Rock Meeting Nº 73

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EDITORIAL

Assistir show é um privilégio N

otoriamente, o modo de assistir a um show mudou. Antigamente, a memória era o firme fundamento para guardar o que se viu, e tirar aquela foto com a turma. Hoje, com o advento da tecnologia, você se preocupa com duas coisas: ingresso e gravar o show. As pessoas esqueceram que a melhor forma de curtir algo da banda é ir para um show e vivenciar cada momento. Ok, que você quer registrar aquela música, aquele refrão e postar nas redes sociais, mas não se deu conta que isso incomoda quem está atrás? É irritante você querer assistir aquela música, olhar para os músicos e ver suas feições, mas tem alguém com um smartphone ou câmera fotográfica apenas gravando o show. E cadê a sua emoção, sua vibração? Assistir show hoje é sinônimo de gravar vídeo? É péssimo isso, você deixa de sentir, chorar, vibrar, pular... tantas outras ações para gravar e sentir o braço doer, né amigo? O braço elevado demais por um período de tempo cansa. Alguns outros, assim como esta que vos escreve, prefere aproveitar ao máximo do show, para não restar dúvidas ou remorsos de que poderia ter feito diferente, porque você sabe que terá vídeo do show e não precisa ter essa preocupação em registrar na sua integridade. Aos que gravam, bendito sejam, pois quem gostam de desfrutar ao máximo do show tem a certeza de que podem reviver o momento com o seu vídeo.


TABLE OF CONTENTS 07 - News - World Metal 10 - Entrevista - Apple Sin 14 - Live - Turisas 20 - Lapada - A Necessidade da Inovação 24 - Entrevista - In Soulitary 32 - Entrevista - Monstractor 40 - Capa - Moonspell 46 - Live - Nightwish 54 - Entrevista - JackDevil 64 - Entrevista - Brutallian 70 - Live - Punk Veg Fest 76 - Entrevista - Chaos Synopsis 80 - Entrevista - Marenna 84 - Perfil RM - Sílvia Cristina (Darkship) 90 - Coluna - O que estou ouvindo?


Direção Geral Pei Fon Revisão Katherine Coutinho Rafael Paolilo Capa Alcides Burn

Colaboradores Jonathas Canuto Leandro Fernandes Marcone Chaves Marcos Garcia Mauricio Melo (Espanha) Maicon Leite CONTATO contato@rockmeeting.net RockMeeting.Net



“My light” “My Light” é o mais novo vídeo extraído de “Time’s Up”, álbum instrumental de Mauricio Cailet. Produzido, dirigido e editado por Taô Barbosa no Estúdio Plug & Play (SP), traz o guitarrista paulistano interpretando um tema dedicado para sua mãe. “My Light é dedicada a minha querida mãe, Yvonne F. Cailet, que permanece ao meu lado e me dá todas as forças para continuar meu trabalho. Ela foi composta em 1999, um ano após a morte do meu pai. Ela é meu exemplo de força até hoje, superando a perda do companheiro e apoiando minha carreira desde sempre”, explica o guitarrista. Para ver o vídeo, acesse AQUI.

Demo tape

Versão digital

A banda paraibana Soturnus, um dos principais representantes do Doom Metal brasileiro na atualidade, disponibilizou para audição a sua primeiro Demo, lançada em 2001, intitulada “Poems of Love...Poems of Pain”, no seu canal oficial no YouTube. Em paralelo, a banda já está em preparando o seu novo EP, que será lançado em 2015 através da Eternal Hatred Records no Brasil. Escute AQUI.

A banda Cromathia confirmou que o seu debut álbum, intitulado “Another Day of Torment”, será primeiramente lançado na sua versão digital, com distribuição mundial a ser conduzida pela CD-Baby. A versão física de “Another Day of Torment” será lançada no segundo semestre de 2015 pela Eternal Hatred Records, e terá distribuição exclusiva da Voice Music.

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Lyric Video

“Passion”

O baterista Augusto Taboransky retomou seu posto na banda Vociferatus, após uma temporada de estudos no exterior. O músico encontra-se novamente integrado com os seus antigos parceiros, ensaiando as canções que irão compor os novos shows do grupo. “Mortenkult”, debut álbum que será lançado no primeiro semestre de 2016, através da Eternal Hatred Records.

No dia 17 de outubro, sábado, no Teatro do CIEE, em Porto Alegre, a A Sorrowful Dream realizará o show de lançamento de seu segundo álbum full length, “Passion”. O show, organizado pela Makbo, promete ser uma apresentação à parte. Para o vocalista, Éder Alves de Macedo, a banda sempre teve uma relação, mesmo que indireta, com o teatro. Informações sobre o evento AQUI.

Parceria A banda de Death Metal Sinaya anuncia mais uma parceria, desta vez com a luthieria Dunamiz, de São Paulo, uma das mais conceituadas da capital. Segundo a guitarrista e vocalista Mylena Monaco, “O “set up” (regulagem) dos caras, é praticamente um “guitar spa”, onde seu instrumento vai receber um bom banho de beleza, uma boa massagem no tensor e na escala com óleos naturais, uma aparada e um belo polimento nos trastes, ou seja, tudo o que for preciso para que ele fique mais agradável ao seu toque! Além da regulagem completa, eles também criam guitarras e baixos maravilhosos”. Além disso, a banda já tem mais um show marcado, desta vez para o dia 07/11, no Manifesto Bar em São Paulo. O evento, organizado pela banda mineira Hammurabi, contará ainda com duas atrações internacionais: Neuróticos (Japão) e Dehuman (Bélgica). 08


Heaviest Após lançar seu álbum de estreia “Nowhere” e obter excelentes críticas da mídia especializada brasileira e internacional, a banda Heaviest se concentra para realizar seu show de estreia em São Paulo, no tradicional Gillan’s Inn English Rock Bar, no dia 24 de outubro. O evento acontece a partir das 21h e os ingressos custam 20 reais. A Heaviest foi formada no final de 2014 com a proposta de apresentar uma sonoridade autoral bem característica, pesada e moderna. Formada por Mario Pastore (vocal), Guto Mantesso (guitarra), Marcio Eidt (guitarra), Renato Dias (baixo) e Vito Montanaro (bateria), a banda promete tocar o álbum de estreia na íntegra, não necessariamente na ordem do CD, além de algumas surpresas e covers. Assista a música “Nowhere” AQUI.

Sua ajuda

Lançamento especial

Já chegando nas fases finais de produção do tão aguardado álbum completo, o Dysnomia nos apresenta a capa e título do trabalho. O disco recebeu o nome de ‘Proselyte’ e quem fez a capa foi o ja conhecido artista Gustavo Sazes. A banda também está precisando do APOIO de todos os amigos e fãs para conseguir angariar os fundos necessários para conseguir prensar ‘Proselyte’ e abre a pré-venda do álbum. Saiba como ajudar, clique AQUI.

O Hibria está preparando uma grandiosa apresentação para celebrar o lançamento de seu novo disco, ‘Hibria’, em sua cidade natal, Porto Alegre no dia 15 de novembro. Como sempre o quinteto prepara algo muito especial para seus conterrâneos, que viram a banda nascer e se tornar um dos principais nomes do Power Metal mundial. O show será no Teatro CIEE, mesmo local que o Hibria fez o lançamento do álbum ‘Silent Revenge’ e mais uma vez a estrutura será especial.

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Por Pei Fon Fotos: Philippe Belchior

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quinteto de heavy metal oriundo de Barroso, Minas Gerais, traz um metal tradicional em invenções e com músicas pegajosas. Confira o essa banda promissora tem a dizer e também os seus planos para o futuro. Vocês lançaram esse ano o E.P “Fire Star”, como está sendo a repercussão desse lançamento? A repercussão do E.P esta sendo fantástica, recebemos críticas muito favoráveis e notas muito altas em resenhas em vários sites do meio 10

por todo o país, o que nos motiva ainda mais. Por que a banda decidiu lançar um E.P e não um álbum completo? A opção foi pelo simples fato de termos fechado uma parceria com a fantástica assessoria de imprensa - a BLP - e precisávamos de um material físico para trilhar nosso caminho mais rápido. O Heavy Metal apresentado por vocês é fortemente influenciado pela NWOBHM, um estilo não muito comum


em nosso país. Como é tocar esse tipo de som no Brasil? Acho que todos nós headbangers temos uma veia da nwobhm, pois foi um movimento muito importante para a cena do Heavy Metal mundial. Ficamos muito orgulhosos por representar a nwobhm no cenário nacional. Nota-se uma grande influência de Bruce Dickinson nos vocais de Patric Belchior. Isso se dá de forma natural ou é intencional? Absolutamente de forma natural. Minha maior 11

influência sempre foi Bruce Dickinson e Rob Halford, mas procuro sempre manter minha identidade vocal e nunca copiar ninguém. O novo E.P teve produção e mixagem do baterista Eduardo Rodrigues. O que motivou a escolha de um integrante da própria banda para a produção? Na verdade, quando ele iniciou as gravações, era apenas um baterista contratado, mas gostamos tanto dele que o convidamos para fazer parte do time. Com isso, conseguimos de uma só vez um baterista e um produtor (risos).


As faixas foram gravadas em diferentes épocas e não da forma usual de gravação. O que levou a banda a fazer essa escolha? Houve alguma dificuldade para a finalização do disco? Bem, como todos da banda têm seus compromissos, gravamos uma música por semana. Não tivemos dificuldades, pois já estávamos bem ensaiados e com um entrosamento muito bom, o que contribuiu para a finalização do disco. A gravação é analógica e apresenta um ótimo som de bateria. Vocês escolheram esse método para deixar o EP com uma cara mais “oitentista”? Você pegou o espírito da coisa, queríamos mesmo deixar o disco com uma pegada dos anos 80 e a bateria ficou exatamente como 12

queríamos. A banda tem planos para um lançamento de um Full? O que a banda planeja para o futuro? Com certeza, a previsão de lançamento do álbum completo é para o início de 2016. Todas as faixas já estão gravadas e quase finalizadas. Posso dizer que está ficando fantástico, um disco de Heavy Metal tradicional. Alguém em especial tem lhes ajudado a desempenhar esse trabalho? Gostaríamos de agradecer a oportunidade de falar com quem entende do assunto, e agradecer também a BLP e ao radialista Gleison Junior, por sempre acreditar no nosso trabalho. A Apple Sin está ai pra fortalecer ainda mais o cenário underground no Brasil.



Texto e Fotos: Pei Fon

(peifang@rockmeeting.net)

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s finlandeses do Turisas não vieram a passeio. Na sua turnê pela América do Sul, o sexteto levou uma galera para o Carioca Club, em São Paulo. Nas três datas reservadas, cada cidade teve sua apresentação singular, porém com a mesma energia que eles sabem transmitir. O vocalista Mathias Nygård é um frontman bem simpático e participativo no palco. Sua performance é única e bastante instigadora. Em trajes de batalha, como eles mesmo definem o seu som, “Battle Metal”, eles convidaram a todos para essa luta, sadia, logicamente. O público cantava, fazia suas rodas, fazendo do show um campo de batalha, cada um digladiando um lugarzinho à beira do palco para chegar o mais perto da banda. Para quem não sabe, o nome ‘Turisas’ vem de um monstro da mitologia finlandesa. Algumas vezes considerado deus da guerra, e eles estavam nessa pegada mesmo. Impressiona bastante como o estilo ‘Folk Metal’ tem força no Brasil, onde estas batalhas épicas dos vikings não fizeram parte da nossa história, mas se imaginar que as batalhas indígenas, de Zumbi, Guerra de Canudos, Guerra da Cisplatina, por exemplo, não está longe de ser batalhas, porém em momentos distintos da história do mundo. Pontuais, os caras não perderam tempo e soltaram logo “The March of the Varangian Guard” chamando a todos para cantarem juntos. E eram uníssonos. Mathias foi aquele cara que, no campo de batalha, chamavam seus soldados para a luta e assim foi. Em seguida foram tocadas: “The Portage

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to the Unknow”, “To Holmgard and Beyond”, “Rex Regi Rebellis”, “End of an Empire”, “The Dnieper Rapids”, “For Your Own Good”, “Hunting Pirates”, “No Good Story Ever Starts With Drinking Tea”, “Battle Metal”, “We Ride Together”, “Stand Up and Fight”, “Rasputin”. O show foi bem divertido sendo reflexo do que vinha do palco. Os caras do Turisas são enérgicos e vale um adendo para o violinista Olli Vänskä. Que presença de palco! Para quem não imagina o poder que o violino pode ter numa banda, vá assistir as bandas desse estilo Folk Metal e verás que a diferença é gritante e

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é um instrumento indispensável na apresentação. Ou seja, agrega e muito. A sensação é que o período do show passou tão rápido, nem parece que foram 13 músicas tocadas, em uma hora e meia. Estranho demais. Mas quando o show é bom o tempo passa tão rápido que nem é sentido. E, certamente, para cada fã que esteve nesse show, e com caras pintadas igual a banda, 13 músicas foram poucas. O show deveria ter umas cinco horas. Fã nunca está satisfeito e nem deve estar.


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Iron Maiden

A Necessidade da Inovação Os leitores muitas vezes questionam a si mesmo e a outros sobre questões referentes à velha escola e à nova. Quase sempre, a nova escola é espinafrada, inclusive por novatos que entraram na cena por bandas que a ela pertencem, como Spliknot e outras. Tudo para se sentir respeitado pelo cara que se acha um ícone, apenas porque ouve Sodom e bandas do gênero. Como se ouvir bandas dos anos 70 e/ ou 80 fizessem de alguém um mestre... Sinceramente? Todos esses carinhas chatos poderiam engolir todos os discos da velha escola! Vamos pôr umas coisinhas bem às claras: Conforme a biografia “Sabbath Bloody Sabbath”, de Joel McIver, os quatro membros do Black Sabbath são coerentes em várias passagens no aspecto de inovação: “na época, era preciso ser diferente, fazer algo novo”, e sim, essa é uma das maiores características dos anos 70 e 80. Sim, a inovação, a necessidade de criar algo novo e inédito levou alguns nomes da

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velha escola a se destacarem. Black Sabbath, Iron Maiden, Metallica, Led Zeppelin, Motorhead, Judas Priest... Todas foram bandas que ousaram criar algo diferente, algo que tinha identidade. Sim, é óbvio que mesmo na época havia os clones Dolly (a referência Dolly que uso é da ovelha, o primeiro clone surgido no mundo, em 1996), mas, como o público era bem mais exigente, eles foram consumidos pelo tempo. Alguns desapareceram de tal forma que não irão encontrar os nomes deles em lugar algum.


Judas Priest

o Led Zeppelin

Metallica

Foi essa necessidade de ir adiante e a falta de respeito excessivo às regras que possibilitou a diversidade sonora que temos hoje. E ainda bem, pois onde há evolução, há vida. Essa modinha old school que anda varrendo o mundo tem sua valia: algumas bandas pegam o que já foi feito e dão um sopro novo de vida. Isso é aceitável, pois agrega valor e tira do passado sonoridades preciosas. Mas não é justo querer apenas “dollynizar” e fazer tudo de novo, pois é gasto de energia, tempo e dinheiro à toa.

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Sinto muito, mas ninguém fará um novo Overkill do Motorhead, ou Welcome to Hell do Venom, Show No Mercy do Slayer, Under the Sign of the Black Mark ou outro que seja. Não dá, eles já existem e já gostamos deles. Nem as bandas que os fizeram querem tentar reescrever o que já está feito, tanto que a mania de “remakes” de discos inteiros, com raras exceções, termina muito mal. É preciso deixar as bandas que alguns patetas vivem acabando com a nossa paciência, como Avenged Sevenfold, Slipknot irem


Avenged Sevenfold

adiante. Se não gosta, por que insiste em persegui-las? Duas explicações para isso: é tipo de admiração que você esconde, e mostra que você mente para si mesmo. Mente para ser visto como “o entendido” no meio dos headbuchas que amam Dolly Metal. Ou é porque você necessita que te aceitem nos clubinhos de trues, e isso mostra o quanto você é ridículo e vazio. Sim, ridículo e vazio, pois abre mão de ser quem você realmente é e de gostar do que seu coração quer em prol da necessidade de ser aceito, ou porque tem medo do bullying que essas pessoas insistem em fazer com novatos.

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Particularmente, por conta do truísmo imbecilóide e vazio, como já afirmei vezes anteriores, deixei de apreciar bandas de Hard Rock/AOR como Mötley Crue e outros nos 80 para corresponder às regras dos true. Tudo para nos 90 eu me sentir um babaca e aprender que cada pessoa gosta do que bem entender. Se a turminha true Dolly Metal não aceita, eles que se fodam. A opinião deles não me interessa em nada, caminho com minhas próprias pernas e penso conforme acho certo. Voltando: é preciso deixar que a inovação continue, que renove o Metal, pois as grandes bandas já andam dando sinais evidentes de cansaço, e não há quem leve o lega-


Slipknot

do adiante. E não vejo as ditas bandas “anos 80” que surgiram muito após 31/12/1989 em condições de levarem nada adiante. Como muitos deles mesmos dizem, “não queremos inovar nada”, logo, que fiquem relegados ao papel deles: Dolly Clones, ou seja, não são nem eles mesmos, mas anseiam por ser outros. E como dito acima, sinto muito, mas já temos ou tivemos quem eles anseiam por substituir... E não adianta, quem fez, fez, e quem não fez, imita. Outro que é perseguido é o Ghost. E na concepção mais profunda, o Ghost É uma banda old school. Sim, pois a sonoridade deles é voltada aos anos 70 e 80, mas com a

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diferença de ser personalizada. E acho que os true não conseguem ver algo inovador ou personalizado sem sentir algo em seu âmago que o faça se sentir incomodado. Creio que possuam medo de ver o que tanto amam e protegem ser destruído pelo tempo, como de fato o será. Não há jeito, o tempo só flui para o futuro. Fechando: se você não gosta das bandas mais jovens, faça como muitos, respeite. Deixe as bandas e seus fãs em paz, e vá curtir o que bem entender. Mas saiba: só sobreviverão os mais aptos, os que se adaptam.


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Por Pei Fon Fotos: Banda/ Divulgação

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om seu estilo único de som, a banda InSoulitary vem se destacando com seu disco “Confinement”. Veja a repercussão desse disco na cena metal e quais são os planos dessa banda, que vem investindo em música de qualidade para crescer. Como tem sido a repercussão do último disco “Confinement”? Elder Oliveira: Muito boa! Tivemos ótimas respostas de todas as partes. É bem gratificante ouvir das pessoas que elas gostaram de sua música, da sua arte, mas queremos ouvir todas as opiniões - sejam elas negativas ou positivas. Fizemos muitos shows, alguns bem importantes, como a abertura para o Marduk em São Paulo. Tocamos com muitas bandas amigas e conhecemos uma galera muito legal! Recebemos ótimas críticas em revistas, zines, blogs, etc. Ainda estamos divulgando o álbum, pois há muita gente que ainda não nos conhece, então temos muito trabalho pela frente, mas, no geral, ficamos muito agradecidos em saber que curtiram o nosso som e que fizemos a alegria e diversão dessas pessoas. O álbum teve produção de Denis Di Lallo e da própria banda. Como foi o trabalho com Denis? Por acaso pensam em produzir sozinhos algum lançamento futuro? Bem tranquilo. Ele é uma ótima pessoa e nos ajudou bastante. Toda vez que íamos ao estúdio fazer algo, conversávamos sobre alguma 26

besteira e ríamos bastante, o que ajudou no clima para gravar. Levamos algum tempo para terminar o álbum, por causa da questão financeira - bancamos todo o custo de gravação do próprio bolso. O tempo também fez com que demorássemos mais para finalizar o CD, porque todos trabalham e às vezes os horários não batiam. Sobre produzir algo sozinhos, pensamos sim, porém isso requer algum investimento e vai ser algo para médio prazo. Creio que a tendência atual é essa. Vejo muitas bandas gravando material em seus próprios estúdios, já que com um equipamento bom você consegue gravar sentado no seu sofá (risos). Atualmen-


te, estamos fazendo a pré-produção do nosso segundo álbum e talvez gravemos alguns instrumentos com nosso próprio equipamento. Claro, buscamos qualidade de gravação e um estúdio bom, com bons profissionais ajuda, mas o que der para fazer por nossa conta, faremos. A banda lançou um vídeo para a faixa “Hollow” baseado em George A. Romero. Qual foi a repercussão desse vídeo? Pretendem fazer mais alguns para divulgar o último lançamento? Muitas pessoas curtiram e acho que o clipe cumpriu seu papel! Creio que o videocli27

pe é uma ferramenta de divulgação bastante eficiente, pois as pessoas podem ver como a banda é, quem são os integrantes e tudo mais. Como gostamos bastante desse tipo de gênero de filmes, resolvemos fazer algo assim, mais no clima de filmes de terror. Temos um vídeo da música “Ministry of Truth” além deste. Pretendemos fazer algumas gravações ao vivo, misturando músicas do “Confinement” com algumas novas que estamos fazendo e quem sabe sai outro vídeo disso... A sonoridade da banda é bem rica e variada mesclando vários gêneros dentro metal. Essa foi sempre a proposta da


banda? Como surgiu essa ideia? Quando começamos a criar os sons, tivemos que adaptá-los ao gosto de cada um, pois cada integrante gostava de um estilo. Tivemos muitas discussões nesse processo, mas no fim vimos que criando uma mistura de estilos agradaríamos a todos e ateríamos nossa identidade assim. Atualmente, a formação está bastante estável, mas já tivemos muitas mudanças de formação. Cada pessoa que passou pela banda deixou sua influência, apesar de mantermos certos elementos característicos ao nosso som. Se você prestar atenção em cada instrumento verá que possui um estilo único, característico do gosto pessoal de cada um. O disco conta com várias participações como Veronica (ex-Karkaos), Lan Weiss, Dimitri Brandi (Psychotic Eyes), 28

Luigi Regolini e Mario Pastore. Como surgiu a ideia dessas participações e como foi trabalhar com esses músicos? Todos são amigos nossos e a ideia veio muito naturalmente, algo do tipo “ei, vamos gravar um CD. Topa participar?”. Queríamos celebrar essa coisa de primeiro CD com nossos amigos, dividir o momento; acho que agregou bastante ao resultado final. Foi bem tranquilo trabalhar com todos. Recentemente, a banda anunciou a saída do guitarrista Danny Schneider. Qual o impacto dessa saída para a banda? Vocês já têm algum substituto em mente? Todos da banda compõem, então seguiremos com nosso trabalho independente de quem sair ou não. Mas claro, qualquer mudança


sempre tentando criar coisas novas em termos de divulgação, composição, interação, então com certeza teremos mais ideias como essa.

afeta uma banda, seja pela impossibilidade momentânea de fazer shows, seja pelas ideias daquela pessoa em específico no trabalho da banda. O Danny foi um integrante muito importante para nós, trouxe muitas coisas boas e tem sua passagem registrada no “Confinement”. Ele é um ótimo músico e com certeza faremos algo no futuro juntos! A banda lançou um concurso para a escolha do tema para uma nova música. Como se deu essa ideia pouco usual? Podemos esperar por mais ideias como essa? É um modo de interagir com o fã. Achamos bem legal ele poder participar de algum modo no nosso novo álbum. Até o momento, tivemos ótimas ideias e vamos esperar um pouco mais pra definir qual tema escolheremos. Estamos 29

Ultimamente, muitas bandas têm lançado suas cervejas, tanto no Brasil, como no exterior. Vocês têm a sua chamada de “Raven King”. Como pretendem se destacar nesse meio? Como foi feita a elaboração dessa cerveja? Acho que o brasileiro nos últimos anos tem ido à procura de novas cervejas, lugares que vendem bebidas importadas e nacionais estão abrindo em toda parte e as bandas estão participando disso também. Nossa produção é artesanal e com um toque nosso: estilo Irish Red Ale, saborizada com folhas de laranjeira, então esse conjunto deve agradar. Quem a faz é o Ale Running Wild, amigo nosso que está crescendo no meio das cervejas artesanais e que nos ajudou na elaboração da receita. O nome vem de uma de nossas músicas chamada “Raven King”. Espaço para considerações finais e agradecimentos. Sucesso e muito obrigado! Só temos a agradecer o espaço dado a nós. O Brasil possui bandas muito boas, por isso peço união entre todos para sempre fortalecermos cena! Precisamos de mais espaço para som autoral nas casas de shows e que as pessoas compareçam aos shows das bandas nacionais. Temos muito a oferecer e nada a dever às bandas de fora. Estamos compondo material para nosso segundo CD e está ficando muito bom! Um de nossos sonhos é tocar no Nordeste, pois o público é maravilhoso e muito fiel às bandas. Assim que surgir uma oportunidade, iremos com todo prazer e vontade! Fiquem ligados nas novidades do In Soulitary em nossas redes sociais!




Por Marcones Chaves Fotos: Otรกvio Hoffman/Priscila Cavalcante

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ormada em 2012, a banda Monstractor a cada dia consolida seu espaço no thrash metal nacional e o lançamento do álbum “Recycling Thrash” comprova a luta e persistência de uma banda. Conversamos com o vocalista e baixista Klein Monstractor. E ele nos conta sobre este lançamento e participações especiais. Apresente a banda para nossos leitores? A banda é formada por mim, Christian Klein (vocal e baixo), Diego “Monsterman”, (guitarra) e Demetrios M. (Bateria). De onde veio a ideia do nome da banda Monstractor? O nome da banda surgiu de várias fontes na verdade. Quando decidimos formar a banda, meu carro, (que usávamos pra ir ensaiar) tinha um problema no escapamento, e vivia sujo... Então, o pessoal zoava dizendo que a gente ia de trator, por conta do barulho e da sujeira. Além disso, a ideia de atropelar tudo que viesse pela frente (superar obstáculos) veio a calhar com o “trator”. Resolvemos colocar o nome de Tractor, porém percebemos que já haviam outras bandas com esse nome. Aí veio a jogada do “Monstro”, pois o Diego (Monsterman) adquiriu esse apelido... “Pow, esse cara é um monstro na guitarra”... E começamos chamá-lo de “Monsterman”. Enfim, eu achei que a junção das duas palavras manteria a ideia da coisa, e formei essa palavra que se tornou o nome da banda, Monstractor. A Monstractor recentemente lançou o álbum “Recycling Thrash”, como foi o processo de gravação? Foi algo bem trabalhoso, cansativo, mas também divertido. O disco foi gravado em São Paulo, no Mr. Som estúdio, e nós moramos em 34

Resende, no Rio de Janeiro. Então, precisávamos largar tudo por 4 ou 5 dias para cada sessão de gravação, pois são mais ou menos umas 5 horas de viagem. O processo de gravação foi legal, o Pompeu e o Heros nos deixaram muito à vontade lá. Ficamos hospedado lá no próprio estúdio, e várias vezes ficamos noite à dentro gravando. Na primeira sessão, o Demetrios precisou gravar a batera do disco todo em dois dias, o que foi um puta feito do cara. Na segundo momento, o “Monstrão” (é assim que o Pompeu chamava o Diego ehhehe), gravou as guitarras. Na terceira parte, fui eu com o baixo, depois a voz, e por fim acompanhamos a mixagem e masterização com o Heros. Ou


seja, fomos várias vezes no ano, de Resende à São Paulo, mas valeu à pena. Além de tudo, eu me tornei amigo dos caras e tatuador do Pompeu também. Qual a sensação de ter as participações de músicos renomados no thrash metal brasileiro como Heros Trench e Marcello Pompeu da banda Korzus no novo álbum? O simples fato de eles terem topado produzir o nosso disco já tinha nos deixou felizes demais. Era algo inimaginável, e eu sempre fui fã do Korzus. Em 98, eu estava no Monsters of Rock, no meio da muvuca, e peguei a palheta 35

do Heros no meio daquela “zona de guerra”. E não pude imaginar que ficaria tão próximo dos caras anos depois, nos tornarmos amigos e tudo mais. Cara, muito foda isso! Agora, se isso já era foda pelo simples fato de estarmos ali, imagina quando o Pompeu se propôs a fazer os backings? Pow, piramos. Enquanto ele gravava, eu tentei entender e demorou a cair a ficha de que aquilo estava acontecendo. E o resultado ficou foda demais. Pompeu é um cara criativo demais, ele tem umas sacadas musicais e de produção geniais. Enfim, é inimaginável pra mim ter um disco gravado e produzido pelos caras, com direito a participação e tudo.


Heros é outro monstro. O cara tem um ouvido biônico (risos). Assistir ele mixar o disco é algo que não dá pra explicar porque parece coisa de filme. O cara é metódico, não deixa nada escapar, focado ao extremo pra conduzir um bom resultado final. Sobre a arte da capa, quem teve a ideia e o processo de criação? Eu sou muito fã da banda Sakrah, de São Paulo. Em 2013, organizamos um evento aqui em Resende (RJ) e chamamos os caras pra tocar. Eu conheci o Leandro Novo, que além de um puta vocalista, é um designer gráfico excepcional. Quando eu conheci o portfólio dele eu fiquei doido, até o dia que vi uma imagem de um monstro que ele fez, um lance meio aliení36

gena e tals, aí pensei comigo: ‘achei o cara pra fazer a capa do nosso disco’. Eu, na verdade, já tinha a ideia do que eu queria, um treco meio trator meio monstro, passei a ideia para Leandro, ele captou a parada de primeira. E depois fomos só acertando detalhes. O cara é fera. Pedi pra ele melhorar nossa logo e criar um símbolo também. Leandro foi acima das expectativas. Quais as influências da banda? Em relação às influências é meio complicado. Porque cada um de nós, apesar de termos o thrash como ponto em comum, somos muito diferentes nos gostos pessoais. Acho que é isso que traz a sonoridade que temos. Meu gosto musical é bem vasto. Eu curto muito Southern


da que tocava a coisa mais clássica, depois ele foi ficando cada vez mais agressivo, até que se tornou um cara que adora Vader e Behemoth, coisa que não daria pra se imaginar de um cara que só curtia Rush e coisas do tipo. Aliás, eu adoro Rush também.

Rock, gostos de coisas tradicionais também como Motörhead e heavy metal como Iron Maiden, mas também curto muito Rotting Christ, Hypocrisy, Kreator, Before the dawn, In Flames, The Mist, Amon Amarth, Tankard. Outra coisa em comum entre nós é o Pantera. Testament, Slayer, Metallica, Megadeth, Sepultura, e o próprio Korzus. Eu tenho um lado que as pessoas se surpreendem um pouco, minha banda predileta é o Paradise Lost, curto muito doom e gothic metal. Katatonia, Moonspell e etc. O ‘Monsterman’ é thrash/ death metal, se deixasse a banda só na mão dele, ia ser uma banda de Death com certeza. Já a banda preferida dele é o Cannibal Corpse. E o Demetrios, quando o conheci, ele curtia muito rock’nroll. Era baterista de uma ban37

Temas como ufologia, bebidas, vingança e outros são focos da bandas. Fale um pouco sobre estas inspirações. Sobre os temas, eu só posso dizer que aquilo sou eu de comum acordo com os caras da banda. Eu não tenho religião, nenhum de nós têm, e realmente estou de saco cheio dessa coisa de que o Metal sempre tenha que levar consigo uma conotação religiosa ou política. As pessoas esquecem que música é pra se divertir. Uma briga sem fim entre o bem e o mal blá blá blá. Sinceramente acho que isso tinha que ficar lá com as igrejas, e seitas, e não infectando o estilo musical. Muita gente confunde a liberdade e contra-cultura do heavy metal, e resolve fazer facções ou doutrinar as coisas, tornando a coisa toda sem sentido e contraditória. O tema da Ufologia é algo que acompanho desde moleque e me fascina. Quando resolvi buscar temas como monstros e lendas, a ufologia veio junto, pois pra mim é algo fascinante e ao mesmo tempo assustador, além de um tema cada vez mais popular e frequente nas rodas de amigos e séries de TV atualmente. Vejo muitas reportagens e pessoas discutindo a respeito. E como gosto do tema, achei pertinente. O álbum teria o título no início de “Scavenger”, mas ocorreu uma mudança e acabou sendo lançado como “Recycling Thrash”. Por que a mudança? O título era ‘Scavenger’, apesar de ser um título que gostávamos muito, e que tinha haver com a letra de ‘Vultures’, num último momento de-


cidimos mudar. Quando terminamos as gravações, nós nos deparamos com as nossas músicas como se tivessem passado por uma espécie de reciclagem, depois começamos a analisar e chegamos à conclusão que no Brasil, apesar de existirem inúmeras bandas de thrash ótimas e profissionais, não conseguíamos achar nenhuma com a nossa sonoridade, porém, ao mesmo tempo, é diferenciada do que se ouve por aí. Mesclamos o antigo e o novo numa só medida, sem pender pra nenhum lado, e isso foi espontâneo. Outro motivo pra “Recycling Thrash” é o duplo sentido. Como se o ‘Thrash’ tivesse a conotação do “lixo”, já que a pronúncia é quase a mesma, e a idéia de reciclagem remete ao lixo. Nós realmente fizemos isso no período das gravações. Reciclamos muitas coisas, pessoas, ideais, amizades e até equipamentos. Ou seja,o nome veio a calhar e ficou algo mais expressivo pra nós. Como o álbum “Recycling Thrash” está sendo recebido pela mídia especilizada? O disco está sendo muito bem recebido. Nos surpreendemos muito com a quantidade de pessoas vindo nos elogiar, tirando fotos com o disco, querendo saber sobre e etc. Na mídia especializada as resenhas tem tido a nota média de 9,5. E, em muitos momentos, eu encontro alguns falando em “disco do ano”. Isso é totalmente inacreditável e espantoso pra nós. O fato de as pessoas comentarem sobre as letras e entenderem o contexto de cada música e gostado tem me deixado muito feliz. As pessoas comentam muito sobre a qualidade do som, e do peso audível. Estamos muito satisfeitos e ansiosos pra que as pessoas conheçam cada vez mais nosso som. Por isso disponibilizamos na internet. 38


Estamos com sangue nos olhos pra subir aos palcos, e o feedback das rádios, sites, revistas tem sido acima do imaginado pra nós. Espero que isso nos ajude a ganhar mais projeção para crescer e continuar. Em relação ao clipe da música “Immortal blood”, como foi o processo de gravação e produção? Literalmente o que houve nesse clipe foi criatividade: tecido TNT preto forrando uma sala, minha luminária (que uso pra tatuar) iluminado nossa cara por baixo, uma câmera filmadora dessas comuns, um editor de vídeo no computador e um “Monsterman” pra editar o dia todo.... foi isso ahahaha. Isso prova que quem quer, mesmo sem grana, põe a mão na massa e faz o que está ao alcance com bom senso, criatividade e muito trabalho. O próximo vídeo vamos tentar de uma forma mais profissional. “Immortal blood” saiu dentro das possibilidades que tínhamos, e eu, particularmente, tenho um certo orgulho do resultado por ter sido do jeito que foi. Direto e sem firulas. Muito obrigado pela entrevista e deixe uma mensagem para nossos leitores? E se for pra deixar uma mensagem, acho que convém dizer: As pessoas julgam tudo muito facilmente, mas nunca sabem o que realmente passamos para conseguir algum objetivo. “Só nós mesmos conhecemos o frio e dor que sentimos... e nossas cicatrizes são nossa fortuna”. Quem banca aquilo que é nunca vai precisar da aprovação de alguém, a não ser de sua própria consciência. Monstractor. Beers and Cheers! Crushing skulls ahead.

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Texto e Foto: Pei Fon

(peifang@rockmeeting.net)

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“Muito obrigado por terem vindo numa segunda-feira, sei que vocês trabalham e estudam. Por isso somos gratos!”, assim Fernando Ribeiro finalizou a sua fala depois de um show épico. A primeira vez ninguém esquece. A primeira vez assistindo ao show do Moonspell foi bem especial e sensitiva. A vontade era grande de vê-los ao vivo, porém a esbarrava na questão do tempo. Nunca era hora. Há tempo para tudo. Numa segunda-feira de setembro, a banda portuguesa Moonspell chegou a São Paulo sendo muito esperada. Duas situações eram aguardadas: escutar as músicas do “Extinct” e ver/comprar o livro “Purgatorial”. O Teatro Mars foi uma surpresa para muitos que nem sequer conhecia o local, porém ele está aberto para outros shows, uma boa casa para abrigar evento do porte do Moonspell. Com um breve atraso, o que não comprometeu em nada a apresentação, o metal gótico do Moonspell subiu ao palco aos urros dos presentes. Garanto, ainda vai ler muito sobre o frontman da banda. Ele é o cara! Se tem uma música que casou perfeitamente para iniciar o show é “Breath (Until We Are No More)”. A interpretação que Fernando Ribeiro faz é algo singular e isso é dele. Não é

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apenas cantar, é declamar poemas e é isso que Ribeiro faz. Diferente do show no Rock in Rio, a banda estava muito mais próximo do público que poderia tocá-los e incentivá-los. A empolgação era sentida do palco e os fãs devolviam na mesma sintonia. O show do Moonspell é completamente sensitivo, é de tocar o coração de verdade. Há quem não goste da banda, ok, é uma escolha, mas música é muito mais que técnica, é sentimento, feeling e foi isso que foi sentido por cada um. O semblante das pessoas era possível sentir que esse sentimento estava percorrendo naquele lugar. Num festival é difícil conquistar a todos, um público misto e que a banda tem a oportunidade de se mostrar para quem ainda não os conhece. Mas estar num concerto onde todos estão pela mesma razão, torna o show ainda mais importante e especial. As músicas que se seguiram foi um passeio pela discografia dos seus quase 25 anos de carreira. “Alma Mater”, “Opium” e “Vampiria” foram algumas delas. Certamente, em cada apresentação, o fã sempre vai lembrar de alguma música que ficou devendo, porém a satisfação era sentida. Do álbum “Extinct” foram tocadas

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“Breath”, “Extinct”, “Medusalem”, “The Future is Dark” e “The Last of Us” que dou um belo destaque para ela. A canção é sentida atráves do graves, das 4 cordas, do baixo. Sem contar na apresentação individual de cada músico, não é apenas um show, eles sentem a música e transmitem essa sensação para quem está ali para vê-los e ouvi-los. Uma pena que é tão rápida. Dentre as outras músicas tocadas estavam “Finisterra”, “Night Eternal”, “Awake!”, “...of Dream and Drama (Midnight Ride)”, “Scorpion Flower”, “An Erotic Alchemy”, “Ataegina”, “Everything Invaded”, “Full Moon Madness” e “Em Nome do Medo” que foi uma declamação impressionante. Não é apenas música, é poesia e interpretação. Fernando Ribeiro é muito bom nisso e consegue envolver a todos muito facilmente. Impossível não ser envolvido por ele. Fernando foi só elogio ao público, a produção e aos que colaboram para que eles possam realizar o que tanto amam fazer. Que tenha mais Moonspell! E não demorem!

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Texto: Pei Fon (peifang@rockmeeting;net) Foto: Flavio Hopp

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a semana do Rock in Rio, muito se falou da apresentação da banda finlandesa Nightwish, devido ao ‘show tecnicamente impecável’ no palco Sunset e que merecia ser palco Mundo, onde, certamente, eles trariam um pouco dos recursos de pirotecnia e de luz que apresentam na Europa. Mas outras discussões tomaram conta das redes sociais devido à postura da frontwoman, Floor Jansen. O que mais importa repercutir é o negativismo e não dá tanta importância ao que merece ser evidenciado. Enfim, a banda chegou a São Paulo com este ‘estigma’ que Floor carrega de não ser simpática, vide a sua última estada no país com a sua banda ReVamp, onde ela reclamara do uso excessivo dos flashes das câmeras portáteis. Em um post na sua página oficial, ela comentou sobre o acontecido, pediu desculpas e que não era a pessoa que estavam espalhando por aí. São Paulo era a terceira cidade de cinco a ser visitada pela banda. A expectativa era enorme, pois o novo CD da banda “Endless Forms Most Beautiful” era o primeiro álbum feito para Floor e com a participação definitiva de Troy Donocley, sem contar que Kai Hahto está assumindo a bateria enquanto Jukka Nevelainen está em tratamento de sua insônia crônica. Show A galera chegou bem cedo para assumir seus lugares e olhavam direto para o relógio. Pontuais, eles começaram o show com a mesma introdução de “Roll Tide” de Hans Zimmer, lógico, para quem conhece a banda sabe que o seu líder, Tuomas Holopainen, é muito fã do compositor alemão. O setlist foi basicamente mostrando o novo cd que estava na ponta da língua dos fãs que, em certos momentos, cantavam bem alto e deixava a voz da Floor em segundo plano. E para quem julgou arrogante, não foi isso que se

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viu no palco. Ela pode ser enorme no seu tamanho, mas não colocou medo em ninguém, se divertiu tanto quanto os fãs que estavam no Tom Brasil. E foi só cacetada a sequência das músicas. O que não deu nem tempo de respirar direito, tampouco de pensar o que estava acontecendo, era permitir viver aquele momento. “Shudder Before the Beautiful”, “Yours is an Empty Hope”, “Ever Dream”, “She is my Sin”, “My Walden” foram as cinco primeiras executadas. A galera nem se continha tamanha era a emoção. Ao olhar para os lados era só choro e muitos braços levantados, seja para aplaudir ou registrar algum momento com os aparelhos eletrônicos. “Yours is an Empty Hope” merece um adendo. Que canção incrível. Ao escutar no CD é algo surpreendente. Quem teve a oportunidade de ir no show, viu que funciona muito bem e Floor esbanja técnica e versatilidade. Outro ponto a ser destacado é a performance de Kai Hahto. Ele não deixou a desejar na bateria. Em “Weak Fantasy”, Hahto abre a música com um duelo entre ele e Tuomas. Para quem viu os vídeos dos shows, era um momento a ser visto bem de perto e sentir as batidas, afinal, a bateria é o coração da banda. As músicas que vieram a seguir foram: “The Islander”, “Élan”, “Weak Fantasy”, “7 Days to the Wolves”, “Storytime”, “I Want my Tears Back”, “Wishmaster”, “Stargazers”, “Sleeping Sun”, “The Greatest Show on Earth”, “Ghost Love Score” e “Last Ride of the Day”. Outros adendos. “The Islander” foi imensamente emocionante. Apenas a voz o Marco com seu duo de baixo e violão. Ele pedindo para a galera cantar junto. Foi um momento bem bonito. “She is my sin” e “Stargazers” dois momentos épicos. Músicas que foram até cantadas por Anette, mas que Floor resgatou e trouxe de volta os tempos 50


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áureos da banda quando era com Tarja Turunen. Logicamente, nenhuma substitui a outra, mas Floor ganha pontos por ser tão versátil de poder caminhar nas várias fases que o Nightwish passou e agora só tem a agregar, já que ela canta vocal gutural. “The Greatest Show on Earth” pode ser resumidamente como “We were here”. Foi um dos instantes mais interessantes do show. A canção está no “Endless Forms Most Beautiful” e finaliza o álbum. No meio da música, na parte que se diz que ‘estamos aqui’, o público participou de modo magistral, e era notório a felicidade da banda a cada música acompanhada, a investida que era feita para a participação das pessoas. Lindo! “Ghost Love Score” é sempre um mo52

mento marcante. A canção não sai do setlist. É humanamente impossível não se emocionar com a interpretação e entrega dos músicos, sem contar da participação do público que só soma a carga emotiva da música. Por fim, “7 Days to the Wolves” surpresa muito grata nesta turnê brasileira. Na turnê do “Imaginaerum” não foi tocada e ficou devendo. Agora foi pago a dívida. No mais, a sensação é que sempre falta aquela música a ser tocada. Poderia até sugerir “Romanticide”, “Planet Hell” e “Alpenglow”. Está principalmente, tocada em toda a turnê pela Europa. O semblante dos fãs era de satisfação. Não tem outra explicação. Um dos melhores shows do Nightwish.



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Foto: Fabio Matta

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Por Pei Fon (peifang@rockmeeting.net) Foto: Rogério Sousa/ JR Fotografia

O JackDevil continua o trabalho e lançou mais um álbum. Como vocês podem apresentar o novo disco, “Evil Strikes Again”? O título “O Mal Ataca Novamente” resume de forma impecável a essência do nosso novo disco, pois apresentamos, em menos de um ano, mais um álbum de estúdio para dar continuidade ao trabalho que está sendo desenvolvido com o Jackdevil. O instrumental de “Evil Strikes Again” foi produzido para soar como um verdadeiro explosivo metálico, carregando um speed metal ainda mais selvagem e agressivo do que o observado no ‘Unholy Sacrifice’ (2014). Nossos dois discos de estúdios possuem diversas similaridades, até mesmo pelo fato de ainda ser a mesma banda, com os mesmos integrantes e apenas um ano de diferença de um para o outro, todavia vale destacar que existe um salto enorme dentro da qualidade sonora e um amadurecimento que nos permitiu envolver de forma frontal o que há de clássico e inovador em nossa música. O que havia de influência e de personalidade própria da banda conseguiu ser mais bem extraído. Nos dedicamos por meses ao trabalho desse novo álbum e registramos todos os pontos positivos e negativos da nossa trajetória ao longo dos nossos quatro anos de existência para que alcançássemos bons resultados com o novo registro. Cada álbum produzido por qualquer banda que seja possui o seu valor específico e incomparável para os integrantes que nele trabalham. Unholy Sacrifice e Evil Strikes Again retratam o mesmo Jackdevil, mas em momen56

tos diferentes. De todos os quatro registros oficiais que fizemos até aqui o Evil Strikes Again foi o que nos rendeu as melhores expectativas, principalmente em relação ao progresso de evolução dos setores de gravação e composição do Jackdevil. Novas composições, onze faixas. A temática é bem atual, caos, seja político ou humano. Existe um personagem por trás desse álbum ou é reflexo do momento? No ‘Unholy Sacrifice’ nós apostamos em homenagear o mestre do terror Stephen King e ousamos fazendo um primeiro disco conceitual com faixas inspiradas em grandes histó-


rias como ‘A Colheita Maldita’, ‘Christine, o Carro Assassino’ e ‘O Iluminado’. Já no ‘Evil Strikes Again’ (2015), as letras que mergulham na esfera do terror cotidiano continuaram presentes no trabalho da banda, seja através do imaginário ou do real, como é o caso da faixa “Black Witch” - que expande a história narrada na faixa “Vixen of Satan”, do disco anterior da banda - ou em “Death By Red Lights”, uma música que narra a história de um dos mais conhecidos serial killers brasileiros, o Bandido da Luz Vermelha. Não há um personagem específico nos temas das canções do novo disco, mas acredito que exista um cenário onde trabalhamos nossas ideias para as letras: o mundo do terror. Seja aquele que encontramos na 57

vida real ou nos filmes e livros. Quatro anos de estrada. E vocês têm lançado materiais novos a cada ano. O que a manutenção de ter sempre algo novo para mostrar traz como resultado para a banda? A nossa primeira preocupação é alcançar a nossa própria realização com o projeto. É importante que o músico realmente sinta-se confortável com o que está criando e nesse quesito o resultado está ganhando bons aspectos com o passar do tempo dentro do Jackdevil. Provavelmente um dos principais segredos para manter uma banda bem sucedida seja nunca parar de trabalhar, mas fazer isso acontecer é


um pouco mais complexo do que parece. Diversas bandas nacionais que conheço sofrem com alguns problemas como o ego elevado de seus músicos, as divergências nos gostos musicais, a falta de compromisso de alguns integrantes, os obstáculos que surgem no setor financeiro, etc. Com tudo isso em questão, lançar um álbum atrás do outro se torna uma tarefa um tanto quanto árdua e talvez o diferencial do Jackdevil seja o fato de superamos diariamente as adversidades, sempre preservando a nossa união e lucidez no momento de trabalharmos com a banda. Vindos de São Luis. Nordeste. O que vocês podem relatar em relação as diferenças regionais e o tratamento do público? Quando falamos que somos de São Luís do Maranhão duas palavras sempre surgem nos diálogos com pessoas de outras localidades: José Sarney e Metal Open Air. Agora afirmar que somente isso representa o nosso estado é ignorância demais. (risos) Até hoje nunca fomos tratados de forma diferenciada por causa da nossa naturalidade e se alguma ocasião futura isso acontecer sequer iremos nos importar, pois quem se rebaixa é a pessoa que, agindo de tal forma, se mostra estúpido. O ser alienado é justamente aquele que não procura seu lado autêntico, deseja ser de outro lugar e lamenta ter nascido no seu, tecendo uma espécie de vergonha da sua realidade. Nós do Jackdevil valorizamos o “seja você mesmo!” e tentamos dar um bom exemplo tratando todos da melhor forma possível, sem discriminação alguma. Por fim, posso afirmar com propriedade que o cenário musical de bandas pesadas do Nordeste revela atualmente a mesma quantidade de bandas que as outras regiões do Brasil como novas promes58


sas do rock n’roll brasileiro, portanto acredito que a diferença de onde sua banda surge talvez cause estranheza na primeira ocasião, mas logo em seguida tal complicação cai por terra, pois no Brasil existem talentos e grandes nomes vindos dos quatro cantos do país. Em uma entrevista vocês comentam sobre religião. Até que ponto essa questão do eu pessoal e do eu músico interfere na cena? Ou isso é bobagem, cada um faz o que quer? Nossa opinião está sempre voltada para a liberdade de expressão e acreditamos que cada um faz o que quiser, contanto que não prejudique diretamente a liberdade e espaço das outras pessoas ao seu redor. Nós não defendemos nenhuma religião pelo simples fato de que é muito melhor compreender o universo como ele realmente é do que persistir no engano, por mais satisfatório e tranquilizador que possa parecer, mas vale destacar que o respeito é fundamental. O bom diálogo, a reflexão e a razão são sinais de amadurecimento e vejo que, por muitas vezes, é o que está faltando na mente dos brasileiros. É fácil perceber que absolutamente ninguém nasce odiando outra pessoa por causa da cor de sua pele, ou de sua opção sexual, ou de sua religião. As pessoas são ensinadas a odiar, e se são ensinadas assim, também podem aprender a levantarem suas opiniões e gostos sem a obrigação de ter que implantá-las nas mentes dos outros. Imagino que o metal foi feito para fugir desse regime imposto pelo sistema e não para ser outra maneira de oprimir as pessoas. Ainda sobre esta questão, onde esse extremismo ideológico afeta? Todo e qualquer tipo de extremismo, em qual59


quer área que seja, manifesta debates fervorosos e rende polêmicas infinitas. Feminazis, gayzistas, crentelhos, chateus, coxinhas, fascistas, defensores de bandido, hoje em dia parece estar na moda criar adjetivos pejorativos e preconceituosos para todos que possuem ideais semelhantes também sejam acusados de extremistas. Mas o grande problema do extremismo ideológico é aquela história de “ver chifre em cabeça de cavalo”. Tem gente por aí, da política à música, que vive em torno de trabalhar no massacre de toda e qualquer opinião discordante, enquanto, por outro lado, relativizam as falhas e exageros do seu movimento. Sentem-se à vontade para destilar preconceitos contra seus adversários, mas ficam atentos a qualquer opinião contrária que lembre vaga60

mente um conceito discriminatório. Mudando de assunto, vocês estão embarcando para uma turnê muito especial com o Onslaught e Hibria. Nervosos com a primeira tour internacional? Acho que o primeiro passo para um bom desempenho no seu trabalho é não levantar muitas expectativas e prezar pela execução do deve ser feito. Claro que você se orgulha em ver suas atividades ganhando reconhecimento, mas é necessário não deixar que as conquistas subam a cabeça e alterem sua personalidade. Estamos felizes com a repercussão da turnê e o trabalho do nosso tour manager, o Caio Schramm da Cronos Entertainment, tem realizado um trabalho excelente e diferenciado.


Foi, sem dúvidas, uma das parcerias mais importantes que fizemos nos últimos tempos e pelo visto não acabará tão cedo. Na ‘Evil Strikes Again Tour 2015’ temos várias cidades do Brasil e de outros países para nos apresentarmos e estamos levando o que há de melhor do Jackdevil. Nos discos do Jackdevil sempre há alguma parte onde fica a descrição “New Wave Of Brazilian Heavy Metal”. O que representa? Quando usamos o termo “A nova geração do heavy metal brasileiro” nossa intenção é evidenciar a existência de uma nova safra de bandas no estilo. Fazemos questão de incentivar bandas a gravarem seus materiais e se em61

polgarem com a arte de fazer o metal pesado acontecer no Brasil. O metal nacional não foi feito para ser uma arena de batalha com bandas disputando qual é a melhor e se digladiando para ver quem chama mais atenção. Música não foi feita para competir, mas sim para ser apreciada. É comum encontrarmos “torcedores fanáticos” de estilos e grupos musicais, que confundem a arte da música com a rivalidade de um esporte jogado por atletas desleais. Quanto ao termo ser usado por outras pessoas não existe problema algum, pois quando começamos a usá-lo a nossa intenção era realmente expandi-lo e fazer com que outras bandas e pessoas o adotassem. Não queríamos que fosse uma exclusividade nossa e por fim de contas é só uma mera nomenclatura, o mais


Foto: Fabio Matta

importante é a sonoridade e a atitude da banda, coisa na qual nos esforçamos para fazer o melhor que pudemos. O que vocês têm escutado? Cite para nós e fale um pouco sobre eles. Ultimamente temos dado atenção ao que há de novo no cenário nacional e internacional dentro do metal. Estamos curtindo bandas como Skull Fist, Cauldron, Vanderbuyst, Lost Society, Enforcer e outras. Temos ouvido também bandas da nossa cidade que estão lançando materiais por esses tempos como a Leopard Machine, School Thrash, Forte Calibre, Cranium Crushing, Brutallian, Purpura Ink, etc. Quanto aos nossos influenciadores mais antigos temos em nossas playlists bandas que 62

admiramos muito como o Angel Witch, Tank, Virtue, Diamond Head, Sepultura, Motorhead, Slayer e mais um milhão de bandas que nos ajudaram a construir os primeiros passos do Jackdevil. Por fim, há álbum plano para algum material inédito desta turnê internacional? Sucesso sempre! Nos próximos dias, ainda antes da turnê, lançaremos o primeiro videoclipe do disco ‘Evil Strikes Again’ e músicas para um novo álbum já estão sendo feitas, pois o nosso trabalho não para. É bem provável que após essa turnê mais novidades musicais sejam lançados pelo Jackdevil e ao que tudo indica outras viagens já estão sendo preparadas para o começo de 2016.



Levando em conta a experiências de seus membros, como foi a trajetória de formar o Brutallian e quais foram seus objetivos iniciais? Pablo Barros: Todos na banda já tinham certa experiência na cena da época. O que aconteceu foi que, em uma grande coincidência momentânea, todos estavam sem banda. Como eu, o baixista e o baterista da época já nos conhecíamos e partilhávamos de certas visões, resolvemos montar uma banda. Daí o Rhodes foi recrutado e se encaixou bem. A ideia inicial era realmente juntar as influências que tínhamos (e temos até hoje), que passavam por várias vertentes do Heavy Metal, ainda que com certa preferência pelo dito “tradicional” e o thrash metal. O objetivo naquela época era simplesmente montar uma banda de respeito, tanto em estilo quanto em atitude, que é algo 64

que cultivamos até hoje. Nosso intuito nunca foi gerar algo “novo”, e sim, deixar claro no nosso som que podemos ter uma banda pesada, com muito resgate aos clássicos, mas, com uma roupagem atual. Rodrigo Botão: Quando a Brutallian surgiu, eu fazia parte de uma banda de Hard Rock e fui convidado por Pablo Barros e Mauro de Aquino (ex-baterista) a fazer parte da banda. Inicialmente, começamos tocando covers de bandas como Judas Priest, Accept etc. A influência e experiência de cada membro foi importante durante o processo de composição, gerando um som pesado e direto. Vocês lançaram o seu novo álbum, intitulado “Blow on the Eye”, este ano. Como foi sua concepção? Vocês enfrentaram alguns desafios durante o pro-


Texto Gisela Cardoso | Fotos Fabio Matta

cesso? Pablo: Metade do álbum já estava composto há muito tempo, então, a concepção dele carrega basicamente a história da banda até hoje, e aí já vão quase 15 anos. Passamos por várias fases e vários desafios porque nunca tivemos o apoio de ninguém, além do público. Aliás, tivemos muitas coisas desmotivadoras em nosso caminho, mas, ainda assim, conseguimos dar a volta por cima. Foi muita luta, com vários prejuízos financeiros, assim como a maioria das bandas. Talvez por isso tenhamos esse som raivoso, já que a dificuldade se tornou rotina para nós. Rodrigo: Enfrentamos vários desafios inicialmente, no tocante a encontrar um estúdio de qualidade, que atendesse as nossas expectativas. Após a persistência, e contando com o apoio do público e de amigos, conseguimos 65

gravar nosso álbum com excelência no estúdio do Felipe Hiuly. Diferente da maioria das outras bandas, já no início, vocês optaram por lançar seu material no formato CD full ao invés do tradicional EP. Por que e como tomaram essa decisão? Pablo: Sendo bem preciso, porque simplesmente não tínhamos mais tempo a perder. Já tinha até passado do tempo. Por mim, já estaríamos no segundo ou terceiro CD. Por sorte, encontramos um estúdio e uma dupla de produtores competentes, para que tudo ficasse com nossa cara. Então, vendo por esse lado, talvez a espera tenha tido algum significado. Rodrigo: A banda já estava há vários anos fa-


zendo shows e compondo e sem um álbum em mãos, tínhamos pressa em gravar e precisávamos do álbum para materializar o nosso som. A sonoridade da Brutallian se caracteriza principalmente por conter muito peso, groove e riffs bem marcantes. Em sua visão, qual é o seu direcionamento musical, especialmente em “Blow on the Eye”? Pablo: O direcionamento é: cozinha gorda, guitarra na cara e vocais do inferno. O único rótulo que aceitamos é Heavy Metal. Rodrigo: A ideia com a música “Blow on the Eye” era criar algo marcante e que tivesse o peso e a nossa marca. Como tem sido a recepção do público e da mídia especializada ao “Blow on the Eye”? Pablo: Tem sido fantástica. Não posso dizer que não esperava por isso, pois confio muito no nosso som, mas estava realmente apreensivo. Quando vejo pessoas nos comparando a algumas bandas que idolatramos, isso dá um sentimento de pura honra. Acredito que boa parte das pessoas, público e mídia, tem captado bem a nossa proposta, que é passar um som honesto e com muita personalidade. Após o lyric vídeo “You Can’t Deny Hate”, há previsão para produção de um videoclipe? Fabio Matta: Esse é o próximo passo: nosso primeiro videoclipe. A previsão é para ainda este ano. Precisamos definir duas locações para gravar algumas imagens que estão dentro do roteiro. Assim como foi para o lyric vídeo de “You Can’t Deny Hate”, nós prezamos pelos detalhes e estamos trabalhando forte nisso.

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A Brutallian foi fundada no ano de 2002, mas foi este ano que lançou o seu primeiro álbum. O que ocorreu neste intervalo de tempo desde sua formação até o lançamento do debut? Pablo: Puxa, isso dá um livro. Nos cinco primeiros anos foram muitos shows, tocamos em vários locais do eixo norte-nordeste, abrimos shows para um monte de gente (nacional e internacional), e fomos seguindo a vida como pessoas comuns, casamentos, filhos, graduações, profissões, rupturas, mudanças de formação, desestímulo por parte de produtores, estímulo do público, hiatos, enfim, ciclos normais. Uma coisa boa nesse processo todo é que todos os membros do Brutallian (atuais e antigos) nutrem uma profunda amizade,


como irmãos mesmo. Os antigos integrantes têm uma influência gigantesca em minha formação musical e como pessoa, me fizeram ser o vocalista que sou e moldaram meu estilo a partir do deles, enquanto os atuais conseguem ter a mesma chama e com uma motivação renovada. Então, eu diria que esse tempo todo foi inspirador. Rodrigo: Shows, ensaios, dificuldade em encontrar estúdio local para ensaio e gravação e hiato de quase três anos. Vocês são provenientes da cidade de São Luís, no Maranhão. Aliás, atualmente é possível ver que as bandas nordestinas têm se destacado cada vez mais no cenário nacional. Mas, em sua opinião, 67

como tem sido a cena local? Pablo: É muito importante não confundir a qualidade das bandas atuais, com a cena em si. Nós temos dificuldades gigantescas hoje em dia na nossa cidade. A primeira delas é a falta de um local apropriado com custos compatíveis e acessibilidade. Tudo o que é feito aqui na cidade, reitero, tudo o que está acontecendo de positivo é proveniente do árduo trabalho das bandas. Há bandas fantásticas surgindo aqui e acredito que, em algum momento, vamos nos unir e transformar essa união em algo útil para a cena. Então, deixando bem claro, temos bandas de qualidade sim, por mérito das mesmas, mas a cena em si ainda está muito desarticulada. Porém, acredito que isso vai mudar em algum momento e espero ser um


dos direcionadores disso. Rodrigo: Anos atrás era possível a realização de mais shows, hoje em dia a cena deixa um pouco a desejar, mas estamos correndo atrás por nós mesmos para fazer a coisa acontecer. É possível observar que o centro da cena nacional ainda se concentra muito no eixo das regiões Sul-Sudeste. A Brutallian, como uma banda maranhense, já enfrentou (ou ainda enfrenta) algum desafio quanto a isso? Pablo: Acho que o maior desafio é a distância mesmo, o que inviabiliza as produções pelo aspecto financeiro. Mas, já é de conhecimento geral que a cena do Nordeste é muito forte também, o problema é que o Maranhão é meio descentralizado, até em relação a algumas outras capitais do Nordeste, então, é tudo mais 68

estudado e ponderado. Fabio: As regiões Sul e Sudeste sempre foram propulsoras de música pesada, mas todo mundo sabe que Belo Horizonte fez história no Metal nacional, e Goiânia é um seleiro de bandas Stoner/Metal. Agora, mais do que nunca, o Nordeste está tendo sua devida atenção, pois de uns tempos pra cá vem produzindo muito material de música pesada. Falo isso como quem mora em São Luís somente a três anos - sou paulistano mas morava no interior do Paraná, terra dos mais incríveis músicos, mas quando cheguei a São Luís vi uma cena rica e produtiva, todos se movimentando para fazer shows e lançar discos, tudo na mais perfeita pegada “faça você mesmo”! Mas agora, em um aspecto mais geral, quais são os maiores desafios para so-


breviver no underground nacional, em sua opinião? Pablo: Dinheiro! A maioria das bandas sobrevive de venda de merchandising. Quem se profissionaliza como músico mesmo, tem que ministrar aulas. A banda quase não ganha com venda de CDs, quase não ganha com cachês, vende algumas camisas e outros produtos. Vai viver de quê? Tem gente que nem tem ideia desse tipo de coisa e ainda fala bobagens. No nosso caso, temos nossas vidas “paralelas”; realmente não vivemos disso. A única recompensa em ter uma banda para nós, até hoje, foi o carinho do público e o fato de sermos reais headbangers e fazemos isso por puro amor. Nos aspectos financeiros, a única coisa que o Brutallian já teve até hoje foi prejuízo e mesmo assim, vamos continuar. Rayan de Oliveira: Na cena underground nacional, sobrevivem as bandas que fazem por amor. Os desafios são muitos, mas podemos destacar a falta de apoio na produção de eventos e material das bandas. No caso da Brutallian, buscamos fazer tudo com a nossa cara, ao mesmo tempo buscando um padrão de qualidade que possa ser avaliado internacionalmente. Apesar das dificuldades desse trabalho independente, contamos com grandes ferramentas de divulgação online, o que facilita a aproxima muito as bandas e ajuda a reduzir a falta de visibilidade do gênero no Brasil e principalmente no Maranhão, abrindo as portas da nossa cena para o mundo. Quais são os planos da Brutallian para ainda esse ano? Pablo: Para este ano, nosso objetivo é adequar a agenda profissional dos integrantes com a agenda de shows para tocarmos o máximo que pudermos. Estamos com algumas datas já marcadas, mas estamos aguardando 69

novos convites. Queremos levar “Blow on the eye” para cada canto remoto deste planeta. Fabio: Tocar em tudo quanto é canto! Estamos tentando fechar o maior numero de shows para esta reta final do ano. Temos que batalhar muito para divulgar nosso disco “Blow on the Eye” e banda tem que estar tocando sempre, é nessa hora que você tem um verdadeiro contato com quem gosta da sua música. Muito obrigada pela entrevista! Agora, por favor, o espaço é de vocês! Pablo: Agradeço de coração a toda mídia especializada, que tem nos ajudado a divulgar nosso CD, assim como as pessoas que estiveram e estão direta ou indiretamente envolvida com o Brutallian e, em especial, a cada ser humano neste mundo que tenha ouvido nosso som e apoiado nosso trabalho de alguma forma. Fabio: Quero agradecer a Rock Meeting pelo espaço e todos headbangers que temos conhecido ao longo dos shows do Brutallian. Quero agradecer também o contato que a gente vem tendo com a galera que descobre nosso som pela internet. Queria convidar toda galera que curte Heavy Metal a conhecer mais bandas do cenário brasileiro, tem muitas bandas incríveis no corre de shows e venda dos seus discos, são bandas de norte a sul desse país que contam com a venda dos seus CDs, camisetas, bottons, etc... A galera tem produzido coisas de alto nível, é só ficar ligado! E pra galera que quer conhecer mais sobre o Brutallian é só acessar nosso facebook ou youtube, para comprar nosso cd pode ser entrando em contato com a banda ou no site da Die Hard. A galera ainda pode ouvir no spotify / deezer / rdio e ainda comprar as mp3 na iTunes e Amazon. Forte abraço galera!


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Texto e Fotos: Mauricio Melo (Espanha)

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legria! Alegria! Na noite de ontem, mais precisamente 24 de Setembro de 2015, dia da padroeira da cidade de Barcelona, tivemos a grande oportunidade de assistir de perto nosso lendário “Lobotomia”, ainda que, como muitos sabem, a formação não é aquela clássica dos anos 80... mas quem se importa? O Napalm Death já não possui nenhum membro fundador na banda e é considerada uma lenda viva, portanto Lobotomia neles! O local não poderia ser mais apropriado: uma casa Okupa, que, em outras palavras, pode ser considerada aqueles tradicionais squats europeus. O evento foi um Punk Veg Fest, comida vegana era servida aos adeptos, punks, headbangers e até cabeças rapadas se encontravam reunidos com apenas um pensamento: diversão ao extremo. Para abrir a noite, tivemos os locais do Medication, que não tivemos tempo de conferir, e os suecos do Damaged Head, com seu hardcore puro e cru. Os rapazes até que animaram bastante, suaram bicas, mas o impacto total foi o show do quarteto brasileiro. Pouco antes do show, os integrantes já sentiam o calor que fazia na sala, lembrando bem que o verão já foi embora, mas mesmo assim estava realmente quente. O vocalista Edu Vudoo caminhava de um lado a outro, parava diante do ventilador e nitidamente sentia o cansaço da viagem, noites mal dormidas e algunas cositas más que surgem na estrada. A banda também dedicou o show à Alexandre Éboli. Nada foi capaz de pará-los. Quando os primeiros acordes de “Vítimas da Guerra” ecoaram nas escuras paredes de Los Blokes Fantasma, todo o mal estar saiu na transpiração, o caos começava a se instalar

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e mais uma vez um grupo brasileiro foi surpreendido pelo público local. Uma noite que no início não prometia tanto surpreendeu, dissipando dúvidas tendo um público bastante dedicado, dividindo microfone com Vudoo, enquanto Exgotto e Borracho seguravam bem as bases. Ao fundo, quase na escuridão, Grego batia e pisava forte na caixa e no bumbo e às vezes era possível ver o brilho dos pratos entre uma baquetada e outra. Com o clássico “Só os Mortos Não Reclamam” a temperatura subiu e algumas músicas do “Nada é Como Parece” surgiram no setlist, como “Donos do Sistema” e “Mosh To Die”, “Penso, Logo Desisto” e “Fiquem Se 74

Distraiam” também foram celebradas, junto à música título do disco. “Sujeira Cerebral” foi uma das representantes do trabalho mais recente da banda, que não é tão recente, mas vale o registro. Para finalizar a noite em grande estilo, a escolhida não poderia ter sido outra: “Lobotomia” fez a festa da galera, aumentou a temperatura, fez todo mundo suar bicas e depois sair correndo para a rua em busca de oxigênio. Como disse anteriormente, bandas brasileiras são e sempre serão bem vindas e celebradas, principalmente as clássicas. Alguém gritou Olho Seco aí? Até!



Por Pei Fon Fotos: Banda/Divulgação

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á não é de hoje que a banda Chaos Synopsis vem se destacando no cenário nacional. O novo disco “Seasons of Red” comprova a evolução e a boa fase do quarteto. Vamos ver o que falam os seus integrantes do novo play e da recente tour europeia. A banda recentemente voltou de uma turnê da Europa. Qual foi o saldo dessa maratona de shows? Jairo: O saldo é sempre positivo, primeiro por ser parte de um sonho poder fazer show praticamente todos os dias e ainda receber por isso, além de encontrarmos velhos amigos, fazermos novas amizades e contatos. Espalhamos o nome Chaos Synopsis por terras novas e percebemos que a nossa identidade está forte 76

no Velho Continente, dada a resposta do público. A turnê do novo disco teve início na Europa em vez do Brasil. Qual era a ideia de começar dessa forma pouco usual para bandas brasileiras? A ideia era fazer diferente. Normalmente, os shows de lançamento são feitos aqui, o que também é mais confortável, porque tocamos para fãs de longa data. Começar a divulgação pela Europa serviu inclusive para testar as músicas do “Seasons of Red” ao vivo e adequarmos o setlist da melhor maneira. Vocês fizeram a pré-venda na época da gravação do novo disco. O resultado al-


cançado foi satisfatório? Completamente. Ultrapassamos a meta esperada para o lançamento do “Seasons of Red”, o que nos mostra que temos uma boa base de fãs acompanhando a banda e apoiando a continuidade do nosso trabalho. O novo disco apresenta um Death/ Thrash matador e muito bem trabalhado. Qual é a sua forma de compor? Temos trabalhado da mesma forma desde o começo da banda, em que cada integrante faz suas músicas e leva os riffs para o ensaio, gravamos as ideias e em conjunto vamos acertando as arestas e modificando algo aqui e ali, até acharmos que o resultado final esteja satisfatório. 77

As apresentações da Chaos sempre se destacam por serem bastante energéticas e intensas. Os integrantes têm algum cuidado ou ritual antes de começar uma nova turnê? Não temos um ritual nem nada parecido, mas amamos estar no palco tocando rock, então acaba sendo natural toda a energia, pois primeiramente estamos ali para agradar a nós mesmos e, para isso, o show tem que ser gratificante. No fim, acredito que essa energia é passada para o público, que percebe o tesão que temos em estar ali. A temática da banda sempre se destacou por ser algo diferente do que estamos acostumados com bandas de metal.


Como é feita a escolha dos temas paras as novas composições? Ainda é cedo, mas tem alguma ideia para o próximo play? Eu e o JP sempre discutimos ideias do tema, que vão se transformando até que chegamos a um denominador comum, como foram as temporadas sangrentas de Seasons of Red. Com isso em mãos, cada um escolhe a história que quer contar e escreve a letra. Acho uma forma interessante de compor, pois o álbum acaba se transformando em uma unidade, não sendo apenas temas aleatórios. Quanto ao próximo play, estamos só discutindo algumas coisas, mas realmente, ainda é bem cedo para termos alguma certeza. O novo full “Seasons of Red” chama bastante atenção pelos detalhes na sua arte, desde a embalagem até o encarte e 78

as fotos. Ao que se deve essa preocupação nos mínimos detalhes? Jairo: Isso é algo meu, acredito muito que a arte de um álbum não seja apenas a música, mas todo o contexto, ainda mais no nosso caso, já que escrevemos álbuns com temáticas únicas. Acredito que o fã tem uma ligação maior quando toda a arte gráfica é ligada à temática do álbum, assim como as informações que damos no encarte, que leva alguns a pesquisarem mais sobre o tema e entenderem melhor as letras. Quanto ao slipcase, eu, como colecionador, admiro quando bandas lançam nesse formato, por isso tornou-se um padrão para o Chaos Synopsis. A produção de Fabiano Penna deu um destaque a mais para esse novo disco. Passado o lançamento, como os integrantes enxergam o resultado final? E


como se deu essa parceria? O Fabiano nos deu muitas ideias de como captar da melhor forma no estúdio para o Friggi produzir o álbum, de forma que facilitou para ele na hora da mixagem. Como grande conhecedor de música, além de sua experiência no metal extremo, o trabalho foi sensacional, atingiu o patamar que queríamos. Depois do clip de “Son of Light” do disco anterior, podemos esperar um grande vídeo para promover “Seasons of Red”? Já tem alguma música em mente para isso? Já estou trabalhando nas ideias, tenho muita coisa em mente até o momento e estou escrevendo o roteiro, acredito que vá ser algo ainda maior que “Son of Light” e devemos gravar ainda este ano. Assim que tivermos novidades, divulgaremos qual a música. 79

Como tem sido a repercussão do “Seasons” até o momento? E como tem sido a resposta das novas músicas ao vivo? Excelente! Mídia e fãs, com muita gente comentando via redes sociais de terem curtido demais o álbum, as resenhas dando notas altas e entendendo bem a proposta temática e musical. No tocante aos shows, a resposta está nos moshs e bate cabeça da galera, sempre agitando muito e mostrando que “Seasons of Red” foi composto para os palcos. Espaço para as considerações finais e agradecimentos. Agradeço o bate papo e a todos que acompanham nosso trabalho, a vida do rock é muito divertida devido a todos vocês que marcam presença nos shows.


O EP “My Unconditional Faith”, seu primeiro trabalho solo, foi lançado este ano. Quando decidiu se lançar em carreira solo? Primeiramente, muito obrigado pelo espaço e desde já, deixo um grande abraço a todos que estão lendo esta entrevista e acompanhando meu trabalho. Bom, a ideia de lançar algo 100% com a minha identidade e influências já vem há alguns anos. Diria que de uns 3 anos atrás, eu tinha alguns refrões e ideias soltas que não se encaixavam nos projetos e bandas que eu trabalhava, e algumas destas ideias não surtiam interesse em algumas pessoas que eu mostrava. Então, em 2014, com o incentivo da Imperative Music Agency, eu realmente decidi mostrar para mim mesmo que eu acreditava no meu som e nas coisas que eu queria dizer e passar para as outras pessoas. Foi aí que nasceu a demanda de fazer uma música para ver o que iria acontecer, nesse formato, eu pensei em chamar pessoas do meu convívio diário musical e juntos formatamos o primeiro single, “You Need To Believe” que acabou de fazer seu primeiro aniversário de lançamento no dia 28/09. O disco conta com participação com músicos conceituados do cenário local, como o produtor Jonas Godoy, Guilherme Mello (Fighter), Cesar Branco (Fighter/Babysitters) e Arthur Appel (Hard Breakers), que assina a produção vocal. Quais os critérios que utilizou para selecionar esses profissionais e por que você decidiu manter algumas escolhas de seus trabalhos anteriores? Exatamente por ser um projeto solo e colaborativo, com participações especiais, eu queria ter a liberdade de trabalhar o núcleo do projeto da mesma forma, ou seja, mantendo a fórmu80

la que funcionou desde a primeira música, ou seja, eu trago a ideia da música, referências, sonoridade, e juntamente com meus dois produtores Jonas Godoy e Arthur Appel, montamos a pré-produção e a partir desta “DEMO” eu escolho os músicos que mais se encaixam com o perfil da música, desta forma, em alguns casos, foram mantidas as participações justamente por se identificarem com a música em questão e pela disponibilidade também. Acredito que desta forma o processo fica mais ágil e mais próximo do que eu realmente quero extrair, pois quando você trabalha com uma banda, você tem sempre que dividir opiniões, ou depender em algumas vezes da disponibilidade das pessoas, então optei por fazer tudo do meu jeito com duas pessoas que confio plenamente de forma mais rápida e direcionada. Em sua sonoridade é possível notar certas influências do Hard Rock, AOR, Melódica Rock e até mesmo do Pop. Quem influência Marenna durante o processo de composição? Eu gosto de muita coisa, escuto todos os dias bandas novas, mas sempre gostei de pop americano e do Hard Rock melódico dos anos 80/90, mas sem esquecer da minha origem “Old School”, pois minha base vem de bandas como Deep Purple e Whitesnake, mas para o MARENNA, eu resolvi apostar numa fórmula que mistura o melodic rock 90 com o contexto de produção atual, onde posso citar bandas como: H.e.a.t, Wigelius, Care Of Night, Eclipse, Journey, entre outros. Você lançou alguns singles, como o “You Need to Believe” antes do lança-


Texto Gisela Cardoso | Fotos Gustavo Vara

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mento do EP “My Unconditional Faith”. Por que optou a adotar essa estratégia? Na verdade, eu não tinha ambição além de lançar uma música ou talvez duas para ver o que iria acontecer, não me preocupei com aceitação ou críticas, simplesmente pela música e pelo que eu queria dizer no momento, o EP aconteceu naturalmente, foi a consequência do trabalho e sua aceitação. Sobre a estratégia, eu particularmente acho que é mais legal você interagir com as pessoas música a música, sentir o que as pessoas vão te dar de volta, quando você entrega um disco inteiro, eu penso que você tem menos coisas a dizer, pois você já entregou toda a munição, o tempo corre mais rápido contra você e a “Vida Útil” do trabalho fica reduzida, humildemente minha opinião pessoal, captada através de outros projetos que lancei anteriormente. Além disso, você também lançou videoclipe para a faixa “Keep on Dreaming” e lyric vídeo para “You Need to Believe”. Em sua opinião, qual é a importância visual dos clipes para a divulgação da música na atualidade? Sendo clipe, ou Lyric vídeo eu acredito que o vídeo em si sempre terá uma relação romântica com a sua audiência, ou seja, para cada produto eu acredito ter uma audiência específica. O que eu tentei fazer foi de certa forma “experimentar” e provocar isso, entender como é a relação das pessoas com a minha música, por isso, apostei em formas diferentes de apresentar os dois singles, com um clipe para “Keep on Dreaming”, explorando apenas a minha imagem como músico, e coisas que me cercam, o dia a dia das grandes cidades, o cotidiano, e com o lyric para “You Need to Believe” foi uma questão estética mesmo, como era a minha música de entrada e a mensagem dela era e é 82

muito forte, resolvi apostar no lyric vídeo com uma estética de cores e cenários que prendessem a atenção da audiência. “My Unconditional Faith” conta com uma versão europeia e japonesa, em parceria com a Lions Pride Music. Como realizou este importante passo para uma carreira internacional? Na verdade, é apenas uma versão europeia, que também está sendo distribuída no Japão. O contato veio por parte da gravadora que gostou do trabalho e decidiu apostar. Ao natural acredito que o trabalho foi ganhando importância e relevância e com um selo profissional trabalhando com você, tudo passa a ter mais sentido, ou seja, mais credibilidade, mas também, haverá a pressão e a cobrança por trabalhos futuros a médio e longo prazo com a mesma qualidade ou superior, afinal, glória e desafio andam no mesmo caminho rsrsrsrs... Acho que tudo na vida tem a hora certa, e vai ver que chegou a hora desse trabalho ganhar seu capítulo na história da minha carreira. Então, cenas para os próximos capítulos (risos). Além do lançamento internacional, você anunciou o novo single “Life Goes On” com participação especial do grande guitarrista Rodrigo Campagnolo (Electric Blues Explosion). Conte-nos sobre essa parceria. Há planos para um trabalho juntos? Então, sempre gostei do trabalho do Rodrigo, sempre admirei o som e a identidade que ele imprime nos seus diferentes projetos, e como sempre nos demos bem e nos respeitamos, infelizmente nunca tínhamos trabalhado juntos, então um belo dia nos encontramos e surgiu uma empatia mutua que culminou em um convite para a participação dele no single,


sobre estendermos a parceria, por que não??? (risos) Após colher muitos frutos com o EP, já consegue nos revelar sobre novas composições e previsão para início das gravações do debut álbum? Ainda um pouco cedo para falarmos nisso, mas existe um plano sim, e ele está sendo concluído dia pós dia, no momento é só isso que posso dizer. Muito obrigado pela entrevista! Agora, por favor, o espaço é seu! Imagina, que agradeço pelo espaço, bom, quero agradecer todos que estão comprando nossos materiais, compartilhando nossa música e principalmente captando a nossa mensagem, quero agradecer aos meus produtores, Jonas Godoy e Arthur Appel, aos amigos músicos 83

que participaram do EP, aos meus amigos de várias bandas espalhadas por ai, pessoal de Rádios, revistas e Web Rádios que prestam um suporte essencial, aos meus músicos de apoio, minha família, ao Reginaldo e Gilson Arruda da Imperative Music, que sempre me incentivaram a lançar algo 100% meu, a gravadora Lions Pride Music e o Sr. Carsten Nielsen, por apostarem nas minhas músicas, ao Rômel Santos da Island Press e ao Alex Chagas que fazem a minha assessoria de imprensa e são incansáveis por tornar a visibilidade desse trabalho fidedigna ao que ele se propõe, e aos meus velhos e novos amigos, quero dividir cada vitória e cada obstáculo com vocês, juntos vamos construir a nossa história dentro do Rock Brazuca e mostrar que existem formas diferentes de se chegar ao coração das pessoas, a começar por.... You Need To Believe!!!


Apresente-se! Olá! Meu nome é Sílvia Cristina, sou vocalista da banda Darkship. Trabalho com música desde a infância, por volta dos meus 7 anos de idade despertei interesse. Sempre fui voltada ao rock, mas não tive a opção de escolha pelo estilo no início da carreira, por isso cantei por vários anos em corais importantes do estado do Rio Grande do Sul e passei por outras bandas até chegar ao Darkship, onde já estamos trabalhando há mais de 4 anos. Quem era você no começo da carreira e quem é você hoje? No começo eu era uma cantora de grupos vocais em busca de algo que pudesse me realizar musicalmente. Hoje sou vocalista na banda Darkship e de la até aqui foi uma longa caminhada. Hoje vejo que tudo está valendo a pena e meu crescimento como vocalista começou a ser reconhecido. Já realizou todos os seus sonhos? Ainda falta algum? Quase todos! Ainda quero que se realize o sonho de me ver com minha banda fazendo shows no exterior e ser reconhecida mundialmente pelo que muito amo fazer, música. Do que você tem medo? Medo de pessoas infelizes e ignorantes, por exemplo. Essas pessoas são inconsequentes e capazes de grandes males à humanidade. O que costuma fazer quando não está envolvida com a banda? A banda consome boa parte do meu tempo com as atividades, pois temos datas para cumprir, entretanto sempre sobra uma horinha para curtir a família, passear, viajar e estudar música!

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Quando era criança o que você dizia que iria ser? Nunca deixei de dizer que queria ser cantora. Gente, se vocês vissem quantos palcos eu imaginei na infância... As árvores pra mim se transformavam em pessoas, as rochas eram os palcos e os troncos caídos eram meus retornos, onde brincava de ser Bruce Dickinson (risos). Eu não sabia, mas com uma escova de cabelo eu estava treinando minha performance. Há alguns dias passei pelo mesmo sítio e ainda estavam lá as rochas, me senti nostálgica revendo onde quase tudo começou. Carrego isso no sangue e pra sempre na mente!! Qual foi a sua maior realização pessoal? Agora vivo as minhas maiores realizações, pois estamos passando por um ótimo momento. Poder subir no palco com uma banda de Metal Rock e agitar a galera acredito ser a minha maior realização, sempre quis vivenciar isso. Eu me sinto muito bem, é inexplicável! Qual foi o seu pior momento? Foi quando meu único irmão se acidentou e os médicos não davam muita esperança. Fiquei abalada pois ele sempre foi batalhador e muito animado, sempre me apoiou muito na música, inclusive dividi muitos palcos com ele, que é um excelente baixista por sinal. Hoje ele está muito bem, acompanha meu trabalho e me incentiva em todas as minhas conquistas. Obrigado mano! Qual CD você gostaria de ter feito? Gostaria muito de ter participado do

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“Oceanborn” da banda Nightwish, lançado no ano de 1998. Eu ainda lembro exatamente da primeira vez que o ouvi: estávamos saindo para uma festa e meu namorado (hoje meu marido), me disse “Antes de sairmos, ouça isso”, me mostrou o álbum e completou “Ela canta muito, a melhor com certeza”. Na hora não dei muita bola, mas logo nos primeiros acordes da música Stargazers percebi a grandeza do que eles criaram nesse estilo musical. As baladas desse CD nunca mais saíram da minha cabeça. Esse é um álbum que abriu as portas para mim como mulher (e acredito que para muitas) dentro do metal, onde até então era difícil de encontrar vocais femininos como “front” de uma banda. Além de excelentes linhas de guitarra, melodias vocais, pianos e teclados, conta com notáveis características da cultura finlandesa. O que te motiva? Ver que nunca é tarde pra ser feliz, principalmente quando pessoas vêm elogiar trabalhos dos quais faço parte! É sempre bom ver e ouvir as pessoas curtindo o show, agitando, cantando junto nossas músicas e pedindo autógrafo, isso com certeza é uma das maiores motivações para mim e acredito que para todos do Darkship. Houve algum momento na sua carreira que você pensou em desistir? Não. Desistir, não! Apenas têm vezes que penso que é muito pra mim e não vou dar conta (pois tenho família e tal). Quais são as cinco bandas que você mais gosta? Cite um álbum de cada e


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fale deles. Iron Maiden - Somewhere In Time melodias e letras super incríveis; Scorpions – Moment of Glory - belas músicas orquestradas; Nightwish – Oceanborn - que me preencheu sem igual e me definiu ser “do metal”; Rhapsody- Symphony of Enchanted Lands - algo muito refinado, boa música, complexa mas inesquecível. Hoje tenho todos os álbuns da banda; Avantasia – The Metal Opera - música e melodia marcantes e envolventes, muito inspirado o compositor Tobias Sammet. A banda está trabalhando incessantemente no primeiro álbum, “We Are Lost”. O que podemos esperar para os próximos meses? Atualmente terminamos as gravações de todas as faixas do álbum, serão 10 músicas. Recentemente publicamos um vídeo mostrando parte de nossa estrutura para shows, já estamos com uma equipe praticamente pronta e além dos integrantes contamos com a participação de roadies e também de apoiadores, os quais tem contribuindo muito para adquirirmos nossos material de trabalho. Contamos também com um ônibus personalizado e adaptado para a banda, possibilitando levar a equipe e transportar nosso equipamento para qualquer canto do Brasil. Para os próximos meses estaremos lançando oficialmente o álbum “”We Are Lost” e iniciando a turnê do mesmo, onde o público poderá conferir um grande show, com certeza!

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Diante de tantas dificuldades, o que te inspira a continuar na música? Dificuldades, todos tem, em qualquer profissão, mas a maneira de lidar com elas é o que te diferencia e o que faz levar qualquer trabalho adiante. E eu acho que tanto eu, quanto todos do Darkship, têm lidado bem com todas as barreiras que surgem. Existe algum tipo de ritual antes de subir ao palco? Sim, concentração e pensar que tenho tudo para estar ali naquele momento e dar o melhor de mim! Devemos fazer o melhor possível a cada que subimos ao palco, pois cada show é como um primeiro, não podemos nos cobrar demais. É preciso se divertir e fazer o que se sabe…o restante do ritual pré-show é bem pessoal! (Risos) Todo mundo tem uma mania, qual a sua? Preocupação excessiva…mas já estou melhorando. Deixa aqui uma mensagem para nossos leitores. Muito obrigada! O que tenho a dizer aos leitores é que estamos trabalhando com muito carinho no nosso álbum, esperando estar em breve por toda parte divulgando ainda mais nossa música. Anseio muito por esta nova conquista junto com meus colegas de banda Joel P, Joel M, Andrei, Rodrigo e Ismael. Um super abraço aos meus fãs e a vocês da Rock Meeting! Meus singelos agradecimentos!


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Leaves’ Eyes - kING OF kINGS (2015) Por Pei Fon - Rock Meeting

O metal é bem masculino, isso é indiscutível. Mas algumas bandas com vocal feminino me encanta bastante, porém nem todas. A sonoridade da voz feminina me envolve de um modo que não dá para explicar direito, é algo sensitivo, particular. Por mais que eu goste de vocal gutural, certas bandas de death e thrash metal, é o vocal feminino que me rendo. Nightwish. Todo mundo sabe que é a banda do meu coração. No entanto, a vez agora é do Leaves’ Eyes, de Liv Kristine. Lembro da primeira vez que ouvi a voz de Liv e não me cativou de primeira. Tempos depois, num site de música chamado Grooveshark, procurei um playlist de metal e lá tinha Leaves’ Eyes e me conquistou. Desde esse dia não parei de escutar. A vez do Leaves’ Eyes é que estão com cd novo na praça. Na mesma temática nórdica, o grupo não perdeu suas essências e “King of Kings” tem mais elementos do Folk e mais orquestras. 90

A capa do cd dá uma dimensão interessante de que estão prontos para a batalha e é isso que se sente ouvindo o cd. Pelo menos na minha mente louca, imagino o enredo desse jeito. Todos os guerreiros se arrumando e Liv cantando e encorajando-os para a vitória. Ok, viajei demais! Gosto bastante do cd, o problema é que, em 2015, foram lançados ótimos álbuns e fica difícil de colocá-lo numa posição favorável. Muito embora, na minha concepção sensitiva, estará sempre no topo. Ouvi a versão “deluxe”, o que eu acredito que todos os álbuns pudessem vir nesse formato, sem ‘extras’ (mas como vai vender, não é?). O formato se completa e o cd num instante passa. Dele destaco “The Waking Eye” (a música de trabalho), “Vengeance Venom”, “Sacred Vow”, “Edge of Steel” (que conta com a participação de Simone Simons), “Swords in Rock”. É bom dar uma ouvida, caso você seja tão sensitivo quanto eu.


Arandu Arakuaa - Wdê Nnãkrda

Por Marcos “Big Daddy” Garcia - Metal Samsara

Não nego a ninguém que sou fã de bandas de Metal que ousam, que buscam ser diferentes, e que ao mesmo tempo, estão resgatando algo de cultural. Sim, apesar de ser um gênero que não conta com o apoio de ser visto como movimento cultural (mas o é, bem mais que outros que querem nos impor como tal) ou ter apoio do governo (pois ainda não soube de bandas de Metal recebendo auxílio da lei Rouanet, que só ajuda bandas e músicos daqui que já possuem contas bancárias bem gordas), o Metal é o gênero que mais conscientiza e rebusca as culturas que são ameaçadas de serem esquecidas. E não tem como um trabalho como “Wdê Nnãkrda”, do quarteto brasiliense Arandu Arakuaa, não mexer com os sentimentos. Costumo denominar a banda como “Folk Metal Brasileiro”, pois a banda mergulha fundo na utilização de elementos indígenas em sua música, bem como cantando em línguas de nossos índios (Akwe Xerente, Hêwaka Waktû, Tupi, Xavante foram as usadas no disco, e o português em “Povo Vermelho”). Óbvio que sempre há um reclamão, mas a banda é ousada e cria algo diferenciado, que realmente é capaz de satisfazer fãs de Metal extremo e tradicional sem medos. E nem mencionei o uso de ins91

trumentos não convencionais (como maracás, apito, flautas e outros) junto com os já tradicionais: guitarra, baixo, bateria e teclados. Nos vocais, mais influências indígenas permeiam os vocais limpos de Nájila e Zândhio (que também usa vocais mais urrados). A sonoridade é boa, um trabalho muito legal de Caio Duarte (vocalista e líder do igualmente genial Dynahead), uma arte feita por Nicole e Bianca Duarte que remete ao feminino divino da natureza, que é um elemento tão comum da cultura e religião dos povos Pré-Colombianos do Brasil. “Nhanduguasu”, “Hêwaka Waktû” (que tem vídeo oficial na net), “Padi” (esta com um lyric video ótimo), e “Povo Vermelho” são as melhores canções nesse vício que se chama “Wdê Nnãkrda”, mas acredito de coração que os que ouvirem o trabalho e gostarem dele (e sejamos sinceros, é necessário destruir concepções previamente estabelecidas para conseguir compreender o disco). Ouçam, e amem ou odeiem, mas ouçam. Um disco digno de ser usados nas salas de aula como motivador da compreensão da cultura dos nossos índios, o povo original do Brasil e das Américas. Contato - Facebook.



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