Rock Meeting Nº 116

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‘Seja você, mesmo que seja estranho’ Parafraseando a música da cantora Pitty, em seus tempos do underground, a frase é bastante reflexiva nesses tempos loucos que o mundo vive. Encontrar uma pessoa que seja, digamos, ‘real’ é bem difícil. Por quê? Não deveria ser assim. Mas a sensação que se tem é que, cada vez mais, as pessoas querem mostrar mais do que são. Uma capa. Um método para ser aceito ou uma forma de diálogo que sabe-se lá onde quer chegar. A pergunta que fica: quando de fato você é você mesmo? Soa estranho, mas é desse jeito que devemos fazer todos os dias. A pessoa que é

em casa é a mesma na rua? Escolhemos as relações sociais com base na afinidade e, mesmo que não aconteça em 100% das vezes, o que deve prevalecer é o respeito. Mas nem sempre é isso que vemos. Existem poucos que se mostram como são e muitas vezes não são compreendidos. Pensar diferente de um grupo é ser colocado de fora daquela ‘roda’. Mas isso te incomoda? Não deveria. Porque você sabe que existe um vazio ali e nada vai acrescentar a sua vida. Portanto, lembrando a frase acima, ‘seja você, mesmo que seja estranho’. Sim, somos estranhos diante da igualdade de espaços vazios.


06 - Lapada - A política está matando o metal 12 - Live - Black Label Society 18 - Entrevista - Eskröta 28 - Skin - Solteiras 32 - Live - Sick of All 40 - Capa - Abril Pro Rock 2019 60 - Live - Greta Van Fleet 68 - Entrevista - Orthostat 78 - Live - Festival Garotas à Frente

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DIREÇÃO GERAL Pei Fon CAPA Alcides Burn Jonathan Canuto

COLABORADORES Bárbara Lopes Bruno Sessa Edi Fortini Marcos Garcia Marta Ayora Mauricio Melo Renata Pen Samantha Feehily

CONTATO contato@rockmeeting.net www.rockmeeting.net


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nfelizmente, essa coluna parece que vai ser eterna... Mas não tenho pretensões de dar continuidade a ela... Há tempos evito comentar sobre esse lance de Metal e política juntos. Já deu, está chato, mas lá vamos nós de novo. Ô povo que parece não compreender as coisas direito... Estava tranquilo esses, quando sou marcado em uma publicação sobre aquele cartaz da turnê do “Clone” Kennedys no Brasil (clone porque sem Jello Biafra, não é Dead Kennedys). Como bom banger das antigas, nem parei para ver aquilo, tinha coisas mais importantes para fazer. Mas os compartilhamentos daquela imagem começaram a gerar um tsunami de reações, algumas beirando o ridículo (banda puxando o saco foi dose de ver). Vou ser bem sincero: cansei de clicar em “não quero ver isso” no Facebook e “silenciar” no Instagram por isso. O cômico é saber que é mais fácil dar uma de brabo na internet enquanto pessoas morrem de fome e sede nas ruas, e ninguém acode com um prato de comida que seja. Só que isso tudo gerou uma reflexão, e eis o que tenho a dizer sobre a palhaçada. Antes de tudo: a eleição do atual presidente é culpa da própria esquerda militante. Ninguém aguentava mais ser acusado de ser algo que não é por fanatismo ideológico, pela falta de compreensão de que existem miríades infinitas de opiniões sobre o mesmo assunto, que poderiam ser resumidas em 3

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Foto: Singularity Weblog

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vertentes principais: “concordo”, “discordo” e meio termo, algo comum e que as pessoas têm direito de ter. Óbvio que fanáticos da esquerda não enxergam o meio termo, pois acreditam que ou estão com eles ou contra eles. Dessa forma, passaram a agredir tudo e todos com palavras tão duras como se do outro lado estivesse um monstro, não um ser humano com dignidade e direitos. liberdade de expressão, analfabetos políticos! Um exemplo: Roger Waters. O defendi na época do show por aqui, pois acredito na liberdade de expressão artística (mesmo que destoe do que eu penso). Mas de lá para cá, ele já deu umas pisadas na bola enormes, como defender publicamente o governo da

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Venezuela e declarações extremistas. Alguns militantes fazem a mesma coisa, enquanto os pobres coitados dos cidadãos estão passando necessidades. Quando vi a imagem de uma criança venezuelana refugiada chorando de alegria por ter ganhado um pão, foi de cortar o coração. Não de um militante, pois a dor do povo nada vale diante de um ideal, mesmo que este pisoteie em tudo que dizem acreditar... E nisso, percebe-se quem realmente é monstruoso, mal e cheio de podridão... Gostam do socialismo cubano para o povo, mas gostam dos benefícios do capitalismo. Vale a citação a Roberto Campos: “É divertidíssima a esquizofrenia de nossos artistas e intelectuais de esquerda: admiram o


Foto: Devore Design

socialismo de Fidel Castro, mas adoram também três coisas que só o capitalismo sabe dar - bons cachês em moeda forte; ausência de censura e consumismo burguês; trata-se de filhos de Marx numa transa adúltera com a Coca-Cola...” Voltando ao Metal: li uma resenha de um festival onde mais se comentou as atitudes militantes e ofensas ao presidente eleito (democraticamente, antes que eu me esqueça). Tenho experiência no assunto (escrever resenhas) o suficiente para dizer: em sites ou revistas mais profissionais, esse texto seria barrado. Por “profissionais”, leia-se “ninguém quer saber a ideologia política do autor ou das bandas, quer saber o que ocorreu no

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evento”, pois não existe absolutamente nada nesse texto mencionado que se assemelhe ao que deveria ser. Nem de longe, é amadorismo militante descabido. Mas a ideologia política sem freios intelectuais causa isso... Torno a dizer: Não votei no atual presidente, não votei no outro (não sancionaria mais 4 anos de governo de um partido corrupto e inapto). Exerci meu direito à opinião na época e não me arrependo. Logo, qualquer acusação ideológica é vazia. Onde o Metal é atingido? Antes de tudo, é preciso entender que existe diversidade ideológica dentro do cenário. Existem fãs de caráter de esquerda, direita, conservador, apolítico, e outros. E torno a


Foto: Ideas.Ted.Com

frisar: é direito de cada um pensar como quiser. Agora, o número de ofensas foi tamanho, inclusive da parte de músicos conhecidos, que muitos fãs estão começando a abandonar essa turma. Exemplificando, já vi pessoas passando discos do RDP, Krisiun, Violator e outros a preço de banana, cansados de serem ofendidos. E isso pode ter resultados severos a longo prazo, pois estão dividindo o público, destruindo o próprio potencial comercial. Todas essas devem ter queda de vendagens, audições e visualizações nos próximos discos, pois enxotaram uma enorme quantidade de público. Se fossemos falar em profissionalismo, as gravadoras, os managers e as assessorias de imprensa já teriam chamado todas essas bandas no eixo sem conversa, com direito a processo para rompimento unilateral de contratos, pois elas querem que

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as bandas cresçam, não que percam 1 fã que seja. isso chama-se ser profissional mesmo, não de porta de botequim. Eu mesmo vou vender ou trocar meus discos dessas bandas, porque quero ouvir música para relaxar, esquecer o estresse do dia a dia, e não para ficar pensando de novo desse circus maximus político. Eu estou fora, pois ninguém gasta dinheiro para ser agredido. Aliás, esta pode até ser a última Lapada que escrevo. Estou com tanta repulsa a esse tipo de coisa que ando desanimado de escrever o que quer que seja em termos de Metal e Rock. Cada vez mais prefiro desligar o computador e ir andar pelas ruas à toa do que dedicar meu tempo a um público que mais estressa a cada um de nós, autores, sem necessidade.



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Texto e Foto Bruno Sessa

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olou no dia 06 de abril mais uma passagem dos americanos do Black Label Society em São Paulo. O evento lotou a casa de shows Tropical Butantã e contou com a banda Paulista Acid Tree para a abertura do evento. O trio paulistano apresentou um show curto e introspectivo. Com composições densas, a banda conseguiu prender a atenção do público que ainda não lotava a casa, mas estavam ansiosos pelo Black Label Society. Após uma longa discotecagem e o Tropical Butantã ainda enchendo de fãs, foi dado início a trilha de introdução do show, que fez todos ansiosamente ficarem esperando o incrível momento da bandeira que cobria o palco. Zakk Wylde (vocal e guitarra), John DeServio (baixo), Dario Lorina (guitarra) e Jeff Fabb (bateria), abrem o show com “Genocide Junkies”, música do álbum 1919 Eternal. “Funeral Bell”, “Bleed for Me”, “Heart of Darkness”, “Suicide Messiah”, um show avassalador e repleto de hits fez com que o público se permanecesse vidrado na apresentação - 14 -


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da banda. Uma presença de palco brutal, uma massa sonora e o show aparte de Zakk Wylde destruindo riff e solos viscerais. O que falar de “In This River”? Música composta em homenagem ao amigo e guitarrista do Pantera e Damageplan, Dimebag Darrell, agora é executada em memória de seu irmão Vinnie Paul Abbott. A emoção toma conta do show e era possível ver entre os cantos, algumas lágrimas rolando. A grande apresentação é encerada com “Stillborn” e se nesse final de show, existia alguém sem fôlego ou voz, foi nessa música em que todas as pessoas juntaram forças e cantar de peito cheio uma das músicas mais famosas da banda. Encerramento perfeito para um show que foi um atropelo do começo ao fim.

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Texto Jaqueline Souza | Fotos Pei Fon

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ós já sabíamos que essa tal geração “Y” ia chegar chegando, e no caso da Eskröta, elas chegaram com os dois pés no peito, sangue nos olhos, já soltando o verbo e o som. Formada em 2017 por Yasmin Amaral (guitarra e vocal - Kultist, ex-Sinaya), Tamyris Leopoldo (baixo e backing vocals - Aborn, ex-Sinaya) e Miriam Momesso (bateria – Alerta Mental e Braincrusher), a banda conseguiu reunir jovens mulheres que não se acovardam na batalha e que demonstram ter clareza em seus objetivos, mantendo-se fieis à sua concepção de fazer um som com propósito. Neste caminho não há espaço para fascismo, machismo e preconceitos – sejam eles quais forem – elas seguem adiante servindo de inspiração para que outras meninas façam o mesmo. Mesmo com pouco tempo de existência, elas conseguiram lançar em 2018 o EP “Eticamente Questionável” e participaram de festivais importantes no underground como o Maniacs Metal Meeting (SC) tocando ao lado de grandes nomes do metal nacional. Seguiram - 20 -


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com suas atividades mesmo após a baterista Miriam precisar se ausentar para uma temporada fora do Brasil, por um motivo bem nobre por sinal. Ela participa de um intercâmbio musical em Moçambique através do Projeto Guri onde, além de estar 100% imersa em música, ainda contribui em outros projetos sociais. Este ano tiveram a oportunidade de participar do Abril Pro Rock, que foi quando tive a oportunidade de presenciar um show delas ao vivo e manter contato com esses docinhos, de casca dura é claro. Confiram o papo que tive com Tamy e Yasmin. Tamy, você e a Yasmin já foram membros da Sinaya, como foi que vocês se juntaram para formar a Eskröta? Tamy - Após tocarmos na Sinaya, eu e a Yá mantivemos a amizade e a vontade de termos um projeto juntas. A Yá se mudou para o interior, a 60 km da minha cidade, bem pertinho. Eu já notava a Miriam tocando e amava o estilo dela, então fiz o convite a elas para montar uma banda, elas aceitaram... E foi tudo indo muito bem. Vi que vocês já passaram por formações diferentes antes de estabilizarem-se como trio, certo? Quais são as maiores dificuldades para manter o line-up de uma banda? Ainda mais no caso de vocês que tocam em mais de uma. Yasmin - Nós tínhamos uma vocalista, porém com o passar do tempo a ideia da banda perdeu o sentido para ela. Essa talvez seja a maior dificuldade, manter todas alinhadas, olhando para o mesmo objetivo, com a mesma ideia de futuro da banda, organizadamente e com motivação, porque as dificuldades são muitas. Machismo, viagens longas, noites viradas e etc. - 22 -


Contem pra gente como foi o processo de produção do EP “Eticamente Questionável”. Como foi que vocês decidiram onde gravar, com quem produzir e os demais aspectos de distribuição deste trabalho? Tamy - A Miriam é muito amiga do Léo do Surra, e ele acompanhava a banda desde o primeiro ensaio, então se prontificou a gravar a gente no estúdio dele, o Warzone em Santos, ele estava começando a gravar e seria uma experiência de muito aprendizado, tanto pra banda, quanto pra ele. A Prika da Nervosa se ofereceu pra ajudar também e mixou e masterizou o nosso EP, os selos abraçaram a ideia e nos apoiaram muito também, sendo possível, com a ajuda de todos, lançar nosso material. Como nasceu a música “Episiotomia”? Alguma de vocês têm filhos? Yasmin - A Tamy responde essa, ela que trouxe a ideia! Tamy - Uma amiga minha do serviço, foi mãe muito cedo e comentou comigo sobre as atrocidades que ela viveu na mão dos médicos! Violência obstétrica e assédio moral! Ela me contou sobre o procedimento que sofreu... A Episiotomia, e eu não consegui acreditar que isso existia! Nunca tinha ouvido falar nisso! Então pesquisei, conversei com muitas mulheres que passaram por esse tipo de violência e criamos juntas a letra! Muitas mulheres sofrem ou sofreram violência obstétrica e não sabem disso! Acham que é procedimento padrão do parto. A ideia da música é alertar sobre esse tipo de violência. Além do Abril Pro Rock 2019 vocês fizeram outras apresentações pelo Nordeste, como foi a experiência de vocês por aqui? Yasmin - Na verdade nós só fizemos o show - 23 -


em Fortaleza antes do Abril Pro Rock e foi uma baita experiência. Fomos pelo Coletivo Girls To The Front, são 11 mulheres na produção, é algo fantástico que merece ser exaltado e celebrado. Uma noite quente e linda! Amamos e queremos voltar. Aliás, iremos lançar um split junto à Afronta, uma banda feminina lá de Fortaleza. No Abril Pro Rock a experiência também foi outro nível, ficamos muito felizes em ver que ainda existem produções de alto nível na cena nacional, todos estavam dando o seu melhor pra fazer o som acontecer... Somos gratas por toda essa experiência! Qual a autoria da intro que vocês usaram no show do APR? Ela está presente em todos os shows? Yasmin - A intro que usamos no Abril Pro Rock foi feita especialmente pro evento. Temos as falas de Chico Science, outras sobre a Princesa Aquatune e ainda as falas de Jout Jout e MC Carol sobre feminismo. Estávamos esperando que as pessoas se conectassem com a proposta feminista e antifascista já antes do show e funcionou! As minas piraram! Foi muito emocionante. Foi mesmo! E foi bacana que a galera nem se importou com essa pegada MC, né? Infelizmente no metal as pessoas ainda têm muito preconceito com outros estilos musicais, mas pelo jeito vocês não... Além de metal vocês escutam outras coisas? Yasmin - Ah, aqui é Beyoncé e Gaga fã. Hoje em dia existem mais mulheres tocando e exercendo outras atividades na cena metal e até no próprio público. De 2010 em diante acho que o comportamento das mulheres na cena também mudou um pouco. Em minha opinião - 24 -


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hoje em dia existe uma aceitação maior das mulheres na cena, mas sabemos que o metal é sim majoritariamente masculino e o machismo ainda não é um capítulo superado, ele existe. Vocês já sofreram algum tipo de preconceito? Tamy - Tenho notado que a cena está aceitando muito bem a presença feminina, tanto nas bandas, quanto na produção. Vejo mulheres técnicas de som, fotógrafas, e em diversas funções dentro do Underground. Fico feliz demais, mas ainda é muito pouco... Espero que a presença das mulheres aumente, e que elas possam ocupar espaços e mostrar suas habilidades! Quanto a sofrer preconceito, já passamos por algumas situações, mas na maioria das vezes temos muito apoio da galera que curte a banda. A aceitação é incrível tanto do

público masculino quanto feminino. Sororidade! Noto também que as mulheres que estão em atividade são mais colaborativas, isso procede? Tamy - Com certeza procede! Como eu disse anteriormente, as mulheres têm unido forças para conquistar os espaços. Tocamos muito em eventos organizados por coletivos de mulheres incríveis que dão o sangue pelo que acreditam! Também rola muita parceria e ajuda mútua entre as bandas femininas! Hoje podemos dizer que vocês fazem parte de uma geração de mulheres que estão influenciando as mais novas a ocuparem os espaços e partirem para a ação de fato. Quais foram as mulheres - 26 -


que serviram de referência para vocês? Tamy - Nossa, eu me inspirei demais na banda Kittie, era adolescente e era louca na banda formada só por mulheres! Também me inspirei muito em Girlschool, Mercenárias e Bulimia, e não posso deixar de citar minha MUSA Amy Winehouse... São mulheres inspiradoras! Yasmin - Eu me inspirei muito em L7, com certeza! Muita representatividade. A própria Nervosa nos mostrou que é possível conseguir alavancar no metal no Brasil mesmo sendo mulher, então não posso deixar de destacar essa influência. Tamy - Hole tbm né Ya? Yasmin - Também! Tamy - E as musas pop.

gada. Machista não passa. O espaço é de vocês. Tamy - Ninguém me representa, não sou obrigada e machista não passa... A própria música já fala por si própria... No momento em que o Brasil se encontra esse governo fascista não nos representa! Não podemos baixar a cabeça, temos que resistir, temos que nos unir, nos posicionar... Erguer a cabeça e seguir em frente! Yasmin - Não deixem te falar o que é “tocar certo”, não deixe de fazer nada pela opinião dos outros. Principalmente as mulheres, não ouçam os comentários de ódio, motivem-se pelos comentários de incentivo. Comecem a tocar, produzir eventos, bandas, agora mesmo! Nós somos capazes! Ninguém te representa, você não é obrigada e machista não passa.

Ninguém me representa. Não sou obri- 27 -


Por Samantha Feehily (Wonder Girls )

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os dias de hoje, diversos métodos são apresentados e cursos são vendidos para que mulheres solteiras treinem habilidades sociais e repertórios de sedução para não estarem sozinhas. É uma condição (a solteirice) que, em determinado momento ou lugar, pode se tornar motivo de desconforto. Um dos estigmas mais difundidos no social é o que diz que a mulher que não se casou ficou para “titia”. Ser “titia” é ser aquela que não foi interessante o suficiente para encontrar um parceiro e, portanto, não possui vida afetiva e nem sexual, engano. Atualmente, isto é uma crença não verdadeira. A maioria das mulheres que estão sozinhas hoje é de classe social privilegiada, moram nas grandes cidades, são independentes, consumidoras e pensantes. Fazem com os seus corpos aqui-

lo que desejam e se responsabilizam por suas escolhas. Querem dividir a vida com alguém, mas por vezes não conseguem esperar o homem certo. A corrida desenfreada contra o relógio biológico pode colocar algumas pessoas do gênero feminino em situação de pouca reflexão para encontrar o par com quem poderão construir uma família. Isto se explica pelo fato de que esta nova mulher ainda está em transição, pois possui anseios de compromisso e sonha em construir uma família de acordo com modelos tradicionais aprendidos. Ao mesmo tempo, luta por seus direitos, busca a emancipação e quer uma carreira sólida em pé de igualdade com os homens. Por vezes, fazem escolhas afetivas insatisfatórias por pouco conhecimento de si ou por acreditarem serem mesmo inadequadas, e veem no “ser um casal” um status a ser - 28 -


Luenda Collin’s Lobo

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Paola Russ

seguido, pois somente terão valor e estima se estiverem acompanhadas. O casamento acontece, mas os problemas no matrimônio não tardam a aparecer e, novamente sozinhas ao se divorciarem, tentam outros relacionamentos, buscando, agora, um novo modelo de união fora dos padrões tradicionais. Independentemente dos motivos que as levem a buscar parcerias, é preciso questionar-se a respeito do que se quer verdadeiramente. Estar acompanhada apenas por uma questão social e de status ou por incapacidade de lidar com a própria carência, é tão defensivo quanto o extremo oposto de nunca estar com alguém porque aquilo que se busca no outro é irreal de tão idealizado, e por causa disto não se encontra ninguém a “altura”.

Penso que as pessoas podem ser livres se quiserem, podem escolher viver sua sexualidade da maneira que preferirem, caso não haja agressão e desrespeito a ninguém. Podem adaptar-se a estarem sós sem a obrigação de terem que se enquadrar num modelo tradicional de relação vigente desde muito tempo atrás. Podem questionar a si e os próprios desejos, e então escolher de acordo com os mesmos. Neste processo o mais importante é se conhecer e se respeitar. Aceitarmos como somos nos possibilita agir com espontaneidade e sinceridade. Pessoas autênticas que sustentam aquilo que originalmente são, despertam respeito e admiração.

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Texto e Foto Mauricio Melo

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cartaz do evento já faz qualquer fã do Punk Rock e Hardcore a sonhar alto. Ter os dois extremos do território americano representados numa única noite, na sequência ver os mesmos grupos numa incrível fusão chamada Creep Division num After Party no bar Rocksound e, de quebra, ter uma das melhores bandas de Punk Rock Melódico da Espanha numa tarde/noite foi um sonho real. Apesar da data delicada, já que o dia de São Jorge em Barcelona é considerado um dos dias mais aguardado e movimentado do ano e que o público vinha de uma “ressaca” de Semana Santa, o Blowfuse que teve a difícil missão de abrir a noite, que passou de sala vazia a um bom público em 3 acordes, só faltou o 1, 2, 3, 4! Já daí podemos ter uma boa ideia de que o quarteto tem público fiel e seu disco mais recente, Daily Ritual desperta interesse. “Grand Golden Boy” e “Outta My Head” são duas do - 34 -


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recém lançado disco que marcaram presença. A banda tem estado em turnê desde a nossa cobertura no passado, em março, quando lançaram o dito álbum e nota-se um entrosamento e uma fluidez no palco que impressiona. O que faltou? O mortal do vocalista Oscar Puig no final do set, fica pra próxima e não faltarão oportunidades de vê-los aqui na página. Covardia do Good Riddance quando decidiu abrir a noite com ‘Weight Of The World’ e seu inconfundível riff. Para uma banda que decidiu dar um fim em suas atividades há pouco mais de uma década, o quarteto demostra estar mais forte do que nunca. Do último e bom disco tivemos “Half Measures” como segundo petardo da noite e “Last Believer” na sequência, quase denunciamos a banda por maus tratos e os Stage Divers começaram a festa em ‘Heresy’, ‘Hypocrisy’, ‘Revenge’ e por estas músicas já se pode imaginar o nível do show que, foi todo filmado por uma equipe local e que muito em breve teremos também um bom punhado de imagens para mostrar. “Without Anger”, “Jeannie”, “Salt” também do disco ‘Ballads From Revolution’ também figuraram no setlist. Foram mais de duas dezenas de boa música e uma apresentação de respeito dos rapazes. Sick Of It All: Assim mesmo, nome da banda e dois pontos. Porque é bom demais, porque não falham, porque podem tocar aqui todos os anos e o público vai feliz e sai em êxtase e porque ainda temos duas datas com a banda para este ano de 2019. Um vasto setlist que incluiu os clássicos como “My Life”, “Friends Like You” e “Injustice System”, músicas novas como “Inner Visión”, “That Crazy White Boy Shit” e “Bulls Anthem” além da música que dá título ao álbum “Wake The Sleeping Dragon”. Tivemos o tradicional wall of death em “Scratch The Surface” e a clássica participação de Craig Ahead em “Busted”. Isso somente para - 36 -


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mencionar algumas das músicas tocadas. O resto já sabemos como funciona, Pete Koller saltando como louco, Lou interagindo com o público e Armand demolindo a cozinha. Fim de show, mas não fim de noite. Atravessamos a rua correndo para garantir nossa posição dentro do bar Rocksound, apenas 150 felizardos puderam entrar e assistir de perto o show do Creep Division que conta com integrantes do Good Riddance, Russ no baixo, Chuck na guitarra e Sean na bateria. Os vocais ficam a cargo de Craig Ahead, baixista do Sick Of It All, mas que antes de fazer parte desta banda já possuía uma sólida reputação na cena hardcore e tendo participado de dis-

cos como ‘Break Down The Walls’ do Youth Of Today, ‘One Voice’ do Agnostic Front e um disco com ‘Rest In Pieces’. Com essa formação descrita aí acima, gravaram dois discos, um LP e um Split. Creep Division é um hardcore old school, porradão e tão rápido quanto sua apresentação. O melhor de tudo, vimos um show histórico já que a banda não tocava junto há mais de uma década, vimos de perto lendas do Punk Hardcore e se tivermos que somar algo mais importante a tudo isso, vimos o quarteto feliz por estar tocando, talvez mais felizes do que nós que estávamos assistindo. Noite nota 10. - 38 -



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Texto Jaqueline Souza | Foto Pei Fon

SEXTA 12/04

Sexta feira 12/04 foi um dia atípico na cida-

de do Recife que amanheceu sob um temporal que alagou ruas e fez o transporte público parar por algumas horas. Mesmo com o mal tempo, a abertura do maior festival de música pesada do NE fluiu plenamente. Como sempre portões abertos ao público e horário de início das apresentações com pontualidade recifense, não vou dizer pontualidade britânica porque há tempos já deixei de sofrer com síndrome de cachorro vira lata, o APR é a prova viva de que é possível sim realizar produções de alto nível, inclusive abrindo mais espaço para bandas nacionais e este ano hasteando mais uma bandeira importante: a valorização da presença feminina, o que comentarei mais a frente.

A primeira apresentação do dia ficou a car-

go dos pernambucanos da Camus. Confesso que para mim foi uma surpresa, ainda não conhecia o trabalho deles, por causa do nome erroneamente criei uma expectativa de que a sonoridade deles fosse black metal, logo nos primeiros riffs fui surpreendida com um heavy metal bem interessante. Mesmo bastante jovens, os músicos pareciam estar bem à vontade e seguros. A banda tem registrada uma demo-tape lançada em 2011, um EP lançado em 2015 intitulado “Heavy Metal Machi- 42 -


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ne” e após mudanças de formação e a entrada do guitarrista Daniêre Martins gravaram seu début “Abyssal”. O show foi interessante, especialmente pelo instrumental bem executado. Quem ainda não teve a oportunidade de ouvi-los vale a pena dar uma conferida nos registros.

Logo após o show da Camus, sem pausas,

foi a vez do Malkuth subir ao palco principal. Com esta nova formação atuando há cerca de um ano, eles fizeram uma ótima apresentação, arrancando muitos rodopios de cabeça dos ‘hellbangers’ presentes. A entrada da nova guitarrista Ragnda Daeva e de Ghoul no baixo trouxeram ao Malkuth uma coesão maior, é nítido o entrosamento entre os músicos. Entre músicas como “Shot To Kill Jesus”,”The Old Blade”, “Anticristum Belicus”, ainda contaram com a presença de Diego DoUrden (Mystifyer/Infested Blood) convidado para os vocais da música “Azimã – The Master Of Sexual Arts”. Uma ótima apresentação, que na verdade foi até curta para uma banda que tem mais de 25 anos de existência e muitos discos.

Em seguida, revezando para o segundo

palco, foi a vez dos maranhenses da Jackdevil surpreender com um speed thrash enérgico, com direito a pulos e rodopios. Para mim a grande revelação neste primeiro dia do festival. Nota-se que boa parte do público já conhecia previamente o trabalho da banda, e quem (como eu) ainda não conhecia gostou bastante. A banda tem a típica atitude thrasher oitentista em cima do palco e o som também remete a isso, algumas vezes passeando por pegadas crossover a lá D.R.I. Com um setlist que alternou entre músicas do primeiro álbum “Unholy Sacrifice” e do segundo “Evil Strikes Again”, a banda deixou o público muito empolgado com músicas como “Devil Awaits”, “Age of Antichrist”, “Thrash Demons Attack” e “Under The Metal Command”.

Depois de um show tão agitado e empolgan-

te como o da Jackdevil mudei de posição para poder ver no palco principal a apresentação dos pau- 44 -


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listas da Maestrick. Confesso que no início achei

emocionante.

a coisa toda meio jururu demais, mas aos poucos

comecei a entender um pouco melhor a proposta

te foi a vez dos baianos da Malefactor subirem ao

da banda, que pratica um som progressivo e mu-

palco. Que arraso! Já havia muito tempo que eles

sicalmente falando são extremamente técnicos

não tocavam em Recife e desta vez vieram como

e precisos. O vocalista Fábio Caldeiras é muito

um quarteto, Vlad assumindo o baixo além dos

versátil e consegue migrar de passagens suaves a

vocais e o que pude presenciar foi uma banda au-

passagens pesadas sem soar forçado. Neste show,

têntica, com músicos que se garantem demais em

a banda trouxe para o público alguns convidados,

seus instrumentos e que juntos formam uma al-

como a vocalista Talita Quintano (Soulspell) nos

quimia perfeita. Com uma carreira extensa e mui-

vocais, o guitarrista Gustavo Carmo (VersOver)

tos registros bastante diferentes entre si, o setlist

e surpreendendo com a presença do coletivo Ba-

deste show mesclou músicas de diversas fases da

que Mulher com seu grupo de Maracatu Nação e

banda como “Counting The Corpses”, “Centu-

Movimento. O Maestrick incorporou a percussão

rian”, “Sodom and Gomorrah” e “Elizabathory”.

do grupo feminino em duas músicas “Pescador”

Apesar de em alguns momentos a equipe de pro-

e “Penitência”. Ao vivo funcionou muito bem, foi

dução ter deslizado (durante alguns minutos nas - 46 -

Mudando para o segundo palco novamen-


duas primeiras músicas as guitarras estavam tão

te, e confesso que o último álbum deles que eu pa-

altas que sobrepunham todo o resto), depois que

rei para ouvir e comprei foi o “Eclipse”, na época

arrumaram tudo fluiu como se fosse o áudio de um

vi um show deles no Wacken Open Air 2007 e eles

cd, tamanha a precisão deles no palco, mas ainda

ainda tocavam bastante músicas da fase mais an-

fiquei sentindo que eles mereciam ter tocado no

tiga. Depois disso não acompanhei mais os lança-

palco principal.

mentos e com a vinda deles ao APR fui conferir

O último show da noite estava chegando....

o último álbum “Queen of Time” e parei também

Uma aglomeração se formou em frente ao palco

para ouvir uma sequência de álbuns que ainda

principal para ver a atração estrangeira da noite,

não tinha conhecido. Para o show tinha uma es-

os finlandeses do Amorphis. Com uma história

perança de ter pelo menos três ou quatro músicas

dentro do cenário metálico que vem desde o início

da fase mais death metal, mas de cara já abriram

dos anos 90, a banda foi uma das referências dos

com uma sequência de duas músicas do disco

primórdios do death doom metal da época, que

mais atual, “The Bee” e “The Golden Elk”, a tercei-

era insuflada por nomes como Anathema (old),

ra foi “Sky Is Mine” do album Skyforger, para mi-

My Dying Bride e Katatonia (old). Com o passar

nha surpresa e agrado veio na sequência “Against

dos anos a sonoridade deles foi mudando bastan-

Widow” do álbum Elegy, que é quando eu acredito - 47 -


que haja realmente uma delimitação de fases do Amorphis porque a partir daí eles foram ficando cada vez mais progressivos e perderam um pouco da agressividade de outrora, porém continuaram sendo uma grande banda.

Em seguida, veio “Sacrifice”, “The Sil-

ver Bride” e “Bad Blood” marcando as fases de “Skyforger” e “Under The Red Cloud”. Eu estava gostando bastante do show, mas ainda assim cada vez que anunciavam a próxima música eu ficava pensando: que horas será que eles vão tocar algo do “The Karelian Isthmus” ou do “Tales...? E assim voltaram para sons do disco atual “Wrong Direction”, “Daughter Of Hate” e “Heart Of The Giant” seguido por “Hopeless Days” e, finalmente algo antigo, “Black Winter Day” que literalmente arrancou coro do público, aliás, o público que estava mais familiarizado com as músicas novas parecia estar encantado, cantando junto o tempo todo. Após este pequeno revival da era “Tales Of Thousand Lakes”, eles fizeram a famosa paradinha e na volta tocaram mais duas: “Death Of A King” e “House of Sleep”. A primeira noite do festival chegou ao fim e eu já estava ansiosa para que chegasse logo o próximo final de semana. De uns tempos pra cá, o APR começou a dar cada vez mais espaço para artistas independentes do cenário nacional, e, mesmo sabendo que o metal e suas vertentes (especialmente o punk e hardcore) são os pontos altos do festival, a produção não se limita apenas ao rock e metal, mesmo dentro do estilo a curadoria tem feito seleções bem ecléticas, o que proporciona ao público a possibilidade de numa mesma noite ter experiências completamente distintas. SEXTA 19/04

Por falar em ter experiências distintas, a

segunda noite do APR, que aconteceu no mesmo local no dia 19/04 para mim foi o que eu costumo chamar de programação diferenciada, afinal não faz parte do meu repertório habitual cenas cultu- 48 -


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rais como o rap, hip hop, ou mesmo um pop rock ácido como pude presenciar esta noite. Como de costume, a primeira apresentação iniciou pontualmente às 20h. Com a casa ainda vazia a banda Demonia, oriunda do Rio Grande do Norte subiu ao palco para apresentar o seu punk rock, cantado em português e entre acordes dissonantes e berros contra o capitalismo e o patriarcado deu seu recado, uma pena a casa ainda estar com pouco público presente.

Em seguida houve apresentações das per-

nambucanas 8.0.8 Crew e Arrete, respectivamente, rap com letras também em português feito por mulheres dando ideia para mulheres. Apesar de não acompanhar nada deste estilo e estar completamente por fora do que realmente acontece no underground deles, acredito que só o fato destas mulheres terem conseguido espaço num evento deste tipo já é motivo para parabeniza-las. O APR este ano decidiu hastear a bandeira de apoio ao protagonismo feminino e este dia teve sua programação completamente dedicada a atrações femininas. Na sequência vieram as meninas do Sinta a Liga Crew com seu projeto que reúne rappers paraibanas e mistura versos, música e dança. Apesar de esteticamente apostarem em um visual mais sensual, acredito que o façam justamente para contrapor as ideias expostas em suas letras cheias de protestos contra o machismo e o preconceito, como

uma noite, cujo objetivo era fortalecer a presen-

elas mesmas disseram: “em terra de ‘machocrata’

ça feminina fazendo música e mandando ver nas

quem se desconstroi é rei”, portanto a sensualiza-

ideias, ter selecionado Letrux para estar no festi-

ção tem muito mais a ver com o empoderamento

val foi uma feliz escolha da curadoria, pois mes-

feminino do que com a intenção de criar fetiches

mo com toda frisson e expectativa que as russas

no público masculino. Pra bom entendedor do

do Pussy Riot causaram quem comandou a noite

rock / punk / metal é só lembrar-se da postura a

e fez o público sair do ostracismo, dançar e can-

lá Wendy O’ (The Plasmatics), contextualizando

tar junto foi a performance e discurso da canto-

para o estilo musical delas, é claro.

ra Letícia Novaes. Tá explicado porque a cantora,

A noite já estava avançando e percebi que

que lançou seu primeiro álbum em 2017, conse-

o movimento dentro do local aumentou, parece

guiu uma enorme repercussão e se tornou refe-

que a maioria das pessoas resolveu entrar no Bai-

rência na cena indie pop brasuca. A banda que a

le Perfumado quando já se aproximava a hora da

acompanha é totalmente entrosada, ela puxando

atração vinda do Rio de Janeiro, a Letrux. Para

conversa com o público entre as músicas e mui- 50 -


tos protestos por justiça pela morte da vereadora

po punk coletivo feminista mudou bastante sua

carioca Marielle Franco marcaram o festival como

sonoridade depois de começar a promover mais

um momento que ia além de curtição, a maioria

músicas em inglês, pra ser bem realista, elas têm

das pessoas que estavam ali tinham algo guardado

atitude e espírito punk quando estamos falando

dentro de si querendo gritar e protestar.

em protesto, mas sonoramente a maioria das mú-

Fechando a noite, as russas do Pussy Riot

sicas hoje parecem mais como uma fusão de rap

atraíram, além dos fãs, muitas pessoas curiosas

e eletrônico soando tudo, menos punk rock, mas

devido a grande visibilidade que o grupo provo-

notavelmente em músicas como “Bad Apples”,

cou desde que a fundadora Nadya Tolonnikova e

“Police State” e “Straight Outta Vagina” a galera

membros foram presas por supostamente terem

parecia muito empolgada. Vale ressaltar que as

cometido atos de vandalismo motivados por into-

gurias pareciam estar claramente ambientadas

lerância religiosa e serem declaradamente contra

com os acontecimentos atuais da política no Bra-

a campanha do primeiro ministro Vladmir Putin.

sil, inclusive abrindo espaço para a fala de Mônica

Enfim, a banda que atualmente se intitula um gru-

Tereza Benício, viúva de Marielle e pedindo justi- 51 -


ça e resposta à pergunta: Who killed Marielle?

Para mim uma noite bem atípica, mas que

serviu para fritar os miolos por vários dias, acho que nós que fazemos parte da “comunidade metal” ainda somos um pouco retrógadas quando se trata em ouvir e assimilar estilos diferentes sem abrir-se para uma fruição plena, mas com toda certeza valeu a pena. SÁBADO 20/04

O último dia do festival começou um pou-

co mais cedo, por volta das 18h a banda pernambucana Exorcismo, que está na ativa desde 2007, subiu ao palco para iniciar os trabalhos mostrando ao público o seu thrash metal. A segunda apresentação seguiu com a banda também pernambucana Pesado, liderada por Eduardo “Pesado” (ex-vocalista da Cambio Negro HC e Aorta) figura já muito conhecida no underground local, que entre muitos protestos tocaram músicas novas do projeto e algumas do Aorta.

Mais uma vez tivemos a felicidade de pre-

cisar apenas mudar para o outro lado e já começava a escutar a intro da banda crossover/thrash Eskröta. Confesso que estava super curiosa para ver o show delas por se tratar de uma banda só de mulheres e de antemão saber que as musicistas da Eskrota já são bem ativas na cena. Yasmim Amaral (guitarra e vocal) e Tamy Leopoldo (baixo e backing vocals) já foram membros da banda feminina de death metal Sinaya e hoje em dia ambas ainda tocam em outras bandas (Kultist e Aborn, respectivamente) e a baterista Miriam Momesso neste show foi substituída por John França (guitarrista das bandas Cerberus Attack e Blasthrash) devido estar desde agosto de 2018 participando de um intercâmbio musical em Moçambique através do Projeto Guri. Atitude e engajamento são as melhores palavras para definir o trabalho delas, que além de mandarem ver no som mostram letras que são verdadeiros protestos sociais contra diversos - 52 -


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tipos de opressão, sobretudo contra o machismo

riocas mostraram seu speed thrash/heavy canta-

e o fascismo. Músicas como “Eticamente Questio-

do em português e empolgou muito o público que

nável” e “Bife do Inferno” fizeram o público ficar

já sabia as letras de músicas como “Nas Minhas

bem alvoroçado e agitar bastante. “Ninguém me

Veias Corre Fogo” e “Assalto da Motoserra” e a

representa, não sou obrigada, machista não pas-

banda fez uma apresentação memorável, muito

sa”. Recado dado e aplaudido. Continuem no pro-

performática.

cesso de melhoras rapazes e um incentivo a mais

para que outras mulheres ocupem espaço seja to-

Cadavre? mostrar seu poder. Já tinha visto um

cando, produzindo, escrevendo ou contribuindo

show deles em 2018 e passados apenas sete me-

da forma que lhes convir.

ses me pareceu que a banda está mais madura. O

Sem nenhuma demora na transição entre

som crossover crust que eles fazem é direto e obje-

os palcos, o Flageladör surge no palco principal,

tivo, o front feito pela vocalista Nata é muito ins-

com muitos spikes e uma pegada oitentista os ca-

tigante e admiro demais a atitude deles em expor

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Depois foi a vez dos paulistas da Manger


abertamente sua posição antifascista e usarem os

laborativa e isso dá ainda mais sentido ao conteú-

palcos como forma de protesto. Nata rasgou uma

do lírico de seus trabalhos. Fiquem ligados, pois

imagem do atual presidente (que nem merece ter

este nome ainda vai crescer muito.

o nome mencionado – palavras dela: “Com fascis-

ta não se dialoga. O fascismo se esmaga”). Criando

dado quarteto mineiro The Mist fazer uma série de

a imagem perfeita para a música “Déspota”. Pouco

fãs entrarem em catarse nostálgica. A banda que

depois da apresentação no APR, eles disponibili-

havia encerrado atividades em 1997 retornou aos

zaram nas plataformas digitais o seu novo disco

palcos este ano celebrando os 30 anos do lança-

“AntiAutoAjuda” e uma outra coisa me chamou

mento do seu primeiro álbum “Phantasmagoria”.

atenção. Foi o fato de o disco físico estar sendo

Na formação três membros que gravaram o se-

lançado por um coletivo de selos formado por

gundo álbum de estúdio da banda, o clássico “The

doze parceiros diferentes, ou seja, a banda coloca

Hangman Tree”: Vladimir Korg (The Unabomber

em prática uma forma de trabalho totalmente co-

Files, ex-Chakal – vocais), Jairo Guedz (ex-Se-

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No palco principal chega a hora do aguar-


pultura, ex-Overdose, ex-Eminence – guitarra) e Christiano Salles (bateria) e para o baixo recrutaram Wesley Ribeiro (Hells Punch, ex-Drowned). No início do show o áudio estava falhando muito, a voz estava muito baixa em alguns momentos não dava para ouvir direito, mas aos poucos foram acertando e a apresentação fluiu. Músicas que integraram o setlist: “Barbed Wire Land”, “Panthasmagoria”, “Peter Pan Agains The World”, “A Step Into The Dark” e “Scarecrow”. Com certeza um show que fez os bangers mais velhos voltarem um pouco no tempo e os mais novos realizarem o desejo de presenciar um lindo capítulo da história do metal nacional.

Hora de mais uma vez mudar para o palco

secundário e ver os paulistas da Desalmado aterrissar com seu death/grind pesado como pata de elefante. Um show que emanou muita energia tanto por parte da banda quanto do público que bateu cabeça freneticamente e aplaudiu também a postura da banda de não se isentar quando o assunto é o nosso atual cenário político. Aliás, o Desalmado é uma banda além de se posicionar abertamente demonstra toda acidez e descontentamento em suas letras, como é possível ver em diversas músicas do EP “Estado Escravo”, no Split-CD “In Grind We Trust” e no seu mais recente lançamento “Save Us From Ourselves” além de nas formações já terem passado duas mulheres, as baixistas Ana Paula (ex-El Fuego) e Maria Piti. O show foi um tapa na orelha gigantesco, no melhor dos sentidos, é claro.

Chegou a hora tão aguardada por todos, os

americanos da Nuclear Assault começam a fazer seus primeiros movimentos no palco principal e após poucos momentos a banda inicia com tudo. Infelizmente, mais uma vez, alguns aspectos técnicos prejudicaram a qualidade do som no início da apresentação, Dan Lilker pareceu se irritar um pouquinho, mas rapidamente as coisas foram se acertando. Para uma banda que tem tanta história como o Nuclear Assault, o show se torna uma - 56 -


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seleção de clássicos onde posso citar os pontos altos: “Brainwashed”, “After The Holocaust”, “Critical Mass” (que teve participação inesperada de John e Yasmin da Eskröta nos vocais), “Game Over”, “Stranded In Hell”, “Analog Man”, “When Freedom Dies”, “Trail Of Tears”. Os músicos, especialmente o vocalista John Connelly que até mencionou o fato, pareciam estar sentindo muito desconforto com o calor, mas mesmo assim agitaram bastante e mais uma vez provaram ao que vieram. Lenda viva do thrash metal.

A penúltima atração da noite chega no pal-

co secundário para mostrar, mais uma vez, que o nordeste possui bandas de death metal dignas de figurar em festivais de qualquer parte do mundo, como é o caso do Sanctifier, o principal representante do gênero em seu estado, o Rio Grande do Norte.

Com um álbum de altíssima qualidade lan-

çado recentemente “Lone Wolf Syndicate”, a banda conseguiu alcançar um nível acima e isso também fica muito explícito em suas apresentações ao vivo, especialmente na desenvoltura que o guitarrista Alexandre mostra ao vivo. Após o lançamento de “Lone Wolf Syndicate”. o vocalista Luzdeth Lott saiu da banda e o substituto foi Jefson Souza.

Para encerrar a noite lançando uma bigor-

na em cima de todos os tipos de preconceito, o festival recrutou toda irritação e inconformidade do Ratos de Porão, um dos maiores expoentes da música pesada no país comemorando 30 anos do álbum “Brasil” tocando na íntegra. O público insano formou rodas e mais rodas, os protestos estavam 100% liberados e mais uma vez os fãs provaram ter mais que admiração pelo Ratos de Porão, aqui em Recife o que o público sente por eles é respeito. Parabéns à Astro Nave Produções e toda sua equipe pelo zelo, profissionalismo e por nos auxiliar numa luta que está apenas começando. Lugar de mulher é onde ela quiser.

Ano que vem tem mais! - 59 -


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Texto Renata Pen | Foto Denis Ono

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omo começar uma resenha sobre Greta Van Fleet sem todas aquelas comparações e rótulos? Simples! Ninguém está livre de ser criticado, afinal não é possível agradar a todos. Então, o que será dito aqui, será sobre o que foi visto e sentido por alguém que prefere usar o coração para se expressar, livre de qualquer julgamento. Greta Van Fleet é um grupo de garotos americanos sendo três deles, irmãos. Terem um pai músico também fez toda a diferença em suas vidas. Influenciados musicalmente desde pequenos, foram compondo seu estilo a moda antiga, porém, o resultado não deixou de ser contemporâneo. Isso agradou a muita gente, resgatando um sentimento que várias pessoas acharam ter se perdido com o tempo. Caracterizou-se, portanto, o jeito hippie e estiloso, marca registrada do grupo que encanta a todos com o contraste da nostalgia com o que - 62 -


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é hiper atual. Isso não quer dizer que é a melhor banda do mundo, mas já conquistou algum respeito. Faturaram um Grammy, coisa que muitos músicos, com vários anos de carreira, nunca conseguiram. Após ganharem o prêmio, os ingressos para o side show de São Paulo, realizado no dia 08 de abril, se esgotaram rapidamente. Uma dúvida pairava no ar quanto a vinda deles ao Brasil. Josh ficou doente e eles precisaram cancelar a turnê europeia. O vocalista tinha menos de um mês para recuperar-se para a viagem ao Brasil. Felizmente o músico ficou bem e tudo deu certo para que o grupo pudesse, então, cumprir a turnê pela América do Sul. Passaram pelo Chile, Argentina, Rio de Janeiro e concluíram com dois shows em São Paulo. A chegada ao Brasil ficou marcada pela caçada dos fãs atrás deles. A galera os perseguiu em aeroportos e hotéis mas, pouquíssimas pessoas conseguiram se aproximar dos garotos, que vieram com a segurança reforçada. Quem ganhou o coração dos brasileiros foi o simpático roadie Troy Castro. Ele fez as vezes de garoto de recados, entregando presentes e distribuindo muitas, muitas palhetas . As apresentações em São Paulo seguiram de forma diferenciada. Os garotos Josh (vocal), Jake (guitarra), Sam (baixo) e Danny (bateria) fizeram uma apresentação mais enxuta no festival Lollapalooza, realizado no autódromo de Interlagos, em São Paulo. O vocalista vestiu a mesma roupa vermelha que usou no Chile e na Argentina. O som não estava muito bom no começo, mas foi se ajustando ao longo da apresentação. Existiam dúvidas quanto ao que seria o show dos quatro meninos. Muitos queriam entender do que eles eram capazes. O side show em São Paulo foi algo bem especial. Fãs do Fã Clube Greta Van Fleet BR - 64 -


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passaram a noite na fila revezando-se para garantirem um bom lugar durante o show. Queriam estar na primeira fila e, assim, assistirem a tudo bem pertinho dos seus ídolos. Isto custou-lhes um dia todo de chuva na cabeça, mas tenham certeza que o sacrifício valeu a pena. A abertura do show ficou por conta da banda brasileira Far From Alaska. Com um som pesado e luzes fortes, a banda deu aquela aquecida na galera ensopada. Somente quando os instrumentos foram trocados e as luzes ficaram mais suaves, deu para sentir algo mágico acontecendo. O clima era “love and peace”.

Josh e Sam entraram descalços enquanto o outro irmão, Jake, usava sua tão surrada bota. Já Danny parecia ter ouvido o pedido das meninas, pois surgiu sem camisa e usando um colar bem grande. Eles entraram no palco esbanjando energia e apontando para as pessoas que já lhe eram familiares. A introdução foi com “Cold Wind” seguida de “Safari Song”. Josh então aproveitou a oportunidade para jogar rosas brancas para o público que estava encantado e curtindo bastante. Havia muita expectativa sobre esta - 66 -


apresentação por ser um show extra em uma casa lotada. Além disso, esta apresentação significava o encerramento da turnê. Com fãs extremamente devotos, era possível notar que o público tinha idade variada. Lá estavam desde os mais jovens que foram conquistados pelo ritmo e espírito do rock n’ roll até os mais velhos que queriam ver o que estava rolando no novo cenário. E com toda esta especulação, a molecada seguiu o show mostrando um som de muita qualidade e simplicidade. Concluindo o show, Jake assumiu o violão e Sam os teclados. Arrancaram lágrimas do

público com a balada “You’re the one”. A energia era tão grande que quando tocaram “Edge of Darkness” as luzes vermelhas fizeram com que as pessoas tivessem a sensação de estarem em um outro plano. Saíram do palco por uns instantes e voltaram com os hits “Black Smoke Rising” e a empolgante “Highway Tune”. Deixaram a promessa de um novo álbum e que, desta vez, buscarão conhecer as músicas da América do Sul, dos países por onde passaram. Só nos resta aguardar e ver o que eles vão aprontar desta vez. - 67 -


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Texto Aline Pavan | Fotos David Lago/Rudolph Hille

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riado em 2015, o Orthostat obteve seu “boom” na cena underground com o novo trabalho “Monolith Of Time”, lançado em janeiro de 2019. Hoje conversamos com o frontman David Lago (guitarrista e vocalista) para saber um pouco mais sobre este e outros projetos para este ano, confira! Muito obrigada pela entrevista, bem vamos lá, o Orthostat acabou de lançar seu debut álbum “Monolith Of Time”. Conte-nos, como vocês trabalharam na composição, produção e gravação deste trabalho? E a recepção, tem sido a esperada até agora? David Lago: Nós que agradecemos a oportunidade de falar com a Rock Meeting, e ter espaço de falar um pouco sobre nosso trabalho. Lançamos o “Monolith of Time” em janeiro de 2019, com 8 músicas. Dessas 8 músicas, 4 delas haviam sido compostas há mais de 10 anos, nunca haviam sido gravadas e foram remodeladas para sair oficialmente neste trabalho. Falando um pouco do processo de com- 70 -


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posição, já temos várias músicas prontas para um próximo disco. Geralmente eu componho o esqueleto das músicas, e elas são lapidadas nos raros ensaios que fazemos, até que fiquem prontas tenham sua dose de originalidade evidente. Os outros membros da banda, Rudolph e Eduardo são excelentes músicos, muito técnicos e aplicados, então, o processo de arranjos das músicas flui de uma forma muito natural. A produção do disco foi feita por mim e pelo Thiago Nogueira, amigo de longa data, desde a época que ele ainda era baterista do Headhunter D.C. (BA). Thiago Nogueira também gravou a bateria no álbum (quem já ouviu já viu o nível do trabalho dele. Definitivamente um dos melhores do país desde sempre). O disco foi gravado todo no meu home studio, e a bateria em SP. A recepção do disco está sendo excelente! Muito melhor do que imaginávamos. Orthostat é uma banda independente, então, geralmente a divulgação é um pouco mais complicada, porém, agradecemos ao Patrick da SangueFrio pela assessoria e apoio na divulgação do disco. A grande maioria do pessoal que curte death metal no esquema antigo realmente teve uma proximidade maior com o disco. Recebemos mensagens quase diárias no Facebook e Bandcamp da banda nos parabenizando e/ou solicitando CD, camiseta, shows, etc. Um fato interessante é que tivemos uma audiência muito grande em Portugal por algum motivo desconhecido, por essa realmente não esperávamos (risos). Aproveitando a pergunta anterior, qual a previsão para seu lançamento físico? Temos um lançamento físico através do selo Tales From the Pit Records que está no forno, deve sair oficialmente em meados de maio, disponível através do site do selo e diretamente - 72 -


com a banda (só chamar a gente no Facebook que respondemos). Temos dois lançamentos na Europa em selos diferentes em processo de negociação. Creio que em breve teremos algumas cópias girando a Europa também. Orthostat é um nome ‘diferente’ para uma banda de Death Metal. Fale um pouco sobre o nome da banda, e qual ligação que ele tem com as letras da banda? Orthostat faz referência a tipos de monumentos de pedra da antiguidade, geralmente utilizado para marcar territórios, como lápides para túmulos de guerreiros, e para gravar acontecimentos, como por exemplo o Orthostat dos abutres, que conta a história da vitória da guerra entre as cidades de Lagash sobre Umma, há mais de 4 mil anos atrás, sendo apresentado na letra da música “The Will of Ningirsu”. O conteúdo lírico do álbum “Monolith of Time” é todo voltado às civilizações antigas, seus costumes, seus deuses, suas guerras. Lendo algumas resenhas de “Monolith Of Time” podemos ver que muitos viram uma grande semelhança do grupo com as americanas Immolation e Incantation (e eu também), fale um pouco sobre as influências dos integrantes? Acreditam que o Orthostat possui grande influência da cena norte americana? Quando alguém me pergunta quais são minhas maiores influências no Death Metal, eu falo que são os “ations”. Incantation, Immolation, Suffocation, Obliteration, Encoffination... e a lista segue (risos). Mas, eu não diria que a cena americana é a que mais incide influência no nosso trabalho de forma geral. Gostamos muito das bandas dos países escandinavos, da Inglaterra, e aqui mesmo no Brasil temos várias influências. Mas concordo que o clima - 73 -


do nosso som é muito similar aos climas propostos pelo Incantation, Dead Congregation, Krypts, Disma, entre outras.

pedidos de amigos. Penso que os músicos evoluíram muito neste período de quase 4 anos, e isso se refletiu muito nas habilidades com poliritmos e execução de algumas partes mais elaboradas das nossas músicas.

Há uma grande evolução deste trabalho para a demo lançada em 2015, “Into The Orthostat”. A formação é a mesma? E a que você atribui esta evolução? A demo “Into the Orthostat” foi gravada com outro baterista e outro guitarrista, na época havíamos acabado de começar a ensaiar e fazer shows, e já queríamos ter uma demo em mãos, não só para ouvir como ficaria a nossa música gravada, como para atender a alguns

Fale um pouco da cena catarinense. Há muitos locais para shows? Há alguma banda nova que você indicaria? A cena catarinense tem uma história fantástica, e nos dá orgulho de fazer parte dela, porém, desde 2017, quando a crise mundial pegou forte por aqui, tivemos uma redução drástica na média de eventos. Antes tínhamos eventos de - 74 -


metal aqui onde vivemos (Jaraguá do Sul) ou em cidades próximas a nossa com uma frequência semanal, às vezes até tínhamos que escolher em qual show ir, hoje vemos um evento a cada 2 meses ou pior. Imagino que não deverá melhor por tão cedo, visto que, no que diz respeito ao nosso estilo de música, a postura (política) do nosso país agora é ainda pior. Temo quanto ao vazio que deverá suceder-se a essa provável decadência. Atualmente em Santa Catarina, meu show preferido é o da banda Volkmort, de Timbó. Recomendo para quem tenha a oportunidade de vê-los em algum evento, que assista o show

com atenção, e que busque sentir e entender o clima tenso da proposta musical deles. Visando aumentar a divulgação de “Monolith Of Time”, a banda pretende fazer um “algo mais”? Por exemplo, uma turnê europeia? Estamos abertos a oportunidades para turnê nacional e internacional. Temos alguns ótimos contatos para eventos na Europa, inclusive algumas perguntas de fãs sobre a possibilidade de shows em Portugal. Somos uma banda independente, porém responsável e competente. Sem dúvidas estamos prontos. Assim que - 75 -


nossas prensagens europeias (França e Macedônia) estiverem prontas e sendo distribuídas, sem dúvidas boas propostas chegarão.

novas, buracos negros ativos, fusões de estrelas de nêutrons, etc. Astrofísica e cosmologia sempre foi um assunto de grande interesse entre os membros da banda.

Quais os projetos do Orthostat para o restante de 2019? A banda já pensa em um novo álbum? Ou seria muito cedo falar disso ainda? Orthostat está em processo de mudança novamente, estamos prestes a anunciar a entrada do nosso novo baterista à banda. Atualmente estamos ensaiando para shows, inclusive com músicas novas no setlist. Já estamos com um novo disco em processo de lapidação das músicas. Deveremos iniciar as gravações ao fim deste ano, com lançamento a partir de março de 2020. Divulgo aqui em primeira mão que o disco novo será conceitual, e suas letras serão bem mais sombrias, falando sobre a vastidão do universo e sua eterna escuridão, assim como os eventos mais extremos, como super-

Muito obrigado pela entrevista. Deixamos este espaço para a considerações finais. Gostaríamos de agradecer em primeiríssimo lugar, a todos que apoiaram o lançamento do disco “Monolith of Time” na campanha que fizemos no Catarse. Agradecemos ao espaço cedido pela Rock Meeting, nos ajudando a divulgar o nome do Orthostat e o nosso álbum. Orthostat está na ativa e com muita inspiração. O disco novo será mais elaborado que o primeiro, porém, com uma aura ainda mais densa e arrastada. Um forte agradecimento às pessoas que sempre nos apoiaram, e que entendem o nosso som, nossa proposta e nosso propósito. - 76 -



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Texto e Foto Edi Fortini

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m festival feito e pensado em artes, manifestações e feminismo, o Garotas à Frente aconteceu em 20 de abril, no Fabrique Club em São Paulo. Com shows, exposições, lançamentos de livros e oficinas, o festival lotou a casa, mostrando que as mulheres apoiam cada vez mais quem tem posicionamento e defende suas causas. Estiveram presentes mulheres com oficina de stencil e lambe do Girls Rock Camp Brasil, um acampamento de férias musical para meninas de 7 a 17 anos, em Sorocaba e também outras exposições dos artistas Atóxico/Renata Nolasco, Solar Shana Precária, Jane Herkenhoff e o coletivo Guerrilla Girls. Nas atrações sonoras, o Bloody Mary Una Chica Band iniciou a noite, com sua única garota à frente com uma guitarra, uma bateria e um drinque (que dá nome à banda). Em seguida foi a vez da Sapataria, autointitulada dykecore dar o seu recado com suas letras que - 80 -


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falam sobre preconceito e aberrações políticas. As duas apresentações foram muito ovacionadas e foram um prato cheio naquela noite em que era possível ver uma plateia formada essencialmente por garotas se divertindo em segurança. Uma cena linda de se ver, porém ainda em falta nos palcos de um país em que o feminicídio vem crescendo a cada dia. Antes da atração principal, foi a vez de Ingrid Martins do Slam das Minas, que recitou os seus versos enquanto o palco era finalizado. Os versos foram pesados, porém necessários. Como atração principal da noite, por fim era a hora de conferir o coletivo Pussy Riot. Nos palcos brasileiros, o coletivo foi representado por sua líder e fundadora Nadezhda Tolokonnikova (Nadya) e por um integrante (de nome não identificado) que toca as bases de guitarra, baixo e programações eletrônicas. Mesmo que musicalmente as composições não impressionem, o contexto da apresentação estética do coletivo deve ser avaliado como um todo, o que faz muita diferença em tempos atuais, numa cena em que deveria haver mais atitude e menos conformismo. As Pussy Riot que foram presas em 2012 e soltas em 2014 não têm o hábito de se apresentarem juntas. De acordo com Nadya, a apresentação conta com performances audiovisuais novas dedicadas a temas políticos. Acerca de suas músicas, o coletivo se posicionou dizendo que “Ficamos meio confusos com o fato de que a maioria das músicas hoje são sobre festas e romance, enquanto só algumas poucas são dedicadas a temas importantes como a) mudança climática b) controle das armas c) prisão de ativistas políticos d) desigualdade estrutural e) sexismo f) policiais assassinos, brutalidade e abuso de poder adotadas por instituições públicas diariamente g) necessidade urgente de acesso para todos a boa educação e bons médicos e hospitais”. - 82 -


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