Rock Meeting Nº 126

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words of editor

COMO É UM SHOW

. PEI FON @peifon jornalista formada pela ufal, fotógrafa e diretora geral da rock meeting

Outro dia uma colega

esse fim. Esse colega vai

de trabalho me perguntou

para os shows de forró e pa-

como seria estar num show

gode com essa finalidade.

de rock, uma vez que ela viu

Para ele, a música pouca im-

que eu tinha ido ver o Amon

porta, na verdade, o impor-

Amarth e Powerwolf.

tante é saber quem vai to-

Isso me fez lembrar

car para saber se vai atrair

uma conversa com outro co-

pessoas. Esse rapaz ficou

lega, quando me fez a mes-

tirando por menos a nossa

ma pergunta, mas com ou-

paixão pela música e deixei

tro fundamento: a galera do

ele para lá.

rock/metal não vai paque-

rar em shows?

mente diferente. Vamos aos

Eu fui tentar responder

shows porque queremos vi-

da melhor maneira possível.

venciar aquela experiência

Mas, no todo, ninguém vai

e perder isso é perder tem-

para um show do Iron Mai-

po e dinheiro, além das me-

den, por exemplo, paquerar.

mórias. Tudo bem se rolar

Vide os que ficam horas na

uma paquera, mas esse nun-

fila, sob sol ou chuva, loucos

ca será o motivo principal.

para entrarem e ficarem co-

Tentando explicar como é ir

lados à grade e ver o artista

a um show de rock para essa

de pertinho.

colega do trabalho que citei

Eu não conheço uma

no início, fui desmistificar as

pessoa que tenha ido com

ideias ‘plantadas’ que ela ti-

No Metal é completa-


words of editor

W DE ROCK/METAL? nha sobre o nosso som pe-

que é impossível explicar.

sado. Primeiro que o show

Somente vivenciando essa

não é violento.

experiência para entender

o porquê do outro não ter

Violentos são os riffs,

a pulsação sonora, o êxtase

palavras.

que a música proporciona e

não o moshpit, wall of death,

emergimos em seguida. Es-

circle pit, crowdsurfing ou

ses mergulhos que damos a

stage diving. Essa violência

cada música tocada faz com

não existe. É a emoção co-

que nossos desejos sejam

locada para fora, somente

atendidos. Fomos para esse

isso. Se um cai no meio da

lugar com um único objeti-

roda, o outro ajuda a se le-

vo, os demais serão apenas

vantar. Em 10 anos frequen-

lacunas a serem acrescenta-

tando massivamente a cena,

das a sua memória afetiva.

nunca vi uma briga sequer.

Levei meus irmãos ainda

compreendeu, disse que

crianças para shows por se

o mundo dela é diferente,

tratar de um ambiente se-

mas agradeceu por com-

guro.

partilhar o meu mundo com

Imergimos

no

som,

No mais, a colega

No mais, essa colega

ela. Sensata e diferente do

ficou impressionada por-

rapaz, ela soube me ouvir,

que a forma como falamos

sem agredir ou desdenhar

do show é com paixão, nos

da nossa paixão pela músi-

envolvemos de tal maneira

ca.

. PEI FON @peifon jornalista formada pela ufal, fotógrafa e diretora geral da rock meeting


sumรกrio 2020

84 28 56

08. estressadas Obstรกculos para o orgasmo 14. marcelo vasco designer do brasil 28. amon amarth + powerwolf berserker latin america 38. korzus guerreiros do metal

38

56. dr sin de volta aos palcos 64. flรกvio pascarillo o futuro do consumo de cultura 76. amenra show intimista 84. jimmy & rats jimmy london em nova banda

14


DIREÇÃO GERAL PEI FON DIREÇÃO EXECUTIVA FELIPE DA MATTA CAPA Alcides Burn Canuto Jonathan projeto gráfico @_canuto

44 armored dawn conquistando o brasil

COLABORADORES Augusto Hunter Bárbara Lopes Bárbara Martins Bruno Sessa Edi Fortini fernando pires Luiz Ribeiro Marta Ayora Mauricio Melo Rafael Andrade Renata Pen Samantha Feehily CONTATO contato@rockmeeting.net

www.rockmeeting.net


estressadas

OBSTÁCULOS QUE TE IMPEDEM DE CHEGAR AO ORGASMO por Samantha feehily

A

té muito recentemente, o modo como as mulheres experimentavam e sentiam sua sexualidade era pouco explorada. Com o avanço da ciência, dos movimentos igualitários e da comunicação este cenário vem mudando. Infelizmente, muitas mulheres ainda sofrem e se cobram por não conseguir chegar ao orgasmo. Esta dificuldade afeta cerca de 30% das mulheres brasileiras, de todas as idades. Algumas nunca chegaram lá; outras tem dúvidas sobre o que realmente sentiram. De forma geral, a maior parte das mulheres ainda se 8 // rock meeting // março 2020

sente insegura sobre o próprio prazer, o que leva a problemas na autoestima e nos relacionamentos. Vamos aos obstáculos: Acreditar que sexo é natural - O instinto de reprodução é natural, inato, mas a capacidade de fazer sexo e fazê-lo bem é aprendida. Assim, não nascemos sabendo fazer sexo, muito menos sabendo como chegar ao orgasmo. O orgasmo é um comportamento aprendido e que pode ser treinado. Homens não sabem tudo sobre sexo - Muitas mulheres ainda acreditam que os homens sabem tudo sobre sexo e que eles devem conduzir e proporcionar o orgasmo. Esta crença leva a ideias errôneas sobre o papel de cada um na relação e gera angústia tanto nos ho-



estressadas

mens quanto nas mulheres. Afinal, os homens também precisam aprender e podem conhecer mais sobre o próprio corpo, o que não significa que conheçam o corpo de suas parceiras nem a melhor forma de estimulá-las. Valores repressores São as crenças que impedem a mulher de sentir que merece ter prazer e de assumir a responsabilidade por ele. A mulher pode acreditar, por exemplo, que “não é bonito demonstrar prazer”, ou que “a vagina é feia e suja”, que “mulher velha não pode ser assanhada desta forma” ou ainda que “mulher não tem orgasmo mesmo”. Com estas ideias desestimulantes e limitadoras fica muito difícil aprender, treinar e chegar lá. Aprendizados errôneos - Muitas mulheres não conhecem o próprio corpo, nem na teoria nem na prática. E se você não conhece, não pode fazer funcionar da melhor maneira. É importante conhecer sua região genital, as alterações que ocorrem durante o sexo, as reações de prazer, os pontos erógenos do próprio corpo; bem como suas fantasias e formas de se excitar. Não se masturbar 10 // rock meeting // março 2020

Nesta parte do aprendizado, a masturbação é a prática. É se tocando e experimentando as reações do corpo que a mulher vai aprendendo o tipo de toque que prefere, com que intensidade, velocidade, a melhor posição para o orgasmo. A masturbação é uma prática saudável e fundamental para se conhecer e praticar. Sexo maduro é sexo com penetração - Você sabia

que o órgão sexual da mulher não é a vagina, mas sim o clitóris? E sabe por quê? Porque se a mulher tivesse extrema sensibilidade na vagina, seria impossível dar à luz. Portanto, o clitóris está aí para ser estimulado, com ou sem a penetração, com a única exclusiva função de dar orgasmo à mulher. A penetração é uma das formas de fazer sexo, e nem sempre é a melhor maneira de chegar


ao orgasmo. Não existe isso de sexo maduro: existe sexo com mais ou menos prazer. Estimule o Clitóris. Temores - Os medos são grandes impeditivos do orgasmo. Quando a mulher tem medo, ela não relaxa e não se entrega ao prazer. Os medos mais comuns são de não atingir o orgasmo, de não agradar ao parceiro, de não conseguir fazer nada direito, de doer, de engravidar,

de pegar uma doença e de não sentir prazer. Com toda essa ansiedade e preocupação ela não consegue entrar no clima erótico, e fica impossível chegar ao orgasmo. Bloqueios e traumas É alto o índice de mulheres que viveram alguma experiência traumática na área sexual na infância, adolescência ou vida adulta e velhice. Abusos ou estupro, intimidação sexual, sexo sem consen-

timento. Estima-se que entre 35% e 50% das mulheres brasileiras já experimentaram algum tipo de violência sexual. Estas experiências podem deixar sensações incômodas e despertar medo. O modo como cada mulher será afetada varia, mas afeta a vida como um todo, os relacionamentos e a vida sexual. É fundamental buscar ajuda psicológica nestes casos. Problemas orgâni-


estressadas

cos - Distúrbios hormonais, alergias na área genital, infecções vaginais, doenças sexualmente transmissíveis ou qualquer outra condição orgânica pode gerar dor ou incômodo na hora do sexo. Com dor, ardência, coceira ou outro sintoma a mulher não consegue se excitar, o que impede também de chegar ao orgasmo. A obrigação de gozar - O orgasmo é uma possibilidade de prazer que deve ser concedida a todas as mulheres. A mulher tem o direito de exercer sua vida sexual e desfrutá-la de forma plena. Quando os acessos à informação de qualidade e à a ajuda são negados, nega-se também o direito à saúde sexual. O orgasmo é uma conquista da mulher empoderada e livre, mas não é uma obrigação. Obrigação não combina com liberdade, nem com prazer. A mulher não deve se cobrar ao extremo, nem procurar atingir o orgasmo “para o parceiro”. Para muitas mulheres, chegar ao prazer máximo do orgasmo, pode parecer um verdadeiro desafio. Em geral os homens 12 // rock meeting // março 2020


tentam agradar e fazer de várias formas para ela sentir prazer, mas parece que nada acontece. E isso é mais comum do que você imagina. As coisas que deixam os homens com tesão, excitados, são BEM DIFERENTES das coisas que deixam as mulheres com tesão, excitadas. Então, se você quer levar uma mulher ao orgasmo, terá que agir diferente! Segundo pesquisas 70% das mulheres nunca chegaram ao orgasmo com seus parceiros. 3 dicas sobre o orgasmo feminino 1) Mulher odeia homem com pressa O que você pode fazer já a partir de agora é diminuir o ritmo, e fazer tudo BEM DEVAGAR. As mulheres estão acostumadas com homens que já no início do sexo já vão com a mão nos órgãos genitais, e isso é um dos fatores que mais esfria

as mulheres. Ir direto ao ponto é um erro fatal. 2) Use a fantasia mental Não estou falando da fantasia de sexshop, a roupa, estou falando da fantasia mental! Mulheres adoram, e se excitam muito, com fantasias mentais. Fingir situações, atuar, brincar com o mistério, são coisas que deixam a mulher muito excitada. Lembre-se, homem se excita com o que vê, mulher se excita com o que ouve. 3) Estimule os sentidos dela O orgasmo será muito mais fácil se você estimular MAIS DE UM dos sentidos, como por exemplo olfato e audição, ao mesmo tempo. Por exemplo: Se você falar no ouvido dela que o cheiro dela está te deixando louco, e ao mesmo tempo você colocar no ambiente uma música que ela gosta, a potência do estímulo é muito maior, você estará estimulando a mulher exatamente do jeito que aumenta o tesão dela.


14 // rock meeting // marรงo 2020


INTERVIEW

MARCELO

VASCO fazendo um apanhado sobre o design brasileiro, comeรงamos com marcelo vasco, o cara que fez a capa do SLAYER por renato sanson foto Arquivo Pessoal


interview . marcelo vasco

Impossível atualmente não mencionar o seu nome e não o ligar ao Slayer. Pois a arte para o último trabalho da banda (“Repentless” – 15) que estava sob sua responsabilidade ficou no mínimo fantástica e impactante. Como foi o processo de desenvolvimento? Quanto tempo foi preciso para finalizá-la? Marcelo Vasco - Isso me deixa incrivelmente feliz (risos). Ter assinado uma arte de capa para o Slayer foi um marco super importante na minha vida profissional e pessoal. O Slayer sempre foi a minha banda favorita e trabalhar pra eles era um sonho, pra mim inalcançável. Quando houve a oportunidade eu fiquei quase que anestesiado, sem saber o que estava acontecendo e até hoje, às vezes é difícil de acre16 // rock meeting // março 2020

ditar que isso realmente aconteceu. Parece que a ficha nunca cai de verdade (risos). Em relação ao processo de desenvolvimento, foi razoavelmente longo e bem estressante num determinado momento. Eu comecei trabalhando em algumas ideias aleatórias baseadas no título

“Repentless”, apenas rascunhos vagos e um desses rascunhos foi escolhido por eles pra ter um trabalho mais apurado em cima. Foram uns 5 rascunhos iniciais. Foi aí que fiquei algumas semanas fazendo mudanças aqui e ali e desenvolvendo algo mais concreto para a capa. Eles me dei-


xaram super livre e a vontade na parte da criação, o que foi fantástico. Eu queria uma arte que fosse ultrajante e a cara do Slayer clássico! Que me deixasse feliz como fã e que outros fãs pudessem captar a essência daquilo facilmente, algo quase nostálgico. O legal é que a banda realmente con-

fiou no meu trabalho e visão como artista, o que foi um brilho extra nos meus olhos. De qualquer maneira, na minha cabeça, até o momento nada estava certo e eu estava trabalhando apenas em conjunto com a equipe da Nuclear Blast, que estava mediando, não diretamente com a banda. Eu sabia que precisava conseguir esse trabalho e por isso eu passava dias sem dormir direito, sempre trabalhando e sendo o mais rápido e certeiro possível. Afinal de contas era a capa da minha vida! Depois de mais ou menos uns dois meses e as coisas estarem já um tanto quanto avançadas, o pessoal da Nuclear Blast disse que o Slayer iria entrar em contato comigo diretamente para irmos a diante. Ali, pra mim, apesar de eu ainda não ter certeza de que seria eu o artista, senti que as chances eram bem altas e isso me deu um gás extra pro trabalho, mas ao mesmo tempo também mais pressão psicológica. Nesse dia eu fiquei super ansioso, aguardando a banda vir falar comigo. O contato durante todo o processo de criação da capa


interview . marcelo vasco

foi todo por email, pois na cópia estavam membros da equipe da Nuclear Blast, os empresários da banda, assessores etc. Dessa forma todos poderiam acompanhar, dar pitaco e debater os detalhes mais importantes. Nesse mesmo dia o Tom Araya me escreveu e logo da sequência o Kerry King. Ambos disseram que estavam curtindo demais a capa, elogiaram meu trabalho e tudo mais. Foi do caralho (risos). Passei mais umas duas semanas trabalhando diariamente em conjunto com eles, fazendo melhorias e chegando no resultado que eles queriam. Resultado, poucas horas de sono, trabalhava 15/18 horas por dia, eu estava um caco e cheguei a ficar todo esse período com as pálpebras dos olhos tremendo, sabe?! Geralmente isso indica stress. Foi tenso (risos). Eu lembro que na época eu pensava como era estranho eu estar fazendo o trabalho da minha vida, pra minha banda 18 // rock meeting // março 2020


preferida, que eu tanto sonhava alcançar e ainda assim eu estava estressado, cansado, quase não aguentando mais a barra, ranzinza e querendo paz. Super esquisito (risos). Todo o processo foi estressante e levou em torno de três ou quatro meses até a finalização da capa. O interessante é que em momento algum eu estava acreditando que eu seria o artista escolhido. Na minha cabeça outros artistas estavam trabalhando em capas também, ao mesmo tempo, para que a banda escolhesse a melhor. E realmente aconteceu isso, mas apenas uns meses antes, no começo do processo. Quando o Tom e o Kerry entraram em contato comigo já era eu o escolhido, mas eu não fazia ideia disso. Ninguém tinha me avisado (risos). Até que um belo dia o empresário do Slayer me escreveu perguntando como eu queria meu nome nos créditos. Eu arrepiei e ali soube com 100% de certeza que a capa seria minha! Quase chorei de emoção! Então no final todo aquele stress e trabalho excessivo se justificou, é claro.

Pra mim foi o auge de tudo que eu poderia conquistar com o meu trabalho, pelo significado especial que a banda tem na minha vida. Claro, ainda quero trabalhar pra muitas bandas que sou fã e tudo mais, mas não posso mentir… Nada vai estar além dessa conquista com o Slayer! Nada! Em sua visão como artista, qual a importância de uma ótima arte em um lançamento? Essencialmente uma coisa complementa a outra. É como num filme, a trilha sonora muitas vezes consegue se aliar ao contexto visual, gerando uma melhor compreensão de cena e emoção ainda maior no telespectador. Então em um disco existe sempre alguma mensagem… Uma história, um conceito. O meu trabalho é ajudar a transmitir essa emoção através do ponto de vista estético. Além disso ainda existe o apelo comercial, é claro… Quem nunca comprou um disco pela capa? (risos). Qual foi aquela capa que você criou e teve certeza


interview . marcelo vasco

que estava no mesmo nicho dos grandes artistas? Eu sou uma pessoa que sempre duvidei de mim mesmo, nunca me levei tão a sério, no bom sentido, digamos assim (risos). Mas trabalho duro, sou extremamente dedicado, estudioso e apaixonado. Ao mesmo tempo sou bastante crítico com tudo que eu faço e raramente fico completamente feliz. E quando fico é só questão de tempo para eu começar a implicar com o resultado do meu trabalho. Mas todas as minhas artes são quase como “filhos”, super importantes e eu tento absorver isso como trajetória de um maior aprendizado também. Então é uma pergunta difícil de responder… Já assinei capas muito significativas na minha carreira, para artistas de renome mundial e alguns que representam ouro pra mim. A maior delas, como já mencionei acima, sem dúvida foi a capa do Slayer. E desde 2015 tenho trabalhado para a banda sem parar… Além da capa do “Repentless”, assinei a capa do livro, fiz a ilustração da Tour 20 // rock meeting // março 2020

Final, criei pano de fundo dessa mesma tour de despedida e fechei com chave de ouro assinando a capa do “último” disco ao vivo da banda, o “The Repentless Killogy”. Além do Slayer assinei trabalhos para bandas como o Kreator, Dee Snider (Twisted Sister), Machine Head, Testament, Soulfly (Max Cavalera), Hatebreed, Borknagar, Dark Funeral, Dimmu Borgir entre vá-

rias outras. Tenho trabalhado muito ao longo dos anos para a Nuclear Blast, que é um dos maiores, senão o maior selo de Metal do mundo. Também para outros grandes como a Century Media, Roadrunner, Metal Blade, Napalm Records e por aí vai. Acredito que tudo isso tenha dado mostras de que eu esteja de fato no nicho dos grandes artistas do Metal, o que é muito legal e inacre-


ditável pra mim. No final das contas sou só um fã inveterado de Heavy Metal, que ama de verdade o que faz e que teve muita sorte… De todos os seus trabalhos criados, teve algum em qual você se arrependeu ou pensou não ter ficado como o esperado? Olha, isso acontece algumas vezes, creio que seja normal… Sempre tem o ônus e o bônus. Mas prefiro não dar nome aos bois (risos). O problema é que um projeto envolve muita coisa e certas vezes foge do nosso controle… Existem prazos, quase sempre curtos, existe a banda querendo se envolver demais no processo criativo, às vezes até sem saber se expressar e atrapalhando muito, a ponto de usar o artista gráfico como uma mera ferramenta. Existem discordâncias entre selo e banda, briga de egos etc… Enfim, uma série de detalhes que agregados tornam


interview . marcelo vasco

um trabalho, que era pra ser muito legal, em algo inexpressivo e monótono. E como eu disse anteriormente… Eu acabo tentando enxergar esses “tropeços” como parte de um processo, um caminho para adquirir maior experiência e desenvolver cada dia melhor o meu trabalho. É como eu prefiro encarar (risos). Como funciona o seu processo de criação das artes, as bandas influenciam muito ou a criação em si é toda sua? Atualmente tenho a sorte de poder escolher que projetos eu devo pegar, então fico numa situação mais privilegiada, podendo me dedicar somente aos trabalhos que de fato tenham a ver comigo, com meu estilo artístico e trabalhando para bandas que confiam na minha visão como artista. Eu geralmente trabalho em cima do título do álbum, de um conceito passado pela banda ou letras das músicas. É claro que todas as ideias vindas da 22 // rock meeting // março 2020

banda são sempre importantes e válidas para me dar um “norte”, mas quando a banda tem algo muito concreto em mente, eu raramente aceito o trabalho, pois já me poda logo de cara, de poder criar baseado na minha própria perspectiva. Quase sempre é dor de cabeça. E como tenho hoje em dia a minha agenda sempre cheia, prefiro não dar chance de me envolver em problemas assim a troco de nada (risos). Então respondendo a sua pergunta, na maioria dos casos,

a criação parte toda da minha cabeça, baseado no que a banda me passa, me deixando livre pra interpretar da minha maneira, que é como eu gosto de trabalhar, como flui melhor… Se a banda está me contratando como artista, eles devem conhecer o meu trabalho e confiar na minha visão e estética, caso contrário perde completamente o sentido. Certamente já deve ter recebido ideias bizarras de diversas bandas. Poderia


nos contar algumas? Às vezes acontece sim (risos). Não me lembro de nada específico agora, mas acho que na maioria das vezes esse briefing é válido até… Mas de novo eu digo, não sigo à risca aquilo, me serve apenas de inspiração, para tentar captar a essência do que a banda está procurando. Quando a banda já tem a ideia concreta do que querem, tentando apenas me

usar de ferramenta, algo mecânico para executar a criatividade deles, eu pulo fora na hora. Não sou esse cara! Realmente algumas vezes eu acho graça e fico rindo sozinho com a minha esposa, porque eles narram cada cenário bizarro, com tantos elementos, mil detalhes, sem foco central, uma verdadeira salada de frutas… Que parece algo que não caberia nem mesmo num mural

gigante numa quadra de rua, quanto mais em uma mera capa de CD de 12x12cm (risos). Na maioria das vezes estão empolgados e muito envolvidos… E sem a experiência acabam extrapolando e se perdendo… É compreensível! Meu papel é tentar explicar o que é cabível ou não e criar uma peça que possa representar ao menos um resumo daquela salada toda.


interview . marcelo vasco

Sem ordem de preferência, quais são as suas artes preferidas e quais são aquelas que você julga as mais importantes que acabaram o consolidando neste meio? A primeira e que se enquadra nesses dois âmbitos é obviamente a do Slayer “Repentless”, que é provavelmente meu trabalho com maior alcance e significância. Existem também todos os outros trabalhos que fiz pro Slayer, que são muito importantes pra mim, profissionalmente e pessoalmente. Coisa de fã (risos), mas que geraram e ge24 // rock meeting // março 2020

ram ótimos frutos. Também adoro a capa do Borknagar “Winter Thrice”. Tenho até um pôster dela enquadrada no meu escritório, junto com a do Slayer. Olho pra elas todos os dias e não me canso. Isso deve significar alguma coisa (risos). Outras que tem um significado especial pra mim são a do Soulfly “Enslaved”, talvez também pelo apelo emocional, por eu ter tido a possibilidade de trabalhar com o Max Cavalera, que é um dos meus grandes ídolos no Metal, e do Kreator “Gods of Violence” (versão norte-americana), que é uma das


minhas bandas favoritas também. Quais são as suas principais inspirações no meio artístico? Dentre os artistas gráficos do Metal eu posso citar o mestre Dan Seagrave, Travis Smith, Ed Repka, Kristian Wåhlin, Michael Whelan, Derek Riggs e Andreas Marschall dentre muitos outros. Já num âmbito mais amplo é difícil escolher, pois são milhares… Mas que me vem à cabeça agora é o Hieronymous Bosch, Van Gogh, Picasso, Salvador Dali, Gustave Doré, Frank Frazetta etc… Falando um pouco do seu trabalho musical, o projeto Hellscourge a quantas andas? Teremos material novo em breve? Infelizmente não. O Hellscourge está parado faz alguns bons anos. Até temos planos para um disco novo, algumas músicas compostas e tudo mais, mas ainda sem previsão de começar a produção. Provavelmente ainda não teremos nada novo esse ano, levando em consideração as coisas que já tenho na agenda. Mas quem sabe em 2021! E sobre a Patria e o


interview . marcelo vasco

Mysteriis, quais os planos para 2020? Com o Patria recentemente gravamos dois covers: “Detroit Rock City” do Kiss e “The Number of the Beast” do Iron Maiden, que farão parte de dois tributos somente com bandas brasileiras. Achamos divertido, pois além de serem bandas que gostamos muito, são bandas completamente diferentes do Patria, então tentamos fazer uma versão com o nosso toque “Black Metal”. Espero 26 // rock meeting // março 2020

que todos curtam! Além disso existem planos para músicas novas que estarão num Split e quem sabe ainda esse ano começamos a trabalhar em um próximo disco. Com o Mysteriis estamos ainda gravando o disco novo, já faz uns três anos (risos). Como estamos cada um num lugar do Brasil, a logística não colabora tanto e no decorrer desses anos tivemos todos problemas pessoais o que infelizmente nos fez pausar a produção. Mas esse ano estamos empenha-

dos em terminar o disco finalmente. Será lançado pelo ótimo selo Heavy Metal Rock, só não sabemos a data ainda. Além disso estão nos planos novos discos do I Gather Your Grief e do Le Chant Noir, outros projetos dos quais eu faço parte. Finalizando, você esteve presente no último show do Slayer em solo brasileiro em São Paulo. Como foi se despedir dos seus ídolos? Acredita que


realmente os gigantes do Thrash Metal vão encerrar de vez suas atividades? Fui em todos os shows do Slayer no Brasil, desde a primeira vez em 1994, com exceção do show no Rock In Rio, que infelizmente não tive como ir. Tive a chance de conhecer eles pessoalmente ainda uns anos antes desse show da Tour final, quando eles tocaram em Porto Alegre. Foi surreal! E também estive com eles em São Paulo nesse último show de despedida. É sempre triste

saber que a sua banda preferida está encerrando as atividades, mas de certa forma fico feliz por ter feito parte da história da banda de alguma maneira, nesses últimos cinco anos que tenho trabalhado pra eles. Isso não tem preço! Em relação a eles pararem de vez, parte de mim acredita que sim, que vão parar… outra parte acha que é só questão de tempo, de férias. Não sei em qual parte acreditar (risos). O tempo dirá… Mas tenho certeza que o desgaste na estrada durante tanto tempo, longe

da família, não deva ser algo muito legal. Eles devem estar de saco cheio faz tempo! Eu fico tentando me colocar no lugar e provavelmente não aguentaria nem alguns meses. E esses caras estão nessa a vida inteira. Eu entendo o porquê deles terem decidido parar. E respeito pra caralho isso! Mas fico na torcida para que seja só uma pausa, mesmo que longa e que aconteçam surpresas lá no futuro. E de preferência que eles me chamem de novo pra trabalhar (risos).


live

AMON AMARTH & POWERWOLF 28 // rock meeting // marรงo 2020


num verdadeiro culto aos deuses metal e nĂłrdico, amon amarth e powerwolf distribuĂ­ram carisma e energia texto e foto pei fon

>>


live. Amon Amarth + Powerwolf

Q

ue a turnê do álbum “Berserker” (2019), do Amon Amarth, seria impressionante, ninguém tinha dúvida, e foi a vez do Brasil entrar no roteiro da banda e entender o porquê de terem crescido tanto desde 2008 quando lançaram o icônico “Twilight of the Thunder God”. Mas não é somente deles que vamos falar, já que a banda alemã Powerwolf pisara em solo brasileiro pela primeira vez. Essa turnê foi um verdadeiro culto aos deuses: metal e nórdico. Em pleno ano de 2020 ainda podemos contemplar a vinda de uma banda que, na Europa, é mainstream, fecha festival, mas que nunca esteve por esse lado do Atlântico. Ter esse privilégio de presenciar isso é para contar para as gerações futuras, é para glorificar de pé (Holy Metal Masses). E é mais sobre eles que 30 // rock meeting // março 2020

vamos dedicar algumas pala- já tinha botado na lista das bandas que sonho em ver. E vras a mais. consegui ver! Vou riscar da lista... POWERWOLF Com oito datas marca Já se imaginava o Ber- das, marcamos presença na serker Latin America, mas no segunda data da turnê que dia de seu anúncio foi uma foi no Recife (PE). Na capital surpresa total. Ler o nome pernambucana, o ‘culto’ acondo Powerwolf como ‘special teceu no Baile Perfumado, loguest’ fez (esta que vos escre- cal conhecido da galera metal ve) arrepiar toda. Desde que da região. O quinteto alemão é comecei a ouvir o som deles,


formado pelos irmãos guitarristas Matthew e Charles Greywolf, órgão de Falk Maria Schlengel, bateria de Roel Van Helden e do carismático vocalista Attila Dorn. Cadê o baixo? Tem não, tá?! Se é essa a pergunta que paira na sua cabeça. Para o deleite dos recifenses e da galera das cidades vizinhas, o Powerwolf foi bastante pontual, não só no horário, mas também no setlist. As músicas escolhidas para os 60 minutos de show foram acertadas. Fazendo um passeio por sua discografia e tocando as músicas do seu ótimo álbum “The Sacrament of Sin” (que vale sim uma bela audição de tão bom que é), eles conquistaram não só a mim, que fui lá só para vê-los, mas


live . Amon Amarth + Powerwolf

a galera toda que foi para ver os vikings. A apresentação do Powerwolf é algo que impressiona. Tirando o baterista, até porque ele não pode sair do seu lugar, os demais foram bastante expressivos. Individualmente, cada um deu seu show, coisa que geralmente cabe ao vocalista, mas nessa banda não, todos participam de modo intenso, principal-

32 // rock meeting // março 2020

mente Attila e Falk, ambos vestidos como padres fizeram uma apresentação singular e divertiram os que ali estavam no Baile. E vale um salve para o iluminador da banda, para as fotos, foi um parque de diversões, bastante divertido fotografar esses caras. “Fire and Forgive”, “Army of the Night”, “Incense & Iron”, “Amen & Attack”, “Demons Are a Girl’s Best

Friend”, “Blessed & Possessed”, “Armata Strigoi”, “Ressurection by Erection”, “Santified With Dynamite”, “Werewolves of Armenia” e “We Drink Your Blood” fechou o culto ao deus metal. Já que abriram os caminhos, que retornem o mais breve para a nossa terrinha e com mais músicas, porque senti falta de algumas...


AMON AMARTH Segunda data da turnê e segunda passagem pela cidade do Recife, os vikings aportaram o seu navio no Baile Perfumado. Num verdadeiro culto à mitologia nórdica, o quinteto formado pelo grandalhão Johan Hegg (vocal), Johan Söderberg e Olavi Mikkonen (guitarras), Ted Lundström (baixo) e Jocke Wallgren (bateria) mostrou porque é tão venerado... Venerando outra banda e tocando o trecho de “Run to the Hills” do Iron Maiden como abertura. Depois fazer a galera ‘correr para as colinas’, a ban-


live . amon amarth + powerwolf

da fez um passeio pelos clássicos, mostrando músicas do novo álbum, “Berserker”. O Amon Amarth mostrou força, peso, foi imponente, carismático, tem uma bela composição artística entre luz e performance de Johan e seu enorme horn. Se a turnê brasileira pudesse ter o mesmo aparato que a europeia, a experiência do show seria outra: imersão total no mundo viking. Mas vamos nos ater aos detalhes. As músicas do “Berserker” são fortes, os elemen34 // rock meeting // março 2020

WASP retornou ao país após 10 anos sem pisar em terras brasileiras


tos característicos da banda estão todos lá, mas vale ressaltar a força da música “Shield Wall”, já nasceu clássico. Com certeza, essa música vai ficar no setlist daqui pra frente. Esses suecos têm presença de palco, sabem cativar novos ouvintes e fidelizar o seu público. Ouvir as músicas mais antigas faz lembrar o quão ainda são atuais. O momento legal foi “Raise Your Horns”, os que arriscaram levar seus chifres puderam brindar juntos e participar ainda mais dessa celebração. Mas as três músicas finais não poderiam ser diAmon Amarth se apresentou pela segunda vez na cidade do Recife (PE)

ferentes. São aquelas músicas que não podem faltar no setlist. Destaque vai mais para “Twilight of the Thunder God”. Essa música é outra que nasceu clássico. Desde o seu lançamento, que abria os shows, agora termina em grande estilo. Que poder! Dentre as tocadas estavam “Fafner’s Gold”, “Death in Fire”, “Runes To My Me-


live. amon amarth + powerwolf

mory”, “First Kill”, “Valhall Awaits Me”, “Asator”, “Deceiver of the Gods”, “Raven’s Flight”, “The Fate of Norns”, “Crack the Sky”, “The Way of Vikings”, “Shield Wall”, “Raise Your Horns”, “War of the Gods” e a tríade final com “The Pursuit of Vikings”, “Guardians of Asgaard” e “Twilight of the Thunder God”. Precisa nem lembrar que a porta da casa está aberta para eles retornarem.

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INTERVIEW

KORZUS os guerreiros do metal retornam à estrada e devem lançar um novo play ano que vem por Augusto Hunter // foto du Firmo

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interview . korzus

F

alar da instituição Korzus é mais do que chover no molhado, mas caso você queria informações, eles nasceram em 1983, têm diversos lançamentos que são clássicos no cenário do rock pesado nacional e eles não param. No ano passado, a banda lançou um livro, chamado Korzus-Guerreiros Do Metal, por Mauricio “Hominho” Panzone e hoje faz parte da vindoura tour nacional, juntos do Armored Dawn, Jimmy & Rats, Dr. Sin e Medjay. Conversamos com o Marcelo Pompeu, figura lendária do meio metal, sobre a banda, o livro e outras coisas mais. Primeiro, obrigado por esse tempo de trocar ideia conosco e vamos lá, quando vocês conceberam a ideia de escrever um livro? 40 // rock meeting // março 2020

Marcelo Pompeu - Alguns anos atrás eu e o Dick pensamos em fazer um livro de fotos, só com fotos e cronológico, mas desistimos porque não era fácil, até que em 2018 o Hominho nos procurou com a ideia, demos o ok, eu particularmente não achava que ele iria conseguir. E como foi o processo de escrever o livro? Árduo, entrevistas e mais entrevistas, reuniões. Quem realmente participou efetivamente junto com o Hominho foi o Dick, demorou uns dois anos pra rolar. Desde 1983 são diversas histórias e tenho certeza que algumas delas ficaram de fora, vocês pretendem lançar uma “segunda parte”? Quem sabe…. Mas, por en-



interview . korzus

quanto, não. Saindo um pouco do livro, vamos falar dos discos. Qual foi o álbum que foi mais arriscado em gravar, aquele que vocês pensaram que daria errado? Sinceramente, nenhum, o que menos apavorou, foi o KZS, mas na minha opinião, ele era muito inovador e diferente para a época. Se fosse agora…. Sei não, acho que venderia bem mais. Quando o Korzus retornará com um material novo? Pretendemos em 2021. Agora falemos da futura tour nacional, que está vindo, como ela surgiu? Foi uma ideia da banda Armored Dawn. Nós somos bem amigos e bem próximos, compartilhamos músicos e equipe (risos), damos uma força uns aos outros. O conceito é cru42 // rock meeting // março 2020


zar o país, estimular outros a fazerem o mesmo, aproximar os fãs, levar um show com qualidade e grandes bandas. A Armored Dawn se responsabilizou totalmente com a logística do projeto, buscar os locais e produtores interessados, transporte, numa iniciativa muito importante. Para esse primeiro giro, fomos convidados pela proximidade e qualidade de nosso show, sabemos também que não será fácil para o Rodrigo e o Heros fazerem as duas apresentações seguidas, por isso tomamos o cuidado de não tocarmos colado com os anfitriões, além de nós tem Dr. Sin e Jimmy & Rats. Temos muito amigos. Só temo que esse corona vírus não atrapalhe... Tenho certeza que, para cobrir o máximo de cidades possível, essa tour passou por uma logística monstruosa, como foi criar todo esse percurso? Ah, não foi fácil! Como sou diretor artístico do Armored Dawn também, pude ver de perto o corre que o escritório e equipe da banda despendeu pra conseguir uma tour de responsa.

Na visão de vocês, qual a importância dessa tour, dentro do cenário nacional? Vem pra mostrar a boa fase do Metal Nacional, vem pra animar, vem pra mostrar que há união entre bandas e que essa cena precisa ser levada a sério. Mostra que estamos longe da morte de um estilo como tantos gostam de pregar, porque são toscos e nunca serão nada. É mais fácil matar para se igualar. E se vocês conseguem prever um impacto dela no país, qual seria? Valorização para nossa cena, com certeza, faz crescer mais. O espaço é de vocês, por favor, deixem aqui um recado e convidem os leitores da Rock Meeting para comparecer aos shows, muito obrigado! Você, fã do Korzus, que sempre nos apoia, está na hora de soltar a voz, veja a data mais próxima da sua cidade e compareça. Venha curtir nosso show, prometo que não irão se arrepender! Aproveitem essa oportunidade com um preço super legal. Metal na veia!!


CAPA

ARMORED DAWN 44 // rock meeting // marรงo 2020


lançando uma turnê inédita, o armored dawn agita a cena rock/ metal do brasil por RENATO SANSON // foto du firmo


capa . armored dawn

N

os últimos anos você escutou bastante o nome do Armored Dawn no Brasil. Seja por lançar turnês foram do país, por assistir um videoclipe no cinema, músicos renomados, e agora eles aquecem a cena brasileira com o Armored Dawn Convida. Um projeto ambicioso e que traz grandes nomes da cena Rock/Metal do país. Mas não é apenas sobre esse projeto, conversamos com os caras da banda de tudo um pouco. Passado, presente e futuro. Tem tudo aqui. Acompanhe.

De Mad Old Lady à Armored Dawn. Por que mudaram o nome se a banda já vinha conquistando seu espaço? Eduardo Parras: Foi um grande dilema na época. Nós já tínhamos gravado nosso disco e feito diversas aberturas de shows como Tarja e Symphony X, por exemplo. 46 // rock meeting // março 2020

meiramente fora do país, para depois cair nas graças do público brasileiro. Esta seria uma dica para outras bandas brasileiras conquistarem certo destaque e sucesso? Rafael Agostino: Infelizmente, no geral, o brasileiro tem a ‘mania’ de dar mais vaO Armored Dawn acabou lor ao que vem de fora, né? O fazendo o caminho inver- que é uma pena, porque tem so. Conquistando fãs pri- muita banda excelente por Houve mudanças na formação da banda, queríamos fazer nossa primeira tour fora do Brasil e também queríamos mudar o rumo da nossa música… Então essa mudança de nome acabou sendo inevitável e se tornou um novo começo para nós.


aí… Então, às vezes, realmente é mais fácil começar fora do país e essa é quase uma regra para as bandas daqui, o mesmo aconteceu com Angra e Sepultura. Nós já tínhamos um público bastante considerável no Brasil, mas a dificuldade maior era conseguir datas, pessoas que contratassem nosso show e fizessem toda logística de uma tour acontecer. Como a Europa tem uma tradição de turnês grandes, foi mais fácil começar essa rotina de shows por lá. Em 2019, vocês foram uma das gratas surpresas que figuraram nos festivais Rockfest e Rock In Rio. Como foi esta experiência? Eduardo: Foram meses de preparação para aquele show, mas foi muito gratificante subir ao palco e ver que o estádio estava praticamente cheio. Uma emoção indescritível! Rafael: O Rockfest foi o


capa . armored dawn

maior palco no qual já tocamos e para o maior público também. Nenhum outro lugar que a gente já tenha tocado se igualou ao RockFest! O Rock in Rio também foi muito importante. Tocamos como headliner no palco Supernova a convite da Sony e tinha muita gente presente, inclusive nosso fã-clube, que foi de outras partes do país para o evento só pra ver o nosso show. Como Armored Dawn temos o intenso “Viking Zombie” calcado no Power Metal com influencias Folk. Como se desenvolveu o álbum? Rodrigo Oliveira: “Viking Zombie” foi o álbum que mais demoramos para produzir, gravar e finalizar. Em outubro de 2018, um ano antes do lançamento, nós já tínhamos uma pré-produção com todas as músicas. Foram duas prés e o processo de gravação durou quatro meses. Entre uma tour e outra, a gente trabalhava nas músicas, e durante as tours, a gente ouvia tudo várias vezes para, aos poucos, irmos acertando os detalhes. Em relação 48 // rock meeting // março 2020

às influências, acredito que esse seja o álbum mais versátil da banda até o momento. Heros e eu, obviamente, trazemos uma influência muito Thrash, mas já havíamos feito um som mais pesado no “Barbarians in Black”. Dessa vez a gente decidiu usar mais a influência dos outros integrantes. Ainda sobre “Viking Zombie”. Está sendo o resultado esperado? Esperavam tantas críticas positivas? Rafael: Quando lançamos um trabalho novo, a gente sempre espera por críticas, sejam elas positivas ou negativas, é muito difícil agradar 100% do público. Logo de cara, com mais ou menos três meses desde o lançamento, já tivemos o álbum eleito como o segundo melhor disco do ano pela Roadie Crew. Isso foi muito legal! Rodrigo: A gente sempre espera por bons resultados, mas temos nos surpreendido muito com a resposta do público e da imprensa especializada. Estamos muito satisfeitos e orgulhos do “Viking Zombie”!


Rafael Agostinho durante apresentação no Dragon Fest


capa . armored dawn

Em 2016, vocês relançaram “Power Of Warrior” como Armored Dawn, sendo de fato o seu début. Por que “Barbarians in Black” (18) não poderia ser o disco de estreia? Rafael: Realmente, a diferença entre ambos é tão grande que literalmente era outra banda, haha! Dois anos seria tempo demais para começarmos de novo como uma outra banda, com um novo lançamento e também já tínhamos nossa primeira turnê fora do país agendada… A evolução fez parte do processo de amadurecimento da banda. Seria impossível fazer um álbum no nível do “Power of Warrior” depois da entrada do Rodrigo. É legal ter esse disco como début exatamente pra gente ver de onde viemos e todo o nosso caminho, a nossa evolução ao longo do tempo. A formação atual conta com o baterista Rodrigo Oliveira e Heros Trench no baixo, ambos do Korzus. Seria este o dream team da atualidade do 50 // rock meeting // março 2020


Heavy Metal nacional? Rafael: Sem dúvida o Rodrigo e o Heros são dois dos melhores músicos e produtores da atualidade, mas é muito difícil falar em um “dream team”, principalmente estando no Brasil, um país com tanto músico bom. O que a gente pode dizer é que quando se trata de sintonia, musicalidade, bom astral e convivência, sim, temos um “dream team”! Vendo o andamento do Armored Dawn, pode-se considerar que são uma banda empresa. O que essa organização ajuda no andamento dos projetos do grupo? Rafael: Somos, de fato, uma banda empresa. A gente acredita que não exista outra forma de fazer isso, é a maneira mais profissional de se trabalhar. Nós temos um escritório e pessoas trabalhando em horário comercial, como uma empresa mesmo, pra fazer tudo acontecer. Tem gente pra cuidar dos contratos, do administrativo, do financeiro, dos produtos… Sabemos que o Metallica e Iron Maiden, por exemplo, trabalham dessa

forma também. A gente segue o exemplo dessas bandas consagradas. Uma iniciativa louvável e mais que importante para o Heavy Metal brasileiro foi o “Armored Dawn convida...” reunindo grandes nomes do nosso país em um grande festival. Como nasceu este projeto? O que motivou a criá-lo? Rafael: Como eu falei anteriormente, estávamos indignados de sempre ter datas mais fora do Brasil do que aqui, e entendemos que boa parte disso era por conta dos contratantes que muitas vezes saiam no prejuízo. Então, a nossa ideia inicial foi fazer algo que deixasse essa tour mais barata, ou seja, que as bandas compartilhassem o mesmo ônibus e o mesmo equipamento. Rodrigo: Criando um evento dessa maneira que o Rafa falou, a gente consegue levar entretenimento de qualidade pro público a um preço acessível, pois essa é um ponto que a galera reclama bastante. Foi uma maneira que a gente encontrou de divulgar o nosso trabalho e o das outras ban-


capa . armored dawn

das também e, principalmen- Rafael: O fato do Rodrigo te, de manter a cena ativa. e do Heros tocarem em duas das bandas ajuda em muito Com cinco bandas no na logística. Parece pouco, line-up, sendo uma estre- mas duas pessoas a menos já ante na cena, como será a fazem diferença! Mas a ideia logística de tudo? é essa mesmo, compartilhar Rodrigo: A ideia é comparti- tudo o que for possível pra falhar o máximo de equipamen- cilitar a logística toda. to possível, as bandas usarão a mesma bateria e amplifica- Começando pelo Sul e Sudores. Quase todas as viagens deste do país, tendo uma serão feitas de ônibus, com to- data no Norte, como ledas as bandas juntas. A equi- var essa turnê para o Norpe será a mesma para todas as deste e outras cidades do bandas também. Norte tendo em vista as 52 // rock meeting // março 2020

dificuldades de logística regional? Rodrigo: Justamente por conta de toda essa dificuldade, nós vamos começar essa tour na parte Norte/Nordeste apenas por Manaus. Mas já estamos estudando uma forma viável que facilite a nossa ida para esses outros estados. Em breve, com certeza, passaremos por lá também. As datas estão surgindo e mostrou certa comoção entre os fãs, que foram


pegos de surpresa, de for- Essa turnê vem para esma positiva. O que os hea- quentar o coração do fã dbangers podem esperar da música pesada que está precisando ser aquedeste evento? Rafael: Tá sendo emocio- cido. Tendo uma visão ronante pra gente fazer isso mântica dessa turnê, não é só tocar, o que vocês esacontecer e ver a reação dos peram ver ou sentir nessa nossos fãs só faz isso ser meiniciativa? lhor ainda. Dividir o palco Rafael: A gente espera ver com tanta banda foda e com movimento maior de toda músicos incríveis vai ser uma cena, ver várias outras bandas experiência única. Nós todos saindo em turnê em um forsomos muito fãs uns dos ou- mato parecido com esse que tros, então o que o público estamos fazendo. Isso fortalepode esperar é muita união e ce muito a nossa cena. música de qualidade. Rodrigo: A gente espera que

essa seja apenas a primeira união de muitas outras que vão acontecer. No fim das contas, o desejo de todos nós é levar música boa para todos, então tenho certeza de que todos os shows serão eventos marcantes tanto para as bandas como para o público. Estamos muito ansiosos pra ver isso acontecer! Falando do Armored em si, os fãs terão alguma surpresa em seus shows? Rafael: Vou deixar isso no ar. Se eu disser que vai ter


capa . armored dawn

surpresa, já não é mais surpresa, hahaha! O que é legal nisso tudo é que mesmo com cinco bandas tocando, nós vamos levar toda a nossa estrutura de palco, e não é porque tem outras bandas que vamos tocar menos tempo. Vocês podem esperar por um show completo nosso. Sobre material novo, o que a banda está planejando? Podemos esperar algo vindo dessa turnê? Rafael: Seria muito legal ter um registro em vídeo dessa turnê, mas é apenas uma ideia por enquanto. Como certeza vamos gravar muito material, 54 // rock meeting // março 2020

mas ainda não sabemos quando ou como lançar. No mais, já estamos trabalhando nas composições do novo álbum. Ainda não temos data para lançamento nem nada. Estamos apenas começando. Eduardo, o Armored Dawn já transformou sonho em realidade. Hoje a banda tem a Sony como gravadora o que vai ampliar ainda mais os horizontes. Em algum momento você imaginou tudo isso acontecendo? O que ainda está sonhando? Eduardo: É uma sensação muito louca. Ao mesmo tem-


po que parece um sonho, assinar com uma gravadora tão grande era um dos nossos objetivos sim. Nós batalhamos muito ao longo dos anos para que isso acontecesse, muito trabalho foi feito. Hoje o nosso sonho é que o Armored Dawn cresça cada vez mais, que vá o mais longe possível. Assim como temos feito todos esses anos, continuamos trabalhando incessantemente nesse projeto para que tudo o que sonhamos se torne realidade. Para finalizar, o que podemos esperar da banda

para 2020. Muito obrigado, sucesso sempre! Rodrigo: Temos algumas datas nesse primeiro semestre na América Central (Costa Rica, El Salvador e Guatemala). Na sequência a gente faz as datas do Armored Dawn Convida. Em junho e julho passaremos pelos Estados Unidos. Pro segundo semestre, faremos mais datas na América Latina e pretendemos voltar para a Europa também. Rafael: Obrigado à Rock Meeting pela oportunidade, pelo espaço e por sempre apoiar a cena metal! Nos vemos na estrada!


INTERVIEW

DR SIN aPÓS ANUNCIAR O FIM, OS IRMÃOS BUSIC VOLTARAM A TOCAR, LANÇARAM CD E TEM TURNÊ EM 2020

por Barbara lopes // fotos du firmo

>> 56 // rock meeting // março 2020



interview . DR SIN

A

pós encerrar as atividades, a banda paulistana de hard rock Dr. Sin está de volta aos palcos. O baterista Ivan Busic conversou exclusivamente com a Rock Meeting sobre a cena do metal brasileiro, influências e, claro, a retomada da banda. Por que um recomeço, após uma despedida? Ivan Busic - Foi tudo uma grande mudança inesperada. Tanto o final como o recomeço. Na real, achávamos mesmo que nunca mais voltaríamos, mas nossos corações e almas ficaram sufocados depois de dois anos longe da coisa que criamos e vivemos com tanta intensidade. Foi mais da metade de nossas vidas de corpo e alma na banda. Certo dia resolvemos pensar na volta e que bom que o fizemos, pois os deuses do Rock estavam a nosso favor. 58 // rock meeting // março 2020

Como se sentem? Hoje estamos realizados e de volta pra casa, como diz o próprio nome do novo álbum. Revigorados e com sangue nos olhos. Considerando toda a bagagem do Dr. Sin, quais são as expectativas da turnê? Como surgiu o convite? Acredito que é algo pra revolucionar. Certeza que será um sucesso. O convite partiu do nosso amigo irmão Rodrigo Oliveira e da banda Armored Dawn (banda de pessoas que admiramos e convivemos há muitos anos), assim como o Korzus, que são grandes amigos de uma vida toda. Como vocês acreditam que isso impactará na cena do metal brasileiro? Inclusive, como vocês enxergam o atual momento da música pesada no


Adria durante show em Curitiba (PR)


interview . dr sin

Brasil? Acho que o impacto já começou. É algo que o Rock pesado está devendo: bandas unidas pelo mesmo objetivo. Precisamos todos lutar juntos. O Rock é gigante, seu público também. Falta apenas organizar, marchar e atacar, no bom sentido. Fazer o Rock chegar onde deve e atrair os seus amantes para essa revolução pacífica e musical. O momento é favorável e crucial para o rock e o metal no Brasil. Grandes bandas, público gigante. É só amarrar tudo isso. Durante a história da banda, vocês fizeram parceria com vários músicos. Com quem mais vocês gostariam de dividir os instrumentos? Seria uma ideia matadora também shows e tours do Dr. com Sepultura, Angra, Shaman, Viper, Javali, Edu Falaschi e com bandas de fora 60 // rock meeting // março 2020


como Extreme, Kings X, etc. Tem centenas de bandas de brothers no Brasil que admiramos. Quanto a jams, sonhamos em um dia fazer um som com Eddie Van Halen, Geddy ou Alex do Rush, Bonamassa, Michael Schenker... São muitos os que amamos e nos inspiramos! A banda já gravou vários covers, inclusive o álbum Listen to the Doctors, que foi uma ideia brilhante. Quais outras músicas vocês gostariam de gravar? Já pensaram em regravar músicas que não são do mundo do rock/metal e adaptá-las para o jeito Dr. Sin? Sim, adoramos muitos estilos! Desde Elton John, Tom Petty, jazzistas, blues men... Ainda quero fazer algo de Hendrix, mais coisas de Beatles e Queen se possível. Imagine um Bob Dylan ou um Elvis numa vibe do Dr., por exemplo?!

Vocês já fizeram eventos em prol de instituições filantrópicas, o que é uma atitude admirável e inspiradora. Vocês têm planos para outros eventos deste tipo? O que os levou a realizar este tipo de evento? Sim, é algo que todos devem sempre que possível fazer. É algo sagrado ajudar quem necessita. A ideia veio do Andria e da esposa dele, Eliane. Andria é o maior coração que conheço no planeta. Temos planos e colocaremos em prática. No começo dos anos 1990, vocês faziam um som bem hard rock raiz. Agora, percebemos que é um som mais maduro, mas sem perder a essência do Dr. Sin. Como vocês avaliam a própria evolução musical? Nós apenas tocamos com amor e respeito máximo ao que realmente acreditamos. A música reflete nossa alma,


interview . dr sin

posso dizer. É um presente E como tem sido voltar divino a arte da música. com um álbum de inédi-

Tocamos com amor e respeito máximo ao que realmente acreditamos

62 // rock meeting // março 2020

Vocês consideram que o cenário externo teve influência - como, por exemplo, a alta do hard rock na década de 1990? Nós amamos o hard desde sempre. Bandas como Led [Zeppelin], [Deep] Purple, AC/DC, Queen, Van Halen estão na nossa formação e para nós o hard sempre esteve em alta. Não ligamos pra modismos, mas respeitamos. O nosso corre por fora.

tas? “Back Home Again” chegou com absoluto sucesso. Agora é deixá-lo se espalhar pelo planeta... Estamos vivendo o momento desse lançamento e da volta triunfal. Muito obrigada pela atenção, é uma honra poder entrevistá-los! Agradecemos muito a todos. Nos sigam pela rede e vejo todos nos shows!



INTERVIEW

FLÁVIO

PASCARILLO Continando a série de reportagem sobre o ‘Futuro do Consumo de Cultura’, desta vez é com o prddutor musical da hr ESTÚDIOS Texto Augusto Hunter // foto arquivo pessoal

>> 64 // rock meeting // março 2020



interview . flávio pascarillo

E

aí galerinha ligada na cultura, beleza, espero que sim! No mês

passado, em nossa primeira matéria e entrevista sobre como consumimos Cultura, nosso bate papo com o lendário Clemente Nascimento, vimos a importância de programas que não mais existem (infelizmente), ele cita a força do Streaming e de que, possivelmente, o modelo de como consumimos programas em vídeo que conhecemos, como a TV Paga possa vir a morrer... Será??

Nesse mês, eu vou mais

um pouco a fundo e vou conversar com Flávio Pascarillo, decendo o seu tempo de de se apresentar (risos). Mas, ele é dono do HR Estúdios, conversar conosco sobre basicamente, eu sou um exex-baterista do Nordheim e o tema e por favor, apre- -advogado, que abandonou a Técnico de Som. Vamos ver o sente-se. advocacia há 20 anos pra me que ele pode adicionar sobre o Grande Augusto! Imagina, ir- dedicar ao estúdio, e de lá pra mão. Fiquei muito feliz pelo cá, outras oportunidades foConsumo de cultura. convite.

Na verdade, faço ram surgindo e eu fui desbraSr. Flávio Pascarillo, boa tanta coisa, são tantas frentes vando. Hoje além do estúdio, tarde, vou começar agra- de trabalho que fica até difícil temos o HR Backlines, com 66 // rock meeting // março 2020


Um dia você comandou a bateria de uma banda, naquele

tempo,

como

você tinha o consumo de cultura? Bem, eu toquei em bandas de metal, sempre acompanhei um consumo dentro do underground, mas no período de 2003 a 2008, tínhamos um mercado muito mais aquecido. Nós fazíamos turnês pelo Brasil inteiro, com público médio de 500 pessoas por show, chegamos a ficar dois meses viajando. A galera consumia bastante, efetivamente compravam muito merchandise da banda, então, apesar de estarmos no underground e tocando metal, as turnês depósito no RJ e desde o ano eram lucrativas. passado em SP, tem também a HR Produções, que é uma agência que criamos para o agenciamento artístico e venda de shows, e ainda sou téc-

E como era a principal ideia de divulgação do trabalho de vocês? Tocar. Tocar o máximo possível, tivemos anos em que

nico de PA e Monitor e Tour batemos 82 shows, isso para Manager, além do principal, uma banda de metal do unpai de uma linda família!

derground era um número


interview . flávio pascarillo

expressivo. Naquela época, mais e aquecia o undergrou- ração colocava 3 mil pessoas não tínhamos tanta influência nd.

Infelizmente, o público na quadra de uma escola de

digital. Não tinha Facebook do rock envelheceu e pouco samba para ver Kreator, em nem Instagram, muito menos renovou. O público que en- uma terça-feira chuvosa, hoje link patrocinado, nem strea- velheceu (normal) as priori- em dia presenciamos inúmemings e não mediamos, nem dades mudaram, faz parte do ros shows vazios, óbvio que classificávamos

as

bandas ciclo da vida de qualquer ado- temos várias questões sociais

pelo número de curtidas em lescente que vira adulto, mas que uma pagina de rede social...

também

influenciam:

o público que renovou veio desemprego, dólar alto, que

As pessoas não se satis- em uma geração menos orgâ- elevam o custo de produção e

faziam e se saciavam apenas nica. As pessoas se conten- consequentemente o valor do virtualmente, as pessoas fa- tam com um vídeo no Youtu- ingresso.. Enfim, a questão é ziam questão de comparecer a be, difícil julgar, acho que não bem complexa, mas acho que um show, comprar o material tem certo ou errado, as coisas o público hoje em dia não tem da banda, isso fortalecia de- mudam, é um fato. Minha ge- o mesmo ímpeto! (risos) 68 // rock meeting // março 2020


Agora, como você mudou cado se renovando, com no- como você fez os eventos, de posição, nos fala, como vas vertentes, novas possibi- sendo o cara do “som”? você vê o consumo de cul- lidades, a força do streaming. Com relação aos shows, o que tura hoje em dia e como Essa evolução é muito natu- desde 2012 é a nossa principal você vê a manutenção da ral, as tendências mudam, é frente de trabalho, toda oscimúsica, sendo dono de muito interessante presenciar lação cambial reflete direta um estúdio?

essas isso, você precisa enten- e cruelmente nas produções

Bem, basicamente indepen- der e se adaptar à nova reali- e até mesmo na aquisição e dente da posição, seja como dade do mercado.

manutenção de equipamen-

músico ou como dono de um

tos. Mas de forma geral, vejo

estúdio, o mercado quando O HR no Rio de Janeiro o início desse ano de forma oscila e o consumo cultural é o principal fornecedor muito promissora e otimista, baixa, prejudica em ambas de equipamento de pal- temos vários eventos já proas direções. Até porque uma co para eventos. Você sa- gramados ao decorrer do ano. coisa depende diretamente da beria dizer se o mercado Os últimos dois anos foram outra. Eu vejo hoje, um mer- musical anda aquecido, bem complicados, óbvio que


interview . flávio pascarillo

nada melhorou, mas acho que velheceu” tocando, agora tem começamos a nos reinventar seus compromissos familiares e aprender a fazer os eventos no fim de semana e o ensaio de uma forma diferente, acho passou para o meio da semaque quem resistiu e se man- na. A juventude hoje em dia teve no mercado, passando parece consumir cultura de dessa arrebentação, irá nadar outras fontes, não existe mais a longas braçadas daqui pra o sonho do “rock star”, as refrente, sinceramente eu dese- ferências hoje são mais próxijo muito isso..

mas à musica eletrônica, hip hop, eventos Geek, entre ou-

O estúdio tem salas aber- tras novas tendências. tas pra ensaios e gravações, você percebeu um Agora, falando da sua faaumento de pessoas bus- ceta de engenheiro de cando o estúdio pra isso Som, como você chegou ou o mercado se mantém? nessa posição? O movimento do estúdio se É uma evolução natural de mantém estável há alguns quem trabalha como técnico anos, mas tem uma caracte- de gravação em um estúdio. rística muito interessante, a Você se envolve com as bandas média da faixa etária que, há dentro do estúdio, eles pasuns 15 anos atrás era pratica- sam a confiar no seu trabalho, mente adolescente, na faixa e quando caem na estrada te do 17 a 19 anos, hoje é com- chamam pra seguir junto, isso pletamente diferente. A mé- é muito legal, e acontece em dia etária é bem mais velha, 85% dos casos, tenho dezenas na casa dos 30 a 35 anos, e o de amigos na mesma situação. pico do ensaio mudou tam- Eu tenho um fascínio pelo bém, isso é muito curioso, an- show e toda a atmosfera que tes a alta procura era às sextas ele envolve.

Sinceramente,

e aos finais de semana, hoje eu prefiro “a estrada”, apesar em dia procuram as noites de de todas as suas surpresas do terça, quarta e quinta-feira, que o trabalho “em estúdio”. ou seja, esse público que “en- O ao vivo é dinâmico, aconte70 // rock meeting // março 2020



interview . flávio pascarillo

ce na hora, se é pra aumentar, aumenta na hora, não tem recall, não tem revisão. Essa característica é desafiadora, e o fato de estar cada dia em uma cidade diferente com pessoas de culturas diferentes é muito enriquecedor, eu adoro! Nem todas as histórias são engraçadas ou divertidas, já passei algumas situações de risco real, já me ameaçaram com arma de fogo, já quiseram me agredir, mas nessa hora ter uma boa equipe e agir da forma correta, faz toda a diferença e salva literalmente sua vida. (risos) E pra você, qual a principal diferença de estar em palco de estar ao lado, ou a frente do palco? Bem, essa pergunta é muito interessante. Na verdade, cada posição tem sua importância. Estar do lado do palco tem todo uma realização 72 // rock meeting // março 2020


foto caike scheffer

técnica envolvida que me fas- na, vivenciei essa situação decina, por incrível que pareça, zenas de vezes. muito mais do que propriamente tocar. O fato de você Em suas viagens com as ser o responsável técnico de bandas com as quais traum evento ou de um festival balha, você tem visto altraz uma realização muito guma mudança de públigrande. Ver dezenas de ban- co, ou percebe alguma das consagradas tocando em principal diferença de um um projeto que você desen- local para outro? volveu é muito gratificante. Bem, é um pouco difícil de O estar no palco por sua vez responder a essa questão, também tem seu imenso va- porque nem sempre eu volto lor, tive experiências inacre- na mesma cidade com o mesditáveis como músico, pude mo artista, e às vezes nem tocar com músicos incríveis com o mesmo estilo musical. e de renome internacional no Exemplo clássico, dei umas Tribuzy, isso foi um grande cinco voltas completas no aprendizado, tocar músicas Brasil com o extinto Matando Iron Maiden com o Bruce za ao longo de quase 10 anos cantando é algo extraordiná- de trabalho. Recentemente rio, sem sombra de dúvidas voltei em várias cidades com (risos). E por fim, acho que a o Oswaldo Montenegro, o cirposição mais importante de cuito é completamente difetodas é estar à frente do palco, rente, os locais dos shows, o porque é quando todo fã reali- público, até mesmo a estruza o seu sonho, de ver seu ar- tura técnica é diferente, então tista preferido, tocando suas você às vezes passa três, quamúsicas preferidas, cercado tro vezes na mesma cidade e de bons amigos, isso emocio- vive experiências completa-


interview . flávio pascarillo

foto iana domingos

mente diferentes, isso é muito retaliações, mas sem dúvida, mos mais de 200.000.000 de curioso, até porque o que você isso reflete e se relaciona dire- habitantes, isso é assustador. mais conhece é o caminho do tamente com as mudanças so- Infelizmente não contamos aeroporto para o hotel e vice e ciais e políticas que presencia- com um governo que apoie a versa (risos). mos nos tempos atuais. Então cultura, muito pelo contrário, eu desejo, que a cultura sem-

E pra fechar, como você pre se renove e que sempre vê o futuro da Cultura, haja público para consumi-la, em geral no Brasil? Obri- porque o Brasil é um país que gado e até.

tem um consumo muito baixo

então mesmo que de forma utópica, mas resistente, torço e lutarei até o fim em prol da cultura, pois vivo e sus-

Essa pergunta é um grande de cultura. Um levantamento tento minha família através enigma, talvez o maior de to- da década passada já aponta- dela. Agradeço demais pelo dos. A cultura de uma forma va que 42% da população não espaço e pela oportunidade, geral, vem sendo perseguida e tinha acesso a nenhuma for- grande abraço e nos vemos na até mesmo alvo de ataques e ma de cultura, no país que te- estrada! 74 // rock meeting // março 2020



live

AMENRA 76 // rock meeting // marรงo 2020


Em show minimalista, o amenra transmitiu muita emoção Texto e Foto Rafael Andrade

>>


live . amenra

A

lerta de Spoiler: é impossível descrever o que aconteceu nesta noite. Eu vou tentar o meu melhor pra colocar em palavras a catarse apresentada pelo Amenra, e eu sei que você vai fazer o seu melhor pra imaginar o turbilhão de emoções que foi esse show... mas infelizmente, é o tipo de banda que você precisava estar lá pra ver. Eu sei, é o clichê dos clichês começar uma review assim, mas eu vou explicar o porquê me permitir utilizar este clichê. Honestamente, eu já havia ouvido falar de Amenra inúmeras vezes no passado, já tinha escutado pra conhecer (e tentar definir, sem sucesso) o gênero da banda, mas a verdade é que eu nunca havia “entendido” a proposta trazida por eles. É bom, é pesado, é original... Mas nunca havia entrado numa playlist minha. 78 // rock meeting // março 2020

E me disseram que tudo bem, que isso ia mudar quando eu visse um show deles. Só então eu finalmente entenderia o que é o Amenra. Se você me dissesse um ano atrás que o Amenra estaria no Brasil, fazendo shows em São Paulo, Rio de Janeiro e Belo Horizonte, eu não acreditaria. Mas o Xaninho Discos fez o improvável, e trouxe não só eles, como montou um

lineup memorável ao incluir Basalt e Labirinto na lista. O conjunto de bandas não poderia ser melhor, já que as duas bandas selecionadas possuem um estilo que sintonizam muito bem com o estilo musical da noite. A performance destas bandas merece um review à parte, mas agora precisamos falar sobre o Amenra. As cortinas se abriram, revelando um conjunto de lu-


zes “minimalistas”, suficiente apenas para que os músicos do Amenra fossem um vulto, com a projeção de imagens atrás e sobre a banda. Logo na introdução, presenciei um dos momentos mais marcantes em um show de metal: pessoas fazendo “Shhhh” enquanto a banda iniciava o show com a música Boden. Pra quem não conhece, essa música tem uma introdução de mais ou


live . amenra

menos 2’30’’ com um tipo de cano batendo, e uma guitarra que vai crescendo lentamente até atingir seu clímax, e só então o resto da banda entra. Entenda: são dois minutos de SILÊNCIO num show de metal, te preparando para uma experiência que você sabe que nunca vivenciou antes. E quando você finalmente aceita o que está prestes a acontecer, o restante da banda entra, trazendo um dos riffs mais pesados que já tive o prazer de ouvir. Com o vocalista Colin H. van Eeckhout de costas para o público durante a 80 // rock meeting // março 2020

maior parte da apresentação, o Amenra trouxe um setlist bem diversificado entre todos os álbuns da banda. O grande destaque da noite é, sem dúvidas, a canção “A Solitary Reign”. Esta é uma faixa que está presente no último álbum da banda, e que apesar de ser relativamente nova, tornou-se unânime entre novos e velhos fãs da banda como a melhor música já lançada por eles. E a performance ao vivo não é diferente. É calafrio atrás de calafrio, enquanto os músicos expõem todas as suas dores e angústias sobre o palco, e o público se permitia expor



live . amenra

a mesma fragilidade durante os nove minutos mais belos e perturbadores já escritos pela banda. E por fim, quem disse que eu só entenderia após ver um show estava certo. Desde então, não consigo ouvir nenhuma outra banda que não

82 // rock meeting // março 2020

seja o Amenra. É um show que não sai da sua cabeça, e mesmo você não entendendo completamente tudo o que está acontecendo, você sai do show uma pessoa diferente de quando você entrou. Setlist: 1. Boden

2. Plus près de toi 3. Razoreater 4. Thurifer 5. A Solitary Reign 6. Nowena 7. Am Kreuz 8. Diaken Ouça o setlist deste show no Spotify!



INTERVIEW

JIMMY & RATS em novo momento da vida, Jimmy london CONTA SOBRe SUA NOVA BANDA, PROJETOS E TURNร

por Augusto Hunter // foto FELIPE diniz

>> 84 // rock meeting // marรงo 2020



interview . jimmy & Rats

J

immy London, vocalista e produtor, ficou conhecido como o “ruivão” à frente do Matanza e agora ele está em outro momento da vida dele, com o Jimmy & Rats ele explora outras ondas e está pronto pra uma incrível tour. Conversamos com ele sobre essa vindoura tour e muito mais. Primeiro, valeu por separar um tempo para trocar ideia conosco, agora, vamos lá. Jimmy, depois de todo o tempo, como você chegou no Rats? Longa história. Eu já tinha uma parceria musical com o Fernando Oliveira, o capitão bigodudo do Rats mesmo antes dele fazer a banda. Compusemos várias músicas, 86 // rock meeting // março 2020

algumas foram pro Matanza, outras não foram pra lugar algum e outras pro início do Rats. Depois disso eu ainda produzi o primeiro disco deles, então foi natural eu me juntar logo após o término do Matanza. O som da banda tem aquela vibração irlandesa, um estilo muito interessante em se ouvir, quais são as principais fontes de inspiração pra vocês? Tamos falando disso mesmo: música irlandesa, cigana, punk rock e country. Pogues, Willie Nelson, Django Reinhardt, Dropkick, Waylon Jennings e Rancid, e por aí vai... Jimmy, impossível não falar contigo e lembrar de sua antiga banda, então, como está a organização


foto karyme franรงa


interview . jimmy & Rats

do Matanza Ritual? Tá tudo muito legal. São pessoas da mais competência musical e de uma vivencia incrível. Todo mundo entende o que é um trabalho com banda e estão dispostos a viver isso tudo pra homenagear o legado profissional do Matanza. Acho que vai ser foda! O Matanza Ritual conta com nomes de peso do Underground Nacional, foi fácil chegar a esses nomes e podemos esperar o que dos shows? Acho que a mais pura porradaria vai surgir daí, né? Afinal de contas, só tem mestre do metal no lance (risos). Foi natural chegar nesses caras, porque quando você pensa nos melhores músicos do Brasil, eles estão sempre no topo da lista. Foi só uma questão 88 // rock meeting // março 2020


fotos karyme frança

de conversar e ver quem real- lançá-lo em agosto, por causa mente ia comprar a briga. dos meus compromissos com o Matanza Ritual, mas antes Jimmy, antes de chegar disso, vocês já devem ouvir no Rats, você também algo. Espero que curtam tanto gravou uma música com quando a gente está curtindo o pessoal do Hatefulmur- fazê-lo. der. Nos conta como foi o momento com o pessoal Jimmy, nesse ano vocês em estúdio e como você começam uma extensa analisa o resultado da turnê ao lado do Armored música “Engrenagem”. Dawn, Korzus, Dr. Sin e São ótimos músicos, muito Medjay, como vocês recejovens e com vários conceitos beram esse convite? musicais bem diferentes dos Eu fiz uma pequena particimeus. Eles costumam gravar pação num show do Armousando as técnicas mais atu- red Dawn e deu muito certo. ais dos produtores de metal, A química foi boa, também mas eu trouxe minha visão old estamos falando da nata dos school e acho que deu certo. O instrumentistas brasileiros e processo foi cuidadoso, bem até internacionais, tudo isso trabalhado e com disposição. dentro de uma visão ultra proAcho que isso é o segredo pra fissional de como se adminisqualquer banda, de qualquer tra uma banda. Tenho prazer estilo. verdadeiro em trabalhar com pessoas assim. Mas vamos voltar ao Jimmy&Rats, vocês pre- Em sua visão, qual a imtendem lançar alguma portância dessa tour, coisa? Se sim, em que pé dentro do cenário Nacioanda o projeto? nal? Na verdade, estamos nesse Sempre acreditei que as banmomento começando a mi- das que tem uma estrutura xar nosso disco. Só devemos maior podem ajudar a refor-


foto lucas henrique

interview . jimmy & Rats

çar o cenário musical contemporâneo. Foi mais ou menos por isso que criei o Matanza Fest e acredito que essa tour será essencial nesse sentido. Acho que ainda vem muito mais do pessoal do Armored Dawn, porque eles têm competência, recursos e sangue nos olhos. Eu poderia dizer que o Jimmy & Rats é a banda mais diferente nessa tour e eu acho isso muito po90 // rock meeting // março 2020

sitivo. Como você espera O espaço é de vocês, por que a banda seja recebi- favor, deixem aqui um reda no decorrer dessa gira cado e convidem os leitopelo Brasil? Eu só espero que não joguem ovo podre na gente, né? (risos). Sem brincadeira, temos tocado com os mais variados estilos por vários festivais e felizmente

estamos

sendo

res da Rock Meeting para comparecer aos shows, muito obrigado. Fala, rapaziada!! Quem faz o show são vocês, então não deixem nunca de aparecer, se

muito bem recebidos. Espe- divertir e manter viva a charo que continue sendo assim. ma da cultura e da música, em Afinal de contas, quem não todos os seus formatos, ok? gosta de um pirata, certo??

Abrax!!!




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