Rock Meeting Nº 131

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words of editor

POR QUE O QUE É ‘NOVO’ NÃO É BOM? T

. PEI FON @peifon jornalista formada pela ufal, fotógrafa e direção geral da rock meeting

enho observado colegas da imprensa, anônimos, conhecidos e amigos sobre as novas sonoridades do Rock/Metal. A resistência que se tem pelo ‘novo’ não é novidade. Qual o problema de uma banda fazer um som cheio de técnica? Perde a ‘pureza’ sonora do que é feito de modo ‘sujo’? Quando o ‘novo’ já nasce com som ‘velho’ é chamado de resgate das antigas escolas. Mas o ‘novo’ mesmo, com elementos que não soam o passado, é taxado de inúmeras formas. Todo estilo musical tem sua raiz bem massificada, o que vem depois já é consequência do que fora criado. Imagine só o que era esse ‘som velho’ no seu início? Imagina como ele foi recebido pela galera, resistência em aceitar que aquilo era o dinamismo do estilo. Hoje, 30 anos depois, é a base de tudo que se ouve atualmente. E mesmo quando a propagação era massiva, o som foi sendo aperfeiçoado e criado outras vertentes. E assim o estilo vai se renovando tanto sonoramente quanto de ouvintes. Não se pode julgar um adolescente hoje que conhece Slipknot ou Periphery. Essa geração está vivendo uma outra fase sonora. A antiga geração, que hoje têm seus 30 anos que ouve o som, teve Iron Maiden, Kiss, Guns... São outros tempos. Não

vai haver outro Black Sabbath. O que vem agora é outra referência. Slipknot puxava uma gama de adolescentes, que hoje são adultos, mas ainda encanta até quem era resistente. O som amadureceu conforme o passar dos anos, como deve ser na própria vida. Por experiência própria, iniciei a audição do Metal acompanhando o surgimento do Metalcore. Bandas pesadíssimas que me encantavam naquele momento. A partir daí conheci os demais estilos e suas origens. Hoje me orgulho muito de ter tido essa iniciação no Metal, não me envergonha nenhum pouco. Aí vem a leva do ‘Metal Moderno’, tecnicamente perfeito, complexo, cheio de notas e escalas, de fazer o músico pirar, mas que a ‘velha guarda’ acha um exagero, um absurdo, e está deixando de ser ‘cru’, visceral. Cara, abre a cabeça. Esse é o som atual que está renovando o estilo. Amanhã será outro e assim vai ser. Será que é preciso passar 30 anos para reconhecer a importância deles para a construção do momento? Ninguém nasceu gigante, isso foi crescendo com o tempo. Está na hora de reconhecer esse momento e não deixar que o estilo sucumba ao tempo para ter de atestar o seu valor no futuro.


sumário 2020

80

10 06. estressadas Como ajudar a autoestima de sua parceira

30

10. Drowned Nova formação 20. rOCK fREEDAY cOLLECTION QUARTA EDIÇÃO 24. fABIO aRAÚJO série designer brasileiro 30. isABELE miranda assessoria de imprensa na pandemia 42. metal mind reflections Tiozões do metal

70

46. Basttardz hardcore maranhense 70. Bloody Violence nova formação 80. Airforce representante da NWOBHM 88. Eliran Kantor designer dos grandes artistas do metal 99. Mahabanda Rock ‘n rOLL E fILOSOFIA

120

106. Alchimist versão quarteto 116. review de livro Max Cavallera 120. Marcelo Soldado o RETORNO DO SOLDADO


fOTO fERNANDO pIRES

DIREÇÃO GERAL PEI FON DIREÇÃO EXECUTIVA FELIPE DA MATTA CAPA Alcides Burn Canuto Jonathan projeto gráfico @_canuto

58 mike gaspar fim de um ciclo no moonspell

COLABORADORES Augusto Hunter Bárbara Lopes Bárbara Martins Bruno Sessa fernando pires Marcos garcia Marta Ayora Mauricio Melo Rafael Andrade renato sanson Samantha Feehily UIllian vargas CONTATO contato@rockmeeting.net

www.rockmeeting.net


estressadas

COMO AJUDAR

NA AUTOESTIMA DA SUA PARCEIRA por Samantha feehily

E

la tem curvas estonteantes, mas, basta parar diante do espelho para lamentar e disparar a tão comum e irreal frase “Estou feia”. Em um país em que a valorização da boa forma é tão gritante, os padrões de beleza acabam sendo destorcidos, as mulheres assumem cada vez mais sua baixa autoestima. A imagem de perfeição bombardeada pela mídia não combina com o dia a dia da maioria das mulheres. A disponibilidade de tempo, de dinheiro e do próprio desejo são

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antagônicas à demanda social frente à imagem física, o que em algumas mulheres gera culpa e sensações de inferioridade e baixa autoestima. A autoestima é algo construído ainda na infância, a partir da relação com os pais. Crianças que são muito criticadas, ou não recebem muita atenção dos pais, podem passar a vida em busca desse reconhecimento, mesmo em outras pessoas. Quem não consegue resolver a questão ao longo da vida, muitas vezes acaba sofrendo ou se colocando em situações as quais não precisaria se submeter, seja na vida profissional, no amor ou nas relações cotidianas.



estressadas

A baixa autoestima não só afeta a vida amorosa, mas também os relacionamentos profissionais e pessoais. Ela até pode se arrumar (ou não) e parecer extrovertida, mas vai sempre colocar defeitos em si própria ao ponto de achar que todos irão trocá-la por qualquer coisa por qualquer motivo. Os parceiros muitas vezes não sabem ao certo o que podem fazer, então esse texto é para você que quer ajudar sua mulher a se sentir melhor! Primeira dica é: AME, AME, AME! Ajude a parceira a enxergar o mulherão que é. Se você não enxergou isso, não conseguirá passar para ela. Seja paciente e encare o desafio até o fim. Os benefícios serão sentidos primeiramente em você (terá uma companheira mais tranquila) e, principalmente, fará um grande efeito para a vida dela. Comparar-se demais com as outras mulheres, se colocando sempre em uma 8 // rock meeting // agosto . 2020

posição inferior; sentir ciúmes excessivo e dificuldade para lidar com críticas negativas são alguns dos traços comuns a uma pessoa com baixa autoestima. Outra tendência é a posição de vítima: quem não está bem consigo mesma sempre acha que o mundo está contra ela; carente de atenção e se sente rejeitada pela maior parte das pesso-

as. AMENIZE OS TRAUMAS E COLOQUE NA CABEÇA: ELA NÃO É VITIMA. Mulheres com baixa autoestima normalmente possuem algum evento na infância ou adolescência que lhe cause este sentimento e sempre se fazem de vítima por isso, para qualquer assunto. Não valorize seus traumas e não fique com alguma compaixão por ela por conta disto.


Tente demonstrar que esses acontecimentos a fortalece, nunca a diminui. As mulheres com baixa autoestima tendem a buscar o tipo de homem que a enche de mimos elogios, ou ainda o extremo oposto - aquele que não dá a mínima. “Isso porque está ainda buscando alguém que a reconheça. Os homens não têm muita paciência com este compor-

tamento. No entanto, quando estão dentro de uma relação deste tipo, podem ter um papel fundamental no processo de “cura” da mulher amada. A mulher precisa sair do papel de vítima e o homem pode ajudar nisso, sendo provocativo no sentido de ela passar a se ouvir mais, fazer mais as coisas que gosta e investir nela mesma. Elogie coisas

comuns. Você acha sensacional coisas que ela faz que é da própria personalidade dela? Então não deixe de elogiá-la. Mas não exagere para não parecer forçado. Elogios de como ela arruma o cabelo, certos conhecimentos sobre alguns assuntos, uma parte do corpo… Quanto mais coisas dela, que a destacou frente a outras garotas, vale!


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INTERVIEW

DROWNED com 25 anos de história, a banda apresenta nova formação por renato Sanson // foto Jorge Pereira

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INTERVIEW . drowned

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ais de 25 anos de história, muitos discos lançados, turnês pelo mundo e o nome cravado no Heavy Metal nacional como um dos grandes do gênero metálico. Esses são os mineiros do Drowned e toda sua bagagem musical. Confira agora mesmo nosso bate-papo com o guitarrista Marcos Amorim contando algumas novidades que estão preparando para 2020/2021. Após seis anos o Drowned lançava “7th” em 2018 – seu sétimo álbum de estúdio – mantendo sua sonoridade ainda mais sólida 12 // rock meeting // agosto . 2020

e diversificada. Após tantos anos sem lançar um material inédito, foi alguma surpresa as tantas críticas positivas que surgiram sobre o trabalho? Marcos Amorim - Na verdade, quando lançamos o disco Belligerent em duas etapas, 2011 e 2012, não tínhamos a intenção de ficar um período tão grande sem lançar nada. A ideia era talvez ter um trabalho novo por volta de 2014 ou 2015. Fomos fazendo músicas novas, criando alguns conceitos em cima do próximo disco e não observamos tão atentamente o tempo passar. E de fato foi um tempo bem significativo. E não tínhamos ideia de como seria a receptividade, para muitos a gente até tinha sumido de vez, acabado, sei lá, então, embora tivéssemos acreditado muito no material, não tínhamos ideia e feliz-



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mente o disco foi bem recebido e as músicas também ficaram boas nos shows. O Drowned anunciou em 2019 uma grande novidade, a formação com três guitarras e uma turnê com os ex-membros. Como surgiram essas ideias? E os ensaios com três guitarras como foram? O sexteto foi uma coisa curiosa. Não foi planejado. Ele foi acontecendo. Inicialmente a gente chamou o Rodrigo Nunes para fazer um show comemorativo de 15 anos do disco By the Grace of Evil. Daí tocaríamos algumas músicas antigas com ele, que esteve na banda desde a demo-tape até 2006. Fizemos uns dois en14 // rock meeting // agosto . 2020


saios apenas como quinteto, então o Rafael Porto, que estava na função de baixista se revezava com o Kerley Ribeiro, conforme a música/disco que estivéssemos executando. Passado o show que combinamos surgiu a ideia, “pô, por que a gente não tentou com todo mundo?”. E tinha outro show não muito distante, então combinamos de novo esse teste. Fizemos mais dois ensaios, mas desde o primeiro minuto funcionou muito bem, o som ficou muito bom ao vivo e os shows mostraram isso depois. Claro que o desfecho para 2020 não foi o esperado, já que fomos tomados pelo Covid-19. Como está sendo este momento para a banda? O Drowned já vinha pensando em fazer várias frentes, não ficar apenas num padrão

banda pura, estáticos. Então já vínhamos trabalhando coisas em vídeos, tanto musicais quanto não musicais propriamente, então a gente tomou a pandemia como um impulso. Fazíamos esporadicamente esses materiais. Em 2020 já passamos a sistematicamente produzir coisas para nossas redes sociais, canal de youtube, fazer música nova e assim estamos levando. Para ser honesto, estamos trabalhando mais do que antes. Bem mais. Antes determinávamos um tempo dedicado à música e o restante era de relativa ociosidade. Agora estamos produzindo algo o tempo todo, inclusive música. 2020 mesmo terá muita coisa nossa rodando. Os planos de 2020 seguirão para 2021 ou vocês pretendem adicionar mais algumas novidades? O plano inicial do Drowned antes da pandemia entrar em cena era rodar o máximo que


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pudesse divulgando a tour comemorativa. Mudamos os planos para produzir de tudo um pouco e temos também quase metade de um disco pronto. O que pretendemos para o resto deste ano é intensificar nossa divulgação em vários canais, produção de vídeos e lançamentos no nosso canal de youtube, concluir a gravação das músicas que já fizemos e lançar um material 16 // rock meeting // agosto . 2020

de quarentena até dezembro. Para 2021, planejamos um material de inéditas, que ainda estamos estudando se será um EP ou álbum completo. Recentemente o Drowned lançou o vídeo inédito de “Learn to Obey” da Demo “Where Dark and Light Divide…” (98) com o ex-guitarrista Tiago Ordeus. Uma formação que

não se reunia há 20 anos. Como foi a gravação deste vídeo e a nostalgia de ter um velho amigo de volta por esse breve instante? O Tiago é um amigo, antes de tudo. Nunca esteve afastado de nós, é parceiro de música e quase um tatuador oficial da banda (risos). É uma pessoa muito querida e já tínhamos intenção de fazer algo nesse sentido há algum tempo, só


estava faltando coincidir as coisas e tudo funcionar bem. Quando começamos a produzir coisas durante a pandemia, surgiu essa ideia de uma versão atual com ele na guitarra, ele aceitou, fizemos e ficou muito legal, pessoal gostou bastante e, quem sabe, pode pintar ainda mais novidades nesse sentido. Dentre dessas novidades de “Quarentine Session” o Drowned vem trabalhando

forte e revisitando composições bem antigas, lá de sua fase embrionária. Gostaria que comentassem mais a respeito destes momentos. Estávamos outro dia selecionando material para trabalhar em cima, tocar agora para ver como soaria e então partimos de onde tudo começa, desde a demo-tape. Dali também possivelmente teremos outras versões, mas alguns materiais nossos não

foram vistos por muitos em certas épocas, então pensamos também em rever coisas menos exploradas do Butchery Age, do próprio By the Grace of Evil e repensando como elas soam agora, com mais tecnologia, mais experiência por nós todos e assim vamos nos recriando de certo modo. As lives se tornaram uma tendência da situação


INTERVIEW . drowned

Para 2021, planejamos um material de inéditas

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atual em que vivemos. O quanto isso aproxima os fãs da banda? Acho que lives tocando têm um ponto interessante – permite uma pessoa ver o artista que normalmente não é tão simples de ver próximo de casa. Já as lives de bate-papo, normalmente facebook e Instagram eu acho que trazem outra perspectiva, que seria justamente essa proximidade com a pessoa/músico. Não exatamente com ele instrumentista, integrante de banda X ou Y, mas como é seu

modo de pensar, de se expressar etc. Acho ambas válidas. Acho que as lives de trocas de ideias mesmo fora do período de pandemia devem permanecer. Já as lives substituindo shows, talvez não se sustentem, porque o evento musical ganhando novamente as ruas, imagina-se que as pessoas tenderam a voltar ao dito normal. Em relação a shows, muito se comenta na Europa de shows em drive-in. Seria essa a nova tendência


mundial? Acho que diria ser um “novo normal” transitório. Particularmente no Metal, esse modelo traz uma frieza não muito pertinente, mas vai saber, quem sabe agora ao invés de gritos para saber se estamos agradando, vamos nos medir pelo buzinaço (risos). Teremos material inédito em breve com a nova formação? Estamos trabalhando neste momento em cima de material novo. Há cerca de 4 ou 5 músicas em bom caminho.

Acredito que, contudo, não devamos lançar esse ano, até para se entender melhor o que diabos está acontecendo com o mundo. O provável é que devamos ter algo para o início do próximo ano e será um material forte, pelo que já observamos do que fizemos. Espero que todos venham a curtir. Para finalizar, quais os 10 álbuns que ajudaram a moldar a sonoridade do Drowned até os dias de hoje? Podemos dizer que os seguin-

tes discos são de muita importância pro nosso chão de fábrica: Carcass – Heartwork, Death – Symbolic, Iron Maiden – Powerslave, Sepultura – Schizophrenia, Entombed – Left Hand Path, Sarcófago – The Laws Of Scourge, Morbid Angel – Altars Of Madness, Metallica – Ride The Lightning, Slayer – Reign In Blood e Mutilator – Into The Strange. Com certeza há outros muito relevantes também, mas citando apenas 10, diria que estes aí não têm como errar, muito dessas fontes nos servimos.


note . RF COLLECTION IV

RF COLLECTION Coletânea física chega à sua quarta edição

por Maria Olívia // foto DIVULGAÇÃO

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niciativa da web rádio Rock Freeday, o projeto Rock Freeday Collection, desde 2016, reúne bandas de todo o Brasil. A ideia surgiu do fundador da rádio, Alexandre Afonso, com o objetivo de movimentar e dar mais visibilidade aos trabalhos autorais de bandas brasileiras que tocam na programação da rádio, e as mais pedidas pelo público. Apesar de o projeto

ter nascido em 2016, só um ano depois, começaram a ser distribuídos os primeiros cds, pela gravadora Voice Music. “O objetivo é divulgar as bandas de forma lógica. O cd é o nosso cartão de visita e a ideia nunca foi de ser um produto comercializado. Todo ano são distribuídas mil cópias gratuitas que vão para a mão de lojistas, produtores, jornalistas e várias outras

pessoas que trabalham com rock pesado no Brasil.”, revela Alexandre. Ao todo, 60 bandas brasileiras, conhecidas e desconhecidas, já passaram pela coletânea. Entre os nomes das três edições anteriores da coletânea estão bandas brasileiras como Soulspell, Machado de Einstein e King Bird. Nessa quarta edição, as 19 faixas da RF Collection conta com as


note . RF COLLECTION IV

bandas Torture Squad, Armored Dawn, About2crash, Avaken, Bastardz, Bella Utopia, Black Legacy, Black Swell, Caoscracia, Consciência Coletiva, Éboris, Inner Call, Killery, Leo Mascarenhas, Quantika, Rage in My eyes, Sanny Mazza, Sepulchral Voice e Sevencrows. O destaque dessa edição é a banda convidada Torture Squad. A banda paulista de Thrash Metal, abre a quarta edição da RF Collection com uma faixa inédita, “The Awakener”. O single é a versão em inglês para a música “O doutrinador”, lançado em fevereiro de 2020. “The Awakener é uma faixa especial e inédita do Torture, disponibilizada 22 // rock meeting // agosto . 2020

com exclusividade para a coletânea da rádio Rock Freeday, nosso parceiro de muitos anos, no Nordeste e no Brasil.” revela o baterista da Torture Squad, Amilcar Christófaro. Todos os anos, uma banda brasileira é convidada para ser a primeira faixa do cd. As outras bandas são selecionadas através da curadoria de Alexandre, o jornalista Thiago Mauro (TRM Press) e pelo músico e produtor Geo Benjamin (Alquímea). A quarta edição da coletânea conta também com o apoio do artista João Duarte (Armored Dawn, Metal Church, Kamelot, Angra) na arte da capa, trazendo uma ilustração que repre-


senta o atual momento que vivemos, alinhado força, impacto e representatividade das bandas que fazem parte da coletânea. “Em plena pandemia de corona vírus e de toda problemática do isolamento social, decidimos que a melhor forma de manter as bandas em evidência, e sobretudo, vivas no mercado da música, seria justamente divulgando seus recentes trabalhos para o público-alvo.”, comenta Alexandre. A Rock Freeday Collection foi distribuída todos os anos desde o lançamento, exceto no ano de 2019. Apesar de estarmos vivendo um momento atípico por causa da pandemia, este ano a rádio Rock Freeday resolveu apostar.


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INTERVIEW

FABIO

ARAÚJO de um hobbie à profissão e grandes nomes do Heavy Metal mundial procurando por suas artes por renato sanson // foto Divulgação


interview . FABIO ARAÚJO

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uitas vezes o hobbie acaba virando profissão, pois o talento transcende a nossa personalidade e perspectiva de algo que estava oculto em nós mesmos. O designer Fabio Araújo traz isso à tona, de um hobbie à profissão e grandes nomes do Heavy Metal mundial procurando por suas artes. Conversamos com o mesmo sobre esse divisor de águas, inspirações e qual arte entregaria ao “dono” do mundo para salvar a humanidade.

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Fabio, você está na ativa desde 2008 e algo que chama muito a atenção em sua trajetória é que você é um designer autodidata. O que te inspirou neste mundo das artes? Bom, sempre gostei de arte, tanto no desenho quanto nas colagens. Quando criança sempre participava de concursos de arte na escola, até ganhei alguns! Outra coisa que me inspira muito até hoje são desenhos animados, filmes sejam curtas ou longas, porém, posso dizer que o carro-chefe foram os games, em especial os cenários dos games de RPG’s como Diablo e Castlevânia.

Qual foi a sua primeira capa oficial? Meu primeiro trabalho foi a capa que criei para o Single “Liberte Seus Instintos” da banda de Hard Rock paulistana Impéria, em fevereiro de 2017. Em 2012, você criou a Art Studio Design, destinada a criações de capas e lyric vídeos. O que mudou de lá para cá? Na verdade, a Art Studio foi criada para separar o hobbie do profissional, para definir uma marca, um nome no mercado. Desde então, muita coisa mudou, o que era apenas “brincadeira”, tornou-se algo profissional, uma fonte de renda. Mas principalmente, me proporciona trabalhar com ídolos e bandas que curto! Como funciona o seu processo criativo? As ideias surgem de livros, filmes, séries... Por ser nerd, consumo muito da cultura pop, assisto bastante, leio e me inspiro tam-


interview . fabio araújo

bém em games! Meu escritor favorito sempre foi Stephen King meu livro preferido sempre foi “Cemitério Maldito”, depois vieram: Tolkien, George Martin e L.J. Smith. Os artistas em si, opinam muito em relação as artes ou deixam você livre para criar? Na maioria das vezes fico livre para criar, mas tem sim muitos artistas e bandas que já tem uma ideia concebida, porém, na maioria das vezes que isso ocorre, eu ainda consigo propor uma outra ideia, até porque nem sempre eles têm 28 // rock meeting // agosto . 2020

a visão que um designer tem. Edu Falaschi, Soulspell, Zack Stevens dentre outros. Nesses pouco mais de doze anos grandes artistas surgiram. Você conseguiria nos elencar as suas artes preferidas e por quê? É bem difícil fazer isso, porque cada arte foi concebida como que um filho! Mas tem sim aquelas em que você trabalhou com um ânimo a mais, não pela grana, mas por se tratar de para quem era esse trabalho. Mas uma das artes que posso dizer que gosto


bastante é a capa do tributo ao grande Billy Oceans, o single “On The Run” em versão metal lançado pela banda brasileira Ego Absence. Cite para nós o seu top five de artistas nacionais e internacionais que no qual você sonha em fazer uma arte ou lyric vídeo. Seria demais trabalhar com essas bandas! 1- Kamelot 2- Epica 3- Evergrey 4- Korzus 5- Shadowside Dentre todos os artistas Se você fosse escolhido gráficos que surgiram nos para entregar ao dono últimos anos, você tem al- do mundo uma arte para gum preferido? salvar a humanidade, que Sou fã demais do trabalho do mensagem este trabalho colombiano Carlos Quevedo. em si teria? Ele é um cara de uma técnica incrível! O trabalho do cara é Com certeza, seria uma arte inspirador!

com inspiração no amor, no respeito e na compaixão, que

Quais são suas referên- é o que está em falta no noscias neste meio artístico? so tempo. Fala-se muito em

Com certeza tenho dois caras “amor ao próximo”, porém, na que sigo e sempre me inspimaioria das vezes esse “próxiram, um é o grande Gustavo mo” é apenas aquele que está Sazes e o outro é o mestre perto, mas o “próximo” citado Carlos Fides. Para mim, são os grandes nomes brasileiros na frase é todo ser humano no mundo.

necessitado de atenção.


INTERVIEW

ISABELE MIRANDA 150 dias de pandemia. Como a assessoria musical estรก se virando nessa quarentena por augusto hunter foto Kadu Nakaguishi

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interview . isabele miranda

S

ão 150 dias. 150 dias em casa, sem eventos para correr, sem qualquer tipo de movimentação no setor Cultural. 150 dias tendo um artista para assessorar um trajeto completamente vazio no ano de 2020. Pra saber como está sendo esse período no mercado e um pouco mais, conversamos com a Isabele Miranda, a assessora do Korzus e apresentadora do Sonoridades. Isabele, primeiro obrigado por conversar conosco, antes de entrarmos no ponto principal, fala para gente, como você começou a sua carreira? Isabele - Eu quem agradeço à Rock Meeting pelo convite e disponibilidade de sempre.

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interview . isabele Miranda

Sobre minha carreira, comecei cedo. Desde criança na minha inocência infantil já ficava imaginando como as pessoas faziam para estar ali “dentro da TV”. Com o tempo, por influência do meu pai, que também é jornalista, mais ou menos aos 14 anos acabei começando escrever pequenas notas para o jornal local e textos sobre moda e entretenimento, paralelamente estudava música numa escola. Isso foi se aprimorando junto ao meu gosto musical voltado ao rock e metal, até que me formei no curso de Marketing e comecei juntar o útil ao agradável. Eu fazia entrevistas gravadas para um outro site de Metal, hoje também bastante conhecido. Meu primeiro cliente de verdade foi o Marcello Pompeu, já como 34 // rock meeting // agosto . 2020


Se você não estivesse fazendo isso, qual seria a sua opção profissional? assessora de imprensa. Se eu não estivesse fazendo isso, eu não consigo imaginar Você sofreu muito pre- o que estaria fazendo, mas talconceito, ao externar a vez pudesse ter cursado medisua vontade em seguir cina (risos) a carreira de Assessoria Musical? No mundo da Música e Sim, houve situações. Primei- Cultura, você deve colero porque, quando comecei cionar experiências, poa trabalhar com isso, sendo deria falar uma muito boa sulista, sofri algum tipo de re- e seu contraponto exato? pressão por parte de alguns De fato, a gente está sempre profissionais do meio que em um networking constante. questionavam: “Ela é lá do Posso dizer que fiquei bastanSul, por está vindo competir te emocionada assistindo a conosco aqui em SP?” - ouvi live do Korzus dias atrás, pelo isso algumas vezes, mas rea- planejamento todo que teve, firmo, foram casos isolados pela emoção do show, mas a e pontuais. Assim como de- parte da experiência mesmo, terminada banda, em que o foi ter que ver tudo isso de lonmembro principal não aceita- ge e não poder estar presente va as orientações de uma as- em função do fator pandemia. sessora “mulher” e chegou até Outra experiência que consia me intimidar com palavras. dero bastante interessante foi Ou seja, xenofobia, sabota- ter conhecido o Michael Kisgem e machismo por parte de ke, que é um grande ídolo pra pessoas com quem trabalhei mim, me levou às lágrimas e no passado. Pela primeira vez ele num gesto de empatia saestou falando sobre isso. cou seu próprio celular e pe-


interview . isabele Miranda

diu para tirar uma foto comigo. Foi muito emocionante. E também a forma como conheci Blaze Bayley, artista para o qual também trabalho hoje. Mudando de assunto, como tem sido esse período de pandemia? Perdeu clientes, conseguiu novos, o que tem feito para a manutenção de seus contratos? O fator pandemia pra todos 36 // rock meeting // agosto . 2020

nós foi algo totalmente inesperado e devastador. Estou morando em São Paulo e viajei para passar o carnaval com meus pais no interior do Paraná, e não voltei para São Paulo desde então. Num primeiro momento foi muito complicado, pois meus assessorados perderam suas rendas fixas, e compreensivelmente precisaram dar uma pausa nos trabalhos com a assessoria. Após dois meses a vida vem

“retomando” gradativamente de certa forma, e outros assessorados começaram a pedir pelos serviços. No momento é importante dizer que o serviço de assessoria é muito válido, pois estamos plantando à médio prazo algo que virá a emergir. Tão logo a pandemia passe, com o ressurgimento do entretenimento. Outra coisa importante: as pessoas têm estado mais em casa, sendo que as redes sociais são


acessadas com frequência fenomenal o que colabora efetivamente para que o material das bandas seja mais visto, assim é imperial o serviço de assessoria na manutenção e atualização de conteúdos das bandas assessoradas. Fazendo uma análise mais fria desses 150 dias, qual o saldo até esse momento? Muito boa pergunta! Os dias

foram e tem sido muito desafiadores, mas este é o momento de você começar a co-criar os tipos de projeções que almeja, e essa seria uma dica que eu daria. Ponha no papel, planeje e execute. Tenha visão de futuro. Temos feito isso com os assessorados, e uma vez que voltemos ao normal estaremos adiantados. Você como parte da assessoria, de um modo geral, como tem sido esse trabalho diante

do momento pandêmico? O que foi preciso fazer para se adaptar e continuar atuando? O que mudou na sua rotina? De modo geral continuo no home office já como antes, nesse âmbito nada mudou. Mas a demanda cresceu bastante e precisei de ajuda de outro profissional para atender melhor. Para me adaptar desde o inicio da pandemia fiz vários cursos de atualização na área e entregar algo


interview . isabele Miranda

diferente da assessoria convencional. Tenho feito consultorias online com alguns artistas e o foco geralmente é assessoria, marketing pessoal, performance, figurino e redes sociais, isso tem me dado bastante respaldo e quem passou por esse processo gostou muito. O que mudou para mim foi na gravação do Sonoridades (programa do qual faço parte junto ao Maurício Java) estamos fazendo tudo remotamente. Dentre os seus clientes, como você avalia o seu trabalho nesses 150 dias? O que você tem feito para manter o nome deles na mídia especializada? Como anteriormente dito, a demanda aumentou muito, pois é um momento para buscar material criativo de carga positiva, de maneira a anular um pouco dessa negatividade toda pela qual estamos passando. Temos investido em mensagens positivas e de bom tom, conteúdos remotos, 38 // rock meeting // agosto . 2020

lives, collabs, matérias e tudo isso tem garantido a imagem deles muito solidificada na mídia. Hoje você faz a assessoria do Korzus. Você teve algum problema com contratante, percebeu algum tipo de preconceito pela posição no qual você assume? Sobre o Korzus é uma ban-

da que eu respeito e admiro muito, trabalho com o Marcello Pompeu há três anos e foi a pessoa que acreditou e confiou no meu trabalho desde o início. Com contratantes dessa área eu não cuido, mas sobre preconceito na verdade penso que seja mais inveja do que preconceito. A gente sempre acaba conquistando uns “fãs” (haters) que gostariam de poder fazer esse serviço.


Creio que tem espaço para todos e cada um que se dedicar profissionalmente terá suas chances e méritos também. No geral, eu procuro sempre atender o melhor possível as pessoas que vem em busca de algum tipo de serviço que o Korzus possa oferecer, e isso me dá uma base sólida no relacionamento com outras pessoas. Ainda sobre o Korzus, eles lançaram uma blusa para apoiar a equipe que trabalha junto da banda. Como foi a venda e deu para ajudar legal? Verdade! Foi uma ideia do Antonio (Araújo) que juntamente com seu amigo, Alcides Burn, desenvolveram a arte e fizemos essa ação da camise-


interview . isabele Miranda

ta “Support The Crew” vendemos uma quantidade boa e creio que poderemos contribuir com a banda e equipe com essa iniciativa inovadora e linda. Você agora está envolvida também no projeto do documentário em memória ao Maestro André Matos, como está sendo para você esse envolvimento? Foi muito natural, pois venho participando desde o embrião, 40 // rock meeting // agosto . 2020

pelo bate papo, deixe aqui um recado e até mais. Eu sou grata à toda equipe Rock Meeting, é um prazer poder fazer parte desta edição levando um pouquinho da minha história e trabalho, espero e desejo que esse momento histórico, o qual estamos vivenciando passe logo e que possamos compartilhar apenas os saldos positivos. Que todos fiquem bem. E nos vemos em algum show por aí! Obrigado pelo tempo e Até lá!

quando o Anderson Bellini teve essa ideia incrível e idealizou isso tudo. Num primeiro momento estive em algumas gravações participando, agora num segundo momento sou apresentadora do “AM- Doc News” que é nosso jornal, que conta algumas novidades para os fãs e para aqueles que estão ansiosos pela estreia do documentário, garanto que muita gente irá se surpreender.



Metal . mind reflections

TIOZÕES DO METAL Somos reacionários? por marcos garcia // foto Marta Ayora

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onversando com um amigo, por estes dias, soube que está existindo uma nova corrente de pensamento dentro do Metal: chamar os headbangers mais velhos (os que têm mais de 35 anos de idade) de “reacionários”. No fundo, porque muitos vivem com o pensamento de “Metal bom era nos anos 80”, e desprezando tudo que é posterior a isso. Então, acho que estou sendo agredido. Tenho 50 anos de idade, e 35 de Metal nas costas (e isso apenas como fã assumido do gênero, pois se for contar desde quando ouço Rock, vai passar dos 40 anos fácil, fácil). Começando. É preciso deixar algo claro: o termo “reacionário” tem muitos significados, e é ofensivo demais.

42 // rock meeting // agosto . 2020

Em uma pesquisa no Google, a definição, em termos de ciências políticas, é “que ou aquele que defende princípios ultraconservadores, contrários à evolução política ou social”. Acredito que seja essa a definição aplicada nesses casos. Óbvio que essa história de “Metal bom é dos 80 para trás” é uma falácia. Muita coisa boa foi feita depois disso, e ainda é feita. E tal pensamento é tão errado que, levado ao pé da letra, desmerece todas as bandas de Metal que possa pensar, inclusive as retrô. Sim, pois se a afirmativa é correta, qualquer banda que começou depois disso é um lixo, mesmo as que tentam emular o som dos anos 70 e 80 hoje em dia. Exagerando mais um pouco, mesmo as que são antigas e estão na ativa não lançam nada que preste depois dos 80. É, esse pensamento termina nisso. Mas como já citado, não passa de uma falácia.



Metal . mind reflections

Independente de gostos, muita coisa boa em termos de Metal vem sendo feito de 1990 para cá. O ressurgimento do Death Metal e do Black Metal nos anos 90, já com um novo formato sonoro, é uma prova disso; o Groove Metal inaugurado pelo Pantera, a popularização do Metal Industrial de bandas como Ministry e Fear Factory (em que pese que as raízes do gênero estão nos anos 80); a criação dos gêneros sinfônicos; e o nascimento das tendências modernas são evidências de um gênero que se recicla, que se renova e vai adiante. E isso é bom, que as pessoas gostem ou não (sem44 // rock meeting // agosto . 2020

pre vai existir um fã para o que quer que seja). Mas ao mesmo tempo, não se pode negar o valor da velha guarda, de sua importância. Sem o passado não existiria presente, e assim, nada de futuro. Muitos “reacionários” comeram o pão que o diabo amassou nas mãos de pais, famílias, sociedade e outros por gostarem de uma música socialmente mal vista (e que continua sendo assim). Enquanto tiozão que sou (na realidade, pode ser que acabe chegando a avô do Metal em alguns anos), ainda me sinto o mesmo fã de bandas dos anos 70 e 80 que era


entre 1985 e 1990. Mas soube assimilar que os tempos mudaram, e gosto de bandas pós-1980. E a música mudou. Um exemplo: o Kreator começou como uma banda de Death/Black Metal que virou Thrash Metal depois (que foi um movimento que ocorreu bastante depois de 1986). Amo “Endless Pain” e “Pleasure to Kill” do jeito que são e prefiro até o que fizeram entre “Renewal” e “Endoram”a aos clássicos “Terrible Certainty” e “Extreme Aggression”. E adoro a fase de “Violent Revolution” para cá (especialmente os 3 últimos). Vocês entendem isso? Nem eu, gosto é coisa mesmo individual, e não necessita de explicações. Agora, o cúmulo do absurdo: um cara mais velho que curte Grave Digger (banda dos anos 80) ser chamado de reacionário por preferir a banda, sendo que o agressor é um jovem que ama Greta Van Fleet, banda que copia o Led Zeppelin. Coerência para quê, não é? Ah, sim: sabiam que são os mais velhinhos que ainda mantém a indústria musical rodando, pois são os que pagam pelas bandas que gostam, seja no Spotify ou mesmo discos físicos? Uma boa parte dos mais jovens não possui esse costume e adora downloads ilegais. Digital, para nós, é como as antigas fitas K7: ouviu, gostou, compra o disco; não gostou, deixa para lá. No fundo, ambos os lados têm pontos positivos e

negativos, e uma boa conversa poderia ajudar bastante a compreensão mútua. Mas seria interessante parar com concepções radicais demais, não transformar opinião (a qual todos têm direito) em regras, e ficar espalhando isso pela internet e cenário. Ah, você faz isso por ideologia de fundo político? Pelo que me consta, Mille do Kreator (que tem tendências ideológicas de esquerda) é fanático pelo Kiss (Gene Simmons e Paul Stanley estão bem longe desse tipo de coisa). Creio que procurar coerência ideológica nos músicos que gosta com o que você pensa me soa absurdo...


INTERVIEW

BASTTARDZ um dos nomes mais proeminentes do cenรกrio Hardcore Nacional TEXTO Augusto hunter // Foto Caio Marvรฃo

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interview . basttardz

U

ma banda com uma sonoridade incrível e sim, vai despontar sim como um dos nomes mais proeminentes do cenário Hardcore Nacional, o Basttardz está vindo com força, dá uma lida nessa entrevista incrível com o Andrézão (vocalista) e se liguem no som dos caras. Com a palavra, Andrézão e o Basttardz. Como foi que o Basttardz nasceu, de quem foi a ideia e como tudo aconteceu? André Nadler - Para quem gosta da adrenalina de subir nos palcos, acredito que ficar sem tocar se torna uma espécie de “processo de abstinência” e a sensação de estar faltando alguma coisa no seu cotidiano é enorme quando você está por fora das gigs. A Basttardz surgiu desse sentimento, pois tive uma conversa com o Texugo - que é meu 48 // rock meeting // agosto . 2020

irmão e baixista da banda – durante a segunda metade de 2019. Estávamos fora das atividades musicais por mais de um ano e pensamos que seria interessante criar um projeto juntos. Eu e o Texugo (baixo) criamos as ideias iniciais e estudamos alguns pontos que queríamos trabalhar em específico. Cantar em português para passar uma mensagem mais direta ao público próximo da gente, abordar uma linguagem de protesto inspirada no punk/hardcore de bandas como o Cólera, Ratos de Porão e Surra e até o surgimento do nome “Basttardz” para fazer uma brincadeira com o fato da americanização das bandas brasileiras que cantam em inglês e não têm domínio da língua estrangeira. Tudo isso foi sendo criado aos poucos entre nós durante reuniões que fazíamos aqui na nossa casa. Na sequência, nos unimos ao Francis (guitarra) e o Topeira (bateria) para fazer os primeiros ensaios e lem-



interview . basttardz

bro que a partir daí o nosso foco passou a ser ir de contrário aos comentários dos rockistas mais conservadores que falavam que “não se pode misturar rock com política e protestos”. A partir disso, escrevemos o disco “Brasil com Z”, uma espécie de álbum temático onde a gente narra o estado de colapso que nosso país vive. A ideia da banda sempre foi o Hardcore/Crossover ou vocês chegaram nesse som acidentalmente? Desde o começo da banda, a nossa meta era a criação de um som sujo, direto e que fizesse parte de um movimento musical que nos desse a liberdade de expressão necessária para a gente poder falar sobre a coisas que queríamos. Sendo assim, o hardcore caiu com uma luva e o nosso lado mais crossover chegou para somar por causa das raízes musicais 50 // rock meeting // agosto . 2020


foto Rogério Sousa

da maioria dos integrantes estarem também no thrash metal, daí acabamos fazendo uma fusão de várias coisas que resultou na sonoridade desse disco de estreia da banda.

Pedro Anselmo - Guitarrista do Lasting Maze

ao estilo na faixa “Malditos Bastardos” - onde no meio da canção fizemos uma levada mais hip hop com participação do DJ Allvdin - e também no final da faixa “Corra que a Polícia Vem Aí”, que colocaAs influências da banda mos um sample inspirado na são claras nos clássicos música “Fuck The Police”, do do Hardcore e do Thrash, N.W.A. teria mais alguma influência a se destacar? Brasil com Z é um disco Acho que nossas maiores ins- cheio de letras politizadas pirações são bandas como o e de ataque direto, como Ratos de Porão, D.F.C, Surra foi a composição? e Cólera, mas indo além do Veja bem, todas as letras desóbvio, nós temos uma certa se disco falam de problemas influência de alguns artistas atemporais do Brasil. Basdo hip hop nacional como o ta um pouco de bom senso, Racionais, Facção Central, consciência e um olhar mais Black Alien e Sabotage. crítico ao seu redor para en O rap do Brasil me tender que não foi difícil esajudou bastante na hora de crever, por exemplo, a parte escrever as nossas músicas lírica de uma canção como justamente por ser um estilo “Alfabetização”. É só observar musical, que assim como o um país onde os políticos não punk e o hardcore, também investem em educação para falam do caos e da realidade manter o povo nas rédeas e decadente que o país apresen- proporcionam o pão e circo ta. A velocidade que precisei de sempre para manter a podesenvolver para cantar as ri- pulação anestesiada que fica mas que criamos também faz fácil compor uma letra dessas. parte dessa influência que te- Faltou foi espaço nesse álbum mos. para falar sobre o que esses fi Vale destacar que a lhos da p*** do poder fazem gente faz uma homenagem com o brasileiro.


interview . basttardz

A intenção da gente sempre foi ser bem direto nos versos e na mensagem que passamos para quem for nos escutar. Inclusive aproveitamos para deixar claro que se você compactua com o conservadorismo e os ideais preconceituosos do atual governo, não ouça a Basttardz e nem espere nada da gente. A sonoridade de Brasil com Z é incrível, eu curti muito o resultado final, o trabalho de produção do disco foi tranquilo? 52 // rock meeting // agosto . 2020

Entramos no estúdio com o nosso amigo e produtor musical maranhense Ruan Cruz, responsável pelo estúdio Km4 Produções, com algumas ideias em mente e influências musicais para colocarmos na mesa, mas o resultado final realmente foi impressionante para nós mesmos. É comum entre todos os integrantes da Basttardz que a atuação do Ruan foi essencial para chegarmos em um denominador comum em relação aos timbres dos instrumentos, processo de mixa-

gem e até em algumas rimas do disco. Ele acabou se tornando um quinto integrante da banda e acho que um fator crucial para a sonoridade do disco se tornar agradável foi a liberdade que tivemos dentro do estúdio dele para testarmos elementos e possibilidades. Em duas músicas do disco, vocês contam com a participação do Allvdin, como vocês chegaram nele e como foi essa experiência?


O Allvdin faz parte de vários projetos musicais importantes de São Luís e também é nosso amigo das antigas. A chegada dele no disco surgiu porque, para dar vida ao “Brasil com Z”, queríamos nos permitir ao máximo para trazer elementos diferentes ao nosso som e romper alguns pensamentos em relação ao que poderíamos usar para ousar nesse trabalho, mas sem perder a essência do hardcore/crossover. Em “Corra Que a Polícia Vem Aí” e “Malditos Bastardos”, contamos muito com o talento do Allvdin e como

ele é um cara que tem uma experiência grande com hip hop tudo correu bem. O trabalho dele com os irmãos da banda maranhense Casa Loca, por exemplo, contou bastante para somar com o que foi inserido na participação do Allvdin na Basttardz, eu acredito. Na minha opinião, é um dos DJ’s mais importantes da capital maranhense. Vocês são oriundos da terra conhecida como “jamaica brasileira”. O cenário Rock/Metal em São Luís, tá indo bem, como vocês nos falariam sobre

o cenário maranhense? O cenário da música pesada no Maranhão tem muita história pra contar. Dias de luta e dias de glória, como diria o Chorão do CBJR. (risos). Assim como qualquer outro lugar nesse Brasil, temos pontos positivos e negativos rolando na cena. Temos bandas talentosas, antigas e novas, mas também temos muita gente tentando fazer o bonde não seguir e sendo um atraso para o rolê. Recentemente, em meio ao período de pandemia por causa do novo coronavírus, o circuito musical ma-


interview . basttardz

ranhense fez algo que talvez não aconteceu em nenhum outro lugar do país. Quatro sábados de lives com várias bandas da cidade e que teve transmissão para a tv aberta e para o youtube. O Quarentena Rock foi incrível e me fez acreditar que ainda existe um trabalho engajado através de uma construção coletiva dentro do underground, que envolveu bandas, produtores, público, etc. Eu curti muito o disco de vocês, mas PIGN (Pequenas Igrejas, Grandes Negócios) e Fogo na Zona Sul se destacaram pra mim, como vocês chegaram nas letras? A gente decidiu escrever “Pequenas Igrejas, Grandes Negócios” depois de ler em uma pesquisa que a profissão de pastor era uma das cinco áreas de trabalho mais promissoras do Brasil. E o que falar de um sistema sanguessuga que se aproveita da fé das pessoas que se encontram fragilizadas para comer o cérebro e o dinheiro delas, né? 54 // rock meeting // agosto . 2020

Não é preciso muito esforço para ver o movimento cristão apoiando os ideais preconceituosos e dando suporte ao discurso de ódio do atual presidente (aquele que não devemos invocar o nome). É ridículo ver os fieis de uma religião que tanto fala de amor e igualdade, fazendo o “sinalzinho de arma” com a mão dentro de um culto. Já sobre “Fogo na Zona

Sul”, o propósito foi falar sobre a desigualdade social e essa espécie de “fetiche” que o rico tem em ver o pobre se fud**. Nada contra, tenho até amigos que são (risos), mas as pessoas que possuem mais são ludibriadas pela ideia que são melhores só por causa do poder aquisitivo e justificando esse desequilíbrio com a tal da meritocracia. Partindo desse ponto, fica fácil enxer-


fotos Rogério Sousa

gar como a desigualdade social tem transformado a vida cuja a distância a percorrer e obstáculos não são os mesmos para todos. E esse problema se torna um abismo que separa os que ostentam e os que nada têm, um sintoma derivado de uma sociedade extremamente doente e egocêntrica, com valores distorcidos. Me pergunto como pode a maior pobreza morar junto da maior riqueza, pois o mesmo rico que ostenta dinheiro, também ostenta ignorância e falta de consciência. Como é pra vocês, serem uma banda do underground, fora do “circuito”? Se a visão for aquela de que estamos longe do eixo São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais, talvez seja um problema pelo Maranhão ser bem afastado desses estados que mencionei. Todavia, acho que com a inter-


interview . basttardz

foto breno video

ficou, depois do M.O.A e todo aquele problema que o festival teve naquele período? Na minha opinião, o Metal Open Air fez com que várias pessoas encontrassem São Luís no mapa. É fato que aconteceram vários problemas por diversos motivos e acabou que o evento não aconteceu como deveria, mas o que me chamou a atenção foi a quantidade de pessoas que pensavam que o Maranhão se situava na Uma curiosidade minha região Norte ou que São Luís sobre o cenário Mara- ficava na Ilha do Marajó. nhense é saber como ele Há boatos que quando net e algumas outras coisas, essa distância pode ser resolvida. Na contramão disso, temos muito orgulho de fazermos parte do cenário do hardcore Nordestino. Nos últimos dias, a coletânea “Nordeste em Chamas” reuniu mais de 100 bandas do estilo e me faz observar que a nossa região continua sendo fundamental na produção do cenário artístico do Brasil.

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a pandemia de Covid-19 passar, um provável Metal Open Air 2 acontecerá. Vamos esperar os próximos episódios dessa história... Obrigado pelo tempo, deixem um recado aí pros leitores da Rock Meeting e mandem ver. Agradecemos aos leitores que gastaram seu tempo lendo a entrevista e caso você tenha gostado do que foi falado acima, basta seguir o Instagram e ficar por dentro do nosso trabalho. Fogo nos facistas!



CAPA

MIKE GASPAR

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sem contar detalhes de sua saĂ­da, mike gaspar, ex baterista do moonspell, fala de sua carreira e do futuro por renato sanson & Uillian Vargas foto pei fon


capa . mike gaspar

English Version

Recentemente foi anunciado sua saída do Moonspell. Mais de vinte anos de história e muitas conquistas. Como você está se vendo neste momento? Muito obrigado por esta entrevista antes de tudo. Tenho que dizer este ano tem sido uma viagem louca do qual nunca esperei. Nós todos estamos sofrendo a volta do mundo e adaptando a esta nova realidade. Não estou sozinho e o apoio dos amigos, família e fãs são impressionantes. Nunca imaginei ter um impacto tão grande nas vidas de quem me ouvia e seguia nestes 28 anos. Tenho muito orgulho de tudo que fiz e as experiências que tive foram inesquecíveis. Fiz 60 // rock meeting // agosto . 2020

o impossível neste meio. Alcancei o imaginável. Vindo de Portugal, todos achavam que era impossível penetrar o mercado do metal. Espero agora poder voltar a fazê-lo e ajudar com a minha experiência e conhecimento por mais bandas lusas no mapa internacional. Algo que sempre quis e que me deixava confuso às vezes, porque não podemos ser como uma Finlândia, Suécia, Alemanha, Estados Unidos mesmo o Brasil com tantas bandas reconhecidas. A união e esforço é essencial. Vamos seguir em frente e apoiar a nossa música. Nunca me senti confortável em ter uma única banda reconhecida de Portugal! Vamos evoluir e sonhar para um futuro melhor para todos. No Metal e esta vida assustadora que atravessamos.



capa . mike gaspar

Novos projetos surgirão. O que podemos esperar de “Mike Storm” daqui para frente? Felizmente encontrei um grupo de músicos muito talentosos. O apoio deles tem sido excepcional. Como eles dizem: não vamos deixar você ir abaixo e nem desistir. Sendo baterista sempre toquei por uma causa e algo maior que eu. Adoro o meu instrumento, mas adoro mais criar músicas e canções que mudem as vidas das pessoas. Ou que simplesmente ajude a passar aquele dia ruim. Tenho uma ligação forte com o público e gosto de os sentir vibrar com um sorriso na cara. No fim do dia isso é que interessa. Vou 62 // rock meeting // agosto . 2020


foto marta ayora

tentar seguir o mesmo rumo que sempre fiz, Metal Gótico talvez outras influências. Com a idade fico um pouco nostálgico e lembro das grandes bandas dos anos 80. Mas acima de tudo o que sinto com os poucos ensaios que fiz é poder épico misturado com muita melodia. Não engana sermos do sul da Europa por isso vai ser sempre apaixonante com alma e força metaleira!

Não teria como não mencionar o seu último trabalho com o Moonspell, o álbum “1755” relatando uma história trágica que arrasou Lisboa. O quanto foi importante este álbum para sua carreira? Marcou para mim o fim do ciclo. Fico contente de ter sido na nossa língua que prova que não só o inglês funciona no metal. Poder partilhar a nossa grande história e um acontecimento que mudou o mundo e a sua mentalidade. Foi a partir desse dia que se deu mais

importância a ciência e o pensamento e a força humana. Antes esperava-se que Deus resolvesse tudo. Não é bem assim. Temos que ter fé em nós e o que nos rodeia. Acima de tudo respeitar a natureza e coexistir com ela. Na verdade, o que estamos passando agora é um ano marcante como o 1755. O COVID 19 e este ano nunca mais serão esquecidos e se não mudarmos o nosso comportamento, nossa maneira de estar na vida, na terra com os outros, podemos não sobreviver. Isto só veio mostrar o quanto sensível somos e o quanto necessitamos de todos. Apesar de “1755” ser contextualizado pelo terremoto que devastou Lisboa, é sensível a percepção de uma mensagem muito forte de reconstrução nesse disco. Como você acredita que será a nossa reconstrução após a pandemia COVID-19? Vai ser longa pelo o que estou


capa . mike gaspar

percebendo. Muitos acham que passará logo, mas todas as pandemias na história mostraram o quanto marcou época. O que fazemos agora e como nos comportamos vai definir os próximos anos. Acho que temos que aprender a viver com isto. Todos os cuidados necessários vão ter que continuar. Não há outra maneira. Fico triste pela a geração mais nova especialmente 64 // rock meeting // agosto . 2020

as crianças que estão sendo roubadas das suas infâncias inocentes e liberdade. Como vão crescer e desenvolver depois disto? Só espero que isto nos traga mais qualidade de vida e que finalmente nos preocupamos com o que realmente interessa para vida. Como costumo dizer não adianta ser rico que quando faltar a água vai faltar para todos! Só unidos e lutando pelas diferenças

é que podemos assegurar um futuro melhor. Além da música em si, você é um esportista. Apaixonado por Taekwondo. Conte-nos mais sobre está paixão. Começou quando eu tinha 8 anos e ainda morava nos Estados Unidos. Praticava Taekwondo e jogava baseball era os meus esportes prefe-


ridos. Além da bateria é claro. Aos 12 anos vim morar em Portugal e me afastei um pouco dos esportes. Comecei a tocar com bandas e aos 16 anos entrei para o Moonspell e nunca mais parei de tocar. Em 1997, na altura do álbum “Sin”, veio a vontade de voltar a praticar Taekwondo e conheci o atual Mestre Daniel Rosito. Ele tinha acabado de chegar do Brasil, ele é de Porto Alegre. Comecei a praticar

e mesmo estando em tour ia praticando antes dos shows. Os anos passaram e em 2011 tornei-me professor e 4° Dan. Dei muitas aulas e foram tempo incríveis. Nem sei como consegui conciliar a banda, os treinos e aulas. Os últimos anos foram mais difíceis, mas nunca perdi o contato e nem o desejo de ensinar e continuar a evoluir. No começo deste ano voltei com força e espero ter muito tempo para

o Taekwondo Songahm que se tornou um pilar na minha vida e sem ela perco o meu equilíbrio. Mike, você poderia nos adiantar em que direção sonora seguira o seu novo projeto e quando teremos uma amostra do mesmo? O que posso dizer é que estou a reunir e aproveitar este tempo que a indústria infelizmente está toda parada. Para com-


capa . mike gaspar

felizmente encontrei um grupo de músicos muito talentosos. O apoio deles tem sido excepcional.

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por e encontrar o nosso rumo. Neste momento estamos na fase de jams sem compromisso, que era o que sentia falta. Bandas de garagem por alguma razão soam tão autênticas e cruas! Às vezes a indústria estraga o produto original. Quero sentir nas veias a música e a sua alma. Os arrepios não me enganam. Espero ter um teaser nos próximos meses e depois começar a corrida por uma gravadora. Adoraria ter uma que acreditasse neste projeto pela música e nada mais. Já passei por muitas e a

relação íntima entre o artista e o selo discográfico é uma grande parte do seu sucesso. Nada de bullshit. 2020 marca uma época de reflexão e melhorias com nós mesmos. Uma pandemia que assolou o mundo e de certa forma nos tirou da zona de conforto. O que você tem tirado de positivo desta situação atual do mundo? Curiosamente para mim foi algo que desejei há muito tempo. Abrandar o trabalho, es-


tar mais tempo com a família, conseguir me comunicar com amigos de longa data, melhorar os hábitos diários e a nossa saúde. Uma coisa simples que vejo nas pessoas. Já não vão correndo para os centros comerciais como antes. Optam por fazer um simples piquenique como nós fazíamos quando éramos crianças. Este mundo tem estado muito acelerado e queremos tudo imediatamente. Como o fast food por exemplo. Mas as coisas de qualidade e boas da vida por vezes demoram um pouco mais de tempo. Já não sabe-

mos esperar, já não sabemos nos comunicar em público, esquecemos do que nos rodeia. Estamos sempre a olhar para uma tela. Finalmente viu-se a natureza e a qualidade do ar melhorar. Por isso é possível fazer a diferença e este vírus veio provar isso. A capacidade humana de agir em tempo de crise. Vamos continuar, pois o que todos nós queremos é voltar aos palcos e ir aos shows como antes!

Disaffected, no “Rebirth” em 2012? Fui uma passagem rápida. Os conheço desde os anos 90! O baterista original é um grande amigo meu. Ele também tocou no primeiro álbum dos Decayed.

Minha

primeira

banda. Os membros de agora são diferentes, mas pediram minha ajuda para gravar um ritmo de percussão por cima de uma faixa. Fui tudo legal e rápido. Mas na correria da

Agora voltando um pou- minha vida não tive muito co no tempo, como foi tempo para elaborar. Espero ter trabalhado com a que tenha ficado bom.


capa . mike gaspar

Apesar de haver uma distinção entre os estilos, o Death Metal com pegadas mais progressivas que envolveu a Getting into the Labyrinth exigiu dinâmica musical mais diferenciada? Foi sempre uma banda muito exigente com músicos extraordinários. Sempre os admirei na origem da banda. Confesso que perdi um pouco de contato com eles. Só sei que estavam sempre tentando inovar e especialmente trazendo influências da banda Cynic, que tinham muita influência. Com algumas décadas de experiencia na música, qual foi a mudança mais significativa que a tecnologia te trouxe, como baterista? Sem dúvida o método de gravação. Sinto-me um dinossauro! Até ao “Butterfly Effect” foi tudo gravado em fita. Antigamente era impossível realizar os cortes nas partes gravadas. Quer dizer que se 68 // rock meeting // agosto . 2020

houvesse um erro era sempre preciso começar do princípio ou se houvesse uma pausa da bateria. Antes só a voz e guitarras é que se fazia isso. A bateria como era mais complexo devido a todos os microfones especialmente o continuar do timbre dos pratos. Tinha que estar tudo certo. Por vezes até se ouve alguns erros, mas quando o seu todo está bom pouco se importava. Gravar

em fita era dispendioso e demorava se muito tempo a gravação. Só os bateristas de estúdio é que talvez fossem mais rápidos. O “Wolfheart” passei 5 dias tocando das 10 da manhã até a meia noite e mesmo assim nunca estava bom (risos). O Waldemar o nosso produtor dizia constantemente “one more time” ... A tecnologia Pro Tools mudou o mundo da música. Ten-


fotos arquivo pessoal

to usar com o espírito da fita. Facilita imensamente e podemos entrar nas partes cortadas sem recomeçar do início. Depois cabe a cada um se abusa ou não das opções que tem. Eu pessoalmente tento sempre manter o mais próximo a realidade. Mas por vezes, devido a tempo ou facilidade, sempre se pode ajustar algumas coisas. A verdade é que somos humanos a ouvir música e detesto quando está tudo muito perfeito. A bateria bate como um coração para mim. Ela é como as emoções, que também saltam e são irregulares as vezes. Gosto de encontrar esse equilíbrio. Máquina/Homem.


INTERVIEW

BLOODY

VIOLENCE com nova formação, a banda gaúcha desafia a seguir em frente TEXTO Uillian Vargas // Foto Bruna Nunes

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interview . bloody violence

N

a ativa desde 2013, a banda Bloody Violence (hoje) é um power-trio daqueles de encher o peito de orgulho. Mergulharam profundamente no Technical Death Metal, buscaram referências nos mestres que já vinham fazendo esse som, se inspiraram nas delicadas relações da humanidade e seus mistérios para transformar essas experiências em sensações sonoras. Originalmente formada pelo quarteto Israel Savaris (baixo), Eduardo Polidori (bateria), Cantídio Fontes (vocal) e Igor Dornelles (guita), a banda teve que se reestruturar com a saído do vocal em 2015. O resultado desse capricho e dessa dedicação se percebe na precisão cirúrgica tocada nos discos e na energia impressionante dos shows. Conversamos com Igor (Guitarra – 8 string) sobre inspirações, momentos marcantes e o futuro da banda. Espero que gostem!

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Olá Igor, muito obrigado pela oportunidade de conhecer um pouco mais sobre a Bloody Violence. Gostaria de começar abordando a história da banda desde o início. Como surgiu a ideia da criação da Bloody Violence? Igor Dornelles - Antes de tudo, obrigado pelo convite para participar dessa entrevista, fico muito feliz. A Bloody Violence surgiu de uma inquietação que tive ao me perguntar ‘por que não fazer algum projeto onde eu coloque minha técnica ao limite extremo?’. Assim, criei o embrião do que seria a banda, já com riffs de canções que fazem parte do nosso EP Obliterate. Essa ideia surgiu em meados de 2012, e somente em abril/maio de 2013 convidei o nosso antigo vocalista Cantídio para participar da banda e, com isso, o Eduardo e Israel entraram depois, por indicação do Cantídio. Em junho, começamos a ensaiar já tendo uma apresentação ao lado da banda estadunidense Nile, no



interview . bloody violence

Bar Opinião em Porto Alegre, em dezembro, lançamos o EP logo depois disso, e já entramos em estúdio para gravar nosso full-lenght Divine Vermifuge, excursionando pelo estado do Rio Grande do Sul e São Paulo, além da Europa para divulgar a banda. Tivemos bastante trabalho e um objetivo muito claro desde o início. Quais foram as influências que ajudaram a definir o estilo, no momento de criar a banda? E como foi a aceitação do público referente ao som? Minhas influências são diversas, vou da música de concerto do século XVI ao Death metal extremo sem problema algum. Consigo passar pela música brasileira, ouvir jazz, blues, e absorver o que me interessa, sem preconceito musical. Dito isso, diria que todos esses gêneros musicais, mais a realidade ao meu re74 // rock meeting // agosto . 2020


dor, influenciam meus riffs de forma direta ou indireta, somado a coragem das bandas clássicas do gênero, que acreditaram no seu som mesmo com tanta gente dizendo que aquilo era ruim. Quando ouvi Viraemia e, principalmente, Psyopus, sabia que queria fazer algo nessa linha para levar minha técnica e musicalidade ao limite. O lineup original surgiu com 4 integrantes e depois acabou migrando para um trio. Como aconteceu essa mudança da formação? E como foi o processo de adaptação do vocal (ou os vocais)? Nosso antigo vocalista recebeu uma proposta de trabalho irrecusável, algo que seria realmente muito bom para a carreira dele. Foi algo bastante amistoso, não tinha como ele dizer não, e nem tínhamos o direito de pedir para ele ficar. A adaptação foi fruto de muito ensaio, treino e comprometimento. Afinal, tínhamos um mês de ensaio até os shows na Europa. Baixamos a cabeça e resolvemos ensaiar mais e mais para que tudo sa-

ísse da melhor maneira possível nos palcos. O Eduardo Polidori (batera) realizou as gravações iniciais e acabou tendo que sair. Depois de um ano fora de banda, ele retorna para estar no Host (2019). O retorno dele contribuiu com o novo disco ou a ideia já estava concebida? Com certeza. Essa formação tem uma química excelente, nos conhecemos como músicos, sabemos o que cada um faz e pode fazer com seu instrumento, e isso é fundamental para uma banda. O Eduardo conhece muito de música, e tem um know-how enorme, é um músico muito experiente da cena porto alegrense. Nós três temos influências distintas que se somam no processo criativo. Geralmente, envio para eles os esboços (que chamo de esqueleto) das peças, que depois viram nossas canções. Falando em ideias, quais foram as principais inspirações para o Divine Vermifuge (2015)? Algu-


interview . bloody violence ma razão especial para o disco iniciar com a fala do Dr. Manhattan? Ainda estávamos encontrando nossa voz. Tudo era válido, menos falar de guerras, satanismo e temas anticristãos, já existem muitas bandas que tratam desses assuntos, e os fazem muito bem. Não queríamos ser apenas mais uma banda, então fomos pensando em temas que nos agradavam, e acabamos criando um Discovery channel com esse disco (risos). As duas primeiras canções tratam sobre os perigos da energia atômica, porque na época tinha ocorrido aquele desastre em Fukushima, e criamos uma ligação com a segunda guerra também (daí o disco ter iniciado com a fala de Manhattan). “Mother of the Dying” fala sobre o possível tratamento que Madre Teresa dava para as freiras e enfermos de seu convento. “Sky Burial” narra o ritual que o povo tibetano realiza para cuidar dos corpos dos mortos no local. “Colares UFO Flap” fala sobre o caso OVNI mais conhecido mundialmente, ocorrido na cidade de Colares, e “The Faithmaker” trata dos casos de abusos sexuais de padres. 76 // rock meeting // agosto . 2020

Qual o momento mais marcante da Bloody Violence até hoje? Ou os momentos? A gravação dos discos nos estúdios Hurricane (Porto Alegre) e Sound Storm (Bento Gonçalves). A turnê europeia foi muito legal, crescemos muito como banda, amigos e profissionais naquele momento.

Underground do metal, acha que a tecnologia dos streamings mais ajudou ou atrapalhou as bandas? É um assunto interessante. Da mesma forma que ajuda, porque há a possibilidade, como banda e público, de alcançar locais que você nem imagina, há também o esvaziamento da importância nisso, do pertencimento, da coleção, que um material físico proporciona Como um habitante do para o fã. Hoje, as pessoas não


ele divulga o seu material de trabalho. Isso não pode fazer sentido.

dão muita chance para algo novo (seja um gênero musical, ou banda), porque existe a coleção completa das suas bandas favoritas a sua disposição. Como ouvinte, tento sair da bolha que os streamings me proporcionam (pois acabam sugerindo músicas parecidas com aquilo que acabei de ouvir), e vou a procura de novas sonoridades. Como músico, creio ser uma ferramenta de divulgação fantástica, porque

te possibilita, de forma rápida e ágil, enviar seu trabalho para locais longínquos, como já citei acima. Toda forma de propaganda é bem vinda, o que devemos nos questionar é se não há outros fatores atrapalhando as bandas. Esses fatores podem ser locais de shows, qualidade sonora das aparelhagens, banda despreparada no palco, e esse fator não pode ser o streaming, já que

Em 2019 vocês lançaram o Host. A capa é simplesmente genial e permite perspectivas diferentes. Pode falar um pouco sobre a concepção do disco e como isso se alinhou com o design da capa? Quando comecei a esboçar os riffs para esse disco, sabia onde queria chegar. Gostaria de um disco conceitual, e foi isso o que fizemos. O hospedeiro (Host-2019) que se encontra em todos nós é a loucura que há dentro de cada um, nos proporcionando desejos perversos, suicidas, ou até felicidade em meio a tanta coisa ruim que acontece no “mundo real”. Cada canção trata de uma forma de loucura (ou fuga da realidade) específica, e como os outros acabam vendo os “mentalmente debilitados”. A capa foi uma ideia que tive, e sabia que Marcos Miller seria o artista ideal para colocar isso em prática. As perspectivas diferentes que você citou é justamente os pontos de vistas que cada pessoa tem dos momentos que vivem, não


interview . bloody violence

há apenas uma realidade, uma verdade absoluta. Há um emaranhado de realidades, de ângulos diferentes, de visões, sensações e momentos. Aliás talvez o disco diga muito mais dos tempos atuais que vivemos, do que quando a ideia foi concebida, enfim “enclausurados”. Achas que todo hospedeiro encontra na loucura uma porta de fuga? (entrevista realizada no período de quarentena 78 // rock meeting // agosto . 2020

– covid19). Muito legal você ter falado isso, porque minha intenção como artista é criar obras atemporais, que dialogam com o momento que o ouvinte esteja apreciando meu trabalho. Estamos enclausurados o tempo todo, não somente quando estamos em quarentena. Enclausurados pelas nossas agendas de compromissos, nossos deveres, nossa “obrigação de vencer na vida”, nossa profissão, estudos, e desejos não con-

trolados. A loucura pode, sim, ser uma porta de fuga para a realidade que construímos ao longo de nossa trajetória, mas também pode ser mais uma maneira de nos enclausurarmos, mas desta vez num mundo platônico, mas, como disse Erasmo de Roterdão no livro O elogio da loucura “...é preciso dizer que ser louco é a única possibilidade de ser sadio nesse mundo doente”. Ou seja, talvez a única forma de encararmos esse mundo é


sem perguntar o que se oculta à sua frente ou às suas costas”. Numa situação hipotética, um empresário oferecesse passagem ida e volta para tocar em algum lugar (valendo o mundo todo como opção), tipo juntar a mochila e embarcar amanhã. Que lugar seria esse e qual a razão da escolha? Japão. Tenho curiosidade e admiração pela cultura e costumes de lá.

com uma boa dose de loucura. re num show, o que remete a memórias do evento. Host foi liberado restritamente no formato digital Quando finalizar a quaaté o momento. Existe a rentena, existem planos intenção de realizar uma futuros para a banda? tiragem física? Sim, sempre há, enquanto esSe aparecer alguma proposta tivermos vivos como banda e interessante, sim. Não vejo seres humanos. Como o arproblemas nisso. Acho tira- canjo Gabriel orienta os cidagem física um item de cole- dãos no oratório ‘A escada de cionador, ainda importan- Jacó’, de Arnold Schoenberg: te para algumas pessoas. É “Seja para a direita ou para quase uma comprovação que a esquerda, para a frente ou a pessoa foi em determinado para trás, para cima ou para show, quando você o adqui- baixo, é preciso prosseguir,

Bom, gostaria de agradecer a oportunidade dessa troca de ideias e desejar muito sucesso para a Bloody Violence. Deixo espaço final para tua mensagem aos nossos leitores. Obrigado! Eu que agradeço a oportunidade de estar na revista, fico contente com o convite. A quem tiver interesse, siga a Bloody Violence no Instagram e visite nosso Spotify, onde vocês poderão encontrar nosso trabalho por lá. Para quem estiver interessado em aula de música, pode entrar em contato comigo para saber mais detalhes pelo WhatsApp (51) 982539684.


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INTERVIEW

AIRFORCE uma das banda que surgiu com os primórdios do New Wave of British Heavy Metal TEXTO Uillian vARGAS Foto Banda/Divulgação

English Version


interview . Airforce

N

ão é todo dia que se tem a grande oportunidade de entrevistar uma banda que surgiu com os primórdios do New Wave of British Heavy Metal. E a mesma Inglaterra que pariu o NWOBHM, em Londres, também viu a Airforce dar o primeiro respiro com Doug Sampson (bateria), Sam “Tomcat” Sampson (vocal), Chop Pitman (Guitarra) e Tony Hatton (baixo). Depois de alguns anos e muitas trocas de vocalistas, Flávio Lino assume como frontman em 2019 para dar continuidade na história da banda. Chop Pitman mantém uma amizade de longa data com o “patrão” Steve Harris (baixo Iron Maiden). Airforce está na ativa desde 1987 e tem muita coisa para contar desde então. Curiosas sobre os primeiros dias lado a lado ao Iron Maiden, as dificuldades que rondam o mundo da música, a “maldição” dos vocalistas e

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projetos futuros. Tony Hatton esteve nos primeiros respiros da banda, acabou saindo da Airforce em 2001 e retornou em 2016. Era o elemento que faltava para ter a formação inicial unida novamente. Eles irão nos contar um pouco sobre a trajetória da Airforce, divirtam-se!

Qual o sentimento que permeia uma banda que viveu o nascimento do NWOBHM, ainda na ativa? Foi uma grande honra, para nós, fazer parte do NWOBHM e pela Airforce ainda estar tocando é um sentimento fantástico. Provavelmente é


substancialmente o estilo da banda. Qual foi a receita? Achamos que foi o estilo de tocar guitarra do Chop que teve um grande papel. Chop está na banda desde o início até aos dias de hoje, por isso o som da guitarra dele é único, juntamente com os seus riffs clássicos e os solos melódicos, têm muito a ver com o som da banda. Mas agora a formação original está de volta, muito feliz e nada vai nos parar.

foto Mich

assim, para qualquer banda daquela ‘era’ especial, que ainda continua na ativa. Sempre buscamos e fizemos nosso melhor para tocar e gravar novos sons das raízes do clássico Heavy Metal. A formação da banda passou por algumas modificações, isso não alterou

Airforce existe desde 1985/86, mas o primeiro full acabou saindo em 2016. Qual foi a principal razão desse intervalo entre o nascimento da banda e o primeiro release? Na verdade, soltamos material no início, mas só liberamos em fita cassete, que vendíamos em shows. Chegamos a ter ofertas de gravadoras, mas sempre fomos amaldiçoados com esse lance dos vocalistas. Por exemplo, as esposas ou namoradas não os queriam em uma turnê de banda e não os queriam profissionais da música. Isto nos aconteceu muito no início, por isso foi sempre difícil para


interview . Airforce

o início da Airforce. Iron foi uma inspiração para a construção da banda? Sim, acho que estaremos sempre ligados ao Iron Maiden como eles foram e ainda são uma grande inspiração para a Airforce ... Uma pequena história para você... foi Steve Harris que apresentou Chop Pitman a Doug Sampson quando Chop estava procurando por um novo baterista. Chop conhecia Steve Harris muito bem, pois eles trabalhaO que aconteceu entre Há uma boa proximidade ram juntos bem no começo. 2001 e 2008? com o Iron Maiden desde Eu acho que Steve queria que nós assinar a linha pontilha- Bem, isto remonta a quando da com qualquer contrato de outro vocalista (sem nomes) gravação. teve sua esposa dizendo que era ela ou a banda, então a Por se tratar de uma ban- maldição nos pegou novamenda londrina da velha es- te, então naquele momento cola, acha que gera alta sentimos que não podíamos expectativa nos ouvintes? voltar a fazer uma audição de Sim, acho que se uma banda vocalista novamente. Todos viesse de Londres, haveria nós decidimos seguir nossos uma expectativa um pouco caminhos separados por um maior. Por isso, sempre fize- tempo e fazer outros projetos, mos o melhor para escrever e embora todos nós mantivésgravar com isto em mente. semos contato.

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Doug continuasse tocando depois que ele deixou o Iron Maiden. Então Steve, Doug e Chop foram para uma “Jam” num estúdio. Chop e Doug se deram muito bem musicalmente e pessoalmente. Então, com isso, o Chop entrou em contato Doug, Tony Hatton para tocar baixo e Sam Sampson (irmão do Doug) no Vocal e foi quando nós decidimos formar a Airforce. Como foi a experiência de ter antigos amigos do Iron tocando na Airforce (Paul Di’anno e Paul Ma-

rio Day)? Esse fator contribuiu nas inspirações? Sim, muito. Paul Di’Anno era amigão de Chop, por isso, trazê-lo para gravar Sniper foi algo grande a se fazer e esta foi a primeira vez que Doug Sampson e Paul Di’Anno tocaram juntos desde Iron Maiden, então isto foi grande para ambos, uma grande reunião. Agora gravamos outra nova faixa com Paul Di’Anno para o novo álbum Strike Hard. Paul Mario Day foi outro grande passo para nós ao gravarmos a Band of Brothers no Estúdio Barn End. Que

pertence a Steve Harris e é também onde o Iron Maiden já gravou álbuns. Para nós foi um prazer trabalhar com ambos. Flávio Lino parece ser bem mais jovem que os demais integrantes, mas chegou com um vocal maduro e potente. Como foi o processo da chegada do Flavio? Flavio Lino tem uma poderosa voz, que nos impressionou desde o início. Fomos ver uma banda de tributo Iron Maiden que tocava na Cart & Horses


interview . Airforce foto michael cox

... local onde o Iron Maiden nasceu. Depois de observar a banda, perguntamos se ele estaria interessado em juntar-se ao Airforce. Ele concordou em voar para Londres para a audição. Mas assim que ele cantou a primeira faixa, soubemos que “era ele”.

Frontman muito profissional, simplesmente se encaixou perfeitamente na banda. Após apenas dois ensaios, voamos para a Polônia com Flávio Lino e fizemos o CD, que será lançado no início do próximo ano, da Radio Lublin ao vivo na Polônia. Tocamos para uma casa cheia e você teria A chegada do Flávio trou- pensado que ele está na banxe novo oxigênio para o da há anos. grupo? Ou veio somente para se juntar à equipe? Já tínhamos uma ideia da Sim, ele entrou na banda com concepção (ideia central) muita energia e exalando ex- no single “Band of Brocitação. Ele é um vocalista/ thers” e nos “Black Box (1 86 // rock meeting // agosto . 2020

e 2)”, mas pode nos contar algo sobre Strike Hard (2020)? Strike Hard foi muito emocionante para nós, pois tivemos 3 convidados no álbum: Paul Di’Anno (ex- Iron Maiden) em “Don’t Look in Her Eyes”, Zal Cleminson (ex- Sensacional Alex Harvey Band & Sin Dogs) ele foi o guitarrista original do Faith Healer (tocando guitarra no nosso cover de Faith Healer) e Ivan Giannini da banda de metal italiana Vision Divine, na faixa “The Reaper”. Então para nós tra-


balhar com estes 3 grandes nomes foi uma grande honra. Além disso, trabalhar com Pete Franklin em seu estúdio foi ótimo para nós, pois ele não só é um grande engenheiro e produtor, como também é um grande amigo da banda, o que tornou a vida muito fácil para nós. Qual a maior dificuldade de lançar um disco em meio a uma crise pandêmica? Bem, o álbum Strike foi adiado devido a esta pandemia, pois não havia empresas pren-

sando cds, não tinha como imprimir as capas e não havia distribuidoras. Seria lançado originalmente em junho de 2020. Tivemos sorte de ter gravado, mixado e masterizado cerca de um mês antes do encerramento. Pois Flavio Lino vive em Portugal, então teria sido quase impossível fazer isso depois. Também tivemos que cancelar o USA Tour mais shows na Alemanha, França, Polônia, Malta e Holanda. Então este foi um momento muito difícil para a Airforce, pois coincidiu com o lançamento

do novo álbum. Bom, gostaria de agradecer a oportunidade, e deixamos o espaço para sua mensagem para nossos leitores. Sucesso! A Airforce gostaria de agradecer a todos ao redor do mundo, por todo o apoio que nos tem mostrado ao longo dos anos e pela calorosa recepção de sempre. Continuaremos com nosso som e continuaremos dando nosso melhor. Obrigado novamente! Flavio Lino - Chop Pitman Doug Sampson - Tony Hatton

foto Mich


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INTERVIEW

ELIRAN

KANTOR O responsável pelas capas de álbuns de bandas de grande representação no mundo do heavy metal por Uillian Vargas & Renato Sanson foto dIVULGAÇÃO


interview . ELIRAN KANTOR

English Version

J

á sabemos que as imagens nos causam as mais diversas sensações que variam entre prazer, horror e desejo. Com a música, isso não acontece de maneira diferente. Tivemos a honra de conversar com um dos maiores artistas de capa da atualidade. Eliran Kantor foi responsável pelas capas de álbuns de bandas de grande representação no mundo do heavy metal. Entre esses nomes, alguns como Testament, Sodom, Iced Earth, Soulfly, Ex Deo e muitos outros. Basta dar uma olhada no Instagram do artista e você poderá reconhecer muitas capas de álbuns que, aposto, você já ficou impressionado com a arte da capa. Eliran ainda tem muito sucesso em seguir em frente, mas ele também tem muitas 90 // rock meeting // agosto . 2020

histórias excelentes para nos contar. E nessa conversa que tivemos com ele, esperamos que você também possa se divertir. Eliran, sem exagero suas criações são surpreendentes! Detalhes únicos que nos fazem lembrar

dos grandes artistas do passado. Você pode nos descrever um pouco do seu processo de criação? Obrigado! Começo a analisar a letra ou apenas analisando o título do álbum, e mantenho isso no fundo da minha mente por algum tempo, até chegar a uma história que sinto


ro esboço. Uma vez que eu tenha a aprovação das bandas sobre isso, avanço com uma paleta de cores aproximadas, obtenho a aprovação e, em seguida, passo aos detalhes. O tempo que leva varia muito para até mesmo dizer uma estimativa, além de que eu não mantenho o tempo em tarefas.

que pode resultar em uma imagem poderosa. Em seguida, esboço-o em preto e branco, sem detalhes ou cores reais, mas a composição está lá - os personagens e posições, direção de luz, peso e equilíbrio, fluxo dos olhos e narração de histórias etc. tudo está definido no primei-

O que te inspira durante o processo de criação/pintura? Existe algum ritual específico ou simplesmente as ideias surgem? Muito do trabalho está surgindo com ideias, conceitos, linhas de história, esquemas de cores, composições, etc., por isso, enquanto eu tiver algo no trabalho, as ideias estão borbulhando no fundo da minha mente. Há uns 10 anos mais ou menos, não houve um dia em que minha agenda estivesse completamente vazia. E nesses últimos anos é de costume estar agendado por bons meses, então eu não consigo desligar minha cabeça quando se trata de tra-


interview . eliran kantor

balho. Especialmente porque você sempre quer continuar melhorando e sentir que suas novas ideias são melhores do que as que você já fez no passado. O quanto que a banda influência na criação das artes? Só posso atender a alguns dos pedidos que recebo, tenho que fazer escolhas com base na direção de arte e na música. Minhas melhores e mais populares peças tendem a ser aquelas que fiz sem nenhuma ou com muito poucas orientações, mas se a banda tem uma grande ideia, eu fico feliz em fazer parte dela também. Tenho uma memória fotográfica, então quando uma banda se aproxima de mim com uma ideia estabelecida, que já vi em dezenas de outras capas de álbuns, tenho que gentilmente declinar. Se é uma banda que eu realmente gosto, eu normalmente mostro a eles quantas vezes a ideia foi feita antes, eu expli92 // rock meeting // agosto . 2020


co porque seria melhor para o disco e para eles terem algo realmente original e fresco, e depois vêm com uma ideia juntos ou me deixam pensar por conta própria. Recentemente você postou em seu Instagram a arte do álbum “Human Target” da Thy Art is Murder, uma imagem de um tanque de guerra esmagando crânios, me lembrando as cenas clássicas do filme O Exterminador do Futuro I e II. O que acaba vindo a calhar em tempos atuais, claro, em proporções diferentes, mas parece que a raça humana segue firme na cruzada da sua própria extinção. Como você enxerga a situação atual do mundo? Nenhum dos meus trabalhos está pregando a ninguém para assumir minhas opiniões políticas, e isso porque, embora eu tenha posições políticas sobre muitos tópicos, acho-as menos interessantes e originais do que as histórias que eu inventei.

Embora um dia eu possa vir a ter ideias políticas, acho que valeria a pena compartilhar, qualquer coisa que eu possa lhe dizer sobre política até agora, você provavelmente já ouviu antes. Portanto, não fará nada além de agradar ao lado que já está de acordo, e não convencer o outro lado. Já há o suficiente disso. São grandes nomes como: Testament, Krisiun, Soulfly, e por aí vai. Quais as suas capas preferidas? E qual aquela arte inusitada que você criou, mas acabou se tornando especial? Destas bandas: Testament e Soulfly - eu diria: Soulfly: Archangel. Eu sempre fui fã da música do Max, então eu fiquei muito feliz quando Soulfly, do nada, um dia me mandou um e-mail. Tudo que precisamos foi um telefonema para criar tudo que você está vendo na capa, ambos nos sentimos muito inspirados. Testament: Dark Roots of The Earth.


interview . eliran kantor

Essa foi um verdadeiro trabalho em conjunto com Eric Peterson. Ele trouxe a ideia de colocar o “Deus da floresta”, então eu tive a ideia de uma cabeça gigante, pessoas pequenas e a composição da arte. Então, trocamos ideias sobre todos os mínimos detalhes. E sobre uma criação em comum que se tornou especial para mim, existem várias: “Live Ceremony” (Loudblast), “In Somniphobia” (Sigh), “The Hangman” (Artizan) e “The Arrow of Satan is Drawn” (Bloodbath) são, talvez, o meus favoritos. Com Aghora e Mekong Delta foram os primeiros trabalhos e pela primeira vez eu trabalhei com bandas cujos álbuns eu tive em minha coleção. Então, esse foi um começo especial. Foi especial trabalhar na “Jupiter” (Atheist) porque se tornou um álbum que eu ouvi muito e “Dancing with the Past” (Kenn Nardi) se tornou um dos meus álbuns que eu mais gosto de ouvir. “Hindsight” (Anacrusis) foi um trabalho em conjunto com meu pai e foi uma 94 // rock meeting // agosto . 2020

foto, que também foi especial. O último álbum da My Dying Bride (The Ghost of Orion), foi outro momento especial, porque eu sou fã deles antes de qualquer outra banda com a qual eu já trabalhei. E o próximo álbum de Devin Townsend em que estamos trabalhando, também me parece muito especial, pois toca em elementos que eu nunca tinha feito antes em uma capa

de álbum, mas estão muito ligados à minha juventude e ao meu gosto pessoal. Qual capa ou arte despertou em você esse sentimento para se tornar um artista gráfico? Acho que o destaque seria os “Killers” da Iron Maiden. Comprei esse disco sem saber como era o som da banda. Mas parecia que a músi-


ca dentro deveria ser incrível para combinar com a obra de arte, e de fato é. É comum para artistas realizarem painéis de “perguntas e respostas”. Você já foi convidado para algum evento desse tipo? Sim, eu adoraria fazer mais. Recentemente fiz um no W.O.A. no ano passado, e foi divertido. Se eu for convidado, adoraria ir a qualquer lugar para fazer isso. Há algumas ofertas para exposições em 2021 em festivais de metal, e eu adorei fazer as recentes que tive em BloodStock, Copenhell e Wacken, então estou ansioso por isso. Especialmente pelo retorno que tive vendo quantos frequentadores de festivais e fãs de música acham especial e emocionante, já que eles nunca chegam a ver suas capas de álbum favoritas tão


interview . eliran kantor

grandes e de perto. E exposições em galerias também. Fiz parte de uma exposição coletiva no ano passado com outros como Dan Seagrave e Jacob Bannon. Existe e possibilidade de as pessoas terem tua arte independente do álbum? Sim, eu tenho copias que eu mesmo faço, e elas estão disponíveis para o público comprar. Elas são as capas originais sem o logo e sem o título. As pessoas podem comprá-las elementos você acredita aqui. que uma imagem/pintura Existe alguma capa que precisa ter para pegar o não foi criação sua, que expectador de primeira? você gostaria de ter cria- O que eu tendo a gostar na arte é originalidade, expressão, do? Dance of Death do Iron Mai- emoção e estética. Portanto, den. Acho que uma reedição posso sentir que tudo que cardisso deixará tanto eu quan- rega estes traços é arte para to um milhão de fãs muito mim. Quando cresci e assisti esportes, os melhores atletas felizes. também tinham estas qualiUma imagem tem um es- dades, e o que eles faziam me paço curto para segurar parecia mais artístico ou coatenção do expectador (3s movente do que quadros ou aproximadamente). Que música que não carregam es96 // rock meeting // agosto . 2020

tas qualidades. Mas todos têm uma coisa em comum, e esse é o elemento da narrativa. Eu simplesmente coloco essas ideias no formato de histórias, elas surgem na minha cabeça e se eu acho elas interessantes e sinto que não vi nada assim antes, eu as completo visualmente. Bem Eliran, gostaríamos de lhe agradecer muito. Foi uma honra para nós tê-lo nesta edição e desejamos-lhe muito mais sucesso.



INTERVIEW

MAHABANDA 20 anos de puro rock’n’roll e filosofia TEXTO Jessica Mar // Foto Karla Sthéfany

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interview . MAHABANDA

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mpulsionada pela experiência e garra de seus músicos, Mahabanda estreou em 2000 fazendo um Hard Rock cantado em português tendo como base de suas letras nas poesias de Raul Roviralta, poeta concretista paulistano, morto prematuramente em 1985, e pai do vocalista Rodrigo Roviralta, que com uma ideia ousada, viu no rock and roll uma oportunidade de dar uma exibição maior ao grande trabalho de seu pai. Prestes a completar 20 anos de carreira, a banda inicia uma nova fase com muito trabalho e o desafio de se tornar um dos grandes nomes do Rock Nacional. Em entrevista exclusiva à Rock Meeting, Rodrigo Roviralta conta sobre esses anos de carreira, inspiração para criar rock’n’roll e os planos para o futuro da banda após a pandemia.

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Mahabanda é uma banda nacional que já tem alguns anos de estrada, podem contar brevemente sobre este projeto? Rodrigo Roviralta - A Mahabanda foi e sempre será o resultado do meu processo criativo. Ter uma banda e tocar as minhas músicas é algo que eu sempre quis. As primeiras composições são do início dos anos 90 e as primeiras demos são de 1998/99. As primeiras apresentações foram em setembro de 2000 e de 2007 a 2012, após isso, aconteceu uma longa pausa. Desde o início a luta é se manter (e manter o grupo) focado e motivado, ainda mais se tratando de um trabalho autoral que tem um rumo definido por uma única pessoa. A trajetória não difere muito das bandas que permanecem na luta, você faz porque gosta, investe tempo, dinheiro e energia, o retorno é mínimo, mas a energia que recebemos nos shows são contrapeso dessa balança e a validação de tudo que temos feito.



interview . MAHABANDA

O som de vocês passeia entre o Hard Rock e Pop Rock, como vocês definem o som que fazem? E de onde vem a inspiração para compor? O som que fazemos é resultado do que ouvimos, a minha inspiração pessoalmente vem de toda somatória e não de um artista ou estilo específico. A sonoridade propriamente lembra o que mais gostamos que é o classic rock e hard rock. O elemento “pop” é algo sempre presente, rock tem que ser comunicativo, “pegar pela ideia”. A banda conta com integrantes maduros, que já acumulam bastante experiência de vida e na música. Como vocês enxergam o cenário atual na música, comparando aos anos passados? Sobre este assunto, falando pessoalmente e creio que 102 // rock meeting // agosto . 2020


de 2004. Vocês pensam em lançar outro álbum inédito? Essa é uma boa pergunta. Houve uma pausa entre 2006 e 2012. No início de 2006 foi gravado o que seria o segundo álbum da Mahabanda, mas em seguida iniciou-se a pausa e todo material ficou gravado. São justamente estas músicas que estou liberando agora em lyricvideos, pois se trata de um repertório muito bom que não pode ficar no esquecimento, além de representar bem o que é a Mahabanda. O primeiro CD, “Revolução Diagonal”, foi lançado em 2004 e teve distribuição do selo Tratore com vendagem inexpressiva pelo Brasil. Em julho de 2017 gravamos a inédita “Duplex de Cobertura” e em 2018 a nova versão de “A pressa do tempo”, totalmente repaginada. O novo single de 2020 teve a produção interrompida Vocês possuem ape- pela pandemia mas deve finas um álbum lançado, car pronto até o final do ano. o ‘Revolução Diagonal’, A ideia de produzir e lançar cada um tem um pensamento a respeito disso, eu não vejo muita mudança no cenário música, embora novas bandas apareçam e a tecnologia favoreça os meios de divulgação. Aqui no Brasil pelo menos o underground continua sendo totalmente amador e não existe um interesse amplo em novidades, tem sempre quem goste de bandas autorais, mas está longe de ser um bom negócio então você deve fazer se realmente gosta, como falei acima. Por outro lado as bandas têm que assumir, tal como eu assumo, que talvez estejamos longe de ser o que o mercado de fato precisa ou deseja, isso é um problema. Eu não acredito em “cena”, união ou coletivos culturais, o que aprendi nestes 20 anos de Mahabanda é que cada um faz a sua parte, e no fim você ainda pode ter que pagar a conta e apagar a luz.


interview . MAHABANDA

singles individuais é o foco principal no momento assim como clipes. O formato em CD ou mesmo LP eu continuo apreciando, mas no momento, devido aos custos o formato digital é absolutamente mais viável.

uma benção em nossas vidas, um momento especial e que em nem esperava que pudesse acontecer. O convite partiu do contratante e organizador do evento em São Paulo. O Ace é meu “guitar hero’’ e foi um sonho realizado pra mim.

Um dos shows mais marcantes do Mahabanda foi a abertura para o Ace Frehley em 2017, como isso aconteceu e como foi esta experiência? Sim, a abertura para Ace Frehley em março de 2017 foi

Rodrigo Roviralta foi um dos fundadores do Destroyer Kiss Cover em 1993. De alguma forma, vocês buscam inspiração no Kiss para realizar as composições e divulgar a banda ou vocês têm

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outras influências? Coincidentemente o Kiss é muito querido por todos na banda e temos integrantes de várias gerações no quinteto atual. É natural a sua influência no nosso som e como foi dito, a influência vem da somatória de tudo que ouvimos, na minha opinião é o fator que mais influência qualquer criação pessoal. Eu particularmente ouço muita música clássica, música estranha, frequências e sons da natureza. Frank Zappa pra mim é o centro do universo.


Recentemente vocês lançaram alguns lyric vídeos de músicas antigas, a banda tem projetos para lançar videoclipes ou singles inéditos? Esse ano quebrou e adiou justamente estes planos de clipes e mais singles que eram metas do primeiro semestre. A ideia de produzir e lançar singles individuais é o foco principal no momento assim como clipes.

dem contar um pouco sobre essa fase, e o que vocês têm feito atualmente? O foco da nova fase é sempre ir adiante. Pra este ano tínhamos realmente grandes planos, pela primeira vez temos um manager e uma assessoria de imprensa, e tínhamos shows pelo Brasil que foram adiados pra 2021. A nova fase é sempre fazer melhor o que vem sendo feito. O que temos feito é aguardar a situação melhorar e cuidar da vida, Prestes a completar 20 saúde e compor. anos de carreira, a banda inicia uma nova fase. Po- Quais os planos do

Mahabanda para o futuro, quando tudo se normalizar? Levar o nosso show onde for possível neste Brasil continental e se possível mundo afora. Você pode listar seus 5 álbuns que influenciaram sua música? Kiss - Lick it up (1983) Frank Zappa- One Size Fits All (1975) Queen - Queen II (1974) Beatles-Abbey Road (1969) Roberto Carlos - Em Ritmo de Aventura (1967).


INTERVIEW

ALCHIMIST Agora como quarteto, a banda se prepara para gravar com essa nova configuração

TEXTO Uillian Vargas // Foto Marcelo Cunha

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interview . Alchimist

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Nordeste do Brasil é terreno fértil para germinar cultura e misticismo, e o Estado do Maranhão não iria ficar para trás nesse quesito. O manancial das encantarias de São Luís nos diz que é para ter cuidado ao passar pela esquina da Rua da Paz e Rua 13 de Maio (Palácio das Lágrimas). Ou se for visitar Caxias torcer para que não seja no período em que a serpente da igreja do Rosário esteja para acordar (dizem que acontece de sete em sete anos). Mas a mesma São Luís que já viu a carruagem de Ana Jansen (existe a lenda que ela circula a noite pelo centro da cidade com uma carruagem puxada por cavalos decapi108 // rock meeting // agosto . 2020

tados), também já viu e se embalou pelo Power metal da Alchimist. Mas agora não estamos falando de nenhuma lenda, a banda está mais viva do que nunca. Formada em 2014, na capital maranhense, o quinteto original era composto por João Vitor Lobo (Baixo), Dã Carneiro (batera), Daniel Azevedo (guita), Cássio Marcos (vocal) e Ruan Cruz (guita). Atualmente sem o Ruan na segunda guita, Alchimist segue como quarteto e se prepara para gravar com essa nova configuração. Trocamos ideias com João Vitor, e nessa conversa vamos buscar saber um pouco sobre os mistérios, rituais, máscaras e o novo CD. Para esquentar a conversa. Por que Alchimist? Alguma inspiração específica que levou a esse nome? João Vitor - Não teve ne-



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nhuma inspiração específica para esse nome, no entanto, desde sempre gostávamos de temas como ocultismo, hermetismo, alquimia e rituais. O nome surgiu de uma forma natural para representar toda essa temática que reflete fortemente nas letras. Alchimist é uma banda, relativamente, nova, mas que já demostra maturidade sonora. Quando a banda de fato ganhou consistência, como aconteceu o processo da decisão de seguir pelo estilo power/prog metal? Aliás, foi uma decisão? Não foi uma decisão, mas sim, nós começamos a tocar instrumentos inspirados por bandas de power metal, progressivo, heavy metal etc. Como que110 // rock meeting // agosto . 2020


ríamos fazer as músicas bem rápidas e com vocal melódico acabamos ficando próximos do power metal, então posso dizer que foi acontecendo naturalmente, vale ressaltar que hoje em dia as novas composições se distanciam cada vez mais de um power metal tradicional já que fazemos muitas misturas de vertentes do heavy metal, outro simbolismo que faz paralelo ao nome Alchimist. Sobre o The Wisher (2016) que surge como EP revelando agressividade e dinamismo sonoro. Como foi o processo de produção e da criação das músicas? Em 2016 ainda éramos bem inexperientes em relação a tudo, produções, shows, gravações. Por esse motivo, o The Wisher foi como uma experimentação sonora e lírica, fazendo aqui mais um paralelo com a alquimia, a gente

buscou fazer cada faixa de um “jeito” e analisar o que a gente mais gostava em cada uma delas. A produção foi feita pela banda no estúdio KM4 do ex-guitarrista da Alchimist, Ruan Cruz, foi um processo de muitas lições e que mudou nossa percepção musical pra sempre. As músicas foram feitas em estúdio da forma mais comum possível, isto é, jogando riffs e experimentando refrãos até chegar ao resultado. Foi cansativo, satisfatório e revelador. Quais foram as principais inspirações na hora de compor os sons? Posso dizer que a maior inspiração foi o silêncio, quando eu e o Daniel (guitarrista) nos reunimos acontece alguma coisa que não sei bem explicar, temos uma excelente capacidade de abstração e criatividade juntos e isso faz toda a diferença. Falando de letras, tento pegar conceitos e ideias já existentes dentro de todas as temáticas já citadas e encaixar


interview . alchimist

em nosso universo lírico criado, com personagens, cenário e mundo, muitos desses elementos estão também inseridos nas letras. Não poderia deixar de citar, em particular, o single “Never Forget”. A começar pela linda capa e continuando pelas linhas de guita desse som, impressionantes. De onde surgiu inspiração para tanta agressividade e dinamismo sonoro? Por incrível que pareça a mú112 // rock meeting // agosto . 2020

sica “Never Forget” foi escrita bem antes das faixas do The Wisher, mas sentíamos que ainda não era o momento de gravá-la. Passou por alterações nos riffs, linhas melódicas etc. O ponto chave de “Never Forget” é o equilíbrio entre a velocidade, agressividade com o refrão melódico e cadenciado. Uma das minhas favoritas sem dúvidas! Poderia comentar um pouco sobre Tour of Mysteries pt.1? Qual foi o momento mais empolgante

dessa road trip? Difícil lembrar só de um, nós somos muito unidos na banda, como se fossemos irmãos mesmo. Dessa forma a gente consegue apreciar mesmo os momentos de maior dificuldade, daí sempre saem várias risadas histórias engraçadas. Mas lembro claramente de dois dos últimos shows que fizemos, um em Castanhal-PA e outro em Lajeado – RS, o sentimento nesses shows era o de que tínhamos crescido muito e a essa altura estávamos “voando baixo” no palco.


Como surgiu a ideia das pinturas no rosto? Além da identidade dos integrantes, qual o mistério por traz dos símbolos? Eu levei a ideia para a banda, inspirado em várias outras que pintam o rosto tive a ideia de pintar os olhos. Na época estávamos começando a produção do nosso primeiro videoclipe da faixa “Beyond Darkness” e uma figura muito importante para essas pinturas foi o artista plástico Marcelo Cunha, ele conseguiu inserir um forte conceito em nosso visual, isso hoje em dia

faz toda diferença em termos turnês, presença de palco e musicalidade. de identidade do Alchimist. O fato de o Daniel já ter tocado na Jackdevil e atual Tanatron, traz alguma influência de peso para o som da Alchimist? Sem dúvida, nós temos muitas raízes no som extremo e o Daniel por já ter gravado e feito turnê com essas bandas conseguiu somar com uma pegada mais pesada e rápida pra Alchimist. Mas acredito que o maior saldo da participação dele nessas bandas é a experiência de

Além da ausência dos shows, como esse período da quarentena do COVID-19 tem influenciado a banda (positiva ou negativamente)? Na verdade, nós já tínhamos planejado parar de tocar esse ano, fizemos um show em janeiro e estávamos nos preparando para entrar em estúdio para gravar o novo disco, no entanto devido ao isolamento social não pudemos seguir com esse planejamento. A


interview . alchimist

pandemia afetou a todos, nós somos muito gratos por não estamos doentes, em fila de hospitais etc. Costumo dizer que deu sim uma atrasada no nosso planejamento, mas ao mesmo tempo deu uma esfriada em nossas mentes pra que pudéssemos refrescar e rever algumas ideias novas. Como estão as movimentações para o futuro da Alchimist? Tem disco novo surgindo no horizonte? 114 // rock meeting // agosto . 2020

Tudo indica que nos próximos meses entraremos em estúdio para gravar o próximo disco, será o primeiro nessa formação em quarteto, mas continuaremos a trabalhar com nosso ex-guitarrista Ruan Cruz para produzir o disco. Estamos muito empolgados, pois esse novo álbum vai mostrar essa nova fase com diferentes elementos, bastante peso e identidade nas músicas. Não posso revelar muita coisa ainda, mas será um trabalho único e muito marcante para o cená-

rio nacional. As temáticas obscuras permeiam as composições da banda. E dentro desse universo místico, qual o tema preferido na hora de compor? Na fase atual da Alchimist escrevemos quase que exclusivamente sobre histórias dentro do universo que criamos. Mas as letras são carregadas de temáticas, críticas sociais, filosofia etc. Busco inspirações em vários letristas que


papo, em nome do time da Rock Meeting gostaria de agradecer a oportunidade. Deixo espaço para tua mensagem final e recado aos nossos leitores. Sucesso! Quero agradecer do fundo do coração pelo espaço que a Rock Meeting sempre nos deu, com coletâneas, matérias etc. Sigam firmes e sempre contem com nosso apoio, juntos somos fortes. Quero deixar um forte abraço a toBom, finalizando nosso dos que perderam familiares escrevem sobre isso como por exemplo Geezer Butler (Black Sabbath) e Chuck Schuldiner (Death). Posso citar como exemplo a faixa “Demonized” que apesar de citar Aleister Crowley e de ressaltar como ele foi (e é) “demonizado” por quem não compreende ou não quer compreender o que foge do tradicional ou da normalidade, passa-se dentro de uma história, Aleister é um personagem dela.

ou de alguma forma foram lesados por toda essa crise causado pelo COVID-19, vocês não estão sozinhos, conscientizem, combatam a mentira. Cuidem de quem vocês amam e amem quem cuida de vocês. Deixo aqui também uma importante dica, ouçam as bandas de sua cidade, seja heavy metal ou não, sempre seja honesto consigo mesmo (a) e tenha suas próprias convicções, divertimentos e viva feliz! Ouçam Alchimist!


REVIEW . max cavalera

MY BLOODY

ROOTS max cavalera por cARLOS henrique BUENO

M

assimiliano Cavalera nasceu em Belo Horizonte em 1969. O pai Graziano trabalhava na embaixada italiana e a mãe era modelo. A morte do pai em 1979 foi um choque completo segundo Max: “um ano antes éramos bem de vida, e tínhamos dinheiro, um ano depois não tínhamos dinheiro algum e morávamos de favor nos fundos da casa de nossa avó. Com 10, 11 anos a mãe falava para Max e seu irmão Iggor trabalharem. O primeiro emprego foi numa fábrica de chapéus, depois numa sorveteria, fábrica de sapatos (onde se viciou cheirando cola) e numa loja de discos como vendedor.

116 // rock meeting // agosto . 2020

Em casa um dia, Max achou a coleção de discos de seu pai, e no meio de vários discos achou o primeiro do Black Sabbath e o Led Zeppelin IV. Em 1981, de férias em São Paulo, foi com um primo no show do Queen e “piraram”... Estudou em várias escolas até ser expulso com seu irmão e resolverem parar de estudar. A mãe disse: “encontre algo que goste de fazer e terá meu apoio”. “Encontrei um violão antigo de meu pai, quebrei um espelho colei os cacos nele para ficar maneiro. Na época estava aprendendo um pouco de inglês, traduzindo as letras dos álbuns. Aprendi um pouco na escola, mas quase tudo veio dos LPs. Passava noites inteiras traduzindo letras de bandas como Black Sabbath, Iron Maiden e Motörhead. O nome Sepultura veio de uma tradução de uma música do Motörhead, chamada “Dancing on your grave”.



REVIEW . max cavalera

foto fernando pires

Grave em português é Sepultura. Tai um nome maneiro para a banda”. Após assistirem um show da banda Dorsal Atlântica, em uma cidade próxima de BH, voltam para casa com o propósito de montar uma banda. A primeira formação da banda com Wagner nos vocais, Rob no baixo, Iggor na bateria e Max na guitarra, não durou muito tempo. Wagner e Rob saíram e entraram Jairo e Paulo. Os primeiros shows do Sepultura, as gravações da demo, o convite para dividir um álbum com o Overdose, a saída de Jairo da banda, a entrada de Andreas Kisser, as gravações dos outros álbuns, 118 // rock meeting // agosto . 2020

os shows e o sucesso no Brasil e exterior, o casamento com Gloria, tudo é falado no livro por Max. Uma parte marcante do livro é a morte do filho de Gloria, Dana, o qual Max o tratava como filho. O projeto paralelo Nailbomb com Alex Newport, chegando a lançar um álbum, até a ruptura e saída do Sepultura, após o sucesso de Roots. Gloria, a esposa de Max, era a empresária da banda, e Iggor, Andreas e Paulo, queriam outro empresário, e como Max não concordou com os demais, a separação da banda foi inevitável. “O que mais doeu foi sair da banda num momento que estávamos gigante, e ficar anos

sem falar com meu irmão”, diz Max”. Após a saída do Sepultura, e ficar um pouco “perdido”’ sem saber o que fazer, Max monta outra banda o Soufly. As gravações dos álbuns e as turnês com o Soufly também são faladas no livro. Max fala com clareza também sobre seu vício com analgésicos e bebidas chegando a ficar internado em clínica de reabilitação. No fim, o reencontro com o irmão Iggor, e a montagem da banda Cavalera Conspiracy também é citada no livro. O livro é rápido de se ler e vem com várias fotos de Max em vários momentos da carreira e com a família. Recomendo.



INTERVIEW

MARCELO SOLDADO meio século de existência, dignidade, disciplina, música e tatame o velho soldado abriu seu arquivo confidencial para a Rock Meeting TEXTO uillian vargas // Foto divulgação

>> 120 // rock meeting // agosto . 2020



interview . marcelo soldado

M

arcelo “Soldado” Nejem, já é uma figura carismática do metal nacional. Teve (e concedeu) a honra de tocar ao lado de grandes lendas do nosso heavy metal. Sua intimidade com a música começou muito cedo, ainda criança. Na década de 90 se reuniu com amigos músicos e formou a Treta (e deu treta com as letras polêmicas e mal compreendidas), passou pela Korzus e até formou seu projeto solo. Hoje, embarcando para meio século de existência, dignidade, disciplina, música e tatame o velho soldado abriu seu arquivo confidencial para a Rock Meeting. Sabemos que a música te acompanha desde a primeira infância, ganhou teus instrumentos (mesmo de brinquedo) ainda muito jovem. Mas quando foi que a música te chegou com toda força? E quando o metal te conquistou? Desde sempre, irmão! Parece 122 // rock meeting // agosto . 2020

meio chavão, mas é a verdade. Daquelas coisas esquisitas que você vê uma criança fazendo e não entende de onde veio. Eu tentava afinar as violinhas de madeira, de brinquedo, aquelas compradas na feira. Como não eram feitas com precisão (apenas um brinquedo imitando um pequeno violão), eu reclamava que não conseguia afinar. Ficava brabo (risos). Foi quando minha mãe percebeu que eu sentia a necessidade de um violão de verdade. O lance é que eu tinha 6 anos, e não havia instrumentos no meu tamanho. Mesmo assim, fomos ao extinto Mappin e compramos. Na volta pra casa, tocava alguma música do Raul Seixas no rádio do fusca, e foi quando tirei o primeiro “riff”, digamos assim. Descobrimos que eu tinha “ouvido”. Tocava com exatidão qualquer música que ouvisse (guardados os limites técnicos de uma criança de 6 anos). A primeira vez que toquei ao vivo foi em um bar de amigos dos meus pais. O bar tinha fechado, mas a turma ficou pra conversar e fazer um sonzinho. Microfones, amplificadores, etc. Lembro até hoje: “deixa o mole-



interview . marcelo soldado

que tocar um pouco”. Ficaram me olhando com aquela cara de “que fofinho, nem consegue segurar o violão direito”. Mandei logo uma “Day Tripper”, dos Beatles! Riff monstro (risos), o ano era 1976. Daí em diante tornei-me uma esponja. Tocava de tudo, sempre visando a melhoria da técnica e absorção de conhecimento. E era fácil, por um simples motivo: amo debruçar em meu instrumento e ficar horas. Sempre foi assim! Toquei todo o Rock Pop Nacional dos anos 80! Sei música de quase todas as bandas daquela época! Mas, sem sombra de dúvidas, o grande divisor de águas em minha vida, foi o Rock in Rio 1! Dispensa comentários! Ozzy, Iron, Queen, Yes, Whitesnake, Scorpions… O impacto visual e sonoro foi pesadíssimo pra mim! Eu tinha 14/15 anos. Ali eu decidi o que queria fazer! Tocar guitarra, alto e pesado! Como a Korzus cruzou caminhos contigo e como foi a experiência de participar da formação? Alguma situação (tensa ou engraçada) em especial que queira nos contar? foto humberto morais

124 // rock meeting // agosto . 2020


No início dos anos 90, eu tocava cover de Van Halen (minha banda preferida, junto com Anthrax). Fui convidado a tocar no inesquecível Proposital Noise (metal de SP). A galera do Korzus me viu tocando com eles e em meados de 93, fui avisado sobre um possível teste, pois o guitarra Marcello Nicastro sairia da banda. Irmão, por 10 meses, toquei em média 12h por dia pra fazer o tal teste! No dia, cheguei pulverizando 14 sons inteiros do Korzus, e o Silvio (Silvão) Golfetti era quem estava me avaliando (risos). Apenas uma observação: você que é guitarrista, pega o disco Mass Illusion e tenta tirar os sons. Então entenderá quem foi Silvio Golfetti e Marcello Nicastro. Absurdo! Quem me avisou sobre o teste foi o Fernandão (Fernando Schaefer), a quem sou eternamente grato por ter me colocado nesse rolê doido do metal. Ele era o batera na época e tínhamos muita afinidade nas “jams” que fazíamos no Black Jack Rock Bar, quando a gente se trombava por lá! Por isso ele me indicou! Valeu Fê! Ser do Korzus é uma

responsabilidade brutal. Ali não tem espaço pra ser mais ou menos em seu instrumento. Alto nível no DNA da banda. Foi uma experiência marcante e determinante na minha vida! O guitar que sou, foi por conta da exigência implacável pra tocar lá … Graças A Deus! A disciplina de swordmaster e do Jiu-jitsu te ajudam no palco? Ou são universos completamente separados? Que pergunta iraaaada!!!! Por incrível que pareça, a disciplina na música me ajudou na arte marcial. Quando moleque, compreendi que a repetição exaustiva de alguma técnica, seja ela qual for, te leva ao domínio da mesma. E em um estágio ainda mais avançado, você transcende sobre a forma, deixando de ser algo à parte. Você e o instrumento/ferramenta (seja espada, corpo ou guitarra) tornam-se UM. Mas não estou falando de repetir 10x, 100x, 1000x. Estou falando de carga em horas, realizando o mesmo movimento, todos os dias, por anos. Fica a dica pra galera: se você para de treinar sua


interview . marcelo soldado

guitarra, e fica apenas executando as músicas, as composições, fatalmente terá dificuldade em manter velocidade, potência e precisão. Fará força pra tocar. E isto não é bom … manter uma rotina de exercícios diários no instrumento, gera facilidade na execução, e te dará liberdade para compor. Não haverá aquela luta entre “o que você quer fazer e aquilo que você consegue fazer”. A arte marcial me dá, além deste entendimento, a parte física. Em agosto completarei .50! E faço um show no gás, padrão, graças ao con126 // rock meeting // agosto . 2020

dicionamento físico das lutas vras (risos). que pratiquei. Cara … Sim, o Treta foi uma banda com potencial pra Cara, e na década de no- ser gigante. Mas ninguém que venta, tu e o Fernando fosse de fora do nosso círcujuntaram excelentes mú- lo de amigos fazia ideia de sicos sob a bandeira da como éramos realmente! As Treta. Que teve seu re- pessoas que se aproximavam conhecimento nacional, e acabavam nos conhecendo, com shows energicamen- sempre diziam: “Que loucura, te históricos e letras con- vocês são caras legais, engratundentes. Não foi um çados!” (risos) Era impossível grande e mal compreen- compreender a gente naquedido projeto? la época. Essa é a verdade. Estou há uns 20 minutos Imagina só; 4 caras de cabeolhando para a tela, passan- ça raspada, barrigas tatuadas do um filme na minha cabeça, com a palavra Treta, fazendo pensando em minhas pala- um som simples, mas brutal-


mente pesado, inexplicavelmente cativante, e com letras absurdas de cruas! Ninguém entendeu nada! Nem a gente hahahahaha! Foi um choque. Lembro de conversar com o Gastão sobre a banda, logo nos primeiros momentos, e ele disse “Soldado, que nome irado de banda, irmão”. Nunca esqueço disso! Abraço, Gastão ...você é demais mano! A banda nasceu em 1997. Quatro amigos, cada um com seu reservatório de indignação lotado até a tampa (risos). A gente queria se expressar da forma mais agressiva possível, sem se importar com o fotos felipe endrehano

politicamente correto! Pegávamos jornais e revistas e fazíamos as letras. Outras eram sobre nosso cotidiano. Nessa época aconteceram todos aqueles lances: o índio queimado em Brasília (A Moda é Taca Fogo), os policiais que foram flagrados espancando e matando morador da Favela Naval (Batalha Naval), motoristas e cobradores morrendo assassinados em pleno horário de serviço (Coletivo do Terror), homenagem aos amigos tatuadores (A Cor da Dor), etc. E teve a matéria da VEJA, cuja capa era uma montagem com inúmeras fotos de mu-

lheres, e o título ao centro era “Peguei AIDS do meu marido (Dormindo com o inimigo). Essa revista rendeu a música Bicha do Caralho. Nós descascamos o tal marido descrito na matéria, fazendo uma letra pesadíssima, daquelas que ninguém teria coragem de cantar. A matéria gerou aquele sentimento em muita gente. Na verdade, o título da música era uma frase que as pessoas falavam quando liam a matéria, comentavam sobre o assunto. Imagine só, o cara chega em casa, tem relação sexual com sua esposa, sem preservativo, transmitindo


interview . marcelo soldado

uma doença grave para a mãe de seus próprios filhos. E foi justamente este som que decretou o nosso fim (risos), pois postaram a música em uma página de nazistas, no Youtube. Então começaram as primeiras “Fake News” (rindo muito) dizendo que éramos nazistas, etc. O erro foi nunca ter rebatido tais acusações, logo no início. Era um absurdo tão grande que a gente nem se importou. Não éramos nada, não pertencíamos a nenhum grupo, rolê, nada. Apenas 2 músicos conhecidos da cena e seus 2 roadies, que resolveram fazer um som brutal. Meio que um SOD brazuca. A gente tinha uma rixa engraçada com os Straight Edge (SxE) e os veganos! Isso eu lembro hahahaha. Às vezes, eu tocava com uma mochila nas costas, e no meio do show tirava uma alface e jogava na galera! Era hilário (risos). Em 2007, no Orkut, fiz um post bem, bem legal, explicando cada um dos sons (muita gente ficou surpresa por saber as histórias por trás das letras. Acharam demais, pois viram que não tinha nenhum cunho ideológico), pedi desculpas 128 // rock meeting // agosto . 2020

aos SxE e aos veganos pelas confusões. Eu me senti muito bem fazendo aquilo. Individualmente falando, foi gratificante. Mas para a banda já era tarde demais. A lenda urbana já estava formada. Houve um momento decisivo na tua carreira, quando o velho soldado voltou olhos para um novo horizonte em que a crença no divino falou

mais alto. Como aconteceu esse momento? Houve algum fator específico que te fez encarar o teu lado espiritualizado de maneira mais profunda? Certa noite, ao final de 2006, dobrei meus joelhos e pedi ajuda aos céus, para superar o momento que vivia. A curiosidade é que eu não acreditava em Deus. Minha situação era tão pesada, tão hostil, que foi o que me restou fazer… pedir


de arrependimento. A fé retira a insegurança, e isso traz paz. E um homem em paz está verdadeiramente preparado para a guerra. Qual guerra? A guerra interna. Contra toda sorte de vícios, maus hábitos, iniquidades. A tão falada batalha espiritual. É pesado, irmão. Bater de frente com o pior de si … é pesado. Mas a transformação subsequente é algo maravilhoso de sentir.

salvação a quem eu não cria. Olhando minha vida hoje, com os olhos da fé em Jesus Cristo, vejo a aventura que foi a existência do Soldado até este momento crucial. A partir desta noite, minha transformação foi vertiginosa! Nasceu em mim, o entendimento com relação ao poder da palavra que sai da boca. Quando este entendimento chega, é chocante. Você revê sua vida, e é aí que entra o sentimento

Em meados de 2009 houve a movimentação da Coração de Herói e Apocalipse XVIII chegou com um peso enorme. Som cru, direto e reto. O que aconteceu? O Coração de herói ainda pode bater (ou nunca parou)? A missão era aquela. Foi incrível. Trabalho único. O lance nasceu em meu coração e foi tomando forma naturalmente. O time envolvido era de primeira linha. Gravamos e lançamos na internet, totalmente gratuito. Impactou muita gente, pois veio de um lugar muito puro e sólido, a Palavra de Deus. Imagina isso …uma banda comum, com caras comuns, fazendo um som pesado, com passagens bíblicas; algumas retiradas das escrituras mesmo, e outras da vivência, do cotidiano, com


interview . marcelo soldado

ênfase no livro do Apocalipse. Coração de Herói cumpriu seu papel. Algum dia, talvez, um show especial … seria demais! E sobre a Soldier, como aconteceu o processo de definição do design e acabamento da tua guita? Pode nos contar um pouco de como foi realizar esse sonho em parceria com a Harpia Luthier? Um irmão de cordas, Ângelo Torquetto, tinha uma Harpia. E certa vez, fiquei maravilhado com uma foto da guitar dele. Entrei em contato com a marca e encomendei uma. Queria um instrumento que, visualmente falando, causasse a sensação de velocidade e agressividade! O resultado foi muito além do imaginado. O headstock é a cereja do bolo (risos). Pintura à mão. Afinação perfeita, timbre. Obra de arte! Fatalmente sofrerá em minhas mãos, mas extrairei o máximo deste instrumento! Fui muito bem atendido, atenção total. Um abraço pra galera da Harpia! Obrigado, amigos. O instrumento me fez tocar melhor. Isso que achei o mais legal! Após um período dedicado 130 // rock meeting // agosto . 2020


somente ao tatame, parece que há movimento nas redes sociais da velha palhetada novamente. Onde há fumaça, há fogo eim (risos). É um sinal de retorno pintando no horizonte? Pode contar um pouco sobre o processo de retorno à música? Sim, irmão! O velho Soldier está na área, pro terror dos “Nutella” (risos) Brincadeira!!! Em dezembro de 2019, meu corpo pediu pra parar com a luta. Fiz o meu melhor, honrei meus alunos, honrei meu mestre Luiz Mello e encerrei uma etapa com muita paz e tranquilidade. Trabalhei intensamente com lutas desde 2001. Uma lesão crônica, adquirida em outras modalidades esportivas durante minha juventude, levou-me a esta decisão. Caminho natural, qual foi? Retomar a música com força total. Estou engajado em 3 trabalhos, e graças a Deus, com amigos incríveis. São lances distintos. Sem ligação alguma entre eles. Dois trabalhos são com bateristas de nível mundial, e outro é com um vocalista consagrado da cena metal. Omitirei o nome dos ‘figuras’ por hora, foto Karen melo

pois o impacto será grande quando cair na rede! Garanto uma coisa …. A confusão está formada! (risos) Gostaríamos de te agradecer pela gentileza e parceria. Muito obrigado! Torcemos para te ver nos palcos novamente, em breve. Deixamos o espaço final para a tua mensagem aos nossos leitores. É uma honra imensa responder a cada uma destas perguntas, e aproveito para pedir desculpas pela demora em enviá-las à redação. É que são perguntas tão legais, que me levaram à uma viagem no tempo. Por muitas e muitas vezes, fiquei olhando pra tela sem conseguir escrever … amarradão em lembranças! Agradeço de coração por toda consideração e oportunidade de ouro. E como disse antes, um homem em paz está verdadeiramente preparado para a guerra. O som que trarei a vocês mostrará isso. Talvez, o mais pesado que fiz até hoje. E missão dada, parceiro … é missão cumprida! A mão direita está pesada e está voando, precisa e letal. Como deve ser.


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