Rock Meeting Nº 104

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MOA: 6 anos e nada aconteceu Em abril passado, completou seis anos da primeira e única edição do Metal Open Air (MOA). Num breve resumo, o ‘festival’, que ‘aconteceu’ (mas não convenceu) em São Luís, no Maranhão, ofertava três dias de música com grandes nomes da cena Rock/Metal nacional e mundial. Para o evento, três produtores assinaram a organização: CK Concert, Negri Concerts e Lamparina Produções. Mas uma coisa quando começa errada, tende a continuar errada. Havia um forte burburinho de que o evento seria a versão brasileira do cultuado festival alemão Wacken Open Air. Foi um alvoroço daqueles. Um fest desse tamanho acontecendo no Nordeste, inimaginável. Mas isso foi logo desmentido pela própria produtora tão logo o nome oficial foi anunciado, bem como as informações a cerca dele, como as bandas que participariam. Com a aproximação do MOA, outro burburinho, ainda mais nocivo, corria pelos grupos do Facebook. Tudo começou com a denúncia do baterista Aquiles Priester, dois dias antes, de que não havia sido pagos. Após isso muita coisa veio a ruir. Sob a expectativa x realidade, a realidade era muito dolorosa. O primeiro dia do festival até chegou a acontecer, mas foi bem precário, com muitas informações desencontradas e uma enxurrada de cancelamentos. Tive a oportunidade de ver o camping, e foi um terror só. Ver tantos colegas dormindo na lama foi aterrorizador. No segundo dia é que as coisas desandaram de vez.

Todos desnorteados, vendo um dos palcos ser desmontado, as pessoas ali não sabiam o que fazer. Num misto de revolta e consideração, a banda paulistana Korzus expôs sua opinião sobre o assunto e fez uma apresentação icônica para acalentar os ânimos e mostrar que eles respeitavam o seu público, sobretudo do fã do metal. O terceiro dia? Cancelado. Foi notícia nacional e internacional. As bandas brasileiras e de fora estavam postando suas versões para o acontecido e justificando o porquê de não se apresentarem. Falta de pagamento, de passagem aérea e hospedagem estavam entre os problemas listados. Uma mancha terrível para o cenário brasileiro. A entrada do Aeroporto de São Luís estava amontoada de pessoas que não tinham para onde ir e aguardavam, ali, o dia do voo de volta para casa e assim tentar esquecer aquele tormento. Foi um pesadelo! Recentemente, o produtor Natanael Junior (Lamparina Produções) fez um show gratuito em São Luís. Entre as atrações, um cantor que tirava piada do MOA que usou uma camisa onde se lia: MOA - Eu não fui. Agora fica a pergunta: vocês esqueceram o que aconteceu? É mais fácil boicotar um evento com banda cristã do que um cara que enganou muitas pessoas? O que eles fizeram foi crime. Passível de prisão. Mas parece que só há revolta para quem acredita em certos “deuses” e não contra quem rouba, engana.


06 - Lapada - Metal goes MPB 14 - Live - Sons of Apollo 24 - Entrevista - Tumourboy 32 - Live - Lacerated and Carbonized 38 - Live - Deez Nuts & Bellako 44 - Live - Glenn Hughes 50 - Entrevista - Manger Cadavre? 60 - Capa - Abri Pro Rock 2018 72 - Live - Moonspell 78 - Live - Gangrena Gasosa 84 - Entrevista - Inherence 95 - Review - VĂ­deo 102 - Live - Taunus Metal Festival 2018 114 - Skin - Tatuagens realistas 120 - Entrevista - Torturizer 128 - Live - Pain of Salvation 134 - Entrevista - JEV 142 - Live - Zeke 150- MatĂŠria - Treta

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DIREÇÃO GERAL Pei Fon CAPA Alcides Burn Jonathan Canuto

COLABORADORES Bruno Sessa Edi Fortini Marcos Garcia Marta Ayora Mauricio Melo Renata Pen Samantha Feehily Virginia Pezzolo

CONTATO contato@rockmeeting.net www.rockmeeting.net


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o Facebook continua uma fonte de inspiração e tanto para esta coluna. Quase toda semana, um tema diferente. Dessa vez, quase tudo que eu escrevo convergiu para um ponto único. Estava eu atualizando as notícias na página do Facebook do Heavy Metal Thunder (meu site pessoal), e olhando aleatoriamente minha timeline, uma publicação chamou minha atenção. Uma coletânea lançada com uma capa que chega a ser cômico: um demonho (sim, vou usar a grafia errada para ser irônico) esmagando a cabeça do presidenciável Jair Messias Bolsonaro. Óbvio que as bandas e responsáveis pela compilação se dizem radicais de esquerda. Não sei quem lançou (nem me preocupei com isso), não tenho interesse nesse tipo de coisa ou na ideologia alheia. Mas comecei a refletir sobre tudo que li nos comentários, e a conclusão foi simples: no fundo, o Metal sucedeu a MPB, ou seja, se tornou tão militantemente chato que vai acabar como um estilo de música apequenado. Tão pequeno e elitizado que não terá mais espaço em lugar algum. Sim, esquerda e elitizado! - 6 -


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Já mencionei isso antes, e torno a dizer: a ideologia do músico é do músico. E ando farto de ler “Metal de esquerda” na internet, baseado em um monte de imposições ad hoc cheias de non sense ideológico. E esse oportunismo cansa qualquer um. Para início de conversa: todo mundo já sabe que a MPB ferramenta ideológica da era da esquerda militante nos anos 60, 70 e parte dos 80. Não preciso citar artistas que mostraram isso, e faço questão de esquecer todos eles, pois tenho asco da MPB por motivos que explicarei abaixo. Revelação contundente, novatos: no passado, o Rock sempre foi desprezado e maltratado pela esquerda. Lembro-os do que está escrito em “50 Anos a Mil”, a biografia de Lobão: após uma apresentação de uma banda do artista em questão no colégio São Vicente (quando ele ainda era estudante), o professor de História (de esquerda, conforme o próprio autor) lhe deu um pito na sala de aulas: “E agora? Tá satisfeito em ser o MICK JAGGER do colégio? ISSO QUE VOCÊ FEZ É UM PASSO PRA TRÁS! NUNCA VI TANTA GENTE ALIENADA! MEUS PARABÉNS PELO ESTRAGO, POP STAR, você conseguiu!”. Fiz questão de escrever em letras garrafais para verem o que o povo da esquerda pensava do Rock. Ainda pensa, mas disfarça. Ou seja, o Rock é um “passo pra trás!”, e nós somos “gente alienada”. Reparem nessas frases. Garanto que contemporâneos meus cansaram de ouvir isso, assim como eu - 8 -


ouvi vezes suficientes para execrar a MPB. E assim, declaro a morte da ideia “Rock de esquerda”. Morre pelas palavras do professor de Lobão, e friso mais uma vez: a esquerda priorizava/abraçava a MPB, que FALIU nos anos 80! Faliu pelos seguintes motivos: 1. Os tempos mudaram e a música dos jovens dos anos 80 era outra. 2. As gravadoras cansaram de gastar fortunas com a egolatria de 20 e tantos músicos contratados para gravar um disco de MPB (tinha gente tocava chocalho em uma única música, e nas outras, outro chocalheiro) e resolveram investir em grupos que eram mais baratos de gravar (as próprias bandas tocavam, não precisavam pagar músicos-extras a princípio). 3. Aquela ladainha política chata já havia cansado a paciência, a esquerda vivia em função dos militares, que a deixou brincando sozinha e sem bola no playground. 4. A nova geração de adolescentes queria viver e se divertir, algo parecido com a juventude americana dos anos 50 (quando o Rock nasceu). Na primeira metade dos anos 80, Blitz, RPM, Os Paralamas do Sucesso, Kid Abelha, Ultraje a Rigor, Barão Vermelho e outros tomaram as rádios de assalto, mandando a MPB para o ralo. E a maioria de meus contemporâneos bangers dos 80 não queria saber de MPB, que era considerada uma música chata e de gente velha. Testemunho: ainda me lembro de militantes da esquerda, por volta de 1992, enchendo minha pobre paciência, me chamando de “alienado” por eu ouvir Metal, alegando que sua origem gringa o colocava como ob- 9 -


jeto de alienação! Para ser “esclarecido”, eu deveria ouvir... MPB! Espero que isso deixe claro meu nojo pela MPB. O que 20 e poucos anos não mudam, não? Sim, estou sendo irônico, pois antes, o Metal e o Rock eram ferramentas da alienação, e hoje, viraram bastiões da esquerda. No mínimo, cômico. Mas direcionamentos políticos são assim mesmo: oportunistas e tentam reescrever a própria história. Só que eu sou testemunha, me recuso a calar diante de tanta podridão! A MPB, por ter se permitido usar como ferramenta política, perdeu sentido de existência quando seu adversário não quis mais brincar e levou a bola embora. O Rock agora era sucesso. E os órfãos da esquerda não aceitariam de bom grado virarem um bucólico rodapé da história de nosso país, logo, o Rock teria que entrar na dança. O Rock teria que ser o novo ritmo da esquerda, e começou aquele acúmulo ideológico em nosso meio. Isso mesmo: de alienados, viramos militantes de esquerda? Onde está a consensualidade em sua pregação ideológica? Óbvio que dizem que isso veio do Punk Rock, e vi apologias ao gênero como esquerdista. Estranhamente, Johnny Ramone (guitarrista do Ramones) era conservador de direita (enquanto Joey era liberal). Se o Ramones é o pai do Punk, dizer que eram de esquerda é mentir, e mentiras em geral acabam. Aqui, encerra-se mais uma delas. Sinceramente: gosto do Metallica (James Hetfield é conservador e caçador, para desespero dos militantes dos direitos dos - 10 -


Foto: Riff You

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animais e outros), do Megadeth (Dave Mustaine é cristão e conservador), Slayer (Tom Araya é cristão, e Kerry King fala poucas e boas de doer os ouvidos politicamente corretos), Marduk (que volta e meia tem que se virar com acusações sobre nazismo) e tantos outros, mas não quero perder tempo com o que eles pensam, achando que o músico tem que acreditar nas mesmas coisas que eu, ou que devo me ofender com o que eles pensam. Nada disso, eles fazem e pensam como querem, e eu com o que eu penso. Sou fã da MÚSICA deles, e o resto não é da minha conta. Vez por outra, a esquerda quer tacar pedras em músicos, e se um headbanger se permite fazer isso, ele deveria ir ouvir MPB, pois seria mais consensual. “Metal de esquerda” é uma frase/dito sem sentido, da mesma forma que “Metal de direita”, e nem se atrevam a me imputar algo, pois não faço parte de suas briguinhas ideológicas infantilóides, e não me adapto a modelos acadêmicos malfeitos para justificar o investimento em bolsas de fomento. E nunca mais me venham com “o Rock é de esquerda”, pois não é. Nunca foi, e nem que seu professor doutrinador diga o contrário (lembrem que o professor de Lobão deixava claro que somos “alienados”), ele será. Um grande amigo, vocalista de uma banda lendária do Brasil, disse uma frase de sabedoria: “Saudades dos tempos em que mandávamos TODOS políticos se ferrarem, e não os defendíamos”, e eu assino embaixo. Em SP, onde o Metal é fortíssimo, Maluf e Erondina sofreram nas mãos da Old School.

Foto: Tina Korhonen

Hoje, há bangers que os defendam. Eu sou um headbanger à moda antiga, não um militante político, e faço questão de permanecer assim. Metal para mim está acima dessas palhaçadas, e meu CD player não é urna eletrônica! De novo: ideologia é algo pessoal e cada um pode acreditar e escrever o que quiser, e não é da minha conta, nem da sua, bem como não é obrigatório acreditar se não de-

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Foto: Metal Injection

Foto: Matthew Baker

sejar. Repito tantas vezes até entrar nas suas cabeças! Essa nova geração, formada com ideias acadêmicas bonitinhas, vem querendo dizer aos veteranos certas coisas. Dou-me o direito a uma resposta: se você não aceita que o Metal/Rock não seja partidário, a porta da rua é serventia da casa. Aliás, é uma ótima hora, já que o Funk e derivados é o queridinho cultural dessa turma no momento. Você que leva

a política tão a sério deveria mesmo ir curtir este tipo de música. O que quero dizer: você é de esquerda? Tudo bem, vote em quem quiser. Você é de direita? Mesma coisa. Só parem de encher a paciência alheia, ou dizer que o Metal é isso ou aquilo. O Metal é livre, e é para todos, logo, viva com isso, aceite que é assim, ou vá você, que vive querendo expulsar os outros por ser de esquerda, ouvir MPB.

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Texto e Foto Marta Ayora

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o ano passado o baterista Mike Portnoy (ex-Dream Theater) anunciou seu novo projeto “Sons of Apollo”, que nasceu da amizade entre ele e o tecladista Derek Sherinian. Para a nossa sorte, não demorou muito para a banda fazer uma turnê na América Latina e aterrissar no Brasil, agraciando os brasileiros com um show poderoso no Tropical Butantã, em São Paulo. A incrível performance da banda não é uma surpresa para nós, tendo em vista o currículo dos integrantes que conta com Jeff Scott Soto no vocal (Yngwie Malmsteen, Talisman, Soto), Ron ‘Bumblefoot’ na guitarra (ex-Guns n’ Roses), o baixista Billy Sheehan (David Lee Roth, The Winery Dogs, Tallas, The Fell), o tecladista Derek Sherinian (Black Country Communion, ex-Dream Theater, ex-Alice Cooper, ex-Kiss), além do incrível Mike Portnoy nas baquetas. O dream team do rock progressivo executou músicas do seu álbum de lançamento, “Psychotic Symphony”, além de alguns covers.

Show

A abertura do show contou com a con- 16 -


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ceituada banda brasileira República, que apresentou músicas de seu quarto álbum, “Brutal & Beautiful”, lançado em setembro do ano passado. Presente no cenário musical desde os anos 90 e com uma carreira já bem estabelecida, o quinteto formado por Leo Beling (vocal), LF Vieira e Jorge Marinhas (guitarras), Marco Vieira (baixo) e Mike Maeda (bateria), já abriu shows para bandas renomadas como Alice Cooper e Scorpions, e desde então vem ganhando força e destaque no cenário internacional. Por volta das 20h30, e com uma boa parte do público já dentro da casa, a banda República subiu ao palco para apresentar um som que mistura elementos do hard rock aliado ao peso do heavy metal. A banda abre a noite ao som de “Black Wings” seguida de “Death For Life” que destacam riffs poderosos, aliado a uma bateria bem cadenciada e melodia harmônica. Com a bela voz e muita presença de palco, o vocalista Leo Beling interagiu e animou o público ao som das músicas do novo álbum. Um dos pontos altos do show que encantou ainda mais a plateia foi a execução do belo cover da canção “Head Like A Hole” do Nine Inch Nails. “El Diablo” fecha a apresentação aquecendo os presentes para a grande atração da noite, e nos mostra que, mesmo com um setlist enxuto, a banda República conquistou o público pela personalidade, técnica e habilidade na execução das composições, demonstrando que é uma grande aposta no rock contemporâneo. Às 22h30 as luzes do Tropical Butantã se apagaram com a introdução de “Pretty Woman”, do Van Halen. Em seguida, a banda Sons Of Apollo pisou no palco ao som de “God Of The Sun” e seu refrão impactante que fez a plateia pular e cantar a plenos pulmões. - 19 -


Com uma sequência composta de surpreendentes habilidades técnicas, a banda emendou “Signs Of The Time”, seguida de “Divine Addiction”, de seu álbum de estreia, o qual foi executado na íntegra, porém, em uma sequência um pouco diferente. Em seguida, a banda executou o primeiro cover da noite, “Just Let Me Breathe”, do álbum ‘Falling Into Infinity’, a qual transportou o público ao passado para matar a saudade de Dream Theater. Jeff Scott acompanhado de uma “caipiroska” estava visivelmente feliz e confortável diante do público. Além de arriscar algumas palavras em português (mandou até um “vira, vira, virou!” antes de beber a caipiroska que segurava), também declarou sua felicidade em fazer parte da banda. Logo “Labyrinth” chegou com Billy Sheehan tocando com maestria o primeiro solo da noite em um baixo enorme de dois braços. Após “Lost In Oblivion”, um dos pontos mais altos da apresentação foi quando rolou um cover com a clássica do Queen, “The Prophet’s Song”, onde Jeff Scott Soto fez alguns efeitos vocais e levando os presentes a cantar em coro de forma emocionante. Depois Bumblefoot executou “Save Me” do Queen e dedicou a música ao amigo Joe Lynn Turner, que segundo ele, sofreu um infarto e encontra-se em recuperação. Com a banda reunida “Alive” foi executada, seguida por uma jam liderada por Bumblefoot, o qual mandou o tema da Pantera Cor-de-Rosa, acompanhado da plateia que cantava junto. No decorrer da apresentação a banda interagiu bastante com a plateia e declarou estarem empolgados, pois São Paulo é um dos lugares favoritos para tocar, tendo em vista que foi na capital paulista que viveram gran- 20 -


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des momentos de suas carreiras. O show ainda contou com solos incríveis do Derek Sherinian no teclado em “Opus Maximus” e “Lines In The Sand” (do Dream Theater). Para a nossa surpresa a banda saiu do palco e quando retornou perguntaram “Onde está o Jeff? Ele está no bar?”. Quando Jeff, do meio do público, responde: “Sim, estou!”. Ahhh essa cena foi icônica e divertida, pois era Jeff totalmente à vontade em meio ao público sendo simplesmente ele mesmo.

Por fim a banda manda “And the Cradle Will Rock” do Van Halen, com Jeff caminhando entre o público em direção ao palco, com um copo na mão (será que era caipiroska?) E para fechar à noite, no bis a banda se despede ao som da famosa “Coming Home”. Esse foi com certeza um daqueles shows memoráveis do início ao fim, com surpresas e a qualidade impecável de um dream team que estamos torcendo para receber mais vezes no Brasil.

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Texto Virginia Pezzolo | Foto Marc Debus

Vocês poderiam nos contar como a banda começou? Como vocês se reuniram? Jiashu: O Tumourboy foi formado em 2014, a banda é nova. Na época ainda estávamos no colégio, mas não no mesmo. A cena não é tão grande de Metal e Punk em Pequim, parece que todo mundo conhece todo mundo. Aí nos conhecemos na cena local, porque todos nós adoramos Heavy Metal, então eu decidi começar este projeto com esses caras. Fuwen: Eu entrei para a banda um pouco mais tarde. Na verdade eu só tenho um ano no Tumourboy, haha. Mas eu conheço esses ca-

ras também há muito tempo. Yichi, o baterista da banda, tem tocado comigo em outra banda de Heavy Metal chamada Dressed to Kill, isso bem antes de eu entrar para o Tumourboy. Tenho uma ideia que o Metal em geral não é um gênero popular na China. Como vocês entraram em contato com esse estilo de música? Jiashu: No meu colégio, um colega de classe me recomendou umas bandas mainstream, como Guns n’ Roses e Scorpions. Então eu disse a mim mesmo que tocaria em uma banda

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no futuro. O rock chinês não é muito popular, especialmente Heavy Metal. Você sabe, neste nosso país não há Facebook nem YouTube. Muitas pessoas não conseguem acessar a cultura ocidental. Então eu tive sorte nessa época. Eu deveria agradecer ao meu colega de escola. Fuwen: Haha eu concordo com as palavras de Jiashu. Mas, na verdade, ainda existe algo na internet chinesa, isso se você passar algum tempo pesquisando. Eu tive meu primeiro contato com Heavy Metal quando comecei a aprender guitarra. Comecei a pesquisar na internet e descobri que havia um mundo enorme cheio de música incrível. É verdade que o Metal não é tão popular na China, mas de alguma forma tem muita gente espalhando a música e construindo a cena do Metal de maneiras diferentes. Embora isso não seja legal na China, mas é realmente importante para a cena que alguns caras compartilharam links de Metal como dez anos atrás (no ocidente). China é um país grande. Existe uma área/cidade em particular onde as bandas de Metal estão mais em evidência? Jiashu: A China está fechada há tantos anos. Mesmo assim, desde que o Metal e o Rock apareceram na China, mais e mais pessoas, especialmente em Pequim, Xangai e outras grandes cidades, escolheram tocar Heavy Metal. Fuwen: E também viver no estilo Heavy Metal. Você sabe, o Metal não significa apenas um tipo de música, mas está relacionado a uma subcultura e a um estilo de vida. Essa também é a razão pela qual se espalhou melhor nas grandes cidades. As pessoas lá são mais abertas e desenvolvidas. Além disso, mais e mais bandas de Metal vêm para a China, incluindo grandes nomes como Megadeth e bandas underground como Abigail. As pessoas nas grandes cidades têm mais oportunidades de assistir a shows de Metal. Não apenas as metrópoles desfrutam - 26 -


Foto: Virginia Pezzolo

do Metal, mas também algumas cidades menores desenvolveram suas próprias cenas. A cidade de Nanchang é um bom exemplo. Essa é a cidade natal da uma banda de Thrash Metal, Explosicum. Eles mesmos tocam música lá há mais de dez anos e influenciaram muitos jovens locais a ouvir Metal. Além disso, eu também gostaria de mencionar a cidade de Xi’an e Wuhan como algumas cidades chinesas com um bom movimento Metal. Como você compararia o primeiro álbum (Damaged System) com o segundo lançamento (Condemned to Extinction)? Jiashu: Damaged System é o nosso álbum de estreia. Soa mais como Anthrax, Nuclear Assault, DRI e assim por diante. Mas não queremos tocar o mesmo som em nosso novo álbum. Então eu fiz algumas alterações para tornar o som mais escuro e mais poderoso. Devido à falta de experiência, não ficamos 100% de acordo com o efeito sonoro final no primeiro álbum. Então, no segundo álbum, gravamos com bateria de verdade e passamos muito tempo praticando e gravando vocais e guitarras. Felizmente este álbum soa muito melhor. Como você descreveria a experiência de uma banda chinesa tocando na China? Teria como fazer uma comparação de como é uma banda estrangeira tocando no mesmo país? Fuwen: (risos) boa pergunta. É bem interessante pensar sobre isso. Na minha opinião, a cena do Metal no mundo é diferente em todos os lugares. Cada canto do mundo tem seu próprio gosto e hábitos. Os shows são para mim um tipo de comunicação. Você precisa pensar sobre o que eles estão interessados, o que eles podem aceitar, o que eles esperavam e até - 27 -


mesmo o tamanho da camiseta e que tipo de mercadoria os caras gostam de comprar mais (risos). A menos que você seja Megadeth, Metallica ou algumas das grandes bandas grandes, você precisa ser cuidadoso quando vai tocar no exterior. Yichi: Tocar na China sempre significa muita diversão para mim. Não é como na Europa, onde mais público conhece Metal há muito tempo, está acostumado. Na China, é bastante frequente conhecer pessoas que acabaram de conhecer o rock n’ roll. Eles não sabem como é sua música, o que esperar. Eles apenas sentem o poder da música, sem saber realmente o que é aquilo. É muito gratificante ver que sua música atingiu alguém, que essa pessoa ficou interessada. Portanto, é bom tocar na China, porque é sempre uma experiência nova para o público. Acho que as bandas de fora também têm essa percepção, que estão despertando o público para algo novo. O que vocês ouvem normalmente? Algum outro gênero além do Metal? E quanto as influências da banda? Jiashu: Eu normalmente ouço um pouco de Heavy Metal tradicional, Thrash Metal, Hardcore Punk. Nossas músicas são influenciadas por um monte de bandas de diferentes países, como os americanos: Exodus, Municipal Waste, Havok, Megadeth; os alemães: Destruction, Kreator; Brasileiros: Sepultura, Taurus, Violator e assim por diante. Fuwen: Heavy Metal tradicional é o meu favorito. Mas eu também ouço todos os tipos de estilo, desde o Brutal old school até Djent (se você pode chamar isso de Metal - risos). Eu não sou um metalhead em seu sentido literal. Buscar algum som poderoso e inteligente é sempre o que eu gosto de fazer, não é sobre gênero. Yichi: Como o Fuwen, o Heavy Metal tradi-

cional também é meu estilo favorito, então nos reunimos e tocamos (na banda Dressed to Kill). Além disso, adoro o som da música eletrônica e synth dos anos 70 e 80, do ambient/ experimental ao Disco. Eu sou um grande fã da música Retro Synthwave, que é bastante popular nesses anos. Em nosso segundo álbum (Condemned to Extinction) nós também fizemos um pequeno trecho de synth music como intro, e cobrimos a clássica música disco “Pushing to the limit” do filme “Scarface” e a transformamos em uma versão de speed metal. O Taunus Metal Fest foi a primeira vez

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Foto: Banda/Divulgação

da banda na Europa. Desde então vocês tocaram alguns shows. Vocês poderiam contar a experiência até agora? E os destaques? Fuwen: Claro! Depois do festival Taunus tocamos em Nancy na França, Tübingen, Berlim e Bielefeld na Alemanha. Nancy foi para nós um desafio. Tivemos problemas desde o começo com o visto do Jiashu, ele não foi autorizado a viajar para a Europa. Então temos que pedir a um amigo vindo junto para ser o nosso vocalista substituto. Porém, no dia do show de Nancy, ele tinha algo para fazer no Reino Unido. Então só poderíamos cantar nós mesmos, não tinha mais ninguém para recorrer... Eu

e o baixista aprendemos a cantar muitas das músicas em um dia (risos). E nós fizemos isso, não foi ruim. Yichi: Em Berlim e Tübingen nós conhecemos alguns caras punks, eles eram muito amigáveis. Bebemos juntos e trocamos merchandising. Em Berlim, passamos uma noite em um bar chamado Rock Café Halford. O dono é um grande fã de Rob. Alguém me disse que ele sempre visita festivais de Metal na Europa vestido como Halford. Eu não sei se é verdade (risos). Nós provamos muitos coquetéis com nomes de bandas de Metal lá no bar. Foi apenas uma pequena turnê, mas aprendemos muito com outras bandas e com a cena Metal

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na Europa. Como gerenciar a turnê, o instrumento, o contato com as pessoas, etc. Alguns membros do Tumourboy também estão em outras bandas. Vocês poderiam comentar? Fuwen: Sim, eu também toco em outras duas bandas. Uma banda de Heavy Metal tradicional chamada Dressed to Kill (com o baterista Yichi) e um Thrash Metal (no estilo alemão antigo) chamado Ancestor. O baixista Baixing também toca em uma banda Punk D-Beat chamada D-crash. Quais são os planos futuros para a banda? Jiashu: Nós planejamos escrever um novo álbum quando este ano terminar. Eu prometo que esse álbum será mais poderoso. Fuwen: Na verdade, nós já começamos a co-

letar alguns riffs e ideias sobre coisas novas. Após os dois meses na estrada, pois fizemos uma turnê na China em março, precisamos voltar à vida normal e preparar algo para o futuro não muito distante. E nós temos algo a ver com o Brasil (risos). Estamos falando agora com uma banda brasileira sobre o lançamento de um álbum dividido. Mas vamos manter o nome da banda como um segredo agora. Últimas palavras para os leitores brasileiros? Jiashu: Metal brasileiro nos dá muita inspiração. Vou mencionar alguns nomes lendários: Sepultura, MX, Ratos de Porão… É incrível que haja tantos metalheads aí. Gostaríamos de ir ao Brasil no futuro! Cheers! Tumourboy é Jiashu (vocal/guitarra), Fuwen (guitarra), Baixing (baixo), Yichi (bateria).

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Texto e Foto Bruno Sessa

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pós o lançamento do elogiado “Narcohell”, a banda do Rio de Janeiro, Lacerated and Carbonized, retornou a capital paulistana para uma apresentação visceral no Sesc Belezinho. Formada em 2006 por Jonathan Cruz (vocal), Caio Mendonça (guitarra), Paulo Doc (baixo) e a participação especial do músico Sandro Moreira, da Rebaelliun no comando da bateria, a banda de death metal apresenta seu som sem firulas, repleto de blast beats, e composições caóticas. Para a intro do show, sirenes ecoando mostrando o retrato da brutalidade que impera nas favelas do Rio, assunto abordado no último álbum lançado pela banda no final de 2016. A sequência das músicas de abertura “L.A.C.” e “Third World Slavery” trazem peso e qualidade na apresentação do quarteto, muito bem aceito pelo inibido público que compareceu para prestigiar a banda no Sesc. Do novo álbum, foram apresentadas as faixas: “Spawned in Rage”, “Narcohell”, “Bangu 3”, “Severed Nation” e “Hell de Janeiro”. Com 12 anos de carreira nas costas, três - 34 -


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discos lançados: “Homicidal Rapture” (2011), “The Core Of Disruption” (2013) e “Narcohell” (2016), além de tocar ao lado de grandes bandas em festivais na América Latina e Europa, o Lacerated and Carbonized mostrou tanto neste novo álbum muito bem aceito, como nesse show bem apresentado, que o Brasil vem se consolidando cada vez mais na cena death metal na última década. - 36 -



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Texto e Foto Mauricio Melo & Snap Live Shots

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á se foi a época da qual esperávamos com ansiedade a chegada dos grandes festivais, seja qual for. Em tempos atuais temos festivais o ano inteiro. Hellfest, Cruilla, Primavera Sound e é claro o Resurrection Fest que, assim como seu grande evento, oferece ao longo dos 12 meses, nomes de variados estilos passando por variadas cidades da Espanha. A visita mais recente do Route To Resurrection ficou a cargo dos australianos do Deez Nuts, com abertura de luxo do Bellako. Banda concisa, forte e que chama atenção por onde passa. Com um setlist bem montado para o tempo que lhes foi oferecido, deram o tiro de partida com “A Fallo” e seguindo com “Pollos Radioactivos”, ambas do poderoso EP Infection que mais adiante no set, seria quase que tocado por completo com a inclusão de temas como “La Muerte”, música que dá titulo ao disco. Do disco mais recente, “Extinction”, “En Nombre de la Muerte” foi uma das mais destacadas. Apesar da sala não estar tão cheia, quem cedo madrugou, assistiu a um excelente show. O primeiro que saltou à vista quando o Deez Nuts chegou para preparar o palco foi a - 40 -


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presença de Carl Schwartz, vocalista do First Blood além de ter sido baixista do Terror em “One With The Underdogs”, considerado por muitos um dos melhores discos da banda e já um clássico do hardcore. Ter a Carl na formação significa solidez, força e potencia. E não foi diferente quando “Binge” e “Purgatory”, iniciaram os trabalhos da noite. Àquela altura o público já se encontrava devidamente posicionado e os mais empolgados não demoraram a aparecer, especialmente em “Stay True”, que com dez anos de estrada, definitivamente está entre as favoritas. Do disco “novo” também figuraram “Discord e “Carried by Six”. Não cabe dúvida nenhuma que a mais celebrada foi “Band Of Brothers”, com muitos stage divers além um fã cantando (e bem) parte da música. Tenho um amigo que há muito me disse que, apesar do som empolgante, o Deez Nuts é uma banda para não levar à serio, concretamente por suas letras. Concordo em parte, mas acredito que para toda uma nova geração do Hardcore, essa teoria não é levada ao pé da letra. Que o diga JJ Peters com sua legião de seguidores nas sociais.

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Texto e Foto Bruno Sessa

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econhecido por ser uma das maiores vozes do rock mundial, o vocalista e baixista Glenn Hughes retornou ao país para um show muito aguardado pelos fãs do verdadeiro classic. 40 anos após sua saída do Deep Purple em 1976, apresenta nesta extensa turnê um show completo somente com os grandes clássicos do Purple. No Brasil a tour conta com nove datas, são elas: Brasília Belo Horizonte, São Paulo, Limeira, Curitiba, Manaus, Porto Alegre, Rio de Janeiro e Vila Velha. O show em São Paulo ocorreu no Tropical Butantã, casa de shows que ficou pequena para a quantidade de público presente das mais variadas idades, lotando todos os setores da casa. Como prometido, a “Performs Classic Deep Purple” possui um repertório cheio de clássicos do tempo em que tocou junto ao grupo, abrindo a noite com a eletrizante “Stormbringer” seguida de “Might Just Take Your Life” e “Sail Away” do álbum “Burn” de 1973. Ovacionado e muito bem recepcionado pelos fãs, Glenn Hughes com 66 anos mostra a boa forma com seus trejeitos e animação ao se apresentar, agradecendo o seu público e con- 46 -


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dizente para o momento disse: “Não foram vocês que vieram aqui esta noite para me ver, fui eu quem vim para vê-los”. A clássica “Mistreated” em uma versão estendida causou um arrebatamento emocional em muitos fãs que se mostravam extasiados com a apresentação de Glenn. A competente banda que o acompanha conta com Soren na guitarra, Jay no teclado e o chileno Fer na bateria, tanto Jay quanto Fer executaram longos solos com muito feeling e qualidade. O set contou também com “Holy Man” e “Gettin´Tighter”, antes de iniciar os grandes clássicos aguardados por todos, que ficaram obviamente para o final do show: “Smoke on the Water”, “Highway Star” e a frenética “Burn”. Após duas horas de um espetáculo, recheado de clássicos remetendo aos anos 70, em uma noite incrível tanto pela banda quanto pelo público, que fez toda a magia em transformar em única essa noite tão especial, veio então a despedida de Glenn junto com seus parceiros de banda na promessa de já retornarem ao país no próximo ano.

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Texto Edi Fortini | Foto Banda/Divulgação

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a edição de março, tivemos um especial sobre bandas com mulheres que, caso você ainda não tenha lido, super sugerimos a leitura. Lá temos dezenas de bandas com links e perfis pra você passar um bom tempo conhecendo novos sons. Lá você encontrará o Manger Cadavre? que permeia o underground nacional desde 2011 e então decidimos estender a conversa e fazer uma entrevista com a vocalista Nata de Lima. Em setembro a banda se apresentará no festival Setembro Negro e além disso tem alguns shows no Nordeste já agendados. Após mudanças estruturais, com a saída de dois integrantes, atualmente a banda conta com Nata de Lima nos vocais, Jonas Godói no baixo, Marcelo Augusto na guitarra e Marcelo Kruszynski na bateria. Quer conhecer mais sobre a história da banda? Veja esse vídeo aqui. Acompanhe a banda no Facebook: E agora confira abaixo nosso bate papo. Olá, Nata, tudo bom? Conta pra gente um pouquinho de como é ser uma banda politizada no meio do cenário. As pessoas procuram vocês por essas ques- 52 -


Foto: Leo Cruz

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tões? Como é essa experiência? Nata de Lima - Oi! Tudo sim! Obrigada pelo espaço. Bom, ter uma consciência política à extrema esquerda e levá-la à frente em nossas letras e mensagens no palco é algo que já nos fechou algumas portas, assim como, sistematicamente, nos faz perder dezenas de “fãs de facebook” (que é uma galera que está nessa só pelo barulho) a cada publicação posicionada que fazemos. A realidade é que a gente não se importa em não ser aceito por esse tipo de gente, no entanto, nós temos a plena noção que o metal, o hardcore e (pasme) o punk, não são meios totalmente politizados. Há uma molecada que está em busca de identidade e vão reproduzir aquilo que chega mais facilmente a eles. Se a gente aponta, julga, pune, exclui e não oferece uma alternativa a quem está abraçando esse discurso pela ignorância, quem está fazendo um trabalho ideológico muito bem feito, é a direita ultra-conservadora (vide a quantidade de bolsominions no underground). Nós temos que colaborar para a consciência de classe pela base, que atualmente é essa molecada que não viveu os anos 90, não sabe como foi a época em que a direita entreguista governou nosso país, muito menos sabe como foram os anos 80. Algumas pessoas nos procuram para entender certas questões (principalmente ligadas às pautas progressistas paralelas às de classe), no entanto, eventualmente, nós mesmos trocamos ideia com alguns que identificamos que gostam do nosso som, mas compactuam com a reprodução de falas que são contrárias a aquilo que acreditamos. Boa parte das vezes deu certo, e hoje essa galera se envergonha do que já disse. Recentemente foi divulgado o lineup do festival Setembro Negro, que acontecerá em São Paulo. Vocês serão uma das poucas bandas com mulheres no festi- 54 -


Fotos: Estevam Romera

Foto: Kubo Metal

Foto: Antonio Vitor

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val. É pouco, mas somos gratos por tê-los. Como surgiu esse convite? O que vocês esperam do fest? O convite foi uma grande alegria para nós, pois quando a Tumba Produções nos procurou, foi uma surpresa, pois esse é um festival essencialmente de metal. A princípio sabíamos que tocaríamos no mesmo dia do Wolfbrigade e o At the Gates, bandas que são influência de todos da banda. À medida que foram se confirmando mais bandas para o fest, a organização nos comunicou e nos deu a possibilidade de aceitar ou não. Sempre foram transparentes e muito profissionais, nesse aspecto. Conversamos entre nós e com pessoas que respeitamos no meio e aceitamos o convite. Sobre a questão da representatividade feminina, sim, somos uma das poucas, no entanto a presença das mulheres está se ampliando e se fortalecendo, o que é muito bom. Acredito que ainda é uma luta que vai longe, mas as mulheres estão conquistando seu espaço a partir do apoio mútuo, enfrentando o preconceito e conquistando público pela sua qualidade. Apesar de alguns festivais ainda precisarem ser cobrados pela inclusão de bandas com mulheres, no caso do Setembro Negro, isso partiu diretamente deles, tendo como critério de seleção, a qualidade das bandas. Nós tocaremos no domingo, estamos um pouco apreensivos, pois esse será o primeiro grande festival que participaremos e esperamos fazer um dos nossos melhores shows, além de levar a nossa mensagem. Ansiosos em ver todas as bandas e, com certeza, esperem nos encontrar no mosh. Como tá a agenda pros próximos meses? Vocês têm muitos shows marcados? Nós fizemos dois shows no estado do Pará (Belém e Castanhal) agora em abril, seguidos de outros shows aqui em São Paulo, mesmo. Em - 56 -


Foto: Diego Padilha

Foto: Leo Cruz

setembro faremos uma mini tour pelo Nordeste, que será a realização de mais um sonho da nossa banda. Felizmente estamos muito ativos e com shows muito bacanas na agenda. E você também faz parte da divulgação do coletivo União das Mulheres do Underground, conta pra gente como ele surgiu e como funciona? Há um ano, vi uma publicação de uma brasileira que mora nos EUA perguntando sobre bandas com mulheres na formação. Curiosamente, nós fomos uma das poucas bandas nacionais citadas, sendo que haviam comentários de inúmeros caras da cena paulista, que só mencionaram bandas estrangeiras. Fiquei pensando que existem tantas bandas fantásticas em todos os subgêneros do rock em geral e sobre o por que elas não foram citadas. Eu estava em busca de algo positivo que eu pudesse somar. Nisso, convidei amigas de várias estados brasileiros para conversar sobre a ideia. Elas toparam fazer a página e convidaram outras amigas. Assim, de forma descompromissada, mas com muito entusiasmo, nasceu a UMU. Atualmente são administradoras: Priscila Silva (Fortaleza), Sirlene Farias (São Paulo), Carolina Morais (Belém), Cely Couto (São Carlos), Daniella Moura (DF), Eliane Matos (Ilhéus), Aline Braga (São João del-Rei), Geraldine Almeida (Rio de Janeiro), Ali Moraes (Mossoró), Thaís Tabelião (Pelotas), Nanda (Fortaleza) e Danielle Nunes (Santa Isabel). Para saber mais, clique aqui. Ainda falando do coletivo, gostaria que sugerisse algumas bandas que fazem parte dele, pra divulgarmos aqui pra galera conhecer. Todas as bandas que possuem mulheres são divulgadas. Não existem bandas que façam parte do coletivo, pois todas fazem. É mui- 57 -


to difícil indicar algumas, pois já publicamos mais de 400 bandas. Deixo o convite para a galera visitar a nossa página e conferir o quanto de material foda foi e está sendo produzido por mulheres. Após alguns EP’s e singles, vocês estão trabalhando no primeiro álbum agora. Como está esse processo? Quando será lançado? Nós pretendemos fazer menos shows no segundo semestre para podermos focar no processo de criação. Há algumas músicas, mas que precisam ser melhor trabalhadas e muito bem ensaiadas. Nós iremos gravar ao vivo novamente e para isso, é preciso que as músicas estejam bem redondas. A previsão de gravação

é em 2019, então, o lançamento será feito, provavelmente, no segundo semestre. Vemos que fora do Brasil, essa questão das bandas mais politizadas é bem levada a sério e atualmente vimos vários casos de denúncia de apologia ao nazismo e outras merdas dentro metal e hardcore. Como você enxerga isso no cenário nacional? Você acredita que as pessoas estão mais acordadas pra realidade que nos cerca? É difícil falar por um país de dimensões continentais como o Brasil. Mas nas nossas viagens, vemos que o meio em que estamos inseridos é muito preocupado com isso. Por sermos uma banda de hardcore, conseguimos

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transitar dentre os meios metal e punk e em ambos os meios, felizmente, a galera está mais aberta a discussões políticas e análises de conjuntura. Voltamos a viver uma época em que o subemprego e o desemprego está nos assolando e, por isso, acredito que esse despertar da consciência esteja renascendo. Não sei dizer se estou em uma bolha, mas acredito que esteja rolando uma renovação e, novamente, é de suma importância que a gente trabalhe para levar essa consciência para os mais novos. Do contrário, as bandas de hardcore “machão” e as de metal conservador estão aí de braços abertos acolhendo essa galera e cooptando para os ideais de extrema direita.

Querem dizer algo a mais? Obrigada pelo espaço! O nosso recado é sempre o mesmo: faça o que puder, mas faça. Não seja aquele que só aponta o dedo e não faz nada para mudar. A crítica é importante, sobretudo a autocrítica. Dessa forma, some da forma que puder. Aja. Saia do discurso na sua bolha do facebook. Vá para o mundo real. Fale com pessoas de verdade. Organize eventos. Escreva zines. Toque em todos os lugares possíveis. Apoie quem corre. Por mais que pareça insignificante, toda mudança, toda ação é efetiva Obrigada pelas palavras! Nos vemos em breve. =D

Mais algum recado pro nosso público? - 59 -




Texto e Foto Pei Fon

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Festival Abril Pro Rock é um dos mais antigos fests do Brasil. Realizada na cidade do Recife (Pernambuco), a 26º edição aconteceu nos dias 27 e 28 de abril, no Baile Perfumado. Em 2018, houve uma redução de espaço, mas não de atrações. Com 16 bandas no line-up, o APR 2018 trouxe para o Nordeste bandas que nunca pisaram na região como o Moonspell, Asomvel, Immolation e um ex-Ramones, o Richie. Sem contar que é uma bela vitrine para as bandas brasileiras, sobretudo as regionais. Antigo patrocinador, a Petrobrás não deu seu apoio esse ano. Isso também vai acontecer com o Festival do Sol, em Natal, que pode sofrer, um pouco, com essa baixa. Fora essa questão de ordem nacional, pois sabemos como anda a situação política/ financeira do Brasil, outro ponto que deve ser levado em consideração foi os dois dias de festival. Pelo segundo ano consecutivo, o APR teve dois dias dedicados ao Heavy/Rock, uma noite mais voltada para o Punk/HC/Rock’n Roll, e outra para o Metal. Infelizmente, o público não tem acompanhado essa proposta mais de perto. A sexta-feira foi aquém do esperado. Por mais que se - 62 -


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imaginasse que o último dos Ramones estivesse naquele lugar. Isso não foi o suficiente. Já a noite do Metal foi bem cheia. Mesmo assim, se fosse em outro lugar, com certeza, a sensação seria de esvaziamento. Qual o problema? Não há muito que dizer. Os shows estão acontecendo, mas a galera não está saindo de casa. Há muitas razões para isso, umas plausíveis, outras nem tanto.

1º dia

O primeiro dia do Abril Pro Rock reservava a presença de Richie Ramone, baterista da lendária Ramones. O fato é que uma das maiores bandas de Punk Rock, influenciadora de tantas outras, resume-se a camisa vendida em lojas de departamento e pessoas que nunca, sequer, ouviram falar do quarteto americano, a não ser pela famosíssima “Hey Ho Let’s Go”. Sobre a estampa, foi um desfile no Baile Perfumado. No tradicional formato, com dois palcos, o APR funciona muito bem e é rápido. Uma está tocando, enquanto a outra arruma seus equipamentos do outro lado. Quando uma termina, a outra inicia. É bem funcional. A noite de sexta-feira contou com as bandas 70mg, Plugins, Mad Monkees, que foi uma grata surpresa. Ainda ouviremos falar deles mais para frente. É uma aposta. A banda britânica Asomvel veio para o Brasil pela primeira vez e chegou com uma curiosidade: a semelhança com o seu conterrâneo, o lendário Lemmy Kilminster, do antigo Motörhead. Sonoramente falando, até parece mesmo, mas eles têm personalidade, e a semelhança fica somente na aparência. É uma bela banda. Quando Richie Ramone subiu ao palco foi até estranho. Por quê? Lá estava eu, procurando por ele e nada de achar. É que a lou- 64 -


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ca não tinha percebido ele estava na bateria. Infelizmente, o público não foi o esperado. O espaço destinado para o show principal estava esvaziado, e era fácil se locomover entre as pessoas. Já o SuperSuckers, que se intitula a melhor banda de Rock and Roll do mundo, ao menos é o que diz o anúncio deles, tocou muito bem, mas não vi muito motivo para tanta autopromoção. A única curiosidade é que o guitarrista tem uma semelhança impressionante com Randy Blythe, vocalista do Lamb of God.

2º dia

A noite do Metal reservava muitas estreias. Dentre elas a banda alagoana Autopse. Foi a primeira vez que Alagoas foi representado no festival. Em seus 30 minutos de apresentação, o quarteto liderado pela vocalista Dani Serafim, deu o seu recado e aumentou ainda mais a visibilidade. Por mais bandas desse estado. Por mais bandas com mulheres. E mais bandas estreantes subiram ao palco, como os pernambucanos do Matakabra, revelação do último ano. A novíssima banda Heavenless, vindo do grande celeiro pesado de Mossoró (RN). Grande aposta nordestina do Metal. De São Paulo vieram os vikings do Armored Dawn. A banda pisou pela primeira vez no Nordeste, e logo no APR. Liderado por Eduardo Parras, o sexteto mostrou todo seu profissionalismo e compromisso pela música. Mal se ouvia uma microfonia. Outro ponto importante, enquanto profissional da imagem, é que a banda não se preocupou apenas com o som. A performance, as roupas e a iluminação são parte importante desse processo. Param quem foi filmar e fotografar, a apresentação foi um verdadeiro parque de diversões. Um belo exemplo de comprometimento com tudo - 67 -


que envolve a música. Estão de parabéns! Que voltem! No palco mais underground, os cearenses do Damn Youth também experimentavam o gostinho de participar do festival mais importante do país. Trazendo um thrash/crossover, eles arrebataram os seus fãs e os novos ouvintes. Mais tarde, uma banda paulistana debutou no palco do APR. Foi a vez do Noturnall, do icônico Thiago Bianchi. Esse cara é um exemplo de luta e perseverança, principalmente pela vida. Trajado com o emblema do

Super Homem, Bianchi mostrou seus agudos e gritos rasgados. Ao seu lado estavam músicos virtuosos que dispensam apresentações. O detalhe vai para a participação de Alírio Netto cantando o que ele mais gosta, Queen. Impossível não cantar “Show must go on” a plenos pulmões. Mais um estreante da noite, os mineiros do Uganga, trouxeram o peso de três guitarras (não é só o Iron Maiden que pode – risos), uma delas muito bonita por sinal. Sob a tutela de Manu Henriques, que rasgou as músicas ali mesmo, os caras detonaram e presentearam o

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público com o cover da banda que representa bem o estado deles, o Sepultura. A atração principal da noite levou uma galera ao Baile Perfumado. Em 2017, os portugueses da Moonspell viriam ao Brasil dentro da turnê comemorativa dos seus 25 anos. Muitas datas anunciadas, mas foi cancelada um mês antes de tudo acontecer. Em 2018, isso foi diferente. Com o anúncio do Moonspell para o Abril Pro Rock, muitas dúvidas surgiram. Dentre elas, a de não tocarem no evento. Mas a ansiedade já tomava conta. Os fãs que esta-

vam acompanhando a turnê da banda e viam o quão performático e impressionante estavam, queriam ver o show em Recife. Com adereços e uma atuação ímpar de seu frontman, Fernando Ribeiro, a banda acabou com o receio e fez uma apresentação impressionante, digna de uma experiência sensitiva inigualável. Tocando, quase que na íntegra o seu novo álbum ‘1755’, que conta a história do terremoto que aconteceu em Lisboa, os portugueses mostraram como esse acontecimento afetou a vida das pessoas daquele tempo. Fernando Ribeiro merece um parágrafo

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a parte. A primeira vez que o vi cantar, foi em São Paulo, na última segunda-feira de setembro de 2015, no Teatro Mars. Naquele período, o Moonspell divulgava o cd “Exctint”. Fiquei bem pertinho do palco e pude ver a reação do público e dos músicos com aquela atmosfera toda. Observando um pouco mais o vocalista, é impressionante como ele consegue transmitir a mensagem que a música deseja. Talvez sua estreita relação com a literatura facilite bastante a interpretação. Chego a dizer que ele não canta, declama poemas. Em “1755” há uma regravação de “Lanterna dos Afogados”, de Os Paralamas do Sucesso. Para quem já ouviu, entende perfeitamente que a versão portuguesa é soturna, sombria e impactante. Se estavam no Brasil, por que não tocá-la? Ao final de sua apresentação, foram ovacionados. Foi bonito de ver. Por fim, esperamos que voltem logo! Depois de 1h30 de show foi a vez dos veteranos do APR, os pernambucanos do Decomposed God. Banda que dispensa apresentação. Lançando seu novo álbum, “Storm of Blasphemies”, o quarteto feroz, enérgico e visceral do Recife mostrou sua força, peso e composições cheias de velocidade. Aguardem o novo cd, que chega já, já para a audição. Abram bem os ouvidos! Finalizando a noite, o Immolation encerrou a noite Metal do APR. Eles até demoraram um pouco para subir ao palco. Quase 20 minutos depois do tempo, só no ‘enrolation’. Mas não decepcionou. Em mais um Festival Abril Pro Rock, mesmo com espaços reduzidos, aguardamos que continue por mais e mais anos. Faltam quatro anos para três décadas na atividade, dando oportunidade para quem precisa mostrar o seu som. Vida longa ao APR! - 70 -


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Texto Renata Pen | Foto Marta Ayora

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banda portuguesa Moonspell trouxe ao Brasil a turnê comemorativa de 26 anos de carreira. O trabalho, baseado no último álbum “1755”, teve como tema o terremoto que devastou a capital de Portugal, Lisboa, naquele ano. A turnê “1755 Latinoamerica” passou por Rio de Janeiro, São Paulo, Recife e Belo Horizonte. Na capital da garôa, o show aconteceu no Carioca Club. A banda conta em sua formação com os músicos: Fernando Ribeiro (vocal), Ricardo Amorim (guitarra), Pedro Paixão (teclado), Aires Pereira (baixo) e Mike Gaspar (bateria). Para o show de São Paulo, o público foi chegando timidamente tão logo o horário se aproximava e, quando os portões abriram-se, não houve aquela euforia na entrada como de praxe. Foi tranquilo. A casa ainda não estava com a capacidade máxima quando as luzes piscaram para avisar que o espetáculo iria começar. Mas, quem já estava lá, sabia que um ótimo show estava por vir. Fernando, super performático, entrou de chapéu carregando cruzes de madeira no - 74 -


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peito e no microfone. O músico trouxe também, uma lanterna. Dando ainda mais impacto, as luzes, som e o cenário estavam perfeitos para dar sustentação à proposta do álbum. Na quarta música Fernando teve a primeira conversa, de muitas, com o público. Disse que era um privilégio estar ali e que a banda era da “santa terrinha”. Durante todo o show o vocalista continuou interagindo com a plateia, falando sobre o tema da turnê, Portugal e também do parentesco com o Brasil. Enquanto as músicas iam rolando ficavam claras as críticas sobre os sistemas político e religioso, dando um clima sombrio, porém, de reflexão. Os backing vocals ao estilo gregoriano eram tão lindos que chegavam a arrepiar o público. Em “ Todos os Santos”, Fernando ergueu uma cruz que refletia luzes vermelhas. O músico disse que a moral da história era que ninguém ganhava sempre. E para atender a pedidos dos fãs, em “Vampiria” do álbum “Wolfheart” , Fernando surgiu a caráter, trajando uma capa e fazendo todo aquele teatro gótico, deixando muita gente satisfeita. Com o espetáculo quase no fim, o vocalista desceu do palco e juntou-se aos fãs que adoraram a brincadeira de poder ficar ali, tão juntinho do vocalista dos Moonspell. Ao final, parecia que a banda não queria ir embora e, se dependesse do público, a música não teria fim. Mas, infelizmente, as cortinas fecharam-se mas o público retirou-se feliz por ter curtido um show de alta qualidade.

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Texto e Foto Edi Fortini

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ormada na década de 90 na cidade do Rio de Janeiro, o Gangrena Gasosa já faz parte do imaginário cultural do metal brasileiro. Coisa que não é para qualquer um: a banda lançou alguns EP’s, alguns álbuns, um dvd, fez algumas turnês fora do Brasil e representa fielmente o que eles chamam de Saravá Metal, um termo que pode até orientar o ouvinte quanto à temática da banda, mas nem de longe representa um quinto do que isso nos traz. Falar do Gangrena é falar de liberdade de expressão, é falar de sarcasmo com nossas condições tupiniquins, falar de rebeldia, mas com a seriedade de um metal feito com músicos altamente qualificados. Após algumas mudanças recentes, a banda conta atualmente com Zé Pelintra (Ângelo Arede) no vocal, Omulu (Eder Santana) também no vocal, Exú Caveira (Minoru Murakami) – na guitarra, Exu Mirim (Renzo Borges) na Bateria, Pomba Gira (Gê Gaizeu) na Percussão e com Exu Tranca (Diego Padilha) no Baixo. O novo álbum, “Gente Ruim só Manda Lembrança pra Quem Não Presta” soa mais crítico e sarcástico do que nunca, trazendo uma realidade nua e crua ao nosso atual cenário, que diga-se de passagem, precisa tomar muita vergonha na cara! - 80 -


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Como prometido, várias faixas novas foram apresentadas e incrivelmente soaram como se muita gente ali já as conhecesse há tempos, com várias pessoas acompanhando as letras e as levadas, e os fãs também puderam se deliciar, bangear e dar vários moshs com as clássicas da banda, como Benzer Até Morrer, Surf Iemanjá e a esperadíssima Centro do Pica-Pau Amarelo. Apesar do curto tempo da apresentação e de alguns pequenos problemas técnicos, essa foi uma das melhores apresentações do Gangrena em terras paulistanas, com uma conexão ímpar entre banda e fãs, que devido ao espaço aconchegante do local, se misturavam em vários momentos. Setlist: 1. Gente Ruim 2. Surf Iemanjá 3. Se Deus é 10, Satanás é 666 4. Black Velho 5. Hardcore Gangrena DFC 6. Carnossauro Diet 7. Terreiro do Desmanche 8. Quem Gosta de Iron Meiden Também Gosta de KLB 9. O Saci 10. Eu Não Entendi Matrix 11. Trabalho Pra 20 Comer 12. Farda Preta de Caveira 13. Matou a Galinha e Foi ao Cinema/Afirma Seu Ponto/Headbanger Voice 14. Exú Noise Terror 15. Fiscal de Cu 16. Encosto 17. Jogo do Bicho 18. Benzer Até Morrer 19. Cambonos From Hell 20. A Supervia Deseja a Todos uma Boa Viagem 21. Centro do Pica-Pau Amarelo - 82 -


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Texto Pei Fon | Foto Jow Head

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ue o Brasil é um celeiro de música, seja ela qual for, isso ninguém duvida. É muito bom poder ter a oportunidade de conhecer novas bandas que podem despontar no cenário rock/heavy brasileiro. Nesse momento falo do Inherence, banda de São Paulo, formada por Thiago Castor (voz), Marcelo Liam (Guitarra), B2 (baixo) e João Limeira (bateria). Com uma pegada que mexeu com minhas lembranças, eles me fizeram lembrar os motivos pelos quais comecei a ouvir metal. Soa moderno outrora nostálgico, mas é forte, visceral, matador. Se não tem frescura para ouvir, essa é a minha aposta. Tive uma conversa super legal com Marcelo e Thiago, acompanhe! Como é o nosso primeiro contato, por favor, apresentem-se para os nossos leitores. Marcelo Liam - Somos o Inherence de São Paulo. A banda começou com João Limeira (bateria) e Marcelo Liam (guitarra), em 2016. Em seguida, Thiago “Castor” (vocais) entrou na banda e alguns meses depois, por convite do Castor, Rafael B2 (baixo) fechou o time. Começamos a fazer shows em 2017 e através da Onerpm lançamos nosso primeiro single - 86 -


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Foto: Pedro Henrique

“When Death Means Life” em diversas plataformas digitais como Spotify e Deezer. Em 2018, finalmente lançamos nosso début chamado “Dogma”. Nossa proposta é tocar um som pesado que ao mesmo tempo é groovado, rápido e quebrado, juntando a velha e a nova escola. Nossas influências são variadas: Cannibal Corpse, Meshuggah, Hatebreed, Krisiun, Slayer, Napalm Death, Aborted, First Blood, Whitechapel, The Acacia Strain e por aí vai. Por trás do nome de cada banda existe um significado. O que seria e como surgiu o nome Inherence? Marcelo - O nome Inherence surgiu quando o João (bateria) mostrou uma banda pro Marcelo (guitarra) chamada Malevolence. O Marcelo curtiu o som da banda e também a forma como o nome soava e dias depois sugeriu o nome Inherence. O João curtiu a ideia e o nome ficou. Inherence em português significa Inerência que é o estado de coisas que são naturalmente inseparáveis. O nome tem a intenção de mostrar que, a música que fazemos é inerente a nós, ou seja, naturalmente inseparável de nós mesmos. O som da banda me fez lembrar os tempos em que começara a ouvir Metal. Lembrou-me bastante do antigo Sinai Beach. Fora isso, como é unir diferentes variantes, mais bagagens, para chegar numa ‘ordem’ comum? Marcelo - Quando a banda começou, a proposta inicial era combinar elementos do metal com hardcore. Logo após a entrada do Castor (vocal) e do B2 (baixista) mais elementos foram acrescentados fazendo com que o processo rolasse de uma forma bastante natural. Hoje misturamos o metal e o hardcore a nossa maneira. - 89 -


2018 vocês já iniciam jogando o seu début na praça. Conta para nós como foi o processo de gravação do “Dogma”. Marcelo - Nós começamos a compor o “Dogma” em 2016, e algumas músicas já estavam parcialmente feitas antes da entrada do Castor (vocal) e do B2 (baixo). Com a entrada deles e o entrosamento da banda, as composições foram tomando um rumo mais sólido. O processo de composição, na maioria das vezes, parte de riffs de guitarra que o Marcelo cria e logo após isso todo o instrumental é feito, tendo a participação de todos. Quando a música fica pronta, o Castor escreve a letra e encaixa as linhas de voz. Algumas músicas tiveram de ser modificadas e deram mais trabalho para serem finalizadas, mas isso é natural em qualquer banda. Começamos a gravar no início de 2017 no estúdio Dual Noise com Rogério Wecko em São Paulo. Fizemos tudo com bastante calma e seguimos o método padrão gravando as guias de guitarra junto do metrônomo, logo em seguida foram gravadas as linhas de bateria, as guitarras finais, as linhas de voz e por último o baixo, solos e arranjos. O álbum foi mixado e masterizado pelo Rogério Wecko e ficamos muito contentes com o trabalho dele, superou nossas expectativas. O que vocês já colhem desse début? Qual o feedback que estão tendo? Thiago ‘Castor’ - O “Dogma” foi lançado primeiro nas plataformas digitais e a partir daí as coisas começaram a ficar muito loucas. O autraliano Peter Worrall, dono do selo 10-54, que divulga diversas bandas de HC e metal na Austrália curtiu muito nosso álbum e assim que a versão física saiu, enviamos algumas cópias pra serem vendidas por lá. O belga Robin Derriks, dono do site Hardcore Gateway, também pediu algumas cópias, que inclusive poucos dias após chegarem na Bélgica, foram - 90 -


Fotos: Pedro Henrique

todas vendidas. E atualmente vamos gravar duas músicas novas que vão ser lançadas em um Split com uma banda grind do Japão chamada The Kandarivas, que também nos convidou para fechar algumas datas por lá. Fizemos também algumas datas no Rio de Janeiro e em Santa Catarina e até o final do ano queremos tocar o máximo possível aqui dentro do Brasil. Muitos contatos estão surgindo e a gente tá se surpreendendo bastante com o feedback que tem rolado. Pensando um pouco mais sobre o título do primeiro play, o que esses dogmas têm feito hoje? Qual a ação/atitude que esses dogmas têm sido um problema em nossas vidas? Castor - A palavra “Dogma” em latim quer dizer a grosso modo “Verdade absoluta”. Acreditamos viver em uma sociedade que atualmente é dogmática em vários setores, não apenas no meio religioso. Pode-se dizer que com o avanço da tecnologia, a mídia se tornou bastante dogmática e a política talvez nos dias de hoje seja o nosso maior exemplo em relação a isso. E graças a todo esse conceito de “verdade absoluta” muitas pessoas não conseguem se relacionar justamente por não tentarem nem ao menos questionar certas coisas que acontecem ou são impostas em suas vidas. E acreditamos que isso é um grande problema nos dias de hoje. “The Chosen One” é um ótimo cartão de visita. Quem seria esse escolhido? Castor - A letra fala sobre fanatismo religioso, e em alguns momentos é tratada em primeira pessoa, se passando pelo escolhido, que no caso seria o personagem que engana as pessoas usando a fé e a ignorância como forma de se tornar alguém importante dentro da sociedade. Portanto, respondendo a sua pergunta, - 91 -


“The Chosen One” seria o explorador, que se auto denomina “O Escolhido”. “Self Trepanation” me chamou atenção pelo nome. Ouvindo o som me fez pensar um pouco. Diante de tantas mudanças, ser verdadeiro consigo mesmo e não permitir que as ‘novas concepções’ do mundo interfira em você é o caminho? Castor - A letra dessa música faz uma analogia a um procedimento cirúrgico chamada Trepanação e ao fato de você fazer aquilo que acredita sem se importar com o que as pessoas vão pensar ou com pré-julgamentos. Não sei se você já ouviu falar de Bart Hughes, mas ele foi um cara considerado louco por muitos no

meio na medicina, pois acreditava que a auto trepanação fazia o ser humano atingir um estado de consciência pleno, tendo praticado inclusive nele mesmo. Não que a gente acredite nisso, mas o fato é que ele fazia o que acreditava e se sentia bem com aquilo. Em relação as “novas concepções”, a letra fala justamente para permitir que elas aconteçam, pois através de novas ideias é que o mundo evolui. Duas palavras no cd me chamaram atenção: mentiroso e covarde. Pensando muito além, vendo o mundo como está, quem seriam esses personagens hoje? Uma nação? Governante? Pessoas? Castor - Todos nós em algum momento de

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nossas vidas, mentimos ou agimos como covardes. São condições humanas e não temos como fugir disso. O problema é quando “ser covarde” ou “ser mentiroso” se torna um hábito, algo constante em nossas vidas. Respondendo a sua pergunta, a sociedade como um todo é mentirosa e covarde. Como dito acima, o que nos resta é trabalhar diariamente pra que essas condições não virem um hábito. Ouvindo “When live means death” e “When death means life”, quando que a vida significa morte e a morte, vida? Castor - Não precisamos morrer de fato para estarmos mortos. Você pode apenas existir e estar morto por dentro. A vida pode significar morte quando você perde alguém, quan-

do tudo desmorona ao seu redor, e ao mesmo tempo pode significar vida quando você conquista algo importante, quando você presencia o nascimento de algo ou alguém. Mudando um pouco da música para assuntos pertinentes do nosso tempo. Muito se fala do posicionamento extremo de personas do nosso meio. O Rock N Roll (englobando todas as vertentes) sugere ser o que observa tudo, têm sua opinião e não toma partido. Mas não é bem isso que vemos. Vemos muitos ‘desencontros’ e, principalmente, laços desfeitos. Em tese, não era para existir o respeito? Marcelo - A arte é geralmente uma extensão

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Foto: Pedro Henrique

da sociedade e do tempo em que a mesma se encontra. Isso gera efeitos interessantes e ao mesmo tempo trágicos, e música não fica fora disso. O rock, em sua origem, tinha uma relação mais fidedigna com manifestações e causas sociais, mas isso naquela época. Hoje as coisas são diferentes e esse olhar crítico de espírito vanguardista e inovador caiu, e é natural que isso aconteça. Precisamos olhar pra frente, pensar no próximo passo, no que podemos mudar como músicos, artistas, apreciadores, ouvintes críticos e pensantes. Ter uma posição radical e intolerante não faz parte do início do rock, é uma parada que rola mais hoje, depois que esse gênero se consolidou e permutou pelas gerações, achamos que esse engessamento precisa ser descontruído novamente. Analisando um pouco as letras, as palavras verdade, mentira, covarde, morte

e liberdade se fosse para representar bandas que inspiram o Inherence, quais seriam? Explique em poucas palavras sobre cada uma delas. Castor - Em relação as letras, e especificamente as palavras citadas acima, poderíamos dizer que o Napalm Death representa bem a ideia do que inspira o Inherence liricamente. Por fim, o que podemos esperar do Inherence para 2018. Sucesso e muito obrigada! Castor - Primeiramente, gostaríamos de agradecer o espaço, rolaram perguntas realmente boas, e que mostraram seu total interesse no nosso trabalho. Muito obrigado de verdade. E 2018, a gente pretende tocar no máximo de lugares que a gente conseguir, espalhar nosso trabalho, e torná-lo cada vez maior e melhor. Muito obrigado!

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Loudness - Rise to Glory

Marcos Garcia é formado em Física pela UFF/RJ, Mestre e Doutor em Geofísica pelo ON/MCTIC/RJ. Headbanger desde 1983, é redator-chefe do Metal Samsara, colaborador da Rock Meeting, Metal Temple (Europa) e The Black Planet (Europa). Tem apreço pelos bangers e bandas mais jovens, respeitando o passado, esperando o futuro, mas sempre com a mente no presente.

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Warshipper - Black sun

Marcos Garcia é formado em Física pela UFF/RJ, Mestre e Doutor em Geofísica pelo ON/MCTIC/RJ. Headbanger desde 1983, é redator-chefe do Metal Samsara, colaborador da Rock Meeting, Metal Temple (Europa) e The Black Planet (Europa). Tem apreço pelos bangers e bandas mais jovens, respeitando o passado, esperando o futuro, mas sempre com a mente no presente.

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Vulcano - From Headbanger to Headbanger

Marcos Garcia é formado em Física pela UFF/RJ, Mestre e Doutor em Geofísica pelo ON/MCTIC/RJ. Headbanger desde 1983, é redator-chefe do Metal Samsara, colaborador da Rock Meeting, Metal Temple (Europa) e The Black Planet (Europa). Tem apreço pelos bangers e bandas mais jovens, respeitando o passado, esperando o futuro, mas sempre com a mente no presente.

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Angra - OMNI

Marcos Garcia é formado em Física pela UFF/RJ, Mestre e Doutor em Geofísica pelo ON/MCTIC/RJ. Headbanger desde 1983, é redator-chefe do Metal Samsara, colaborador da Rock Meeting, Metal Temple (Europa) e The Black Planet (Europa). Tem apreço pelos bangers e bandas mais jovens, respeitando o passado, esperando o futuro, mas sempre com a mente no presente.

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Foto: Ian Whitehead

Magnum - Lost On The Road To Eternity

Marcos Garcia é formado em Física pela UFF/RJ, Mestre e Doutor em Geofísica pelo ON/MCTIC/RJ. Headbanger desde 1983, é redator-chefe do Metal Samsara, colaborador da Rock Meeting, Metal Temple (Europa) e The Black Planet (Europa). Tem apreço pelos bangers e bandas mais jovens, respeitando o passado, esperando o futuro, mas sempre com a mente no presente.

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Foto: Gandhi Guimarães

Encefalo - DerThrone

Marcos Garcia é formado em Física pela UFF/RJ, Mestre e Doutor em Geofísica pelo ON/MCTIC/RJ. Headbanger desde 1983, é redator-chefe do Metal Samsara, colaborador da Rock Meeting, Metal Temple (Europa) e The Black Planet (Europa). Tem apreço pelos bangers e bandas mais jovens, respeitando o passado, esperando o futuro, mas sempre com a mente no presente.

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Saxon - Thunderbolt

Marcos Garcia é formado em Física pela UFF/RJ, Mestre e Doutor em Geofísica pelo ON/MCTIC/RJ. Headbanger desde 1983, é redator-chefe do Metal Samsara, colaborador da Rock Meeting, Metal Temple (Europa) e The Black Planet (Europa). Tem apreço pelos bangers e bandas mais jovens, respeitando o passado, esperando o futuro, mas sempre com a mente no presente.

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Foto: Virginia Pezzolo

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Texto Virginia Pezzolo | Foto Marc Debus

PRIMEIRO DIA Esta é a décima edição do festival Taunus Metal - o que é realmente uma boa razão para se celebrar. Entretanto, este evento foi caracterizado por uma certa melancolia, já que no ano passado morreu Andreas “The Law” Freitag, um dos grandes organizadores do Taunus. Mesmo que Law não esteja mais por aqui, ele não foi esquecido. Para solenizar sua vida, uma grande foto de Andreas foi colocada no lado esquerdo do palco enquanto seu casaco de couro ficava em exibição do lado direito - um gesto muito bonito dos organizadores. O festival também foi aberto com uma apreciação do falecido conjunta à comemoração dos 10 anos. Apesar da dolorosa perda, o Taunus Metal Festival foi erguido com 20 bandas ilustres para os dois dias do festival. Tudo por um preço de apenas 25 euros. Imperdível. Mais ainda seria bom salientar que o festival nunca teve tantos espectadores. Foram cerca de 700 visitantes no local. Sim, a capacidade do salão não foi esgotada, é um festival de pequeno porte, mas com muito potencial. Como experiência pessoal, pude perceber que todos envolvidos estavam realmente interessados nas bandas e com muita vontade de aproveitar todos os momentos. Destaque também para toda a crew, sempre muito edu- 104 -


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cada e solícita. O acampamento adjacente é limpo e com espaço para todos. O estacionamento é próximo. As mesas de merchandising bem montadas com área para todas as bandas. Lanchonetes e bar convenientemente dentro e em frente ao salão. Ou seja, o esquema montado foi nota 10. O primeiro ato do dia foi dos thrashers alemães Stage War, que já faziam parte do primeiro Festival Taunus Metal e, portanto, parte da história do evento. O que ouvi soou sólido e objetivo. Em seguida veio Nekkromaniac, um Black/Thrash com vocais macabros, música infernal com títulos “meigos” como “Mark of the Devil”, “Total Antichrist” e “Nekkrofukk” que foram jogados brutalmente na plateia. O terceiro grupo foi o Angel Crypt da República de Malta, um país não muito comum no cenário Metal. Não foram capazes de entusiasmar muito com seu Death Metal melódico moderno, sem contar também que o show também foi caracterizado por constantes problemas técnicos. O sueco Viper Night deu continuidade ao festival. O grupo de Gotemburgo apresentou uma mistura clássica de Heavy Metal americano com uma boa dose da banda Acid. A comparação é meio que inevitável no som e também notando o baixista vestindo a camiseta do grupo belga e a vocalista Sofie Lee com um tom e atitude muito parecido com a de Kate de Lombaert. O guitarrista Tom Sutton já é íntimo da estrada de longos tempos, tendo trabalhado para bandas como Horisont e Church Of Misery. Os suecos deixaram o palco depois de aproximadamente 45 minutos pois tinham que seguir com sua tour e também porque com o Space Chaser já estava na cola para ser o próximo a tocar. O que dizer do Space Chaser? Para começar: Eles são de Berlim e são loucos! A banda existe desde 2011, já lançaram dois LPs e - 107 -


dois EPs. O revival do Thrash Metal oitentista não é nada de novo no pedaço, mas vendo a banda não deixar pedra sobre pedra com seu vigor e rapidez, percebemos que eles estão em outro patamar. Destaque grande vai para o vocalista Siegfrieg, marquem este nome. Tem star quality de um grande frontman. Um outro repeteco do Taunus Metal Festival foi o GodslavE. A banda já tem um tempo de estrada, faz o seu Thrash à la Overkill misturado com Kreator e com Exodus. Foi um show sólido, mas não teve o melhor som e ficou bem aquém do Space Chaser. O Stallion veio em seguida e tom de festa iniciava na noite de sexta-feira. O grupo de Heavy/Speed Metal vem do sul da Alemanha. Eles parecem estar bem à vontade ao vivo. Não há como não notar o visual do vocalista Pauly com seus acessórios hairmetal dos anos 80 (calça spandex, headband e meião alto) junto de uma pesada armadura estilo Black Metal. Com certeza o visual mais fascinante da noite! A banda juntou velhos fãs e também novas pessoas interessadas em conhecer mais o som deles. Para fechar a noite veio tivemos o old school Assassin. A banda se separou em 1989 após o segundo álbum, mas voltaram à ativa em 2002 pelo único membro remanescente da formação original, o guitarrista Scholli. Os alemães de Düsseldorf tocaram clássicos como “Assassin”, “Fight” e “Bullets” e também faixas mais novas como “Break the Silence” e “Back from the Dead”. Assim terminamos o primeiro dia de festival. Foi um excelente começo. Boas bandas, clima agradável de primavera e organização primorosa. SEGUNDO DIA

As primeiras bandas no sábado tiveram - 108 -


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Foto: Karl Friggieri

o infortúnio de começar muito cedo, sendo que ao meio-dia tocava o Fairytale com seu Power Metal e depois vinha o Melodic Death do Bitterness. Infelizmente minha presença física só conseguiu comparecer para o terceiro grupo, algo que não planejava perder de maneira alguma. Thrashit, um quarteto de Kuala Lumpur, Malásia, era uma das bandas mais esperadas neste fest. Mesmo que soe piegas, é sempre muito emocionante e merecedor de atenção quando uma banda de um país longínquo mostra sua paixão por esse estilo de música. Eles já haviam tocado em 2015 no Festi-

val Taunus, mas o vocalista também visitou o TMF em 2016 e 2017 como espectador. Ouvi dos organizadores que eles estavam contentes de ter convidados de lugares como a Ásia. Esta é mais uma prova do burburinho que este festival tão próximo de Frankfurt está formando. Os caras do Thrashit não são apenas super simpáticos e animados com um bom bate-papo, eles também fazem Thrash Metal, impressionantemente documentado no primeiro LP “Kaiser of Evil” de 2016. Os asiáticos vieram com tudo e deixaram claro que seria mais um ótimo dia.

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Em seguida veio o Thrash de Munique, Hateful Agony, seguindo aquela linha da Bay Area, como Exodus, Forbidden e Vio-Lence. Nada de novo no front. Foi interessante, mas não memorável. O Abandoned deixou uma impressão mais forte, sendo que subiram ao palco e rapidamente já encheram o salão até a altura do mixer desk. Ou seja, eram esperados. A banda começou em 2000, tem dois discos full lenght lançados, apesar de quase 20 anos de estrada, e não destoou muito do gênero dos grupos anteriores.

Como a sexta banda da noite, Elvenpath subiu ao palco às 5 da tarde. Eles são uma espécie de instituição do festival, pois os próprios membros participam da organização do Taunus Metal. O grupo é um porto seguro para quem gosta de um bom Power Metal. Se você se interessa pelo modo clássico da velha escola com melodias cativantes, riffs calorosos e um formato de hino épico, o Elvenpath é definitivamente para você. Pelo que entendi, a banda também tem um “mascote”, um cara vestindo uma máscara de javali e há toda uma encenação na música “Wild Boars of Steel”. Como a

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piada particular dos organizadores do fest é toda em alemão, fiquei boiando. O poder épico continuou com o Thrashers de Berlim do Fatal Embrace, uma das bandas favoritas declaradas do falecido Law. Os caras se saíram muito bem e fizeram um show sólido - embora a formação do quinteto foi transformada em quarteto dessa vez, pois o segundo guitarrista Tobi quebrou o braço. Restou a Tobi ficar na platéia vendo o grupo tocar. Depois de uma pausa, chegou a hora de outro headliner muito esperado tocar: o Tumourboy da China. Como Fatal Embrace, os asiáticos também tiveram que improvisar e, quando digo improvisar, foi algo como tirar leite de pedra! O vocalista e guitarrista Qu Jiashu não foi autorizado a deixar a China. Seu visto para entrar na Alemanha não foi aprovado e a banda ficou entre cancelar ou arranjar alguém de último minuto para aprender as letras e cantar na banda. Um compatriota assumiu o posto, mas teve provavelmente meia-hora antes do show pra ensaiar com a banda. Um sufoco. Na sala de ensaios do Stage War, isso no primeiro dia de festival, os chineses tiveram a oportunidade de se adaptar à nova situação. O experimento pode ser descrito como bem-sucedido, porque a Tumourboy foi indiscutivelmente um dos destaques do festival deste ano. Os asiáticos surpreenderam o público, que mais uma vez invadiu o salão em grande número, com o fato do guitarrista Yang Fuwen receber os visitantes em alemão quase sem sotaque. Apresentou a banda e manteve a conversa na língua local entre as músicas. Nas influências que vão de Toxic Holocaust, Agent Steel, Municipal Waste e Overkill, sempre tudo muito acelerado, eles cantam sobre o apocalipse, guerra e poluição nuclear, em um som enérgico e bem tocado. Teve “Cycle of Human - 112 -


Violence” e “Acid Rain” do novo disco “Condemned to Extinction”, como também “Noise, Beer, Love”, “UxFxAx” do disco de 2016 “Damage System”. O substituto fez um ótimo trabalho, cantando como um louco e correndo de um lado pro outro. Foi um começo trôpego de uma mini-tour de cinco datas na Europa, mas deu certo. Terminaram com “Kiss My Ass”, elevando o humor de todo mundo no local. O Witchburner tinha a triste missão de ir ao palco após o Tumourboy, sendo que o público queria se recuperar dos asiáticos e provavelmente ir atrás de alguns refrescos. Formado com dois ex-membros do Grave Digger, Uwe Lulis e Tomi Göttlich, o Rebellion tocou no segundo dia do festival. Uwe não participa mais do grupo. O som vai na linha Power Metal com temática viking, o que agrada a uns e nem tanto a outros. O sábado se resumiu entre ver bandas de Thrash Metal e outras Heavy/Power Metal com uma composições épicas sobre guerreiros nórdicos. Seria bom ter uma programação um pouco mais variada. A banda Wizard mostrou um pouco dos seus 30 anos de história. Os caras contam com nada menos que onze álbuns, que incluem títulos como “Battle of Metal”, “Odin”, “Bound by Metal” e “Thor”. O desempenho me lembrou um pouco de Hammerfall ou uma variante de Manowar. Foi bom para o público que também curte Rebellion. Não é meu caso e recuei depois dessa overdose viking. Os holandeses do Steel Shock fecharam o festival no maior estilo True Metal e mandando músicas como “Shockwave of Steel”, “Metal Fire”, “Under The Sign” e “Axe of Hatred”. Assim fechou mais um ano de Taunus Metal. Foi um festival extremamente gratificante e bem sucedido. Os organizadores estão definitivamente no caminho certo. Altamente recomendável! - 113 -


Por Samantha Feehily (Wonder Girls )

Q

uem nunca pensou em eternizar o rosto de uma pessoa que admira na pele?! Pois bem, esse estilo, a princípio, foi mais utilizado por pessoas que tinham o desejo de tatuar algum retrato, o que fazia com que a reprodução tivesse que ser bem fiel à fotografia. Hoje, porém, é possível contar com criações exclusivas, em que o tatuador é procurado para elaborar um desenho e aplicá-lo na pele usando as técnicas realistas. Nada como poder dar ‘vida’ a um desenho da forma que ele realmente é! Conhecidas por retratarem da forma mais fiel possível uma pessoa, animal ou objeto, utilizando técnicas de profundidade, cores e sombreado que garantem à tatuagem um aspecto muito próximo do real, o estilo realismo é a praia do tatuador Fernando Tampa, que trabalha atualmente na Tatuaria Reis. Fernando começou a tatuar em 2006, meio que sem ter mais como fugir já que desenhava desde pequeno, por volta dos sete anos. Aos dezesseis anos começou a frequentar o estúdio de seu cunhado na época, o qual o iniciou no mundo da tatuagem. “O desenho está comigo desde moleque, desenhava co-

piando dos gibis que tinha, usando carbonos velhos que meu pai trazia pra casa, ele era cobrador de ônibus, então ali saia tudo falhado e eu ia olhando e fazendo, e assim foi evoluindo, lá pelos 16 anos, minha irmã namorava um tatuador de bairro e eu frequentava o estúdio e tudo mais, ali foi surgindo a vontade de tatuar, mas só criei coragem já com 21 anos, nunca fiz curso de desenho, pintura ou outro, somente workshops de tattoo mesmo”, conta o Fernando. Para o tatuador Patric Grazziontin, o realismo tanto preto/sombra como colorido é “como um quebra-cabeça, montado peça por peça com MUITA paciência. Gosto muito de trabalhar com bastante contraste ir das cores pesadas e intensas até a luz os tons claros que iluminam a tattoo. Pra mim quanto mais detalhes e texturas melhor”. Para uma boa tatuagem realista é preciso avaliar alguns detalhes importantes, além da escolha do profissional, a qualidade da foto utilizada como referência também influencia no resultado final. Fotos fora de foco ou com má iluminação dificultam bastante o trabalho do tatuador. É preciso, também, ter cautela

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Fernando Tampa

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na hora de escolher a parte do corpo que será tatuada. Algumas regiões podem acabar deformando o desenho e fazendo com que ele fique bem distante do real. Costela e barriga são exemplos de regiões que podem tornar a tatuagem irreconhecível ao longo do tempo. “Não é qualquer lugar que a tattoo fica boa, especialmente, por causa da anatomia do corpo, sempre se tem que ter esse cuidado para não distorcer um rosto devido a região do corpo, aliás, isso serve não só para o realismo né, mas pra todos os estilos”, alerta. Quando se trata de rosto “evito alguns lugares, juntas e áreas estreitas do corpo, para não distorcer. Áreas mais planas dão um resultado melhor”, conta Patric. Viver de arte não é fácil, cobrar pela sua arte é pior ainda, “o grande problema é ficar restrito a usar somente os materiais ‘legalizados’, além do bloqueio que temos desde a infância em relação a arte em geral, quando adultos nem podemos usar um material de primeira pra desenvolvermos melhor os trabalhos, isso é desmotivador no Brasil, e a desvalorização da tattoo que vem acontecendo também é ruim, isso devido ao grande número de novos tatuadores e pessoas que na real só veem um jeito de ganhar dinheiro com isso, tratam a tattoo como um emprego, e não como arte…” expõe Tampa. Aos que acham que podem ser tatuadores e que esperam dicas, lá vai: “Você entendendo de anatomia já é o primeiro passo para ser um bom tatuador, o desenho não precisa ser necessariamente o mais foda do mundo, eu mesmo desenho, mas não tenho muita paciência no papel, prefiro tatuar, muito mais legal de fazer, fui evoluindo meu desenho, dessa forma, na pele mesmo. Workshops são a melhor forma de adquirir conhecimento, cada um tem uma coisinha para passar. - 116 -

Patric Grazziontin e suas criaçõ


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Fernando Tampa

Convenções são legais, pois você vê os outros tatuarem. Eu sempre estudo outros estilos, nem que seja observando fotos, neo trad me influencia muito, assim como o new school, preto e cinza, oriental, full color, um trabalho bem feito sempre inspira, seja pela criatividade, aplicação, linhas firmes, enfim, eu vivo e respiro tattoo o tempo todo, essa é minha vida e não consigo mais ficar sem isso!”, finaliza Tampa. E Patrick é categórico, “desenhar é fundamental, ter noção de luz, sombra e anatomia, com certeza faz toda a diferença em uma boa tatuagem. O tatuador tem que

estar em constante estudo, nunca s chega em um máximo, quanto mais curso, mais desenho, mais vídeos, tudo que te traga conhecimento, melhor. Primeiro de tudo arriscar todos os estilos. Nem sempre oque você mais gosta é o que você vai ser melhor, no início e não queria usar cor de jeito nem um, só queria preto e sombra, até descobrir que as cores também eram legais perdi um bom tempo. Aí depois que encontrar seu estilo, mergulha nele, e novamente estuda o máximo que der e mais um pouco”.

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Texto Aline Pavan | Foto Marcelo Cunha

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Nordeste é um grande celeiro de bandas, principalmente de Thrash Metal, tendo vista a grande quantidade de grupos deste estilo que brotam nesta região. O Torturizer é uma destas bandas que vêm surpreendendo mais a cada dia que passa. Hoje conversaremos um pouco mais com os integrantes Willian e Luis para para sabermos um pouco mais sobre estes trabalhos atuais e também seus projetos para o restante de 2018, confira. Poderia contar um pouco da história do Torturizer, desde sua formação até o momento? E de onde veio o nome do grupo, e como ele se encaixa na proposta musical de vocês? Willian - A Torturizer foi ‘esculpida’ por mim e meu irmão Wilton, desde o início, gostávamos muito do Sepultura na era dos Cavalera, e isso acabou dando um estímulo para gente. O nome da banda foi/é meio que uma sobreposição de palavras, éramos e ainda somos viciados no Torture Squad, então queríamos muito algo com ‘torture’ no meio, na época eu escutava muito o Motörhead, e tinha o álbum “Motörizer”, e brincamos com a formação da palavra, onde surgiu o nome Torturizer, se tornou algo como uma ‘tortura motorizada’ (risos). - 122 -


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Nossa musicalidade é muito voltada à temática do terror/horror/tortura/medo entre outras coisas ruins, creio que tenha se encaixado perfeitamente (risos). Mesmo ainda em fase de divulgação do single “Slaughterhouse”, vocês já possuem planos para começar a trabalhar em um álbum completo de inéditas? Willian – Estamos fazendo isso... Têm algumas coisas que acabam atrapalhando um pouco, mas já temos músicas prontas só no ponto de gravar, estamos com foco em um début CD. Além de trabalhar duro na indústria

musical, quais são as coisas que vocês mais gostam? Willian – Pra mim a interação entre os amigos de banda. Fora que você conhece mais pessoas interessadas no mesmo caminho musical, e o melhor é quando alguém lhe diz na lata, coisas boas sobre o seu trabalho. Luís – Concordo com Willian! Esse feedback sobre o seu trabalho é muito importante, seja ele negativo ou positivo, basta nós sabermos filtrar e procurar trabalhar para melhorar. Isso agrega bastante no nosso crescimento não só como banda mas também como músicos. Conhecer pessoas do meio também sem dúvidas é algo extraordinário, aprendemos muito.

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Atualmente temos visto uma nova geração de bandas no cenário do Metal brasileiro que seguem um direcionamento semelhante ao da Torturizer. Como vocês enxergam essa cena atual? Luís – Bastante rica e poderosa musicalmente falando. O que precisa é mais apoio do público e união entre as bandas, se tivesse isso com certeza a cena seria outra! Em sua opinião, quais são os maiores desafios no cenário underground brasileiro? Willian – Investimento em bandas novas, público, acho que são os monstros do under-

ground. Numa tendência nacional onde o movimento de bandas cover é sempre evidenciado, é um orgulho ver bandas como Torturizer investindo em seu próprio trabalho. Como é ser uma banda autoral nesse ambiente? Luís – É um pouco complicado porque não temos ajuda de ninguém, somos nós mesmos e pronto! Se quisermos um dia chegar lá no topo teremos que ralar bastante assim como já fazemos. Por um lado bate um orgulho por sermos bastante empenhados em fazer um trabalho de ótima qualidade sejam músicas ou shows

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e nunca desistir! Apesar de que já passou isso pela cabeça de todos nós.

quando se tem um foco, essa palavra não pode existir! Continuem lutando e viva o metal!

E o que esperam do futuro da banda, quais os planos imediatos para o segundo semestre de 2018? Willian – Estamos com músicas prontas para gravação de um full, esperamos conseguir finalizar tudo antes do fim do ano (risos). Luís – Esperamos também mais convites para shows, aqui no nosso estado e fora dele. Queremos levar o som da Torturizer para todos os cantos desse mundo (risos)!

Uma mensagem para os fãs e amigos que curtem o trabalho da Torturizer e para aqueles que gostariam de conhecer melhor seu som e apostam no Metal nacional. Luís – Para todos aqueles que curtem o nosso som, muita coisa foda está por vir! Continuem batendo cabeça com ele e divulgando ao máximo! E para aqueles que ainda não conhecem, vocês estão tendo uma oportunidade de conhecer e bater bastante cabeça! Procurem no YouTube, Facebook, Instagram e em todas as plataformas digitais que com certeza irão encontrar nosso material! Divulguem ao máximo e continuem apoiando todas as bandas underground do metal nacional.

Qualquer palavra de sabedoria para compartilhar com os artistas iniciantes? Luís – Nunca desistam! Eu sei que é difícil e irá passar isso pela cabeça várias vezes, mas

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Texto e Foto Bruno Sessa

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m turnê de divulgação do novo álbum lançado em 2017, “In The Passing Light of Day”, os suecos do Pain of Salvation retornaram ao Brasil três anos após sua última apresentação, com shows no Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Limeira e São Paulo. Inicialmente, os shows foram marcados em fevereiro, mas por conta de um problema de saúde do vocalista Daniel Gildenlow, foram remarcados para abril, causando uma grande ansiedade nos assíduos fãs da banda. Após a espera de dois meses, o grande dia chegou, e com casa cheia o Pain of Salvation foi recepcionado pelo caloroso público no Carioca Club, abrindo o show com a sequência de três músicas do novo álbum: “Full Throttle Tribe”, “Reasons” e a aguardada “Meaningless”. Mostrando a complexidade sem perder sua identidade, as letras do recém lançamento contam a experiência de quase morte do vocalista, ao estar em um leito de hospital com a esperança de um novo dia, expressando toda a intensidade da sua vida em suas composições. A habilidosa banda que acompanha Daniel, conta com Gustaf Hielm no baixo, Daniel “D2” Karlsson no teclado, Léo Margarit na ba- 130 -


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teria e Johan Hallgren na guitarra, que retornou para o Pain of Salvation depois de um hiato de seis anos, após a saída do músico Ragnar Zolberg no ano passado. Os grandes sucessos não ficaram de fora do set-list. “Linoleum” do álbum “Road Salt One” de 2010 levou o público a agitar e cantar junto, tirando sorrisos de cada integrante da banda. Do álbum “Remedy Lane” - talvez o queridinho de muitos fãs - foram tocadas a intensa “Rope Ends” e “Beyond the Pale”, com sua vibrante introdução. E também, “Kingdom Of Loss”, do “Scarsick” de 2007 e “Inside Out” do segundo álbum de estúdio “One Hour by the Concrete Lake” de 1998. O ponto alto do show foi na música “Ashes”, grande hit da banda, presente no “The Perfect Element Part I”, dando sequência para “Silent Gold” e “On a Tuesday”, com o peso na guitarra e a bateria marcante, destaque para o competente baterista Léo, que durante o show ainda empresta sua voz em diversos momentos. O Pain of Salvation mescla peso e melodia com uma diversidade de emoções, e é com a melancólica “In the Passing Light of Day” que encerram seu show de forma grandiosa, permeando por toda a casa de shows um clima de muita vitalidade e energia do quinteto sueco.

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Texto Romel Santos com Pei Fon Foto Banda/Divulgação

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hard rock em seu auge foi um estilo marginalizado no Brasil, mas em 2017 tivemos vários lançamentos de destaque no Brasil, dentre eles o álbum autointitulado da JEV, banda fundada pelo vocalista Hebert Davis, em São José dos Campos-SP. Conversamos com Hebert e ele nos contou sobre as novidades para 2018, lançamento de single, vídeos, turnê e muito mais. Confira! Inicialmente a banda se intitulava Jevally, uma fusão das palavras Jerusalém com Vale ou ‘Vally’ em inglês. Hebert poderia nos explicar a origem do nome até a abreviação JEV? Você é ascendência judaica? Hebert Davis: Sim, eu tenho. O lance do nome da banda não foi buscando em mim ou algo familiar pra achar uma resposta. Pra ter um nome foi basicamente essa fusão, eu amo os mitos em relação a Jerusalém e toda essa esperança sobre isso que ainda pode ser o início das coisas como também o final de tudo, enfim. Essa abreviação basicamente significa que a nova Jerusalém esta dentro de nós, não importa onde vivemos ou estamos. Não é uma nova ideologia tipo marxismo ou nazismo, não é nada disso, simplesmente acreditar nos mitos como uma esperança de ver o futuro melhor, e o presente também claro. - 136 -


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De 2012, ano de fundação da JEV, até o lançamento do álbum de estreia, foram 5 anos. Houve problemas para encaixar uma formação? Conte-nos também sobre a trajetória da banda até o presente momento. Sim, todo esse tempo a JEV nunca parou de fato, porque de alguma forma iria chegar ao que é hoje. Qual banda que não muda ao longo de alguns anos? Não existe, mas a ideia inicial sempre fica independente disso, em minha opinião, a sonoridade. Hoje a banda está ótima, o álbum diz tudo, a ótima aceitação do público e crítica em geral, uma trajetória de insistência e muito trabalho até este momento. Nós temos um padrão, algo sublime e simples, mas com qualidade. Pudemos perceber influência de nomes como Alice Cooper, Def Leppard, Duran Duran, Foreigner na sonoridade da JEV. Como funciona o processo de composição? Todos podem contribuir com ideias? Todas as músicas são lapidadas e arranjadas em equipe, é muito complicado você simplesmente chegar com algo extraordinário, tipo, “Don’t Stop Belivin’” do Journey ou “Imagine” do John Lennon. O que você iria mudar ali? Acredito que nada, só um idiota faria isso, então a banda tem esse bom senso, eu escrevo todas as letras, mas sou aberto pra escrevermos juntos. Mas ninguém gosta de participar, pois acreditam no meu potencial. A banda também tem a cabeça aberta pra isso, não existe nenhuma “cultura vermelha ou ditadura” aqui, só há um padrão e direcionamento que a banda não pode perder. De outra forma não faz sentido existir banda. “Jev” foi gravado no Plugg N’ Play Stu- 138 -


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dios em São José dos Campos-SP, com produção assinada por Glauber Ribat, mixado e masterizado no Ribat Studios no Rio de Janeiro-RJ. Como vocês avaliam o trabalho deles? E o resultado final? Pelo padrão nacional, eu amei o resultado. Desde o princípio, antes de a mixagem começar, eu pensei em dar algumas referências de discos pra seguir uma linha diferente de drum/ bass, mas foi totalmente desnecessário, o Ribat entendeu de imediato a linguagem da banda, fazendo o resultado vir naturalmente. Foi um momento mágico pra nós, eu sei o quanto é difícil qualquer banda conseguir chegar à sonoridade buscada, mas foi sem referências, foi natural realmente mágico. Além da versão digital, o álbum foi lançado na versão física numa bela embalagem digipack, com destaque pra arte de capa. Qual a importância do CD físico pro JEV na era digital? Ótima pergunta! É muito bom andar de Uber, resolve os problemas, mas você ter um carro também é legal, ou você nunca ter pegado em uma nota alta de dinheiro, você faz tudo com o cartão do banco, sendo tudo digital. É mais ou menos isso, por mais que o mundo digital esteja presente em nossas vidas, tem coisas que ainda valem a pena você ter e cuidar, a música perde muito da essência quando está apenas no digital. O álbum físico é uma prova do trabalho, é algo poderoso, acho muito bom ter as coisas e de certa forma pro artista isso também é importante. Eu coleciono CDs e vinis, penso que é crucial a JEV ter o disco físico. Como vocês avaliam o retorno do álbum perante mídia especializada e público? E em São José, vocês já possuem algum reconhecimento?

Então, o retorno foi extraordinário. Eu recebi milhares de mensagens elogiando, na grande maioria de músicos da região, o que é muito gratificante porque eles têm uma propriedade pra criticar ou julgar alguma coisa nesse sentido, mas o retorno foi positivo no geral, as pessoas tem apoiado a banda nos shows locais, vejo pessoas cantando as músicas. Algumas nem conheciam as músicas ou a banda, mas eles assimilam muito rápido. É gratificante pra banda, nos faz acreditar que estamos no caminho certo. O Top 5 Rock Meeting é uma pergunta

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tradicional em nossas entrevistas. Sendo assim, faça um top 5 das bandas ou músicos que influenciam seu gosto musical e comente sobre cada um. Posso mencionar cinco, mas é impossível falar sobre todos, iria ficar até 2100 (risos). Então Chopin, Boston, Duran Duran, Waldo de Los Rios e Alice Cooper. Quais os planos da JEV para 2018? Novos lançamentos? Shows? Temos um single pra ser lançado ainda esse ano. Estamos no processo de gravação da mesma, em breve estará pronta. Fiquem ligados

nos shows que irão acontecer, seja local, estadual ou internacional, vai depender da agenda no resto do ano. Bem provável que aconteça também, vamos torcer que sim. Muito obrigado pela entrevista, deixe uma mensagem para nossos leitores e contatos. Muito obrigado Rocck Meeting pela entrevista, fiquem ligados em nossos canais comunicação (Facebook e Instagram). Confira também nossos videoclipes ( 1 e 2). E aguardem, JEV 2018 terá muitas novidades para os fãs. Abraço a todos!

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Texto e Foto Mauricio Melo & Snap Live Shots

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oite de personagens. E sinceramente, não falaremos somente da lenda punk, rock, punk-rock, speed rock ou seja lá como você queira definir o som do ZEKE. Sabemos, e muito bem, que a banda está na estrada há muitos anos, suficientes para estar no nível em que estão e com o público que possuem. Lotar uma Rocksound em plena quarta-feira não é para qualquer um, mesmo a sala sendo pequena como tal, muitos por ali passaram e em melhores dias da semana e não conseguiram o feito. O que demonstra a força do quarteto e da promotora HFMN, que vem dominando o meio campo há muito tempo. Personagens desde o principio. A banda Mean Machine, com seu lema “isso é Rock and Roll e vamos todos tomar nquele lugar”, pisou fundo no acelerador com “Loud & Proud”, “H-Bomb” e “We Want Violence” num set relativamente curto, porém bom o suficiente. O primeiro que salta à vista é que o trio seria a reencarnação – guradadas as devidas proporções – do Motörhead, versão espanhola e underground de um Lemmy ainda jovem. Raul Mesa no baixo e vocal, Juan Quesada nas seis - 144 -


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cordas tirando riffs incríveis e Marc Tàpies destroçando a bateria e mais, totalmente pelado. O batera não só tocou, mas também derrubou demoliu o instrumento, rolou no chão abraçado com parte do mesmo e até se despediu do público de maneira “formal”, abraçado a outros integrantes... Apenas de tênis. Típica banda que levanta a galera por aonde passa. Autêntico Rock and Roll cara de pau. Mas não ficaria por aí. Quando Zeke entrou em cena para apresentar seu último disco, Hellbender, além dos personagens principais, tinham os coadjuvantes que, sem os mesmos, a noite não teria tido a mínima graça. Entre eles o batera pelado (agora vestido) que se tornou o rei dos Stage Divers. Tinha também o punk com cara de bom moço com sua jaqueta de couro cruzada com e expressão de surpreso que, enquanto bebia sua gelada, foi levantado pelo público e “obrigado” a dar uma surfada por cabeças alheias. Um cidadão enlouquecido com uma baqueta nas mãos na linha de frente, outro com um boné para trás e a cara manchada de batom que também poderia ser algo de sangue e que se dedicava a empurrar todo mundo e rir. Um corajoso com uma garrafa de vidro no meio dessa galera bebendo sua cerveja tranquilamente sem passar pela cabeça que um pé alheio poderia no mínimo quebrar seus dentes numa fração de segundos. Em todos os personagens havia algo em comum, a felicidade de estar curtindo aquele show. E, diante de tudo isso, estava ZEKE apresentando “Hellbender” e desfilando clássicos de poderosos discos como “Death Alley”, “Dirty Sanchez”, “Flat Tracker” e muito mais. Entre eles “Chiva Knievel” e “Wanna Fuck”, as rapidíssimas “Slut” e “Fuck All Night”, só títulos sugestivos e dando um bonito repasso em no disco “Flat Tracker” e somente na metade do set que músicas do já comentado “Hell- 146 -


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bender” deram o ar de sua graça com “County Jail” e “All The Way”. Também chama a atenção a postura que a banda adota no palco. Blind tocando com a guitarra apoiada no ombro ou encostado com o guitarrista Kyle Whitefoot um no outro como se fossem Slash e Duff ou qualquer outra banda de hard rock dos anos 80. O baixista Kurt Colfelt comandando o povo e Dayne Porras dando porrada na bateria. Engana-se quem acha que o set esteve recheado de músicas do aclamado disco “Death Alley”, tais temas demoraram a entrar em

cena, mas vieram no momento exato. Aquela reta final, quando o calor, a sede e o cansaço batem forte no público, o quarteto apresentou uma puta sequência com “Mountain Man”, “Arkansas Man”, “The River” e “Eyes of Satan”. Ainda que os fãs pedissem mais, depois de um setlist tão completo com, possivelmente, mais de trinta temas. Seria cara de pau demais de pedir um bis. Não me espanta que o cartaz de Sold-Out estivesse colado na entrada.

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Texto Samantha Feehily | Foto Banda/Divulga;áo

A

famosa banda de um cd só fez (e faz!) história na cena HC nacional. O bate papo da vez regado a risadas e boas histórias é com Adolpho Schaefer, vocalista e mister simpatia da banda (não me mata! Hahahaha). Aos que não acompanharam muito a cena no final dos anos 90, o Treta Hc, - criado pelo o guitarrista Marcelo Soldado, o baterista Fernando Schaefer (que então eram integrantes da banda de thrash metal Korzus), o baixista Fernando Bertacin e Adolpho -, não demorou para explodir e arrastar uma galera nos rolês do underground levando em suas letras e energia o verdadeiro espírito da cena HC mundial com letras polêmicas e voltadas totalmente aos assuntos do cotidiano brasileiro. O primeiro e único álbum, ‘O Sangue, a Honra e a Verdade’, foi gravado independente e sem nenhuma pretensão comercial. “Treta foi legal para caralho, que fase boa! Nosso intuito era ter uma banda para fazer rolê, fazíamos um som porque gostávamos da energia. Treta era energia, com letras revoltadas sobre o dia a dia, indignação. Era juntar os Brothers e fazer um som, aliás, foi a grande diferença. A gente juntava uma massa de moleque doi- 152 -


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do. O Treta foi a banda na época que tinha o maior mosh pit, parece que só tinha camarada nos shows. Nunca tivemos a pretensão de fazer o Treta estourar, o Soldado e eu sabíamos que nosso perfil, o nome da banda, os caras, a época não facilitava. Mesmo assim, a gente chegou a conversar com a gravadora ST2 na época, os caras pagavam um puta pau para o Fernandão e para o Soldado, mas quando ouviram as nossas letras, já quiseram mudar na hora”, conta Adolpho. Com influencias do HCNY como MadBall, Biohazard, Agnostic Front, Cro-mags, o Treta fez 10 sons em 2 semanas! “Ensaiávamos 2,3 vezes por semana! O mais louco é que as letras foram feitas antes das músicas… Pois eram letras bem simples, 4 tempos, quadradinhas. Nós ouvimos bastante BlackMusic, que é uma característica marcante da levada HCNY! Então ficou fácil compor as letras sem ter as músicas! Pegava uma batida e começava a compor! Um som com ênfase nas bases de guitarra, sem solos e com letras em português, pois passaríamos uma mensagem pesada e direta! A maior característica da banda é o bom humor”, destaca Adolpho. O mais legal do Treta é que até hoje as pessoas ainda ouvem, “tem uns pirralhos que chegam e falam comigo da banda. Naquela época era bem mais difícil, nosso auge, em meados dos anos 2000 não tinha tantas ferramentas de divulgação, nem como fazer nosso som se difundir senão pelos shows. Hoje a molecada só nos acha pelo Youtube. Shows toscos, eu com a voz de 15 anos de idade, qualidade audiovisual péssima, mas ainda sim, estamos lá e temos nossa crew. Tem uma galera nova que me manda mensagem e desacredita que eu sou da banda. Boa parte dessa renovação de geração é por conta das pessoas que ouviam nosso som na época e que acabam passando para seus filhos, irmãos mais novos. É muito

legal”. A banda não morreu, qualquer hora a gente pode fazer um barulho. Faz dois anos que fizemos um som em uma festa de amigos. Não acabou o tesão, mas esfriou, aí para retomar, precisa literalmente colocar um calor, cobrar. O que nos fez broxar na época é que resolvemos acelerar um pouco a banda. Quando pensamos em um segundo Cd, revolvemos

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elaborar um pouco mais, mas deu tudo, TUDO mesmo errado, parece que não era para rolar. Quando começamos a tratar o Treta como banda, o negócio esfriou.”, lembra. “Nossas letras carregavam muita indignação, revolta, mas de uma forma escrachada, sem pensar muito em como falar. As composições eram conjuntas e feitas em cima das situações do dia a dia. A gente via alguma coisa,

alguma situação, algum amigo dando mole, já saíamos escrevendo, não era elaborado”. Muito mais que uma banda, os shows do Treta ficaram conhecidos na cena underground do país como um encontro de amigos, tatuadores, músicos e várias ideologias em torno de uma só causa: união e respeito em uma “roda” intensa e avassaladora.

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