Rock Meeting Nº 70

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EDITORIAL

Títulos Quem é que gosta de títulos? É legal você ser reconhecido por algum título. “Mestre”. “Doutor”. “Professor”. “Headbanger”. Opa, calma! Headbanger é aquele que escuta Heavy Metal. Ok, termo inglês para designar os fãs de Metal. Podendo variar entre Metalhead ou metaleiro, termo mais “abrasileirado” dos anos 80 quando aconteceu o Rock in Rio I, em 1985. Quem gosta de se apegar nas terminologias, o termo “metaleiro” pode causar um desconforto, até causar certa “revolta”, porque o que vale é ter termo em inglês. Enfim, de uns tempos para cá, a titularidade “Headbanger” vendo sendo revogada por um limitado grupo, cogitando serem os reais detentores. De terem o comportamento e ações que caracterizam o ser “headbanger”. Mas o que é ser um Headbanger de verdade? Não nos importamos ficar com títulos. Do que valem os títulos sem as ações? De nada. Podem continuar com a titularidade, não nos envaidece nem tira nossa motivação. Ser Headbanger não é postar fotos e se autointitulando, mantendo uma pose e ser alguém virtualmente. Vamos lá para a vida real. O que foi mesmo que fez para a cena headbanger acontecer? Fiquem com os títulos e a fama. O que desejamos é criar, movimentar, unir. Desunião para quê? Encerra aqui este assunto. Não queremos títulos. Queremos ações! Faça você mesmo!


TABLE OF CONTENTS 07 - News - World Metal 10 - Review - Primavera Sound 24 - Lapada - Headbanger homof贸bico? 30 - Entrevista - Tharaphita 36 - Capa - Hellfest 50 - Entrevista - Overdose Nuclear 56 - Entrevista - Primator 64 - Perfil RM - M谩rio Linhares (Dark Avenger) 70 - Coluna - O que estou ouvindo?


Dire巽達o Geral Pei Fon Revis達o Rafael Paolilo Capa Alcides Burn

Colaboradores Jonathas Canuto Leandro Fernandes Mauricio Melo (Espanha) Vicente de A. Maranh達o CONTATO contato@rockmeeting.net



Produção de Pompeu

Foto: Flávio Monteiro

Trata-se de “Till The End”, disco que reunirá as faixas “Gundpowder”, “Till The End”, “Winter”, “My Best” além de quatro músicas inéditas, “Sorrow”, “Learning To Say Goodbye”, “Crushed Life” e “Monster”. Essa última inclusive contará com participação especial do vocalista do Korzus, Marcello Pompeu, que também assina a produção do disco, gravado em seu estúdio Mr. Som em São Paulo/SP. Essa é a terceira vez que Pompeu trabalha com a Girlie Hell, uma vez que ele também assinou a produção do compacto “Hit And Run” e do single “My Best”. “Till The End” será lançado em Cd pela Monstro Discos e chega às lojas no final do ano. Enquanto o disco não sai, os fãs podem conferir o novo videoclipe “My Best” que está disponível no canal oficial da banda no Youtube.

Parceria

de volta

A Imperative Music vai ter uma loja virtual com CDs das bandas brasileiras em seu website oficial. “Gostariamos de ter a sua banda em nossa loja! Você poderia nos informar o preço de atacado (preço para lojistas) de seu lançamento? Podemos comprar 10 CDs ou mais”, diz Gilson da Imperative. E acrescenta: “Esperamos apoiar as bandas ainda mais com essa parceria”. Contato - E-mail.

No início de 2012 o Arkona passou pela primeirna vez no Brasil. Com uma base sólida e dedica de fãs latino-americano, o quinteto volta e meia posta belas declarações de carinho a eles em suas redes sociais, chamando-os de ‘calorosos, apaixonados e fieis’, dentre outros mimos. A banda Arkona volta ao Brasil para quatro datas: SP (17/10), Curitiba (18/10), Porto Alegre (19/10) e Rio (21/10).

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Pré-venda

Caetité Metal Open Air

‘Songs for all and none’, segundo full dos catarinenses do Sodamned, será lançado oficialmente no dia 1º de agosto, mas já se encontra disponível para pré-venda através de um dos 8 selos que se uniram para tornar este lançamento possível. Novamente com a produção à cargo de Roger Fingle do Estúdio Nitro e com arte do renomado artista Gustavo Sazes. Para audição do teaser, clique AQUI.

“A auto afirmação de um headbanger dizendo que tem muitos anos de cena, que participou de shows nos anos 80 ou 90 e que comprou tal disco quando foi lançado, sempre me causou desconforto”. Segue o novo documentário do Heavy Metal On Line. Assista AQUI esse doc gravado no Caetité Metal Open Air, no interior da Bahia. Feito por Clinger Carlos, acompanhe esta discussão sobre o futuro.

Dark Fest Recentemente, a banda Dark Avenger recebeu o convite para se apresentar no dia 19 de setembro na casa Amsterdam Street, em Brasília, como parte da turnê de vinte anos do lançamento do primeiro trabalho neste ano de 2015. Pensando em fazer algo diferente e em prol dos músicos nacionais, a equipe do Dark Avenger resolveu criar o “Dark Fest” para bandas iniciantes e independentes. Além das bandas se apresentarem durante meia hora com uma estrutura profissional em uma excelente casa, o evento dará prêmios aos vencedores como um videoclipe, ter sua música divulgada por uma das melhores empresas de Assessoria de Imprensa do país, ganhar uma grana, equipamentos e ainda estudar nas melhores escolas de música de Brasília. Saiba mais AQUI. 08


De volta Fundado em 1999, o veterano grupo santista de heavy/power Dark Witch encontra-se em grande grande ascendência. Retomou as atividades após algumas pausas e recentemente lançou em forma digital seu tão aguardado álbum debut “The Circle Of Blood”. Agora o grupo anuncia que assinou contrato com o selo paranaense Arthorium Records, e a parceria tem como principal objetivo a prensagem em CD e divulgação do álbum. O formato físico promete muito capricho, contando com 12 faixas autorais, encarte de 16 páginas, além de um cover para a música “Voz da Consciência”, do lendário grupo brasileiro de heavy metal Harppia. Um novo website está em construção e o lançamento é aguardado para meados de agosto. Enquanto o material não chega às lojas, a banda segue agendando datas para a turnê de divulgação do álbum.

Floresta armada

“My Dead Emotions’

Contendo 11 faixas inéditas, “Floresta Armada” é o título do novo álbum da banda de Death Metal Trator BR. Gravado nos Estúdios RMS e Lamparina, mixado e masterizado no Lamparina Estúdio/SP, esta obra conta novamente com a arte gráfica de Sandro Nunes, com a capa e encarte/pôster, auxiliado pelo guitarrista Ricardo Razuk em sua concepção. Para comemorar o lançamento, a banda disponibiliza na internet, clique AQUI.

Falta pouco para o lançamento do novo single, ‘My Dead Emotions’, do Eridanus. A banda acaba de registrar as linhas vocais. Um vídeo mostrando um pouco do registro das vozes foi disponibilizado e pode ser conferido AQUI. A banda também está participando de uma votação para participar do Rock In Rio e conta com o apoio de todos os headbangers. Para votar visite AQUI. Acompanhe mais vídeos das gravações e novidades do Eridanus pelo Facebook oficial do grupo.

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Fucked Up

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Texto: Ana Paula Soares Fotos: Mauricio Melo

E

cá estamos em nossa visita anual ao festival Primavera Sound em Barcelona. Nos trechos a seguir, um breve resumo e algumas imagens de nossa jornada inicial. O dia mal havia começado e conferimos o curto e intenso show dos brasileiros Camarones Orquestra Guitarrística. Um ano mais e o Brasil com bons representantes, o quarteto não deu bola para o sol de numa varanda improvisada do museu MACBA e detonou para um público reduzido diante do palco mas com uma horda de skatistas que habitualmente ralam seus carrinhos no point. Outro bom grupo, na verdade uma dupla, foram os chilenos do Magaly Fields, rock em estado puro com um bom tempero de blues. Como de hábito o festival oferece o dia gratuito, que apesar de figurar oficialmente na programação, não passa de uma prévia, um aquecimento para o grande evento. Neste dia “free”, conferimos de perto as três principais atrações do único palco aberto dos nove existentes no Parc del Fòrum. Cinerama: O veterano David Gedge, líder do tão considerado The Wedding Present e figura frequente no Primavera Sound, pisou ao palco ATP com seu projeto Cinerama. Lá estava todo o perfil das bandas prove12

Magaly Fields Interpol


Albert Hammond, Jr. Thurston Moore

nientes dos anos 80, guitarras clássicas e limpas com seu vocal grave, um pop disfarçado de post-punk, ou seria ao contrário? De seu tradicional grupo, interpretou várias músicas do recém-publicado Valentina. Albert Hammond, Jr.: O guitarrista do The Strokes e dono daqueles riffs de guitarra tão marcantes, tanto em seu grupo original quando em carreira solo, colheu boas vibrações nesta apresentação, muitas delas com hits embaladas pelos mesmo riffs citados acima e que muito se parecem ao momento do boom com Is This It. OMD: Os britânicos e veteranos do Orchestral Manoeuvres in the Dark foram os responsáveis por fechar esta prévia, com seu dançante eletro-pop e canções como “Enola Gay” e “Tesla Girls”, aqueles teclados e sintetizadores típicos dos anos 80 não fizeram mais que refrescar, ou melhor, aquecer o ambiente já massacrado pelo frio fora de época. Quinta-Feira: 1º dia oficial Interpol: O dia começou cedo, as 17:00 com um show “secreto” do Interpol na Sala Apolo. Assim como em 2011, a apresentação serve como ensaio para a grande noite no Fórum. Apenas 500 convidados e alguns credenciados de imprensa. Apesar de possuí-

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Cinerama

rem músicas incendiarias, os rapazes preferiram o lado escuro, um show limpo mais lírico do que o esperado. Thurston Moore: Eterno membro do Sonic Youth interpretou com autoridade seu último disco, The Best Day. Com sua descascada Fender, ofereceu ao público seus riffs ímpares e inconfundível voz. Músicas extensas, distorção, ecos..., juventude sônica em estado puro. The Replacements: Mais abaixo e praticamente coincidindo de horário com Moore, os também veteranos não deixaram pedra sobre pedra. Levantaram o público diante do palco principal do evento com direito a covers de Joy Division, Chuck Berry e até Jackson 5. Mineral: Após 17 anos de silêncio, os americanos do Mineral fizeram bonito no palco Pitchfork com direito a um bom público. The Black Keys: Talvez o nome do dia no cartaz do festival, aquele que se anuncia com letras garrafais. O que podemos adiantar é que fizeram um show à altura para um público que misturava verdadeiros fãs e aqueles que após a música Lonely Boy tomaram o caminho de casa. Melhor assim, tivemos mais espaço para dançar antes de conferir os britânicos do Jungle já a caminho de casa. Hoje tem mais.

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The Black Keys

OMD

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Texto: Ana Paula Soares Fotos: Mauricio Melo

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ma sexta-feira com promessa de clássicos e alguns revivals foi o que marcou esta jornada no Parc del Fórum, em Barcelona, para o segundo dia de festival. Julian Casablancas + The Voidz: Ainda sob forte sol e com seu outro grupo, Julian Casablancas, vocalista do The Strokes, fez um show curto e sincero. Com seus cabelos e microfones coloridos foi muito bem apoiado não só por seu grupo, mas também por um fanático público na fila do gargarejo em músicas como “Human Sadness” e “Crunch Punch”. Só não entendemos o porquê de um cover do The Strokes já que a banda tocaria no festival no dia seguinte. Alguns classificaram como apelação. Patti Smith & Band: Alguns novos nomes figuravam em horários próximos ao show de Patti Smith, mas a limitação de fotógrafos era escandalosa, apenas 25 poderiam adentrar na barricada e mais, escolher direita ou esquerda. É claro que nosso representante correu e chegou a tempo. Nada melhor que entrar naquela tarde, com uma brisa do Mediterrâneo e escutá-la abrir o set com “Gloria” e o verso “Jesus died for somebody’s sins 16

Julian Casablanca Belle & Sebastian


Patti Smith The Church

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but not mine” foi de dar um nó na garganta. Suas tradicionais cusparadas também estiveram presentes. Interpretou o disco Horses na íntegra, neste que foi o primeiro show da turnê e explicou com detalhes algumas músicas com “Break it Up” e “Elegie”, escritas em memória de Jim Morrison e Hendrix, respectivamente. Economizou nos discursos políticos mas em cima do palco demonstrou ao público o porque se tornou um ícone. Um verdadeiro e autentico show de rock, sem efeitos e firulas, direto na raiz. Belle & Sebastian: Figurinha carimbada nas edições do evento, os escoceses subiram ao palco para representar e bem, seu recém-lançado Girls in Peacetime Want to Dance. Abriram o set com a mesma música que abre o disco, “Nobody’s Empire” mas não esqueceram de seus hits como por exemplo “I’m A Cuckoo”. The Church: Isso mesmo que você leu aí, The Church. Aquele grupo que nos anos 80 se tornou conhecida por figurar em vídeos de surf com clássicos como “Under The Milk Way”. Há mais de uma década que os australianos não se apresentavam em Barcelona e não decepcionaram o público quarentão que


reviveu grandes momentos através da maior máquina do tempo já inventada, a música. Ride: O quarteto britânico foi anunciado como o primeiro grande nome a se apresentar nesta décima quinta e comemorativa edição do festival e mais, esta foi a única apresentação da banda em território espanhol, pelo menos até o final do ano ou o lançamento de um disco. Querem saber a verdade? Difícil entender como uma banda como esta, tenha ficado em inatividade por tanto tempo e ainda demorar tanto a ser reconhecida como uma das maiores dos anos 90. Quase duas dezenas de músicas que alternaram entre hits limpos como “Leave Them All Behind”, que abriu o set com seu baixo marcante e efeitos nas seis cordas de Andy Bell, e belas distorções como a arrepiante “Drive Blind”. Não há dúvidas que este tenha sido uma das melhores apresentações do festival, merecem todo o respeito e admiração e esperamos que o grupo continue a oferecer apresentações como esta. Alt-J: Mais um grupo que chegou ao festival com status de grande e assim percebemos na festa que revelou ao mundo o cartaz oficial do evento no inicio do ano. Apesar de boas músicas como “Tessellate” e “Breezeblocks” a banda peca pela postura estática no palco, um show que teria tudo para ser o que foi a apresentação do Foals ano passado que teve perfil de grande festa se tornou morno, talvez mais adiante e em uma nova oportunidade.

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Julian Casablanca

Ride

Ride

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Texto: Ana Paula Soares e Mauricio Melo Fotos: Mauricio Melo

Kevin Morby

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ia de dizer um até breve à nossa tradicional visita festivaleira em Barcelona, descobrir novidades e ver o banho do Interpol sobre o The Strokes. Kevin Morby: O artista que já figurou algumas vezes no evento a bordo de algumas bandas, desta vez se apresentou em solitário. Entre seus temas mais aplaudidos tivemos “All of My Life” e “The Jester, The Tramp & The Acrobat” que fazem um jogo de acordes entre ambas, além de “The Ballad of Arlo Jones”. DIIV: Não nos demos o trabalho de mudar de palco, no mesmo Pitchfork entrou na sequência e defendeu com competência seu único trabalho, Oshin, lançado há três anos. Lá figuraram riffs leves e pegajosos de “Human” e “Past Lives”. Num fim de tarde à beira do Mediterrâneo, foi de levar aquele sorrisinho de satisfação e privilégio no canto da boca. Fucked Up: Normalmente quando organizamos uma festa de aniversário, queremos que nossos amigos lá estejam, seja ele como for. Esse é o caso específico dos canadenses do Fucked Up. Dentre artistas habituais e de diferentes estilos que visitam com certa frequência o Primavera Sound, talvez o mais caótico que promova uma verdadeira 20

Shellac


DIIV

Fucked Up

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celebração seja o Fucked Up. Coloque-os no menor palco ou no maior, a intensidade é a mesma até porque o vocalista só fica no palco durante a primeira música, da segunda em diante o nosso gordinho, careca e barbudo em questão é possuído por uma dose natural de adrenalina e recorre ao público para a descarga da mesma. Debruça, berra, se joga nos braços da galera, comparte microfone, bebe cerveja. Um verdadeiro show hardcore com melodias indie nos refrãos e mensagens que vão direto à alma. Além de músicas do último lançamento, Glass Boys , o grupo não deixou de lado temas mais antigos como “Son The Father”. Alma lavada e ânimo renovado para encarar algumas horas mais. Tori Amos: Após deixar para trás o Fucked Up, passar diante do palco Ray Ban para conferir o show desta pianista é como tomar um cafezinho após o almoço. Para muitos foi a melhor apresentação do festival, para outros nem tanto. Entendemos perfeitamente os variados gostos e ofertas dentro do evento mas para nosso perfil chegamos a conclusão de um certo exagero mesmo reconhecendo todo o talento e beleza em suas músicas. Interpol: Nada mais entrar na área de imprensa e demos de cara com o trio nova


iorquino dando algumas entrevistas, atendendo a alguns fãs e atendendo alguns fotógrafos. Enquanto isso, Albert Hammond Jr. (The Strokes) também concedia entrevista no outro lado da área. Pouco mais adiante e o simpático guitarrista dos Strokes foi cumprimentar o trio com seus tradicionais trajes negros, ainda que estes ou pareciam tímidos ou mesmo não deram muita bola para Hammond. Uma hora mais tarde e o trio, acompanhado de um baixista de apoio, ofereceu um verdadeiro concerto de rock. Com suas habituais luzes vermelhas e lilás como havíamos visto dois dias antes e a repetição de 80% do setlist. Abrindo com “Say Hello To The Angels”, seguindo com “Anywhere” e emendando em “My Blue Supreme”. Em determinado momento do show, o palco ficou totalmente no escuro por problemas técnicos mas a banda continuou tocando, só víamos vultos. É claro que músicas como por exemplo, “Evil” e “Slow Hands” foram as mais celebradas mas a música que abre o recente disco, El Pintor, “All The Rage Back Home” que finalizou o set, também foi muito bem recebida. The Strokes: O setlist foi recheado mas a missão foi difícil. Dez minutos antes da apresentação dos Strokes o Interpol, citado acima, tinha feito um show maiúsculo. Quando o quinteto liderado por Julian Casablancas entrou em cena deu a sensação de que, aqueles rapazes com cara de adolescentes que conquistaram o mundo e, claramente abriram caminhos para toda uma geração de novas bandas (Interpol incluído), continuavam adolescentes, estava claro que o público pensante foi o que estava na parte de trás, claramente se “recuperando” do show anterior do palco que ficava justo diante, como um campo de futebol e suas balizas. Apesar 22

The Strokes

Interpol

do bom ânimo dos fãs que aceitavam tudo o que era tocado, as melhores repostas eram mesmo do excelente primeiro disco como “Someday”, “Barely Legal” e “The Modern Age” que não aparecia num setlist há tempos. Mas tivemos de tudo um pouco como “Reptilia”, “Juicebox” e é claro que do mais recente álbum, Come Down Machine, “One Way Trigger” e “All The Time”. Finalizaram com


Fucked Up

“New York City Cops” e se despediram sem ao menos agradecer. Shellac: O trio liderado por Steve Albini fechou, ao menos para nós, a edição de décimo quinto aniversário do festival em mais uma de suas visitas, são nove seguidas e já é um órgão vital do evento mas não nos cansaremos nunca de assisti-los, o show é destruidor! Engana-se quem acha que so23

mente Albini é a estrela, Todd Trainer e Bob Weston, baixista e baterista respectivamente dão um show à parte. “Steady as She Goes” e “My Black Ass” são apenas duas amostras de destruição que o trio ofereceu antes de finalizar com “Watch Song”. Nos demos por satisfeitos e já olhamos adiante, para próximos festivais e porque não, já pensando na edição 16 do evento.


Rob Halford tá vendo...

S

exta-feira, dia 26 de junho de 2015. Um dia histórico, em que a Suprema Corte dos EUA aprovou o casamento entre gêneros iguais nos 50 estados do país. Ou seja, os homossexuais podem se casar sem problema algum. Um momento histórico, já que como os Estados Unidos é a maior e mais rica democracia do mundo, por efeito dominó, tudo que ocorre por lá tem reverberações pelo mundo inteiro, e nesse caso, positivas. Muitos usaram um filtro com as cores do arco-íris (bandeira do movimento LGBT no mundo inteiro) em comemoração, e foi uma festa, com muitos aderindo ao filtro em comemoração, em solidariedade à causa LGBT. Pronto, foi o que bastou para alguns headbuchas chatos, metidos a caveiras velhas anos 80 (“sou um veterano” é uma frase constante na boca desse tipo de pateta) e afins para começarem de piadinhas idiotas no Facebook. Algumas delas tão cheias de preconceito que, se o Brasil fosse mesmo um país sério, garantiria a filhinho de papai que joga bola de gude em carpete e solta pipa em

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ventilador (mas quer pagar uma de “o true” na internet) um lugar bem aconchegante em uma cela. Lembro-os que a lei brasileira sobre preconceito é clara: é o “objetivo fundamental da República” (art. 3º, IV) o de “promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade, ou quaisquer outras formas de discriminação”, ou seja, vocês não possuem direito a serem homofóbicos. O mais interessante é que justo o Metal, onde o mimimi por sofrer preconceitos


é tão grande, tenha um número de fãs que guardem em si preconceitos tão graves! Digo isso me baseando em vários casos, mas um merece citação especial: o Metal God Rob Halford. Acho que não preciso dizer quem ele é e sua importância para o Metal (o Judas Priest não é considerado a segunda banda mais importante do Metal à toa, perdendo apenas para o pai do Metal, o Black Sabbath). EM 1998, ele assumiu sua homossexualida-

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de publicamente, que é gay (por favor, peço perdão se o termo for ofensivo a muitos que sofrem preconceito) a vida toda, e apenas naquele momento se sentiu confortável em vir a público e dizer isso. E em outra entrevista em 1998, ao The Advocate, ele chegou a chorar, deixando claro que aquele momento era uma libertação para ele, era um momento maravilhoso. E para os que ainda ficam de babaquice, se apegando às “regras que me ensinaram quando comecei no Metal”, os anos se negan-


Sean Reinert

do levaram Rob a se isolar e abusar demais de álcool e drogas. O que nos permite pensar que Rob deveria, nessa época, estar em um quadro de depressão. Livre dessas amarras, Rob mostra-se um dos melhores vocalistas do mundo. Ainda bem que ele pode assumir e ser feliz, já que assim, a depressão se foi, e somos brindados com ótimos trabalhos de sua voz, seja no Judas Priest, seja no Halford. AGORA, srs. Mafafaiabangers metidos a grande coisa, lhes pergunto: vão falar do Metal God? Vão queimar/vender/trocar os discos do Judas e do Halford? Estou aberto à suas doações de suas edições especiais! E o mesmo vale para suas discografias do Master, do Death e do Cynic, já que o guitarrista Paul Masvidal e Sean Reinert, em

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maio de 2014, vieram a público assumir sua sexualidade. Não irei ficar detalhando as piadas, pois tenho estômago e respeito pelas pessoas que respeitam a vida alheia e os direitos. Mas o que realmente deixou-me estarrecido foi ver o número de fãs de Metal extremo com piadas de baixo calão e ofensivas, e mesmo discurso de ódio aberto que está alinhado com as pregações de Silas Malafaia e Marcos Feliciano. Fãs que, em tese, não possuem nenhum tipo de ligação com o cristianismo, o que prova uma tese antiga minha: não basta se afirmar e posar de anticristão, mas faz-se necessário uma profunda limpeza na mente, e para tanto, reflexão, exercício de pensamento e concentração são requisitos fundamentais. É preciso realmente se despir de qualquer


Paul Masvidal

ótica nesse aspecto. Outra prova: em um texto ótimo de Julio Cesar Feriato, do Heavy Nation (que pode ser lido AQUI), a postura homofóbica radical de fãs de Metal chegaram ao cúmulo da agressão verbal. E no texto, nada mais é falado do que “como você pode se indignar com a modelo transexual Viviany Beleboni vestida de Jesus crucificado na Parada do Orgulho LGBT se você tem discos com capas que tratam o ícone máximo do cristianismo com desprezo?”, e realmente, é algo aberrante ver pessoas amando capas como “Rotting” do Sarcófago, “To Mega Therion” do Celtic Frost, “About the Christian Despair” do Mysteriis, mas ficando indignadas com a postura da modelo. Concordo que realmente foi algo que choca, mas um fã de Metal extremo ficar

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reclamando disso nas mídias sociais é que realmente nos deixa estarrecidos! E o pior: novamente, ver estes compartilhando da mesma indignação de Malafaia e Feliciano, sem nem ao menos parar para pensar no que estão fazendo. E o pior possível: quem foi que deu a qualquer um de vocês, radicais bizonhos, o direito de apitar na vida alheia, em cercear direitos alheios? Depois dizem que este que vos escreve é um ditador... Ah, sim: as questões citadas nos livros bíblicos, como Levítico, Deuteronômio e outros. Em questões de Velho Testamento, basta dizer que ninguém via Deus. E digamos que descrever com palavras humanas aquilo que lhes era dirigido pelo deus de Israel é algo não muito simples, já que são experiências


transcendentais. Os apóstolos estão imersos na moralidade de seu tempo, logo, escrevem conforme suas limitações. Já Jesus de Nazaré não era em nada um puritano. Pelo contrário, este homem teve contato com prostitutas, adúlteros, cobradores de impostos, leprosos, aleijados e sua “infração” mais grave contra o puritanismo israelense (que é um murro no fígado de qualquer puritano chato nos dias de hoje): conversou e exaltou um romano, povo impuro conforme as leis de Moisés. Se lerem os evangelhos por mera curiosidade, verão que este homem não abraçava a causa judaica, mas tinha uma visão muito mais profunda do bem. Tão profunda que

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não se negou em momento algum em auxiliar os marginalizados. Mas verdade seja dita: a postura de superioridade, inspirada pelo velho testamento, é muito tentadora para as pessoas de mente vazia, que a preferem no lugar da pregação “paz e amor” engajada de Jesus. Mais uma vez, a frase de Paulo Freire ecoa na mente dos que conhecem seu trabalho: “quando a educação não é libertadora, o sonho do oprimido é se tornar opressor”, ou seja, o cara é um nada, se coloca para ele que foi escolhido por deus, põe-se uma bíblia nas mãos do sujeito, e pronto, o sujeito está pronto a berrar pelos quatro cantos do


Cervo do Centurio

mundo ofensas a tudo e todos. Fala de Jesus, mas desconhece completamente este personagem, se sentindo o ser supremo, mas ainda assim, não passa de um peru pensando que é pavão. Ou seja: aos religiosos que estão lendo, lhes recomendo ler, com urgência, o capítulo 23 do evangelho de Mateus. Parem de engolir camelos antes que os tornem extintos! E não, eu não sou cristão. Apenas usei destas palavras para mostrar de onde nasceu o puritanismo a que tanto se apegam. E ainda no tocante a pensamentos religiosos/filosóficos, a própria Bíblia Satânica não repudia a homossexualidade. Ou seja, o

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preconceito ostentado por fãs de Metal tem raízes no fanatismo fundamentalista do cristão, que por sua vez, nasce da leitura errônea e sem bases do velho testamento. Fechando: homossexualidade não é doença, erro, pecado ou crime. É apenas um estado de ser de algumas pessoas, e estas, como todas no mundo, merecem respeito e direitos iguais, pois arcam com todas as responsabilidades legais que todos nós, pagam impostos e trabalham. Nada mais digno que lhes garantir o direito de serem felizes.


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Por Leandro Fernandes (leandro@rockmeeting.net) Fotos: Viktor Koshkin

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as palavras de Ank, vocalista e guitarrista da banda estoniana, Tharaphita, nós iniciamos esta entrevista. Cena, Estônia, Paganismo e música. Saiba o que esse cara pensa sobre e falando de sua música e inspiração. Acompanhe esta entrevista super legal. Olá pessoal! Muito obrigado por este momento. Por favor, apresentem-se para nossos leitores. Criado como meu projeto solo em 1995, Tharaphita surgiu com um das mais influentes bandas de pagan/Black Metal da Estônia. Nossa música mixa o Black e Heavy Metal com o verdadeiro espírito pagão. Os primeiros ensaios com a formação inicial aconteceu em março de 1995. Atualmente, sofreu severas mudanças na formação da banda, mas sinto que nós estamos mais fortes do que nunca. E, para estas e outras notícias, acesse o nossa página oficial no Facebook. Tharaphita está na ativa desde 1995, qual o balanço que você faz nestes 20 anos de estrada? Tharaphita tem sido um hobby e um projeto que eu tenho desfrutado em minha vida. Mas há também outras coisas em minha vida e na vida dos outros componentes da banda. A cena de metal estoniana é tão pequena que o Tharaphita nunca foi uma fonte de riqueza comercial. Eu corro com minha empresa agora e meu tempo tem sido entre compartilhar a banda e minhas plantações. Ambas são 32

muito importantes para mim. Como é a aceitação do metal extreme em seu país? Não há muitos problemas com isso no nosso país. Claro que muitas pessoas não entendem e pensam que nós somos satanistas cruéis. Mas nós não somos. É meu estilo de vida que é inspirado com o Metal e o respeito com a natureza. Na Estônia, a banda mais famosa é o Metsatöll. Eles também são conhecidos fora da cena. O som da banda mostra uma forte in-


fluência de Venom e Rotting Christ. Quais as inspirações do Tharaphita? Ambas as bandas mencionadas tem influência na nossa música. Há muitas outras, por exemplo Bathory, Celtic Frost/Hellhammer/Triptykon, Rotting Christ, Varathron, Burzum, Darkthrone, Enslaved, Satyricon, Mayhem, Emperor, Root, Master´s Hammer, Count Raven, Saint Vitus. No Brasil, muitas bandas têm investindo em letras na sua língua nativa, acredito que seja de muito valor. Para você, qual a importância de compor músicas 33

em seu próprio idioma? Para mim é muito importante. Mas eu não digo que todos tem a mesma prioridade como eu. Na Europa, nós sabemos que em países Escandinavos o paganismo é muito respeitado. Ainda há certa descriminação ou preconceito por parte de quem aderiu a ela? Na Estônia nós temos uma grande liberdade religiosa. Em países Escandinavos, o Cristianismo ainda é a religião dominante. Nós não nos importamos muito com isso!


E quando o Tharaphita vem ao Brasil? Eu não faço ideia. Em caso de convite, vamos considerar a ida.

Tharaphita é um hobby e um estilo de vida. Nós queremos fazer uma boa música e compartilhar nossa mensagem com nossas letras.

Falando no Brasil, o que vocês sabem sobre nossa cultura? Não muito, mas gostaríamos de aprender mais. As culturas indígenas, africanas e portuguesas formaram o Brasil moderno.

Você procura inspiração em outros estilos musicais? Eu respeito os músicos e escuto muitos estilos musicais. A inspiração vem para mim e eu não as procuro.

Sobre os discos “Kui Varjud Põlevad” e “Iidsetel Sünkjatel Radadel”, onde a banda mais evoluiu? Há muitas mudanças de formação durante este período.

Agradecemos a sua atenção e desejamos vida longa para o Tharaphita. O espaço é seu, deixe um recado para os fãs aqui no Brasil. Muito obrigado por esta entrevista e desejamos tudo de melhor aí no Brasil.

O que é Tharaphita? 34



Hellfest X – 2015 Primeira jornada CLISSON, FRANÇA: 19/06/2014

Texto: Ana Paula Soares e Mauricio Melo Fotos: Mauricio Melo

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Lamb of God

Hellfest X – 2015 Primeira jornada CLISSON, FRANÇA: 19/06/2014

Texto: Ana Paula Soares e Mauricio Melo Fotos: Mauricio Melo

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lá se foi mais uma edição deste que, sem nenhuma dúvida, é um dos maiores festivais de música extrema (e não extrema) do mundo. Em seu décimo aniversário conferimos nítidas melhorias com relação à edições anteriores, não só na variedade musical como também em infraestruturas. Foram caprichosos aos extremos na decoração de palco, que não mais são cobertos por uma tela pintada, mas sim por esculturas. Os telões ficaram maiores, com melhor definição, e bem espalhados pelo evento para que ninguém perdesse nenhum detalhe. A tradicional poeira levantada desde o primeiro dia diante dos palcos só deu as caras no último dia, quando o gramado pediu arrego. As “ruas” criadas para transitar de um palco outro já não são de areia e pedras soltas mas sim socadas, facilita o caminhar e sufoca menos. As então moedas do Hellfest, que equivaliam a euros para comprar bebida e comida dentro do evento, foram substituídas por cartões magnéticos. Nada mais cômodo que comprar sua bebida e automaticamente é debitado de seus créditos. Sala de imprensa mais ampla com computadores disponíveis sem a necessidade de levar um de casa. Os palcos menores, que até então eram lonas de circo e que só dava para entrar com máscara de oxigênio, ganharam novos formatos e com 38

Slipknot

Sodom


Mastodon

Billy Idol

Judas Priest

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uma entrada totalmente aberta e alta, muito mais confortável. Sem contar a própria Hell City e o Extreme Market, amplas áreas de alimentação para todos os gostos incluindo barracas veganas para os adeptos. Enfim, enumerar todas as melhorias chega a ser difícil. Por outro lado, podemos torcer o nariz para alguns pontos que se repetem anualmente. A entrada dos fotógrafos mal colocada principalmente nos palcos principais e no Warzone, que recebe o público hardcore, mas que já está pequeno, necessita de maior espaço e melhor mobilidade. E o mais impressionante desta edição, as constantes falhas de som, principalmente no Main Stage 1. Mas vamos ao que interessa. Abrimos nossa participação com o Despise You com seu powerviolence / hardcore, bom show apesar de curto. Também chama muito atenção a participação dos vocais femininos da banda. “Fear’s Song” foi uma das mais celebradas. Na sequência, e no mesmo palco, também se apresentou o quinteto Defeater, um hardcore mais moderno, melhor tocado com cidadãos com aparência de comportados, mas que aos primeiros acordes já deixaram claro quem dava o tom da tarde. O público abraçou a causa, a mensagem e vibrou diante do Warzone, impecável. Em nossa visita inaugural ao palco principal, tivemos por diante ninguém menos que Billy Idol, sim o loiro careteiro era um dos artistas mais aguardados no evento, diferente do que vemos em nosso país onde artistas mais “leves” não podem participar do dia heavy metal em festivais deste porte para não levar lata na cara, Idol não só tocou seus maiores clássicos como “Rebel Yell”, “White Wedding” e “Dancing With Myself” como também interpretou com autoridade “L.A. Woman” do The Doors alterando com Inte-


ligência e sarcasmo o refrão para “Hellfest Woman”, não esquecendo que ele teve um personagem engraçado no aclamado filme de Oliver Stone (The Doors). Ao final do festival, a opinião era unânime, a apresentação está entre o top 10 do evento. Este jovem de 59 anos se mantém em forma, tanto física quanto de performance. Na sequência e no palco ao lado, o trio alemão Sodom deu mais uma demonstração de força com “Among the Weirdcong” e “Agent Orange”. Das mais recentes “Stigmatized” de Epitome of Torture. Já do recém-lançado Code Red nada foi tocado, pura estratégia para manter o público ativo nos cinquenta minutos de palco que tinham direito. Uma hora mais tarde e foi a vez do Motorhead bater o cartão na edição do festival francês. Foram mestres em abrir o set com “Shoot You In The Back”, uma música pouco habitual e seguiram surpreendendo com “Damage Case” e “Stay Clean”, uma verdadeira celebração de Overkill. Porém, o que mais chamou atenção foi a aparência de Lemmy, bastante abatido e magro, ainda se recuperando de recentes problemas de saúde. Outro que marcou presença e encarou o forte sol que assolou o festival foi o Lamb Of God, abrindo com “Desolation” e “Ghost Walking”. Do disco que será lançado no próximo mês, “512” foi a escolhida e fecharam sua hora de apresentação com “Black Label” para o deleite dos fãs mais antigos. Também habitual nas edições do Hellfest, o Alice Cooper abriu o set com “Department Of Youth” no alto dos seus 67 anos. Quem também chama bastante atenção é sua bela guitarrista Nina Strauss, não só por sua beleza mas também por sua habilidade nas seis cordas. Uma pena que, por estar sob for40

Motörhead Defeater

Alice Cooper


te sol, toda cena criada por Cooper para seus personagens não surtiram tanto efeito, algumas horas mais tarde e a atmosfera teria sido outra. Algumas bandas, de maneira estratégica ou não para poder dividir o público e faze-lo girar em outras áreas dentro do evento, pareceram deslocadas. Uma delas foi o Mastodon ter sido escalado para tocar no The Valley, um palco médio quando verdadeiramente a banda tem todas as condições de pisar num dos palcos principais. Talvez por isso o grupo tenha tocado metade do disco novo, Once More Round The Sun, “The Motherload” incluída no pacote e completado o set com algumas antigas como por exemplo “Megalodon”. Quem também jogou para ganhar e aproveitou bem o tempo e o início da noite para explorar e abusar das luzes no palco foi o Judas Priest. Halford com sua entrada em cena apoiado na bengala e interpretações únicas para cada canção além de suas constantes trocas de jaquetas. Abriram com “Dragonaut” seguida de “Metal Gods”, passaram por “Breaking The Law” e finalizaram com “Painkiller” e “Living After Midnight” em ritmo de festa. Para finalizar nossa primeira jornada, tivemos Slipknot diante de um público jovem e insano. O grupo atacou com “Sarcastrophe”, a mesma que abre o recém-lançado 5: The Gray Chapter, forte, pegado, porrado. Do mesmo álbum também figuraram “The Devil in I” e a rápida “AOV”. É claro que “Wait and Bleed”, “Duality” e “Before I Forget” foram algumas das mais berradas (até porque a voz estava baixa demais) antes de encerrarem com “Surfacing”. O povoado grupo já não parece sentir a ausência de Paul Grey, pelo menos no palco. 41


Hellfest X - 2015 | Segunda Jornada CLISSON, FRANÇA: 20/06/2014

Texto: Ana Paula Soares e Mauricio Melo Fotos: Mauricio Melo

N

em mesmo havíamos digerido o café da manhã em Clisson e lá estávamos diante do Warzone. Para sermos mais sinceros, estávamos dentro do Warzone acompanhando o show dos holandeses do Vitamin X. O horário parecia injusto com a banda (13:30hs) e a previsão era de público reduzido, três minutos antes do show começar e éramos meia dúzia de gatos pingados. Foram soar os primeiros riffs da guitarra de Mark e a galera saiu do nada. O resultado vocês podem imaginar já que, recentemente, relatamos o show do quarteto no Mosh Fest em Montpellier. Rápido, furioso e ao mesmo tempo divertido, com confetes atirados para o alto, colchão e animais infláveis voando pelas cabeças alheias e Mark e Marko, guitarrista e vocalista respectivamente, nos braços do público para a execução de “Bad Trip”. Pouco mais de meia hora depois, ao final do set-list com mais de duas dezenas de porradas musicais, incluindo a nata de Full Scale Assault e About To Crack e a galera pediu bis, algo muito difícil de acontecer considerando que os horários são contados nestes eventos. Mesmo assim, a organização cedeu e o caos continuou por mais duas ou três músicas ou minutos, como vocês preferirem interpretar. Na sequência, tivemos o bom show do Merauder, banda rara de se ver e não poderíamos perder esta oportunidade. Um set 42

Vitamin X Airbourne

bastante curto e um público ainda hipnotizado pelo show anterior do Vitamin X. Mesmo assim, “Built To Blood” conseguiu arrancar alguns berros dos mais empolgados. Em nosso primeiro compromisso diante dos palcos principais, tivemos a oportunidade de assistir o empolgante show dos suecos Backyard Babies e hits como “Th1rte3n or Nothing”. Em seguida, o Airbourne entrou em cena não se intimidando em levar o título de o AC/DC da nova geração. Uma pena que logo na primeira música, “Ready To Rock”, o som tenha falhado mais de uma vez. Somente


Faith No More Backyard Babies

as caixas de retorno funcionavam. Solução? Continuar rockeando e a galera que vaiou (a falha de som) a princípio, entrou no clima e continuou empurrando o show da rapaziada até que tudo fosse solucionado. Atitude nota 10. A partir daí começamos a entrar na máquina do tempo e voltar aos anos 90. Iniciamos nossa viagem com L7 que refrescou a memória do grande público com grandes “clássicos” daquela época como por exemplo “Deathwish”. Sim a banda tem mais que apresentar do que somente “Wargasm” e ao 43

final não figurou no set-list dando vez para “Shitlist” e “Fuel My Fire”. Enquanto isso e ao outro lado do evento o Terror se apresentou tendo o baixista como vocalista devido a uma lesão de Scott Vogel que o impediu de subir no palco. Dando continuidade a nossa viagem no tempo e logo após L7 o eterno guitarrista do Guns N’ Roses, Slash, deu inicio a suas atividades. Com Myles Kennedy na voz (excelente como sempre) optou por ganhar o jogo e montou um setlist ofensivo com várias músicas do grupo que o projetou, entre elas “Nightrain”,


“You Could Be Mine”, “Sweet Child O’ Mine”, que não pode ficar de fora, além de “Paradise City” para fechar o bloco. Talvez um dos erros da organização nesta edição foi ter colocado o Body Count no Warzone. O grupo liderado pelo titio Ice-T tinha condições de sobra para figurar num dos palcos principais ainda que fosse num horário não tão privilegiado quanto as oito da noite. A sensação que tivemos é que metade do Hellfest queria assisti-los e o palco Warzone se tornou pequeno, quem não chegou cedo e marcou território não conseguiu passar pelo funil que levava ao cenário. O show superou todas as expectativas e assim como fez o Slash, Ice-T jogou para ganhar e do trabalho recém-lançado apenas “Talk Shit, Get Shot”. No mais, abriram com “Body Count Is In The House” como esperado além de “Voodoo”, “The KKK Bitch” e finalizando com “Cop Killer”. Enquanto isso, um enviado da banda vendia bonés do grupo a varejo, no meio do público ao melhor estilo drug dealer. Ao retornar ao palco principal, nos deparamos com um cenário branco e cheio de flores, literalmente um jardim. Era o palco do Faith No More que horas antes respondiam questões de maneira ríspida na entrevista coletiva que concederam mas que demonstraram grande forma nos pouco mais de sessenta minutos que tiveram direito, ou que quiseram oferecer. Um Mike Patton em boa forma, com a voz bem cuidada e interpretações únicas. Deram um repasso na carreira com “Be Agressive”, “Caffeine” e “Midlife Crisis” do aclamado Angel Dust, “Epic” que do disco que os levaram o mainstream, “Ashes to Ashes” além de músicas novas, “Motherfucker” que abriu a noite, “Matador” e “Superhero”, não esquecendo do cover “Easy”. Definitivamente está entre os grandes shows 44

Scorpions

do evento, não decepcionaram. O Scorpions marcou presença uma vez mais no festival e mais uma vez o som repetiu a falha do Airbourne, ainda que desta vez a solução tenha sido mais rápida já era algo que incomodava. Abriram com “Going Out With a Bang” do recém-lançado Return To Forever, “Make it Real” e “The Zoo”, exatamente onde falhou o som. Mas foi com temas como “Rock You Like The Hurricane” e “Still Loving You” no final da apresentação que a galera vibrou.


Enquanto isso e não muito distante dali o Obituary fazia um grande show. Infelizmente não pudemos assisti-lo por completo mas nos poucos minutos que o fizemos conferimos músicas como “Back On Top” e “Inked In Blood” do último disco e o clássico “Slowly We Rot”. Já em reta final de jornada tivemos encaixotados três propostas diferentes, o Biohazard que optamos por não ir já que em princípios de julho tocarão de graça numa das 45

praias de Barcelona, o Venom que tocou num palco fechado e quem não chegou cedo não conseguia mais entrar que foi o nosso caso, e o Marilyn Manson onde tínhamos prioridade para entrar. É claro que atacamos de Manson, até mesmo pela comodidade. Apresentação dentro do esperado, escuridão, maquiagem, flashes de luz em contra e é claro as que não faltam nunca como “Antichrist Superstar”, “Disposable Teens” e “The Beautiful People”. .


Hellfest X – 2015: Terceiro e último dia de celebração em Clisson

OFF!

CLISSON, FRANÇA: 21/06/2014

Texto: Ana Paula Soares e Mauricio Melo Fotos: Mauricio Melo

A

ssim como nas jornadas anteriores, no domingo, terceiro e último dia de festa em Clisson (França), tivemos um encontro com hora marcada com um dos quartetos mais incendiários da cena punk rock californiana e porque não, do mundo. Assim como o Vitamin X, o OFF! se apresentou no palco Warzone praticamente na hora do almoço e ainda que não tenha tido tanto público quanto no dia anterior, um bom número de amantes dos quatro acordes se reuniu para desfrutar de músicas como “Void You Out”, “I Don’t Belong”, “Blast” entre outras nas mais de duas dezenas que figurou no setlist. Não só pelos petardos musicais mas também por atuações e interpretações irônicas de Keith Morris e Steven Shane McDonald, além dos riffs de Dimitri Coats e da presença do esqueitista Mario Rubalcaba na cozinha. Está aí outro grupo que encaixaria melhor num horário mais nobre mas num geral, admiram-se inventos e desprezam-se inventores. Pernas pra que ti quero para chegar em condições de tempo para o show do Exodus que se apresentou e presenteou aos fãs mais 46

In Flames

Korn Marilyn Manson


Cavalera Conspiracy

Limp Bizkit

A Day To Remember Nuclear Assault

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antigo com o retorno de Steve Zetro Souza nos vocais, além de apresentar músicas do bom Blood In Blood Out tendo como abertura a mesma música que abre este recém-lançado disco, “Black 13”. É claro que Gary Holt não esteve no palco, muitos fãs ainda sonham em vê-lo outra vez com a banda, algo que particularmente não acreditamos que aconteça, seriam apenas participações especiais. A música título do álbum comentado acima também figurou no setlist que foi encerrado com “Bonded by Blood” e “Strike of the Beast”. Também houve espaço para o publico mais jovem e menos clássico e como trilha sonora a banda escolhida foi o A Day To Remember no palco principal 1. Um dos momentos de maior destaque foi a execução de “The Downfall Of Us All”. De volta ao palco onde uma hora antes tinha pisado o Exodus para conferir outro grupo clássico dos anos 80, o Nuclear Assault. Musicalmente a banda se mostrou impecável desde a abertura com “Rise From Ashes” e “Brainwashed”, ambas do disco Survival e mantendo o nível com “New Song” de Handle With Care. Da formação clássica, apenas Anthony Bramante não figura na guitarra. Para Dan Lilker o tempo parece não passar, já para John Connelly e Glenn Evans, guitarrista / vocal e baterista respectivamente, poderiam tranquilamente passar desapercebidos dentre o público. Em sua anual visita à Clisson, Max Cavalera liderou o Cavalera Conspiracy com seu carisma habitual. Por se tratar de um festival e com apenas 60 minutos á disposição, os irmãos Cavalera jogaram para ganhar. Mesmo com disco novo no mercado, Pandemonium o setlist foi calcado em discos anteriores e em “hits” do Sepultura. Abriram com “Babiloniam Pandemonium” e logo seguiram com “Sanctuary” e “Terrorize” do primeiro disco.


Exodus

Não demoraram para fazer a festa do fiel público com “Refuse / Resist” e “Territory” de Chaos A.D. (Sepultura) além de uma sequência com “Beneath The Remains”, “Desperate Cry” e “Dead Embryonic Sells”. Para dar uma pincelada e diferenciar de outras apresentações do grupo, duas músicas raras foram tocadas “We Who Are Not as Others” e “Sum of Your Achievements”, covers do Sepultura e Nailbomb respectivamente. Com “Inflikted” entraram em reta final e tentaram se despedir com “Roots Bloody Roots” mas uma vez mais o som falhou, assim como nos dias anteriores e já comentado aqui. Fred Durst parecia desconfiado diante de um público como o do Hellfest, mesmo o Limp Bizkit já estando em outros eventos do mesmo formato, parecia ter algum receio em como seria recebido mas desde os primeiros acordes de “Full Nelson” todo o receio foi demolido. Mesmo assim, o grupo deveria acreditar mais em seus riffs e potencial antes de fazer um setlist com covers do Ministry, medleys do Metallica e Rage Against The Machine. A prova de que sua música funciona dentro do público metal, principalmente na Europa onde o radicalismo não tem vez, foi com “My Generation”, “Break Stuff” e é claro, “My Way” que fez o público extravasar tanto quanto se estivesse diante de algum grupo lendário de heavy metal. Se despediram ao som de Stayin Alive dos Bee Gees de deixou os bangers mexendo a cadeira com dedinho para o alto. Mas as missões não haviam terminado, ainda nos restavam alguns nomes como o In Flames que trouxe o publico de volta ao mundo do metal. Numa excelente apresentação, os suecos abriram com a melódica “Only

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For the Weak” antes de atacarem com algo mais rápido como por exemplo “Everything’s Gone”. Mais adiante outro grupo resgatado dos anos noventa deu o ar de sua graça, o Korn fez a alegria do público de meia idade que voltou ao tempo de escola com “Blind”, “Ball Tongue” e fechando com “Freak on a Leash”. O quinteto também mostrou estar em dia e não decepcionou, esteve à altura do posto que lhes foi oferecido, o de grupo estrela do festival. Em nossa última missão, tivemos por diante o Superjoint Ritual de Phil Anselmo, eterno vocalista do Pantera. Oficialmente reconhecido como um dos maiores frontmans da música extrema, o gordinho da vez demonstrou toda sua fúria vocal em “Waiting For The Turning Point”. Também atacou de piadas sobre sua própria banda, deixando claro que estavam ali para se divertir. Devido ao cancelamento do Rise Against o NOFX antecipou sua apresentação e ficou encaixotado no horário. Também à aquelas alturas, chegar até o Warzone e enfrentar o funil cheio de bêbados em busca de diversão e desordem foi missão impossível, pelo menos para esta dupla que os relata o fim de semana. Afinal de contas, o dia seguinte seria repleto de quilômetros até chegar ao lar doce lar. Mais uma vez, o evento demonstrou sua força e confirmou que é um dos maiores, senão o maior dos festivais na Europa da atualidade. Apesar das falhas de som no palco principal, o que rendeu uma nota de imprensa explicando e se desculpando o acontecido, este fato não foi suficiente para estragar a festa, que contou também com um bom cenário e lindos shows de fogos de artifício. Que venha 2016!

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Por Maicon Leite Fotos: Assessoria/ Divulgação

C

omeçando cedo nesta vida difícil do Heavy Metal, porém obstinados, o Overdose Nuclear, de Ubatuba/SP, enfrenta todas as adversidades com muita garra, e representa de forma intensa a região litorânea norte do estado de São Paulo. Enquanto muitas bandas ficam de choro pelas redes sociais, reclamando da cena, da falta de shows e tudo mais, eles foram lá e criaram o festival “Inverno de Aço”, que neste ano reunirá cerca de 20 bandas em três dias, apresentando o melhor do Metal com qualidade e profissionalismo. Neste bate papo soubemos um pouco mais da história da banda e como foi gravar com Marcello Pompeu no Mr. Som Studio. Prometem para o próximo ano o debut em CD, mas por enquanto divulgam a demo “Os Urros que vêm da rua”. O Overdose Nuclear é formado por Marcus Goulart na guitarra, João Gallo no baixo, Diego Alvim na bateria, e por final, Júlio Candinho, guitarrista e vocalista, que nos concedeu esta entrevista. O Overdose Nuclear é formado por integrantes bastante jovens, com média de idade entre 18 e 21 anos, porém, o material que encontramos na demo “Os Urros que vêm da rua” mostra bastante competência e entrosamento, digno de veteranos. Como foi a entrada de vocês neste mundo do Metal? Júlio Candinho: A Overdose Nuclear demorou algum tempo até tomar a forma que vivemos hoje, consideramos 21/12/12 o aniversário da banda, o dia que era pra ter acabado o mundo foi a primeira apresentação da banda, a primeira apresentação minha como vocalista e a única apresentação que o Marcus Goulart não participou. Na verdade ele se apresentou com uma outra banda no mesmo evento, e era o teste pra

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JĂşlio Candinho

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ele entrar na Overdose Nuclear, só que nem ele sabia! (risos). Desde o começom tudo sempre fluiu, as músicas começaram a se formar e planejamos, trabalhamos duro e corremos atrás sempre acreditando no objetivo. Não temos receio de investir tempo, esforço e sangue na banda. Oriundos da cidade de Ubatuba, litoral norte de São Paulo, o Overdose Nuclear de certa forma é um dos representantes da região. Como é a cena nessa região? Quais os pontos positivos e negativos e o que poderia ser feito para mudar esta situação? A cena do Metal no litoral norte paulista infelizmente é quase inexistente, pequenos projetos que acabam em lugar nenhum atualmente contando com apenas um punhado de bandas na ativa, e somente dois festivais de proporção, o Trinka Metal que ocorre anualmente em Caraguatatuba e o Inverno de Aço que acontece em Ubatuba no qual somos os idealizadores e produzimos em conjunto com outras parcerias. Temos esperanças que daqui alguns anos a quantidade de bandas, de festivais e de locais para apresentações aumentem assim estabelecendo realmente a cena! Nos fale mais sobre este festival, “Inverno de Aço”. É a primeira edição que ocorrerá, agora em julho? A primeira edição do Festival Inverno de Aço ocorreu em 2013. Depois de um hiato de um ano, surgiu a oportunidade de novamente estarmos realizando o festival. A versão desse ano do festival teve pouquíssimo tempo para ser concluída, porém já engatilharemos para o ano que vem, e não vamos deixar mais de realizar esse festival que é um dos únicos da 54

Diego Alvim

Marcus Goulart


região. Cantar em português sempre trouxe dor de cabeça para as bandas brasileiras. Há quem não goste, e há quem apoie esta iniciativa em cantar na nossa língua natal. Qual foi o fator principal para esta escolha? Cantar e compor em português desde o princípio sempre soou muito natural, é algo que dá uma maior liberdade na hora da composição e além do mais apesar de muitas bandas de metal já cantaram e cantam em português, acredito que ainda seja uma área que pode ser explorada, que ainda não está saturada como muitos elementos no Metal atual.

João Galo

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“Os Urros que vêm da rua” foi gravado no Mr. Som Studio, pelo produtor Marcello Pompeu, vocalista do Korzus, porém, pouco tempo antes de entrarem em estúdio, houve a saída do antigo baterista. Diego Alvim parece ter entrado na hora certa… Na hora certa eu não sei, mais entrou no último segundo. Três dias antes da viagem pro Mr.Som! Para honrarmos o compromisso para com o estúdio, o qual muito requisitado convidamos o Diego, que aceitou, e a princípio iria somente gravar a demo, mas mostrou muita garra, determinação e muito som no processo da gravação tudo que o baterista anterior não tinha. O cara literalmente “conquistou” a vaga no suor e sangue, era tudo o que a banda precisava, precisa e sempre precisará! O fato de Marcello ser uma referência no Thrash Metal nacional surtiu alguma interferência nas gravações? Estar ao lado de uma lenda certamente trouxe grandes benefícios para a banda,


mas de que forma vocês utilizaram as dicas e direcionamentos dele? Foi realmente incrível podermos gravar a nossa demo o nosso primeiro passo, com um dos maiores nomes do metal brasileiro. Acatamos diversas dicas, e Pompeu conseguiu guiar a gravação, apesar das dificuldades, “a saída do baterista anterior” tudo fluiu muito bem e esperamos também gravar nosso debut com o Marcelo Pompeu! Dentre as três músicas presentes, “R’itual” parece ter tido mais aceitação, com quase 40 mil acessos no 56

Soundcloud. O que esta música tem de diferente se comparada a “Amarga Vingança” e “333”? Considero que cada música que fazemos é realmente única, E a “R’itual” conseguiu essa aceitação, por ser mais agressiva e nervosa que as outras, pela atmosfera que ela cria e além de ela ser a música mais recentes do “Os urros que vêm da rua”. Acredito que realmente é uma grande musica apesar da minha preferida ser “Amarga Vingança”. E agora, quais os próximos passos? Há material novo sendo composto ou


ainda estão focados na divulgação da demo? Basicamente o debut já está pronto, se tudo correr certo, em 2016 estaremos em estúdio! As composições estão ficando matadoras e muito do que vocês ouvirão nestas músicas são frutos colhidos nesta fase de divulgação da demo. Principalmente, a experiência em tocar ao vivo, o que nos deixa ainda mais entrosados. Para quem ainda não conhece a banda, como vocês a apresentariam? Uma viagem pelas loucuras, medos e ódios 57

por trás da mente obscura do homem do século 21, regadas a um vocal vociferado em português e muita agressividade. Muito obrigado pelo bate papo! Aguardaremos vocês de novo aqui em nossas páginas… Recado final? Nós é que agradecemos, e vida longa ao metal nacional! Acessem nossa página no Facebook e fiquem por dentro das novidades! Não deixem de prestigiar o “Inverno de Aço”, e para quem quiser saber mais informações sobre o festival, acesse AQUI.


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Por Pei Fon (peifang@rockmeeting.net) Fotos: Nina Cortinove

I

ndo na contramão, mas pensando no hoje e no amanhã, a banda de Heavy Metal, Primator, por meio do seu vocalista Rodrigo Sinopoli, nos concede uma entrevista super sincera e apaixonada. Em suas palavras, Sinopoli fala com muito entusiasmo pelo trabalho que desenvolve, o que é importante para todo músico: amar o que faz. Falando sobre o primeiro álbum da banda, “Involution”, destacamos músicas, o passado, o presente e o futuro. Acompanhe! Para começar, por favor, apresentem-se para os nossos leitores Rodrigo Sinopoli - Somos a Primator, uma banda de Heavy Metal tradicional da cidade de São Paulo, que foi criada em 2009 com o intuito de fazer música autoral aos moldes do que ouvíamos quando garotos. Já são seis anos de estrada se destacando na cena paulista de Heavy Metal. Quem é o Primator hoje em relação ao passado? A Primator de hoje é mais realista e concisa. Mais pé no chão, eu diria! Temos uma visão muito particular com relação à cena atual e, de certa forma, isso nos torna “menos sonhadores e mais executores”. Medimos melhor os nossos passos após seis anos de existência. O Primator transporta a áurea dos anos 80 e 90 para a atualidade. Como vocês apresentam “Involution”? O “Involution” é um álbum temático que traz à tona muitas de nossas influências, mas sem 60


nos tirar a identidade. O próprio conceito trata de problemáticas atuais que vivenciamos no cotidiano. A cada composição tivemos a preocupação de não fazer nada igual ao que já foi feito. Isso, com certeza, amplia nosso horizonte no que diz respeito ao processo criativo. “Involution” é o primeiro trabalho full-lenght da banda. E fora apresentado oficialmente para o público num show memorável com o Dark Avenger. Conta para nós como foi este dia. Foi absolutamente fantástico! A ideia era fazer esta mescla da antiga e da nova geração de fãs do metal do país e podemos dizer que tocamos para um público em comum. Além da indescritível emoção em dividir o palco com nossa maior influência nacional que é o Dark Avenger, e estreitarmos esta relação de amizade entre as bandas, a noite foi cercada de expectativas por se tratar também da estreia de nosso novo baterista, Lucas Assunção. “Deadland” e “Praying for Nothing” são canções compostas há cinco anos. Para o “Involution”, o tempo entre as músicas faz até algum sentido, não é? Faz sentido no que diz respeito a continuarem sendo problemas sem solução, o que nos permitiu incluir as duas no conceito de “Involution”. A questão é justamente esta. Mostrar que o passar do tempo não é sinônimo de uma evolução social, propriamente dita. Pode-se dizer que “Involution” levou cincos para ficar pronto? Levando em consideração a ‘idade’ das músicas? Não. As cinco músicas mais antigas, que são a “Primator”, “Deadland”, “Praying for Nothing”, “Flames of Hades” e “Let me Live 61


Again”, fizeram parte de nosso EP, autointitulado de 2012, quando ainda participávamos de muitos festivais e começamos a ter ideia da recepção do público com relação ao nosso som. O “Involution” não foi finalizado antes por falta desta certeza de que as pessoas ainda apoiariam uma banda que faz Heavy Metal aos moldes oitentistas, o que hoje não é nem um pouco comercial, principalmente aqui no Brasil e também por falta de recursos financeiros, já que a produção foi feita totalmente de forma independente. “Involution” é inspirado na “Origem das espécies” de Charles Darwin, na psicanálise e filosofia, podendo ser considerado como “uma observação da atual condição humana”, qual que seria? A atual condição da humanidade é justamente esta cena degradante que vivenciamos e fazemos parte hoje. Política corrompida, guerras petrolíferas em nome de Deus, comércio ilegal de vidas e de recursos naturais, produção de alimentos de origem totalmente duvidosa, tudo isso faz parte do conceito de que o ser humano caminha cada vez mais para o caos. “Não caminharemos nem à frente ou atrás de nossos mestres, mas lado a lado”. Primator pode ser resumido assim? No dia em que nosso trabalho for reconhecido mundialmente, poderemos, sim, dizer que esta afirmação nos resume. Top 5. Quais as bandas que influenciam o som do Primator. Destaque um álbum, e comente em poucas palavras. Iron Maiden, Judas Priest, Black Sabbath, Helloween e Saxon. Destaco o “The Number 62

of the Beast”, do Maiden, que foi um divisor de águas tanto para a banda quanto para o som que era praticado na época. Por fim, quais os planos do Primator para 2015. Sucesso e perseverança! Primeiramente, muito obrigado pela oportunidade da entrevista e parabéns pelo teor das perguntas. Para 2015, cumpriremos a agenda de shows, conforme eles forem aparecendo, já que não existe mais aquela coisa de “turnê


nacional” a não ser que você tenha um banco para suprir todos os custos e ainda molhar as mãos das pessoas “erradas” certas. Muitas bandas lançam seu primeiro trabalho e com a falta do retorno esperado, acabam por deixar de lado o trabalho, muitas vezes promissor. Assim, mais uma vez vamos na contramão e aproveitaremos este tempo para nos dedicar ao novo álbum que contará com a produção vocal de Mario Linhares, terá uma faixa totalmente composta por ele e já tem um conceito 63

bem definido. Com sorte, lançaremos ainda em 2016, muito provavelmente de forma independente também. Ao público e leitores em geral, deixo aqui o meu mais sincero sentimento de gratidão e o apelo para que compareçam aos shows e comprem material das bandas autorais, pois só assim a cena sobreviverá. Um grande abraço a todos e continuem firmes! Páginas oficiais: Site | Facebook | Twitter | Soundcloud


Apresente-se! Meu nome é Mario Linhares, sou natural de Belém do Pará mas vivi a minha vida inteira em Fortaleza onde estudei Engenharia Civil na Universidade Federal do Ceará. Em 1992, aos 22 anos, me mudei para Brasília onde fundei o Dark Avenger, trabalhei no Banco do Brasil por 15 anos e hoje vivo de fazer música, há 23 anos. Quem era você no começo da carreira e quem é você hoje? Eu era um menino raquítico que não tinha sonho algum, somente o do momento. Hoje sou um pai de família e um músico com muitos sonhos de poder ajudar a quem está começando e a quem pretende seguir a carreira de músico. Já realizou todos os seus sonhos, ainda falta algum? Já lancei grandes e conceituados álbuns, toquei em grandes palcos e festivais para grandes públicos; dividi o palco com muitos dos artistas nacionais e internacionais que admiro, já fiz longas turnês nacionais que me permitiram conhecer esse nosso lindo país e sua gente, e também turnês internacionais que me permitiram realizar alguns sonhos, como por exemplo, conhecer e tocar na Rússia. Já são motivos suficientes para se considerar realizado... mas não. Ainda sonho em participar de um grande musical, algo que irei realizar agora em outubro com o musical O Fantasma da Ópera (onde faço o papel do Fantasma), além de conhecer e tocar na Ásia. Do que você tem medo? De não ser útil a quem tem expectativas em mim. Temo não ter tempo de 64


Fotos: Pei Fon

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realizar o meu sonho que é de formar novos talentos e ajudar a quem quer cantar. O que costuma fazer quando não está em turnê? Dormir por mais tempo? Eu, todos os domingos, (por isso procuro chegar cedo em Brasília nos domingos de shows) dou aula para pessoas de baixa renda na paróquia de uma igreja na periferia de Brasília. São 40 alunos com faixa etária entre 10 e 60 anos de idade. É uma maravilha vê-los progredir e encontrar alegria na música. Afora isso gosto muito de ler, ir a teatro e musicais, além de assistir a filmes europeus. Quando era criança o que você dizia que iria ser? Eu sou órfão e tive uma infância turbulenta. Não consigo lembrar de algo em específico nesse sentido. A única coisa que lembro bem era da solidão e da incerteza do futuro. Qual foi a sua maior realização pessoal? Foram várias: meu filho em 1994, meu primeiro disco, o último, os prêmios como melhor cantor, melhor banda, etc., meus amores e minhas perdas... são realizações que edificaram a pessoa que eu sou. Eu penso que meu maior momento será uns segundos antes de partir desta existência. Scho que lembrarei de tudo que deixarei e acharei que foi bom Qual foi o seu pior momento? Uma tentativa de suicídio em maio de 2013 após a cirurgia do câncer na coluna vertebral. As incertezas da recuperação dos movimentos das pernas somadas ao fato de tentar cantar e não conseguir, me levaram a pensar que a vida havia acabado ali naquele momento para mim. Felizmente havia telas de proteção 66


para gatos nas janelas do apartamento. Qual cd você gostaria de ter feito? Metal Church do Metal Church. O que te motiva? Uma força incontida e inquieta em meu peito. Um pensamento criativo e desafiante que não me permite ficar quieto nem parar. Há um turbilhão de ideias e possibilidades em minha mente, e em minha voz, e eu sigo caminhando e cantando. Houve algum momento na sua carreira que você pensou em desistir? Vários momentos. Mas a força da resposta anterior é maior que as fraquezas intermitentes. Qual são as 5 bandas que você mais gosta? Cite um álbum e fale deles. Metal Church – Metal Church Crinsom Glory – Transcendence Kamelot – The Black Halo Memento Mori – Life, Death and Other Morbid Tales Forbidden - Distortion 2014 foi um ano difícil no qual passou por um procedimento cirúrgico e achou que não ia cantar mais. De onde tirou forças para continuar? Essa resposta é um complemento à pergunta 8.No momento de maior fraqueza eu tive que decidir se queria morrer, e o porquê, ou se queria viver, e o porquê; tudo isso em uma janela de tempo muito estreita.Se hoje estou te respondendo a essa entrevista é porque nesse brainstorm relâmpago que cobrava uma decisão eu percebi que só havia um motivo para por fim à minha vida, o meu medo de falhar, 67


e havia inúmeros motivos para continuar vivendo, minha família, minha esposa, meus amigos, minha música, entre outros. Acalmar o pensamento através da respiração e do raciocínio lógico nesses momentos foram fatores preponderantes para essa decisão. Diante de tantas dificuldades, o que te inspira a continuar na música? Desafiar a mim mesmo, provar que posso ser melhor que o Mario Linhares de ontem e ser o máximo verdadeiro que eu possa ser. Eu preciso a cada dia descobrir quem eu sou, sem máscaras, sem dúvidas. Preciso mostrar pra mim mesmo que posso evoluir como mente, como pessoa e artista, que posso ser útil e verdadeiro à minha comunidade e a quem acredita em mim. Existe algum tipo de ritual antes de subir ao palco? Exercícios de aquecimento vocal e de tratamento da energia individual. Itens obrigatórios para uma boa performance artística. Todo mundo tem uma mania, qual a sua? Eu tenho uma mania de não seguir regras. (Risos) Deixa aqui uma mensagem para nossos leitores. Muito obrigada! Pei, muito obrigado pela oportunidade e pelo carinho que demonstra para comigo e meu trabalho. Desejo a todos que nos leem que sejam sempre felizes e acertivos em suas buscas e escolhas. Para vocês deixo uma frase que escrevi no meu último disco do Dark Avenger. Ela me ajudou muito nos momentos de busca e aflição: “... out from the mud that grounds your sorrows you must build a safe way, to cross the bridge of doubt and fear that lies ahead...” (“... da lama que alicerça tuas dores construa um caminho seguro e cruze a ponte de dúvidas e temores que se encontram diante de tí...”) Sucesso sempre . Mário Linhares

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Melyra - “Catch me If You Can”

Por Marcos “Big Daddy” Garcia - Metal Samsara

Bem, quem conhece o Pai Marcão aqui, bem sabe que sou um fã de Metal das antigas. Basicamente, comecei a ouvir Metal em 1983, quando o pouco que tínhamos ainda distava dos estilos mais modernos, onde o termo “Heavy Metal” tinha uma conotação mais forte. Logo, não é de se estranhar que eu possua raízes muito profundas no Metal tradicional, e ser admirador de bandas que seguem este gênero. E o quinteto carioca Melyra é uma grata surpresa com seu primeiro trabalho, o EP “Catch Me If You Can”. A musicalidade das garotas (sim é um quinteto formado por mulheres bem talentosas) é o mais puro Heavy Metal tradicional à lá Judas Priest e Iron Maiden, feito com garra e energia por Mariana Figueiredo (vocais), Fernanda Schenker (guitarras, backing vocals), Alyne Carloto (guitarras, backing vocals), Helena Accioly (baixo, backing vocals) e Ana de Ferreira (bateria), além de amor e dedicação. E mesmo com um estilo que, em tese, é bem velho, não soa de forma alguma datado, ou mesmo como uma cópia. Justamente a proposta de ser uma Female Heavy Metal band as torna diferentes de outras bandas, fora a personalidade que elas colocam nas músicas. Em 5 músicas (pois uma é uma introdução), elas mostram a que vieram, e muito bem. O trabalho se baseia em músicas que não exageram 70

na técnica, mas sim na unidade do grupo como um todo, fora riffs muito bem pensados, solos melodiosos, baixo e bateria com peso e técnica na medida certa, vocais excelentes, backing vocals fortes e refrões muito empolgantes (daqueles que se ouve uma vez, e não se esquece mais). Todas as músicas são ótimas, mas se destacam a balada “Fly” (onde se percebe a sensibilidade e feeling dos vocais, além da força e boa técnica de baixo e bateria), a moderna e azeda “Trip to Hell” (que possui uma pegada mais agressiva e seca, lembrando o trabalho de bandas de Metal tradicional moderno), mas a grande jóia rara do Melyra é realmente a sensacional “Catch Me If You Can”, com um refrão grudento, belos arranjos de guitarra (inclusive com grande influência do Maiden), onde a banda mostra sua vocação. E como o mundo inteiro vive momentos de transformação, no que tange o reconhecimento de igualdade entre todos, são bandas como Melyra, Indiscipline, Nervosa, Hellarise, Noway, Innocence Lost e outras que são compostas ou totalmente por mulheres ou que tenha alguma em sua formação que ajudam o público headbanger a despertar para esta realidade. Ah, você não gosta de bandas com mulheres? Sinto muito em dizer, mas elas estão aí desde os anos 70, e vão continuar para sempre. GO, MELYRA, GO! Acesse AQUI.


THE DARKNESS - “LAST OF YOUR KIND” Por Lula Mendonça - jornalista e headbanger

É interessante como determinadas bandas, mesmo tendo vários elementos e referências musicais que nos agradam, são negligenciadas por nossa audição devido a preconceitos infantis como, por exemplo, não gostar do figurino adotado pelo grupo. Um dos meus deslizes preconceituosos aconteceu em 2003 quando, ao assistir o videoclipe da faixa “I Believe In A Thing Called Love”, dos ingleses do “The Darkness”, fui surpreendido por um figurino visualmente desagradável, ao menos para mim, o que fechou as portas por um bom tempo dessa banda em minhas audições. Passados onze anos, resolvi escutar o mais recente trabalho do grupo capitaneado pelos irmãos Justin e Dan Hawkins, intitulado “Last of Our Kind”. Não é preciso escutar muito o álbum para perceber que os irmãos Hawkins, principais compositores do grupo, bebem na fonte dos ingleses do Queen, o que fica bem explicito na faixa “Mighty Wings”, a minha preferida do álbum. 71

Músicas como “Roaring Water” e “Hammer & Tongs” têm elementos que nos remetem ao álbum “III Sides to Every Story” da banda luso-americana “Extreme”, as excelentes “Barbarian” e ““Last of Our Kind” capricham nos riffs (o álbum é repleto deles e são sensacionais) e clichês que todos fãs de hard rock vão adorar, e “Sarah O’Sarah”, assim como as baladas “Wheels of The Machine” e “Conquerors”, são músicas prontas para tocar a todo o momento nas principais rádios e web rádios mundo afora. “Last of Our Kind” não é apenas o álbum que mais escuto no momento, mas também o trabalho mais interessante de uma banda de hard rock que escutei nos últimos anos, e parafraseando o jornalista Fernando Calazans, ao dizer que “se o Zico não ganhou uma copa do mundo, o azar era da copa do mundo”, posso dizer que se não escutei antes os outros álbuns do “The Darkness”, o azar foi, com certeza, todo meu.



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