Rock Meeting Nº 108

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08 - Lapada - Museu em chamas 12 - Live - Paradise Lost 18 - Entrevista - Arandu Arakuaa 28 - Skin - Humor 34 - Entrevista - Westfield Massacre 42 - Capa - Soulfly 58 - Live - Tarja 66 - Review - VĂ­deo 74 - Entrevista - Hellish War 82 - MĂşsica - O que estou ouvindo? 90 - Entrevista - Bayside Kings

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DIREÇÃO GERAL Pei Fon CAPA Alcides Burn Jonathan Canuto

COLABORADORES Bruno Sessa Edi Fortini Marcos Garcia Marta Ayora Mauricio Melo Renata Pen Samantha Feehily

CONTATO contato@rockmeeting.net www.rockmeeting.net


Nove anos No dia 16 de setembro de 2009 foi lançada a primeira edição da Rock Meeting, ainda no início das publicações on-line, quando mal se imaginava que era possível. Naquele período, o Orkut era a rede social em voga, o Facebook ainda dava seus primeiros passos, mas estávamos lá buscando o nosso espaço. De lá para cá, com a intenção de colocar o aprendizado da faculdade em prática e de ajudar a cena local, nasceu a Rock Meeting. Alagoas ganhava a sua primeira revista digital voltada para esse circuito. Muitos outros projetos nasceram e tiveram o seu apogeu, nessa era digital temos o orgulho de sermos os pioneiros. Desde 2009 presenciamos muitas coisas, no entanto, percebemos que falta muito para evoluir, algumas delas continuam à margem das modificações. Medo? Comodismo? Talvez. Mudar assusta, é bem verdade, mas assistir o circo pegar fogo deve ter lá seu atrativo. Mas ver que deu certo e que você poderia ter feito, isso é algo difícil de prever. Somente os inquietos podem se aventurar. E nessa aventura estamos desde en-

tão. Contando muitas histórias, divulgando a nossa cultura nordestina em forma de música pesada, mostrando ao mundo que o Brasil existe. Diante da nossa ambição, não poderíamos ficar parados no mesmo lugar, tínhamos que dar um passo à frente. Muitas pessoas passaram por aqui e construíram conosco cada publicação. Já passamos das 100 edições e com a previsão de sempre mais. Estamos próximos de uma década trabalhando arduamente para a manutenção do que acreditamos que é o certo: dar vez a quem quer mostrar um trabalho de qualidade. É com todo o orgulho do mundo que declaramos o nosso amor a esta revista e ao que ela nos propociona. Fizemos muitos amigos e pudemos estar nas melhores experiências sensitivas desse estilo. A nossa meta é crescer. Crescer sempre! É para você, leitor, que esta homenagem é dada. Vocês nos faz acreditar que é possível continuar. Em nome de todos que fazem a Rock Meeting, muito obrigado!



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omingo ensolarado no Rio de Janeiro, dia 02/09/2018.

Esta data ficará marcada na mente de muitos, pois na noite deste dia, o Museu Nacional do Rio de Janeiro, localizado na Quinta da Boa Vista (no bairro de São Cristóvão), deixou de existir. Consumido por chamas inclementes, uma boa parte de seu acervo foi destruído. Ele foi a primeira instituição de cunho científico do Brasil e estava ligado à Geologia, Paleontologia, Botânica, Zoologia, Antropologia Biológica, Arqueologia e Etnologia. Era nele que estava um dos fósseis humanos mais antigos do Brasil, o crânio de Luzia, datado de 12000 anos. Além disso, como era ligado à UFRJ (Universidade federal do Rio de Janeiro), era uma instituição de pesquisa, sendo que ali, estudantes de graduação, Mestrado e Doutorado tinham aulas e faziam suas pesquisas. Uma perda dolorosa para muitos, e alguns engraçadinhos falaram besteiras por aí. Infelizmente, tem gente que calada já está errada, e a internet lhes dá voz... Tudo bem, eu sei que estamos em uma revista dedicada ao Rock e suas vertentes. Mas se pararem para pensar (e como eu gos-8-


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Foto: Fabio Teixeira/ Getty Images


to muito de dizer), “Rock é Cultura”, logo, o estilo perdeu um dos bastiões de seu bojo cultural. É interessante falar nisso, já que tirando letras parnasianas, ou religiosas de qualquer tipo, e mesmo os temas sociais, o Rock acaba se aproximando das ciências e das artes em termos de temas. Não quero ficar citando exemplos demais, pois gosto de deixar o leitor pensando e buscando por isso. Mas alguns se fazem necessários. Cosmic Genesis, Visions from the Spiral Generator, e The Focusing Blur, 3 discos do Vintersorg (e os 3 que são com letras prioritariamente em inglês) possuem enfoque em áreas científicas, ou mais especificamente, a Física. O primeiro é uma ode à Astronomia, enquanto o segundo está ligado aos mistérios da Mecânica Quântica, e o terceiro, pelo que posso ver, a luta para conciliar ambas as teorias (a primeira tem suas vicissitudes, pois a Astronomia depende bastante da Relatividade Geral, que não se bica muito com a Mecânica Quântica). Sim, Metal e Ciência em um único lugar, mas existem outras bandas que trabalharam nisso. Óbvio que as Ciências Humanas têm seu espaço. Falar da Caverna de Platão como o Orphaned Land fez em “Unsung Prophets and Dead Messiahs”, ou o Inferno de Dante como o Iced Earth fez em “Dante’s Inferno”, e infindáveis outros. No fundo, todos dão suporte à esta visão de que as artes (e por consequência o - 10 -


Rock) e as ciências estão intimamente relacionadas. Se pararmos para pensar, Da Vinci o fazia, pois quantos projetos de natureza científica o autor de obras como Mona Lisa e A Santa Ceia não propôs? Ou o ilustre Galileu com sua vida boêmia, regadas à música e bebida? A arte a ciência clássica tem muitos pontos de ligação. Lembro-os do clássico Frankenstein, de Mary Shelley. Há descrições no livro que realmente mostram que a escritora até poderia não saber muito de Anatomia (não me perguntem, não faço a mínima ideia), mas a questão da eletricidade dando vida à criatura vai de encontro às teorias de que os pensamentos nada mais são que pulsos eletromagnéticos por uma rede de neurônios. Os as belas obras de Julio Verne que pareciam prever o futuro? Sacaram? Para mim, que tenho tanto a Ciência (lembro-os: sou graduado em Física, e Mestre e Doutor em Geofísica) como o Metal ao meu lado, ambos estão interligados. E ver o Museu Nacional em chamas foi doloroso. Indignado eu fico de saber que 3 bilhões de reais serão liberados para a campanha eleitoral, enquanto o Museu carecia de 200 mil para ser reformado. Sinceramente: o Brasil precisa aumentar o número de museus, e reduzir drasticamente seu número de cadeiras para cargos políticos. O Museu é útil, enquanto o político é uma negação. Com uma tragédia tão triste dessas, hoje, partilho a dor e indignação de todos aqueles que, independente de ideologia política, sentem que nosso país ficou mais triste, menos culto e mais escuro... - 11 -


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Texto e Foto Edi Fortini

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s ingleses do Paradise Lost retornaram ao Brasil para três apresentações com a turnê de seu mais recente álbum, Medusa, lançado ano passado. A equipe do Rock Meeting esteve na apresentação de São Paulo, no Carioca Club, em 1o de setembro para conferir o show. Considerada uma das bandas mais tradicionais de doom metal, o Paradise Lost conta com 15 álbuns de estúdio e desde 1990, com o lançamento de Lost Paradise, tem sido destaque como uma das bandas mais influentes do gênero. Boa parte dessa relevância se mantém pela formação da banda, que conta com quatro membros originais e com uma assinatura própria que mescla muito bem riffs pesados, lentos e marcantes, letras pensativas com uma dose certa de melancolia. A única posição que mudou nesses anos foi a da bateria, que ainda assim conta com o finlandês Waltteri Väyrynen desde 2015, e no mais, a banda continua com Nick Holmes (vocal), Greg Mackintosh e Aaron Aedy (guitarras) e Steve Edmondson - 14 -


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(baixo). Nesse ano, os ingleses completam 30 anos de estrada e com tanta história pra contar, fica difícil condensar todo seu legado num setlist. Porém, esse repertório apresentado em São Paulo, agradou uma grande parte dos fãs que estiveram presentes no Carioca Club, na zona Oeste de São Paulo, deixando a casa com um público bom e empolgado, acompanhando as letras e riffs de todas as músicas. Do recente álbum Medusa, tivemos 4 músicas, incluindo a faixa título, que é belíssima também ao vivo. A fase mais eletrônica do grupo foi também representada com “One second” e “Erased”, dos álbuns “One Second” e “Symbol of life”, respectivamente, mostrando que é possível flertar com outros sons sem perder sua essência. As mais aguardadas, no entanto, foram as mais clássicas “As I die”, “Faith Divide us - Death Unite us”, “Embers Fire” e “Gothic”, que tomou um lugar cativo nas últimas turnês, para nosso deleite. O bis contou com “No Hope in sight”, “The Longest Winter” e a deliciosa “Say Just Words”, que fechou muito bem a apresentação. Nick Holmes é um excelente frontman, por vezes sério e em alguns momentos é descontraído, como quando anunciando “Beneath Broken Earth”, segundo ele, uma das músicas mais miseráveis já feitas, que deixaria o público muito miserável e muito triste no momento mais miserável da noite. Impossível não cair na risada com essa descrição. Estar num show do Paradise Lost é como receber a visita daquele amigo de longa data, que mora longe e com quem você encontra poucas vezes, mas quando o encontra, sabe que a amizade continua a mesma e é sempre um encontro prazeroso.

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Foto: Caio Cortonesi


Texto Edi Fortini | Foto Banda/Divulgação

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Arandu Arakuaa é uma banda de Brasília e traz em suas composições elementos do metal e elementos de música indígena e regional. Se você ainda não conhece, se faça um favor e prestigie essa banda que, além de um trabalho musical maravilhoso, também faz um trabalho de resgate da verdadeira cultura brasileira, hoje subvalorizada por tantos grupos e representantes políticos. Seu trabalho está disponível em diversas plataformas digitais e deixaremos alguns links ao final dessa matéria. Esse ano marca o lançamento do álbum “Mrã Waze” (Respeito a Natureza no idioma indígena brasileiro Akwe Xerente). Aproveitamos a oportunidade para bater um papo com o Zhândio, vocalista e fundador do Arandu. Aperte o play no álbum novo e confira aqui como foi! Olá, Zhândio! É uma honra para nós, da Rock Meeting, ter vocês em nossas páginas! Somos muito gratos por vocês trazerem um pouco da cultura indígena para a mídia e para música, pois temos pouco acesso, infelizmente! Vamos lá! - 20 -


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O Arandu se formou em 2008 e aos poucos vem ganhando espaço na mídia brasileira, especialmente nos últimos anos. Como tem sido isso pra vocês? Vocês estão satisfeitos com esse espaço que vêm ganhando? O que ainda falta pra vocês conquistarem? Zândhio Huku – O retorno positivo de público e mídia vem superando nossas expectativas desde o lançamento do nosso primeiro EP no início de 2012. Somos muito gratos por todo esse apoio e sempre tentamos agarrar as oportunidades que nos são dadas. Não tenho certeza do que exatamente falta para a banda conquistar. Minha missão é apenas espalhar alguns pedaços de mim em forma de música por aí, e torcer para que através delas passem a respeitar mais a mãe natureza e os povos originários dessa terra. Vocês utilizam os idiomas Tupi, Xerente e Xavante para compor músicas. Quais são as principais diferenças entre eles? Xerente e Xavante são idiomas semelhantes, ambos são do tronco linguístico Macro-jê, portando bem diferentes do Tupi. Você tem mostrado às comunidades indígenas o trabalho musical e de divulgação que vocês têm feito? Como tem sido a reação da comunidade? O que eles esperam de vocês? Sempre mantive contato com os parentes indígenas de diferentes povos, inclusive de outros países da América Latina, eles sempre demonstram muito respeito pelo nosso trabalho artístico e pela forma que abordamos e divulgamos as culturais nativas.

essas vivências possam se complementar de alguma forma? Eu diria que quanto mais tempo passo na cidade, mais indígena eu fico. Encaro a vida como sendo apenas uma sucessão de acontecimentos onde vou adquirindo novos conhecimentos, e a cada dia mais tendo certeza de onde venho e qual é minha missão nessa curta passagem. Imagino que meu trabalho artístico seja um retrato dessa vivência e dessa missão.

Como é pra você ter uma vivência um tanto indígena e um tanto “urbana”? Você acredita que em algum momento

Temos lido tantas atrocidades com os povos indígenas todos os dias. Como - 22 -


você, que está mais próximo desta causa, lida com todos esses fatos? Qual a opinião de vocês acerca desses fatos? O genocídio contra os povos originários dessa terra nunca cessou. Os invasores apenas vão desenvolvendo novas estratégias para tentar calar de vez as vozes de tantos povos. Porém, a relação dos indígenas com essa terra vai muito além do plano físico, toda energia dessa terra é indígena. Não tem como se matar algo que é parte da terra, do ar, dos céus...

mais longe das comunidades, podemos fazer para ajudar a manter viva essas tradições e comunidades? Ter ciência que somos apenas uma pequena parte da mãe natureza, e se a destruímos estamos destruindo a nós mesmos. Tendo essa compreensão poderemos contribuir nas lutas dos povos originários e ajudar a preservar nossas tradições. Temos alguns outros artistas (não tantos como deveríamos) que ajudam a mostrar a causa indígena na música,

O que nós, que infelizmente estamos - 23 -


como o grupo Mawaca, por exemplo. Quem mais você indicaria pra gente conhecer mais a respeito? Existem trabalhos artísticos relevantes feitos por não indígenas, mas que em sua grande maioria são apenas projetos pontuais (como é o caso do Mawaca) e quase nunca dão continuidade à “temática indígena”. Atualmente vejo artistas indígenas ocupando também esses espaços, como é o caso da Djuena Tikuna, Tuim Nova Era, dentre outros. No heavy metal, você disse ter influência de Black Sabbath e Metallica. E na música regional, quem você destaca como inspiração? Essa coisa das influências a gente acaba citando artistas que foram inovadores e influentes para um determinado nicho. Na música regional não é diferente: cresci ouvindo Luiz Gonzaga, Alceu Valença e todos esses artistas populares do Norte/Nordeste. Na verdade quando vou compor não acho que apareçam influências diretas das músicas que ouço, as ideias apenas surgem sem que se possa ter controle sobre elas. Eu diria que compor é algo espiritual, é basicamente decifrar o que o universo envia e ser um mensageiro dele. Em junho vocês lançaram o belíssimo vídeo para música “Huku Hêmba, primeiro single do disco “Mrã Waze” e agora estão prestes a lançar o seu terceiro full álbum. O que você pode nos adiantar sobre ele? É um típico disco do Arandu Arakuaa, com partes pesadas e técnicas, melodias fortes, as influências indígenas bem na cara, vocais limpos, guturais, isto é, têm músicas pesadas, músicas acústicas, músicas indígenas, porém a maioria delas funde todos esses elementos, como é o caso da Huku Hêmba. Eu diria que - 24 -


Foto: Matheus Lincoln

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Foto: Erickson Lima

esse disco está mais complexo e místico que os anteriores.

quantos e quando irão rolar, devido a todos os problemas financeiros que o país atravessa. Única coisa que tenho certeza é que não mediremos esforços para levar nossa música ao maior número de pessoas possíveis, seja lá por qual meio for.

Como foi o processo de composição do novo álbum? Em que ele se difere dos anteriores? Não foi muito diferente dos outros. Levo as música com uma estrutura já montada (melodias, letras, riffs) e no estúdio trabalhamos juntamente com o produtor Caio Duarte na elaboração dos arranjos.

Esse espaço é pra vocês mandarem recados aos nossos leitores. :) Só temos agradecer à Rock Meeting pelo espaço cedido para falarmos sobre nossa arte, bem como a todos que nos apoiam. Sem vocês isso tudo não seria possível e nem faria sentido.

Após o lançamento do álbum, vocês já têm planos para a divulgação? Podemos esperar mais shows, talvez por todo o Brasil? Com relação a shows nunca temos certeza

Contatos da banda: Facebook | Youtube | Soundcloud | Spotify - 26 -



Por Samantha Feehily (Wonder Girls )

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ue o riso é contagiante, todo mundo sabe (ou deveria saber!), o som de gargalhadas é muito mais contagioso do que qualquer bocejo, tosse, fungada ou espirro. Quando o riso é compartilhado, une as pessoas e aumenta a felicidade e a intimidade. Desencadeia mudanças físicas saudáveis no organismo, fortalece o sistema imunológico, aumenta sua energia, diminui a dor e protege contra os efeitos nocivos do estresse. Talvez esse seja um texto de autoajuda e eu deva me arriscar em águas nunca antes navegadas e vender ‘best sellers’? Talvez! Mas na coluna desse mês vou ser mais prática (ah vá!?) e falar (over and over again) sobre como a risada pode ser (e é!) a saída para muitos momentos ruins. Certa vez, eu li algo como “ria de si mesma”... na hora me soou um tanto quanto ousado, afinal, adolescente é cheio da razão e prepotência. Hoje, no auge

dos meus trinta e três anos, é uma das frases que eu tomo como base para seguir todos os dias em frente. Nada funciona de modo mais rápido ou confiável para trazer o corpo e a mente de volta ao equilíbrio do que uma boa risada. O humor conecta você com os outros, com tanto poder de curar e renovar, a capacidade de rir com facilidade e grande frequência é um tremendo recurso para superar os problemas, melhorando seus relacionamentos, e dar suporte à saúde física e emocional. Além de relaxar o corpo inteiro, uma boa risada alivia a tensão física e o estresse, deixando seus músculos relaxados por até 45 minutos depois. Reduz a liberação dos hormônios do estresse e aumenta o número de células imunes e anticorpos que combatem as infecções, melhorando assim sua resistência às doenças. O riso provoca a liberação de - 28 -


Foto: Luis Franca

Victor Camejo

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endorfinas, substâncias químicas associadas ao bem-estar do corpo e podem, até, aliviar temporariamente a dor. O riso protege o coração, melhora a função dos vasos sanguíneos e aumenta o fluxo sanguíneo, ajudando a proteger você contra um ataque cardíaco e outros problemas cardiovasculares. Se rir é o melhor remédio, a humorista Babu Carreira, que faz parte do grupo de stand up O Não Sou Obrigadx, é categórica “Depende pra que. Se for candidíase, aparentemente Fluconazol é o mais indicado. Mas melhor consultar um especialista. Amo rir e amo fazer as pessoas rirem mas acho que as pessoas lidam com as coisas de várias maneiras. Não dá para falar que a solução de tudo é rir. Existem momentos em que a gente precisa ficar bravo, ou ficar triste, ou ficar revoltado. Não acho que precisamos ser hienas, que riem de tudo freneticamente. Às vezes a gente não ri de verdade. Às vezes ri de nervoso, ri para esconder que ficou triste, ri por educação. E aí não é remédio para nada. Por outro lado acredito que bom humor ajuda demais a lidar com qualquer tipo de problema, apesar de não resolver”. O riso faz você se sentir bem. E a boa sensação que experimenta quando ri permanece com você, mesmo depois que o riso diminui. O bom humor o ajuda a manter uma visão otimista e positiva diante de situações difíceis, decepções e perdas. Dissolve emoções angustiantes. Você não pode sentir-se ansioso, irritado ou triste quando está rindo. O bom humor muda a perspectiva, permitindo que você veja as situações de modo mais realista e menos ameaçador. Uma perspectiva bem-humorada cria distanciamento psicológico, que pode ajudá-lo a evitar se sentir sobrecarregado. “Além de liberar endorfina

Cintia Rorisi

dar risadas faz parte de encarar as durezas do mundo de forma mais suave. Ver o mundo com as lentes da comédia é uma escolha que podemos fazer a cada dia, sabendo dosar podemos ter uma vida mais saudável e com menos sofrência, como diria o mestre Ariano Suassuna ‘Tudo que é ruim de passar, é bom de contar’, diz Fabio Lins, ator e humorista. O bom humor e a comunicação divertida fortalecem nossas relações ao desencadear sentimentos positivos e promover a conexão emocional. Quando rimos com outra pessoa, uma ligação positiva é criada. Ela funciona como um forte amortecedor contra o estres- 30 -


se, as divergências e a decepção. Quando se trata da saúde mental, a liberação desses hormônios da felicidade são um excelente alívio a curto prazo enquanto um maior nível de conexão social pode levar a sentimentos de inclusão a longo prazo e a criação de redes de apoio. Os dois são elementos cruciais na luta contra a depressão. A gelotologia - ou o estudo do riso – há muito busca respostas científicas para os possíveis benefícios do riso na saúde. Não é preciso ser um gênio para saber que comediantes são um pouco loucos. Comediantes têm um perfil de personalidade pouco comum e um tanto

contraditório, por um lado, são bastante introvertidos, depressivos e, podemos dizer, esquisitos. Por outro, são bastante extrovertidos e cheios de manias. Talvez a comédia - o lado extrovertido - seja uma forma de lidar com o lado depressivo. “Ser humorista é tentar fazer as pessoas felizes de alguma forma. Mesmo que isso custe nossa própria felicidade. Riso é felicidade e a felicidade tem efeitos comprovados sobre a nossa saúde. Então... Com certeza é melhor que leite de magnésio. E é engraçado o quanto é paradoxal termos tantos comediantes deprimidos enquanto salvam outras pessoas disso”, analisa Victor - 31 -


Babu Carreira

Camejo, roteirista e humorista. “A maioria dos humoristas tem motivações mentais parecidas para escrever comédia. A gente é um povo que analisa tudo o tempo todo, que é muito crítico. Não acho improvável que, se a gente não lidar com isso com leveza, o resultado seja realmente uma visão meio apagada e triste do mundo. Nunca fui diagnosticada com depressão clínica, apesar de ter momentos depressivos, como todo mundo. Mas acho que meu grande aprendizado com essa questão foi a convivência com amigos diagnosticados, o que me fez enxergar com muita seriedade, preocupação, paciência e carinho qualquer pessoa que se encontra em um quadro de depressão ou é depressiva. Hoje eu entendo bem que não é frescura, não é falta de louça suja, não é bobeira. Requer cuidado e tratamento”, diz Babu. O riso tem uma forma de conectar instantaneamente as pessoas e é uma das formas mais básicas e fundamentais pelas quais nós nos comunicamos como seres humanos.

Mas, bem mais do que isso – o riso pode aumentar a confiança, a autoestima, a criatividade, a positividade e a resiliência, trazendo mudanças positivas para todos os aspectos de nossas vidas. “Vivemos em uma sociedade que ensina crianças que aprender é coisa séria e que só podemos nos divertir no recreio! E quando saímos da escola vamos trabalhar sério durante a semana para só se divertir nos finais de semana! Se não tivermos uma válvula de escape não tem quem aguente viver assim! Fazer o outro rir é tão maravilhoso, tanto pro outro como pra nós humoristas! Eu sou adepta ao riso constante, acho que todo mundo precisa de pelo menos uma boa risada diária para manter a sanidade mental! Mas a linha é bem tênue entre o que faz rir e o que faz mal! Empatia tem um papel importantíssimo na minha vida como comediante”, conta, Cintia Rosini, humorista e atriz. Sejamos protagonistas das nossas próprias piadas, sejamos contadores de histórias... - 32 -



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Texto Pei Fon | Foto Banda/ Dilvugação

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ais uma vez trago aqui boas indicações para você, leitor. Desta vez uma banda americana com pitadas brasileiras. Falo da Westfield Massacre, banda de Los Angeles. Os caras acabaram de lançar uma das músicas que irá compôr o segundo álbum. Tive uma conversa marota com o guitarrista Luis Kalil e Dio Britto sobre essas novidades. Confira! Westfield Massacre é uma banda nova para nós brasileiros. Por favor, se apresentem. O Westfield Massacre é uma banda de metal americana formada em 2014, em Los Angeles, CA. Depois do grande sucesso do disco de estreia, atingindo terceiro lugar nas paradas de Metal do Itunes e número #14 nas paradas da Billboard Heatseeker, que também teve participação de Randy Blythe (Lamb Of God), seguido de turnês pela América do norte com bandas como Sevendust, Trivium e Candiria, a banda se prepara para o lançamento do seu segundo disco de estúdio, o primeiro com Seann Nicols nos vocais, depois da saída de Tommy Vext (Bad Wolves) no ano passado. Atualmente o quinteto conta com dois brasileiros, gaúchos: Dio Britto na bateria - desde - 36 -


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“Famine” é o mais novo play do segundo álbum do WM. Como tem sido a repercussão? Tem ouvido algo do Brasil? Tem sido ótimo! Em apenas três semanas a gente tem 130k views no Youtube, no Spotify “Famine” tem 43k plays e ganhamos 23k ouvintes mensais, então a palavra está se espalhando rápido. No Brasil vimos muita repercussão, acredito que pelo fato da ligação que a banda tenha por nossa causa. Ficamos mais que gratos por isso, logo esperamos fazer uma turnê no país. Até os caras da banda comentam. PS: Agradecemos aos amigos do Project46 por dar uma força também!

2016 - e o mais recente membro, Luís Kalil, de apenas 18 anos, na guitarra. Há quatro anos de formação e já com mudanças, o que a entrada de dois novos músicos e brasileiros tem a agregar ao som? Acho que o Westfield já tem uma identidade bem forte no som, e a gente veio para fortalecer ainda mais isso e solidificar a banda. Acredito que nós brasileiros agregamos não só no som, mas também damos mais da energia “sangue nos olhos” para fazer a coisa acontecer, pois a gente veio de longe, sabe que só o fato de chegar até os EUA é complicado, dá valor para as coisas que às vezes os americanos subestimam.

Falando em álbum, já tem previsão de lançamento, nome? O que podemos es- 38 -


perar desse cd? O disco “Salvation” sai dia 26 de outubro, lançado pela Nerve Strike Records. É um disco bem mais maduro do que o primeiro, é a evolução da banda. E o mais incrível: mesmo com um vocalista novo, as características do som da banda estão intactas, segue sendo Westfield.

des são muito maiores, e aqui é onde as coisas acontecem, e acontecem rápido. Vocês têm acompanhado o que tem sido lançado no Brasil? Fale um pouco a respeito. Sim! Eu, Luís, acompanho pelo facebook. Por ter trabalhado e ser um grande amigo do Adair Daufembach, a maioria das coisas que ele faz são as que eu mais vejo. O project46 pra mim sempre é o destaque, sempre tudo muito consistente, não só o som, pois o “Três” é absurdo, mas também o jeito que a banda administra a carreira. Eu, Dio, fui e sou parte da cena underground brasileira com muito orgulho, tendo feito parte de várias bandas como Distraught e In

Luís Kalil e Dio Britto - Banda é igual em qualquer lugar do mundo? O que vocês apontariam de diferença ou igualdade em relação à música, divulgação, técnica...? Acredito que a luta e as relações entre uma banda de metal são as mesmas em todo lugar, o grande diferencial é que não se pode negar que estando em Los Angeles as possibilida- 39 -


Torment, com diversos trabalhos lançados e centenas de shows no Brasil, America Latina e Europa, estou sempre ligado nas bandas que gosto, dos meus amigos e nas novas também. Brasil tem muita banda e músico bom. Eu gostaria que houvesse mais reconhecimento, mas seguimos firmes e fortes! Sobre o Metal americano podemos citar bons exemplos. Como descrever isso estando imerso nos EUA? Dio - É muito legal acompanhar mais de perto as bandas que antes pareciam estar tão distantes, podendo ver shows a um preço bom e às vezes até dar de cara com músicos que admiramos em um bar ou na estrada. Rola muitas tours conjuntas aqui, o que possibilita ver e conhecer mais bandas também. Algo que percebi e acho muito legal é que há muitos brasileiros talentosos inseridos na cena americana, como os curitibanos do Red Devil Vortex, Sinaro (NY), Born of Osiris, meu grande amigo Eduardo Baldo que toca com o Glenn Hughes, etc. Existe uma gama de jovens hoje que buscam ‘viver de música’. O que você Kalil tem a falar dessa realidade? Conte um pouco de sua própria trajetória. Bom, essa é uma questão bem profunda. É difícil começar a tocar já pensando em ser profissional, eu acho que nem faz bem, isso se descobre ao longo do caminho naturalmente… Pra mim, existe o sonho e o devaneio. Todo sonho um dia já foi devaneio, eu por exemplo comecei a tocar com nove anos por causa do Slash e eu queria um dia ser ele. Aí é um caminho longo até você enxergar como o mundo realmente funciona… Primeiro aprendi a tocar, foquei no instrumento, muito foco, e aí eu construí o lance mais importante: gostar da coisa em si, amar cegamente tocar guitarra, e

não só pelo status, atenção, fama, etc. Quando você pensa nessas “recompensas” como finalidade, acho que “Deus” sai da sala, se é que você me entende. E depois de um certo tempo comecei a ver o lado business da coisa, quando tinha uns 13 anos. Aí foi que o devaneio virou sonho, pois vi que tudo não era tão lindo quanto parecia, mas ao mesmo eu vi que o caminho era possível. Então resumidamente, tenha foco todos os dias, consistência no trabalho, tenha referências e não gente que você vá copiar, trabalhe duro e acredite cegamente em você, no final do dia o mais difícil é ser você - 40 -


mesmo. Entenda que cada um tem sua história, as coisas acontecem de formas diferentes para as pessoas e isso é o mais fascinante da vida.

um passo a frente. Acho que há bandas que mereciam estar no circuito americano, como Project 46, Hibria, Distraught, In Torment, Horror Chamber, Exterminate, Rebaelliun, Daydream XI, Dying Breed, etc.

Top 5. Quais bandas poderiam ser americanas devido ao som que fazem? Se possível fale um pouco sobre elas. Dio - Eu acho que uma banda, independente de onde é, deve sempre buscar uma sonoridade original, com personalidade. Claro que quando falamos em produção há muitos produtores nos EUA que estão, digamos, sempre

Por fim, o que podemos esperar do WM para 2019? Sucesso e muito obrigada! Podem esperar muita coisa, principalmente shows! Queremos estar na estrada constantemente. Mas ainda esse ano vai ter mais clipe, mais singles, e o disco! Então muita novidade pelo caminho! - 41 -


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Texto e Fotos Mauricio Melo

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ão é a primeira nem muito menos a segunda vez que temos a oportunidade de conversar com Max Cavalera em uma de suas passagens por Barcelona. Porém sim, foi a primeira vez que o mesmo veio acompanhado de seu filho, Zyon, que aos poucos vai se soltando e ocupando uma posição de destaque no cenário do metal mundial. Como sempre, nosso bate-papo começa como uma entrevista mais profissional e termina de maneira informal ao melhor estilo mesa de bar. Ambos revelaram alguns detalhes do novo disco, “Ritual”, que será lançado mês que vem (19/10) além de seus projetos como Lody Kong, Cavalera Conspiracy e o Soulfly Point Blank... Pela conversa já deu para sentir que o disco novo promete. Começamos pelo disco novo, sabemos que sairá em Outubro. Poderiam contar alguns detalhes sobre o disco, as gravações ou será uma surpresa ? Max - Tentamos guardar um pouco de segredo, fazer alguma surpresa. Acho que o esse álbum, que sai justamente no mesmo ano em que se completa vinte anos desde o primeiro. Então, quando estávamos no estúdio, fazíamos umas jams do primeiro disco com frequência e que continua sendo um bom disco duas dé- 44 -


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cadas depois. Tentamos recriar a atmosfera da época, um pouco do que faltou no último disco do Soulfly (Archangel). E também trabalhei muito com o Zyon desta vez, já havia trabalhado antes já que está há algum tempo na banda, mas nunca como agora. Estávamos sempre numa jam, o que para mim é foda e fiquei muito satisfeito porque ele ajudou com boas ideias, totalmente envolvido e totalmente diferente de antes. Zyon - Sim, foi realmente muito bom porque estávamos escrevendo numa casa de montanha no Arizona, longe da cidade e fazia muito calor também. Então, nos encontrávamos suando o tempo inteiro durante a jam e dava a sensação de um trabalho duro porém satisfatório porque tínhamos umas vistas maravilhosas da cidade ao fundo, o pôr do sol, as montanhas e tudo isso criou uma atmosfera perfeita, Max tinha um monte de riffs irados, escrevia o dia inteiro, passávamos o dia lá criando músicas juntos. Quando finalmente juntamos a banda, tudo foi mais simples porque tínhamos um bom material adiantado e uma vez juntos arrematamos o serviço. Max - Gosto de fazer coisas assim. Nos juntamos primeiro, eu e Zyon, para quebrar o gelo das músicas e sentir o que pode ser bom e o que não, o que pode se tornar uma boa música, algo que tenha potencial. Deixávamos muita coisa no estúdio onde gravamos de maneira oficial (Califórnia) porque o Josh Wilburn (produtor) vinha conosco. Foi muito interessante porque eu buscava as músicas mais rápidas, queria algo mais thrash e death metal e Josh estava buscando as musicas mais tribais como o Soulfly do princípio. Então, tivemos algumas quedas de braço, mas isso é bom, é assim que boas músicas são feitas quando você não concorda totalmente com o que está sendo feito. Esse jogo de ceder um pouco e pedir algo em troca, se torna um compromisso maior, aumenta o - 47 -


nível até conseguir o equilíbrio perfeito. Josh é um fã do Soulfly e fez o disco como tal, não somente como um profissional, mas como um fã. Justamente por causa disso acho que este disco tenha essa magia do princípio, do primeiro disco da banda combinado com os discos mais recentes e o Thrash e Death Metal que tanto curto. Um pouco como aconteceu com o último Cavalera Conspiracy, aquela volta às raízes. Há uma música que o Randy (Lamb Of God) canta, “Dead Behind The Eyes”, que trabalhei um bom tempo com o Zyon, tocava para ele coisas como “From The Past Comes The Storm” e “Beneath The Remains” e disse a ele, “vamos fazer uma música desse estilo”. Todas as partes de baterias juntas e isso não é fácil de fazer, esse “inter kit” demora um tempo e ele se dedicou bastante. No final fizemos e “Dead Behind The Eyes” é uma versão renovada de “From The Past Comes The Storm (Schizophrenia)”, com novos elementos, incluindo elementos industriais. Na verdade é que não ficamos apenas num estúdio. Até em minha casa foram gravadas algumas músicas, pode não parecer muito profissional, mas funcionou muito bom. Zyon - Uma outra coisa que influenciou bastante foi que, pouco antes da composição do “Ritual”, fizemos a turnê do “Nailbomb”, logo ficou aquela vibe da turnê e decidimos adicionar toda a influência do “Nailbomb” como sintetizadores e alguns samplers, nada massivo, mas de alguma maneira preencher alguns espaços disponíveis. Até mesmo para ele (Max) que quando fez o último disco do Cavalera Conspiracy com a influência do Morbid Visions, no final essa vibe também está no “Ritual”. Está justamente aí, uma das perguntas marcadas. A turnê do Soulfly tocando “Nailbomb”. - 48 -


Max - A turnê do “Nailbomb” foi muito boa, muito divertida. Fomos a todos os buracos possíveis para tocar “Nailbomb”, lugares que só cabiam cem pessoas enlouquecidas por não acreditarem que pudessem presenciar aquilo. Esperamos poder repetir a experiência aqui na Europa e ao Brasil porque “Nailbomb” é um disco especial na minha vida. Foi criado de uma maneira muito louca, mas resistiu ao passar do tempo, você escuta e continua atual e muito mais agora com todos esses políticos como Trump à solta pelo mundo, por exemplo. Então, foi uma grande influência para o disco novo do Soulfly, trouxemos muita coisa dessa turnê para o estúdio. Fomos da turnê para as jams nessa da qual falamos, daí para o estúdio e foi como o Zyon disse, a vibe continuou. Havia um cara, Nick, que cuidava das partes eletrônicas e demos espaço para ele trabalhar, o resultado foi impressionante especialmente na música que já estamos tocando nessa turnê, “The Summoning”, no final dela tem umas coisas parecidas ao bom e velho Nine Inch Nails, Ministry e Nailbomb. Têm essas partes eletrônicas e também coisas bastante orgânicas, tribais que fizemos com os índios Navajos no Arizona e foi sensacional. Zyon - Foi legal mesmo. Na verdade eu estava gripado e foi a maior viagem porque fizeram todo um ritual para curar a gripe. Nos benzeram, dançamos com eles, foi realmente louco. Max - Recentemente tocamos no aniversário de 150 anos do tratado (1898) e fomos os convidados especiais porque o vice presidente adora o Soulfly e o Sepultura e nos convidou para estar lá. Nessa ocasião conhecemos um dos últimos Code Talkers da segunda guerra mundial e que faleceu mês passado. Nós o conhecemos, tiramos fotos e tal. Ele já estava em cadeira de rodas e uma semana após nossa visita ele faleceu aos 94 anos, loucura. - 49 -


Foi uma grande noite, no final do set havia um monte de crianças Navajas no palco, umas vinte mais ou menos, cantando “Eye For An Eye”, foi realmente legal. Foi um dos shows mais memoráveis que fizemos. Zyon estava doente, mas ainda assim foi um grande show. E depois, fomos até Tuba City e encontrei pessoas da tribo, percussionistas e gravamos algumas coisas com um gravador muito antigo que tenho, algo bem underground com um microfone Radio Shack de uns dez dólares, queria que fosse assim, bem underground, é o tipo de situação que não pode ter modernidade, não pode ser High Tech. É o espírito que conta, é captação real. Depois de tudo grava-

do, levei para o estúdio e dei para o Josh para que ele pudesse encaixar em alguma parte do disco, a introdução do disco terá uns cânticos Najajos e há uma música chamada “Blood On The Street”, que conta a história de uma garota Navaja que foi assasinada pela polícia, gosto desse tipo de controvérsia nas canções, como “Manifest”, típica faixa que poderia encaixar num disco como “Chaos A.D”. e o álbum vai estar muito bom com toda essa vibração da tribo, algo que para mim é muito interessante, como brasileiro expor algo de uma tribo Norte Americana, a ideologia e todos os rituais e o mais importante dos rituais que foi essa celebração da qual fomos convidados. Definitiva- 50 -


ticipando da banda há anos. Uma voz aqui e ali, a gravação de Refuse/Resist há alguns anos e oficialmente se tornou o baterista. Quão importante foi toda essa introdução na banda? Max - Fomos fabricando o Zyon desde antes de nascer com os batimentos cardíacos como introdução de uma música né?! Zyon - Sim, essa foi uma das coisas mais importantes, o fato de sempre estar por perto e rodeado de música. Não havia escolhido tocar bateria até completar uns 16 anos de idade, estava apenas curtindo, conhecendo a todos os artistas que encontrávamos em turnê, alguns se tornaram meus amigos, coisa de família.

mente será um dos melhores discos do Soulfly. Participações especiais nele? Max - Sim! Teremos Ross do Immolation que é uma banda que adoro e sua voz brutal estará na música “Under Rapture” e parece duas músicas em uma única, a primeira parte mais groove com algo de blast beat que pedi ao Zyon para tocar e Ross entra com sua voz, foi insano, algo muito Death Metal. E anteriormente já disse que o Randy também participa. Muita gente acha que o Zyon é novo na banda, como o novo baterista, mas a grande verdade é que ele vem par- 51 -


Até que um dia comecei prestar atenção em alguns músicos e os bateristas me chamavam mais atenção. Passei alguns shows sentado junto a de Bill Ward (Black Sabath)… Max - O que deixou meu irmão com uma baita inveja… Zyon – Então, quando realmente decidi me dedicar a bateria, tudo foi mais fácil. Max - Sim e lá se vão dois álbuns completos e vai melhorando a cada dia. A cada noite ele tenta algo diferente e as pessoas gostam de vêlo tocando, tentando achar seu próprio estilo, algo que gosto bastante porque está melhorando na vida real, não tenta coisas no ensaio e logo em turnê faz o básico, ao contrário, melhora na estrada. Para uma pessoa que nunca teve aulas de bateria, ele tem um estilo bastante enérgico, algo como um baterista pronto para tocar ao vivo. Zyon - Não gosto de fazer a mesma coisa a cada noite, tocamos as mesmas músicas, mas não tenho o mesmo sentimento a cada noite pela mesma música, seria algo muito robótico. Gosto de tentar coisas novas, se tenho alguma ideia diferente, tento encaixar ali no momento, se der errado peço desculpas, mas muitas vezes dá certo Um dos shows que cobri do Soulfly foi no Secret Place na França (Montpellier), que é um cubículo e em pleno verão foi uma das noites mais quentes da qual tenho memória de haver fotografado um show. Naquela ocasião, seu filho Igor estava no baixo. Afinal, ele não quis continuar como baixista da banda? Max - Ele tem sua própria banda, o Lody Kong. Estão gravando disco novo e o Igor adora estar com sua banda. Acho que num futuro teremos uma banda em família, só a gente. Gostaria de fazer um disco com eles, algo bem punk rock e hardcore, sem se importar se vai

vender ou não, se vai ter gravadoras e selos envolvidos. Para mim, como pai, tocar com meus dois filhos e gravar um disco com eles seria um sonho tornando-se realidade. Está na lista de desejos. Até porque o Igor canta com o Lody Kong, o que nos daria uma divisão de vozes, será algo bem legal de fazer. Zyon, alguma música que você adoraria tocar com o Soulfly e seu pai nunca coloca no setlist? Zyon - Não, porque podemos tocar qualquer música e Max sempre estará feliz, não tem muito isso de que “toque as que eu quero”, so- 52 -


mos uma banda e sempre escutamos uns aos outros. Max - Acho que é mais ao contrário, sempre quero tocar tudo e talvez eu escolha algumas que ele não goste tanto, mas no final das contas tocamos assim mesmo, faz parte. Trocamos o setlist (um pouco) a cada noite, algumas noites tocamos “Nailbomb”, outras tocamos “Refuse/Resist” ou “Babylon”. Todas as outras coisas são coisas que tocamos com frequência, muita coisa dos primeiros discos nessa turnê como “Bleed” e “No Hope No Fear”, “Fire”, “Porrada”, “Rise Of The Fallen”, “Prophecy”, “Blood Fire War Hate”, a música nova que foi

mencionada acima e além dos clássicos do Soufly que não podem faltar no set como “Eye For An Eye”, “Primitive”. Tentamos dar aos fãs o que eles querem ouvir. O que é maneiro é que a maioria dos fãs estão aqui por causa do Soulfly, o que para mim tem um sabor de vitória porque finalmente estamos aqui especificamente para o Soufly, estou orgulhoso e otimista para o futuro. Algum show memorável que vocês tenham feito com o Soufly? Zyon - Sim, num 4 de julho em Londres com Motörhead, Black Sabbath, Faith No More e - 53 -


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Soundgarden… Max - Alguns desses caras já não estão entre nós… É um mundo selvagem que vivemos e com todas estas coisas que acontecem. Fico feliz que Zyon tenha escolhido esse show porque também é um de meus favoritos. Também gosto muito de um festival que fizemos em Portugal, o Vagos Metal Fest. Estávamos no meio da turnê “Return To Roots”, mas tínhamos este agendado e foi um show sensacional. Outro foi na França (Antibes), também na Eslovênia e no festival Copenhell. Tenho alguns bem memoráveis. Fizemos um na Polônia, um festival com 100 mil pessoas, foi no dia do meu aniversário e fiquei muito feliz, imagina a situação com milhares de polacos cantando parabéns? Foi manero. Algum projeto novo com o Cavalera Conspiracy? Max - Eu e Iggor faremos o “Arise” e “Beneath The Remains” na América do Sul e Rússia. Serão as músicas que mais gostamos dos dois álbuns num único show, uma fusão para criar um único monstro e que talvez num futuro passe por Europa. Segue a linha do “Return To Roots”, mas uma ideia diferente por juntar os dois discos, algo mais original porque quase ninguém faz esse tipo de coisa. Geralmente escolhem um álbum em especifico como fizemos com o “Roots”, mas juntar dois álbuns ainda é algo novo. Após essa turnê voltarei minhas atenções ao Soufly, lançamento do disco e ano que vem será uma grande turnê para apresentá-lo. Tentaremos montar um palco com temas do “Ritual”, com estátuas e algo mais, algo bem louco e interessante de ver mas deixo claro, nada High Tech, sem super produções, algo bem old school com estátuas de verdade. Lembro de ver o Jane’s Addiction há alguns anos e tinham coisas assim. São nossos planos para o próximo ano, talvez até uma turnê - 55 -


mundial.

ano as coisas vão melhorando. Assim que tenho sempre um olho posto no Lody e em 2019 teremos novidades Max - Escutei algumas músicas e posso dizer que é muito bom, ainda estão trabalhando nelas. Para ele é legal porque ele sempre quis estar numa banda grande, o que agora mesmo ele tem com o Soulfly, e ao mesmo tempo tem sua própria criação com o Lody Kong onde pode fazer o que quiserem por conta própria Zyon - Começamos do zero, não temos que seguir um formatos para agradar a fãs. Podemos fazer o que queremos e se alguém go-

E o Lody Kong? Zyon - Para mim o Lody é como se fosse minha banda principal, mas como estou sempre em turnê com o Soulfly parece que esta é minha nova banda principal. Me sinto muito cômodo com o Lody Kong porque eu e o Igor escrevemos o material juntos de maneira frequente, produzimos nossos próprios vídeos e coisas assim. Estamos amadurecendo e teremos um disco novo em breve, estamos crescendo como artistas e indivíduos além da banda. A cada - 56 -


star pode seguir o que fazemos, um formato nosso, sem compromissos. Estamos sempre tocando e tentando encontrar o ponto certo.

chamada Indian Handcrafts, algo estilo Mastodon e Queens Of The Stone Age. Também Real & Ardor (Max estava com a camisa da banda) da Suíça, tocamos com eles num festival. Fizemos boas turnês com bandas como Cannabis Corpse, que é bastante divertido porque é uma banda de Death Metal que só fala de maconha. Bandas como Nile que já tem uma carreira consolidada e não é novidade para ninguém. Gatecreeper é uma banda legal, Genocide Pact também gosto muito. Gosto de ver que o Metal continua no bom caminho.

Alguma banda os chama atenção atualmente. Lembro que comecei a escutar Clutch quando o Iggor mencionou a banda há anos atrás no programa da MTV, Gás Total. Também há uns anos quando te entrevistei (Max) e você falou do Nails, que é uma banda maravilhosa. Zyon - Shit man! Essa é difícil (risos) Max - Eu descobri uma banda no Canadá - 57 -


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Texto e Foto Bruno Sessa

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pós ótimos lançamentos em sua consistente carreira solo, a musa do metal, Tarja Turunen, retornou a São Paulo no palco do Tom Brasil, para divulgar o seu mais recente e tão aguardado álbum: ACT II, gravação ao vivo que dá continuidade ao aclamado Act I: Live in Rosario. A banda escolhida para a abertura da noite e esquentar o ansioso público foi a Rec/ All, grupo formado pelos dois integrantes do Angra: Felipe Andreoli (baixo), Marcelo Barbosa (guitarra) e Rod Rossi (vocal), Davis Ramay (guitarra) e Robson Pontes (bateria). Com incontáveis apresentações no Brasil, a finlandesa Tarja Turunen continua enchendo casas de shows em suas turnês, e dessa vez não foi diferente. Com a música “No Bitter End”, do álbum “The Brightest Void”, os calorosos fãs ovacionaram a entrada da vocalista, e em resposta com o mesmo entusiasmo de Tarja que distribuiu sorrisos encantadores para o público. Na sequência, Tarja tocou “500 letters”, “Demons in You” e a frequente “Little Lies” do álbum “What Lies Beneath”, terceiro - 60 -


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disco de estúdio lançado em 2010. Provocando reações incríveis nos fãs, na sexta música do repertório, intitulada “Diva”, Tarja entrou no palco usando uma coroa, representando sua imagem, é inevitável dizer que a bela vocalista com seus 41 anos de idade, segue em sua melhor fase vocal, sendo referência no gênero há mais de 15 anos. A competente banda conta com a atual formação com Timm Schneiner na bate-

ria, Alex Scholpp na guitarra, Kevin Chown no baixo, Max Lilja no violoncelo e Christian Kretschmar no teclado, excelentes músicos que acompanham a vocalista nessa aula de entusiasmo e euforia. As surpresas do show contaram com o pesado cover da música “Supremacy” da banda Muse, e um medley de quatro músicas do Nightwish: “Tutankhamen”, “Ever Dream”, “The Riddler” e “Slaying the Dreamer”, mo- 62 -


mento nostálgico e emocionante para a maioria dos fãs que acompanham Tarja por toda a sua bem-sucedida carreira na música. Após apresentar um set acústico, criando um clima intimista no show, mais um belíssimo momento ocorreu com a apresentação da música “Lanterna dos Afogados” dos Paralamas do Sucesso, cantada em português. Tarja consegue demonstrar todo o seu carinho e dedicação aos fãs brasileiros com essa homena-

gem com uma versão que poderia muito bem ser gravada em seus próximos trabalhos de estúdio. O anúncio dramático da próxima música faz muitos se sentirem arrepiados, principalmente por ser a canção que mais simboliza Tarja Turunen, foi também uma surpresa do set-list: “The Phantom of the Opera”, executada com maestria e profissionalismo por parte de cada integrante da banda. - 63 -


Finalizando o set, antes do encore final, foram tocadas “Love to Hate”, e “Victim of Ritual”, e na volta para o bis, vestindo uma capa com capuz, fazendo referência a capa do álbum “My Winter Storm” de 2007, executou “I Walk Alone. “Innocence”, “Die Alive” e “Until My Last Breath”, fecham a apresentação que marcou extrema organização da produção Top Link Music, iluminação e som com uma qualidade absurda da casa de shows, e uma verdadeira estrela que já dispensa apresentações nesse quesito, Tarja vai cada vez mais longe com um novo marco em sua carreira atingindo um novo patamar e um rumo brilhante nos diversos gêneros que seu potencial e talento alcançam no meio musical.

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Natural Hate - Welcome to Underground

Marcos Garcia é formado em Física pela UFF/RJ, Mestre e Doutor em Geofísica pelo ON/MCTIC/RJ. Headbanger desde 1983, é redator-chefe do Metal Samsara, colaborador da Rock Meeting, Metal Temple (Europa) e The Black Planet (Europa). Tem apreço pelos bangers e bandas mais jovens, respeitando o passado, esperando o futuro, mas sempre com a mente no presente.

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Lethal Storm - Manipulated Minds

Marcos Garcia é formado em Física pela UFF/RJ, Mestre e Doutor em Geofísica pelo ON/MCTIC/RJ. Headbanger desde 1983, é redator-chefe do Metal Samsara, colaborador da Rock Meeting, Metal Temple (Europa) e The Black Planet (Europa). Tem apreço pelos bangers e bandas mais jovens, respeitando o passado, esperando o futuro, mas sempre com a mente no presente.

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Monstractor - Recycling Thrash

Marcos Garcia é formado em Física pela UFF/RJ, Mestre e Doutor em Geofísica pelo ON/MCTIC/RJ. Headbanger desde 1983, é redator-chefe do Metal Samsara, colaborador da Rock Meeting, Metal Temple (Europa) e The Black Planet (Europa). Tem apreço pelos bangers e bandas mais jovens, respeitando o passado, esperando o futuro, mas sempre com a mente no presente.

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Behavior - Morbid Obsession

Marcos Garcia é formado em Física pela UFF/RJ, Mestre e Doutor em Geofísica pelo ON/MCTIC/RJ. Headbanger desde 1983, é redator-chefe do Metal Samsara, colaborador da Rock Meeting, Metal Temple (Europa) e The Black Planet (Europa). Tem apreço pelos bangers e bandas mais jovens, respeitando o passado, esperando o futuro, mas sempre com a mente no presente.

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Maestrick - Espresso Della Vita

Marcos Garcia é formado em Física pela UFF/RJ, Mestre e Doutor em Geofísica pelo ON/MCTIC/RJ. Headbanger desde 1983, é redator-chefe do Metal Samsara, colaborador da Rock Meeting, Metal Temple (Europa) e The Black Planet (Europa). Tem apreço pelos bangers e bandas mais jovens, respeitando o passado, esperando o futuro, mas sempre com a mente no presente.

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Pagan Throne - Pagan Empire & Live Thorhammersfest

Marcos Garcia é formado em Física pela UFF/RJ, Mestre e Doutor em Geofísica pelo ON/MCTIC/RJ. Headbanger desde 1983, é redator-chefe do Metal Samsara, colaborador da Rock Meeting, Metal Temple (Europa) e The Black Planet (Europa). Tem apreço pelos bangers e bandas mais jovens, respeitando o passado, esperando o futuro, mas sempre com a mente no presente.

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Heia - Magia Negra

Marcos Garcia é formado em Física pela UFF/RJ, Mestre e Doutor em Geofísica pelo ON/MCTIC/RJ. Headbanger desde 1983, é redator-chefe do Metal Samsara, colaborador da Rock Meeting, Metal Temple (Europa) e The Black Planet (Europa). Tem apreço pelos bangers e bandas mais jovens, respeitando o passado, esperando o futuro, mas sempre com a mente no presente.

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Texto Renata Pen | Foto Susi Santos

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Heavy Metal surgiu nos anos 70 e desde então vem sofrendo muitas mudanças. Bandas como Iron Maiden, Black Sabbath e Judas Priest podem ser consideradas o início, a base do heavy metal clássico. Em seguida, o estilo foi tomando mais peso com Venom, Slayer e Metallica, chegando ao seu auge nos anos 80, e coexistindo com seu lado mais leve (que nos apresentou ao hard rock do Def Leppard e Mötley Crüe, entre outros exemplos icônicos), e seguiu forte nos anos 90, década de surgimento do Hellish War, fundado em 1995 pelo guitarrista Vulcano, mesmo que o músico já atuasse em diversas bandas da região de Campinas desde 1986. A ideia inicial era formar um power trio, juntando-se ao baterista Jayr Costa e ao baixista e vocalista Marcos Baeta. Gravaram The Sign, a primeira demo, em 1996, e isso aconteceu durante uma revolução no cenário rock, com o final do apogeu grunge de Seattle, vertente que alterou para sempre o rumo do rock e deu uma abafada temporária no heavy metal. Neste contexto, a primeira mudança aconteceu no Hellish War em 1997, com a sa- 76 -


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ída de Marcos Baeta. Roger Hammer assumiu os vocais, Gabriel Gostautas foi para o baixo e Daniel Job ficou com a segunda guitarra. Assim, o que era um trio tornou-se se um quinteto, trazendo mais peso ao som do conjunto e mais potência aos vocais. De contrato assinado com a Megahard Records, lançaram Defender Of Metal em 2001, álbum bem recebido pelo público e que tem verdadeiros hinos do heavy metal tradicional, como a faixa-título e We Are Living For The Metal. O play também recebeu excelente avaliação dos veículos especializados, e com isso o grupo excursionou pelo exterior, ganhando notoriedade em países como Portugal,

Alemanha e Japão. Outras mudanças aconteceram no line-up, com Jayr Costa e Gabriel Gostautas substituídos por Daniel Person e JR, e assim pegaram a estrada, passando por mais de cinquenta cidades do Sul e Sudeste e apresentando-se com nomes consagrados do metal como UDO e Saxon. Com a troca de gravadora, lançaram seu segundo álbum, Heroes Of Tomorrow, um trabalho mais lapidado e com produção impecável. Mesmo remando contra a maré, o Hellish War permanecia na linha do heavy metal clássico. Em 2009, receberam um convite para - 78 -


tocar na Europa, batizando a turnê como European First Assault Tour. A banda se apresentou em vários países, novamente com repercussão positiva. Nos festivais, teve gente que os via tocar e voltava no dia seguinte para repetir a dose. Outro fator que denotou o sucesso do grupo foi a venda do merchandising, acima do esperado. Com isso o Hellish War deixou o Velho Mundo com a certeza de que iriam voltar, pois já tinham recebido novos convites. E então, com a gravadora alemã Pure Steel Records, a banda relançou seus dois álbuns e eles venderam super bem, fortalecendo o nome da banda e fazendo com que imprensa

e público os colocassem em posição de destaque. A Rock Meeting fez um rápido bate-papo com seu novo vocalista, Bill Martins, que nos falou sobre sua entrada no grupo e a cena metal. Rock Meeting: Olá, Bill, seja bem vindo à Rock Meeting. Você poderia nos contar como foi sua chegada ao Hellish War? Bill Martins: Oi, pessoal! Obrigado pela oportunidade de estar aqui com vocês. Bem, em 2012 eu vi que o Hellish War estava precisando de um vocalista e entrei em contato com - 79 -


eles. Eu fiz o teste e não foi o que eu esperava, mas após um ensaio, mais à vontade, as coisas fluíram muito bem. Depois disso as coisas com a banda aconteceram muito rapidamente porque eles já tinham quase todo o material pronto. Só faltava a voz e uma música para terminar de compor e eu acabei ajudando. Gravamos e lançamos o Keep It Hellish (2013) e partimos para a turnê na Europa. Foi minha primeira experiência internacional.

Sempre foi difícil fazer metal aqui. Não coloco culpa no público, produtor ou em qualquer outra pessoa porque existem pessoas que apoiam as bandas ou que dão a maior força para os músicos. Acredito que seja uma coisa cultural mesmo. Eu sempre fiz música por amor e assim continuo, independentemente de sermos uma banda underground ou mainstream. O que não falta na cena metal são bandas de alto nível. Só precisam receber o devido valor e reconhecimento. Nunca vou concordar que o metal está morrendo.

Como é fazer heavy metal no país do carnaval? - 80 -



Me and That Man Carlos Pupo – Headbanger News Sou fã confesso da banda Behemoth, gosto muito de Black Metal e nos últimos tempos me deparei com um álbum que não consigo parar de ouvir. “Songs of Love and Death” (2017), o projeto paralelo “Me and That Man” de Adam Darski, o vocalista “Nergal” da famosa banda polonesa. A parceria com John Porter, músico britânico que vive na Polônia desde 1976, traz à tona uma sonoridade totalmente diferente do Behemoth, que se aproxima do folk e da country music, mas ainda assim com sua tendência profana nas letras evidentemente niilistas de faixas como “My Church Is Black” e “Cross My Heart And Hope To Die”. “Shaman Blues”, “Voodoo Queen” e “Nightride” são outras pérolas do blues e western music, uma grata surpresa para um

headbanger que gosta de ouvir música barulhenta no último volume, mas reconhece o talento de músicos competentes. A parceria conseguiu sair do lugar comum com êxito e apresentar um lirismo baseado no desajuste ao estado das coisas, a tristeza existencial e a angústia. O show à parte fica por conta dos arranjos instrumentais autênticos e melodramáticos mostrando o outro lado de um dos “mestres” do metal extremo da atualidade. Como admirador de Johnny Cash, absorvi tudo que as letras soturnas do álbum transmitem, com pitadas infernais em seu bojo. Uma advertência aos fãs de Behemoth, o que é tocado neste álbum não é metal, mas é muito bom!

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Powerwolf Pedro Humangous – Hell Divine usam corpse paint nos shows – fato totalmente inusitado para uma banda de Power Metal. Difícil eleger destaques, porém, confesso que “Fire And Forgive” (que abre o disco) e “Killers With The Cross” ficaram por dias ecoando na minha cabeça. Acredito que esse álbum saia no Brasil, mas pra quem coleciona, vale comprar a edição deluxe importada que vem em um lindo box digibook trazendo um segundo disco com diversas bandas tocando covers do Powerwolf. Epica, Amaranthe, Battle Beast e Heaven Shall Burn são algumas das bandas que figuram no disco bônus. Pra quem ainda não conhece essa incrível banda, recomendo muito sua discografia, sendo esse último, desde já, um dos melhores do ano, não deixe de ouvir!

Incrível como o Power Metal teve seu auge, sua queda e agora se reinventou, estando em alta novamente, contando com grandes nomes lançando verdadeiras obras do estilo! É inegável o crescimento de bandas como Sabaton, Gloryhammer, Beast In Black e Powerwolf. “The Sacrament Of Sin” é o mais recente trabalho dos alemães do Powerwolf, que trazem uma temática interessante, uma arte de capa incrível e uma sonoridade pra lá de viciante! Cada música tem algo de especial e cativa o ouvinte logo na primeira audição. Nota-se que a banda se preocupou em cada detalhe, com composições muito bem estruturadas, a parte instrumental empolga e os refrãos são sempre grandiosos e grudentos. Isso sem falar na parte visual dos caras, que - 83 -


Heart Marcos Garcia – Heavy Metal Thunder No fundo, reconheço que sou um saudosista do Metal dos anos 80. A diferença é que enquanto a maioria busca os estilos mais extremos ou o Metal tradicional daqueles tempos, eu tendo para o US Metal ou ao Glam/Hair Metal e AOR. Logo, falar no Heart é um prazer, em especial o disco Heart, de 1985. A primeira coisa que chama a atenção: o quinteto é liderado pelas irmãs Ann Wilson (vocais) e Nancy Wilson (guitarras, backing vocals) desde sua fundação, em 1973. Nos anos 70, elas tocavam um estilo de Rock/ Hard Rock com influências de música Folk. Algo que era muito bom, mas meu feeling pessoal me leva aos trabalhos mais farofentos do grupo. Por isso, Heart (o disco) me seduz tanto. Basicamente, o grupo abraçou de vez o jeito Glam que varreu os EUA nos anos 80. As par-

tes acústicas deram lugar a algo mais grudento, refrães com belos duetos das belas vozes de Ann e Nancy, e uma estruturação melódica muito acessível. Não tinha como dar errado. Se a banda é de AOR/Glam, tem que pegar de primeira pelos ouvidos, e isso o Heart faz. E ao ouvir os Singles do disco, ficam patentes o motivo. Verdade: “What About Love”, “These Dreams” e “Nothin’ at All” se destacam pelo grude e arranjos. Mas se seu dia estiver ruim, ouça “Never” (esse clima meio Pop grandioso faz bem ao coração) e “If Looks Could Kill” (esta muito conhecida no Brasil por ter sido tema de comercial de cigarros), e eu garanto: vai melhorar. Se não melhorar, você tem problemas... Heart é o único disco da banda a atingir o topo da parada Billboard 200, vendeu 5.000.000 e emplacou os cinco Singles que falei acima. Ouçam, comprem e se divirtam! - 84 -


Foto: Daria Endresen

Myrkur Pei Fon - Rock Meeting Quando sugerir o retorno dessa seção, eu tinha certeza de quão difícil seria para mim. 2018 tem sido o ano mais musical, o ano que passei mais tempo escutando música repetidas vezes e conhecendo o ‘novo’. Eu poderia citar o compositor italiano Ludovico Einaudi tranquilamente, porém vou me ater ao Rock/Heavy, que é o foco da Rock Meeting. Esse ano escutei bastante os lançamentos de Cradle of Filth, Amorphis, Auri, Powerwolf e Myrkur. E é sobre o “Mareridt” do Myrkur que escolhi falar. Não sou fã de Black Metal, mas raras as bandas me cativam, ou com uma única música ou com um álbum. Tinha ouvido falar muito da Amalie Bruun, vocalista do Myrkur, o quanto ela vem passando por preconceito, unicamente por ser uma mulher que faz Black Metal, como se isso fosse algo exclusivo do universo masculino. A dinamarquesa utiliza muitos instru-

mentos regionais, até desconhecidos para nós brasileiros, que dá um toque completamente diferente e único ao som, que por vezes conversa com o experimental e o folk. O estilo ganhou muito com a aparição do Myrkur: leveza, encanto e sensualidade. Sim, por que não?! Toda a instrumentação que o Black Metal pede está presente, e qual a dificuldade que se tem de aceitar? Ok, você pode não gostar de vocal feminino. Tudo bem. O que não pode haver é machismo. A primeira música que escutei, e que me fez ouvir o restante do álbum, foi “Crown”. Tem dor, tem emoção, tem melodia. Não tenho o que dizer, só indicar. E logicamente, te dizer que abra a sua mente e insira essa nova perspectiva sonora. De toda a ‘zuada’ que escuto com os homens, é a voz mulher que encanta. Myrkur me conquistou. - 85 -


Plini Marcelo Murata (guitarrista - Halfdream) Conheci este artista de uma forma um tanto curiosa. Eu tenho um projeto musical em que eu toco guitarra e componho e programo todo o resto, fazendo tudo isso no meu quarto. Um certo dia, alguém completamente desconhecido, ao ouvir minhas músicas, mencionou um tal guitarrista: Plini. Fui conferir o som do cidadão. Plini Roessler-Holgate, nascido em 1992, conhecido pelo seu projeto simplesmente chamado Plini, já recebeu elogios de ninguém menos do que a lenda Steve Vai. Assim como eu (mas com mais competência), Plini começou como um projeto solo em seu quarto na cidade de Sydney, Austrália, e hoje faz turnês pelo mundo inteiro. Como destaque, indico seu primeiro álbum completo: “Handmade Cities”. Do começo ao fim, o álbum é um prato cheio para amantes da música instrumental, trazendo

um novo curso e uma abordagem fresca para a música de guitar heroes como Joe Satriani, Eric Johnson e o próprio Steve Vai. Desde o explosivo riff de tapping da primeira faixa “Electric Sunrise”, passando pelo marcante tema de “Every Piece Matters” e o excelente e técnico solo de “Pastures”, até fechar com a energia de “Cascade”, este álbum possui uma riqueza que poucos guitarristas conseguem trazer. Embora seu estilo seja muitas vezes rotulado como metal progressivo e até mesmo djent, consigo ouvir muitas influências do fusion em seu material, esbanjando um fraseado de muito bom gosto e melodias impecáveis. Tudo soa como algo muito bem construído, bem amarrado, e não como alguém que tenha apenas improvisado sobre uma backing track. Ouso dizer que ele já se tornou um dos grandes nomes da guitarra instrumental. - 86 -


Nick Cave Edi Fortini – Rock Meeting Sou uma pessoa que adora playlists – Viva São Spotify! E como faço muitas coberturas de shows, adoro criar playlists do que os artistas vêm tocando na última turnê, pra me preparar psicologicamente pro show. Sei que muita gente detesta e prefere viver o momento sendo surpreendido pelo mistério (o que é ótimo também!), mas eu realmente gosto de ver vídeos dos últimos shows, estudar alguns movimentos previamente para fotos, entrar no clima para já imaginar a melhor forma de captar o espetáculo. Dito isso, devo dizer que estou ansiosa, aflita, curiosa, em transe pelo o que eu acredito que será o melhor show desse ano (na minha opinião, óbvio) e talvez um dos melhores shows da minha vida: NICK CAVE, MEU AMOR! Fazendo um breve histórico, Cave é um

cantor e músico australiano, na ativa desde o final dos anos 70 e que inclusive já morou por alguns anos em São Paulo, na década de 90. Atualmente ele vive na Inglaterra e junto ao músico Warren Ellis, ele vem compondo dezenas trilhas sonoras de filme (só para citar algumas: A qualquer custo, O assassinato de Jesse James pelo covarde Robert Ford, A estrada, Cinco granças, dentre outros). Ellis também faz parte dos Bad Seeds, banda que acompanha Cave. Pois bem: Cave faz parte da minha formação musical desde adolescente e está na lista dos 10 artistas que eu mais admiro. E quem quiser embarcar nessa aventura comigo, a produtora Popload fez uma playlist do que o Cave vem tocando nos últimos shows, clica aqui pra ouvir! Bom show a todos nós! - 87 -


Foto: Steve Jennings

hARD rOCK rENATA pEN (roCK mEETING) Bom, é um pouco difícil escolher apenas um grupo musical ou estilo que eu ouça. Por quê? Simplesmente por escutar música o dia todo, todos os dias e em lugares diferentes. Por mais estranho que pareça, não sou daquelas pessoas que acorda e já liga algo logo de manhã. Mas, toda vez que estou no carro, por exemplo, ouço minha gigantesca seleção de Hard Rock, meu estilo favorito. Então dá para imaginar que tem Van Halen, Mötley Crüe, Bon Jovi, Skid Row e Def Leppard. Dentre eles, destaco dois álbuns, de bandas diferentes: Hysteria, para mim o melhor lançamento do Def Leppard; e Skid Row, o homônimo e primeiro lançamento deles, que me faz voltar no tempo toda vez que escuto Youth Gone Wild. Por outro lado, quando estou na academia, minha seleção de MP3 é bem mais diferenciada. Nessa hora, a concentração

no exercício é necessária, então minha lista é voltada para as descobertas e sons novos. Normalmente seleciono as bandas que estão chegando para se apresentar pelo país, pois preciso conhecê-las antes de escrever as resenhas de shows que cubro. Destaco duas em especial, que antes eu não conhecia e que agora amo de paixão: os portugueses do Moonspell, que recentemente estiveram em São Paulo e me conquistaram com faixas como “Todos Os Santos” e “Night Eternal”; e o power trio alemão Kadavar, que tem como principal característica o resgate setentista, tanto no som quanto no visual. Para terminar o dia, a pegada pirata tem prioridade. Ao cobrir festivais voltados para a temática, tal experiência tem sido tão maravilhosa que esta vertente também me encantou e sigo interessada na banda escocesa Alestorm, que “dorme comigo”. - 88 -


Foto: Edi Fortini

Muse Yuri Simões (Guitarrista - Aeon Prime)

Eu certamente não ouço tanta músi-

efeitos etc. Todos esses motivos me fizeram

ca quanto se esperaria de um músico, então,

evitar a banda, de certa maneira, mesmo já

por isso, fica meio difícil falar do que eu es-

tendo ouvido e inclusive gostado de alguns

tou ouvindo atualmente (porque a resposta

sons. Só recentemente, mais especificamen-

é: nada). Mas posso falar dos últimos artistas

te no ano passado, visitei toda a discografia

que eu ouvi nos últimos tempos.

do Muse, e posso dizer: que banda absurda-

O primeiro deles é o Muse. O Muse

mente criativa! Criativa e enérgica. Musicali-

é daquelas bandas para as quais os sujeitos

dade incrível, influências de rock progressi-

mais preconceituosos musicalmente torcem

vo e tudo mais, e letras inspiradíssimas. Os

o nariz, e eu mesmo torci o meu para eles,

três são supermúsicos, e Matthew Bellamy é

confesso. Tem aquela pecha de ser uma ban-

um compositor de mão cheia. Gosto das mais

da “nova” (o que já não condiz com a reali-

longas, das mais experimentais e tal. Reco-

dade, já que os caras já têm uns 20 anos de

mendo os álbuns Origins of Symmetry e Re-

estrada); de ser ligada ao meio mais “pop”,

sistance, os meus preferidos.

mais mainstream; e, principalmente, de usar

e abusar de muitos elementos eletrônicos,

- 89 -

Dê uma chance.


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Foto: Tinho Sousa

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Texto Samantha Feehily | Foto Marcos Vieira

N

a estrada desde 2010, Bayside Kings é uma banda que segue a linha de instrumentais pesados, muitos breakdowns nas guitarras, velocidade e peso nos pedais duplos e com uma linha de baixo e vocal que prende a atenção de quem ouve de primeira. Conversamos com o vocal, Milton Aguiar que soltou o verbo sobre música e a cena. Com influências de bandas como Comeback Kid, Casey Jones, Rotting Out, Terror, Champion, Stick to Your Guns, Pennywise e CBJR, Milton diz que em 8 anos de banda, eles passaram por quatro fases diferentes que acabaram formando a personalidade de hoje. “Acredito que se for pra citar o que ouvimos na intersecção de todos da banda vamos cair em que é o lance de misturar o melódico com algo agressivo.... ‘ahhhhh mas aonde entra o CBJR aí?’, a cada 5 santistas 1 não gosta, somos em 5, fica minha pergunta: “qual membro do BSK não gosta de CBJR?” Eu ia escrever um textão, mas as respostas ficaram tão incríveis, que vale a pena um formato Q&A. O Bsk é uma banda que luta contra o - 92 -


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preconceito de todas as formas, como você vê isso hoje em dia? A vida é aprendizado e movimento, não nascemos desconstruidões e nem somos. O grande lance é que dentro do hardcore punk e com o tempo passando, conseguimos ter uma maturidade de usar mais a empatia e entender as questões internas e externas que temos e é isto que levamos para as músicas, para as letras e para os shows. Ainda temos muito o que trabalhar, o que a gente tem e devemos usar é a informação e criar uma inteligência emocional de perceber que tal bagulho é zoado ou que posso pensar duas vezes antes de fazer ou falar merda. Acredito que o lance é este, criar este ímpeto e abrir mais campos de pensamentos e conversar entre as pessoas. As letras são cheias de positividade e um certo tipo de fúria, o que te motiva a escrever? A negatividade, todo o veneno do dia a dia, o BSK nasceu para mim como um ponto de fuga, um botão On/Off que eu possa desligar tudo e “vomitar” isto no palco, na voz, só em vez de vir cagado e proliferando mais coisa negativa, é o outro ponto de vista de como nós poderíamos fazer diferente e pensar diferente ou simplesmente uma forma de auto reforçar confiança, mas na maioria das letras tem críticas que fiz para mim mesmo, como em Digital Slave (Resitance), em que eu critico meu vício que as pessoas do meu círculo mais próximo sabe que tenho que é o vício digital (acredito que muita gente também está neste cenário). Resumindo é sobre o que nós somos, sobre o que éramos e sobre o que possamos fazer/ser se quisermos, afinal podemos ser livres

com o do começo por exemplo? Identidade, trocamos uma vez de baterista e três vezes de guitarristas. Todos foram importantes para o crescimento do time, a gente sempre foi e sempre vai ser mais do que 5 pessoas, cada pessoa que passou por aqui, acrescentou, colocou o que ela é, e fomos absorvendo e transformando até chegar no hoje, que é nosso melhor momento musicalmente falando (Resistance), na parte de criação de identidade, eu dei sorte de tocar só com cara bom de música e que não seja cuzão aqui da minha cidade.

A banda passou por algumas mudanças na formação, o que você vê de positivo na mudança? O que difere o Bsk de hoje

Uma vez vi você dizendo que o Guilher- 94 -


Foto: Banda/Divulgação

me do One True Reason (que você disse até que ele era o pai da banda) foi quem descobriu vocês, tipo que chamou vocês para tocar nos rolês e tal, qual a importância disso? O OTR tem uma importância fundamental na nossa vida, além do laço forte de amizade, me lembro o dia, que do nada, o Guilherme me mandou uma mensagem, falando que tinha achado a banda legal e conheceu na internet e tudo mais e falou que eles teriam um show em São José dos Campos que não daria pro OTR se apresentar na data e se queríamos ir no lugar deles. Agora eu te pergunto, você acha que alguém hoje em dia faria isto por uma pessoa

que você acabou de conhecer? Difícil né. Esta humanidade que me fez ser amigo dos caras e pelo som também, ainda continua sendo uma das bandas favoritas minhas e fico feliz que depois de um tempo, o sentimento entre ambas as partes seja reciproco. Como você vê a cena Hardcore hoje em dia? O que falta pra cena ficar maior do que já é? Eu vejo um envelhecimento sem reciclagem. O hardcore punk nunca vai morrer, o que acontece nos ciclos é a quantidade de pessoas e comprometimento de envolvimento. Hoje somos poucos. Acredito que muita coisa mudou, - 95 -


e talvez a forma da linguagem, abordagem tenha ser que diferente para brilhar na galera, igual brilhou pra mim há 17 anos.

que reaprender o significado da existência para ter uma evolução. Sou totalmente a favor de misturar estilos, públicos e tudo mais, afinal quanto mais gente para apresentar o som e as ideias, melhor para ter novas construções. O segredo é construir mais pontes do que muros.

Pelo menos para mim, vejo que deu uma mudada, as bandas se uniram mais pela cena, você vê ainda que o Hardcore consegue unir mais as bandas? Não só do Hardcore, mas de outros estilos? Eu acho que depende de cada lugar, cada ramificação e tudo mais. Em questão de proximidade e união, eu invejo a cena latino americana fora do Brasil. Chile, Argentina, Colômbia e Equador. A galera lá é muito comprometida e fazem acontecer. Aqui temos uma extensão maior em território e até mais gente no meio, mas tem muito muro invisível e competições de ego. Um meio onde se diz libertário, tem

Eu vejo muita galera nova sendo influenciada por vocês, pra você como é isso, sendo uma influência na vida dessas pessoas? Eu não sou a melhor e nem a pior pessoa do mundo. Mas isto que vivemos e amamos, o hardcore punk, é tudo aquilo que forjou minha mente, meu comportamento, meu modos operandi de agir no mundo, fui influenciado por diversas pessoas e bandas que tenho a sorte de - 96 -


ter conquistado a amizade e percebi que este estilo é muito mais do que apenas musica, é o único lugar onde as pessoas podem ser iguais, não pode ter estrelismo. Eu fico feliz e até dou esta abertura para as pessoas chegarem e trocar ideia, eu gosto de conhece-las, aprendemos uns com os outros, afinal eu com meus amigos montei o BSK que para mim serviu como reversão do mundo lá fora e de quanto ele fazia eu me sentir pior comigo mesmo, serviu como escudo e espada para eu me auto redescobrir nesta jornada chamada vida e é legal ver que o mesmo que eu faço por mim possa ajudar outras pessoas na mesma moeda e aprendizado com estas pessoas.

(DF) chamado Yin Yang que vai abordar alguns questionamentos só que com pontos de vista diferentes, o BSK neste Split estará mais agressivo e até pessimista, enquanto o MQP veem com aquela energia positiva e melodia, onde uma ideia vai completar a outra. E estamos compondo nosso próximo full. Vai ser em português? Por que eu vejo a galera perguntando e pedindo isso. Vai, em português, precisamos fazer isto e o momento tem que ser agora, estamos passando por uma transformação social em que a mensagem tem que ser direta. Minhas influências sempre foram gringas, e ultimamente me preocupo muito em deixar ela linear e direta para que esta troca de dar e receber tenham mais eficiência. Tem galera que cola e às vezes

Já estão gravando o próximo cd? Temos um Split com o Mais Que Palavras - 97 -


não manja de inglês, mas sente a energia boa da banda, a mensagem tem que completar e por isto vai ser em português o próximo depois do Split, quando sai eu não sei.... Está sendo um desafio grande porque nessa nossa identidade eu não tenho um norte para ter influências, está sendo um mergulho no escuro. Conta como foi a tour que fizeram por alguns países da América Latina e quais foram? Fizemos duas tours na americana do sul e passamos por países como Chile, Argentina e Equador. Conheci mais cenas em outros países e sou apaixonado pelo hardcore sul-americano. Tenho vários amigos em vários países pelo mundo graças ao hardcore punk. É cabuloso você poder se encontrar em outras pessoas que falam outra língua e vivem culturas diferentes, mas quando é sobre a energia do som, só existe uma língua e ela é universal. O que achou da cena desses lugares? Maravilhosos, as pessoas, as bandas, os lugares, a cultura, aí você percebe que tem muita coisa no mundo para navegar e que valeu sair de casa. Percebemos que o sentindo de casa é onde o seu coração está, e o meu esteve e ainda está em cada um desses lugares que tive a oportunidade de ir fazer um som.

A banda é de Santos, berço de muita banda como Garage Fuzz, Cbjr e entre outras, como é fazer parte da Califórnia Brasileira? Conta um pouco como é a cena daí. Hoje em dia é viver em uma praia deserta com uma paisagem linda. Como assim? As pessoas se foram, se afastaram, pararam de conversar, a chama diminuiu, as bandas acabaram, os picos fecharam e a renovação foi pouca. Existimos, sou mais crítico em Santos pelo fato de tudo ter começado aqui e meu desejo de ser algo igual como iniciei era muito grande e com

Quais bandas daqui do Brasa que estão se destacando na sua opinião? Tomem Nota: Bullet Bane, Pense, Blackdays, Ponto Nulo No Céu, Escombro, One True Reason, Surra, Damm Youth, Institution, Paura, John Wayne, Questions, Dead Fish, Walter Rats e tem +, estas são as que me veem num tiro só!!! Todas elas tem uma importância vital e ramificações que vieram do mesmo lugar que a gente. - 98 -


e o que podemos esperar do Bsk para o resto de 2018. Em 2018. Temos uma tour marcada para iniciar neste trimestre por várias cidades, estados, festivais e mais dois países, será intensa com estas músicas e clips novos já gravados, convido geral para continuar indo aos shows, ouvindo não somente o BSK como hardcore punk sempre, comprem merch, paguem ingressos, montem shows, façam zines, postem, mostrem para os amigos, viva! Lembrem-se: isto aqui que gostamos, hardcore punk, é muito mais do que apenas música.

o tempo percebi que o maior problema nosso, santista, é o localismo excessivo o que nos faz viver em um ego que só nos prejudicou. Você amigx de santos, te convido a fazer uma reflexão sobre o assunto, estou sendo duro? SIM, mas a pergunta é o que você pode fazer pelo cenário local? Cada pessoa vai ter uma resposta, ai entraremos no próximo passo idealizar x realizar. O passado daqui é lindo, o presente é sofrido e o futuro é incerto. Então tem que agir no aqui e no agora. Santos Cadê você? Pra finalizar, deixa um salve pra galera - 99 -



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