Rock Meeting Nº 137

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WORDS OF EDITOR

"CIRCLE WITH ME" SPIRITBOX

O METAL QUE TODOS PODEM OUVIR

O . PEI FON @PEIFON JORNALISTA, FOTÓGRAFA E DIREÇÃO GERAL DA ROCK MEETING

metal não é apenas o som das guitarras pesadas, mas das melodias que enchem o coração. Eu falo da experiência de ouvir as músicas do Spiritbox, em especial “Circle with Me”. Tem de tudo lá: peso, melodia, emoção, voz limpa, voz gutural/ scream e técnica. O que mais precisa? Qual outra qualidade eles precisam ter para

ganhar o coração dos bangers? A meu ver, nenhuma. Eles estão trilhando um caminho que está gerando frutos. Mesmo com a pandemia, sem shows, sem mostrar como são no palco, eles estão sendo notados e ouvidos. Ao contrário das bandas que se viram perdidas nesse período pandêmico, o Spiritbox trabalhou diante das limitações impostas


pelo momento e puxam uma cena muito interessante. Não é aquela banda que tem uma mulher no vocal somente. Existe encanto ao ouvir a voz limpa de Courtney LaPlante, existe o espanto quanto ela berra, existem riffs poderosos que te fazem balançar a cabeça, existe um envolvimento musical que te abraça de um jeito que você não para de ouvir. Definitivamente, o Spiritbox é uma banda de metal que todos podem e devem ouvir. É suave, é agressivo, é encantador e sabe te envolver muito bem. Mas é claro, só vai ouvir quem tem a mente aberta, quem não olha para o passado e fica lá somen-

te, vangloriando os feitos e condenando o que estão fazendo no presente. Quando conversamos com eles para a edição nº 133, apostamos nossas fichas nessa banda muito antes desse crescimento exponencial. E agora vemos que estávamos certos, e o Spiritbox vai subir um patamar mais rápido do que estavam imaginando. Anotem isso: serão mainstream muito em breve. Portanto, se você não conhece esse trio canadense, ainda é tempo de acompanhar o crescimento de uma das novas bandas que o Metal Moderno tem o prazer de ter. Spiritbox, sim. O metal que todos podem/ devem ouvir!

. PEI FON @PEIFON JORNALISTA, FOTÓGRAFA E DIREÇÃO GERAL DA ROCK MEETING


SUMÁRIO 2021

45

115

75 07. ALLT TUDO 21. AFTERGLOW "BURNING" 35. DEXCORE "RED EYE"

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45. MONASTERIES NOVO EP "SILENCE" 75. ANNALYNN METAL FROM THAILAND 91. FROM DUSK TO DAWN NOVO SINGLE “SUFFOCATING” 103. NIGHTWISH LIVE REPORT

91

115. EMINENCE 'DARK ECHOES"


DIREÇÃO GERAL Pei Fon DIREÇÃO EXECUTIVA Felipe da Matta CAPA Thiago Silvestre Chama Publicidade

COLABORADORES Augusto Hunter Bárbara Lopes Bárbara Martins Bruno Sessa Fernando Pires Kayomi Suzuki Marta Ayora Mauricio Melo Rafael Andrade UIllian Vargas

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CONTATO contato@rockmeeting.net

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CALIBAN ENTREVISTA EXCLUSIVA PARA O BRASIL




INTERVIEW. ALLT

BY SUZUKI KAYOMI / PHOTO JESPER BLOM

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llt vem da Suécia e de lá eles trazem um som moderno e refinado. Lançando o EP “Dark Waters”, a banda conseguiu transmitir e se conectar com seu público através de músicas intensas e vídeo clipes super produzidos que nos carregam até uma outra dimensão. Mesmo tendo só alguns meses desde seu lançamento, Allt já surpreende ao chegar em playlists famosas em plataformas de streaming e acumula reações positivas pela internet. Pequenos detalhes, som pesado, são só uma parte do que compõem o Allt. A banda é formada por Robin Malmgren (vocalista), Olle Nodström (guitarra), Viktor Florman (guitarra), Samuel Mills (baixo), Adam Björk (bateria). Em uma conversa com Olle e Samuel, descobrimos que Allt vai muito além do que imaginamos. Afinal, Allt é tudo. Em primeiro lugar, gostaria de agradecer por me receber para esta entrevista. Allt só tem um ano desde que foi formada, mas traz muita força na música. Como nasceu o Allt? Olle - Costumávamos ser chamados de Karmanline. Resumindo, tínhamos algumas músicas, alguns vídeos, mas estava meio estagnado, sabe. Não tínhamos nenhuma estratégia de

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mídia social e realmente não sabíamos o que fazer com a banda. Nosso baterista saiu e tínhamos alguns planos para “Dark Waters”, queríamos fazer alguns vídeos de performance, mas sem baterista não dá para gravar um vídeo de performance. Então, reavaliamos toda a nossa estratégia e entramos em contato com a EuroBlast Records, que nos ajudou a definir o lançamento e a marca do Allt. Então, nós lançamos em setembro do ano passado.

Então Allt é realmente bem recente. E isso me leva à sua descrição, onde você menciona que Allt é tudo. O que você quer dizer com isso? Olle - Em sueco, Allt se traduz em tudo. Sam - Sim, é literalmente a tradução. (risos)

de Karmanline. Encontrar o

Por que você escolheu esse nome? Por que tudo? Olle - Então ... decidimos mudar nosso nome, mas não sabíamos o que usar além

um meme entre nós, e então

nome da sua banda é a coisa mais difícil. Porque você fica pensando "oh, vamos usar uma frase?", "Só uma palavra?", “Uma palavra que todos possam lembrar”. E todos os nomes já foram usados... Então tudo foi usado. Então, Allt é tudo. Começou como começamos a atribuir um significado a ele, e começamos a gostar do nome. Então, nós apenas mantivemos.


INTERVIEW. ALLT

TEMOS ESSA CONEXÃO COM NOSSOS FÃS, OUVIMOS O QUE ELES QUEREM E PROVIDENCIAMOS (...) JÁ FAZ PARTE DA NOSSA IDENTIDADE

É muito inteligente essa sacada! Mas espera, então foi um meme entre os integrantes? Olle - Sim, porque é uma palavra muito comum em sueco. No começo era muito estranho ... (risos) Eu posso imaginar, todo mundo falando Allt ... mas você não sabe se é o nome da banda ou a palavra. Olle - Sim! (risos) Você ouve a palavra e pensa “ah, espera... nah, é apenas a palavra ...” “Dark Waters” é o seu primeiro EP, só de olhar para o número de

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visualizações podemos sentir que Allt está no caminho certo. Como você avalia esse primeiro ano como banda? Olle - Eu acho... que nós terminamos todas as músicas basicamente no verão de 2019. Então, 2019 e 2020 inteiros foram apenas um planejamento. Toda uma programação de mídia social e a gente seguia à risca. Então tínhamos posts regulares agendados, tudo para desenvolver nossas redes sociais, nossa marca, nosso nome, a imagem da banda. Então, em 2020 foi apenas construir as conexões, como por exemplo Robin que faz as capas, Adam nosso baterista. Temos muita sorte de ter o Adam. Ele é um grande baterista, então foi um processo de construção.

Então você sente que todo esse tempo construindo e planejando, ajudou vocês a atingir esses números? Olle - Sim, primeiro não sabíamos o que esperar. Fomos sem qualquer expectativa porque você não quer acabar decepcionado, não é mesmo. Você investe todo esse dinheiro, todo esse tempo, então quer que tudo exploda e dê certo. Meio que deu tudo certo no final. E você pode ver que realmente funciona apenas pelas visualizações de “Blindsight”. Já ultrapassa 100 mil visualizações no Spotify, por exemplo. Olle - Sim, é muito legal! Muito obrigado ao Nik Nocturnal, que acabou


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colocando na sua playlist. E como é a sensação de ser destaque nessas playlists importantes? Como recomendações diárias e etc. Olle - A playlist é obviamente uma grande parte disso. Você tem que se destacar, você deve ter um bom conteúdo visual, uma imagem boa e, claro, a música. E Robin nos ajudou massivamente a alcançar esses influenciadores, fazendo Nik Nocturnal ouvir em uma stream e acabou que ele colocou em sua playlist. Portanto, construímos conexões muito boas com tantas pessoas, e estamos muito felizes e gratos por todas as excelentes pessoas que temos em nossa equipe. Sam - É meio chocante, sabe? Pelo menos, desde que lançamos todas as músicas do “Dark Waters”, a reação tem sido ótima, e trabalhamos tanto nessas músicas que as ouvimos um ano antes de lançá-las. Nunca perdemos nossa confiança em nossas canções, mas as reações foram tão absurdas que é chocante demais. Eu posso imaginar. Porque as pessoas, não apenas reagem às músicas, mas também aos visuais. Os videoclipes em si são muito impactantes. Olle - Sim! Queríamos muito que fosse bem refinado, sabe? Onde a música e o vídeo meio que ressoa com você por conta própria. Se torna uma coisa que você simplesmente se conecta a ela, e eu acho tão legal que as pessoas possam realmente se conectar a ela.

Eu por exemplo, o primeiro vídeo que assisti foi “Rupture”, o que me conectou muito com a sua música, o vídeo em si é super cinematográfico, então para o Allt, qual a importância de lançar um videoclipe? Olle - Para “Rupture”, por exemplo, queríamos manter essa sensação assustadora e claustrofóbica, então é exatamente o que se encaixa na música. Além disso, ter o design de som, é uma grande parte do que faz a faixa ser o que é. Pequenos detalhes, como o ruído do relógio, o som ambiente, também são muito importantes. Gostamos de definir um tema, se agarrar a ele e ver o que podemos fazer. “Sobrevivemos a estes dias sem sentido, para algum dia alcançar… para algum dia ser livre”. O que você quer dizer com essas palavras para Blindsight? Olle - Teríamos que ter o Robin aqui para realmente explicar as letras, mas o ponto de “Blindsight”... Quando escrevemos, eu e Robin estávamos presos em uma mentalidade muito pessimista, parecia que a vida simplesmente passava na nossa frente. Você acorda, vai trabalhar, come, dorme, acorda de novo e fica repetindo pra sempre. Em algum momento, você se sente como se estivesse em ciclo vicioso. Você está trabalhando para o interesse de outra pessoa, você está ganhando dinheiro para outra pessoa. Então, nós dois estávamos presos a este pensamento: “Então é assim que vai ser. Como isso vai


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acabar... ” Eu acho que vem disso e do fato de tentar me libertar daquele sentimento de estar estagnado. Então agora, por exemplo, você se sente mais livre? Olle - Sim, criar música e ser capaz de compartilhá-la com todos. É muito importante para nós. É tão bom que as pessoas se conectem as nossas músicas. Quando vemos comentários dizendo "Oh, eu posso me identificar com isso!" ou "Isso ressoa comigo!" faz tudo valer a pena. Todo o trabalho, o esforço, todos os dias que passamos das nove às cinco trabalhando para que pudéssemos pagar tudo. Portanto, este é “Blindsight”, quando você está preso em uma mentalidade pessimista, o mundo pode facilmente se tornar escuro e fica difícil de viver nele. Vocês acabaram de lançar “Dark Waters”, mas alguma previsão de um novo single? Olle - Provavelmente até o final deste ano. Ainda não há datas definidas, mas estamos sempre trabalhando em novas músicas porque é isso que fazemos. Amamos nos envolver no processo, mergulhar na escrita,

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na criação dessas músicas e temas, realmente entrar de cabeça nisso. Então é isso que estamos fazendo agora, estamos escrevendo para nosso segundo lançamento. Então, provavelmente um single ainda este ano. Alguns artistas lançaram seus álbuns em uma versão instrumental, o que fez você lançar “Dark Waters” nesse formato? Olle - Eu, pessoalmente, gosto de post-rock, por exemplo. Então é muito raro você ter letras no post-rock, então, como há tantos sons que ficam escondidos atrás dos vocais, você não consegue ver o que realmente é a música. Ao remover os vocais, você pode ouvir toda a estrutura dentro de uma faixa. Eu sei que temos pessoas que pensam assim entre nossos fãs, então é por isso que achamos que é importante lançarmos apenas os instrumentais. Não está com vontade de ouvir os vocais? Ok, ouve o instrumental. Sam - Para nós nunca houve dúvida se iriamos lançar os instrumentais. Sempre quisemos lançar, era só uma questão de quando e como. Acho que todos nós gostamos quando nossa banda favorita lança um EP ou álbum cheio de instrumentais, então isso abre a música de uma maneira diferente, uma perspectiva diferente. Olle - Você pode pegar por exemplo o Dali Thundering Concept, eles lançaram “Savages”, e depois veio os instrumentais, então para mim fica ainda melhor. Eu realmente pude ouvir os sons, ouvir


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como foi a produção da música. Com as músicas e os videoclipes, você também lançou três playthroughs e, com isso, continua alimentando seus fãs. Com shows paralisados por causa da pandemia, essa é uma ação importante, como isso impactou Allt? Olle - Recebemos tantas mensagens de pessoas pedindo partituras, stamps, então, como esse interesse existe, foi muito importante fornecer esse conteúdo. Portanto, se você realmente deseja reproduzir a música, olha os riffs, a melodia, a estrutura da música e é tudo de graça. Você consegue tudo de graça, partitura, stamps, as guias, então realmente queríamos torná-lo o mais disponível possível, um open-source, por assim dizer. Para mim é interessante saber que vocês fornecem tudo. Normalmente as bandas não são tão open-source assim. Então, você entregar aos seus fãs o que eles

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pediram, é tão importante e realmente ajuda a banda, certo? Olle - Sim, é verdade. Temos essa conexão com nossos fãs, ouvimos o que eles querem e providenciamos. A essa altura, já faz parte da nossa identidade. Uma coisa que fascina os ouvintes de metal moderno é saber como as músicas são tocadas. Recentemente, você lançou “The Ruputure ‘Stem Pack’”, por que lançar algo tão específico? Olle - “Rupture” também foi destaque na Nail the Mix, então há versões multi-track e até mesmo uma sessão onde ele mostra como mixamos “Rupture”. Portanto, não há segredos. Estamos abertos sobre nosso processo de composição, estrutura musical. Nós nos sentimos confiantes em nossa música, então não temos medo de que as pessoas copiem ou façam algo parecido. Se ajudar no final das contas, isso é bom. É insano ver como vocês realmente não tem medo de ser tão aberto. Quando você libera algo tão cru como stem, está completamente exposto a qualquer coisa. Então você realmente não tem medo algum? Olle - Não, por causa da maneira como escrevemos. Já dissecamos a música várias vezes. Pegamos algumas peças, dis-


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secamos, cortamos, mudamos a ordem. Para algumas pessoas, é muito interessante ouvir isso. A música é uma ferramenta poderosa para transmitir ideias e sentimentos. O quão difícil é organizar seus pensamentos e transformá-los em música? Olle - Sam, por favor, você tem a perspectiva de fora aqui. (risos) Sam - Eu não estou incluído nas composições para ser sincero. Geralmente é Olle e Victor quem escreve, e não há uma rotina por trás disso. Há períodos em que eles ficam mais criativos, então eles se sentam e escrevem a música, gravam. Enviamos um para o outro, conversamos no chat em grupo e discutimos o que fazer. É uma visão realmente interessante de tudo, Olle disse antes que ele é muito ligado nessa parte de post-rock ambiente, então ele vai mais nessa direção da música e Victor vai mais para os riffs, as partes pesadas, e essa é a mistura que faz a música. Por exemplo, você mencionou que vocês dois estavam em um lugar

ruim, se sentindo estagnados, então este é um dos momentos em que você vem com novas ideias e escreve? Olle - Sim, pode ser um dos momentos. Algumas das músicas vêm de saudade, apenas de querer explorar outras ideias, temas. Normalmente começa com Victor me enviando os riffs, e eu sento e penso como posso mudar isso, o que posso fazer com isso, talvez escrever um refrão, um som ambiente e envio de volta para ele. Odium, por exemplo, aquela música começou com um riff, e ficou assim por cerca de três anos, e de repente em uma tarde, estava pronta. A ficha simplesmente caiu dentro da sua cabeça? Olle - Eu estava assistindo o “Into The Spider-verse”, e fiquei super inspirado. Então, eu estava voltando para casa e podia ouvir o refrão tocando dentro da minha cabeça e, de repente, só pensei "puta merda!" e quando cheguei em casa acabei a música. Mas, por exemplo, “Blindsight” e “Covenant” foi um processo completamente diferente. “Blindsight”, por exemplo, apenas surgiu uma ideia quando Victor me enviou o breakdown.


INTERVIEW. ALLT

Isso me faz pensar sobre a sua descrição no Spotify, vocês dizem que transformam cenas em música. É exatamente isso, certo? Como é? Olle - Não sei, tenho essa coisa que me envolvo na estética. Se algo é esteticamente agradável para mim, posso começar a criar sons na minha cabeça. “Qual seria a minha interpretação disso?”, “Como isso faz eu me sentir?”. Sam - É difícil de explicar, às vezes quando estamos só curtindo e o Olle ou Victor vem com um som e pensamos "Hey, isso nos lembra de quando estávamos escalando no ou-

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tro dia!" e a partir dessas memórias, esses cenários, criamos músicas. E por último, mas não menos importante, o que podemos esperar do Allt? Algum plano de fazer um show online? Olle - Olha, ninguém quer cantar sozinho em um local vazio, mas queremos ter essa interação direta com os fãs. Sam - Não está definido, mas temos algumas ideias e planos para isso. Olle - Para o próximo lançamento, espero que possamos fazer vocês se sentir ainda mais perto da banda. Para mostrar o que e quem somos.



INTERVIEW. AFTERGLOW

BY PEI FON / PHOTO BERNARDO CORONEL

A

música é um instrumento de propagação de informação muito eficiente e, cada vez mais estudada, os músicos nunca estão satisfeitos com o seu conhecimento, sempre em busca de mais. E quem ganha com isso somos nós, os ouvintes. Nessa jornada musical, a Rock Meeting conheceu o grupo mexicano Afterglow, um quarteto novo, com números expressivos e que só tem a crescer. Ainda que tenham nascido em 2016, foi em 2020 que começaram a se destacar na cena musical. Formada por Albano Arce (vocal), Aruh Harrison (bateria), Erik Azpíroz (guitarra) e Mariano Fuentes (baixo), o Afterglow chega para encorporar a cena mexicana e despontar como um dos nomes relevantes do Metal Moderno sul-americano. Sobre desempenho, música, passado, presente e futuro, conversamos com os simpáticos Albano e Erik. Eles se dividiram nas respostas, mas elas soam em uníssono, é o pensamento da banda que vocês vão ler apartir de agora. Foto: Promotion

Vindos do México, vocês nasceram ainda na pandemia. De onde veio essa ideia de montar uma banda nesse momento difícil para o mundo musical?

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Erik - Começamos esse projeto em 2016, lançamos nossa primeira música em 2019, mas não começamos a ganhar um número significativo de ouvintes até abril de 2020, em meio à pandemia. Acreditamos que o fato de toda a indústria da música ter enfrentado desafios extremos durante os primeiros meses da pandemia nivelou o campo

de jogo para atos menores, já que muitas das bandas maiores interromperam seus lançamentos e programação de turnês, o que liberou atenção para as bandas e artistas menos conhecidos.

tudo saindo conforme vo-

Afterglow já nasceu com pretensões muito claras e esse reflexo se vê claramente nos números. Está

tamos durante 2020. Foi

cês planejaram ou vocês foram pegos de surpresa? Erik - Sempre tivemos nossas intenções claras, mas não esperávamos o rápido crescimento que experimenuma experiência incrível e estamos muito gratos pela recepção e apoio.


INTERVIEW. AFTERGLOW

ESTAMOS TRABALHANDO EM UM CONJUNTO DE MÚSICAS A SEREM LANÇADAS GRADUALMENTE COMO SINGLES

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Há muitas bandas que não estão nas principais playlists do Spotify e vocês já entraram nessas listas. Ao que se deve esse resultado tão expressivo em pouco tempo de trabalho? Albano - Estamos tão surpresos quanto você! Tentamos muitas vezes antes de entrarmos em nossa primeira playlist editorial. Acredito que o que fez a diferença é que seguimos as orientações ao pé da letra. No entanto, há um componente de sorte que não podemos descartar, pois tivemos a sorte de ser gostados por sua equipe de curadores. A forma como a cena mexicana tem se mostrado nos últimos anos surpreende. Mas falando especificamente com quem vive na cena, como é o cenário musical em especial para o metal moderno? Albano - Temos muita sorte pelo incrível talento que temos neste país. No entanto, o cenário está em uma situação ruim agora por causa das restrições implementadas durante a pandemia. Muitos locais foram fechados, então os shows de metal estão limitados a shows undergrounds on-line, já que o metal tem muito pouca relevância na mídia mainstream aqui. Afterglow já tem dois EP lançados e alguns singles, esse ano já há duas novas músicas, isso indica que está para vir seu terceiro EP ou trabalham para o début álbum?


INTERVIEW. AFTERGLOW

Erik - Estamos trabalhando em um conjunto de músicas que serão lançadas gradativamente como singles, mas todas fazem parte de um EP. Não estamos planejando lançar várias músicas de uma vez tão cedo. Falando em novos singles, “Lost” foi o primeiro de 2021. Música poderosa, tem peso e uma mensagem marcante. Como vocês avaliam a receptividade dessa música? Erik - Lost foi a primeira música a não ser destacada no lançamento, então os números não refletem a maneira como

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nos sentimos sobre a música. Isso apenas nos lembra que não podemos ter o que queremos o tempo todo, e devemos continuar trabalhando em nossa música e em nossas estratégias de lançamento. No entanto, nosso lançamento no YouTube via Dreambound foi melhor do que o anterior, então estamos otimistas que mais pessoas descobrirão a música organicamente e poderão curtir esses riffs. “Of an amnesiac humanity, I wonder what will remain” destaco essa passagem em “Lost”. Fazendo um


paralelo com as atitudes humanas de hoje, quem será o ser humano amanhã no pós pandemia, será que aprendemos algo? Albano - Espero que o ser humano pós-pandêmico aprenda a não deixar sua liberdade ser tirada pelo poder da manipulação da mídia de massa. “Lost” fala sobre nós, humanos, repetindo nosso passado por causa de nossa amnésia coletiva. A história se perde e é reescrita pelos vencedores, enquanto repetimos nossos erros continuamente. A quantidade de censura (da mídia de massa e redes sociais, bem como

a pressão popular) nos últimos anos está contribuindo para nossa amnésia, à medida que as informações são suprimidas e distorcidas, tornando-as inúteis para investigações históricas retrospectivas. Conheci o Afterglow ouvindo “Burning”. Essa música foi feita para ficar ecoando na mente, é uma fórmula muito certa, você escuta a música e de repente está cantando. Conta para nós como foi o processo de composição dessa música. Erik - Inicialmente queríamos escrever um riff animado para basear nossa música, então continuamos adicionando par-


INTERVIEW. AFTERGLOW

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tes até que tivéssemos uma estrutura musical. Depois de fazer isso, refinamos a estrutura, movemos as peças até que tivesse um bom fluxo. As letras e melodias vocais foram apenas uma resposta natural ao que tínhamos em nossas mentes. As letras falam sobre a divisão entre diferentes coletivos, já que no momento da escrita, estava ficando muito extremo, enquanto nossos governos tinham respostas absolutamente abismais para a crise pandêmica, então o mundo inteiro parecia que estava queimando conosco por dentro. “Now it's time to take back our lives, To reclaim what's left out of ourselves”. Essa parte de “Burning” é poderosa. Puxando para o mundo atual, o que podemos recuperar e o que devemos deixar de lado? Erik - Devemos recuperar nossa liberdade de expressão, nossa liberdade de viajar, nossa liberdade de reunião e nosso pensamento crítico. Poderíamos acabar totalmente com as tensões ideológicas, religiosas e raciais, pois elas não contribuem em nada para a nossa sociedade, exceto nos dividir ainda mais e nos tornar muito mais fáceis de manipular e controlar. A música “Black Hole” tem uma melodia que fixa na


INTERVIEW. AFTERGLOW

cabeça. É tão verdade que já foi ouvida quase 800 mil vezes. Vocês imaginavam tamanha impacto? Erik - É realmente incrível, pois esses números não são fáceis de entender. Queríamos fazer uma música que tivesse uma mensagem poderosa para aqueles que sofrem de depressão, então parece que estamos no caminho certo para cumprir nossa missão até agora e isso nos deixa muito felizes.

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“The only promise you can't break is the one made for you, Don't turn your back on yourself”, essa parte de “Black Hole” é muito impactante. Como ajudar alguém a não sucumbir em si mesmo? Albano - É muito importante manter relacionamentos significativos com seus entes queridos, para que você possa contar com eles sempre que sentir que está no limite. Acreditamos que a empatia é a


ferramenta número um para ajudar os necessitados, pois você pode entender o que eles estão passando e dar-lhes uma perspectiva externa que pode ser útil para superar seus problemas. “Ephemeral” é outra música que caiu no gosto do ouvinte. Com pouco mais de 700 mil plays, essa canção é uma bela síntese do que a banda quer mostrar. Melodia, técnica e letras com sentimento, esse

é o Afterglow? Albano - Totalmente! Queremos fazer músicas que você possa curtir, mas também deixar você pensando no final. Nosso objetivo é fazer você se sentir parte de nossa família. Na descrição da banda diz que o Afteglow existe para animar, conectar e aliviar o sentimento de estar sozinho nessa jornada. Muitas bandas têm falado sobre o exis-


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tencialismo, como é discutir esse tema por meio da música? Albano - Naturalmente, a música é a nossa forma de expressão preferida, e adoramos ter longas conversas onde mergulhamos na filosofia com alguns copos de uísque, por isso sempre temos algum tema existencial em mente, pronto para ser projetado em nossas próximas letras.

de algumas músicas, pretendem

Para encerrar a nossa conversa, vocês lançaram playthrough

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fazer com as músicas lançadas esse ano? Muito sucesso e se cuidem. Muito obrigada! Erik - Sim! No momento, estamos trabalhando em alguns novos conteúdos de vídeo. Informaremos a todos sobre isso em nossas páginas de mídia social assim que tivermos algo a anunciar! Agradecemos muito o apoio e

lhes desejamos o melhor!



INTERVIEW. DEXCORE

BY SUZUKI KAYOMI / FOTO PROMOTION TRADUÇÃO JAPONÊS OLGA MAZLINA

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EXCORE é uma banda do Japão que já passou por diversas mudanças em sua formação, mas desde sempre ganhou atenção de ouvintes do exterior pela sua qualidade sonora, e obviamente o peso que seu instrumental carrega. Não se deixe enganar pelo visual que os integrantes usam, a banda vai muito além da aparência exterior e com certeza chocou muitos ouvintes com a famosa DRAGOUT. Com kagami nos vocais, yumeto na guitarra, reizi na bateria e kai no baixo, o DEXCORE é capaz de te levar em uma montanha russa de emoções em uma única música. A banda traz uma certa inovação e seu mais recente trabalho “Red Eyes” conseguiu deixar o som ainda mais pesado. DEXCORE é uma das inúmeras no Japão que usam do visual-kei para se expressar visualmente, mas que o som é simplesmente Metalcore e por conta da aparência muitos deixam passar a chance de conhecer uma banda com um som poderoso e insano. Primeiramente, muito obrigada por ter essa entrevista conosco. O DEXCORE já passou por diversas mudanças em sua formação, mas a banda nunca interrompeu suas atividades. Ano passado, inclusive, foi anunciado que o baixista e bate-

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rista deixariam a banda. Isso afetou as atividades do DEXCORE de alguma forma? kagami - Não, isso não afetou. Apesar de não poder dizer que isso não nos afetou de forma alguma, nós apenas seguimos em frente. kai é o novo baixista, e pela música “Red Eye” fica óbvio que ele consegue se encaixar muito

bem com o DEXCORE. kai, foi difícil para você se adaptar com os membros atuais? E para a banda, alguma coisa mudou após a entrada do kai? kai - Como novo integrante, com certeza estive um pouco nervoso no início, mas com o tempo, eu tive uma sensação de segurança e conforto, como fazendo parte de uma família. Já com as músicas, foi difícil me familiarizar com elas, pois

eram únicas e tinham tantas, mas não foi difícil entrar em sincronia com os integrantes. kagami - Eu gosto do som e da forma de tocar do kai, então eu já tive uma certa ideia de como seria uma vez que ele entrasse, e quando tocamos juntos pela primeira vez, foi simplesmente da forma que eu esperei que fosse. reize - Se alguma coisa, a mudança do to-ru, que tocava com uma palheta, para o kai,


INTERVIEW. DEXCORE

tocando com seus dedos, mudou consideravelmente a qualidade da nossa abordagem. yumeto - Eu e o kai somos excepcionalmente compatíveis, como o “combo de cordas” da nossa banda. Quando se é sobre movimentos, e como nós nos apresentamos, nós temos pensamentos semelhantes e somos capazes de trabalhar bem juntos. Então eu acho que nós estamos nos ajustando mais e mais com nosso estilo de banda, e a forma como tocamos. Ainda em “Red Eye”, muitos comentários apontam o fato de que vocês conseguiram deixar seu som ainda mais pesado. Na hora da criação, vocês têm algum fator limitador ou são mais livres? yumeto - Nós escrevemos “Red Eye” por volta de janeiro deste ano. Quando nós realmente queríamos que a forma e a melodia da música fossem exatamente desse jeito. Nós também queríamos que a música fosse sobre a dor do ódio inato por parte de você mesmo. Como posso explicar isso, por exemplo, como a escuridão da noite

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EU TENHO CERTEZA DE QUE AS PESSOAS QUE GOSTAM DE OUVIR NOSSAS MÚSICAS CONSEGUEM SENTIR NOSSO ESPÍRITO DE CONQUISTAR O MUNDO (yumeto)

jamais consegue conhecer a luz do dia, sabe? Isso é porque a noite nasceu na noite, e eu nasci em mim mesmo, então eu não posso vivenciar a vida de outra pessoa. Contudo, mesmo que eu deseje me tornar outra pessoa, na vida dela haverá dor da mesma forma, então eu percebi que esse mundo está cheio de pessoas sofrendo… Eu me cansei de pensar nisso, então eu quis expressar meu ódio por isso tudo. Eu imaginei o som como Black Metal de 2021, então a estrutura se tornou muito mais difícil, e as sequências muito mais elaboradas. kagami - Nos dias de hoje, você às vezes vê engenheiros influentes ditarem o que seria o som “certo”, e se essa pessoa influente diz “esse é o único jeito que isso pode ser”, então o ouvinte vai entender que isso é o “certo”. Eu penso que é uma pena que um som feito por si mesmo, como o nosso, não tenha sido notado como “único”, e sim apenas rotulado como “música ruim”. Eu não sei se há um limite para criar, mas não existe forma “certa”, “o som que nós achamos que é louco, é o som do DEXCORE”. Se houver um som “certo”, eu penso que o “certo” para o DEXCORE seríamos nós. Eu não tenho certeza se respon-


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di à pergunta, mas eu queria dizer isso de qualquer forma (risos). Em 2020 vocês trouxeram “Breath”, que é bem mais calma se comparada com outras músicas e a letra soa como um desabafo, não é? E se encaixa muito com o momento difícil que muitas bandas têm passado atualmente. De que maneira o DEXCORE foi afetado por toda a pandemia? kagami - Por mais que eu me preocupe, pessoas que continuam dizendo que querem morrer, na verdade ficam muito assustadas quando realmente se aproximam disso. Pessoas que realmente querem morrer apenas o fazem, sem ninguém notar. Eu não sofro de problemas psicológicos, mas eu mesmo já me vi pensando em morrer várias vezes quando as coisas não iam bem. Mas é claro que eu não posso morrer, estando tão assustado. Durante esses momentos eu pensei “Mesmo que eu não queira, um dia eu vou morrer, e tudo irá acabar. Então eu vou apenas tentar aguentar”. Eu escrevo sobre esses sentimentos. Eu vou ser feliz se as pessoas ouvirem essa música e pensarem “Vamos seguir vivendo um pouco mais”. yumeto - A música tem “separação” como seu tema. Eu estava dando uma caminhada quando de repente eu pen-

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sei numa melodia de piano, e a escrevi imediatamente depois de voltar para casa. E eu fiquei tão emocionado quando vi a letra que kagami adicionou a ela. Essa música veio precisamente porque eu estava passando cada dia deprimido por não ser capaz de me apresentar. Então é possível que nós não seríamos capazes de terminar essa música se tivéssemos feito qualquer show durante esse período. Isso também é uma consequência da pandemia, então eu posso dizer que isso não foi necessariamente somente algo ruim para nós. Mas eu odeio essa pandemia com todo o meu coração. reizi - Mas isso não necessariamente apenas teve um impacto negativo. Foi uma oportunidade para a sociedade como um todo, para pensar sobre qual impacto a música ao vivo tem na sociedade, e onde a necessidade por música ao vivo está, mas também para entender que nós não podemos apenas esperar que a pandemia esteja contida. Em particular, o Japão tem sido notavelmente mais lento para responder e se recuperar, do que outros países industrializados, e eu pessoalmente acredito que isso se correlaciona com o curso da pandemia, então nós precisamos estabelecer diretrizes para nossas atividades para garantir que esse aspecto não funcione contra nós. kai - Essa música foi lançada antes de eu


INTERVIEW. DEXCORE

entrar banda, mas quando eu a ouvi, eu senti uma mensagem de força em viver, de conectar o seu eu do presente com o amanhã. É sobre querer virar as costas para coisas que você não gosta, querer desaparecer, mas também sentir medo do desaparecimento, então você acaba mentindo para si mesmo de novo, e de novo, dia após dia, interpretando o personagem que você chama a si mesmo. No entanto, enquanto você for capaz de sorrir, isso já é suficiente para você viver. Eu tenho certeza de que todo mundo já vivenciou algo assim em algum momento em suas vidas, e essa música é uma mensagem para aqueles que se sentem dessa forma. O mundo está afetado pelo novo Coronavírus, e nós não estamos podendo nos apresentar, por mais que queiramos muito. Especialmente agora que não somos capazes de nos apresentar, como podemos ainda transmitir a beleza das apresentações ao vivo? E como nós podemos nos comunicar e transmitir a música do DEXCORE? Enquanto nós não pararmos de pensar sobre as respostas dessas perguntas, nós continuaremos a fazer grandes avanços, assim como o DEXCORE fez no passado. A força e controle vocal do kagami, constantemente mudando o tom em diferentes partes, é outro fator que sempre nos surpreende em sua música. Deve ser difícil atingir esse ní-

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vel, né? Há algo em particular que te influenciou? kagami - Não é fácil. Eu não falei muito sobre isso antes, mas é claro, eu trabalhei muito duro. Se você ouvir as nossas músicas antigas, e comparar elas, é óbvio e eu acho que você irá notar imediatamente. Não existe uma influência em particular. É algo que eu faço porque eu quero me expressar. DEXCORE lançou 'Cibus' em colaboração com Ryo do Crystal Lake, que é bem conhecido no meio Metalcore. De onde veio a ideia dessa colaboração? Foi difícil trabalhar com outro músico? kagami - Nós estávamos no meio da produção do álbum quando terminamos a música, e nós gostamos tanto de trabalhar nela, nós pensamos que poderíamos fazer algo que surpreenderia todo mundo. A primeira pessoa que veio à minha mente foi o Ryo, que é o vocalista que é minha maior influência no Screamo. Nós nos conhecemos há algum tempo, mas eu realmente não esperava que ele aceitasse quando perguntei, pensando que não tinha nada a perder. Eu estava tremendo. Era a nossa primeira vez trabalhando juntos, mas o Ryo me apoiou, e tudo correu muito bem. Graças a ele nós pudemos aperfeiçoar uma música insana e sou muito grato por isso. Vocês são bastante conhecidos on-


INTERVIEW. DEXCORE

line, inclusive no exterior, pela inovação em sua música, especialmente os “breakdowns”. Minha favorita é “NEW ERA”, é simplesmente brutal! De onde essas ideias vieram? kagami - Enquanto estávamos fazendo essa música, ela simplesmente evoluiu para o que é antes mesmo de percebermos (risos). Como mencionei anteriormente, DEXCORE é muito popular no exterior, e sempre tem diversos comentários em várias línguas nos seus vídeos. Vocês têm alguma ideia do porquê o DEXCORE é tão popular fora do Japão? kagami - Eu não sei. Na verdade, eu gostaria que você me contasse. (risos) kai - Visual-kei não é um gênero musical, é uma parte da cultura musical japonesa. Por adicionar elementos de metal a música, acaba destacando a individualidade de cada um ao máximo, então eu imagino que há algo fascinante nisso e que te faz se sentir atraído. yumeto - Eu tenho certeza de que as pessoas que gostam de ouvir nossas músicas conseguem sentir nosso espírito de conquistar o mundo. Nossa ambição é de ser global, esse é o motivo de nós querermos que eles espalhem nossa palavra. Nós re-

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cebemos comentários em tantas línguas diferentes, então eu vou tentar aprender quantas eu puder, para que eu possa respondê-las. A gente sabe que o cenário de visual-kei e de Metalcore no Japão não é grande, e que a sociedade julga muito esses estilos mais agressivos. Vocês acham que por ter esse elemento visual do visual-kei junto a Metalcore é um obstáculo a mais para o DEXCORE crescer? kagami - À medida que nós avançamos, não é. Nós temos orgulho do que fazemos.

reizi - Eu descobri o visual-kei quando tinha 14 anos, e era fascinado pelos looks únicos, a encenação e visão de mundo, que é diferente em qualquer outro gênero, e é o motivo que eu estou fazendo visual-kei agora. No Japão, ainda existem poucas oportunidades para o visual kei ter um grande impacto na sociedade japonesa, mas no Brasil essa cultura é vista de forma positiva, por isso, estou animado para ver o que acontecerá quando nos apresentarmos lá, então se eu tiver a chance, eu quero ir. No Brasil existe um grande grupo de fãs de Metalcore e visual-kei, você acha que teremos alguma chance de ver o DEXCORE nos palcos brasileiros? kagami - É algo certo! kai - Nós estamos no Japão, e o Brasil está exatamente do outro lado do


INTERVIEW. DEXCORE

mundo, o que significa que é o país mais distante de nós. Enquanto isso, continuaremos a enviar novas canções, para que as pessoas possam se apaixonar por nossa música independente da distância. reizi - Nós queremos nos apresentar cercados de pessoas do Brasil que amem visual-kei. Por favor, nos deem uma recepção calorosa quando formos aí algum dia. yumeto - Obrigado como sempre!!;) Eu estou ansioso para encontrar todos vocês no Brasil algum dia. kagami - No momento, ainda estamos muito cautelosos para viajar pelo Japão, então não estamos em posição de viajar

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para o exterior ainda, mas assim que a situação se resolver, iremos viajar por todo o mundo, então, por favor, esperem por isso. Claro que vamos destruir o Brasil também. Muito obrigado! O DEXCORE lançou o videoclipe de “Red Eye” em 30 de abril, o que vem a seguir para o DEXCORE? DEXCORE - Desde 22 de maio “Red Eye” foi lançado para streaming e download, então por favor ouçam muito! E a gente mal pode esperar para compartilhar as nossas novas músicas com vocês, por favor aguardem!



INTERVIEW. MONASTERIES

BY PEI FON / PHOTO CARL BATTAMS

Q

Foto: Jacob McAllister

ue o Reino Unido é um celeiro de bandas, seja qual for o estilo, isso todos nós já sabemos, mas essa busca por novas bandas que a Rock Meeting tem feito está sendo surpreendente. Para essa edição, apresentamos o quinteto de technical Deathcore Monasteries. O grupo existe deste 2013 e de lá para cá já lançou três EP e uma gama pesada de singles. A banda é formada por Josh Davies (vocalista), Dan Hill (bateria), Aaron Wright (guitarra), Sam Mitchell (baixo) e Ben Standley (guitarra). Recentemente o Monasteries apresentou seu mais novo trabalho, o EP “Silence”. Massivamente ouvido por esta quem vos escreve, é um disco que deve ser ouvido pelo fã da música pesada. É um álbum bastante técnico, agressivo e que sabe misturar muito bem as influências do Metal. Ou seja, você precisa ouvir já o EP “Silence” do Monasteries e está disponível nas plataformas digitais. E para falar desse novo EP, conversamos com o vocalista Josh Davies. Muito simpático, ele fala sobre as novas músicas e sobre a banda. Acompanhe! Monasteries é uma banda nova, mas com propósitos bem definidos. Fale um pouco sobre o início dos trabalhos.

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Foto: Ollie Wood

Josh - Monasteries é uma banda técnica de Deathcore do Reino Unido formada pelo membro fundador Dan Hill (baterista). Nos últimos anos enfrentamos inúmeras mudanças de formação, mas agora estamos confiantes de que esta é nossa formação mais forte até o momento, nos reunimos coletivamente com a mesma intenção de es-

crever músicas ridiculamente tória era legal, pelo que não pesadas. o culpo! Há uma masmorra chamada Scarlet MonasteO nome da banda foi ins- ries, então ele a tirou dela, pirado num dos persona- mas você pode ver um pouco gens do Warcraft. Qual o da influência em alguns títuponto comum que uniu o los de músicas antigas do EP jogo à música? “The Empty Black”. Dan (baterista) costumava jogar World Of Warcraft re- A banda se intitula Teligiosamente por anos e sem- ch-Deathcore. Nota-se o pre achou que o nome na his- quão técnicos são e como


INTERVIEW. MONASTERIES

FAZER ALGO PESADO É TUDO O QUE SEMPRE QUISEMOS E SINTO QUE ESTAMOS CONSEGUINDO ISSO

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desenvolvem muito a música. Fazer esse som mais trabalhado foi intencional desde o início da banda, ou foram descobrindo conforme as ideias foram chegando? Eu diria que sim. Suponho que quando a banda começou, Dan tinha a intenção de criar algo estupidamente pesado, o que ele conseguiu realizar; e desde que entrei em cena para irritá-los, fazer algo pesado é tudo o que sempre quisemos e sinto que estamos conseguindo isso e deixando nossa marca no cenário musical. O Monasteries já lançou dois EP’s e alguns singles. Vocês pretendem continuar nessa dinâmica ou almejam lançar seu début álbum? Estamos sempre escrevendo, não importa o que aconteça, seja coletivamente ou em nosso próprio tempo livre, mas é tudo que vou dizer... prefiro esperar até o


INTERVIEW. MONASTERIES

momento certo para falar sobre nosso próximo passo. Desde que 2021 começou o Monasteries tem lançado um single a cada mês. Há a possibilidade de algum livestream da banda? Nós pensamos e conversamos sobre isso, mas com shows ao vivo esperançosamente voltando em julho, nós realmente não vemos sentido nisso, então vamos marcar uma tonelada de ensaios para nossa

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turnê de agosto com nossos amigos em Gassed Up e Freehowling..., mas talvez no futuro possamos fazer uma live. “The Amygdala Chorus” foi lançada em 2020 após dois anos sem novidades. A recepção foi tanta que já foi ouvida mais de 170 mil vezes no Spotify. Esse boom pegou vocês de surpresa, ou esperavam por isso? Ah sim, com certeza! Decidimos lançar uma faixa autônoma para manter o ím-


peto porque Monasteries não vai desacelerar tão cedo, então quando lançamos aquela música, ela simplesmente decolou e ficamos sem palavras e mesmo agora ela ainda está indo com tudo. Também temos recebido um monte de covers dela, o que é muito legal. A letra de “The Amygdala Chorus” é bastante intensa. Uma das partes que mais me chama atenção é “I was meant for, Meant for something, Something more”. O que seria esse algo a mais que significaria na vida? Para mim, pessoalmente, é apenas encontrar meu próprio significado e propósito na vida, porque ainda tenho aqueles dias em que acordo me perguntando por que estou aqui e tenho certeza de que um monte de outras pessoas também o fazem, e é algo que estou sempre pensando por que você não sabe seu propósito neste mundo louco. Em tempos de pandemia, o uso das redes sociais ficou muitos mais evidente, porém muitos agravos aconteceram, e “Digital Suicide” fala dessa


INTERVIEW. MONASTERIES

relação destrutiva. O que fazer para diminuir esses danos na nossa vida real? Ter a mente aberta, porque tudo o que você vê nas redes sociais pode não ser o que parece e, no mundo moderno de hoje, as redes sociais podem ser muito tóxicas e fatais. Seria aconselhável analisar qualquer que seja o assunto antes de mergulhar de cabeça nele com um julgamento ou um comentário. “Seeking validation fueled by mass intoxication, they abused their platforms hiding their toxic traits putting lives at stake”. Com certeza essa é a parte de

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“Digital Suicide” que chama mais atenção. O que inspirou a escrever essa mensagem? Isso é o que eu vejo, dia após dia, onde as pessoas pensam que só porque têm um monte de seguidores podem desprezar os indivíduos ou fazer comentários fortes sobre eles sem ter algo substancial para se apoiar, e as palavras também grudam, então despejar rancor para chamar a atenção só levará ao pior. “Allowing my Traitors to Die” é intensa, melódica e prende o ouvinte a cada riff tocado. Traz muitas referências sonoras que particularmente gosto de ouvir. Fala um pouco para nós sobre o processo de criação dessa música. Esta música foi escrita metade durante o lockdown, e a outra metade quando estávamos juntos, mas com esta música queríamos experimentar um pouco mais, adicionando uma seção melódica à música, especialmente no vocal. Eu queria trazer um vocal limpo para a mesa e usar uma


INTERVIEW. MONASTERIES

abordagem diferente com tudo isso, mas assim que recebemos os masters de volta para essa faixa sabíamos que seria a primeira que lançaríamos. “You acted out on me. You showed me no fucking sympathy”. Confesso que fiquei intrigada em saber quem é esse traidor que relata na música. Existe algum personagem por trás de “Allowing My Traitors to Die”? Eu não diria que há um personagem por trás da música, já que o tema lí-

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rico em si fala sobre o lado negativo de qualquer forma de relacionamento e como isso pode ser tóxico, porque qualquer um de vocês pode estar fechando os olhos para seus próprios traços tóxicos, quer você os mostre intencionalmente ou não. Vocês lançaram “One Minute to Midnight”, mais um single novo para os ouvidos mais exigentes. Como tem sido a recepção dessa música? “One Minute To Midnight” foi rece-


bida tão bem e não podemos agradecer às pessoas o suficiente por conferir! Ao escrever isso, nós claramente queríamos deixar as pessoas de queixo caído e tenho certeza de que fizemos isso haha Para o mundo da música, a pandemia impactou diretamente no que faz sentido em ter uma banda: os shows. O que pode mudar no pós-pandemia, tanto no comportamento do público quanto nas ações de promoção de eventos? Continue apoiando uns aos outros com-


INTERVIEW. MONASTERIES

partilhando música, comprando merchandising e até mesmo participando de shows com mais regularidade quando eles voltarem, ou até mesmo ajudando na realização do evento/turnê, mesmo se você não puder comparecer. Para finalizar, o que podemos esperar de vocês em 2021? Esperamos vocês no Brasil. Sucesso, se

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cuidem. Muito obrigada! Estaremos em turnê com Gassed Up e Freehowling de 28 de agosto a 5 de setembro e depois teremos a Europa com Gassed Up de 13 a 17 de setembro, então estamos de dedos cruzados para que estes shows sigam em frente e que possamos passar o resto de 2021 apenas fazendo shows e promovendo nosso mais novo EP 'Silence'.



MAIN. CALIBAN

BY SUZUKI KAYOMI / FOTO CHRISTIAN RIPKENS

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om 24 anos na estrada, Caliban não tem mais interesse em ser colocado em categorias ou receber rótulos. A música do Caliban é muito mais que isso e com o CD “Zeitgeister” a banda recebeu uma visita do fantasma do passado e acabou dando nova identidade as suas músicas antigas. Vindos da Alemanha, Andreas Dörner (vocal), Denis Schmidt (guitarra), Marc Görtz (guitarra), Marco Schaller (baixo) e Patrick Grün (bateria), trazem questionamentos profundos e críticas sociais para seus álbuns. Em uma conversa com Marc Görtz, tivemos a chance de mergulhar a fundo em como e porque, o Caliban consegue misturar o passado com o presente, e como eles mantém suas músicas em um nível tão alto ao longo de todos estes anos.

Foto: Tilografie

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Em primeiro lugar, muito obrigado por conceder essa entrevista. O Caliban tem uma longa história como banda, são 24 anos de carreira. É raro ver bandas que continuam ativas por tanto tempo, com um som sólido e atualizado. Qual o segredo do Caliban? Marc - Eu acho que uma das razões é que, mesmo sendo amigos, ainda sim nós não somos um grupo de melhores amigos que


Foto: MCPixx

saem juntos todos os dias. Todos nós temos hobbies diferentes, diferentes círculos de amizade. Também, por exemplo, Andy, o vocalista, mora a mais de quatro horas de distância daqui, então existe uma distância entre a gente. Isso não significa que não somos amigos, mas temos vidas diferentes além da banda. Isso acaba ajudando porque a gente não fica se irritando uns com os outros. Marco, o

baixista, mora na minha cidade, mas ainda assim, não saímos todos os dias. Depois de tanto tempo, se você sair com as mesmas pessoas por mais de 20 anos, acho que fica complicado. E como foi a evolução ao longo de todos esses anos? Eu, como compositor principal, na questão instrumental, não das letras. Eu sempre

gosto de progredir, aprender novas técnicas, tentar desenvolver minhas habilidades de composição e adicionar novas camadas de outros estilos musicais ao que fazemos. Isso para mim é muito importante, e é a razão pela qual continuamos fazendo o que estamos fazendo. Acho que se continuássemos gravando a mesma coisa, o mesmo tipo de álbum, repetidamente, eu ia ficar entediado. Desta for-


MAIN. CALIBAN

NOSSOS FÃS INTERNACIONAIS NÃO PRECISAM SE PREOCUPAR, NOSSO PRÓXIMO ÁLBUM COMPLETO SERÁ EM INGLÊS. NÃO SERÁ TOTALMENTE EM ALEMÃO (RISOS)

Foto: Der Pakt

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ma me mantenho motivado, sempre encontro coisas novas e interessantes para adicionar à nossa música e juntá-la ao tradicional estilo do Caliban. Seu novo CD é chamado “Zeitgeister”, que pode ser traduzido como “fantasma do passado”. Neste álbum, você visita o seu passado para trazer essas mensagens ao presente. Por que revisitar essas músicas? Foi muito interessante. Nós atrasamos nosso álbum ‘normal’, que está pronto, mas nós o adiamos para o próximo ano. Portanto, nossos fãs internacionais não preci-

sam se preocupar, nosso próximo álbum completo será em inglês. Não será totalmente em alemão. (risos). “Zeitgeister” deveria ser especial, ele ainda é especial, mas deveria vir depois do álbum "normal", mas por causa da pandemia não podemos sair em turnê, então atrasamos o álbum. Para mim era importante não simplesmente regravar as músicas antigas. Havia ideias diferentes sobre como deveríamos abordar isso, alguém sugeriu que fizéssemos uma jam session ao vivo e apenas tocássemos as músicas antigas, e sei lá… nah. Qual é o objetivo de gravar a mesma música de quinze anos atrás? Por causa da tecnologia, vai soar diferente de alguma forma, mas talvez perca o carisma da música original. Claro, as letras em alemão seriam diferentes, mas não o suficiente para mim. Então foi interessante pegar algo das músicas antigas, melodias, não sei, um algum tipo de vibe e trazê-las para o novo mundo. Foi interessante ouvir essas músicas antigas, tinha música que eu não ouvia há mais de 10 anos. Como músico, você sempre cresce de maneiras diferentes, existem álbuns nossos que eu não gosto mais. Eu gosto, claro, quando eu gravei, mas agora eu


Então, não era simplesmente pegar as músicas antigas e refazê-las, certo? Imagino que não foi um processo fácil. Não, porque foi um processo muito longo encontrar essa ‘receita’ para desenvolver as músicas do jeito que são agora. Algumas por exemplo, enquanto escrevíamos, estavam muito próximas do original ou muito distantes do original. Demorou um pouco para realmente encontrar o ponto exato onde pudéssemos dizer “humm, ainda dá pra sentir a música antiga, mas não é a mesma”. Foi tão difícil. Além disso, para as letras, no início, tentamos traduzi-las diretamente, mas descobrimos que não funcionava. Os padrões são completamente diferentes, algumas palavras em inglês não usamos em alemão ou

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ap h ho to gr aP as or iz Fo to :S

não gosto mais, talvez porque seja uma música diferente. Mas foi interessante ouvir como abordávamos a composição naquela época. Foi mais difícil, e demorou mais, para escrever este CD do que o álbum completo.

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MAIN. CALIBAN


Foto: Sasoriza Photography

parecem muito ridículas. Então decidimos manter o tópico central e escrever novas letras com o mesmo tópico, depois combiná-las com a nova versão da música. Demorou um pouco para decidir como o faríamos. Deve ter sido difícil criar as letras em alemão desde o início, mas tem algo que você aprendeu nessa viagem no tempo? Foi divertido no final de tudo. Mas passeando entre as músicas passadas acabou tendo um pequeno impacto no nosso próximo álbum. No meio do processo de composição do álbum normal, decidimos atrasá-lo e trabalhar no “Zeitgeister”, para terminá-lo primeiro e depois voltarmos. Depois de terminá-lo, voltamos ao novo álbum e acabamos adicionando alguma das vibes passadas. Claro, ainda soa como “Elements” ou “Gravity”, mas com um toque do oldschool Caliban. Digamos uma versão mais pesada e áspera de “Gravity” ou “Elements”, de alguma forma, com alguns riffs de clássicos de hardcore misturados com estilo moderno. Não tanto quanto o CD, mas mesclados de alguma forma. “Zeitgeister” soa muito como um bom retorno ao lar. Quase se en-


MAIN. CALIBAN

caixa na situação atual em que tivemos que interromper nossas atividades e ficar em casa. “Zeitgeister” reflete este momento real que estamos vivendo? De alguma forma é diferente, na verdade, para nós, o processo de gravação e composição foi o mesmo. Moramos longe um do outro, então gravamos e mandamos por e-mail ou conversamos no skype, e foi só a gravação ficou um pouco diferente. Normalmente eu estou sempre presente quando gravamos os vocais, mas dessa vez eu tinha que estar lá, mas de maneira online. As partes instrumentais eu gravo e faço a mixagem no meu estúdio, como o “Zeitgeister”, “Elements” ou “Gravity”, foram feitos no meu estúdio. Só os vocais que vamos para outro lugar e temos um produtor vocal junto, e eu sempre estou presente porque tenho uma ideia bem clara de como as coisas devem ser. Então, desta vez, eu não pude estar lá e demorou um pouco mais, mas, além disso, a pandemia apenas nos tornou, ou a mim pelo menos, mais criativos. Bem, eu acabei ficando mais em casa gravando do que de costume. Para Andy foi um pouco mais difícil, ele sofreu mais o impacto, já que ele é de alguma forma sensível as coisas ao redor dele. Algumas das músicas do próximo álbum tiveram esse tópico das situações atuais,

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mas é claro que nem todas as músicas, já que trazemos algumas críticas sociais também. Então, eu acho que o lado pessoal do próximo álbum vem do impacto que ele sentiu. Isso me leva à sua nova música, “nICHts”, que traz à tona um tema pesado, suicídio. No momento atual, muitas pessoas podem se identificar com esse sentimento na música, inclusive eu. De que forma você se conecta a este tópico? De onde veio o sentimento? Isso é difícil de dizer porque isso está mais relacionado ao Andy. Mas eu sei que muitas pessoas podem se identificar com as letras, a música também. Por alguma razão, talvez mais para nós do que para outras bandas, nossos fãs estão sempre nos enviando mensagens nas redes sociais, como “Eu ouvi essa música e eu realmente me identifico com isso, me ajudou a me sentir melhor”. Então ele realmente tenta manter uma perspectiva positiva em suas letras, mesmo que o vídeo transfira isso perfeitamente como em “nITCHS”, mas é uma maneira de ajudar. Andy também tenta não deixar tudo muito obscuro e pesado, porque ele tem ciência da sua responsabilidade e muitas pessoas acabam sendo influenciadas por isso. No passado, ele viveu uma experiência em que um fã escrevia para ele de um hospital psiquiá-


Foto: AnshixArts - Angela Michel


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trico, ele realmente tentou ajudar, e no final ele percebeu o quão impactante a música pode ser para as pessoas, então ele é muito cuidadoso com isso. Então esses sentimentos estão mais relacionados ao Andreas, certo? Como o resto de Caliban se sente sobre isso? Quando são essas coisas pessoais, a gente revisa e alertamos quando é demais, ou passa do limite. Porque pode ser mal interpretado, então ele reescreve certas partes. Mas para nós, como uma banda, discutimos as coisas como um grupo, e é por isso que temos essas críticas à socie66 // ROCK MEETING // JUNHO. 2021

dade, ou abuso de animais, isso é algo que nós, como banda, queremos fazer. Então é meio que um equilíbrio, não é só letras pessoais, também temos críticas e é uma boa mistura dos dois. Ouvir as músicas em alemão dá a sensação de que a mensagem é mais direta. “nICHts” é um ótimo exemplo. Era sua intenção fazer assim ou simplesmente aconteceu naturalmente? Acho que aconteceu naturalmente. Acho que o idioma torna tudo mais direto, também a forma como soa. Acho que é um processo natural.


Foto: Christian Ripkens

Não só no Brasil, mas em muitos países, Caliban é uma inspiração para novos artistas. Quando você começou o Caliban já pensou que iria se tornar uma referência musical para tanta gente? Nunca pensamos nisso, mas é uma honra quando algumas pessoas dizem “Eu amo sua música, a maneira como você toca, então fiz meus pais comprarem uma guitarra pra mim”. Não apenas as pessoas que começam uma banda, mas apenas o fato das pessoas também começarem a ser criativas, se inspirar e irem atrás de um instrumento. Isso é mais do que eu poderia esperar. Nunca pensei que isso fosse acontecer,

mas fico muito feliz que as pessoas vejam as coisas dessa forma. Claro, eu também tive minhas razões para ter ido atrás de uma guitarra, então para mim é legal inspirar as pessoas a fazerem música também. Mas eu nunca teria imaginado algo assim (risos) A Europa é famosa por ter tantos artistas de Metal, Metalcore e Hardcore. O que torna Caliban diferente? Isso é difícil de dizer, talvez seja porque estamos por aí há muito tempo e desenvolvemos nosso próprio estilo. Mas é muito difícil dizer, acho que cabe a outras pessoas definir o porquê.


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Você realmente não tem ideia do porquê Caliban ficou popular? Sei lá, nós sempre fizemos shows por aí, sabe? Hoje em dia eu vejo muitas bandas ficando realmente preguiçosas. Tipo no passado, quando começamos a banda, tocávamos literalmente em qualquer lugar. Lembro de gente entrando em contato e falando “Ei, eu tenho um show na Espanha, eu pago 100 euros, vocês topam?” E nós apenas topávamos tudo. Gostávamos tanto de tocar e divulgar nossa música, que literalmente tocávamos em qualquer lugar. Às vezes, o dinheiro nem dava para cobrir a gasolina, então vendíamos alguns produtos para encher o tanque para ir e voltar de um show, até mesmo tirávamos dos nossos bolsos. Alguns amigos produtores me dizem: “Lembro de antigamente, quando eu ligava para vocês e oferecia 50 euros e algumas pizzas, e vocês topavam! Agora ofereço para algumas bandas, que nem mesmo são conhecidas como vocês na época, para tocar como suporte, elas simplesmente re-

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Foto: AnshixArts - Angela Michel

cusam ou pedem 1000 euros”. Bem, eu faria um show em troca de umas pizzas (risos) Sim! Muitas dessas bandas jovens têm ideias realmente malucas sobre como divulgar seus nomes. Claro, não são todas. Às vezes tem bandas que pe-

dem uma garantia de 1000 euros e no final, de alguma forma, não trazem ninguém para o show, isso não é legal. Não quero dizer que bandas suporte, ou convidadas, não devem ser pagas, todas as bandas devem receber dinheiro suficiente, comida e ser tratados com respeito. Eu, por exemplo, odeio essa coisa de pagar para tocar. Algumas dessas bandas simplesmente não são realistas, são preguiçosas, querem fazer


MAIN. CALIBAN

grandes shows em troca de muito dinheiro e coisas assim, mas não percebem que dá trabalho para ficarem conhecidas. Você acha que é por causa desses novos serviços de streaming? Quer dizer, anos atrás, os serviços de streaming eram apenas uma ideia, era difícil fazer sua música chegar a outros países. E Caliban viveu essa transição do CD físico para a música digital. Como foi se adaptar a essa digitalização da música? Eu realmente não sei para ser hones-

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to, mas não foi muito boa essa transição. Como você sabe, muitos desses serviços, como o Spotify e outros, pagam quase nada, uma merda. Você não pode viver disso. Mas, por outro lado, é mais fácil divulgar seu nome porque, de alguma forma, é ‘gratuito’ para upar sua música. Como o YouTube ou Spotify, é mais fácil fazer upload. Portanto, acho que há altos e baixos. Isso me leva a outro ponto, mídia social, recentemente percebi como se tornou uma forma de ficar mais perto de seus ouvintes, já que os shows não estão acontecendo. Como tem sido a interação entre Caliban e seus fãs nas redes sociais? Você acha que é importante manter essa conexão? Somos uma banda muito próxima dos fãs, principalmente nas redes sociais. Mas, por


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exemplo, não fizemos um show de online ainda, talvez faremos. Então para nós é importante manter esse contato, mas sempre tivemos essa comunicação nas redes sociais. No momento, shows e turnês mundiais são inviáveis de acontecer de forma segura. Você tem ideia de como serão as coisas depois da pandemia? Como você acha que isso vai mudar? Não tenho certeza. No começo ainda vamos ter restrições, as pessoas vão ter que se acostumar com os shows novamente, mas depois de um tempo vai ficar tudo bem. Você sabe, as pessoas têm essa coisa de esquecer do passado... Então, digamos que os shows sejam possíveis por volta de outubro, no máximo no verão do ano que vem as coisas estarão completamente como antes. Talvez seja um pouco mais caro porque as empresas foram

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fortemente afetadas por esta situação. Fora isso, acho que depois de um tempo as coisas vão voltar a ser como antes, pelo menos é o que eu acho. Eu preciso perguntar... Você mencionou um show online. Existe alguma possibilidade do Caliban fazer um show online? Temos sim a ideia de fazer um show em streaming, não apenas um show, gostaríamos de fazer algo que seja mais profundo em relação a banda, conhecer melhor a fundo, sabe? Algo como uma noite com Caliban. Um bate-papo com velhos amigos, responder às perguntas dos fãs, fazer um show e fazer algo depois do


Foto: Firemoon Pictures


MAIN. CALIBAN

show, então será algo mais pessoal, não apenas um show. Isso não é interessante, porque se for apenas um show, dá para simplesmente ir ao YouTube, encontrar um show antigo e curtir. Portanto, precisa ser algo mais especial. E por último, mas não menos importante, você mencionou hoje sobre um próximo álbum, para quando podemos esperar este lançamento? Desejamos a vocês muito sucesso e espera-

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mos vê-lo novamente no Brasil! Como disse, o novo álbum está pronto, só temos que gravar alguns pedacinhos aqui e ali. Digamos que 95% esteja feito. Vai ser um álbum pesado e vamos lançá-lo assim que a pandemia acabar. Pelo menos até o ponto em que podemos fazer uma turnê de alguma forma. Talvez em dezembro do próximo ano, mas não é certeza e nem é uma promessa. E nossa, acho que já se passaram 6 ou 7 anos desde que estivemos no Brasil, então esperamos voltar algum dia!



INTERVIEW. ANNALYNN

BY PEI FON / PHOTO JEDSADA PHOTOGRAPHY

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ue a música é uma linguagem universal todo mundo já sabe, mas quem realmente procura conhecer bandas fora do eixo EUA/Europa? Todos os dias surgem bandas de países que nem temos tantas informações, tampouco sobre a cena musical, em especial para o Heavy/Rock. E é da Tailândia que trazemos uma grata surpresa, o quinteto de Metalcore Annalynn. Eles mostram a sua força e carregam consigo uma cena e um país nas costas. É por conta desses caras que olhamos agora para Tailândia e vemos que lá também tem Heavy/Rock acontecendo. A banda é formada por Bon (vocals), Eak (baixo), Pob (guitarra), Boss (guitarra) e Mong (bateria) e traz consigo quase vinte anos de experiência, mente aberta e profissionalismo. Lançando seu mais novo álbum, “A Conversation With Evil” abre as portas para o mundo ocidental e eles embarcam de cabeça nessa viagem e já colhem bons frutos. É um álbum que merece ser ouvido! Muito simpáticos desde o primeiro contato com a Rock Meeting, a banda toda respondeu às perguntas para demonstrar como estão unidos e focados nessa jornada. Leia agora mesmo e conheça o Annalynn.

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Annalynn é uma banda que tem quase vinte anos e agora estão trabalhando para serem conhecidos fora da Ásia. Em que momento vocês sentiram que já era o tempo de expandir para outros continentes? Bon - Embora este seja apenas um pequeno primeiro passo para nós, estamos realmente entusiasmados e muito felizes. Porque nós nos es-

forçamos tanto para chegar a esse ponto, especialmente quando se é uma banda da Tailândia. Recentemente vocês assinaram com a gravadora Cube Records, do Japão. O que essa parceria tem trazido para o Annalynn? Bon - Bem, antes de entrarmos oficialmente na Cube Records, conhecemos Crystal Lake desde 2014. Eles sempre

nos ajudaram e nos aconselharam sobre como trabalhar e fazer turnês fora do país. E, claro, trabalhar com a Cube Records nos levou a outro nível em termos de promoção, negociação de negócios, exposição ao público e à mídia. É muito importante para nós ter a chance de trabalhar com a gravadora e a banda que tem o mesmo objetivo. Então, trabalhar com a Cube Records e


INTERVIEW. ANNALYNN

Crystal Lake é ótimo. Na parte ocidental do mundo, não temos tantas notícias sobre a cena musical da Tailândia, tampouco do Rock/Metal. Vocês acreditam que estão puxando novos olhares para as bandas tailandesas e até mesmo para o público local? Pob - O fato é que muitos ocidentais nem percebem que existe esse tipo de música na Tailândia. Você pode ver isso claramente pelas reações deles quando assistem ao videoclipe de Closer to the Edge e Holy Gravity. Eles parecem estar surpresos ao saber que se trata de uma banda da Tailândia. Muitas vezes durante as turnês, outras bandas que conhecíamos sempre diziam que nunca sabiam que esse tipo de banda existe na Tailândia. Então, estamos meio orgulhosos de que pelo menos os fizemos reconhecer uma banda tailandesa.

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A CADA VEZ TENTAMOS OU EXPERIMENTAMOS NOVAS IDEIAS EM NOSSOS TRABALHOS. É IMPORTANTE TER A MENTE ABERTA, FAÇA O QUE FIZER


INTERVIEW. ANNALYNN

Bon - Ser uma banda de metal na Tailândia não é fácil, devido às tendências da maioria dos ouvintes tailandeses. Mas, na verdade, a cena do Metal existe nesta região há muito tempo e, embora seja popular apenas entre um pequeno grupo de fãs, o metal nunca desapareceu da cena musical durante os últimos 20-30 anos. Desde o seu primeiro lançamento “First Shut Up Then Shut Down” (2004), passando por “Stare Down The Undefeated (2015) até chegar no seu mais novo trabalho “A Conversation with Devil (2021), como avaliam a trajetória musical do Annalynn? Pob - Aprendemos com todos os erros que cometemos nos álbuns anteriores e tentamos melhorar para o próximo. Todas as experiências que tive6mos ao fazer um álbum nos levariam a outro nível para o novo álbum. Escreveríamos o álbum EP antes de fazer o LP para experimentar os novos sons ou a nova direção que nunca fizemos antes. Eak - Nunca queremos escrever o mesmo álbum indefinidamente. Sempre acompanhamos a tendência musical e a aplicamos em nossa direção musical. 80 // ROCK MEETING // JUNHO. 2021


Bon - Alguns fãs provavelmente pensam que mudamos muito em nossa direção. Mas se você ouvir nossa música com atenção, verá que a essência de nossa música sempre foi a mesma desde 2004, apenas adicionando alguns novos materiais a ela. Achamos isso desafiador, a cada vez tentamos ou experimentamos novas ideias em nossos trabalhos. É importante ter a mente aberta, faça o que fizer. “A Conversation with Devil” é álbum que tem uma mistura musical que emociona. Como tem sido a resposta dos ouvintes para esse novo trabalho do Annalynn? Pob - Há feedbacks muito bons dos fãs. Muitos deles disseram que este álbum é mais cativante e eles podem tocá-lo indefinidamente. Tenho certeza de que todos os fãs estão familiarizados com coisas pesadas que fizemos, então, desta vez, queríamos nos desafiar a escrever músicas para expandir nossa base de fãs. Bon - Queríamos fazer um álbum que fosse emocionalmente completo, é por isso que esse álbum tem de tudo, desde músicas cativantes até músicas pesadas de bater cabeça. Sempre quis escrever um álbum que as pessoas pudessem ouvir todas


INTERVIEW. ANNALYNN

as faixas sem pular. Você sabe, como quando éramos jovens, era tão emocionante ouvir um álbum do início ao fim enquanto líamos as letras do livreto. E esse disco é assim, conta a história de todo o álbum através de cada faixa. Com importantes participações musicais no “A Conversation With Devil”, essas personas trouxeram ainda mais peso para o Annalynn. Como aconteceram as escolhas de CJ McMahon (Thy Art is Murder) e Masato Hayakawa (Coldrain), por exemplo? Pob - Fomos a banda de abertura do Thy Art is Murder em Cingapura uma vez, e tivemos a chance de conhecê-los. No momento em que escrevemos a música "Holy Gravity", sentíamos que era uma das músicas mais pesadas do álbum, mas algo ainda estava faltando, então pensamos em trazer um vocalista convidado e CJ foi o primeiro que veio em nossas mentes. Para Masato, nós o conhecemos porque já tocamos no Japão muitas vezes. As pessoas querem ver nossas colaborações, e aqui está, a música ‘Damage Control’. Bon - Conheci o Masato pela primei-

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ra vez no Truenorth Fest. em 2017. Ryo (Vocalista de Crystal Lake) o apresentou a mim. Vimos Coldrain tocar ao vivo pela primeira vez e foi tão impressionante. Não é à toa que Coldrain é tão popular. Depois disso, nós nos encontramos com o Masato novamente muitas vezes quando tocamos no Japão, no Coldrain ao vivo e até no BLARE Fest. Foi em 2019 que falamos sobre nossas colaborações. Acho que foi na after party do Coldrain em Tóquio. Acontece que eu estava em Tóquio naquela época e fui ao show ao vivo inesperadamente. Foi tudo coincidência. A partir daquele encontro, achei que seria legal se o Masato cantasse nossa música. Então acabou acontecendo em 2020, quando tudo estava no tempo perfeito. A primeira manifestação de que um novo álbum estava por vir foi com “Closer To The Edge”. Uma música forte e conectada com modernidade sonora tanto que figura nas principais playlists no Spotify. Essa música tem conquistado o espaço que vocês estavam planejando? Bon - Foi muito além do que esperávamos. Boss - Exatamente, o feedback no Spotify foi tão impressionante e é bom ver nossa música apresentada em muitas playlists no exterior. Obrigado por todo


INTERVIEW. ANNALYNN

o amor, esperamos um dia poder tocar essa música ao vivo para vocês ao redor do mundo Eak - Queremos que nossa música chegue à base de fãs o máximo possível e nos comunique com eles. "Closer To The Edge" realmente fez o trabalho. Uma frase em “Scars and Wounds” me chamou atenção: “All I want the most is the truth that you can’t even give”. Que verdade é essa que se procura nessa parte da música? Bon - “A Verdade” refere-se a qualquer palavra ou qualquer coisa dita por quem confiamos, o que é melhor do que ficar em silêncio ou ignorar que está matando você. Porque, na realidade, ficar em silêncio em um relacionamento que se desfaz pode significar que você está mentindo ou escondendo algo de outra pessoa. “You can’t escape the pain to survive the day, whatever it takes, do it all over again” essa parte em “Damage Control” é uma luta constante contra si mesmo. Como o indivíduo pode seguir em frente com esse desafio? Bon - Quando a vida é sofrimento; quando nenhuma escolha também é uma escolha. Temos que abrir mão antes que as coisas piorem. É o instinto básico. Tornando a vida melhor no dia a dia, sobrevivendo a todas as merdas, acredito que 84 // ROCK MEETING // JUNHO. 2021



INTERVIEW. ANNALYNN

todos podem fazer isso, basta mudar sua mentalidade. Isso é tudo. “Weight down your soul, blindfold the humanity, becoming a slave to the choice of fallacy”. Fazendo um paralelo dessa parte de “Holy Gravity” com o atual momento de mundo, onde podemos encontrar essas falácias que cegam a humanidade? Bon - Todos nós estamos disfarçados ou sendo enganados por algo em nossas vidas, como a política, a sociedade, as religiões ou o que for, porque quando você acredita em algo pode fazer qualquer coi-

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sa por ela, seja bom ou ruim. Assim como você está sendo vendado. “Leveling God” é uma das músicas que mais gosto desse álbum. Além de ter os elementos pesados que gosto de ouvir nas canções, há uma transmissão de sentimento impressionante. Qual a importância da música ser esse instrumento de emoção? Boss – Obrigada, é bom ouvir isso, pois é exatamente assim que queríamos que fosse. O groove principal da música consiste em uma parte rítmica fácil, mas pesada e forte de um som de afinação baixa de guitarras de 8 e 9 cordas junto com o efeito Whammy. Além disso, os acordes diminutos que fornecem som dissonante que adicionamos de vez em quando. Todos juntos, você obtém uma faixa de colapso nervoso louco. Em “An Evil Aftermath” destaco a frase “Heaven knows, I am a flaw”. Em todo o album, existe uma luta constante sobre os problemas internos, questionando a tudo e a todos. Qual o passo seguinte após se reconhecer falho? Bon - Sim, o conceito deste álbum é sobre problemas internos, queixas e


INTERVIEW. ANNALYNN

decepções em nossas vidas. A resposta que você encontrará depois de ouvir o álbum inteiro não é realmente a fuga ou a solução para esses problemas. Mas, em vez disso, espero que você encontre uma maneira de viver com eles, o que acho que as pessoas hoje em dia realmente precisam. Annalynn tem ambições como qualquer outra banda, o caminho que estão trilhando agora é para estar em qual lugar? O céu é o limite? Mong - Parece difícil para bandas da Ásia, principalmente da Tailândia. Mas muitas bandas asiáticas já provaram que podem se destacar no mundo todo, então por que não podemos? Não há desculpa para não tentar. A cena metal está concentrada especificamente em dois mercados. Além da questão da logística, o que vocês acreditam que falta para a Ásia ser um terceiro polo musical? Pob - Não é surpresa que a Ásia não esteja na lista, porque a cena do metal em cada país asiático é muito pequena. No entanto, acreditamos que as

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INTERVIEW. ANNALYNN

pessoas ao redor do mundo agora provavelmente começam a ver que bandas asiáticas como Crystal Lake e muitas outras bandas estão ganhando cada vez mais popularidade. Pode levar algum tempo, mas, eventualmente, a Ásia será um dos centros mundiais da cena Metal no futuro. Para finalizar, podemos aguardar algum live stream? Sucesso e aguardamos vê-los no Brasil. Muito obrigada!

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Eak - Na situação de pandemia de Covid-19, onde não há shows ao vivo, estamos tentando encontrar a melhor maneira de utilizar nossa música e a transmissão ao vivo é, obviamente, uma das melhores opções por aí. Esperamos ter a chance de fazer a sessão de transmissão ao vivo em breve. Bon - Quando as coisas melhorarem, esperamos voltar a fazer turnês novamente. E é claro, se houver uma chance, o Brasil com certeza estará na lista! Até mais!



INTERVIEW. FROM DUSK TO DAWN

BY PEI FON / FOTO JIBAIE

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Rock Meeting tem enxergado um amplo e dinâmico cenário musical que não tem a devida veiculação, por mais que mereça. E pensando nisso, desde setembro, a RM vai atrás do que não está sendo visto, trazer para o conhecimento dos nossos leitores as bandas que estão surgindo e aquelas que já tem uma carreira em curso. Para a nossa felicidade, o quinteto francês From Dusk To Dawn é essa banda que merece ser ouvida. Assim como toda banda, trabalham duro para oferecer o seu melhor som e eles são cientes de seus objetivos que estão bem traçados e definidos. Formado por Florian Costes (vocal), Jean-Baptiste Muller (Guitarra), Axel Ané (Guitarra), Red Mertah (Baixo) e Jacques Maupeu-Wise (Bateria), eles querem ser reconhecidos pela música que fazem e não vai ser difícil. Conversamos com o simpático Axel, ele nos fala sobre o passado, presente e futuro com os pés no chão, ciente do trabalho que virá a cada edição e ele nos garante, esse ano ainda terá mais lançamentos a fazer. Acompanhe! O From Dusk To Dawn tem aquela formação clássica de amigos que se juntam para criar uma banda. No entanto, vocês são de uma geração que nasceu dentro da tecnologia, como tem usado isso em favor da banda e enquanto músicos? 92 // ROCK MEETING // JUNHO. 2021


Axel - Eu diria que a tecnologia pode ser de grande ajuda, mas deve ser usada com cuidado. Na verdade, muitas vezes nos ajudou a acumular habilidades e ganhar autonomia. Por exemplo, gravamos guitarra e vocais sozinhos, mixamos nossas músicas sozinhos e agora até começamos a fazer videoclipes por conta própria. Agora estamos tocando guitarra em amplificadores digitais, e isso nos dá tantas

possibilidades, o que é uma grande coisa com certeza. A qualquer momento, estamos a apenas um pedal de distância de qualquer amplificador ou efeito de guitarra possível. Mas realmente precisamos mudar o tom da guitarra entre cada música ou adicionar efeitos em todas as músicas? Isso realmente melhora nossa música? Muitas vezes, menos é mais, e devemos ter o cuidado de não cair no oceano de

possibilidades sem uma intenção clara em mente, caso contrário, podemos apenas perder tempo ou mesmo prejudicar nossa música. Estamos vendo uma vibe de bandas novas com objetivos bem definidos e o From Dusk To Dawn não seria diferente. Como você se veem daqui a cinco anos? Definitivamente, temos al-


INTERVIEW. FROM DUSK TO DAWN

COM CERTEZA HÁ UMA EVOLUÇÃO EM NOSSA VIDA COTIDIANA E EM NOSSO GOSTO QUE INFLUENCIA NOSSA MÚSICA

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guns objetivos bem definidos; sem eles não teríamos o ímpeto de entregar todo o trabalho necessário para impulsionar nossa banda. Daqui a 5 anos, eu nos vejo assinado com uma gravadora sólida e em turnê pela Europa abrindo para bandas de primeira linha. Para dar um exemplo concreto, nomeando outra banda francesa de que gostamos muito, estar onde o Landmvrks está agora seria um sucesso para nós. Mas os alvos são feitos para serem ajustados ao longo do caminho e tentar imitar outra banda não é o caminho, nós faremos nosso próprio caminho e veremos onde pousaremos. Vamos conversar novamente em 5 anos para ver o que aconteceu haha. As bandas do Metal Moderno são as

que mais fazem uso das plataformas digitais. Com isso, a música está cada vez mais acessível. Como tem sido a relação do FDTD com esses dispositivos? Sim, nossa atividade em plataformas digitais é quase tão importante quanto nossa música. Há muito a dizer sobre este assunto, mas acho que podemos nos concentrar em plataformas de streaming. A música é facilmente acessível para todos, isso é verdade, mas poderíamos argumentar que é tanto um fardo quanto um privilégio, porque qualquer consumidor de música está sobrecarregado de escolha, e muitas pessoas confiam no algoritmo de escolha de sua plataforma favorita para decidir o que eles vão ouvir. Além disso, poderíamos dizer que para o consumidor o


INTERVIEW. FROM DUSK TO DAWN

custo é o mesmo de ouvir uma banda projetada e produzida pelos melhores caras do áudio e escrita pelos melhores músicos trabalhando em tempo integral. Não há redução na conta do Spotify do consumidor se ele ouvir suas bandas locais, então por que alguém faria isso? O que quero dizer depois de tudo isso, e a razão pela qual estou dizendo que as plataformas digitais estão no centro de nossa atividade, é porque se não levarmos isso a sério e promovermos nossa música corretamente, as pessoas nem saberão que existimos, nem irão notar que lançamos uma nova música e nosso trabalho será em vão. Poderíamos também falar sobre as redes sociais, que é o único espaço que resta neste tempo pandêmico para existirmos publicamente, mas talvez seja mais positivo não o fazer e focar nos shows ao vivo que estão apenas alguns meses à frente. 2021 começou e vocês já lançaram dois singles. Vocês pretendem manter essa dinâmica até lançar um novo EP ou já pretendem lançar seu primeiro full álbum? Para ser honesto, ainda estamos tentando descobrir isso. Todos os planos podem ser bons se forem executados corretamente. Mas, por enquanto, não temos certeza sobre o momento e estamos nos sentindo confortáveis lançando singles separados. É um privilégio 96 // ROCK MEETING // JUNHO. 2021


reservar um tempo para fazer um videoclipe para cada música, para dar a ela uma promoção e identidade próprias que as pessoas possam lembrar. Ouvindo o primeiro EP “Blooming” e as músicas lançadas após ele, já se nota um amadurecimento musical. Vocês avaliam o material antigo para a construção do próximo ou esse é um caminho natural que as bandas percorrem? Obrigado, estou feliz que você notou uma evolução em nossa música! Eu diria que existem diversas variantes influenciando essa evolução, mas as mais impactantes são provavelmente a experiência como compositor e a experiência de tocar música ao vivo. Quanto mais escrevemos, melhor nos tornamos em avaliar as opções que temos e escolher com sabedoria. Além disso, quando fazemos shows ao vivo, podemos ver como as pessoas reagem à nossa música, como elas dançam (ou lutam? Haha) no que pensamos ser uma parte intensa etc. Combinados, ambos provavelmente têm um impacto significativo em nossa maneira de escrever música. Mas com certeza também há uma evolução em nossa vida cotidiana e em nosso gosto que influencia nossa música. “Play Pretend” é uma música que fala de depressão. É um assunto recorrente, mas cada banda can-


INTERVIEW. FROM DUSK TO DAWN

ta à sua maneira. De que modo o FDTD retrata essa doença em suas canções? Alguma experiência ou pessoas próximas vivem esse drama? Nosso vocalista que escreveu a letra dessa música sofre dessa doença, por isso ele teve que se expressar sobre esse tema específico. Florian decidiu ir para um “ponto de vista irônico / em primeira pessoa”. Quando diz no refrão “Eu me sinto bem” ou “o sorriso no meu rosto”, não é o que ele sente, mas o que ele quer que todos acreditem ou prestem atenção, mesmo que a verdade seja diferente, mas escondida atrás de uma máscara. Ainda sobre “Play Pretend”, a pandemia tem aumentado os índices de depressão. Como a música pode ajudar as pessoas que estão passando por esse momento? Receio não ter as habilidades para responder a essa pergunta. Acho que ouvir uma música de que você gosta pode lhe trazer um momento de alegria, mas a depressão está mais ligada à realização do que à feli98 // ROCK MEETING // JUNHO. 2021


cidade, e é por isso que eu diria que requer o apoio de um especialista mais do que de uma banda de metal. “I Belong To Myself” é uma mensagem para si mesmo, até uma forma de encorajamento. O que inspirou a escrever uma música para lembrar de permanecer fiel a si mesmo? Eu tive que fazer uma mudança forte em minha vida pessoal no ano passado e recebi alguns comentários de pessoas ao meu redor. Mesmo tendo encontrado oposição, eu pessoalmente estava confiante em minha mudança e queria permanecer fiel a mim mesmo e decidi tentar de qualquer maneira. Para a anedota, a mudança foi deixar meu emprego atual, que era seguro, mas contra o meu valor, para pegar outro emprego que estivesse de acordo com minha ética. A Covid-19 chegou, todas as propostas que recebi foram para o lixo e estou desempregado há quase um ano. “All my seeds, all my gifts, That’s who I really am, I made a pact to make my path”. Pensando nas nossas próprias ações, em que momento da vida essa frase de “I Belong To Myself” vem à tona? “Eu Pertenço à Mim” é uma frase que surge toda vez que alguém está me dizendo o que fazer ou está tentando me


INTERVIEW. FROM DUSK TO DAWN

influenciar. Quer dizer, posso considerar um conselho quando estiver no menu do restaurante, ou sobre qual consumível devo comprar em vez de outro. Mas para decisões pessoais, não quero que os pensamentos de ninguém pesem na balança quando eu deveria ser a única questão de decisão. Vocês acabaram de lançar mais um single. “Suffocating” é direta e traz consigo uma mensagem importante sobre a hiper mediatização que tem causado ansiedade. Como tem sido a repercussão dessa música? Até agora, tem sido ótimo, estamos muito felizes com isso! Ficamos muito orgulhosos dessa música quando a escrevemos, ainda mais quando recebemos o arquivo de áudio de masterização final, e estávamos ansiosos por esse lançamento com muita animação. Até agora, o feedback é muito positivo e não poderíamos estar mais felizes. “The world is dying, no more smiles, no happy ending”, essa parte de “Suffocating” chama atenção. Em um mundo tão conectado, por que as pessoas têm usado as redes sociais para prejudicar outras pessoas? Acho que esse assunto é muito complexo e não tem uma única fonte de explicação, infelizmente. Redes sociais podem ser muito úteis ou benéficas, mas prejudiciais ao mesmo tempo se você não prestar atenção às suas conexões. E mesmo se você estiver sendo

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cuidadoso, apenas por existir em plataformas sociais significa que você se expõe a outras pessoas e tem uma identidade pública que pode ser atacada ou pelo menos criticada a qualquer momento por uma pessoa que você nem conhece. Por que as pessoas usariam essas redes sociais para ser malvadas? Eu não sei e acho que não quero saber. Ainda sobre “Suffocating”. Observando como as pessoas têm se comportado e tudo o que tem acontecido, está nos faltando empatia? Como veem o mundo

nos próximos anos? É muito difícil responder a esta, mas eu diria que sim, no geral, falta empatia. Todos nós tentamos viver uma vida decente e lutar para pagar as contas, e quando você lê as notícias e lê que os países do terceiro mundo mal se ouvem e obtêm vacinas contra a Covid, que há um aumento fascista no mundo enquanto ao mesmo tempo as desigualdades nunca têm estado tão altas entre ricos e pobres, que milhares de pessoas morrem no Mar Mediterrâneo tentando se juntar à Europa etc. É demais para qualquer pessoa sensível, você tem que construir uma proteção para si mesmo, ou você pode perder a cabeça. Infelizmente, acredito que seja sinônimo de perda de empatia, mas posso entender o porquê. Eu realmente não tenho ideia de como o mundo será em 5 anos. Não quero o mundo pré-pandêmico porque todos sabemos que não é sustentável e prejudicial para o planeta, mas, por outro lado, não quero continuar com o atual mundo claustrofóbico em que vivemos. Mas eu estou muito curioso para ver como as coisas vão evoluir e espero que possamos criar uma versão melhor do velho mundo. A propósito, responder a essa pergunta me dá ideias para letras. Não seria legal escrever uma música sobre esse mundo melhor que poderíamos imaginar, como uma espécie de “previsão”?


INTERVIEW. FROM DUSK TO DAWN

Nos tempos que vivemos sem shows, as bandas têm feito livestream para suprir essa lacuna. O FDTD presenteou os fãs com um studio live do EP “Blooming”. Está nos planos uma segunda live para apresentar as novas músicas? Engraçado você dizer isso, porque sim, há algo planejado, mas não somos o dono nem o organizador, portanto, não cabe a nós anunciar o evento. Tudo o que podemos dizer agora é... fiquem ligados! Nossa conversa chega ao fim, mas antes o que fãs podem esperar do From Dusk To Dawn para 2021? Muito obrigada e sucesso. Se cuidem! 2021 deve ver 2 singles adicionais saindo, e um deles é realmente selvagem, muito diferente de nossas músicas já existentes. Estamos muito entusiasmados com este e esperamos sinceramente que seja bem recebido! Muito obrigado por esta entrevista, foi um prazer responder a todas as suas perguntas!

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LIVE REPORT . NIGHTWISH

NIGHTWISH H NIGHTWIS THE GREATEST SHOW ON EARTH BY PEI FON // PHOTO RUDI ROK


LIVE REPORT . NIGHTWISH

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maior show da terra. Já usei essas palavras antes, em 2018, para ser mais precisa, mas volto a usá-las por uma razão muito plausível e que será explicada no decorrer desse Live Report. A Rock Meeting foi convidada para assistir o “An Evening With Nightwish a Virtual World”, uma livestream que apresentaria o novo álbum da banda, “Human. :||: Nature.”. Em 2020, muitas bandas lançaram novos álbuns e foram impedidas de fazer a turnê de promoção devido à pandemia. A partir disso, iniciou-se um novo movimento de apresentação com o livestream. Muitas bandas fizeram isso e com o Nightwish não seria diferente.

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A vinda ao Brasil estava marcada para maio de 2020, iniciando a turnê do “Human. :||: Nature” pela América do Sul. Havia uma expectativa imensa com o novo álbum, além, claro, de ter o privilégio de assistir a turnê primeiro. Mas todos sabemos que os planos foram modificados e, agora, se tudo der certo, somente na segunda metade de 2022. No final de 2020, o Nightwish anunciou uma live, com uma experiência virtual nunca antes feita. No entanto, em janeiro de 2021, o baixista Marko Hietala, figura marcante tanto na voz quanto no


LIVE REPORT . NIGHTWISH

palco, deixou a banda e isso pegou todo mundo de surpresa. Apontando inúmeras razões para a sua saída do grupo e da vida pública, a pandemia fez refletir sobre a perspectiva dos músicos sobre tudo e sobre a indústria da música. Daí, nasceu uma corrida para um novo baixista, tarefa difícil, porque Marko tinha um papel importante na musicalidade desde que entrou no Nightwish, em 2001. A live, que era para março, foi remarcada para maio e gerou

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muita expectativa. Dia 28 de maio, um pouco antes do primeiro streaming, foi apresentado o novo baixista. Jukka Koskinen, do Wintersun, mesma banda do baterista Kai Hahto, passou a integrar o Nightwish. Da formação original restam Tuomas Holopainen (tecladista) e Emppu Vuorinen (guitarrista).


LIVE REPORT . NIGHTWISH

AN EVENING WITH NIGHTWISH A VIRTUAL WORLD Foram dois dias de uma experiência única e que merece aplausos. Dois setlists distintos que resgataram músicas que há anos não eram tocadas. Sem contar as adaptações feitas, já que não havia mais a voz do Marko, a exemplo de “Planet Hell”. No cenário, imagens de um grande salão interativo que mudava conforme a música. A banda fez uso da tecnologia do chroma key, muito comum no cinema, e agora à serviço da música. O que foi projetado deu a sensação que tudo ali era real, que de fato estavam naquele lugar. Muito bem feito e nada barato. Houve um inves-

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timento para essa live acontecer e saiu completamente do ambiente de palco. Eles inovaram no âmbito do livestreaming. Um ponto que merece total destaque é o som. Foi o melhor som que já ouvi nas lives. Parabéns a todos que trabalharam para entregar algo limpo e cristalino. Vamos ao show. Inicia com a intro de “Music”, mostrando os dotes de Kai Hahto na bateria e logo vem “Noise”, primeiro single que apresentou “Human. :||: Nature.”. A música funciona muito bem ao vivo, e deixou aquele gostinho de querer vê-la com público presente, com

o calor humano do qual estamos com saudades. Na sequência, “Planet Hell”, primeira música de fato para saber quem assumiria os vocais de Marko. Bom, Floor fez esse papel, já que Troy Donockley, nem o novo baixista, conseguiriam executar. Ela fez o seu máximo, é bem verdade, mas confesso que sinto falta de Marko, ele imprimiu sua marca e é uma música que foi feita para ter dois vocais. Para não alongar, vou me ater às diferenças nos setlists. No geral, além das já citadas, as músicas tocadas foram “Élan”, “Storytime”,


LIVE REPORT . NIGHTWISH

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“Harvest”, “I Want My Tears Back”, “Nemo”, “How’s The Heart?” (versão do álbum e acústico), “Last Ride of the Day”, “Ghost Love Score” e “The Greatest Show on Earth”. Nem preciso dizer o quão maravilhosas essas músicas são tocadas ao vivo. Só um adendo para “Harvest”, que faz parte de “Human. :||: Nature.”. Foi o segundo single lançado, tem um clima calmo, e foi uma boa oportunidade de vê-la ao vivo. Das músicas tocadas no primeiro dia, “Tribal” faz parte do novo álbum e funciona muito bem ao vivo, a vibe é muito boa. É para estar no setlist sempre. “She is my sin”, clássico do clássico, não poderia faltar. E já vista durante a turnê Decades, sucesso sempre que toca. “7 Day To The Wolves”, para esta que vos escreve, foi uma grata surpresa. Não imaginava que poderia ser tocada novamente. Adorei!


LIVE REPORT . NIGHTWISH

“Bless The Child” dispensa toda e qualquer apresentação. Outro clássico tocado foi a versão acústica de “How’s the Heart?”, que ficou muito bonita. Quem acompanha a banda, já tinha visto essa versão. “Shoemaker”, talvez, fosse a música mais esperada pelo fã. Ela resgata o que o Nightwish já foi um dia, lírico. Mas sabemos que é somente uma passagem e o Nightwish não voltará a ser como era. É preciso dizer isso. Sobre “Shoemaker”, é linda, tem que estar no setlist e vai causar sempre olhos arregalados, sorriso de contemplação e arrepios. Aplausos! No segundo dia da live, tivemos “Alpenglow”, música que já se mostrou muito bem ao vivo. A versão do álbum para “How’s the Heart?” também é outra que deve estar no setlist sempre. As

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consagradas “Dark Chest of Wonders” e “Ever Dream” marcaram presença. Ambas não precisam de apresentações, são marcantes, impressionantes e sempre vão figurar no repertório do Nightwish. “Sleeping Sun” foi uma surpresa total nesse segundo dia de live. Não lembro nem se já ouvi essa música nos shows que já assisti do Nightwish. Um deleite assistir essa música novamente. “Pan”, música do novo álbum, é outra que nem imaginaria que seria tocada. Me surpreendeu com sua força e acredito que ela vai seguir disputando vaga nos setlists. Nos dois dias de live, “The Greatest Show on Earth” finaliza os trabalhos. Nem preciso falar quão grandioso foi e só reforça o título desse Live Report especial. Ao final de tudo, quando já estávamos lamentando que tinha acabado, a banda formou um semi círculo, brindaram àquele momento único, à


LIVE REPORT . NIGHTWISH

vida e, de repente, veio um pouco mais de Floor, para o nosso deleite. Floor canta a parte final de “All the Works of Nature Which Adorn the World: VIII.. Ad Astra”. Ela não canta, encanta. A verdade seja dita. E aguardamos que tudo volte ao normal, em se114 // ROCK MEETING // JUNHO. 2021

gurança, para que experiências como essa sejam feitas presencialmente, dividindo a mesma alegria e paixão com a pessoa ao seu lado, celebrando aquele momento. No mais, é manter os cuidados e continuar a torcer para que tudo melhore. Até lá, por mais lives como essa do Nightwish.



INTERVIEW. EMINENCE

BY BARBARA LOPES / FOTO HENRIQUE GUALTIERI

A

Foto: Willian Marques

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pós longos quatro anos, a banda brasileira Eminence lança seu sexto álbum de estúdio. “Dark Echoes” vem cheio de críticas socais e é um reflexo do que a banda tem vivenciado antes e depois da pandemia. O Eminence é formado por Bruno Paraguay (vocal), Alan Wallace (guitarra e synths), Davidson Mainart (baixo) e Alexandre Oliveira (bateria), e pode ter certeza de que esse novo play tem a cara deles. “Dark Echoes” não é apenas mais um álbum da banda, há muita gente envolvida que endossam as mensagens que o quarteto quer transmitir. Isso porque conta com a participação de Björn Strid (vocalista do Soilwork), de Jean Patton (guitarrista do Project46), de Márcio Buzelin (tecladista do Jota Quest), por exemplo. Já a produção ficou por conta do dinamarquês Tue Madsen (Antfarm Studios), produtor conhecido pelos trabalhos feitos com Moonspell, Behemoth, Meshuggah, Rob Halford, Vader, Dark Tranquillity, Kataklysm, Suicide Silence e Heaven Shall Burn. Poucas referências de Madsen, não é? A Rock Meeting teve o prazer de conversar com Alan e saber dele como foi o processo de gravação, o porquê das escolhas das personas para figurarem no novo álbum e outros assuntos. “Dark Echoes” já está disponível nas plataformas digitais, é só dar o play.


Foto: Willian Marques

Após quatro anos sem O álbum "Dark Echoes" com participalançar músicas inéditas, conta o Eminence iniciou 2021 ções de membros do Jota com uma amostra do seu Quest, Project46 e Soilsexto álbum de estúdio, work. Como vocês chegaram nesses nomes para “Dark Echoes”. Como contribuir no som do tem sido a receptividade Eminence? dos ouvintes? O Bjorn Strip foi através do Alan - Para nós foi uma granosso produtor Tue Madsen ta surpresa a receptividade de (Meshuggah, Heaven Shall todos com os primeiros sin- Burn, Behemoth) que nos gles, foi superpositivo e con- apresentou um amigo em coseguimos agregar novos fãs. mum que fez a ponte com o

Bjorn. Mostramos a nossa pré-produção para ele e fizemos o convite, foi muito legal ele ter aceitado! O Jean Patton do Project46 e o Márcio Buzelin do Jota Quest, são amigos de longa data. Pensamos que para este álbum tinha que ter uns convidados especiais e deu super certo essa parceria. A letra de “Dark Echoes” bate de frente sobre po-


INTERVIEW. EMINENCE

EU ACHO QUE AQUI NO BRASIL NÃO PODE TER ESSA DISTINÇÃO ENTRE AS BANDAS(...) SE O METAL NÃO SE UNIR, NUNCA VAMOS SER OUVIDOS EM LUGAR NENHUM

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lítica, racismo, homofobia, desigualdade social, visto no Brasil e no mundo. Essa música é um desabafo? É uma forma de fazer o ouvinte acordar para o que está acontecendo? Não podíamos ficar calados com tudo o que está acontecendo no mundo e principalmente aqui no Brasil. Tínhamos que tomar uma posição e mostramos que ficar parado vendo tudo isso acontecer é inaceitável. A música sim é um desabafo. Com seus 25 anos de estrada, como vocês usam a experiência que tem para abordar assuntos socialmente relevantes, ainda mais nesses tempos de pandemia

onde os problemas aparecem em larga escala? Em todos os nossos álbuns falamos de questões sociais e agora ainda mais. “Dark Echoes” é um acúmulo de tudo o que passamos antes e durante a pandemia. Num segundo momento, vocês lançaram a música “BYOG”, crítica pesada sobre os que manipulam e vendem a fé. Qual o motivo para retratar a desaprovação nessa prática religiosa em forma de música? Se pararmos para analisar olhe o que está acontecendo no Brasil hoje e em uma boa parte do mundo. Os falsos profetas, vendendo o sonho religio-


INTERVIEW. EMINENCE

so se enriquecendo e o povo em sua maioria morrendo de fome, manipulados em nome de Deus. Podemos chamar isso de religião? A questão da religião e da política estão muito juntas e temos que acordar as pessoas que não estão vendo isso. "Wake Up the Blind" retrata como o ser humano tem sido cruel com o meio ambiente. O atual momento de pandemia fez refletir ainda mais? Qual a percepção de vocês para o que tem acontecido no Brasil? O planeta já está avisando a muito tempo sobre a devastação da natureza e a conta está chegando. Aqui no Brasil a Amazônia está sendo dizimada como o Pantanal e como também as reservas indígenas. Estamos vivendo um momento terrível dos desmatamentos aqui no Brasil. A máfia do garimpo continua. Os clipes de "Wake Up the Blind", "Dark Echoes" e "Into the Ashes" fo-

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ram produzidos pelo Bruno Paraguay (vocal) e Davidson Mainart (baixo). Qual a vantagem de produzir o próprio som? É uma forma de se conectar ainda mais? Além deles serem também compositores das obras foi uma sinergia completa de fazermos isso dentro da banda! Foi muito legal a produção e direção do Paraguay e do Davidson. Ainda falando sobre clipes, por que escolheram retratar uma dança solo contemporânea em "Into the Ashes"? Como a dança refletiu a mensagem dessa música? A ideia geral do videoclipe partiu do vocalista Bruno Paraguay em passar o sentimento da música na dança. E sim conseguimos passar essa essência da música com a bailarina Debora Roots (Grupo o Corpo). Lançar um álbum normalmente é uma tarefa árdua. E durante a pandemia, como foi a produção, criação...? Quais foram as facilidades e as dificuldades de desenvolver um álbum


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durante a pandemia? Nós começamos a fazer a pré-produção do álbum em abril de 2020, remotamente. Cada um em casa enviando arquivos, letras e os arranjos. No começo foi muito difícil o processo de adaptação, mas depois de uns 3 meses começou a fluir e conseguimos fazer toda a pré-produção. A capa do álbum tem como conceito a ideia de que, embora estejamos conectados, estamos distantes não só geograficamente, mas espiritualmente, e isso reflete exatamente o momento que estamos vivendo. Como vocês enxergam o peso da pandemia nesse aspecto? Em um cenário pós pandêmico, seremos mais unidos ou mais distantes? A pandemia veio para mudar todos os nossos conceitos e principalmente

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para mostrar como nós serem humanos somos frágeis. Eu acho que o pós-pandemia pode vir um mundo um pouco melhor, eu ainda acredito em mudanças. A união faz a força! O Eminence sempre visou o mercado fora do Brasil. Por que as bandas do metal moderno enfrentam mais dificuldades para se lançar dentro do próprio país? Sempre tivemos a oportunidade de trabalhar no exterior e gostaríamos muito de poder trabalhar mais aqui no Brasil. A maior dificuldade que vejo aqui no Brasil são as longas distâncias e o custo para fazer uma turnê fica inviável para os produtores locais. Eu acho que o público mudou muito a sua mentalidade e cada dia mais vejo bandas mais modernas aparecendo no Brasil. Como músicos, vocês já viram como a cena do Metal Moderno é lá fora. No Brasil, ainda que se


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pregue união, não é bem isso na prática. Por que há essa resistência com bandas mais modernas? Quais os pontos que o Metal no Brasil precisa avançar? Eu acho que aqui no Brasil não pode ter essa distinção entre as bandas. No exterior tem shows de Black Metal, Death Metal, Metalcore e Heavy Metal nos festivais. Cada um no seu estilo e um respeito as respectivas tribos de estilos variados. Aqui no Brasil ainda vai demorar um pouco isso acontecer, mas vai ser uma questão de tempo. Se o metal não se unir, nunca vamos ser ouvidos em lugar nenhum. Para finalizar, com a incerteza da volta dos shows presenciais, vocês pretendem fazer algum livestream? Sucesso sempre, se cuidem! Muito obrigada! Ainda não temos planos para fazer uma Live do Eminence, estamos concentramos em promover o nosso novo álbum. Temos um documentário da gravação para promover também. Acredito que até o final do ano estaremos com muito material para soltar ainda. mas quem sabe não pensaremos em uma live.

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