Rock Meeting Nº 109

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Eleição passional Vamos falar de política ou deixa para lá? Essa é a dúvida desde que a corrida presidencial iniciou e consigo velhos ‘hábitos’ retornaram, que apareceu em 2014 e agora mais uma vez. O Brasil é enorme por sua própria geografia, a maior escola eleitoral está no ‘meio’ do país, por assim dizer, mas o Nordeste foi culpabilizado pelo candidato da extrema direita não ter vencido. De novo a mesma ferida foi aberta e pudemos ver o quanto de gente do nosso meio destilou seu veneno na região que, dizem eles, ser a melhor para show, por ter os fãs mais fanáticos e sedentos pelo som. Observamos com muita tristeza tudo isso. Imagine só, somos nordestinos, defendemos a nossa região, temos ótimas bandas e públicos e somos atacados por uma galera que diz tanto gostar. A política cegou geral. Isso está parecendo época de Copa do Mun-

do, aparece a cada quatro anos. Não queremos alongar tanto no assunto que já está chato. Tantas amizades sendo desfeitas por conta disso. As pessoas estão muito passionais. Essa eleição está sendo passional. Racionalmente falando, ninguém usou o intelecto para analisar nada. De ambas as partes que estão indo para o segundo turno, ambos estão trabalhando no medo que está andando ao lado do ódio. Lamentável! Por fim, só gostaríamos de dizer uma coisa: Se você é do Rock e não entendeu que, até agora, ele é crítico ferrenho de qualquer governo e o fará sempre que tiver oportunidade, se você se doeu tanto assim, é porque, talvez, você nunca compreendeu nada. Rock é protesto sempre. Concorde ou não, mas respeite.


06 - Lapada - Roger Waters 12 - Live - Shaman 20 - Entrevista - One True Reason 30 - Skin - Parem 36 - Live - Samsung Best of Blues 42 - Live - Cannibal Corpse & Napalm Death 50 - Capa - Nightwish 60 - Entrevista - Adair Daufembach 74 - Live - Setembro Negro 88 - Review - VĂ­deo 98 - Entrevista - Viletale

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DIREÇÃO GERAL Pei Fon CAPA Alcides Burn Jonathan Canuto

COLABORADORES Bruno Sessa Edi Fortini Marcos Garcia Marta Ayora Mauricio Melo Renata Pen Samantha Feehily

CONTATO contato@rockmeeting.net www.rockmeeting.net


10/10/2018, três dias após o primeiro turno das eleições presidenciais. Ele marca, definitivamente, um dos piores períodos do Rock como um todo no Brasil. No dia 09/10/2018, o músico, durante o show que ocorreu no Allianz Parque, em São Paulo, diante de 45,5 mil pessoas, na execução da música “Eclipse”, surge no telão o lema “Ele Não”, usado no Brasil pelos grupos que se opõem à eleição do candidato Jair Bolsonaro. Além disso, houve a colocação do nome do mesmo como o representante do neofascismo no Brasil. Acredito que por meu passado e teor crítico da sessão, vão achar que quero detonar Waters. Não, nem me passou isso pela cabeça. Sendo sincero: tenho meu posicionamento político que não é de esquerda ou direita. Não sendo fã de Roger, seria fácil descer o malho, mas estou me acostumando com o pensamento militante dentro do Rock. Seja pró ou contra o que eu penso particularmente, a liberdade de expressão é direito de todos (aliás, sendo bem sincero: vou ouvir a discografia dele com muito carinho, já que chamaram minha atenção com essa overdose). E justamente nesse ponto é aqui que começa o problema. Vejam bem: o trabalho de Roger sem-6-


Foto: Camila Cara

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pre foi marcado pelo protesto, pela luta contra governos opressores. Inclusive “Animals”, um dos discos icônicos enquanto Roger estava na banda, tem um conceito que é um soco na cara de dois aspectos políticos diferentes: as ditaduras comunistas (em especial da de Stalin) e a extorsão capitalista dos direitos de muitos. Ou seja, é uma espada de dois gumes que não poupa os erros crassos de duas formas de política que são injustas, e onde quem se ferra é o povo. Só não vê quem é cego por ódio militante, seja ele de esquerda ou direita (sim, vocês militam pelo ódio, me perdoem a sinceridade). Ao mesmo tempo em que são críticas inteligentes, há algo que apoia o trabalho de Roger: a liberdade de expressão, umas das conquistas da democracia. Inclusive nesse fatídico show, ele fez um discurso muito bom, e tiro um trecho que achei maravilhoso: “Vocês têm uma eleição importante em três semanas. Vão ter que decidir quem querem como próximo presidente. Sei que não é da minha conta, mas eu sou contra o ressurgimento do fascismo por todo o mundo. E como um defensor dos Direitos Humanos, isso inclui o direito de protestar pacificamente sob a lei. Eu preferiria não viver sob as regras de alguém que acredita que a ditadura militar é uma coisa boa. Eu lembro dos dias ruins na América do Sul, e das ditaduras, e foi feio”. Eu endosso essas palavras, pois vivi 15 anos da minha vida sob o regime militar. Óbvio que me lembro dos governos de Geisel e Figueiredo mais abertos, e nada de Médici, um carrasco que matou muitos nos porões do DOI-CODI (eu era um garoto de -8-


4 anos quando ele deixou o poder, em 1974). A ditadura de Pinochet quase que afogou o Chile em tanto sangue inocente. Esse sangue pode ser de direita, esquerda ou o raio que os parta, mas ainda é sangue, e de vidas ceifadas sem motivação. E me perdoem: eu sou pró-Vida, contra o aborto (que me perdoem as feministas), mas contra a matança de pessoas jovens e adultas. Sou católico, logo, promover a dignidade da vida humana é uma obrigação (e ver cristãos de qualquer denominação apoiando quem usa discurso de ódio e preconceito nos discursos me vira o estômago). Peço licença aos leitores ateus/agnósticos ou de outra religião, mas minha crítica aos “cristãos” que apoiam assassinos: vocês REALMENTE leram os sagrados Evangelhos? Esqueceram-se das passagens da mulher adúltera, da pecadora que chorou aos pés de Jesus ou de São Dimas (o ladrão crucificado ao lado de Jesus), a quem ele prometeu o Paraíso? Senhores e senhoras, me resta dizer apenas: “ai de vocês, doutores da lei cegos e fariseus hipócritas!” Voltando, são dias negros para o Rock. Se nós deixamos de apoiar a liberdade de expressão (mesmo quando alguém nos torra a paciência), caímos na censura. Seja ela de esquerda ou direita, politicamente correta ou incorreta, é um erro. Roger falou algo que a liberdade de expressão suporta, e não foi discurso de ódio, pois não foi nada de “xô, hetero” ou mesmo “xô, gay”. Só nos pediu para termos consciência de nossos atos, e parafraseando um amigo meu de História, “a pior das democracias ainda é melhor que a melhor das ditaduras”. Nem mortadela, nem coxinha, apenas consciência. Não, não estou dizendo que deveriam ter votado em Haddad. Escrevo estas linhas antes -9-


Foto: Jose (Gazeta do Cerrado)

do segundo turno, e garanto que não voto em nenhum dos dois, pois representam dos aspectos negativos do passado: um acredita que o regime militar foi bom (foi, se você não fosse alvo dos militares e/ou acusado por alguém, sem direito à defesa), o outro quer o assistencialismo barato de volta (sim, pois os anos de Lula e Dilma se resumem a isso). Vou ser muito sincero: vou votar nulo, pois não confio igualmente em ambos, e não irei me sujeitar de novo ao ódio. Nunca mais. Gosto do ar puro fora da caverna. Também sei das agressões ocorridas por causa da eleição, antes e depois. Nunca me senti tão sem esperança de dias melhores para o país. Ainda mais vendo bangers apoiando atitudes que magoam, machucam e tiram a vida de outros seres humanos.

Eu me sinto triste. Antes, o discurso de Roger e mesmo o “ele não” seria visto com neutralidade; hoje, uns aplaudem, outros odeiam. Há até uma questão no Reclame Aqui. Pode ser fake, mas se for verdade, é o cúmulo da estupidez humana. Sinto-me triste... Cada dia mais triste... Mas tenho a esperança que, apesar de tanta escuridão, uma luz irá brilhar e salvar a todos nós, e nem falo no sentido religioso... Em tempo: em desagravo à ofensa feita aos eleitores do Nordeste por certos músicos, eu fico pasmo com o nível de ignorância que aparece a cada dia. Só quem nunca esteve por lá diria algo assim, pois as praias, o povo e as belezas do Nordeste são maravilhosos (e me permitam elogiar a beleza da mulher nordestina). - 10 -



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Texto Renata Pen | Foto Thiago Almeida

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inalmente o Shaman resolveu atender aos chamados que ecoavam por todos os cantos e, para o delírio dos fãs, voltou com sua formação original, o maravilhoso line-up que não se apresentava junto havia doze anos: André Matos (vocal), Luis Mariutti (baixo), Hugo Mariutti (guitarra) e Ricardo Confessori (bateria), deixando todos em estado de êxtase! Com o anúncio da reunião inicialmente em noite única, os ingressos rapidamente se esgotaram, causando espanto geral e levando à decisão de abrir uma data extra, também na Audio. O intuito era apresentar os clássicos Ritual (2002) e Reason (2005). Promessa cumprida! Dividido em variadas idades, o público ia de fãs mais antigos a mães acompanhando as filhas, incluindo, por incrível que pareça, até uma freira, postada na pista e despertando a curiosidade alheia por não ser nada comum ver alguém ‘assim fiel’ em um show de metal. - 14 -


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Quanto à apresentação em si, primeiramente foi passado um vídeo contando um pouco da história do grupo, às 20h. Na sequência, os quatro músicos e o tecladista Fábio Ribeiro vieram ao palco e o primeiro álbum a ser tocado foi Reason, um álbum bem mais trabalhado, no sentido de técnicas musicais usadas no metal melódico, com todo o conjunto de arranjos que fez este lançamento ter a sonoridade tão característica do Shaman. André Matos mostrou o porquê de sua participação ser tão esplêndida, como notado e Rough Stone, por exemplo, na qual, junto a seus parceiros Luis e Hugo, fez todos viajarem no tempo com a mesma energia de outrora. Já Ricardo e suas ‘baquetadas’ seguem inigualáveis, com destaque para sua performance em Iron Soul. A primeira parte do show ia se encerrando quando André dirigiu as primeiras palavras ao público e discorreu sobre a rápida venda dos ingressos, garantindo não fazer ideia que isso aconteceria. Agradeceu aos fãs porque, segundo ele, o presente era o futuro de antes e só estava acontecendo por causa de quem ali estava. E destacou que o que era pra ser apenas uma reunião tornou-se uma turnê. Então o cantor foi até seu piano, com os cabelos esvoaçantes, e o grupo tocou o clássico Born To Be, cantado pelos fãs, completando a magia. Para a segunda parte, reservou-se Ritual, com seus elementos distintos como a mesma flauta pã usada anos atrás, levando o espírito indígena até os presentes. Ancient Winds arrancou suspiros em sua introdução, mas foi com Here I Am que a casa pareceu ter chegado à alegria máxima – mesmo com mais clássicos ainda por vir – pois com a banda entrosada,

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passava-se essa harmonia a todos. Distant Thunder contagiou e era impossível ver alguém que não estivesse cantando-a a plenos pulmões. Então tocaram o que podemos de chamar de um hino do metal nacional: For Tomorrow, lindamente interpretada, para nunca mais ser esquecida. Over Your Head foi tão precisamente tocada por Ricardo que deixou todos de queixo caído, pois era impossível não ficar olhando sua magnífica performance e admirá-lo pela maneira como a reproduziu. Porém, existe uma música em Ritual que é especial: Fairy Tale, executada com tamanha perfeição que foi de emocionar. Para terminar, André apresentou os músicos, saudando-os e falando sobre a importância de cada um dos fãs para o Shaman, sob aplausos gerais, com a confiança de que tudo havia dado certo e com todos pedindo para que o conjunto gravasse um disco novo. Então o vocalista colocou as mãos no peito, parecendo levar a sugestão em consideração. Para a última música, Pride, originalmente gravada em dueto com o grande amigo Tobias Sammet, o Shaman aprontou uma surpresa: com a impossibilidade de trazer o alemão para prestigiar a festa, a saída encontrada foi substituí-lo convidando outro ótimo artista: Bruno Sutter, um dos melhores cantores do metal nacional, em magnífica apresentação. E com chuva de papéis brancos picados, trazendo mais magia e alegria ao ambiente, os cinco músicos foram à frente do palco para agradecer, palhetas e baquetas foram distribuídas e os músicos se despediram, com a certeza de que a reunião não era um fim e sim um recomeço.

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Texto Samantha Feehily | Foto Pedro Henrique

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om 15 anos de carreira, o quinteto do One True Reason lança seu terceiro álbum intitulado, Defiance, pelo selo Artico Music. Disponível nas principais plataformas digitais, o álbum conta com 10 faixas de puro Hard Core. Batemos um papo com o baixista, Guilherme Silveira e o vocalista Diego Gringo, que contaram sobre o novo trabalho, “musicalmente, o Defiance foi concebido durante os ensaios e ele é uma mistura das influências dos cinco membros. Na questão das letras, a inspiração foi os tempos sombrios em que estamos vivendo e como é importante não se calar ou ser conivente com a situação. Se no “The Art Of Survival” a gente falava sobre resistir e sobreviver, no Defiance agora falamos sobre partir pro ataque. Sobre revidar, tomar postura mais agressiva contra toda a loucura que está tomando conta do mundo”, contam. A gente tá vivendo num mundo de merda, cheio de preconceitos, galera brigando por político A, B ou C, cheio de intolerância, como vocês enxergam isso e o que o Defiance representa no meio - 22 -


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disso? A política sempre foi polarizada no Brasil, e agora na era da internet isso só piorou. As pessoas preferem tomar partido de A ou B a de fato entender o plano de governo dos candidatos. Fato é que ali não tem nenhum salvador. Estão todos jogando o jogo da política e dos interesses daqueles que financiam as campanhas, fazendo o povo acreditar que têm alguma escolha. Porém a briga é válida, especialmente, quando se trata de não deixar candidatos com discursos de ódio chegar ao poder. Não há espaço para machismo, racismo, xenofobia e intolerância. De todas as músicas do Defiance, qual a que mais representa o momento em que vivemos? A gente escreve e canta sobre o que nos cerca, a nossa área de atuação ou de influência, várias músicas do disco poderiam estar nessa resposta, mas infelizmente a música que mais representa o momento é a “In This Hell”. Essa música conta com a participação do Andrew Neufeld, vocalista da banda canadense Comeback Kid e refrão da música diz: “O ódio está tomando o melhor de nós. Esperanças perdidas, sonhos falsos. Tudo que vejo é empatia por ninguém, preconceitos contra todos. Equívocos enraizados aprisionando sua mente.” Guilherme passou dois anos fora do Brasil e mesmo assim a banda não parou, “morei em Toronto por 2 anos e antes de ir nos reunimos e planejamos o possível”. A banda seguiria o ritmo normal de atividades, arrumamos um baixista temporário para os shows que fossem rolar, mas de forma geral o objetivo era começar a programar e compor - 25 -


ideia, uma música, merchandising, show, etc. Foi basicamente uma questão de se adaptar a não estar presente fisicamente.

o que viria a ser o Defiance. Na banda, somos todos muito participativos e com voz ativa e mesmo à distância, participei o máximo que pude da composição, mas só foi possível entender tudo quando voltei do Canadá. Retomamos os ensaios com os 5 integrantes, finalizamos algumas músicas juntos e os retoques finais dos sons que já haviam sido feitos. No fim das contas acabou funcionando bem para todos nós. O One True Reason sempre foi uma das maiores constantes na minha vida (já são 15 anos) e embora eu não tivesse saído da banda ou parado de tocar baixo, fazer isso de lá não é a mesma coisa. O bacana é que nos falávamos todos os dias, seja para discutir uma

Como está sendo a aceitação do público com o Defiance? Melhor do que eu esperava. Primeiro porque a forma como as pessoas consomem música mudou, hoje em dia é bem diferente. Existe o streaming, a internet e a quase infinita acessibilidade às informações na ponta dos dedos o dia todo. O que faz com que as coisas acabem se tornando efêmeras, é a lógica do feed infinito. Você ouve uma música, curte uma foto, compartilha uma notícia e no fim acaba não - 26 -


retendo nenhuma informação ou sentimento referente a tudo aquilo. Achei que isso poderia influenciar e acontecer com o disco novo, mas foi diferente. Apesar do disco ainda ser considerado novo, teve um impacto positivo para a banda e o momento que vivemos nela. Abriu várias portas, reaproximou pessoas e também chegou em muita gente nova. Sem contar as possibilidades que vão surgindo de tour no Brasil e até mesmo fora. Então me parece que a receptividade ao Defiance foi bem positiva.

ra, acreditamos que precisa existir uma evolução mesmo que mínima. Entre os dois discos com certeza nós mudamos ou evoluímos como pessoas e isso acaba refletindo na banda também. Os dois discos tem conceitos que representam bem a época que forem feitos. No The Art Of Survival a banda estava passando por algumas mudanças na formação, baterista novo, o Diego tinha acabado de assumir o vocal e eu estava me preparando para sair do Brasil. Era um momento diferente e o disco reflete isso. No Defiance também houveram mudanças mas menos drásticas. Voltamos a ter 5 integrantes na banda e pudemos gravar o disco com dois guitarristas. Estamos mais

O que mudou entre o The Art Of Survival e o Defiance? Embora a banda tenha uma identidade sono- 27 -


maduros musicalmente e todo mundo tem seu papel bem estabelecido. Eu particularmente gosto dos dois discos, e acredito que eles têm muito em comum. A essência é a mesma, energia, mensagem e agressividade. Precisamos falar da evolução do Gringo, como foi acompanhar de perto essa transição da batera pro vocal? Antes de cantar no One True Reason ele foi o baterista da banda e gravou nosso primeiro disco ‘Confessions’ (2007) e o split ‘Kings Can Fall’ com os franceses do Providence (2011). Sendo bem franco, trocar de instrumento não é algo simples e ele fez isso em um momento que a banda realmente precisou. O Diego assumiu a responsabilidade de ser o vocalista e fez isso em todos os sentidos, escreve bem, canta bem, é envolvido em tudo que se refere a banda e além disso tudo é um dos meus melhores amigos. Não consigo ver ele fazendo outra coisa além de cantar, embora um ensaio ou outro ele senta na bateria para matar a saudade. Qual foi a sensação de gravar o clipe da Reprisal no Ouvidor 63? De responsabilidade. Queremos levar a mensagem daquelas pessoas da forma mais genuína e verdadeira possível. Representar a importância que iniciativas como a do Ouvidor têm para sociedade, seja cultural, artística ou pessoal é algo muito foda e o resultado é bem fiel a isso, não poderíamos estar mais orgulhosos. Podemos esperar um cd em português? Quem sabe?! Um CD completo eu não diria, mas uma música ou outra com certeza. Cantar em inglês nunca fui uma obrigação para nós, somente uma parada mais confortável. De repente tá na hora de sair da zona de conforto e começarmos a espalhar nossa mensa- 28 -


gem na nossa língua. Como vocês enxergam a cena de hoje em dia? Essa pergunta é delicada. Costumo conversar com vários amigos sobre isso e o consenso é que a cena hardcore é cíclica (ao menos na nossa visão que faz um tipo de som mais pesado) e vive momentos diferentes de público, existência de bandas, quantidade de shows, engajamento social, etc. Embora nada disso tenha deixado de existir hoje em dia, para variar, as coisas são diferentes. Existem mais facilidades para se criar uma banda, marcar shows, tours. E em contrapartida há dificuldades que resvalam na sobrevivência do gênero, por exemplo, as mensagens e a participação das pessoas, seja apoiando ou entendendo aos por quês do dia a dia. Vivemos uma época em que interagir, participar e comunicar são mais importantes do que julgar e virar a cara. O hardcore está vivo, mas precisa ser mais vivido e menos observado através de telas de computador ou de celular. E para finalizar, deixa um recado pra galera e o que esperar do OTR daqui pra frente. Primeiro quero agradecer você e a Rock Meeting pelo tempo e interesse em conversar conosco, e também a todos que de alguma forma apoiam o hardcore. O One True Reason como o nome diz, é a nossa verdadeira razão, nosso propósito é poder dar algo para que as pessoas vivam melhor, seja através da mensagem nas letras ou da energia contida na música. Vá aos shows, gaste energia no que te faz bem e tenha mais empatia pelos outros. Cada um tem a sua luta, não seja babaca e espalhe mais positividade.

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Por Samantha Feehily (Wonder Girls )

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ão há nada pior do que receber um comentário (é para o seu bem... blá blá blá..) sem ser solicitado. Eu sou adepta da frase: Não aceite críticas construtivas de quem nunca construiu nada! Reflitam... Ao ter amizade com alguém é comum que tenhamos muita liberdade e intimidade para dizer qualquer coisa, seja algo para a pessoa da qual você é amiga ou ainda algo sobre alguém que vocês conhecem. Mas será que a liberdade das amizades mais íntimas permite dizer qualquer coisa mesmo? Comentários direcionados a mulheres, principalmente, tendem a ser cruéis, visto que a sociedade cobra um padrão ideal de beleza e de comportamento que muitas vezes é refletido em certos comentários. A rivalidade feminina, infelizmente, ainda é uma realidade e é reforçada quando uma mulher diz cer-

tas coisas para outra ou ainda sobre outra. Com certeza muitos desses comentários são feitos com a melhor das intenções e com o intuito de apenas ajudar, porém, pensar duas vezes antes de fazer determinado comentário é válido para não magoar a pessoa que está ouvindo. Alguns comentários sobre como a pessoa deveria se vestir, fazer regime ou não, se portar em determinadas situações, entre outros, são mesmo necessários? Vale a pena refletir. O intuito não é criar regras sobre como uma amizade deve ser ou sobre coisas que você não deve falar de jeito nenhum, mas sim apontar algumas frases que podem ser problemáticas. Tentar impor sua própria vivência para outra pessoa a partir de comentários sobre o que é certo para você não é legal, porque isso pode não ser o certo para aquela pessoa. - 30 -


Faicy Stephane

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Vamos lá... Homem prefere mulher difícil - Isso é um tipo de frase que se construiu socialmente nos alicerces de uma cultura machista e patriarcal. É ensinado a menina desde cedo que ela precisa aprender a fazer jogos e a não expressar seus desejos para ter um homem. É preciso parar de dizer isso a uma amiga para que não se perpetue uma crença tão distorcida como essa. O que é ser difícil e o que é ser fácil? Não acredito que você transou no primeiro encontro - Uma frase como essa vem acompanhada de julgamento moral. De certa maneira você está desvalorizando uma amiga por fazer sexo no primeiro encontro baseado em argumentos que talvez não se encaixem nela. Quem tem que decidir se transa ou não e quando é a própria pessoa. Os homens se divertem com as mulheres erradas para depois se casarem com as certas - Essa frase é machista e rotula a mulher. Não existe uma expressão de feminino que seja certa e outra que seja errada. Reproduzir algo assim é validar crenças que depõem contra todas as mulheres. “Você devia parar de trabalhar, desse jeito nem vai ver direito seu filho crescer” Não se deve dizer isso a uma amiga porque ambas as coisas lhe devem ser caras. Tanto o trabalho como o crescimento dos filhos provavelmente são importantes. E o fato dela trabalhar não significa que ela não vai acompanhar o desenvolvimento dos filhos de perto. Uma coisa não exclui a outra. Seu namorado/marido deixa você sair sozinha? - Dizer isso pode dar a impressão de que o marido da amiga não é zeloso, o que não tem nada a ver. E também pode passar a impressão de que se ela sair sozinha pode trazer complicações para a relação.

Você vai mesmo largar tudo e ficar em casa cuidando de filho? - Dizer isso é julgar a escolha do outro, como se fosse errado optar por ficar em casa e cuidar dos filhos, como se isso não fosse um trabalho, mas é sim, e exaustivo. Cabe a cada um decidir por aquilo que é melhor. Sai vestida assim e não quer que mexam na rua? - A roupa que sua amiga escolhe vestir não é da sua conta. Pertence à individualidade dela. Dizer isso reforça a crença de que o assédio sexual ocorre por culpa da mulher. Se você não se cuidar, ele arruma outra - Dizer isso pode ofender, pois é uma fala grosseira e ameaçadora. Se uma amiga está se descuidando o melhor a fazer é buscar ajudar, perguntar, estar disponível para escutá-la. Frase usada, geralmente, para culpabilizar uma mulher pela traição do homem ou ainda para afirmar que a mulher deve atender todos os caprichos do companheiro se não quiser ser substituída. Essa frase é muito problemática e deve ser extinta do vocabulário por inúmeros motivos. Não é responsabilidade apenas da mulher cuidar do relacionamento, portanto ninguém é culpada por ser traída. Se a sua amiga foi traída e você disser essa frase para ela, provavelmente só servirá para que ela fique ainda mais deprimida. Nós mulheres já nos culpamos indevidamente demais por diversas coisas que acontecem, não precisamos que outras mulheres nos culpem também. Ao conversar com uma amiga traída jamais diga algo que faça entender que a culpa foi dela. Você tem um rosto lindo, por que não emagrece? - Quando você diz isso a uma amiga você fala que o corpo dela não é bonito. Algumas mulheres gostam do corpo que possuem, mesmo não estando dentro dos pa- 32 -


Ari Pacheco

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Samantha Feehily

drões estéticos atuais. Responda apenas se ela lhe perguntar, somente se ela lhe pedir opinião, e tome cuidado com a crítica destrutiva na hora de falar. Se você não fosse tão exigente, já tinha arrumado alguém - Dizer isso a uma amiga pode não ajudar muito, pois ser exigente pode ser tanto uma qualidade como uma forma de defesa contra se envolver. E se for defesa é preciso, de alguma maneira, tentar abordar isso com ela e ajudá-la nessa esfera. Você precisa cuidar mais do seu corpo se quiser conquistar alguém - Ao dizer essa frase para uma amiga solteira que está procurando alguém, você está afirmando que ela só está sozinha por causa de seu físico e também afirma que mulheres só podem entrar

em um relacionamento se seus corpos corresponderem ao padrão de beleza. Outro ponto é que mulheres solteiras não necessariamente estão procurando por um relacionamento e estar solteira não significa infelicidade. É um grande erro achar que todo mundo depende de estar com alguém para estar feliz, se ela quer estar sozinha respeite isso. É melhor ter amigo homem do que amiga mulher, porque mulher é falsa - Essa frase reforça a ideia de que amizades entre mulheres são superficiais e sempre há competição, inveja e falsidade, o que não é verdade. Somos ensinadas a competir umas com as outras desde pequenas, pela publicidade e até por quem nos educa, mas isso precisa acabar. Amizades entre mulheres não só são - 34 -


possíveis como também podem ser incríveis. Amizades entre homens e mulheres também podem ser incríveis. A diferença é que a vivência de homens e mulheres é bem diferente em muitas coisas, portanto, ter amigas mulheres é ter com quem compartilhar vivências similares. Se alguém compartilha a mesma vivência com você é muito mais provável que aconteça empatia. Você precisa ser difícil para conquistá-lo - Não existem regras a serem seguidas na paquera, já que ela não consiste em um jogo. Cada mulher sabe o que é melhor para si no momento de paquerar, portanto, não imponha regras para que sua amiga siga. Não fica triste, você é bem mais bonita do que ela - A frase acima é dita geralmente

quando uma mulher “perde” um homem para outra mulher, no intuito de levantar a autoestima da amiga. Dizer isso é problemático porque afirma que todas as qualidades de uma mulher devem se resumir em quão bonita ela é, além disso, a frase também afirma que a outra mulher não merece o homem em questão por não ser tão bonita quanto sua amiga. Quando percebemos o quanto alguns comentários podem ser problemáticos, nos concentramos mais em elogiar as mulheres queridas do que julgar. Quando julgamos uma mulher desconhecida perdemos a oportunidade de fazer amizades incríveis. A competição feminina é prejudicial para todas e precisa acabar. Portanto, ame suas amigas (e inimigas) sem impor regras e sem julgá-las. - 35 -


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Texto Camila Franco | Foto Bruno Sessa

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riado para ser palco de gêneros como o blues, o próprio rock, e o jazz, o festival foi realizado na plateia externa do auditório do Ibirapuera e contou com diversas atrações dentre elas as mais notáveis Tom Morello (Rage Against The Machine e Audioslave, Prophets Of Rage) e John 5 (ex Marilyn Mason e atualmente no Rob Zombie). Isa Nielsen e Camarones Orquestra Guitarrística também foram atrações no palco desse domingo. A primeira atração no palco foi Isa Nielsen, guitarrista brasileira que já tocou com o Detonator e em primeira mão revelou na coletiva de imprensa antes do show sua saída do Metalmania, banda da qual fazia parte. Mesmo tendo problemas com a sua guitarra logo na primeira música mostrou a que veio e animou o público com suas músicas autorais. Os brasileiros do Camarones Orquestra Guitarrística, banda conhecida por fazer um rock instrumental e dançante animou a plateia - 38 -


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do Ibirapuera e saiu de lá com novos fãs após uma apresentação animada e contagiante. Tão logo entrou no palco John 5, segunda maior atração da noite. Com poucas palavras, ou melhor nenhuma por assim dizer, executou o set-list que além de músicas autorais incluiu um medley de bandas como Metallica, Alice in Chains e Rage Against The Machine, nesse momento houve quem acreditou que Tom poderia entrar no palco e daria uma “palinha” com o músico. John 5 se despediu do público e antes de sair do local concedeu aos fãs fotos e autógrafos. Tom Morello, último a se apresentar, esquentou o público na noite fria do domingo, não só com a sua música e com uma apresentação repleta de hits conhecidos, mas também homenageando o companheiro de banda Chris Cornell e assim como em Porto Alegre, o músico novamente ergueu a guitarra para mostrar o pedido de justiça para Marielle Franco. Durante a coletiva de imprensa, Tom contou aos repórteres que a atitude trata-se uma demonstração de solidariedade e apoio aos brasileiros que lutam pelos pobres, pelos trabalhadores e pelo meio ambiente. E completou dizendo que é por esse motivo que também faz música, mas revelou quando perguntado não se interessar em concorrer a cargos públicos e nem intenções de enveredar na política, segundo o artista após trabalhar três anos com um senador ele entendeu como o dinheiro influencia a democracia.

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Texto e Foto Pei Fon

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pós uma longa turnê pelo Brasil, nove cidades ao todo, Cannibal Corpse encerrou a sua passagem por Recife, em Pernambuco, elevando o seu nome e fidelizando ainda mais seus fãs. A tour ‘Red Before Black’ foi do Norte ao Sul do Brasil e a Rock Meeting acompanhou o último dia, no Baile Perfumado. O show foi em conjunto com o Napalm Death, banda britânica bastante conceituada que passeia pelo gosto musical do fã da música pesada.

NAPALM DEATH

Os britânicos foram pontuais e subiram ao palco para fazer a galera dançar no Baile. Era a primeira vez que eles estavam pisando em terras pernambucanas, e logo caravanas das cidades próximas não hesitaram em estarem presentes nesse dia único e histórico. Como o Napalm versa pelo hardcore/ crossover, o mais rápido que conseguem tocar, logo as rodas começaram a aparecer e a galera estava lá extravasando a sua energia. E não foi pouca. - 44 -


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Duas dúzias de músicas foram tocadas. Parece muito, não é? Mas não quando se tem música de até 2 minutos, dá para tocar isso tudo mesmo. Foram tantas que fica até difícil de enumerar, mas os pontos altos foram “Multinational Corporations”, por iniciar os trabalhos, e os covers de Anti Comex (Victims of a Bomb Raid) e de Dead Kennedys (Nazi Punk Fuck Off). Diante do que estava previsto, o Napalm Death acabou com a galera e aqueceu o povo para o destaque daquele dia, Cannibal Corpse.

CANNIBAL CORPSE

Ter uma banda como o Napalm Death na abertura é correr o risco de eles sugarem a energia do público e fazer com que ele descansasse no show ao invés de ir para o meio da roda. Eles provaram um pouco do ‘veneno’. Em 2015, eles vieram junto com o Testament, abriram o show, e foi um massacre. A galera ficou exausta e não teve o mesmo desempenho para o headliner. Pela segunda vez em Hellcife, os americanos do Cannibal Corpse sentiram o calor do povo e do clima também. Mas não pareciam estar incomodados. Nem parecia que era fim de festa, já que era a última cidade da turnê brasileira. Pelo contrário, é como se fosse o primeiro dia. Era visível a satisfação deles no palco. Tocando músicas do seu recente álbum, ‘Red Before Black’, eles iniciaram o show com três canções que iniciam o CD, mas em ordem diferente: “Code of the Slasher”, “Only One Will Die” e “Red Before Black”. Passeando por sua longa discografia, em seus 30 anos de existência, o início foi bem meticuloso, infinitamente técnico, o que fez a galera descansar e apreciar a qualidade do som. - 46 -


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Cannibal Corpse é referência em seu estilo e é extremamente técnico. Você consegue ouvir todos os instrumentos, a melodia e quão disciplinada a banda é no tempo de cada música. Destaco sempre o baixo comandado por Alex Webster, o melhor na sua área. Ou seja, é uma verdadeira aula de Death Metal! Voltando ao show. Na metade das 17 músicas programadas, as rodas começaram a ganhar força, porém foi realmente insana a parte final da apresentação. O quarteto com “I Cum Blood”, “Make Them Suffer”, “Stripped, Raped and Strangled” e “Hammer Smashed Face” foi o ápice que a galera tanto aguardava. E foi possível ver essa reação por estar do lado de uma das rodas: a expressão das pessoas era das mais diversas, mas todos, todos, sem exceção, estavam deixando ali suas angústias, medos, desejos e aproveitando de coração aberto aquele momento. Dificilmente vemos o vocalista George Corpsegrinder falante. No Recife ele conversou bastante com os fãs. Comportamento diferente. O que podemos presumir é que estava gostavando do que via lá do palco. Não só ele, como o baterista Paul Mazurkiewicz. Outro que dificilmente demonstra suas emoções, nada além do convencional. Bom, podem repetir a dose numa próxima ocasião. Voltem o mais breve possível!

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Texto e Fotos Pei Fon

E

screver sobre uma boa experiência é manter viva a emoção do que se viveu. A ansiedade do dia se aproximando, de não esquecer nada para o grande momento, do coração batendo forte, da voz embargada, daquele brilho no olhar. O único show do Nightwish, da turnê ‘Decades Tour’, no Brasil, aconteceu em São Paulo, no dia 28 de setembro, num Tom Brasil lotadíssimo. ‘Sold out’ com dois meses de antecedência, a apresentação do sexteto era aguardada com muita expectativa pelos fãs mais sedentos. O tal brilho no olhar era possível ver nos muitos que se espremiam na linha de frente, até para essa que vos escreve também. Estar no show da banda que se ama tanto é inexplicável, só quem já passou por isso entende muito bem esse sentimento. Infelizmente foi para poucos. A venda dos ingressos aconteceu ainda em maio, e em algumas horas os principais lugares estavam - 52 -


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esgotados; isso em todos os lotes disponíveis. Restavam 5% e foram vendidos com dois meses de antecedência. Ou seja, não deu para quem quis. Com a aproximação do show, algumas pessoas foram desistindo e vendendo o seu ingresso. Bom, tristeza de uns, alegria de outros que puderam comprar de última hora.

DELAIN

Para uma abertura de luxo, a banda holandesa Delain iniciou os trabalhos. Com um setlist curto, mas aproveitando a ótima oportunidade, Charlotte Wessels e sua trupe conquistaram os fãs. Muitos ali nunca tinham ouvido Delain antes, outros pouco conheciam. Ou seja, Charlotte levou consigo mais fãs brasileiros, já que, em 2019, retorna junto com os conterrâneos do Vuur, liderado por Anneke van Giersbergen. Tocando músicas dos mais variados álbuns, Delain agitou bastante e aqueceu os ansiosos pelo Nightwish. Entre as tocadas estão: “Hand of Gold”, “Suckerpunch”, “The Glory and the Scum”, “The Hurricane”, “Fire with Fire”, “Mother Machine”, e “Don’t Let Go”. No momento, vale até uma palavrinha a mais sobre sua frontwoman, Charlotte. Na versão loira, muito bem vestida, e impecavelmente linda, ela foi graça, brincalhona, beleza e presença de palco impressionante. Charlotte ocupava todos os cantos possíveis, sempre interagindo com a galera próxima à grade e fitando os mais distantes com seu olhar bem azul. Voltando. Como abertura de luxo, também puderam contar com uma participação de luxo. Marco Hietala, baixista do Nightwish, deu uma palhinha na música “Sing to me” e a galera não achou nada ruim, só fez crescer a vontade de vê-lo logo mais. O dueto foi muito melhor ver e ouvir do que no CD. - 55 -


Por fim, a banda fechou a sua apresentação com “We are the others”, canção emblemática em homenagem a britânica Sophie Lancaster, assassinada aos 17 anos, por ser ‘diferente’. De fato, todos do Heavy Metal, ‘somos os outros’ na sociedade. Essa música representa bem o que sentimos! NIGHTWISH Pontualmente às 22h, daqueles vinto e oito dias de setembro, uma sexta-feira não muito louca, o sexteto iniciou sua apresentação mostrando algumas imagens no telão. Uma delas pedindo para o público não usar o celular. Nesse momento, a geral começou a vaiar, afinal, hoje ninguém assiste mais o show, filma, né, mesmo? Faz uma live nas redes sociais. No entanto, a mensagem é bem clara: não perca seu tempo com o celular e desfrute do show intensamente. O primeiro a entrar é Troy Donockley tocando “Swanheart”, do álbum ‘Oceanborn’. Nessa introdução, Troy contou com a palhinha dos fãs cantarolando a música. Logo depois todos foram ocupando seus lugares e iniciaram com “End of All Hope”. A energia já estava no extremo e o reflexo era percebido com o que voltava do palco. Se houvesse um medidor, certamente teria quebrado com as explosões emocionais dos mais variados jeitos. “Wish I Had an Angel”, que antigamente fechava o setlist, veio como a segunda música. Dessa canção só se espera o melhor sempre. Clássico do Nightwish, não decepcionou ninguém. Floor Jansen estava impecável, usando até a mesma vestimenta do Wacken 2018, bastante elogiada na ocasião. Aí veio a tríade das músicas bem antigas: “10th Man Down”, a lindíssima “Come Cover Me” e “Gethsemane”. Tirando “Come Cover Me”, as duas músicas foram tocadas - 56 -


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ainda no tempo em que Tarja ainda estava na banda e foi um belo presente para os fãs. Logo depois vieram “Élan” e mais outros três apanhados antigos que fizeram a galera se emocionar de verdade. “Sacrament of Wilderness”, “Deep Silent Complete” e “Dead Boy’s Poem”. Uma jam abriu os trabalhos para seguir o setlist que veio com uma antiguíssima, “Elvenpath”. Depois uma fase pós Tarja: “I Want My Tears Back” e “Amaranth”. Todos já sabiam o setlist do show, porém, duas músicas surpreenderam a todos, “The Carpenter” e “The Kinslayer”. Nunca na vida o fã do Nightwish pudesse esperar essas duas músicas. Bom, fã que é fã sabe que “The Carpenter” foi cantada por Tuomas Holopainen, tecladista e o cara responsável pela banda. Ele já tem tantas atribuições na banda, não precisava cantar, né, mesmo? Como o bom fã sabe, é melhor ele compondo e tocando. Obrigada Troy! (risos) “Devil & The Deep Dark Ocean”, “Nemo”, “Slaying the Dreamer” vieram em sequência. Destaque para os vocais da Floor em Devil. A galera cantando em Nemo. E a força que ‘Slaying’ tem. Que música enérgica! Impossível não banguear. Por fim, a enorme “The Greatest show on Earth”, tocada na sua versão full. E a emocionante e a mais querida, “Ghost Love Score” fechou a noite. Sem palavras para explicar quão incrível é essa música. A sensação que ficou é de estar plenamente emocionada. A experiência sensitiva que esse show causou dificilmente será esquecida. É um verdadeiro espetáculo. E já estamos aguardando o novo álbum, que tem previsão de sair em 2019. Ou seja, voltem o mais breve possível, já estamos com saudades!

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Texto Pei Fon | Foto Divulgação

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mundo da música é maravilhoso, mas você sabe quem são os personagens por trás desse processo? Ok, a banda é um deles. Mas quem diz o que é bom ou não é o produtor musical. O seu papel é de fundamental importância para que a banda transmita o som que estão buscando, que dê a cara que precisa. Então, convidamos o produtor Adair Daufembach para falar um pouco do seu trabalho, da sua experiência e o que espera do futuro. Acompanhe! O Brasil é imenso e talvez tenha alguém que não lhe conheça. Por favor, apresente-se. Olá, meu nome é Adair Daufembach, eu sou um produtor musical brasileiro que atualmente mora e tem um estúdio em Los Angeles. Eu já trabalhei com bandas e artistas como Project46, Hangar, John Wayne, Tony MacAlpine, Dirk Verbeuren entre muitos e muitos outros. Eu acredito que um produtor é definido pelos seus trabalhos, então esses são apenas alguns dos trabalhos que eu fiz e se você não me conhece convido a entrar no site e saber mais sobre, ficarei honrado. Ouvir música é relaxante, terapêutico e - 62 -


Ilustração: Jonathan Canuto

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segue com infinitos benefícios. Mas até chegar ao produto música, muita coisa acontece. O que o produtor musical faz? A figura do produtor musical mudou ao longo dos anos. Há uns 20 anos atrás ainda era comum se ver uma divisão nítida entre o produtor musical, engenheiro de som, mixador e masterizador. Atualmente o produtor musical se tornou, como eu costumo chamar, “o cara que grava o disco”. Eu ainda definiria o produtor musical como o “cara que resolve os problemas da banda”. Tem bandas que já sabem fazer música muito bem, por exemplo, e eu não preciso mexer tanto assim nas músicas e nas composições, posso focar mais na performance e no som do disco, enquanto outras bandas o trabalho é justamente mais em cima das composições que não necessariamente precisam ser mexidas porque são ruins, mas sim por uma falta de organização. Já gravei discos excelentes em que basicamente todo o material que a banda trouxe foi usado, mas de uma forma diferente de como concebido por ela. Até chegar o que queremos seguir profissionalmente, passamos por muitas dúvidas. Como tudo aconteceu na sua vida? Você escolheu a produção musical ou ela te escolheu? Muito legal falar disso. O meu pai era advogado e a minha história com ele sempre foi complicada porque meus pais se separaram cedo, então depois dos 10 anos de idade eu não tinha mais o convívio com ele. Por causa disso eu acabei optando por fazer Direito e hoje eu enxergo que fiz isso mais como uma forma de conviver com ele novamente do que (obviamente) amor ao Direito. Fiz a faculdade inteira dizendo: “Isso aqui eu aprendo com o pai depois” (risos). E aí meu pai faleceu no último ano da

faculdade e eu, que já não gostava do Direito e já estava gravando naquela época, decidi cair de cabeça na produção musical. Ou seja, ser produtor era a minha melhor alternativa naquele momento. A minha agenda do estúdio já era bem cheia, pois, mesmo sendo o início, eu sempre fui muito dedicado desde a primeira gravação. Eu me dediquei que nem um louco nos primeiros discos que produzi e isso chamou muita atenção da cena Rock de Criciúma, - 64 -


Angeles. Como foi/tem sido essa mudança? Você está adaptado a essas diferenças? Foi difícil? Eu morei cinco anos em São Paulo antes de me mudar para Los Angeles e isso ajudou na mudança, não apenas porque eu já tive experiência de uma grande mudança na minha vida, mas também para me acostumar com o ritmo de cidade grande. A mudança para São Paulo foi muito difícil e eu achava que ela me cre-

os discos eram bem melhores que dos estúdios profissionais comerciais da região. Fiz isso sem equipamento nenhum praticamente. Então, de certa forma, eu encaro que a minha profissão me escolheu porque eu não tive que fazer força para conseguir trabalhar com isso, num determinado momento aconteceu naturalmente. Catarinense saiu de Criciúma para Los - 65 -


denciaria para mudar para Los Angeles mais “tranquilamente”(risos), mas definitivamente não foi. Mudar de país é uma coisa muito difícil e realmente só quem já fez sabe o tamanho da bronca. Até você chegar e se acostumar com o esquema de crédito no EUA, visto de trabalho, comida, comprar carro e alugar uma casa é terrível. Eu e a minha esposa conseguimos resolver isso relativamente rápido, mas foi muito cansativo. Pra falar a verdade um dos desafios mais difíceis da minha vida. Hoje estou adaptado e adoro morar em Los Angeles, da esquina da minha casa eu vejo o letreiro de Hollywood e todas as vezes que eu o vejo eu pensa: “puxa que ducaralho... estou aqui”. Todos nós temos ambições, qual é a sua? A minha ambição é de conseguir construir uma carreira aqui como eu fiz no Brasil, que já está rolando, gravar uma banda gigante do metal e ganhar um Grammy. Vários de preferência (risos). Também gostaria muito de ver a cena com a qual trabalhei no Brasil fazendo sucesso por aqui. Já tem algumas bandas que tem feito shows nos EUA e acho que vai rolar em breve algum “novo Sepultura”. Eu nunca me mudei do Brasil com a intenção de “abandonar completamente” essa cena com a qual trabalhei. Continuo trabalhando com bandas brasileiras e sempre vou. O que seu estúdio tem de diferente dos demais que faz as bandas irem ao seu encontro? Faço a mesma pergunta do seu perfil: Por que você é diferente? Hoje o meu estúdio tem as vantagens de ser um estúdio em Los Angeles. Aqui tem vantagens incríveis em termos de equipamento, por exemplo pela primeira vez eu consegui comprar um console, no Brasil isso era impossível - 66 -


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por causa do preço. Aqui também é muito fácil achar os equipamentos top de linha. A loja de música mais perto da minha casa hoje é a Guitar Center, que é uma das maiores lojas de instrumentos do mundo. Então durante a gravação do Project46 aconteceu várias vezes de a gente parar e ir lá rapidinho comprar alguma parada para as gravações. Tipo, isso é um luxo incrível, isso é uma vantagem que a cidade diretamente oferece no resultado do seu trabalho. Eu não tinha mais que esperar 20 dias para a loja trazer as peles de bateria

que eu queria para gravação, saca? Outra coisa que influencia muito é que a maioria dos imóveis de Los Angeles são de madeira, diferentemente do Brasil que é alvenaria. Madeira tem um som muito mais agradável principalmente para bateria e, por exemplo, a sala de bateria que eu tenho aqui é de longe a melhor que já tive. Esse lance da sala de bateria, bem como gravação de bateria no geral, é o que eu acho que mais me diferencia. Quando eu comecei, lá por 2002, os samplers de bateria eram horro- 68 -


rosos então qualquer um que quisesse som de bateria legal tinha aprender a gravar bateria de verdade, eu sou dessa geração. Eu lembro que os primeiros equipamentos bons e caros que eu comprei para o meu estúdio eram todos para poder gravar batera bem. Assim eu tenho feito desde o começo, o que me dá uma grande experiência com gravação de batera. Logicamente que aqui em Los Angeles estão a maior parte dos melhores engenheiros de gravação de bateria do mundo, a concorrência é pesada, mas a questão é que não se está criando uma

nova geração de engenheiros de gravação de bateria justamente porque hoje os samplers são excelentes. Então, engenheiros de bateria com experiência são cada vez mais raros e tem aparecido vários trabalhos para mim justamente por eu ter uma vasta experiência com gravação de bateria. Quando um brasileiro ganha destaque fora do país é de se comemorar. Você vem se destacando entre as personas importantes da cena Rock/Metal e das - 69 -


empresas do meio. Visando tudo o que passou, em que momento da sua caminhada está? Eu estou naquele momento assim: sei que já alcancei muita coisa de valor, muita coisa da qual me orgulho, mas me enxergo ainda como que “no meio do caminho”(risos). Eu tenho muito medo de me deslumbrar demais com o que já aconteceu e ficar preguiçoso. Há alguns anos atrás eu praticamente não conseguia enxergar as coisas que eu tinha alcançado e não comemorava as coisas, ou ainda pior, achava que o que eu tinha feito não era tão importante assim. Teve um dia que eu estava passeando em São Paulo e recebi uma ligação do Rafael Ramos da Deck Disk que me fez enxergar o quão incríveis eram as coisas que estavam acontecendo. Ele me ligou para dizer que um garoto que trabalhava na lanchonete onde ele comia todos os dias chegou pra ele e falou: “Rafael você tem que ouvir essa banda aqui (era o Project46) esses caras são de São Paulo e eles tem uma cena que canta metal em português... é do caralho, é só procurar pelo Adair Daufembach, ele é o cara que grava essas bandas todas”. Isso aconteceu há alguns meses do Project46 tocar com o John Wayne no Rock in Rio. Naquele momento me bateu um sentimento de que realmente o que eu estava fazendo era importante. Daí depois o Rafael lançou, Ponto Nulo, John Wayne e Savant Inc., todas bandas que eu havia gravado. Foi bem foda. Conversando com os músicos que vivenciaram todas as mudanças tecnológicas no Brasil são unânimes em dizer que não havia produtor musical que entendesse a linguagem. E hoje, mesmo com tudo disponível, o que você tem pra dizer do seu próprio segmento? - 70 -


Infelizmente isso é uma verdade. É bem recente o surgimento de “Produtores de Metal” no Brasil. E como a maioria dos estúdios antigamente tinham equipamento e métodos para gravar música brasileira isso tornava a produção de Heavy Metal mais “estranha”, vamos dizer assim (risos). Isso porque no Heavy Metal tudo em termos de gravação é o contrário do que acontece em música brasileira. Samba, Pop, Bossa Nova e etc. são estilos com dinâmica extrema, em que tudo tem que soar extremamente limpo, com a voz na frente e edição é um crime. Heavy Metal é o contrário. Tanto que é bem fácil achar uns discos brasileiros de metal dos anos 80 e 90 que soam como um disco do Barão Vermelho. Nada contra o Barão Vermelho, muito pelo contrário aliás. Outra prova disso é que eu lembro que quando eu comecei não tinha nenhum curso de produção musical no Brasil voltado para “Heavy Metal”. Tanto que, nos meus primeiros workshops em São Paulo, eu recebi gente do Brasil inteiro. Veio gente de muito longe, todo workshop era uma surpresa. Galera do Rio Grande do Sul, Pernambuco e até do Acre. A galera estava sedenta por saber. Na produção musical já teve banda que você não quis produzir de jeito nenhum? Teve algum tipo de atrito ou algo assim? Eventualmente tem alguns projetos que eu não me identifico com a música e eu acabo recusando, isso geralmente acontece com bandas de estilos bem fora do que eu costumo produzir. Eu tenho que gostar e acreditar no trampo. Nunca aconteceu nenhum atrito no meio de um disco que me fizesse desistir dele. Já tive discussões acaloradas no meio da produção, bem acaloradas diga-se de passagem (risos), mas não ao ponto de ir embora ou desistir. Você hoje é o engenheiro pessoal do - 71 -


Dirk Verbeuren, baterista do Megadeth. Como esse encontro aconteceu? Conta para nós. O Rafael Pensado, um grande amigo e parceiro meu aqui de Los Angeles começou a trabalhar com o Megadeth e apresentou o meu trabalho para o Dirk, ele estava a procura de alguém para gravar as baterias de um Album importante. Essa gravação era super complicada tecnicamente e o cliente estava com as expectativas bem altas. No final o cara adorou a gravação e a partir de então começamos a repetir o time sempre. A gente grava no estúdio do Rafael, o Machina Factory, comigo de engenheiro e o Dirk arregaçando nas baterias. A gente se diverte muito. É um clima incrível.

bre eles. Obviamente que se eu tivesse produzido eles teriam ficado diferente, então talvez essa não fosse uma boa ideia já que são álbums que eu amo (risos). Então os cinco álbums que eu teria orgulho de ter chegado no mesmo resultado seriam: No More Tears - Ozzy Osbourne Black Album – Metallica Metropolis II - Dream Theater Slipknot - All Hope is Gone Joe Satriani - The Extremist Por fim, quais os planos para amanhã? Muito obrigada. Sucesso sempre! Continuar fazendo discos, gravar um gigante do Metal e ganhar um Grammy (não necessariamente nessa ordem, risos).

Top 5. Quais as cinco álbuns que gostaria de ter produzido? Fale um pouco so- 72 -


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Texto Jaqueline Souza | Foto Pei Fon & Assis Roque

SÁBADO 29/09 É um imenso prazer poder fazer a cobertura da décima segunda edição do Setembro Negro Festival, um dos principais festivais de música extrema do país, que após uma pausa de cinco anos, retorna subindo alguns andares e se estabelecendo na cobertura. Um brinde ao retorno deste grande evento e ao retorno das atividades da Tumba Productions. Edu Lane e sua equipe conseguiram oferecer ao público um evento de altíssimo nível mostrando mais uma vez que é possível sim aliar paixão e profissionalismo a serviço do metal. Nesta edição que aconteceu nos dias 29 e 30 de setembro de 2018, a casa escolhida para sediar o evento foi o Carioca Club, local de fácil acesso que oferece bastante conforto para público e bandas e que já é conhecida por estar recebendo diversos shows de metal nos últimos anos. Dia 29 foi um sábado ensolarado, a casa abriu os portões pontualmente às 13h e a primeira apresentação ficou a cargo dos brasilienses Human Atrocity, que infelizmente iniciou o seu show com a casa ainda bem vazia, mas - 76 -


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seguindo o cronograma proposto tudo começou dentro do horário previsto. Mas isso não impediu que a banda fizesse uma ótima apresentação mostrando seu death metal brutal e bem executado, com destaque para o desempenho da baterista Renata Death e do novo vocalista Rafael que entrou na banda após a saída de Andréa Tormentor, em 2017. O mesmo ocorreu também com a segunda banda, os pernambucanos do Infested Blood, que subiram ao palco para apresentar seu brutal death metal técnico e veloz e grande parte do público ainda estava do lado de fora, mas de qualquer forma Diego Do Urden e cia não pouparam nossos tímpanos e apresentaram os temas “Infernal Entity”, “My Rigid Anatomy” e Victim of the Dualism” presentes no álbum “Master of Grotesque” lançado lá nos idos de 2003 e ainda outras músicas como “Bregan D’Aerthe” faixa que abriu a apresentação, “Mind Flayers” e “Demonweb Pits” faixas que integram o álbum de 2013 “Demonweb Pits” e pudemos ainda ouvir a nova “The Iron Duke”. A terceira apresentação (que particularmente achei a mais empolgante de todas) ficou a cargo dos alemães Purgatory. A banda, que comemora 25 anos de estrada, fez um show enérgico e movimentado que foi uma aula de death metal, ótima performance do vocalista Mirko Dreier enquanto Peter Wehner (baixo) e René Kögel (guitarra/vocais) não paravam de bater cabeça e o baterista Lutz Götzold espancava a bateria extraindo um som poderoso. Na sequência foi a vez dos noruegueses do Aeternus subirem ao palco. Aparentemente a banda era bastante aguardada e grande parte do público já começou a aglomerar na frente do palco assim que deram sinal do início deste show. A esta altura a casa já estava começando a encher, o que corrobora a minha constan- 78 -


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te observação de que boa parte do público só chega nos shows ou só entra na hora das atrações internacionais, sigo acreditando que precisamos mudar um pouco este posicionamento e começar a prestigiar também as bandas nacionais, mas voltemos ao show. Com uma carreira muito respeitada o Aeternus iniciou e fez seu nome no black metal e após algum tempo passou a incorporar cada vez mais o death metal em suas composições. Com uma discografia razoavelmente extensa, eles realizaram um show com repertório bem variado. Na formação Ares (vocal e guitarra), Specter (guitarra), Eld (baixo) e Phobos (bateria) apresentaram músicas como “Sworn Revenge”, “Descend to the Underworld” e “Burn The Shroud” além de “Hedning” do novo álbum ”Heathen” que tem previsão de lançamento para este início de outubro via Dark Essence Records. Um petardo atrás do outro, com certeza esta noite deixou suas marcas nos fãs da banda. Em seguida foi a vez da polêmica Taake. Mas a polêmica ficou no anúncio e do lado de fora do Carioca Club. A banda norueguesa fez a sua apresentação conquistando os que ali estavam e, em tempos de intolerância política, eles passaram até ilesos. Sob a batuta do perfomático Hoest (vocalista), a banda fez do seu tempo um mergulho na sua discografia. Para tanto, visivelmente falando, o povo gostou do que assistiu. Já pode voltar? Com uma carreira de 37 anos, o Vulcano mostrou porque é considerado um ícone no Brasil e no mundo. Com uma apresentação prá lá de cultuada pelos bangers presentes, dava para perceber que o nível de empolgação da banda era similar ao do público, muita agitação e headbanging com um repertório que mesclou clássicos e algumas músicas da fase mais atual. Respeitando fielmente o cronograma, - 81 -


após um curto intervalo percebe-se a movimentação da equipe na preparação do palco para o tão aguardado show da histórica banda Coven. O show já inicia em clima ritualístico com Jinx Dawson saindo de dentro de um caixão mascarada e ao fundo imagens psicodélicas iam alternando no telão contribuindo para que todos os presentes entrassem no clima não só pela música, mas também por todo aspecto teatral da apresentação. Neste clima necro psicodélico dava para ver que a maioria do público estava enfeitiçado, Jinx realmente impressiona, pois apesar da idade ela arrasa na voz e continua esbanjando uma beleza natural e muito carisma. No setlist músicas como

“Black Sabbath”, “Out of Luck”, “Black Swan” e “Wicked Woman” fizeram a pista ferver. Encerrando o primeiro dia do festival chega a vez do tão aguardado Razor, mais uma vez me chamou atenção ver que muita gente começou a entrar na hora em que a última banda se preparava para subir ao palco. Speed Thrash metal oitentista cortante e veloz como era de se esperar. O remanescente Dave Carlo (guitarra) em companhia de Mike Campagnollo (baixo), Bob Reid (vocal) e Rider Johnson (bateria) mostrou ao público o motivo do Razor ser considerado um medalhão do speed thrash metal, afinal manter um belo trabalho durante quase 35 anos não é tarefa fácil. O Ra-

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zor iniciou sua carreira em 1983, gravou seu primeiro álbum full em 1985 o “Executioner’s Song” e se manteve em constante movimento até 1992 quando encerrou atividades por um tempo só retornando em 1997 com o lançamento do álbum “Decibels”. A banda conseguiu manter o público em estado de frenesi arrancando não só muitos rodopios de cabeça, mas também coros em diversos momentos, rodas agitadas e fãs emocionados ao ouvirem ataques como “City of Damnation”, “Cross me fool”, “Violence Restitution” e “Evil Invaders” era nítido que a banda estava contente com a reação que conseguiu receber, o público empolgado com tudo aquilo que havia presencia-

do e eu feliz da vida por saber que no dia seguinte ainda haveria mais um dia de festival. DOMINGO 30/09 O segundo dia de festival começou com o típico clima paulistano, um pouco de sol e calor, depois chuva, depois os dois juntos... Às 14h as portas do Carioca Club já estavam abertas e tudo a postos aguardando os bangers para mais um dia de fúria musical. Aos poucos o público ia adentrando a casa e pontualmente às 15h Manger Cadavre?, oriunda de São José dos Campos - interior de São Paulo, abriu o domingo apresentando seu hardcore/crust

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com letras cantadas em português e temas politizados. Nata de Lima imprime bastante potência vocal e, é claro, é sempre muito legal ver mulheres à frente em bandas extremas, especialmente quando elas não se acanham e fazem questão de dar seu recado, se posicionar. O conjunto todo em si tem um trabalho bem interessante e que ao vivo funciona bem. Em seguida, foi a vez do quarteto pernambucano Decomposed God dar as caras e mostrar o porquê do Nordeste ser uma potência no death metal nacional. A sonoridade deles em si já é bastante diferente daquilo que estamos acostumados, a formação atual e, na minha opinião, a melhor de todos os tempos, é composta pelos irmãos Marco Duarte e Jean Marcel, guitarra e baixo respectivamente, Luiz Boeckmann nos vocais e Wagner Campos na bateria. Individualmente todos os músicos são altamente competentes em suas funções e quando juntos acontece uma espécie de alquimia que transcende a técnica emanando muito peso e brutalidade com riffs marcantes, viradas de baterias insanas e um vocal poderoso. Luiz é o tipo de vocalista que não fica parado e vê-se nitidamente que a banda fica muito à vontade em cima do palco. Em 2018, eles lançaram “Storm of Blasphemies” que é um álbum comemorativo, brindando 27 anos de existência (e resistência) no underground. O álbum é composto por faixas de seus dois álbuns “The Last Prayer” e “Bestiallity” e mais uma faixa inédita “Delusion”. Então, o setlist do show é basicamente composto por músicas que compõe este trabalho e deixou o público muito empolgado. Às 16:45 sobe ao palco os curitibanos da Amen Corner, grande expoente do black metal nacional. O público aguardava bastante esta apresentação e eles não decepcionaram. Black metal sombrio e performático com um clima soturno e até uma certa teatralidade por parte - 84 -


do vocalista Sucoth Benoth. Na estrada desde 1992, eles acumulam em sua carreira duas demos, dois EP’s e cinco álbuns full sendo o mais recente o CD + DVD “Christ Worldwide Corporation” lançado pela Cogumelo Records, em 2014. Logo após foi a vez dos belgas do Enthroned destilar seu odioso black metal durante quarenta minutos. Já conhecidos do público brasuca e do festival Setembro Negro, o show deles foi previsível. Um bom número dos presentes que realmente cultuam e seguem a banda ficaram em frente ao palco batendo cabeça e vociferando junto. Um show com sonoridade potente e forte apelo visual. A quinta atração do domingo, os americanos da Morbid Saint, chegaram chegando com o seu poderoso thrash metal rápido, pesado e furioso. Um show exemplar, daqueles que parece te deixar eletrificado. Músicos pra lá de entrosados, assim como o Purgatory no dia anterior, fizeram uma apresentação cheia de movimento e energia. O vocalista Cliff Wagner foi muito carismático e soube como manter a galera empolgada durante o show e a pancadaria sonora correu solta do início ao fim. Com a hora passando e chegando cada vez mais perto do término do evento já começou a bater aquela sensação: “Por que não tá começando agora? Não quero ir embora!” e eis que chega a vez da penúltima banda, Schirenc Plays Pungent Stench detonar e fazer muita gente quebrar o pescoço de tanto bater cabeça com seu repertório composto por grandes clássicos da época áurea da lendária banda de death/grind Pungent Stench como “Dead Body Love” e “For God Your Soul... For Me Your Flesh”. O simpático Martin Schirenc (vocal e guitarra) formou o Pungent Stench no final da década de 80, em 1988 mais precisamente, e com eles gravou seis ótimos álbuns, além de também fazer parte de outras ban- 85 -


das como Hollenthon, Fetish 69, Kreusweg Ost e ter produzido nomes como Miasma e Raventhrone, enfim, um show e tanto! Após o abalo sísmico provocado pela banda anterior, chega a vez de mais um furacão sonoro entrar em contato, os suecos da Wolfbrigade são incisivos e mandam uma música atrás da outra deixando a galera insana, formando uma roda atrás da outra. O público parecia estar aguardando por aquela apresentação há algum tempo e até me surpreendi com a quantidade de pessoas que sabiam as letras na ponta da língua, em músicas como “Ride the Steel” e “No Future” os caras con-

seguem mostrar sua essência e porque o punk nunca morre. Valendo lembrar que na carreira da banda já existiu inclusive uma mudança de nome, no início a banda se chamava Wolfpack e sob este nome eles realizaram seis lançamentos entre os anos de 1995 a 2001, mas resolveram alterar o nome da banda para Wolfbrigade para que não houvesse nenhuma associação relacionando o nome da banda com o movimento neonazi sueco conhecido por Wolfpack (fizeram o que uma banda que preserva sua ideologia deve fazer, se posicionar). Também vindos da Suécia chega o headline At The Gates para encerrar o memorável - 86 -


retorno do Setembro Negro. E o que dizer de uma das bandas que foi responsável por uma espécie de reinvenção dentro do estilo death metal? Querendo ou não, o At The Gates foi um dos criadores de uma linha que muitos costumam rotular como melodic death metal, mas a meu ver nem soa tão melódico assim. O show abre com uma música da nova fase deles “To Drink From The Night Itself” e o público parece não estar acreditando no que vê, incluindo esta que lhes escreve, ouvimos um breve boa noite vindo de Tomas Lindberg e o show segue com um setlist alucinante que contou com músicas como “Slaughter Of The Souls”, “At War

With Reality”, “Under a Serpent Sun”, “Blinded by Fear”, “Suicide Nation” dentre outras. Com algumas idas e vindas esta formação foi a do retorno da banda em 2010, com exceção do guitarrista Jonas Stalhammar que entrou em 2017; Tomas Lindberg (vocal), Jonas Björler (baixo), Martin Larsson (guitarra) e Adrian Erlandsson (bateria). Um lindo encerramento do melhor festival de metal extremo do país. E já está garantida a décima terceira edição, em 2019. A Tumba Productions nos presenteia com os dias 7 e 8 de setembro. Anote na agenda! - 87 -


Anguere - Choque & Cadeia

Marcos Garcia é formado em Física pela UFF/RJ, Mestre e Doutor em Geofísica pelo ON/MCTIC/RJ. Headbanger desde 1983, é redator-chefe do Metal Samsara, colaborador da Rock Meeting, Metal Temple (Europa) e The Black Planet (Europa). Tem apreço pelos bangers e bandas mais jovens, respeitando o passado, esperando o futuro, mas sempre com a mente no presente.

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Bullet - Dust to Gold

Marcos Garcia é formado em Física pela UFF/RJ, Mestre e Doutor em Geofísica pelo ON/MCTIC/RJ. Headbanger desde 1983, é redator-chefe do Metal Samsara, colaborador da Rock Meeting, Metal Temple (Europa) e The Black Planet (Europa). Tem apreço pelos bangers e bandas mais jovens, respeitando o passado, esperando o futuro, mas sempre com a mente no presente.

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Don Airey - One of a Kind

Marcos Garcia é formado em Física pela UFF/RJ, Mestre e Doutor em Geofísica pelo ON/MCTIC/RJ. Headbanger desde 1983, é redator-chefe do Metal Samsara, colaborador da Rock Meeting, Metal Temple (Europa) e The Black Planet (Europa). Tem apreço pelos bangers e bandas mais jovens, respeitando o passado, esperando o futuro, mas sempre com a mente no presente.

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Drowned - 7th

Marcos Garcia é formado em Física pela UFF/RJ, Mestre e Doutor em Geofísica pelo ON/MCTIC/RJ. Headbanger desde 1983, é redator-chefe do Metal Samsara, colaborador da Rock Meeting, Metal Temple (Europa) e The Black Planet (Europa). Tem apreço pelos bangers e bandas mais jovens, respeitando o passado, esperando o futuro, mas sempre com a mente no presente.

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Immortal - Northern Chaos Gods

Marcos Garcia é formado em Física pela UFF/RJ, Mestre e Doutor em Geofísica pelo ON/MCTIC/RJ. Headbanger desde 1983, é redator-chefe do Metal Samsara, colaborador da Rock Meeting, Metal Temple (Europa) e The Black Planet (Europa). Tem apreço pelos bangers e bandas mais jovens, respeitando o passado, esperando o futuro, mas sempre com a mente no presente.

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Kataklysm - Meditations

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Mx - A circus called brazil

Marcos Garcia é formado em Física pela UFF/RJ, Mestre e Doutor em Geofísica pelo ON/MCTIC/RJ. Headbanger desde 1983, é redator-chefe do Metal Samsara, colaborador da Rock Meeting, Metal Temple (Europa) e The Black Planet (Europa). Tem apreço pelos bangers e bandas mais jovens, respeitando o passado, esperando o futuro, mas sempre com a mente no presente.

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Orphaned Land - Unsung Heroes & Dead Messiahs

Marcos Garcia é formado em Física pela UFF/RJ, Mestre e Doutor em Geofísica pelo ON/MCTIC/RJ. Headbanger desde 1983, é redator-chefe do Metal Samsara, colaborador da Rock Meeting, Metal Temple (Europa) e The Black Planet (Europa). Tem apreço pelos bangers e bandas mais jovens, respeitando o passado, esperando o futuro, mas sempre com a mente no presente.

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The Night Flight Orchestra - Sometimes the World Ain’t Enough

Marcos Garcia é formado em Física pela UFF/RJ, Mestre e Doutor em Geofísica pelo ON/MCTIC/RJ. Headbanger desde 1983, é redator-chefe do Metal Samsara, colaborador da Rock Meeting, Metal Temple (Europa) e The Black Planet (Europa). Tem apreço pelos bangers e bandas mais jovens, respeitando o passado, esperando o futuro, mas sempre com a mente no presente.

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White Dragon Project - Prepare for the Changes

Marcos Garcia é formado em Física pela UFF/RJ, Mestre e Doutor em Geofísica pelo ON/MCTIC/RJ. Headbanger desde 1983, é redator-chefe do Metal Samsara, colaborador da Rock Meeting, Metal Temple (Europa) e The Black Planet (Europa). Tem apreço pelos bangers e bandas mais jovens, respeitando o passado, esperando o futuro, mas sempre com a mente no presente.

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Texto Maykon Kjellin | Foto Like Me Fotografia

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iretamente de Blumenau, a cidade mais alemã do Brasil, localizada em Santa Catarina, nasceu a Viletale. Com o intuito de apresentar o horror seja ele literário, cinematográfico ou real, o grupo busca fazer tudo isso explanando em forma de música. O que mais assusta na banda é que por mais que conte com um quarteto novo em idade, despejam muita experiência e energia no palco como veteranos. Trazem assim, uma sonoridade madura e escrevendo seu nome na história do Metal nacional com maestria. Tivemos o prazer de conversar com os membros e está muito interessante, confira: Como se deu inicio a Viletale? Alan Ricardo: Comigo começou com muita vontade de ter uma banda de metal extremo, e um dia por coincidência vi o Bruno (Janka) postando em sua rede social que estava tramando um projeto com influências de metal extremo. Entrei em contato com ele, e marcamos um ritual de sacrifício. Desde então, minha alma está guardada em uma sala secreta, e só a verei novamente em meu leito de morte. Matheus Lunge: Então, creio que surgiu - 100 -


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Foto: Fabricio Wronski

de uma vontade mútua de ter uma banda de metal extremo que trouxesse novidades e conceitos diferenciados pra dentro do nicho. Conheci primeiro o Janka via Facebook, eu curtia muito a banda antiga dele (7bullets) e resolvi adicionar pra conhecê-lo melhor e trocar experiências diferentes. Ideia veio, ideia foi, eis que surge a oportunidade de fazer um som junto com ele, discutimos ideias e raízes e pronto, os primeiros passos foram dados. Nessa altura do campeonato, ainda não tínhamos guitarristas base nem baixista. Eis que surge o Teta (Alan Ricardo) pra completar o line da banda. Baixista foi a coisa mais complicada de se achar, foram alguns testes que não deram em muito coisa, até acharmos nosso menino prodígio e delicioso: Filipe Oliveira. Daí em diante as

coisas só foram pra frente e cá estamos. Curiosidade: em 2014 todos estávamos no mesmo evento de metal (Fortaleza Rock Festival) e não nos conhecíamos, mas a antiga banda do Janka tocou e a partir daí foi tudo meio que caminhado (risos). Filipe Oliveira: A minha entrada como baixista se deu por volta do segundo semestre de 2016, onde eu vi um anúncio para baixista na página recém criada da banda. Entrei em contato com o Janka e depois de algumas trocas de informações nos encontramos. Tirei a primeira música da banda (vulgo Celestial Rapture); depois nos encontramos novamente, dessa vez com a banda inteira, aí começamos a nos entrosar e já procedemos com ensaios semanais (que perduram até hoje) para as com- 102 -


Foto:Black Hat Filme

posições de do EP Vile, que foi gravado nos próximo meses. O resto é história. Vale destacar que antes da minha entrada nessa banda eu conhecia pouco do metal extremo com gutural, onde, abriu pra mim um novo universo de bandas.

referências diversas. Alan Ricardo: Cada um na banda trouxe seu “tempero” musical, e junto a isso tudo, muito horror atmosférico. As composições baseadas em histórias, quebra um pouco do paradigma da “mesmice” no metal, traz novos ares, e temas de gosto comum dos ouvintes. Isso junto ao diferencial em apresentações ao vivo, conteúdos para nossos seguidores nas redes sociais, assim trazendo um contato mais próximo com quem está interessado na gente, dando sua devida atenção sempre que possível.

Quais as principais características da banda? O que fazem de diferente em suas opiniões. Matheus Lunge: Acho que o nível musical, nossas composições conseguem trazer pitadas de muitas das vertentes do metal extremo, ao mesmo tempo que se moldam atmosfericamente ao que queremos transmitir. As letras são muito bem trabalhadas e embasadas e muitas vezes podem conter uns easter eggs e

A sonoridade apresentada pela banda hoje, era o que buscavam desde o início? Como funciona a fase de composição da banda? - 103 -


Foto: Fabricio Wronski

Bruno J: Não. Tanto que no “Initiation” éramos uma banda ainda meio perdida, mas com muito sangue no olho. Era pra ter uma linhagem que encaminhasse a banda para as vertentes do gore. Mas vendo que a proposta lírica seria muito mais densa e iria requisitar uma composição mais trabalhada, procuramos, com o passar do tempo, adicionar elementos na composição que foram enriquecendo sua composição. Normalmente a gente já tem um apanhado de riffs que montam o esqueleto da música. A ideia é passada para todos os outros membros e cada um deixa seu registro de composição como acredita ser melhor, de uma forma democrática. A banda procura mudar os panos do cenário a cada musica ou “EP/ álbum”, estudando o gênero mais próximo do assunto tratado. Por isso percebe-se uma dife-

rença um pouco berrante no nível das composições entre os 3 primeiros EPs e o single. Como está a produção do novo disco? O que o público pode esperar? Bruno J: A produção do “Land Of Thousand Pleasures” está sendo definitivamente nosso passo mais longo como referência musical. Entender os processos de mixagens, observar uma nova prole surgindo com uma magnitude mais sagaz que as já lançadas. ‘Land Of Thousand Pleasures’ não vai só trazer a brutal cadência da Viletale, mas vai mergulhar os ouvintes em cenários que aguçam a ansiedade e a dissonância. E como todo projeto, estudaremos nossas falhas e oportunidades perdidas para, quem sabe, fim do ano que vem trazer algo melhor. - 104 -


Foto: Rodolfo Mariano Zimmermann

Alan Ricardo: O novo disco está quase na linha de chegada, em breve acredito que ele será apresentado, mas ainda não está pronto. O público vai ver de cara que esse é sem dúvida nosso trabalho de melhor qualidade até o momento, e tenho certeza que as pessoas vão curtir toda a atmosfera do álbum, inclusive se após ouvir pesquisarem sobre a letra, e sobre suas histórias. Matheus Lunge: Será um grande disco em todos os sentidos. O instrumental está muito bem trabalhado em conjunto com a atmosfera, as temáticas das letras e do álbum em si. A qualidade de produção sem dúvida vai ser um novo patamar para a banda. Estamos investindo um tempo considerável para deixar tudo mais polido, o mais prazeroso e poderoso possível para os nossos ouvintes. Creio que esse

álbum será nosso passaporte daqui pra uma melhor (risos). Vocês têm algum planejamento futuro, tirando o novo disco que está por vir? Alan Ricardo: Os planos são longos, e com certeza surgirão mais coisas pela frente. Bruno J: Com certeza terão alguns lançamentos audiovisuais. “Land Of Thousand Pleasures” não é um álbum para passar em branco. Então sim. Teremos clipes. Assim como pegamos um pessoal desprevenido no Natal, quem sabe aparece um mal na porta numa época peculiarmente interessante. Uma banda vive apenas do que se faz no palco? Como vocês analisam como é ter uma banda no cenário hoje em dia? - 105 -


Alan Ricardo: Bah, essa pergunta é foda! No meu ponto de vista, a banda hoje, numa visão técnica, é como uma empresa, todos buscam melhorar e aprimorar os conhecimentos pro resultado do produto final sempre vir melhor e com mais qualidade, além de sempre estar investindo nosso tempo e dinheiro no que for possível melhorar para o nosso cliente final: o fã, o ouvinte. E do ponto de vista emocional, nós acabamos nos tornando uma família, sempre que alguém está com problemas nós tentamos ir atrás e ajudar e dar um “up” na pessoa, isso acabou se tornando parte da gente. Nos vejo como uma coisa só e que anda junto, sempre nos mesmos passos e nos controlando para sempre melhorar. Bruno J: Vejo como uma empresa e como uma família. Existe tempo de brincadeira, confraternização e descontração. E tais momentos são frutos da disciplina. Pra se ter um empreendimento com sucesso no mercado, existem pilares essenciais. Network, diferencial, constante renovação e, acima de tudo, humildade. Não é fácil ter uma banda no Brasil, mas não é impossível. Matheus Lunge: Eu acho que é sinônimo de muita união, garra, determinação e disciplina. É muito importante numa banda, no cenário atual, tais qualidades; afinal as dificuldades sempre se mostram e logo a força da banda é posta a prova. Temos muitos exemplos no mainstream de bandas que muitas vezes se deixam abalar por falta de tais sentimento (ou esquecem muitas vezes) e de partilhá-los. Uma coisa que creio que define muito a banda num nível inter pessoal, seria justamente a união, sempre nos tratamos como irmãos (inclui-se briga - risos) e sem isso creio que não seríamos metade do que somos e podemos vir a ser.

Bruno J: Definimos Horror Metal por toda a cenário musical que criamos para abordar um tema de horror. É toda forma que extraímos o horror, seja ele literário, folclórico ou real para introduzir na música. O nosso papel, sendo uma banda de horror metal é acabar não só estudando o conceito do nosso assunto, mas poder saber como interpretá-lo dentro da música, tendo a total possibilidade de poder modelar o nosso estilo para criar a roupagem perfeita pro tema abordado. Existem bandas que podemos considerar que já fizeram isso. O projeto solo de King Diamond, ou Cradle Of FIlth. King Diamond chega a escrever suas próprias histórias trazendo algo teatral para sua música, enquanto toda a obscurida-

Existe várias vertentes dentro do Metal. Como vocês definem o “Horror Metal”? - 106 -


de sinfônica do Cradle mostra conhecimento dos escritores. Mas procuramos sempre investir numa pegada musical diferente para trazer uma nova imersão no assunto. Filipe Oliveira: Acredito vai mais além do que fazemos nos palco. A banda se inclui em nossas vidas e faz parte do dia-a-dia de cada um de nós. O cenário está repleto de bandas e não é fácil se destacar, acho que o ponto que tentamos nos concentrar é sempre estar aprendendo com os erros, críticas e elogios e com isso focar em trazer uma música que haja um consenso entre os ideais de todos os integrantes da banda. Do ponto de vista financeiro não é fácil, só digo uma coisa: Investimento. Nada vem do céu e tem muito trabalho a ser

feito. Uma das coisas que mais me chamou atenção da banda, foram as lentes brancas e os coletes com a logo de vocês. Qual a ideia disso e o que essa característica ímpar agrega no show da banda? Alan Ricardo: Assim como comentamos antes, queremos demonstrar o horror nos palcos também, e padronizando o diferencial da banda, creio que isso prende a atenção do público, não são uns caras com uma roupa qualquer querendo fazer horror musical, mas sim quatro sujeitos, psicopatas, uniformizados e sem alma. É uma questão de prender a figura de “personagens” da banda. Não sei se consegui - 107 -


me expressar de boa forma. Filipe Oliveira: Não bem psicopata, mas instrumentos de conexão do medo com as pessoas. Não quero entregar unicamente uma experiência sonora, mas queremos adentrar cada vez mais numa apresentação visual a altura do que tocamos. Já estava mais do que tarde para começar a usar um uniforme adequado pro estilo. Matheus Lunge: Isso veio de longos planos para passarmos o que nossa música transmite, sabemos que para impactar cada vez mais o público é trazer diferencial, uma postura visual também precisa ser adotada. Afim de tra-

zer horror, ao mesmo tempo fidelidade, surgiu essa proposta visual (que possivelmente só melhorara daqui pra frente). O que falta no cenário e o que poderia melhorar? Qual a opinião de vocês? Matheus Lunge: Falta mais união e cabeça aberta. Uma coisa que a gente observa muito é as famosas panelas de bandas, onde as mesmas só se ajudam entre si, excluindo assim todas as outras que poderiam agregar coisas novas a cena. A cabeça aberta seria mais pelo fato de que tem muita banda que, só pelo fato de ter alguns anos a mais que outras, menos- 108 -


tilo ou uma banda, o respeito com ela por ser mais uma peça relevante dentro deste tabuleiro deve existir. Finalizando, queria agradecer a oportunidade de poder conversar um pouco com vocês. Teriam uma mensagem para deixar para nossos leitores? Alan Ricardo: We Will Rape Your Fucking God!! #LOTP is coming! Bruno J.: Gostaria de dizer que estamos felizes em ter chegado até aqui. Em pouco tempo, com essa quantidade de registros e com o tal reconhecimento. Estamos vendo que nosso trabalho não está sendo em vão. Tudo isso é resultado do apoio dos membros e do público. Esperamos que novos fãs venham a conhecer nosso trabalho neste ano de 2018 e que a Viletale possa prosperar na música. E gostaríamos de dizer que nada é impossível no cenário. A chave do destaque está no empenho em se inovar e fazer com vontade. Esperamos que nosso status de reconhecimento amplie para um nível de vasta magnitude. Que a Viletale possa corromper a todos. Matheus Lunge: Gostaria de agradecer pela entrevista, foi um prazer enorme! Também quero agradecer ao nosso público e toda a galera que nos apoia da forma que for. Sem isso não somos nada! Gostaria de dizer que muita coisa boa vem por aí (risos). Filipe Oliveira: Grato pelo feedback que temos recebido e espero que tenhamos entregado um pouco de nossa índole pela nossa música. Fico feliz em saber que existem pessoas interessadas como vocês redatores que destrincham para o público o que há por trás da música. Álbum novo chegando, mas o trabalho não para por aí, nos acompanhe na página do facebook para mais vídeos, memes e surpresas.

prezam o trabalho das bandas recém chegadas, ou muitas vezes, se prendem totalmente num estilo e logo que se deparam com alguma proposta nova, torcem o nariz. Bruno J: Adiciono a resposta do Lunge o respeito mútuo. Coisa difícil de se achar. Da banda com o público. Do público com a banda. De banda com outra banda. Existe um egocentrismo e uma falsa apreciação da arte, o câncer do brasileiro. Não basta não gostar, é necessário xingar junto. A arte é um resultado subjetivo aos olhos de todos, a aderência com ela permuta facilmente de um pro outro. Acho que mesmo que você não goste de um es- 109 -



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