Rock Meeting Nº 134

Page 1



WORDS OF EDITOR

VOLTAR OU NÃO AOS SHOWS?

C

. PEI FON @PEIFON JORNALISTA FORMADA PELA UFAL, FOTÓGRAFA E DIREÇÃO GERAL DA ROCK MEETING

omo já é sabido, 2020 está sendo um ano completamente terrível para muitos segmentos, como lazer, o que impacta na sanidade mental das pessoas. O que antes era um ato normal da convivência, hoje é algo que prolifera a desgraça da Covid-19. No mundo, o setor do entretenimento sofre com esse revés sem data para voltar. No entanto, algumas iniciativas estão sendo promovidas para o retorno destas atividades. Cada um respeitando os protocolos de saúde da sua região. Vimos alguns shows do Destruction, na Suíça, e alguns festivais mantendo o palco longe das pessoas e as pessoas longe umas das outras dentro de ‘camarotes’. No Brasil não seria diferente. Quem iniciou o retorno aos palcos foi o Krisiun. O trio marcou uma apresentação numa conhecida casa de show em São Paulo e contou com banda de abertura, limitação de público, mesas no salão para manter a galera no seu lugar e não causar aglomeração. No entanto, fotos e vídeos que circularam no dia do show mostravam que os fãs da música pesada só respeitaram a normativa de distanciamento no início e

não se conteve a assistir ao show sentados. Isso me faz lembrar uma fala de Randy Blyte (vocalista do Lamb of God) que afirma que o ‘distanciamento social não funcionaria em shows de metal’. De fato, não! Pelo menos aqui não funciona! Não quero culpabilizar a banda sobre isso, mas, na sua posição de influência, poderia ter tido uma conduta mais cautelosa e solicitado que a galera voltasse para o seu lugar e mantivesse o distanciamento social, porque é a normativa para que as apresentações possam acontecer. Mas, antes da banda, cada pessoa deve ser responsável pelos seus atos individuais para o bem coletivo. Nesse momento, o que posso pensar diante do acontecido é que pouco importa o próximo. Enquanto cada pessoa não fizer a sua parte, ainda sem vacina, esse ciclo não vai parar e vamos continuar nessa redoma por um tempo absurdo. Até lá, estamos presos num ciclo improdutivo: tentando voltar, tentando viajar, tentando encontrar amigos, ver shows, ir a restaurantes, bares, sem a paranoia de ser infectado e não sofrer as consequências disso. Mas é preciso respeitar o novo ritmo se quisermos voltar para a mesma batida.


SUMÁRIO 2020

13 33 23

06. DOWNPICK

COLUNA - ROGÉRIO TORRES

13. SEA SMILE

LANÇA “IMPLACÁVEL”

23. IN NO SENSE

“WHEN THE CYCLES END”

33. THE NORTHERN

NOVO EP “CLOUDBURST”

55

55. SCULPTOR

“UNTOLD SECRETS”

69. JUPITERIAN

DOOM METAL PESADO

79. COYOTE BADTRIP

LANÇA “GUERRA DIVINA”

79


DIREÇÃO GERAL Pei Fon DIREÇÃO EXECUTIVA Felipe da Matta CAPA Alcides Burn Canuto Jonathan PROJETO GRÁFICO @_canuto

43

COLABORADORES Augusto Hunter Bárbara Lopes Bárbara Martins Bruno Sessa Fernando Pires Marta Ayora Mauricio Melo Paulo Apolinário Rafael Andrade UIllian Vargas CONTATO contato@rockmeeting.net

WWW.ROCKMEETING.NET

CRYSTAL LAKE ENTREVISTA EXCLUSIVA PARA O BRASIL


ARTICLE . GUITAR SESSION

Foto: Júlio Barbosa

GUITAR SESSION A TÉCNICA DE DOWNPICKING NO MUNDO DA GUITARRA POR ROGERIO TORRES

6 // ROCK MEETING // NOVEMBRO . 2020


E

m 3 de março de 1986, o Metallica lançava “Master of Puppets”, seu terceiro álbum de estúdio. A faixa título possuía algo diferente para aquela época aos olhos dos guitarristas, algo que até então não havia sido explorado com tanto êxito por outras bandas do estilo. Essa música tornou-se um hino, um símbolo quando se trata de guitarra base no mundo inteiro, onde James Hetfield, guitarrista, vocalista e principal compositor da banda, conseguiu expressar de maneira visceral o que viria a ser conhecido nos dias atuais como downpicking. O downpicking nada mais é do que palhetar todas ou a grande maioria das notas de um riff para baixo, mantendo assim uma constância no volume e dinâmica das notas, pois ao contrário da técnica de palhetada alternada, nesse caso, praticamente não é perceptível nenhuma diferença Foto: Rafael Andrade


ARTICLE . GUITAR SESSION

Foto: Bruno Sessa 8 // ROCK MEETING // NOVEMBRO . 2020


de intensidade entre um ataque e outro da palheta. Isso deixa tudo muito mais pesado, intenso e massivo, dando uma característica única para a música. Essa prática também faz com que o músico precise dispor de uma resistência muscular gigantesca para manter o ritmo durante todo o tempo em que a passagem é tocada. No caso da música em questão, estamos falando de uma vasta quantidade de riffs que tomam a música praticamente inteira! Definitivamente não é um trabalho fácil para quem está começando e nem mesmo para quem já tem ex-

periência como guitarrista de metal. Até hoje essa música é sinônimo de resistência, prática exaustiva e agressividade. Anos mais tarde surgiram outros grandes representantes dessa técnica, como é o caso do saudoso Dimebag Darrell do Pantera, que teve sua grande ascensão no ano de 1990 com o disco “Cowboys From Hell”, onde a faixa título é composta por riffs avassaladores e cheios de palhetadas para baixo. Além dele podemos citar também Dave Mustaine do Megadeth, Kerry King do Slayer, Will Adler e Mike Morton do Lamb of God,


ARTICLE . GUITAR SESSION

Foto: Martin Goodacre/Getty Image

Mick Thompson do Slipknot, entre outros. No entanto, uma banda que vale destacar entre tantas outras é o Meshuggah, uma banda que explorou muito essa técnica e trouxe novas possibilidades para ela. Eles são conhecidos como “Pais do Djent”, estilo esse que ficou popular a partir do ano de 2012 com o lançamento do segundo disco do Periphery, já considerado um clássico 10 // ROCK MEETING // NOVEMBRO . 2020

do gênero. Nesse caso, o downpicking é explorado de maneira muito diferente de como era feito pelo Metallica em 1986, agora foca-se muito mais na parte rítmica da coisa, nas síncopes e nas ghost notes (notas fantasmas), o que traz um groove e uma espécie de swing jamais visto antes no mundo da guitarra. John Browne, guitarrista e fundador da banda britânica Monuments, uma das

precursoras do movimento djent, é hoje uma das principais referências da técnica de downpicking, que é a base de quase todas as suas composições. Browne é tão aficionado pela prática da guitarra base, que criou a comunidade intitulada Riffhard, que consiste em uma escola online voltada totalmente para os guitarristas que querem aperfeiçoar sua técnica, seus riffs e sua resistência quando o assunto é a


palhetada para baixo. O argumento de Browne para criar essa comunidade é que, a base representa mais de 90% da música quando se trata de metal. Então, ao invés de passar a vida estudando escalas e solos, que são no máximo 10% do som, por que não focar no que realmente faz a música ser o que é? A base! E não é só no exterior que tem excelentes guitarristas que abusam dessa técnica e que são referência na guitarra base. No Brasil, seria uma heresia não citar Andreas Kisser do Sepultura e Max Cavalera

(Ex-Sepultura, Soulfly, Cavalera Conspiracy) com o emblemático riff de “Slave New World” do consagrado álbum Chaos A.D. de 1993. Outro monstro da nova geração do metal brasileiro é o Jean Patton da banda Project46. Muito influenciado por quase todos os nomes citados aqui, Jean usa e abusa do downpicking em suas composições. Uma delas é “Acorda pra Vida”, uma das músicas que melhor traduzem a aplicação da palhetada para baixo no metal moderno brasileiro. Todos esses músicos

possuem não só uma técnica apurada, mas uma criatividade e inspiração fora da média, ingredientes esses que são fundamentais para todo esse sucesso e que levaram suas músicas aos quatro cantos do mundo. É possível ainda que, se fosse única e exclusivamente pela técnica, talvez eles não tivessem chegado tão longe. É preciso mais do que isso para criar uma música de qualidade, que seja capaz de tocar de verdade as pessoas. Foi pensando nisso que decidi criar um método que pudesse ajudar de forma

Foto: Marta Ayora


ARTICLE . GUITAR SESSION

Foto: Riff Hard

eficaz os guitarristas que sentem dificuldade de compor suas próprias músicas. O “Máquina de Riffs” é um curso 100% online onde abordo diversos métodos de composição, fornecendo diversos exemplos práticos e exercícios de fixação, onde a principal intenção é que o guitarrista obtenha mais inspiração e consiga extrair o 12 // ROCK MEETING // NOVEMBRO . 2020

máximo de sua criatividade ao concluir todas as aulas. Indicado para guitarristas de nível básico ao intermediário, o Máquina de Riffs já tem dezenas de alunos satisfeitos com o método e que hoje, após todos os estudos, são completamente capazes de criar músicas inspiradoras e o mais importante de tudo, músicas que eles se sentem feli-

zes de terem criado, trazendo uma satisfação pessoal que a maioria esteve buscando a vida toda. Se você está curioso para saber mais, clique no link e assista ao vídeo de apresentação do curso. Eu fico por aqui e te vejo na próxima! Um abraço. Siga os meus perfis no Instagram e no Facebook.



INTERVIEW . SEA SMILE

POR BARBARA LOPES // FOTO FÁBIO PONCE

C

om dez anos de carreira e cinco álbuns de estúdio, os paulistanos do Sea Smile lançaram o EP “Implacável” e voltaram com as composições em português. Conversamos sobre o atual momento da banda, as gravações de covers irreverentes e o comportamento do público. Confira! O som da Sea Smile é pesado, moderno e cheio de referências. Por que seguir esse estilo? E quais são as influências da banda? Nós sempre gostamos de um som mais pesado. Acredito que a energia e o impacto que ele traz junto é a principal motivação e identificação. Músicas energéticas, que têm significado na letra e constroem sensações é o que nos referenciamos para fazer nossa música. Atualmente gostamos muito de bandas do estilo como Gideon, Stray From the Path, Knocked Loose, Memphis May Fire, In Hearts Wake e também outros estilos como Pop Punk, Trap, Rap e EDM. Em 2019 vocês lançaram um EP em inglês, inclusive com a participação do Ryan Kirby (Fit for a King), e depois voltaram para o português. Como ocorreu o convite dessa participação? E por que essa mudança linguística?

14 // ROCK MEETING // NOVEMBRO . 2020


Nós queríamos escrever em inglês, principalmente porque é a língua nativa da grande maioria das bandas que gostamos. Foi um desafio que lançamos para nós mesmos, saber se conseguiríamos soar como as bandas que gostamos, na língua deles. E, claro, também expandir nosso som, que fica muito mais acessível

lá fora sendo em inglês. Foi uma experiência muito boa e algo que nos rendeu frutos, entramos em duas playlists americanas e tivemos uma exposição que agregou muito para nós. O Ryan já havia participado da música “Efeitos” do EP “Do que Somos Feitos”, que é inteiro em português. Nós decidimos colocar a

mesma música adaptada para o inglês no EP “Changes” e a participação do Ryan não poderia estar de fora. Acontece que dessa vez, preparamos um videoclipe para música, e tanto o Ryan, quanto a equipe do FFK, foram extremamente parceiros e fizeram a gravação que ficou incrível! Atualmente voltamos


INTERVIEW . SEA SMILE

ao português pela troca de vocal e para simplificar a mensagem do que estávamos querendo passar. De onde veio a ideia de gravar covers principalmente de outros gêneros musicais (como “Prometida”, do Br’oz e “K.O.”, da Pabllo Vittar)? Acho que essa ideia veio da mesma vibe das músicas em inglês, experimentar e alcançar novas pessoas e realmente deu certo. Juntar o inesperado, faz uma aproximação com as pessoas que provavelmente não iriam conhecer nosso som. 16 // ROCK MEETING // NOVEMBRO . 2020

É EXTREMAMENTE IMPORTANTE PARA O ARTISTA CONHECER QUAIS SÃO OS MEIOS PARA ESTAR PRESENTE EM TODAS AS PLATAFORMAS E SE MANTER RELEVANTES


Inclusive, vocês fazem parte da coletânea “Pop Pauleira’’, junto com outras bandas de metal, com um cover do Mc Livinho. Como funciona esse projeto? Como se deu a escolha dessa música? Há uma próxima edição prevista? Pode se dizer que fizemos isso em um momento que ninguém fazia há algum tempo no Brasil e isso criou uma onda de outras bandas fazendo cover, o que foi animal para a cena! Nos juntamos com alguns amigos que queriam fazer covers também e idealizamos o Pop Pauleira. Houve uma 2º edição, mas não participamos, também não somos donos do projeto, é de quem


INTERVIEW . SEA SMILE

quiser participar e continuar a ideia. Esses covers são uma forma incrível de sair da zona de conforto dentro do metal. Como vocês enxergam a cena atual no Brasil? A cena vem se enfraquecendo ano após ano, isso é claro para todo mundo. Não houve uma renovação de fato no público. As pessoas que gostam não deixaram de gostar, mas não veio uma nova leva de gente, sabe? São tempos. Já já muda e as bandas que não desistirem e continuarem firmes serão reconhecidas por isso. No press release vocês 18 // ROCK MEETING // NOVEMBRO . 2020


mencionam que o figurino é um tema que vocês exploram. Por que decidiram dar atenção a um âmbito que é tão pessoal e peculiar? Shows e artistas criam identificação. A ideia é sempre passar uma entrega 360, que aquele que assiste nosso show, possa ter uma experiência completa, que vai desde o som até o visual.

Como se deu essa parceria? Acreditam que é uma relação que ajuda a fortalecer ambas as cenas (da moda e da música)? A Brutal Kill é uma marca que tem seus anos de história e sempre esteve presente na cena. Receber o convite para ser parceiro dele foi algo que revitalizou e fortaleceu demais o nosso corre. E claro, isso fortalece muito a cena, pois o rock nunca foi só múA Brutal Kill, empresa sica, mas sim um papo que de vestuário alternati- pode ser até clichê: música, vo, apoia eventos e algu- atitude, estilo e afins. mas bandas, e vocês recentemente fizeram “live Vocês possuem uma visessions” com a marca. deografia com mais de


INTERVIEW . SEA SMILE

dez músicas gravadas. Qual a importância do material audiovisual para uma banda? Como ocorre a concepção dos temas para a gravação dos clipes? Costumamos dizer que nossos videoclipes são a nossa entrega máxima, é o momento de mostrar um novo projeto, apresentar novas ideias e por a nossa cara pra galera. Cada clipe tem sua ideia particular e a gente tenta tirar o maior proveito disso, e claro, fazendo tudo que está ao nosso alcance, pois tudo é feito de forma independente e por nós mesmos. Hoje as bandas estão espalhadas por diversas plataformas musicais digitais. Qual a importância de compreender e fazer o melhor uso desses meios na propagação do trabalho de uma banda? Hoje em dia, quem consome música tem infinitas possibilidades de encontrar conteúdo. E cada uma dessas plataformas são uma nova oportunidade de alcance. Por isso, é extremamente importante 20 // ROCK MEETING // NOVEMBRO . 2020


para o artista conhecer quais são os meios para estar presente em todas as plataformas e se manter relevantes nelas. Atualmente, além das músicas, é importantíssimo ter um bom apelo audiovisual, estar presente nas mídias sociais, possuir uma loja online e sempre ter um contato próximo com os fãs. Todos ganham com isso, o público acaba tendo mais possibilidades e nós podemos oferecer conteúdo de forma mais personalizada, adoramos esse processo! Todos os trabalhos de vocês foram lançados de forma independente? Como a demanda da indústria fonográfica impacta o som de vocês? Tudo que fizemos foi de forma independente. Se não fomos nós que produzimos, alguém nos ajudou, se alguém não ajudou, pagamos com recursos próprios para ser feito. A indústria sempre vai favorecer algumas pessoas ou tipos de música. Além do “Rock”, trabalhamos com um gênero mais nichado ainda. A cena do Metalcore, Hardcore e afins, a qual pertencemos, acaba não

tendo muito espaço no mainstream. Então, usamos dos meios, que não são poucos, pra suprir essa falta de espaço que a indústria poderia fornecer para artistas independentes e alternativos. Buscamos “hackear” o sistema, de certa forma, para conseguirmos mais evidência. Tivemos várias mudanças de comportamento do público ao longo dos anos devido ao desenvolvimento da tecnologia assim como mudanças na sonoridade do metal tradicional, que naturalmente se modernizou. Com a pandemia, a forma de consumo musical foi impactada, redirecionada ao digital. Como vocês imaginam que vai ser o cenário daqui para frente? Ainda é incerto para todo mundo. Por mais que todos tenham vontade dos shows e eventos, não sabemos o quanto essa longa pausa vai moldar o comportamento da audiência. Por enquanto, o digital precisa ser alimentado e vamos tentando de todas as for-


INTERVIEW . SEA SMILE

mas preparar o nosso retorno aos shows, para que possa valer a pena, não ter apertado o freio durante a pandemia. 2020 está acabando, mas o Sea Smile ainda vai lançar algum material? Ainda temos lançamentos! Acabamos de lançar nosso cover da música “Kenny G”, do Matuê, que nos surpreendeu muito! Em menos de uma hora, o próprio artista compartilhou o som no Instagram e a viralização foi quase ins22 // ROCK MEETING // NOVEMBRO . 2020

tantânea. Foram mais de 230 mil visualizações em 24 horas, algo que nos deu uma boa evidência. Mas aguardem que ainda vem um trabalho autoral esse ano! Também temos grandes planos para o ano que vem, quem nos conhece, já sabe que podem esperar mais coisas, pois nós produzimos muito!

Gostaríamos de agradecer a todos que fortalecem de alguma forma nosso trabalho ao longo dos anos, mesmo com as dificuldades, não temos em mente parar, então podem esperar que esse ano ainda vai ter coisa boa e ano que vem muito mais. Ouça a Sea Smile na sua plataforma digital preferida e se possível compre um merch com a gente. É isso Muito obrigada pelo que faz com que possamos papo! Utilizem o espaço produzir novos trabalhos. para deixar um recado Obrigado pela oportunidade, para nossos leitores. Rock Meeting.



INTERVIEW . iN NO SENSE

POR BARBARA LOPES // FOTO WILLAME PIRES

C

om uma sonoridade moderna, mesclando vocais limpos e screamo, e agora utilizando letras em português, o In No Sense, originário do Ceará, lançou o single “When Cycles End” que consolida toda essa mudança. Confira o papo que tivemos com a banda.

Foto: Arquivo Pessoal

Os temas das letras abordam vários tipos de sentimentos, algumas de maneira individual e outras em uma maneira mais coletiva, expressando indignação perante a desigualdades e contrastes na sociedade, por exemplo. Por que trabalhar com esses temas? Ítalo Porto: São temas que fazem parte do nosso cotidiano, algumas sendo relatos de acontecimentos individuais com membros da banda, outras de reflexões coletivas que fazem parte da nossa realidade, desde críticas sociais por vivermos isso na pele, até pensamentos existenciais. Mesmo os temas das letras sendo algo pessoal, sempre abordamos como um pensamento de grupo, em busca de nos comunicar com pessoas que pensam da mesma forma, ou introduzir uma nova reflexão para quem escuta nosso som e pensa diferente, criando essa conexão forte com quem curte o som. “When Cycles End” tem a ver com o fim de um ciclo da banda também, com uma

24 // ROCK MEETING // NOVEMBRO . 2020


Foto: Gandhi Guimarães

sonoridade mais moderna e letras em inglês? Contém um pouco mais para a gente. Ítalo Porto: Além da mensagem por trás da letra, a música também significa o encerrar de um capítulo da banda, não queríamos nos limitar criativamente a um gênero específico. A escolha do inglês como idioma é uma forma de

nos expressar globalmente e também de abrir novas portas já que tivemos a chance de abrir com nosso lançamento anterior, mas foram fechadas pelo distanciamento da língua. Ao que se deu essa mudança de um som metalcore para um som com elementos mais moder-

nos? Como vocês enxergam essa nova sonoridade dentro do metal? Vicente Ferreira: Se deu de forma bem natural. Quando compomos nosso som, nós sempre deixamos todas as influências surgirem sem muitas amarras, então parte dessa mudança já veio do que passamos a escutar nesses últimos anos. Dentro do me-


INTERVIEW . iN NO SENSE

tal, essa sonoridade mais moderna vem sendo consumida principalmente pelo público mais jovem, que está com a cabeça mais aberta para ouvir novidades, e é sempre legal ver o metal se renovando dessa forma, com novas vertentes e cada vez mais misturando elementos de outros estilos para criar algo novo. Quais bandas têm influenciado vocês nesta nova fase e quais são influências desde o início? Vicente Ferreira: Hoje em dia bebemos muito de bandas como Architects, Monuments, Periphery, Tesseract, Intervals, e toda essa safra de

26 // ROCK MEETING // NOVEMBRO . 2020


bandas modernas. No início nossas influências eram voltadas para bandas como As I Lay Dying, Bullet For My Valentine, Avenged Sevenfold, e todas essas clássicas de Metalcore, que continuam nos influenciando até hoje. Todas essas são influências diretas no nosso som, mas não ouvimos apenas metal, sempre escutamos de tudo, desde metal moderno, metal clássico, pop,

rap, trap, forró e até mesmo sertanejo (risos). Vocês são de Fortaleza e já tocaram em diversos festivais pelo Ceará e pelo Brasil, certo? Como vocês enxergam a cena do metal no Nordeste? Acreditam que há diferenças e semelhanças em comparação com o resto do país como um todo? Vicente Ferreira: A cena de metal no Nordeste sempre foi forte e se fortalece cada vez mais! Mas não dá pra negar que sofremos com o distanciamento dos grandes centros como São Paulo e Rio de Ja-


INTERVIEW . IN NO SENSE

neiro, que é onde se encontra o núcleo do mercado da música no Brasil, e uma maior quantidade de público para o metal. Porém essa dificuldade que nós enfrentamos aqui acaba se refletindo em trabalho e qualidade por parte das bandas. Podemos indicar várias bandas com nível internacional aqui do Nordeste como Matakabra, Jack The Joker, Ankerkeria, Heavenless, Até Tudo Desmoronar, etc ... Estamos sempre fazendo esse network interestadual, produzindo nossos próprios eventos cada um em seu estado, criando um circuito alternativo entre as cidades aqui no Nordeste. Como aconteceu o contato com o Adair Daufembach? Por que decidiram lançar o álbum de forma independente? Vicente Ferreira: Conheci o trabalho do Adair quando ouvi o disco “Doa a Quem Doer” do Project46, logo me interessei e comecei a acompanhá-lo mais de perto. Em 2014 contratei o Adair para fazer a Mix/Master do disco do Jack The Joker, minha outra banda. Então, quando 28 // ROCK MEETING // NOVEMBRO . 2020


NO INÍCIO DE 2021 JÁ ESTAREMOS SOLTANDO COISA NOVA POR AÍ


INTERVIEW . THE NORTHERN

decidimos fazer o Despertar, já tínhamos o nome dele em mente pra fazer esse trabalho. A partir de então nossa relação só ficou mais próxima, e é inegável a qualidade que ele consegue trazer pra mesa. Lançar um álbum independente hoje é praticamente um padrão do mercado para bandas no nosso estilo, não existe mais a necessidade de ter uma gravadora ou selo a frente do trabalho, até mesmo bandas grandes passaram a ser independente pra ter todo o con30 // ROCK MEETING // NOVEMBRO . 2020

trole sobre seu lançamento, e também todas a receitas em cima do material. Sendo assim, só não lançaríamos independente se surgisse uma proposta muito interessante, e esse tipo de coisa está cada vez mais difícil, só acontecendo depois de muito trabalho já bem-sucedido. A indústria fonográfica tem mudado e muitas bandas tem lançado seu material de modo independente. O que esse

comportamento tem ajudado as bandas na divulgação de seu material? Ítalo Porto: Por conta dessa mudança na indústria, nós acreditamos que os membros da banda tenham cada vez mais responsabilidades além de tocar, compor, ensaiar. Então é basicamente uma “ajuda” forçada, pois a banda se vê obrigada a produzir os próprios vídeos, fotos, materiais gráficos, campanhas de marketing, produção de sites, gravação, dentre outras


necessidades, caso contrário, teríamos que pagar por todos esses serviços, o que tornaria inviável manter uma constância de lançamentos. Vocês estão presentes em várias plataformas musicais digitais. Como tem sido a forma de divulgação do som de vocês? Ítalo Porto: Nossa divulgação está totalmente voltada para as plataformas digitais. Passamos a semana procurando novas formas de chegar no nosso público, focando em

playlists (principalmente no Spotify) e campanhas de marketing no YouTube e no Facebook. A pandemia nos trouxe limitações físicas por um lado, mas por outro abriu várias portas para o mundo virtual. Como vocês acreditam que vai ser a forma de consumir música (em um geral, não só sobre mídias físicas, mas também sobre apresentações) daqui pra frente?

Vicente Ferreira: A importância de focar no mundo virtual já vinha antes da pandemia acontecer, acreditamos que hoje nós precisamos chegar antes no nosso público através das redes, fazer com que escutem e curtam o nosso som, para aí sim tocarmos e fazermos shows, partindo pra essa divulgação pessoal. Esperamos que tudo se normalize em breve, que a vacina chegue e os shows voltem a acontecer como sempre aconteceram, estamos com saudade dessa


INTERVIEW . iN NO SENSE

sinergia do ao vivo, de tocar e trocar energia com o nosso público presencialmente, e principalmente ver a reação da galera tocando “When Cycles End” cara a cara.

singles nesse momento! Até o fim do ano provavelmente não, mas no início de 2021 já estaremos soltando coisa nova por aí! A ideia é ter sempre alguma novidade para os nossos fãs, e manter a constância A dois meses para o fim de lançamentos. Aguardem! do ano, o In No Sense ainda vai presentear os fãs Muito obrigada pela encom algum lançamento? trevista, rapazes! Fiquem Ítalo Porto: Era para ser à vontade para deixar sigiloso (risos), mas estamos um recado para nossos trabalhando em dois novos leitores. 32 // ROCK MEETING // NOVEMBRO . 2020

Ítalo Porto: Nós que ficamos bastante agradecidos pela exposição! Já acompanhamos e lemos a Rock Meeting há um tempo, foi muito massa trocar essa ideia com vocês. Muito obrigado também aos leitores que chegaram até aqui e gostaríamos de convidar aqueles que ainda não ouviram o nosso novo som a irem conhecer “When Cycles End” no YouTube ou sua plataforma de streaming favorita, valeu!



INTERVIEW . THE NORTHERN

POR PAULO APOLINARIO // FOTO CHRISTIAN LAWRENCE

N

a estrada desde 2012, os canadenses da The Northern trazem um ar de “novidade” ao Metalcore e ao Djent. Misturando sonoridades e melodias que ora abraçam os riffs pesados e breakdown, ora flertam com melodias complexas que com elementos emprestados da música eletrônica, beiram o Metal Progressivo. Apesar da salada de gêneros, a banda não peca pelo excesso. Pelo contrário. Com os pés no chão a The Northern consegue fazer um som equilibrado e que traz todos os elementos que um fã de Metalcore e Djent procura. As composições, segundo o guitarrista Eric Leblanc, refletem diretamente os sentimentos e o momento da vida pelo qual os integrantes passam. Criada em Toronto, a banda tem uma localização estratégica, próxima dos grandes centros dos Estados Unidos e do Canadá, ao mesmo tempo. A disponibilidade de shows e gravadoras que foram uma benção para a banda no início, se tornaram um problema com a pandemia do coronavírus. Com as portas das casas de shows fechadas, a banda se voltou para uma viagem introspectiva, compondo letras mais profundas e sonoridades ainda mais complexas. O resultado é o EP Cloudburst, que vem sendo lançado em formato de singles pelo grupo. Os trabalhos mais recentes foram as músicas “Pale Horse” e Porcelain Skin. Para contar um pouco sobre

34 // ROCK MEETING // NOVEMBRO . 2020


esse turbilhão de gêneros, acontecimentos e sentimentos, o guitarrista Eric Leblanc bateu um papo com a Rock Meeting.

mos dizer que somos uma mistura entre dois dos nossos estilos favoritos: Djent e Metalcore. Tentamos pegar as melhores partes dos estilos que amamos e incorporamos Como você descreveria isso às nossas composições. o estilo musical da The Northern? Vocês misturam elemenEric Leblanc - Nós adora- tos de Metalcore, Proges-

sivo e Djent... estilos que há alguns anos eram impensáveis juntos. Nesse sentido, como vocês avaliam essa modernização e evolução do metal? Eu acho que essa geração cresceu com tantas influências desses gêneros, que faz muito sentido vê-los mistura-


INTERVIEW . THE NORTHERN

36 // ROCK MEETING // NOVEMBRO . 2020


dos nessa nova onda do metal. Pessoalmente, é um som pelo qual nos sentimos muito atraídos, tem os melhores ingredientes, então, naturalmente é algo que está geração se sentirá atraída.

música é um reflexo de como nos sentimos e onde estamos na vida naquele momento. Vocês estão na estrada desde 2012, onde experimentaram e vivenciaram mudanças em seu estilo, e hoje encontraram uma identidade própria. Esses objetivos estavam previstos ou foram naturalmente acontecendo? Acho que nós amadurecemos naturalmente nossos gostos e influências dentro do gênero. O que escrevemos se relaciona diretamente com o que estamos sentindo no momento e com o que está acontecendo em nossas vidas. Então, essas mudanças acontecem de forma natural, conforme mudamos e crescemos individualmente.

A The Northern é uma banda que todos os fãs de Metalcore e Djent deveriam conhecer. Se você tivesse que escolher uma música para começar, qual seria e por quê? Fico dividido entre ter que escolher apenas uma porque estamos muito animados com nossas novas músicas. Mas se você quisesse duas que realmente englobassem o nosso som e as emoções que a The Northern transmite, eu diria que “Samsara” e “Umbra” são dois lados do espectro que representam quem somos como banda e o que temos a dizer Recentemente, vocês lancom nossa música. çaram a música “Pale Horse”, que faz parte do Você acredita que houve EP “Cloudburst”. Como uma mudança na sono- tem sido a recepção desse ridade da banda desde o trabalho? início da carreira? Estamos muito felizes com a Sim, claro. À medida em que recepção da Pale Horse, é enmudamos e amadurecemos corajador ver um apoio como como pessoas, o mesmo acon- o que recebemos em um motece com nosso som. Nossa mento como este. Ser proi-


INTERVIEW . THE NORTHERN

ções para escrever as letras de Cloudburst? Nada é mais inspirador do que as nossas próprias experiências de vida. Tudo o que escrevemos se conecta a situações pelas quais passamos. Acreditamos que é importante sermos sempre verdadeiros e abertos quando nos exQuais foram as inspira- pressemos com a esperança bido de fazer shows devido à Covid-19 tem sido um grande obstáculo para nós. Porém, a resposta positiva que essa música recebeu me deixa muito esperançoso de que nossos fãs vão curtir o nosso próximo lançamento, “Clouburst - Porcelain Skin”.

38 // ROCK MEETING // NOVEMBRO . 2020

de que isso ressoe com quem nos ouve. Na descrição do perfil da banda diz que vocês estão preparando uma nova era para o The Northern. Que mudanças serão essas? O que podemos esperar? Uma nova era pode significar muitas coisas, mas para nós


ESPEREMOS QUE, QUANDO A PANDEMIA DIMINUIR E PUDERMOS RETOMAR NOSSAS VIDAS, AS PESSOAS VOLTEM ÀS SUAS PAIXÕES COM UMA NOVA FORMA DE GRATIDÃO


INTERVIEW . THE NORTHERN

vocês vinham compondo. Ouvindo com mais calma Poderia falar um pouco a “Pale Horse”, você mermais sobre essa composi- gulha de cabeça no Djent e com melodias ainda mais ção? A composição é difícil por- marcantes, sem contar que você tem que se apro- que está ainda mais pesado. Essa seria uma das fundar muito em si mesmo mudanças da banda? para expressar a música que Pale Horse representa um quer criar. À medida em que monte de emoções que tem amadurecemos juntos e expea ver com a dor e a perda em rimentamos tantas coisas, di- nossas vidas. Quando você ficuldades, bons momentos e ouve a música, percebe que O novo single, Pale Horse, tudo o mais, tentamos permi- há muita raiva e tristeza nela. tem elementos melódicos tir que essas emoções pene- Emocionalmente nós nos diferentes daqueles que trem em nossas composições. abrimos muito mais do antes significa um desenvolvimento artístico da nossa música. Trabalhamos duro para incluir muitos tipos diferentes de gêneros e influências, incluindo aqueles que são mais queridos para nós. Sempre estamos abertos às nossas emoções, vidas e ao ambiente, que nos ajudam a moldar nossa música de uma forma que tenha significado para nós.

40 // ROCK MEETING // NOVEMBRO . 2020


nesses assuntos. Seguindo em soas voltem às suas paixões frente, esperamos fazer uma com uma nova forma de graconexão para que ninguém se tidão. sinta sozinho. Plataformas como DisAinda no último lança- cord, Patreon, Twitch, mento, as letras são muito etc. se tornaram um graninteressantes. “Life is so de aliado para bandas. short it’s so damn short. Como você tem mantido But it’s the longest race esse relacionamento com we run” é um destaque. seus fãs através das míEm tempos de pandemia, dias virtuais? nunca fez tanto sentido, A Twitch é algo que nós tenão é? Como você avalia o mos experimentado. Jordan e que está por vir? eu [Eric] fazemos streams de As letras soam verdadeiras de video games e conversamos tantas maneiras. O que que- com todo mundo que aparece remos dizer é que você não por lá. Nossa conta ainda está sabe o quanto tem até perder, engatinhando, mas estamos e essa pandemia nos mostrou ansiosos para nos conectarisso. Achamos que nada pode mos com os fãs por meio desser dado como garantido. Es- sa plataforma. peremos que, quando a pandemia diminuir e pudermos Como vocês tem mantido retomar nossas vidas, as pes- a banda ativa durante a

pandemia? Nós estamos constantemente escrevendo músicas, e essa pandemia nos abençoou com muito tempo em casa para nos concentrarmos em nosso trabalho. Atualmente, estamos nos preparando para lançar o EP Cloudburst, então ultimamente temos trabalhado muito na preparação para isso e esperamos lançar mais. Existe uma grande diferença na produção musical entre Brasil e Canadá. Você poderia comentar sobre o cenário das gravadoras, principalmente das bandas de metal? Infelizmente não conhecemos muitas bandas brasileiras! Adoraríamos conhecer mais. O que podemos dizer é que existem muitas bandas


INTERVIEW . THE NORTHERN

de Metalcore e Djent na cena por todo Canadá, assim como muitas bandas de Hardcore. Todas com estilo e sonoridade únicas, sendo muito bem assimiladas pelos produtores incríveis e gravadoras que temos aqui no Canadá e em nosso vizinho, os Estados Unidos. Na edição de outubro nós falamos com a banda Spiritbox, também do Canadá. Como vocês observam esse crescimento da cena do metal moderno em seu país? Estamos muito animados 42 // ROCK MEETING // NOVEMBRO . 2020

com todas as bandas que têm surgido na cena. Isso nos dá a chance de fazermos novos amigos, conexões e talvez conhecer lugares onde nunca estivemos antes. Há uma grande diversidade na cena. Isso traz um frescor porque antes tudo parecia estar estagnado. Quais são as suas influências musicais no Canadá? É difícil apontar quais são as nossas influências. Obviamente, somos grandes fãs de estilos mais pesados, mas todos nós ouvimos uma vasta gama de músicas e gêneros.

Trazemos as influências daquilo que fala diretamente com o que estamos sentido naquele momento. Por fim, o que podemos esperar da The Northern ainda este ano e para 2021? Obrigado pela entrevista! Estamos ansiosos para saber a resposta do nosso novo single de Cloudburst, “Porcelain Skin”. Quanto ao início de 2021, nós temos planos de lançar o restante do Cloudburst. Foi uma honra falar com vocês!



CAPA . CRYSTAL LAKE

POR PEI FON / PHOTO RAY DUKER

U

ma das coisas mais fascinantes na música é o fato de podermos conhecer bandas inimagináveis, dos mais variados lugares no mundo. E, pensando assim, buscamos uma joia direto do Japão, cujo nome pode ser delicado, mas que o seu som é mais bruto do que se possa imaginar. Crystal Lake é um quinteto japonês que está ganhando notoriedade por onde passa. O que vem do oriente pode ser um mistério, mas você precisa ver e ouvir como esses caras conseguem ser enérgicos sonoramente e poderosos no palco. A Rock Meeting teve a oportunidade de conversar com o vocalista Ryo Kinoshita sobre muito assuntos e que você pode ler logo a seguir. Acompanhe! Crystal Lake já tem 18 anos de estrada, algumas mudanças de formação e muita história para contar. Vocês consideram que estão no melhor momento da banda? Ryo Kinoshita - Acho que sim. Temos sorte de ter pessoas tão boas em nossa

44 // ROCK MEETING // NOVEMBRO . 2020



CAPA . CRYSTAL LAKE

equipe, especialmente nossa equipe interna. Nós nos divertimos muito e crescemos como uma banda nos últimos 2 anos. Tocamos em muitos festivais enormes, em alguns dos quais tocamos no palco principal. Sem parar de ter novidades, vocês lançaram duas músicas, juntamente com seus videoclipes. Qual a importância de lançar material audiovisual para a manutenção da sua base de fãs? O lado visual da nossa música é de-

46 // ROCK MEETING // NOVEMBRO . 2020


finitivamente um dos nossos pontos positivos. Isso torna mais fácil de entender nossa música ou até mais. Quanto mais vídeos lançamos, melhor a qualidade deles fica. Talvez seja um exagero, mas nossa música está se tornando a trilha sonora de nossos próprios filmes. Estou apenas dizendo. “Watch Me Burn” é uma música com várias partes interessantes. Diante desse momento pandêmico, “This world has gone insane” explica muita coisa. O que vocês têm visto que exemplifique essa


CAPA. CRYSTAL LAKE

parte da música? Watch Me Burn é sobre como eu queimo minha alma para viver a vida melhor. Eu escrevi a letra em dezembro de 2019 e gravei em fevereiro de 2020, antes das coisas do COVID acontecerem, mas ainda explica a situação atual. Sim, o mundo enlouqueceu. As mídias sociais estão tornando tudo pior. Eu vejo muito ódio

48 // ROCK MEETING // NOVEMBRO . 2020

e hostilidade, e estou cansado Você acertou! Não estou fadisso. zendo isso por dinheiro, poder ou fama. Estou apenas “Diamonds and gold fazendo isso para tornar don’t mean shit when we meus sonhos realidade e me are dead” esse pedaço de divertir. “Watch Me Burn” é outra parte muito interessante. A música “Disobey” traz É difícil compreender o um questionamento soporquê das pessoas acu- bre o que nos aprisiona. mularem bens ao invés de O mundo está cheio disso experiências, não é? e na própria letra diz que


NÃO ESTOU FAZENDO ISSO POR DINHEIRO, PODER OU FAMA. ESTOU APENAS FAZENDO ISSO PARA TORNAR MEUS SONHOS REALIDADE E ME DIVERTIR.


CAPA . CRYSTAL LAKE

não há como escapar, é morte ou submissão. A saída é desobedecer? De que modo? Se você tem poder contra isso, sim. Eu acho que a escravidão é real. Alguns exploram, outros são explorados. Se você quiser escapar, basta estar no topo da pirâmide. Esse é o sistema. Mas eu prefiro morrer

50 // ROCK MEETING // NOVEMBRO . 2020

a ceder. Além de mostrar algumas menções sobre essas correntes que nos aprisionam, o clipe de “Disobey” mostra três referências da música associada com ‘time for respect’ no momento em que a letra diz para se lembrar quem é

seu mestre. O que essas bandas representam para vocês e por que Queen, Pantera e Guns’n Roses? Em certo sentido, pode-se dizer que eles são o símbolo das estrelas do rock que conquistaram a liberdade do sistema. E eles nos influenciaram muito. Mas na verdade nós fizemos cosplay porque que-


ríamos apenas tornar o vídeo Lendo a letra de “Apollo”, são muitos conflitos pescaótico e bagunçar. soais com o mundo. ExisComo foi representar es- te algum personagem por ses personagens no clipe? trás dessa música? AlguMuitos comentários fa- ma experiência em partilando da atuação da ban- cular? da, principalmente de Essa música é sobre como eu Ryo Mercury, Ryo Rose e tenho lidado com os “haters” desde que entrei para Crystal Ryo Anselmo. Foi divertido! Eu vi o vídeo Lake. Sou o terceiro vocalista do LIVE AID muitas vezes e da história da banda. Eu ouvi pratiquei do jeito que Fred- um monte de besteiras sobre die estava fazendo. Mas eu como eu era ruim e não consegui vencer Rami Malek HAHAHA. Ele é o melhor! Pantera é uma das minhas bandas favoritas, embora eu não concorde com Phil Anselmo. Eu amo seu estilo de cantar e ainda me inspira.


Photo: John Gyllhamn

CAPA . CRYSTAL LAKE

não me encaixava na banda. Mas não mais. Me mantive completamente firme. Eles não podiam me levar para baixo e nunca o farão. Agora posso dizer com confiança que este é o meu lugar. Quando conheço uma banda vou logo procurar um vídeo ao vivo para ver a atuação. Assisti o show de vocês no Ressurection Fest em 2019. É muito poderoso, me fez querer vi52 // ROCK MEETING // NOVEMBRO . 2020

venciar essa experiência. Como vocês conseguem transmitir tanta energia para o público? De onde vem esse poder? Veio da nossa música. Veio de dentro. Libertar a energia tem sido nosso lema desde o início da banda. Queremos que nossos ouvintes superem a realidade de uma forma irreal. É como “Apenas sinta e deixe tudo ir.” Isso o ajudará a seguir em frente.

Recentemente Ryo Kinoshita fez uma participação na música “Holy Roller” do Spiritbox. É difícil acrescentar mais brilho numa música já lançada? Como foi gravar essa música? Fala um pouco dessa experiência. De modo nenhum. Quando o Holy Roller foi lançado, fiquei totalmente pasmo. Até receber a oferta, estava pensando em fazer como sempre faço... quero dizer, aquele canto


mais rosnado. Portanto, a visão estava clara. Foi divertido gravá-lo. Demorou mais ou menos uma hora. Eu canto em japonês apenas uma linha, o que acabou sendo bom e estou muito feliz que eles gostaram dessa parte. Em relação a dinamização do Metal, como vocês avaliam essa mudança natural do som? Como é vivenciar isso uma vez que estão inseridos e acompanham de perto essas transformações?

Não tenho certeza, mas quero evoluir essa cena emperrada do Metal. Eu quero tornar o som mais refinado e profundo e conseguir o trono da cena musical de volta, estilo anos 90. No início de 2020, vocês divulgaram uma lista extensa da turnê do Crystal Lake, mas aí veio a pandemia e acabou o planejamento de todo mundo. O que vocês têm feito para se manter e conectar-se

com os fãs durante esse período? Fazemos muitas transmissões ao vivo e pop-ups duas vezes este ano. Eles estão funcionando bem. Não costumamos nos comunicar com nossos fãs, então eu achei muito divertido. Continuaremos fazendo isso mesmo se voltarmos ao ciclo normal. Mirando no mercado sul-americano, o metalcore tem uma aceitação massiva no Brasil. Referências como As I Lay Dying, Bullet For My Valentine são mui-


Photo: John Gyllhamn

CAPA. CRYSTAL LAKE

to bem recebidas. Vocês Como é que funciona o pretendem investir no mercado de metal moderno no Japão? Há essa mercado brasileiro? Definitivamente SIM! Vi inú- aceitação massiva? A immeros comentários no You- pressão que temos daqui Tube como “Venha para o é que os japoneses adoram consumir música, inBrasil!!” E isso me faz sentir dependente da vertente. muito grato. Vocês têm muiEstá crescendo, mas ainda é tas bandas ótimas Sarcófago, pequeno. Não somos vistos Sepultura, Soulfly, Krisiun e como uma banda de metal, Angra, só para citar alguns. mas sim como uma banda de Os irmãos Cavalera têm con- J rock. Somos bons em fazer tribuído para a cena do metal “músicas estranhas” como extremo por quase 40 anos e é BABYMETAL e metal expericlaro que eles nos inspiraram mental com ruído forte, e sou muito orgulhoso disso. Quanmuito. 54 // ROCK MEETING // NOVEMBRO . 2020

to ao metalcore, tenho certeza que você ficará surpreso ao ver algumas bandas jovens tocando ao vivo. O próximo Crystal Lake ou Crossfaith está chegando. Para finalizar, o que podemos esperar do Crystal Lake para esse finalzinho de 2020? Espero vê-los no Brasil em breve. Sucesso e muito obrigada! Nada por enquanto HAHAHA. Mas estamos pensando em fazer música nova e veremos você em 2021.



INTERVIEW . SCULPTOR

POR UILLIAN VARGAS // FOTO GUS FRANCO

O

sul do Brasil ainda é um celeiro fértil para a música, principalmente para o metal. Aliás, na verdade o país inteiro está eclodindo bandas o tempo todo. E para o desespero do que teimam em brandir o velho discurso de que “o rock morreu”, sinto lhes dizer que as novas bandas surgem cada vez mais preparadas, conscientes e prontas para encarar as atuais dificuldades. Estão prontas para falar o idioma da modernidade. Sculptor, surgida em 2015, na cidade de Curitiba (PR) é uma dessas bandas que surge e nos enche o peito de orgulho, como um estandarte de oxigenação sonora. E esta bandeira subiu tão alto que foi possível ser vista de Nápoles (ITL), a cidade sede da Frontiers Music SRL, que a banda assinou um contrato no final de 2019. Formada por Vinne (vocal/guitarra), Caco Ramos (baixo), Fabricio Reis (guitarras) e Mateus Schran (bateria), o grupo iniciou sua escalada muito bem assessorado, mundialmente. Conversamos com Rick Eraser (vocal), que nos contará um pouco da história de Sculptor, planos futuros, inspirações e desafios. Divirta-se! Como de costume, esse aquecimento da conversa acontece com um breve histórico da banda. Como aconteceu essa união dos músicos que formam a Sculptor e qual o segredo escondido na escolha do

56 // ROCK MEETING // NOVEMBRO . 2020


nome? Rick Eraser - A banda foi formada em 2015 inicialmente como um projeto. Eu havia visto uma matéria sobre o fim da antiga banda (Rage Darkness) do nosso guitarrista Vinne, e entrei em contato com ele para formar um novo projeto. No começo seria somente formado por eu e ele, a

ideia era fazer uma banda que tivesse um material de extrema qualidade. Assim trabalhamos um tempo na composição do material para o que se tornaria o “Untold Secrets”. Após isso começamos a chamar os membros para formar realmente uma banda, fizemos alguns testes com várias pessoas. Nosso primei-

ro membro oficial foi o Caco Ramos, a qual já havia tocado com o Vinne na “Rage Darkness”. Após isso entramos em contato com o Mateus Schran que já havia tocado em diversas bandas, que felizmente aceitou o convite e entrou de cabeça nesse projeto. Por último chamamos o Fabricio Reis que já havia tocado na


INTERVIEW . SCULPTOR

banda Holiness onde teve um ótimo destaque na época da MTV. Relacionado ao nome estávamos buscando algo que representasse o nosso som, inicialmente a banda se chamaria “Belt of Venus”, mas aí pensamos em algo que fosse fácil de pronunciar e com apenas um nome, então escolhemos o nome de Sculptor, pois a tradução literal do termo é “Escultor”, e os escultores são pessoas que pegam algo bruto e trabalham muitas horas para transformar aquilo em obra de arte. E realmente é algo que nos conecta ao nome Sculptor porque, de fato, representa o trabalho que fazemos na música, além disso pensamos nos escultores em nossas vidas, realmente podemos lapidar e transformar nossas próprias vidas. Paraná tem entregado bandas de peso para o cenário musical, isso não é novidade. Mas como o público aceitou a sonoridade da Sculptor com seu Melodic Death Metal? Sim, o Paraná tem ótimas bandas e nos últimos anos 58 // ROCK MEETING // NOVEMBRO . 2020


está ganhando destaque tanto no cenário nacional quanto internacional. Sobre a aceitação do público local para o nosso som sempre foi incrível, não temos do que reclamar do público da nossa cidade natal, desde que começamos a fazer shows recebemos um apoio absurdo do público. Em nosso primeiro show havia uma fila enorme para compra de merchandising, e quando tocamos o nosso primeiro single havia várias pessoas cantando, foi surreal, realmente foi algo incrível para uma banda que estava no seu primeiro show. “No Control” é apresentada ao mundo cheia de referências de grandes nomes do estilo, mas ao mesmo tempo demonstra pronta para dialogar com fãs de sons mais atuais. Teremos de fato essa conversa? Qual o impacto esperado? Acredito que o é resultado de um grande mix de influências, de um lado trazemos referências de bandas clássicas de melodic death metal como At The Gates, Arch Enemy e Dark Tranquillity, mas ao mesmo tempo colocamos influências


INTERVIEW . SCULPTOR

de bandas mais modernas como Jinjer, Gojira e Architects. A ideia sobre o “Untold Secrets” era ter referências de bandas clássicas e ao mesmo tempo colocando um tempero moderno, pois queríamos um primeiro álbum bem sólido musicalmente, mas algo que soasse novo, acredito que todos que escutarem o nosso cd vão sentir uma sensação única. Ficamos sabendo da novidade sobre o contrato internacional. Como a Frontiers Music SRL chegou até a banda? E como é a sensação de ter um full length lançado sob 60 // ROCK MEETING // NOVEMBRO . 2020

um selo de peso? No final de 2018 lançamos um single chamado “Oblivion” e esse single acabou tendo um reconhecimento incrível, tivemos mais 70 mil visualizações e acabou abrindo várias portas para nós, através desse single conhecemos pessoas, uma delas foi um europeu ex-funcionário de uma grande gravadora de metal que adorou nosso som. Ele nos colocou em contato com vários selos, e com isso tivemos várias propostas de gravadoras e resolvemos fechar contrato com a Frontiers, porque entrar em uma gravadora tão grande abrindo um novo estilo é realmente irrecusável


SONHAMOS EM NOS CONSOLIDAR COMO UMA GRANDE BANDA TANTO INTERNACIONALMENTE QUANTO NACIONALMENTE


INTERVIEW . SCULPTOR

(risos). A sensação de lançar o álbum por um selo como a Frontiers é realmente a realização de um sonho, quando começamos a banda era uma coisa que almejamos muito, mas sabíamos que as chances de conseguir um contrato como esse era quase impossível, ainda mais para uma banda do Brasil, mas felizmente a gravadora acreditou no nosso potencial e realmente viram que estávamos trabalhando

62 // ROCK MEETING // NOVEMBRO . 2020


muito nisso. Essa contratação surge justo em momento de isolamento (covid-19). Dá para entender que a pandemia não foi tão ruim, nesse ponto? Nossa contratação para o cast da gravadora aconteceu realmente no final de 2019 um pouco antes da pandemia, tivemos alguns meses para trabalhar na finalização do dis-

co, e quando estávamos com o álbum pronto para lançar acabou entrando a pandemia. Isso estragou todos nosso planos e a gravadora resolveu segurar o nosso lançamento o máximo possível, e posteriormente escolheram final de 2020. Um fato engraçado é que o clipe da “No Control” foi gravado em maio de 2019, ele tem o Dr. Plague que foi o médico da peste negra uma das maiores pandemias de todos

os tempos. Infelizmente podemos dizer que tivemos alguma benfeitoria relacionada a pandemia (risos). Com esse elo firmado com a europeia Frontiers, em um momento futuro oportuno, pode surgir uma tour internacional? Sim, esperamos ansiosos pelo final dessa pandemia para poder começar a trabalhar nesse assunto, não vemos a hora de


INTERVIEW . SCULPTOR

começar a fazer shows tanto Não fosse a parceria Fronnacionalmente quanto inter- tiers e Hellion, já existiam nacionalmente tocando esse planos para o lançamento álbum, recém divulgamos físico do Untold Secrets? nossa primeira data pós pan- O plano para o lançamento do demia em um grande festival “Untold Secrets” sempre foi ter uma versão física nacional em SC chamado Armageddon do álbum, algumas gravadoMetal Fest para Maio de 2021, ras nacionais chegaram a enque vai contar com grandes trar em contato para lançar o bandas como Venom inc e álbum, mas como acabamos The Agonist. Ainda não temos fechando com a Frontiers que nenhuma tour internacional já tem uma base sólida de agendada, mas acreditamos parceiros pelo mundo para a que em breve vamos ter algu- distribuição acabou facilitanma novidades. do muito nossa vida. Lançar

64 // ROCK MEETING // NOVEMBRO . 2020

o nosso cd pela Hellion é algo incrível. Quão importante é, para a Sculptor, firmar o nome fora do Brasil? Para nós é essencial, pois como cantamos em inglês e temos um público bem amplo, isso ajuda de uma certa forma a ter mais lugares para tocar e viabilizar o sonho de viver 100% de música, e com isso termos uma base de fãs maiores. Sonhamos em nos consolidar como uma grande


banda tanto internacional- do tipo. Sempre fomos uma mente quanto nacionalmente. banda que se virou com o que tinha. Tentamos sempre fazer Que linguagens a banda da maneira mais profissional tem adotado para conver- possível, muitas das coisas sar e impactar os segui- que temos postado foram feidores? tos pelos próprios membros Desde que começamos a ban- da banda, mas quem olha de da nós sempre criamos ma- fora pensa que existe uma teriais para a banda por con- equipe para gerenciar e criar ta própria, sempre tentando post da nossa rede social. criar algo com a maior quali- Uma das coisas que sempre dade possível, sempre pensa- tivemos como prioridade foi mos em cada detalhe, desde conversar diretamente com um post, quanto um vídeo de nossos fãs, acreditamos que making of de um show ou algo isso seja um elo único entre a

banda e os fãs. Sobre o uso do streaming. Acham que as plataformas acabam deixando os ouvintes mais preguiçosos ou são boas ferramentas? Eu acredito que o streaming tem seu lado bom e o lado ruim, por um lado temos todo o catálogo do mundo para escutar, mas por outro lado as pessoas não sabem o que escutar porque tem muitas opções, e no final das contas


INTERVIEW . SCULPTOR

a maior parte das pessoas acabam sempre escutando as mesmas bandas. Uma das coisas que realmente acho incrível são as playlists, só então você tem a oportunidade de escutar coisas novas e dar visibilidade para bandas novas. Sabemos como o Marcelo Vasco trabalha, já tivemos a grande oportunidade de entrevistá-lo para a sessão de Cover Artists da Rock Meeting. Para a banda como foi o proces-

66 // ROCK MEETING // NOVEMBRO . 2020

so de ter trabalhado com um nome tão forte dentro do cenário? Quanto da criação da capa do Untold Secrets veio da banda? Marcelo Vasco para mim é um dos melhores ilustradores da atualidade, eu me conecto muito com as artes que ele faz, pois sou fã das capas dele. O nosso processo de criação da capa com o Marcelo Vasco foi extremamente fluido, quando estávamos buscando o artista para criar a nossa capa entramos em contato com ele e

mostramos o projeto conceito do álbum, e isso foi o suficiente para ele entender o que estávamos buscando. Quando ele nos apresentou a capa, era exatamente o que buscávamos, ele conseguiu capturar tudo que queríamos, em uma capa para representar o álbum. E já que estamos falando de segredos inéditos, pode nos contar um pouco sobre os segredos que habitam o disco? Que de-


lírios, fantasias e dores essas melódicas narrativas escondem? O “Untold Secrets” tem em sua narrativa principal os segredos que todos guardamos, é um disco que as músicas contam sentimentos e dores que escondemos. Durante o processo de composição do álbum eu passei pelas situações mais difíceis da minha vida, eu tive vários problemas psicológicos, dentre eles a depressão e ataques de pânico. Todas essas dores acabei colocando nas composições, são músicas que falam que as vezes que-

remos esconder e até mesmo fingir que tudo está tudo bem, mas não está, são músicas que tem muito sentimento. No caso da música “No Control” fala quando você perde o controle da sua vida, e acaba entrando em um ciclo vicioso e quando você se dá conta que ainda tem esperança e você pode tomar o controle da sua vida novamente. No clipe nós traba-


INTERVIEW . SCULPTOR

lhamos com um conceito de loop infinito de sonhos para representar essa sensação quando se está com depressão, que você acaba vivendo fora da realidade. Agora sobre a nossa atualidade coletiva. E se esse isolamento “momentâneo” não for só um momento, quais planos a Sculptor guarda para o Untold Secret? Esperamos que o “Untold Secrets” seja um álbum que possa ajudar as pessoas a superar esse momento e que as

68 // ROCK MEETING // NOVEMBRO . 2020

mantenham com esperança de dias melhores, pois sei que essa doença e isolamento social está afetando o psicológico de todos. De nossa parte vamos trabalhar o máximo para manter nossos fãs conectados a nossa música através de clipes e documentários, para dar-lhes forças para superar tudo isso. Gostaríamos de agradecer a oportunidade dessa troca e deixamos espaço para as considerações finais. Sucesso! Primeiramente gostaria de

agradecer nossos fãs que leem a Rock Meeting e estão nos apoiando no nosso lançamento do álbum, não tenho palavras para descrever a felicidade de ter o apoio de você, fiquem ligados nas nossas redes sociais e no nosso site para acompanhar as novidades. Esperamos que acabe logo essa pandemia para podermos nos encontrar nos shows do Sculptor. Agradeço muito essa a oportunidade da Rock Meeting abrir espaço para essa conversa, você são incríveis!



INTERVIEW . JUPITERIAN

POR AUGUSTO HUNTER // FOTO WILLIAM VAN DER VOORT

O

Jupiterian surgiu em São Paulo, fazendo um Doom Metal pesadíssimo, muito sujo e de uma agressividade iníqua. Diferenciada e com um visual único, para os padrões nacionais, o Jupiterian está ganhando um espaço considerável e iremos conversar com eles sobre o novo lançamento “Protosapien”, a vida e de tudo um pouco. Primeiro, queria agradecer o tempo de conversa e perguntar a vocês como tudo começou, em que momento decidiram se juntar para uma banda? V: Obrigado Augusto e Rock Meeting pelo interesse. A banda começou em 2013 e partiu de uma necessidade que eu tinha de ter mais liberdade de criar músicas tocando guitarra. A maior parte das bandas que tive eu era o vocal, mas eu sentia a necessidade de criar e desenvolver ideias de uma forma mais livre. Foi então que comecei a ir atrás de equipamento e chamar as pessoas pra formar a banda.

Foto: Paul Verhagen

70 // ROCK MEETING // NOVEMBRO . 2020

O último lançamento banda é, Protosapien, como tem sido a resposta desse play? Tem sido ótima! Na verdade muito melhor do que esperávamos. O Terraforming foi um disco muito bem recebido e quando isso acontece você acaba se colocando numa posição de ten-


Foto: Banda/Divulgação

tar fazer algo que seja no mínimo equivalente. Como sempre vai haver comparações com outros lançamentos da banda, nossa expectativa era fazer com que o sentimento desse disco fosse de continuidade ao anterior, como uma evolução da nossa proposta musical, e tanto a mídia como quem já conhecia a banda tem

entendido dessa forma. Como vocês analisam a junção com a Transceding Obscurity Records? Vocês ainda acham importante para os músicos terem uma gravadora ou o caminho do DIY (Do It Yourself) é válido também?

A Transcending Obscurity tem sido uma casa ótima pra gente, o selo realmente investe em material de primeira qualidade em nossos lançamentos. O Terraforming foi a primeira investida do selo em lançar uma banda em vinil e agora com o Protosapien ele fez uma impressão com capa metalizada e com verniz, ga-


INTERVIEW . jUPITERIAN

tefold e 3 padrões de vinil diferentes. Inclusive esse lançamento em vinil já deu sold out pelo selo, então tem tudo corrido muito bem. O DIY é um processo eterno e indivisível de toda banda, pois mesmo que você tenha um selo pra lançar seu material, ninguém te pega pela mão e resolve a banda por você. Você precisa desenvolver seu som, gravar, mostrar isso pro mundo. A única coisa que os selos fazem é pegar o que você produz e lançar, numa relação mais distante e mecânica. Em diversos momentos do disco, eu entendo que o conceito niilista é muito colocado em suas músicas, seria certo isso? Certamente não foi proposital. Nós apenas fazemos nossa música de uma forma livre de conceitos. Quando um riff ou fragmentos que eventualmen72 // ROCK MEETING // NOVEMBRO . 2020


te podem se tornar uma música nascem, não há racionalidade envolvida, é puramente instintivo. Eu costumo dizer que fazer uma música é como o processo de dar vida a algo. A música nasce, cresce e se desenvolve como ela quer, e a minha função é conduzir sua evolução até onde ela quer chegar. Se uma música me chamou atenção foi a incrível Voidborn. O riff causa uma certa estranheza, seria essa a real motivação ou foi estranheza minha? Difícil dizer. A forma como cada um interpreta uma música é muito pessoal, porém nossa música em geral não é de fácil digestão. Têm alguns riffs mais melódicos, mas sinto que nossa música é ácida e por vezes indigesta e é exatamente assim que gostamos que seja.

proposital? Eu realmente não saberia dizer qual é a proposta do disco (caso ele tenha uma) que nós deveríamos ter seguido, mas se havia uma, todas as músicas estão “fora” dela. Como disse antes, as músicas nascem e se desenvolvem por elas mesmo, nós somos a ferramenta pela qual elas se tornam reais. Não seguimos fórmulas, não temos a menor intenção de nos enquadrar em estilos específicos. Nossa música apenas acontece.

Como vocês analisam a atual situação da música mundial? Como enxergam o mundo no pós pandemia? Pelo que eu tenho visto parece a pandemia criou dois cenários pros músicos e bandas. Um deles é o fato de terem mais tempo pra trabalhar em novos materiais, sem que isso atropele a agenda de turnês Starless segue uma li- ou diminua o tempo que eles nha um pouco “fora” do têm pra terminar um disco. proposto do disco, foi E o da música ao vivo, que


INTERVIEW . JUPITERIAN

tá completamente parado e arrasta pro buraco todas as pessoas envolvidas, da banda ao cara do bar da casa de show, passando por técnicos de som, roadies e etc. Esse ainda é um problema que está longe de encontrar solução. Tenho visto algumas bandas tentarem dar um passo maior que a perna pra forçar o retorno, mas tenho certeza de que ainda é muito cedo. O que eu acho que tem funcionado bem são alguns eventos como as lives que as bandas têm feito em estúdio e postado no youtube. Recentemente o Obituary fez 3 lives dessas, tocando os 3 primeiros discos, e pra você ter acesso, você paga o ingresso. Pra quem tira o sustento da banda, acho que esse pode ser um formato, mas ainda assim, não resolve. Toda me74 // ROCK MEETING // NOVEMBRO . 2020


dida agora é apenas paliativa. Protosapien está sendo lançado em diversas formas, como vinil, fita K7 e CD, mas os Streamings estão aí e sabemos que eles são uma guia para os artistas. Como vocês avaliam o engajamento do público de vocês por esses meios de audição musical? Acho que todo meio pelo qual uma pessoa possa ter acesso à música é válido. As pessoas se engajam com a música que gostam, eventualmente por intermédio do meio digital, e acabam comprando o disco ou merch, e pra nós que temos os discos lá fora e recebemos poucas quantidades, qualquer material que vendemos acaba retornando pra banda com a produção de mais merch ou com equipamentos. A fan base da banda vem crescendo bastante, como o uso das redes sociais vem promovendo esse aumento? Vocês acham que

essa variação numérica é dada pelo quê? Espero que essa variação numérica seja dada porque nossa música é interessante o suficiente pra pessoa sentir que vale a pena nos seguir. Tudo o que postamos em rede social diz respeito ao nosso material lançado e ao feedback que temos, como reviews sobre o disco, camiseta nova, uma foto legal que alguém tirou do disco ou fotos de shows. Não usamos rede social pra engajar público com enquetes e raramente usamos hashtags. Tendemos a não usar essas ferramentas porque o foco é em nossa música e não em números de redes sociais. Eu fiquei vendo o material de merchandise que foi lançado com o disco, vocês têm planos de trazer para o Brasil? Na verdade, nós temos nossa cota do disco (em todos os formatos) e de camisetas que o selo precisa nos mandar, mas devido à pandemia, tudo está muito mais devagar, incluin-


INTERVIEW . JUPITERIAN

do todo o serviço de entrega internacional, então ainda irá demorar um pouco. Como foi o processo de composição e gravação de Protosapien? Ocorreu antes da pandemia? Sim, o Protosapien começou a ser composto logo depois que o Terraforming saiu, e gravamos as guitarras e baixo do disco no final de 2018. Como tínhamos uma tour europeia agendada pro começo de 2019, deixamos a finalização do processo para quando os shows tivessem encerrado, mas logo apareceu uma tour pelo Brasil somada à troca de bateristas. Tudo isso nos tomou muito tempo de ensaio e quase um ano pra podermos sentar e dar a devida atenção ao álbum. Conseguimos fechar tudo só no começo desse ano pra entregar ao selo, e o disco finalmente pôde ser lançado. Infelizmente a promoção ao vivo do disco ficou prejudicada, como foi o pla76 // ROCK MEETING // NOVEMBRO . 2020


AS MÚSICAS NASCEM E SE DESENVOLVEM POR ELAS MESMO, NÓS SOMOS A FERRAMENTA PELA QUAL ELAS SE TORNAM REAIS


INTERVIEW . JUPITERIAN

nejamento virtual do lançamento do Protosapien? Nós tínhamos uma tour importante esse ano na Inglaterra, Irlanda e alguns shows no México que incluíam um festival grande por lá, mas tivemos que adiar. 2020 foi um ano frustrante pra qualquer banda e pra todos que trabalham com shows de alguma forma. Por sorte tínhamos pelo menos o disco pra lançar e toda a parte de lançamento, seja físico ou online, ficou por conta do selo. Da nossa parte, foi mais compartilhar esse 78 // ROCK MEETING // NOVEMBRO . 2020

material e os reviews que en- senso de que vivemos todos em uma sociedade, gostem ou contramos. não. As pessoas seguem ceVocês poderiam nos pre- gamente líderes extremistas ver, ou tem uma ideia, de e arrastam quem batalha por como será o mundo após um mundo mais justo e hua Covid-19? Dá para ter manitário pro mesmo buraco. uma noção de como as O futuro é desolador. pessoas serão daqui pra frente? Mais responsá- Obrigado pelo tempo e o espaço é de vocês, deixem veis ou mais egoístas? Estamos vendo as pessoas um recado aos leitores da se tornando piores na nossa Rock Meeting. frente, seja ao vivo, seja pela Obrigado pelo espaço. Ouçam internet. A cada dia elas se o Protosapien e em breve temostram mais egoístas e ir- remos esse material em mãos responsáveis e sem o menor no Brasil.



INTERVIEW . COYOTE BADTRIP

POR JESSICA MAR // FOTO BRUNO ROBERTO RODRIGUES

F

ormado pelo trio Gabriel Arrebola, Luke Cassimiro e Tiago Ratão em novembro de 2018, Coyote Bad Trip são três garotos que vem conquistando espaço no cenário underground paulista fazendo metal crossover com temas políticos e fortes críticas sociais. Com influências de Slayer, Municipal Waste, Death, The Black Dahlia Murder, Exodus e Krisiun. A banda brasileira, estreou o primeiro videoclipe oficial, “Guerra Divina”, gravado na cidade de Jacareí, em São Paulo. O video conta com a participação especial de Niko Teixeira na bateria, que atualmente toca nas bandas Genocídio e Tormentor Bestial. “Guerra Divina” é o primeiro single do novo álbum de estúdio intitulado ‘Raça [Des]humana’, que será lançado no primeiro semestre de 2021. A banda possui o disco de estreia ‘Ascensão e Queda’, lançado no começo do ano de 2020, que traz muito thrash metal com fortes notas de punk e hardcore, trabalhado no tema sobre o descaso do governo aos dependentes químicos, com letras propositalmente ácidas. O disco recebeu boas críticas da mídia especializada, mesmo apresentando músicas simples e produzido por uma banda jovem. A banda também tem seu próprio festival, Bad Trip Metal Fest, com a primeira edição realizada em fevereiro de 2020. Para contar todas essas no-

80 // ROCK MEETING // NOVEMBRO . 2020


vidades e os planos futuros, o vocalista e guitarrista Luke Cassimiro concede a primeira entrevista da carreira para a revista Rock Meeting, onde também divulga com exclusividade a capa do novo disco ‘Raça [Des]humana’, criada pelo ilustrador Filipe Moriarty.

primeiro álbum decidirmos fazer um evento chamado “Bad Trip Metal Fest”, era para ser apenas para esse lançamento, mas hoje nós estamos estudando a possibilidade de outras edições.

Coyote Badtrip é uma banda nova no cenário, mas podem nos falar um pouco sobre esse projeto? Luke Cassimiro - Nós fundamos a banda no final de 2018, porém só esse ano lançamos o nosso primeiro full. Vimos que a banda segue Para o lançamento do nosso estilos e influências do


INTERVIEW . COYOTE BADTRIP

O PLANO PARA DEPOIS DA QUARENTENA É FAZER MUITOS SHOWS, VAMOS NOS EMPENHAR MUITOS NESSA TURNÊ DO ‘RAÇA (DES)HUMANA’

82 // ROCK MEETING // NOVEMBRO . 2020

crossover thrash/death. Porque seguir essa linha? Nossas maiores influências são bandas que pertencem a esse gênero, como Slayer, Death, Municipal Waste e DRI. Nós sempre gostamos de tocar as músicas dessas bandas em questão, então um dia decidimos meter a cara e montar a banda.

Esse álbum fala sobre o descaso e preconceito que as pessoas têm com os dependentes químicos, que muitas vezes são pessoas que querem sair do vício, porém precisam de ajuda. Através de letras ácidas, nós contamos a história de um personagem fictício que vai agravando seu vício em drogas até perder tudo e acabar ir morando nas ruas, O álbum debut da banda, no qual é uma realidade de “Ascensão e Queda”, foi muitos. lançado este ano. Conte um pouco sobre esse tra- A banda anunciou que irá balho. lançar no próximo ano o


novo disco, “Raça [Des] Humana. Podem nos contar um pouco mais sobre o disco? Nesse disco nós estamos mais preparados e experientes, diferente do ‘Ascensão E Queda’ que foi um disco de primeira viagem. As músicas estão mais técnicas e trabalhadas, a proposta das músicas está diferente e dessa vez nós enfiamos um pé no Death Metal. O primeiro single, “Guerra Divina” e a capa do álbum falam sobre tortura. Qual o conceito do álbum

em si? O álbum Raça (Des)Humana fala sobre as atrocidades que um ser humano pode fazer com o outro, desde a alienação até a tortura, assassinato, atentados terroristas e experimentos com humanos. Vocês cantam em português, e não em inglês como a maioria das bandas fazem. Porque isso? Acha que cantar em português pode atrapalhar a promoção da banda no exterior? Nossas letras são em portu-

guês porque o nosso público alvo é o brasileiro, porém isso não significa que não queremos atingir o público internacional também. Se algum dia notarmos que cantar em português está atrapalhando a banda nós vamos tomar as medidas necessárias. Para alguém que nunca ouviu a banda, como você diria que a música soa? Você sente que é uma banda original? No primeiro momento talvez seja um pouco difícil para o ouvinte digerir as músicas


INTERVIEW . COYOTE BADTRIP

(dependendo da pessoa), principalmente pela violência nas letras. Sim, nós sempre estamos buscando a nossa própria sonoridade, e o máximo de originalidade possível.

A crise do novo coronavírus realmente atrapalhou os planos da banda? Que estratégia você criou para lidar com a crise? Atrapalhou em partes, pois tivemos que desmarcar os shows de divulgação do ‘Ascensão E Queda’, porém nós conseguimos usar esse tempo de quarentena a nosso favor, e adiantamos as gravações do nosso segundo álbum.

A banda já está com alguma gravadora para o lançamento do disco? Quais as expectativas? Infelizmente não estamos com gravadora ou selo para o lançamento desse disco, porém as expectativas estão óti- Quais são os planos do mas para esse próximo lança- Coyote BadTrip para o fumento. turo, quando tudo voltar 84 // ROCK MEETING // NOVEMBRO . 2020

à normalidade? O plano para depois da quarentena é fazer muitos shows, vamos nos empenhar muitos nessa turnê do ‘Raça (Des) Humana’, que inclusive já está programada. Você pode deixar uma mensagem para os nossos leitores? Nós só estamos no começo da caminhada, ainda vamos trazer muito caos e discórdia nas nossas músicas, nós não vamos parar, então aguardem!




Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.