Motoristas que movem o Brasil

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ANO XXV NÚMERO 283 JULHO 2019

MOTORISTAS que movem o Brasil

No mês de julho, milhares de caminhoneiros, motoristas de ônibus e taxistas receberam atendimentos de saúde gratuitos do SEST SENAT em mais de 150 pontos em todo o Brasil


TRANSFORMAR VIDAS, ESSA É A NOSSA MISSÃO. O SEST SENAT tem a missão de transformar a realidade do transporte brasileiro e contribuir para elevar a competitividade dos transportadores por meio da educação profissional, da promoção da saúde e da melhoria da qualidade de vida dos trabalhadores do setor. Acesse o site www.sestsenat.org.br e encontre a Unidade mais próxima a você!

Sérgio Reis

Amigo do trabalhador do transporte


Gustavo Costa Trancoso Carreteiro

Poder contar com o SEST SENAT, com toda essa rede de apoio, é um diferencial para nós caminhoneiros. Só não se qualifica se não quiser.

0800 728 2891

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REPORTAGEM DE CAPA Ações nacionais do SEST SENAT celebram o Dia do Motorista e o Dia do Caminhoneiro. Em todo o país, foram realizados milhares de atendimentos de saúde com foco na manutenção da saúde desses profissionais. Conheça ainda histórias desses trabalhadores que ganham a vida transportando as riquezas do país. PÁGINA 18

­­­­T R A N S P O R T E A T U A L ANO XXV | NÚMERO 283 | JULHO 2019

ENTREVISTA • Luiz Carlos Moraes, presidente da Anfavea, comenta o desempenho da indústria automobilística página

8

FERROVIÁRIO

Programa de financiamento impulsiona a produção de equipamentos página

28 AÉREO

Tecnologias garantem mais segurança no despacho de bagagens

EDIÇÃO INFORMATIVA DA CNT FALE COM A REDAÇÃO (61) 3315-7000 SAUS, Quadra 1 - Bloco J - entradas 10 e 20 Edifício Clésio Andrade • 10º andar CEP: 70070-010 • Brasília (DF)

CONSELHO EDITORIAL Bruno Batista Helenise Brant João Victor Mendes Myriam Caetano Nicole Goulart Valter Souza

esta revista pode ser acessada via internet:

edição

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Cynthia Castro - MTB 06303/MG Livia Cerezoli - MTB 42700/SP diagramação

Gueldon Brito e Jorge A. Dieb

atualização de endereço: atualizacao@cnt.org.br Publicação da CNT (Confederação Nacional do Transporte), registrada no Cartório do

revisão

1º Ofício de Registro Civil das Pessoas Jurídicas do Distrito Federal sob o número 053.

Filipe Linhares

Tiragem: 60 mil exemplares

Os conceitos emitidos nos artigos assinados não refletem necessariamente a opinião da CNT Transporte Atual

página

RODOVIÁRIO

ANTT inicia processo de desburocratização do transporte internacional de cargas página

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AQUAVIÁRIO

Governo prepara lançamento de programa de incentivo à cabotagem página

46 DESPOLUIR

Programa Ambiental do Transporte completa 12 anos página

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GESTÃO

Conheça as estratégias das empresas mais inovadores do setor página

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SEST SENAT

Treinamentos proporcionam redução de até 12% no consumo de combustível página

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w w w. c n t. o r g . b r

ITL

Seções Duke

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Editorial

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Mais Transporte

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Tema do mês

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CIT

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Alexandre Garcia

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Agora você pode encontrar todos os boletins da CNT no mesmo lugar.

Plataforma para compartilhamento de cargas página

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CNT TRANSPORTE ATUAL

Duke

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CNT TRANSPORTE ATUAL

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“Nossos colaboradores carregam, nos corações, a satisfação de conviver e conhecer de perto a realidade desses profissionais tão relevantes para o desenvolvimento do Brasil” VANDER COSTA

EDITORIAL

Satisfação com o SEST SENAT e queda no roubo de cargas

N

o mês do caminhoneiro, o SEST SENAT volta às estradas e às vias urbanas brasileiras para comemorar o Dia do Motorista e se aproximar, cada vez mais, dos rodoviários. A presença do SEST SENAT nesses locais se revelou muito importante, pois as equipes das Unidades Operacionais saem das instalações para atender o nosso público-alvo em seu “habitat”. Ao levarem serviços de saúde e bem-estar aos motoristas profissionais – prestando atendimentos de odontologia, fisioterapia, nutrição e psicologia –, nossos colaboradores carregam, nos corações, a satisfação de conviver e conhecer de perto a realidade desses profissionais tão relevantes para o desenvolvimento do Brasil. Essa convivência é bastante produtiva, uma vez que possibilita identificar necessidades e conhecer a rotina dos trabalhadores. Em conversas realizadas na ação da Semana Mundial da Saúde, que ocorreu em abril, surgiu a ideia para o projeto de facilitar o cadastro e o atendimento aos caminhoneiros autônomos. Até então, eles precisavam comprovar a regularidade cadastral no SEST SENAT mensalmente. Agora, o cadastro tem validade de seis meses. Isso facilita (e muito!) a vida dos autônomos, reduzindo, assim, de 12 para duas atualizações anuais. Vale lembrar que essa atualização cadastral permite o acesso inte-

gral do caminhoneiro e de todos os seus dependentes aos serviços do SEST SENAT. Nessa ação de abril, por exemplo, nossa equipe realizou mais de 50 mil atendimentos, cuidando da saúde dos caminhoneiros e atualizando os seus cadastros, o que possibilita o acesso de todos os seus familiares às Unidades Operacionais. O nosso Programa Despoluir completa 12 anos com muito vigor, mas sem deixar de evoluir. A cada dia, existem mais empresas envolvidas no projeto, e temos acompanhado o esforço das federações conveniadas em incentivar o programa, premiando as empresas que alcançam as metas. O melhor desse prêmio é o espírito de estimular todas as empresas da base a participarem e premiá-las pelo seu desempenho. Não existe concorrência, mas é importante destacar as empresas comprometidas com um transporte sustentável e os empresários que querem transportar causando um menor impacto possível ao meio ambiente. Dentro do mesmo objetivo de desenvolver o setor de transporte, com o menor nível de poluição possível, o presidente da Anfavea apresenta, em nossa revista, o que há de melhor e mais avançado nos veículos para o transporte de cargas e passageiros. Temos um conteúdo muito interessante. Leia com prazer.


ENTREVISTA

LUIZ CARLOS MORAES PRESIDENTE DA ANFAVEA

Mais competitividade,

menos custo Brasil Por DIEGO GOMES

A

Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea) está sob nova direção desde fevereiro deste ano. Luiz Carlos Moraes, diretor de comunicação e relações institucionais da Mercedes-Benz do Brasil, assumiu a presidência para o quadriênio 2019-2022, subvertendo uma tradição de revezamento da Fiat, Ford, GM e

Volkswagen ao longo da história no posto mais alto da entidade. Economista, Luiz Carlos Moraes atua como um dos vice-presidentes da Anfavea desde 2012. Ingressou no setor automotivo em 1978 e iniciou sua carreira na Mercedes-Benz do Brasil na área de contabilidade, passando por diversos setores da empresa, até chegar à sua atual posição. À frente da associação, ele busca conjugar ações e articulações para reduzir custos de produção a fim de aumentar a competitividade da indústria automotiva, além de se preparar para o futuro que se avizinha, com muita conectividade e consciência socioambiental. Para tanto, Moraes considera

que as bases para essa nova fase foram assentadas com o advento do Rota 2030 – programa que define regras para a fabricação dos automóveis produzidos e comercializados no Brasil nos próximos 15 anos. Sobre o atual momento econômico por que passa o país, o mandatário da Anfavea reconhece que, passado o primeiro semestre, as expectativas foram, de certa forma, amainadas. Ainda assim, projeta crescimento substancial para o mercado de pesados, em decorrência do desempenho do agronegócio e da realização de mais uma edição da Fenatran (Salão Internacional do Transporte Rodoviário de Cargas), que será promovida em outubro, em São Paulo.


enfim, uma revolução já está acontecendo nas nossas fábricas. Agora, do portão para fora, como sempre falamos, a gente tem um grande desafio, que é o custo Brasil. Buscamos eliminar ou retirar todos os obstáculos que dificultam a nossa vida no dia a dia. No Brasil, a carga tributária, a burocracia e as dificuldades na importação, exportação e logística são grandes desafios que afetam o custo do nosso setor.

ambiente de negócios mais favorável no segundo semestre. Com ela, devem vir medidas que o ministro [Paulo Guedes] está finalizando para a melhoria do ambiente de negócios, como redução da burocracia e possibilidade de diminuição da taxa de juros, porque a inflação está sob controle. Também está prevista colocação de mais dinheiro para crédito. Já ocorreu uma primeira parcela, uma liberação de cerca de 20 bilhões para créditos, de depósitos compulsórios, que vão estimular os financiamentos. Por isso, vemos com mais otimismo o segundo semestre.

E como avalia o desempenho econômico do país? A equipe econômica do ministro Paulo Guedes definiu como prioridade resolver a reforma da Previdência. Dada a complexidade da proposta, isso tomou praticamente todo o primeiro semestre. Por isso, a expectativa de crescimento do PIB, que inicialmente era de 2,5%, hoje, é de apenas 0,8%, segundo sinalizam os especialistas. Então, há uma queda das expectativas. Talvez, eu considere as previsões iniciais mais otimistas do que o normal. Mas isso é natural. A reforma tende a trazer um

O mercado de pesados é um importante termômetro da atividade econômica no Brasil. Com a atual conjuntura econômica, quais são as previsões para esse segmento? O mercado de pesados, de janeiro a junho deste ano, teve um crescimento de 46% na comparação com o ano passado. O mês de julho caminha com a mesma velocidade, mostrando um crescimento robusto. É claro que a base do ano passado ainda é baixa, mas o crescimento de 46% é robusto. Estamos vendo um crescimento puxado pelo setor de pesados,

“Uma revolução já está acontecendo nas nossas fábricas” O Brasil e o mundo vivem realidades econômicas e informacionais únicas na história, com as necessidades de transporte sendo, gradualmente, revisitadas. Diante de um cenário de incertezas, quais são os principais desafios e demandas da Anfavea? Nos últimos anos, a Anfavea trabalhou muito na questão regulatória: o que os veículos no Brasil precisam ter de novas tecnologias e de métodos de emissões. Trabalhamos muito para ter uma previsibilidade em termos regulatórios a fim de que a indústria possa se organizar e planejar tecnologias. Isso só foi possível por conta da finalização do Rota 2030. A indústria sabe o que e quando tem que entregar cada uma dessas tecnologias. O nosso grande desafio é buscar competitividade, mas não aquela das empresas, que estão fazendo ou já fizeram investimentos relevantes. Na indústria de caminhões, por exemplo, temos grandes modernizações ocorrendo, investimentos na indústria 4.0, em conectividade, big data,

que está atingindo 69%. Outros subsegmentos – semipesados, caminhões médios – têm crescido consideravelmente, não na mesma proporção. A expectativa da Anfavea no início do ano era que o mercado de caminhões poderia atingir 88 mil unidades. No momento, estou achando que é possível ser até mais. Ela ainda está muito abaixo dos níveis que tivemos no passado, mas vejo de forma positiva esse crescimento. A quais fatores o senhor atribui essa expectativa? O agronegócio deve bater 240 milhões de toneladas neste ano. Esse é outro recorde do setor e de tudo o que está ao redor dele. Se a economia tiver um crescimento em outras áreas, estimulará outros subsegmentos, como o de caminhões (semipesados e leves também). Também temos a Fenatran, que é uma importante oportunidade de negócios. Então, eu também vejo com otimismo a feira para consolidar, de forma mais positiva, uma retomada do crescimento no mercado de caminhões. As duas últimas edições da Fenatran refletiram bem as


fases pelas quais a economia brasileira passou nos últimos anos. Qual a expectativa para a próxima edição? Eu acho que pode ser a consolidação de um crescimento contínuo. Talvez cheguemos às 88 mil unidades ou a um pouco mais: 90, 92 mil unidades. Isso ainda é muito abaixo do que já foi no passado. Mas, no ano que vem, mantida essa previsão de crescimento em torno de 1% do PIB e com as reformas que estão em andamento, acredito que a gente tenha um crescimento um pouco maior. Por que a indústria nacional celebrou tanto a consolidação do Rota 2030? Saber quando e por que tem que ser entregue facilita o nosso planejamento, assim como ajuda a questão dos testes, que têm que ser feitos para lançamento dos produtos. Além disso, há o aspecto de estímulo à pesquisa e ao desenvolvimento da indústria no Brasil. Então, você define quando o equipamento tem que ser entregue e, também, qual nível de equipamento vai ser instruído no veículo. Com isso, as montadoras estão entregando veículos mais seguros, que consomem menos combustível e contribuem com a questão das emissões.

Como a indústria nacional está absorvendo a primeira fase do Rota 2030? A indústria já está fazendo grandes investimentos. Todas as montadoras anunciaram um plano de investimentos muito forte de, aproximadamente, R$ 40 bilhões – e boa parte disso vai para a indústria de caminhões. Tudo isso é destinado a investimentos em novas tecnologias e novas metas de emissões. Além disso, algumas empresas também estão se modernizando e incluindo a indústria 4.0 em suas fábricas. Por isso, eu vejo com bons olhos essa nova fase. Apesar da queda do mercado, as indústrias e as montadoras de caminhões estão investindo intensamente no Brasil. Concorda com a alegação de que o governo está fornecendo incentivos para a indústria automobilística e não oferecendo uma real contrapartida para a sociedade? A gente discorda totalmente desse discurso. Quem diz isso demonstra que não entende sobre o que é o programa. O Rota 2030 é um conjunto de normas e regulamentos que prevê a instalação de equipamentos de segurança e o estabelecimento de metas de emissões, a exemplo de países modernos, como na Europa

“As pessoas vão se surpreender na Fenatran. A questão de conectividade já é um produto disponível e acessível” e nos Estados Unidos. E não existe essa de incentivo, não. O que ocorre é o subsídio, o estímulo para pesquisa e desenvolvimento, algo normal em todos os países do mundo. A pesquisa e o desenvolvimento serão tocados pelas montadoras, pelas universidades, pelos institutos. Então, tudo isso é bom para o país. Alguns setores dizem que a segunda e terceira fases – especialmente na questão das metas de eficiência energética de ônibus e caminhões – são excessivamente longas. A Anfavea concorda? Não encaramos assim, e isso funciona da mesma forma na Europa. Lá, ninguém define uma rota tecnológica. É preciso ter um planejamento. Aqui nós estamos falando de produtos ainda mais sofisticados, que demandam investimentos altos e testes. Estamos seguindo um padrão europeu, no qual se define, no longo prazo, o que é importante frisar. A grande vantagem do

Rota 2030 é que antigamente alguém sentava lá, escrevia e definia uma norma só para implantar no ano que vem. Isso não funciona. Nosso setor, que tem grandes volumes de investimento, precisa de previsibilidade. É por isso que a questão dos carros híbridos e elétricos está tímida no programa ainda? Os veículos elétricos e híbridos são outro desafio. Essa é uma tecnologia que está sendo discutida na Europa e em alguns países. Algumas montadoras já estão lançando alguns produtos, mas isso depende muito, em primeiro lugar, do custo de investimento. Temos o desafio da autonomia do veículo e de como reduzir o custo das baterias. Talvez, não venha na mesma velocidade que na Europa. Estamos numa fase anterior, de recuperação, saindo da maior depressão de que se tem notícia do mercado de veículos comerciais. Quais são as expectativas do setor em relação ao acordo de


livre comércio entre o Mercosul e a União Europeia? Hoje, somos muito dependentes do mercado argentino, mas o nosso vizinho está passando por um momento difícil, e isso interferiu no volume de exportações. Percebemos que acordos são importantes. Nesse caso específico, vemos com bons olhos, porque assinamos um acordo com um parceiro que tem 25% do PIB industrial. Temos 27 países avançados, e isso traz para a indústria a questão de se preparar, especialmente, quanto ao aspecto do custo Brasil. O Brasil precisa reduzir logística, custo tributário, burocracia. É possível a gente se preparar, porque isso vai ser feito ao longo de 15 anos. É a oportunidade para reduzirmos imposto de importação para peças e componentes de alta tecnologia, que a gente vai poder trazer também dentro desse acordo. Isso será fundamental para que consigamos implantar, no Brasil, produtos mais tecnológicos com custos aceitáveis para as transportadoras. Haverá um alinhamento imediato à legislação europeia? O Rota 2030 já fez esse alinhamento tecnológico. Os nossos produtos estão cada vez mais próximos das tecnologias mais avançadas nessa área. Para se ter uma ideia, a Europa tem o EURO 6 [conjunto de normas regula-

mentadoras sobre emissão de poluentes para motores a diesel] ao passo que o Brasil, em 2023, também adotará esse regramento. Já estamos desenvolvendo, testando e investindo nisso. Estamos muito mais próximos do padrão tecnológico de um caminhão europeu. Por isso, não vejo problemas na questão tecnológica, mas, sim, no custo. Em que medida os veículos brasileiros estão tão próximos dos patamares tecnológicos da indústria europeia? As pessoas vão se surpreender na Fenatran. A questão de conectividade já é um produto disponível e acessível. Várias montadoras estão colocando produtos conectados à disposição dos nossos próprios montadores, como: motores, câmbios, redução de consumo. Oferecemos cabines para outros caminhões com mais conforto, com itens de segurança, além de já estarmos vendendo veículos com algum grau de autonomia. O nosso objetivo com relação ao caminhão é oferecer para os nossos transportadores um produto que reduza o custo operacional, a possibilidade de acidentes e o consumo de combustível e, também, aumente o conforto e a segurança. Como a Anfavea acompanha as negociações de uma possível

renovação do acordo automotivo com a Argentina, tendo em vista a crise econômica do país? O acordo tem que ser renovado. Faz parte do processo normal da negociação. Neste mês de julho, os dois governos estiveram em tratativas, ainda que o acordo não esteja na fase de finalização, pelo que sabemos. Há também a possibilidade da entrada do livre comércio. As datas e as condições não estão definidas, mas a direção é pelo livre comércio. Pelo menos, houve a intenção dos dois governos. Em relação ao acordo entre Brasil e México que estabelece o livre comércio para importação de automóveis e autopeças entre os países, a Anfavea tem ressalvas? O livre comércio já está em vigor desde março. A preocupação da Anfavea não é com o acordo, mas, sim, com o custo Brasil. O acordo está dado, e vamos jogar o jogo. A nossa busca frenética é para que o Brasil possa ser competitivo. Existe uma tendência global de os consumidores passarem a pagar mais pela utilização, e não pela aquisição de bens. Como o setor está se preparando para essa realidade? Este é um novo momento da indústria, e ela vai se adaptar.

Isso veio para ficar, eu acho. A indústria está preparada para atender a esse novo modelo de negócios do setor. Não vejo como problema, é só uma questão de adaptação. Já está acontecendo no Brasil. É crescente o número de locadoras que atendem por aplicativos, que atendem grandes frotas e de empresas que não querem ter suas frotas e querem alugá-las. Isso já é um fato no setor de automóveis, e a gente percebe algumas iniciativas no campo de veículos comerciais. Como as montadoras poderiam contribuir para que o Brasil tivesse um plano de renovação de frota efetivo? O Brasil tem distorções que estimulam a manutenção de frotas antigas. Quando não se tem inspeção técnica veicular, há um “estímulo” para ficar com um caminhão velho, porque não tem um IPVA a partir do 12º ano zerado, diferentemente de países mais modernos. Por lá, é o contrário: quanto mais velho é o veículo, mais se paga o IPVA. Isso é uma distorção tributária. Nós da Anfavea trabalhamos fortemente sobre a discussão em torno desse tema e reconhecemos a sua complexidade. Não é tão simples mexer no IPVA, que é uma questão estadual. Estamos trabalhando. Renovar a frota é um objetivo de sempre da Anfavea. l


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CNT TRANSPORTE ATUAL

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MAIS TRANSPORTE JOÃO NETO | SECOM GOVERNO FEDERAL

Rumo assina contrato de concessão da Ferrovia Norte-Sul Um evento em Anápolis (GO), no dia 31 de julho, marcou a assinatura do contrato de concessão dos tramos central e sul da Ferrovia Norte-Sul – entre Porto Nacional (TO) e Estrela d’Oeste (SP). A vencedora do leilão, realizado em março, foi a Rumo, maior operadora de ferrovias do país. “É uma obra que passa por quatro regiões e que unirá o Brasil”, disse o presidente Jair Bolsonaro durante a cerimônia. Segundo ele, a operação da ferrovia deve reduzir custos logísticos. Na solenidade, o ministro da Infraestrutura, Tarcísio Gomes de Freitas, destacou que é objetivo do governo valorizar a matriz ferroviária. “Vamos elevar a participação do modal ferroviário, passando dos atuais 15% para 30%. Vamos prorrogar o contrato da malha paulista, que terá investimentos da ordem de R$ 7 bilhões, e também iremos conceder a FIOL (Ferrovia de Integração Oeste-Leste) ainda neste ano”. O trecho concedido tem extensão de 1.537 km. O tramo central, compreendido entre Porto Nacional/TO e Anápolis/GO, tem 855 km de extensão; e o sul vai de Ouro Verde de Goiás/GO a Estrela d’Oeste/SP, com 682 km. O tramo central está totalmente concluído e encontra-se operacional e disponível para o transporte ferroviário comercial de cargas. Já o tramo sul, que interliga os estados de Goiás, Minas Gerais e São Paulo, possui 95% das obras concluídas. A Rumo S.A. arrematou o leilão pelo valor de R$ 2,7 bilhões, com o direito de operar o trecho por 30 anos. A demanda considerada para a Ferrovia Norte-Sul, tanto na malha própria quanto na malha de terceiros, é de 1,7 milhão de toneladas para 2020, chegando a 22,7 milhões de toneladas em 2055. Entre os principais produtos que deverão passar pela ferrovia, estão carga geral e industrializada com origem nos polos paulistas para centros consumidores, como Goiânia (GO), Brasília (DF), Palmas (TO) e Imperatriz (MA). No sentido oposto, serão movimentados grãos de Tocantins, Goiás e Mato Grosso para exportação a partir do Porto de Santos.

Aeronave de uso militar Neste mês, a estrela da Embraer também brilhou na seara militar. É que o governo português anunciou a compra de cinco cargueiros KC-390 e um simulador de voo da empresa. Trata-se da primeira venda desse modelo de avião para um governo estrangeiro – um negócio no valor de 827 milhões de euros. Os KC-390 são conhecidos por transportar até 26 toneladas a uma velocidade de 470 nós (870 km/h). Além disso, podem pousar em pistas não pavimentadas e ser reabastecidos em voo. Essa joia da aviação nacional é construída na fábrica de Gavião Peixoto, em São Paulo. A primeira entrega está programada para fevereiro de 2023. DIVULGAÇÃO | EMBRAER


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DIVULGAÇÃO | SCANIA

Rodovia “recarrega” caminhões

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A Alemanha investe fortemente em modelos sustentáveis de transporte de cargas. A inovação mais recente é a adoção de trechos “eletrificados” da autobahn A5, no estado de Hessen. Funciona assim: ao longo de 5 km, os caminhões com motores elétricos podem se acoplar, em movimento, a uma rede de cabos aéreos que os “abastece”. Embora a descrição pareça exótica, ela lembra muito o antigo sistema de bondinhos elétricos. Por enquanto, cinco transportadoras aderiram à fase de testes. Os custos do projeto-piloto foram arcados pelo governo do país, que ainda não definiu como a energia será cobrada.

A startup SleepBoll propõe uma alternativa para os caminhoneiros descansarem durante suas viagens. Trata-se de um sistema de cabines para dormir a ser disponibilizado em pontos de parada nas rodovias. O cômodo pode ser alugado no local ou na plataforma online, que também faz reservas. Pelo celular, o usuário escolhe o tempo de repouso e recebe um código para destravar a porta. A cabine tem energia elétrica, ar-condicionado e, claro, uma cama. A ideia é que o projeto seja implantado em postos de combustível e praças de pedágio. Já existe um protótipo em funcionamento na BR-386, em Nova Santa Rita (RS).

DIVULGAÇÃO | SLEEPBOLL

Opção de descanso para o caminhoneiro


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MAIS TRANSPORTE Nova etapa das placas do Mercosul O Contran (Conselho Nacional de Trânsito) definiu que o novo modelo de Placas de Identificação Veicular (PIV) será exigido para veículos novos ou, no caso dos veículos em circulação, quando houver mudança de município, ou ainda se a placa for furtada ou danificada. O Conselho revogou a resolução n.º 729/2018, que estabelecia a implantação no padrão Mercosul em todo o território nacional, até o dia 30 de junho. A produção da nova placa será controlada por um sistema informatizado nacional, criado pelo Denatran (Departamento Nacional de Trânsito), em parceria com o Serpro. O diferencial em relação ao modelo atual (cinza) são os itens de segurança,

ARQUIVO SISTEMA CNT

como o QR Code, que possibilita a rastreabilidade da placa, dificultando a sua clonagem e falsificação. Também foram definidas novas regras para credenciamento de estampadores e fabricantes, que vão possibilitar aumento da concorrência, o livre mercado, o que deverá reduzir o valor da placa. Atualmente, são cerca de 1.300 estampadores e 21 fabricantes para atender todo o país. Para o diretor do Denatran, Jerry Dias, a retirada da exigência de implantação da nova placa implica economia para quem já utiliza a placa atual. “Hoje, são realizadas cerca de 17 milhões de transferências de propriedade por ano sem mudança de município, que a regra anterior exigia que o cidadão obrigatoriamente substituísse as placas. Com a alteração aprovada pelo Contran, estima-se uma economia de,

aproximadamente, R$ 3,4 bilhões ao consumidor final”, avalia. O diretor afirma que a adoção do novo modelo da placa resolve, de forma gradual, o problema da falta de combinação de caracteres para as placas do país, que acabariam em poucos anos. O novo modelo permite mais de 450 milhões de combinações e, considerando o padrão de crescimento da frota de veículos no Brasil, a nova combinação valerá por mais de cem anos. Hoje, a nova placa está presente em sete estados brasileiros (AM, BA, ES, PR, RJ, RN e RS). São mais de 2 milhões de veículos circulando com o novo modelo das placas veiculares. Os demais estados estavam aguardando as definições do Contran para iniciar a implantação. Agora, eles terão até o dia 31 de janeiro de 2020 para se adaptarem ao novo padrão.


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DIVULGAÇÃO | EMBRAER X

Avião 100% elétrico A aparência é de um drone, mas o eVTOL transportará passageiros. O conceito da aeronave foi apresentado na última Dubai World Expo pela EmbraerX, a recém-criada divisão de tecnologia e mobilidade da fabricante brasileira. Esse é o primeiro produto da parceria com a Uber, iniciada em 2017, e que promete entrar em operação nos próximos dois anos. Um diferencial desses táxis voadores é a capacidade de decolar e pousar na vertical, como fazem os helicópteros. Porém, serão silenciosos, mais baratos e 100% elétricos, garante a empresa.

DIVULGAÇÃO | BOEING

A Boeing e a Virgin Orbit divulgaram a realização de um bem-sucedido voo de testes do programa LauncherOne. A uma altura de 35.000 pés, um Boeing 747 lançou um foguete que entrou em órbita baixa. Atualmente, cargas espaciais são colocadas em órbita a partir de foguetes que decolam do solo. O principal desafio era manter a estabilidade da aeronave e do foguete nos instantes após o lançamento. Segundo as empresas, a separação foi “limpa” e sem turbulência considerável.

E por falar em Boeing... A gigante norte-americana da aviação enfrenta turbulências no mercado. A Boeing anunciou uma perda líquida de US$ 2,94 bilhões no segundo trimestre do ano. Trata-se do maior prejuízo trimestral já registrado pela empresa. O mau resultado é reflexo dos problemas enfrentados pelo modelo 737 MAX, envolvido em dois acidentes que deixaram 346 mortos. Sob suspeição de falha técnica, a aeronave está sendo tirada de circulação pelas companhias aéreas, como fez a American Airlines, que cancelou cerca de 115 voos diários. A Boeing informou, ainda, que adiará o lançamento do 777X, um avião para longos trajetos.

DIVULGAÇÃO | VIRGIN ORBIT

A nova corrida espacial


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MAIS TRANSPORTE ARQUIVO SISTEMA CNT

Híbridos que detectam poluição A BMW divulgou que sua próxima geração de carros híbridos contará com um recurso para reduzir o impacto ambiental. Os veículos vão monitorar a qualidade do ar e, se a área for muito poluída, o motor de combustão será desligado automaticamente e dará lugar ao modo de direção elétrica. A montadora aposta na função “parada de motor” como uma forma de reduzir a emissão de poluentes e incentivar seus clientes a rodar mais com energia elétrica. A novidade estará disponível no mercado a partir de 2020.

DIVULGAÇÃO | LOTUS

O carro de rua mais potente do mundo é elétrico A Lotus faz uma estreia imponente no mercado dos veículos elétricos. Trata-se do Evija, um superesportivo cuja produção será limitada a apenas 130 exemplares — cada um vendido a cerca de R$ 8 milhões. Muitas são as promessas dessa máquina. Sabe-se que será o carro de rua mais potente do mundo, com 2.000 cavalos (173 kgfm de torque). A recarga também será a mais veloz do planeta. O modelo será feito sobre um chassi monocoque de fibra de carbono, exatamente como aqueles usados na Fórmula 1. A máquina estará à venda já no ano que vem.

Metrô de São Paulo terá reconhecimento facial O Metrô de São Paulo revelou que está em processo de contratação de um sistema de monitoramento das estações que utiliza reconhecimento facial. O objetivo é aumentar a segurança nas instalações. A tecnologia é baseada em câmeras inteligentes, capazes de identificar, por exemplo, foragidos da Justiça. Atualmente, cerca de 3 milhões de passageiros circulam diariamente nas principais linhas do metrô paulista. O sistema será, ainda, capaz de reconhecer objetos, como malas e pacotes suspeitos.


SUAS DÚVIDAS SOBRE VIAGEM DE AVIÃO RESPONDIDAS

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CAPA

Eles levam

o Brasil

para frente Em comemoração aos dias do Caminhoneiro e do Motorista, o SEST SENAT promoveu duas grandes ações nacionais com milhares de atendimentos gratuitos de saúde a trabalhadores que ganham a vida atrás de um volante por

FOTOS / ARQUIVO SISTEMA CNT

DIEGO GOMES e NATÁLIA PIANEGONDA


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ma jornada demarcada por obstáculos e desafios a cada esquina. Falta de segurança, infraestrutura rodoviária precária, ausência de pontos de parada, trânsito hostil, sucessivas altas de combustível. Assim é a rotina daqueles que ganham a vida atrás de um volante. Apesar dessa realidade – para muitos, pouco atrativa –, caminhoneiros, taxistas, motoristas de ônibus, de van escolar, de ambulância têm em comum o orgulho pela profissão. São movidos pela crença de que, sem eles, toda uma nação pode parar. Ciente da sua responsabilidade social com esses trabalhadores, o SEST SENAT rendeu sua homenagem da forma mais humana e providencial: cuidando da saúde dos profissionais

de transporte onde eles estão – nas margens das rodovias, praças e vias públicas, terminais rodoviários, empresas, embarcadoras, aeroportos, portos, garagens, postos de gasolina, terminais de carga, centros de distribuição. Aproveitando as celebrações dos dias do Caminhoneiro (30 de junho) e do Motorista (25 de julho) no Brasil, a instituição promoveu duas grandes ações nacionais de cuidados com o bem-estar dos caminhoneiros, motoristas de ônibus e taxistas do Brasil. De 30 de junho a 5 de julho e de 21 a 26 de julho, as equipes das unidades operacionais estiveram – com seus dentistas, fisioterapeutas, psicólogos, nutricionistas e outros profissionais – em pontos de ação, em todo o país, oferecendo serviços gratuitos de saúde.

As iniciativas seguiram os moldes das ações promovidas, na Semana Mundial da Saúde, em abril deste ano. Tanto as intervenções de abril quanto as do meio do ano realizaram aproximadamente 180 mil atendimentos. O presidente da CNT e dos Conselhos Nacionais do SEST e do SENAT, Vander Costa, explica que o SEST SENAT sempre homenageará esses profissionais porque reconhece sua importância para o desenvolvimento social e econômico do Brasil. “Atrás de um volante, eles transportam pessoas, sonhos e riquezas de todo o país. Comemorar essas datas é uma forma de agradecer por todo esse trabalho realizado por eles.” A diretora-executiva nacional do SEST SENAT, Nicole Goulart, comenta que os anos


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de experiência do SEST SENAT têm mostrado que os motoristas profissionais estão cada vez mais preocupados com a saúde e cientes da falta de tempo para cuidar dela por conta da rotina de trabalho. “Temos intensificado as ações que levam os serviços de saúde aos locais de grande circulação desses profissionais, como postos de combustível, pontos de parada, terminais de carga e de passageiros, aeroportos, portos.” Nos locais das intervenções do SEST SENAT, foram realizados atendimentos de saúde bucal, aferição de pressão arterial e curva glicêmica e aulas de alongamento, com foco na prevenção de doenças da coluna e orientação sobre a boa postura corporal. Também foram oferecidas informações sobre alimentação saudável e os riscos

do uso de álcool e drogas. Em algumas localidades, por meio de parceria com prefeituras e secretarias de saúde, as ações contaram com vacinação e testes rápidos de HIV e hepatite C. O SEST SENAT ainda participou de carreatas e missas em homenagem aos motoristas. Foram promovidas ainda avaliações veiculares de caminhões – dentro do Despoluir - Programa Ambiental do Transporte, desenvolvido pelo SEST SENAT, com o apoio da CNT. O programa verifica se as emissões de poluentes estão de acordo com as normas ambientais e orienta os motoristas sobre a necessidade de realizar a manutenção preventiva. Ainda estão previstas ações socioeducativas do Programa CNT SEST SENAT de Prevenção de Acidentes, com as vans que

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estão percorrendo o país para levar orientações sobre saúde e trânsito seguro aos trabalhadores do transporte. Toda essa mobilização do SEST SENAT contou com o apoio do Ministério da Infraestrutura. Segundo Nicole Goulart, isso demonstra que o governo federal está comprometido em melhorar as condições de trabalho e de estrutura para os motoristas de todo o Brasil. “Ter esse respaldo é fundamental, porque soma esforços nessa missão de proporcionar mais qualidade de vida aos trabalhadores do transporte. Queremos contar, cada vez mais, com o apoio do governo, com parcerias com os ministérios da Saúde, da Educação e da Cidadania e com todos os demais órgãos que possam contribuir com esse trabalho.”

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O CORAÇÃO DA ECONOMIA BRASILEIRA TAMBÉM ACOLHE De São Paulo Uma cidade que não para; um estado por onde correm as veias do desenvolvimento de uma nação. São Paulo é ponto de parada, de passagem, de esperança de dias melhores, de oportunidades. São Paulo é destino. Asfalto, por lá, é motivo de orgulho. E, em um país que transporta mais de 60% das suas cargas e mais de 90% dos passageiros por rodovias, um estado com a melhor malha rodoviária do Brasil – segundo Pesquisa CNT de Rodovias – há de sustentar um protagonismo natural. Terreno fértil para o transporte, a região é quase uma ciranda de caminhoneiros, motoristas de ônibus e taxistas indo, vindo, parando, buscando, descarregando, estacionando, trabalhando. Nas duas campanhas nacionais de atendimentos do SEST SENAT destinados àqueles que movem o Brasil por estradas e vias urbanas, São Paulo reuniu o maior número de ações. Para atestar essa grandiosidade, estivemos em dois pontos do estado. Na Semana do Caminhoneiro, a nossa reportagem visitou a tenda do SEST

SENAT erguida no posto Graal Barueri, às margens da rodovia Presidente Castelo Branco, km 29. Também prestigiamos, no Dia do Motorista, a ação promovida no posto Sakamoto, ao lado da rodovia Presidente Dutra, em Guarulhos. Nas duas mobilizações, o sentimento predominante era o de acolhimento e de proporcionar um momento de humanidade a quem enfrenta, diariamente, os desafios de cortar o coração econômico do país para levar progresso às casas dos brasileiros. Em algumas situações, esses profissionais superam até mesmo traumas impostos pelas estradas para fazer jus à sua profissão. É o caso do capixaba Gustavo Costa Trancoso, 34, carreteiro há 13 anos. De passagem pela rodovia Presidente Dutra, ele, quando se deparou com a faixa do SEST SENAT estendida no posto, não teve dúvidas: estacionou seu caminhão e foi checar como está sua saúde. Usuário dos serviços do SEST SENAT, Gustavo conta que nem mesmo um episódio de roubo do qual foi vítima o

fez desistir da vida de caminhoneiro. “No ano passado, eu fui assaltado, aqui em São Paulo, à luz do dia, na rodovia Dom Pedro. Levaram o caminhão e me fizeram de refém por algumas horas. Hoje em dia, a insegurança é o principal fator de risco para nós. Eu senti muito medo. Ainda sinto, mas nunca pensei em desistir. Quando eu sento no banco do motorista e ligo o caminhão, minhas veias se enchem de vida. É algo diferenciado.” Essa rotina permeada por percalços faz com que a saúde dos trabalhadores seja relegada a um patamar secundário das suas vidas. Contrariando essa máxima, a cearense Luíza Samuel, caminhoneira há 16 anos, parou seu caminhão no posto Graal, na rodovia Castello Branco, e tirou uns minutinhos da sua árdua jor-

nada de trabalho para verificar se está tudo certo com o seu corpo. E, ainda, aproveitou para colocar suas vacinas em dia. “É muito importante reservar um tempinho para a gente se cuidar. Eu tenho muita dificuldade de ir até um posto de saúde para me vacinar, e encontrar isso aqui hoje foi ótimo”, disse Luiza. Todos os profissionais com os quais tivemos contato nas duas ações paulistas ostentam um orgulho admirável da profissão. Eles clamam por mais atenção, mais cuidados, mais condições para exercerem seu ofício. Nesse sentido, todos reconhecem a importância da rede de proteção e assistência social oferecida pelo SEST SENAT em 148 unidades, espalhadas por todo o Brasil, e de promover momentos de cuidados com a saúde em seus “locais de trabalho”.


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FÉ EM DEUS, PÉ NA ESTRADA... E UMA PARADA NO SEST SENAT De Campina Grande (PB) Uma pausa para cuidar da saúde e pedir proteção a São Cristóvão. O dia 25 de julho é dedicado aos motoristas por causa do santo. Conta a história dos que o reverenciam que Cristóvão transportou o Menino Jesus nas costas, em uma difícil travessia por um rio caudaloso. Isso fez dele protetor dos motoristas e dos viajantes. E a fé, como companheira de viagem de muitos dos que encaram os desafios das estradas e vias urbanas todos os dias, também teve espaço durante a ação do SEST SENAT, às margens da BR-230, em Campina Grande, cidade que fica distante cerca de 130 km de João Pessoa (PB). Uma missa celebrada nas tendas montadas junto ao posto de combustível homenageou o padroeiro e contou com a tradicional cerimônia da bênção das chaves dos caminhões. “Para estar na estrada, é preciso ter humildade e fé”, disse o carreteiro Waldir Sátero da Silva, que participou da ação do SEST SENAT na cidade paraibana. E lembrou dos ensinamentos do pai, que o introduziu no universo

do transporte, para destacar que caminhão e estrada exigem cautela e respeito, assim como o rio de correnteza forte enfrentado, na história, pelo santo protetor. “A gente começa pequenininho, baixinho. O pai vai ensinando que todo dia você aprende alguma coisa, todo dia você conhece algum lugar diferente. E outra coisa que meu pai dizia: tenha sempre medo do caminhão, porque, quando você deixar de ter medo do caminhão, ele te matará. Então, tem que ter simplicidade, humildade e fé.” Mas a parada foi uma oportunidade, também, de lembrá-lo de outros cuidados que contribuem para uma viagem segura. “Foi uma bateria de informações sobre saúde, os benefícios que o SEST SENAT oferece, tratamento de saúde para gente e para a família. Esse cuidado, com certeza, é importante, porque a classe, às vezes, se acomoda, né? E a saúde na vida do ser humano é tudo.” Paranaense, Gilberto Holovaty havia encerrado a entrega de uma carga de frios em Campina Grande, quando

também aproveitou a ação do SEST SENAT. “Para mim, isso é um incentivo para cuidar da saúde, porque, se não tem um empurrãozinho, ninguém faz nada. Você está com uma dor de cabeça, pode ser uma pressão alta, uma pressão baixa, mas ninguém para para ver. Por isso, eu falo que esse apoio é importante.” Carreteiro, o paraibano José Alves dos Santos já é frequentador assíduo do SEST SENAT. Morador de Campina Grande, ele aproveita o fato de a instituição estar presente em outras localidades para ser atendido inclusive quando está viajando, especialmente em Pouso Alegre (MG). Mas nem por isso perdeu a oportunidade de conversar com

os profissionais da Unidade nos atendimentos realizados às margens da BR-230. “O SEST SENAT é importante até demais, porque dá assistência para a gente. “A gente paga [a contribuição, descontada do frete] e usufrui daquilo.” O negócio dele é estar bem para continuar na estrada. “Ser motorista é uma vida pesada, muitos reclamam dizendo: ‘Oh, vida sofrida!. Mas, para mim, é um divertimento, porque, quanto mais eu rodo, mais dá vontade de trabalhar. E eu faço todo trajeto. Onde tiver estrada, eu vou.” E, se possível, garantir que a esposa, Viviane, e o filho, Daniel, também possam continuar recebendo atendimentos na instituição.

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CAMINHONEIROS TÊM MAIS FACILIDADES PARA UTILIZAR SERVIÇOS DO SEST SENAT

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SEST SENAT está implementando uma série de iniciativas para facilitar o acesso dos caminhoneiros aos serviços prestados nas Unidades Operacionais. A partir de agora, para receber todos os atendimentos gratuitamente, o autônomo precisa apresentar o comprovante de contribuição somente na hora de obter ou renovar a carteirinha (a cada seis meses), e não mais mensalmente, como era exigido antes. Essa foi uma das reivindicações apresentadas pelos caminhoneiros no Fórum do Transporte Rodoviário

de Cargas, do Ministério da Infraestrutura, do qual o SEST SENAT faz parte. O sistema da carteirinha está sendo atualizado e já está adequado às mudanças a partir do dia 25 deste mês. Além disso, o SEST SENAT intensificou a divulgação sobre a prioridade que caminhoneiros em trânsito têm nos atendimentos de saúde nas Unidades Operacionais. Nesse sentido, a instituição destaca a importância da utilização da sua Central de Relacionamento (0800 728 2891) para que esses profissionais deem sugestões de melhorias e tirem dúvidas sobre os atendimentos nas Unidades.

O caminhoneiro que ainda não tem a carteirinha do SEST SENAT precisa apresentar: • Comprovante de residência atual, em seu nome ou em nome de um dependente; • Registro junto à ANTT, vigente e apto, que autorize o trabalhador a realizar transporte remunerado de cargas.

Veja a documentação necessária para obter a carteirinha do SEST SENAT:

O registro pode ser: • Para Transportador Autônomo de Cargas: na categoria TAC; • Para Auxiliar de Condutor Autônomo: Extrato do Transportador; • Para caminhoneiro vinculado a empresa de transporte ou cooperativa: registro para realizar transporte remunerado de cargas em que conste a placa do seu veículo. O caminhoneiro deve apresentar, também, o documento do veículo.

Acesse e consulte o registro:

Ou se dirija diretamente às Unidades Operacionais do SEST SENAT


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Antônio da Silva Emoji 000.000.000-00

28/02/1980

000 00 000000 000 - 000 #satisfeito #felizão #partiuSESTSENAT

• Documentos pessoais: CPF, RG ou CNH; • Comprovante de contribuição para o SEST SENAT: é necessário para obter a carteirinha e para a renovação, a cada seis meses. O comprovante pode ser: • Recibo de pagamento, quando o serviço for prestado para pessoas jurídicas: o documento deve ser impresso em papel timbrado ou conter o carimbo do CNPJ da empresa; ter o nome e CNPJ da empresa contratante, seu nome e CPF ou RG, o valor do serviço prestado, o valor do desconto para o SEST SENAT e a data de recebimento. • GFIP (Guia de Recolhimento do FGTS e de Informações à Previdência Social) da empresa que contratou você, com os dados do Transportador Rodoviário Autônomo, nas categorias 15, 18 ou 25. Caso a empresa contratante já esteja no eSocial, deverá informá-lo nas categorias 712 ou 734.

Caso não tenha recibo de pagamento, o pagamento será efetuado diretamente em uma das Unidades do SEST SENAT, calculado com base no salário de contribuição previdenciária.

O caminhoneiro pode realizar o pré-cadastro no Portal do Cliente do SEST SENAT, acessando aqui: Depois, basta ir até a Unidade do SEST SENAT mais próxima para apresentar os originais e retirar a carteirinha. Em caso de dúvidas, ligue para 0800 728 2891. A ligação é gratuita.

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ENTREVISTA DRAUZIO VARELLA FALA DA SAÚDE DO CAMINHONEIRO BRASILEIRO

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oucos médicos brasileiros são tão reconhecidos como Antônio Drauzio Varella. Nascido em 1943 e formado pela USP (Universidade de São Paulo), Varella ficou conhecido por democratizar o acesso à informação médica e de saúde no Brasil. Por isso, nas duas

semanas de atendimentos de saúde a motoristas brasileiros, o SEST SENAT contou com a presença do médico nas ações de São Paulo. Ele bateu um papo com a nossa reportagem sobre a saúde dos caminhoneiros brasileiros. Confira os principais trechos:

Doutor Drauzio, como o caminhoneiro brasileiro lida com a saúde? O caminhoneiro médio brasileiro leva uma vida pouco saudável, sobretudo pela dificuldade de ter uma rotina minimamente estável. As viagens não são todas iguais na maioria das vezes, e o profissional tem que estar junto do caminhão o tempo todo. Ele viaja centenas de quilômetros em um dia sentado e, quando para, geralmente em um posto, fica em um lugar onde possa ver o caminhão. Portanto, anda uns 50 metros do caminhão até o restaurante. Quando acaba sua refeição, volta ao veículo e dorme nele. Essa relação deixa a ele pouco tempo de sobra para se movimentar. Quais são as consequências dessa rotina? Isso leva a três problemas básicos: obesidade, hipertensão arterial e diabetes, que são doenças muito comuns. Passar o dia inteiro sentado, sem se movimentar, é péssimo para a musculatura paravertebral, que corre dos dois lados da coluna. Isso faz com que eles sintam dores nas costas e se movimentem ainda menos. É um ciclo vicioso. E o que pode ser feito para amenizar essa realidade? Toda vez que parar o caminhão, antes de jantar, por

exemplo, faça uma caminhada. Procure adquirir uma postura adequada no caminhão, mais ereta. E faça os controles. Existe uma crença de que pressão arterial elevada provoca dor de cabeça, tontura e leva você a enxergar pontos brilhantes. Isso só acontece quando ela está muito alta, quando a máxima chega a 18, a 20. Na medicina, a gente chama a pressão arterial de assassino silencioso, porque não percebe nada. Também é necessário fazer o controle periódico da diabetes e mudar a dieta, mesmo com a alimentação sendo feita em pontos de parada. Você não precisa comer doce e pode reduzir a quantidade de açúcar no café. Evite comer carboidratos em grande quantidade. Não precisa comer, numa refeição, arroz, feijão, macarrão e farinha. Dá para fazer uma distribuição mais inteligente dos componentes do seu prato. Como esses profissionais lidam com a questão da saúde mental? Olha, eu acho que da pior forma possível. Quando você está submetido a pressões no trabalho, você tem que chegar ao lugar X, até amanhã, às 6 horas da tarde, esse é o seu compromisso. A empresa tem também o compromisso de fazer a entrega, e quem está esperando a entrega tem o compromisso de levar isso


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para frente. É uma cadeia, e o caminhoneiro é o elo mais fraco dessa cadeia. Aí, ele se afasta da família; o filho faz aniversário, mas ele está na estrada. Quem gosta de levar uma vida assim? Por outro lado, as estradas brasileiras são muito inseguras, têm riscos de acidentes e assaltos. É muita tensão. Então, quando o profissional para o caminhão na beira da estrada à noite, não consegue relaxar, porque está cheio de problemas. Aí entra o álcool. Ele toma uma cachaça, uma caipirinha, e sai do inferno para o paraíso. Além disso, às vezes, é obrigado a dirigir muito mais horas do que aquelas que seriam razoáveis e aí acaba tomando anfetamina para não dormir. Outros

acabam cheirando cocaína. O risco é grande e, aí, passa a correr risco de morte na estrada mesmo. E por que cuidar da saúde do caminhoneiro é importante para a segurança no trânsito? Eles formam um segmento que tem uma importância enorme. Se você tem, nas estradas, caminhoneiros que trabalham e dirigem com segurança, , que não fazem manobras arriscadas, isso é importante para todos. Isso porque eles estão presentes em todas as estradas do país. A segurança deles reflete na segurança do trânsito. Essa realidade de você ter essas estradas precárias, que o caminhão vai a

5 km/h e balança e chacoalha, é absurda. Não tem sentido um país, no qual o transporte por caminhão tem uma importância tão fundamental, deixar essas estradas chegarem a esse ponto de comprometer toda a segurança. Por que é importante ter uma rede de assistência social como é a do SEST SENAT? O SEST SENAT vem fazendo um trabalho muito importante há bastante tempo. Isso de fixar as quatro especialidades (odontologia, nutrição, fisioterapia e psicologia) em pontos estratégicos, seja nas unidades, seja em ações como essa, é fundamental, especialmente por oferecer facilidades para

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medidas de pressão arterial, para controle do diabetes, que são coisas simples. Essa ideia de montar uma ‘barraquinha’ nos postos de gasolina e oferecer serviços de saúde, que levam poucos minutos, é importante. Verificar a glicemia é uma picada na ponta do dedo, e você vai identificar os que já têm diabetes e aqueles que estão na faixa de risco. Aí, nesse tipo de ação, pode-se transmitir a informação, realizar vacinações. Cuidados básicos de saúde mais elementares mudam a qualidade da saúde no país. Essa rede [do SEST SENAT] toda tem que ser usada ativamente, porque atua, principalmente, na prevenção, ou seja, antes de o problema aparecer.


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Arrumando os trilhos Programa sobre renovação de frota deve aquecer o mercado e trazer melhoria para usuários e concessionárias

por

CARLOS TEIXEIRA

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s operadoras de transporte urbano de passageiros sobre trilhos receberão um incentivo para comprarem trens novos, produzidos pela indústria nacional. O programa Retrem (Renovação de Frota do Transporte Público Coletivo Urbano de Passageiros sobre Trilhos), lançado pelo governo federal no final de junho, vai destinar R$ 1 bilhão para investimentos. Serão utilizados recursos do FGTS (Fundo de Garantia por Tempo de Serviço) e do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social), com taxas de juros anuais a partir de 5,5%. O lançamento do programa acontece em um momento de dificuldades enfrentadas pelo setor de fabricação de trens e seus componentes. Dados da Abifer (Associação Brasileira da Indústria Ferroviária), de 2018, mostram que, após um bom resultado em 2016, quando foram fabricados 473 carros de

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passageiros, os anos de 2017 e 2018 mostraram queda, e a produção ficou em 312 vagões. Já em 2019, os números podem ser ainda mais desanimadores. Está prevista a fabricação de apenas 135 carros de passageiros. Com o Retrem, há a expectativa de retomada ou, até mesmo, de crescimento do setor. Nos últimos dois anos, a indústria perdeu mais de 3.000 trabalhadores em função da queda de produção. “Até a cadeia produtiva foi afetada”, destaca o presidente da Abifer, Vicente Abate. Segundo ele, algumas linhas têm carros de 30 a 35 anos. “A indústria poderá modernizar as frotas com preço mais baixo, e haverá mais conforto para os usuários. Nosso levantamento mostra uma frota de 600 carros de passageiros passíveis de renovação, em todas as concessionárias brasileiras.” De acordo com Abate, a CPTM (Companhia Paulista de Trens Metropolitanos) necessi-

ta de 34 trens com oito carros cada, totalizando 272 carros. Já o metrô de São Paulo tem, segundo Abate, 44 trens de seis carros cada um, somando 264. “Só nessa demanda, já são 536 carros de passageiros novos.” O presidente da Abifer considera que, em pouco tempo, será possível ter muitos novos carros de passageiros nos metrôs do Brasil. “Acreditamos que já teremos carros novos em 2020. Além disso, poderemos recuperar essa mão de obra em um ou dois anos. Dependendo dos volumes, quem sabe, voltaremos a contratar.” O financiamento do Retrem feito pelo FGTS é válido para a aquisição de equipamentos novos, como carros de passageiros e sistema de informática, e, também, telecomunicações. Já o financiamento do BNDES tem duas vertentes. Uma delas é para material rodante novo (carros de passageiros). Estão incluídos ônibus elétricos, híbridos ou com tração elétri-

ca, máquinas e equipamentos com maiores índices de eficiência energética ou redução de emissão de gases de efeito estufa. A outra frente é para a reforma de material rodante, estudos e projetos, máquinas e equipamentos e sistemas de sinalização, telecomunicações e controle. Pelo FGTS, o interessado terá até 30 anos de financiamento com até quatro anos de carência. No caso do BNDES, o prazo é de 34 anos, mas com carência de seis meses após o veículo entrar em operação. De acordo com o vice-presidente executivo da ANPTrilhos (Associação Nacional dos Transportadores de Passageiros sobre Trilhos), João Gouveia, com o programa, todos ganham. “É bom para os operadores, pela atratividade financeira em relação ao que era oferecido antes. Ganham os clientes, que terão mais trens e com novas tecnologias. Com isso, as concessionárias poderão oferecer


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intervalos mais curtos na operação”, afirma. Ele lembra que o setor metroferroviário é sistêmico. “Não adianta ter a melhor via, e não ter o trem em boas condições. Não adianta ter um trem em bom estado, e não ter uma boa estação. Agora, além da modernização da frota, podemos modernizar todos os serviços.” Gouveia ainda ressalta que o programa é importante para a indústria nacional. “Fazer a reforma e comprar um trem com um fornecedor nacional fica mais fácil por causa do pós-venda. Pelo fato de estarem baseados dentro do Brasil, o atendimento aos clientes é mais rápido e eficiente. A indústria brasileira tem qualidade, capacidade de produção e tecnologia.” A expansão da rede e a compra ou reforma de novos carros estão no radar da Trensurb (Empresa de Trens Urbanos de Porto Alegre). A empresa opera

uma linha de metrô com 43 quilômetros e 22 estações, atendendo seis municípios no eixo norte da região metropolitana de Porto Alegre. A média de passageiros por dia útil é de 159.733, no primeiro semestre de 2019. São 40 trens de quatro carros cada - 25 da frota original, fornecidos em 1984; e 15, de 2014. O superintendente de desenvolvimento e expansão da Trensurb, José Cláudio Sicco, diz que a empresa está contratando um estudo para escolher entre a compra ou a reforma dos carros de passageiros. “Os trens novos consomem 30% menos de energia. Se adquirirmos novos carros, seriam R$ 12 milhões de economia por ano. Além disso, nossa preocupação é colocar ar-condicionado. Podemos, também, mudar o sistema de tração do trem que gasta muita energia e ter câmeras de vídeo. E, também, melhorar a comunicação eletrônica com os passageiros.” l

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SISTEMA TEM 10,9 MILHÕES DE PASSAGEIROS POR DIA A frota e a infraestrutura do setor metroferroviário precisam ser expandidas. Dados da ANPTrilhos (Associação Nacional dos Transportadores de Passageiros sobre Trilhos) mostram que, em 2018, foram transportados 3,7 bilhões de passageiros, um crescimento de 21% em relação a 2017. Em contrapartida, no mesmo período, a frota brasileira cresceu apenas 1,7%. Atualmente, o Brasil possui apenas 1.105 km de linhas construídas, sendo que, para atender os usuários, existem 5.444 carros de passageiros. Por dia, são 10,9 milhões de passageiros em 48 linhas divididas em 613 estações. Como comparação, somente o metrô de Tóquio, no Japão, possui uma média de 7 milhões de passageiros por dia, com 328,8 km de extensão, 13 linhas e 283 estações. Já o metrô de Moscou, na Rússia, possui 320,9 quilômetros de extensão, 12 linhas e 192 estações.

Acesse o estudo Transporte & Desenvolvimento: Transporte Metroferroviário de Passageiros

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ESTATÍSTICA DE PRODUÇÃO CARROS DE PASSAGEIROS

2018

135 312

2017

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ANO

312

2015

2016

473 322 374

2014

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Fonte: https://abifer.org.br/dados-setoriais/estatisticas-de-producao/


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PANORAMA 2018 - SETOR METROFERROVIÁRIO

10,9

1.105

48

milhões de passageiros transportados/dia

quilômetros de extensão

linhas

5.444

41

613 estações

carros de passageiros operacionais

mil empregados

PASSAGEIROS TRANSPORTADOS

3,7 2018 10,9 2017

milhões de passageiros transportados/ano

21% 9,2%

crescimento milhões de passageiros transportados/ano

crescimento

EXPANSÃO DO SISTEMA E AUMENTO DE CAPILARIDADE Fonte: Balanço do setor metroferroviário 2018/2019 ANP Trilhos

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AÉREO

ARQUIVO SISTEMA CNT

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A fantรกstica jornada das malas Tecnologias de rastreio jรก comeรงam a transformar o panorama do transporte de bagagens. No futuro, praticamente nรฃo haverรก extravios por

GUSTAVO T. FALLEIROS


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mala desliza suavemente na esteira. Perfeitinha, íntegra e pontual. Poucas visões são tão reconfortantes para o passageiro que desembarca. Não que ele devesse se preocupar, pois a estatística está a seu favor. Em 2018, no Brasil, foram apenas 2,4 bagagens extraviadas por mil passageiros transportados — índice duas vezes menor que a média mundial (5,7) e melhor que o dos Estados Unidos (2,8). Os dados são da Abear (Associação Brasileira de Empresas Aéreas). A logística por traz dessa movimentação vem se sofisticando exponencialmente. Um impulso decisivo foi tomado em junho de 2018, quando a

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Iata (Associação Internacional de Transporte Aéreo) editou a resolução n.º 753. O documento determina que todas as empresas do setor adotem o rastreamento de bagagens em tempo real. De acordo com a organização, esse controle precisa ser feito em quatro momentos: no check-in, no transporte da mala ao porão da aeronave, no desembarque e na entrega da mala ao passageiro. Esses são considerados os pontos críticos para o extravio. Em junho passado, a Iata voltou a surpreender. Durante a 75ª Reunião Geral Anual, os membros reconheceram os limites do atual sistema de rastreamento por código de barras. Eles preveem que, no intervalo

de dez anos, o fluxo de passageiros e bagagens vai duplicar. Para fazer frente a essa demanda, O termo designa três tipos de situações: eles recomendam • Malas perdidas / roubadas a adoção da tecnologia conheci• Malas danificadas / furtadas da pela sigla RFID • Malas atrasadas (Identificação por FONTE: SITA, “INSIGHTS DE TI PARA BAGAGEM DE 2019” Radiofrequência). Guarde essa informação, pois voltaremos a ela. vai tirando uma de cada vez, “Com a resolução da Iata, nas diferentes etapas. Assim, as empresas precisam demons- vai preenchendo o que a gente trar que fazem o rastreamento chama de bingo card (ficha de nos pontos de controle, seja controle de bagagem). Isso é ele manual ou automático. O o que normalmente é feito”, automático é feito com leitores conta Rogério Benevides, conde código de barras. Mas pode sultor técnico da Abear. No ser manual? Pode. Você coloca aeroporto de Guarulhos (SP), três etiquetas na bagagem e por exemplo, há empresas que

O QUE É UMA MALA EXTRAVIADA?

OS QUATRO PONTOS OBRIGATÓRIOS DE RASTREAMENTO DE BAGAGEM

Check-in

Carregamento

Transferência

Chegada

FONTE: RESOLUÇÃO N.º 753, DA IATA (ASSOCIAÇÃO INTERNACIONAL DE TRANSPORTE AÉREO)


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Erro na etiquetagem

RAZÕES ATRIBUÍDAS ÀS MALAS ATRASADAS

Extravio na transferência Extravio na chegada Restrição no aeroporto / alfândega / clima / peso-espaço

Erro no carregamento

Falha no carregamento

Erro na emissão de passagens / transição de malas / segurança / outros

FONTE: SITA, “INSIGHTS DE TI PARA BAGAGEM DE 2019”

REDUÇÃO A LONGO PRAZO DO EXTRAVIO DE BAGAGENS 50

46,9

4,36

40

4,0

30

20

10

0

5,0

2,48

24,8

3,0

2,0

1,0

Total de passageiros (bilhões)

A expectativa é que a transição acelere após a chegada da rede 5G. O volume e a velocidade da troca de informações possibilitarão a “conversa” entre dispositivos. A Internet das Coisas será fundamental nesse processo. Contudo, para Benevides, ainda é cedo para imaginar esse cenário. Mais factível é investir na comunicação com os passageiros. De fato, diversas empresas vêm testando aplicativos que notificam a chegada da bagagem. Em breve, será possível a cada cliente acompanhar o deslocamento das malas em tempo real. “Esse é o nirvana, e é esse o caminho que estamos seguindo”, exalta o consultor.

Total de bagagens extraviadas (milhões)

operam 100% com código de barras. “A tecnologia faz parte do setor aéreo em sua essência. Para se tornar um modal de massa, precisa ser fácil, eficiente e rápido”, reforça o especialista. Quanto à transição para o sistema de radiofrequência, Benevides prefere a cautela. “Caminhar nessa direção envolve uma série de custos. Não falamos apenas de etiquetas e equipamentos leitores, mas do tipo de mensagem a ser enviada pelo aeroporto e da aceitação da mensagem pelo sistema da empresa aérea. Então, não é um processo rápido. É um processo que tem seu tempo de amadurecimento”, ressalva.

0 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016 2017 2018 FONTE: SITA, “INSIGHTS DE TI PARA BAGAGEM DE 2019”


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PASSAGEM COMPLICADA “Transferir a bagagem de uma aeronave para outra ou de uma companhia para outra representa um possível obstáculo na jornada percorrida pelas malas. Em 2018, essas bagagens transferidas representam 46% de todas as malas submetidas a atraso.”

‘FONTE: SITA, “INSIGHTS DE TI PARA BAGAGEM DE 2019”

A SITA Airline Technology, uma das empresas fornecedoras da tecnologia RFID, trabalha com o seguinte número: dentro de três anos, 80% das bagagens despachadas em viagens aéreas serão rastreadas por radiofrequência. Isso significa que, até lá, pelo menos 74 aeroportos contarão com a infraestrutura de leitores RFID. Para justificar suas pretensões, a SITA diz que o rastreamento existente já melhorou em 66% a entrega de bagagens. O dado faz parte da pesquisa “Insights de TI para Bagagem de 2019”.

Por enquanto, a empresa aérea mais bem-sucedida na implantação do novo modelo é a Delta, que adotou as etiquetas de RFID em 2016. De lá para cá, a companhia coletou mais de 2 bilhões de pontos de rastreamento por ano – uma marca impressionante. Seus clientes usam um aplicativo para receber notificações. E mais: a Delta reduziu ao mínimo o manuseio das bagagens, o que também ajudou a baixar a taxa de extravio. É quase uma visão do futuro. l

PERGUNTAS FREQUENTES O que devo fazer se minha bagagem for extraviada?

Procure a empresa aérea logo após o desembarque e relate o fato em documento fornecido pela empresa ou em qualquer outro comunicado por escrito (protesto). Para fazer a reclamação, é necessário apresentar o comprovante de despacho da bagagem. Caso seja loca-

lizada pela empresa aérea, a bagagem deverá ser devolvida para o endereço informado pelo passageiro. A bagagem poderá permanecer na condição de extraviada por, no máximo, sete dias (voos nacionais) e 21 dias (voos internacionais). Caso não seja localizada e entregue nesse período, a empresa deverá indenizar o passageiro em até

sete dias. O valor da indenização é variável, podendo chegar a até 1.131 Direitos Especiais de Saque (DES)*, em torno de R$ 5.000,00. * O DES é uma moeda do Fundo Monetário Internacional cujo preço varia diariamente. A cotação pode ser consultada no site do Banco Central do Brasil.


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BAGAGEM DE MÃO PADRÃO

PELO CELULAR “As informações de rastreamento de bagagem em tempo real por meio de aplicativos móveis estão na agenda de investimento de autoatendimento para a maioria das companhias aéreas nos próximos três anos.” FONTE: SITA, “INSIGHTS DE TI PARA BAGAGEM DE 2019”

25 cm de profundidade 55 cm de altura 35 cm de largura

Minha bagagem foi extraviada, e eu fiquei sem meus pertences essenciais no meu local de destino. Quais os meus direitos?

No caso de extravio de bagagem, é devido o ressarcimento de eventuais despesas ao passageiro que se encontrar fora do seu domicílio. O ressarcimento de despesas deve ser realizado em até sete dias contados da apresentação dos comprovantes das despesas. As empresas podem estabelecer a forma e os limites diários do ressarcimento. Essa regra vale para os passageiros que estejam no Brasil. A empresa não pode exigir que a bagagem seja entregue no aeroporto.

Após o extravio da bagagem, a empresa aérea ressarciu meus gastos, mas não encontrou minha bagagem. O ressarcimento pode ser descontado do valor final da indenização?

Sim. A indenização final poderá sofrer dedução dos valores pagos a título de ressarcimento de despesas.

Peso máximo

10kg

FONTE: ABEAR (ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE EMPRESAS AÉREAS)

A empresa aérea responde por perda ou furto de bagagem de mão?

O passageiro é responsável por sua bagagem de mão quando transportada na cabine da aeronave que esteja sob sua guarda. A empresa aérea não responde por perda ou furto ocorrido durante a execução do contrato de transporte no que se refere à bagagem de mão. Em caso de voo internacional, vale verificar se há convenções internacionais sobre o assunto. FONTE: ANAC (AGÊNCIA NACIONAL DE AVIAÇÃO CIVIL)


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RODOVIÁRIO

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Mais praticidade aos transportadores internacionais ANTT automatiza autorização para transporte rodoviário internacional de cargas em caráter ocasional e solicitação de modificação de frota; iniciativa reduz tempo de tramitação de procedimentos por

DIEGO GOMES


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ara realizarem transporte rodoviário internacional de cargas, as empresas nacionais devem seguir algumas determinações – em sua maioria, estabelecidas pela ANTT (Agência Nacional de Transportes Terrestres) –, a fim de garantir a segurança e eficiência dos procedimentos. As transportadoras precisam de alguns documentos essenciais, entre os quais: a Licença Originária, autorização que permite que a companhia opere essa modalidade de transporte; e a autorização

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de viagem de caráter ocasional – viagens não regulares ou que venham a ser definidas em acordos entre países. O processo é regulamentado pela resolução n.º 1.474/2006. Até então, para obter esses documentos, era necessário despender muito tempo para se dirigir à sede da ANTT em Brasília ou aos seus escritórios regionais a fim de protocolar a documentação toda em papel. Essa realidade, porém, começou a mudar no último mês de julho. A agência automatizou o serviço para obtenção

de autorização de viagens de caráter ocasional. Também foi automatizada a solicitação de modificação de frota de empresa brasileira para o transporte internacional de cargas. Além disso, o órgão informou que já está trabalhando para digitalizar os processos para as solicitações de Licença Originária e da Licença Complementar para transportador estrangeiro. “Como a maior parte dos transportadores internacionais está localizada nas regiões de fronteira e em São Paulo, em muitos casos, era necessário

designar um representante legal para protocolar as solicitações e receber os documentos emitidos pela Agência”, argumenta a ANTT. O usuário pode, agora, acessar os serviços 24 horas por dia, durante sete dias por semana; enviar cópias eletrônicas da documentação; ter mais agilidade na comunicação entre o analista e o solicitante; acompanhar o andamento do pedido pelo portal; e fazer download de documentos emitidos. A ANTT informa que, “com a automação dos serviços, o próprio transportador conse-

SERVIÇOS AUTOMATIZADOS PELA ANTT • Obtenção de autorização de viagens de caráter ocasional • Solicitação de modificação de frota de empresa brasileira


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gue fazer a solicitação, realizar o upload dos documentos digitalizados, enviar notificações para os solicitantes, caso haja alguma pendência na solicitação, e receber a versão eletrônica de documentos emitidos pela Agência”. Além disso, a ferramenta de automação permite, ao mesmo tempo, que a documentação seja disponibilizada para o transportador, os postos de fronteira e organismos internacionais. A ANTT acrescenta ainda que haverá redução de custos para o transportador e maior efi-

ciência na obtenção de documentos definidos em acordos internacionais para o transporte de cargas. Redução de tempo e custos Para o presidente da ABTI (Associação Brasileira dos Transportadores Internacionais), Francisco Cardoso, as iniciativas da ANTT otimizam a atividade transportadora nessa modalidade, conferindo mais agilidade e ganhos ao setor. “A maioria das solicitações exigia a apresentação de documentos em

papel. O seguimento das informações dependia de consultas telefônicas, o que demandava tempo do setor privado e dos próprios servidores da agência, diminuindo ainda mais a sua produtividade.” Segundo Cardoso, no método antigo, o custo era alto e a documentação exigia um processo de arquivamento. “Hoje se faz mais com muito menos. Essa mudança reduziu o tempo de tramitação de modificação de frota em quase 70%, e a tendência é reduzir mais ainda. As licenças ocasionais tiveram

PRÓXIMOS SERVIÇOS A SEREM AUTOMATIZADOS • Solicitação da Licença Originária • Solicitação da Licença Complementar para transportador estrangeiro

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também uma considerável diminuição de tempo.” Apesar de não haver mais a conferência presencial, o presidente da ABTI considera que a segurança dos procedimentos está garantida. “As informações enviadas pelos transportadores estão vinculadas às bases de dados do RNTRC e do Denatran. Os processos somente podem ser acessados pelos mesmos servidores que, anteriormente, verificavam os dados no papel. O sistema é transparente. O status dele permite ao transportador saber em que fase ele se


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encontra. Eu me atrevo a falar que hoje é mais seguro até do que antes.” Mas isso não quer dizer que todos os entraves para a expansão do transporte internacional de cargas estejam resolvidos. “Talvez eu me engane, mas nunca a tramitação na agência foi um empecilho que fez um transportador optar ou não para operar nessa modalidade. São outros os fatores. A legislação própria, entraves aduaneiros, quantidade limitada de profissionais com conhecimento sobre

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o setor, distâncias e idiomas são grandes limitadores.” Próximos passos Para a completa automação dos processos relacionados ao transporte internacional rodoviário de cargas, porém, seria necessário que outros órgãos públicos adotassem expediente semelhante, como é o caso do Denatran (Departamento Nacional de Trânsito) e dos Detrans dos estados. “Os entraves são maiores, porque dependem dos Departamentos de

Trânsito dos estados, que possuem autonomia e entendimentos próprios. Percebemos que isso não depende unicamente de uma vontade de fazer do governo federal. O diálogo é complexo, depende da efetiva integração de dados, padronização de procedimentos, vontade de fazer”, diz o presidente da ABTI. O setor protocolou pedido, junto à ANTT, para que seja revisto o artigo 10 da resolução n.º 5.818, de 2018, que determinou que, antes de conceder uma licença complementar

para transportador estrangeiro, a Suroc (Superintendência de Serviços de Transporte Rodoviário e Multimodal de Cargas) deverá dar ciência à diretoria da agência dez dias antes de sua publicação. “Voltar ao procedimento anterior, quando existia uma delegação definida, seria menos burocrático e permitiria cumprir o acordo internacional o qual prevê que licenças complementares sejam emitidas em até cinco dias úteis”, comenta Francisco Cardoso. l

Essa mudança reduziu o tempo de tramitação de modificação de frota em quase 70%, e a tendência é reduzir mais ainda. As licenças ocasionais tiveram também uma considerável diminuição de tempo. Francisco Cardoso, presidente da ABTI


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TRANSFORMAÇÃO DIGITAL A ANTT disponibiliza 55 serviços oferecidos eletronicamente ao cidadão no Portal de Serviços do governo federal. Por lá, é possível obter licenças bem como consultar multas e processos, autorizações, entre outros. Segundo a agência, o objetivo é desburocratizar a vida do cidadão, uma vez que esses serviços chegavam a levar de 10 a 15 dias para serem solucionados e, agora, passam a ter prazos de dois a três dias. Na avaliação da agência, essa transformação digital também vai beneficiar empresas dos setores reguladores e fiscalizados pela própria ANTT, já que foram disponibilizados serviços para as concessionárias da infraestrutura ferroviária e rodoviária, bem como para os transportadores de cargas e passageiros. Para o cidadão, o portal facilita a consulta da situação dos transportadores de cargas e dos serviços de transporte de passageiros, como a consulta a veículos que prestam o serviço de transporte rodoviário interestadual. O usuário poderá saber se o serviço oferecido está dentro das normas ou se o transporte é clandestino, preservando, assim, a sua segurança.

Acesso aos serviços 24 horas por dia, durante sete dias por semana

Envio de cópias eletrônicas da documentação

Mais agilidade na comunicação entre o analista e o solicitante - acompanhamento do andamento do pedido pelo portal

Download de documentos emitidos

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AQUAVIÁRIO

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O mar rodovia

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como

Cabotagem tem registrado altas consecutivas, mas taxação do combustível e burocracia ainda são entraves; governo federal prepara programa de incentivo ao setor por

CARLOS TEIXEIRA


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uando falamos de transporte de cargas em um país com um território gigantesco como o Brasil, é preciso pensar em vantagens e eficiências logísticas. Nesse sentido, a cabotagem vem pedindo passagem. O estudo “Conjuntura do Transporte - Desempenho do Setor”, divulgado recentemente pela CNT, mostra que o segmento registrou crescimento de

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38,2% no segundo semestre de 2018. Entre 2017 e 2018, houve um aumento de 16,7% no volume anual transportado entre os portos da costa brasileira, segundo dados do Syndarma (Sindicato Nacional das Empresas de Navegação Marítima). No ano passado, foram movimentados 592 mil TEUs (unidade de medida de contêineres). Mesmo com números expressivos e um enorme

Acesse o Conjuntura do Transporte – Desempenho do Setor

potencial de expansão, a navegação de cabotagem encontra entraves para o desenvolvimento. No centro do impasse, três questões são principais. “O combustível é um problema crônico que já vem desde 1997. Além disso, temos impostos sobre a importação de navios. Empresas estrangeiras acabam sendo mais competitivas que as brasileiras por conta das vantagens existentes, como a

questão do combustível sem ICMS e a questão trabalhista”, afirma o vice-presidente executivo da Abac (Associação Brasileira de Armadores de Cabotagem), Luis Resano. Para ele, é urgente a adoção de medidas que reduzam os custos operacionais das empresas de cabotagem no Brasil. Por acordos internacionais, os navios estrangeiros que navegam no Brasil não pagam


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impostos sobre os combustíveis e também não precisam cumprir as mesmas regras trabalhistas e ambientais que as empresas brasileiras cumprem. Enquanto no Brasil uma equipe no navio trabalha seis meses por ano, um estrangeiro pode trabalhar 12 meses. Um relatório do TCU (Tribunal de Contas da União) lembra que a lei n.º 9.432/97 versa que o país deve dar tratamento isonômico à

navegação de cabotagem em relação aos navios de longo curso. A lei ainda define que a cabotagem só pode ser feita por empresas e navios nacionais, enquanto a navegação de longo curso é aberta a empresas e navios estrangeiros. Para destravar as questões relativas aos combustíveis e à legislação, o governo federal estuda modificações na legislação que rege o setor. “A estru-

tura do mercado de cabotagem no Brasil precisa ser alterada. Hoje, temos uma busca pelas empresas de otimização do uso de embarcação por afretamento (com bandeira estrangeira). Se isso acontece é porque existe uma necessidade de investimentos em bandeira brasileira para que as empresas possam atuar de uma forma consolidada. Para isso, é preciso mudar a lei para darmos maior flexibilida-

PORTOS DE DESTAQUE NO SEGMENTO

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de para uso dos afretamentos. Devemos facilitar a entrada de empresas estrangeiras, mantendo a relevância das empresas brasileiras”, afirma o diretor do departamento de navegação de hidrovias da Secretaria Nacional de Portos e Transportes Aquaviários, do Ministério da Infraestrutura, Dino Antunes. De acordo com ele, o governo federal trabalha na elaboração de um programa de incentivos à

ENTRAVES DA CABOTAGEM

Burocracia Manaus (AM) Fortaleza (CE) Salvador (BA)

Santos (SP) Rio Grande (RS)

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Imposto sobre combustível Mão de obra


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cabotagem. Batizado de “BR no Mar”, o pacote deve ser lançado até o fim do ano e está sendo estruturado com base em estudos e demandas de players do mercado. “Fizemos uma avaliação da cabotagem por meio de vários estudos que convergiram para uma agenda comum com o que o mercado necessita”, explica o diretor. Na pauta do programa, estão: maior transparência na cobran-

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ça das taxas de praticagem, previsão para igualar o valor dos combustíveis ao que é pago pela navegação de longo curso e redução da burocracia na operação de navios que operam na costa brasileira. Antunes ainda fala que, para diminuir a burocracia, dentro da mudança na lei, está prevista uma maior autonomia para a Antaq (Agência Nacional de Transportes Aquaviários).

“Iremos propor que a agência possa fazer autorizações especiais de terminais. Com isso, sinalizamos que daremos a autorização por um prazo menor para que a empresa possa testar o mercado. Isso está atrelado a uma nova política para que essa empresa possa afretar uma embarcação sem ter o lastro em tonelagem própria (hoje, para uma empresa afretar uma embarcação

estrangeira, precisa ter uma frota própria). Com a mudança, permitiremos que a empresa tenha a autorização especial no terminal, ou seja, autorização para trazer uma embarcação sem lastro em tonelagem, para que ela possa entrar no mercado sem perder o timing”. Reflexo nos portos O crescimento da cabotagem brasileira tem refletido tam-

DESEMPENHO DO SETOR CONJUNTURA DO TRANSPORTE

Carga geral na cabotagem

38,2% de aumento 2º semestre de 2018

Contêiner na cabotagem

19,4% de aumento 2º semestre de 2018


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bém nas operações portuárias brasileiras. Hoje, portos como os de Manaus (AM), Rio Grande (RS), Santos (SP), Fortaleza (CE) e Salvador (BA) se destacam no segmento. Números da Antaq mostram que a carga conteinerizada, que vem puxando a fila do crescimento da modalidade, já soma 12% do mercado, sendo que 34% saíram dos portos privados; e 66%, dos públicos. Enquanto

isso, as cargas gerais somaram 6% do volume da cabotagem, com 81% sendo levado pelos portos privados; e 19%, pelos públicos, o que mostra uma movimentação do mercado. No porto de Santos, que fechou 2018 com mais de 16 milhões de toneladas transportadas na cabotagem, o incentivo à navegação de cabotagem passa, necessariamente, por um projeto do governo por envolver outros

terminais do sistema portuário nacional. E a expectativa para 2019 é ainda maior. “A projeção estatística é que a movimentação em toneladas da cabotagem tenha crescimento de 3,26% em relação a 2018, com a expectativa de alcançar 16,78 milhões”, afirma nota enviada à reportagem da CNT Transporte Atual. De acordo com Dino Antunes, do Ministério da Infraestrutura, o governo federal também trabalha

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em ações que possam incrementar ainda mais os resultados. “Isso é parte da agenda de infraestrutura. A cabotagem precisa de portos prontos para receber a modalidade. Já estamos trabalhando em uma agenda portuária que envolve arrendamentos, aditivos em contratos já existentes, que trarão investimentos e também nas autorizações de novos TUPs (terminais de uso privado)”, finaliza o diretor. l


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SUSTENTABILIDADE

Despoluir para crescer O setor transportador comemora os 12 anos do Despoluir, programa que ajudou a consolidar as prรกticas socioambientais do transporte brasileiro

por

GUSTAVO T. FALLEIROS


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FOTOS | ARQUIVO SISTEMA CNT


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á 12 anos, quando o Despoluir - Programa Ambiental do Transporte foi lançado, o desafio estava no ar e tinha um aspecto acinzentado (veja box). Já não restavam dúvidas de que a emissão de poluentes pedia atenção e controle. A questão era como agir. Por isso, a CNT (Confederação Nacional do Transporte) e o SEST SENAT desenharam um programa que fosse uma verdadeira caixa de ferramentas para o setor. “Meio ambiente e transporte possuem forte relação. Era fundamental que o nosso setor adotasse boas práticas, além de tecnologias e insumos mais limpos, de modo a contribuir para a conservação do meio ambiente e da qualidade de vida”, destaca Vander Costa, presidente da CNT e do SEST SENAT. Ele lembra que, desde o início, “o

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Despoluir orienta as empresas sobre medidas estratégicas para a superação de desafios e a geração de ganhos, considerando, conjuntamente, os três pilares da sustentabilidade: ambiental, social e econômico”. Ao longo dos anos, o programa vem demonstrando como a responsabilidade socioambiental se alia à competitividade do negócio. Sabe-se, por exemplo, que a chamada ecocondução se reverte em uma economia de cerca de 12% em combustível – e diminui consideravelmente os gastos com a manutenção de veículo (leia sobre os cursos do SEST SENAT na página 66). Tratase de um jogo de ganha-ganha, pois, quanto menor o consumo de derivados do petróleo, menos poluição é lançada na atmosfera. Vale lembrar que o gasto com diesel corresponde, em média,

AVALIAÇÃO VEICULAR AMBIENTAL • • •

24 federações participantes; 92 Unidades Operacionais; Mais de 2,6 milhões de avaliações veiculares ambientais, com cerca de 85% de aprovação; Mais de 50 mil transportadores atendidos.

a 40% dos custos operacionais dos transportadores. O sucesso da abordagem socioambiental fica evidente na prática, a partir da experiência das empresas que incorporaram o Despoluir. A adesão à Avaliação Veicular Ambiental é especialmente forte. Essa linha de ação do programa já atendeu mais de 50 mil transportadores e realizou mais de 2,6 milhões de avaliações, se considerarmos o período de julho de 2007 a junho de 2019. Volker Bogdawa, gerente de Departamento Técnico da Planalto Transportes e da Unesul Transportes, do Rio Grande do Sul, conta que o programa “pegou” aos poucos. No início, era visto apenas como uma forma de atender aos parâmetros de qualidade do ar estabelecidos pelo Conama

(Conselho Nacional do Meio Ambiente). No Brasil, vigoram os limites do Proconve 7, a sétima fase do Programa de Controle da Poluição do Ar por Veículos Automotores (equivalente ao sistema Euro 5). Desde 2012, essa fase vale para os novos pesados com motores a diesel. Na Planalto Transportes, o que aconteceu foi uma sinergia entre o Despoluir e o programa ambiental que a empresa desenvolvia internamente. “Já tínhamos o Super Time, em que incentivávamos a direção mais defensiva e, ao mesmo tempo, mais econômica. Com o Despoluir, tornou-se possível verificar e certificar como estão as emissões dos nossos veículos e, assim, obter um aproveitamento melhor do programa de motoristas, com vantagens para o meio ambiente”, resume.

LINHAS DE TRABALHO DO DESPOLUIR Melhoria do desempenho do setor • Avaliação veicular ambiental; • Tecnologias e energias limpas; • Gestão ambiental. Cidadania para o meio ambiente • Educação ambiental; • Informações ambientais; • Prêmios ambientais.


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VOCÊ SABIA? Em um percurso de 28 quilômetros, é possível economizar cerca de um litro de combustível somente com técnicas corretas de condução. Volker administra uma frota de 279 veículos, com idade média de sete anos. A estratégia deles é submeter a frota inteira a duas inspeções anuais na garagem da própria empresa – os técnicos do Despoluir se deslocam até o local. “Assim, além de deixar os carros em dia, a manutenção fica mais barata e mais segura para o cliente. Se tenho algum problema, ele aparece no teste. Daí eu conserto e repito a verificação”, revela. O gerente garante que a sistemática reduziu em 6% o consumo de combustível global. A depender do tamanho e das características da frota, as avaliações demandam uma logística própria. Na Trampolim, empresa de transporte de passageiros do Rio Grande do Norte, as visitas dos técnicos são sempre à noite, de modo a

não tirar de circulação nenhum dos 123 ônibus. A periodicidade é trimestral; e o agendamento, por email ou telefone. “O programa incentiva as empresas a serem cada vez melhores tanto na manutenção dos veículos quanto na parte de operação. O objetivo é reduzir a emissão de poluentes, mas há um impacto na parte financeira, sem dúvida alguma”, relata o gerente de Manutenção William Targino. Além dessa facilidade de adequação à realidade local, o Despoluir promove uma série de premiações ambientais para criar um círculo virtuoso junto às empresas. Um exemplo disso é o prêmio Melhor Ar, conferido pela Fetcemg (Federação das Empresas de Transportes de Carga do Estado de Minas Gerais), que já está em sua 11ª edição. Pela segunda vez consecutiva, a Lenarge Transportes e Serviços foi vencedora na categoria Ouro. Isso significa que mais de 85% da frota da empresa passou por aferição nos últimos 12 meses – uma porcentagem excelente para uma frota de 601 caminhões. Joseline Inácio, supervisora de Qualidade e Meio Ambiente da Lenarge, trabalha para alcançar a excelência. “Sugeri ao técnico do Despoluir a criação da categoria Diamante, que seria acima de 95% de verificação no teste de opacidade, como forma de incentivar a evolução constante dos processos”, conta a especialista. Ela pondera que,

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A COR DA FUMAÇA “A cor dos gases do escapamento também pode ser sinal de problemas. A cor preta está relacionada à queima incompleta do combustível. Danos no sistema de injeção e no motor são possíveis causas dessa irregularidade. A cor branca pode indicar a existência de combustível não queimado por causa da baixa temperatura do motor, resultante, por exemplo, de falhas na válvula termostática – um dos componentes responsáveis por manter a temperatura do motor dentro de uma faixa ideal de trabalho, controlando o fluxo de água do radiador. Essa cor também pode estar ligada à presença de água no combustível, por isso é importante abastecer o veículo em postos de confiança. A cor azul é uma evidência de que há óleo do motor sendo queimado na câmara de combustão, o que prejudica seriamente o motor por falta de lubrificação.” (FONTE: CARTILHA “MANUTENÇÃO PREVENTIVA: BENEFÍCIO PARA TODOS”)

desde a criação do Despoluir, o mercado amadureceu muito: “Hoje em dia, vários dos nossos clientes já solicitam o laudo (das vistorias). Isso demonstra que eles também estão preocupados com a questão do passivo ambiental”. É interessante notar que, nesses 12 anos, a crescente exigência da legislação, com metas rígidas para a emissão de poluentes como Material Particulado (MP) e óxidos de nitrogênio (NOx), veio acompanhada de tecnologias automotivas mais limpas.

Esse avanço abriu espaço para aprimorar a competitividade. “Sob essa perspectiva, no futuro, outras linhas de ação do Despoluir devem ganhar mais ênfase e relevância para a geração de benefícios socioambientais e econômicos, como serviços que promovam a excelência operacional e gerencial no setor de transporte, além de publicações técnicas que fomentem a utilização de tecnologias mais limpas na atividade transportadora”, reforça o presidente Vander Costa.


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ENTREVISTA VANDER COSTA, PRESIDENTE DO SISTEMA CNT

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o aniversário de 12 anos do Despoluir - Programa Ambiental do Transporte, o presidente do Sistema CNT, Vander Costa, faz um balanço das conquistas alcançadas pela iniciativa e aponta perspectivas para o futuro. Na avaliação dele, a contribuição do programa ao setor, aos trabalhadores e à sociedade tem um valor inestimável e ajudou o país a participar de uma mudança de consciência cujo alcance é global. Como o senhor vê a evolução e o futuro do Programa Despoluir? Desde a sua criação em 2007, o Despoluir já realizou mais de 2,6 milhões de avaliações veiculares ambientais, atendendo a mais de 50 mil

A Adição do Biodiesel e a Qualidade do Diesel no Brasil

ALGUMAS DAS PUBLICAÇÕES DO DESPOLUIR Arla 32: Uso Correto

empresas transportadoras e caminhoneiros autônomos. Hoje, é o maior programa ambiental da iniciativa privada em curso no Brasil e é reconhecido, principalmente, por sua linha de ação de avaliação ambiental de veículos rodoviários movidos a diesel, dada a importância de se melhorar o desempenho do transporte rodoviário brasileiro no que diz respeito à emissão de gases de efeito estufa e poluentes no ar. Acredito que o Despoluir evoluirá no sentido de desenvolver novos serviços e produtos técnicos voltados à eficiência, inovação e sustentabilidade nos diversos modais de transporte do Brasil. Como o Despoluir pode ajudar as empresas de

Procedimentos para a Preservação da Qualidade do Óleo Diesel B

Baterias Automotivas: Boas Práticas no Uso e na Destinação

Ecocondução: Eficaz para o Meio Ambiente e a Qualidade de Vida​


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transporte a vencer os desafios ambientais e de infraestrutura existentes no contexto brasileiro? O Despoluir orienta as empresas de transporte sobre medidas estratégicas para a superação de desafios e a geração de ganhos. Além disso, participamos de fóruns e discussões governamentais sobre transporte e meio ambiente, defendendo o desenvolvimento de políticas públicas que atendam às necessidades do setor e criem um cenário favorável para que os transportadores atuem de forma sustentável. Entre os pontos reivindicados ao poder público, destacam-se: investimentos na melhoria e na ampliação da infraestrutura de transporte, medidas para facilitar a aquisição de tecno-

logias mais limpas e incentivos à integração intermodal. Quais são os desafios para o transporte sustentável brasileiro? A disponibilidade de infraestrutura de qualidade adequada, a existência de condições favoráveis à integração intermodal e a viabilidade de aquisição e uso de combustíveis alternativos e tecnologias sustentáveis. Hoje, a maioria dos empresários do setor transportador já se mobiliza para aliar as suas atividades ao conceito de sustentabilidade, entendendo que essa postura é vantajosa não somente para o meio ambiente e a sociedade mas também para a expansão da participação de mercado. Contudo, vale destacar que os transportadores se

Sondagem CNT de Eficiência Energética no Transporte Rodoviário de Cargas

Manutenção Preventiva: Benefício para Todos

deparam com entraves, como a infraestrutura deficitária, que compromete os ganhos esperados com o uso de combustíveis e tecnologias mais limpas, bem como com a adoção de boas práticas operacionais e gerenciais. É fundamental destacar, ainda, a indisponibilidade de insumos, veículos e outras tecnologias sustentáveis a preços e condições de aquisição acessíveis no mercado nacional. A conjuntura brasileira dificulta sobremaneira a implementação de medidas sustentáveis. Esse quadro precisa ser revertido. Quais os benefícios que o Despoluir propicia aos trabalhadores do setor e à sociedade? O Programa Despoluir promove o engajamento dos

A Fase P7 do Proconve e o Impacto no Setor de Transporte

Óleos Lubrificantes Automotivos: Uso e Destinação Adequada

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transportadores em ações de responsabilidade ambiental e social que geram importantes benefícios aos trabalhadores do setor e à sociedade. A avaliação veicular ambiental, por exemplo, melhora a qualidade do ar, e isso se reverte em prol da saúde desses trabalhadores, em geral, mais expostos às emissões de poluentes e da população. Outro exemplo disso é o incentivo à adoção de boas práticas de gestão ambiental, voltadas ao uso racional de recursos naturais e à destinação adequada de resíduos. Ao investirmos na educação ambiental, nós colaboramos para que o transportador se torne um grande disseminador do conhecimento. Isso tudo se reverte em práticas sustentáveis, aplicadas na vida real. l

Os Impactos da Má Qualidade do Óleo Diesel Brasileiro

VISITE O SITE:

Despoluir: 10 Anos de Sustentabilidade no Transporte


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GESTÃO

Ideias para estar à

frente

Quatro empresas premiadas por suas práticas inovadoras contam o que fazem para estar na vanguarda do setor de transporte e logística por

GUSTAVO T. FALLEIROS


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inovação é uma corrida sem linha de chegada. Isso não desanima os competidores. Pelo contrário. No mundo dos negócios, estar um passo à frente em processos e tecnologias fortalece a marca. Desde 2015, a Strategy&, consultoria estratégica do network PwC, e o jornal Valor Econômico mapeiam o mercado em busca das empresas mais inovadoras do país. O produto desse esforço, o anuário Valor Inovação Brasil, premia os dez destaques nacionais e também os campeões em 23 segmentos. O ranking atende a uma série de critérios. Por exemplo, os concorrentes precisam ter, pelo menos, 5% de participação pri-

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vada em seu capital e receita líquida no Brasil acima de R$ 500 milhões em um dos dois últimos anos fiscais. Peixes grandes, portanto. Saber como essas empresas pensam o tema “inovação” e desenvolvem produtos e serviços pode servir de referência na hora de traçar estratégias. Por isso, a revista CNT Transporte Atual entrevistou os porta-vozes das mais bem colocadas na categoria Transportes e Logística. Confira, a seguir, o resultado desse benchmarking. Nos depoimentos, você vai encontrar uma série de termos comuns nesse mundo da inovação. Para facilitar o entendimento, preparamos, ao final desta reportagem, uma espécie de glossário com a definição deles.

INOVADORAS EM TRANSPORTES E LOGÍSTICA

1ª Movida 3ª VLI

2ª Localiza 4ª

Coopercarga ARQUIVO SISTEMA CNT


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Mudança de foco

Miguel Alcântara, Diretor-executivo de TI e Inovação da empresa

A tecnologia é um pilar-chave para a evolução do negócio. Nosso CEO, Renato Franklin, entendeu que investir em tecnologia e capacitação de pessoas com visão era do que a empresa precisava para dar um salto. Antes, a inovação era uma área externa que pensava em produtos que nem sempre se encaixavam no dia a dia. Então, a primeira modificação relevante foi tratar da inovação de forma mais natural. Hoje, você tem inovações derivadas da percepção do cliente e aquelas relacionadas aos processos produtivos, atrás do balcão.

Equipes enxutas

O papel do CEO

Nenhuma empresa inova se o CEO não tiver inovação na veia. Nós só conseguimos implementar esse modelo de trabalho porque temos patrocínio do presidente. Ele quer ver coisas novas. Além disso, você passa a penalizar menos as falhas. Se você falhar rápido (fail fast), conceito muito usado nas academias de Administração, você gerará um aprendizado e construirá uma coisa muito mais sólida. Isso dá liberdade para criar, para ter ideias, e gera uma motivação muito grande.

As equipes são montadas em silos (times) de, no máximo, 8 a 10 pessoas. Dentro da equipe, você tem pessoas de TI e pessoas de negócio em uma base igual de decisão. A TI passou a ser menos ‘tiradora de pedidos’ e passou a colaborar com as soluções de negócio. Hoje, temos 27 times, que são responsáveis cada um por uma especialidade dentro da companhia. A cultura é valorizar a iniciativa de todos os colaboradores – não interessa se ele está em uma posição hierárquica mais baixa ou se está na companhia há menos tempo. Se o colaborador tem uma boa ideia, o time está muito apto a reconhecê-la e trabalhar a partir dela.

PALAVRAS-CHAVE Block chain: Tecnologia de registro distribuído que visa à descentralização como medida de segurança. São bases de registros e dados distribuídos e compartilhados que têm a função de criar um índice global para todas as transações que ocorrem em um determinado mercado. Chatbot: Programa de computador que tenta simular um ser humano na conversação com as pessoas. Data lake: Repositório que armazena um grande e variado volume de dados, estruturados e não estruturados.

Fail fast: Sistema que reporta imediatamente uma falha, interrompendo a operação normal para que um ajuste seja feito. IoT (Internet of Things): Em português, significa Internet das Coisas. Diz respeito à interconexão (coleta e transmissão de dados) entre objetos físicos dotados de sensores graças à internet. Machine learning: Também chamado de “aprendizado de máquina”, é uma subárea da ciência da computação que estuda a possibilidade de os computadores aprenderem com os próprios erros, independentemente da programação original.

Metodologia ágil: Nome genérico dado às formas de programar que privilegiam a interação entre indivíduos, a colaboração com o cliente, a funcionalidade do software e a resposta a mudanças. Uma das mais populares é a Scrum. Mindset: Modelo mental, atitude ou configuração mental que cada indivíduo tem. É a maneira como uma pessoa pensa. PLN (Natural Language Process): Processamento de Língua Natural, em português. Ciência que estuda formas de “traduzir” bancos de dados em uma linguagem compreensível para os seres humanos.

NPS (Net Promoter Score): Métrica que tem como objetivo medir a satisfação e a lealdade dos clientes com as empresas. Python: Linguagem de programação de alto nível e aberta, ou seja, de desenvolvimento comunitário. RPA (Robotic Process Automation): Ferramenta tecnológica que automatiza partes ou atividades inteiras de processos de negócio. FONTE: WIKIPÉDIA, COM ADAPTAÇÕES


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Segurança e desenvolvimento de software Interpretação de dados

A gente tem muita informação, e a frota é toda monitorada. Começamos a trabalhar muito forte com machine learning (aprendizagem das máquinas) para podermos usar esses dados. Isso tem sido usado em prevenção de fraudes, por exemplo. Nossa capacidade de identificar uma situação suspeita é muito minuciosa. Para os canais digitais, investimos em natural language process (processamento de linguagem natural). Com isso, o nosso sistema interpreta as informações colhidas pelo app ou pelo site de forma a dar um retorno para o cliente. Funciona também dentro dos nossos depósitos. Por exemplo, para apontar quais são os melhores carros para o negócio e qual o momento certo para comprá-los. São bilhões de informações. É preciso interpretá-las.

A gente vem trabalhando em algumas iniciativas de block chain, que é a tecnologia por trás das criptomoedas, para a integração dos processos financeiros. Isso vale para o relacionamento com bancos e outros parceiros. Além disso, a gente saiu de um modelo de construir o software chamado waterfall (cascata), que é similar à construção de um prédio, em que você planeja tudo, desenha tudo, constrói e, depois, testa. No lugar, implementamos a metodologia ágil. Ela dá mais transparência, uma capacidade de inserção muito forte e um nível de comprometimento da equipe tremendo.

Confiança nas startups

Precificação dinâmica Internet das Coisas e gestão de frota

Com bastante uso de IoT (Internet of Things), temos o Core, o centro de operações de veículos da Movida. Fizemos tudo em linguagem Python. Cerca de 95% da nossa frota já têm rastreadores. A informação coletada fica guardada no Cloud do Google, que é nosso parceiro. A gente integra esses dados com o status que os carros deveriam ter. Por exemplo, eu tenho um carro com status ‘pronto para locação’, então ele precisa estar dentro da loja. E, se não estiver, o pessoal tem condições de entender por que, naquele momento, o carro está no lugar errado. Isso aumentou a eficiência de gestão da nossa frota, que já está em volta de 100 mil carros.

Toda vez que precisamos de um fornecedor, tentamos dar oportunidade para empresas novas e para pessoas jovens que tragam ideias e processos inovadores. Toda a nossa estratégia de chatbots foi contratada de uma empresa que deve ter um ano e pouco de vida. E eles construíram um modelo de trabalho que a gente nunca tinha visto, muito mais eficiente, barato e fácil de usar. Quando uma empresa grande, como a Movida, contrata empresas menores, o mercado de startups é alimentado. A gente acredita muito nesse modelo, que tem gerado vários benefícios.

Com base em machine learning, uma entrega que a gente fez foi a precificação dinâmica. Antes, a Movida tinha basicamente três tipos de tarifas: a normal, a de fim de semana e a de feriado. Hoje, a gente tem mais de 700 tipos de tarifa. A gente vai recebendo os inputs de disponibilidade de carros em loja, quantidade de ofertas, assim, os robôs calculam o modelo de precificação. Vai ficar muito parecido com as companhias aéreas. Se o carro está com bastante disponibilidade, possivelmente o preço dele estará mais baixo. Hoje, você tem uma série de robôs, com algoritmos específicos, que fazem esses cálculos. Eles passam por algumas aprovações internas, mas a gente ganha uma velocidade tremenda no processo. Acho que isso é bastante revolucionário no mercado de locação de carro.

Autoatendimento avançado

A gente faz reconhecimento de biometria facial para todas as locações. Investimos em totens de autoatendimento e canais digitais. Isso dá uma agilidade imensa, principalmente em aeroportos muito grandes, como o de Guarulhos (SP). O cliente faz a reserva pelo aplicativo e consegue fazer a jornada dele até o carro praticamente sem interface humana. Mas, se precisar, terá o atendimento (convencional) para dar suporte.


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Cultura de inovação

André Petenussi,

CIO (Chief Information Officer) da locadora

Canal no WhatsApp e parceria com aplicativos

Atualmente, todos os nossos atendimentos também têm a opção por WhatsApp. Todo mundo tem um celular no bolso. Então, atuamos para que o cliente sinta que a gente está próximo a ele. É uma forma de resolver problemas com agilidade, por meio de um canal com o qual o cliente já está acostumado. Outra inovação é o Localiza Driver, nossa plataforma para motoristas de aplicativos. Trata-se de um case mundial, de uma parceria grande com a Uber. Inclusive, a Uber cita a Localiza em uma das suas últimas divulgações de resultado.

Tomadas de decisão

A gente não tem uma área de inovação interna, mandatária de tudo o que é item de inovação para a companhia. Aqui, todos os times são desafiados a rodar e a transformar o negócio. Isso cria uma cultura muito mais orgânica, na qual as inovações vão surgindo no dia a dia. A gente empodera e dá autonomia para que os times façam isso diariamente. Esse é um ponto de diferenciação.

Experiência do usuário

Todos os clientes estão passando por uma transformação no jeito de consumir e se relacionar com as empresas. Cada vez mais, o cliente quer ser atendido via celular, via aplicativo, com muita rapidez. Em cima desse novo comportamento, a gente fez um software chamado Localiza Fast. É um modelo de reserva. O cliente faz a contratação e o pagamento pelo aplicativo, sem precisar passar pelo balcão. O aplicativo informa onde o carro está estacionado. É o aplicativo que abre o carro. Aí é só curtir o aluguel – uma experiência muito fluida, sem fricção, que nossos clientes adoram.

Uso de robôs

Trabalhamos com RPA (Robotic Process Automation) na automatização de diversos processos. No financeiro, já temos experiências positivas. Eu nem considero o RPA como uma inovação porque, hoje, ele é uma plataforma estruturada, que você contrata no mercado. Na realidade, o que você precisa é montar um time que consiga identificar as possibilidades de negócio.

Conexão com o cliente

A gente já tem como um dos principais valores da companhia que o cliente é nossa paixão. Como a gente se alimenta do feedback dele para evoluir os nossos produtos? A Localiza é um dos primeiros cases de utilização de NPS (Net Promoter Score). Hoje, a maioria das empresas usa essa metodologia para avaliar a qualidade dos serviços. Essa preocupação já está enraizada no nosso DNA. O que a gente tem feito com muito sucesso é acoplar isso a uma empresa digitalmente atualizada, que investe em dados para continuar expandindo a liderança e o protagonismo no setor. Os clientes digitalizaram suas experiências com as empresas e querem tudo mais fácil, mais rápido, pelo celular.

A gente tem um uso intensivo de dados para a tomada de decisão. Toda a parte de gestão de frota, de precificação regional, vem de modelos estatísticos montados em cima de um data lake, ou seja, um universo absurdo de dados. Imagine: a maior locadora do país, com a maior quantidade de reservas, a maior frota de carros. Portanto, a gente colhe os benefícios dessa escala do ponto de vista de usar exaustivamente dados nas tomadas de decisão.

CINCO PILARES DA INOVAÇÃO 1. Intenção de inovar 2. Esforço para realizar a inovação 3. Resultados obtidos 4. Avaliação do mercado 5. Geração de conhecimento FONTE: ANUÁRIO VALOR INOVAÇÃO BRASIL 2019


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Ecossistemas de inovação

Daniel Novo,

Gerente-geral de Transformação Digital e Inovação da empresa

A VLI é uma empresa de logística integrada que oferece soluções conectando porto, ferrovia e terminal. O nosso negócio foi criado com o propósito de transformar a logística do Brasil, e entendemos que a inovação é um forte elemento para alcançar isso. Atuamos em frentes complementares e que contemplam todas as áreas do negócio. Temos um pilar focado em estreitar cada vez mais a relação com os ecossistemas de inovação formados principalmente por startups, empresas de tecnologia e empreendedores. De 2018 para cá, já promovemos mais de dez ciclos de inovação aberta que nos renderam grande interação com os ecossistemas, conectando-nos com mais de 400 startups e empreendedores. Temos mais de dez startups com projetos em desenvolvimento nesse momento conosco.

Mudança de mindset

Iniciativas digitais

Inovação não é apenas adicionar tecnologia ao negócio. É também uma mudança no jeito de pensar problemas, de encontrar soluções. A VLI possui um plano estruturado de transformação digital no qual existem, atualmente, mais de cem iniciativas digitais em desenvolvimento por times multidisciplinares e com a aplicação de metodologias ágeis. Essas iniciativas estão alinhadas a três direcionadores estratégicos principais: melhorar a experiência dos clientes, gerar ganhos de eficiência para as operações e processos internos da companhia e desenvolver potenciais alavancas de valor decorrentes de novos negócios.

“Para a execução do plano, faz-se necessário que a companhia desenvolva em conjunto a transformação cultural dos empregados. Para isso, a VLI promoveu em 2019 outras iniciativas, como o incentivo ao intraempreendedorismo, no qual foram inscritos 36 projetos com propostas de soluções que usam Inteligência Artificial, machine learning e Big Data; e os três melhores estão sendo implementados. Criamos o Digital Partner e já contamos com 70 profissionais das áreas de negócio que recebem qualificação e mantêm interface com a área de Transformação Digital e Inovação para desenvolver projetos e auxiliar nessa mudança. Adicionalmente, promovemos workshops internos e participamos ativamente de eventos nacionais e internacionais que reforçam a mudança no mindset da companhia. Nosso time está descobrindo novas formas de pensar, trabalhar e encontrar soluções.

Inovação fechada e aberta

Denny Mews

Head of Digital Business da cooperativa

A gente deu foco em inovação fechada, que são ideias internas. Incentivamos muito o empreendedorismo e os processos internos. Então, construímos esse movimento primeiro, até mesmo para valorizar as pessoas, porque a gente sabe que tem muita riqueza de conteúdo aqui dentro. E sempre com muito foco no empreendedorismo, com olhar de dono para tentar entender: ‘O que eu faço para melhorar?’. Fomos galgando passos e começamos a fazer parcerias com instituições, em busca de oportunidades e outros modelos de negócio. A gente já tinha planos de criar inovação aberta. Isso se consolidou no início do ano, quando abrimos o Innovation Center em Curitiba, no coworking da PUC-PR. Trata-se de uma startup incubada, voltada para negócio digital.

Adesão dos colaboradores

Todo modelo do transporte vem de um caminhoneiro que comprou um caminhão, que montou uma empresa e cresceu. Essa é a cultura. Nesses três anos, a gente vem trabalhando em inovação e, agora, começa a colher alguns frutos disso – um processo sempre apoiado pela diretoria. A gente foi por partes. Começamos dentro de casa e procuramos sensibilizar as pessoas. Hoje, a maioria entende o movimento e trabalha em prol dele. Assim, tornou-se mais fácil começar o Innovation Center, que é algo que as pessoas têm satisfação em dizer que fazem parte.

Transporte sem papel

Todo o processo documental de viagens já está pronto para zerar o papel. Esse é um produto saído da startup, que é o Paperless. Logo estará em fase de validação. A gente ainda não divulgou para fora até ter todos os resultados. Eliminamos todos os papéis, desde a seleção da carga, que eu coloco uma carga em cima do caminhão, até a entrega.


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Eficiência para a

sustentabilidade Empresas apostam na capacitação de condutores para melhorar a eficiência e garantir sustentabilidade ambiental... e dos negócios por

NATÁLIA PIANEGONDA


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anhar eficiência é decisivo para a sustentabilidade de qualquer negócio. No segmento de transporte rodoviário, penalizado pelo baixo desempenho da economia e pelo elevado preço dos insumos, empresas preocupadas em obter resultados melhores têm buscado soluções capazes de gerar redução no custo operacional e melhoria da produtividade. O diesel – principal insumo do segmento – é um alvo importante; e o Programa de Aperfeiçoamento para Eficiência Energética do SEST SENAT, um aliado de peso das empresas que querem diminuir os custos com ele. “Hoje, a margem de lucro é muito apertada. Se você consegue baixar o consumo de diesel, isso melhora a rentabilidade e sobra mais dinheiro no caixa para fazer investimento e comprar mais caminhões”, diz Anselmo de Medeiros, gerente operacional da Tempo Real Transportes, que opera no Acre e em Rondônia. A empresa já adota incentivos financeiros para condutores que melhoram

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a média de consumo. A outra estratégia adotada foi a capacitação dos condutores por meio do programa do SEST SENAT. Segundo Medeiros, o objetivo é aliar o conhecimento dos profissionais ao potencial da tecnologia embarcada, o que possibilita melhor desempenho do veículo. “Um resultado eficiente também depende do motorista. E o treinamento ajuda, porque, se ele não conhecer como a máquina funciona, não há incentivo que faça gastar menos combustível.” Quando se consegue aliar técnica e tecnologia, o resultado vem – diminuição de cerca de 15% –, estima o gerente operacional. Como o conhecimento desenvolvido nos cursos se transforma em economia? Ninguém melhor do que quem coloca a mão na massa para explicar isso. “Você aprende ações que fazem a diferença no dia a dia. Desde criar rotas, evitar o trânsito pesado, fazer uma checagem do caminhão, dirigir com previsibilidade e dentro da faixa ideal de rotação do motor, seja de caminhão, ônibus ou até veículo

de passeio”, relata Francisco de Assis Ferreira Silva, transportador autônomo e um dos alunos do programa. Ele também calcula que tem obtido uma economia de cerca de 15% no consumo de diesel desde que realizou o curso Motorista de Transporte de Cargas SmartDriver. E lembra que o benefício não é apenas econômico mas também socioambiental, já que menos combustível significa menos emissões de poluentes. “A gente consegue fazer a manutenção com mais confiança, otimizar o consumo de combustível e reduzir, além de custos, a emissão de gases, que vai melhorar inclusive nossa qualidade de vida.” Os cursos que integram o programa têm certificação reconhecida internacionalmente. O selo é do programa FleetSmart, do governo canadense, e é resultado de um acordo firmado pela CNT (Confederação Nacional do Transporte) e pelo SEST SENAT com o NRCan (Ministério dos Recursos Naturais do Canadá) e com o ICCT (Conselho Internacional de Transporte Limpo).

Além disso, as aulas não são ministradas com a convencional explanação do instrutor para o aluno. “O curso acontece em uma plataforma com diferentes ações educativas, utilizando metodologias ativas e modernas estratégias para desenvolver práticas de condução e consumo conscientes. O aluno começa participando das dinâmicas na sala de aula e conclui no simulador de direção, melhorando a sua percepção quanto à operação eficiente”, explica Jackson Alves dos Santos, instrutor do Programa de Aperfeiçoamento para Eficiência Energética do SEST SENAT. Segundo ele, ao aprender a observar cada detalhe no manuseio dos equipamentos, além de economizar diesel, o motorista contribui para diminuir a deterioração do veículo, o que reduz gastos com manutenção. “O condutor ainda estabelece uma vantagem competitiva para si e para a empresa onde trabalha e melhora a sua imagem profissional e a do setor de transporte”, complementa.


PROGRAMA DE APERFEIÇOAMENTO PARA A

DICAS PARA UMA CONDUÇÃO EFICIENTE Melhorar continuamente as habilidades profissionais Abrir mão de procedimentos ultrapassados na operação de veículos modernos, com tecnologia embarcada Assumir o compromisso com a boa técnica na condução dos veículos Assumir o compromisso com o gerenciamento do veículo quanto ao consumo energético em todos os procedimentos

Resultados Redução no consumo de combustível Redução da manutenção Redução dos custos Redução do impacto ambiental Redução de risco de acidentes


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RESPONSABILIDADE AMBIENTAL: ESTRATÉGIA DE NEGÓCIO Existe, ainda, outro fator capaz de gerar resultados financeiros positivos para a empresa, mesmo que de forma indireta. A responsabilidade ambiental é um requisito observado cada vez mais por clientes na contratação de serviços e na aquisição de produtos e agrega valor à imagem da empresa. Uma pesquisa de 2017 apontou que 55% dos consumidores, frequentemente ou sempre, dão preferência a empresas ou marcas reconhecidas por cuidar do meio ambiente, e apenas 15% disseram que raramente ou nunca o fazem. O levantamento foi realizado pela Opinion Box, empresa especializada em pesquisa de mercado, junto a 2.065 internautas. Com essa mentalidade, a Nossa Senhora da Vitória Transportes, de Sergipe, tem adotado uma série de medidas para elevar a sustentabilidade de suas operações. No começo deste ano, um instrutor do Programa de Aperfeiçoamento

para Eficiência Energética foi à empresa e capacitou 60 motoristas. “Falava-se muito sobre minimizar problemas ambientais da atividade transportadora, e esse programa ensina as melhores práticas para reduzir consumo de combustível e despesas com manutenção e preservar o meio ambiente”, diz William Azevedo, gerente operacional. A capacitação está alinhada a um objetivo ainda maior. “Isso tem sido muito importante para nossa empresa, porque estamos caminhando para uma certificação ISO 14001, e eles consideram esse tipo de acompanhamento e monitoramento, já que o nosso maior poluente é o veículo”. A ISO 14001 pertence a uma série de normas desenvolvidas pela International Organization for Standardization (Organização Internacional para Padronização) e estabelece os requisitos para a implementação de um sistema de gestão ambiental para práticas sustentáveis do negócio.

Entre as ações adotadas pela empresa, também estão as avaliações veiculares realizadas pelo Despoluir – Programa Ambiental do Transporte, que, entre diversas ações focadas na sustentabilidade, também contribui para o controle de manutenção, a fim de que as emissões geradas pelos veículos estejam adequadas às normas ambientais. Os efeitos do Programa de Aperfeiçoamento para Eficiência Energética já começam a ser percebidos, não em planilhas, mas na caixa de emails de William Azevedo: as notificações do setor responsável pelo abastecimento, alertando que o consumo de combustível está acima do esperado, vêm caindo. “Quando o desempenho está muito abaixo do esperado, é preciso verificar, falar com o motorista. E isso não está mais acontecendo.” Mais um ganho em eficiência.


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PROGRAMA DE APERFEIÇOAMENTO PARA A

CONHEÇA OS CURSOS

Eles são gratuitos para profissionais que trabalham em empresas do transporte contribuintes do SEST SENAT

Presenciais Motorista de Transporte de Cargas SmartDriver Inclusão Digital

12

horas

4

horas

Entre em contato com as Unidades ofertantes do programa para saber mais sobre matrículas e formação de turmas nas empresas.

Acesse a página do programa para saber mais:

A distância Gestão de Combustível - 8 Fuel Management horas (gratuito para todos os públicos)

Acesse:

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ITL

Compartilhamento

de

cargas

Plataforma desenvolvida em projeto aplicativo da Especialização em Gestão de Negócios possibilita redução de custos operacionais

por

LIVIA CEREZOLI


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busca pela eficiência no transporte é uma das premissas de todas as empresas que atuam no setor. Em tempos de recuperação lenta da economia, alternativas que reduzam os custos operacionais e possibilitem ganhos de produtividade são vistas como uma oportunidade. Foi com esse foco que um grupo de alunos da Especialização em Gestão de Negócios, curso integrante do Programa Avançado de Capacitação do Transporte, promovido pelo SEST SENAT e coordenado pelo ITL (Instituto de Transporte e Logística), desenvolveu uma plataforma para o compartilhamento de cargas. O projeto foi apresentado como trabalho de conclusão do curso ministrado pela Fundação

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Dom Cabral. No programa, oferecido pelo SEST SENAT e pelo ITL a gestores do setor de transporte e logística, a apresentação de um projeto que seja viável para aplicação no setor de transporte é um dos requisitos para a conquista do diploma. O transporte rodoviário de cargas apresenta vantagens como o serviço porta a porta, sem necessidade de carregamento ou descarga entre origem e destino; frequência e disponibilidade dos serviços; velocidade e conveniência. No entanto, para que ele seja eficiente, é preciso programar o uso dos veículos para minimizar os custos e garantir o nível de serviço almejado. Mas isso nem sempre é possível ou fácil de se realizar. “Muitas vezes, quando uma empresa vai fazer a entrega de uma carga, o cami-

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nhão vai cheio e volta vazio. Ou até mesmo a carga contratada não enche o caminhão. Esse é um problema para as empresas, porque aumenta o custo da operação”, explica Fernando d´Avila Vianna Cotrim, administrador de empresas com atuação em companhias aéreas e planejamento estratégico e um dos alunos do curso. Os custos das empresas são divididos em fixos e variáveis.

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Os variáveis oferecem menor impacto, pois só existem quando o ativo, no caso o caminhão, estiver efetivamente produzindo. Por outro lado, o custo fixo é aplicado em tempo integral. No caso do transporte rodoviário, um caminhão possui o mesmo custo fixo se estiver rodando vazio, com 50% ou 100% de sua capacidade de carga. “Os custos do motorista, licenciamento, seguro, depreciação, desgaste

de pneus, pedágios e até mesmo de combustível são praticamente idênticos. Dessa forma, é crucial que as empresas busquem otimizar ao máximo o carregamento do veículo para que o custo seja diluído de maneira uniforme”, destaca o projeto. De acordo com Cotrim, para propor a plataforma, o grupo buscou a expertise já utilizada na aviação. “Empresas aéreas, mesmo concorrentes, já ven-

dem passagens em parceria umas com as outras para otimizar a utilização das aeronaves. Nossa proposta é trazer um pouco dessa experiência para o transporte rodoviário de cargas”, conta ele. A plataforma, batizada de Simul, que significa “juntos”, em latim, promete aumentar a produtividade das empresas, tornar o modal mais competitivo, além de reduzir o impacto

BIBLIOTECA DO TRANSPORTE LANÇA CATÁLOGO ONLINE A Biblioteca do Transporte agora tem seu catálogo online. Mais interativo e de fácil utilização, o novo sistema permite que qualquer usuário obtenha informações sobre os mais de 4.000 exemplares e publicações cadastrados no acervo. Com o sistema, os usuários podem fazer o próprio cadastro, a renovação e a reserva de exemplares diretamente no site, sem a necessidade de comparecer pessoalmente à biblioteca. Isso possibilitará ao leitor maior autonomia para realizar as pesquisas por documentos e gerenciar seus empréstimos. Além do catálogo online, a biblioteca passa a oferecer aos alunos do Programa Avançado de Capacitação do Transporte, oferecido pelo ITL (Instituto de Transporte e Logística), a possibilidade de fazer empréstimos na modalidade a distância das publicações impressas do acervo. Para isso, os alunos podem se cadastrar no sistema e solicitar as obras que desejam consultar. O envio será feito mediante disponibilidade da obra e pagamento da taxa de frete pelo usuário. Informações: (61) 3315-7293 e (61) 2196-5871 Acesse:

biblioteca.itl.org.br


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ambiental causado pelo consumo de combustível. “A nossa proposta é unir clientes que possam estar levando cargas para os mesmos locais com ociosidade de seus ativos. Além disso, a plataforma possibilita ampliar as entregas em regiões que não são áreas de atuação da empresa de algum cliente”, explica Cotrim. Para Melquisedeque Martins Fernandes, especialista em renumeração e benefícios da MRS Logística e também aluno do curso, o projeto é inovador na proposta de uma ferramenta que garante usabilidade confiável. “Nesse ramo, existem infor-

mações que são confidenciais. O diferencial da nossa plataforma, quando comparada a outras do mercado, é que incluímos um sistema de validação da credibilidade para garantir segurança”, destaca ele. O serviço funciona com a inscrição das empresas em um sistema online e o pagamento de uma mensalidade com valor fixo. A partir daí, a plataforma faz os cruzamentos de disponibilidade de compartilhamento de cargas. Sobre os benefícios financeiros que o serviço pode trazer para as empresas, os alunos afirmam que são particulares de cada transportadora.

O ITL também mantém o Repositório Digital do Transporte, plataforma que facilita o gerenciamento e amplia o acesso a publicações digitais sobre o transporte e áreas a ele relacionadas, como infraestrutura, gestão, logística, tecnologia e inovação.

“Eles dependem das rotas, do tipo e do volume de carga a ser transportada”, resume Cotrim. Mesmo assim, eles garantem que o compartilhamento pode gerar até redução de preço no produto final. “A ociosidade de caminhões é um problema grave e muito vivenciado pelas empresas. É um problema tão antigo que, hoje, é embutido no custo operacional das empresas. Isso impacta o custo final dos produtos. Por isso, acreditamos que a implantação dessa plataforma pode trazer grandes vantagens para o setor. O projeto está pronto e aguarda um investidor”, destaca Fernandes. l

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O CURSO A Especialização em Gestão de Negócios tem como objetivo capacitar gestores e executivos de empresas de transporte e logística de todos os modais nas mais modernas técnicas de gestão de negócios. O curso tem carga horária de 370 horas. Duas turmas ainda estão com inscrições abertas para este ano: • Fortaleza (CE), até 8 de setembro • São Paulo (SP), até 6 de outubro

Acesse:

Para saber mais, acesse

repositorio.itl.org.br

www.itl.org.br

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TEMA DO MÊS

Impactos do acordo Mercosul - União Europeia no setor de transporte

Temos muito a aprender com a União Europeia FRANCISCO CARDOSO

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FRANCISCO CARDOSO Presidente da ABTI (Associação Brasileira dos Transportadores Internacionais)

anúncio do acordo entre Mercosul e União Europeia surpreendeu a todos, sobretudo no Brasil. Mais de duas décadas de tratativas sem um desfecho levaram esse tema a um segundo plano. O acordo consagra um novo patamar de atenção ao comércio exterior do Brasil e dos demais membros do Mercosul. Os primeiros efeitos práticos serão verificados em aproximadamente quatro anos, em um processo que se estabiliza ao curso de dez anos. Portanto, é prematuro vislumbrar desdobramentos, mais ainda para o transporte praticado dentro do bloco sul-americano. Alguns setores produtivos serão mais atingidos pela concorrência qualificada de produtos europeus, com reflexos no comércio intrabloco. Como em um jogo, a médio e longo prazos, seremos desafiados a elevar nossa produtividade e competitividade, cada vez mais necessárias para o desenvolvimento regional. O nosso país, de modo particular, tem baixo protagonismo no comércio mundial, ocupando a 27ª posição, com uma participação de 1,1% no movimento global. Pensando como bloco econômi-

co, o Mercosul fechou acordo com um bloco maior, experiente e sobretudo exigente. A União Europeia estabeleceu farto protecionismo nas relações conosco e abre mercado para uma grande gama de produtos industrializados, em detrimento de nossas exportações in natura. Isso não é ruim, porém exigirá cautela. O Mercosul tem muito a aprender com a experiência europeia. No velho continente, o transporte flui sem aduanas por 27 países, enquanto aqui na América do Sul, a despeito de melhorias, ainda se despende muito tempo nas fronteiras. Em 2019, o bloco comemora 20 anos da moeda única, o Euro. Certamente, as medidas simplificadoras de exportação-importação para a União Europeia deverão inspirar melhores práticas no Mercosul. Além disso, os dois blocos ficaram comprometidos com a desburocratização e a redução de custos do comércio bilateral. Aliar-se a um parceiro mais forte exigirá uma postura mais competitiva e adoção de práticas mais fluidas no comércio exterior. O Brasil já tem adotado ações mais avançadas de inserção na economia mundial. Estamos implementando o Programa OEA, buscamos

alinhamento com práticas indicadas pela Organização Mundial de Aduanas e, mais recentemente, negociando o ingresso na OCDE (Organização para a Cooperação de Desenvolvimento Econômico). O acordo Mercosul-União Europeia precisa ser saudado como um avanço da economia regional da América do Sul. Nesse contexto, deverá contribuir para retomarmos o caminho de crescimento econômico que tanto ansiamos. Um ambiente pleno de mercado favorece o desenvolvimento e restabelece a confiança e o investimento. Nesse ambiente, o transporte rodoviário internacional de cargas poderá alcançar crescimento por meio do fomento do mercado intrabloco. Não há motivos que levem à suposição de que a abertura de mercado entre os dois blocos venha a arrefecer o comércio dentro do Mercosul, pelo contrário, deverá ampliar a nossa concepção de bloco, que foi revitalizada com esse acordo sem precedentes. Quem sabe, em um futuro próximo, de uma vez por todas, o acordo nos leve a ter um paradigma avançado de união aduaneira, que há anos vemos acontecer na União Europeia.


Acordo Mercosul-UE? Entre a euforia e a sensatez... LEONARDO TREVISAN

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silêncio, quanto ao que foi assinado, foi intenso. Apesar disso, abaixo da linha do Equador, a euforia com o acordo Mercosul-União Europeia foi alta. Acima, reinou a contenção. Fato real: o acordo envolvendo 780 milhões de pessoas, perseguido há 20 anos, simplesmente se fez em poucas semanas, entre o final de maio e meados de junho. Três dias depois do anúncio, no dia 1o de julho, o site da União Europeia publicou documento de 17 páginas sobre os princípios do acordo. Até agora, é o mais consistente sobre o que foi acordado em Bruxelas. O empresariado brasileiro, ansioso por um comércio mais livre, recebeu bem a iniciativa, mas, com prudência, começou a fazer contas. Os dois lados tinham pressa. Os altos executivos da Comissão Europeia e os políticos do Conselho Europeu, que serão substituídos em setembro, queriam deixar um legado. Os latinos não escondiam a relevância do acordo para a possível reeleição de Macri na Argentina bem como para gerar “fatos novos” na economia brasileira.

Bruxelas percebeu a “ansiedade” dos latinos e avançou nas exigências. Em 5 de junho, um surpreso Comissário de Agricultura da União Europeia, Phil Hogan, reconheceu que a conclusão do acordo de livre comércio era iminente porque o Mercosul fez “concessões substanciais pela primeira vez”. A resistência de tantos anos dos latinos se esvaiu no volume das cotas para produtos do agronegócio, no acesso ao mercado latino para industrializados, nas chamadas “regras de origem” e até em cabotagem. “Regras de origem” envolvem saber o quanto um produto “made in Europe” é europeu ou o quanto de asiático está embutido nele. Porém, como reconheceu o secretário nacional de portos, Diogo Piloni, no jornal Valor Econômico, em 3/7, o transporte de cabotagem constituiu-se em um dos pontos mais sensíveis na reta final das negociações do acordo. Pelo acordado, dez anos após sua implementação, navios europeus poderão transportar contêineres entre países do Mercosul. Cabotagem de trigo e minérios já aceitam bandeiras estrangeiras.

Nas rotas de cabotagem do Mercosul, são transportados cerca de 200 mil TEUs (um contêiner de 20 pés), negócio de apenas US$ 50 milhões. Esse mercado ficou disponível para os europeus. Estão fora do alcance externo o transporte a granel de soja e milho e automóveis. Tanta briga por tão pouco por quê? Boa pergunta. Já na hidrovia ParanáParaguai, que se estende pelos quatro países do Mercosul e pela Bolívia, a cabotagem continua reservada às embarcações nacionais. O embaixador Rubens Barbosa, profundo conhecedor, insiste há anos que o uso da malha fluvial reduziria entre 40% e 60% o custo da movimentação de grãos e minérios para exportação. Por que desperdiçar, nesse modal, a oportunidade de investimento e modernização? Tantas perguntas e ainda conhecemos pouco do acordado em Bruxelas. Portanto, é melhor dosar a euforia, sem esquecer que faltam as aprovações do Parlamento Europeu e de 28 ratificações nacionais na Europa, além das aprovações nos quatro congressos latino-americanos.

LEONARDO TREVISAN Professor de geoeconomia internacional da ESPM-SP (Escola Superior de Propaganda e Marketing)


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MBA Getram: curso universitário de logística mais tradicional do Brasil PROF. DR. MARCELO AUGUSTO DE FELIPPES

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MBA em Logística, Transporte e Mobilidade, conhecido como Getram, foi o primeiro curso de logística do Brasil em uma época em que essa palavra ainda era pouco conhecida. Atualmente, é uma pós-graduação respeitada por excelência, oferecida pela CIT (Câmara Interamericana de Transportes) em parceria com a Universidade Católica de Brasília. O Getram é o curso universitário de logística mais antigo e tradicional do Brasil e, no seu 17º ano de realização ininterrupta, passou a ser referência nacional na educação executiva. Seguindo o modelo andragógico, o Getram nasceu no meio militar em 2003, integrando domínio técnico e habilidades interpessoais. Os professores do curso são especialistas, mestres e doutores com larga experiência nacional e internacional na área. As aulas são realizadas na Universidade Católica de Brasília – Campus Avançado Asa Norte – e no Espaço Fly Thinking, do Sistema CNT. O curso é dividido em quatro módulos e orbita no universo da Logística 4.0. As aulas são realizadas, semanalmente, às terças e quintas-feiras, no período noturno, com a possibilidade de inclusão de uma quarta-feira do mês no mesmo horário para aula. O curso, iniciado a cada bimestre, também contempla palestras e visitas técnicas a empresas e instituições que atuam nas áreas específicas do curso. Confira algumas atividades do Getram: • Palestra do diretor-geral da Antaq (Agência Nacional de Transportes Aquaviários), Mário Povia, sobre gestão portuária no Brasil. • Palestra do presidente da ABTC (Associação Brasileira de Logística e Transporte de Carga), Pedro José de Oliveira Lopes, sobre transporte e logística no contexto nacional.

Segundo Lopes, os desafios que o setor tem pela frente são a insegurança no transporte de cargas, a má qualidade das rodovias, a alta tributação e a aprovação do Marco Regulatório do Setor PL n.º 75/18. • Palestra da superintendente da ANTF (Associação Nacional dos Transportadores Ferroviários), Ellen Martins, sobre o panorama e as perspectivas no transporte ferroviário de cargas no Brasil. Segundo a ANTF, “os investimentos privados promoveram um aumento de 197% na produção ferroviária nacional entre 1997 e 2018, possibilitando o crescimento na movimentação de cargas pelas ferrovias de 125% e uma redução de 85,9% no índice de acidentes para o mesmo período. • Palestra do administrador postal, Alexandre Coelho Franco, sobre “cenário e tendências dentro da perspectiva de atuação dos Correios”. O palestrante destacou as novas tecnologias que estão sendo utilizadas mundialmente e que estão sendo estudadas para aplicar no Brasil. • Palestra da coordenadora de Projetos Especiais do Programa Despoluir da CNT, Erica Vieira Marcos, destacou a importância que o Selo Despoluir possui nas avaliações veiculares ambientais, desde a sua idealização, nas diferentes linhas de ação, como o aumento da eficiência energética, a utilização de tecnologias e energias limpas e a avaliação da qualidade do diesel. A Câmara Interamericana de Transportes se empenha para que o Getram seja um curso diferenciado, com a participação de profissionais do setor de logística, transportes, meio ambiente e cibernética aplicada. No site da CIT (www.citamericas.org), é possível obter melhores informações e fazer a inscrição pelo site da universidade (www.ucb.br).


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MBA Getram: curso universitario de logística más tradicional de Brasil PROF. DR. MARCELO AUGUSTO DE FELIPPES

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l MBA en Logística, Transporte y Movilidad, conocido como Getram, fue el primer curso de logística en Brasil, en un momento en que esta palabra aún era poco conocida. Actualmente, es un respetado postgrado por excelencia, ofrecido por la CIT (Cámara Interamericana de Transporte) en acuerdo con la Universidad Católica de Brasilia. El Getram es el curso universitario más antiguo y tradicional de logística en Brasil, y en su decimoséptimo año de desempeño ininterrumpido, se ha convertido en referencia nacional en educación ejecutiva. Siguiendo el modelo andragógico, Getram nació en el ejército en 2003, integrando el dominio técnico y las habilidades interpersonales. Los profesores del curso son especialistas, maestros y doctores con amplia experiencia nacional e internacional en el campo. Las clases son impartidas en la Universidad Católica de Brasilia - Campus Avanzado en la Asa Norte y también en el Espacio Fly Thinking, del Sistema CNT. El curso es dividido en 4 módulos, y orbita en el universo de la Logística 4.0. Las clases son realizadas semanalmente, martes y jueves, por la noche, con la posibilidad de incluir un miércoles del mes en el mismo horario. El curso también incluye visitas técnicas a empresas e instituciones que trabajan en las áreas específicas del curso. Confiera algunas actividades del Getram: • Palestra del director general de la Antaq (Agencia Nacional de Transporte Marítimo), Mário Povia, sobre gestión de puertos en Brasil. • Palestra del presidente de la ABTC (Asociación Brasileña de Logística y Transporte de Carga), Pedro José de Oliveira Lopes, sobre transporte y logística en el contexto nacional. Según Lopes, los desafíos que enfrenta el sector son la inseguridad

FOTOS / ARQUIVO CIT

en el transporte de cargas, la mala calidad de las carreteras, los altos impuestos y la aprobación del Marco Regulatorio del Sector PL 75/18. • -Palestra de la superintendente de la ANTF (Asociación Nacional de Transportistas Ferroviarios), Ellen Martins, sobre el panorama y las perspectivas del transporte ferroviario de mercancías en Brasil. Según ANTF, “las inversiones privadas promovieron un aumento del 197% en producción ferroviaria nacional, comparando la realizada entre 1997 y 2018, permitiendo un crecimiento del 125% en el manejo de carga por ferrocarril y un 85.9% en el índice de accidentes, durante el mismo período”. • Palestra del administrador postal, Alexandre Coelho Franco, sobre el “escenario y tendencias dentro de la perspectiva de actuación de los Correios”. El palestrante resaltó las nuevas tecnologías que están siendo utilizadas mundialmente y que están siendo estudiadas para aplicarlas en Brasil. • Palestra de la coordinadora de proyectos especiales del programa de descontaminación “Despoluir” de la CNT, Erica Vieira Marcos, sobre la importancia que el “Sello Despoluir” posee en las evaluaciones vehiculares ambientales, desde su idealización, en las diferentes líneas de acción, como el aumento de la eficiencia energética, a utilización de tecnologías y energías limpias y la evaluación de la calidad del diésel. La Cámara Interamericana de Transportes se compromete a hacer del Getram un curso diferenciado, con la participación de profesionales de los sectores de logística, transporte, medio ambiente y cibernética aplicada. En la página web de la CIT (www.citamericas.org) es posible obtener mejores informaciones y realizar la inscripción en la página de la Universidad (www.ucb.br). CONTEÚDO DE RESPONSABILIDADE DA CIT (CÂMARA INTERAMERICANA DE TRANSPORTES)

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ALEXANDRE GARCIA

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Vidas valiosas

pedido de caminhoneiros, o presidente fez e sugeriu mudanças na fiscalização das estradas. E levantou uma dúvida: as alterações facilitam ou ameaçam a vida dos motoristas? O presidente também se manifestou contra pegadinhas de radares móveis postos no fim de extensas descidas. Esses radares já foram retirados das rodovias federais. E um acordo com o Ministério Público reduziu de 8.000 pontos monitorados em rodovias não concedidas para 2.200, em geral instalados na transição entre o meio rural e o urbano, para alertar sobre as diferenças de risco. O acordo foi feito depois que juíza federal atendeu um senador que moveu ação popular contra a retirada de radares. O Dnit tem R$ 2 bilhões para manutenção de BRs e iria gastar metade disso em pardais. Como se sabe, entre os fatores de segurança – ou insegurança – nas estradas, estão a qualidade da construção, a geometria e a manutenção do pavimento e da sinalização. Mas também está a fiscalização. Ela é necessária até em países com rodovias de alta qualidade e motoristas que são beneficiados com severa educação desde criancinhas, como a Alemanha. Aqui, morrem por ano, a cada 100 mil trabalhadores, 55 motoristas de caminhão e ônibus – é a categoria que mais morre no exercício da profissão, em pesquisa realizada pelo Sindipeças em conjunto com a

Polícia Rodoviária Federal. Os veículos pesados são pouco mais de 4% da frota, mas respondem por 53% das mortes nas estradas. O governo propôs ao Congresso abolir o exame toxicológico. Alega-se que é caro e não apresenta resultados. Em março de 2016, o exame se tornou obrigatório para motoristas que transportam cargas e passageiros, nas categorias C, D e E. São 12 milhões de profissionais do volante. A partir dessa obrigatoriedade, segundo dados do Denatran, cerca de 1,7 milhão de motoristas deixaram de renovar a CNH ou saíram das categorias C, D e E. Supostamente, gente que quis evitar o exame de cabelo, que detecta o uso regular de droga. 560 mil foram para as categorias A e B. Mais de 1.100 simplesmente não renovaram. Os números consideram o período de março de 2016 a agosto do ano passado. O mais interessante é que, de 2015 a 2017, segundo dados da ANTT, os acidentes com caminhões foram reduzidos em 34%; com ônibus, em 45%. Essas quedas coincidem com a vigência do exame toxicológico. Pesquisas recentes mostram que a maioria das pessoas deseja rigor no controle de velocidade e na fiscalização do uso de drogas. A questão agora vai para o debate e o voto dos congressistas. O que pode facilitar a vida de alguns pode significar mais risco para a vida de muitos.


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