Revista Rock Meeting Nº 69

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EDITORIAL

Não há um ser na face da terra que não tenha sofrido com alguma “chantagem” de que: “nossa, você fez aquilo, não pode, sabia?”. Quem nunca passou por isso? Na vida já há tantos “disse não me disse”, que o meio do Heavy Metal está concentrando uma renca de pessoas que fiscalizam o que você faz na cena. O que é mais importante: continuar com o que estava fazendo ou se importar com o que dizem? “Estudos” mostram que se importar com estas “dicas” são prejudiciais à boa convivência. Estudos estes baseados no que vemos diariamente. É muito incomum encontrar uma pessoa que não sofre com perseguições e coisas afins. Cada pessoa pode relatar o que sofreu e sofre. Pois é preciso manter uma pose desnecessária. Em virtude disto, ninguém pode fazer nada porque alguém, certamente, está fiscalizando seus atos e vai contar para os seres supremos da cena o que você fez, e ele vai dizer qual será sua punição. Que coisa ridícula! O mundo está dividido em quem não se importa e quem dá ouvidos. Você, em que lado está?


TABLE OF CONTENTS 07 - Coluna - Doomal 13 - News - World Metal 16 - Entrevista - Siriun 24 - Entrevista - Violator 32 - Coluna - Movie 36 - Entrevista - Oostegor 40 - Live - Mosh Fest 50 - Capa - Project 46 58 - Coluna - Lapada 66 - Entrevista - Kamala 78 - Entrevista - Incursed 84 - Live - Nile 90 - Live - Angra 98 - Perfil RM - Reinaldo Leal (Unmasked Brains) 102 - Coluna - O que estou ouvindo?


Dire巽達o Geral Pei Fon Revis達o Rafael Paolilo Capa Alcides Burn Colaboradores Jonathas Canuto Leandro Fernandes Mauricio Melo (Espanha) Vicente de A. Maranh達o CONTATO contato@rockmeeting.net



Por Vicente de A. Maranhão Sunn O)))

Os abismos do Drone Doom Nos anos 90 surgiu um subgênero que se caracterizou por fazer uma forma extremamente pesada e minimalista de doom metal, conhecida hoje como “drone doom”. No drone doom é muito comum o uso de baixos com distorção e guitarras com frequência muito alta, “reverb” e “feedback” causando um som monolítico e repetitivo, removendo coros, solos, muitas vezes até mesmo vocais, mergulhando a música em um reino desumano de abstração obscura. Se este é o seu primeiro encontro com drone doom, vou ajudá-lo a entender de onde

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ele vem. Você pode rastrear as raízes do doom metal todo o caminho de volta ao Black Sabbath (com sua transformação do hard rock para uma sonoridade “sludgier” e mais lenta e temáticas ocultistas exaltando a miséria e a paranoia) - mas o som realmente solidificou como gênero nos anos 80 com grupos como a Saint Vitus da California e Candlemass de Estocolmo, que mesclaram as influências do Black Sabbath com tendências mais modernas do metal (como o uso de bumbo duplo na bateria) para criara uma sonoridade de ritmos lentos, guitarra com afinação baixa e um som mais “encorpado”. A Música Drone, enquanto isso, cres-


Dylan Carlson - O homem responsável pela criação da sonoridade característica do Drone Doom

ceu a partir de uma fonte muito diferente. Definido na década de 1960 por compositores como La Monte Young e Tony Conrad, cuja experimentação no campo do minimalismo clássico encontrou-os a explorar influências como a música vocal polifônica, tambura indiana e as gaitas escocesas. Ambos os gêneros parecem ser de mundos separados - uma das bases clássicas do heavy metal e outro do mundo rarefeito da música clássica experimental - mas eles compartilham algo em seu amor por composições longas, construção de atmosferas obscuras

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e intenso poder hipnótico. E o homem para trazê-los juntos era Dylan Carlson. Nascido em Seattle, Washington, Carlson cresceu como um metalhead adolescente, obcecado com o Sabbath, Ted Nugent e um trio de sludge doom das proximidades Aberdeen chamado The Melvins. Ao mesmo tempo, porém, Carlson estava estudando música minimalista, e o grupo que ele fundou em 1989, Earth, foi dedicado a fundir os dois estilos para fazer uma música que fosse extremamente lenta, pesadas e um volume muito alto. A banda Earth gravou muitos grandes


Moss

discos ao longo dos anos, mas em especial o seu álbum de 1993, 2: Special Low-Frequency Version, é a pedra angular sobre a qual repousa o drone doom. Com apenas 03 faixas e 75 minutos de duração, riffs extremamente lentos e um rugido low-end extremamente saturado faz você sentir por base a noção de que o heavy metal pode ser música ambiente, também. Lançado pela gravadora Sub Pop, no auge do grunge, este disco obteve baixa vendagem e não se saiu muito bem com a crítica especializada, que lutou para desassociar os experimentos musicais de Carlson com seu uso constante de drogas pesadas.

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A banda acabou entrando em hiato após o lançamento do terceiro álbum chamado “Pentastar: in the Style of Demons” de 1996, devido ao uso abusivo de drogas Por Carlson e também por uma série de problemas legais. Retornando oficialmente em 2005 com um frontman limpo, um novo line-up, um som novo, cinematográfico. O álbum de retorno “Hex; or Printing in the Infernal Method” baseou-se em livros de Cormac McCarthy e na música de Neil Young, já o disco de 2011” Angels of Darkness, Demons of Light


I” e “Angels of Darkness, Demons of Light II” de 2012 foram inspirados pelo folk-rock da Convenção de Fairport e investigações de Carlson para o “povo faire” da mitologia Inglesa antiga. A sonoridade peculiar de Earth acabou se espalhando pela cena e serviu como base para muitas outras bandas a transformarem. Exemplos como da banda canadense Nadja que mesclou a música lenta e hipnótica de Earth com a estática da música shoegaze; Moss, de Southampton, foi influenciado pela a inclinação de Carlson para a fantasia e criou uma sonoridade baseada em temas do ocultismo e do escritor de horror cósmico HP Lovecraft; Black Boned Angel da Nova Zelândia, por sua vez, vai ainda mais fundo, borrando as linhas entre doom metal e o dark ambient, com repetições que parecem concebidos para apagar toda a esperança. Boris de Tóquio, ao experimentar com muitas permutações diferentes de música, têm prosseguido uma direção drone doom em álbuns como Amplifier Worship de 1998 e Dronevil de 2005 (um álbum duplo, com um disco de sonoridade leve, e outro pesado, e ambos concebidos para se tocar simultaneamente). Outra banda japonesa que se destaca é o Corrupted, que evitam entrevistas e sessões de fotos mas produzem uma musicalidade drone doom de âmbito grandiosamente épico, entrelaçando seus riffs com segmentos acústicos ocasionais e vocais de língua espanhola. Fora da Terra, porém, a banda chave

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Corrupted


na drone doom é, sem dúvida, Sunn O))). Formada em Seattle em 1988 por Stephen O’Malley e Greg Anderson, o duo escolheu o nome da banda inspirado no título do álbum ao vivo do Earth chamado Sunn Amps and Smashed Guitars, de 1995.Como ponto de partida, Sunn O))) se baseou na sonoridade ultra-pesada do disco 2: Special Low-Frequency Version do Earth e acrescentou diversos elementos rituais. Nos shows ao vivo do grupo vemos O’Malley e Anderson subir ao palco em roupas de monge, curvando-se um ao outro, através das nuvens de gelo seco, de forma monolítica, tocando seus riffs ensurdecedores de guitarra em intervalos escalonados, tornando sua performance perfeitamente multissensorial. Você não pode simplesmente ouvi-los, mas senti-los, as ondas de som que passam através de seu corpo e chacoalhando sua caixa torácica. É, perversamente, maciçamente e musicalmente agradável. A formula adotada pelo grupo é notavelmente duradoura por causa de sua habilidade em adição a este modelo simples. Como tanto um estúdio e uma entidade viva, O’Malley e Anderson se aproximar sua banda como um projeto com fileiras abertas As características principais do drone doom pode ser simples - lentidão, repetição, volume, escuridão implacável - mas há todo um universo obscuro a ser explorado uma vez que você olhar para o abismo

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Ronnie James Dio No último dia 16 de maio, completou-se cinco anos da morte de um dos maiores vocalistas de heavy metal de todos os tempos: Ronnie James Dio. Músicos de todas as partes do mundo encontraram uma forma de homenagear o “baixinho”. A banda paulista de rock/ metal progressivo Maestrick foi uma das que não deixou a data passar em branco e registrou uma homenagem à altura do legado deixado por Dio. Trata-se de uma regravação da música “Rainbow Eyes”, do Rainbow, com a participação mais do que especial da OBA! (Orquestra Belas Artes) sob regência do maestro Andrea Porzio Vernino. A versão do Maestrick de “Rainbow Eyes” foi lançado no formato de videoclipe com filmagens rodadas no teatro do Sesc São José do Rio Preto e direção da Pocbit. O vídeo está disponível no canal oficial da banda no Youtube.

DVD e video clipe

Inédito

O excelente resultado obtido com “Hit And Run” injetou motivação extra nas quatro metaleiras de Goiânia do Girlie Hell (Bullas, Carol, Fernanda e Júlia), que agora anunciam mais dois lançamentos: single/video para a inédita “My best” e DVD “Get Low - Girlie Hell Unplugged”. O teaser do vídeo pode ser assistido na página do Youtube das moças AQUI. Mais informações na fanpage oficial.

Os thrashers do Metalizer divulgaram novas informações referente ao seu próximo disco, intitulado “Your Nightmare”. O lançamento está previsto para junho, em parceria com a Black Legion Productions. O álbum foi gravado e produzido no Mix Music Estúdio (SP). A produção foi realizada em conjunto entre a banda com e o produtor Fabio Ferreira.

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Agosto Negro

show e novo vídeo

Os veteranos do Empire of Souls, voltaram de um hiato de 5 anos e vêm gradativamente retomando seu espaço. Desde o retorno, já participaram de grandes eventos no estado de São Paulo e Minas Gerais e agora estão confirmados para a segunda edição do Agosto Negro em São Paulo com a banda Taake (Noruega) como atração principal e as também brasileiras Patria, Mork e Mork Wisdow.

A banda carioca Forkill confirmou sua participação no show com o lendário grupo norte-americano Nuclear Assault no Rio de Janeiro (25/08), no Teatro Odisseia. A turnê, intitulada “Final Assault Tour 2015” celebra a turnê de despedida de Dan Lilker & cia. Atualmente divulgam a música “Let There Be Thrash Vers.1”, próximo vídeoclipe da banda carioca, gravado no Unmasked Metal Fest.

Show especial Após 11 anos sem lançar material inédito, os pioneiros do Folk Metal no Brasil, o Tuatha de Danann, lança seu novo albúm. Sob o sugestivo título “Dawn of a New Sun” (Aurora de um Novo Sol), o disco apresenta a banda revigorada, mais madura, porém sem perder sua essências e características que a tornaram conhecidas: as melodias alegres recheadas de instrumentos oriundos da música irlandesa como whistles, banjos, gaitas de fole e bandolins aliados ao peso e energia do Heavy Metal. O Tuatha de Danann fará um show especial de lançamento do album em SP dividido em 2 sets, um tocando Dawn of a New Sun na integra e outro só com antigos clássicos da banda. Será no Manifesto Bar, dia 04 de julho e os ingressos on-line já estão disponíveis AQUI. 14


De volta No próximo dia 13/06 a banda A Sorrow Dream voltará à cidade de Santa Maria/RS, agora apresentando a nova formação e músicas do vindouro full-length “Passion”, além de composições antigas, já consagradas entre o público. O grupo participará da 11º edição do tradicional Obscure Faith Festival, ao lado das bandas Pilatus, Morthur e Isfet, no Skatto Bar (Av. Borges de Medeiros, 1769), a partir das 22h. Sairá uma excursão de Porto Alegre, organizada por Paulo “Necrovitus”, da Pilatus. Mais informações no evento do Facebook. “Passion”, o segundo álbum da carreira da banda que mantém intacta a sonoridade do septeto, porém adiciona novos elementos que acabam por enriquecer suas músicas, agradando aos fãs do Gothic/Doom Metal e o Metal em geral.

à venda

“My Fault”

A banda paulista de DeathCore Pray For Mercy confirmou à venda da versão física do seu novo álbum, intitulado “In Absentia”, na rede de lojas Saraiva. O referido material também foi lançado e distribuído mundialmente no seu formato digital, através da empresa Onerpm. O formato físico foi lançado no Brasil através da Eternal Hatred Records, Voice Music para as principais lojas especializadas e demais MegaStores do país.

A banda manaura de heavy metal Wasserfall disponibilizou para audição a música “My Fault”, faixa integrante do álbum “Fates Of Glory” lançado pela própria banda em maio deste ano. Para conferir o streaming da música “My Fault” acesse o AQUI. Em sequência a turnê intitulada “Fate of Glory Tour” a banda Wasserfall realizará no dia 20 de junho uma apresentação no Tortuga´s Bar na nova edição do festival Confraria dos Hereges em Manaus, estado do Amazonas.

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Por Maicon Leite Fotos: Banda/Divulgação

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ecém-lançado no Brasil em formato independente, o álbum “In Chaos We Trust”, do Siriun, promete satisfazer completamente os aficionados em Death Metal, sobretudo aqueles que curtem o lado mais técnico do estilo. Conversamos com Alexandre Castellan (guitarra e vocal) e Hugo Machado (baixo) sobre todo o universo que envolve a banda, buscando entender o conceito lírico que envolve a alquimia, e é claro, como foi o processo de gravação com o baterista Kevin Talley (Six Feet Under, Suffocation). Confira! O Siriun tem obtido excelentes resultados com o lançamento do CD “In Chaos We Trust”, agora disponível no Brasil em versão digipack. Como a banda encara a boa receptividade ao redor do mundo? Alexandre: Estamos muito contentes! A banda não existia antes do lançamento do CD, não fizemos da forma tradicional que costuma ser: montar a banda, fazer shows, ir formando uma base de fãs e depois lançar o CD. Por isso ficamos ainda mais felizes com essa boa repercussão. Os recentes lançamentos dos vídeos das músicas “Infected” e “Transmutation” tiveram cobertura da mídia especializada no mundo todo e já recebemos reviews de sites dos mais variados países como Brasil, Estados Unidos, Inglaterra, Estados Unidos, Índia, Noruega, Bélgica entre outros. Outra grande novidade é o vídeo para a música “Transmutation”, criado pelo 18

guitarrista do Dark Tranquility, Niklas Sundin. Creio que o resultado final tenha ficado além do esperado... A música em si fala sobre a transmutação mental, como descrito pelo conhecimento Hermético. Em que sentido a alquimia está inserida na temática do álbum? Alexandre: Sim o vídeo superou minhas expectativas. O Niklas fez um trabalho extraordinário! O álbum tenta passar a ideia de que assim como na mitologia grega, o universo se formou a partir do Caos, a mente humana também pode se transformar a partir de um estado caótico em que ela é submetida no dia-a-dia, numa nova consciência. Na alquimia a busca pela pedra filosofal, pode ser entendida como a busca pela evolução de nossa consciência. Transmutar a matéria bruta em


algo superior é algo que acredito que todos os seres humanos devem buscar para transcender todos os conflitos e contradições que encaramos ao longo de nossa existência. Juntando este tema um tanto quanto diferente, estão as diversas influências musicais, além do Death Metal, estilo da banda. Nota-se o uso bem adequado de violões em algumas passagens. Este tipo de inserção musical reflete de maneira positiva na audição do álbum. Quando vocês utilizam estes elementos, no que se inspiram? Alexandre: O violão consegue passar uma emoção bem diferente da guitarra distorcida. A mistura dos dois gera um resultado muito interessante. Acredito que a inspiração venha da influência de bandas que sempre fizeram 19

uso dos dois instrumentos nas músicas, como por exemplo, Pink Floyd, Led Zeppelin, Mastodon e Opeth, além de músicas “étnicas” instrumentais de todos os cantos do mundo que eu costumo escutar. A bateria de “In Chaos We Trust” foi gravada por Kevin Talley (Six Feet Under, Daath, Feared, Suffocation, Devil Driver, BattleCross, etc). Sendo ele um nome conhecido do Death Metal mundial, reverteu em divulgação extra para o grupo no exterior? Alexandre: Sim, com certeza. Ter alguém como ele no CD, ajuda a criar um interesse em pessoas que nunca ouviram falar na banda. E isso também nos ajudou a conseguir espaço na mídia lá de fora. Pelo fato de o núcleo da banda ser do


Rio de Janeiro e Kevin Talley dos EUA, obviamente ele mandou as gravações de bateria pela internet. Mas, como foi este processo? Ele pode dar um toque próprio nas músicas? Alexandre: Eu mandei as demos com bateria eletrônica como referência pra ele pela internet e ele me retornou a bateria gravada. Nesse meio tempo fomos nos falando. Posso dizer que o Kevin não só deu um toque próprio, mas levou nossa música pra outro nível! Não tem nem comparação das ideias básicas que eu mandei pra ele com o resultado final que vocês podem ouvir no CD. Sendo um músico de estúdio, Kevin ficou restrito apenas à gravação do álbum, tanto que agora a banda está buscando um músico fixo para o posto. Alguém em vista ou a procura está sendo árdua? Hugo: Encontrar alguém pra substituir o Kevin não é fácil (risos). As maiorias dos bateristas do nível dele daqui já estão em bandas bem estabelecidas. Mas já temos alguém em vista. Estamos conversando e em breve teremos novidades! Do ponto de vista do Siriun, como é a cena carioca? Parece-me que há algumas subdivisões envolvendo algumas bandas, o que enfraquece a cena como um todo. A que ponto este tipo de situação pode atrapalhar a trajetória das bandas? Hugo: A cena carioca não está enfraquecendo. Na verdade de uns anos para cá está em crescimento. Apesar da diversidade de estilos no metal carioca, as bandas estão mais unidas e isso é percebido em inúmeros festivais organizados pelas próprias, onde ban20


das mais extremas dividem palco com outras tradicionais. Em algumas publicações, classificaram a banda como Death Progressivo, já em outras, como Groove Metal. Dentre os tantos sub-estilos existentes e os que poderão vir a ser utilizadas para definir a banda, como fica a cabeça de vocês depois disso? No momento em que criam as músicas, preocupam-se em seguir um tipo de direcionamento? Alexandre: Na verdade eu fico até feliz com essa indefinição na classificação do estilo da nossa música, porque é sinal de que estamos fazendo algo com uma característica própria. Nosso único direcionamento é fazer música pesada. Não queremos soar como alguma banda específica. Por que eu vou escutar uma banda que copia o Megadeth, por exemplo, se eu posso escutar o próprio? Além disso, acredito que a composição é algo bem único e pessoal. Assim como as pessoas têm suas ideias baseadas em suas vivências, quando compomos, estamos colocando a nossa interpretação de todas as influências musicais que tivemos. Outro fato interessante é que a produção do álbum ficou toda por sua conta, incluindo mixagem e masterização. Foi sua estreia como produtor? Trabalhando dessa forma você acredita que há mais liberdade? Alexandre: Já havia feito outros trabalhos isolados não muito sérios e alguns reampings, mas esse foi meu primeiro trabalho sério lidando com todas essas etapas. Com certeza isso me possibilitou ter muito mais tempo e liberdade para criar e experimentar. Por outro lado quando você não tem uma data de 21


entrega do trabalho, pode acabar perdendo um pouco a objetividade e ficar mexendo demais nas músicas, tem que saber a hora certa de parar. Eu confesso que fiquei bem apreensivo com o resultado final, já que eu queria entregar algo de qualidade. Estou muito contente com as boas criticas sobre a produção também. Obrigado pela entrevista! No mais, o que podemos esperar da banda para o futuro? Como vocês apresentariam a banda para os leitores da Rock Meeting? 22

Alexandre: Nós que agradecemos a oportunidade de conceder essa entrevista! Estamos trabalhando no licenciamento do CD nos Estados Unidos, Japão e Europa, esperamos fazer shows em breve e lançar um material novo num futuro não muito distante. Gostaríamos de agradecer também aos leitores da revista e dizer pra eles que ao escutarem a Siriun, podem esperar uma mistura de estilos, com brutalidade, agressividade, passagens acústicas e letras com temáticas filosóficas. É o tipo de música pra pessoa que quer escutar uma pancadaria mas também procura algo a mais.



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Por Pei Fon (peifang@rockmeeting.net) Fotos: Sebastián Michia (Metal Daze)

Violator de volta. O que aconteceu para que houvesse essa parada da banda? Olá pessoal da revista Rock Meeting! Gostaria, primeiramente, de agradecer pelo convite para fazer esta entrevista. Nós passamos o ano todo de 2014 em stand-by. Nós fizemos essa pausa porque nós precisávamos de um tempo para colocar ordem em algumas questões profissionais e pessoais nas nossas vidas. Todos nós do Violator temos trabalhos normais e por isso conciliar tudo fica um pouco complicado às vezes. Os anos antes dessa pausa foram muito ativos para nós e por isso algumas outras questões de nossas vidas acabaram ficando meio de lado. A princípio era para ficarmos apenas um semestre parados, mas depois tivemos a notícia de que o Poney seria pai. A filha dele, Stella, nasceu no segundo semestre no ano passado, então decidimos estender a pausa para o segundo semestre de 2014. Afinal seria muito complicado conciliar nossos trabalhos, o Poney com sua filha recém-nascida, e ainda manter uma rotina de ensaios e shows. Qual o motivo para retornar aos palcos? O povo aclamou e vocês acataram? Nós nunca tivemos a intenção de parar de vez. O tempo que tivemos foi suficiente para resolver o que precisávamos resolver. Na minha opinião, esse período de descanso foi muito benéfico para gente. Acho que não voltamos a tocar por nenhum tipo de clamor por nossa volta não. Nós amamos o barulho que fazemos. Eu e os outros caras estávamos morrendo de saudades de tocar e as coisas se resolveram de forma que a gente pudesse concretizar essa volta como havíamos planejado no começo. Ainda bem! Vocês voltaram e tem data para parar novamente, por enquanto. O chamado da família vem primeiro, não é? Pois é. Agora a surpresa é que a minha esposa está grá26


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vida. Isso não estava nos planos também (risos). Meu filho deve nascer em agosto. Por isso nós decidimos fazer outra breve pausa no segundo semestre desse ano, até pelo menos terceiro ou quarto mês de vida do meu filho. Os primeiros meses são os mais complicados, então ficarei de plantão nessa época cuidando do meu filhão junto com a minha mulher. De qualquer forma, nós já temos planejado a nossa volta aos palcos que deve acontecer provavelmente em janeiro de 2016. Com este retorno, podemos esperar um novo álbum do Violator? Nós estamos planejando não fazer shows durante a pausa deste ano, mas queremos aproveitar esse período longe dos palcos para compor. É possível que a gente lance algo novo em 2016. Num site argentino vocês disseram que “não querem viver de música”. O que a música representa para vocês? Essa sempre foi uma convicção do Violator. Viver de Metal ou qualquer outro subgênero não comercial do rock no Brasil é muito complicado. Por mais que isso possa até ser possível durante um certo período, eu acho muito difícil viver tocando Thrash sem ter que abrir mão de algumas convicções que a banda tem. Por isso a gente prefere ter a banda como algo muito sério, mas que não envolve o sustendo de seus membros. Dessa forma a gente tem liberdade pra fazer as coisas da nossa forma sem perder a diversão e a espontaneidade. Ainda sobre esta entrevista, Poney comenta que alguns metaleiros não entendem certas coisas. Amizade, convicções e paixão. É assim que se pode definir os quatro caras de Brasília? 28


Com certeza! Desde o nosso primeiro release em 2002, a gente fala que o Violator é apenas uma reunião de quatro amigos que querem tocar juntos Thrash Metal sem concessões. Isso realmente não mudou nada ao longo dos anos. É claro que as coisas vão ficando mais complicadas por conta das nossas responsabilidades e tudo mais que já mencionei nas perguntas anteriores, mas eu diria que o Violator só se manteve pelos 13 anos de vida que tem por nossa amizade, pela convicção que temos pelo underground e pelo amor que temos em fazer Thrash Metal A entrega no palco é com “paixão e intensidade”. Como que seriam descritas estas duas palavras? O show do Violator é uma completa entrega. Ao final dele eu mal posso andar de tanto cansaço. É tudo o que posso dizer, hehe. De volta aos palcos sul americanos, como foram os shows na Argentina e Colômbia? Tocar em Buenos Aires é sempre muito bom! Além das diversas coisas interessantes que nossos hermanos têm a nos oferecer, é sempre maravilhoso poder reencontrar o nosso irmão Juan Lerda, que fundou o Violator com a gente. Todos os shows que fizemos lá foram insanos e a experiência maravilhosa! Isso mostra o quanto a rivalidade que algumas pessoas criam entre Brasil e Argentina é uma grande baboseira e deveria estar apenas dentro do campo de futebol. O show em Bogotá na Colômbia vai ser agora em junho, ainda. Sempre que tocamos lá foi sensacional, então acho que essa próxima vez não vai ser diferente. Num show em Caruaru, o Cambito ma29


chucou o joelho num pulo que deu. A idade chega para todo mundo, não é? (Risos) Nessa brincadeira o Cambito rompeu o ligamento cruzado do joelho, que é uma lesão bem séria, mas ele está se recuperando bem e acho que não vai ter nenhuma sequela mais grave. Infelizmente o Cambito teve que ir ao hospital e acabou perdendo o show do Entombed AD que tocou logo após a gente. Foi um show do caralho! Eu acho que o maior desafio para continuar tocando Thrash Metal ao longo dos anos é a resistência física. Tocar esse tipo de som é muito desgastante. Eu mesmo já tive uma tendinite no ombro direito, outra no punho do mesmo braço acompanhado de um cisto sinovial e uma hérnia de disco na coluna. Se continuar nesse ritmo a gente não passa dos 50 anos. (risos) Diante das facilidades virtuais, muito se questiona sobre o cara que prefere ficar em casa consumindo a música virtualmente do que ir ao show e viver aquela experiência sensitiva. O que vocês têm a falar sobre este consumo da música atualmente? Eu não tenho nada contra quem gosta de curtir e apreciar música em casa, mas para quem gosta de algum tipo de som que é produzido em um cenário underground esse tipo de prática é bem ruim. Tende a penalizar bandas e eventos locais. No meu ponto de vista Metal, Punk ou Hard core não são simplesmente gêneros musicais, mas quase movimentos sociais que se fortalecem muito do encontro de pessoais em locais físicos, e não virtuais. Não comparecer a shows é ruim para esses movimentos em especial. Por fim, quais os planos da banda para 2015? Sucesso ainda mais. Muito obrigada. Esse ano devemos fazer o nosso próximo show em Bogotá na Colômbia e logo depois devemos fazer uma breve pausa por conta do nascimento do meu filho. Nesse período esperamos compor uns sons novos e apresentar logo para todos em nossa volta a partir de janeiro de 2016! Muito obrigado pela entrevista! Keep Thrashin’! Capaça 30


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“SVO LANGT SEM AUGAÐ NÆR FENNIR VEL OG LENGI” - Svarthamar Por Vicente de A. Maranhão é cinéfilo, compõe músicas às quais nunca termina e mergulha em fanzines e revistas especializadas em Heavy Metal.

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agnar Bragason, um dos cineastas mais populares e aclamados pela crítica da nova geração na Islândia, apesar de ser conhecido por produzir um grande número de videoclipes e séries para TV, conseguiu reunir sua experiência e encontrar uma brecha de criatividade para inserir com destaque o Heavy Metal como fio condutor da narrativa. Metalhead tem sua história toda passada em uma pequena comunidade rural islandesa. O longa começa quando a jovem Hera (Diljá Valsdóttir) presencia um acidente bizarro que tira a vida de seu irmão mais velho Baldur (Óskar Logi Agústsson). Muito ligada ao irmão, Hera resolve meio que assumir sua

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identidade, adotando seu figurino – ela queima suas roupas “de menina” e passa a andar com as camisas pretas estampadas com logos e imagens de bandas de Heavy Metal do irmão – sua guitarra e seu gosto musical. Sua mãe, Droplaug (Halldóra Geirharðsdóttir) lida com a perda de maneira similar, mantendo o quarto de Baldur intocado, como se ele ainda vivesse naquela casa enquanto que seu pai Karl (Ingvar Eggert Sigurðsson) continua a fazer seus trabalhos na fazenda sem encarar sua dor da forma como deveria fazê-lo. No desenrolar da história, o filme vai mostrando como a perda da infância afeta a vida de Hera até a fase adulta. O interessante do filme é que, mesmo tendo grandes clássi-


cos do metal como trilha sonora e outros, o filme é bem pessoal, dramático, e focado na história familiar sobre perda. É um filme que te faz refletir sobre vários aspectos pessoais e sociais. Essa trajetória sofre uma virada, inicialmente para pior, quando acontecem dois fatos que afetam a vida de Hera: a chegada de um novo padre (Þröstur Leó Gunnarsson) à paróquia freqüentada por sua família e o surgimento da cena black metal norueguesa e os famosos incêndios a igrejas ocorridos então. Ao se aprofundar na música realizada no país vizinho, no entanto, Hera finalmente encontra uma saída para direcionar toda a raiva que ainda guarda pelo irmão e isso acaba tendo um efeito em toda a sua família.

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A atriz Thora Bjorg Helga é o grande destaque do filme, onde consegue apresentar uma interpretação multifaces, onde hora é uma rebelde desacompanhada, hora é uma jovem sem expectativas mais com uma crescente vontade de mudar e ser alguém na vida. Sua personagem Hera é uma menina adulta, que ainda não foi de encontro às responsabilidades mas que sabe pensar de forma madura. É nas letras das canções de Heavy Metal que ouve que Hera busca, a realidade que a sociedade não quer ver. E sua vida só muda quando, pouco a pouco, consegue fazer com que as pessoas ao seu redor consigam ver esse mundo da mesma forma que ela. A trilha sonora composta basicamente


de músicas lançadas entre 1970 e 1992 é um ponto crucial do filme, pois são clássicos da música que embalam a todo o tempo a trama e definem o contexto da cena, como quando ouvimos “Symphony of Destruction” do Megadeth ou “Victim of Changes”, do Judas Priest, no momento em que Hera pega a guitarra do irmão e decide dali em diante se tornar uma headbanger. Outro ponto marcante no filme é a fotografia, simplesmente magistral. Cenários naturais espetaculares, que conversam com o clima existencialista, sério e muitas vezes divertido do filme. Há um contraste bem interessante entre os belos planos da Islândia e a desolação interior da protagonista, resultando em uma densa e perturbadora estética de cor sombria, mas rica em expressão. Para os fãs do gênero, o filme parece ser ainda mais envolvente, mas seu tom humano é capaz de qualquer pessoa, mostra o quanto a música pode estar envolvida nos momentos da nossa vida, nos ajudar na superação pessoal. Nós vemos como os personagens vão gradualmente por várias fases, dor, negação, agressão, escapismo, até chegar a aceitação da perda. Em Metalhead, Bragason conta com cuidado, mas de forma incisiva os rumos e as consequências das atitudes dessa família num filme impecavelmente bem executado. Deixo abaixo destacada as músicas que compões o tracklist do filme e que são responsáveis por dar o tom apropriado nas reviravoltas do ro34


teiro durante o filme: Victim Of Changes / Judas Priest Strange Wings / Savatage Me Against The World / Lizzy Borden Run For Your Life / Riot Heartless World / Tease Symphony of Destruction / Megadeth Am I Evil / Diamond Head Í helli Loka / Sólstafir Svarthamar / Pétur Ben & Þorbjörg Helga Metalhead (Málmhaus, 2013 – 97 min) Drama Roteiro e direção por Ragnar Bragason. Estrelando: Diljá Valsdóttir, Halldóra Geirharðsdóttir, Ingvar Eggert Sigurðsson, Þröstur Leó Gunnarsson.

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Por Leandro Fernandes (leandro@rockmeeting.net) Fotos: Divulgação

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ssim como Sepultura, Sarcófago, Overdose e as demais das antigas, o Oostegor se faz jus aos primórdios do Metal Extremo mineiro, uma banda relativamente nova, mas com muito gás e vontade de mostrar que o mineiro sempre estará em destaque com excelentes bandas. Conversamos com o baixista e vocalista Rodrigo que falou um pouco da cena mineira e também do novo debut que estar por vir. Boa Leitura! Bom, primeiramente gostaria que se apresentassem aos leitores. Bem, primeiramente agradecer mais esse espaço para apresentarmos nosso trabalho. 36

Somos de Betim, Minas Gerais, e estamos na luta com essa formação desde 2009, sou Rodrigo Jonas ( baixo e vocal ) e meus Brothers,Farley Wilker ( Guitarra ) e Sergio Junio ( Bateria ), e estamos aqui, como várias bandas no meio underground, não deixarmos morrer essa chama do metal nacional. Oostegor é o terceiro nome que a banda possui qual o motivo das trocas? Bem no começo da banda, pois a ideia dela vem desde 2007, haviam outros componentes que foram saindo, e a ideia da banda tomando outra direção. Então tomamos a decisão de que, já que seria um novo começo,


agitar com nossas composições, tanto que às vezes tocamos uma cover ou outra, mas focamos mesmo em nossas músicas. Mas por agora que estamos tendo uma certa projeção, e está sendo demais. Rodrigo, você comanda os vocais e também o baixo. É sempre normal vermos bandas de peso com esse seguimento. Qual é sua maior influência musical? Tom Araya e Vladimir Korg do Chakal, gosto dos vocais gritados como se tivessem jogando umas verdades na sua cara, (risos)!!! Curto muito também o vocais do Vader e Obituary, e o modo de tocar de Cliff Burton, Steve Harris, e também tento seguir muito a linha de Sodom e Destruction. Posso dizer que essas são sim minhas influências.

então um novo nome viria bem a calhar. Falando um pouco da cena mineira, pra vocês, como ela se encontra no momento? Em Minas temos ótimos lugares, mas são poucos, em nossa cidade mesmo não tem espaço para o metal extremo, tanto nossos shows são em outras cidades. Mas está fortalecendo com o passar do tempo, e mais espaços surgindo. Como tem sido as apresentações e a reação da galera por onde passam. Cara, muito bom! É gratificante ver a galera 37

O underground hoje no país tem oscilado muito ou ainda existe a rivalidade sadia entre as bandas. Acho que a música não tem que ter rivalidade, ainda mais no nosso país onde o metal é ainda muito descriminado, devemos sim ter união, independente da vertente, Thrash, Death, Black, Heavy, Hard Rock..., tudo é Rock n’ Roll, e deixa o pau quebrar. Recentemente vocês abriram o show dos holandeses do Prostitute Disfigurement, conte-nos como rolou a apresentação. Foi demais! Os caras são uns monstros no palco. Tanto que Serginho, nosso baterista, emprestou algumas ferragens da batera para eles. As outras bandas arregaçaram também, nossos brothers do Ignorance e também teve o Masturbator de São Paulo, daí você ver que o metal está ainda muito vivo. Com grandes bandas representando a cena.


Como anda a produção do novo debut? Pois é, era pra ser um EP, com 5 músicas, então decidimos já lançar um álbum completo, com 8 composições insanas. Estamos trabalhando aos poucos, para apresentarmos um sombruto e de qualidade. Sobre a agenda de shows, existe alguma possibilidade da participação em algum evento em outros estados? Estamos aguardando um convite, estamos ansiosos para apresentarmos nosso trabalho em outros estados, mas nosso foco maior é nosso debut.

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Com relação ao exterior, vocês tem algum feedback de lá? Então, está dependendo muito do lançamento desse nosso CD, para conquistarmos um público maior. Temos muito esse interesse, mas precisamos terminar as gravações para colocarmos o pé na estrada. Agradeço a atenção e desejo longa vida a banda. O espaço é de vocês. Mais uma vez agradeço você por dar esse espaço para nos apresentarmos, e um grande abraço aos bangers, e que podem esperar o lançamento do nosso CD em breve. Um grande abraço.



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Dia 1 – 15/05/2015 Estava aí uma oportunidade, neste título e data acima mencionados, de testemunhar o surgimento de um novo festival, que pode se tornar grande no futuro ou até mesmo manter sua postura e filosofia mas que não deixará de ser referência dentro de alguns anos. O tão comentado e visitado Secret Place de Montpellier, que já recebeu visitas ilustres ao longo de seus 19 anos de atividade como por exemplo, Soulfly, Sepultura, Madball, Sick of it All, Biohazard, Hatebreed e outros nomes grandes do cenário, desta vez organizou um mini-festival com a presença de ninguém mais, ninguém menos do que Agnostic Front que, além de estar lançando disco novo, The American Dream Died, vem sendo filmado de maneira detalhada por uma equipe para o lançamento do The Godfathers of Hardcore, e este show fez parte das gravações, o que nos ofereceu um plus quando com relação a performance ao vivo. Chegamos à Montpellier e saímos em busca do “local secreto”. Quando finalmente encontramos, havia somente uma pessoa transitando na rua, um tal de Roger Miret, com cara de cansado mas uma vez mais atencioso com o pedido de uma foto de recordação. Do lado de dentro, Vinnie Stigma zoava o mundo com uma vassoura na mão como se fosse sua guitarra. O ambiente já estava armado e o tiro de partida executado. Para abrir a tarde, ainda com pouco público, tivemos a banda local de grind Patriarc, um show curto porém competente. Seguindo a mesma linha grind conferimos o Atara com um set um pouco mais longo (40 minutos) e com um público já numeroso considerando que o horário ainda oferecia resistência para uma sexta-feira, 19:50. Claro que estamos falando de uma banda com mais tempo de estrada e que 42


Whoresnation

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já conta com 5 lançamentos entre EPs, Splits e álbuns próprios e, sinceramente, não decepcionou. Outra banda que leva o mesmo tempo de estrada e provocou abalos sísmicos foi Whoresnation. O trio fez a festa local e manteve o nível das bandas anteriores, todas uma grata surpresa e mais uma prova de que o mundo está cheio de boas bandas e que nós pouco ou nada sabemos sobre elas. Já para falar de Warfuck subiremos um pouco mais o nível, também na linha grind, este power duo de Lyon esteve acima da expectativa, uma humilde dupla com uma trilha sonora de fazer surdo escutar, típica banda que João Gordo compartilha em sua página como mais uma grande descoberta. Com apenas dois discos muito bem gravados e executados com firmeza nesta primeira edição do Mosh Fest. O público já ocupava todos os espaços disponíveis da sala, apenas 300 pessoas cabem no Secret Place e dependendo do show e da reputação da banda que está por vir podemos até dizer que é um show particular e assim foi quando os nova iorquinos pisaram no pequeno e porque não, emblemático palco. Já posso adiantar desde as primeiras linhas dedicadas ao Agnostic Front que foi a melhor apresentação que assisti deste histórico grupo. Buscando com carinho em minha memória, desde a primeira vez que o grupo visitou o Brasil no final dos anos 90 em São Paulo, passou pelo Rio de Janeiro alguns anos depois, sendo uma delas com o Hatebreed. Mesmo já tendo assistido o grupo no sótão de uma loja de disco em Montreal ou num show improvisado no Hellfest de 2010 por lesão do baterista, além de Resurrection Fest e um par de ocasiões em Barcelona. Ainda assim o show do Secret Place foi especial, está claro que o combustível adicional nesta noite era o registro de imagem para o já comentado documentário mas aí passamos a serem 44

Patriarc Warfuck

Collision


Agnostic Front

Vitamin X

privilegiados. Um setlist recheado de clássicos misturados aos novos temas que serão clássicos em poucos anos ou já entram como tal. A tradicional abertura com “The Eliminator”, seguida de “Dead To Me” e “Warriors”. A esta altura Roger já suava bicas e o clima frio e ameaçador que rondava a cidade para o fim de semana foi barrado às portas do recinto. O tour manager junto ao roadie e alguns voluntários faziam uma barreira na tentativa de manter a ordem no palco, como se Miret e Stigma tivessem perdido o hábito de um estilo de palco que conhecem muito bem. Como havia comentado antes dos novos clássicos, nada melhor do que “My Life My Way” para provar tal teoria, a introdução desta música marcou a noite, braços erguidos, stage divers da equipe Mosher Team à solta e gargantas soltando a melodia, já tinha valido à pena os 350 quilômetros percorridos. É claro que as “porradinhas” não ficariam de fora e foi exatamente uma delas que representou pela primeira vez o recém-lançado The American Dream Died, junto das eternas “Friend or Foe” e “Victim in Pain”, “Police Violence” e porque não “That’s Life”, mais adiante também figuraram “No War Fuck You” e “Police State”. Mas de volta aos refrões mais cantados conferimos “For My Family”, “Gotta Go”, “Peace” e a mais recente “Never Walk Alone” posterior a “Old New York”. Também tiveram tempo para algum punk rock com “Riot Riot Upstart”, o já tradicional cover do Ramones “Blitzkrieg Bop” e toda a descontração de Stigma ao tocar e cantar “Paulie The Dog”. O novo guitarrista Craig (Slapshot) encaixou perfeitamente na banda, tanto musicalmente quanto em atitude de palco. Mike Galo e Pokey Mo dispensam comentários, já são parte da história. Dia 2 – 16/05/2015

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Infest

Agnostic Front Reptilicus

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Difícil missão teriam as bandas do segundo dia de Mosh Fest após noite memorável que o Agnostic Front tinha oferecido. Uma coisa era certa, os ingressos estavam todos vendidos e a expectativa de bom público era grande mesmo que mais adiante tenha ficado somente na expectativa, os ingressos eram válidos para os dois dias e aquele público de casa lotada já não veríamos. Nada tão radical, os presentes ainda que em número reduzidos fizeram a festa e ocuparam os espaços com muita vibração. Para abrir a tarde como o tradicional aperitivo francês antes do prato principal, conferimos mais um duo, desta vez com uma baterista que no dia anterior se divertia timidamente. Aquela baixa estatura e corpo franzino na verdade esconde uma mão pesada e uma garganta berrante ao melhor estilo Mitch Harris (Napalm Death) e que faz toda a diferença no Reptilicus. É claro que nunca é demais comentar, o público podia não ser o mesmo mas o nível e a intensidade das bandas grindcore só aumentava e assim conferimos de perto Doomsisters e mais adiante os italianos do Kate Mosh, que provocaram “desordem” local com várias invasões de palco, o que também chamava atenção era a taxa alcoólica da banda, com certeza tiveram que dormir em Montpellier antes de pegar estrada, uma blitz e poderiam explodir o bafômetro. Outro grupo que não deixou a desejar foi o Infest, uma atuação que beirou o absurdo de forte e fez frente com um dos grupos mais esperados da noite, o Collision. O quinteto holandês com seus dois vocalistas ao melhor perfil Extreme Noise Terror elevou o nível das atuações na sala e demonstrou o porque de ter sido um dos destaques dos cartazes que anunciavam o evento por toda a cidade. Uns cidadãos com caras de nerd, um deles com similaridades a Jello Biafra, inofensivos mas que encima do palco e após poucos minutos com o suor na cara e olhares transformados, mostravam sua verdadeira identidade com “Vortex of Disgust” e “Fucked Up and Wasted”. 47


Para fechar a noite o quarteto do Vitamin X ditou as regras, ou melhor, acho que as regras locais ditaram ao Vitamin X. Seja como for e acredito que na verdade não haviam regras e sim uma típica apresentação dos holandeses. O vocalista Marko Korac e suas decolagens partindo do bumbo da bateria são imagens marcantes como de hábito. Os riffs da guitarra de Marc são como impressões digitais, marca da casa e diferencial sempre em músicas como “Outta Here”. Nosso personagem em questão é um verdadeiro showman com caretas, língua de fora e se misturando ao público. Um público que descarregou tudo o que podia, sacou espadas de espuma para batalhas no circle pit, pranchas de body board para surfar durante a apresentação por sobre as cabeças alheias e até mesmo um golfinho inflável surgiu no início da apresentação para posteriormente ser encontrado e oficialmente declarado morto ao final da mesma. As responsáveis pela morte do golfinho e das batalhas de espadas não poderiam ser outras, músicas como “Bad Trip”, “Full Scale Assault”, “Preassure Release”, “About The Crack”, “I Don’t Know What to Say” e mais umas duas dezenas delas estão envolvidas no caso. Não há pistas concretas sobre as músicas e muito menos sobre o quarteto que as executa. A última vez que foram vistos, o baterista tinha sido retirado à força de seu confortável banquinho e carregado nos braços pelo público local como se fosse uma múmia, de lá partiram em direção à Lyon com um breve pit stop na praia de Palavas até que perderam as pistas por completo. Cartazes de Wanted estão espalhados por toda Europa. Esperamos ter tudo esclarecido antes do próximo encontro dentro de três semanas no Hellfest. Até. 48

Kate Mosh

Vitamin X


Infest

Vitamin X

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Kate Mosh


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Por Leandro Fernandes (leandro@rockmeeting.net) Fotos: Renan Facciolo

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ersonalidade, criatividade e talento! Esses são alguns adjetivos que podemos definir bem quem é o Project46. Em ascensão com seu Metalcore engajado e virtuoso, os caras não param de fazer shows e participar dos mais importantes festivais Brasil afora. Conversando com Henrique Pucci, ele nos conta como tem sido o trabalho da banda e como a galera vem reagindo a cada apresentação, que por sinal são rodas e rodas sem fim e muita interatividade banda/ público. Relaxem e leiam! Primeiramente gostaria de parabenizar a banda pelo excelente trabalho que vem fazendo! Então, o Project 46 é relativamente nova e já se encontram com dois álbuns. Como vocês estão encarando essa realidade com um futuro que é realmente promissor. Vocês sempre participam de festivais pelo país inteiro, o mais recente foi o já conhecido no país inteiro “Abril Pro Rock”. A força que o Metal no Nordeste é realmente uma coisa “monstro”. O feedback da galera foi compensador? Primeiramente, obrigado ao Rock Meeting, pelo serviço prestado ao metal. O feedback do Nordeste deve ser o melhor do mundo, muito mais que compensador, é motivador, o público participou do começo ao fim se se cansar um segundo. Cada vez mais pessoas cantando as letras, sabendo as partes, tínhamos um grande público aguardando pela gente, o que nos deixou surpresos, se tratando de um grande e importante festival, com certeza o Nordeste é um reduto do Pro52

ject46, adoramos as pessoas e nosso público, fomos muito bem recebidos, e queremos voltar o mais rápido possível. Por qual motivo a escolha do nome Project 46? O Jean e o Vini começaram a banda como um projeto de dois membros do Slipknot Cover, o número 4 e o número 6, como são chamados os integrantes da banda Slipknot, então ficou Project46, escrito tudo junto. Ano passado vocês fizeram uma tour juntamente com o Cavalera Conspira-


Foto: Victor Nomoto/ I Hate Flash

cy e também o Capadocia. Como foi, em nível de experiência, dividir o palco com o Max Cavalera, que por sinal é uma grande influência sempre para as bandas que estão começando. É realmente incrível a importância desse nome no metal mundial e brasileiro, orgulho e riqueza nacional do Metal. Tivemos a honra de tocar junto com eles, uma daquelas coisas que vou contar para o meu neto, fora isso foi muito importante para banda, por termos carregados grande influência e se tratar de um dos grandes nomes do metal mundial. Aprendemos muito com ambas as bandas, 53

o Capadocia é uma banda nova porém com integrantes experientes e muito competentes que tem objetivo, e música muito boa e original. Eu estive presente em duas apresentações do Project 46 (Belo Horizonte e São Paulo), em ambas o público fora completamente receptivo e insano, a galera sempre se entrega nos shows? É o tipo do nosso público, o que vai no Mosh, canta junto, contribui no merch, mostra pro amigo, definitivamente o melhor público que se pode ter, é de coração, todos nós, público


e banda nos emocionamos em nossos encontros (risos). Outra parte é, cantamos em português, o contribui para a interação e comunicação. Algo interessante e que pra mim é de um valor único, nos dois shows antes de iniciar e também após o término vocês ficam no meio da galera, vendem seus produtos e também se interagem com todos. Poucas as bandas fazem isso nos dias de hoje. Qual a importância de estar mais próximo do fã e do público no geral? Estamos lá porque gostamos, antes de tudo 54

também somos fãs de Metal, sempre que podemos, assistimos outras bandas, gostamos conhecer nossos fãs, perguntar que acharam do show, saber quaus músicas gostariam de ouvir, e nos divertir, tomar cerveja, celebrar, encontrar amigos, voltar no lugar e ter pessoas conhecidas, tudo isso que envolve o metal. Sabemos da dificuldade de se manter uma banda hoje no Brasil, ainda mais se tratando de Rock/Metal no geral. Como a banda lida com todas as dificuldades que sempre aparecem? Lidamos com as dificuldades como qualquer


brasileiro, porém sabemos a necessidade de estrutura do som que queremos fazer, e não podemos exigir de ninguém a não ser de nós mesmos, procuramos inverter a dificuldade em oportunidade. Como agora o dólar em alta que não serve para comprar equipamentos, porém bandas nacionais são contratadas no lugar de bandas internacionais, temos a melhor cena do mundo de Metal, diversificada e com a inclusão do nordeste no cenário de shows. Sobre o exterior. O retorno que a banda tem de lá é satisfatório? Existe a possibilidade de apresentações em ou55

tros continentes? Precisamos tocar em mais lugares como EUA e Europa, estamos trabalhando pra isso, porém não o suficiente em detrimento de outras prioridades, não conseguimos fazer tudo que queremos, hoje temos o auxílio da Sobcontrole Booking, que tem sido muito eficiente e eficaz, queremos num futuro próximos nos apresentar nos EUA e europa. Sobre os discos “Doa a quem doer” e “Que seja feita a nossa vontade”. Qual o balanço que vocês fazem com relação à maturidade e evolução da banda? O peso aumentou com certeza, o segundo ál-


Foto: Assessoria/ Divulgação

bum é bem mais pesado, com letras bem mais ácidas, um estágio necessário para banda, fizemos um CD de Metal como gostaríamos que fosse feito, as composições fluíram e entramos muito no clima, junto com a produção do Adair Daufembach, estávamos muito putos com muitas coisas, o CD não conseguiu esconder isso. Existe já algo pronto ou plano para um novo disco? Sim, existe sim, estamos começando a trabalhar em novas ideias. Pelo jeito vai ser bem diferente, só não sabemos como (risos) Agradeço muito a atenção de vocês e quero vê-los novamente, o mais rápido possível! (risos), aproveito o gancho 56

pra poder agradecer também a atenção de vocês pessoalmente, tanto em Belo Horizonte e São Paulo. Agora, o espaço aqui é de vocês para as considerações finais. Muito obrigado, de coração, pelo espaço. É muito importante que o Metal tenha o envolvimento ativo de todos, o aprofundamento na informação, de uma forma interessante e atrativa, todos nós queremos ter shows e eventos bons para prestigiar, estamos todos trabalhando para termos momentos memoráveis e fazer o máximo de nossas miseras vidas aqui na terra. Agradecemos as marcas que estão conosco, MCD, Sennheiser, 2 Box trigger, Aquarian Heads, Trick Pedal, ESP, Casa do Roadie, Seven Cases, Ahead drumsticks.



Contradição, liberdade ou escolha pessoal? Bem, este é, sem sombra de dúvidas, o mais complexo dos assuntos que envolvem o Metal nos dias de hoje: a questão religiosa. O tema gera debates acirrados e apaixonados, tanto do pró quanto do contra. Sempre foi e sempre será desta forma. Mas em termos de Metal, o que o estilo reserva a crença das pessoas? Antes de tudo, é preciso citar um fato histórico bem conhecido, mas prefiro dinamizar a coisa da seguinte forma: imagine-se como um jovem em uma sociedade extremamente conservadora, de uma geração que vivia o trauma do pós-guerra, ainda mais com uma histeria coletiva contra uma forma política, que resultou em perseguições por parte do governo? Pois é: estamos falando dos Estados Unidos na virada da década de 40 para 50... O país esteve na Segunda Guerra Mundial de forma ativa em duas frentes (Europa e Oceano Pacífico), em uma sociedade ainda

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muito conservadora (lembrando que os queridos Norte Americanos são descendentes dos Puritanos, uma igreja separada do Estado, diferindo assim do Anglicanismo inglês), e onde o Macartismo varria o país, caçando


pessoas acusadas de comunismo. Um terreno fértil para o surgimento de um sentimento comum e que os Norte-Americanos sempre lutaram para ter: liberdade. O Rock chocava porque, em si, trazia elementos de vários estilos marginalizados por serem de origem afro-americana: Blues, Boogie Woogie, Jazz, e outros que mencionarei mais abaixo. E é fato que eles, em especial o Blues, eram muito mal vistos dentro da sociedade americana daqueles tempos. Ainda mais com a lenda do cantor Robert Johnson ter um pacto com o demônio por ter gravado músicas como “Me And The Devil” e “Hellbound Trail”, que lidavam com o desespero humano. Injustiça tal lenda, mas acreditamos que o recalque já existia na época, fora o racismo... Disso, para chegar em Bill Haley & His Comets com “Rock Around the Clock” foi um pulo. O termo “Rock and Roll” sintetizava a realidade dos jovens: libertação, ainda mais exaltada por ídolos do cinema como James Dean no filme “Rebel Without a Cause” (por aqui, lançado como “Juventude Transviada”). A rebeldia adolescente ganhava corpo, e isso embalado por músicos que traziam o escândalo como carro-forte, como Jerry Lee Lewis (casado com uma prima de segundo grau de apenas 13 anos, quando ele já tinha 23), Little Richard (que além de afro-descendente, tem a sexualidade debatida até hoje, não se sabendo se ele é homossexual ou bis-

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sexual). E vejam que nem mesmo mencionei o Rei Elvis Presley, o branco que requebrava como um negro e cantava com um enorme feeling bluesy, e que a TV só mostrava da cintura para cima por conta do quanto aquilo escandalizava as pessoas, mas parecia um chamariz para os jovens. Ou seja, tudo isso era um prato cheio para imprensa, um escândalo para a sociedade conservadora, mas foi a força motriz por trás do Rock and Roll. A saga do Rock então chega aos anos 60, onde as drogas começam a ter maior pre-


valência no meio, graças aos hippies. E eles mesmos causaram muito escândalo com o movimento “Flower Power”, paz e amor, onde o sexo livre era liberado e o consumo de drogas, quase uma constante. E isso sem falar a forte presença dos jovens da década nos protestos contra a guerra do Vietnã e outros. Beatles foi a voz de muitos e o pai do Metal como conhecemos, assim como o The Who, mas é justamente o Rolling Stones que vai causar furor por causa de “Sympathy for the Devil”, a primeira canção onde realmente se enfocava o senhor das trevas de uma forma mais íntima e, digamos, bem positiva (na realidade, apenas uma forma de narrar um pouco de fatos marcantes e violentos de nossa história). Pronto: todas as peças no lugar, tudo acertado, e veio o Heavy Metal. Como sou partidário da idéia do Black Sabbath ser o pai do gênero, verdade seja dita: ver a capa sinistra daquele disco, com a cruz de São Pedro (a cruz reversa, erronea-

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mente citada como símbolo satânico, mas conforme a Tradição Católica, é a forma pela qual Pedro apóstolo foi executado) na parte central, mais as letras de “N.I.B.” e “Black Sabbath”, e o azedume e tensão criados por Ozzy, Tony, Geezer e Bill foram capazes não só de gerar protestos de instituições religiosas, mas de apoio da recém-fundada Church of Satan americana (leiam as biografias “Iron Man” de Tony Iommi, e “Eu sou Ozzy”, de Ozzy Osbourne, e verão o que eu digo). Por aqui, o finado Raul Seixas fez a parte dele e com “Rock do Diabo” deu todos os argumentos para alguns fanáticos encherem a paciência. E isso ainda em 1975, sendo este o principal motivo dos mais simplórios dizerem que o Rock (e o Metal, por conseqüência) ser um estilo nascido das mãos do cramulhão. O outro lado: uma das influências mais seminais do Rock and Roll também é a música Gospel. E por aí, já vemos que a coisa NÃO é o que muito true pateta que fica querendo


dar uma de Raul Seixas gritando que o “diabo é o pai do Rock”. O buraco é bem mais embaixo. O chamado “Christian Rock” é um movimento que surge quase que paralelamente ao Heavy Metal. Sim, é bem velho, nascido em 1967 no conhecido Movimento de Jesus (Jesus Movement), na Califórnia. No início, eram apenas hippies convertidos ao cristianismo (pois no fundo, a teoria cristã não era algo mal visto pelos hippies, mas apenas o conservadorismo que se agregou a ela). E o primeiro disco do gênero foi “Upon This Rock”, de 1969, lançado por Larry Norman. E na música “Why Should the Devil Have All the Good Music?” está explícita a motivação e o que é o White Metal/Rock: uma possibilidade para os fãs de música pesada que NÃO QUEREREM abrir mão de suas convicções religiosas e não se sentirem agredidos por letras de cunho satânico (mesmo que seja aquele satanismo café-com-leite que cansamos de ver por aí. “Melhor falar do capeta do que de

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flores”, disse o Possessed em uma entrevista por volta de 1986). E antes que comece um mimimi, já aviso: é um direito deles, apenas isso. Voltando: o chamado White Rock ficou ainda restrito a um público pequeno, e em 1974, surge na Califórnia o Agape, que lança em 1971 “Gospel Hard Rock”. Pronto, as portas estavam abertas, e bandas como Resurrection Band (de Milwaukee) com “Music to Raise the Dead” de 1974, e o Jerusalem (da Suécia) com “Jerusalem (Volume 1)”, de 1978, mesmo ano em que o Resurrection Band lançou “Awaiting Your Reply”, ambos muito influentes dentro da cena. E no início dos anos 80, surge um dos baluartes do Hard Rock cristão, o quarteto californiano Stryper, que lançará em 1984 “The Yellow and Black Attack”, seu primeiro disco. Podemos dizer que o Stryper é a primeira banda de temática cristã a cativar uma enorme parcela do público não-cristão, muito disso à boa divulgação de seus trabalhos, suas músicas ganchu-


das (estamos falando de uma banda de Hard Rock, oras), inclusive com a balada “I Believe in You” sendo tema de uma novela global “O Salvador da Pátria”, de 1989, e um enorme sucesso nas rádios brasileiras (os tempos eram outros... Nada de funk, pagode, axé e outros derivados de lixo tinham espaço). O termo White Metal, por mais estranho que pareça, não foi cunhado nas igrejas. Foi um rótulo criado pela Metal Blade records para promover o Trouble, banda de Doom Metal de Chicado (EUA) que tinha algumas de suas letras focando temas bíblicos (algumas, pois o grupo não tinha lhufas a ver com igrejas). Basta olhar a temática de “Psalm 9”, “The Skull” e “Run to the Light”, e entenderão o que digo. E por volta desta época, surgirão as primeiras bandas de Metal mais extremo com temáticas cristãs, como Vengeance Rising (cujo líder, Roger Martinez, mais tarde deixaria o cristianismo) e Tourniquet. No final dos 80 e início dos 90, surgem Mortification, Paramaeciun, bandas de Death e Doom/Death Metal. Inclusive o Mortification

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foi motivo de muita polêmica por lançarem “Scrools of the Megiloth” pela Nuclear Blast. É, a mania do mimimi é antiga, e não rolou apenas na Europa (que no fundo, era apenas uma medida de forças entre o Black Metal emergente o White Metal), mas aqui também. E aqui foi bem mais extremo. Pronto, as peças estão no tabuleiro. E eu já estou com um porrete à lá Alborghetti na mão, dando porradas na mesa e gritando a plenos pulmões: VÃO À MERDA, PORRA! Sim, VÃO À MERDA todos que enchem o saco, querendo imputar algo ao gênero! Antes de tudo: liberdade religiosa é um direito dado pela Constituição Brasileira de 1988, como vemos no artigo 5°, inciso VI “é inviolável a liberdade de consciência e de crença, assegurando o livre exercício dos cultos religiosos e garantindo, na forma da lei, a proteção aos locais de culto e as suas liturgias”. E isso abrange todos os tipos de culto, incluso Paganismo, Budismo, crenças Afro-Brasileiras, e mesmo o ateísmo. E não é a PORRA (porradas na mesa 002) de um


estilo musical cheio de trues de um lado e do outro da moeda que vai mudar isso, que vai te fazer ter o direito de transgredir a liberdade alheia!!!!! Ninguém é obrigado a concordar com um lado ou outro. E ainda tem gente neutra que é pega no meio deste tiroteio sem nada ter com isso (porradas na mesa 003). Como já deixei claro lá em cima, as influências dos rebeldes e dos religiosos no Rock já estão nas origens, ninguém copiou ninguém. Apenas surgiram como necessidades de manifestações de pensamentos individuais. Sim, todos possuem direito à liberdade de expressão, mas não à liberdade de encher o saco alheio e querer meter o dedo na cara alheia e dar lições. Vocês querem acreditar? Ótimo, vão fundo! Não querrem? Ótimo do mesmo jeito, vão fundo! Só não torrem a paciência do outro mutuamente, vivam as suas vidas. Quer ouvir White Metal como religioso? Problema seu! Como leigo que apenas gosta apenas da música? Maravilha!

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Quer ouvir Black Metal como música? Lindo, vai que é tua! Como inspiração para seus pensamentos? Parabéns! Mas NÃO ENCHAM O SACO COM GUERRINHAS BURRAS E BOBAS! Sério, quem fica nesse tipo de coisa mais parece um bando de crianças! O mais interessante: a grande maioria dos fãs de Black Metal mais ligados ideologicamente ao gênero são pessoas tranqüilas, e não ficam enchendo a paciência. Pelo contrário, chega a ser prazeroso conversar com eles. O motivo? Simples: eles acreditam apenas que o cristianismo, na visão particular, é superado, um tema que pura e simplesmente não lhes diz nada. E como nada diz, para que ficar se metendo com aquilo? Eles apenas vivem na deles, ponto final. O pessoal do White Metal, em geral, não dista muito. Só os mais fanáticos é que realmente são chatos. O pior de todos é o true soldadinho anos 80 de algum doutrinador, e em geral, está ligado aos mofo-bangers, Dolly bangers,


ou seja, ao pessoal que se acha anos 80, mas que nasceu bem depois de 1989. Esses que ressuscitam o radicalismo da década de 80 e vivem enchendo o saco. Não são todos eles, alguns criam algo com isso e não se metem com ninguém. Mas aos que se metem (e em geral, são os clones Dolly de bandas já mortas ou cujo passado acabou), VÃO À MERDA, PORRA! (porradas infinitas na mesa). O que eu desejo dizer: viva sua vida, curta sua música, seja livre (e lembre que sua liberdade é limitada pela de outros), mas não busquem tornar a vida de outras, que já é muito ocupada com o cotidiano, ainda mais insuportável dentro do Metal. Já houveram bandas que foram acusadas de White porque tocaram em locais ou com bandas do gênero. Se fossem bandas de Black Metal, eu concordaria com as críticas. Mas e aquelas que não têm nada com um lado e o outro, estão apenas tocando? Nunca esqueço a figura de Nergal, do Behemoth, que particularmente admiro. E que esteve envolvido em polêmicas. A primeira foi pela excursão com o As I Lay Dying. Meus sais (mais porradas na mesa), vocês leram o que foi dito? Eles conversaram, expressaram suas visões, e um compreendeu o outro! Cacete, Nergal continuou o mesmo de sempre! Ah, o agradecimento no encarte do “Demigod”? Já ouviram falar na palavra “educação”, aquela mesma que você usa todo dia quando tem que trabalhar com pessoas de outros credos? Tudo bem, filhinhos de papai não passam por isso, mas e o ferrado que tem que trabalhar fora de casa? Eu não esperaria menos de Nergal, por ele ser Bacharel em História pela Universidade de Sofia, logo, possui maior formação,

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além de uma visão bem mais ampla e profunda que 80% dos head-buchas que ficaram de fofoquinhas na net. A outra foi a famigerada foto com o padre. Tá, os fofoqueiros do true-diabo-que-os-carregue: vocês novamente NÃO LERAM NADA, não é? Se usassem o tradutor do Google, teriam visto que aquele é Padre Boniecki, que DEFENDEU Nergal em seu processo por rasgar uma bíblia em um show na Polônia


e defende a separação estado-igreja (e lembrando que João Paulo II, Papa entre 1979 e 2005, era polonês e um orgulho para a comunidade Católica do país). Como você poderia virar às costas a quem te ajudou? A foto foi tirada quando eles se encontravam indo para uma feira de livros na Cracóvia para o lançamento de sua biografia, e o encontrou. As palavras de Nergal, TRADUZIDAS para os analfa-bangers que ficaram de mimi-

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mi na página dele no Facebook, são: “No caminho para a Feira do Livro da Cracóvia... Eu encontrei com o padre Boniecki! Como o objetivo da nossa viagem era o mesmo. Foi dado a ele um exemplar de “Spowiedz Heretyka” (Nota: “Confissão Herege”, a autobiografia de Nergal) nos cumprimentamos... e ele me surpreendeu ao pedir uma dedicatória. O Padre Adam Boniecki ficou em minha defesa em inúmeros debates públicos, o que põe em risco a hierarquia da Igreja. Respeito e carinho acima das divisões? Estou nessa...” Será que eu realmente PRECISO (porradas na mesa, que já está com o centro quebrado) gritar nos seus ouvidos “ficou em minha defesa”? E o pobre Padre está sendo proibido de aparições públicas por ter ficado ao lado dele! UM PADRE AO LADO DE UM HEREGE CONFESSO, será que é difícil usar a sua mente contaminada por mofo e regras (agora a mesa quebrou de vez), e perceber que pessoas inteligentes sabem pôr as diferenças de lado e se respeitarem mutuamente???? Pronto, já falei demais! Já preciso de outra mesa, mas o taco de baseball é para os troos de ambos os lados. Encerrando: se não gosta de algo, deixe para lá. Vá viver e curtir aquilo que gosta, e deixe os outros de lado. Não há “invasão White” ou “reação Black”, mas apenas fofocas plantadas para te manipular. Alguém puxa as cordas, escondido e disseminando lixo. Alguém que fede a mofo. Seja livre, dê uma bicuda na BUNDA do doutrinador Metal (seja ele Black ou White), e seja você mesmo, feliz consigo mesmo. Seja Black ou White...


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Por Marcos “Big Daddy” Garcia (Metal Samsara) Fotos: Luis Pereira

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alar do Kamala é falar de uma banda que representa a palavra evolução em sua plenitude. Mesmo depois de “Kamala”, “Fractal” e “The Seven Deadly Chakras”, eles retornam a carga com “Mantra”, um disco que mostra todas as facetas da banda: o lado mais agressivo está ali, juntamente com experimentações, fora a temática inovadora. Aproveitando que “Mantra” já está disponível para o mercado digital, fomos lá bater um papo com a banda, e saber um pouco mais sobre o disco novo, algo do passado e os planos desses porta-vozes de Ganesha no Metal. Antes de tudo, quero agradecer pela entrevista de coração. De cara, a pergunta é: o que vocês andaram fazendo entre o lançamento de “The Seven Deadly Chakras” e o início do processo de composição de “Mantra”? Raphael Olmos: A gente que agradece pelo espaço e oportunidade de falar mais sobre nosso novo álbum e sobre a história da banda nesses 12 anos. Muita coisa rolou entre o lançamento do “The Seven Deadly Chakras” e o “Mantra”, trocas de formação, em 2013 a primeira tour na Europa (que foi um divisor de águas para o Kamala), passando por Portugal, Espanha, França, Alemanha, Holanda, Bélgica e Polônia. Desde “Kamala”, a formação da banda nunca se repetiu em dois discos seguidos. Mas vamos nos ater à última: o que aconteceu para essa mudança 68


quase total no line-up? Isso chegou a influenciar em algum aspecto as composições de “Mantra”? E de onde vieram Estevan (Furlan, baterista) e Allan (Malavasi, baixista)? E qual é a maior contribuição deles para o resultado final? Pois é, realmente não tem 2 álbuns na discografia com a mesma formação, mas isso acontece, sempre busco uma formação melhor que a anterior, mas sem dúvida a tour me fez reavaliar muita coisa e a mudança foi grande dessa vez, onde resolvi buscar músicos com experiência, mesmo foco e objetivo. Vários pontos influenciaram na sonoridade do “Mantra”, a volta do formato em Power Trio (na demo, a banda tinha esse formato), subir a afinação das cordas, antes era em drop B e agora estamos em drop D e os 3 membros cantando. O Estevan eu conheço faz alguns anos, ele já era técnico de som do Kamala e quando o ex-baterista quebrou o cotovelo na época do lançamento do “The Seven Deadly Chakras”, foi ele quem cobriu os shows. O Allan é amigo da minha namorada, e um dia ele foi no show do Kamala, e conhecia ele apenas de vista por ser guitarrista da banda Mehra, e na conversa, escutei que ele era baixista também, foi ai que resolvi convidar ele para um teste. Na verdade, eu e o Estevan, colocamos ele em uma fogueira, aonde a banda tinha uma sequência de shows marcados e o nosso atual baixista na época Victor Angelotti, já tinha comunicado que iria sair da banda após essa série de shows, então colocamos o Allan para ver como ele iria sair no palco, na convivência na estrada, ensaios...e ele se saiu muito bem e então oficializamos a entrada dele. O resultado da sonoridade do “Mantra” é o fruto desse time, a gente ensaiou bastante antes de entrar no estúdio e principalmente, além 69


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de todo mundo fazer bem sua parte, somos amigos, a energia foi muito positiva entre a banda e o pessoal do Estúdio RG, gravamos o álbum bem rápido, em 10 dias. Buscamos uma sonoridade direta e agressiva, aonde o fã vai ouvir no álbum o que vai ouvir nos shows, ou seja, sem bases de solo e tudo mais. Isso “obriga” saber usar muito bem seus instrumentos para não deixar a música “vazia”, foi um grande desafio, mas ao mesmo tempo saiu tudo muito natural e o resultado vem agradando quem já escutou o álbum e quem vê o show da banda. Falando especificamente de “Mantra”, uma das primeiras coisas que chamam a atenção é que ao mesmo tempo em que a sonoridade ficou mais agressiva, o lado mais experimentações está bem mais evidente. Óbvio que elas transpiram uma espontaneidade enorme, mas como foi que elas surgiram? E o resultado que vemos, especialmente em “What We Deserve”, é absurdo! Realmente! Tivemos o prazer de poder contar com a participação especial da Maya Silva nas vocalizações orientais femininas e do Victor Martins. O Estevan fez um belíssimo trabalho nas faixas “Warning” e “Airavata” (faixas que fazem muito bem para a dinâmica do álbum) e quem cuidou dos samplers foi o Yuri Camargo. Não forçamos nada dessas experimentações, tudo vem muito natural e sem dúvida é algo que soma muito no resultado final da nossa arte. Bem, desde “The Seven Deadly Chakras”, conceitos das religiões indianas estão se tornando mais e mais evidentes. Então, qual foi a idéia por trás do título “Mantra”? De certa forma, pare71

ce que conceitos hindus enraizaram-se fundo em sua música e letras. Desde o primeiro álbum temos isso presente no som e no visual, o que aconteceu no “Mantra” é que a banda estava em outra fase, com outras pessoas, e todos em sintonia com a temática. Minhas letras sempre buscam passar algo positivo, mesmo que tratando de experiências negativas, temos que reverter isso e aprender, para que se possa viver melhor e não repetir os mesmos erros. Aliás, nesse ponto, “Mantra” é muito diferente até no aspecto lírico. Os temas que foram usados à exaustão no Thrash Metal ganharam certa aura de espiritualidade, e enquanto eu ouvia o disco, senti a existência de miríades de interpretações possíveis, e nenhuma delas é negativa, nada no estilo “eu te acuso”. Pelo contrário, parece que há uma positividade em “Mantra” muito anormal ao Metal atual, que anda imerso em tendências mais destrutivas e não construtivas. De onde veio isso? Essa ideia de “Mantra” realmente me surpreendeu! Exatamente! As letras do “Mantra” foram uma grande limpeza para mim, muita coisa que precisava colocar para fora e ao mesmo tempo dividir com as pessoas. Situações adversas estão presentes no nosso dia a dia, quando caímos, ou ficamos no chão e desistimos de algo, ou temos que levantar mais forte, como se tudo fosse uma prova para ver o quanto você quer aquilo, entende? Essa banda já passou por muita coisa, boas e ruins, e nada é por acaso, na hora da dificuldade a gente não entende o porque aquilo está acontecendo e nos perguntamos se merecemos isso, no final, depois de toda poeira abaixar,


tudo faz sentido e temos que mudar certos pontos na vida, para não ter aquilo mais presente novamente. Sem dúvida essas letras são como um mantra de libertação e recomeço. Outro ponto ainda: quais seriam as maiores diferenças em termos de produtor? No caso de “The Deadly Seven Chakras”, o Ricardo Piccoli fez quase tudo, enquanto em “Mantra”, o Guilherme Malosso e o Yuri Camargo dividiram a responsabilidade. E o que o Guilherme e o Yuri trouxeram de diferente para a música de vocês? O Ricardo Piccoli sempre cuidou da produção desde o primeiro álbum, ou seja, os 3 primeiros álbuns foram com ele e tudo fluía muito legal, aprendi muito com ele e é uma pessoa e profissional que vou ter uma grande admiração sempre! Porém, ele se mudou do país, e quando estávamos conversando sobre quem iria produzir o álbum, aonde iríamos gravar, sabíamos que gostaríamos de gravar e produzir no mesmo local. Foi ai que surgiu o nome do Guilherme Malosso e do Yuri Camargo, o Allan já conhecia e tinha trabalhado com eles no Estúdio RG e escutamos os trabalhos atuais e gostamos muito do que eles estavam produzindo. Marcamos uma conversa, mostramos a pré-produção e o Malosso falou que já acompanhava e gostava do Kamala, e se mostrou muito interessado em fazer esse trabalho junto. E era exatamente isso que buscamos: alguém não só que iria fazer uma boa gravação, mas sim alguém que vestisse a camisa e extraísse o melhor da banda, em termos de execução, sonoridade e arranjos. Só temos a agradecer a essa dupla, pois eles mandaram bem demais, a galera está elogiando absurdo a produção e gravação do “Mantra”!

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A arte de Felipe Rostodella ficou excelente. Mas a presença dos elefantes na capa remete diretamente à Ganesha, deus hindu da sabedoria. E novamente, vemos a referência a Ganesha nos ícones estilizados do encarte. Qual foi a ideia central, por que justamente os elefantes? E ainda mais fundo: esta referência à Ganesha é fato, ou errei em minha suposição? Ficou demais, mesmo! Trabalhar com o Felipe Rostodella foi muito tranquilo, um artista e amigo que já era fã da banda, e que quando falamos de todo o conceito e da intenção de desenvolver essa arte com ele, ele ficou extremamente feliz com o convite e desenvolveu uma arte que sem dúvida nenhuma é bem diferente do que se espera em um disco de metal, uma capa “clean” e “zen” que ao mesmo tempo tem a sua agressividade. Buscamos mesmo explorar o significa do elefante na cultura oriental, um animal sagrado, presente na representação do Ganesha, Erawan, Airavata e por ser um animal que representa prosperidade, força, determinação, sabedoria, longevidade, companheirismo, paz, boa sorte. Ao mesmo tempo, um animal que se parece calmo, porém quando provocado tem uma fúria muito forte. Os 3 elefantes representam os 3 membros indo para a mesma direção e lutando juntos por um mesmo ideal. Em termos de diferenças, como vocês vêem “Mantra” em relação à “Kamala”, “Fractal” e “The Seven Deadly Chakras”? Quais as maiores diferenças entre os discos? Sem dúvida é o álbum mais pesado, direto, com uma dinâmica absurda e com uma energia diferente. Sou um cara apaixonado por riffs, nesse álbum busquei criar muita coisa 73


baseado em escalas orientais, menores harmônicas para trazer essa sonoridade diferente e climática, o Estevan é um batera que veio da escola do Thrash e Death Metal, e incrível como ele fez as baterias para cada riff, ao mesmo tempo, foram músicas com um estilo novo para ele, ele estudou muito a questão rítmica da música oriental, reduziu seu set para explorar mais a questão do ritmo com menos elementos e o Allan entrou na fase final de composição, porém foi um cara que trouxe arranjos sensacionais, ideias de vocais bem diferentes, um baixo pesado e ao mesmo tempo melódico. Uma questão um pouco polêmica: o Kamala é uma banda que faz algo mais moderno em termos sonoros, mas existem bandas que buscam fazer Thrash Metal em moldes mais clássicos. E ainda existem aquelas que vivem clonando o que já foi feito. Qual sua opinião sobre essa diferença de estilos? Eu acho que se tem que fazer o que seja natural, eu respeito tudo, porém para o Kamala, busco fazer algo diferente, lógico que temos várias influências, do clássico, do moderno, dentro e fora do metal, porém buscamos criar algo que quem escute, saiba que é o Kamala tocando. Buscamos criar uma música pesada, climática e com energia, sem se prender a rótulos. Entre uma banda que parece o Slayer, e o próprio Slayer, eu vou escutar o Slayer entende? Bem, “Mantra” está lançado, logo, como está o planejamento para shows? Sério, já está passando da hora de invadirem outras regiões do país, em especial Nordeste, que tem legiões de fãs. E nem menciono a necessidade de 74


alçar voos maiores, em direção à Europa e outros continentes. Estamos nos planejando para fazer outra tour fora do país, e concordo, já passou da hora de invadir outras regiões do país, recebemos atualmente muitas mensagens de fãs do nordeste, porém ainda não conseguimos tornar viável a tour, mas sem dúvida queremos e vamos fazer de tudo para rolar os shows do Kamala finalmente no nordeste e em todas as regiões possíveis do Brasil. É tudo uma questão de logística e estamos já juntando alguns contatos de promotores, para realmente fazer acontecer, é algo que realmente achamos importante para a banda e para fortalecer cada vez mais o metal nacional! Já que falamos em viagens para fora do país, o que dizem do chamado “efeito Sepultura”, ou seja, que uma enorme parte dos fãs brasileiros só valoriza uma banda daqui depois de uma explosão lá fora? Isso realmente acontece com a maioria das bandas, mas acredito que é devido a exposição na mídia que isso atrai, como existem muitas bandas, quando você lê sobre bandas tocando em grandes festivais aqui no país e tocando fora do Brasil, você naturalmente sente mais interesse em ver qual é sobre o trabalho da banda. Mas torço para que isso mude, para que a galera cada vez mais de valor para as bandas daqui, sem ter que ir para fora, pois as bandas precisam desse apoio do público, desse interesse em consumir as bandas do Brasil. O lance é um ciclo, o público tem que querer as bandas, os promotores têm que enxergar esse desejo e fazer os eventos, os eventos tem que ter esse bom público para que outros eventos aconteçam e as bandas tem que ir e mostrar para o que vieram, e mostrar o por75


Foto: Divultgação

que do metal brasileiro ter uma pegada que a galera de fora pira mesmo! Vocês já estão com 12 anos de luta. Nesse tempo todo, quais as maiores lições que tiraram dentro do cenário? Sem dúvida o faça você mesmo, não espere algo dos outros, acorde e durma todo dia pensando “o que posso fazer para minha banda crescer?”. Faça shows, faça gravações, não espere a oportunidade perfeita, pois ela não existe, de a cara para bater mesmo, pois o show em si, é o mais simples, mas tudo que acontece antes e depois, é o que fortalece uma banda e vai ficando quem merece, quem aguenta, quem realmente quer. Faça a sua arte para você, com honestidade, com profissionalismo, que vai ser natural atingir outras pessoas e assim criar uma legião de fãs. 76

Bem, vamos encerrando por aqui, e agradeço mais uma vez pela atenção. Por favor, deixem sua mensagem para nossos leitores. Nós que agradecemos sua força! Queria convidar toda galera a buscar escutar o “Mantra”, que logo, logo vai ter o CD físico nas lojas distribuído pela Voice Music, e que já está a venda em formato digital no iTunes, Amazon, Google Play e via streaming no Spotify, Deezer e Shazam. Confiram nossos canais nas redes sociais, Youtube e tudo mais. Estamos trabalhando intensamente para levar o melhor para todos vocês! E, principalmente, que cada pessoa que está lendo essa entrevista tenha a oportunidade de conferir um show da banda.



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Por Por Leandro Fernandes (leandro@rockmeeting.net) Fotos: Assessoria/Divulgação

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indo da Espanha, o Incursed chama a atenção do ouvinte de maneira simples e sem fazer muito esforço. Criando um Folk Metal genuíno e original a banda vem conquistando seu espaço na Europa e com certeza conquistará grandes fãs aqui em nosso país. Narot Santos (Vocal / Guitarra), gentilmente nos atendeu para uma entrevista e revela um pouco sobre como tem sido as trabalhos, produção, entre outros assuntos. Confira! Gostaria de agradecer pela atenção e já elogiando a originalidade e criatividade da banda, se apresentem por favor. Agradecemos por essa entrevista! Nós somos o Incursed, um metal Pagan / Folk de Bilbao, norte da Espanha. Estamos na ativa desde 2007 e no momento estamos promovendo o Elderslied, o nosso segundo álbum de estúdio, que foi lançado no final de 2014. Algum de vocês já esteve aqui no Brasil ou esperam vir aqui em um futuro próximo? Até o momento não, mas poderia ser uma viagem realmente emocionante! O Brasil tem muitos lugares naturais interessantes que gostaríamos de visitar no futuro, assim como o Carnaval! Interessante uma banda de origem espanhola investir em um Folk. De onde veio essa ideia? Quando nós formamos a banda, já éramos 80

ligados ao Folk Metal e como praticamente não há bandas tocando este estilo na Espanha, decidimos ir em frente. Nós somos grandes fãs de bandas europeias de Folk Metal! Como tem sido os shows por onde passam? A platéia mostra-se respeitosa? Sempre nos apresentamos vestidos com roupas esfarrapadas, ossos e pele, como uma espécie de “xamãs e guerreiros”, que foram feitas para o nosso vídeo. Nós gostamos de interagir com o público em algumas músicas, e eles são muito gratos por isso! Eles são mui-


to respeitosos e você pode ver quando eles estão desfrutando de um show. Nossos fãs são ótimos! O EP “Beer Bloodbath” que veio com cinco músicas, como foi a recepção da mídia e público com o mesmo? “Beer Bloodbath” teve uma grande recepção! Duas das faixas foram tomadas a partir de Elderslied, e as pessoas tinham uma ideia do que seria Elderslied. Tivemos uma velha canção re-gravada e uma versão de Beer Bloodbath com uma voz mais “pirata” que tem 81

sido comparado a Alestorm muitas vezes. A música “Game Of Thrones” tem alguma ligação com a série? Sim! Definitivamente! É uma versão do tema principal da série de TV, e foi também incluído no EP “Beer Bloodbath”. Outro quesito de muita criatividade são as artes das capas, que é o responsável pelas mesmas? Nosso baixista, Juan Sampedro, fez quase todo o trabalho artístico para Elderslied. A


arte do EP Beer Bloodbath foi feito por mim (Narot Santos) e Lady Geada, e o encarte criado por nosso amigo Elene Urquijo. Vocês sempre trabalharam com música antes do surgimento do Incursed? Todos nós já tocamos em outras “bandas” (a maioria deles não foram profissional em tudo!) antes de dar vida ao Incursed, por isso, tivemos uma pequena ideia de como começar. Existe algum projeto paralelo de algum integrante? Nosso tecladista, Jonkol, tem uma banda que se chama Orion Children e nossobaterista Asier Amo tem um projeto ao estilo Doom Metal. Qual visão a banda possui do Brasil? Nós todos sabemos que o Brasil é um país 82

emergente com um futuro brilhante! Sabemos que há alguns problemas com a pobreza e “favelas” e desmatamento do Amazonas, mas, tanto quanto sabemos, o país tenta resolver estes problemas. Há também grande quantidade de tribos indígenas, e isso é muito legal, já que muitos deles não têm conhecimento de sociedade moderna. E a maioria dos brasileiros é respeitosa com a sua cultura e patrimônio. Sabemos que é um país rico gostaríamos de visitá-lo algum dia! Espero que vocês venham logo ao nosso país, pois o Folk Metal aqui é bem recebido. Deixem suas mensagens ao público brasileiro. Esperamos também! Esperamos tocar algum dia no Brasil e compartilhar nossa música com você, metalheads brasileiros! Muito obrigado por essa entrevista! Rock You!



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Primordium (RN)

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The AX (PE)

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Texto e Foto: Pei Fon (@poifang | peifang@rockmeeting.net) Recife - Clube Português

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he AX (PE)

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banda norte-americana, Nile, era aguardada há bastante tempo pelos fãs nordestinos. E nessa leva de shows do primeiro semestre, a cidade do Recife foi contemplada com uma apresentação deste powertrio do Death Metal técnico, rápido e egípcio. Mas a festa só ia começar após as apresentações das bandas The Ax e Primordium (RN). Sobre elas, o show começou bem na hora marcada, o que “assustou” os presentes e quem estava chegando, pegou o pessoal de “calças curtas”. É isso aí mesmo, tem horário sim! The Ax abriu os trabalhos da noite com o seu Thrash Metal. Novata na cena, o também trio, apresentou músicas próprias e covers. Eles tiveram uma rápida apresentação, porém deixou boas impressões para os que estavam presentes. Vindos do Rio Grande do Norte, a galera do Primordium chegou com toda força e esbanjando ira. O vocalista da banda, Gerson Lima, é uma atração a parte diante de suas caras e bocas e interpretação das músicas. A cada canção tocada, era possível sentir peso e força, muita força. O Metal Extremo cada vez tendo representantes que honram o estilo. Tocando músicas próprias, a banda Primordium fez os bangers balançarem suas cabeleiras e sentirem o que eles tocando. Aquele momento que você escuta uma música e, automaticamente, sua cabeça começa a balançar, saca? Símbolo máximo de quem


está realmente gostando. Após a apresentação dos potiguares, veio o Nile. Tão esperado e aclamado. Foi só pedrada em cima de pedrada. Se liga no setlist: Sacrifice Unto Sebek, Defiling the Gates of Ishtar, Kafir!, Hittite Dung Incantation, Supreme Humanism of Megalomania, The Howling of the Jinn, The Inevitable Degradation of Flesh, Sarcophagus, Lashed to the Slave Stick e Black Seeds of Vengeance. “Poxa, 10 músicas?”. Sim, dez músicas. Mesmo que algumas delas tenham seis minutos de duração, dez músicas é pouco para quem esperava muito do Nile. Teve fã que estava contando o setlist e quando chegou em “Sarcophagus”: “restam duas músicas”. Mas foi bem assim mesmo! O ponto negativo ficou aí mesmo. Até o promotor do Recife foi falar com o manager do Nile sobre o curto setlist. Muitos fãs estavam acompanhando a evolução do que seria tocado na turnê brasileira, mas ela se manteve intacta. Foras as mesmas dez músicas em todas as cidades em que estiveram. A explicação pode girar em torno do novo baixista da banda que integrou ao trio ainda na turnê no Chile, até então, eram apenas os três principais mesmo. Por fim, o que a galera ouviu gostou bastante. Costumamos dizer que o show ficou aquele gostinho de quero mais, este do Nile, com certeza, todos queriam mais! Quem sabe na próxima!

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Dune Hill Texto e Fotos: Pei Fon (@poifang | peifang@rockmeeting.net)

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omo falar de um show que foi tão incrível que você não sabe por onde começar? Difícil mesmo é falar de uma das bandas que alavancou o nome do Brasil para o mundo. Angra apresenta seu mais novo álbum, “Secret Garden”, com as novidades no vocal e na bateria. Um hiato de quatro anos quando lançaram o não tão expressivo “Aqua”. Os caras voltaram em 2013 com a bem-sucedida turnê de comemoração dos 20 anos do “Angel’s Cry”, o primeiro CD da banda. Desta tour, foi gravado um DVD como todos já sabem. “Secret Garden” veio cercado de expectativas. Algumas mudanças foram feitas e outras influências acrescentadas. O atual Angra está repaginado e com uma pegada diferente que só poderia ser sentido no live concert. Das primeiras datas da turnê brasileira, o Norte e Nordeste estão sendo contemplados. Acompanhamos o show no Recife do “Secret Garden World Tour” para poder ver e sentir de perto este novo gás que foi injetado no Angra. SHOW

Mas antes dos trabalhos começarem, a banda de Hard Rock, Dune Hill, natural de Pernambuco, mostrou seu trabalho autoral. Um passeio por seus dois trabalhos já lançados: ep “Big Bang Revolution” e debut “White Sand”. A banda chamou a todos para curtir o som e alguns na grade já conhecia o som dos caras e cantou junto com o vocalista Leo92


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nardo Trevas. Por fim, fizeram um cover de “Symphony of Destruction” do Megadeth e veio a calhar, já que o guitarrista da banda da noite está na banda norte-americana. Sem muitos rodeios, a galera compareceu ao Clube Internacional do Recife para conferir de perto esse novo trabalho. Com o fundo da primeira faixa do “Secret Garden”, o show começou com “Newborn me” e foi uma bela demonstração de velocidade, técnica e, o principal deles, diversão. Os caras estão se divertindo no palco, o melhor lugar para mostrar as composições criadas. Foi um verdadeiro passeio pela discografia da banda, teve música lá que ninguém esperava. “Metal Icarus” foi uma grata surpresa, nem estava no setlist inicial e com o Rafael nos vocais. Para ter uma ideia do que foi tocado, se liga: “Newborn Me”, “Acid Rain”, “Spread Your Fire”, “Lisbon”, “Perfect Symmetry”, “Storm of Emotions”, “Angels Cry”, “Final Light”, “Holy Land”, Drum Solo, “Silent Call” (Acoustic), “Lullaby for Lucifer” (Acoustic), “Nothing to Say com Antonio Araújo (Korzus), “Waiting Silence”, “Angels and Demons”, “Black Hearted Soul”, “Rebirth”, “Metal Icarus”, “Unfinished Allegro / Carry On / Nova Era”. A apresentação destes cinco caras contou com um reforço bem conhecido e nativo da cidade, Antonio Araújo, guitarrista do Korzus, deu a sua palhinha em “Nothing to say”. Rafael descansou um pouco, pegou o microfone, cantou e fez algumas brincadeiras no palco, ou seja, os caras estavam se divertindo. Foi muito bom vê-los animados, renovados com esta nova tour, com novo cd. Em falar nele, as músicas do “Secret Garden” funcionam muito bem ao vivo. No álbum 94

Angra


Antonio Araújo (Korzus) participação especial

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tem uma áurea muito forte, porém no show é infinitamente melhor. O que são os riffs do baixo? Felipe Andreoli não brinca em serviço. No show é muito mais interessante ouvir. “Storm of Emotions” faz jus ao nome da música. Impressiona bastante a técnica e como eles tornam isso tão fácil aos olhos dos mais entendidos e amadores colados à grade. “Acid Rain foi tocada? E o novo batera aguenta?”. Ouvi este questionamento. Bruno Valverde começou a tocar junto com Kiko Loureiro em 2012. Num das passagens do “Kiko Loureiro Trio”, em uma das edições da Rock Meeting , dissemos que o Bruno Valverde é uma surpresa muito grata e que ainda ouviríamos falar nele ainda. Dito e feito. O

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cara assume as baquetas da banda que ele é tão fã. E sem qualquer modéstia, ele tem o seu momento e mostrou para o público porque foi escolhido para assumir o lugar das baquetas onde já passou Aquiles Priester e Ricardo Confessori. Novo sangue, novas visões, novos sonhos. Era disso que o Angra precisava. Por fim, Rafael assume de vez que pode cantar. Ele teve um ótimo professor, Alírio Netto, que já foi cotado para assumir os vocais do Angra certa vez. Sem deixar suas caras e bocas, brincadeiras e esbanjar carisma. E Kiko? Feliz e muito à vontade no palco. É o carinha do Megadeth gente. Espero ver outro show deles e me diverti tanto quanto neste dia.

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Apresente-se! Reinaldo Leal, 41 anos, carioca, fanfarrão, vocal e guitarra da banda Unmasked Brains, policial civil há 13 anos. Quem era você no começo da carreira e quem é você hoje? Jovem, sonhador, em busca de diversão com seus amigos! Hoje: jovem, sonhador, em busca de diversão com minha família e meus amigos! Já realizou todos os seus sonhos? Ainda falta algum? Não! Sempre existe um sonho a realizar. Faltam aqueles que ainda nem sonhei mas, com certeza, sonharei! Do que você tem medo? De altura e de não ver meu filho crescer. O que costuma fazer quando não está em turnê? Dormir por mais tempo? Vasculhando a vida dos outros, notadamente daqueles que acham que são malandros e os outros são otários .... Quando era criança o que você dizia que iria ser? 98


Fotos: Banda/Divulgação

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Baterista da Unmasked Brains.... restou ser vocal .

tando músicos excelentes e criando um álbum que será de vanguarda em qualquer época!

Qual foi a sua maior realização pessoal? Meu filho

2015 começou com planos a cumprir. A divulgação de “Machina”, por exemplo... Conta para nós como está sendo a recepção do disco? Excelente! O mais interessante é a variedade de opiniões quanto às influências da banda! Até mesmo artistas que nunca ouvimos já disseram que lembrava. Sinal de que ficou de fato original! Ficou allmetal!!!

Qual foi o seu pior momento? O assassinato do meu sobrinho. Qual CD você gostaria de ter feito? Black Album (Metallica). Ganharam uma pratinha nesse. O que te motiva? Viver e aproveitar!! Houve algum momento na sua carreira que você pensou em desistir? Carreira? Quando eu começar uma talvez demore bastante a pensar em parar! Qual são as 5 bandas que você mais gosta? Cite um álbum e fale deles. Metallica – And Just For All. Mesmo sem baixo, são composições excelentes. Merece um tributo com gravação digna! Megadeth – Rust in Piece. Uma obra prima. Marty Friedman colaborou com solos que estão em qualquer lista de top solos. Slayer – Reign in Blood. Frenesi e energia musical! Iron Maiden – Powerslave. Outra obra prima. Deu origem à tour mais fantástica do Iron! Death – Symbolic. Chuck acertou a mão, jun-

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Diante de tantas dificuldades, o que te inspira a continuar na música? A convivência interna na banda! Divertimento garantido com meus amigos!!! Existe algum tipo de ritual antes de subir ao palco? Sim. Dar uns tapas em bundas diversas pra maluco ficar ligado! Todo mundo tem uma mania, qual a sua? Lavar recipientes de coisas antes de jogar fora (caixa de leite, garrafa de suco, copo de iogurte, etc) Deixa aqui uma mensagem para nossos leitores. Muito obrigada! Um forte abraço a todos os leitores da Rock Meeting! É muito fácil se divertir e aproveitar a vida, portanto não compliquem! E vão lá baixar nosso álbum que é de graça!


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Kamala – Mantra

Por Marcos “Big Daddy” Garcia - Metal Samsara

O Metal nacional sempre me deu motivos para ser um fã de mentalidade aberta a tudo. A saber ouvir e aceitar as coisas como elas são, as novas tendências, e ir aglutinando mais e mais ao meu bojo de coisas boas para ouvir. Mas de vez eem quando, surgem bandas que me deixam estupefato. E um dos casos se deu quando ouvi “Mantra”, novo CD da banda Kamala, de Campinas (SP). Antes de tudo, a capa de “Mantra” já foge do ponto comum, já que nada de imagens agressivas ou destrutivas. Não, temos a presença de elefantes, que representam a boa sorte e a sabedoria nas culturas orientais. E ao mesmo tempo em que a arte da capa e do encarte nos inspira coisas tão positivas que a vibe das letras ganha um novo foco. Sim, pois os temas ganham um contorno que foge ao “eu te acuso” ou “vou barbarizar com suas tripas”. Não, tudo em “Mantra” tem muita presença de algo positivo e que anseia por construir. Agora, quando se começa a ouvir o CD em si, é de cair o queixo: é o trabalho mais maduro da banda, que usa desta vez um enfoque 102

que ficou ao mesmo tempo mais bruto e experimental, e quem ganha com isso somos nós, os ouvintes. Raphael Olmos está com riffs fantásticos e os vocais cada vez melhores, e a entrada de Estevan Furlan (bateria) e Allan Malavasi (baixo) deram mais peso e diversidade ao som do grupo. Ao som de canções como a experimental “What We Deserve” (mesmo com tanto peso e brutalidade opressivos), a influência mais oriental em “My Religion”, a abrasiva e azeda “Erawan” e o ataque de riffs, baixo e bateria ferozes de “Suicidal Attack” podem ser considerados novos hinos do Thrash Metal brasileiro. O Kamala mostra-se uma banda pronta para um futuro maior, mais amplo, e que há de abrir muitas portas para o Metal nacional. E aproveitem, pois o “Mantra” está disponível para a audição em várias plataformas digitais, como iTunes, CdBaby, Spotify, Deezer, Google Play e Shazam, enquanto o CD físico ainda está chegando, assim como um vídeo oficial. Rendam-se a “Mantra”, e aproveitem essa viagem musical de ótima qualidade.


Megadeth – Rust In Peace

Por Leandro Nogueira Coppi – Brasil METAL História/Roadie Crew

Nos dias que antecederam a segunda edição do Rock In Rio, ocorrido no ano de 1991, a Rede Globo apresentava nos intervalos de sua programação um mini-especial chamado “Preview”, onde em cada episódio uma das bandas ou dos artistas que participariam do festival tinha sua história resumidamente contada. Um riff de guitarra nervoso e bastante pesado anunciava a entrada de cada episódio. Para mim, um riff desconhecido, mas que grudou imediatamente na cabeça. Com o festival já rolando, chegou o tal “dia do Heavy Metal”. Na época, eu tinha apenas 13 anos de idade, portanto, tive que me contentar em acompanhar o evento pela telinha. Nesse inesquecível dia 23 de janeiro, minha ansiedade era para ver os shows do Sepultura e do Guns N’ Roses. Mas assim que a “novela das nove” acabou naquela quarta-feira, um resumo do dia foi transmitido com trechos dos shows do Sepultura, Lobão e uns tais Queensrÿche, Megadeth (que dois anos antes cheguei a ou103

vir em uma fita cassete) e Judas Priest, enquanto não começava o show do Guns N’ Roses. Ao assistir a esse Megadeth, quase cai de costas quando percebi que o tal riff do “Preview”, era, na verdade, da música “Holy Wars... The Punishment Due”. Pirei na hora! Mais ainda com as músicas seguintes e com uma banda que tinha um vocalista que babava de raiva enquanto cantava e músicos com um entrosamento absurdo. No dia seguinte, comentei isso com o Walter - meu melhor amigo até hoje -, que acabou me mostrando o “novo” disco deles, “Rust In Peace”. Aquilo mudou minha vida e há 24 anos o ouço incansavelmente. Suas nove músicas ainda me fazem considerá-lo o melhor disco de Heavy Metal da história. Que solos absurdos são aqueles de Marty Friedman e Dave Mustaine? E a cozinha com Nick Menza e David Ellefson? Enfim, “Rust In Peace” é um clássico indiscutível!


Alestorm - Sunset On The Golden Age Por Leandro Fernandes - Rock Meeting

Interessante como a música em si também pode nos ajudar no cotidiano, claro! Obvio que muitos de nós já tivemos momentos de altos e baixos na vida e sempre tirando lição de tudo aquilo que é bom e ruim. Ultimamente tenho passado por dias de descobertas musicais e bem interessantes por sinal, a bola da vez é o Folk Metal, estilo que quem o faz tem que ser bom, caso contrário esqueça e mude de atividade. Uma banda que tem chamado muito minha atenção é o “Finsterforst” que faz um Folk/ Death (ou algo próximo disso), lançaram esse ano o excelente “Mach Dich Frei” que sem exageros chega a um patamar único que uma banda pode chegar, pois se trata de algo original, banda que merece bem uma atenção. Outra que vem se destacando com um Folk mais “pirata” é o “Alestorm” que mostrou já toda sua capacidade no belíssimo “Sunset On The Golden Age” lançado no ano passado, disco que abusa e muito da criatividade, criando momentos em que até quem está ouvindo se imagina em um navio de piratas pronto para o combate, inclusive nos momentos acústicos que fazem parte do disco que também dá aquela sensação de festa e descontração. Então, assim como o Doom, o Folk se mostra criativo e pode ser reinventado em cada acorde e cada nota, resumindo bem, ou ama ou odeia! 104




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