Rock Meeting Nº 76

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EDITORIAL

2016 = pLanos J

á fizeram seus apontamentos para 2016? O ano já começou e muitas coisas estão acontecendo. O que vamos esperar dele? Não sabemos. Só temos a esperança de que as “coisas” possam melhorar. Não obstante das questões políticas, enxergamos um cenário bem complicado no que tange ao entretenimento. Alguns shows já foram marcados, ingressos vendidos e os custos aumentando todos os dias. Onde vamos parar? Não temos ideia. Mas o que temos ciência é que a atual conjuntura do país é um prato cheio para composições. E assunto é o que não falta. É complicado pensar no amanhã sem ver o que está acontecendo hoje. Você pode até desanimar, mas continue a sonhar. É isso que nos move e qualifica nossas metas. Sobre a meta. Anote todas elas. É preciso traçar o caminho que quer seguir e lutar por ele. Assim, quando você olhar para trás, terá orgulho de si de, pelo menos, ter tentado. Arrependa-se pelo que fez e não pelo o que não fez. Mas seja consciente, por favor! No mais, alegrai-vos porque inicia mais um ano! Força para todo mundo!


TABLE OF CONTENTS 07 - News - World Metal 10 - Lapada - Você é true radical? 16 - Entrevista - Peso Morto 26 - Entrevista - Jailor 38 - Capa - Decomposed God 48 - Entrevista - Malkuth 56 - Entrevista - Empire of Souls 64 - Perfil RM - Eder Macedo (A Sorrowful Dream) 68 - Especial - Lemmy


Direção Geral Pei Fon Capa Alcides Burn

Colaboradores Alex Chagas Jonathas Canuto Marcos Garcia Mauricio Melo (Espanha) Maicon Leite CONTATO contato@rockmeeting.net RockMeeting.Net



Foto: Deivide Leme

Novo álbum

Perto do lançamento do novo álbum, o Dysnomia libera um vídeo com uma amostra do que virá no novo material. Intitulado ‘Proselyte’, o disco será lançado no dia 13 de janeiro. ‘Proselyte’ é o álbum de estreia da banda, que tem em sua discografia o EP “As Chaos Descends” (2013) que recebeu excelentes críticas da mídia especializada. O álbum traz uma banda mais madura e entrosada. A arte da capa ficou a cargo do renomado artista brasileiro Gustavo Sazes (Morbid Angel, Arch Enemy, Legion of the Damned). Para ficar por dentro das novidades que a banda divulgará até o lançamento do disco, curta a página no facebook. Assista agora o teaser do novo álbum. Foto: Bruno Higa

Foto: Paula Linhares

Audição gratuita

Finalização do Álbum

O grupo oriundo de Campo Grande/MS, Hellmotz, inicia 2015 com um presentão para seus fãs e amigos e libera gratuitamente o álbum ‘South Born’ para audição. ‘South Born’ é o primeiro álbum do grupo e foi gravado no estúdio Anubis e contou com produção, mixagem e masterização de Aldo Carmine. Para conferir todas as dez faixas que compõem o disco e a faixa-bônus, AQUI.

Com a entrada do baterista Richard Brandelik, a banda paulista Life in Black estabiliza sua formação e começa a busca para conquistar seu espaço no concorrido mercado do Metal Nacional. Agora com todas as etapas de gravação finalizadas, falta pouco para o lançamento oficial de seu debut, com previsão de lançamento para o primeiro semestre de 2016. Informações da banda no facebook.

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Fasthrashers na estrada

EM NOME DA LEI

OS fasthrashers do Andralls farão uma mini-turnê pelo estado de São Paulo ao lado dos poloneses do Terrordome. De 21 a 25 de janeiro em São Paulo. Paralelo aos shows, o Andralls se encontra em processo de composição de seu novo álbum, que tem previsão de lançamento para o segundo semestre de 2016. Mais sobre a banda na sua página oficial no Facebook. Acesse AQUI.

A banda D’Hanks foi convidada para participar da trilha sonora do filme “Em Nome da Lei”, que estreia em 21 de abril de 2016. O primeiro teaser do longa, que foi lançado no dia 16 de novembro. Inspirado em fatos reais, “Em Nome da Lei”, do diretor Sergio Rezende (“Salve geral”), conta a história de um jovem juiz federal obstinado em fazer justiça na fronteira do Brasil com o Paraguai. Teaser.

Vencedor ArtistSignal O vocalista Alex Voorhes, da banda carioca Imago Mortis, venceu o concurso mundial ArtistSignal, sendo o primeiro artista do gênero Heavy Metal a conquistar o prêmio. O ArtistSignal é um concurso onde mais de 4 mil artistas do mundo todo concorrem a um prêmio mensal de 10 mil dólares em um sistema de votação online. O artista mais votado do mês recebe o prêmio, sendo que só ele pode ganhar uma vez. Em seguida, torna-se um ex-vencedor e apenas ganha uma pequena quantia em dinheiro todo o mês, de acordo com sua votação. Tratando-se de um concurso mundial, AalexrtistSignal possui uma disputa difícil entre os participantes. Mas apesar de sua importância na valorização dos artistas e bandas independentes, o ArtistSignal não é, infelizmente, muito conhecido no Brasil, principalmente pela comunidade Heavy Metal. 08


“My Unconditional Faith” O músico gaúcho Rodrigo Marenna teve um saldo mais do que positivo no ano de 2015. Com o lançamento do EP “My Unconditional Faith” em agosto, Marenna recebeu – e ainda vem recebendo – ótimas críticas pela mídia especializada brasileira e internacional – Alemanha, Austrália, Itália, Espanha e França são alguns países em que o músico deixou a sua marca musical. Na versão Europeia do EP contém os quatro singles e dois sons bônus track, além dos 3 primeiros vídeos lançados entre o final de 2014 e início deste ano. O clima do material sonoro é alicerçado no clássico do A.O.R oitentista, mesclada aos melhores recursos e sonoridades da atualidade, com muitas melodias de vozes e guitarras, abordando a mensagem de “Vá em frente e nunca desista dos seus sonhos”.

Nova formação

Destaque

O grupo de classic heavy metal paranaense Hazy Hamlet anuncia mudanças na formação. Deixam a banda Arthur Migotto, que, além de vocalista, desempenhava os papéis de compositor e produtor, e Cadu Madera, baterista. Esta é a primeira mudança desde março de 2008 - período que antecedeu o lançamento do disco “Forging Metal” - quando o grupo se estabilizou com a entrada de Cadu Madera. Ambos integrantes deixam a banda por motivos pessoais e de maneira amigável.

O ano mal começou e a banda Semblant ainda colhe frutos de seu trabalho em 2015, e recebe indicação de destaque para 2016. Enquanto a banda ganha destaque há 3 semanas no primeiro lugar do site da Amazon MP3 no segmento “Goth/Industrial”, na frente de bandas como KMFDM e The Birthday Massacre. Já no site Leitura Dinâmica da Rede TV!, a banda ganhou destaque com um das promessas para 2016. Confira o vídeo do programa Leitura Dinâmica AQUI.

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Lemmy Kilmister está de olho em você Já não é novidade que o velho mais aloprado do Rock and Roll, Ian Fraser “Lemmy” Kilmister, a força motriz por trás da máquina de guerra chamada Motörhead, veio a falecer em 28/12/2015, de uma forma bem agressiva de câncer. Óbvio, todos nós sabemos e lamentamos a partida do Mr. Rock and Roll, que andou 70 anos entre nós e deixou uma enorme herança para todos. Mas qual é, antes de tudo, o legado de Lemmy? No fundo, todos nós colocamos os ídolos como modelos de nossas vidas. Ok, não tenho nada contra, mas por que será que alguns trues comedores de capim continuam não entendendo aquilo que leem, sabem e enxergam com os próprios olhos? O Pai Marcão vai dar uma de Platão e arrancar vocês da caverna em que se colocaram, cheia de radicalismo bolorento e ideias (que “os anos 80 eram...”) distorcidas que imputaram em vossas mentes. O mito da caverna começa agora, logo, preparem os traseiros, crianças, pois a palmatória chegou! Antes de tudo, é preciso dizer que este

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sujeito (Lemmy) nasceu há 70 anos na Inglaterra, e viu o Rock and Roll nascer e se desenvolver. E não é preciso dizer que ele tocou com o Rockin’ Vickers, foi roadie do Jimi Hendrix Experience, e se juntou ao Hawkwind em 71, sendo demitido sumariamente em 75, para então formar o Motörhead. Mas fora isso e os discos da banda, o que mais você conhece de fato do velhinho? Antes de tudo, Lemmy nunca teve ideias radicais enquanto músico. Ou alguém aqui


esquece que ele, ainda lá nos 70, tocou com o The Damned (uma banda Punk, sendo que Lemmy era amigo dos caras e o Motorhead e o Damned chegaram a dividir o palco algumas vezes). Gravou o baixo do compacto “I Just Can’t Be Happy Today” / “Ballroom Blitz”. Gravou uma participação com a ex-vocalista do Plasmatics (outra banda Punk), Wendy O. Willians, no single “Stand by Your Man”. Ok, eu sei que hoje em dia existe uma tolerância mútua entre Punks e Bangers, mas na época,

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era algo bem difícil de acontecer. Ah, você ainda fala em Metal Punk (um rótulo tosco que serve apenas para inflar o ego de alguns trues, pois no fundo, é apenas o que o Motörhead já fazia nos anos 70, e que foi clonado até a exaustão no início dos 80? Tudo bem, Lemmy e o Motörhead nos anos 90 fez uma versão para “Born to Raise Hell” para a trilha sonora do filme “Os Cabeças de Vento” (deve ser um filme para trues), onde estão Whitfield Crane (vocalista do Ugly Kid


Lemmy e Dave Grohl (Foo Fighters)

Joe, uma banda bem odiada por radicais bobocas, mas muito divertida) e o rapper Ice-T (que na época já tinha o Body Count, uma banda que misturava Heavy Metal, Hardcore e Rap, outra bem odiada pelos novatos “anos 80”). E a participação no Probot, projeto de Dave Grohl (do Foo Fighters, ex-Nirvana, duas bandas execradas pela nata “anos 80” nascida nos anos 90). Estes dois parágrafos apenas para deixar claro que Lemmy não era e nem nunca foi radical. E de onde estiver o velhinho, deve estar de dedo médio em riste para você.

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Outro ponto interessante: Lemmy gostava muito de mulher, outra que todos sabem. Mas em uma declaração para a revista Maxim de junho de 2006, ele declara: “eu vi toda a equipe de Ozzy Osbourne traçar uma mesma garota uma vez. Mas ela topou, então qual o problema? Se um cara transa com nove garotas numa noite, você diria que ele é um heroi. Mas se uma garota fizer algo semelhante você dirá que ela é uma vadia. Eu não penso assim, e isso não é justo. Mulheres têm orgasmos múltiplos, que nós não temos.” Nada chauvinista, mas fala no reconhe-


Lemmy, Ice-T e Ugly Kid Joe

cimento da mulher como igual ao homem. Um tema atual e polêmico, mas ele mostra um conhecimento bem profundo. Lemmy nunca foi um conservador! Outro ponto de Lemmy que é um tiro nos culhões dos trues bobocas: era um cara extremamente divertido, e muitas vezes bonachão. Poucas são as entrevistas onde ele, com aquele inglês quase ininteligível, aprontava das suas. Uma especial: na Rock Brigade número 18, que saiu no início de 1986 e tinha o Kerry King na capa, o querido Toninho Pi-

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rani fez uma entrevista com a banda. Em um dado momento, o telefone toca. Lemmy atende, balbucia algo e desliga na cara (a famosa porrada com o telefone no gancho), vira pro também finado Wurzel e diz “era a Bo Derek querendo falar com você, e eu mandei ela se foder!”. Até hoje dou gargalhadas disso. E não são poucas as divertidas respostas que ele deu nesses anos todos. Mais uma em um tema que é tabu: todos sabem que Lemmy era colecionador de itens da Segunda Guerra Mundial, em especial de coisas ligadas à Alemanha Nazista. Ele


falou muitas vezes que era fã dos itens, não da política (mesmo porque ele era bem anarquista). Se alguém usa uma cruz de ferro por aqui, todo true boboca já fala asneiras. Aliás, a única coisa que um true boboca sabe usar é a língua para fofocas... E pelo visto, é a única função de suas vidas. Lemmy nos deixou muitas lembranças boas, músicas ótimas, e mesmo um exemplo de vida em muitos aspectos. Logo, que tal pararem de imitar o que é mais fútil dele (como bebidas, drogas e outros), e passarem a imitá-lo na inteligência, na visão eclética da música e tudo mais de positivo que ele deixou? Vale a pena! E encerrando: Rock in Peace. You were born to lose, but you lived to win!

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Por Raphael Arízio Fotos: G.Frazao

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banda Peso Morto vem obtendo um bom destaque no Underground com o lançamento do seu primeiro EP autointitulado. Vamos ver o que os integrantes têm a nos dizer sobre a repercussão desse lançamento e de seus planos para o futuro da banda. Como tem sido a repercussão do EP “Peso Morto”, está dentro das expectativas? E por que a banda resolveu liberá-lo para download? Tem sido ótima! Aumentamos nossa base de fãs e visualizações nas redes e em nosso site firmamos parcerias, passamos a receber mais propostas para tocar. Sem dúvida, o lançamento do disco trouxe mais reconhecimento para a gente. Resolvemos liberar para download porque achamos que é o melhor meio de um artista desconhecido vir a público e porque somos uma banda relativamente nova que tem uma necessidade de, antes do lucro, ser conhecida. A banda divulgou que está gravando um vídeo novo para divulgação, como anda a produção desse clipe? Já tem data de lançamento? Estamos produzindo um lyric vídeo da música “Corpo Fechado” que sai até 20 de janeiro. E temos mais dois clipes ao vivo como partes de um projeto do qual fomos convidados a tocar do estúdio Orbis. Para essa iniciativa, vamos soltar a música “Zumbis” e uma nova que não está no disco, mas achamos interessante de gravar porque mostra a direção que a banda 18

está seguindo e mais alguns detalhres a galera pode esperar do nosso som. A música “Futuro Negro” se destaca entre as demais com riffs e passagens marcantes. Pode-se dizer que é como se fosse o hino da banda? Como tem sido a repercussão dela com público? O hino da banda ainda está por ser gravado e virá no nosso disco. É uma música chamada “Morra Corrupto” que foi a primeira que todos os integrantes aprenderam a tocar do Peso


Morto e, por isso, a gente diria que tem um valor sentimental maior, por ser a mais velha das nossas criações e a nossa música mais longa. Já quanto a “Futuro Negro”, acho que a atração do público seria pelo fato dela ser umas nossas músicas mais sombrias. Tantos os riffs quanto a letra são uma verdadeira descida ao inferno, no som a gente fez isso com uma pegada bem Thrash clássica e na letra com várias referências literárias que vão desde o “Inferno de Dante”, passando pelo inferno bíblico até a baratrosfera, que é o inferno da visão espiri19

tualista. Em outras palavras em uma descida veloz e barulhenta ao abismo da consciência. O Peso Morto tem preparado o lançamento de seu primeiro full-lenght. Como andam as gravações desse play? Tem algum nome definido, o disco vai seguir alguma ideia conceitual ou será livre? Estamos gravando as novas músicas no mesmo processo do EP para depois refinarmos a produção geral de todas elas e dar unidade


para o disco. Ainda estamos na fase do que vai entrar e o que vai ficar fora. Sem dúvida, a galera pode esperar músicas ainda mais pesadas do que o que já soltamos no EP. No EP procuramos lançar as bases do nosso som, o que vem pela frente é um aprofundamento disso. Estamos buscando variar bem uma música da outra para cada uma ter sua originalidade. O disco ainda não tem nome, mas todas as músicas têm um pouco desse conceito niilista da realidade, pensando assim dá para dizer que será um disco com um conceito implícito em suas composições. A cena de Brasília tem se destacado com ótimas bandas aparecendo no cenário nacional. Como a banda vê a cena da capital do país e quais se destacariam? Brasília sempre foi um celeiro de boas bandas e 20

grandes talentos. Mas apesar de lançar muitas bandas, as dificuldades de fazer um som autoral por aqui são as mesmas de todos os lugares. Ou seja, exige muito mais ralação e persistência para conseguir atenção das casas de shows e do público do que tocar cover, por exemplo. E quando o assunto é metal extremo, o público e os espaços são ainda mais escassos. Porém, eu acho que o underground é bem unido e acaba que uma banda ajuda a outra a aparecer, ou mesmo, uma banda se espelha nas conquistas das outras o que acaba incentivando e inspirando novos grupos e o ciclo se mantém. Fora isso, a cena de rock e metal de Goiânia, nossos vizinhos, também ajuda muito a manter essa troca de artistas e o movimento das bandas aceso e, ainda por cima, oferece muitos festivais e casas de shows dedicados ao gênero. Quem acha que lá só toca sertanejo, está bem


enganado. São tantas bandas legais que é até injusto citar umas e não falar de outras, porém algumas são bem representativas do metal em nosso cenário, como: Bruto, Deceivers, Moretools, Optical Faze, Regicídio, Slow Bleeding, Valhalla, Dark Avenger, Estamira e mais uma pancada de coisa boa que dá orgulho a nossa cidade. O som da banda apresenta inúmeras características de diversos estilos com Metalcore, Thrash e alguns elementos de Death Metal. Quais são as influências da banda para chegar nessa mistura de estilos e como é a forma de composição da banda para chegar nessa mistura? Não temos um padrão em nossa forma de compor. Geralmente definimos qual tema a música vai tratar. Exploramos primeiramente a sono21

ridade instrumental que casa com o queremos dizer, além de dar a densidade que gostaríamos. Em seguida, fazemos o esqueleto da letra e vamos adaptando de acordo com o som. Às vezes a ideia vem de um rife de guitarra, por vezes do baixo ou de uma levada bateria. Varia muito de uma para outra, o bacana é que todos os integrantes participam ativamente da criação. Essa mistura de influências vem, na verdade, da diferença de gostos dos integrantes e em nossa vontade de não soar pasteurizados no meio da cena. Na banda, tem um que curte Cannibal Corpse, outro que gosta de Thy Art is Murder, outro curte Overkill, outro Pantera e por aí vai. A banda nasceu com o fim do “Red Soil”. De onde veio a ideia de começar algo novo e por que dessa mudança do inglês para o português na nova banda?


Com o fim do Red Soil nós mudamos quase todos os integrantes da banda, mantendo só o vocal e a guitarra base. Achamos legal que os novos integrantes sentissem que faziam parte de algo novo, de um lance que começaria com eles, que seria definidos pelo que eles pensam e tocam e não dos remanescentes de uma banda antiga. Acreditávamos que isso daria mais liberdade para criar e mais responsabilidade para cada um. No Red Soil sentíamos com as músicas em inglês que o público entendia menos nossa mensagem e por isso interagia menos com a banda. Falar um “puta que pariu” é bem mais libertador e sincero que um “Fuck you” e, no final das contas, a gente queria fazer um show que fizesse o cara pensar mais no final, deixasse algo remoendo na alma do público. Com as letras em português o resultado foi imediatamente mais claro nesse sentido. Passamos a ouvir comentários do tipo “Curti o que você falou naquela música” ou “aquela letra é foda...” e etc. Ser vistos como uma banda que faz parte da cena nacional foi mais recompensador do que ser vistos com uma banda de pretensões internacionais e que não falava a língua de quem nos escutava. Nada contra quem canta inglês. Funcionou melhor para a gente. A gravação do E.P foi feita no Home Studio de cada integrante da banda. Por que a banda teve essa ideia de gravar em casa e como foi o período de gravações e a captação de todo o material? A falta de dinheiro é a mãe da criatividade (risos). A solução veio em partes pela falta de grana para produzir e em partes do alto padrão do que escutávamos de bandas que estavam trilhando esse caminho de produção independente. Nossa ideia inicial era mais um “bora ver se dar certo” e durante o processo senti22


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mos que daria para chegar no resultado que a gente esperava e que ainda ganhávamos muito com a liberdade de tempo para criar durante as gravações. Já usávamos os equipamentos no processo de composição e experimentamos dar esse passo além para produzir também. Algumas das músicas foram incrementadas durante a gravação delas com ideias que surgiam durante o processo. Estar na casa de um amigo enquanto você cria é que traz um clima despretensioso que ajudava no surgimento de novas bases, letras e estas mudanças ficam de vez nas músicas. Com a ajuda de amigos, como o Riti Santiago, que era da área de produção e mixou nosso álbum, criamos mais gosto e empolgação pelo processo e resolvemos lançar o EP. Espaço para considerações finais e agradecimentos. 24

O Peso Morto está animado para este 2016, em razão do forte trabalho que estamos realizando para lançar seu primeiro álbum oficial. Iniciamos os ensaios também, algumas novidades para trabalhos futuros e com a expectativa de divulgar cada vez mais nosso som aos headbangers do Brasil e do mundo, contando com o apoio dos amigos, parceiros e público em geral. Neste sentido, registramos um agradecimento a todos que nos apoiam, mais especificamente aos colegas Alex, da Black Legion Production pela ótima assessoria de imprensa prestada nos últimos meses, ao produtor Riti Santiago pela mix do nosso Cd Demo, ao designer Diego Moscardini pela arte final do nosso primeiro álbum oficial e ao público metaleiro em geral que, mesmo diante às dificuldades rotineiras da cena, a faz manter viva e forte!!! Valeu galera!



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Por Raphael Arízio Fotos: Divulgação

O Brasil sempre revelou inúmeras bandas de Thrash ao longo da sua história. Não é diferente com os sulistas do Jailor, que chega ao seu terceiro disco (“Stats of Tragedy”) com um Thrash Metel visceral e matador. Conversamos com o vocalista Flávio Wyrwa para saber como está sendo para a banda esse lançamento e seus planos futuros. Como tem sido a repercussão do disco “Stats Of Tragedy”, está dentro das expectativas da banda? O disco “Stats of Tragedy” traz várias mudanças no que se refere à banda, principalmente em sua formação e estrutura. O baterista Jeff juntou-se à banda, tocando bateria de forma violenta e muito precisa, além disto, guitarrista Guima substituiu-me na guitarra, liberando o vocalista, que na época também tocava guitarra, para obter maior foco no vocal. Estas foram as mudanças que entendíamos como necessárias, e que já podem ser sentidas nas composições e arranjos deste disco. Já nas primeiras resenhas e comentários de pessoas que adquiriram o CD, vimos que obtivemos um resultado muito melhor que o primeiro disco, tanto que, quando nos demos conta, tínhamos deixado um pouco de lado as músicas do primeiro disco nos shows. Então, sentamos e decidimos mexer um pouco no set, mesclando músicas de ambos os CDs. O retorno do público está bem acima do esperado. Os headbangers têm recebido muito bem, com opiniões bastante positivas e, principalmente, batendo muito cabeça. Também nos satisfaz muito, além da pegada das músi28

cas, ver que os ouvintes prestam muita atenção ao contexto das letras. Nestes quase dois meses desde que recebemos os cds, já houve uma distribuição muito grande dele, que foi uma grata surpresa. Este ano pretendemos estender a divulgação, buscar ferramentas online e obter o máximo retorno com este disco, pois, é um material de excelente qualidade e que todo headbanger merece ouvir e comprovar. Estamos também entrando em uma coletânea de uma grande revista internacional, a Terrorizer, que será lançada agora em 2016. Achamos que será um ótimo trabalho e chance de divulgação no exterior. O disco foi gravado no estúdio Avant Garde Studios (Curitiba) com o produtor Maiko Thomé Araújo. Como foi esse período de gravação e trabalho com Maiko? O que ele acrescentou ao som da banda? O período de gravação foi bastante tranquilo, pois entramos no estúdio sabendo o que queríamos em termo de composição e produção. Claro que há sempre ajustes, pequenas mudanças de planos, que é normal de um processo de gravação de um CD. Mas, como já entramos bastante focados, isto ajudou muito a superar pequenas dificuldades e obter o melhor resultado. O Maiko é muito competente em entender os anseios dos músicos e os transformar, usando as ferramentas do estúdio em um grande resultado final. Seu domínio técnico foi fundamental para chegarmos onde queríamos. A banda fechou uma parceria de merchandising com a Zn Store. Como aconteceu essa parceria e o que tem trazido


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de benéfico para a banda? A parceria é bem recente e foi algo meio inusitado. Eu compro muitos produtos lá e vi que, dentre as bandas já consagradas, havia muitos nomes novos do cenário nacional. Senti que a proposta do site também era dar apoio ao metal nacional, e isto achei excelente! Entrei em contato, mandei o som, o pessoal curtiu e retornou o contato. Além disto, eles apresentam uma proposta bastante interessante, que não é sugar a banda, fazendo ela comprar um monte de merchandising, quantidades mínimas e tudo mais. Eles produzem sob demanda, o que torna muito vantajoso para ambos os lados, e é isto que buscamos, parcerias, e não uma balança que penda para apenas um dos lados. Os nossos produtos já estão disponíveis na ZNStore. Lá o headbanger pode encontrar muita coisa, desde importantíssimas e indispensáveis canecas de chopp, passando por canecas de café (para a ressaca) e chaveiros, tags militares e tudo mais. Vale a pena conferir! Acesse AQUI! O Jailor já é uma banda com vários anos na estrada e com integrantes com muita experiência no Underground. Como a banda vê a cena atualmente o que acham que poderia mudar para melhor? Estivemos um período parados, por viagens de integrantes, e por mais idiota que possa parecer, as coisas mudaram muito. De uma banda que vendia demos em k-7 por carta, vimos o crescimento de zines online, o surgimento de mp3 e lojas de músicas sob demanda. Mas, se os meios parecem ser mais fáceis para divulgação, por outro lado, é difícil chamar a atenção, já que há um mercado totalmente aberto e muitas bandas inseridas nele. Isto também reflete o comportamento do público que, a 30


nosso ver, está bastante diferente do que era há alguns anos. O grande desafio é a banda se fazer conhecer, e isto deve ser levado em conta pelos músicos. Creio que o underground poderia ser um pouco mais profissional como um todo. As casas oferecerem melhor estrutura, melhores shows. Poderia haver maior e efetivo apoio das iniciativas público e privadas por meio de oferecimento de patrocínio e incentivo, que poderia vir na forma de isenções ou abatimentos tributários, como, por exemplo, diminuição de carga tributária sobre os equipamentos musicais, tão necessários ao bom desempenho dos músicos. Também ampla revisão dos Direitos Autorais, que beneficiaria outros tipos de artistas. Viria a calhar uma ampla reforma nos órgãos de registro e pagamento dos direitos autorais. Ou seja, a cultura deveria ser tratada como algo efetivamente importante, e não ficar restrita aos artistas que já tem alta disponibilidade monetária. As bandas poderiam verificar o que podem fazer pela cena local, apoiando e prestigiando seus conterrâneos, unindo-se independente da vertente que escolheram executar. Uma cena unida cresce com maior vigor. Da parte do público, creio que dar maior suporte às bandas, indo aos shows, interessando-se e adquirindo o material que as bandas disponibilizam. Maiores retornos financeiros possibilitam a organização de melhores shows e faz com que os produtores se interessem em realizar mais eventos. Não concordo quando se diz que o público não se faz presente aos shows por causa do nível musical das bandas. Quem diz isto parece não estar frequentando os eventos, pois há sim muitas bandas com músicos competentes e bom material sendo lançado. Pegan31


do um exemplo, no mês em que lançamos o nosso CD, tivemos várias outras bandas que o fizeram, e com som de excelente qualidade, do qual os headbangers devem se orgulhar: Division Hell, Necroterio, Mercy Killing, Motorbastards, Eternal Sorrow e Third Ear. Com tantos bons lançamentos, ficamos orgulhosos e propusemos às bandas que citei que suas músicas fossem divulgadas em nosso show de lançamento. Então, tocamos as músicas selecionadas por ela no som mecânico, anunciando tais bandas e o CD. É uma iniciativa pequena, mas que é uma forma de divulgar o trabalho de todos e trabalhar pelo fortalecimento da cena. Como foi a experiência para a banda dividir o palco com lendas do Metal como Morbid Angel, Exodus, Exciter, Ratos de Porão e Krisiun? Quais as vantagens de tocar em shows assim? Acho que a maior diferença é o tempo exíguo que você tem no palco [risos]. Creio que faz bem ao currículo da banda, dando visibilidade, mas também a necessidade (e chance) de conquistar com sua música um público que não é seu. Também, quando há a oportunidade, obter experiência com os músicos destas bandas e staff. No entanto, para nós, os shows com 10 e 10.000 pessoas é encarado com seriedade e temos que dar o nosso melhor. Estar no palco com grandes nomes consagrados do metal mundial é tão gratificante como estar no palco com excelentes bandas locais ou regionais que estão mostrando seu trabalho, ainda que não seja muito conhecido. O álbum “Evil Corrupts” foi lançado em 2005. Passado uma década de seu lançamento, qual é o saldo que a banda tira 32

de seu lançamento e quais são as melhores memórias da época do primeiro disco? Costumamos dizer que o legal de uma banda é quando há amizade, e poder dividir histórias com os caras! E são muitas! Tiramos algumas lições proveitosas de nosso primeiro álbum como: “na dúvida toque mais rápido”, “fodam-se as críticas, o que vale é curtir o metal” e “não esqueça de sua cerveja quando for subir ao palco” [risos]. Claro que a própria experiência de lançar o seu primeiro álbum é indescritível! É muito gratificante ver uma obra completa que se iniciou de um pacto que quatro caras doen-


tes por metal fazem, surgindo cada riff, que vão sendo colocados em sequência e formam, enfim, uma música completa! É um grito de liberdade dado em um país que dá de ombros para a sua cultura e que tanto lixo cultural é produzido. Remar contra toda esta maré, produzindo algo com qualidade, a despeito das dificuldades é uma grande vitória. O Thrash Metal tocado pela banda impressiona pela agressividade, mas não deixa a desejar em técnica e arranjos muito bem feitos com riffs para quebrar a cabeça bangers. Como é o processo de composição da banda? E como é ter que 33

dosar esse lado de soar agressivo, mas sem perder a técnica? Trabalhamos com a mesma dedicação desde os primeiros discos: primeiro fazemos as composições, todos juntos, depois é feito o trabalho do vocal, encaixado no esqueleto de música feito anteriormente. Então, eu escuto a música diversas vezes, sentindo as partes onde pode haver vocal, quais partes precisam ser alongadas ou suprimidas. Deste esqueleto de vocal, cantado em inglês macarrônico com várias repetições de “blood” e “hell”, sai uma letra final, acrescentando mais “blood” e “hell” ainda. Acho que esta dosagem é feita a partir da execução. Tiramos algo que soe alegrinho, ou


que não esteja vigoroso. Penso ser algo natural para quem trabalha com o thrash. Por outro lado, não vemos que a música deve impressionar pela técnica, mas sim pelo equilíbrio entre técnica e feeling. E sempre tentamos produzir este equilíbrio sem ter um som demasiadamente técnico ou muito cru. O Sul do Brasil está sempre se destacando com ótimas bandas como o próprio Jailor e nomes com Division Hell, Distraught e lendas como Krisiun e Leviathan. Como a banda vê o cenário do Sul em relação a outros estados como Rio e São Paulo? Quais as principais dificuldades apresentadas para se apresentar mais em outros estados mais distante por exemplo? Temos orgulho de fazer parte deste celeiro de grandes nomes e músicos. Lembro das primeiras resenhas que lemos de nossa primeira demo tape, que diziam que “esta é mais uma excelente banda do Sul, celeiro de grandes bandas”. Mas, claro, deixando o bairrismo de lado, o Brasil como um todo possui muitas bandas de grande potencial espalhadas por todas suas regiões e territórios. É injusto, desnecessário e incabível dizer que o Brasil é o país do samba! Acho que os cenários estão em paridade se falarmos das bandas de “menor porte” (refiro-me àquelas que não sejam as “consagradas”), tendo, claro, os grandes centros urbanos algumas vantagens óbvias para organização de eventos. Mas, também há muitos festivais no interior que são bastante conhecidos, prestigiados e frequentados por um público de bom tamanho. As dificuldades são de ordem logística: custos de deslocamento, equipamentos, indisponibilidade de técnicos, que dificilmente 34


pode ser suplantada pelos orçamentos apertados que muitas vezes se apresentam. E, obviamente, não falo aqui por frescura ou estrelismos, mas, soa bastante razoável que uma banda queira sempre apresentar-se com uma boa qualidade de som aos headbangers, que merecem isto! O Thrash Metal foi sempre um estilo contestador em relação aos problemas enfrentados na sociedade, principalmente religião e política. Essa política brasileira de hoje em dia seria um prato cheio para uma banda Thrash? E quais são as influências líricas da banda? Boa pergunta! Mas vejo que a resposta irá virar um tratado! [risos]. Vejo que o problema do Brasil não é atual, mas sim, apenas demonstra quem efetivamente manda por aqui, ainda que isto não seja um problema concentrado, pois a religião e política para atendimento a fins escusos não é uma exclusividade brasileira, e sim algo de ordem global. Logicamente, não quero me ater a questões partidárias, mas, se notar que lá se vão dois discos e duas demos e os assuntos acabam sendo basicamente os mesmos, não creio que façamos uma crítica pontual relacionada apenas ao atual momento. Posso citar o exemplo de duas músicas: “Deaf Lords” e “The need of perpetual conflict”, aquela do álbum “Evil Corrupts” e a segunda, do “Stats of Tragedy”. Elas tratam basicamente das guerras empreendidas pelas potências ocidentais no Oriente Médio. “Deaf Lords” fala da guerra do golfo, criada pelo Bush pai, enquanto a “The Need of Perpetual Conflict” refere-se ao modo que a economia demanda a guerra para crescer (mas de forma alguma isto deveria legitimar uma guerra). Acho que acabo seguindo muito a litera35


tura a que me dedico, como, por exemplo, Noam Chomsky. Algumas vistas nos jornais também fornecem sangue e inferno suficiente para umas trinta ou quarenta letras de músicas. Para além disto, também tratamos de psicologia em nossas músicas, o lado obscuro do ser humano. Creio ser esta uma influência de Roger Waters, cuja obra eu ouvi muito em minha adolescência e escuto até hoje. A banda tem feito inúmeros shows para a divulgação de seu novo trabalho. Como tem sido a repercussão das músicas novas ao vivo? E com quais bandas o Jailor gostaria de dividir o palco? Tem sido ótima! Os headbangers alternam momentos de completa loucura com aqueles momentos em que param para entender a proposta de nosso som. O resultado não poderia ser melhor! Com o disco lançado também começam a pedir músicas, entoar os refrãos enquanto chacoalham as cabeças e derramam suas cervejas! É uma puta energia! Queremos sempre dividir o palco com todos os guerreiros e guerreiras que estão na luta em prol do underground e do metal! Temos muitas bandas de amigos, com quem não pudemos dividir o palco depois do lançamento do disco, e vamos providenciar isto com maior brevidade possível. Se fosse para citar nomes mais conhecidos, penso que o Slayer. Espaço para considerações finais e agradecimentos Agradecemos à toda equipe do Rock Meeting, parabenizando pelas perguntas inteligentes e pelo trabalho pelo underground, além do pessoal da Black Legion Productions. Para os headbangers que desejarem, podem entrar em contato conosco em nossos endereços: jailorthrash@ gmail.com, Facebook e SoundCloud. Gostaríamos de deixar registrado também nosso imenso pesar pelo falecimento de Lemmy Killmister, lendário músico que, simplesmente, foi a influência das bandas que nos influenciaram. Não há palavras que descrevam esta perda.

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Por Alcides Burn e Wilfred Gadêlha Fotos: Ozzy Mignot

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ocê teve a sensação de quem 2015 passou bem rápido? Se um ano se passou desse modo veloz, imagine para uma banda que completa 25 anos de existência. E assim está sendo para os pernambucanos do Decomposed God, banda lendária do cenário nordestino e, como nordestinos que somos, não poderíamos deixar passar. Conversamos com o guitarrista Marco Antonio Duarte sobre o passado, presente e futuro, além de assuntos pertinentes como a cena nordestina. Esse ano a banda comemora 25 anos, ininterruptos, passando por várias formações com e com 2 álbuns lançados. Como você vê a história da banda? Bom, primeiro gostaria de agradecer a Rock Meeting pelo apoio. Começar 2016, comemorando 25 anos do Decomposed God, sendo capa da RM, primeira capa de revista do DG? É um grande presente e não poderíamos começar melhor! Como você falou, 25 anos mesmo, trabalhando sem parar. Muito embora, em muitos momentos nem tínhamos a formação completa, mas produzindo nos bastidores sempre. O que fizemos nesse tempo foi o máximo que pudemos, porém o que pensamos hoje é como escreveremos o restante de nossa história. Vocês iriam lançar um álbum chamado “Choir of the Tormented Spirit”. Esse disco chegou a ser gravado mais nunca foi lançado, qual foi o motivo para ele ser engavetado? Foi em 1995. Tínhamos uma proposta para 40


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lançarmos esse, que seria nosso primeiro álbum. Preparamos tudo, gravamos no estúdio do Conservatório Pernambucano de Música, um dos mais bem equipados daquela época. Mas na hora, o selo chegou com outro contrato e desistimos. O responsável mudou várias coisas que não nos interessava. Depois disso, alguns membros deram uma esfriada, mudamos a formação e o disco perdeu o sentido e seu tempo de lançamento. Hoje, pensamos em lançar o “Choir of The Atormentei Spirit” como um registro de uma época do DG. Inclusive o som era diferente. Soava diferente. Acho que muitas pessoas podem gostar. Vocês em novembro participaram da primeira edição do Hellcifest onde tocaram no mesmo palco de dois ícones do metal mundial, Cannibal Corpse e Testament. Vocês apresentaram a nova (antiga) formação do DG, conte-nos um pouco do que foi esse evento para vocês. Foi muito foda dividir o palco com esses dois monstros do metal mundial. É sempre bom quando são pessoas legais, como os caras. Sem frescuras, sem tesouradas, nada! Ainda teve o Vocifera, que abriu a noite. Foi um evento muito bom. Tem tudo pra crescer, se estabelecer! A produção também conta muito. Pessoas competentes, profissionais que trabalham com isso há décadas. Voltar aos palcos com amigos foi muito importante. Não me sentia tão seguro há anos. Tocar como Jean, Luiz e Wagner é, pra mim, muito fácil. Excelentes músicos e amigos. O DG está pronto e nossos planos são de realizar muitas coisas, que virão com seu tempo. Por que a banda tem tanta dificuldade de firmar uma formação? É algo intrínseco às bandas mais antigas de Pernam42

buco? Gostamos de tocar. Gostamos de estar no Decomposed God! As condições naturais de trabalho para se ter uma banda não pesam para nós. A banda nunca foi tida como obrigação. Mas temos compromissos para fazer a coisa “andar”. O que sempre percebi foi a desilusão em algumas pessoas com o passar do tempo. Cada um sabe o que procura, o que quer, e todos fizeram suas escolhas. Sejam porque tiveram a hombridade de assumir a não continuidade com a banda ou por criarem a impossibilidade de continuar.


Recentemente também seu irmão, Jean passou um tempo parado fazendo um tratamento contra um câncer e finalmente voltou bem recuperado, isso abalou um pouco o andamento das coisas e como ele está agora? Ele teve um câncer. Fez todos os tratamentos e está curado. 100%! Muitas pessoas deram um grande apoio e somos muito gratos por isso. O trailer do documentário Brazil Heavy Metal não mostra bandas nordestinas 43

à exceção de Robertinho do Recife. Vocês acham que a história do metal na região é negligenciada? Historicamente as regiões Nordeste e Norte são negligenciadas. Em tudo! Mas não dá pra ficar choramingando. Fazemos o nosso! Se as pessoas gostarem, ótimo! Temos que fazer nossa parte, apoiar mais a cena dessas regiões. Vejo muita gente reclamar nesse sentido, mas fica boicotando bandas daqui. Tem muita contradição. Muita guerra de ego também. Gente que faz qualquer coisa pra abrir show de banda gringa, paga jabá e paga pau. Depois alguém


convida essa banda e o cara vem pedir condições absurdas. Acho que temos que valorizar mais nossos trabalhos, respeitar mais as pessoas e entender a cena como algo produtivo. Mas, pra crescer, precisa que todos façam seu papel. Vocês já fizeram uma turnê pela Europa para divulgar o disco “Bestiality”. O que aprenderam com esse giro? Que as coisas não são fáceis em canto nenhum. O querer fazer é o grande diferencial. Poderíamos ter no Nordeste um circuito parecido com a Europa. Temos várias cidades próximas, com deslocamento fácil. Se tivermos bandas dispostas, produtores que possam oferecer o mínimo de estrutura e um público que compareça aos eventos, possibilitaria várias turnês por aqui. Temos uma ideia de fazer muitos shows no Nordeste esse ano. Tocar em todas as capitais e em várias cidades de interior, já estamos conversando com algumas pessoas. Espero que role. Com o Mercosul ficou mais fácil tocar nos países vizinhos. Mas, ainda assim, poucas bandas brasileiras se aventuram por lá. Por que você acha que isso acontece? Acho que por uma questão financeira. A realidade é bem semelhante entre os países. O deslocamento ainda é muito caro. Os custos para o produtor ficam altos. Mas sei que as cenas da Argentina, Chile e Colômbia são muito fortes. Público sempre presente e extremamente dedicado. As pessoas realmente curtem ir para um show. Agitam como animais. Algo que queremos ver de perto. Quais os planos para a banda em 2016, já que vão completar 25 anos vocês de44


vem estar planejando algo bem especial pros fãs. Sim. Será um ano especial para o Decomposed God. Estamos pensando em várias ações durante o ano. Pretendemos lançar um álbum novo no fim do ano. Queremos fazer shows pelo NE, gravar um DVD, entre outras coisas. A ideia é que em março comecemos com as ações. A primeira deve ser uma exposição com coisas do Decomposed God! Mas, de certo, acontecerão muitas coisas esse ano! Vocês têm algum plano de regravar os materiais antigos da banda como, por exemplo, a demo “Key of Immortality” que na época que foi lançada foi bastante elogiada. Algumas músicas antigas irão receber uma versão nova e deverão estar presentes no dvd que gravaremos. Mas não temos nenhuma pretensão de relançar material antigo. Temos muitas ideias novas e esse material é nossa prioridade. Continuar nossa história. Como você vê a importância da tecnologia de hoje? Muita gente não sabe, mas o cd “Bestiality” foi todo gravado no seu quarto, inclusive a bateria. Conte como foi todo processo de produção e gravação do álbum. Acho muito importante essa abertura. A possibilidade de termos equipamentos melhores fez com que pudéssemos evoluir muito mais rapidamente. Todas as bandas podem usufruir disso. Está aí pra todos. Diminuir o abismo de diferença de qualidade que se tinha há 15 anos. Verdade, o “Bestiality” foi todo gravado em meu quarto. Tínhamos os equipamentos que julgávamos necessário para gravar e o fizemos. A resposta das pessoas é muito boa e acho que o resultado final ficou bom. Nosso próximo 45


álbum não terá sua produção muito diferente. Hoje temos equipamentos mais legais que nos possibilitam ainda mais. Tem também o amadurecimento e o maior conhecimento de produção. Os erros cometidos no “Bestiality” não serão repetidos. O tema religião sempre esteve presente nas letras do DG, quem compões as letras da banda? Nossa principal temática é a batalha contra as religiões. Algo que achamos avassalador para a evolução humana. A imposição de ideias para criar um conformismo pelo pequeno. Querem colocar uma coleira, não educar. Criar medo, não desenvolver o respeito. O criacionismo é 46

uma piada! Eu, realmente não concebo isso! A necessidade de consolo que existe em muitas pessoas deixa a brecha para que ideias absurdas sejam implantadas. Faz tempo que venho escrevendo as letras do Decomposed God e desde que comecei migramos para esse tema. Por uma questão política mesmo. Falar sobre assuntos mais relevantes. E o primeiro passo foi alterar o nome da banda que antes era apenas Decomposed. Hoje existe um certo radicalismo na música com essa questão religiosa, o black metal pode espalhar Satan mais o White não pode espalhar Deus, bandas como o Krisiun, Korzus e Torture


Squad foram massacradas porquê tocaram em eventos que tinham bandas de White metal. Como você abordaria esse assunto? Todos devem falar e agir como acham correto. Impossível se viver totalmente “intacto” a certas coisas, mas procuro evitar ao máximo. Muito difícil poder controlar tudo principalmente quando se toca em festivais, que tem muitas bandas. Como você vê a cena de metal extremo no Recife hoje? Acho que a cena sempre melhora. As bandas cada vez mais preocupadas em produzir bons materiais, fazer bons shows, o público sempre presente. Cada vez mais bandas de fora 47

passando por aqui. Acho que está bem. Bom também é ver que outras capitais também estão crescendo, voltando a rolar shows. Cidades do interior também, Caruaru (PE), Campina Grande (PB), Mossoró (RN), entre outras. Podemos ter um circuito produtivo do underground muito promissor. Marco, muito obrigado pela entrevista e deixo o espaço para você mandar um recado agora a todos os leitores da Rock Meeting. Nós que agradecemos o espaço, o apoio e continuaremos na batalha. O Decomposed God continuará por mais muitos e muitos anos!


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Por Raphael Arízio Fotos: Hugo Veikon

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alkuth já se tornou uma lenda do cenário Black Metal nacional com décadas de experiência no underground nacional. Vamos saber do guitarrista e vocalista, Sir Astaroth, como anda a gravação do novo disco e também sobre os relançamentos de alguns de seus clássicos de sua discografia. O próximo lançamento da banda será o relançamento do disco “Extreme Bizarre Seduction” (2001). Qual o motivo desse relançar este cd e o que a banda espera alcançar com ele? Terá algum material bônus? Saudações negras da horda Malkuth! Muitos seguidores da banda procuram até hoje por este registro e visto que há poucos CD’s disponíveis (me refiro aos originalmente lançados pela Demise Records). Sentimos a necessidade de relançá-lo para suprir tal procura. E assim, aceitamos a proposta dos selos Obskure Chaos Distro (SP) e Ihells Productions (BA) juntamente à Metalvox (BA) e a Underground Distro (AM) de relançá-lo com nova capa, remasterizado e com 3 faixas ao vivo de época (2002-Live in Natal/RN). Ficamos muitíssimo satisfeitos com os resultados e a divulgação/ repercussão do mesmo. O Malkuth neste ano iniciou as gravações do disco novo. Como andam essas gravações? Já têm previsão de lançamento? E sobre as letras? Terão algum tema especifico? Sim, iniciamos as gravações oficiais das linhas 50


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de guitarra-base das músicas do cd novo em outubro de 2015. Daremos seguimento com as gravações das linhas de bateria, contra-baixo, guitarras adicionais e vozes ainda nestes primeiros meses de 2016. Provavelmente, este álbum novo deverá ser lançado no meio de 2016. As letras centram essencialmente em abordagens demonológicas e sombrias. É o que eu poderia adiantar a respeito. A banda tem tocado algumas músicas novas ao vivo. Como tem sido a resposta do público para esses novos sons? Isso é uma maneira de saber, antes do lançamento, se as músicas irão funcionar ao vivo? Sim, tocamos ao vivo 2 faixas que integrarão o álbum novo, são elas: “Shoot to Kill (jesus)” e “Anticristum (Bellicus)”. O público supreendentemente tem acompanhado os refrãos dos sons com sangue nos olhos! Inclusive, uma delas (a “Anticristum”) já tem um vídeo rolando no You Tube e muitos já a conhecem, o que ajuda bastante. Mas, o fato de tocá-las ao vivo, seria como uma espécie de pré-divulgação das mesmas. O Malkuth participou dos tributos ao Moonspell e ao Bathory. Como se deu a participação da banda nestes tributos? São bandas que influenciam o som de vocês? E como se deu a escolha das músicas? Fomos convidados por Alcides Burn, mentor do tributo ao Moonspell, e aceitamos prontamente, pois somos muito adeptos dos primeiros trabalhos desta banda. Quanto ao tributo ao Bathory, foi indicado pelo nosso ex-vocalista Nightfall, que na época tinha contato com o organizador alemão de tal tributo. Escolhemos naturalmente a faixa “Tenebrarum Oratorium 52

(Andamento I)” para o tributo ao Moonspell e a faixa “Father to Son” para o do Bathory. São bandas que, de certa forma, nos influenciam levemente em termos sonoros e nos identificamos bastante com tais faixas. No ano de 2015 foi relançado o clássico “The Dance of the Satan’s Bitch”. Como foi a repercussão deste relançamento? Foi dentro das expectativas da banda? A repercussão foi ótima! A aceitação foi excelente pela nova arte da capa, remasterização e faixa bônus do cover do Venom (“Countess Bathory”), gravada em 1994. Ótima distribui-


ção e divulgação. Tudo dentro das nossas expectativas. O disco mais recente da banda foi “Strongest” (2011). Como foi a repercussão deste disco na época? Por que houve esse longo espaço de tempo entre um lançamento e outro? Quais as principais dificuldades enfrentadas pela banda para lançar um disco? Na época, o disco repercutiu positivamente: muito bem divulgado e distribuído pelos selos Impaled Records (SP), Obskure Chaos Distro (SP) e Nefando Produções (PE). O motivo des53

ta longa pausa entre um CD e outro novo a ser lançado se deveu ao fato de termos algumas saídas e entradas de membros que, de certa forma, atrasaram todo o processo de composição e gravação das músicas em si. A principal dificuldade enfrentada pela banda para lançar um disco certamente é o custo alto para se gravar o mesmo em estúdio. No início de 2015 houve a entrada do vocalista Mantsgard e a do baixista Agares. Como têm sido as experiências deles na banda? O que acrescentaram para a banda com as suas entradas?


Mantsgard saiu recentemente da banda por motivos de ordem pessoal e familiar. Ele deixou sua forte marca na banda como um excelente vocalista ao vivo, ótima presença e carisma, além de ter deixado registros valorosos vociferando em faixas como “Father to Son” (tributo ao Bathory) e no vídeo-clipe “Anticristum (Bellicus) ”. Quanto a Agares, até então tem tido uma ótima performance ao vivo como contra-baixista. A cena no Nordeste tem se mostrado bem forte nos últimos anos com muitas bandas de destaque e com muitas bandas fazendo questão de tocar em sua região devido ao público que sempre comparece aos shows. Como a banda vê a cena nordestina hoje em dia? Quais bandas que destacariam no cenário nordestino? Sim, a cena nordestina brasileira é forte! Temos muito orgulho disto! Muitos shows e crescente número de bandas expressivas de Death/Black Metal surgindo, além das mais antigas conhecidas. Destaco bandas como Morbdus, Hate Embrace, Decomposed God, Blast Agony, Krápula, Lord Blasphemate, Mystifier, Headhunter D.C. e Malefactor, entre outras. Quais os planos da banda para o ano de 2016? E qual saldo fica do ano de 2015? Estamos solidificando uma nova line up que dará muito certo para 2016. Virão cerimoniais ao vivo sangrentos e matadores, além de lançamentos em CD que cuspirão com ódio a face do cri$tianismo. E o ano de 2015 foi incrível e bastante significativo para o Malkuth: firmamos alianças com diversos selos e distros nacionais, com a Black Legion Productions (RJ) e irmãos e produtores de shows de vários estados e cidades! Espaço para as considerações finais e agradecimentos. Agradecemos pela oportunidade e espaço cedidos ao pronunciamento do Malkuth e aos aliados de guerra! Se mantenham sempre firmes na batalha contra a farsa chamada de cri$tianismo, doutrina dos fracos e hipócritas. 54


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Por Raphael Arízio Fotos: Divulgação

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epois de um tempo parado, o Empire of Souls retorna com material novo na praça: single e vídeo. Conversamos com os integrantes para saber seus planos para o futuro e como tem sido esse retorno aos palcos. Vamos lá? A banda acaba de lançar o single “Si Vis Pacem, Para Belum”. Quais são as expectativas para esse lançamento? O single será em edição limitada numerado a mão, existe a possibilidade de uma nova tiragem? Quando voltamos era apenas para fazer um show e marcar um reencontro entre nós e com nossos irmãos, sem maiores objetivos. Confesso que fomos surpreendidos com a receptividade, desde “Revenge Circle”, lançado em 2003, não lançávamos material à exceção de uma música em uma coletânea, em 2006. A ideia do single surgiu da nossa produtora como um termômetro e percebemos que a temperatura está realmente alta. A procura foi tão alta, mesmo antes do lançamento, que decidimos fazer uma tiragem maior do que a prevista. O vídeo para “To Become Maker” está tendo uma boa repercussão nas mídias sociais. Como é para a banda trabalhar esse lado relativamente novo da internet? Por trás de cada clique, cada “like”, de cada perfil, existem pessoas. Pessoas que querem um conteúdo, que estão na internet para re58

cebê-lo, ou que o estão buscando. A mídia social permite atingir um grande número de pessoas com baixo custo e acredito que isso atende plenamente nossos objetivos, pois podemos espalhar nossas ideias de uma forma muito mais rápida do que na época em que gravávamos emK-7 e enviávamos pelo correio na década de 90. Nossa música acima de tudo é uma forma de espalhar nossas ideias. Por acaso tem alguma previsão para um futuro lançamento de um full? O trabalho que estamos fazendo agora com


“Si Vis Pacem, Para Belum” e o EP são prévias do que sairá ainda no primeiro semestre de 2016. Nesse momento estamos trabalhando de forma bem avançada em novas composições, tendo em vista iniciar as gravações agora neste primeiro semestre. A banda ficou um tempo parada. Por que teve esse hiato de cinco anos? Foi um período difícil para conciliar as necessidades familiares, compromissos profissionais, estudos e realizações pessoais. Como não podíamos dedicar o tempo que o EOS 59

merecia, o melhor foi dar uma parada, ajeitar as coisas e só então retornar. O grande paradoxo é que sempre fomos da opinião, de que ou você faz bem feito e de forma séria, ou é melhor nem começar, porém, quando nos reunimos, ainda não tínhamos a ideia de realmente voltar com a banda. Era apenas por nós mesmos. Alguns ensaios, cervejas, rever amigos. Daí o Luiz Carlos, vocalista do Vulcano, que faz o evento Trinca dus Inferno aqui em Santos, ficou sabendo que havíamos feito alguns ensaios e nos convidou para fazer uma participação num evento dele. E foi


ali, no palco, sentindo a energia que emanava de nossos irmãos de guerra, que percebemos que tínhamos realmente que volta. E foi essa energia que nos incentivou a levar a sério esse retorno. E agora sentimos que nada pode nos parar. Durante esse período afastado, os integrantes compunham separadamente ou tiveram outros projetos musicais? Pra ter uma ideia, quando o Cleber voltou a tocar, teve que comprar outra guitarra, pois a que tinha estava com muita ferrugem. Realmente tínhamos parado de tocar. Dos atuais membros, o único que ainda tocava era o baixista, o Christian. Ele tocava no Opus Tenebrae, mas saiu dessa banda recentemente. O baterista Paulo Ferramenta esteve na banda durante muitos anos e participou da sua volta. No entanto, ele se desligou da banda. Embora a amizade continue, qual a importância dele para o Empire of Souls? Com certeza o Paulo foi de grande importância para a construção da identidade musical da banda. Agora, que estamos com outro baterista, não vamos abandonar essa identidade por conta disso, mas certamente iremos nos aproveitar do potencial do Leonardo para agregar mais elementos à nossa música. Já estamos compondo novas músicas com ele e posso adiantar que o som está ficando cada vez mais agressivo. Nota-se uma maior agressividade nas músicas da banda desde o seu retorno. Isso foi intencional ou se deu de forma natural? Na verdade, a maioria das músicas que tocamos em nosso retorno são as mesmas de an60


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tes de nosso hiato. Posso citar o exemplo de um dos singles: “Si Vis Pacem, Para Belum”, fazia parte de nosso repertório em 2005. Claro que, quando você deixa de fazer algo que gosta muito contra a sua vontade, o momento da retomada vem como uma avalanche de sentimentos, fúria, brutalidade ou como você citou agressividade. Como é a forma de composição de banda e como funciona a parte lírica das músicas? 62

Quanto as composições, geralmente o Cléber já vem com umas ideias preconcebidas. A partir deste momento, cada membro da banda dá a sua contribuição e suas ideias e o “esqueleto” da música vai sendo montado. Desta maneira vamos dando forma ou preenchendo este “esqueleto”, e isto pode ser um processo rápido ou durar até momentos antes das gravações. Quanto às letras, podem surgir de duas maneiras: ou ouço a música e sinto qual a temática mais apropriada, ou a partir de um tema preestabelecido, faço um


Qualquer um de nós, enquanto músicos, teria a competência técnica pra fazer músicas com forte apelo comercial como sertanejo ou outros gêneros, mas... Não há como deixar de ser o que é e quem somos apenas por dinheiro. Mas não gostaria de finalizar esta entrevista reclamando, mas sim falando sobre a honra que sinto ao chegar num evento e ver que o cara que está no palco, ao seu lado, é uma pessoa que, mesmo com todas as dificuldades do mundo, está ali fazendo algo verdadeiro. Saber que os caras que tocaram antes e os que tocarão depois também ralaram o dia inteiro e estão subindo ao palco com sangue nos olhos, orgulhosos por fazerem algo que é para poucos. Metal extremo no Brasil não é para qualquer um. No momento em que subo no palco, meu coração de metal se enche de orgulho. Ao olhar nos olhos do público, muitos deles amigos (muitos verdadeiros irmãos) de dez ou vinte anos de estrada, ou aquele cara mais novo que chegou agora, pois todos aqueles que ali estão merecem o nosso respeito. Fazer metal onde rola o dinheiro é fácil, aqui é só para os grandes guerreiros.

estudo e escrevo sobre o tema. O Brasil sempre foi um grande celeiro de metal extremo e Black metal, mas ainda assim com pouco apoio e profissionalismo. Quais são as principais dificuldades para manter uma banda de metal hoje em dia? As dificuldades são as mesmas de qualquer outra atividade executada no terceiro mundo: falta de grana, apoio, estrutura... A sensação que se tem é que remamos contra a maré. 63

Espaço para considerações finais e agradecimentos Agradecemos o espaço, pois é sempre muito importante expor as ideias e levar um pouco de cada um de nós para aqueles que ainda não nos conhecem. Clique AQUI para saber um pouco mais sobre o EOS. Deixo também um agradecimento muito especial a todos que fazem o underground acontecer: revistas, zines, bandas, fotógrafos, rádios, distribuidoras, organizadores de eventos e também o público que adquire materiais e apoia de alguma maneira o trabalho que é feito de maneira séria e por pessoas dignas.


Fotos: Rodrigo Luz

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Apresente-se! Meu nome é Éder Alves de Macedo, tenho 37 anos. Além de vocalista d’A Sorrowful Dream, sou mestre em Literatura, professor de Língua Portuguesa e Inglesa, amigo de muitos, filho do Jadir e da Zeli, irmão da Daiane e do Jader, marido da Alessandra e, o principal, pai da Joana. Quem era você no começo da carreira e quem é você hoje? No começo da banda, há vinte anos, eu era um adolescente sonhador e estranho, deslocado, sem muita noção. Hoje, sou um adulto – e foi só o que mudou: ainda sou sonhador, estranho, deslocado e sem muita noção. Já realizou todos os seus sonhos? Ainda falta algum? A cada dia tenho novos sonhos. Portanto, não devo ter realizado muitos. Se faltam alguns? Ainda bem que faltam todos, pois é o que me mantém vivendo. Do que você tem medo? Um de meus muitos medos é o de não ter mais sonhos. Outro é o de não ter mais inspiração, em todos os sentidos, nas artes e na vida. O que costuma fazer quando não está envolvido com a banda? Eu leciono, cuido de minha família, leio, escrevo, escuto música, pago contas, limpo a casa, cozinho e, muito raramente, respondo a entrevistas. Quando era criança o que você dizia que iria ser? Quis ser tanta coisa, mas me lembro de querer ser biólogo e veterinário. Gostava muito, e ainda gosto, de animais. 65

Qual foi a sua maior realização pessoal? Foram muitas. Mas, atualmente, sempre que vejo minha filha e ouço o último CD da banda, tenho a sensação de que é isso que pretendo deixar como legado. Acredito que muitas realizações e legados ainda estão por vir. Qual foi o seu pior momento? Não consigo lembrar agora. Não tenho o costume de guardar na lembrança momentos ruins. Mas tive períodos ruins, quando me faltaram motivações para a vida. Mas isso há muito tempo, quando nem a banda, nem minha filha estavam em minha vida e me davam sentido Qual cd você gostaria de ter feito? Fale sobre ele. “First and Last and Always”, do Sisters of Mercy. Eu gostaria de ter feito esse CD nessa época, em 1985. Sei que eu tinha apenas 7 anos quando foi lançado, mas ele foi um divisor na minha vida e em uma concepção de música gótica. Também gostaria de ter presenciado a feitura do “Treasure”, do Cocteau Twins. Há boatos de que eles compunham bêbados e gravaram o disco em uma noite. Que noite! O que te motiva? A morte. Estar ciente dela me motiva a dar o melhor de mim e ser o melhor para aqueles que amo. Afinal, além disso tudo, ela é o que nos resta. Houve algum momento na sua carreira que você pensou em desistir? Diariamente, penso em desistir. E diariamente lembro que tenho responsabilidades


e pessoas especiais que dependem de mim e das quais dependo. Estar nesse limite me faz dar o real valor àquilo que, de fato, tem valor. Qual são as 5 bandas que você mais gosta? Apenas cinco. Vou tentar. • “October Rust”, do Type O Negative – é uma obra de arte. Muito embora o saudoso Peter Steel tenha afirmado que não gostasse desse álbum, ele é uma aula de bom gosto. • “Ultra”, do Depeche Mode – é um álbum sexy e sombrio. Depeche foi uma revolução na minha vida. • “Dreaming Neon Black”, do Nevermore – peso, melodia e um vocal absurdamente bom fazem desse álbum memorável. • “Serenades”, do Anathema – essa obra mudou minha vida. Ao ouvi-la, o metaleiro que escutava Slayer e Cannibal Corpse uniu-se ao gótico que amava Sisters of Mercy e Bauhaus. • “The Angel and The Dark River”, do My Dying Bride – não tenho palavras para descrever o que essa banda significa para mim. A banda está trabalhando incessantemente na divulgação do segundo álbum, “Passion”. O que podemos esperar para os próximos meses? Shows, shows e shows! Diante de tantas dificuldades, o que te inspira a continuar na música? Não exagero ao afirmar que a música salvou minha vida. Foi através dela que descobri que, em algum lugar, havia pessoas que sentiam aquilo que eu sentia e que, para mim,

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parecia tão pessoal. Assim, fazer música me dá a sensação de que estou, talvez, tocando alguém assim como fui tocado e, quem sabe, salvando alguma vida, assim como fui salvo. Existe algum tipo de ritual antes de subir ao palco? Na verdade, não. Procuro aquecer a voz fazendo ruídos estranhos e repetitivos. É só. Todo mundo tem uma mania, qual a sua? Não saberia dizer. Talvez seja uma mania aguardar pelo momento certo para tudo e viver tudo no seu devido tempo. Por isso, às vezes, me sinto um pouco desconectado do mundo contemporâneo que exige “tudo ao mesmo tempo agora”. No entanto, não abro mão dessa mania, pois acredito que ela me dá a certeza de ter dado o melhor possível no que faço. Deixa aqui uma mensagem para nossos leitores. Muito obrigada! Foi difícil responder a esse perfil. Não é fácil voltar-se a si dessa forma e pensar em medos, manias e realizações. Por outro lado, agradeço: é bom refletir sobre o que me tornou o que hoje sou. E sou um conjunto infinito de coisas. Melhor ainda: somos um conjunto infinito de coisas. E, para aqueles que, por “n” razões, se acham nada, deixo claro que todos somos tudo e, no mínimo, um mundo. E “puxando a brasa”, escutem o novo álbum d’A Sorrowful Dream, “Passion”. É um trabalho sincero, em que sete pessoas querem mostrar uma parte do mundo que são. Muito obrigado!


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Foto: Mauricio Melo

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Por Maicon Leite Fotos: Divulgação

Foto: Jake Walters/Getty Images

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arece mentira, mas Ian Fraser Kilmister, a figura mais icônica do Rock and Roll, nos abandonou. Simples assim, rápido e rasteiro, como sua música. A tristeza me abateu de imediato, e mesmo não recuperado do choque com a morte do ex-baterista Philthy Animal em novembro passado, o sentimento se agravou profundamente. Ora, Lemmy é Deus! Com 70 anos recém-completados no dia 24/12, Lemmy deixa um vácuo enorme na cena do Rock pesado, após ter influenciado milhões de jovens sedentos pela sonoridade crua do Motörhead, mas sua obra viverá eternamente. Chega a ser redundante falar sobre a importância que a banda teve para a formação de nomes como o Metallica, por exemplo, que em muitas fases de sua carreira homenagearam Lemmy & Cia. Também é importante ressaltar a importância que tiveram na criação do Thrash Metal, pois talvez sem músicas como “Overkill” ou “Ace of Spades” a história teria sido bem diferente. Por mais que Lemmy negasse que o Motörhead fosse uma banda de Heavy Metal, não há o que se discutir. Temos apenas que agradecer! O que seria de nós sem tantos petardos sujos e barulhentos rasgando nossos tímpanos? Minha primeira grande tristeza no meio musical foi quando os Ramones foram aos poucos nos deixando, um a um. Nunca esquecerei o dia em que soube da morte de Joey Ramone. Ainda que os Ramones tenham surgido pouco tempo antes do Motörhead, ambos se influenciaram (e me influenciaram, de uma forma ou outra...), tanto que no lançamento do álbum 1916, de 1991, há uma música chamada “R.A.M.O.N.E.S.” em homenagem aos reis do Punk, que logo foi incluída no set list dos próprios Ramones, que a tocaram até seu último show, em 1996, com a presença do próprio Lemmy. Este foi um momento que eu, como fã das duas bandas, gostaria de ter presenciado antes de morrer... Na declaração oficial na página do Motörhead no Facebook, ficou bem claro que Lemmy faleceu de forma tranquila e fazendo o que gostava: se divertindo!

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“Ele tomou conhecimento da doença no dia 26 de dezembro, e estava em casa, sentado na frente do seu vídeo game favorito do The Rainbow lançado recentemente, junto de sua família.” Apesar da saúde fragilizada do bom velhinho, ainda havia esperança de que ele fosse seguir em frente por muitos anos, nos deixando para trás, num rastro de destruição. Pensávamos que ele era imortal, que viveria para sempre. Ledo engano. Seu corpo se foi – devido a um câncer extremamente agressivo – e não haverá mais álbuns nem shows, porém seu legado em nome do Rock and Roll é gigante e servirá de inspiração para jovens garotos, que como eu, décadas atrás, se viu jogado nesse mundo com uma fitinha K7 embaixo do braço... Creio que eu deva muito ao Motörhead. Todos devem. Minha história deve ser parecida com a de vários garotos e garotas ao redor do mundo. Minha lembrança mais remota da banda foi ler uma entrevista na revista BIZZ lançada em 1989, quando a banda estava vindo ao Brasil pela primeira vez. E foi justamente naquele ano que tocaram em Porto Alegre... Se eu pudesse, gostaria de ter nascido um pouco antes para ter assistido aquele show. Que inveja de vocês, que presenciaram o massacre sonoro no Gigantinho! Em 2000 voltaram, tocaram no Opinião, não pude ir, mas em 2015 retornaram e daí sim pude presenciar uma verdadeira aula de Rock and Roll. Lemmy não estava em suas melhores condições, mas só de ter respirado o mesmo ar que o mestre, já basta. Nunca esquecerei o momento em que ele estava saindo do palco, e foi quando pensei: “nunca mais verei ele e nunca mais chutarão nossas bundas!”. 72


Lemmy foi um daqueles caras que invejamos. Vejam só: foi roadie de Jimi Hendrix, assistiu a shows dos Beatles no Cavern Club, transou com centenas de mulheres, forjou clássicos e mais clássicos, viajou pelo mundo, bebeu todas, fumou todas, usou várias drogas, ganhou um filme em sua homenagem, livros, etc. Os mais puritanos que me desculpem, mas esta é a vida que todos gostariam de ter. Foram 70 anos muito bem vividos, dos quais 40 foram dedicados ao Motörhead. Antes disso, também fez história com o Hawkwind, onde gravou a seminal “Silver Machine”, música hipnótica e uma das minhas preferidas de sua carreira, ao lado de “Killed by Death”... Sua postura sólida, sua inteligência, humildade e seu bom humor jamais serão esquecidos. Estas foram suas maiores qualidades, bem como sua luta e persistência vivendo de algo que sabemos ser muito difícil: viver de Rock ‘n’ Roll. Nos dias de hoje, só quem tem muita força de vontade é que consegue seguir esta vida, na qual tenho orgulho de fazer parte, 24h por dia. Com 32 shows realizados no Brasil, de 1989 até 2015, sendo três deles em Porto Alegre, não é muito difícil imaginar o quanto eles influenciaram os brasileiros e o quanto amavam o país. A música “Going to Brazil” é prova disso. Alguns músicos nos deram depoimentos exclusivos sobre Lemmy, confira: Flávio Soares (Leviaethan) O que dizer a respeito de Ian Fraser Kilmister, o nosso velho Lemmy? Agora, ao me deparar com a realidade que todos sabíamos que teríamos que enfrentar, a de que Lemmy era Deus mas não era imortal como pensávamos, me dou conta que ele me influenciou muito mais do que eu sequer um dia imaginei. Mes73


mo não tendo sido alguma obra sua o meu primeiro contato com o mundo do som pesado, com certeza álbuns como “Ace of Spades”, “Iron Fist”, “Overkill” e “No Sleep Till Hammersmith” mudaram minha vida. Não porque me fizeram tocar Heavy Metal ou ter uma banda... Mas sim por, inconscientemente, adotar o mesmo estilo de vida e viver, no meu tempo e espaço, de e para o Rock ‘n’ Roll e o Metal. E, por essas circunstâncias da vida, também ser vocalista e baixista de uma banda pioneira. Agora, paro pra pensar e só tenho que agradecer aos ensinamentos como “the pleasure is to play, doesn’t matter what 74

you say” ou “Live to win” ou ainda à oportunidade de encarnar o Mestre na banda tributo IRON FIST RS e começar uma apresentação com a velha frase “We are Motorhead and We play Rock N Roll”! E ainda agradecer por ter gravado o grande clássico “Stay Clean”, com solo de baixo e tudo como bônus para o lançamento do nosso segundo álbum (“Disturbed Mind”) na Inglaterra. Obrigado por tudo, meu velho... Mas principalmente por tu ser este exemplo eterno de humildade e fidelidade aos teus/nossos ideais. Descanse em paz!


Foto: Jim Dyson

Alessandro Marques (Father’s Face, Althar, Staut) O show do Motorhead com o Dorsal no Gigantinho foi meu primeiro show internacional. Ficamos sabendo dele em Três Coroas através da Ipanema FM e lotamos um ônibus para ir. A banda tinha fama de ser a banda mais ruidosa do mundo ao vivo e o impacto daqueles caras despejando um Rock ‘n’ Roll muito pesado e agressivo mudou a minha própria postura nos palcos. Quando perdemos alguém que transpôs os limites de fazer arte e se tornou um ícone o vazio que fica é causado pelo medo de não encontrarmos 75

mais novos ícones. A contribuição dos que partem será tão eterna quanto sua figura. José Henrique Godoy (One of Them, Sin Avenue) Comecei a curtir rock pesado em 1983... Estava ambientado com Kiss, Sabbath, Iron Maiden. No inverno de 1984 fui com uma prima comprar LPs num shopping em Porto Alegre. Dei de cara com a capa do Motorhead “No Sleep Till Hammersmith”, o ao vivo do grupo, lançado em 1981. Não conhecia e perguntei pra ela: ”Conhece Motorhead?” Ela respondeu: ”Nunca ouvi, mas pelo que dizem


,é um inferno de barulhento”. Comprei o LP, para conhecer o tal “inferno”. Totalmente diferente do que já havia escutado. Me apaixonei logo na primeira audição, pela bateria avassaladora de Animal Taylor, a guitarra certeira de Eddie Clarke, e principalmente pelo som daquele terceiro instrumento que mais parecia uma segunda guitarra. Na realidade era o baixo cheio de distorção tocado por um já quase quarentão Lemmy Kilmister, acompanhando a sua voz que mais parecia de um individuo que acabara de sair do balcão de um bar às 3h da manhã. Este foi meu primeiro contato com o Motörhead, que veio a ser uma das minhas bandas preferidas, e Lemmy um dos maiores heróis que tive no mundo do Rock. Assisti a banda aqui em Porto Alegre em 1989 no Gigantinho, em 2000 no Bar Opinião, em 2011 em Florianópolis e em abril deste ano em Porto Alegre, na Monsters Tour, junto com Judas Priest e Ozzy Osbourne, definitivamente uma noite inesquecível. Além de ser o criador do Motorhead, sua personalidade forte, suas tiradas quase sempre humoradas e seu ponto de vista inteligente tornaram-no a lenda que ontem deixou de estar conosco fisicamente, mas estará nos nossos corações por toda a eternidade. Márcio Jameson Kerber (Finally Doomsday) É claro que o Motörhead começou me influenciando musicalmente, som rápido e energético, 25 anos atrás a banda soava como uma bomba nuclear, mas ao longo dos anos, a parte lírica falando sobre aproveitar a vida ao máximo, a temática como em “Born to lose, live to win”, a lição de persistência que a banda dá ao longo de sua história, nunca traindo seus princípios ligados ao Rock ‘n’ 76


Roll de raiz, e por fim todas as declarações e entrevistas concedidas pelo líder Lemmy, mostrando ética, respeito e bom senso. Hoje posso dizer que vivo o estilo de vida do Motörhead, minha vida pessoal e profissional é a mesma, sou Rock e Metal o dia todo, uma bela lição aprendida com a lenda inglesa chamada Motörhead! Leandro Sberzesengik (Pietà) Todo o show tem um propósito e o Motörhead tinha o próprio estilo reto, cru e muito, mas muito alto! Foi assim que percebi o show em março de 1989. Já tínhamos a Pietà e já fazíamos pequenas apresentações, no entanto aquele foi um espetáculo! Muita luz e um palco enorme, uma banda de abertura, os cariocas do Dorsal fizeram um “showzasso” apenas com o equipamento de palco e com um volume muito menor que os donos da noite. Por fim, após varrerem literalmente a bateria da Dorsal, montaram um monstro de tentáculos permeados de grandes tambores! Digno de quem a massacraria “Animal Taylor”. Ao rugir o monstruoso “Rickão” de Lemmy se entendeu tudo! O Rock muito pesado, rápido e reto iria começar! Inesquecível. Como não entender a influência deste grupo que atravessou décadas sem mudar sua postura! Todos, do Punk ao Grindcore tiveram implantadas as cores do som de Lemmy e seus guerreiros seguidores! Do timbre dos instrumentos às capas temáticas seguidas por dezenas de grupos pesados do pós 70, 80, 90 e 2000. Isso que deu a este senhor de sete décadas a moral para estar entre os mais importantes nomes do Rock ‘n’ Roll de todos os tempos. Provar que “sim”, se pode fazer o que se gosta por muitos anos sem perder personalidade! Esse é o Rock!

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Duda Calvin (Tequila Baby) Eu fui ao show deles que teve no Opinião, um show clássico... A melhor frase que li até hoje sobre o Motörhead foi “a banda que conseguiu juntar o Metal com o Punk Rock”, isso é uma coisa muito bacana! Eu acho que toda banda de Rock que toca com distorção acaba tendo uma influência de Motörhead, pode não ser uma influência direta, como no caso da Tequila Baby, mas tocar daquele jeito, misturar estilos musicais, com solos de Metal e a pegada do Punk Rock, isso mostrou para todas as bandas de Punk Rock que dá pra fazer. A gente fez isso em algumas músicas da Tequila, em que a gente mistura isso, e acredito que todas as bandas de Punk Rock e Metal daqui do RS tem influências de Motörhead. O Motörhead mostrou pra todo mundo que sim, dá pra fazer, dá pra fazer um som bacana com pouco, e por isso ele é uma grande influência para todo mundo. Ivan Santos (Gladiator) Estive em todos os shows do Motörhead em Porto Alegre. O Lemmy, para mim e para a minha geração de headbangers, representava muito mais que a música; representava uma atitude, um estilo, um sentimento. Ele era rocker e se expressava assim! E assim a gente queria ser: roqueiro! No meu caso mais específico, metaleiro! No primeiro show, no Gigantinho, em 1989, eu e meu amigo de infância compramos os primeiros ingressos! Respectivamente o 0001 e o 0002. Quando começaram as vendas na Megaforce, cedinho estávamos lá com medo que esgotassem e acabamos sendo os primeiros a comprar. No dia do show, eu com 15 anos, cheguei no Gigantinho antes do meio dia. Primeiro da fila! Na hora que abriram os portões não queriam me deixar entrar por ser muito novo 78

no meio de tantos loucos e alucinados. Argumentei, discuti, briguei, chorei e entrei! Fiquei na grade que separava a pista do palco. Inesquecível! Depois teve o show no Bar Opinião em 2000. Lá estava eu novamente para ver Lemmy e seu grupo detonar clássicos do verdadeiro Rock ´n´ Roll pesado através das suas composições eternizadas pelo gigante inesquecível Motörhead. Por fim em 2015 no Monsters Of Rock, já com a saúde debilitada, porém com a força, garra e presença de pal-


co que sempre foram a sua marca registrada. Sofri muito com a morte de um ídolo! Parece que perdi um amigo. São mais 30 anos de parceria! Toda discografia, muitas reportagens e pôsteres guardados e agora um sentimento de preocupação com a perda de uma referência. Preocupo-me muito com o fim de uma era que cabe a nós dar a continuidade neste legado. Pois influenciou uma geração inteira. E é neste contexto que me insiro. Se bem que ainda espero que ele ressuscite da79

qui a três dias! Obrigado por tudo Lemmy! Pylla Kroth (Pylla C, ex-Fuga) Falar do Lemmy e do estardalhaço que ele fez em nossas vidas é fácil... Comprei uma camisa do Motörhead no início dos anos 80... Aquele peso brutal no seu canto, as letras falando tudo o que gostaríamos que acontecesse em nossa vidas juvenis e principalmente saber mandar alguém a merda ou ir se fuder com propriedade... Se o Dio criou um sím-


bolo que sua avó ensinou pra espantar o mal, Lemmy criou o dedinho pra mandar a sociedade puritana e conservadora a tomar no cu. Era tudo leve em uma festa até tocar um som do cara: contaminava a galera, só mais um gole e tava tudo com o capeta queria. Coisa bem boa! O símbolo do Metal, Lemmy era um cara que entrava e saia em qualquer porta do Rock... E isso fica claro pela quantidade de fãs que se tornaram artistas de sucesso em suas carreiras que foram influenciados por ele. Botou muita gente na estrada do Rock, começavam como roadies e não saiam mais do circo... Não dá pra enumerar. Eterno comparsa de Jimmy Hendrix, com quem aprendeu muito, vindo a herdar a maior parte seus equipamentos. Hoje é um dia triste, porém viver 70 anos a milhão como ele viveu é uma benção: valeram 150. Hoje tem som lá em cima... Que time hein? Sigamos seu legado... Estamos prontos. Gratos Lemmy. Tive a honra de acender seu cigarro no show que fez em POA no Gigantinho, “Fire, Boy?” Perguntou ele pra mim, alcancei e ele respondeu “thanks”... Isso foi pouco antes da passagem de som. Na hora do show, como havia pouco público, não passava de três mil pessoas, enfrentei os paredões de som e minha camisa se mexia com o vácuo sonoro, consegui vazar para trás do palco. Lemmy sobe lentamente fumando um cigarrinho e com o baixo nas costas, braço para baixo, deu a última tragada, jogou o toco do cigarro no chão, foi ao microfone e diz: “Boa noite, Porto Alegre, vamo fudê essa porra!” Essa é a lembrança mais forte que guardo dele. Daniel Pacheco (Cursed Slaughter) Cara, ainda lembro do meu tio me dando a coleção de vinis, tinha alguma do Iron Maiden, alguns do Slayer, mas quase todos eram do Motörhead. Meu tio era maluco por eles, “Orgasmatron”, “Ace Of Spades”, “Bomber”, “On Pa80


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role”, quase todos lançados até o momento. É impossível conter as lágrimas ao lembrar do velho toca discos com o diabinho verde adesivado na tampa acrílica tocando “Stay Clean”. O cara esteve ao meu lado enquanto dirigia por noites inteiras para visitar minha mãe em outro estado, em momentos de fossa total eu tocava a bateria imaginária berrando as letras do “Overkill”. Fui pego em frente ao espelho fazendo air guitar cantando “Over The Top” achando que meu pai já tinha saído de casa. Motörhead mudou minha vida, óbvio, houveram outras bandas como Iron Maiden ou Slayer, mas o Lemmy nunca decepcionou, até o fim estava em cima do palco, vociferando seu Rock ‘n’ Roll alto, rápido, despretensioso, ele nunca quis ser o melhor, ele queria fazer o melhor que podia e essa a mensagem que ele me ensinou, sem classe, sem pudor, amando como um réptil. Nunca senti tanto a perda de alguém que eu não conheci pessoalmente, mas nunca uma pessoa que eu não conhecia mudou minha vida como ele. Cheers Lemmy! Sua música irá viver para sempre! Vitor Rodrigues (Voodoopriest) Lemmy é um dos meus heróis dentro do Rock pesado. Dono de uma voz rouca e de um baixo movido a uísque com coca-cola, esse grande músico nos deixou um legado impressionante não somente da sua música, mas por frases que nos faziam pensar, e mesmo com milhares de fãs através do planeta, Lemmy continuava aquela pessoa humilde que só queria subir no palco e tocar seu Rock ‘n’ Roll. E só digo uma coisa: Se realmente existir um lugar, na outra vida, onde haja Rock e Metal e onde nossos heróis estejam tocando, é para lá que eu quero ir. Lemmy vive! Para encerrar, usarei aquele clássico diálogo do filme Air Heads (no Brasil, “Cabeças de Vento”): - Quem ganharia lutando? Lemmy ou Deus? – Lemmy... Deus... – Errado bobo! – Pergunta traiçoeira. Lemmy é Deus!

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