Rock Meeting Nº 125

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words of editor

COMO ESTÁ A CEN

. PEI FON @peifon jornalista formada pela ufal, fotógrafa e diretora geral da rock meeting

Desde que comecei a frequentar a cena rock/metal em Maceió, muito por conta do trabalho desempenhado pela Rock Meeting, conversei bastante com muitas personas que estavam na nela muito antes de mim. Todas falavam do passado com nostalgia. A forma como ouviam suas músicas de modo coletivo, trocando ideias... O intuito era unir a galera e discutir sobre aquele vinil ou a fita K7 que encontravam no momento. A Rock Meeting nasceu em 2009 e não havia streaming, mas o download já era hábito e isso disseminava as músicas com mais rapidez do que nos anos 80, por exemplo. Mas o ponto principal desse paralelo temporal é sobre união. Os mais antigos diziam que “no meu tempo” as pessoas eram mais unidas. Todos se reuniam para ouvir um som. Hoje, meus contemporâneos cobram união da cena. Vou contar uma das situações que eu já vivi e que foi fundamental para que eu tomasse uma decisão muito importante. Em 2010, comecei a

fazer o aniversário da RM, era o primeiro ano, tudo lindo e maravilhoso. Nos anos seguintes consegui fazer o mesmo evento em diferentes locais. Até que fiz dois eventos em praça pública, gratuitos e ocupando os espaços destinados aos cidadãos de Maceió, com o devido apoio da Prefeitura por meio de projeto. O último aconteceu em 2014, no aniversário de cinco anos, foi o maior que já fiz. Todo o meu problema não foi com o alvará da Prefeitura, assinatura de Termo de Conduta com o Ministério Público Estadual ou suporte da Polícia Militar de Alagoas. Não! Foi com um grupo de pessoas (ditas fãs da música pesada) que queria boicotar o evento. Um integrante das bandas desse show me avisou o que estava acontecendo. Pessoas da cidade querendo boicotar o show deles sob a alegação de ser um evento cristão. Obviamente não havia nada cristão, a não ser eu. E sim, eu escolhi ser cristã, e era evidente que o ataque foi direcionado a mim. Uma cristã que faz evento de metal? Após


NA ROCK/METAL? muita conversa, a banda compreendeu que era uma questão profissional e o pessoal não se mistura. Já o evento foi um sucesso, mas, depois disso, nunca mais promovi nenhum outro show. Desde 2009 escuto falar que a cena precisa se unir. Que os distintos estilos precisam parar de brigar entre si e lutar pelo o que mais importa para todos. No exemplo acima, essa dita galera cobrava por shows que não ia, não fazia nenhum evento para promover bandas. Nada. A graça toda era denegrir as pessoas que faziam algo pela dita cena local. Nesse caso, eu. E como está a cena rock/metal de Alagoas? No ostracismo. Não digo morta porque as poucas bandas que resistem e persistem continuam querendo fazer. Há 10 anos escuto o pedido de união, de vários lugares, não só no Nordeste. Mas essa discussão tomou outro rumo atualmente, o da política. E não, não acho que a política seja o motivo de muitos apontarem que o rock/metal vai acabar, não. Está sendo

mais um motivo para rachar o que já não está inteiro. Antes desse atual governo estava tudo bem? Claro que não. Quem vai acabar com a cena somos nós. Ficamos aí, atrás de telas, falando um monte de asneiras, depreciando festivais, enquanto lá fora se mistura tudo no mesmo bolo e ninguém reclama. Só no Brasil. Aí vem reclamar de valor de ingresso, de que festival já foi melhor (mas não procura saber o porquê das coisas), de que banda tal não pode ser misturar com outras. Até quando? De novo, quem vai acabar com a cena rock/metal é o próprio fã do estilo. Essa cobrança por união é utópica. Do jeito que as coisas estão, vai acabar morrendo mesmo. E não culpem os governos. Culpem essa galera que só abre a boca para falar o que não deve e que se apoia em burrice. Parabéns para os que ainda continuam mantendo a chama acesa, mesmo diante de tantas pedras pelo caminho.

. PEI FON @peifon jornalista formada pela ufal, fotógrafa e diretora geral da rock meeting


sumĂĄrio 2020

12 38 26

08. estressadas autoestima 12. 70000 tons of metal 10 anos do maior cruzeiro Heavy Metal 26. Clemente o futuro do consumo de cultura 38. phantom elite nova gravadora, novo ĂĄlbum

74

54. shaman batismo de alĂ­rio netto 64. trend kill ghosts heavy metal tradicional 74. Venomous sobre passado, presente e futuro 84. korvak liberdade para criar

08


DIREÇÃO GERAL PEI FON DIREÇÃO EXECUTIVA FELIPE DA MATTA CAPA Alcides Burn Canuto Jonathan projeto gráfico @_canuto

44 alírio netto a voz que continuará um legado

COLABORADORES Augusto Hunter Bárbara Lopes Bárbara Martins Bruno Sessa Edi Fortini fernando pires Luiz Ribeiro Marta Ayora Mauricio Melo Rafael Andrade Renata Pen Samantha Feehily CONTATO contato@rockmeeting.net

www.rockmeeting.net


estressadas

AUTOESTIMA autoestima começa agora, nesse momento, e não quando tiver por Samantha feehily

A

capacidade de se auto transformar, é a capacidade de olhar instante por instante para nós mesmos e ao mundo no qual moramos. Nós passamos 90% da nossa vida vivendo mal, porque: ou estamos no passado, ou estamos no futuro. Vou ser feliz quando tiver mais dinheiro..., quando tiver o carro mais bonito..., quando tiver a casa mais bonita..., quando tiver coisas..., Está... errado: autoestima, começa agora, nesse momento, e não quando tiver..., ou quando vou ser... É agora, neste instante que você vai ser feliz, é esse instante que conta: 8 // rock meeting // fevereiro. 2020

todas as vezes que a minha estima é atacada, é atacada a estima naquele instante, naquele momento, naquela situação. Por que a gente não começa a pensar em cada coisa que fazemos, como se fosse o único instante que estamos vivendo? A vida de uma forma geral passa ao nosso redor, e o indivíduo vive infeliz, porque acredita que o momento que está vivendo seja um momento de passagem, a espera de momentos melhores que vão chegar. Porque não tentamos pensar que cada momento seja o único..., e conta somente aquilo que estamos fazendo agora...., neste momento. Mesmo se não vou ser promovido..., mesmo se não tenho a parceira que sonha-



estressadas

va..., mesmo se o meu trabalho não é aquilo que me realiza naquele instante... Eu neste instante existo, abro a minha mente ..., só neste momento do presente..., fecho os olhos... e existo. Eu existo, nenhum objetivo é mais importante do que eu. Nós não somos nunca uma coisa só, é difícil saber exatamente o que somos: se pudéssemos parar de nos auto definir, poderíamos começar a nos conhecer, deixando de procurar a qualquer custo as certezas, (essas últimas dão segurança somente superficialmente). Não adianta tentar mudar as coisas que sabemos que não podem ser mudadas. Antes de fazer qualquer esforço, precisamos saber se temos alcance, se esse esforço está ao nosso alcance, para não acabar nos deprimindo pela não realização. Não vamos fazer esforços inúteis, se eu começo a fazer um esforço, o faço para valer. Se eu faço um esforço, o faço agora, não amanhã, agora. Eu quero melhorar o meu trabalho agora, não adianta me culpar, ou me castigar, ou falar as coisas que eu vou ter que fazer. As coisas que eu quero fazer, 10 // rock meeting // fevereiro. 2020

quais são? É isso e aquilo, muito bom. Então comece a fazê-las e as faça. Não fique se martirizando na dúvida. Se preocupar com o julgamento dos outros, faz com que se viva sempre em tensão, pensando: “quando eu parar de atuar, os outros não vão gostar mais de mim”. Viva a sua vida, você não está num palco, tente mudar o assunto: eu me gosto, eu me amo. Nós temos

que aprender a ser aquilo que somos, além dos objetivos parciais que continuamos nos atribuindo. Ninguém de nós escolhe sofrer, não sabemos, mas naturalmente vivemos numa espécie de campo mais forte de nós, onde automaticamente o sofrimento, a culpabilidade, a tentativa de mudar o tempo, o redundar no passado, projetar no futuro, se tornam a regra. Se eu


quero pôr em ato mudanças de verdade na minha vida, é inútil projetar mudanças radicais de vida, que de qualquer forma não vou realizar nunca, e que somente vão me ajudar a alimentar a desestima pela sua não realização. Outra coisa importante, você não precisa esperar um prêmio pelas coisas que faz, porque se o prêmio não chega vai se sentir frustra-

do. Se o prêmio chegar, vai repetir o comportamento da mesma forma, para receber o prêmio de novo. Muitos relacionamentos, principalmente dentro do trabalho, são baseados na fantasia de que o líder, o chefe, tem que gratificar o funcionário, e se não o gratifica, o funcionário entra em crise. E se o gratifica, se levanta para cair de novo na próxi-

ma penalização de si mesmo. Assim não sabe, não vai saber nunca mais quando foi verdadeiramente bom, não vai saber nunca mais quanto é realmente capaz, apto. Precisa aprender que nas coisas que faz, não tem prêmio, e não tem nem castigo, portanto uma culpabilidade. Nunca é sempre uma questão de vida, ou de morte, mesmo que pareça.


live

70K TONS OF METAL 12 // rock meeting // fevereiro . 2020


70000 tONS OF METAL COMEMOROU 10 ANOS DE FESTIVAL E CONTAMOS COMO FOI TUDO Texto E foto cLARISSA wYLER

>>


live . 70k tons of metal

I

magina um festival de metal com mais de 60 bandas, cada uma tocando dois sets, shows que começam às 10h da manhã e terminam às 6h do dia seguinte, bares que nunca fecham, comida 24h (com opções veganas, vegetarianas, sem gluten, low carb e o que mais puderem imaginar), palcos próximos um dos outros, meet and greet disponível com absolutamente todas as bandas do lineup, camisetas com arte exclusiva para o festival, e ainda mais: uma média de apenas 3 mil pagantes, o que faz com que quase todos os shows pareçam intimistas e nunca lotados, onde de qualquer ponto, pessoas baixinhas como eu, conseguem enxergar o palco (mesmo com os vikings noruegueses 4x4 na plateia), ou têm a possibilidade de se mover pelo público e retornar para o mesmo ponto onde estava sem perder nada do show? Se quiser ficar na grade para assistir seu artista preferido de (mais) pertinho, isso vai exigir de você chegar ao 14 // rock meeting // fevereiro. 2020

local do show com apenas uns 10 minutos de antecedência e de quebra ainda assiste as passagens de som, pois como as bandas tem pouco tempo entre cada uma, elas fazem o soundcheck minutos antes de show. Tá bom pra você, não está? Agora coloca isso num cruzeiro de luxo, onde há banheiros sem fila espalhados por todos os pisos, uma cabi-

ne com a sua própria cama, chuveiros privativos, nada de lama e o desconforto de acampar. Isso, meus amigos, é o 70000 Tons of Metal. E ainda nem mencionei as hot tubs (jacuzzis ao ar livre onde vocês podem assistir aos shows dentro de uma água quentinha, com uma cerveja na mão e curtindo o sol do mar do Caribe), os simuladores de surfe (Flowriders), escorregas,


piscinas. E o mais importante: um público que se considera uma família metal, onde todos são super receptivos, amigos e ajudam uns aos outros. É a viagem dos sonhos de qualquer headbanger. Esse ano o lineup demorou mais que o normal para ser divulgado, assim como as datas para compra e parcelamento do evento. Por mais conturbado que tenha sido, no final tudo se ajeitou e partimos dia 07/01 em direção a Cozumel no México. O cruzeiro sai todo ano de Fort Lauderdale, na Flórida, mas a festa começa bem antes, em South Beach, Miami. Tivemos nessa edição uma rooftop party bem privativa, uma festa numa praia


live . 70k tons of metal

mais afastada (Virginia Key) com direito a bandas tocando e fogueira para dançar ao redor e a tradicional Heavy Metal Beach Party, em Miami Beach, seguida por um Live Karaokê no tradicional Clevelander, na beira da praia. Todos os eventos foram bem legais e bem organizados por Survivors (pessoas que já sobreviveram à maratona que é este cruzeiro) e que reforçam cada vez mais a vibe de encontrar a sua metal family, se divertir, e ser esquisito o máximo que quiser! Mas vamos aos highlights do festival em si: 16 // rock meeting // fevereiro. 2020

Dessa vez não achei que o lineup estivesse tão estelar quanto alguns anos passados, mas em compensação foi um ano que eu curti mais a festa em si, pois tinham poucas bandas que eu acompanhava de perto. Os headliners foram Emperor, Venom, Michael Schenker e Moonsorrow, cada um com sets de 1h15, ainda tivemos Épica, Devin Townsend, Candlemass, Finntroll, Trollfest, Cruachan, Stam1na, Soen, e Exodus, que fechou o palco da piscina, e o Carach Angren com o último show do navio no Teatro. No primeiro dia, tive-



live . 70k tons of metal

mos apenas três palcos funcionando enquanto o palco da piscina era montado. Abrindo o cruzeiro tínhamos duas opções: Vio-Lence e November’s Doom. Optei pelo Vio-Lence e não me arrependi... foi um showzaço. Depois fui assistir ao Archon Angel, banda nova do Zak Stevens (ex-Savatage, CircleIICircle). Ele continua super afinado, carismático e tocou algumas músicas do Sa-

18 // rock meeting // fevereiro. 2020

vatage como Hall of the Mountain King, Edge of Thornes e Taunting Cobras, mas a maioria do set foi do CD novo que será lançado dia 14 de fevereiro. Exodus no teatro foi animal... o público fez tanta festa que o Zetro Souza pediu para o pessoal ir com mais calma (“não se esqueçam que vocês ainda têm mais três dias pela frente”). Ele foi cer-

tamente o cara mais carismático do navio. Extremamente simpático e carinhoso, falando com todo mundo, sempre rodeado pelos fãs e com um sorriso no rosto. O segundo show do Exodus foi um set especial com o “Bonded by Blood” sendo tocado de cabo a rabo. Imagina a felicidade da galera... Quem mais se destacou na primeira noite foi o Devin


Townsend, que agradou bastante o público que não conhecia tanto o trabalho dele, com músicas do “Strapping Young Lad”, e outras pérolas de seus projetos. Extremamente falante, com ótimo senso de humor, aliado a uma criatividade ímpar, ele conquistou muitos novos fãs nesse cruzeiro. No segundo set, apesar de muitos problemas técnicos, também fez um show bem consistente e divertido que contou com a participação especial de Ihsan (Emperor) cantando Juular.


live . 70k tons of metal

Foi de arrepiar. Soilwork foi uma banda que eu não conhecia muito, mas o show agradou bastante. O Moonsorrrow também fez um set bem variado no primeiro show, e o segundo foi o álbum “Verisäkeet” na íntegra, mais um presente pros fãs da banda finlandesa. Cruachan foi uma das bandas que eu mais esperava ver no cruzeiro, e eles não decepcionaram. Tocaram três sets, sendo dois regulares e um terceiro no Irish Pub, 20 // rock meeting // fevereiro . 2020

Kissin’ Dynamite (acima), Haggard (abaixo) e Meet & Greet com Candlesmass (à direita)


onde tocaram músicas irlandesas tradicionais para a galera cantar junto, de forma quase acústica, e foi um sucesso total. O público compareceu em massa, cantou todas as músicas (a banda distribuiu um livrinho com as letras o que facilitou bastante a empreitada) e como se não bastasse, eles ainda fizeram um cover de Mexico, do Alestorm para embalar a nossa ida a Cozumel com estilo! Ainda deu tempo para conferir um pouco do Seven Witches, banda formada por Jack Frost (ex-Savatage) e James Rivera (Helstar) que tocaram um excelente metal tradicional antes da exaustão

tomar conta de vez. Poucas horas de sono depois foi a hora de curtir o Trollfest no pool deck, com seu visual de princesas drag queens e a tentativa de fazer a maior conga line do mundo, certamente não deixou um metaleiro incólume no convés do Independence of the Seas. Muita festa, diversão e Britney Spears para todos os gostos. No segundo show deles, o público ainda estava animado às 3 da manhã e não sobrou uma pessoa na pista que não estivesse na conga line. Acho que ganhamos o prêmio de maior quantidade de conga lines em um único show. Para contrapor toda essa exuberância, depois fui ver o Possessed, que fez um set também excelente. Soen foi a grande descoberta do cruzeiro para mim. A banda que vem ao Brasil em março com o Tesseract. É uma banda que muitos não consideram como sendo propriamente de metal, especialmente com os vocais claros,


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límpidos e afinadíssimos de Joel Ekelöf. Mas eles fazem sim uma música bela, pesada, intrincada e poderosa. Me deixou muito impressionada, e eles são extremamente carismáticos com os fãs. Para quem curte um hard rock europeu misturado com um pouco de metal, Kissin’ Dynamite é uma excelente pedida. A banda alemã estava no navio esse ano e fizeram shows excelentes. Música super pra cima, animada e que remete a algo meio Def Leppard encontra Gotthard. No final do segundo show, o público saiu do Ice Rink cantando o refrão de Flying Co22 // rock meeting // fevereiro. 2020

lours. Foi de dar friozinho na espinha. Outra banda que gosto bastante e estava no cruzeiro foi o Orphaned Land, que já passou em terras tupiniquins diversas vezes, mas é sempre uma experiência mágica. Os shows foram um mix de músicas do último álbum (Unsung Prophets And Dead Messiahs) e as clássicas como “Norra el Norra”, “Ocean Land” e “The Kiss of Babylon”. Haggard tentou novamente fazer um show no pool deck, mas foi bem complicado. Em 2017, ventava bastante e todas as partituras voaram e de tempos e tempos tinham


que parar o show para reagruparem. Em 2020, foi o som que não se mantinha ajustado por mais que uma música. Após várias tentativas e frustrações, se tornou impossível ter um show completo. A apresentação deles no teatro foi impecável, tocando os greatest hits e trazendo toda a beleza da música clássica e do death metal para nós, pobres expectadores. Os suecos do Candlemass foram uma grata surpresa no festival. Muito gentis e felizes de estarem a bordo, fizeram um show impecável no pool deck com um set bem variado, indo desde os clássicos como “Solitude” e “Bewitched”, à “Astrorolus – The Great Octopus” do recente


live . 70k tons of metal

“The Door to Doom”. Percebe-se que o som deles foi “modernizado”, soando um pouco diferente dos idos dos anos 80, mas uma mudança bem grata. Finntroll fez uma separação pouco convencional nos seus sets. O primeiro foi apenas com músicas mais antigas, dos três primeiros álbuns e o segundo foi com as músicas mais recentes. O segundo animou bem mais o público. Todo ano o 70000 Tons of Metal faz escala em um destino paradisíaco no Caribe e Cozumel foi o porto dessa vez, para comemorar os 10 anos 24 // rock meeting // fevereiro. 2020

do festival já que foi o destino da primeira edição. Foi uma boa escolha por ser a porta para a Riviera Maya, onde há uma abundância de ruínas, cenotes pirâmides, vegetação e beleza natural. O porto em si não é dos melhores e a praia próxima não é agradável, mas o cruzeiro oferece várias excursões para os mais variados gostos. Algumas excursões têm inclusive a participação de alguns artistas e você pode escolher participar junto com seu grupo preferido. Eu esco-

lhi uma que visitava as ruínas de Tulum e a visita a um cenote. Para chegar lá pegamos uma barca até Playa Del Carmen e então uma curta viagem de ônibus. Coincidências do destino, logo que chegamos em terra, descobrimos que o Zak Stevens estava na mesma excursão que a gente, junto com a família. É, no 70k eles interagem com os fãs o tempo todo, o único jeito de “fugir” é se trancando na cabine e pedindo serviço de quarto ;).


O lugar é muito lindo, recomendo demais. E é super legal ver as cidades sendo invadidas por grupos e mais grupos de camisas pretas, todos com o mesmo objetivo: se divertir bastante, com muito respeito ao próximo. Na volta até improvisaram um sistema de som na balsa com bastante metal para aliviar a viagem que foi bem turbulenta.

O tempo até que cooperou bastante esse ano. Tivemos poucos shows cancelados ou prejudicados por condições climáticas. O Ihsan foi o mais prejudicado, tocando apenas três músicas num dos sets. Michael Schenker e At The Gates também tiveram seus sets atrasados devido ao forte vento na jornada de volta para Miami. Num todo, o 70 tons é

um evento no qual você come pouco, dorme menos ainda, tem coragem e incentivo pra fazer o que talvez nunca faria num show local, faz festa o tempo todo, conhece muita gente interessante e fica tão viciado que logo no primeiro dia já tem a convicção que vai voltar no ano seguinte. Em 2021, o navio aporta na Jamaica para o round XI.e Vai encarar?


INTERVIEW

CLEMENTE Iniciamos uma série de reportagem para saber da galera do meio musical o que eles acham do ‘Futuro do Consumo de Cultura’ Texto Augusto Hunter // foto leandro Almeida

>> 26 // rock meeting // fevereiro. 2020



interview . clemente

foto divulgação

O

lá, e aí? Estamos co- vocês, em uma série, diversas meçando aqui, uma entrevistas, para no final, terpesquisa leve, sobre mos uma noção do caminho

cultura e como a consumi- que iremos tomar, possíveis mos. Ok, eu sei que, a gente mudanças e o mais importanque curte Rock e Metal ainda te, a entender como iremos compra discos em vinil, cd´s, ver isso no nosso mundo, já merchandise oficial e coisas que, estamos virando mais do tipo, mas a forma que a uma década, então, vamos lá! gente chega a eles mudou e Espero que curtam essa sémuito! Ah, e continua mudan- rie e boa diversão na leitura. do né, temos muitos meios E, particularmente, acho que completamente diversas para começamos muito bem, obriconsumir tudo o que amamos gado Clemente, por ser nosso e, por isso, começo aqui a con- pontapé! versar com pessoas que traba-

Falar de Clemente Nas-

lham, diretamente com isso, cimento e a sua importância cultura. Iremos trazer pra dentro do cenário rocker do 28 // rock meeting // fevereiro. 2020


Brasil é “chover no molhado”, conhecido como um dos “punks originais”, Clemente toca com o Inocentes e está com a Plebe Rude, mas hoje nosso bate papo não é sobre a sua extensa história musical, mas falaremos com ele sobre a outra face. Vamos conversar sobre mídia, passado e futuro, como ele enxerga o momento e coisas afins. Clemente, muito obrigado pelo seu tempo de conversar com a gente, pra começarmos, como você vê a mídia de hoje em dia, com relação ao Rock?


interview . clemente foto divulgação

Clemente: A grande mídia São os programas que iniciam punk brasileiro como Subalcomo sempre quer saber o que a movimentação, no meu pro- ternos ou Rota 54, mas tem está nas paradas de sucesso, grama de rádio posso tocar gente que reclama, que é cócomo o Rock não se encon- o que eu quero e apresentar pia, que o original é melhor. tra nesse momento o espaço ao público as novidades. O Mas sabe quando ele vai ver diminuiu muito. Voltamos ao problema é que o rock está um show do Led Zeppelin? gueto da mídia especializa- se comportando de manei- Nunca! Vejo o Greta amarrada com raras exceções, mas ra estranha, os “roqueiros” dão (risos). Mas os programas como tudo é cíclico...

não querem ouvir novidades, são importantes, pois é a porsó o que já conhecem e mui- ta de entrada na rádio, na mí-

Como um DJ e Produ- tos ainda querem ouvir só os dia e para o público. tor, qual o peso que tem grandes clássicos gringos, se os programas que come- ficar nessa o rock morre.

Vindo dos anos 80 até

çaram lá atrás todo esse Eu acho ótimo o Greta Van hoje, muita coisa acontemovimento? 30 // rock meeting // fevereiro. 2020

Fleet ou uma banda nova de ceu, você consegue enu-


merar as coisas mais im- Você foi diretor artístico inesquecível. Cheguei lá pela portantes, para termos o do Musikaos, programa minha trajetória, fui Produtor que temos hoje em dia de clássico com Gastão Mo- Musical na gravadora Paraespaço?

reira, na Tv Cultura, me doxx, lancei e contratei vários

Acho que não entendi bem fala, como foi fazer esse trabalho e como você chesua pergunta, pois tínhamos gou até ele? muito espaço e estamos perEu era produtor Musical do dendo, estamos com o que Musikaos, era um programa sobrou. Tivemos vários momaravilhoso onde a gente mentos, a época das grandes conseguia colocar os artistas

artistas no final da década de 90 de Pavilhão 9 a Skamoondongos. Trabalhei na Secretaria de Cultura do Estado como diretor do projeto Caldeirão da Artes, onde fazia o Circuito Universitário. Meu projeto

gravadoras na década de 80. mais alternativos com gran- Rock de Garagem, workshops Depois veio a MTV, as rádios des nomes da música que fa- sobre produção musical, perrock. Hoje o espaço é bem res- zem um trabalho de qualida- correram toda a cidade de São trito, não tem mais o legado de, lançamos vários artistas de Paulo, chegou no interior, no da década de 80.

vários estilos, foi uma época litoral, até no Rio de Janeiro


interview . clemente

dei palestras. Quando o Gas- de cultura no geral, você tão me convidou eu tinha um vem de um tempo onde grande conhecimento do que era complicado ouvir alestava acontecendo no cená- guma coisa, divide com a rio alternativo e independen- gente como o pessoal chegava em material.

te.

Chegava do mesmo modo Nesse programa diversas que hoje, pesquisando, lendo bandas passaram, algu- usando os filtros da época, remas nem mais existem, vistas, matérias, programas, outros

artistas

morre- jornalistas

especializados.

ram, qual o sentimento Hoje você tem todo um unide saber que você foi “cul- verso na internet, mas por pado” em ter um registro onde você começa? Precisa desse pessoal?

de algum filtro, alguém que te

Sinto-me feliz e lisonjeado dica que caminho seguir. Por por ter podido registrar um isso os blogs, os sites, os camomento da carreira de di- nais especializados e os proversos artistas alguns que já gramas como o meu são imeram importantes e outros portantes, para dar as dicas que se tornaram importan- pro povo depois seguir sozites. Construímos um acervo nho (risos). A única vantagem inestimável de um momento mesmo de hoje é que, quando muito rico da produção musi- alguém fala o nome de um arcal brasileira. Agora faço isso tista, você consegue correr no no Showlivre, estou aqui a 16 Google e achar tudo que ele anos e já lançamos e registra- fez, de resto são apenas fermos muita gente. O trabalho ramentas, cada época tinha a continua. Vamos

sua (risos). conversar

um Hoje temos uma facilida-

pouco sobre o consumo de ímpar pra chegar em 32 // rock meeting // fevereiro. 2020



interview . clemente

material diverso do mundo inteiro, você acha que isso pode estar mexendo muito com as mídias conhecidas. A galera das rádios sentiu esse baque? Como eu disse na resposta anterior, mesmo com todo esse acesso precisamos de filtros, alguém que nos indique o caminho. As rádios todas essas possibilidades, tocam a mesma coisa, os artistas que se destacam e são bem executados nas plataformas. A rádio não cria tendência nenhuma, não está lançando nada. É a indústria fonográfica como um todo que dita as regras, quando falo como um todo é que incluo os independentes nessa indústria (risos). Você já foi também curador da Virada Cultural, como você analisa o impacto desse evento, tanto na vida do pessoal que frequentava,

como

34 // rock meeting // fevereiro. 2020

no


peso da divulgação do obrigado) evento?

no

Kazagas-

tão, o que eu quero saber

É um evento importante que primeiro, como surgiu a impacta

positivamente

na idéia desse programa?

cultura da cidade e que abre O programa é todo do Gastão, espaço pra quem se inscre- vou lá pra apoiá-lo (risos). Ele ve. Mas como todo evento do criou o modelo, escreve o ropúblico, depende também de teiro, edita, ele é o cara e eu quem está no governo, depen- vou lá ajudar a ele realizar. O dendo da gestão a gente perde Gastão e um grande parceiou ganha mais espaço.

ro, é ele chamar que eu vou. Super criativo e conhece tudo

Partindo pra coisas mais de música, adoro ficar trocanatuais,

você

tem

feito do ideia com ele e é isso que a

um trabalho maravilho- gente faz no programa (risos). so com o Showlivre.com, como tudo começou?

E ainda sobre o Heavy

Quando acabou o Musikaos, Lero, o trabalho de pesrecebi vários convites para quisa é a parte mais improduzir outro programa, o portante dele, você imamais consistente foi o do Sho- ginaria esse programa no wlivre, e desafiador pois era ar de alguma TV, antes do para internet numa época que YouTube? não tinha banda larga e nós Claro, vontade não falta, só transmitindo ao vivo pela in- esperando uma TV “comprar” ternet. Hoje temos a tecnolo- a ideia, uma hora rola. gia a nosso favor e já trouxemos os mais variados artistas A forma de consumo de dos mais variados estilos aqui. conteúdo A saga continua (risos).

continua

em

constante mudança, mas você acha que a TV Aberta

E tirando o Showlivre, realmente um dia suma e você e o Gastão Moreira o YouTube (ou outros sisapresentam o Heavy Le- temas de Streaming de ro(programa esse que eu Imagem) tomem conta? me divirto demais vendo, O sistema OTT hoje é uma


interview . clemente

realidade, Netflix, Globoplay e nunca pensou em fazer Artes, Itaú Cultural, entrar no coisa e tal, cada vez mais você e o fez, pode dividir com circuito de cinema. Conviver vai pagar pouquinho e ter um a gente esses momentos com os atores que são todos monte de conteúdo a disposi- aonde a emoção quase to- músicos e tiverem que criar a ção. A TV paga não tem mais mou conta?

banda para o filme. Muito le-

nada, pago caro e tenho uns Um trabalho legal que acon- gal essa experiência de Cine200 canais de lixo, pra ver os teceu esse ano foi participar ma. canais que eu quero ver tenho como ator do filme, Ainda Teque pagar mais, esse modelo mos a Imensidão da Noite, um Clemente, muito obrigaestá com os dias contados.

filme que conta a estória de do pelo tempo grande, uma banda nova de rock, com deixe aqui uma mensa-

Dentro de todos esses seus perrengues, frustrações e gem pro pessoal da Rock anos na mídia, eu tenho coisa e tal. Eu fiz um delegado Meeting e aquele abraço. certeza que você tem al- que prende a banda depois de É isso, tem várias coisas acongum momento de emo- uma festa. Foi bacana me ver tecendo e você tem que ir ção, um trabalho que você na tela grande do Petra Belas atrás não pode ficar parado. 36 // rock meeting // fevereiro. 2020



38 // rock meeting // fevereiro . 2020


INTERVIEW

PHANTOM ELITE com Nova gravadora, phantom elite projeta voos mais altos e novo album para 2020 por augusto hunter fotos Maarten Schenk


interview . phantom elite

O

Phantom Elite é uma banda de extrema qualidade e peso, capitaneada por Marina La Torraca fechou um contrato com a Frontiers e têm planos incríveis pra 2020, confira abaixo. Primeiro Marina, obrigado pela chance do bate papo e vamos começar falando como foi a experiência de estar com o Avantasia ao vivo? Marina La Torraca: Foi bastante surreal! Mas bastante responsabilidade, pois cresci ouvindo muitos dos vocalistas. Sem contar que substituir a Amanda Somerville e de repente se apresentar na frente de tanta gente já é bastante pressão (risos). Mas eu adorei, e todos foram muito legais comigo.

com o Sander Gommans (After Forever) e a primeira conversa com ele? Estou tentando me lembrar como foi exatamente o primeiro contato com ele... :) Mas nós nos conhecemos quando uma extinta banda da qual eu fazia parte fez a proComo foi ter o contato dução de um álbum com ele. 40 // rock meeting // fevereiro. 2020

Então com certeza a primeira conversa teve a ver com isso (risos). Depois desse encontro, você e o pessoal da banda resolveram fundar o Phantom Elite, nesse momento, o que passava em sua cabeça?


banda para tocar seu projeto de estúdio, HDK, ao vivo. Foi assim que procuramos o resto dos músicos e começamos o Phantom Elite há 6 anos. Eu obviamente me senti muito honrada de poder fazer parte de um projeto com um cara tão profissional e “de peso” na cena. Vi desse cara com uma oportunidade incrível de crescer, e assim tem sido! Os músicos também são sempre muito criativos e talentosos, então é uma honra mesmo fazer música com eles.

O Phantom Elite veio na verdade alguns anos após. Eu entrei em contato com ele porque queria cantar em alguma banda novamente e decidi perguntar se ele sabia de alguma que estivesse precisando de cantora. Foi aí que fiquei sabendo que ele estava interessando em formar uma

E como foi com a banda, a conversa e como vocês chegaram nessa sonoridade atualmente? A sonoridade do Phantom Elite veio totalmente de maneira natural. “Wasteland” foi uma mistura espontânea das faíscas musicais individuais de quase todos os membros. E só posso dizer o mesmo do álbum que lançaremos em breve! Em 2018 vocês lançaram Wasteland, o primeiro disco de vocês, como foi a recepção e as tours desse disco?


interview . phantom elite

A reação do público foi maravilhosa e eu acho que conseguimos fazer um bom “barulho”, mesmo sem suporte de uma gravadora e com possibilidades muito limitadas de turnê e promoção (a verdade é que nunca foi muito fácil ser uma banda “iniciante” sem um orçamento gigantesco [risos]). Conseguimos tocar em vários países europeus como Inglaterra, França, Bélgica e Alemanha (além da nossa Holanda), e até tivemos a oportunidade de abrir pros gigantes do Kamelot. As pessoas sempre elogiam a qualidade musical da banda e a performance ao vivo, o que me faz pensar que estamos no caminho certo. :) Vocês assinaram contrato com a Frontiers Records, o que os fãs podem esperar dessa parceria? 42 // rock meeting // fevereiro. 2020


Acho que a galera pode esperar ouvir mais sobre o Phantom Elite com essa parceria com a Frontiers. Com uma gravadora há mais pessoas que acreditam no projeto, o que contribui bastante para o crescimento da banda.

divulgação desse álbum começando já em 2020, e estamos trabalhando duro para que isso seja possível! Mas além disso, não queremos tirar outro break tão longo quanto esse depois de “Wasteland”. Então pôde-se dizer que estamos trabalhando para uma E na sonoridade do Phan- dominação mundial a longo tom Elite, podemos falar prazo (risos). :) que After Forever, The Gathering e outras ban- Podemos esperar uma das são as principais “cul- vindoura passagem pelo padas” pela sonoridade Brasil? da banda? Olha, não posso prometer o Acho que influência do After quão vindoura essa primeira Forever é inevitável, né? (ri- passagem pelo BR será... mas sos). Mas sim, também temos prometo que ela há de aconbastante influências prog de tecer! bandas como Dream Theater, mas as influências vêm Obrigado pelo tempo e de maneira tão individual que pelo ótimo papo, deixe fica difícil citar. Assim como aqui uma mensagem pros o line-up, a sonoridade do se- leitores da Rock Meeting, gundo álbum é bastante nova por favor e até mais. e totalmente misturada. Eu que agradeço pela entrevista! Para todo mundo que Depois do lançamento do está lendo, um abraço apertadisco, podemos esperar do, e aguardem o novo álbum uma grande tour, quais os do Phantom Elite lá pela seplanos futuros do Phan- gunda metade de 2020. Vocês tom Elite? não vão se arrepender, proEsperamos muito poder con- meto! Muito peso e musicalitar com uma grande turnê de dade!


CAPA

ALĂ?RIO NETTO A voz que vai comandar uma das bandas mais representativas do brasil por RENATO SANSON // foto marta ayora

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capa . alírio netto

Alírio, com o retorno do Shaman com seus músicos originais você foi o escolhido para dar continuidade ao legado da banda no lugar do saudoso Andre Matos. Como surgiu este convite? Alírio Netto - Então, este convite surgiu quando recebi uma mensagem do Luis (Mariutti) me convocando para uma reunião com a banda toda. Na hora imaginei que seria algo neste sentido, uma participação especial ou alguns shows com eles. Na hora em que cheguei para reunião os caras me fizeram o convite para ser o novo vocalista do Shaman, para fazer os shows e tudo mais. Foi isso que rolou, a reunião durou cinco minutos, com a galera sendo muito respeitosa e legal comigo, achei muito legal o modo como eles me convidaram e me senti muito honrado, estou feliz demais!

pectativas são as mais altas possíveis, porque o Shaman é uma banda consolidada já, esses dois trabalhos que fizeram com o Andre Matos têm um nível absurdo de composição e complexidade ao mesmo tempo. Eu acho que aquele grupo ali com os quatro junQual a expectativa para tos realmente fez coisas que este novo momento da vão perdurar por muito temsua carreira? po. A minha expectativa é que Obviamente as minhas ex- a gente continue este legado, 46 // rock meeting // fevereiro. 2020

obvio que quero encontrar o meu espaço dentro da banda, o que já vem acontecendo e acho que vamos fazer muitas coisas legais. O Shaman conta com uma história grandiosa, principalmente o primeiro pilar ainda com Andre Matos. Como está sendo a preparação para os shows?


foto arquivo pessoal

Então, a gente ensaia toda semana, estamos ensaiando juntos a praticamente um mês. Além de cantar, também fiquei encarregado de todas as partes com piano, o Andre além de um exímio cantor era um exímio pianista e compositor. Isto faz com que eu tenha que voltar a estudar algumas coisas, o desafio foi lançado e cada vez mais estamos nos tornando um grupo homogêneo e isto faz toda a diferença. Uma coisa muito bacana que já rolou, desde o primeiro ensaio, foi a sinergia entre a galera, respeito muito a obra do Andre fazendo todo o possível dentro das minhas possibilidades para que possamos entregar na turnê da maneira mais honesta e bonita possível. Respeitando a história do Shaman e a obra do Andre. Acho que os fãs vão gostar, está massa! Teremos músicas somen-


capa . alírio netto

te da fase Andre Matos ou também alguma coisa da fase posterior? Não. Vamos tocar somente a fase do Andre e talvez alguma surpresa ou outra, mas não vou dar o spoiler, mas também é ligado ao Andre.

para, sim, o lançamento de algo inédito. Acho que isso vai acontecer e já foi acontecendo naturalmente, já começamos a esboçar algumas coisas e penso que vai rolar, estou empolgado com esta possibilidade!

Em meio a todos os seus projetos, o Shaman seria o seu foco principal atualmente? É sim o meu foco principal junto com o Queen Extravaganza. Conversamos muito antes de firmar está nova parceria com o Shaman e obviamente o Queen sabe da existência desse novo projeto. Já comentei com os mesmos que agora precisamos organizar as agendas e até agora não houve problema algum. São dois projetos que tenho dentro do meu coração, mas realmente o Shaman tomou um lugar de suma importância em minha vida.

Com a volta do Shaman e o anuncio que você seria o novo vocalista, um sopro de alegria imperou pelos fãs, pois substituir Andre não é uma tarefa fácil, além de um músico fantástico também era dono de um carisma sem igual. Porém a recepção dos fãs para este momento aparenta ser bem calorosa, certo? Sim estou recebendo um apoio absurdo dos fãs isso é uma coisa que está me deixando muito feliz e muito em paz, porque volto a dizer: a dificuldade das composições do Andre como vocalista ou como pianista é muito alta. Você não aprende essas músicas da noite para o dia para deixá-las orgânicas, exige um grande tempo de dedicação. Eu acho que o Shaman e o

A ideia é lançar material novo ou apenas uma turnê comemorativa? Olha, pelo andar da carruagem estamos caminhando 48 // rock meeting // fevereiro. 2020


AlĂ­rio Netto durante show do Queen Extravaganza


capa . alírio netto

Andre merecem tudo que eu puder fazer pela minha dedicação, estou muito feliz com o apoio que venho recebendo dos fãs. A morte do Andre deixou um hiato e uma dor, todos nós (me incluindo nesta também) ficamos órfãos do cara, porque ele era uma referência em vários níveis. Então, o fato dele ter deixado este legado para gente continuar com o Shaman é um privilégio, estou muito agradecido e os fãs percebem isso. Falando da sua preparação para esta tour, como está sendo? Tem alguma música em específica que te tirou o sono? Todas as músicas me tiram o sono, afinal de contas é o Andre Matos (risos). O cara é insubstituível, então todas tem um carinho especial, alguma parte em que eu precise estudar um pouco mais, mas está sendo muito rico para mim porque fazia algum tempo que eu não cantava nesta região que o Andre canta, e que é sempre bom, pois faz você voltar a estudar e reencontrar algumas coisas em minha voz 50 // rock meeting // fevereiro. 2020


e até mesmo no meu piano. Está sendo uma preparação muito intensa, mas está sendo bem gratificante e estou curtindo cada momento deste processo. Entre “Ritual” e “Reason” qual o seu preferido? Olha, entre o “Ritual” e o “Reason” (deixando claro que gosto muito dos dois), eu prefiro o “Reason” porque penso ser um disco mais maduro. Me identifico mais com a atmosfera do álbum, porém uma das músicas preferidas da minha vida – que é a “Fairytale” – ela está no “Ritual”, então acaba que fica mudando. “Over Your Head” adoro, “For Tomorrow” também, mas o disco como um todo. Neste momento estou na vibe do “Reason”. Em seu auge o Shaman conquistou o Brasil e era tida como a melhor banda atualidade em sua época. Com este novo retorno parece que este caminho é só questão de tempo. Como você enxerga está possibilidade? Seria um sonho realizado? Eu ainda acho que o Shaman tem uma relevância absurda.

O mercado mudou muito, mas vou falar uma coisa para vocês eu não fico pensando muito nisso não, a única coisa que eu penso é fazer este trabalho da maneira mais honesta possível, e o que vai acontecer se a gente vai conseguir conquistar o mainstream novamente, acho que é uma coisa que não posso controlar, então prefiro não colocar a minha energia nisso e sim fazer a coisa mais honesta e verdadeira possível. Pois isso sim é o que faz a diferença para uma banda do nível do Shaman. Do profissional já sabemos, mas como a pessoa Alirio Netto está lidando com esse novo desafio? Em algum momento de sua vida imaginou algo assim? Em vários momentos me emociono vendo os vídeos tocando as músicas do Andre. Levei um tempo para conseguir fazer isso de uma maneira saudável e não vou mentir não, isso me deixou com uma sensação de nostalgia. Os primeiros acordes que eu comecei a aprender, as primeiras músicas, eu realmente precisei quebrar esta barreira emocional, porque ele não era só


foto Alexandre Paoli

capa . alírio netto

um cara em que eu era fã ou por tudo que ele fazia como vocalista, mas a música dele é muito profunda e de todos os caras do Shaman também. Esses quatro caras criaram uma história linda que, obviamente, o meu primeiro contato me doeu um pouco. Mas agora, passado este momento do luto, acabamos entendendo que faz parte e que agora cada nota que sai da minha garganta vai sair ecoando a obra dele, isso é algo muito 52 // rock meeting // fevereiro. 2020

genuíno dentro de mim e do tinuar a minha carreira solo, meu coração. inclusive lancei um documentário e é um material que tePara finalizar, dentre nho muito orgulho. Temos seus projetos, o que pode- turnês também com o Queen mos aguardar de novida- Extravaganza e é isso, a mide de Alirio Netto? Muito nha vida gira em torno disso. obrigado e sucesso sem- Acho que sou um cara abenpre! çoado e tenho muita sorte de Sou uma pessoa que não gos- poder estar vivendo daquilo ta de ficar parada, então faço que eu sou! Então é isso aí, muitas coisas, com certeza vocês podem esperar que irão eu quero fazer coisas novas ouvir falar muito de mim e escom o Shaman quero tam- pero sempre que de maneira bém dentro do possível con- positiva.



live

SHAMAN

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sob forte emoção, O retorno do Shaman foi o batismo de Alírio Netto Texto Pedro marques foto bárbara martins

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live . shaman

SIOUX 66 Às 19h45, entra no palco a banda convidada da noite, a Sioux 66, grupo paulistano de hard rock fundado em 2011, e sem muita enrolação, já tocam o melhor de seu repertório, que consiste em um hard rock com um peso do heavy metal, com letras cantadas em português. Igor Godoi, o vocalista, tem ótima presença de palco e esteve em constante movimento, tentando inspirar a participação do grupo, com as intervenções ao agradecer o Shaman e à FreePass pelo convite e músicas bem pesadas como a versão da música “Diversão” do Titãs (Bento Mello, um dos guitarristas,é filho de Branco Mello, membro-fundador dos Titãs), e o cover de Ozzy Osbourne, “Bark at the Moon “(contando até com uivos de Igor). 56 // rock meeting // fevereiro. 2020

O trabalho da Sioux 66 foi bem apresentado com boas canções, destacando-se principalmente “Aqui Estamos” e “Caos”. A entrada de Yohan Kisser, filho de Andreas, certamente aumentou a dose de peso da banda, que já contava com um portfólio interessante. Vale a pena conferir a discografia do grupo paulistano, que tem em ‘MMXIX’ (2019) seu mais recente disco.

SHAMAN O relógio marcava 20h40 quando uma bela introdução de piano começou a ser ouvida na Audio Club, já tradicional casa de shows paulistana, e a expectativa já era notável entre os presentes. Estava para acontecer a primeira apresentação do Shaman sem seu frontman, e símbolo do heavy metal na-


cional, Andre Matos, e seu nome seria destacado durante todo o show. Antes de o show começar, vem a notícia de que a primeira música do show seria filmada e dela nasceria um videoclipe, e imediatamente após o anúncio, “Ancient Winds”, música de introdução do primeiro álbum do Shaman (Ritual) começa a tocar. Após, outra pequena intro e


live . shaman

“Turn Away”, como um petardo, marca o início do show. Já no fim da execução, boa parte da plateia dá as boas vindas à Alirio Netto gritando seu nome, em uma bonita demonstração de apoio. Conforme a banda desfilava seus clássicos, o público cantava junto cada nota com o novo e extremamente competente vocalista, que após a terceira música, “Reason”, falou pela primeira vez com os fãs, e pontuou que todos estavam órfãos de Andre Matos, e que não haveria forma mais honrosa de homenagear a sua memória do que conti58 // rock meeting // fevereiro. 2020

nuar seu legado, que é eterno, demonstrando respeito e ganhando a admiração do público presente. “For Tomorrow”, bela canção do clássico álbum Ritual, arrepiou os presentes e seu final se transformou num momento de contemplação em que se notaram diversos fãs de olhos fechados, prestando reverência ao eterno frontman Seguiram-se “Time Will Come”, “More” e “Innocence”, e com estas, a habilidade de Alirio ao piano, formando com Fábio Ribeiro, o tecladista, uma boa dupla. Vale destacar também o en-



live . shaman

trosamento da banda, que continua afiada, demonstrando isso na música nova da banda, Brand New Me, uma música de renascimento, com o refrão já sendo cantado pelos fãs. O primeiro convidado da noite foi apresentado após “Here I Am” e “Iron Soul”. Marcus Viana, violinista, cantor, compositor e grande amigo de Andre Matos é apre-

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sentado e entra no palco, ovacionado. Com um pequeno discurso sobre a criatividade, liberdade e o caráter da imaginação que a música carrega, e a importância de Matos nesse processo, a banda toca seu maior clássico: “Fairy Tale”. Durante a canção, uma pausa para Alirio levantar um banner com a imagem do homenageado da noite, prévia de uma devoção maior ainda que

estava por vir. Após “Fairy Tale”, ficam no palco apenas Alirio, ao piano e Marcus Viana no violino, e para o palco, a banda trouxe o vestuário característico do ídolo (paletó e camisa branca) e o deixaram no pedestal do microfone central. O que se seguiu foi inexplicável: Um medley contendo “Living for the Night” (emblemática canção do Viper), “Endeavour”


(da fase solo de Matos), “No need to have an answer” (do ótimo projeto Virgo) e “The Show Must Go On” (Queen), pra sinalizar a continuação do legado de Andre. Depois desse belíssimo medley, a banda emenda Born to Be, música com alta carga emocional que fecha o segundo álbum do Shaman e, no momento da apresentação da banda, Hugo, visivelmente emocionado, relembra que esse era o momento que ele anunciava o Andre nos vocais


live . shaman

e destaca a escolha pelo Alirio, recebendo a ‘benção’ dos irmãos Mariutti e do público presente. Aos gritos de ‘Jesus! Jesus!’, (brincadeira dos tempos de MTV) Luis bebe vinho para entusiasmo geral e estava ali simbolicamente batizado o mais novo membro do Shaman. 62 // rock meeting // fevereiro. 2020

Após Ritual, o bis chegou com Lisbon (Angra) e apresentação de outro velho conhecido dos fãs: Bruno Sutter sobe ao palco e relembra da sua participação há um ano e meio atrás no show de reunião do Shaman com o Andre, e também presta a sua homenagem ao cantor, destacando o fato de muitos começarem a

estudar música por conta de Matos, e que esse legado (a palavra chave do show) permanecerá vivo. Com Bruno e Marcus de volta aos palcos, a banda encerra o show com Pride, e a certeza de que o Mestre estaria orgulhoso.

Viva Andre Matos!

Viva Shaman!



INTERVIEW

TREND

KILL

GHOSTS Pensando e agindo como banda, o Trend Kill Ghosts desponta no cenรกrio brasileiro

por renata pen // fotos marta ayora

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interview . trend kill ghosts

Rogério, você tentou por várias vezes manter uma banda e não funcionou e isso foi te forçando a seguir em projeto solo. Quais foram essas dificuldades? Rogério Oliveira - Acho que a principal dificuldade encontrada por mim é que eu tinha um plano de crescimento para a banda e os outros integrantes não acompanhavam ou não concordam com esse plano, com as ideias. Mas em contrapartida, eles também não tinham nenhuma outra ideia ou sugestão de como fazer essa ação, dessa forma a banda ficava inerte ou agindo de forma genérica, ou seja, como todas as outras bandas do cenário, e o final disso, 99% das vezes, a banda vai para nenhum lugar. Como foi que rolou com o Diogo Nunes para fazer você sentir confiança em retomar as atividades como banda novamente? 66 // rock meeting // fevereiro. 2020

Foi exatamente essa combinação de ideias de crescimento e divulgação da banda... Pois eu chamei ele apenas para cantar, o que seria a primeira música do meu projeto solo (a música Frozen) e, como ele gostou muito da música, ele insistiu bastante para montarmos a banda, mas eu estava bem reticente quanto a isso. Depois de muita insistência, eu expliquei para ele o que eu pensava em relação a bandas e atitudes que deveriam ser tomadas e ele disse: “é exatamente isso que eu penso também”. Aí me convenceu e começamos a jornada. Como é lançar singles no Brasil e como saber qual foi o alcance da música? A gente sempre planeja bem os lançamentos que vamos fazer para que possamos ter real noção, um feedback verdadeiro em relação a música lançada, e com todos os singles que lançamos tivemos uma repercussão muito boa,


Diogo Nunes e RogĂŠrio Oliveira abrindo o show para o Wasp e Accept


interview . trend kill ghosts

acima do esperado, tanto em solo nacional quanto em outros países e isso nos deixa muito confiante em saber que estamos no caminho certo. Conte nos como foi o processo com “Frozen”? Como comentei anteriormente, ela é a primeira música do que seria meu projeto solo, então tenho um carinho grande por ela, até porque essa foi a única música onde desenvolvi tudo sozinho, desde arranjos, melodia e até a letra, o que não é lá meu ponto forte. Têm influencias de GammaRay, Angra, Helloweem, e como foi a primeira, a gente tem bastante tempo para pensar nos detalhes e acredito que fui bem feliz nesse quesito. Depois com ideia de banda, a gente fez todo um trabalho de rede social, principalmente facebook e instagram para tentarmos angariar o máximo de pessoas interessadas na TKG antes de lançarmos qualquer coisa, o que realmente é difícil sem ter um material 68 // rock meeting // fevereiro. 2020


oficial lançado, mas acreditamos que seria a coisa mais correta a ser feita e realmente deu certo, quando lançamos a “Frozen” tivemos um retorno bem acima do que acreditávamos. 2019 foi o ano que vocês tiveram muitas conquistas. Como foi sair em turnê pela América Latina ao lado da banda italiana Elvenking. Conta para nós como foi. Isso para todos foi uma parte do nosso sonho realizado, pois qualquer um que tenha uma banda sonha em sair pelo mundo fazendo shows, e com o Elvenking isso foi possível. Fazer uma turnê sul americana como banda de abertura, em países como Colômbia, Chile e Argentina onde a gente achava que ninguém nos conhecia e para a nossa surpresa em todos os shows havia pessoas cantando nossas músicas e realmente isso traz uma satisfação e uma felicidade indescritíveis para a banda.

vocês eram apenas fãs? Sempre uma emoção e um estado de excitação acima do normal, porque tocar com bandas do calibre de Accept e Wasp, com a importância que essas bandas tem no metal mundial, além, do Viper que também é uma lenda por aqui, é ter a responsabilidade de segurar o rojão na frente dos fãs dessas bandas. É um desafio enorme porque a gente tem que saber conquistar o público e isso é bem difícil, mas nos saímos muito bem, o que torna esses shows mais inesquecíveis ainda.

Como é estar nos bastidores com Accept, Wasp e Viper. Tem alguma curiosidade para contar? Infelizmente o pessoal do WASP e Accept foram bem reservados, não tivemos oportunidade de conversar ou tirar fotos, é uma pena, mas entendemos e respeitamos a posição dos caras. Já com o Viper foi sensacional, o pessoal é de uma gentileza e humildade muito granE o coração como fica de, nos trataram muito bem, abrindo para bandas que tanto banda quanto o staff, não muito tempo atrás só temos a agradecer o apoio


interview . trend kill ghosts

qualquer um que tenha banda sonha em sair pelo mundo fazendo shows

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e força, além dos elogios que mim mais complica a humaniescutamos da galera! dade do que resolve os problemas...Mas também falamos a Nas músicas vocês falam respeito da ação das pessoas sobre a subversão da re- no mundo de hoje, da alienaligião e sobre a falsidade ção das pessoas, do contato das pessoas na internet, pessoal que está se acabando de onde vem a inspiração e ninguém está se ligando que para falar de temas tão isso está acontecendo. Então complexos? nós achamos que podemos, Eu tenho essa questão religio- através de nossa música, alersa comigo, é uma coisa que tar as pessoas dessa situação sempre escrevi a respeito, e e, quem sabe, poder fazer com veja bem, não é contra Deus, que elas pensem um pouco a em hipótese alguma, e sim respeito. Além disso, também contra as diversas vertentes falamos da superação e vitóde religiões e igrejas, isso para ria pessoal, pois todos temos


uma luz e uma força interior Avantasia, EdGuy. As prinque podemos superar qual- cipais influências da banda quer adversidade ou desafio. estão aí, vez ou outra podemos adicionar algumas coisas O Power Metal tem um além disso, mas o som é baseespaço no coração dos ado nessas bandas. brasileiros. Quais bandas vocês pontuam serem O que anda rolando nos responsáveis por toda seus toca discos ultimaessa influência em vocês? mente? Bom, eu ouço power metal Infelizmente minha vitropraticamente desde que quis la está quebrada (risos), não formar minha primeira ban- tem como ouvir meus vinis, da, e isso já faz muito tem- o que é uma pena... Mas além po, foi por volta de 2001. As da TKG, e nossas influências influências são bandas que habituais, tenho ouvido algufizeram o estilo, por exem- mas bandas mais novas como plo, GammaRay, Helloween, Dynasty, Lords of Black, Wa-

rkings, Brainstorm além de Trivium, Arch Enemy, e por aí vai, coisas mais novas, coisas mais velhas... Como você define a cena metal em nosso país atualmente? Essa é uma pergunta bem interessante e que poderíamos ficar aqui falando sobre isso uns três dias (risos). Mas eu vejo da seguinte forma: Uma cena rica, com muita banda boa e músicos talentosos. No entanto, há uma grande parte dessas bandas preguiçosas e/ ou mal preparadas que parem


interview . trend kill ghosts

de reclamar que as pessoas não apoiam e comecem a fazer um bom trabalho e faça com que as pessoas olhem para elas. Muitas vezes as bandas reclamam que ninguém apoia, mas o que elas fazem para que essas pessoas apoiem? Reclamam que as pessoas pagam uma fortuna para o show de banda gringa e não paga R$10 para ver o amigo, mas que tipo de show a banda do amigo entrega para o público? Consegue entender? Só lançar um single, ou um disco, ou um clipe não resolve nada, essa na verdade é a última etapa da caminhada e 72 // rock meeting // fevereiro. 2020

é aí que eu digo que as bandas estão mal preparadas, porque elas começam pelo fim e sobram reclamações e acusações. Na verdade, se algo está dando errado para a banda, a culpa não é do público, não é do cara do bar que não dá oportunidade e nada disso, a culpa está na banda. Sentem, analisem, pensem e vocês vão achar o erro e começar a fazer direito, aí as reclamações vão parar. Se não conseguirem achar, contratem alguém que conheça do assunto para assessorar vocês, investir nunca é gastar, entendam!


Quais são os planos da TKG para 2020? Vamos lançar um vídeo da música “Like Animals” ao vivo em fevereiro, estamos em fase de finalização desse material. A Kill Your Ghosts Tour continua com shows a serem anunciados (podemos ter surpresas a caminho [risos]), pretendemos fazer mais um clipe de uma música, mas ainda não definimos qual e ainda esse ano pretendemos começar a compor o novo álbum a partir do segundo semestre. Temos ainda mais algumas coisas em vista, já em fase de negociações que esperamos pode divulgar o quanto antes. Muito obrigada pela en-

trevista e esse é seu espaço para deixar um recado para os nossos leitores. Antes de mais nada gostaria de agradecer a Rock Meeting pela oportunidade, precisamos de cada vez mais veículos como o de vocês para ajudar a deixar cada vez mais forte o metal. Agradecer a todos que nos apoiam e gostam do nosso trabalho, sem dúvida essa galera é a mais importante de todas as nossas conquistas. Que tenhamos um grande ano de 2020 e que possamos continuar matando nossos fantasmas e chegar aos nossos objetivos! Kill Your Ghosts!


INTERVIEW

VENOMOUS Com novo play na praรงa, a banda Venomous FALA DO PASSADO, PRESENTE E FUTURO por Augusto Hunter // foto Leonardo Benaci

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interview . venomous

O

Venomous surgiu com a proposta de trazer um som calcado em suas influências e nos mostrou ainda muito mais, competência e técnica inestimada em suas composições e a força de crescer ainda mais dentro do cenário nacional e internacional. Conversei um pouco com eles sobre todo o processo e dos planos pro futuro.

identidade da banda, o princípio da dualidade. O veneno pode ser mortífero, como também proporcionar vida e resistência, e o que diferencia os dois destinos é principalmente a dose, o equilíbrio. Nos envolvemos bastante nas nossas músicas com experiências vividas, aprendizados, pontos de vista e a dualidade interpretativa, a relação entre destruição e reconstrução, de descrença e esperança, semA banda surgiu em 2016 pre estão presentes nas nose tem feito muito baru- sas músicas. lho, para começarmos o nosso bate-papo, nos fala Ouvindo os seus trabacomo surgiu a ideia e todo lhos, tem como perceber o conceito da banda? uma influência de muita Lucas Prado: Nós forma- coisa mais nova, mas ao mos a banda a partir uma mesmo tempo uma pegaforte amizade entre todos os da clássica, como vocês membros e a vontade de tra- chegaram no som de vobalhar com o que mais ama- cês? mos. Desde sempre estive- Como todos os integrantes mos envolvidos com música participam ativamente dos e com projetos artísticos, e foi processos de composição, em 2016 que decidimos nos cada um traz uma gama disjuntar de vez em torno dessa tinta de influências em se proposta. O conceito por trás tratando de todos os subgêdo nome Venomous (significa neros do Metal do clássico ‘venenoso’) é o que carrega a ao moderno e até outros es76 // rock meeting // fevereiro. 2020



interview . venomous

tilos. Somos amantes do som pesado e extremo, mas dentro desse nicho cada um tem suas preferências, e é isso que procuramos transmitir em nossas composições, mas sempre prezando pela harmonia, equilíbrio e unidade. Em contrapartida, nós conseguimos estabelecer a identidade sonora da banda, procurando alinhar a mensagem da música com as sensações trazidas pelo som, e ao mesmo tempo tentando inovar em outros aspectos. Falando sobre o mais recente lançamento de vocês, ‘The Black Embrace’, que está bem legal, mesmo com tantos elementos mais modernos na música, temos passagens clássicas muito bem estruturadas, qual a principal influência de chegar a essa química? Como falado anteriormente, as influências vêm das mais diversas vertentes, desde a melódica, como Angra, Shaman e Queen, até as mais ex78 // rock meeting // fevereiro. 2020

foto rogerio talarico


tremas como Arch Enemy, Opeth, Gojira, Death, Slayer e outras. Desde o primeiro disco, “Defiant”, já prezamos nossas raízes brasileiras em algumas composições, como outros grandes nomes do Metal nacional também o fizeram, buscando manter a forma clássica e incorporando outros estilos de música como o Choro, Baião, Metal Progressivo, Djent. Nesse sentido, “The Black Embrace” representa muito bem essa ideia, de maneira muito coesa, direta e pesada, justamente aliada à química dos anos de amizade anteriores à formação da banda. Em 2019, vocês fizeram grandes aberturas de shows por São Paulo e uma tour européia. Quais as melhores lembranças e aprendizados? 2019 foi um ano de muitas conquistas e aprendizados para o Venomous. As boas lembranças que levamos dessas grandes experiências são, sem dúvida, o feedback positivo que recebemos ao apresentar nosso trabalho, a oportunidade de conhecer lugares e culturas diferentes, as grandes amizades que cultivamos

ao longo dos shows e viagens e a oportunidade de dividir o palco com grandes referências e ídolos do metal. Os aprendizados também foram inestimáveis. O contato com músicos já bem estabelecidos na cena musical e as viagens feitas com uma agenda de shows intensa proporciona um vasto conhecimento sobre os próximos passos, em termos de estrutura, organização, profissionalismo e planejamento para que cada experiência posterior possa expandir cada vez mais o nosso som e nossa proposta pelo mundo. Vocês também conseguiram juntar duas incríveis vozes para uma homenagem ao Angra, como foi trabalhar com a Mayara Puertas (Torture Squad) e Fernanda Lira (Nervosa)? Para nós foi uma grande honra trabalhar com duas grandes vocalistas do metal nacional, homenageando o Angra, uma de nossas grandes influências, e o grande maestro Andre Matos. Tanto a Fernanda quanto a May mostraram o porquê de hoje serem referências dentro da nossa cena, seja pela incrível técnica vocal


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rial muito bom, quais os planos para 2020? Em 2020 vamos continuar trabalhando em cima deste álbum, temos muito material em vídeo da turnê europeia que vamos compilar, e estamos produzindo um novo vídeo clipe, da música “Heirs of a Dream”, que tem lançamento previsto para o primeiro seCom “The Black Embra- mestre. Também vamos realice” a banda tem um mate- zar uma captação ao vivo para de ambas, explorando o melódico e o gutural, como pela simpatia, parceria e profissionalismo. Elas entenderam perfeitamente a nossa ideia e contribuíram muito para que este trabalho pudesse ter sido realizado da maneira que foi e ter atingido patamares que nos orgulhamos muito.

80 // rock meeting // fevereiro. 2020

lançar uma das músicas do disco nesse formato também. Queríamos saber de vocês, qual o maior problema hoje de uma banda, como o Venomous, dentro do cenário Nacional? O maior problema é conciliar o trabalho de banda com a vida pessoal. Viver de música exige muito trabalho e tempo e o retorno acontece a longo


prazo. Os incentivos dentro Falando de shows, quais do nosso país também são as pretensões do Venobaixos e muitos dos que com- mous em 2020 pros palpartilham do sonho de viver cos? Neste ano pretendemos contide música recorrem à produnuar a turnê do novo álbum, ção independente. O lado bom iniciada na Europa em 2019. disso é que a união na cena é Sempre tivemos muita vontafortalecida e as bandas vêm de de conhecer e levar o nosso aprendendo a se profissiona- som para algumas regiões do lizar cada vez mais, andando Brasil e esse ano será possícom as próprias pernas para vel. Já temos algumas datas marcadas no Sul, Nordeste e atingir seus objetivos.

outros lugares para 2020 que serão divulgadas em breve, e estamos muito ansiosos para levar o show do Venomous para os fãs de outros estados. Teremos também o prazer de novamente dividir o palco com os ucranianos do Jinjer em São Paulo, no dia 28 de março, e temos planos ambiciosos para proporcionar bons shows com outras grandes bandas emergentes do


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nosso país, pois acreditamos que essa união faz todos mais fortes, e aproximam o público das bandas e vice-versa. Lógico que, falando em banda e pretensões, junção de pessoas, todos esses pontos, existem problemas, como o Venomous se comporta nesse sentindo? O Venomous busca se fortalecer na amizade entre os membros e no respeito a cada pessoa que trabalha e que acompanha a banda. Divergências acontecem como em qualquer relação, e são im82 // rock meeting // fevereiro. 2020

portantes para o amadurecimento do projeto, mas sempre somos muito nutridos pelo respeito que temos uns com os outros e pelas boas lembranças das conquistas que tivemos ao longo desse tempo de banda, que serve de combustível para alcançarmos novos patamares e atingir nossos objetivos. Obrigado pela conversa, espero que a banda continue crescendo e, por favor, deixe um recado pros leitores da Rock Meeting. Até mais! Agradecemos demais à Rock

Meeting pelo espaço e pelo trabalho fundamental que vocês fazem para os amantes do som pesado, como nós. Aos demais leitores, deixamos nosso muito obrigado por dedicarem um tempo para conhecer um pouco mais do nosso trabalho, e lembramos sempre da importância de apoiar suas bandas favoritas, sejam elas locais ou internacionais, comparecendo a shows, curtindo as músicas nas plataformas digitais e interagindo nas redes sociais, pois são ferramentas indispensáveis para qualquer artista nos dias de hoje. Life Finds a Way.



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INTERVIEW

KORVAK Com liberdade para criar, a banda korvak fala de influĂŞncias e tecnologias por renato sanson // fotos NatĂĄlia Marinho


interview . korvak

No final de 2019 a Korvak lançou seu primeiro full autointitulado. Uma sonoridade extrema, mas que bebe na fonte do Thrash Metal. Conte-nos sobre suas influências. Korvak: Salve Rock Meeting, um prazer enorme fazer parte da revista! Então, inicialmente a ideia da Korvak era fazer um som com bases no Thrash Metal, éramos bastante jovens quando rolou essa idealização, e conforme fomos crescendo, naturalmente nossos gostos musicais foram transformando, indo desde o Punk/Hardcore, Death, Grindcore, Stoner, até os primórdios do Rock pesado, partindo dos anos 60. Costumamos dizer que temos a raiva e sonoridade oitentista, a psicodelia dos anos 70 e a eterna roupagem atual do Punk. “Korvak” traz uma sonoridade crua e direta, mas também com composições longas e bem trabalhadas. Isto foi proposital ou rolou de forma natural? Nós não nos importamos muito com a duração da música, não acreditamos que isso 86 // rock meeting // fevereiro. 2020

vá interferir na qualidade das composições, tudo é questão de saber dar a dose certa, em um determinado refrão ou melodia... Quem nunca se deparou com músicas curtas com milhares de detalhes ou músicas longas que passam extremamente rápido? Então, isso nos leva a afirmar que rola de forma totalmente natural, gostamos de liberdade para criar. Em meio a tantas opções tecnológicas tanto de divulgações e produções, qual a importância de manter a sonoridade mais “analógica” e o quanto é importante ainda o lançamento em formato físico? Manter a sonoridade analógica é trazer consigo não só a nostalgia que o Metal carrega, mas expor também nossas referências e experiências musicais. Todos os integrantes amam o som old school e, trazer essa “sensação”, foi um elemento indispensável na finalização do álbum. No entanto, vale ressaltar que, apesar de optarmos por uma abordagem sonora mais old, a tecnologia que tivemos acesso foi de total importância tan-



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to para facilitar o processo de gravação e mixagem (tudo foi feito com quase 200 km de distância), bem como possuir um leque muito amplo de possibilidades para escolhermos timbres, efeitos, texturas e entre outros elementos. O lançamento físico do disco também faz alusão a esse resgate às referências. Além disso, apesar de mídias em streaming serem algo acessível e bastante popular hoje em dia, sabemos que muitas pessoas (inclusive nós) ainda apreciam muito a mídia física. Não só pelo som, mas toda a arte envolvida (capa, encarte, letras...) e cuidadosamente pensada para passarmos nos88 // rock meeting // fevereiro. 2020

sa mensagem. Mesmo com pouco tempo de estrada somam-se em sua discografia além do Début, dois EP’s: “The Ritual” (15) e “Mind Malefactor” (19). Em uma linha do tempo, como enxergam a evolução musical até o presente momento? A cada trabalho lançado nós procuramos evoluir e caprichar mais em nossas composições. No nosso primeiro trabalho é possível perceber um som mais cru, com a produção mais modesta. O “The Ritual” serviu muito como um laboratório para nós, onde

nos deparamos com diversas situações de aprendizado durante a produção do material. Já em “Mind Malefactor”, que foi um EP lançado com o objetivo de mostrar ao público um pouco do que seria o full, nós já estávamos mais “calibrados” em relação ao processo de composição/produção. Sempre buscamos trazer novos elementos ao nosso som, justamente para fugir um pouco da “mesmice”, dar diferentes olhares ao Thrash Metal, uma nova roupagem. Tratando-se do full, em composições como “Eagle Death” e “The HydroCyclone”, por exemplo, pudemos explorar instrumentos de percussão e


um lado mais experimental, pouco visto dentro do gênero. Enfim, sempre buscamos trazer novos elementos ao nosso som, sem perder aquela roupagem dos anos 80/90, que nos influenciou e influencia bastante. Não é sempre que encontramos no cenário bandas que mesclam melodias e passagens mais progressivas ao som mais extremo. Certamente um diferencial se falando de Heavy Metal nacional. Como surgiu esta ideia? Ficamos agradecidos pelas palavras! Reforçando o dito acima, desde a criação da ban-

da, nós só fomos adicionando nossos viveres e experiências e também nossas formas de expressão, no início achávamos meio antagonista essa mistura, mas fomos descobrindo bandas como Coroner, Mekong Delta, até o Death no “The Sound of Perseverance”, e vimos que era possível fazer um som caótico e calmo, limpo e sujo. Por que não misturar o melhor do Slayer, Sepultura, Kreator... Com o melhor do Rush, Jethro Tull, Blue Oyster Cult? (Risos).

temos tempo livre, sempre nos reunimos para compor. Temos alguns sons prontos já, mas nada muito apressado. Para 2020, quais os planos futuros? Queremos tocar o máximo possível para divulgar o disco, lançar de todas as formas possíveis (digital e fisicamente falando), também pensamos em fazer um clipe. Aproveitando o espaço, vamos deixar nossos contatos para produtores que queiram levar a Korvak para sua cidade.

Teremos um novo lançamento em breve? Links - Facebook | InstaNo momento não podemos gram | Bandcamp | Twitter | prometer nada, mas quando Spotify


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