Revista Viração - Edição 102 - Dezembro/2013

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Ingrid Evangelista

quem faz a vira pelo brasil

Turma do Programa Quarto Mundo e Virajovens de São Paulo com líder de um movimento por moradia da capital paulista

Conheça os Virajovens em 20 Estados brasileiros e no Distrito Federal: Aracaju (SE) Belém (PA) Boa Vista (RR) Boituva (SP) Brasília (DF) Campo Grande (MS) Curitiba (PR) Fortaleza (CE) Goiânia (GO) João Pessoa (PB) Lagarto (SE) Lavras (MG) Lima Duarte (MG) Maceió (AL) Manaus (AM) Natal (RN) Picuí (PB) Pinheiros (ES) Porto Alegre (RS) Recife (PE) Rio Branco (AC) Rio de Janeiro (RJ) Salvador (BA) S. Gabriel da Cachoeira (AM) São Luís (MA) São Paulo (SP) Vitória (ES)

Auçuba Comunicação e Educomunicação – Recife (PE) • Avalanche Missões Urbanas Underground – Vitória (ES) • Buxé Fixe - Amadora (Portugal) • Casa da Juventude Pe. Burnier – Goiânia (GO) • Casa Peque Davi – João Pessoa (PB) • Catavento Comunicação e Educação – Fortaleza (CE) • Cipó Comunicação Iterativa – Salvador (BA) • Ciranda – Central de Notícia dos Direitos da Infância e Adolescência – Curitiba (PR) • Coletivo Jovem – Movimento Nossa São Luís – São Luís (MA) • Gira Solidário – Campo Grande (MS) • Grupo Conectados de Comunicação Alternativa GCCA – Fortaleza (CE) • Grupo Makunaima Protagonismo Juvenil – Boa Vista (RR) • Instituto de Desenvolvimento, Educação e Cultura da Amazônia – Manaus (AM) • Instituto Universidade Popular – Belém (PA) • Mídia Periférica – Salvador (BA) • Instituto Candeia de Cidadania – Lima Duarte (MG) • Jornal O Cidadão – Rio de Janeiro (RJ) • Lunos – Boituva (SP) • Movimento de Intercâmbio de Adolescentes de Lavras – Lavras (MG) • Oi Kabum – Rio de Janeiro (RJ) • Projeto de Extensão Vir-a-Vila (UFRN) - Natal (RN) • Projeto Juventude, Educação e Comunicação Alternativa – Maceió (AL) • Rejupe • União da Juventude Socialista – Rio Branco (AC)


Copie sem moderação! Você pode: • Copiar e distribuir • Criar obras derivadas Basta dar o crédito para a Vira!

editorial quem somos

A

Consulta importante

A

s Nações Unidas disponibilizam na internet uma pesquisa para saber o que as pessoas do mundo consideram ser prioridade em suas vidas. Chamada My World (Meu Mundo), temas como educação de qualidade, melhores oportunidades de emprego, igualdade entre homens e mulheres são algumas das opções a serem elencadas por cada um de nós. A idéia é que essa pesquisa oriente as autoridades de todo o mundo a pensarem nas novas metas de desenvolvimento global, a partir de 2015. A matéria de capa de fim de ano convida você a pensar não somente sobre as prioridades do planeta. Você vai ficar por dentro do que já rolou, sobre o que ainda vai acontecer e como se envolver no processo que apresentará como resultado os novos compromissos globais para que tenhamos um mundo melhor para todos. Nesta última edição de 2013, você também confere uma análise sobre a resistência das comunidades cariocas no atual contexto sócio-político do Rio de Janeiro e uma matéria sobre jovens paraibanos apaixonados pela arte de conservar animais. Boa leitura!

Viração é uma organização não governamental (ONG) de educomunicação, sem fins lucrativos, criada em março de 2003. Recebe apoio institucional do Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF), da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO), do Núcleo de Comunicação e Educação da Universidade de São Paulo e da ANDI - Comunicação e Direitos. Além de produzir a revista, oferece cursos e oficinas em comunicação popular feita para jovens, por jovens e com jovens em escolas, grupos e comunidades em todo o Brasil. Para a produção da revista impressa e eletrônica, contamos com a participação dos conselhos editoriais jovens de 20 Estados, que reúnem representantes de escolas públicas e particulares, projetos e movimentos sociais. Entre os prêmios conquistados nesses dez anos, estão Prêmio Don Mario Pasini Comunicatore, em Roma (Itália), o Prêmio Cidadania Mundial, concedido pela Comunidade Bahá’í. E mais: no ranking da ANDI, a Viração é a primeira entre as revistas voltadas para jovens. Participe você também desse projeto. Paulo Pereira Lima Diretor Executivo da Viração – MTB 27.300

Apoio institucional

Asso

ciazione Jangada


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Direito à moradia Virajovens de São Paulo visitam uma ocupação na capital paulista para entender como é a luta e a resistência de grupos que não têm onde morar

Vínculo educomunicativo Jovens brasileiros e de Cabo Verde se encontram em Brasília para conversar sobre educomunicação e educação em sexualidade

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Visibilidade A cultura afro ganha mais espaço nas discussões políticas, culturais e escolares graças a coletivos que levantam a bandeira pelos direitos dos negros

sempre na vira:

Manda Vê Vale 10 Imagens que Viram Quadrim No Escurinho

RG da Vira: Revista Viração - ISSN 2236-6806 Conselho Editorial

Eugênio Bucci, Ismar de Oliveira, Izabel Leão, Immaculada Lopez, João Pedro Baresi, Mara Luquet e Valdênia Paulino

Conselho Fiscal

Everaldo Oliveira, Renata Rosa e Rodrigo Bandeira

Conselho Pedagógico

Alexsandro Santos, Aparecida Jurado, Isabel Santos, Leandro Nonato e Vera Lion

Presidenta

Susana Piñol Sarmiento

Vice-Presidenta Amanda Proetti

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Que Figura Sexo e Saúde Rango da Terrinha Parada Social Rap Dez

Primeiro-Secretário Rafael Lira

Diretoria Executiva

Paulo Lima e Lilian Romão

Equipe

Bruno Ferreira, Elisangela Nunes, Evelyn Araripe, Filipe Campos Borges, Gutierrez de Jesus Silva, Ingrid Evangelista, Irma D’Angelo, Manuela Ribeiro, Marcos Vinícius Oliveira, Rafael Silva, Tulio Bucchioni e Vânia Correia

Administração/Assinaturas

Douglas Ramos e Norma Cinara Lemos

Mobilizadores da Vira

Acre (Leonardo Nora), Alagoas (Alan Fagner Ferreira), Amazonas (Jhony Abreu, Claudia Maria Ferraz e Sebastian Roa),

Militante da educação popular do Pará fala sobre os desafios de um novo marco regulatório das ONGs no Brasil

Taxidermia Conheça a história de dois jovens do sertão da Paraíba que se dedicam, de forma amadora, à arte de conservar animais

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Galera Repórter

Eles querem saber As Nações Unidas disponibilizam, até 2015, uma consulta para todos os países do mundo se manifestarem sobre as prioridades do Planeta

Análise Bandeiras antes restritas às favelas passam a ser de toda a sociedade, especialmente após as manifestações de junho, que ocuparam as ruas no Brasil

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Bahia (Everton Nova, Enderson Araújo e Mariana Sebastião), Ceará (Alcindo Costa e Rones Maciel), Distrito Federal (Webert da Cruz), Espírito Santo (Jéssica Delcarro e Izabela Silva), Goiás (Érika Pereira e Sheila Manço), Maranhão (Nikolas Martins e Maria do Socorro Costa), Mato Grosso do Sul (Fernanda Pereira), Minas Gerais (Emília Merlini, Reynaldo Gosmão e Silmara Aparecida dos Santos), Pará (Diego Souza Teofilo), Paraíba (José Carlos Santos e Manassés de Oliveira), Paraná (Juliana Cordeiro e Vinícius Gallon), Pernambuco (Edneusa Lopes e Luiz Felipe Bessa), Rio de Janeiro (Gizele Martins), Rio Grande do Norte (Alessandro Muniz), Rio Grande do Sul (Evelin Haslinger e Joaquim Moura), Roraima (Graciele Oliveira dos Santos), Sergipe (Grace Carvalho) e São Paulo

(Luciano Frontelle e Paolla Menchetti.

Colaboradores

Antônio Martins, Heloísa Sato, Marcelo Rampazzo, Márcio Baraldi, Natália Forcat, Nobu Chinen, Novaes e Sérgio Rizzo.

Projeto Gráfico

Ana Paula Marques e Manuela Ribeiro

Revisão

Izabel Leão

Jornalista Responsável

Paulo Pereira Lima – MTb 27.300

Divulgação

Equipe Viração

E-mail Redação

redacao@viracao.org


diga lá!

O que é Educomunicação? É comum, nas edições da Vira, encontrar a palavra “educomunicação” ou o termo “educomunicativo”. A educomunicação é um campo de intervenção que surge da inter-relação comunicação/educação para a transformação social. Dizemos que um projeto ou prática é educomunicativa quando adota em seus processos, especialmente do jovem, o caráter comunicacional, como o diálogo, a horizontalidade de relações e o incentivo à participação, fazendo com que os sujeitos exerçam plenamente o direito humano à expressão e à comunicação, em diferentes âmbitos e contextos. A Viração promove ações educomunicativas por meio da produção midiática, incentivando que adolescentes e jovens produzam reportagens coletivas em diferentes linguagens.

Por e-mail Olá, galera! Saudades! Venho fazer um comentário sobre a edição 96, com a capa “Preparada, Mamãe?”. A matéria está cheia de tópicos importantes, mas nenhum falava que uma mulher morre a cada dois dias por aborto inseguro no Brasil ou que, segundo a OMS, temos neste País um milhão de abortos por ano e que mulheres pobres e até mesmo jovens, diferentes de Larissa Domingues, que cedeu entrevista à matéria, não optaram por ser mães jovens com todas as dificuldades da vida. A pressão de ser mãe, mesmo de forma indesejável, é vendida todos os dias em diversos veículos e padrões da nossa sociedade. A Viração também apresentou este discurso, pois não mostrou o outro lado.

Como virar um virajovem?

Simone Nascimento

Virajovens são os integrantes dos conselhos editoriais jovens da Viração, que produzem conteúdos mensais em suas cidades. O conselho pode ser um coletivo autônomo de jovens ou um grupo ligado a uma entidade, organização, movimento social, escola pública ou privada, que dará apoio para que os virajovens produzam conteúdos. A parceria entre a Vira e entidade é oficializada com um termo de compromisso e com a publicação do logotipo da organização na revista Quer saber mais? Entre em contato com a gente: redacao@viracao.org.

Resposta: Oi, Simone! Tudo bem? Suas observações são muito valiosas! Muito obrigado! Na verdade, não discutimos a questão do aborto apenas porque esse não era o foco da reportagem. Quisemos discutir o direito à maternidade e formas humanizadas de parto. Claro que a questão do aborto é uma pauta importantíssima. Tanto que, posteriormente a essa capa, tivemos um Manda Vê sobre legalização do aborto. Sugerimos que veja a edição nº 99. Abraço!

Perdeu alguma edição da vira? não esquenta!

@viracao

Agência Jovem de Notícias

Você pode acessar, de graça, as edições anteriores da revista na internet: www.issuu.com/viracao

Para garantir a igualdade entre os gêneros na linguagem da Vira, onde se lê “o jovem” ou “os jovens”, leia-se também “a jovem” ou “as jovens”, assim como outros substantivos com variação de masculino e feminino.

Nota: A Viração lamenta o falecimento do nosso parceiro de Porto Alegre (RS) Paulo Ricardo Pimentel, da Cientifica Assessoria Empresarial, que dava todo o apoio em infraestrutura para a atuação do conselho virajovem da capital gaúcha. Nós nos solidarizamos à dor da família e amigos e desejamos que seus corações sejam consolados.

Mande seus comentários sobre a Vira, dizendo o que achou de nossas reportagens e seções. Suas sugestões são bem-vindas! Escreva para Rua Augusta, 1239 - Conj. 11 - Consolação - 01305-100 - São Paulo (SP) ou para o e-mail: redacao@viracao.org - Aguardamos sua colaboração!

Parceiros de Conteúdo


manda vê

Emilae Sena, do Virajovem Salvador (BA); Leonardo Nora, do Virajovem Rio Branco (AC)*; e Bruno Ferreira, da Redação

Muitos jovens e adultos disponibilizam uma parte do seu tempo para ajudar outras pessoas por meio do trabalho voluntário, um tipo de serviço desenvolvido sem remuneração alguma. Há diversos campos de atuação para um voluntário, que é um agente de transformação. Ele presta serviços, procurando atender tanto às necessidades das pessoas como aos imperativos de uma causa, de acordo com suas motivações, sejam elas de caráter religioso, cultural, filosófico, político, emocional. Apesar de o serviço voluntário e engajado ser uma função importante e bem vista na sociedade, muitos acham que ter pessoas atuando sem remuneração em locais públicos isenta o Estado de cumprir com o seu papel de empregar profissionais, fazer reparos e cuidar da população. Mas e você?

Você concorda com o trabalho voluntário em órgãos públicos? Marlon Matareli 20 anos | Salvador (BA)

“Eu concordo. O trabalho vai ser em prol da humanidade e acho isso muito interessante. O lado bom é que, apesar do mundo capitalista, ainda tem gente que pensa no outro, independente da sua condição.”

Émille Cerqueira

20 anos | Salvador (BA) “Discordo, porque órgãos públicos têm verba o suficiente para pagar funcionários. Podem muito bem contratar quem tem interesse em trabalhar.”

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Priscila Costa

20 anos | Salvador (BA) “Sou a favor do trabalho voluntário, desde que ele dê condições básicas ao voluntário (como transporte e alimentação), sem qualquer tipo de exploração do colaborador e que agregue valor e bagagem política e social.”

Felipe Santos

20 anos | Salvador (BA) “Sinceramente eu discordo. O Brasil arrecada muito dinheiro com impostos de diversas maneiras. O governo quer arranjar mais pessoas para poder participar de projetos voluntários, para ter menos gastos.”


Emile Conceição 26 anos | Salvador (BA)

“Eu acho que cada um deve, ou deveria, ter o direito de ser voluntário onde bem quiser... Inclusive em órgãos públicos.”

Wellington Vidal

17 anos | Rio Branco (AC) “Sou a favor da ajuda a indivíduos em órgãos públicos, especialmente quando ocorre um desastre, como enchente ou terremoto. O governo vai ser obrigado a chamar pessoas para ajudar, mas deveria gratificá-las.”

não é de hoje Apesar de o trabalho voluntário ser super antigo, no Brasil ele foi regulamentado há apenas uma década e meia, com a Lei nº 9.608, de 18 de fevereiro de 1998. A legislação elenca alguns deveres que competem à entidade que atua sob a perspectiva do voluntariado, como celebrar um termo de adesão com o colaborador não remunerado e custear despesas que ele possa vir a ter para desempenhar a sua tarefa. Se você pretende exercer algum serviço voluntário, lembre-se de firmar esse termo antes de começar a trabalhar.

Ingrid Alencar

15 anos | Rio Branco (AC) “Eu acho muito relativo o voluntariado em órgãos públicos. Claro que muitas pessoas gostam de ajudar, mas no caso da Copa do Mundo, em que muitas pessoas vão trabalhar sem ganhar nada, eu acho errado, porque o governo tem recursos suficientes para isso.”

Sebastião Everton de Oliveira 26 anos | Belo Horizonte (MG)

“Inicialmente, parece ser interessante integrar ações voluntárias da sociedade civil ou do Estado. Porém, sabemos que ele tem o dever de organizar a vida social e possui recursos destinados a essas demandas. Sendo assim, precisamos ficar atentos a sua função e transferência de sua responsabilidade à população ou às ONG’s.”

FAZ PARTE O Rotaract Club – RCT (do inglês Rotary in Action) é uma organização criada pelo Rotary Internacional que visa ao desenvolvimento de liderança e participação de jovens de 18 a 30 anos na entidade. O RCT existe em 178 países do mundo e realiza ações de voluntariado nas mais diversas áreas, com a proposta de promover a melhoria da qualidade de vida da juventude Mundial. Surgiu na década de 1960 e atualmente conta com mais de 200 mil jovens em todo mundo.

*Virajovens presentes em 20 Estados do País e no Distrito Federal

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Organizar para desorganizar! direito à moradia Conheça a luta e as dificuldades de um movimento pelo de São Paulo, que está sendo desalojado pelo poder público

Evangelista Fotos: Ingrid

Paolla Menchetti e Victória Satiro, do Virajovem São Paulo (SP)*

É

comum dizer que não estamos em guerra civil. Entretanto, não é só nosso direito de ir e vir que anda sendo proibido, mas também nosso livre arbítrio vem sofrendo coerção. As mudanças estão se intensificando, a luta de classes acontece há tempos, mas as reivindicações nas ruas em junho mostraram uma força popular que já há alguns anos não se presenciava. Essa geração que ocupa as ruas, prédios abandonados, espaços públicos em geral, vem descobrindo que só no coletivo é possível conquistar direitos que nos foram negados. São inúmeras as lutas que andam sendo tocadas pela Grande São Paulo, afinal a desigualdade social é o caos da existência humana. A fim de trazer um fato concreto para refletirmos a partir das lutas, a galera do Programa Quarto Mundo foi conhecer a ocupação Margarida Maria Alves, localizada na Rua General Couto De Magalhães, 377/381, Centro de São Paulo, ocupada desde janeiro de 2013, que agora já entrou em processo de desocupação, após um princípio de incêndio no prédio na última semana de junho. “A prefeitura tentou retirar as famílias, dizendo se preocupar com a segurança dos moradores e com o direito à moradia digna. Mas eles negociam de forma desumana, com o cheque-despejo”, relata Nelson Che, líder da ocupação. Alguns moradores, com o tempo, foram atendidos pelo acordo com a Secretaria de Habitação, no qual as famílias que deixarão o prédio

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Escadaria principal da ocupação Margarida Alves, na região central de São Paulo

Galera do Programa Quarto Mundo e Virajovem São Paulo com Nelson Che, líder do movimento


receberão um cheque no valor de 900 reais e uma “bolsa aluguel” de 300 reais mensais. “Isso é um desrespeito ao povo lutador, pois para ter acesso à moradia em São Paulo, 300 reais não é nada. Isso levará essas pessoas para a margem da cidade novamente”, diz uma moradora da ocupação Margarida Maria Alves. O poder público pressionou a saída dos moradores, alegando que o espaço seria demolido para construção do Memorial da Democracia, do Instituto Lula.

Ocupação: quem, como, por quê?

Do terceiro andar do prédio é possível observar policiais abordando moradores da região da ocupação

São Paulo ultrapassa 11 milhões de habitantes e boa parte dessa população encontra-se nos bairros dormitórios, pois os empregos estão concentrados na região central da cidade. Isso gera todo esse movimento de ocupação por moradia, afinal o trabalhador quer morar perto do trabalho, ter acesso à cidade e, principalmente, ter um teto e um chão. Na visita à ocupação, a liderança do Movimento por Moradia no Centro (MMRC) nos explicou como era o funcionamento de uma ocupação e porque é necessário resistir fisicamente em espaços ocupados para garantir direitos. Disse que a organização interna é muito importante, que cada morador fica responsável por uma tarefa. Alguns cuidam da limpeza dos espaços coletivos e alguém é pago pelos outros para ficar na portaria. No começo, a cozinha era coletiva, então precisavam se dividir entre quem iria cozinhar, lavar a louça , bem como o banheiro. Com filas enormes, cada um tinha dois minutos para tomar banho, tudo isso por que o local ocupado era um hotel abandonado e, até arrumarem a fiação para distribuir energia pelos quartos, todos tiveram que colaborar. Em um relato humilde e realista, Nelson Che nos contou as dificuldades de viver na luta. De Salvador, o líder do movimento veio tentar a vida em São Paulo. “Me deparei com uma cidade perversa, onde fui acolhido por um movimento de moradia e com o tempo aprendi a organizar para desorganizar. A cidade de pedra que para muitos é o inicio de um sonho e de uma vida melhor se tornou o pior pesadelo, quando me encontrei sem dinheiro e sem uma moradia digna. Longe da família e sem apoio do governo, algumas pessoas são submetidas a morar nas ruas da cidade

A imagem de Margarida Alves, formada por diversas fotografias, é vista na entrada da ocupação

ou então a se organizarem em ocupações, porque morar na rua é horrível. Porém, morar em ocupações nos faz conviver com o medo e a incerteza no amanhã. A qualquer momento o prédio pode ser invadido por policiais ou outras autoridades com o intuito de nos retirar dos locais ocupados”, conta Nelson. Che diz que a convivência nas ocupações com drogas é o maior problema que encontrou, pois elas entram facilmente na vida de jovens desmotivados por não terem seus direitos básicos garantidos. Esse tipo de situação já fez com que ele se afastasse de outro movimento por moradia. A organização externa e a articulação com outros grupos de Lutas por Moradia também são parte desse processo de resistência. Sempre que é necessário, há uma reunião com todos os líderes ou até mesmo com os moradores. Quando um precisa de auxílio, todos os outros vão à luta em prol do bem estar de todos. Além de ocupações, existem muitas outras formas de se organizar coletivamente. Mas, no caso dos movimentos por moradia, é uma necessidade mais do que uma escolha.

*Virajovens presentes em 20 Estados do País e no Distrito Federal

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viração world

Fortalecendo laços

de intercâmbio e troca de Prática coletiva é modelo iros e cabo-verdianos experiência entre jovens brasile

Hércules Barros, colaborador da Vira em Brasília (DF)*

U

m encontro marcado, inicialmente, por timidez e que termina com descontração e juras de amor. Foi essa vitalidade típica da juventude o combustível que moveu jovens do Brasil e de Cabo Verde reunidos, em Brasília (DF), de 26 de setembro a 2 de outubro. O grupo participou da oficina Educomunicação e Educação em Sexualidade para trocar experiência sobre ações de comunicação comunitária e Educomunicação, voltadas para a promoção da saúde e à prevenção de DST/aids. Juntos, elaboraram um plano de cooperação em educação para a sexualidade e, agora, esperam pelo reencontro da turma, previsto para fevereiro, em Cabo Verde. Durante sete dias, 23 brasileiros e onze caboverdianos visitaram escolas da periferia do DF que desenvolvem ações de prevenção e promoção da saúde, participaram de debates e conheceram o trabalho de jovens que vivem com aids. A oficina abordou também temáticas relativas à gravidez juvenil e à promoção da saúde nas escolas. O intercâmbio foi promovido pela Unesco no Brasil em conjunto com o Programa Jovem de Expressão. Mantido pelo Grupo Caixa Seguros, o Programa tem como objetivo promover a saúde de jovens brasileiros, entre 18 e 29 anos, bem como reduzir sua exposição à violência. “Antes,

nossa comunicação era muito institucional. A gente viu que precisava usar a nossa própria linguagem e fazer essa comunicação direta”, observa o agente de expressão Davidson Pereira, de 28 anos. Em Cabo Verde, os brasileiros vão conhecer os Espaços de Informação e Orientação (EIO), de ações de prevenção e educação sexual nas escolas. Seguindo a abordagem de educação pelos pares, o EIO é um espaço gerido pelos próprios alunos com apoio de pais, professores e psicólogos. “Muita gente tem vergonha de falar sobre isso com pessoas mais velhas e fica mais fácil quando a gente fala de colega para colega”, explica a estudante cabo-verdiana e monitora do EIO, Cíntia da Veiga, de 15 anos. A oficina teve cooperação técnica dos ministérios da Educação e da Saúde do Brasil, com objetivo de integrar os setores de educação e saúde com enfoque na promoção da saúde sexual e reprodutiva de jovens estudantes. A iniciativa teve também o apoio institucional do Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crimes (UNODC). A íntegra da Oficina Educomunicação e Educação em Sexualidade pode ser acessada na página da oficina no facebook: http://migre.me/h03ea.

*com informações da Unesco

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“O principal efeito dessa troca de conhecimentos para mim foi a mudança na forma como eu trabalho a comunicação, mesclando duas áreas de atuação que é a Educação Física e o Jornalismo e também nos meus ciclos de amizade e convivências, principalmente na faculdade.” Willian Wilker dos Santos, 21 anos, Ceilândia (DF)

“Nesse intercâmbio, aprendemos juntos a importância da Educomunicação e que, não necessariamente, precisamos ter uma linguagem formal para abordar assuntos do tipo HIV e aids com os jovens. Percebi o quanto Brasil e Cabo Verde são semelhantes e como os africanos influenciaram fortemente nossa cultura.” Thais Moreira, 24 anos, Samambaia (DF)

“Ver adolescentes querendo mudar o mundo é realmente lindo e é muito gratificante saber que não sou só eu ou a minha comunidade que está nessa onda, mas pessoas do outro lado do mundo também.” Winnie Miranda, 17 anos, Taguatinga (DF)

“O intercâmbio foi o que faltava para despertar em mim certas sensibilidades em relação a modos de abordar diferentes temas como a sexualidade, falando em concreto do HIV/aids. A Educomunicação veio responder aos desafios da educação que se pretende para o nosso país, no qual o acesso às novas tecnologias é cada vez mais fácil. A semana de trabalho reforçou em mim a convicção de que somos um país irmão, não só por razões históricas, mas pela sintonia dos trabalhos.” Davilson Évora, 27 anos, Ilha de Santo Antão, Cabo Verde

“Para mim, o intercâmbio foi uma daquelas experiências consideradas únicas, especiais e diferentes. Conhecer e partilhar a metodologia da Educomunicação ajudou-me na aprendizagem de novas, diferentes e dinâmicas perspectivas de abordar alguns males sociais, como também a sexualidade, sendo esse assunto o que abordamos diariamente com os alunos.” Helena Veríssimo, 31 anos, Ilha de Santiago, Cabo Verde

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faz cultura

Iniciativa que dança e discute o negro A cultura negra ganha destaque e é pauta de debates graças a iniciativas da sociedade civil

políticos

Sebastian Roa, Virajovem de Manaus (AM)*

M

ovimento de cintura, expressão corporal, batuque. Isso faz parte de uma cultura ainda hoje marginalizada em razão da opressão secular da população negra e todas as suas legítimas formas de expressão. Apesar disso, a cultura afro ganha cada vez mais espaço nas discussões políticas, culturais e até escolares. Isso é devido, entre outros aspectos, ao empenho de grupos como o Instituto Cultural Afro Mutalembê, localizado em Manaus, que atua pela quebra de barreiras e mitos sobre a cultura afro-brasileira, desde suas artes até as intervenções políticas. O instituto é uma iniciativa que dança e discute o afro há oito anos. Inicialmente criado para homenagear seu avô Wilson Falcão Leal, o dançarino e professor Jorge Alberto Veja Nascimento iniciou o grupo em 2005 em parceria com a família Alencar, que atualmente coordena a iniciativa. O Mutalembê surge não apenas para dançar, mas sim para discutir políticas públicas relacionadas à cultura afro e levar o gostinho da batucada a cada cantinho do Amazonas. É no olhar profundo e cheio de orgulho de sua “negritude” que dona Telma Alencar, atual coordenadora do instituto e militante da causa afro-brasileira no Amazonas, ressalta que a falta de informações e desrespeito às diferenças

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Mutalembê significa “o caçador do vale dos zumbis” em linguagem africana.

Mulheres da família Alencar apresentam-se em evento sobre cultura africana, em Manaus


ainda são barreiras muito grandes a serem quebradas. “O preconceito é pura falta de informação, ainda há uma grande dificuldade em se visualizar o negro. Nas escolas, existe um preconceito imenso com a cultura em si, as pessoas não percebem que todos temos um pouco de negro no sangue, os nossos ancestrais são africanos, o primeiro homem provém da África”, afirma. Telma ainda comenta sobre a importância de levar o debate para as escolas, “pois as Leis 10.369/2003 e 11.645/2008 tornam obrigatório o ensino da história africana e afro-brasileira em escolas, desde o ensino básico até o superior”. Ela ainda finaliza dizendo que “ser negro é o que eu penso, é meu modo de viver”. A discussão é importante, porém o gingado não pode ser deixado de lado. Bianca Alencar, filha da coordenadora do movimento e propulsora da iniciativa, é uma das participantes do grupo de dança do Instituto. Ainda suada e fatigada após uma apresentação de dança, ela diz que “a sociedade negou por muito tempo a sua origem, mas antes de etnia ou cor, nós somos da mesma matéria. Respeito é a base de tudo, se eu nego minha cultura, quem serei eu?”. Bianca, além de dançarina, é pesquisadora de dança pela Universidade do Estado do Amazonas (UEA), onde faz mestrado com foco na dança afro.

Entendendo cultura e religião Quando se fala em cultura afro, é necessário e importante tratar sobre o quão intrínsecas são as palavras cultura e religião. Isso quer dizer que elas não se separam. Assim, a dança e suas manifestações culturais estão diretamente ligadas à religião. A expressão religiosa começa com a dança. É a partir daí que nasce essa grande mistura entre o terreno e o espiritual. Logo, a dança torna-se mais do que uma expressão cultural, transforma-se em uma manifestação espiritual também. A caçula do grupo e da família, Brenda Alencar, integrante do grupo de dança, explica como funciona a questão da religiosidade dentro do terreiro. “Todos os que iniciam no candomblé precisam ter um pai de santo, que é a pessoa encarregada de ser seu guia espiritual. Todos nós temos orixás e eles fazem contato com os pais de santo. E eles são importantes porque fazem essa conexão entre a pessoa e seu orixá”, explica.

Quadra vira espaço cultural para mulheres adaptas do camdomblé mostrarem seu gindado e tradição

Ela ainda lembra o grande choque quando se iniciou no candomblé. “Tive que passar por uma série de rituais. Fiquei careca, utilizei Ojas, Mocam, Senzala (apetrechos típicos africanos), o que chocou meus companheiros de faculdade”, explica. Mas Brenda não se deixou abalar por isso e hoje trabalha com dança dentro de escolas, para as quais leva essa cultura e ritmo contagiante a estudantes da rede pública de ensino. Assim, o Instituto estimula a arte e a discussão por onde passa, sempre lutando para desmistificar os preconceitos que giram em torno desta bela cultura.

você sabia? O Amazonas libertou seus escravos dois anos antes da assinatura da Lei Áurea.

*Um dos virajovens presentes em 20 Estados do País e no Distrito Federal

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galera repórter

desafios de quem faz diferente marco nsformação e o desafio de um tra da o viç ser a lar pu Po o açã Educ regulatório de Ong’s no Brasil são temas levantados por Aldalice Otterloo

Ana Carla, Diego Teófilo, Élida Galvão, Jairo Silva, Jorge Anderson, Mario Ernesto, Sidney Silva, do Virajovem Belém (PA)*

D

iante da inquietude em ver a triste realidade do entorno do bairro em que morava, ainda muito jovem, a pedagoga e orientadora educacional Aldalice Otterloo conscientizou-se de que era necessário iniciar ações que pudessem provocar transformações na sociedade. A partir de então, passou a se inserir em espaços de diálogos e atividades combativas às injustiças e desigualdades sociais. Motivada pelo desejo de mudança, começou a militar em seu bairro, ajudando na criação de uma associação comunitária ao mesmo tempo em que atuava no movimento secundarista, no qual chegou a ser presidente de grêmio estudantil. Depois, sua militância se estendeu para o Movimento de Educação de Base (MEB) e, em seguida, se inseriu no movimento da Teologia da Libertação dentro da Igreja Católica, iniciando uma luta por saneamento básico. Por dois anos, Aldalice integrou a coordenação da Associação Brasileira de Organizações Não Governamentais (Abong) e atualmente é diretora geral do Instituto Universidade Popular, entidade que trabalha com educação popular no Estado do Pará.

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Viração: Quais foram as circunstâncias que levaram você a ser uma militante do movimento social? Aldalice: A partir de problemas que enxerguei no meu bairro, entrei no Movimento de Educação de Base e passei a dar aula de alfabetização para as castanheiras e os trabalhadores de uma fábrica têxtil. Depois, ingressei no movimento estudantil. Vivíamos um momento político muito forte no Brasil e os estudantes tiveram papéis muito importantes nesse momento. Iniciamos a disseminação de um curso chamado Dinâmica Cristã, que trabalhava com os movimentos sociais do meu bairro. O curso foi um sucesso, difundimos em todas as igrejas de Belém até ele sofrer repressão e sermos proibidos de dar continuidade. No entanto, seguimos na militância e construímos várias entidades, entre elas a Federação de Assistência Social e Educacional e o Centro de Comunicação Popular. Na sua avaliação, quais são os principais desafios da educação popular na Amazônia? Um dos desafios da educação popular é a sustentabilidade das ONGs, em razão da falta de recursos.


“Nós estamos fazendo um trabalho que deveria ser do Estado. Mas nós não estamos somente substituindo o Estado, estamos democratizando o Estado.” O segundo é a criminalização das organizações. Como não temos acesso aos grandes meios de comunicação, muita gente não sabe o que estamos fazendo. O terceiro está ligado à questão geográfica. A região amazônica possui uma grande dimensão, logo temos dificuldades de dialogar com outros municípios, inviabilizando a presença de jovens em espaços fora do Estado. O quarto desafio é a comunicação, o acesso precário à internet, que dificulta o trabalho nas comunidades. E por fim, o fortalecimento do trabalho de base, em que devemos participar de processos formativos e, posteriormente, devolver para as comunidades esse acúmulo. Em um contexto amazônico, como são vistas as práticas de educação popular? Ainda é difícil as pessoas acreditarem na educação popular, embora muita gente no Brasil inteiro esteja dizendo da necessidade da gente voltar às bases. Para nós da Amazônia, esse é um desafio duplo, porque não temos tempo nem recurso para nos deslocarmos para as comunidades. Quando a gente consegue reunir numa comunidade meninas e meninos vindos das demais é muito bom. Eles têm tarefas entre módulos e acabam levando informações para suas comunidades, criando um laço importante. Se o governo aprovasse o marco regulatório em que as organizações que lutam por direitos tenham acesso aos fundos públicos seria ótimo. Nós estamos fazendo um trabalho que deveria ser do Estado. Mas nós não estamos somente substituindo o Estado, estamos democratizando o Estado. Há um desconhecimento na sociedade em geral sobre o papel, a identidade e a realidade das ONGs e dos movimentos sociais. O que você tem a dizer sobre isso? Fundamental é a democratização da informação, o que vocês estão fazendo. É criar espaço de visibilidade para além dos sites. Nós temos agora as redes sociais. O direito à comunicação, por exemplo, foi exercido durante a Primavera Árabe, lá na Tunísia, e eles se mobilizaram para lutar pelos direitos, pelas políticas públicas e acabaram derrubando um ditador. É fundamental que a gente produza uma informação bem clara e curta. E vocês devem disseminar nas diversas redes, porque é muito importante.

Aldalice conversa com galera do Virajovem Belém sobre criminalização das ONGs no Brasil

Casos de criminalização das organizações da sociedade civil e de suas ações sofrem ataques de difamação e sucessivos escândalos na mídia. Qual é o impacto direto para as ONGs? O primeiro impacto é o acesso aos fundos públicos, segundo é a ampliação da burocracia pra você acessar esses recursos. Por exemplo, a grande quantidade de documentos que é solicitada a uma organização que fica localizada na área urbana é a mesma das que ficam nas áreas rurais, quilombolas, ribeirinhas e indígenas. Existe uma dinâmica que dificulta esse acesso. Ou você se cadastra no Sistema de Gestão de Convênios e Contratos de Repasses, do Governo Federal, ou você se candidata direto por meio de um edital público.

Virajovens de Belém integram o projeto Jovens Comunicadores da Amazônia

*Virajovens presentes em 20 Estados do País e no Distrito Federal

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Amor à conservação G

Dupla de jovens paraibanos dedica-se à arte de estudar e conservar animais mortos

ustavo dos Santos Ferreira e Joabi da Silva Oliveira, ambos de 28 anos, homens simples, desenvolvem uma paixão desde sua adolescência por uma arte um tanto quanto incomum. Quando adolescentes, após visitarem uma exposição local em sua cidade, Picuí, no interior da Paraíba, descobriram a taxidermia, palavra que vem do grego “taxisdermi”, que significa dar forma à pele. Trata-se de uma atividade reconhecida por Lei, com o objetivo de aproveitamento de espécies descartadas, constituindo as características físicas do animal. Tal atividade é de suma importância tanto para a aprendizagem, quanto para a exposição da fauna local. A taxidermia desperta o sentimento de preservação e facilita o entendimento sobre a anatomia animal. Gustavo e Joabi nem ao menos sabiam o nome que se dava a essa prática, mas começaram a conhecer e procurar por conta própria. Autodidatas e amantes dos animais, aos 14

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Fotos: Virajovem Picuí

Marta Laís Macedo, do Virajovem Picuí (PB)*

A ciência faz parte dos interesses de jovens do sertão da paraíba, apaixonados por conservação de animais


anos, começaram colecionando pequenos insetos, que, após a morte, eram conservados em álcool. Além disso, eles têm pequenos animais empalhados, como preás e tatus. Porém, devido à falta de material e conhecimento de técnicas mais avançadas sobre taxidermia, a forma de conservação mais usadas por ambos é a feita em álcool ou formol. Sem experiência ou qualquer ajuda, começaram a encontrar e buscar animais mortos, e conservá-los em álcool. Após algum tempo, descobriram que a substância danifica o tecido da pele dos animais. Por isso, passaram a usar o formol. A dupla tentou apoio de universidades locais, mas sem sucesso. Sem conhecimento para aprimorar seu trabalho, ficava cada vez mais difícil seguir nessa atividade. Mas, mesmo assim, seguiram em frente. Se algum animal morria pela região, Gustavo era chamado para buscá-lo e, quando possível, aproveitavam o corpo. No hospital da região, quando chegava algum paciente vítima de picada de cobra, ele era chamado para buscar a cobra, já morta para a retirada do veneno, que serve como antídoto. Algumas escolas locais tomaram conhecimento do trabalho da dupla, convidando Gustavo e Joabi para expor alguns dos animais conservados por eles nas Feiras de Ciências. Na época, sua coleção dispunha de alguns animais empalhados, outros em vidros. Havia insetos e até alguns fetos, retirados de vacas que morreram antes mesmo de dar à luz. Mas, durante algumas dessas exposições, ocorreram acidentes, como por exemplo, animais empalhados quebrados devido ao mau manuseamento das peças por alguns alunos. Isso fez com que o número de peças empalhadas dessa coleção diminuísse, desmotivando nossos taxidermistas amadores, que não tinham acesso ao material necessário ou patrocínio algum. No entanto, não tardou para que se estabelecesse a parceria entre a dupla e a escola Professor Lordão, na qual projetos de pesquisas são desenvolvidos com os alunos nas mais diversas disciplinas. Uma delas, em particular, foi o incentivo que faltava à iniciativa de Gustavo e Joabi. Trata-se de um projeto de catalogação de animais da fauna local da região em que os dois rapazes irão trabalhar. “É gratificante ajudar uma pessoa da nossa comunidade empenhada em um propósito que, apesar de tudo, não desiste”, disse Vanessa Araújo, de 16 anos, aluna do Lordão e participante do projeto. O diretor da escola, Robson Rubenilson, fala sobre sua admiração por Gustavo e Joabi, reconhecendo sua perseverança, amor aos animais e a sua contribuição para a escola. “É muito interessante porque mostra força de vontade. Às vezes você não tem o conhecimento científico daquilo, mas gosta do que faz e sozinho

busca as respostas, o que é comum entre aquelas pessoas que vencem na vida. Esse projeto vem despertar esse conhecimento da fauna local aos alunos, principalmente da caatinga e o sentimento e conservação e preservação”, conta Robson. Outra coisa interessante é justamente a união entre escola e comunidade, provando como esses pequenos projetos, que chegam a ser individuais, com um pouco de incentivo, reconhecimento e ajuda, podem virar algo primoroso e de grande importância para a educação e a comunidade. “O material que estamos utilizando nos animais ainda não é o adequado. Gostaria muito de contar com um patrocínio, fazer mais divulgação, bem como um curso pra aprimorar meus conhecimentos, e entender quais os melhores produtos para facilitar o trabalho”, afirma Gustavo.

Projetos de pesquisa em ciência fazem parte das atividades curriculares de alunos da escola Professor Lordão, de Picuí

*Uma das virajovens presentes em 20 Estados do País e no Distrito Federal

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capa

Resoluções para o mundo

O mundo está sendo questionado sobre as mudanças para

o planeta a partir de 2015

Luciano Frontelle, João Victor Jesus dos Santos, Gabriela Freitas Daniel, Gislaine Alves dos Santos, Ana Paula Viana Pinto, Maria Gabriela Nunes, Jéssica Maria Nunes, Rafaela Santos Queiroz, Leonardo de Paula Silva, Isabela Vieira Leite, João Batista dos Santos Júnior, Isabela Vieira Leite, Natália Cristina, do Virajovem Boituva (SP)*

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ais um final de ano chega e, com ele, todas as festividades e rituais que estamos acostumados a rever nessa época. Um desses rituais é o hábito de fazer resoluções de ano novo, quando prometemos para nós mesmos que iremos fazer algo diferente, como parar de fumar, passar no vestibular, se declarar para aquela paixão de colégio. Esses são alguns dos exemplos facilmente encontrados entre amigos que compartilham o que se comprometeram a fazer. Mas acontece que, em 2014, nós esperamos que outros tipos de compromissos sejam firmados e outras resoluções sejam cumpridas, que estão sendo pactuadas por pessoas, grupos e líderes de países. Estamos falando do processo de consultas do Pós-2015. Essa história toda começou em setembro de 2000, quando a Cúpula do Milênio reuniu, na sede das Nações Unidas, em Nova Iorque, representantes de 189 países-membros. Seu objetivo era discutir no que seria investido todo o destino da humanidade. Os países estavam interconectados de maneira mais ampla e profunda do que em qualquer outra época da história, e o aceleramento do processo de globalização prometia um crescimento mais rápido, assim como o aumento do nível de vida e novas oportunidades.

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Foram estabelecidos Objetivos do Milênio (ODM), no Brasil, chamados de oito Jeitos de Mudar o Mundo, que devem ser atingidos por todos os países até 2015. Com o prazo perto do fim, várias dúvidas vêm a nossa mente: será que esses objetivos serão concretizados? Todo mundo sabe a seu respeito? Estamos no caminho certo? Apesar dos sites específicos sobre o assunto e de haver até um prêmio que reconhece as iniciativas que mais colaboram com a concretização das metas, os oito objetivos continuam bastante desconhecidos para a população de forma geral. Acabar com a fome e a miséria; educação básica de qualidade para todos; igualdade entre sexos e valorização da mulher; redução da mortalidade infantil; melhoria da saúde das gestantes; combater à aids, malária e outras doenças; qualidade de vida e respeito ao meio ambiente; todo mundo trabalhando pelo desenvolvimento. Para Sandro A. Canatelli, professor de História na cidade de Boituva (SP), ainda falta conectarmos os objetivos com a sociedade. “A maioria das pessoas desconhece os objetivos,


mesmo depois de 13 anos, porque falta divulgação e até mesmo interesse. É preciso mostrar a importância da participação de todos em cada fase desse tipo de iniciativa”, avalia Sandro. Para ele, o cenário não é positivo quando perguntamos se acredita que as metas serão atingidas. “Muitos objetivos nem mesmo chegaram perto de serem atingidos, principalmente aqueles relacionados à fome”, comenta. Segundo dados das Nações Unidas, o cenário não é, de fato, positivo na meta sobre pobreza, na qual a fome é relacionada. No geral, o objetivo de reduzir à metade o número de pessoas que ganham menos de um dólar por dia no mundo deverá ser atingida. Caíram de 1,25 bilhão em 2000 para 980 milhões em 2004, de 32% para 19% da população global. Porém, quando o olhar é mais focado em realidades regionais, o resultado não é tão bom assim. Praticamente toda a redução deve ser creditada ao crescimento econômico da China e Índia. O desempenho nas demais regiões não seguiu esse padrão. Na América Latina (AL), o número de pobres caiu de 10,3% para 8,7%. Para a ONU, se esse ritmo continuar, a meta regional não será atingida até 2015 (menos de mil dias até isso acontecer). No Oeste da Ásia, a pobreza dobrou desde 2000. Na África, caiu de 46,8% para 41,1%. Para citar mais alguns exemplos, a mortalidade no parto continua absurda: 500 mil mulheres ainda morrem por conta de complicações na gravidez. Abortos feitos de forma ilegal respondem por 12% das mortes maternas. Outra meta que não deve ser atingida é a de reduzir a má nutrição, que atinge 27% das crianças no mundo, contra 33% em 2000. A contenção da Aids também não será cumprida. As mortes aumentaram de 2,2 milhões em 2001 para 2,9 milhões. No total, 39,5 milhões de pessoas estão infectadas. A América Latina se destaca por ter a maior distribuição de remédios, atingindo 72% dos soropositivos, contra uma média de 28% nos demais países emergentes. A mortalidade infantil ainda está longe de atingir a meta de sofrer redução de dois terços até 2015. A queda foi de 106 mortes para 83 a cada mil nascimentos. Ainda assim, 10,3 milhões de crianças não chegam a seu quinto aniversário. E, apesar das reduções não serem tão ambiciosas quanto foram as metas, o fato é que, na maioria dos casos, houve reduções. Por isso, muitas pessoas e organizações continuam pressionando para que os governos aumentem seus esforços. Para Ana Luiza Escudeiro, de 13 anos, que nasceu no mesmo ano que os Objetivos

do Milênio, as metas relacionadas à educação e ao meio ambiente têm boas chances de serem cumpridas. “Instituições cooperam para a preservação ambiental e o governo cria projetos para colocar todas as crianças em escolas e garantir pelo menos uma vida digna a grande parte da população”, diz Ana, otimista.

Mas e o que vem depois? A uma Copa do Mundo de distância, 2015 está aí e, por isso, o processo para escolher novas metas ou reafirmar as que estão no ar já começou. Só que dessa vez a ONU resolveu fazer as coisas de forma diferente, para garantir que as novas metas tenham a participação de todos os atores interessados, como organizações da sociedade civil, jovens e crianças, indígenas, o setor privado e muitos outros para além dos governos. Criou um processo de consulta, denominado Pós-2015. Para sabermos mais sobre isso, a Vira conversou com Ticiana Egg, cientista política e, atualmente, coordenadora nacional das Consultas do Pós-2015 no Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud), acompanhe:

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Felipe, de 7 anos, participa de consulta realizada com crianças em São Paulo

Como, e para quê, a ONU organizou a pesquisa do Pós-2015 ? A ONU quer que a nova agenda de desenvolvimento seja construída a partir de um processo aberto, inclusivo e participativo, que envolva pessoas de todas as partes do mundo e de grupos sociais vulneráveis, que geralmente ficam fora de processos decisórios e debates públicos. Assim, estabeleceu espaços de escuta e diálogo com os cidadãos dos vários países. Entre esses espaços, foram realizadas, em 2013, consultas nacionais em 88 países, 11 consultas temáticas. Além disso, a Meu Mundo foi posta no ar, uma pesquisa de múltipla escolha que tem como objetivo saber das pessoas quais assuntos consideram mais importantes para que a vida de todos seja melhor. Assim, com a Meu Mundo, a ONU pode ter conhecimento das prioridades que devem ser tratadas pela agenda pós-2015 do ponto de vista dos cidadãos e cidadãs. Atualmente, mais de um milhão de pessoas já participaram dessa pesquisa; no Brasil, já temos mais de 35 mil participantes. O que a ONU acha das respostas das pesquisas que foram feitas? As respostas que têm sido apresentadas no Meu Mundo mostram para a ONU que há temas remanescentes dos ODMs – Objetivos do Milênio, que ainda precisam ser trabalhados, como por exemplo, segurança alimentar, melhoria da saúde e educação. Mostram, por outro lado, que há novos temas que surgem como questões importantes e que não fazem parte dos ODMs, como melhores oportunidades de emprego. Isso é muito importante, porque traz para nós o que precisa ser buscado ainda e mudado. As prioridades do Meu Mundo também dão luz ao que a ONU deve investigar mais e dar maior atenção nesse processo. Por exemplo, ao verificar que educação

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de qualidade é a prioridade eleita em primeiro lugar no mundo, deve-se procurar saber mais a fundo porque as pessoas consideram isso e o que deve ser mudado. É interessante ressaltar que os resultados do Meu Mundo têm apontado que há uma confluência de demandas e diagnósticos apresentados em outros processos, como as consultas nacionais, temáticas e as conclusões do Painel de Alto Nível do Pós-2015. Como vão ser escolhidos os próximos ODMs ? A discussão da próxima agenda de desenvolvimento consiste em um amplo processo que já está acontecendo em vários países e no âmbito da ONU. Em 2012, foi criado o Painel de Alto Nível com políticos e especialistas, que apresentou ao SecretárioGeral dois relatórios com recomendações para a nova agenda; em 2013 foram realizadas consultas nacionais em 88 países, nas quais participaram principalmente grupos vulneráveis, 11 consultas temáticas com especialistas, além do lançamento da pesquisa Meu Mundo, que ficará aberta até 2015. Além disso, na Assembléia-Geral de 2013, foi realizado um balanço do atual estágio dos ODMs e identificação do que precisa ser mudado até 2015 e o processo do Pós2015 também foi debatido. Todos esses processos produzem subsídios e conteúdo para as negociações internacionais da nova agenda de desenvolvimento. Em 2014, essas negociações serão iniciadas entre os países, que deverão levar à consolidação da nova agenda de desenvolvimento em 2015.


O Pós-2015 na prática No interior de São Paulo, na cidade de Boituva, o Instituto Lunos de Educomunicação está aplicando a pesquisa em escala local. Até o fechamento dessa edição, mais de dois mil questionários já haviam sido preenchidos, em sua maioria por adolescentes. Desde o início do ano, os jovens que integram o projeto estão percorrendo as escolas públicas e particulares, de ensino fundamental e médio, facilitando o processo de votação. “Percebemos a importância de ampliar e facilitar esse trabalho com a juventude. Compilamos a votação do My World numa folha e começamos a levar a pesquisa de mão em mão nas salas de aula. A proposta foi bem simples: os estudantes participavam da votação dos itens e depois utilizávamos o laboratório da escola para lançar na internet, de uma forma colaborativa. Procuramos fazer tudo envolvendo os grêmios estudantis, professores e estudantes em geral”, explica o Diretor Presidente do Lunos, Luiz Carlos Paes Vieira. O trabalho teve início no mês de março, na Escola Municipal Vilma Aparecida Penatti Galvão. Por lá, as pesquisas foram aplicadas aos estudantes de oitavo e nono ano. O trabalho envolveu três turmas do Projeto Lunos: duas do primeiro e uma do segundo semestre de 2013. Em todo processo de aplicação, o objetivo foi efetuar o trabalho com a participação dos jovens. Os adolescentes do projeto Lunos iam às salas de aulas e explicavam o processo de preenchimento do My World. “Foi muito gratificante poder participar desse processo que envolve pessoas do mundo inteiro. No começo, deu um pouco de vergonha, mas depois a vontade de ajudar superou esse obstáculo. Entramos em mais de 80 salas de aula. Vencemos nossos próprios limites e conseguimos um belo resultado”, conta a adolescente Maria Islaine Ferreira, de 15 anos, do Lunos.

Membros do Painel de Alto Nível de Pessoas Eminentes para o Pós-2015

Adolescente da Lunos transcreve respostas da pesquisa em site da internet

Jovens de várias regiões do mundo se reuniram em Bali, Indonésia, para opinar nas propostas do pós-2015

Subindo dados As mais de duas mil pesquisas foram preenchidas em oito escolas da cidade: uma particular, cinco municipais e duas estaduais. Há um mês, um mutirão foi organizado para subir os dados para a internet. Os primeiros lançamentos foram efetuados na sala do Acessa Escola, na unidade estadual “João Moretti”. Revista Viração • Ano 11 • Edição 102

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A escola participou da pesquisa no primeiro semestre. Por lá, foram preenchidos cerca de 600 questionários. Para a coordenadora pedagógica, Rosângela de Campos, esse processo foi fundamental para a construção de um futuro próximo. “Buscamos dar voz aos nossos jovens. Há alguns anos já temos o grêmio. Ser jovem é ter força e sonhos. Não basta apenas querer. É preciso agir para ter alguma mudança. E com essa ação tenho certeza que eles puderam contribuir de uma forma prática pra termos um mundo melhor”, afirma.

Olhar de criança Em Boituva, além dos adolescentes, foi oportunizado um momento para que as crianças pudessem participar do processo de consulta Pós-2015. Utilizando recursos da pedagogia do afeto e da participação lúdica, a ONG Lunos efetuou a pesquisa com as crianças da Casa Abrigo da cidade. Esse espaço é mantido pelo poder público, na supervisão do Poder Judiciário e Ministério Público. Entre seus objetivos, o principal é custodiar crianças e adolescentes que demandam atenção especial enquanto seus núcleos familiares têm suas relações estabilizadas. Respondendo à pergunta “O que te faz feliz?”, as crianças revelaram aquilo que consideram importante em suas vidas, utilizando lápis de cor, tinta e giz de cera. “O futuro é algo muito próximo. Ele precisa ser construído, principalmente, por quem mais vai usufruir dele. O processo de consulta Pós-2015 é fantástico no que concerne a dar vez e voz a nossas crianças e jovens. Para nós é um orgulho muito grande poder somar esforços nesse objetivo mundial”, finaliza o presidente do Lunos.

E, afinal de contas, como posso me envolver? Se você está fazendo essa pergunta, podemos te indicar algumas formas de envolvimento. Um deles é fazendo parte da Coalizão de Jovens Brasileiros pelo Pós-2015 (www. pos2015brasil.org), que congrega organizações, indivíduos e movimentos que querem facilitar a participação de jovens e adolescentes do Brasil em processos de decisão das Nações Unidas, especialmente nos relacionados ao Pós-2015. Você pode acessar o site do My World (www. myworld2015.org) e do World We Want (www.worldwewant2015.org), ambos com versões em português e que estão funcionando como plataformas oficiais da ONU para consultar as pessoas do mundo todo. Para mais informações, você também pode visitar o site da Coalizão de Jovens, que colocamos acima! Boas festas e, em 2014, nos ajude a construir o Mundo Que Queremos!

*Virajovens presentes em 20 Estados do País e no Distrito Federal

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Bruno Ferreira, da Redação

Estética e identidade jovem

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esde que entrei na Viração, há quase três anos, um dos principais elogios que ouço à revista é com relação ao seu visual. A identidade jovem presente ao longo das páginas deixa clara a nossa marca e o nosso propósito: comunicar também esteticamente as impressões da juventude. Desde o começo da Viração, os ilustradores Natália Forcat, Novaes e Márcio Baraldi colaboram com a Vira, ilustrando para as seções Sexo e Saúde, Que Figura! e criando as histórias em quadrinhos do Rap Dez. São eles que, nesta edição, comentam como a revista, nesses dez anos, tem se relacionado com a expressão artística. Vamos perceber, nos depoimentos a seguir, muitas sugestões sobre como a Vira deve incluir mais arte em seu processo de produção a partir de agora. E esses toques, vindos desses mestres, são mais que bem vindos! Confira! “O desenho é inato no ser humano, desenhar é um ato natural, toda criança desenha, menos as que são podadas pelos pais ou pela escola! Fora que o desenho é pessoal, vem com a personalidade do autor. É muito mais íntimo do que a fotografia! Já reivindiquei mais desenhos na Vira! Acho muito pouco usado e pouco valorizado! Continuo dizendo que 60% das matérias ou mais teriam que ter ilustras. O importante é criar um canal, é mostrar que a Vira está aberta para a arte, que entende que é preciso criar sensibilidade para combater a violência!”

produção supera o tempo que essa imagem será exposta ao olhar comunitário, seja nas redes, ou no papel impresso.” Natália Forcat, ilustradora das seções Sexo e Saúde e Vale 10! “Eu gosto muito da parte visual da Viração. Acho que ela está em harmonia com essa proposta jovem, descontraída e alegre da revista. O projeto gráfico é leve, bonito e utiliza bastante ilustrações. Pra mim é um prazer contribuir para a Viração com os quadrinhos do Rap Dez e uma honra figurar ao lado de grandes ilustradores brasileiros como Marcelo Rampazzo, Natalia Forcat e o mestre Novaes. A arte da revista espelha o seu engajamento libertário, ao contrário de outras publicações jovens que privilegiam a futilidade e a despolitização. Viva os dez anos da Viração, a revista mais rebelde do Brasil!” Márcio Baraldi, cartunista, criador do Rap Dez

Novaes, ilustrador da seção Que Figura! “Concordo com o Novaes, acho que a revista deveria estimular a produção dos próprios jovens artistas. A quantidade de fotos produzidas na atualidade supera amplamente a quantidade de ilustrações e outras formas de arte... Eu acredito que isso se deva ao fato de nossa sociedade estar se tornando cada vez mais imediatista. Outras formas de arte demandam tempo e, muitas vezes, o tempo de

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imagens que viram

OlharES ANDINOS Vivian Ragazzi, colaboradora da Vira em São Paulo (SP)

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Peru, país que faz fronteira com o Equador, Colômbia, Brasil, Bolívia e Chile, encanta pela diversidade cultural e geográfica. O passado inca ainda está presente na vida dos peruanos. É fácil encontrar descendentes deles em cidades como Cuzco, que quer dizer “umbigo do mundo” e grafa-se “Cusco” em quéchua. A cidade era o centro administrativo dos incas até a chegada dos espanhóis em 1532, quando foi invadida e saqueada. Machu Picchu (“velha montanha” em quéchua) é a “cidade perdida dos incas”. Construída no século 15, é o símbolo do império e patrimônio da humanidade, reconhecido pela Unesco. A dica é chegar bem cedo, quando a neblina cobre a montanha de Huayna Picchu e confere um clima de mistério ao local. A gastronomia é outro ponto forte do país. Pratos como ceviche (peixe cru marinado em suco de limão com cebolas roxas) fazem parte do cardápio de quase todos os restaurantes. Na rua, prove o choclo con queso (milho com grãos gigantes) e a chicha morada, bebida feita com milho roxo fervido com especiarias e frutas.

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análise:

A favela nunca dormiu Gizele Martins, do Virajovem Rio de Janeiro (RJ)*

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Fotos: Gizele Martins

esde junho, as ruas do Rio de Janeiro e de diversos Estados do Brasil começaram a ser ocupadas por grandes manifestações que, no início, eram pelo não aumento das passagens. Várias cidades do País estavam sofrendo com mais uma ação do Estado e dos donos das empresas de ônibus, com o aumento dos valores das passagens sem oferecer qualquer condição para que esses meios pudessem ter melhorias. Pelo contrário, passagens caras, cobradores sem emprego, motoristas além de dirigir precisando fazer cobranças das passagens por não ter nenhuma estrutura para atender aos cidadãos. Mas a pauta deixou de ser só pelo não aumento das passagens. Por isso, a ideia de que “Não foi só pelos 20 centavos”. Outros movimentos sociais começaram a colocar nos cartazes, nos gritos e nas intervenções dos carros de som outras demandas da população. E, hoje, outras bandeiras também são levantadas pelas multidões que ainda ocupam as ruas do Centro do Rio: segurança pública, que automaticamente envolve o tema da Unidade de Polícia Pacificadora (UPP), além da desmilitarização da polícia; remoções; direito à cidade; educação; saúde; liberdade sexual e sistema penitenciário. Essas são pautas que têm a ver com o momento atual deste lugar conhecido como “cidade maravilhosa”. Afinal, o Rio de Janeiro é a cidade escolhida para receber os Megaeventos que ocorrerão em 2014 e 2016. E, para que ela esteja preparada para a Copa do Mundo e para as Olimpíadas, os governantes estão mudando as estruturas físicas desse território. Mas o território escolhido para ser sacudido, mais uma vez, é o lugar habitado por uma população pobre, negra e favelada. Exemplo disso é que, na mesma semana em que o Rio foi escolhido como sede dos Megaeventos, o atual Prefeito do Rio, Eduardo Paes, anunciou que 119 favelas, com um total de mais de 100 mil pessoas, iriam sofrer com o processo das remoções. Favelas localizadas principalmente na Zona Oeste e na Zona Norte do Rio. Destas mais de cem favelas, cinco já foram completamente extintas do mapa. Em pesquisa recente realizada pela organização

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internacional Witness e por um grupo de jornalistas e militantes de direitos humanos do Brasil, que durou mais de um ano, com mais de cem vídeos assistidos, apontou que das favelas que estão sofrendo com as remoções, 44% delas não têm qualquer tipo de informação sobre as remoções e 31% sofrem antes das remoções com propostas inadequadas de reassentamento.

Segurança pública em debate Outro tipo de retirada e negação aos pobres é a invasão das Unidades de Polícia Pacificadora (UPP) nas favelas cariocas. Sendo este outro modelo de “proteção” aos Megaeventos. Este é um modelo de cidade com a ideia de proteger o asfalto e os turistas para a chegada dos jogos, política feita de cima para baixo para o preparo da cidade e mais uma forma brutal e escancarada de racismo do Estado brasileiro que trata a favela como marginal, criminosa e violenta. Na Rocinha, sumiu um ajudante de pedreiro, o Amarildo. Caso que percorreu o mundo. Lá, assim como nas 18 favelas que estão hoje ocupadas pela UPP, outros moradores têm desaparecido. “Entre 2007 e 2012, foram registrados 553 casos de desaparecimento nas 18 primeiras comunidades. Os relatórios do ISP indicam aumento progressivo anual até 2010, quando o indicador atingiu o seu ápice (119 ocorrências)”, dados do Instituto de Segurança Pública em matéria do UOL publicada em agosto de 2013.

Cartazes criticam a omissão do Estado e a opressão às comunidades cariocas


Manifestantes saem às ruas, demonstrando entender o papel da sociedade nas mudanças históricas

Em junho, assim como milhares de movimentos, os moradores da Maré ocuparam a Avenida Brasil, colocando em pauta principalmente a ação violenta e diária da polícia nas favelas, já que ela tem sofrido com as constantes invasões da polícia nos últimos meses. Naquele fim de tarde, a força armada chegou e atirou naqueles manifestantes mareenses na tentativa de acabar com a passeata. O que acabou ocasionando uma chacina. Treze pessoas foram brutalmente assassinadas, não só durante a manifestação, mas também durante a noite. Mais uma prova de que não estamos num País democrático.

O tiro na favela não é de borracha Os tiros de borracha vindas dos policiais que hoje perseguem as manifestações, por mais brutais e violentos que sejam, ainda conseguem ser diferentes dos tiros que percorrem os becos, ruas e vielas das favelas cariocas. O que não é por acaso, pois são nas favelas com maioria negra que, historicamente, sofrem com a opressão e o racismo esclarecido do Estado e da sociedade, que se afirma sempre – em suas palavras – como uma sociedade não racista. De acordo com levantamento do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), divulgado em outubro deste ano, a possibilidade de um adolescente negro ser vítima de homicídio é 3,7 vezes maior do que um branco. Ainda, segundo eles, “o racismo é institucional no Brasil, expresso principalmente nas ações da polícia”.

A mídia comunitária como defesa da identidade local Historicamente, a mídia também se comporta perante a favela de forma racista. E, assim como as ações do Estado, ela aplaude e só põe a favela como capa no que se refere à segurança pública. Nos últimos meses, desde o início das manifestações, não são só as favelas e os movimentos sociais passaram a ser criminalizados, mas todos que

tentassem ir às ruas em busca dos seus direitos. As palavras vândalo, criminoso, baderneiro passaram a ser moda na boca dos jornalistas de mídias comerciais. Todos os dias aparecem matérias a favor de uma polícia que criminaliza cada vez mais os movimentos que tentam ou já estão nas ruas reivindicando. As mídias populares e comunitárias, que têm um papel importante, passaram a trabalhar mais para colocar em pauta as reivindicações desse povo oprimido que está nas ruas. Além dos vídeos e das postagens nas mídias sociais, palestras, oficinas e cursos estão sendo feitos pelos comunicadores populares e comunitários do Rio para mostrar o outro lado da notícia, o outro ponto de vista que não seja dos governantes. Com isso, outra pauta que aparece é do monopólio da mídia. Os movimentos sociais tomam essa bandeira como sua e passaram a defender também o direito à comunicação.

O prazer de estar nas ruas Como pobre, negra e favelada, sei que este é um momento importante de discutir a política atual do nosso País. De levar as pautas das favelas para além dos muros visíveis e invisíveis que nos cercam. De mostrar a valorização da cultura popular e falar da vida alternativa que temos dentro dos nossos locais de moradia. De mostrar também para todos e todas que não somos criminosos e sim criminalizados, de que não somos violentos e sim violentados e de que não somos marginais e sim, cada dia mais, marginalizados, já que a favela é parte da cidade. São pautas que antes eram só da favela e agora passaram a ocupar as ruas dos centros do Rio. Ano que vem, iniciam-se os Megaeventos. É certo que o Estado não quer que turistas desistam de frequentar a cidade por saber que “vândalos”, como os governantes e a mídia nos chamam, estarão ocupando as ruas da cidade maravilhosa com suas bandeiras de reivindicação.

*Uma das virajovens presentes em 20 Estados do País e no Distrito Federal

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quadrim

Pererê: do folclore para os quadrinhos

Nobu Chinen, crítico de quadrinhos

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ouve um tempo em que as pessoas acreditavam em criaturas lendárias que se ocultavam nas matas e assombravam seus habitantes. No Brasil, entre esses seres folclóricos, o Saci Pererê é um dos mais populares, tanto que, em 1960, foi transformado em personagem de quadrinhos pelas mãos do desenhista Ziraldo Alves Pinto, e publicado em revista própria pela editora O Cruzeiro, que durou até 1964. O Pererê de Ziraldo, ao contrário do moleque de uma perna só que lhe serviu de inspiração, não quer amedrontar ninguém. É um cara simpático, prestativo e bom companheiro, que vive cercado de amigos como a onça Galileu, o índio Tininim, o macaco Alan, o tatu Pedro Vieira, o coelho Geraldinho e o jabuti Moacir. Eles vivem suas aventuras na Mata do Fundão, enfrentando as armadilhas do Compadre Tonico e de seu Neném, fazendeiros das redondezas. A paixão de Pererê por Boneca e de Tininim pela indiazinha Tuiuiú garante o clima de romance de alguns dos enredos, atrapalhado somente pela presença de seus rivais Rufino e Flecha-Firme. As histórias, aparentemente simples e diretas, exploram situações de humor leve e ingênuo, em traços precisos, formas estilizadas e cores bem vivas, no estilo que consagrou a arte de Ziraldo. No entanto, em diversas aventuras, a trama aborda temas de cunho social e até

Por que é legal ler? As aventuras de Pererê e sua turma são bem divertidas e abordam temas universais como amizade, companheirismo e solidariedade, mas com um tratamento que tem muito a ver com a realidade dos jovens brasileiros.

político, ao trazer para suas páginas fatos e acontecimentos de um país que vivia uma intensa transformação. Na época em que a série foi criada, o Brasil passava por uma fase de forte urbanização e de desenvolvimento industrial que contrastavam com as tradições de uma sociedade rural marcada pelo conservadorismo. Muitas das histórias do Pererê refletem esse conflito entre o arcaico e o moderno com muita graça e ironia. Embora a versão original da revista Pererê tenha durado apenas cinco anos, a série foi republicada por outras editoras e, atualmente, está disponível no formato de álbuns.

Por que é importante ler? A série foi uma das obras mais significativas de Ziraldo, cartunista e artista gráfico internacionalmente reconhecido e um dos autores mais lidos entre crianças e jovens do País.

Para ler e refletir! O Pererê já tratava de assuntos como preservação ambiental, especulação imobiliária e respeito à diversidade, muitos anos antes desses temas se tornarem comuns. A série preserva uma aura de nostalgia de uma época mais ingênua e ligada a valores rurais. Revista Viração • Ano 11 • Edição 102

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no escurinho

Exclusão voluntária Sérgio Rizzo*

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animador e produtor norte-americano Walt Disney (1901-1966) foi um dos principais responsáveis pela formatação do conceito de diversão para a família. Inúmeros filmes produzidos pelo império que construiu se dirigem principalmente a crianças, mas trazem elementos que agradam também a adolescentes e adultos. Assim, todos ficam satisfeitos com o passeio. Esse público-alvo corresponde hoje a um dos maiores filões da indústria cinematográfica, inclusive no Brasil, e costuma ter apreço especial por longas-metragens de animação em 3D, como Os Croods (2013). Produzido pelo estúdio DreamWorks, que também segue a cartilha criada por Disney, essa bem-humorada recriação de uma pré-história fantasiosa – em que elementos de diversas épocas convivem de maneira anacrônica, ao lado de outros que foram inventados para o filme – conversa diretamente com as atuais famílias de classe média. A história poderia muito bem se passar em um dos condomínios fechados que se tornaram comuns em diversos países nas últimas décadas. São lugares em que os moradores estão “protegidos” do mundo que os cerca, em um movimento voluntário de exclusão. Grug, o pai brutamontes da trama, mantém a família dentro de uma caverna porque acredita que “o novo é sempre ruim” e que eles nunca devem perder o medo. Sua autoridade sobre o grupo começa a ruir quando a filha adolescente decide contrariá-lo. Ainda bem que ela o faz: graças a sua curiosidade e ao seu destemor, todos vão sobreviver melhor à necessidade que logo se apresenta – correr pelo mundo em busca de um novo lar. Ruim mesmo, descobrirá o zeloso Grug ao final, é renunciar às descobertas que a vida proporciona o tempo todo – o que, em última instância, significa renunciar a viver. Por falar em condomínios fechados, eles aparecem como um símbolo de exclusão em países de profundas desigualdades sociais em dois filmes latino-americanos recentes: o mexicano Zona do Crime (2007), em que uma frustrada tentativa de assalto desencadeia a ação (e os preconceitos dos moradores), e o brasileiro O Som ao Redor (2012), que parte do processo de verticalização de um bairro em Recife para tratar de idiossincrasias e de temores da classe média. *www.sergiorizzo.com.br

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que figura!

Mulher, puta e livre! A história de uma mulher que enfrentou os preconceitos da sociedade para lutar pelos direitos das prostitutas

Elisangela Nunes Cordeiro, da Redação

“Todas as decisões que tomei, inclusive a de ser prostituta, tem a ver com o meu grande sentimento de fazer coisas e de ter liberdade.”

sofrida pelas profissionais do sexo que Gabriela se tornou referência na luta pelos direitos das prostitutas no Brasil. Em 1987, organizou o primeiro encontro nacional de prostitutas; mas foi só em 2002 que o Ministério do Trabalho reconheceu a prostituição como atividade profissional, garantindo o direito à aposentadoria. Em 1992, fundou a ONG Davida, e em 2005 criou a grife Daspu, numa referência irônica à Daslu. O foco das ações nunca foi tirar das ruas essas mulheres e sim promover a cidadania delas. Em 2010, foi candidata a deputada federal pelo PV. E, em 2012, o deputado Jean Willys coloca-a novamente em pauta com o PL 4211/2012, conhecido como “Lei Gabriela Leite”, que trata da regulamentação da profissão. Gabriela morreu em outubro deste ano, vítima de câncer.

Novaes

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onheci a história de Gabriela Leite há alguns anos, quando surgiu a ideia de produzir uma reportagem sobre jovens prostitutas para a Vira. Fiquei empolgada com a possibilidade e fui pesquisar sobre o tema. Curiosa por conhecer mais Gabriela, que aparecia tantas vezes na pesquisa, resolvi comprar o livro Avó, Mãe, Filha e Puta, sobre sua vida. As descobertas que fiz sobre essa mulher me deixaram profundas impressões a respeito da luta das mulheres, do preconceito que elas enfrentam e, principalmente, sobre a liberdade. Nascida em 1951, numa família tradicional, a paulistana Gabriela Leite frequentou o círculo de intelectuais e artistas paulistas até abandonar, em 1973, no auge da ditadura militar, os cursos de filosofia e sociologia na Universidade de São Paulo para viver sua própria revolução sexual. Foi ser prostituta na Boca do Lixo, antiga região de São Paulo com grande concentração de garotas de programas. Costumava se definir como puta. E, se para a sociedade em geral o termo representa um palavrão, para ela definia uma atitude diante da vida. Foi durante as manifestações contra a marginalização, os preconceitos e a violência

tá na mão Conheça a auto-biografia de Gabriela Leite: Avó, Mãe, Filha e Puta. Editora Objetiva.

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sexo e saúde

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uem disse que os lábios e a língua servem apenas para comer está muito enganado. A boca pode despertar muito prazer, ainda mais quando combinadas com maçã e banana. Como assim? Bem, não é de culinária que estamos falando. Essa edição de Sexo e Saúde vai falar sobre sexo oral, afinal coisa boa tem que ser dita e feita, com segurança sempre. Sobre essa questão, entrevistamos Jaqueline Magalhães, psicóloga e educadora do Programa Adolescer, da ONG Bem Vindo, parceira de conteúdo da Agência Jovem de Notícias. Confira!

Paolla Menchetti e Leticia Cardoso, do Virajovem São Paulo (SP); Alessandro Muniz e Isadora Morena, do Virajovem Natal (RN)* A mulher pode atingir ao orgasmo apenas com o sexo oral?

Embora existam relatos e registros de infecção pelo HIV em pessoas que praticaram apenas sexo oral, o risco nesse caso é bem mais baixo. As chances de contaminação pelo HIV variam de acordo com a forma de sexo praticado, e são maiores no sexo anal e no sexo vaginal sem proteção (sem camisinha). Mas, é importante lembrar que, embora ofereça menor risco de contaminação para o HIV, o sexo oral não está totalmente livre desse risco, além de ser uma forma de contaminação muito fácil para outras DSTs, como sífilis, gonorréia e herpes.

Sim, a mulher pode atingir o orgasmo durante o sexo oral. Mas é importante dizer que atingir o orgasmo envolve uma série de fatores, como a entrega durante o ato sexual, as carícias e o cuidado envolvido, as preferências de cada parceiro, e a estimulação de áreas eróticas prazerosas para cada um deles. O sexo oral pode estimular a região do clitóris da mulher, levando-a ao orgasmo.

Por que o sexo oral no ânus – chamado beijo grego – é uma prática comum entre homossexuais? O que faz esse ato gerar tanto prazer? O chamado “beijo grego” tem este nome por ter sido uma prática comum entre homens na Grécia antiga. A estimulação do ânus pela boca, além de muito prazerosa, pode facilitar a posterior penetração do ânus pelo pênis, já que acaba por dilatar um pouco a abertura do canal. Assim, a prática pode ser escolhida não apenas por homossexuais, mas por todo casal que gostar de praticar sexo anal, precedido de carícias como o beijo grego. O ânus é uma região do corpo cheia de terminações nervosas, o que lhe confere um caráter erótico muito grande, ou seja, estimulações nessa região podem gerar um prazer imenso. Esta estimulação pode acontecer de várias formas, sendo uma delas com a boca: lamber, sugar, morder e penetrar a língua no ânus. Mande suas dúvidas sobre Sexo e Saúde, que a galera da Vira vai buscar as respostas para você! O e-mail é redacao@viracao.org

*Virajovens presentes em 20 Estados do País e no Distrito Federal

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Natália Forcat

Quais são as chances reais de transmissão de HIV e outras DSTs pelo sexo oral?


Adocicando o Natal

do A rabanada é um prato típico nesta época do ano. Rápi e prático, faz parte da ceia de boa parte das famílias Da Redação

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om pão e açúcar é possível fazer um dos pratos mais lembrados e pedidos nas ceias natalinas. A rabanada é prática, fácil e se faz com poucos ingredientes, todos eles muito simples, que existem no dia a dia da maioria das casas. Com origem no século 15, o prato doce ajudava na recuperação de mulheres que acabavam de dar à luz. No Brasil, tradicionalmente, consome-se o prato nas festas de fim de ano. Em outros países, no entanto, é mais tradicional na época da quaresma, que antecede a Páscoa. Isso porque se entendia a necessidade de aproveitar o pão, em razão do jejum de carne que algumas culturas fazem nesse período. Apesar de haver muitas adaptações mais sofisticadas do prato, optamos pela receita mais simples de rabanada e também mais saudável. Em vez de usar óleo, que tal levá-la ao forno? Confira!

Ingredientes

e um pouco mais de rum. Depois, coloque 70% do creme de leite no leite fervido e o restante, misture aos ovos batidos. Pré-aqueça o forno em 180 graus e unte uma assadeira com manteiga, açúcar e canela em pó misturadas. Passe as fatias de pão dormido no leite, depois no ovo e, em seguida, coloque-as na assadeira untada. Depois, cubra os pães com mais açúcar e canela misturados. Leve ao forno por cerca de 40 minutos em forno baixo. Depois, é só saborear! Bom apetite! Boas festas!

Leve ao fogo o leite, o açúcar e a manteiga, com parte da essência de baunilha e o rum, deixando ferver por cinco minutos. Enquanto isso, bata os ovos com o restante da essência de baunilha

Jonathunder - Wikimedia

Modo de preparo

Commons

5 pães dormidos e fatiados; ½ litro de leite; 4 colheres de sopa de açúcar; 2 colheres de sopa de manteiga; 200 ml de creme de leite; 2 colheres de café de essência de baunilha; 3 colheres de sopa de rum ou conhaque; 2 ovos grandes; 1 pau de canela; Canela em pó.


parada social

Tecnologia a favor da infância

Plataforma MapaDCA auxilia municípios a elaborarem o diagnóstico da condição de vida de crianças e adolescentes Da Agência Jovem de Notícias

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uais são os serviços disponíveis para crianças e adolescentes do seu município? Existem vagas suficientes na rede de ensino? E como anda o atendimento oferecido pela saúde? Estão de acordo com as necessidades desta população? No intuito de fornecer uma visão ampliada acerca da condição de vida de meninos e meninas e contribuir para a elaboração de políticas públicas que respeitem a realidade de cada município, a organização não governamental Oficina de Imagens, de Belo Horizonte, desenvolveu, em parceria com o Instituto C&A, a Plataforma MapaDCA. Atualmente, cerca de 300 municípios de 23 Estados já estão cadastrados. Virtual e gratuita, a ferramenta permite que os usuários preencham formulários com perguntas relacionadas a crianças e adolescentes e gerem relatórios individualizados sobre a situação das políticas no município. Criada há pouco mais de um ano, a Plataforma chega, em 2013, com uma versão atualizada, com dados e relatórios mais completos além de um tutorial de uso da ferramenta. Outra novidade é que os usuários poderão comparar os dados de seus municípios com indicadores estaduais e nacionais. De acordo com a coordenadora do MapaDCA, Adriana Mitre, a

ferramenta inova ao estimular entre os municípios a cultura do diagnóstico a partir de uma metodologia simples e participativa. ”Ou o município não tem verba para financiar o diagnóstico ou, se tem, não se envolve com o processo de levantamento de dados. O MapaDCA é livre, gratuito e apresenta uma metodologia prática que propõe o envolvimento das pessoas”, avalia. A ferramenta é direcionada ao Conselho Municipal dos Direitos da Criança e do Adolescente, o CMDCA, órgão responsável por elaborar e monitorar as políticas públicas para a infância, mas também pode ser utilizada por outros órgãos da área, como o Conselho Tutelar.

tá na mão Conheça a plataforma: http://www.mapadca.org/

Confira o link sugerido pelo QR Code!




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