Rock Meeting Nº 92

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5 anos O tempo é uma coisa impressionante. Já faz cinco anos que o Metal Open Air aconteceu. Foi em São Luís, no Maranhão. De 20 a 22 de abril de 2012. Era para ter sido um marco importante. Mas o que marcou foi a vergonha que esse fest causou. (Leia AQUI). O desrespeito com os fãs do Rock/Metal foi gritante. O evento foi desorganizado é vergonhoso. Conflitante. Muitos pediram demissão para ir nesse festival. Muitos juntaram o dinheiro da vida para ver grandes nomes do cenário mundial. Mas, algumas pessoas se aproveitaram para lesar outras milhares. Lembrar desse episódio é também lembrar de que nada aconteceu. Os envolvidos nessa história estão aí, livres. Não pagaram por nada e continuam debochando da cara dos consumidores de música. Afinal, o que aconteceu foi notícia no mundo inteiro.

Todas as bandas envolvidas soltaram nota falando o que estava acontecendo. E a justiça não fez nada. Num país em que a impunidade reina, esse será mais um episódio que ficará na memória dos mais antigos, porque os mais novos nada sabem. Toda vez que o Metal Open Air ressurge das cinzas, traz o fato de que alguns não se importam do que ocorreu em 2012, “desde que estes ‘produtores’ trouxessem a banda que eles gostam”. Isso é desumano demais. No dia que todos criarem consciência coletiva e se importar com o ‘nós’, aí sim as coisas devem melhorar. Olhar para o próprio umbigo não vai ajudar em nada. Por hora é preciso continuar com a lembrança sempre ativa. O Metal Open Air foi a maior vergonha que já aconteceu no cenário nos últimos anos. Mas aqui se faz, aqui se paga.


06 - News - World Metal 10 - Lapada - Mais polêmica no Metal 16 - Entrevista - Threesome 28 - Live - Crowbar 32 - Live - Iron 38 - Capa - Abri Pro Rock 2017 50 - Entrevista - Indiscipline 62 - Entrevista - Axes Connection 72 - Skin - Mãe é tudo igual 78 - Live - The Exploited

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Expediente Direção Geral Pei Fon Capa Alcides Burn Jonathan Canuto Colaboradores Jonathan Canuto Marcos Garcia Mauricio Melo (Espanha) CONTATO contato@rockmeeting.net

www.rockmeeting.net


Foto: Juninho Oliveira

‘Rotten Society’ ‘Rotten Society’, primeiro disco oficial do The Wasted, banda do interior de São Paulo que vem chamando a atenção pela ótima mescla de Thrash Metal e várias vertentes, acaba de ganhar sua versão digital. O material agora está disponível nas principais distribuidoras e plataformas do mundo, como iTunes, Spotify, Amazon e Playstore. O álbum ‘Rotten Society’ conta com oito faixas, foi gravado no estúdio Surto e produzido por Rodrigo Mariano, baterista da banda. A arte da capa ficou a cargo de Pablo Ferrarezzi. A versão física do disco, assim coo todo o material d a banda, estão disponível para venda com envio para todo Brasil. Escute ‘Hate Mankind Hate’. novo álbum

Foto: LBen Hur

O show que celebrará o lançamento do novo álbum do Mortifer Rage, ‘Fall Of Gods’, está preparado e a banda anuncia todos os detalhes. Será um festival com o título de ‘Empire Of Brutality’. O evento acontece no dia 1º de julho na cidade de Belo Horizonte, capital mineira. O local escolhido é a casa de shows A Autêntica, na Savassi. Além do Mortifer Rage, o evento contará com grandes nomes do cenário nacional. Começando pelo lendário Amen Corner e os amigos do Ancestral Malediction. Também se apresentam as bandas Crucifyter e Preceptor. O álbum ‘Fall Of Gods’, está previsto ainda para este mês através do selo Impaled Records. Escute uma amostra AQUI. ‘The Ragdoll’ Recentemente o Pato Junkie comentou que, por motivos de força maior, seu segundo disco, ‘The Ragdoll’, sofrerá algum atraso na lançamento. Para “não deixar a peteca cair”, a banda juntou tudo que já foi lançado para promover o disco e dar aquela aquecida nos amigos e fãs de sua música. O Pato Junkie mistura influências que passam pelo Punk, Hardcore, Alternative Metal, Nu Metal, Thrash Metal e Metalcore, criando um material, acima de tudo, de altíssima qualidade! Escute o som da banda, nas músicas “Atos Terroristas” e “The Rag Doll”. Acompanhe todas as novidades da banda no Facebook, Youtube e Site Oficial. -6-


O doom metal espacial e devastador da Saturndust ataca mais uma vez, agora em seis músicas que compõem ‘RLC’, o segundo álbum do trio paulistano que já está disponível em serviços de streaming via Abraxas Records. A evolução natural e potente do disco de estreia homônimo esbanja toneladas de riffs, viagens cósmicas e camadas de sintetizadores. RLC’, na perspectiva do vocalista, guitarrista e condutor do sintetizador, Felipe Dalam, são mais pesadas e experimentais do que o primeiro álbum, de 2015. Cada faixa, ele explica, traduz em música um conceito cósmico que ele mesmo criou. Ouça o som da banda Saturndust AQUI. Compacto de 7” A banda Anjo Gabriel, de Recife, está de volta com músicas inéditas e que prometem desconcertar os amantes de krautrock progressivo psicodélico. “Resiliência” e “Claralice” compõem o compacto de 7 polegadas e está nas principais plataformas de streaming. Em atividade desde 2005 e com dois discos lançados, “O Culto Secreto do Anjo Gabriel” (2011) e “Lucifer Rising” (2013), Anjo Gabriel ressurge após um ano e meio de recesso com nova formação: Marco da Lata (baixo), Júnior do Jarro (bateria), Diego Drão (órgão, sintetizador e theremin), Phillippi Oliveira (Guitarra) e Amarelo (Percussão). A produção das duas novas músicas começou em 2016, em Recife. Amon Amarth e Abbatht O Amon Amarth, um dos nomes mais respeitados do metal mundial na atualidade, confirmou recentemente a tão aguardada passagem da turnê promocional do devastador novo álbum “Jomsviking” pela América Latina, trazendo como special guest a banda norueguesa do lendário Abbath (ex-Immortal). Os reis do viking metal Johan Hegg (vocal), Ted Lundström (baixo), Johan Söderberg (guitarra), Olavi Mikkonen (guitarra) e Jocke Wallgren (bateria) retornam ainda mais sedentos, impiedosos e prontos para aterrorizar nove cidades brasileiras. Limeira, Rio de Janeiro, São Paulo, Belo Horizonte, Porto Alegre, Manaus, Fortaleza e Recife. -7-

Foto: Fernando Yokota

‘RLC’


“Run! Apocalypse! Run!” O projeto Ayreon acaba de divulgar o lyric vídeo faixa “Run! Apocalypse! Run!”, presente no novo álbum “The Source”, que será lançado no Brasil via Hellion Records neste mês de Maio. O álbum tem contribuições de vocalistas como James LaBrie (Dream Theater), Simone Simons (Epica), Floor Jansen (Nightwish), Hansi Kürsch (Blind Guardian), Tobias Sammet (Edguy, Avantasia) e Russell Allen (Symphony X). O novo álbum “The Source” revisita a saga “Forever”, acrescentando um novo capítulo ao impressionante corpo de trabalho de Arjen Lucassen. Confira o lyric vídeo de “Run! Apocalypse! Run!”. Informações no site oficial. “Horus’s Eye” O projeto Soulspell Metal Opera, capitaneado por Heleno Vale, acaba de divulgar o primeiro videoclipe do novo álbum “The Second Big Bang”, que será lançado no Brasil pela gravadora Hellion Records. A música escolhida foi “Horus’s Eye” e conta com a participação dos vocalistas Ralf Scheepers (Primal Fear) e Dani Nolden (Shadowside). O álbum “The Second Big Bang” será lançado mundialmente no dia 25 de maio e conta com participações de nomes como Andre Matos, Arjen Lucassen, Fabio Lione, Blaze Bayley, Tim “Ripper” Owens, Ralf Scheepers, Timo Kotipelto, entre outros. Assista o vídeo de “Horus’s Eye” AQUI. dois shows no Brasil O Testament, um dos nomes mais importantes do thrash metal de todos os tempos, acaba de anunciar nova turnê pela América Latina. No Brasil, o grupo confirmou apenas duas importantes apresentações: São Paulo (19/08 – Carioca Club) e Rio de Janeiro (20/08 – Circo Voador). Neste momento, o dream team formado por Chuck Billy (vocal), Eric Peterson (guitarra), Alex Skolnick (guitarra), Gene Hoglan (bateria) e Steve Di Giorgio (baixo) está na estrada promovendo o elogiado novo álbum “Brotherhood of the Snake”, que tem conseguido superar o excelente feedback conquistado em “The Formation of Damnation” (2008) e “Dark Roots of Earth” (2012). -8-


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os últimos dois ou três anos, o cenário Metal nacional está ficando cada vez mais chato em termos de comunicação. O ‘Hatebook’ (sim, leu certo) virou um depósito de ódio mútuo, lugar de briga e ofensas entre bangers pelo mais imbecil dos motivos: política. Não estou dizendo que você, caro leitor, não tenha direito a acreditar no que bem entender. Quer ser de direita, esquerda, conservador, liberal ou o diabo que o seja, é problema unicamente seu. Agora, está um puta saco ter que abrir o Facebook e ver o choro rebelde sem causa e o fogo cruzado do ódio mútuo por causa de política! PQP, vão à merda! Escrevo estas palavras no dia 29/04/2017, um dia após a chamada greve geral. Eu deixei bem claro logo cedo: “quem é de greve, greve; quem é de trabalho, trabalhe. Não briguem, pois não vale a pena...”, e minha publicação quase que vira campo de disputa ideológico. Sinceramente, fiquei sem entender como as pessoas se afogam em ódio por conta de ideologia política. Ou será que a interpre- 10 -


tação da língua portuguesa ficou ainda mais difícil? Ah, sim: neste dia da greve geral, o Facebook assumiu sua função social de ser o Hatebook, pois raras foram as publicações em que o assunto esteve ausente ou tratado de forma mais sóbria (seguida de comentários cheios de ódio). Veio a pergunta: o Metal deveria unir os fãs, mas por que tanto ódio? A resposta é simples: existem poucos Headbangers de fé. A maioria é tão encalacrada com essa polarização estúpida “esquerda x direita” que lhes é inadmissível manter sua opinião sem ofender aos outros ou se sentir ofendido por quem é diferente. Óbvio que culpo bastante a educação de merda que é dada aos jovens (já que o dinheiro da educação é investido em populismo barato e fajuto), bem como a professores doutrinadores de esquerda, religiosos canalhas conservadores e militantes extremistas. Cada um deles contribui para que estejamos ainda mais fragmentados como público. Vocês sabiam que, em termos de número, o headbanger é capaz de manter lojas e revistas de uma forma que nenhum outro gênero musical poderia fazer em nosso país? A Galeria do Rock e suas lojas, bem como as revistas dedicadas exclusivamente ao Metal, apesar das dificuldades, ainda estão por aí, apesar das dificuldades. Servem como indicativos do que falo. Já temos que aturar dicotomias Black x White, Metal extremo x Vertentes melodiosas, e agora, mais essa imbecilidade pseudo-acadêmica. Não, ser de esquerda ou de direi- 11 -


ta não te faz intelectual. Apenas mostra sua vertente de pensamento, apenas isso. Mas quando se torna um radicalóide, aí a vaca vai para o brejo. Exemplificando: sou a favor do feminismo. Sim, apesar do que já viram escrever nesta coluna, eu sou a favor do direito de igualdade entre homens e mulheres em tudo, nas responsabilidades também. Mas não sou a favor de idiotices como marchas das vadias ou pessoas enfiando imagens de santos em certos orifícios do próprio corpo. E muito menos desse lance de culpar os homens de tudo. O radicalismo é a via do idiota, do fraco e do analfabeto. Traduzindo: eu vivo no caminho do meio, longe dos extremos. É necessário o primeiro entendimento: o pensamento ideológico e a liberdade de expressão são direitos constitucionais do brasileiro. Se houvesse razoabilidade e raciocínio, ninguém estaria agredindo ninguém, mas respeitando uns aos outros. Mas não, o headbanger de hoje ou é um pateta defensor de Lula e Dilma, ou um imbecil que defende Bolsonaro. Basta qualquer político falar algo que o agrade e já vira amor incondicional ao corrupto, e ódio juramentado a quem não milita com eles. Vejam bem: já vi pessoas dizendo que se tornaram fãs do Violator depois daquela polêmica do “foda-se Bolsonaro”. Mas a música, então, vem depois da sua ideologia? A música é governada pela sua forma de pensar? Seu gosto é moldado única e somente pelo que você pensa em termos políticos? - 12 -


Se for assim, pobre de você. Sustenta a estupidez em nome de uma crença pessoal que, como o tempo mostrou, não vale a pena. Aliás, parabéns por se mostrarem idiotas e caírem na arapuca das polêmicas, que só servem para manter bandas mortas na ativa. E mais uma coisa: nenhum deles te representa, irão apenas usar um discurso falacioso para ter seus votos, e depois, mudam completamente. Lula, FHC, Collor e outros que conhecemos da história política do Brasil ilustram isso. No máximo, eles lançam mão de atitudes paliativas populistas, mas nunca resolvem o problema de vez. Nunca, pois os problemas geram votos e plataformas políticas. Exemplos: Lula se elegeu duas vezes, assim como Dilma, tendo apoio do PMDB. Uma coligação bem estranha para quem conhece as histórias desses partidos. Dois partidos historicamente antagônicos se coligaram para eleger Lula. E óbvio que o mesmo mostrou as garras, como tem mostrado nos últimos tempos. Só a militância seletiva não vê isso, a venda ideológica que não te permite pensar por si mesmo. E Jair Bolsonaro com suas ironias nojentas contra gays, negros e outros? Assinar embaixo de tudo que ele faz é um gesto de burrice crônica, a mesma militância seletiva que cega a esquerda possui uma versão na direita! Ou seja: eles te dividem para te governar e te conquistar! Eles te querem de um lado ou outro apenas para enfraquecer o povo e se tornar mais fácil a corrupção. Acordem desse sono de alienação! E parem de dividir o Metal! Se é de es- 13 -


querda, é você quem é; se você é de direita, é você quem o é. O Metal é politizado, mas de forma algum partidário. Isso seria uma contradição contra a liberdade de qualquer tipo de regra ou dogma que o estilo representa! Pense por si mesmo, pense com sua cabeça. Use os olhos, veja a realidade, não acredite em professores, líderes religiosos ou mesmo em bandas que goste. Você não precisa acatar o que eles dizem, mas o que vem de seu coração. E com isso, lute pelos seus direitos, proteste de alguma forma, dê voz aos seus pensamentos. Já dizia sabiamente o pensador anarquista Pierre-Joseph Proudhon: “Aquele que botar a mão sobre mim, para me governar, é um usurpador, um tirano. Eu o declaro meu inimigo”, e é isso que eles querem. Eles querem governar até sua forma de pensar, seu gosto pessoal, sua forma de se expressar e viver sua vida. Todos eles, sejam da militância que forem! Finalizando: eu mesmo tenho amigos de diferentes visões políticas, gosto de bandas que muitas vezes tem ideologias políticas diferentes. E gosto e respeito meus amigos e essas bandas em suas visões, porque a amizade e o Metal são maiores que diferenças pessoais para mim. E sobre “foda-se Bolsonaro”, “foda-se Lula”, “fora Temer” e outros, eu digo apenas: fodam-se todos eles, pois todos representam o passado. “Aquele que botar a mão sobre mim, para me governar, é um usurpador, um tirano. Eu o declaro meu inimigo” (Pierre-Joseph Proudhon). - 14 -


“Sanidade e insanidade andam juntas e de mãos dadas Mas nunca tenha medo em qualquer lado da linha em que esteja Tome o poder de estar no controle É você quem governa sua vida! Derrube as paredes que te circundam Seja forte e mude sua vida! APAGUE – As regras que foram criadas para te pôr de joelhos. Derrube – As correntes que te mantém preso ao chão. APAGUE! APAGUE – E me siga para onde a verdadeira diversão se encontra Não é vergonha ser chamado de louco E de ir contra as massas Exija seu direito de impor suas próprias regras E não andar pelo caminho dos que são aleijados APAGUE – As regras que foram criadas para te pôr de joelhos GRITE – Seu descontentamento, deixe que sua voz seja ouvida APAGUE APAGUE – E me siga para onde a verdadeira diversão se encontra Não se adapte aos outros Seja um com você mesmo E ande em igualdade comigo Apagando a falsa mentalidade…” (Gorefest – Erase)

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Por Susi Santos para RM | Fotos Banda/Divulgação

Vocês estão em estúdio registrando um novo EP que trará duas regravações do disco de estreia “Get Naked” (2014) e apenas uma faixa inédita, “My Eyes”. Por que a decisão de regravar “Every Real Woman” e “Why Are You So Angry?” ao invés de lançar apenas material inédito? E o que essas duas, em especial, trarão de diferente se comparada às suas versões originais? Fred Leidl - Passamos por várias mudanças na banda, principalmente em relação a uma maior interação e participação de todos no processo de composição e arranjo, o que trouxe mais vida e energia para as músicas, e achamos importante registrar estas mudanças antes de seguir em frente. Outro motivo, estamos com um produtor, Maurício Cajueiro, e gravando em um estúdio diferente, com mais recursos, gravando ao vivo e em rolo de fita de 2’’, mesmo processo que era utilizado nas bandas da década de 60, 70 e 80, o que traz muito mais energia e realismo para as gravações. “Every Real Woman” teve alterações de arrranjo, backing vocal e a mudança do vocal masculino para feminino, o que torna a letra ainda mais picante. “Why Are You So Angry?” é tão diferente da original que consideramos ela inédita, realmente é outra música. - 18 -


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Considerando que o novo EP trará apenas uma música inédita, podemos esperar um segundo álbum inédito para quando? Nosso plano é gravar um uma sequência de EPs até o final do ano. Estamos já escolhendo mais três músicas para preparar e iniciar as gravações entre julho e agosto. A banda se chama Threesome e seu álbum de estreia é intitulado “Get Naked”. Considerando esse contexto, não há como não falar sobre sexo. Aliás, a pergunta é justamente essa: estamos abertos a falar sobre o assunto? Em alguns países, especialmente europeus, a sexualidade é tratada de forma mais natural, mas no Brasil ainda é um tema de muito tabu. Por que isso ainda acontece? Existem algumas barreiras para o tabu, proibições, convenções e medo do desconhecido. Como não é discutido, as ideias de sexualidade, sexo, fetiche e fantasias existem na cabeça da maioria das pessoas, ao menos a curiosidade, mas existe um medo de expor, ou mesmo de tentar e experimentar. Isto não ocorre somente no sexo e na sexualidade, é um problema muito mais abrangente, o medo da mudança, do desconhecido ou o medo de falhar. Muitas pessoas ficam décadas no mesmo emprego, mesmo sem gostar, mantém um casamento por anos mesmo desejando estar em outro lugar, fala, bebe e come o que não gosta para agradar os outros. Somos doutrinados desde criança que temos que estudar, nos formar, trabalhar, casar, ter filhos e morrer. A vida não precisa ser assim e existem vários exemplos de que esta fórmula não é obrigatória e não é garantia de felicidade, é somente a garantia de padronização social. O indivíduo infeliz com suas “escolhas” dentro deste padrão, tem por impulso repelir e abominar tudo - 20 -


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o que é diferente da fórmula, não por ódio, não por realmente achar que esta errado, mas por pura frustração de não ter escolhido ou não ter coragem e força para mudar e experimentar.

temas sobre angústias, agonia e revolta contra hábitos e tradições que anulam os anseios e desejos individuais. Temos letras sobre perdas, sobre uma guitarra como “Becky Blues”, e por aí segue. Abordamos o tema sexualidade de várias formas, como a liberdade sexual de gêneros em “Every Real Woman”; casamento aberto em “Why Are You So Angry?”; puro desejo e paixão como em “My Eyes”; mulher como sexo forte como em “Crawling”; sexo casual como em “Why don’t we do it?” e por aí segue. Estamos sempre jogando os temas em discussão, principalmente tabus, ou temas

Considerando esse viés, qual a leitura que vocês fazem do tema ‘sexo’ através de suas letras? É algo mais superficial ou há algum interesse social, ou mesmo clínico/filosófico inspirado em Freud? Nossos temas são muito variados, obviamente abordamos muito as questões de sexualidade e relacionamentos, mas temos músicas com - 22 -


Foto: Caike Scheffer

simples que são tratados como complexos e proibitivos. Afinal, já passamos, e muito, dos anos 2000, está na hora da sociedade se livrar de preconceitos e discriminações de todas as formas.

Como diz um grande artista plástico e músico brasileiro, Mauro Soares: “A arte só é boa quando é verdadeira”. Práticas sexuais como o sexo a três (ou ménage à trois) e swing, ou mesmo relacionamentos abertos e de ‘poliamor’ geram reações de perplexidade na grande maioria das pessoas. Estamos realmente falando de desejos, digamos, “alternativos”, em que as pessoas devem mesmo manter discrição, ou vocês acreditam que há espaço para a consciência

Threesome é a prática sexual com três pessoas. É um nome legal para uma banda de Rock ‘N’ Roll e tal... É sexy e até mesmo subversivo, dependendo do ponto de vista! Mas, cá entre nós, vocês são uma banda com experiência de campo? - 23 -


humana tratar a questão com mais naturalidade no futuro? Na verdade já deveria ser natural. A sociedade convive naturalmente com absurdos como roubo, assassinatos, corrupção e práticas que prejudicam o outro, então por que as escolhas individuais, sejam elas quais forem, deveriam ser proibidas, discriminadas? Principalmente porque estas escolhas não influenciam ou prejudicam ninguém. As escolhas de forma de relacionamento, sexualidade, gênero, etc, só cabe a quem escolhe e quem participa, de res-

to, deveria ser um problema tão grande quando a escolha da cor da minha cueca para um show! Aliás, só pra informar, não tiro a roupa ou a calça durante o show... ok? (risos) E o casamento tradicional? É uma instituição falida? Não vejo desta forma. Porém, existe um equívoco, a meu ver, em tratar o casamento como um objetivo, um item em uma planilha que deve ser preenchido, e, em vários casos, é preenchido da maneira errada. Casamento é um - 24 -


Foto: Caike Scheffer

relacionamento entre pessoas que se amam, e querem viver juntas, mas isto nunca deve anular o indivíduo. O casamento não deve ser uma opção para preencher um vazio, não funciona, se existe um vazio, o casamento só vai fazer mascarar e, com o tempo, aumentar esse vazio. Casamento é amizade e companheirismo, não é sexo, não é filhos, não é porque os outros dizem que tem que ser assim. A sociedade mudou, e sempre vai mudar constantemente, tentar manter um modelo milenar só traz sofrimento para quem vive dentro. O casamento

deveria ser tratado de forma mais leve, sem a carga de obrigações e exclusividades, desta forma, permitir que exista espaço para a vida a dois. Impor preconceitos, práticas, limites ao casamento e à sexualidade não traz benefício nenhum ao indivíduo ou para a sociedade em geral, está na hora do casamento evoluir e se modernizar. Gostaria de deixar claro, não estamos defendendo que todos tem que adotar o poliamor, swing, ménage, homossexualismo, etc, todos têm o direito de poder escolher o que quiser, e todos têm o dever de aceitar as - 25 -


Foto: Caike Scheffer

A vocalista Juh Leidl também é artistas plástica com prêmios e exposições internacionais. Há algum diálogo entre a música e das artes plásticas no universo criativo do Threesome? Sim, existe um diálogo direto, mesmo porque a Juh faz parte do processo de composição e o impulso que gera uma pintura pode gerar uma música. Existe uma segunda via, uma pintura pode gerar um impulso que pode dar origem a uma música.

escolhas pessoais de cada um. Durante o processo criativo de vocês, o que vem primeiro, letras ou música? E de que forma elas interagem? Uma música como “Crawling”, por exemplo, diz bem do que se trata mesmo para quem não entenda o conteúdo da letra (em inglês). Não temos um processo criativo definido, a música pode ser criada primeiro e dar origem a uma letra, a letra pode dar origem a uma música, ou, às vezes, uma letra pronta se encaixa com uma música pronta. No caso de “Crawling”, foi um pouco mais complexo, pois surgiu primeiro a intenção de criar uma música forte, porém delicada, com base em bateria, baixo e vocal feminino e definindo a mulher como um ponto forte. Foi criada primeiro a intenção, depois o baixo, a letra e os demais.

Para finalizar, o que não pode faltar num bom Threesome? Swing, ritmo, harmonia, cumplicidade, naturalidade e muito suor. Conheça: Site | Facebook | Youtube | Twitter | Instagram | Soundcloud - 26 -


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Sala Razzmatazz, Barcelona Texto & Fotos - Maurício Melo

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Por Pei Fon | Fotos Pei Fon

alvez o mais interessante de cobrir esse show do Crowbar tenha sido ver a banda numa sala tão pequena quanto a Razzmatazz 3. Normalmente vemos Kirk liderando sua banda ou mesmo largando riffs com o Down em grandes festivais ou em companhia de outra banda de porte, o que os obriga a tocar em lugares maiores. E, ainda que a distância do público seja perto o suficiente não é a mesma coisa que estar debruçado no palco ou nem isso, já que a altura do mesmo na sala 3 é algo acima dos joelhos. Porém antes mesmo de resumir a apresentação do Crowbar, destacaremos a banda de abertura, o Rebuig. Uma maçaroca sonora, responsável por um brilho a mais na noite catalã. Um vocalista mascarado, um guitarrista

com distorções atmosféricas e lá no canto um baterista que mais parecia duelar com o baixista no intuito de saber quem fabricaria mais esporro, uma “lindura” que nos deixou surpreso e com um sorriso no canto da boca. Pouco depois foi a vez da banda principal abrir com “High Rate” de seu auto-intitulado disco de 1993 e seguindo com o que já podemos classificar como um clássico, “All I Had I Gave”. Ainda flertando com os anos 90 soltaram “Conquering”, bem mais rápida, o que animou ainda mais o público. Para manter o ritmo “The Cemetery Angels” e na sequência Kirk solta aquele “riffão” de “To Build a Mountain”. Fecharam a noite com “Burn Your World”, nada mal para aquela quinta-feira morta da qual não se esperava muito. - 29 -


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Bar Caferino, Barcelona, 30 de Abril de 2017 Texto e Fotos: Mauricio Melo & Snap Live Shots

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ão é de hoje que acompanhamos a cena local em Barcelona. Quem nos acompanha a cada publicação sabe do que estamos falando. Sabe também que junto a toda essa cobertura existem bandas que aparecem mais do que outras. Uma delas é o quinteto do Appraise, que apesar de algumas mudanças de seus integrantes mantém intacta sua base com Gabi Edge nos vocais, Joan Cinder na guitarra e Eric Altimis na bateria. O Appraise aproveitou a visita dos suecos Iron para mostrar algumas músicas que figurarão no segundo disco da banda. Por outro lado músicas como “Deeper Than That” deram o tom e a fúria necessária na apresentação com participação especial de Miquelex, baixista original da banda e em reta final até figurou um cover do Menor Threat, “Filler” foi a escolhida. Para finalizar a noite, o Iron já pegou aquela galera aquecida, muitos conheciam suas músicas e o refrão já era coisa de todos. Desde a abertura com “Get Out”, mesma que abre o único LP que a banda possui,

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Desperate Fight, a pegadiça “NMA” para dar aquele respiro na rapaziada antes de tocarem “Songs of War” e finalizaram com “Cum Out and Play”. Letras conscientes, positivas e uma grande presença feminina na plateia, agitando o pogo e deixando muito marmanjo a ver estrelas e ajudando a levantar o vocalista nos braços no final de apresentação. Grande noite, bom rever os amigos, bom saber que a cena continua crescendo e que bandas continuam comparecendo e aparecendo em Barcelona.

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Texto e Foto Pei Fon

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Festival Abril Pro Rock completou 25 anos de existência. Dá para ter ideia do que é isso representa: um festival nascido no Nordeste, que resiste ao tempo e as dificuldades, e que já teve grandes nomes do Metal mundial e nacional em seu line-up. E não é só de música que ele vive. Há também palestras, cursos e exposições. Em breve será lançado um documentário sobre o festival, dirigido pelo jornalista Wilfred Gadelha. Os 25 anos de APR deram o que falar mesmo antes de ter iniciado. A edição de 2017 teve os dois dias dedicados ao Rock/ Metal. Antes, era apenas um dia. O outro era dedicado mais para o gênero pop/MPB/indie. Foi uma surpresa, de certo modo. As experiências dos dois anos passados devem ter pesado. Durante o anúncio do festival, sete bandas internacionais foram cantadas para se apresentar no APR. No entanto, duas baixas aconteceram e duas bandas nacionais foram logo chamadas: Krisiun e Voodoopriest. Assim como no ano passado, os cancelamentos se repetiram. Lógico que você contrata um show e espera que ele aconteça. Mas, eventualidades podem acontecer. Isso - 40 -


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está completamente fora do controle dos promotores. É inegável que o público espera ver as bandas internacionais, afinal, ‘podem ver as nacionais a qualquer momento’. Porém, fica o questionamento: por que chamar bandas que já passaram pelo festival? Por que não dar oportunidade a tantas outras que estão no cenário nacional, se esse foi sempre o forte do APR? Quando o Krisiun foi chamado para o lugar do Angelcorpse (banda que cancelou a turnê brasileira por falta de visto de trabalho) muita gente não gostou. “De novo?”. É. De novo! A terceira vez para ser mais exata. Ninguém tem nada contra o Krisiun. Todo mundo sabe da importância da banda, do quanto ela representa o Brasil lá fora. O grupo foi para o Recife às vésperas de sua turnê grandiosa na Ásia. Mas é uma figura carimbada. A galera quer ver outras bandas do gênero. Outro ponto. Falou-se bastante do Matanza. Que a banda canta música de bêbado, que são misógenos, que degradam a mulher, que isso e aquilo. Mas geral tava lá roda, cantando “bom é quando faz mal”. O mais impressionante mesmo foi a quantidade de adolescentes e jovens de 20 e poucos conferindo o show deles. Muitas meninas espremidas na grade e músicas cantadas a plenos pulmões. Isso tá errado? Claro que não. Toda e qualquer cena precisa de público, precisa de renovação e essa galera tava lá, chegando aos montes, enquanto os ‘velhinhos’ observavam, de longe, todo o movimento. É evidente que o Abril Pro Rock está precisando de espaço para convivência. É desgastante e leva ao cansaço muito rápido. Ainda mais com dois dias para o Rock/Metal. Ver a galera largada pelas escadarias do Classic Hall chega a ser degradante. Este ano, o número as bandas no dia do Metal diminuiu, mas continua cansativo. De - 42 -


14 para 11 bandas foi até bom. Mas podiam diminuir mais, aumentar o tempo das bandas que iniciam, e tornar a experiência de um festival ainda mais sensitivo e não cansativo. No entanto, é preciso falar da pontualidade desta edição. Diferente de 2016, onde atrasos aconteceram aos montes, o que prejudicou bastante o andamento, este ano mudou da água para o vinho. A organização mostrou-se bastante competente nesse quesito. Um ponto que se pode melhorar é a iluminação. Ano passado, já na metade das apresentações, a luz estava no automático o que prejudicou bastante aos profissionais da imagem. Já nesta edição, a luz melhorou, mas para os fotógrafos que ficam na área do pit, capturar a imagem dos músicos que ficam na frente ainda é problema. Você torce para que o músico dê uns três passos para trás para que a luz chegue ao rosto dele. É realmente difícil achar pessoas que façam uma boa iluminação. Música não é só um bom som, se não houver a parte cênica ela não aparece. Mas vamos falar de show. Dia 1 Devido à greve geral não pude acompanhar boa parte das bandas da sexta. Apenas Suicidal Tendencies e Death, que não é a banda lendária de Chuck Schuldiner. Suicidal Tendencies foi a atração da noite. O Death não poderia ter finalizado o show desse dia. ST foi esmagador. Para quem curte o hardcore/punk/crossover com certeza tava lá. Além de Mike Muir, único membro original, ainda tinha um baterista cuja antiga banda era só o Slayer. Dave Lombardo, ao lado de Mike, era a sensação. Não tem o que falar. Mesmo escondido atrás dos tons e pratos, Dave mostrou ‘um pouco’ do sabe. Adorado, o cara não fez feio em momento nenhum e retribuiu todo - 43 -


o carinho vindo do público. Mike é uma figura bastante engraçada no palco. Com um jeito único de se expressar, o cara deixou todo mundo à vontade, fez o povo cantar, e a roda estava insana. Tudo isso era de se esperar. E lá estavam cumprindo uma promessa de 15 anos: retornar ao Recife. O Death, precursor do punk, tocou logo em seguida para um público já reduzido, porém apaixonado. Os que ficaram puderam assistir a um bom show, que ainda contou com a galera das bandas que iriam tocar no sábado tietando o trio americano. E foi só. Dia 2 Diferente de 2016, as bandas começaram na hora marcada. A galera ainda estava chegando quando o Evocati (PE) iniciou. Porém só começamos a jornada na metade do One Arm Away, a segunda da noite. O quarteto formado por Antonio Araujo, Felipe Andreoli, Edu Garcia e Rodrigo Fantoni. Primeira vez no Abril Pro Rock. Primeira vez que muita gente teve o prazer de ver. Antonio é guitarrista, mas ele está se aventurando a cantar. Ele já havia deixado uma boa impressão quando cantou uma música do Warrel Dane ano passado, agora tá mesmo tendo gosto pela coisa. Não preciso falar que Felipe Andreoli é um monstro. Fica a dica: One Arm Away. Em seguida veio o Voodoopriest. A banda foi chamada devido ao cancelamento dos gregos Suicidal Angels (o que não ficou muito claro). Liderados pelo conhecidíssimo Vitor Rodrigues, a sua nova banda estava desfalcada de um guitarrista (devido aos trabalhos paralelos, ele não pôde ir). Talvez a falta de uma das guitarras o peso que se espera ficou aquém. No entanto, o quarteto não decepcionou. Vitor é realmente um frontman e a todo momento chamava a galera. - 44 -


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Depois veio o Johnwayne. Para quem estava esperando pelo metalcore do quinteto não ficou triste. Agitou bastante e o vocalista ainda ficou muito próximo do público, digamos que dividindo a grade, que, certamente, ele já fez isso algumas vezes. É uma boa aposta do gênero. Logo depois as meninas do Nervosa estrearam no Abril Pro Rock. Apresentando a nova baterista, o powertrio thrash de São Paulo formado por Prika Amaral, Fernanda Lira e Luana Dametto fez uma bela apresentação como se era de esperar. Fernanda é uma figura carismática e bastante engraçada. Suas caras e bocas são um deleite para quem fotografa. Apresentando seu segundo álbum, “Agony”, elas deixaram boa impressão. Outro trio subiu ao palco. Foi a vez da galera do Mystifier. Mais um representante do Nordeste ali em destaque. Em tempos, o guitarrista Armando Beelzeebubth enaltecia a cena nordestina, fortalecia ainda mais o que a região tem a mostrar. A banda foi bastante esperada pela ‘velha guarda’. Afinal, eles estão na cena desde o final dos anos 80. Outra estreia, agora internacional, foi da galera britânica do Cockney Rejects. Mesmo sendo precursores do street punk, a apresentação deles ficou restrita aos que curtem o estilo. Empolgou pouco, é bem verdade. Esse foi momento que a galera foi andar pelos espaços, conversar, beber algo. Até então só pontuamos as estreias. Agora vem a primeira figura repetida: Matanza. Alvoroço e, até uma correria, começou quando eles subiram ao palco. Foi o momento mais cheio da noite, com toda certeza. Lembra das meninas “espremidas”, citadas no início do texto? Pois é, estavam todas lá. Sobre o show dos caras, não dá para dizer que foi menos que empolgante. Gostando - 47 -


ou não, eles sabem fazer um show de verdade. Ponto positivo sempre. Você sempre espera bons shows dessa galera. Fim! Lá vem mais uma figura repetida. Krisiun. O que falar do trio gaúcho? Tudo. São ótimos, são técnicos, deixam você vidrado, quase não pisca. Krisiun é isso. Ainda teve um momento ímpar de ter chamado o guitarrista da banda pernambucana Decomposed God para tocar uma do Motörhead. E pensar que o trio britânico já esteve no Abril Pro Rock. Bons tempos! Quando você acha que tá acabando, subiu mais uma banda internacional. Os alemães do Nocturnal estrearam. Thrash metal bem tocado, mas prejudicados pelo cansaço geral. Merecem outra oportunidade. A galera já não estava mais no pique inicial. A apresentação deles acabou e ficou no ar se voltariam. Enfim. Para finalizar, outra banda repetida no APR. Violator. O quarteto de Brasília vive suas memórias e questões políticas. Cantando seus sucessos, muita gente ali, principalmente os mais novos (que ainda estão formando suas opiniões de vida com ou sem conhecimento) aguardavam o bordão da vez: xingamentos ao deputado federal Jair Bolsonaro, figura non grata e que merece toda e qualquer indiferença, assim como os demais políticos. Então é isso. Abril Pro Rock realmente precisa se reinventar. Diminuir esse line-up, não repetir. Não para agradar gregos e troianos, mas dar oportunidade as bandas que estão aí querendo ‘se mostrar’. Ah, Metal Nacional é forte sim, porém, se só sai de casa se tiver o diferente, o chamariz, a banda internacional conhecida de preferência. A cena se faz de consumo, se faz de fã, representação icônica. Até o ano que vem!

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Por Pei Fon | Foto: Alessandra Tolc

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primeiro álbum ninguém esquece. Poder concretizar uma ideia é uma realização sem tamanho e que as palavras não conseguem explicar. É por isso que fomos conversar com as meninas do Indiscipline. O power trio carioca é formado por Alice, Maria Cals e Ale de la Vega e acabaram de lançar seu primeiro full-lenght por meio do crowdfunding. Tem noção disso? Uma galera ajudou essas meninas a tirar o seu projeto do papel. Desde 2012 na ativa, elas lançaram um demo e live album, mas chegou a vez de um play só de inéditas. Acompanhe essa conversa muito divertida com Alice e Maria Cals.

Indiscipline acabou de lançar seu primeiro álbum. Apresente “Sanguinea” para nossos leitores. Alice: Como o nome já diz, nós demos nossos sangues por ele. Fizemos um planejamento, estipulamos prazos, metas que tínhamos que cumprir para que nada desse errado. Nós nos encontrávamos todas as semanas aqui em casa pra compor as músicas, ensaiá-las e fazer os ajustes necessários. Acredito que em termos de estilo nosso som é peculiar, já olharam a capa e perguntaram se era Death Metal. Não é death metal, é metal, mas passeia pelo Grunge, Hard, e o que acabou se tornando o nosso som. O som da Indisci- 52 -


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pline! Agora que lançaram seu álbum de estreia, qual é o sentimento que fica? Maria Cals: Total realização, uma sensação maravilhosa de dever cumprido. Lançar o full-length era algo que queríamos muito fazer e nos frustrava ainda não ter feito isso, por mais que já tivéssemos uma demo/EP e um mini-CD ao vivo. Em quem as meninas do Indiscipline se inspiram? Conta pra nós sobre o processo de composição de vocês. Maria Cals: A gente se inspira muito em bandas brasileiras que estão sempre trabalhando, como por exemplo Nervosa, Krisiun e Nervochaos. São grupos que estão na estrada constantemente e lançam material novo com frequência. Existe uma regularidade e isso é importante pra gente. Nosso processo de composição acontece mais ou menos assim: eu escrevo um riff, trabalho num “rascunho estrutural” e apresento a música pra Alice, que insere a melodia. Aí levamos pro estúdio e ensaiamos com a Ale, que gosta de ter espaços pra improvisação, principalmente em viradas. Às vezes achamos que já está tudo pronto e precisamos recomeçar. No “Sanguinea” isso aconteceu muito. Tem música que a gente chegou a tocar ao vivo em uma versão primária e depois parou e mudou tudo. É o caso da “Higher”, por exemplo. Começar o cd com “Fear in your eyes” foi uma bela sacada. Abre muito bem os trabalhos do novo play. Está na lista das preferidas. Maria Cals: Ficamos muito felizes que tenha curtido! É uma das minhas favoritas também. Definitivamente não é à toa que é a música que abre o CD e também o primeiro clipe que - 54 -


fizemos para o “Sanguinea”. O curioso é que, enquanto ela era composta, me tirou algumas noites de sono. Eu não conseguia parar de pensar sobre com deveria ser, o que deveria vir depois do riff inicial, verso, etc. Mas hoje, ouvindo-a, tenho certeza de que toda a preocupação valeu a pena. A letra também tem uma peculiaridade: quando comecei a escrevê-la, eu já tinha o título. Geralmente o processo é oposto, escrevo primeiro a letra para depois botar um título. A ideia inicial era fazer algo meio “filme de terror”, mas à medida em que as palavras eram postas no papel, percebi que, na real, tratava-se uma história de terror real para muitas pessoas em todo o mundo. “Fear in your Eyes” fala sobre abuso. “Take it or Leave it” é realmente pegajosa. O cd é bem assim mesmo, pegar ou largar. Com certeza, é pegar e não largar mais. Alice: Que bom que você acha isso! A intenção é essa: que as pessoas gostem das músicas e que as músicas grudem nas mentes delas! São várias temáticas dentro do álbum, mas percebo que os relacionamentos humanos estão em destaque. Existe um personagem por trás? Se fosse atribuir, quem seria? Maria Cals: Verdade, escrevemos principalmente sobre relacionamentos humanos. A personagem com certeza é a própria banda, que é uma entidade maior do que nós 3. “Sanguinea” foi realizado por meio do crowdfunding. Como surgiu a ideia? Esperavam conseguir esse resultado ou foi uma surpresa? Alice: A ideia surgiu como uma forma de unir o útil ao agradável: da falta de grana mesmo (risos) e mais uma forma de divulgar nosso - 55 -


você está perdendo a cabeça, o jeito seria um tomar um veneno? Alice: Não! (risos). Observar, não absorver as coisas ruins, não se apegar àquilo que não é eterno da vida e saber que tudo contido nela é inconstante, sempre procurando evoluir. Tudo é aprendizado e vira música.

som. Esse CD tinha que nascer. Foi tudo muito pensado. Analisamos vários outros projetos de financiamento coletivo, desde os que não deram certo aos que foram bem sucedidos. E a partir disso, fomos montando o nosso. Fizemos produtos exclusivos só pra isso, e ficamos surpresas sim, porque ele foi lançado em um site de fora do Brasil (Pledge Music), onde ainda estamos montando nossa base de fãs. Nada disso teria sido possível sem a ajuda de uma querida amiga, Maryline, que nos ajudou demais na divulgação, realização e administração do projeto.

O cd é bastante diversificado musicalmente, não se prende aos estilos. Hard’n Heavy é como vocês definem o som da banda. Fale um pouco sobre. Maria Cals: A Indiscipline tem um estilo próprio, que eu sempre resumo como um “não-lugar” entre o heavy metal, hard rock, punk e grunge. Quando escrevemos, não pensamos que a música tenha que soar de uma forma ou

Quando transparece o medo nos olhos, sabendo que precisa largar ou deixar ir, mesmo que as pontes estejam chamas, - 56 -


de outra. As influências aparecem de forma bem natural. Eu por exemplo sou fã de metal extremo e sempre quis colocar um (mini) blast beat em alguma das nossas músicas. No “Sanguinea” rolou, na “Poison”.

portfólio do cara fala por ele: Behemoth, Hate, Vesania, etc. Entre uma turnê e uma gravação ele conseguiu encaixar o nosso trabalho. Além disso, queríamos uma visão de fora sobre a Indiscipline, de alguém que não conhecesse a banda e tivesse um background diferente também. Trabalhar com o Malta foi um prazer, pois ele foi super profissional, procurou entender o nosso som, e sempre foi extremamente sincero.

A mixagem e masterização do “Sanguinea” ficou a cargo de Arkadiusz “Malta” Malczweski do Sound Division Studio, na Polônia. Por que fazer com ele? Maria Cals: “Sanguinea” (assim como o nosso EP/demo de estreia, “In My Guts”) foi produzido pelo Felipe Eregion (Unearthly), que já é amigo há alguns anos de um dos caras que trabalham junto com o Malta no estúdio dele. O Eregion então sugeriu de entregarmos a mix e a master para ele, e achamos a ideia boa. O

Já pensaram num vídeo para “Miss Daniel”? Imagino que poderia ser um bar, o cara lá no balcão, assistindo o show de vocês e Alice sempre falando com o Daniel, tentando dar uma injeção de ânimo nele. Seria bem assim? (risos) - 57 -


Alice: Você é a primeira pessoa que comenta sobre essa música. Ela fala de uma decepção pessoal, mas a letra acabou abordando o tema do alcoolismo. Discorre sobre como é difícil lidar com pessoas que gostam de levar uma vida fantasiosa, fake. Gostam de mostrar para os outros o que não é real, como se isso importasse. Daí o nome, Miss Daniel, que vem emprestado do famoso whisky americano, Jack Daniel’s. Só quisemos transformar essa personagem numa mulher, pois aqui falamos “da” bebida. Ela é uma personagem feminina.

Maria Cals: Sabemos que o público é maravilhoso, super receptivo, e não vemos a hora de tocar no Nordeste! Já conversamos com alguns produtores da Bahia e de Pernambuco. Seria uma honra levar nosso som para a galera daí. Acompanhamos também os trabalhos de bandas nordestinas fodas, como Alkymenia, Malefactor, The Knickers, Autopse e Natural Hate. Seria demais dividir o palco com qualquer uma dessas! Top 5. Quais as bandas que influenciam o som da Indiscipline. Fale um pouco. Maria Cals: Eu diria que nosso top 5 de influências é composto de: 1) Alice in Chains - em primeiro lugar. As-

Vocês são do Rio de Janeiro, o que sabem da cena nordestina? Pensam em vir por esta região? - 58 -


sim como a gente, o AiC tem um estilo próprio. Apesar de inseridos no dito “movimento grunge”, o som deles tem algo único. Músicas pesadas, outras mais melancólicas…a Indiscipline se identifica bastante com o Alice in Chains. 2) Crucified Barbara - a banda praticava um hard n’ heavy muito competente, com algumas pitadas de punk, principalmente no primeiro CD. Impossível também não citar o fato de que, assim como a Indiscipline, era formada exclusivamente por mulheres, e é claro que isso gerava uma identificação muito grande. Uma pena ter acabado. 3) Metallica - admiramos o fato de o Metallica ter tido uma “evolução” natural e indubitavelmente corajosa ao longo dos anos.

Os discos da época thrash metal são clássicos (“Master of Puppets” é meu álbum favorito de todos os tempos sem dúvida), assim como o “Metallica” (o famoso “Black Album”) é um marco na história do rock pesado. Eu particularmente também curti bastante o último deles, “Hardwired…to Self Destruct”. Os discos fodas são tão fodas que “apagam” os ruins (“LuLu” e “St. Anger” eu não consigo gostar de jeito nenhum). 4) Black Sabbath - uma pessoa: Tony “Riffmaster” Iommi. Eu já falei isso em outras ocasiões, mas acima de qualquer coisa, uma música precisa de um riff marcante. É a alma do negócio. Procuro aprender ouvindo as obras-primas do sr. Iommi. - 59 -


5) Motörhead - outra pessoa: Ian “Lemmy” Kilmister, ou “o senhor rock n’ roll em pessoa”. Lemmy é um exemplo de vida, alguém que levou o estilo de vida rock n’ roll às últimas consequências. Ganhou e perdeu por isso, e sempre de forma consciente. Motörhead é uma banda que é um exemplo para nós também, sempre fazendo turnês e lançando discos. Foi uma carreira extremamente sólida.

Maria Cals: Obrigada pela oportunidade da entrevista! Adoramos a Rock Meeting e é uma honra estarmos aqui. Temos várias coisas planejadas para 2017. Já há alguns vídeos prontos que serão divulgados ao longo dos próximos meses. Trabalharemos também em músicas para o sucessor do “Sanguinea”, a ideia é não demorar a lançar o próximo trabalho. A partir do segundo semestre, queremos viajar muito e conhecer vários lugares do Brasil, pois isso é o que mais curtimos fazer. Estar na estrada conhecendo quem curte a Indiscipline.

Por fim, o que podemos esperar de vocês para 2017. Sucesso e realizações. Muito obrigada.

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Por Pei Fon | Fotos Banda/Divulgação

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oda e qualquer perda é sempre dolorosa. Muitos não sabem como reagir. Simplesmente se trancam, buscam apoio profissional. Mas é preciso viver, continuar. Os irmãos Machado encontraram uma fórmula bonita e inspiradora para falar de seu outro irmão, Vitor. Ele se foi, mas deixou um belo legado: a música. Marcos e Márcio resolveram criar uma banda que tem tudo a ver com eles, e por em prática o que seu falecido irmão deixou. É sobre motivação e força que vamos falar com a galera do Axes Connection. Primeiro ato. Apresentem-se para nossos leitores. Marcos Machado - Somos a Axes Connection: Marcos Machado (guitarra), Márcio Machado (vocal e teclado), Magoo Wise (baixo) e Cristiano Hulk (bateria). Début álbum. Foi difícil lançá-lo? Fale para nós como tudo ocorreu. Marcos - Sim. Muito difícil, pois começar uma banda do zero é muito complicado. Tudo demora pra tomar forma. Mesmo sem conhecer a história da banda, “A Glimpse of Illumination” dá margem para entender o que a banda realmente quer passar. Do ser ilumi- 64 -


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nado. O sentimento de perda é bastante conflitante, como lidar? Márcio Machado - Eu acredito que se trata de ter uma atitude positiva em relação à vida, e lidar com a morte de um ente querido faz parte desta dinâmica. O Vitor, meu irmão falecido, que era o baterista original da banda, me ensinou sobre como ser positivo diante das adversidades. Não é da minha natureza ficar lamentando ou murmurando. Meu irmão Marcos é assim também, é uma característica da nossa família. A existência do Vitor nesta terra tem que ser celebrada, e foi o que fizemos neste álbum, com alguns momentos de reflexão e meditação, refletidos nas canções. A banda possui três integrantes de bandas conhecidas. O que essa experiência traz para esse novo trabalho com o Axes Connection? Marcos - A experiência de cada um nos torna mais focados na música em si. Tentamos não ser a cópia de ninguém, o que é muito difícil, pois ainda assim existem claras influências em qualquer banda autoral. Espero que as pessoas curtam o que estamos tentando passar tanto na parte musical como nas letras. É bastante cedo para falar nisso, o álbum de estreia é uma homenagem ao Vitor Machado. O segundo, já pensaram como poderia ser? Quem vai escrever? Marcos - Eu acho ainda cedo falar do que será o próximo, mas adianto que a parte instrumental já começou a ser elaborada. As músicas já estavam escritas. Como foi o processo de ‘repaginar’, melhorar o que já estava bom? Marcos - Foi um processo que curti muito. Tive que rearranjar, criar solos que não existiam, alterar posicionamento de trechos nas - 66 -


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As letras são reflexos dos nossos questionamentos e medos. Um destes questionamentos pode ser o arrependimento. Vocês se arrependem de algo? Marcos - Acho que tudo tem sua hora pra acontecer. O tempo ensina a sermos mais pacientes e menos ansiosos.

de se reorganizar. A sabedoria é a chave e você precisa usar a razão, preparar sua alma para uma jornada eterna. É assim que busca a verdadeira conexão? Márcio - Buscar a verdadeira conexão é buscar a Deus, é buscar as coisas do alto, é amar a Deus sobre todas as coisas, e ao próximo como a si mesmo, é abandonar as obras das trevas e ser filho da luz. Há quedas neste caminho, é claro, e isso vale para todos nós, seres humanos falhos. Perfeito, somente Deus.

O significado do mal não pode ser o ato

O som da banda passeia pela atempo-

músicas e criar trechos novos que fizessem sentido dentro da música. Além disso durante esse processo nasceram músicas novas.

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ralidade das inspirações musicais. As linhas de baixo chamam bastante atenção. “Skyline” é tocante. Marcos - Foi um presente a entrada de Magoo Wise na banda. Ele cria todas as linhas de baixo que eu nunca faria, uma linha de baixista, por eu ser guitarrista penso diferente. O Magoo deu muita vida nas músicas seguindo um caminho diferente e criativo inesperado. Ficamos muito contentes com o resultado final.

lisando o álbum, ter uma terceira pessoa na masterização não teria toda essa conexão, não é? Marcos - O processo criativo foi único e a gravação foi igualmente única. Não há nada neste álbum que não tenha sido acompanhado muito de perto ou feito por mim mesmo. A bateria se baseia em uma montagem que fiz em um programa simulador que serviu para que o Lourenço Gil desempenhasse uma execução muito próxima do que o Vitor Machado estaria fazendo no álbum. Já tínhamos as linhas de baixo pré-gravadas, mas demos total

O play foi à base do ‘do it yourself’. Ana- 69 -


Top 5. Quais as bandas que inspiram o som do Axes Connection? Comente cada uma. Marcos - Acho que existem influências misturados em cada música. Vou citar Rush, Black Sabbath, Motörhead, Pink Floyd. Mas sempre ao criar uma música não temos um controle absoluto de onde ela vai terminar. A música parece sempre me pedir um trecho de uma maneira ou outra. Intuitivamente as partes vão se juntando e se conectando até fazerem sentido. Por isso tudo, escuto muito minha in-

liberdade para o Magoo criar à sua maneira, e isso só enriqueceu o álbum. Tentei dar um direcionamento para o Márcio Machado seguir para dar o máximo de energia e interpretação que as músicas pediam e ele criou algo muito bom ao meu ver. Por fim, nos cercamos de pessoas conhecidas para nos acompanhar nos processos de mixagem no Estúdio FelipeLive – Felipe Haider e no toque final de masterização Benhur Lima (ex-Hibria). Eu diria que tudo estava muito conectado. É um clichê que serve pra ilustrar bem o que de fato aconteceu. - 70 -


tuição no processo criativo. Dessa maneira me aproprio da música e tento não ser uma cópia apesar de ter as influências de tudo que já escutei e escuto.

pra divulgar nosso trabalho, mas sabemos que na atual realidade de nosso país não será uma tarefa fácil. Estive no Nordeste e sei que o público tem muita energia e consideração pelas bandas nacionais. Seria uma honra poder tocar novamente no Nordeste e conhecer o pessoal de Alagoas. Abraço a todos ouvintes e leitores que curtem o Rock Meeting.

Por fim, o que podemos esperar do Axes Connection para 2017. Sucesso e sigam em frente. Muito obrigada! Marcos - Obrigado pela oportunidade de poder estar falando um pouco de nossa história e música à Rock Meeting. Esperamos poder estar tocando no máximo de lugares possíveis

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Só muda o estilo de tattoo Por Samantha Feehiy e Iúri Cremo (Wonder Girls )

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er mãe é padecer no paraíso, não?! Agora junte a essa conta o preconceito por ser uma mãe - jovem ou não! – tatuada... Pois é, tudo fica ainda mais difícil, não para elas, claro, mas para a sociedade que ainda vê na arte da tatuagem um estigma preconceituoso. Em nossa sociedade, dita moderna, ainda observamos estereótipos e padrões que predominam na maneira como é esperado o perfil de cada papel social que desempenhamos, seja papel de mãe, profissional, de mulher ou homem. É muito comum esbarrarmos ainda naquela imagem de mãe tradicional (o que é ser tradicional?), aquela mãe protetora e acolhedora, sempre vestida em tons pastéis... Pois bem, o ano é 2017 e cada dia vemos mais mães tradicionais rabiscadas que exalam amor, zelo e proteção tão bem (ou melhor) do que as chamadas mães tradicionais. Mas como quebrar esse preconceito? “Sutilmente, acredito que é a melhor ma-

neira. Estardalhaço a gente deixa pra lá. Um desenho é um desenho, pra alguns uma lembrança, para outros, propósitos, para outros, nada demais... Acredito que é o lance de ‘entrar e fazer o que tem de fazer’, sem drama, nem rodeios, ser competente independente dá área ou lugar. A sociedade tá mudando no que diz respeito a imagem, nós ganhamos espaço”, diz a modelo Wonder Girls e mãe, Aline Guissan. Criar filho não tem a ver com tamanho, cor (ou cores!), peso, religião e sim como a forma que você precisa educá-los para que sejam pessoas melhores do que a gente. “O diálogo com a criança precisa ser constante, estimulando sentimentos como generosidade, compaixão e amor ao próximo. As diferenças são sementes para um terreno fértil para crianças crescerem com mentes saudáveis e flexíveis às diferenças e mudanças”, explica a psicóloga Dra. Cristiane Pertusi. Sabemos que a tatuagem ainda carrega um certo ar de rebeldia, e as mamães tatua- 72 -


Simone Lima- Wonder Girls

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das precisam estar sempre atentas para que isso não seja um problema para os pequenos. A tatuagem pode ter diferentes significados relacionado com a história pessoal, momento de vida e características de personalidade de cada um. Não existe fórmula, mas alguns ingredientes podem ajudar, como um bom vínculo afetivo, diálogos, exemplos positivos para lidar com temas complexos, e tranquilidade e naturalidade para discutir e compreender todos os assuntos que a vida trouxer. “É tentar mostrar que tatuagem é arte e não significa que somos ‘marginais’ por isso, vou tentar passar para minha filha, que nosso corpo é algo inteiramente nosso, e podemos fazer o que nos faz sentir melhor”, reforça Karen Ellqvist, mãe e modelo Wonder Girls. “É um caminho árduo ainda quebrar por completo essa barreira, cabe a nós mães tatuadas mostrarmos que nossas arte na pele não diminui nossa capacidade de sermos mães responsáveis e presentes na vida dos nossos filhos, ensinando valores que realmente transformem nossos filhos em bons cidadãos”, confirma Simone Lima, mãe e modelo Wonder Girls.

e piercings pode ser uma boa oportunidade para ajudar os filhos a terem mais visão do futuro que sonham para si mesmos. “Os limites podem ser negociados e compreendidos dentro do bom senso dos pais e de acordo com a idade dos filhos. Limites são negociados e colocados dentro da ideia que respeite faixa etária do filho, não traga proibição ou conflitos rígidos no vínculo pai e filho. Vale lembrar, não queira ser compreendido se a frase em questão estiver em jogo for ‘faça o que eu digo, mas não faça o que faço’, esse tipo de mensagem não gera bons exemplos e empatia nas relações afetivas”, explica Dra. Cristiane Pertusi. “Nós somos o espelho dos filhos e é um processo constante de aprendizagem, então tudo depende de como nos comportamos perante eles, que nos veem como exemplo a ser seguido. Meus filhos já me perguntaram se quando forem grandes poderão ser tatuados como eu, minha resposta sempre será, se te faz feliz e não prejudicará ninguém, vá em frente, seu corpo suas escolhas”, frisa Simone Lima. “Temos de mostrar que tatuagem não é sinal de rebeldia. E sim de vontade de gravar algo, marcar um instante, uma fase ou até mesmo só de ter um desenho ali pra sempre. Cada um fazer o que quer não deve nunca ser apontado como sinal de rebeldia e sim de individualidade assumida, cada um com o seu e respeito máximo pelo outro”, esclarece, Aline Guissan.

MÃE, QUERO ME TATUAR! Proibir ou liberar? Tornamo-nos pais e temos nossos filhos, e um dia eles talvez chegarão com o papo que querem fazer uma tatuagem ou colocar um piercing em algum lugar. Como pais, geralmente não incentivamos, e procuramos deixá-los conscientes do que essas ações acarretarão em suas vidas. Isso é uma grande decisão, não um assunto qualquer. Pais e adultos não devem julgar os adolescentes pela capa, ou focar demais na parte física, mas ajudá-los a entender que sua personalidade e inteligência emocional é o que mais importa. A conversa sobre tatuagens

NA ESCOLA Sabemos que não há ambiente mais cruel do que a escola. Contornar os olhares preconceituosos dos pais do amiguinhos dos filhos também não é tarefa fácil. “Estou começando a viver essa experiência agora e não tenho tido insatisfação nesse quesito, para os - 74 -


Aline Guissan

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amiguinhos ele já contou que sou a mamãe cheia de desenhos. Hoje educo para que ele não ligue para como quer que sejam os pais das outras crianças, ensino-o a se preocupar sempre em aprender com o outro do que se indispor”, diz Aline Guissan. “A escola, assim como em outros lugares é difícil, infelizmente o mundo nos vê como revoltados, marginais, irresponsáveis e sem capacidade alguma de cuidar de uma criança, é preconceito em todo lugar e em qualquer hora, mas vamos ensinar nossos filhos que independente do que falem, ele sabe que nada daquilo que dizem é verdade, então não ligar” planeja Karen Ellqvist. “Olhares preconceituosos são comuns nas reuniões escolares, mas o que me deixa muito feliz é que quando as professoras falam sobre o comportamento exemplar e as notas impecáveis das crianças, propositalmente falam em alto e bom som para todos os pais ali reverem seus conceitos, muitos ali associam tatuagem com rebeldia e irresponsabilidade, até mesmo negligência com os próprios filhos e o fato d’eu poder mostrar o contrário me deixa muito orgulhosa. Na escola sou bem presente, participo das reuniões e eventos, gosto de estar por dentro de tudo que acontece e sobre a barreira que existia entre mim e os funcionários no início, foi quebrada à partir do momento que eles viram minha dedicação na construção do caráter e no interesse em relação ao aprendizado escolar das crianças”, explica Simone Lima. Para a psicóloga Cristiane Pertusi, “uma abordagem positiva nesse caso é sempre a melhor opção, mostrando visões diferentes do mundo, porém sem instigar raiva e visão preconceituosa e/ou raivosa. Sempre estimular uma compreensão e de que não se combate preconceito com outro preconceito. Buscar a escola como apoio para tratar o assunto na coletividade”, garante. Ser mãe foi a melhor escolha que fiz na vida, me deu maturidade, confiança, me fez ver o mundo de uma maneira mais ampla, são duas vidas que serão moldadas de acordo com cada escolha que eu fizer e isso e é uma responsabilidade e tanto, vibro com cada aprendizado, a cada sinal de que eles estão se tornando pessoas generosas,educadas, sou uma mãe coruja de carteirinha, finaliza Simone. - 76 -

Karenellqvist


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ESTRAPERLO CLUB DEL RITME, 13 de Abril de 2017 Texto e Fotos: Mauricio Melo & Snap Live Shots

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tão prometido encontro entre The Casualties e The Exploited esteve ameaçado de não acontecer até o último minuto, ou melhor, o acontecimento estava garantido, mas uma parte do público ameaçou não comparecer. A questão é simples de entender, o eterno vocalista do The Explode, Wattie Buchan, teve (novamente) um ataque cardíaco dias antes da banda pisar em terras espanholas, a banda ainda questionou sua participação na turnê, mas decidiu seguir sem Wattie. É obvio que uma parte da galera torceu o nariz, exigiu dinheiro de volta, xingou, se sentiu enganado e tudo mais. Mas, repassando toda a situação, o The Exploited é uma banda que aparece por aqui com certa frequência, posso garantir que em uma década em Barcelona já presenciei por pelo menos três vezes a visita dos escoceses, sem contar participações em festivais aqui e ali. Perfeitamente entendível se a banda não tocasse na península por pelo menos uma década ou, como o caso recente do Rancid, que demorou 25 anos para tocar no Brasil e que para tal turnê seria um crime não comparecer com o time titular. - 80 -


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Vale lembrar também que o The Casualties estava na jogada e que a banda por si só já merece casa cheia. Somando a tudo isso, Jake Casualty, guitarrista da banda novaiorquina ainda quebraria o galho segurando os vocais na maioria das músicas, alternando com membros do Code Red e Clowns. Por aqui já vimos Napalm Death sem Barney, Terror sem Scott Vogel e muito mais em noite memoráveis e essa não foi diferente. Para abrir a noite tivemos o surpreendente show do Clowns, quinteto australiano que chegou sem muito alarde e que conquistou a galera, deram tudo e mais um pouco nos trinta minutos que estiveram no palco. Defenderam e muito bem seus discos “Bad Blood” e “I’m Not Right”, difícil escolher o ponto alto. Destaque para o vocalista que desceu do palco, incentivou circle pit, rolou no palco, saltou e ainda guardou voz para destruir um par de petardos com o The Exploited no final da noite. Na sequência tivemos os alemães do Code Red, com uma apresentação muito mais técnica, porém algo deslocado na noite já que se tratava de uma banda com um som muito mais metal. Agradaram, mas não empolgaram tanto quanto o Clowns. Se existe uma banda que dispensa comentários no cenário punk, essa é o The Casualties. Mesmo assim destacaremos os riffs de Jake à disposição e o humor do baixista Rick, a simpatia de Jorge nos vocais e o ritmo implacável de Meggers na bateria. Ritmo pegado, porradão e o mais importante, casa cheia. Sim, os “mimimis” da troca de ingressos foram atropelados por punks sedentos e suados. A noite fluiu como nunca e curtimos novos sons com “Chaos Sound” e “Brothers and Sisters”, clássicos como “Casualties Army”, “On The

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Front Line”, “Tomorrow Belongs to Us”, “Under Attack”, algo nem tão clássico como “Resistense” e o resto já é história, fizeram a noite valer à pena, disso não há dúvida. Já não haveria marcha atrás, o The Exploited pisou no Palco sem Wattie, se bem que Jake parecia um rejuvenecido Buchan com seu moicano vermelho e botas como nos bons tempos. Abriram a noite com “Let’s Start a War” e tivemos a sensação de que o público estava avaliando para saber se iria dar certo ou não, poucos se mexiam, o pogo ainda estava frio, com certeza a banda achou que dentro de nada voariam garrafas, tênis e qualquer outro objeto, mas não foi assim. O baixista Irish Rob segurou bem a onda nos vocais em músicas como “Beat The Bastards” e “UK 82”, aí o público empolgou de vez. Em “Fuck The System” tiveram a participação de integrantes do Code Red, o vocalista do Clowns também segurou a onda como já foi comentado acima e o desfile de clássicos e participação não pararam. “War”, “U.S.A.”, “Sex and Violence” e “Chaos in My Life foram algumas das mais destacadas e à aquela altura tudo era uma festa. Foi uma noite memorável, uma noite na qual a atitude punk sobressaiu, aonde o fulano que pediu devolução do dinheiro deve estar tristonho.

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