Rock Meeting Nº118

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1 mês Oito de julho e poderia ser um dia qualquer, mais um dia para batalhar por seus sonhos, lutar pelo o que acredita, mas não foi um dia como outro. Oito de julho ficará tristemente marcado, assim como oito de agosto, setembro... Um mês depois e a sensação continua a mesma, é um vazio inexplicável, uma lacuna que antes fora preenchida e hoje é um verdadeiro oco porque não há mais nada que possa ser inundado. É uma sensação estranha, um absurdo sem tamanho e do qual não podemos mensurar, só lamentar e é assim que eu e você estamos, infelizmente. O sentimento geral é complicado explicar, mas se for possível, é como se alguém de família tivesse partido desse mundo. Mas se pensar bem, ele era aquele irmão mais velho, com muita experiência e que tinha muito a nos ensinar. Admirávamos com uma fascinação impressionante, sem que houvesse ganância, ou inve-

ja, era real, era familiar, era um parente. Um mês e não é fácil pegar um álbum de Andre Matos sem que paire dúvida, não de sua obra, mas de que ele não está mais aqui entre nós. Não adianta dissecar sua carreira, não adianta dizer o quão incrível foi, se você conseguiu vivenciar, em algum momento de sua vida, uma apresentação desse rapaz, pode ter certeza de que você sabe muito bem como nós nos sentimos... O dia seguinte a sua morte, ouvir Andre foi sinônimo de lágrimas nos olhos. Hoje, um mês depois, sensação é a mesma. É preciso segurar a emoção muitas vezes. Ouvindo “Letting Go” à caminho do trabalho, percebo que ali há mais conforto do que imaginava e ele já nos preparava. “Can’t you feel me letting go?”. Pode haver várias nuances e interpretações para tudo, mas o fato é que esse gênio não está conosco e temos que lidar com isso. Como? Conte-nos, está bastante difícil.


06 - Skin - Super-mulher-maravilha 12 - Live - Periphery 18 - Live - Michale Graves 24 - Metal Reflections - 10 anos sem MJ 30 - Entrevista - Andralls 40 - Capa - Hellfest 60 - Entrevista - Sober Truth 68 - Live - Living Colour

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DIREÇÃO GERAL Pei Fon CAPA Alcides Burn Jonathan Canuto

COLABORADORES Bárbara Lopes Bruno Sessa Edi Fortini Marcos Garcia Marta Ayora Mauricio Melo Renata Pen Samantha Feehily

CONTATO contato@rockmeeting.net www.rockmeeting.net


Por Samantha Feehily (Wonder Girls )

Um dos grandes desafios da mulher contemporânea envolve o imperativo de conciliar as diversas faces do feminino (cuidar da aparência, ser sensual, ser boa esposa e mãe) com a necessidade e desejo de ter uma carreira profissional. É possível dizer que na vida conjugal os papéis desempenhados pelo homem e pela mulher têm-se confundido cada vez mais e que a configuração familiar se delineia diferentemente da estrutura familiar tradicional, onde os homens eram os provedores e as mulheres cuidavam da casa e dos filhos. Estes, por sua vez, eram apenas crianças a serem educadas e não o centro afetivo da família como acontece atualmente. Nessa nova estrutura, o peso maior recai sobre a mulher, que, como observo na clínica psicológica, não está dando conta de tantas funções e papéis a desempenhar, provocando danos a si mesma,

à relação conjugal e aos filhos. O recomendável seria que, antes de pensar em ter um filho, as mulheres fizessem uma séria reflexão sobre essa escolha, sabendo que escolhas implicam em perdas. Entre as variáveis dessa reflexão, a mais importante é verificar se essa escolha foi baseada em conceitos coletivos ultrapassados, como por exemplo, considerar que a maternidade está vinculada à essência feminina e que sem fertilidade não se é mulher; o que faz com que muitas mulheres procurem sua identidade através da maternidade, tornando-se difícil mensurar se o verdadeiro desejo de ser mãe encontra-se em forças biológicas, sociais ou psicológicas. Junte-se a essa reflexão, o fato de que há em nossos dias uma idealização da maternidade, como jamais vista na história ocidental, que complicou em muito o fato de ter -6-


Luenda Collin’s Lobo

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um filho. O que deveria ser apenas a apoteose de um relacionamento amoroso passou a ser fator de inclusão social e de reconhecimento (modismo: todas têm, então também quero). Os inúmeros segmentos da indústria de artigos para bebês assim como as infindáveis (dispendiosas, e muitas vezes dispensáveis) recomendações de especialistas da área da saúde são o resultado dessa idealização – e, diga-se de passagem, seus principais beneficiários. Entretanto, estamos longe do que seria adequado e, no momento em que a escolha foi feita, temos que lidar com seus ganhos e perdas, o que leva ao conflito - foco dessa discussão. A maioria das mulheres nessas condições sente-se dividida e cheia de culpa, muitas vezes entram em desespero diante das inúmeras cobranças – tanto da sociedade, como auto impostas – levando-as ao estresse, à baixa-estima e depressão. Essa culpa também é um dos fatores responsáveis pela atual “educação do sim” para todos os desejos da criança o que compromete seriamente sua noção de limites, tornando-os pequenos tiranos cujos pais culpados não conseguem controlar. Nesse contexto, a super-mulher-maravilha, não conseguindo ser exemplar em tantas funções, acaba transmitindo aos pequenos sua ansiedade e frustração, piorando ainda mais a situação. Infelizmente, não há respostas fáceis para essas questões. A felicidade e alegria que um bebê traz, une-se à culpa que invade a maioria das mulheres que decide seguir em frente com suas atividades profissionais, o que é muito doloroso. Ao mesmo tempo, desistir de uma carreira arduamente construída acarreta perdas, tanto financeiras como de realização pessoal, criando certa dependên-

cia difícil de enfrentar depois de tantos anos de liberdade. Cuidar do bebê e desistir temporariamente da carreira pode ser uma opção para as mais ousadas. Entretanto, na prática não é o que acontece. O medo de perder as conquistas e não conseguir voltar ao mercado de trabalho impedem que a felicidade seja plena. -8-


Lais Conde

zar-se e identificar as pessoas que poderão ajudá-la nas tarefas, em como distribuir suas atividades e treinar pessoas, como babás ou auxiliares domésticas, já que muitos avós, hoje, estão engajados no mercado de trabalho e não são sempre disponíveis para cuidar do bebê. Uma empresária pode encontrar a solução em contratar alguém para as atividades

O que podemos fazer para minimizar esse conflito e o estresse que acarreta é muito pouco. Estar em meio a mudanças socioculturais não é fácil. Entretanto, seguem algumas dicas que podem ajudar: 1) Os nove meses de gestação podem ser úteis no processo de preparação e planejamento, pois, possibilita à mulher organi-9-


Samantha Feehily

menos estratégicas e administrar o negócio de casa. Nove meses é tempo suficiente para treinar as pessoas em atividades mais simples e desenvolver uma estratégia de monitoramento. 2) Preparar-se psicologicamente para as mudanças que ocorrerão na vida pessoal e conjugal e suas responsabilidades. O parceiro deve estar ciente e acompanhar esse preparo. 3) Preparar uma rede de apoio financeiro, caso precise parar de trabalhar. Os bebês nem sempre vêm da forma que gostaríamos. Às vezes podem exigir maiores cuidados de saúde e absorver o tempo integral da mãe.

4) Ser menos exigente consigo mesma e se permitir passar pelos desafios naturais da vida de forma mais leve e plena. A idealização não cabe aqui. Você não conseguirá ter excelência em todas as funções e papéis, simplesmente porque é humanamente impossível. Aceitando suas possíveis falhas (e de outros envolvidos) e diminuindo a idealização, as coisas ficam mais fáceis. 5) Elimine a culpa de não ser perfeita em tudo, pois só assim não correrá o risco de supercompensar a criança gratificando todos os seus desejos, alargando limites necessários e saudáveis. - 10 -



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Texto e Foto Bruno Sessa

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olou no dia 9 de junho no Carioca Club, em São Paulo, os estadunidenses do Periphery. Importante nome do cenário Djent mundial, a banda se apresentou pela primeira vez Brasil durante a tour de divulgação de seu novo álbum Periphery IV: Hail Stan. Formada por Spencer Sotelo (vocal), Misha Mansoor (guitarrista), Jake Bowen (guitarra), Mark Holcomb (guitarra) e Matt Halpern (bateria), o Periphery apresentou um show curto, pouco mais de uma hora provavelmente por motivos de saúde de seu vocalista que declarou não estar nos seus melhores dias. Contudo Spencer não deixou nada a dever em sua performance. Banda já indicada para premiações em - 14 -


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categoria de performance, o Periphery apresentou um show extremamente energético do começo ao fim. A interação entre os integrantes no palco é um show à parte. Brincadeiras, piadas, um tocando na guitarra do outro, interação com o público. Definitivamente o Periphery é uma banda que cativa não só pelas músicas, mas também pela presença de palco. Já é de costume das bandas, após sua apresentação, jogar algumas lembranças para os fãs. Palhetas, baquetas, pele de bateria, e até mesmo o setlist colado no chão são comumente jogas aos fãs. Matt Halpern, baterista, inovou e além das baquetas entregou aos fãs seus PRATOS DE BATERIA! Já pensou? Ir em um show de uma banda que você gosta e sair uma lembrança dessas? Surreal! Já podem voltar e tentar montar meu set de pratos de batera (risos).

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Texto e Foto Rafael Andrade

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ichale Graves esteve no Brasil, no final do mês de junho, para realizar a turnê “American Monster Tour”, apresentando dois álbuns completos de sua passagem pela lendária banda Misfits: “American Psycho” e “Famous Monsters”, responsáveis pelo período de maior sucesso comercial do grupo. Vestindo sua camisa de força, Michale Graves se apresentou num Carioca Club lotado de fãs que cantaram, a plenos pulmões, cada uma das 35 músicas do setlist, com destaque para “Dig Up Her Bones”, “Shining”, “Satuday Night”, e “Fiend Club”. Esta última, por sua vez, contou com um belo discurso ressaltando toda a positividade e união que só a música pode proporcionar. Parafraseando o músico, - 20 -


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“É um lugar mau lá fora, é ruim em todo lugar. Quando estamos juntos, estamos melhor”. Apesar da turnê carregar apenas o nome de seu vocalista, toda a banda merece um destaque por performar cada uma das músicas com a mesma precisão e empolgação, uma após a outra. Durante a última canção, por exemplo, o baixista Howie Wowie se jogou no público e fez com que cada uma das pessoas da primeira fileira contribuísse com alguns barulhos de encerramento. Uma noite inesquecível para todos os fãs que estavam presentes, até que uma notícia começou a circular em todos os veículos de imprensa: a produtora Venus Concerts postou em sua página do Facebook que a banda havia fugido do país, sem mesmo fazer check-out no hotel onde estavam, cancelando o restante de sua turnê, que ainda incluía Limeira (SP), Brasília (DF), Florianópolis (SC), Caxias do Sul (RS), Fortaleza (CE) e Recife (PE). Por diversos dias não houve um único pronunciamento da banda ou agentes do porquê de isso ter acontecido, apenas que foram por “motivos familiares” sem mais explicações. Uma semana depois, em seu perfil no Instagram, o músico culpa a produtora por falta de planejamento, fazendo com que toda a equipe estivesse exausta e doente, e sem condições de seguir em frente. O posicionamento oficial é um post em sete partes detalhando a versão do músico sobre os acontecimentos. A produtora já iniciou o estorno do valor pago pelos shows cancelados, tanto para os fãs que adquiriram ingressos antecipados quantos para as produtoras locais. Até o momento desta postagem, Michale Graves ainda não se pronunciou sobre o ressarcimento do restante da turnê.

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No dia 25 de junho de 2019, o mundo parou: Michael Jackson falecera devido a uma overdose de remédios. A notícia fez o Google ter uma pane emergencial devido ao número de acessos e buscas pelo verbete “Michael Jackson”. E este ano, completa-se uma década de silêncio de uma das maiores vozes da música de todos os tempos. Mais explicações sobre o que uma revista de Rock (e Metal) tem com um músico Pop lá no final da matéria. Quero falar um pouco de minha experiência pessoal com MJ em dois momentos distintos da minha vida: em 1983 e 2009. 1983, aos 13 anos: Cresci em um ambiente familiar bem musical, mas ao ouvir Beat It em 1983, fiquei fissurado. Foram meses antes de começar a ver bandas de Metal. E assim, até 1985, ano em que realmente me tornei um Metalhead, curti muito os discos e músicas de MJ, quando o radicalismo daqueles anos me afastou daquele que foi meu primeiro ídolo musical. Mas acho que ele sempre esteve na minha vida de forma mnemônica. A dança, os vídeos, e especialmente a

música, acabaram virando uma forte referência para mim em 1984, ano em que comecei a ir a clubes durante a noite. 2009, aos 39 anos: Estava passando um semestre de emoções intensas na faculdade: pela primeira vez, havia a esperança de passar em uma disciplina chamada Teoria do Eletromagnetismo II, um dos terrores do curso de Física. Chegava o final do semestre, e precisava tirar 4,9 ou algo assim na 3ª prova para passar direto. Mas aquele professor já havia me reprovado 5 vezes (1 em uma eletiva, 3 em Teoria do Eletromagnetismo I, e uma em Teoria do Eletromagnetismo II), logo, eu via aquilo como um trabalho de Hércules. Para ser sincero, nem me passava pela cabeça de passar naquele semestre (no seguinte, outro professor iria assumir a disciplina, logo, a experiência me ajudaria). Primeira vez estava bem em termos de nota nessa disciplina, vi a oportunidade de finalmente passar. Uma semana antes da fatídica prova, a notícia chegou: havia visto na TV alguma coisa, mas não me liguei muito no que era dito. Vi - 24 -


Foto: MJ Beats/Site

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uma imagem antiga de Michael, e logo pensei “será que MJ morreu?”, e no outro dia, pela manhã, os jornais na banca confirmavam: ele havia falecido, e foi divulgado depois que a morte fora consequência de uma overdose por uso remédios que ele usava para combater insônia e dores. Fiquei bem chocado com aquilo, mas ao mesmo tempo, estava numa maratona de estudos absurda, mais carregada do que qualquer outra até ali. Veio o funeral de MJ em 07/07/2009, uma terça-feira (lembro bem, pois minha prova seria no dia posterior). Vi pela TV enquanto estudava, e foi muito triste para mim. Sentia como se uma parte de mim mesmo houvesse sido arrancada. 08/07/2009. eu estava uma pilha de nervos antes da prova, levei mais de 3 horas para fazer, e ao sair, estava tão esgotado física e mentalmente a ponto de pedir dispensa às professoras das matérias seguinte do dia (já havia passado em ambas de qualquer forma), e elas aceitaram por verem meu estado. O resultado seria dado em 09/07/2009, e eu nem mesmo jantei no restaurante dos alunos, pois estava muito indisposto. Foi só chegar em casa e apagar na cama. 09/07/2009. Acordei às 7h da manhã, eu tinha estágio em uma escola perto da faculdade, e lá estava eu, mas a professora me liberou, pois teria que levar o filho ao médico. Caminhei até o instituto de Física a pé (era perto, uns 10-15 minutos andando). Acessando por mera curiosidade o site do professor, sem querer, havia visto uma nota de trabalho e confundi tudo momentaneamente. O corpo gelou e eu quase vomitei pela segunda vez (quase havia acontecido no ônibus no dia anterior, voltando para casa, pensando ter feito uma besteira na prova, e peguei a mesma em minha bolsa, só para me certificar que eu es-

Foto: MJ Beats

tava correto). Realmente, o desgaste mental era tamanho que estava ansioso como nunca estive na vida, a ponto de não conseguir estudar para a prova de Mecânica Quântica II (e não passei nela). Quando já havia passado das 13 horas, eu estava elétrico e ansioso. Depois do almoço (eu estava uma pilha de nervos), um amigo meu, Thiago, já havia visto o resultado dele e me avisou. Fui olhar a internet, e nada. Fui à sala do professor, e um amigo chorava décimos para fugir da prova final (ninguém queria passar por isso). Foram os dois minutos mais longos da minha vida. Meu amigo saiu, eu pedi ao professor a nota. Ele falou que estava na internet, eu comentei que havia acabado de olhar e não estava atualizado. Ele olhou a tabela dele no computador, e eu havia tirado 6,2 ou 6,3, ou algo assim. O coração disparou, mas pergun- 26 -


tei se eu havia passado. Ele confirmou que sim. Agradeci, sai da sala, e ao sair do instituto, deu um grito: havia passado naquela matéria, superado meu trauma com o professor (que é amigo meu até hoje), e estaria formado no final do ano (pois a matéria que precisava era tranquila se encarada com seriedade). Só que o estresse me fez passar um fim de semana com uma diarreia e tanto (acho que o nervosismo extremo afetou meu fígado). Senti que havia feito aquele esforço como uma homenagem pessoal minha a MJ. Sobre polêmicas de abuso, nos dois casos, vou me dar o direito de dizer algo: no segundo, ficou clara a armação para tirar dinheiro de MJ; no primeiro, quando houve acordo, o próprio garoto admitiu em 2009 que não houvera nada, que fora instruído pelo pai, e hoje volta ao jornal para dizer que sim. Será que já avisaram essa turma que não

existe processo contra falecidos? Aliás, vou dar voz a um sentimento meu: quando foi que 99% dos desocupados que falam tão mal de MJ fizeram algo como ele em termos de filantropia? Na ausência de ações, o melhor de todos seria o silêncio... Hoje, traçando esse paralelo da carreira de MJ e minha vida, resta o arrependimento de ter cedido ao radicalismo anos 80, mas hoje, a certeza de dizer que MJ foi o primeiro ídolo musical da minha vida, e hoje tenho quase todos os discos dele. E assim como eu, tantos outros fãs e músicos de Metal foram influenciados por suas músicas. Alien Ant Farm com Smooth Criminal, Yngwie Malmsteen com Beat It (cujo solo de guitarra da canção original foi feita por Eddie Van Halen), e sem falar o tributo de músicos de Metal a MJ, que incluiu gente como Chuck Billy, Billy Sheehan, Doug Aldrich, Bruce Kulick, - 27 -


Foto: MJ Beats

Corey Glover, Phil Campbell, Doug Pinnick, Chris Jericho, Paul Di’Anno, entre outros. MJ transcendeu fronteiras, tocou com caras de Rock (como Slash solando em Give in to Me), e fica até difícil categorizar sua música como algo além de Pop (que seria algo bem amplo, já que “Pop” é apenas a abreviação de popular, uma forma de música que alcance a todos, e mesmo o Metal é um tipo de Pop Music). Poderia falar de toda qualidade de seu trabalho, ou do resgate que ele fez da indústria musical na época de “Off the Wall” ou “Thriller”, mas já existem tantos textos que seria difícil contribuir mais ainda. Simplificando: seu músico favorito pode ter sido iniciado na música por Michael Jackson, e se

existe uma indústria que faz o Metal existir, palmas e agradecimentos a ele. Fica a homenagem aos 10 anos sem o Rei do Pop. E verdade seja dita: o mundo da música está realmente pobre sem ele... Obrigado, MJ... “Heal the world Make it a better place For you and for me And the entire human race There are people dying If you care enough for the living Make it a better place For you and for me” (Michael Jackson - Heal the World) - 28 -



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Texto Pei Fon | Fotos Pri Secco

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ndralls não precisa de apresentações, a não ser que estejam lançando algo novo e é esse o caso. Depois um longo período sem inéditas, o trio de São Paulo acaba de lançar seu sexto álbum de estúdio, “Bleedind for Thrash”. Com nova formação, a banda é composta por Alexandre Brito (bateria), Felipe Freitas (Baixo) e Alex Coelho (guitarra). Com os dois últimos, conversei sobre muita coisa e tentei tirar nossas dúvidas sobre esse novo play. Acompanhe! Vocês acabam de lançar seu sétimo álbum, o sexto em estúdio. Por favor, apresente Bleeding for Thrash. Felipe Freitas: Olá, primeiramente o Andralls que agradece o espaço para poder falar um pouco sobre nosso novo trabalho. ‘Bleeding for Thrash’ como comentado é nosso sexto disco em estúdio e vem para ser um marco - 32 -


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na história da banda. É um disco que representa muita luta e superação. As músicas têm influência e pegada de diversos estilos, sem prejudicar a dinâmica do disco e mantendo a identidade única do Fastrash do Andralls. No geral o disco está bruto, bem direto e na cara. Ao mesmo tempo que carrega junto uma carga emocional e uma alma poderosa. É um disco para ser apreciado da primeira à última música sem parar. Ele foi gravado no Papiris Studio aqui em São Paulo, estúdio do nosso amigo e também produtor do disco Caio Monfort. Masterizado pelo mestre Neto Grous da Absolute Master. E com capa/material gráfico produzido pelo Eduardo Nascimento, grande artista e tatuador do RJ. Foi lançado oficialmente em CD e nas plataformas digitais dia 25 de junho pela Distro Rock Records e Metal Under Store. Fazendo um paralelo com “Breakneck”, o que há de diferente? Afinal, são sete anos que não lançavam nada inédito. Alex Coelho: A banda passou por muita coisa desde o ‘Breakneck’, nessa época eu não estava na banda, mas acompanhava o que eles faziam, por sermos amigos de infância e sempre mantivemos contato. Nesse disco a banda estava tocando muito pelo mundo, com diversas turnês. A diferença agora é a formação, que mudou totalmente as cordas. Eu voltei para a banda em 2015 e o Felipe Freitas chegou quebrando tudo no ano passado. Com nova formação, como foi a composição com a nova galera e os que eles acrescentaram ao som do Andralls? Felipe Freitas: Sempre regada com bastante birita e drogas, clichêzão “rockista” mesmo... (risos) Mas brincadeiras à parte, esse disco foi composto nos moldes antigos, com o Alexan- 34 -


dre Brito e o Alex Coelho fazendo jams de bateria e guitarra dentro do quarto. Eu acabei por participar menos desse processo, pois quando me uni a banda uma boa parte do trabalho já estava pronto. Porém tive total liberdade para criar e testar elementos e influências que vieram naturalmente a engrandecer ainda mais esse disco magnífico. As linhas de baixo geram um belo destaque. A participação ativa de Felipe Freitas surtiu efeito para a banda. Alex Coelho: O Felipe chegou na banda nos ajudando muito em tudo, na gravação ele fez uma linha fudida de baixo deixando a música gigante. Nas performances ao vivo destruindo tudo, os timbres da guitarra e o baixo casaram muito bem. Já toquei muita gente boa e o Felipe de longe é o melhor baixista que toquei... Sendo um fasthrash, faz até sentido ‘sangrar’ por ele. O nome do álbum é inspirado em alguém ou situação? Felipe Freitas: Sim, faz sentido (risos). Não somente o nome do álbum como algumas das músicas são sim inspiradas em uma pessoa. Durante o período de composição do disco o Alex Coelho foi diagnosticado com um Câncer na tireoide. E mesmo diante todas as dificuldades que ele enfrentou durante o tratamento, para estar hoje totalmente recuperado, ele nunca abandonou a música e suas bandas. Muito pelo contrário, hoje ele está mais ativo e motivado, cantando muito. O nome “Bleeding For Thrash” representa não somente essa situação em si, mas sim a atitude e motivação que nos fazem levantar da cama todo dia para fazer nosso fasthrash único, que nos faz “sangrar” e seguir em frente. Na segunda faixa, “Andralls on fire part III”, vocês continuam a contar a história - 35 -


do incêndio no Edifício Andraus. Qual o motivo de sempre se lembrar desse episódio? Alex Coelho: Essa música foi uma das primeiras que fizemos, no Andralls temos a forma de trabalhar de fazer primeiro o riff, depois colocamos a bateria e depois de pronto colocamos a letra. Nesse som, quando estávamos fazendo, vimos que ela tinha a cara de uma continuação, assim colocamos o refrão clássico no começo da música já berrando (Andralls burning towerrrr), aí pedimos para nosso velho amigo de banda Denis Di lallo fazer a letra, porque ele tinha escrito as outras duas ante-

riores. Então ele teve uma sacada bem legal, pegou um nome de cada música que o Andralls já fez e fez a letra dela... Ficou muito foda. “Legion” é uma referência direta a outra banda brasileira, o Rebealliun. Qual a importância deles para a cena nacional e quão falta faz Fabiano Penna? Alex Coelho: Essa música é bem especial, quando a fizemos, percebemos que tinha a cara do Rebeallium, e o Penna tocou com a banda durante dois anos além de produzir diversos cd’s do Andralls (Force Against Mind, Andralls, Breackneack). O Fabiano sempre foi - 36 -


um membro da banda. Aí quando aconteceu tudo, eu tive a ideia de fazer essa homenagem pra ele, por tudo que fez pelo metal brasileiro e pelo Andralls, verdadeiro guerreiro do metal nacional!

versão fasthrash da consagrada “Acid Rain”, a gente na verdade expressa nossa gratidão e admiração pela banda. Finalizando o álbum uma música que lembra a data que Fabiano Penna nos deixou. Mesmo sendo fast, ter esse momento mais suave não quebra em nada a pegada da banda, não é? Alex Coelho: Um dia eu estava em casa tocando guitarra e vendo TV, quando comecei a tocar o riff da música, na hora peguei o celular para gravar. Depois mandei para os caras para ver o que eles achavam, lembrando que nes-

Primeira vez que o Andralls toca um cover, e vem com “Acid Rain” do Subtera. Como surgiu essa homenagem? Felipe Freitas: A banda Subtera de longa data é uma fonte de inspiração e influência para o Andralls. Não somente musicalmente, mas também no lado profissional. Ai, por que não fazer uma homenagem bacana? Com uma - 37 -


sa época nosso amigo estava aqui firme forte. Aí os caras piraram, acharam bem diferente, pensávamos e, usar ela no meio do cd. Aí passou o tempo e acabou acontecendo essa fatalidade, na hora conversei com o Xandão e falei: “Essa música é do Penna vai ser a homenagem para ele”... Por tudo que ele fez... Na verdade, ela tem muito a ver com o Fabiano, porque ele gostava muito de Jonny Cash.

2019 iremos focar na turnê brasileira de lançamento do disco e trabalhar em um novo videoclipe. Garantir nosso retorno aos palcos com um show mais fast e mais thrash que nunca. Inclusive, o show oficial de lançamento, que marca o início da nova turnê será dia 19 de julho de 2019, no Estúdio Espaço Som, em São Paulo. Vai ser imperdível!Ainda estamos confirmando as próximas datas para 2019 e iremos compartilhando a agenda assim que possível através das nossas redes sociais. Só procurar @andrallsfasthrash no facebook ou instagram e se manter atualizado. E para agendar um show do Andralls, basta escrever para onfirebookingagency@gmail.com.

Por fim, quais os planos da banda para essa segunda metade de 2019? Felipe Freitas: O tempo passa rápido, parece que foi ontem que estávamos no estúdio gravando (risos). Essa segunda metade de - 38 -



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Texto Ana Paula Soares & Mauricio Melo Foto Mauricio Melo (Snap Live Shots)

INTRODUÇÃO Nossa relação com o Hellfest é tão próxima que se tornou uma viagem de férias. Daquelas que se faz um planejamento anual, hospedagem habitual, restaurantes e padarias favoritas e até mesmo boa relação com o staff de imprensa, que sempre nos recebe de braços abertos. Afinal de contas, são nove anos e dez edições desde que pisamos lá por primeira vez. Dá até para fazer aquela piada sem graça “quando cheguei aqui só tinha mato” e foi mais ou menos assim. Lembrando que em 2010, onde hoje é o festival, era o terreno para acampar e o festival, era literalmente do outro lado da rua e num espaço onde hoje praticamente abriga os trabalhadores, ônibus de bandas, equipamentos e sistema de transporte local. O festival cresceu tanto que rola até um papo de que o Hellfest é o responsável por levar a internet de fibra ótica na região. Lembro muito bem da dificuldade de utilizar o Wi-Fi na limitada sala de imprensa e que nos dias atuais até vídeos ao vivo são transmitimos sem nenhum tipo de problema. - 42 -


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Junto a todo esse crescimento, vem um grande público e tivemos a sensação de “too much”, o que nos faz imaginar uma ampliação do espaço. O que o Hellfest definitivamente não tem é limites quando se trata da criatividade. Esse ano, nova infraestrutura na praça de alimentação com melhores espaços para uma refeição (ou lanche) cômoda e uma decoração toda especial, com direito a uma refrescante fonte de água decorada com uma guitarra ao centro. Também um enorme relógio, ao melhor estilo Mad Max ao centro do evento, um “monumento” tão marcante quanto a tradicional árvore ou o braço e a mão com o símbolo Heavy Metal ou o grande crânio inflável da en-

trada da área VIP e a estátua do Lemmy próximo ao Warzone. Se temos um ponto negativo para esta edição foi a redução do espaço destinado ao merchandising oficial das bandas. Tão pequeno que não havia disponibilidade para todas e que aliás tinham que estar revezando espaço e/ou expondo poucas opções. Outra novidade esse ano foi a adição de um quarto dia por causa do Knotfest. O festival itinerante da banda Slipknot que passou por primeira vez na França. Muitos apostaram que o Hellfest ampliaria sua jornada para o futuro, mas já temos confirmadas as três datas para 2020 e com isso as especulações caíram por terra a não ser que um novo festival - 44 -


de mesmo formado do Knot una força com o Hellfest.

Barcelona e de lá para cá pouca coisa mudou no setlist clássico dos nova-iorquinos. “Take The Night Off”, “Injustice System”, “My Life” e finalizando com o tradicional wall of death e “Scratch The Surface” e “Step Down”. Na sequência, matamos um pouco de tempo com Amaranthe, tempo essencial para recuperar o fôlego a tempo de rever o Ministry que, apresentou um setlist muito mais completo do que sua visita anterior há dois anos. Completo no sentido de incluir os clássicos acima de tudo. “Thieves”, “N.W.O.”, “Stigmata” e “Jesus Built My Hotrod” em sequência, alucinante. O interessante do Knotfest é que não se perde show por causa de coincidências nos ho-

KNOTFEST MEETS HELLFEST – A FUSÃO Então, aquele descanso pré-festival, tarde de compras no Extreme Market na véspera e algo mais acabou indo por água abaixo. Já chegamos entrando em filas para credenciar, dispensar bagagem e mãos à obra. Portas abertas às 16h e apenas trinta minutos depois o Sick Of It All já entrava em cena abrindo de maneira oficial o Knotfest. Como muitos sabem, há dois meses estivemos com a banda em - 45 -


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rários, por contar apenas com os dois palcos principais do festival, quando o show do palco 1 acaba, começa-se o show no palco 2. E assim nesse ritmo frenético o Ministry se despediu e o Behemoth literalmente incendiou o palco dois. Daí surgiu o primeiro grande desafio para os fotógrafos. Palco alto, chamas na frente do mesmo e a banda recuada, se você (leitor) ver alguma foto da banda aí, pode acreditar em milagre. Outros que também marcaram boa presença foram o Papa Roach, Powerwolf, Amon Amarth e Rob Zombie que trouxe consigo toda psicodelia eletrônica underground dos anos 90 e um punhado de variados covers como “Helter Skelter” dos Beatles, “Blitzkrieg Bop” dos Ramones e é claro que de sua antiga banda White Zombie, “Thunder Kiss ‘65” e “More Human Than Human”. De sua carreira solo “Superbeast”, “Meet The Creeper” e “House of 1000 Corpses” foram as mais destacadas. Ponto alto da noite e responsável por uma horda de mascarados presentes no festival estava o Slipknot. O setlist foi um verdadeiro repasso na carreira para deleite dos já mencionados fãs. “People = Shit”, “Before I Forget”, “Duality” entre as mais clássicas, “The Devil and I” e “Vermilion” entre as mais melódicas e “All Out Life” junto a “Unsainted” representando a atualidade da banda. Finalizando a noite tivemos Sabaton que deveriam ter dado o boa noite definitivo para o público do Hellfest no fim de semana, mas o primeiro dia oficial de Hellfest nos reservava uma surpresa das grandes. HELLFEST - DIA 1 Ainda estávamos na mesa do café da manhã e não se falava em outra coisa. Em nota oficial, o Hellfest anunciava o cancelamento do show do Manowar com a banda presen- 47 -


te no local. Lembrando que no ano passado, antes do último show daquela edição, um vídeo foi apresentado para anunciar as atrações principais para 2019 e Manowar foi uma delas. Dentro das informações vazadas estava a alegação de que a banda queria fazer a passagem de som e (possivelmente) tocar a um volume que excedia o permitido pelas leis francesas e que, além de proibido, consequentemente embolaria com o som de outras apresentações que acontecem de maneira simultânea, o que para o evento seria um caos. A banda alegou quebra de contrato e pelo visto quer cobrar uma indenização. Advogados em ação. O Sabaton foi imediatamente escalado para ser o

substituto e foi. O que não contávamos é que o vocalista apenas figurou como animador de festa já que por conta da apresentação no dia anterior, o cidadão não tinha voz deixando o baixista e guitarrista como vocalistas improvisados. Quando algo dá errado, é pra valer. Nós, que não temos nada a ver com isso e que muito menos assistiríamos ao show da mencionada banda (sinto muito pelos fãs da mesma), arrumamos equipamento e fomos diretamente ao Warzone para o show do The Rumjacks, banda australiana que faz um perfil muito parecido ao Dropkick Murphys e que o público europeu é verdadeiramente apaixonado pelo estilo. Tanto é que foi um dos maiores - 48 -


e mais memoráveis momentos do palco Warzone desta edição. Tocar no horário de 12:15 do primeiro dia de festival é considerado uma missão difícil, mas assim como o Vitamin X há alguns anos, os australianos deram a volta por cima, fizeram uma apresentação que superou todas as expectativas e o público não arredou pé até que a banda tocasse um bis. Estava aberto e de maneira oficial o Hellfest 2019. O palco Altar nunca foi de nossos favoritos, mas passamos por ali com mais frequência do que o esperado. Nossa primeira visita foi para assistir Cult Leader, considerada por aí uma banda de Hardcore, mas sinceramente classificaria no mínimo como um Crust mo-

derno, pesado, mas não tão sujo e fazendo um perfil muito parecido com Nails. Apresentação brutal do quarteto de Salt Lake City. De volta ao Warzone para conferir o The Dwarves que mais uma vez contou com a presença de Nick Oliveri nas quatro cordas, o que sempre dá um toque a mais em qualquer apresentação. Mais adiante, e no mesmo palco, foi a vez dos suecos do No Fun At All que entre boas músicas de seu último disco Grit como “Spirit” e clássicos como “Master Celebrator” e “Beat ‘em Down” fez um bom show. Como nossas visitas ao palco Altar estavam em alta, retornamos ao mesmo para conferir o Power Trip e mais uma de suas matado- 49 -


ras apresentações. Para dar aquele respiro e o tom de festa no Warzone, o quarteto apadrinhado pelo Rancid, o The Interrupters que fez um bonito show como já era esperado. Músicas como “By My Side”, “A Friend Like Me” e “She Got Arrested” foram apenas algumas das mais celebradas. O momento alto da apresentação foi quando cadeirantes participaram do crowd surfing (atravessar o público por cima das cabeças alheias), algo que já havíamos visto antes, mas que sempre impressiona. Tanto que a vocalista Aimee, que havia descido do palco para cantar junto ao público e já havia retornado ao mesmo, fez questão de descer novamente e cantar boa parte da música junto ao cadeirante. Outro discurso que chama atenção

quando se trata de bandas americanas é: “Felizes por sermos bem recebidos num festival de Metal, etc, etc”. Americanos ficam abismados com a mistura de estilos e a falta de conflitos entre o público, em pleno século vinte e um é algo que nos espanta em saber que algum problema desta natureza ainda acontece por aí. Como o dia era de participação especial no baixo, saltou à vista logo na entrada do Me First and The Gimme Gimmes a presença de CJ Ramone ocupando o lugar de que por vezes é de Jay Bentley ou Fat Mike na super banda de covers. Em nossa primeira visita ao palco Valley, tivemos por diante o rock do Graveyard antes de ir ao palco principal junto ao Dropkick Murphys que há muito tempo deixou de

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tocar em palcos menores neste tipo de evento. Herois em Boston e idolatrados por muitos, a numerosa banda fez um show completo deixando o público em êxtase desde o princípio com “The Boys Are Back” e “Going Out In Style”. Também tivemos “You’ll Never Walk Alone” cover de Rodgers & Hammerstein e mundialmente conhecida por ser cantada pela torcida do Liverpool e que deu um brilho especial na apresentação antes de fecharem com “The State of Massachusetts” e “I’m Shipping Up to Boston”. Em reta final do primeiro dia, ficamos numa sinuca de bico sem precedentes, era o Possessed destruindo e apresentando seu bom novo disco de um lado, Milo liderando o Des-

cendents que não tocavam na França há vinte e dois anos de outro. No altar Tom Gabriel Ficher tocando Hellhammer sob o nome de Triumph of Death e na sequência o Carcass dividia horário com Fu Manchu. Foi pincelada para todos os lados antes de tomarmos o caminho de casa. Segundo dia de evento, primeiro de Hellfest e o nível de “stamina” já no vermelho. HELLFEST - DIA 2 Apesar de boas ofertas desde as primeiras horas do dia, se quiséssemos chegar em boas condições no final do mesmo e ter um fôlego extra na reta final de domingo, quarto

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e última jornada de evento, tínhamos que fazer um pit stop ou iniciar o dia mais tarde e foi exatamente o que aconteceu. Não fiquem aborrecidos por termos aberto mão de Skindred, Whitchapel, Fever 333 e até mesmo Deadland Ritual, banda com músicos de renome como Matt Sorum na bateria e Geezer Butler no baixo. Nossa primeira parada foi para nossa única visita do dia ao palco Warzone e conferir o Psychobilly alemão do Mad Sin e o vocalista Koefte Deville com muitos quilos a mais. Aquele gordinho topetudo das fotos promocionais parece até outra pessoa. Foi festa garantida em cima do palco e abaixo do mesmo. Por falar em festa, no palco principal Jesse Hughes liderava a mesma com o Eagles of Death Metal e hits como “I Only Want You”, “Anything ‘Cept the Truth”, “Heart On” e “Cherry Cola”. Hora de cobrir um pouco de história do rock, hora de cobrir Whitesnake com seu Hard Rock, pitadas de Blues e até as famosas baladas. Sim, tivemos “Love Ain’t No Stranger” e “Is This Love”. Mais adiante foi a vez de Def Leppard com sua formação (praticamente) original, considerando que poucas mudanças ocorreram desde 1977. Em 42 anos de estrada, colecionaram hits como “Pour Some Sugar on Me”, “Animal” e “Hysteria” e uma legião de fãs de todas as idades que prestigiaram o set da banda, alguns com lágrimas nos olhos. Iniciamos o parágrafo anterior falando em cobrir a história do Rock, que não seria a mesma sem a presença de ZZ Top. A imagem de fundo no palco diz tudo, quinquagésimo aniversário da banda, isso mesmo, 50 anos e uma vasta discografia, rock and roll made in Texas, “Gimme All Your Lovin”, “Legs” ou mesmo “I Gotsta Get Paid” chamam atenção pela tranquilidade de que são tocadas pela dupla de barbudos. Nossa jornada de clássicos não pode- 52 -


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ria chegar ao fim sem o grande nome do dia e do evento, o Kiss. Responsável pelo grande número de público do dia, com fãs que vão de crianças ao tiozão de cabelos brancos, com um palco especialmente montado para eles, fogos de artifício, chamas, raios lasers numa decoração única para combinar com suas roupas, ou fantasias, fiquem à vontade. A grande verdade é que mesmo para os que não são fãs do Kiss, é uma honra poder presenciar o show da banda. Uma verdadeira volta no tempo e que muitos acabam por descobrir que alguns hits fazem parte da história pessoal de cada um. Seja numa festa de escola, ou mesmo naquela estação de rádio popular dos anos 80, lá estavam eles com suas caras pintadas, principalmente Gene Simmons e Paul Stanley, únicos membros originais da banda e pilares da mesma, verdadeiros showman. Saindo das enormes caixas de som estavam os acordes de “Detroit Rock City”, responsável por abrir o set, “Psycho Circus” e “I Love It Loud”, e no mínimo podemos considerar fantástico. Simmons com sua enorme língua é um show à parte. Outro ponto alto da noite foi “Love Gun” e “I Was Made for Lovin’ You” com Paul Stanley tocando e cantando numa pequena plataforma montada no meio do público. Para chegar ali o frontman em questão atravessou um bom caminho numa tirolesa com guitarra em punho e sem nenhum equipamento de proteção, tão somente seu muque. O coroa não só cuida de seus cabelos e demonstrou ali que seu físico vai bem, obrigado! Encerraram a noite com “Crazy Crazy Nights” e “Rock and Roll All Nite” como não poderia ser diferente ou menos esperado. Também queríamos passar a noite no roquienrol, mas o desgaste estava trash e por falar nisso, no dia seguinte era dia de Thrash e fomos descansar. Antes, ainda deu tempo de fofocar um pouco o show do The Sisters of Mercy. - 54 -


HELLFEST - DIA 3 Como havíamos dito na última linha acima, dia de Thrash e nada melhor do que tomar café da manhã ao som de Municipal Waste. Pelo menos garantimos o nosso já que Tony Foresta (vocal) confessou que nem havia tido tempo de fazer o mesmo e mais, confessou que ainda estava bêbado da noite anterior e de que era a primeira vez na vida que literalmente saia da cama direto para o palco. Tudo bem que 12h15 nem é tão cedo assim, mas considerando a vida na estrada e num fim de semana de festival, pode ser considerado até de madrugada. Para aumentar a lenda da banda, das seis músicas que tocaram, quatro foram do disco The Art of Partying e ainda finalizaram com “Born to Party”… e a festa continua em algum lugar do planeta. Num ping-pong de palcos principais e sem grandes correrias vimos apresentações do Tesla, Blackberry Smoke e Death Angel que voltou com força total e recuperou um nostálgico público. Quem parece mesmo que foi promovido é o Clutch. Após várias passagens pelo festival, sempre lotando o palco Valley, chegou a hora de pisar no palco principal do evento. Mesmo assim a banda carrega suas características de ambiente reduzido, exatamente como faz o Descendents, adiantando a posição da bateria e compactando os amplificadores para que o som saia à medida. Aquelas Gibson, aquele Rickenbacker, aquele “blues acelerado” combinado com o fundo de palco e “Ghoul Wrangler”, “H.B Is in Control” e “Vision Quest” foram fantásticas. Perseverança, podemos definir assim o nome que o Testament tem no mundo do metal nos dias atuais. Todas as bandas tiveram aqueles altos e baixos após o grande boom dos anos oitenta e para os mesmos, a década seguinte foi confusa, assim como foi para Krea- 55 -


tor e muitas outras sem contarmos com as que não resistiram e tiveram que acabar ou dar um tempo. Chuck Billy (aniversariante do dia) e sua trupe firmaram pé e de 2008 em diante lançaram uma obra maestra atrás de outra. E justamente “Brotherhood of the Snake” que dá título a seu último disco e “The Pale King” do mesmo que abriram o set. Dentro das clássicas tivemos “The New Order”, “Into The Pit” e “Disciples of the Watch”. Dando uma quebrada na galera de Bay Area, o Stone Temple Pilots visitou o Hellfest por primeira vez. Tudo bem que a banda possui uma história e de que não tem culpa de que Scott Weiland ter morrido, lembrando que o mesmo já havia sido desligado da banda e até mesmo substituído por Chester Bennington antes deste se suicidar. Tudo muito mórbido até que anunciaram Jeff Gutt como vocalista. Até aí podemos soltar aquela frase: “Vida que segue”. O que acreditamos ser um exagero é a banda exigir um contrato de exclusividade com fotógrafos após uma minuciosa seleção dos mesmos. Talvez eles ainda não tenham entendido que estão em processo de recuperação e não no auge de suas carreiras. Quem nada tem a ver com isso é Gutt que faz bem o papel de Weiland, uma poderosa e saudável voz. O único desconforto para os fãs mais antigos é o fato do jovem imitar os gestos de Scott. Acreditamos que o mais legal é que um novo vocalista traga uma nova forma de interpretar as canções. Por falar nelas, estavam todas lá. “Wicked Garden”, “Vasoline”, “Big Bang Baby”, “Crackerman”, “Sex Type Thing” e “Plush”. Na sequência tivemos Scott Ian, Joey Belladona, Charlie Benant, Frank Bello e Jonathan Donais tocando umas músicas chamadas “Caught in a Mosh”, “I am the Law”, “Antisocial” que na verdade é um cover do Trust (grupo histórico francês) e “Indians”. Sim,

estamos falando do Anthrax, de um show com letras maiúsculas e com um público entregue. A grande dúvida da tarde era se ficarmos no Lynyrd Skynyrd ou arriscar ver o Philip Anselmo & The Illegals. Considerávamos arriscado por perder a história do Skynyrd para dar uma nova oportunidade ao eterno vocalista do Pantera que, considerando suas visitas anteriores, não nos tinha brindado nada memorável. Tivemos a sensação de entrar num cassino, apostar tudo e ganhar. Anselmo entrou em cena sóbrio, fisicamente em forma como muitos já pudemos ver através da internet e anunciou que naquela tarde tudo seria diferente, e foi. Num set de dez músicas, apenas as três - 56 -


primeiras não foram do Pantera. “The Better”, “Little Fucking Heroes” e “Choosing Mental Illness”, daí por diante, nosso personagem em questão e uma das maiores figuras que o mundo da música extrema já teve a oportunidade de conhecer, brindou o público com “Mouth For War” e a galera se descontrolou, ficou insano, gritou, berrou, chorou achando que só esse tema já teria ganho o jogo. Mal sabíamos o que estava por vir. “Becoming”, “Fucking Hostil”, “I’m Broken”, “Hellbound”, “Yesterday Don’t Mean Shit” e “Walk”. Quem ali esteve, naquele pequeno palco chamado Valley, presenciou uma nova história dentro do Hellfest.

Quem também deu o ar de sua graça foi o Lamb Of God e mais adiante o Slash em carreira solo tendo o Myles Kennedy no vocal. O guitarrista em questão já foi mais badalado quando então existia uma ausência do Guns N’ Roses, atualmente e justamente porque as canções de sua antiga (e atual) banda não militam tanto em seu setlist, o alvoroço em torno do mesmo baixou, mas ninguém o informou. Assim como o STP, Slash fez uma seleta lista de fotógrafos. Para os fãs do GNR apenas um aperitivo com “Nigthtrain”. Quando as luzes do palco se apagam e aparece o nome Slayer, no fundo acaba dando uma sensação de que tudo o que aconteceu - 57 -


durante o dia não passou de um warm up ou mesmo de que todas foram bandas de abertura. Potenciando essa sensação, vem a certeza de quem vos escreve não verá mais a banda tocando ao vivo por muito tempo ou mesmo para sempre, já que sabemos que a mesma anunciou aposentadoria após a atual turnê. Foi um show bem parecido ao que cobrimos no passado mês de novembro, incluindo as bandas de “abertura” daquela ocasião. Parecido sim, porém menos completo tanto em setlist quanto nas decorações de palco. Mesmo assim, se tratando de um festival e, como foi anunciado antes, a última participação do Slayer no Hellfest. Foram sete participações em quatorze edições e poderiam ser 14/14 que mesmo assim o público compareceria. A introdução de “Desilusions of Savior” seguida de “Repentless” e surpreendendo com “Evil Has No Boundaries” de Show No Mercy antes de largar o aço com “World Painted Blood”, “Postmortem” de Reign in Blood. Eram pauladas das antigas e das novas, público atônito, alegria, braços ao alto, chamas aqui e ali e canhões que cuspiam bolas de fogo ao ritmo da bateria atualmente ocupada por Bostaph. “War Ensemble” é e sempre será um ponto alto nas apresentações da banda. Em reta final e a caixa de clássicos funcionava a todo vapor, “Hell Awaits”, “South of Heaven”, Raining Blood” e “Black Magic” chegaram em sequência antes do grand finale com “Angel of Death”, eterna homenagem a Hanneman. Fim de apresentação e Tom Araya até ensaiou algumas palavras ao público fiel, mas a tradicional queima de fogos cortou o clima de despedidas, que talvez tenha sido bom para o mesmo já que estava visivelmente emocionado, voz embargada e lágrimas nos olhos. O festival se despediu para valer com o Tool. A banda passa praticamente por todos os festivais de verão deste ano como o gran- 58 -


de apelo. Lamentamos aos fãs, mas não tivemos condições de ficar para a apresentação. Primeiro porque somente fotógrafos de veículos franceses foram selecionados para cobrir, segundo que ao final do show do Slayer mal conseguíamos nos aproximar do palco onde a banda estava se apresentando e terceiro, e mais importante, tínhamos apenas um par de horas para arrumar as malas e rumar até ao aeroporto. Coisas boas aconteceram por lá e outras nem tanto. A exemplo do Primavera Sound que parece ir “morrendo pelo sucesso”, o Hellfest precisa abrir os olhos para não chegar a tal ponto. Vimos uma área de imprensa, que na verdade é misturada ao VIP, abarrotada. A tal ponto de que era mais fácil comprar bebidas ou mesmo ir ao banheiro no recinto com outras sessenta mil pessoas do que dentro do nosso espaço reservado. A locomoção de palco a palco também foi mais lenta pelo mesmo motivo, entre outras coisas mencionadas durante o texto. Pontos positivos e talvez os mais importantes: A não briga, o não conflito durante todo o fim de semana e com tanta gente. A alegria, o sorriso, as brincadeiras saudáveis, as fantasias engraçadas de quem busca diversão acima de tudo. Também, uma grande quantidade de crianças e adolescentes que nasceram ou estão crescendo junto ao festival. O Hellfest não só mudou radicalmente a economia ou a mentalidade local, mas também levou o mundo para uma cidadezinha (até então) pacata e com 5 mil habitantes, pessoas de todos os lados e de todas as culturas unidas por um único objetivo, curtir o bom e velho Rock and Roll e suas inúmeras vertentes. Que venha 2020 e a décima quinta edição do Hellfest. A pergunta que fica é simples: O que será que nos preparam?

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Texto Renata Pen | Fotos Frey Lin

O que é verdade soberana para você? Paixão, amor e uma overdose de rock´n roll. Conosco isso é muito familiar, é assim que nos vemos com muita frequência e conseguimos tudo de cada um. Isso muitas vezes é o significado da vida e tudo junto. Das antigas, infelizmente com tesão. Qual é o conceito contemporâneo dentro do heavy metal? Heavy Metal de alguma maneira é atemporal. Você percebe bem, se você ouvir discos mais velhos. Eles ainda te emocionam. Sobre as técnicas, muito tem acontecido. Mesmo com a digiltalização, as gravações eram muito compactas, mas às vezes compactas demais. Não há um conceito real, mas você deve olhar para o gênero que se encaixa. Moderno também soa moderno, e lixo como lixo. É sempre excitante, entre eles. É bom para a classificação, por exemplo, quando você lança um álbum novo, ele geralmente vem apenas para a resenha e ele pode ser previamente atribuído um gêne- 62 -


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ro. O ruim da coisa é que muitos ouvintes só ouvem por ouvir, e então eles colocam rótulos e por vezes perdem alguma coisa no meio do caminho. Nós chamamos nosso estilo de Heavy Metal. Nós temperamos nosso estilo com nosso próprio ritmo e adicionamos nas faixas elementos de progressivo. Então Progressive Groove Metal. Usar o medo nas letras das músicas causa mais impacto? A princípio, é sempre um trabalho de experiência e fora das nossas vidas. Nós descrevemos sociedades doentes. Descrevemos uma condição perdida. Nós encorajamos o pensamento. Nossos próprios medos, claro, fluem nas músicas e então descarregamos vida, força e adrenalina dentro e fora dos palcos. Como as músicas podem ajudar a superar o medo? Começamos com o nosso novo álbum “Psicose” do seguinte: É um tipo de subúrbio para o inferno (geograficamente), mas também para as profundidades emocionais internas. O que vemos no ser humano que está nos encarando? Ele nos mostra sua verdade ou uma máscara? A tristeza interior o transforma, imperceptivelmente, cruelmente, ela o rasga e assusta sua psique. Todo mundo conhece o sentimento de impotência, a princípio hesitante, depois com a força inundando nossa consciência, imparável e impiedosa. A onda vai e vem atrás de um corpo nu e trêmulo que está enfrentando o pior: medo Como uma música pode superar medos? Em cada uma de nossas músicas, sempre temos a esperança e a confiança de ver e sentir. Para derrotar o medo, você tem que lidar com isso também. Este efeito das músicas, estimula a pesquisar sobre seus medos. E então

você os enfrenta, o medo se transforma em coragem e pura paixão por suas próprias vidas. Psychosis lembra o estilo do Warrel Dane. Há alguma influência dele? Nossas influências são muito diferentes. Nós não temos Warrel Dane em nossa base. Nossos vocais são muito próprios. Você reconhece Sober Truth diretamente na voz de Schramm. Inconfundível. Mas há definitivamente paralelos com seus próprios modelos, por exemplo, da juventude. Collapsy é mais calmo e tem outra ener- 64 -


gia. Por que disso? Desde 2007, estamos sempre escolhendo músicas que se tornaram uma espécie de hino para nossos fãs ao vivo. O título Sober é reorganizado e foi retomado da era Creek. Uma faixa forte é a que nós temos os grunhidos (vocais) e as guitarras se organizaram muito melhor. Collapso é tocada de forma diferente do original. Primeiro de tudo ele é acústico e nós mudamos nosso ajuste para essa música. Como as passagens vocais e a interpretação da música. O Collapse tornou-se um sucesso ao vivo e vem da Era Locust Lunatic Asylum. Nós deliberadamente regravamos esta faixa, acús-

tico, mudamos completamente. Nós nos testamos aqui sem piedade antes na próxima MTV acústico. Há também dois clipes musicais diferentes desta faixa na net. Por favor, visite nossa página inicial do Youtube. Como vocês se organizam para fazer música? Nós nos encontramos com muita frequência. Duas vezes por semana é o ensaio e nós tocamos 30-40 shows nos finais de semana por ano, em média. Todo mundo vai para o trabalho durante a semana e sim e depois vem a banda: a família. É claro que nem sempre é fá- 65 -


cil organizar tudo junto, mas há muito amor e ambição em tudo o que fazemos. Infelizmente temos que trabalhar para fazer a banda assim. É por isso que aqui também temos apoio com a nossa banda, quem compra nossos produtos e vai aos shows. Esse sentimento único na intoxicação da música underground é ótimo.

sariamente fácil se você tem uma boa banda no começo e a torna maior. Pessoalmente, gostaria de dizer que este tipo de banda, por favor, não enche a rede com a sua indiferença. Isso abriria muitos caminhos novos para as bandas que realmente fazem algo e trabalham de forma constante em si mesmos. Podemos listar um monte de grandes bandas aqui, porque nós temos fornecido a cena no Rhein Sieg Kreis com várias bandas, suas músicas e shows sobre a nossa reserva com a TaktArt por mais de 10 anos. Porque vivemos esta cena, mas é muito forte no underground. Dê uma olhada no www.taktart-con.de e você vai experimentar muitos, muitos shows conosco.

Como é a cena metal no seu país e como ela funciona? A cena local, sim - ela existe - há bandas que são diligentes e diligentes, fazendo de tudo para chegar um pouco mais perto de seus sonhos. Mas a porcentagem de bandas que apenas vegetam na frente delas é enorme. Não é neces- 66 -


Estamos olhando para uma lista aqui, porque certamente esqueceríamos uma e eles ficariam desapontados. Podemos enviar-lhe uma lista extra, mas então você tem que vir e nos ver, se organizarmos algo.

e nos enche completamente. Isso é amor! Rock’n Roll não é uma coisa fácil e nós vivemos isso. Estamos abertos a outros destaques e, claro, curiosos para saber o que o futuro pode nos trazer. De qualquer forma, nós só desistimos quando o último martelo cai.

Vocês têm tocado desde 2007. O que mudou até agora? Nós crescemos pessoalmente com a banda. As nossas expressões musicais foram sempre melhoradas e fomos capazes de nos desenvolver cada vez mais com a nossa música. A ideia dos primórdios permaneceu e a coesão dentro da banda também. A paixão é quase transformada em vício e ainda faz uma loucura divertida

A maturidade você consegue ganhando ou perdendo? Nós fomos capazes de viver nossa paixão e criar nossa própria música. Esse foi e é o nosso sonho que nos dizem quando entramos nas etapas. Não perdeu sua atração, pelo contrário - nós vencemos todo o caminho. Crescendo e sendo uma criança, isso é ótimo. - 67 -


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Texto Thiago Oliveira | Foto Gil Oliveira

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unho de 2019. Tropical Butantã. A euforia era grande. Não era todo dia que seria possível assistir aos nova-iorquinos do Living Colour tocando na íntegra o disco que estourou a banda na mídia nos idos anos 80. Era um perfil incomum para uma banda de rock, que pratica uma mistura de sons que vão do thrash metal ao pop, passando pelo jazz, funk, R´n´B e reggae em composições inspiradas. Adentramos a casa com a pista ainda vazia e infelizmente pudemos conferir apenas a última música do Remove Silence, banda do tecladista Fábio Ribeiro (Shaman), que destila uma interessante mistura de rock inglês, rock progressivo, efeitos eletrônicos e guitarras pesadas, a cargo do guitarrista e vocalista Danilo Carpigiani. Um nome com um trabalho muito interessante e que deve ser ouvido com atenção. Com boa parte da pista tomada por um público bastante diversificado (que ia desde headbangers a fãs de pop rock passando por rastafáris, hipsters e fãs de classic rock) sem nenhuma entrada apoteótica, jogos de luz ou - 70 -


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introdução no PA, a banda formada por Vernon Reid (guitarras), Corey Glover (vocal), Doug Wimbish (baixo) e Will Calhoum (bateria) entra de maneira desencanada e vai ligando os instrumentos. Logo o que se segue é uma aula de musicalidade e arte amadurecidas ao longo de uma carreira iniciada no CBGB em Nova Iorque e inicialmente apadrinhada por Mick Jagger. Iniciam com o Slide endiabrado de Reid com a música “Preachin’ Blues”, um cover de Robert Johnsson, presente no último álbum, “Shade”, e logo demonstram um som gigantesco saindo das caixas de som, em uma versão lenta e pesadíssima com aquele swing, marca registrada da banda. Logo seguem com o cover de “Who Shot Ya”, do Notorius BIG e a dedicam à Marielle Franco não fugindo da raia com relação ao posicionamento político da banda. Independente de ideologia, se trata de uma versão densa e pesada, com um arranjo muito bem bolado, novamente demonstrando que o DNA musical do Living Colour não conhece dogmatismo. Terminam a parte dedicada ao álbum “Shade” com a música “F.O.X.” e Reid troca a sua PRS custom por sua Hammer velha de guerra. Assim que os dois Mesa Dual Rectifier despejam o riff inicial de “Cult of Personality”, a euforia toma conta da pista e, seguindo a ordem original do disco, tocam “I Want To Know”, com uma cozinha demonstrando um entrosamento que beirava o sobrenatural. Já na introdução de “Open Letter to a Landlord”, Corey Glover demonstrou estar em plena forma vocal aos seus 54 anos e com uma performance incrível, que, se manteve for todo o show. Em “Funny Vibe” e “Glamour Boys”, Doug Wimbish extrai sons em estilo sintetizador do seu contrabaixo e se prova um verdadeiro bass hero. Ao final dessa canção a banda finge um erro do guitarrista e provoca muitos - 72 -


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risos. Um momento como esse mostra que a tônica de um show do Living Colour é a descontração e uma banda que não se leva tão a sério. A sessão “Vivid” do show é encerrada com um solo de bateria onde Will Calhoun tocou no escuro com um par de baquetas fluorescentes e ao sair do kit com os seus dreds e roupa branca de terreiro de umbanda, ataca diversos sons eletrônicos em um pad manual. Um espetáculo visual que vai além das acrobacias técnicas de sempre em solos individuais. A banda volta ao palco com a balada de R’n’B jazzístico “Love Rears its Ugly Head”, e a guitarra de Reid se mostra desafinada, gerando caretas e a retirada rápida do ‘In ear’ pelo cantor. Apesar do incidente, logo Reid foi encontrando as cordas culpadas pela desafinação e ao final da canção já havia resolvido o problema. Em seguida, o grupo volta com sangue

nos olhos com a clássica “Elvis is Dead”, com um Corey Glover indo até a grade cantar com os fãs. No meio da bagunça, ele puxa uns “Elvis está Morto” em português e a banda ainda ataca uma versão fanfarrona de “Hound Dog” do Rei. O show é encerrado com uma versão acelerada e energética de “Type”, do disco “Time´s Up”, que levantaria até um faraó da tumba. O Living Colour é um dos raros casos em que os shows se tornam melhores com o tempo e mesmo afastado da mídia ainda lota casas de show pelo mundo. No geral, a decisão de comemorar o álbum “Vivid” se mostrou acertada, com uma performance que fugiu da nostalgia, com uma banda demonstrando um casamento de um amadurecimento musical de veteranos à energia de garotos de vinte e poucos anos. - 74 -




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