Rock Meeting Nº 95

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Pensamento Uma lembrança chegou até mim de algo que aconteceu há sete anos: a capa da primeira edição da Rock Meeting. Ainda de modo amador, a entrevista foi feita num restaurante self service popular, sem qualquer pretensão de futuro, apenas de presente. Uma ideia na cabeça, um gravador, um papel e uma caneta. Duas pessoas vieram ao meu encontro e dali tudo começou. O tempo está passando. Já são sete anos desde esse almoço despretensioso até onde a revista se encontra agora. São sete anos lutando para se manter firme e sempre de pé. É lógico que, como em qualquer outro projeto, a vontade de desistir anda ao lado, muito próxima. Confesso que experimentei ficar um mês sem postar nada, e isso aconteceu ano passado. Foi forçado, é bem verdade, em decorrência do trabalho. Porém foi bem perturbador, pois me peguei pensando se poderia viver sem a Rock Meeting... Vi de perto o fim da edição de um dos nossos parceiros, a Hell Divine, que divide

conosco outro projeto muito legal, o Meeting Hell (que não está abandonado). A coragem que Pedro Salim teve para entender e por em prática foi bastante difícil. Não tiro a razão dele, de modo algum. Entendo perfeitamente. Tudo é complicado. Tudo é dedicação. Tudo é amor. Sim, é o amor pelo que fazemos que ainda nos move. O amor do Pedro não acabou, não foi isso. Porém esse amor foi de desgastando devido ao cansaço, o que é natural. Chegou uma hora que se continuasse nessa toada, o amor viraria ódio e tenho certeza de que não é isso que ele, nem eu, quer. Falta pouco para Rock Meeting chegar na edição nº 100. É a primeira revista online brasileira a chegar nesse patamar. Todo mês ela está aqui trazendo o melhor para o seu leitor, entrevistando as bandas novas e já famosas, presente nos shows pelo Brasil afora. Tudo isso tem um custo, mas que sem os colaboradores, nada seria possível. E vou continuar pensando. O amor não acabou, ele tá vivo. Vamos seguindo!


06 - News - World Metal 10 - Lapada - Amizade e Metal 16 - Entrevista - Scourge 22 - Entrevista - Wael Daou 30 - Live - Barna N Roll 40 - Capa - Dorsal Atlântica 54 - Entrevista - Virtual Symmetry 62 - Live - Animals As Leaders 72 - Skin - Fetiche ou assÊdio? 78 - Entrevista - Inocentes 86 - Entrevista - NewD 92 - Live - Cruilla Summer Festival 2017

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Expediente Direção Geral Pei Fon Capa Alcides Burn Jonathan Canuto Colaboradores Jonathan Canuto Leandro Fernandes Marcos Garcia Mauricio Melo (Espanha) Raphael Arízio CONTATO contato@rockmeeting.net

www.rockmeeting.net


“Solveig”

A banda Seven Spires tem o orgulho de disponibilizar temporariamente o álbum “Solveig” em sua conta de Soundcloud até o dia 4 de agosto. O trabalho será lançado no Brasil pela gravadora Hellion Records na segunda quinzena de agosto. O álbum de estreia da Seven Spires conta a produção do renomado produtor Sascha Paeth. A Seven Spires é atualmente formada por Adrienne Cowan (vocal), Jack Kosto (guitarra), Peter de Reyna (baixo) e Chris Dovas (bateria). “Uma das poucas, novas e reais personalidades no Metal” – Sascha Paeth (Avantasia, Kamelot, Epica, Rhapsody). Confira o álbum no Soundcloud. “Assassin”

Foto: Marina Jacome

O lendário Eros (Thrash Speed/RJ) lançou o single “Assassin”. O Single “Assassin” conta a trajetória de um dos personagens de uma história de ficção que será contada com as outras músicas do próximo disco da EROS. História típica de um punisher. Eros retornou ano passado após 22 anos e agora em 2017 lançou recentemente o single “Assassin” e para divulgar este single a banda começa com dois shows no Estado de SP. Assista o novo single Assassin da banda Eros. Para acompanhar as notícias da banda, siga o perfil oficial no Facebook ou no site. “What it Takes”

O KKFOS lança o primeiro videoclipe referente ao conceitual álbum de estreia, Klownstrophobia. A produção é para a música “What it Takes”, a segunda faixa do disco, lançado em maio deste ano e disponível tanto em versão física como em serviços de streaming. “What it Takes” ganha um vídeoclipe com estética típica de produções da década de 1990, com cortes dinâmicos e que acompanha a pegada energética da canção, que destila o potente rock do KKFOS com referências de stoner, punk e grunge. Confira o clipe AQUI. Ouça Klownstrophobia no spotify. Siga a banda nas redes sociais: Facebook | Instagram | Site 6


Cervejas artesanais

A banda norte-americana Nile, um dos nomes mais respeitados do technical death metal mundial, confirmou recentemente única apresentação no Brasil. O show agendado para o próximo dia 26 de agosto, no Carioca Club, em São Paulo, faz parte da turnê do disco “What Should Not Be Unearthed” (Nuclear Blast Records) pela América Latina. Os ingressos para conferir a performance dos exímios Karl Sanders (vocal/guitarra), George Kollias (bateria), Brad Parris (baixo/ vocais) e Brian Kingsland (guitarra/vocais) já estão à venda pelo site do Clube do Ingresso. “Guerra e Destruição”

A banda Burnkill disponibilizou o seu primeiro registro de estúdio gratuitamente para audição no YouTube. O álbum “Guerra e Destruição” recebeu em pouco mais de um ano de seu lançamento, várias críticas positivas da grande mídia brasileira, elevando o nome do grupo como um dos principais no país em se tratando de Thrash Metal. “Guerra e Destruição” foi lançado em março de 2016, sua gravação e produção foram feitas de forma independente em co-parceria entre banda e “Rota Studio 976” de Pouso Alegre/MG. O álbum está disponível para audição no Spotify, Deezer, Amazon e agora YouTube. Machado de Einstein

A banda catarinense de hard rock Machado De Einstein agora está no casting da Musikoram. Com essa parceria, a banda lançará um EP de estreia na gigante Universal Music, acompanhado de um videoclipe na VEVO. Recentemente a MDE reformulou o seu formato, contando agora com Ozeias Matos no baixo, transformando o grupo em um quarteto com som mais melódico. A Machado de Einsten é: Daniel Siebert, Edgar G. de Souza, Henrique Lopes, Ozeias Matos. A MDE tem, em seu repertório, além de suas canções autorais de peso, tributos à Metallica, Nirvana, Alice In Chains, Bush. Conheça mais AQUI. 7


“Harley My Motorcycle”

A banda South Hammer acaba de lançar um videoclipe para a sua música mais conhecida: “Harley My Motorcycle”. “Harley My Motorcycle” saiu em três coletâneas: uma nacional, de São Paulo (“Roadie Metal Vol. 07”) e duas internacionais: a Terrorizer Magazine, da Inglaterra (edição 273, de julho de 2016) a Imperative Music Vol. 13, da França – ambas com distribuição em todos os continentes. Além disso, South Hammer possui atualmente duas músicas tocando em rádios de diversos países, as quais são a “Harley My Motorcycle” e “Last Thunder”. Assista ao videoclipe da música “Harley My Motorcycle”. “Into the Mess”

O Red Mess apresenta entrosamento e amadurecimento nas nove músicas de “Into the Mess”, álbum que o selo da Abraxas lança nesta sexta-feira nas principais plataformas de streaming. A massa sonora de grooves e riffs servem ao ouvinte uma viagem lisérgica com categoria, o que o próprio trio paranaense chama de “fritação quântica”. “Into the Mess” é uma onda de impactos, com uma visceral arte gráfica na capa do disco e composições que incremental o usual stoner rock progressivo com técnica apurada. Ouça e comprove AQUI. “Redhead Rocker”

A banda curitibana Hot Foxxy lançou oficialmente um videoclipe para a música “Redhead Rocker”, que pertence ao seu primeiro álbum de estúdio, intitulado “Burning Bridges”. Produzido pela Fan Films, o clipe de “Redhead Rocker” conta com a participação da atriz Isabelle Correia, com a direção de imagem de Alceste Ribas e diretor de elenco Roberto Betão Sassarrão. “Ela é uma música que fala sobre uma das pessoas fantásticas que conhecemos na estrada tocando rock n’ roll”, comentou o baixista Betão a respeito da “Redhead Rocker”. Assista ao videoclipe de “Redhead Rocker” AQUI. 8


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uitos e muitos são os problemas que existem dentro do cenário nacional do Metal. Mas um é objeto de interesse desse autor nos últimos anos: o número de amizades desfeitas no Metal por muitos motivos. E uma pergunta: com quem vocês aprenderam o valor de uma amizade? Com o Temer, o Lula, a Dilma, o Bolsonaro, o Jean Willis ou outro desses fascínoras? Ou foi com aquele professor doutrinador chato que ganha os tubos e não dá a cara à tapas (mas quer que você coloque a sua)? Apesar das referências políticas acima, não quero falar mais sobre isso. Acho que todos estão bem de saco cheio em ver como amizades andam sendo destruídas em nome dos vermes acima, dentro e fora do Metal. Vou citar um exemplo. No ano de 2014, eu tinha muitas amizades nos vários segmentos do Metal. Sempre fui bem quisto, mas foi eu fazer amizade com cristãos, e pronto. Devo ter perdido por volta de umas 20-25 “amizades”. Se bem que não vejo quem partiu como amigos reais, já que a amizade implica na palavra respeito. Provavelmente, alguma casua10


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lidade nos uniu, e do lado deles, nunca houve amizade. É um bom ponto de partida: amizades entre cristãos e headbangers dentro do Metal. Me focarei nesse aspecto, mas serve para qualquer outro que pense. Parem para pensar: já viram o número de capetosos chatos e ateus militontos enchendo a paciência? “Banger de verdade não tem amigos cristão”, ou coisa do tipo deve ser pregada nos púlpitos dos bares onde muitos enchem a cara para falar esse tipo de merda. Desculpem, mas eu não sigo suas regras, não vejo o mundo através delas, ou aceito que pensem por mim. Aliás, não me justifico diante das pessoas por nada que eu faça, e creio que este deveria ser o proceder de todos. Mas o encapetamento do Metal “pós anos 90”, depois que as primeiras entrevistas de bandas radicais de Black Metal chegaram aos fãs do Brasil, nunca mais houve paz. Nos anos 80, eu mesmo era católico, tinha amigos ateus no Metal, e nunca tivemos problemas por isso. Aliás, o que nos unia era a música, além do ideal de tornar o Metal grande. Mas o radicalismo que praticávamos (do qual me purifiquei em 1990, graças ao FireHouse) nos dividiu e enfraqueceu, coisa que muitos tiozões do Metal não admitem. Sou um deles, tenho 34 anos nessa vida de Metal nas costas, e estou quase com 50 de idade, mas vivo ensinando aos mais jovens: antes de tudo, seja fiel a si mesmo, as suas convicções. Ou seja, a música que antes unia tantos, hoje virou motivo de caçada às bruxas e

total enfraquecimento da mentalidade individual! Só para terem a noção clara das coisas. Em 1993, a Rock Brigade Records lançou a versão em vinil do “Scrolls of the Megilloth”, do Mortification por aqui. O vinil sumiu muito mais rápido das lojas que muitas bandas de Death Metal da época. Óbvio que tiozões cabeça fraca (ou que precisam de um papa Nicolau para as merdas que saem pela boca) irão dizer que foram “os White”. Não, não foram. Foram todos os fãs de Death Metal que gostaram do disco e adquiriram. Só bem 12


depois que se soube que vários fãs e artistas mandaram cartas à Nuclear Blast (gravadora de licenciou e distribuiu o disco) reclamando de uma banda cristã no selo, e tiveram resposta pública que deve ter feito muitos deles saírem com a bunda para cima, pois a carcada foi firme e bem bruta. Devem estar sem as pregas do bufante até hoje. Muitas bandas de Death Metal nacionais usavam camisetas, curtiam o som e não prestavam contas às corregedorias do Metal do baixo underground. Mas sabe-se lá de

onde o capetismo chato entrou no cenário. Daí, criou-se essa dualidade estúpida, que retira das pessoas o direito delas ouvirem o que bem desejarem. E não, isso não é papo de bandas do Black Metal. Muitos vivem nas deles, sem se incomodarem com escolhas alheias (óbvio que um ou outro apronta gracinhas, mas são poucos). Os bangers “tias do muro ou da janela” (a tradicional fofoqueira que fica espiando a vida alheia em telenovelas e seriados cômicos), são ligados ao típico Metal Old School, ou seja, a uma parte enorme de clonadores do 13


que foi feito nos anos 80, o que justifica o radicalismo voltar quando ele já estava morto. Podem existir quantas tias existirem, podem falar o que desejarem deste que vos escreve, pois eu quero mais que se fodam todos eles. Amizades para mim estão acima do Metal. O Metal para mim tem uma atitude que eu gosto, a de mudar sua forma de pensar e te fazer buscar algo melhor para si. Mas isso não implica que algum titio(a) tutrue tenha o direito de te manipular. Aliás, se ele disser “ou o Metal ou as amizades”, você não tem que escolher, pode ter ambos. Eu mesmo tenho um amigo que, basicamente, me acompanha desde que nascemos. A diferença de idade é de meros 3 meses. Ele é cristão, pastor, pai de família, e eu estou sempre com ele e a família dele. A amizade não fraquejou ou esmoreceu pelo Metal. Aliás, ele é pastor e eu ateu, e nunca discutimos por isso esses anos todos, nem mesmo ele desejou que eu largasse minha música ou

forma de pensar em nome da amizade. E eu não sou o ateu chato e militante de Facebook que acha legal encher o saco nas mídias sociais, mas vai tomar benção à mãe ou ao pai depois. Aliás, muitos desses não dormem de luz apagada em casa. Em suma: não abra mão de seus amigos pela religião, pela etnia, pela visão política, pelo gênero ou orientação sexual, pois cada um tem o direito de ser aquilo que é (inclusive você, caro leitor). E menos ainda jogue o encargo sobre o Metal, pois ele não te obriga isso (mesmo que o tutrue diga o contrário). Aliás, o que existe de tutrue que é amigo de pessoas cristãs (mas esconde para os coleguinhas de classe e copo não saberem e não tomar um boicote) é bem grande. E a essa coisa de não poder ser ele mesmo o leva a ser um hipócrita. Não seja hipócrita, pois o Metal não te pede isso. Aliás, ele nem te pede para deixar de ser o que é. 14


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Por Leandro Fernandes Foto: Banda/Divulgação

Bom, gostaria de agradecer pelo tempo cedido a esta entrevista. Juarez, a quanto tempo o Scourge está na ativa? Juarez: Opa, nós quem agradecemos pela oportunidade, como sempre digo: a união faz a força! Bem o Scourge já deve ter uns 10 anos desde a formação, esqueci quando foi formado (risos), mas a banda se firmou mesmo depois de gravar o début “On the sin…”. Minas Gerais sempre representa e sempre irá representar com boas bandas do Metal Nacional. O interessante que a maioria das bandas, assim como vocês, procuram investir em um som mais extremo, pesado. O estado também é conhecido pelo forte potencial na MPB com grandes músicos conhecidos mundialmente. Toda banda possui uma influência, qual a influência do Scourge? Minas Gerais é um celeiro de metal, mas acho que o metal extremo está na genética mineira, temos ótimas bandas de death metal e outros estilos também. Eu sempre toquei death metal, não sei fazer outro tipo de som (risos), mas escutamos de tudo relacionado ao rock e metal: Black Sabbath, Iron Maiden, Exodus, Celtic Frost, etc. Porém nossas músicas são feitas com estômago (risos), vem de dentro 18


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sem pensar em influência, colocamos todo ódio nas canções e assim flui nosso som. Recentemente vocês participaram do Roça n’ Roll. Qual o grau de importância deste festival para uma banda? Roça n’ Roll foi fodástico, apesar de ter tocado muito cedo e a galera não ter chegado em peso, foi fantástico! É um fest que dá toda estrutura para as bandas. Bruno (organizador) está de parabéns! Roça n Roll é como se fosse o Wacken no Brasil, depois que tocamos lá a banda teve um upgrade foda. Por estarem afastados de Belo Horizonte, Uberlândia hoje é a maior cidade do interior do estado mineiro, isso dificulta algo no trabalho? De forma alguma, uma porque a localização de Uberlândia ajuda e muito com relação ao deslocamento pra qualquer cidade, e o movimento aqui está crescendo muito e pelo que vejo nos grandes centros, rola uma divisão de público devido a tretas, rixas, etc. É positivo o retorno que a banda tem do exterior? Com certeza, a Cogumelo fez uma parceria com a Grey Haze Records que distribui o material nos EUA e Europa, e sempre estou em contato com o dono da Grey Haza (Jayme), que é brasileiro, mas é complicado ganhar o mercado internacional. Aos poucos chegaremos lá, sem pressa, com os pés no chão e dentro das nossas possibilidades. Temos uma cena hoje no país onde ainda existe intrigas, divergências, coisas também do tipo: “fulano é melhor nisso, beltrano naquilo”. Na sua opinião, isso é necessário ou poderíamos ter uma união maior? 20


Poderíamos sim ter uma grande cena, mas tem muito cabra que só olha pro seu umbigo. Tem muita banda que se acha, produtores que não dão a mínima para as bandas e gravadoras que só querem pra eles próprios e o radicalismo sem pé nem cabeça, mas a inveja é a arma dos derrotados e a maioria fica pelo caminho. No entanto, têm muitos que lutam pelo undergound simplismente por paixão e é disso que precisamos! Como se encontra a agenda da banda neste início de novo semestre de 2017? Estamos compondo o novo disco e agendando algumas datas, logo iremos divulgar. Estamos vivendo um momento onde várias bandas do mundo estão investindo em reuniões com membros principais e até mesmo alguns retornos com a formação original. Existe alguma que gostaria de ver em especial e que no momento é quase que impossível? Sem dúvida, o Sarcófago! Se meus brothers voltassem seria mágico e brutal, algo para mundo se orgulhar, mas só o Sr. Wagner pra saber isso (risos). Trocamos ideias sempre, mas não falo neste assunto. Quem sabe um dia a banda mais polêmica do mundo volte e se curve novamente perante eles. Gostaria de desejar muito sucesso e muito trabalho ao Scourge e agradeço mais uma vez por este bate papo. O espaço é livre para considerações finais. Muito obrigado brother pela entrevista! A união faz a força, Scourge agradece a todos e digo, a inveja é a arma dos derrotados… Força e honra sempre!

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Por Pei Fon | Fotos Pei Fon Texto Pei Fon | Fotos Site/Divulgação

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Sou brasileiro descendente de pais libaneses, amante de música extrema e também música árabe. Guitarrista e compositor das minhas loucuras! (risos)

Primeiro de tudo, apresente-se para nossos leitores.

Wael, você acaba de lançar “Sand Crusader”. Conta pra nós como foi o processo de criação do álbum. O processo de criação começou desorganizado, eu tinha a ideia do tema, e ao mesmo tempo um leque gigante de como eu poderia desenrolar a história, tudo isso enquanto eu tava rearranjando o meu Ep “Ancient Conquerors”.

utra honra concedida. Tive o prazer imenso de ouvir e receber o cd do guitarrista Wael Daou. O produto em si é lindo. Um digipack bem feito, com ilustrações do designer Gustavo Sazes, que completa a áurea do que é proposto por Wael. Musicalmente falando, é inspirador. Ouvi cada detalhe e minhas impressões vem em forma de perguntas. Confira agora uma entrevista com esse paraense libanês.

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A partir do momento que eu montei o esqueleto e as guias de todas as músicas a coisa andou com mais organização (risos). Nascido em Belém (PA), como é para você, guitarrista, gostar de heavy metal, sobressair numa região que a música é díficil? Então é aquele velho ditado “a vida é difícil pra quem é mole” (risos). Olha só, quem mora em Breves (ilha do Marajó) diz q quer ir a Belém porque Breves é difícil. Quem está em Belém quer ir pra São Paulo porque Belém está difícil. Quem está em São Paulo prefere os Estados unidos por que o Brasil tá difícil. E quem está nos Estados Unidos diz que lá sé tem metal modinha e quer ir pra Europa! Heheh “Sand Crusader” teve incentivo do Governo do Pará, por meio da Lei Semear. Como você ficou sabendo dessa lei? E o que você quer colher? A lei semear é um incentivo do governo do estado que existe há alguns bons anos! Conseguir ser aprovado fazendo metal em inglês demonstra que o incentivo é para todos e que o governo paraense não tem discriminação com gênero musical. Ouvindo o cd é possível notar a forte influência árabe, uma vez que vem de casa. De que modo essas raízes interferem na composição? Morei no Líbano durante minha infância e fui fortemente influenciado pela música árabe, hoje não me imagino compondo nada sem ter essa sonoridade junto! Está enraizado, afinal faz parte da minha ancestralidade. A faixa título do álbum é a minha preferida. Tenho uma queda tremenda pela temática árabe. A ‘mira’ faz uma 24


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diferença enorme diante da atmosfera agressiva. A suavidade traz a leveza no momento exato. Sim! O cd é temático! Cada música conta uma parte da transformação do personagem (sand crusader). A música título do álbum é autobiográfica do personagem. E Mira conta como a sua esposa sofreu no momento da sua partidade em busca de vingança. Compor música é bastante complexo. Você compõe pensando na sonoridade, em que momento enxerga que aquela canção precisa de letra? Antes de compor decido se a música será ou não com letra. Só que várias vezes mudei de ideia! Na minha opinião, a voz se expressa melhor que qualquer instrumento. Ela consegue ser rítmica e melódica ao mesmo tempo que nos guia através da letra, através de uma história. Genghis Khan e Xerxes foram líderes de suas épocas. Dentro dessa mensagem de liderança, o que esses personagens representam para você? Sempre gostei de história! Qualquer que seja sobre desbravador é inspiradora! Imagine só como era viajar meses e meses através de mares e terras nunca antes desbravadas. Enquanto que hoje temos medo muitas vezes de dar passos pequenos em busca de nossos sonhos! Temos a mania do viralata, achar que nada presta. Se você não pega informação alguma de “Sand Crusader”, pode achar que nem é uma criação brasileira. O que você acha do atual cenário musical no Brasil, em especial para o Heavy/ Rock? A síndrome do viralata nunca vem de integrantes de bandas que estão na ativa compondo e lançando material. Quem diz que nada presta 26


é o hater improdutivo e sem atitude pra tirar a bunda da cadeira. A introdução de “Atilla the Hun” me lembra algum jogo de guerra, acredito que “Metal Slug”. Daria um belo enredo para um video que o tema fosse esse, passando por vários momentos da batalha. Sou apaixonado por trilha sonora! Apesar de ter sido autodidata quase que a vida toda, acabei sendo tendencioso na hora de compor sempre me inspirando em filmes. Parecer com trilha de jogos deve ter sido coincidência já que eu nunca joguei games! hehe “Xerxes I” me chamou atenção logo de cara. A pegada Death Metal tá lá, mas com requinte de contemporaneidade, tanto nos riffs, quando na voz. A música passa que você nem sente. 10 minutos de puro prazer musical. Essa é a mais controversa de todas e minha preferida! Muitos amam e muitos a odeiam! (risos) Mas é a mais completa pra mim! “Sand Crusader” é inovador em muitos sentidos: musicalidade, incentivo e vontade. A música por ser versátil. O incentivo do Governo do Pará para a música é fundamental para todos. E a vontade do músico de pensar fora da caixa. O incentivo ajuda, mas não é tudo! O mais importante é a gente acreditar que pode e corre atrás. Top 5. Quais as influências de Wael Daou? Cite e comente rapidamente sobre as bandas ou guitarristas que te influenciam. Death: ouvi a vida toda e sempre ouvirei, era muito a frente de seu tempo; 27


Jason Becker: maior guitarrista da história; Frank Gambale: técnica aliada a musicalidade; Fairuz: a voz do Oriente Médio! Nenhum árabe no mundo deixou de conhecer essa mulher incrível; Farid el atrash: exímio instrumentista e cantor! Tocou alaude como ninguém em seu tempo.

Por fim, o que podemos esperar de Wael Daou em 2017? Sucesso e muito obrigada! 2017 é o ano que sairei junto a banda Sand Crusader tocando Brasil a fora, já estou compondo e espero lançar o próximo cd no fim de 2018 ! Muitíssimo obrigado pela oportunidade de falar um pouco sobre mim! É uma honra imensurável! Obrigado!

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The Adicts, Skatalà, Lagwagon, Berri Txarraki, Face To Face, Lendakaris Muertos, The Baboon Show, La Banda Trapera del Rio e Giuda Poble Espanyol, Barcelona. Texto & Fotos: Mauricio Melo & Snap Live Shots

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arna N Roll, uma aventura que se deu início ano passado, tendo em sua primeira edição o Bad Religion como nome principal. Naquela ocasião foram seis bandas e para a edição desse ano, nove bandas formaram o cartaz deste festival punk, que vai ganhando espaço na cidade de Barcelona. Iniciamos nossa maratona as cinco da tarde, com o Giuda. Sempre uma tarefa difícil abrir um festival. Ainda mais quando este é em pleno verão e sabendo que a última banda subiria ao palco as duas da manhã. Foram poucos os que puderam conferir o bom garage rock despojado da banda. Com um pouco mais de público no recinto, La Banda Trapera del Rio, a banda punk espanhola antes do punk, com 40 anos de estrada. Mereciam uma galera melhor, mas quem lá esteve curtiu bastante, principalmente em “Ciutat Podrida”. Quem surpreendeu aos desavisados foi o The Baboon Show. Destaque total para Cecilia Bostrom. A mina é o Iggy Pop de saia meus friends, pula, salda, desce ao público, dança, joga água e, é claro, canta, e como canta. Vale a pena mesmo dar uma conferida no som do quarteto sueco. 32


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Já com o Poble Espanyol mais cheio, o Lendakaris Muertos fizeram um dos shows da tarde. Mais um vocalista que fez a festa junto à galera, sendo carregado nos ombros em alguma ocasião enquanto debochava do governo, da realeza e de todas tradições ignorantes que se mantém na Espanha, além da crescente corrupção, ou vocês acham que isso é exclusividade do governo brazukeiro? Quem quase decepcionou foi o Face To Face, não por questão da qualidade de seu show que, sinceramente, foi impecável, mas o Lendakaris, como foi dito acima, fez um grande show, cansou o público, que aproveitou o show do Face para recuperar fôlego, matar a sede e mais, o quarteto californiano não esteve mais do que meia hora no palco, inexplicavelmente o show mais curto da jornada. Músicas como “You Lied”, “Ordinary”, “Blind” e “Disconnected” fizeram a festa dos nostálgicos. Também chamou atenção o fato de ser a segunda vez na história da banda que pisam em Barcelona. Para quem acha que a Europa é caminho obrigatório para as bandas, engana-se ou melhor, podemos classificar a Espanha como Europa? Bem, assunto para depois. Quem tem bastante público por aqui e tocam com certa frequência na cidade é o Berri Txarrak. Apesar de um setlist bem trabalhado, a situação não foi fácil para eles. Depois do showzaço do Lendakaris, e do gosto de quero mais do Face To Face, aturar mais de uma hora de Berri que, dentre outras coisas tocou cover do MGMT e do Daft Punk, foi um pouco forçado. Seria mais honesto que o Face estendesse seu set. Apesar do retorno do Skatalà e do nome em letras grandes do The Adicts, o dono da noite foi o Lagwagon. Demonstração perfeita de porque serem considerados a história viva da Fat Wreck Chords e olha que não sou nenhum grande fã da banda, apenas um bom ad34


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mirador. Engana-se quem acha que desde a primeira música o público alucinou, o Lagwagon parecia não ter forças, demorou a arrancar, talvez aquele carregamento de Whisky que vimos passando ao backstage tenha sido carinhosamente adotado pelo quinteto e somente lá pela quinta ou sexta canção o combustível explodiu em definitivo. Abriram com “Island of Shame” e seguiram com “Violins”. Com “Coffee and Cigarretes” a galera começou a fusão perfeita e esperada com a banda que aproveitou a deixa e fez, sem nenhuma dúvida, o show do dia com mais de uma hora de apresentação e quase duas dezenas de músicas. Um setlist completo, um verdadeiro repasso na carreira, incluindo músicas de seu último trabalho “Hang” e que foram muito bem recebidas. Havia chegado o tão esperado momento para os expectatodres, a reunião do Skatalà, algo que muitos vem esperando há anos. Banda que iniciou suas atividades há três décadas quando por aqui houve uma explosão do ritmo Ska e o Skatalà foi e ainda é a banda preferida da Catalunha. Palmas para os Moonstompers que esperaram por horas o grande momento enquanto se refrescavam a base de cervejas, havia chegado a vez deles. Camisas polo Freddy Perry, bermudas camufladas e tênis Adidas eram quase um uniforme. “Capità Swing”, “Tio Manel” e “Skandol Dub” e mais uma dúzia de canções levaram o público à loucura. Não sabemos o verdadeiro futuro da banda, se serão shows esporádicos ou se haverá disco ou turnê. Por enquanto o show já valeu à pena. Já o The Adicts pegou um público cansado e que já havia alcançado seu objetivo com os shows anteriores, mesmo assim provou que a história do punk lhes deve um reconhecimento. Sua atuação única, com confetes, serpentinas e uma entrada de palco com asas que me fez voltar no tempo e lembrar de Secos e 37


Molhados. “Let’s Go” foi a responsável pela abertura, “Joker in The Park” veio na sequência com Keith Warren lançando cartas pra galera. Entre bolas coloridas, geral já se encontrava cansada e que começou a sair do recinto antes mesmo de “Viva La Revolution”. Fato curioso do dia, o guitarrista Pete Dee quase não chega para a apresentação. Ainda em Londres e já no saguão do aeroporto, resolveu dar aquela calibrada, uma inofensiva cervejinha, se distraiu e... o avião partiu sem ele. Embarcou no seguinte, 6 horas após o vôo perdido, chegou a tempo, o vi passando uns 15 minutos antes da banda entrar em cena, mas perdeu aí uma tarde de backstage regada a todas as formas de calibragens líquidas disponíveis em Barcelona. 38



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Por Raphael Arizio | Foto Dani Dread

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orsal é uma das bandas mais importantes de toda nossa história da música pesada. Sem eles não teríamos Sepultura, palavras do próprio Max Cavalera. Seu disco “Antes do Fim” é um marco no metal mundial, sendo uma das primeiras bandas a fundir Hardcore com Metal. Mas a banda vai além de um único disco. Após um período sabático, retornaram as atividades e lançaram dois discos através de campanhas de financiamento coletivo, isso sem contar uma HQ que conta a história da banda, feita pelo próprio Carlos Lopes. Estão para lançar seu novo disco “Canudos” que, segundo Carlos, mais uma vez a banda vai inovar o jeito de se tocar Heavy Metal. Vamos saber do próprio Carlos como andam os preparativos para o novo disco, sua concepção e gravação, e mais algumas curiosidades sobre a vasta história da banda. A Dorsal está para lançar seu novo disco “Canudos”, o terceiro desde a volta da banda. O que podem falar sobre? Canudos contém uma nova estética que se mantém metal e hardcore, mas que vai além. Canudos é um diálogo entre o preto e o branco, o céu e a terra. Neste disco os solos são curtos e melódicos; se há grito primal também há o canto, troco vozes, abro vozes. Canudos é direto, porém refinado, rústico como o agreste e emotivo como uma procissão. Ca42


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nudos é Brasil, África, Nordeste e não global metal. Não poderia compor Canudos tomando coca-cola e dando risada. Que corresse nas veias o sentimento de injustiça e a indignação na alma. Para tanto, não poderia ajeitar o disco, burilá-lo para que soasse domesticado, aceitável. Canudos precisava soar ao vivo, assolado pela seca e ao mesmo tempo prenhe de esperança por um mundo justo e igualitário. Nada e ninguém deveria conter o furacão na alma e nem engarrafar o espírito. Canudos é livre, foice e martelo. É filho do Candomblé, de Ariano Suassuna, de Baden e Vinícius e do grande Sérgio Ricardo. Para que gravar um novo disco se o trabalho não for transformador? Para que fazer

mais do mesmo? É assim que penso. E sou eu quem mais me cobra. E as cobranças tornam-se maiores a cada ano. Para gravar Canudos foi preciso desenvolver uma nova sonoridade, com novas melodias, nova coragem, me aprofundar no Brasil dos terreiros, do agreste, do repente, do baião, das romarias, dos santos. E ser digno de alçar esse voo. Gravei as demos e pedi que cada um dos músicos criasse na hora sem ensaios. Não toco, não canto e não mixo dentro dos padrões do estilo ou da indústria. Então o ouvinte que aceita entrar neste mundo torna-se coautor, partícipe desse universo. É como participar de uma sociedade secreta.

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xo do Alemão, no Rio, está criminalizando todos os seus habitantes, e os chamando de terroristas, traficantes, vagabundos. O fascismo manipula o medo e incentiva o ódio para habilitar-se a ser o salvador da pátria. O impeachment “dentro das leis” nos jogou aos leões e nos jogará em um estado de exceção permanente. E este golpe é de longo prazo. A quebra da institucionalidade, este estelionato, essa trapaça, essa farsa cobrará a conta de cada um dos hipócritas que pediram a cabeça de Antonio Conselheiro ontem, hoje e amanhã. E ninguém pode lavar as mãos. São todos culpados. Apesar de Canudos ter sido massacrado, a sua pobreza espalhou-se por todas as comunidades carentes deste grande Brasil. E a grandeza de Canudos sobrevive para a eternidade. Como foram feitas as escolhas sobre os temas abordados pela banda em seus discos mais recentes? Depois de escolhidas há um estudo sobre o tema? Como é o preparo para as letras das músicas? Inspiração pura. Disco só vem em hora marcada quando o artista assina um contrato e se vê obrigado a produzir uma obra em um tempo determinado. Caso contrário, o disco vem quando tem que vir. Há períodos em que estou desprovido de ideias, em outros estou grávido de planos, mas quando a ideia vem, vem mesmo. E para nascer logo temos que dar o jeito que for para a criança vir ao mundo. É algo como engravidar sem planejamento. Não há uma regra, cada caso é um caso. Mesmo que o CD “2012” tenha sido escrito em um mês, o “Imperium” em dois e “Canudos” em alguns meses com uma das faixas escrita há dez anos, todo disco é fruto de décadas de vivência, filmes e leituras mas principalmente de reflexões.

O novo disco aborda um dos mais importantes conflitos nordestinos já ocorridos, a guerra de Canudos. Por que foi escolhido esse tema? Qual a importância dele para os dias de hoje? O estímulo político para compor Canudos foi o impeachment da Presidenta Dilma Rousseff. Canudos é o reconhecimento de que o Brasil pouco mudou desde o final do século XIX. Este é um país de golpes e de oportunistas desde sempre. Canudos foi massacrado com o argumento de que seus habitantes guerreariam para restaurar a monarquia. Eles só queriam terra e uma vida digna sem a ingerência de quem quer que fosse. Quando se criminaliza uma comunidade inteira, como a do Comple-

Desde o retorno da Dorsal, seus discos 45


vêm abordando temas sobre a história do Brasil, como a ditatura militar em “2012”, o colonialismo em “Imperium” e agora “Canudos” com o novo disco. Por que dessas escolhas em temas históricos? E qual o paralelo que faz sobre esses temas com o Brasil que vivemos hoje? Sou apaixonado por história brasileira e repartir essa paixão me estimula a estudar mais e mais. Canudos não é um caso único. É emblemático, mas muitos outros os são. Lembremos do Contestado, Cabanada, Malês, Sabinada, Federalista, Chibata, etc... A história passada não é nada diferente da atual. Nada diferente do que ocorre hoje em comunidades pobres impedidas de esfregarem a sua miséria na cara da sociedade. O Brasil não conhece o Brasil e parece que não quer conhecê-lo. Porque conhecer a verdade dói. Para o novo disco a banda anunciou Américo Mortágua como seu novo baterista. Por que houve essa troca de músicos para o novo disco? O que Américo pode acrescentar para o novo disco? Américo tocou comigo nas bandas Mustang e Usina Le Blond e ele era mais adequado ao trabalho. Expliquei que o disco seria gravado ao vivo, sem ensaios, e edições. Que teria dois bumbos direto. E que criaríamos novas levadas de bateria mesclando ritmos nordestinos com metal e hardcore. O blast beat com Maracatu que eu sonhava se materializou na hora. Tecnicamente é bem complexo mixar um disco desses, assim como tocar essas rufadas em andamentos acelerados, além de eu ter que cantar quiálteras sobre ritmos em semicolcheias. Acentuei o sotaque nordestino como homenagem à minha mãe, nordestina, e a musicalidade desse sotaque permitiu-me escrever melodias mais brasileiras.

Desde a volta da banda a pedida por shows e turnês foi muito grande. Foi dito por Carlos que se Canudos tiver uma aceitação muito boa, talvez a banda possa voltar aos palcos. Isso realmente pode ocorrer? Me permiti uma década sabática para repensar a vida. Muita coisa aconteceu desde que parei de tocar há dez anos. Já não gostava de viajar, também não gostava da rotina de shows. E não consigo tocar se não me sentir à vontade e em afinidade com os músicos. A questão não é apenas profissional, é principalmente artística, política e espiritual. Como não consegui 46


ternativa. O que pode falar sobre esse novo estilo e sobre o som de guitarra nesse disco? Há bastante tempo estava desinteressado em tocar guitarra. Buscando uma linguagem nova para o disco cheguei à guitarra baiana, cuja afinação me “obrigaria” a sentar o rabo e estudar. Desenhei uma Flying V com determinados captadores e dentro das especificações que atendessem as minhas necessidades. Ela foi construída pelo luthier baiano Fábio Batajn e os últimos retoques feitos no Rio por Cássio Oliveira. O instrumento possui seis cordas, a mais grave de baixo e a mais aguda uma oitava

aparar essas arestas optei pela reclusão. Mas nada disso me impede de criar. O crowdfunding permitiu-me materializar as criações, e me fez acreditar que há um bom número de pessoas interessadas em arte e não em produtos. A depender das circunstâncias talvez eu venha a reacreditar que ainda há algo importante a ser feito em um palco. Para o novo disco a banda diz que desenvolveu um novo estilo musical, que seria adequado com o tema proposto, inclusive com uma nova guitarra desenhada por você e com uma afinação al47


acima da guitarra convencional. A chamo de “Matadeira”, pois assim os Canudenses se referiam ao canhão que os bombardeavam. Dorsal sempre foi uma banda inovadora e a frente de seu tempo. Mais uma vez a banda inovou com as campanhas de financiamento para seus discos atuais. Como decidiram fazer os seus discos por esse meio e mais uma vez fazer história? Esta é a terceira campanha da banda. Antes foram o CD 2012 e os quadrinhos. Há 5 anos optei por essa relação direta com o apoiador para viabilizar a produção. Se o artista não é comercial, de fácil entendimento, talvez somente uma ação participativa possa tirar ideias do papel. E cada vez mais a arte torna-se um reduto de aficionados e colecionadores. Se dizem que Jesus salva, certamente a arte salva também. Em “2012”, a demanda para a Dorsal gravar era grande, mas não havia interesse das gravadoras em nos bancar e nem havia interesse nosso em voltar a brincar de casinha. Uma produtora conhecida me contou que rolava no exterior a captação de recursos para viabilizar projetos. Acreditei e meti as caras. Durante a campanha para o CD 2012, vi muita incompreensão, mas também recebemos muito apoio. O apoio ganhou e pudemos voltar a gravar. Não sou adicto, em como você mencionou, fazer história, mas não consigo não fazer. Em sua recente biografia Max Cavalera teceu diversos elogios sobre a banda, dizendo inclusive diversas vezes quem sem Dorsal não existiria Sepultura e que “Antes do fim” é um dos seus discos preferidos. Recentemente, gravou no disco “Archangel” do Soulfly uma música chamada “Acosador Nocturno”, que segundo ele foi baseada no clássico Ca48


çador da Noite da Dorsal. Como a banda enxerga essas palavras e essas homenagens de Max Cavalera? No CD “Dark Ages”, Max já havia recitado uma parte da letra de Caçador da Noite. Ele é obcecado por esse disco e por essa faixa em questão. Ele me falava sobre isso por volta de 1986, e tenho uma gravação em áudio dele cantando “Caçador da Noite” em um show da Dorsal no Rio. É raro de se ver ou ouvir, na verdade, uma demonstração pública de afeto de tal monte, uma fascinação dessas. Claro que fico honrado. Tudo o que é feito com amor e verdade perdura, é o que acredito. Ele soube captar a mensagem e levou a lição pela vida. Após o fim da Dorsal em 2001, você tocou em bandas com estilos musicais diversos e que nada tinham a ver com o Metal da banda. Essa experiência mudou o seu jeito de tocar metal? O que escrevo é fruto de uma busca artística. Não foram outros estilos que me fizeram mudar o metal, mas o meu metal que expandiu-se para além dos limites e clichês do estilo. Verdade que para me acompanhar, o ouvinte deve ter uma cabeça e um coração mais abertos daquele que quer ouvir barulho pelo barulho ou formatos pré-definidos. Não é o estilo que me define, eu que o defino, assim como a escultura não pode esculpir o escultor. Alguns discos clássicos da banda como “Musical Guide for Stellium”, “Alea Jacta Est” e “Straight” estão fora de catálogo e são muito difíceis de serem encontrados. Existe a vontade de fazer algum relançamento? Vontade existe, mas há custos, direitos e deveres envolvidos. Por exemplo, gravamos o “Antes do Fim”, em 1986 e assinamos um distrato com o selo em menos de um ano. Em nosso 49


distrato havia uma cláusula que a master poderia ser reprensada desde que a banda autorizasse. O selo vendeu a fita para outra pessoa sem nos consultar. Soubemos quando o disco já estava sendo vendido nas lojas. Levei 25 anos para recuperar a propriedade da fita original e hoje recebo ofertas para relançá-lo no mundo todo, mas sou eu quem decide sem interferências. E esse não é um caso isolado. Há dez anos foi lançada a regravação deste mesmo disco. Descobri que estavam reprensando o disco sem minha autorização, o que é necessário para qualquer fábrica aceitar o negócio. Ou seja, mesmo no “underground” há oportunistas e gente enrolada que não honra palavra e nem contratos. Nunca me acostumei a ser enganado, tentei me prevenir, mas sempre aparece mais um e eu caio. Tentarei rezar mais, espargir água benta e usar alho contra os vampiros. A letra da clássica música “Metal Desunido”, presente no disco “Dividir e conquistar”, é ainda hoje muito atual, mesmo tendo sido lançada em 1988. Por que passados quase 30 anos do lançamento desse disco, o Metal se encontra cada vez mais dividido? O Dividir é um trabalho de temática muito madura para a época com letras sobre assuntos pouco usuais. Se o metal continua dividido eu não sei, mas deve haver mais subgrupos, o que deve dar briga, creio. Muita gente se preocupa mais com a casa dos outros do que em arrumar a sua. Dividir-se é humano, mas impor regras é fascista, coisa de fanático. Dentro da minha casa há regras, mas na rua preciso negociar porque lido com outras pessoas, mas assim mesmo não faço o que me agride. Já viste o filme A Onda? É muito fácil radicalizar e fanatizar. O metal, assim como o Brasil, é e será o que fizermos dele. A música é feita 50


por pessoas e se as pessoas vacilam, o metal vacila. Não vejo épocas melhores ou piores na história. Apenas repetições dos mesmos erros praticados por outras gerações. Ano que vêm o clássico “Dividir e Conquistar” comemorará 20 anos de lançamento. Quais são as memórias que têm da concepção e gravação de disco? Existe algum plano de alguma comemoração dessa data? Não tenho muitas memórias além das que relatei no livro Guerrilha! E agora nos quadrinhos. Na verdade se eu não tivesse escrito a biografia nos anos 90, certamente muito pouca coisa lembraria. A vida passa rápido, a gente vive muito intensamente e as histórias viram lendas. O objetivo do Dividir era crescer artisticamente. A nós eram muito integrados os radicais, mas radicais são velas que queimam de ambos os lados. Eu era muito mais do que o “líder do radicalismo”. Eu era radical de muitas maneiras: um poeta radical, um desenhista radical, um pensador radical e um militante radical. O Dividir me permitiu explorar várias outras facetas da minha personalidade que estavam ainda esboçadas no Antes do Fim. Se você me perguntasse se eu me arrependo de alguma decisão eu te diria que não, nunca, jamais. Preferi não fazer o Antes do Fim II, mesmo que isso me custasse uma popularidade que eu sabia que me criaria problemas em pouco tempo. Preferi a evolução artística. Em São Paulo, por exemplo, o disco estourou e nos deu ainda mais legitimidade e longevidade, pois nascemos no Rio, mas foi São Paulo, principalmente, quem nos fez grandes. Alguns selos me fizeram ofertas para relançá-lo em 2018, mas nenhuma me cativou. O objetivo não é apenas relançá-lo, mas dar-lhe o tratamento merecido: uma competente masterização e um trabalho de arte refinado. 51


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Pelo visto, não são tempos de investimentos. Também recebi uma proposta de tocá-lo na íntegra ao vivo - em português - na Europa para comemorar a data, mas declinei.

mono virar estéreo; a TV colorida; a rádio FM e a válvula ser substituída pelos transistores. No final dos anos 70, início dos 80, quando não havia disputa entre as bandas, a gente comprava todos os lançamentos nacionais e torcia muito. Fiquei emocionado ao comprar os LPs da Patrulha do Espaço, Grito Suburbano, SUB, Karisma e o Vulcano ao vivo, mesmo que fossem mal gravados. Isso não importava. Produzir música tem um custo, não somente pessoal, mas financeiro. Quem tem verba para investir pode se dar ao luxo de gravar e distribuir gratuitamente a sua música. Migrei da época em que todos os músicos tocavam por amor para hoje quando todos querem receber. Não há como dizer que antes era melhor e que hoje é pior, tudo é relativo. Vivemos uma época de transição. Gosto de ler livros e revistas impressas, nunca me adequei a ler na tela. Sei que o mundo mudou, o mercado também e que hoje só colecionador compra CD e LP. Tanto que optei pelo crowdfunding para não ter que correr atrás de gravadora para fiscalizar se haviam me enganado. Mas a máxima persiste: tem mais exposição quem tem maior atenção da mídia, seja ela de grandes jornais ou alternativa. Promoção ainda é a alma do negócio. Creio que a internet tanto promove como mata o artista e não melhora caráter de ninguém, inclusive serve para difundir lixo. E La Nave Va.

Foi lançado recentemente uma HQ contando a história da banda. Como foi o processo de criação dessa HQ? O que pode falar sobre o resultado final? Realizei o meu primeiro sonho, o de ser quadrinista e mais uma vez, graças aos apoiadores. Antes de tocar guitarra eu quis muito desenhar, mas não me esforcei o suficiente. O palco parecia mais atraente. Não leio quadrinhos desde 1981 e não desenho há décadas. Foi um desafio e tanto. Mas prometi entregar os quadrinhos e tive que cumprir. Não queria fazer um trabalho qualquer. Para isso dediquei-me durante um ano a desenhar, roteirizar e principalmente a deixar o lúdico tomar conta do trabalho. Não poderia ser uma cópia da biografia, mas ir além, expandir a consciência e abrir novos campos artísticos. O resultado muito me orgulha e me inspira a continuar, a desenhar mais e mais, a escrever mais e mais. Um dos principais problemas enfrentados pela Dorsal, e por diversas outras bandas, foram com gravadoras que não repassavam o dinheiro devido. Hoje em dia vimos o falecimento de diversas delas e uma nova forma de se consumir e ouvir música em todo mundo. Como a banda enxergou toda essa forma de se consumir música, em vista que pegaram todas as fases da música como LP, fitas K7, CDs e hoje em dia mp3 e streaming? Não só as fases da música mudaram, mas a tecnologia como um todo. Parece engraçado, mas tanto vi o ser humano chegar à lua como o

Espaço para agradecimentos e considerações finais. Agradeço o espaço e peço aos interessados que apoiem Canudos colaborando até 28 de agosto de 2017 clicando AQUI. Saibam das novidades pelas únicas páginas oficiais que são Facebook e site.

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Foto: Giampiero Zappa

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Por Pei Fon Tradução: Guilherme de Alvarenga Foto: Giusepe Maffia

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doramos conhecer bandas. E desta vez fomos dar um ‘passeio’ pela Itália. Um berço rico em cultura, a música não poderia ser diferente. Diante disso, trazemos o Virtual Symmetry, banda até recente, mas com uma ambição que vai muito além. Conversei com os caras para entender melhor sua sonoridade, cultura e o que acham do Brasil. Acompanhe! Olá pessoal. Quero agradecer desde já a oportunidade e peço para que fiquem à vontade e não precisam medir as palavras. Olá, eu que agradeço pela oportunidade e seu interesse pela nossa música, é realmente um prazer para nós permitir que seus leitores conheçam um pouco mais sobre nosso mundo. Primeiro ato. Por favor, apresentem-se para nossos leitores. Somos o Virtual Symmetry, uma banda de metal progressive nascida no Norte da Itália, mas que atualmente reside na Suíça. Criada de um projeto de nosso guitarrista e produtor Valerio, que funde elementos do metal moderno com as influências do prog, atmosferas cinemáticas e influências de outros gêneros como Pop, Fusion, jazz e etc. Desde 2009 estão na ativa com uma proposta de inclusão de influências 56


Foto: Francesco Schiavone

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musicais e o rock progressivo. Como nasceu o Virtual Symmetry? E qual a referência para o nome da banda? A banda nasceu do desejo do Valerio de escrever o tipo de música que ele amaria escutar nos fones e tocar com uma banda completa. O nome significa os elementos da vida que não podem ser tocados ou vistos, como nossas emoções e pensamentos, e o desejo de comunicar uma espécie de equilíbrio de tanto no aspecto espiritual quanto mental através de nossas músicas. As bandas geralmente lançam um Ep, mas vocês foram logo para o full-lenght, em 2014. Em que momento vocês enxergaram que seria melhor apresentar um álbum completo? Acho que o Valerio sempre idealizou o álbum completo pois o projeto é muito ambicioso e não queríamos limitar nossa criatividade com um EP. “Program Error (We are the virus)” tem a participação do renomado tecladista Jordan Rudes. Como aconteceu o convite? Aconteceu meio que de brincadeira depois de um show do Dream Theater. Valerio foi cumprimentar e conversar com o pessoal e ele já estava produzindo uma demo dessa música e ele resolveu arriscar e perguntou se ele daria esse presente especial para nós. A música também tem referências do filme “Matrix”. Tanto que o vocalista participou da trilha sonora do monólogo do Agente Smith. Cinema e música sempre estão juntas. O que a narrativa do filme passa para vocês? Na verdade o Valerio decidiu colocar um trecho do filme apra enfatizar a mensagem que 58


havia na letra que realmente está relacionada com o filme, e essa fala em específico combina com a atmosfera que queríamos passar. “Message from Eternity” recebeu várias avaliações positivas. O que vocês colheram nesse período para lançar o EP “X-Gate”? O feedback que recebemos de nosso álbum nos fez perceber que as pessoas realmente gostaram de nossa música e o que tínhamos a dizer, então achamos que talvez elas quisessem escutar mais. Então criamos uma espécie de ponte com o segundo álbum com 3 músicas, para que as pessoas pudessem sentir como seria nossa a partir de então. “X-Gate” acabou de ser lançado. Apresente para nós. X- Gate é um EP com 30 minutos de duração que conta a história de um homem que conseguiu curar a si mesmo da negatividade e do medo através de suas experiências, conhecimento, amor e esperança ao confrontar seus pensamentos e vida dividido em 3 etapas. Tratamos como um processo de reabilitação mental. É uma jornada onde tentamos, de uma forma cinemática, trazer uma nova abordagem à música progressiva e é uma mensagem de esperança direcionada às pessoas com depressão e dor interna. Posso considerar o Ep uma peça, dividida em três atos. “Eyes of Salvation”, “Alchymera” and “Elevate”. Onde querem chegar depois dos três estágios? No momento não podemos revelar o que planejamos após X Gate, mas no final de “Elevate” há uma parte do piano diferente de tudo que está no EP, seria isso a antecipação de algo? “Você nunca sabe quando o tempo está 59


certo”. Este é o tempo para o Virtual Symmetry lançar um Ep? Por que não um full? Ótima escolha de palavras! Temos um grande conceito em nossa mente para o próximo álbum, que necessita ser antecipado por uma pequena história que conecta os álbuns e mostra ao público como soamos como uma banda completa, onde todos os membros criam e opinam sobre ideias. Não dá para negar as influências do progressivo, mas dá para identificar outros estilos. “Elevate” está entre as minhas preferidas. Fico contente de saber que você gostou dessa música, pois seu significado é muito profundo. Você pode escutar música para orquestra, thrash metal anos 80, elementos de pop e de rock, efeitos digitais, vozes, teclados atmosféricos, padrões de samba na bateria... muita coisa! A Itália possui uma bagagem cultural bastante rica. Tanto que um de seus vocalistas (Fabio Lione) é parte da banda Angra. Como vocês enxergam essa dinamização da música pelo mundo? Verdade, somos muito sortudos de nascer em um país tão bonito e rico em história e cultura que são apreciados por estrangeiros. Para mim, o período que vivemos ajuda muito a encontrar pessoas com as quais podemos compartilhar interesses e atividades de qualquer parte do planeta e um curto espaço de tempo. Sendo assim, para nós músicos, é uma oportunidade única para fazer coisas do tipo acontecerem, pois no passado era bem mais difícil. Falando em Brasil, o que vocês conhecem do país? Acho o Brasil um país assustadoramente rico 60


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em valor cultural, em vários setores como natureza, música, arte e entretenimento por exemplo. Eu amo samba e bossa nova, sou fascinado pela capoeira e pelo fato da floresta Amazônica fazer parte do seu território. Boa comida, festivais bonitos, pessoas muito boas e fantástica cultura de modo geral.

conseguiram ótimas resenhas, irei conferir em breve! Por fim, quais os planos da banda para 2017? Pode sair um full em complemento ao “X-Gate”? Sucesso e saudações brasileiras. Estamos tocando alguns shows ao vivo na Suíça, no norte da Itália e fazendo alguns planos para a criação de um álbum completo, além de claro continuar trabalhando, pois encaramos esse projeto como um hobby no meio de nossas obrigações e responsabilidades. Espero tocar algum dia no Brasil e conhecer todos vocês, vocês são foda!

Não sei se conhecem a banda Dark Avenger. Eles acabaram de lançar seu novo álbum “The Beloved Bones”. É uma peça em forma de música. Vocês precisam escutar. Com certeza, esse álbum está entre os melhores de 2017. Obrigado pela sugestão! Já ouvi falar deles, 62


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Texto e Foto Marta Ayora

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abe aquela frase: “Tudo que é bom dura pouco”? Pois bem, pense em um show que passa tão rápido que você nem sente de tão bom que é. No total foram 14 músicas em quase duas horas de show. Assim foi a apresentação da banda norte americana de metal progressivo e djent, Animals as Leaders, que pisou no palco do Carioca Club, em São Paulo, em sua turnê pela América Latina trazendo na bagagem o seu álbum mais recente “The Madness of Many” (2016) . Além do novo álbum, o power trio Tosin Abasi (guitarra), Javier Reyes (guitarra/ baixo) e Matt Garstka (bateria), apresentaram um setlist rico e composto por diversas faixas de sua carreira consolidada há mais de 10 anos. Ao chegar ao local, uma aglomeração de fãs e simpatizantes já os aguardavam do lado de fora para prestigiar a banda em sua única apresentação no Brasil. Dentro do Carioca Club a faixa etária estava bem diversificada, comprovando que o metal atrai, mistura e une diferentes gerações. Quanto mais se aproximava o horário do show, mais a multidão gritava em unísso66


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no “Animals!Animals!Animals!” A banda não demorou muito a aparecer para diminuir a ansiedade dos fãs, que já estavam apertados contra a grade que dividia a plateia do palco. Com um som potente e limpo a banda entrou no palco com “Arithmophobia”, primeira faixa do quarto álbum. A interação da banda com o público foi pequena, porém, o talento, a técnica e a sonoridade de suas composições foram tão impressionantes que deixaram os espectadores de queixo caído e fizeram a festa dos presentes. Já o que deixou os fãs de longa data alucinados foi a quantidade de faixas antigas e inusitadas. Apenas do álbum “The joy of motion”, foram cinco músicas. “The Woven Web” e “Physical Education” levaram o público à empolgação, que pularam e cantaram em sintonia com o som bem elaborado. O setlist seguiu e, para a surpresa de todos, a banda deu bastante atenção aos primeiros álbuns. Sem perder o ritmo, Tosin Abasi arrebentou na guitarra e foi eficiente em todas as músicas, impressionando e muito com sua técnica e agilidade em “The Brain Dance”. Já em “Tooth & Claw”, Tosin apresentou uma guitarra mais virtuosa para os ouvidos mais exigentes. Javier Reyes relevante, num baixo bem executado, oras se aproximando do público, oras se afastando, tão concentrado que parecia estar hipnotizado por um mantra enquanto tocava. Mas foi em “Nephele” que de fato percebi a vibração e a sintonia perfeita entre os músicos. Matt Garstka na bateria surpreendeu a todos e foi um dos maiores destaques do show, se não o maior destaque, pois com uma banda tão incrível como essa, fica difícil citar quem 68


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foi o melhor no palco. É impressionante as técnicas e performance incansável desse cara tocando bateria ao vivo. Entre uma paulada e outra, foi em “Tempting Time” que ele arrebatou vários gritos dos fãs. Para finalizar a pancada “CAFO” arrancou pulos frenéticos do público que não queria ir embora após o final do show. Agora esperamos que a banda passe por aqui novamente e torcemos para que não demore mais 10 anos. O público não foi dos maiores, mas com certeza saíram do Carioca Club felizes com o que ouviram, e não podia ser de outra maneira já que o show do Animals as Leaders foi matador do início ao fim.

Confira o setlist que rolou.

1. Arithmophobia 2. Ectogenesis 3. Cognitive Contortions 4. Wave Of Babies 5. Do Not Go Gently 6. Tooth & Claw 7. Nephele 8. Tempting Time 9. Ka$cade 10. Physical Education 11. Brain Dance 12. Inner Assassins 13. The Woven Web 14. CAFO 70


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Por Samantha Feehiy (Wonder Girls )

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ue somos loucas por tatuagem, todo mundo sabe... Mas há momentos em nossa vida que passamos por maus bocados. Não é de hoje que tatuagem é sinônimo de sensualidade, algumas pessoas se sentem atraídas por um corpo malhado, outras por dinheiro, outras pelo “conteúdo” e boa conversa. Tem gente que se excita com inteligência, outros com um pacote bem preenchido. E tem gente que, mais do que um físico pode causar inveja e uma vida social agitada, curte mesmo perfurações e obras de artes espalhadas pela pele. É claro que muitas pessoas optam por fazer piercings e tatuagens apenas por que gostam, mas você sabia que isso pode ser uma verdadeira arma de sedução para alguns? A Estigmatofilia é a atração por parceiros que tenham tatuagens, cicatrizes ou perfurações no corpo. Há casos, inclusive, em que nada mais importa. Ou seja, quanto mais tatuado a pessoa for, melhor. O fetiche é a excitação sexual em resposta a um objeto ou a uma parte do corpo que não é tipicamente sexual, e é muito comum pessoas com atração por tatuados. Muitos, inclusive, não têm nenhuma arte no corpo, mas gostam de pessoas tatuadas. Até aí, não tem problema, gosto é gosto, não é mesmo?! Mas quando a linha do limite e respeito 72


é ultrapassada é preciso ficar atento. Vivemos em uma época em que as redes sociais estreitam o mundo, temos acesso a informações e estamos sempre rodeados dos nossos ‘amigos virtuais’, e é, justamente nesse campo em que os tatuados sofrem mais. Na vida real, no cotidiano, dia a dia, já passamos por momentos de constrangimento, somos apontados na rua, somos encarados de cima a baixo e temos que lidar com comentários, muitas vezes preconceituosos... Pois bem, quando começamos a nos tatuar sabíamos que isso iria acontecer, mas com as redes sociais, as pessoas se escondem pela tela do computador e acham que podem falar livremente sobre qualquer assunto – e pode! Desde que não haja falta de respeito com o próximo. 73


Parece que as tatuagens nos deixam mais atraentes e expostas “as pessoas olham pra você, mesmo sem te conhecer, tiram conclusões precipitadas, julgam você sem ao menos conversarem! As tatuagens chamam atenção, e temos que lidar com dois tipos de pessoas, as que admiram e vem até você elogiando a arte e o estilo e outras que acham que por sermos tatuadas somos vulgares”, diz Ariana Pacheco, 25 anos, modelo Wonder Girls. Essa que vos escreve tem muitas histórias de pessoas que puxam conversa sobre o assunto e não conhecem absolutamente nada sobre a arte, mas que garantem que amam mulheres tatuadas. Confesso que sou um pouco impaciente com esse tipo de pessoas e que, muitas (todas!) vezes eu não costumo responder. E isso acontece com muitas pessoas, em especial com mulheres tatuadas, o assédio é recorrente. Homens tatuados sofrem preconceito, mas mulheres tatuadas enfrentam o dobro de problemas. O tabu que existe em relação à tatuagem atinge tão diretamente o público feminino que um estudo científico comprovou que os homens tendem a achar que mulheres tatuadas são fáceis. A pesquisa apontou que existe uma avaliação negativa de mulheres tatuadas. O estudo, realizado por Swami e Furnham (2007), mostrou que as mulheres tatuadas foram classificadas como mais sexualmente promíscuas. Essa interpretação sexual dos homens em relação às mulheres que têm tatuagens faz com que esse público esteja mais sujeito ao assédio masculino. Para comprovar essa teoria, durante o estudo algumas voluntárias passaram a usar tatuagens temporárias na região lombar. Essas mulheres foram instruídas a ler um livro enquanto estivessem

Jessica Vuaden

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deitadas de bruços em uma praia. O objetivo era chamar a atenção dos homens. Foram realizados dois experimentos: o primeiro mostrou que mais homens se aproximaram das mulheres tatuadas com uma abordagem sexual mais evidente. O segundo experimento mostrou que os homens estimaram ter mais chances de ter uma relação sexual casual com as mulheres tatuadas. “Além de algo comum como, esconder para entrevistas de emprego (parecendo que vai alterar o desempenho do profissional), em casa por ter um família do interior e tradicional, na rua, tal como em transporte público (até surpreendendo senhoras por ceder lugar, e uma falar que não esperaria isso de uma pessoa como eu), na gestação, já que tenho problemas para engravidar, a gestação foi de risco com exames seguidos de sangue, os roxos dos braços, somado com as tattoos via o pavor das pessoas, com meu pequeno na escola o olhar dos outros pais, mas também a surpresa por ele ser o mais esperto da classe. Já me ocorreu diversos casos por conta delas em muitos locais, bares, mercado, festas, rua, além de ser um jeito da pessoa começar a puxar papo. Eu tenho um Elvira na coxa (que é meu xodó) já fui parada por conta dela milhares de vezes, uma delas o moço parou e pediu: “é a Elvira, não é?” eu confirmei, ele disse que era fã dela e concluiu com um: ‘sou seu fã também!’. Claro que além de histórias engraçadas e tranquilas, tem os rapazes que passam um pouco do limite, se tornando desagradável, até querendo tocar em você sem permissão,” conta Jéssica Vuaden, 26 anos, modelo Wonder Girls e Colunista do Portal Cultura Em Peso. A palavra de ordem é e sempre será respeito. Respeita as mina, pô!

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Samantha Feehiy

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Foto: Daniel Arantes

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Por Leandro Fernandes | Fotos Leandro Almeida

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á mais 30 anos lutando pelo Punk, hoje conseguem sim ter um espaço onde na época não se podia. Liberdade de expressão! Clemente hoje é um dos mais conceituados artistas em nosso país. Apresentador, DJ, radialista, Inocentes... o cara não pára! Mesmo assim, gentilmente, nos deu a honra que poder ser entrevistado e falar um pouco da situação atual da música no país, seus projetos paralelos ao Inocentes e também do excelente Filhos da Pátria. Que é um programa que resgata e também mostra o nosso rock de cada dia. Clemente, desde já agradeço muito sua atenção por este bate papo. Então, já são vários anos lutando dentro do punk nacional onde no início teve muita repressão e coisas do tipo. Como você vê a atual cena punk hoje em nosso país? Cara, existia luta na década 80, época da Ditadura Militar, depois a luta é a mesma de qualquer banda independente, para conseguir levar seu som para mais lugares possíveis. Hoje a cena vai bem, é muito mais fácil gravar, produzir shows e se organizar, a cena vem mudando e se adaptando, mas cada época tem seu mal.

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Filhos da Pátria (Kiss FM) é um programa que sempre que posso estou lá conferindo as bandas atuais e também relembrando nosso Rock Nacional, inclusive ainda aguardo o som do Pão do Manteiga (risos). Pois bem, a galera das antigas aceitam bem o trabalho de bandas novas, pois a proposta do programa também é interagir diretamente com o ouvinte. Nós brasileiros estamos mais abertos as novidades ou o espirito saudosista permanece. Cara, é um misto, pois a cultura de se curtir bastante bandas novas ficou para trás, mas o resultado vem sendo bom, vou mesclando bandas novas e velhas e até agora a recepção vem sendo boa, espero que continue assim. E vou ouvir essa Pão do Manteiga se tiver uma música boa pra rádio eu toco (risos). Você está com um trabalho solo, algo em uma linha um pouco diferente do Inocentes. A reação dos fãs tem sido positiva? O barato de se fazer um trabalho solo é poder fazer algo diferente do que se faz no trabalho já conhecido, sempre há um viés contrário, uma abordagem antônima e que não encontra espaço nas outras bandas, não sei quanto a reação dos fãs, pois ainda estamos construindo um público, não tem a ver com os fãs do Inocentes e Plebe, mas pode ter, é indiferente (risos), mas a recepção é sempre acima das expectativas. Nós temos hoje (na minha opinião) um público underground, incluindo bandas, bastante desunido, a cena do Rock/ Metal está bem “cada um por si”. Você consegue ver desta maneira também? Tem como mudar o foco desse movimento? 82


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É que o rock é plural, são várias cenas diferentes, só no Metal são várias, o público de Metal Extremo é super unido as bandas tocam juntas, as bandas indies também. É que tem uma cena que está atrás de sucesso fácil, só quer saber de aparecer e que só pensa no próprio umbigo, mas isso é normal, sempre existiu. É que na verdade o rock perdeu espaço o que é natural também, já que está cada vez mais elitizado, mas o barco segue, são ondas que vem e vão, depois de 39 anos de estrada, não me preocupo muito com isso, faço o meu melhor e espero que os outros façam o mesmo, as ondas passam. O “Restos de Nada” foi considerada a primeira banda punk no país. Naquele tempo você encarava mais como uma diversão ou era realmente o foco em seguir na música e afins? A gente só queria saber de tocar, era uma urgência em poder se expressar, essa é uma diferença básica da cena atual, os caras de hoje começam a tocar já pensando em carreira e fazer sucesso, a gente não estava nem aí pra isso e deu no que deu. A espontaneidade é muito importante quando se faz arte. Kazagastão também é um programa que estou sempre acompanhando e o formato de ser um bate papo sobre as bandas, os discos o torna muito atrativo. Você acha que hoje não temos mais espaço para mídias impressas devido a cada segundo a tecnologia avançar? Você fez a pergunta já dando a resposta, são outros tempos, as pessoas não leem mais revistas e o YouTube permite que tenhamos um

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programa semanal sem precisar estar numa emissora de TV, onde não existe mais espaço para programas assim, só estamos usando as ferramentas de nossa época, se fosse na década de 80 e 90, faríamos um fanzine (risos). Como tem sido estar junto com a Plebe Rude nos tempos de hoje. Muito bom, a Plebe é uma banda que admiro muito e agora fazer parte da banda é muito prazeroso, estamos fazendo bastante shows e cheios de planos. “Pânico em SP” é um clássico do nosso punk nacional. Pra você, as letras e ideias contidas no disco, soam atual para os tempos de hoje? Sim, são músicas, até agora, atemporais. É bom por um lado, pois consegue escrever uma letra boa o bastante para resistir ao tempo, mas por outro lado é triste, pois mostra que o Brasil não mudou muito nos últimos 30 anos. Uma pergunta bem aleatória. Existiu um cara que pra mim era o cúmulo de algo indefinido, sempre tive a curiosidade de ver alguém falar algo sobre ele, GG ALLIN. Cara, não tenho nada pra falar sobre ele, os atos dele falam por si só. Clemente, gostaria de agradecer mais uma vez por esta entrevista e desejo mais sucesso em seus projetos, programas. O espaço é livre para suas considerações finais. Eu que agradeço ao convite e estamos aí na estrada sempre.

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Texto Renata Souza Fotos: Banda/Divulgação

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banda NewD é mais uma força de jovens que vêm para mostrar que o rock ainda respira nesse país. Com diversas influências mostram que sul do brasil continua com a tradição de revelar grandes bandas de rock. Conversei com Gui Bueno sobre os preparativos do lançamento de seu cd e mais curiosidades sobre a história dessa grande revelação É um prazer entrevistá-los. Primeiramente gostaria que nos explicassem, qual o motivo do nome da banda ser NewD? No início, quando a banda foi fundada, nos chamávamos New Divide. Éramos em cinco integrantes e foi o nome que ficou decidido na época. Conforme o tempo passou e nosso som e as formações foram mudando, resolvemos “abreviar” e adotar como nome, apenas NewD. Durante estes anos de banda, que já foi quinteto, quarteto e hoje é power trio, quais bandas do cenário nacional e regional que vocês já tiveram prazer de tocar? A nível nacional, tivemos a oportunidade de abrir o show da Fresno, na nossa cidade (Caxias do Sul), na época no hoje finado Va88


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gão, que era o templo do Rock na cidade. E regionalmente dividimos palco com muitas bandas, podemos citar Lennon Z Sickboys Trio, Cuscobayo, Vibe Rock, Infuria, B-Side Life. A banda trabalha com linhas que variam do pop punk, ao hardcore e influentes. Qual estilo a banda se auto intitula e como é a cena pra vocês no sul do país? A gente se encaixa em todos esses estilos e se baseia em bandas de diferentes estilos dentro do Rock, um exemplo disso é o nosso novo CD que será lançado. E quanto a cena, vemos que ela está voltando a ser o que já foi, vemos muitas bandas novas surgindo e trazendo público novo, e as que já existiam se fortalecem com esse apoio. Este ano vocês lançaram o primeiro single, “Sempre”, do álbum que está para ser lançado ainda sem nome definido. Como está sendo a repercussão deste single? Estamos tendo um retorno legal do público. Nos shows, a galera canta, recebemos elogios de quem ouve e de quem a gente nem esperava, que não é a galera das bandas que nos apoiam, mas sim do público em geral, então estamos satisfeitos com esse reconhecimento. O que a banda pode adiantar para nós a respeito deste álbum que está por vir? Que é um álbum que passeia por diferentes estilos, cada música tem a sua identidade, mas que como um todo, forma um álbum muito bem estruturado e que muitos irão se identificar. Jogo rápido:

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Quatro bandas nacionais: CBJr, Forfun, Strike, CPM 22 Quatro bandas internacionais: Blink, Green Day, Simple Plan, Good Charlotte Um CD: Felicidade Instantânea do CPM 22 Uma música: Difícil escolher uma só Vocês já gravaram um EP com a antiga formação, o que agregou o lançamento deste EP para vocês e o que ele significa hoje? No EP a gente chegou muito cru pra começar a produção, na época gostamos desse processo e de ouvir nossas músicas de uma forma profissional, mas hoje, olhando pra trás e com a experiência desse CD novo, vimos que poderia ter sido melhor produzido e alcançado um produto final melhor, sem desmerecer os envolvidos, mas rola um sentimento de “poderia ser melhor”. Quais temas são abordados nas letras da banda? Basicamente falam sobre sentimentos e todo esse processo. Encontros e desencontros, desilusões... mas em algumas músicas também falam sobre a vida, sobre motivação, dá a ideia de não desistir dos sonhos e nos motiva. Na real, falam do cotidiano de todos. Mensagem final. Acredite e não desista dos seus sonhos!

Contatos e merchan: Facebook | Instagram Shows: (54) 99665.6547 / (54) 99949.1465

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7, 8 e 9 de Julho, Parc del Forum, Barcelona Texto & Fotos: Mauricio Melo & Snap Live Shots

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ão, não nos esquecemos de resenhar o Cruilla Summer Festival Barcelona 2017. Mas, diante de uma avalanche de compromissos e shows, finalmente sentamos para breves comentários. “Nosso festival férias”, nosso ‘estar à vontade’, de chinelos, bermudas e sem medo do frio, digo ‘nosso’ incluindo quem fotografa, quem curte, quem trabalha e por aí vai, clima de verão total. Então por isso mesmo farei uma resenha curta, um breve resumo dos dois dias e das horas que passamos dentro do festival. Exatamente por se tratar de um festival com dimensões reduzidas, tanto fisicamente quanto no cartaz, as bandas não economizam setlist já que o tempo oferecido é maior do que o normal, comparando com outros festivais. Por isso mesmo o Two Door Cinema Club ofereceu um set de mais ou menos duas dezenas de músicas e o povo agradeceu. Abriram com “Cigarrettes in the Theatre”, os já identificáveis riffs de guitarra de Sam Halliday que, desde o princÍpio, já havia colocado o público no bolso quando entrou no palco vestindo a camisa do Barcelona FC, todo um clichê, mas que por aqui funciona e bem. Continuaram tocando temas mais antigos com “Do You Want It All?”, “This is The 94


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Life” e uma das mais celebradas foi “Undercover Martyn”. The Lumineers foi a seguinte, seguindo o padrão indie que o festival apresentou para a primeira jornada. Mais uma no formato Arcade Fire e que fazem a cabeça da juventude atual. Talvez um dia cheguem mais longe, mas por enquanto ainda tocam para uma galera reduzida. Engraçado é que, lá na entrada dos fotógrafos, havia um contrato para assinar, com uma série de exigências, algo que nem o Arcade fez por aqui em sua última passagem. Está aí o exemplo entre o ser e o achar que é. Tudo bem, vida que segue! Dentre as mais destacadas estão “Ho Hey” (que título) e “Ophelia”, também merece destaque “Subterranean Homesick Blues” de Dylan. Responsável por arrastar grande parte do público do primeiro dia, o Jamiroquai deu mais uma demonstração de classe musical, dentro de seu estilo, e o porque, após tantos anos, continua levando alegria. Lua cheia, de frente para o Mar Mediterrâneo, simpatia de sobra de Jay Kay, um capacete de luzes coloridas que abria e fechava como num passe de mágica, telão de fundo, entretenimento. Está aí a palavra, entretenimento é a que melhor define a noite de Jamiro. Abriu a noite com “Shake it On” de seu trabalho mais recente, não deixou de lado clássicos como “Space Cowboy” e “Emergency on Planet Earth” e “Canned Heat”. O que Jay Kay deixou de fora foi sua movimentação de palco devido a seus recentes problemas físicos, que quase o impediram de seguir com a turnê deste verão europeu. Aquela barriguinha aparente, uma roupa bastante simples, mas se tratando da pessoa que é, e a já comentada simpatia, só tínhamos ouvidos para sua voz e olhos para seu capacete. Continua sendo um grande nome da música. Para finalizar a primeira jornada tive96


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mos, o Los Fabulosos Cadillacs, banda esta que arrastou uma multidão, provocou uma histeria latina no festival. Pouco antes da apresentação começar, parecíamos estar num estádio argentino com toda aquela paixão que os hermanos vivem quando a bola rola. Coisas que aprendemos morando fora do Brasil, até o anúncio da banda no evento, pouco ou nada havia escutado falar sobre, até perceber que todo amigo latino que tinha estava se derretendo com a possibilidade de vê-los. Definitivamente, para eles, o grupo tem sua importância, algo que para mim, talvez porque a música latina nunca me foi encantadora ou porque antes de residir na Espanha o idioma poderia ser uma barreira, não passou de um bom show de música, agradável e interessante de assistir diante de toda paixão e delírio do público. “Calaveras y Diablitos”, “La Tormenta”, “Saco Azul” e “Revolution Rock” do Clash foram as mais aclamadas. Nem mesmo um problema com o som na metade da apresentação abalou a festa. Pena mesmo foi chegar atrasado para o show do Little Stevens and The Diciples of Soul. Mais conhecido por ser o guitarrista de Bruce Springsteen, fez um dos shows da tarde, não só tocando composições próprias e corvers, que passaram por Chuck Berry, Jimmy Rogers, James Brown, entre outros dos que pude conferir. Outro que chamou atenção diante de tantas exigências foi Ryan Adams. O cidadão colocou contrato para fotógrafos, proibiu fotos com celular, alegou sensibilidade com luzes, mas o palco tinha canhão de luz para todos os lados, obrigou aos fotógrafos a ficarem na mesa de som e não na barricada e depois exigiu ver as fotos antes de serem publicadas, ou seja, ele mesmo gostaria de aprovar ou desaprovar as publicações. Desculpa senhor Adams, mas perdi justamente o cartão de memória com as fotos de sua apresentação. 99


Como o dia foi de exigências, a seguinte foi uma velha conhecida. O Pet Shot Boys só autoriza fotos do lado esquerdo do palco. Digo velha conhecida porque já passei por essa exigência antes, mas o mais curioso era saber qual seria o lado esquerdo, o deles, de frente para o público ou o nosso, de frente para eles. Enfim, o importante foi que sim pudemos fazer nossas fotos e que a banda repassou sua carreira fazendo com que o Fórum se convertesse numa discoteca em clima de matinê. “West End Girls” e “Domino Dance” foram algumas que chamaram atenção além dos corvers “Go West” e “Always on my Mind”. Por que falei antes que o Pet Shop Boys fez a matinê do dia? Porque quem colocou todo mundo para dançar de verdade foi o The Prodigy. Sinceramente, acho até que a banda merecia um festival mais invocado, mais irado, para verdadeiramente quebrar a banca. Mesmo assim a festa foi evidente e engana-se quem acha que o trio está ultrapassado. Também fizeram exigências, mais divertidas é claro. Todos os fotógrafos de agências foram barrados por não considerarem os mesmos veículos especializados em música e sim empresas que ganham dinheiro com imagens, lindo. “Breathe” foi o cartão de visita, “Nasty”, “Wild Frontier” vieram na sequência, não demorou para “Firestarter” abalar as estruturas. “Invaders Must Die” também esteve presente e já em reta final “Smack My Bitch Up”, “Voodoo People” e “Poison”. Fim de apresentação e o chão era um mar de objetos perdidos e de chapados à procura dos mesmos. Uma vez mais o saldo foi positivo e esperamos algo mais rock para 2018. Até.

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