Guia - Sesc na Jornada do Patrimônio 2018

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Guia de lugares e camadas histรณricas de Sรฃo Paulo



Guia de lugares e camadas histรณricas de Sรฃo Paulo



Sumário

Memórias em uso 4 Patrimônio presente 5 Uma cidade feita de camadas 6

São Paulo Indígena 8 São Paulo Colonial 18 São Paulo das Fábricas, da Vilas Operárias e Ferrovias 32 São Paulo e seus Migrantes e Imigrantes 50 São Paulo da Diversidade Sexual 68 São Paulo da Diversidade Religiosa 78

Lugares para pesquisar 93


Memórias em uso Numa cidade como São Paulo, onde vivem as memórias? A pergunta parece ter duas faces: a redundância — afinal, os espaços revelam (ao menos em parte) as memórias que lhe são próprias — e um duro realismo, já que é notória a capacidade da capital paulista de apagar os vestígios de outros tempos. Buscar tais vestígios — sejam eles materiais ou imateriais — pelas ruas e pelos bairros paulistanos é, portanto, uma forma de resistência. Como tal, constitui uma prática que demanda envolvimento e mobiliza desejos, pois se relaciona com as próprias histórias de vida dos indivíduos e coletividades. Na medida em que muitas memórias coletivas da metrópole — não raro, aquelas ligadas aos extratos mais vulneráveis — estão escondidas sob camadas de esquecimento, é fundamental que organismos públicos e privados, assim como setores da sociedade civil, colaborem para minimizar essa invisibilidade. É segundo essa perspectiva que o Sesc tem participado, desde 2015, da Jornada do Patrimônio, iniciativa do Departamento do Patrimônio Histórico da cidade de São Paulo.

Trata-se de uma aproximação condizente com a política institucional de valorização da memória, que se efetiva por meio da ação do Sesc Memórias, assim como da manutenção de outros tipos de acervos e do cuidado com seus bens edificados. Nesse ano, o tema da Jornada é “Uma cidade, muitas mãos”, convidando as pessoas a descobrirem as tramas identitárias que compuseram, ao longo do tempo, o mosaico chamado São Paulo. O presente material reúne textos que abordam lugares plenos de lembranças, sugerindo leituras, aproximações, roteiros. Esta iniciativa expressa o empenho do Sesc em estimular práticas conscientes de turismo, salientando seu potencial educativo e seu comprometimento com as complexas realidades locais. Quando isso ocorre, a atividade turística torna-se uma maneira de democratizar os debates em torno da ideia de patrimônio e, consequentemente, alimentar as conexões entre as manifestações desse patrimônio e a sociedade. DANILO SANTOS DE MIRANDA DIRETOR DO SESC SÃO PAULO


Patrimônio presente A cidade de São Paulo tem em torno de três mil bens reconhecidos como patrimônio cultural. De edifícios monumentais a pequenas casas, passando por praças, pontes, coleções de arte e manifestações imateriais, a lista é tão diversificada quanto os diferentes grupos sociais que construíram — e constroem — nossa cidade. Como então pensar sua preservação? Entre instrumentos legais, mecanismos de incentivo e apoio técnico, há um elemento que permanece como essencial ao sucesso da preservação de nosso patrimônio: a participação da sociedade. Seja através dos proprietários dos bens tombados, seja por meio das pessoas que passam diariamente em frente a um deles, a contribuição da sociedade nesse processo é essencial. Porém, para cuidar é preciso conhecer. Por isso, divulgar os bens reconhecidos como patrimônio cultural da cidade é tão importante para a sua preservação. Dessa forma, a Jornada do Patrimônio, realizada pela Secretaria Municipal de

Cultura através de seu Departamento do Patrimônio Histórico, busca envolver a população, apresentando o patrimônio da cidade, desde aquele monumental até o que faz parte da rotina de cada um. Em sua quarta edição, a Jornada desse ano vai jogar luz sobre os diversos grupos que construíram o patrimônio cultural da cidade de São Paulo e, assim, formaram a identidade paulistana. Mais do que uma ação de divulgação, a Jornada do Patrimônio também é um momento de congregação. Através da participação de proprietários, pesquisadores, associações locais, instituições — como o Sesc —, se estabelece um diálogo entre a população e seu patrimônio. Permitindo a construção, juntos, de uma cidade que tenha cada vez mais seu patrimônio presente e ativo em seu cotidiano. MARIANA DE SOUZA ROLIM DIRETORA DO DEPARTAMENTO DO PATRIMÔNIO HISTÓRICO, SECRETARIA MUNICIPAL DE CULTURA

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Uma cidade feita de camadas Este título expressa a visão que norteou a feitura do guia que você tem em mãos. Algumas das camadas são visíveis, podem até ser tocadas. Outras, parecem descascadas, como se ainda revelassem um pouco do que subjaz — algo que não se revela por completo. Ainda há as camadas invisíveis, as que são possíveis apenas de perceber quando se pergunta a um morador antigo ou a um pesquisador: mas o que tinha aqui? Ao longo de seis capítulos, este guia busca apresentar bens representativos das dinâmicas e identidades presentes na história da cidade de São Paulo. Tentamos dar espaço a lugares pouco conhecidos ou mesmo desconhecidos da maior parte das pessoas. Por meio de uma linguagem acessível, procuramos dar informações para quem deseja visitá-los e criar seus próprios caminhos. A intenção é a de mobilizar narrativas que possam contribuir para a identificação e o reconhecimento desses bens da cidade por aqueles que a habitam ou a visitam, assim como pelos órgãos e entidades que promovem o turismo. São lugares para se conhecer e reconhecer a cidade de São Paulo. Pretendemos, aqui, um olhar para o patrimônio além do reconhecimento oficial e além de sua materialidade, considerando elementos imateriais e naturais que fazem parte do ambiente urbano a partir de um


dinâmica, e recebendo novos grupos a cada dia, ela acaba por se tornar espelho de seus habitantes — e só tem a ganhar com a ocupação e a vivência dos seus espaços. Conhecê-los e entendê-los como patrimônio, interagindo com eles, é permitir que se criem narrativas e novos olhares. Por essa razão, este guia não se esgota em suas páginas. A atenção para outros lugares de memória e patrimônio que não estão aqui contemplados pode e deve ser exercitada, levando em conta que diversas mãos escreveram, escrevem e escreverão as narrativas da cidade de São Paulo, em um movimento paradoxal, que usa a memória como um poderoso instrumento de confirmação e consolidação de identidades.

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ponto de vista contra-hegemônico, que utiliza uma noção ampliada do patrimônio cultural. Esse olhar considera a presença de sítios arqueológicos, os vestígios de aldeamentos e aldeias indígenas, a presença do elemento colonizador no território, o período da escravidão das populações indígenas e africanas, o período pós-escravidão, a presença do negro na construção da cidade, a industrialização e a importação da mão de obra, os imigrantes dos séculos 19, 20 e 21, a diversidade cultural atual e a cultura LGBT. Os lugares são apresentados de acordo com as dinâmicas às quais eles remetem, por meio de um olhar atualizado. Em cada texto introdutório há uma frase reveladora sobre cada camada, incluindo uma breve explicação sobre o período a que se referem, levando em conta sua representatividade e a espacialidade, buscando fortalecer a ideia de patrimônio vinculada ao que significa para cada grupo identitário. Para a identificação e fundamentação dos locais levantados foram consultados grupos culturais, pesquisadores dedicados à temática, arquivos, bases de dados, documentos e publicações oficiais. Fala-se tanto em memória justamente porque ela está ameaçada, especialmente em uma cidade como São Paulo, marcada por rápidas transformações. Sendo tão


SAO PAULO INDÍGENA


Antes de ter este nome, São Paulo nasceu indígena: Piratininga. Quando os primeiros colonizadores escolheram onde se instalar — servindo-se dos rios e do clima e usurpando a mão de obra dos povos nativos — foram traçando caminhos sem volta, que determinaram o futuro da cidade a partir do século 16. O planalto que abrigou casas, vilas, edifícios tinha ambientes e formações vegetais tão diversos quanto as almas que aqui estavam. Entrar em contato com estes lugares é respeitar os primeiros habitantes destas terras



Nde 'ara t'i porang! “Que seu dia seja bonito”, em tupi antigo, língua extinta falada por quase todo o litoral do Brasil (Pindorama, para as populações indígenas) no século 16.



Capela de São Miguel

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PRAÇA PADRE ALEIXO MONTEIRO MAFRA, SÃO MIGUEL

SÃO PAULO INDÍGENA

Uma colina próxima ao rio Tietê, na desembocadura do ribeirão Baquirivu, foi o local escolhido em 1580 pela Companhia de Jesus para a construção da Capela de São Miguel, arcanjo da devoção do Padre José de Anchieta, um dos jesuítas que participou da fundação do Real Colégio de São Paulo de Piratininga, embrião da vila e cidade de São Paulo, em 25 de janeiro de 1554. Essa capela coroou o processo de catequese dos nativos do grupo Guaianá no aldeamento de São Miguel de Ururay, que se considera hoje o início da Zona Leste. A escolha dessa colina foi estratégica para marcar a presença dos Jesuítas nesse novo aldeamento e constituir um ponto de defesa entre a Vila de São Paulo de Piratininga, a pouco mais de 20 quilômetros dali, e o sertão do Rio Paraíba, de onde vinham índios considerados hostis. Dali também se via vasta porção da várzea do Rio Tietê, posição privilegiada para proteger as terras de invasões de colonos, que criavam objeções à tarefa dos padres e ameaçavam as lavouras dos índios. No início da colonização, os Guaianá ocupavam os arredores do que hoje conhecemos como Pátio do Colégio, e foram trasladados após entrar em conflito com índios de outros grupos que chegavam à vila. Naquela época, havia em São Paulo cerca de 1.000 habitantes Guaianá, que se dividiram entre o aldeamento de Pinheiros e o de Ururay. Além de serem catequizados,

os nativos desse e outros grupos também eram escravizados e obrigados a buscar ouro e pedras preciosas. Entre o fim do século 16 e a metade do século 17, os aldeamentos foram desapropriados e transformados em sesmarias. Com o passar do tempo, todos esses territórios foram divididos e loteados. No século 20, a linha férrea e as indústrias acabam por mudar completamente as feições da região. Grandes glebas viraram bairros operários. Os elementos construtivos mais antigos da capela remetem ao ano de 1622, quando ela passou por uma reforma completa. São desse período as paredes em taipa de pilão e a forma alpendrada (um tipo de varanda), única que restou em São Paulo do período da colonização. Durante os sucessivos restauros, muitas seções foram removidas e renovadas. Em 2007, foram descobertas pinturas murais do período colonial: desenhos em preto e vermelho que exibiam detalhes de estrela, sol e lua, um registro único da arte dessa época, mesclando elementos indígenas e europeus. Na bancada de comunhão do altar ainda hoje é possível encontrar duas cariátides (figuras esculpidas que servem de sustentação) que simbolizam anjos com feições indígenas. A Capela de São Miguel foi um dos primeiros bens tombados no país, pelo Iphan (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional), em 1938. Atualmente abriga um museu aberto à visitação e cumpre as funções religiosas.


Guarani Mbyá do Jaraguá

casas é feita de chapas de madeira e o chão, em barro batido. Embora as terras dos Guarani Mbyá do Pico Algumas iniciativas importantes para do Jaraguá não sejam reconhecidas oficialmente nem tenham sido transformadas ainda garantir os direitos básicos da Tekoa Itu estão presentes, como um posto de saúde, em reserva indígena, os 700 habitantes das o Centro de Educação e Cultura Indígena aldeias Tekoa Pyaú e Tekoa Itu lutam para — onde as crianças recebem alimentação manter seus costumes e o seu idioma. diária e têm aulas de guarani e língua A Tekoa Itu foi formada a partir da família portuguesa —, um galpão para eventos e de Joaquim Augusto Martins e sua esposa uma casa de reza, a Opy. Jandira Augusta Venício, nos anos 1960. Ela fica de um lado da Estrada Turística do Uma fonte de renda é o artesanato produziJaraguá; a Aldeia Pyaú, formada mais do por crianças, que vendem as peças em recentemente, de outro. festas ou pela região. Ambas enfrentam diversos desafios, RUA COMENDADOR JOSÉ DE MATOS, 368, dentre eles a falta de espaço para o plantio VILA CLARICE e a superpopulação de cães abandonados — o local chega a ter 400. A maioria das


Pankararu do Real Parque

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RUA PAULO BOURROUL, 120, REAL PARQUE

SÃO PAULO INDÍGENA

A partir dos anos 1950, assim como ocorreu com milhares de nordestinos, os Pankararu foram atraídos para São Paulo buscando melhores condições de vida. Originários de Pernambuco, eles migraram também para o Tocantins e para o sul de Minas Gerais, vivendo sempre de forma comunitária. Em São Paulo, parte dos Pankararu trabalhou na construção do estádio do Morumbi e encontrou abrigo nas imediações, às margens do rio Pinheiros, atraindo a vinda de seus parentes e formando uma migração constante, normalmente intercalada entre períodos de trabalho em São Paulo e retornos à aldeia em Pernambuco. Quando alguns conjuntos habitacionais foram construídos na região, no ano 2000, duas unidades foram destinadas exclusivamente para 25 famílias dessa etnia. Em 2006 foi inaugurada uma unidade do Programa de Saúde da Família voltada à população indígena local. Hoje a comunidade reivindica um Centro Cultural e uma sede para a Associação Indígena SOS Comunidade Pankararu. O principal emblema da cultura Pankararu, cujo idioma nativo é o Iatê, consiste no Toré e nos Encantados. O Toré é um ritual com danças, cantos e vestimentas que representam os Encantados, figuras centrais da cosmogonia Pankararu. Eles seriam os índios vivos que se “encantaram”, simbolizados individualmente pela Praiá, um conjunto de saia e máscara de fibras vegetais.



Guarani de Parelheiros

[ALDEIA OU ALDEAMENTO?]

ESTRADA JOÃO LANG, 153, BARRAGEM

SÃO PAULO INDÍGENA 16 | 17

Embora os termos sejam muitas vezes utilizados indiscriminadamente, eles não são sinônimos. Aldeia se diz para as habitações indígenas construídas com seus próprios recursos e técnicas e de acordo com sua cultura, sem a interferência de elementos da cultura do colonizador. Aldeamentos são construções resultantes da influência dos colonizadores sobre os nativos, que conservavam, em certas partes, elementos característicos das aglomerações indígenas.

A Terra Indígena Tenondé Porã abriga hoje seis aldeias Guarani Mbya. Quatro delas estão no extremo sul da capital paulista, nos distritos de Parelheiros e Marsilac. Outras duas, no município de São Bernardo, abrangendo também partes dos municípios Mongaguá e São Vicente. O território abrange também trechos de duas unidades de conservação; a Área de Proteção Ambiental Capivari-Monos e o Parque Estadual da Serra do Mar. Em 2016, os 15.969 hectares de terra foram reconhecidos como ocupação tradicional dos Guarani. As aldeias mais populosas são a Tenonde Porã — também conhecida por “aldeia da Barragem” — e a Krukutu. As demais são as Tekoa Guyrapaju, Kalipety, Yrexakã, Kuaray Rexakã e Tape Mirĩ. Tanto a Krukutu como a Tenonde Porã tiveram suas pequenas áreas regularizadas em 1987, após décadas de luta. Até 2013, essas foram as duas únicas opções para viver no Território Indígena, quando o território começou a ser reocupado. À frente da batalha para o reconhecimento político das terras do seu povo, está a xondaria (palavra guarani para guerreira/liderança) Jera Poty, que também atua na manutenção do Nhandereko, o modo de ser guarani. Não é comum a liderança feminina nos Guarani; tem ganhado destaque nos últimos anos. Na aldeia Tenondé Porã há equipamentos públicos cujas instalações podem ser consideradas conquistas dos povos indígenas, diversas estruturas que representam grandes conquistas, como um Posto de Saúde, o Centro de Educação e Cultura Indígena (Ceci) e uma Escola Estadual Indígena.


SAO PAULO COLONIAL


Do encontro entre os povos indígenas e os povos europeus, marcado por violência e opressão, surge o embrião da cidade. São aldeamentos, igrejas, remanescentes das casas coloniais, sítios, chácaras e sítios arqueológicos que revelam as marcas dos colonizadores e as diversas camadas históricas de São Paulo


A noite veiu… então nasceram os gigantes, heróes das tres côres Trecho de Martim Cererê, do escritor modernista Cassiano Ricardo (1895-1974). O livro narra, em forma de poemas, as origens do povo brasileiro. O verso está transcrito segundo a grafia original, de 1928




Casa do Bandeirante (Casa Velha do Butantã)

[TAIPA DE PILÃO]

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PRAÇA MONTEIRO LOBATO, BUTANTÃ

SÃO PAULO COLONIAL

A taipa de pilão caracterizou a maioria das construções paulistas dos séculos 16 ao 19. É uma técnica construtiva de origem árabe utilizada em paredes e muros e que consiste na compactação de terra úmida entre dois pranchões de madeira removíveis que se mantêm de pé e afastados entre si graças a travessas ou escoras.

A casa singela de paredes brancas e cobertura de telhas, envolta apenas por árvores e vegetação, parece deslocada do seu tempo, a poucos metros da pista local da marginal do Rio Pinheiros, onde carros passam em alta velocidade a qualquer hora do dia. Pois essa casa é um dos exemplos vivos que a cidade possui de seu passado colonial, quando o rio ainda a envolvia, numa curva no lado oposto da entrada atual, muito antes de ser retificado. Ela foi construída entre os séculos 17 e 18 em taipa de pilão, técnica típica da arquitetura colonial, em um terreno que pertenceu ao bandeirante português Afonso Sardinha, também conhecido como “Capitão da Gente de São Paulo”. Originalmente, essas terras eram conhecidas como Uvatantan, ou “terra duríssima” em tupi-guarani. Alguma semelhança com Butantã? Não se conhece bandeirista que tenha vivido nela efetivamente, mas fato é que a “Casa Velha do Butantã” recebeu o nome de “Casa do Bandeirante” durante as comemorações dos 400 anos da cidade de São Paulo, em 1954. Foi quando a Companhia City, responsável pelo loteamento do bairro, doou a propriedade para a prefeitura. Toda a reforma, conduzida pelo arquiteto paulista Luiz Saia (1911-1975) preservou suas características originais: o tipo de varanda, o telhado em quatro águas, as paredes feitas em taipa de pilão. Em 1955, inaugurou-se um museu que veiculava uma idealização da época das bandeiras. Tanto a casa quanto o entorno, hoje Praça Monteiro Lobato, são tombados pelo Condephaat (Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Arqueológico, Artístico e Turístico do Estado de São Paulo) desde 1982, e pelo Conpresp (Conselho Municipal de Preservação do Patrimônio Histórico, Cultural e Ambiental da Cidade de São Paulo), desde 1991.


Casa do Sertanista (Casa do Caxingui)

Pouco mais de 3 quilômetros separam a Casa do Bandeirante da Casa do Sertanista. O bairro se torna mais arborizado quanto mais nos dirigimos para o sul, com exemplares remanescentes de Mata Atlântica ao largo do córrego Caxingui. Como se ainda estivéssemos no século 17 (ou mesmo antes), vemos pau-brasil, sibipiruna, guapuruvu, tapiá-guaçu e outras árvores, testemunhas de centenas de anos atrás. É para lá que voltamos observando a casa de paredes amplas e cobertura de telhas, exemplar típico da arquitetura colonial paulista que caracteriza a residência rural do período das bandeiras. Supõe-se que a construção larga e com poucas janelas servisse para proteger contra ataques indígenas. Por muito tempo a construção foi conhecida como “Casa do Caxingui”. Mas quando a Companhia City adquire e repassa o imóvel à

prefeitura — mesmo movimento pelo qual passou a “Casa Velha do Butantã” —, a edificação é restaurada na década de 1960 e ganha uma atribuição específica, que persiste até hoje: sediar uma exposição de objetos ligados à cultura indígena. Daí também o seu novo nome, pelo qual a propriedade passa a ser conhecida dali em diante. Em 1989, a Casa do Sertanista abrigou o Núcleo de Cultura Indígena da União das Nações Indígenas. Logo, instalou-se ali a Embaixada dos Povos da Floresta, que funcionou até 1993, quando o imóvel passou por novas obras de conservação e restauro, sendo ocupada pelo Museu do Folclore Rossini Tavares de Lima de 2000 até 2007. Atualmente o espaço é dedicado a exposições temporárias, e seu acervo anterior compõe o Pavilhão das Culturas Brasileiras no Parque Ibirapuera. PRAÇA ÊNIO BARBATO, CAXINGUI


Casa do Sítio da Ressaca

[PAU-A-PIQUE]

RUA NADRA FAFFOUL MOKODSI, 3, JABAQUARA

SÃO PAULO COLONIAL

Técnica construtiva tradicional da arquitetura brasileira, o pau-a-pique é utilizado ainda hoje. Também conhecido como taipa de mão, é empregado em divisórias internas. É feito com estrutura de madeira roliça, disposta vertical e horizontalmente, fixada com cipós ou cravos e depois preenchida com barro socado.

A casa-sede do Sítio da Ressaca é uma marca do período colonial que se manteve no Jabaquara, assumindo funções renovadas. Se no passado serviu como residência rural, hoje sedia exposições voltadas à memória da presença afro-brasileira na cidade. Três elementos representam heranças do século 18: as paredes em taipa de pilão, o ano de 1719 registrado na porta principal e o tipo de madeira usado tanto nas portas quanto nos batentes — canela-preta, uma das árvores mais resistentes da Mata Atlântica e que se encontra ameaçada de extinção. O sítio, que recebeu o nome de um córrego das proximidades do caminho de Santo Amaro, foi transformado em chácara nos anos 1960, quando todo o bairro foi loteado. Quem se encarregou do restauro da casa, gerenciado pela antiga Emurb (Empresa Municipal de Urbanização), foi o arquiteto Antonio Luiz Dias de Andrade (Janjão), em 1978. No mesmo conjunto, a poucos metros de distância, encontra-se um moderno prédio de concreto armado e vidro, que abriga o Centro de Culturas Negras do Jabaquara Mãe Sylvia de Oxalá e uma biblioteca especializada na cultura afro-brasileira.

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Casa do Tatuapé

Quem caminha pelas imediações do Tatuapé talvez não imagine que o local abrigue uma construção de taipa de pilão do século 17 no meio de tantas construções recentes. A Casa do Tatuapé destacava-se na paisagem e ficava nas proximidades do Tietê e do córrego do Tatuapé — o primeiro, retificado e o segundo, canalizado. A casa é uma construção em taipa de pilão, com seis cômodos, dois sótãos e um telhado de duas águas. Em inventário datado de 1698, consta o registro da construção do imóvel em um terreno que pertencera ao padre Matheus Nunes de Siqueira, que nomeou Mathias Rodrigues da Silva como administrador de seus bens, a quem restou o crédito de ter sido o construtor da casa. Em meados do século 19, o sítio passou a abrigar uma olaria,

dedicada à fabricação de telhas; com a imigração italiana, a olaria passou a fabricar também tijolos. Em 1945, após a morte de seu proprietário, Elias Quartim de Albuquerque, o imóvel foi comprado pela Tecelagem Textilia. Três décadas mais tarde, a Casa do Tatuapé foi adquirida pela Prefeitura do Município de São Paulo. Entre 1979 e 1980, o Departamento do Patrimônio Histórico (DPH), em conjunto com o Museu Paulista da USP, realizou no local uma série de pesquisas arqueológicas e o imóvel passou por obras de restauro. Em 1981, a Casa do Tatuapé foi aberta à visitação pública. RUA GUABIJÚ, 49, TATUAPÉ


Sítio Mirim

As ruínas de taipa às margens do rio Tietê e da linha férrea, na movimentada Avenida Doutor Assis Ribeiro, mal permitem lembrar que ali existia uma casa importante, localizada em um ponto de onde se dominava extensa várzea do rio. São os vestígios da casa-sede do Sítio Mirim — também conhecido como Sítio Comboratybi ou Corumbataí. Construído a partir do trabalho de indígenas no século 17, em taipa de pilão, o Sítio Mirim foi um antigo ponto de paragem, venda e hospedaria que servia aos tropeiros rumo ao Vale do Paraíba, aos exploradores de ouro e àqueles que navegavam o Tietê. As informações mais antigas sobre a construção remontam a 1750, quando nele residiu o guarda-mor Francisco de Godoy Preto. As atividades do Sítio incluíam criação de gado, produção de aguardente e culturas de subsistência. Em 1964, foram feitas as primeiras intervenções de proteção e restauração da casa, que mesmo assim passou anos de abandono, embora tenha sido tombada pelo Iphan. Em 1975, em decisão pouco comum, o imóvel foi desapropriado pela prefeitura. Trabalhos arqueológicos vêm sendo realizados desde os anos 1980. Ainda assim, as ruínas, sem proteção adequada, estão ameaçadas de desaparecerem — e com elas, suas memórias. AVENIDA DOUTOR ASSIS RIBEIRO, 10573, JARDIM MATARAZZO

SÃO PAULO COLONIAL 26 | 27


Fazenda da Biacica

Situada no extremo leste de São Paulo, margeando as curvas do Rio Tietê, a Biacica ainda guarda vestígios da ocupação portuguesa do início do século 17. Naquela época, o Tietê se chamava Anhembi, e o riacho Lajeado se chamava Imbiacica — de onde muito provavelmente veio o nome da fazenda. O primeiro registro histórico da Fazenda da Biacica cabe ao bandeirante Domingos de Góes, que em 1611 teria recebido as terras como sesmarias — os lotes que a coroa portuguesa cedia aos novos povoadores. Não se tem notícias do uso dessas terras por Góes, mas sabe-se que, dez anos depois, elas foram repassadas aos padres da ordem de Nossa Senhora do Carmo. Os carmelitas tornaram essas terras produtivas e desenvolveram lavouras cultivadas por índios. Construíram também uma capela de taipa, onde guardavam a imagem de Nossa Senhora da Estrela, que ganhou a denominação “de Biacica”. A palavra biacica vem do tupi imbeicica, ou “cipó resistente”, tais como os que se encontravam naqueles rios. Nas primeiras décadas do século 19 a fazenda deixou de ser produtiva e entrou em decadência. Nos anos 1930, a propriedade foi adquirida pelo advogado paulista Levén Vampré, que fez construir uma residência em estilo neocolonial incorpo-

rando a antiga capela como um ambiente de destaque. Entre 1944 e 1978, a chácara pertenceu à família Fontoura, que manteve o uso como moradia. Em 1994, ameaçada por loteamentos, crescimento urbano e ocupações do entorno, a Biacica foi tombada, o que não evitou depredações e furtos de elementos da casa-sede, incluindo remanescentes da


azulejos, produzidos pelo Liceu de Artes e Ofícios quando a casa neocolonial foi construída, que recriam momentos da chegada dos portugueses e da catequização dos índios, e o caminho repleto de jerivás, por onde passeiam tucanos, quatis e aves, parecem alheios ao ritmo da cidade.

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ESTRADA DA BIACICA, 756, JARDIM HELENA

SÃO PAULO COLONIAL

capela situada em seu interior. Hoje, todo o entorno vem sendo preparado para a construção do Parque Linear Várzeas do Tietê, projeto em andamento assinado pelo arquiteto Ruy Ohtake, e o conjunto tombado será restaurado. Da Biacica original, pouco restou, além das velhas paredes de taipa de pilão e a porta principal com a data de “1682”. Os painéis de


Centro de Arqueologia de São Paulo (Sítio Morrinhos)

Uma visita ao Centro de Arqueologia de São Paulo é mais que a chance de ver uma coleção preciosa de artefatos e documentos de séculos passados que passaram muito tempo soterrados. Descobrir o que existia sob essas camadas ganha um toque especial: o museu fica no Sítio Morrinhos, um conjunto arquitetônico sem igual situado em uma colina bucólica na zona norte da cidade. Na casa-sede, o registro do tempo: na porta principal ainda permanece a inscrição do ano em que foi erguida, 1702. Dessa época se reconhece a taipa de pilão e as características da arquitetura bandeirista. No mesmo terreno, no entanto, outras construções foram sendo feitas e anexadas desde a segunda metade do século 19 até o início do século 20. Algumas eram usadas

como senzala, abrigo para animais e oficinas. Exatos 200 anos após sua construção, o Sítio Morrinhos foi levado a leilão e arrematado pelo Mosteiro de São Bento, representado na ocasião pela Associação Pedagógica Paulista. Os beneditinos usavam a chácara nos finais de semana; dessa época resta a camarinha, pequeno quarto usado pelos monges para descanso. Em 1952, o mosteiro fez um acordo com a Camargo Correa S.A. para a realização do loteamento da região que deu origem ao bairro atual, o Jardim São Bento. A partir desse acordo, Sebastião Ferraz de Camargo passou a ser o proprietário do lote e, em 1952, doou o imóvel para a prefeitura. Seu restauro iniciou-se na década de 1980 e completou-se no ano 2000. RUA SANTO ANSELMO, 102, CASA VERDE


Outeiro da Penha

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Ao longo dos séculos a igreja Nossa Senhora da Penha passou por diversas reformas. Em 1982, uma das paredes, que já sofria com problemas de infiltração, veio abaixo em uma tempestade. A igreja seria demolida, mas os moradores conseguiram impedir que isso acontecesse. Em 2004, o Conpresp iniciou o processo de tombamento da Basílica e de outras construções do centro histórico da Penha. Outra importante herança desses tempos coloniais é a Igreja de Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos da Penha de França, conhecida também como “Igreja dos Escravos”, ou apenas “Igreja do Rosário”. Ela foi construída em taipa de pilão em 1802, com fundos arrecadados por meio de esmolas. No final do século 19 ganhou a torre e o frontão e, em 1920, um anexo. Em 1982, foi tombada pelo Condephaat. Desde 2001 ocorre no local a Festa do Rosário, reavivando antigas tradições da comunidade.

SÃO PAULO COLONIAL

No topo de uma colina em torno da qual se formou o bairro da Penha encontra-se uma igreja que guarda camadas de história. Em 1682, ano de sua construção, havia no local uma ermida de curral de gado que servia aos primeiros povoadores do distrito. O historiador Leonardo Arroyo (1918-1985) relembra que, naquela época, ali chegou para pernoitar um francês, católico, a caminho do Rio de Janeiro. Em sua bagagem, guardava uma imagem de Nossa Senhora talhada em madeira. Na noite seguinte, já distante, o viajante percebeu que algo faltava: a imagem, que ele vinha mantendo consigo ao longo do percurso desde sua terra natal. Voltou ao topo da colina, recuperou a santa no lugar onde havia dormido e prosseguiu. Entendeu aquilo como um aviso: ali deveria ser erguida uma capela em homenagem a Nossa Senhora. Assim foi feito.


SAO PAULO DAS FÁBRICAS DAS VILAS OPERÁRIAS E FERROVIAS


SÃO PAULO DAS FÁBRICAS, DAS VILAS OPERÁRIAS E FERROVIAS

Chega o século 19 e, com ele, as linhas férreas, as indústrias, as ondas migratórias. A cidade, que era da taipa e do pau-a-pique, é quase toda reconstruída. Desde então, São Paulo cresce e se modifica a uma velocidade tão grande que, de uma geração a outra, os jovens não conhecem mais a cidade onde viveram seu avós nem bisavós.

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“Os tamanduás os boitatás as inajás de curuatás de fumo, em vez eram caminhões bondes autobondes anúncios-luminosos relógios faróis rádios motocicletas telefones gorjetas postes chaminés… Eram máquinas e tudo na cidade era só máquina!” Macunaíma chega a São Paulo, uma selva urbana mecanizada, no capítulo 5 de Macunaíma — O Herói sem Caráter, do escritor paulistano Mário de Andrade (1893-1945)


http://www.saopauloantiga.com.br/ vilamariazelia/

SÃO PAULO DAS FÁBRICAS, DAS VILAS OPERÁRIAS E FERROVIAS

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Celosul (ex-Fábrica Matarazzo)

AVENIDA DOUTOR ASSIS RIBEIRO, ALTURA DO NÚMERO 8454

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O palimpsesto era um pergaminho cujos conteúdos escritos ou desenhados haviam sido raspados para que o suporte fosse reaproveitado por outro texto. Nessa raspagem, nem todos os caracteres precedentes desapareciam. Ao longo dos séculos, São Paulo — como nota o arquiteto Benedito Lima de Toledo no livro São Paulo: três cidades em um século — foi se assemelhando a um palimpsesto. De tempos em tempos, tem sua escrita raspada, para que uma nova aconteça, mas sinais daquelas antigas escritas resistem...

SÃO PAULO DAS FÁBRICAS, DAS VILAS OPERÁRIAS E FERROVIAS

[PALIMPSESTO]

Em 1941, o uso do celofane — aquela película fina e transparente feita a partir da celulose e que serve como envoltório para alimentos e objetos —, inventado quatro décadas antes, se expandia pelo mundo. Foi nesse ano que as Indústrias Reunidas Francisco Matarazzo (IRFM), o maior grupo industrial da América Latina do século 20, inauguraram uma fábrica de celofane em um terreno de 8 mil m², a Celosul, uma das primeiras indústrias da Zona Leste de São Paulo. Integrada ao ramal ferroviário, a Celosul viria a marcar não apenas a paisagem, com suas chaminés recortando o horizonte, mas a própria formação da cidade. As IRFM, que chegaram a ter 30 mil funcionários no Brasil, empregaram ali operários da região de São Miguel Paulista e de outros bairros, além de imigrantes italianos, alemães e ingleses. Gradativamente, todo o entorno foi modificado, por conta de serviços variados e de infraestrutura. Isso favoreceu a formação de vilas e loteamentos, impulsionando o que se tornou o distrito de Ermelino Matarazzo. A Vila Operária Matarazzo, ainda de pé na Avenida Roberto Augusto Collin, com 41 casas térreas, em um conjunto tombado pelo Conpresp em 2004. Testemunho de técnicas construtivas tradicionais e dos primeiros processos produtivos da industrialização paulista, a Celosul viveu seu ápice no início da década de 1970. Alguns anos depois, com a crise no grupo Matarazzo, passou a ser administrada por uma cooperativa, a Coopercel, formada por seus antigos funcionários. Fechou as portas em 2014.


Casa das Caldeiras

As três chaminés esguias que ainda cortam o céu da Água Branca fazem parte de uma construção feita na década de 1920 para abrigar as caldeiras vindas da Europa que produziam energia para o parque industrial do grupo Matarazzo. Essas unidades fabris, que produziam itens como sabonetes, álcool e óleo vegetal, ficavam nas proximidades da linha férrea, integradas ao ramal ferroviário, o que

privilegiava o recebimento de matéria-prima e o escoamento da produção. Desse complexo industrial, a Casa das Caldeiras é uma das poucas construções que sobraram. Construído em alvenaria de tijolos, o prédio foi tombado em 1986, pelo Condephaat e posteriormente pelo Conpresp, e restaurado antes da virada do século para se tornar um espaço de eventos e celebrações. Hoje abriga um centro cultural. AV. FRANCISCO MATARAZZO, 2000, ÁGUA BRANCA


LARGO SENADOR RAUL CARDOSO, 207, VILA MARIANA

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O antigo Matadouro de Humaitá, no Largo da Pólvora, havia se tornado pequeno e incômodo para atender à população paulistana no final do século 19 — que praticamente duplicara. Os resíduos e rejeitos eram despejados no ribeirão Itororó, onde se localiza hoje a Avenida 23 de Maio, que chegava a ficar vermelho por conta do sangue e dos pedaços de animais. Isso sem falar no mau cheiro. A solução foi construir outro abatedouro, afastado do centro. Em 1884, a Câmara Municipal lançou um concurso para selecionar o projeto de um matadouro mais moderno, vencido pelo engenheiro alemão Alberto Kuhlmann. Ao longo de três anos, ele coordenou as obras do novo edifício, no antigo Rincão dos

Sapateiros. Feito em tijolo aparente, o prédio contava com um tendal para abrigo de animais e três galpões paralelos destinados para o abate e esquartejamento das carcaças. Tinha também uma linha férrea para auxiliar no transporte dos animais — essa estação recebeu o nome de Mariana, esposa de Kuhlmann. O matadouro foi desativado após 40 anos de atividade e tombado pelo Condephaat em 1985. Em 1988, foi cedido pelo prefeito Jânio Quadros à Cinemateca Brasileira, quando os galpões foram adaptados para funcionar como salas de cinema. A instituição atua até hoje na preservação e difusão do acervo audiovisual brasileiro e, em 1991, sua sede foi tombada pelo Conpresp.

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Cinemateca Brasileira (Antigo Matadouro Municipal da Vila Mariana)



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Chaminé na USP Leste

Quem desce na estação USP-Leste da CPTM e enxerga uma antiga chaminé no horizonte ao longo da Avenida Dr. Assis Ribeiro, pode se indagar: A qual fábrica pertencia essa estrutura? Mas a resposta não é conhecida. Essa construção foi o único elemento que restou de uma fábrica que teria funcionado entre os anos 1920 e 1940, provavelmente de cerâmicas, dada a demanda por tijolos pelas fábricas do grupo Matarazzo ou outras pela cidade. Nada além da chaminé restou. Mesmo sem dados certeiros sobre sua história, ela é patrimônio da cidade — e faz a imaginação voar. Como se chamaria essa fábrica? O que produzia? Por quanto tempo

funcionou? Os arquivos públicos não guardam registros. Nas artes, ela aparece de forma nostálgica no documentário Folclore de Engenheiro Goulart, do cineasta Gercio Tanjoni (Mistifilmes), que nos anos 1980 ainda encontrou alguns vestígios das paredes da antiga fábrica, em estado adiantado de degradação. Em fotografias aéreas de 1950, feitas para a comemoração dos 400 anos da cidade de São Paulo, ela também aparece. Recentemente, a chaminé desconhecida foi abraçada pelo campus da USP Leste, erguido a partir de 2005. AVENIDA ASSIS RIBEIRO, ALTURA DO NÚMERO 8100, ERMELINO MATARAZZO


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um maquinário a vapor, que era ligado Companhia Antarctica Paulista diretamente ao rio Tamanduateí. A cerveja com o rótulo dos dois pinguins existe antes de você nascer e era feita em Vale lembrar que ali eram produzidos plena Mooca, quando o bairro ainda era um também a Soda Limonada Antarctica (desde subúrbio do Brás. Estamos falando de 1891, 1912) e o Guaraná Antarctica (desde 1920) — quando a Antarctica foi fundada, primeiro refrigerante que logo virou uma das maiores como fábrica de gelo e cerveja em um referências do imaginário de consumo dos antigo abatedouro de suínos na Água brasileiros. Branca, depois nessa planta histórica. Nos anos 1990, a unidade baixou as portas Quem primeiro se instalou ali foi a — e toda a produção se transferiu para Cervejaria Bavária, em 1892. Foi em 1920 que Jaguariúna, no interior de São Paulo, poucos o prédio passou a abrigar a chamada anos antes da fusão entre a Antarctica e a Companhia Antarctica Paulista, marcando o sua principal concorrente, a Brahma. início da produção cervejeira em larga escaA antiga fábrica está desativada desde la na cidade. 1995. O prédio foi tombado pelo Conpresp em 2016 e está bastante degradado. Existem O complexo, estrategicamente disposto à planos de transformá-la em um espaço margem da antiga estrada de ferro Santos/ Jundiaí, contava com o edifício principal (para cultural, ligado à história da cerveja, da a administração), seis edifícios e um conjunto ferrovia e da indústria. de construções menores. Possuía, também, AVENIDA PRESIDENTE WILSON, 274, MOOCA

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Estação da Luz

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PRAÇA DA LUZ, BOM RETIRO

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A primeira estação ferroviária da São Paulo Railway surge em 1867 no bairro da Luz, como parte da ferrovia que ligava o Porto de Santos a Jundiaí para escoar as mercadorias provenientes da atividade cafeeira. Em poucos anos, no entanto, as linhas e instalações deixaram de comportar o volume de cargas e passageiros. Um projeto de ampliação, conduzido por engenheiros ingleses ao longo de cinco anos, marcou a transformação da pequena cidade numa verdadeira metrópole. Assim, em 1901 foi inaugurada a nova estação, feita em alvenaria de tijolos combinada a estruturas metálicas, com duas grandes plataformas paralelas que se comunicavam através de três passadiços de ferro. Em 1946, o prédio foi parcialmente destruído por um incêndio, e sua reconstrução se estendeu até 1951. Ao ser reinaugurada, a estação contava com mais um pavimento em uma das alas do edifício principal. Ao longo dos anos, a Luz incorporou outras reformas e restaurações. A principal delas ocorreu em 2006, quando passou a abrigar também o Museu da Língua Portuguesa, que sofreu um incêndio devastador em 2015. Atualmente, o prédio sofre nova restauração. O acervo do museu, quase todo digital, poderá ser recuperado. O complexo arquitetônico da Estação da Luz foi tombado pelo Condephaat em 1982, pelo Conpresp em 1991 e pelo Iphan em 1996.


Estações do Brás

O bairro do Brás guarda três importantes edificações, remanescentes dos sistemas de transporte público utilizados a partir do final do século 19 e das primeiras décadas do século 20, quando os bondes eletrificados substituíram os bondes movidos a tração animal e as ferrovias ganhavam impulso com o aporte de capital inglês. Na antiga Rua do Norte (atual Domingos Paiva) funciona, desde 1867, a Estação Braz, uma das paradas da São Paulo Railway, primeira ferrovia construída em solo paulista e que interligava o litoral ao interior do estado. Transportava passageiros, além de café e mercadorias. Em 1897 um novo edifício para essa parada foi construído e é o remanescente preservado, com estrutura de tijolos aparentes em arcadas e cobertura metálica. Hoje encontra-se integrado ao conjunto de estações da CPTM e Metrô. Em 1875 inaugurou-se outra estação ferroviária no Brás, vizinha daquela da São Paulo Railway: era a chamada Estação do

Norte, posteriormente batizada de Estação Roosevelt, ponto inicial da antiga Estrada de Ferro Central do Brasil, que fazia a ligação com o Rio de Janeiro. À sua frente foi aberta a praça Agente Cícero e, em meados do século 20, o edifício passou por modificações adquirindo a feição art déco que ainda mantém. Compõe, também, o grande e movimentado complexo de estações do Brás. Na altura do número 158 da Avenida Celso Garcia funcionava a Estação de Bondes do Brás, o último remanescente dessa rede de transporte na cidade e de grande importância para seu processo de urbanização. Foi utilizada, posteriormente e durante muitos anos, como garagem de trólebus. Construída entre 1900 e 1906 pela empresa canadense The São Paulo Tramway, Light e Power Company Limited, a “Light”, a estação, inspirada na arquitetura inglesa, foi tombada pelo Condephaat em 2008, pelo Conpresp em 2014; atualmente encontra-se bastante degradada.


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Fábrica de Tecidos Labor

A importância da Mooca como epicentro da imigração sobretudo italiana no começo do século passado se mistura ao seu valor como um dos primeiros bairros industriais de São Paulo. Foi na Mooca que a cidade ganhou um de seus sotaques mais típicos, e foi da Mooca que se originou o impulso para grande parte do crescimento econômico da cidade. A Fábrica de Tecidos Labor é um exemplo dessas duas contribuições. Inaugurada em 1910 pela firma Assumpção, Toledo & Companhia em sociedade com o empresário Giovanni Crespi, ela empregou muitos italianos, habituados aos maquinários usados na fiação e tecelagem de lã e algodão, e marcou a paisagem fabril de uma cidade que iniciava seus passos na produção interna. A Labor fechou suas portas em 1987. Desde então, o prédio vem se desgastando, mas foi tombado pelo Condephaat em 2014 e pelo Conpresp em 2017. Hoje a grande maioria das fábricas da Mooca está fechada e ameaçada pela especulação imobiliária. RUA DA MOOCA, 815, MOOCA


Vila Maria Zélia

RUA DOS PRAZERES, 326, BRÁS

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Projetada pelo arquiteto francês Paul Pedaurrieux, a Vila Maria Zélia começou a ser construída em 1912 para servir de residência a 2.500 funcionários que trabalhavam na filial do Belenzinho da Companhia Nacional de Tecidos da Juta. Em 1917, foi inaugurada aquela que seria a primeira vila operária no país. A iniciativa de criar uma pequena cidade europeia para os trabalhadores da tecelagem foi do seu proprietário, o médico e industrial Jorge Street (1863-1939). Entre seus feitos, Street também abriu a primeira creche para filhos dos operários e defendeu direitos significativos dos trabalhadores, como o direito à greve. Além de 198 casas — de seis modelos diferentes, cada um para um tipo de conformação de família —, havia na Vila Maria Zélia uma capela, dois armazéns, duas

escolas (uma para meninos e outra para meninas), uma praça, um campo de prática esportiva, salão de festas, ambulatórios e consultórios médicos. A relação entre a fábrica e a vila durou até a década de 1930, quando ela baixou as portas e foi transformada em presídio pelo Estado Novo. Em 1939 a Goodyear comprou as edificações, mas cortou o vínculo com a vila. Até os anos 1970, a maior parte das casas mantinha a planta original. Mas aos poucos os imóveis foram sendo comprados e vendidos — e perdendo suas características. Todos os prédios funcionais hoje pertencem ao INSS. O conjunto foi tombado em 1985 pelo Condephaat e em 1992 pelo Conpresp. Desde 2004, o Grupo XIX de Teatro realiza residência artística em um dos armazéns. A capela ainda funciona normalmente.

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Somos muitos e chegamos de muitas partes. Japoneses, italianos, alemães, bolivianos, senegaleses, coreanos… Somos de outros estados, somos daqui. São Paulo são todos os que aqui vivemos, os que viemos trabalhar, renovar as esperanças — e aprender a viver juntos. SÃO PAULO E SEUS MIGRANTES E IMIGRANTES 50 | 51


Migna terra tê parmeras, Che ganta inzima o sabiá. As aves che stó aqui, Tambê tuttos sabi gorgeá Trecho de La Divina Increnca, obra de Juó Bananére, pseudônimo do escritor paulistano Alexandre Marcondes Machado (1892-1933). Juó parodiava grandes obras da literatura, como a Canção do Exílio, de Gonçalves Dias, e imitava o sotaque da grande colônia italiana de São Paulo.


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Bixiga A região é dividida em parte baixa e parte alta, unidas pela Escadaria do Bixiga. Na parte baixa estão as famosas cantinas e a Praça Dom Orione, local em que, desde 1982, aos domingos, ocorre a Feira de Antiguidades. Na parte alta, na Rua dos Ingleses, está o Museu dos Óculos — instalado em um casarão construído em 1918— e o Museu Memória do Bixiga, que desde 1981 apresenta objetos e fotografias de imigrantes italianos. Na Rua Treze de Maio, a Paróquia Nossa Senhora da Achiropita é responsável pela tradicional Festa de Nossa Senhora da Achiropita, em agosto. Na Rua Major Diogo, fica a Casa de Dona Yayá, uma das primeiras chácaras do Bixiga, construída no final do século 19. Em frente à Praça Artesãos Calabreses, sobre a Avenida 23 de Maio, está a estrutura conhecida como Arcos do Bixiga. Construída no início do século 20 como muro de arrimo para a Rua Jandaia, a obra foi “redescoberta” em 1987, quando a prefeitura demoliu as edificações que ali existiam para a execução de obras viárias. A escola de samba Vai-Vai, uma das mais tradicionais da cidade, nasceu no Bixiga em 1930.

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O fim do século 19 e início do século 20 marcaram o auge da imigração italiana para o país. Os migrantes italianos tinham como principal objetivo trabalhar nas lavouras de café do interior paulista. Na cidade de São Paulo, muitos encontraram empregos em indústrias, passando a morar em vilas operárias e em bairros populares como a Bela Vista, especificamente na região do Bixiga. Em 1878, a região conhecida como Chácara do Bexiga — em referência a seu antigo proprietário, que havia sofrido de varíola — foi loteada, recebendo imigrantes calabreses, que deixaram suas heranças no local. O bairro que ainda hoje tem forte sotaque italiano também é marcado pela cultura negra. Ele abrigou um dos primeiros e maiores cortiços da cidade, chamado Navio Negrereiro, e o quilombo urbano de Saracura. O nome de algumas ruas ainda lembram marcos da história da população negra no Brasil, tais como a Rua Treze de Maio (data do aniversário da Lei Áurea, que aboliu a escravatura, em 1888) e a Rua Abolição. De 1890 até 1950 efervesciam na região jornais e associações de imprensa negra, como o Clarim D’Alvorada, que atuava em defesa da cidadania e da identidade negra.

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Casa da Ba-tian (Colônia Japonesa)

Quando as primeiras 165 famílias de japoneses desembarcaram em 1908 do navio Kasato Maru, no Porto de Santos, já tinham destino certo: as fazendas de café no norte do estado. Ao longo das décadas seguintes, o movimento dos imigrantes do País do Sol Nascente aumentou e aumentou, dando origem à maior população de origem japonesa fora do Japão. Até 1940, eram mais de 160 mil isseis, os japoneses da primeira geração (nascidos aqui, virariam nisseis, logo sanseis e yonseis — filhos, netos e bisnetos). A capital e algumas das cidades vizinhas cresceriam pelas mãos desses trabalhadores, habilidosos no cultivo, formando aquilo que ficou conhecido como cinturão verde paulista. Testemunho dessa época, a Casa da Ba-tian era sede de uma das chácaras de japoneses que se estabeleceram em Itaquera a partir de 1925. Embora o bairro tivesse uma forte tradição industrial, grande

parte do sustento de seus habitantes vinha da produção agrícola. Cerca de 130 famílias chegaram a viver nessas chácaras, numa região conhecida até hoje como a Colônia Japonesa, onde o pêssego era um dos principais produtos cultivados. Daí veio o nome da Estrada do Pêssego, que mais recentemente virou o principal corredor viário de Itaquera, a Jacu-Pêssego (Jacu é o nome do rio que passa por lá). A comunidade nipônica em Itaquera ainda se mantém unida, em atividades de bairro e eventos voltados para outros descendentes de japoneses e curiosos em geral. A Festa das Cerejeiras em Flor é o maior deles: geralmente em agosto, dura três dias, celebrando a florada dos mais de 4 mil pés de cerejeira plantados no Parque do Carmo, cuja história se entrelaça à saga dos japoneses em São Paulo. RUA ISOSUKE OKAUE, 383, ITAQUERA


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Casa do Povo (Instituto Cultural Israelita Brasileiro)

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RUA TRÊS RIOS, 252, BOM RETIRO

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O número 252 da Rua Três Rios conserva memórias que se confundem com as do próprio bairro do Bom Retiro, principal reduto de comerciantes judeus e sírio-libaneses na segunda metade do século passado. Foi lá que, em 1946, iniciou-se o sonho de construir um lugar que preservasse a cultura judaica laica. A iniciativa não esteve isolada de outras comunidades judaicas no mundo. Em 1937, um congresso realizado em Paris pela entidade norte-americana Yidisher Kultur Farband recomendava a construção de formas de resistência ao fascismo e a preservação da cultura ídiche. Dentro de tal perspectiva, em 1946 foi colocada a pedra fundamental da hoje chamada Casa do Povo — na ocasião, cada apoiador doou um tijolo simbólico para a criação do prédio, oferecendo uma forma de sepultura aos seis milhões de judeus mortos no Holocausto. A inauguração ocorreu sete anos depois, e desde então o prédio sediou a Escola Israelita Brasileira Scholem Aleichem, a Associação Feminina Israelita Brasileira, o Clubinho I L Peretz, a Colônia de Férias Kinderland e o Teatro de Arte Israelita Brasileiro. Coral, jornal e teatro sempre foram abrigados pelo instituto, cuja gestão hoje é feita por pessoas que se formaram, em parte ou integralmente, nesse espaço. Sem passar imune aos efeitos do tempo, a Casa do Povo se vê como um lugar ainda de resistência, e trabalha em três eixos: a memória, a associação (acolhendo residências criativas, projetos artísticos e coletivos) e o futuro. Em paralelo, mantém um arquivo de mais de 4 mil livros e documentos que mapeiam a história de São Paulo, do bairro, da imigração judaica e da cultura ídiche. Como exemplo das transformações urbanas e culturais tão mencionadas, observa-se que hoje o bairro do Bom Retiro é o principal reduto de sul-coreanos na cidade de São Paulo.


Centro de Tradições Nordestinas

O período entre as décadas de 1950 e 1970 foi marcado pelo auge das migrações nordestinas para o Sudeste, em virtude das dificuldades causadas pela seca e pela crescente oferta de emprego nas indústrias e na construção civil, bem como pelas promessas de melhores condições de vida em cidades como São Paulo. Pela oferta de terrenos e habitações mais baratas, foi nas periferias da cidade que os nordestinos dos mais diversos estados encontraram e encontram abrigo até hoje. Com o declínio da oferta de empregos a partir do final dos anos 1980, a migração nordestina para São Paulo diminuiu consideravelmente. Esse fator não interferiu nas feições nordestinas de São Paulo, que tem

uma de suas expressões mais evidentes no comércio popular das famosas “Casas do Norte” com toda a sorte de artigos e alimentos típicos. Com essa inspiração, em 1991 foi fundado o Centro de Tradições Nordestinas, um dos pólos de divulgação e preservação da cultura nordestina, com diversos restaurantes e quiosques que servem comida típica, parque de diversões e o comércio de artesanato. Uma homenagem especial ao Frei Damião foi realizada em 1998, com a construção da Capela da Imaculada Conceição. A igreja conta também com um memorial ao frei e ao Padre Cícero. O Centro também se dedica a eventos e ao trabalho social. RUA JACOFER, 615, LIMÃO


[ABRIGO]

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Esperando encontrar melhores condições de vida na cidade de São Paulo, migrantes nordestinos unem-se aos imigrantes estrangeiros nas filas da Hospedaria do Imigrante, que passou também a recebê-los a partir dos anos 1930.

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Hospedaria dos Imigrantes

[FESTA DO IMIGRANTE]

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RUA VISCONDE DE PARNAÍBA, 1316, BRÁS

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A Festa do Imigrante é realizada desde 1996 com o objetivo de resgatar a história e preservar a cultura dos imigrantes que passaram pela Hospedaria do Brás. São três dias de festa, realizada anualmente no mês de junho no Museu da Imigração, onde pessoas de diversas nacionalidades demonstram sua cultura através da gastronomia, artesanato, música e dança.

A fim de controlar a distribuição dos imigrantes pela então Província de São Paulo e de dar continuidade à política de incentivo à imigração e à mão de obra assalariada, o governo do Império autorizou a Sociedade Promotora da Imigração a construir um edifício, próximo às estações das estradas de ferro no bairro do Brás. Inaugurada em 1887, a Hospedaria de Imigrantes foi, desde o final do século 19, o principal abrigo para estrangeiros recém-chegados à cidade de São Paulo. A partir da década de 1930 acolheu também um número crescente de migrantes internos, vindos de outros estados brasileiros. Chegados de seus países em navios que aportavam no Porto de Santos, os imigrantes tomavam o trem da São Paulo Railway até a Estação Brás rumo à Hospedaria, onde eram acolhidos e encaminhados às lavouras de café e à indústria paulista. O edifício foi projetado pelo arquiteto Matheus Haüssler. Construído em tijolos, possuía capacidade para 1200 pessoas, e contava com lavanderia, cozinha, pavilhão de desinfecção de roupas, ambulatórios médico e dentário. Em diversos momentos, a Hospedaria serviu para manter presos políticos sob custódia: na Revolução de 1924, recolhendo revoltosos contra o governo de Arthur Bernardes; durante a Revolução de 1932, quando manteve reclusos combatentes getulistas capturados pelos paulistas; e a partir de 1942, após a entrada do Brasil na Segunda Guerra Mundial, manteve sob custódia imigrantes japoneses e alemães. A Hospedaria encerrou suas atividades em 1978, quando suas funções foram transferidas para a Secretaria do Trabalho. Atualmente funciona no local o Museu da Imigração do Estado de São Paulo, instituição voltada à compreensão e à reflexão do processo migratório paulista. Desde 1996 funciona também no espaço o Arsenal da Esperança, uma casa de acolhida à pessoas em situação de rua. O museu disponibiliza consulta a documentos de registros de entrada dos imigrantes que por ali passaram. O prédio foi tombado em 1982 pelo Condephaat e em 1991 pelo Conpresp.


Liberdade

O bairro da Liberdade é conhecido por abrigar imigrantes orientais e pelas referências expressas no comércio, nas ruas, nas festas, nos templos e na tradicional feira que ocorre aos finais de semana. O que muitos desconhecem é que a Praça da Liberdade é o nome atual do antigo Campo da Forca, onde ficava o pelourinho da cidade, local de castigos, aflição e execuções usado até 1889, quando a pena de morte foi extinta. Episódio importante ocorreu em 1821, quando o soldado Francisco José de Chagas, o Chaguinhas, foi condenado a morte por enforcamento em praça pública por incitar e liderar uma rebelião por atrasos nos salários. Em sua execução, no Campo da Forca, a corda se rompeu por três vezes. Os presentes aplaudiram, acreditando tratar-se de um milagre. Chaguinhas foi morto a pauladas e enterrado no Cemitério dos Escravos, localizado entre a Rua dos Estudantes e a

Almeida Júnior. A Igreja da Santa Cruz, conhecida como Igreja das Almas ou dos Enforcados, e a capela colonial do Cemitério dos Escravos, atual Capela de Nossa Senhora dos Aflitos, continuam lembrando essas histórias de injustiça e sofrimento. Após a chegada dos imigrantes, o bairro foi caracterizado de acordo com a cultura de seus novos habitantes. A influência cultural pode ser sentida nas ruas, com as luminárias com motivos orientais, e nas feiras temáticas. A Feira de Artesanato da Liberdade existe desde 1975 e possui forte influência da cultura oriental. Destacam-se também os jardins orientais, um na Rua Galvão Bueno e outro no Largo da Pólvora, que conta com três lagos ornamentais. Na Rua São Joaquim, está localizado o Museu Histórico da Imigração Japonesa no Brasil, que conta com objetos, documentos e fotos da trajetória dos imigrantes japoneses que vieram para cá. PRAÇA DA LIBERDADE


anticucho acompanhado de batata e molho de amendoim, as empanadas, as salteñas, o buñuelo, as sopas, o api, o mocochinchi, ou o típico suco peruano de milho roxo, a chicha morada. A expressão Kantuta denominava informalmente a praça até 2004, quando houve a oficialização do nome. A Kantuta é uma flor típica do altiplano andino, nas cores verde, amarelo e vermelho, as mesmas da bandeira boliviana. Destacam-se outros locais na cidade que tem se tornado um ponto de encontro da comunidade andina, como o Largo do Rosário na Penha aos domingos e a Rua Coimbra, no Brás, que nos finais de semana também abriga uma movimentada feira típica. RUA PEDRO VICENTE, PARI

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O auge da imigração boliviana no país se deu em 1990, quando houve uma grande oferta de trabalho em oficinas de costura voltadas a homens e mulheres que lidavam com o desemprego em suas cidades de origem. Iludidos pela promessa de iniciar uma nova vida, com melhores condições, muitos enfrentam péssimas condições de trabalho. Os bolivianos trouxeram diversos elementos de sua cultura e fizeram de alguns lugares verdadeiros pontos de encontro em São Paulo. Um desses locais é a Praça da Kantuta, que congrega grande parte da comunidade andina. Aos domingos, desde 2002, ocorre uma feira onde é possível comprar artesanato e alimentos típicos, como o plato paceño, o

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Praça da Kantuta


Praça da República

Há um processo imigratório recente na cidade São Paulo, que tem recebido diversos imigrantes do continente africano — principalmente Senegal, Moçambique, Nigéria, Angola, Camarões e Congo — abrigando-os tanto em suas regiões periféricas, quanto centrais, como a Praça da Répública e arredores. Há quem se surpreenda ao caminhar pela Rua Barão de Itapetininga ou pela Avenida Ipiranga e encontrar uma série de comerciantes ambulantes vendendo artigos do continente africano. Alguns estão estabelecendo comércio fixo na região. Mas não somente o comércio: toda segunda-feira, um grupo de senegaleses mourides promove encontros com batuques e cantorias na Praça da República para difundir sua fé e cultura. O mouridismo é um ramo do Islã de caráter anticolonial que se desenvolveu a partir dos ensinamentos do profeta Maomé em contato com valores da cultura Wolof (do oeste africano). A seita foi fundada no fim do século 19 por Cheikh Amadou Bamba. Outro ponto de encontro dos africanos na capital paulista é a Mesquita Associação Al Bait El Nabawi do Brasil, que fica na Rua Guaianases.


pode-se presenciar tradições típicas desses países, nos pontos comerciais, na culinária e no cotidiano das pessoas. Em 27 de outubro, dia da fundação do bairro, comemora-se o Dia do Imigrante do Leste Europeu. Ocorre mensalmente aos domingos na Rua Aracati Mirim, ao lado do Parque Ecológico Professora Lydia Natalízio Diogo, a Feira do Leste Europeu de Vila Prudente, organizada pela Associação dos Moradores e Comerciantes do Bairro da Vila Zelina, reunindo a gastronomia e o artesanato de diversos países do Leste Europeu, apresentadas pelos imigrantes e descendentes moradores do bairro e arredores. PRAÇA REPÚBLICA DA LITUÂNIA

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A Vila Zelina começou a ser loteada em 1927 e possui heranças de sua alta concentração de imigrantes do leste europeu até hoje. São treze comunidades de imigrantes e descendentes dos países do centro e do leste europeu, além de euro-asiáticos. Entre os moradores estão bielorrussos, búlgaros, croatas, eslovenos, estonianos, húngaros, letos, lituanos, poloneses, romenos, russos, tchecos e ucranianos. Um dos pontos centrais da Vila é a Praça República da Lituânia, onde se situa a Igreja São José de Vila Zelina, fundada por lituanos. Ao caminhar pela Avenida Zelina e pelas ruas Inácio e Monsenhor Pio Ragazinskas,

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Vila Zelina


SAO PAULO DA DIVERSIDADE SEXUAL


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Muitos lugares da cidade testemunham a crescente importância da luta de pessoas com diversas orientações sexuais e identidades de gêneros. De forma marcante, a cultura LGBT tem influenciado manifestações artísticas e culturais as mais variadas. Nos espaços públicos e íntimos, ganha destaque a coragem das pessoas que combatem a discriminação e defendem a liberdade de cada um ser o que é.

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Se recebo dor te devolvo amor E quanto mais dor recebo Mais percebo que sou Indestrutível Trecho de Indestrutível, hit da artista Pabllo Vittar, que participou da Parada de Orgulho LGBT este ano. Antes de se apresentar, Pabllo vestia uma capa feita de recortes de jornal com os dizeres: “Parem de nos matar”. Segundo o Grupo Gay da Bahia, no Brasil uma pessoa LGBT é assassinada a cada 19 horas


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Parada do Orgulho LGBT

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Era junho de 1997. Às duas da tarde de um sábado frio e ensolarado, um pequeno grupo de pessoas começou a se reunir à altura do número 900 da Avenida Paulista, na frente do Gazeta. Havia um carro de som e um microfone sendo passado de mão em mão entre alguns discursantes. A cidade seguia seu curso. Apenas uma faixa de carros da avenida havia sido liberada. O número de pessoas foi aumentando. Sem autorização para interromper o trânsito, simularam um tumulto para conseguir avançar em direção à rua da Consolação e descer até a Praça Roosevelt. Chegaram a ser 2 mil ativistas, reunidos sob o lema “Somos muitos, estamos em todas as profissões”. Alguns usavam máscaras — que foram sendo descartadas aos poucos, à medida em que o ato ganhava clima de comemoração. A data da primeira Parada Gay, como ficou conhecida, evocava um mesmo 28 de junho, mas de oito anos antes, em Nova York, quando militantes foram às ruas em resposta ao espancamento e à prisão de gays e lésbicas que se rebelaram contra policiais durante uma batida em um famoso bar da cidade. Esse dia passou a ser marco histórico da luta contra o preconceito de gênero em todas as partes do mundo. Em São Paulo, um ano depois da primeira edição da parada, foi fundada a Associação do Orgulho GLBT, uma ONG que organiza esse e outros eventos a favor dos direitos de lésbicas, gays, bissexuais, transgêneros e intersexuais, além de promover prêmios, ciclo de debates e feiras culturais. Em sua 22a edição, a parada de 2018 teve como lema “Poder para LGBTI+, Nosso Voto, Nossa Voz”, começou a concentração na frente do Masp a partir das 10h, reuniu 18 trios elétricos e um público de centenas de milhares de pessoas.

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Ferro’s Bar

[SIGLAS]

RUA MARTINHO PRADO, CONSOLAÇÃO

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A história de resistência dos movimentos ligados à diversidade sexual e de gênero foi por muitos anos representada pela sigla GLS (gays, lésbicas e simpatizantes). Com o tempo, foram sendo incorporados o T (travestis, transexuais e transgêneros) e o B (bissexuais). O L foi levado à frente para dar visibilidade à questão lésbica. O Q (queer) o I (intersexuais) e o A (assexuais) são outros termos que buscam dar conta da diversidade. Por vezes, o sinal de + representa qualquer outra pessoa que não se sinta contemplada pelas outras sete iniciais.

São Paulo tem muitos bares que se confundem com a história da cidade, principalmente durante os anos do Regime Militar. Assim foi com o Riviera, na Rua da Consolação, e com o Ferro’s Bar, na Rua Martinho Prado — ambos conhecidos por abrigar artistas e intelectuais de esquerda entre chopes e petiscos. Enquanto o Riviera se manteve como centro de discussões políticas, o Ferro’s também passou a ser ponto de encontro de lésbicas e feministas. O engajamento era tanto que o bar passou a ser, no começo dos anos 1980, o centro de distribuição de um jornal de conteúdo lésbico, a contragosto do dono do estabelecimento, que proibiu sua venda e veiculação. Foi quando ocorreu um ato em desagravo, reunindo manifestantes lideradas pelo Grupo Ação Lésbica Feminista. No dia 19 de agosto de 1983, elas forçaram a entrada no Ferro’s Bar e leram, em meio a aplausos e assovios, o manifesto sobre os direitos das mulheres lésbicas. O protesto, que contou com a presença de políticos e grupos de homossexuais e feministas, resultou no pedido de desculpas do dono do bar e na liberação para a venda da publicação. A data passou a ser considerada como da primeira manifestação lésbica brasileira.

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Centro de Cidadania LGBT Luiz Carlos Ruas

Os Centros de Cidadania LGBT são iniciativas da Secretaria Municipal de Direitos Humanos e Cidadania, por meio da Coordenação de Políticas para LGBTI (Lésbicas, Gays, Bissexuais, Transexuais, Intersexuais). Inaugurado em 2015 no Arouche, e transferido para o atual endereço em 2017, o centro atua na Defesa dos Direitos Humanos — com o atendimento a vítimas de violência, preconceito e discriminação, prestação de apoio jurídico, psicológico e de serviço

social — e na promoção da cidadania LGBTI — com suporte e apoio aos serviços públicos municipais por meio de mediação de conflitos, palestras e sensibilização de servidores, realização de debates, palestras e seminários, combate à homofobia e respeito à diversidade sexual. Em 2017, o centro foi batizado em homenagem a Luiz Carlos Ruas, morto em São Paulo dentro da estação Pedro II do metrô por defender uma travesti e um homossexual em situação de rua que estavam sendo espancados. RUA VISCONDE DE OURO PRETO, 118, CONSOLAÇÃO


Museu da Diversidade Sexual

Dentro da estação República do Metrô, por onde passam mais de 260 mil pessoas por dia, encontra-se um museu de pequenas dimensões, mas de grande importância. Trata-se da primeira iniciativa dessa natureza na América Latina, criada em maio de 2012 pela Associação Paulista dos Amigos da Arte com apoio da Secretaria de Cultura do Estado de São Paulo. Foi nessa região que, no ano 2000, o paulistano Edson Néris da Silva foi assassinado por um grupo de skinheads enquanto caminhava com seu namorado. O caso foi julgado e os culpados, condenados, tornando-se um marco na história da luta LGBT. Com o objetivo de garantir e preservar o patrimônio cultural da comunidade LGBT, o Museu da Diversidade Sexual se propõe a pesquisar, coletar, organizar e expôr referências materiais e imateriais relacionadas a essa temática. Recentemente, por exemplo, o Museu lançou a primeira etapa do projeto Memórias da Diversidade Sexual, que busca fazer um registro inédito na trajetória da cultura, memória e militância LGBT brasileira, por meio de testemunhos acessíveis no canal do Museu no Youtube. RUA DO AROUCHE, 24, REPÚBLICA

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SAO PAULO DA DIVERSIDADE RELIGIOSA


A cidade que carrega santo no nome abriga, desde a sua origem, diferentes formas de fé. Fé nos outros, no invisível, em si, em uma ou muitas entidades superiores… Os diferentes templos e crenças tecem suas tramas no mesmo chão, sob o mesmo céu.

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“(...) Muito axé pra todo mundo, muito axé Energia, Saravá, Aleluia, Shalom, Amandla, caninambo! — Banzai! Na fé de zumbi — na paz do senhor, Amém!” O trecho final da música “Sincretismo Religioso”, de Martinho da Vila, traz a ideia da convivência dos credos. Lançada em 2012, revela, de algum modo, que ainda é preciso lembrar que a fé é a de cada um!


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Capela do Cristo Operário

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RUA VERGUEIRO, 7290, VILA BRASÍLIO MACHADO

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Um recanto sossegado no Alto do Ipiranga conserva uma relíquia para a história dos templos católicos da cidade. Trata-se de uma capela, de aparência despojada, que foi projetada nos anos 1950 pelo frei dominicano João Batista Pereira dos Santos. A Capela do Cristo Operário era ligada ao movimento Economia e Humanismo, que consistia em disseminar as ideias do padre Louis-Joseph Lebret (1897-1966), um pensador francês que associava doutrina moral a prática profissional e formação cultural. Na época, enquanto a região começava a se industrializar, Frei João desenvolvia um trabalho social junto à comunidade operária de Vila Brasílio Machado. Reunindo os esforços do Círculo Operário do Ipiranga e da Ordem dos Dominicanos, o frade inaugurou a capela em maio de 1950. Alguns anos depois, na mesma região, Frei João criaria a Unilabor, fábrica de móveis desenhados pelo artista plástico Geraldo de Barros (1923-1998). O projeto da fábrica e da capela era o de combater a alienação dos operários por meio de trabalho, arte e religião. Hoje em dia, a Cristo Operário só abre as portas para missas, que ocorrem aos sábados (18h) e aos domingos (8h30). Vale a pena entrar para apreciar os painéis e vitrais de Alfredo Volpi, um entre a dezena de artistas que criaram obras especialmente para a capela. Os jardins foram projetados por Burle Marx.


Catedral Evangélica (Primeira Igreja Presbiteriana Independente de São Paulo)

No século 19, a Igreja Presbiteriana norte-americana fazia grandes esforços em expandir o evangelho e o presbiterianismo pelo mundo, incluindo o Brasil. Em 1861, chega ao Rio de Janeiro o primeiro missionário incumbido de estabelecer o presbiterianismo no país, com sucesso. Em São Paulo acontece o mesmo, dois anos depois, graças ao trabalho do teólogo Alexander Latimer Blackford, que também viajou pelo interior e por Minas Gerais espalhando sua igreja. Por quase quatro décadas a Igreja Presbiteriana de São Paulo existiu sem um templo em particular. O próprio Blackford organizava os cultos, tendo sido o seu primeiro pastor. Nesse período, a expansão do presbiterianismo influenciou na criação

da Universidade Mackenzie, da Associação Cristã de Moços, do Hospital Samaritano, da Associação Evangélica Beneficente e do Seminário Teológico de São Paulo. No começo do século 20, no entanto, mais de duas dezenas de pastores e presbíteros brasileiros lideraram o processo que culminou na separação entre a igreja do Brasil e os missionários norte-americanos. O templo da Rua Nestor Pestana, popularmente conhecido como Catedral Evangélica, já nasceu nos anos 1940 como Primeira Igreja Presbiteriana Independente de São Paulo. Com projeto do engenheiro e arquiteto paulistano Bruno Simões Magro, discípulo de Ramos de Azevedo, seguiu o estilo gótico europeu, ganhando maior leveza graças ao tom branco das paredes e da fachada, e à simplicidade dos ornamentos. RUA NESTOR PESTANA, 152, CONSOLAÇÃO


Círculo Esotérico da Comunhão do Pensamento

RUA DR. RODRIGO SILVA, 85, LIBERDADE

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Não dá para passar incólume pela fachada do número 85 da rua Dr. Rodrigo Silva, na Liberdade. Esculpidos em mármore, torsos de homens parecem estar carregando o terraço do predinho nas costas — e essa é apenas uma das admirações que os alto-relevos desse prédio, construído em 1925, provocam naqueles que caminham atentamente entre a Praça Carlos Gomes e o Viaduto Maria Paulina. O endereço é sede do primeiro templo ocultista da América do Sul e do primeiro edifício não-maçônico do Brasil a conter uma simbologia oculta representada na fachada, peripécia do Círculo Esotérico da Comunhão do Pensamento, uma instituição filosófica com mais de 100 anos que tenta promover o encontro entre todas as crenças. O projeto arquitetônico é de Gilberto Gullo; a decoração interna, de Leôncio Neri; as talhas, de Arthur Grande; e as esculturas, de Ruffo Fanucchi. Fundada pelo espiritualista e escritor português Antônio Olivio Rodrigues (1879-1943), a ordem possui três patronos: Eliphas Levy, representando a magia do Ocidente; Swami Vivekananda, a filosofia oriental; e Prentice Mulford, o mentalismo no Novo Mundo.

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Mesquita Brasil

A Mesquita Brasil é um templo islâmico localizado no bairro do Cambuci. Tanto o prédio quanto a abóbada e os dois minaretes (as torres da mesquita) são marcantes na paisagem dessa área da cidade. Sua história remonta à chegada dos primeiros imigrantes palestinos muçulmanos, que vieram da Turquia durante a Primeira Guerra Mundial (1914-1918) e que fundaram, em 1927, a Sociedade Beneficente Muçulmana Palestina — a associação abre mão da última parte do nome quando começa a receber integrantes vindos de outros países. Constitui-se na primeira e mais antiga mesquita do Brasil, como local organizado para o culto muçulmano. No início, reuniam-se em outro edifício, muito menor, mas em 1956 inauguram

este local. O projeto é do engenheiro Paulo Taufik Camasmie, também responsável pelo projeto da Catedral Ortodoxa de São Paulo. Com o correr dos anos outras mesquitas foram erguidas em diversos pontos da cidade, como na região do Brás, de São Miguel e de Santo Amaro, cada uma com suas peculiaridades, distinções e características. É importante destacar que a mesquita vai além de um lugar estritamente dedicado aos rituais sagrados. Seu espaço também cumpre uma função social. Sua visita exige que sejam respeitadas certas regras de conduta do espaço: as mulheres devem fazer uso do rijab, uma espécie de véu fornecido no próprio templo, e as roupas não devem ser justas ou transparentes, tanto para homens quanto para mulheres. RUA BARÃO DE JAGUARA, 632, CAMBUCI


Museu de Arte Sacra

AVENIDA TIRADENTES, 676, LUZ

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Conceição da Luz, um importante exemplo da arquitetura colonial brasileira do século 18, erguido sob a orientação do Frei Galvão, em 1774. Construído inicialmente em taipa, foi modificado em 1822 pelo frei Lucas José da Purificação, ganhando as feições atuais. A coleção ocupa tanto a ala esquerda térrea do mosteiro quanto a antiga Casa do Capelão, onde estão expostos presépios. O acervo cresceu significativamente ao longo dos anos, dados os esforços da instituição em recolher, classificar, catalogar e expor objetos religiosos de valor estético ou histórico. O mosteiro é tombado pelo Iphan, pelo Condephaat e pelo Conpresp, e possui em seu interior sepultamentos de grande importância histórica e arqueológica.

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Uma moeda de prata grega do século 4 a.C. é um dos objetos mais antigos do acervo de Dom Duarte Leopoldo e Silva (1867-1938), primeiro arcebispo de São Paulo, que tinha por hábito colecionar objetos de igrejas e pequenas capelas que seriam demolidas. Missais, relicários, dezenas de imagens de Nossa Senhora, crucifixos, arcas, altares, entre tantos outros móveis e artefatos ligados ao catolicismo fazem parte dessa vasta coleção, exposta no Museu de Arte Sacra de São Paulo desde 1970, ano de sua fundação. A criação do museu foi iniciativa do Governo do Estado e da Mitra Arquidiocesana. O local escolhido para a sede do museu possui bastante relevância. Trata-se do Mosteiro de Nossa Senhora da Imaculada


Sinagoga Beth El

Em 1920, o empresário Salomão Klabin angariou fundos entre um grupo de pessoas influentes da comunidade judaica em São Paulo para construir uma sinagoga em um terreno da Companhia City, na rua Martinho Prado, em uma região que começava a concentrar famílias judaicas que vinham do Bom Retiro. A indicação desse local e o projeto são do arquiteto de origem russa Samuel Roder, que trabalhou na Companhia City. Devido à sua complexidade e às peculiaridades do terreno, as obras foram entregues provisoriamente em 1930 para a celebração do ano novo judaico e iniciando suas atividades oficialmente em 1932. De rito asquenazita (costumes de judeus da Europa Central e Ocidental), o templo é uma construção heptagonal, em estilo bizantino, possui uma base de sete lados

que se repetem em suas quatro torres, remetendo à numerologia judaica, pois para a Cabala, ciência oculta ligada ao Judaísmo, o número sete representa um ciclo completo. Em sua fachada está escrito, em hebraico: “Que esta seja uma casa de orações para todos os povos”. O templo viveu seu apogeu entre 1940 e 1960, com a celebração de diversas cerimônias de brith milá, barmitzvá, casamentos e yskor. No início dos anos de 1990, com uma nova migração das famílias que frequentavam a sinagoga para bairros como os Jardins, a sinagoga foi perdendo sua importância. Em 2013, ela foi tombada pelo município. Está em construção um prédio anexo de quatro andares, projetado pelo escritório Botti Rubin Arquitetos, para abrigar o Museu Judaico de São Paulo. RUA MARTINHO PRADO, 128, SÉ


Templo Budista Quan-Inn

Para o budismo, o ato da queima do incenso é um ritual importante. Ele simboliza a purificação da mente e do corpo e deve ser feito antes de iniciar as reverências. A fumaça se interpreta como um meio de conexão entre a terra e o céu. Nesse momento, deve-se agradecer antes de se fazer algum pedido. No caso do templo Quan-inn, as reverências são feitas para a deusa Quan-Inn, conhecida no budismo chinês como a Deusa da Compaixão e da Misericórdia, e ao próprio Buda. Essa tradição do budismo mantém um templo imponente no bairro do Grajaú. Com traços marcantes da cultura e da arquitetura chinesas, o conjunto é formado por três templos, dois maiores — um para os deuses espirituais e outro para os deuses materiais — e um menor, destinado ao culto aos antepassados. O templo foi erguido no topo do terreno de acordo com a tradição, com acesso por um caminho adornado por estátuas e uma escadaria. Existem diversas estátuas espalhadas pelo jardim. A visitação é permitida ao público aos domingos. RUA RIO SÃO NICOLAU, 328/672, GRAJAÚ

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Templo de Salomão

Apesar de recente, a construção é um marco na paisagem da cidade, tem atraído inúmeros fiéis e levantado polêmicas. O Templo de Salomão é a sede da Igreja Universal do Reino de Deus, inaugurado no Brás em 2014 após quatro anos de obras. O templo em São Paulo é inspirado no templo feito pelo rei Salomão, filho do rei Davi em Israel no monte Moriah no século 11 a.C. e destruído pelos babilônios liderados pelo rei Nabucodonosor II em 586 a.C. Com uma riqueza de simbologias e reproduções, o templo é adornado por quatro tamareiras e construído com pedras retiradas do Hebron, em Israel. Além do espaço para os cultos, possui uma réplica do Tabernáculo, um Cenáculo — que funciona como um memorial, abrigando diversas peças — uma esplanada com bandeiras e um jardim de oliveiras. A imponência do templo demonstra o crescimento do neopentecostalismo na cidade e no país. Seu fundador, o Bispo Edir Macedo, iniciou suas pregações no coreto da Praça Jardim do Méier na Zona Norte do Rio de Janeiro em meados da década de 1970. Com o aumento de seguidores, suas pregações passaram para o prédio de uma antiga funerária no bairro da Abolição. Logo foram inaugurados novos templos no Rio e em outros estados. Em 1980, foi inaugurado o primeiro templo de São Paulo na avenida Doutor Gentil de Moura. AVENIDA CELSO GARCIA, 605


Terreiro Aché Ilé Obá

O Centro de Congregação Espírita Pai Jerônimo foi fundado em 1950 no Brás por Caio Egydio de Souza Aranha, que por questões de saúde interrompeu suas atividades, retomadas na década seguinte, no Jabaquara. Neste novo terreiro, dedicou-se ao ritual caboclo, característico da Umbanda, e ao Candomblé, cuja iniciação aconteceu no terreiro Engenho Velho, Aché de Tia Aninha, renomada Ialorixá da Bahia. Na década de 1970, com um número muito grande de adeptos, pai Caio resolveu ampliar suas instalações, construindo, com fundos arrecadados pela comunidade, uma ampla sede para a sua congregação, inaugurada em 1977. Com sua morte, em 1984, substituiu-o sua filha de santo e sobrinha Sylvia de Oxalá, falecida em 2014. O Terreiro de Aché Ilé Obá encontra-se instalado em uma grande área da região do Jabaquara, com espaços individuais reservados a cada Orixá, ou famílias de Orixás, um barracão comum para cerimônias privadas e festas públicas, além de salas de serviços ligadas ao culto. Foi o primeiro terreiro de candomblé tombado no Estado de São Paulo, pelo Condephaat, em 1990, e pelo Conpresp em 1991. RUA AZOR SILVA, 77, VILA FACHINI

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Lugares para pesquisar

Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional — Iphan

Você tem em suas mãos um valioso Órgão responsável pela proteção do instrumento para conhecer um pouco mais patrimônio cultural em nível federal. sobre uma parte dos bens remanescentes O Instituto foi criado em 13 de janeiro de das diversas camadas da cidade, que 1937, por meio da Lei nº 378, assinada pelo buscam representar a diversidade das então presidente Getúlio Vargas. No site, é mãos que a construíram. possível ter acesso às informações sobre Patrimônio cultural, Patrimônio imaterial As informações necessárias para a e Patrimônio arqueológico. Na Superintenorganização deste guia foram obtidas nos dência do Iphan em São Paulo é posível acervos dos órgãos de proteção — em suas consultar os processos de tombamento e fichas descritivas e atas de tombamento — imagens referentes a esses bens. em notícias de jornais e em consultas aos próprios detentores e membros das PORTAL.IPHAN.GOV.BR AVENIDA ANGÉLICA, 626, SANTA CECÍLIA comunidades citadas. Ao visitar esses acervos você pode obter maiores informações e conhecer outros Conselho de Defesa do Patrimônio bens tombados, assim como pode elaborar Histórico, Arqueológico, Artístico seu próprio roteiro de visitação. Hoje e Turístico do Estado de São Paulo grande parte das fontes encontra-se na — Condephaat internet, e há páginas nas redes sociais que Órgão responsável pela proteção do se dedicam a divulgar uma série de atividapatrimônio cultural em nível estadual. des nesses locais. Criado pela Lei Estadual Nº 10.247 de 22 de Dentre os principais órgãos e instituições outubro de 1968, é um órgão vinculado à consultados e que você pode conhecer Secretaria da Cultura do Estado de São também, estão: Paulo. No site é possível consultar informações sobre os bens tombados no estado de São Paulo. CONDEPHAAT.SP.GOV.BR RUA MAUÁ, 51, LUZ

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Memorial da Resistência

Instituição dedicada à preservação de referências das memórias da resistência e da repressão política do Brasil republicano por meio da musealização de parte do edifício que foi sede, durante o período de 1940 a 1983, do Departamento Estadual de Ordem Política e Social de São Paulo — Deops/SP. O Programa Lugares da Memória possui um banco de dados disponível on-line com uma série de lugares públicos e privados vinculados a repressão e resistência política. MEMORIALDARESISTENCIASP.ORG.BR LARGO GENERAL OSÓRIO, 66, SANTA IFIGÊNIA

Conselho Municipal de Preservação do Patrimônio Histórico, Cultural e Ambiental da Cidade de São Paulo — Conpresp

Órgão responsável pela proteção do patrimônio cultural em nível municipal. Criado pela Lei Nº 10.032 de 27 de dezembro de 1985, com alterações introduzidas pela Lei 10.236 de 16 de dezembro de 1986, o CONPRESP é um órgão colegiado vinculado à Secretaria Municipal de Cultura que tem como uma de suas principais atribuições a deliberação sobre o tombamento de bens na cidade de São Paulo. No site é possível encontrar as atas das reuniões do conselho e as resoluções de tombamento. CONPRESP.SP.GOV.BR AVENIDA SÃO JOÃO, 473, SÉ

Departamento do Patrimônio Histórico — DPH

O DPH realiza a pesquisa e difusão de informações sobre a formação histórica e territorial da cidade e atua como órgão técnico de apoio à ação do CONPRESP. Possui um blog que trata de uma ampla variedade de assuntos relacionados ao patrimônio histórico, com ênfase nas questões da cidade de São Paulo. PATRIMONIOHISTORICO.PREFEITURA.SP.GOV.BR AVENIDA SÃO JOÃO, 473, SÉ

Museu da Cidade de São Paulo

O Museu da Cidade de São Paulo é constituído por uma rede de casas e espaços históricos formada por exemplares arquitetônicos e urbanísticos, de valor histórico e cultural, situados em diversos locais da cidade de São Paulo, administrados pelo Departamento do Patrimônio Histórico, por meio da Divisão do Museu da Cidade de São Paulo. MUSEUDACIDADE.PREFEITURA.SP.GOV.BR RUA ROBERTO SIMONSEN, 136, SÉ


Casa da Imagem

Vinculada ao Museu da Cidade de São Paulo, a Casa da Imagem foi criada para ser a sede do Acervo Iconográfico e promover sua preservação, pesquisa e difusão. Esta instituição também desenvolve ações voltadas à memória da imagem documental da cidade. Possui um acervo de 84 mil fotografias que podem ser acessadas no portal de acervos da Prefeitura de São Paulo. CASADAIMAGEM.SP.GOV.BR RUA ROBERTO SIMONSEN, 136 - SÉ

Portal de acervos da Prefeitura de São Paulo

Nesse portal é possível consultar, de forma centralizada, os acervos dos equipamentos culturais da prefeitura. ACERVOSDACIDADE.PREFEITURA.SP.GOV.BR

Arquivo Histórico de São Paulo — AHM

O Arquivo Histórico Municipal — AHM é o departamento responsável pela guarda permanente, identificação, ordenação, conservação e divulgação do conjunto documental produzido pela administração pública municipal desde meados do século 16 até a primeira metade do século 20. ARQUIVOHISTORICO.SP.GOV.BR PÇ. CEL. FERNANDO PRESTES, 152, BOM RETIRO

Associação Amigos do Arquivo Histórico de São Paulo — Arquiamigos No site da associação está reunida uma série de informativos dedicados a diversos temas vinculados à história e patrimônio. O site estabelece relação com Arquivos Públicos, divulga cursos de interesse neste campo e publica atualidades. ARQUIAMIGOS.ORG.BR

Arquivo Público do Estado de São Paulo

O Arquivo Público do Estado de São Paulo possui um acervo onde estão catalogados diversos periódicos, fotos, livros, mapas e outros documentos. ARQUIVOESTADO.SP.GOV.BR RUA VOLUNTÁRIOS DA PÁTRIA, 596, SANTANA

Hemeroteca Digital Brasileira

A Biblioteca Nacional Digital faz parte da Fundação Biblioteca Nacional e possui um acervo digital bastante variado. Merece destaque a Hemeroteca Digital da instituição. BNDIGITAL.BN.GOV.BR

Acervo Estadão — Jornal O Estado de S. Paulo

O Estado de S. Paulo disponibiliza todo seu acervo de antigas publicações para consulta online. São edições inteiras, desde 1875, digitalizadas página a página. ACERVO.ESTADAO.COM.BR

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Acervo Folha — Jornal Folha de São Paulo

A Folha de São Paulo disponibiliza todo seu acervo de antigas publicações para consulta online. São edições inteiras, desde 1921, digitalizadas página a página. ACERVO.FOLHA.COM.BR

Banco de teses da USP

A Universidade de São Paulo (USP) disponibiliza um acervo digital com teses e dissertações realizadas por seus alunos. TESES.USP.BR

Acervo da Revista Acrópole

De 1938 a 1971, a revista de arquitetura “Acrópole” registrou a rápida urbanização da cidade de São Paulo em projetos e fotos externas e internas de importantes casas e edifícios. ACROPOLE.FAU.USP.BR

Geosampa

Plataforma que permite o acesso aos mapas e informações territoriais dos principais sistemas de informação da Prefeitura Municipal de São Paulo, dentre eles o mapa Sara Brasil de 1930, elaborado através de aerofotogrametria, o mapeamento Vasp Cruzeiro de 1954 e o Ortofoto de 2004. GEOSAMPA.PREFEITURA.SP.GOV.BR

Biblioteca Digital Curt Nimuendajú

A Biblioteca Digital Curt Nimuendajú é um repositório de recursos sobre línguas e culturas indígenas sul-americanas, incluindo livros raros, artigos, dissertações e teses, com o objetivo de torná-los mais acessíveis a pesquisadores e outros interessados. ETNOLINGUISTICA.ORG

Vitruvius

O informativo digital (revista e jornal) possui uma série de textos de diversos autores que contribuem para a pesquisa de certos bens e para o entendimento da questão do patrimônio cultural de uma forma geral VITRUVIUS.COM.BR


Roteiros SESC AVENIDA PAULISTA

A Avenida Paulista e a Construção da Esfera Pública na Cidade

18/08, às 18h30 Inscrições na Central de Atendimento do Sesc Av. Paulista, a partir de 18/07, às 15h

Audiotour: Um Passeio pela Avenida Paulista

Acesso pelo aplicativo Sesc Avenida Paulista SESC BOM RETIRO

Vila dos Ingleses

19/08, às 13h Inscrições na Central de Atendimento do Sesc Bom Retiro, a partir de 19/07, às 14h SESC CARMO

Liberdade e Bexiga — Histórias de Escravos e Imigrantes (para crianças)

19/08, às 09h Inscrições na Central de Atendimento do Sesc Carmo, a partir de 01/08, às 14h

SESC CONSOLAÇÃO

Três Donas

Dona Maria Angélica 19/08, às 09h Dona Veridiana 19/08, às 10h Dona Maria Antonia 19/08, às 14h30 Inscrições na Central de Atendimento do Sesc Consolação, a partir de 25/07 SESC INTERLAGOS

Paisagens da Serra do Mar

19/08, às 07h30 Inscrições na Central de Atendimento do Sesc Interlagos, a partir de 19/07, às 14h SESC IPIRANGA

A Chegada dos Imigrantes Árabes e Espanhóis no Bairro do Ipiranga

18/08, às 13h Inscrições na Central de Atendimento do Sesc Ipiranga, a partir de 03/07, às 15h SESC OSASCO

Reminiscências Paulistanas: Memórias de um Nordestino em São Paulo

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19/08, às 08h Inscrições na Central de Atendimento do Sesc Osasco, a partir de 19/07, às 14h


SESC PINHEIROS

Morro do Querosene

18/08, às 14h Inscrições na Central de Atendimento do Sesc Pinheiros, a partir de 19/07, às 14h

Casa do Bandeirante

19/08, às 14h Inscrições na Central de Atendimento do Sesc Pinheiros, a partir de 19/07, às 14 SESC POMPEIA

Visitas Patrimoniais-Artísticas: A Fábrica da Lina 18 e 19/08, às 11h Retirada de senhas com 30 minutos de antecedência, no balcão da loja Sesc

Arquitetura: Modernidade, Tradição e Cultura Popular

18 e 19/08, às 15h Retirada de senhas com 1h de antecedência, no balcão da loja Sesc

SESC SANTANA

Trilha Urbana — Brincadeiras em Perus

18/08, às 10h Inscrições na Central de Atendimento do Sesc Santana, a partir de 19/07, às 14h

Trilha Urbana — Memórias e Espaços Públicos em Perus 19/08, às 10h Inscrições na Central de Atendimento do Sesc Santana, a partir de 19/07, às 14h SESC SÃO CAETANO

Pelos Passos da Capoeira em São Paulo

19/08, às 09h Inscrições na Central de Atendimento do Sesc São Caetano, a partir de 17/07, às 15h SESC VILA MARIANA

Trajetórias Negras em São Paulo 18/08, às 09h Inscrições na Central de Atendimento do Sesc Vila Mariana, a partir de 17/07


Oficina SESC CAMPO LIMPO

Memoráveis Paisagens

Com Anabela Gonçalves Vaz, Aline Rodrigues, Gisele Brito, Léu Britto, Ronaldo Bastos, Tony Marlon 18/08, às 14h30 Inscrições na Central de Atendimento do Sesc Campo Limpo, a partir de 17/07 Palestra Palestrantes: Anabela Gonçalves Vaz, Aline Rodrigues, Gisele Brito, Léu Britto, Ronaldo Bastos, Tony Marlon 18/08, às 17h30 Inscrições na Central de Atendimento do Sesc Campo Limpo, a partir de 17/07

Para mais informações acesse: sescsp.org.br

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Créditos das imagens (por página) 10 e 11 Vincenzo Pasto Rei/Acervo Instituto Moreira Salles 12 Benedito Junqueira Duarte/Acervo Fotográfico do Museu da Cidade de São Paulo 14 Tiago Queiroz/ Estadão Conteúdo 15 Cláudia Alcóver (KK Alcóver)/Acervo Fotográfico do Museu da Cidade de São Paulo 16 André Bueno 20 e 21 Militão Augusto de Azevedo/Estadão Conteúdo 22 Hélvio Romero/Estadão Conteúdo 24 Sebastião de Assis Ferreira/ Acervo Fotográfico do Museu da Cidade de São Paulo 25 Benedito Junqueira Duarte/ Acervo Fotográfico do Museu da Cidade de São Paulo 26 Júlio Katinsky/Casas Bandeiristas 27, 28 e 29 Danilo Morcelli 30 Edson Pacheco Aquino/Acervo Fotográfico do Museu da Cidade de São Paulo 31 Danilo Morcelli 34 e 35 Fotógrafo desconhecido/Acervo São Paulo Antiga 36 Danilo Morcelli 38 Fotógrafo desconhecido/Acervo CONDEPHAAT/ Secretaria de Cultura do Estado de São Paulo 39 Fotógrafo desconhecido/Acervo Fotográfico do Museu da Cidade de São Paulo 40 e 41 Aurélio Becherini/Acervo Fotográfico do Museu da Cidade de São Paulo 42 WikimediaCommons 43 Fotógrafo desconhecido/Acervo São Paulo Antiga 44 e 45 Guilherme Gaensly/Acervo Fundação Biblioteca Nacional — Brasil 47 Roberto Faustino/Folhapress 47 André Labate Rosso 48 Douglas

Nascimento/Acervo São Paulo Antiga 49 Fotógrafo desconhecido/Acervo São Paulo Antiga 52 e 53 Fotógrafo desconhecido/Museu da Imigração/Arquivo Público do Estado de São Paulo 54 Cris Faga/Folhapress 57 Fotógrafo desconhecido/Museu da Imigração/Arquivo Público do Estado de São Paulo 58 Fotógrafo desconhecido/Acervo ICIB/Casa do Povo 60 Renato Luiz Ferreira/Folhapress 61 Fotógrafo desconhecido/Museu da Imigração/Arquivo Público do Estado de São Paulo 62 Fotógrafo desconhecido/Museu da Imigração/Arquivo Público do Estado de São Paulo 62 Fotógrafo desconhecido/Museu da Imigração/Arquivo Público do Estado de São Paulo 64 Nelson Antoine/Fotoarena/ Folhapress 65 ©Márcia Minilo/Olhar imagem 66 ©Juca Martins/Olhar imagem 67 Douglas Nascimento/Acervo São Paulo Antiga 70 e 71 Bruno Santos/Folhapress 72 Fátima Tassinari 74 Ovidio Vieira/ Folhapress 76 ©Juca Martins/Olhar imagem 77 Matheus Sakita 80 e 81 João Paulo Leite Guadanicci 82 e 83 Leonardo Wen/ Folhapress 84 Allison de Carvalho/ Catedralonline 85 Daniel Marenco/ Folhapress 86 ©Márcia Minilo/Olhar imagem 87 Militão Augusto de Azevedo 88 ©Juca Martins/Olhar imagem 89 ©Marcia Minillo/ Olhar imagem 90 Alf Ribeiro/Folhapress 91 ©Catherine Krulik/Olhar imagem


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Sesc — Serviço Social do Comércio

Administração Regional no Estado de São Paulo

Presidente do Conselho Regional

Abram Szajman

Diretor do Departamento Regional Danilo Santos de Miranda

Prefeitura de São Paulo PREFEITO Bruno Covas

Secretaria Municipal de Cultura SECRETÁRIO André Sturm SECRETÁRIA-

ADJUNTA Marília Alves Barbour CHEFE DE GABINETE Juliana Velho

Superintendentes

Departamento do Patrimônio Histórico

COMUNICAÇÃO SOCIAL Ivan Giannini

ASSESSORIA TÉCNICA Karina Kodaira, Matheus

ADMINISTRAÇÃO Luiz Deoclécio Massaro

Franco NÚCLEO DE VALORIZAÇÃO DO PATRIMÔNIO COORDENADOR Higor Advenssude DESIGN E VÍDEO Diego Arvate CONTEÚDO Walter Pires, Murilo Perdigão

TÉCNICO-SOCIAL Joel Naimayer Padula

Galina ASSESSORIA TÉCNICA E DE PLANEJAMENTO Sérgio José Battistelli

Gerentes

ESTUDOS E DESENVOLVIMENTO Marta Colabone ARTES GRÁFICAS Hélcio Magalhães

Sesc na Jornada do Patrimônio 2018 PESQUISA Ana Laura Souza e Danilo Morcelli

CONSULTORIA TÉCNICA Paula Nishida Barbosa, Vanessa Fernandes Corrêa e Walter Pires REDAÇÃO Gabriela Aguerre IDENTIDADE VISUAL E PROJETO GRÁFICO Elisa von Randow, Julia Masagão e Matheus Sakita EQUIPE SESC Cristina Fongaro Peres, João Paulo Leite Guadanucci, Lourdes Teixeira Benedan, Rogério Ianelli, Silvia Eri Hirao e Thais Helena Franco NÚCLEO DE TURISMO SOCIAL Flávia R. Costa

DIRETORA Mariana de Souza Rolim

Conselho Municipal de Preservação do Patrimônio Histórico, Cultural e Ambiental da Cidade de São Paulo PRESIDENTE Cyro Laurenza

Coordenação de Programação

Gabrielle Araujo EQUIPE DE PROGRAMAÇÃO E PROJETOS ESPECIAIS André Mendes, Beatriz Cyrineo, Danilo Cabral, Gabriela Fontana, Fernando Dourado, Katia Bocchi, Lucas Borges, Sylvia Monasterios, Tainah Fagundes, Vander Lins


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SESC na jornada do patrimônio 2018: guia de lugares

e camadas históricas de São Paulo / Sesc — Serviço Social do Comércio — Administração Regional no Estado de São Paulo; Departamento do Patrimônio Histórico da cidade de São Paulo. — São Paulo: Sesc São Paulo, 2018. — 100 p. il.: fotografias. IV Jornada do Patrimônio na Cidade de São Paulo ISBN 978-85-7995-222-7 1. Sesc - Serviço Social do Comércio — Administração Regional no Estado de São Paulo. 2. São Paulo (cidade). 3. IV Jornada do Patrimônio na Cidade de São Paulo. I. Título. II. Serviço Social do Comércio. III. Departamento do Patrimônio Histórico da cidade de São Paulo. IV. Jornada do Patrimônio na Cidade de São Paulo. CDD 703

REALIZAÇÃO

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PAPÉIS CAPA Cartão Supremo 300g/m² MIOLO Pólen Bold FONTE Gulax e Aperçu TIRAGEM 3000

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