Revista Viração - Edição 103 - Janeiro - Fevereiro - 2014

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Agência Jovem de Notícias

quem faz a vira pelo brasil

Delegação brasileira, jovens da América Latina e Europa, participam da COP 19, em Varsóvia, na Polônia.

Conheça os Virajovens em 20 Estados brasileiros e no Distrito Federal: Aracaju (SE) Belém (PA) Boa Vista (RR) Boituva (SP) Brasília (DF) Campo Grande (MS) Curitiba (PR) Fortaleza (CE) João Pessoa (PB) Lavras (MG) Lima Duarte (MG) Macapá (AP) Maceió (AL) Manaus (AM) Natal (RN) Picuí (PB) Pinheiros (ES) Porto Alegre (RS) Recife (PE) Rio Branco (AC) Rio de Janeiro (RJ) Salvador (BA) S. Gabriel da Cachoeira (AM) São Luís (MA) São Paulo (SP) Vitória (ES)

Auçuba Comunicação e Educomunicação – Recife (PE) • Avalanche Missões Urbanas Underground – Vitória (ES) • Buxé Fixe - Amadora (Portugal) • Casa Peque Davi – João Pessoa (PB) • Catavento Comunicação e Educação – Fortaleza (CE) • Cipó Comunicação Iterativa – Salvador (BA) • Ciranda – Central de Notícia dos Direitos da Infância e Adolescência – Curitiba (PR) • Coletivo Jovem – Movimento Nossa São Luís – São Luís (MA) • Gira Solidário – Campo Grande (MS) • Grupo Conectados de Comunicação Alternativa GCCA – Fortaleza (CE) • Grupo Makunaima Protagonismo Juvenil – Boa Vista (RR) • Instituto de Desenvolvimento, Educação e Cultura da Amazônia – Manaus (AM) • Instituto Universidade Popular – Belém (PA) • Mídia Periférica – Salvador (BA) • Instituto Candeia de Cidadania – Lima Duarte (MG) • Jornal O Cidadão – Rio de Janeiro (RJ) • Lunos – Boituva (SP) • Movimento de Intercâmbio de Adolescentes de Lavras – Lavras (MG) • Oi Kabum – Rio de Janeiro (RJ) • Projeto de Extensão Vir-a-Vila (UFRN) - Natal (RN) • Projeto Juventude, Educação e Comunicação Alternativa – Maceió (AL) • Rejupe • União da Juventude Socialista – Rio Branco (AC)


Copie sem moderação! Você pode: • Copiar e distribuir • Criar obras derivadas Basta dar o crédito para a Vira!

editorial Aquém do esperado

quem somos

A

E

m novembro de 2013, aconteceu em Varsóvia, capital da Polônia, a 19ª edição da Conferência das Partes (COP), que tem como objetivo reunir representantes dos países que integram as Nações Unidas para repactuar acordos para minimizar os efeitos danosos ao clima do planeta. Jovens brasileiros, latinoamericanos e europeus integraram mais uma Agência Jovem de Notícias Internacional acompanhando de perto, durante 11 dias, os diálogos e tentativas de negociação entre países e militantes. Na reportagem de capa desta edição, você confere o que rolou durante a COP 19. Em 2014, a Vira volta a ter dez edições anuais. Seguindo o calendário escolar, procuraremos fazer uma edição por bimestre no início e no meio do ano. Assim, esta primeira edição de 2014 serve para os meses de janeiro e fevereiro. No meio do ano, outra edição valerá para os meses de julho e julho. Os assinantes que aderiram à assinatura anual de 12 exemplares, receberão 12 números. Boa leitura!

Viração é uma organização não governamental (ONG) de educomunicação, sem fins lucrativos, criada em março de 2003. Recebe apoio institucional do Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF), da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO), do Núcleo de Comunicação e Educação da Universidade de São Paulo e da ANDI - Comunicação e Direitos. Além de produzir a revista, oferece cursos e oficinas em comunicação popular feita para jovens, por jovens e com jovens em escolas, grupos e comunidades em todo o Brasil. Para a produção da revista impressa e eletrônica, contamos com a participação dos conselhos editoriais jovens de 20 Estados, que reúnem representantes de escolas públicas e particulares, projetos e movimentos sociais. Entre os prêmios conquistados nesses dez anos, estão Prêmio Don Mario Pasini Comunicatore, em Roma (Itália), o Prêmio Cidadania Mundial, concedido pela Comunidade Bahá’í. E mais: no ranking da ANDI, a Viração é a primeira entre as revistas voltadas para jovens. Participe você também desse projeto. Paulo Pereira Lima Diretor Executivo da Viração – MTB 27.300

Apoio institucional

Asso

ciazione Jangada


d Educação humanizada

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Conheça o cotidiano de uma unidade de medida socioeducativa de São Paulo que tem vocação para a arte e adota a pedagogia de Paulo Freire

Poeta português Trechos de poemas e cartas de autoria de Fernando Pessoa ganham as páginas dos quadrinhos. Leia a crítica de Nobu Chinen

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Brasil afora O jornalista Caio Dib conta sobre sua viagem pelo Brasil a procura de experiências inovadoras de educação, a serem publicadas em um livro

sempre na vira:

Manda Vê Imagens que Viram Como se Faz Quadrim Vale 10 No Escurinho

RG da Vira: Revista Viração - ISSN 2236-6806 Conselho Editorial

Eugênio Bucci, Ismar de Oliveira, Izabel Leão, Immaculada Lopez, João Pedro Baresi, Mara Luquet e Valdênia Paulino

Conselho Fiscal

Everaldo Oliveira, Renata Rosa e Rodrigo Bandeira

Conselho Pedagógico

Alexsandro Santos, Aparecida Jurado, Isabel Santos, Leandro Nonato e Vera Lion

Presidenta

Susana Piñol Sarmiento

Vice-Presidenta Amanda Proetti

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Que Figura Sexo e Saúde Rango da Terrinha Parada Social Rap Dez

Primeiro-Secretário Rafael Lira

Diretoria Executiva

Paulo Lima e Lilian Romão

Equipe

Bruno Ferreira, Elisangela Nunes, Evelyn Araripe, Filipe Campos Borges, Gutierrez de Jesus Silva, Irma D’Angelo, Manuela Ribeiro, Rafael Silva, Tulio Bucchioni e Vânia Correia

Administração/Assinaturas

Douglas Ramos e Norma Cinara Lemos

Mobilizadores da Vira

Acre (Leonardo Nora), Alagoas (Alan Fagner Ferreira), Amapá (Alessandro Brandão), Amazonas (Jhony Abreu, Claudia Maria Ferraz e Sebastian Roa),

Cicloativistas defendem que poder público tenha mais atenção com a questão da mobilidade urbana, especialmente nas grandes cidades

Tirando da reta Em mais uma edição da Conferência das Partes, autoridades de alguns países que integram as Nações Unidas voltam atrás em compromissos assumidos em acordos pelo clima

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Mais bikes

Fórum de Direitos Humanos Militantes brasileiros e de outros países encontram-se em Brasília para discutir mobilização e participação social; Renajoc fez cobertura

União expressiva Intercâmbio artístico entre jovens de Cabo Verde e Itália rompe com estereótipos e promove sensibilização para a cidadania global

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Bahia (Emilae Sena e Mariana Sebastião), Ceará (Alcindo Costa e Rones Maciel), Distrito Federal (Webert da Cruz), Espírito Santo (Jéssica Delcarro e Izabela Silva), Maranhão (Nikolas Martins e Maria do Socorro Costa), Mato Grosso do Sul (Fernanda Pereira), Minas Gerais (Emília Merlini, Reynaldo Gosmão e Silmara Aparecida dos Santos), Pará (Diego Souza Teofilo), Paraíba (José Carlos Santos e Manassés de Oliveira), Paraná (Juliana Cordeiro e Diego Henrique Silva), Pernambuco (Edneusa Lopes e Luiz Felipe Bessa), Rio de Janeiro (Gizele Martins), Rio Grande do Norte (Alessandro Muniz), Rio Grande do Sul (Evelin Haslinger e Joaquim Moura), Roraima (Graciele Oliveira dos Santos), Sergipe (Elvacir Luiz) e São Paulo (Luciano Frontelle e Paolla Menchetti).

Colaboradores

Antônio Martins, Heloísa Sato, Márcio Baraldi, Natália Forcat, Nobu Chinen, Novaes e Sérgio Rizzo.

Projeto Gráfico

Ana Paula Marques e Manuela Ribeiro

Revisão

Izabel Leão

Jornalista Responsável

Paulo Pereira Lima – MTb 27.300

Divulgação

Equipe Viração

E-mail Redação

redacao@viracao.org


diga lá!

O que é Educomunicação?

Via e-mail Bom dia, Primeiramente gostaria de parabenizar toda a equipe pelo lindo trabalho que desenvolvem. Atualmente sou um educomunicador, comecei minha trajetória como educando em um projeto de comunicação comunitária quando tinha 15 anos e, de lá pra cá, me formei em Comunicação Social, com especialização em Gestão de Comunicação e Mídias pela Universidade de São Paulo. Gostaria de compartilhar um trabalho com fotografia que desenvolvo na minha comunidade com crianças na perspectiva de contribuir com a Revista e mostrar algumas possibilidades interessantes que desenvolvo dentro dessa linguagem. Emerson de Souza

Resposta: Olá, Emerson! Bom saber sobre o seu trabalho de educomunicação com crianças! Publicar as produções delas será um prazer! Pode encaminhá-las para redação@viracao.org. Um abraço!

Perdeu alguma edição da vira? não esquenta!

@viracao

É comum, nas edições da Vira, encontrar a palavra “educomunicação” ou o termo “educomunicativo”. A educomunicação é um campo de intervenção que surge da inter-relação comunicação/educação para a transformação social. Dizemos que um projeto ou prática é educomunicativa quando adota em seus processos, especialmente do jovem, o caráter comunicacional, como o diálogo, a horizontalidade de relações e o incentivo à participação, fazendo com que os sujeitos exerçam plenamente o direito humano à expressão e à comunicação, em diferentes âmbitos e contextos. A Viração promove ações educomunicativas por meio da produção midiática, incentivando que adolescentes e jovens produzam reportagens coletivas em diferentes linguagens.

Como virar um virajovem? Virajovens são os integrantes dos conselhos editoriais jovens da Viração, que produzem conteúdos mensais em suas cidades. O conselho pode ser um coletivo autônomo de jovens ou um grupo ligado a uma entidade, organização, movimento social, escola pública ou privada, que dará apoio para que os virajovens produzam conteúdos. A parceria entre a Vira e entidade é oficializada com um termo de compromisso e com a publicação do logotipo da organização na revista Quer saber mais? Entre em contato com a gente: redacao@viracao.org.

Agência Jovem de Notícias

Você pode acessar, de graça, as edições anteriores da revista na internet: www.issuu.com/viracao

Para garantir a igualdade entre os gêneros na linguagem da Vira, onde se lê “o jovem” ou “os jovens”, leiase também “a jovem” ou “as jovens”, assim como outros substantivos com variação de masculino e feminino.

Mande seus comentários sobre a Vira, dizendo o que achou de nossas reportagens e seções. Suas sugestões são bem-vindas! Escreva para Rua Augusta, 1239 - Conj. 11 - Consolação - 01305-100 - São Paulo (SP) ou para o e-mail: redacao@viracao.org - Aguardamos sua colaboração!

Parceiros de Conteúdo


manda vê

Evelin Haslinger, do Virajovem Porto Alegre (RS); Jéssica Delcarro, do Virajovem Pinheiros (ES); e Sebastian Roa, do Virajovem Manaus (AM)*

Em outubro de 2013, ativistas ocuparam o Instituto Royal, o que culminou com o encerramento dos testes que aconteciam em sua unidade de São Roque (SP). Esse acontecimento reacendeu a discussão sobre o polêmico uso de animais em testes científicos. O tema divide a opinião da sociedade, ativistas e especialistas. O Dr. John Pippin, diretor de negócios acadêmicos da associação americana PCRM (Comitê Médico Pela Medicina Responsável) é contrário a essa prática. “Usando tecidos humanos, você consegue resultados que se aplicam a humanos, e você não precisa adivinhar se o que aconteceu com o rato também se aplica a humanos”, disse em entrevista concedida à Revista Galileu. De outro lado, o especialista José Mauro Granjeiro, membro do Conselho Nacional de Controle de Experimentação Animal (Concea), em notícia publicada na página oficial da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), em 25 de outubro de 2013, afirma que testes com animais ainda são indispensáveis. “Apesar dos avanços da comunidade cientifica internacional, ainda não é possível fazer testes de sensibilidade, de potência de vacinas, de compatibilidade biológica de próteses (como as mamárias) e produtos terapêuticos sem o uso de animais”. E você,

O que acha sobre os testes com animais? Lucas Henrique

Bruna Paim

“Não sou totalmente a favor dos testes com animais. Porém, precisamos levar em conta que são algumas pesquisas realizadas com animais que fazem a ciência dar saltos muito grandes. Já as pesquisas relacionadas a cosméticos, ou coisas consideradas mais fúteis, não sou a favor.”

“Acho que é um mal necessário, pois é com esses testes que cientistas buscam medicamentos para curar doenças. Porém, fazem mal aos animais que não têm como se defender e que podem morrer durante os testes. Gostaria que houvesse outra solução, pois é uma grande covardia fazer isso com os animais.”

18 anos | Santa Teresa (ES)

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14 anos | Porto Alegre (RS)

Fernanda Siqueira

Paula Deprá

25 anos | Porto Alegre (RS)

19 anos | Vitória (ES)

“É a partir dos testes com animais que conseguimos fármacos e medicamentos que salvam vidas. Essa questão é cultural. Para nós, por exemplo, é terrível pensar em comer ou usar cães em um experimento, porque os cultuamos. Mas na China, o cão é uma carne nobre.”

“A raiz do problema está na tradição. O que há é a coisificação das outras vidas. A noção que move experiências científicas funestas e lesivas, que se apropriam de outra vida a fim de que se salve a própria pele, é o mesmo que dizer que formiga faz bem para as vistas”.

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Johan Melo

19 anos | Manaus (AM)

Victor Rodrigues 19 anos | Manaus (AM)

“Acho uma violação à vida, que não pode ser tirada por motivos banais. Não se brinca com isso. Toda vida é importante, não importa o motivo. É errado atentar contra ela, Logo, sou contra.”

“Com exceção aos casos em que muitas vidas podem ser salvas, sou totalmente contra, especialmente nos casos estéticos e para outros fins que não os medicinais, como recentemente no caso do Instituto Royal.”

Heveris Rodriguez 20 anos | Colômbia

Jefferson Lemes

19 anos | Tangará da Serra (MT) “É necessário em alguns casos. Mas é valido lembrar que, ultimamente, quem mais tem utilizado esse recurso são grandes empresas capitalistas especializadas na fabricação de cosméticos, o que é inaceitável.”

para ler no busão O Último Teste Autor: Ricardo Laurino Escrito por Ricardo Laurino, O Último Teste é um livro que aborda as tensões vividas entre ativistas e pesquisadores que usam animais em experimentações científicas. A história conta que um doutor está prestes a declarar uma grande descoberta na área de métodos alternativos à experimentação animal, mas um incêndio criminoso em seu laboratório destrói sua pesquisa. O principal suspeito é Décio Sucla, renomado cientista e proprietário de um grande laboratório que usa cobaias animais.

“Não estou de acordo com isso. Parece-me algo bárbaro, já que nesses testes os animais sofrem maus tratos. Até os ratos são seres vivos, que sentem dor. Assim, todos precisam ser tratados de forma digna.”

não é de hoje O Projeto Esperança Animal (PEA) é uma entidade ambiental que tem o objetivo de propiciar harmonia entre os seres humanos e o planeta. Desenvolve projetos que visam à preservação do meio ambiente e de animais em geral, mediante ações de sensibilização da sociedade. Contrários à ideia de que a espécie humana é superior às demais e que os animais existem para nos servir, o projeto tem como missão “mudar o cruel tratamento que os animais e o ambiente recebem nos dias de hoje”. A entidade vem lutando contra a eutanásia, o abandono, os maus-tratos, comércio e abusos como o uso de animais em entretenimento.

tá na mão Para conhecer mais sobre a PEA, acesse o site: http://www.pea.org.br/

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Em busca de uma melhor rede de amparo aos jovens Arte e pedagogia freireana orientam as boas práticas de de medida socioeducativa em São Paulo

unidade

Francine Machado de Mendonça, colaboradora da Vira em São Paulo (SP)

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m uma manhã chuvosa fui conhecer a Medida Socioeducativa (MSE) Sacomã Unas (União das Associações de Bairro do Heliópolis e Região), ao pé da Anchieta, estrada que liga o litoral de São Paulo a Capital. Impressionante como mesmo em 11 anos – entre idas e vindas – dando aulas, contando histórias e improvisando teatro na região com jovens, crianças e adultos, não conheci tudo que tem no bairro. A miopia e o astigmatismo não me impediram de enxergar a casa amarela cheia de desenhos do outro lado da passarela, que evitaram que me perdesse pela região, já que condiziam com a orientação da entrevistada. Partimos para o compartilhamento de experiências e aprendizados. A gestora Mércia Maria das Dores Ribeiro dos Santos, que tem nome aristocrático e também é do Movimento de Mulheres de Heliópolis, conta que os meninos – como ela os define – saem da Fundação Casa ou têm que cumprir medidas por delito após passar pela Vara da Infância Especial e ali o fazem a partir do grafite e trabalham os direitos humanos. “Eles estão começando a pintar o espaço, que tinha sido pichado, resignificando e reparando danos”. Outra atividade é o artesanato, específico para adolescentes e suas famílias, que tem como objetivo a sustentabilidade. “Eles fazem pano de prato, cachecóis e usam garrafas recicláveis”. O espaço também tem grupo de discussão sobre sexualidade, para prevenir gravidez precoce e promove reunião de pais junto com os filhos, pois tem dificuldade de falar algumas questões e dão limites em conjunto, ao mesmo tempo em que trabalham o empoderamento. “Somos mediadores. Quando o juiz encaminha para estas medidas, quer que reatemos esse vínculo.” A MSE Sacomã Unas tem nove funcionários técnicos, um operacional, uma gestora e atende 140 jovens. O foco desta MSE em artes plásticas é demanda da comunidade. “Trabalhamos com a realidade deles, que quando chegam querem por a mão na massa”. A faixa etária dos atendidos é de 14 a 21 anos. Os projetos da Unas trabalham com a pedagogia freiriana.

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Mércia conta que perceberam, com o fortalecimento do movimento que lutou por moradia, que não adiantava conquistá-la sem ter acesso à educação básica. “Definimos esta linha pedagógica por questões práticas da comunidade. O movimento percebeu que Paulo Freire fala de nós, sabia que construíamos o saber juntos, dentro de nossa realidade, percebeu entre os oprimidos a falta da garantia da assistência necessária e que o sistema mantém essa necessidade.” A gestora percebe que os jovens vêm buscar limites, pois tiveram um vácuo familiar. Ela aponta que é necessária uma rede para debate conjunto. “Estes jovens têm emergências afloradas e não há políticas públicas para atendê-los. Procuramos debates em oficinas de direitos humanos, tentamos envolver à família, procuramos amadurecimento, apoio psicológico”. Mércia não justifica o que fizeram, mas mostra que têm responsabilidades. “Complementamos o desenvolvimento psíquico. Nossa posição é a não redução da maioridade penal, sem passar a mão na cabeça. Não apoiamos o que fizeram, mas damos chance que cresçam com apoio psicológico”. Para ela, a redução não muda a realidade, pois não há políticas públicas garantidas. Mércia exemplifica que alguns passam por overdose e muitas vezes o problema é tratado como exclusivo da maior favela de São Paulo, a Heliópolis. “O sistema montado atualmente não traz segurança de poder viabilizar o apoio necessário e a redução da maioridade penalizará os não assistidos pelo sistema público, divididos pelo preconceito.” Há pouco tempo, policiais deram uma batida em frente da casa amarela da MSE Sacomã Unas, e os jovens correram. “Os reuni para conversar que quem não deve não teme, mas tinham alguns com orientações na própria família para fazer isso. Procurei debater em conjunto, mostrando o quanto foram vistos como bobos, já que não havia o que temer”. Se depender das possibilidades na MSE Sacomã Unas e engajamento da gestora, os jovens têm como se reintegrar à escola, família e encontrar vocações para seguir uma vida digna.


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imagens que viram

O mundo em círculos

Filipe Campos e Bruno Ferreira, da Redação Imagens: Luciano Daniel

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fotógrafo capixaba Luciano Daniel começou a explorar os pontos turísticos da grande Vitória com um olhar diferente a partir de fotos 360º, com um efeito inusitado mais conhecido como “Planetinha”, que deixa as fotos como um círculo nas junções de suas extremidade e em simples manipulação através do computador. Pelas distorções, talvez não seja possível identificar pontos conhecidos da capital do Espírito Santo, como o Palácio do Governo, o Convento da Penha, e a ponte que liga a capital à Vila Velha. É de autoria de Luciano, inclusive, a imagem que foi capa da Vira em novembro de 2013, sobre Economia Solidária. Nesta edição, você confere mais algumas das produções do fotógrafo!

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como se faz!

FOTO 360

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Faça fotos com efeito de pequenos planetas

Filipe Campos, da Redação

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s imagens que você acabou de ver na seção Imagens que Viram foram feitas a partir de uma das técnicas fotográficas utilizadas para ganhar dimensões interativas. Usando apenas o celular e um computador com programas básicos de edição, é possível para fazer um “Planetinha”, técnica muito simples, mas com um resultado final fantástico. É preciso tirar uma foto de uma paisagem para aplicar a técnica. Quase toda fotografia pode se transformar em um planetinha, desde que suas extremidades estejam nivelas. Existem diversas possibilidades de distorções e você pode encontrar a técnica que mais se adéqua a você!

Passo a passo 1. Vamos começar com uma imagem regular. Abra a foto no Photoshop, programa a partir do qual esse tutorial foi feito. Mas você também pode fazer seu planetinha no Gimp, um software livre, se preferir. 2. Ir para Image> Image Size para redimensioná-la, alterando a largura e a altura para o mesmo tamanho. Não se esqueça de desmarcar a opção Constrain Proportions, porque isso implicará no resultado final. 3. Agora que você tem uma foto quadrada, vá para Image> Rotate Canvas> 180º. 4. Depois, vá para Filter> Distort> Polar Coordinates e selecione a opção Rectangular to Polar. 5. Agora você só precisa girar (Image> Rotate Canvas> 180º) ou pode posicionar o “planetinha” como você achar melhor e também fazer algum tratamento para eliminar as falhas, pois o lado direito, ao se unir ao lado esquerdo, revela a descontinuidade do globo. Mas quando você selecionar a imagem, certifique-se de que os lados deles são iguais e verifique se a linha do horizonte é completamente horizontal, porque isso vai minimizar a falha. A dica é usar a ferramenta Clone Stamp e o Patch Tool para você minimizar ou remover completamente as falhas, porem não é necessário. Bom divertimento!

tá na mão Confira o vídeo que ensina o passo a passo de como fazer uma foto 360º no link: http://migre.me/hmtIl Confira o link sugerido pelo QR Code!


quadrim

Um poeta que é muitos e um só

Nobu Chinen, crítico de quadrinhos

A

daptar poesia para qualquer outra linguagem impõe obstáculos imensos. Diferentemente de um texto descritivo ou narrativo em que uma ilustração pode tentar traduzir o que o autor quis dizer, é praticamente impossível converter em imagens o ritmo das frases, a sonoridade das palavras, a integridade de um verso bem construído. Imagine, então, a dificuldade que é adaptar as obras do genial Fernando Pessoa, um dos maiores nomes do nosso idioma. O poeta português tinha a originalidade de se desdobrar em vários outros, ou seja, adotava diferentes pseudônimos e sob cada um deles escrevia em estilos distintos, sobre temas diversos e propósitos também variados. Ricardo Reis, Alberto Caeiro, Álvaro de Campos, Bernardo Soares. Pessoa era todos eles e era um só. O desafio da adaptação nesse caso é ainda maior. É exatamente isso que a que se propõe o álbum Eu, Fernando Pessoa, da roteirista Susana Ventura e do desenhista Guazzelli, e o resultado obtido pelos autores foi bastante feliz. Susana optou por selecionar um poema, entre os mais significativos de cada um diversos “eus” de Fernando Pessoa, intercalando-os com trechos de cartas que o poeta enviou para seu amigo

Por que é legal ler? As poesias de Pessoa sempre são uma leitura envolvente e provocativa. Tiram o leitor da passividade, seja pela paixão, pela indignação ou outro motivo. Aliadas a imagens que nos remetem a um clima de sonho, tornam-se ainda mais perturbadoras.

e também escritor Adolfo Casais Monteiro, explicando a origem dos heterônimos. Com isso, têmse um painel bem interessante da diversidade de textos e, portanto, da versatilidade e do talento do poeta, além de permitir conhecer um pouco de suas intenções. A parte visual também ficou muito interessante no traço do artista Guazzelli. Os desenhos irregulares e muitas vezes rabiscados refletem a angústia contida nas poesias. A mistura de técnicas, a variação e o uso de cores em tons esmaecidos, bem como a inserção de figuras aparentemente desconexas também ajudam a dar uma atmosfera de delírio e de imaginação, como convém à boa poesia. Tudo isso torna a leitura de Eu, Fernando Pessoa uma experiência rica, viva e extremamente instigante.

Por que é importante ler? O poeta é uma das referências obrigatórias da Língua Portuguesa. Sua obra diz muito a respeito da alma portuguesa e da história daquele país, mas fala também de sentimentos universais que pertencem a todos nós.

Para ler e refletir! “Tudo vale a pena se a alma não é pequena...”


galera repórter Alessandro Muniz

“É preciso uma melhor gestão dos recursos públicos para a educação mudar de maneira profunda e em larga escala no Brasil.”

Desbravando a educação hecer iniciativas inovadoras Jornalista decide cair na estrada para con na educação, em 12 Estados do Brasil Stephany Pinho, do Virajovem São Luís (MA); Diego Henrique da Silva, do Virajovem Curitiba (PR)*; e Bruno Ferreira, da Redação

A

paixonado pela educação, o jovem jornalista Caio Dib, de 23 anos, cansou de escrever sobre realidades que não conhecia pessoalmente. Por isso, decidiu cair na estrada por cinco meses para conhecer e registrar experiências inovadoras na área, em 58 cidades de 12 Estados brasileiros. Formado pela Faculdade Cásper Líbero, Caio tem uma atuação forte como jornalista na área de educação. Além de ter trabalhado no Colégio Bandeirantes, em São Paulo, onde se formou no ensino médio, atuou também na Fundação Padre Anchieta, no Instituto Paramitas e na Abril Educação. Da sua aventura educacional, selecionou 14 experiências para integrar seu livro, a ser lançado neste mês de fevereiro. Mas esse ano, o jornalista vai criar uma plataforma, onde disponibilizará outras experiências que não farão parte da publicação impressa. Na conversa virtual que tivemos com ele, Caio compartilhou suas impressões sobre as descobertas que fez e o que entende por “educação inovadora”. Confira!

Existiu algum critério no seu roteiro de viagens? Qual foi? Quando tive a ideia da viagem, peguei um Atlas e circulei algumas cidades que gostaria de visitar como viajante. Selecionei cidades importantes (capitais e cidades históricas), cidades curiosas (como Triunfo, uma cidadezinha do interior de Pernambuco, onde os termômetros chegam a 8ºC no inverno) e cidades com projetos interessantes (como Nova Olinda, cidade da Fundação Casa Grande). Você conseguiu contemplar as cinco regiões do Brasil? Infelizmente, não consegui contemplar as cinco Regiões. O Sul não pode entrar na viagem porque já estava há mais de cinco meses na estrada e o orçamento estava reduzido. Quero muito voltar para as Regiões Norte e Centro-oeste, que também não explorei tanto.


Fotos: Acervo pessoal

temática interdisciplinar? Qual foi a experiência Encontrei muitos projetos educacional que mais te extras que envolviam impressionou? Por quê? principalmente a área cultural. Muitas práticas me Porém, estava mais interessado impressionaram muito. em observar casos de educação Selecionei 14 para o livro integral, que ainda é um que será lançado esse ano. grande desafio para as escolas Destaco a experiência da por falta de infraestrutura e Vivendo e Aprendendo, pessoal capacitado. Vi algumas uma escola democrática experiências legais que utilizavam a Caio conversa com estudantes de uma escola que trabalha sob a perspectiva da cidade para educar. de Educação Infantil, aprendizagem cooperativa no Ceará localizada em Brasília, que trabalha de uma maneira incrível para Você encontrou espaços formar crianças para a sociedade. A Escola SESC de Ensino de educação de iniciativas do terceiro setor e de Médio, no Rio de Janeiro, também me impressionou com movimentos sociais? Como eram? a proposta de um espaço de educação de 131 m² na Barra Encontrei alguns espaços de educação do terceiro da Tijuca, onde os jovens têm um ensino integral em uma setor e de movimentos e iniciativas pessoais. Esses escola-residência. grupos são muito importantes para uma educação integral no sentido mais completo do aprendizado. Você acredita que a educação brasileira pode Encontrei iniciativas como a Fundação Casa Grande (Nova Olinda, Ceará, que trabalha com comunicação melhorar a curto ou médio prazo? A educação brasileira está melhorando. Um exemplo e protagonismo juvenil), a Oi Kabum! Escola de Arte e simples, mas significativo, é a história de Seu Luiz, que Tecnologia (Salvador – Bahia, que capacita jovens em conheci num ônibus em Minas Gerais. Ele já é um senhor linguagens digitais) ou até mesmo o PRECE (um projeto e nunca pisou numa sala de aula porque de aprendizagem morava há duas horas de caminhada até a cooperativa que escola. Mesmo com todas as dificuldades, começou em sua filha hoje está completando o ensino Pentecoste – técnico em engenharia. Em uma geração, o Ceará, e levou salto educacional é inacreditável. mais de 500 É preciso uma melhor gestão dos jovens para recursos públicos para a educação universidades mudar de maneira profunda e em larga públicas). escala no Brasil. Apenas em 2012, foram disponibilizados 201 bilhões de reais em escala federal, estadual e municipal. No entanto, muitas vezes esse dinheiro não chega na ponta ou não é utilizado. Uma Caio Dib fala sobre inovação na pesquisa da PUC-RJ apontou que 10% de educação em TEDx da Unisinos, todos os recursos federais para os municípios universidade de São Leopoldo (RS) “desaparecem no meio do caminho” por causa da corrupção. Foi fácil captar recursos e fazer parcerias para viabilizar o projeto? Optei por não captar recursos e firmar apenas uma parceira para viabilizar o projeto. Assim, pretendia ter mais liberdade para escolher cidades, ficar o tempo que achava necessário em cada uma e ter um olhar mais livre para elas e suas práticas. No entanto, sei que muitas empresas estão interessadas em projetos deste tipo. Você encontrou escolas que valorizam a formação de espaços de educação extracurriculares? Se sim, eram projetos relacionadas principalmente a qual

tá na mão Saiba mais sobre o Caindo no Brasil em: http:// caindonobrasil.com.br/

Confira o link sugerido pelo QR Code! *Virajovens presentes em 20 Estados do País e no Distrito Federal

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Sob duas rodas ginnerobot

Rones Maciel, do Virajovem Fortaleza (CE)*

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Foto: Divulgação

Movimentos sociais lutam para garantir o direito à cidade aos ciclistas

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á imaginou a cidade sem carros, trânsito, congestionamentos? Seria uma maravilha, né? Porém, não dá para voltarmos no tempo. Uma cidade não pode ser pensada somente para os carros ou motos. Devemos ter uma cidade para todos. Há outros tipos de pessoas que transitam pelas ruas e que têm o mesmo direito de ir e vir: pedestres, ciclistas, pessoas com deficiências, idosos, crianças, seja a pé, em seus próprios meios ou nos transportes coletivos. Mas você deve estar se perguntando: se mal temos ruas em bons estados para os carros, como vamos ter calçadas, que é de responsabilidade do proprietário, para os pedestres e ciclovias ou ciclofaixas, para os ciclistas pedalarem? As perguntas são pertinentes e podemos buscar algumas respostas no Plano Nacional de Mobilidade Urbana ou na atuação de organizações e movimentos sociais que lutam diariamente para garantir, na prática, esses direitos. A bicicleta pode ser uma boa saída para encarar os desafios que a cidade, seja ela grande ou pequena, pode gerar. Os benefícios da bicicleta são vários. Entre eles, estão: menos poluição, menos espaço ocupado nas vias (melhorando até mesmo para quem precisar usar carro), redução do número de acidentes, população mais saudável, e até mesmo uma melhoria na segurança pública, com mais pessoas nas ruas.

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Ciclovias e ciclofaixas As ciclovias são vias de tráfego de bicicletas separadas fisicamente por blocos, grades ou muros de proteção. As ciclofaixas, diferentemente, não isolam as bikes de outros veículos, mas o espaço destinado a elas está demarcado na pista.

Por falta de espaços destinados ao tráfego de ciclistas, muitas pessoas sentem-se inibidas de pedalar em grandes cidades


Em 2010, de acordo com o Plano Nacional de motoristas, situação física precária, presença de todo tipo Mobilidade Urbana, foram investidos cerca de 11 de obstáculos na via (árvores, postes, pilares, lixo, animais bilhões de reais para a melhoria da mobilidade das mortos)”, conforme avalia a Associação Ciclovida. cidades. Esse valor, se considerarmos anos anteriores, Mesmo com todos os avanços, até agora, a associação, foi dez vezes maior que os anos de 2003 a 2006. Ou ainda busca ocupar outros espaços, como participar seja, temos recursos para a mobilidade, porém não da criação do Plano Diretor Cicloviário Integrado: estão sendo bem gastos. “Preocupa-nos saber o que está sendo feito (pois não Nesse mesmo plano, alguns direitos são apontados existe transparência), e a falta de usuários da bicicleta para garantir o ir e vir, como reduzir as desigualdades na concepção do Plano, podendo resultar em algo de e promover a inclusão social; promover o acesso aos qualidade duvidosa”, ressalta o engenheiro civil. serviços básicos e equipamentos sociais; e proporcionar melhoria nas condições urbanas da população no que se refere à acessibilidade e à mobilidade. Mesmo com um Plano e com recursos garantidos, muita coisa não sai do papel. Indo na contramão dessa falta de atuação do poder público, movimentos A Ciclovida surgiu como associação para participar e organizações da sociedade civil de reuniões e projetos junto ao poder público, obter estão atuando. doações e organizar melhor as ações cicloativistas. Em Fortaleza (CE), a Associação Qualquer um pode se associar, basta preencher a ficha dos Ciclistas Urbanos de Fortaleza – cujo link está na fanpage.As contribuições financeiras (Ciclovida), atua de forma contínua para são voluntárias. buscar maneiras, seja em parceria com a sociedade ou com o poder público. Para a associação, é de extrema importância ter espaços para os ciclistas se locomoverem com segurança pela cidade. “Já é sabido que quando existe estrutura convidativa, os usuários aparecem. Isso já foi provado com a instalação recente das ciclofaixas em duas ruas em Fortaleza, onde o número de ciclistas dobrou depois da instalação, e a tendência é continuar aumentando em outras ruas com ciclovias, conforme foi prometido”, Página do Facebook da Associação Ciclovida: https://www.facebook.com/CiclovidaFortaleza destaca Felipe Alves, engenheiro civil, integrante do Conheça outros movimentos de ciclistas pelo Brasil: Conselho da Ciclovida. Bike Anjo: www.bikeanjo.com.br Uma forma de garantir os espaços, vias seguras, Mapa Cicloviário: bit.do/ciclofortaleza BikeIT!: iluminadas e a própria manutenção é promover a www.bikeit.com.br participação da sociedade, de acordo com Felipe Alves: “A sociedade tem que se mobilizar para cobrar mais do poder público. Atualmente, nossa prefeitura diz que se preocupa com os ciclistas, mas está planejando e executando obras que vão no sentido contrário, priorizando exclusivamente o fluxo de carros e não prevendo espaços para ciclistas, pedestres, portadores de necessidades especiais, ou outros modais”. Fortaleza tem 74 km de ciclovias e ciclofaixas Confira os links sugeridos pelos QR Codes! espalhadas pelos bairros da cidade. “Porém, as ciclovias na cidade são poucas, desconectadas, e em sua maioria estão em péssima condição. Existem *Um dos virajovens presentes em 20 Estados do País e no Distrito Federal diversos problemas, como o desrespeito de pedestres e

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Futuro na mesa de negociação Em novembro, representantes de 193 países se reuniram na Polônia para agredir, ainda mais, o planeta negociar novas formas de desenvolvimento sem

Bruna Souza, Danielle Savietto, Evelyn Araripe, Laura Jungman, Paulo Lima e Raquel Rosenberg, da Agência Jovem de Notícias e da Delegação Jovem do Brasil na COP19 Imagens: Agência Jovem de Notícias Internacional

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xiste um provérbio que diz: “Nós não herdamos a Terra de nossos pais. Nós a emprestamos de nossos filhos.” E seguindo este ditado, há 19 anos, 193 países se reúnem para discutir qual a melhor maneira de garantir que as próximas gerações tenham acesso aos mesmos recursos que nós. São as chamadas Conferências das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas, ou COP. Tudo isso porque, ao longo das décadas, elevamos a temperatura da Terra com queima de petróleo, carvão e gasolina, consumindo desenfreadamente e, com isso, estimulando a ocorrência de tempestades, secas e inundações cada vez mais frequentes. A COP é promovida pela Organização das Nações Unidas (ONU). É o maior evento mundial de discussões sobre as alterações do clima, que reúne líderes globais

para que os países cheguem a um consenso da melhor maneira de combater um dos grandes problemas do nosso século, o aquecimento global. A Conferência ocorre sempre no final do ano. Em 2013 ela aconteceu entre 11 e 22 de novembro na cidade de Varsóvia, Polônia, e denominou-se COP19, em função de ter sido a 19ª edição do evento. Além de reunir representantes dos 193 países das Nações Unidas, a COP também conta com a participação de representantes da sociedade civil, que são divididos em grupos como o de jovens, o de gênero, o de povos tradicionais e indígenas, entre outros. Participar da COP como sociedade civil é uma maneira de pressionar os países para resolverem aquilo que realmente está em jogo: diminuir os


impactos do aquecimento global por meio de compromissos rígidos de redução de emissões de gazes que causam o efeito estufa e resultam no aquecimento do planeta e, consequentemente, em desastres naturais. O ponto de partida do debate dentro das COPs é o Protocolo de Kyoto, criado em 1997 e que funcionou entre 2005 e 2012, estabelecendo metas de redução de emissões para países desenvolvidos. Porém, pouca coisa mudou efetivamente até o término do acordo. As emissões seguiram aumentando em todo o mundo, inclusive nos países em desenvolvimento, como o Brasil. Por isso, na conferência de Varsóvia, os países tentaram acordar medidas para um novo tratado, que precisa ficar pronto até 2015 para começar a valer a partir de 2020. Nesse novo acordo, os países em desenvolvimento também deverão assumir metas de redução das suas emissões. Ou seja, terão que aprender a crescer sem agredir o planeta.

Delegação Jovem do Brasil na COP19 protesta contra a falta de encaminhamentos efetivos

Plenária de abertura: representantes de 193 países se reuniram para iniciar novo acordo climático

E eu com isso? Se essa reunião é entre diplomatas e negociadores oficiais dos países da ONU, e se são eles que vão resolver as coisas na hora do “vamos ver”, por que é importante a presença de jovens por lá? Bem, em primeiro lugar, a ONU sabe que é importante ouvir diversos setores da sociedade, por isso garante espaço para que grupos como mulheres, sindicatos, indígenas e jovens possam colocar as suas ideias no que está sendo negociado. No entanto, hoje, o espaço da juventude é quase totalmente ocupado por jovens da Europa e dos Estados Unidos, que têm necessidades muito diferentes de nós, brasileiros. Precisamos, então, marcar presença para garantir que as demandas de países em desenvolvimento também sejam levadas em conta! Além disso, as mudanças climáticas são um processo em curso, cujas consequências estão começando a aparecer, e serão muito mais críticas e evidentes em 15, 20 ou 30 anos. E seremos nós, jovens de hoje, que figuraremos como os líderes e os tomadores de decisão quando isso acontecer, e que mais sofreremos com os impactos desse processo. Por isso, nada mais correto do que estarmos representados desde já e garantirmos o nosso futuro! A Agência Jovem de Notícias na COP19 reuniu aproximadamente 40 participantes do Brasil, Argentina, Colômbia, Porto Rico e Itália, que, juntos, em idiomas diferentes, contaram de um jeito descontraído tudo o que se passava entre as centenas de salas e auditórios do Estádio Nacional da Polônia, onde ocorreu o evento.

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O que virou e não virou em Varsóvia A COP19 já começou com fortes emoções. O chefe da delegação das Filipinas, Yeb Sano, levou todos às lágrimas ao proferir um discurso de homenagem às vítimas do tufão Haiyan, que atingiu o seu país às vésperas da Conferência. As Filipinas são um dos países mais afetados pelas mudanças do clima, o seu conjunto de ilhas sofre com as elevações do nível do mar causadas pelo aquecimento global, o que resulta em fortes tufões e tempestades. “Será que não podemos chegar logo ao objetivo final dessa conferência, que é o de evitar interferências antropogênicas [causadas pelo ser humano] perigosas no sistema climático?”, questionou. “Ao falharmos nisso, nós possivelmente estamos ratificando nossa própria condenação”, declarou Sano que, depois disso, anunciou estar em jejum enquanto os negociadores da Conferência não chegassem a um acordo satisfatório. Junto com Yeb Sano muitas outras pessoas aderiram ao jejum de água e comida por vários dias para chamar a atenção dos negociadores, que tinham nas mãos a oportunidade de dar um ponta pé inicial no novo acordo global de redução das emissões de gases que causam o efeito estufa no planeta. Para isso, seria necessário muita ousadia, já que isso requer que todas as nações se desenvolvam de maneira mais sustentável. No entanto, os países pobres e em desenvolvimento não aceitam ter que pagar por isso. Segundo eles, os países ricos como os Estados Unidos, União Européia, Japão, Canadá e Austrália são os que, historicamente, mais poluíram. Eles enriqueceram às custas da destruição dos recursos naturais, portanto, nada mais justo do que pagarem essa “conta”. No entanto, enquanto a sociedade civil e países em situações emergenciais, como as Filipinas, cobravam por ousadia, o que se viu foi um festival de irresponsabilidades: Japão e Austrália voltando atrás com os seus compromissos, o governo polonês sediando ao mesmo tempo da COP19 um encontro global com a indústria do carvão – uma das maiores emissoras e causadora de alguns impactos das mudanças do clima. Ao penúltimo dia da Conferência, indignados com tamanha falta de compromissos, a sociedade civil marchou em peso para fora da Conferência no chamado Walk Out. Foram 800 pessoas que saíram para não voltar. “A cúpula de Varsóvia deveria supor um passo 20

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decisivo em direção a um futuro sustentável, mas, na prática, não está resultando em nada”, disse Kumi Naidoo, do Greenpeace, em entrevista à imprensa, deixando claro, ainda, que a saída da sociedade civil da COP19 não representava uma desistência em trabalhar no assunto, mas uma mensagem de que a sociedade está atenta, buscando soluções e se preparando para a próxima Conferência do Clima, que acontecerá em Lima, no Peru, no final de 2014. E para dizer que Varsóvia não teve nenhum resultado, a aprovação do REDD+ (Redução de Emissões por Desmatamento e Degradação de Florestas) – um mecanismo para pagar àqueles que mantém as florestas em pé, evitando o desmatamento – e a criação do mecanismo de Perdas e Danos, de suporte aos países que foram drasticamente impactados pelas mudanças do clima sem alternativas para evitar maiores impactos ou se adaptar a eles, foram as duas grandes conquistas. Mesmo com as tímidas conquistas, o embaixador brasileiro, José Marcondes, chefe da delegação do Brasil na COP19, tentou amenizar as críticas da sociedade. “A COP19, em Varsóvia, se consolidou antes mesmo de acontecer como uma COP de transição, ou seja, não eram esperadas grandes resoluções da conferência, mas sim a construção de metas para a COP20 em Lima e a COP21, em Paris”, resumiu. Já a ministra brasileira do Meio Ambiente, Izabella Teixeira, reforçou a ideia de que “é óbvio que precisamos mudar o processo de diálogo não só com as partes e não só com as ONGs, mas com os jovens, os trabalhadores e diversos atores que não são inseridos nesse contexto”. E essa, segundo a Ministra, seria uma nova agenda do Governo para reforçar o posicionamento do Brasil na COP20, no Peru, que, segundo ela, “será a COP da Amazônia”.


Relato de quem esteve lá Bruna Souza, Virajovem do Rio de Janeiro Por mais que tivéssemos nos planejado ao máximo, com reuniões online e e-mails, a realidade foi um tanto diferente quanto ao que achávamos que seria uma rotina de COP: desde as maneiras que criamos para trocar informações com todos da Agência, que eram muitos, diariamente, até a hora do banho de manhã, já que todos saíam mais ou menos na mesma hora. Tentamos conciliar momentos de trabalho, onde sentamos, discutimos pautas, estratégias, com jantares juntos, brincadeiras e diversão. E isso permeia toda a filosofia da Agência Jovem: jornalismo sério feito por jovens, para jovens. Trabalhar com jovens inseridos em outras realidades também foi incrível. São visões e formas de trabalho diferentes, que em todos os contextos, só tem a somar. A comunicação, que de início parecia um desafio, já que era tudo em inglês, foi algo que se tornou secundário em meio a tanta coisa. Havia gente de todo o mundo, mas no final das contas, deu samba, funcionou, todo mundo se virou e se entendeu como pôde.

Foi um suadouro pra compreender e traduzir nas matérias a quantidade de informações e detalhes que a avalanche de siglas representa. E como foi bom contar com a ajuda de quem tinha o domínio dessas informações e nos passava minúcias sobre as transações e o mais importante, com bastante clareza. Pude vivenciar momentos incríveis, como ter acompanhado essa gente jovem pra tentar melhorar a situação climática atual e a futura. Ter entrevistado, estado tão perto dos que decidem nossos futuros, sem ao menos nos consultar antes. Ter visto o negociador das Filipinas se emocionar discursando sobre a catástrofe em seu país, e ver um país-sede virar vergonha. Ter virado rotina dar oi para o negociador do Brasil nos corredores, sermos chamados de mosquitos e de fato, ter feito barulho no ouvido daqueles que não estão nem aí com os compromissos assumidos.

Encaminhamentos da COP19: a perspectiva dos jovens brasileiros Raquel Rosenberg, da ONG Engajamundo Para a 19ª Conferência da ONU sobre Mudanças Climáticas (COP19), que aconteceu de 11 a 22 de novembro na Polônia, 12 jovens brasileiros se prepararam previamente para formar a Delegação Jovem do Brasil, uma iniciativa da Viração Educomunicação e Engajamundo, que contou com o envolvimento de jovens da Fundação Luterana de Diaconia e da Associação Cristã de Moços e conseguiu viabilizar sua participação na conferência de forma independente e autônoma. Mesmo com o fracasso das negociações, podemos considerar a atuação dos jovens brasileiros positiva. A aproximação com o governo brasileiro começou na reunião pré-COP19, que aconteceu em Brasília na semana que antecedeu a conferência, e foi se aprofundando ao

A participação da juventude brasileira nas Conferências do Clima ainda é bastante tímida

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longo das duas semanas em Varsóvia. Foi possível acompanhar de perto as negociações, colocar nossos posicionamentos enquanto juventude, e, paralelamente, os embaixadores se mostraram muito solícitos e abertos às nossas propostas. O tema das mudanças climáticas é bastante extenso, e pode ser abordado por diferentes frentes, nacional e internacionalmente. No entanto, buscamos levantar os pontos que considerávamos mais importantes para definir nosso posicionamento. Apoiamos que sejam feitas consultas à sociedade civil – uma das propostas do Brasil nesta COP –, e que esse processo seja transparente, amplo e inclusivo, contemplando a sociodiversidade brasileira (tal como os povos indígenas, comunidades tradicionais, quilombolas, juventude e crianças). Apesar de a COP19 ter trazido avanços na construção de um diálogo estruturado entre juventude e governo nas negociações internacionais – que pretendemos ampliar em futuras conferências, não apenas sobre mudanças climáticas – a verdade é que ainda há muito a ser feito. Estamos ansiosos para ver promessas serem cumpridas de forma integral e, para isso, entregamos à ministra Izabella Teixeira, em 19 de novembro, durante um evento paralelo realizado pelo Ministério, a carta com o posicionamento apresentado previamente, e fomos convidados a uma reunião em seu gabinete ao retornarmos ao Brasil. O contato estabelecido entre os jovens presentes nesta COP e o Conselho Nacional de Juventude com a recém-nomeada Assessora de Juventude do Ministério do Meio Ambiente também aponta para uma maior abertura que, junto com a determinação e perseverança dos jovens em fazer com que suas demandas fossem ouvidas, significou uma boa oportunidade de aproximação com o governo brasileiro. Esperamos que toda a experiência vivenciada sirva de inspiração para a juventude que deseja se engajar nestes processos e ansiamos pelo anúncio de apoio do governo para nossa participação nas próximas conferências do clima.

Quem fez a cobertura educomunicativa da COP19 A Viração mais uma vez promoveu a cobertura educomunicativa da Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas por meio da Agência Jovem de Notícias. Na COP19, em Varsóvia, foram mais de 200 textos, serviços fotográficos e vídeos produzidos por cerca de 40 adolescentes, jovens e educadores do Brasil, Argentina, Colômbia, Porto Rico e Itália. Desta vez, a iniciativa contou com a parceria da Fundação Friedrich Ebert Stiftung - FES, Fundação Luterana de Diaconia, Engajamundo, Rede Mais Você, Fundación TierraVida, Club Botanico Ambiental, Associazione Jangada, Provincia Autonoma di Trento, Osservatorio Trentino sul Clima, Università di Trento, Centro Jena Monnet, Italian Climate Network, Osservatorio SOStenibile, Associazione di Educazione ai Media e alla Comunicazione.

Participantes da cobertura educomunicativa: Alessandra Frizzera, Alessio Brusinelli, Alfredo Redondo, Beatrice Melchori, Beatriz Azevêdo de Araújo, Bruna Pereira de Souza, Carlotta Dolzani, Chiara Zanotelli, Constanza Namur, Cristina Dalla Torre, Daniele Filippini, Daniele Saguto, Davide Cattani, Emanuela Bozzini, Emília de Matos Merlini, Estrella Perez, Evelyn Araripe, Federica Tolotti, Federico Brocchieri, Giorgia Foddis, Giovani Cunico, Giulia Carlini, Iago Hairon, Iva Muharremi, Juliana Winkler, Laura Jungman, Marina Mansilla, Mateo Botero, Matteo Conci, Matteo Petrolli, Mattia Dalpiaz, Nicolò Banal, Pablo Bocco, Paulo Lima, Raquel Rosenberg, Roberta Pastorelli, Roberto Barbiero, Sara Cattani, Umberto Pessot.

Representantes da Argentina, Colômbia, Porto Rico e Itália também integraram a equipe da Agência Jovem de Notícias na COP19

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Direitos Humanos em pauta

A capital do Brasil reuniu, em dezembro, militantes de todo o mundo para debater direitos humanos

Diego Teófilo, do Virajovem Belém (PA); Luiz Felipe Bessa, do Virajovem Recife (PE); Sebastian Roa, do Virajovem Manaus (AM); e Webert da Cruz, do Virajovem Brasília (DF)*

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Autoridades do governo e sociedade civil abrem o Fórum Mundial dos Direitos Humanos em Brasília

Sebastian Roa

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a semana em que a Declaração Universal dos Direitos Humanos completou 65 anos, Brasília foi palco de debates sobre temas relacionados aos direitos humanos no mundo, com a realização do Fórum Mundial de Direitos Humanos (FMDH), de 10 a 13 de dezembro de 2013. Além de representantes do poder público e intelectuais, o evento contou com a presença de pessoas de várias partes do planeta. O fórum foi uma iniciativa da Secretaria Especial de Direitos Humanos da Presidência da República, em parceria com instituições ligadas aos direitos humanos. Uma das atividades foi a palestra “Direitos Humanos e Mobilização Social”, ministrada pela colombiana Sara Victoria Alvarado, pesquisadora da área e encarregada do grupo de pesquisa de pós-doutorado da Faculdade da Colômbia, além de Florenço Mendes Varela, professor e coordenador da associação de ONGs de Cabo Verde. Eles analisaram a questão da mobilização social. Em sua fala, Sara Victoria analisou o contexto que leva os jovens a, cada dia mais, se organizam em coletivos, trabalharem por um bem comum e lutarem, em conjunto, por seus diretos. Ela ainda reforçou a ideia de que essas movimentações da juventude partem da insatisfação com o poder público, que possui um sistema pouco abrangente e oferece poucas oportunidades. Citou ainda o exemplo de vários movimentos colombianos que se organizam a partir de uma reivindicação ou necessidade, muitos deles buscando apenas fazer a diferença localmente, porém sempre pensando no global. Já Florenço Varela abordou a questão do direito à

participação e a legitimidade de alguns movimentos sociais no mundo. Segundo ele, o direito é algo intrínseco à humanidade. O FMDH também foi palco de manifestações contra a violação dos direitos no Brasil. A língua não foi uma barreira para a comunicação. Durante os três dias de evento, as mímicas e tentativas de expressar-se para trocar alguma informação ou experiência fora da sala de conferência era comum a todos. Fabiele Zanquetta Meneguzzi, representante da Rede de Adolescentes e Jovens Pelo Esporte Seguro e Inclusivo (Rejupe), no Estado do Rio Grande do Sul, avalia de forma positiva o encontro: “Vi boas práticas em defesa e promoção dos direitos humanos e isso me deixou muito feliz, sendo que a maioria das ações são desempenhadas pela sociedade e não pelo governo.


Fotos: Webert Cruz

Eu achei que o Fórum foi bem dinâmico, com oficinas de várias temáticas, abordando a criança, o adolescente, o idoso, aos movimentos feministas e LGBT etc”. No dia 12, o evento contou com a presença da Presidenta Dilma Rousseff, quando houve a entrega do 19º edição do Prêmio Direitos Humanos, que homenageou diversas lideranças que atuam na defesa dos direitos humanos no Brasil. Uma das homenageadas foi Débora Maria da Silva, presidente do Movimento Mães de Maio, que aproveitou o espaço para protestar contra o extermínio de jovens, afirmando que o Estado mata por meio da polícia, “por isso a necessidade de desmilitalirizá-lo”, ressalta.

Representante da Renajoc fala durante Oficina Internacional de Participação Cidadã de Adolescentes e Jovens, no contexto do FMDH

Entre as atividades do fórum, foi realizada a Oficina Internacional “Participação Cidadã de Adolescentes e Jovens”, promovida pelo UNICEF, ONU Habitat, UNFPA, Governo do Distrito Federal e Secretaria Nacional de Juventude da Presidência da República, com a presença de adolescente e jovens de diversos Estados do Brasil e de outros países. Umas das atividades realizadas foram as oficinas pedagógicas de socialização de experiências em diversas áreas, entre elas a de comunicação. A Rede Nacional de Adolescentes e Jovens Comunicadores (Renajoc) foi convidada para relatar a sua atuação junto com outras redes. Luciano Frontelle, integrante da Renajoc e da Coalizão de Jovens Brasileiros pelo Pós-2015, relata que o fórum foi um espaço de exercício da cidadania. “As oficinas temáticas foram uma ótima oportunidade de colocar, em um mesmo espaço, pessoas de vários lugares para se inspirarem com as iniciativas apresentadas e debater sobre desafios e soluções para aquele tema, com relação a efetivação da participação cidadã de jovens e adolescentes”.

Leticia Catellan

Renajoc marca presença

Adolescentes e jovens da oficina internacional de participação cidadã discutem metodologias mais interativas para o terceiro dia de apresentação no FMDH *Virajovens presentes em 20 Estados do País e no Distrito Federal

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Arte que conecta norte e sul Projeto de intercâmbio une jovens italianos e de Cabo Verde em torno da expressão artística

Lorenzo e Stefania Bortolotti, com a colaboração de Bruno Amarante, Cindy Baptista , Hélio Batalha e Valentina Marini | Imagens: Vlademir Rodrigue

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epois de 15 anos da assinatura da Declaração Universal dos Direitos Humanos, um homem, Martin Luther King, pronunciou em discurso a frase “I have a dream” (“Eu tenho um sonho”). O sonho dele era de que realmente, e não apenas no papel, existisse igualdade racial e de direitos entre os seres humanos, valores necessários para reimplantar a sociedade americana e as de todo o mundo. King afirmava que a dignidade e os direitos não eram o fruto de um discurso sobre a justiça, mas a única solução para o problema da convivência humana. Aceitar o outro como diferente de si é um dos pressupostos de base para fazer funcionar uma sociedade multiétnica. No entanto, se pensamos na Itália, percebemos que alguns querem nos convencer que nosso país está sendo invadido por estrangeiros. Será realmente assim? Se pensamos em Cabo Verde, vemos jovens moradores das comunidades periféricas sendo discriminados por sua origem territorial. Sonhar é construir um mundo melhor para o homem, saindo da nossa rotina, desviando do caminho

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que conhecemos, experimentando novas rotas onde podemos vivenciar momentos de emoção do encontro com o diferente e desconhecido. Existem riquezas além dos bens materiais, como conhecimentos, experiências, ideias e sonhos partilhados. É nesta visão que se enquadra o projeto Dreamers, que começou a criar uma ponte de passagem entre Itália e Cabo Verde e, quem sabe, criará mais laços mundo afora. “O forte potencial dos Dreamers”, como afirma Cindy Baptista, educadora, facilitadora cabo-verdiana do grupo de artes visuais, “é a linguagem integrada das artes”: música, artes plásticas e visuais, como a fotografia, o vídeo e a dança, capazes de transformar quem se envolve e o seu redor. Outro ponto importante é a valorização da diversidade cultural e a reflexão constante sobre as nossas raízes. Para onde vamos se não sabemos de onde viemos? O projeto Dreamers, que promove o intercâmbio artístico entre Cabo Verde e Itália, posiciona 24 jovens artistas, de 18 até 25 anos de idade, italianos e caboverdianos numa rota de mudança e transformação para


a construção de uma cidadania global, em que a arte é instrumento de expressão, além de elo entre esses países. Na primeira parte do projeto, o intercâmbio foi realizado na cidade de Pergine Valsugana e o grupo de Cabo Verde ficou hospedado no Kairos, centro de agregação juvenil da cidade. Os dias passaram entre workshops, laboratórios artísticos, visitas ao de terreno, performances artísticas.

Criação coletiva O laboratório musical The roots of Dreamers, liderado por Bruce Gil, produtor de música eletrônica, e Elton Lima, músico e compositor cabo-verdiano, promoveu entre os jovens uma criação coletiva que ligou a música tradicional à eletrônica, dando vida a uma sonoridade inédita, de sensibilização sobre a temática. O outro laboratório de artes visuais, liderado pelo artista plástico italiano Tommaso Gonzalez e Cindy Batista, viu a criação de um grafite e várias obras visuais, entre as quais vídeos e fotografias que se encontram na exposição de Dreamers. Foram dez dias de criação coletiva com um espírito de cooperação, amizade e entusiasmo, onde “as barreiras linguísticas e as diferenças culturais foram completamente ultrapassadas através das artes”, como afirma Valentina Marini (jovem participante do grupo italiano). Ela ainda afirma que “juntando as forças podemos realmente mudar e organizar grandes projetos e chegar a uma integração e realização da nossa pessoa.” Para o dançarino e coreografo cabo-verdiano Bruno Amarante, de 21 anos, esta experiência o fez crescer nos âmbitos artístico e humano. “A ida à Itália abriu-me novos horizontes, principalmente ao encarar uma produção artística de um ponto de vista integrado, conjugando as várias artes. Agora que regressei à minha terra natal, trouxe

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comigo a inspiração”, afirma. “Senti que esta experiência nos enriqueceu como seres humanos, fortalecendo a tolerância e o conhecimento do mundo, e também artisticamente, alimentando, modelando e concretizando as nossas capacidades criativas”, diz Hélio Batalha, rapper de Cabo Verde, de 24 anos, que viajou pela primeira vez para fora do seu país. O projeto é financiado pela Província de Trento e promovido por três instituições: A Fundação Esperança de Praia (Cabo Verde), a Câmara Municipal de Pergine Valsugana e pela Associação Kariba, associação trentina que colabora com Moçambique e Somália. Dreamers começou as suas atividades em junho passado e continuará até maio de 2014 com a chegada do grupo italiano a Cabo Verde. Envolve 24 jovens artistas entre 18 e 25 anos, cabo-verdianos e italianos, mas promete abrir os horizontes a outros países. Durante o projeto são realizadas atividades como: intercâmbios e performances artísticas integradas.

País: Itália Capital: Roma População: 60,30 milhões (2010) Governo: República Parlamentarista Língua oficial: Italiano

País: Cabo Verde Capital: Praia População: 494 mil (2009) Governo: República Parlamentarista Língua oficial: Português

tá na mão Ficou interessado no projeto? Para mais informações, entre em contato conosco pelo o e-mail: progettodreamers@gmail.com ou acesse o site www.dreamers.com. Siga-nos também no facebook: Dreamers.

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Viração na bagagem Maria Rehder*

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terra era batida, um calor de mais de 35 graus, a escola não tinha portas, o teto era todo perfurado, os bancos de uma madeira bem envelhecida. Não havia água, nem sanitário com papel higiênico. Mas vida, infância, adolescência e juventude, isso sim, havia em abundância. Esse era o cenário da entrega do primeiro lote de revistas Viração que foram doadas em 2012 aos cerca de cinquenta integrantes da Rede de Crianças e Jovens Jornalistas da Guiné-Bissau (RCJJ), criada em 2006 com o apoio do UNICEF a fim de envolver as crianças e adolescentes na promoção, disseminação e luta pela garantia de seus direitos naquele país. Quando ali pousei em 2010 para assumir o posto de Oficial de Comunicação do Coordenador Residente do Sistema das Nações Unidas, eu tinha acabado de deixar o Brasil com o coração partido, pois até então eu integrava a equipe de educomunicadores da Viração no projeto Plataforma dos Centros Urbanos (PCU). Semanalmente, nós da Viração nos debruçávamos com adolescentes, equipe do Unicef e líderes comunitários para pensar a educomunicação que trabalharíamos com um grupo composto por adolescentes de mais de 40 comunidades de São Paulo. Quando cheguei em Guiné-Bissau, pensei que tínhamos que levar a Viração para aquela realidade. Porém, para a minha surpresa, uma espécie de Viração já existia por ali, criada, composta e gerida por crianças e adolescentes guineenses, que quase sempre sem recursos financeiros tocavam semanalmente um programa de rádio auto-gerido em reuniões dominicais promovidas em uma sala de escola pública. A mesma sala que descrevi no primeiro

parágrafo deste artigo. Quando eles receberam a primeira Revista Viração, ficaram fascinados não só com a qualidade gráfica, mas com a liberdade de linguagem que escreviam as nossas crianças e adolescentes. Infelizmente, aconteceu o Golpe de Estado em no dia 12 de abril de 2012. Mesmo assim, as crianças da RCJJ não pararam o seu trabalho de militância e educomunicação; mesmo sofrendo diariamente com o aumento das violações de direitos humanos em seu país. Com toda essa bagagem emocional em meu coração, decidi aprofundar meus estudos em direitos humanos. Mais uma vez não só levei um lote de Viração para a Itália, onde cursei o mestrado, como também a levei na minha mala para Genebra e a entreguei em mãos para o mais novo membro brasileiro do Comitê sobre os Direitos da Criança (órgão ligado à ONU), Wanderlino Nogueira Neto, na ocasião de uma sessão especial sobre a GuinéBissau realizada em junho de 2013. São muitas as cenas que vem à cabeça nesses dez anos de Viração, organização que me deu a oportunidade de ter o meu primeiro registro na carteira de trabalho como “Educomunicadora”.

*Educomunicadora membro da ABPEducom, mestre em direitos humanos e democratização pelo EIUC - Centro Interuniversitario Europeo per i Diritti Umani e la Democratizzazione e especialista em Gestão da Comunicação: Políticas, Educação e Cultura pela Universidade de São Paulo.

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no escurinho

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O nazismo e a “banalidade do mal” Sérgio Rizzo*

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o livro-reportagem Eichmann em Jerusalém, a alemã Hannah Arendt (1906-1975) apresenta o conceito de “banalidade do mal”. Em 1963, quando essa ideia veio a público, nasceu uma intensa controvérsia que até hoje ainda não se esgotou. Ao sugerir que um criminoso de guerra nazista era apenas um burocrata que executava ordens superiores sem refletir sobre elas, e também ao apontar para o papel duvidoso exercido por algumas lideranças judaicas durante a ascensão do 3º Reich, ela estaria propondo – perguntaram seus críticos Imagem de divulgação de na ocasião – relativizar o Holocausto? Hannah Arendt (2012), direção Produzido para a Revista The New Yorker, Eichmann em de Margarethe von Trotta Jerusalém – Um relato sobre a banalidade do mal foi publicado inicialmente em cinco partes, a partir da edição de 16 de fevereiro de 1963. Depois, ligeiramente ampliado, o texto saiu também em forma de livro. Nele, Arendt registra e analisa o julgamento de Otto Adolf Eichmann, sequestrado por um comando israelense em Buenos Aires, em 11 de maio de 1960. Condenado à morte, ele foi executado por enforcamento, em Ramla, em 31 de maio de 1962. Já o drama Hannah Arendt (2012), dirigido pela alemã Margarethe von Trotta, ajuda a entender as matrizes intelectuais desse corajoso trabalho de reflexão, bem como as circunstâncias em que o livro foi produzido e recebido. No início, conhecemos um pouco da vida pessoal e profissional de Arendt em Nova York. Depois, os anos dedicados à obra polêmica, incluindo a barulhenta recepção, que lhe rendeu ataques pesados e profundas inimizades. Alguns flash-backs nos levam também a seus anos de juventude como universitária na Alemanha, onde foi aluna e amante do filósofo Martin Heidegger (1889-1976). Na perspectiva histórica e filosófica, Hannah Arendt oferece material de sobra para diversas reflexões. É uma aula, por exemplo, sobre como pensar de maneira independente de qualquer restrição ou condicionamento. Para Arendt, a agenda como intelectual – “teórica política”, como ela preferia – incluía assumir publicamente opiniões talvez incômodas e antipáticas, mas fundamentais para fazer avançar o entendimento sobre a própria natureza humana. *www.sergiorizzo.com.br

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que figura!

O embaixador da reconciliação

Nelson Mandela foi o principal símbolo no combate ao Apartheid na

África do Sul

Mariana Rosário, colaboradora da Vira em São Paulo (SP)

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Novaes

ascido em uma vila rural em Earnest Cape, África do Sul, o então Rolihlahla Mandela, filho dos líderes daquele povoado, foi instruído para seguir os passos do pai, tornando-se futuramente também um líder tribal. Há quem diga que foi nesse momento que Mandela aprendeu parte da sua habilidade com a liderança. Tornou-se Nelson ao ingressar em um colégio britânico, onde exigiram que tivesse um nome cristão. Madiba, como era carinhosamente chamado em seu país de origem, conheceu mais sobre a sua cultura e também sobre a cultura europeia. Na juventude, entrou para a Universidade de Fort Hare para estudar Direito, onde conheceria mais a fundo o regime segregacionista racial, o Apartheid. Para fugir de um casamento arranjado, o que era comum em sua cultura, Nelson Mandela mudou-se para Johanesburgo ficando mais próximo dos que se organizavam contra o regime, participando de manifestações de desobediência civil. Em 1950, criaram a liga jovem do Congresso Nacional Africano (CNA). Nessa época oficializou-se a Carta da Liberdade, documento em que a população negra tornava pública sua indignação ao regime e repressão. Em 1956, Mandela é preso e condenado à morte pelo crime de traição. Mas, com a repercussão da prisão, Mandiba é posto novamente em liberdade. Assim, continuou comandando movimentos contra a segregação. Após protestos violentos, na década de 1960, com a morte de ativistas desarmados, Mandela apoia e participa da criação da Lança da Nação, uma liga armada, o que causou a prisão de todos seus líderes, incluindo ele próprio. Nelson Mandela foi condenado à prisão perpétua e ficou 27 anos preso, alheio a qualquer acontecimento fora de sua cela. Porém, do lado de fora, era o preso político mais conhecido em todo o mundo. Apenas em 1990, após muita mobilização de movimentos internos e internacionais contra sua prisão, Mandela foi libertado. O regime do Apartheid foi oficialmente abolido em 1992 com amplo apoio de Mandela. Em 1994, ganha o Prêmio Nobel da Paz, por toda sua trajetória e se torna o primeiro presidente eleito de maneira multirracial na África do Sul. Após o fim do seu mandato, em 1999, dedicou-se a causas humanitárias. Madiba morre em 5 de dezembro de 2013, por problemas pulmonares, aos 95 anos, em Johanesburgo, onde morava com a família. Revista Viração • Ano 11 • Edição 103

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sexo e saúde

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ensibilizar para o uso da camisinha ainda tem sido o principal objetivo de campanhas de enfrentamento à aids e outras doenças sexualmente transmissíveis. Evitar a infecção pelo vírus HIV faz parte do trabalho dos profissionais dos Centros de Referência e Treinamento (CRT) que, diariamente, recebem pessoas para realizarem testes rápidos de HIV, sífilis, hepatites B e C, além de orientarem sobre os riscos da prática sexual desprotegida. Sobre a transmissão do vírus HIV, conversamos com Terezinha Maria Bertucci, coordenadora do Programa de DST/aids do município de Andradina (SP). As perguntas foram elaboradas em parceria com jovens da Rede Nacional de Adolescentes e Jovens Vivendo e Convivendo com HIV/aids. Confira!

Alcebino Silva, Virajovem de Sud Mennuci (SP)*

Como e de que forma as campanhas podem informar e não amedrontar?

É por isso que os homens gays têm a maior incidência de infecção?

Mostrando a trajetória do HIV, a evolução da tecnologia com tratamentos que aumentam a qualidade e o tempo de vida consideravelmente, Porém, não podemos banalizar o assunto, pois um portador do vírus HIV ganha também muitos desafios e sérios problemas a serem enfrentados. Qual seria a melhor forma de abordar o público gay para os testes de HIV sem colocá-los como os principais culpados? Não devem se sentir culpados. Na verdade são vítimas. Por isso, devemos abordá-los preventivamente como sujeitos responsáveis pelas suas ações e respectivamente suas consequências. E não podemos nos esquecer de que os heterossexuais também estão se infectando.

Sim. O sexo anal aumenta os riscos de infecções no organismo não só pelo HIV, mas o risco de qualquer doença sexualmente transmissível e outras co-infecções. Quais os principais riscos de duas pessoas que têm HIV manterem relações sexuais sem camisinha? Numa relação entre soropositivos sem prevenção pode haver o aumento da carga viral de um ou de ambos com possível evolução para a doença. Os vírus têm padrões diferentes um do outro e se um parceiro tiver um padrão de vírus resistente, pode sim passar para o parceiro que terá dificuldades de acertar o tratamento. Não se esqueçam de que sem a prevenção aumenta também a chance de transmissão de outras DSTs.

A relação anal é mais vulnerável.

Mande suas dúvidas sobre Sexo e Saúde, que a galera da Vira vai buscar as respostas para você! O e-mail é redacao@viracao.org

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*Um dos virajovens presentes em 20 Estados do País e no Distrito Federal


O arroz do Pará!

A identidade nortista em um dos pratos mais populares da região amazônica Andrey Gomes e Jorge Anderson, do Virajovem Belém (PA)*

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arte de preparar um bom e gostoso prato para servir, seja ele no almoço, no jantar, nas festas comemorativas ou até mesmo nas barraquinhas encontradas nas feiras das diversas cidades brasileiras faz toda a diferença na hora que a fome chega. A prática da culinária é uma arte de encher os olhos. E é justamente nesse momento que nos rendemos à diversidade de pratos típicos de nossas regiões. Aqui no Pará não poderia ser diferente. O tradicional arroz nosso de cada dia ganha ingredientes para lá de exóticos e com sabor irresistível a qualquer paladar. O arroz paraense agrega, em seu preparo, temperos únicos e marcantes, que deixam qualquer um com água na boca ao sentir o “tremor” típico do jambú e do tucupi. Esperamos que gostem!

500g de arroz; 300g de camarão dessalgado; 3 maços de jambú cru; 500ml de tucupi; ½ cebola bem picada; Alho e azeite; Chicória e cheiro verde a gosto; Água de camarão.

Modo de preparo Dessalgue o camarão por 40 minutos em água fria trocando-a duas vezes. Ferva as cascas e a cabeça do camarão. Reserve a água fervida. Se o camarão já estiver descascado, ferva o camarão dessalgado em uma panela. Frite a cebola e o alho em azeite até dourar. Junte o camarão escorrido, a chicória bem picada, o cheiro

verde e o jambú escolhido e lavado. Frite um pouco mais até que o jambú murche um pouco. Acrescente o arroz, deixe dourar um pouco os grãos, acrescente o tucupi e o restante de água para o cozimento (mais 500 ml de água). O arroz deve ficar em ponto de risoto, por isso controle a quantidade de água ao seu gosto. A receita rende dez porções. Bom apetite!

Sebastião Júnior Pereira de Souza

Ingredientes

*Virajovens presentes em 20 Estados do País e no Distrito Federal


parada social Cartão vermelho para a violência

goleada, Adolescentes e jovens mobilizarão Curitiba para vencer, de a violência sexual contra meninos e meninas no período da Copa Diego Henrique da Silva, do Virajovem Curitiba (PR)

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uritiba, uma das cidades-sede da Copa do Mundo 2014, já está começando a ferver por causa dos preparativos para esse megaevento. De um lado, amantes do futebol e empresários empolgados com a movimentação e a grana preta que está por vir. Do outro, grupos e movimentos sociais como, por exemplo, o Comitê Popular da Copa em Curitiba, que questiona quem, de fato, vai se beneficiar com o mundial. No meio desse embate, sobram discussões de grande relevância que, muitas vezes, não são pautadas nos meios de comunicação de massa do Estado. Uma dessas discussões é: como proteger crianças e adolescentes do abuso e da exploração sexual nesse período em que os olhares estarão voltados para os gramados e para as telas da TV? O Interligad@s, um coletivo independente formado por adolescentes e jovens, não quer deixar essa discussão de lado e promete sacudir a capital paranaense pra incentivar as pessoas a pensarem no assunto. “Não vai ser fácil. A gente vai ter muita demanda pela frente, mas o resultado, com certeza, vai ser bem satisfatório”, comenta Rafaela Trevisan Cortes, 16 anos, estudante e integrante do coletivo. Com patrocínio da Childhood Brasil e da OAK Foundation, o coletivo Interligad@s está desenvolvendo o projeto Conexão Copa, que eles criaram em parceria com a ONG paranaense Ciranda – Central de Notícias dos Direitos da Infância e Adolescência. “É bom quando a gente se envolve num projeto em que nós mesmos damos as ideias”, afirma Toniel Novak, 17 anos, que também é estudante, integrante do Interligad@s e junto com todos os outros adolescentes

do coletivo, ajudou a pensar nos objetivos e ações do projeto. Segundo ele, “se todo mundo colaborasse, pelo menos um pouco, com projetos sociais, o mundo seria um lugar muito melhor”. Em 2014, aproximadamente 15 adolescentes e jovens do Interligad@s vão realizar ações de mobilização em escolas e espaços públicos de Curitiba, para instigar estudantes e a sociedade em geral a identificar, denunciar e enfrentar o abuso e a exploração sexual de crianças e adolescentes antes, durante e depois da Copa.

tá na mão Para acompanhar ações da Ciranda, acesse: www.ciranda.org.br e facebook.com/cirandaPR Confira o link sugerido pelo QR Code!




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