Rock Meeting Nº 101/102

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“Life is a short trip” O editorial desta edição era para falar de experiência, das mulheres fortes que mantêm a cena acesa, de coragem, força, vida... Mas fomos surpreendidos com mais uma perda. É difícil olhar para a imagem de Fabiano Penna, guitarrista do Rebaelliun, e saber que ele não está mais entre nós. Quem está acostumado com perdas, sabe muito bem como seus familiares e amigos se sentem. Ele foi próximo de muita gente. Amizades de longas datas, outras recentes. Mas ele contribuiu com sua sinceridade, pés no chão e uma calmaria que pareciam não combinar com seu visual rocker. A agressividade ficava apenas na estética, nos riffs, nos palcos. Internamente, ele era uma pessoa boa, coerente, um grande amigo que muitos puderam ter. Ele já havia deixado um legado quando criou o Rebaelliun. Excursionou por muitos países e criou álbuns que são referências para o underground brasileiro. Com a volta da banda, em 2016, ficou claro como esses registros estavam fazendo falta na cena. Pudemos conferir seu primeiro show após o retorno da banda. Foi no Abril Pro Rock, em 2016. Aquele dia ficou marcado

com grandes memórias. Conversei com Fabiano sobre a apresentação deles, e me disse que não gostou tanto da apresentação que fizeram, mas que ia se dedicar mais para sair do jeito que desejava. Foram vários shows até então. Agora em 2018, o Rebaelliun iniciou o ano indo outra vez para a Europa, sendo banda de abertura para o Pestilence. Quem é fã, acompanhou cada passo, cada foto dos lugares em que estavam passando. Porém, a vida é uma viagem curta, e o seu retorno ao Brasil, que marcaria o sucesso dessa turnê bem-sucedida e seu aniversário, foi rápida e sem final feliz. Ele foi acometido pelas mazelas do mundo e se foi. Houve uma corrente solidária para doação de sangue, mas não foi possível que ele recebesse um pouco do carinho de fãs e amigos. Foi um choque receber a notícia. É como se tivesse sido alguém da família. Mas se observar direito, ele foi o irmão que a vida nos deu a oportunidade de escolher. E como irmão, sentimos muito, cada um a sua maneira. Um pedaço de nós se foi. Vai em paz, Fabiano.


06 - Lapada - Mito da Caverna 18 - MatÊria - Pense 22 - Live - Nile + Terrorizer 26 - Entrevista - Rafael Orsi 38 - Live - Torture Squad 44 - Entrevista - Genocidio 52 - Entrevista - Hell’s Punch 61 - Especial - Mulheres 68 - Entrevista - Guilherme Costa 78 - Capa - 70000 Tons of Metal 92 - Entrevista - Septicflesh 100 - Video - Review CDs 108- Live - Satanic Surfers 116 - Skin - Freakshow 124 - Live Session - Angra 132 - Entrevista - Doi-codi 142 - Live - Arcturus 148 - Entrevista - In Apostasia 158 - Live - Rebirth Shadows Tour 170 - Live - Rage

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DIREÇÃO GERAL Pei Fon CAPA Alcides Burn Jonathan Canuto

COLABORADORES Bruno Sessa Edi Fortini Marcos Garcia Marta Ayora Mauricio Melo Raphael Arízio Renata Pen

CONTATO contato@rockmeeting.net www.rockmeeting.net


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ais uma vez, a música me ajuda com um tema. Eu iria seguir a sugestão de um leitor na última Lapada, mas a ideia mudou, por ser mais abrangente. Inclusive responderá perguntas como “por que o headbanger cisma com o gosto musical alheio?”, entre tantas outras. Procuro ler os comentários dos leitores, e vi que em minhas últimas matérias, perceberam a mudança que anda ocorrendo nos temas, e muitos estão confusos, com a boa e velha pergunta “o que está acontecendo?”. Creio que não posso deixar os leitores assim. Não é justo de minha parte com cada um de vocês. A melhor forma de explicar o ocorrido é justamente através da Alegoria da Caverna, uma parábola de conhecimento criada pelo filósofo grego Platão há 2500 anos, e consta no livro “A República”. Vou tentar ser o mais breve e claro possível, e lembro que a Alegoria da Caverna pode ser interpretada de muitas formas. Imaginem um grande número de pessoas que nasceram e vivem dentro de uma imensa caverna onde não existe luz alguma. -6-


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Essas pessoas estão acorrentadas e não podem ver o que existe por detrás delas, somente o fundo da caverna. Atrás, existe um muro baixo que não as permite enxergar o que existe além dele. Por trás do muro, passam pessoas com objetos inanimados nas mãos, e atrás delas, existe uma fogueira que projeta as sombras dos objetos na parede do fundo. Todos os sons de fora da caverna podem ser ouvidos pelos que lá se encontram. As pessoas presas ouvirão os sons e verão as sombras, e associarão uma coisa à outra. Se você puder libertar uma das pessoas e mostra-lhe o que há por trás do muro e a fizer olhar para a fogueira, ela ficará momentaneamente cega e realmente confusa, e pode inclusive causar recusa no entender de tudo aquilo. Ao sair da caverna e ver que existe um mundo real, cheio de luz e vida, este liberto irá perceber que tudo que viveu até aquele momento foi uma ilusão, uma mentira para manter as pessoas sob controle. Se ele retornar à caverna, com os olhos acostumados à luz, ficará cego. Os antigos companheiros irão crer que os efeitos ruins que a pessoa sente são devidos à luz, preferindo ficar na escuridão. E quanto mais o liberto tentar ajudá-las, mais ele será tratado como incômodo, até que por fim seja morto pelos antigos companheiros. Em muito, ela mostra o pesar de Platão por seu mestre, Sócrates, que foi acusado injustamente, condenado, e que preferiu a -8-


morte por ingestão de cicuta ao exílio com a língua cortada. Sócrates, aos olhos de Platão, representava a Luz do conhecimento que se opunha à ignorância e ganância de muitos. Sei que não é difícil interpretar, mas a Alegoria da Caverna ilustra “o efeito da educação e a falta dela em nossa natureza”. A caverna escura simboliza o mundo de uma pessoa sem conhecimento, e as sombras são os medos ilusórios que trazemos conosco; as correntes, os valores que aprendemos na vida que acabam nos adestrando e domesticando. O conhecimento é a luz que existe no mundo real. O que quero dizer sobre mim mesmo nesse momento é simples: eu estive preso na caverna por muito tempo. As correntes eram valores que aglutinei em minha vida, que nunca havia ao menos questionado se eram bons ou ruins. A escuridão da caverna era meu ódio e minha ignorância. Eu me via como esclarecido, como o sabichão, um líder entre os homens, o deus supremo do conhecimento que a tudo via com clareza, e mesmo esnobava o que me diziam. Quantas e quantas não foram as vezes que ofendi feministas, LGBTQs, pessoas da esquerda, disse que as questões importantes para as minorias eram mimimis, entre outras abominações que cometi. Sim, eu admito: estava errado. Muito errado... Errado e distorcido pelo ódio. Mas fui confrontado por meus erros em várias situações. Nisso, fui obrigado a olhar para a luz. Não havia fuga, pois era luz, e onde há luz da sabedoria e conhecimento, não há ignorância. Não havia escuridão onde me esconder. O que aconteceu: primeiro foi ver o documentário “Auschwitz: The Nazi and -9-


The Final Solution” na Netflix no Carnaval de 2017. Sou um estudioso sobre história da Segunda Guerra, mas tudo aquilo começou a mexer no meu coração, pois existe uma diferença enorme entre você ler sobre algo e ver cenas e depoimentos. Meu Deus, ver como aquilo foi premeditado e sistematizado, como o povo judeu, ciganos, representantes LGBTQ+ foram assassinado de forma tão vil e sádica, que havia um ódio macabro por trás daquilo, acabou comigo! Foi quando comecei a perceber o valor da vida humana mais profundamente, pois até ali, eu via esse assunto de uma forma meramente teórica, e não prática. O segundo foi ver os bombardeios de Donald ‘Dumb’à Síria e Afeganistão. Eu apoiei Trump na eleição para presidente por acreditar que um empresário, mesmo conservador, não iria causar mortes ou guerras, enquanto Hillary Clinton tem muitos familiares ligados à indústria armamentista, e poderia fazê-lo. Em essência, eu sou um pacifista antes de tudo, sempre fui. Mas os ataques me fizeram perceber que toda corja de políticos só quer chegar ao poder para benefício próprio, não importando quantas vidas sejam sacrificadas. Seja do povo sírio, seja das pessoas nas comunidades no Brasil, a carnificina é absurda... E o pior é saber que não é caro resolver esses assuntos. Esses dois eventos me colocaram de joelhos, me fizeram questionar tudo que havia feito e dito até então por anos a fio. Tive uma mudança enorme, pois quis tentar desfazer todos os males que fiz antes. É quando

a minha forma de escrever começa a mudar. Há poucos dias, eu enfim saí da caverna definitivamente (ou assim espero): enquanto ouvia e escrevia o review para “Unsung Prophets & Dead Messiahs”, o mais recente disco do Orphaned Land, cujo conceito é centrado na Alegoria da Caverna (por isso a escolhi para este texto), foi a revelação final, o choque que enfim me transformou de vez. A resenha se encontra aqui, para quem desejar ler o texto. Como disse acima, sair da caverna é sofrido. Enquanto escrevia o texto da resenha, mergulhava mais e mais na realidade do - 10 -


Foto: Zoha Ron

disco e seu conceito, e percebi que, como a banda cita no release, a Alegoria da Caverna serve como uma espécie de profecia, pois mesmo com mais de dois milênios e meio, ela ainda é atual, e vai além da interpretação acima: querer permanecer na caverna é permanecer em nossas zonas de conforto. Vamos matar qualquer um que tente nos ajudar, vamos insultar e matar qualquer um tente nos levar a questionar nossa situação e nos guiar à liberdade. Somos como o povo de Israel querendo voltar ao Egito, por mais que Moisés estivesse fazendo a coisa certa. Somos como os que queriam Hitler no governo da Alemanha na década de 30,

pois compartilhamos o ódio que eles tinham. Queremos soluções que não demandem de nós trabalho ou que nos tirem da ignorância, enquanto a liberdade do conhecimento sempre exigirá de cada um de nós esforços diários em prol do melhor para nós mesmos e para todos. Para ser livre de verdade, é obrigatório que vivamos na luz. Então, mais uma vez, olhei para meu passado e vi o quanto de mal eu realmente causei, quanta dor, raiva e ódio eu mesmo havia semeado. No ódio, nem percebi o quanto o sangue de muitos profetas e messias foi derramado na história pela ignorância. Para ser sincero, me senti como um dos - 11 -


assassinos dos profetas que não são cantados ou dos messias mortos que o disco fala. Sei que nem sempre nomes históricos são unanimidades. Mas imaginem as seguintes figuras históricas: Mahatma Gandhi, Dr. Martin Luther King, Jesus histórico (ou mesmo o bíblico, como queiram), John F. Kennedy, Víctor Jara, Janusz Koczak. O que cada um deles tem em comum? Todos foram anjos que vieram a este mundo regido pela ganância de políticos sujos, religiosos sacanas (não são todos) e uma mídia cujo compromisso com a verdade é questionável, e tentaram nos ajudar em nossas limitações. Pessoas que nasceram na caverna, como todos nós nascemos, mas que chegam ao conhecimento, que tentaram nos tirar dela, e foram mortos por isso. Seja por nós mesmos por nos negarmos a entendê-los, seja por aqueles que têm interesse em manter o mundo em uma imensa caverna, eles nos foram tirados muito cedo. Eu me senti em uma fossa tão grande que, enquanto escrevia por horas a fio (em geral, escrevo rápido, em menos de uma hora está tudo pronto), mais eu sentia o peso opressor de meus erros. Mas as lágrimas que verteram por dias a fio era minha essência expurgando toda a dor, pois meus olhos estavam parando de doer e se adaptando à luz do conhecimento. Hoje, me sinto bem, sem ódio, e tenho estado com uma mentalidade mais positiva, e fora da caverna. Agora, onde a Alegoria da Caverna se encaixa no Metal? Eu vivo no meio desde que tinha 14, 15 - 12 -


anos. Vi coisas e formas de pensamento no cenário que não condizem com a proposta rebelde do Rock. Hoje, elas diminuíram, mas foram substituídas pela zona de guerra que toma conta das mídias sociais diariamente: esquerda versus direita, feministas versus machistas, LGBTQs versus heteros, religiosos versus ateus. Óbvio que estou tratando somente dos headbangers, deixando os outros públicos de lado. Mas é algo generalizado, e pelo mundo inteiro. Tudo isso tem uma raiz comum: as trevas da caverna, no meu caso, elas são não apenas a ignorância, mas o ódio que nos permitimos ter aos diferentes. Um ódio militante que, em ambos os lados das contendas, visa sobrepor e oprimir o outro. Não há armistício, não há tréguas ou entendimentos. Apenas um tiroteio de ódio de todos os lados. Por favor, não vejam minhas palavras como azedas ou acusadoras. Não é minha intenção. O que desejo: trazer cada um de vocês para perto da luz que dissipa a ignorância, para longe das figuras imaginárias que os amedrontam. Ódio feminista é tão nocivo como ódio machista. Ódio LGBTQ+ é tão ruim como o ódio hetero. Ódio de esquerda é tão perverso como ódio de direita. O que desejo dizer é: toda e qualquer militância, enquanto permeada de ódio, é apenas uma corrente que nos prende à caverna, à ignorância. Há uma frase que vemos na internet sempre e ela traduz bem o que quero dizer: “A elite não tem ódio, tem astúcia; o ódio ela terceiriza”, e adivinhem quem fica carregando estes sentimentos ruins. Isso, nós mesmos! Enquanto alguns se deliciam com essa arena romana moderna, pessoas perdem amizades, e se agridem (ver-

Foto: Getty Images e Central Press

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bal e, ultimamente, fisicamente) em nome de calhordas! No fundo, estamos todos presos a uma imensa caverna. O Metal virou uma caverna nos moldes da de Platão. Por isso, deixamos de ser vistos como rebeldes. Fazemos parte de todo um sistema, de uma matrix de ódio, que é cruel e desumana. Tenha em sua militância não um punho fechado de resistência permeada de ódio, mas a mão aberta estendida para ajudar. Seu ódio não vai converter a pessoa ou fazê-la mudar de opinião, mas apenas tornará esta ainda mais agarrada a atitudes e opiniões opostas as suas. Nisso, Gandhi diz que “o amor de um único ser, neutraliza o ódio de milhões de seres”, pois ele ajudou a Índia a conseguir sua independência através da resistência pacífica, o Satyagraha (a devoção à verdade). Quantas vezes, em seus jejuns contra a violência, ele não alcançou a paz? Tão pleno no amor que pediu que seu assassino não fosse punido. Não façam como eu já fiz: querer justificar o ódio com alguns atos de nobreza. Na realidade, o ódio nos torna até horrendos para quem nos observa. Nunca repararam como as pessoas se sentem mal perto de você quando está irritado, quando assuntos assim o tiram da calma? Pode ser que seja isso que faça com que as pessoas saiam de perto de você quando fala em assuntos que defenda. E, além disso, o ódio macula a beleza que a natureza levou bilhões de anos para esculpir em cada um de nós, ou se acreditam em um deus, que ele nos deu de graça.

Mais uma vez, somos headbangers. Somos herdeiros de toda uma subcultura musical e ideológica em prol da paz e da ruptura de paradigmas perversos. Deveríamos estar com atitudes em prol dos menos favorecidos, não chamar cada uma delas de mimimi... Ao mesmo tempo, o ato de conscientizar as pessoas deve ser baseado na boa fé, na conversa franca e calma, no diálogo compreensivo mútuo, não em guerras ideológicas ou atitudes belicosas. Relembrando meu último artigo, perdemos tempo falando de celebridades musicais de outros gêneros com os quais não - 14 -


Foto: Spill Words Press

temos afinidade porque odiamos as diferenças. Os bangers odeiam Pabblo, Anitta, Wesley Safadão e outros, e não conseguem falar de quem gostam porque a mídia os usou. As bandas de Metal se tornam as sombras no fundo da caverna, sua música mera alegoria, e o ódio vem da necessidade de alguém usar os presos para alguma coisa, um trabalho: divulgar o trabalho de artistas de graça, pois divulgação negativa (cheia de ódio) ainda é uma forma de divulgação. Os empresários ganham dinheiro com sua cegueira, e você, uma úlcera nervosa ou uma hipertensão. E sinceramente, quando vejo tanto

ódio trocado na internet, fico me perguntando quem serão os próximos nas câmaras de gás de novos Auschwitz-Birkenau, Treblinka (que foi onde o mundo perdeu a luz de Janusz Korczak), Sobibor, Chelmno, Majdanek. Ou mesmo trabalhos forçados em gulags. O seu ódio, seja ele de esquerda, direita, de qualquer tipo, pavimenta e ajuda a construir os trilhos que levarão um ou outro lado para eles. Seja qual lado for o vencedor, este irá oprimir e destruir o vencido. Ódio leva o genocídio. Voltando aos anjos que citei acima, a força-motriz por trás de cada um deles era - 15 -


o amor. Cada um dos que tentam tirar as pessoas da ignorância o fazem com palavras e atos de amor, imersos em um sentimento de fraternidade que nos apaixona. Querer justiça social do governo, querer que os direitos de todos sejam iguais e respeitados, iguais condições, tudo isso nasce do amor. Todas as militâncias que vocês possam pensar nascem do desejo de justiça e igualdade, logo, derivam do amor. E onde há amor, não pode existir ódio revanchista, não pode existir a necessidade de oprimir o outro. Fazendo isso, qual a diferença entre nós e Trump com seus bombardeios, Hitler e sua xenofobia, Stalin e seus expurgos? Não se combate ódio com mais ódio, mas com amor... O ódio mutila e invalida qualquer coisa boa que sua militância possa fazer, e torna o objetivo inalcançável... Amar acima de qualquer diferença não é impossível. O próprio Jesus de Nazaré histórico, conforme relatos bíblicos, curou o servo de um centurião romano, perdoou uma mulher adúltera, bebeu da água dada por uma samaritana, comeu entre prostitutas e cobradores de impostos, se hospedou com o chefe dos coletores de impostos, entre outras coisas que, aos olhos dos fariseus e saduceus de seu tempo, eram proibidas. Inclusive morreu implorando para que seus executores fossem perdoados por aquele ato. Por isso, há vezes em que eu digo: se ele aparecesse hoje, estaria entre os marginalizados. E o conhecimento nasce de algo que

todos somos responsáveis: uma educação melhor. Uma educação que não existe no Brasil de hoje, nem mesmo nas melhores escolas particulares. É preciso uma educação democrática, consciente, em que os valores humanos não sejam medidos pelas posses dos alunos. Uma educação que seja preocupada em formar um ser humano, não uma engrenagem na máquina da caverna. O amor não é puritano, o amor não é preconceituoso, o amor não é “normal” ou “anormal”, não tem gênero, não é opressor. O amor é uma capacidade que todos possuem de se importarem com o outro, sem nem ao menos pensar em qualquer diferença. É um sentimento que faz parte da luz do conhecimento, pois o que levaria um anjo da luz voltar à caverna para libertar seus iguais daquela ilusão sofrida de vida, mesmo arriscando a própria vida? Esse é meu testemunho. De uma pessoa conservadora (e que se via como um liberal, para que vejam o nível de minha cegueira) e cheia de ódio, arrogante, cabeça dura, cego e alienado, me tornei um homem pacífico, sem ideologia política que não seja o bem de todos os homens, que vê em todos, não importando o quanto sejam diferentes de mim em opiniões e visões de mundo, são dignos do amor desses anjos que nos libertam como eu sou. Tentemos todos nós, no máximo que pudermos em nossas limitações, merecer - 16 -


este amor, e tirar o Metal dessa caverna tão escura... “Minha vida é minha mensagem...” (Mahatma Gandhi).

“Quando a educação não é libertadora, o sonho do oprimido é ser o opressor” (Paulo Freire).

“Aquele que desejar mudar o mundo deve começar mudando o sistema de educação” (Janusz Korczak).

“A educação é um ato de amor, por isso, um ato de coragem” (Paulo Freire).

“Eu não existo para ser amado e admirado, mas para amar e agir. Não é do dever daqueles que me rodeiam amar-me. Pelo contrário, é meu dever me preocupar com o mundo, com o homem” (Janusz Korczak)

“Canções de bravura serão sempre canções novas, sempre” (Victor Jara).

“O mundo não será destruído por aqueles que fazem o mal, mas por aqueles que os observa sem fazer nada” (Albert Einstein).

“Anjos caíram, caíram e morreram Mas permanecem as nossas correntes Santos sagrados, todos crucificados Onde está a chave secreta que eles não puderam encontrar? Eu sempre oro, os céus choram Quando os pais falham, as crianças - Elas se levantarão? Reina a escuridão e somos os escravos daquele olho que tudo vê...” (Orphaned Land - All Knowing Eye) - 17 -


Por Samantha Feehily e Daniel Alcoforado Foto Luringa

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epois do sucesso, não repentino – afinal, viver de música no Brasil é uma dificuldade imensa, avassalador, turnê pelo Brasil, shows grandes (outros nem tanto), e casa cheia por onde passaram, a banda Pense, após o hiato (#quemnunca?), volta com força total com o novo single e cd mais pesado do que nunca. Conversamos com o baixista Judá Ramos e descobrimos o que vem por aí. A banda de hardcore mineira foi formada em 2007 e após breve hiato, necessário, segundo Judá, a banda lança seu novo single (autoproduzido) “Revitalizar”. Aliás,

nome que fala por si só o momento que viveram. “O hiato foi necessário, estávamos cansados e de saco cheio de ter que estar juntos todo final de semana, sem conforto e etc. A pausa foi essencial pra gente colocar a cabeça no lugar, sentir saudades da banda e ficar pilhado em voltar com tudo. Nunca pensamos em acabar com a banda, foi só uma pausa mesmo”. O novo cd vem um pouco mais pesado e com letras porradas “esse novo trabalho é muito mais berrado do que o anterior”, garante Judá. O primeiro single do álbum se chama “Revitalizar”, e já tem mais de 280 - 18 -


mil visualizações no Youtube. É uma pedrada para os fãs fiéis da banda que estão entusiasmados. O novo cd já está em produção, ainda sem nome, mas com lançamento previsto para o primeiro semestre desse ano. “Quem gosta de berro e das partes pesadas de New metal, vai achar interessante esse novo trabalho”, promete Judá. Para quem pensa (sem trocadilhos!), que os caras ficaram deslumbrados com o sucesso, engana-se, pois eles são pé no chão e entendem o mundo underground como poucas bandas nacionais. “O underground

só é underground porque ele não precisa de grandes investimentos, e mesmo assim ele resiste tendo ótimas bandas, casas de shows, público etc... Sobreviver nesse meio é basicamente ter persistência e amor ao que se faz”. Quando abordamos o ‘boom’ que banda viveu, ela é categórico “isso é bem relativo, a gente entende que hoje em dia o Pense tem uma visibilidade muito boa no underground, mas mesmo assim não somos uma banda que enche casas de show grandes. No começo da banda não tínhamos planos de ser referência, mas isso foi acontecendo naturalmente e com o tempo, o fato de tentar ser original - 19 -


e ser diferenciado, creio que foi fundamental pra isso acontecer. Hoje a diferença é que fazer parte de uma gravadora nem sempre é um bom negócio. A internet e os meios de streaming estão aí, quem souber usar e tiver um produto de qualidade consegue se dar bem”, explica. A produção do novo cd é feita no Estúdio Guerra, do vocalista Lucas, e Judá afirma que não há grandes inspirações em outras bandas, “a gente escuta de tudo, na verdade o Pense não se apegou a uma ou outra banda para pegar de inspiração. Ouvimos novamente nosso último cd, pegamos o que tem de bom nele, tiramos o que a gente acha que não precisa e acrescentamos ideias novas, quem escutar o cd novo vai ter muita dificuldade de achar uma banda parecida”. O último lançamento da banda foi o CD/DVD ao vivo ‘Viva Como Se Houvesse Um Final’ (2016) gravado no Inferno Club, em São Paulo. Por enquanto, a agenda de shows ainda está vazia, pois ainda estão focados nas gravações. “Estamos com planos de fazer uma turnê de divulgação a partir do segundo semestre deste ano. Diferente da turnê anterior, em que queríamos fazer o máximo de shows possíveis e nos propusermos em rodar muito e no esquema que a banda conseguia na época. Inclusive, foi onde aconteceu nosso desgaste, mas era previsto. Hoje conseguimos um pouco mais de conforto e qualidade de shows”. Aguardem! Aproveite a nova chance para presenciar as performances ao vivo dos caras, sempre muito energéticas e com grande participação do público. “Fiquem ligados que esse primeiro semestre tem muitas novidades. Em nosso site tem download gratuito de todos nossos cds e do nosso single, nossa loja virtual e todas nossas redes sociais”, finaliza Judá. - 20 -


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Texto e Foto Mauricio Melo & Snap Live Shots

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ão rapazes, nós não jogamos a toalha aqui em Barcelona e nem mudamos de endereço, ainda que boas novidades e parcerias estão por acontecer. Sim, admitimos que estamos sumidos do mapa, como um retiro para renovar as energias. Uma vez recarregadas, iniciamos nosso ano de 2018 de maneira tardia, mas com força total. Pegamos logo de cara uma noite com Terrorizer e Nile. Qual Terrorizer? O que até o momento consideramos o original e acredito que único, apesar das desavenças de alguns integrantes que mais confundem

seu público do que se beneficiam. O Terrorizer de Jesse Pintado, David Vincent, Oscar García e Pete Sandoval, que passou praticamente vinte anos parado e que ao retorno de Jesse e do daquele, então projeto, se tornaria uma banda oficial e que nada mais gravaram o segundo disco, “Darker Days Ahead”. E Pintado que havia deixado o Napalm Death para se dedicar a esta banda, veio a falecer. Um terceiro disco foi gravado alguns anos mais tarde, “Hordes of Zombies”, mas que por problemas de saúde de Sandoval, voltou a ficar inativo. Nem sempre a sorte ajuda. O trio atual, liderado por Sandoval - 23 -


Outro que confirmou o favoritismo foi o Nile que, apesar de estar celebrando duas décadas do seu disco de estreia “Amongst The Catacombs of Nephren-Ka” e da expectativa da galera de ver o álbum sendo tocado na íntegra, teve que se contentar com três temas deste, “Smashing The Antiu”, “The “Howling of the Jinn” e “Ramses Bringer of War” que, por sinal, abriu o set da noite. Foram mais de uma dúzia de pedradas que contaram com “The Black Flame”, “Sarcophagus” e finalizaram com “Black Seeds of Vengeance”. Nada mal para abrir o ano com objetivos cumpridos. O dessa noite foi conferir de perto o Terrorizer por história e por merecimento e celebrar com o Nile os vinte anos de estrada.

(único membro original) chegou à Barcelona acompanhado do Nile, para matar a sede dos fãs que consideram o disco de estreia, “World Downfall”, um marco na história da música extrema e do grindcore. Temas como “After World Oblitaration”, “Fear of Napalm” e “Storm Of Stress” fizeram a festa da galera que também vibrou com “Creamatorium” e o grande trabalho de Pete nas baquetas. Lee Harrison nos vocais e baixo e Sam Molina na guitarra fazem um trabalho à altura do nome da banda e aproveitaram a ocasião para anunciar que este ano lançarão um novo disco. Mas o show não parou por aí, “Darker Days Ahead”, “Hordes of Zombies” e “Ripped to Shreds” também passaram pelo bom e variado setlist da noite. - 24 -




Foto: Aidan Moura


Texto Edi Fortini

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afael Orsi, conhecido como o guitarrista do Genocídio, tem um trabalho extenso na cena e agora vem trazendo muitas novidades legais em seu canal do YouTube. Contando com versões diferentes de músicas de diversos estilos, ele faz adaptações trabalhadíssimas em vídeos muito bem produzidos. Todos feitos em sua casa, com uma qualidade monstra! Se você ainda não viu, acesse já a página e aprecie seu precioso trabalho! Batemos um papo com o cara, que você confere abaixo. E ai, Rafael, beleza? Para quem ainda não conhece seu trabalho além do Genocídio, conta pra gente um pouco dos seus outros projetos! Rafael Orsi: Olá! Tudo ótimo. Eu sou músico, compositor e produtor musical. Comecei a arranhar piano quando tinha apenas 5 anos de idade, mas passei a estudar de verdade aos 13, quando comecei a tocar guitarra. Tenho diploma em Harmonia e Improviso, e desde meus 19 anos estudo por conta através de livros de teoria musical diversos. Passei por algumas bandas de São Paulo até entrar no Genocídio em 2012, o que me deu mais visibilidade e interesse do público. Minhas influencias são extremamente variadas, eu gosto de Immortal e Arnold Schöenberg, W.A.S.P. e Johnny Cash, Dissection e Paga- 28 -


Foto: Leandro Almeida

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nini, etc. Por isso estou sempre compondo coisas diferentes entre si, e algumas pessoas acham desconexo da minha parte, mas há em mim uma necessidade muito forte em me expressar de todas as maneiras possíveis. Eu gostaria de ter outros talentos, de pintar e escrever principalmente, mas nunca consegui fazer nada relevante pro meu próprio gosto, e meu forte está, a meu ver pelo menos, na música. Há diversas composições em diferentes estilos musicais no meu soundcloud , violão clássico, hard rock, heavy metal, música clássica, e o death metal ríspido, acelerado e obscuro do Genocídio aumentam mais o

meu leque de composições. No seu canal do YouTube de versões de diversos estilos, os vídeos são feitos por você, em casa, e são muito bem elaborados. Como é o processo criativo das versões e dos vídeos? Meu canal tem uma história engraçada na verdade. Antes era apenas um portfólio de algumas coisas que eu já havia feito como músico e produtor. No final de 2016, eu comecei a me gravar durante uma época que tive pneumonia, simplesmente porque não tinha nada para fazer. Estava afastado do - 30 -


Foto: Reprodução/Youtube

trabalho por conta da doença, e resolvi que iria gravar algumas coisas de blues, pois havia comprado um belo livro com técnicas de diversos guitarristas emblemáticos, desde o inicio da história da guitarra. Então gravei “Me and the devil blues” do Robert Johnson, quase sem voz, só para treinar a técnica que havia aprendido, e o vídeo foi bem recebido no Facebook, muito mais do que eu poderia imaginar. Diversos amigos me incentivaram a fazer outros vídeos, então comecei a tornar os vídeos frequentes. O processo varia de acordo com o tipo de vídeo que faço, a maioria são “ao vivo” mesmo, gravando com um

microfone o áudio, e filmando com o celular. Depois trato o áudio e junto com o vídeo. Os vídeos mais elaborados são praticamente a mesma coisa, mas como são vários instrumentos a edição dá mais trabalho, no meu último vídeo foram 57 arquivos de vídeo de todas as partes da gravação, guitarras base, solos, baixo e vozes. A única coisa que não tem vídeo é a bateria, pois uso um programa para compor e escrever a linha, e não realmente a toco, o programa toca a minha partitura. Para nós, espectadores, temos a visão - 31 -


de que você se diverte pra caramba fazendo isso e imagino que no final, seja isso pra você também. Como você escolhe as músicas e as versões? Música é minha vida, eu respiro música o dia todo e o prazer em fazer os vídeos é enorme. Minha principal motivação para gravar é fazer algo diferente da música original, que ao mesmo tempo me soe criativo. Gosto de repaginar as coisas, e mostrar algo que já existe na música, mas que na versão original algumas vezes é obscuro ou não tão evidente. Mesmo repaginando, pra mim só mostro um lado oculto que já existe e não é muito evidente. Escolho músicas que eu já conhe-

ço normalmente, às vezes me indicam e toco porque pedem também, mas são poucas. Você faz uma divulgação completamente direcionada aos seus seguidores, vídeo a vídeo, chamando as pessoas para as novas composições. Como tem sido esse processo personalizado? Foi um processo gradativo na verdade. Notei que minhas postagens no Facebook tinham muito mais resposta quando eu só escrevia um post, sem links ou fotos. Depois de pesquisar um pouco, vi alguns sites dizendo que o algoritmo do FB filtra mais os links do YT para incentivar as pessoas a subirem os ví- 32 -


Foto: Leandro Almeida

deos no próprio FB. Então passei a avisar que havia vídeo novo sem postar o link, e notei que eu ganho mais views do que postando o vídeo direto. Meu objetivo é ter algum retorno financeiro, pequeno, apenas para conseguir manter minha estrutura de gravação, e talvez investir um pouco numa melhor captação de imagens pelo menos.

Foi o pico de views de toda a história do meu canal, tive mais views em um dia do que tive nos meses anteriores. Claro que comparando com canais grandes meus números são pífios, mas fiquei muito feliz. Infelizmente isso só aconteceu com eles. Tentei enviar meu vídeo de “Thousand years of oppression” do Amon Amarth para a banda, mas não obtive respostas, acredito que esse foi meu vídeo mais criativo até hoje.

A versão de “My church is black”, do Me And That Man (projeto do Nergal, do Behemoth) foi rapidamente parar aos olhos dos mantenedores da conta. Como foi isso pra você? Aconteceu com outros vídeos?

O The Anger é seu projeto mais antigo e foi bastante divulgado quando você fez a versão para “Rolling in the Deep”, da Adele. Como foi isso? Houve - 33 -


crítica? O The Anger nasceu em 2012 como um projeto solo, “one man band”. Eu estava engatinhando ainda como produtor, então as demos soam bem amadoras, mas a proposta era falar de tudo que não gostava na vida, coisas que me incomodavam, assuntos difíceis, etc. Comecei a gravar e soltar as músicas uma a uma, conforme iam ficando prontas no meu soundcloud. Em 2013, eu tinha nove músicas próprias online, então resolvi fazer um cover do Billy Idol, a música “Rebel Yell”, que para mim já era pesada, mas poderia ser mais ainda, apenas com uma pequena mudança na interpretação do instrumental. A música foi bem aceita pelo público na época, e logo depois gravei uma versão do The Plasmatics, “The Damned” e “Rolling in the Deep” da Adele, pra mostrar pro meu público que minhas influencias eram bem diversas. No caso da Adele na verdade, eu gosto mais da música do que da cantora. E sempre que ouço a música original sinto que ela é um rock disfarçado de pop, com uma bateria super “quadrada” e arranjos forçadamente suavizados, para encaixar no contexto. Não forcei uma ‘versão metal’, pois o sucesso da música já tinha passado. O que eu fiz foi bem intuitivo, apenas arranjei os instrumentos da forma que me soavam coerentes com a música. Foi de longe a música mais tocada no meu youtube, soundcloud, etc, até então. Sempre me elogiam por essa versão e tenho muito orgulho. Infelizmente o YT tirou do ar e perdi todos os views, mas subi de novo no canal e curiosamente está lá até hoje sem nenhuma notificação de direitos autorais. Sobre crítica, eu não tive nenhuma, inclusive isso é algo que chega a me frustrar, ninguém nunca me fez uma crítica construtiva, ou disse que isso ou aquilo poderia ser melhor. Sinto muita falta

disso na mídia também, quase sempre tudo é “lindo, maravilhoso, perfeito, nota 8/10” e isso não faz sentido nenhum pra mim. Estou dando minha cara a tapa, me diga onde errei! Já vi músicos “famosos” reclamando de críticas, pra mim, se alguém não sabe lidar com críticas deveria ficar em casa mostrando suas músicas apenas pra mamãe, nem todo mundo vai sacar e gostar do que você toca! Rolaram já versões que você tentou fazer, mas não gostou do resultado? - 34 -


Foto: Iris Valle

Quais foram? Na verdade não, o que já aconteceu foi eu não conseguir cantar ou tocar tão bem quanto queria, mas em alguns dias o problema era resolvido depois de um pouco de estudo, ou o erro simplesmente não me incomodou e deixei “errado” mesmo. Isso acontece porque eu ouço muitas vezes a música antes de decidir se quero fazer uma versão. Quando sinto que há a possibilidade, eu analiso como faria cada detalhe para tornar a música viável para a minha voz, que é bem limitada, e

para o instrumental, até ter certeza de que vou realmente trabalhar na versão e investir meu tempo. Você acredita que a música hoje pode se aproximar mais dos ouvintes através da internet? Como você vê um futuro próximo desse mercado? Eu vejo a internet como um grande atalho para qualquer coisa, e isso pode ser bom ou ruim. Você pode acompanhar um ensaio de uma banda de metal em algum lugar remoto - 35 -


da Ásia, visitar um museu na Europa, comprar drogas ou aprender como se monta uma bomba. Acho que a humanidade ainda está aprendendo a lidar com a internet, e vão ter muito mais tropeços. O grande problema é na educação das pessoas, na cultura, o que as motiva a ouvir música. Por que ouvem? Acho que pouca gente sabe explicar. E o povo é tão leigo, falando de modo geral, que quando se deparam com uma música complicada aquilo é simplesmente barulho ou desinteressante. Então vejo a música de duas formas bem distintas: A música que se torna produto é vendida e ainda é um mercado rentável aos grandes nomes, e não vejo nada de ruim em fazer isso, mas ao mesmo tempo essa música é engessada, se prende no “mais do mesmo” para garantir vendas, aos olhos das gravadoras, dando pouco espaço para a criatividade. E a música independente se aproxima mais da arte, quando o objetivo do músico não é entrar no mercado como produto, causando outro efeito por consequência, quanto mais complicar, mudar, adicionar, mesclar influências diferentes na sua composição, menor será seu público em potencial. Então, enquanto a educação no nosso país for algo colocado em segundo plano, a tendência é de que a música comercial seja cada vez mais idiota, e isso se aplica a qualquer estilo musical. Diante de tantos problemas políticos, o futuro do mercado musical no Brasil é cada vez mais obscuro, denso, e incerto. Só amando a música para continuar em frente. A internet só vai ser a ponte pra levar a pessoa a comprar ou baixar a música ilegalmente, o que mantem o mercado funcionando é a cultura do consumidor.

Quero começar uma nova temporada no meu canal do YouTube, e de tempos em tempos mudar os formatos. Comecei com vídeos simples de covers de voz e violão, estou começando fazer vídeos mais complexos com diversos instrumentos. A próxima temporada será com o The Anger e música autoral. Quero fazer vídeos para ensinar conceitos básicos de música para leigos, algo como a iniciação musical que países de primeiro mundo ensinam, mas ainda vai demorar bastante para isso acontecer. Tenho muita vontade de chamar músicos para agregar em composições ou versões minhas também. Minha úni-

Você tem outros projetos para o futuro? - 36 -


Foto: Leandro Almeida

ca barreira é o tempo que cada uma dessas coisas leva. Meu último vídeo, “Is that you, Melissa?” do Mercyful fate, levou em torno de 12 horas para ser feito. Então conciliar o tempo para produzir tudo isso, com meu trabalho em horário comercial, família e o Genocídio é bem apertado!

feliz quando alguém gosta do meu trabalho, e invisto muito tempo nele para tentar deixar o seu dia um pouco melhor. Obrigado! Quero dizer para as pessoas acompanharem músicos e artistas independentes, existem pessoas que fazem trabalhos muito bons em todos os estilos musicais, na literatura, artes plásticas, etc, e isso só ajuda a nossa sociedade a crescer e se livrar das algemas que a ignorância nos colocou. Depois de décadas de sucateamento no nosso sistema de ensino, a atitude mais rebelde que você pode ter é se instruir e espalhar cultura!

Vamos indicar alguns vídeos do seu canal pra galera da RM conhecer mais! Você quer dizer algo pra galera? Esse é seu espaço. :-) Agradeço muito pelo espaço, a RM e à Edi Fortini pelo convite e interesse. Fico muito - 37 -




Texto e Foto Bruno Sessa

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Torture Squad traz a São Paulo a sua primeira turnê do ano que passa por 8 cidades do interior no período de 10 dias. Além da Capital Paulista, passam por Campinas, Bragança Paulista, Itapetininga, Ribeirão Preto, Araçatuba, Marília, Botucatu e Sorocaba, tudo isso acompanhados na estrada pela lendária banda Zumbis do Espaço. Uma noite repleta de moshs e rodas de pogo, em um ritmo extremamente agressivo foi o que presenciou o público que compareceu no Fabrique Club, no dia 24 de fevereiro. As bandas Torture Squad e Zumbis do Espaços trouxeram o caos à São Paulo apresentando músicas de seus recentes trabalhos “Far Beyond Existence” e “Em Uma Missão de Satanás”, respectivamente. Além das duas bandas, a abertura dos shows contou com o duo do Test, que vem recebendo bons elogios com seu grindcore. Formada por João Kombi (Guitarra/Vocal) e Barata (Bateria), fizeram um bom show, aquecendo o público e dando início para as próximas bandas que viriam a se apresentar. Os Zumbis do Espaço surgiram em 96, com uma mistura de Punk com Metal, Rockabilly e Country. Com suas letras que falam sobre terror, filmes e quadrinhos, o grupo - 40 -


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tem a imagem de ser uma banda com muita atitude e icônica, apresentando seu som direto e cru para os fãs que adoram um mosh, fazendo uma apresentação visceral e rebelde, mas ao mesmo tempo muito divertida de se assistir e curtir. O Torture Squad, banda da década de 90, em sua atual formação que conta com Mayara “Undead” Puertas nos vocais, Rene Simionato na guitarra, Castor no baixo e o grande Amilcar Christófaro na bateria. Eles divulgam o oitavo álbum de estúdio, lançado em julho de 2017. Nessa nova fase, o Torture continua trazendo riffs memoráveis e variações harmônicas em suas composições. Sabem bem como agitar e conduzir seu público, não deixando parar por nenhum momento em uma performance enérgica por parte de toda a banda. Aos amantes de metal, tenho certeza que a noite foi muito bem aproveitada, tendo três excelentes bandas no mesmo palco com uma bagagem de muito peso, sendo consideradas grandes nomes do metal nacional.

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Texto Edi Fortini | Fotos Aivan Moura

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ma das bandas mais tradicionais da cena paulistana, o Genocídio, completa 30 anos de carreira e estão mais potentes do que nunca! “Under Heaven None”, seu mais recente trabalho, traz uma banda coesa e que sabe muito bem pra onde vai, um deleite para nossos ouvidos. Batemos um papo com o guitarrista Rafael Orsi e com o vocalista/guitarrista Murillo Leite falando um pouco do novo álbum, um pouco dos 30 anos e você confere agora essa entrevista exclusiva! Olá, pessoal! É muito legal fazer essa entrevista com vocês nesse momento comemorativo de 30 anos da banda. Uau! É muita estrada! Vocês devem ter ótimas histórias pra compartilhar por esse caminho… vamos lá. :)
 Como é fazer 30 anos de estrada? Qual a sensação? Vocês hoje se sentem satisfeitos com o resultado desses 30 anos? Murillo Leite: A sensação é indescritível, todo mundo sabe como é difícil manter uma banda de metal no Brasil ativa por tanto tempo e o mais desafiador, gravando material inédito e fazendo shows. A gente faz isso porque a gente realmente ama o que toca, nunca precisamos nos adequar a qualquer moda ou tendência. Estamos satisfeitos sim com essa longevidade, prova é o disco que lançamos este ano, um apanhado sonoro de nossa tra- 46 -


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jetória e ainda com a inserção de elementos que de certa forma surpreende quem ouve Under Heaven None. Portanto, se tivermos saúde, disponibilidade e principalmente, a paixão, o fogo de produzir metal a gente estará levando o Genocídio a quem sabe para os seus quarenta anos, né? (risos)

nós. Talvez tocar fora seria um dos itens em branco desse checklist de realizações, mas em geral ao olharmos para trás vemos uma carreira bem resolvida. O que basicamente mudou na indústria da música? Hoje temos mais acesso a boas gravações, mas ainda vemos muita dificuldade de bandas se inserirem no mercado. Como vocês lidam com essa retrospectiva? ML - Pegamos desde a época do vinil, a pressão para que o disco vendesse para cobrir os custos de produção até a fase do download. Na verdade, é o que eu repetidamente falo, as bandas e os músicos de metal evoluíram muito mais que a infra ao seu redor, sejam locais para tocar ou empresários que saibam vender o produto para uma massa maior de pessoas, o que impossibilita uma maior pe-

Há muita coisa que vocês gostariam de ter feito diferente nessa história? Podem citar algumas? ML - Muita não diria, fizemos bastante coisa nesses já 31 anos de estrada, e somos muito realizados afinal, para uma banda que nasceu na Zona Leste de São Paulo com instrumentos e técnica limitados, nos propusemos a nos superar ano a ano e creio que conseguimos! Gravamos discos da forma que concebemos, sem interferência de gravadora ou produtor, integridade é fundamental para - 48 -


Foto: Leandro Almeida

as músicas novas. Como surgiu essa ideia? Rafael Orsi - Nós queríamos bolar algo para mostrar nossa ligação com essas bandas, muitas estiveram no palco conosco e temos orgulho de dividir nossa história com eles.

netração das bandas no mercado. Como tem sido a divulgação do novo cd? ML - Diferentemente do álbum anterior, In Love With Hatred, onde logo que o disco saiu já começamos a fazer shows, desta vez isto foi sendo possível por uma série de razões, então direcionamos nossa divulgação para a internet, fizemos um Official Track de “Requiescat In Pace”, um Lyric Video para a faixa título “Under Heaven None”. Na sequência iremos soltar um vídeo para o cover do Sarcófago “Black Vomit” e tocar em festivais como o Maniacs Metal Meeting no sul do Brasil.

E a participação no tributo brasileiro ao Mötorhead, Going to Brazil? Como rolou? Vocês chegaram a falar com as outras bandas do tributo? RO - Foi muito divertido produzir essa música! Eu e o João tocamos algumas vezes, e notamos que ela ficava melhor quando não tocávamos com metrônomo, então gravamos a bateria e a guitarra base ao vivo sem nenhum tipo de guia, apenas no feeling! No melhor estilo Mötorhead. Depois gravamos o resto dos instrumentos. Uma curiosidade

Vocês fizeram uma divulgação diferente para esse novo cd, postando depoimentos de vários músicos sobre - 49 -


sobre a gravação é que não pensamos em fazer dois tons de vozes juntas durante a música, mas durante a gravação notei que ficava muito bom, e a versão original é assim, então o Murillo dobrou a música toda. Um dos destaques do novo álbum é a cover Sarcófago, “Black Vomit”. Como rolou isso? Como foi a escolha? RO - Foi uma ideia do João, e todos acataram, pois curtimos muito o trabalho do Sarcófago. Há umas mudanças mínimas no instrumental apenas para levar a música mais para o Death Metal que curtimos. O Genoca tratou de diversas influências durante todos esses anos. Death, Gothic Rock, HC, vários estilos abordados dentro do trabalho de vocês. Como foi conseguir encaixar tantas influências sem perder o estilo? RO - Uma particularidade deste álbum é que ao invés de trazermos outros estilos para diluir no nosso som, trabalhamos mais nas estruturas das músicas, usando escalas diferentes, explorando mais dissonâncias, e estruturas de tempo diferentes do que a banda fez ao longo da carreira. Eu ouvi boa parte do material antigo (de antes da minha entrada na banda) antes da composição, para ter certeza de que boa parte desse álbum não tivesse nada parecido. A atual formação já está presente há alguns anos. Isso facilita o processo entre vocês? Como é a rotina do Genocídio fora das gravações? Vocês ensaiam com frequência? Como é manter a rotina com todos os compromissos e trabalhos dos músicos? RO - O processo de composição foi bem tranquilo, gravamos nossas ideias e fomos trocan- 50 -


Fotos: Leandro Almeida

do pela internet, o Murillo organizou as letras e as detalhou, depois juntamos tudo e ajustamos as estruturas das músicas. Com a parte “macro” decidida, fomos ao estúdio ensaiar e fazer ajustes nos arranjos de cada instrumento e foi quando fechamos definitivamente a pré-produção. Com tudo decidido eu assumi a produção e começamos a captação da bateria no estúdio Big Rec aqui de Osasco. O João teve pouco tempo para ensaiar, mas gravamos boa parte das músicas nos primeiros takes. Todas as cordas e vozes foram gravadas em meu home estúdio e foi um processo bem tranquilo também. Os solos foram decididos na última hora do processo, pois eu queria algo mais espontâneo e eu gosto de trabalhar sob pressão. Os vocais já estavam definidos, mas não as dobras, e fizemos isso no final também, de acordo com o que eu e o Murillo sentíamos na hora da gravação. A mixagem e a masterização foram feitas em 2 meses. Toda a logística de gravação ficou em minhas mãos, como produtor, toda a agenda foi ajustada semanas antes, e não tivemos problemas com atrasos. Todos foram bem comprometidos com o processo e foi muito gratificante produzir tudo. Quais são os planos para o futuro do Genocídio? O que falta ainda pra vocês realizarem na carreira de vocês? ML - Divulgar Under Heaven None em todo o lugar possível e quem sabe fazer mais um disco, nessa fase o passo a passo é primordial. (risos) Deixem uma mensagem para os fãs. :-) RO - Obrigado pelo apoio sempre! É comprando nosso material que vocês mantem a banda ativa e apaixonada pelo DEATH METAL! ML - Obrigado Edi e à Rock Meeting pelo espaço ao Genocídio, nos vemos na estrada! Acompanhe - Site | Facebook | Youtube - 51 -




Texto Raphael Arizio | Fotos Iana Domingos

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ell’s Punch pode ser o que chamamos de Dream Team. Um time dos sonhos, pois temos integrantes de bandas lendárias de Minas, como por exemplo Sextrash e Overdose. Grupos que fizeram história no Metal mundial. Com essa união de talentos o grupo lançou seu primeiro disco “Burn It Down” e vem chamando atenção com seu Thrash Metal misturado com muito Hardcore. Conversei com Sérgio Ferreira, vocalo e guitarra, para saber dele os detalhes de criação e os planos para o futuro do Hell’s. A banda lançou seu primeiro disco, intitulado “Burn It Down”. Como tem sido a repercussão desse lançamento? Cara, tem sido muito legal, intenso! Já no ano que foi lançado já apareceu nas listas de melhores CD’s do ano. O que para uma banda desconhecida é uma grande honra! Estamos felizes demais, pois até fora do país tem uma galera já falando da gente. Obviamente tem muito a ver com meus contatos das épocas de Tournes com o Overdose. Mas os comentários são tão legais que só nos deixam felizes, os reviews têm sido incríveis! É verdade que no início o Hell’s era uma banda cover do Slayer? De onde surgiu a ideia de começar a compor suas próprias músicas? - 54 -


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Mais ou menos (risos). Começamos para fazer jams de Metallica, Slayer, Alice in Chains e etc, só entre amigos. Aí um promotor perguntou se a gente não queria ser o Slayer em um Big 4 Cover. Achamos du caralho! SLAYERRRRR! Aí começamos a ensaiar mais e a resposta do povo aos shows foi foda. Então chegamos a conclusão que tínhamos que compor, pois a banda tinha uma energia boa demais e a resposta era agressiva! Mandamos ver... O som da banda é uma mescla do puro Thrash Metal com Hardcore. De onde vêm essas influências de hardcore? O fato do irmão de Sérgio ter tocado no lendário Atack Epiléptico tem a ver com isso? Cara, eu sou um pouco mais fã de HC na minha essência pessoal. A postura HC, questões usuais do HC como o vegetarianismo, som direto e de rua, atitude mais consciente em relação a questões sociais, alguma fé em algo superior e sem preconceitos, irmandade. Tudo a ver comigo, mas por outro lado, o Thrash foi nosso começo e ainda andamos muito por aí. Na verdade, não sou irmão de sangue do Nado, mas me considero irmão dele, irmão que escolhi e acho o Atack fodastico! Letras fodas, atitude, caos sonoro. Fiz o último show da vida do Nado tocando guita rra para o Atack, abrindo para o Terveet Kadet e foi uma honra inenarrável! Acho que é por aí a mistura de HC e Thrash… Dois estilos diretos, pesado e urbanos. O disco foi praticamente gravado no estúdio HC, de propriedade do próprio Sérgio, com alguns vocais sendo gravados no estúdio da banda Eminence. Como foi a experiência de gravar a - 57 -


própria banda? E por que decidiram não chamar nenhum produtor de fora para esse disco? Na verdade a gente foi compondo e gravando. Saiu assim, saca! A gente não queria nada rebuscado, era para fazer um som de garagem, rápido e pesado. Não chamamos ninguém meio que por isso. Temos também bastante experiência de estúdio, então não foi complicado. Espero que tenha gostado da qualidade do som. Estudei demais para isso, ainda estudo. Além do CD, eu também, junto com o Wesley, nosso baixista, fazemos nossos vídeos também. Gostamos demais disso, cara! Estudo demais som e vídeo. Como foi para você decidir ser o vocalista da banda? Em vista que era conhecido em toda a cena como guitarrista do lendário Overdose. Como foi a adaptação de tocar e cantar ao mesmo tempo? Sempre fiz backing no Over, nas tours americanas eu cantava a musica “Who’s Guilty” do Over ao vivo, Bozo me dava essa canja. Sempre gostei de cantar. Quando fui fazer o primeiro ensaio foi foda, meu irmão Rodrigo, na época na banda, cantava mil vezes mais legal que eu, fiquei frustrado por não saber colocar a voz. Mas quando quero algo vou atrás e meti as caras. Fiz um ano de aula com a professora Julie Amaral, daqui de BH, e ela é fera demais. Tocar é cantar é foda! Ainda mais bases mais complexas, mas com o tempo aprende-se a desvincular voz e guitarra. O que mais me deixa feliz é que, invariavelmente nas críticas do CD, sempre colocam o vocal como o ponto alto, só fico feliz com isso. Me dediquei e acho que me esforcei para isso, mas sei que tenho que estudar e continuar a berrar para melhorar mais

e mais. O disco conta com dois covers: “Ato Facultativo” da banda de HxCx Extremo, Atack Epiléptico e “Filhos do Mundo” da banda Overdose. De onde surgiu a ideia de gravar essas versões para o disco? Homenagens! O CD é dedicado ao Nado que é meu brother e o perdemos pouco antes do CD ser lançado. Têm duas letras dele também que adaptei para inglês – Customized - 58 -


até agora? Cara, tinha que ser, o João é uma lenda do Metal e um amigo. A Cogumelo é lendária e fiz questão disso, temos um passado de amizade e parceria juntos e o João e a Pat compraram o projeto. O que estamos fazendo é o que podemos fazer, saca? O Brasil está em crise e o metal também, então fazemos mesmo por amor ao som, faço isso desde os 12 anos, então lá se vão 33 anos e vou continuar até não poder mais. Por amor ao som, meu velho! Tá tudo foda, não posso reclamar!

Fetus e Freedom is Betting in a Slow Death. E o Overdose é a banda da minha vida. Fizemos coisas maravilhosas juntos e queria homenagear. Deixar marcado para sempre. Meus irmãos, minha vida representada aí. O disco de estreia foi lançado pela gravadora mineira Cogumelo, já lendária no Metal pelo lançamento de dezenas de clássicos mundiais do estilo. Como a banda chegou até a Cogumelo, e como avaliam o trabalho que foi feito - 59 -


A banda é formada por alguns integrantes de bandas lendárias de Minas, como Overdose e Sextrash. O que podem falar sobre a cena de Minas nos anos 80/90? E como pode ter surgido tantas bandas de Metal vindas de somente um estado? Cara, foi uma época sem igual. SEM IGUAL! Não sei como surgiu tanta banda legal, cara. BH foi sem igual, com todo respeito a SP, RJ e etc, mas aqui era algo surreal. A Cogumelo tem muito a ver com isso, ela impulsionou algo que estava adormecido, colocou fogo mesmo! A cena aqui é foda! Foda só isso!

demos esperar shows conjuntos das bandas? Poxa, foi lindo voltar a tocar com o Over. Voltamos na hora certa, eu acho. A energia estava lá na hora certa. Não muda nada para o Hells não, acho que até ajuda muito. O Over é a banda do meu coração e o Hells da minha mente. Penso assim. Já tivemos participações especiais de parte o Over no show do Hells, mas ainda não fizemos um show juntos, porém em 2018 vai rolar! Espaço para considerações finais e agradecimentos. Rock Meeting, obrigado pelo espaço, de coração. Obrigado pelo apoio, sei o quanto é duro manter-nos forte trabalhando com Metal e HC. “TAMUJUNTO”. Valeu!

Ano passado tivemos a volta do Overdose após anos parados. O que isso muda nos planos do Hell’s Punch? Po- 60 -


Por Edi Fortini

M

arço chegou. Logo no começo do mês já se iniciam os papos sobre o dia internacional da mulher e quando nos damos conta ouvimos tantas baboseiras que nos causam um enorme desânimo. Uma data que é um marco de uma luta também é banalizada em mais uma pauta comercial para se vender mais bugigangas de forma artificial. Oras, as mulheres vivem, interagem e devem ser notadas e respeitadas todos os dias! Elas sempre estiveram presentes na música e quando restringimos o pensamento no meio nacional, notamos muitas mulheres presentes há décadas, sempre com um grande potencial artístico dentro e fora das notas musicais. Nas últimas décadas convivemos com nomes de peso como Miasthenia, Valhalla, Volkana, Okoto, P.U.S, Bikini Kill e a lista vai tão longe que daria uma edição especial. Também podemos citar algumas bandas que tiveram mudança em sua formação e trouxe-

ram musicistas mulheres para o time, como rapidamente podemos citar o Nervochaos, o Torture Squad e já nos últimos anos, a quantidade só aumenta. Antes era mais comum comentar sobre o eixo São Paulo, Rio, Brasília, mas hoje temos mais facilmente informações sobre representantes em todas as regiões. Nesta edição decidimos prestigiar as mulheres divulgando sua música e sua competência. Obviamente essa é só uma pequena amostra de algumas bandas que tivemos contato e nos enviaram seu material e há um mapa muito maior, felizmente, de bandas com mulheres Brasil afora. Mas já é um início. E convidamos a todos a tirar algumas horas de suas rotinas para apreciar essas bandas, descobrir sons novos, pesquisar novos grupos e apoiar os que vocês gostarem. Essa é a melhor forma de fazer a diferença. Vamos começar? Saiba mais sobre as bandas:

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HellArise

Estado: RJ Gênero: Thrash Metal Facebook | Soundcloud Membros Angélica Burns - Vocal Renan Campos - Guitarra e Backing vocals Felipe Modesto - Baixo Thomás Martin - Bateria

Estado: SP Gênero: Death/Thrash Facebook | Bandcamp Membros Flávia Morniëtári - Vocal Thomas Meyer - Guitarra e Backing Vocals Kito Vallim - Baixo e Backing Vocals Daniel Crivello - Guitarra

Foto: Pedro Menezes

Foto: Alessandra Martins

Hatefulmurder

Luxúria de Lilith

Foto: Katera 2

Foto: Grotesca Selvagem

Losna

Estado: RS Gênero: Thrash Metal Facebook | Soundcloud Membros Fernanda Gomes - Baixo/Vocal Débora Gomes - Guitarra Marcelo Índio - Bateria

Estado: SP Gênero: Black Metal Facebook | Soundcloud Membros Alysson Drakkar - Vocal / Bateria / Guitarra Yngrid Arkana - Baixo / Backing vocals

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Labirinto Foto: Chris Justtino

Foto: Alessandra Tolc

Indiscipline

Estado: RJ Gênero: Metal Facebook | Youtube Membros Alice - Vocal/Baixo Maria Fernanda Cals - Guitarra/Vocal Ale De La Vega - Bateria/Vocal

Estado: SP Gênero: Post-Rock Facebook | Bandcamp Membros Muriel Curi - Bateria Erick Cruxen - Guitarra Luis Naressi Hristos Eleutério Francisco Bueno

Mercy Killing Foto: Karina Schwitzky

Foto: Banda/Divulgação

Manger Cadavre?

Estado: SP Gênero: Hardcore/Crust Facebook | Bandcamp Membros Nata de Lima - Vocal Marcelo Augusto - Guitarra Marcelo Kruszynsk - Bateria Jonas Godói - Baixo

Estado: BA Gênero: Thrash Metal Facebook | Soundcloud Membros Tati Klingel - Voz Tiago Gaiguer -Bateria Leonardo Barzi - Baixo Alexandre “Texa” - Guitarra

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Nervosa

Estado: DF Gênero: Pagan Metal Facebook | Youtube Membros Hécate - Voz e Teclado Thormianak - Guitarra Nygrom - Bateria

Estado: SP Gênero: Thrash Metal Facebook | Youtube Membros Fernanda Lira - Vocal & Baixo Prika Amaral - Guitarra & Backing Vocals Luana Dametto - Bateria

Santa Muerte

Sinaya

Foto: Lars Fotografia

Foto: Banda/Divulgação

Foto: David Araya

Foto: Felipe Endrehano

Miasthenia

Estado: SP Gênero: Thrash/Crossover Facebook | Youtube Membros Marília Massaro - Guitarras e Vocal Rebecca Prado - Baixo e backing vocal Jhully Silva - Bateria

Estado: SP Gênero: Death Metal Facebook | Soundcloud Membros Mylena Monaco - Vocals/Guitarra Renata Petrelli - Guitarra Camila Toledo - Baixo Cynthia Tsai - Bateria

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Estado: PR Gênero: Heavy Metal Facebook | Youtube Membros Renata Paschoa - Vocal Luana Bomb - Guitarra Adrismith - Bateria Taise Bijora - Baixo Rebeca Rastelli - Guitarra

Estado: SP Gênero: Metal Facebook | Youtube Membros Lívia Almeida - Vocal Ellen War - Bateria Armando Rocha - Baixo Bruno Abud - Guitarra Vitor Acacio - Guitarra

Soul Torment

Torture Squad

Estado: RS Gênero: Thrash Metal Facebook | Bandcamp Membros Deisi Wolff - Vocal Rodrigo Garcia - Guitarra Marlon Hoerlle - Bateria Rafael Nevoa - Guitarra Kaue Muller - Baixo

Estado: SP Gênero: Thrash Metal Facebook | Youtube Membros May “Undead” Puertas - Vocal Rene Simionato - Guitarra Amilcar Christófaro - Bateria Castor - Baixo

Foto: Gil Oliveira

Foto: Banda/Divulgação

Foto: Banda/Divulgação

Rebotte

Foto: Banda/Divulgação

Panndora

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Valhalla

Foto: Barbara Martins

Foto: Banda/Divulgação

Valiria

Estado: DF Gênero: Death Metal Facebook | Youtube Membros Adriana Tavares - Guitarra Ariadne Souza - Bateria e vocal

Estado: SP Gênero: Metal Alternativo Facebook | Soundcloud Membros Laís Tomaz - Vocal Luccas Vasconcelos - Guitarra Rodrigo Sughayyer - Baixo Sergio Barsant - Bateria

Pandemmy

Foto: Pei Fon

Foto: JMarco Antonio

Necro

Estado: AL Gênero: Hard/ Prog Facebook | Bandcamp Membros Lillian Lessa - Baixo, Guitarra, Voz Pedro Ivo Salvador - Guitarra, Baixo, Voz Thiago Alef - Bateria

Estado: PE Gênero: Death/Thrash Facebook | Youtube Membros Pedro Valença - Guitarra Guilherme Silva - Guitarra Vinícius Amorim - Vocal Marcelo Santa Fé - Baixo Arthur Santos - Bateria

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Autopse

Estado: SP Gênero: Heavy Metal Facebook | Bandcamp Membros Daniel Bianchi - Bateria Diana “NoWay” Arnos - Vocal Felipe “Cabeça” Ribeiro - Baixo Lucas Mendes - Guitarra

Estado: AL Gênero: Metal Facebook Membros Daniela Serafim - Vocal Raphael Felipe - Guitarra Janaina Mello - Bateria Christian David - Baixo

Foto: Pei Fon

Foto: Washington Fonseca

No Way

Armum

Foto: Jana Moura

Foto: Banda/Divulgação

Evil Inside

Estado: GO Gênero: Death Metal Facebook | Youtube Membros Camila Andrade - Baixo e vocal Gesiel Coelho - Bateria Guilherme Aguiar - Guitarra

Estado: RJ Gênero: Death Metal Facebook | Soundcloud Membros Fernanda Borges - Vocal Marcus Fraga - Guitarra Rafael Cordovil - Guitarra Haroldo Ramos - Baixo Mike Nil - Batera

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Texto Por Pei Fon com Rômel Santos Fotos Vinicius Caricatte

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elo Horizonte é berço de alguns dos principais nomes do heavy metal nacional, como Sepultura, Sarcófago, Overdose, Eminence e outros. Após o lançamento do EP de estreia “The King’s Last Speech” (2017), Guilherme Costa tem colhido excelentes resultados junto a imprensa especializada e público, sendo apontado como mais uma grata revelação de Minas Gerais. Conheça um pouco mais sobre o jovem e talentoso guitarrista. Olá Guilherme, conte-nos um pouco sobre seu início na música, inspirações, estudos na guitarra, violão e formação acadêmica. Eu comecei aprendendo violão com meu avô aos 14 anos. Quando completei 15 iniciei meus estudos na guitarra com o professor Joel Nunes, neste mesmo ano montei minha primeira banda, mas não chegamos a fazer shows. Quando tinha 17 decidi que queria fazer o curso de Licenciatura em Educação Musical Escolar na UEMG, principalmente porque eu também sempre tive desejo em aprender a lecionar música. Entrei no curso em 2011 e me formei em 2014, eu vejo que além de ter aprendido muito como músico - 70 -


Foto: Pode Flutuar

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teoria musical na escola de música Avantgarde, em Belo Horizonte. Como você avalia a contribuição do trabalho acadêmico nas suas composições? Teremos presença de violões no seu álbum de estreia. Acho que por eu ter aberto muito a mente para outros estilos durante meus estudos acadêmicos, isso foi o que mais contribuiu para minhas composições, pois sempre utilizo elementos diferentes a favor do Rock e do Heavy Metal que são os estilos que mais vivencio diariamente e nas minhas próprias músicas. E sobre as músicas, alguns arranjos de violão já foram criados em algumas composições, e também pretendo colocar em al-

e professor durante o curso, aprendi a ter mais mente aberta para outros estilos musicais. Sobre minhas influências, quem me fez iniciar meus estudos na guitarra foi Tony Iommi, eu sempre fui admirado com os riffs e os solos que ele criou e hoje posso dizer que ele é meu maior ídolo do instrumento. Tenho também outras influências como Glenn Tipton e Synyster Gates, e atualmente em minhas composições eu tenho colocado muitos elementos de Joe Satriani, Paul Gilbert e Kiko Loureiro. Você é formado em Licenciatura em Educação Musical Escolar pela UEMG e leciona aulas de guitarra, violão e - 72 -


Foto: Pode Flutuar

gumas outras que estão a caminho também.

disco!

Mesmo tendo participado de várias bandas, de fato você apareceu com destaque no cenário após o lançamento do EP de estreia “The King’s Last Speech” (2017). Como você avalia a repercussão da carreira solo? Eu posso dizer que tudo ocorreu melhor do que eu esperava! Muitas pessoas aqui em Belo Horizonte hoje conhecem e apoiam meu trabalho e até mesmo pessoas de outras cidades e outros países já puderam conhecer também, e isso é algo muito gratificante e pretendo sempre estar alcançando mais pessoas com este trabalho e com meu próximo

“The King’s Last Speech” foi produzido pelo Gus Monsanto, mixagem e masterização por Celo Oliveira. Comente sobre a experiência de trabalhar com estes profissionais renomados. Foi com certeza até hoje minha melhor experiência com gravação, eles me deram muitas ideias que contribuíram muito para o trabalho, posso dizer que minhas músicas entraram no estúdio de um jeito e saíram de uma forma muito melhor. Pretendo gravar com eles novamente, pois rolou uma química muito bacana durante o processo, o clima não foi somente profissional, mas senti tam- 73 -


bém um grande clima de amizade e parceria. No lançamento oficial do EP “The King’s Last Speech” havia a presença de um grupo de cosplay inspirados na série Star Wars, o videoclipe “Come on and Play” com influência de games e anime japonês. Qual a importância da cultura geek no seu trabalho? Teremos mais desse mundo em novos lançamentos? A cultura geek na verdade sempre teve importância não só no meu trabalho, mas em toda minha vida, desde criança sempre tive vivência com games e anime e as trilhas sonoras destes meios de entretenimento sempre foi algo que eu admirei muito também. Eu procuro sempre colocar em minhas composições elementos das trilhas sonoras dos games e posso dizer que vamos ter sim muito mais desse mundo em meus novos lançamentos! Você é colunista do conceituado portal Guitar Shred e apontado pela mídia especializada, inclusive pela revista Guitar Load, um dos jovens talentos da guitarra no Brasil. A que você atribui todo esse reconhecimento tendo lançamento apenas um EP? Este EP foi algo que eu apostei muito de diversas maneiras e queria que ele fosse minha entrada de fato com o pé direito no cenário autoral com minha carreira solo. Meu trabalho com o assessor Rômel Santos foi também um fator de extrema importância, pois desde o início ele sempre apostou e confiou muito no meu potencial e estamos sempre fazendo uma divulgação bem trabalhada desde o lançamento do EP que inclusive fizemos pela Dunna Records. - 74 -


Raramente guitarristas se aventuram no microfone, mas temos grandes talentos das seis cordas nos vocais, como Richie Kotzen, Stevie Ray Vaughan, Joe Bonamassa e outros. Você pretende cantar algumas músicas também? Seria um grande diferencial. No meu álbum de estreia pretendo lançar músicas cantadas com algumas participações especiais, em meus próximos lançamentos eu pretendo cantar também, estou trabalhando bastante nisso! O Top 5 Rock Meeting é uma pergunta tradicional em nossas entrevistas. Faça um top 5 das bandas ou músicos que influenciam seu gosto musical e comente sobre cada um. Tony Iommi (Black Sabbath): Como disse anteriormente, Tony Iommi foi minha porta de entrada para os estudos na guitarra, desde o início eu venho estudando os riffs e solos do Black Sabbath e passo muito para meus alunos de guitarra também. Glenn Tipton (Judas Priest): Muitas técnicas eu aprendi a usar graças ao Glenn, uma delas foi o tapping que aprendi com a música “Electric Eye”. As construções melódicas utilizadas pelo Glenn no Judas Priest eu sempre tive uma grande admiração também, principalmente no álbum “Angel Of Retribution”. Synyster Gates (Avenged Sevenfold): A precisão e a rapidez que o Synyster possui foi algo que me motivou muito a estudar solos mais rápidos. Antes de conhecer o Avenged eu já tocava algumas melodias rápidas, mas eu não era tão preciso e muitas coisas estavam fora do meu alcance, quando come- 75 -


Foto: Pode Flutuar

cei a estudar as frases do Synyster, minha técnica melhorou de forma gradativa e foi uma grande porta de entrada para estudar solos mais complexos. Kiko Loureiro (Megadeth): A versatilidade do Kiko como músico e os elementos que ele utiliza da música brasileira desde sua época no Angra e em sua carreira solo, é algo que sempre me motivou a estudar outros estilos e usá-los a favor das minhas próprias músicas. Principalmente porque em função dessa versatilidade de estilos que ele possui, foi um dos motivos que eu vejo pelo qual ele conseguiu ser um músico conceituado e teve seu trabalho reconhecido no mundo todo. Paulo Schroeber (Almah, Astafix, Hammer 67): Este sim é meu guitarrista brasileiro favorito! Desde quando eu o acompanhei no Almah eu me fascinava muito com a postura dele em relação a guitarra, a precisão dos solos, e com as melodias que ele criava em todos os projetos que ele já passou.

Quando vou estudar técnica eu sempre gosto de usar as melodias criadas por ele como exercício de aquecimento e sempre uso ele como referência para mostrar aos meus alunos a postura adequada para se tocar o instrumento. Sua morte foi uma grande perda para o metal nacional, mas seu legado nunca será esquecido! Guilherme, ficamos felizes em saber que o futuro da guitarra nacional está em boas mãos! Deixe uma mensagem aos nossos leitores. Gostaria de agradecer imensamente ao Rock Meeting pela oportunidade de dar essa entrevista, e agradecer também a todos os meus fãs que me acompanham por toda essa força que vocês vêm me dando! E se preparem porque em breve teremos um lançamento novo com músicas matadoras! Curtam minha página no facebook e me sigam no instagram para acompanhar as novidades! - 76 -





Texto e Foto Pei Fon

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odo e qualquer fã da música pesada tem uma lista do festivais que deseja ir. Wacken, Hellfest, Graspop, Tuska, Sweden Rock são alguns bons exemplos. Porém, outro festival fora do circuito europeu, o 70000 tons of Metal, que acontece nos EUA, não se pode perder. São quatro dias em um cruzeiro, com 60 bandas, 120 shows e 3 mil pessoas. Pude conferir a edição 2018, que aconteceu de 1 a 5 de fevereiro, saiu de Fort Lauderdale e passou pelas ilhas britânicas de Turks and Caicos, no Caribe. No entanto, este ano contou com 61 bandas, todas tocando duas vezes, em horários distintos, em quatro palcos diferentes. CRUZEIRO X OPEN AIR Uma das coisas mais importantes que se deve levar em consideração é o conforto. Quem vai para festival Open Air sabe muito bem da dificuldade que é a logística. Hospedagem, comida, banheiro, bebida, transporte. Quem opta por ficar acampado sabe que é luxo zero, conforto zero, calor, chuva, frio, lama, tudo misturado. Se vai com motorhome, a coisa muda de figura: você tem conforto, afinal, depois de passar horas em um festival, andando para cima e para baixo, o mínimo que se quer ter é dignidade na hora - 80 -


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de descansar e dormir. Quem já foi para o Wacken, por exemplo, conta das maravilhas e dificuldades que é. Além das questões climáticas, até você conseguir beber e comer algo demora. Ir ao banheiro pode ser um suplício. Além do mais, quem tá na grade, dificilmente vai querer sair dali. Ou seja, você se submete a tudo para ficar próximo do que tanto deseja ver. No entanto, se você nunca foi para um festival, tome como base o Rock in Rio. Transporte, filas, calor absurdo, comida fast food, bebida em pontos específicos, banheiros distantes e lotados (pelo menos limpos), e uma dificuldade para se deslocar de um ponto a outro sem que haja uma multidão, sempre tentando buscar o melhor ponto de visão do artista. No 70000 tons of Metal nada disso acontece. Muitos ‘survivors’, que foram em festivais na Europa, dizem que não querem deixar de ter a mesma experiência que o cruzeiro proporciona. A logística do 70k funciona perfeitamente. Você tem todo o conforto que precisa. No pacote do navio, somente a bebida alcoólica e refrigerantes não estão incluídos. Ou seja, comida, suco, água e chá à vontade. À vontade mesmo. Ah, bebeu bastante e ficou apertado? Sem problemas. Sempre há um banheiro próximo. Havia restaurantes pagos, atividades pagas, lojas, cassino, tudo dentro do navio. Quer ver a sua banda de perto? Sem problemas. Era muito fácil ficar próximo do palco e de encontrar essa galera passeando pelo navio também. Ah, o conforto das cabines! Esse é um ponto que merece ser destacado. Após uma maratona de shows, se deslocando entre os palcos, o que você mais deseja é descansar e dormir para no outro dia reco- 82 -


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meçar. O cruzeiro te proporciona isso. As cabines possuíam camas super confortáveis. Banheiros apertados, é bem verdade, mas funcionais e bem limpos. A iluminação era propícia para o descanso. Eu dividi a cabine com uma amiga e sempre encontrávamos o quarto sempre arrumado. Lito era o cara responsável pela arrumação do nosso andar. Acho que ele ficava super feliz de encontrar quase nada para fazer. Tanto que sempre que retornávamos para a cabine, tinha uma decoração feita com as toalhas em cima da cama. E isso só aconteceu em alguns quartos, ao menos foi o que ficamos sabendo. Na agenda de apresentações, havia banda que tocaria às 5h da manhã. Então, você poderia repousar um pouco e despertar para assistir aquele show. Simples! Estava tudo próximo, sem nenhum problema. Nesta versão, não estivemos no quarto com vista para o mar, mas é preciso dizer que ter essa visão é a melhor coisa do mundo. Dá para ter uma noção da hora e acordar sem atrasos para não perder nenhum show. A comida era algo maravilhoso. O café da manhã diversificado e para vários gostos. O almoço era bastante vasto e com a alimentação diferenciada para quem era vegano ou teria algum tipo de limitação. O jantar nem se fala. O restaurante, com decoração clássica, imponente e com lustres enormes, era um ambiente favorável para celebrar com os amigos. Todos que trabalhavam no navio foram bem solícitos e te ajudavam caso houvesse dúvida ou, de repente, enjoo, como foi o caso desta que vos escreve. (risos). É lógico que tudo isso tem um preço e não é barato. No entanto, é preciso fazer as contas com o valor das passagens, troca de moeda, ingresso, comida + bebida, descolocamento, hotel... E ver o que melhor cai - 84 -


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no seu planejamento: cruzeiro ou open air. O cruzeiro dá a opção de quartos quádruplos, triplos, duplos, quartos com vista para o mar e para famílias. Aliás, o que mais se via era famílias, idosos, crianças pequenas no 70k. Não é algo exclusivo para os jovens. Todos os quartos têm o seu valor, o mais em conta é o quádruplo, no entanto, é o primeiro que acaba. A ordem de vendas do 70k se dá para quem é Gold Survivor (para os que foram mais de 3 vezes), Survivor (ao menos 1 vez) e abre a venda final para os de primeira viagem, sujeitando a pagar pela cabine mais cara. Que foi o meu caso e de minha amiga. Além do valor da cabine, ainda tem a taxa pela comida e bebida e do próprio navio. MERCHANDISE A compra das camisas, CDs e adornos das bandas e do evento era feita por meio de senha. É muito estranho pensar que precisa de senha para comprar algo da banda que gosta, porém é compreensível para não criar confusão. O processo foi bem organizado, no entanto, não poderia perder a vez, se não já era. Infelizmente, o material de algumas bandas acabou rapidamente. Bom pra eles, ruim para nós que queríamos vestir a peita do que tanto gostamos. Fica pra próxima! Ah, vale salientar que a moeda do 70k é o dólar americano. SHOW Assisti a muitos shows, porém alguns poucos com mais presença. Mas há pontos importantes para serem ditos de certas bandas. Uma delas é a banda finlandesa Sonata Arctica. As duas apresentações, como posso dizer... Foram miadas. Sem expressão, sem a - 87 -


emoção devida, culpa de um setlist apagado, sem sal. Eles tocaram num dos palcos mais legais do 70k, o Pool Deck. A apresentação foi aquém do esperado. Nesse palco você imagina que a vibe será a melhor possível, mas no caso deles, não. Apático, uma péssima escolha de músicas. Até quem era fã não gostou do que viu. Uma banda que merece atenção é outra finlandesa, a Battle Beast. Com uma mulher assumindo o vocal, Noora Louhimo, além de uma bela presença de palco, junto com os demais integrantes, o show foi um momento ímpar. Valeu conferir. Espero que cheguem ao Brasil o mais breve. Cannibal Corpse, Sepultura, Kreator, Exodus, Metal Church, Rhapsody of Fire, Dark Tranquillity, Evergrey, Alestorm, Korpiklaani, Destruction, Primal Fear, Kataklysm são bandas que dispensam apresentações. Eles detonam sempre! Outro ponto que merece destaque é a banda grega Septicflesh. Esse quarteto merece outra oportunidade no 70000 tons of Metal e ir para o Pool Deck. Que apresentação matadora desses caras. Outro que merecia ter ido para o Pool era o Freedom Call. É o tipo de som alegre, pra cima, divertido, tudo que o palco precisa ter. Infelizmente, uma das apresentações do grupo foi num palco ruim. O outro, que pudemos conferir, aconteceu num ambiente muito melhor, juntando mais gente. Um ponto que vale salientar é a apresentação do Leaves’ Eyes. A nova vocalista, a simpática Elina Siirala, teve a missão de substituir Liv Kristine. É estranho ouvir as músicas cantadas por Liv na voz dela, mas a moça é esforçada e fez valer a pena a escolha. As músicas do novo álbum, “Sign of the Dragonhead”, funcionam bem na voz dela. - 88 -


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Realmente senti falta da Liv em alguns momentos, mas nada que perdesse o brilho da apresentação da banda. Mesmo sendo difícil acompanhar as 61 bandas e tentar ver o maior número possível, uma que merecia um palco melhor foi o Beyond Creation. Espero que na próxima isso seja corrigido. São técnicos, e as linhas de baixo surpreendem. Vimos tantas bandas que para lembrar é loucura. Destaque para In Extremo e Die Apokalyptischen Reiter no Pool Deck, que foram bem legais. No mais, o próximo será no dia 31 de janeiro a 4 de fevereiro de 2019. De Fort Lauderdale até Labadee, no Haiti. Para quem não foi esse ano, trate de organizar e vivenciar essa experiência única. Quem vai dificilmente não retorna. E tem gente que está desde o começo, acompanhando a evolução do festival. Quer uma dica de festival? 70000 tons of Metal. Indicamos de olhos fechados. E se prepare para a melhor experiência de sua vida, sem exageros!

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Texto e Fotos Pei Fon

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o meio do oceano, sabe-se lá em que lugar do Caribe, a Rock Meeting teve a oportunidade de conversar com Christos Antoniou, guitarrista do Septicflesh, banda grega de Death Metal Sinfônico que se apresentara pela primeira vez na 8º edição do 70000 tons of Metal. A entrevista foi agendada antecipadamente e pudemos pensar em algumas coisas, mas fluiu tão naturalmente que o script foi deixado um pouco de lado. Muito simpático, Christos respondeu nossas perguntas e ficou bem à vontade. Confira. A banda está a caminho dos seus 30 anos, já viram e passaram por muita coisa. Qual é o paralelo entre o passado e presente? O que esperam do futuro? Sim, você sabe. Nós começamos muito jovens. Não tínhamos muitos sonhos sobre o que fazer. Não sabíamos o que queríamos. Só sei que queríamos tocar, gravar e ensaiar, sabe? Do começo, em 2002, eu diria que era mais uma época underground. Não saíamos em turnê, tivemos só uma na França, se eu me lembro bem. Eu tive que começar na Inglaterra com meu irmão porque estávamos focados em gravar. Mas depois, a parte mais importante foi quando começamos a excursionar. Foi totalmente diferente do começo. As coisas foram ficando mais sérias. Nós con- 94 -


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tratamos um empresário e conseguimos um selo. O mais importante para mim foi a segunda era. No presente, está indo muito bem, e no futuro, nós temos mais a dar, e tenho certeza de que no futuro será tudo ótimo pelo que temos falado com o empresário. Quando você tem muito a dar, você procura pelo melhor. “Codex Omega” foi lançado em 2017. Como tem sido a resposta do público? Na nossa edição 100, Fernando Ribeiro (Moonspell) apontou o cd como um dos melhores do ano. Sim, somos muito amigos do Moonspell. E pode parecer clichê, mas é o melhor álbum do Septicflesh. Ele tem mais força, mais energia e impulso, está mais competitivo, isso funciona de uma maneira positiva para nós e estamos muito felizes com este álbum. A vestimenta de vocês é bem interesasnte, esquenta muito, chega a atrapalhar? É loucura às vezes, sabe? Mas é parte da nossa imagem. Nós tocamos em más condições às vezes, e é bem difícil. No Brasil foi bom quando tocamos lá em outubro do ano passado. Não me lembro onde na Europa, mas tivemos um problema. Em Hamburgo, a ventilação estava péssima e sofremos um pouco, mas isso faz parte da nossa apresentação e você sofre para dar o seu melhor. Durante uma turnê, como fica a questão da higienização das vestimentas de show? Você apenas lava, sabe? É difícil, você tem que ser bem cuidadoso porque é látex e não pode usar produtos fortes e tem lavar cuidadosamente, se não danifica. Gosto muito de Death Metal e Sinfonia. Quando ouvi vocês pela primeira vez fiquei encantada. Como é o processo de composição? Do “Codex Omega”, por exemplo. O Septicflesh trabalha como um time. Todos nós fazemos as composições. Sou responsável pela parte oficial. Meu irmão (Seth) e Sotiris são responsáveis pela parte metal. Às vezes eu dou meu toque orquestral e a gente tem que adicionar a parte metal. Ou o contrário, Kerim escreve as composições e dá ideias, sabe? Somos um time. Encontramos essa receita para criar o trabalho. É - 97 -


bom quando há várias opiniões, é bom para a composição, para renovar as ideias. Tem que fazer funcionar porque às vezes há muitas opiniões e você fica preso, no escuro, e tem que trabalhar junto. Isso é importante para a banda. Seth é quem cria as artes das capas do Septicflesh. Na criação da banda, tem alguma interferência dos demais integrantes ou ele só mostra depois de criada? Temos discussões sobre muitas coisas: músicas e letras e covers. Tem que ter uma conexão e unir tudo. Este é o futuro para a banda. Vocês estiveram no Brasil em setembro de 2017, junto com o Fleshgod Apocalipse. Como foi a passagem de vocês pelo país? O que podem destacar? Pessoas legais e acolhedoras. São Paulo é ótima, eu me lembro. É um ótimo país, muita energia. Tivemos a chance de conhecer muitos monumentos no Rio e as pessoas são realmente calorosas. É parecido com o sul da Europa. Temos o mesmo temperamento, posso dizer.

ga, o que você pode falar? Como é o underground? A cena grega começou por volta de 1999, com bandas como Septicflesh, Necromantia e Varathron. Para ser sincero, não vi grande progresso. Há boas bandas como o Suicidal Angels e Firewind. Acho que esse foi o pico da cena. Houve muito esforço, mas não vi muitos resultados para isso continuar.

Ainda sobre o Brasil. Tirando Sepultura e Angra, o que você conhece de bandas brasileiras? Sarcófago é do Brasil? (Sim) Krisiun? Sim, Krisiun é uma banda incrível.

Essa é uma pergunta que tenho feito para todo mundo. Recentemente o Slayer disse que ia parar de tocar. Você já pensou quem vai continuar com a geração? Sabbath parou. ACDC, Motörhead, Ozzy vai parar. Iron, Me-

Conhece o Nervosa? Nervosa? Não. Quem são? (Uma banda feminina de Thrash Metal) Vou dar uma checada. Conhecemos pouco sobre a cena gre- 98 -


tallica um dia... Quem vai continuar? Pergunta difícil, sabe? Têm os titãs e não têm mais titãs como eles. Mas a época mudou muito. Não sei quem vai substituir o Slayer, mas quem quer que seja, não será o Slayer. Muitas bandas anunciam o final, mas, na verdade, elas não acabam. Scorpions, por exemplo, continuam fazendo suas turnês eternas.

Escuto Normandie porque tem dissonância e rítmo. É única! Uma grande banda. Qual seria o seu top 5 dessas bandas não metal? Dead Can Dance. Eu não escuto muita banda fora do metal, mas vou falar minhas bandas favoritas: Morbid Angel, Death, Celtic Frost, Megadeth e Metallica.

Você escuta algo diferente do Heavy Metal? Eu não ouço muito heavy metal. Escuto muito música clássica e eletrônica . Eu tento escutar o máximo de música possível, tipos variados. Para poder expandir meu vocabulário musical. Não escuto mais tanto heavy metal.

Bom, muito obrigada por esta entrevista. Por favor, deixe o seu recado para nossos leitores. Obrigado pelo apoio e espero vê-los em breve.

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Cradle oF Filth - Cryptoriana – The Seductiveness of Decay

Marcos Garcia é formado em Física pela UFF/RJ, Mestre e Doutor em Geofísica pelo ON/MCTIC/RJ. Headbanger desde 1983, é redator-chefe do Metal Samsara, colaborador da Rock Meeting, Metal Temple (Europa) e The Black Planet (Europa). Tem apreço pelos bangers e bandas mais jovens, respeitando o passado, esperando o futuro, mas sempre com a mente no presente.

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Foto: Pei Fon

Destruction - Thrash Anthems

Marcos Garcia é formado em Física pela UFF/RJ, Mestre e Doutor em Geofísica pelo ON/MCTIC/RJ. Headbanger desde 1983, é redator-chefe do Metal Samsara, colaborador da Rock Meeting, Metal Temple (Europa) e The Black Planet (Europa). Tem apreço pelos bangers e bandas mais jovens, respeitando o passado, esperando o futuro, mas sempre com a mente no presente.

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Foto: Christian Misje

Enslaved- E

Marcos Garcia é formado em Física pela UFF/RJ, Mestre e Doutor em Geofísica pelo ON/MCTIC/RJ. Headbanger desde 1983, é redator-chefe do Metal Samsara, colaborador da Rock Meeting, Metal Temple (Europa) e The Black Planet (Europa). Tem apreço pelos bangers e bandas mais jovens, respeitando o passado, esperando o futuro, mas sempre com a mente no presente.

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Foto: Andre Nisgoski

Krucipha - Inhuman Nature

Marcos Garcia é formado em Física pela UFF/RJ, Mestre e Doutor em Geofísica pelo ON/MCTIC/RJ. Headbanger desde 1983, é redator-chefe do Metal Samsara, colaborador da Rock Meeting, Metal Temple (Europa) e The Black Planet (Europa). Tem apreço pelos bangers e bandas mais jovens, respeitando o passado, esperando o futuro, mas sempre com a mente no presente.

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Panzer - Fatal Command

Marcos Garcia é formado em Física pela UFF/RJ, Mestre e Doutor em Geofísica pelo ON/MCTIC/RJ. Headbanger desde 1983, é redator-chefe do Metal Samsara, colaborador da Rock Meeting, Metal Temple (Europa) e The Black Planet (Europa). Tem apreço pelos bangers e bandas mais jovens, respeitando o passado, esperando o futuro, mas sempre com a mente no presente.

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Rotting Christ - A Dead Poem

Marcos Garcia é formado em Física pela UFF/RJ, Mestre e Doutor em Geofísica pelo ON/MCTIC/RJ. Headbanger desde 1983, é redator-chefe do Metal Samsara, colaborador da Rock Meeting, Metal Temple (Europa) e The Black Planet (Europa). Tem apreço pelos bangers e bandas mais jovens, respeitando o passado, esperando o futuro, mas sempre com a mente no presente.

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Mortuo - Old Memories of the Past

Marcos Garcia é formado em Física pela UFF/RJ, Mestre e Doutor em Geofísica pelo ON/MCTIC/RJ. Headbanger desde 1983, é redator-chefe do Metal Samsara, colaborador da Rock Meeting, Metal Temple (Europa) e The Black Planet (Europa). Tem apreço pelos bangers e bandas mais jovens, respeitando o passado, esperando o futuro, mas sempre com a mente no presente.

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Texto Mauricio Melo & Snap Live Shots

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ma noite muito especial. Podemos iniciar, e poderíamos até mesmo resumir assim, o momento vivido no dia 24 de fevereiro, no Estraperlo Club del Ritme, em Badalona (Barcelona). A data prometia tanto que o artista Albert Torner, responsável pela arte pôster promocional da turnê na Espanha, fez uma tiragem limitada de pôster e abridor de garrafas para vender a um preço simbólico, acredito que as 150 unidades tenham secado como álcool ao ar. Os responsáveis pelo tiro de partida foi o grupo vasco do Adrenalized com seu fast melodic hardcore ao melhor perfil da noite, boas influências de Belvedere, Lagwagon e, é claro, pelas bandas headliners da noite. Possivelmente por não serem novatos na estrada, e também como sinal de uma velada histórica, a sala já se encontrava o suficientemente cheia para a primeira banda, que por sinal, não decepcionou ainda que o público estivesse um pouco tímido, não diria nem no aquecimento, mas no alongamento antes da partida oficial. Como foi dito anteriormente, o Adrenalized iniciou suas atividades há mais de uma década e tem em seu currículo dois bons álbuns “Tales From The Last Generation” e “Docet Umbra”, além de um primeiro EP e uma versão 8 Bit de seu segundo trabalho. A banda se mostrou muito segura no palco e já joga na primeira divisão, este ano figuram no suculento cartaz do Resurre- 110 -


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cion Fest, um dos maiores festivais de verão da Espanha. Apesar das duas bandas suecas terem praticamente o mesmo público, o nome de destaque no cartaz era o do Satanic Surfers. Totalmente compreensível quanto a isso. Das duas foi a que ficou mais tempo em inatividade e a que recentemente se reuniu. Assim que sua volta ainda está muito recente e celebrada. Somando, é claro, o fato de ter o som mais “selvagem”, mais rápido, mais intenso, com uma pegada um tanto metal, apresenta mais tempeiro e mistura do que o N. F.A.A.. A figura de Alfaro no palco é o reflexo daquele público dedicado ao skate assim como suas músicas. Ao pisar no palco, uma das músicas de abertura foi “The Treaty and The Bridge”[do disco “Hero Of Our Time”], “U+I R1”, Rodrigo e suas mini decoladas de palco, o baixista Andy pilhando a galera. Uma das que não poderiam ficar de fora e, claro, uma das mais celebradas foi “Hero Of Our Time”, pessoas abraçadas cantando e refrão, a felicidade saía pelos poros. Das novas, “The Usurper” e “Skate, Don’t Care”. Voltamos a 1994 com “Sunshiny Day” de “Keep Out”. O nome em destaque no cartaz como já comentei acima não foi por acaso, a banda fez um show completo, deu um repasso em sua discografia, apresentou novos temas e aqui estaremos para a turnê de disco novo. Engana-se quem acredita que o No Fun At All pegou um público cansado, muito pelo contrário. Aquele sabor de quero mais que deixaram os “Surfistas”, aquela celebrada saideira de 10 latas que nunca chega ao fim, foi o que apresentou o N.F.A.A. logo na sequência. Abriram o que restava de noite com “Believers”, seguida de “Suicide Machine” e à aquela altura o público já era único. Mesmo em “Mine My Mind”, que não é uma música lançada há vinte cinco anos, mas há dez, teve uma boa re- 113 -


cepção. Aproveitaram a ocasião para, assim como o Satanic Surfers, anunciar que este ano também lançam disco novo, ou seja, teremos material de ambas bandas. Tudo bem que o show do Satanic foi mais intenso, até porque não podemos comparar a vitalidade de Alfaro com Ingemar Jansson, não se trata de idade, mas a postura de Jansson sempre foi mais estática e é claro que isso influencia o povo. Ainda assim, o No Fun At All foi mais completo, com mais temas e a longo prazo ofereceu mais diversão até mesmo pelos incontáveis clássicos como “Out Of Bounds”, “Beat ‘Em Down”, dando um respiro em “I Have Seen” e pisando forte outra vez com “Catch Me Running Round” além de “Master Celebrator” em reta final. Noite memorável, mais uma, proporcionada por HFMN. Estamos apenas iniciando o ano e muitas águas ainda irão rolar. - 114 -



Por Samantha Feehily (Wonder Girls )

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ós e o eterno tema sobre preconceito... Mas hoje não vamos falar dessa sua tattoo tribal no braço, nem das mandalas e teias de aranha. Vamos falar de modificação corporal extrema. Vamos passear pelas bifurcações, eyeballs, tattoos no rosto (esqueça aquele diamante abaixo do olho!), implantes orelhas de elfo, corte no septo e por ai vai. A surpresa das pessoas quando veem alguém que tem alguma dessas técnicas no corpo varia muito, vai desde um espanto legal até fazer aquela cara de nojo que sabemos que muitos fazem, e infelizmente, os comentários ainda são piores ainda. Vamos começar já com um recadinho: A gente está pouco se fod#%!@ para a sua opinião! Guarde esse recado, dá print na tela, pois ele vai ser importante ao decorrer desse texto. Não é segredo que as modificações corporais estão chamando a atenção de muitas pessoas nas últimas décadas e já estão presentes desde a construção das primeiras organizações sociais humanas. O intuito é basicamente: se diferenciar! ACEITEM, nem todo mundo gosta de passar despercebido por onde anda.

As práticas de modificação corporal existem há milhares de anos, como as tatuagens na Oceania, as perfurações na Ásia e na América, e a escarificação na África. Esses costumes tribais foram descobertos pelos marinheiros europeus no século XVI, mas ficaram marginalizados durante muito tempo. Na década de 1960, houve uma valorização da cultura oriental e as tatuagens passaram a ser mais populares. Já as perfurações e os piercings começaram na década de 1970, com os punks. Na década de 1990 ocorreu uma explosão de estilos e práticas. COM A CARA E A CORAGEM Abrindo os trabalhos, vamos falar sobre a febre da tattoo (grande, G-R-A-N-D-E) no rosto. Uma tattoo na cara vem com uma bagagem extra de preconceito, tenha a certeza de que, muitas vezes, você vai ser o “bizarro” do rolê. Quem faz algo do tipo tem que lidar com muita coisa, por isso Andric Matocanovic, tatuador no Cartel Tattoo de Londrina (PR), está com um projeto muito bacana chamado “Freekys”, que consiste basicamente é: TATUAGEM NO ROSTO. “É um proje-

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Andric

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to que confronta socialmente as imposições que nos querem manter servos de suas regras que condenam nossos corpos, único bem que é realmente nosso e ninguém pode interferir, a minha ideia é impregnar a sociedade com o que eles julgam ser aberrações e quebrar este distanciamento com tatuagens mais aparentes (a velha historinha de: uma aqui uma ali tudo bem, mas tantas eu não acho legal não. Então fod@-se, nós somos assim e não queremos que você ache nada, apenas aceite!”, conta o tatuador. O projeto está DANDO, o profissional está dispondo seu tempo e material para pessoas que queiram ter tatuagens grandes na cara, vale salientar que isso não inclui escritinha e simbolozinho. SÃO TATUAGENS GRANDES. “A inspiração para meu projeto veio das pessoas que tem tatuagens na cara e não conseguem se inserir bem no mercado de trabalho, quero reverter isso fazendo com que nos aceitem como somos, trazer para perto essas pessoas da sociedade, que se acostumem e nos respeitem como somos, creio que essa é a base do meu projeto: respeito e aceitação. Creio que fazemos a diferença na vida das pessoas tratando-as bem, a minha luta é também contra o racismo, xenofobia, homofobia, lesbofobia, machismo e inúmeras mais, acho que meu projeto nasce dessa necessidade de compreender as diferenças e respeitar Para quem quer tatuar o rosto, eu digo que devem estar muito decididos, pois não é uma decisão fácil, é algo que deve haver muito questionamento pessoal”, argumenta o tatuador. Andric conta que aqui no Brasil, a receptividade ainda é um pouco melhor. “As pessoas, olham mais com curiosidade e perguntam o que significa e tal, algumas julgam e tratam diferente, mas na Europa eu achei que eu fui muito mais discriminado que aqui,

lá me olhavam o tempo todo assim, em Berlim nem tanto, mas na Espanha eu senti bastante isso. Eu acho que o preconceito existe porque as pessoas já têm uma ideia antiga formada acerca das pessoas tatuadas, muita coisa precisam mudar, mas já estamos começando pelo menos. Acredito que naturalmente as barreiras vão sendo quebradas com o passar do tempo proporcionando, assim, maior aceitação de cada um. Creio que a melhor postura é ignorar, mas se não der para ignorar, debater sempre com calma e clareza mantendo nossa postura. Ser diferente é maravilhoso, somos todos diferentes e isso é demais!”, confessa Andric. Para o rapper, Cazim, os olhares não são problemas. “Eu não me importo tanto, nunca fui do tipo que se constrange com

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Anders

olhares, às vezes me sinto até como uma celebridade por chamar tanta atenção (risos). As pessoas têm preconceito por diversos motivos, e um deles é o medo do diferente. Elas estão tão acostumadas a viver uma vida clichê, sem nexo, chata e com medo de arriscar que quando veem pessoas como nós, que não se importam com o que os outros pensam ou digam, acabam sentido uma certa inveja por vivermos da maneira que queremos. Então eu diria que na maioria das vezes, preconceito no fundo é inveja. Aos que são mais invasivos, na maioria dos casos eu simplesmente ignoro, e quando me chamam por algum nome como ‘diabo’, ‘demônio’ tentando me ofender, eu simplesmente agradeço o elogio, afinal o diabo sempre foi o anjo mais bonito do céu!”, conta Cazim.

Como um bom rapper, Cazim lembra de uma história engraçada, “uma que gosto bastante é de uma vez que fui em um hipermercado num dia de pagamento, tinha acabado de sair do meu antigo emprego e ia rolar uma social na casa de amigos. Chegando no mercado, notei que estava sendo seguido por um dos seguranças do local, depois de um certo tempo me dirigi ao mesmo e perguntei se ele gostaria que eu comprasse algo para ele também”, tem que rir para não chorar. Saber lidar com olhares e cochichos é a fórmula para evitar a fadiga e o desgaste, o tatuador Vinicius Bomfim, do estúdio Psicotic Ink, é adepto do silêncio, mas não esconde que quando é algo muito direcionado, rebate a ofensa com bons argumentos e define o preconceito como doença e acredita que a tatua-

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gem, de certa forma, é uma ato de protesto contra os tabus e padrões impostos pela sociedade, mas que antes de tudo, é um amor à arte. E finaliza dizendo que “a diferença está nos olhos de quem vê, por baixo da pele somos todos iguais!”. Há várias razões para se fazer uma tatuagem no rosto; de um lembrete de como viver e símbolos representando a história pessoal, a ícones culturalmente significativos e até uma decisão ruim mesmo. Independente do ímpeto de fazê-las, tatuagens no rosto exigem uma dedicação profunda a um estilo de vida, cultura, carreira ou expressão pessoal, que não pode ser revertida. NA ONDA DO EYEBALL Procedimento popular agora em terras tupiniquins, o Eyeball Tattoo, já começa a polêmica pelo nome dado à técnica. Muitos dizem que não pode ser chamado de tatuagem, pois não usa uma máquina de tatuagem, que é ruim para a história da tatuagem e coisas bem piores. O Eyeball é feito com uma seringa cheia de tinta e aplicada na esclera dos olhos, a tinta fica entre a membrana e os olhos propriamente ditos. O Eyeball tem apenas 8 anos de criação e ainda é bem controverso entre os profissionais da modificação. Lembra do recado inicial, pois bem, as pessoas fazem a tatuagem no globo ocular pelas mesmas razões que as pessoas podem fazer qualquer outra tatuagem ou qualquer mudança permanente para si – porque isto as fazem felizes ou a se sentirem bem de alguma forma. Porque elas gostam dessa aparência. Porque lhes completa espiritualmente. Porque elas acham que é sexualmente atraente. Porque elas querem se diferenciar dos outros. Porque elas sentem que a tatuagem chegou ao mainstream e querem algo que seja mais chocante socialmente.

Porque viram em um sonho. Porque as agrada como artistas. Porque elas querem fazer uma declaração política. Porque elas estão com raiva de sua mãe por não abraçá-las o suficiente. Porque nada disso é da sua conta! Vale ficar atento, não é uma tatuagem normal, a estrutura da pele é anatomicamente bastante diferente da estrutura do olho. Uma tatuagem no globo ocular, o pigmento está preso entre a conjuntiva e a esclera do olho – espremido entre duas camadas planas, como geleia em um sanduíche. No caso de tatuagem na córnea, a tinta é abaixo do epitélio da córnea, assentando-se significativamente acima da íris. Não é colocado na íris em si, que é muito mais profunda. Enquanto a tinta em uma tatuagem padrão é efetivamente bloqueada no lugar, a tinta de uma tatuagem no globo ocular pode ficar móvel, e é capaz de se deslocar, ou mesmo migrar completamente para fora do olho anos após o procedimento ser feito. São dois métodos principais de aplicação da tinta sob a superfície do olho, utilizando aplicações individuais de uma agulha ou um conjunto de agulhas em um método semelhante ao da tatuagem tradicional, e usando uma seringa cheia com uma solução de tinta para injetar uma “nuvem” de tinta sob a conjuntiva, que se espalha por uma área significativa. O método tradicional de agulha é geralmente feito à mão e não com uma máquina de tatuagem, ainda que máquinas de tatuagem são usadas às vezes. O tatuador Anders Tattooist é adepto e e está sempre em eterna mudança corporal. “Comecei a partir do momento quando eu não me sentia bem comigo mesmo, então aos poucos fui me decidindo a me modificar até chegar ao ponto que eu quero me tornar. Me acostumei com os olhares, alguns olham como uma arte, outras como preconceito e

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Cazim

Foto: Ismael Carvalho

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Andric

outras com curiosidade e admiração. Eu defino o preconceito como pessoas de mente pequena que têm vontade de fazer, mas não têm coragem. Precisamos mostrar que todos somos iguais , independente de ser tatuado ou não”, diz Anders. Antes de se jogar, além de garantir que você tenha encontrado um profissional devidamente qualificado e experiente para te proteger, você precisa contemplar seriamente todos os riscos. TONGUE SPLITTING Nada mais é do que a bifurcação central da língua, dando a aparência de língua de cobra. Com o tempo e dependendo do quanto a língua foi bipartida, cada parte pode ser con-

trolada separadamente. Quer fazer? O método mais comum é por meio do scalpelling, em resumo, cortar a língua ao meio utilizando uma lâmina, usualmente um bisturi. É um método que também não leva muito tempo, mas que geralmente tem muito sangramento. Para isso os profissionais que trabalham com essa técnica utilizam um cauterizador ou a própria sutura para estancar o sangramento. Pesquise mais sobre outros métodos! O procedimento exige bastante cuidado “pós-operatório”, tais quais, higienização bucal e assepsia. Cada corpo vai ter o seu tempo de recuperação, mas de modo geral, depois de uma ou duas semanas já temos uma cicatrização primária, sendo possível falar e comer de modo relativamente normal. A cicatrização

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Vinicius

total se completa usualmente em um mês. SCAR - SCARIFICAÇÃO – SCARIFICACION Técnica de modificação corporal que consiste em produzir cicatrizes no corpo por meio de objetos cortantes. O processo envolve cortar uma imagem na pele e propositalmente irritar a ferida para encorajar o crescimento de tecido de granulação durante a cicatrização. A dor tem sido frequentemente comparada com a de fazer uma tatuagem, mas note que a sensação de dor e de tolerância variam muito de pessoa para pessoa. A técnica mais comum é a chamada Cutting, que consiste em cortar a pele com uma lâmina até certa profundidade. Seguida pela

Skin Removal, que é a remoção de áreas da pele para formar desenhos mais detalhados. Como via de regra, lembre-se que Scar é um Procedimento Avançado da Bod Mod, busque sempre um profissional de sua confiança e realmente qualificado. QUEIMA ELE Branding é a aplicação de ferro quente na pele de pessoa com uma chapa de aço esquentada por um maçarico. Após a queima desta pele, forma-se uma cicatriz com o desenho desejado por quem faz a transformação. Toda e qualquer modificação corporal precisa de cuidados e responsabilidade. Procure mais informações e busque profissionais habilitados.

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Por Renata Pen | Foto Marta Ayora

C

arnaval, 10 de fevereiro de 2018, calor e com o álbum vazando na internet duas semanas antes, o Angra surpreendeu com seu profissionalismo. O Café Piu Piu foi o lugar escolhido para a audição de seu mais recente álbum, ØMNI. Com a fila se formando do lado de fora no período da tarde, fãs, convidados e jornalistas esperavam ansiosos para ver (e ouvir) como seria. Os músicos foram chegando e entrando, a fila foi andando e, para quem ainda não havia escutado o álbum, o mistério estava para terminar. Com tudo bem organizado pela assessoria, os convidados foram se acomodando e a cerveja artesanal do próprio Angra foi servida. Sentados à mesa, os membros da banda se posicionaram e deram andamento às apresentações e à audição, revezando-se para falar, faixa por faixa, com muita sincronia. O lançamento oficial de ØMNI, pela earMUSIC, estava marcado para 16 de fevereiro. O álbum foi gravado na Suécia e produzido por Jens Bogren, um grande nome no meio do heavy metal. A arte da capa ficou por conta do americano Daniel Martin Diaz, em junção com o trabalho do artista brasileiro Gustavo Sazes, tendo como conceito a ficção científica, que também tem conexão com as - 126 -


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músicas. Antes de a audição ter seu início, Rafael gentilmente disse que todos que ali estavam eram importantes para a história do conjunto, e que, de alguma maneira, fizeram parte do processo, por isso o título ØMNI, que significa ‘tudo’ em latim. E ‘tudo’ também se referia à conexão das histórias de álbuns anteriores, como Holy Land (1996), Rebirth (2001) e Temple Of Shadows (2004). ØMNI tem alguns aspectos interessantes ou diferentes do Angra das antigas, mas segue utilizando elementos da música folclórica do Brasil. Além disso, houve participação de alguns convidados especiais como: Sandy e Alissa White–Gluz (Archy Enemy), na faixa Black Widow’s Web, e de Kiko Loureiro, atual guitarrista do Megadeth, na faixa War Horns. Vamos às faixas! 01) Light Of Transcendence – inicia o play e é a música que mais se aproxima ao estilo power metal, seguido pelo Angra ao longo de seus 27 anos de carreira, por isso escolhida para ser a primeira. 02) Travelers Of Time – antes de ter esse título, era chamada de Speedy Barbosa, e foi a canção em que todos mais trabalharam coletivamente. 03) Black Widow’s Web – surgiu quando a banda participou de um cruzeiro em janeiro de 2017 e assistiu à apresentação do Archy Enemy. Daí veio a ideia de fazer as duas vozes da viúva negra. Alissa foi convidada para participar desta canção e completar seu conceito fazendo a voz gutural, em contraponto aos tons suaves de Sandy (escolhida por ser próxima da banda), compondo assim as três vozes da polêmica faixa, com Fabio e Alissa. 04) Insania – Fabio é considerado o Mago das Melodias, cantarolando o tempo - 129 -


todo. Então, ao criar a melodia da canção, Rafael gostou do que ouviu, gravou-a e começou a desenvolvê-la. Assim a groovera foi rolando até acharem a música empolgante a ponto de até mesmo criarem um vídeo clipe. 05) The Bottom Of My Soul – devido aos acontecimentos com a banda no ano passado, a faixa tem uma carga emocional muito grande. Ao compor, Rafael revelou que sofre muito por sentir a pressão de criar um novo álbum. A parte boa foi que essa pressão o fez ir a níveis distintos de suas emoções, e Marcelo fez com que a banda se unisse ainda mais e buscar forças para seguir em frente. 06) War Horns – Marcelo brincou ao dizer que a tradução do título era “tesão de guerra” (um trocadilho para “War Horny”).

Calhou de Kiko estar com o Megadeth na cidade sueca onde a banda estava gravando ØMNI e então ele colaborou com algumas ideias. As partes de guitarra do começo e do final foram compostas por último, após o produtor ouvir sugestões gravadas pela dupla Rafael-Marcelo e vetar a maioria delas. Curiosamente, os dois não esperavam que o produtor fosse gostar da parte que efetivamente acabou ficando no álbum. 07) Caveman – com grande influencia da música nordestina e típica brasileira. Para Fabio, essa é considerada uma das melhores faixas de ØMNI, trazendo mistura de inglês com português, sugerindo a importância de nossa cultura. 08) Magic Mirror – Felipe comentou - 130 -


que, na hora de compor, a banda não utilizou bateria eletrônica nesta faixa (assim como em 95% do álbum). Rafael afirmou que foi uma letra difícil de escrever, por conta de seus conceitos cristãos, e que não queria uma temática conectada a alguma religião específica. 09) Always More – música escrita a época de Secret Garden, ela fala sobre o controle em nossas vidas, sobre o divino e o caos, e que sempre há um jeito melhor para se viver. Outra faixa com clipe, Rafael citou que a banda tentará, como propósito, trazer bastante material visual para as músicas de ØMNI. 10) ØMNI – Silence Inside – novamente os traços da música nordestina se

acentuam, trazendo o quase inimaginável baião para o universo metal. É a mais longa do álbum. 11) ØMNI – Infinite Nothing – completa o álbum com um som orquestrado e instrumental. Ao final da audição, o vídeo clipe de “War Horns” foi apresentado e ovacionado, sendo um grande final para a apresentação. Para encerrar, o manager Paulo Baron tomou a palavra para dizer o quão orgulhoso ele se sentia em trabalhar com o Angra. Também aproveitou para dar um puxão de orelha naqueles que só criticam sem ter real noção dos esforços dos outros, ressaltando que temos que dar valor as bandas que temos aqui. - 131 -




Texto André Santos | Fotos Carol Nicolau

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ascia em Brasília uma banda com um propósito musical, trazendo um conceito que não só se basearia em somente divulgar sua arte, mas sim, trazer em suas letras expressões e contestações. Formada em 2010, a banda Doi – Codi (o próprio nome usado pelo grupo remete uma ferida na sociedade). Este nome era usado como uma “sigla”, em uma divisão militar, que era incumbida de coibir o comunismo em plena ditadura. Constantemente a banda brasiliense vem trabalhando em sua sonorização e característica, com uma grande preocupação de trazer nossa língua pátria para dentro de suas composições, assim as tornando mais audíveis e fazendo suas mensagens chegarem a nós de uma forma simples e homogênea, criando o seu próprio estilo, dentro de diversas questões que vão desde a política ao cotidiano, até mesmo dentro de experiências pessoais e subjetivas. Antes de tudo, gostaríamos de agradecer pela oportunidade de entrevistá-los e de darmos a chance dos leitores conhecerem um pouco mais sobre a banda Doi – Codi. Então, partimos para entrevista. Doi-Codi é uma banda originada na capital do Distrito Federal. Isso de alguma forma influi nas características da banda? De alguma forma isso influencia sim, porque - 134 -


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cada região, cidade e estado vai ter suas características de como a “cena” funciona e como os estilos se misturam. Somos uma banda que sempre esteve ligado ao “ao vivo”, e a relação com os produtores e parceiros, tanto musicais quanto educacionais, principalmente de Sobradinho e Recanto das Emas, coloca a gente em contato com uma circulação de ideias específicas, seja pela necessidade de estudo mais aprofundados, pela relação com a questão educacional, e também pelos laços que a gente foi criando com movimentos e associações como era o Fórum do Rock, em Sobradinho, onde o independente e o “Faça Você Mesmo” sempre foram as palavras de ordem. Se não for por isso, as coisas nem existiriam por lá. Em termos de ideias e conteúdo, também pode fazer alguma diferença, porque aqui as questões do que estão acontecendo na política são sempre assuntos fervilhantes. Política é um grande eixo pra banda. Sabemos que o nome utilizado pela banda é uma sigla de uma divisão subsidiada pelo regime militar na ditadura. Então, podemos pressupor que as mensagens presentes nas composições da banda sejam voltadas a questões políticas e nas desigualdades sociais? Isso mesmo. Doi-Codi era o Destacamento de Operações de Informações – Centro de Operações de Defesa Interna um órgão de investigação, busca, captura e tortura, durante muitos anos. Eu (Yuri) sou formado em História e sempre estive envolvido com pesquisa ativa sobre o período da Ditadura Militar em geral, principalmente sobre política e repressão. Para a banda, essas questões são fundamentais. Existe no som alguma influência do Hardcore, e acredito que tive muito contato com o modo de pensar e falar do Punk Rock, o qual foi o principal som que ouvia durante muito - 136 -


tempo, até me envolver mais com o Metal nesse projeto. Uma das principais razões de existência da banda é não deixar que esse período seja esquecido, e muito menos repetido. Foi um período que “passou” no tempo, mas ainda tem vozes que querem resgatá-lo e celebrá-lo, querem repetir esse feito que só nos levou a um período de terror. A discussão continua e o debate é necessário. Bom, agora entrando na questão de parte de elaboração de composição, a banda tem uma preocupação com o tema, ou vem de uma forma aleatória? E quais as principais influências utilizadas ou este critério não é usado na construção das canções? Como tentamos deixar exposto, o tema é uma preocupação central. Mas não se trata apenas de política. Também falamos de questões mais pessoais e subjetivas. Em termos musicais, as influências são variadas. Já tivemos alguma influência de hardcore, junto com metal, mas não nos restringíamos a um estilo específico. Era como fluísse, entre as composições de todos, que sempre tiveram gostos variados. Agora estamos passando por um momento de repensar musicalmente. E quanto a isso ainda estamos vendo qual será o resultado. O projeto e o conceito musical da banda está na estrada há sete anos. Durante este período, como o Doi-Codi enxerga a sua sonoridade desde sua criação até os dias de hoje? Em termos de tempo de estrada, é até complicado falar assim. A Doi-Codi já passou por tantas mudanças e reinvenções que é quase como se tivessem existido várias bandas dentro do mesmo percurso. Mas o que esteve em comum conosco desde o começo é que não estivemos presos a algum estilo específico em momento - 137 -


algum, mas sempre transitando no Metal. Durante este trajeto de estrada, a banda já participou de diversos eventos realizados em algumas cidades como Minas Gerais, Goiás, o próprio Distrito Federal. O que vocês chegaram a tirar de experiências dessas participações? A experiência que a gente tira é que, seja aqui ou nos estados vizinhos que conhecemos, a regra é comum: se você não faz, se você não agrega, se não junta as pessoas e faz você mesmo, nada anda, nada acontece. Não vivemos mais um tempo em que o Rock ou o Metal sejam tão mainstream assim. Cada dia mais a iniciativa independente e a ação coletiva entre os interessados, a união entre bandas e público, é necessária. Sem isso, o underground morre, porque é lá que está o fôlego mais legítimo do som que a gente gosta. E isso é comum. Do Punk, Thrash, Death, o que for. Principalmente fora das grandes capitais, que são SP-RJ, onde o que chega, o que acontece, não é aquela banda gringa renomada, não é a banda famosinha. O que chega e bota pra ferver é independente, na cara e na coragem, é o som da própria cidade, da própria comunidade. E a essas iniciativas, damos nosso total respeito. A banda chegou já a participar da Seletiva - Porão do Rock. Conte-nos sobre esta experiência de palco ao lado de diversos músicos. A experiência é interessante, porque você tem que realmente apelar ao público e chamar atenção nesse sentido lá. Mas ao mesmo tempo é curioso porque, em tempos que vivemos essa questão mencionada de “se não agregar, morre”, a iniciativa é competir e passar por um funil. Tem seu sentido, porque é um número limitado de vagas para um número vasto de bandas, mas então é uma experiência bem - 138 -


curiosa. Mas sempre que participamos, do outro lado estavam bandas de amigos que na época respeitávamos e gostávamos bastante. Então quem quer que passasse estaríamos satisfeitos. Sendo uma banda independente, qual a maior dificuldade que sentem? Demanda e tarefas múltiplas. É complicado, em termos de produção material e técnica, correr atrás de concretizar muita coisa, sendo que ao mesmo tempo você está preocupado com show, compor, correr atrás dos trâmites legais de algum evento aqui e ali. É estar agregando com um movimento ou com uma escola em outro lugar, estar lá com seu trabalho, faculdade, vida pessoal, o que for. Ser uma banda independente é estar o tempo todo dividido em mil ao mesmo tempo e ter que dar conta de tudo. Para finalizar, a banda pode nos contar quais as expectativas para este ano de 2018? E quais os projetos que estão a caminho? Em 2018 o plano é recriar, repensar. Passamos por uma grande mudança na formação da banda, e consequentemente nas influências musicais. Novos integrantes, novos planos... É possível que daí surja uma nova sonoridade. Pretendemos nos aprofundarmos na temática proposta, com letras mais profundas e ainda tratando das questões sobre política, sobretudo a Ditadura Militar, mas sem esquecer a subjetividade que queiramos tratar também, e tentando trazer um som que melhor dê corpo às ideias passadas. Deixamos este espaço para as considerações finais. A Doi-Codi, como falamos anteriormente, está num processo de renovação, obviamente sem - 139 -


perder um teor político, buscando levar um som cada vez mais intenso e letras profundas ao público. Precisamos usar a arte para construir. Este é um espaço de voz importantíssimo. Por isso, desejamos reforçar que todas as bandas reflitam sobre a importância de construir músicas que provoquem o público a reflexão, sobretudo, num ano político muito crítico para o Brasil, com as eleições que já já estão chegando! A arte pode ser transformadora e a música, feita com esse propósito, só vem agregar, dentro da sua medida, numa transformação deste país que tanto precisa de dias melhores. A hora é essa!! Fica também nosso reforço ao público para continuar prestigiando a cena autoral e assim favorecer justamente a renovação musical. Entendemos que é válido se permitir conhecer e apoiar novas bandas. Isso pode trazer incríveis experiências e gratas surpresas, com músicas iradas que além de despertar no ouvinte toda a energia que o Metal carrega, tam-

bém pode tocá-lo em sentimentos e ações mais construtivas, ou pelo menos fazê-lo um pouco mais rico das ideias. Tudo isso valoriza e reconhece a dedicação e esforço dos músicos, provoca a realização de eventos com mais qualidade, fomenta a produção musical, estimula um aumento do público nos eventos... e assim a roda gira e a cena evolui! Lembro que nosso foco é levar informação, agregar, provocar reflexão e atitude! Gostaríamos de agradecer todo o apoio do nosso grande parceiro e incentivador, Wolverine! Precisamos de mais pessoas como ele, que alavanca eventos, shows, projetos sociais e colabora demais com a cena underground, principalmente nos espaços mais negligenciados pelo Estado. Por fim, agradecemos e parabenizamos a todo o público, que mesmo diante de tantas adversidades, consegue apoiar e fazer a cena acontecer por amor ao metal! Valeu headbangers!

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Texto e Foto Bruno Sessa

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o dia 22 de fevereiro, os noruegueses do Arcturus se apresentaram no palco do Fabrique Club, em São Paulo. Formada no início dos anos 90, o Arcturus retornou ao Brasil após 2 anos com a turnê do seu último lançamento: “Arcturian”. Em sua formação atual: ICS Vortex - Vocal (ex Dimmu Borgir, Borknagar); Hugh “Skoll” Mingay – Baixo; Knut Magne Valle – Guitarra; Sverd – Teclados e Jan Axel Blomberg “Hellhammer” – Bateria (Mayhem). Apresentando um show extremamente intimista, o peso do Arcturus com certeza impressionou o pequeno número de fãs que marcaram presença em plena quinta-feira. Iniciando com a intensa “Kinetic” e logo em seguida “Nightmare Heaven”, o Arcturus já cativou logo de cara até quem estava conhecendo a banda naquele momento. Com passagens pesadas e envolventes, o Arcturus mescla o estilo de música já consagrada pelos seus integrantes, acrescentando a necessidade de explorar novos horizontes com momentos épicos e psicodélicos. Extremamente técnicos e de muito bom gosto, é possível perceber passagens tétricas e repetitivas de cada instrumentista, para que um outro instrumento possa se sobressair. A - 144 -


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pluralidade de timbres é extremamente marcante no som do Arcturus, e durante toda essa demonstração de técnicas e arranjos é impossível não se impressionar com as linhas complexas de bateria de “Hellhammer”. Mas não só a parte musical foi destaque no show. ICS Vortex sempre muito comunicativo, não pareceu em momento algum se importar com pequeno público, e fez do espetáculo algo muito especial para seus fãs. A todo momento, muito comunicativo, interagia com muita alegria e grato pela receptividade, tentando inclusive atender a pedidos de um fã para uma música que não estava prevista para aquela apresentação, que infelizmente foi negada com pedidos de desculpas de Vortex por falta de tracks de samplers para aquela ocasião. Com um set-list variado, o Arcturus finalizou seu show com “Angst”, muito bem recebido por seu público que prestigiou um magnifico show de metal experimental. Setlist Arcturus - SP - 22/02/2018 ------------Kinetic - © 2002 Ad Astra Enterprises Nightmare Heaven - 2002 album “The Sham Mirrors” Crashland Painting My Horror Alone Hibernation Sickness Complete The Arcturian Sign Du Nordavind The Chaos Path Collapse Generation Game Over ------------Master of Disguise Fall Of Man To Thou Who Dwellest In The Night Angst - 146 -


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Texto André Santos | Fotos Banda/Divulgação

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ós da revista Rock Meeting tivemos a oportunidade de bater um papo com um dos integrantes da horda In Apostasia. Formada na cidade de Governador Valadares/MG, a horda é uma das grandes representantes do Black Metal Nacional, sendo que a mesma tem uma grande preocupação de trazer as raízes da velha escola para dentro de seus cânticos, mas claro que a presença da essência de In Apostasia é muita enraizada na sonorização própria. Antes de tudo, gostaríamos de agradecer a Jeff Britto (vocal e baixo), por ter nos dado uma pequena noção sobre o disco e projetos da banda. Acompanhe como foi a conversa na entrevista a seguir. Algumas pessoas não têm ideia de que a banda surgiu na década de 90, porém só ganhou corpo em 2010, tendo o seu primeiro Ep intitulado de “Awake”. Conte-nos um pouco sobre este percurso, até a chegada desse registro. Jeff Brito - Em meados de 93, eu já escutava muito Black Metal, embora tocasse Doom Metal na época. Eu tinha em mente montar algo que pudesse refletir aquele sentimento que o Black Metal me passava, então eu escrevia muitos riffs dentro dessa proposta. Durante os ensaios de minha banda da época, fazíamos intervalos e eu passava para o guitarrista esses - 150 -


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riffs e a gente esboçava algo ali. Em 1996, eu me mudei do país e tive que me dedicar a algo que pudesse fazer sozinho, então surgiu o MyThrenody, ao qual me dediquei bastante durante muitos anos, colocando esse projeto, que viria a ser a In Apostasia, em uma gaveta até 2009, quando eu decidi colocar em prática. E em 2010, a banda fez seus primeiros ensaios e lançou o primeiro EP. Desde o primeiro registro, notamos que a banda tem a preocupação de trazer um som mais levado a velha escola. Sendo assim, quais as maiores dificuldades que estão encontrando dentro do cenário, sendo uma horda de Black Metal? Bom, eu sinceramente não sinto que tenhamos dificuldades em função do que fazemos.

As dificuldades são as mesmas que uma banda verdadeiramente Underground tem no geral. Não vejo o Black Metal mais como um estilo marginal ao Undeground como costumava ser na década de 90, quando o Death e o Thrash eram soberanos e o Black e o Doom tentavam se inserir, o último com muito mais sucesso, diga-se de passagem. Embora a gente ainda perceba uma certa resistência e um olhar torto por vezes com uma banda ou outra com que esbarramos nos palcos pelas estradas, mas não são a regra, trata-se de exceções. Por ser uma banda de Black Metal, muitas pessoas têm ainda aquela imaginação que uma banda que cultua o paganismo tem que ser europeia e viver nesses países gélidos. Mas em nosso

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país, por mais que seja tropical, temos diversos assuntos sendo abordados e até mesmo uma cultura pagã. Então, de que forma a horda enxerga o conceito Black Metal no Brasil? O Black Metal é instrumento de resistência, uma ferramenta que nasce da resistência ao que a regra impõe, ao que é vazio de conteúdo da musicalidade aos conceitos abordados. Cada um aborda o tema que achar, a ele, pertinente dentro desse conceito. Natural que alguns se prendam à formatação vinda da Noruega por exemplo, tendo sido lá, um dos berços do estilo. Entendendo o Black Metal como a ferramenta que descrevi, a In Apostasia opta por abordar sempre, desde a primeira letra escrita, temas voltados ao nosso passado, à nossa terra, nos-

sas batalhas, nossa resistência, nossa identidade. Se as religiões, especialmente judaico cristãs causaram danos na Noruega, aqui eles dizimaram povos, costumes, culturas, línguas e tentaram apagar da história nossas vitórias. Essa realidade é exposta em todos os nossos trabalhos do dia 1. Somos uma trincheira na busca constante pela derrubada da farsa do cristianismo e seus semelhantes. Isso é a In Apostasia. Em termos de Brasil, o que ainda falta para o cenário funcionar? Qual a opinião da banda neste ponto? Menos individualismo na busca pelos objetivos que são comuns ajudaria bastante. Aprender a trabalhar em união com respeito mútuo seria um bom começo. Todos temos alianças.

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Gostaria de ver essas alianças transformadas em instrumentos de avanços em produção de eventos por exemplo. Imagine. Saindo um pouco desse contexto, como se encontra a forma de trabalho e composição? Elas são feitas em conjunto com o grupo, ou cada membro trazem suas ideias e a partir daí é desenvolvida as composições e a parte lírica? Com o primeiro EP a forma que encontrei para compor foi fazer tudo sozinho, até porque a banda só veio a se formar de fato depois das músicas do EP prontas. Isso acabou por se repetir com o primeiro full lenght, com a exceção de uma das músicas que fizemos juntos, os três em ensaio. Mas isso não é algo que virou regra, todos entendem que se há uma ideia, ela será explorada. Meu problema é que minha cabeça não para. Eu estou constantemente compondo, produzindo. É normal você me encontrar às três da madrugada sentado com uma guitarra na mão gravando uma ideia que me surgiu naquele momento. Então a maioria das composições acabam por ficar por minha conta, por essa ansiedade de produzir que eu tenho. Notamos que desde o primeiro EP “Awake” até o segundo álbum de estúdio, intitulado de “Hail the Kings”, existe um período longo entre seus lançamentos. Isso é forma proposital usada pela banda para não cair na esquecimento? Na verdade não há um planejamento. As coisas simplesmente acontecem e a gente deixa correr. Todos temos obrigações de nossas vidas particulares, seja trabalho, estudos ou família e essas obrigações são respeitadas. Por exemplo, não marcamos shows com tanta frequência devido a isso. Se um não pode, o resto - 154 -


respeita e isso se aplica aos ensaios também, que é onde o material novo toma forma antes das gravações de um novo trabalho, então a coisa tende a demorar um pouquinho mais, mas sempre vale a pena. Também notamos que todos os projetos lançados foram gravados em seu estúdio particular, sempre tendo a mão de ‘Jeff Britto’ (Vocal/ baixo). Isso seria justamente para não fugir do propósito de contexto da horda? Em termos de contexto, a gente se entende bem e assinamos os três sob a proposta. Já sobre a produção, eu sou muito chato com isso, gosto de acompanhar cada detalhe do trabalho e isso levaria muito tempo e custaria muito dinheiro em um estúdio pago por hora. Como nós temos todo o equipamento e certo conhecimento de produção, faz sentido que façamos tudo em nosso tempo, em nosso próprio estúdio. Funciona melhor pra gente. Entre os álbuns de estúdio, sendo eles: “Symbol Of Disgrace” e “Hail Of Kings”, já são notáveis as repercussões entre eles. De que forma vocês observam isso? Eu acredito que se você se dedica a fazer um trabalho sincero, verdadeiro e com uma postura séria, a resposta vem. O que fazemos despretensiosamente é exatamente isso, música e letras que são sólidas e verdadeiras ao underground assim como o vemos. Em falar de seu último trabalho intitulado “Hail the Kings”, ele trás um formato diferenciado, como nos “Lps” (antigos) que continham o lado (A & B), este mesmo formado foi usado por vocês como: “Hail Side e King Side”, correto? Isso foi planejado desde a elaboração do ál- 155 -


bum? Na verdade esse trabalho havia sido concebido para ser um EP que seria lançado enquanto trabalhávamos no full lenght. Com o passar do tempo, as novas composições foram surgindo e chegamos a conclusão de deixar a ideia do EP de lado e levar o tempo necessário para finalizar e lançar o “Hail the Kings”. Foi então que veio a ideia de formatar a sequência de faixas como costumava ser feito nos antigos LPs, com um lado A e um lado B, tendo no lado A nossas autorais e no lado B uma homenagem a algumas das bandas que em nosso ver, ajudaram a forjar o que o Black Metal é hoje. Quem conhece o trabalho de “Hail the Kings”, sabe que o lado ‘Hail Side’ traz composições autorais, sendo que temos uma cover da música “Brotherhood of Man” do grande Motörhead. E já lado ‘Kings Side’ temos grandes hinos do Black Metal, interpretados por vocês. Como foi o processo dessas escolhas? Cara, a escolha foi complicada. Primeiro listamos algo em torno de 20 bandas de relevância para a proposta e fomos eliminando uma a uma, juntos. Em alguns casos desistimos de uma música, pois sabíamos que não conseguiríamos jamais fazer algo que mantivesse a identidade original da música, o que seria uma falta de respeito em nosso ver. Todas as músicas gravadas foram feitas de forma que mantivessem sua essência. São muitas as bandas que poderiam ter entrado. Simplesmente não queríamos que fosse um álbum cover. É apenas uma homenagem. Como está sendo recebido este contexto presente no “Hail the Kings”? Eu mesmo, particularmente, casou-se muito - 156 -


bem com o conjunto lírico do álbum! Vocês têm a projeção desse atributo presente dentro do álbum? Velho, quem tem escutado o trabalho tem sentido o que estamos tentando passar, tem sentido a seriedade com que tratamos os assuntos abordados, tem sentido a honestidade do trabalho, pelo menos essa é a impressão que tenho. É muito bom você poder fazer seu trabalho sem se preocupar com aprovação e ainda assim ver que tantos se identificam. Isso é gratificante e manteremos essa proposta sempre, não importa o caminho pela frente, essa certeza você pode ter. Não temos compromisso com julgamento de terceiros. Trabalhamos, produzimos e disponibilizamos o material. Se vão gostar ou não, de fato não vai influenciar no que será feito no próximo trabalho. Quais os planos para este ano de 2018, além da divulgação de “Hail the Kings”? Sem muitos planos, como sempre foi. Compor sempre, ensaiar bastante que é a desculpa pra tomar umas, e programar alguns shows, dentro do possível considerando nossas agendas pessoais. Mas definitivamente seria legal um novo álbum até o final do ano. Veremos. E para fecharmos, deixem suas considerações finais aos nossos leitores. Quero agradecer imensamente pelo espaço cara. Parabéns mesmo por todo o trabalho e dedicação, sei que isso toma um tempo valioso! Aos leitores, mantenham-se fieis a cena underground, não acreditem no discurso dos que dizem que ela morreu ou que nunca existiu. Ela existe em cada um de nós que de fato trabalho para perpetuar, quem diz o contrário, ainda que não saiba, trabalha para que ela morra de fato! A gente esbarra pela estrada!

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Texto e Foto Marta Ayora

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omeçamos 2018 com o pé direito. No dia 21 de janeiro fomos presenteados com a última apresentação da “Rebirth Of Shadows Tour”, do aclamado vocalista Edu Falaschi (Almah, ex-Angra), em sua bem sucedida carreira solo. O show aconteceu no Carioca Club, em São Paulo, e reuniu três ex-integrantes do Angra – Edu Falaschi (voz e violão), Aquiles Priester (nas baquetas) e Fabio Laguna (teclado) – que, ao lado de Raphael Dafras (baixo), Roberto Barros e Diogo Mafras (guitarras), protagonizaram sucessos dos álbuns “Rebirth”, “Hunters and Prey”, “Temple of Shadows”, “Aurora Consurgens” e “Aqua”, e com músicas que ainda não haviam sido executadas nessa turnê, como “The Shadow Hunter”, “Eyes of Christ”, “Ego Painted Grey” e “Unholy Wars”. O fato é que Edu preparou uma despedida em grande estilo trazendo convidados especiais como o vocalista e guitarrista Kai Hansen (Helloween, Gamma Ray), a baixista Tonka Raven (Ravenclaw), o tecladista Junior Carelli e os vocalistas Bruno Sutter, Alirio Netto, Thiago Bianchi e Tito Falaschi. Com ingressos sold out a casa de shows Carioca Club estava lotada e o grande público indicava que a noite seria de grande festa, para a glória do metal. - 160 -


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Acid Tree foi a banda convidada para excursionar na turnê e fazer a abertura dos shows. Com apenas cinco anos de existência, o power trio formado por Ed Marsen (vocal/guitarra), Ivo Fantini (baixo) e Giorgio Karatchuk (bateria), lançou no ano passado o EP “Arkan” (masterizado na Suécia por Mats Lindfors e ilustrado pelo mestre das artes gráficas Niklas Sundin, que ilustrou capas para In Flames, Paradise Lost e Arch Enemy). Com uma boa parte do público já dentro da casa, por volta das 19h a banda Acid Tree sobiu ao palco para apresentar um som psicodélico, que mistura os elementos do rock progressivo com o peso do heavy metal. “Arkan”, música que leva o mesmo título do novo EP, levou os expectadores a uma espécie de “transe”. A melodia mantém o ritmo constante, com todos os instrumentos e voz bem encaixados em perfeita harmonia. Ao final, a bateria ganha evidência com quebras no andamento em um arranjo bem elaborado. Em seguida, “Barren Lands” trouxe um som intenso, que aos poucos vai ganhando peso e ritmo. Com o vocal nas alturas, “Sweet Insanity” destaca a bateria com padrão rítmico quebrado, que agradou muito o público que ovacionou. Um dos pontos altos foi “Adrift”, uma canção bonita, densa, com voz e guitarra em evidência. O baixo bem executado atua em sintonia com as quebras de andamento da bateria. Com letra profunda sobre reflexões de questões passadas, Arkan conseguiu transmitir um sentimento de libertação e fechamento de ciclo ao final da canção. Muito interessante esse som. Para fechar, a melodia rica de “Caged Sun”, mostrou que mesmo com o estilo muito diferente da atração principal, a banda Acid Tree foi um presente para os ouvidos apurados - 163 -


de um público exigente, tanto que entre uma música e outra se ouvia os elogios da plateia, em relação a atitude e maestria dos músicos no palco. Fato é que mesmo com um setlist enxuto, Acid Tree aqueceu o público para o headliner da noite e conquistou pela personalidade, técnica e competência, demonstrando que são uma grande aposta no cenário do metal contemporâneo. Um hora após o show de abertura, as luzes se apagam e as cortinas se abrem ao som da icônica “Nova Era”, com o público empolgado, cantando em massa, quando finalmente, o grande astro da noite pisa no palco, o público sacode o local e é nessa hora que o show começa! Com seus enormes cabelos louros, correntes no pescoço, camisa branca e calça jeans rasgada, o carismático Edu Falaschi marca presença com sua voz virtuosa. Logo depois inicia a poderosa “Acid Rain” com sua introdução épica, guitarras e bateria em perfeita sincronia levam a galera à loucura. Uma das surpresas da noite foi a execução da música “Eyes of Christ”, que segundo Edu, nunca havia sido tocada pelo Angra ao vivo, e foi incluída apenas nessa turnê. E foi certeira a escolha dessa música para o set list da noite, pois foi um presente para os fãs que enfim tiveram a oportunidade ouvi-la ao vivo. Com quase 2 mil pagantes, a casa de shows Carioca Club já estava tão lotada que nem o ar condicionado suportou devido à quantidade de pessoas. O que salvou a pátria e fez valer a pena estar ali foi a performance dos músicos. “Running Alone” trouxe a perfeição técnica do inigualável Aquiles Priester em sua bateria gigantesca fazendo os fãs cantar em coro. - 164 -


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Com o violão em mãos, Edu toca o clássico “Wishing Well” do CD Temple, canção linda que me fez arrepiar. Em “Angels and Demons”, Thiago Bianchi mostrou que continua com sua voz poderosa, mesmo depois de seu problema de saúde que quase o tirou de nós. Ao lado de Junior Carelli nos teclados fizeram história nessa turnê. Com melodia precisa e bem elaborada “Heroes of Sand” é ovacionada e em “Late Redemption” Edu revelou que essa canção é muito especial, pois o Milton Nascimento a cantou com muito sentimento no álbum ‘Temple of Shadows’. Quando começou “Unholy Wars”, o público ficou muito emocionado, pois misturar o peso do metal com a brasilidade do maracatu é um desafio. E este som apresentou uma sintonia perfeita entre a bateria de Aquiles e um dos melhores solos do Diogo na guitarra. Chegou a hora do performático Aquiles fazer um solo daqueles intermináveis na bateria que arrebata a multidão que gritava “Aquiles! Aquiles!”. Com Raphael Dafras,em seu baixo, ao lado de Roberto Barros e Diogo Mafras dão um passo à frente e performam “Arising Thunder” com maestria. Que time de peso Edu conseguiu reunir! É de cair o queixo quando observamos o comprometimento desses músicos. Eles são absurdamente incríveis! Em “Millennium Sun”, clássico adorado pelos fãs do “Rebirth”, Fabio Laguna toca a linda introdução no teclado em harmonia com a voz virtuosa de Edu. Da parte mais lenta até a mais pesada, o púbico cantava tão alto, que mal dava para ouvir o Edu cantar. Isso é o que chamamos de público empolgado! Em seguida, Edu convida Alirio Netto - 166 -


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para cantar “Bleeding Heart”, que é ovacionado pelo público pela execução impecável. Em “Shadow Hunter”, Edu entrou vestido como o personagem principal da história do álbum Temple Of Shadows e deu um show impressionante mostrando que está em excelente performance vocal, reproduzindo um agudo surpreendente ao final da música. Em “Live and Learn”, o som estava animal e especialmente os guitarristas soavam firmes e imponentes, dando uma aula de heavy metal. Depois Edu contou para o público como surgiu a ideia da turnê. Segundo ele, foi em um show no Peru que Joe Lynn Turner (ex- 168 -

-vocalista do Deep Purple), o inspirou a fazer a turnê, que para a alegria dos fãs continuará em 2018. O momento ápice do show chega quando Edu convida aquele que todos esperavam: Kai Hansen, pai do power metal, que subiu ao palco para cantar em dueto “Temple of Hate”, um dos melhores sons do CD Temple of Shadows. Hansen estava sorridente e animado, emocionando os fãs em cada nota, e os fazendo pular e cantar junto “Right now”! Kai Hansen no palco chamou mais dois convidados: a baixista e atual namorada Tonka Raven e o vocalista “Detonator” Bruno Sutter (Massacration). E juntos uniram-se


para cantar o hino “Rebellion In Dreamland”, clássico do Gamma Ray. Com seu visual único e cabelos cor de rosa, Tonka foi um show à parte! Foi fantástico vê-la performando o seu baixo no palco. Kai e Tonka continuaram no palco e deram início a “I Want Out”, que fez os fãs cantarem em coro com o solo absurdo de Hansen e o poderoso agudo do Edu no refrão. Hansen e Tonka se despedem do público que os aplaudem ensandecidos. Por fim, Edu apresenta cada um da banda e Aquiles apresenta Edu, que na sequência chama seu irmão Tito Falaschi, que, além de compositor, também é seu mentor. E juntos

cantam o clássico Rebirth (faixa-título do primeiro álbum de Edu no Angra). O timbre de Tito é muito parecido com o de Edu e foi memorável ver os dois irmãos cantando juntos nessa turnê. Para finalizar a noite em grande estilo, começa a introdução de “Spread Your Fire”, com o Aquiles destruindo a bateria em um show incrível, com mais de duas horas de duração e quase duas mil vozes cantando junto com Edu Falaschi e seus convidados. Essa foi com certeza uma das turnês mais emocionantes. Que vibração, que sintonia e que público maravilhoso!

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Texto e Foto Edi Fortini

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clima de festa carnavalesca já tomava conta do centro da cidade de São Paulo no primeiro final de semana de fevereiro, quando muitos foliões e seu devido trânsito deixavam suas marcas registradas no mês. Felizmente não foi só isso que rolou na cidade e para os fãs da música pesada, o sábado, dia 4, deixou uma lembrança bem pesada: os alemães do Rage fizeram um show memorável no Vic Club (antigo Gillian’s Inn). Para iniciar a noite, os argentinos do Delta foram os convidados como banda de abertura. No placo, Benjamin Lechuga (guitarra), Nicolas Quinteros (teclado), Marcos Sánchez (baixo), Andrés Rojas (bateria) e Simone Weber (voz), tiveram alguns problemas técnicos, o que deixou um clima estranho no início da apresentação, mas o carisma da banda ganhou o público que ia chegando na casa e mesmo com uma apresentação bem curta, a banda deixou sua marca e fez alguns novos fãs. Sem demoras e delongas, os músicos do Rage foram adentrando o palco pontualmente no horário marcado e logo que apareceram já rolaram gritos eufóricos que aguardavam o banho de música pesada que aconteceria naquela noite. “Justify”, faixa de seu mais recente álbum, “Seasons Of The Black”, abriu a apresentação com os fãs cantando a letra e acompanhando os acordes. Foi muito fácil para a banda ter o público nas mãos, dominar a casa e fazer um dos shows mais aguardados dos úl- 172 -


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timos meses. Os veteranos Peter “Peavy” Wagner (baixo e vocal), Vassilios “Lucky” Maniatopoulos (bateria) e Marcos Rodriguez (guitarra e vocal) não decepcionaram trazendo outros sons muito aguardados como “Sent by the Devil”, “From the Cradle to the Grave”, “Deep in the Blackest Hole”, “Don’t Fear the Winter”, dentre tantos outros sucessos da carreira extensa com mais de 30 anos da banda. O final do show trouxe “Higher Than the Sky” e contou também com uma homenagem ao grande mestre Dio, com um grande destaque ao guitarrista Marcos Rodriguez. É fato que a banda tem um público consolidado no Brasil desde os anos 80, já que passou algumas vezes por aqui. Que venham mais vezes, pois os fãs já os aguardam! Delta Setlist Cashbreaker Desire Within Alone Who I Am Rage Setlist Justify Sent by the Devil From the Cradle to the Grave Season of the Black Nevermore Deep in the Blackest Hole End of All Days The Price of War Blackened Karma Don’t Fear The Winter Encore: Higher Than the Sky / Heaven and Hell / Holy Diver / Higher Than the Sky

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