Rock Meeting Nº 71

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EDITORIAL No mês do dia mundial do Rock, muitos sites de notícia postaram alguns motivos pelos quais o headbanger/metalhead/metaleiro é uma galera com uma vibe mais positiva do que os demais estilos musicais. Foram dadas as razões diante de estudos científicos e do comportamento dos indivíduos. Mas isso muda a opinião da maioria? Claro que não! O Rock/Metal sempre será visto com outros olhos pela sociedade em geral, só não para as culturas que ‘bebem’ deste estilo, como as culturas nórdicas. Há um vídeo circulando na internet de um grupo japonês Maximum The Hormone. A banda é responsável pelo tema de abertura e fechamento do anime japonês ‘Death Note’. O quarteto mescla New Metal, Hardcore, Rock e Punk. O que impressiona é a fidelidade de seu público, a paixão que há em cada um, e mesmo sendo um expectador longínquo, é possível sentir essa energia, porque você se identifica com aquela manifestação. É preciso apontar duas situações para o fã do Rock/Metal: 1 – O estilo musical não permite fingimento, é sim ou não. Gosta ou não gosta. 2 – Ninguém vai para um show porque o cantor é lindo ou porque aquela garota vai estar lá, no caso dos rapazes. Não! Existe uma coisa chamada devoção, amor mesmo. A pessoa que vai para o show é porque realmente está interessada de ver a banda, aquela que representa suas ideias e ajuda a apaziguar os sentidos. Nunca ninguém ouviu falar que houve pro-

blemas num show como mortes, brigas desenfreadas. “Ah, e o que é aquilo que acontece no show?” O circlepit? Aquilo é brincadeira, gente! É a manifestação mais pura e verdadeira de que o som agrada, de que a banda é tão representativa na vida de cada um, de extravasar suas emoções e conhecer novas pessoas, por que não? Podemos duvidar se algum fã que foi para um determinado show não saiu com um ‘sorrisão’ estampado na cara. Por quê? O que está em jogo é uma realização individual, é um sonho, é uma vontade de estar naquele lugar. O Rock/Metal é um estilo verdadeiro, de um amor intenso, que faz até os mais velhos caírem em lágrimas ao ver a banda que tanto ama. Se é pela banda em si, ou pelo músico que lhe inspirou a tocar, ou pela música. A música tem uma representatividade temporal impressionante. O cara é remetido àquele momento da sua vida quando ele conheceu a banda e aquela música fez toda a diferença. Os brutos também choram! E é nesta certeza de que o Rock/Metal só têm pessoas com sentimentos verdadeiros, continuamos nosso trabalho porque temos amor pelo que fazemos. Cada músico tem amor pelo que faz. Cada redator tem amor pelo que escreve e apura. Portanto, aos que ainda não tiveram a oportunidade de ver um show da sua banda, persista e entenda porquê tanto amamos tudo isso. Com seus ganhos e percalços, continuamos na mesma toada.


TABLE OF CONTENTS 07 - News - World Metal 10 - Review - See You in the Pit 16 - Lapada - O Headbanger e o Ecleticismo 24 - Entrevista - Trator BR 34 - Capa - Lothlöryen 44 - Review - Ankla Fest 52 - Entrevista - Somba 58 - Review - Xtreme Fest 70 - Perfil RM - Leandro Sberzesengik (Pietà) 74 - Coluna - O que estou ouvindo?


Direção Geral Pei Fon Revisão Rafael Paolilo Capa Alcides Burn

Colaboradores Jonathas Canuto Leandro Fernandes Marcos Garcia Mauricio Melo (Espanha) Maicon Leite CONTATO contato@rockmeeting.net



“Marcas do tempo” E o Metalmorphose está com um novo videoclipe, agora para a música ‘Marcas do Tempo’, retirada do recém-lançado álbum ‘Fúria dos Elementos’. O clipe editado pelo próprio baixista da banda, André Bighinzoli, e une um pouco da história desta grande banda, intercalando imagens de performances atuais com algumas do início da banda. As imagens foram retiradas do show de lançamento em BH (Igor Arruda, Filipe Barizon e Dayane Rodrigues), do vídeo promocional do Fúria (Beto Zepher), imagens criadas como banner eletrônico para o show do Metalmorphose no Super Peso Brasil (Marcelo Chelles) e fotos do Rock Humanitário (The Stalker). Assista. Fúria dos Elementos’, que já está disponível para venda diretamente com o grupo ou nas melhores lojas especializadas do país.

Processo de gravação

Loja virtual

Já com o novo ‘Internal Saboteur’ lançado e quebrando pescoços pelo Brasil, o Astafix lança mais uma parte de sua série de vídeos sobre todo o processo de gravação. Assista. Lançado em parceria com o famoso selo brasileiro Voice Music, ‘Internal Saboteur’ foi gravado no estúdio Norcal e produzido pelo renomado produtor Brendan Duffey. Já a capa ficou nas mãos do artista Marcelo Vasco.

O Ancesttral acaba de lançar uma nova loja virtual para que os fãs encontrem com mais facilidade todo o merchandise do grupo. Vale lembrar que além de envio para todo o Brasil, a nova loja virtual conta com várias opções de pagamento, acesse. A banda segue na produção do amplamente aguardado álbum ‘Web of Lies’. E você pode conferir o lyric video de “What will you do?” AQUI.

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Video novo

Versão Digital

A veterana banda paulista Tropa de Shock lançou no YouTube o seu novo vídeo clipe, para a música “Inside the Madness”, primeiro extraído do seu último álbum de estúdio. O material áudio visual contou novamente com a produção do vocalista Don, em parceria com a Lion Produções. O nono álbum da carreira da banda “Inside the Madness” foi lançado no Brasil através da MS Metal Records.

A versão digital do debut álbum “Sacred Revolutions/Profane Revelations”, da banda Machinaria, está disponível para compra no Google Play. Para adquirir a referida versão, basta clicar AQUI. “Sacred Revolutions… Profane Revelations”, será lançado no Brasil no formato físico através da MS Metal Records. A distribuição do material será realizada pela Voice Music.

Edu Falaschi Tribute A MS Metal Records confirmou o principal nome do Hard Rock brasileiro, para o CD tributo aos 25 de carreira do vocalista Edu Falaschi, que irá conter releituras das suas principais composições das bandas Angra, Almah, Symbols e Mitrium. A veterana banda Dr. Sin junta-se ao time de estrelas, até o momento composto por Nando Fernandes, Alirio Netto e Rafael Bittencourt. O referido material é um projeto da MS Metal Agency Brasil, e será lançado no segundo semestre do ano vigente, nos formatos físico (Brasil, Japão e Europa) e digital, e contará com muitos dos principais artistas do Metal brasileiro, além de bandas emergentes deste mesmo cenário. O produto será disponibilizado em CD duplo, envolto em um luxuoso digipack e slipcase adicional, com direções visual e artística conduzidas pelo designer Carlos Fides e pelo produtor Tito Falaschi, respectivamente. 08


Thin Lizzy cover A contribuição do Thin Lizzy para a música é incontestável. Diante disso, Slash vai gravar uma música para o álbum de cover do guitarrista original do Kiss, Ace Frehley. Pelo twitter, Slash disse: “Tive uma divertida live session com Ace ontem à noite, tocando músicas do Thin Lizzy para seu novo álbum de covers. Bons tempos!”. Neste álbum de covers, Frehley contou para a Bilboard que “o álbum será sobre suas influências, e provavelmente vou fazer uma música do Rolling Stones, uma canção do Who, possivelmente do Lez Zeppelin e talvez uma dos Beatles. Essas são músicas que irei refazer, além de um material vintage do Kiss”. Agora é aguardar o que vai sair, porém sem data de lançamento.

Só em 2016

Cd para outubro

Em uma entrevista para o canal Arte, da Alemanha, os membros do Dream Theater, James LaBrie e John Petrucci revelaram que estão no estúdio desde janeiro, mas que um álbum novo só lá para 2016. Nas palavras do guitarrista: “Nós estamos no estúdio desde janeiro. É fato que a turnê deu uma quebrada na sequência no estúdio. E também estamos fazendo alguns trabalho na estrada. (...) Devemos encerrar no outono e lançar no próximo ano”. Assista na íntegra AQUI.

E vai ter cd novo na área. E vem da galera do Trivium. O cd já tem nome, “Silence in the Snow”, prometido para 2 de outubro pela RoadRunner. O álbum terá a mesma equipe que gravou “Vengeance Falls”, em 2013. Produção de Michael “Elvis” Baskette (Slash, Alter Bridge) e a mixagem por conta de Josh Wilbur (Gojira, Lamb of God). E você pode conferir um pouco do que está por vir no novo videoclipe da banda. Assista agora “Silence in the Snow” AQUI.

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Texto e Fotos: Mauricio Melo

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ntecipando a viagem à Albi, na cobertura que fizemos do Xtreme Fest, conferimos de perto o evento See You In The Pit, que acontece anualmente na pequena casa de shows, Secret Place, cidade de Montpellier ao sul da França. Não que estivéssemos loucos por assistir às bandas citadas acima, até porque o Biohazard tocou dez dias antes no Ankla Fest, próximo a Barcelona. Mas existia a curiosidade de vê-las naquele cubículo que todas as grandes bandas se sentem atraídas por tocar. Muito mais pelo Soulfly, onde só temos oportunidade de assistir em palcos de porte médio / grande. Apesar de um dia cansativo na estrada e da alta temperatura do verão, encaramos o público que já se espremia na grade da minúscula barricada. Espaço para fotografo era inexistente e tivemos que nos virar à base de cotoveladas. Na hora marcada e Max Cavalera, seguido de seus filhos Zyon e Igor Cavalera, baterista e baixista respectivamente. Sim, podemos chamar o Soufly de Soulfamilly Cavalera, apenas Marc Rizzo não é familiar. O calor que já era agressivo antes mesmo da apresentação começar, triplicou nos primeiros acordes de “Frontlines”, também pudera, porrada desde o início. Sem dar respiro deram sequência com “Fire”, “Downstroy” e “Seek N’ Strike”. Pouco mais adiante e após “World Scum” o primeiro cover do Sepultura deu o ar de sua graça, “Refuse / Resist”. Do mais recente tivemos “Bloodshed” e a estas alturas já não suportávamos o calor, publico e banda. Max trocava olhares com sua equipe que estava situada na porta que dá acesso ao palco e com alguns gestos que não deixavam 12


Biohazard

Soulfly

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dúvidas, estava derretendo e não demorou para declarar que o ambiente era um verdadeiro inferno. Para colocar mais lenha na fogueira a mais nova criação entrou em cena, “We Sold Our Souls”, que funcionou muito bem ao vivo e com o fácil refrão o público demonstrou que está atualizado no lançamento. “No Hope, No Fear” foi outra que esteve em alta e a banda não deixou se abalar pela temperatura. Muito pelo contrário, Zyon está batendo mais forte do que nunca e Igor, a verdadeira cópia física de um jovem Max, provou o porque foi o escolhido para assumir as quatro cordas. Cabelos ao melhor estilo rasta, vocais rasgados em alguns refrões e interagindo com o público como se veterano fosse. Marc Rizzo dispensa comentário, continua arrasando com seus riffs. Ainda que “Roots Bloody Roots” seja habitualmente a escolhida para dizer adeus, “Primitive” oficializou o feito e já que estávamos ali, pedimos bis junto às 250 outras pessoas que cabem no local e a banda retornou para “Jump” e “Eye For An Eye”. Como foi dito anteriormente, apenas 10 dias após nosso encontro em Barcelona, tivemos uma vez mais, o quarteto Biohazard diante de nossos olhos. Num setlist bem parecido, para não dizer idêntico, os nova-iorquinos fizeram um show de tirar o chapéu. Sim quero dizer que o show no Secret Place em Montpellier foi mais intenso, muito mais intenso do que o show em Barcelona. O motivo é óbvio, em Montpellier a proximidade do público é muito maior apesar de um número mais reduzido. O local como já comentamos aqui em outras ocasiões, é bastante pequeno é muito parecido ao que foi o CHGB’s. Apenas 250 pessoas, espremidos na grade (que é a novidade no local), e tendo o pessoal do Mosher Team por perto a intensidade é ainda maior.


Soulfly

Outra confirmação, é a afirmação de que o novo baixista Scott encaixou perfeitamente na banda substituindo o lendário e marrento Evan. O careca salta, gira, dança, ginga e faz com maestria o vocal mais grave que tanto diferencia dos vocais de Billy Graziadey. Este por sinal, é definitivamente quem lidera banda não só por seu inconfundível vocal muito mais agudo e berrado, mas também por sua movimentação intensa no palco, subindo na grade, deixando público tocar as cordas sua guitarra incentivando circle pits, saltando e dividindo os riffs com Bob Hambel. E o mesmo que este não tenha uma movimentação tão intensa com relação ao público seus riffs e solos de guitarra são tão irados que compensa a movimentação mais tímida. O baterista Danny é outro que dispensa comentários, já sabíamos toda sua versatilidade para tocar dentro da mesma música batidas que misturam hip hop com a intensidade do hardcore e tê-lo tão próximo foi um privilégio. Não podemos deixar de lado o setlist e seus habituais destaques. “Shades of Grey” ainda é e será o eterno hino da banda, assim como todas daquela fase de ouro que a banda teve com o disco Urban Discipline e o posterior State Of The World Address, que tem o hit “How It Is”, que também tem lugar garantido na lista da banda. Do último disco “Vengeance is Mine” é a única tocada. Como disse antes, na resenha do show em Barcelona, o Biohazard está no caminho certo de reaparecer na cena hardcore de maneira forte e ser considerado definitivamente como um dos grupos históricos que o estilo já produziu. Vale lembrar que dentro da cena hardcore o Biohazard foi um dos grupos com maior exposição nos anos 90, é dizer: aparições na mtv com vários videoclipes, banda de abertura e turnês compostas com outras grandes bandas como por exemplo, o Sepultura, Pantera e etc... Cabeça de cartaz de grandes festivais e claro, capas de revistas. Mas por algum motivo o grupo perdeu o rumo acabou e como muitos que passam por este processo, a retomada é difícil. Acreditamos na força do Biohazard e esperamos vê-los ocupar a tão merecida posição. 14


Biohazard

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Soulfly


Pode ou não? Adoro discussões na internet, mesmo que elas venham a fritar meu fígado e destruindo minha (pouca) paciência. Elas sempre me rendem assuntos interessantes para dar uma lapada na cara de alguns headbuchas, metidos a tão radicais que, no fundo, são apenas uma caricatura fracassada do que deveriam ser: livres. Antes de tudo, ecletismo é, na definição da Wikipedia, “(...) Na política e nas artes, ecletismo pode ser simplesmente a liberdade de escolha sobre aquilo que se julga melhor, sem a apegação a uma determinada marca, estilo ou preconceito”, que podemos definir simplesmente como o direito de um fã de um determinado estilo ouvir outros que quiser. E em termos de Metal, isso nunca é algo muito simples. Desde os anos 80, o fã brasileiro de Metal é um conservador, um radical, um fundamentalista. Ele despreza os outros estilos, pondo o Metal a alcunha de “o superior”, o suprassumo da música. Sinto muito em lhes dizer, mas se estamos falando de técnica, Jazz, Rock Progressivo e música clássica dão

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surras no Metal. E digo apenas que a frase “eu não gosto de...” não define nenhum tipo de verdade, apenas a sua coleção de discos (ou de arquivos de MP3, como queiram). E gente que defende o radicalismo com unhas e dentes não são outros senão os caveirudos Zé-Coletinho-cheio-de-bottons-e-patches metidos a anos 80. Metidos, pois boa parte deles, como eu digo sempre, tem certidão de nascimento após anos 90. Não sabem de nada, não leem a verdade, e quando a veem, negam-na veementemente. E meus caros, a verdade dos fatos só


pode ser negada por idiotas. Só que os Zé-Coletinhos e seus mentores parecem desconhecer (ou negar mesmo, se fazendo de burros, ou sendo burros mesmo) é que o ecleticismo musical é um traço de todas as bandas que ajudaram o Metal a atingir novos patamares. Antes de tudo, falo no nome do Black Sabbath. Aqueles quatro garotos de Birmingham, filhos de classe média-baixa, revolucionaram a música e criaram o Metal eram fãs de Beatles, The Shadows, Cream, e alguns músicos de Jazz. Não havia como tirar

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do nada algo, logo, o caldeirão de múltiplas influências, mais a deficiência física de Tony, a voz esganiçada e aguda de Ozzy, mais muito de personalidade deles quatro geraram o Heavy Metal. E não creio que eles tenham se preocupado com o que faziam ou como rotular... Aliás, não se preocupam até os dias de hoje. Tudo bem, eu acho que é preciso falar também do “Mr. Rock’n’Roll”, o pai por direito do Metal extremo: Lemmy. O senhor mais aloprado do Rock’n’Roll (que não gosta que rotulem o Motorhead como “Metal”, caso


Black Sabbath

não saibam) começou nessa vida sendo fã de Beatles, e mais tarde, Jimi Hendrix. E nem citamos o fato de ter tocado no Hawkwind, ou das jams com o The Damned (uma banda de Punk inglesa contemporânea do Motorhead). Para que existisse o Thrash Metal e todas as vertentes extremas, Lemmy teve que estar lá. E lá, ele deu o ponta-pé inicial à fusão do Punk e do Metal. Mas os puritanos ignoram isso, achando que “Metal Punk” é uma vertente “anos 80” do Metal... Aliás, lembro-os que os bangers e os punks viviam às turras tanto no exterior como aqui. E parece que ainda vivem assim. Já que falamos de Metal extremo, no caso do Thrash Metal, outro bom exemplo é o Metallica. A entrada do saudoso Cliff Burton na banda levou ao quarteto um leque de influências musicais enormes, como Rock,

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música clássica, Punk Rock (era fã juramentado do Misfits), além de Jazz, Southern Rock (um fanático por Lynyrd Skynyrd), Country e Blues. E embora a contribuição de Cliff no “Kill ‘Em All” não seja tão grande, tudo que ele fez em “Ride the Lightning” e “Master of Puppets” o credenciaram a ser um dos maiores baixistas do Heavy Metal. E como vamos ver em discos como o próprio “Master of Puppets” e “Load”, a diversidade musical está lá. Mesmo “Lulu”, disco colaborativo com Lou Reed (que acredito ser uma influência musical antiga do Metallica) mostra este lado de desafiar rótulos. E gostem ou não, são heranças do ecleticismo. E o Megadeth com seus covers para “These Boots Are Made for Walkin’” (de Nancy Sinatra), “I Ain’t Superstitious” (do músico de Blues Willie Dixon), “Anarchy in the U..K.”


Lemmy

(do Sex Pistols)? Será que a banda não gostava dessas músicas e gastou tempo de estúdio de brincadeira? Aliás, brincadeira bem séria, pois foram gravadas e saíram nos discos da banda. Ah, sim: vamos mais para dentro do Metal extremo. Que tal olharmos o Six Feet Under? Eles gravaram versões de bandas como Dead Kennedys, Sex Pistols e mesmo Jimi Hendrix, e para desespero dos mais conservadores, um dos hinos do Prong (famosa banda de Metal Moderno, chegando a flertar com o Metal Industrial), “Snap Your Fingers, Snap Your Neck”. É, senhores radicais conservadores, seus ídolos andam defecando e andando para suas ideias. O Behemoth foi outro com “Wish”, um cover do Nine Inch Nails. O Cradle of Filth

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com “No Time to Cry” do grupo de Gothic Rock The Sisters of Mercy. O Satyricon flertou com o Industrial no EP “Meggido”. O Darkthrone virou uma banda de Metal com influências do Punk, copiando descaradamente o Motorhead. O Mayhem flertou com o Industrial em “The Grand Declaration of War”. E o que falar do Celtic Frost com uma versão para “Mexican Radio”, do Wall of Voodoo, ou mesmo com a Industrial “One With Their Pride”, e nem falei ainda do cover deles para “In the Chapel in the Moonlight”, de Billy Hill e eternizada na voz do canastrão Dean Martin? Calma, que deixei a última paulada em sua vaidade radicalóide recalcada com um dos maiores nomes do Metal: Iron Maiden. Steve Harris nunca foi um cara radi-


Iron Maiden - 1983

cal. As influências do Rock Progressivo (que ele gosta desde antes do Maiden surgir) deram ao grupo as mudanças de andamento e mesmo técnica refinada. Leiam o que ele fala de Chris Squire, baixista do Yes, e entendam o que digo. Aliás, que fique claro que Paul Di’Anno fez parte do movimento Punk antes de ir pro Maiden. Acima, citei bandas e músicos que revolucionaram o Metal por meio de seu ecleticismo, de seu gosto livre dos padrões chatos que alguns radicalóides amam. E é graças a estas regras que clones de Iron Maiden, Black Sabbath, Venom, Motorhead, Hellhammer, Bathory e outros proliferam aos montes, porque eles são “reais”. Sim, eles são reais: enquanto não forem processados por plágio, eles são bem troos mesmo! Eu falo um pouco de minha vida, talvez

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por vontade de deixar vocês aprenderem com meus erros. Estou nessa desde 1983, quando vi a capa do “Piece of Mind” do Iron Maiden em um mercado de onde moro. Antes disso, nos 70, cresci em uma casa em que se ouvia Beatles, música romântica e outros. Freqüentei matinês nos clubes nos anos 70, quando tinha entre 8 e 9 anos, aproveitando a famosa onda da Disco Music. Em 1983, mesmo já gostando de Metal, tive meu tempo curtindo a geração do Rock Brasil que vinha, mais o final da geração do Soul da Motown, além de curtir Michael Jackson. Em 1985, faço minha adesão pessoal ao Heavy Metal, e fui sendo sacaneado, zoado, até que um amigo começou a me ensinar como e onde conseguir informações. Pronto, eu era um true...


Kiss - 1976

Que grande merda eu era... Negava gostar de Kiss e outras bandas de Hard por conta do radicalismo anos 80. E quando o radicalismo cedeu e sumiu, eu comecei a ouvir Hard e AOR, mas já na emergência do Grunge e Alternativo. Senti-me um idiota pela primeira vez, pois não me permiti gostar abertamente de bandas que eu curtia pela famosa pose. Sim, ser true, no fundo, é ser o pior dos posers. Sim, O PIOR! Não gostou? ENGULA “DICK CHEESE”, e bom proveito em seu bufante! Veio a moda mainstream da Dance Music nos 90. E eu ainda perdido e idiota (sim, ainda com raízes true), deixei uma penca de músicos que eu poderia ter curtido em seu auge passarem por mim. Em 2002, comecei a curtir Smile DK (uma banda de Eurodance), e comecei a gostar de música eletrônica. E pela

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segunda vez, me senti um idiota por deixar a Dance Music (da qual eu gosto muito) ter passado por mim. Tudo por uma merda chamada “pose”, por uma postura de fã de Metal, algo sem nexo filosófico algum! Sério, quer essa pose? Pode ficar com ela, não preciso em nada disso, obrigado. Faça bom proveito até o dia em que se sentir um idiota e acordar. Espero que não demore. Uma coisa que canso de dizer: Metal, antes de tudo, é música, logo, tem que ser divertido. Apostar a vida nele porque gosta é um gesto legal, mas é preciso saber onde isso deve parar. Especialmente, se você perde algo que, um dia, pode se lamentar de ter deixado passar.




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Por Pei Fon (@poifang | peifang@rockmeeting.net) Fotos: DenisT B

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anções vibrantes, riffs pesados, letras sinceras e diretas. Essa é a fórmula do Trator BR. Sem muita firula e enrolação, eles sabem para quê vieram e a mensagem é passada para quem quiser ouvir. Neste segundo trabalho, a banda vem com uma temática bem incomum no meio do Metal, porém não deixa de ser uma crítica social fincada em estatísticas, história e muito Death Metal. Segue uma conversa com Ricardo Rakuz, guitarrista do Trator BR. Como este é o nosso primeiro contato, por favor, apresente-se para os nossos leitores. Saudações amigos, o Trator BR é uma banda de Death Metal formada em 2001 em Bauru-SP. Executamos um Metal rápido e violento, influenciado pelas velhas escolas do Death Metal, Thrash Metal e Grindcore. Com letras em português, os temas variam da ficção, guerras e do sócio-político, até a sátira e a escatologia. O primeiro álbum foi gravado em 2007 e lançado no ano seguinte. Intitulado “Verde Amarelo Azul e Preto”, teve uma excelente recepção pela mídia especializada, desde a parte gráfica da capa, como a agressividade das músicas. E agora em 2015, acabou de sair do forno o segundo álbum chamado “Floresta Armada”. Ficamos satisfeitos com o resultado, espero que gostem. Formação: Luis Felipe “Satã BR” Salazar – Vocal (2014 – Atualmente); Ricardo Razuk – Guitarra (2001 – Atualmente); 26

Amil Mauad – Guitarra (2001 – Atualmente) Adriano Vilela – Baixo ( 2004 - 2009, 2013 – Atualmente) Rafael “ Verme BR” Graziani – Bateria ( 2001 – 2012, 2014 - Atualmente) Um novo trabalho está na praça. “Floresta Armada” é o novo full-lenght do Trator BR. Como vocês apresentam este CD? O novo àlbum foi gravado no RMS estúdio com Rê Moreira e no Estúdio Lamparina com Tiago Hospede (Worst), e a mixagem e masterização executadas também no Lamparina no primeiro semestre de 2015 na Capital Paulista.


O CD foi feito em embalagem digipack, encarte em formato de pôster com a arte completa da capa, e uma semente florestal embutida. A arte foi feita novamente pelo desenhista Sandro Nunes, autor da capa do primeiro álbum. O sucessor de “Verde, Amarelo, Azul e Preto”, segue a mesma pegada brutal. Agora com a temática da floresta brasileira. O que está por trás deste conceito? A defesa e proteção do que resta de nossas Florestas e o extermínio dos desgraçados que destroem tudo. Temos que ficar espertos e nos mobilizarmos urgente senão será tudo di27

zimado muito antes do que a gente imagina. E a consequência para o todo são catastróficas. Como dizia o grande Chefe Índio: “ Todas as coisas são conectadas, como o sangue que une uma família. O que acontecer com a terra, acontecerá com os filhos e filhas da terra. O Homem não teceu a teia da vida, ele é dela apenas um fio. O que ele fizer para a teia, estará fazendo a si mesmo”. Cantar em português é uma escolha. Cantar no estilo Death Metal também. Porém qual o motivo de cantar na língua mãe ao invés do “idioma do Heavy Metal”?


O Trator de Guerra é brasileiro, nosso país, nossa língua, nossas florestas, nossa nação, nosso povo, as letras estão escritas na nossa língua porque amamos nossa terra, e mesmo cantando com vocal gutural, quem é acostumado e curte metal do estilo, entende a letra, grita junto, e a gente gosta muito de cantar na nossa língua. Tocamos juntos desde 1995, tivemos outras bandas de Thrash e Death que cantavam em inglês, e quando resolvemos que a banda chamaria Trator de Guerra Brasileiro e cantaríamos em português, isso no final de 2001, uma minoria de bandas nacionais de metal cantavam em português, e isso era e é ainda um grande diferencial para uma banda de Death/Thrash/Grind, seja positivo para uns ou negativo para outros. Hoje em dia existem diversas bandas de metal de diversos estilos cantando na nossa língua, muito mais que naquela época, e isso é muito legal e positivo. Uma banda que nos influenciou bastante para seguirmos com a língua brasileira foi o Ratos de Porão, da sátira as críticas sócio-políticas, Ratos é uma das grandes influências do Trator BR, os discos “Crucificados pelo Sistema”, “Descanse em paz”, “Cada dia mais sujo e agressivo”, “Brasil” e “Anarcophobia” são incríveis e essenciais, o RDP ao Vivo é um dos maiores clássicos do Metal Brasileiro, esse disco (LP) estragou de tanto tocar na nossa vitrola quando jovens. (risos) VAAP foi o álbum que me fez conhecer a banda. “Trator de Guerra Brasileiro” é enérgico e é impossível não sentir a vibe que vem da música para os ouvidos. É um ótimo cartão de visita. Obrigado. Nosso primeiro disco foi muito bem aceito pelos bangers que gostam de som do es28


tilo. “Trator de Guerra Brasileiro” é a primeira música do CD, o cartão de visita e nossa identidade, foi desta música que saiu o nome da banda. Mas a vez é de “Floresta Armada”. Numa versão limitada, o álbum vem com sementes das principais árvores nativas da flora brasileira. Qual o objetivo da banda com esta ação? Plante uma árvore. Ajude a disseminar espécies florestais nativas. Todas nossas Florestas estão sendo dizimadas, algumas já quase extintas. Plante a semente, dê valor ao que é nosso, ajude a criançada a conhecer espécies que num futuro próximo não existirá mais. E é muito interessante ver a molecada de hoje, na marra eles são muito mais conscientes ambientalmente do que a gente era. Temos que trabalhar pesado nisso para reverter logo o quadro, diminuir a filha da putagem dos que corroem tudo e aumentar o número dos que ajudam sem pensar, por natureza. Fazemos parte da natureza, porra, podemos viver e nos satisfazer sem arrebentar tudo, sustentavelmente, mas pra isso temos que aprender com o estudo dos ecossistemas, que são comunidades sustentáveis de plantas, de animais e de microrganismos. Precisamos entender a base da organização das comunidades ecológicas (ecossistemas) e usar isso para criar comunidades humanas sustentáveis. Necessitamos urgente revolucionar nossas comunidades, as comunidades educativas, comerciais e políticas, para que os princípios da ecologia apareçam nelas como princípios de educação, de política e de administração. 11 faixas. 26 minutos. O álbum passa tão rápido que você nem sente. Mas a mensagem está lá. Corrupção. Fome. Devas29


tação da floresta. E Death Metal. É isso mesmo? Exato. Brasil. Trator BR. Death Metal Brasileiro. Metal Morte Brasil. A faixa título do álbum é bem direta, sem firulas e a mensagem é dita. Destacando as principais floras brasileiras, se não preservar tudo desaparecerá e ficará só em canções e memórias, não é? Sim, logo, logo já era! A desgraça no Brasil vem desde sempre. A devastação começou com a colonização feita pelos gringos lusos e dali para a frente não parou mais, e sem lideranças e governantes 30

que prestem para fazer alguma coisa e investir pesado em medidas de controle, monitoramento, vigilância, e tudo mais, logo Florestas Brasileiras entrarão em extinção. A preservação, depende de uma fiscalização nervosa com contingente gigante, de programas educacionais concretos e revolucionários, e de uma regulamentação oficial rígida. É um absurdo o que acontece, mais de 22 mil km² de florestas são destruídos por ano por aqui. Uma área do tamanho do estado do Sergipe por ano. Dizimada, devastada. Não dá. A Amazônia, a mais preservada devido ao tamanho e ao difícil acesso, ainda restam 80%. A Floresta Atlântica, a primeira a ser ocupada,


leiras, espécies importantes que podem curar doenças e tudo mais, vão desaparecendo da face da Terra sem mesmo serem conhecidas e estudadas. É vergonhoso.

restam menos de 7%. O Cerrado, restam uns 25%, e já bastante danificado, e continuando no ritmo que está, em 33 anos não existirá mais nada de Cerrado. Nada. Na Floresta de Araucária, que já foi a maior floresta do Sul do Brasil, hoje somente resta 1%, e esse 1% continua sendo destruído. A Caatinga, Floresta cheia de biodiversidade e que só existe no Brasil, já foram dizimados 50%, e na outra metade que resta, apenas 5% está protegido, em algumas unidades de conservação, ou seja, quase nada está sendo feito para proteger nossas Florestas. E assim, por todas as Florestas Brasi31

Top 5. Quais as 5 bandas que inspiram o som do Trator BR. Cite um álbum e comente um pouco sobre eles. Porra, só 5? Pode ser top 10, ou top 20? Somente um álbum de cada? (risos). Assim fica difícil (risos). Trator BR é inspirado por diversas bandas das velhas escolas do Metal principalmente dos anos 80 e 90, mais focados no Thrash, Death e Grind como Napalm Death, Carcass, Morbid Angel, Cannibal Corpse, Slayer, Kreator, Exodus, Venom, Ratos de Porão, Brujeria, Mercyful Fate, Deicide, Death, Sadus, Sepultura, Dorsal Atlântica, Sarcófago, Krisiun, Six feet Under, Terrorizer, Obituary, Nuclear Assault, entre outras. Mas, vamos lá, somente 5, Ok: Napalm Death - Além do Scum, Utopia Banished e do Harmony Corruption que nos inspiram até hoje, e sempre estão tocando em nossas reuniões, gostaria de citar o “ Enemy of music Business” (2001), o mais “recente” dos 5 citados! Disco incrível! Absurdo! Ali você “vê” nitidamente o trio metal Thrash/ Death/Grind que norteia nosso som. Músicas como Constitutional Hell e Can’t play, Won’t pay, são inacreditáveis, e estão entre as nossas preferidas. Morbid Angel – Do Altars of Madness, Blessed are the Sickness, Covenant ao Domination é um disco melhor que o outro, fiquei na dúvida entre esses 4 discos, mas Trator BR tem mais influência do Altars of Madness (1989), que é o melhor disco de Death Metal de todos os tempos, ouvíamos o disco de vinil com seu lado A começando com Imortal Rites e o Lado B com Chapel of Ghouls. Disco excep-


cional, todas as músicas são classicos do Death Metal, disco que merece o título que tem. Pete Sandoval é a maior influência do batera Rafael Verme. Carcass – Necroticism – Descanting the insalubrious (1991)- Do grindcore splatter , goregrind ao Death Metal Melódico e Death n roll, todos os discos do Carcass são incríveis, mas o Necroticism é exatamente o meio termo entre o Simphony of sickness e o Heartwork, por isso nosso preferido. Um dos melhores discos do estilo. Um death grindcore splatter agora com solos melódicos, incrível. “Inpropagation”, “Corporal Jigsore quandary”, “Pedigree Butchery”, “Incarnated solvent abuse”, são absurdas. Cannibal Corpse – The Bleeding (1994)– Após o Tomb of Mutilate, um dos 32

discos mais nervosos do Death Metal, com o maior clássico da banda, “hamer smashed face”, só poderia o sucessor ser esse lindo disco do cannibal, o último com Chris Barnes, começando com uma das músicas mais fodas da banda: Staring “Through the Eyes of the dead”, música absurda, seguida dos clássicos “ Fucked with a Knife, “Stripped, Raped and Strangled”, “Pulverized”, a faixa título “The Bleeding”, todas músicas absurdas. Slayer – Do show no Mercy ao Decade of Agression Slayer é perfeito. Um disco melhor que o outro, todos perfeitos e diferentes um do outro, e pra sair da rotina e não citar o Reign in Blood, que realmente é o mais rápido, direto, com músicas mais curtas, total influência para o Trator BR, fiquei na dúvida entre o Live Undead e o Hell Awaits. Ok, cito o


Hell Awaits (1985): disco inteiro incrível, com as músicas mais diversificadas e mais longas, Tom Araya com vocal grave, Jeff Hanneman (RIP) um doente mental, suas músicas já fazem falta, riffs absurdos, influenciados na época por Mercyful Fate, que Kerry King e Hanneman escutavam direto. Por fim, quais os planos para 2015. Sucesso e perseverança. Muito obrigada! Dia 25 de agosto no Teatro Odisséia no Rio de Janeiro vai acontecer o show de lançamento do álbum “Floresta Armada”, abrindo o Show do Nuclear Assault juntamente com Forkill. Um privilégio tocar junto com o Nuclear, em seu último show no Brasil, encerrando a carreira da banda, que vai deixar saudades, o batera Glen Evans, o lendário baixista Danny 33

Lilker e o vocal Jonh Conelly fizeram muitas músicas fodas e que influenciaram nosso som como “Hang the pope” e “Mother’s Day” , a “Rise From the Ashes” ali pelos 2 minutos de música é grindera pura é grande influência pro Trator BR, teremos a alegria de vê-los ao vivo logo após nosso show, isso não tem preço. Seguiremos com shows pelo Brasil para a promoção do novo álbum, em breve confirmaremos as datas, e olha que vem shows fodas por aí hein, de Norte a Sul, é o Trator pelo BR. No meio dos ensaios para os shows, as composições do 3º álbum começam a tomar forma, já estamos ensaiando músicas do próximo álbum que a princípio já tem nome: “Bomba Atômica Brasileira”, mas isso é uma outra história. Assim, seguimos! Obrigado pelos elogios e espaço cedido para trocarmos ideias!


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Foto: Goddes

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Por Pei Fon (@poifang | peifang@rockmeeting.net) Fotos: Nicole/Ulisses (É Rock)

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uma primeira ouvida você até acha que a banda é europeia. Mas não! O Brasil é um celeiro de bandas impressionantes. E a prova disso é o Lothlöryen, os bardos brasileiros. Com novo CD na praça, a banda mineira se prepara para os shows e reservou um tempinho para nós. Conversamos com Daniel e Leko, vocal e guitarra, respectivamente. Aproveite! Como de costume, apresentem-se para os nossos leitores. Olá, aqui é o Daniel, vocalista da Lothlöryen e é um prazer poder conversar com vocês através da Rock Meeting, que sempre faz essa interação de uma forma bem legal! Sou Leko Soares, guitarrista. São quase quinze anos de estrada. Mudanças e a música sempre em primeiro lugar. Quem é o Lothlöryen de 2002 para o de 2015? Daniel Felipe: Bem, quando conheci a banda em um show, em 2005, pensei que era um bando de bêbados. Agora, que estou dentro da banda há mais de 5 anos, tenho certeza. (risos). Piadas à parte, a sobriedade e objetividade da banda são os principais marcos que definem a evolução traçada de 2002 até aqui. A formação é sólida e muito harmoniosa, o que foi reforçado pela nossa turnê na Europa, onde convivemos muito bem por 28 dias. Musicalmente, a banda sabe precisamente o que pretende alcançar e gostamos de mesclar os elementos folk com o que há de novo e inusitado que escutamos em diversos estilos musicais. A Lothlöryen é, portanto, uma banda que 36


Foto: Reprodução

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sempre caminha ao encontro de si mesma, idealizando, projetando e aplicando formas de alcançar o que pretendemos. Seis álbuns. “Principles of the Past Tomorrow” é o mais recente trabalho. Como vocês apresentam este novo projeto? Leko Soares: O novo trabalho é o ápice desses 13 anos de experiências. Com certeza, o nosso cartão de visitas para quem ainda não conhece a banda. É o álbum que eu apresentaria primeiro pra qualquer um que queira saber melhor sobre o que se trata a sonoridade da banda. De onde vem a inspiração para a criação dos álbuns? Existe algum tipo de leitura, pesquisas, temáticas do gosto do grupo? Daniel: Sem dúvidas há muita pesquisa e leitura, além de audição e certa cinéfila (risos). A inspiração vem das indagações mais folclóricas do ser - humano, a respeito do mito da criação e da evolução, além da eterna pergunta de quem somos nós neste universo. A partir daí, encontramos o ponto de referência no filósofo Giordano Bruno, que viveu, pensou e escreveu em uma era de muitas transições no pensamento e na história do Ocidente. Tendo-o como ponto de partida, optamos por estender nossas pesquisas para além e para aquém, em uma viagem atemporal em busca das respostas que ele tanto questionou. Nesta busca da sonoridade própria e original, de onde veio a referência para criar “Principles of a Past Tomorrow”? Leko : Liricamente, a inspiração vem daquilo que o Daniel citou anteriormente: a vida e obra do filósofo Giordano Bruno e o inúmero 38


leque de possibilidades que seus estudos nos permitiram explorar. Musicalmente, a ideia era agregar o que o título sugere: O Passado e o Moderno em uma música concisa que não soasse como uma ‘colcha de retalhos’. O som do Lothlöryen tem muitos elementos de corda, violinos além dos pesos tradicionais das guitarras. Esta mistura dá certo, não é? Leko: É uma mistura que tem se tornado praticamente um padrão na sonoridade de bandas de Metal, em geral. O que acho que temos de diferente nessa mistura é o contraste entre esses instrumentos mais tradicionais e a sonoridade mais moderna dos sintetizadores se entrelaçando durante as músicas. “Time will tell” é uma canção interessante. Essa mistura de cordas e violino está bem presente nela. Soa bem calma e apazigua os sentidos. Leko: Na verdade, ela tem picos. Momentos de calmaria procedidos de algumas explosões, como os vocais guturais da segunda parte do verso. O tema da música explora as indagações de Giordano Bruno no momento de sua execução e esses picos representam o paradoxo entre sua paz interior por não negar suas ideias ao conflito de estar prestes a ser queimado vivo pela Santa Sé. Neste estilo Folk Metal, se assim puder ‘classificar’, o som nem parece ser feito por brasileiro. Vocês passam por este tipo de questionamento: “poxa, é do Brasil”? Leko: Acho que no Metal isso é meio relativo. As bandas que escutamos desde a infância são praticamente todas europeias. Isso acaba pontuando de maneira forte na hora de compor e 39


até mesmo tocar. Existe um Metal genuinamente brasileiro, com Angra e Sepultura, mas existe também essa abordagem mais europeia e que, não necessariamente soa forçada, mesmo estando nós aqui em um país tropical e com suas próprias características culturais. O Folk Metal tem essa pegada de achar que tudo combina com batalhadas medievais. Porém “Manipulative waves” não foge muito disso. Chega a passar um filme na cabeça ao ouvir. Daniel: O Folk é, em sua essência etimológica, folclórico, né? Bem sabemos que existe uma tendência ao folk resgatar certas culturas vikings, celtas ou medievais, quase como um período de êxtase e felicidade, o que na filosofia nos remete a Rousseau e sua conceituação sobre a harmonia da vida humana nas eras mais remotas da civilização, quando vivia o “bom selvagem” (risos). Buscamos, porém, trazer o folclore a questionamentos mais atuais, apesar de inerentes ao ser-humano desde sua existência. Tratamos de questões não respondidas. Em tempos em que vivemos sob tantos artifícios eletrônicos e acesso a informações, deixamos de lado nosso eu filosófico, que busca se compreender no universo. Com base nessa indagação, cada música conta mesmo uma história e Manipulative Waves, que explora a teoria da vibração, da afinação e da propaganda nazista, voltamos a nossa alienação presente perante tantas coisas que não podemos compreender mas sobre as quais podemos e devemos refletir, recuperando nosso encantamento pelo folclore do mundo. “Night is Calling” é uma das minhas preferidas. Conte um pouco mais sobre esta canção. Daniel: A música funciona como tema de um 40


encontro que, em nossa trama, é crucial para a personagem de Giordano Bruno. Sob uma noite estrelada, em Paris, no século XVI, ele teria cedido ao convite que a noite nos faz constantemente e teria ido a uma taverna (risos). Lá ele discursaria, como lhe era usual, sobre hermetismo e ocultismo, buscando mostrar que haveria uma essência presente em todos os seres vivos, indistintamente, e que estaria viva muito antes de nossa existência, bem como remanesceria muito além de nossas vidas. Nesse palco é que ele se encontra com John Dowland, compositor britânico, que lhe revela a existência de uma afinação que reverbera na mesma tonalidade que o universo. O ponto chave para sua teoria mais brilhante estaria, então, revelado. Se a música pode vibrar e assim reverberar-se no espaço, assim seria o universo, reverberando em nós todos, em todas as coisas, ininterruptamente, em uma viagem cósmica, a construir, conforme se deforma e se reforma no espaço-tempo, novas formas e novos universos, eternamente. Top 5. Quais as bandas que influenciam o som do Lothlöryen. Cite um álbum e fale um pouco sobre cada uma. Leko: Pensando na nossa carreira como um todo, serei mais abrangente: Savatage – Embora vejo poucas citações a essa influência em nosso som nos reviews em geral, acredito que muitas das linhas de vocais mais interessantes que fizemos até hoje e algumas intervenções de piano bebam dessa fonte inesgotável que é o som dos caras. The Beatles – Se na sonoridade essa influência não soa tão explícita, a verdade é que praticamente tudo o que fazemos acaba de certa forma vindo do que esses 4 caras malucos legaram ao mundo do Rock: seja na configuração de um álbum conceitual, referências nas capas 41


até sacadas de harmonia e a fixação que temos para não soarmos como uma banda linear, seja durante um álbum ou em nossa carreira, como um todo. Blind Guardian – Não citar o Blind como uma das grandes influências que agregamos ao nosso som seria tentar tapar o sol com uma peneira. Embora, hoje, pela forma como as músicas estão sendo arranjadas, essa similaridade não esteja tão próxima quanto no passado, é fato que, em álbuns como Some Ways back No More e Raving Souls Society, andamos lado a lado com os alemães e aprendemos muito com isso. Iron Maiden – Não tem como uma banda de Heavy Metal não ter Maiden como uma de suas influências básicas, simples assim, rs. Tuatha de Danann – É talvez a banda brasileira que mais marca presença no nosso som. O motivo é simples: somos praticamente conterrâneos e o Lothlöryen surgiu em um período que os caras estavam mandando muito bem, na época do Tingaralatingadum. Como fazía42

mos muitos shows na região ao lado do Tuatha, é óbvio, que, sendo uma banda de Folk Metal em essência, não teria como não nos espelharmos na musicalidade dos caras. Um álbum: Definitivamente eu citaria o “The Dark Side of the Moon”. Ele é a base que inspirou o que queríamos buscar em termos de excelência para um álbum conceitual. E continuaremos buscando, pois o Dark Side é um ponto fora da curva, um topo tão difícil de escalar quanto o K2, rs. Por fim, o que está planejado para 2015. Sucesso e coragem sempre. Muito obrigada! Leko: Shows, clipes, alguns vídeos diferentes e mais do que tudo: fazer com que o “Principles of a Past Tomorrow” chegue ao máximo de ouvidos preparados quanto for possível. Agradeço a oportunidade em nome da banda. Esse suporte ao nosso trabalho é sempre muito precioso para nós. Curtam nossa fanpage no Facebook e acessem nosso site. Folk You!



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Local: Jardi de la Ninfa, El Masnou (Barcelona) Datas: 3 e 4 de Julho, 2015

Bellako

Texto e Fotos: Mauricio Melo

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egunda edição do Ankla Fest, realizado pelo coletivo Ankla Crew, uma organização filantrópica que tem como principal objetivo alavancar a cultura underground na Catalunha. Partindo destas informações, não é difícil imaginar que o evento é gratuito, num parque situado diante da praia de Ocata (Mediterrâneo). Por problemas técnicos (agenda lotada) só tivemos a oportunidade de comparecer no primeiro dia de Ankla Fest e nesta jornada tivemos, nada mais chegar o quinteto Bellako, com seu Hardcore cheio de breakdowns. Um público bastante animado diante do palco e os primeiros pogos mais próximo ao palco. Na sequência tivemos o Secret Army que quase roubou a cena como o melhor da noite. Com mais de dez anos de estrada, este quarteto chegou ao festival com seu sétimo registro de estúdio (entre EPs e LPs) debaixo do braço, o bastante melódico e trabalhado Ravaged (2015) e um punhado de canções antigas, tendo o público jogando à favor e cantando todas as letras como verdadeiros hinos. Apesar da recente mudança de formação, o novo guitarrista Alex parece bem à vontade junto a Rubén, Cirro e Willy. Apesar de não tão épicos quanto o Secret Army, o Blowfuse também tem seu público afinado e o quarteto não deixou pedra sobre pedra. Com um punk rock bastante californiano, a banda apresentou o melhor de seus três discos com um set bastante extenso, nada de apresentações de vinte minutos. A esta altura, além dos tradicionais pogos, um bote salva vi46

Secret Army


Bellako

Secret Army Biohazard

Bellako Blowfuse

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Secret Army

Biohazard

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Biohazard

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Biohazard

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Biohazard

Blowfuse

Blowfuse

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das começou a circular por cabeças alheias. É claro que uma noite como essa não poderia ter um encerramento melhor. Os nova iorquinos do Biohazard foram os encarregados e é claro que, não decepcionaram. Foi o primeiro show da extensa e cansativa turnê que tem por diante, serão trinta e seis shows em quarenta e dois dias. Ainda no backstage a banda recebeu a visita de Pepper Keenan, guitarrista do Corrosion Conformity (ex-Down), que passeava com sua cervejinha na mão e que passou desapercebido pelo grande público, só os veteranos o reconheciam. Já encima do palco, Billy Graziadei, Bobby Hambel, Danny Schuler e Scott Roberts ofereceram um setlist de tirar o chapéu, um verdadeiro repasso em sua discografia. O Biohazard talvez seja um desses casos inexplicáveis do mundo da música. Há pouco mais de duas décadas, quando o Agnostic Front encerrou atividades, passou a coroa de maior expoente do movimento daquela época. O grupo até que teve uma exposição bastante considerável mas devido a problemas internos ficou pelo caminho. São bastante considerados por boa parte do publico mas não entram na categoria dos clássicos ou lendários, o que os obriga a remar em busca do tempo perdido e pelo visto estão no caminho certo. É claro que a ausência do Evan é considerada uma grande perda para o fã mais antigo, mas, ao mesmo tempo, ainda que custe um pouco aceitar tal fato, a banda parece mais leve com o novo baixista e vocalista. Tivemos a certeza disso nada mais começar com “Wrong Side Of The Tracks” seguida da infalível “Shades of Grey” e fechando a primeira impressão da noite com “Urban Discipline”. Parecíamos estar presenciando a íntegra do disco Urban Discipline quando “Chamber Spins Three” também figurou na sequência mas logo descobrimos que não já que “Tales From The Hard


Biohazard

Side” apareceu na lista. Até mesmo “Howard Beach” e “Resist” foram tocadas. Já do último lançamento apenas “Vengeance is Mine” esteve presente. Para finalizar tivemos Punishment e a habitual “Hold My Own”. Vale destacar a boa forma dos integrantes no palco, interagindo constantemente com o público, Bobby Hambel com seus irados riffs, cordão e pulseiras de prata ao melhor malandro do Brooklyn. Danny sempre forte na bateria, o já mencionado Scott no baixo preenche perfeitamente a lacuna deixada por Evan, é claro 50

que aquela presença de palco do baixista original é parte da história da banda mas, ainda assim, Billy Graziadei supre com autoridade o posto de líder, sua postura é singular dentro do grupo, pura energia, descendo do palco em diversas ocasiões com sua guitarra em punho e como ele mesmo me disse antes do show, “só treino Jiu Jitsu e faço música, nada de álcool e outras besteiras, impossível não estar em forma”. Sem mais.



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Por Leandro Fernandes (leandro@rockmeeting.net) Fotos: Assessoria/Divulgação

Olá galera! Por favor, se apresentem e falem um pouco do som da banda. Guilherme Castro: Somos o Somba, formado por Guilherme Castro (Guitarra e vocal), Avelar Jr. (Baixo e vocal), André Mola (Guitarra e Vocal) e Léo Dias (Bateria e vocal). Definir o próprio som é algo meio ingrato, mas pensamos que o que mais se aproxima seria o rótulo de Jam band, regado a muito Classic Rock. Jam Band é um gênero muito conhecido os EUA por bandas como The Grateful Dead e Phish, bandas que trabalham o improviso e o jeito de tocar como identidade sonora da banda, muito mais do que alguma marca sonora característica de algum outro gênero específico. Pode-se encontrar de tudo numa Jam band: gypsy jazz, rock psicodélico, progressivo, classic rock, samba, country, MPB, etc... pois tudo é material para trabalhos de improviso e performance. Assim somos nós. Eu também como um bom mineiro, sei apreciar um pão de queijo e também uma boa música (risos). Gostaria de saber qual é a importância até hoje do Clube da Esquina para a banda? Ainda mais nesse contexto de Jam Band, o Clube é sim uma referência musical para todo mineiro. Tem uma poética e uma musicalidade ímpar, que ajudam com referência e diálogo artístico. Mas no nosso caso, é mais uma das inúmeras referências musicais que tomamos como ponto de diálogo artístico. No caso do Clube, penso que essa influência aparece mais difusa e fluida, pelas vivências características de sermos conterrâneos, e nem tanto pelo som 54

ou nas composições. Por que o nome Somba? Somba já foi várias coisas. Originalmente, vem como uma corruptela para Som Bagulho, que é como eu e Avelar classificávamos um som muito doido. Depois, virou uma sigla com sentido cambiável e conveniente a cada situação, uma brincadeira: Sistema Organizado de Música Brasileira Autônoma, Sopa de Ora-pro-nobis com Macaxeira e Banana Assada, Somos Outros Músicos Brasileiros Ainda, etc... (risos).


Minas Gerais é um estado rico em música, principalmente no Metal pesado e MPB. Belo Horizonte até hoje nos presenteia com excelentes bandas e músicos, pra vocês, de onde surge essa forte influência musical que o estado mineiro carrega? Minas tem uma posição central no Brasil, seja geograficamente ou culturalmente. Estamos sempre no meio do caminho de algo: entre norte e sul, entre nordeste e SP, entre RJ e Brasília. Acho que isso se reflete nas artes. Temos coisas e sofremos influências de várias partes 55

do Brasil. No entanto, há uma certa sintonia e interesse também pelo que se faz no mundo, uma vontade de mandar uma mensagem em uma garrafa, em um mar que não temos. Disso tudo nasce uma música de síntese, inconformada e propositiva, original a partir de uma tradição desrespeitada. Mario Sergio (Estado de Minas) levou a banda de Beatles até o tropicalismo baiano. Essas comparações, com certeza, são de grande importância, como enxergam isso?


Como falamos, ficamos felizes quando as pessoas enxergam nossa proposta como algo que dialoga com nossas várias referências. Beatles e Tropicalismo são algumas delas, com certeza. Mas penso que não ficamos apenas nisso. Acho que a cada trabalho, construímos propostas artísticas híbridas e amalgamadas, algumas mais bem-sucedidas que outras, como qualquer trabalho artístico. Nossa busca é sempre propor algo, e não apenas realizar uma coletânea original de nossas influências. Nesse último trabalho, há uma proposta de rever nossa relação com o mundo, com a tecnologia, com a obsolescência e o descartável, e com o que é essencial para nós. As viagens, os shows, festivais... Como tem sido? Fizemos uma participação muito boa no Festival Psicodália, em SC, no começo do ano. Foi superbacana. Abrimos o show da Baby do Brasil, muito legal mesmo. Agora vamos participar do Formiga Sônica, em Formiga/MG, outro festival bacana. Estamos querendo focar mais nesse perfil de Festival, onde temos tido boa aceitação. Temos feito alguns shows em BH com boa repercussão e aceitação do novo trabalho também. Além disso temos recebido muitos elogios de fãs antigos e de pessoas que estão conhecendo a banda por esse novo álbum. Isso nos leva a pensar que o caminho para esse novo trabalho está ainda em construção. Mas estamos indo em uma tocada um pouco mais macia, pois nossa realidade mudou um pouco com a paternidade (Temos dois recém-papais no momento, além de um não tão recém já... (risos). Essa coisa de não perder o sotaque até mesmo cantando é algo proposital ou flui naturalmente. 56

No primeiro álbum, era praticamente ideológico: gostávamos do sotaque e não víamos porque retirá-lo de nossa musicalidade. Mas hoje em dia é algo natural. Cantamos assim. Achamos legal esse temperinho. O álbum “Homônimo” fora gravado com equipamentos de época, por que tiveram essa idéia? Como falamos, faz parte da proposta desse álbum: questionar nossa relação com o mundo, cada vez mais descartável. Além do sentimento de, sonoramente, se perceber muito próximo à sonoridade de nossas referências, houve uma busca por processos de produção musical mais artesanal, orgânico. Para isso trabalhamos com o produtor Anderson Guerra, que possui esse estúdio 100% analógico, focado na


desvirtuamento e desequilíbrio da mesma. Ao mesmo tempo, há uma crença entre os artistas independentes de que a Internet pode vir a suprir ou corrigir isso, o que é outro mito. Nunca os artistas ganharam tão pouco, seja em shows ou em vendas de produtos fonográficos, como o livro Culture Crash nos mostra tão fartamente. Como dissemos, a música e o fazer artístico andam bem, mas isso ainda é pouco para configurar uma mudança para um cenário mais equilibrado socioeconomicamente. E como entendemos que música, em sua plenitude, não é somente o fazer artístico, entendemos que deveria haver alguma regulação para que a força econômica de certos gêneros musicais não se transforme em um monopólio predatório de um espaço público, que é o que são as concessões. Ou então, que se acabe com a necessidade de concessões, abrindo o espaço de rádios e TVs para todos que queiram montar uma emissora.

produção de LPs, e que amplificou nossa proposta, ajudando a delineá-la. O resultado ficou muito além do que esperávamos, com uma força que até então percebíamos pouco. Mas não atribuímos isso somente ao equipamento e tecnologia empregados, mas sim ao processo como um todo: produção e gravação do Anderson, mixagem do Chico Neves, etc. Como anda a música brasileira atual na opinião de vocês? A música em si, anda bem, como sempre andou. Temos vários artistas, boas propostas sonoras e musicais, como sempre tivemos. O que não anda bem são os meio de comunicação em massa, principalmente rádio e TV. Há uma preponderância econômica de certos gêneros musicais nas nossas concessões, o que é um 57

Obrigado pela entrevista e espero encontrá-los em breve. Deixem aqui uma mensagem para os leitores. Obrigado a você pelo espaço e pela entrevista, pela chance mostrarmos um pouco mais do que pensamos pelo viés do texto verbal. Aos leitores, deixamos nosso convite para que conheçam novos artistas e ajude-os diretamente quando estes assim pedirem e, claro, se assim desejarem pois a ajuda direta, via crowdfunding, indo a shows e comprando as músicas, CDs e LPs ainda são os meios mais salutares de suporte ao artista de sua preferência. Caso queiram conhecer nosso trabalho, basta visitar nosso site, nossa fanpage no facebook e/ou nossos vídeos no youtube. Lá você se informa sobre como pode nos acompanhar e adquirir nossos CDs, LPs, etc. Um grande abraço a todos!


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Black Label Society

Texto e Fotos: Mauricio Melo

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ovos ares, mesmo país do evento extremo anterior e velhos conhecidos de nossas páginas com algo inédito na retina e lentes. Assim podemos resumir nossa introdução desta terceira edição do Xtreme Fest, que acontece numa cidadezinha chamada Albi, situada há 100 quilômetros de Toulouse. Se comparado a outros eventos do formato podemos dizer que o Xtreme é bem pequeno mas com um grande potencial. Só em pesquisar na internet os cartazes das duas edições anteriores e somar ao deste ano já podemos imaginar que mais adiante será um dos eventos mais concorridos da região, por isso decidimos conferir de perto, marcar presença e porque não, guardar lugar para um futuro próximo. O evento é organizado no alto de um vale, onde há um centro cultural e desportivo, com direito a pista de skate e uma casa de shows que é exatamente onde se situa o palco principal, o segundo e de tamanho mediano fica ao ar livre e um terceiro para bandas menores diante da já comentada pista de skate. Nada de grandes distâncias entre palcos ou caríssimas decorações como vemos, por exemplo, no Hellfest. Se podemos colocar um deficiente em algum ponto em concreto, este seria na iluminação, principalmente no palco EMP (médio), foi praticamente um milagre conseguir arrancar alguma imagem após o pôr do sol. Enfim, o resumo de cada show vocês conferem nas linhas seguintes. Black Bomb A: Banda local e com bastante público no país e foi a primeira atração que conferimos no palco principal, chamado de Xtreme Stage. O quinteto fez um bom show, defendendo seu metalcore e os mais de vinte anos de estrada que possuem. 60


Cannibal Corpse

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Behemoth


Carnifex

Strung Out: O quinteto californiano formado no final dos anos 80, abriu o set com “Too Close To See”, tendo como destaques Jake Kiley e Rob Ramos, os dois guitarristas em questão “disputavam” riffs. O baixista apaziguava a situação e o vocalista se divertia com os bichos infláveis que voavam no palco vindo do público. Dentro dos sessenta minutos que tiveram direito, também apresentaram, entre outras, “Everyday” e “Firecracker”. Carnifex: Hora de trocar o hardcore melódico e começar a falar grosso no palco Xtreme. Os também californianos do Carnifex subiram ao palco para defender e bem, seu último disco Die Without Hope (Nuclear Blast), no mercado desde o ano passado. Deste mesmo álbum tocaram “Hatred and Slaughter”, “Dark Days” e a música título deste trabalho. Das mais antigas atacaram de “Slit Wrist Savior” e “Hell Chose Me”. Foi um verdadeiro massacre sonoro. Comeback Kid: Já encarando a primeira escuridão do dia após o pôr do sol no palco EMP, mais uma vez tivemos a oportunidade de assistir o show dos canadenses do Comeback Kid. O quinteto acabava de chegar do Resurrection Fest que aconteceu no mesmo fim de semana e o vocalista havia me confessado num rápido encontro que tivemos antes de subirem no palco, que foi um dos melhores shows da carreira. Então já era de se esperar que mesmo que quisessem a noite não se repetiria, talvez pelo cansaço ou até mesmo porque no Xtreme não encontraram um público tão insano, vale lembrar que na Espanha o Comeback Kid tem um de seus melhores públicos. Mesmo assim, os rapazes suaram a camisa e abriram o set com um de seus clássicos, “Talk is Cheap”. Do último lançamento, Die Unknowing (Victory, 2014) tivemos a forte “Wasted Arrows”. Também tivemos “G.M. Vincent and 62

Satanic Surfers

Strung Out


Comeback Kid

The Exploited

Black Bomb A

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I”, “Partners in Crime”, “False Idols Falls” e até mesmo “Territorial Pissings” do Nirvana numa versão bem hardcore. Black Label Society: Como prato principal da noite e porque não, do evento, o Black Label Society foi mais uma vez liderado pelo maestro Zakk Wylde. O viking das guitarras sabe e muito bem trabalhar com sua imagem. Aquela luz escassa até aquele momento, apareceu de repente, junto a seu pedestal, sua impecável decoração de palco e sua plataforma para solos. Abriram a noite com “The Beggining...At Last” do excelente Sonic Brew. Sem perder o ritmo embarcou em “Funeral Bell”, levando o público à loucura com seus riffs e para manter tudo em seu devido lugar tocaram “Bleed For Me”. Músicas de Sonic Brew parecem ter sido banidas do setlist e de Catacombs of the Black Vatican (2014) “Heart of Darkness” foi a escolhida. Zakk também brindou seu público com um de seus brutais solos, uma verdadeira demonstração de força em seis cordas. Segundo dia por diante, o calor e o sol não tiveram piedade do público que chegou cedo para a jornada dos clássicos no palco EMP, se juntarmos D.R.I., The Exploited e 7 Seconds teremos mais de um século de punk e seus variados estilos. D.R.I.: Não sabemos muito o que opinar sobre a posição de ter o Dirty Rotten Imbeciles tocando debaixo de sol forte, com uns 36 graus à sombra e diante de um público que não estava dos mais numerosos. Talvez tenha sido uma das estratégias dos organizadores para atrair um bom público mas por sua história, os americanos mereciam um horário mais nobre. Nada que atrapalhasse a performance de Kurt, Spike, Harald e Brandon. Momentos antes tivemos a oportunidade de fotografar e conversar com o vocalista Kurt em sua barra-


D.R.I.

No Turning Back

quinha de merchandising, para o público mais jovem aquele era apenas um cara vendendo camisetas, botos e parches. Para outros era a voz que deu alegria e diversão na adolescência. O mundo realmente mudou, como dissemos no texto do Hellfest com relação ao OFF!, “gostam das criações mas desconhecem seus criadores”. Enfim, não há melhor maneira de dar boas vindas ao público com “Who Am I?” seguida de “Slumlord” emendada com “Dead In A Ditch”, “Suit And Tie Guy” e “War Crimes”, a sequência foi tão rápida que os seguranças erraram na conta e os fotógrafos ficaram umas 6 músicas no fosso quando o permitido são três. É claro que “Snap” e “I Don’t Need Society” também foram tocadas mas “Violent Pacification” ficou de fora. Da fase mais trash / 64

D.R.I.

Satanic Surfers

crossover da banda tivemos “Trashard”, “Acid Rain” e Beneath The Wheels” antes de encerrarem com “5 Year Plan”. Iron Reagan: Fazendo jus ao que foi escrito acima, o Iron Reagan, que é a reencarnação do trash metal / crossover ao melhor estilo anos 80, com apenas um par de discos e com pouco tempo de estrada pegou um palco e um horário melhor, junto a um melhor e mais numeroso público. Entre as mais celebradas tivemos “I Won’t Go” e “Miserable Failure”. Um bom show, com entrega total de seus integrantes. 7 Seconds: De volta ao palco exterior e mais uma lendária banda por diante. O 7 Seconds demonstrou num set quase perfeito de onde vem a influência de bandas mais jovens


Terror

Strung Out

no cenário mundial. Com seu punk rock melódico e letras diretas além das complexas linhas de baixo de Steve Youth. Tudo bem que Kevin Seconds está acima do peso e que Youth já perdeu seu topete mas a essência continua em alta. Abriram com “New Wind”, passaram a toda velocidade por “You Lose” e chegaram em “Here We Go Again” e “Excepcional”. Já em reta final a clássica “Young ‘Til I Die” fez a festa entre os veteranos. Cannibal Corpse: Em nosso terceiro encontro desde que a turnê de lançamento de A Skeleton Domain começou ano passado, os americanos do Cannibal Corpse fizeram mais uma vez, uma apresentação de tirar o chapéu, ou melhor, de bater cabeça como faz George Fisher. Num invejável setlist que incluiu 65

“Scourge of Iron” como abertura e “Devoured by Vermin” para encerrar. Entre este dois extremos um bom repasso em toda a discografia com petardos como a arrastada “Evisceration Plague”, “Stripped, Raped and Strangled” do aclamado The Bleeding e também passando por discos como Gallery of Suicide e uma boa sequência do último e já comentado disco como por exemplo “Kill or Become”, “Icepick Lobotomy” e “Sadistic Embodiment”. Para os fãs mais antigos “A Skull Full of Maggots” caiu como uma luva. The Exploited: Como havíamos comentado no início do texto da segunda jornada, o dia e o palco EMP foi dedicado aos clássicos do punk e para esta festa não podia faltar um representante britânico e o mais antigo de


todos, o escolhido não podia ser outro, The Exploited. Com um Wattie Buchan bem recuperado de seus recentes problemas de saúde, o vocalista em questão enfartou durante um show na Espanha há dois anos, o quarteto abriu a noite com um de seus hinos, “Let’s Start A War”. Outra que também provocou caos foi “The Massacre” e das mais recentes podemos destacar “Beat The Bastards” e “Fuck The System”. Para finalizar em alto estilo tivemos “UK 82”, a versão original que o Slayer popularizou junto ao Ice-T nos anos noventa com “Disorder”. Neste momento o palco foi invadido e tomado pelo público, Wattie desapareceu e somente a banda continuou tocando. Terceiro e último dia de festival. Um dia marcado por alterações e cancelamentos de última hora, neste caso o Rise of the Northstar. No Turning Back: Os holandeses entraram no cartaz justamente para tapar o buraco que o M.O.D. de Billy Milano deixou antes mesmo do festival começar e mesmo que este tenha muito mais tempo de história esta substituição não caiu nada mal. Lançando o excelente Never Give Up, o quinteto dirigiu 1200 km, vindo expressamente do Resurrection para tocar debaixo do mesmo sol que maltratou o D.R.I.. A rapaziada derretia mas não se rendia. Entre as pauladas estavam “Never Give Up”, “Stand Up and Fight” e “Destination Unknown”, título que estampa não somente a contracapa de disco como também uma das tatuagens do vocalista. A banda se apresenta com uma energia inigualável no palco com guitarristas e baixista dando verdadeiras voadoras no palco e o vocalista com consideráveis visitas junto ao público. Porrada na oreia!!! Toxic Holocaust: Joel Grind, líder absoluto e que era o próprio Toxic Holocaust nos primeiros discos, sendo conhecido como 66

Iron Reagan

Toxic Holocaust


Second

Burning Heads

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banda de um homem só, utilizando músicos de apoio em seus shows, apareceu no Xtreme Fest tocando baixo e é claro, passou longe da decepção. O mais belo de estar num show dele(s) é conferir de perto o fruto que bandas como Slayer, Venom, Possessed, Motorhead e Discharge foram capaz de produzir, algo como uma bioquímica, um monstro criado em laboratório. É a mistura de tudo num produto 100% reciclado e de ótima sonoridade. Entre as de mais destaque estão “Awaken The Serpent”, “Wild Dogs” e “666”. Burning Heads: Talvez a banda de maior referência no cenário punk rock melódico da França. Os já veteranos do Burning Heads iniciaram o set com um instrumental reggae antes de atacar com “S.O.S.”. Outra que também merece destaque é “Spirit of 82” com direito a verdadeiras decolagens do baixista JYB. Satanic Surfers: Já que o assunto era punk rock melódico feito a finais de anos 80 e início dos 90, quem não podia faltar à festa eram os suecos do Satanic Surfers, que reza a lenda, visitará o Brasil ainda este ano. Está aí mais uma banda que foi necessário chegar ao fim para ter seu valor reconhecido. Abriram o set com “...And The Cheese Fell Down” e “Better Off Today”, ambas do disco Hero Of Our Time e o vocalista Rodrigo Alfaro dando os primeiros saltos, tendo o baixista Andy Dahlström é definitivamente o porta-voz da banda. Até mesmo “Restless Anger”, do último disco lançado pela banda há dez anos e que definitivamente não tem o peso de discos mais antigos teve o refrão enaltecido pelo público. E já ao final da apresentação “Hero Of Our Time”, com seus variados ritmos, deu o tom de despedida. Após a apresentação não foi difícil de encontrar alguns integrantes da banda circulando entre o publico e recebendo os cumprimentos


pelo excelente show, valeu à pena esperar pela oportunidade de vê-los. Terror: Daí chegamos ao curioso caso do Terror. Talvez vocês interpretem como um morde / assopra mas não podemos de expressar os dois lados da situação. Entendemos muito bem que se, na última hora, algum integrante da banda se lesione ou se sinta mal, que o grupo improvise para não deixar o público na mão. Na verdade é uma atitude honrável, ainda mais se tratando de uma banda hardcore e tendo esta o peso que o Terror tem no cenário mundial. Um mês antes do Xtreme Fest, quando o grupo de Los Angeles tocaram no Hellfest o discurso era que o vocalista Scott Vogel havia tido um problema lombar e por isso não estaria no palco, em seu lugar estaria 68

o baixista David Wood que já quebrou um galho em outras ocasiões e até mesmo brincou de vocalista há alguns anos com o Born From Pain. Ok, uma coisa é improvisar, outra coisa é reencontrar o Terror um mês depois com o mesmo discurso. Já deixou de ser improviso de última hora, estão cumprindo a agenda de festivais com a formação “improvisada”, de um problema declarado e reconhecido. Por outro lado temos que confessar que, Wood não vai mal como vocalista e se Vogel não fosse a referência que é dentro do grupo o baixista seria um belo vocalista diante de uma banda. Em vários momentos tivemos a sensação de estar diante de Freddy Cricien. Com um vocal bem firme, uma disposição física invejável e incríveis saltos, o vocalista improvisado levou bem


Behemoth

músicas como a recém-saída do forno “The 25th Hour”, “Stick and Tight”, além das clássicas “One With The Underdogs”, “Overcome” e “Keep Your Mouth Shot”. Fecharam “Keepers Of The Faith”. É isso, apesar do improviso o show do agora quarteto esteve à altura. Behemoth: Para encerrar nossa participação nesta terceira edição do Xtreme Fest, tivemos os poloneses do Behemoth e todo o teatro que uma banda de black/death-metal pode oferecer. Velas no palco, maquiagem e escuridão. Em vários momentos nos sentimos dentro de um filme ao melhor estilo Poltergeist, só víamos flashes das caras maquiadas quando o baterista Inferno começou a descer a madeira em “Blow Your Trumpets Gabriel”, aquela luz contraria, e as caras pálidas que 69

apareciam e desapareciam no ritmo das baquetas. Antes da execução de “Ora Pro Nobis Lucifer”, Nargal (vocalista) se ajoelhou e abriu os braços, o público alternou entre a euforia e o silêncio. Foram sessenta minutos impecáveis de apresentação e algo mais por terem retornado para o bis, a única banda que retornou e ofereceu mais ao público, o fizeram com a extensa “O Father O Satan O Sun”. Numa recapitulação geral, podemos afirmar que o Xtreme Fest está no caminho certo e que muito em breve o teremos como mais uma referência de festival extremo no velho continente. Pequenos erros, que também acontecem nos grandes eventos, serão corrigidos e nós estaremos por perto para conferir. Até.


Apresente-se! Me chamo Leandro Sberzesengik, toco guitarra e vocal na Pietà. Quem era você no começo da carreira e quem é você hoje? Sou a mesma pessoa desde o começo, porém os anos de experiência agora fazem a diferença. Agora escolho o equipamento que sei que tirarei o som máximo, sei o que usar, o timbre, afinação e etc... Os anos nos dão sabedoria. O estudo nos dá conhecimento. Já realizou todos os seus sonhos? Ainda falta algum? Já gravei LP, CD, fiz shows em todos os lugares, do mais espartano até o mais equipado, plantei árvore, falta apenas publicar o livro com as letras que escrevi desde os anos 80. Do que você tem medo? Tenho medo de arrebentar uma corda em pleno show, por isso levo sempre duas guitarras. Nos anos 90 já acabei show com três cordas! O que costuma fazer quando não está envolvido com a banda? Trabalho muito, ando de bike, pratico Down Hill, às vezes quebro uma costela, mas tudo normal.

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Fotos: Marco Rodrigues

Quando era criança o que você dizia que iria ser? Queria ser motorista de caminhão de lixo. Achava o máximo o esmagador mecanizado. Qual foi a sua maior realização pessoal? Foi ter tocado com pessoas que admiro e ver que tudo isso vale a pena, mesmo se não há valor para a cultura no Brasil. Qual foi o seu pior momento? Quando voltei para a Europa para seguir a banda e os componentes não puderam ir por fatores pessoais. Qual CD você gostaria de ter feito? Ainda farei o CD que gostaria de ter feito!

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O que te motiva? Acordar todos os dias e dizer “nunca desistirei”, a vida vale a pena. Houve algum momento na sua carreira que você pensou em desistir? Cheguei a passar três anos sem tocar, mas está no sangue, não consigo parar de fazer coisas, escrever letras e ouvir e criar músicas. Qual são as 5 bandas que você mais gosta? Cite um álbum e fale deles. Slayer - Raining Blood; o álbum que criou uma geração e iniciou a corrida à velocidade. Tudo foi diferente depois deste álbum. Lembro da primeira vez que ouvi o som e vi um vídeo ao vivo, disse a mim mesmo, quero fazer uma coisa assim, “impactante”. Os rifes ecoam até hoje na minha cabeça. VoiVod - Rrröööaaarrr Napalm Death – Scum; Kreator – Endless pain; Carcass – Reek of putrefation. 2014 foi um ano interessante para a banda. Um novo trabalho foi lançado e houve um retorno aos palcos. Qual foi o saldo final? Retornamos à estrada, revemos amigos de muitos anos, sentimos novamente o cheiro do palco e os ouvidos carregados de decibéis de ensaios e gravações. O CD novo saiu como queríamos, claro que podemos fazer melhor, novas gravações estão sendo feitas para o que pode vir a ser o segundo CD após o retorno. Não gravávamos nada desde 1995 da Pietà. Eu tive outras bandas neste meio tempo, mas nada como o trabalho antigo com os compo-

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nentes que são nossos amigos desde a infância. Nos primeiros ensaios já sentimos que o potencial ainda continua, mesmos passados 20 anos do termino das atividades da banda em 95. Estes 20 anos nos deram maturidade e a indignação necessárias para refazer a banda e seguir tocando um som orgânico e primitivo. Exatamente como a vinte anos, brutalidade sonora e primitivismo. Diante de tantas dificuldades, o que te inspira a continuar na música? As dificuldades que nos movimenta. A saída do estado de ócio e a vontade de mostrar que podemos fazer cada vez mais barulho. É isso que nos movimenta. Fazer o que se gosta é algo impagável. Existe algum tipo de ritual antes de subir ao palco? Olhar para o horizonte e mandar chumbo nos amplificadores, volume máximo e uma vontade de destruir tímpanos. Todo mundo tem uma mania, qual a sua? Insistir. Mesmo que tudo vá contra e force o desânimo. Deixa aqui uma mensagem para nossos leitores. Muito obrigada! A banda é formada por mim, Leandro Sberzesengik guitarrista e urro, Marcos Amato Baterista e Arthur Tellò contrabaixista. Nossa mensagem é nunca desistir dos sonhos, e mostrar a todos que as pessoas podem fazer o que gostam sem perder a identidade. Muito Rock e peso a todos. Obrigado pelo espaço.

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Cradle of Filth – Hammer of the Witches Por Pei Fon - Rock Meeting

Eu não estava nem querendo escrever sobre o que costumo ouvir com frequência, mas, praticamente, fui forçada a escrever porque o CD é, realmente, impressionante. Guardar para mim esta opinião seria um tanto egoísta. Pois é, uma das poucas bandas de Black Metal que gosto é o Cradle of Filth. Confesso que acho uma graça os gritinhos do seu vocalista, Danny Filth (risos). De verdade! Aí saiu o vídeo da música de trabalho do novo álbum, “Right Wings of the Garden Triptych”. Gostei de cara! Riffs impressionantes, rápido e os gritinhos lá, lógico! Antes desse novo trabalho, já escutara a banda paralela de Danny, Devilment, um projeto de Death Metal. Vale escutar também! Como tenho o costume de mostrar as bandas para a minha irmã e ela tem um defeito triste de viciar logo. Passei a mostrar outras músicas do Cradle of Filth no aguardo do novo trabalho. E ela também viciou logo em ‘Right Wings’. 74

“Hammer of the Witches” é o 12º full-length do grupo britânico. Muito aguardado, por sinal. Lendo alguns apontamentos dos colegas da mídia, as palavras eram unânimes, de que o álbum estava incrível. Aguçou ainda mais a minha curiosidade, esperei vazar e lá fui eu escutar. E posso testemunhar: Impressionante! Está tudo lá: Death, Thrash, Black, Symphonic, Gothic. Variação peso, emoção! “Hammer of the Witches” merece sim ser ouvido. Do álbum destaco: “Your Immortally”, “Blackest Magik in Pratice”, “Deflowering The Maidenhead, Displeasuring The Goddess”, faixa-título do album, “Right Wings of the Garden Triptych”, “The Vampyre at my side”, “Orward Christian Soldiers”. Cada nome enorme (risos). A faixa que finaliza álbum, “Bloodind the Hounds of Hell” é intensa, sinistra e fecha muito bem! Como escutei a versão deluxe, há mais duas faixas que se seguem. Ou seja, indico lindamente!


Hammercult – Built for War (2015)

Por Marcos “Big Daddy” Garcia - Metal Samsara

Já comentei antes que colaboro em um site fora do Brasil, o Metal Temple. E lembro claramente do dia em que recebi um presskit de uma banda que, desde a primeira ouvida naquele disco, “Steelcrusher”, foi uma paixão enorme: o quinteto Hammercult, de Israel. E que em pouco tempo, terá lançado seu terceiro álbum, “Built for War”, que já tive acesso, resenhei e ouço todos os dias. Eles praticam uma forma de Thrash Metal insana, agressiva e nada convencional. Não, de forma alguma o quinteto soa datado. Nada de mofo ou poeira, é uma agressividade que chega a ser abusiva, mas sempre de bom gosto. Yakir Shochat (vocais), Guy Ben David e Yuval Kramer (guitarras), Elad Manor (baixo) e Maayan Henik (bateria) são, no momento, um dos nomes mais fortes do Thrash Metal mundial, e “Built for War” é um artefato sonoro de destruição em massa. Mantendo a fúria de “Steelcrusher”, mas ganhando peso e mais melodia (nos solos de guitarra, é perceptível a influência de bandas como Mercyful Fate e King Diamond em muitos momentos), além de influências 75

vindas do Hardcore e outros gêneros, mas sempre fazendo às coisas a seu jeito, o Hammercult veio para tomar de assalto o coração daqueles fãs de Thrash Metal que ou estão cansados de bandas que já cansaram da estrada, ou daqueles que só estão por aí para encher lingüiça, não querendo “fazer nada de novo”. Não, com este quinteto, não há desculpas, apenas uma brutalidade ímpar. Podemos dizer que “Built for War” já nasceu para ser clássico e reescrever as regras. Basta ouvir pedradas como “Rise of the Hammer”, as motorheadianas “Ready to Roll” (essa um pouco mais rápida) e “Raise Some Hell” (esta um pouco mais cadenciada, mas pesada de doer os dentes), ou o hino ao moshpit “Saturday Night Circle Pit Fight” para ver o poder de destruição deste quinteto. E a capa já diz tudo: nada de dinheiro, política, religiões, poderes, apenas o culto ao martelo liderado por Yakir, Guy Bem, Yuval, Elad e Maayan. ALL HAIL HAMMERCULT! Top 10 de 2015, se não for o melhor disco do ano!


Imagine Dragons

Por Lula Mendonça - jornalista e headbanger

Limitar-se a apenas um nicho de observação é sempre uma escolha muita arriscada, seja em qual for o campo de análise. Ficar preso a um ponto a ser observado faz com que percamos nosso lugar no espaço global e, principalmente, não tenhamos como expandir nossas experiências. Se levarmos essa linha de raciocínio para o universo da música os danos podem ser piores ainda. Evitar novas experiências musicais podem nos privar da descoberta de diferentes sensações. O universo do rock pesado talvez seja o mais bem protegido quando o assunto é escutar outros estilos musicais, principalmente quando a “guarda” é feita pelos “fiéis” headbangers que acreditam que não existe vida fora do heavy metal. Pois bem, escuto rock pesado desde 1990 e nesses vinte e cinco anos o “rock dos capeta” tomou grande parte das minha audições, sempre com muita emoção e energia, porém, sempre consegui fugir das amarras de ter apenas um nicho de audição e estive aberto para conhecer, escutar e gostar, de qualquer música que eu considerasse boa, independente do estilo a qual estava rotulada. Isso posto, o que mais estou ouvindo no momento não é apenas uma banda, e sim, todo um movimento musical que, até então, não tinha 76

curiosidade de conhecer, estou falando do rock alternativo, também conhecido como Indie Rock. O mundo indie rock é tão vasto que vai de bandas que usam elementos do rock pesado, como os ingleses do “Muse” e os canadenses do “Nickelback”, até outras que se aproximam muito do pop comercial e world music, vide exemplos dos grupos “Bastille” e “ Imagine Dragons”. Porém, a que mais me chama a atenção é a americana “Imagine Dragons”. Criada em 2008, na cidade de Los Angeles, o grupo com apenas dois álbuns lançados, os excelentes “Night Visions” (2012) e “Smoke + Mirror”(2015), é considerado a maior revelação da cena indie rock dos últimos tempos. Com uma sonoridade que mistura o rock à world Music, e com a utilização de vários elementos do pop, que lhes abrem as portas de todo o mercado musical, a banda conseguiu uma legião de fãs, dentro e fora das fronteiras do rock. E que me desculpem os headbangers radicais, mas, sim, existe vida fora do rock pesado. Abram seus ouvidos e escutem a boa música, independente do estilo a que elas estão atreladas, isso só vai aumentar a sua capacidade de se emocionar com a música e fortalecer, ainda mais, sua relação com o heavy metal.




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