nossa-uenf-ano1-n1-Abril 2008

Page 1

nossa

UENF

Revista da Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy Ribeiro - Ano 1 - Nº 1 - Abril de 2008

Patrimônio natural e cultural ganha CD e Atlas

Foto - Felipe Moussallem

Foto - Felipe Moussallem

Projeto de extensão vai divulgar informações sobre Campos

Uma história de lutas

A ciência e o uso de animais

O parceiro do Nobel

Testamento, abaixo-assinado, mobilização política... de alguma forma você ou alguém próximo participou da criação da Uenf

Lei municipal do Rio de Janeiro chegou a proibir uso de cobaias em laboratórios, mas elas são vitais para o avanço da ciência

Físico da Uenf desenvolveu pesquisas e publicou artigos com o alemão Peter Gruenberg, ganhador do último Nobel


Muito prazer, Uenf

Nesta Edição Pesquisas que viram produtos Registro de patentes mostra tecnologias da Uenf a caminho do setor produtivo

O parceiro do Nobel Físico da Uenf publicou artigo com Peter Gruenberg, um dos ganhadores do último Nobel

Uma história de lutas Os movimentos populares e a luta política e comunitária que deram origem à Uenf

Uma trajetória de talento e determinação Seus pais nunca foram à escola, mas ele passou em primeiro lugar para mestrado no RS

Patrimônio natural e cultural ganha CD e Atlas Projeto de extensão divulga informações sobre município de Campos

Vestibular 2009 Maratona começa já em abril, com inscrições para 1.º Exame de Qualificação

Rumo ao Noroeste Histórias reais da educação a distância Consórcio Cederj garimpa talentos onde poucos imaginariam que eles existissem

Crescer com os pés no chão

Expediente Diretor do CBB Arnoldo Rocha Façanha Diretor do CCT Alexandre de Moura Stumbo

Secretário de Ciência e Tecnologia Alexandre Cardoso

Diretora do CCH Teresa de Jesus Peixoto Faria

Reitor da Uenf Almy Junior Cordeiro de Carvalho

Diretor do CCTA Hernán Maldonado Vásquez

Vice-reitor Antonio Abel Gonzalez Carrasquilla

Diretor de Projetos Ronaldo Paranhos

Pró-reitora de Graduação Lílian Maria Garcia Bahia de Oliveira

Diretor Geral Administrativo Marco Antônio Martins

Pró-reitor de Pesquisa e Pós-Graduação Edson Corrêa da Silva Pró-reitor de Extensão e Assuntos Comunitários Silvério de Paiva Freitas

Prefeito do Campus Paulo César de Almeida Maia

Jornalistas: Fúlvia D’Alessandri e Gustavo Smiderle - Projeto gráfico: Felipe Moussallem www.uenf.br

uenf@uenf.br

05 06 08 10

12 14

Reitor da Uenf analisa o momento vivido pela instituição

Vice-Governador do Estado Luiz Fernando Pezão

04

11

Universidade discute proposta de expansão para Itaperuna

Governador do Estado Sérgio Cabral

03

(22) 2726-1449 / 0800 - 25 2004

Queremos dar as boas vindas aos leitores e leitoras contando, rapidamente, uma historinha sobre a escolha do nome desta publicação: NOSSA UENF. Buscávamos algo que desse a idéia de uma universidade que é de todos sem ser especificamente de ninguém. Aí surgiu a lembrança de que a jornalista Ângela Bastos — que fez história no colunismo social da região — quase sempre se referia à Universidade como a “nossa Uenf ”. Seria um bom nome? Pesquisando o assunto, percebemos que muitas outras pessoas usam habitualmente esta expressão. Conversamos com algumas delas e vimos que esta fórmula carinhosa é um tanto espontânea, mas um tanto calculada. É como se sua invocação significasse duas coisas ao mesmo tempo: (1) A Uenf é nossa; (2) a Uenf deve ser reconhecida como nossa. — É um sentimento nosso. Acho até lindo que vocês pensem assim, porque isso é a oficialização de algo que todos nós queremos. Para mim é fantástico! — disse o jornalista Chico de Aguiar, fazendo coro à colega Silvia Salgado, para quem é preciso que se instaure “uma relação mais íntima” entre o cidadão e sua universidade pública. Ficamos, então, convencidos de que o nome era perfeito. Mas logo percebemos que ele também podia esconder uma “armadilha” e passar a falsa impressão de uma instituição “paroquial” e fechada em seu pequeno mundo. Uma coisa meramente “nossa” e de mais ninguém, contrariando frontalmente o sentido desejado por Ângela Bastos e todos os que utilizam a fórmula. Na verdade, toda universidade de verdade tem um caráter universal e, por assim dizer, pertence à humanidade. Assim é com a Uenf. Ela foi fruto de uma demanda histórica da população de Campos, mas nasceu cosmopolita. Firmouse no Norte Fluminense, mas não se sentirá completa enquanto não fincar raízes no Noroeste e na Região dos Lagos. Portanto a Uenf é nossa no sentido mais inclusivo, mais abrangente e mais universalista possível. Você também está incluído. Boa leitura!


Pesquisas que viram produtos Quais são as novas tecnologias que sairão dos laboratórios da Uenf para ganhar o setor produtivo na forma de novos produtos ou processos? Um bom indicador está nas patentes depositadas pelos pesquisadores da Universidade junto ao INPI (Instituto Nacional de Propriedade Industrial). A patente é o caminho para proteger a propriedade intelectual da invenção antes da aplicação. Desde a criação de um setor específico para cuidar desta área, em 2005, a Uenf já depositou mais de 17 patentes. Elas envolvem diversas inovações, desde novos dispositivos para coleta e congelamento de sêmen de

eqüinos até medicamentos antialérgicos, passando por um composto que combate a cárie dentária e novos procedimentos de esterilização aplicáveis em medicina humana, veterinária, biotecnologia e várias outras áreas. Um novo material para uso em ferramentas diamantadas, com redução de custos estimada em 50% em relação ao similar importado, também já teve o pedido de patente depositado. O material se destina a fixar diamantes às ferramentas utilizadas no corte de rochas ornamentais, que interessa potencialmente a qualquer tipo de empresa do ramo de ferramentas diamantadas impregnadas.

Foto - Felipe Moussallem

Registro de patentes mostra tecnologias que estão a caminho do setor produtivo

Ferramentas diamantadas usadas no corte industrial de rochas

Entre os pedidos de depósito de patente mais recentes está um da área de Engenharia Civil: são blocos de encaixe prensados e queimados e um aditivo para argamassa e concreto. Há ainda um catalisador-solvente para síntese de diamantes e o procedimento de uso combinado de ácidos húmicos e certas espécies de bactérias no cultivo de plantas. Outro pedido de patente depositado envolve um aparelho eletromecânico móvel de spray pirólise com leitura a laser para revestimento de superfície.

Foto - Felipe Moussallem

Patentes mais recentes

Professor Frederico Straggiotti demonstra o funcionamento de sua mais recente criação

Universidades despertam para a proteção da propriedade industrial Não foi só a Uenf que acordou para a importância da proteção de suas invenções. Recente estudo do próprio Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI) revela que o número de pedidos de patente depositados por universidades brasileiras aumentou 120% entre a última década e a atual. Apesar do crescimento expressivo, os depósitos das universidades representam somente 0,78% do total de pedidos

feitos ao INPI. Intitulado “Universidades brasileiras — utilização do sistema de patentes de 2000 a 2004”, o estudo dos pesquisadores Jeziel da Silva Nunes e Luciana Goulart de Oliveira, do INPI, mostra que ao longo desses cinco anos foram depositados 784 pedidos de patentes pelas instituições de ensino superior do Brasil, mais que o dobro do volume registrado na década de 90.

Doutoranda Moema Peralva e professor Ivo Curcino no Laboratório de Ciências Químicas da Uenf

03


Uma história de lutas Conhecidos ou anônimos, muitos lutaram intensamente para que a Uenf pudesse existir

Em 1989, um abaixo-assinado com mais de 4 mil signatários foi apresentado como emenda popular e incorporado à Constituição Estadual. Abaixo, trecho do testamento de D. Finazinha Queiroz, que legou à universidade pública local a atual Casa de Cultura Villa Maria

04

Quem passa pelo campus da Uenf e muitos que nela trabalham ou estudam não imaginam a luta que teve que ser travada, há quase 20 anos, para que a região pudesse abrigar uma universidade pública. Sonho antigo da população local, a Uenf teve seu primeiro sopro de vida quando uma mobilização da sociedade organizada conseguiu reunir mais de 4 mil assinaturas e, assim, incluir na Constituição Estadual de 1989 uma emenda popular prevendo a sua criação. Uma grande vitória para a região, mas que ainda não garantia a implantação da universidade. Era preciso regulamentar o dispositivo constitucional — do contrário o projeto poderia nunca ter saído do papel. Graças a um intenso esforço coletivo para sensibilizar as autoridades, o Governo do Estado foi autorizado a criar a Uenf em lei sancionada pelo então governador Moreira Franco, em novembro de 1990. Finalmente, em fevereiro do ano seguinte, uma nova lei criava a Uenf e aprovava o seu Estatuto. Mas a tarefa de implantar efetivamente a Universidade coube ao sucessor de Moreira Franco, Leonel Brizola, que assumiria o posto em 1991. A tarefa de conceber o modelo e coordenar a implantação da Uenf foi, então, delegada ao professor Darcy Ribeiro, primeiro reitor da Universidade de Brasília (UnB) e autor de projetos de instauração ou reforma de universidades na Costa Rica, Argélia, Uruguai, Venezuela e Peru, Darcy desejava fazer da Uenf o seu melhor projeto. A “Universidade do Terceiro Milênio” — como designava a Uenf — foi concebida em modelo inovador, no qual os departamentos — que, na Unb, já tinham representado um avanço ao substituir as cátedras — seriam trocados por laboratórios temáticos e multidisciplinares como célula da vida acadêmica. A presença da Uenf em Macaé, onde viriam a ser implan-

tados os Laboratórios de Engenharia e Exploração do Petróleo (Lenep) e de Meteorologia (Lamet), também fazia parte de seu projeto original. A efetiva implantação da Uenf teve início em dezembro de 1991, com a formação de uma comissão específica para esta tarefa. Um passo importante foi a criação, em dezembro de 1992, da Fundação Estadual do Norte Fluminense, com a missão de implantar e incrementar o Parque de Alta Tecnologia do Norte Fluminense. — Depois da criação da Uenf, a primeira dificuldade foi definir onde ela iria funcionar. No início, pensouse em ocupar prédios já existentes, mas esta idéia não deu certo. Então o Sérgio Mendes, que era prefeito de Campos na época, desapropriou a área onde hoje está sediado o campus — lembra Mário Lopes, que participou ativamente, como professor universitário em Campos, dos três momentos mais importantes da Uenf: as mobilizações pela emenda constitucional e pela sua regulamentação e a sua efetiva implantação. Definida a área e iniciadas as obras, em junho de 1993 foi realizado o primeiro vestibular para a Uenf. A primeira aula no campus foi realizada em 16 de agosto de 1993 — data hoje reconhecida como a do início do funcionamento da Uenf. Em dezembro do mesmo ano, era inaugurada a Casa de Cultura Villa Maria, no palacete que já havia sido sede da Prefeitura de Campos e que fora deixado em testamento por sua proprietária, Finazinha Queiroz, para ser a sede da futura universidade. Um marco importante na história da Uenf foi a conquista de sua autonomia administrativa, em 23 de outubro de 2001. Após a autonomia, a Uenf incorporou o nome de seu fundador, passando a se chamar Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy Ribeiro.


O parceiro do Nobel Edson Corrêa da Silva, professor titular da Uenf, tem artigo conjunto com o alemão Peter Gruenberg, um dos vencedores do Nobel de Física 2007 O físico brasileiro Edson Corrêa da Silva, da Uenf, tem um artigo científico publicado em conjunto com um dos ganhadores do Prêmio Nobel de Física 2007, o alemão Peter Gruenberg. O artigo, descrevendo experiência de física básica voltada para a obtenção de meios magnéticos alternativos de gravação de dados, foi publicado em 1993 no Journal of Magnetism and Magnetic Materials ( JMMM 121, 528). Gruenberg levou o Nobel de Física de 2007, ao lado do francês Albert Fert, pela descoberta do chamado efeito de magnetoresistência gigante em 1988. Este efeito originou tecnologias que estão hoje presentes em iPods e sistemas de freios ABS, entre outros. O trabalho do físico da Uenf foi desenvolvido no período em que ele atuou como professor visitante na Ruhr Universität Bochum, da Alemanha, de 1990 a 1992. Apresentado ao professor Peter Gruenberg, Edson estabeleceu uma cooperação na área de magnetismo de filmes ultra-finos. O trabalho, de caráter básico, vislumbrava a possibilidade de se obterem memórias maiores em espaços menores. — O professor Gruenberg preparou as amostras, e nós fizemos as medidas, os cálculos, com um equipamento de ressonância ferromagnética de que ele não dispunha em sua instituição — lembra Edson, que chegou à Uenf em 2006 e atualmente é o próreitor de Pesquisa e Pós-Graduação. A pesquisa se inscreve na mesma grande área do trabalho que rendeu o Nobel para Peter Gruenberg e Albert Fert, mas com foco específico diferente. Outro pesquisador brasileiro, o professor Mario Baibich, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, colaborou especificamente com o trabalho que resultou no Nobel para a dupla Gruenberg-Fert. Para o pesquisador da Uenf, a conquista do Nobel na área de ciência por um brasileiro parece não estar próxima, apesar dos avanços “expressivos” da produção científica nacional e da existência de pesquisadores “excepcionais” no país. É que o nível de investimento em pesquisa científica no Brasil ainda não se compara aos dos países do Primeiro Mundo. Quem chegou mais perto foi o físico César Lattes, indicado para o Nobel de Física no ano 1949, mas que acabou não levando o prêmio.

Produtividade científica coloca Uenf no ranking A Uenf figura entre as “campeãs de citação” no ranking das universidades brasileiras que publicam mais artigos científicos de impacto. Levantamento publicado na edição de 28/10/07 do jornal Folha de São Paulo, referente ao ano 2005, mostra que pesquisadores da Uenf publicaram 99 artigos em revistas e periódicos científicos de todo o mundo. Estes mesmos artigos foram citados 104 vezes por outros pesquisadores até dezembro deste ano, perfazendo a média de 1,05 citação por artigo. O levantamento foi feito pelo professor Rogério Meneghini, doutor em Bioquímica pela USP, que há alguns anos resolveu se dedicar ao estudo da comunicação científica e da ciência brasileira. O ranking não se baseia no número absoluto de artigos publicados, que pode ter a ver, por exemplo, com o porte da instituição. A base é o número médio de citações geradas por cada artigo publicado. O fato de um artigo ser citado por outro é considerado um indicador de sua relevância para a ciência mundial. A lista contempla as mais conceituadas instituições de pesquisa do Brasil, incluindo a USP e a Unicamp — que passaram a figurar entre as 200 principais universidades do mundo, segundo o jornal The Times — e as federais. O primeiro da lista é o Instituto Butantan. Além das paulistas, as únicas universidades estaduais que figuram na relação são a Uenf, a Uerj e a Universidade Estadual de Londrina (Uel). O levantamento foi feito entre 24 e 28/09/07 no Web of Science, site que contém informações sobre os cerca de 8,7 mil periódicos científicos mais prestigiados e de maior impacto do mundo. Atualmente o Brasil é responsável por cerca de 2% da produção científica mundial, ocupando o 15.º lugar no ranking mundial. Quando se considera o impacto dos artigos medido através do número de citações, o Brasil fica em 20.º lugar.

05


Uma história de talento e determinação Ex-aluno da Agronomia da Uenf fica em primeiro lugar em seleção para mestrado na UFRGS Filho de trabalhadores rurais que nunca freqüentaram uma escola, sen- centemente concluir o ensino médio, graças a um curso supletivo. A família do o mais novo entre seis irmãos e o único a chegar ao ensino superior, o mora na zona rural de Alfredo Chaves (ES), onde não há facilidades para avançar nos estudos. ex-aluno da Uenf Armando Fornazier, 26 — Enquanto morava em Campos, eu anos, acaba de ser aprovado em primeisó podia visitar minha família umas três ro lugar para o mestrado em Agronegócio vezes por ano. Daqui para lá são três conna Universidade Federal do Rio Grande duções e mais quatro quilômetros a pé. do Sul (UFRGS). Dono de uma trajetória Agora vou estar mais longe, mas acho que admirada por colegas e professores, Armando adiantou suas disciplinas no curso vai dar para vir umas duas vezes no ano — conta Armando. de Agronomia da Uenf para se formar no meio de 2007 e assim ter tempo para se Vários professores da Uenf que conheceram a trajetória de Armando ao lonpreparar para a seleção do mestrado. go do curso de Agronomia ficaram gratiAntes de fazer a prova de seleção, Arficados com seu desempenho no exame mando estava convocado para assumir um para a Universidade Federal do Rio Granposto no Instituto Capixaba de Pesquisa, de do Sul. Tanto é que o e-mail da AssesAssistência Técnica e Extensão Rural, após soria de Comunicação da Universidade aprovação em concurso público. Como recebeu pelo menos quatro mensagens não pôde adiar a posse, abriu mão do emde professores sugerindo a matéria. prego e resolveu arriscar a prova para a — Quando a energia de um jovem UFRGS. Concorrendo com 35 outros candeterminado encontra o ambiente de uma universidade como a Uenf, o resuldidatos, o ex-aluno da Uenf foi aprovado em primeiro lugar. Família humilde - A maioria dos irmãos de Armando estudou somente tado geralmente é esse — comenta a pró-reitora de Graduação da Universidaaté a quarta série e hoje ajuda os pais na lavoura. Só uma irmã conseguiu re- de, Lilian Bahia de Oliveira.

Quando a escola e a universidade são fundamentais família. Trata-se da Escola Família Agrícola de Olivânia, em Anchieta (ES), ligada ao Mepas (Movimento de Educação Promocional do Espírito Santo). Depois de se formar técnico agropecuário, em 2000, Armando passou um ano numa escola agrotécnica federal em Santa Teresa (ES), especializando-se em olericultura e jardinagem. Em seguida veio para o Estado do Rio trabalhar no projeto Frutificar, que dispensou os contratados durante a mudança de governo em abril de 2002. — Voltei para Alfredo Chaves e fiquei um período em casa estudando para o vestibular com livros emprestados, pois lá não tem facilidade para cursinho. Um colega me falou sobre a Uenf, e passei no vestibular 2003 — conta Armando, que durante o curso de Agronomia foi um dos fundadores da primeira empresa júnior da Uenf, a Procampo Consultoria Agropecuária Ltda. Foto - Paulo Damasceno

Armando Fornazier é um exemplo da importância da universidade pública como instrumento de ascensão social, mas também deve boa parte de sua formação a uma iniciativa bem-sucedida de apoio à escolarização básico. O ex-aluno da Uenf cumpriu o ensino médio numa escola onde se passa uma semana estudando, em tempo integral, e outra em casa, ajudando a


A marca de Niemeyer no Centro de Convenções ciedade da região. — É uma obra belíssima, que atrai grandes eventos para a região, beneficiando o comércio, o setor de serviços e toda a economia regional. O Centro de Convenções da Uenf foi construído em três níveis. No primeiro encontram-se anfiteatros, camarins, foyer, cinema, alimentação, depósito, espaço para

exposições, administração e sanitários, num total de 3.600 m2. O nível intermediário abrange um palco externo e uma praça, também totalizando 3.600m2. No nível superior estão localizadas as áreas técnicas e a platéia, com 1.060 m2.

Além do projeto do Centro de Convenções, Niemeyer é o autor de toda a planta arquitetônica do Campus da Uenf, incluindo o projeto do Hospital Veterinário.

Foto - Felipe Moussallem

Obra-prima de Oscar Niemeyer, o Centro de Convenções da Uenf se transformou em cartão postal do Campus Leonel Brizola e da cidade de Campos. Inaugurado em dezembro de 2007 pelo governador Sérgio Cabral, o Centro ocupa área total de 8.260 metros quadrados. A expectativa do reitor Almy Junior é que o local viabilize novas e intensas ações de popularização da ciência e que funcione como mais um elo entre a Universidade e a so-

Centrífuga geotécnica em operação Inaugurada há quatro meses, a Centrífuga Geotécnica da Uenf está em plena operação. Recursos da Petrobras, repassados ao Núcleo de Excelência em Ancoragem de Plataformas Marítimas, propiciaram a ampliação do prédio que abriga o equipamento para a montagem de uma central de usinagem. A central vai permitir a fabricação de modelos reduzidos com grande precisão, como explica o professor Fernando Saboya, do Laboratório de Engenharia Civil da Uenf. Além da própria centrífuga, o Núcleo de Excelência em Ancoragem de Plataformas Marítimas congrega pesquisadores, técnicos e estudantes da Uenf. O aparato é o primeiro do gênero na América Latina, e sua apli-

cação em pesquisas em ancoragens de estruturas off-shore só tem similares na Austrália e nos Estados Unidos. Adquirida por US$ 400 mil, na década de 1990, a Centrífuga Geotécnica permite a simulação de fenômenos de engenharia em escala reduzida, sendo aplicável em várias áreas, inclusive petróleo e gás. Por exemplo, com um modelo de 1 metro de altura pode-se verificar o comportamento de um protótipo similar de 100 metros. Segundo o professor Fernando Saboya, o funcionamento da centrífuga lançará de imediato a Uenf no cenário internacional de projetos avançados em áreas estratégicas como meio ambiente, petróleo, gás e geração de energia. O convênio com a Petrobras para

Foto - Felipe Moussallem

Equipamento abre nova frente de cooperações científicas e tecnológicas

Professor Fernando Saboya explica o funcionamento da Centrífuga no ato de inauguração

a instalação do Núcleo de Excelência em Ancoragem de Plataformas Marítimas viabilizou a liberação de uma verba de R$ 1,7 milhão, o que permitiu à Uenf, entre outras atividades, trazer dois técnicos da empresa fornecedora do equipamento para atualizar os

softwares de controle e realizar os primeiros testes de funcionamento. A instalação abre a perspectiva de novos acordos e parcerias. A universidade americana do Colorado, por exemplo, já fez contatos com os pesquisadores da Uenf.

07


Patrimônio natural e cultural ganha CD e Atlas

Foto - Felipe Moussallem

Projeto de extensão vai divulgar informações sobre Campos dos Goytacazes

O chuvisco: patrimônio imaterial de Campos.

Conhecendo a história do mundo em que vivemos!”, coordenado pela professora Maria da Glória Alves, foi contemplado no Edital Proext Cultura 2007 (“Programa de apoio à cultura: Extensão Universitária”), do Ministério da Cultura, que busca apoiar projetos voltados para a inclusão social e que contribuam para a implementação de políticas públicas culturais. O projeto, que vai mobilizar 13 profissionais das mais diversas áreas e de várias instituições, tem por objetivo disponibilizar, de forma clara e

Foto - Felipe Moussallem

Em um momento de autoridades presas, perplexidades e baixa autoestima, nada melhor do que conhecer a riqueza da história, da cultura e da natureza de Campos dos Goytacazes. Todo o acervo de conhecimentos produzidos pelos pesquisadores da Uenf sobre o patrimônio natural e cultural do município de Campos vai servir de subsídio para a confecção de um CD, um Atlas e outros materiais de divulgação científica. O projeto de Extensão “Patrimônio natural e cultural de Campos dos Goytacazes:

acessível, informações científicas sobre o patrimônio local (natural e cultural), que poderão servir de subsídios para educadores, gerenciadores do município, além da população em geral. Espera-se que a divulgação de informações sobre as riquezas naturais e culturais do município ajude a evitar a destruição ou ocupação urbana/industrial das áreas patrimoniais. — Trata-se de uma proposta inovadora para o Norte Fluminense. A Uenf vem desenvolvendo pesquisas, tanto na área de patrimônio cultural quanto natural, criando um grande acervo sobre a região. É este acervo que vai dar a base necessária ao projeto — explica Maria da Glória. Segundo a professora, o CD e o Atlas vêm preencher uma lacuna existente em Campos. Simplesmente não há fontes de consulta sobre a diversidade do patrimônio natural e cultural existente no município. Por este motivo, grande parte da população sequer imagina que vive num local rico em valores geológicos, geomorfológicos, climáticos, paisagísticos, ecológicos, arqueológicos e culturais. — Para criar os mecanismos de gestão, é preciso conhecer os locais, principalmente aqueles que tenham importância científica, beleza e sejam representativos da história de uma determinada região. Estes lugares podem apresentar um atrativo turístico diferenciado — afirma.

A Mana-Chica é uma das tradições que remontam aos tempos do Brasil Colônia.

Idéia surgiu a partir de projeto de Geoturismo O projeto “Patrimônio natural e cultural de Campos dos Goytacazes: Conhecendo a história do mundo em que vivemos!” começou a ser concebido em 2002, quando a Uenf foi convidada a participar do projeto Caminhos Geológicos do DRM (Departamento de Recursos Minerais). Coube à Uenf a indicação dos pontos de interesse turístico e geológico do município de Campos. Os trabalhos tiveram início quando foi aprovado o primeiro projeto de extensão “Geoturismo — Implementação do Turismo Geológico-Ecológico no

08

Município de Campos dos Goytacazes”. Mais tarde, foi criado o projeto “Patrimônio Cultural de Campos”, envolvendo, além do patrimônio geológico, o patrimônio geomorfológico-paisagístico, ecológico e climático. Pela Uenf, participam do projeto, além da professora Maria da Glória Alves (que atua no Laboratório de Engenharia Civil/Leciv), os professores Valdo Marques (Laboratório de Meteorologia/Lamet), Simonne Teixeira (Laboratório de Estudo do Espaço Antrópico/Leea) e Francisca Maria Alves Pinheiro (Lamet), a

pedagoga Danuza da Cunha Rangel, a engenheira cartográfica Isabel de Souza Ramos (Leciv), a graduanda Mirian Viana Alves (curso de Ciências Sociais, bolsista de Extensão) e o graduando Daniel Rangel de Salles Guerra (bolsista Universidade Aberta). Também integram o projeto a geóloga Renata Schimidt (Uerj), a arquiteta Aline Nogueira Costa (UFRJ), a coordenadora do Projeto Caminhos Geológicos, do Departamento de Recursos Minerais (DRM), Kátia Mansur, e Vitor Nascimento, da equipe executora do Projeto Caminhos Geológicos.


Município apresenta dez tipos de relevo Uma das áreas do patrimônio natural de Campos pouco conhecida é a geomorfológica, relacionada à forma de relevo e sua evolução. Segundo a professora Maria da Glória

Alves, o município apresenta dez diferentes formas de relevo, fruto de uma singular interação entre aspectos geológicos (tectônicos) e climáticos. São elas: domínio serra-

no, serras isoladas, colinas isoladas, domínio suave colinoso, domínio colinoso suave, tabuleiros, planícies aluviais, planícies costeiras, planícies colúvio-alúvio-marinhas e planícies

Domínio Serrano Serras Isoladas Domínio Colinoso Suave Domínio Suave Colinoso Colinas Isoladas Tabuleiros Planícies Aluviais Planícies Flúvio-Lagunares Planície Colúvio-Alúvio-Marinha

flúvio-lagunares A Serra do Imbé e a Serra da Pedra Lisa são exemplos de domínio serrano. Já os vales dos rios Imbé e Urubu, que correm paralelamente à Serra do Imbé e desembocam na Lagoa de Cima, são exemplos de planícies aluviais. Formada por processos de sedimentação marinha e/ ou eólica, a planície costeira estende-se entre o Farol de São Tomé e o limite do município. No Farol, ela consiste em um único cordão litorâneo, que isola do oceano uma extensa planície flúvio-lagunar alagada. Esta, por sua vez, é formada por sedimentos resultantes do ressecamento moderno da Lagoa Feia. — Embora tenhamos uma diversidade tão rica de relevos, muita gente desconhece este fato — afirma a professora Maria da Glória. Vista da cidade a partir do morro do Itaoca

Planícies Costeitas Hidrografia

Trecho da BR 356 proximo ao Solar da Baronesa

Serra do Imbé

Margem do rio Imbé - nas proximidades da Lagoa de Cima

Praia do Farol de São Thomé

Planície Aluvial próxima ao Farol de São Thomé


Não perca os prazos para o Vestibular 2009 Inscrições para o 1.º Exame de Qualificação já em abril Atenção você que está completando ou já completou o ensino médio: saiu o calendário com as datas de inscrições e de provas do próximo Vestibular para a Uenf (Vestibular Estadual). As inscrições para o 1.º Exame de Qualificação (fase inicial) devem ser feitas de 9 a 30 de abril, pela internet (www.vestibular.uerj.br). A prova será aplicada em 22 de junho. A taxa de inscrição é de R$ 38,00 (trinta e oito reais). Quem pediu isenção da taxa por razões de carência socioeconômica deve conferir o resultado da análise a partir de 1.º de abril, pela internet. Saiba mais:

Cursos:

Foto - Felipe Moussallem

Área Agropecuária (*): Medicina Veterinária. Área Biológica: Ciências Biológicas (bacharelado) e Biologia (licenciatura) Área de Humanas (*): Ciências Sociais. Área Tecnológica: Engenharia Civil, Engenharia de Exploração e Produção de Petróleo, Engenharia de Produção, Engenharia Metalúrgica e de Materiais, Ciência da Computação e Informática, licenciaturas em Física, Matemática e Química. (*) Os cursos de Agronomia, Pedagogia (licenciatura) e Zootecnia serão incluídos em vestibular isolado, em vez de figurar no Vestibular Estadual. Informe-se em www.uenf.br.

Entenda o Vestibular:

Foto - Felipe Moussallem

O Vestibular para a Uenf ( Vestibular Estadual) é aplicado em duas etapas. Na etapa inicial (Exame de Qualificação) o candidato faz apenas provas de múltipla escolha e precisa acertar acima de 40% das questões. Existem duas chances para passar na primeira etapa: o 1.º e o 2.º Exame de Qualificação. Para quem fizer os dois exames de qualificação, fica valendo a melhor nota. Na fase final (Exame Discursivo), o candidato faz apenas provas discursivas. Para ser aprovado ao final das duas etapas, é preciso acumular pelo menos 20 pontos na soma do Exame de Qualificação com o Exame Discursivo. Além disso, o candidato não pode tirar zero em nenhuma prova discursiva.

Foto - Gustavo Smiderle

Hospital Veterinário, projetado por Oscar Niemeyer: espaço para teoria e prática dos futuros profissionais

Estudantes comemoram o sucesso do I Artpoiese, festival de arte e cultura promovido pelos alunos da Uenf

10

Etapa inicial: 1.º Exame de Qualificação. Inscrições de 9 a 30/04/08. Prova em 22/06/08. 2.º Exame de Qualificação. Inscrições de 1.º a 21/07/08. Prova em 14/09/08. - Pontuação máxima nesta fase: 20 pontos.

Etapa final: Exame Discursivo. Datas a serem definidas. - Pontuação máxima nesta fase: 80 pontos. Dúvidas: Disque-Uenf – 0800 25 2004 (segunda a sexta, das 9h às 17h)


Expansão regional em foco na Uenf rar para a concretização da medida. De sua parte, o governador Sérgio Cabral se comprometeu a viabilizar, ainda neste ano, os recursos necessários. São João da Barra - Definido o local da Unidade Experimental de Pesquisa Técnico-Científica em São João da Barra (RJ). A área, de 20 hectares, está sendo cedida pela subsidiária da empresa MMX, responsável pela construção do Porto do Açu. O convênio foi firmado em dezembro de 2007, envolvendo a empresa, a Universidade e a Prefeitura Municipal.

Foto - Ethel Riscado

Implantar-se fisicamente no Noroeste Fluminense, como prevê o artigo 49 das Disposições Transitórias da Constituição Estadual de 1989, é um dos desafios da Uenf. Em reunião extraordinária realizada em 17 de março, o Conselho Universitário determinou a realização de uma consulta a cada Centro da Universidade quanto às atividades de ensino, pesquisa e extensão que podem vir a fazer parte da proposta de instalação de um campus avançado em Itaperuna (RJ). A Prefeitura do município já manifestou várias vezes a disposição de coope-

O governador Sérgio Cabral (à esquerda), o prefeito de Itaperuna, Jair Bittencourt (a seu lado), o reitor Almy Junior (à direita) e outras autoridades em evento no Noroeste Fluminense

Nossos Cursos Graduação Agronomia Ciências Biológicas Ciência da Computação e Informática Ciências Sociais Engenharia Civil Engenharia Metalúrgica Engenharia de Produção Engenharia de Exploração e Produção de Petróleo Licenciatura em Biologia Licenciatura em Ciências Biológicas a Distância Licenciatura em Física Licenciatura em Matemática Licenciatura em Pedagogia Licenciatura em Química Licenciatura em Química a Distância Medicina Veterinária Zootecnia

Pós-Graduação Biociências e Biotecnologia Ciências Naturais Cognição e Linguagem Ecologia e Recursos Naturais Engenharia Civil Engenharia de Produção Engenharia de Reservatório e de Exploração Engenharia e Ciência dos Materiais Genética e Melhoramento de Plantas Políticas Sociais Produção Animal Produção Vegetal Sociologia Política

11


Histórias reais da educação a distância O Consórcio Cederj reúne seis universidades públicas do Estado do Rio e o governo do Estado para oferecer educação superior a distância com o padrão de qualidade das instituições federais e estaduais. A Uenf faz parte do Consórcio com os cursos de licenciatura em Ciências Biológicas e em Química. Os cursos não são nada fáceis, mas têm uma capacidade incomum de garimpar talentos onde poucos imaginariam que eles estivessem. Confira:

Marina não ficou presa no mangue

Foto - Felipe Moussallem

A ex-catadora de caranguejos Marina Barreto Silva, que também já cuidou da terra e fez redes de pesca em Gargaú, junto à foz do Rio Paraíba do Sul, é outro exemplo do caráter inclusivo da educação a distância oferecida pelo Consórcio Cederj. A exemplo de Ricardo Gonzalez, que se formou em 2006, Marina tem ótimo desempenho, mantendo um coeficiente de rendimento (C.R.) na casa dos 8,0. — Estou mais animada do que nunca — diz Marina, mãe de quatro filhos, única a chegar ao ensino superior numa família de oito irmãos. Ela já tinha o primeiro grau completo desde 1979, mas ficou 11 anos sem estudar até que o ensino médio Ricardo recebe seu diploma das mãos do professor Carlos Eduardo de Rezende, à época diretor do CBB chegasse a Gargaú. Para chegar ao enUm dos maiores exemplos de su- Uenf, mantendo aproveitamento sem- sino superior, em 2004, Marina contou peração da Uenf continua dando aula pre superior a 80%. Pela modalidade com o pólo do Consórcio Cederj insde talento e determinação. Tetraplé- semipresencial, o aluno estuda com talado em São Francisco de Itabapoagico desde os 15 anos, como conse- material didático específico e tira dú- na (RJ). Segundo dados da Fundação qüência de um acidente de carro, Ri- vidas pela internet, por telefone ou Cide para o ano 2000, São Francisco cardo foi um dos melhores alunos da diretamente com tutores. A obrigação primeira turma de biólogos formados da presença só ocorre nas provas e em pelo ensino a distância no Brasil, em atividades práticas. setembro de 2006. Agora, aos 26 anos, — Sempre contei muito com meus Ricardo Gonzalez cursa pós-graduação colegas e tutores para realizar as ativiem Análise de Risco Ambiental na Uni- dades presenciais obrigatórias inerencamp, em Campinas (SP). tes ao curso de biologia. Mas a experiQuem abriu as portas do ensino ência mais marcante nesses anos foi a superior para Ricardo foi a educação a viagem para um trabalho de campo no distância semipresencial do Consórcio Parque Estadual da Serra do Mar, em Cederj, que integra as principais uni- Ubatuba (SP). Foram três dias inesqueversidades públicas do Estado (Uenf, cíveis — disse Ricardo ao site do MEC, Uerj, UFRJ, UFF, UFRRJ e UniRio). que o tomou como figura exemplar O biólogo se formou no curso de li- para marcar o Dia Nacional da Educacenciatura em Ciências Biológicas da ção a Distância, 27 de novembro.

tem o segundo pior Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) dentre os 91 municípios do Estado. — Pensei que nunca mais ia estudar. Tinha vontade de fazer Medicina, mas Biologia também lida com vida, está ótimo. Os cursos do Cederj são muito puxados, às vezes até mais difíceis do que os seus similares no ensino presencial tradicional. Segundo a professora Ana Beatriz Garcia, que coordenou o curso de Biologia a distância da Uenf até 2006 e agora é diretora acadêmica do Cederj, o verdadeiro vestibular ocorre ao longo do curso. — Muitos alunos não conseguem levar adiante, e isto já é esperado, porque o ensino é mesmo rigoroso. Mas o importante é que muitos outros, que jamais teriam outra oportunidade de ingressar num curso superior de qualidade, deslancham e têm a chance de efetivamente mudar de vida.

Foto - Felipe Moussallem

Ricardo Gonzalez, exemplo de talento e superação

Marina Silva

Consórcio Cederj Cursos:

Licenciatura em Física

Licenciatura em Química

Informações:

Administração

Licenciatura em Matemática

Tecnologia em Sistemas de

www.cederj.edu.br

Licenciatura em Ciências Biológicas

Licenciatura em Pedagogia

Computação

(21) 2568-1226

12


A ciência e o uso de animais forem testados por métodos alternativos os resultados podem não refletir a qualidade necessária para o consumo humano. — Uma vacina, por exemplo, pode ser liberada sem o controle adequado de pirogênicos, que são

os componentes que induzem a febre, trazendo complicações. Ou pode até mesmo não imunizar. Um soro antiofídico também pode ser liberado e não produzir o efeito desejado, acarretando até a morte de quem for usá-lo — explica.

Uenf conta com Comissão de Ética desde 2001

Não há dúvidas de que os animais usados em pesquisas científicas sofrem. A questão é: o sofrimento dos animais justifica o seu uso em prol do avanço da ciência? Para o vereador carioca Cláudio Cavalcanti, não. Ele foi o autor de uma lei que prevê punição para quem causar sofrimento físico, medo, estresse, angústia, patologias ou morte a animais — inclusive instituições de pesquisa. A lei foi muito contestada, mas acendeu o debate sobre o tema, especialmente em universidades e institutos. Para a comunidade científica, proibir o uso de animais em experimentos significa o fim de pesquisas importantes, principalmente na área de saúde. O professor Milton Kanashiro, pesquisador do Laboratório de Biologia do Reconhecer (LBR) e presidente da Comissão de Ética para o Uso de Animais da Uenf, afirma que o teste em ani-

mais, em muitos casos, ainda é o método mais eficaz para avaliar a qualidade de medicamentos e vacinas. — O vereador tomou por base trabalhos de ONGs que garantem ser possível substituir, em todos os casos, os animais por outros métodos. Mas isso não é verdade. Existem pesquisadores no mundo todo trabalhando no desenvolvimento de novas tecnologias com esta finalidade, mas até hoje não existe um conjunto de testes que possa efetivamente substituir o uso de animais — afirma. Ele cita como exemplo o trabalho realizado pelo Instituto Nacional de Controle de Qualidade e Saúde (INCQS), responsável pelo controle de produtos biológicos fabricados no Brasil, tais como vacinas, antibióticos, soros antiofídicos, entre outros. Segundo Kanashiro, se tais medicamentos

Embora ainda não seja obrigatório, desde 2001 a Uenf tem incentivado seus pesquisadores a encaminharem projetos que incluam o uso de animais para análise da Comissão de Ética para o Uso de Animais. A Comissão é formada por seis professores, representantes dos Centros que utilizam animais em suas pesquisas: o Centro de Biociências e Biotecnologia (CBB) e o Centro de Ciências e Tecnologias Agropecuárias (CCTA). — Até hoje, já analisamos cerca de 30 projetos de pesquisa. Em muitos, fizemos recomendações e houve até um projeto que não foi aprovado — afirma o professor Milton Kanashiro, que preside a Comissão. Para ele, esta é a forma mais adequada de controlar eventuais abusos no uso de animais dentro das instituições de pesquisa. Segundo o professor, aos poucos os pesquisadores vêm se conscientizando da necessidade de terem seus projetos avaliados pela Comissão. Muitas revistas científicas já exigem que artigos sobre pesquisas envolvendo o uso de animais incluam o parecer de uma comissão de ética, exigência que também vem sendo feita pelo CNPq antes de liberar os recursos para pesquisas que envolvam experimentação animal. No final do ano passado, a Câmara dos Deputados aprovou projeto de lei que obriga as instituições de pesquisa a criarem comissões de ética para o uso de animais. O projeto encontra-se atualmente em tramitação no Senado.

13


Entrevista / Almy Junior - Reitor da Uenf

Crescer com os pés no chão Em entrevista ao primeiro número da revista NOSSA UENF, o reitor Almy Junior avalia o momento vivido pela Universidade. Expansão para outros municípios, criação do Colégio de Aplicação e avanços no orçamento e na gestão financeira estão entre os pontos mais importantes na agenda da instituição. Prestes a completar 15 anos, a Uenf está empenhada em ampliar a interação com a sociedade regional e tornar mais visível a sua prestação de contas. Almy Junior elogia a decisão do governo do Estado de cumprir os percentuais orçamentários destinados por lei à área de ciência e tecnologia e diz que a Uenf está madura para exercer de fato e de direito o princípio constitucional da autonomia de gestão financeira. Confira: NOSSA UENF: A Uenf completa 15 anos agora em 2008, e é visível o esforço para parecer mais presente, responder às demandas, participar da vida da região. Será que a universidade finalmente resolveu mostrar sua cara? Almy Junior: Ao longo destes 15 anos, a face da Uenf não mudou: é a universidade pública comprometida com o desenvolvimento regional. Mas não há como negar que a instituição vive um período muito especial. Tivemos em 2007 um ano histórico do ponto de vista da execução orçamentária e começamos 2008 com a perspectiva de muitos e importantes avanços. Neste momento a Universidade está mobilizada para discutir as atividades

que poderemos vir a implantar em Itaperuna, no Noroeste Fluminense, conforme encaminhamento do Conselho Universitário. Também estamos empenhados no exame da proposta do governo do Estado de transferir para a Uenf os cursos superiores vinculados à Faetec e sediados em Campos, Itaperuna, Santo Antônio de Pádua e Bom Jesus do Itabapoana. Estamos ainda produzindo subsídios para a possível criação do Colégio de Aplicação da Uenf no Instituto de Educação Professor Aldo Muylaert, o Iepam. Se conseguirmos viabilizar nosso Colégio de Aplicação, ainda mais numa escola tradicional como é o caso do Iepam, será fantástico!

NOSSA UENF: Ainda que a identidade da instituição seja perene, agora ela está mais visível para a sociedade. Esta revista, por exemplo, é um projeto inédito. O que se pretende que seja o seu papel? Almy Junior: A revista NOSSA UENF está a serviço desse esforço de aproximar a Universidade da sociedade, de chegar mais perto, de prestar contas do recurso público que se investe aqui. Às vezes as pessoas têm uma idéia vaga da Universidade e não recebem informações básicas sobre a instituição. Por exemplo, sabem que a Uenf faz muitas pesquisas, mas não imaginam que temos aqui a carreira que o seu filho sonha cursar. A universidade pública tem um dono, que é a sociedade, e esta tem o direito de ser informada sobre o que se passa no campus. NOSSA UENF: Por obrigação constitucional, a Uenf já deveria estar em várias cidades da região... Almy Junior: Sim, a presença física da Uenf no Noroeste Fluminense atende a uma exigência da Constituição Estadual, mas também a um desejo autêntico da Universidade e da

população dessa região. Estamos trabalhando intensamente nessa direção, junto com a Prefeitura de Itaperuna e o governo do Estado. Nossa filosofia é expandir a Universidade de forma sustentável e mantendo o padrão Uenf de qualidade. NOSSA UENF: O senhor assumiu a Reitoria, em junho de 2007, tendo a autonomia de gestão financeira como principal bandeira. Como anda essa questão? Almy Junior: Primeiro é importante explicar o porquê dessa bandeira. Só com a autonomia de gestão financeira respaldada em lei a Universidade pode ter tranqüilidade para fazer o que sabe e a sociedade precisa, que é formar pessoas com qualidade, gerar novos conhecimentos e atuar fortemente na extensão. A autonomia financeira é também um serviço à boa aplicação dos recursos públicos. A Uenf é vista, dentro dos órgãos do Estado, como um modelo de boa gestão. Não estou falando da nossa administração, estou falando da instituição, porque isso vem de longe, são 15 anos de história. Então, se a Universidade tem autonomia, ela executa o que tem orçado para ela e paga em dia seus compromissos. Havendo segurança quanto aos prazos de pagamento, teremos condições de atrair maior número de fornecedores, o que elevará a competitividade e abri-


NOSSA UENF: Mas, ao que pa- NOSSA UENF: O campus está rerece, o governo do Estado está cebendo melhorias, mas a verdade pagando todas as dívidas... é que obras têm sido algo relativamente comuns na vida da Uenf, não? Almy Junior: Sim, a Universidade não tem mais dívidas, nem com for- Almy Junior: Tivemos muitas e imnecedores, nem com seus servidores. portantes obras ao longo destes 15 Está tudo zerado, tudo em dia! Luci- anos de construção da Uenf. Algumas damente, o atual governo do Estado foram grandiosas, como o Centro tomou a decisão política de respeitar de Convenções projetado por Oscar os percentuais de arrecadação desti- Niemeyer. Mas nunca tínhamos tido nados à área de ciência e tecnologia, a oportunidade de exercer também e por isso tem havido mais recursos nesse terreno o princípio da autopara a Faperj e as universidades es- nomia universitária. Atualmente, é a taduais. Mas é fundamental que isto Universidade quem define suas priorinão seja uma política de governo, dades e quem administra os recursos mas de Estado. Temos exercido in- orçamentários. Sabe o que isto signitensamente as oportunidades de au- fica? Não é só a satisfação da própria tonomia na gestão. É hora de garantir instituição de ver contempladas as reesse princípio independentemente ais prioridades. Isto também significa

Foto - DECOM Itaperuna

rá margem para a redução de custos. do governo que venha no futuro.

A Uenf está discutindo a abertura de cursos em Itaperuna

boa gestão do dinheiro público, licitações, pregões eletrônicos, enfim, a garantia das condições para que o recurso seja aplicado no seu verdadeiro fim. Criamos a Prefeitura do Campus, com status de diretoria, para cuidar devidamente desse patrimônio que é de todos. A Uenf está se estruturando para receber mais alunos e para proporcionar a todos, estudantes ou não, um espaço agradável e humanizado. NOSSA UENF: A Uenf foi concebida por Darcy Ribeiro e teve seu projeto arquitetônico assinado por Oscar Niemeyer. Isso às vezes não pesa, no sentido de ter gerado uma expectativa muito ambiciosa para o futuro da universidade?

Foto - Gustavo Smiderle

Acima, projeto preliminar do Restaurante Universitário a ser submetido ao Conselho Universitário. Abaixo, bosque situado no Campus Leonel Brizola

Almy Junior: Você esqueceu o terceiro, Leonel Brizola, que tomou a decisão política de implantar a Universidade, na década de 1990, e para isso chamou o Darcy. Olha, isso não é um fardo, é uma baita de uma honra! De alguma forma, essa ‘herança bendita’ paira sobre a Universidade e explica coisas como a efervescência da nossa iniciação científica, as ações pioneiras na extensão, a vocação da instituição para a pesquisa. Recentemente, o Ins-

tituto Lobo, de São Paulo, fez um cruzamento entre os financiamentos concedidos às instituições brasileiras e sua efetiva produção científica. A Uenf figurou nesse ranking com um custo médio por artigo publicado equivalente à metade da média nacional. NOSSA UENF: Como anda a interação da Uenf com a sociedade de Campos, onde a situação política vem sendo marcada por alto grau de instabilidade? Almy Junior: Essa instabilidade atrapalha todos os setores, mas ela é muito mais um sintoma do que um problema. O problema de boa parte dos municípios que recebem royalties do petróleo é a construção de mecanismos institucionais que assegurem a transparência na gestão. Mas estas coisas não acontecem espontaneamente, nem aqui nem em lugar algum. É preciso haver pressão da sociedade. Em Campos, os últimos governos não deram grande abertura à cooperação, mas a Universidade está madura para discutir em alto nível sua contribuição para o desenvolvimento local. Prova disso é a aproximação efetiva com a sociedade organizada, que vem avançando bastante nos últimos anos.

15


A Uenf nasceu de um sonho. O sonho da população de ter aqui uma universidade pública.

Foi criada por dois sonhadores, Darcy Ribeiro enxergou na criação da Uenf uma grande oportunidade de construir a “Universidade do Terceiro Milênio”, e Oscar Niemeyer transformou essa idéia em um projeto arquitetônico.

a pedido de outro sonhador. Leonel Brizola sonhava transformar o Brasil através da Educação.

Hoje, a Uenf é real, Temos cerca de 5.000 alunos matriculados em 17 cursos de Graduação e 22 de pós-graduação e mais de 1.000 teses defendidas.

mas continua a sonhar. Queremos estar cada vez mais próximos de você. Queremos ser uma das mais importantes universidades do Brasil e, quem sabe, do mundo.

os outros com seu entusiasmo. Procurar companheiros para a luta e, é claro, trabalhar para que as idéias não fiquem aprisionadas nas brilhantes mentes de seus criadores. Os sonhos precisam transcender os sonhadores, ter vida própria, existir apesar de nós, mas também dentro de cada um. Assim são os grandes sonhos. Aqueles que valem o esforço, a luta, o sacrifício e dão um sentido maior às nossas ações e à própria vida em sociedade.

Foto - Paulo Damasceno

Entre os sonhos e sua realização existe o trabalho solidário. Se não fosse o envolvimento e a dedicação de milhares de pessoas que acreditaram e acreditam nesse projeto, talvez hoje a Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy Ribeiro fosse apenas a lembrança de uma boa idéia que não se concretizara. Por isso, não basta sonhar. É preciso compartilhar as idéias. Contagiar


Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.