Rock Meeting Nº 74

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EDITORIAL

Machismo O Heavy Metal é um estilo que vem para discordar da teoria social, do comportamento humano. Ele cria discussões pertinentes sobre determinados assuntos. Teoria é muito linda, não? Mas, até chegar à prática, muita água passa por debaixo da ponte e as ideias vão sendo expandidas de modo errado. Dentro do Metal não poderia existir qualquer tipo de preconceito, extremismo, segmentação ou coisas deste tipo. Grupos e mais grupos, pensamentos e ideologias são compartilhadas sem a menor preocupação. Poderia citar muitos exemplos, mas o assunto em questão é o machismo. É muito bonito ver que há bandas lideradas por mulheres neste meio rodeado por homens. Mulheres que comandam eventos e fazem acontecer, indo contra o fluxo de que mulher é só acompanhante e objeto de desejo. Chega a ser impressionante a quantidade de pessoas acéfalas que acreditam que as mulheres não podem fazer nada, que não devem levar o crédito no que realizam. O que mais dói, de verdade, é ver a quantidade de mulheres que criticam as outras, reforçando o pensamento machista. Infelizmente acontece. Entendam! Uma mulher não está naquele meio para ir atrás dos “cabeludos”. Assim como os homens, elas também vão para o show curtir a banda que amam. Não deveria ser engraçado, muito menos soar estranho, mas mulher gosta e entende sim de Metal. Por que não? Qual o problema? É difícil, mas temos que combater esse tipo de pensamento, ele não pode ser uma ideologia plural. Na verdade, nem deveria existir. É desconfortável, mas é preciso trabalhar duro para que as mulheres sejam compreendidas. Vamos à luta!


TABLE OF CONTENTS 07 - News - World Metal 10 - Lapada - O Radicalismo no Metal 16 - Entrevista - Dark Slumber 24 - Entrevista - Maquinarios 32 - Capa - Rebaellin 42 - Live -Tarja Turunen 50 - Entrevista - Division Hell 56 - Perfil RM - Maria Fernanda Cals (Indiscipline) 66 - Coluna - O que estou ouvindo?


Direção Geral Pei Fon Revisão Flávia Farias Capa Alcides Burn

Colaboradores Jonathas Canuto Leandro Fernandes Marcone Chaves Marcos Garcia Mauricio Melo (Espanha) Maicon Leite CONTATO contato@rockmeeting.net RockMeeting.Net



tour report americana

Foto: Danillo Facchini

A banda Almah lançou recentemente o segundo capítulo, da série de vídeos que engloba os melhores momentos da sua primeira turnê nos Estados Unidos. O ponto alto da referida turnê, em mais um show com lotação máxima atingida, aconteceu no renomado festival ProgPower, que é realizado anualmente em Atlanta e que reúne alguns dos principais nomes do Metal mundial. O Almah foi muito bem recebido pelos fãs e pela imprensa especializada das cidades de Austin, Atlanta e Houston, embasado em apresentações consistentes e que contaram com músicas como “Believer”, “Wings of Revolution” e “Living and Drifting”, além dos clássicos do Angra “Heroes of Sand”, “Nova Era” e “Angels and Demons”. O grupo está novamente concentrado nas gravações do seu quinto álbum, ainda sem título definido e que tem previsão de lançamento para o início de 2016. Assista AQUI. Foto: Victor Santiago

“The Last Civilization”

Versão digital

A banda paraibana Sympherium, um dos destaques da cena do Symphonic Black Metal no país, continua o seu trabalho em suporte ao seu primeiro álbum “Philosophy of Symmetry”. Para isso, o grupo lançou no Youtube o videoclipe para a música “The Last Civilization”, extraída do referido material. Assista agora o novo vídeo da banda AQUI. Conheça a banda por meio de sua página oficial AQUI.

Na última semana, o Metalmorphose liberou em sua página do Facebook o videoclipe para a música “Máscara”, lançada no álbum ‘Máquina dos Sentidos’, de 2012.O vídeoclipe conta com cenas com a formação original da banda na época do lançamento do CD. O vídeo foi produzido por Beny Cazim. A banda segue divulgando seu mais recente álbum “Fúria dos Elementos”. Assista AQUI.

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Foto: Carol Pucci

Foto: Natal Silva

Novo álbum disponível

‘Morbid Existence’

Enfim os fãs do HellLight poderão comprar a versão nacional de ‘Jorney Through Endless Storms’, o álbum, lançado pela renomada Mutilation Records, já está à venda. O álbum já pode ser comprado com a banda por e-mail e Facebook, com a gravadora e nas melhores lojas especializadas do país. Lançado na Europa pelo selo russo Solitude Prod. Assista o video ‘Distant Light That Fades’ AQUI.

Desde sua volta o Crom não para! Depois de lançar dois EPs, acaba de lançar um lyric video para uma de suas músicas. A música escolhida é ‘Morbid Existence’, composta nos idos dos anos 90 e repaginada para nossos tempos atuais. Mesmo assim todo aquele sabor e aura oitentista do Metal Tradicional permaneceu intacta. E você pode assistir esse clipe AQUI.

“Mind The Gap”

Foto: Michel Souza

“Mind the Gap”, álbum de estreia da banda de Hard Rock Dirty Glory, acaba de ser lançado oficialmente em todas as plataformas digitais para streaming e download gratuitos (AQUI). O material conta com 12 composições autorais, 10 inéditas e duas regravações de singles anteriores, como “Mr. Jack” do EP “It’s On!” (2011). “As músicas seguem a linha que curtimos: o bom e velho Hard Rock, com influências de Van Halen, Guns N’ Roses, Kiss e Danger Danger”, explica o vocalista Jimmi DG. “Um pouco de Blues e o peso do Metal também são sempre bem-vindos”, acrescenta o guitarrista Reichhardt. A primeira amostra do novo trabalho se deu com o videoclipe de “Sticks And Stones”, lançado no último dia 20 de outubro. Para ver o clipe AQUI. 08


Novo álbum Após gravar todas as composições do seu tão aguardado disco de inéditas, a banda Lacerated And Carbonized, uma das novas potências do death metal sul-americano, não quis perder tempo e começou o processo de mixagem deste trabalho ao lado do renomado Andy Classen (Krisiun, Destruction, Belphegor, Tankard, Holy Moses, entre outros), no Stage One Studio, na Alemanha. O produtor inclusive assinou a mixagem e a masterização do elogiado “The Core of Disruption”, considerado um dos melhores discos de 2013, segundo a imprensa especializada nacional. O novo álbum, ainda sem título definido e com previsão de lançamento para o primeiro semestre de 2016, foi produzido pela própria banda em parceria com o músico e o engenheiro de som Felipe Eregion (Unearthly). As gravações ocorreram no estúdio Superfuzz, no Rio de Janeiro. Foto: Alessandra Martins

Processo de gravação

Preparando novo single

O X-Empire, agora já incorporando a adição do vocalista Raphael Dantas, segue na gravação do esperado debut álbum e agora se foca nos vocais. Como tudo que é feito no grupo, a busca pela perfeição está estampada do processo de obtenção dos melhores timbres, texturas e interpretação. Um pouco desse minucioso trabalho foi dividido conosco através de um vídeo. Confira o processo de gravação do álbum dos caras AQUI.

A HellArise está preparando mais um single. O trabalho já tem nome, ‘Shaded Land’, e estará disponível muito em breve.‘Shaded Land’ está sendo gravado no estúdio UpTracks e está sendo produzido pela própria guitarrista Mirella Max. Assim como o single anterior, ‘Darkened Flames’, o novo trabalho será disponibilizado em formato virtual pelos vários canais da HellArise pela internet. Mais detalhes serão apresentado em breve.

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Korn

um câncer a ser extirpado Há tempos busco ser um opositor ferrenho do radicalismo dentro da cena Metal. Em um texto, que escrevi há alguns anos (e que não se encontra mais disponibilizado na internet, e nem mesmo possuo uma cópia), falei muito dos malefícios do radicalismo dentro da cena Metal que me fizeram muito mal. Hoje, gostaria de falar de uma forma um pouco mais ampla. O que seria o radicalismo dentro da cena Metal, afinal de contas? Quando falamos nisso, tenha em mente um fundamentalista de qualquer tipo, seja religioso, político ou outro que queira. Creio que a ideia não é nem um pouco agradável. Um fã radical de Metal, em essência, é bem pior que isso. É mais chato que o protestante que bate na sua porta no início de uma manhã para falar de religião; é tão destruidor quanto um fanático das instituições islâmicas que andam destruindo monumentos históricos por aí, e pior ainda que um candidato político ou seus defensores em época de eleição. Um fã de Metal radical em essência: reclama de fãs que ouvem vertentes mais jo-

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Avenged Sevenfold

vens dentro do Metal (New Metal e Metalcore são alvos constantes de suas críticas); reclama da banda que recebe cachê, chamando-a de “mercenária”, exaltando um “amor” compromissado com o gênero; reclama se alguém acredita em uma religião qualquer e ouve bandas como Slayer, Bathory, Venom e outros; fica de mimimi contra a imprensa especializada quando uma banda que ele adora recebe uma crítica negativa. E partir de tais sentimentos ruins que o inspiram a tanto, ainda fica construindo regras idiotas que, no


Suicide Silence

Slipknot

fundo, não fazem sentido. Vamos lá. - Metalcore, New Metal e outros não são gêneros ruins. Longe disso: eles são estilos nascidos com o mesmo DNA do Metal que vemos dos anos 70 até hoje. E assim como Thrash, Death, Black e outras vertentes mais extremas causavam náuseas e reclamações dos fãs mais antigos, a geração dos anos 80, tipicamente em uma transmissão de violência gratuita, transfere o bullying para os mais jovens. Só que este tipo de comportamento acé-

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falo acaba causando a evasão de muitos, que não querem se adequar a modelos de pensamento e comportamento impostos. Consequência da evasão: cai o potencial comercial (ou seja, a arrecadação em dinheiro) dentro do cenário. Nem venham com a desculpa do “amor pelo Metal”, pois ninguém quer tomar prejuízos financeiros, tirar a comida da boca dos filhos ou da própria, em nome da música. E se o faz, sinceramente, está confundindo atitude Metal com doença mental.


- Religião, conforme a nossa constituição é um direito de todos. Particularmente, ainda lembro-me de um grande amigo nos anos 80, católico, ao ponto de ter um busto de Jesus de Nazaré tatuado no braço. Ele era fã de bandas como Slayer, Hellhammer, Celtic Frost, Sarcófago e outros que adoravam letras falando em ‘capetismo’ oportunista (chamo de oportunista porque 99% das bandas que falam do assunto não acreditam nisso). Nesse ponto, o que cabe a cada um é o direito de escolha: se vai ser cristão, satanista, espírita, pagão ou ateu, é problema individual de cada um. Nada o impede, apenas a sua consciência do melhor para si. Só que é chata qualquer forma de pregação, tanto pró quanto contra. E

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me perdoem: o Metal não é essencialmente satânico. Se ele é uma expressão de liberdade (um argumento bastante usado por muitos radicais), ele não faz acepção de pessoas pela fé. Chega a ser uma contradição falar esse tipo de coisa. Mas radicais não pensam, apenas obedecem... - Sobre sua banda favorita (ou a sua própria banda) ter tirado uma nota ruim em uma resenha. Muitas vezes, acho que o fã deveria, antes de tudo, ter uma visão mais ampla das coisas. Tá, não esqueço que Hellhammer, Celtic Frost, Bathory e outros tenham tido críticas pesadas na época de seus lançamentos, não esqueço que quando essas bandas surgiram, 90% dos zines e revistas eram compos-


tos de fãs de Metal setentista, ou seja, caímos no ponto que cito lá no início. Mas ao mesmo tempo, ficar de mimimi 20 ou 30 anos depois da crítica é algo que eu poderia aceitar de um jovem com 15 ou 16 anos, mas não de homens barbados que já estão entre os 40 e 50 anos. Cresçam, por favor... Ah, sim! Cabe uma crítica aqui: já que você quer falar que Metalcore, New Metal ou estilos mais novos não são Metal, como quer reclamar dos críticos que espinafraram as bandas que gostam? Um tanto quanto contraditório, mas um radical realmente não pesa as palavras e ações... É muito escravo de regras para tanto...

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- E eu não poderia deixar de falar das bandas “vendidas”, na concepção de muitos ‘radicalóides’. Sepultura, Metallica e alguns outros são elogiados assim. Bem, você tem todo direito de não gostar de “Roots” e “Metallica” (o famoso “Black Album”), mas o primeiro é citado à exaustão como uma referência para bandas de Metal no mundo inteiro. O que seria de certas bandas se o Sepultura não tivesse sido o pioneiro lá fora? Dizer que você iria sem que eles fossem é ridículo. Já “Metallica” é um disco que vendeu os tubos e, em sua época, ajudou a trazer novos fãs para a cena. E indo mais fundo nesse tema: o que há de errado em fazer sucesso,


Heaven Shall Burn

vender milhões de disco e viver de sua música? Canso de ouvir o quanto muitas bandas (inclusive de alguns radicais) adorariam viver de sua música, e não vejo nada de errado nisso. Acho correto, pois vejo o ser músico como uma profissão ligada às artes e à criatividade. Mas é algo que o radicalismo não permite com essa estória de “tudo por amor ao Metal”. E sinto muito, mas não penso que o Metal é único, que é o melhor estilo de todos. Isso é questão de gosto apenas. Você pode reclamar que banda A ou B toca muito em eventos e que foi convidada para tocar fora, no lugar de uma banda que gosta. Mas o quanto você fez da sua parte para que a banda que realmente gosta chegasse lá? E o quanto ela própria lu-

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tou por isso? O radical ama o que não existe e é irreal. Uma mera ilusão para os sentidos, logo, mais reclama que ajuda algo. E costumo dizer que as ótimas sátiras criadas pelo Detonator são justamente sobre este radicalismo exacerbado e imbecil. Aliás, o trabalho do Detonator é bem melhor que de bandas radicalóides... O radical se posta contra o profissionalismo, já que esta estória de “que sejam poucos, mais fieis” é um dos maiores embustes já criados, uma falácia para curar o ego ferido de alguns que não conseguem maior exposição. Se não houvesse tanto bullying e regras sem sentido, seríamos maiores que somos. Falem a verdade: vocês acham que o público Metal é pequeno?


Asking Alexandria

Três no Rock in Rio com atrações do gênero depõem contra qualquer argumentação contra. É preciso deixar de ser Dom Quixote e lutar com moinhos de vento imaginários e passar a enxergar a realidade como ela é: em tudo, é preciso dinheiro. Sim, dinheiro para alugar o espaço, para pagar os equipamentos de som, pagar equipe técnica e exigências e cachê de bandas. E isso, meus caros, nenhum profissional faz por “amor à causa”, mas para sustento próprio. Mesmo algumas bandas de “radicais” não abre mão de exigências, pois querem aparelhagem sonora de ponta, hotel e comida da boa. Não, não acho isso ruim (na realidade, é essencial), mas para quem fala em “amor ao underground”, acho que mais

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parece amor de freguês por uma prostituta... O mais interessante é que os defensores do radicalismo estão todos no grupo das caveiras empoeiradas, os ditos bangers old sCUll, sendo que alguns são meros meninos nascidos de 1985 para cá. Perdoem-me, mas para vocês, falar em anos 80 é algo vazio. Vocês não viram, não viveram, logo, não sabem o que foi a época, logo, suas apologias são vazias. O tempo não mente, pois não viveram aquilo... Finalizando: não existe radicalismo consciente, não existe radicalismo essencial. Existe radicalismo, e ele é extremamente descartável...


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Por Pei Fon com Alex Chagas Foto: Divulgação

O Brasil sempre foi um grande revelador de bandas de metal extremo e possui uma das melhores cenas de black metal do mundo. Não poderia ser diferente com esse quarteto de Volta Redonda que acaba de lançar um grande disco e desponta como uma grata revelação do cenário nacional. Vamos ver o que Guilherme (vocal, guitarra) e Jorge (bateria), nos falam sobre as origens da banda e sobre seu disco “Dead Inside”. A banda surgiu das cinzas do Dark Crystal’s Land. Guilherme Corvo era baixista, mas assumiu a guitarra e vocal nesta nova banda. É bem provável que o entrosamento tenha sido rápido. Como foi esse início? Alguma música antiga foi aproveitada? Jorge – Não acho que surgimos das cinzas do Dark Crystal, pois sempre tocamos juntos, antes do Dark Crystal. Eu, Sandro e Heyder já havíamos tocados juntos no Abominor e, antes disso, eu e o Sandro tocamos juntos no Devast. O Heyder também fez parte da primeira formação do Dark Crystal. Então, como podem ver, o entrosamento já vem desde muito tempo. Guilherme - Sabemos que o entrosamento é um elemento fundamental para que a energia de uma banda, como um todo, consiga ser canalizada de forma produtiva. No Dark Slumber esse entrosamento ocorre de forma bem natural. A princípio, aproveitamos três composições do Dark Crystals’ Land. Atualmente mantivemos em nosso repertorio as músicas “I Am His Soldier” e “Put His Legions To Death”. Elas foram reestruturadas, mas procuramos 18

manter suas essências originais. Escutando o disco, percebe-se que o Dark Metal executado tem muitas influências de Black Metal. É uma influência deixada pela antiga banda? Guilherme - Eu diria que o Black metal em si, e não necessariamente o Dark Crystal, é uma influência direta de cada um dos músicos do Dark Slumber que sempre tiveram o Black metal como uma inspiração direta em seu desenvolvimento pessoal. Não podemos apagar quem somos realmente e de onde viemos, nem de nossas inspirações. O Black Metal sempre foi e sempre será um elemento que estará pre-


sente, direta ou indiretamente, nas composições do Dark Slumber. Jorge – Também temos muitas influências do Death Metal e do Doom Metal. Na minha opinião, o Dark Metal é uma mistura desses estilos com temas sombrios, sobre ocultismo, terror, etc. O disco “Dead Inside” acabou de ser lançado pela Black Legion Productions e com distribuição da Retch Records e Eternal Hatred Records. Como se deu esse contrato para lançamento e distribuição do full? Jorge – Todo contato com a Retch Records e 19

Eternal Hatred para distribuição foi feito pelo Alex da Black Legion, não temos informações de como foi essa negociação. O guitarrista Guilherme Corvo passou um tempo na Europa por questões particulares. Essa viagem trouxe alguma vantagem para a banda? Essa vivência na Europa mudou a visão da banda para algum direcionamento? Guilherme - Notamos que os europeus apreciaram bastante o estilo musical mais sombrio da banda. Os contatos que eu fiz com outras bandas e a minha experiência viajando de país em país, certamente serão uma vantagem na programação de uma eurotour, que esperamos que ocorra em breve. Fora um possível inter-


câmbio entre bandas, esperamos poder trazer alguma delas. Elas tem uma qualidade incrível e são pouco conhecidas em território nacional. As músicas da banda se mostram bem trabalhadas. Como é o processo de composição da banda? Geralmente fazem a música antes da letra? Guilherme - Nós temos uma flexibilidade muito grande quando se trata de criação. As melodias podem falar tanto quanto uma letra, então, em função disso, deixamos que a inspiração lírica ou musical dê o tom e o direcionamento, enquanto outros elementos vão se encaixando como uma espécie de simbiose. Não gostamos do conceito de método único. Isso engessa o processo criativo e de inspiração. Achamos que a música deve ter um flu20

xo natural e seguir o mesmo para que ocorra de forma sincera e significativa. Do contrário seria apenas algo comercial, fruto de fórmulas repetitivas e, por mais que dê certo, isso, para nós como músicos, não geraria nenhuma satisfação pessoal, pois seria algo mecânico. O CD está muito bem gravado e nítido. A gravação foi feita em Volta Redonda, no LM Studio, e a masterização no Morbi Mastering, no Arizona/EUA e no Sun Room Audio, em Nova York/EUA. Por que a escolha de masterizar fora do Brasil? Guilherme - Os Estados Unidos são conhecido pela produção de equipamentos musicais de ponta. Infelizmente, no Brasil, não são muitos estúdios que têm essa qualidade de equi-


pamentos para masterização e que trabalhem focados em som extremo. A banda pretende lançar algum vídeo oficial para a divulgação do disco? Alguma previsão de lançamento? Guilherme - Para o Dead Inside não pretendemos lançar vídeo. Somos criteriosos quando se trata de arte e seus respectivos veículos e o vídeo é a representação visual de uma banda e, consequentemente, um registro permanente. Existem alguns vídeos de bandas excelentes no underground, cujas produções ficaram bem aquém da qualidade musical. Isso nos leva a refletir sobre a ideia de lançamento de vídeo clipe. Entre fazer algo mais ou menos ou não fazer nada, optamos por não fazer nada. Para o próximo álbum, certamente, estaremos 21

produzindo algo com a ambição de conseguir capturar a essência obscura que o Dark Slumber possui. Vocês acham que o Rock in Rio pode trazer algum benefício para a cena ou apenas para a mídia pop? Jorge – O Rock in Rio é um grande festival e que geralmente tem dois dias dedicados ao Heavy Metal. Talvez um benefício que o Rock in Rio possa trazer para a cena é o despertar dos mais jovens para o som pesado e com isso eles começam a se informar mais e a procurar por bandas e eventos em suas cidades e regiões. Já que a banda está a algum tempo parada, pretende apresentar alguma coisa


em especial ao vivo? Como anda a agenda de shows de vocês? Jorge – Passamos esse ano ensaiando e compondo e agora que lançamos o CD esperamos sair para tocar por todo o Brasil para divulgar nosso trabalho. Já temos duas músicas novas no repertório e vamos tocá-las ao vivo e também uma música que reformulamos, “To Dead To Die”. Os shows agendados até agora são o do dia 07/11, em Volta Redonda, e 05/12, no Rio de Janeiro.

de aceitação e destaca a banda entre os grandes. Isso era esperado por vocês? Guilherme - Nós sabíamos da aceitação europeia quanto ao nosso som, mas por sermos uma banda tão recente ficamos realmente surpresos de estarmos na capa da coletânea e principalmente por ser a primeira coletânea só com bandas brasileiras lançada pela Terrorizer. Isso nos motiva a continuar com cada vez mais força para mostrar nosso trabalho no meio undergound nacional.

A revista alemã Terrorizer sempre lança coletâneas para acompanhar suas edições. Recentemente, a publicação fez uma com bandas brasileiras e o Dark Slumber, além de participar, teve um grande destaque aparecendo ainda na capa do CD. Isso demonstra uma gran-

Espaço para considerações finais e agradecimentos. Jorge – Gostaria de agradecer em nome do Dark Slumber a todos que nos apoiam em nossa jornada! Stay Dark!!! Contato da banda - info@darkslumber.com

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Foto: Robson Covatti

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Por Pei Fon (peifang@rockmeeting.net) Fotos: Ana Marinho

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anda alguma inicia seu trabalho imaginando que vá conquistar o mundo. Pelo menos, não expressamente. Mas sonhar não custa. Diante das dificuldades, as bandas brasileiras mantêm seu ritmo, conseguindo fazer trabalhos diversificados e, apesar das limitações, a qualidade é mantida. Logicamente, o que tem de bom, há de ruim. Muito embora, não é o caso do nosso destaque. Maquinarios é um trio para lá de interessante. Escutamos o seu primeiro álbum e não conseguimos destacar um estilo só dentro do CD. É um passeio pelos ritmos do Heavy Metal, que, por sua vez, pode ser bem adequado nesta ‘categoria’. Com vocês, Maquinarios! Este é o nosso primeiro contato. Apresentem-se para os nossos leitores. Diego Massola: Olá pessoal, é um prazer poder estar aqui na Rock Meeting mostrando alguns detalhes do nosso trabalho, trocando algumas ideias e debatendo sobre música. Somos a Maquinarios, composta por Watson Silva (guitarra e vocal), Matheus Andrighi (baixo e vocal) e eu, Diego Massola (bateria). Somos um trio de Heavy Metal ‘brasileiro’ que acaba de lançar seu primeiro disco, ‘Intacto’, e está pronto para rodar por este país. Espero que a entrevista seja prazerosa a todos e vamos em frente! “Intacto” é o primeiro trabalho de estúdio do Maquinarios. De um modo breve, como vocês podem apresentar esse CD? 26

Um álbum que vem de uma fase de experimentos, junções de muitos estilos e influências e com foco em fazer músicas com algo novo. Faixas extensas, mas não cansativas, e que expressam o que mais estávamos sentindo ou passando no processo de produção. Por que cantar em português? Alguma banda inspirou ou foi desejo do trio? Mais do que inspirados em Carro Bomba, Patrulha do Espaço, Harppia e, atualmente, grandes expoentes como Project 46 e o pró-


prio Korzus em algumas músicas. Acreditamos que esse é o caminho que fará com que o povo brasileiro volte a gostar do gênero em grande escala, pois somos mais de 200 milhões de habitantes e um grande mercado a se explorar. O país está carente de bandas assim, que se tornem mais íntimas e com mensagens diretas. Reclama-se dos estilos populares tomarem conta do cenário aqui, mas uma das grandes diferenças é que esses gêneros passam sua mensagem em português (seja qual for). Sertanejo teria o mesmo público se fosse 27

cantado em inglês? Pela formação da banda, pode até lembrar o famoso trio do Heavy Metal, Motörhead. Eles são uma inspiração para vocês, bem como o Black Sabbath? Com certeza. É difícil fazer alguém aceitar que seu ídolo tenha tido feitos como gastar mais em cocaína do que a gravação de um álbum, como foi o caso do Vol. 4 do Sabbath (risos). Mas o que devemos levar em consideração é a importância que eles tiveram na constituição


do que se tem hoje. Afinal, se alguém não houvesse dado o pontapé inicial não se sabe o que seria Heavy Metal hoje. Você ouve um grito na noite quando está desgovernado por além da estrada onde se encontra veneno, sangue e destroços. Ainda assim, você se questiona se é anjo ou réu, estando a seis milhas para o inferno. Tem como se manter intacto? (risos) Sempre nos mantemos intactos. Nossas letras mostram grande parte de nossas jornadas na batalha por querermos viver do que gostamos. Fazer com que pessoas gostem disso e levem consigo para suas jornadas, mesmo com o caos reinando. Intacto até os ossos. Como se deu a escolha do Mr. Som? Era um sonho trabalhar com os icônicos

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Marcello Pompeu e Heros Trench? Foi o primeiro nome a vir na cabeça. Sem sombra de dúvidas, Pompeu e Heros são dois dos melhores produtores brasileiros e o Mr. Som é o berço do Metal no Brasil. Grandes discos saem de lá, grandes bandas passam por lá e grandes amizades se fazem lá, como foi nosso caso. Conhecemos vários colegas, que mantemos contato até hoje, e pudemos trocar grandes experiências e aprendizados. Além do mais, a formação anterior da Maquinarios já havia gravado um EP no mesmo local, o que nos deu certeza de este ser o estúdio certo. Tudo ocorreu perfeitamente, saímos muito satisfeitos e com uma bagagem enorme de conhecimento. Em falar no Marcello, como foi essa participação dele no álbum? Em que momento vocês viram que era necessá-


rio ter outra pessoa dividindo o vocal? Apesar de entrarmos em estúdio com as músicas praticamente prontas, muitos ‘pitacos’ do Pompeu nos deram mais maturidade na hora da gravação. A grande contribuição dele se deu mais na produção em geral do que especificamente nas execuções vocais, que foram em minha opinião, perfeitamente dominadas por Watson Silva. É difícil achar um estilo para o Maquinarios. Muito embora, esta questão de rotular bandas é bem delicada. Como pode ser apresentado o som que fazem? Ao lançarmos o clipe de ‘Um Grito na Noite’ fomos logo associados a uma espécie de ‘Stoner Metal’. Esperávamos algo em torno do Heavy Metal mesmo e, confesso, ficamos meio que surpresos. Porém, não ligamos tanto assim para esses rótulos. Penso que o que mais

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faz a Maquinarios conquistar público, principalmente de outros gêneros (o que é um de nossos grandes objetivos), é nossa diversidade nas composições. Temos faixas que soam como Hard e outras como Thrash. Algumas bem anos 70 e outras 2000. É divertido isso! Top 5. Cite as 5 bandas que fazem parte da inspiração do Maquinarios. Fale um pouco sobre cada uma delas. Black Sabbath - O que falar de quem dispensa comentários? Pantera - Dos anos 90 até a morte de Dimebag foram momentos incríveis e que continuam vivos com Vinnie Paul, agora no Hellyeah. Grande banda também. Sepultura - E o que se tem de Sepultura em Maquinarios? (risos) Olha, em sonoridade talvez pouca coisa se assimile, mas em inspiração, admiração e competência dos músicos


somos muito influenciados por essa banda que representa tão bem o Brasil. Todos pulam sem parar quando tocamos algum cover como ‘Territory’ ou alguma do ‘Kairos’ ao vivo. Carro Bomba - Banda fantástica que muitos deveriam conhecer. Letras em português com uma sonoridade única. Rogério Fernandes e companhia nos direcionaram muito bem. Project46 - É difícil citar uma banda de Metal Core como nossa influência, pois é bem diferente do som que a Maquinarios faz, mas o Project vem conquistando grandes públicos principalmente nos festivais voltados para o Indie no Brasil. Eles representam muito bem a cena, algo com o que nos identificamos, além, é claro, de um instrumental de brilhar os olhos que te tiram do chão a todo o momento e letras em português. Diante da atual fase econômica vivida no Brasil, este seria um momento para que as bandas brasileiras se sobressaiam na própria cena? O Rock sempre teve em suas principais mensagens, a crítica social, o que nos proporciona por para fora toda nossa frustração e angústia através de música. E se conseguir aproveitar-se da atual situação para crescer seria sim ótimo, afinal precisamos. Lembro-me de uma citação de Bruce Dickinson dizendo que: “As pessoas precisam de incentivo para a vida e nós damos música a elas”.

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Foto: Robson Covatti

Ouvindo a “Veneno, Sangue e Destroços”, a impressão que dá é de estar num bar ou no meio do nada, você questionando algumas coisas, depois pega a moto e cai na estrada. Já tem um enredo para algum clipe (risos). Enredos não nos faltam, assim como vontade de gravarmos um clipe para cada música, porém os fatores para chegarmos a tal são vários. Lançaremos agora no final do ano nosso segundo vídeo clipe, que está praticamente pronto e, confiem em mim, está arrasador. Também temos a ideia trabalhar um material com ‘Desgovernado’, o que nos limita no momento é a questão financeira, como sempre! (risos). Por fim, quais os planos da banda para 2015 e o que podemos esperar para 2016? Sucesso sempre. Muito obrigada! Foi um prazer poder estar cedendo esta entrevista a Rock Meeting, desejo muito sucesso a todos, foi uma grande oportunidade e espero que tenham gostado da entrevista. Em 2016 a Maquinarios pretende rodar toda a América do Sul através de um contrato que estamos fechando com uma produtora daqui, lançar no mínimo mais um videoclipe. No final do ano devemos entrar em estúdio para a gravação do segundo álbum. Muito obrigado a todos! Conheça a banda: Site | YouTube | Facebook | Twitter | Instagram | E-mail

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Por Pei Fon (peifang@rockmeeting.net) Foto: Marcelo Demutti

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uitas vezes nos perguntamos: em que pé está aquela banda? Eis que trouxemos uma que retorna à cena e promete ser mais impactante do que antes. Falamos do Rebaelliun, banda que fez um barulho tremendo entre 1999 a 2002 e sumiu. Porém, em 2015, a banda volta do seu hiato para reconquistar seus fãs e conquistar novos caminhos. Conversamos com seu guitarrista, Fabiano Penna, que contou um pouco sobre o passado, presente e futuro. Ou seja, tem trabalho novo chegando. Acompanhe! Para os esquecidos, quem é o Rebaelliun? A banda foi criada em 1998 em Porto Alegre/ RS, com ex-membros de uma outra banda de Death Metal chamada Blessed, que existiu entre 1992 a 1996. Nossa formação inicial tinha três ex-membros do Blessed: Sandro Moreira (drums), Ronaldo Lima (guitars) e eu, Fabiano Penna (guitars), além do Marcello Marzari (bass/vocals), ex-membro da banda Garbage, uma banda de Death Metal de Santa Maria/ RS. Em 2000, o Marcello deixou a banda pra entrada do Lohy Fabiano (bass/vocals), que também era do Blessed. A banda estava a todo vapor de 1998 a 2002. Fale sobre esse período. Montamos a banda, gravamos uma promo-tape com duas faixas e fomos pra Europa no final de 1998, coisa bem atípica naquele tempo. Passamos três meses no continente europeu, fizemos 20 shows (alguns com bandas como Deicide e Behemoth) e voltamos para o Brasil 34

com um contrato com a gravadora holandesa Hammerheart Records. Nossa demo virou um EP. U1 ano depois lançamos nosso primeiro álbum, Burn the Promised Land (1999), seguido de mais um EP chamado Bringer of War (2000) e nosso segundo álbum “Annihilation” (2001) gravado na Alemanha. Entre os lançamentos fizemos mais três turnês na Europa, uma no Brasil e cravamos o nome da banda na cena Death Metal mundial daquela época. Em 2002, a banda acabou. Foram três anos e meio apenas, mas que deixaram uma base de fãs sólida em diversos países, depois de quatro


lançamentos e quatro turnês fora do país. 13 anos em silêncio. O que aconteceu para que vocês ficassem longe dos palcos? A banda acabou, foi isso que aconteceu. Durante o tempo em que estivemos tocando, mantivemos um ritmo forte de trabalho. Nesse tempo ninguém trabalhava ou estudava. Vivíamos 100% focados na música do Rebaelliun. Morávamos juntos e boa parte do tempo estávamos na estrada. Tivemos algumas mudanças de formação, houve um desgaste violento 35

de convivência, falta de grana, etc, somados a nossa imaturidade na época que culminaram num racha total entre os membros. O que vocês fizeram nesse hiato? Cada um foi tocar sua vida à sua maneira. Eu pessoalmente comecei a me envolver mais com estúdios e também na estrada como técnico de som, produzi – e sigo produzindo – dezenas de bandas pelo Brasil todo, mas também nunca deixei de tocar. Toquei por um ano na banda paulistana Horned God, depois montei a banda The Ordher. Também toquei por


um período no Andralls. Fora participações que sempre faço em discos de bandas daqui do Brasil e também de fora. O Sandro também se manteve na ativa, tocou por alguns anos no Mental Horror, depois no Exterminate – onde segue até hoje. O Lohy e o Ronaldo seguiram com o interesse na música, mas nunca mais se envolveram com bandas. O que fez voltar para a cena? Foi um clamor do público ou o sentimento de retorno foi geral entre os integrantes? Como tudo aconteceu? Em 2003, a gente chegou até a ensaiar por alguns meses. Eu tinha passado um ano morando em São Paulo e tocando com o Horned God e quando voltei pro Sul a gente se encontrou e decidiu retomar o Rebaelliun. Durante alguns meses ensaiamos, mas vimos que a energia não era a mesma, aí ficou pelo meio do caminho. E por algumas oportunidades a gente se encontrava. Falávamos a respeito, mas acabava nunca rolando, talvez pelo momento pessoal de cada um. E aí, esse ano, conversamos e definimos que a hora seria essa. Se passasse mais algum tempo seria inviável retomar o projeto. E sim, as pessoas sempre cobraram uma volta da banda. Hoje em dia, com as redes sociais, isso fica mais evidente, pois se um cara te manda uma mensagem da Austrália dizendo que começa o dia ouvindo teu disco e que espera ainda um dia ver a banda ao vivo, isso obviamente tem um peso. Desde que anunciaram o retorno do Rebaelliun, a banda trabalha no sucessor de “Annihilation”. Na verdade, sua continuação. Como está sendo o processo de composição? Qual a temática lírica? Assim que definimos a volta da banda, já assinamos com o mesmo selo com o qual traba36


lhamos no passado, a Hammerheart Records, e estipulamos o lançamento do novo álbum como prioridade. E desde então, estamos trabalhando nele, que vai se chamar “The Hell’s Decrees” e está com lançamento marcado pra maio de 2016. Será nosso terceiro álbum e vai funcionar como uma continuação do anterior, “Annihilation”. Nosso último disco falava justamente da aniquilação da raça humana. O novo fala do que restou depois dessa aniquilação, quem sobreviveu nesse ambiente inóspito e regido pelo caos no planeta. Já temos metade do disco pronto e estamos realmente satisfeitos com o que tá rolando, o processo criativo entre a gente flui muito facilmente, as ideias vão se encaixando e as músicas vão nascendo. Felizmente, estamos conseguindo fazer a banda soar como o Rebaelliun, que é o que as pessoas esperam, mas estamos nos dando a liberdade de visitar novas sonoridades também, buscando uma nova forma de seguir fazendo Death Metal sem ser tão repetitivo. Sendo de cidades diferentes, como vocês estão fazendo para se encontrarem? Eu moro em São Paulo, o Ronaldo está em Florianópolis, enquanto o Lohy e o Sandro seguem em Porto Alegre. Então, estamos nos encontrando em Florianópolis, que é praticamente meio do caminho para todo mundo. O Ronaldo hoje tem um filho pequeno, também assim evitamos tirá-lo de perto da família apenas para ensaiar, já que ano que vem devemos passar um bom tempo na estrada. Essa vai ser nossa logística por enquanto. Dezembro já começa o processo de gravação. Há a possibilidade de sair um teaser do novo álbum ou só perto do seu lançamento? Sim, em dezembro começamos a gravar, aqui 37


em São Paulo. Até final de janeiro estaremos com o disco pronto. Ainda não planejamos nada, mas vamos sim lançar um teaser assim que o material estiver mixado. Talvez com alguns trechos de músicas, talvez um lyric vídeo completo, vamos ver. É possível apontar as diferenças entre os tempos atuais e do período de 1998 a 2002 em que a banda estava ativa? O que mudou? Total. A internet mudou tudo. A gente pegou o início da rede naquela época. Os primeiros contatos que fizemos em 1998, com uma galera da Europa, antes de irmos pela primeira 38

vez, foram por e-mail, apesar que na época pouca gente usava ou tinha acesso. Mas era outra dinâmica. A gente trabalhava com os e-mails, tinha o site da banda, que concentrava as informações e novidades, mas era uma coisa estática, atualizada uma vez por mês e com interatividade quase nula. Hoje em dia, as redes sociais te dão um feedback em tempo real do que você está fazendo. É bacana pela facilidade e rapidez de mostrar teu trabalho, divulgar tuas novidades, mas também ilude muito. Tem banda que tem 50 mil likes na fanpage do Facebook, mas nunca faz show e acha que tem público. Eu, pessoalmente, acho que as coisas precisam se complementar. Você


precisa fazer um trabalho forte na rede, usar o recurso, atingir o público, mas o que consolida uma banda é estar na estrada, em contato com seu público, trocando essa energia na vida real mesmo com os fãs do estilo, conhecendo as pessoas e vivendo a música. A internet nunca vai te dar isso, é uma ferramenta só pra complementar... É o mapa, não é o território em si. Por fim, o que o Rebaelliun tem a dizer agora que voltou a ativa? Muito obrigada e sucesso neste retorno à cena. Primeiramente temos que agradecer e muito a todas as pessoas que estão nos incentivando e já nos incentivavam antes de resolvermos 39

voltar com a banda. Vocês são diretamente responsáveis por estarmos novamente juntos nesse barco. Agradecer a você, Pei, pela entrevista e espaço no Rock Meeting. Estamos trabalhando duro, como sempre fizemos, para lançarmos um disco que mantenha o nível do trabalho que fizemos lá atrás. Sabemos que o tempo passou, muita coisa mudou, o mercado mudou, mas a nossa paixão por tocar música extrema sempre seguiu a mesma, o disco vai ser a prova disso. E esperamos encontrar todos esses amigos na estrada ano que vem. At war!!




Texto e Foto - Pei Fon (peifang@rockmeeting.net)

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arja Turunen, muito conhecida pela sua passagem pelo Nightwish, desembarcou na cidade do Recife, pela primeira vez, e trouxe a turnê do seu recente álbum, “Colours in the dark”. Em sua segunda passagem pelo Brasil com esta turnê, alguns pontos foram modificados. Para esta que vos escreve, esta apresentação foi a melhor. Dentre os pontos que são necessários mencionarem foi a mudança da banda. Três dos cinco integrantes foram mudados e um não está na turnê. O mais sentido deles foi Mike Terrana, quem sempre assumiu a bateria desde o início da turnê ainda no “My Winter Storm”. Esperava ansiosamente revê-lo, mas não foi possível desta vez. Bateria, baixo e teclado foram assumidos por argentinos. E não teve violoncelo. Tarja é muito carismática. Atendeu os fãs que a esperavam no aeroporto e na porta do hotel. A blindagem excessivamente é feita por seu marido, que por sinal foi o pivô da saída da cantora da banda que a projetou. Passado é passado. Vamos falar do futuro. Só a passagem de som no Recife, primeira cidade da turnê brasileira, levou quatro horas para finalizar. É compreensível, pois estavam repassando as músicas que iriam tocar na turnê. O que mais impressionou a todos foi ter duas músicas icônicas no setlist: “Phantom of the Opera” e “Slaying the Dreamer”. Ninguém, nem o mais esperançoso fã, imaginava que estas músicas seriam tocadas.

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O show iniciou pontualmente com a banda pernambucana Monticelli, tocando suas músicas autorais e alguns covers mais famosos do mundo do Heavy Metal. Músicas estas das bandas Megadeth, Judas Priest e Black Sabbath, por exemplo. O trio é formado por irmãos nascidos no Rio Grande do Sul e que foram morar no Recife. A banda segue a linha clássica setentista e agrada muito, dos mais antigos aos mais novos fãs do Rock/Metal. É uma bela promessa e vale conferir seu som. Sem muita demora, o show da Tarja foi iniciado. A banda fez uma abertura ao som de “Phantom of the Opera”. O povo foi ao delírio. Ela já começou com uma pedrada. Essa composição é de Andrew Lloyd Webber, porém ficou eternizada na versão que o Nightwish fez quando Tarja ainda era a vocalista. Em carreira solo, ela continua cantando, porém não entrava no setlist. Desta vez, todos foram agraciados com tamanha beleza. Na sequência: “500 Letters”, “Little Lies”, “Falling Awake”, “I Walk Alone”, “Anteroom of Death”, “Never Enough”, “Dark Star”, “Neverlight”, “Until Silence”, “No Bitter End”, “Goldfinger” (John Barry cover), “Deliverance”, “Victim of Ritual”, “Slaying the Dreamer” (Nightwish Cover), “Die Alive”, “Until My Last Breath”. Vamos a alguns destaques. “I Walk Alone” é, sem dúvida, uma das músicas marcantes da Tarja. No momento em que ela ressurgia na cena, depois de ter sido demitida da sua antiga banda, ela vem com essa de “eu ando sozinha” e ela tem mostrado que sim. Muito embora, em outros textos já escritos, Tarja precisa que alguém escreva para ela. A impressão que dá é que falta alguma coisa nela. Enfim! Outro grande destaque é ter músicas novas no setlist. Como o cover de “Goldfinger”, tema do filme 007. Ela costuma fazer al46


Monticelli

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guns covers. Já fez do Alice Cooper, Peter Gabriel e no seu mais novo DVD “Luna Park Ride”, tem a música “Signos”, da banda argentina Soda Stereo. Ela está firme mesmo nessa levada de ‘coisas’ argentinas. Banda, marido, música, casa... Tá demais, hein?! Mais um destaque. Música do novo álbum. Pela primeira vez, ela tocou “No Bitter End”, que vai estar no seu quarto CD de estúdio. A recepção tem sido boa pelos fãs e ela já prepara o terreno. Muito provável que saia em 2016. O ponto alto do show. “Slaying the Dreamer”. Foi a primeira vez que ela tocou essa música em sua turnê. Geralmente, Tarja canta “Wishmaster”, “Wish I Had an Angel” e a versão do Nightwish para “Over the Hills and Far Away”. Mas desta vez ela tocou no âmago, até desta que lhes escreve. Quem nunca teve a oportunidade de assistir o Nightwish com ela, esse foi um presente e tanto. Só faltavam os integrantes de sua antiga banda (risos). No mais, após ela finalizar com “Until My Last Breath”, a galera pedia por “Wishmaster”, mas não foi tão forte assim a ponto de ela ser comovida para realizar o desejo dos fãs. E para estes fãs, vale um adendo, foi decepcionante. Esperava-se mais. O público não compareceu e a desculpa é que não houve divulgação. Um evento que estava sendo divulgado desde abril, chegar em outubro e ainda questionarem isso... Logicamente que as pessoas têm prioridades. A situação econômica do país também não ajuda. Mas um evento cuja divulgação começou há seis meses e você não consegue juntar uma graninha? Ou seja, se há o show que tanto pedem na cidade e o público não comparece, pode ter certeza que não terá outra vez! Infelizmente, isso não acontece apenas em Recife. Salvador também não conseguiu bom êxito. E que ela fique nas regiões Sul e Sudeste. Lá o público comparece!

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banda Division Hell é relativamente nova, mas vem surpreendendo na cena nacional com seu Death Metal brutal e altamente técnico. Acabaram de lançar seu primeiro disco, “Bleeding Hate”. Vamos ver o que o guitarrista Renato Rieche nos fala sobre esse álbum e também um pouco sobre a história da banda. Recentemente foi lançado o primeiro disco completo da banda “Bleeding Hate”. Este disco tende a colocá-los em destaque. Quais a expectativas para esse lançamento? Nós nos concentramos cem por cento para a criação, gravação e lançamento desse CD. Passamos por várias dificuldades ao longo do caminho, mas não desanimamos. Ficamos durante três anos em função desse disco, sem tocar ao vivo. Tudo o que fizemos, desde as músicas até a arte da capa, foi pensado com cuidado e carinho. Pegar o CD na mão, depois de tudo, é como um sonho virando realidade. É a prova de que se tivermos vontade verdadeira de concretizar algo, pode demorar um pouco, mas vai rolar. Então, as expectativas naturalmente são as melhores possíveis. Sabemos que teremos bastante trabalho pela frente para divulgá-lo e estamos dispostos a tocar aonde for para que as pessoas possam conhecer. A capa do disco se destaca o belo trabalho gráfico. Qual a mensagem que a banda queria passar com essa imagem? Nós sentamos e tentamos elaborar uma capa que tivesse a ver com as letras. Nesse processo foram feitas mais duas capas, mas que não capturaram o clima que queríamos. Um dia o Ubour mandou uma ideia que ele teve basea-

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da em uma letra que escreveu (Bleeding Hate). Quando vimos, aprovamos de imediato. É uma capa que representa o subconsciente da angustia, com uma pessoa dando um tiro na cabeça, mas sem arma, expulsando seus temores, dúvidas e aflições. É uma representação de uma imagem aflitiva. O Cd foi gravado no estúdio ‘Clínica Pro Music’ pelo Murillo de Rós. Como foi a experiência de gravar esse disco com Murillo e o que ele acrescentou ao disco? Nós procuramos o Clínica por ser um estúdio


Por Pei Fon com Alex Chagas | Foto Divulgação

em que várias bandas locais das quais gostamos gravaram (Hecatomb, Infernal, Imperious Malevolence, Fornication, entre outras). Tudo o que ouvíamos achávamos ótimo e queríamos mais ou menos o mesmo clima. Então, gravamos o nosso primeiro Ep lá, e curtimos muito. Gostamos tanto que decidimos gravar o CD inteiro lá mesmo. O Murillo é um produtor com uma sensibilidade muito apurada. Ele entende muito de música. Toca guitarra para caralho, violão flamenco e é detentor de um conhecimento musical soberbo. Um cara extremamente gente fina. Ele nos deixou muito confortáveis enquanto estávamos gravando 51

e fez tudo com paciência e boa vontade. Além de já ter tido muita experiência de gravar e produzir sons mais extremos. O papel dele foi fundamental, pois fez um trabalho fantástico. A gravação de “Bleeding Hate” foi iniciada em 2013 e teve término em 2015. Foram dois anos até o lançamento. Quais os problemas vocês enfrentaram para ter demorado esse tempo? Na verdade, nós começamos a gravar em 2012, então foram praticamente três anos para concretizar o CD. Quando começamos a banda, nós estávamos nos conhecendo musicalmente


e testando as possibilidades. Seria uma banda de Death com pitadas de um Thrash mais moderno. As músicas iam fluindo sem muita pretensão. Quando entrei na banda as músicas do primeiro Ep já estavam praticamente prontas. Lançamos o Ep em 2011 e decidimos que precisávamos de um full-length para alcançar outro patamar. Então começamos o processo de composição. Já nos conhecendo melhor, decidimos que seria algo mais voltado para o Death Metal mesmo, sem deixar as pitadas de Thrash. 52

Começamos do zero. A música ficava pronta, entrávamos em estúdio, gravávamos e depois compúnhamos outra e entravamos novamente. Esse processo foi o que fez com que demorasse um pouco mais. Houve alguns outros problemas como a saída de um integrante e a parte financeira também. Mas nós não iriamos desistir enquanto não ficasse pronto. Fizemos tudo com muito cuidado, pois queríamos ter certeza de que tudo sairia da melhor maneira possível, desde as músicas até


ter um clipe. E nós fomos atrás e fizemos da melhor maneira que pudemos. A repercussão foi ótima. Nós somos uma banda nova e temos um longo caminho pela frente. Acho que para um primeiro clipe foi bem bacana. Uma boa semente para o futuro. Pretendemos, sim, fazer mais um vídeo, porém vamos nos concentrar em tocar, divulgar e vender os CD’s por enquanto. Quando estivermos mais tranquilos, financeiramente, vamos gravar mais um clipe sem dúvidas! A faixa “World Khaos” tem a participação do vocalista Mano Mutilated da banda Necrotério. Como foi feita essa escolha e em que momento a banda percebeu que precisava ter uma participação? Sou um grande fã do Mano, desde a época do Hecatomb. Para mim foi uma grande honra tê-lo no CD. Quem fez esse corre foi o Ubour. Ele quem deu a ideia de entrar em contato com o Mano para uma participação e todos nós ficamos muito felizes quando ele aceitou. Acho, sinceramente, que “World Khaos” remete a algumas coisas de Hecatomb e que sua voz combinou perfeitamente nesse som! a arte e tudo mais. E isso fez com que demorasse um pouco mais também! Foi lançado um vídeo para a faixa título “Bleeding Hate”. Como tem sido a repercussão desse clip? A banda pretende fazer mais algum vídeo para divulgação? O clipe foi o primeiro sonho realizado. Antes do CD estar pronto, nós o gravamos e lançamos. Do jeito que as coisas estão, hoje em dia acho que é quase obrigatório para uma banda 53

Em 2011, a banda lançou o Ep. “Apokaliptika”. Que frutos a banda vem colhendo desse trabalho? Os resultados foram satisfatórios? Eu encaro o “Apokaliptika” como uma pequena semente que plantamos. Nós estávamos testando várias possiblidades. Aprendemos muito uns com os outros e foi a maneira como entramos na cena. As músicas, a capa, e tudo mais, foram pensadas com muito carinho. Então, os parâmetros dos próximos trabalhos sempre vão seguir essa diretriz. Ao menos, o melhor que pudermos fazer e que estiver ao


nosso alcance. Nós gravamos, lançamos e distribuímos. Nós não o vendemos, justamente para fazer com que as pessoas tivessem um acesso rápido ao nosso trabalho e entrar na cena com um cartão de visita bem feito. Os resultados foram satisfatórios, sim. Conseguimos obter um grande número de pessoas curiosas por nosso próximo trabalho. E isso foi bem bacana. Os solos de Renato Rieche se destacam no disco por serem muito bem feitos e trabalhados. Morbid Angel é uma grande influência para a banda? Como foram elaborados esses solos? Valeu pelas palavras! Morbid Angel é uma grande influência para todos da banda. Na minha opinião, o “Domination” é o auge deles, uma obra prima do Death Metal. Os solos são geralmente improvisados, mas não diria que cem por cento. Entro em estúdio com uma ideia do que fazer, algumas vezes funciona e, em outros momentos, sigo um caminho totalmente diferente do original. Houve algumas músicas em que compus nota por nota dos solos, mas na grande maioria prefiro a espontaneidade do improviso. Quando vou gravar os solos prefiro fazer sozinho, sem a interferência de muitas opiniões. Acho que só assim consigo fazer algo que o resultado seja bacana pra mim. Fui bem perfeccionista e o Murillo teve um ótimo papel também, me deixando livre até o momento em que eu encontrava o que deveria ser feito. Ao ouvir o som da banda se pode notar uma semelhança do vocal de Ubour com Jan- Chris De Keijer do Gorefest. Como a banda lida com essas comparações? Essa influência se deu de maneira intencional ou foi algo natural? 54

Quando conheci o Ubour, até mesmo antes de tocar com ele em 2001, eu achava que seu vocal tinha muita semelhança com Glen Benton e Alex Camargo. Vim a conhecer Gorefest depois, e realmente tem uma grande semelhança. Pessoalmente, acho uma baita comparação. Acredito que se deu de maneira totalmente natural. Quando ele berra é a voz cem por cento dele ali. Tenho certeza de que há uma influencia não só do Chris, mas do Max Cavalera, Glen Benton, David Vincent e tantos


outros que o influenciaram nesse meio. Não vejo problemas na comparação. Acho até legal. Espaço para considerações finais e agradecimentos. Estamos lançando nosso segundo trabalho, o primeiro Full Length, e sabemos que ainda é só o começo. Temos um longo caminho pela frente e estamos dispostos a seguir, desbravar e correr atrás de nossos sonhos por amor a música. É isso o que nos move. Estamos hoje 55

com uma formação muito sólida e cada vez mais entrosada musicalmente. O Hernan é um grande baixista e bastante experiente. O Carlos está tocando cada vez melhor; Esperamos que este CD abra novas portas até o nosso próximo trabalho. Queremos tocar em tudo quanto é lugar para divulgar e porque amamos isso também. Agradecemos o Alex da Black Legion e a vocês da Rock Meeting pelo espaço, isso é fundamental! Grande abraço!


Foto: Alessandra Tolc

Apresente-se! E aê! Sou Maria Fernanda Cals, guitarrista da banda carioca Indiscipline. Feliz de estar por aqui! Quem era você no começo da carreira e quem é você hoje? Eu ainda me considero no começo da carreira. Mas ao longo desses anos em que eu venho tocando guitarra e tendo bandas (a primeira foi uma de punk rock em 2000; depois veio a Trinnity, de gothic metal, em 2003; o Impacto Profano, de black metal, em 2009; e, finalmente, a Indiscipline, que foi criada em 2012), aprendi muita coisa. Desde coisas básicas sobre timbragem, equipamentos, gravação, até outras mais subjetivas como administração e marketing da banda, etc. Menos ingênua hoje, mas ainda acredito que o que faço de mais importante com a música é deixar um legado para quem virá depois de mim. A arte é eterna e acho muito louco imaginar que daqui a 100 anos ainda pode ter alguém ouvindo o que eu compus anteontem, sei lá. Bom, talvez isso seja ingenuidade. Já realizou todos os seus sonhos? Ainda falta algum? Faltam todos! Eu sonho o tempo inteiro, não vou parar nunca. Esse ano aconteceram duas coisas que eu considero realizações. Uma delas foi a Indiscipline ter sido selecionada para o projeto Converse Rubber Tracks, que abre portas de vários estúdios no mundo inteiro para gravar artistas independentes. Foram milhares de inscritos, 84 selecionados, sete brasileiros e, dentre ele, a Indiscipline. No nosso caso, gravamos três músicas no lendário estúdio Toca do Bandido, no Rio de Janeiro. Rolou uma energia incrível! Devemos lançar essas músicas para download gratuito muito em breve. A outra é que a Indiscipline vai tocar no Goiânia Noise Festival, dia 13 de novembro. Eu já achava o festival foda, mas esse ano o cast está imperdível, com bandas como Nervochaos, Ratos de Porão, Oitão, Girlie Hell, Dead Fish e várias outras. Será destruidor! Do que você tem medo? Da violência urbana. 56


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Em 2015, você fez uma mudança radical no visual, algum motivo especial? Eu sempre digo que ser loira é tipo tatuagem: da mesma forma que sempre dá pra fazer mais uma tatuagem, sempre dá para ficar um pouco mais loira. É viciante. Logo, eu simplesmente tinha que chegar no platinado, o objetivo final. Então, numa tarde como outra qualquer, vi uma conhecida no Facebook com um cabelo recém-feito numa cor incrível e logo corri atrás da profissional por trás da mudança dela. Vi outros trabalhos da mesma cabeleireira Gue Oliveira, todos lindos. Não tive dúvida: agendei logo um horário e algumas semanas depois eu já estava com cabelo branco. No início estranhei, foi uma mudança muito radical. Mas hoje amo e pretendo continuar assim por um bom tempo. Quando era criança o que você dizia que iria ser? Escritora. Eu pegava folhas de papel e ficava horas escrevendo histórias que eu inventava. Aí conforme o tempo foi passando, mudei um pouco o foco e resolvi estudar jornalismo. Sou formada, mas não exerço a profissão. Qual foi a sua maior realização pessoal? Esse tem sido um ano bem “Shivaísta”, de transformação. Minha maior realização pessoal é isso, estar no chão, no fundo do poço, e me reerguer. Esse ano começou complicado para Indiscipline, com a saída da baterista, que foi uma das fundadoras da banda. Mas aí não tardou e já encontramos a Ale De La Vega, que trouxe sangue novo para nós. Conseguimos várias coisas que nos trouxeram extrema felicidade, como participar do Festival Roque Pense!, Rio Banda Fest, tocamos em São Paulo, fomos selecionadas para o Con58


verse Rubber Tracks, vamos tocar no Goiânia Noise Festival. Ouvimos nossa música tocar várias vezes na Rádio Cidade, a única rádio de rock FM do Rio de Janeiro. Demos entrevista e parte do nosso som tocou também no RJ TV, da Rede Globo, não só uma, mas duas vezes. Tivemos uma resposta excelente do público em vários outros eventos e pela Internet também. É o que faz toda a diferença, sabe? Se a galera está com a gente, é só isso que importa. Agora falta gravar nosso CD full-lenght, que é o que mais queremos. Será uma senhora realização pessoal. Qual foi o seu pior momento? Quando meu pai teve que ser operado devido ao risco de um infarto. Fez ponte de safena e quando eu o vi desacordado na maca, logo após a cirurgia, foi chocante. Eu desabei. E também em maio desse ano, quando um dos meus gatos (agora são três, eram quatro, e mais um cachorro) morreu repentinamente. Eu não vi, saí da sala por 5 minutos e quando voltei ele estava caído no sofá. Moro em apartamento, ele não saía, então não foi veneno na rua nem nada disso. Isso aconteceu no início da madrugada. Ele tinha 7 anos. Até hoje não sei a causa, não fiz a autópsia, mas só me conforta o fato de ele ter ido muito provavelmente sem dor. Qual CD você gostaria de ter feito? Definitivamente, “Master of Puppets”, do Metallica. O que esses caras fizeram nesse disco foi algo de outro mundo. Para mim, não há nada na história do heavy metal que chegue nem perto.

Foto: Luiz Valmont

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O que te motiva? Aquele momento em que eu estou só tocando guitarra com o que me vem à cabeça, sem


guias ou direções, e aí surge um riff de que eu gosto. Isso é do caralho. Melhor ainda é quando começo a trabalhar esse riff para virar uma música, e vira. Eu tenho uma relação de amor e ódio com tudo o que eu produzo (não só música). Eu gosto, não gosto, odeio, amo, quero mudar tudo (às vezes mudo), deixo do jeito que está. Sempre tem algo com o qual eu não estou satisfeita, mas ao mesmo tempo me sinto privilegiada de poder criar, de poder fazer música. Fazer show também é um puta boost de energia. Quando a gente toca e vê alguém realmente curtindo o show, é foda. Houve algum momento na sua carreira que você pensou em desistir? Só por um segundo. Mudanças de formação em banda são sempre brochantes. Parece o fim do mundo. É bem chato. Depois, conforme o tempo passa, você chega a conclusão de que o que tinha que acontecer, aconteceu, e é isso. O que passou, passou. E a vida segue. Quais são as cinco bandas que você mais gosta? Cite um álbum de cada e fale deles. Vou citar álbuns que me marcaram muito, de cinco das bandas que eu mais gosto ;) 1. Crucified Barbara, “In the Red” – uma das bandas que mais me inspira. Acompanho a carreira do grupo bem de perto e, sempre que possível, procuro apoiar comprando merch, além de compartilhar as novidades delas em redes sociais. “In the Red” é o álbum mais recente das Barbs (como elas são conhecidas), e considero o trabalho mais honesto da banda. Cru, verdadeiro, sem “overthinking”, o que foi registrado é 100% o que a banda é, sem intervenções de super produto60

res ou timbres exageradamente limpos. 2. Black Sabbath, “Black Sabbath” – eu quero saber quem não se arrepia com as notas iniciais da música homônima ao disco e a banda, “Black Sabbath”. Sombrio pra caralho e foi feito em 1970. O que é pioneirismo, se não isso? Impossível não se emocionar. Também quero saber qual guitarrista não almeja fazer riffs tão marcantes e pesados quanto os de Tony “Riffmaster” Iommi. Puta que pariu! Acima de qualquer coisa, acima de solos virtuosos ou palhetadas ultra rápidas, o que eu acho mais importante é ter a capacidade de fazer riffs pesados, marcantes, significativos. Exatamente como os de Iommi, atemporais, que inspiraram e ainda vão inspirar muitas gerações. 3. Motörhead, “Ace of Spades” - os grandes artistas não têm um estilo, são o estilo. E esse é o caso do Motörhead. Qual é o som que eles fazem? Rock n’ roll? Metal? Hard rock? Punk? Não sei classificar e não importa. O que importa é que eles vêm tocando sem firulas, o mais alto possível, desde 1975. Como não admirar um cara como o Lemmy, que vai morrer em cima do palco? Ele é apresentado como “o rock n’ roll em pessoa” e é exatamente isso o que Lemmy é. Apesar de todo o glamour envolvido, há também um lado difícil disso (assistam o documentário Lemmy: 49% Motherfucker, 51% Son of a Bitch). Se há uma carreira consistente é a do Motörhead, sempre lançando discos e fazendo turnês, e todos os discos são bons, porém escolhi “Ace of Spades” não apenas por ser o disco que tem o maior sucesso da banda, mas também pelos seguintes motivos: “Love me Like a Reptile”, “Live to Win”, “Jailbait”, “We are the Roadcrew” e “Bite the Bullet”. Tá bom? Se quiser mais, ainda tem “Shoot you in the Back”, “Fast and Loose” e outras.


Foto: Camilla Mils

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4. L7, “Smell the Magic” – sempre achei o L7 uma banda qualquer, apesar de, até então, só conhecer alguns dos clássicos (“Shitlist”, “Pretend We’re Dead”, “The Masses are Asses” - sim, era um estúpido pré-conceito), mas é o tipo de grupo que você tem que ver show para entender o som. Eu infelizmente não tive a oportunidade de vê-las ao vivo, mas foi impossível não me embasbacar quando vi o vídeo de “Questioning my Sanity” ao vivo em Cannes em 1995. E todos os vídeos que vejo do grupo me deixam de queixo caído (assistam ao show delas no Hollywood Rock!). Que banda, que presença, que energia! Atitude, coisa em falta na maioria das bandas de rock mainstream de hoje, chatas e blasés, politicamente corretas. Daí para eu ter todos os CDs do grupo foi um passo, e escuto desde “Smell the Magic” até “The Beauty Process” sem pular uma faixa sequer. “Smell the Magic” é o antecessor de “Bricks are Heavy” (considerado por muitos o melhor álbum da banda), e eu adoro o fato de que cada música tem um som único. Foram gravações diferentes, feitas do jeito que deu, na hora que rolou. Sujo, muito sujo. Verdadeiro, muito verdadeiro. Do jeito que uma banda de rock tem que ser. 5. Alice in Chains, “Dirt” - as primeiras bandas de rock que eu ouvi eram rotuladas como “grunge”, então é inevitável a influência que esse estilo tem em mim. E o Alice in Chains é a melhor delas, na minha opinião. Apesar de inseridos no “movimento grunge”, curto que eles não são apenas grunge, na verdade ficando em um “não-lugar” entre o rock, hard rock e metal. A discografia deles é muito sólida e eles continuam lançando discos excelentes, mesmo hoje, muitos anos após a morte do (ex) vocalista Layne Stayley. “The Devil Put Dinosaurs Here” é a prova cabal da genia62

lidade de Jerry Cantrell. Eles são o que eles são e o que precisam ser. Isso é sentimento. “Dirt”, de 1992, já começa com três pedradas - o que falar de “Them Bones”, “Dam That River” e “Rain When I Die”? E depois ainda tem “Sickman”, “Rooster”, “Angry Chair”, “Down in a Hole” e fecha com “Would?”. Caralho! Por que a guitarra? Quem foi seu ‘mentor’? O que eu gosto da guitarra é que é um instrumento muito interessante para composição. Não foi uma escolha exatamente racional como, “vou tocar guitarra por causa disso ou daquilo”, mas acredito que o motivo de eu ter começado foi porque eu sempre me liguei bastante em riffs, de forma que a guitarra sempre foi a coisa que chamou mais minha atenção em uma música. Toda grande canção começa com um riff muito marcante de guitarra, vide “Smoke on the Water”, “Paranoid”, “Stairway to Heaven”, “Highway to Hell”... A lista é infinita. Não tive um mentor, mas, como já disse antes, para mim, o que importa são riffs pesados e marcantes. E Tony Iommi é o mestre disso. Diante de tantas dificuldades, o que te inspira a continuar na música? A própria música, a vontade de fazer música, de me expressar artisticamente. Acho que é por isso que eu não entendo muito quem diz que “parou de tocar”. Outra coisa inspiradora é quando o trabalho é reconhecido. Não é fácil, mas quando as pessoas reconhecem é muito legal. Existe algum tipo de ritual antes de subir ao palco? Em alguns shows, geralmente naqueles em que estamos muito nervosas, eu e a vocalista


Foto: Vitor Granja Nascimento

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Foto: Pedro Arantes

e baixista da Indiscipline, Alice, fazemos exercícios de respiração (que ela coordena, pois é professora de yoga). Serve para dispersar um pouco da energia. Também pulamos, fazemos polichinelos, corremos no mesmo lugar e gritamos. Todo mundo tem uma mania, qual a sua? Tenho mania de usar os números 5, 8 e 11. Também gosto de listas de afazeres e de escrever coisas no papel mesmo sendo mais óbvio e prático fazer direto no computador. Outra coisa é que quando eu gosto muito de algo, sou obsessiva. Procuro saber tudo sobre aquele assunto específico. Por

exemplo, eu fiquei tão impressionada quando assisti “Narcos” que consultava a Wikipedia toda hora, procurando sobre as pessoas que eram mostradas no seriado. Deixa aqui uma mensagem para nossos leitores. Muito obrigada! Eu que agradeço pela oportunidade de fazer esse perfil. Foi muito divertido. Meu MUITO OBRIGADA a quem acompanha a Indiscipline e o nosso trabalho. Vocês são o combustível para que a gente continue lutando dia após dia. Metal, porra!

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The Gentle Storm - The Diary (2015) Por Pei Fon - Rock Meeting

“Onde essa mulher estiver, tenho a certeza de que vai ser bom”, me disse um amigo sobre Anneke van Giersbergen, quando estava na minha casa e viu o CD “The Gentle Storm”. Eu a conheci num blog onde baixava muitos CDs. Não lembro exatamente o ano, mas faz um bom tempo. Talvez uns 10 anos. Enfim, via sempre o seu nome e fiquei curiosa em saber qual era a dela. Dou graças à minha curiosidade. Muito embora eu não a tenha ouvido enquanto estava no The Gathering, ouvir sua voz, num momento musical distinto, cantando canções completamente diferentes, não deixa Anneke para trás no que tange o Heavy Metal. Essa mulher é sensacional e consegue caminhar pelos mais diversos projetos. The Gentle Storm, uma parceria entre Anneke e o renomado guitarrista e compositor holandês, Arjen Lucassen, o que rendeu um trabalho impressionante, delicado e enérgico. “The Diary” conta a história de um casal no Era de Ouro da Holanda, no século 17, 66

quando o mercantilismo era o forte dos holandeses. O CD em si é de um cuidado gráfico impressionante. Musicalmente falando, o que Anneke faz eu paro para ouvir. A voz dela é completamente encantadora, se tivesse sido outra pessoa esse projeto não seria tão grandioso. Ainda bem que Arjen a chamou. E esse foi o primeiro projeto juntos. “The Diary” é dividido em dois: Gentle e Storm. Gosto das duas versões, porém Gentle se sobressai, pois Anneke mostra toda a suavidade de sua voz. É encantador! Que Arjen não fique chateado, mas ouvir a doce voz de Anneke me ganhou. Porém, Storm é lindo. É aquele álbum que você responde a pergunta: como seria na versão pesada? Eis que existe. A versão mais pesada de Gentle tem elementos do metal sinfônico. Do álbum, na versão “Gentle”, destaco a “Endless Sea”, “Heart of Amsterdam”, “Shores of India”, “The Moment”, “Eyes of Michiel”. Já da versão “Storm”: “Heart of Amsterdam”, “The Greatest Love”, “The Storm”.


Anthrax

Por Marcos “Big Daddy” Garcia - Metal Samsara

Sou um verdadeiro headbanger anos 80. Vivi o auge do gênero (entre 1985-87), sua queda (início dos anos 1990) e levantar (segunda metade dos anos 1990), e verdade seja dita: vi e ouvi muitas bandas. Mas sempre tem aquela que é famosa e não te desce tão bem na época. Não, nada de errado, apenas porque eram tantas bandas ótimas ao mesmo tempo, que era difícil absorvermos todas. No Meu caso, era o Anthrax, o quinteto de Nova York, um dos pais do Thrash Metal americano e membro com honras do Big 4 do gênero. Acredito que, devido à overdose de bandas que eu ouvia nos anos 1980, além da facilidade de encontrá-las (demorou MUITO para algum disco do Anthrax sair no Brasil), e muitos outros fatores, me fizeram deixar a trupe de Scott Ian de lado. Não, nunca pichei o quinteto, apenas respeitava sem ter muito envolvimento. O que mudou minha visão sobre eles?

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Algo simples: parece que um grupo de radicais chatos (pelo que soube, não sei se é fato) anda falando mal da banda porque o grupo ousou usar bermudas coloridas e um visual não tão pesado ainda nos 80, sem contar que gravaram um Rap chamado “I’m the Man” em um EP ao vivo de mesmo nome... E se não fosse muito, gravaram mais um, chamado “Bring the Noise”, junto com o Public Enemy (um grupo de Rap famoso no final dos 80 nos EUA). Aí, o Pai Marcão aqui pensou, “vou dar uma nova chance ao grupo”, só de zoeira com os radicais. Até ali, gostava de uma ou outra canção da banda, e fui ouvir os discos que já havia ouvido antes e não gostado (na época, no final dos anos 80), em especial o “Spreading the Disease”, o “State of Euphoria”, o “Persistence of Time” e o “Among the Living”. Para que... Acabei me apaixonando tardiamente pelo trabalho do quinteto! “Madhouse”, “Gung Ho”, “A. I. R.”,


“Indians”, “Caught in a Mosh”, “Efilnikufesin (N.F.L.)”, “Be All, End All”, “Who Cares Wins”, “Keep It in the Family”, além das versões arrasadoras para “Antisocial” do grupo francês Trust e “Got the Time” de Joe Jackson são clássico absolutos do Thrash Metal. E tudo isso mostrando o excelente vocal de Joe Belladonna (que tem acentuada melodia), a muralha de riffs insanos de Scott “Not” Ian e Dan Spitz (hoje, a banda está com Jonathan Donais no lugar dele), a técnica insana de Frank Bello (baixo) e do monstro chamado Charlie Benante (CARAMBA, é um dos melhores bateras do Thrash Metal, e o melhor do Big 4 sem medo de errar!). Um grupo coeso, técnico e com uma música formidável, agressiva e grudenta. Aliás, fique claro que eles não aparentam dar a mínima para radicalismos. Bermudas e camisetas coloridas, fotos irreverentes, 68

poses hilárias (Scott Ian no vídeo de “Caught in a Mosh” chega a reger a plateia), covers inusitados, capas cheias de bom humor... Coisas que os radicais troos não suportam, mas verdade seja dita: o Thrash Metal sem eles não existiria como é hoje. Seria bem mais pobre... Ah, você ainda fala mal do Anthrax? O dia em que 90% das bandas que falam mal do quinteto tiverem 1/10 da importância deles, eu irei ouvir ou ler suas palavras. Mas até lá, vou continuar ouvindo (e amando) o Anthrax, esperando o disco novo, já que o Single de “Evil Twin” já mostrou que vem coisa quente por aí, e ansioso por serem o opening act da tour brasileira do Iron Maiden no Verão! E até lá, vão para o complexo da Cantareira em SP que precisa, pois vosso choro é livre...




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