Rock Meeting Nº 88

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EDITORIAL

Faça mais, fale menos! É engraçado que todo início de ano renovamos aquela lista de tarefas que desejamos realizar. Claro que nem sempre o desejo se materializa. Algumas situações podem acontecer e acaba desviando o percurso original. É natural! Este ano tem tudo para ser interessante. Muitas bandas vão lançar material novo. Muita polêmica ainda vai surgir. Claro que estamos contando com elas. Afinal, são estas picuinhas que nos fazem separar o joio do trigo. E estamos de olho sempre, óbvio. Porém outros aspectos transcendem o tempo e sempre voltam à tona com questionamentos antigos, falas repetidas, visão retrógrada e ação de menos. Vamos fazer o seguinte: faça mais, fale menos. Uma mobilização em prol da cena rock/metal na sua cidade, na sua região, no nosso país. Estamos de acordo?


TABLE OF CONTENTS 06 - News - World Metal 10 - MatĂŠria - Shows em 2017 16 - Live - Os melhores shows de 2016 22 - Entrevista - 4Drive 30 - Capa - Lacerated and Carbonized 40 - Entrevista - Confounded 48 - Entrevista - Flor de Loto


Direção Geral Pei Fon Capa Alcides Burn

Colaboradores Alex Chagas Jonathas Canuto Marcos Garcia Marta Ayora Mauricio Melo (Espanha) Maicon Leite Raphael Arízio CONTATO contato@rockmeeting.net RockMeeting.Net


Foto: Michel So

primeiro single

primeiro EP

Celebrando a ótima aceitação e para mostrar um pouco do que foi empregado em seu primeiro single, ‘Portrait of a Despot’, o Rising State acaba de lançar um vídeo registrando a performance de guitarra e baixo.Contando com Luiz Mário Moraes e Leo Nunes, baixo e guitarra respectivamente, o vídeo – gravado por Robson Lacerda e pelo próprio baixista – foca em mostrar as técnicas e estilos empregados pelos músicos, assista AQUI. Conheça o trabalho da banda no Facebook.

A banda estadunidense Heart Avail acaba de lançar seu primeiro EP, autointitulado, através do selo canadense Milagro Records. O lançamento, que conta com cinco faixas, é inspirado pela perda de entes amados e foi escrito essencialmente como uma terapia com letras dolorosas buscando atingir pessoas com experiências similares. A influências da banda, como Evanescence, Nightwish e Within Temptation. Para ouvir uma prévia do EP AQUI. Conheça a banda AQUI.

Financiamento Coletivo A lendária banda brasileira Imago Mortis anuncia o lançamento de uma campanha de financiamento coletivo para a produção de seu novo álbum, intitulado “L.S.D”. Trata-se do primeiro disco do grupo após um hiato de dez anos, desde o lançamento do “Transcendental”. A pré-produção já está totalmente gravada, contando com 16 músicas, que serão selecionadas para entrar no repertório do disco. As restantes serão disponibilizadas como prêmios e singles para os apoiadores. Para participar da campanha, acesse AQUI. LSD significa “Love, Sex And Death”, fazendo alusão às substâncias químicas que provocam a “paixão”. Escute o single de “Black Widow” AQUI. Imago Mortis sempre foi considerado um dos nomes mais importantes do metal no Brasil, tendo na bagagem, três trabalhos com repercussão internacional (“Images From The Shady Gallery”, 1998; “Vida – The Play of Change”, 2002; e “Transcendental”, de 2006; além da participação do projeto William Shakespeare’s Hamlet, 2001). 06


ouza

“Personal Devil” O quarteto paulistano de stoner metal Thymus Boogie inicia 2017 com diversas metas e a primeira da bem planejada lista é o lançamento do primeiro single da carreira, “Personal Devil”, concretizada numa provocativa sexta-feira 13. A música, que em breve estará disponível para download e streaming nas principais plataformas virtuais (iTunes, Deezer, GooglePlay, Spotify, entre outros), pode ser conferida num conceitual lyric video. “Personal Devil”, gravada no Mammoth Green Studios, foi escolhida como primeiro single para apresentar ao ouvinte os dois protagonistas da história que permeia todas as músicas do álbum, conceitual, a ser lançado ainda este ano. Além de disponibilizar “Personal Devil” em lyric video, no bandcamp e no soundcloud, a banda oficializa Bruno Nascimento (bateria) e Fabrício Santos (baixo) à formação, que junto ao guitarrista Fagner Villani e do vocalista Michel Lira.

novo álbum

“Full Speed X”

Depois de passar o ano de 2016 trabalhando em cima das gravações de seu debut, a promissora banda paulista Attomic Soldier nos conta um pouco de como está o status do disco. “Buscamos várias sonoridades e texturas para nossas músicas e isso atrasou um pouco nossa programação, mas queríamos que o resultado fosse o melhor possível, por isso preferimos atrasar o lançamento e oferecer o melhor para os headbangers que apoiam nosso trabalho”. Fique ligado na fanpage.

O baixista da banda Noturnall, Fernando Quesada, acaba de divulgar um vídeo onde ele toca a música “Full Speed X” do projeto de Mike Orlando, Sonic Stomp, no estúdio Fusão. A música foi gravada por Aquiles Priester (bateria), Junior Carelli (teclados), Fernando Quesada (baixo) e Mike Orlando (guitarra), todos companheiros de banda na Noturnall. Mike Orlando e Fernando Quesada vão apresentar essa música e outras do projeto na 2017 NAMM Show in Anaheim, CA, nos EUA

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“Outta Line” A banda paulistana Rhino Head tem orgulho em divulgar o lyric vídeo da música “Outta Line”, faixa do álbum “You Get What You Pay For”, lançado em setembro de 2016 de maneira independente.A Rhino Head foi fundada no começo de 2015 na cidade de São Paulo pelos guitarristas e amigos de longa data, Fábio Yamamoto e Thor Salles. Juntamente com Stefano Zalla (vocal), Victor Kutlak (baixo) e Caio Al-Behy (bateria), a banda busca resgatar a essência do rock n’ roll com uma mescla de influências como o blues e o grunge. Logo no começo de sua caminhada, a banda já entrou no processo de criação e pré-produção do primeiro disco. “You Get What You Pay For” foi gravado em setembro de 2015 no estúdio Ekord e lançado no ano seguinte. Atualmente a banda vem fazendo shows no circuito underground de São Paulo em locais como Hangar 110, Manifesto Bar, Superloft, entre outras. Assista ao lyric video AQUI. Para conhecer a banda acesse a fanpage oficial no Facebook.

“Seeds of Chaos and Serenity”

“Ka Ching!”

O tão aguardado álbum de estreia dos mineiros do Ruins of Elysium, que executam Symphonic Metal, finalmente ganhou um rosto. A arte, de autoria de Wesley Souza, demonstra com alto grau de exatidão a identidade visual do conjunto, inclusive no que diz respeito à paleta de cores. “Seeds of Chaos and Serenity” será composto por sete faixas, sendo que a última, que dá nome ao disco, terá monumentais 40 minutos de duração e será dividida em cinco atos. Infos na fanpage.

O vocalista Germán Pascual acaba de divulgar o seu mais novo lyric vídeo para um cover de “Ka Ching!”, música de autoria de Shanya Twain, uma grande influência do cantor. O vídeo foi feito por Rafael Tavares e o cover foi gravado e produzido por Michael Oliveira, um dos melhores amigos de Germán. Mais informações sobre o novo trabalho solo do cantor serão divulgadas em breve, assim como de outros projetos. Confira o lyric vídeo de “Ka Ching!” AQUI.

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Na contramão da crise financeira no Brasil, as empresas de entretenimento estão investindo para trazer atrações que arrastam multidões

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Por Pei Fon (peifang@rockmeeting.net) Fotos: Imagens da internet

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2016 nem tinha terminado e enquanto muitos ainda faziam as contas e previsões para o ano novo, foram anunciadas atrações importantes para 2017. Não há como negar que foi um choque tremendo para todos. Bandas que nem imaginávamos que voltassem ao Brasil, estão se preparando para desembarcar por aqui. Outros grupos que vivem por aqui, já estão marcando presença. E o sonho de muitos vai virar realidade. O que impressiona é que, mesmo com

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a crise financeira existente no país, o cenário do entretenimento não parou e tem divulgado seus eventos pelo Brasil. Como de costume, boa parte dos grandes shows vai se concentrar no eixo Rio/São Paulo. Mas alguns deles vão rodar o país abrangendo uma parcela ainda maior de fãs. Os principais shows estão concentrados no primeiro semestre de 2017. Lollopalooza e Maximus Festival são as atrações nesse início de ano. Como já é sabido, Metallica toca no Lolla, em abril, junto com os dinossauros do


Duran Duran e os novatos, perto destes, The Strokes. Outro festival aguardado é o Abril Pro Rock, no Recife. As atrações ainda não foram anunciadas e a expectativa é grande. Em maio, vem o Maximus Festival, encontro mais dedicado ao rock/metal. Entre as bandas anunciadas estão o Slayer, Rob Zombie, Linkin Park, Ghost, Red Fang, Pennywise, Five Finger Death Punch. Para setembro tem sempre o esperado Rock in Rio que anunciou três nomes de peso para quem curte rock/metal: Red Hot Chilli

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Peppers, Aerosmith e Guns’n Roses. Em abril, há a previsão do anúncio das demais atrações e à venda dos ingressos. Quem está acompanhando a agenda sabe que ainda tem muita coisa. O que destacamos é o retorno do Evanescence. A sua última vinda ao Brasil foi em setembro de 2012. Entre retorno e a primeira vez por aqui, estão: Lacuna Coil, Opeth, Korn, Tarja Turunen, Sonata Arctica, Grave Digger, I am Morbid, Borknagar, Belphegor, Paul Gilbert, Suicidal Angels, Exciter e Sacred Reich. Porém, um destaque


especial para o King Diamond em junho. Esse show promete e muito. Oportunidade única para quem é fã. Outro que destacamos é a apresentação do Helloween. Foi o primeiro grande impacto anunciado para 2017. O show vai acontecer em outubro e reunirá a formação original com Kai Hansen e Michael Kiske. Serão três horas de clássicos. A procura foi tanta que abriu um show extra. Então, serão dois dias: 28 e 29 de outubro. A outra reunião, mas em tom de despedida, será do Rhapsody of Fire. Como todos já sabem, o vocalista Fabio Lione (que é do Angra) saiu e quem assume é Giacomo Voli. “20th Anniversary Farewell Tour” será a última chance para rever a formação original da banda com Fabio Lione, Luca Turilli, Dominique Leurquin, Patrice Guers and Alex Holzwarth. Agora é aguardar ainda mais a agenda deste ano, porque, definitivamente, não para por aí.

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Por Mauricio Melo (Espanha)

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The Interrupters – Banda californiana de ska, punk, rock. Muito bem assistida por Tim Armstrong do Rancid. O que me leva a escolher o quarteto como o show do ano é um conjunto de fatores. Lugar pequeno, palco praticamente no nível do chão, público insano e porque foi a primeira visita da banda à Barcelona e a última oportunidade de vê-los num lugar tão pequeno, foi um privilégio tê-los ali. Foi uma noite completa, destas que dentro de alguns anos lembraremos de quando vimos a banda tocar num bar e sentiremos saudades. Fu Manchu – Só não vamos escolher qual, já que foram dois num intervalo de quatro meses. Um mais global por se tratar de um festival e o outro tocando o disco King of the Road na íntegra. Os dois foram fodas e com propostas diferente uma da outra. Junta tudo e coloca em segundo lugar. 18


Ratos de Porão – Nosso melhor representante no Hellfest deste ano tocou na integra o disco Anarkophobia. Definitivamente não é meu disco favorito mas assisti-los tocando no Hellfest era um sonho antigo, sinceramente não sei o porque de terem demorado tanto a tocar no evento ou mesmo que os organizadores os convidassem. A banda se mostrou sólida, afinada e após finalizar o set proposto ainda deu uma palha em vários clássicos. O público compareceu e pessoas de todas as nacionalidades vibraram com os Ratones. Bad Religion – É o tipo de banda que não falha nunca mas esse ano provocou algo importante não só em mim mas também em muita gente que conheço que foi o resgate de uma certeza esquecida, a certeza que a banda é foda. Show perfeito, um setlist que surpreendeu muita gente. Tipo do show que no final vem a pergunta: O que estive escutando nos últimos anos à ponto de deixar acumular poeira nos discos desta banda? Um verdadeiro redescobrimento.

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Jane’s Addiction – Apesar de já haver assistido ao show há alguns anos, desta vez foi mais acolhedor. A verdadeira maquina do tempo foi montada, me senti com dezoito anos outra vez, com amigos ao redor e muitas ideias na cabeça tendo de fundo a trilha sonora que a banda escolheu como setlist. Para completar, ainda encontrei o Perry Farrel no aeroporto e pude trocar algumas tímidas palavras com o mesmo.

Black Sabbath – Seria muito fácil escolher o show de despedida da banda como o melhor show do ano mas não teria graça. Não morro de paixão pelo Sabbath mas assisti atentamente sua despedida no Hellfest deste ano. Mesmo tendo assistido a banda há dois anos, confesso que fiquei congelado olhando para o palco tentando assimilar os riffs que saiam dos amplificadores e poucas bandas provocam essa sensação em mim. Histórico

Return To Roots – Apesar do nariz torcido de alguns exigentes em Barcelona, o fato de termos os irmãos Cavalera tocando seu álbum de maior sucesso já é motivo de destaque. Assim como o Anarkophobia do RDP, o Roots não é meu álbum favorito mas como mencionado acima, ter a Max e Iggor juntos tocando exclusivamente músicas do Sepultura é um privilégio.

At The Drive-In – Não poderia fazer uma lista dos dez mais e não incluir a banda. Pode ser que já não tenham o mesmo feeling no palco de alguns anos atrás mas ainda assim, foi um show memorável e intenso. Omar Rodriquez estava inspirado esta noite e Cedric incendiário. Dois quarteirões depois de ter saído do show ainda tinha um sorriso na cara, se passei por alguém que não sabia do que se tratava

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deve ter pensado em loucura ou substancias ilícitas. Drive Like Jehu – Assim como o At The Drive-In, a banda vem de uma longa inatividade, muito mais até do que a banda citada acima. Rola até uma incerteza se realmente é uma volta aos palcos ou apenas alguns shows. Com somente dois discos no mercado passou pelo processo típico de ser uma banda ignorada pelo grande publico a ser idolatrada. A volta veio em boa hora e agradeço a oportunidade que tive e não desperdicei, nem em meus melhores sonhos imaginei assistir ao show dessa banda. 21

Satanic Surfers – No final da lista descubro que estou deixando para trás nomes como Terror que apesar de já ter assistido muitas vezes fez um show arrasador este ano em Barcelona. Good Riddance que dividiu palco com o próprio Satanic Surfers, Magrudergrind, Sick of it All celebrando 30 anos, Dog Eat Dog, Mute, Implore, Discharge, Converge, Refused e muitos outros que poderia listar. Mas rever o Satanic Surfers foi realmente especial. Ter os suecos tocando numa sala, com o publico emocionado cantando suas músicas é um reconhecimento tardio e merecido.


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Por Pei Fon com Rômel Santos Foto: Henrique Konishi

O 4Drive foi fundado em 2001, mas o début “Recycle” foi lançado apenas em 2016. Conte-nos sobre o início das atividades e trajetória até o primeiro trabalho oficial. Guilherme Falcade - O 4drive, formado em Americana/SP, é a fusão de integrantes de outras bandas. Todos os músicos já tocavam antes e decidiram se juntar com a proposta de fazer um som mais voltado para o New Metal, estilo que passava por um momento de ascensão no mercado. O vocalista Eduardo, recém-chegado de sua estadia de seis anos nos Estados Unidos, completou a formação. Nessa época o movimento rock tinha grande força entre os jovens, portanto, havia bastante espaço para mostrar o trabalho e tal fator foi estimulante para a banda, que decidiu voltar todo o seu esforço para a composição de músicas autorais. Daí surgiu a primeira EP “Enjoy The Ride”, em 2002, com três músicas e trazia também uma faixa multimídia com making of da gravação e 23


detalhes das músicas e integrantes. Tudo isso feito em casa com a ajuda do nosso amigo e ex-integrante Thiago “Mancha”. Desde então passamos por diversas fases, sempre de forma independente, conquistamos nosso espaço e tocamos em várias cidades do estado de São Paulo, inclusive na capital. Fizemos algumas composições em português e gostamos do resultado, porém decidimos continuar com as letras em inglês, uma vez que o idioma já havia se tornado universal e também para adequar mais ao estilo musical ao qual estávamos habituados. Sendo assim, a continuidade do trabalho se deu na forma de amadurecimento da técnica e dos métodos de composição, com ensaios frequentes. A cena já não tinha tanta força como antes e, além disso, não havia o recurso das redes sociais, que ainda estavam em gestação. Esse período também foi marcado pela transição para a idade adulta dos integrantes, e cada um se viu obrigado a dividir os trabalhos da banda com os estudos e profissão. No entanto, nunca deixamos de ensaiar e compor, fatores essenciais para a chegada até os dias atuais e, com a entrada de Pedro Konishi no sampler, foi aberto um leque de novas possibilidades para a sonoridade da banda, marcada pela versatilidade. A experimentação e o grande entrosamento proporcionado pelo tempo juntos e pela afinidade pessoal fez com que a intenção de registrar novamente o trabalho ganhasse força. Desta forma surgiu o álbum “Recycle” com dez faixas produzidas por Guilherme Malosso, em conjunto com os integrantes, no Estúdio RG. As composições representam a complexidade das relações que a banda teve com o mundo musical ao longo de toda carreira, passando por momentos de grande euforia e também de forte repressão. O resultado é um disco com músicas expressivas e motivo de grande orgulho para todos nós. 24


A banda tem influências diversas em sua sonoridade, sendo de difícil classificação. Falem sobre as influências e como funciona o processo de composição. Cada músico da banda tem uma preferência musical, tal fato por si só já justificaria o caráter eclético da sonoridade. Contudo, o trunfo do 4drive, a meu ver, é a humildade de cada um em aceitar as sugestões dadas durante os ensaios e processo de composição, o qual sempre é feito na presença do conjunto todo. Nós vemos isso como de fundamental importância para que o resultado sejam montagens boas e com peculiaridades inerentes ao estilo de cada um de tocar. A capa é impactante e a produção excelente! Comentem sobre as gravações e o papel do produtor Guilherme Malosso no resultado final. Obrigado! A capa foi idealizada e produzida pelo sampler Pedro Konishi, que também é publicitário. As gravações se deram ao longo de 2015. Além de amigo pessoal, o Malosso é um profissional muito competente e perspicaz. Sempre dando ouvidos às sugestões e também sabendo pontuar os incrementos necessários para tornar nosso álbum o mais sofisticado possível dentro das capacidades da banda. Ficamos muito satisfeitos com essa parceria e sua cristalização! Levando em conta a imagem da capa, nos leva a crer que o 4Drive tem uma forte ligação com a natureza, tema abordado na faixa “Voiceless”. Vocês pretendem desenvolver mais este tema em futuros trabalhos? Acredito que o tema envolvendo natureza e sua preservação seja um que vai crescer nos debates dentro da sociedade. É fato reconhe25


cido que exercemos influência no ecossistema e consumimos seus recursos naturais para o progresso técnico de forma acelerada e compete a todos manter esse tópico em pauta. A vantagem da manifestação artística é o caráter universal da sua linguagem. Se pudermos exercer influência de forma positiva no sentido de elucidar o debate, por que não fazê-lo? Para desenvolver o tema, devemos entendê-lo profundamente. Se depender disso, acho que existe grande chance de desenvolvermos mais trabalhos tratando de assuntos ligados à natureza sim, além de outros que estão diretamen26

te vinculados. Diante da mudança do cenário na música com a queda das gravadoras e da indústria musical, como vocês avaliam o papel do áudio streaming através das plataformas digitais? Eu vejo o streaming como a forma mais eficaz e abrangente de divulgação dos trabalhos de uma banda, por exemplo. Tudo isso, é claro, ainda exige recursos financeiros e talvez uma ampliação das redes de conexão entre os artistas associada à viabilização da comunicação


próxima seja algo que tornaria ainda mais interessante essa ferramenta. A meu ver, ainda estamos no momento de transição da forma de usar a rede e, portanto ainda há muito que se descobrir para melhorar o acesso das pessoas interessadas no trabalho de artistas independentes das várias partes do mundo.

Talvez pelo fato de a rede mundial ainda ser de acesso restrito, a mídia física ainda tenha espaço na produção musical. Outra possibilidade da persistência desse modelo pode ser a necessidade de apresentar algo palpável àqueles que estão interessados no nosso trabalho, como um cartão de visitas, entende?

A banda também lançou a versão física do “Recycle” no formato envelope. Tendo em vista o fato que CDs não vendem, qual a opinião sobre a viabilidade de ainda produzir este material?

Top 5. Quais as cinco bandas que te influencia. Destaque um álbum e, se possível, teça algum comentário a respeito. As cinco bandas que mais influenciam minha forma de compor são Pearl Jam, Red Hot Chili

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Peppers, Led Zeppelin, Faith No More e Deftones. Sou muito eclético e creio que isso fique bem evidente nas linhas de baixo que componho. Para destacar uma banda, escolho Pearl Jam, pois a intensidade do vocal e a harmonia com o baixo sempre foi algo que me fascinou. Existem centenas de outros exemplos, inclusive nacionais, que também me deslumbram, como Titãs, Charlie Brown Jr. e até bandas antigas como Secos e Molhados, com linhas de baixo geniais. No final de 2016 lançaram o videoclipe para “Madman”. Por que escolheram 28

esta faixa? Comentem sobre o processo de produção do vídeo. A faixa escolhida foi “Madman” devido ao encaixe com o roteiro proposto pelo diretor Rodrigo Sarti e também com o orçamento. Vale lembrar que somos uma banda independente e os recursos de produção provém inteiramente do trabalho que temos paralelamente à banda. Com a ajuda dos parceiros do estúdio Influência e dos nossos amigos Guto Casella e Mayara Pires, esposa do Eduardo, conseguimos atingir um resultado que jamais esperaríamos. Ficou excelente e se tornou mais um motivo de orgulho!


Quais os planos e novos projetos para 2017? Ficamos muito satisfeitos e empolgados com a repercussão dos trabalhos desenvolvidos ao longo de 2016 depois do lançamento do álbum, do clipe e apresentações na região. Nosso foco para este ano é preencher uma agenda de shows para divulgar as músicas do álbum e as novas composições que estão prontas e a caminho. Além disso, está no cronograma a produção de um novo clipe e uma ampliação da divulgação do nosso trabalho nas redes sociais. Aproveitando, gostaria de agradecer em nome da banda pela oportunidade e sau29

dar o trabalho desenvolvido pela revista Rock Meeting para divulgar o Rock. O 4drive possui uma sonoridade mais alternativa, mas sempre procuramos manter a união entre todas as vertentes desse estilo que em minha opinião é muito versátil e capaz de tocar as pessoas de forma muito profunda. Respeito! Convido também os leitores a conhecer e acompanhar a banda através da página oficial no facebook e também das mais 20 plataformas digitais, incluindo Spotify, iTunes e Deezer. Obrigado e um forte abraço!


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Por Pei Fon (peifang@rockmeeting.net) Fotos: Banda/Divulgação

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niciamos 2017 com pedrada. Iniciamos com uma das bandas que faz gosto de escutar. Técnica, velocidade, letras apuradas. A realidade de uma cidade em forma de música, assim é o Lacerated and Carbonized. A banda traz, novamente, sua manifestação sobre a cidade do Rio de Janeiro à tona com o seu terceiro disco, “Narcohell”. Com opiniões realistas, conversamos com o Paulo Doc e Victor Mendonça sobre o seu novo play, inspirações, cena e o futuro. Acompanhe! Lacerated and Carbonized tem novo play na praça. Apresente “Narcohell” para nossos leitores. Victor – “Narcohell” é nada mais nada menos que o LAC em sua melhor forma. Trabalhamos arduamente a todo vapor na composição e na gravação desse álbum. O resultado pode ser conferido em todas as plataformas de áudio digital. Paulo – Quem acompanha a banda vai sacar a evolução do “Narcohell” em relação ao nosso trabalho anterior. A bagagem adquirida na correria dos shows, turnês e gravações ao longo dos anos nos fez crescer e isso se reflete de forma muito clara no álbum. Não preciso perguntar muito sobre a temática do álbum. Mas por que falar do lado ‘underground’ do Rio de Janeiro? O que desejam informar? Victor – Nós gostamos de retratar momentos que vivenciamos no nosso dia a dia. É muito 32


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mais fácil conceituar uma realidade diária do que uma história fictícia. Moramos em bairros rodeados por locais comandados pelo crime e em um país que é uma verdadeira piada, infelizmente. Além disso, cada um da banda já passou por momentos de terror em suas vidas. Portanto, falamos de algo 100% verdadeiro. Paulo – É impressionante como essa temática tem um impacto forte, principalmente fora do país. Muitos gringos têm no imaginário uma imagem idealizada do Brasil e do Rio de Janeiro como paraíso tropical e não tem noção da real dimensão dos problemas que rolam por aqui. De forma geral, trabalhar com esse tipo de narrativa funcionou muito melhor pro LAC do que tratar de temas clássicos do metal extremo, coisas puramente splatter. Nada contra as bandas que o fazem – afinal, a maioria das nossas bandas preferidas vão por esse caminho – mas é uma questão de identificação mesmo, porque temos conhecimento de causa para falar. Vivemos em meio a uma guerra civil não declarada. A capa do “Narcohell” já dá uma dimensão do que se espera. Fale um pouco da arte gráfica. Victor – A arte gráfica foi elaborada pelo Caio Mendonça, nosso guitarrista. Ele é responsável pela criação de todas as nossas artes, sempre com base no conceito sobre o qual trabalhamos. A capa abrange muitos elementos do submundo carioca. Lamentavelmente, não se trata de um devaneio, mas sim de um reflexo selvagem e cruel da realidade que o carioca é obrigado a presenciar e a sobreviver diariamente. Paulo – Encaramos todos os diferentes aspectos do nosso trabalho (músicas, letras, vídeos etc) como uma coisa só. Por isso a capa do disco tinha que estar alinhada à crueza que passamos nas letras. No final, conseguimos fa34


zer transparecer essa nossa realidade caótica e brutal. Música em português foi mantida. Porém duas faixas misturam inglês e português. Por que manter essa fórmula? Victor – A língua portuguesa tem expressões e características únicas. É possível traduzir a maioria das coisas para o inglês, mas outras específicas não ficam com o impacto que nós, brasileiros, estamos acostumados. Por isso, optamos por trazer alguns elementos em português pra que a coisa permaneça bem visceral. Paulo – É claro que estamos acostumados com a estética do inglês nas letras, mas muitas bandas têm provado que outras línguas também soam muito bem no contexto do metal. Hoje em dia o banger está acostumado a ouvir bandas gravando em alemão, espanhol e até em línguas escandinavas. Especificamente sobre o português, bandas como Claustrofobia, Ratos de Porão, Confronto e outras já mostraram que o resultado é animal. A mixagem e masterização de “Narcohell” ficaram nas mãos do Andy Classen novamente. O que motivou a continuar com ele? Victor – Sabe aquele ditado: se não quebrou, não conserta?! Então, isso é o LAC. O Andy Classen é um produtor que entende nossa música e, ao mesmo tempo, sabe o que queremos. É uma pessoa super fácil de se trabalhar e provavelmente vamos retornar a ele para o próximo trabalho! Vocês têm o cuidado de produzir o próprio material. O que isso agrega no produto final? Victor – Produzir seu próprio material não é nada fácil, mas fazemos isso para ter cer35


teza que o resultado final irá sair conforme o planejado e, acima de tudo, nos satisfazer. Na maioria das vezes, quando algo desse nível é terceirizado, infelizmente fica difícil deixar sua característica no produto final. Mesmo quando não estamos de frente, sempre estamos supervisionando com 8 olhos. Paulo – Acho importante também destacar o trabalho do Felipe Eregion, que co-produziu o trabalho em conjunto com a gente. Nos conhecemos há anos e temos uma relação de amizade enorme. Ele foi um cara que conduziu o trampo ali junto, contribuindo muito pra que a gente extraísse o que tinha de melhor. Quando você começa a ouvir o “Narcohell” já entra numa pedrada, “Spawned in Rage”. Chegar ‘chegando’ era a intenção? Victor – Exatamente! Não somos uma banda de rodeios, gostamos de ser simples e diretos ao ponto. Paulo – A primeira música de um álbum é sempre uma escolha importante, porque ela meio que molda a opinião de quem está ouvindo e serve de parâmetro para o trabalho. De fato, a gente quis mostrar que não tava de brincadeira, que o disco era uma pedrada na cabeça. O som continua visceral (como tem que ser), expressivo e marcante. O death metal responde bem para o que vocês pretendem transmitir, não é? Victor – Nos auto-rotulamos como Death Metal, mas ouvindo as nossas músicas com atenção você pode sentir influências que vão de Rock n’ Roll ao Death Metal propriamente dito. Definitivamente não somos uma banda que fica se prendendo no momento da composição, gostamos de ser bem soltos na criação. Se soa bem e nos deixa satisfeito, por que não? 36


Essa sinergia predomina em nossas composições. Na minha opinião, isso sim é arte acima de tudo. Paulo – Rótulos existem por uma questão mercadológica, pra posicionar a banda em meio a um determinado nicho. Porém, como bem disse o Victor, as composições representam o que sai ali dos quatro juntos, no estúdio, botando pra fuder. E aí você vai naturalmente deixando transparecer as influências de cada um. O Death Metal é a nossa raiz, com certeza, então as composições se identificam com esse gênero predominantemente, mas não tem essa de predefinir como algo vai soar de antemão. Nossa única regra é que, como fãs, temos que sentir que aquela música está matadora, empolga, marca. É o que basta. Com toda certeza a faixa-título do álbum é a minha preferida. Os elementos que procuro ouvir no death metal estão lá. Penso que ao vivo seja uma experiência sensitiva impressionante. Victor – “Narcohell” também se encontra dentro das minhas preferidas e só tenho lembranças satisfatórias das vezes que tocamos essa música na última turnê. Acho que todo o trabalho duro que você emprega no processo de composição não é pago com cachê e sim com o público curtindo e te apoiando ao vivo. Essa é a melhor sensação do mundo. Paulo – O maior termômetro pra saber se uma música funciona é a reação do público. ‘Narcohell’ foi uma das músicas em que a galera mais agitava ao vivo, mesmo quando a colocamos no setlist antes do álbum ser lançado. Assim, sabíamos que era uma boa composição. “Parallel State” é uma instrumental com influências bem nordestinas. Fale um pouco sobre essa faixa. Imagino o enredo de um videoclipe com foco na 37


política, polícia, corrupção. Victor – Sim. Por baixo da percussão desse instrumental existe um surdo e uma caixa bem baião com passagens regionais. Tentamos misturar basicamente todo o swing cultural brasileiro em uma só faixa. Gosto de me referir a esse instrumental como se fosse uma introdução a faixa Hell de Janeiro, pois quando escuto, sinto um sentimento de desesperança relacionado à política, polícia, tráfico e corrupção. O que vocês podem falar do death metal feito no Brasil? O que conhecem das bandas do Nordeste? Victor – Na minha opinião é um dos melhores do mundo! Cresci ouvindo Krisiun, Rebaelliun e Nephasth. Acredito que pelo fato de no Brasil tudo ser difícil, o brasileiro tem essa coisa de fazer o que gosta com sangue nos olhos. Essas bandas ao vivo não deixam nada a desejar para as bandas gringas. É uma explo38

são no palco de impressionar. De Death Metal nordestino posso citar o Headhunter, que já está na estrada há um bom tempo. Sou fã e tem total meu respeito. Paulo – O Nordeste tem muita banda de qualidade inquestionável. Alkymenia, Empty Grace, Hate Embrace, Escarnium… a lista é interminável! Como anda a cena rock/metal no Rio? Victor – O Rio de Janeiro tem uma cena Rock/Metal muito forte. Sempre rolam bons eventos no underground com excelentes bandas para se assistir. Aproveito o momento para reiterar a importância da galera que tem banda comparecer aos eventos. As pessoas que se consideram parte do underground também precisam ir aos shows, comprar material e fazer a coisa acontecer. É bem melhor do que ficar filosofando em rede social e falando que o rock/metal morreu. Paulo – Assim como no resto do país, a cena


já viveu dias melhores em relação ao engajamento do público. Porém, acredito muito que essas coisas são cíclicas e que a tendência é melhorar quando todos os envolvidos caminham em direção à profissionalização. É bom ver que o surgimento de muita gente competente agitando eventos, trazendo bandas e dando o sangue pelo metal. Top 5. Quais bandas inspiram o som da LAC. Comente um pouco sobre cada uma. Victor – Temos um background musical bem diferente de um pro outro, mas vou tentar abranger um pouco dos cinco nessa resposta. Sem ordem de preferência, segue: Black Sabbath – Por ser basicamente o início de tudo e por tudo que fizeram pelo Heavy Metal. Slayer – Pela violência musical, temática e letra. Cannibal Corpse – Por criar excelentes 39

músicas, por ter lançado álbuns fantásticos e pelo fato de que tudo que é feito na gravação ser executado ao vivo. Motörhead – Pela atitude Rock n’ Roll. Iron Maiden – Por causar um grande impacto na vida de qualquer headbanger. Para finalizar, o que podemos esperar do LAC para 2017. Muito obrigada e sucesso para todos. Victor – 2017 vai ser curto! Queremos promover o Narcohell ao máximo. Estamos agendando uma turnê brasileira, uma na América do Sul e estaremos em uma longa turnê na Europa tocando em alguns festivais europeus no verão. Fiquem ligados em nossas redes sociais, pois vamos soltar novidades em breve! Paulo – Obrigado à Rock Meeting pela entrevista e a todos que acompanham o LAC ao longos dos anos. Tenham certeza de que trabalhamos duro pensando em vocês e em levar o metal brasileiro a um lugar de destaque.


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Por Pei Fon (peifang@rockmeeting.net) Fotos: Damangar

Vindo do Recife, a banda Confounded pretende lançar seu primeiro álbum este ano e fomos conversar com eles. A banda é formada por Beto Nascimento (bateria), Marcelo Godoy (guitarra), Diogo Dias (guitarra), Léo Montana (vocal) e Fabio Montarroios (baixo). Praxe. Por favor apresentem-se para nossos leitores. Somos a Confounded, tocamos death metal, formada no final 2012. Toda banda inicia pela vontade de amigos. O que essa relação de amizade favorece no Confounded? Sim com certeza, na Confounded não é diferente. O que favorece bastante é justamente a amizade que temos de longas datas, para nós o mais importante é sermos amigos acima de qualquer coisa, e toda essa amizade ajudou bastante para que a banda se fortalecesse logo no seu início e permanece assim até hoje. Com a proposta de mesclar estilos, a banda faz um som cru e enérgico. Como foi o processo de escolha da musicalidade? Então, todos da banda curtem muito o estilo death metal, sendo assim foi mais simples na hora de compor as músicas, gostamos de fazer esse som agressivo e direto sem muita frescura (risos). 42


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Assassinos em série, conflitos existenciais, desigualdade social são algumas das temáticas abordadas nas letras. A inspiração vem da vida e de leituras? Conta para nós. A situação do mundo atualmente é bastante inspiradora, embora letras que abordam conflitos internos sejam nossas preferidas, as pessoas se identificam com aquilo que elas podem sentir na pele, embora também gostemos de situações extraordinárias, baseado em filmes que vemos ou livros que lemos. A banda se prepara para lançar seu primeiro full. Como está o andamento desse play? Tem nome, data? O que pode 45

nos adiantar? Sim, já estamos na fase de pré-produção do disco, após o carnaval começaremos as gravações e pretendemos lançar até o começo do segundo semestre desse ano. O nome do álbum é “Regnum Animale”, as artes do disco, como encarte, capa, etc, ficará por conta do nosso amigo e parceiro Alcides Burn, e produção de Adriano Duprat Lemos. Desde 2012 vocês lançaram dois singles e um EP. Como tem sido a resposta do público? A resposta sempre foi muito positiva, tanto dos críticos quanto do público e estamos devendo um full álbum pra toda galera que curte nosso som e nos apoia.


As apresentações têm acontecido em eventos underground, porém em 2016 vocês estiveram no Abril Pro Rock. O que mudou de lá para cá? A visibilidade foi boa? O Abril Pro Rock nos deu uma incrível visibilidade, aumentou significativamente as vendas de merchandising, e nos inseriu nos mapas de grandes shows de grandes produtoras que rolou em 2016 e que também irá rolar em 2017. Inspiração musical. Bem sabemos que toda banda busca referência. Quais são as do Confounded? Nossa maior preocupação com relação as composições é estar sempre buscando uma identi46

dade, criar um som com ganchos, pontes, riffs que façam com o que pessoal que saquem nosso som encontre uma espécie de marca registrada, nas composições como um todo. Isso é o mas importante nós. 2017 já iniciou, mas velhos hábitos transcendem o tempo. Qual a visão de vocês sobre a cena rock/metal, no geral? O público comparece? O produtor não honra, a internet desfavorece? Qual a opinião de vocês? O público sabe o que quer, muitas vezes não comparece devido a vários fatores e o principal seria o financeiro. Rolam muitos shows e às vezes as pessoas tentam se programar, mas nem sempre dá pra ir a todos devido a


essa questão, produtores sérios cumprem com seus compromissos mesmo diante de suas adversidades e acreditamos que o público deve comparecer em peso. A internet ajuda muito na divulgação desses eventos e as pessoas comentam bastante nas redes socais. Vocês são do Recife, um dos ótimos celeiros do underground. Vocês mantêm contato com bandas de outros estados? Sim, temos muitos amigos de bandas de outros estados e sempre estamos em contato para sempre fazer um rolê juntos e fortalecer a amizade. Virou um bordão de que no Nordeste tem o melhor público. Concordam? 47

Não um bordão, podemos falar que o Nordeste está bem vivo, até mesmo no underground, e tem bastante banda de todos os estilos, a cultura underground está cada vez mais rica, com muitas bandas boas, de norte a sul do país. Por fim, ano novo, planos novos. O que pretende fazer este ano? Sucesso e muito obrigada! Como já havíamos divulgado o nosso maior plano é lançarmos o full álbum e acreditamos que a partir daí muita coisa irá acontecer, estamos empenhados e trabalhando forte pra tudo isso acontecer. Obrigado pela oportunidade da entrevista e iremos com tudo em 2017. Abraços!



Por Erick Tedesco Entrevista cedida pela Masque Records Foto: Divulgação

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o Peru, a Flor de Loto lançou em 2016 o acima da média “Árbol de la Vida”, o oitavo álbum de uma discografia diversificada, guiada pela filosofia progressiva, no entanto, plural em termos de melodias, experimentos com o peso do heavy metal e, principalmente, sem medo de vez ou outra colocar instrumentos étnicos à frente da música. Conversamos com o guitarrista e vocalista Alonso Herrera, que criou a banda em 1998, um guerreiro e apaixonado pelo trabalho, que este ano levou a Flor de Loto pela segunda vez à França, além da apresentação como banda de destaque em um festival na Guiana Francesa. Da impactante participação do vocalista Fabio Lione em “Árbol de la Vida” à vontade de mais 49

uma vez tocar no Brasil, a entrevista exclusiva à Masque Records é um presente de início de ano aos nossos amigos, clientes e seguidores! Instrumentos típicos da cultura peruana são essenciais à proposta da Flor de Loto e que faz da banda referência no universo do progressivo da América do Sul. Quais são as particularidades da Flor de Loto em fundir metal/rock com sonoridades regionais? Antes de mais nada, obrigado pela entrevista e apoio à banda. Sem dúvida, acredito que o diferencial da Flor de Loto dentro da cena de prog rock ė a fusão de estilos. Desde que começamos nos pareceu interessante mesclar metal


progressivo com elementos do folclore latino americano, em especial o peruano. Utilizamos instrumentos de sopro, alguns típicos de nossa cultura musical, como a quena, o charango e as zanponas, além da flauta transversal. Isso nos traz um ótimo feedback, sobretudo nos shows realizados no exterior, por isso sentimos há muito tempo que era nosso caminho a seguir e faz tempo que é a nossa marca. A Flor de Loto voltou à França depois de oito anos e fez um belíssimo show no Festival Crescendo, em Saint Palais, para divulgar o mais recente álbum, “Árbol de la Vida”. Como foi esta nova experiência na Europa? 50

Foi, sem dúvida, a experiência mais intensa de nossa carreira. Já tocamos em muitos países e vivido coisas muito gratificantes, mas esta última vez na França foi realmente especial. Os meios de comunicação franceses tinham uma expectativa grande por nossa chegada e muitos se lembravam da nossa apresentação em solo francês em 2008, no entanto, a reação no show e o carinho durante todo o festival desta vez foi enorme. Vendemos todos os discos que levamos e creio que deixamos uma boa impressão. Teve gente que viajou horas para nos ver, inclusive gente da Inglaterra e Espanha. Isso, de fato, não se vê todos os dias. A autenticidade das bandas sul-ameri-


canas que mesclam rock/metal com sonoridades folclóricas ainda é entendida pelos europeus como algo exótico ou já compreendem que esta fusão é parte de nossa formação cultural, o que nos torna sul-americanos e flui naturalmente? Totalmente natural. Acredito que se foi abrindo um caminho de acolhimento, incluindo canções em castelhano. Esta última experiência na França me fez entender que as pessoas compreendem muito bem a mensagem desta fusão, que não é simplesmente tocar melodias de rock com instrumentos exóticos, mas sim uma proposta musical de identidade própria, que chega de uma forma acessível e como uma interessante alternativa, bastante adaptável, a outros gêneros do rock, metal e progressivo. Sobre o novo álbum, “Árbol de la Vida” é a definitiva transição da Flor de Loto do rock ao metal progressivo? O oitavo álbum é definitivamente um novo ponto para a banda, similar ao que foi há alguns anos o disco “Império de Cristal” (2011), isso porque conseguimos dar um passo adiante e evoluímos a sonoridade da Flor de Loto, com mais elementos de metal progressivo, mas sempre mantendo nossa marca da fusão. Agora temos uma sonoridade mais fresca, mais moderna que dos discos anteriores, sem perder a força e versatilidade. Pode ser mais metal, mas mantém a estrutura do progressivo, com variações e momentos distintos, como se fosse uma viagem. Estamos muitos felizes com o resultado. Escutei mais peso do metal neste disco, ao mesmo tempo em que ainda aparecem muitas melodias e as variações do progressivo. Foi complexo compor e gravar “Árbol de la Vida”? Foi um processo semelhante aos de discos 51


anteriores. Já tinha vários rascunhos trabalhados junto ao Enrique Fernandez, um produtor local, e em seguida com toda a banda reunida começamos a “florlotizar” as músicas. O mesmo processo aconteceu com os temas de Alejandro Jarrin. O baterista Alvaro Escobar voltou para gravar este disco, ele ficou um ano fora da banda e este foi um ponto muito importante, já que toda a elaboração da sonoridade da bateria foi minuciosamente trabalhada para se obter o resultado esperado. Foi um processo de pré-produção saudável e acredito que estas ideias foram bastante pensadas até o produto final. Assim como nos discos anteriores, “Árbol de la Vida” tem diversos temas instrumentais. Por quê? Desde o começo a Flor de Loto dá atenção ao lado instrumental, que é muito importante para nós e mantido ao passar dos anos. Pensamos que os temas instrumentais também comunicam e se conectam com o ouvinte. Além disso, vários dos temas criados por Alejandro são instrumentais e é a outra metade da banda, um lado fundamental. Neste disco se sente claramente que estes temas instrumentais dão um importante balanço e criam climas interessantes, como em “Cruz del Sur” ou “Décimo Planeta”. A música “Regression”, a única cantada em inglês neste álbum, tem a participação do vocalista italiano Fabio Lione (Angra, Vision Divine, Eternal Idol). Ter um tema em inglês é uma oportunidade de adentrar ao mercado fonográfico americano e ainda mais no europeu? Acredito que sim. Muitas pessoas do estrangeiro começaram a seguir e conhecer a banda desde que lançamos esta música. No entanto, assim como tudo que fazemos, não é uma jo52


gada que tenha como principal objetivo algo comercial. Fizemos porque somos fãs de Fabio e, a título pessoal, ter a participação dele num álbum da Flor de Loto é realmente um sonho que virou realidade. Penso, além disso, que abre uma nova vertente à banda, de ter vocalistas convidados. Gostamos da experiência e manteremos esta prática. Estiveram com Lione na gravação? Aliás, ele fez um belíssimo trabalho em “Regression”. Como posiciona esta canção na discografia da banda e para a história da Flor de Loto? A participação de Fabio foi virtual, ele nos mandou as guias de sua voz para a mixagem final. É um grande profissional e um excelente vocalista que fez um ótimo trabalho conosco e, definitivamente, um marco na história da banda. Este disco não seria o mesmo se não 53

tivesse a colaboração do Fabio. E quanto ao Brasil, planos para um retorno? Quais são as lembranças das apresentações por aqui em 2006 e 2009? Há tempos queremos voltar. Desde 2009 tem gente que nos pede para voltarmos e infelizmente ainda não foi possível. Espero que, com este novo disco, tenhamos a oportunidade. Temos boas recordações de ambas as visitas e gostaríamos muito fazer da próxima vez uma turnê mais extensa, já que nas últimas vezes tocamos apenas no Rio de Janeiro e em Macaé. Tomara que esta entrevista possa difundir melhor nossa música pelo Brasil. Acredita que o Brasil fica um pouco distante do prolífero intercâmbio cultural entre os países da América do Sul por-


que é o único país que não fala oficialmente o espanhol? Sei que tem muita gente que pensa isso, mas não acredito que necessariamente tem que ser assim. O Brasil é enorme, assim como a cena musical do país, e esta ideia pode ser um pouco assustadora. Isso não atrapalhou em nada nossas experiências em solo brasileiro e a recepção foi boa. A Flor de Loto é, hoje, a principal banda de rock do Peru? Sim, somos hoje a principal banda no Peru. A cena musical peruana é difícil e nos custou muito ter um reconhecimento nacional e hoje tem cada vez mais meios de comunicação que nos apoiam, isso não podemos negar, e o ditado neste ponto é bem aplicado: “não existe profeta sem sua terra”. Apesar das dificuldades, cada vez surgem mais bandas interessan54

tes por aqui. Recomendamos Shakken, Superconductor, Testa Barbada, entre outras. Alonso, você começou a tocar em 1998 e já levou a Flor de Loto para França, México, Brasil, Guiana Francesa. O que a música e estas viagens ensinaram? Há tempos a música é algo fundamental para minha vida e a Flor de Loto é um essencial alimento emocional. Mas a experiência de levar nossa música fora do Peru e sermos bem acolhidos é algo que não tem preço, que já deixou recordações incríveis na minha memória, para sempre. Assista ao clipe da música “Regresión”. Bandcamp. Membros: Alonso Herrera (guitarra e vocais), Alejandro Jarrin (baixo), Junior Pacora (instrumentos de sopro, charango e backing vocals) Alvaro Escobar (bateria), Pierre Farfán (guitarras).



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