Rock Meeting Nº 81

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EDITORIAL

Por que não falar de política? Algumas postagens chamaram a atenção dos antenados em política. Não, não vamos discursar a favor ou contra determinado partido. Só queremos entender qual é a da cena rock/metal quando é o assunto é política. De alguns movimentos até compreendemos o ponto de vista sobre um dos pilares que rende argumentos nas rodas de discussão. Em outros casos, não conseguimos entender nem de que lado estão. A atual crise brasileira tem mostrado o quanto as pessoas têm sido manipuladas, sabem pouco e são levadas ao erro. O preocupante é que a dita ‘opinião’ vem de outra pessoa. Por exemplo, se o seu cantor/músico preferido escreve sobre qualquer assunto, aquelas palavras vão virar parâmetro para alguns. O que assusta é quantidade de gente que não pensa, não reflete, não busca entender o

momento. Não é possível que ninguém enxergue o hoje como um apanhado histórico importante e que está fazendo parte de tudo isso. Lamentável. Mas é preciso ler muito sobre o assunto e construir suas próprias conclusões. Já para os que expõe sua opinião, alguns acham que é oportunismo expressar de que lado politicamente você está. Afinal, o metal num é um meio livre onde se pode expressar o que quiser? Num se fala de religião a torto e a direito? E não é chamar atenção. Seria querer chamar atenção por dizer que não gosta de tal persona política? Ou seria? Parafraseando e adaptando um verso do nobre escritor inglês: “Há algo de podre no reino do rock/metal”. Não dá para entender muita coisa. O povo que mais pede união é o mesmo que desune. Está tudo errado!


TABLE OF CONTENTS 06 - News - World Metal 10 - Lapada - Metal nĂŁo ĂŠ MPB 16 - Entrevista - Vallet 20 - Entrevista - Sangrena 30 - Capa - Sunrunner 44 - Entrevista - Burn the Mankind 56 - Entrevista - Imperious Malevolence 66 - Entrevista - Codmorse 74 - Perfil RM - Fabiano Penna (Rebaelliun)


Direção Geral Pei Fon Capa Alcides Burn

Colaboradores Alex Chagas Jonathas Canuto Marcos Garcia Mauricio Melo (Espanha) Maicon Leite Raphael Arízio CONTATO contato@rockmeeting.net RockMeeting.Net


Foto: Marcelinho Hora

‘Unconscience’

Foto: Solution Home Studio

Uma das grandes esperança do Technical Death Metal nacional, a banda oriunda de Sergipe, [Maua], acaba de lançar seu novo trabalho. Trata-se do álbum ‘Unconscience’, lançado oficialmente no festival Abril Pro Rock, e que agora está disponível para venda. O trabalho, além de contar com um belo trabalho visual criado pelo artista indiano Sajid Wajid Shaikh e vem embalado em um belíssimo digipack. O tema de ‘Unconscience’ segue como sequência das ideias do EP ‘Conscience’. Neste as letras falam sobre o inconsciente que vai da loucura, do devaneio, das atitudes tomadas por inconsciência. O trabalho foi gravado nos DR5 Estúdio e Aero Estúdio com produção de Alex Prado Souza e do próprio [MAUA]. Um clipe para a música ‘Resist’ foi lançado. As imagens foram captadas no evento Trincheira Rock/Metal na cidade de Lagarto/SE por Marcelinho Hora e Luã Hora. A edição ficou a cargo de Júlio Andrade. Assista o vídeo AQUI.

bandcamp

Novo álbum

Aproveitando o embalo do lançamento apenas digital de seu álbum ‘Fúria’, o Harder escolhe o Bandcamp como sua principal estadia na internet. Todo o material já lançado pelo grupo está disponível na plataforma: o single ‘Heart Of Pain’, o álbum ‘Fúria’ e sua versão alternativa, ‘Essential For Fúria’. Acesse AQUI. Recentemente o Harder anunciou que para melhorar ainda mais o novo álbum, decidiu fazer nova mixagem e masterização de ‘Fúria’.

O Shadow Legacy segue trabalhando pesado em cima de um novo trabalho. Para aliviar um pouco nossa espera, o grupo comenta sobre o que podemos esperar. “Estamos com praticamente 80% do novo álbum pronto e tudo está fluindo com muita naturalidade. Além do heavy metal apresentado nos lançamentos anteriores, podem esperar muito feeling e muita pegada, as músicas estão com uma atmosfera muito legal e com climas realmente diferenciados”. Escute a banda AQUI.

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“AlieNation”

Foto: Synara Rocha

A banda paulista de thrash metal Blackning lança em 1 de junho o segundo disco da carreira, ALieNation, sucessor de Order of Chaos que marcou a estreia do grupo de Santo André há dois anos. Cleber Orsioli (vocal e guitarra), Francisco Stanich (baixo) e Elvis Santos (bateria) se mantiveram fiéis ao universo que criaram em 2014 evocando sonoridades agressivas, melodias versáteis que trazem fôlego novo ao gênero e letras recheadas de críticas sociais. “ALieNation é um jogo de palavras entre Lie e Nation (mentira e nação, em português) para falar de uma população imersa em mentiras e em situações alienantes como vingança e autoritarismo político ou seja, uma nação de mentiras”, explica o vocalista Cleber Orsioli. O álbum conta com participação especial dos músicos André Alves (Nitrominds/ Musica Diablo/ Statues of Fire) e Lohy Silveira (Rebaelliun), produção de Fabiano Penna (The Ordher/ Rebaelliun) e masterização de Neto Grous, da Absolute Master. Assista o teaser do novo álbum AQUI.

Arte do novo álbum

“House of Madness”

Tendo lançado recentemente o clipe para a música “Let There Be Thrash”, a banda carioca Forkill anuncia novidades sobre seu segundo álbum, dentre elas, o responsável pela arte da capa. O escolhido para ilustrar o sucessor de “Breathing Hate” é o artista curitibano Ezequiel Romankiu, que se ofereceu para fazer a arte após assistir um show da banda no Rio de Janeiro, numa das temporadas em que esteve tatuando no estúdio Le Grand Burlesque Tatouage, de Copacabana.

A banda Curitiba de Death Metal, Death Chaos, disponibilizou o primeiro Lyric Vídeo do EP “Prologue in Death & Chaos”, a música escolhida é “House Of Madness” que conta a história de uma família de Serial Killer que atraem suas vitimas para após captura-las as matam com requintes de tortura e crueldade. A banda vem se organizando para lançar o EP em versão física ainda esse ano com distribuição a nível nacional e internacional. Assista “House of Madness” AQUI.

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“Rise Of A New Strike”

Comemorando 25 anos

Os recifenses do Pandemmy divulgaram o título, a capa do segundo álbum oficial da banda. “Rise of a New Strike” faz alusão às transformações que o Pandemmy sofreu desde o lançamento do debut álbum ‘Reflections & Rebellions’, em 2013, e destaca o amadurecimento de sua sonoridade. A arte de “Rise Of A New Strike” foi desenvolvida pela Deafbird Design Lab. A previsão de lançamento virtual é para o próximo mês de agosto. Enquanto não chega, escute o som da banda AQUI.

A banda Tumulto está completando 25 anos de história e para marcar esta tão importante conquista, a banda decidiu rever seu primeiro trabalho, regravando o histórico split LP lançado em 1991, junto com o Morthal. O novo “Conflitos Sociais” virá acompanhado de três faixas extras. A turnê de lançamento já tem datas em Curitiba, em cidades de Santa Catarina e Foz do Iguaçu. “Nada melhor para comemorar 25 anos com o trabalho que deu início a tudo”, conta o baterista Márcio Duarte.

destaques do HArd/heavy

Foto: Dean Claudio

Desde que foi lançado, “Future Into Dust”, debut álbum do Aeon Prime vem arrancando elogios por onde passa. O famoso site Whiplash classificou o material como “mais um dos destaques do cenário hard/ heavy nacional” e completou “um ótimo trabalho, de uma banda que tem tudo para se firmar na cena brevemente”. “A música do Aeon Prime se destaca pelo conjunto, pela solidez da banda como um todo, já que arranjos e dinâmica entre os instrumentos privilegiam justamente a força da fusão dos talentos individuais. É bem feito, com muita melodia e energia de sobra” resenhou o Metal Samsara. “Future Into Dust” foi produzido, mixado e masterizado por ninguém menos que o renomado produtor Pedro Esteves (Liar Symphony) e contou com “coaching vocal” de Leandro Caçoilo (Seventh Seal). Além de poder comprar o álbum físico diretamente com o AEON PRIME, ele pode ser encontrado na loja da Die Hard. Também foi disponibilizado o primeiro single. A música escolhida leva o título de ‘Coliseum’. 08



Deixa de ser babaca e acorda! O fato é: o Brasil está vivendo um momento muito crítico em sua história. Creio que o leitor deve estar arrancando os cabelos de raiva, desde que o ex-presidente Lula foi levado à sede da PF para depor, devido à overdose de posts polêmicos e chatos dos mimimilitantes políticos de nosso país. No caso, o que acontece é: o sujeito vai lá, ainda moleque cheirando a leite, entra em algum curso universitário. E surge aquela criatura pérfida e maligna, usando a oratória ensaiada para converter aquele(a) ‘inocente’ em um tonto socialista. Se este indivíduo tinha alguma tendência ao Rock ou ao Metal, começa o bombardeio ideológico nessas fábricas de imbecis que chamamos de universidades (detalhe: o pregador em questão ganha quase dez vezes mais que um brasileiro fudido, e está lá para ensinar, e não para doutrinar). Pronto: o ‘espertos’ se acham o sabe-tudo, o pica das galáxias, o entendido (ofereço

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a eles e elas o refrão de “The Philosopher”, do Death). E o Rock começa a dar espaço, ou para a vertente deste nacional dita engajada – coisas como legião urbana (que pessoalmente, eu acho insípido em termos líricos –, ou então à falida Música Para Babacas, conhecida por todos como MPB. Sim, este que vos escreve odeia este estilo musical com todas as forças, seja qual vertente que for, seja quem estiver fazendo-a. E motivos não faltam!


Antes de tudo: durante o regime militar no Brasil, que durou de 1964 até 1985, esses sujeitos faziam apologia ao socialismo/ comunismo. Ok, liberdade de expressão é um bom argumento para defesa. Mas se o regime fosse tão rígido assim, será que os sujeitos que vemos hoje ainda estariam vivos? Uma bela pergunta a ser feita, não acham? Não, não estou querendo inocentar o regime militar, apenas questionando o que é propagado por aí, o quão grave realmente

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foi esta história toda. Aliás, quem conhece algum militar da época sabe quantos soldados foram mortos por Marighella e seguidores. Ou seja: dois lados opostos, mas a única verdade é que quem pagou com sangue foi quem era pequeno dentro dos escalões. O pobre, fodido e doutrinado davam a cara a tapa, enquanto os “camaradas” mais altos sumiam do mapa, e governavam o país até pouco tempo. Voltando a Música Para Burros, o tem-


Foto: Juliana Torres

po de vencimento dela já passou há anos, mas este zumbi nojento continua por aí atormentando as pessoas, como uma maldita assombração que nem o querido Zé do Caixão seria capaz de conceber. Aliás, creio que José Mojica teria medo de pensar em um espectro desse tipo. A motivação de meu nojo, minha repugnância a este estilo musical, aos seus artistas e fãs, não é meramente ideológica, algo como um confronto: esquerda mortadela X direita coxinha. Mesmo porque sou um Neoliberal assumido, e estou tendo diarréias para ambos os lados, que não me representam, ou tem algo com este autor ouvir Metal (até porque sou mais eclético). É histórico! Conforme atestado pelas palavras de

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um editorial da revista Roadie Crew, eis que os roqueiros dos anos 70, nossos antecessores, eram severamente boicotados nos grandes festivais de música da década pelos artistas da MPBosta. O motivo: Rock é música de gringo. Quantas e quantas vezes essa turma chamava a geração dos anos 70 (e nós, que entramos no cenário em meados dos anos 80) de “malucos cabeludos” ou coisas do tipo. Aliás, pode ser que este estigma que todo headbanger carrega de ser visto como “maluco”, “doido” ou algo similar venha dessa turma de vagabundos e não da igreja ou dos militares e conservadores em geral, que podem ter herdado deles. É algo a ser pensado, já que o Rock e o Metal só irão fincar os pés no Brasil e


se consolidarem como estilos em meados dos anos 80, ou seja, a posteriori. Outra é a famosa “marcha contra a guitarra”, de 1967. A estupidez da marcha disso ou marcha daquilo, ao invés de votarem direito e exigirem uma melhor educação para o povo, é bem antiga. Aliás, é bem tacanho quem acredita que marchas, ou enfiarem imagens de santos no bufante ou na perseguida vai resolver algo. Aliás, registre-se aqui ainda: na década de 70, Alice Cooper e Van Halen estiveram no Brasil, assim como o Kiss passou por aqui em meados de 1983, o primeiro Rock in Rio foi todo arquitetado e burocraticamente acertado ainda no governo militar. Lembrando: Tancredo Neves, primeiro presidente civil do

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Brasil após 21 anos de regime, foi eleito em janeiro de 1985, ou seja, no meio do festival. Traduzindo: o governo civil nada teve com o evento. Por estes motivos, a repressão dos militares não aparenta ser o que alguns “profissionais” em educação, de pensamento de esquerda, por aí afirmam de pé junto. Afirmo isso por ser testemunha da coisa toda, não li em algum lugar por aí. “Ah, mas ela é uma música brasileira” alguns desinformados podem dizer. Falso, já que a base do gênero vem de algum “groove” caribenho, fundido à percussão do africano (que, aliás, é bem descaracterizada na MPB ou no próprio Samba. Vá a um terreiro de Candomblé e verá a essência do que digo), mas a maior contribuição vem de um gênero musi-


cal espanhol. Essa é a base do Samba, que por sua vez, é responsável por mais de 50% da base musical da Música Para Bostas. Ou outros 50% vem do jeito americano de se tocar Jazz. Sim, é contraditório, mas como parece que a esquerda é seletiva nas suas afirmações, estes fatos são escondidos do conhecimento de todos. Aliás, nem faz sentido alguém das áreas que cito acima falar em nacionalismo, já que a pregação dos mesmos em certos países é o “multiculturalismo” (que inclusive já rendeu ofensas ao Heavy Metal). Mesmo contribuições regionais como xote, baião, música sertaneja (a verdadeira, por favor, não as distorções que ouvimos por aí) sofrem grande influência de músicas de fora, algo assombroso. Na realidade, a música de raiz do brasileiro é a música do índio, e

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sendo ainda mais sincero: a única referência indígena na música hoje é o grupo brasiliense Arandu Arakuaa, uma banda de Metal, não da MPBurra. Para jogar a pá de terra nos cornos de uma vez por todas: já viu algum dos músicos mimimilitantes (aqueles mesmos que estavam fazendo eventos e dando declarações contra a extinção do Ministério da Cultura) querer ir morar em Cuba, Coréia do Norte, China ou outro país de cunho socialista? Querem ir para Paris (uma pena que nos ataques terroristas de 13/11/2015, atacaram um show do Eagles of Death Metal, e não a casa do mesmo), Inglaterra (lembra da fadinha rebelde e fogueteira? Queria implantar no Brasil o regime de Cuba e Venezuela, mas pediu asilo na mãe do Capitalismo) e Nova York. E com


seu dinheiro! Permitam-me mais um ponto: o fim do MinC. Só vi chorar por ele quem, aparentemente, ganhava muito dinheiro via Lei Rouanet. E isso em projetos auto-sustentáveis, mas onde foram cobrados ingressos. Tudo bem, mas por que raios o governo entraria com dinheiro para promover um evento “cultural” (me perdoem, mas aquela peça de um monte de idiotas pelados enfiando a mão e cabeça um no rabo do outro não sai da minha mente) e o povo, que em tese já pagou com o dinheiro da lei Rouanet, tem que pagar ingresso de novo? Oras, isso é hipocrisia! E, além disso, quantos artistas nacionais são engajados em causas culturais e não conseguem ter projetos aprovados como Voodoopriest, Miasthenia, o próprio Arandu

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Arakuaa, Armahda e tantos outros? Eles não são da MPBunda, mas prestam um serviço à educação e cultura do Brasil bem maiores que os contemplados! Ou seja: parafraseando e adaptando “Hamlet”, de Willian Shakespeare, “há algo de podre no reino do MinC!”, e é gritante! Se é para isso que o MinC existia, sinto muito, mas poderia continuar não existindo e sendo apenas mais um setor do Ministério da Educação. Concorde ou discorde, não me encha o saco. Encerrando: já falei antes da tolerância a outros estilos musicais, mas com a Música Para Birrentos, a MPBucéfalo, a tolerância é zero!


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banda Vallet começa a trilhar o seu caminho com músicas próprias. Outrora uma banda cover, agora a banda começa se destacar com seu single “ How Much Love’, um Hard Rock com grandes toques de AOR. Vamos ver com a banda como foi feita essa mudança para o som autoral e como andam os planos para o lançamento de seu primeiro E.P.

Mark - Lançamos o single em janeiro de 2016, com a proposta de consolidar nosso trabalho. Claro que tínhamos expectativas, e acreditamos que foram alcançadas. Ainda estamos caminhando, pois a jornada é longa. Alcançamos diversos países, distribuidoras e selos internacionais, o que nos deixa satisfeitos com o trabalho. Vamos levando a mensagem positiva do bom e velho rock n roll.

Recentemente a banda lançou seu primeiro single e vídeo para “How Much Love”. Como tem sido a repercussão desse lançamento? O que a banda pretende alcançar com esse material?

Quais foram às influências da banda para lançar esse primeiro lançamento próprio? Domene - Falar sobre influência é complicado. Quando paramos e passamos a escrever as

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Por Raphael Arízio | Foto Divulgação

canções abrimos uma caixa de influências entre as fases dos anos 70 a 90. Posso dizer que compomos o que ouvimos e vivemos. A banda tem previsão de lançar mais algum material próprio? De lançar um disco ou um E.P? Se sim já tem músicas prontas? Mark - Estamos fechando o EP, mas estamos depurando algumas ideias ainda antes do lançamento oficial. Já temos diversas canções arquivadas e no momento certo vamos reunir a equipe e fazer o mapeamento de todo o trabalho.

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Brian Silver como é assumir a infantaria da Vallet após excelente recepção nacional e internacional do single “How Much Love”? Brian – Temos expectativas e claro sempre esperamos o melhor. A Vallet está em uma fase excelente da carreira, é difícil chegar nesse ponto, pior ainda é se manter nele. Acreditamos no trabalho de toda a equipe. Os desafios são muitos, mas a vontade de trabalhar aqui é imensa. Assumir a linha de frente com Geovanna e Mark é algo fantástico. Muitas bandas de som autoral reclamam de falta de apoio e de demasiado espaço dado para as bandas covers em detrimento a bandas de som autoral. Qual a opinião da banda sobre isso? Mark - Olha não vemos problemas com bandas covers se tem público para isso. É porque há um bom entretenimento e diversão. No mais, existe somente dois tipos de música: a feia e a bonita (risos). Se a música for bonita, independente do estilo musical, vamos ouvi-la e apreciá-la, agora se for feia não ouvimos simples assim. Com isso, chegamos à conclusão de que se as bandas com trabalho autoral compõem boas músicas, colherão os frutos merecidos. Agora não queira tacar goela abaixo trabalhos autorais ruins, dizendo para apoiar o cenário nacional. Apoiar trabalho autoral ruim é contribuir para um retrocesso musical. É o que vemos no Brasil com diversos estilos musicais, foram apoiados e divulgados e chegamos num processo de rigidez cerebral. Nos últimos anos o Hard Rock teve um crescimento enorme no mundo todo com novas bandas surgindo e muitas bandas clássicas retornando ao cenário. Como a banda enxerga esse retorno do estilo?


Geovana - O que percebemos foi o aumento de bandas, mas não de público, isso talvez seja pela mudança social e cultural em nível mundial. As revoluções tecnológicas, sociais e musicais ocorrem muito rápidas dificultando a consolidação de um público. O que há 20 ou 30 anos atrás era diferente, naquela época ocorreu o apogeu da música inclusive do Hard Rock. É muita alegria ver nossas influencias voltando aos palcos evaporando energia e trazendo toda atmosfera de décadas passadas. Qual a opinião da banda sobre o Hard Rock nacional? O que acham que pode ser feito para se ter um cenário Hard mais forte? Brian – O cenário Rock n Roll na atualidade está em transição, pois não sabemos onde irá chegar. Uma coisa é certa, a falta de apoio dos órgãos públicos, setores de artes e cultura deixa o cenário musical desestruturado. O grande problema que assola as bandas é o fa18

moso “Cache” miserável, pois os grupos proporcionam entretenimento e diversão ao público dos estabelecimentos para receber um valor irrisório. Para dirimir o problema tem de haver a conscientização dos empresários em valorizar e tratar com lealdade o artista, bem como das bandas em ter amor próprio e não se submeter às condições insalubres para tentar divulgar seu trabalho. Espaço para considerações finais e agradecimentos. Agradecemos a Rock Meeting pelo convite e oportunidade de entrevistar a Vallet, e graças ao excelente trabalho desenvolvido pela mídia especializada estamos alcançando um bom espaço no Brasil e exterior. Deixamos aqui nossas recomendações para os leitores - Rock Meeting mídia de ótima qualidade com uma equipe altamente qualificada desenvolvendo um trabalho sólido e sério.



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Foto: Francisco Junior

Por Pei Fon (peifang@rockmeeting.net) Fotos: Marcelo Palmeira

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istória. Nós gostamos de trazer boas histórias para nossos leitores. E desta vez a tônica será do Sangrena, banda do interior de São Paulo, mas que está na cena desde os anos 90. Conversamos sobre passado, presente e futuro com o guitarrista Fábio Ferreira. Desde já, confira essa entrevista muito sincera! É de praxe que as bandas se apresentem. Por favor. Primeiramente, muito obrigado pelo espaço. O Sangrena é uma banda de Death Metal originalmente formada na cidade de Amparo, interior de São Paulo, em 1998. Atualmente é composta por Luciano Fedel (baixo e voz), Fábio Ferreira (guitarra), Gustavo Bonfá (guitarra) e Alan Marques (bateria). A banda já tem história para contar. Desde 1998 na labuta, qual a leitura com a atualidade com o passado que vocês podem fazer? No final da década de 90, época que o Sangrena iniciou as atividades, as coisas não eram boas pra cena aqui no Brasil. Havia muita escassez de eventos e reinava a falta de estrutura. Era muito difícil encontrar material de bandas, principalmente no interior. Em contrapartida, a arte em si era muito mais valorizada. Compunha-se e tocava-se simplesmente pela necessidade de fazer e o reconhecimento era certo. A quantidade de headbangers era menor, mas tudo parecia ser mais verdadeiro. 22


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Hoje em dia ficou muito mais viável a banda fazer uma tour, com vários shows com estrutura decente para se apresentar. A internet facilitou o acesso a sua música para qualquer ponto do planeta, em compensação a arte ficou banalizada, apenas entretenimento.

sa o ódio, a agonia, a morbidez, lugubridade, sentimentos esses que ficam incrustados marginalmente na alma humana. A nossa necessidade artística é de expressar esses tipos de sentimentos, então não foi a gente quem escolheu, foi o Death Metal que escolheu a gente.

O Death Metal no Brasil é bem presente. Por que tocar essa vertente? O que mais atrai e o que querem transmitir? Cada forma de arte expressa um tipo diferente de sentimento inerente do ser humano. O Metal Extremo é a vertente artística que expres-

Entre demos, Eps e um debut álbum, a banda não para de criar e se mantém ativa. “Blessed Black Spirit” é de 2009 e o que vocês ainda colhem dele? BBS nos firmou na cena, conseguimos um lançamento no exterior, várias entrevistas e

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Foto: Francisco Junior

resenhas em países que nunca sonharíamos em chegar com nosso som. Com o lançamento nacional, conseguimos fazer uma tour tocando em várias cidades importante pra cena no país e ainda hoje a gente tem feedbacks muito positivos de pessoas que se identificaram com ele. Isso é muito gratificante. Esse álbum só chegou ao Brasil em 2014. Por que há essa dificuldade toda de lançar no seu próprio país? Qualidade, investimento ou falta de ‘crédito’ nas bandas’? Na época do lançamento não havia muitos

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selos lançando bandas nacionais. Era um investimento pesado pra eles e um risco alto. Dificilmente se tinha retorno com esse tipo de investimento. 2016 tá aí e há a perspectiva de lançar um novo trabalho. O que pode adiantar para nós? Já há data para lançamento? Temática? Já está na fase de finalização e deve ser lançado no segundo semestre. É um disco conceitual baseado no livro “O nome da morte” que conta a história real de um matador de alu-


guel brasileiro. Estamos muito satisfeitos com o resultado até agora. Inspiração. Em quem o Sangrena se inspira na hora da composição? Não tem um artista em especial em que a gente se inspira. Acredito que seja um mix de tudo que a gente já ouviu e ouve ainda hoje de Metal Extremo. Acredito que o Death Metal dos anos 90 ainda é nossa maior inspiração. O atual momento político daria para ser ‘cantado’? Vocês costumam opinar sobre o assunto? Qual a posição de vocês? A forma falar de política no Metal Extremo é diferente da forma como as bandas Punk ou Hardcore se expressam nesse assunto, pois esses são estilos de músicas feito pra isso e fazem muito bem, mas é claro que uma situação política negativa influencia mesmo que diretamente nossa música. Nós não temos direcionamento político como torcida de futebol. A administração pública existe pra gastar direito nosso dinheiro, fazendo com que nossos impostos nos retornem em forma de estrutura e qualidade de vida. Essa é a premissa básica para lidar com o dinheiro alheio. A música pode ser uma estrada bem tortuosa, o que motiva a banda a continuar? O artista tem a necessidade de criar sua obra sem pretensão. Tudo que vem depois é só consequência e não o objetivo. Quando alguém se identifica com o sentimento expressado o ciclo se completa, a missão foi cumprida. Como vocês enxergam esse momento midiático para as bandas no que tange as plataformas musicais? Ajuda, atrapalha? 26


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Somos um tanto quanto antigos, estamos na cena desde 1990 onde o contato era todo via correio e troca de K7s. Essa vitrine iluminada que é a internet nos assusta um pouco, mas não dá pra negar a praticidade das plataformas, talvez seja um mal necessário hoje em dia. Top 5. Cite as cinco bandas que influenciam a banda. Aponte um álbum de cada. Possessed – Seven Churches Incantation – Blasphemy Vital Remains – Dechristianize 28

Nile – Those whom the gods detest Cannibal Corpse – Tomb of the mutilated Por fim, o que podemos esperar do Sangrena pra 2016? Sucesso e muito obrigada! O novo álbum sai nesse segundo semestre e pretendemos fazer uma nova tour passando por lugares que ainda não fomos. Mais uma vez, muito obrigado pelo espaço e podem contar com o Sangrena sempre que precisarem. Não desistam da guerra… sigam a marcha! SANGRENA | DEATH METAL | BRASIL



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Por Pei Fon com Susi dos Santos Fotos: Banda/Divulgação

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lguns países como Austrália, Alemanha e Canadá sempre tiveram grande importância no cenário mundial do rock e heavy metal. Revelaram alguns dos maiores nomes de todos os tempos como AC/ DC, Scorpions, Rush e assim o fazem até os dias de hoje. Mas, convenhamos, nada se compara quando Inglaterra e Estados Unidos entram na jogada! Se o Tio Sam tinha Elvis, a Rainha respondia com Beatles. Durante décadas a “briga” foi acirrada. Para cada Bob Dylan ou Jimi Hendrix, nascia um Syd Barrett ou David Bowie. Se dizem que no Brasil já se nasce sabendo jogar futebol, cidadãos ingleses e norte-americanos nascem com uma guitarra nas mãos. Fato! Este é o caso dos três integrantes da banda norte-americana Sunrunner. Descendendo diretamente da melhor tradição do rock pesado americano, David Joy (vocal/ baixo), Joe Martignetti (guitarra) e Ted MacInnes (bateria) também são grandes apreciadores da nobre linhagem britânica de bandas de rock. Essa soma de sotaques e referências musicais faz diferença quando esse power trio começa a tocar! É como se Yes, Sabbath e Maiden se unissem para se apresentar no Big Easy Festival em Nova Orleans. Rock progressivo clássico e heavy metal tradicional com referências de jazz e world music: esse é o universo musical multifacetado do Sunrunner. Formado em 2008, na cidade de Portland, estado do Meine, o Sunrunner estreou com “Eyes Of The Master” em 2011, um trabalho de rock progressivo com inclinação 32


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metaleira. Mas desde o segundo disco, “Time In Stone” (2013) que o grupo vem solidificando-se como uma banda de metal com influências de rock progressivo, o que solidificou-se com seu novo trabalho, “Heliodromus”, lançado no ano passado pela Minotauro Records da Itália. De acordo com o guitarrista e membro fundador Joe Martignetti, classificar a música do Sunrunner como prog metal seria um erro, já que eles não têm qualquer semelhança com as principais referências do gênero como Dream Theater, Symphony X ou Fates Warning. Sobre isso e muito mais – inclusive sobre a turnê que o Sunrunner faz pelo Brasil em agosto – o próprio guitarrista nos dá detalhes na entrevista a seguir. Joe, antes de mais nada, obrigada pela entrevista. Por gentileza, poderia co34

meçar nos contando um pouco sobre a história do Sunrunner? Joe Martignetti - Bem, eu que agradeço pela entrevista. O Sunrunner teve início através de Frank Navarro, Andy Moulton e eu. Nós morávamos e estudávamos juntos. Isso foi entre 2006 e 2008. Éramos todos guitarristas, mas o Frank tinha um talento especial para o contrabaixo. O Andy estava estudando para ser um guitarrista de jazz, enquanto que eu sempre fui um metalhead. Essa combinação de músicos foi primordial para que algo realmente novo surgisse, uma forma estranha de rock progressivo. Passamos então a viajar de Maine, onde morávamos, até Boston para ensaiar com o Ted MacInnes na bateria. As coisas eram meio lentas no começo e nos perdíamos facilmente em meio a bebedeira: “Isso soa legal! Hora da cerveja!”. Em 2009, o Ted estava achando cansativo ter que dirigir qua-


tro horas de Boston até Maine e indicou seu amigo, Harley Smith, para aprender as músicas e gravar uma demo conosco. Nessa época também conhecemos o David Joy que sabia cantar, tocar baixo e eventualmente trombone. Após a demo o Harley saiu e o Ted voltou. Começamos então a compor para o primeiro disco em 2010, mesma época em que o Andy também saiu para se dedicar ao mundo do jazz. Acho que o nome Sunrunner surgiu nessa época, então é quando consideramos que a banda realmente começou, entre 2009 e 2010. Vocês acabaram de lançar o terceiro álbum, “Helidromus”. Como você o compararia com os anteriores, “Eyes Of The Master” (2011) e “Time In Stone” (2013)? Eu diria que “Eyes of the Master” é uma co35

leção de músicas onde exploramos muito. Foi um disco muito experimental. A mixagem também é peculiar, eu queria que o disco soasse mais pesado, mas optamos por manter a sonoridade que a banda atingiu na época. Os vocais também foram gravados de última hora, quando não tínhamos mais tempo e dinheiro, então, a meu ver, poderiam ter soado melhor. Já o processo de composição para “Time In Stone” foi mais natural e nos permitiu seguir mais nossos corações e raízes. Queríamos um disco mais voltado ao metal setentista, tendo o rock progressivo como elemento secundário. Para isso precisávamos de um segundo guitarrista, foi quando um cara muito conceituado em Portland, Douglass Porter entrou para a banda. Nos tornamos amigos, ele aprendeu as músicas e contribuiu com ideias. Entramos então em estúdio, mas a falta de dinheiro fez o disco passar em mui-


tas mãos diferentes, o que ocasionou num disco decente, mas que perdeu um pouco da sua característica ao longo da produção. Não conseguimos o som analógico que queríamos, mesmo tendo gravado em fita, como também fizemos com o disco anterior. Foi então que, com o disco novo, “Heliodromus”, nos preocupamos mais com o processo de gravação. As músicas também soaram mais coesas já que amadurecemos como compositores. Também há muitas partes instrumentais e o processo de produção finalmente atingiu nossas expectativas. Encontramos nosso som, nosso estilo e outras coisas durante a produção de “Heliodromus”. É um disco ótimo e nos orgulhamos dele. Falando em estilo, vocês não gostam de associar o Sunrunner com o prog metal. De fato, há um grande oceano entre o som que fazem e o de bandas como Dream Theater e Symphony X. Todavia, rock progressivo e heavy metal são as duas vertentes que guiam o som que fazem. Como explicar isso? Sempre nos fazemos essa pergunta e ainda não sabemos como responder (risos). Eu cresci ouvindo rock progressivo e metal. Meu pai era baterista de uma banda heavy prog. Então, essa vertende me acompanha desde meu primeiro dia de vida, ou até mesmo antes! É obvio que somos influenciados por esses dois estilos, o metal e o rock progressivo, mas então porque não somos prog metal? Bem, há alguns fatores. Primeiro porque não gostamos de exageros. Eu acho que fizemos isso no primeiro disco. Sim, existem alguns instrumentos legais como violino, flauta e a guitarra braquesa que ainda usamos. Mas, para mim, é mais como trazer temporalidade e territoralidade para a música com esses instrumentos. Eu acho que a maioria das bandas prog fazem 36


isso também, mas eles normalmente têm um tecladista. Nós não. Então acabamos tendo esse feeling meio folk, algumas vezes. Em segundo lugar, devo dizer também que nossas produções soam cruas. É assim que queremos soar, mais como as produções cruas dos anos 70. Se as produções soarem polidas demais, então esse elemento folk que te falei do nosso som vai soar meio brega com uma bateria que parace máquina. Nossas músicas são compostas pensando numa produção crua. Em terceiro lugar, creio que não somos extremamente progressivos. Eu ouço King Crimson, Genesis e Yes, mas não somos tão complexos quanto eles. Em quarto lugar, devo admitir que não somos músicos virtuosos como os caras do Dream Theater, por exemplo. O John Petrucci me deixa no chinelo. Na verdade, nós não corrigimos notas ruins ou erradas, a menos que eles soem muito ruins mesmo. Você pode ouvir os erros na maioria das nossas músicas, mas às vezes essas notas erradas podem adicionar identidade a música. Por fim, para mim o “Sabbath Bloody Sabbath” é um disco perfeito! Esse álbum tem uma atmosfera progressiva no sentido de que eles experimentaram com instrumentos como flauta e percussão. E é isso que fazemos no Sunrunner. Além disso, eu amo Rush e a forma como algumas das suas músicas são muito mais complicadas do que parecem. Especialmente na década de 80. Adoro a abordagem mais sutil que eles deram ao rock progressivo nessa época. Não me interpretem mal, eu amo as coisas complicadas, mas é massa fazer coisas complexas e deixá-las indetectáveis. Isso é um verdadeiro desafio! Quando eu ouvi “Tom Sawyer” pela primeira vez eu não entendia porque as pessoas achavam que aqueilo era progressivo ou complexo. Apenas soava como uma boa canção de rock pesado. Foi então que fui aprender a tocá-la! As sutilezas são surpreendentes! 37


Com certeza é complexo! O Rush é muito bom nisso. Então, somos mais como caras normais brincando com compassos compostos, tocando metal clássico e explorando um instrumento acústico aqui e acolá. Então vocês nunca se vêem fazendo algo similar ao Dream Theater algum dia? Quando eu estava no colegial eu ouvi “Pull Me Under” pela primeira vez. Na verdade, foi meu pai que me apresentou o DT. Eu tinha 13 anos na época e me lembro do meu pai dizendo o quanto estava pirado no som deles, sobre como ele ouviu a melhor música em anos no rádio e como bandas de rock não eram criativas daquela forma há anos! Então, eu tinha que ouvir o som desses caras! Foi aí que minha mente entrou em erupção. Eu amo “Images and Words”, “Awake” e acho que “A Change of Seasons” é uma obra-prima. Portanto, não é que eu não gosto dessa banda. Mas desde que passei a gravar meus próprios discos, acabo sendo muito crítico quando ouço outra banda. Não sobre o que a banda faz, mas o que eu faria de forma diferente. Há um monte de coisas que eu não faria como o Dream Theater. É um estilo totalmente diferente. Pra começar que, como disse, não somos virtuosos. E gostamos mais das coisas cruas. E realmente não pensamos em teclados quando compomos nossas músicas. Mas, quem sabe? Eu, aliás, penso algum dia fazer alguns discos futurísticos com o Sunrunner com muitos teclados. Também tenho certeza que o próximo disco do Sunrunner será diferente de “Heliodromus”. Nós gostamos de explorar, então nunca dá pra dizer o que faremos exatamente no futuro. Falando em explorar, esses instrumentos que vocês usam no Sunrunner como violino, flautas, percussão e guitarra 38

braguesa, são estratégicamente planejados para trazer temporalidade, como você disse, ou isso é algo que acontece naturalmente? Bem, quando estamos escrevendo algo acústico ou similar, por vezes surge uma melodia e pensamos: “Hum! Isso soaria melhor se harmonizado com uma flauta ou uma guitarra braguesa! Vamos conseguir uma atmosfera bem old-school com isso!”. Acho que é mais uma questão de se perguntar quais instrumentos podem representar a música e o álbum que você está compondo naquele momento. Por exemplo, para o próximo álbum


eu já sei que guitarra braguesa não vai encaixar. Sei disso pelas letras, conceito do álbum e pela direção musical que isso nos levará a tomar. Então, tentaremos outros instrumentos que realmente se harmonizem com essas novas ideias. Nunca é algo aleatório: “vamos jogar um violino aqui e ver como fica”. Tem que ser uma coisa coesa. Talvez o ouvinte não perceba, mas você pensa muito antes de colocar qualquer instrumento numa música que não seja guitarra, baixo, bateria ou vocais. A respeito da produção de “Heliodromus”, achei muito interessante a forma 39

que vocês exploraram tanto as técnicas analógicas como digitais. Pois é. Nos perguntam o que o digital tem que o analógico não tem. Ou o que é bom sobre uma e a outra técnica. Para nós, acredito que achamos o melhor dos dois mundos. Considerando que queríamos obter um som específico que remontasse aos anos 70 (porque é quando a música soou melhor, hahaha!). Nós optamos pelo sistema analógico para gravar bateria, guitarra e baixo. Gravamos ao vivo em estúdio. Sem metrônomo, click ou o que quer que seja, tudo em fita de rolo. Queríamos também capturar a ambiência da sala de grava-


ção. Estávamos num estúdio com ótimos microfones, prés e um engenheiro de som com bom ouvido e sugestões. Depois disso é que partimos para o digital por pura conveniência. Os solos eu gosto de gravar sozinho sem ninguém por perto, por exemplo. Então, um bom microfone e um home estúdio são perfeitos nesse momento. Também fomos até o estúdio do meu irmão para gravar os vocais. É um estúdio profissional, chamado Off The Wall Studios em Massachusetts. O Jim é mesmo muito bom em gravar vozes. Gravar vocais e solos de guitarra em fita é complicado se você considerar ter que rebobinar e fazer emendas em 40 takes diferentes. Na mixagem 40

é também quando o digital funciona melhor. Nada pode ser mais eficiente e conveniente que o digital para mixagem. O computador realmente faz a diferença. Só a possibilidade de você poder salvar o projeto no meio da mix já é uma grande vantagem. Mas na materização é quando eu acho que você pode notar a diferença. O Pat Keane, que masterizou o “Heliodromus”, nos mostrou alguns exemplos de masterização digital e em fita. Havia uma grande diferença! As pessoas costumam dizer que as masterizações em fita são mais aconchegantes, íntimas, que as digitais. E eu tenho que concordar. É mais caro de se fazer, mas com o que economizamos nos overdubs


to sentado na sua cama, ou num dos melhores e mais caros estúdios. Isso é verdade, mas é legal ter um produtor ou outro par de ouvidos para dar sugestões. Coisas que não passariam pela sua cabeça. Isso não tem preço, na verdade. Não obstante, é legal estar no estúdio, isso dá a impressão de você estar fazendo algo realmente importante. Não é a mesma coisa de estar gravando em casa de cuecas cheio de latas de cerveja vazia ao redor. Não que isso não aconteça no estúdio também (risos). Sei lá, é como se a atmosfera se comunicasse com seu subconsciente, por isso estar no estúdio faz sentir como se você estivesse fazendo algo importante. Mas como eu disse, eu gosto de fazer certas coisas em casa e outras no estúdio. Para mim, o trabalho complementar entre analógico e digital é o melhor caminho.

e na mixagem digital, pudemos investir na masteriação em fita. Portanto, essa foi a receita final: Analógico (captação ao vivo) - Digital (overdubs) – Digital (mixagem) – Analógio (masterização) – de volta ao mundo digital no formato CD ou arquivo, mas ainda analógico para o vinil. Essa é nossa fórmula. Apesar das particularidades que você citou com relação a captação analógica, é fato que os plug-ins são a bola da vez e estão dominando o mercado de produção. Até porque, através da produção digital, você consegue obter os mesmos resultados, seja gravando no seu quar41

Falando agora um pouco sobre as letras, elas tratam sobre o mitraísmo, religião pagã nascida na época helenística no Mediterrâneo Oriental e que tornou-se grande concorrente do cristianismo. O “Heliodromus” é um disco conceitual? Não! A música “Keeper’s of the Rite” foi inspirada nos rituais dessa religião. O Doug comparou esses rituais ao fato de fazer parte de uma banda: é algo sacrado para as pessoas envolvidas. “Corax” também foi inspirada por um dos níveis de iniciação do mitraísmo, mas também de forma abstrata. A última faixa do álbum (de 21 minutos) também é totalmente sobre esse tópico. Todas as outras tratam de temas independentes. “Star Messenger”, por exemplo, retrata a Roma e a Pérsia antigas como berço da astronomia. Eu diria que é um álbum temático, não concentual. Vocês estão vindo ao Brasil em agosto.


Como surgiu a oportunidade e quais as expectativas? O Eliton Tomasi, da agência de empresariamento Som do Darma, que nos encontrou. Começamos a conversar e ele nos organizou essa turnê. Estamos extremamente animados. Eu tento não esperar muito, porque eu sou um pouco supersticioso (risos). Mas temos a sensação de que vai ser a melhor coisa que já aconteceu para a banda! Será a primeira vez que vamos tocar fora dos Estados Unidos. Então, sim, mal podemos esperar! Vocês conhecem alguma banda brasileira de metal ou progressivo com exceção do Sepultura? Alguma coisa sobre música brasileira? Vejamos... Angra, Viper, Soulfly… Essas são as que aparecem na minha cabeça de imediato. Mas desde que comecei a conversar com o Eliton e o pessoal da Som do Darma, eu também passei a conhecer o Primator, Uganga, Maestrick, Higher, Seu Juvenal, Pop Javali, SIOD e Psychotic Eyes. Todas legais demais! Sobre outros gêneros, eu conheço samba e bossa nova. Acho que o Ted estudou percussão e ritmo brasileiro. É ótimo! Obviamente não sou fã das coisas pop, mas realmente gosto dos lances que pendem pro jazz. Eu ouço Bebel Gilberto. Acho ela incrível! O Ted a conheceu anos atrás quando ela tocou em Boston. Espero poder ver algum show de música brasileira num dia de folga da turnê. Como falamos muito sobre heavy metal e rock progressivo, gostaria que você listasse seus cinco discos preferidos de cada estilo. Só cinco? Tarefa difícil! Não tenho certeza se essa lista será para permanete, mas esses discos mudaram minha vida: PROG 42

5. ‘Playing the Fool Live’ – Gentle Giant 4. ‘Animals’ – Pink Floyd 3. ‘In the Wake of Poseidon’ – King Crimson 2. ‘Relayer’ – Yes 1. ‘Hemispheres’ – Rush METAL 5. ‘Forbidden Evil’ – Forbidden 4. ‘Tales of Creation’ – Candlemass


3. ‘Keeper of the Seven Keys pt.II’ – Helloween 2. ‘Powerslave’ – Iron Maiden 1. ‘Sabbath Bloody Sabbath’ – Black Sabbath

esperar para checar até aí! Esperamos encontrar e conhecer alguns de vocês. Espero que a turnê seja bem sucedida o suficiente para podermos voltar a cada novo álbum lançado.

Joe, fica aqui o espaço para você deixar uma mensagem aos seus fãs no Brasil que esperam vê-los em agosto. Estamos muito empolgados e mal podemos

Mais Informações - Site | Facebook | Youtube | Minotauro Records

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Por Pei Fon (peifang@rockmeeting.net) Fotos: Banda/Divulgação

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Sul do Brasil tem um envolvimento com o Metal Extremo que surpreende a qualidade das bandas que saem dessa região. Em virtude disso, conversamos com os caras do Burn the Mankind. Música, mercado, cena, inspirações. Confere aí! Sempre iniciamos a entrevista pedindo para que se apresentem. Por favor! Marcos Moura – Comecei o projeto em 2009, quatro anos após o fim do Nephasth, minha antiga banda. Inicialmente era algo mais despretensioso e aos poucos foi ficando mais sério. Me juntei a outros três músicos, Pedro Webster no baixo e voz, Matheus Montenegro na bateria e Raissan Chedid na outra guitarra. Com esse line-up gravamos um EP e começamos a gravar nosso álbum de estreia. Raissan Chedid – No ano de 2012 a banda sofreu uma grande baixa com a saída do Matheus, praticamente paramos os trabalhos. Chegamos a realizar alguns testes com bateristas da região, mas nada se concretizou. Diante disso, e por incentivo do Marcos e do Pedro, resolvi começar a estudar bateria, uma vontade que eu tinha há muito tempo. Em 2014 assumi oficialmente a bateria e o guitarrista Rafael Barros, que foi colega do Marcos no Nephasth, se juntou a nós, contribuindo com as gravações do álbum também. Rafael Barros – Entrei numa época difícil, a banda estava se recompondo. Fiquei completamente imerso e dedicado ao projeto a partir 46


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de então. Cooperei onde foi possível para finalizar e lançar esse trabalho junto ao grupo. Burn the Mankind é uma banda de músicos de outras bandas. O que essa reunião traz para contribuir com o Death Metal brasileiro? Rafael – Bom, acredito que trazemos uma boa experiência na bagagem e foco ajustado, um direcionamento de trabalho de forma madura e profissional. Musicalmente falando, a banda não está presa a modismos ou a um gênero específico, tentamos ser livres nesse sentido. O que importa é qualidade musical 48

aliada a uma sonoridade densa e extrema. Primeiro álbum e já entrando nas grandes revelações de 2016. Como vocês apresentam “To Beyond”? Marcos – Esse álbum é uma crítica a humanidade e ao mesmo tempo discute uma ideia de transcendência do ser humano. Musicalmente foi um trabalho muito agradável e desafiador, tivemos muito cuidado nos arranjos, na sonoridade e na arte, tudo para dar uma atmosfera soturna e extrema ao disco. “To Beyond” começou a ser construído


em 2014. Lançado em 2015, mas só em 2016 foi lançada uma tiragem limitada no Brasil. As dificuldades são imensas, não é? Marcos - Sim, algumas dificuldades. Na verdade o projeto começou em 2010 com a gravação da bateria. Houve uma busca por uma sonoridade específica, então aconteceram às regravações das guitarras algumas vezes. Rolou uma insatisfação com os timbres, e isso demandou certo tempo até encontrar a pessoa certa pra buscar o resultado final, que foi o produtor Henrique López. Depois houve a saída do Matheus, a banda quase acabou. 49

Rafael - O Raissan saiu da guitarra pra aprender bateria, isso também consumiu tempo e dedicação extras. Com a nova formação reativamos os trabalhos e seguimos em frente. Também demoramos pra fechar com um selo que pudesse oferecer uma boa distribuição no exterior. Para além das armas, da escravidão, das mentiras onde todos estão cegos, existe algo para sobreviver ou seria a decadência da humanidade? Pedro Webster – Acredito que a humanidade já fez a curva, dirigindo-se a um fim


iminente. Se o modo em que a sociedade está organizada continuar avançando neste ritmo, em breve consumiremos tudo que permite a existência de vida neste planeta. O “sobreviver” dependerá da consciência de cada um e um despertar para estes assuntos, permitindo uma superação. Eu, particularmente, não tenho esta esperança. A temática lírica não poderia ser outra que os conflitos humanos. Seria algum tipo de desabafo, o tema é vasto ou é uma pequena representação do homem? Pedro – Tais conflitos são uma representação das realidades que nos cercam. Imagino que estes conflitos expostos nas letras devem servir de gatilho para nos direcionar a uma ruptura com elementos que condenam, escravizam e fomentam a continuidade e avanço destes. Expor estes elementos nos faz perceber que o buraco é mais embaixo, precisamos explorar temas obscuros que se encontram no íntimo de cada um e se espalham como uma epidemia em todas as camadas da sociedade. Tal concepção abre espaço para um tema de grande vastidão e conteúdo que não cabe apenas em um álbum, nem em um livro, e para muitos, nem em uma vida inteira. Do álbum, “Real Slave” me chama bastante atenção. Posso imaginar o enredo de um videoclipe para ele. Fora isso, os elementos estão todos lá: melodia, riffs, rapidez. Essa é a tônica do debut. Marcos – Obrigado. “Real Slave” tem uma dinâmica interessante, gosto da forma e das passagens atmosféricas. Seria ótimo fazer um clipe dessa música, quem sabe num futuro próximo. Recentemente vocês foram agraciados 50


com uma boa resenha na revista Metal Hammer. Seria um tipo de ‘dever cumprido’ ou não imaginavam? Rafael – “Dever cumprindo” ainda não, definitivamente! (risos) Mas faz sentido em vários aspectos, concluímos uma importante etapa dessa jornada. O disco gerou expectativas dentro da banda, positivas e negativas, ainda mais para um trabalho que demorou tanto tempo pra sair. O álbum foi enviado a muitos lugares no mundo para review, esse era um dos objetivos com um selo lá fora, e foi alcançado. Então, tínhamos a esperança de que alguém de uma dessas publicações conceituadas prestasse atenção no que estávamos apresentando. A resenha da Metal Hammer foi bastante elogiosa, se tornou um bom cartão de visitas para atrair mais pessoas a conhecer o Burn the Mankind, e claro, nos deixou com uma boa sensação de que estamos no caminho certo. Há muito trabalho pela frente. O Sul do Brasil tem uma ligação enorme com o som extremo. Ao que se atribuem ter tantas bandas de influência nesse cenário? Rafael - Pergunta difícil. No passado tivemos muitas bandas que influenciaram e ainda inspiram todo um meio underground aqui no RS e também no resto do Brasil como o Panic e o Leviaethan, que ainda está na ativa, e muitas outras. O Krisiun surgiu com um som realmente inovador e se tornou referência mundial na década de 90. O Rebaelliun também, logo após. Essas bandas solidificaram de vez o trampo criado no estado, e consequentemente chamaram a atenção de selos do exterior, impulsionando e influenciando uma nova geração de bandas com identidades próprias a seguir um caminho profissional. Certa vez também atribuímos o fator “frio” num debate aqui em Porto Alegre sobre Death Metal. In51


vernos rigorosos combinam bastante com a música extrema, não? Tocar rápido e intenso não é muito bom em lugares quentes (risos). Se bem que nossos verões são destruidores! (risos) Ainda sobre cena. Vocês tocaram no Forcaos, em Fortaleza, apresentando músicas do novo álbum. O que pode dizer da cena do Nordeste? Conhecem as bandas nordestinas? Pedro – O Nordeste é faca na bota, tapa na orelha e sangue nos olhos! Um exemplo é Facada com seu grind destruidor. Inner Demons Rise representa muito bem o Pernambuco. 52

Tem o Siege of Hate do Ceará. Gosto muito de metal cantado em português, como faz o Cangaço. O Nordeste está muito bem na cena brasileira e há muitos shows ocorrendo por lá em comparação ao sul. Infelizmente o Sul e o Nordeste estão distantes e há problemas logísticos para ocorrer maior conexão entre shows e bandas, mas sempre que possível podemos fazer isso acontecer. Seria ótimo dividir o palco com esse pessoal novamente e sentir a energia destruidora que existe por lá. Rafael – É uma cena com forte personalidade. Quando estive aí, alguns anos atrás com o Nephasth, me surpreendi positivamente com o apoio dado pelo público nordestino a ban-


das underground, são muito fiéis e intensos. Admiro o trabalho de várias bandas como o Headhunter DC, Cangaço, Expose Your Hate, Decomposed God, Tanatron, Sanctifier e o Necrohunter. Top 5. Quais as bandas que inspiram o som do Burn The Mankind. Cite um álbum e fala um pouco sobre eles. Marcos – Muitas bandas e estilos diferentes inspiram o som da banda. Fazendo um apanhando geral dá pra citar o Morbid Angel, Nevermore, Nine Inch Nails, Gojira, Emperor, Immortal, Crowbar, Ratos de Porão, Pantera, Extreme Noise Terror, Napalm Death, Sepul53

tura e Krisiun. Dead Heart in a Dead World (Nevermore) – Esse disco é perfeito. Pesado, melódico, denso em vários momentos. Esse álbum foi determinante para o uso de 7 cordas na banda. (Marcos) From Mars to Sirius (Gojira) – Outro disco excelente, inspirador! Tanto que o tenho tatuado (risos). O minimalismo unido a uma atmosfera progressiva é sem dúvida destruidora. (Marcos) Conceived by Inhuman Blood (Nephast) – Foi escutando esse disco que conheci o Death Metal e passei a ter um objetivo na música, fazer um som igual a esses caras!!


(risos). Esse foi o disco que mais escutei até hoje. É incrível como esse disco me envolve e desperta uma vontade de fazer música. Disco pesado, extremo e com musicalidade impressionante. (Raissan) Arise (Sepultura) – Acho que o disco que eu e o Marcos mais ouvimos durante nossa adolescência. Moldou-nos musicalmente e mostrou que brasileiros podiam também dominar a arte de fazer música extrema pro mundo de forma grandiosa, assim como fez o Krisiun depois. (Rafael) Dechristianize (Vital Remains) – Um álbum denso e extremo, músicas longas cheias de brutalidade e que de uma forma surpreen54

dente unem-se com ótimas melodias. Acredito que tenha influenciado muitas gerações ao produzir algo que mescla brutal com melódico de uma forma tão fantástica. (Pedro) Para finalizar, o que podemos esperar do BTM para 2016. Sucesso e perseverança, o trabalho é árduo. Muito obrigada! Marcos – Estamos determinados e focados em tocar pelo Brasil e por que não fora dele? Há muito que fazer e faremos. Muito obrigado pelo espaço e pela excelente entrevista, um grande abraço!



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Por Aline Pavan Fotos: Karina Schwitzky

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banda surgiu em 1995, criada por antigos membros de outras bandas locais de Death e Thrash Metal que faziam som próprio desde o início. Com mais de 20 anos de existência, o Imperious Malevolence traz em sua bagagem uma discografia invejável e inúmeras turnês na Europa. Conversamos um pouco com a banda para sabermos de seus atuais e futuros projetos. Confira! Então, a banda passou por algumas mudanças de formação ao longo desses anos. Como foi desde o início da banda e como está a formação atualmente? AntonioDeath: Nossa, brother, se passaram 21 anos de banda e 17 anos desde o primeiro álbum (1 demo tape, 4 full álbuns, 1 DVD ao vivo, e várias compilações nacionais e internacionais), e te digo que a trajetória foi de altos e baixos, mas que faríamos tudo novamente! As experiências em turnês europeias, em uma época que não voltará mais, foram sensacionais e muito gratificantes, pois no início dos anos 2000 até meados de 2010 a essência dos festivais, e das bandas que tocavam neles, era muito mais “Metal”, pelas atitudes das pessoas sem modismos e vidas virtuais, o que foi um momento de destaque para nossa carreira. A trajetória se manteve com as mesmas raízes do que sempre nos propusemos a fazer com o estilo de música, de letras, bem como a aparência da banda em geral, o que também é motivo de muita satisfação. E só temos a agradecer aos fãs e a todos que nos apoiam desde o início, tanto aqui no Brasil como fora dele. 58


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Atualmente, consolidamos a formação com o Fernando Grommtt fazendo vocal e baixo, Danmented na guitarra e backing vocals e eu, AntonioDeath, na bateria. Só por curiosidade, de onde surgiu o nome Imperious Malevolence? Fernando: A tradução para o português do nome da banda seria “Maldade Imperiosa”, esse nome foca no que seria o fim do milênio, como algo realmente muito podre que está acontecendo no mundo. Levando essa realidade ao extremo, isso é o Imperious Malevo60

lence. Como o grupo chegou na ideia do seu primeiro CD lançado ainda na década de 90, o aclamado “Imperious Malevolence”, e que tipos de experiências vocês queriam passar para os ouvintes? AntonioDeath: A ideia do primeiro CD surgiu da necessidade óbvia da banda existir. Na nossa opinião, banda sem álbum não existe, você pode até fazer videoclipe e lançar singles, como a maioria das bandas de prédio e ou de Facebook fazem, mas sem um full al-


bum registrado você é apenas mais um na rede. Na época o que nós queríamos passar com as letras e com a música era mostrar um Death Metal de qualidade com características do metal extremo curitibano, letras extremamente realistas focando na desgraça mundial e nos temas obscuros que fazem parte do universo do Death Metal! Com seu primeiro CD lançado, a banda já recebeu um convite de tocar na Europa, como surgiu este convite? Fernando: O primeiro álbum foi lançado no 61

ano de 1999, naquela década o Imperious Malevolence já havia tocado muito pelo Brasil, as bandas brasileiras estavam começando a abrir caminho no exterior, foi o momento em que a banda começou a fazer contatos com o pessoal de lá, através de e-mails, e se mandou pra Europa para a primeira turnê, a primeira experiência como banda fazendo um circuito profissional. A letra da música “Complete Slavery” dá impressão de que estamos sendo manipulados. Com toda essa enganação que


o ser humano impõe um ao outro, você acha que o Death Metal pode ajudar o ser humano a compreender melhor o outro? Danmented: Acredito que o Metal em geral, não apenas o Death Metal, ajuda a aliviar as tensões e a suportar nossas indignações do mundo real. Vivemos num mundo medíocre dominado pelos espertos e poderosos, somos obrigados a vivenciar ou presenciar situações adversas e temos que encontrar um jeito de não enlouquecer. A música e a temática extrema servem pra isso. Sobre compreender melhor o outro, eu realmente acho que não. Como vocês conseguem transportar esta brutalidade para o som? Como a banda trabalha nisso? Fernando: Simplesmente é uma energia que flui naturalmente quando estamos tocando Death Metal. Não pensamos em como ser brutal, a brutalidade flui naturalmente e isso também é uma característica básica do gênero. Não tem como tocar sem esse sentimento, quando estou no palco o que faço é apenas intensificar ainda mais isso. A banda trabalha nas músicas levando as influências que cada integrante possui e com todo o entrosamento que temos, qualquer ideia se transforma em sons realmente destruidores. O último trabalho da banda foi o “Doomwitness”. Podemos esperar um novo trabalho da Imperious Malevolence? Fernando: Estamos trabalhando em novas composições esse ano, a ideia é lançar pelo menos um som novo em agosto ou setembro desse ano. E para o início do ano que vem lançarmos algo mais completo, provavelmente relacionado a comemoração de toda a carreira da banda. Inclusive com mais sons novos rolando também, incluindo uma segunda mú62

sica com letra totalmente em português que já está saindo do forno. Comparando a qualidade das bandas underground daqui com as gringas, como você vê a evolução do cenário no Brasil, de modo geral? Danmented: Eu sou um consumidor compulsivo de material, gosto de conhecer bandas antigas obscuras e também bandas novas, de vários estilos e de qualquer lugar do mundo. No Brasil, eu tenho percebido uma grande evolução em termos de qualidade so-


nora e produção gráfica de muitas bandas que se propõem a fazer um trabalho sério. Mas o Brasil é muito grande, então fica caro demais planejar uma turnê pelo nosso país, além do fato de que muitas vezes os shows com bandas locais contam com pouco público. A internet facilita muito a divulgação de qualquer banda, mas cria uma grande massa de bangers virtuais que não agrega quase nada para as bandas. O relacionamento da Imperious Malevolence com outras bandas e com o 63

público parece ser ótimo e recíproco. Como é a IM em relação ao apoio recebido pelas bandas na luta por um espaço e respeito dentro do underground? Danmented: Sempre trataremos bem quem nos tratar bem, inclusive já promovemos e participamos de eventos com bandas de outros estilos, não só Death Metal. O respeito que a banda possui foi conquistado naturalmente, como tem que ser mesmo. Vez ou outra pode aparecer algum imbecil falando mal da banda ou de algum integrante por trás, mas isso não nos preocupa, nós damos é risada mesmo.


Muitas bandas, e o público, julgam a qualidade de uma banda pelo visual. Você acha que o visual é importante? Danmented: O mais importante é que o visual seja autêntico, que não seja forçado, apenas para atrair a atenção do público. Quem curte música extrema geralmente tem um padrão nas suas roupas, seja como fã ou como integrante de uma banda. Quem quiser reinventar a roda, tudo bem, mas isso nunca esteve entre nossas prioridades. Como o público deve fazer para adquirir o material já lançado da banda, e existe alguma forma de já efetuar reserva para futuros projetos? AntonioDeath: O material antigo infelizmente não foi relançado, sendo os dois primeiros álbuns completamente esgotados, o 64

terceiro álbum “Where Demons Dwell” restaram algumas cópias que estão conosco e podem ser requisitadas. Temos a intenção de lançar um álbum comemorativo de 20 anos da banda, que contemplará músicas de todos os álbuns com algumas inéditas, e este projeto está em andamento. Por favor deixem seus comentários para nossos leitores e muito obrigado pela entrevista! AntonioDeath: Gostaríamos de agradecer ao público que comparece aos nossos shows e a aqueles que nunca se abalaram com qualquer mudança na banda e que permanecem curtindo nosso som independente de modismos. E deixamos um recado para todos: Nós não desistiremos da cena metal nunca! Obrigado!



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Por Raphael Arizio Fotos: Banda/Divulgação

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pesar da baixa média de idade de seus integrantes, banda Codmorse apresenta um ótimo Heavy Metal e vem para mostrar que a nova geração do Metal não vai ficar para atrás em matéria de qualidade. A banda está prestes a lançar seu EP “The Coast of Peace” e vem se destacando no underground. Conversamos com Gabriel Scavacini sobre o andamento desta estreia e sobre seus planos para o futuro. A banda está divulgando suas músicas que estarão no EP “The Coast of Peace”, tem alguma previsão de lançamento desse material? O lançamento provavelmente será para o final de junho, tínhamos a expectativa de ter lançado antes, porém tivemos alguns problemas e não conseguimos lançar na data prevista anteriormente. Agora já estamos na fase final de mixagem e masterização e provavelmente ficará tudo pronto no final de junho. Um fato que chama a atenção de todos é a baixa idade de seus integrantes, com qual idade começaram a tocar e como surgiu a ideia de ter uma banda? Todos começaram a se interessar por música desde muito cedo, porém foi entre os 15 e 16 anos que cada um começou a levar mais a sério, tocando um instrumento, fazendo aulas e se aperfeiçoando cada vez mais. Todos nós já tínhamos outros projetos antes do Codmorse, seja em outras bandas de rock ou bandas 68


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show. A banda surgiu no final de 2012 quando eu (Gabriel) e Wesley tocávamos em uma banda de músicas cover em Itu. Daí, nos separamos e junto com o baterista demos início no que se tornaria o Codmorse mais pra frente. Tínhamos contato com o William e convidamos para entrar na banda nos primeiros ensaios, porém era muito diferente de hoje, ficávamos tocando sem compromisso e apenas brincando nos ensaios. Pouco tempo depois, o baterista saiu, então ficou apenas nós três na banda, continuamos os ensaios e durante o tempo fomos amadurecendo e decidindo o que nós queríamos. Fizemos as primeiras composições, as ideias das primeiras músicas foram saindo e até que no final de 2013, o Paulo entrou na bateria e ficamos à procura 70

do vocalista. Em 2014, alguns amigos vieram nos ensaios para ocupar os vocais, mas nenhum deles se firmou, tentamos nós mesmos revezar algumas músicas, mas nunca deu certo, ninguém sabia cantar. No começo de 2015, o Jarlon fez um teste conosco e logo de cara já se encaixou perfeitamente na nossa proposta e começou a fazer parte da banda desde então, assim surgiu o nome Codmorse, até então não tínhamos nenhum nome para banda.

O som da banda apresenta uma mistura de diversos estilos dentro do Rock/ Metal, quais as influências para moldar o som do Codmorse? Cada membro possui um gosto variado dentro


do Rock, o que nos dá uma maior versatilidade e ideias diferentes na hora da composição, é claro que bandas como Metallica, Black Sabbath, Motörhead e outros clássicos têm uma influência em comum de todos. Tentamos ser o mais original possível, o que hoje em dia não é tarefa fácil, mas acreditamos que essa originalidade seja uma das características da banda. A banda vem realizando muitos shows antes do lançamento do seu EP. Como tem sido a recepção das músicas ao vivo? Tiveram que mudar alguma composição depois de tocá-las? A recepção das músicas vem sendo muito positiva, tanto nas mais agitadas quanto nas 71

mais cadenciadas. Tivemos que adaptar algumas músicas sim, pois percebemos, principalmente depois dos shows, que elas não contagiavam o público quantos outras, então tivemos que mudar certas partes para adequar e tentar deixar todas no mesmo nível. Algumas músicas que tocávamos nas primeiras apresentações da banda foram tiradas do repertório, porque ainda não estavam do jeito que queríamos e não cativava tanto o público, ainda vão passar por adaptações e assim poderemos voltar a tocá-las e usar em nossos trabalhos futuros. Qual a opinião da banda sobre a cena Metal hoje em dia? O que acham que poderia melhorar para termos um un-


derground melhor? Ao contrário do que muitos pensam, existem sim bandas boas no Brasil. Após passar por coletâneas e projetos que envolvem músicos do país inteiro, conhecemos muitas bandas dentro do Underground, bandas de nível altíssimo que poderiam muito bem estar em grandes festivais do mundo inteiro. O grande problema é o espaço que essas bandas precisam, principalmente as iniciantes, que não tem um lugar adequado para tocar, na maioria das vezes não recebem nada pelo trabalho e acabam “pagando” para tocar em bares pequenos e sem condições para receber um show de uma banda, o que acaba desanimando muito os músicos. Além do espaço, os fãs de Rock e Metal precisam apoiar mais as bandas da cena, muitos deixam de ir a um show por que não querem pagar R$10 na entrada, porém as bandas grandes internacionais tem um público enorme com ingresso muito caro. É claro que existem muitos apoiadores no Brasil, que assim como nós, querem cada vez mais elevar o Metal no país, a união das bandas e fãs é essencial para isso acontecer. Pela idade de seus integrantes o Codmorse é uma banda mais acostumada com a tecnologia de hoje em dia. O que acham que a Internet trouxe de bom para o cenário musical? A internet hoje é essencial, sem dúvida o meio mais importante para a divulgação de uma banda. Uma banda sem muito dinheiro para investir em uma divulgação mais pesada consegue mostrar seu trabalho através das diversas rede sociais existentes. Através da internet conhecemos profissionais que foram essenciais para o crescimento e amadurecimento da banda, como assessoria, coletâneas 72


e diversas entrevistas em rádios e revistas. A tendência é o meio digital crescer ainda mais o que é muito bom e de suma importância na atualidade. A banda realizou as gravações no Estúdio Pandora em Salto-SP, mas acabou remasterizando o material no Estúdio Corazza em Itu-SP. Por que a banda resolveu remasterizar o seu material previamente gravado? Lembrando que processo de gravação era algo novo para todos membros da banda, o Estúdio Pandora fez com que todo esse processo de gravação e mixagem inicial fluísse de forma magnifica. Tivemos algumas dificuldades, aprendemos muito e podemos dizer que tudo isso influenciou no crescimento da banda. Contudo, após o feedback das gravações que foram divulgadas inicialmente, entendemos que nossas músicas podiam soar ainda melhor e chegamos na conclusão que deveríamos encontrar outros parceiras para buscarmos o som ideal ao nosso gosto, não em questão de qualidade, mas ainda não estava do jeito que nós imaginávamos mas, desde as primeiras gravações, todas as versões feitas foram muito boas e de ótima qualidade, apenas não ficou perfeito ao nosso gosto musical e a nossa proposta Espaço para considerações finais e agradecimentos Gostaríamos de agradecer a todos os amigos e fãs que estão nos apoiando muito durante todo esse tempo, nada disso seria possível sem essas pessoas. Nossa vontade é divulgar a banda ainda mais e buscar o retorno e reconhecimento do nosso trabalho.

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Apresente-se! Me chamo Fabiano Penna, sou de Porto Alegre, moro em São Paulo, sou produtor musical, compositor de trilha sonora e guitarrista do Rebaelliun. Quem era você no começo da carreira e quem é você hoje? Eu comecei a tocar guitarra bem tarde, aos 14 anos. Nem tinha noção que ali eu tava começando uma carreira, que eu iria levar aquilo como profissão, mas lembro que eu já tinha aspirações com minha primeira banda, cobrava dos outros caras (que tinham 11, 12 anos) mais dedicação, pontualidade (risos). Eu acho que sigo sendo esse cara metódico, sempre com algo no horizonte, um plano para um projeto novo, a diferença é que agora eu já tenho uma estrada, uma bagagem. Já realizou todos os seus sonhos? Ainda falta algum? Já sou bem feliz de ter conseguido me estabelecer trabalhando apenas com música, que é um desafio grande no Brasil. Claro que tive que aprender a fazer várias coisas pra viabilizar isso, nunca fiquei em casa decidido a apenas tocar guitarra e achando que o mundo teria que se moldar a isso, eu que me moldei ao mercado: aprendi a gravar em estúdio. Aí, consequentemente, comecei a produzir. Também trabalhei com áudio ao vivo, operando bandas, nos últimos anos me dediquei a escrever música pra cinema. Nesse ponto realizei muita coisa, porque me enfiei em vários projetos interessantes, trabalhei e toquei com muita gente bacana, talentosa, viajei e sigo viajando muito, consegui tocar nuns 20 países já, lancei discos em vários continentes. Mas sigo querendo mais, quero que o Rebaelliun volte a ter uma rotina legal de turnês, que a gente possa gravar discos melhores, também quero voltar a me dedicar pra música de Cinema, finalmente escrever música para um longa. A lista é grande, espero ter tempo de fazer tudo. Do que você tem medo? Tenho medo justamente de morrer e não ter feito tudo que eu tenho na cabeça. E também medo de morrer e meu tra74

Fotos: Pei Fon


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balho ser esquecido, espero deixar algum legado de alguma forma, que alguém se lembre de mim no futuro em função da música Quando era criança o que você dizia que iria ser? Tive várias fases. Como qualquer guri no Brasil, pensei em ser jogador de futebol, cheguei a marcar pra ir à escolinha do Internacional fazer teste, mas felizmente não fui, porque eu nunca fui muito bom de bola (risos). Teve uma época que pensei em ser escritor, cheguei a escrever um livro na infância. Aí já mais perto da adolescência cogitei a arquitetura, pesquisei um tempo sobre o assunto. A música veio tarde, apesar de sempre ter gostado de música. Qual foi a sua maior realização pessoal? Não consigo separar uma apenas, talvez ainda não tenha rolado algo com uma força de parar a vida do cara, olhar pra trás e se dar conta da trajetória. Mas vivo coletando meus bons momentos internamente e lembrando com gratidão todos os passos que eu venho dando, inclusive os difíceis, como quando eu carregava caixa de sonorização nas costas pra pagar as contas. É legal você se dar conta que todas as experiências, as boas e as ruins, é que te moldaram e te dão suporte pra ser quem você é atualmente Qual foi o seu pior momento? Talvez o fim do Rebaelliun em 2002. Eu tinha passado 4 anos vivendo 100% focado naquilo e num determinado momento a convivência entre a gente estava péssima e o projeto se tornou inviável. Financeiramente eu tava quebrado também, não tinha grana, não tinha onde morar, acabei vindo pra São Pau76

lo pra tentar algo diferente e não desistir da música. Foi um momento bem difícil, lembro que perdi muitas noites de sono tentando entender tudo aquilo. Qual cd você gostaria de ter feito? Fale sobre ele. O “Beneath the Remais” ou “Arise” do Sepultura. Acho que conviver com aqueles caras naquela época deve ter sido algo extremamente motivador. Eles estavam numa vibração muito alta como músicos, pessoas, literalmente com sangue no olho. E uns caras do Brasil, mostrando que era possível a gente aqui também fazer Metal e ser relevante lá fora. Esses discos são um marco na história do Heavy Metal e na minha pessoal também, gostaria de ter estado no estúdio com aqueles caras durante essas gravações. O que te motiva? Saber que tem gente que gosta do que eu faço. Mesmo durante os anos em que fiquei sem banda, fazendo música pra curtas, animações, sempre tive feedback disso, gente que se emocionou com alguma música, músicos que ouviram e tiveram vontade de também escrever pra audiovisual em função do meu trabalho. Acho que motivar os outros é o que mais me motiva. Houve algum momento na sua carreira que você pensou em desistir? Lá pelos 20 anos eu pensei seriamente em largar a música. Tava sem banda, cortei o cabelo, trabalhava numa produtora de publicidade e gravava bons músicos, aí meio que achei que música não era pra mim, já que eu não tinha o nível daqueles caras. Tava meio conformado em me dedicar ao áudio e também achava que iria me organizar financeiramen-


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te melhor me dedicando a um emprego. Isso foi em 1997, aí no ano seguinte resolvi montar o Rebaelliun e de lá pra cá nunca fiquei sem trabalhar com música, acho que aquele ano foi crucial pra tudo o que veio depois. Qual são as 5 bandas que você mais gosta? Slayer: é minha banda de Metal favorita, pra mim eles são o sinônimo do que o Metal representa, são rápidos, pesados, sujos, diretos, obscuros. Meu álbum favorito é o “South of Heaven”. Sepultura: seria a versão do Slayer tupiniquim, em termos de importância pra mim, apesar de que é uma banda com uma identidade própria gigante (na fase do Max, óbvio) e que realmente me inspirou a tocar guitarra e ter uma banda de Metal. Meu disco preferido deles é o “Arise”. Morbid Angel: maior banda de Death Metal da história, falem o que quiserem, segue sendo os maiores. Além do som poderoso, principalmente do começo da carreira, mostraram que uma banda de Metal extremo podia ter maior exposição e atingir maiores públicos. Meu disco predileto deles é o “Covenant”. Metallica: demorei a gostar deles, e isso quer dizer que nos meus primeiros meses como headbanger eu preferia coisas mais agressivas, como o Slayer e o Sepultura. Aí resolvi dar uma chance e o “Ride the Lightning” acabou sendo o primeiro LP que comprei na vida, acho que em 1990. Meu álbum predileto é o “Master of Puppets”. Krisiun: grandes amigos que conheci em 1991 mais ou menos, e que nos ensinaram muito musicalmente e pessoalmente também. Vieram morar em SP em 1992, foram melhorando o som deles demais ano após 78


anos e chegaram onde sempre quiseram, se consolidaram como uma força no cenário mundial. Um exemplo gigante pra mim de como se trabalhar. “Conquerors of Armaggedon” é provavelmente o disco deles que eu mais gosto. Diante de tantas dificuldades, o que te inspira a continuar na música? É saber que isso é o que eu gosto de fazer e que também já sobrevivi a tantas coisas que acho difícil a essa altura eu mudar tudo e fazer outra coisa da vida. Eu gosto muito do que eu faço, boto 100% da minha energia em qualquer projeto que eu entre de música, então acho que vou continuar trabalhando com isso até o final. Você posta muita foto como o seu cachorro. O que ele representa na sua vida? Haha, essa é uma pergunta nova! O Jimi é com certeza meu melhor amigo (literalmente), às vezes ele é um filho, às vezes ele é um amigo mesmo, e tá sempre ensinando alguma coisa pra mim. Adotei ele há quase 4 anos, ele já chegou em casa adulto e ‘rodado’, morou na rua, foi adotado e devolvido, então o começo da nossa relação foi meio tumultuado, porque ele chegou em casa e queria dar as ordens. Mas bem rápido ele entendeu que as regras eram pro bem dele, se adaptou à rotina, é super parceiro e procuro incluir ele em boa parte das atividades que eu faço. Pra quem tá lendo, fica a dica: adote um cachorro, é o melhor investimento que se faz! Você escolheu a guitarra. Quem foi o seu ‘mentor’? Eu não tenho um mentor, até porque sou autodidata. Mas há várias pessoas com quem 79


pude contar nesses anos todos e uma delas é o Ronaldo, do Rebaelliun. Ele é um cara com um talento ímpar, que tem um dom na música que vi em poucas pessoas durante todos esses anos que eu trabalho no meio, que tem uma curiosidade gigante também com qualquer estilo musical ou instrumento, e que sempre me puxou pra eu ser um músico melhor, mesmo sem ele ter consciência disso. Lá no começo eu fazia uma competição interna na minha cabeça pra tentar ser tão bom quanto ele, mas num determinado momento me dei conta que o talento dele era algo tão natural que eu nunca tocaria do jeito dele. E aí comecei a buscar meu próprio jeito de tocar usando ele como referência, como inspiração. A maioria das pessoas só o viu tocando com o Rebaelliun e sabe que ele é um baita guitarrista, se vocês um dia pudessem ver ele tocando música brasileira no violão tenho certeza que ficariam bem surpresos com a versatilidade dele A banda voltou após um período longe dos palcos. Qual é o sentimento nesse momento? A volta em si foi algo bem forte pra mim, porque foi retomar um projeto que foi muito legal no passado e que pra mim foi meio que o começo de tudo. Eu tive outras bandas antes, mas foi a partir do Rebaelliun que me enfiei na música e não saí mais. E depois de 15 anos retomar a banda do ponto que paramos foi meio que fechar um ciclo, difícil explicar. E tinha o desafio de fazer isso virar, cada um morando numa cidade, todo mundo nos seus 40 anos, com sua vida própria andando, e estamos perto de completar 1 ano e as coisas estão andando muito bem: gravamos o disco, já saiu e as resenhas não poderiam ser melhores, o público no geral tem falado muito bem do disco também, temos shows marca80

dos, vamos pra Europa em Agosto, enfim, a coisa tá andando no ritmo que a gente queria. O sentimento é de gratidão por ter a chance de fazer isso de novo Existe algum tipo de ritual antes de subir ao palco? Não existe, mas deveria existir (risos). Eu sou meio ligado em 220, estou sempre fazendo e pensando várias coisas ao mesmo tempo, e muitas vezes faltando 1 minuto pra começar o show to pensando se tá tudo certo, se o merchandise tá saindo, se tem algo pra resolver assim que acabar o show, etc. Sou ciente que se eu ficasse mais concentrado, talvez o show em si inclusive fosse melhor… É algo a ser trabalhado. Todo mundo tem uma mania, qual a sua? Eu tenho várias. Talvez uma bem evidente é checar tudo duas vezes sempre, eu preciso sempre me certificar que tá como eu acho que tem que estar. Vou acabar a entrevista e vou reler tudo pra ver se não dá pra melhorar. Faço isso quando escrevo um email, quando gravo algo, quando crio, quando afino a guitarra. Deixa aqui uma mensagem para nossos leitores. Muito obrigada! Bom, primeiramente obrigado Pei pela entrevista e pela tua força! Agradecer a quem leu a entrevista inteira, muito bacana falar um pouco da minha trajetória, espero que faça sentido pra quem dedicou seu tempo pra ler. E se eu posso dizer algo de construtivo, vá atrás dos seus sonhos, não desista e bote você em primeiro lugar, você deve ser seu projeto mais importante sempre!


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