Maior rigidez, pouca consciência

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EDIÇÃO INFORMATIVA DA CNT

ANO XXIV NÚMERO 271 JUNHO 2018

MAIOR RIGIDEZ , POUCA

CONSCIÊNCIA

Em uma década, Lei Seca democratizou o debate sobre direção segura e reduziu número de óbitos no trânsito; cumprimento da legislação, porém, ainda peca na fiscalização e na conscientização da população



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Transformar vidas, essa é a nossa missão.

O SEST SENAT tem como missão fazer a diferença na vida de milhares de trabalhadores do transporte. Completar 25 anos nos faz pensar no futuro e na vontade de estarmos cada vez mais próximos desses profissionais que movimentam o nosso país. Por isso, estamos em processo de modernização da infraestrutura das Unidades Operacionais, a fim de inovar as atividades e qualificar ainda mais os atendimentos. Estamos presentes em todas as regiões do Brasil, então, conte com a gente onde quer que você esteja.

O SEST SENAT É SEU. USE-O!


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CNT TRANSPORTE ATUAL

JUNHO 2018

REPORTAGEM DE CAPA Lei Seca completou, em junho, dez anos em vigor no Brasil. Apesar de ampliar o debate sobre a direção segura e reduzir o número de óbitos no trânsito, legislação ainda peca na fiscalização e na conscientização da população, afirmam especialistas Página 18

MAIOR RIGIDEZ, POUCA

CONSCIÊNCIA

­­­­T R A N S P O R T E A T U A L ANO XXIV | NÚMERO 271 | JUNHO 2018 ENTREVISTA

Economista Ricardo Amorim faz análise do cenário atual do país página

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RODOVIÁRIO

Cegonheiros e caminhões-tanque têm novas regras página

28 AQUAVIÁRIO

Setor deve reduzir 50% das emissões até 2050 página

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INFRAESTRUTURA

Evento discute a participação da iniciativa privada

CAPA ARQUIVO CNT

página

EDIÇÃO INFORMATIVA DA CNT

esta revista pode ser acessada via internet:

edição

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Cynthia Castro - MTB 06303/MG Livia Cerezoli - MTB 42700/SP diagramação

Apenas dois terminais recebem combustível por dutos

atualização de endereço:

atualizacao@cnt.org.br

Débora Shimoda

Publicação da CNT (Confederação Nacional do Transporte), registrada no Cartório do

revisão

1º Ofício de Registro Civil das Pessoas Jurídicas do Distrito Federal sob o número 053.

Filipe Linhares

AÉREO

FALE COM A REDAÇÃO (61) 3315-7000 SAUS, Quadra 1 - Bloco J - entradas 10 e 20 Edifício CNT • 10º andar CEP: 70070-010 • Brasília (DF)

CONSELHO EDITORIAL Bruno Batista Helenise Brant João Victor Mendes Myriam Caetano Nicole Goulart Olívia Pinheiro

36

Tiragem: 60 mil exemplares

Os conceitos emitidos nos artigos assinados não refletem necessariamente a opinião da CNT Transporte Atual

página

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ERRATA Diferentemente do publicado na Edição 270/maio, Gustavo Justino de Oliveira é professor de Direito Administrativo na USP, advogado, consultor e árbitro especializado em direito público.


CNT TRANSPORTE ATUAL

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AGÊNCIA CNT DE NOTÍCIAS: INFORMAÇÕES RELEVANTES PARA O TRANSPORTE

FERROVIÁRIO • Concessionárias investem para melhorar a comunicação com os usuários página

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INSTITUCIONAL

Gestores do transporte participam de workshop em Stanford página

TECNOLOGIA

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O setor cada vez mais conectado.

ITL

Conecta divulga lista A importância da coleta das startups selecionadas e da análise de dados na segunda fase para as empresas página

54

página

Acesse: www.cnt.org.br

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SEST SENAT

Seções Duke

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Editorial

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Mais Transporte

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Tema do mês

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CIT

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Alexandre Garcia

82

Circuito de Caminhada e Corrida de Rua deve alcançar 40 mil participantes página

64

SUSTENTABILIDADE

SEST SENAT investe em tecnologia para reduzir impacto ambiental página

70

Ao longo desta edição, você vai encontrar vários QR Codes como este. Para acessar o conteúdo multimídia, basta direcionar a câmera do celular ou utilizar um aplicativo próprio.

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Duke

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“As escolhas feitas nas eleições definirão se a economia nacional continuará no atraso ou marcarão a entrada do país em um tempo de progresso, desenvolvimento econômico e paz social” EDITORIAL

O

CLÉSIO ANDRADE

Infraestrutura definirá o futuro do Brasil

Brasil chegou, mais uma vez, àquele momento em que precisa decidir o seu futuro. O país pode, agora, se conformar com um desempenho econômico lento e mediano ou decidir pela aceleração do crescimento a partir da realização de fortes investimentos em infraestrutura. Uma política consistente e estável de investimentos em infraestrutura é fundamental para a superação do atraso de mais de quatro décadas em transporte e logística, setor de base na cadeia de desenvolvimento nacional que determina o desempenho de todas as demais áreas da economia. O agronegócio, por exemplo, seria imediatamente beneficiado. Esse é o setor que mais produz riquezas para o Brasil e poderia produzir muito mais se não fossem as limitações impostas pela falta de estradas, ferrovias e portos para escoar a produção. Para se ter uma ideia sobre isso, estudo da CNT estima que 5% da safra de grãos são perdidos durante o transporte, um contrassenso que resulta em grandes prejuízos para o agronegócio e em perdas incalculáveis para toda a sociedade. Na mesma rota dos prejuízos, as empresas são obrigadas a encarar um transporte rodoviário de alto custo operacional, majorado em até 27% em decorrência da má qualidade das rodovias brasileiras e sobrecarregado pelos preços abusivos do óleo diesel. A paralisação dos caminhoneiros em maio expôs esses problemas, que têm alto impacto na economia, já que o transporte rodoviário responde por 61,1% da carga e por 96% dos passageiros que circulam no país. Uma infraestrutura moderna e proporcional às demandas do país é fundamental para a produtividade e a competividade das empresas, mas não é só isso. Transporte e logística contribuem diretamente para o desenvolvimento regional, a geração de empregos e renda e a melhoria das condições de vida da população tanto na cidade, quanto no campo.

O desafio dos gestores públicos é compatibilizar a necessidade de grandes volumes de investimentos em infraestrutura com as restrições fiscais e a escassez de recursos do Estado. Os melhores resultados têm sido alcançados por aqueles que contam com a iniciativa privada. Dinheiro para grandes obras não falta no mercado, mas esse recurso só está disponível para os países que oferecem segurança jurídica e demonstram claramente quais riscos e oportunidades estão à disposição dos investidores. No ano passado, o governo e o Congresso Nacional tomaram várias decisões que contribuíram para tornar o Brasil mais atraente aos investimentos nacional e estrangeiro. O teto de gastos públicos, a Reforma do Ensino Médio, a terceirização da mão de obra, a Reforma Trabalhista e as novas regras para concessões do setor público foram avanços importantes. Mas ainda há muito a se fazer. Nos cálculos da CNT, para alavancar o desenvolvimento sustentável, o Brasil precisa investir mais de R$ 1 trilhão, volume que só será alcançado com a firme e constante participação do capital privado. Também é fundamental agilizar o programa de concessões de rodovias, ferrovias, portos, aeroportos e de outros setores capazes de acelerar o processo de recuperação econômica. Neste ano eleitoral, a sociedade deve dedicar especial atenção aos programas de governo apresentados pelos candidatos à presidência da República e ao discurso dos postulantes a uma vaga no parlamento. Aqueles que se posicionarem claramente a favor da continuidade das reformas e da modernização do Estado brasileiro estarão mais qualificados para levar adiante um projeto de desenvolvimento nacional sustentável e de longo prazo. As escolhas feitas nas eleições de outubro definirão se a economia nacional continuará no atraso ou se o Brasil, finalmente, realizará fortes investimentos em infraestrutura, marcando a entrada do país em um novo tempo de progresso, desenvolvimento econômico e paz social.


“É provável que os próximos meses sejam difíceis. O PIB do segundo trimestre não deve trazer notícias boas e, eventualmente, poderá ter até uma pequena queda” RICARDO AMORIM

ENTREVISTA

ECONOMISTA

Cenário em

aberto por EVIE

Q

uando o assunto é economia, Ricardo Amorim é um dos nomes de referência nos mercados nacional e internacional. Formado pela USP (Universidade de São Paulo), o economista tem pós-graduação em Administração e Finanças e atua no mercado financeiro desde 1992. Além de ter trabalhado em Nova Iorque, Paris e São Paulo, sempre como estrategista de investimentos, Amorim é o único brasileiro incluído na lista dos melhores palestrantes mundiais do Speakers Corner – tradicional

GONÇALVES

ambiente de discursos, em Londres. Há anos, profere palestras em eventos fechados de empresas de destaque, congressos, feiras de negócios e universidades, como Harvard e Columbia. Presidente da Ricam Consultoria, prestadora de serviços na área de negócios e de economia global, Amorim é um dos debatedores do programa Manhattan Connection, da GloboNews, desde 2003. É também colunista na revista IstoÉ. Na entrevista concedida à revista CNT Transporte Atual, falou sobre conjunturas econômicas e políticas, de forma

geral, além de abordar os impactos da greve dos caminhoneiros na retomada do crescimento e de fazer um balanço sobre o primeiro ano da aprovação da Reforma Trabalhista. Tratou, ainda, sobre a necessidade de uma urgente reforma na Previdência Social, sob pena, segundo ele, de que o próximo presidente não resista até o fim do mandato, caso não o faça. “Se o próximo presidente não fizer a Reforma da Previdência, o Brasil vai ter um problema fiscal grave, a economia vai entrar em mais uma crise, e ele não

vai chegar ao final do mandato. Eu acredito que aqueles com possibilidade de serem eleitos têm que ter clareza sobre isso”, alertou. Confira os principais trechos da entrevista. O PIB (Produto Interno Bruto) do primeiro trimestre ficou em 0,4%. Isso é um sinal de que a economia vem demonstrando retomada do crescimento, ainda que em marcha lenta? O crescimento do PIB do primeiro trimestre foi o quinto consecutivo do Brasil, ou se-


RICARDO CORREA/DIVULGAÇÃO

“A economia vai depender demais do resultado das eleições. Na minha opinião, o cenário mais provável era, e continua sendo, a vitória de um candidato de centro-direita”

ano, houve criação de emprego formal, mas, em maio, o índice foi o mais baixo. As vendas de automóveis caíram 7%, e os indicadores da indústria de alimentos vão ser piores ainda. Então, o que a gente vê de preocupante é que a economia não só vinha crescendo, mas se acelerando, e isso ficou para trás. O impacto negativo da greve deve ser mais ou menos de um ponto percentual. A isso se somam os impactos negativos da alta do dólar por A expectativa era de um cres- conta da elevação dos juros nos cimento maior? Estados Unidos e das incertezas Sim. Em todos os meses deste eleitorais no Brasil, que, aliás, deja, a economia vem mostrando uma retomada. Em abril, tivemos crescimento da indústria de quase 9%, o maior em cinco anos. As vendas de automóveis tiveram crescimento de mais de 20%. As vendas de imóveis cresceram mais de 100% em relação ao ano anterior. Só que em maio houve a greve dos caminhoneiros e os indicadores mais recentes mostram que a economia deu uma bela desacelerada.

vem continuar. Então, é provável que os próximos meses sejam difíceis. O PIB do segundo trimestre não deve trazer notícias boas e, eventualmente, poderá ter até uma pequena queda. O resultado é que o crescimento neste ano, que era para ser maior do que as pessoas esperavam no final do ano passado, quando os economistas projetavam um crescimento de 2% — há um mês essa projeção já estava em 3% — talvez surpreenda negativamente. Como as empresas de todos os setores produtivos devem

aproveitar as oportunidades da recuperação e prosperar? As pessoas costumam dizer que crises trazem oportunidades. Eu discordo. As crises não trazem oportunidades, elas trazem problemas. O que pode criar oportunidade é o que as pessoas e as empresas fazem. Elas têm que criar as próprias oportunidades. Isso significa que quem estiver melhor posicionado na recuperação vai prosperar. Mas só vai prosperar quem melhorar o seu produto, o seu serviço, o seu atendimento, a sua situação financeira,


AGÊNCIA BRASIL/DIVULGAÇÃO

Crescimento da economia em 2018 deve ser menor que o esperado

quem inovar. Quem for capaz de se fortalecer apesar de crise vai prosperar. Quem não for vai ter dificuldades. Isso funciona igual a uma pessoa que comia mais do que devia, bebia mais do que devia, fumava, não fazia exercício físico, e tem uma crise cardíaca. Se ela não mudar os hábitos, ela provavelmente vai ter problemas no futuro ou provavelmente vai morrer. Se ela mudar, ela tem a possibilidade de ter uma vida futura melhor, mas é ela que tem que fazer isso acontecer. O cenário eleitoral pode prejudicar ainda mais o crescimento econômico nos próximos anos?

A economia vai depender demais do resultado das eleições. Na minha opinião, o cenário mais provável era, e continua sendo, a vitória de um candidato de centro-direita. Isso porque é muito possível que haja uma coligação entre partidos de centro-direita, e isso vem do fato de que os potenciais candidatos do MDB, o Henrique Meirelles, e do DEM, o Rodrigo Maia, não emplacaram até agora. É provável que haja um movimento dentro dos partidos para que eles façam coligações. Se eles lançarem candidatos próprios, uma grande parte do tempo de televisão e do dinheiro de financiamento de campanha acabará indo para o

candidato a presidente. Só que os candidatos não são puxadores de voto. Eu desconfio que candidatos a governadores, deputados e senadores vão preferir ficar com esse dinheiro para as suas campanhas e fazer coligações, o que, para mim, quer dizer que haja uma coligação de centro-direita, com um candidato mais forte e com uma chance bem maior do que as pesquisas mostram antes de ganhar. Ainda não é muito claro quem será esse candidato. Os candidatos de extrema direita ou extrema esquerda podem ganhar força nesse cenário de desaceleração momentânea?

Existe essa probabilidade porque a desaceleração da economia ajuda candidatos de retórica mais inflamada. E essa desaceleração, pelo menos por ora, ainda pode aumentar porque as incertezas eleitorais levam o dólar a subir. Por consequência, os juros que caíam param de cair e podem até vir a subir. E isso significa menos crédito, menos consumo, menos investimento e menos crescimento econômico. Tudo isso favorece candidaturas tanto de esquerda quanto de direita. Portanto, ainda que eu ache que a gente vai ter provavelmente a vitória de alguém que vá manter políticas econômicas não substancialmente diferentes das atuais, que foram as que levaram o PIB a crescer nos últimos trimestres, e que deveriam levar a economia a crescer mais do que as pessoas têm projetado nos próximos anos, o risco de que isso não aconteça com a eleição de alguém mais populista vem crescendo inegavelmente. Isso sempre acontece em processos de retomada depois de crises graves. Essa que o Brasil teve nos últimos anos foi a mais grave de toda a história do país. A aprovação da Reforma Trabalhista completa um ano em julho e entrou efetivamente em vigor há seis meses. Na sua avaliação, qual foi a principal inovação trazida por ela?


FOTOS PÚBLICAS/DIVULGAÇÃO

A gente ainda não teve tempo suficiente para julgar os impactos da Reforma Trabalhista, mas o que se viu até agora foi uma redução bastante significativa no número de processos. Isso é importante porque, da forma que funcionava antes, o empregado, ao entrar com uma ação contra a empresa, não tinha que pagar o custo caso perdesse. Com isso, havia um incentivo para ele entrar com ações tendo ou não razão, afinal de contas, para ele não teria custo nenhum e, eventualmente, poderia haver algum ganho. Só que isso implicava um custo para as empresas terem que se defender, mesmo que elas tivessem razão. E esse custo ficava embutido no custo de contratação de empregados. O resultado disso é a contratação de menos gente ou contratação informal, além de salários mais baixos. Isso significa que a Reforma gerou mais empregos com carteira assinada? O que se vê é que a Reforma entrou em vigor em novembro e, de lá para cá, o Brasil passou a gerar empregos formais. No ano passado, foram criados mais de 1,8 milhão de empregos no país. Mas todos eles no mercado informal, sem carteira. Depois da aprovação da Reforma, a gente teve uma mudança. Em todos os meses deste ano, houve criação de emprego com carteira. É pou-

“A Reforma Trabalhista entrou em vigor em novembro e, de lá para cá, o Brasil passou a gerar empregos formais”

co tempo ainda para julgar a Reforma, mas a sensação que se tem é a de que as empresas já estão mais confiantes por ter um risco e um custo jurídico menores e já estão contratando mais gente com carteira. Portanto, o trabalhador saiu ganhando. O que é preciso para que a Reforma da Previdência seja aprovada no Brasil? Eu acredito que a Reforma da Previdência vai ser aprovada pelo próximo presidente, seja ele quem for, de esquerda, direta ou centro. A razão é muito simples. Se a gente fizer um histórico do Brasil desde 1900 para cá, todas as vezes em que

a economia brasileira afundou, o presidente ou o ditador que estava no poder caiu. Se o próximo presidente não fizer a Reforma da Previdência, o Brasil vai ter um problema fiscal grave, a economia vai entrar em mais uma crise, e ele não vai chegar ao final do mandato. Eu acredito que aqueles com possibilidade de serem eleitos têm que ter clareza sobre isso. Não é possível que eles não consigam ver isso. Se a gente pegar os últimos 20, 25 anos no Brasil, Fernando Henrique Cardoso reformou a Previdência com oposição do PT, e o Brasil cresceu. Na sequência, Lula reformou a Previdência com oposição do

PSDB, e o Brasil cresceu. Dilma não reformou a Previdência, a economia afundou, e ela não chegou ao final do mandato. Temer tentou reformar a Previdência, e não conseguiu. Mas só a tentativa e as outras reformas que aconteceram já fizeram com que o Brasil voltasse a crescer, com crescimento do PIB nos últimos cinco trimestres. Isso mostra que a resposta da economia à Previdência é direta e, por sua vez, a resposta da sustentação política do presidente à economia também é direta. Por isso, eu acredito que nós vamos ter uma Reforma da Previdência seja quem for o próximo presidente do Brasil.


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MAIS TRANSPORTE Carros voadores AIRBUS-AUDI/DIVULGAÇÃO

A Alemanha autorizou o início dos testes de carros voadores no país. O acordo foi firmado com a Volkswagen, responsável pela Audi, e com a fabricante de aviões Airbus. A liberação permite que os serviços de táxis aéreos rodem nas proximidades da cidade de Ingolstadt, local da fábrica da Audi e ainda não há datas para os primeiros testes. O projeto tem como plano combater congestionamentos nas estradas alemãs, e também impulsionar a indústria de tecnologia a operar com o que pode ser o próximo nível de transportes.

Carro impresso Já pensou em pilotar um carro feito por uma impressora? A novidade foi criada pela empresa chinesa Polymaker, que promete para 2019 colocar nas ruas o primeiro veículo produzido em uma impressora

3D. O LSEV ou Low-Speed Eletric Vehicle (Veículo Elétrico de Baixa Velocidade), segundo os fabricantes, leva apenas três dias para ser montado e os componentes, como as portas, o painel e

o parachoque, são até cinco vezes mais fortes do que os de um modelo convencional. Desenvolvido em parceria com a empresa italiana X Electrical Vehicle, o veículo é capaz de chegar a 69 km/h, e

sua bateria tem autonomia de até 150 quilômetros com carga completa. Com apenas 57 peças de plástico, o automóvel não ultrapassa os 450 quilos e leva apenas um passageiro.


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Recarga de carros elétricos é regulamentada no Brasil PEDRO VENTURA/GDF/DIVULGAÇÃO

O Brasil decidiu regulamentar o serviço de abastecimento de carros elétricos. A Aneel (Agência Nacional de Energia Elétrica) definiu uma regulamentação mínima como forma de acelerar o desenvolvimento desse tipo de operação no país. A partir de agora, distribuidoras, postos de combustíveis, shoppingcenters, estacionamentos, postos rodoviários e outros tipos de empreendimentos podem definir se irão oferecer ou não o serviço de recarga de elétricos e híbridos plug-in, de que forma será feito e o preço a ser cobrado. De acordo com a regulamentação, a atividade será livre, sem tarifa comercial nem residencial fixadas. As

concessionárias locais poderão entrar no negócio, desde que a empresa constituída não tenha como atividade-fim a distribuição. Na prática, qualquer empreendedor pode instalar um ponto de recarga,

pagando à distribuidora pela energia consumida, como em um imóvel atual que tem seu respectivo medidor, com base nas tarifas já cobradas atualmente e definidas pela Aneel. Até o dia 15 de outubro, um

formulário será disponibilizado na internet para cadastro das estações de recarga, públicas ou residenciais, com o objetivo de fazer um mapeamento da infraestrutura disponível no país.

ANPTrilhos realiza Fórum de Mobilidade CPTM/DIVULGAÇÃO

ANPTrilhos (Associação Nacional de Transportadores de Passageiros sobre Trilhos) realizará, no dia 18 de julho, em Brasília, o Fórum de Mobilidade ANPTrilhos. A CNT é patrocinadora do encontro. O evento promove a apresentação de propostas de representantes da classe política para expandir a rede de atendimento de transporte sobre trilhos no Brasil. As inscrições podem ser feitas no site forummobilidade.com.br


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MAIS TRANSPORTE Prêmio CNT de Jornalismo está com inscrições abertas ARQUIVO CNT

Uma das premiações voltadas à imprensa brasileira mais conceituadas e respeitadas do país chega à sua 25ª edição e está com inscrições abertas. Os interessados em participar do Prêmio CNT de Jornalismo têm até as 18h do dia 6 de agosto para inscrever seus trabalhos, cujo período de veiculação deve ser entre 8 de agosto de 2017 e 6 de agosto deste ano. O Prêmio é dividido em seis categorias: Impresso, Televisão, Rádio, Internet, Fotografia, Meio Ambiente e Transporte. Ao todo, são R$ 270 mil para os profissionais vencedores. O trabalho com a maior nota recebe o Grande Prêmio CNT de Jornalismo, no valor de R$ 60 mil. Os ganhadores das demais categorias recebem, cada um, R$ 35 mil. As reportagens são avaliadas por uma comissão julgadora independente, considerando aspectos, como relevância para o setor de transporte,

para o transportador e para a sociedade; qualidade editorial; criatividade/originalidade; e atualidade dos temas. A seleção – de maneira isenta e rigorosa – é feita em três etapas: na primeira, é verificado o cumprimento dos requisitos exigidos no regulamento. Na segunda, uma comissão de préselecionadores, formada por especialistas em comunicação, define os cinco finalistas em cada categoria. Por fim, um grupo de jurados, composto por quatro jornalistas e um especialista em transporte, seleciona as reportagens

vencedoras. O Prêmio CNT de Jornalismo, ao longo de duas décadas e meia, inseriu o transporte no cotidiano das redações brasileiras, consolidando-se como uma das principais premiações jornalísticas do país. Os desafios do setor passaram a fazer parte das histórias retratadas por textos críticos, imagens e vídeos emblemáticos e pelas ondas curtas e longas do rádio. Até então, foram mais de 130 trabalhos reconhecidos e centenas de jornalistas premiados. A premiação incentiva e

prestigia materiais que explorem todas as faces do transporte e da rotina dos trabalhadores do setor. Também busca fomentar a melhor compreensão da relevância da atividade transportadora para o Brasil.

Acesse

premiocnt.cnt.org.br

Voos para os EUA terão controle de bagagem mais rígido Passageiros com destino aos Estados Unidos deverão ser mais cautelosos com a bagagem de mão. A partir de 30 de junho, substâncias em pó não poderão ser transportadas

em quantidades superiores a 350 ml. A medida abrange pacotes de café, temperos e cosméticos, não importando se o produto é compactado ou granulado. As novas regras foram divulgadas

pela TSA (Transportation Security Administration), órgão responsável pela segurança da aviação civil norte-americana, e deverão ser implementadas pelas empresas aéreas nos

aeroportos de origem. A Anac (Agência Nacional de Aviação Civil) recomenda aos brasileiros que busquem informações diretamente com as empresas aéreas.


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Consumo de Arla 32 tem déficit reduzido no primeiro semestre FOTOS PÚBLICAS/DIVULGAÇÃO

Balanço divulgado pela Afeevas (Associação dos Fabricantes de Equipamentos para Controle de Emissões Veiculares da América do Sul) aponta que o déficit no consumo de Arla 32 ficou 45% abaixo do necessário para atender à frota de pesados no Brasil, entre janeiro e junho deste ano. Essa diferença é calculada por meio de um comparativo com o consumo

de diesel S-10 no mesmo período. O Arla 32 é um aditivo que contribui para reduzir a emissão de poluentes que são prejudiciais à saúde humana e é indispensável para modelos equipados com a tecnologia SCR (catalisador de redução seletiva), que se tornou item de fábrica na maioria dos modelos de veículos pesados a partir de 2012.

Santos tem novo recorde em movimentação de contêineres ALSP/DIVULGAÇÃO

O porto de Santos apresentou, nos últimos 12 meses, recordes mensais consecutivos na movimentação de contêineres. Em maio, o aumento em relação ao mesmo período de 2017 chegou a 13,5%, de acordo com dados da Codesp (Companhia Docas do Estado de São Paulo). Passaram pelo cais

paulista 349.960 TEUs (unidade equivalente a um contêiner de 20 pés), contra 308.442 TEUs no mesmo período de 2017. No acumulado de janeiro a maio, o crescimento foi de 15,6%, chegando a 1,6 milhão de TEUs, batendo os 1,4 milhão de TEUs movimentados no mesmo período do ano passado.

De Singapura a Nova York sem escalas AIRBUS/DIVULGAÇÃO

A Airbus realizou o primeiro voo teste do A350 XWB, o avião comercial com maior alcance do mundo. O modelo é uma versão aperfeiçoada do modelo A350-900 e tem motores RollsRoyce Trent, além de um sistema de combustível que permite transportar mais 24 mil litros de querosene, o que aumenta

seu alcance para 17.964 km. O A350 pode voar até 20 horas sem escalas, sendo possível ir de Singapura, na Ásia, a Nova York. Esse deverá ser o voo comercial mais longo do mundo. As entregas da aeronave começam a ser realizadas no segundo semestre de 2018 para a Singapore Airlines.


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MAIS TRANSPORTE A representatividade dos transportadores autônomos no país CNTA/DIVULGAÇÃO

O transporte rodoviário de cargas é responsável por escoar cerca de 60% de toda a produção do país. A atuação desse setor tem impacto direto na rotina dos brasileiros e no cenário econômico. Setores como comércio, indústria e agricultura dependem desse modal para o abastecimento de mercadorias, matérias-primas e insumos. Segundo dados do Banco Mundial, o Brasil possui a maior concentração rodoviária de transporte de cargas e passageiros entre as principais economias mundiais. Nesse cenário, os transportadores autônomos têm papel significativo. Conforme dados extraídos no RNTRC (Registro Nacional de Transportadores Rodoviários

de Cargas) da ANTT (Agência Nacional de Transportes Terrestres), em junho, o número de caminhões que pertencem à frota dos autônomos representa 38% do total. Atualmente, no Brasil, existem 489.676 registros para autônomos e 669.277 caminhões vinculados à categoria, dando uma média de 1,4 veículo por transportador. O número engloba desde veículos automotores de carga (caminhão leve e caminhão trator, que são a maioria) a implementos rodoviários, como reboque e semirreboque. O número de caminhões simples com capacidade de oito a 29 toneladas pertencentes aos autônomos é maior do que a frota das empresas.

Comparando aos dados extraídos em maio do ano passado no sistema da RNTRC, houve um crescimento de 20% na frota dos transportadores autônomos e 30% no número de profissionais atuantes. Há pouco mais de um ano, o total de veículos era de 553.643 e de transportadores autônomos de 374.029. O aumento de profissionais autônomos registrados se deve, em parte, às ações de fiscalização realizadas nas rodovias que visam coibir o exercício do transporte sem regulamentação pela ANTT. Também se deve à exigência de alguns Detrans (Departamentos Estaduais de Trânsito) da comprovação do registro na agência para a expedição do licenciamento anual (CRLV) de

veículos na categoria aluguel. Para a CNTA (Confederação Nacional dos Transportadores Autônomos), a elevação dos números também é reflexo da importância e representatividade da categoria para o mercado. “Mesmo em um cenário econômico delicado, os transportadores autônomos se mantêm firmes e conscientes em relação à relevância do seu papel para o país. A categoria é responsável por transportar grande parte das riquezas do Brasil e, por isso, vem lutando para se manter competitiva”, destaca o presidente da CNTA, Diumar Bueno. Conteúdo de responsabilidade da CNTA (Confederação Nacional dos Transportadores Autônomos)


Voando para e

salvar

transformar Volt.Ag

cada vez mais vidas

Foto: Arquivo ABEAR

VEJA COMO A INICIATIVA ASAS DO BEM AJUDA A TRANSFORMAR VIDAS

O sucesso de um transplante depende do tempo entre a captação de um órgão doado e a realização da cirurgia no receptor. A iniciativa Asas do Bem transporta gratuitamente órgãos e equipes médicas nos aviões das companhias associadas à ABEAR e ajuda a salvar 7 mil vidas por ano no Brasil.

abear.com.br


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REPORTAGEM DE CAPA

Uma década de Lei Seca Legislação ampliou o debate sobre direção segura e reduziu número de óbitos no trânsito, mas a aplicação da lei ainda é falha na fiscalização e na conscientização da população por

E

m 19 de junho de 2008, entrava em vigor a Lei nº 11.705, que passou a ser nacionalmente conhecida como a Lei Seca, um arcabouço legal que reduziu a tolerância com motoristas que dirigem embriagados, colocando o Brasil entre os países com a legislação mais severa sobre o tema. Em uma década, estima-se que mais de 1,7 milhão de autuações foram feitas e 118

DIEGO GOMES

mil motoristas, encaminhados à delegacia por crime de trânsito. Para muitos, a nova legislação representou um importante marco na sociedade brasileira, levando o debate sobre beber e dirigir para o centro das discussões sociais. Contudo, especialistas avaliam que ainda falta um trabalho mais eficiente de conscientização e de educação para o trânsito. Apesar dos altos índices,

o volume de autuações pode ser bem maior já que não há um registro nacional de informações, e muitos estados não informam a quantidade de condutores flagrados bêbados. Como a fiscalização do tráfego é uma atribuição compartilhada entre os municípios e os Detrans (Departamentos de Trânsito), cada estado tem maneiras próprias de agir para coibir a combinação álcool e direção.

No caso das rodovias federais, levantamento da PRF (Polícia Rodoviária Federal) apontou um aumento de 137% nas infrações que envolvem a Lei Seca nessa década de legislação. Com o tempo, a legislação ficou ainda mais restritiva, o que pode explicar o elevado índice de autuações. Em 2012, passou a valer a tolerância zero para álcool e trânsito, e as multas dobraram. Inicialmente, o


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valor era de R$ 957,70 e, hoje, chega a R$ 2.934,70, podendo ser aplicada em dobro em caso de reincidência no período de 12 meses. Outra medida disciplinar é a suspensão do direito de dirigir por um ano, com o condutor autuado tendo que se submeter a curso de reciclagem. Também passou a valer a prova testemunhal de agentes de trânsito contra os motoristas. Ainda foi incluída a possibilidade de provar a embriaguez dos condutores com fotografia e vídeo. Desde 2008, o limite do nível de álcool no bafômetro foi fixado em 0,06 grama de álcool por decilitro de sangue (mg/L) e 0,34 mg/L no ar expelido – o que equivale a uma taça de vinho, por exemplo. A última alteração da lei foi em abril deste ano, com o aumento da pena de três para cinco anos se um aciden-

"A fiscalização funciona nos grandes centros, mas não é a mesma coisa no resto do país" DAVID DUARTE, ESPECIALISTA EM SEGURANÇA NO TRÂNSITO DA UNB

Blitz realizada pelo Detran-DF

te provocado pela ingestão de álcool deixar feridos. A pena pode chegar a oito anos se houver vítima fatal. Apesar de o álcool ainda ser a segunda maior causa de mortes no trânsito no Brasil, segundo a Abramet (Associação Brasileira de Medicina do Tráfego), no período, houve uma redução em mais de 14% do número de mortes por acidentes de trânsito no país, conforme dados do SIM (Sistema de Informações de Mortalidade), do Ministério da Saúde. Em 2008, quando a lei foi implementada, o SIM registrou 38.273 óbitos por essa causa. Em 2017,

dados preliminares já apontam para 32.615 casos. Pouca efetividade Mesmo com a severidade da lei, a cultura de dirigir após a ingestão de álcool permanece arraigada nos costumes de boa parte da população brasileira. De acordo com a Pesquisa Vigitel (Vigilância de Fatores de Risco e Proteção para Doenças Crônicas por Inquérito Telefônico), realizada pelo Ministério da Saúde em todas as capitais do país, de 2011 a 2017, a frequência de adultos que admitem conduzir veículos motorizados após

terem ingerido qualquer tipo de bebida alcóolica aumentou 16% em todo o país. No conjunto das 27 cidades, 6,7% da população adulta afirma conduzir veículo motorizado após consumo de bebida alcoólica. Os homens (11,7%) continuam cometendo mais essa infração do que as mulheres (2,5%). Para o especialista em segurança no trânsito da UnB (Universidade de Brasília) David Duarte a Lei Seca, apesar de ter amadurecido a questão de beber e dirigir, ainda não se mostrou totalmente efetiva. Ele pondera que a implantação da lei se deu de maneira


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MARCOS BORGES

SUBSTÂNCIAS PSICOATIVAS

Dificuldade na detecção e interpretação

desigual no Brasil. Em grandes cidades, como São Paulo e Rio de Janeiro, as blitze noturnas, de fato, interferiram na rotina das pessoas. Segundo o Detran/ RJ, o número de mortes por 100 mil habitantes na capital carioca diminuiu 28,4% nesses dez anos. No entanto a realidade nacional é bem diferente. “A fiscalização funciona nos grandes centros, mas não é a mesma coisa no resto do país. Além disso, a justiça tem funcionado mal. Depois de 0,34 mg/L, já é considerado crime de trânsito. E eu pergunto: tem alguém preso por beber e dirigir, mesmo após acidentes?”,

Os artigos do Código de Trânsito Brasileiro que fazem menção ao uso de álcool e outras substâncias psicoativas não são claros. De acordo com a Lei Seca, dirigir sob a influência de álcool ou de qualquer outra substância que determine dependência é infração gravíssima. A mesma lei estipula como crime, punível com pena de detenção, a condução de “veículo automotor com capacidade psicomotora alterada em razão da influência de álcool ou de outra substância psicoativa”. Segundo o diretor de fiscalização do Detran-DF, Silvaim Fonseca, foram 256 óbitos registrados no trân-

sito do Distrito Federal em 2017. “Desse total, 113 (44%) estavam sob efeito de álcool ou de alguma substância psicoativa. O que impressiona é que, além do álcool, foi alta a incidência do uso de cocaína (37 pessoas).” O desafio, contudo, está na identificação e na comprovação desse estado. A legislação determina que o consumo de álcool e outras substâncias que alterem a capacidade de dirigir do motorista pode ser comprovado por vídeos e provas testemunhais, além dos testes de alcoolemia e exames periciais. Entretanto, não existe uma lista de substâncias. Durante a Copa do

indaga Duarte. O especialista avalia que a punição pecuniária tem até surtido efeito e inibido as pessoas, mas, depois disso, não há prosseguimento. “Há uma falha muito grande com relação à informação para a população. Hoje todo mundo sabe que não pode beber e dirigir. Mas, quando alguém bebe, por exemplo, cinco ‘latinhas’, quando estará pronto para dirigir novamente? Daqui a uma semana? Daqui a um mês? Então, o Estado não tem feito muito o seu papel de informar. E uma lei complexa como essa precisa ser bem explicada à sociedade.” O especialista questiona a

estratégia de fiscalização dos Detrans e das polícias. “Ela é baseada somente em blitze. Hoje, com as redes sociais, todos sabem onde elas estão. É o samba de uma nota só. Só blitz não adianta, ela é uma das ferramentas de fiscalização. O agente precisa ser treinado para saber identificar sinais de alcoolemia ou de uso de outras drogas em qualquer momento.” Duarte também defende um escalonamento na aplicação das penalidades. “O indivíduo que trafega a 70 km/h numa via de 60 km está errado, podendo estar eventualmente distraído. Agora, o condutor que dirige

Mundo de 2014, Silvaim recorda, foram adquiridos kits de leitura para interpretação de substâncias psicoativas, que deram bons resultados, mas, em razão do valor, o governo não comprou mais. Toxicológico Desde 2017, é obrigatória a realização de exame toxicológico no processo de habilitação, renovação e mudança para as categorias C, D e E da CNH, conforme determina a Lei nº 13.103/2015. O teste utiliza tecnologia capaz de detectar o contato do condutor com substâncias psicoativas, por meio da análise de cabelo, pelo ou unha. a 120 km/h está muito mais errado e tem dolo (intenção). Analogamente, o cara que tomou apenas uma dose também está errado, mas quem tomou um porre está bem mais errado.” Consciência Para construir uma cultura de consciência e educação para o trânsito, são necessárias informação e sensibilização. Essa é a percepção do professor David Duarte. “O Estado fala ‘se beber, não dirija’, mas não explica devidamente por que isso não deve ser feito. E há duas razões básicas para isso. A primeira é que


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ARQUIVO CNT

SEST SENAT

Instituição combate o uso de álcool e drogas O SEST SENAT trabalha para conscientizar os motoristas profissionais acerca dos riscos de associar álcool e drogas com a condução de veículos. Em agosto, a instituição promove a já tradicional campanha contra o uso de álcool e drogas. A ação faz parte

do Programa CNT SEST SENAT de Prevenção de Acidentes. A iniciativa prevê a realização de ações de caráter preventivo e socioeducativo, de marketing social e de saúde e qualidade de vida, por meio de serviços oferecidos gratuitamente aos trabalhadores do setor em

todo o país. Alem disso, o SEST SENAT disponibiliza para os trabalhadores do transporte e seus dependentes assistência psicológica e promove, periodicamente, palestras e eventos sobre os riscos da combinação álcool e direção.

o indivíduo que bebe diminui os reflexos, retarda os movimentos, fica mais lento. Isso significa, no trânsito, reagir tardiamente a situações de emergência, o que pode ocasionar acidentes.” A segunda, explica, está relacionada ao fato de que, quando o indivíduo bebe, esse tende a mudar o comportamento de tal modo que passa a negligenciar riscos, ameaçar outras pessoas, levando a uma direção agressiva. Duarte chama atenção para outro aspecto pouco difundido: a pessoa alcoolizada, em um eventual acidente, tem mais chances de morrer do que uma não alcoolizada. “Isso é uma coisa relativamente recente. Há uns 40 anos, começou-se a estudar isso. Para um mesmo nível de impacto, o alcoolizado morre mais, porque o álcool relaxa os músculos, fazendo com que a lesão seja mais profunda”, informa. Ele explica que o organismo de uma pessoa sob efeito de álcool, em uma situação extrema decorrente de um grave acidente, perde sua capacidade natural de “batalhar pela sobrevivência”, o que é uma tendência do corpo humano nessas circunstâncias. O advogado Alison Alves, 30 anos, foi autuado, no ano passado, quando voltava de uma confraternização de final de ano em Brasília. Ele reconhece que foi imprudente, mas considera que a lei tem caráter meramente repressivo e não trabalha na prevenção nem tampouco educa. “Para mim, o objetivo maior é a arreca-


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AVALIAÇÃO

População aprova a Lei Seca A convite do Detran-DF, a reportagem da CNT Transporte Atual esteve presente, no dia 25 de junho, em uma blitz realizada no Lago Norte, em Brasília. Na ocasião, ouvimos a opinião dos brasilienses a respeito da legislação.

“Sou totalmente a favor da Lei Seca. Para mim, deveria ser intensificada a fiscalização aos finais de semana. Nesse período, vai pegar muita gente imprudente que arrisca a vida dos outros nas ruas” Eudo Fernandes,

despachante de armas de fogo da Polícia Federal, 38 anos

“A Lei Seca trouxe conscientização e nos proporciona segurança ao sabermos que outras pessoas não colocarão nossa vida em risco. A fiscalização ainda precisa ser intensificada” Cristiane Lellis,

empresária, 33 anos

“Existe muito condutor inconsequente. Acho que a legislação já tem punição suficiente, agora, basta melhorar a fiscalização e cumprir o que está acordado” Anderson Barreto,

comerciante, 34 anos

(Com Carlos Teixeira) dação. A gente não vê campanhas regulares para educar os motoristas. Existem apenas ações pontuais às vésperas de feriados prolongados ou de datas importantes. Além disso, há o fato de que quem mora em regiões mais periféricas, como eu, não tem acesso facilmente a transporte público, e os serviços por aplicativo são muito caros.” Na prática, Alves salienta: o único fator inibidor, hoje, é a multa.

Ganho social Há, porém, o que se comemorar. Desde a implantação da legislação, informa a Abramet, houve uma queda de 33% nas taxas de ocupação nos serviços de emergência e uma média de redução dos chamados do Samu de 25%. “São leitos, estruturas e centros cirúrgicos que puderam ser utilizados para outras situações emergenciais. A sociedade como um todo teve um grande ganho”,

comenta o médico e diretor da Abramet, Aly Yassine. Yassine entende que a Lei Seca está inserida em um hall de determinações legais que mais tiveram impacto no curto prazo na história do Brasil, e defende que as sucessivas atualizações por que passou a legislação, tornando-a mais rígida, foram fundamentais para o seu aperfeiçoamento. “Faz dez anos que temos a segurança de saber que beber e dirigir é crime.

Isso está determinado em lei. Foi isso que nos deu respaldo jurídico para falar disso.” Ele comenta que a legislação, ainda passível de ajustes, foi aprimorada ao longo da década. “A partir do momento em que os condutores passaram a recusar o teste do bafômetro, tendo como argumento constitucional não produzir provas contra eles mesmos, a lei se aperfeiçoou e deu ao agente fiscalizador de trânsito a capacidade de identi-


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"Faz dez anos que temos a segurança de saber que beber e dirigir é crime" ALY YASSINE, MÉDICO E DIRETOR DA ABRAMET

ficar e determinar se o condutor está embriagado ou sob a influência de álcool.” Yassine celebra a recente determinação de que o motorista bêbado que causar mortes poderá ser punido com pena de detenção. Reincidência Em uma década, o Distrito Federal registrou o maior índice de autuações na comparação com o número de motoristas: 8,06%. Foram 121 mil infrações cometidas em um universo de 1,5 milhão de CNHs (Carteiras Nacionais de Habilitação), praticamente uma a cada 12. O diretor de fis-

calização do Detran-DF, Silvaim Fonseca, afirma que o DF tem obtido êxito nessa área por conta do trabalho integrado do Detran, das polícias e do Corpo de Bombeiros, o que, segundo ele, possibilitou poupar 1.055 vidas e permitiu que a Unidade da Federação deixasse de gastar R$ 144 milhões em acidentes. Ele chama atenção, contudo, para o número de reincidentes flagrados dirigindo bêbados. “Nas ações de fiscalização, identificamos uma reincidência de pessoas sob efeito de álcool, mas já com o direito de dirigir suspenso. A partir

de então, montamos uma operação chamada Pontos para a Vida, em parceria com a Secretaria de Saúde, e observamos que a maioria desses reincidentes é dependente do álcool”, diz Fonseca. Ele entende que a legislação precisa ser aprimorada nesse ponto, de forma a trabalhar para que essas pessoas passem por tratamento e só possam voltar a dirigir (ou serem proprietárias de veículo automotor) mediante liberação médica. Destinação O CTB (Código de Trânsito Brasileiro) indica onde o


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ASCOM DETRAN/DF/DIVULGAÇÃO

INTERNACIONAL

Legislação brasileira é uma das mais rígidas no mundo O Brasil está inserido em um hall de 32 países que têm tolerância zero para concentração de álcool no sangue de qualquer motorista. Na lista, estão nações como Hungria, Romênia, Eslováquia, República Tcheca, Marrocos, Paraguai e Uruguai – sem contar os países que baniram o álcool por motivos religiosos. Vale lembrar que tal determinação é até mais rígida que a recomendação

da OMS (Organização Mundial da Saúde) de limites menores que 0,5 g/L no sangue para motoristas em geral e abaixo de 0,2 g/L para jovens condutores (até 21 anos). A Alemanha, por exemplo, permite concentração abaixo de 0,5 g/L no sangue e 0,25 mg/L no bafômetro, enquanto a Inglaterra tem limite de 0,8 g/L no sangue e 0,35 mg/L no ar expelido. No Brasil, há apenas uma tolerância para re-

gistros abaixo de 0,05 mg/L no bafômetro por causa de uma margem de erro do aparelho, mas, no exame de sangue, não há limite algum. Além disso, enquanto um motorista com 0,6 g/L no sangue ou 0,34 mg/L no bafômetro não recebe nem multa na Inglaterra, por aqui, ele pode ser preso com a mesma concentração. Isso não significa, contudo, que o Brasil esteja melhor que esses

países na segurança viária. O Reino Unido registrou em 2013 uma das menores taxas de mortes em acidentes no mundo (2,9 mortes por 100 mil habitantes), e a Alemanha não ficou muito longe, com 4,3. No Japão, o infrator pode ser sentenciado, como pena primária, até com a prisão perpétua. No Canadá, o condutor flagrado tem automaticamente o valor do seguro dobrado.


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MUDANÇAS NA LEI SECA

Punições para quem bebe e dirige ficam cada vez mais rígidas no Brasil 1997 NOVO CTB

Limite de álcool

0,6 g/L no sangue ou 0,3 mg/L no bafômetro

R$ 955 (gravíssima multiplicada por 5) e

Multa

Crime

suspensão da CNH por 1 ano

Conduzir sob influência de álcool expondo outros a perigo. 6 meses

a 3 anos de prisão

2008 LEI SECA Qualquer concentração é infração, mas com tolerância de 0,2 g/L no sangue e 0,1 mg/L no bafômetro

2012

2016

NOVA LEI SECA

Qualquer concentração de álcool é infração,

sem tolerância*

R$ 955 (gravíssima multiplicada por 5) e

R$ 1.915 (gravíssima multiplicada por 10) e

Sobe para R$ 2.934,70 pelo aumento geral dos valores e

suspensão da CNH por 1 ano. Multa em dobro se houver

suspensão da CNH por 1 ano. Multa em dobro se houver

acrescenta a recusa do bafômetro com a mesma penalidade em dobro se

reincidência em 1 ano

reincidência em 1 ano

houver reincidência em 1 ano

Concentração igual ou acima de 0,6 g/L no sangue ou 0,34 mg/L no bafômetro (sem necessidade de perigo). 6 meses

Além do exame clínico, acrescenta prova testemunhal ou imagem que indique sinais de alteração da capacidade motora. 6 meses a

a 3 anos de prisão

3 anos de prisão

* O atual limite de 0,05 mg/L para determinar a embriaguez por bafômetro é devido à margem de erro do aparelho definida em 2013. Em exame de sangue, não há tolerância.


ASCOM DETRAN/DF/DIVULGAÇÃO

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Acrescenta maior punição para motorista embriagado que causar acidente, com prisão

de até 8 anos se houver morte e de até 5 anos se houver ferido grave Fonte: Denatran

MARCOS BORGES

dinheiro das multas deve ser aplicado. Pela legislação, 95% do valor arrecadado por meio de multas deve ser destinado à sinalização, à educação no trânsito, à engenharia de tráfego, ao policiamento e à fiscalização. Já os 5% do valor total devem ser empregados no Fundo Nacional de Segurança e Educação no Trânsito. No artigo 320 do CTB, é possível observar que toda a verba originada de multas deve obrigatoriamente voltar para o trânsito, sendo empregada, dessa forma, em pontos que busquem aumentar a segurança e cooperar para que uma infraestrutura básica seja oferecida aos condutores. A assessoria de comunicação do Ministério das Cidades,

entretanto, informa que não há, no ordenamento jurídico que trata da matéria, a obrigatoriedade de se aplicar esses percentuais em despesas públicas dessa natureza, “cabendo aos gestores dos órgãos de trânsito observarem se os recursos, de fato, são aplicados nesses elementos. A arrecadação das multas de trânsito é de competência dos órgãos componentes do Sistema Nacional de Trânsito que possuem competência para autuar e arrecadar multas.” Na prática, o sistema funciona a partir da seguinte dinâmica: quando as autuações forem em rodovias estaduais e lavradas por policiais militares, o dinheiro vai para o estado. Quando as autuações versarem sobre infração nas

cidades e lavradas por agentes municipais, o recurso vai para o município. Já o valor das multas aplicadas em rodovias federais vai para a federação. Mas existem outras divisões, como quando um agente municipal multa alguém numa via estadual: o dinheiro é repartido entre estado (60%) e município (40%). No caso da autuação feita por policial militar em via municipal, a divisão é inversa. Os especialistas ouvidos pela reportagem reconhecem que ainda falta transparência nessa aplicação dos recursos arrecadados com as infrações. Ao longo desses dez anos, algumas operações do Ministério Público flagraram uma série de irregularidades por parte de gestores no l repasse desse dinheiro.


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RODOVIÁRIO

Novas

regras Resoluções do Contran alteram exigências para a circulação de caminhões que transportam veículos e cargas líquidas e gasosas por

O

Contran (Conselho Nacional de Trânsito) publicou, em junho, duas normativas de interesse do setor de transporte rodoviário de cargas. As resoluções nº 734 e 735 tratam, respectivamente, de exigências técnicas para a circulação de caminhões do tipo tanque e do tipo cegonha, com consequências também para os chamados CTVPs (Combinações de Transporte de Veículos e Cargas Paletizadas). A resolução nº 735 aumenta o limite do comprimento das CTVs (Combinações de Transportes de Veículos), o popular caminhão-cegonha, de

GUSTAVO FALLEIROS

22,40 metros para 23 metros. Segundo o diretor do Denatran (Departamento Nacional de Trânsito), Mauricio Pereira, o comprimento dos caminhões-cegonha, até então permitido, não condizia mais com a necessidade e o número de automóveis a serem transportados. “Isso estava causando um grave problema para os cegonheiros, para as fábricas e para o próprio consumidor, porque acabava aumentando o custo final dos veículos, já que afetava o preço do frete”, afirmou em nota. O objetivo, com a medida, não é ampliar a quantidade de unidades de veículos transportadas por caminhão,


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mas, sim, garantir que o mesmo número de veículos seja transportado. Pereira salienta que a mudança não prejudicará a circulação nas rodovias. “Os estudos comprovaram que não haverá impactos nem para o asfalto, nem para as rodovias, nem na circulação de veículos”, aponta Mauricio Pereira. O trânsito de CTVs e CTVPs com as dimensões tratadas pelo texto será permitido durante o dia, do amanhecer ao pôr do sol, com velocidade máxima de 80 km/h. O trânsito noturno será admitido em vias com pista dupla e duplo sentido de circulação, desde que dotadas

de separadores físicos. A exceção fica para os caminhões vazios ou com carga apenas na plataforma inferior – esses podem circular sem limite de horário. Procurado pela reportagem, o Sinaceg (Sindicato Nacional dos Cegonheiros) preferiu não comentar a novidade até a edição de um complemento, com mais detalhamento técnico sobre o aumento do comprimento dos veículos. Já estão disponíveis, porém, croquis com exemplos das dimensões máximas das combinações, em dez configurações distintas; a fórmula para o cálculo da capacidade de rampa; e o novo modelo de sinalização especial

de advertência. Todas essas informações constam dos Anexos I, II e III, da Resolução. Vida útil prolongada Já a Resolução nº 734 altera especificamente o tratamento dado aos veículos licenciados de 1º de janeiro de 2000 a 31 de dezembro de 2007, cujos tanques fabricados no período apresentem excesso de até 5% nos limites de peso bruto total ou peso bruto total combinado. Agora, eles circularão sob AE (Autorização Específica), a ser concedida pela autoridade com circunscrição sobre a via. A AE pode ser requerida a qualquer tempo. Na prática, esses veículos

terão a vida útil prolongada até o sucateamento, desde que atendam a uma série de critérios de segurança. São eles: a apresentação do certificado de verificação metrológica, conforme regulamento do Inmetro (Instituto Nacional de Metrologia, Qualidade e Tecnologia), para atestar a capacidade volumétrica do tanque; e o atendimento à Resolução nº 211/06, do Contran, que estabelece que, em casos de circulação de combinações de veículos de carga com peso bruto total superior a 57 toneladas, o motorista deve portar AET (Autorização l Especial de Trânsito).


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AQUAVIÁRIO

Futuro

mais limpo Acordo climático do setor marítimo prevê redução de 50% das emissões de poluentes até 2050; meta pode elevar custos do frete, alertam representantes do segmento por

CARLOS TEIXEIRA


ALIANÇA/DIVULGAÇÃO

O

acordo firmado na sede da IMO (Organização Marítima Internacional), em abril, abre novas perspectivas para um futuro mais limpo. Os mais de 170 países-membros da organização assinaram o documento que prevê a redução de 50% das emissões de poluentes do setor marítimo até 2050 em relação aos níveis de 2008. O transporte marítimo internacional, atualmente, é responsável por 2% de toda a emissão de gases causadores do efeito estufa no mundo. Se colocada em prática, a medida permitirá que, em pouco mais de dez anos, os navios que atuam no transporte marítimo de cargas e de passageiros sejam movidos por combustí-

veis alternativos ou por outras formas de propulsão. Embora seja necessária e esteja alinhada com o compromisso que o Brasil assinou no Acordo de Paris para a redução dos poluentes, a medida pode elevar os custos do frete marítimo, alertam representantes do setor. Uma das justificativas é a localização geográfica do país, bastante distante dos mercados consumidores das commodities nacionais, como minério e soja, e distante também de centros desenvolvedores de equipamentos movidos a energia elétrica, como a Europa. Além disso, outros fatores colocam o setor em alerta. “Caso as medidas sejam estendidas para além das viagens internacionais e alcancem a cabotagem,


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os prejuízos para a navegação brasileira poderão ser enormes, uma vez que o aumento do frete poderá colocar a concorrência entre o transporte marítimo de cabotagem e o transporte rodoviário em uma posição muito desfavorável para os navios frente aos caminhões”, afirma o vice-presidente executivo do Syndarma (Sindicato Nacional das Empresas de Navegação Marítima), Luís Fernando Resano. Segundo ele, para o cumprimento do acordo, existem duas linhas de ação, uma relativa ao uso de combustíveis alternativos, e outra referente à redução drástica do uso de combustíveis fósseis. “Os combustíveis alternativos, em que pese a serem discutidos e desenvolvidos há décadas,

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ainda estão longe de representar, a curto prazo, a solução desejada. Resta, então, a curto e médio prazos, buscar formas para reduzir o consumo do combustível fóssil por meio de medidas técnicas e operacionais, já adotadas, e de medidas de mercado, ainda em estudo, que têm como propósito elevar o preço do combustível marítimo, forçando os armadores a buscar a redução do consumo. Espera-se que a limitação do teor de enxofre no combustível marítimo, adotada pela IMO e que entrará em vigor em janeiro de 2020, eleve o preço desse combustível em mais de 50%”, alerta Resano. De acordo com o diretor de assuntos institucionais da Hamburg Sud e da Aliança,

INICIATIVAS

Soluções em andamento Além da questão do fornecimento de combustível, outras iniciativas estão sendo desenvolvidas para que seja possível atingir as metas propostas pela IMO. As indústrias naval e offshore atuam na procura de novas formas de propulsão que reduzam o consumo de óleo diesel, minimizem as emissões dos poluentes e descarbonizem o transporte marítimo. Navios movidos a bateria estão em operação em rotas curtas, e combustíveis alternativos de emissão zero estão

disponíveis, além da utilização de combustíveis sintéticos, como o hidrogênio, que podem ser rapidamente escalados à medida que caem os custos de energias renováveis, como a solar e a eólica. Um desses exemplos de eficiência e sustentabilidade é o navio Ore Tianjin, que atracou no porto de Tubarão, em Vitória (ES), em sua viagem inaugural. O navio é o segundo exemplar da nova geração de VLOCs (Very Large Ore Carriers), embarcações com capacidade de car-

regamento de até 400 mil toneladas. Construídos a partir de uma iniciativa da Vale, os novos VLOCs emitem entre 15% a 20% menos gás carbônico que os Valemaxes da primeira geração, cujas operações tiveram início em 2011. As embarcações fazem parte de um projeto pioneiro da empresa, que já emitiam 35% menos CO2. A frota completa é formada por 32 navios que irão atender ao transporte transoceânico de minério de ferro, cobrindo principalmente a rota Brasil-China.

empresas especializadas em transporte de longo curso, Mark Juzwiak, os custos do setor ainda devem ser avaliados dependendo da disponibilidade do combustível de baixo enxofre e seu custo nas várias partes do mundo, incluindo o Brasil. Hoje, segundo ele, a Petrobras não disponibiliza esse combustível, e uma das alternativas seria a mistura com o diesel para diluir a quantidade de enxofre. “Mas isso elevaria bastante o custo. A maioria dos armadores dependerá da compra de combustível que se adeque às novas regras. O importante é implementar uma clara fiscalização para garantir que


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VALE-VALEMAX/DIVULGAÇÃO

Navio Ore Tianjin, da Vale, emite entre 15% e 20% menos gás carbônico

o jogo competitivo seja disputado com as mesmas regras. Considerando os altos custos do programa até 2020, somente uma ação forte e coordenada na implementação das regras pode garantir a competitividade no mesmo nível. Os custos para atingir essas metas são estimados em US$ 30 bilhões por ano adicionais para a indústria da navegação especializada em contêineres”, ressalta ele. Procurada pela reportagem da revista CNT Transporte Atual para comentar sobre o fornecimento de combustíveis menos poluentes para o setor marítimo, a ANP (Agência Nacional do Petróleo, Gás

Natural e Biocombustíveis), por meio de nota, destacou que, “em tratativas com a Marinha do Brasil, a Petrobras se propôs a ofertar, na data fixada pela IMO, as necessidades de sua própria frota envolvida no comércio internacional de petróleo e derivados, bem como as dos navios de bandeira brasileira ou estrangeira que demandarem combustível nos portos brasileiros”. Além de membro da IMO, o Brasil é signatário da Convenção Marpol (Convenção Internacional para a Prevenção da Poluição por Navios), o que reforça a atuação na busca de alternativas para reduzir a poluição causada pelo trans-

porte marítimo. Na visão do especialista em negociações climáticas internacionais da WWF-Brasil, Mark Lutes, a busca por menos emissões pode fazer com que o país seja beneficiado pela oportunidade de gerar uma maior eficiência nas formas de propulsão das embarcações. “As metas estabelecidas podem servir de incentivo para o Brasil produzir combustíveis alternativos, mas, para isso, é preciso haver uma transformação em todos os setores. Os navios fabricados a partir de agora serão mais eficientes já pensando em um futuro não muito distante, quando teremos que substituir os com-

“Espera-se que a limitação do teor de enxofre no combustível marítimo eleve o preço em mais de 50%” LUÍS FERNANDO RESANO, VICE-PRESIDENTE EXECUTIVO DO SYNDARMA


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ALIANÇA/DIVULGAÇÃO

Metas do acordo incentivam a produção de combustíveis alternativos

bustíveis fósseis por novas formas de combustíveis, como os biocombustíveis, hidrogênio e nitrogênio.” Portos Para alcançar os desafios das metas definidas pela IMO, o Brasil também aposta na utilização de fontes alternativas de energia em máquinas e equipamentos que atuam dentro dos terminais portuários. “Hoje, já existem máquinas, como empilhadeiras por exemplo, que utilizam baterias elétricas para o seu funcionamento, o que já é um indicativo de que o

setor portuário já iniciou a sua adequação”, lembra o presidente da Fenavega (Federação Nacional das Empresas de Navegação Aquaviária), Raimundo Holanda. Na visão dele, para as empresas se adequarem aos novos índices de emissões, é preciso vencer barreiras que passam tanto por um aporte financeiro, quanto por uma mudança de postura. “As mudanças exigirão grandes investimentos, mas, também, é preciso agir de maneira diferente. Em países em desenvolvimento, como é o caso do

Brasil, questões dessa natureza nem sempre são bem assimiladas, pois se espera que os países já desenvolvidos deem uma contribuição mais expressiva”, finaliza. Antes da assinatura do acordo em abril, medidas já estavam sendo adotadas pela IMO para mitigar a emissão de gases. Uma dessas ações é o EEDI (Sistema de Índices de Eficiência Energética de Projeto), na qual deverão ser priorizadas melhorias na hidrodinâmica dos cascos, no desempenho dos motores e das hélices e, também, na

utilização de combustíveis menos poluentes que possuem um melhor rendimento. Na parte operacional, foi adotado o SEEMP (Plano de Gestão de Eficiência Energética), que permite às companhias e aos navios acompanhar e melhorar o desempenho de vários fatores que podem contribuir para a redução das emissões de CO2, tais como o planejamento da viagem, o gerenciamento da velocidade, a otimização da potência dos motores, a manutenção do casco e o uso de diferentes l tipos de combustíveis.


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ARQUIVO CNT

INFRAESTRUTURA

Evento organizado pelo IDP debate imbróglios e soluções jurídicas para alavancar infraestrutura; iniciativa privada pode garantir mais celeridade aos contratos por EVIE

E

m um momento em que o Brasil carece de investimentos em infraestrutura e que o poder público passa por dificuldades para captar os recursos necessários para alavancar os diversos setores da economia, sobretudo o de transporte, a solução para o país é a atração do investidor privado. A avaliação é do diretor-executivo da CNT (Confederação Nacional do Transporte), Bruno Batista, que participou, em junho, do 1º Congresso Brasileiro de Direito Público da Infraestrutura, em Brasília (DF). O evento foi organizado pelo IDP (Instituto Brasiliense de Direito Público). Para exemplificar as consequências da falta de investimen-

GONÇALVES

to em infraestrutura, Batista citou o estudo “Acidentes Rodoviários e a Infraestrutura”, recentemente divulgado pela Confederação. Apenas em 2017, o Brasil registrou cerca de 90 mil acidentes em rodovias federais, que custaram cerca de R$ 10,8 bilhões aos cofres públicos – montante acima do que o poder público conseguiu investir nas mesmas rodovias. Entre 2007 e 2017, foram mais de 1 milhão de acidentes e 83 mil mortes, média de 21 mortes por dia ou de cerca de um óbito por hora. “Estamos falando de índices que países desenvolvidos tinham há 35 anos. E grande parte desses números está relacionada à qualidade da infraestrutura

que o governo não consegue manter. Por isso, a necessidade dos recursos privados é tão evidente”, avaliou o diretor. Batista participou do painel “A Arbitragem nos Contratos de Parceria” e defendeu que o mecanismo é fundamental para a atração de novos investimentos e de parceiros melhores, o que pode dar resoluções mais céleres aos contratos de infraestrutura. Tarcísio Gomes de Freitas, secretário de coordenação de projetos da Secretaria Especial do PPI (Programa de Parcerias de Investimentos), ressaltou que o país passa por uma situação de “desorganização sem precedentes e que caminha na direção do precipício”. “O investidor procura por

outros destinos, porque nós não conseguimos dar segurança jurídica nos nossos contratos. Está cada vez mais difícil trazer o investimento e o capital para cá. A provocação é a seguinte: qual será o nosso legado para as próximas gerações? Como vencer as amarras de um país que criou uma rotina administrativa medrosa?”, questionou. Marcelo Siqueira, diretor-jurídico do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social), foi enfático ao dizer que boas iniciativas necessitam de bons projetos e de contratação de entidades com capacidade técnica adequada. “Tenho preocupação, pois os nossos projetos de infraestrutura estão acabando e não há


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Investimento

privado é a solução uma carteira com projeção para a próxima década. Na prática, temos um país carente de infraestrutura e de projetos. Isso é um contrassenso”, observou. Siqueira disse que o banco está migrando para uma nova forma de contratação de empresas para a realização desses projetos. Com isso, aposta em outra alternativa para sair do tradicional pregão, que não oferece a rapidez desejada aos processos. “Nossa estratégia é selecionar previamente os parceiros e oferecer um produto padrão, já com custo determinado, para os entes que procurarem financiamento junto ao BNDES. Assim, os estudos já podem ser iniciados no dia seguinte à

assinatura do contrato”, explicou. A intenção do banco é lançar um edital em 30 dias para o setor de iluminação pública. Marco Aurélio Barcelos, secretário de articulação para investimentos e parcerias da Secretaria Especial do PPI, avaliou que a qualidade dos projetos é ruim, porque os mecanismos utilizados nas contratações (inexigibilidade, concorrência, pregão, procedimento de manifestação de interesse, entre outros) não oferecem a sofisticação adequada aos projetos. Entre os pontos negativos, estão a perda de escala, a insegurança jurídica, o foco no preço, processos demorados e a possibilidade de desvios de recursos.

Setor portuário Um dos setores que mais padecem com o excesso de burocracia nas normas contratuais é o portuário. O advogado Rafael Schwind avaliou que, mesmo o decreto nº 9.048/2017, que simplifica processos para o setor, ainda carece de redução de formalidades. “Hoje, um terminal leva dez anos para conseguir a autorização para realizar uma expansão, mesmo que estejamos falando em investimentos privados em áreas públicas. As obras duram apenas seis meses. Os estudos precisam ser simplificados para que os projetos evoluam com celeridade”, ponderou Schwind. O diretor-geral da Antaq (Agência Nacional de

Transportes Aquaviários), Mário Povia, ressaltou que os contratos “maltratam os investidores devido à grande burocracia e à demora para obtenção de licenciamento ambiental. Investir em infraestrutura tem se tornado um calvário”. Segundo o diretor, a agência possui mais de uma centena de áreas portuárias para licitar, mas não o faz devido à falta de estudos. Na visão de Povia, para que o setor portuário deslanche, é preciso haver atração de investimentos, flexibilização de regras, garantia da segurança jurídica, estabilidade regulatória, apoio à navegação interior e à cabotagem, redução de burocracia, maior fiscalização e avanços nos modelos de l concessão de dragagem.


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AÉREO

Abastecimento

garantido

Em Guarulhos e no Galeão, combustível chega por dutos, o que assegura o funcionamento durante crises; sistema é inviável para demais terminais por

DIEGO GOMES


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39 ARQUIVO CNT

A

paralisação dos caminhoneiros que mobilizou todo o Brasil no mês de maio trouxe à tona – entre tantas demandas que ganharam destaque na imprensa e na sociedade – uma questão pouco explorada: o abastecimento de combustível nos aeroportos. O que se viu, em pouco mais de uma semana de paralisação, foram mais de 270 voos cancelados e alguns terminais até mesmo fecha-

dos, já que não havia como transportar o combustível. Os aeroportos de Guarulhos, em São Paulo, e do Galeão, no Rio de Janeiro, entretanto, foram os únicos do país não afetados diretamente. Isso só foi possível porque os dois terminais recebem o combustível que abastece os aviões diretamente por dutos subterrâneos. Em todos os outros aeroportos brasileiros, o fornecimento de combustível é feito

por meio de caminhões-tanque. Daí o cenário de desabastecimento que impediu as operações em alguns terminais. A Abear (Associação Brasileira das Empresas Aéreas) estima um prejuízo diário, durante a greve, de mais de R$ 50 milhões, incluindo cancelamentos, pousos técnicos para reabastecimentos, no-shows (quando a pessoa faz o check-in, e não embarca) e atendimento a passageiros que

deixaram de embarcar. Tal situação chamou atenção para a segurança proporcionada pelo sistema de distribuição por dutos subterrâneos que funciona nos terminais paulista e carioca desde quando foram inaugurados. Guarulhos começou suas operações em 1985, e o Galeão, oficialmente em 1977. Recife, em Pernambuco, também dispõe de sistema semelhante, mas somente em um terminal.


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FOTOS PLURAL/DIVULGAÇÃO

Segundo a Plural, associação que reúne as distribuidoras de combustíveis e lubrificantes, os dutos são utilizados como canais tanto para o abastecimento de refinarias, quanto para o escoamento da produção. No caso dos aeroportos, o combustível é levado até os terminais, onde fica armazenado para distribuição. Segundo a ANP (Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis), oleodutos são dutos terrestres ou marítimos, de transporte ou transferência, que movimentam petróleo, líquidos de gás natural, condensado, derivados líquidos de petróleo e gás liquefeito de petróleo, e todos os produtos líquidos cujas

VOCÊ SABIA?

Vale lembrar que as aeronaves precisam ser abastecidas antes de cada voo com querosene de aviação (JET A-1), combustível utilizado com motores a turbina, seja jato-puro, turboélices ou turbofans. Para saber a quantidade de combustível necessária ao abastecimento de aeronaves, é preciso fazer um cálculo com base em uma série de variáveis, como número de passageiros e tripulantes; distância do voo (horas); peso do veículo aéreo; peso da carga total (carga normal, cozinha e alimentação). Além disso, é sempre importante adicionar uma quantidade de combustível de segurança caso a aeronave não consiga abastecer na próxima parada esperada. Também é exigido extremo cuidado no ato do abastecimento a fim de evitar o risco de contaminação, o que pode causar falhas mecânicas e, por extensão, até acidentes.


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SUPRIMENTO DE AEROPORTOS TANCAGEM NOS BASES PRIMÁRIAS:

AEROPORTOS: Exclusivas ou pool

Distribuidoras

FORNECIMENTO:

OPERAÇÃO DE PISTA: Individual

Cabotagem ou refinaria

Galeão

Dutos

Duto ("hidrante")

Dutos Guarulhos

Fonte: Sindicom

operações de movimentação sejam reguladas pela agência. Em todo o Brasil, são 7,5 mil quilômetros de oleodutos. A capacidade é para 10 milhões de metros cúbicos.

Em Guarulhos, são

9,5 km de dutos dedicados ao aeroporto

Características: • Gerenciamento do relacionamento com o cliente e comunidade aeroportuária • Recebimento do produto • Controle de qualidade

Características: • Investimento alto • Conexão direta ao produtor/ fornecedor: refinarias ou portos no recebimento de cabotagem • Podem ser exclusivas ou pool (regime de condomínio entre mais de uma distribuidora)

Logística paulista No aeroporto de Guarulhos, o abastecimento é viabilizado por meio de três oleodutos – um com 66 quilômetros e outros dois com 120 quilômetros cada. O terminal recebe derivados de petróleo e álcool das refinarias de Revap - Vale do Paraíba (Paulínia), de Revap - Guararema (São Caetano do Sul) e de Recap - Capuava (São Sebastião). O terminal transfere o QAV (querosene de aviação) para abastecer os

aviões que saem do aeroporto e também armazena combustíveis para atender ao mercado consumidor da região. São 9,5 quilômetros de dutos dedicados ao aeroporto. O sistema tem capacidade para transportar o combustível utilizado nas mais de 90 mil decolagens realizadas por ano. Segundo o gerente nacional da Raízen, responsável pela logística de distribuição de combustíveis em Guarulhos, Leonardo Campelo, dentro do terminal paulista, o querosene de aviação é armazenado em tanques da Transpetro – braço da Petrobras que cuida do transporte e da logística de combustíveis pelo país. Diariamente, o aeroporto de

Guarulhos consome cerca de 8 milhões de litros de querosene de aviação. Em caso de interrupção do serviço, o aeroporto tem um estoque de reserva para três dias de operação. Após a armazenagem, o QAV fica em repouso por 24 horas, conforme os procedimentos de qualidade adotados pela Petrobras, visando segregar por decantação possíveis contaminantes, como a água. Na sequência do período de repouso, são feitas as análises em laboratório para a chamada recertificação do combustível, num processo que dura aproximadamente oito horas. Com o certificado obtido, o produto é enviado ao grupo das distribuidoras BR, Shell e Air BP,


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“O investimento em dutos é bastante elevado e, até o momento, não houve projetos que viabilizassem a construção de outros sistemas” LEONARDO CAMPELO, GERENTE NACIONAL DA RAÍZEN

que opera 24 horas por dia, onde fica armazenado. Esse envio é realizado por um duto exclusivo para QAV (até esse momento, o processo se dava por meio de poliduto, por onde também passam óleo diesel e outros derivados). Para abastecer as aeronaves, Guarulhos dispõe de dois expedientes: pelos CTAs (caminhão-tanque abastecedor) e pelo SRV (servidor de hidrantes). Esse último é utilizado em poucos aeroportos no Brasil e, em São Paulo, apenas o de Guarulhos possui essa estrutura. Caso carioca No Rio de Janeiro, o querosene de aviação é enviado dire-

tamente da refinaria Duque de Caxias (Reduc) para o aeroporto do Galeão. De acordo com a concessionária RIOgaleão, o fornecimento para as aeronaves é realizado por meio de pits de abastecimento, sistemas que transportam o combustível por tubulações subterrâneas. São 11 quilômetros de dutos com capacidade para até 9 milhões de litros de combustível todos os dias. O terminal consome atualmente cerca de 3,4 milhões de litros de querosene de aviação. Assim como no caso do aeroporto paulista, o Galeão também conta com tanques de armazenamento com estoque de reserva para até três dias em caso de inter-

rupção do fornecimento, o que representa 12 milhões de litros de combustível. Em nota, a concessionária que administra o terminal afirma que o combustível disponibilizado ao aeroporto permite a realização de 456 mil decolagens por ano. No ano passado, foram 16,2 milhões de passageiros transportados. Mesmo dentro dos aeroportos, o querosene de aviação continua a ser transportado por dutos subterrâneos até chegar aos tanques dos aviões. No portão de embarque ou no pátio de estacionamento, um caminhão-servidor liga o duto de combustível à asa do avião. Esse caminhão não armazena

o combustível. Ele funciona apenas como uma bomba para transportar o querosene dos dutos até os tanques do avião. Além disso, o caminhão tem filtros, medidor volumétrico e equipamento para amostragem do produto para garantir a sua qualidade. Investimento viável? Eduardo Campelo, da Raízen, explica que os aeroportos de Guarulhos e Galeão, “por terem sido construídos para serem hubs internacionais, foram concebidos como bases primárias conectadas diretamente às refinarias”. Ele diz que o principal motivo dessa ligação era o volume


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No aeroporto do Galeão, os dutos têm capacidade para transportar

9 milhões de litros de combustível

de movimentação estimado dos aeroportos, à época de sua construção, o que, de fato, se confirmou. Atualmente, a movimentação de querosene de aviação no terminal de Guarulhos é de aproximadamente 2,2 milhões de metros cúbicos por ano (32% do total do mercado). O Galeão, responsável por 17% do mercado, movimenta 1,2 milhão de metros cúbicos por ano. O aeroporto de Brasília, por sua vez, terceiro nessa lista, não chega à metade do volume do segundo – aproximadamente 520 mil metros cúbicos – além de ficar a 800 quilômetros da refinaria mais próxima.

Além disso, Campelo pondera que a implantação desse tipo de sistema é onerosa, mesmo que, posteriormente, a operação tenha custos menores. Na avaliação dele, os aeroportos geralmente estão localizados em áreas de alta densidade demográfica, o que provoca um custo muito alto para planejar, fazer as perfurações e implementar o sistema. “O investimento em dutos é bastante elevado e, até o momento, não houve projetos que viabilizassem a construção de outros sistemas, similares aos de Guarulhos e do Galeão, em aeroportos.” Outro problema, aponta

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Campelo, está relacionado às regulamentações internacionais do transporte aéreo. Segundo ele, as regras estabelecidas para o uso de dutos como forma de abastecimento são rígidas. É preciso, por exemplo, haver uma proteção na área de abastecimento, por questões de segurança. Além disso, o traçado da rede de dutos deve ser muito bem pensado para evitar acidentes e até o furto de combustível. No Brasil, os casos de furtos em dutovias não são raros e podem causar incêndios e explosões. Em 2017, de acordo com a Transpetro, foram 226 furtos ou tentativas de furto desse tipo. l


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FERROVIÁRIO

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SUPER VIA/DIVULGAÇÃO

Comunicação

imediata

Sistemas de áudio e vídeo, aplicativos e redes sociais; confira os principais canais utilizados pelas concessionárias de trens e metrôs para a integração com os passageiros por

B

"

om dia! Eu sou o condutor Lima. Desejo a todos uma boa viagem e que, mesmo diante das dificuldades e dos desafios da vida, consigam realizar seus projetos e sonhos”. A frase é repetida religiosamente ao início de cada viagem conduzida por Marcos Paulo Lima de Freitas no metrô do Rio de Janeiro. Há dez anos, o condutor optou por utilizar as palavras para levar incentivo aos cerca de 1.800 usuários que lotam uma composição (com-

EVIE GONÇALVES

posta de seis vagões) em horário de pico. O entusiasmo rendeu frutos. Lima coleciona histórias de usuários que o abordaram para agradecer pela forma de comunicação. “Certa vez, um passageiro chegou à porta da cabine, apertou e beijou minha mão e olhou para o céu. Fiquei muito emocionado, porque lembrei do meu avô, que dava a sua mão para a gente beijar e pedir a benção”, lembra. Em outra vez, um usuário o

abordou para dizer que a mãe havia acabado de falecer e que o que ele havia dito fez muito sentido para a vida dele naquele momento de dor. “A única coisa que eu consegui falar foi que sentia muito, mas sei que as minhas palavras deram força para ele seguir adiante”. Lima conta que decidiu levar esse tipo de mensagem aos usuários devido à sua fé. “A gente conduz pessoas com crenças e formações diferentes. Logo, eu não poderia usar a

minha religião para me expressar, mas poderia transmitir algo bom. Quando eu chegava às plataformas, percebia que ali havia muitas vidas. São pessoas indo para a faculdade, para o emprego, para o médico e para tantos outros lugares. E nem sempre elas estão bem. Resolvi me comunicar para incentivar”, conta ao dizer que já havia feito cursos oferecidos pela empresa sobre como estabelecer uma comunicação direta com os usuários, sobretudo em


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INOVAÇÃO

O Tinder dos trens

A SuperVia inovou na comunicação com os usuários ao propor, em junho deste ano, um hotsite para o Dia dos Namorados: o “Tô de Love no Trem”, espécie de Tinder (aplicativo de relacionamentos) dos trens. Por meio da divulgação no Facebook, anúncios na internet e no Twitter, além dos sistemas de áudio e vídeo dos vagões, a empresa encorajou os passageiros a se cadastrarem e encontrarem seu par perfeito nos ramais situações excepcionais, quando os passageiros demandam mais informações sobre o que está acontecendo no metrô. O sistema de áudio dentro das cabines é apenas uma das maneiras que as concessionárias utilizam para manter a comunicação com os usuários. Televisores nos trens, centrais de relacionamento

SUPER VIA/DIVULGAÇÃO

da companhia. Para isso, os interessados se cadastram pelo Facebook e respondem a algumas perguntas básicas, como os ramais pelas quais circulam, gosto musical, profissão, entre outras. A partir das informações prestadas e das fotos dos passageiros, o sistema filtra interesses em comum e chega a um número reduzido de pessoas. Nesse momento, o usuário escolhe seu parceiro dando um coração para

aquele que for de seu interesse. Se ele receber um coração em troca, eles começam a conversar e combinam um encontro. “Desde que começamos a iniciativa, mais de 15 mil mensagens foram trocadas e mais de 2.300 corações, compartilhados. Já recebemos histórias de pessoas que se conheceram pelo hotsite e começaram a namorar”, comemora a coordenadora de comunicação da SuperVia, Sílvia Souza.

0800, cartazes, balcões de informação, sites, aplicativos e redes sociais se tornaram importantes ferramentas para que a informação chegue ao passageiro e vice-versa. “Com o crescimento do uso de smartphones e do acesso à internet, as redes sociais se tornaram um veloz e importante canal de informação e atendimento aos

passageiros. Eles enviam com facilidade seus comentários e pedidos e são rapidamente atendidos e/ou orientados por profissionais preparados para todo tipo de demanda dos usuários e não usuários”, afirma a superintendente da ANPTrilhos (Associação Nacional dos Transportadores de Passageiros sobre Trilhos),

Roberta Marchesi. Na SuperVia, no Rio de Janeiro (RJ), por exemplo, os diferentes canais atingem distintos passageiros. “Nossos usuários variam de estudantes a idosos. A gente sabe que a pessoa com mais idade vai usar o Supervia fone. Os mais jovens, entretanto, vão procurar os canais digitais, como Facebook ou Twitter. A nossa filosofia de informação aliada ao relacionamento está presente em qualquer um dos canais”, explica a coordenadora de comunicação da empresa, Sílvia Souza. Além do sistema de áudio com mensagens programadas e anúncios operacionais, a concessionária também dispõe de televisores dentro dos trens com pequenos vídeos que trazem informações, como não ultrapassar a faixa amarela, seguir os avisos sonoros e detalhes técnicos das linhas. Os painéis de led nos terminais de embarque e desembarque informam tanto a estação de parada e o seu respectivo nome, como também mensagens educativas e programadas de acordo com a rota do trem. As tecnologias digitais, como site oficial, aplicativo e redes sociais também têm sido uma importante forma de comunicação com os usuários da empresa. Lançado em 2014, o aplicativo oficial da SuperVia já possui mais de 16 mil downloads. Uma das vantagens é que o passageiro consegue fazer uma previsão de horários de viagem e da sequência


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CONFIRA OS CANAIS DE COMUNICAÇÃO DAS ASSOCIADAS DA ANPTRILHOS: IA

NC

DE

OUVIDORIA

FALE CONOSCO

CBTU Belo Horizonte

CTB

www.cbtu.gov.br www.facebook.com/cbtubelohorizonte/ (31) 3250-390 (31) 99999-1108 (31) 99999-1108 ouvidoria-bhz@cbtu.gov.br

CBTU João Pessoa www.cbtu.gov.br www.facebook.com/cbtu.joaopessoa/ (83) 3241-4240 ouvidoria-jop@cbtu.gov.br

CBTU Maceió www.cbtu.gov.br www.facebook.com/cbtu.maceio/ (82) 2123-1700 ouvidoria-mac@cbtu.gov.br

www.metro.sp.gov.br www.facebook.com/metrosp 0800 770 7722 (11) 97333-2252 @metrosp_oficial

Metrofor www.metrofor.ce.gov.br www.facebook.com/oficialmetrofor (85) 3101-7100 @Metrofor www.metrorio.com.br www.facebook.com/metrodorio/ 0800 595 1111 @metro_rio

www.cbtu.gov.br www.facebook.com/cbtunatal/ (84) 3221-3355 ouvidoria-nat@cbtu.gov.br

Metrô Brasília

CPTM www.cptm.sp.gov.br www.facebook.com/cptm.fanpage 0800 055 0121 (11) 99767-7030 (11) 997150-4949 @CPTM_oficial

de trens. A página na internet tem todas as informações referentes aos serviços prestados pela concessionária. E as redes sociais são um canal bastante eficaz na transmissão

Metrô São Paulo

MetrôRio

CBTU Natal

Fonte: ANPTrilhos

SuperVia

www.ctb.ba.gov.br (71) 3612-1247 ouvidoria@ctb.ba.gov.br

www.metro.df.gov.br www.facebook.com/metrobrasilia (61) 3353-7373 (61) 99265-1178 ccs@metro.df.gov.br @metrobrasilia

CCR Metrô Bahia www.ccrmetrobahia.com.br 0800 071 8020 faleconosco.metrobahia@grupoccr.com.br

de comunicados e campanhas, como a mais recente do Dia dos Namorados (confira detalhes na página 46). “A gente percebe que a comunicação chega. Prova disso

www.supervia.com.br www.facebook.com/superviarj 0800 726 9494 superviafone@supervia.com.br @SuperVia_trens

Trensurb www.trensurb.gov.br www.facebook.com/trensurboficial (51) 3363-8477 (51) 98463-9863 ouvidoria@trensurb.gov.br @Trensurb

ViaQuatro www.viaquatro.com.br 0800 770 7100 central.atendimento@viaquatro.com.br ouvidoria@viaquatro.com.br

VLT Carioca www.vltrio.com.br www.facebook.com/VLTCarioca/ 0800 000 0858 ouvidoria@vltrio.com.br @VLTCarioca

CBTU Recife Site: www.cbtu.gov.br www.facebook.com/CBTURecife/ (81) 2102-8580 ouvidoria-rec@cbtu.gov.br

é que, recentemente, houve a implosão de um prédio nas proximidades da Supervia que impactou o nosso trabalho e tivemos que interromper a circulação em um dia de vestibular.

A gente ficou preocupado porque precisávamos que o maior número de estudantes recebesse a informação. Disparamos para todos os nossos canais e não tivemos transtornos. As pes-


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SUPER VIA/DIVULGAÇÃO

Marcos Paulo Lima de Freitas, condutor do Metrô Rio

soas conseguiram se planejar a tempo”, lembra Sílvia. Na CPTM (Companhia Paulista de Trens Metropolitanos), a comunicação por meio de múltiplos canais também tem sido eficaz. Somente o 0800 recebe mais de 50 mil ligações por mês, sendo 97% relativas a pedidos de informações. Nos balcões de atendimento, são 52 mil manifestações ao mês. Nas redes sociais, a dinâmica é diferente, e o número de atendimentos ganha proporções ainda maiores. O Facebook da companhia alcançou 852 mil pessoas apenas no último mês. Além disso, cerca de 8.000 passageiros curtiram as publica-

ções, deixando um total de 1.300 comentários e realizando 4.000 compartilhamentos. Pelo Twitter, foram mais de 1 milhão de visualizações, 2.000 curtidas e 14 mil engajamentos, além de 450 retuítes. “A comunicação com os passageiros é essencial para a CPTM. Muitas vezes, o passageiro utiliza um de nossos canais para relatar algo que ocorreu dentro do trem e, a partir daí, conseguimos acionar o CCO (Centro de Controle Operacional) e reparar ou isolar o veículo para que as pessoas não tenham problemas”, lembra Sérgio de Carvalho, gerente de relacionamento e marketing da empresa. Ele explica que, nos últi-

mos 20 anos, a companhia vem aprimorando seus canais de comunicação. “Em 1999, só havia o 0800. Em seguida, criamos os postos de atendimento. Com o tempo, evoluímos para o portal digital e acabamos trazendo um novo tipo de manifestação no qual o usuário manda e-mail e fala com a gente. Depois aderimos às redes sociais. A última inovação foi em 2018, com os atendimentos via WhatsApp”, observa. Segundo Carvalho, as redes sociais e as centrais 0800 são as mais efetivas, pois oferecem respostas imediatas aos usuários. WhatsApp Um dos canais que têm atu-

ado de forma importante na comunicação com os passageiros do Metrô do Distrito Federal é o WhatsApp. Instituído em 2016, o número está disponibilizado nos trens, nas estações e nas mídias sociais. Os usuários fazem todo tipo de contato em tempo real. O período de atendimento é das 7h às 19h. “Recebemos muitas reclamações de mulheres que se sentem ofendidas por presenciarem homens entrando no vagão exclusivo, por exemplo. Também chega alerta de entrada de vendedores ambulantes nos trens, reclamações de atrasos, pedidos de retirada de objetos que tenham caído na via, informações sobre dias e horários de funcionamento e localização das estações e, até mesmo, elogios”, conta Walter Gonçalves, inspetor de estação lotado na ouvidoria do metrô. Só no ano passado, do total de manifestações por meio de todos os canais de comunicação, 60,3% ocorreram pelo WhatsApp. Em abril, foram 2.902 contatos pela ferramenta, sendo 2.143 pedidos de informações gerais, 679 reclamações e o restante de sugestões, solicitações e elogios. “Estamos mais próximos do usuário e é uma ferramenta bem interessante, porque a resposta é mais célere. Quando o passageiro manda e-mail e solicitações aos órgãos oficiais, a resposta geralmente demora. Com o WhatsApp, a sensação de atendimento é l mais real e imediata.”



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INOVAÇÃO

O que o futuro reserva para o transporte? Gestores do setor participam do 4º Workshop mediaX, na sede da Universidade de Stanford; iniciativa é do SEST SENAT, em parceria com a CNT e o ITL da

O

mundo passa por constantes inovações, e o setor de transporte também está sendo impactado. As transformações vão desde a utilização de impressoras 3D, que podem reduzir a demanda pelo transporte de mercadorias por longas distâncias, à convergência tecnológica, que tem o celular como peça-chave e impacta a oferta de novos serviços, passando pela necessidade urgente de coleta e análise de dados.

REDAÇÃO

Entender as mudanças pelas quais passa o mundo é fundamental para responder a esta questão: o que o futuro reserva para o transporte? Diversas iniciativas têm sido realizadas para acompanhar essas transformações e garantir, assim, a sustentabilidade da atividade transportadora. Em junho, gestores do transporte brasileiro participaram, na sede da Universidade de Stanford, na Califórnia, nos Estados Unidos, do 4º

Workshop mediaX. O evento foi promovido pelo SEST SENAT e contou com a parceria da CNT e do ITL (Instituto de Transporte e Logística). A iniciativa faz parte da parceria estabelecida, em 2017, entre o SEST SENAT e o mediaX. Outros três workshops foram realizados na sede da Confederação Nacional do Transporte, em Brasília (DF), entre julho do ano passado e março deste ano. A parceria do SEST SENAT com o mediaX tem como objeti-

vo formar lideranças e multiplicadores capazes de estimular ideias e criar novas metodologias para a qualificação de trabalhadores do transporte, adaptadas às demandas que surgem com as inovações tecnológicas. “São iniciativas como essa que permitem a movimentação rumo a um setor mais inovador. O ritmo acelerado das transformações tecnológicas anuncia para o transporte um futuro antes inimaginável. Precisamos estar atentos às


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máquinas que chegam com novas funções, mas, também, à gestão das empresas”, afirma o presidente da CNT e dos Conselhos Nacionais do SEST e do SENAT, Clésio Andrade. De acordo com a diretora-executiva nacional do SEST SENAT, Nicole Goulart, a realização dos workshops nos instiga à reflexão sobre as ações que efetivamente precisam ser adotadas para superar os desafios que se impõem ao setor de transporte,

tanto em termos tecnológicos, como em mudanças econômicas e sociais. “Precisamos desenvolver novas técnicas de pensar e de fazer o transporte para atender ao que o futuro nos propõe. Para isso, buscar qualificação, alinhada com a inovação, é fundamental”, afirma ela. A importância dos dados Um dos alertas feitos pelos especialistas de Stanford está relacionado à importância de se perceber o que é relevante

e utilizar os dados com um olhar voltado para o futuro. O risco, do contrário, é utilizar informações relativas a situações já superadas, o que pode comprometer a qualidade da análise e da tomada de decisões. Para o diretor-executivo da CNT, Bruno Batista, as discussões realizadas durante os workshops revelam, do ponto de vista do transporte, que esse período de intensas transformações requer atenção especial para o desenvol-

vimento de novos produtos e serviços. “Isso demanda um esforço organizacional bastante grande, principalmente no segmento relacionado à coleta e análise de dados. Além disso, é preciso ficar atento aos novos serviços que podem ser oferecidos a partor da convergência tecnológica”, destaca ele. Além de palestras, o workshop proporcionou a realização de visitas técnicas e a troca de experiências


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“O ritmo acelerado das transformações tecnológicas anuncia para o transporte um futuro antes inimaginável” CLÉSIO ANDRADE, PRESIDENTE DA CNT E DOS CONSELHOS NACIONAIS DO SEST E DO SENAT

com empresas de transporte e desenvolvedoras de tecnologia. Uma dessas visitas foi realizada no Galvanize – Centro de Educação Tecnológica que busca aprimorar conhecimentos sobre tecnologia e estimular a criação de startups. A instituição desenvolveu um programa para a formação de cientistas de dados no qual podem participar profissionais das mais distintas áreas. “A utilização de dados para as empresas deve ser vista como algo tão estratégico que um novo profissional surge no mercado. Essa é uma visão de futuro bastante interessante”,

destaca Batista (leia mais sobre como a coleta e a análise de dados pode garantir o sucesso das empresas na página 63). No Vail – Laboratório Volkswagem de Inovação Automotiva da Universidade de Stanford –, que promove pesquisas sobre veículos de última geração em um espaço comunitário, os participantes do workshop tiveram contato com projetos que impulsionam a tecnologia veicular com foco em soluções de mobilidade centradas no ser humano. Os projetos do Vail estão voltados para sistemas e assistência ao

motorista; veículos que usam visão computacional para automatizar o processo de direção; interação de motoristas com veículos no simulador de condução, entre outros. Segundo o diretor-executivo do ITL (Instituto de Transporte e Logística), João Victor Mendes, a troca de experiências proporcionada pela parceria entre o SEST SENAT e o mediaX, da Universidade de Stanford, abre os olhos dos gestores do transporte para a necessidade de buscar novos meios para solucionar os antigos problemas. “O contato com empresas ino-

vadoras nos instiga a nos prepararmos para enfrentar o que ainda vem pela frente.” O roteiro de visitas também incluiu: a Agência Metropolitana de Transportes de São Francisco, que cuida da infraestrutura para pedestres, bicicletas e automóveis, vias de ônibus e trânsito e calçadas; e Skyline College – faculdade que trabalha dentro da cultura de pesquisa e inovação visando à excelência acadêmica. Por fim, os gestores conheceram o Centro Empresarial da Bay Area, um acelerador de negócios e indutor de inovação.


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INSTITUCIONAL

Os desafios das lideranças em meio às transformações As transformações pelas quais a sociedade passa desafiam também as lideranças das organizações. O líder contemporâneo precisa dominar os processos da empresa, estar atento aos profissionais que compõem a sua equipe, mas, também, deve olhar para fora e perceber o que está sendo criado para não perder espaço no mercado. Esse foi o tema central do HSM Leadership Summit 2018, promovido pela HSM no início de junho, em São Paulo (SP). A parceria do SEST SENAT, da CNT e do ITL com a HSM é mais uma iniciativa do Sistema CNT em capacitar altos executivos de empresas e instituições do transporte com o objetivo de aprimorar o conhecimento sobre o que há de mais inovador na gestão de negócios. “Dessa maneira, estamos contribuindo para o fortalecimento e o aumento da competitividade da atividade transportadora. É urgente que estejamos atentos ao que o mundo nos mostra em termos de inovação e transformação. E preparar as nossas lideranças para isso é o primeiro passo”, afirma o presidente da CNT, Clésio Andrade. Um dos temas de destaque do evento foi o conceito de

design sprint, apresentado por Jake Knapp, designer renomado que trabalhou em grandes empresas, como Google, Lego e Ideo. A técnica vem sendo utilizada para testar e aplicar novas ideias de produtos e serviços e tem possibilitado que empresas se antecipem aos riscos e, assim, se tornem mais eficazes. A proposta do design sprint é reunir, durante uma semana, profissionais de diferentes áreas de atuação na empresa, com diferentes experiências e perspectivas, para pensarem apenas no novo produto. “Durante cinco dias, esses profissionais devem limpar suas agendas para se dedicarem a apenas essa ideia. Parece simples, mas é algo muito poderoso”, explica ele. Outro desafio das empresas é o gerenciamento de recursos, incluindo tempo, dinheiro e equipe. Para Scott Sonenshein, doutor em gestão e organizações e professor de Gestão na Rice University, ter menos recursos, às vezes, é a solução. Ele propõe um exercício de stretching, ou seja, incentivar e criar possibilidades para que as equipes busquem maneiras mais eficazes de utilização de recursos. “Se você não tem um martelo para

HSM/DIVULGAÇÃO

pregar um prego na parede, é possível que você pense em pedir um emprestado ou até mesmo comprar um. Com o stretching, você pega o seu sapato e prega o prego com ele. O que eu quero dizer é que ter menos ativa a criatividade e possibilita novas descobertas.” Tolerância a erros Independentemente da técnica utilizada para alcançar a inovação, especialistas afirmam que é preciso equacionar a agilidade das transformações e as exigências do mundo moderno e permitir que falhas aconteçam. “O que faz uma pessoa inovadora não é necessariamente a sua alta criatividade, mas a disponibilidade que ela tem de falhar. Para inovar, é fundamental ser

tolerante diante dos próprios fracassos. A inovação acontece quando combinamos ideias, mas isso só é possível quando nos permitimos falhar, até que o sucesso aconteça”, afirmou Charles Duhigg, autor do livro “O Poder do Hábito”. A ideia foi compartilhada pela psicóloga Susan David, membro da faculdade de medicina da Universidade de Harvard. Na visão dela, é essencial que se crie, nas organizações, um ambiente com segurança psicológica, permitindo que as pessoas sejam, em seus locais de trabalho, quem elas realmente são. “A inovação anda lado a lado das falhas. As pessoas precisam se sentir seguras para inovar. Para isso, o ambiente onde elas estão deve ser favorável.”


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TECNOLOGIA

Inovações do presente

Programa Conecta chega à segunda etapa com as 25 melhores empresas de transporte e logística escolhidas; startups passarão por treinamento na Fundação Dom Cabral por

EVIE GONÇALVES e CARLOS TEIXEIRA de belo horizonte (mg)

C

om a missão de atrair soluções disruptivas para o setor de transporte e logística, o programa Conecta – Impulso a Startups, parceria entre a CNT (Confederação Nacional do Transporte) e o BMG UpTech, chega à segunda etapa com as 25 melhores startups escolhidas. Entre julho e outubro, as empresas selecionadas passarão por uma mentoria que contará com oito encon-

tros presenciais, de três dias cada, ministrada pela FDC (Fundação Dom Cabral). Nessa fase, serão escolhidas cinco vencedoras que participarão de um treinamento na sede da Plug In Play, localizada no Vale do Silício, nos Estados Unidos. A primeira fase foi concluída, em junho, em Belo Horizonte (MG). As 50 empresas selecionadas na etapa anterior apresentaram suas ideias para uma banca que

fez a triagem das 25 melhores empresas de transporte e logística. As ideias vão desde startups com soluções para sistemas de mobilidade urbana até tecnologias ecologicamente sustentáveis, passando por aplicativos que otimizam o trânsito na porta de escolas ou que gerenciam sistemas de recursos humanos nas grandes empresas. Para o diretor para Assuntos Internacionais da CNT, Harley Andrade, as impressões das empresas são

as melhores possíveis. “As apresentações nos impressionaram muito pela maturidade das empresas e pela qualidade dos produtos que estão sendo ofertados. É um momento de grande aprendizado para todos nós”, afirmou. Segundo ele, essas empresas apresentaram ideias inovadoras e disruptivas para problemas corriqueiros do dia a dia. “Elas criam um novo patamar de desenvolvimento tanto de softwares, quanto de


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soluções para atividades-meio e atividades-fim. É o futuro presente. A gente busca soluções inteligentes para que as empresas possam aplicar de imediato”, ressaltou. O CEO do BMG UpTech, Rodolfo Santos, comemorou a adesão maciça ao programa. “Foram mais de 400 empresas inscritas. A gente tem certeza de que todas as startups podem prestar ótimos serviços às empresas de transporte, que não conseguem ter a agilida-

de necessária para resolver problemas cotidianos.” O lead partner da Bossa Nova Investimentos, João Kepler, observou que é a primeira vez no Brasil que se faz uma conexão real entre as necessidades e os problemas das empresas de transporte e logística com as startups que apresentam soluções e negócios inovadores. “É uma competição de alto nível. São projetos que resolvem problemas reais, e não aque-

les imaginários. O futuro do transporte agradece. Não é tendência, não são negócios que ainda vão acontecer. São situações que o transporte exige e que as empresas podem atender para melhorar, inclusive, a vida do consumidor, do cliente e do passageiro”, lembrou. Para Francisco Cardoso, presidente da ABTI (Associação Brasileira de Transportadores Internacionais), que participou do evento, quem vai

ganhar com as ideias do Conecta são os clientes e usuários, que vão receber melhores serviços. “O legado do programa são empresas mais preparadas. Precisamos investir não somente em processos de gestão, mas, também, devemos abrir a nossa cabeça em relação à inovação. O programa veio para abrir as mentes para que a gente possa acompanhar as transformações que estão ocorrendo”, concluiu.


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AS STARTUPS CLASSIFICADAS PARA A SEGUNDA FASE DO CONECTA

Zumpy


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CONFIRA ALGUMAS IDEIAS SELECIONADAS PELA REPORTAGEM

PEDALA É adepto de compras via internet? A Pedala é uma empresa de logística sustentável que transporta produtos por meio de bicicletas. Atualmente, a startup está sediada no Rio de Janeiro e faz cerca de 600 entregas por dia (cargas de até 5 kg). “Não é só o frete ecológico que faz o consumidor final clicar. É preciso ser mais rápido e ter um custo menor. Sustentável é o ecológico alinhado à economia”, explica o CEO da empresa, Alexandre Messina. Ele conta que, atualmente, cerca de 120 milhões de pessoas estão conectadas à internet no

Brasil. Entretanto somente 5% das compras são feitas de forma virtual. Em países como a China, por exemplo, esse percentual

VENUXX Pensando no empoderamento da mulher e no mercado de mobilidade urbana voltado para o sexo feminino, foi criado o Venuxx, espécie de Uber das mulheres. Presente em Porto Alegre (RS), Belém (PA), Brasília (DF) e Belo Horizonte (MG), o aplicativo é exclusivo para mulheres, da motorista à passageira. A diretora de marketing e comunicação da Venuxx, Gabrielle Jaquier, explica que a tecnologia foi criada

devido à demanda por esse tipo de serviço e também para suprir um espaço que a igualdade de gênero possui na questão de mobilidade urbana. “Conectamos exclusivamente mulheres, tanto motoristas quanto passageiras. Nosso aplicativo foi pensado para atender às necessidades do universo feminino. Temos uma plataforma que fornece solução de transporte seguro, confortável e por um preço justo e acessível.”

chega a 20%. “Um dos motivos para a compra ser física é o fato de a logística ter altos custos, prazos demorados para che-

gar e frete alto. A Pedala tem o propósito de entregar mais rápido, com custo menor e de forma sustentável.”


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BIOSOLVIT Resíduos naturais que conseguem absorver o petróleo dos oceanos. Esse é o principal produto da Biosolvit, startup de biotecnologia aplicada. Por meio de matérias-primas, como fibra de coco, palmito e bagaço de cana, a empresa desenvolveu um produto que consegue absorver óleos para uso em terra ou no mar. Além disso, a tecnologia permite o reaproveitamento de cerca de 95% do material absorvido, devolvendo o petróleo para a refinaria. De acordo com o fundador e CEO da startup, Guilhermo Queiroz, 1 kg do produto absorve mais de 25 kg de óleo em 15 minutos. “Trata-se de um mercado promissor com pro-

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jeções em torno de US$ 180 bilhões para 2025. Em 2017, esse número alcançou a casa de US$ 180 bilhões. Estamos falando de uma tecnologia limpa que resolve problemas

ambientais”, ressalta. Queiroz explica que o Conecta tem diferenciais para acrescentar. “As conexões que a gente faz são extremamente relevantes,

além da possibilidade de se relacionar com o ecossistema bastante rico da CNT. O programa é ótimo e faz todo sentido para a gente integrá-lo”, comemora.

FILHO SEM FILA Pensada para dar mais comodidade aos pais que buscam filhos nas escolas ou aos que dependem do transporte escolar para pegar as crianças, a Filho sem Fila já atende a mais de 130 escolas no Brasil e está iniciando os trabalhos no Canadá, no México, no Paraguai e na Colômbia. Trata-se de um sistema logístico para o momento da saída dos alunos que rastreia a posição dos veículos dos pais, assim como a dos escolares, e avisa às escolas, com

dez minutos de antecedência, que eles estão chegando. Assim, elas preparam as crianças para que, quando os veículos chegarem, elas já estejam prontas para sair. “Nosso objetivo é reduzir a violência urbana do lado de fora da escola, assim como melhorar o trânsito na proximidade dos colégios. Pais que optam pelo transporte escolar também sabem o momento de embarque e desembarque e a posição do ônibus por meio de um aplicativo disponibilizado a eles”, explica o CEO da startup, Leo Gmeiner.


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ARBACHE Você já ouviu falar em gamificação? O termo é usado para o uso de mecânicas e dinâmicas de jogos para engajar pessoas, resolver problemas e melhorar o aprendizado. Nas empresas, a técnica pode ser aplicada em várias áreas, como vendas, treinamentos, recursos humanos e gestão de pessoas. No setor de transporte, pode ser utilizada para treinamentos de motoristas e, também, simuladores de inteligência artificial e redes neurais para fazer processos seletivos mais precisos. Essa é a solução oferecida pela Arbache Innovations, empresa de treinamento de recursos humanos, que, além da inteligência artificial e gamificação dos processos, trabalha com uma

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plataforma de mentoring que liga profissionais de diversas áreas a coaches e mentores. O CEO da Arbache, Alexandre Azevedo, destaca que a empresa utiliza o que há de mais moderno em inteligência artificial e Database para poder cruzar informações e melhorar questões centrais do segmento de transporte. “Enxergamos, no setor de transporte, vários projetos que podemos criar com produtos específicos para gerar engajamento, pensando em treinamentos exclusivos para os motoristas e para todos os modais, mapeando competências que precisem ser treinadas para que os profissionais produzam mais. As ferramentas estão prontas. Só é preciso sentar, conversar e adaptar”, finaliza.

AUTOMOBI Fundada para ser o elo entre os clientes e as concessionárias, a Automobi atua para o dono do veículo e para a concessionária no pós-venda. A startup ampara os dois lados, estreitando o relacionamento e realizando comunicações sobre revisões e manutenções do veículo e demais serviços, automatizando métodos burocráticos e aumentando a satisfação dos clientes.

O diretor-executivo da Automobi, Davi Barboza, destaca que, muitas vezes, as concessionárias não sabem o que está acontecendo com o carro no pós-venda. “Nós trabalhamos para trazer soluções e aproximar os lados de uma forma que ambos saiam atendidos. Já chegamos a reduzir em vários casos o nível de insatisfação dos clientes. A startup consegue intermediar a situação de forma rápida e mais eficiente.”


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ITL

Conhecimento Investir em coleta e análise de dados pode garantir a sustentabilidade das empresas; tema faz parte de capacitações promovidas pelo SEST SENAT e coordenadas pelo ITL por

A

CARLOS TEIXEIRA

s transformações pelas quais passa o mundo despertam a atenção também do setor empresarial. Os modelos de negócios de 20 anos atrás já não são mais sustentáveis, e as técnicas habituais de administração não conseguem acompanhar as inovações do mercado. Nesse cenário, o volume de informações que tem circulado pelos inúmeros canais existentes impõe um

novo desafio para as empresas: a utilização estratégica dos dados para a tomada de decisões. “Coletar, estruturar e analisar dados está se tornando uma exigência para organizações que querem se preparar para o futuro com competitividade. Saber identificar quais deles são relevantes e como utilizá-los para gerar inteligência, resolver problemas e agregar valor ao negócio pode ser o

diferencial para as empresas”, afirma o professor de engenharia da Universidade de Stanford, Ram Rajagopal. Na visão dele, quem não está preocupado com isso ficará para trás e, mesmo que a organização ainda não tenha formas para estruturar e analisar os dados, é fundamental começar a coletá-los desde já. O pesquisador explica que, hoje em dia, há a necessidade de

tomada de decisões de forma sistemática dentro das organizações e, utilizar os dados é uma forma de sistematizar a inteligência e o processo de decisão. “Em última instância, quem toma a decisão é o ser humano, mas as ferramentas podem dar a ele mais oportunidades para entender a situação, as opções e a possibilidade de quantificar, talvez, os potenciais resultados das decisões a serem


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estratégico tomadas”, explica ele. O tema integra os conteúdos programáticos das especializações oferecidas aos gestores do transporte, promovidas pelo SEST SENAT e coordenadas pelo ITL dentro do Programa Avançado de Capacitação do Transporte. São três cursos: Especialização em Gestão de Negócios, ministrada pela Fundação Dom Cabral; Certificação Internacional Aviation Management, minis-

trada pela Embry-Riddle Aeronautical University; e Certificação Internacional em Gestão de Sistemas Ferroviários e Metroferroviários, ministrada pela Deutsche Bahn Rail Academy. “Essa busca pelo entendimento das informações e pelo que elas podem propiciar faz parte do cardápio de conhecimento oferecido nas salas de aula dos cursos do ITL. Em um mundo conectado e acelerado,

com um grande volume de informações circulando, a análise de dados é imprescindível para o sucesso de uma empresa. Isso é estratégico para aperfeiçoar a tomada de decisões”, destaca o diretor-executivo do ITL, João Victor Mendes. Em relação à forma com que a coleta e a análise de dados podem contribuir para a prestação de serviços e para o desenvolvimento do transporte,

o professor da Universidade de Stanford, Ram Rajagopal, cita que a atuação pode acontecer em vários segmentos, desde a administração da rede de trânsito, para melhorar a fluidez, até a criação de novas oportunidades de negócios, novos serviços e novos modelos de parcerias. Para o doutor em filosofia de negócios e professor de sistemas de informação do Departamento de Economia,


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Conheça as capacitações para os gestores do transporte » Especialização em Gestão de Negócios • Voltada para gestores de empresas do setor de transporte de cargas e de passageiros dos modais rodoviário, aquaviário, ferroviário, aéreo e operadores logísticos • Ministrada pela Fundação Dom Cabral • 370 horas

Finanças e Sistemas de Informação da Embry-Ridle, Kiljae Lee, é praticamente impossível para qualquer organização preparar e planejar seu futuro sem pensar em dados. De acordo com Lee, os dados melhoram as decisões e a eficiência operacional. “Na última década, o crescimento exponencial dos dados é chamado de Big Data Problems, que é frequentemente descrito em termos de 3Vs (volume, velocidade e variedade). Em outras palavras, o desafio do Big Data é uma mistura da quantidade crescente (volume), da velocidade de atualização (velocidade) e dos tipos de dados (variedade) que ameaçam ou excedem o paradigma de gerenciamento de dados existente com base no banco de dados relacional”, explica. Lee ainda destaca que,

entre os maiores contribuintes desse rápido aumento de dados, estão as máquinas e os equipamentos, como GPS, câmeras e sensores que continuam a gerar e armazenar dados em todos os lugares. Segundo ele, as empresas que não se prepararem podem sofrer com a questão de não terem nenhum dado e outras podem ter problemas com dados ricos, mas informações pobres. “Um processo mais moderno não é necessariamente a melhor pergunta para todas as organizações. A seriedade dos programas 3Vs varia dependendo da empresa e da indústria. Em algumas organizações, a questão não é tão séria e urgente. Assim, uma empresa deve começar diagnosticando seu próprio desafio Big Data relativo ao seu setor.”

» Certificação Internacional Aviation Management • Voltada para gestores de empresas do setor de transporte aéreo • Ministrada pela Embry-Riddle Aeronautical University • 390 horas » Gestão de Sistemas Ferroviários e Metroferroviários • Voltada para gestores de empresas do setor de transporte ferroviário • Ministrada pela Deutsche Bahn Rail Academy • 420 horas » Inscrições e seleção • Inscrições online • Seleção: entrevista realizada pela equipe técnica do ITL e análise da documentação, do currículo e do desempenho do candidato durante a realização de entrevista

Para saber mais:

www.itl.org.br


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ENTREVISTA

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REBECCA ANN MEADOWS GERENTE DE VENDAS INTERNACIONAL DA AVIANCA

Dados como estratégia empresarial Os cursos de capacitação promovidos pelo SEST SENAT e coordenados pelo ITL têm levado para as empresas do setor de transporte uma nova realidade a partir dos conteúdos trabalhados em sala de aula. Na entrevista abaixo, a gerente de vendas da Avianca, Rebecca Ann Meadows, destaca como a coleta e a análise de dados tem possibilitado um crescimento sustentável para as empresas do setor. Como o setor aéreo tem atuado na coleta de dados e como ele tem contribuído para melhorar o atendimento aos clientes? Atender ao cliente de forma personalizada para criar uma experiência positiva desde o primeiro contato é conside-

rado um importante diferencial, tornando-se, assim, o foco nas estratégias das companhias aéreas, inclusive para a Avianca Brasil. Existem diversas ferramentas que podemos utilizar e customizar com o objetivo de ter o conhecimento das expectativas dos passageiros mesmo antes do check-in no aeroporto. É importante ressaltar que, na Avianca Brasil, a coleta e o uso de dados seguem as normas do novo Regulamento Geral sobre a Proteção de Dados, da União Europeia. Recentemente, reformulamos nossa Política de Privacidade e uso de cookies, que está disponível para consulta na seção “Política de Privacidade”. Nossa equipe trabalha constantemente em melhorias operacionais e tam-

bém na adequação de políticas, para, de forma clara e transparente, informar ao cliente que navega no site como os dados são utilizados e onde ficam armazenados com segurança. Em um cenário com informações que circulam por inúmeros canais, quais os desafios das empresas na utilização estratégica dos dados para a tomada de decisões? O maior desafio é ter todas as informações em uma única base de dados, de forma que as informações competentes ao perfil do passageiro possam ser utilizadas de maneira inteligente e rápida no atendimento aos clientes antes, durante e após o seu voo. Qual a importância de capa-

citações, como as promovidas pelo SEST SENAT e coordenadas pelo ITL, para o setor aéreo? O curso da Embry-Riddle, por exemplo, dá aos participantes a oportunidade de ter um overview das principais áreas de uma companhia aérea e compartilhar com o grupo, cases de benchmark, contribuindo, assim, para o contínuo desenvolvimento da aviação comercial no Brasil. Também é importante compartilhar os desafios do setor aéreo brasileiro com os acadêmicos que não se encontram no país para que eles também aprimorem seus conhecimentos, levando em consideração as diferenças culturais, e apliquem essa e nas expertise nos módulos l atividades do curso.


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SEST SENAT

Saúde e lazer

SEST SENAT investe na qualidade de vida dos profissionais do transporte e espera mais de 40 mil participantes no Circuito de Caminhada e Corrida de Rua de 2018 por

DIEGO GOMES


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FOTOS ARQUIVO SEST SENAT

para o trabalhador

O

s trabalhadores do transporte lidam, normalmente, com uma rotina diária cansativa, conciliando diferentes prioridades e acabam relegando a prática de atividades físicas a uma condição secundária (em alguns casos, até inexistente) em suas vidas. O que muitos profissionais não percebem é que tal realidade pode comprometer tanto a sua qualidade de vida quanto a sua produtividade. Os benefícios

da prática regular de atividades físicas são mais do que comprovados seja no aumento significativo da disposição no dia a dia, seja na prevenção de doenças ligadas ao sedentarismo, como diabetes e obesidade. Em 2018, o SEST SENAT completa 25 anos. E nessas mais de duas décadas de atuação, a instituição trabalha para cumprir a sua missão de promover a melhoria da qualidade de vida e o desenvolvimento pro-

fissional dos trabalhadores do setor de transporte e dos seus dependentes com responsabilidade socioambiental. É por isso que, há cinco anos, é promovido o Circuito SEST SENAT de Caminhada e Corrida de Rua. Neste ano, serão realizadas 17 etapas. As provas de corrida são realizadas em percursos de 5 km e 10 km, e as de caminhada, em percurso de 2 km (confira, na página 66, o calendário da temporada).

Para a diretora-executiva nacional do SEST SENAT, Nicole Goulart, o circuito representa um importante mecanismo para promover saúde ao trabalhador do transporte. “A gente trabalha para incentivar a prevenção, uma vez que prevenir é melhor do que remediar. O circuito é um sucesso. Esperamos, para este ano, mais de 40 mil participantes em etapas por todo o país. Desses, pelo menos 60% são trabalhadores do transporte.


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PROGRAME-SE INSCRIÇÕES

PROVA

Cuiabá (MT)

encerradas

28/7

Vila Velha (ES)

25/6 a 22/7

5/8

2/7 a 10/8

25/8

CIDADE

Natal (RN) Santarém (PA) Recife (PE) Divinópolis (MG)

23/7 a 31/8

Rio de Janeiro (RJ) São Vicente (SP)

15/9 16/9

03/8 a 14/9

30/10

17/9 a 26/10

10/11

1°/10 a 09/11

25/11

Salvador (BA) Aracaju (SE) Curitiba (PR) Caxias do Sul (RS)

Em algumas cidades, em que o transporte é predominante, esse número chega a 90%. Isso mostra que o transportador também está mudando sua cultura de procurar atividades de saúde”, diz. A diretora reforça que, nestes 25 anos de SEST SENAT, o compromisso da instituição é, cada vez mais, investir em atividades de saúde e lazer para o trabalhador e sua família, proporcionando uma vida melhor e mais produtiva. “Os nossos projetos nessa área também contemplam outras modalidades esportivas como o futebol, com a Copa SEST SENAT de Futebol 7 Society. Também rea-

Para participar, acesse a página especial do Circuito SEST SENAT de Caminhada e Corrida de rua

http://projetossociais. sestsenat.org.br/Circuito

Premiação da etapa de Criciúma (SC)

lizaremos o Circuito Ciclístico em todas as regiões do país. Com essas ações, a gente espera mobilizar o trabalhador do transporte em relação aos cuidados com a saúde.” Etapa cadanga Neste ano, as provas já foram realizadas em Campo Grande (MS), Criciúma (SC), Manaus (AM), Brasília (DF) e Imperatriz (MA). A reportagem da revista CNT Transporte Atual esteve presente na etapa de Brasília, realizada na fria manhã do dia 24 de junho, no Plano Piloto. Nas ruas planas do eixo rodoviário sul, centenas de participantes desafiaram a seca brasiliense e fizeram parte de um momento de valorização da saúde e de comunhão dos trabalhadores do transporte e da comunidade. Desde o animado aquecimento, a corrida, até o aulão de dança, o que se viu foi um mosaico composto por crianças, jovens, adultos e idosos, todos na mesma sintonia de harmonia, integração e distração. Para o presidente do Conselho Regional do SEST SENAT CentroOeste, José Hélio Fernandes, esse tipo de evento é fundamental por agregar saúde, esporte e lazer. “Ele proporciona a integração dos próprios trabalhadores e cria um momento de convivência, com as famílias participando. Também é um momento para divulgação e consolidação da marca do SEST SENAT.” Na avaliação do presi-


Atletas fazem alongamento antes da largada da etapa de Imperatriz (MA)

dente, a cada ano, o Circuito vem se consolidando, com um número crescente de praticantes. “Trata-se de um projeto que veio para ficar, como tantos outros do SEST SENAT, ao longo dos seus 25 anos, mostrando a importância da instituição para o setor e para os profissionais.” Vencedor do percurso de 5 km na categoria masculina - trabalhador do transporte, Fabiano Rodrigues da Silva, 36 anos, cobrador, afirma que correr e realizar outras atividades físicas são essenciais para melhorar seus dias e aumentar sua produtividade. Para ele, investir em treinamentos é imprescindível para sair do sedentarismo, especialmente numa profissão, que, por sua natureza, dificulta a prática regular de

esportes. “Esses eventos são muitos importantes para nós do transporte. Para ter uma noção, só para correr essa prova, na preparação, perdi 5 kg, conciliando os treinos com a jornada de trabalho e regrando minha alimentação.” Silva avalia que, até para lidar com o público, é preciso estar bem fisicamente, mentalmente e espiritualmente. “Correr tira o nosso estresse. A gente se sente mais valorizado e se dedica mais ao trabalho”, conclui. Quem também compactua dessa visão é o caminhoneiro autônomo João Joaquim de Aguiar, 48 anos, que conquistou o primeiro lugar no percurso de 10 km para trabalhador do transporte. “Às vezes, trabalho de oito a dez horas por dia e, mesmo assim, sem-

pre que posso, encontro um tempo para correr, treinar. Estou nessa vida há mais de 30 anos.” Para sagrar-se campeão nessa etapa, Aguiar deixou para trás competidores bem mais jovens que ele. O autônomo conta que se sente emocionado e privilegiado pelo resultado e revela que sua maior prioridade hoje é ter qualidade de vida. Nesse sentido, o atletismo, para ele, é uma válvula de escape para se desconectar da realidade estressante encontrada diariamente no trânsito. “Eu já tenho mais de 20 anos no atletismo. Já competi fora do país. Já ganhei três maratonas em Brasília. Hoje em dia, quero só ter uma boa vida e me sentir bem.” Segundo especialistas, a

prática de atividade física libera substâncias neurotransmissoras, como a dopamina e a serotonina, responsáveis pela sensação de prazer e felicidade. Isso ajuda a combater a ansiedade e a depressão, bem como contribui para a melhora do humor. Serviço As inscrições para o Circuito SEST SENAT de Caminhada e Corrida de Rua são gratuitas para trabalhadores do transporte. É necessário, porém, que o cadastro junto ao SEST SENAT esteja em dia. Para a comunidade, o valor é R$ 50. Todos os participantes recebem um kit com camiseta, boné, porta-celular e sacochila. Desde 2014, mais de 130 mil pessoas já participaram do evento. l


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EXPANSÃO

Inaugurada unidade

de Teotônio Vilela SEST SENAT dá continuidade ao processo de ampliação da sua rede; nova estrutura terá capacidade para realizar cerca de 36 mil atendimentos por ano da

O

SEST SENAT inaugurou, em junho, mais uma nova unidade operacional. Agora, trabalhadores do transporte, seus familiares e toda comunidade de Teotônio Vilela, em Alagoas, também passam a contar com os serviços da instituição em uma infraestrutura completa para a realização de cursos de capacitação e atendimentos na área de saúde. A nova estrutura integra o plano de expansão da instituição iniciado em 2017 e que deve ultrapassar 200 unidades em funcionamento em todo o país, até o fim de 2019. Desde dezembro do ano passado, outras seis unidades operacionais também foram inauguradas: Porto Ferreira (SP), Paragominas (PA),

REDAÇÃO


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FOTOS ARQUIVO SEST SENAT

“Os serviços oferecidos pelo SEST SENAT não são voltados apenas para os trabalhadores do transporte, mas, também, para a sociedade de forma geral” JOSÉ JOÃO ALBERTO ALMEIDA DO NASCIMENTO, PRESIDENTE DO CONSELHO REGIONAL NORDESTE III

Duque de Caxias (RJ), Limeira (SP), Picos (TO) e Carazinho (RS). A expansão da rede física impacta também a ampliação da oferta de serviços oferecidos aos trabalhadores do transporte. Neste ano, as oportunidades de desenvolvimento profissional serão ampliadas em mais de 30%. A oferta chegará a mais de 500 cursos presenciais e a cerca de 300 cursos a distância. Na saúde, haverá forte crescimento, chegando a 1,7 milhão de atendimentos por ano. Essa é a terceira unidade em funcionamento no estado de Alagoas. As outras duas estão localizadas na capital Maceió e em Arapiraca. A nova unidade do SEST SENAT de Teotônio Vilela possui nove salas de aula e dois laborató-

rios de informática, com capacidade para 25 alunos cada sala. Também conta com sala para 40 alunos do treinamento de MOPP (Movimentação de Produtos Perigosos) e três salas de atividades práticas da Oficina Pedagógica. Na área de saúde, o SEST SENAT de Teotônio Vilela está equipado para prestar atendimentos em fisioterapia, psicologia, nutrição e odontologia clínica em oito consultórios. Conta ainda com um centro de eventos, quadra poliesportiva e palco para atividades de esporte e lazer. “Os serviços oferecidos pelo SEST SENAT não são voltados apenas para os trabalhadores do transporte, mas, também, para a sociedade de forma geral. O número de atendimentos nas

áreas de saúde e de profissionalização previstos para essa nova unidade é um volume significativo, que contribui para a toda a comunidade. A unidade atende às necessidades do transporte e da população”, disse o presidente do Conselho Regional Nordeste III, José João Alberto Almeida do Nascimento, durante a cerimônia de inauguração. Em 25 anos, o SEST SENAT já realizou mais de 118 milhões de atendimentos em todo o Brasil. Hoje, é referência em desenvolvimento profissional e prestação de assistência à saúde dos trabalhadores do transporte e dos seus familiares. Os atendimentos são 100% gratuitos para profissionais do transporte contribuintes e l seus dependentes.


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INICIATIVA

SEST SENAT investe em ações para reduzir os impactos ambientais e proporcionar mais sustentabilidade às unidades operacionais por

CARLOS TEIXEIRA

E

m 25 anos de atuação, o SEST SENAT sempre teve a responsabilidade socioambiental como um dos valores que sustentam o trabalho realizado em todo o país. Por isso, a instituição vem ampliando, a cada ano, as suas ações de sustentabilidade, seja na eficiência econômica, seja por meio do estímulo ao consumo consciente e à redução no uso dos insumos. O tema é central no plano de expansão do SEST SENAT,

iniciado em 2017 e que deve contar com mais de 200 unidades operacionais instaladas até o fim de 2019. Os projetos das unidades que foram inauguradas recentemente e das que serão ao longo dos próximos meses contam com inovações que contemplam diretrizes para o alto desempenho ambiental, garantindo conforto e qualidade de vida aos seus usuários. Para a diretora-executiva nacional do SEST SENAT, Nicole Goulart, é papel de todos con-

tribuir para um ambiente mais limpo e sustentável. “A responsabilidade socioambiental é um dever de todos, e o SEST SENAT tem isso como um dos valores organizacionais. Temos, cada vez mais, desenvolvido iniciativas que estimulam o desenvolvimento sustentável. Atuamos de forma ética e transparente e realizamos ações que possam, além de melhorar a qualidade de vida da sociedade, mitigar os impactos ambientais.” Para diminuir o consumo

de energia, as novas instalações estão recebendo sistema de captação de energia solar com a implantação de placas fotovoltaicas que aproveitam a luz emitida pelo sol para a geração de energia elétrica. O projeto também prevê a instalação do sistema em 17 unidades operacionais (uma por Conselho Regional) que já estão em funcionamento. Outro diferencial das novas unidades é a utilização de elementos na cobertura e na fachada que reduzem a radia-


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Futuro

sustentável FOTOS ARQUIVO SEST SENAT

“A responsabilidade socioambiental é um dever de todos, e o SEST SENAT tem isso como um dos valores organizacionais” NICOLE GOULART, DIRETORA-EXECUTIVA NACIONAL DO SEST SENAT

ção térmica no interior da edificação. A técnica reduz o calor na cobertura do prédio pela utilização do conjunto telha metálica termo acústica, laje e forro de gesso. Na fachada, o uso de brises barra a incidência solar. Com essas inovações sustentáveis, os condicionadores de ar funcionam com maior eficiência, reduzindo os custos e o consumo de energia. As novas unidades também contam com iluminação de LED, que aumenta a eficiência energética. De acordo com os cálculos

desenvolvidos pela equipe de engenharia do SEST SENAT, a implantação das placas fotovoltaicas, o reforço térmico nas edificações, o novo revestimento nas paredes e as lâmpadas de led garantem uma redução de 30% a 40% no consumo de energia das unidades operacionais. Somado a tudo isso, as unidades também estão recebendo lixeiras de coleta seletiva; sistema de uso racional de água, que permite a reutilização da água de chuva;

torneiras de baixo consumo com fechamento automático; e inclusão de válvula de descarga de vaso sanitário com duplo acionamento para um maior controle do uso de água. Ações ambientais E não é só na parte estrutural em que estão apoiadas as iniciativas do SEST SENAT. Em duas décadas e meia de realização de trabalho, a instituição tem investido em outras iniciativas relacionadas à sustentabilidade ambiental,


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Placas fotovoltaicas sendo instaladas em unidade do SEST SENAT

por meio da oferta de cursos, da realização de campanhas nacionais e do desenvolvimento de programas que têm como objetivo reduzir o impacto do setor de transporte no meio ambiente. Em 2017, a instituição deu início ao Programa de Aperfeiçoamento para Eficiência Energética. A iniciativa é fruto do acordo internacional de cooperação técnica firmado no ano passado com o NRCan (Natural Resources Canada - Ministério dos

Recursos Naturais do Canadá), o ICCT (International Council on Clean Transportation - Conselho Internacional de Transporte Limpo) e a CNT. O programa prevê a formação nas áreas de condução econômica, gestão de combustível e gestão de frotas. A meta é treinar 55 mil profissionais, entre motoristas de caminhão, motoristas de ônibus, gestores de frotas e transportadores autônomos, até 2020. O Programa de Aperfeiçoamento para

Eficiência Energética oferece os cursos Motoristas de Transporte de Cargas SmartDriver, Motoristas de Transporte de Passageiros - SmartDriver, ambos presenciais e com carga horária de 12 horas, e o curso a distância Gestão de Combustível - Fuel Management, com 8 horas. Além disso, o SEST SENAT trabalha na finalização de um aplicativo para smartphones voltado aos alunos. A ideia é que os motoristas consigam acompanhar o desempenho dos veícu-

los e obtenham dados, como o consumo de combustível e o gasto mensal de diesel, além da emissão de gases poluentes. Para auxiliar os profissionais no manuseio desse aplicativo, a instituição também oferece um curso de inclusão digital, com 4 horas de duração. Os treinamentos estarão disponíveis em 101 unidades operacionais do SEST SENAT, onde também são desenvolvidos os projetos Simulador Híbrido de Direção e Escola de Motoristas, transversais


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Acesse o portal EaD SEST SENAT

ead.sestsenat.org.br

Treinamentos do SEST SENAT incluem a condução econômica

Unidades também realizam coleta seletiva de lixo

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ao de eficiência energética, uma vez que disponibilizam os equipamentos e os veículos para as aulas práticas. Ainda na área de capacitação, na plataforma Ead SEST SENAT (ead.sestsenat. org.br), trabalhadores do transporte e toda a sociedade têm acesso a cursos, como Educação Ambiental, Introdução à Responsabilidade Socioambiental, Noções de Meio Ambiente, Educação Ambiental e Desenvolvimento Sustentável e a série Transporte Consciente: Caminhoneiro Amigo do Meio Ambiente, Taxista Amigo do Meio Ambiente e Trabalhador em Transporte Amigo do Meio Ambiente. Outra iniciativa é o Despoluir Programa Ambiental do Transporte, uma ação conjunta do SEST SENAT e da CNT que, desde 2007, estimula e defende um transporte cada vez mais limpo, eficiente e sustentável, trazendo benefícios não só para os seus trabalhadores, mas, também, para toda a sociedade. Uma das ações do Despoluir de maior destaque é a Avaliação Veicular Ambiental. Com o propósito de melhorar a qualidade do ar, cuidar da saúde dos trabalhadores e estimular o uso racional de combustíveis, essa linha de ação já atendeu cerca de 44 mil transportadores e realizou mais de 2,2 milhões de avaliações veiculares. l


10:30 AM

100%

Nenhuma mensagem vale mais que a vida. CELULAR E DIREÇÃO NÃO COMBINAM.

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Não deslize no trânsito.


A segurança no trânsito é responsabilidade de todos e está diretamente relacionada ao bem-estar dos motoristas.

Fique atento! O uso do cinto de segurança é obrigatório (no banco traseiro também).

Desacelere! A pressa é uma grande inimiga dos condutores nas estradas.

Por isso, a CNT (Confederação Nacional do Transporte) e o SEST SENAT desenvolvem o Programa CNT SEST SENAT de Prevenção de Acidentes, uma grande iniciativa que trará mais qualidade de vida aos trabalhadores do transporte de norte a sul do país. Nossos profissionais levam até os trabalhadores do setor orientações e informações sobre práticas e hábitos que tornam o trânsito mais seguro. É o SEST SENAT cada vez mais perto do trabalhador. Como a conscientização e a educação são também caminhos para promover o bem-estar no trânsito, é importante estar atento a estas dicas de segurança ao lado.

Desconecte-se! Celular e direção nunca combinaram.

Tenha cuidado! Ultrapasse apenas quando for permitido.

Descanse! É importante ter boas noites de sono antes de dirigir e fazer pausas nas viagens.

Alimente-se bem! Uma alimentação saudável proporciona disposição ao motorista nas estradas.

Previna-se! Viaje apenas com o veículo revisado e informe-se sobre as condições das estradas.

Não use álcool e drogas! Ao usá-los, o motorista perde os reflexos e a coordenação, habilidades essenciais para quem dirige.

sestsenat.org.br | 0800 728 2891 |

/sestsenatbrasil


TEMA DO MÊS

Atraso nas obras de infraestrutura

Participação do setor privado é imprescindível para a infraestrutura CLÁUDIO FRISCHTAK

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CLÁUDIO FRISCHTAK Diretor-executivo da Inter.B Consultoria Internacional de Negócios

Brasil investiu, em 2016, 1,95% do PIB em infraestrutura, e estima-se que, em 2017, tenha alcançado 1,72%. Cálculos recentes de estoque de capital realizados para o IPEA sugerem a necessidade de se investir 2,3% do PIB apenas para compensar a depreciação do capital fixo per capita. Já para modernizar a infraestrutura, no sentido de universalizar a cobertura de serviços básicos e melhorar sua qualidade consistente com um país de renda média, haveria necessidade de se investir 4,15% do PIB por aproximadamente duas décadas. Onde se encontram os maiores hiatos? No setor de transporte – particularmente em mobilidade urbana – onde são maiores os retornos sociais. É triste constatar que, à exceção da cidade do Rio de Janeiro, todas as demais cidades-sede da Copa do Mundo de 2014 não entregaram seus projetos de mobilidade a tempo. Muitos nem foram concluídos até hoje, ou seja, são esqueletos e obras inacabadas. Há convergência em torno de dois pontos essenciais quando se discute infraestru-

tura no país. Não há apenas a necessidade de se ampliarem os investimentos. É preciso, também, melhorar a eficiência com que são realizados. O país desperdiça um grande volume de recursos por conta das conhecidas dificuldades de execução, concentradas no setor público. O resultado é que nem sempre, com os custos incorridos, entregam-se os benefícios prometidos em termos de qualidade de serviços. O investimento em infraestrutura necessita ser uma política que reconheça as obrigações do Estado no âmbito do planejamento e da regulação e suas limitações no plano do financiamento e da execução e, inversamente, uma política voltada a mobilizar o potencial de contribuição do setor privado – sem subsídios ou artificialismos. Ainda que os investimentos públicos permaneçam necessários, o envolvimento do setor privado é imprescindível, não somente por conta da crise fiscal. Mais importante é o filtro que o setor privado estabelece quanto à qualidade dos projetos, à eficiência na execução e aos serviços resultantes. No curto e médio prazos, é essen-

cial ampliar o envolvimento privado; garantir maior segurança jurídica e autonomia decisória e financeira das agências reguladoras; e reforçar o papel do mercado de capitais, bancos privados e do mercado segurador no financiamento do setor. Quanto à regulação, é fundamental que o governo deixe explícito que as agências têm autonomia decisória e financeira e que não serão usadas para barganha política. O PL nº 6.621/2016, no momento, na Câmara dos Deputados, é uma legislação consistente com as melhores práticas e fundamental para dotar o país de maior previsibilidade e estabilidade regulatória. Pelos seus méritos, o projeto pode ser aprovado da forma como o Senado encaminhou. Finalmente, empresas estatais ou controladas pelo Estado precisam ser privatizadas. As razões são conhecidas: captura política; baixa autonomia do gestor público; limitações ao investimento; e o imperativo fiscal. É fundamental que haja a decisão política de levar adiante um programa ambicioso de privatização e cuja execução se faça em tempo hábil. Fica para o próximo governo.


É preciso racionalizar os gastos públicos EDÉSIO ELIAS LOPES

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á se passaram quatros anos da tão esperada Copa do Mundo no Brasil. A Copa de 2014 tinha o objetivo de ser a maior de todos os tempos e impulsionar a infraestrutura nacional, provendo obras de mobilidade urbana em rodovias e aeroportos. Quatro anos depois, o que podemos constatar é que, salvo os estádios (infelizmente, subutilizados no país do futebol), várias dessas obras de infraestrutura não foram concluídas dentro do prazo e algumas, mesmo após quatro anos, não têm expectativa de conclusão. Entre essas, gostaria de citar duas em especial: o VLT (Veículo Leve sobre Trilhos), de Cuiabá; e o monotrilho da Linha 17 - Ouro, do Metrô de São Paulo. A obra do VLT de Cuiabá foi projetada com 22,2 km de extensão dividida em duas linhas. A primeira ligando o Centro Político Administrativo, em Cuiabá, ao Aeroporto Internacional Marechal Rondon, em Várzea Grande. Já a segunda linha, ligando a Região do Coxipó ao Centro Sul, ambas em Cuiabá. O sistema previa 32 estações atendendo a uma demanda de 8.000 passageiros

na hora de pico, o que acarretaria um ganho inimaginável na mobilidade urbana da cidade. Para a execução, R$ 1,066 bilhão já havia sido desembolsado, mas a obra foi paralisada em dezembro de 2014 e, infelizmente, ainda hoje, não possui previsão para conclusão. A cidade de Cuiabá foi literalmente "cortada" para a implantação do novo sistema. Boa parte da terraplanagem e da preparação do solo foi concluída, mas a população convive, há quatro anos, com uma cidade com obras paralisadas e inacabadas. Neste ano, a prefeitura decidiu "transformar" alguns trechos do traçado do VLT (que estão só na terraplanagem) em áreas de jardins, apresentando uma medida mitigadora positiva, mas que, em uma futura utilização do traçado, acarretará mais gastos para a implantação do sistema. O monotrilho da Linha 17 - Ouro do Metrô de São Paulo previa oito estações ao longo de 18 km de extensão com conexões para a Linha 1 - Azul do Metrô, no Jabaquara, e 9 - Esmeralda da CPTM, no Morumbi. A obra foi apresentada em 2010 como

sendo uma obra da Copa do Mundo, mas, com a troca de estádios do Morumbi para a Arena Corinthians, ela deixou de ser prioridade e, até hoje, vem sendo executada em um processo lento. Inicialmente orçada em R$ 1,39 bilhão, agora deve chegar a R$ 3,5 bilhões com previsão de finalização em 2019. Esses são só dois exemplos de obras previstas para a Copa de 2014 que ainda não foram concluídas, mas existem outros espalhados pelo país. Muitos gestores culpam a burocracia envolvida no processo de licitação e a incompetência das empresas vencedoras em executar as obras. As empresas apontam problemas nos projetos básicos e executivos, atrasos no repasse de recurso, entre outras justificativas. A justiça identifica desvio de recurso para financiamento de partidos políticos. O que a sociedade espera é a racionalização do gasto dos recursos públicos, potencializando, assim, a sua aplicação e convertendo-os em mais infraestrutura de transporte que, consequentemente, proporcionará mais qualidade de vida para os cidadãos brasileiros.

EDÉSIO ELIAS LOPES Coordenador do MBA Infraestrutura de Transporte e Rodovias do Ipog (Instituto de Pós-graduação)


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CIT/DIVULGAÇÃO

PORTUGAL

Abertura de diálogo com a CIT

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umprindo a agenda de relacionamentos intergovernamentais deste ano, a Embaixada de Portugal em Brasília recebeu, na manhã do dia 11 de junho, os diretores da Câmara Interamericana de Transportes, no intuito de abrir as portas para um diálogo com as entidades portuguesas e, futuramente, com a União Europeia, uma vez que a cultura e o idioma são vistos como facilitadores no diálogo comercial. Os diplomatas estão bastante otimistas quanto à participação já confirmada da representação diplomática de Portugal, sediada no Panamá, para a 30ª Assembleia Geral Ordinária da CIT, prevista para os dias 17, 18 e 19 de outubro deste ano. A CIT acredita no potencial de suas entidades associadas quanto à expansão do networking e do intercâmbio de experiências para além das fronteiras do continente, em especial, na definição de novas metas a longo prazo para o estabelecimento de uma trajetória promissora.

PORTUGAL

La apertura del diálogo con la CIT

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umpliendo con la agenda de relaciones intergubernamentales de este año, la Embajada de Portugal en Brasilia recibió en la mañana del 11 de junio, a los directores de la Cámara Interamericana de Transporte, con el fin de abrir las puertas a un diálogo con las entidades portuguesas y, en el futuro, con la Unión Europea, ya que la cultura y el idioma son facilitadores en el diálogo comercial. Los diplomáticos están bastante optimistas acerca de la participación ya confirmada de la representación diplomática de Portugal, con sede en Panamá, en la 30ª Asamblea General Ordinaria de la CIT, prevista para los días 17, 18 y 19 de octubre de este año. La CIT cree en el potencial de sus entidades asociadas en cuanto a la expansión del networking y del intercambio de experiencias más allá de las fronteras del continente, en especial, en la definición de nuevas metas a largo plazo para el establecimiento de una trayectoria prometedora.


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CIT participa de rodada de negócios no CRA-DF CIT participa de ronda de negocios en el CRA-DF CRA-DF/DIVULGAÇÃO

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a expectativa de ampliar networking, a CIT participou, no dia 10 de maio, da 1ª Rodada de Negócios, promovida pelo Conselho Regional de Administração do Distrito Federal (CRA-DF). Na ocasião, foram discutidas algumas tendências e muitas oportunidades de negócios. A Diretora Institucional da CIT, Ana Paula Cardoso, e o Assessor da Diretoria, Antônio Marques, apresentaram as diretrizes da CIT e os cursos em parceria com a Universidade de Miami e a Universidade Católica de Brasília. A parceria com o CRA-DF existe desde setembro de 2014, proporcionando aos administradores a possibilidade de se capacitarem em renomadas instituições de ensino, no Brasil e nos Estados Unidos, para melhorarem seu currículo e se reposicionarem no mercado de trabalho.

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n la expectativa de ampliar el networking, la CIT participó, el 10 de mayo, de la 1ª Ronda de Negocios, promovida por el Consejo Regional de Administración del Distrito Federal (CRA-DF). En la ocasión, se discutieron algunas tendencias y muchas oportunidades de negocios. La Directora Institucional de la CIT, Ana Paula Cardoso, y el Asesor del Directorio, Antônio Marques, presentaron las directrices de la CIT y los cursos en asociación con la Universidad de Miami y la Universidad Católica de Brasilia. La asociación con el CRA-DF existe desde septiembre de 2014, proporcionando a los administradores la posibilidad de capacitarse en renombradas instituciones de enseñanza, en Brasil y en los Estados Unidos, para mejorar su currículo y reposicionarse en el mercado de trabajo.

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Ideias, ideais por

PROF. DR. MARCELO AUGUSTO DE FELIPPES

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omeu, ao acreditar que sua amada estava morta, bebe uma poção de veneno. Julieta acaba acordando do sonífero e, percebendo a morte de Romeu, se suicida com o punhal dele. As duas famílias vendo-os mortos se reconciliam pela morte dos seus filhos. Entre o casamento e a morte, passou-se de domingo a quinta-feira. Apenas 5 dias e 4 noites. Essa é a famosa peça Romeu e Julieta, com forte estrutura dramática usada por Shakespeare. Contudo, nela, há muitas mensagens para os dias de hoje. Foi tão radicalmente intenso e rápido como são as coisas nos dias de hoje. Não houve tempo nem para o amadurecimento do relacionamento de marido e mulher. Assim são também os relacionamentos institucionais e comerciais na vida contemporânea. As empresas de transportes, bem como respectivas associações representativas, estão no centro de gravidade do contexto dessa relação na sociedade. Relacionamentos corporativos frágeis, efêmeros e de pouca reciprocidade de confiança podem tornar os negócios nos transportes e na logística ainda mais dependentes de relacionamentos virtuais, aumentando distâncias de pessoas, o olho no olho da negociação. Mas as grandes mudanças sempre mostram sua gênesis. Nada aparece de repente. A Blockbuster teve tempo suficiente para perceber que o mercado audiovisual de “streaming” iria mudar seu negócio. Faliram em 2013, com mais de 1 bilhão de dólares de prejuízo. Alguém pagou essa conta. A Kodak não foi diferente e quebrou em 2012, com dívidas de 6,8 bilhões de dólares. Atari, imbatível nos anos 80, desapareceu em 2014. Inúmeros exemplos são reais e estão ainda acontecendo, e assim continuarão a acontecer. Compartilhar ideias é algo antigo nas corporações japonesas e ainda muito carente no mundo ocidental. A liderança japonesa não é baseada em “tem que dar certo” ou em tomada de decisões de forma rápida, mas na habilidade de criar consensos, levando em conta as ideias e os ideais dos subordinados. São mais valorizados os chefes que mostram preocupação pelas vidas privadas dos trabalhadores em detrimento da performance no trabalho. São as ideias em matrimônio com os ideais, que são valores que se defendem e em que se acreditam. O entendimento efetivo sobre o atual conceito de "compartilhamento" exigirá nova modelagem e concepção em plataformas com base no 5G, as quais serão implementadas com diferentes formatos. Tão revolucionário quanto a chegada dos computadores pessoais, o 5G deve iniciar na China até o final de 2018 e, no Brasil, entre 2020 e 2022. A atividade de transporte será uma das mais atingidas com essa nova realidade e mudará a cadeia de valor

tradicional e a demanda de primeira e última milhas, criando identidades de entregas dinâmicas. Uma fronteira, uma alfândega, um deslocamento de qualquer tipo de meio de transporte, e muitos outros exemplos irão ser protagonistas de muitas discussões. Entretanto, se não se deseja repetir uma Kodak ou Blockbuster, as empresas, associações e governos devem diminuir imediatamente suas diferenças, valorizar mais suas semelhanças e agir, pois somente conversas não irão resolver. Irreversivelmente, esse novo contexto aproximará ainda mais o mundo real do virtual, em velocidade e qualidade ainda inimagináveis para nós, consumidores, modificando forçosamente o relacionamento dentro das instituições. O compartilhamento de Streamings, Internet, TV a Cabo, energia elétrica e outros acessos diversos ocorrerão mediante um só dispositivo: uma simples tomada. Consolida-se, então, o grande casamento de ideias e ideais. Um casamento que não poderá ser tão curto e intenso como o de Romeu e Julieta, mas de comprometimentos e amadurecimentos compartilhados. Aproveitar os talentos humanos que fazem parte das empresas, associações ou dos governos, será a melhor maneira de conviver saudavelmente na menor distância entre o topo e a base da pirâmide das instituições, que inevitavelmente irão diminuir ainda mais. As ideias de todos tenderão a guiar os ideais corporativos e institucionais. A Comissão J-CIT (jovens) irá trabalhar esse tema na Assembleia Ordinária da CIT, a realizar-se na cidade do Panamá, nos dias 17 e 18 de outubro de 2018.


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Ideas, ideales

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omeo, creía que su amada estaba muerta, bebe una poción de veneno. Julieta acaba despertando del somnífero y, percibiendo la muerte de Romeo, se suicida con su puñal. Las dos familias viéndolos muertos se reconcilian por la muerte de sus hijos. Entre el matrimonio y la muerte, se pasó de domingo a jueves. Sólo 5 días y 4 noches. Esta es la famosa pieza Romeo y Julieta, con fuerte estructura dramática usada por Shakespeare. Sin embargo, con muchos mensajes para los días de hoy. Fue tan radicalmente intenso y rápido como son las cosas en los días de hoy. No hubo tiempo ni para la maduración de la relación de marido y mujer. Así son también las relaciones institucionales y comerciales en la vida contemporánea. Las empresas de transporte, así como sus asociaciones representativas, están en el centro de gravedad del contexto de esa relación en la sociedad. Las relaciones corporativas frágiles, efímeras y de poca reciprocidad de confianza pueden hacer que los negocios en el transporte y en la logística dependan aún más de las relaciones virtuales, aumentando las distancias de las personas, el ojo al ojo de la negociación. Pero los grandes cambios siempre muestran su génesis. Nada surge de repente. Blockbuster tuvo suficiente tiempo para percibir que el mercado audiovisual de streaming iba a cambiar su negocio. Vinieron a bancarrota en 2013, con más de mil millones de dólares de perjuicio. Alguien pagó esa cuenta. Kodak no fue diferente y quebró en 2012, con deudas de 6.800 millones de dólares. Atari, imbatible en los años 80, desapareció en 2014. Numerosos ejemplos son reales y

todavía están sucediendo, y así continuarán. Compartir ideas es antiguo en las corporaciones japonesas y aún muy carente en el mundo occidental. El liderazgo japonés no se basa en "tiene que dar cierto" o tomar decisiones rápidas, sino en la habilidad de crear consensos, teniendo en cuenta las ideas y los ideales de los subordinados. Son más valorados los jefes que demuestran preocupación por las vidas privadas de los trabajadores en detrimento de la performance en el trabajo. Son las ideas en matrimonio con los ideales, que son valores que se defienden y en los cuales creen. El entendimiento efectivo sobre el actual concepto de "compartir" requerirá nuevo modelado y diseño en plataformas con base en el 5G, las cuales serán implementadas con diferentes formatos. Tan revolucionario cuanto a la llegada de las computadoras personales, el 5G debe iniciarse en China hasta finales de 2018 y, en Brasil, entre el 2020 y 2022. La actividad del transporte será una de las más afectadas con esta nueva realidad y cambiará la cadena de valor tradicional y la demanda de primera y última milla, creando identidades de entregas dinámicas. Una frontera, una aduana, un desplazamiento de cualquier tipo de medio de transporte, y muchos otros ejemplos serán protagonistas de muchas discusiones. Sin embargo, si no se desea repetir una Kodak o Blockbuster, las empresas, asociaciones y gobiernos deben disminuir inmediatamente sus diferencias, valorar más sus semejanzas y actuar, pues sólo las conversaciones no resolverán. Irreversiblemente, ese nuevo contexto aproximará aún más el mundo real de lo virtual, en velocidad y calidad aún inimaginables para nosotros, consumidores, modificando forzosamente la relación dentro de las instituciones. La transmisión de Streamings, Internet, TV a Cable, energía eléctrica y otros accesos diversos ocurrirán mediante un solo dispositivo: un simple tomacorriente. Se consolida, entonces, el gran matrimonio de ideas e ideales. Un matrimonio que no podrá ser tan corto e intenso como el de Romeo y Julieta, pero de compromisos y madurez compartidos. Aprovechar los talentos humanos que forman parte de las empresas, asociaciones o de los gobiernos, será la mejor manera de convivir saludablemente en la menor distancia entre la cima y la base de la pirámide de las instituciones, que inevitablemente van a disminuir aún más. Las ideas de todos tenderán a guiar los ideales corporativos e institucionales. La Comisión J-CIT (jóvenes) trabajará este tema en la Asamblea Ordinaria de la CIT, que se celebrará en la ciudad de Panamá, los días 17 y 18 de octubre de 2018.

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ALEXANDRE GARCIA

A paralisação e o óbvio

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recente paralisação dos caminhões mostrou o quanto o país depende do transporte rodoviário e o quanto tem cometido o erro estratégico de não aproveitar, com a devida amplitude, soluções de transporte exigidas pela extensão territorial do Brasil. O caminhão se mostrou vital no transporte de cargas. Com a parada da circulação nas artérias e veias no país, a indústria foi atingida por falta de matérias-primas; o agronegócio foi afetado no escoamento das safras e na falta de insumos para a lavoura e para a criação; e o comércio foi enfraquecido pela redução dos estoques. Em suma, se a paralisação durasse um pouco mais, tudo ficaria igualmente paralisado. Tomara que o mercado normalize a situação na oferta e demanda de cargas e que os custos de fretes e combustíveis tenham encontrado uma solução benéfica a todos. Mas isso alterou o Custo-Brasil e revelou a fragilidade da economia nacional. Que esse episódio tenha servido, neste ano eleitoral, para que os candidatos a mandatos legislativos e executivos percebam que, sem uma política ampla, séria, planejada e estratégica para o setor de transporte, é uma abstração falar em futuro. O imenso potencial brasileiro está aí a pedir soluções. Nas sequelas da crise nas rodovias, quando vi cargas destinadas ao sul sendo embarcadas em navio no Ceará, fiquei pensando na imensa estrada aquática que temos, sem precisar de obras ou manutenção. De Tabatinga, na fronteira com o Peru, a Rio Grande, já nas portas do Uruguai e da Argentina, são 8.500 quilômetros de hidrovia nacional pouco utilizada. E como era usada a cabotagem quando eu era jovem! Também da minha juventude tenho lembranças do trem, cujo apito me acordava de madrugada

– atração das 11 horas da manhã quando chegava à estação o vistoso trem paulista. O trem que me levava a Porto Alegre para assistir ao “Grenal”; que me levou a Santa Maria para prestar serviço militar. E o trem de carga levando o arroz produzido nas lavouras cachoeirenses. E o transporte fluvial? A gasolina importada chegava pelo rio Jacuí e íamos a maxambomba ver os trolleys subindo pelo barranco com a carga geral chegada pelo barco. Navegação noturna, com beliche, que nos levava a Porto Alegre. Depois, morando à margem do rio Taquari, via a chegada no cais, das mercadorias que abasteciam a cidade; ida e volta entre Taquari e Porto Alegre em barcos movidos a roda de pás, como os do Mississipi. Recordações dos anos 1940 e 1950, logo ali, na história de um país. Aí veio JK, com 50 anos em cinco, a estimular a indústria automobilística nacional. Para isso, construiu rodovias. Os governantes não precisavam ter abandonado as ferrovias e as hidrovias, mas a prioridade eram os veículos sobre pneus. Descobri depois que tudo isso foi feito com o aplauso dos prefeitos e políticos. Estradas apareciam mais, eram feitas com mais rapidez que o lançamento de trilhos ou a dragagem de rio ou a construção de eclusas de navegação. E em um país regado a cursos de água e banhado por 7 mil km de mar, ficamos dependentes de um único modo de transporte – os outros existem, mas se tornaram secundários. Os outros precisam de bem menos fretes para se sustentar, mas a estrutura e os meios restringem seu uso como opção, diferentemente de países que bem dividem seus modais, em que o caminhão é utilizado em distâncias mais curtas, na distribuição; em que os diferentes modos convivem e se complementam. Tudo isso é tão óbvio! Será que a paralisação vai motivar o país para o óbvio?


ESPECIALIZAÇÃO EM

GESTÃO DE NEGÓCIOS Coordenada pelo ITL e promovida pelo SEST SENAT, a especialização em Gestão de Negócios, ministrada pela Fundação Dom Cabral (FDC), é destinada a gestores e executivos de empresas de transporte e logística de todos os modais e atua no desenvolvimento das competências necessárias para tornar o setor ainda mais competitivo. Inscreva-se!

PERÍODO DE INSCRIÇÃO

INÍCIO*

São Paulo-SP

De 11/1 a 27/7/2018

10/9/2018

Curitiba-PR

De 11/1 a 31/8/2018

15/10/2018

Manaus-AM

De 11/1 a 11/10/2018

26/11/2018

LOCAL

Mais informações no site: www.itl.org.br * Datas de início previstas. ** Acesse os requisitos obrigatórios no site.


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