diversidade religio sa presente na humanidade e a conquista das liberdades individuais ao longo da história

Ex-prostituta Gabriela Leite fala em entrevista para a Viração sobre sua luta na defesa dos direitos das profissionais do sexo no Brasil

17 Juventude penalizada

Setores conservadores da sociedade ainda defendem a redução da maioridade penal, mas dados apontam que essa medida não é adequada

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Sempre na Vira

É da nossa conta!

A sociedade aceita e até incentiva algumas formas de trabalho infantil e adolescente. Entenda porque essa situação ainda é recorrente no Brasil

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Manda Vê . . . . . . . . . . . . . 06 Como se Faz . . . . . . . . . . 09 Imagens que Viram . . . . . 26 No Escurinho . . . . . . . . . . 30 Que Figura . . . . . . . . . . . . 31 Sexo e Saúde . . . . . . . . . . 32 Rango da Terrinha . . . . . . 33 Parada Social . . . . . . . . . . 34 Rap Dez . . . . . . . . . . . . . . 35

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Justiça e impasse

O Poder Judiciário serve para julga r crimes. O problema é manter a credibilidade quando muitos juízes estão no banco dos réus

Sinal de perigo

Encontro de indígenas comunicadores em Ilhéus (BA) discute medidas governamentais que violam seus direitos constitucionais

RG VÁLIDO EM TODO TERRITÓRIO NACIONAL Revista Viração - ISSN 2236-6806 Conselho Editorial Eugênio Bucci, Ismar de Oliveira, Izabel Leão, Immaculada Lopez, João Pedro Baresi, Mara Luquet e Valdênia Paulino

Conselho Fiscal Everaldo Oliveira, Renata Rosa e Rodrigo Bandeira

Diretoria Executiva Paulo Lima e Lilian Romão

Equipe Amanda Proetti, Bruno Ferreira, Elisangela Nunes, Eric Silva, Evelyn Araripe, Gisella Hiche, Gutierrez de Jesus Silva, Ingrid Evangelista, Rafael Stemberg, Sonia Regina e Vânia Correia

Administração/Assinaturas

Conselho Pedagógico

Douglas Ramos e Norma Cinara Lemos

Alexsandro Santos, Aparecida Jurado, Isabel Santos, Leandro Nonato e Vera Lion

Mobilizadores da Vira

Presidente Juliana Rocha Barroso

Vice-Presidente Cristina Paloschi Uchôa

Primeiro-Secretário Eduardo Peterle Nascimento

Acre (Leonardo Nora), Alagoas (Jhonathan Pino), Amazonas (Cláudia Ferraz e Gabriela Ferraz), Bahia (Everton Nova e Enderson Araújo), Ceará (Alcindo Costa e Rones Maciel), Distrito Federal (Mayane Vieira), Espírito Santo (Jéssica Delcarro e Leandra Barros), Goiás (Érika Pereira e Sheila Manço), Maranhão (Sidnei Costa, Nikolas Martins

e Maria do Socorro Costa), Mato Grosso do Sul (Fernanda Pereira), Minas Gerais (Emília Merlini, Reynaldo Gosmão e Silmara Aparecida dos Santos), Pará (Diego Souza Teofilo), Paraíba (Manassés de Oliveira), Paraná (Juliana Cordeiro e Vinícius Gallon), Pernambuco (Edneusa Lopes), Rio de Janeiro (Gizele Martins), Rio Grande do Norte (Alessandro Muniz), Roraima (Graciele Oliveira dos Santos), Sergipe (Grace Carvalho) e São Paulo (Alisson Rodrigues, Verônica Mendonça e Vinícius Balduíno).

Arte Ana Paula Marques e Manuela Ribeiro

Colaboradores Antônio Martins, Carla Renieri, Heloísa Sato, Julia Daniel, Márcio Baraldi, Natália Forcat, Novaes, Rogério Zé e Sérgio Rizzo.

Projeto Gráfico Ana Paula Marques e Cristina Sayuri

Revisão Izabel Leão

Jornalista Responsável Paulo Pereira Lima – MTb 27.300

Divulgação Equipe Viração

E-mail Redação e Assinatura redacao@viracao.org assinatura@viracao.org

Preço da assinatura anual Assinatura Nova Renovação De colaboração Exterior

R$ 65,00 R$ 55,00 R$ 80,00 US$ 103,00


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A Vira pela igualdade. Diga lá. Todas e todos Mudança, Atitude e Ousadia jovem.

Diga lá Via E-mail Sou professora de Artes e fui Produtora Cultural do Centro Cultural da Juventude, onde conheci a Viração quando participei da produção de um evento de vocês, se não me engano em 2006 ou 2007. Curto muuuuito o trabalho de vocês e pretendo divulgar seus informes para a galera do Ensino Médio e Fundamental da escola onde leciono. Obrigada!!!

Fale com a gente! Via E-mail Sou jornalista, antropólogo e educador de adolescentes internos da Fundação Casa, onde ministro oficinas culturais, destacando-se a oficina de produção literária. Tenho interesse em fazer parceria com essa importante publicação que tem uma linha editorial jovem, educativa e com matérias bem interessantes com a qual eu juntamente aos meus alunos poderiamos produzir materiais para essa conceituada revista, levando em consideração que os adolescentes em ênfase têm criatividade para escrever e desenhar. Obrigado e aguardo resposta para contato. Raimundo Mello

Ivania Davi

Oi, Ivania! É bom saber que você pretende trabalhar com a Vira com seus estudantes em sala de aula! Se eles quiserem propor pautas e produzir conteúdos para a revista e Agência Jovem de Notícias, fique à vontade!

Perdeu alguma edição da Vira? Não esquenta! Agora você pode acessar, de graça, as edições anteriores da revista na internet: www.issuu.com/viracao Mande seus comentários sobre a Vira, dizendo o que achou de nossas reportagens e seções. Suas sugestões são bem-vindas! Escreva para Rua Augusta, 1239 - Conj. 11 - Consolação - 01305-100 - São Paulo (SP) ou para o e-mail: redacao@viracao.org Aguardamos sua colaboração!

Raimundo, estamos super contentes com a possibilidade de termos os meninos da Fundação Casa participando como virajovens para a produção de conteúdo para a revista e também para a Agência Jovem de Notícias. Vamos entrar em contato para ver os encaminhamentos.

A Viração Educomunicação não utiliza mais o perfil no Twitter @viracao. Apropriaram-se da nossa senha para divulgar ações e ideias que não são da organização. Convidamos a todos para seguir o nosso novo perfil @viracao_oficial.

Siga a Vira no Twitter: @viracao_oficial. E também confira a página e o perfil da Viração Educomunicação no Facebok.

Ponto G Para garantir a igualdade entre os gêneros na linguagem da Vira, onde se lê “o jovem” ou “os jovens”, leia-se também “a jovem” ou “as jovens”, assim como outros substantivos com variação de masculino e feminino.

Parceiros de Conteúdo


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Manda Vê Ygor Dicastro e Lee Bueno, do Virajovem Curitiba (PR); Amanda Campos e Emilae Sena, do Virajovem Salvador (BA); Reynaldo Gosmão e Silmara Aparecida dos Santos, do Virajovem Lavras (MG)*

Diante dos inúmeros problemas sociais, a juventude vem buscando alternativas para reduzir a desigualdade e a falta de oportunidades atuais. Muitas dessas iniciativas são visíveis em protestos e manifestações. Adolescentes e jovens vão às ruas indignados com o sistema político vigente, a violência, entre outras mazelas. E isso não é de agora! Ao logo do processo histórico brasileiro, diversas ações foram encabeçadas pela juventude, a exemplo das Diretas Já e do impeachment do ex-presidente Fernando Collor de Melo. Neste mês vamos novamente às urnas escolher prefeitos e vereadores. E em uma sociedade em que os meios de comunicação destacam o que a política tem de pior, como a corrupção e o uso do poder para fins particulares, presume-se que a juventude, influenciada por esses valores, esteja desencorajada a exercer o direito ao voto. Por isso, perguntamos para a galera:

Os adolescentes valorizam o direito ao voto? Jean Braghirolli, 18 anos, Curitiba (PR)

Angeline Suellen Pacheco, 26 anos, Curitiba (PR)

"Não posso generalizar, pois de fato existem ainda adolescentes que não entendem a importância do voto. Os adolescentes que estão mais antenados com as notíciais políticas, que apuram seu senso crítico, apresentam grande interesse pelas eleições, pois sabem que é o pontapé inicial para as mudanças, sejam positivas ou negativas, para todo o País. O voto não deve ser visto como um dever, mas sim como um direito que assegura a democracia.”

“Eu acho que não dá pra generalizar. Alguns jovens valorizam, mas a maioria se acomoda e por preguiça acaba nem indo fazer o título de eleitor, ou vem com o discurso de que não vale a pena votar porque todos os candidatos são ruins, ou roubam. Mas isso não é somente da parte dos jovens, até mesmo adultos fazem isso.”

06 Revista Viração • Ano 10 • Edição 89

Lucas Martins, 17 anos, Curitiba (PR)

“Não, o jovem não tem interesse em procurar saber mais sobre seus candidatos, e não dá valor suficiente para esse direito. A maioria dos adolescentes entre 16 e 18 anos ainda não tem titulo de eleitor, e se exercessem o seu direito como cidadão fariam toda a diferença.”

*Virajovens presentes em 20 Estados brasileiros e no Distrito Federal


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Angélica Favretto, 25 anos, Curitiba (PR)

Thiago da Silva Batista, 20 anos, Salvador (BA)

“Já existe uma descrença em relação à política por parte dos adolescentes que não deveria. Vejo que os alguns idosos, ainda que dispensados da obrigatoriedade de votar, ainda vão às urnas. E mais: adoram ser mesários! Então eu acho que não valorizam. O voto é, de certa forma, uma ajuda para que as mudanças aconteçam."

“Não, o adolescente brasileiro não valoriza o voto, pois ele vive num período que a frustração social está muito grande. O adolescente acessa a internet e assiste a televisão e tudo que ele vê são polêmicas como Mensalão, Caixa 2 e dinheiro na cueca de político. Por isso, muitos deles preferem não se envolver.”

Taiane de Jesus Santos, 25 anos, Salvador (BA)

“Acho que a maioria dos jovens de hoje busca revolução e mudanças. Acredito que grande parte dá valor sim e vota conscientemente, enquanto uma parcela deles desperdiça a oportunidade de fazer sua parte.”

Alberto J. F. Murta, 22 anos, São Paulo (SP)

Isabella Cristina Carboneri, 19 anos, São Paulo (SP) “Eu acho que não, porque a maioria nem tira o título antes de ser obrigado a fazer isso. Eu mesma já tenho 19 anos e nem tenho título. Eu me esqueci de tirar e só vou depois das eleições, ou seja, vou pagar a multa, mas estou tranquila, porque nada vai mudar na minha vida.”

Faz Parte

O Tribunal Superior Eleitoral (TSE) realizou campanhas para atingir adolescentes entre 16 e 17 anos, devido ao decréscimo de eleitores que retiraram seus títulos durante a adolescência, a ideia é instigar esse público a comparecer às urnas eleitorais para fazer valer o seu direito ao voto, que participem da decisão de escolher quem vai administrar suas cidades durante quatro anos. Para saber mais sobre as campanhas, acesse o site do TSE (http://agencia.tse.jus.br), onde podem ser encontrados vários vídeos e informações sobre as eleições municipais.

“Não. O adolescente parece não se importar com o rumo que o País está levando e na maioria das vezes, só exerce o direito ao voto quando atinge a maioridade. Mas isso não é inteiramente culpa dele. Nós não somos educados a lutar pelos nossos direitos, transformando a política brasileira em um show em que os mais populares conseguem um lugar e políticos com ideais sérios acabam ficando para trás.”

Não é de hoje Após o término da ditadura militar, houve a reformulação da nossa Constituição Federal. Movimentos sociais, associações e parlamentares auxiliaram na atualização da nossa carta magna após um período em que as liberdades individuais eram restritas. Um dos acréscimos feitos à Constituição foi o voto facultativo para pessoas entre 16 e 18 anos, uma conquista que incluiu os adolescentes nos debates sobre políticas públicas e afirmou a importância desse segmento etário como sujeito de direitos, capaz de escolher na urna eleitoral o candidato que melhor representa seus interesses.


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Voto nulo e consciente Por que alguns resolvem exercer a

cidadania por meio do voto nulo?

Alessandro Muniz, do Virajovem Natal (RN)*

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08 Revista Viração • Ano 10 • Edição 89

do código eleitoral brasileiro afirma que “se a nulidade atingir mais de metade dos votos do País nas eleições presidenciais, do Estado nas eleições federais e estaduais ou do município nas eleições municipais, julgar-se-ão prejudicadas as demais votações e o Tribunal marcará dia para nova eleição dentro do prazo de 20 a 40 dias”. No entanto, em 2006, o então Presidente do Tribunal Superior Eleitoral, ministro Marco Aurélio Mello, em entrevista ao jornal Folha de São Paulo, afirmou que este artigo é mal interpretado, pois trata da anulação da eleição decorrente de fraude, de algum ilícito ou de acidente durante o processo eleitoral. Independente da interpretação, a crítica maior feita pelos que votam nulo em todos os cargos e em todas as eleições, é o próprio sistema representativo e não uma ou outra eleição em si. Não se trata de ter “representantes melhores”, mas de que a política deve ser exercida cotidianamente por todos, de forma direta, participativa, ao invés da sensação que o eleitor tem de que já exerceu seu papel cidadão ao votar. V Alessandro Muniz

m tempos de eleição sempre surge o debate sobre o voto nulo. Muitos criticam, outros defendem. A propaganda dos Tribunais Eleitorais prega a ideia de que é preciso votar com consciência, conhecer seus candidatos, acompanhar sua atuação para exercermos a cidadania. Contudo, muitos dos que votam nulo o fazem justamente por não acreditarem nessa justificativa. Afirmam que nenhum candidato os representa de fato. É o caso de John William, de 19 anos, estudante de Publicidade e Propaganda na Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), que em sua cidade, Santa Maria (RN), vota para vereador, pois conhece o passado do candidato nos movimentos sociais, mas vota nulo para prefeito, por não aceitar nenhuma das opções. Outro caso é o de Celso Luiz Vaso, de 28 anos, mestrando em ciências sociais. Ele vota para presidente, governador e prefeito, mas vota nulo para senadores, deputados e vereados. “Eu não voto pensando em quem é o meu favorito, nem em quem é o mais qualificado. Voto pensando em quem será o menos nocivo”, pois “todos defendem interesses próprios”. Já o instrutor de idiomas George de Alcaniz, de 26 anos, afirma que “os representantes representam a si mesmos, suas ideologias e interesses”. Ele vota nulo para todos os cargos. A ideia de que o cidadão realmente “escolhe” quem será eleito também é questionada pelos que anulam o voto. Os candidatos são escolhidos antes pelos partidos que selecionam os que melhor representam seus interesses, e pelos empresários, que financiam suas campanhas. Só a partir disso podemos “escolher”. Uma das maiores polêmicas que envolve o voto nulo é a ideia de que se mais de 50% dos votos forem anulados, a eleição é cancelada e remarcada uma nova. O artigo 224

Em protesto contra o aumento das passagens de ônibus realizado na Câmara Municipal de Natal, em agosto, cidadão reivindica o voto nulo "para mudar".

*Um das Virajovens presentes em 20 Estados e no Distrito Federal


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Como se faz

PODCAST Aprenda a fazer programas de rádio para soltar a voz na web

Mariana Rosário, Virajovem de São Paulo (SP)*; e Gutierrez de Jesus Silva, da Redação

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ara quem gosta de compartilhar novidades na internet, mas não fica só nas redes sociais, o blog é um bom aliado. Um grande atrativo para blogs é o podcast, um arquivo de mídia que pode ser executado no próprio blog ou ser baixado e ouvido pelo celular, mp3, ipod. O termo podcast foi criado no ano de 2005 por Adam Curry, na época VJ da MTV. A palavra é a junção de “Ipod”, produto da Apple, e “Broadcast”, termo inglês referente à transmissão de vídeo e áudio, que é gratuito e acessível a um grande número de pessoas. Ao contrário de vídeos e textos, não é preciso ficar com a página aberta para saber o que o podcaster tem a dizer. Enquanto você checa suas redes sociais, manda um e-mail, ou se arruma para sair, o podcast vai rolando. A praticidade do acesso é uma das vantagens de usar esse tipo de mídia, e além de fácil de ouvir ele é fácil de ser criado. Para fazer seu podcast você pode se inspirar em programas de rádio, ou em áudios da galera que navega na rede. Existem até sites onde só se postam arquivos desse tipo para serem compartilhados. Com apenas alguns passos você consegue tirar o projeto do papel. É importante ter uma boa ideia ou saber ao menos qual assunto que você quer falar no seu podcast. V

Passo a passo 1. Escreva num papel tudo o que você quer falar. Isso te ajuda a não ficar gaguejando enquanto você grava. 2. Para gravar você pode usar desde um microfone e um gravador digital até o seu próprio celular. Para gravadores portáteis como os de celulares e aparelhos de mp3 é importante prestar atenção na distância entre sua boca e o microfone, para que o som não fique com chiados. 3. Evite gravar em banheiros e ambientes que possam ter eco, o ideal é procurar um local silencioso com o mínimo de ruído possível. 4. É legal fazer uma “chamada” de inicio se apresentando e contando qual o tema do podcast. Pode ser acompanhado de música, criando uma espécie de vinheta de abertura. E no final não se esqueça de fazer uma conclusão do assunto e de se despedir do seu ouvinte. 5. A edição pode ser feita em um programa simples de computador, ou você pode optar por uma versão sem cortes. Caso queria editar o áudio, há vários programas gratuitos na internet. Um dos mais conhecidos é o Audacity. 6. O arquivo depois de pronto e fechado tem que ser convertido para mp3, porque é o formato mais acessível para download e mais fácil para hospedar em sites. 7. Um dos sites que possibilita a postagem de arquivos em áudio é o Soundcloud, no qual é possível postar arquivos com até duas horas de duração. Nele, é possível fazer download, e com o código disponível no site, implementar o podcast numa publicação de blog.

*Uma das Virajovens presentes em 20 Estados e no Distrito Federal


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Fãs criam histórias a partir de obras de grande sucesso

A voz dos fãs

10 Revista Viração • Ano 10 • Edição 89

Leitura que Vira

Fotos: Divulgaç

M

uitas são as histórias que despertam a admiração de leitores e expectadores no mundo todo. Alguns chegam a criar novas versões de enredos em seus blogs pessoais ou nas redes sociais, mantendo personagens consagrados de seriados e livros, mas mudando suas características. Assim nasce uma fanfic. A junção das palavras "fan" e "fiction" de origem inglesa e que juntas significa "ficção criada por fãs". Não se sabe ao certo como surgiram, mas há relatos que há muitos anos um grupo de escritores se reuniu para fazer releituras dos contos que eles mais gostavam. E atualmente, com a divulgação de escritos do gênero na web, atribuiu-se o nome de fanfic. São contos ou romances escritos por terceiros, expondo os personagens das histórias originais a novas situações. O autor de uma fanfic usa a sua criatividade, podendo adicionar personagens, dar novas características e destacar personagens secundários. Sabe-se que os autores dos contos originais detêm os direitos legais sobre suas obras. No entanto os fanfictores, que são escritores de fics, podem divulgar suas histórias sem ônus, contanto que não haja interesse comercial. Mas se um fã desejar publicar a obra deverá alterar os nomes e o enredo para descaracterizar o que seria, legalmente, considerado como plágio. Foi o que aconteceu com a escritora Tatiana Amaral. A soteropolitana escreveu a fanfic Entre o amor e a razão, com base na saga Crepúsculo, que fez muito sucesso na internet. Por causa dos elogios e repercussão de seu trabalho, sua fanfic deu origem ao livro Segredos. Ela adaptou a história e publicou um romance cheio de obstáculos que impediam os personagens Cathy e Thomas de se entregarem ao amor.

ão

Amanda Campos, Eufrásia Neres e Thayane Fraga, do Virajovem Salvador (BA)*

As fics faz com que o leitor expanda sua imaginação. Os fãs interagem com suas histórias favoritas, criando, inventando e acrescentando suas ideias. E com a internet têm a oportunidade de tornar públicas as suas versões Livro Segredos, de Tatiana para que outros fãs da Amaral, foi escrito a partir de mesma história possam uma fanfic da saga Crepúsculo apreciar a nova versão. Tatiana Fernanda é uma leitora ávida de fanfics. Ela conhece esse universo desde 2010, a partir do contato que teve com criações de escritores de fanfics que baseavam seus enredos nos personagens da saga Crepúsculo. Assim também resolveu aventurar-se pelo mundo das fics e atualmente posta histórias com base na saga em um site específico. Ela se interessa pela maneira que o escritor deixa a imaginação fluir ao construir um enredo, pois simplesmente se “desconecta” do mundo real e põe em um papel seus pensamentos, suas ideias e sonhos e o leitor consegue perceber sua entrega ao que foi proposto. Adriana Gardenia também conheceu o gênero fanfic em um site da saga Crepúsculo há um ano. Ela costuma ler as fanfics mais intensas, com muito romance e comédia. Ela é muito fã das histórias criadas por Tatiana Amaral com base na saga, pois, segundo Adriana, a escritora coloca intensidade surreal nos personagens.


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Tipos de Fanfics Cross Over: misturam-se universos diferentes. Ex.: numa mesma fanfic pode existir Pokémon e Digimon; ou Harry Potter e Star Wars. U.A. (Universo Alternativo): quando a fanfic se passa num mundo diferente do criado pelo autor original da série, mas utilizando os personagens já existentes na história. Na maioria das vezes, busca-se não alterar as características físicas e psicológicas dos personagens. R.A. (Realidade Alternativa): quando a fanfiction se passa com os mesmos personagens e locais dos criados pelo autor original, porém, um dos fatos muda. Na saga Harry Potter, por exemplo, Draco era um dos antagonistas de Harry e aliado de seu inimigo, o Lord Voldemort. Numa fanfic, Draco e Harry podem estabelecer uma aliança contra Voldemort. Muitos leitores seguem os R.A relacionados às sagas Crepúsculo, Senhor dos Anéis, Harry Potter, entre outros. What If: Possibilidades que a história original teria, caso tivesse tomado um rumo diferente. OC: "Original Character": é quando o autor da fanfic insere um personagem de sua criação à história que adapta. Saga: são fics com muitos capítulos, geralmente mais de 20 ou 25. Self Inserction: quando o autor da fanfic, o fanfictor, participa da trama, interagindo com os personagens. POV: Point of View (ponto de vista). Indica de quem é o ponto de vista da cena, ou seja, quem a narra. Pode ser um personagem principal ou secundário. Mary Sue: um formato mais "açucarado" em forma de conto, romance ou novela, melodramática e apelativa. Doujinshi: fanfiction japonesa, com base nos mangás. V

Personagens da saga Crepúsculo inspiram jovens a criar novas histórias

Confira alguns sites de fanfictions: http://www.fanfiction.net/ http://fanfics.com.br/ http://www.fanficobsession.com.br/ http://animespirit.com.br/fanfics/ http://twilightbrasilfanfics.com/

*Virajovens presentes em 20 Estados do País e no Distrito Federal

Revista Viração • Ano 10 • Edição 89 11


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a r e l a G

r e t r ó Rep

Antes de prostituta,

mulher!

ama da falta de Fundadora da grife Daspu, Gabriela Leite recl trabalham com sexo políticas públicas voltadas às mulheres que Reynaldo Gosmão, do Virajovem Lavras (MG)*; Luana Viegas e Ramonna Abreu, da Agência Jovem de Notícias; Ingrid Evangelista, Rafael Stemberg e Vânia Correia, da Redação

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aulistana e de família tradicional, Gabriela Silva Leite abandonou, aos 22 anos, os cursos de Filosofia e Sociologia da Universidade de São Paulo (USP) para imergir, por opção, na chamada Boca do Lixo, antiga região de São Paulo de grande concentração de garotas de programas, na década de 1970. Hoje, aos 61 anos, ela rejeita o termo “ex-prostituta” em suas apresentações. E com razão, pois Gabriela está muito ativa no movimento de defesa dos direitos das prostitutas. Autora do livro Filha, mãe, avó e puta – A história de uma mulher que decidiu ser prostituta, da editora Objetiva e que já foi transformada em peça teatral, Gabriela, que luta contra um câncer, acaba de ser uma das contempladas do Prêmio Trip Transformadores 2012. Atualmente, a principal luta do movimento de prostitutas é pela regulamentação da profissão junto ao ministério do Trabalho, garantindo assim todos os direitos trabalhistas que

possuem um profissional com registro em Carteira de Trabalho. Uma das principais conquistas até aqui foi a inclusão, em 2002, da ocupação “trabalhador do sexo” na Classificação Brasileira das Ocupações (CBO), permitindo que prostitutas possam se registrar no INSS (Instituto Nacional do Seguro Social), como autônomas, e garantir uma aposentadoria futura. A seguir, você confere trechos da entrevista concedida à Agência Jovem de Notícias durante o 9º Congresso Brasileiro de Prevenção às DST e Aids, que aconteceu em agosto, em São Paulo (SP). Quais são as perspectivas da regulamentação da profissão? O deputado federal Jean Willys (PSOL-RJ) apresentou um projeto (PL 4211/2012) recentemente. Em que pé está? Nós estamos juntos com o Jean Willys no projeto. Ainda não é o projeto que queremos, mas para passar agora (ser aprovado na Câmara) tem que ser esse. Mas é difícil à beça porque o Congresso está muito conservador. O projeto é a favor da casa de prostituição, desde que não tenha exploração do trabalho, e isso é uma nuance porque a polícia pode chegar

Linha do Tempo Com 22 anos, abandona os cursos de Filosofia e Sociologia da Universidade de São Paulo (USP) para imergir, por opção, na chamada Boca do Lixo, antiga região de São Paulo de grande concentração de garotas de programas

1973 12 Revista Viração • Ano 10 • Edição 89

Funda a ONG Davida, de defesa aos direitos das prostitutas

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isso, sempre fazendo ironia. Esses dias, no restaurante, encontrei uma pessoa que não via há anos e eu estava usando um turbante. Comia perto da fila, quando a vi e ela gritou de longe “tá diferente, africanizou?” e eu falei “não, cancerizei”. Ela ficou tão sem graça (risos)!

E qual é a definição da prostituição? Nós somos a favor da prostituição como trabalho, da imigração como trabalho. Somos a favor do turismo sexual, mas contrárias ao tráfico de seres humanos e à exploração sexual de crianças e adolescentes. Outra coisa é a prostituta adulta fazer sexo com estrangeiros. Não há nenhum impedimento legal em relação a isso. Se ela pode ganhar dinheiro fazendo programa com brasileiro, por que que ela não pode ganhar dinheiro fazendo programa com um italiano? O taxista ganha dinheiro com o estrangeiro, a rede hoteleira ganha dinheiro com o estrangeiro, todo mundo ganha dinheiro.

Às vezes, muitas feministas falam contra as prostitutas ou as tratam como vítimas. Como é a relação do movimento das prostitutas com o movimento das feministas? É péssima. Sempre foi assim e em todo o mundo. As feministas, as ortodoxas, pois eu me considero feminista, acham que a gente é vitima dos homens, do machismo, e tudo isso é muito simplista. Mas já existe uma linha do feminismo mais jovem, que dialoga com a gente. Mas uma vez eu estava nos Estados Unidos para conhecer o movimento feminista BraBurning, que queimou os sutiãs (na década de 1960). Quando me apresentei, falei: “Meu nome é Gabriela Leite, sou prostituta, sou feminista do Rio de Janeiro, Brasil”. Aí a presidente do movimento falou: “Você não é feminista. Prostituta não é Guilherme Ka rdel feminista”, e eu disse que sim, e ela disse que não era. Ficamos assim até alguém interromper a discussão. V

Como você vê o movimento das profissionais do sexo em nosso País em relação aos outros? Somos um dos países com o movimento mais forte porque temos representações em 32 cidades do Brasil e muitos países da Europa, às vezes, têm uma associação somente em uma cidade, geralmente na capital do País. Recentemente, em Calcutá, na Índia, ganhamos um troféu de movimento mais moderno do mundo. E como vocês lidam com o preconceito da sociedade? É sempre fazendo ironia, como aconteceu com a Daspu, que dá uma visibilidade imensa. Acabamos de sair na revista Gol Linhas Aéreas, distribuída em todos os aviões da companhia, com o título “A puta que pariu um sonho”. Olha que maravilha, todo mundo que viaja de avião está lendo essa manchete. E acho que isso é uma luta contra o preconceito e vale mais que uma passeata. Você acha que um dia a sociedade vai respeitar a prostituta como profissional? Essa é a minha luta maior e acho que é a luta das minhas colegas. A gente tem que acreditar nisso. O estigma e o preconceito existem em vários pontos, na pessoa que vive com Aids, nos homossexuais, nas travestis... Eu agora estou com câncer e percebi que existe um estigma com isso também. As pessoas não vivem com o diferente e temos que lutar contra

Lança a grife Daspu, uma provocação à luxuosa Daslu, cooperativa de produção de roupas feitas por ex-prostitutas que não seguiram no mercado do sexo por conta da idade

2005

,

e dizer que a casa está explorando, mas não existe nada que especifique essa situação para contestar e ver se de fato houve a exploração. A questão é você saber onde tem exploração e onde não tem. E é isso o que o projeto tenta distinguir, pois na cabeça das pessoas é a mesma coisa.

“As pessoAs não vivem com o diferente e temos que lutAr contrA isso, sempre fAzendo ironiA” GAbrielA leite *Virajovens presentes em 20 Estados do País e no Distrito Federal

Recebe o prêmio Trip Transformadores 2012, concedido a pessoas que se destacam e inovam em diferentes áreas

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z a f o ã i g A reli ! ? m e m o h o 1

stória, no decorrer da hi e e nt ca ar m go al i e ainda é e tradições A religiosidade fo rma suas crenças fo ns tra e z fa re o ser humano faz,

Ayhuma Amazona, Isadora Morena e Alessandro Muniz, do Virajovem Natal (RN)*

A

espiritualidade de cada um depende do quê? Da religião predominante na região em que nascemos ou da família a qual pertencemos, sendo algo já determinado desde cedo, ou tem mais relação com as ideias com que nos identificamos? A busca por respostas sobre a existência e o universo e os medos e esperanças sobre um futuro incerto são alguns dos motivos para o surgimento das religiões. Essa preocupação em tentar esclarecer os fenômenos da natureza é antiga e remonta a pré-história. Por esse motivo, muitos elementos naturais eram cultuados como deuses, a exemplo do sol nas religiões egípcia, grega e persa. Além disso, muitas religiões antigas eram matriarcais, tinham uma figura feminina como principal força divina, a exemplo dos celtas. Da tentativa de cada crença se sobrepor às demais surgem os conflitos religiosos. Na antiguidade, por exemplo, negar a existência dos deuses na Grécia era crime punível com a morte. Esses conflitos se intensificaram na Idade Média e se perpetuam até hoje. O mestrando em história pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) Daniel de Holanda, de 25 anos, explica que “a Igreja Católica era a toda poderosa, porém havia divergências. Na prática, liberdade religiosa não existia, pelo menos na Europa cristã medieval. Lá todo cidadão era obrigado a ser católico, mas ele podia se arriscar e praticar outras formas de crença ou outras linhas de pensamento do catolicismo, as chamadas heresias”. Ele aponta que naquela época em outros lugares do mundo não havia tanta intolerância. “O islã, que gostam de taxar de intolerante, aceitava membros de outras fés desde que pagassem seus tributos devidos em qualquer território em que a religião oficial fosse o islã”. Apenas no século 16, com a Reforma Protestante – iniciada por Martinho Lutero, a Igreja Católica perdeu certo domínio sobre a Europa. Para Daniel, “a supremacia do cristianismo se manteve indiscutível até pouco tempo atrás.

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Mas desde a fixação da separação entre Estado e igreja (séc. 18 e 19) podemos, pela lei, adotar a religião que bem desejarmos. Contudo, essa escolha nem sempre é bem vista, existindo a possibilidade de represálias. Infelizmente nossa liberdade religiosa no papel existe e funciona bem, mas socialmente ela é sufocada pelo radicalismo religioso”. Ainda assim pode-se afirmar que hoje há uma liberdade religiosa consideravelmente maior do que o que acontecia séculos atrás, porque ela cresce “à medida que nossas liberdades individuais aumentam. Estão todas interligadas”, afirma Daniel. “O principal motivo de termos essa liberdade de escolha vem dos movimentos sociais de luta e contestação, a contracultura no geral. Pois com a contestação desses grupos surgiu margem para a implementação de novas religiões e sua maior aceitação”. Com tantas possibilidades, hoje é mais fácil conhecer e escolher melhor religiões com a qual nos identifiquemos realmente. Taynan Vasconcelos, de 18 anos, estudante de Jornalismo da UFRN, já foi católico, evangélico e chegou até a tentar aplicar em sua vida alguns conceitos da Wicca, uma religião surgida na GrãBretanha no início do século 20. Atualmente ele se considera cristão, mas não é adepto de nenhuma congregação em especial. Para ele “às vezes há conflitos de ideias e situações que nos fazem tentar e experimentar outras linhas de pensamento. Eu diria que quis encontrar algo compatível com minhas ideias, essa foi a grande razão. Até hoje emprego alguns conceitos de causa e efeito de religiões neopagãs, princípios de meditação e autoconhecimento de religiões orientais juntamente com a doutrina cristã que tento seguir. Acho que todos os credos têm coisas positivas para acrescentar. Creio que meu maior aprendizado até agora foi aprender a respeitar essa diversidade e extrair os valores em vez dos dogmas”.

Da Floresta aos Centros Urbanos O Brasil é um País predominantemente católico, mas com uma grande variedade de religiões, muitas de origem africana, indígena e de sincretismos. A União do Vegetal Sincretismo é a mescla, em uma (UDV) é uma delas. mesma religião, de elementos de várias Genuinamente outras crenças e religiões brasileira, surgiu na floresta amazônica e está presente em todos os Estados brasileiros e também nos Estados Unidos, Espanha, Austrália, Suíça, Inglaterra e Portugal. Cristã e reencarnacionista, a UDV tem no chá da Ayahuasca o instrumento de comunhão. O consumo do chá composto pelo cipó do Mariri e da folha do arbusto Chacrona remonta a uma prática milenar dos índios amazônicos e por isso afirma-se que a UDV foi recriada a partir desta tradição. Juridicamente caracterizada como sociedade religiosa sem fins lucrativos, seu nome oficial é Centro Espírita Beneficente União do Vegetal. Tendo origem cabocla e nas florestas, se expandiu para os centros urbanos, contando hoje com quase 20 mil adeptos, dos quais, muitos da classe média e com formação universitária. O uso do chá acontece quinzenalmente e tem como objetivo a concentração mental em busca da evolução espiritual, afirma o agrônomo Leonel Graça Generoso Pereira, que faz parte da UDV há 32 anos. “Você bebe o chá e aumenta sua capacidade de concentração e a partir daí se tem mais facilidade para cuidar, ver e compreender as questões espirituais”, explica.

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Considerado por muitos como bebida alucinógena, tentou-se proibi-la no Brasil no ano de 1984. Contudo, a UDV conseguiu provar, através de seu Departamento Médico-Científico, que o chá não causa mal à saúde e também que as substâncias presentes já existem naturalmente no corpo humano. Entre 1985 e 1986 todos os membros da UDV pararam de utilizar o chá, para comprovar que ele não causa dependência. O Conselho Federal de Entorpecentes passou então a estudar seus usos e efeitos em diversas entidades religiosas, determinando em 1992 que seu consumo é legal para fins ritualísticos.

Igreja Nordestina Uma outra razão para a diversidade é o surgimento de igrejas a partir de outras. A Igreja de Cristo teve início na cidade de Mossoró (RN), no ano de 1932, criada por membros oriundos da Assembleia de Deus. A denominação surgiu de uma divergência doutrinária entre membros da Igreja quanto à salvação apenas por meio da fé sem a necessidade de ações e mérito, explica a estudante de Comunicação Social (UFRN) Daísa Alves, de 22 anos, pertencente à Igreja de Cristo. Diante do impasse, diversos membros resolveram entregar suas credenciais de ministros e fundaram a nova instituição.

Para além dos dogmas A partir do desenvolvimento das ciências e do iluminismo, no século 16, que buscaram desenvolver o pensamento racionalista, o ateísmo e o deísmo passaram a se desenvolver. Os deístas não negam a existência de uma força maior responsável pela criação do universo, mas interpretam livremente o assunto. Acreditam que é preciso investigar a existência de um deus através da razão e não de acordo com dogmas. Ylloh Gabriel Rêgo, de 17 anos, estudante de ensino médio, explica que o ateísmo é você acreditar que não existem deuses ou figuras salvadoras. Já foi cristão por influência da família, mesmo tendo suas dúvidas quanto à real existência de um deus, mas por meio de leituras e tendo em vista atitudes de algumas pessoas religiosas se afirmou como ateu. Ele não sente que sua escolha seja respeitada pela maioria. Acredita que o importante é fazer “o bem sem esperar ajuda divina”. A liberdade de escolher sua espiritualidade, seja através de uma religião ou de práticas próprias, é fundamental para que o ser humano expresse sua diversidade, suas inúmeras e infinitas formas de pensar, sentir e se relacionar com o universo e com o que lhe é sagrado.

V

*Virajovens presentes em 20 Estados do País e no Distrito Federal

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E eu com isso?!

Por que dizer não? a Redução da maioridade penal ainda é defendid de por setores mais conservadores da socieda

Virajovem Belém (PA

D

os telejornais aos diários impressos, os brasileiros recebem uma gama de informações, muitas vezes sensacionalistas, que constroem falsas realidades. No jogo pautado pela lógica do espetáculo, muitas são as vítimas deste tipo de cobertura jornalística. É o caso de adolescentes e jovens, vítimas da omissão do Estado, que aparecem diariamente nas manchetes como se fossem a grande causa da violência urbana. A cada novo ato cometido, um bombardeio de julgamentos equivocados é proferido nas telas da TV, dando munição aos políticos defensores da proposta de redução da maioridade penal e ajudando a formar opiniões como as da estudante universitária Alessandra Farias, de 20 anos. “Eu sou a favor (da redução), porque hoje em dia as pessoas começam muito cedo a cometer crimes. Se elas têm idade suficiente para cometer tais crimes, também devem ter idade para pagar por eles”. O posicionamento de Alessandra faz eco com o pensamento de parte da sociedade que responsabiliza os adolescentes pelas mazelas sociais existentes. Sem esporte, lazer, cultura, saúde e educação de qualidade, é quase impossível apresentar à juventude, sempre dotada de sonhos e desejos, alternativas ao mundo da criminalidade. Diante da incapacidade do poder público de responder aos problemas da sociedade, vimos nos últimos 30 anos um aumento real de 124% da violência. Nesse período, o índice de homicídios subiu de 11,7 para 26,2 a cada 100 mil habitantes, segundo

)

Diego Teófilo, Bruno Vito, Breno Mendes e Jairo Amaral, do Virajovem Belém (PA)*

o Mapa da Violência de 2012. Os números superam, inclusive, os de países que enfrentam disputas territoriais ou até mesmo guerras civis. Curiosamente, a juventude pobre e negra é a mais penalizada. Este Adolescentes e jovens da Rede Nacional quadro demonstra que de Adolescentes e Jovens Comunicadores reduzir a maioridade (Renajoc) de Belém (PA) debatem a questão penal está longe de ser uma da redução da maioridade penal solução consequente para esses problemas. “Qualquer pessoa que pense o Brasil sob a perspectiva de uma sociedade de homens e mulheres livres será contra a redução da maioridade penal. Na contra mão do encarceramento precoce devemos ter a luta pela garantia de educação de qualidade, lazer, acesso à cultura e direito à convivência familiar e comunitária saudável”, afirmou o assistente social, especialista em políticas públicas, David Vieira. Por apostar na justiça social, o povo brasileiro deve combater os problemas nas suas raízes. Lutar pela implementação de políticas públicas e pela efetivação das medidas presentes no Estatuto da Criança e do Adolescente podem ser um bom caminho para a construção de um Brasil novo, justo e igualitário! V *Virajovens presentes em 20 Estados do País e no Distrito Federal


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Capa

o ã n o h l a b Tra ! a r i e d a é brinc

lho infantil ainda aceita o traba de da cie so a o, Apesar de proibid de muitas famílias garantir o sustento de a tiv na er alt a rm como fo

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Maria de Fátima Ribeiro, do Virajovem Lavras (MG); Mariana Rosário, Virajovem de São Paulo (SP)*; Akhim Salles Nazareth, Camila Andrade Vaz e Isabela de Andrade Vaz, da Agência Jovem de Notícias; Amanda Proetti e Gisella Hiche, da Redação Ilustrações: Natália Forcat

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odo mundo sabe. Trabalho infantil no Brasil é proibido. Mas, apesar de a legislação nacional deixar essa proibição bem clara, uma parcela da sociedade ainda pensa que o trabalho na infância ou na adolescência, muitas vezes, pode ser o único caminho para o sustento da família. Alguns juízes da infância ainda autorizam a prática, com base nesse argumento. No entanto, trabalho doméstico, exploração sexual, trabalho na agricultura e até mesmo crianças e jovens em lixão, entre outros tipos de atividades, só contribuem para prejudicar a infância e escravizar a adolescência, vividas sem escola, sem inclusão social nem brincadeiras e com responsabilidades que não cabem a crianças nem a adolescentes. Em casos em que famílias não conseguem atender às necessidades de suas crianças e adolescentes, o Estado e até a própria sociedade devem intervir para fazer com que esses direitos sejam garantidos. Portanto, não é responsabilidade da criança ou do adolescente trabalhar para se sustentar. Mas cerca de 4,3 milhões de crianças e adolescentes de cinco a 17 anos de idade trabalham no País, em média, 26,3 horas semanais, de acordo com a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) de 2009. As discussões são muitas e passam, necessariamente, pelo olhar das várias realidades que encontramos no Brasil. São famílias rurais e urbanas das mais diversas constituições e condições. Há casos que devem ser analisados de diferentes maneiras. Muitas vezes, crianças e adolescentes limpam sua casa, cuidam de seus irmãos mais novos na ausência dos pais, ocupando assim, muito tempo de seu dia e esquecendo-se de suas obrigações escolares e também seu tempo de lazer.

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Como resolver essa questão, já que as tarefas domésticas realizadas como colaboração dos membros da família são vistas como uma formação de seu caráter social, além de criar assim uma responsabilidade pessoal? São várias as ações, campanhas e investimentos dos governos direcionando suas políticas para essa temática. Mas uma coisa é certa: a escola é o lugar da criança. Assim como é também o lugar de adolescentes que, segundo o Estatuto da Criança e do Adolescente, só podem assumir um trabalho a partir dos 14 anos, na condição de aprendiz, o que garante que o trabalho não poderá ser realizado em locais prejudiciais à sua formação e desenvolvimento físico, psíquico, moral e social. O Estatuto da Criança e do Adolescente garante, em seu artigo 4º: “É dever da família, da comunidade, da sociedade em geral e do poder público assegurar, com absoluta prioridade, a efetivação dos direitos referentes à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao esporte, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária.”


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As piores formas de Trabalho Infantil O decreto nº 6.481 de 12 de junho de 2008 listou as Piores Formas de Trabalho Infantil (TIP): I - todas as formas de escravidão ou práticas análogas, tais como venda ou tráfico, cativeiro ou sujeição por dívida, servidão, trabalho forçado ou obrigatório; II - a utilização, demanda, oferta, tráfico ou aliciamento para fins de exploração sexual comercial, produção de pornografia ou atuações pornográficas; III - a utilização, recrutamento e oferta de adolescente para outras atividades ilícitas, particularmente para a produção e tráfico de drogas; e IV - o recrutamento forçado ou compulsório de adolescente para ser utilizado em conflitos armados.

Educomunicação contra o trabalho infantil Andar de bicicleta pela primeira vez, o primeiro beijo, conhecer novas pessoas, contar histórias para os amigos, descobrir o novo são alguns, entre tantos outros momentos que deveriam fazer parte da vida de crianças e adolescentes de qualquer lugar. Mas, segundo o relatório Todas as crianças na escola em 2015 – Iniciativa Global pelas Crianças Fora da Escola, divulgado pelo Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF) em agosto de 2012, mais de 638 mil crianças e adolescentes na faixa etária entre cinco e 14 anos têm uma rotina semanal de mais de 28 horas de trabalho. Essa realidade se faz presente nas cidades brasileiras e interfere de forma hostil na vida de crianças e jovens, resultando, muitas vezes, na privação de seus reais desejos e direitos. Pensando nisso, a Viração Educomunicação assumiu a produção, pelos próprios adolescentes, de um encarte especial sobre o tema Trabalho Infantil e Adolescente. A iniciativa faz parte da campanha É da nossa conta! Trabalho Infantil e Adolescente, realizada pela Fundação Telefônica. Para produzir essa publicação, 15 adolescentes e jovens de São Paulo se reuniram em oficinas onde contaram suas próprias experiências, de familiares ou de amigos com o trabalho quando se é muito jovem. A produção desse conteúdo é colaborativa. Todos participaram com suas ideias, pesquisas

e vivências. Como o encarte contempla adolescentes e jovens, ninguém melhor do que eles para expressar o que sentem nessa relação, muitas vezes, precoce e de exploração do trabalho. O processo de produção dos conteúdos da publicação contou com momentos de reflexão, trazendo à tona o que o grupo acreditava sobre a questão “Adolescência é hora de quê?”, além de dinâmicas para a construção da identidade visual, pensando se o encarte fosse um filme, um livro ou uma cor, quais seriam?

Hora de botar a mão na massa O grupo se dividiu em subgrupos para produzir cada uma das seções. O quizz Tá sabendo? demandou uma pesquisa consistente sobre trabalho infantil e adolescente, o que serviu de base para a formação da galera no assunto. O grupo também colocou o pé na rua para saber o que adolescentes e jovens pensam sobre esse momento da vida. Temos ainda uma entrevista coletiva feita pela galera com especialistas no assunto, a seção Solta a voz, sem contar a Jovens educomunicadores produção e a mobilização onentrevistaram outros jovens line e via redes sociais. sobre trabalho infantil Participar do processo de produção desse encarte foi uma oportunidade de aprimorar e enriquecer os conhecimentos básicos que os adolescentes tinham sobre trabalho infantil e adolescente. O decorrer do caminho nos faz sentir ativos no combate à essa exploração e inseridos no debate por uma causa que vem ganhando cada vez mais proporção. Queremos que você se sinta parte também, seja com o relato de uma experiência marcante, seja mobilizando outras pessoas para informar sobre esse problema ou mesmo tendo em mãos o encarte pronto.

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Capa Campanha colaborativa A Fundação Telefônica, o Fundo das Nações Unidas para Infância e Adolescência (UNICEF) e a Organização Internacional do Trabalho (OIT) apresentam a campanha colaborativa É da nossa conta! Trabalho Infantil e Adolescente. O objetivo é dar visibilidade ao tema do trabalho infantil e adolescente, sensibilizando e potencializando a ação de diversos públicos, por meio de materiais de comunicação específicos para crianças, adolescentes, jovens e especialistas no assunto. Desta forma, espera-se que a sociedade civil como um todo possa reconhecer situações de trabalho infantil e se tornem agentes multiplicadores, produzindo e compartilhando informações nas redes sociais abertas, no twitter e nos blogs. A partir do dia 9 de outubro, a campanha terá uma seção dentro do site da Rede Pró-Menino, da Fundação Telefônica (www.promenino.org.br), com todas as informações, vídeos e iniciativas que ocorrem de agora até o final do ano. Nele, as pessoas que quiserem ir além terão a oportunidade de encontrar notícias quentes sobre o assunto e dicas do que fazer para apoiar a causa. Textos, vídeos, notícias são produzidos por parceiros

como CEATS, Repórter Brasil, Cidade Escola Aprendiz e Viração Educomunicação. Para as crianças, serão distribuídos 400 mil gibis da Turma da Mônica sobre o tema. Aos filhos dos colaboradores da Telefônica na cidade de São Paulo serão oferecidas oficinas de educomunicação focadas na afirmação dos direitos da criança e adolescente como forma de evitar o trabalho infantil. Além das redes sociais, os adolescentes e jovens participantes da Viração, que se envolverem com a campanha, poderão acessar e produzir informação sobre a temática, em um canal criado especialmente para eles, que também estarão à frente dos lançamentos nacionais em sete cidades do País: São Paulo (SP), Salvador (BA), Teresina (PI), Belém (PA), Curitiba (PR), Brasília (DF) e Fortaleza (CE). Em cada uma dessas cidades acontece uma ação em espaço público com distribuição dos materiais da campanha, conversa e interação com os transeuntes. Em São Paulo, 30 adolescentes recebem formação sobre trabalho infantil e adolescente. Desse total, 15 são acompanhados pela equipe de educomunicadores da Viração para produzirem um encarte para outros adolescentes nas cidades onde haverá os lançamentos.

Confira os passos para se envolver na campanha!

Ilustração: É da nossa conta! Trabalho infantil e adolescente.

Reconheça situações de trabalho infantil e adolescente a sua volta; Questione o contexto em que acontece trabalho infantil e adolescente; Descubra as ações cotidianas que estão ao seu alcance para ajudar a erradicar o trabalho infantil e adolescente; Compartilhe atitudes, pensamentos e informações para expandir a campanha colaborativa.

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Educação rural Uma questão muito debatida diz respeito às crianças e adolescentes do campo. A educação no campo vem sendo tema de debates acirrados no governo federal. Nessa esfera, aconteceu o Fórum Nacional de Educação do Campo (FONEC), reunindo de 15 a 17 de agosto de 2012, em Brasília, 16 movimentos e organizações sociais e sindicais do campo brasileiro e 35 instituições de ensino superior, para realizar um balanço crítico da Educação do Campo. Este encontro resultou no Manifesto Encontro Unitário dos Trabalhadores, Trabalhadoras e Povos do Campo, das Águas e das Florestas. A professora Rosana Ramos, do Departamento de Educação da Universidade Federal de Lavras (UFLA), presente no Fórum, comenta que o olhar para as escolas no campo está mudando. Segundo ela, as escolas convenceram-se de que o custo da desterritorialização de crianças e jovens arrancadas de suas comunidades é maior do que mantê-los nas escolas. Weslei Vicente, hoje com 19 anos, diz que aos 17 começou a trabalhar porque quis. Ele sentiu a necessidade de ter seu dinheiro e independência. Atualmente o jovem não trabalha. Somente estuda e pensa que o adolescente tem que namorar e se divertir, porém, ressalta a importância da responsabilidade e de fazer coisas que dão prazer. Para Weslei, trabalho infantil não deve existir. Criança deve brincar, juntar amigos e fazer uma boa bagunça. Para o adolescente Victor Lellis Coelho, de 16 anos, que participa de movimentos sociais e coordena a Pastoral da Juventude em Lavras (MG), adolescentes não devem ingressar no mercado de trabalho antes da conclusão do ensino médio. “Devemos saber administrar nossas vidas e diferenciar situações para que possamos viver a vida profundamente e ser feliz”. V

Acompanhe conteúdos sobre o tema trabalho infantil no site: www.promenino.org.br

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No banco dos réus os de corrupção, no entanto, Cabe ao Poder Judiciário julgar cas tribunais brasileiros a falta de ética também existe nos

O

s 11 ministros que compõem o Supremo Tribunal Federal (STF) brasileiro começam, no dia 2 de agosto, a julgar os 38 réus do chamado caso Mensalão, um dos maiores casos de corrupção já noticiados no País. Os réus estão sendo acusados pelos crimes de peculato, lavagem de dinheiro, corrupção ativa, gestão fraudulenta e formação de quadrilha. Para a revista estadunidense The Economist, uma das publicações de maior relevância internacional, o fato do Mensalão ter chegado aos tribunais é um indicativo de progresso na transparência na política brasileira. “A prisão de políticos corruptos (no Brasil) pode ainda ser improvável, mas não é mais impensável”, afirmou a publicação. No começo de setembro, cinco dos 37 acusados no julgamento do Mensalão foram considerados culpados pela maioria dos membros do STF, e com isso a primeira fase desse processo histórico já está praticamente concluída. Os ministros podem modificar seu voto até que o processo seja concluído, mas é difícil enxergar uma reviravolta no caso após a maioria dos juízes ter declarado os cinco réus culpados. Como esse é um dos julgamentos de maior destaque na grande mídia brasileira, existe uma enorme pressão pública para a punição dos que forem comprovadamente culpados. Mas, e para os jovens que cresceram em meio à descrença na política, o que eles pensam sobre isso? Para o jovem Guilherme Ignácio, de 20 anos, estudante da Universidade Federal do Mato Grosso (UFMT), é importante que o julgamento aconteça, e, principalmente que ele receba uma divulgação maciça. “O Judiciário do País não tem credibilidade, a exposição do julgamento e a consequente

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José Cruz/ ABr

Manassés de Oliveira, Virajovem de Picuí (PB); e Nealla Machado, Virajovem de Campo Grande (MS)*

Os ministros do Supremo Tribunal Federal (STF), Joaquim Barbosa e Cármen Lúcia, durante julgamento da Ação Penal 470, conhecida como processo do mensalão

Mas o que é corrupção? A definição clássica, seguida pelo Banco Mundial e pela Transparência Internacional (que mede o Índice de Percepção da Corrupção), considera corrupção como o uso da posição pública de um indivíduo para proveitos pessoais ilegítimos ou abuso de poder para aproveitamento pessoal. Entretanto, esses abusos podem ocorrer tanto na esfera privada como na pública e seus efeitos são sentidos em todas as esferas sociais. De acordo com a ONG Transparência Brasil, o nosso País possui um dos piores índices de Gini do mundo, uma medida utilizada para calcular a desigualdade da distribuição de renda. Um dos motivos para a perpetuação da desigualdade social no Brasil é a corrupção existente nos poderes brasileiros.


condenação dos acusados pode ajudar no juízo que a população faz. Com uma maior sensação de justiça, da possibilidade de ver um criminoso condenado, é possível que mais movimentos contra a corrupção aconteçam, se o povo sentir que tem a Justiça ao seu lado”, afirma.

Manassés de Oliveira

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Juízes também são réus

Edgledson Medeiros: “Até hoje não tive aula que discutisse a corrupção no Judiciário”

vários crimes em 2006. As penas somadas chegam a 26 anos de prisão. Hoje Nicolau dos Santos Neto está aposentado cumprindo prisão domiciliar. Atualmente, no Conselho Nacional de Justiça (CNJ) tramitam mais de 600 processos contra magistrados de todas as instâncias do Judiciário. Apesar do avanço, os chamados “bandidos de toga” ainda estão muito longe de serem punidos. “Tenho que acreditar que os bandidos de toga sejam uma minoria e que essa minoria será banida. O que posso afirmar é que o controle e a transparência melhoraram muito e é por isso que estamos vivenciando tanta denúncia no âmbito do Poder Judiciário”, afirma a advogada e jornalista Fabiana Agra. No Brasil este problema não é pontual, é genérico. “A corrupção, em todas as repartições da sociedade, tem um viés econômico. As pessoas se corrompem porque querem ganhar dinheiro. Logicamente, no Judiciário, quando há corrupção, ela vai desfavorecer as pessoas pobres porque não têm dinheiro para comprar aqueles que decidem”, acredita o agricultor Ranieri Ferreira.

Manassés de Oliveira

Mas a corrupção não está apenas nos poderes Executivo e Legislativo. Ela também habita o Judiciário brasileiro. Ocorre que, neste poder, os casos são pouco noticiados e as investigações, muitas vezes, encontram um corporativismo que inviabiliza qualquer punição efetiva. O Poder Judiciário é acusado de ser uma caixapreta. Contudo, a situação tem melhorado desde o dia 31 de dezembro de 2004, quando foi instalado no Brasil o Conselho Nacional de Justiça (CNJ). A criação do CNJ atende às disposições do artigo 103-B da Constituição Federal e, entre muitas de suas funções, a garantia das execuções penais é uma das mais importantes. Mas para a advogada e jornalista Fabiana Agra, que atua em tribunais na Paraíba e no Rio Grande do Norte, ainda são necessários muitos avanços. “Transparência não tem mesmo, mas depois da criação do CNJ melhorou um pouco. O Conselho deu uma arrumada na casa, mas ainda não conseguiu nem sair do terraço. O corporativismo é maior do que em qualquer lugar, do que em qualquer instituição do País”, afirma. A morosidade do Judiciário pode ser um dos fatores que fortalecem a impunidade em todos os casos de corrupção da história do Brasil. A lentidão pode não apenas estar ligada aos instrumentos legais que disciplinam as etapas dos processos, mas também com as relações que existem entre as partes e os magistrados. Há também os casos nos quais os próprios juízes são réus. Mas eles não têm a mesma incidência na mídia e na memória nacional como a corrupção denunciada no Congresso, assembleias, governos estaduais, câmaras e prefeituras do País. A cultura do silêncio começa na universidade e segue imutável na sociedade. O estudante de Direito, Edgledson Medeiros, confirma: “Estou no quinto período do curso e, até hoje, não tive uma aula sequer, de 50 minutos, que discutisse a corrupção no Judiciário”. A regra raramente é quebrada. Mas quando isso acontece, os escândalos abalam a República. O exemplo mais conhecido é o do ex-juiz Nicolau dos Santos Neto, acusado de desviar recursos públicos durante a construção do Fórum do Tribunal Regional do Trabalho de São Paulo. Ele foi condenado por

Ranieri Ferreira: “No Judiciário, quando há corrupção, ela vai desfavorecer as pessoas pobres”

Revista Viração • Ano 10 • Edição 89 23


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Ética na prática O jurista Rodolf von Lhering, numa palestra realizada no século 19, afirmou que o Direito não é uma simples ideia, mas sim uma força que tem vida. No livro A luta pelo Direito, ele afirma: “A Justiça sustenta, numa das mãos, a balança, com a qual pesa o Direito. Enquanto na outra segura a espada, por meio da qual se defende. A espada sem a balança é a força bruta. A balança sem a espada é a impotência do Direito. Uma completa a outra. O verdadeiro Estado de Direito só pode existir quando a justiça brandir a espada com a mesma habilidade com que manipula a balança”. O que o jurista disse, neste livro que até hoje ajuda a formar advogados, promotores e juízes, foi que a ação do Judiciário deve ser o resultado de uma avaliação legal e, principalmente, ética. “O profissional ético é aquele que preza por um direito universal e não por um direito particular que só beneficia uma parte da sociedade”, afirma o estudante de Filosofia Denis Azevedo.

Manassés de Oliveira

V

“O profissional ético é aquele que prega por um direito universal”

18 Revista Viração • Ano 7 • Edição 53



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IMAGENS QUE VIRAM

Brincando com luz Filipe Borges Campos, Virajovem de Vitória (ES)*

P

arece efeito de Photoshop, mas não é! O light painting é uma técnica fotográfica que registra um desenho ou palavras luminosas formadas a partir de uma lanterna ou outro objeto luminoso. Em português pode ser entendido com “pintar com luz”. Câmeras digitais captam não apenas o brilho da luz, mas o movimento, o desenho feito no ar com um objeto luminoso, permitindo o registro do formato de uma composição. Em Vitória (ES), rolou uma oficina sobre a técnica com adolescentes. Eles formaram letras, escreveram nomes e palavras, além de criarem cenas especiais que não dependeram de programas de edição de imagens para produzir efeitos interessantes. Confira nas imagens um pouco do que rolou na oficina!

V

26 Revista Viração • Ano 10 • Edição 89


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Festa da Ba

nca

*Um dos Virajovens presentes em 20 Estados do País e no Distrito Federal

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Jéssica Delcarro

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Legítimos donos da terra preocupação com Indígenas comunicadores levantam violação de seus direitos política de demarcação de terras e

Bruno Ferreira, enviado da Viração a Ilhéus (BA)

O

livença, distrito da cidade baiana de Ilhéus, amanheceu ao som de maracás e cantos indígenas no último dia 20 de setembro. Um ritual acolhedor com membros de diversas etnias abriu o 4º Encontro da Rede Índios On-line, na sede da ONG Thydêwá. O objetivo da reunião, que aconteceu até dia 23, foi articular a rede de indígenas que procura comunicar a situação de suas aldeias em um site colaborativo. Uma questão preocupante levantada por Fernando Pankararu, um dos criadores da Rede Índios On-line, foi a da Portaria 303, da Advocacia-Geral da União (AGU); e da Proposta de Emenda Constitucional (PEC) nº 215, que ameaçam os direitos dos povos indígenas brasileiros. A primeira permite que o governo se aproprie das terras indígenas para o estabelecimento de hidrelétricas e outros empreendimentos sem consulta aos povos indígenas. Já a PEC 215 pretende alterar o artigo 231 da Constituição Federal, passando a responsabilidade de novas demarcações de terras ao Congresso Nacional, que além de obter esse poder, ainda terá condições de rever e voltar atrás com demarcações realizadas anteriormente. Essas medidas, que vão contra os princípios da Constituição, se seguirem adiante, representarão um retrocesso, pois colocam em situação ainda mais vulnerável os indígenas que habitam terras já demarcadas. Diante dessa situação, na manhã do segundo dia do 4º Encontro da Rede Índios On-line, os gestores apresentaram uma carta de repúdio à Portaria 303 e à PEC 215. “Eles pretendem fazer mais barragens às margens do Rio São Francisco e nós não somos a favor. Nem nós, nem os ribeirinhos e os quilombolas. Temos que impugnar essa Portaria mesmo. O governo não consultou o povo Pankararu nem os ribeirinhos sobre a construção de uma hidrelétrica no território. O governo federal não respeita os povos indígenas”, afirma Fernando Pankararu, liderança dos Pankararu, etnia presente no estado de Pernambuco. “As comunidades indígenas e quilombolas do sul da Bahia serão diretamente atingidas com a construção do Porto Sul de Ilhéus, uma ferrovia que será construída na região”, alerta o integrante da Rede Índios On-line Jaborandy do Amaral e Silva, da etnia Tupinambá, de Ilhéus (BA).


Jéssica Delcarro

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Repúdio à arbitrariedade Os integrantes da Rede Índios On-line publicaram em seu site uma carta expondo sua preocupação com a Portaria 303. Nela, os há um pedido para que todos os indígenas se unam em torno da defesa de seus direitos constitucionais. “Repudiamos essa Lei. O governo quer usufruir de nossas terras sem a nossa permissão. Sabemos também que essa portaria é ilegal, pois foi criada pela Advocacia Geral da União (AGU), que não tem esse direito sem nos informar. Isso passa por cima da lei maior que é a Constituição Federal de 1988”, diz a carta.

Ritual de abertura do primeiro dia do 4º Encontro da Rede Índios On-line

Bruno Fe

A Rede Índios On-line existe desde 2004 e reúne cerca de 500 membros de 32 etnias e 800 colaboradores que publicam conteúdos sobre suas realidades, com o objetivo de juntos buscarem soluções para a exclusão e vulnerabilidade social de suas comunidades. Participam da Rede homens e mulheres de todas as idades. O 4º Encontro recebe em Ilhéus cerca de 30 integrantes da rede, entre gestores e novos integrantes. V

rreira

Rede Índios On-line

Participantes do encontro debatem importância da comunicação e direito à terra

O que diz a Constituição Federal Art. 231 - São reconhecidos aos índios sua organização social, costumes, línguas, crenças e tradições, e os direitos originários sobre as terras que tradicionalmente ocupam, competindo à União demarcá-las, proteger e fazer respeitar todos os seus bens. § 1º - São terras tradicionalmente ocupadas pelos índios as por eles habitadas em caráter permanente, as utilizadas para suas atividades produtivas, as imprescindíveis à preservação dos recursos ambientais necessários a seu bem-estar e as necessárias a sua reprodução física e cultural, segundo seus usos, costumes e tradições. § 2º - As terras tradicionalmente ocupadas pelos índios destinam-se à sua posse permanente, cabendo-lhes o usufruto exclusivo das riquezas do solo, dos rios e dos lagos nelas existentes. § 3º - O aproveitamento dos recursos hídricos, incluídos os potenciais energéticos, a pesquisa e a lavra das riquezas minerais em terras indígenas só podem ser efetivados com autorização do Congresso Nacional, ouvidas as comunidades

afetadas, ficando-lhes assegurada participação nos resultados da lavra, na forma da lei. § 4º - As terras de que trata este artigo são inalienáveis e indisponíveis, e os direitos sobre elas, imprescritíveis. § 5º - É vedada a remoção dos grupos indígenas de suas terras, salvo, ad referendum do Congresso Nacional, em caso de catástrofe ou epidemia que ponha em risco sua população, ou no interesse da soberania do País, após deliberação do Congresso Nacional, garantido, em qualquer hipótese, o retorno imediato logo que cesse o risco. § 6º - São nulos e extintos, não produzindo efeitos jurídicos, os atos que tenham por objeto a ocupação, o domínio e a posse das terras a que se refere este artigo, ou a exploração das riquezas naturais do solo, dos rios e dos lagos nelas existentes, ressalvado relevante interesse público da União, segundo o que dispuser lei complementar, não gerando a nulidade e a extinção direito a indenização ou ações contra a União, salvo, na forma da lei, quanto às benfeitorias derivadas da ocupação de boa fé.

O documento de repúdio à PEC 215 e à Portaria 303 da AGU poderá ser lido na íntegra no site da Rede Índios On-line (www.indiosonline.net). Acompanhe informações sobre questões indígenas também no site do projeto Oca Digital, da ONG Thydêwá (www.ocadigital.art.br).

Revista Viração • Ano 10 • Edição 89 29


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No Escurinho

Para reviver a "“metamorfose ambulante“" O

êxito do longa-metragem Raul - O Início, o Fim e o Meio representa um novo capítulo no bem-sucedido diálogo dos últimos anos entre o documentário e a tradição musical brasileira. Filmes como Cartola - Música para os Olhos (2006), Loki - Arnaldo Batista (2009), Uma Noite em 67 (2010), A Música Segundo Tom Jobim (2012) e Tropicália (2012) ilustram essa aproximação ao cobrir personagens e períodos muito diferentes. Nas salas de cinema, Raul - O Início, o Fim e o Meio conseguiu a proeza de atrair quase 200 mil espectadores. Agora disponível em DVD, o filme deve ampliar muito mais o seu público, alcançando moradores dos milhares de municípios brasileiros que não tiveram a oportunidade de assistir ao filme porque ele ficou pouco tempo em cartaz – ou porque, lamentavelmente, as cidades onde vivem não têm cinemas. Dirigido pelo também fotógrafo Walter Carvalho (Janela da Alma, Cazuza - O Tempo não Para, Budapeste), Raul foi realizado a partir de um imenso volume de pesquisas. A equipe de filmagem colheu dezenas de depoimentos e localizou diversas imagens raras. A organização do material, no filme, privilegia o tratamento do personagem de acordo com temas. Um dos principais blocos do documentário ilumina as relações entre Raul Seixas e o hoje escritor Paulo Coelho, que foram parceiros de trabalho nos anos 1970. Roqueiro singular, Raul não se confunde com nenhuma outra figura de nossa cultura. Algumas de suas canções, como Maluco Beleza, Metamorfose Ambulante, O Dia em que a Terra

Parou e Sociedade Alternativa, mantêm seu apelo contestador até hoje. Boa parte do público que assistiu ao filme nos cinemas não tinha nascido ou ainda era criança quando o compositor e intérprete morreu precocemente, em 1989, aos 44 anos. Para essa turma, o documentário não equivale apenas a um mero retrato de artista. A janela aberta por Carvalho, usando Raul como fio condutor, corresponde a um fascinante túnel do tempo que nos leva até aspectos importantes da história e da cultura brasileiras.

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Divulgação

Sérgio Rizzo, crítico de cinema*

r a a atenção da juventude po am ch s ixa Se ul Ra bre so e Film sileiras tos da história e cultura bra ec asp s nte rta po im a r ete rem

O longa Raul - O Início, o Fim e o Meio, de Walter Carvalho, atraiu quase 200 mil expectadores para as salas de cinema

* www.sergiorizzo.com.br

30 Revista Viração • Ano 10 • Edição 89


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Que Figura!

Orgulho de ser nordestino

Rei O cantor e compositor Luiz Gonzaga, conhecido como ões do Baião, disseminou a cultura sertaneja em suas canç

“Quando olhei a terra ardendo Qual fogueira de São João Eu perguntei a Deus do céu, ai Por que tamanha judiação. ”

Luiz Gonzaga e Humberto Teixeira (Asa Branca)

Novaes

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uem já ouviu Asa Branca consegue captar a essência do cantor e compositor pernambucano Luiz Gonzaga, que completaria cem anos no próximo dia 13 de dezembro se ainda estivesse vivo. Em ritmos alegres, como o forró pé-deserra, xote e xaxado, o Rei do Baião, como ficou conhecido, abordava as tristezas e sofrimentos do povo nordestino, em especial dos que viviam aflitos, vitimados pela aridez do sertão. Luiz Gonzaga do Nascimento nasceu em Exu, no ano de 1912, numa pequena fazenda na Serra do Araripe. Filho de pais roceiros, desde a infância teve intimidade com a música, ao ver o pai, Januário José dos Santos, tocando acordeão. Por conta de uma desilusão amorosa, ingressou no exército. Os pais de Nazarena, sua paixão de juventude, não aprovaram o relacionamento da filha com Luiz Gonzaga. Mas foi na condição de militar que teve a oportunidade de conhecer o Brasil e iniciar profissionalmente sua trajetória na música. No início, apresentava-se em prostíbulos da cidade do Rio de Janeiro, onde deu baixa no exército para passar a viver exclusivamente de música. O artista ficou 16 anos sem ver nem dar notícias aos pais. Quando do reencontro com o genitor, compõe a música Respeita Januário, em parceria com Humberto Teixeira, em 1950. A vida pessoal do artista foi marcada por muitos conflitos, desentendimentos e romances passageiros. Ao descobrir a gravidez de uma amante, quis assumir a paternidade do filho dela, dando a ele o seu próprio nome. O menino, conhecido como Gonzaguinha, mais tarde segue os passos do pai adotivo na carreira musical. A mãe de Gonzaguinha morreu quando ele tinha dois anos e Luiz Gonzaga quis criá-lo, mas encontrou a resistência de sua então esposa Helena, que rejeitou a possibilidade. Por isso, Gonzaga entrega o filho para os padrinhos do menino e passa a visitá-lo mesmo enfrentando o desprezo e a rebeldia do filho.

Apenas quando Gonzaguinha se torna adulto que Luiz Gonzaga consegue estabelecer com ele uma relação amistosa. Juntos, compuseram músicas e viajam pelo Brasil. Uma das características mais marcantes do Rei do Baião é o fato de nunca ter abandonado suas raízes nordestinas mesmo com todo o sucesso que conquistou no decorrer da carreira. Luiz Gonzaga morreu em 2 de agosto de 1989, aos 76 anos, vítima de uma parada cardiorespiratória, em Recife, deixando um vasto legado. Muitas de suas composições ainda fazem sucesso na voz de nomes consagrados da música e instigam a vontade de forrozear entre os mais jovens. Além de Asa Branca, talvez o seu maior sucesso, destacam-se Luar do Sertão, Eu só quero um xodó e Xote das Meninas. V


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Sexo e Saúde

D

e acordo com dados recentes do Ministério da Saúde, quase 50% da população brasileira está acima do peso. Colesterol alto, hipertensão e diabetes são problemas de saúde relacionados frequentemente à obesidade. Mas será que essa doença pode interferir na vida sexual de homens e mulheres que desde a infância vivem com obesidade? Para saber mais sobre isso, entrevistamos a pediatra e hebiatra Maria Inês Ribeiro Costa Jonas, de Lavras (MG), que explica a relação do excesso de peso com a vida sexual. Confira! V

Maria de Fátima Ribeiro, do Virajovem Lavras (MG)*

O desempenho no ato sexual tem a ver com obesidade?

Natália Forcat

A essa questão respondo com uma outra: Por que uma condição de obesidade atrapalharia o desempenho sexual? A obesidade por si só não interfere em nada a condição de se exercitar a sexualidade e a prática do ato sexual. O cuidado com o corpo é maior que essa questão. Então, devemos e podemos conviver com o corpo que temos, procurando fazê-lo sempre saudável e sermos felizes. Uma adolescente/jovem acima do peso ou obesa pode ter problemas para engravidar? O estrógeno, que é o hormônio feminino, é armazenado e metabolizado nas células gordurosas. Como a pessoa obesa tem excesso dessas células, há uma interferência negativa na ovulação e em consequência na gravidez. No homem, altera também a testosterona, que é o hormônio masculino, também pelo armazenamento e metabolismo no tecido gorduroso. Alguns estudos mostram que o sêmen de homens obesos contêm menos espermatozoides. A obesidade prejudica a intimidade sexual? Devido a questões emocionais, e da não aceitação do corpo, a obesidade poderia sim interferir no relacionamento sexual. No entanto, todas essas alterações são reversíveis com a perda de peso e um bom trabalho psicoterápico. O garoto obeso pode vir a ter algum problema com ereção? Em pesquisas mais recentes foi demonstrado que vasos penianos obstruídos por placas de ateroma, que aparecem no aumento de colesterol, frequente nas pessoas obesas, podem reduzir o fluxo de sangue no pênis, impedindo assim uma ereção satisfatória, apesar do desejo sexual estar mantido.

Mande suas dúvidas sobre Sexo e Saúde, que a galera da Vira vai buscar as respostas para você! O e-mail é redacao@viracao.org

32 Revista Viração • Ano 10 • Edição 89

*Uma das Virajovens presentes em 20 Estados do País e no Distrito Federal


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Rango da terrinha

Cremoso de Minas

cremoso é um prato que Típico de Minas Gerais, o bolo de fubá ças em seu preparo pode contar com a participação das crian

CUPOM DE ASSINATURA

Maria de Fátima Ribeiro, do Virajovem Lavras (MG)*

E

m época de inverno, nas fazendas de Minas Gerais, é em torno do fogão a lenha que a família se junta, a prosa rola solta e as comidinhas são a diferença nesse momento de confraternização. Vovós e vovôs são os anfitriões para essa delícia com gosto de infância, acompanhada por um bule de café feito no fogão a lenha. O bolo de fubá cremoso torna as tardes em qualquer estação deliciosas. O bolo é muito simples de ser feito. É uma receita de baixo custo e o melhor ainda, as crianças podem e devem participar. Com a supervisão de um adulto, elas quebram os ovos, colocam os ingredientes no liquidificador, untam a forma, enfim, fazem esse bolo ficar ainda mais gostoso. Só não pode ligar e mexer no forno! Então, mãos à obra e vamos ao lanche de um delicioso bolo de fubá cremoso que tem sabor de infância e o brilho de uma receita que conta com a participação da criançada! V

Modo de preparo

4 ovos 4 xícaras de leite 3 xícaras de açúcar 2 colheres de farinha de trigo 1 xícara e meia de fubá 2 colheres de margarina 100g de queijo ralado 1 colher de fermento em pó

Coloque tudo no liquidificador e bata por cinco minutos (ovos, margarina, queijo, trigo, fubá, açúcar e leite). Depois que bater, coloque o fermento e bata novamente por um tempo. Unte uma forma com farinha e margarina, despeje a massa e asse por mais ou menos quarenta minutos. Pode servir quente com café ou até mesmo com suco. Huummm!!!

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*Uma das Virajovens presentes em 20 Estados do País e no Distrito Federal

4. BOLETO BANCÁRIO (R$2,95 de taxa bancária)


Pela conquista de Direitos FONE(COM.) E-MAIL

EST. CIVIL BAIRRO SEXO

Dhiene Aparecida, do Virajovem Curitiba (PR)*

A

independência do Brasil, comemorada no dia 7 de setembro, lembra aquela velha imagem dos livros de história, em que Dom Pedro, grita nas margens do Rio Ipiranga a libertação da nação brasileira. Este mesmo ato foi repetido por outros paranaenses no dia 7 de setembro deste ano, entre eles estavam os participantes do Levante Popular da Juventude. Jovens, ativistas e moradores da comunidade Vila Osternack, localizada em Curitiba, saíram pelas ruas da comunidade, gritando pelo direito à moradia, educação de qualidade, liberdade de expressão e segurança alimentar. “O Levante é um instrumento de organizações para a classe trabalhadora, ele não é um partido, mas sim um movimento social. O seu objetivo é estar em todos os cantinhos do Brasil para se tornar uma esperança onde não há”, explica Ronaldo Souza, membro do Levante do Rio Grande do Sul. No acampamento realizado entre os dias 7 e 9 de setembro, na chácara do Sindicato dos Servidores do Poder Judiciário do Estado Paraná (Sindijus), em Almirante Tamandaré (PR), estiveram presentes aproximadamente 150 jovens. Eles vieram de diversas regiões do Paraná,

como Londrina, Guarapuava, Irati, Curitiba e região metropolitana. O encontro foi fundamental para debater diversos temas, como feminismo, igualdade social, a situação precária de alguns bairros, discriminação racial, êxodo rural entre outras questões que envolvem o mundo jovem. “Eu estou no levante há sete anos. Fiz vários amigos! É um ambiente legal porque vi uma esperança de poder mudar minha vida e a vida de outras pessoas. Já que temos a missão de contribuir com a elaboração de políticas públicas, melhoria na qualidade de vida dos jovens, buscar e criar novas oportunidades para que os jovens tenham acesso à Saúde, Educação, lazer e outros direitos”, diz Ronaldo Souza, participante do levante popular da juventude do Porto Alegre (RS), que termina sua fala com uma mensagem para os jovens: "Organize-se porque se a vida não está boa vamos construir o mundo que nós queremos". V Levante Popular da Juventude realiza manifestação em bairro da periferia de Curitiba

Curitiba (PR)

REVISTA VIRAÇÃO Rua Augusta, 1239 – Cj. 11 Consolação – 01305-100 São Paulo (SP) Tel./Fax: (11) 3237-4091 / 3567-8687

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Parada Social

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*Uma das Virajovens presentes em 20 Estados do País e no Distrito Federal


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o b r e v

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17 de outubro #pelodireitoàcomunicação www.renajoc.org.br

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