Tribo Skate Edição 206

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ion Zombie SeSleSss Criaturas da dead

Caique Silva Fome de manobras

S o n a 0 3 urgh asileira r b a C r a m a d a n d o

Jorge Kuge, boneless, 1986 ano 22 • 2012 • # 206 • r$ 8,90

www.triboskate.com.br












índice //

dezembro 2012 // edição 206

eSpeciaiS> 45. zombie deadleSS o dia dos Mortos 52. Urgh 30 anoS o dNa do skatE BrasilEiro 82. caiqUe Silva foME dE MaNoBras SeçõeS> Editorial ............................................................ 16 Zap ......................................................................... 22 Casa Nova .......................................................... 86 Hot stuff............................................................ 92 Áudio (los BifE)................................................. 94 MaNoBra do BEM............................................. 96 skatEBoardiNg MilitaNt ............................. 98

Capa: a história do skate é feita de muitas sessões, suor, trabalho, eventos, criações, resistência, tombos, pesquisas, prazer e ralações, mas principalmente de belas imagens e diversão. O criador da Urgh, Jorge Kuge, emplacou um poster na antiga revista Overall, que agora volta para comemorar os 30 anos da marca em grande estilo. Frontside boneless num sítio de Jundiaí, com todas as cores e criatividade da época: 1986. Foto: Daniel Bourqui ÍnDiCe: nova geração do skate de Brasília, Lehi Leite impressiona por um apurado estilo e a capacidade de estender ao máximo as manobras. Backside flip. Foto: Camilo neres

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Vinícius Branca

editorial //

O DNA de marca brasileira

O

skate brasileiro tem autoestima elevada, graças ao trabalho incansável de seus skatistas de visão e coração. Ao completar 30 anos, a Urgh é uma referência ímpar, como marca, ideal e identidade. Está entre as primeiras do mundo em longevidade, provando que reinventar-se é uma constante lição e servindo de exemplo para tantos que adotaram o skate como projeto de vida. O marco de suas primeiras três décadas é uma conquista coletiva. Não há como negar ou diminuir o quanto foi produzido de coisas legais para o esporte e o mercado ao longo de tantos anos. Se hoje o skatista brasileiro tem a moral que tem no cenário internacional, é muito graças aos muitos skatistas, profissionais, criadores e admiradores que passaram por suas fileiras, seus experimentos, suas atuações. Tudo isso enfrentando os altos e baixos do mercado, da política, dos acidentes de percurso, sempre mantendo um pé no presente, o faro no futuro e um grande respeito ao passado. O skatista brasileiro pode bater no peito e se orgulhar de sua história autêntica, com tantos personagens guerreiros e nossos traços culturais valorizados. Estar hoje, lado a lado com as grandes marcas e skatistas internacionais, é mera consequência de tudo que foi realizado com dedicação, carinho e respeito aos pilares do skate: o skatista, as marcas, as lojas, a mídia, as entidades, os eventos. Como você verá mais adiante, o criador da marca, Jorge Kuge sempre acreditou que é importante compartilhar conhecimentos e conquistas. Nossa matéria de capa é para todos que acreditam no mercado nacional e sabem valorizar as características do skate brasileiro. Para quem está no cenário há muito tempo ou que está começando agora. Para skatistas e empreendedores de qualquer parte do planeta. (Gyrão)

O skatista brasileiro sempre valorizou suas origens, por isso é considerado no mundo todo como merecedor de destaque no cenário. Quer um bom exemplo desta “brasilidade”? Marcelo Formiguinha, crooked na nova Praça Roosevelt, em São Paulo.

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ANO 22 • DEzEMBRO DE 2012 • NÚMERO 206

Próxima Edição 207

Editores: Cesar Gyrão, Fabio “Bolota” Britto Araujo

marcelo mug

Conselho Editorial: Gyrão, Bolota, Jorge Kuge Arte: Edilson Kato Redação: Chefe de redação: Junior Lemos Marcelo Mug, Guto Jimenez Fotografia: Marcelo Mug, Junior Lemos Colaboradores: Texto: Sandro Soares, Otavio Neto, Cecíla Mãe, Allan Mesquita. Fotografia: Shin Shikuma, Daniel Bourqui, Jair Borelli, Didi Nagao, Petronio Vilela, Robson Sakamoto, Fabiano Yamada, Carlos Solrac, Heverton Ribeiro, Camilo Neres, Vinícius Branca, Flavio Gomes, Raphael Kumbrevicius, Otavio Neto, Cid Sakamoto, Alex Brandão, Bruno Park, Flavio Nascimento, Adriano Rebelo, Fernando Gomes, Marcus Garcez, Alessandro Ginez, Rafael Bassildo, Diogo Groselha.

JB Pátria Editora Ltda Presidente: Jaime Benutte Diretor: Iberê Benutte Administrativo/Financeiro: Gabriela S. Nascimento Circulação/Comercial: Patrícia Elize Della Torre Comercial: Daniela Ribeiro (daniela@patriaeditora.com.br) Fone: 55 (11) 2365-4123 www.patriaeditora.com.br www.facebook.com/PatriaEditora Empresa filiada à Associação Nacional dos Editores de Publicações - Anatec

Impressão: Prol Gráfica

Pablo Groll em Israel (Desta vez, inteiro) Entrevista

Bancas: Fernando Chinaglia Distribuidora S.A. Rua Teodoro da Silva, 907, Grajaú Rio de Janeiro/RJ - 20563-900

Distribuição Portugal e Argentina: Malta Internacional

Deus é grande! São Paulo/SP - Brasil www.triboskate.com.br E-mail: triboskate@triboskate.com.br

A Revista Tribo Skate é uma publicação da JB Pátria Editora. As opiniões dos artigos assinados nem sempre representam as da revista. Dúvidas ou sugestões: triboskate@patriaeditora.com.br





zap //

[01]

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divulgação

[04]

Marcelo Mug

o mais novo reforço do time de skatistas da Snoway. O paulistano colhe bons frutos também com seu patrocinador de tênis, a Mad Rats, que fez coquetel para lançar sua video part. • Aliás, a comemoração da marca também apresentou a nova loja Mad Rats em São Paulo, que fica na rua Lins de Vasconcelos, 991. • A Vegetal também anuncia sangue novo na equipe. Alexandre “Nicolau” Grecco agora coloca pra manobrar o shape nacional mais requisitado. • Nicolau é membro do Brasil Skate Camp em São Paulo e ajuda a ensinar skate para todo o tipo de público. Lembrando que o acampamento está com inscrições abertas para a temporada 2013: brasilskatecamp.com.br • A Posso! Skateboards também armou uma big de uma festa para apresentar sua nova coleção mais o novo site (posso.com.br). • E por falar nisso, Felipe Vital agrega agora à Öus sua longa experiência no mercado de skate. A marca fabrica seus pares de tênis inteiramente na cidade de Franca/SP, ou seja, é genuinamente nacional. • Mais skatistas entram para o time dos que recebem os parabéns no dia dos pais! [02] Sandro Dias anunciou com extrema felicidade a chegada de Gabriel. Já Guilherme Trakinas gasta agora suas economias também com roupinha de criança, tudo para manter Lina Flor no mesmo estilo do pai. E o fotógrafo e skatista André Calvão fecha o time dos pais de primeira viagem desta edição, com a chegada da linda menina de olhos claros chamada Estela. Parabéns pelos tesouros, rapaziada! • Danilo Cerezini apresentou duas novidades: sua entrada na Boulevard Skateboards, já colocando nas ruas três pro models (sua saída da Blind havia sido comunicada semanas antes) e também assinatura de model de eixos pela Silver Trucks. • [03] Falando em eixos, Da Chronics, Daniel Crazy e a Liga Trucks lançaram o primeiro modelo de eixos do profissional pela marca. E além dos eixos assinados, a parada também traz outras doideiras do Crazy. • Crvis3r é o nome da mais nova publicação brasileira voltada exclusivamente para o universo do longboard, speed, downhill, slide, slalom, cruiser e etc. Distribuída de forma gratuita nas melhores lojas de skate do Brasil, a iniciativa é encabeçada por Fabio Bolota e Guto Jimenez. • [04] Cris Punk, Gabriel Mendes e Luciano PT são os skatistas de ladeira que compõem a equipe da distribuidora SK8-1, que representa no Brasil as melhores marcas para longboard www.sk81.com.br

Fotos divulgação

[01] O amador Victor Cardoso, Casa Nova da edição 204, foi apresentado como

Thronn Wheels

Vista Otavio Neto

Após um ano testando a melhor fórmula do uretano para rodas de skate, em laboratório mocado a sete chaves na Califórnia, a Thronn Sk8brds Inc. coloca nas ruas de todo o mundo sua coleção de “redondas” totalmente desenvolvida no berço do skate. Com desenho do mestre Tai Tai, na verdade uma releitura da história dos cogumelos contada pelo Thronn no Vidas Sobre Rodas. Willy Song, primeiro skatista patrocinado pela marca, ficou alucinado com o produto final. Por enquanto, saem com numeração 51mm, mas há previsão de outros tamanhos. As rodas Thronn Sk8brds estarão disponíveis em breve na Ultra (www.ultraskate.com.br).

Calças, bermudas, camisetas, boné, mochilas e a carteira mágica. Estes são os ítens da primeira coleção assinada por um integrante da equipe Quiksilver Brasil. Ele é skatista e atende pelo nome de Otavio Neto! As peças já estão na pista sendo uma excelente pedida para presentear qualquer skatista. Otavio explica o exclusivo processo de criação aplicado nesta coleção: “Sempre que viajo, faço uns desenhos na lixa expressando alguns acontecimentos da viagem e depois tiro a lixa do shape e levo para casa. Com a fotografia não é diferente, sempre está comigo. Resumindo, foram inspirações das minhas viagens, nos dois sentidos da palavra”.

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Gardhenal Beer O pro master de Sorocaba/SP e que também manobra bem as ferramentas de design gráfico recebeu uma puta homenagem. Rogério Lemos assina o mais novo model lançado pela Gardhenal, com estampa de autoria do Marcus “Aviador” Pacheco, ilustração que faz alusão ao líquido precioso que ocupa a tão desejada garrafa verde. Esse é apenas um detalhe já que o outro destaque do shape é o corte utilizado, uma reeleitura dos models de street dos anos 90, época em que o skate era um pouco mais despretensioso. Cheers!



zap //

NãO tem mais desculpa! agOra tOdO muNdO pOde acOmpaNhar as atualizações de iNstagram dO seu skatista favOritO diretO NO NavegadOr de WeB. digita lá que O NOssO é iNstagram.cOm/ triBOskate e se vOcê tem O aplicativO segue a geNte tamBém (@triBOskate). a partir de agOra será dO NOssO perfil que vamOs escOlher Os iNstas deste NOBre espaçO.

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Brigadeiro @ instagheto, o único brasileiro integrante da #BonesBrigade” skataholic.com. br/

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Flavio goMes

sidNey arakaki (@skataholic)

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me and the hardest araken, grande my ninja @ project that i ever amigo, grande got myself into it skatista, torcedor, sk8ribeiro felling like turistas in @ous_oficial rsrsrsrs, sem aNdre geNOvesi #marbleheaven tempo ruim, Bs (@andregenovesi) #guangzhou creWWW!! giaN NaccaratO (@gianaccarato) #lrgchina

Tailslide pré-acidente.

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rOdrigO teixeira (@rodrigotx)

Dexter de repouso Durante o Vans Street Amador, disputa armada pela loja Ophicina na perfeita pista da Indaiatuba/SP e que chegou à segunda edição em 2012, o amador de São Paulo, Ricardo Dexter, se machucou sério durante sua volta, fraturando o braço direito na queda. Agora o skatista precisa ficar em repouso e seguir todas as orientações médicas para se restabelecer da fratura. A Vans Brasil sabe muito bem disso e mais um pouco: além de prestar toda a assistência que Dexter precisa para se restabelecer, os caras ainda envolveram seus milhares de seguidores em uma campanha para não deixar o skatista perder a motivação. E quem levou o par de Vans Sk8-Hi, foi Laura Leite, pela frase: “Ser um grande homem, significa saber lidar com as vitórias, mas um dia também cair, e mesmo depois da queda, continuar ser grande. Você caiu, mas soube levantar, por força da sua vontade de fazer aquilo que ama; e mostrou que apesar disso, não enfraqueceu, e sim obteve ainda mais força. Quando melhorar, vai ter muito mais o que mostrar pra esse mundão que te pertence!”.



zap //

falar que O país dO carNaval é O favOritO deles NãO é O suficieNte! queremOs ver Os griNgOs deseNrOlarem um pOucO mais a cONversa, pra saBermOs Os mOtivOs dessa preferêNcia. e Na estreia deste NOvO espaçO, trazemOs O NOrte-americaNO de estilO iNcONfuNdível: cOrey duffel. O que vem à cabeça quando falamos de skate brasileiro? Picos gueto e superfícies irregulares. Qual característica dos skatistas brasileiros mais te impressiona? Determinação. Bob Burnquist e Rodrigo TX têm mais habilidades do que qualquer outro skatista. Qual cidade brasileira tem vontade de conhecer e andar de skate? Rio de Janeiro. Estive em São Paulo ano passado e na próxima gostaria de conhecer as praias e as garotas que sempre estão nelas. Qual mídia social você marca presença na internet? Por que? Gosto de usar o Facebook. É a maneira mais fácil de me conectar com os fãs de todas as partes de todo o mundo. O que leva em consideração quando escolhe as peças do seu skate? Gosto de rodas e shape grandes, tamanhos 54 mm e 8.5. E gosto de deixar meus eixos soltos! Qual parte de vídeo considera a mais sólida em sua carreira? Imagino que minha parte mais versátil é a que está no vídeo “Cataclysmic Abyss” (Foundation, 2007). Mas acho que a galera vai curtir minha parte no novo vídeo da Osiris “Never Gets Old”, que acabou de sair. Corey Duffel (Foundation, Pig, Osiris, Mob, Venture, Swiss, Armourdillo, Dakine), 28 anos, 18 de skate. Nasceu e vive até hoje em Walnut Creek, CA, EUA, distante cerca de 16 quilômetros de Oakland.

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Jason Hainault

dan Z

corey Duffel



rapHael KuMbrevicius

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Fs flip sobre o cano.

roDriGo Maizena Ele esticou a temporada europeia desse ano, para marretar ainda mais os infinitos picos do Velho Continente. Certamente também teve muito tempo para explorar as várias pastas do seu player de músicas. Agora, Rodrigo Maizena compartilha com nossos leitores aquelas que estão entre as 20 mais tocadas. * Rodrigo “Maizena” Leal (...Lost, Your Face, Base Wheels, R.A.S. Bearings, Transfusão Skateshop)

Drake, Over (Dirty) Cam’ron, Wet Wipes Dire Straits, Sultans of Swing Rick Ross, All I Do Is Win Rick Ross, Push It Rick Ross, Aston Martin Rick Ross, I’m Not A Star Yeah Yeah Yeahs, Way Out Yeah Yeah Yeahs, Cheated Hearts A-Ha, Take On Me

The Doors, Rides On The Storm Billy Idol, Dancing With Myself Bob Dylan, Hurricane Rick Ross, Im A Boss Lil Wayne, Right Above It Lil Wayne, Sky’s The Limit Lil Wayne, Throw It In The Bag Kanye West, Turn Up The Lights Kanye West, Runaway Kanye West, Dark Fantasy

a lista de desafios do adil O norueguês Adil Dyani morou por mais de uma década nos Estados Unidos, pra se dedicar ao skate profissional e já esteve uma vez no Brasil, nos distantes anos 90. Mas sua ligação com nossa pátria é de longa data, ele sempre foi pilhado pra andar com os brasileiros nas sessions da temporada europeia, nos mais diversos países, ao longo dos anos. Agora, aos 40 anos de idade, o skatista voltou à Noruega com a missão de criar novos desafios. Muitos vão se lembrar facilmente dos bomb drops do Danny Way, incluindo aquele monstruoso da grande guitarra do Hard Rock Cafe de Las Vegas, em 2006, mas poucos sabem que Adil registrou por três anos seguidos (2002, 2003 e 2004) os recordes mundiais em Oslo, tarefa que voltou a realizar mês passado, depois de se recuperar de uma cirurgia nervosa que passou em 2009. A façanha pode ser vista de vários ângulos em seu site pessoal e posts no Youtube. O recorde de 2006, do Danny Way, foi de 8,53m de queda livre, da plataforma até a rampa (um quarter de pouco mais de 8 metros, onde o Bob deu meia dúzia de drops - incluindo de switch). Desta vez, Adil fez 7 metros de queda livre sobre um quarter de 15 de altura, somando os 22m divulgados). A bagaça é assustadora, mas ainda teve quem quisesse ficar comparando os feitos tirando onda do Adil, porque ele vestiu um macacão de speed e capacete de moto! Vai lá, então?

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Marcelo Kosake, fs air.

colombowl, a nova obra de arte // TexTo e foTos OtaviO NetO Compre um terreno onde muitos não comprariam. Faça um cimento bem forte para fixar alguns tijolos no chão, para ter noção de um desenho de pista. Não escute os outros dizendo que você é louco! Deixe tudo “descansando” por alguns anos sem esquecer de regar todos os dias com pensamentos positivos de que tudo é possível. Assim nasceu o Colombowl, nova obra de arte construída no município de Colombo, na região de Curitiba/PR. Estou falando do bowl perfeito que o profissional Vitor Simão, junto com os amigos Franco Zaniolo e Marcio Coraiola, colocaram a mão na massa para realizarem um sonho. Lógico que outros grandes amigos ajudaram com uma força moral e uma mãozinha na hora de carregar todo o peso de um sonho. O Colombowl fica em uma área muito tranquila, arborizada e bem perto do centro da cidade e também da casa do Vitor. A pista ficou perfeita em todos os aspectos. O coping block foi fabricado por uma forma exclusiva, de acordo com os ângulos das bordas do bowl, evitando cortes na hora de adaptar às curvas. Também foi desenvolvida uma mistura nobre de concreto que desliza mais os trucks. Com a novidade, muitos skatistas da antigas estão voltando a andar e com isso trazem suas famílias, aumentando os futuros skatistas. Dá para sentir a energia de feliciade no ar. Agora é só marcar a sessão com os amigos e se diverir!

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Vitor Simão, blunt to fakie.



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carrinhos e carrões 2012 // TexTo e foTos JuNiOr lemOs Entre as diversas feiras e eventos que atraem turistas para São Paulo todo ano, certamente o Salão do Automóvel é uma das mais esperadas pela galera. E na edição 2012, o skate teve seu representante com a presença do Suzuki SX4 Mormaii, que foi apresentado por alguns integrantes da equipe radical da marca, entre eles o skatista Marcos Gabriel, natural de Florianópolis/SC, representante do skate vertical brasileiro. // Sobre o carro O Suzuki SX4 Mormaii é um veículo único (edição limitada) que reúne o melhor de várias categorias. Tem o desempenho de um esportivo, tração 4×4 de um SUV, design compacto de um hatch e um amplo espaço interno. O carro ainda possui sport shower, um chuveiro remoto com capacidade para 17 litros de água, ideal para tirar o sal e a areia após uma sessão de boas ondas ou num rolê de skate pelos lugares menos preparados.

Digiácomo, Guilherme, Marcos e Giorgi.

Marcos Gabriel.

O Suzuki SX4 Mormaii.

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Fotos Cid sakamoto

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Sonho realizado em Mogi

arquivo Pessoal

Quando a galera do skate se concentra em torno de uma causa que favorece a todos, o resultado pode surpreender. E quando essa causa é a reivindicação de um espaço público adequado para a prática do skate e ela é prontamente atendida, podemos dizer que é um sonho coletivo que se realiza. Foi assim que surgiu a mais nova pista de skate pública na região metropolitana de São Paulo, na cidade de Mogi das Cruzes. Com quatro pistas que não favorecem o desenvolvimento do skate por lá, a galera da associação de skate local procurou amplificar este problema com a ajuda do CQC (Band) e o quadro “Proteste Já”, momento em que o prefeito assumiu o compromisso de construir uma nova área até 1º de setembro de 2012, aniversário de 452 anos da cidade. A promessa foi cumprida e o mais importante: a construção foi feita por empresa especializada em rampas de skate (Flyramp com a assessoria de um casal de gringos especialistas em pisos), o que significa que o espaço recebeu o melhor que tem no mundo, em todos os sentidos. A área fica no Complexo Esportivo “Professor Hugo Ramos”, no Mogilar e conta com uma street plaza completa e dois bowls de deixar qualquer verticaleiro de sorriso no rosto. Certamente uma das pistas mais elogiadas dos últimos tempo! Mas não se esqueca de levar seu capacete, é obrigatório o uso de equipamento de segurança para manobrar por lá.

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O drop do Sleiman Foram mais de 20 comerciais de televisão gravados por Fabio Sleiman. O último, para o Honda Fit, ele abre com um drop assustador no Memorial da América Latina de São Paulo. O próprio skatista nos conta os detalhes: “A gravação foi em outubro, dirigida por uma equipe de mais de 40 pessoas, inclusive com diretores europeus. Eu desci lá de cima até a metade amarrado por cordas e travado por bombeiros. É impossível descer tudo com aquele tranco no final e, numa gravação, é necessário muitas e muitas tentativas. Depois foi a parte da metade da parede para baixo. Tive que dropar várias vezes e eles colocaram um colchão de ar para o pouso! Eu dizia que era melhor eu fazer sem o colchão, mas esses produtores sempre querem segurança máxima. Mesmo assim eu mostrei que era possível fazer o drop da metade da parede para baixo, mesmo com um tranco animal. As gravações começaram às 07h e terminaram às 14h. Estou feliz: mais um comercial gravado!”



alex brandão

zap //

Na missão em Curitiba, bs flip pra fechar o dia de muito skate de rua.

zezinho MarTins a expressãO “skate pesadO” NãO quer dizer exatameNte que O cara literalmeNte queBre tudO que eNcONtre pela freNte. Na verdade, mesmO a expressãO “queBrar tudO” tem OutrO seNtidO. zeziNhO é um cara recONhecidO pOr seu skate de pesO, Ou seJa, dOmiNa maNOBras técNicas cOmO pOucOs e vOlta leve Nas maNOBras. cOmplicadO? sim, é históricO NO skate a iNversãO dOs seNtidOs. e, zeziNhO é mestre em surpreeNder em tOdas as Bases dO street skate. Resuma sua vida em três palavras: • Dona Andreza (mãe) • Camila (esposa) • Isabelle e Bernardo (filhos) Vídeos de skate nacional: 1) Duotone 2) Ideais 3) Sinergia Skatistas brasileiros: 1) Rodrigo TX 2) Cezar Gordo 3) Bruno Aguero

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Não pode faltar no rolê: 1) Camaradas 2) Diversão 3) Água Novidades para 2013: 1) Pro model de tênis pela Hocks 2) Video part 3) Entrevista Manias quando monta seu skate: 1) Colocar a lixa bem rente ao shape, pra não precisar cortar de um lado

2) Sempre mudar a posição dos eixos, pra evitar que o skate ande torto 3) Sair manobrando de leve, pra ver se tá tudo certinho Viagens que ainda quer fazer com o skate: 1) Los Angeles 2) Nova York 3) E conhecer o Brasil, de ponta a ponta

Salve: Um salve geral pra todo mundo. E se a gente passar de 2012, que 2013 nos aguarde! // JoSé MartinS de Souza coSta 26 anos, 13 de skate Cidade natal: Birigui Cidade em que mora: são José do rio Preto Patrôs: HoCks e Foton medidas de seu skate: sHaPe m1 (Foton), eixos 133 e rodas 51



zap //

Paulo Piquet frequeNtOu a escOla paulistaNa de skate de rua e gaNhOu respeitO Num dOs ceNáriOs mais cOmpetitivOs dO país. emBOra fique mais difícil lemBrar dO piquet em campeONatOs, ser cONsideradO pOr tOdOs NO real street skate da terceira maiOr regiãO metrOpOlitaNa dO muNdO, é para pOucOs. prOfissiONal desde 2008, iNtegra equipes cOm graNdes NOmes da mOdalidade e cOstuma puxar O ritmO em apreseNtações e filmageNs. sem miséria para gaps, cOrrimãOs, BOrdas e maNOBras técNicas eNtrOu em seu liNha vermelha dispOstO a aBrir O cOraçãO aOs leitOres da triBO skate.

// Paulo Piquet 26 anos, 15 de skate Patrôs: BlaCk sHeeP e Foton aPoio: sigilo skatesHoP loCal: Pista da saúde, são Paulo/sP

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só tô ouvindo música dos anos 90 pra trás. Eu meio que parei no tempo, porque acredito que não existe música nova, aquela que você fala: “Carai, essa mú música é foda; vamos sair pra andar de skate!”. Por isso que prefiro ficar nos meus anos 90 (risos). É o que eu acho. É nóis, Nei! • Piquet! Como um dos melhores skatistas brasileiros, você pensa em andar de skate até quando? (Felipe Barbosa, Cascavel/PR) – Fico até triste em saber que não vou tá nessa pegada pra sempre! Mas quero an andar até as pernas não aguentarem mais. • Em Barcelona, quem ajudou você na viagem? Você tem um bom retorno das marcas que represen representa? Acho que você anda muito de skate, por isso sou seu fã! (Rony, São Paulo/SP) – Na real as viagens que fiz pra Europa foram todas do meu corre! Penso o seguinte: se você obje não viajar e correr atrás dos objetivos, fica difícil evoluir ficando só aqui no Brasil. E na real é um sonho, viajar. Você anda no pico que os caras da Lakai já andaram, por exemplo. E saber que se consegue dar uma trick ali, isso faz qualquer um ser muito mais feliz! decor • Já sofreu alguma lesão em decorrência do skate? (Gabriel Henrique de Morais, Campinas/SP) – Pela graça de Deus, não! • Qual foi a maior dificuldade que você superou para se tornar um skatista pro? E qual o pior perrengue que você já passou andando de skate nas ruas? (Airton Jakinha, São Paulo/SP) – A maior dificuldade, creio eu que é pra todos: é não ter material para andar de skate, pra evoluir as manobras. Porque, na real, é o que a gente mais precisa. Infelizmente pra quem anda de skate na rua, sempre vai passar um perrenperren gue ou outro. Vai andar no pico, começa a chover ou o segurança embaça. Vai filmar, tem que ficar ligeiro com os equipamentos. Ou então volta triste pra casa porque não acertou a manobra. Tudo isso dá raiva (risos)! bruno parK

• Você foi um dos principais skatistas da SB Shoes. A marca ainda está no mercado? Depois você entrou na Red Nose Shoes, com anúncios bem legais também. Fora a Foton e Black Sheep, você está com algum patrô de shoes atualmente? (Felipe Thiago, Mogi das Cruzes, SP) – Na real, pra mim, a SB Shoes foi a base de tudo no skate e na minha vida. Aprendi muito com a marca, foi meu primeiro patrô! Agradeço muito porque, na real, se não fosse assim no começo do meu skate, a força que eu recebi, acho que não estaria onde estou hoje. Só tenho a agradecer tudo que aconteceu naquela época, mas infelizmente a SB não está mais no mer mercado. Atualmente estou sem patrô de tênis, mas tô no corre para chegar a hora de ter uma nova parceria. E quando isso acontecer, vou saber aproveitar e andar muito de skate! • O que sua família acha de você ser skatista? E o que você diria para quem está começando agora? (Gabriel Henrique de Morais, Campinas, SP) – Minha família sempre me dá força, porque sabe que é o que me deixa feliz! Quando eu tinha uns 16 anos, já estava no corre do skate, viajando bastante, mas ainda não ganhava dinheiro; na época minha mãe trabalhava no (bairro) Paraíso, e arrumou um trampo pra mim de office boy; justamente quando estava na pegada de andar 10 horas por dia, minha mãe viu que eu não estava feliz, chegava sempre murcho do trabalho (risos). Acabei saindo do trampo, achando que ela falaria um monte; mas escutei uma conversa dela com meu padastro, dizendo: “deixa ele andar de skate que vai dar certo!”. Aí, graças a Deus, está dando tudo certo. Diria pra quem está começando agora, para andar de skate por amor, porque assim o resto será consequência. Skate é muito mais style que muitas coisas por aí. • Firma, Piquet! Seguem algumas perguntas: Quais skatistas são suas influências? Alguma video part em andamento? Quais músicas você está curtindo atualmente? Abração e vê se aparece outras vezes aqui na área! (Sidnei Mazocco, Catanduva/SP) – Minhas influências sempre foram Rodrigo Tx, Fabio Cristiano, Bruno Aguero e a banca KDC. Tenho uma parte guardada e creio que, no mais tardar, vou lançá-la em fevereiro. Atualmente



zap //

Paulo Piquet

• Depois de tantos anos andando de skate, o que mais te motiva a levantar e pensar: hoje vou dar um rolê com a empolgação de quem começou a andar há alguns meses! (Ailton Araújo, São Paulo/SP) – Na real, quando pego meu skate sempre tenho a mesma sensação de alguém que começou a andar de skate há alguns meses. Porque, além de tudo, é o que me faz bem e eu quero evoluir o meu skate sempre. • Um dos sonhos de um skatista é ter model de tênis, shape e etc assinados. Queria saber qual é a sensação de ver em uma sessão alguém usando seu shape? (Wilson R. Ramos, Santa Rita do Passa Quatro/SP) – Orra! Sempre tive o sonho de ter modelo de shape assinado com meu nome! E quando vejo alguém usando meu shape, penso comigo que tudo o que passei em cima do skate, as barreiras que superei, tudo valeu demais a pena! • Salve Blaaack, tudo certinho sangue? (risos) Muito respeito por você, mano! Tá sempre humilde, trocando ideia na sessão com sorriso na cara, é inspiração mesmo. Você costuma sempre soltar umas marretas brabas lá na pista da Sáude, sempre incentivando quem é novo. Bem vivido de muitos tombos e muitos acertos, e vai que vai... A pergunta é essa: O que faz valer a pena com todo esforço e desgaste que esse esporte exige? Sabendo dos perigos, o que te faz continuar? (Giovanni Andreuccetti, São Paulo/SP) – Salve firma, é nóis! Saúde “all day”. Skate pra mim é um desafio e sempre quero evoluir cada vez mais. E o que vale a pena no skate, pra mim são as amizades verdadeiras que se constrói. • Piquet, você acha que ter crescido no (bairo) Planalto Paulista, em uma época em que praticamente todos os moleques andavam de skate (inclusive o Cesão, que era um espelho dentro de casa), foi determinante pra você ser esse streeteiro? (Rodrigo Cruz, São Paulo, SP) – Na realidade, o Cesão foi um cara que me ajudou bastante no começo! Devo muito a ele e graças a Deus eu cresci num lugar que só tinha streeteiro. Isso me ajudo muito a andar de skate na rua! Quando comecei, não sabia o que era filmar e aqui na área os caras já estavam fazendo isso fazia tempo. E, além do Cesão, devo muito ao Planalto Paulista, Ricardo Rico, Rafael Anão, Marcio Conrado, Ricardo Pires, Rodrigo Cruz, Eduardo Duts e Gilsão! Devo muito a esse cara!!! Obrigado, galera. • E como a pergunta que o skatista enfocado mais curtir leva o shape, Paulo Piquet entregará o prêmio para Giovanni Andreuccetti (São Paulo/SP).

Próximo enFoCado: JarbaS Jay envie suas Perguntas Para triboSkate@triboSkate.coM.br Com o tema linha VerMelha – JarbaS Jay. Coloque nome ComPleto, Cidade e estado Para ConCorrer ao Produto oFereCido Pelo ProFissional.

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Paulo Piquet, switch crooked grind.


bruno parK

// zap

2012/dezembro TRIBO SKATE | 43



noturna // deadless

// TexTo e foTos Flavio NascimeNto

“Os seus mOrtOs viverãO... eles se levantarãO!”... “Os própriOs justOs pOssuirãO a terra e residirãO sObre ela para tOdO O sempre.” — isaías 26:19; salmO 37:29.

N

uma sinistra madrugada, a Crew Deadless, pelo segundo ano consecutivo, realizou esta memorável Zombie Session. Eduardo Braz, Marcos Noveline, Wagner Preto, Alan Resende e Armando Rolamento protagonizaram mais um Trash Movie registrado pelos mestres do vídeo Rogério Assis e Rafael Antiglia.

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alan resende, ss fs smith.

vagner preto, bs smith.

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noturna // deadless

marcos noveline, crooked. armando rolamento.

eduardo braz, wall to fakie.

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eduardo braz, fs lipslide.

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noturna // deadless

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DiDi Nagao

especial // urgh 30 anos

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Urgh: 30 anos

na frente ImagIne um lugar sem lojas de skate, nem pIstas, ou equIpamentos. tênIs? só pra futebol e vôleI. shape? de porta de armárIo ou de placa de rua. roda? de patIns, com bIlha solta. rolamento, nem pensar! transIção só em garagens. poIs este Inferno era aquI. uma vez, eu dIsse que o skate brasIleIro pode ser dIvIdIdo entre antes e depoIs desta marca. agora você vaI saber por quê. //por cecílIa mãe

O QG Skatepark, em Pinheiros, tinha um daqueles half pipes de cimento tão lisos que exigiam concentração e extremo cuidado. Jorge conhecia bem o lugar e contava com os equipamentos que desenvolvia, como as joelheiras com casquilho duplo, de 1986.

// PiPa e PaPa A família Kuge chegou ao Brasil na década de 50 e se instalou em Bauru. Quando Jorge fez 10 anos, foi morar no Jardim Miriam que, como diversas comunidades encantadoras, é considerado um dos bairros mais violentos da capital. Desde pequeno, Jorge já fazia o que faz hoje: construía seus próprios brinquedos e ganhava por isto. Seu primeiro negócio foi fazer pipas para vender na feira e, provavelmente, hoje ele estaria fabricando ultraleves e asas delta, se não tivesse se apaixonado pelo skate à primeira vista, aos onze anos. Esta paixão avassalou os patins de sua irmã Kimiko e as rodinhas foram parar num Eucatex tão flexível, que o “shape” arrastava no chão. Foi substituído por um pedaço de cerca e esta situação só melhorou uns dois anos depois, com um Benrose tosco, mas pelo menos dava pra descer ladeiras. Em 1976, com seu salário de office boy, Jorge comprou um skate velho, um mês depois um par de rodas e, no mês seguinte, quando foi comprar as outras duas, aquele modelo tinha saído de linha. “Comprei umas maiores e ficou com as de 60mm atrás e 50 na frente! Meu skate parecia um Dragster, era muito engraçado”, lembra ele. E foi com esta bizarrice que ele começou a frequentar o Parque do Ibirapuera. Em 1980 seu lado empreendedor voltou à tona, quando um vizinho sugeriu que eles fizessem alguma coisa pra vender durante a visita do Papa João Paulo II. Usando a matéria-prima de sua primeira “empresa”, os dois fizeram bandeirinhas de papel de seda e cabo de madeira. “Todo mundo via que aquele negócio era frágil e não ia aguentar. Teve um vovôzinho que foi comprar pro neto e a gente acabou dando quatro pelo preço de uma. No fim, a gente distribuiu bandeirinha de graça pra todo mundo e a gente saiu de lá com menos do que entrou.”. 2012/dezembro TRIBO SKATE | 53


arquivo Pessoal

O que não se pode dizer da Wave Park, que cobrava um ingresso irreal para o orçamento dos Ibira Boys. Resultado: eles invadiam a pista de madrugada e, na saída, ainda pegavam pão e leite que os entregadores deixavam nas casas e iam pro Ibirapuera tomar este café da manhã ilícito. // a virada Quando a febre dos anos 70 passou, tudo acabou. Não tinha nem com o que andar. As rodas e eixos eram usados até o osso e ainda tinha quem comprasse estes fósseis. Em 81, a Wave Cat matou a fome de transições perfeitas que todo skatista sentia naquela época, pelo menos em SP. A então melhor pista de concreto da América Latina tinha bowl, banks, capsule bowl e área de freestyle e ficava em São Bernardo do Campo, mas também tinha que pagar pra andar ali. No fim daquele ano, Jorge conheceu o prefeito do município e o convenceu a construir a primeira pista pública do estado. Sabe aquela, que também comemorou 30 anos em 2012? Então, foi a primeira de uma série de pistas que Kuge San conseguiu junto a órgãos públicos, mas falaremos disto mais tarde. Os locais da Wave Cat ficaram irados com a iniciativa, por que acharam que iria concorrer com a deles mas, no fim, acabaram ajudando, por que ela fechou na sequência. Antes, porém, Jorge organizou e realizou, com os amigos, o primeiro campeonato dos anos 80 de vertical e freestyle, semi pro e amador. Categoria: semi pro. Apoio: restaurante e oficina mecânica. Premiação: camisetas de um circuito de surf que já tinha passado. E hoje, tem gente que reclama do calor na área VIP… Enfim, ainda naquele ano, Jorge conseguiu seu primeiro patrocínio, a OP, e aconteceram dois fatos que iriam mudar a história do skate brasileiro: • Jorge mostrava os ídolos que apareciam nas revistas gringas e sua mãe, Dona Teruko, começou a fazer roupas inspiradas nas que eles usavam e • Sérgio Negão apresentou pra ele uma prensa de shape improvisada e explicou o funcionamento. Mas...

// jorge, Por que não Kuge SKateboardS? “Numa ocasião, uma fábrica que vendia muito skate de brinquedo me chamou, por que queria que eu fizesse aquele shape pra ele, porque estava todo mundo comentando. Eu aceitei, mas só que eu também queria desenvolver o meu. E ele falou ‘Não, skate não dá dinheiro, nunca deu. Então, não se preocupa com isso, por que não vai dar certo’. Isto ficou na minha cabeça. Eu voltei pra São Paulo, tinha feito uma relação de 50 nomes, pra escolher o nome pra marca. Eu queria deixar claro que a gente não engoliria mais os empresários oportunistas que estavam à frente do esporte que a gente mais amava. Eles não tinham a mínima afinidade. A gente queria difundir, divulgar e transformar num esporte forte. Então, veio a Urgh. Ela é uma marca muito forte, uma expressão de revolta, não foi criada para ser comercial e eu passei a usar ela como manifesto. Pra realmente deixar claro que os skatistas agora estavam assumindo a frente. Marcio, Yura, Beto, vários skatistas também estavam assumindo uma posição de liderança do mercado, sem ter mercado. A gente não sabia que estava criando demanda em cima disto. Era o fim da moda de skate e estava voltando a moda de patins. Dito e feito: todas aquelas empresas pára-quedistas começaram a fabricar

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Família Kuge, 1968.

Exército, 1982. Oscar Lattuca, 1983, Guaratinguetá.

Jair Borelli

// Se ergueS da juStiça a clava forte... Em plena ditadura, 18 anos, adivinha! Lá foi Jorge, cheio de sonhos e revolta, prestar serviço militar. Mal sabia ele que, no quartel, iria conhecer outras duas pessoas fundamentais. Quando montava guarda, ele viu inscrições na guarita, como frases do Devo, nomes de bandas e coisas de que ele gostava. Era Sérgio Sanchez e eles ficaram muito amigos, tanto que foi num quarto da casa dos pais dele que os dois começaram a fazer os primeiros shapes, apesar dos protestos da pobre mãe. Depois, o Capitão Bertozzi, que era surfista, acabou se tornando seu mentor. Dava conselhos sábios, incentivou-o a correr atrás dos seus sonhos e até ajudou a vender as carteiras que Dona Teruko fazia, porque ele era tímido. Bom, ainda é. Mas, enfim, uma das melhores sugestões do Capitão foi “Abre sua própria marca: Kuge Skateboards”. Sim, senhor! Quando saíram do Exército, lá foram ele e o Sanchez pra Rua do Gasômetro comprar placas de madeira, de 2,20m por 1,60m. Tinham que serrar à mão e levar nas costas, a pé e de metrô pro tal quartinho. Pegavam três folhas de 4mm de compensado naval, arranhavam a superfície pra aderir melhor, passavam cola branca[!] e colocavam numa prensa tosca. Daí, levavam numa marcenaria pra cortar no formato do shape e lixar as bordas. O “silk” era ainda mais roots: spray e máscara de cartolina, para os graphics e pro logo. Um tempo depois, cada um trilhou o caminho de sua paixão: Sanchez seguiu o da música e Jorge continuou exatamente onde estava.


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urgh 30 anos // especial

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Segunda casa, o Ibirapuera, 1984. Fifty no hands de Jorge Kuge.

1983.

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Ibiraboys 1979: Bolota, Anshowas, Edu, Pastel, Danilo e Jorge.

reProDução

Colab da Urgh com Metal Crazy.

Sergio Negão, 1983, Guará.

Jorge e Tai Tai, Wave Cat, 1981.

patins. Restaram as empresas de skate nascendo de uma crise; todos acharam que não ia dar certo e a gente começou a fazer a diferença. Criamos nossa própria demanda, não era uma moda que veio dos EUA era uma coisa que estava sendo feita no Brasil”. Chique. // a origem Em 83, a Urgh teve sua primeira sede: um salão pequeno, onde trabalhavam o Jorge, seu irmão Yuji e o Pastel. Eles sempre foram curiosos e tentaram diversas misturas e técnicas, tentando descobrir como fazer joelheiras e em busca do melhor shape. Cada experiência era testada por Sérgio Negão, George Rotatori e Monica Polistchuk. Aliás, a verticaleira também trabalhou lá: “Com 17 anos, virei motoqueira de venda e entrega da Urgh, sem capacete, com os shapes amarrados no bagageiro, cheiro de óleo queimado da moto e vamo que vamo... Uma tarde, o Jorge disse que precisava buscar espuma no Brás e fomos na moto. Ele foi doido, pois eu não sabia que a espuma era leve, mas enorme. A imagem era cômica. Imagina eu, dirigindo uma DT, com um crazy japa atrás, sentado num rolo de espuma amarrado no bagageiro!”. Detalhe, o rolo de espuma tinha 1,60m de largura. Enquanto isto, os amigos começaram a comprar as roupas, que eram diferentes de tudo que existia na época. Até que o filho do dono da Franete, uma loja de skate, fez um pedido de 50 calças e, quando Jorge foi entregar, o pai dele recusou “aquelas peças feias”, confeccionadas com tecido de estofamento ou de cortina, camufladas, quadriculadas, zebradas, xadrez, num país em que só se usava um jeans que parecia lona e tergal. Acredite, você não quer saber o que é isto. Porém, como Jorge era patrocinado pela Starpoint, ele levou a encomenda reject pro Tucano, que adorou, comprou tudo e deu uma bolada de dinheiro por elas e mais duzentas, porque tinha muita gente procurando e só a Urgh fazia. Claro que a Dona Teruko já não dava conta dos pedidos sozinha, e escalou as amigas para ajudar. Denise Siqueira lembra com carinho: “Se a minha mãe não costurou a primeira calça URGH!, costurou as primeiras. Mas foi ela que costurou a primeira saia. Foram duas. Eu servi de manequim de provas. Amei e me apropriei de uma delas. Xadrezinha em preto e branco com detalhe nos bolsos de zebrinha preto e vermelho, e curtíssima. Naquela época isso era diferente de hoje em dia, e o fato é que causou sensação”. Jorge pintava os primeiros banners da marca à mão e levava pra todo canto, inclusive para os clássicos eventos de Guará, fincando de cabeça pra baixo, em sinal de protesto. “Isto chamava a atenção, naquela nova fase de marcas de skatistas. Ela estava encorpando, mas a gente não tinha ideia do que estava fazendo. A gente só queria desenvolver as peças e, com o tempo, fomos entendendo que aquilo era um tipo de trabalho e eu percebi que queria viver disto pelo resto da minha vida”, assim como todo mundo que trabalhava na Urgh, a maioria skatistas. Jorge dava a letra e

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especial // urgh 30 anos

incentivava todos a abrirem suas próprias marcas, porque o objetivo era, e sempre foi, fortalecer o skate nacional. Muitos tentaram, poucos sobreviveram, “Por que não era um mercado fácil. Era muito jovem e muito instável.”.

a gente desenvolvia pontos de venda. De uma maneira desordenada, de uma maneira desorganizada, mas era só a vontade”. Só? Nesta época, entre 87 e 88, Negão, Vildner De Santis e Jorge uniram forças e conseguiram construir a pista pública de São Caetano do Sul, com a seguinte mobília: um bowlzão, um capsule gigante, um bumerangue e até snake run. Também tinha uma área de street e foi lá que Paulinho Rude, o coordenador geral da pista, começou a desenvolver os talentos que tem até hoje, inclusive o de locutor. Mais tarde, em 89, foi inaugurada a Ultra, a primeira pista de madeira respeitável, com as mesmas dimensões das melhores do mundo, projetada pelo Daniel Bourqui. Ali funcionava também uma loja e o movimento era intenso. Só que “Eu vendia pra uma loja ao lado e, por questão de ética, não podia vender lá. Eles me proibiam de divulgar a Urgh lá e eu tinha que pensar numa estratégia, porque a Ultra era a nata do skate. O

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Demo em Matão, 1987.

São Caetano do Sul, 1986.

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// céu e inferno A esta altura, pela primeira vez, nossos skatistas tiveram boas colocações no Mundial da Alemanha, sendo que os melhores foram Cláudio Higa, da equipe Urgh, que ficou em 10º no freestyle e Lincoln Ueda, que tinha apoio da marca e ficou em 4º lugar no vertical. Quando ouvi isto no rádio, quase me afoguei no chuveiro. Finalmente o Brasil estava começando a entender que ele pode tudo. Três revistas de skate, programas na TV, milhares de praticantes, centenas de grandes talentos, pistas e eventos lotados... Interrompemos este programa para um presidente roubar toda a população e acabar com o mercado de skate e com o país em geral.

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// o fim do Semi Pro Armand, o pai do Daniel Bourqui, que trabalhava numa indústria química, sugeriu que ele usasse uma resina, que era um bom aderente pra madeira e muito resistente. Esta combinação de epóxi e marfim foi um marco. “Antes disto, todos os skatistas e eventos eram semi-profissionais e a gente passou a fazer parte da nata mundial dos profissionais. Daí veio a necessidade de fazer uma revista de skate e vieram a Overall e a Yeah!, que eu batizei. O primeiro a assinar um shape foi o Por Que, com desenho do Billy, depois fomos eu e o Georginho. Estes shapes foram desenvolvidos durante dois anos, até chegar ao ponto ideal. Eu considero o shape mais nobre do mundo”. Parece que sim, porque a dupla epóxi-marfim é usada até hoje na fabricação de shapes. Mas continue, Jorge: “A gente desenvolveu a melhor fábrica do continente, com tecnologia de ponta. Usávamos a melhor matéria-prima, por isto o shape era muito caro. Hoje seria o equivalente a quase um salário mínimo. Por isto diziam que os skatistas da Urgh ganhavam bem, uns dez salários mínimos. Isto eram doze tábuas. Praticamente todos os skatistas queriam entrar na Urgh, pra ter um shape assinado, que era o sonho de todos. Sem isto, você não era profissional. A gente tinha os melhores skatistas. Demos um boom no mercado e a sintonia já não era a mesma. O que acontecia no Brasil não dependia do que acontecia nos EUA. A crise estava instalada no mundo inteiro e, no Brasil, o skate estava com força total. Apareceram muitas marcas e vários bazares, boutiques, papelarias e até uma borracharia e salão de cabeleireiro se transformaram em skate shops”. Parte deste comércio, digamos, informal, foi resultado do xaveco do Jorge. Explico: nos dias úteis, a Urgh usava duas kombis pra entregar shapes e, nos mais legais, elas carregavam a equipe e as rampas para as demos. “Era um absurdo, tinham umas quatro por fim de semana, duas em cada cidade. A gente chamava skatistas e equipes... A gente não falava que eram concorrentes, porque o mercado era muito grande, pra irem junto. Nas cidades onde não existiam skate shops,

sócio do pai do Cristiano vetou tudo que era Urgh na pista. Ele tapava todos os logos com silver tape que, na época, era muito cara. A molecada usava de propósito as camisetas, shapes e equipamentos de proteção da Urgh. Depois a gente chegou a um acordo.”.

Jorge, Kimiko, Didi, Hélder. Oficina, 1984.


DiDi Nagao

Leo Kakinho foi o primeiro prodígio de Guaratinguetá e em 1989 já era um pro admirado com um dos models mais vendidos. Backside air no Stones Skate Park, São Paulo.

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DiDi Nagao

Claudio Secco, muito estilo onde quer que fosse. Demo no interior, 1986.

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DiDi Nagao

DiDi Nagao

urgh 30 anos // especial

Um cara com boas ideias e manobras, Miltinho. Nose wheelie one wheel.

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O Urgh Vert War foi um marco no histórico half da Ultra, reunindo amadores e pros da época. Lemuel Dinho, method, 1989.

Partida do time brasileiro para o Mundial da Alemanha de 1989.

// doS eScombroS ao auge A década de 90 começou quase igual à de 80: Sem comércio, sem revistas e nas mãos e pés dos skatistas que nasceram pra coisa. Jorge escreveu para todas as revistas especializadas do mundo, convidando pra conhecer o país, mas só a inglesa Skateboard Mag respondeu, porque o Brasil tinha o filme muito queimado no estrangeiro, por conta das marcas piratas. O editor, Steve Caine, gostou tanto, que dedicou duas edições à tour, de que também participaram Dave Phillips, Neil Danz e Mike Pardon. “O Caine falava da paixão dos nossos skatistas e de como a gente vivia sem produtos americanos, colocando os nossos e de outras marcas como produtos de ponta.”. Graças a isto, no ano seguinte, os brasileiros foram bem tratados pela primeira vez no Mundial de Münster, inclusive pelos norte-americanos. Por conta da crise, a Urgh fechou o escritório em São Paulo e se concentrou na sede de Jacareí. No interior, Jorge abriu a Max Motion Skate Shop, que continuou a fazer o trabalho da Urgh, vendendo a produção própria e as marcas alternativas de skate. Cada filial mantinha sua equipe e realizava eventos locais e, em três anos, a rede chegou a ter oito lojas próprias e três franquias, em Jacareí, São José dos Campos, Caçapava, Jundiaí, Atibaia, Campinas e Piracicaba. De quebra, ao longo dos anos, aproveitou pra mudar a paisagem do Vale do Paraíba. Mobilizou os locais, organizou abaixo-assinados, criou o Dia do Skate e conseguiu, junto ao poder público, construir 15 pistas em São José dos Campos. Em 91, Jorge participou ativamente do começo da Tribo Skate e realizava os campeonatos Pá-Pum, que aconteciam na Ultra, do nada, no meio da sessão. Todo mundo participava e ganhava produtos da Urgh e até lanche de premiação. Nesta época, Jorge constituiu família com a Jô, com quem teve a Eduarda, o Akira e o Akio, passou a se dedicar mais ao clã e acabou transformando sua fábrica de shape numa pista. Lá, teve a ideia de fazer a revista One, em parceria com o Didi Nagao e o Alê Vianna, que teve apenas 2012/dezembro TRIBO SKATE | 59


shiN shikuma

O catarinense Junae Ludvig surgiu de uma hora pra outra com um estilo estupidamente leve e conquistou uma legi達o de f達s. Frontside handplan na Festjovem de 1988 no Rio.

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DiDi Nagao

urgh 30 anos // especial

Uma equipe que deixou ótimas lembranças e está na memória de muitas gerações. Claudio Secco, Gui Godoy, Leo Kakinho, Jorge Kuge, Junae Ludvig, Cris Mateus, Claudio Higa. Domínio Skatepark, Atibaia, 1988.

duas edições. Já em 95, Bob Burnquist resolveu correr o Slam City Jam, no Canadá e Jorge emprestou a ele seu cartão de crédito. Resultado: foi a primeira de uma série de vitórias que Bob vem acumulando até hoje. Na sequência, Digo Menezes venceu o Mundial de Münster e o mundo teve que engolir o Brasil porque, daí pra frente foram incontáveis vitórias no vert e no street, inclusive fora de campeonatos, com aparições dos skatistas brasileiros em revistas, vídeos e tours pelo mundo inteiro.

Em 87, a marca lançou a Urghit que, séculos depois ficou conhecida como skatelite.

// SKate Para todoS Em 99, os pros corriam um circuito sólido, com diversas etapas anuais e o Bob fazia a ponte, encaminhando nossos talentos que iam pros EUA e importando skatistas e campeonatos mundiais. Ele também encaminhou, pra casa da família Kuge, seus amigos Lance Mountain, Per Welinder, Eric Koston, Ricky McCrank, Tom Penny e Kerry Getz, entre outros. No mesmo ano, Jorge resolveu que sua categoria merecia atenção e fez o Urgh Lendas do Skate, em Guará. Os mestres e lendas apareceram em peso e seus skates nunca mais voltaram pro armário. Todos, sem exceção, se emocionaram por andar naquelas pistas sagradas e a paixão, que tinha adormecido por causa de compromissos, voltou pra ficar. Dois anos mais tarde, com os campeonatos old school rolando soltos, a Urgh foi para outro extremo relegado a segundo plano, criando o Kids Skate Jam para skatistas de dois[!] a 12 anos.

// Switch Como o próprio Jorge admite, a Urgh nasceu e cresceu do amor pelo skate. Apesar de conhecer o mercado como poucos, ele sempre foi autodidata. Sim, ele se formou no colegial como técnico de Administração de Empresas e foi atrás de pequenos cursos no Senac e outras entidades, para entender o que ele e outros skatistas tinham criado, mas não tem formação comercial, ou de marketing nem de logística. Foi tudo na base do instinto. Ou, como diz Edimilson Benzoni: “Acho que conseguimos juntar minha experiência em mercado e o feeling do Jorge no esporte”. Edi tinha acabado de sair da Da Hui e retomado a Wave Giant e lembra que a parceria começou assim: “Conheci o Jorge por acaso, em uma feira de surf e skate há uns 10 anos. Neste mesmo dia, a sinergia foi tão grande que saímos da feira já com planos de uma parceria, pois já produzia a minha marca WG que seria só para o surf e a Urgh viria para complementar o mix da empresa. Isto foi apenas uma ideia de um dia, mas no outro dia percebemos que poderia ser uma coisa séria e demos início a esta parceria que está durando tantos anos e sei que vai durar por muito tempo. O Jorge é para mim um ídolo, não só no skate mas também como pessoa e família que é.”. E já que a difícil parte comercial estava nas mãos de profissionais especializados, Jorge pôde voltar a se dedicar ao skate. Formou um novo Urgh Team, que se mantém até hoje, fato raro no cenário brasileiro. Além disto, começou a se focar em fortalecer o skate brasileiro, de modo geral. 2012/dezembro TRIBO SKATE | 61


especial // urgh 30 anos

// e agora? “Vamos começar a distribuir os shapes Urgh em maple, feitos nas mesmas fábricas das marcas top do mundo. A Type-S, do Ueda, produz as melhores rodas. O que falta?”. Boa pergunta. O Brasil ter amor próprio, talvez? Mas Jorge está animado: “A nova safra de skatistas empreendedores tem mais consistência pra conduzir e direcionar o mercado, da melhor maneira possível, pra manter o que a gente mais ama, que é o skate. Em nenhum outro lugar do mundo se faz tanto investimento nas bases. A garotada é mantida pelas marcas nacionais. Elas têm um papel social fundamental”. Hoje, entre os profissionais que trabalham na Urgh, muitos são skatistas e eles estão em várias frentes, inclusive no desenvolvimento de produtos, marketing e representação. Pra quem quer viver do que ama, ele tem dois conselhos preciosos: 1 – “Cerque-se de bons amigos e ouça as pessoas que sabem mais que você”. E ele aprendeu isto de forma traumática. Lá por 84, Jorge era patrocinado pela Town & Country e era amigo do proprietário Zé Roberto que, infelizmente, faleceu e de seu braço direito, o Tico. Os dois viviam falando pro Jorge registrar a marca, mas ele não ligava. Estava ocupado demais, andando de skate e fazendo história sem saber. Além disto, custava caro. Em 86, quando ele resolveu ouvir o sábio conselho, a casa caiu: A Urgh já tinha dono há dois anos! Jorge perdeu o chão e foi, arrasado, contar pros dois, que se divertiram um pouco com o desespero dele e, na sequência, disseram “Tá aqui o registro, seu mané! Ela é sua!” e deram a marca de graça pro legítimo dono. Não cobraram nem o que gastaram pra registrar. 2 - “Quando alguém fala que você está louco, que não vai dar certo, você tem que estar preparado, porque o futuro é promissor. Muita gente falou que eu era louco de trabalhar com skate, que era coisa de vagabundo. Hoje, me sinto muito feliz e me mantenho com meu trabalho. Fiz

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bons amigos e me divirto muito com tudo e com grandes perspectivas de futuro”. O palpite de Miltinho Xavier, que era da equipe na década de 80, é o seguinte: “Cada vez que vejo um garoto com um skate debaixo dos pés e o logo da Urgh! no tênis ou na roupa, lembro de um pedacinho dessa história e me convenço de que um skater com a visão e coragem do Jorge está destinado a comemorar seu primeiro centenário de vida estraçalhando um banks de concreto, num daqueles skates flutuantes que o Michael J. Fox usa no De Volta Para o Futuro 2, mandando bonelesses de front cavernosos, deixando seus tataranetos de queixo caído.”. Concordo.

Fotos arquivo Pessoal

// Por falar niSto... Lembra que o primeiro que ele organizou tinha patrocínio de oficina mecânica? Bom, 26 anos depois, ele foi convocado pela Ingrid Kokeny e Roberto Trinas a ser o curador do Guaraná Antarctica Street Festival, nome completo do GAS Festival. Durante o evento, foram captadas imagens do Bob, Cristiano Mateus, Lincoln Ueda e Sandro Dias, para o Vida Sobre Rodas, dirigido por Daniel Baccaro. Aliás, grande parte das imagens de arquivo do filme foram cedidas pelo Jorge, inclusive o primeiro drop do Bob na Ultra. Foram três edições do GAS, sendo que a segunda foi a melhor, com a final do Circuito Amador de Vertical, Charlie Brown Jr. e Bad Religion dividindo o palco e a montagem de um looping igual ao que o Bob tem no quintal, além da presença de Danny Way. Ainda em 2008, Bob e Danny Way trouxeram, pela primeira vez, a Megarrampa pro Brasil, e ela gostou tanto daqui, que já veio quatro vezes. Claro que, novamente, o Bob confiou a iniciativa ao Jorge, e os dois produziram o evento, junto com a IMX. Em 2009, ele foi pra Oregon, onde encontrou seu velho amigo Geth Noble, que já tinha sido patrocinado pela Urgh no começo dos anos 90 e que, agora, constrói pistas de skate perfeitas. Quer um exemplo? A de Madureira, inaugurada este ano, foi feita pelo Frewka e pelo Geth, com sua tecnologia inédita no país. Tá bom pra você? Mas, onde estávamos? Sim, 2009. Alexandre Sesper finalizou o documentário Re:Board, com a ajuda do Jorge, que também levou o filme pra ser exibido em Los Angeles, na galeria do Tony Alva. Ainda neste ano, Kuge começou a andar de skate com mais frequência, fazendo sessões com antigos e novos amigos, especialmente na pista de São Bernardo do Campo. Apesar dos problemas no joelho [que todo skatista tem], ele foi correr o Swell Old is Cool, na clássica pista gaúcha e, sempre que pode, participa de eventos dedicados à sua categoria. Um ano depois, foi lançado o Vida Sobre Rodas e a Urgh ganhou uma sala exclusiva para a projeção, onde foram sorteados shapes comemorativos da ocasião e que são disputados a tapa, até hoje. No ano seguinte, o filme viajou pra Hollywood e reuniu a comunidade brasileira radicada nos EUA, no Chinese Theatre, que sedia eventos menos importantes, como entregas de Oscar, por exemplo.

1990.

Escritório, 1990.

Barnero, Alê, Geth, Hurtado.

Família, 2000.


DaNiel Bourqui

Em 1990 o Bob já era um destruidor de transições, depois da escolinha na Ultra. Nos rolês na Prestige, ele lançava todas aquelas encrencas técnicas sem medo do concreto. Flip to fakie.

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shiN shikuma

Representante da ZN de São Paulo, Alexandre Ribeiro influenciou muitos skatistas na virada dos 80 para 90 no street. Criativo, técnico, estiloso. Foi um dos primeiros streeteiros a passar temporada nos EUA para viver de skate e é lembrado também por seus conceitos, além do skate. O agora doutor e professor, em versão bs grab sobre o latão do ZN Skatepark, em 1988.

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urgh 30 anos // especial

Tudo começou quando Jorge me apresentou o SKATE, tanto o carrinho quanto o comportamento. Radical! Era uma coisa muito diferente e muito legal ao mesmo tempo na escola, templo e na rua. Escutava uns sons que poucos conheciam: Devo, The Police, Billy Idol, B’52’s, Dead Kennedy’s, Stray Cats, etc. Por isso, quando lembramos do passado, acham que somos muito nostálgicos e fora do tempo. Acho o contrário: tinha muita qualidade e conteúdo. Isso fez com que fôssemos em busca de sonhos com ideologia e amor. Os amigos dele iam em casa e ficavam me chamando de Kuginho; era bem bacana. Muitos com moicanos, cabelos pintados, calças coloridas, tênis customizados em casa, calças skinny’s, muita punkeragem e nada de boutique, roots total! Em 1984, aprendi a costurar com minha mãe e o Jorge pra confeccionar equipamentos de proteção; depois aprendi a costurar calças e bermudas com o famoso velcro no cós; depois vieram trabalhar conosco os talentosos Keiji ‘Pastel’ Uda nos shapes e Oswald ‘Ô’ Uessato nos equipamentos. Passaram outros companheiros, como nossos pais Shigeto e Teruko; nossa irmã Kimi, Didi Nagao, Toshihiro Shibayama, Marilza, Boya Hidekazu, Denise Siqueira, Monica Polistchuk, Rogerio Nenê, Monica Luglio, Christian Arae, etc. Vejo até hoje a tecnologia que usávamos naquele tempo e chegamos a produzir numa capacidade total de 5.000 tábuas por mês, um feito grandioso pra qualquer fábrica de shapes do mundo. Com certeza, um orgulho alcançado por uma família simples e sonhadora: ter produtos similares ao dos gringos no Brasil. A família foi crescendo e o Jorge criou o Urgh Team e os shapes assinados, além dos famosos Street Terrorist, The Killer, Jorge Kuge com Kamikaze, Sérgio Negão, Álvaro Porquê, George Rotatori, Junae, Leo Kakinho, Alê Ribeiro, Secco, Marcelo Barnero, Geth Noble, Rodrigo Hurtado, Bob Burnquist, Marcelo Just, Wilson Neguinho, além dos mini models. Era sempre uma diversão e satisfação ver nossos shapes usados por amigos e patrocinados quando apareciam na TV, em campeonatos, revistas e demos pelo Brasil e das cartas que chegavam de todos os lugares. Mas ao mesmo tempo rolou o tal Plano Collor que confiscou tudo. Muitos clientes que pagavam à vista simplesmente sumiram ou deixaram de pagar. Foi desesperador! Daí a visão de voltar ao mercado veio com alegria e força. Entramos pro varejo, Jorge fundou a Max Motion. Depois de morar três anos no Japão, quando voltei, recebi um convite do Jorge e Edimilson WG pra representar e reposicionar a Urgh no interior de SP. Desde então, trabalho nas vendas da empresa Nacional Company. Energia boa sempre foi uma das qualidades da Urgh, porque muitos que eram funcionários ou colaboradores hoje são amigos. Com certeza, uma

das maiores recompensas que podemos ter nessa jornada de vida e trabalho. Parece besteira, mas tudo feito com muito amor, dedicação e carinho. Produtos de skate por skatistas pra skatistas. Só tenho a agradecer por fazer parte desta grande família; os amigos, os parceiros de trabalho, os que amam o carrinho e o meu irmão Jorge. Valeu. (Yuji Kuge, representante comercial)

A Urgh é inesquecível. O amor que o Jorge tem por esse sonho que hoje é uma realidade é contagiante e atrai pessoas incríveis que querem participar com ele. Nessa época tive o prazer de trabalhar com o Pastel, o Ô, o Yuji, todos com um objetivo: o sucesso da Urgh. Nunca vi uma atitude do Jorge atrás de fazer dinheiro, mas sim de construir algo DEMAIS. Não tinha como não dar certo e a filosofia com que ele lida eu assino embaixo. O grande lance que faz especial é que ele mantém todos envolvidos nesse grande sonho e realização. Tive muita sorte de assistir a história da Urgh na primeira fila. (Monica Polistchuk, chef gourmet e verticaleira)

Existe uma coisa que emana da família URGH!. Uma energia positiva, que contagia e torna tudo ao redor BOM! Bom de sentimento, de sensação, de verdadeiro, de sincero, espontâneo, coletivo, saudável. Trata-se de uma coisa mágica. E é essa magia, que eu acredito ser a responsável pelo sucesso. A URGH! chegou ao que é hoje porque é uma construção completa. É física, espiritual, é louca, é lúcida, é do bem! (Denise Siqueira, socióloga)

Tenho infinitos agradecimentos pela empresa, personalidade e magnífico trabalho realizado até hoje pelo Jorge Kuge. Faço todas as reverências à Urgh com admiração e respeito. (Beto Alva, consultor calçadista)

URGH! aciona um gatilho da minha mente que faz disparar fortes sentimentos, como amizade, diversão e skate puro. (Cesinha Chaves, dispensa comentários)

Mais que uma marca, a Urgh sempre foi uma atitude e muitas pessoas e empresas custaram a absorver sua ideia central de protesto e renovação na cena do skate em nossa sociedade. O diferencial Urgh, em relação a quase todas as outras marcas de skate, era sua autenticidade e também sua recusa em copiar ou importar para o Brasil, tanto os materiais americanos, quanto a sua própria postura adotada no mundo do skate. (Oscar e Osmar Lattuca, pros, juiz de direito e promotor público)

Falar sobre a Urgh é voltar às origens e viver novamente o início dos anos 80, quando não havia roupas e acessórios para o nosso mercado, e que por sinal, ainda não era mercado. Conhecer o esforço, dedicação e paixão, que desde o início o Kuge direcionou para o seu negócio, misturados com sua competência e determinação, é inspirador e exemplo a ser seguido. A Urgh é um sinônimo do skate brasileiro, guerreiro, sonhador e vencedor! Mestre Kuge, parabéns pelo sucesso da Urgh, e obrigado pela amizade de sempre! (Fernando Frewka, Flyramp)

Na Idade das Trevas do skate nacional (início dos anos 80), não havia mais nada - eventos, revistas, aparições na tevê, lojas que vendessem equipamentos... Mas havia o skate e os skatistas, e isso era o que bastava. Havia ainda um sonho nas cabeças dos então poucos teimosos dedicados que insistiam no carrinho: um dia, teríamos um cenário de skate poderoso o suficiente pra que tivéssemos skatistas profissionais, marcas e produtos variados. Éramos punks e loucos, alguns mais e outros menos, mas todos, sem exceção, éramos obstinados e não nos curvávamos diante das dificuldades. Um desses caras era o Jorge Kuge, que cismou de fazer umas calças xadrez no estilo que víamos os gringos usando nas páginas da Thrasher e da Action Now. Hoje em dia, o Brasil é o segundo maior cenário de skate no planeta e skatistas brasileiros já conquistaram mais de 20 títulos mundiais em diversas modalidades. Como se não bastasse, temos um cenário único nas moda-

arquivo Pessoal

// dePoimentoS O skate brasileiro é feito por guerreiros e boa parte do mercado por comédias que vendem para idiotas que muitas vezes nem andam de skate. Bom, eu sou uma idiota que não anda, mas pelo menos não pago pra fazer propaganda de vampiro que não reinveste no país. Por isto, é uma honra falar da Urgh. Mas não sou só eu que falo da Urgh com carinho. Vai vendo:

Importante profissional Urgh da virada de década (80-90), Marcelo Just foi capa da primeira Tribo Skate.

Equipe da transição do início dos 90.

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especial // urgh 30 anos

lidades de skate em ladeira, sendo que o nosso downhill slide é considerado como o mais avançado em todo o planeta. Olhando pra trás, vejo duas coisas em comum comparando os cenários atual e passado. A primeira coisa é que alguns de nós continuamos a andar de skate, não nos importando se estamos quarentões ou cinquentões. Pra minha geração, skate não é só um esporte - é um estilo de vida. A outra coisa é a Urgh, que SEMPRE esteve presente no cenário de uma forma ou de outra. Sou skatista e jornalista, e se hoje há uma mídia forte de skate no país, deve-se ao fato do Kuge ter investido e acreditado nos veículos seminais desde o início - inclusive, e principalmente, a Tribo Skate. Ah, esqueci de outra coisa em comum: o sorriso constante no rosto do Kuge. Fruto da satisfação de não só fazer aquilo que gosta e precisa ser feito, mas também da realização pessoal em ver que todos aqueles perrengues do passado definitivamente valeram a pena. O aniversário é da Urgh, mas quem tem motivos pra comemorar somos todos nós! Parabéns, Kuge! Muito obrigado por tudo, hoje e sempre! (Guto Jimenez, master e locutor)

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Desde o início da produção, o Jorge sempre foi muito técnico em fazer, estudando os materiais importados e sempre adaptando ao nosso mercado na matéria prima e custo benefício; tentávamos e fazíamos um produto diferenciado para não ter o problema de cópia com os importados. Sempre a Urgh inventava alguma coisa e o Jorge estava de ouvidos abertos a sugestões e críticas. (Diorandi Nagao, fotógrafo)

Pra falar do começo da Urgh, tem que falar de muita improvisação, muita criatividade, muita vontade e um tanto de ingenuidade. Tudo misturado com uma equipe cheia de boas e não tão boas ideias mas... Desde contar parafusos por horas, enrolar silver tape em palito de picolé até tingir camisetas estilo ‘batik’ no tanque lá de casa teve de tudo um pouco, e, às vezes, até deu certo, mas o

que ficou foi o desejo de crescer e fazer algo único e a certeza de estar no caminho certo. Foram tempos muito bons e o resultado ta aí pra gente ver. Foi muito especial fazer parte dessa história de skate e de amizade. Urgh 30 anos: Eu também faço parte! (Paula Pleuger, marketing anos 80)

A Urgh foi para mim muito importante para me consolidar como um skatista reconhecido. Fui convidado pelo Kuge desde que tinha 13 anos para fazer parte da equipe, e os produtos da Urgh na época eram realmente bons: shape e equipamento de proteção. Só que os shapes da Urgh eram o grande produto da marca; os desenhos de Billy Argel e os models desenvolvidos pelos skatistas de grande conhecimento no assunto, como o Por Que, Claudio Secco, eu e o Jorge, sempre atrás do melhor em termos de qualidade e com

ideias que fizeram da Urgh referência nacional. Isso resultou em um nome muito forte e desenvolvido por skatistas. Essa era a essência da marca e o que me trouxe um grande reconhecimento até hoje. (Leo Kakinho, pro e shaper)

A Urgh e o Jorge Kuge fizeram parte da minha vida como skatista. Devo tudo a essa marca. Tudo começou com a fabricação dos melhores shapes da época, que fizeram evoluir cada vez mais. Tive todo apoio e incentivo pra me tornar um atleta profissional. Sem eles não seria a pessoa que sou hoje no skate. Agradeço ao Kuge e à Urgh, por me colocarem no cenário do skate nacional! Um grande abraço a todos! (Claudio Secco, pro e empresário)

“Em uma época que no Brasil as marcas de 2012/dezembro TRIBO SKATE | 67


especial // urgh 30 anos

skate eram pirateadas, na cara dura, de referências internacionais do skate, principalmente norte-americanas, surge a Urgh, com uma certa rebeldia, sonoridade e expressão, diferenciando o modelo de skate wear brasileiro com muito estilo, competência e personalidade. Uma coisa é certa: os melhores skatistas de toda uma época apareciam em fotos de revista, na maioria das vezes trajando equipamento de proteção Urgh. Todo mundo curtia a oportunidade de ser apoiado, patrocinado ou simplesmente de se divertir radicalizando de skate com a marca. Esse foi o reflexo de uma marca que não estava interessada só em fazer dinheiro e, sim, ver o skate crescer. (Luís Roberto Formiga, multi pro e repórter da ESPN Brasil)

ram por falta de dinheiro. Mas a amizade sempre se manteve viva, fosse nas sessions que ocorriam na minirrampa da fábrica da Urgh! ou nas cidades do Vale do Paraíba. Eternas são as lembranças da primeira viagem aos EUA com o Jorge, Daniel Trigo e Geth Noble. Das belas sessions em lugares dos ‘meus sonhos na Califórnia’ às roubadas - assalto em San Diego e a ida pra Tijuana sem nenhum planejamento, só com as roupas do corpo! Sem falar daquela primeira viagem à Europa: chegamos lá sem equipamento e com poucas roupas; fomos reabastecidos pelo Maurício Xixo, que trouxe toneladas de bagagens para nos salvar! Todos nós já tivemos vontade de voltar no tempo para reviver alguns momentos. Se pudesse, com certeza daria uma passada nessa época em que fui da Urgh! Uma época em que tomava café em rodas de skate, almoçava sobre um shape e tinha síndrome de abstinência, se por um único dia, não pisasse em cima de um skate! (Alê Ribeiro, pro, veterinário e professor universitário)

A Urgh! foi a empresa que inventou a indústria de skate no Brasil, e tornou possível para muitas outras desenvolver um bom material nacional para o skate. No começo dos anos 90, quando já andava no street, deixando o vertical por falta

arquivo Pessoal

Lembro até hoje do telefonema do Toshihiro numa segunda-feira, no fim de 88. Tudo graças àquele ollie em distância pulando sobre 10 skates no campeonato do Corinthians; me senti como se houvesse sido convocado pra seleção brasileira! Eu, ser da Urgh!? A marca mais estilosa!? A que fazia o shape Terrorist, que tanto me fez evoluir... Era muita glória! No escritório, me recordo da conversa com o Kuge. Eu lá todo tímido, com 14 anos... Putz é aquele cara que eu via nas revistas desde que comecei, em março de 1986. E ele, enquanto

conversava comigo, praticava um fingerboard! Não acreditava! Vi meus problemas terminarem. Finalmente ia ter material à vontade, tênis novo e, mesmo amador, iria receber ajuda de custo e plano de saúde! Logo no primeiro fim de semana fizemos uma turnê pelo interior paulista, por cidades que depois voltei inúmeras vezes na época. Sempre com a mesma galera: Cláudio Higa, Claudio Seco, Miltinho, os irmãos Leo Kakinho e Gui e os agregados que sempre batiam cartão: Daniel Trigo, Tarobão, Lance e Wilson Neguinho. Inesquecível foi em 1989, quando fui campeão brasileiro amador e, ainda, competindo com o modelo de shape Claudio Seco, consegui vencer no meio de diversos profissionais que tanto admirava! O que falar de uma marca que proporcionou a realização de um sonho! Lançou um modelo com a minha cara; um dos primeiros no Brasil a ter nose comprido! Na época, muitos foram os amigos que passaram pela marca: Tarobinha, Barnero, Fabio Cristiano, André Qui, Marcelo Just e até o famoso Bob Burnquist. Foram muitas viagens pelo Brasil e pelo mundo, fazendo apresentações e vestindo não só a camisa, mas também as calças e os casacos. Tudo era da Urgh! Infelizmente veio a crise em 1990 e apesar dos atletas manterem o espírito do esporte vivo, as competições e a divulgação da imprensa se diluí-

arquivo Pessoal

Dia do Skate em São José dos Campos, 2000, com o prefeito.

Carlos solraC

Recorte do jornal Vale do Paraíba.

A construção do Bob Skate Park, em São José.

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Gui Godoy, method no Bob Skate Park.

Lance Mountain, Bob e Per Wellinder visitam uma das lojas Max Motion. 1996.


//anoS 80

//anoS 90

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especial // urgh 30 anos

A Urgh pra mim foi alcançar o auge do patrocínio para minha geração! Foi como se realmente fosse tudo dar certo para sempre: Cláudio Higa, mestre technique free style, e Alexandre Ribeiro, da linhagem de técnica e potência de street, tudo junto. Me inspiro até os dias atuais, andando no mesmo nível sim, mas igual, ninguém no mundo até hoje. E eu tava junto desses intocáveis porque eles eram bitolados e eu também cheguei neles sem nem perceber. Energia do meu padrinho no skate ZN Marcelo Barnero, linhagem streeteiro puro, perna de cavalo original. Na época que eu entrei na Urgh a marca seguia o Alê Ribeiro; ele era a energia na frente do mecanismo, ele que dizia se era boca ou não. Sempre foi a característica do criador da Urgh Jorge Kuge; seguir sempre o que os skatistas achavam tendência, gráficos , roupas, etc... O primeiro cara que eu vi usando Jeans para andar de skate, da linhagem warriors, guerreiro, conseguia fazer qualquer coisa, persistência, característica master de skatistas. ‘Marcelo Just’, primeira capa da Tribo. Então tudo estava conspi-

rando. Acho a Urgh é uma das poucas se não a única marca que realmente sobreviveu e continua trazendo de volta ao skate algum Amor! São muitas histórias que eu nunca mais vou esquecer e amizades que irão durar a eternidade. Parabéns a todos que tornam esse nome vivo até hoje! Pra vocês, Urgh!. (Fabio Cristiano, pro e dragão)

Quando comecei a andar de skate na rua onde morava, eu sonhava em poder entrar na melhor equipe de skate na época e não só isto, usar os melhores produtos e equipamentos. Lembro como se fosse ontem de pensar - ’um dia vou ser da equipe Urgh’. Quando surgiu a Ultraskate, tudo evoluiu muito rápido e lá estava eu, sendo parte da equipe! Melhor ainda, com meus amigos, pois foi um momento de renovação e os locais da Ultra estavam quebrando! Realmente, foi mágico e de grande

aprendizado. Acredito que a Urgh está no mercado até hoje por realizar sonhos e não só vender produtos! (Valtinho do Vale, marketing Hurley)

” “A Urgh sempre foi uma marca que despertou meu desejo. Por sua equipe influenciar muito no

começo de minha carreira como skatista, pela qualidade de seus decks e gráficos. Quando comecei a me envolver com campeonatos e conhecer mais pessoas da comunidade, tive o prazer de fazer parte da equipe na época do Ribeiro, Just, Fabio Cristiano e Barnero, que eram alguns dos meus skatistas favoritos. Foi um grande sonho realizado. Primeiro por fazer parte de uma equipe excepcional, depois pelo histórico, qualidade dos materiais e saber que iríamos contar com um suporte para nos dedicarmos ao skateboard. O lance do Jorge Kuge ser skatista também, acredito que fez e con-

otavio Neto

de pistas, tive o prazer de ser chamado pelo meu amigo Kuge pra fazer parte da equipe, com o Bob, Alê Ribeiro, Just, e Fabio Cristiano. Ao mesmo tempo em que evoluía minha arte e meus trabalhos com a indústria do skate, continuávamos a levar o skate pra todo lugar, resistindo numa época em que o mercado se enfraqueceu e tudo se transformava. Tenho grande orgulho de ter tido o nome Urgh! (Barnero da Urgh!) como meu sobrenome por um bom tempo. Todos nós que vivemos as histórias, temos gravadas na memória. Vivi, me diverti e andei muito de skate com essa marca. Ela fez e fará parte da minha história pra vida toda e obrigado ao Kuge por ter sido meu mestre na faculdade de skateologia da vida. (Marcelo Barnero, pro e artista plástico)

raFael BassilDo

arquivo Pessoal

A retomada das primeiras gerações: Urgh Lendas do Skate, Guará, 1999.

hevertoN riBeiro

Grinders na festa dos 25 anos.

A ativista Larissa Carolo andou pela Urgh. Switch crooked grind em Guararema, 2006.

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Igor venceu o Urgh Kids na Skate House em 2002.

Capa da One, com foto do Biano na fábrica da Urgh.

Jorge e Edimilson.


roBsoN sakamoto

Uma década do pro Fabio Castilho na Urgh, sempre mandando ver nas sessions, fotos, filmagens. Inédito e alto crooked na nova Praça Roosevelt.

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especial // urgh 30 anos

tinua a fazer a diferença. Resumindo, fazer parte da equipe da Urgh foi um sonho realizado. (Robson Reco, pro e marketing da DC Shoes)

FaBiaNo YamaDa

Parte da equipe comercial e marketing deste ano.

hevertoN riBeiro

arquivo Pessoal

Urgh! Jorge Kuge! O skate brasileiro deve muito à Urgh! E o Nordeste muito mesmo! Conhecer o Jorge, foi conhecer a simplicidade do homem que, com perseverança, conquistou uma das principais marcas do skate nacional, investindo e incentivando com ousadia e visão do futuro! Tive o privilégio de passar vários dias em Maceió com o Kuge! Pura diversão! Aí pude de fato conhecer um amigo e, sobretudo, o homem apaixonado pelo skate! Quando menos espero, recebi em casa shapes da Urgh, para distribuir para os principais skatistas da região. Um presente para os skatistas sempre esquecidos dos fabricantes do Sul/Sudeste, com raras exceções. Agradeço a Deus por colocar no mundo do skate o Kuge! Vida longa, amigo! (Ilzeli Confessor, 52 anos, 37 de skate, militante potiguar)

Andar de skate nos anos 80 era fazer parte da contracultura da época onde existia um glamour em ser skatista. A Urgh era uma das principais ferramentas na manutenção daquela geração, com seus gráficos marcantes em SHAPES e roupas que ficarão marcados pra sempre na memória de quem usou. (Allan Mesquita, pro e proprietário da Devotion)

o skate brasileiro para um nível acima. A forma como mostraram que o skate ia muito além, que as ruas e pistas eram sim um ponto de conexão entre gerações e admiradores de diferentes tribos que unidos tornaram o skate a modalidade mais democrática entre todas! Uma marca que define o sentido da palavra, pois ‘marcou’ gerações com atitude e identidade. Assim se mantém construindo um legado de glória para o skate brasileiro. Levar o real espírito do skate, ajudar a construir um mercado nacional, apoiar o skate como poucos, criar ídolos que são o real combustível para movermos a massa, pois nos dão orgulho de nossa modalidade e país, são alguns dos feitos da Urgh. Saúde paz e prosperidade! Vida longa ao skate! Vida longa à Urgh!” (Paulinho Rude, DC shoes)

A URGH! é A marca do skate brasileiro. Afinal, 30 anos de mercado não é pra ninguém. O alcance e influência que a URGH! tem no skate brasileiro é imensurável. Não é à toa também, porque por trás da marca tem a peça-chave, o skatista/ empresário Jorge Kuge. Uma pessoa que sempre entendeu e fez muito pelo skate como skatista e como empresário do skate. E continua até hoje. Quem conhece, sabe do que estou falando. Toda marca tem sua fase e a URGH! sempre acreditou no skate. Eu tive muitas passagens pela URGH!, e em épocas diferentes da minha carreira. E tenho

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MegaRamp em SP, 2011.

Stand no GAS Festival: Yuji, Mitiro e Jô. 2008. arquivo Pessoal

“Urgh 30 anos, simplesmente amor e verdade pelo skate. Parabéns ...” (Pirata, músico) “Falar da Urgh é falar de parte do skate brasileiro. A concepção da marca pelo Jorge trouxe

300 shapes Urgh grafitados por Binho no GAS 2008.

muito orgulho de fazer parte da História da maior marca do Brasil. Parabéns aos 30 anos! URGH! É orgulho do skate brasileiro! (Bob Burnquist, pro)

Acho que a Urgh é uma entidade do skate brasileiro e não apenas uma marca. Uma empresa que consegue ultrapassar a marca de 3 décadas servindo o esporte, os skatistas e os fãs, enfrentando todo tipo de instabilidade que o Brasil passou nos últimos 30 anos merece nosso respeito e agradecimento. O Kuge é um exemplo. Um cara que teve um sonho, transformou em negócio


PetrôNio vilela

Ítalo Peñarrubia tem suporte para desenvolver mais seu skate desde amador. É um dos pros que se sobressaiu na versão carioca do evento MegaRamp de 2012. Monstro Mctwist.

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FelliPe FraNCisCo

urgh 30 anos // especial

e permaneceu realizando sonhos de tantos outros jovens que como ele – 30 anos atrás – ousou viver do skate e para o skate. Parabéns e vida longa à Urgh. (Vivian Mesquita, Editora Chefe Executiva Núcleo Esportes de Ação ESPN)

Conheci a Urgh no começo dos anos 90, pelos anúncios nas revistas Yeah! e Overall, até que um dia fui convidado a trabalhar lá por um amigo, o Clebinho. Ele me chamou para conhecer o Jorge e sua família que, na época, transferiram a confecção para Jacareí, onde sempre morei. Sem dúvida a Urgh revolucionou todo o Vale do Paraíba, trazendo para a região o skate como uma atividade a ser vista e respeitada, colocando a galera pra andar e também trazendo atletas de outras cidades e países pra promover a troca de experiências. Tenho muito orgulho de ter participado do processo de evolução da marca. Vida longa à Urgh. (Cleberson Teles “Clebão”, Hard Track)

Sou um dos sortudos que fazem parte da família Urgh por mais de 20 destes 30 anos de existência. É difícil escrever sobre tantos anos, e ainda mais difícil num texto curto. O que mais ficou na memória, além de profissionalismo, boa qualidade e determinação total pelo esporte foi a amizade absoluta, sinceridade e o fato de que a gente sente que está fazendo a coisa certa. Eu sou o único que acredita que esta é a definição de skate? Viajamos, fizemos muitos amigos e fizemos as coisas acontecerem. Se me perguntar o que eu penso do Jorge, basta dizer que ele é padrinho do meu filho. (Stefan Pleuger, Urgh Alemanha)

” “Entrei como telemarketing, porque a Urgh não tinha representantes, fazia reposições dos

produtos por telefone e atendia na pronta entrega. A família era muito unida, e todos tinham paixão pelo trabalho, além dos pais, irmãos, incluía funcionários, skatistas, clientes e fornecedores. Nossos clientes eram amigos, chegavam a qualquer hora do dia e da semana, vinham da Bahia, de vários lugares só pra conversar com o Jorge. Depois do Plano Collor foi bem difícil - quem não se lembra? - e pela primeira vez vi o Jorge muito preocupado. De repente tudo parou, e muitas marcas sumiram. A firma retraiu, mas a vontade do Jorge de manter a marca era maior; ele sempre tinha boas ideias e decidiu abrir skateshops no Vale do Paraíba, e colocou os funcionários para trabalhar nas lojas. Foi uma mudança e tanto e deu tudo certo. A Urgh transformou a minha vida também. Através dela conheci o Jorge, um homem incrível e um pai maravilhoso. Fizemos bons amigos que nos acompanham até hoje e acho que isto é a maior conquista. (Jô Ribeiro, 1ª dama)

Um dos mais produtivos e respeitados skatistas da atualidade, Gian Naccarato aproveita suas viagens internacionais sempre com intensidade máxima. O backside tailslide é num daqueles picos californianos que surgem de tempos em tempos e viram atração para poucos.

A Urgh pra mim sempre foi relacionada a equipe dos sonhos e material de qualidade. Talvez a primeira madeira nacional que cobicei e fiquei frustrado de não poder comprar, foi uma Street Terrorist série 2, aquela da caveira com uma boina. Em 1988 pude ver alguns caras da equipe ao vivo e até pedir um autógrafo do Jorge Kuge. Bem ou mal a Urgh fez parte do meu aprendizado como

skatista e, depois, como alguém que trabalha nos bastidores. Me ensinou que, além da qualidade, a imagem e bons anúncios eram coisas essenciais para fazer com que uma marca se torne relevante e, porque não, mítica dentro de um mercado que já teve várias fases, como a época das marcas chupadas, das rodas 67 mm (por sinal, as minhas foram Urgh), das roupas gigantes até chegar a essa etapa atual, onde skate é bonito de se ver. Fazer 30 anos até pode ser algo fácil, mas manter a atitude e o respeito com os skatistas, ao longo de uma trajetória, realmente é para poucos. (Rodrigo Kbça, fotógrafo e repórter da 100%)

Como skatista tenho um carinho especial pela Urgh, pois comecei a andar de skate sonhando em ter os models do Kuge, Por Quê e Rotatori, totalmente de vanguarda para a época. Anos depois, admirava a jovem equipe formada por Kakinho, Junae, Secco com os então prodígios Cris Mateus, Alê Ribeiro e Gui. Mas o que marcou realmente a Urgh foi quando organizava campeonatos amadores em Londrina e Norte do Paraná. Fui a São Paulo com o Marcelo Santos, Aloísio Nika e Murilo Toma pedir patrocínio para um campeonato sul-brasileiro amador que estávamos organizando. A conversa com o Jorge mudou minha vida, abriu meus olhos para alçar voos mais altos! Entramos na Urgh com um projeto amador e saímos de lá com a 1ª etapa do Circuito Brasileiro de Skate Profissional 1991. Meses depois, a Taça Londrina de Skate aconteceu, com patrocínio da Urgh. Foi meu primeiro campeonato pro, levando cerca de 10 mil pessoas para assistirem o evento, num sucesso de crítica e público, fazendo este importante circuito voltar a acontecer depois de quase dois anos! A parceria com a Urgh e com o Jorge perdura até hoje e sei que posso contar com esta importante e histórica marca do skate nacional. Que venham mais 30 anos! (Ed Scander, vice-presidente da Cbsk)

Em 1990, eu tinha 15 anos. Nas revistas era comum ver anúncios da Urgh com o brasão da marca; os atletas usavam camisetas com ele; mas ter uma destas, ao menos para mim, era impossível. Minha mãe, vendo minha adoração pela marca, decidiu me dar um presente. Uma amiga dela que pintava panos de prato iria pintar à mão a camiseta. Finalmente eu iria ter a tão sonhada camiseta da Urgh. Comprada a camiseta, arranquei a contra capa da Overall e enviei para esta amiga da minha mãe. A ansiedade foi grande, mas tive que esperar quase um mês para receber o presente. Ela era azul clara, com o brasão da Urgh em prata. Usei a camiseta durante anos, era o meu verdadeiro troféu. O que a Urgh representou na década de 80, acredito que nenhuma outra marca tenha conquistado. Os atletas eram ídolos, os produtos eram sonhos de consumo. (Aguinaldo Melo Chaves, jornalista ESPN Brasil)

Uma marca genuine, com DNA de skateboard desde a sua criação, feita por um skatista/idealista, um visionário que sempre acreditou que o sonho era possível, mesmo quanto o barco tava

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PetroNio vilela

especial // urgh 30 anos

afundando. O Jorge foi a primeira pessoa que acreditou em mim como fotógrafo e me deu a primeira oportunidade de mostrar meu trabalho há quase 15 anos. Desejo vida longa a toda a família Urgh. Cheers! (Heverton Ribeiro, fotógrafo e proprietário do site Cold)

A Urgh! Significa, pra mim, muito skate. Em todos esses anos que ando de skate foi uma das marcas que passou todas as fases que o skate sofreu em três décadas. Nos anos 80 tínhamos grandes nomes como o Kakinho, Mureta e outros. A Urgh! fez parte disso tudo e, com certeza, alavancou o skate brasileiro. Continuo com a Urgh! até hoje e tenho muito respeito pela marca e por quem a fundou, meu grande amigo e irmão Jorge Kuge, um verdadeiro guerreiro que passou por todas as fases do skate e sempre se manteve na ponta, como skatista e empresário. Como diríamos nos anos 80 e dizemos ainda hoje: Skate or Die! Skate por toda a vida. Sou um fã dessa que pra mim sempre foi e vai continuar sendo uma autêntica marca de skate brasileira. É uma honra, pois trabalho me divertindo com o que escolhi pra minha vida: andar de skate e ser feliz com meus amigos e família e tenho certeza de que faço parte da família Urgh! (Marcos Kbça, master e representante)

Sessão de autógrafos com a atual equipe na MegaRamp Rio. PetroNio vilela

A Urgh foi uma grande fase de minha vida, muitas viagens, amigos e o melhor de tudo, skate. Funcionava como uma família, o escritório na Itaboraí, a fábrica em Jacareí. Eu sempre estava nesses lugares, desde os 12 anos. Uma marca que revolucionou o skate brasileiro, acreditando no skatista como chave do sucesso. Por isso está no mercado até hoje. Tudo que sou como skatista devo muito à Urgh e, quando falo da Urgh, falo de Jorge Kuge. Hoje não sou skatista profissional, mas trabalho com construção de pistas e possuo um skatepark, uma herança que a Urgh me deixou, de acreditar nesse esporte e estilo de vida. Valeu, Urgh e Kuge. Paz. (Gui Godoy, Vert in Roça, construtor de pistas)

Pioneiro, arrojado, dedicado, idealista, visionário, competente, a lista de adjetivos apropriados para o trabalho do Jorge é extensa. Sobreviver às intempéries que essa indústria viveu é fato raro, talvez único, especialmente com uma marca própria, nacional. Jorge conseguiu este feito, desenvolvendo produtos de qualidade, sempre apoiando os atletas, os eventos, os veículos, fomentando a indústria. A explicação que encontro pra ter chegado até aqui, é que tudo o que ele fez - e faz-, antes de objetivar lucro e sucesso, visava um ideal e o próprio prazer pessoal. Grande trabalho. (Califa, editora Trip)

As flores uniformizadas batizadas de Urghetz sempre enfeitaram os campeonatos, desde os anos 80. Rio, 2012.

No Brasil não se valoriza a cultura dos adesivos como antes. Nos anos 80, eu economizava dinheiro do lanche para comprar adesivos, mas não qualquer um, só das marcas que eu curtia. Só que quanto mais legal a marca, mais caro era. E um dos mais caros, que eu nunca tinha dinheiro para comprar e virou sonho de consumo, eram os da Urgh. Além de serem obras de arte do Billy Argel, carregavam um peso muito forte. Tinha todo um conceito que fazia a molecada idolatrar a marca. Curiosamente, consegui comprar esse adesivo no Japão. Vi numa loja e não pensei duas vezes. Um dos adesivos da minha coleção que não vou colar em nenhum lugar! Parabéns, Jorge Kuge, pelos 30 anos de Urgh! Você construiu uma marca original com produtos de qualidade e conceito numa época que todo mundo só copiava. A indústria do skate brasileiro precisa se orgulhar da Urgh! (Sidney Arakaki, Retta Skate e Skataholic)

A Urgh nasceu de um cara que ama o skateboard e se manteve firme e forte durante tantos anos fazendo com que outros caras pudessem viver de skateboard. Parabéns, Kuge and family. (Daniel Arnoni, pro e construtor de pistas)

A Urgh é uma marca que ao longo de sua história implementou identidade e personalidade ao skate brasileiro. Parabéns e sucesso por mais 30 anos! (Daniel Baccaro, master e cineasta)

Me lembro de quando era pequeno, acho que com uns nove anos de idade, de ir à casa de um primo mais velho e folhear uma edição da Overall e ver um anúncio da Urgh! com os skaters Kakinho, Junae e Kuge, não sei exatamente o por quê, mas aquilo me marcou. Ao longo dos 21 anos em que vivo o skate, sempre percebi que a Urgh! se manteve na ativa e, mesmo que de forma inconsciente, tenho o desejo e me inspiro na marca. Parabéns

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família Kuge e à Urgh! por nos inspirar e fortalecer o mercado brasileiro. (Sandro Soares, Social Skate Manobra do Bem)

Lembro que, nos campeonatos, era muito marcante a chegada da equipe uniformizada e isso criava uma vontade muito grande de fazer parte do team, que era formado pelos principais nomes do skateboard brasileiro, entre eles, meus ídolos e amigos, Marcelo Folhinha e Cláudio Higa. Eu vejo a marca como uma empresa criativa e original, que fez muito pelo skateboard brasileiro, formou os mais importantes skatistas das últimas três décadas e os ajudou a realizar sonhos em mundiais; criou o conceito de qualidade em produtos nacionais e fortaleceu uma logomarca respeitada no mundo todo. Para mim é uma honra fazer parte da Urgh e uma grande satisfação comemorar seus 30 anos. (Per Canguru, freestyler e web designer)

30 anos de muito amor, atitude e dedicação ao conceito de esporte mais espetacular do mundo. Skate ontem, hoje e sempre. Falar da Urgh não é fácil, em minha opinião a Urgh não é uma marca que foi feita pra ser falada, a Urgh! é tipo uma religião,uma família! Uma marca que foi feita para ser sentida, interpretada e absorvida dentro do universo skate. 4 ever young, 4 ever Urgh! (Sammy, master)

Alguns anos atrás, tive o enorme prazer de conhecer a Família Kuge e fazer parte da Família Urgh!. Uma marca clássica, de anos no mercado e que sempre fez grandes ídolos em seu time de skatistas. Uma certa vez, fomos fazer uma tour e paramos num posto de gasolina para colocar combustível na van e, quando a gente deu um adesivo para o frentista, ele falou sobre a Urgh!, dos melhores shapes da década de 80 do Leo Kakinho. URGH! = RESPEITO TOTAL. (Renato Lopes, pro)


roBsoN sakamoto

Igor Smith estava no Urgh Kids em 2002. Desde entĂŁo, seu vĂ­nculo com a marca se manteve. Prestes a se tornar pro, explora a Nova Roosevelt. Hardflip.

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roBsoN sakamoto

Militante do skate do interior de São Paulo, o pro Flavio Lopes segue na veia da Urgh, participando ativamente da construção de novas pistas. Flip backside noseblunt slide, em apresentação em Indaiatuba.

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rogério igarashi

urgh 30 anos // especial

Graças a ele, o freestyle retomou com força nos últimos 15 anos. Per Canguru, fifty no hands em Malmö, Suécia, 2010.

Visitei o Brasil pela primeira vez em 2003, numa tour com a Peek Skateboards, da Alemanha, a convite da Urgh. Foi uma das melhores tours da minha carreira. Tiramos tantas fotos em uma semana, que a revista Monster publicou duas matérias. Me apaixonei por este país lindo e toda a doideira e gentileza. Nunca vi skatistas tão empolgados quanto os da Urgh. Foi o máximo. Foi nesta época que conheci o Jorge, um grande amigo até hoje. (Helge Tscharn, fotógrafo)

A Urgh é uma marca que sempre admirei muito. Apesar de não conhecer toda a história, tive o imenso prazer de conhecer o Kuge e sempre me inspirei e me espelhei na forma como ele desenvolve a marca e as ações em si. Admiro ainda mais a Urgh pelo fato de estar tantos anos firme e forte em um mercado instável como é o skate no Brasil. Dá pra contar nos dedos as marcas que conseguiram sobreviver e ainda continuam fazendo um trabalho promissor e marcante, acompanhando a evolução natural do skate. (Ricardo Porva, pro e proprietário da Nata)

“Estou nessa correria há nove anos. Prazer em trabalhar para uma marca como a Urgh, em trabalhar na Nacional Company e, principalmente, em conhecer o Jorge como dono da marca e grande

amigo. Acredito que é isso que motiva a cada dia nosso esforço, a cada campeonato que apoiamos, pequenos ou grandes. A cada cliente conquistado e principalmente ver o crescimento deste mercado cada dia mais forte e consolidado. Muitas pistas e grandes projetos no país todo. Acredito que a Urgh tem ajudado durante estes anos a pavimentar este caminho junto com outras marcas, revistas, atletas, pessoas que estão envolvidas neste mundo chamado SKATE. Acredito que fizemos nestes anos juntos muitos avanços, mas também vejo que ainda tem muito caminho a ser pavimentado ou concretado! Lembro de que quando fui convidado a ajudar nas marcas da Nacional Company, podia escolher entre a Urgh ou outras marcas da empresa. Fui na que precisava de mais trabalho e a mais desafiadora. Hoje vejo que escolhi a marca certa! URGH-SE! Mais 30 anos! (Wu, brand manager Urgh)

A Urgh é um exemplo de marca no Brasil, sobrevivendo a bons e maus momentos do skate. Que sirva de exemplo para nós que estamos começando. Um brinde à Urgh e ao skate brasileiro! (Eduardo Duzinho, pro, fotógrafo e proprietário da Deadless)

Comecei a andar de skate no começo de 1986, e tive a visão do que era skate punk pelo

campeonato de street em Santos. No mesmo ano, uns dois meses depois, comprei um Urgh! Street Terrorist 1, totalmente influenciado pelo que tinha assistido ali, todo mundo usava aquele shape, nem adianta tentar explicar, somente quem viveu tem noção de como era esse período. Conheci pessoalmente o Kuge só em 2009, quando fizemos o documentário Re:board. Grande pessoa, que faz muito pelo skate brasileiro! (Alexandre Sesper, músico e artista plástico)

Quando comecei a andar vi um shape da Urgh com um amigo e nunca me esqueço. Achei muito style, com a borda pintada, resinado, muito louco. Conforme fui crescendo e andando sem parar, fui acompanhando e admirando a Urgh cada vez mais, vendo equipes com atletas cabreiros, anúncios, passando por várias fases e épocas. A Urgh é parte do skate brasileiro; falou em marcas brasileiras, uma delas é e sempre sera a Urgh. Hoje me sinto lisonjeado de fazer parte da família que é a Urgh e honrado de comemorar 30 anos de muitos que virão de existência, com uma marca genuinamente brasileira! (Gian Naccarato, pro)

Quero agradecer a família Urgh por fazer parte da minha vida há mais de 20 anos. Sou skatista, com muito orgulho, desde 1986. Já fui atleta da 2012/dezembro TRIBO SKATE | 79


especial // urgh 30 anos

por muitos há 30 anos! 80’s, 90’s e 2000’s! Três gerações de skate underground pra contar! Por isso o Jorge é um dinossauro do skate brasileiro. Urgh, continue plantando novas memórias! (Liza Grzeskowiak, editora)

É impressionante como a história do skate brasileiro se mistura com a maturidade de um ideal. O esporte ainda não completou um século de vida, mas pelo menos um terço dessa trajetória foi escrita por quem acreditou que o melhor é autêntico, e poderia ser genuinamente nacional na cabeça e nos pés. (Roberta Garcia, repórter da Sportv)

Eu entrei na Urgh há 10 anos e, de lá pra cá teve muita evolução. Conheci muitas pessoas e adquiri muita experiencia, não só pra carreria de skatista mas na vida pessoal. Sempre procurei ouvir os conselhos do Fabio Castilho, um cara em que me espelho muito. Hoje em dia gostaria de falar pra molecada dar mais valor às marcas mais antigas do skate, principalmente a Urgh, porque foi a primeira marca real de skate no Brasil. Devemos valorizar muito, pois não é qualquer uma que fica no mercado hoje em dia como a Urgh está! (Igor Smith, futuro pro)

Urgh! É muito mais que uma grande marca. É um sonho realizado de um grande skatista e sua família! Estou há quase uma década, fui honrado por andar para a mesma marca todo esse tempo sendo cada vez mais forte a ligação; não me sinto um atleta a mais, mas como um parente e todos aqueles que fazem a marca crescer, fortalecer cada vez mais o skate brasileiro e postar sua confiança são da mesma família. Salve Jorge e toda equipe, os irmãos atletas, marketing e amigos. Flipo, logo existo! (Fabio Castilho, pro)

É uma honra fazer parte da equipe da Urgh, não só por ser a marca mais conceituada no meio do skate, mas pelos integrantes da equipe que sempre me receberam de braços abertos, acreditando no meu talento, desde o começo. Primeiramente gostaria de agradecer tudo o que a marca e a equipe me proporcionaram e também parabenizar a Urgh por suas conquistas e suces-

so nestes 30 anos. Pretendo sempre fazer parte dessa equipe, pois foi com ela que cresci e aprendi ainda mais. Parabéns Urgh, muito skate na veia e muitos anos pela frente. (Italo Peñarrubia, pro e proprietário da Peñarrubia Skateshop)

Em 1989 cheguei em São Paulo, em busca de pistas e mulheres. Tava andando na Ultra com aquela galera de futuros profisionais. Conheci todo mundo, inclusive o Jorge, que me colocou na equipe Urgh!. Me mandou andar de skate em várias cidades do Brasil, pra não ficar subindo as paredes da casa dele em Jacareí. Acabei conhecendo muitas pistas de concreto, coisa que quase não existia naquela época nos EUA. Aprendi umas palavras em português, com muita ajuda do Tai Tai na hora de falar besteiras. Jorge lançou um modelo meu, ainda existem alguns. Voltei para minha terra, fundei uma empresa chamada Airspeed Skateparks para desenhar e construir pistas. Passei vários anos fazendo pistas, mas sempre quis voltar ao Brasil para fazer pelo menos uma pista aqui. Daí, em 2009 o Jorge veio à minha casa em Oregon pra melhorar seu English. Eu levei ele para conhecer várias pistas que a Airspeed tinha construído nos EUA. Ele ficou entusiasmado com nosso trabalho

arquivo Pessoal

” “Urgh! É Jorge! Urgh! É rock! Urgh! É punk! Urgh! É skateboarding! Urgh! É um estilo adotado

está na fase dos 30, seu público continua sendo na maioria os adolescentes ou seja, para o skate a idade não importa e sim o suporte ao segmento e ao lifestyle, sendo ele direto ou indiretamente. (Robson Sakamoto, marketing Urgh)

arquivo Pessoal

marca Urgh e gerente da rede Max Motion. Na Urgh exerci o cargo de representante comercial por 7 anos e em 2012 recebi o convite do Edimilson (Nacional Company) para gerenciar a marca Urgh no Brasil. Estou muito feliz por conseguir conciliar a minha carreira profissional com o skate. (Ronaldo Souza, gerente comercial)

ReBoard em Los Angeles, 2011.

Vida Sobre Rodas em LA. 2011.

roBsoN sakamoto

Fico grato por estar em uma marca com três décadas de história, por poder contribuir para os próximos anos e também por trabalhar ao lado de gente que realmente vive fazendo o que gosta. A Urgh assim como uma pessoa, passou por todas as fases como adolescência e maioridade e agora

Urgh Team: Fabio Castilho, Gian Naccarato, Per Canguru, Flavio Lopes, Igor Smith.

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marCelo mug

e um dia me mandou um email dizendo que queria fazer uma pista em Jacareí, mas que antes tinha um trabalho para mim no Rio, com o Frewka, coisa de duas semanas. Que nada, fiquei quatro meses fazendo a pista da Madureira! Calvário total, mas a pista ficou boa e agora eu e o Frewka estamos fazendo outra, no sítio do Mineirinho. (Geth Noble, pro, digesto e equilibrado construtor de pistas)

É motivo de orgulho para o Brasil ver uma marca desenvolvida em nosso país ter o destaque e a projeção que não deixam nada a dever às marcas internacionais. A Urgh é uma marca que se desenvolveu e se firmou sem abrir mão da sua total identificação com a cultura do skate. É muito bom ver frutificar um esforço baseado em trabalho e honestidade. A Urgh tá no coração dos brasileiros! Parabéns pelos 30 anos e que venham mais 30! (Marcia Casz, produtora IMX)

” “A Arte Skate tem a enorme honra de relatar a parceria de quatro anos com a Urgh. Em pri-

meiro lugar quero agradecer ao maravilhoso e bondoso Deus, por proporcionar esta linda e rica

oportunidade. Uma marca é como a vida: durante sua existência, a evolução existe, vários estágios devem ser superados, mas só vence quem tem espírito de vencedor, garra e persistência. Houve o nascimento; a criança, evoluiu, esforçou-se para andar; teve tombos, se tornou adolescente; fez suas travessuras, teve suas correções; continuou crescendo, chegou a juventude, com ela a responsabilidade e o compromisso de sua auto-afirmação, novas conquistas, compromissos, oportunidades e desafios surgiram. A Urgh, hoje, é adulta, aos 30. Nossos sinceros parabéns! (Toninho Portes, grupo Flying)

“Tem umas palavrinhas que a gente ouve quando é moleque, mas não presta muita aten-

arquivo Pessoal

Poucos são convidados a correr um evento como o Red Bull Generation, no bowl da família Barros em Floripa. Encarar a pressão do público e andar depois do rolê do Christian Hosoi? Mais uma tarefa para Jorge Kuge. Frontside air.

Frewka, Jorge e Geth na obra de Madureira.

ção. Depois, com o tempo, vai entendendo como essas coisas ajudam a definir caráter. De pessoas físicas e jurídicas. Coerência, Perseverança e Lealdade são três dessas que estão engastadas na história do Jorge Kuge e da Urgh. E isso, definitivamente, não é pra qualquer um. Parabéns pelos notáveis 30 anos dessa marca brasileira e original. (Paulo Lima, editora Trip)

A Urgh foi construída pela paixão ao skate e ao trabalho, por pessoas do bem que sonham e buscam alcançar o melhor. Agradeço a todos aqueles que ao longo destes 30 anos contribuiram para que tudo fosse possível, dando continuidade à missão com muito profissionalismo; fortalecendo o esporte e o mercado com ações positivas e relevantes; criando produtos de qualidade; inovando sempre; investindo nas bases, nos skatistas am e pro; curtindo muito o que fazem; se divertindo nas sessões com os amigos; transformando para que o nosso mundo, seja um lugar mais feliz. Obrigado! (Jorge Kuge)

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perfil am // caique silva

Fome de manobras Num belo dia perguNtei: “moleque quer aNdar de skate?” ele me respoNdeu: “Não! prefiro soltar pipa.” alguNs dias se passaram e ele me perguNtou se eu tiNha um skate pra emprestar... dedicação, devoção e acima de tudo taleNto, fazem de caique silva um dos skatistas mais versáteis da atualidade.

Por allaN mesquita // Fotos adriaNo rebelo

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Sinistro e solitário fs air no cascudo half pipe do Clube XII de Agosto, Jurerê, Floripa.

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A facilidade de brincar com coisa sĂŠria: bs smith esticando com o calcanhar no velho e carcomido snake run de JurerĂŞ.

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caique silva // perfil am

A

história do Caique não pode ser contada separada dos Red River Boys Marcos Gabriel, Lucas Sachs e Zene Sachs, que formam uma das “crews” mais legais do momento. Cada qual com sua particularidade e a do Caique é “quanto mais manobras melhor”. Aprende muito rápido e faz parecer fácil! Moram na mesma rua no distante bairro do Rio Vermelho, no norte da Ilha de Santa Catarina, Florianópolis, onde algumas iniciativas privadas fizeram e fazem ser possível andar de skate. O intercâmbio com a galera do RTMF, do outro lado da ilha, mantém a motivação em alta, pois andar com o campeão mundial Pedro Barros faz com que o nível das manobras fique bem acima do normal e eles se favorecem com isso. O Caique segue a linha skatista overall, onde todas as modalidades se completam. No street faz manobras de giro no corrimão com tranquilidade; na mini ramp, destrói e tá difícil bater; no vert, tem difíceis manobras de borda e está acertando os 540; no bowl se defende bem e é sempre finalista nos campeonatos. Segue em uma evolução surpreendente e sempre com fome de skate. É ambicioso e determinado, quer crescer e mostrar trabalho. Tem como meta terminar os estudos e mergulhar na carreira com viagens e tudo que o skateboard tem pra oferecer. Me sinto feliz em saber que aquele moleque que um dia preferiu soltar pipa, pode refletir melhor e se tornar uma das grandes promessas do skate brasileiro.

Melon to fakie na mini “sem borda” de Coqueiros.

// Caique Silva 17 anos, 7 de skate Patrocínios: devotion, emPire aPoios: skatemundo, academia estação saúde FlorianóPolis, sc


casa nova //

Ollie considerável em Carmo do Cajuru, MG.

brenndel indinho Ser skatista é: Ser humilde, ter ideias e estilo diferentes. Ser skatista é ser livre! Quando não está andando de skate: Se não estou trabalhando, fico jogando Dota. Maior dificuldade em ser skatista na sua cidade: O incentivo tá fraco por aqui. Skatista profissional que se espelha: Chris Cole. Skate atual: Shape e parafusos Twister, trucks Crail com amortecedores Moog, rodas Moska e rolamentos Abec-1. Marca fora do skate que gostaria de ter patrô: Qualquer marca de tatuagem. Som pra ouvir na sessão: Slash’s Snakepit, Pink Floyd, Waka Flocka Flame, Metallica, Alter Bridge, The Misfits, Sex Pistols, Ramones, Led Zeppelin e Gorillaz. Parceiros de rolê de skate: Celso Pelegrini, Diogo de Meneses, David Vieira, Humberto Souza, B Negão, D’Assis, Willian Pinguim, Bruno Ribeiro, Gustavo Souza Silva e Erick Duarte. Melhor viagem: Foi pra Vitória/ES. Altos

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// Fotos Diogo groselha

corrimãos, gaps e uma galera muito da hora. Melhor pico de rua: É a praça da Catedral, na minha cidade. Melhor pista: Das que já andei, São Bernardo/ SP foi a melhor delas. Sonha alcançar com o skate: Se não me profissionalizar, sonho em fazer alguma coisa ligada ao skate. Quero viver o skate sempre! Aquele salve: Pra Associação Divinopolitana de Skate (ADS) que faz a correria, incentiva os skatistas e não deixa o skate parar por lá. Também pro Jorge Negretti, que foi o cara que me levou pra conhecer vários lugares do Brasil e me ajudou bastante. Mais pra galera do Libertas Skate Shop e Skatearte pela força! E pra todos os skatistas! // Brenndel Ferreira de lima “indinho” 20 anos, 6 de skate Cidade natal: sete lagoas, Mg Cidade atual: divinópolis, Mg apoio: libertas skate shop e skatearte

‘‘skate ou morra!’’



casa nova //

Jefferson de Moraes // Fotos Marcelo Mug Onde nasceu: Rio de Janeiro. Onde mora atualmente: Recreio, no Rio de Janeiro. Primeiro skate: Tinha sete anos quando ganhei um skate de plástico. Tinha sofrido um acidente e não podia andar, daí comecei a andar em cima de um skate. Skate atual: Skate profissional. Som pra ouvir na sessão: Cone Crew sempre foi minha música de rolé no dia a dia. Fora isso rap, rock e reggae. Uma parte de vídeo de skate: Todos os vídeos que têm rolé de half-pipe. Eu fico muito feliz em ver que um dia posso estar ali voando como todos eles. Três amigos pra compartilhar a sessão: Zunga, que sempre me deu muita foça pra continuar a andar de skate. Humberto Martins, que me tirou das ruas quando eu era apenas um moleque; e através do skate mudei minha vida, graças a Deus. Todos os skatistas que sempre botaram fé em mim. E o Janela que sempre esteve comigo em qualquer lugar do Rio. Comida: Como tudo que me faz bem, por isso hoje em dia consigo andar bem. Bebida: Não bebo porque quero me tornar um atleta. Hoje em dia todas as pessoas bebem porque acham legal, mas poucos sabem que estão todos se acabando. Eu não gosto de saber que eu mesmo estou me matando; bebida não é pra mim. Balada: Não curto muita balada porque isso pode me fazer muito mal. Melhor pista: Recreio dos Bandeirantes, onde eu aprendi a andar. Sonho: Quero dropar a megarrampa. Para ler: Uns livro de história, umas revistas de skate e surf, e muito mais coisas boas que possam me fazer feliz a cada dia que eu acordo. Viagem: Quero apenas viajar pra Califórnia, encontrar meu amigo Bob e andar de skate na mega dele. Quero conhecer meu pai, que mora na Itália. Um salve: Quero mandar um salve pra todos os skatistas da Timafia Skateboard, para Cone Crew Diretoria, Zunga, Humberto Martins, e a todos os skatistas dessa face da terra. Skate for life pra todos, é nóis Recreio dos Traficantes! // JeFFerson de moraes 17 anos, 4 de skate patroCínios: foMo vertiCal, huMberto Martins, Cone Crew diretoria, teeaf, Cezar augustus apoios: pontal surf e new diaMond

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Frontside air.

de skate é a minha vida, ‘‘porandar isso eu vou seguir até o fim ’’



casa nova //

Joseval tapó // Fotos FernanDo goMes Ser skatista é: Ter atitude. Quando não está andando de skate: Estou nos games e vídeos de skate. Porquê do apelido: Quando era pequeno era idêntico a um rato chamado Topo (Topo Gigio), mas minha irmã não sabia dizer e me chamava de Tapó; aí pegou. Maior dificuldade em ser skatista na sua cidade: Receber patrocínio das marcas. Skatista profissional que se espelha: Adelmo Jr. e Fábio Castilho. Skate atual: Shape Organika, trucks Venture, rodas Moog e rolamentos PLB. Marca fora do skate que gostaria de ter patrô: De energéticos. Som pra ouvir na sessão: Rap e reggae. Parceiros de rolê de skate: Todos que andam comigo. Melhor viagem: São Paulo. Melhor pico de rua: Campo Grande e Salvador. Melhor pista: Barris Skatepark. Sonha alcançar com o skate: Sucesso e mais felicidade. Aquele salve: Um salve a todos os skatista do Norte/Nordeste. // Joseval de lisBoa BarBosa “Tapó” 26 anos, 8 de skate salvador, ba apoio: blueberry

Fs grind.

‘‘vai dar certo!’’ 90 | TRIBO SKATE dezembro/2012



hot stuff // dezembro

// Nike SB O Nike SB Team Edition é o principal lançamento da Nike SB para o fim de ano. De estilo clássico, o calçado conta com design minimalista, solado vulcanizado e cabedal em suede de baixo perfil - que proporciona ótimo fit e aumento do contato com o shape. Nike SB – (11) 5504-6644 / 0800 703 6453 / www.nikevoce.com.br

// Black laBel Mais nova marca a fazer parte do leque de produtos oferecidos com exclusividade no Brasil pela Plimax, os shapes Black Label são uma boa opção pra quem quer impressionar um skatista neste Natal ou então se presentear com aquele presente style! Peças disponíveis em pro models e também com estampas do logo da marca. Plimax – (11) 3251-0633 / pira@plimax.com

// Volcom Concebida nas mentes do Volcom Skate Team, Volcom Stone-Age é uma linha limitada de roupas e acessórios inspirados e projetados para o skate. As constantes skate tours da equipe por todo o mundo fazem servem como inspiração. Esta consciência mundana da mistura de estilo com as necessidades funcionais do skate são os principais ingredientes desta linha. São produtos exclusivos de alta qualidade, disponíveis em revendedores selecionados! Volcom – (11) 3357-0250 ou 3357-0275 / www.volcom.com.br/stone-age/

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// Spitfire A Spitfire atua sério no mercado de acessórios para skate. E como o som é item obrigatório para todo skatista, chegam ao Brasil dois produtos que deixam o ato de escutar música ainda mais estiloso: fone de ouvido de alta performance com microfone para smartphone e mochila com alto-falantes pra não deixar dúvidas sobre o peso sonoro que acompanha o rolê. Plimax - (11) 3251-0633 ramal 114 / edgar@plimax.com


// mareSia A mochila tornou-se um acessório indispensável! E a coleção da Maresia chega em variados designs, tamanhos e materiais diferentes, como lonas e nylon. Desde a escolar mais básica até as mais sofisticadas com bolso para notebook e organizador interno, a Maresia oferece o produto perfeito para diferentes perfis de usuários. Maresia - (85) 4012-6000 / www.maresia.com.br

// maD ratS Conhecida como a primeira marca de tênis de skate do Brasil, a Mad Rats lança o MR83 que homenageia o skate, fazendo referência ao ano de sua fundação. Com diversas opções de cores e materiais, o MR83 foi produzido com diferentes combinações de lona, camurça e couro sintético, além de palmilha de gel e acolchoamento no calcanhar, para garantir conforto e absorção de impacto dos diferentes tipos de skate. Mad Rats – (11) 3313 7252 / www.madrats.com.br

// Drop DeaD A Drop Dead deixa o Natal do skatista ainda mais style com o lançamento no Brasil de quatro colabs com a Pocket Pistols. São shapes old school com assinatura de grandes nomes do skate nacional e mundial: Duane Peters, Pedro Barros, Luis Roberto Formiga e Léo kakinho. O detalhe, o ano de início de cada um no skate. Drop Dead – (48) 3338-2548 / comercial@dropdead.com.br / www.dropdead.com.br

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áudio //

Los Bife

Você Já ouViu falar de bandas que esculacham o sistema, a política e até mesmo outras bandas, mas quantas Vezes Você soube de alGuma que zoasse a si mesma?! assim são los bife, um quinteto carioca que Vem atraindo cada Vez mais a atenção de quem curte aquilo que eles mesmos classificam como “rock autodepreciatiVo”, e se diVertindo muito no meio do caminho. nas terras cariocas, eles Já têm um público fiel que só faz aumentar cada Vez mais, e não Vai demorar muito pra que o país e o mundo se rendam ao talento e bom humor dos caras. // por Guto Jimenez

p

restes a lançarem seu primeiro disco, “Super Supérfluo”, conseguimos prender o vocalista Igor Leão num quarto com paredes acolchoadas e sem móveis e arrancamos algumas verdades, que você confere agora nesse pingue-pongue. - O INÍCIO: “Saí de um show dos White Stripes em 2005 com a cabeça decidida que queria montar uma banda, junto com o Dudu (baixista) e Daniel (agora ex-guitarrista). No final do mesmo mês, iria rolar um sarau na escola e nós resolvemos montar uma banda cover dos Stripes usando as iniciais de nossos nomes e nos demos o caloroso nome de “D.I.E.”. Depois, continuamos com as ideias das iniciais e acabou surgido “Los Bife”, que soava esquisito, não tinha concordância e possuía um trocadilho estranho, mas era engraçado... E aí, grudou”. - ENSAIOS E SHOWS: “Nosso ponto forte é o show, então é ali que a gente joga toda a nossa energia; pra mim, é uma completa lavagem da alma. Eu começo a tremer e ter convulsões quando não tocamos por muito tempo... (risos) A troca com o público é muito foda, essencial, e quanto mais animada a galera está, mais animados nós vamos ficando e todos piram no final. Na minha opinião, o motor do show é o público. Com relação aos ensaios, o clima não é aquele de euforia como nos shows, mas a gente se diverte pra caralho entrando em conversas completamente imbecis entre uma música e outra e fazendo piadinhas ridículas.” - INFLUÊNCIAS MUSICAIS: “Gostamos de falar que nossas influências vão de Sidney Magal a System of a Down, passando por White Stripes, Weezer, Titãs, Sandy e Júnior, Queens of The Stone Age, Rich Kids on LSD, etc.” - INFLUÊNCIAS DO PAI (Igor é filho do jornalista cultural e ex-skatista Tom Leão): “ Quando eu era bebê, no começo da década de 90, meu pai

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ouvia muito Nirvana e Chili Peppers e sempre que a gente saía de carro meus pais colocavam The Cure. Tenho certeza que essa foi a minha maior influência, aquele som ficou grudado pra sempre na minha cabeça. Com 5 anos de idade já cantava “Give it Away” e “Boys Don’t Cry”... Grande parte das bandas que ouço eu conheci pelo meu pai. Foi ele quem me mostrou o primeiro disco dos Arctic Monkeys, The Killers, Mars Volta, Arcade Fire. O interesse surgiu logo de cara!” - EXPERIÊNCIAS PESSOAIS: “As músicas “Elas são lésbicas” e “Enquanto ela dá por aí” são minhas e ambas são baseadas em fatos reais com poucas alterações dramáticas. Tenho muitos traumas... (risos)” - O DISCO “SUPER SUPÉRFLUO”: “Como sabemos que os shows são nosso ponto forte, é essencial tentarmos trazer um pouco da atmosfera do show pro disco. Tentar trazer a histeria, a porrada, a descontração e a animação pras pessoas que estão ouvindo. Por isso utilizamos alguns artifícios que também usamos nos shows e tentamos dar um peso bacana pras músicas.” - COVERS: “Já tocamos cada cover... “Dança do Quadrado”, “Dança do Créu”, “Piriguete”, “Tenho” do Sidney Magal, “Ilha do Sol” do Nethinho, “Uma Arlinda Mulher” dos Mamonas e nosso cover eterno é “A Lenda”, da Sandy e Junior. Tentamos escolher músicas que vão surpreender e animar o pessoal ou que possam encaixar bem nos shows. “Piriguete”, por exemplo, é um hard rock sensacional se você prestar atenção. É só fazer (risos). Gostamos de fazer versões das músicas e não só repetir exatamente a música original.” - O QUE NÃO TOCARIAM NEM POR UM MILHÃO DE DÓLARES: “Olha, por 1 milhão de dólares e se fosse uma vez só, tocaríamos qualquer coisa (risos), menos DragonForce, porque a gente não consegue...” www.facebook.com/rindodemim Curtam nossa página! www.twitter.com/LosBife Sigam a gente! www.youtube.com Vejam nosso clipe!



manobra do bem // por sandro soares “testinha”*

2012 um ano intenso // Sandro SoareS “TeSTinha” 34 ANOS, 20 de SkATe Começamos pelo fim! Você imagina que algum dia sua missão com o Skate Social chegará ao fim? Vixe! Só chegaria ao fim se as condições sociais no Brasil fossem iguais para todos. E como isso é impossível de se prever, a missão não vai ter fim! Acredito, desde o início, nos meus filhos e participantes tocando as ações pois vou estar um pouco velhinho para isso (risos). Direto a gente vê marcas realizando ações esporádicas com a ONG. Como você faz para evitar aquelas que estão apenas pegando uma onda das que realmente são engajadas socialmente? Acho que as que querem pegar “uma onda” nem mesmo tentam se aproximar! E mesmo para as que possam estar engajadas, há regras e limites para realizar uma ação por aqui. Nós criamos essa abertura, para marcas poderem participar de uma ou mais ações, pois vimos que não conseguiríamos alguma que esteja a fim de colaborar mensalmente, por exemplo. E não queremos ficar “presos” a uma única marca, afinal se é realmente social, tem que ter espaço para todos. Imaginamos que sua missão com a ONG não é das mais fáceis. Pra piorar, recentemente fizeram o favor de roubar o carro que agilizava os corres. Esse foi o pior perrengue que já passou com o Skate Social ou teve outros? O roubo do carro atrapalhou, está atrapalhando e vai atrapalhar ainda um pouco nossas ações. Mas não considero uma perda material nosso maior perrengue! Pior foi, no dia de meu aniversário, acordar com os tratores e britadeiras quebrando o asfalto de nossa rua, onde começamos as ações e andávamos de skate com a criançada. Aquilo assustou, mas ao invés de ficarmos “brabinhos”, conseguimos nos aproximar do poder público e com isso solicitamos um espaço onde estamos até hoje. Só que logo mais vem a obra do Rodoanel, aí vão ser mais tratores e britadeiras de novo! O skate já te levou pra muito lugares e imaginamos que a ONG deve ter potencializado ainda mais essas viagens. Tem alguma dessas viagens que gostaria de destacar? A mais recente foi engraçada! Fui ao RJ, concorrer pela ONG a um prêmio de um canal de esportes. Estava dando tudo errado. Voo cancelado, tentativa frustrada de troca de voo. Aí, quando consegui embarcar e estava tudo pronto, chegou um passageiro atrasado e a única poltrona vaga era ao lado da minha. Eu já estava na bronca desse passageiro, e quando ele entrou era o Bob Burnquist (risos). Foi uma hora de boas conversas e de quebra fiquei sabendo de umas ações futuras, mas não posso falar ainda do que se tratam. Você já recebeu prêmio por um livro que escreveu e sua coluna ocupa espaço nobre aqui na Tribo Skate, tendo uma excelente audiência. Como faz para conciliar todas as atividades que exerce e ainda escrever belos textos? Na realidade não existe um processo criativo, apenas escrevo o que vejo no dia a dia. Quanto aos “belos textos”, acredito que o hábito da leitura, desde

* Sandro Soares “Testinha” é o cabeça da ONG Manobra do Bem, em Poá, SP.

96 | TRIBO SKATE dezembro/2012

minha época de office boy (os livros faziam as filas de bancos se tornarem menos chatas), me ajuda até hoje a escrever mais ou menos bem. Quanto a conciliar tudo isso é punk pois, além da ONG, sou pai de dois filhos e participo de tudo na vida deles. Por isso o tempo que sobra é muito pouco e vocês têm que me cobrar sempre no dead line, para eu mandar os textos (risos). Mas vamos em frente pois se aparecem coisas boas para fazermos, não podemos deixar passar batido. O Skate Social recebe retornos de todo Brasil, de pessoas que se sentiram incentivadas a aplicar a iniciativa em suas cidades. Esse seria o maior reconhecimento que vocês recebem ou ainda falta algum? O maior reconhecimento é perceber a mudança real que estamos fazendo na vida de crianças à mercê de tudo o que há de ruim nas periferias, e poder fazer isso com o skate é uma honra! Ver pessoas se inspirando e realizando ações como a nossa no Brasil e em outros lugares do mundo é melhor que qualquer troféu. Quanto a prêmios, estou cada vez mais convicto de que alguns deles têm caráter comercial e ganha quem tem bons padrinhos públicos ou privados, então vou tentar não me ligar mais nisso. Para encerrar, gostaria de dizer que o bem precisa de cada vez mais espaço, pois o mal é fácil de se fazer: basta colocar um moleque na esquina com uma sacola de drogas para vender e o mal vai estar atingindo várias pessoas. Já o bem é um pouco mais difícil de se fazer e muitas vezes até desanimador; e é por isso que o mal aparece mais do que o bem. Então, amigos: não desistam! Sigam em frente pois na hora que o bem se sobressai, o mal se afugenta e sai correndo. Bom final de ano a todos e que tenham um excelente 2013. * (Perguntas por Junior Lemos) AlessAndro Ginez

Nesta edição resolvemos bater um papo com os Nossos coluNistas, para que eles se apreseNtem de outra forma. quem está acostumado com suas opiNiões e crôNicas meNsais, pode agora coNhecer um pouco mais dos persoNageNs que Nos Nutrem sempre com suas ideias e discussões.

Flip noseslide.

APOIO CULTURAL



skateboarding militant // por guto jimenez*

2012 um ano intenso O Rio de Janeiro deu uma tremenda estilingada no skate em 2012, com o Parque Madureira e outras pistas públicas, a continuidade das customizações de picos e praças por skatistas, o evento da Megarrampa e vários personagens se reunindo para trabalhar juntos. O que mais precisa melhorar? Precisa melhorar o ego de algumas pessoas que trabalham pelo skate do Rio, no sentido de aceitarem propostas e opiniões diferentes das próprias. Agora está havendo um grande debate em relação ao que pode vir a acontecer no cenário do estado, e eu acho que já passou da hora de debater e já está na hora de agirmos pra não perdermos tempo precioso. O Rio tem pistas, picos e ladeiras de sobra pra retomar o seu lugar de destaque no cenário nacional, o grande lance é mirar em várias iniciativas ao mesmo tempo com todas as modalidades possíveis. Não só fazer eventos que atraiam a atenção da mídia, que são importantes no sentido de publicidade, mas com um forte trabalho de base envolvendo escolinhas e clínicas, fortalecendo cenários antigos e fomentando novos ainda a descobrir. Incentivar a molecada a andar de skate pra se divertir em primeiro lugar, e oferecer alternativas em termos de estrutura e competições. Como observador privilegiado, quais foram os novos talentos locais que surgiram e se firmaram melhor este ano? Olha, eu apontaria a evolução de caras como Jonathan Mentex e Lucas Cofrinho, a confirmação do talento da Bia Sodré e os irmãos Lucas e Bruno “noBru” Ribeiro, que estão demolindo as ladeiras, como os maiores destaques de 2012. O cenário nacional já está conhecendo nomes de destaque daqui, como o Luquinhas e o Valter Cabelera, e as fábricas não param de renovar os estoques... O momento é observar a imensa quantidade de amadores que estão detonando no Tatu Skate Park, na Praça XV, nas sessões do Rio Sul e nas ladeiras mais improváveis. Entre as missões de skate de 2012, quais foram as mais prazerosas? O Red Bull Skate Generation em Floripa, liderou na sua cotação? O Skate Generation é único no país. Estabeleceu outros parâmetros pra realização de eventos que priorizem o skate e os skatistas como protagonistas do espetáculo, algo que sempre foi óbvio mas que só agora veio à tona com mais destaque. A missão pra Guará ver os tiozinhos gringos no Pig Pool foi interessante, menos a parte de dividir quarto de hotel com dois javalis que roncam alto... Outras missões se seguem, é só aguardar nas páginas da Tribo. O que você está fazendo pra voltar a andar de skate como sempre gostou? Operação ou tratamento do joelho? O joelho esquerdo está sendo recuperado à base de fisioterapia, yoga e alguma musculação leve; tenho pra mim que vou conseguir curá-lo sem precisar fazer outra cirurgia. Já o tornozelo direito, esse não tem jeito: as cartilagens já estão comprometidas demais, é caso de operação ainda sem previsão de acontecer. Primeiro curo o joelho, e depois vou cuidar do tornozelo direito.

Pedimos uma foto sua recente andando, mas parece que você não tem muitas opções justamente por estar sequelado e tem também o lance de ter que ficar longe de terra firme a metade de cada mês em função de seu trabalho. Depois de quase quarenta anos de skate, qual foi sua melhor época? Deu pra descolar umas imagens raras não tão velhas assim, uma sessãozinha de street no melhor estilo old school de ser no meu pico de criação, a boa e velha pirâmide e também essa de 2010 no Maracanã, antes das obras da Copa do Mundo... A melhor época é sempre antes da próxima sessão, seja onde for. Estou me fortalecendo pra voltar a dar meus rolés podrões em pistas; sinto falta de andar em transições mas é aquilo, não posso cair... então, não posso arriscar. Enquanto isso, vou dropando as ladeiras, mantendo o skate no pé e curtindo o vento no rosto desde sempre! Os primeiros 50 anos passaram rápido, pode mandar mais que o tiozinho aqui é matuza chapa-quente! // Guto Jimenez 50 anos, 37 de skate apoio: devotion, Fucking 50’s, sugar Free rio de Janeiro, rJ * (Perguntas por Cesar Gyrão) Marcus Garcez

Na mesma liNha da coluNa do TesTiNha, segue a abordagem ao coluNisTa do rio de JaNeiro, guTo JimeNez, o verdadeiro skaTeboardiNg miliTaNT.

Slalom no Maracanã, 2010.

apoio cuLturaL * guto Jimenez está no planeta desde 1962, sobre o skate desde 1975.

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