Revista Rock Meeting #57

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Editorial

O vALOR

Você sabe qual é o valor que a banda tem para compor um álbum novo? Você sabe qual é o valor que o organizador tem para trazer aquele terminado show para a sua cidade? Você sabe qual é a dificuldade que o cara que trabalha no estúdio tem para manter todos os equipamentos funcionando, além da manutenção do seu próprio espaço? Vocês têm noção quanto isso custa? Não, né? Muito simples entender! Lembre de qualquer coisa que você compra sempre. Pensou? Então, já percebeu que ele sofreu um aumento e você tem que desembolsar mais dinheiro para tê-lo? Pois bem, é assim para todos que trabalham com música direta ou indiretamente. O produto final, quando chega até o consumidor, é tudo muito lindo e maravilhoso, porém mal sabem o trabalho que dá, os “abacaxis” que foram descascados para chegar até ali. Um salve para as bandas que ainda conseguem tirar do bolso todo o orçamento necessário para compor, gravar, viajar... Tudo é gasto. As bandas brasileiras não se man-

têm de show. Ninguém, de banda alguma, vive apenas da banda. Pura ilusão! Ou você tem o seu trabalho por fora, ou viva de luz. Outra coisa, vocês estão vendo por aí show das bandas brasileiras? O que tem saído por aí? Show de bandas gringas, caros, mas que a galera paga. Por que não pagam para ver bandas brasileiras apenas? O Brasil não é só Angra ou Sepultura. Têm tantas outras. O Brasil tem um celeiro tão vasto e incontável de bandas incríveis, mas se resume a Angra e Sepultura. Não que essas bandas sejam ruins, pelo contrário, são incríveis, mas olhem ao redor e abram os ouvidos. O Brasil tem Heavy Metal acontecendo nos quatro cantos do país e não é difícil de achar. Mas o comodismo é uma praga. E sabe qual é o valor disso tudo? Um dia, um dia todos se fatigarão, anunciarão a sua saída e você fica aí lamentando: “poxa, era uma banda tão incrível e acabou”. Sabe por que acabou? Porque você nunca foi ao show deles para mantê-los vivos! Esse é o valor que você dar as bandas brasileiras, quando elas acabam!


Table of Contents 06 - Coluna - Doomal 08 - News - World Metal 13 - Matéria - Autumn Darkness 16 - Review - Primavera Sound 2014 27 - Entrevista - Em Nome do Medo 30 - Entrevista - Aurora Rules 34 - Perfil - André Evaristo (Torture Squad) 40 - Capa - Noturnall 48 - Entrevista - Age of Artemis 56 - Review - Angra em Maceió 66 - Entrevista - Rodrigo Campagnolo 70 - Entrevista - Johnnybox


Direção Geral

Pei Fon

Revisão

Katherine Coutinho Rafael Paolilo

Capa

Alcides Burn

Colaboradores

Ellen Maris Jonathas Canuto Maicon Leite Marcone Chaves Mauricio Melo (Espanha) Rodrigo Bueno Rômel Santos Sandro Pessoa CONTATO Email: contato@rockmeeting.net Facebook: Revista Rock Meeting Twitter: @rockmeeting Veja os nossos outros links: www.meadiciona.com/rockmeeting


Por Sandro Pessoa (Sunset Metal Press & União Doom BR)

The Dark Side of the Doom O lado negro das bandas de Doom, aliás, de muitas outras bandas de vertentes diferentes também, dado que o tema abordado vai além das temáticas envolvidas em suas composições, mas uma série de questões comportamentais que deixam muitas bandas, muitas das vezes boas, escondidas em suas próprias sombras. Creio tratar-se de uma questão cultural relacionada a forma de pensar do movimento underground mesclada a falta de atenção dada pelo Estado ao desenvolvimento e desmitificação do profissional em música. Infelizmente no Brasil desenvolveu-se uma cultura do “underground”, algo semelhante a uma religião, carregada de dogmas que dizem como o bom headbanger deve agir para alcançar o típico comportamento “true”

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ou popularmente dito “troo”. Consequências positivas? Sim, claro, uma delas é a relação intensa desenvolvida entre indivíduo e arte, onde cada detalhe da música proporciona e move o comportamento do ouvinte, mesmo que este não seja um músico. Felizes dos artistas que possuem um público que vibram como um fã de Rock/Metal. Por outro lado as consequências negativas não são poucas, principalmente, quando parte da própria banda por exemplo, cria diversas explicações para transformar suas falhas em comportamentos louváveis como: “headbanger de verdade repete o que fizeram nos anos 80”. Uma desculpa para sua incapacidade de criar


coisas novas e realmente de qualidade, algo que os próprios ícones oitentistas foram capazes de fazer quando separaram a música dos anos 70 das dos anos 80. No Doom Metal não é diferente, fora suas peculiaridades. Neste universo de músicas tristes e lentas, muitas bandas optaram em ter uma postura mais fechada “anti midia” pode-se dizer. Suas apresentações muitas vezes ocorrem em locais bem precários, com aparelhagem ruins, mas o que importa? Underground de verdade é assim e quem reclama por algo melhor são ditos estrelas e não merecem estar em um meio como Heavy Metal, lugar de pessoas fortes que bebem e sobrevivem a pior pinga que existe, aliás como muitos dizem: quem não aguenta bebe leite. Pode parecer piada mas não, comportamentos do tipo ocorrem com bastante frequência, não somente no Doom, mas quando tratamos deste lidamos com uma espécie de anti heavy metal, digo isso porque uma maioria esmagadora do público acredita que a melhor banda é aquela que consegue gritar mais, cantar em notas extremamente agudas, riffs e solos de guitarra na velocidade da luz, coisa que o Doom caminha na contramão. Mas tudo bem, a culpa disto não é de todo culpa do indivíduo fã de Heavy Metal, o Estado brasileiro também possui uma grande

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parcela de contribuição para com tudo isto. Hoje nossas bandas de metal não são formadas por profissionais em música, mas por professores de matemática, biólogos, mecânicos, designers e etc. Viver de Heavy Metal no Brasil é impossível, salvo raríssimos casos (que não dependem de eventos brasileiros). Esqueça aquela nova banda com fotos bonitas e músicas bem gravadas, não, ela não vive da música. Quer sustentar seu Heavy Metal? Então vire um profissional em qualquer outra área e sustente sua música, porque ela mesma não vai te sustentar. Isso porque a música no Brasil é muito cara, ao mesmo tempo que é colocada em último plano, vide nossas crianças que sequer sabem solfejar uma escala de Dó Maior. A realidade é bastante triste, ainda mais no Doom Metal (o próprio Gothic Metal também) que ainda é um gênero tão controverso entre tantas pessoas, ainda mais aqui onde existem tão pouca originalidade, tão pouco profissionalismo, tão pouca vontade de mudar e destas poucas bandas, muitas vezes supervalorizadas por alguns, ainda encontram tempo para se gabar de uma história que nada influenciou os rumos do estilo escondendo suas insatisfações em uma postura de rockstar que nunca existiu e nem irá. Espero profundamente que nosso cenário saia deste lado negro e encontre seu alvorecer, brilhando e marcando um novo dia em nosso cenário musical.


SOLIDARIEDADE De acordo com o site Tanjug, o show do Iron Maiden em Belgrado, Sérvia, que acontece no dia 17 de junho, terá parte de sua renda revertida para as vítimas da enchente que recentemente devastou a região. Os organizadores do show, que contará ainda com a abertura da banda sueca Ghost B.C, serão os responsáveis por distribuir o dinheiro. O baixista Steve Harris comentou a iniciativa: “Esperamos que as pessoas saiam dessa situação mais fortes do que nunca”. Fonte: Iron Maiden 666

Em Limeira

Em limeira 2

Manilla Road e Omen se apresentação na cidade de Limeira, em São Paulo, no dia 8 de julho. A informação foi confirmada pela produtora Open The Road, por meio de sua assessoria. Como parte da tour “Beetween The Hammer and The Axe - South American Tour 2014”, o evento ainda contará com as bandas Em Ruínas e Clenched Fist. Mais informações do evento AQUI.

E a Open the Road apronta mais uma para julho. Foi confirmado, em Limeira (SP), o show de Blaze Bayley e Tim “Ripper” Owens. Juntos pela primeira vez interpretando os clássicos do Iron Maiden e Judas Priest. O evento será no Bar da Montanha, no dia 24 de julho. Informações na página do evento no facebook, acesse AQUI.

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Imperative Music

De volta a SP

A Imperative Music está selecionando bandas para a sua mais nova coletânea de bandas brasileiras: Imperative Music Compilation CD volume 8. As bandas interessadas devem entrar em contato com a gravadora por email (imperativemusicagency@gmail. com) ou pelo facebook oficial deles. Acesse AQUI. A coletânea será distribuída em todo o mundo e para a imprensa mundial.

A banda Distraught volta a capital paulista após sete anos, mas retorna em grande estilo. A banda gaúcha, que já foi destaque em nossas páginas, dividirá o palco com os caras da lendária banda Vulcano e dos suíços do Coroner. O show acontecerá no Clash Club, no dia 14 de setembro. Mais informações do show acesse AQUI. Veja o mais novo vídeo da banda AQUI.

Novo álbum A banda Unearthly, principal nome do Black Metal nacional na atualidade, acaba de apresentar a capa de seu novo álbum, ‘The Unearthly’. O trabalho ficou sob responsabilidade de dois músicos da própria banda, M. Mictian e F. Eregion. Toda concepção nas mãos do baixista e a edição do trabalho nas mãos do vocalista. ‘The Unearthly’ está sendo gravado no Rio de Janeiro, no renomado AM Studio sub a tutela do produtor Fernando Campos. Em breve o grupo nos dará mais detalhes de como o trabalho está ficando. A banda também anunciou a fabricação de sua própria marca de cerveja, ‘Baptized in Blood’ pela Bushido Brazil. A bebida está prevista para ser lançada em agosto, mesma data do lançamento do novo álbum. Contato para shows e merchandise: shows@theunearthly.com. Veja a capa AQUI. Fonte: Metal Media 09


1º Metal Manifest O Cavalera Conspirancy volta a São Paulo num show grandioso. A banda dos irmãos Cavalera terá a presença das lendárias bandas Krisiun e Korzus, ou seja, será matador. O 1º Metal Manifest acontecerá no HSBC Brasil, no dia 12 de setembro. Informações sobre o ingresso pelo site do próprio HSBC Brasil. Acesse AQUI. O evento é uma realização da Top Link Music e Manifesto Bar. Agora é esperar por este dia que será inesquecível.

lançamento virtual

Partiu Bloodstock OPEN AIR

A banda paraense A Red Nightmare vai lançar, virtualmente, seu mais debut álbum por meio da sua página no Bandcamp oficial da banda. Mas se você não se aguenta de curiosidade, pode baixar a música “Enemy” para ter uma noção do que está por vir. Baixe AQUI. A arte gráfica fica por conta de Gustavo Sazes (Morbid Angel, Arch Enemy, Kamelot). “A Red Nightmare” foi gravado em dois estúdios: The Coven e Ná Music. A produção ficou por conta de Adair Daufembach.

A banda mineira Krow está alçando voos ainda mais altos. Por meio de sua assessoria, a banda confirmou a sua participação no consagrado festival inglês Bloodstock Open Air. O festival acontecerá entre os dias 7 e 10 de agosto e já é cotado como o sucessor do Monster of Rock em Castle Donington. Este ano o Bloodstock terá Megadeth, Down, Emperor, Carcass, Amon Amarth e muitos outros. É o nome brazuca chegando na terra da rainha. Ouça o EP dos caras do Krow AQUI.

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“Ridículo”

Segunda versão

O guitarrista Jimmy Page, do Led Zeppelin, disse que é ‘ridícula’ a acusão da banda Spirit sob a alegação de que “Stairway to Heaven” seria um plágio da faixa “Taurus”. A ideia é dar crédito para o guitarrista do Spirit, Randy California, parte da autoria da música. Mas especialistas em música dizem que “improvável ter sucesso” neste quesito. Para tanto, fãs do Led Zeppelin nem se preocupem, não vai acontecer nada!

Em breve passagem pelo Brasil, a cantora Floor Jansen, com sua banda ReVamp, postou na sua página no facebook um esclarecimento sobre o episódio que aconteceu em Curitiba onde ela tomou o celular de um fã e reclamou dos flashes das câmeras durante o show. Dentre outras coisas ela disse: “Eu não sou arrogante”. Leia na íntegra o que Floor disse a respeite AQUI.

PRÓXIMO ÁLBUM O baterista Shawn Drover do Megadeth afirmou em sua página no Facebook que está gastando o seu tempo no estúdio junto com Dave Mustaine. Ele ainda afirma que estão gravando alguns riffs e o que pode dizer é que estão bem pesado. “Há algo mais violento, um pouco mais pesado e frequentemente mais rápido”, explicou para a National Rock Review. E completa: “Megadeth tem feito muitas coisas diferentes no metal por anos, mas para mim, eu sempre tentei representar meu lado mais furioso porque é parte do que eu sou, é parte do meu dna criativo tentar escrever riffs mais pesados”. Pois é isso, vamos esperar algo mais pesado para o sucessor de “Super Collide”. 11



AUTUMN DARKNESS DOOM FESTIVAL Texto: Fábio Braga Fotos: Romulo Marin

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o último domingo (18/05) a cidade de São Paulo recebeu mais um festival dedicado ao doom metal e suas vertentes. O “Autumn Darkness - Doom Festival’’ foi produzido pela Last Time Produções e o local escolhido foi a “Livraria da Esquina’’, que fica na zona norte da cidade. Mesmo com o clima frio, chuvoso e shows internacionais ocorrendo no mesmo dia, o evento conseguiu atrair um bom público. Com um pequeno atraso, a noite teve início com os paranaenses do Dead Reward, formado por Saulo Marlier (baixo, vocal), Alysson Farinazo (bateria), Rogério Marlier (guitarra) e Felipe Côrtes (guitarra, vocal). A sonoridade é nitidamente influenciada pelo death/doom dos anos 90, cheio de peso, belos riffs e vocais alternados entre limpo e gutural, 13

além de algumas influências de progressive e gothic metal. Foram apresentadas músicas do EP “Crossing Over’’ lançado no ano passado, e quatro músicas inéditas que provavelmente entrarão no primeiro full-lengh. A banda conseguiu mostrar ao vivo todo o potencial que podemos ouvir no disco. Na sequência, o Bullet Course subiu ao palco e iniciou sua apresentação com a inédita “November’’. A banda faz um post-metal com influências de doom, eu diria que os riffs melódicos são a sua marca e conseguem transmitir com maestria o temas das letras, que falam sobre desolação e o vazio da existência. Ainda tiveram “Desolate Room’’ e “Magra Existência’’ ambas composições novas, que mostraram um direcionamento interessante contendo vocais limpos e influências


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de shoegaze. “Wild’’ e “Rusty Leaves Fall’’, do EP “Into the Solitude’’ lançado em 2013, também não poderiam faltar. Eles fecharam o set com “River of Needles’’, uma música antiga e que segundo eles provavelmente não será mais tocada. Após uma pausa para ajustes no som, era a vez do Kroni mostrar o seu som. Formado por Rodrigo Bonga (vocal), Ale (guitarra), Renato (baixo) e Thiago (bateria), eles fazem um sludge nervoso. Foi uma apresentação intensa e caótica tocando o seu primeiro disco “Your Master is Gone’’ lançado em 2013 na íntegra. Acredito que muitos ali não conheciam o estilo, de qualquer forma, ele foi muito bem representado. O vocalista Rodrigo Bonga tem presença de palco e um vocal “porada’’. Todo o time foi muito bem ao vivo, para os que ainda não conhecem, a banda é altamente indicada. Ficou a cargo do Saturndust fechar o evento. A dupla Phil Dalam (guitarra, vocal) e 15

Marlon Marinho (bateria) entreteu o público com seu stoner metal poderoso pra ninguém botar defeito. A primeira foi a impressionante “Mardi Gras’’ e em seguida as novas “The Black Mirage’’ e “Hyperion’’ que mostraram uma clara evolução no som. Algo que lembrou bastante Cathedral e Saint Vitus. Os músicos compensaram a falta de um baixista com todo seu entrosamento e energia. Os riffs de guitarra eram pesados e hipnóticos enquanto a bateria dava um show de agressividade. “Sons of Water’’, do EP homônimo de 2012, foi escolhida para finalizar o show com chave de ouro. Como muitos já sabem, o doom metal não é um estilo tão popular, principalmente no cenário nacional, por isso devemos prestigiar eventos como esse. Parabéns ao Rafael Sade, Last Time Produções e todas as bandas que participaram.


Nine Inch Nails - Trent Reznor

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Se melhorar, estraga! Texto: Ana Paula Soares e Mauricio Melo Fotos: Mauricio Melo

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odo crescimento no mundo musical é visto sob o olhar crítico e desconfiado de um público mais seleto e que, habitualmente, passa despercebido da grande massa. É aí o ponto onde pecados são cometidos, entre crescer para um grande público e perder qualidade de velhos admiradores. Isso ainda não acontece na versão espanhola do festival Primavera Sound mas um descuido e muita coisa pode vir abaixo. Uma boa prova do mencionado acima se reflete e comprova em números. Um festival que tem como perfil a música independente e alternativa, albergou algo em torno os 190.000 pessoas nos três dias principais no Parc del Fòrum, sem contarmos com atividades extras e shows gratuitos como: workshops de música, palcos espalhados pela cidade com apresentações gratuitas, shows em bares, estações de metrô. Um ser humano, por mais saudável que seja, não consegue cobrir tudo e muita coisa boa passa despercebido. Dá a sensação de desperdício ainda que nos sintamos culturalmente alimentados.

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Quarta-Feira 28/05/2014 Assim que, já tendo desperdiçado algumas apresentações ao longo da semana, iniciamos nossas atividades na tarde de quarta-feira com duas apresentações de bandas brasileiras. Os paulistas do Single Parents e os goianos Black Drawing Chalks no pequeno teatro La Seca Espai Brossa. Os dois quartetos, em questão, ofereceram um som que surpreendeu parte do público não tupiniquim, presente no recinto. O Single Parents tem uma proposta bem mais shoegaze, com influências nítidas de Sonic Youth o que agrada em cheio o público primaveral. É o tipo de banda que responde o que parte do público no Brasil pergunta, nosso país não fabrica este estilo de música? O mesmo podemos aplicar para o Black Drawing Chalks. Rockão recheado de guitarras, com o baixista Denis de Castro dando um show a parte. Bicho solto com instrumento em punho e ótima opção para a chuvosa tarde. Por falar nela (a chuva), mal podíamos imaginar o que nos esperava quando deixavamos nosso coberto teatro e seguimos rumo ao dia gratuito do festival para conferir os britânicos do Temples. Sabíamos que um dia a chuva acertaria em cheio ao evento. Já havia batido na trave diversas vezes mas desta vez o alvo estava calibrado. Parecia até piada que a banda em questão estivesse apresentando seu tão elogiado disco, intitulado Sun Structures (Estruturas Solares), seria o local ideal diante das reais estruturas solares do local porém nem mesmo a boa apresentação e a execução da música título serviu como simpatia para amenizar a quantidade de água que caiu. Quando o quarteto anunciou sua última música, uma verdadeira enxurrada somada a um bom vento obrigou ao púbico buscar abrigo e abandonar a pista antes do final da apresen18


tação. As calhas do palco se transformaram em verdadeiras cachoeiras o que atrasou o show de Stromae. O belga fez a festa do povão que curte um som mais pop. Deu um show à parte, pouco se importou com o as poças no palco e requebrou o esqueleto com “Alors on Danse” e “Papaoutai”. Okay, podem torcer no nariz mas o fenômeno é evidente e, no momento, imparável.

Queen of the Stone Age

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Quinta-feira 29/05/2014 Vamos ao que verdadeiramente interessa: A primeira jornada oficial do festival. Sob um potente sol se encontrava, no palco Adidas Originals, o Móveis Coloniais de Acajú num animado e competente show, tendo como figura principal o vocalista André Gonzales. Mesmo com um injusto horário (18:00) havia um considerável público para curtir o som dos brasileiros, com direito a uma convidada no palco para a interpretação de “Amor é Tradução” e músicos tocando na pista. Já na correria, e muitos metros adiante, chegamos a tempo de conferir os americanos do Real Estate no palco Heineken, que flertaram entre canções agradabilíssimas e momentos de bocejo mas nada que tirasse o mérito de canções como “Head To Hear” e “Talking Backwards” do recém-lançado “Atlas”. Quando escrevemos “na correria” e “metros adiante” significa que a distância entre os palcos mais distantes, ou seja, as duas extremidades do evento é de 1,5 quilômetros, no final do dia dava fácil entre 10 e 15 km percorridos. Haja fôlego! E para poupa-lo fincamos pé no mesmo palco para na sequência encarar as meninas do Warpaint e seu art-pop-rock-atmosférico também lançando disco. Para os fãs do Joy Division, que não conseguiram sequer chegar


perto de uma apresentação da banda, ou seja, a grande maioria, assistir a Peter Hook and the Light tocando na íntegra Unknown Pleasures com direito a “Ceremony” do New Order. Acompanhado de seu filho no palco é algo que não se pode pedir mais considerando que o relacionamento com os antigos integrantes de Joy e New Order já não é dos melhores e a possibilidade de vê-los num projeto como esse é reduzida. O palco desta apresentação foi uma das novidades oferecidas pelo festival e se chamava Heineken Hidden Stage, ou seja, um palco escondido, numa bat-caverna, pequeno, íntimo e uma verdadeira sauna o que fez com que a invasão britânica nos fizesse sentir em um verdadeiro estádio hooliganiano, emoção a flor da pele e até os cardíacos jogaram equipamentos para o alto e saíram para o pogo em “Interzone”. Hook finalizou com “Love Will Tear Us Apart” e uma comoção coletiva, impossível não dedicar mais linhas para relatar tal show. Para percorrer os próximos mil e quinhentos metros que tínhamos adiante o profundo desejo era possuir um patinete, skate ou qualquer coisa com rodas que nos facilitasse a vida, pois a fila para fotografar o Queens Of The Stone Age só aumentava e não podíamos ficar de fora. Quando Josh Home entrou em cena com “You Think I Ain’t Worth a Dollar, But I Feel Like a Millionaire” do aclamado e respeitado Songs For The Deaf a vibração das caixas de grave explodiam no peito e o corpo estremecia. “My God is the Sun” deu o cartão de visita de “Like a Clockwork” que voltou a ser representado mais adiante com “I Sat by The Ocean” e a música título. No mais, um desfile de hits dos mais pesados finalizando com “Go With The Flow” e “Song For The Deaf”, público entregue e disposto a curtir Arcade Fire para dar uma aliviada. 20


Arcade Fire

Haim

Pixies

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E os canadenses em questão não decepcionaram. Anunciados e recebidos como uma das principais atrações do festival, com status de banda grande, destas que lotam ginásios com sinal de crescente apontando ao nível de estádios e todo um aparato de palco para um cenário perfeito. Palco rebaixado com espelhos, canhões de confetes para o público, roupas chamativas e uma verdadeira versatilidade de seus integrantes. Um verdadeiro show mainstream que acolhe tanto a um público mais exigente quanto adolescentes e amigos que dizem escutar algumas boas músicas e nestas podemos incluir “No Cars Go”, “The Suburbs”, “Reflektor” e “Neighborhood #3 (Power Out)” com momentos épicos e digno de celebrar o décimo aniversário da primeira apresentação da banda em Barcelona que foi há exatos 10 anos e no mesmo festival. Sexta-Feira 30/05/2014 As previsões meteorológicas para a jornada não eram das melhores e piorou aos primeiros acordes de “Three Times Down” do Drive By Truckers. O resultado não poderia ser diferente, apenas um grupo de valentes e verdadeiros fãs da banda resistiram ao pé d´água que baixou no palco Ray Ban com direito a vento em direção do palco. Nem mesmo o bom rock clássico americano, recheado de guitarras e sotaque forte puderam resistir, uma grande pena ainda mais vendo como Mike Cooley e Petterson Hood desciam a madeira em “Lookout Mountain”. Para evitar imprevistos diante da prometida jornada, nos refugiamos no Hiden Stage para conferir o The Wedding Present, está aí mais uma das injustiçadas bandas dos anos 80 e 90 que vem ganhando seu tardio reconhecimento e goza do status de banda de culto, nada mal para uma tarde chuvosa.


O quarteto Loop não possui uma história muito diferente do citado acima. Praticamente desconhecido do grande público, extinto em 1991, retomou as atividades ano passado e desembarcaram no Primavera Sound com a bagagem cheia de distorções. O quarteto “derreteu” os tímpanos presentes. Para tapar um pouco o buraco na agenda conferimos a nova sensação pop na Europa, o Haim. Três meninas que apareceram com um par de vídeos e musiquinhas bem pop e algo de coreografia que ao vivo se transforma em uma descente banda de rock, com direito a riffs, caretas, e um cover do Fleetwod Mac. Tipica banda que lança um hit pop para aparecer na mídia para então tirar o disfarce e mostrar quem realmente são. O público, em maioria feminino, se esbaldou durante os pouco mais de 40 minutos de apresentação. Antes de chegarmos ao Pixies ainda demos uma conferida no Slowdive onde tivemos novamente a sensação de boas melodias misturadas ao bocejo. O que não se repetiu, nem poderia, durante o show da banda liderada por Black Francis e compartida com Dave Lovering, Joey Santiago e a mais nova integrante Paz Lenchantin que parece ter encaixado perfeitamente na banda, até o momento. Abriram com “Bone Machine”, seguiram com “Wave of Mutilation”, flertaram com “Gauge Away” e acertaram a mão com “Bagboy” sem deixar de lado “Debaser” e “Here Comes Your Man” e finalizando com “Where is My Mind”. Do disco novo “Indie City” e “Greens and Blues” mas sentimos falta de “Alec Eiffel” num setlist com mais de vinte canções. Já passava da meia-noite quando o The National subiu ao palco Sony para apresentar ao público espanhol Trouble Will Find Me. A banda chama atenção pelo reconhecimento 22

Superchunk Black Drawing


Drive by Truckers Peter Hook

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tardio, uma destas bandas que lançam discos e que passam despercebida até que alguém aposta e nos dá a sensação de terem acontecido da noite para o dia. Porém a humildade de seus integrantes diante de seu público é a tradução do auto-reconhecimento que o caminho percorrido foi duro. E tinha chegado o momento de dar um basta no indie e conferir de perto a primeira apresentação do sexteto norueguês Kvelertak em Barcelona. Uma mistura de rock, punk e death metal que resulta num som mais permeável. O público se espremeu no gargarejo e não se arrependeu. O vocalista Erlend Hjelvik ofereceu um espetáculo já de cara com um chapéu coruja, muitos ainda se perguntam se a coruja estava mesmo morta. Não se deixem enganar pelo experimentalismo de “Apenbaring” ou o riff “Bruane Brenn”, por aqui a galera vibrou mesmo com “Ulvetid” e “Spring Fra Livet”, entre outras. Sábado 31/05/2014 O dia mais arrastado do festival. O cansaço, as constantes ameaças de chuva, dia de grandes nomes e suas muitas exigências. Ainda que este ano o evento tenha organizado um local de imprensa, o mesmo foi pouco visitado devido a demanda de shows ao redor. Iniciamos com Islands mais para preencher uma lacuna do que por necessidade. Erramos e lamentamos como um bêbado de ressaca no dia seguinte prometendo não voltar a beber ao não incluir o show da australiana Courtney Barnett no roteiro e afogamos as mágoas no Superchunk para esperar o tempo passar até o baiano mais ilustre do festival subir ao palco. O Superchunk abriu os trabalhos com “Slack Motherfucker” como de hábito e deu sequência com “Trees of Barcelona” numa apresentação que faz jus ao respeito ofere-


cido pelo público que vibrou muito com “Hyper Enough” já em final de set. Para não perder o hábito entramos no concorrido show do Buzzcocks e outra vez o ambiente era dominado por ingleses desordeiros, era como jogar em casa. Abrindo com “Boredom”, um breve boa noite e “Fast Cars”, “I Don’t Mind” e não precisamos dar muitas voltas para dizer que “Even Fallen in Love” foi reponsável por fechar a noite e encerrar as atividades no palco Heineken Hidden Stage. Mas o prato principal da noite ainda estava por servir. Trent Reznor diante do Nine Inch Nails foi em definitivo, a banda mais esperada do festival além de ser a presença mais “cantada” dos últimos 12 meses. Desde que se anunciou uma turnê europeia e que as datas do Primavera Sound estavam vagas e o segredo da participação da banda deveria ser guardada em absoluto sigilo para um anuncio oficial. Apesar de não contar com a unanimidade dos presentes um bom público se esbaldou diante do palco Sony. Abrindo com “Me I’m Not”, luzes baixas e de cor azul, vestido com uma jaqueta de couro que não demorou para tirar e um tipo de saia por cima da calça slim fit, apresentou uma versão mais pesada de “Sanctified” até abrir o jogo em definitivo com “Copy of A” e demonstrar o porque é um dos artistas mais aclamados de sua geração e quem realmente mandava no festival no que podemos nos referir a palcos principais. Som impecável e show impactante, tudo funcionou a perfeição e possivelmente muito bem calculado e programado por Reznor. Foi um dos poucos shows em que o público não desviou atenção ou abandonou antes do tempo para ir a outro. “Came Back Haunted”, “Gave Up” e “March of the Pigs” foram apenas alguns dos petardos lançados nos pés da galera ainda que músicas como “The Day the World Went Away” tenham marcado presença junto a maçaroca “Reptile”e claro que “Closer”, “The Hand that 24


Foals

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Feeds” e “Head Like a Hole” foram tocadas e o set fechou com “Hurt”. E quando pensávamos já ter assistido a tudo e a todos, eis que os britânicos do Foals ofereceram uma apresentação à altura. Apesar das declarações, de que mereciam melhor atenção de festivais mundo afora, e receberem muitas criticas por isso, temos que dar o braço a torcer e admitir que apesar do set conter menos de uma dezena de temas a intensidade foi quem ditou as regras com direito a um mergulho do vocalista Yannis com guitarra em punho ao público, sendo muito bem acolhido pelo mesmo. “Total Live Forever”, “Prelude” que na verdade abriu a noite e “My Number” marcaram o ritmo do público. Curiosamente a música “Cassius”, responsável pela projeção da banda em 2008, ficou de fora. Enquanto nos dirigíamos à saída, tropeçamos com a apresentação de Cut Copy em ritmo de encerramento mas a estas alturas já não havia esqueleto para tanto, só mesmo se fosse de “adamantium”. Para fechar o festival em modo relax, descemos até o Parc Ciutadella, em mais um show aberto ao público, num agradável sol das quatro da tarde e conferir mais um representante brasileiro, Boogarins que atraiu bom público e as meninas Dum Dum Girls apresentando seu mais recente trabalho Too True. Uma vez mais participamos deste que vem sendo um dos grandes festivais europeus, brigando centímetro a centímetro com outros grandes eventos no velho continente. Para nós, participar do Primavera Sound, é um grande orgulho. A sensação, após 7 edições (pelo menos de quem os escreve) de ter evoluído junto a organização e de, ainda que em menores dimensões, ter contribuído com o mesmo. O ano de 2015 promete e muito já que o Primavera Sound celebra sua festa de debutante. A promessa e expectativa de um cartaz histórico (até o presente momento) é grande. Até.



Em nome do Medo

Por Pei Fon (@poifang | peifang@rockmeeting.net)

À

s vezes é inconcebível juntar várias bandas para homenagear outra. Mas hoje existem métodos que encurtam as barreiras geográficas e, principalmente, facilita a comunicação. “Em nome do medo” nasceu para ser um bom exemplo de que é possível reunir uma galera legal, gravar músicas e mostrar para aquela banda que lhes servem de inspiração. Neste caso, os nossos irmãos, os portugueses do Moonspell, serão os homenageados por uma porrada de banda legal deste Brasil. Só para você ter a ideia das bandas que vão participar deste tributo: Alex Voorhees, Apoalyptichaos, As Dramatic Homage , Burn In Pain, Capricornian, Hate Embrance, HelLight, Inner Demons Rise, Kataphero, Male27

fator, Malkuth, Obskure, Patria, Ravenland, Silent Cry, Soturnus, Unearthly e Veuliah. Sentiu o peso? Fizemos uma entrevista com os idealizadores do projeto: Alcides Burn e Emanuel Leite Jr. “Em nome do Medo - A brazilian tribute to Moonspell” é uma compilação das principais músicas do grupo português Moonspell. Como chegaram nesta concepção? Alcides: Eu conversei com Emanuel, que já conheço de datas, eu fiz a arte do Tributo ao Sepultura que ele lançou e dei a Ideia a ele de ele escrever para o Moonspell ja que ele conhece os caras da banda e propor a eles de lançar um tributo só com bandas do Brasil no


mesmo esquema, download free, ele topou, escreveu para banda e, para nossa surpresa, eles aceitaram de boa, inclusive se sentiram honrados. Emanuel: Sou muito fã do Moonspell há muitos anos, desde a época em que vivi em Portugal, ainda nos anos 1990. Já viajei para Portugal em 2009 para ver show deles e em 2012 para São Paulo. Quando Alcides me propôs fazermos esse tributo aos caras, aceitei na hora. Aí, foi só mandar o email para o Fernando Ribeiro e o Pedro Paixão e esperar pelo sinal verde. A resposta foi surpreendente. Eles não só deram o aval, como fizeram questão de enfatizar o quão honrados se sentiam com a iniciativa. O tributo contará com 18 bandas espalhadas pelo Brasil. Como foi feita a seleção das bandas? Alcides: Nós queríamos chamar apenas bandas que agente sabia que tinha a ver com o Moonspell, que curtisse a música dos caras e que tivesse um respaldo no Brasil. Emanuel: A nossa ideia foi de reunir bandas que tenham sido influenciadas, de alguma forma, pelo Moonspell em suas formações musicais ou líricas. Alcides fez o contato com a maioria dos grupos e eu com alguns outros. Explicamos todos os detalhes e, logicamente, as bandas aceitaram. Os estilos foram misturados: Heavy, Death, Thrash. O que vocês esperam desta mistura e, claro, deste tributo? Emanuel: O Moonspell é uma banda que começou praticando Black Metal com elementos de música portuguesa, foi um dos pioneiros do Gothic Doom ao lado do Paradise Lost, flertou com o Industrial, voltou ao Gótico, depois explorou uma linha Gothic/ 28

Alcides Burn e sua coleção da banda portugue

Death e em seu mais recente lançamento, dividiu-se em duas partes – a pesada, sombria e agressiva no Alpha Noir com riffs que vão do Death ao Thrash Metal e até retomando algo tétrico do Black; e o Omega White, sua faceta melancólica e gótica. Ou seja, dentro deste amplo cenário do Dark Metal, eles exploraram de tudo. Por isso, é natural que bandas dos mais diversos estilos se identifiquem com alguma passagem nesta extensa e rica carreira dos portugueses. Após a finalização do projeto, como


sombrias e tenebrosas envolvendo este tema. A banda costuma fazer apresentações bastante simbólicas nas noites de Halloween. Então, não havia data mais adequada para o lançamento mundial de um tributo aos caras. A capa, criada por Alcides Burn, conta com alguns elementos bem conhecidos do Moonspell como os lobos, fazendo uma aproximação entre Brasil e Portugal com o lobo ibérico e guará. E esta a concepção da capa? Emanuel: O Alcides é um mestre no design e na elaboração de capas. Quando ele me mostrou o esboço da capa, eu falei para ele a ideia que eu tinha. Disse: “velho, temos que colocar o lobo guará, o nosso lobo, ao lado do ibérico, que é o lobo português. Se esse tributo se propõe a fazer uma união entre Brasil e Portugal através do Moonspell, a capa tem que simbolizar isso pelos lobos que nos unem como uma grande matilha.” O resultado todos vimos. Um trabalho magnífico de Alcides.

esa Moonspell

será a distribuição do tributo? Haverá mídia física ou será apenas virtual? Alcides: Não. O tributo é apenas online e gratuito. É um presente do Brasil para o mundo, um tributo para uma banda tão grande que tem milhares de fãs. 31 de outubro será lançamento. Halloween, bem sugestivo, hein? Alcides: A ideia é do Emanuel, para mim não haveria uma data melhor. Emanuel: O Moonspell é uma banda que sempre abordou o homem-lobo e as fantasias 29

Para finalizar, o que a galera já está falando do tributo? Sucesso! Alcides: Hoje lançamos oficialmente o Tributo, já recebi vários comentários positivos. Acredito que será um sucesso, e obrigado ao Moonspell por ter dito ‘sim’ ao projeto, to muito feliz com isso. Emanuel: A repercussão tem sido bastante positiva. Os fãs do Moonspell foram pegos de surpresa e ficaram bastante felizes com a iniciativa. Vários veículos do Brasil e de fora do país têm publicado a informação. A semente foi plantada. Agora é esperar até o dia 31 de outubro, para saciarmos nossa vontade de ouvir este grande tributo!


“Viver de música é muito difícil” Por Rogério Sylp para Rock Meeting Fotos: Guilherme Nicola

Fundada em 2008, na capital goiana, a Aurora Rules dos dias atuais carrega consigo o mérito de estar entre os principais nomes do Metalcore/Post HC nacionais. Os caras ficaram conhecidos ao lançar o Vídeoclipe da música “Eu vou vencer” no Youtube, que já ultrapassou a marca de mais de 165 mil visualizações, número do qual poucas bandas do underground nacional conseguem atingir sendo, de certa forma, um grupo de carreira recente. Em 2014, a Aurora Rules anunciou seu 30

mais novo EP “Ideal de Nós”, que foi liberado para download gratuito na internet e reafirma a banda entre os principais destaques do nosso cenário. No entanto, agora com uma pegada mais “crua”, pesada, fugindo um pouco do que eram no início da carreira, ainda no primeiro EP. Acredito que o nome da banda já tenha causado curiosidade em outras pessoas além de mim. Por que “Aurora Rules”?


Felipe Borges - O “Aurora” foi ideia do Yuri (vocalista e idealizador da banda),e o “Rules” foi uma alternativa para diferenciar o nosso Aurora dos outros vários já existentes.

dade, de erros, de acertos, e fala sobre a forma que entendemos o mundo. Por isso,”Ideal de Nós”, sintetiza o ideal que levamos em relação a tudo que acontece ao nosso redor.

O vídeo “Eu Vou Vencer” segue rumo às 170 mil visualizações no YouTube. É uma marca bastante significativa no cenário atual. Além da qualidade e força da música, o que vocês atribuem este feito? Para ser bem sincero, esse clipe nos surpreendeu desde quando foi lançado, em relação às visualizações. Porém, só escolhemos essa música justamente por ser uma das que a galera mais gosta em nossos shows. Isso aconteceu desde quando a lançamos ainda em MP3, sem nem imaginar que faríamos um clipe.

A repercussão do EP em relação ao público tem surpreendido? A resposta tem sido ótima. Mas não podemos de deixar de falar que focamos muito nas composições para que não houvessem ideias iguais ao lançamento anterior(“A Sombra do Presente, 2012). Então, assim que lançamos esse novo trabalho, houveram críticas em relação a uma possível mudança de estilos mas, para nós, isso é evolução. Estamos satisfeitos com o que fizemos e pelo fato da grande parte do nosso público ter captado essa evolução.

Que mensagem a banda traz no título do novo EP, “Ideal de Nós”? O EP fala sobre a vida. A vida e a nossa opinião em como encarar cada escolha, cada pensamento, cada ação. Fala de espirituali-

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Na busca para saber um pouco mais a respeito de vocês, percebi algumas turnês por São Paulo. Como tem sido a recepção do público paulista? O estado de São Paulo já é a nossa segunda casa! Por onde passamos, fomos muito bem


recebidos. Em Guarulhos, por exemplo, ou Campinas, nós percebemos um interesse muito grande da galera em mostrar que gostam do nosso som; não só curtindo e cantando todas as músicas, mas chegando até nós e falando que ouvem a banda há muito tempo e que já estão com as músicas novas todas decoradas. Isso é o que nos mantém focados no grande objetivo. O que contribuiu para o estado de evo32

lução que a Aurora vem apresentando no novo trabalho? Sem dúvida a mudança de integrantes. O primeiro CD foi escrito quase que inteiramente pelo Lucas e agora nesse último trabalho foram cinco cabeças dando ideias e criticando. As músicas antigas saíram da mente de músicos mais jovens, que nem sempre levavam a banda como primeiro plano da vida. Portanto, agora, as composições foram lapidadas por pessoas que só se preocupam com isso.


música vai, ou não, ser usada. Tem alguma música do novo EP que vocês possam parar e dizer com unanimidade: “Essa é a melhor do EP”? Cada integrante tem a sua preferida. A minha (Felipe Borges) é “Resgate de Subversivos”, a do Yuri é “Disputa Carnal”, o Lucas prefere “Récem CHegados”, e o Potter e Ezequiel gostam de “Dois Lados”. Viver de música no Brasil tem sido uma tarefa para poucos, se tratando de som autoral. Com 6 anos de estrada, como vocês encaram isto hoje? Viver de música é muito difícil, mas depende do quão empenhado cada um se apresenta. O Aurora já não dá despesa a mais de dois anos - o que já é um caso raro. Qualquer custo ou despesa em relação a ensaios, shows, gravação, prensagem, assessoria, entre outras, já são cobertos pelos cachês de shows. Quais são os próximos voos da Aurora Rules? Shows, shows, gravação de mais um clipe, algumas aparições em programas de Tv/Youtube, merchan novo, e mais alguns shows!

De que forma acontece o processo de composição da banda? Geralmente, Lucas e Ezequiel (guitarristas) trazem um esboço. Potter (Vitor de Castro, baterista) dá o caminho rítmico, (se a música vai se tornar lenta ou rápida, por exemplo). Eu (Felipe Borges - baixista) colaboro muito no arranjo(quando haverá repetição de partes, ou quando um instrumento toca algo sem acompanhamento)e o Yuri (vocal) dá tudo isso junto, e o mais importante: julga se a 33

Agradeço por mim e em nome da revista Rock Meeting pela entrevista e deixo o espaço para que a banda faça suas considerações finais. Muito obrigado pelo espaço! Apoiamos qualquer colaboração em prol da cultura da música pesada underground nacional. Para todos que leram essa entrevista, muito obrigado pelo tempo, e se você ainda não ouviu nosso EP, vá em nossa fanpage que consta o link logo na descrição da página onde você pode fazer o download gratuito! Até a próxima!


“Sobreviv com m

Por Ellen Maris Fotos: Assesso

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ver no Brasil trabalhando música é muito difícil”

s com Pei Fon oria/ Divulgação

I

ntegrante de uma das bandas mais expressivas do cenário Metal brasileiro André Evaristo assumiu as guitarras do Torture Squad em 2011 e, em 2012, passou a ser o “frontman” do grupo assumindo os vocais que antes eram executados por Vitor Rodrigues. Num bate-papo via telefone, conversei com André sobre a sua carreira com o Torture Squad e fora dela, projetos paralelos e opiniões sobre a cena underground nacional dos tempos atuais. A conversa durou um tempo considerável, pois a vida do vocalista definitivamente não cai na rotina. Nessa entrevista, irei frisar as partes mais importantes do papo que tive com esse grande artista do Metal nacional. Em sua biografia nota-se que além de multi-instrumentista você também é professor, sonoplasta... Fale um pouco sobre essa sua relação com a música no seu dia a dia. Eu trabalho com música há mais de 20 anos e já fiz muitas coisas diferentes. Hoje em dia eu tenho meu trabalho com o Torture Squad que ocupa a maior parte da minha semana entre ensaios, shows e é claro, a parte das viagens e a parte burocrática. A outra parte da semana 35

eu divido entre dar aulas, os ensaios no coral (Lumiá XXI) onde sou regente assistente, arquivista, tenor... Faço várias coisas ali. O que eu tento fazer todos os dias quando acordo e antes de dormir é fazer algo com música: seja compor, estudar ou simplesmente relaxar no som que eu estiver ouvindo naquele momento. Você pode afirmar que há um profissional que consegue viver da música? Para você, como é viver da música no Brasil? Eu sou um sobrevivente com a música e sobreviver no Brasil trabalhando com música é muito difícil. A política brasileira não faz nada, não tem nada que venham das instituições públicas que faça algo pelos artistas. As próprias leis de incentivo à cultura favorecem artistas renomados, gente que já tem uma estrutura forte. Os artistas iniciantes ou pouco conhecidos não tem acesso de verdade. Não existe, no Brasil, programas como na Europa onde o músico profissional recebe apoio financeiro do governo. Ano passado, quando fomos fazer a tour pela Europa, foi um verdadeiro sacrifício para conseguirmos partir, pois tivemos que pagar todos os custos de transporte, ou seja, a grana que a


gente “faria” nessa turnê, nós gastamos pra ir trabalhar. Enquanto isso, uma banda norueguesa que tocou conosco recebeu todo apoio do governo de seu país para poderem tocar. Outro detalhe bastante complicado é que há um pensamento na cultura brasileira de que música é só para diversão e entretenimento apenas. O próprio público não leva o artista a sério. Na Europa, qualquer local que você vai tocar, se o sujeito curtiu teu som, ele compra camiseta, compra o CD, curte o show. De guitarrista, passou também a assumir os vocais de uma das bandas mais importantes do país. Quais foram ou são seus maiores desafios ao assumir este posto? 36

Sempre fiz vocais limpos. A primeira vez que eu ousei fazer um vocal “rasgado” foi realmente no Torture Squad. Posso dizer que estou aprendendo agora (risos). Antes eu já tocava e cantava, mas não com o tipo de voz que faço atualmente. É uma responsabilidade muito grande, mas estou me dedicando ao máximo para dar o melhor de mim, tanto com as composições novas quanto ao material antigo. Resumindo: encontrar o meu vocal, respeitando o que já foi feito no passado, incluindo minha identidade vocal nas músicas e indicar o caminho que a banda irá seguir no futuro. Considero-me um cara de muita sorte, pois fazer parte do Torture Squad é uma coisa que me dá muito orgulho. Eu costumo dizer que entrei na banda duas vezes: uma quando guitarrista e depois como vocalista. Fico muito feliz de terem confiado em mim, no valor que me deram e poder fazer parte de uma banda que já fez tantas coisas importantes para o cenário nacional. Fazer parte disso e saber que a gente pode continuar sendo relevantes, me enche de alegria. Em sua opinião, poderia descrever “o melhor” e “o pior” de ser um artista do metal nacional? O pior de ser um artista do metal nacional é muitas vezes a falta de condições para fazer o seu trabalho assim como a falta de condições do próprio público. Limitações de infraestrutura, a dificuldade de se chegar ao público, a dificuldade de se conseguir espaço na mídia, adquirir equipamentos... Enfim! O melhor é, apesar de tudo isso, consegui fazer o que eu amo: a música. Dizer o que eu penso, dizer o que eu sinto através dos sons. Saber que eu posso e tenho o privilégio de fazer isso. Para mim, isso é o melhor.


Você possui outros projetos paralelos. Poderia falar um pouco a respeito deles? No momento estou com dois projetos paralelos. Tenho uma banda de Black Metal extremo, que ainda não posso adiantar muita coisa pois é “um bebê engatinhando”; mas quando houver algo mais concreto irei dizer, com toda certeza. Meu outro projeto, (este já numa fase um pouco mais avançada de produção) é uma banda de Doom Metal chamada Enshirined By Grace que está sendo viabilizada. Já temos 9 músicas, estamos preparando um full agora, decidindo quem será nosso produtor, selos para distribuição, enfim. Mas não temos ainda uma data oficial para lançamento. Como frontman de uma banda bem sucedida, não apenas no Brasil, mas também bastante conhecida fora do país, o que o motiva a ir em busca de novos projetos? Acho que a maioria dos artistas que fazem projetos paralelos buscam poder fazer músicas que não cabem nos seus trabalhos principais. No meu caso, minha experiência com música é bastante abrangente. Não costumo 37

me limitar em gênero ou estilo mas, ao mesmo tempo, penso que uma banda não pode se fechar num caminho único. Estou sempre reciclando ideias, pensando numa forma de acrescentar algo interessante pro show (com Torture), mas as vezes crio algumas coisas bacanas que não cabem no projeto principal. Assim, acabo tendo essa necessidade de ter outros projetos dos quais eu poderei usar essas criações e me realizar, também, com estas músicas. Quais são as suas principais influências? Sou muito expansivo. Tenho muitos heróis na música. Citando alguns, como guitarrista, Tommy Iommi, Adrian Smith e John Petrucci. Como cantor, Mille Petrozza, Bruce Dickinson, Freddie Mercury e Kai Hansen são influências pra mim. Apesar de muitos não terem muito a ver com meu estilo, aprecio muito a atitude (além do vocal). Estes, realmente são grandes inspirações. Vocês viajam bastante e, com certeza, sabem distinguir quase todo tipo de público do Metal. Qual a maior dife-


rença que você consegue perceber entre o público brasileiro e o público do exterior? Headbanger é headbanger em qualquer lugar do mundo. Elas só se manifestam diferente de acordo com a cultura. Alguns mais fechados, outros mais calorosos. Acho que a diferença é a mentalidade. Você vai tocar num botequinho no interior da Eslovênia, mas os caras vão ao show, prestigiam a banda, compram o CD. Aqui em São Paulo, as pessoas pagam 700 “pilas” no Show do Roger Waters e não pagam 20 Reais no CD de uma banda nacional, mesmo que ele goste da banda. Pra mim esta é uma das principais diferenças. Além do Heavy Metal você certamente deve apreciar outros gêneros. Qual você gosta? Tudo o que for bem feito e autêntico. Mas fora do Heavy Metal, o que me agrada bastante é a música antiga, música barroca, música experimental, música contemporânea... Não há um gênero em especial. Tudo depende do meu estado de espírito naquele momento. O que tem ouvido ultimamente? Que álbum você nos recomendaria? Estou sempre ouvindo coisas diferentes. Atualmente estou numa fase progressivo-moderno. Recomendaria o último álbum do Rush (Clockwork Angels)e os dois últimos do Dream Theater (A Dramatic Turn of Events e Dream Theater) Conte-nos um pouco a respeito de como você compõe. Que dicas você daria a quem quer começar a compor? O modo com o qual a gente se dedica a composição é muito importante para o resultado e a gente tem uma tendência a pensar que precisamos de inspiração para compor. E a composição musical não pode depender somente disto, se não você acaba não desenvolvendo um estilo próprio, uma 38


linguagem sua, pessoal. Se você depende somente daquele momento e passa, você acaba não desenvolvendo o que poderia. Técnica, você adquire com a repetição. Para quem quer compor de verdade, eu sugiro compor todos os dias, mesmo que por duas horas. Tem que sentar e forçar a barra mesmo - e é claro que na maior parte do tempo pode ser que não role nada -, aos poucos você vai adquirindo um hábito, vai desenvolvendo suas ferramentas e daí, o dia que bate a inspiração você já está amaciado, você encontra soluções de uma maneira melhor. Então, eu acho importante para quem quer compor música, trabalhar bastante para poder fluir sempre. Toda ideia, por mais que ela possa parecer absurda no momento, ela sempre irá acabar se encaixando com alguma coisa, em algum lugar, em algum momento. No Torture Squad, às vezes, chega a ser engraçado: uma vez, o Amilcar me reclamou (risos) e falou, “Meu, para de trazer ideias se não a gente vai se perder”. Eu acho que a metáfora mais legal para explicar tudo isso é que a gente joga tudo num balaio, vamos peneirando e tirando as pepitas. Para as bandas que estão iniciando agora, qual mensagem você deixaria? Trabalhem sem parar. Todo dia, façam algo pela banda. Que seja um telefonema, um desenho num papel imaginando alguma coisa. O mínimo é um ensaio por semana e um ensaio sozinho além deste. Passar suas partes, estudar seu instrumento e nunca, nunca desistir, nunca parar. A vida dá muitas voltas, temos momentos ruins, mas devemos saber passar por eles e não desistir com qualquer obstáculo que apareça, por mais difícil que seja. Agradeço por mim e em nome da revista Rock Meeting pela entrevista. Ficamos aguardando sempre por novidades sobre você, sua carreira com o Torture Squad e seus projetos paralelos. Até breve!

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Entrevista

“Todos pulsamo é isso que

Por Pei Fon (@poifang \ peifang@rockmeeting.net) Fotos: Assessoria/ Divulgação

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os no mesmo bit e e importa� 41


“Foi, de fato, umas das coisas mais incríveis de toda minha carreira”. Esta é uma declaração sincera de quem está podendo ver seu projeto alçar novos voos e ainda mais altos. Esta declaração é de Thiago Bianchi, vocalista do Noturnall e Shaman. Batemos um papo bem descontraído sobre todo este furacão que o Noturnall está causando no Metal brasileiro. Além da banda, questões pessoais e até aquele episódio na rede social foram perguntados. Ficou curioso? Leia a entrevista a seguir. Primeiro de tudo, o Noturnall já nasceu grande nos quesitos músicos, produção e proposta sonora. De onde nasceu, e de quem partiu a iniciativa de criar esta super banda? Thiago Bianchi - Obrigado pelas palavras. O Noturnall nasceu da necessidade dos músicos do Shaman e do baterista Aquiles Priester de fazer um novo tipo de música, que fosse um resumo de todos os estilos que tocamos em nossas carreiras. Tínhamos já, há algum tempo, as músicas que formariam o novo disco do Shaman, mas pela falta de agenda da 42

mesma, não conseguíamos dar cabo, gerando uma enorme ansiedade em nós músicos e ainda por cima nos privando de dar a real atenção que as músicas, em questão, pediam. Após uma longa reunião e audição do material, chegamos a conclusão de que aquilo não era mais Shaman, mas sim algo totalmente moderno, novo e inspirador! Sendo assim, ligamos para o primeiro baterista que nos veio à mente para nos acompanhar nessa nova jornada e claro que teria que ser Aquiles Priester, em minha opinião, um dos top metal drummer do mundo! Marcamos um papo após mandar as músicas pra ele e de lá saímos em formato de banda, sem pensarmos muito. Foi, de fato, umas das coisas mais incríveis de toda minha carreira. Com menos de um ano de formação, a banda já lançou três vídeos, um álbum e está prestes a lançar um DVD. Qual é o retorno que vocês já estão tendo com toda esta investida? O melhor possível! Somos todos muito “correria” e por isso gastamos de muito pouco a nada em nossas empreitadas. Isso porque so-


mos “auto suficientes” em matéria de áudio e vídeo, além de, claro, termos alguns amigos de extremo talento que estão sempre a fim de alcançarem voos extremos conosco. O retorno financeiro está vindo aos poucos, tanto de nosso disco que é um dos mais vendidos de toda nossa carreira, bem como de nossos shows que alcançaram rapidamente um status semelhante ao que tínhamos com nossas outras bandas. Então, não temos motivos para parar de meter o pé no acelerador. Falando no DVD, ele fora gravado em março deste ano e está sob os cuidados de três empresas diferentes. A previsão é lançar em julho, o que já pode adiantar para nós? Não, a previsão é para setembro! Sim, foi uma parceria de nossas empresas de áudio, o Fusão Studios; de vídeo, a Foggy Films e a Fx Render, do nosso grande parceiro de vídeos, DVDs e loucuras, Alex Batista. Estamos muito empolgados e felizes para dividir com todos essa grande noite que foi a do DVD. Não posso adiantar muito mas, com certeza, será

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um DVD com qualidade e opções a frente de seu tempo, já que estamos estudando técnicas e ferramentas novas para tal. Vocês não perdem por esperar! O primeiro álbum do Noturnall já coleciona números impressionantes estando no mesmo páreo com lançamentos de bandas estrangeiras. Como vocês enxergam este crescimento exponencial em tão pouco tempo? Trabalho e honestidade com o público. Fizemos um som que realmente gostamos e deixamos todos os detalhes sob o microscópio durante todo o processo, o que significava árduas madrugadas cuidando de cada peça, de cada cantinho do trabalho, cuidando para que o público tivesse o melhor disco possível, que realmente valesse cada centavo do suado dinheirinho de nossos fãs trabalhadores e escravos desse sistema falido e corrompido, chamado Brasil. Valorizamos muito nossos fãs e acho que eles perceberam isso desde que o Noturnall nasceu.


O Noturnall pode ser resumido como o Shaman mais Aquiles Priester. Nem preciso dizer das qualidades do baterista, ainda mais agora que seu DVD foi considerado como o melhor DVD educativo pela principal revista do segmento no mundo. Fazendo uma analogia com a bateria, Aquiles seria o coração da banda? Engraçado você perguntar isso, pois fazemos reuniões periódicas sobre os caminhos a seguir e novas estratégias de alcance a nosso público mundo afora e comumente nós associamos isso a peças de uma engrenagem. Acreditamos fielmente que sem o trabalho de todos a coisa não andaria como deveria, então somos extremamente sérios com nosso som. Mas respondendo de forma mais direta sua pergunta, somos a peça que cada assunto a mesa nos pede a ser. Então dependendo da questão, cada um pode ser uma parte forte, mas sempre importante. No quesito musical, somos todos iguais, o importante é que todos 44

pulsamos no mesmo bit e é isso que importa. “Noturnall” teve a produção de Russell Allen do Symphony X e Adrenaline Mob. Como foi todo o contato entre ele e vocês e o que pode dizer da tour com ele e Thiago Bianchi pelo país em março? Teria um replay? Foi demais! Fizemos a tour junto com Marcelo Moreira, batera do Almah. Formamos um Trio parada dura por esse Brasil afora(risos). Mais de 17 datas gritando na orelha dos metaleiros tupiniquins, tendo seu cume no tão esperado DVD. Foi de fato, histórico! Já foram lançados três vídeos, sendo um deles uma incrível homenagem ao dia das mães e uma promessa cumprida. Se a intenção era emocionar, vocês conseguiram. A versão do Tears for Fears de 1989 mostra que a música é realmente atemporal. Ficamos muito felizes com a aceitação que foi


realmente geral, afinal, todo mundo tem mãe né! (risos). E claro, pra mim, particularmente, sensação de dever cumprido e de contribuir ainda mais pra cena metal do meu país. Foram tantas coisas lançadas e outras que estão por vir, incluindo os shows. Já existe convite para tocar fora do Brasil? Sim, mas ainda sob cuidadosa análise para que lá fora também seja como aqui, algo bem feito e que traga boas lembranças, além de, claro, contribuir para o crescimento do Noturnall. No release que recebi sobre vocês tem uma frase interessante que me chamou bastante atenção. Vocês chegaram para ficar e “não há mais volta”, é isso mesmo? Claro, afinal esse é o nome da banda! Não dá para falar de vocês e não men45

cionar o assunto do momento que foi aquela resposta por meio da fanpage da banda. Como foi que a informação chegou até vocês e de quem partiu a ideia de soltar aquela nota explicando o episódio? Nossa, sério mesmo que isso virou até tópico de entrevista? Uau... Bom, é simples. Nos primeiros passos da banda, por falta de tempo de resolver todos assuntos, delegamos algumas funções a fãs e amigos. Uma delas, respostas de fãs na página da banda no Facebook. Durante todas os reviews de nosso disco enviados e postados em nossa página, uma delas foi pedida para que fosse postada. Na ocasião, a pessoa que cuidava da página respondeu, sem nosso conhecimento ou aprovação, que não postaria por não ser uma nota 10 e ainda sugerindo que o profissional mudasse sua nota. Uma atitude infantil da parte dela, infelizmente, mas que gerou um verdadeiro “hit na net”. Logo que fomos alertados por nosso assessor de imprensa, Mr. Eliton, da


Som do Darma, nos prontificamos a nos responsabilizar pelo ocorrido, mas pedindo ao mesmo tempo, sinceras desculpas ao público e aos colegas jornalistas por não ter acompanhado de perto quem cuidava de nossa imagem, de certa forma, no Facebook. Essa pessoa não se encontra mais com a banda há tempos, mas sua cagada ficou(risos). No fim ficou tudo bem pois, felizmente, se você tiver o interesse em dar uma volta na nossa página, verá que desde o lançamento do disco, resenhas das mais variadas notas e críticas estão disponíveis para leitura. E é isso. Gosto sempre de saber o Top 5 das bandas. Então, diga qual o Top 5 das bandas que influenciam o Noturnall e fale um pouco sobre elas. Pantera, Megadeth, Metallica, Sepultura e

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Iron Maiden. Tenho mesmo que falar sobre essas bandas? Acho que não, né?(risos). Esta é mais uma curiosidade minha. Thiago já participou de um quadro do Fantástico onde ele consegue quebrar uma taça de cristal. Thiago, você tinha essa noção de que poderia quebrar aquela taça? Sim, já havia conseguido algumas vezes. Uma, inclusive, no programa Leitura Dinâmica, da Rede TV, que foi onde o Fantástico me “achou”. Foi moleza! (risos). Para finalizar, o que podemos esperar do Noturnall neste segundo semestre de 2014? Sucesso sempre galera! Muito Metal e comprometimento com o público e com a música! Grande abraço e obrigado pela entrevista, Pei.



“O disco reflete muito a inquietud Por Pei Fon (@poifang | peifang@rockmeeting.net) Fotos: Divulgação

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de que o brasileiro estå vivendo� 49


P

restes a lançar o seu mais novo trabalho, batemos um papo com Alirio Netto e Giovanni Sena sobre o “The Waking Hour”, as novidades, shows e, claro, sobre o Jesus Cristo Superstar. “The Waking Hour” está pronto. Fale um pouco sobre o álbum, inspirações, temática? De tudo um pouco. Giovanni Sena - Apesar de não ser um disco conceitual, há faixas que estão conectadas. Principalmente pelo tema abordado. O disco reflete muito a inquietude que o brasileiro está vivendo. E isso, na verdade, é uma opinião pessoal. O brasileiro viu que tem voz, descobriu que há formas de procurar os direitos, mas ainda não sabe como fazê-lo. Às vezes rolam situações onde encontramos maneiras equivocadas de se resolver questões como é visto nos noticiários. Mas acho que estamos caminhando para um processo de deixar de reclamar de tudo e agir para encontrarmos soluções. Todas essas reflexões serviram de inspirações para fazermos o TWH. A primeira faixa, “Under the sun”, já começa com uma boa referência ao que vai acontecer no país. A intenção foi de acordar o povo? Alirio Netto - Com certeza. A ideia é sim de mexer um pouco com o orgulho do brasileiro. Somos um povo pacífico que está sendo testado até o limite. Vivendo em condições vergonhosas, quase como animais acuados, sem opção, a não ser reagir! As letras do álbum refletem essa angústia e isso incomoda, assusta, dá medo, mas te mantém alerta e nos tira da zona de conforto. Sei que temos algumas pessoas mal intencionadas nessas manifestações mas, a maioria, está focada em melhorar o país. Espero que 50

na copa o povo continue nas ruas. Eu estarei lá! Existe uma diferença bem sentida entre “Overcoming Limits” e TWH: a voz de Alirio Netto. Soa bem mais agressiva e, de longe, pode-se até passar despercebido que é ele quem canta. Essa mudança de postura tem tudo a ver com a temática do álbum? Alirio Netto - Tem a ver sim com o tema. Mas também tem a ver com o que a música pede. Sempre que ouço, uma melodia nova na minha cabeça, já começo a pensar no som que quero tirar da minha voz. Testo várias coisas e maneiras diferentes de cantar até encontrar aquilo que me agrade. Penso que o artista tem que se emprestar para a obra, e às vezes isso te faz encontrar novas possibilidades de expressão e estética. “Broken Brigdes” já está circulando pelas mídias sociais. E aí, já está rolando o feedback da galera? Giovanni Sena - SSim. A receptividade da galera está bem positiva. Todos que ouviram o “single” sentiram essa energia que as músicas novas vêm proporcionando. São músicas fortes e que funcionam bem ao vivo. Alguns esperavam um “Overcoming Limits” parte II. Bem, não queremos ser clones de nós mesmos. Estamos à procura do nosso próprio som. Então, cada momento que passa, somos pessoas diferentes e isso reflete diretamente nas músicas. “Melted in Charisma” é uma das faixas que mais gosto. Essa mudança de ares ora acústico, ora Metal deixa a faixa bem envolvente. A força e a leveza unidas, é isso mesmo?


Foto: Pei Fon (Rock Meeting)

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Giovanni Sena - Temos influências diversas. Então a música acaba tendo essas características também. Esses diferentes “approaches” transportam o ouvinte à lugares diferentes. Quem ouvir com atenção as músicas vai perceber que as partes sempre terão uma novidade e isso enfatiza esses momentos de surpresa. Alirio Netto - O artista tem que evoluir pois o público também evolui. Nesse Cd sinto que o Ártemis encontrou sua forma de se expressar como um indivíduo. São 5 caras, 5 partes vitais de um mesmo organismo, o álbum soa coeso e com a cara de todos na banda. Estamos mais maduros e isso pode ser sentido no TWH.

ples. Apesar de que o Brasil é o nosso foco, é a nossa casa, foi o último lugar a termos um contrato. Ainda temos escassez de selos que apoiam as bandas de forma justa. O acordo tem que ser justo para os dois lados. Mas, felizmente, conseguimos renovar com o nosso selo e tudo deu certo.

Previsto julho, o disco vai sair primeiro na Europa, EUA e Japão para depois ser no Brasil. Por que acontecer primeiro fora para depois vir para o país? Giovanni Sena - A resposta é bem sim-

Não dá para falar com Alirio e não mencionar seu papel como Judas na ópera rock Jesus Cristo Superstar. Você já foi o Jesus lá no México, qual a diferença para agora ser o cara conhecido como

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Lançamento oficial de “The Waking Hour”. Haverá algum tipo de show de apresentação das novas músicas? Alirio Netto - Faremos show de lançamento e já estamos negociando as datas. Quanto a algum evento especial para audição do novo álbum, estamos pensando em fazer algo em junho mas ainda não tem nada decidido.


o traidor? E como foram estes três meses de espetáculo e qual o saldo da peça? Alirio Netto - SSão dois personagens que, apesar de serem os dois lados da mesma moeda, tem de ser encarados de formas bem distintas. Jesus era um revolucionário, um cara carismático, que falava de amor em uma época e lugares onde as pessoas estavam muito mais preocupadas em sobreviver cada dia de suas vidas como se fosse o último, pois viviam em condições quase sub-humanas. Judas era um cara metódico, contador, zelote, econômico, e certeiro nas atitudes. Um ser que amava Jesus como a um irmão. Irmãos que discordavam em alguns pontos crucias e por isso esse final trágico. Minha intenção é que as pessoas saiam do teatro gostando, pelos menos, um pouco de Judas. Tentei humanizar o personagem ao máximo. 53

A preparação foi bem intensa. 2 meses de ensaios diários das 9 da manhã até às 9 da noite. No musical, a voz, o corpo, a movimentação, tudo que você faz tem que ser justificado pelo texto. Estamos contando uma história que tem que ser entendida na primeira vez que o público te vê e te ouve. Então o nível de concentração é muito grande. Não temos espaço e nem tempo para errar. Esse papel me trouxe um reconhecimento muito bacana por parte dos críticos, público e mídia. Até prêmio como ator eu ganhei. Estive em programas televisivos importantes como: Marília Gabriela, Jô Soares, Altas Horas, Todo Seu, Jornal Hoje, etc. Revistas como a Veja, Caras, até a Contigo. (risos) Então o saldo foi muito positivo, ver as pessoas te parando na rua e te dizendo como


admiram seu trabalho é algo muito gratificante. Como é que a galera pode ouvir o novo single de vocês, acompanhar as notícias da banda? Giovanni Sena - A internet ajuda bastante nesse quesito. Temos nossa “fanpage” (acesse AQUI) oonde temos um contato direto com os nossos fãs ora respondendo perguntas, ora divulgando as notícias. Temos a página da nossa gravadora da Alemanha, no facebook (AQUI) ou pelo site (AQUI). Temos a página da Artemis que terá novidades em breve: www.ageofartemis.com.br Por fim, 2014 já está na metade praticamente, o que podemos esperar do Age of Artemis? Sucesso sempre! Giovanni Sena - A gente tem uma apresentação em novembro no Chile em um “Open Air” festival. E estamos preparando a “tour” pelo Brasil. Tem muita gente que quer nos ver ao vivo. Estamos trabalhando pra isso. Alirio Netto - Estamos negociando algumas parcerias que, possivelmente, vão nos levar a lugares que ainda não fomos, principalmente aqui no Brasil e Europa também. Então vamos aguardar as novidades.

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Ap贸s um per铆odo de 5 anos, quand Sepultura e Matanza, a banda Texto e foto: Pei Fon (@poifang | peifang@rockmeeting.net)

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do fez uma turnĂŞ conjunta com o a retorna Ă capital alagoana

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de agosto de 2009. Clube Fênix Alagoana. Maceió. Quem se lembra desta data? Pois bem, foi a última vez que o Angra, referência do Heavy Metal brasileiro, pisou na capital das Alagoas pela última vez. Naquela ocasião a banda estava em turnê com o Sepultura, outro ícone brasileiro no mundo, e o Matanza. Este show foi marcado pelo atraso, por burburinhos e, principalmente, polêmicas, mas o fã não tinha nada a ver com o que aconteceu nos bastidores. Na oportunidade, o Angra não fez uma boa apresentação, por inúmeras razões, e quase não subiu ao palco devido aos problemas com os organizadores à

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época. Em respeito aos fãs, Kiko, Felipe, Edu (ainda nos vocais), Rafael e Ricardo tocaram as principais músicas, mas o som não colaborou muito. Águas passadas. 2014. Angra retorna à Maceió com a nova turnê de 20 anos do primeiro cd da banda, o Angels Cry. Desta vez lançamento do dvd, de mesmo nome, gravado ano passado, em São Paulo. Esta tour iniciou ainda com Fabio Lione como vocal interino da banda. Após a gravação do dvd, ele fora efetivado. No entanto, a tour de maio começou com a despedida de Ricardo Confessori da bateria, e quem assume agora é o menino prodígio, Bruno Valver-

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de, que acompanhou Kiko Loureiro em sua tour do seu cd solo. Fugindo destas questões internas da banda, vamos falar do show? O show Era uma quinta-feira, 22 de maio, chovia muito em Maceó, e já tinha uma galera que chegou cedo esperando este grande show. A chuva cessou e o povo foi chegando e chegando, tomando as dependências do local. Para uma quinta-feira, o povo chegou, minha gente! Antes, mas bem antes do show, era


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possível ver nos olhos dos fãs aquele brilho único que só um fã de verdade tem, saca? Sabe aquele frio na barriga, aquela angustia para o show começar, aquele olhar fixo para o lugar onde iria iniciar um grande espetáculo, aquelas palpitações no coração. Isso é coisa de fã! Pouco tempo depois da hora marcada, a banda sobe ao palco sob os gritos enlouquecidos: AN-GRA, AN-GRA, AN-GRA! Mesmo quem não é tão fã assim da

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banda fica emocionado só de testemunhar como é a reação da galera ao ver que o show está começando e eles vão aloprar ali no meio do povo ou espremidos na grade! Ao som de “Angels Cry”, faixa título da turnê, a banda inicia o show. O povo já estava fora de si mesmo. Por alguns bons minutos fiquei a admirar toda essa contemplação única. Fã pode ser tudo igual, mas é muito interessante entender o comportamento deles diante da banda que tanto amam.


“Nothing to say” para tudo isso! Em seguida “Waiting silence”, “Time”, “Lisbon”, “Millenium sun” onde Fabio apresentaria a canção. Vamos abrir um parêntese aqui para o solista italiano. Receptivo e bem educado, Fabio recebeu alguns fãs, tirou foto, conversou com alguns deles, deu a atenção que o fã gostaria que tivesse. E quando esse homem pega o microfone, caramba, que loucura é essa?! O cara arrebenta. É bem verdade que alguns

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poucos foram ao show apenas para ver Fabio, tamanha é admiração da galera por ele, ainda sob o respaldo de sua antiga banda o Rhapsody of Fire. Pela aproximação do idioma latino, Fabio está aprendendo bem a conversar em português, o que deixa ainda mais próximo a banda do seu público. Ele arriscou muitas vezes uma conversa com a galera, quando não falava no bom inglês e ninguém saiu de lá insatisfeito.


Voltando ao show, ainda contou com “Winds of Destination”, “Gentle Change”, uma pausa para um drum solo de Ricardo Confessori. Aí a banda retorna com “Make Believe”, que me remeteu ao show do Kiko Loureiro Trio, onde o próprio Kiko cantou e foi uma surpresa bem grata. Em voz e violão, foram tocadas “Late

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Redemption”, “Carry on”, sim “Carry on”, interessante, não? Uma música tão agitada, tocada de modo tão calminho! Na sequência, “Acid Rain” finalizando o momento acústico. “No Pain for the Dead”, “Spread your Fire” e fechando com “Rebirth”, clássico hein?! No bis, a galera ainda pôde conferir “Nova Era”, poxa, não dava para ficar sem essa! Assim o


Angra finalizou o show com mais de duas horas de espetáculo. Logo após veio a banda pernambucana Terra Prima, que tem acompanhado os caras na turnê pelo Nordeste. Já conhecido da galera, os caras nunca haviam tocado em Maceió. O vocalista Daniel Pinho fez menção a esta curiosidade.

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Esbanjando técnica, o quinteto recifense não deixou a peteca cair e tocou músicas próprias do seu primeiro álbum, “And Life Begins”. E o segundo está por vir. “Time to fly”, “Essence”, “Rage” e “Await the Story’s end” foram algumas tocadas pelos caras que encerram o show do Angra com chave de ouro.


Por Leandro Fernandes para Rock Meeting Fotos: Assessoria/Divulgação

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“Eu não escolhi ser músico, essa é minha vocação.” De onde surgiu a ideia de fazer releituras de lendas do rock clássico? Foi quando escutei “L.A. Blues Authority”. Toda a série é fantástica. Alguns de meus guitarristas favoritos como: Richie Kotzen, Zakk Wylde, Paul Gilbert, etc... Prestam homenagem às suas raízes e influências. Foi daí que surgiu toda a concepção. Qual a importância de Robert Johnson na carreira da banda, existe alguma influência? Certamente conhecemos e respeitamos seu trabalho e creio que a influência de Robert Johnson se fez muito presente nos músicos que, cedo ou tarde, começamos a escutar e naturalmente essa influência nos foi passada, mesmo que de uma maneira inconsciente. Crossroads foi uma das primeiras músicas a fazer parte do nosso set. O blues é o pai do rock e ambos os gêneros sempre estiveram muito presentes, pelo menos, na minha educação musical. Em minha casa os discos de Muddy Watters, Ray Charles e Eric Clapton estavam ao lado dos do Queen, AC/DC e Jimi Hendrix. O som bastante “americanizado” é bem explícito, que por sinal é excelente. Como é a aceitação aqui no Brasil. O som “americanizado” vem, com certeza, de influências individuais de cada músico da banda. Particularmente falando, sempre busquei inspiração no estilo imortalizado por 67

Van Halen, ZZ Top, Whitesnake (que no anos 70 era uma banda de blues, mas pouca gente realmente sabe disso) e guitarristas como Jeff Beck, Stevie Ray Vaughan e Gary Moore. Essa pegada, que eu chamo de HardBlues , vem tanto do British Blues, o blues europeu, como do American Blues. Quanto a sua aceitação no Brasil eu diria o seguinte: quem gosta, gosta de verdade e tem muita gente que escuta, que conhece, que vai aos shows pra curtir a banda mesmo. Eu sou da opinião de que se a música é boa e bem tocada, o público curte. A música “Cowboy Hat” é inspirada em algo ou o tema foi aleatório ao compor? Eu costumava fazer todos os shows da Electric usando um chapéu de cowboy. Aí uma noite num bar aconteceu uma situação inusitada – essa história inclusive eu conto no DVD – e você vai ter que assistir para saber. Dessa história é que veio a inspiração para a letra, que conta a história de um garoto que cresceu no final dos anos 70, acostumado a assistir TV nas tardes e ver filmes de “cowboy”. Essa música é uma das minhas preferidas do novo cd. Como está a repercussão do disco “Strength To Go On”. Estou bem contente. Estamos tendo críticas muito boas, nos meios especializados, e o pessoal que vem comprando o CD/DVD tem dado um feedback muito legal pelas redes sociais e, principalmente, nos shows.


O E.B.E mostra bastante superação devido a certas dificuldades que o musico hoje enfrenta em seu dia-a-dia. De onde vem a força de não querer desistir. Eu não escolhi ser músico, essa é minha vocação. Tenho muita sorte de poder sobreviver dessa vocação, fazer dela meu meio de sustento, porém nunca esqueço de que não comecei a tocar guitarra pensando em dinheiro. Toco guitarra porque, pra mim, é a coisa mais legal do mundo e não tem como desistir ou parar de fazer a coisa que você mais gosta, certo? Quanto à “força para continuar”, que é a tradução do título do nosso novo trabalho, essa força vem da determinação e vontade de sempre melhorar e sempre ir mais além. Existe algum contato com produtores de outros países? Infelizmente, ainda não. Eu me enquadro naquele grupo de artistas que faz muito bem a arte mas é péssimo no business. É difícil manter uma formação estável em uma banda quando se está começando, pois o E.B.E passou por algumas formações assim como acontece em bandas. 68


A menos que todos na banda tenham em comum, além do gosto musical, o mesmo objetivo, nenhuma formação é estável. Mas acredito que mudanças, mesmo não parecendo no início, são sempre para o melhor. Faça o seu top 5 das bandas ou músicos e consequentemente dos CDs que você tem escutado recentemente. Fale um pouco sobre elas. Bom, eu costumo escutar de tudo então a coisa é bem variada. Na área do blues, tenho escutado os CDs: - “Bright Lights” do Gary Clark Jr. – um cara que descobri agora, manda ver no blues e canta muito bem. - “Sloe Gin” do Joe Bonamassa – esse disco traz uma performance e um som de guitarra matador. Doyle Bramhall II com o “Welcome”. - The Winery Dogs – Richie Kotzen canta muito e como guitarrista é fantástico. - O último, de Joe Satriani – “Unstoppable Momentum” – Satriani é uma das minhas primeiras influências e até hoje um guitarrista que continua a me inspirar – ele é blues total!!! As músicas do novo disco são bem cativantes e realmente vão ao ponto certo de quem aprecia uma boa música. Como é feito o processo de composi69

ção, Existe algum tipo de costume ou superstição para produção das músicas e shows? Normalmente eu apresento ideias de músicas, riffs, algum refrão ou até mesmo, às vezes, a música já toda estruturada. Passo essas ideias pro Graziano (tecladista) que me apresenta algumas ideias dele e aí vamos lapidando, acrescentando, tirando, dando a forma final. Uma ideia de baixo ou bateria também podem ajudar a forjar alguma estrutura ou clima. O ideal seria a banda toda reunida, por horas numa sala de ensaio, apresentando ideias e criando juntos, com um produtor direcionando o trabalho. Mas, como mencionei, todos devem estar na mesma página e com o mesmo objetivo. Depois do lançamento do disco mais recente, as portas se abriram pra banda e Como estão os projetos para esse ano? Estamos sendo reconhecidos pelo nosso trabalho, recebendo bons reviews, convites para tocar em outros estados. O plano agora é agendar uma tour, mostrar nosso show ao vivo, pois é aí que está verdadeira magia. Deixe um recado para nossos leitores. Continuem descobrindo artistas e apreciando a boa música. Divulguem os artistas que vocês curtem, fomentem a sua cena musical. Keep Rockin’!!!!!!


“somos filhos d

Por Leandro Fernandes para Rock Meeting Fotos: Renan Facciolo

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todos do blues�

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Primeiramente, sobre o nome da banda que no início da carreira se chamava Johnnyboy. O que levou a mudança do nome para JohnnyBox? Tato Ferrari: A banda teve como primeiro nome “Johnnyboy” porque era assim como alguns dos integrantes se tratavam. Nunca foi um nome muito pensado. Quando a banda passou por algumas reformulações, como a entrada do atual vocalista Tato Ferrari, achamos que o nome era fraco e tinha uma sonoridade ruim. Ele remetia a uma ideia de que os integrantes eram todos “filhinhos de papai”, além de descobrirmos que alguns grupos de outros países já tinham o nome. Então decidimos trocá-lo, mas tentando manter a essência pois já havíamos utilizado Johnnyboy em alguns festivais. Então veio a ideia de Johnnybox, onde praticamente o nome foi preservado, com a mudança apenas da última letra. E por que Johnnybox? São os segredos do Johnny guardados em uma caixa (box), ou seja, nossos segredos, sentimentos, ideias, opiniões e valores. Se quiser entender os segredos da caixa do Johnny basta ouvir as músicas. Como está à repercussão do single “E.T – Extremamente Terrestre”? A música tem repercutido bem. As pessoas estavam curiosas para ouvir a música porque era a primeira com letra em português, uma vez que o CD “Deep Inside Jerry’s Mind” (2014) foi todo gravado com faixas em inglês. Temos recebido respostas muito positivas quanta a música. Ela tem uma cara um tanto diferente das músicas do CD, talvez por isso tenha impactado as pessoas, não só pela diferença de idioma, mas pela sonoridade. Ela, de certa forma, sintetiza todos os estilos que nos influenciam: um começo bem groovado, 72


passando por partes melódicas que chegam ao hard rock em alguns momentos, com passagens de jazz. Acreditamos que esse tenha sido um dos motivos da boa aceitação do público, assim como a temática da letra. Sabemos que a cena do rock/metal nacional tem grande respeito lá fora, prevalecendo para alguns “conterrâneos” o velho ditado: “santo de casa não faz milagre”. Como tem sido recebido por parte de crítica e público o trabalho da banda? Até o momento, tanto a crítica como o público têm recebido a banda sempre de forma muito positiva. Na maioria das vezes, as opiniões que recebemos é de que nosso som se destaca por ser de certa forma diferente do que está rolando na cena atual. Já recebemos algumas críticas do CD, e digamos que a repercussão é sempre muito positiva, ja que mesmo os críticos de opiniões negativas, acabam elogiando a banda em muitos pontos. Mas sabemos que tais críticos são também de alguma forma, amantes do rock e da boa música no geral, então precisamos dosar o favorecimento do meio. Um outro tipo de “preconceito” que já sentimos na pele aqui no Brasil é o fato de cantarmos em inglês no início da banda. Percebe-se que a veia progressiva contida na banda é explicita. Quais são as influências ou a principal influência de vocês? Temos influências de muitas vertentes do rock. Pelo lado mais funk/groove somos muito fãs de Red Hot Chili Peppers, Infectious Grooves, Primus, Stevie Salas, Living Colour, Faith no More, Funkadelic, Stevie Wonder... Pelo lado mais Hard, temos influências de Guns N’ Roses, Aerosmith, Metallica, AC/DC, 73


Deep Purple, Alice in Chains, e também nos inspiramos muito nos grandes clássicos do rock como Led Zeppelin, Black Sabbath, Jimi Hendrix, Janes Joplin, Pink Floyd, Queen. Tem uma série de outros estilos, são tantos! Não podemos esquecer de Nirvana, e ja que é pra falar de progressão, o Rush. Sem contar com as influências vocais de Heavy Metal que proveem com mais peso pelo Tato Ferrari, tais como Bruce Dickinson, Dio, Russell Allen, André Matos, Mario Linhares, Renato Tribuzy... Johnnybox, como a gente costuma brincar, se fosse um bolo, seríamos feitos do velho Rock ‘n Roll, batido com camadas Groove, Hard Rock e cobertura crocante de Funk Rock. “Deep Inside Jerry’s Mind” tem sido bem recebido de modo geral? Deep Iniside Jerry’s Mind tem sido muito bem aceito. Ele é a consolidação de um trabalho que já era conhecido do público que ia em shows da banda pois contempla as primeiras 7 músicas compostas pela banda. Das pessoas que só ouviram o CD sem ir aos shows também tivemos respostas positivas, sempre destacando a sonoridade diferente da banda, ou como a gente já escutou por aí alguns dizerem: “não sei explicar o que é”! Recentemente a banda foi premiada juntamente com a “Mamilo Mandala” no Manifesto Bar. Isso ajudou em algo com relação a agenda de shows? Vencer o concurso Manifesto Rock Fest foi muito bom para a banda. Nos deu uma visibilidade legal, e nos deu a oportunidade de tocar ao lado de muitas bandas boas que conhecemos no próprio festival. O reconhecimento aumentou, o nome ficou mais conhecido, demos um passo importante, mas não ajudou 74

tanto assim com relação a agenda de shows. A agenda continuou de certa forma da mesma maneira que era antes da premiação. Na verdade, nosso grande objetivo nesse festival, era conhecer novas bandas e parceiros e descobrir como anda o cenário. Era também um desafio, ja que a primeira vez que participamos ficamos em segundo lugar… Então veio o reconhecimento em 2013, conseguimos nos superar, fruto de muito trabalho e dedicação. Já existe contato com algum produtor de fora? Não temos contato direto com nenhum produtor de fora do país. Estamos trabalhando com algumas empresas nacionais que fazem agenciamento/marketing e que tem contatos lá fora, mas de forma direta, ainda não temos


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contato. Alias estamos em busca de produtor, investigando por onde entrar, detectando brechas. Nosso foco sempre foi tentar levar nossa música, que não deixa de ser brasileira (só porque cantamos em inglês), pra fora do país. As agências na qual estamos hoje, trabalham com muitas bandas ao mesmo tempo, elaboram estratégias a longo prazo, então ainda estamos experimentando tudo isso, afim de entender quais resultados surgem. Porém, desde 2013 iniciamos o trabalho também em português, o que nos faz ficar atentos na busca de um produtor voltado pro Brasil, que possa nos atender de forma mais “íntima”, mais “próxima”, com ações mais diretas e imediatas… Ainda acreditamos que sem o “pé na estrada”, fazendo shows, nada pode acontecer. Seria bom ou poderia ser precoce uma tour fora do país? 76

Podemos dizer que se fosse em 2011/12, seria precoce com certeza, hoje em dia não. Seria muito bom se rolasse uma tour fora do país, mesmo que pequena, ou mesmo que fosse em lugares pequenos. Precisamos mostrar nossa música, se não nada faria sentido. Com relação a um estilo musical, vocês se rotulam em um determinado estilo ou a banda tem seu estilo próprio? Gostamos de denominar nosso estilo de Funk Hard n’ Roll (sem que a ordem dos fatores altere o produto). Não acreditamos que seja um estilo próprio criado pela banda, mas sim uma conjunção de estilos já existentes. Esse mix pode gerar sonoridades potentes, ou ainda poucos exploradas. Misturamos o lado pesado com vocais agudos e guitarras marcantes do Hard Rock, com a cozinha dançante do baixo e bateria bem presentes do Funk. É tudo feito de forma natural, a gente não fica


fritando a caixola a fim de querer misturar isso com aquilo, simplesmente acontece porque cada um tem uma identidade musical e respeitamos isso. Confiamos no bom gosto de cada um, e querendo ou não, somos todos filhos do blues. Chegamos ao tradicional Top 5 Rock Meeting. Façam seu top 5 das bandas e consequentemente dos CDs que você tem escutado recentemente. Fale um pouco sobre eles. - Red Hot Chili Peppers – “Blood Sugar Sex Magik” (Com certeza o melhor álbum da banda e que sempre será forte influência); - T.M. Stevens – “Boom” (Um cara pouco conhecido, que faz você balançar a cabeça querendo ou não!); - Primus – “The Antipop” (Um dos melhores CDs da banda, incrivelmente freaky e uma brisa instrumental e experimental); 77

- Bombastic Meatbats – “Meet the Meatbats” (Projeto instrumental solo de Chad Smith, baterista do Red Hot Chili Peppers. Funk-jazz de alta qualidade); - Living Colour – “Vivid” (existem poucas bandas como essa. Atitude e discurso afiados, sem falar na mistura de groove e metal); Deixe um recado para os leitores da revista e falem o que está por vir para o ano 2014. 2014 está sendo um ano de mudanças para a Johnnybox. Estamos em processo de composição de novas músicas, então podem esperar por coisas novas vindo. Depois de muitos problemas com a prensagem do CD em 2013, vamos finalmente ter nosso CD físico para venda também, assim como as faixas no iTunes.



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