Nossa UENF - ano 02 - numero 02

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Nesta Edição Evento científico reúne três instituições

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Na Rota da Ciência

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Toda a riqueza da argila

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Produtos ambientalmentes corretos

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A inspiração que vem do barro

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Sobreviventes da destruição

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Jovem, com ares de gente grande

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Energia sem limites

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Entrevista / Silvério de Paiva Freitas

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Pela melhoria da Educação

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Expediente Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy Ribeiro - UENF Governador do Estado Sérgio Cabral

Diretor do CBB Arnoldo Rocha Façanha

Secretário de Ciência e Tecnologia Alexandre Cardoso

Diretor do CCT Alexandre de Moura Stumbo

Reitor Almy Junior Cordeiro de Carvalho

Diretora do CCH Teresa de Jesus Peixoto Faria

Vice-reitor Antonio Abel Gonzalez Carrasquilla

Diretor do CCTA Hernán Maldonado Vásquez

Equipe Ascom Fúlvia D’Alessandri e Gustavo Smiderle (jornalistas responsáveis) Felipe Moussallem (projeto gráfico) Alexsandro Cordeiro e Marcus Cunha (diagramação) Nilza Franco Portela (técnica de nível superior) Elizabeth Cordeiro Silva (auxiliar técnico-administrativo) Maria da Penha R. OLiveira e Diego M.S. Leandro (estagiários, distribuição) Ascom: (22) 2739-7119 / 0800-025-2004 / uenf@uenf.br Reitoria: (22) 2739-7003 www.uenf.br

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Tiragem: 10 mil exemplares - Distribuição: gratuita e dirigida Impresso por: Hansen Graphics Ltda.

Fermento na massa

Em 16 anos, a Uenf qualificou e titulou cerca de 4 mil pessoas, sendo 1,7 mil mestres ou doutores. E não se trata de qualquer diploma: segundo o índice IGC do MEC, a Uenf está entre as 15 melhores universidades do Brasil. De que forma esta nova massa crítica estaria influindo nos rumos do desenvolvimento do Norte/Noroeste Fluminense? Esta é a questão-chave desta edição. Por exemplo: com a decadência da cana, a atividade ceramista na Baixada Campista ganhou expressão em produção e em absorção de trabalhadores. Mas a exploração da argila tem sido desordenada, e os produtos gerados por nossas olarias têm tido pouco valor agregado. Como a Universidade poderia ajudar? As pesquisas indicam a importância do levantamento prévio das áreas a serem exploradas e apontam alternativas para a reutilização das cavas ao final da exploração. Novos produtos, econômica e ambientalmente recomendados, também estão entre as contribuições dos pesquisadores da Uenf, em parceria com empresários e com agências de fomento como a Faperj. Também entrevistamos estudantes premiados durante o Congresso Fluminense de Iniciação Científica, realizado em junho, com organização conjunta da Uenf, IFF (antigo Cefet Campos) e UFF. Embora ainda jovens e iniciantes na jornada acadêmica, eles já participam de pesquisas de relevância nacional e podem ser vistos como os cientistas do amanhã. Todo mundo diz que a educação precisa melhorar e que um passo fundamental é a qualificação dos professores da rede pública. Pois bem: a Uenf aderiu a um esforço proposto pelo MEC e está reservando centenas de vagas em seus cursos de licenciatura, já a partir deste mês de agosto, para qualificar profissionais da rede pública do Norte/Noroeste Fluminense. As universidades participantes vão definir os critérios de seleção dos candidatos, mas é certo que eles não vão precisar enfrentar o vestibular. Na entrevista em formato pingue-pongue, o próreitor de Extensão e Assuntos Comunitários da Uenf, Silvério de Paiva Freitas, analisa os avanços e os gargalos na implementação do diálogo entre o meio acadêmico e os demais setores da sociedade regional. Segundo Silvério, o meio acadêmico está tentando fazer a sua parte para construir uma nova sociedade, mas esta construção é tarefa de todos — inclusive da gente que faz e que lê a revista NOSSA UENF. Boa leitura!


Evento científico reúne três instituições

Congresso e Mostra de Pós movimentaram a Uenf no início de junho O maior evento científico da região ficou ainda maior este ano, com a união das três maiores instituições de ensino superior de Campos: a Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy Ribeiro (Uenf ), a Universidade Federal Fluminense (UFF) e o Instituto Federal Fluminense (IFF, antigo Cefet Campos). Juntos, eles realizaram, de 01 a 04/06, o Congresso Fluminense de Iniciação Científica e Tecnológica, que teve como tema central “Ciência e Religião no Terceiro Milênio”. Paralelamente, foi realizada a 9ª Mostra de Pós-Graduação da Uenf, que discutiu a temática “Política institucional acadêmica”. Na abertura do evento — que congregou o 14º Encontro de Iniciação Científica da Uenf, o 6º Circuito de Iniciação Científica do IFF e a 2ª Jornada de

No alto, abertura do Congresso de Iniciação Científica; acima, sessão de Posters

Iniciação Científica da UFF — o reitor da Uenf, Almy Junior, disse que a articulação das três instituições se constituía “num dos momentos mais ricos da história da Uenf ”. Ele ressaltou as contribuições históricas da UFF, presente em Campos há 47 anos, sendo pioneira na implantação de um núcleo distante de sua sede, bem como do IFF, cuja história está chegando ao centenário neste ano de 2009.

O diretor do Instituto de Ciências da Sociedade e Desenvolvimento Regional da UFF, José Luís Vianna da Cruz, registrou não apenas a

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convergência entre as instituições públicas, mas também o papel da pesquisa na formação profissional e o desafio da contribuição das universidades para o desenvolvimento regional. José Luís citou particularmente o paradoxo da vinda de grandes investimentos para a região e a perspectiva do “desastre social, urbano e ambiental”, que é preciso prevenir ou minorar. A reitora do IFF, Cibele Daher Botelho Monteiro, lembrou a tradição da antiga Escola Técnica Federal de Campos, posteriormente Cefet Campos, na área do ensino. Realçou o papel mais recente de atuar também na pesquisa e na extensão, numa experiência de união entre diferentes níveis de educação. Cibele também acentuou a importância da integração entre as instituições. Na palestra de abertura da 9.ª Mostra de PósGraduação da Uenf, o pesquisador Wilson Savino, da Fiocruz, falou sobre a importância de uma política continuada de cooperação internacional na formação de jovens imunologistas do terceiro mundo. Temperando o relato com histórias pessoais, carregadas de afetividade e humanidade, Savino mostrou como a política governamental de aproximação com a América Latina e a África permitiu, do lado da oferta de financiamento, a realização de muitos projetos com países dessas duas regiões. Em palestra sobre o tema “A religião (e a irreligão) dos cientistas”, no âmbito do Congresso Fluminense de Iniciação Científica e Tecnológica, o professor Luís Carlos Petry, da PUC-SP, afirmou que a religião não é algo destoante do universo científico. Ele lembrou que muitos daqueles que fundamentaram a ciência acreditavam na idéia de Deus. Na sua opinião, a Academia deve ser um local de debates e de amplas opiniões e não de “caça às bruxas”. Em outras palavras, mesmo assuntos que hoje são considerados inapropriados, porque não podem ser adaptados à lógica científica, devem ser debatidos. — Hoje nós não estamos mais sendo capazes de reduzir tudo ao método científico. Estamos numa fase em que precisamos construir uma outra posição, que alguns designam multidisciplinaridade. Esta é uma tarefa do porvir — disse Petry, que pessoalmente não é religioso. Pela Uenf, participaram do evento 343 estudantes de Iniciação Científica e 157 estudantes de Pós-Graduação, tanto em apresentações orais quanto em pôsteres.

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Na rota da

ciência

Alunos de IC tomam gosto pela pesquisa e almejam carreira acadêmica A participação em projetos de Iniciação Científica é fundamental para que o aluno de graduação possa decidir melhor o seu futuro. A opinião é compartilhada por alunos que integram projetos de pesquisa e foram premiados durante o 14º Encontro de Iniciação Científica da Uenf, como Érica da Silva Lopes, do 7º período de Engenharia e Ciência dos Materiais, e Cássio Vittorazzi, do 9º período de Agronomia. — A Iniciação Científica nos permite saber que caminho gostaríamos de seguir: se permanecemos na área acadêmica ou se partimos para o mercado de trabalho — diz Érica, que ingressou na Uenf através da reserva de vagas para estudantes de escola pública. Seu trabalho de pesquisa, intitulado “Caracterização da cinza da palha de cana-de-açúcar com vistas ao emprego como pozolana em materiais cimentícios”, teve a orientação do professor Guilherme Chagas Cordeiro, do Laboratório de Engenharia Civil (Leciv), e foi apresentado também no Encontro Nacional sobre Aproveitamento de Resíduos na Construção (Enarc 2009), que ocorreu de 8 a

10/07/09, em Feira de Santana (BA). A participação no projeto de pesquisa “Melhoramento de milho pipoca da Uenf e a interação com produtores rurais do Norte e Noroeste Fluminense” levou o aluno Cássio Vittorazzi, do 9º período de Agronomia, a desejar continuar na área acadêmica após a graduação. — Sempre quis fazer agronomia, porque meus pais são produtores rurais. Quero conseguir agora uma vaga no mestrado em Produção Vegetal da Uenf e continuar na área de pesquisa — diz Cássio, que teve a orientação do professor Antônio Teixeira do Amaral Junior, do Laboratório de Melhoramento Genético Vegetal (LMGV ). Caio Antônio Figueiredo de Andrade, que está concluindo o curso de Ciências Biológicas, também já sabe que continuará atuando como pesquisador. Um dos premiados durante o 14º Encontro de Iniciação Científica da Uenf, Caio já tem projeto de mestrado e possível orientador na Universidade Federal de Viçosa (UFV), o professor Renato Freire. — Vou pesquisar no mestrado a fauna da Restinga de Iquipari, área que é forte candidata a unidade de pre-


servação, mas sobre a qual quase não se tem estudos. Já fiz o inventário de 14 espécies existentes no local — diz Caio, cujo trabalho de Iniciação Científica, orientado pelo professor Carlos Ramon Ruiz Miranda, do Laboratório de Ciências Ambientais (LCA), tem como título “Aspectos populacionais e comportamentais de Iguana iguana (Squamata: Iguanidae) em uma área de restauração florestal de uma mata ciliar periodicamente alagada em Porto Rico”. Na Iniciação Científica, Evelyn de Almeida Campos, do 7º período de Ciências Sociais, teve a possibilidade de participar de um grande projeto de pesquisa, que reúne a Uenf e a UFRJ. O objetivo do projeto é descobrir como se dá o mercado informal de solo nas favelas das maiores cidades do Brasil e da América Latina. — Fizemos o levantamento de dados em diversas comunidades de Campos, como Margem da Linha, Baleeira, Lagoa do Vigário, Vila Tamarindo, Complexo Matadouro/ Tira Gosto/Goiabal, entre outros — diz Evelyn, que teve a orientação da professora Teresa Peixoto, do Laboratório de Estudo do Espaço Antrópico (Leea) do Centro de Ciências do Homem (CCH) da Uenf. O título do projeto é “Mercados informais de solo e mobilidade residencial dos pobres em Campos dos Goytacazes”.

Trabalhos premiados durante o

Encontro de IC

CBB

“-Glucosidade do intestino médio de Aedes aegypti e sua atividade de agregação de heme”. Magda Delorence Lugon Orientadora: Marilvia Dansa de Alencar Petretski (LQFPP) “Aspectos populacionais e comportamentais de Iguana iguana (Squamata: Iguanidae) em uma área de restauração florestal de uma mata ciliar periodicamente alagada em Porto Rico” Caio Antônio Figueiredo de Andrade Orientador: Carlos Ramon Ruiz-Miranda (LCA) “A matéria orgânica transportada na interface da Bacia do Rio Paraíba do Sul para a Costa” Phillipe Mota Machado Orientador: Carlos Eduardo de Rezende (LCA) “Análise da regulação do Promotor Salt, em Arhabidopsis thaliana, através de expressão transiente e transformação estável via Agrobacterium tumefaciens”. Fernanda Bueno Barbosa Orientador: Gonçalo Apolinário de Souza Filho (LBT)

e a interação com produtores rurais do Norte e Noroeste Fluminense” Cássio Vitorazzi Orientador: Antônio Teixeira do Amaral Junior (LMGV ) “Caracterização do processo de rigor mortis dos músculos Longissimus dorsi e Triceps brachii de ovinos (Ovis vignei)” Júlio César Cassaro Pinto Fábio da Costa Henry (LTA)

CCT

“Desenvolvimento de uma interface de hardware para controle de atuadores e sensores para o Robô PAMDA” Élisson Michael Orientadora: Sahudy Montenegro González (LCMAT) “Caracterização da cinza da palha de cana-deaçúcar com vistas ao emprego como pozolana em materiais cimentícios” Érica da Silva Lopes Orientador: Guilherme Chagas Cordeiro (Leciv)

“Comparação imunoquímica e hemorrágica entre a serpente africana Bitis arietans e a serpente brasileira Bothrops atrox” Thais Louvain de Souza Orientador: Wilmar Dias da Silva (LBR)

“Estudo de estrutura das ligas de Ti-Nb-Mo com ENE termicamente tratadas” Márcia Almeida Silva Orientadora: Lioudmila Aleksandrovna Matlakhova (Lamav)

CCTA

“Técnicas de percepção em jogo fisicamente interativo” Sanya Carvalho dos Santos Orientador: Luis Antônio Rivera Escriba (LCMAT)

“Estabelecimento de minijardins de diferentes genótipos de goiabeiras e araçazeiros multiplicados previamente por sementes ou por estaquia de ramos herbáceos” Aluna: Maria Isabela da Costa Terra Orientadora: Cláudia Sales Marinho (LFIT) “Expressão desordenada de receptores- de estrógeno (RE-) e receptores de progesterona (RP) em úteros de vacas com adenomiose” Bárbara S. Gonçalves da Silva Orientador: Eulógio Queiroz de Carvalho (LSA) “Preparação de biocatalisador para obtenção de biodiesel pela rota etílica” Vanessa Vicente Vieira Andrade Orientador: Victor Haber Perez (LTA/Uenf ) “Melhoramento de milho pipoca da Uenf

“Processamento sísmico 2D com preservação de amplitude, marinho na Bacia de Pelotas” Matheus Cabral Ribeiro Orientador: Luiz Geraldo Loures (Lenep/CCT) “Estudo de amostras de biodiesel exóticas através da técnica de lente térmica” Luiz Fernando Milleri Sangiorgio Orientadora: Maria Priscila Pessanha de Castro (LCFIS)

CCH

“Características da mobilidade residencial dos pobres nas favelas e do mercado informal urbano na Região Norte Fluminense” Evelyn de Almeida Campos Orientadora: Teresa Peixoto (Leea/CCH) “Religião e juventude: imagens e narrativas de lideranças religiosas nas favelas” Natália dos Santos Silveira Orientadora: Wânia Amélia Belchior Mesquita (Lesce/CCH)

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Toda a riqueza da argila Pesquisas da Uenf indicam que é necessário implementar nova metodologia para racionalizar exploração e diminuir os custos ambientais Sedimentos trazidos pelo Rio Paraíba do Sul há cerca de cinco mil anos — no período conhecido como pós-regressão marinha — formaram os depósitos de argila que hoje alimentam as cerca de 100 ola-

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rias situadas na Baixada Campista. Um dos pilares da economia local, o extrativismo de argila, no entanto, produziu um rastro de destruição na paisagem campista. Hoje, pesquisadores da Uenf tentam reverter este quadro, buscando formas

de conciliar a atividade econômica com a preservação ambiental. Estudos feitos pelo Laboratório de Engenharia Civil (Leciv) da Uenf mostram a necessidade de implementar uma nova metodologia de exploração do solo, não mais baseada no empirismo e na intuição. A exploração de qualquer área, por exemplo, não pode começar sem que se tenha ideia do que será encontrado lá dentro. Isso evita uma situação comum no município: o abandono de jazidas nas quais o material encontrado não é considerado adequado. — As áreas de jazida estão ficando cada vez mais valorizadas e também mais escassas, o que exige um planejamento mais apurado do uso do solo e da preservação dessas áreas — afirma o professor Jonas Alexandre, que coordena as pesquisas do Leciv nesta área. Segundo o professor, é importante que sejam fei-


Prof. Jonas Alexandre

tas prospecções com o intuito de montar um perfil do solo. Além de apontar as características da argila para fins cerâmicos, o perfil do solo também serve para avaliar o seu possível uso agrícola — uma das alternativas apontadas pelos pesquisadores para aproveitamento das cavas após a sua exploração. — As amostras coletadas devem ser analisadas em laboratório para que sejam conhecidas as propriedades que poderão ser obtidas após a queima da argila. O ideal é que isto seja feito por um órgão credenciado ao poder público (estadual ou municipal), capaz de desenvolver projetos agrícolas de interesse mútuo — diz o professor. Artigo publicado por Jonas Alexandre e colaboradores mostra um exemplo de reuso de áreas escavadas dentro de parâmetros técnicos. No estudo, a reutilização destas cavas com culturas de milho, feijão e quiabo apresentou lucratividade. Segundo o pesquisador, ainda poderiam ser implementadas culturas que fazem parte das tradições regionais, como abacaxi e coco. Ele ob-

serva que a Uenf tem pesquisadores nas áreas agrícolas que podem complementar os projetos de reuso das cavas de maneira eficiente. É necessário ainda que os produtores possam dispor de assistência técnica e de linhas de crédito, além de vias de escoamento. — O reuso das cavas já é uma exigência dos órgãos ambientais para a obtenção da licença de exploração das jazidas. A sugestão apresentada é uma alternativa que tem por objetivo transformar gradualmente a cultura extrativista em agrícola. Através de financiamentos direcionados (do Estado, município ou governo federal), o município pode, em curtos períodos, suprir necessidades agrícolas regionais e destacar-se também no cenário como exportador de determinadas culturas — afirma. Algumas ideias dos pesquisadores da Uenf já foram colocadas em prática, como o Laboratório de Cerâmica Vermelha (Labcerv) da Fenorte/Tecnorte, que tem por objetivo fazer a certificação dos produtos. Sua implantação contou com a participação de pesquisadores do Leciv e do Lamav (Laboratório de Materiais Avançados). O coordenador técnico do projeto — que teve um aporte de R$ 150 mil do Governo do Estado do Rio de Janeiro — foi o professor Carlos Maurício. Com o apoio do Sebrae, também foi montada a Rede Cerâmica

de Campos (RCC), na qual os pesquisadores da Uenf, em parceria com o Sebrae, prestam informações aos ceramistas sobre como melhorar seus produtos para obter o selo de qualidade. — Outro projeto nosso é a central de preparo de massa, que vem mobilizando os ceramistas. Para isso, é necessário que haja associativismo, o que é muito importante

para o setor — diz o professor Jonas Alexandre. A instalação do Centro Vocacional Tecnológico de Cerâmica da Escola Técnica Estadual João Barcelos Martins também contou com a participação dos pesquisadores do Lamav e do Leciv na elaboração da grade curricular, especificação de equipamentos e definição do layout dos laboratórios.

Áreas de cana transformadas em jazidas O aumento das áreas de exploração de argila, em Campos, está diretamente ligado ao declínio da cana-de-açúcar. Diante da dificuldade em manter a produção, pequenos e médios proprietários optaram, nos últimos anos, por arrendar suas terras para a exploração de argila. O grande problema é que, quando estas voltam para as mãos dos proprietários, na maioria das vezes encontram-se completamente inviáveis para o retorno à agricultura. — Quem arrenda busca solucionar problemas financeiros, mas quando retoma as terras a situação é ainda mais grave. Isso ocorre porque as escavações são feitas em alta profundidade, o que acaba inviabilizando o solo para uso agrícola, gerando graves problemas sociais — diz o professor Jonas Alexandre. Observações de campo, feitas em nove jazidas, mostraram que as escavações vão até uma profundidade média de três metros, limitada geralmente pelo nível do lençol freático ou por camadas arenosas. Segundo o professor, a cada mês

são consumidas 150 mil toneladas de argila seca. Isto significa uma área escavada de 42,8 hectares por ano, caso fosse utilizada 100% da matéria-prima no processo. — No entanto, a falta de uma metodologia do uso da argila faz com que o consumo total alcance áreas ainda maiores — diz o professor, que iniciou as pesquisas em 1994, quando fazia o seu mestrado na Uenf. As olarias de Campos produzem cerca de 90 milhões de peças por mês, em sua maioria lajotas para vedação e para laje, blocos estruturais, tijolos maciços e decorativos. Juntas, as cerca de 100 olarias situadas no município geram aproximadamente três mil empregos diretos. — De uma maneira isolada, ainda temos jazidas para muitos anos. Mas isso depende da projeção do crescimento urbano, agropecuário e industrial do município — diz Jonas Alexandre, cujas pesquisas vêm ajudando a caracterizar a argila de Campos, apontando qual a mais adequada a cada peça.

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Produtos

ambientalmente Limo – resíduo do papel

Fotos: Carlos Maurício Fontes Vieira

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corretos

Minimizar os impactos ambientais e, ao mesmo tempo, gerar produtos mais econômicos. Com este objetivo, o Laboratório de Materiais Avançados da Uenf (Lamav) vem desenvolvendo pesquisas que incorporam resíduos às peças ce­­râ­micas produzidas em Campos. Diversos projetos já contam com a parceResíduo do ria de emprepapel sendo incorporado à sas e olarias argila situadas no município. — Cerca de 10 cerâmicas de Campos já estão incorporando o lodo que sobra da produção de papel à massa de blocos de vedação (tijolos furados). Rico em celulose, esse material ainda gera economia de energia, pois a necessidade de lenha é menor — conta o professor Carlos Maurício Fontes Vieira, que coordena as pesquisas no Lamav. Através de uma parceria com a empresa de papel Copapa, de Santo Antônio de Pádua (RJ), a resíduo Uenf fez testes para saber a de rochas ornamentais viabilidade da utilização do resíduo misturado à argila. Garantida a qualidade dos produtos, as olarias passaram a receber uma quantia em dinheiro da Copapa para fazer a incorporação do lodo à massa. Segundo Carlos Maurício, a empresa gastava três

vezes mais quando era obrigada a despejar o lodo em aterros. Outra parceria, com a empresa ArcellorMital Tubarão, de aço bruto, está viabilizando a pesquisa de outro resíduo industrial: a lama de alto forno, gerada no processo siderúrgico. Os pesquisadores da Uenf já chegaram à conclusão de que uma incorporação de 5% deste resíduo na massa cerâmica gera uma economia energética da ordem de 20%, sem interferir na qualidade do material. — A lama de alto forno tem cerca de 25% a 30% de carbono e poder calorífico de 2 mil kcal/ kg. Vamos agora entrar na fase de testes, mas já há cerâmicas usando este resíduo em Três Rios (RJ) e nos Estados do Espírito Santo e São Paulo — afirma Carlos Maurício, lembrando que já foram feitos estudos para saber os níveis de emissões de gases poluentes, que ficaram dentro dos padrões estabelecidos. Em outra linha de pesquisa, o Lamav vem desenvolvendo um produto cerâmico de elevado valor agregado: o adoquim (bloco de cerâmica para pavimentação de ruas). O projeto de inovação tecnológica tem financiamento da Faperj e conta com a coordenação da Cerâmica Stilbe, de Campos. Os primeiros adoquins deverão ser produzidos no segundo semestre deste ano. Por enquanto, está sendo pesquisada a melhor formu-


A lação da massa, que deve ter grande resistência ao peso do tráfego, tanto leve quanto pesado. Além disso, foi construído um forno do tipo abóbada com capacidade para suportar temperaturas de até 1.100ºC. Carlos Maurício também atua como parceiro da Cerâmica Sardinha, contemplada em edital da Faperj com projeto que tem por objetivo dar uma destinação ambientalmente correta ao resíduo da serragem de rocha ornamental de Santo Antônio de Pádua por meio da incorporação em massa de plaqueta de revestimento extrudado. Também estão sendo estudados outros resíduos, como os do corte da cinza do bagaço da cana-deaçúcar e da lenha do eucalipto, bem como o chamote (rejeito da queima dos tijolos). Outra linha de pesquisa do Lamav tem por objetivo desenvolver revestimento cerâmico prensado (como grês porcelanato, usado em piso), um produto de alto valor agregado. Mas esse tipo de produção requer um modelo de indústria completamente diferente do que existe no município. Ele calcula que, para a instalação de uma fábrica de revestimento prensado, seria necessário um investimento de, pelo menos, R$ 20 milhões. — Já há alguns ceramistas interessados em produzir, em Campos, pastilhas de revestimento — diz Carlos Maurício, acrescentando que o município tem condições favoráveis para este tipo de investimento, como facilidade de escoamento da produção (porto), insumo energético (gás) e ainda está perto dos grandes mercados consumidores.

inspiração

que vem do

barro

A argila que molda os tijolos feitos em Campos também vem ajudando a despertar a veia artística de muita gente. Iniciado em 2000, o projeto Caminhos de Barro começou com a ideia de capacitar as mulheres dos trabalhadores das olarias da Baixada Campista. Hoje, muitas delas, além de desenvolver o artesanato e, a partir dele, garantir o seu sustento, já atuam como multiplicadoras do projeto. É o caso de Vera Lúcia Ribeiro, que há sete anos fez o curso na Escola de São Sebastião, onde mora, e hoje é multiplicadora do projeto. Sua prima Eudicéia Cardoso de Almeida faz hoje o curso na Uenf e conta que já consegue arrecadar até um salário mínimo por mês com a comercialização de seus produtos. — Já fiz de tudo um pouco: doce, quentinha. Agora faço peças como fruteiras, vasos, bijuterias, que comercializo em casa. O trabalho ajuda a tirar os problemas da cabeça. Não tinha experiência nenhuma com artesanato em argila, mas não foi difícil — conta Eudicéia. Segundo o professor Jonas Alexandre, o Caminhos de Barro faz parte do projeto “Plataforma Cerâmica”, do Governo do Estado, que visa a incrementar a produção cerâmica em todo o Estado. Coube à Uenf a incumbência de administrar as atividades ou projetos que pudessem auxiliar o polo de Campos. O projeto, que envolve vários laboratórios da Uenf, divide-se nas áreas de artesanato; reuso de ca-

vas para agricultura e piscicultura; qualificação de matéria-prima para uso em revestimentos, tijolos e telhas; produção e comercialização; e novos materiais. — Hoje o projeto Caminhos de Barro treina não só a parte artística quanto a industrial. Além de objetos artísticos, os alunos aprendem a produzir garrafas para alambiques, potes para doces, enfeites de aniversário, entre outros objetos que podem ser comercializados — diz, acrescentando que, só dentro do Núcleo do projeto, na Uenf, já foram formadas 40 pessoas. Há ainda satélites no distrito de São Sebastião e um outro a ser implantado em Saturnino Braga, para atender às comunidades locais. A artesã Ivanete Maria Neves Fernandes resol-

veu fazer o curso para tentar melhorar suas peças, feitas de bagaço de cana. Já a professora Elizabeth Vieira busca um equilíbrio maior com a natureza. — Quando venho aqui, saio muito satisfeita. O curso levanta a autoestima. Acho que é porque quando mexemos com o barro nos harmonizamos com a terra — diz Elizabeth, que é formada em Letras (Português-Inglês).

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Bugio - Foto de Marcio Marcelo de Morais

Sobreviventes da

destruição Pesquisa da Uenf mostra que a incidência de primatas é maior nos fragmentos da Mata Atlântica que estão em melhor estado de conservação Quanto melhor o estado de conservação da mata, maior a incidência de primatas como o bugio e o macaco-prego. É o que pôde observar a bióloga Roberta Miranda de Araújo em sua pesquisa de mestrado pelo Programa de Pós-Graduação em Ecologia e Recursos Naturais da Uenf. A pesquisa, concluída recentemente, mostra que há maior quantidade destas espécies em fragmentos maiores de mata, localizados em áreas protegidas e em relevos montanhosos. Intitulada “Ocorrência e densidade populacional de bugio (Alouatta guariba Lacépède, 1799) e macaco-prego (Cebus nigritus Erxleben, 1777) em fragmentos de Mata Atlântica no Rio de Janeiro”, a pesquisa teve a orientação da professora Paula Procópio de Oliveira, da Fundação Biodiversitas para a Conservação da Biodiversidade, e co-orientação do professor Carlos Ramon Ruiz-Miranda, do Laboratório de Ciências Ambientais (LCA) da Uenf. Apesar da intensa devastação a que foi

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submetida, a Mata Atlântica abriga seis espécies de primatas nativos em seus remanescentes florestais situados no Estado do Rio de Janeiro: além do bugio e do macaco-prego, alvo da pesquisa, também podem ser encontrados o muriqui (Brachyteles arachnoides E. Geoffroy, 1806), o sauá (Callicebus personatus E. Geoffroy, 1812), o mico-leão-dourado (Leontopithecus rosalia Linnaeus, 1766) e o sagüi-da-serra-escuro (Callithrix aurita E. Geoffroy, 1812). — O bugio é a espécie que mais se encontra ameaçada de extinção, devido à destruição de seu habitat. Já o macaco-prego ainda não se encontra ameaçado de extinção, mas vem sendo alvo de caçadores e comercializado ilegalmente por traficantes de animais silvestres — afirma Roberta. Segundo a pesquisadora, os resultados evidenciam a importância de se criar novas unidades de conservação, o que a longo prazo poderia contribuir para a manutenção dos habitats necessários à viabilidade das espécies. Outra alternativa relevante para a manutenção da biodiversidade ainda presente, de acordo com Roberta, seria o estabelecimento de corredores florestais. — Estudos com primatas possuem grande relevância porque estes mamíferos podem ser usados como indicadores de conservação de áreas, na criação de unidades de conserva-


Pressão antrópica atinge animais Segundo Roberta, os primatas são vítimas da forte pressão antrópica (provocada pela ação humana) da região de baixada. Um exemplo são as queimadas que ocorrem nas fazendas existentes ao redor das unidades de conservação que, muitas vezes, invadem as áreas protegidas. Outra ameaça constante aos remanescentes florestais da Mata Atlântica fluminense são o desmatamento e a baixa fiscalização florestal. — Hoje as áreas florestais do Estado estão presentes principalmente em regiões montanhosas, menos acessíveis, pouco restando nas planícies, margem de rios e lagoas, bem como nos ecossistemas litorâneos — afirma. Endêmico da Mata Atlântica do sudeste/sul de

Minas Gerais, Espírito Santo, Rio de Janeiro, São Paulo, Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul, o bugio passa a maior parte do tempo em árvores de 15 a 20 metros de altura, sendo pouco ativo. Tal inatividade é considerada uma estratégia comportamental que evoluiu por ser energeticamente econômica. O macaco-prego, que ocorre nas regiões Sul e Sudeste, possui o mais diversificado habitat de ocorrência entre os primatas neotropicais, utilizando todos os estratos arbóreos, bem como mangue e restinga. É onívoro e vive em grupos de cinco a 30 indivíduos, sendo capaz de utilizar ferramentas ou estratégias durante o forrageamento.

Macaco-Prego _ Foto de Roberta Miranda de Araújo

ção e na recuperação de áreas degradadas — diz, acrescentando que os resultados da pesquisa podem contribuir para o desenvolvimento de estratégias de manejo e conservação das espécies de primatas. As áreas escolhidas para a realização da pesquisa foram as unidades de conservação estaduais e federais presentes no Estado do Rio de Janeiro, bem como a região da Bacia Hidrográfica do Rio São João, que abrange os municípios de Silva Jardim, Casimiro de Abreu, Rio Bonito, Cabo Frio e São Pedro da Aldeia. — Não há quase estudos sobre a ecologia do bugio e do macaco-prego. Nosso objetivo foi verificar a ocorrência das espécies em unidades de conservação, bem como relacionar as consequências do processo de fragmentação florestal sobre suas populações — afirma.

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Arte: Marcus Cunha | Uenf

Jovem, com ares de gente

grande

Em 16 anos Uenf formou quase 4 mil profissionais, dos quais 1,7 mil são mestres ou doutores Se as universidades vivessem o tempo de uma pessoa, a Uenf hoje seria uma adolescente completando 16 anos. E como a vida de qualquer indivíduo, a existência da Uenf também se originou de um encontro: de um lado, o mais bemsucedido movimento popular de Campos nas últimas décadas, que colocou na Constituição Estadual a previsão de criação da Universidade; de outro lado, a mente fervilhante de um dos brasileiros mais ilustres do século XX, o professor Darcy Ribeiro, autor do Plano Orientador da ‘Universidade do Terceiro Milênio’. Embora ainda seja uma ‘adolescente’, a Uenf já nasceu com jeito de gente grande, com cursos de graduação, mestrado e doutorado. Aos

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16 de agosto de 1993, quando foi ministrada a primeira aula no atual campus Leonel Brizola, o nascimento da primeira universidade pública regional gerava intensas expectativas. — Todos esperavam que a Uenf fizesse por Campos e pela região o que a Unicamp teria feito por Campinas — diz o professor Mário Lopes Machado, um dos líderes do movimento pró-Uenf, lembrando que naquela ocasião o Norte Fluminense sonhava com a retomada do progres- Mário Lopes Machado, líder do movimento so de outros tempos. Por pró-UENF isso muita gente se pergunta onde estariam hoje, 16 anos depois, as sementes da transformação esperada.

A base desta mudança é a formação de gente qualificada para fazer a diferença. Desde sua implantação, a Uenf já graduou 2.131 profissionais (posição 01/07/09) e titulou 1.717 mestres ou


dação Carlos Chagas Filho de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro). Evaldo é o dono do negócio, uma pequena empresa no ramo de viveiro de mudas, e a Uenf aportou tecnologias através de três pesquisadores: os professores Alexandre Pio Viana e Ricardo Moreira de Souza e a pós-doutoranda Virgínia Silva Carvalho. — Este é o modelo de biofábrica em que a gente acredita, onde a universidade entra com a tecnologia e o empreendedor com a gestão — avalia o reitor da Uenf, Almy Junior. Vários projetos como este, que associam a capacidade científica e tecnológica da Uenf com a iniciativa empresarial, estão sendo desenvolvidos com apoio financeiro da Faperj. Entre eles estão intervenções nas áreas de viticultura, cana-de-açú-

car, cerâmica, biodiesel, energias alternativas e petróleo e gás. Novos negócios de base tecnológica também estão surgindo da Incubadora Tecnológica de Campos dos Goytacazes (TEC Campos), criada em 2006 como consórcio envolvendo várias instituições, capitaneadas pela Uenf e pelo IFF (antigo Cefet). A TEC Campos já lançou editais nas modalidades de pré-incubação, incubação e empresa associada — esta, voltada para a inserção de inovação tecnológica em empresas já estabelecidas. Mais recentemente, a Uenf constituiu a Itep (Incubadora Tecnológica de Empreendimentos Populares), que está adotando metodologias testadas e aprovadas pela COPPE/UFRJ para apoiar a economia solidária na região.

Milhares de vagas em cursos Almy Junior, reitor da Uenf

doutores (posição em 16/07/09). Para cada mestre ou doutor há uma dissertação ou tese, frequentemente abordando questões de interesse regional. Com gente qualificada, pode-se esperar um setor produtivo mais dinâmico em todas as áreas e um setor público dotado de melhores condições de conceber e implementar políticas públicas. Mas conhecimento não basta; é preciso acioná-lo e colocá-lo em prática. Um exemplo concreto disto está acontecendo em Bom Jesus do Itabapoana, no Noroeste Fluminense, onde acaba de ser implantada a primeira biofábrica do Estado. Uma fábrica desse tipo, que vende mudas de alta qualidade genética e livres de doenças, teria sido muito útil no período de implantação do polo de fruticultura do Norte/Noroeste Fluminense, já que a importação de mudas doentes tem sido apontada como um dos fatores para que o programa não tenha deslanchado como se esperava. A biofábrica Itamudas é uma iniciativa do empreendedor Evaldo Gonçalves Junior, que buscou parceria na Uenf para a elaboração do projeto e submissão a um edital de Inovação Tecnológica da Faperj (Fun-

para o produtor

A Uenf oferece alguns dos melhores cursos do Brasil no campo das ciências agrárias (Agronomia, Medicina Veterinária e Zootecnia), segundo as avaliações do MEC, mas o esforço para qualificar o pessoal que lida com a terra na região tem ido além disso. Todos os anos, a Universidade oferece mais de 1 mil vagas em dezenas de cursos de curta duração através da Semana do Produtor Rural. Neste ano, na última semana de julho, o evento chegou a sua quinta versão, com cerca de 1,2 mil vagas distribuídas entre 62 opções de cursos. Durante a Semana do Produtor Rural, o campus da Uenf se torna ponto de encontro

rural

de agricultores, pecuaristas, trabalhadores rurais e até de gente que mora na cidade. A grade de cursos privilegia temas de interesse rural, como bovinocultura, suinocultura, caprinocultura, avicultura, agroecologia e agricultura orgânica, cana-de-açúcar, plantas medicinais, piscicultura, viticultura, controle de doenças e pragas na agricultura, reprodução de animais, entre muitos outros. Para o público mais geral há cursos como “Meio ambiente e saúde pública”, “Reciclagem”, “Fabricação de presunto e de linguiças”, “A população como agente fiscalizador sanitário” e “O prejuízo do abate clandestino”. — A Semana do Produtor Rural da Uenf parte de uma nova visão da Extensão. Ela proporciona um diálogo entre o pesquisador e o homem do campo, no qual todos podem aprender e trocar experiências — diz o coordenador de Extensão do CCTA/Uenf, professor Fábio Cunha Coelho.

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Mais informação, mais cidadania Um movimento suprapartidário e aberto a todas as colorações ideológicas está ganhando corpo em Campos com o objetivo de ampliar o controle social sobre o uso do dinheiro público no município. Com a participação de dezenas de entidades e a coordenação do sociólogo Hamilton Garcia, professor da Uenf, um projeto de extensão da Universidade redundou na realização da I Conferência Local de Controle Social, que teve suas duas primeiras etapas realizadas em 24/06 e 09/07/09. A Conferência é fruto do projeto de extensão “Participação Política e Estado — Implementação institucional de ações para o controle social dos governos locais”, somado à mobilização do Fórum Permanente de Entidades Civis, que envolve duas dezenas de instituições e se reúne periodicamente na Associação Comercial e Industrial de Campos (Acic). — Desenhado de maneira ampla, o movimento não pretende substituir as iniciativas que já existem, mas sim articulá-las num espaço comum propício para o agendamento de ações concretas visando à ampliação da democracia participativa no município — explica Hamilton Garcia.

Pós-Graduação

Graduação Agronomia Ciência da Computação e Informática Ciências Biológicas Ciências Sociais Engenharia Civil Engenharia de Exploração e Produção de Petróleo Engenharia de Produção Engenharia Metalúrgica Licenciatura em Biologia

Pedro Cabral | UENF

Após a segunda sessão da Conferência, foi constituído um Conselho Implantador composto por 12 setores da sociedade, representados por diversos líderes. Com a coordenação do professor Hamilton, eles serão responsáveis, daqui por diante, pela ampliação das ações de controle social sob a forma de grupos de trabalho. Presente à segunda etapa da Conferência, a diretora Executiva do Instituto de Cidadania Fiscal (ICF), Roni Enara, estimulou os campistas a criarem o seu próprio A primeira etapa da Conferência ocorreu em 24/06, no IFF Observatório Social. O ICF é uma organização dedicada à disseminação de presentatividade possível e conquistem o apoio ações voltadas para a transparência e a qualidados órgãos fiscalizadores oficiais. Também está de da aplicação dos recursos públicos no Brasil. claro que trabalhar em rede, de maneira integra— A experiência acumulada tem mostrado da e padronizada, facilita o processo local e emque é preciso mobilizar a sociedade, de forma presta credibilidade ao trabalho do Observatório que os Observatórios Sociais tenham a maior reSocial de cada cidade, disse Roni Enara.

Licenciatura em Ciências Biológicas a Distância Licenciatura em Física Licenciatura em Matemática Licenciatura em Pedagogia Licenciatura em Química Licenciatura em Química a Distância Medicina Veterinária Zootecnia

Mestrado e Doutorado Biociências e Biotecnologia Ciência Animal Ciências Naturais Ecologia e Recursos Naturais Engenharia de Reservatório e de Exploração Engenharia e Ciência dos Materiais Genética e Melhoramento de Plantas Produção Vegetal Sociologia Política

Mestrado Cognição e Linguagem Engenharia Civil Engenharia de Produção Políticas Sociais


Veja onde está a Uenf A primeira aula da Uenf foi ministrada em Campos, aos 16 de agosto de 1993, mas hoje a Universidade está espalhada por vários cantos do Estado. No campus de Macaé (RJ), por exemplo, funciona o primeiro curso de graduação em Engenharia do Petróleo do Brasil e o Programa de Pós-Graduação em Engenharia de Reservatório e de Exploração. A presença da Uenf em Macaé, que começou com a area do petróleo, em instalações cedidas pelo antigo Cefet, hoje inclui o Laboratório de Meteorologia e abriga projetos para a implantação de cursos como Engenharia de Meteorologia, Engenharia Energética e Engenharia Ambiental e Sanitária. Tudo isso num campus construído graças ao espírito público de uma família macaense (família Brennand), que doou o terreno, e ao apoio da Petrobras na construção, ainda no final da década de 1990. Em Rio das Ostras (RJ), o Laboratório de Ciências Ambientais da Uenf mantém uma unidade remota de apoio à pesquisa na Reserva Biológica União. No local, que abriga uma estação meteorológica e uma área laboratorial, pesquisadores desenvolvem uma série de pesquisas sobre a vida animal e vegetal na

floresta, incluindo estudos sobre primatas (macacoprego, mico-leão-dourado) e sobre os efeitos da fragmentação da mata sobre o ecossistema florestal. Em Itaocara, Noroeste Fluminense, a Uenf realiza boa parte dos experimentos na área agrícola. A Unidade de Apoio à Pesquisa do Centro de Ciências e Tecnologias Agropecuárias (CCTA/ Uenf ) funciona na Estação Experimental da Pesagro-Rio, localizada numa ilha situada no encontro do Rio Pomba com o Rio Paraíba do Sul. De lá surgiu, por exemplo, a primeira variedade de milho adaptada às condições do Norte/Noroeste Fluminense, o híbrido ‘Uenf506-6’. Em nível experimental, já é possível obter produtividades da ordem de 8,5 mil Kg por hectare. Mas é através do Consórcio Cederj — que reúne as universidades federais e estaduais do Rio de Janeiro na oferta de ensino a distância — que a Universidade se espalha ao longo de todas as regiões do Estado. A Uenf foi uma das pioneiras na adesão ao Cederj. O curso de Licenciatura em Ciências

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Biológicas a distância está implantado nos polos de Bom Jesus do Itabapoana, Itaocara, Itaperuna, Macaé, Petrópolis, São Fidélis e São Francisco de Itabapoana. Já o curso de Licenciatura em Química a distância, mais recente, funciona nos polos de Angra dos Reis, Paracambi, Piraí e São Fidélis. No início deste ano, a Uenf implantou o doutorado interinstitucional (Dinter) em Produção Vegetal na Escola Agrotécnica Federal de Alegre (Eafa), cidade localizada no Sul do Espírito Santo. Os doutorandos são professores da própria Eafa e do Centro de Ciências Agrárias da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes). Na própria cidade de Campos, a Uenf também está presente na Casa de Cultura Villa Maria — órgão suplementar dedicado à difusão da cultura —, na Estação Experimental do Colégio Agrícola Antônio Sarlo e na Estação Evapotranspirométrica mantida na sede da Pesagro-Rio, em Guarus.


Energia sem limites

Pesquisas apontam novas possibilidades em biocombustíveis, eliminando o problema da concorrência com a cadeia alimentar Os biocombustíveis vêm sendo apontados como uma alternativa para minimizar os impactos ambientais provocados pelo uso de combustíveis fósseis. Mas até que ponto o etanol e o biodiesel são energias realmente limpas? Para o professor Victor Haber Perez, do Laboratório de Tecnologia de Alimentos (LTA), é preciso levar em conta não só os benefícios pontuais destes produtos, como toda a sua cadeia produtiva. — Não podemos esquecer os problemas ambientais gerados pelo uso de agrotóxicos durante o plantio, o lançamento de vinhoto nos rios e seu uso inadequado nas culturas, bem como as queimadas dos canaviais e o desmatamento para a implantação de culturas oleaginosas — afirma, acrescentando que é necessário desenvolver e implantar tecnologias ambientalmente corretas para se chegar a processos mais limpos. Mas a principal crítica à produção de biocombustíveis está ligada à competição com a cadeia alimentar humana. Há quem afirme que a produção de matéria-prima para os biocombustíveis acarreta a diminuição da produção de alimentos, o que pode contribuir para o encarecimento destes produtos. O milho cultivado nos Estados Unidos e a cana-de-açúcar brasileira, usados na fabricação de etanol, são os produtos mais visados. Mas há formas de superar estes problemas. Uma delas é o etanol obtido a partir de biomassa (resíduos vegetais ou agroindustriais), também conhecido como bioetanol ou biocombustível de segunda geração. Além de não provocar impactos ambientais, este tipo de combustível não compete com a cadeia alimentar. Atualmente, o bagaço da cana-de-açúcar tem sido apontado como principal matéria-prima para a produção de bioetanol no Brasil. No entanto, ainda não existe uma tecnologia bem definida para sua implantação em escala industrial. — O bagaço de cana-de-açúcar é, sem duvida, uma excelente matéria-prima para a produção de bioetanol. Mas precisamos estudar outras fontes naturais de biomassa, que requeiram me-

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nos investimentos e insumos agrícolas, possam crescer em terras degradadas e ainda captar o carbono da atmosfera — diz Perez. No campo do biodiesel, também já existem alternativas, como as microalgas e os microorganismos oleaginosos. Particularmente, além de capturar gases estufa durante seu crescimento e metabolismo, as microalgas acumulam até 80% de sua massa seca em óleo. Já os microorganismos oleaginosos (Single cell oils-SCO) podem acumular durante seu crescimento entre 20 e 40% de sua massa seca em óleo. — Devido à facilidade de produção, do ponto de vista tecnológico o emprego de SCO constitui a nossa principal aposta para a produção futura de óleo para fins energéticos não concorrentes com a cadeia alimentar — diz o professor. Seu grupo de pesquisa, “Biomagnetismo Aplicado à Engenharia de Processos da Indústria de Alimentos”, vem trabalhando no desenvolvimento de processos não convencionais para a produção de biocombustíveis. No caso específi-

co da produção de biodiesel, existe grande interesse em estudar o emprego de matérias-primas não concorrentes com a cadeia alimentar. Neste processo, os pesquisadores usam biocatalisadores (substâncias que atuam em reações de transformação, alterando sua velocidade) constituídos por células íntegras de microorganismos ( Whole cells) produtores de lipase (enzimas que atuam sobre lipídeos) intracelular, imobilizados em suportes de diferentes naturezas. — Um grande atrativo no desenvolvimento desta nova tecnologia é o emprego de biorreatores assistidos por campos eletromagnéticos de baixa freqüência e intensidade. O biomagnetismo aplicado à Engenharia de Processos é um assunto relativamente recente, que nosso grupo de pesquisa introduziu no Brasil na década de 1990, mas que na atualidade tem motivado uma intensa atividade de pesquisa na comunidade científica internacional — explica o professor. Por outro lado, segundo Perez, existe um precedente de aplicação do biomagnetismo na pro-

Pesquisador Victor Haber Perez


dução de etanol por fermentação do melaço de cana cujos resultados foram publicados na Biotechnology Progress em 2007. Agora, a tecnologia também será empregada na produção de bioetanol de segunda geração, especificamente na etapa de fermentação, atuando diretamente na fisiologia celular das leveduras. Neste contexto, trabalho conjunto vem sendo desenvolvido com

a Secretaria de Desenvolvimento Econômico e Geração de Renda da Prefeitura de Quissamã para a implantação do Laboratório de Pesquisa em Bioetanol de Segunda Geração, no Centro de Tecnologia de Engenho do município. — Serão formados recursos humanos em atividades de pesquisa, através da participação no projeto de alunos universitários subsidiados

pelo município e de alunos da Uenf em todas as modalidades de pesquisa e extensão. Dentre os assuntos de pesquisa está o estudo de 22 variedades de cana-de-açúcar da região com o objetivo de discriminar aquelas com maior potencial para a produção de bioetanol, assim como o estudo de outras matérias-primas de interesse na região — explica.

TESES DEFENDIDAS DE MARÇO A ABRIL DE 2009 BIOCIÊNCIAS E BIOTECNOLOGIA “Caracterização de albuminas 2S de Ricinus communis L. como inibidores de a-amilase e relação estruturaatividade de suas principais isoformas, Ric c 1 e Ric c 3.” Doutoranda: Viviane Veiga do Nascimento Orientadora: Olga Lima Tavares Machado (LQFPP) “Tegumentos de sementes não-hospedeiras como barreiras contra a penetração do bruquídeo Callosobruchus maculatus: Ênfase no tegumento de sementes de Albizia sp.” Mestranda: Amanda Jardim de Souza Orientadora: Antônia Elenir Amâncio Oliveira (LQFPP) “Homeostase de Ca2+ e H+ em levedura Saccharomyces cerevisiae: Estresse por altas concentrações de Ca2+ e o papel de calcineurina”. Doutoranda: Flávia Emenegilda da Silva Orientador: Lev A. Okorokov (LFBM) “Caracterização de uma Pirofosfatase Inorgânica Solúvel em embriões do carrapato bovino Rhipicephalus microplus” Mestrando: Evenilton Pessoa Costa Orientador: Carlos Jorge Logullo de Oliveira (LQFPP) “Cianobactérias — Organização do banco de cepas e desenvolvimento de métodos de análise de microcistinas” Mestranda: Thays Abreu da Silva Orientadora: Denise Saraiva Dagnino (LBT) “Desenvolvimento de Processo de Produção de cepas de Mycobacterium bovis CALMETTE-GUERIN (BCG) que expressa fator de virulência de Escherichia coli Enteropatogênica (EPEC)”. Mestranda: Halyka Luzório Franzotti Vasconcellos Orientador: Wilmar Dias da Silva (LBR) ECOLOGIA E RECURSOS NATURAIS “Ciclagem de nutrientes na Mata Atlântica de Baixada na APA da Bacia do Rio São João, RJ: Efeito do tamanho do fragmento” Doutoranda: Ana Paula da Silva Orientadora: Dora Maria Villela (LCA) ENGENHARIA DE PRODUÇÃO “Organização do trabalho e exclusão social: Um es-

tudo de caso sobre as cooperativas agropecuárias do Noroeste Fluminense”. Mestranda: Renata Faria dos Santos Orientador: Alcimar das Chagas Ribeiro (Leprod) “Avaliação e classificação da qualidade de serviços bancários, segundo a percepção dos clientes” Mestranda: Alline Sardinha Cordeiro Morais Orientador: André Luís Policani Freitas (Leprod) GENÉTICA E MELHORAMENTO DE PLANTAS “Avaliação pós-colheita visando melhoramento intrapopulacional de genótipos de maracujazeiro amarelo (Passiflora edulis f. flavicarpa) do Programa de Melhoramento Genético da UENF” Mestranda: Karine Fernandes Ribas Giovannini Orientador: Jurandi Gonçalves de Oliveira (LMGV ) “Estresse salino afeta a performace fotossintética dos genótipos CB 47-89 e CB 45-3 de cana-de-açúcar (Saccharum sp.)” Mestrando: Wellington Ferreira Campos Orientador: Gonçalo Apolinário de Souza Filho (LBT) “Caracterização de um banco de germoplasma de mamoeiro para estudo da diversidade genética” Mestranda: Silvana Silva Red Quintal Orientador: Alexandre Pio Viana (LMGV ) “Caracterização citológica da espécie silvestre Vasconcellea goudotina (Caricaceae)” Mestranda: Emanuelli Narducci da Silva Orientadora: Telma Nair Santana Pereira (LMGV ) “Desempenho morfoagronômico de linhagens avançadas de abóbora (Cucurbita moschata) com potencial para o lançamento de novas cultivares” Mestranda: Graziela da Silva Barbosa Orientador: Nilton Rocha Leal (LMGV ) “Sementes de mamão Carica papaya L.: Estudos morfoanatômicos dos componentes genéticos e dos reguladores do crescimento na germinação Doutoranda: Sônia Aparecida dos Santos Orientador: Roberto Ferreira da Silva (LFIT) PRODUÇÃO VEGETAL “Análise de crescimento, aspectos fisiológicos e nutricionais na produção de vitexina em Passifloraceas em função da adubação” Doutoranda: Cristiane Miranda Martins Orientador: Almy Junior Cordeiro de Carvalho (LFIT)

“Caracterização de rendimento das sementes e do albedo do maracujá para aproveitamento industrial e obtenção da farinha da casca e pectina” Mestranda: Eliana Monteiro Soares de Oliveira Orientador: Eder Dutra de Resende (LTA) “Efeito da fertilização sobre a fauna do solo e a serrapilheira em plantios florestais no Norte Fluminense” Mestranda: Liliana Parente Ribeiro Orientadora: Emanuela da Gama-Rodrigues (LSOL) “Fósforo orgânico do solo em sistemas agroflorestais de cacau no Sul da Bahia” Doutorando: Francisco Costa Zaia Orientador: Antônio Carlos da Gama-Rodrigues (LSOL) “Efeito das diferentes classes texturais na dispersão do nematóide entomopatogênico Heterorhabditis baujardi LPP7 (Rhabditida: Heterorhabditidae)” Mestranda: Carla Cristina da Silva Pinto Orientadora: Claudia de Melo Dolinski (LEF) “Evapotranspiração e função de produção da cultura do girassol em Campos dos Goytacazes” Mestranda: Laureana Aparecida Coimbra Pelegrini Orientadora: Elias Fernandes de Sousa (Leag) “Qualidade do maracujá-amarelo (Passiflora edulis f. flavicarpa Degener) armazenado sob refrigeração em condições de atmosfera controlada” Mestranda: Francinaide Oliveira da Silva Orientador: Éder Dutra de Resende (LTA) ENGENHARIA CIVIL “Análise Espacial da Variabilidade da Resistência à Compressão de um Granito de Campos dos Goytacazes” Mestranda: Ana Laura Cassiano Dias Ávila Orientador: Aldo Durand Farfán (Leciv) “Aplicação de lógica difusa na avaliação da capacidade de carga de fundações profundas” Mestrando: Bruno Magno Gomes Ramos Orientador: Fernando Saboya Albuquerque Junior (Leciv) “Desenvolvimento de um equipamento para a avaliação da compressibilidade de enrocamentos devido a processo de degradação” Mestranda: Nájla de Oliveira Vicente Carvalho Orientador: Paulo César de Almeida Maia (Leciv)

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ENTREVISTA / SILVÉRIO DE PAIVA FREITAS

“Extensão é produção de conhecimento” A Pró-Reitoria de Extensão da Uenf foi criada em 1999 e, de lá para cá, o número de atividades na área de extensão universitária teve um grande impulso. Nesta entrevista, o pró-reitor de Extensão da Uenf, professor Silvério de Paiva Freitas, fala sobre a importância da Extensão dentro da visão moderna que a concebe como instrumento de intercâmbio entre o saber acadêmico e o saber popular e não mais Nossa Uenf: Teoricamente a extensão universitária deve estar em pé de igualdade com o ensino e a pesquisa, mas frequentemente isto não ocorre. No caso da Uenf, a ênfase inicial parecia estar na pesquisa e na pós-graduação, e não no ensino de graduação e muito menos na extensão. Hoje, 16 anos depois, o senhor diria que houve algum progresso na busca de um melhor equilíbrio para esse conhecido ‘tripé’ do ensino-pesquisaextensão? Silvério: Eu não diria ‘algum’, mas sim um enorme progresso. A ênfase na pesquisa e pósgraduação foi fruto de uma opção deliberada e acertada dos fundadores da Uenf por um modelo com forte densidade científica. Isto era fundamental para dar consistência a todas as inovações propostas pelo modelo, pois de outra forma se correria o risco — muito comum no nosso país — de criar novidades que se resumissem à nomenclatura dos órgãos e instituições. Então, a base tinha que ser uma forte consistência científica, que se traduziu numa universidade com aproximadamente a mesma quantidade de cursos graduação e programas de pós-graduação. Se você olhar os números até hoje, a Universidade formou algo em torno de 1.600 mestres ou doutores e 2 mil graduados. Nossa Uenf: Nós atualizamos esse número semana passada: até julho deste ano, foram 1.717 mestres/doutores e 2.131 graduados. Silvério: Pois é, você nota um equilíbrio que não é comum por aí... Nossa Uenf: Sim, mas ainda não entramos no campo da extensão... Silvério: É o que pretendo fazer agora. A PróReitoria de Extensão e Assuntos Comunitários (Proex) foi a última a ser institucionalizada, em 1999, o que sugere o tal desequilíbrio a que você se referiu na primeira pergunta. Mas desde então, o que nós temos visto é uma forte guinada quantitativa e qualitativa da Uenf em direção a uma área de extensão forte e consistente.

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como “um braço assistencial da universidade pública”. Fala ainda sobre a necessidade de o Brasil colher mais frutos do avanço na produção científica, responsabilidade que, na sua opinião, não é somente da comunidade científica, mas também da esfera governamental, através da implementação de políticas públicas que levem em conta a produção acadêmica. Confira a entrevista:

Nossa Uenf: O senhor poderia fundamentar essa afirmação? Silvério: No aspecto quantitativo, tínhamos 6 projetos de extensão cadastrados em fins de 2002 e saltamos para 70 projetos cadastrados em 2009. Em 2002, não tínhamos sequer implementado a figura do aluno bolsista de extensão, embora já tivéssemos há muito tempo o bolsista de Iniciação Científica, por exemplo. Hoje temos 100 estudantes bolsistas de extensão — todos necessariamente com excelente rendimento acadêmico — e outros 119 profissionais bolsistas na modalidade Universidade Aberta, que foi uma ação pioneira da Uenf na área de extensão. Temos ainda 33 multiplicadores que atuam em projetos que se transformaram em cartões postais da Uenf, como o Projeto em Direitos Humanos, DST AIDS, Arte na Escola, Caminhos do Barro, Feira Orgânica, Espaço da Ciência, Semana do Produtor Rural, entre tantos outros. No ano passado, a Proex emitiu 4.410 certificados de participação em eventos e neste ano de 2009 já foram emitidos 3.372 certificados de eventos realizados pelos servidores e discentes da Uenf. Nossa Uenf: E o que estes números significam? Silvério: Eles indicam um esforço na realização de programas e/ou projetos individuais ou coletivos, bem como de outras atividades que promovam a excelência da Universidade e o fortalecimento das atividades de extensão universitária. Com isso, estamos proporcionando intercâmbio entre o saber acadêmico e o saber popular. Isso nos leva à consolidação do processo teórico-prático e à viabilização da relação transformadora entre a Universidade e a so-

ciedade, com a efetivação de novas experiências de pesquisa-ação e consequentemente o fortalecimento do Ensino, da Pesquisa e da Extensão da Uenf. Enfim, para a Uenf cumprir plenamente a missão para a qual foi criada, inserindo-se com lugar destacado na produção científica brasileira e participando ativamente do desenvolvimento regional, ela tem que continuar trilhando esse caminho de valorização da extensão, e deve fazer isso até com mais ênfase do que tem feito. Nossa Uenf: O senhor não desconhece que parte do meio acadêmico tende a encarar o investimento na extensão como distorção ou desvio de foco... Silvério: Claro que não, mas aqui é preciso abrir um parêntese. Grande parte dessa resistência se baseia numa visão superada do que seja a extensão universitária.


Essa visão, que vigorou durante muito tempo, concebia a extensão quase como um braço assistencial da universidade pública, ou seja, como uma instância de implementação de projetos pontuais em comunidades carentes. Olha, para tocar projetos que combatam carências urgentes de curto prazo, do tipo “dar o peixe” para o cidadão não morrer de fome, existem verbas públicas específicas. Tirar dinheiro da atividade acadêmica para aplicar nisso, até eu sou contra, pois é algo que precisa ser feito, mas não à custa do investimento de longo prazo na produção do conhecimento. Mas a visão moderna da extensão não tem nada a ver com isso. Modernamente, tanto a extensão como o ensino envolvem necessariamente produção de conhecimento, e não apenas sua transmissão. No caso da extensão, é realmente uma via de mão dupla, onde a universidade e setores da sociedade se debruçam sobre uma parcela problemática ou relevante da realidade e constroem juntos uma abordagem crítica sobre a questão. Então, penso que muitas vezes a resistência que você menciona vem do desconhecimento desta verdadeira face da extensão. Agora, é claro que em alguns casos é só conservadorismo mesmo, e aí a gente tem que respeitar todos os pontos de vista, pois a academia é plural, ela deve ter lugar para todas as perspectivas, desde que não sejam racistas, xenófobas, fascistas, preconceituosas, e assim por diante. Nossa Uenf: Em nível nacional, como está a questão da extensão universitária? Silvério: Há um esforço muito grande dos membros do Fórum Nacional de Pró-Reitores de Extensão (Forproex) para o fortalecimento da extensão universitária em todo o país. Segundo a professora Laura Tavares Ribeiro Soares, presidente do Forproex, depois de contatos e conversas em Brasília com os titulares das Secretarias de Educação Continuada, Alfabetização e Diversidade (Secad) e Educação Superior (Sesu); o secretário executivo do Ministério da Cultura (Minc); o diretor de Inclusão Social do Ministério da Ciência e Tecnologia (MCT); e a deputada Fátima Bezerra; chegou-se a um consenso sobre uma nova redação na proposta da emenda 14/07/09 MEC, do PL 5245. A última versão foi enviada pelo titular da Secad, André Lázaro, responsável pelas articulações e entusiasta defensor da Extensão. Entre outras, as grandes vitórias foram a inclusão das populações urbanas em situação de vulnerabili-

dade social e econômica; as bolsas para alunos e professores; e a inclusão do CNPq também como agência de fomento à Extensão. Esta última inclusão foi fruto de uma conversa posterior entre os secretários do MEC, do Minc e o diretor do MCT, bem como o representante do CNPq. Este concordou que a agência passe a pagar bolsas de extensão com recursos repassados pelos Ministérios que hoje possuem Editais de Extensão. Nossa Uenf: Mudando um pouco o foco da conversa, há um ponto recorrente nas discussões sobre a passagem do conhecimento do meio acadêmico para a realidade concreta. O que se alega é que a Uenf pode ter desenvolvido quase duas mil teses, muitas delas enfocando problemas regionais, mas quantas destas pesquisas de fato influenciaram na solução efetiva dos problemas que elas abordam? Esta é um pergunta freqüente. Silvério: Veja, como eu disse a extensão universitária não é exatamente uma caixinha de soluções pontuais para problemas específicos... Nossa Uenf: A pergunta não tem em vista especificamente a extensão, mas o papel da Universidade através de seus diversos mecanismos ou estruturas de intervenção na realidade. O senhor acha a crítica pertinente? Silvério: Eu acho que este é um ponto crucial para a gente se debruçar, e não só na Uenf, mas na discussão geral da interação do meio acadêmico com os outros setores da sociedade em nível de Brasil. O básico nisso é o que todo mundo mais ou menos intui: o Brasil avançou o desejado na produção científica, mas ainda não encontrou mecanismos eficazes para colher frutos adicionais desse crescimento na produção tecnológica, que rende novas empresas de base tecnológica, novos postos de trabalho, mais arrecadação etc. Observe que estou me referindo a frutos ‘adicionais’, pois mesmo que estejamos deficientes nesse aspecto a sociedade tem um ganho enorme com a formação de pessoal qualificado e com o avanço no conhecimento básico sobre várias áreas. Mas reconhecer isto não significa jogar nas costas da comunidade científica toda a responsabilidade. Há ações que estão na esfera governamental, ou seja, na formulação e implementação de políticas públicas, que podem e devem levar em conta a produção acadêmica. Outras iniciativas estão no âmbito empresarial, pois envolvem o que é próprio daquele meio, que é o investimento, a aposta, o risco, os ganhos e as perdas. Que eu saiba, o capitalismo funciona assim.

Nossa Uenf: O que o senhor diria especificamente sobre o Norte/Noroeste Fluminense, onde temos uma das 15 melhores universidades do país, segundo o MEC, mas convivemos com uma agropecuária em geral pouco produtiva, uma atividade de mineração em muitos casos predatória, um parque sucroalcooleiro obsoleto e, por que não admitir, um panorama de políticas públicas praticamente inaceitável para os níveis orçamentários de alguns municípios? Por que a presença da universidade pública de qualidade, que não é só a Uenf, ainda não fez tanta diferença quanto se desejaria? Silvério: Essa pergunta é muito complexa, e realmente não sei se teria uma resposta convincente, mas tentaria responder em duas frentes. No que se refere ao setor produtivo, ao setor privado, há toda uma questão de cultura e mentalidade que precisamos trabalhar para implantar na nossa região a médio e longo prazo. Eu, por exemplo, sou agrônomo e trabalhei muitos anos como extensionista no Norte do país, por isso conheço bem o desafio que é convencer o produtor a aplicar certas técnicas que são as mais indicadas, mas às vezes envolvem um trabalho mais meticuloso, um reaprendizado, enfim, uma nova forma de fazer. Isto é um desafio em qualquer parte, mas especialmente na nossa região. Se você olhar o que foi a base da nossa economia na maior parte das décadas anteriores, ela estava na cana, no açúcar e no álcool. Mas era uma atividade fortemente atrelada ao apoio governamental. Quando o contexto regulatório mudou, instaurando um regime de competição, que demanda inovação e dinamismo, o setor revelou extrema fragilidade. Então, eu diria que você não muda isso da noite para o dia. A segunda vertente da resposta envolve a área política. Realmente, a meu ver, uma cidade com os recursos financeiros e a capacidade técnico-científica de Campos não pode descansar enquanto não for modelo de políticas públicas para o país. No que se refere ao comprometimento das lideranças políticas com o interesse público, esta é uma necessidade nacional, e não só da região. Mas vejo que uma sociedade mais crítica e vigilante é fundamental, e acho que o meio acadêmico da região está dando uma boa contribuição nesse terreno, com frutos que vão aparecendo aos poucos. Enfim, estou certo de que tem muita coisa acontecendo, e se um campista que ficou ausente durante os últimos 16 anos voltar à cidade, com certeza ele vai perceber o que eu digo mais claramente.

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Pela melhoria da Educação Uenf participa de Plano do MEC que pretende formar professores da educação básica a partir de agosto

A partir do segundo semestre deste ano, professores que atuam na educação básica, em escolas públicas da região, poderão ingressar em um dos cursos de Licenciatura da Uenf sem a necessidade de passar pelo vestibular. A Uenf é uma das 76 Instituições Públicas de Ensino Superior (Ipes) do país a participar do Plano Nacional de Formação dos Professores na Educação Básica, lançado pelo governo federal com o objetivo de assegurar a formação exigida pela Lei de Diretrizes e Bases (LDB) a todos os professores que atuam na educação básica. Serão destinadas 98 vagas, a partir de agosto, para professores dos municípios de Campos, São Francisco de Itabapoana, São João da Barra, Cambuci, Cardoso Moreira, Italva e São Fidélis, distribuídas nas cinco licenciaturas da Uenf: Biologia (25 vagas), Pedagogia (15), Física (16), Matemática (19) e Química (23). Para o próximo ano, está prevista a criação de dois novos cursos de licenciatura na Uenf: Filosofia e Sociologia. Cada um deles destinará 20 vagas para os professores da educação básica no primeiro semestre de 2010. — Este quantitativo é específico para esta modalidade de ingresso. Ou seja, não haverá necessariamente alteração no número de vagas atualmente oferecidas nas licenciaturas através do Vestibular Específico da Uenf, a não ser que a Uenf tenha condições para tal — afirma a próreitora de Graduação da Uenf, professora Lílian Bahia, acrescentando que a Uenf vai priorizar os professores quer já possuem licenciatura, mas atuam em áreas diferentes. Neste caso, eles estarão fazendo a sua segunda licenciatura, cuja carga horária será de 800 a 1.200 horas, segundo orientação do Conselho Nacional de Educação (CNE). O Plano oferece ainda a graduação em cursos de primeira licenciatura, cuja carga horária é, em média, de 2.800 horas, mais 400 horas de estágio para os professores sem qualquer graduação. Há ainda a modalidade Formação Pedagógica, para professores que não fizeram licenciatura, mas

possuem algum curso de bacharelado na área de docência em que atuam. No entanto, segundo o CNE, esta última modalidade apenas poderá ser ofertada para as instituições que já a possuem devidamente regulamentada. Segundo o Ministério da Educação (MEC), existem atualmente cerca de 1,8 milhão de professores, em todo o país, atuando na educação básica. Pelo menos 1/3 deles, ou aproximadamente 600 mil professores, não possuem graduação ou atuam em áreas diferentes das licenciaturas em que se formaram. A meta do Plano, lançado em maio deste ano, é colocar na Universidade, entre 2009 e 2011, 331,4 mil professores, o que

corresponde a 50% da demanda levantada pelo Educacenso (censo escolar feito pelo MEC). As primeiras 54 mil vagas serão ocupadas no segundo semestre deste ano. A execução do Plano está a cargo da Capes (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior), que mudou seu estatuto para atender às suas necessidades de adequação. Como incentivo para a adesão das universidades, a Capes implantou uma categoria de bolsa que poderá ser concedida aos professores que venham a atuar como docentes nesse processo. As bolsas variam de R$ 900 (para uma disciplina) a R$ 1.200 (duas disciplinas).

Plataforma Freire reúne currículos Os professores da educação básica devem fazer a pré-inscrição na Plataforma Freire, lançada recentemente pelo MEC, que vai reunir os currículos dos professores da educação básica. A partir destes dados, as Secretarias Estaduais de Educação organização e apresentarão às universidades um planejamento estratégico que listará os professores e as áreas nas quais deverão ser formados. Por sua vez, as universidades estabelecerão os critérios de prioridade na seleção destes professores. Ao homologar o convênio que trata deste projeto com a Capes, o Conselho Universitário da Uenf indicou a implantação de uma comisProfessora são, no âmbito da Câmara de Graduação, para Lílian Bahia, tratar da implantação dos cursos que a Uenf pró-reitora de Graduação da deverá ofertar. Ela deverá atuar em conjunto Uenf com os membros dos colegiados dos cursos de licenciatura e será a responsável pelo planejamento, acompanhamento e execução do Plano Nacional de Formação de Professores da Educação Básica na Universidade. —Todos os professores da Uenf, mesmo os dos cursos do bacharelado, poderão, em tese, participar como docentes nesse processo, desde que tenham formação para ministrar as disciplinas dos cursos de licenciatura para os professores da rede pública — explica a próreitora de Graduação da Uenf, Lílian Bahia.


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