Revista Rock Meeting #29

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CONTENTS 05 Doomal - nova coluna 08 Van Halen - o retorno 14 World Metal 18 capa - Lei do Cão 24 Whipstrike e Farscape 32 Black Sabbath - Iommi 35 Vida de Músico 39 O que estou ouvindo?

EXPEDIENTE Direção Geral Pei Fon

Pei Fon

Revisão Yzza Albuquerque Capa Pei Fon Equipe Daniel Lima Jonas Sutareli Lucas Marques Pei Fon Yzza Albuquerque Colaboradores Breno Airan João Marcello Cruz Rodrigo Bueno Thiago Santos (Ilustração) Agradecimentos Jonathan Canuto CONTATO Email: contato@rockmeeting.net Facebook: Revista Rock Meeting Twitter: @rockmeeting Veja os nossos outros links: www.meadiciona.com/rockmeeting

Farscape | Whipstriker


EDITORIAL

O Tempo

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om o início de 2012, não é difícil pensar sobre o tempo. O tempo em que você planeja acontecer algo. O tempo que você deve estar contado para chegar aquele determinado dia. O tempo que ajuda e desfalece sonhos. Ficamos a perguntar se há tempo para tudo, se há tempo para concretizar ideias, quando você nem acredita que tem tempo. Em alguns momentos da vida, só o tempo cura o passado. Será? Não se aprofundando nesta questão, até pelo seu

critério sentimental e bastante pessoal. Mas o tempo ajuda ou prejudica as bandas? Tempo e música andam juntos. Quanto mais tempo de banda, a música vai se tornando melhor? Bandas novas são sinônimos de que a qualidade sonora não é satisfatória? Há quem discorde de ambas as questões levantadas. Antigas ou não, o tempo se torna um entrave para quem deseja dar continuidade ao trabalho. Mas sabe de uma coisa? Não se preocupe com o que está por vir. Faça assim: veja o que tens hoje. Enumere. Faça uma relação de prioridades. Cumpra as que puderem ser feitas hoje. As que ficarem, deixe para amanhã. Preocupe-se com o hoje. Faça o seu melhor, hoje. É bem certo que gostaríamos de segurar o tempo, para que não fossem embora os bons momentos, muito embora, às vezes, o melhor é que passe o mais depressa. Independente da sua razão, não limite-se ao passado, nem ao futuro. Faça ainda hoje!


Por Rodrigo Bueno

(Funeral Wedding | requiem@funeralwedding.com)

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alar sobre o estilo mais “maldito” do Metal seria um pouco comum demais, vide que existem diversos sites do estilo e também o Wikipédia, onde o interessado poderá facilmente encontrar informações suficientes para isso. Então, resolvi começar este texto de uma forma incomum, e talvez o leitor se identifique com essa forma de abranger o estilo conhecido como Doom Metal. O meu primeiro contato com essa sonoridade lenta ocorreu em 1993, após algumas trocas de gravações em fita k7 com alguns amigos, e eis que cai em minhas mãos o álbum “Gothic”, do Paradise Lost. Ao chegar em casa, no final da tarde, e colocar a fita pra rolar, comecei a achar interessante esse estilo musical, que, para mim, era novidade, pois estava acostumado a coisas rápidas e cruas do Grind/Crust, e tão logo a terceira faixa começou, caí no sono. No outro dia, logo após o almoço, resolvi dar uma nova chance ao gênero, e digo que foi amor à segunda ouvida. A minha sede pelo novo estilo musical ia aumentando, e nessa época, ou se tinha dinheiro para comprar os LPs (pois CD era coisa de “gente rica”), ou torcia para um amigo conseguir uma cópia e ir na casa dele gravar para você também. Logo no início de 1994, um amigo veio passar as férias na casa dos avós, e me convidou para irmos à loja de discos, comprar algumas coisas. Lembro de ele ter comprado um Darkthrone e o essencial álbum do My Dying Bride, “As the Flower Withers”. Voltamos para minha casa e passamos a tarde ouvindo essa obra-prima do Doom Metal, e fiquei boquiaberto com aquelas inserções de violino e andamento moroso. Com o passar do tempo, novas bandas foram vindo, e o que era apenas um estilo musical que me agradava aos ouvidos foi se tornando uma obsessão, além de ser aquele companheiro para os momentos de solidão.

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A cada contato novo, uma banda ia descobrindo, a cada página folheada na revista, novas bandas iam surgindo, pessoas novas em meu círculo de amizades e novas gravações em k7 iam sendo trocadas, e eis que um disco primoroso do Doom Metal nacional cai em minhas mãos e passa uma boa temporada em minha casa: Pentacrostic, “The Pain Tears”. Após algumas decepções em minha vida, fui convidado por alguns amigos para tocar no que seria minha primeira banda de Doom Metal. Fiquei pouco tempo na banda, e mesmo assim continuei apoiando os meus antigos companheiros e indo a shows. Lamento-me por não ter assistido um em especial, que foi quando o Gory Host (antiga banda de Doom Metal curitibana) tocou em minha cidade, e eu, por motivos financeiros, não pude prestigiar Os anos se seguem, e no início de 1997 tive a oportunidade de assistir o Eternal Sorrow tocar em minha cidade, banda que eu já havia ouvido falar a respeito numa resenha na Rock Brigade, anos antes, sobre sua demo, que havia sido lançada. Assistir toda aquela melancolia ao vivo foi o ápice, e, ainda por cima, presenciar a execução de “Sear Me” foi um convite para ir bater cabeça. Em conversa com alguns amigos, ficou decidido “remontar” a falecida banda, e desta vez levaríamos a sério o que antes era apenas uma diversão de final de semana. Encontramos pessoas fora do nosso círculo de amizade que completariam e consolidariam a formação. Após tempos trancados em nossa sala de ensaio, após alguns primeiros shows, eis que realizaríamos um dos mais bem sucedidos shows por essas terras, tocando ao lado do Eternal

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Sorrow e do Necrotério. Meses após o lançamento da primeira demo, faríamos novamente um show, que contava com uma das bandas de Doom mais apreciadas na cidade, vinda de Cascavel, a Lugubrious Hymn. Esta tem em seu som uma forte influência de Candlemass/Solitude Aeturnus, e conta com uma sonoridade particular, com ainda a inclusão de teclados e violinos, ambas executadas pelo vocalista Wander’son. Alguns anos se passaram e a pouca informação sobre o estilo me levou à criação do meu webzine, “The Book of Faustus”, que era dedicado ao Metal extremo (Death/Black/ Doom). Com um pequeno descontentamento com os rumos que a cena estava seguindo, decidi por extingui-lo. Alguns meses se passaram e cartas ainda continuavam a chegar, então resolvi me dedicar somente ao Doom, com o nascimento do Funeral Wedding Webzine, mas, devido à falta de tempo, por causa do trabalho exaustivo em qual me encontrava, me vi obrigado a parar com ele. Como nem tudo são flores nos caminhos dos doomers, minha banda chega ao fim, anos depois, e recentemente fiquei sabendo do fim da Lugubrious Hymn. Seus ex-membros montaram outros projetos voltados ao Thrash e sonoridades bem distantes do Doom de outrora. Nesse meio tempo, mais algumas bandas sucumbiram, outras surgiram, e novos estilos foram aparecendo dentro do Doom. É isso que vamos discutindo nos próximos meses: sobre esse melancólico estilo dentro do vasto cenário musical.

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Enfim, Van Halen! A banda volta com tudo este ano, com CD novo e turnê que já começa este mês. Este é o primeiro álbum de inéditas com David Lee Roth nos vocais em 27 anos Por Breno Airan (@brenoairan | brenoairan@hotmail.com)

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nquanto o pequeno Edward Lodewijk Van Halen entregava jornais pela cidade holandesa de Nimegue, quase que fronteira com a Alemanha, seu irmão, dois anos mais velho, se aproveitava de sua ausência e despedaçava suas baquetas na bateria do outro. Alex Arthur Van Halen tinha ganhado uma guitarra, mas gostava mesmo era do batuque, da percussão. Num dos dias em que Eddie encaminhava seus periódicos, Alex se empolgou. Havia deixado de lado para sempre aquele instrumento de seis cordas. Então, Eddie chegou em casa mais cedo e pegou o irmão em flagrante. Inconformado, ele só disse: “Beleza! Agora vou tocar na sua guitarra!”. E assim fez-se a troca. Ademais, os dois eram filhos do músico Jan Van Halen, a quem ambos devem os primeiros ensinamentos, já que desde cedo foram acompanhados nesse âmbito, ao som de muita música clássica e teclares de piano. Em 1974, os irmãos resolveram fazer uma banda com estilo um tanto diferente e a história rumou ao sucesso. Eis que então, em 2006, o filho de Eddie, o pequeno Wolfgang, entra para o grupo. Mais um Van Halen na linhagem real do Hard Rock. Cinco anos depois, o primeiro CD com essa formação: Eddie, nas guitarras, Alex, na bateria, Wolfgang, no baixo, e a volta de Diamond Dave aos vocais, depois de 27 anos de ausência. O último play que David Lee Roth cantou com a trupe foi o aclamado “1984”, recheado de megahits, como “Panama” e “Jump”.

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E com a saída de Sammy Hagar e de Michael Anthony, hoje, respectivamente, vocalista e baixista do supergrupo Chickenfoot, a hora de recomeçar parecia a ideal. Só que essa hora se estendeu por dias, meses e anos. Em 2007 e 2008, o Van Halen voltou com tudo, tocando apenas canções da era Lee Roth. O público aprovou, mas notou a falta dos backing vocals marcantes de Michael Anthony. Nesse ínterim, de 2008 a 2012, o filho pródigo da família, o quase ex-gordinho Wolfgang, aprimorou as técnicas ao longo do tempo e tem se mostrado bem eficiente nas linhas de baixo e coros com Diamond Dave. A prova se deu em recente show, numa quinta-feira à noite, dia 5 de janeiro, na boate Café Wha?, em Manhattan, que contou com a presença de 250 “fãlizardos”. A apresentação durou pouco mais de 45 minutos e mostrou um Wolfgang mais afiado e mais magro, um Eddie com cabelo maior, um Lee Roth sem costeletas e um Alex... Bem, desengonçado, como sempre. O espetáculo serviu de promoção para o que estava por vir. Neste mês de fevereiro, no dia 7, será lançado o “A Different Kind of Truth” (em tradução livre, “um tipo de verdade diferente”). Ainda no dia 10 de janeiro, o público pôde conferir o primeiro single, chamado “Tattoo”, com uma nuance “aproveitada” de uma track nunca lançada oficialmente, a “Down on Flames”, que tem registro bootleg de um show de réveillon de 1977. O refrão de “Tattoo” fica por duas semanas na cabeça do ouvinte; não é bem um clássico, mas é Van Halen. Já “She’s the Woman”, apresentada ao vivo no show particular no Café Wha?, é claramente a regravação de uma demo de 1974. Uma pérola. Começa com tudo, virtuosismo querendo

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fluir. No final das contas, é impossível ficar inerte diante da pegada da “cozinha”. Essa música fazia parte do “Zero”, um CD demo que o baixista do KISS, Gene Simmons, bancou e produziu – foi ele quem descobriu a banda em uma boate qualquer. Não deu muito certo, porque as gravadoras, à época, não se interessaram. Quatro anos mais tarde, o quarteto seria (re)descoberto e inundariam o cenário musical com uma larva gosmenta, que não saía aos ouvidos. Era a instrumental “Eruption”, a qual elevou Eddie Van Halen ao patamar de virtuose ainda no primeiro álbum. A habilidade dele nas seis cordas continua – e como. Além dessas duas, “Tattoo” e “She’s the Woman”, há, ainda, mais 11 canções inéditas. Na edição de luxo, intitulada “The Downtown Sessions”, haverá um DVD bônus com versões acústicas para “Panama”, “Beatiful Girls”, “You Really Got Me”, cover do The Kinks, e a nova “You and Your Blues”. A turnê, que já começa em 18 de fevereiro, na cidade de Louisville, no estado americano de Kentucky, deve seguir até o final de junho – a banda que vai abrir os shows da família Van Halen é o grupo de Funk/Soul Kool and the Gang. Agora, é torcer por uma passagem singela pelo Brasil. Bagagem, eles já têm há muito...

Faixas: 01. Tattoo 02. She’s The Woman 03. You and Your Blues 04. China Town 05. Blood and Fire 06. Bullethead 07. As Is 08. Honeybabysweetiedoll 09. The Trouble With Never 10. Outta Space 11. Stay Frosty 12. Big River 13. Beats Workin’ 12


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Alice Cooper ao vivo O cantor e compositor Alice Cooper está em ótima fase. Ele acabou de lançar seu “Welcome 2 My Nightmare”, um bem-vindo álbum de inéditas, e agora põe no mercado mais um CD, dessa vez duplo. “No More Mr. Nive Guy Live!” chega às lojas no dia 13 de fevereiro. O espetáculo foi registrado no dia 29 de outubro do ano passado, em Londres, e reavivou clássicos (quase) esquecidos como “Clones (We’re Are All)”, “Cold Ethyl” e “Halo Of Flies”. Accept: anunciada data de lançamento de “Stalingrad” Accept lançará seu novo álbum, “Stalingrad”, no dia 6 de abril via Nuclear Blast Records. O CD foi novamente dirigido pelo produtor britânico Andy Sneap (Megadeth, Exodus, Nevermore, Arch Enemy), que trabalhou no álbum aclamado pela crítica que marcou o retorno da banda, “Blood Of The Nations”. Comentou o guitarrista do Accept Wolf Hoffman: “O Accept e Andy Sneap tem a sinergia perfeita. Isso ficou tão claro no ‘Blood Of The Nations’ e estamos animados por continuar nesse caminho. O Andy não é só um produtor incrível e prolífico mas também um grande amigo que há tempos se tornou um membro da família Accept.”

100x Japão Os hard rockers do Mr. Big acabaram de lançar, no dia 25 de janero, seu mais recente DVD. “Raw Like Sushi 100” marca as cem apresentações da banda feitas na terra do sol nascente. O showícone foi realizado e filmado no dia 7 de abril do ano passado, em Osaka. O pacote sai ainda com dois CDs e um outro DVD - um documentário sobre as passagens do grupo pelo Japão. O áudio de “Live In The Living Room”, registro acústico dos ‘grandes senhores’, também está incluso.

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Monstruosamente épico Os mascarados do Kiss terminaram em meados de janeiro a gravação do novo álbum, que se chamará “Monster”. O vocalista Paul Stanley emitiu em nota que “todos que ouviram as músicas firam entusiasmados. É um disco poderoso, pesado, melódico e épico”. As mixagens das canções já começaram a ser feitas. Ademais, pelo título de algumas das faixas – “Shout Mercy”, “Out Of This World”, “Wall Of Sound”, “Hell Or Hallelujah”, “It’s A Long Way Down” e “Back To The Stone Age” -, algo pomposo vem por aí. Rolling Stones na estrada Em 2012, os Rolling Stones completam nada menos que 50 anos de carreira – musical, claro. A banda está parada no momento, mas o baterista Charlie Watts deu algumas pistas sobre uma possível turnê comemorativa em recente entrevista à BBC: “Seria adorável fazer isso e celebrar a data. Todos ainda estamos tocando, o que é um feito [e tanto] na idade que nos encontramos”. No começo de janeiro, o guitarrista Keith Richards, de 68 anos, teve de fazer uma cirurgia num dos olhos.

Abbey Road to the top O vinil mais vendido do ano de 2011 foi o “Abbey Road”, dos Beatles, datado de setembro de 1969. A obra teve mais de 41 mil cópias comercializadas em formato Long Play (LP) para os fãs que reverenciam a fase derradeira dos Fab Four.

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Kreator kriando A banda de Thrash Metal alemã Kreator entrou em estúdio em janeiro para dar vida ao novo trabalho. As baterias das primeiras tracks já foram gravadas no Studiomega, na Suécia, onde o grupo deve se centrar nos próximos meses. O lançamento deve ocorrer em meados deste ano.


Na palma da mão Com o novo CD em mãos, os integrantes da banda Napalm Death devem lançar no mercado “Utilitarian” no dia 27 de fevereiro. A capa – sempre o ponto culminante de cada trabalho – ficou a cargo de Frode Sylthe, que já trabalhou com o The Haunted.

Metallica em 3D Integrante do Big Four, o Metallica já está aprontando material inédito que pode ser considerado um novo Black Album, contudo, mais pesado, segundo os integrantes da banda. Em entrevista, o baterista Lars Ulrich comentou que “já há de sete a oito músicas prontas. É algo mais groove, uma versão mais heavy do que fizemos nos anos 1990. Estamos indo mais direto ao ponto”. Para completar, foi anunciado lançamento para 2013 de uma película em três dimensões sobre a banda.

Unisonic e Gotthard em São Paulo O Unisonic, que conta com Michael Kiske (vocal, ex-Helloween), Kai Hansen (guitarra, Gamma Ray, ex-Helloween), Mandy Meyer (guitarra, exGotthard e Krokus), Dennis Ward (baixo, Pink Cream 69) e Kosta Zafiriou (bateria, Pink Cream 69), promove o EP “Ignition”. Já o grupo suíço Gotthard fará a estreia do novo vocalista, Nic Maeder, substituto de Steve Lee, que faleceu em um trágico acidente. Serviço: Atração principal: UNISONIC Special guest: Gotthard Data: 18 de maio (sexta-feira) Horário: Portas – 20h / Show Gotthard– 21:30 h / Unisonic – 23:00 h Local: HSBC Brasil 16



Por Jo達o Marcelo Cruz (@jota_m | jomarcelo_@hotmail.com) Fotos: Pei Fon (@poifang | peifang@rockmeeting.net)

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A noite do cão! E

stava tudo certo (ou errado) para que esse show não se realizasse aqui em Maceió. Mas, como em um jogo de futebol, aos 45 do segundo tempo, fiquei sabendo que o show iria rolar, graças ao empenho e a cooperação de algumas pessoas com boa vontade. O show, que estava previsto para a sexta-feira (20), foi confirmado na quarta-feira (18). Loucuras que só acontecem no Hardcore, né? Dois dias de divulgação via Internet foram o suficiente. Por uma coincidência, aconteceu que, de última hora, surgiu a possibilidade do gig se realizar no novo espaço da cidade, o bar da produtora de shows de Metal Black Moon. Era a inauguração do local. Além da Lei do Cão, a banda local de Punk/ Crust, Bico de Corvo, também iria se apresentar. Vale lembrar que o show foi gratuito. Para a minha surpresa, que cheguei mais cedo, ainda de tarde, para ajudar a levar uma parte do equipamento do som, o local estava realmente sendo aberto pela primeira vez, ou seja, não tinha sequer um balcão. Era simplesmente um espaço de uns 3x2 m², no máximo. Mas pude ver um pessoal empenhado em fazer com que esse Rock se tornasse viável. Às oito horas da noite, com duas horinhas básicas de atraso, o show estava para começar. E, com muita surpresa, diante do pouco tempo de divulgação, vi uma boa quantidade de pessoas no local. Entre punks e bangers, podia se contar cerca de 50 a 60 pessoas, sendo metade dentro do bar, e outra metade se esforçando pra ver alguma coisa do lado de fora.

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Infelizmente, a Lei do Cão se apresentou como um duo, já que o baixista teve que voltar pra Mossoró, porque não conseguiu uma liberação do trampo. E, sinceramente, parece que o baixo não fez tanta falta. A apresentação da banda foi bem energética, rápida e direta. Como deve ser. Com direito a um cover da banda americana Verbal Abuse. Cerca de 30 minutos de muito Thraaaaaaash! Nem mesmo os pequenos entraves com o som pareciam atrapalhar o culto que acontecia. Foi possível ver os jovens dançando e “pogando” dentro bar, e mesmo sem palco para pular, os moshes estavam lá, sejam vindos de baixo para cima, ou no inusitado pulo de uma plataforma que ficava em cima do banheiro. Uns 2 metros do chão. Eu já conhecia a banda de nome, mas nunca tinha parado para escutar. Na apresentação, pude ver que a banda transita bem entre o Hardcore, o Thrash, Crossover e o Fastcore. Não sou especialista no gênero, mas pra situar o leitor, as influências vão de D.R.I. à Hirax, de Municipal Waste à Infest, e um pouco Discharge. Entre as nacionais, podemos colocar eles ao lado de bandas brasilienses como DFC e Possuído Pelo Cão. E com aquele vocal característico, de frases curtas, que soa como uma pessoa doente vomitando. Pois é, esse ano até que já foi bem generoso, né?! Principalmente para os amantes do Thrash, seja ele Core ou Metal. No início do mês, já tivemos a dobradinha de Whipstriker com o Farscape. Agora, Lei do Cão e Bico de Corvo. Que o Satanás continue no caminho dos bangers, punks, thrashers e toda essa raça! E não para por aí não, logo, logo tem Grito Rock (e prévias). Fiquem espertos pra esse Rock and Roll!

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Infelizmente, não consegui ver a apresentação da Bico de Corvo. Nesse momento, aproveitei para conversar um pouco com os caras da Lei do Cão. Falamos rapidamente sobre como foi a tour e sobre os próximos planos da banda. Confere aí!

Entrevista____________________ Conta aí como surgiu a banda, um pouco da história... Phillipe – Na minha primeira banda, eu era o vocalista, daí eu montei o Catärro, e o Catärro acabou dando certo e tomando mais tempo, daí essa minha banda acabou morrendo, e eu sentia falta de cantar, compor e escrever. Aí, em 2006, eu tive a ideia de reviver essa banda, mas com outra proposta, um som mais misturado com Metal, meio Ratos de Porão, mais Thrash Metal. Daí eu joguei a ideia pro pessoal e a gente montou. Da primeira formação, só eu mesmo faço parte. Mas essa primeira formação foi a que gravou nossa primeira demo. E essa é a nossa segunda tour, em 2010 nós descemos pro Sudeste. Como foi a preparação da tour? Phillipe – Já faz uns três anos que a gente fez uma tour pelo Sudeste do Brasil. Fizemos Brasília, Goiânia, São Paulo e Rio de Janeiro. E a gente sempre quis tocar no Nordeste. Eu já tinha feito outra tour pelo NE com o Catärro. Isso em 2006. E foi a primeira tour que eu fiz com banda, aí depois disso eu me viciei, quer dizer, é muito bom sair por esse submundo do independente underground, do Hardcore/Punk. E pra fechar os contatos, as datas... Phillipe – Ano passado a gente tentou fechar 21


pra janeiro. Mas a gente teve muitos problemas com o baterista antigo, porque ele trabalha, e ficava difícil pra ele conciliar. A gente quase furou um show, mas numa doidêra, o Rômulo, baterista da banda Rótulo de Aracaju, escutou o CD e disse que desenrolava, e a gente foi pra Paraíba de carona. Agora, estamos com Tássio na bateria, e a ideia é conquistar o mundo. Sobre os contatos, alguns eu já tinha da época da tour com o Catärro, e os outros foram pessoas e amigos que me indicaram outras pessoas interessadas ou envolvidas com esse tipo de Rock, tudo pela Internet mesmo, por essa rede doida. E quanto às expectativas, como é sair de casa e fazer esse rolê todo de carro, nessa pegada do faça-você-mesmo? Phillipe – Quando a gente tá saindo de casa, as expectativas são sempre as melhores, né. Mas tour é sempre feita de altos e baixos, né, tem hora que a gente tá no sufoco, acaba a grana, teve esse lance do nosso baixista ter que voltar pra trabalhar, porque o chefe não liberou, mas amanhã ele tá voltando pra tour. Tá saindo agora (dia 20) de Mossoró pra continuar a tour em Aracaju. Enfim, mas a maioria é de momentos bons. Só de a gente não estar trabalhando, enfurnado dentro de um escritório, estar viajando, conhecendo gente nova pelas cidades, lugares diferentes, isso é muito bom, e faz nos sentir mais vivos. E esse lance é viciante! Tássio – O problema de turnê é que você acaba passando muito tempo com seus amigos, e pelo estresse da tour acaba rolando uma briguinha ou outra. É como o Phillipe falou, tem muitos altos e baixos. Mas, “mermão”, você está com os amigos em uma turnê, e você se foder com eles é a melhor coisa, bicho! Como você disse, essas turnês são cheias de altos e baixos. Fala aí qual foi a maior doidêra da tour até agora? 22


Tássio – Foi ter que andar uns dois quilômetros no sol, a pé, atrás de um açaí que, chegando lá, a galera viu que tava fechado (risos). Phillipe – Também teve uma hora, quando a gente estava voltando de carro pra casa do pessoal que organizou o show em Recife, numa BR escura que a gente não conhecia, a gente passou num buraco que amassou a roda do carro e rasgou o pneu, aí a gente teve que trocar. A gente não sabia onde tava, mó escuridão, era umas 2 ou 3 horas da manhã... Bateu um desespero, saudade da mãe (risos). Ah, também tem as brigas com a namorada, né (risos). E depois desse rolê, quais próximos planos da banda?

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Phillipe – A gente acabou de lançar em 2010 um Split vinil sete polegadas com uma banda húngara chamada Crippled Fox. O disco foi lançado por um selo na Hungria e distribuído em alguns países da Europa, também teve um selo da Itália, e também por um selo de um cara da Califórnia, a Suburban White Thrash Records. E aqui, no Brasil, pelo nosso selo, o Hiroshima Records, lá de Mossoró. Pegamos algumas cópias da prensagem de 1.000, e pretendemos pegar mais uma quantidade pra distribuir. Depois da divulgação desse disco, agente vai lançar um Split com uma banda de São Paulo, o Violent Illusion. As músicas já estão gravadas, só falta empenho nosso, correr atrás de lançar. Eu também pretendia lançar até julho um disco début nosso, um 12 polegadas, com umas 20 músicas. Nessa pegada que agente tá agora, uns Hardcore dos anos 1980, uns Hardcore/Thrash, na linha de Poison Idea, Discharge.

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Pra finalizar, fala aí um pouco sobre o que você tem visto e escutado das bandas do Nordeste. Phillipe - Desde 2007, 2008, eu vejo que o Hardcore deu uma caída de banda, nessa época tinha umas bandas bem legais, como o La Revancha, Nerds Attack, Alarme. Mas hoje em dia parece que tá melhorando. Eu boto muita fé aqui nas bandas do Nordeste, tem a Robot Wars, de Aracaju, de Mossoró tem o Mahatma Gangue, e o Catärro, que tá voltando. Em Fortaleza, tem os brothers da gente do Skate Pirata, o Diagnose, o Facada. Tem o DDA, que é uma banda nova, tem Derrotista, lá de Campina Grande, que foi um dos shows que a gente mais gostou na tour. Tem mais banda aí, mas é que eu não tô lembrando agora.


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EM MACEIĂ“ Por Daniel Lima (@daniellimarm | daniel@rockmeeting.net) Fotos: Pei Fon (@poifang | peifang@rockmeeting.net)

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pontapé inicial foi dado para os eventos underground em Maceió, em 2012. As bandas que fizeram o público largar a poltrona no domingo (08) e comparecer ao Kfofo, o velho lar dos shows de Rock na capital alagoana, foram as alagoanas Introspection, Morcegos e as cariocas Farscape e Whipstriker. E como já é de costume, o show iniciou com certo atraso, mas com uma apresentação impecável da banda alagoana Introspection. A banda tem a presença de três integrantes que valem por uma orquestra. Tocando músicas próprias, eles fizeram um show com muita energia e porrada. Em seguida subiu ao palco do Kfofo a banda Morcegos, que já tem mais de duas décadas de estrada. Uma grande novidade ficou por conta da nova formação,

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com Virgínio Gouveia (baixo), Mikhail (baterista) e Frankstone (guitarra/ vocal). O circle pit começou e o público correspondia à banda. Eles também fizeram um show com músicas próprias, como já é de costume, e com a mudança vieram os comentários entre os presentes de que a banda estava de parabéns com a nova formação, o que mostra que o público está apoiando o grupo em qualquer adversidade que ele venha a ter. A primeira banda carioca a tocar foi a Whipstriker. Para sintonizar quem não conhece o trabalho dos caras, vai bem pela linha do Motörhead, um Rock and Roll com muita porrada. Foi a primeira apresentação da banda em Maceió, e eles mostraram o que vieram fazer na terrinha. A bagaceira foi grande. Eles trouxeram material para venda, além de CDs próprios, trabalhos de várias outras bandas. Uma banquinha recheada de CDs, camisas e vinis. Essa é uma iniciativa que deveria ser adotada com mais frequência nos shows que rolam em Maceió. Eles passaram com uma turnê que vai estar em várias cidades nordestinas. Whipstriker tinha um repertório que também forma de músicas próprias,

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e, ao encerrar, a banda foi bastante aplaudida pelo público, que realmente compareceu com todo o gás. Para encerrar, Farscape trouxe seu som mais acelerado. Um detalhe chamou bastante a atenção das pessoas: são os mesmos caras? Sim, Farscape e Whipstriker são formadas pelas mesmas pessoas, mas no show em questão, com a ausência de um dos guitarristas, que não pôde estar nesta turnê. No Whipstriker, quem canta é o baixista, e no Farscape, o guitarrista. O público parecia que iria morrer no dia seguinte: pancadaria fervendo e a banda correspondendo em cada música. Era como se a banda desse o comando e dissesse para os presentes que “estava na hora da porrada”, e eles imediatamente atendiam e giravam no circle pit. Farscape faz um gênero musical que é bastante comum e que agrada bastante os frequentadores do underground alagoano. Eles passaram em 2011 pelo Nordeste, mas, infelizmente, não estiveram aqui. Eles também fizeram 26 shows na Europa. O Farscape encerrou o show três vezes, porque, sempre que terminavam, o público pedia mais uma e a banda cedia


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aos pedidos, para que então pudessem encerrar a apresentação, bastante aplaudida. O juiz apitou e este jogo chegou ao seu fim, mas logo virão outros para agitar os alagoanos. O que virá? Calma, 2012 acabou de começar e muitas novidades estão por vir. Os responsáveis por eventos em Maceió já começaram a se movimentar para que mais eventos aconteçam para todos os públicos do Rock, em Alagoas, no primeiro semestre, mas até o final do ano muita coisa ainda vai acontecer. Este ano promete muitas surpresas. Assim como nos anteriores, basta aguardar. Quem sabe se a banda que você tanto quer ver ou rever passará pela terrinha, para a alegria de todos? Sem contar as dezenas de shows das bandas locais, que sempre animam os finais de semanas. É só esperar.

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FORÇA, IRON MAN! Há pouco, o mundo do Metal se viu diante de mais um dilema: Tony Iommi, guitarrista do Black Sabbath, com câncer. Energia positiva dos fãs é o que não falta Por Breno Airan (@brenoairan | brenoairan@hotmail.com)

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epois do anúncio, no dia 11/11/11, sobre a volta da formação original em definitivo da banda precursora do Heavy Metal, o Black Sabbath, os fãs souberam que o mundo não iria acabar tão cedo, como teriam previsto os maias – ou que, pelo menos, ele acabasse somente depois da turnê que o quarteto deve fazer. Só que um imprevisto aconteceu. Não um mau agouro, pelo contrário. O guitarrista Tony Iommi, dono de alguns dos riffs mais marcantes da história da música, foi diagnosticado no começo do mês de janeiro com câncer; um linfoma, que é um tumor que atinge os gânglios linfáticos. Ele, aos 63 anos, soube da doença ainda em seu estágio inicial, o que aumenta exponencialmente as chances de cura. Iommi está confiante, e quer, mais do que nunca, voltar com a banda para a estrada após lançar novo álbum, sem data ainda definida. Em entrevista, antes de descobrir o câncer, comentou: “Essa é a hora. É agora ou nunca. Estamos todos muito motivados”. A hora, no entanto, vai tardar. O que seria a reestreia do Black Sabbath, no dia 18 de maio, em Moscou, na Rússia, pode ser adiada; quanto mais no Coachella Valley

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Music and Arts Festival, que acontece em abril, na Califórnia. O grupo seria um dos headliners, mas foi cortado por conta da doença do guitarrista, o qual segue discutindo com seus médicos qual seria a melhor forma de tratamento. Na outra ponta do iceberg, os números. Em se tratando do contexto mercadológico, os veteranos deveriam faturar cerca de 150 milhões de dólares nessa nova turnê, se tudo estivesse encaminhado. Mas as coisas têm de mudar e ficar a favor do enfermo. E foi o que fez o produtor Rick Rubin, que já trabalhou com o Metallica e o Slayer. O novo disco de Ozzy Osbourne (vocais), Geezer Butler (baixo e backing vocals), Bill Ward (bateria) e Tony Iommi, que seria gravado em estúdios de Los Angeles, vai ser agora registrado em Londres, para maior comodidade ao mestre das seis cordas – o primeiro de inéditas com a formação áurea desde “Never Say Die!”, de 1978. Fãs de todo o mundo rezam pela melhora de Iommi. Inclusive, um deles criou um e-mail, a fim de que as pessoas enviem mensagens de apoio ao músico para getwelltony@black-sabbath.com – escritas em inglês, claro.


Afora, alguns ilustres, em redes sociais, já prestaram seus votos: Tommy Clufetos (Ozzy Osbourne, Rob Zombie, Alice Cooper): “Todas as minhas vibrações positivas a Tony Iommi por uma recuperação rápida e saudável. Uma verdadeira lenda do Rock”. Frank Bello (Anthrax): “Fique bom logo, Tony”. Glenn Hughes (Deep Purple, Black Sabbath, Black Country Communion, Glenn Hughes): “Rezem pelo meu irmão Tony Iommi. Pedimos uma recuperação rápida e completa. Muito amor”. Gus G. (Firewind, Ozzy Osbourne): “Estou chocado com as notícias sobre Tony Iommi. Fique bom logo! Sou seu maior fã”. Angela Gossow (Arch Enemy): “Muito triste com o diagnóstico de câncer em Tony Iommi. LUTE! Você nunca sabe o que o futuro lhe reserva. Viva e ame cada dia”. Richie Faulkner (Judas Priest): “Meus pensamentos vão para Tony Iommi. Desejolhe uma rápida e completa recuperação”. Michael Amott (Arch Enemy, Carcass): “Esperando uma sólida e rápida recuperação ao meu guitar hero, Tony”.

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Bio Se o leitor se interessou e quer saber mais sobre a vida e obra do guitarrista, Tony Iommi lançou em outubro último sua biografia, chamada “Iron Man: My Journey Through Heaven And Hell With Black Sabbath” (algo como “Homem de Ferro: Minha Jornada Através do Céu e do Inferno com o Black Sabbath”). Há dois formatos de capas. 34


Webs贸dio #1: Vida de m煤sico em Alagoas Saiba porque este jovem m煤sico decidiu contar um pouco de sua hist贸ria e compartilhar na web.

Texto e Fotos: Pei Fon

(@poifang | peifang@rockmeeting.net)

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Perfil: fale um pouco de você. Nome, idade, o que gosta de ouvir, como gostou de guitarra, referências, shows incríveis, sonhos. Resumidamente. Eduardo Henrique Silva, 24 anos, gosto de ouvir tudo o que possa passar uma mensagem musical. No início, eu queria um baixo, mas juntava o dinheiro do lanche do colégio pra comprar minha primeira guitarra aos 15 anos. Minhas referências: minha escola é o Hard Rock e o Metal. Meu sonho é que o músico seja respeitado e valorizado no Brasil. Sou guitarrista da banda La Madre, sideman de Millane Hora e possuo um projeto instrumental chamado FAT SOUND, que acumula duas edições seguidas do Femusesc. Há um teaser rolando no Youtube sobre a sua intenção de contar a sua história como músico em Alagoas. Como surgiu essa ideia? E qual a finalidade dos websódios? Fui inspirado por uma outra série, o Diário de um Pianista, do jovem filho de Otávio Mesquita, John Blanch. Ele é um pianista virtuose que ingressou na mais renomada escola de música de Paris e está dividindo suas experiências no mundo erudito. Pedi e consegui a permissão dele em formar uma série com a mesma essência, mas mostrando o lado popular do cara que é músico autodidata, que ralou pra ter seu primeiro instrumento, que sofreu na mão de uma família que só o apóia (e mal) após dez anos do primeiro acorde. Eu estou há quase três anos tocando profissionalmente e não gosto de rotina. Todo o final de mês é horrível, porque tudo é incerto, por mais que você tenha tocado muito. Todo mês você tem que correr atrás de mais shows, nas mesmas casas, e por mais que você já esteja com sua banda estabelecida, sempre vai haver alguém que toque por metade do seu preço, e, mesmo você sendo bom e se o cara mais barato for uma porcaria, em alguns locais de eventos ao vivo, o dono vai optar pelo mais barato, algo que desestimula e faz tantos músicos excelentes saírem de Maceió falando mal, inclusive, do próprio estado.

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Dificuldades sempre existem e seu sonho é seguir carreira como músico. O que falta em Alagoas, na sua opinião? Para tudo existe dificuldade. Meu objetivo é mostrar as dificuldades e propor uma reflexão, seguida de uma mudança. Meu sonho, como já disse, é que seja possível ser valorizado como músico em Alagoas, mas estudo arquitetura, e meu sonho é conciliar as duas carreiras. O que falta em Alagoas são eventos corriqueiros, com o objetivo de formar público. Já toquei com o FAT SOUND pelo Sesc no interior, em um projeto chamado Cirsculação Sesc de Música Alagoana, junto a dois cantores: Rodrigo Avelino e Millane Hora. O respeito que deram ao FAT SOUND foi incrível. Já toquei, inclusive, algumas músicas do FAT SOUND nos locais em que a La Madre toca, e éramos ovacionados. Vejo que o público que aprecia e é capaz de consumir a música feita aqui existe. Falta divulgação e manutenção.

Sendo filho de uma pianista e sem o apoio familiar, o que te motiva a continuar na música? Mostrar que é possível conseguir ser feliz com uma guitarra na mão, em meio a tantos impedimentos.

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Há poucos músicos instrumentistas que mostram o seu trabalho. Seria o websódio sua porta para mostrar o que sabes? Gostei do nome “websódio”! Ele é uma amostra do caminho que eu estou trilhando, e mostrará os processos de composição e gravação do CD do FAT SOUND no FAT SOUND STUDIOS, feito de forma completamente independente e caseira, mas com uma qualidade absurdamente incrível. Muitos instrumentistas usam o Youtube para mostrar seus trabalhos. Eu sou apenas mais um. Meu diferencial é que eu estou mostrando um trabalho em construção, não um making off da obra já pronta, e espero que isso possa despertar o interesse de outros músicos a dividirem seus caminhos, também! Por fim, na sua avaliação, é possível viver de música em Alagoas? Sim. Devemos sempre buscar nosso espaço e agradecer aos parceiros que nos dão esse espaço. Obrigado, Rock Meeting! Vocês estão comigo desde o início, e eu me sinto na obrigação de fazer um trabalho bem feito à altura da qualidade da revista! Espero que, em breve, possamos falar sobre o primeiro CD do FAT SOUND! Valeu!

Fat Sound - (esquerda para direita - Diego Monteiro, Ivalter Júnior e Edu Silva)

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Raimundos

Daniel Lima (@daniellimarm | daniel@rockmeeting.net)

Este mês, ouvi bastante um CD-DVD chamado “Roda Viva”. Ele é da banda Raimundos, que se consolidou em 1992 e gravou seu primeiro álbum em 1994. Do início até hoje, foram nove álbuns e um EP que saiu apenas na internet. A introdução chamada “Roda Viva”, seguida por “Fique Fique”. Depois vem “Esporrei na Manivela”, música que até quem não ouvia Raimundos sabia cantar, por causa da pornografia contida. A quarta faixa se chama “Jaws”, que é do EP lançado para download. Está uma música que não tem uma pegada Raimundos e que com certeza surpreendeu pelo peso da guitarra e o pedal duplo, que me deixou bastante feliz com o desempenho da mesma. “Marujo” é do primeiro disco e tem uma frase muito peculiar: “O Raimundos nunca vai se acabar”. Depois vem “Rapante”, que também é do primeiro álbum e mostra a influência de Zé Nilton, para que venha a porrada. Este é um bom exemplo para entender o estilo que muitos chamam de Forrócore. A sétima música se chama “Opa! Peraí Caceta”. “Pompem” é do aclamado álbum “Só No Forevis”, que teve um caminhão de CDs roubado na época do lançamento. “O Pão da Minha Prima” vem em seguida. A nona música dispensa apresentações: “Mulher de Fases”, que foi tocada em diversos ritmos, e nem preciso contar o resto. A

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décima é “Palhas do Coqueiro”, que conta a história do corno que espera pela mulher. Clássico. Assim como a anterior, “Bê a Bá” é do primeiro álbum. Depois, eles tocam “Macaxera”, uma das minhas preferidas, já que é rápida e consistente. Para encerrar o disco 1, “Pintando no Kombão” é uma porrada para não deixar ninguém parado. O disco 2 começa com “Aquela”, simples e clara. A segunda é “I Saw You Saying”, que fez bastante sucesso. “Me lambe” tocou bastante e foi uma das músicas a ter um videoclipe gravado. “A mais Pedida” tem a participação da Érika (Penélope) na gravação do CD e também tem videoclipe. “Mas Vó” tem a cara de um diálogo. “Reggae do Maneiro” é uma das inéditas do ao vivo lançado pela MTV, em 2000. “Tora Tora” vem depois. Um dos maiores clássicos da banda vem em seguida, “Eu Quero Ver O Oco”. “Deixa Eu Falar” é um protesto contra a mídia, que ainda usa a censura. Apesar de ser de 1999, a letra continua bem atual. “Kavookavala”, “Baixo Calão” e “Puteiro em João Pessoa” são as últimas faixas. Este álbum é muito bom, e com certeza deixou bem claro para os pessimistas que “O Raimundos nunca vai se acabar”, foi mau aí. A banda está muito boa, espero poder ver um show dessa turnê, e, se possível, acrescentar só mais umas duas músicas, entre elas “Nariz de Doze”. São tantos clássicos, que, com certeza, foi difícil tomar a decisão de quais músicas estariam presentes neste álbum, mas independente de querer uma ou outra que não está, o Raimundos está mais forte que nunca. Vamos esperar pra ver se eles passam por aqui em 2012. E mais uma vez, como não pode faltar: “eu recomendo”.


In Covers We Trust BR

João Marcelo Cruz (@jota_m | jomarcelo_@hotmail.com)

Bem, vou quebrar um pouco a minha normalidade. Ao longo dos anos, eu fui vendo que coletâneas nunca foram muito do meu agrado e fiquei um bom tempo sem prestar atenção nelas. Mas isso está associado ainda com a fase de CDs físicos. O que acontece é que, geralmente, nessas coletasm eu gostava mesmo de uma banda ou outra, o que tornava muito inviável estar comprando esse tipo de CD. Por outro lado, sempre achei importante o papel dessas compilações, por vez ou outra estarem abrindo espaço para bandas novas, cumprindo um papel de divulgação legal. Um CD divulga várias bandas... Em tempos de Internet, passei a dar um pouco mais de moral pra este tipo de material. Há um bom tempo, eu baixei uma coleta chamada “In Covers We Trust BR’’. Não dei a devida atenção na época, porque ela ficou perdida em uns back-ups que só agora recuperei. Dando uma pesquisada rápida no pai Google, eu vi que esse CD é de um blog especializado em fazer mixtapes, o liberulabarriguda.blogspot, logo não é um CD oficial. Já tinha visto várias compilações de covers, mas a maioria ou era de banda gringa, ou um tributo específico. Nesse caso, são várias bandas, todas brasileiras, 40

fazendo versões/homenagens a outras bandas, que, acredito eu, sejam representativas para cada banda. O CD conta com diversos “níveis” de bandas. Vai das grandes, como Sepultura, Pato Fu e Legião Urbana, passando pelas de médio porte, como Autoramas e Matanza. Também tem clássicas, como Ratos de Porão, Raimundos e Planet Hemp. E outras menos conhecidas, mais underground, como Carbona, Zumbis do Espaço e Os Catalépticos. Ao todo, são 24 faixas. O que me surpreendeu nesse CD é que eu conheço a maioria das bandas, e, tirando a versão de “Blue Suede Shoes” do Autoramas, nunca tinha escutado nenhuma das outras versões! Tem Paura tocando Safari Hamburguers, Wander Wilnder e Zumbis do Espaço tocando Ramones em português (ficaram lindas, por sinal), Ratos tocando Patife Band, entre tantas outras pérolas. Rola também uns covers bem inusitados. Afinal, quem aí já imaginou Raimundos tocando The B52’s, Matanza tocando Secos&Molhados, ou Planet Hemp tocando Mutantes?! Então, essa é a minha dica pra este mês. E vamos dar mais umas chances pra esses tais de coletâneas e tributos, né...


Black Tide

Jonas Sutareli (@xSutarelix | jonas@rockmeeting.net)

Acho que se algum leitor que seja um fã mais vigoroso de Rock, sobretudo de Heavy Metal, me encontrar na rua, irei apanhar. Tenho falado apenas de bandas mais amenas e que não devem agradar muito aos leitores desta revista. Mas, bem, a coluna é sobre o que eu estou ouvindo, certo? Então, lá vamos nós de novo. Desta vez, escolhi o Black Tide, por ter sentido saudades do som dos caras. “Light from Above” parecia um novo começo para o Heavy Metal, um disco jovem, pesado, com referências à raiz e até um cover de Metallica. Acho que a maioria jurava que iria ser uma promessa do Heavy Metal, que eles fariam um segundo álbum tão bom quanto o primeiro e que essa molecada ensinaria para o resto que o que importa é fazer o que se gosta, e não apenas tentar agradar, levando influências mercadológicas e seguindo os conselhos da gravadora para que eles façam sucesso, tocando o que a molecada de hoje quer ouvir e não o som que se propuseram a fazer. Mas eu me enganei. Infelizmente, me enganei. Black Tide é uma banda estadunidense da Flórida, formada em 2004 pelos irmãos Gabriel Garcia e Raul Garcia (que deixou a banda logo em seguida). Originalmente chamava-se “Radio”. Assim que assinaram com a Interscope Records, a gravadora mudou o nome da banda para a alcunha de “Black Tide”. Alex Nuñez, 41

Zachary Sanders e Steven Spence juntaram-se ao grupo e completaram a formação inicial da banda. Começaram com uns showzinhos locais (ainda como Radio), até chamarem a atenção das gravadoras e ganharem uns contratos. Daí, tiveram seu nome alterado. Mas, ainda assim, veio o excelente disco “Light From Above.” Eu o escutei bastante esses dias. Gostei também daquele cover de “Hit the Lights”. Era um som bom. Um Heavy Metal feito por moleques, bem renovado, mas que lembrava às raízes. Era bom ouvir e imaginar que eles fariam outro disco daqueles. Mas aí eles não continuaram com isso e foram para o lado de agradar o público atual, e fizeram como todas as outras bandas americanas, não fizeram diferente, como eu achei que eles fariam, quando começaram. Foram para o Metalcore. Não que isso seja ruim, não que o Metalcore seja ruim. Eu gosto de algumas bandas. O que me frustra é a banda começar com um estilo, uma proposta, um som, e mudar tudo, completamente tudo, apenas para agradar, tentar vender, ganhar dinheiro... Bem, não cabe a mim dizer nada. Nem conheço os caras. Só conheço o que a mídia passa. E nem sempre é o que parece ser. Se quiserem conferir o som dos caras, no site oficial deles tem algumas músicas: http://www.blacktidemusic.com


Tarja Turunen Por Pei Fon (@poifang | peifang@rockmeeting.net)

Não posso negar que Tarja Turunen é uma cantora inigualável dentro do Heavy Metal e não há outra vocalista como ela no segmento. Ela é única! Nem preciso dizer que ela já foi vocalista da banda que tanto amo, o Nightwish. Nem preciso comentar que sua saída foi bastante sentida. Só havia falado dela apenas no passado. Chegou a hora de falar desta finlandesa no presente. Foi meio que um “revival” que passei esses dias. Não escutava a Tarja tem um tempo. Com a volta dela aos palcos para o “What Lies Beneath Final Tour”, estive à beira de um colapso nervoso quando foram divulgadas as datas, que diziam que ela passaria pela América do Sul... Meu coração palpitou! Pela segunda vez no show dela seria indescritível, e vocês puderam acompanhar na edição nº 19 um review do show, feito em março de 2011 por esta que vos escreve. Tarja já possui dois álbuns de estúdio: “My Winter Storm” (2007) e “What Lies Beneath” (2010). Destaco o primeiro álbum, por ter sido o seu “cartão de visita” para a sua nova fase e assumir sua carreira solo. A “tempestade de inverno” de Tarja foi bem aceita. Para mim, foi uma mistura de sonoridade: ora mais peso, ora lenta. Entretanto, as músicas não deixam de ser cativantes. Até um cover surpreendente de Alice Cooper coube neste álbum. Mas ainda tenho a sensação de que ela precisa se encontrar, o que já foi lançado não reflete bem quem é ela. Está para nascer um álbum da magnitude que espero para a cantora. Este CD caminha entre os que mais gosto, porém ainda espero um álbum impactante. É a própria vocalista quem escreve as músicas, e, talvez por isso, tire um pouco de sua magia para cantar. Tarja precisa de alguém que escreva para ela. Torço muito, pois é 42

uma cantora fantástica e muito copiada, vocalmente. Do álbum, destaco “I Walk Alone”, “The Reign”, “Sing for Me”, “Oasis”, “Poison” (cover de Alice Cooper) e “Die Alive’. Só há duas bandas que me deixam louca: Nightwish e Tarja Turunen.


Cássia Eller

Breno Airan (@brenoairan | brenoairan@hotmail.com)

Onde está a pegada? A atitude? Os peitos de fora?! “O mundo ficou mais careta depois que Cássia morreu”, lamenta Eugênia Vieira, eterna companheira da cantora carioca, com quem dividiu sua cria, o Chicão, hoje com 18 anos de idade. Há exatos 10 anos, naquele 29 de dezembro de 2001, os pensamentos e focos estavam voltados para o réveillon que Cássia Eller faria logo mais, contudo uma complicação cardíaca tirou o sonho dela de ver seu filho crescer. A famosa intérprete de “Maladragem”, um de seus maiores hits, tinha dado um tempo nas drogas e no cigarro. A água de coco era seu alento num Rio de Janeiro esvoaçante de calor. Semanas antes, ela vinha sofrendo de falta de ar, deixando transparecer um pouco o cansaço acumulado de shows e mais shows na agenda. A bem da verdade, na época, jornais de todo o Brasil arriscaram que o motivo da morte 43

de Cássia teria sido overdose. Só que ela havia parado com isso. O laudo pericial do IML apontou parada cardiorrespiratória. Quatro delas. A fonte de Cássia secara. Com efeito, na infância, a cantora, que se criou no Rio, mas se aventurou por Brasília – onde começou a carreira, sentada em banquinhos de bar –, Belo Horizonte, Santarém e São Paulo, teve arritmia cardíaca e febre reumática dos quatro aos 24 anos. E é justamente a fim de mostrar estes detalhes desconhecidos da maioria dos fãs que o documentarista Paulo Henrique Fontenelle – que já tem no currículo o aclamado “Loki - Arnaldo Baptista”, sobre o fundador d’Os Mutantes – está aprontando um longa-metragem, resgatando depoimentos emocionados de gente do convívio da cantora, aliados a imagens caseiras pessoais dela. O resultado deve sair ainda em 2012. Para celebrar esses 10 anos sem Cássia, foram lançados o CD “editado” pelo amigo Nando Reis, chamado “Relicário - As Canções Que o Nando Fez Pra Cássia Cantar”, com a música inédita “Baby Love”; e a “Caixa Eller”, contendo nove CDs. Além disso, em breve, também deve vir a público um registro ao vivo em DVD de uma apresentação de 2001, apelidado de “A Luz do Solo”, onde a intérprete canta Joni Mitchell e Billie Holliday, afora suas canções arranjadas de sempre. Um livro-CD de autoria de – de novo – Nando Reis, o sempre presente Nando Reis, estará no catálogo ainda este ano que está por vir. O álbum para se conhecer as facetas de Cássia é o “Acústico MTV”, de março de 2001. E que falta isso, as facetas, faz na música brasileira! Ela foi uma das mais bem vistas artistas da década de 1990 e não desmereceu o valor lhe atribuído. Com sua voz rouca, conseguiu vender 1,1 milhão de cópias deste disco, com destaques para, claro, “Maladragem”, na elogiosa “1º de Julho”, nas levadas de “Partido Alto” e “Sgt. Pepper’s Lonely Hearts Club Band”, e na clássica “Segundo Sol”. Um registro versátil, impulsivo e ao mesmo tempo comedido, com atitude. Maria Gadú, me desculpa, mas deixe dessa coisa de wannabe... Eller é a Cássia. E só ela o é.



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