Xique Xique #2 Renda

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Expediente Xique Xique – Especial Renda Revista de Cultura de Moda Ano I, Número 2, outubro de 2014 Professora Orientadora/Agda Aquino Produção de Moda/Káio Lenno Araújo Assistentes de Moda/Eveline Gonçalves/ Mara Chayanne/Walysson Melo Assistente de Produção/Manoel Vicente Fotos/Agda Aquino/Everton David/ Ivan Andrey/Maria Clara Monteiro/ Jéssica Oliveira/Bruna Duarte Modelos/Amy Nascimento/ Ana Beatriz Caldas/Mariana Souto/Nayara Lima Maquiagem/Sulamita Oliveira/Tâmara Rocha Textos/Ana Victória Gonçalves/ Bruna Duarte/Eveline Gonçalves/Ivan Andrey/ Jéssica Oliveira/Káio Lenno Araújo/ Manoel Vicente/Mara Chayanne/ Maria Clara Monteiro/Walysson Melo Colaboração/Amandha Freire Projeto Gráfico/Diagramação/ Tratamento de Imagens/ Gêniton Coutinho Sarmento ISSN 2357-9579 Endereço: Rua Baraúnas, 351 – Bairro Universitário – Campina Grande-PB, CEP 58429-500 www.issuu.com/revistaxiquexique www.facebook.com/Revistaxiquexique


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Sumario ,

06 Historia

Passado trancado com linhas e agulhas

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08 Infografico 10 Perfil

A renascenca e sua marca s

12 Editorial s

Do chao a moda

24 Curiosidades 26 Perfil

Uma vida dedicada a renda

28 Reportagem

Homens que fazem renda

30 Especial

Homens se rendem!

32 Cronica Renda se

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Paraiba Rendada

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34 Editorial

A lenda e a renda

42 Figurino

Rendas se destacam nas novelas

44 Lingerie

Sensualidade trancada pelo tempo

47 Dicas


Por uma moda entrelacada s Levantar a bandeira da moda enquanto cultura, saída socioeconômica, discurso social, representação de um povo e de sua história ainda não é fácil no Brasil. Por incrível que pareça dados os números gigantes que envolvem esse setor no país (economia, educação, oportunidades de emprego e trabalho, além da indústria criativa), ainda é comum o discurso de que moda é sinônimo de “futilidade”, “frivolidade”, “bobagem”. Mas cada vez mais existem iniciativas públicas e privadas que lutam para mostrar à população que moda é muito mais do que isso. E a revista Xique Xique vem somar a essas iniciativas a vontade de mostrar uma moda engajada, entrelaçada com o nosso povo, capaz de mudar realidades sociais. Reflexo disso foi o alcance que tivemos com a primeira edição da publicação: a repercussão foi muito maior do que imaginávamos. Para este número especialíssimo sobre a renda, patrimônio do nosso povo, ganhamos fôlego e aumentamos o número de páginas, mas não apenas isso. Crescemos em cobertura fotográfica, em depoimentos e no compromisso de trazer à tona o que acontece de bom no universo da moda paraibana e regiões circunvizinhas. Dessa forma, a revista que nasceu dentro de um componente curricular do curso de Comunicação Social com habilitação em Jornalismo da Universidade Estadual da Paraíba e é integralmente feita por alunos, fica maior, e passa a ocupar novos espaços, como fazer parte do acervo permanente de um dos museus mais importantes do Estado: o Museu de Arte Popular da Paraíba. Não há como não agradecer de forma emocionada a todos aqueles que de maneira direta ou indireta ajudam na realização desse sonho: alunos talentosos, professores solícitos, coordenação e departamento de curso que abrem portas, instituição de ensino que apoia e endossa, empresas e profissionais que confiam e nos deixam ocupar espaços e usar seus itens, estilistas, artesãos e criadores que nos cedem peças para a realização dos editoriais e os dezenas de entrevistados que compartilham conosco suas histórias, preciosas para o verdadeiro jornalismo. Nas páginas a seguir trazemos, além de um exercício do jornalismo de moda, uma vontade de mostrar a renda em diversas vertentes, mas principalmente como valor cultural que ajuda a contar a história do nosso povo e a lançar luz a um futuro onde ela seja protagonista. Do editorial fotográfico inspirado na lenda popular da “mulher de branco”, à homenagem poética aos 150 anos da cidade de Campina Grande através de seus pisos de ladrilho hidráulico do editorial que ilustra nossa capa, passando pelas histórias de quem produz, usa, pesquisa e vive a renda no seu dia-a-dia, um objetivo em comum: mostrar que a moda é muito mais do que futilidade.

Agda Aquino Jornalista e Professora


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06 Historia

Passado trançado com linhas e agulhas Maria Clara Monteiro

Reprodução do livro História Ilustrada do Vestuário


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Patrícia Bonaldi, Martha Medeiros. Se você é uma dessas pessoas apaixonadas pela renda, provavelmente conhece ou já ouviu falar delas. Ambas designers são referência nacional quando o assunto é costura de alta qualidade trabalhada com renda, só que a arte de fazer lindas roupas com essas tramas tão delicadas existe há milênios! Quando falamos de moda e alta-costura, sempre acabamos lembrando da França. E não é para menos, já que o país é um dos berços da arte da vestimenta e sempre é referência em tendências e inovações. Foi por lá que a renda começou a fazer sucesso e alcançar as mais altas esferas sociais, com a rainha Catarina de Médici, no século XVI. A monarca introduziu a trama aos vestidos e adornos, gerando um frenesi tão grande na corte que os cofres foram quase esvaziados tamanhos os gastos, o que fez com que o rei promulgasse um decreto impedindo a importação dos tecidos. A medida desesperada acabou mostrando que era muito melhor produzir a trama do que importá-la, o que iniciou uma tradição reconhecida até hoje. No século XVIII, a maior referência em produção de renda de bilros, que é confeccionada sobre uma almofada e com diversos fios, que são trançados inúmeras vezes até se atingir o desenho ou padrão desejado, eram as regiões de Chantilly e Valencienses, na França. Já as regiões de Argentan, Alençon – também na França – e Veneza, na Itália, eram consideradas referências na criação de renda com agulha. Não se sabe exatamente como a renda em bilros surgiu, mas há indícios de que ela tenha surgido na região de Flandres, na Bélgica. Já a renda em si não pode ter sua origem definida, por ser um conjunto de técnicas reunidas ao longo dos séculos, mas Veneza é citada como um dos locais mais prováveis para o nascimento do que conhecemos hoje como renda. Mas antes mesmo de chegar a Europa, já havia registros do uso dos tecidos trabalhados no antigo Egito, onde os faraós usavam linho tecido com fios coloridos em padrões geométricos – o algodão só começou a ser utilizado na confecção da renda no século XIX. Esse estilo se espalhou por meio do comércio

nos séculos seguintes, chegando até a Grécia, Itália e China, mas o trançado encontrado nessa época não pode ser chamado de renda em si, por não possuir a delicadeza, a complexidade e a beleza características da renda. Antes de conquistar definitivamente a realeza, a renda era de uso quase exclusivo do Clero, lá pelo século XIV, quando a peste negra fez com que as famílias reais fugissem de seus países. As roupas dos padres, bispos e do próprio Papa eram quase as únicas a terem renda durante esse período devastador e as vestes eram tão pomposas que eram utilizados até mesmo fios de ouro e prata. E foi por conta do clero que essa arte se tornou popular no Brasil, já que tecer a renda era uma das ocupações das freiras nos conventos, que criavam todas as peças usadas nas celebrações, das toalhas e enfeites aos mantos e estolas dos celebrantes. Por conta disso, algumas rendeiras também surgiram no Nordeste do Brasil, já que várias ordens vieram para a região durante a ocupação do país. Em meados do século XVII, os Carmelos chegaram por aqui e fundaram conventos na Bahia e em Pernambuco, mas quase dois séculos depois, a ordem foi expulsa do Brasil por ser a favor da Monarquia Portuguesa. Só décadas após esse fato que seus conventos foram reocupados pelas Filhas da Caridade, um grupo de religiosas francesas. Famosas por seus bordados, elas foram as responsáveis pelo estabelecimento da renda renascença no Nordeste e suas peças eram caras e muito requisitadas pela elite econômica nordestina. Assim como a renascença, outros estilos foram trazidos e acabaram sendo passados para a população, o que torna o Nordeste uma conhecida produtora de diversos tipos de renda. Com toda essa fama, era claro que as rendeiras chamariam a atenção. Com a tradição já perdida nos países de origem, muitos europeus têm migrado para os principais estados produtores desse artesanato para aprenderem aqui e levarem a tradição do trançado de volta para seus países de origem, fazendo um caminho de volta.


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08 Infografico

Ivan Andrey

Paraíba Rendada

Conheça os tipos de renda mais comuns no Estado As rendas são em geral divididas em dois grupos: as de agulhas e de bilros. Os bilros são uma espécie de haste de madeira e sobre ela enrola-se a linha para fazer a renda. A renda é criada com o manusear dos bilros, jogados de um lado para outro pelas mãos ágeis das rendeiras e é feita sobre uma almofada que pode ser presa num suporte de madeira. Já as agulhas são variáveis e algumas especiais possuem pontas curvas.


Filé

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Esta técnica milenar encontra-se também nos estados de Alagoas e Ceará. Surge a partir de uma rede simples, composta de malhas e de nós, e por isso é também conhecida como “rede de nó”. A técnica de confecção da rede de pescador lhe serviu de inspiração.

Renascença Ela é confeccionada com agulha, linha e lacê de algodão. Em uma primeira etapa, faz-se o desenho sobre papel, que é preso sobre a almofada. O lacê é então afixado sobre o papel com a ajuda de alfinetes e entremeado pelos diferentes pontos da renda. Quando o trabalho é concluído, a renda é lavada e recebe uma camada de goma para adquirir rigidez..

Labirinto O crivo (como também é conhecido) é um tipo de renda de agulha e tem como processo de produção riscar o linho, desfiar, encher, torcer, perfilar e colocar na goma em grades para secar. Serve tanto para criação de roupas como para decoração. E pode levar meses para ficar pronto, dependendo do tamanho da peça. O crivo seria o que está perfurado, dando a aparência de uma tela, grade ou labirinto.

Crochê Tipo de renda feita com a linha de crochê de variadas espessuras e cores que ficam a critério da artesã e do cliente. O crochê é feito com um tipo especial de agulha, que possui um gancho na ponta. O crochê tunisiano é uma variedade do crochê, conhecido como crochê/tricô já que se assemelha um pouco ao tricô, utiliza uma única agulha, de gancho, onde consegue-se fazer os pontos.

Richelieu Primeiramente fazem o desenho no papel de risco, posteriormente, é passado para o tecido no qual será bordado pela máquina. Depois, as bordadeiras cortam o restante do tecido com uma tesoura. Contornando o desenho feito pela máquina, deixando-o vazado. Uma renda mais dura, e por isso costuma ser usada apenas para fazer apliques ou bordados aplicados. Irlandesa Este tipo de renda é feita há várias gerações pelas artesãs sergipanas na cidade de Divina Pastora, fazendo parte do seu patrimônio cultural. Geralmente confundida com a renascença, o que a diferencia é o uso de lacê, um cordão sedoso. É elaborada com linha e agulha usando como base desenhos feitos em papel grosso e que são presos em uma almofada. Tricô É uma técnica para entrelaçar o fio (de lã ou outra fibra têxtil) de forma organizada, criando-se assim um tecido que, por suas características de textura e elasticidade, é chamado de malha de tricô ou simplesmente tricô. Pode ser feito manualmente, com duas agulhas e tem sua maior produção no Sul do país por ser usada para esquentar em climas frios.


10 Perfil

A Renascença é sua marca

Foto/Rayanne Brito

Kaio Lenno Araújo


11 Trabalho de uma vida! É como merecem ser consideradas as peças com renda renascença da artesã Maria das Dores Ramos Silva, mais conhecida por Dorinha Ramos. Faz da renda renascença o seu ofício desde que tinha 6 anos, aprendendo a arte com uma vizinha. Quando ficou órfã de pai, achou na renda uma alternativa de ajudar a mãe nas despesas, vendendo as peças que confeccionava. Dorinha, em definição da própria, é uma pessoa teimosa, muito esperançosa, trabalhadora e que gosta de apostar: confia no trabalho que desenvolve acima de tudo. E foi essa confiança e o trabalho duro que lhe renderam grandes frutos, como participação em feiras e eventos de renome, assim como a produção para o grande nome da renda no Brasil, a estilista Martha Medeiros, além de trabalhos para a marca de moda Animale. A confecção de uma peça de renda renascença varia muito de tempo, pois depende principalmente de seu tamanho. Pode ser rápida, como uma semana, ou demorada, como seis meses, pois seu processo de produção consiste em começar fazendo o desenho da renda em papel, passando pelo alinhavo, depois sendo colocando em uma almofada e fazerendo o trabalho de ponto por ponto com uma agulha de mão. À medida que o tempo foi passando, o trabalho de Dorinha foi aumentando devido a demanda de clientes, e ela sentiu a necessidade de criar uma equipe que pudesse ajuda-la a dar conta de tantas peças que precisavam ser feitas. Com isso, ela criou um grupo de artesãs de renda renascença, que no futuro viria a se tornar a Associação do Desenvolvimento Comunitário das Artesãs do Ateliê Renascença de São Sebastião do Umbuzeiro, em Campina Grande, que hoje conta com a ajuda de mais de cinquentas mulheres rendeiras. Em 2013, Dorinha tomou conhecimento do projeto “Mulher Artesã Brasileira”, que iria reunir o trabalho de 15 mulheres artesãs para representar a arte que era feita no Brasil, em uma exposição na sede da ONU, na cidade de Nova Iorque. Com a ajuda de seu filho, preencheu a ficha de inscrição e a enviou. Dorinha não esperava ser selecionada, e não consegue contar a satisfação de ter sido uma das escolhidas em meio às 1059 inscritas. “Pra mim foi a maior surpresa do mundo. Eu fiquei muito feliz porque não pensava em participar de um projeto tão

grandioso como esse”, disse ela. E a alegria vai além. Não sendo suficiente ter sido escolhida pra fazer parte da exposição, ainda teve o privilégio de mostrar o seu trabalho à realeza e chefes de estado. “Quando eu estava na exposição na sede da ONU, foi na mesma época em que estava acontecendo uma conferência internacional. Reis, rainhas, príncipes e presidentes de todo o mundo ficaram conhecendo a nossa renda. Então foi algo maravilhoso, gratificante demais. Eu senti um reconhecimento muito grande do meu trabalho e o mundo ficou muito admirado ao conhecer, e todos valorizaram muito as nossas peças, o que foi muito legal”. As maiores vendas são das peças que já estão prontas, devido a grande quantidade de feiras que Dorinha frequenta em todos os lugares do país. Mas mesmo assim, não fica muito à frente do número de encomendas. Desde vestidos de noivas e de formaturas, passando por enxovais e peças de decoração, a variedade de peças que as artesãs se dispõem a fazer é grande. Na visão de Dorinha, a principal importância que a renda tem para o povo nordestino, especificamente para o paraibano, é a possibilidade de ajudar na economia. Com os problemas que o tempo de estiagem trás para a região do Cariri (microrregião da Paraíba, pertencente a mesorregião Borborema), o trabalho com as peças de renda é a alternativa que as mulheres têm para ajudar nas despesas da casa. Além de ser algo que elas gostam de fazer e desfrutam. É um trabalho árduo e muitas vezes não valorizado por pessoas que não conhecem as singularidades por trás da confecção dessa arte, mas é inegável o brilho existente nos olhos de dona Dorinha ao falar de alguma de suas conquistas ou de algum elogio a seu trabalho. A longo prazo, também lhe conferiu a oportunidade de ser uma representação forte do trabalho que as artesãs fazem. A figura alegre, solícita e de personalidade forte mostra uma mulher que é símbolo do que as rendeiras sabem fazer. Para saber mais sobre o projeto “Mulher Artesã Brasileira”, acesse: Site: http://mulherartesabrasileira.com.br/ Facebook: https://www.facebook.com/mulherartersabrasileira


12 Editorial

Blusa/Acervo Calรงa/Acervo Cinto/Acervo Bolsa e sapato/Babel das Artes


DO CHÃO À MODA A cultura pode ser entendida como um termo usado para designar todas as práticas e valores humanos, mas não temos aqui o desejo de nos aprofundar na teoria, e sim, colocar a cultura como raiz de nossa questão, uma memória cultural de um povo, tendo em vista um elemento. Para homenagearmos os 150 anos da cidade de Campina Grande, na Paraíba, decidimos sair um pouco do clichê e trazer à tona um elemento emblemático da história campinense através do chão. Como quase toda cidade antiga, Campina Grande ainda mantém - mesmo que timidamente - clássicos pisos em ladrilhos hidráulicos, revestimento artesanal usado no solo e nas paredes das construções, feitos à base de cimento e que tiveram seu auge nos séculos XIX e XX. Esses elementos serviram como cenário para emoldurar as possibilidades de uso da renda nas mais diversas situações. Entendendo a moda também como elemento de cultura, nosso editorial compreende o contemporâneo através de duas produções extremamente culturais e clássicas, a arte dos ladrilhos artesanais e a rica produção de renda paraibana, mostrando a diversidade e a pluralidade cultural do nosso povo.


Vestido/Dorinha Ramos Cinto/Acervo Bolsa e sapato/Babel das Artes



Blusa/Dorinha Ramos Saia/Acervo Bolsa/Babel das Artes Sapato/Acervo


Vestido/Acervo Cinto/Acervo Bolsa/Babel das Artes Colar e tiara/Acervo Sapato/Paris Calรงados


Vestidos/Acervo Colar e cinto/Acervo Sapato azul/Paris Calรงados Sapato preto/Acervo


Vestidos/Dorinha Ramos Cinto/Afer Sapato e bolsa/Babel das Artes


Vestido e colar/Acervo Sapato/Paris Calรงados


Blusa/calรงa/cinto/Acervo Bolsa/Babel das Artes


Acessórios/Babel das Artes Texto/Everton David Produção de Moda/Káio Lenno Araújo Fotos/Agda Aquino/Everton David/Ivan Andrey Maquiagem/Sulamita Oliveira Modelos/Ana Beatriz Caldas/Mariana Souto/Nayara Lima Agradecimentos/Prefeitura Municipal de Campina Grande/Furne/Livraria Campinense/Colégio das Damas



24 Curiosidades

Curiosidades Eveline Regina Gonçalves

Maior do mundo

Fotos/Divulgação

A maior renda do mundo está sendo feita em Aquiraz, Região Metropolitana de Fortaleza. 40 rendeiras do Complexo Artesanal de Aquiraz se reuniram com o objetivo de produzir uma renda de um quilômetro de extensão e entrar para o Guinness Book, o livro dos recordes. As rendeiras se revezam no trabalho para concluir a peça que já tem mais de 900 metros. Depois de pronta, a renda ficará exposta no Complexo para atrair mais clientes.


Renda proibida Quando introduzida na corte francesa, em 1547, a renda gerou um consumo desenfreado por parte da corte e praticamente esvaziou os cofres franceses, devido aos altos custos com a importação. O uso de renda foi, então, proibido no país, através de um decreto assinado pelo rei da França. A situação só foi contornada quando Colbert, ministro de Luiz XIV, fundou em 1665 as “Manufaturas reais o ponto de França”, local que produzia renda, através do trabalho de 230 rendeiras, e comercializava o produto por preços mais baixos já que não era necessário pagar taxa de importação.

Jo ias rendadas Técnicas tradicionais na confecção da renda são usadas também para a fabricação de jóias. Maria Ricci, de João Pessoa-PB confecciona jóias a partir do fio de cobre, prata e ouro usando técnicas como crochê, tenerife e macramê que são tradicionalmente usadas na arte da renda. As peças variam de R$ 50 a R$ 320 e todas são folheadas a outro 18 quilates. Maria já fazia peças de crochê usando linha, até que casou-se com um ourives e resolveu inovar. De acordo com ela, a prática não é comum e na Paraíba apenas ela realiza esse trabalho. “Essa é uma técnica diferenciada, pois o metal não tem caimento como a linha, o que dificulta o trabalho”, explica ela.

Foto/ Maria Clara Monteiro

Desde o início de sua feitura, no século XVI, a renda faz parte do contexto eclesiástico da Igreja Católica, sendo associada a batizados, casamentos ou velórios. Ela é usada para embelezar a batina de religiosos e para enfeitar os lugares utilizados por eles. Exemplo disso foi a decoração feita pela estilista Martha Medeiros, na Casa Sumaré, local que acolheu o Papa Francisco durante sua estadia no Brasil em 2013, na Jornada Mundial da Juventude. Nos aposentos do pontífice foram usados colchas, edredons, toalhas e almofadas de renda que levaram um ano para serem confeccionadas. Além disso, Martha também desenvolveu guardanapos e toalhas de renda amarela, da cor do Vaticano, para incrementar a decoração.

No calendário brasileiro foi reservada a data 04 de maio para se comemorar o dia da rendeira. O dia não foi escolhido aleatoriamente e tem um significado especial para quem trabalha na área. A comemoração é feita no mês de maio por ser o mês das mães, já que tradicionalmente essa é uma arte que se passa de mãe para filho. O dia 04 foi escolhido por ser o número de operações básicas para se fechar o ponto. A data foi criada em 2009 por Ômi Rendero, natural de Belo Horizonte e divulgador da renda brasileira no mundo. Em Florianópolis, por sua vez, foi instituído por lei o dia 21 de outubro como o Dia da Rendeira, pois remete a data que os açorianos partiram da Ilha Terceira, no arquipélago dos Açores, com destino a Santa Catarina, levando o conhecimento da renda. ‘

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Religiao rendada

Data comemorativa

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26 Perfil

Uma vida dedicadada a renda História de sucesso e de trabalho artesanal feito com a renda Ana Vitória Gonçalves “Eu não sou formada em moda, sou uma especialista na arte de fazer a renda”. Foi com ênfase em “especialista” no trabalho com a renda renascença que Cecília Silva, de 65 anos, natural da cidade de Poção no estado de Pernambuco, seguiu a tradição da família no trabalho artesanal com a renda. O tempo se passou atravessando décadas. Ela se declara “uma eterna aprendiz”. Filha e neta de rendeiras, aos 5 anos de idade começou a fazer os primeiros pontos. Alguns consideram o município de Poção como um dos berços da renda renascença no Brasil, porque teria sido comercializada primeiro por lá quando da sua chegada da Europa. A dedicação de Cecília Silva está entre os exemplos de várias outras rendeiras ao utilizar o toque delicado na elaboração de todas as peças artesanais, desde o acabamento até o produto final, tendo como objetivo atrair o público consumidor de diferentes lugares do Brasil. Na varanda da sua casa, um pequeno espaço, Cecília, ainda na sua infância, trabalhou com a renda de agulha e de bilro na confecção de paninhos, cortinas, toalhas de mesa de uso tradicional, colchas de cama casal e solteiro, entre outros tipos de artesanato à base de renda, atrativos aos clientes para a decoração dos ambientes das próprias residências – principalmente do Nordeste. Anos mais tarde, na adolescência, Cecília despertou interesse pela renda renascença, uma renda nobre, a qual desde a sua juventude aos dias de hoje serviu para seu próprio sustento. As rendeiras representam a cidade de Poção nas feiras de artesanato feitas na região Nordeste e nas demais regiões brasileiras. Aproximadamente 90% das famílias da cidade dependem da renda para se sustentar. Nas feiras artesanais são encontrados vestidos no valor de R$ 80,00 a R$ 120,00 e blusas a partir de R$ 40,00. A renda comercializada não é apenas em cor branca e neutra. Já existe no mercado uma diversidade de cores. Para as noivas é possível encontrar vestidos feitos de renda renascença entre R$ 1.900,00 a R$ 3.000,00. As peças para cama,

mesa e banho variam de preço. Palas e panos para bandejas são encontrados a partir de R$ 35,00. Cecília explicou que, pela sua experiência, existem diferenças em cada trabalho criado por ela. E não pode especificar quais as melhores peças porque cada uma tem suas particularidades. O trabalho artesanal feito com a renda não fica pronto de um dia para o outro. Demora porque exige muita paciência e dedicação. A forma de se fazer a renda ainda segue a tradição, embora o século XXI a cada dia evolua mais em relação ao processo de desenvolvimento acelerado das tecnologias. “A renascença é feita com lacê e linha em um papel manteiga ou vegetal. Primeiro alinha o lacê por cima do desenho, o cobrindo por completo. Depois envolve no rolo de almofada e com a linha cobre todo o orifício do desenho. O bilro é feito com linha zebra, alfinete, almofada e um pauzinho. A agulha é o método mais antigo feito com linha corrente”, explica Cecília. A renda se tornou um produto tão sofisticado e, por isso já é conhecido e reconhecido no Brasil e no exterior. Fonte de lucro para a economia brasileira. “A renda feita a máquina sempre foi comum no dia a dia das artesãs donas de casa. A renda de bilro tradicional hoje em dia, é pouco utilizada. A renda renascença é usada em eventos como desfiles de moda como meio de divulgar as novas tendências e as peças feitas com a utilização dela. Como a renda sempre fez parte da moda, tirar a renda da moda é o mesmo que uma bela casa sem a mobília”, acrescenta Cecília. Para conhecer um pouco do trabalho desta artesã pernambucana e ver peças como vestidos de noivas e debutantes, bolsas, saias, blusas, vestidos, calças compridas, shorts, enxoval de bebê, cama, mesa e banho, além da moda praia e acessórios como pulseiras, tiaras, colares e outros produtos criados por ela para decoração de ambientes, basta entrar em contato pelo e-mail: tarcilenesilva30@gmail.com ou pelos telefones (81)8676-6558 e (81)9652-8464.


Foto/Divulgação

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28 Reportagem

Homens que fazem renda

Emiliano da Renascenรงa produz renda hรก 60 anos na cidade de Monteiro/PB

Foto/ Manoel Vicente Neto

Manoel Vicente Neto


Fazer renda é coisa de mulher, certo? Não necessariamente. Para os homens da cidade de Monteiro, à 319 quilômetros da capital da Paraíba, João Pessoa, a renda é também uma possibilidade de trabalho e remuneração. A cidade é conhecida pelos poetas e artistas, como o cantor Flávio José, Zabé da Loca e seu pífano, pelo poeta e repentista Pinto do Monteiro e pelo seu artesanato de renda, principalmente a renascença. Mas nem só desses artistas vive a cidade, que tem de forma marcante a figura da rendeira. Mas se engana quem pensa que só as mulheres trabalham nesse ofício. Aqui nós trazemos a história de dois homens que fazem desse trabalho artesanal uma profissão. João Batista Bezerra, 60 anos, tem cinco filhos. É auxiliar de serviços gerais na escola do município. Conhecido como “Beto do Tenerife”, nas horas vagas faz esse tipo de renda conhecida também como renda sol. Há pelo menos dez anos, Beto faz desde colchas para cama, blusas, passadeiras e rendas para ornamentação de garrafões de água e conjuntos de cozinha, por encomenda e para consumo próprio. Toda sua cozinha tem seus trabalhos, desde o liquidificador até o fogão. Suas rendas já foram encomendadas para São Paulo, Rio de janeiro, Brasília e exterior. A renda tenerife é incomum no Cariri paraibano, sendo ele um dos poucos que fazem esse tipo de trabalho na região e diz sentir orgulho no ofício. “O trabalho de renda complementa as finanças da família, o dinheiro é bom, as peças variam de 40 reais a 600 reais. Uma blusa demora três dias para ficar pronta, dependendo do tamanho, uma colcha que exige mais tempo e trabalho demora um mês em média para ficar pronta”, explicou o artesão, que acha que vende os produtos baratos se comparado ao árduo trabalho de sua execução. Beto aprendeu a arte da renda sozinho. Uma rendeira da região emprestou a tábua e a agulha e ele começou a fazer sem muito conhecimento. As primeiras peças foram passadeiras e depois foi aprendendo a fazer outros produtos e o manuseio dos instrumentos usados, como agulha, tábua e linha. Autônomo e autodidata, não teve apoio de órgãos de fomento ao artesanato e já procurou as cooperativas da região, mostrou seus trabalhos, mas não teve êxito e gostaria de um apoio. Ele conta as dificuldades de expor suas peças e a falta de suporte aos artesãos em geral. Beto do Tenerife diz que “a renda

tenerife é muito complicada porque depois de feita não tem como desfazer, não pode nem aumentar, ou diminuir, ou cortar”. Beto conta que não consegue mais expor seu trabalho por falta de apoio ao artesão em geral, mas principalemnte agora que ficou doente. Sua esposa, Mônica Maria Neves de Souza, 57 anos, também é artesã. Faz crochê, vagonite, ponto de cruz e vê o trabalho do marido com muito orgulho “porque poucos homens que fazem e ele se orgulha do que faz e a gente se ajuda o tempo todo: é ele fazendo um e eu fazendo outro”, conta. Outro homem que se orgulha do trabalho com a renda é Emiliano Alves Pereira, conhecido como Emiliano da Renascença. Ele mora na zona rural da cidade, tem 75 anos e faz renda há 60. Conta que aprendeu vendo os outros fazendo: “aprendi com 12 anos nas casas de rendeiras em Poção. Olhei e uma delas disse - você tem vontade de aprender? Eu respondi que sim, mas que ela não ia me ensinar, eu ia aprender sozinho. Eu pegava um pedacinho de pano e cortava bem estreitinho e começava a fazer, errava e refazia até acertar, mostrava para a rendeira e ela perguntava quem foi que fez? Eu dizia: foi eu mesmo e ela se admirava”. Emiliano da Renascença faz blusas, passadeiras, colchas e vestidos de noivas, esses em parceiras com outras rendeiras que ele mesmo ensinou, “porque vestido de noiva demanda muito trabalho e detalhe, a propaganda é boca a boca mesmo, as pessoas que compram recomendam para outras. Se você chegar com qualquer desenho eu faço, mas nem todo mundo faz, não é qualquer rendeira que faz pois é um trabalho difícil, se errar tem que desmanchar o lacê todo e refazer”, detalha o artesão. As peças variam de tamanhos e preços, de acordo com sua complexidade e tempo de feitura: de 150 reais (passadeiras, blusas) a 6 mil reais como foi o caso do vestido de noiva todo em renda que levou 4 meses para ser feito. Emiliano sente orgulho do seu trabalho e diz que se sente especial porque aprendeu sozinho. Ele viaja para vários lugares e mostra suas peças nas feiras e exposições, quando pode. “O pessoal me admira pelo que eu faço. Todo canto quando eu chego sou bem querido, todo mundo me abraça é uma alegria”, conta feliz. Contatos: Emiliano da Renascença: (83) 9634-4737 Beto do Tenerife: (83) 8829-5025/9679-4184/9948-0043

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Foto/Ivan Andrey


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Homens se rendem ! Walysson Melo Quando pensamos em renda é comum lembrarmos de peças apenas do vestuário feminino, como blusas, saias, shorts, lingeries, vestidos de festas e noivas, até mesmo acessórios, porém engana-se quem acha que a renda só pode ser usada pelas mulheres. É verdade que não é comum achar esse tipo de detalhe nas peças do vestuário masculino mas a renda não é uma exclusividade feminina, já que na moda não existem (ou não deveriam existir) retrições para ambos os sexos. Tudo é permitido, portanto pode sim ser usada com tranquilidade pelos homens. Mantendo apenas o cuidado de saber harmonizar essas peças com outras já existentes e mais comuns dos trajes masculinos. Camisas e cardigãs de renda, por exemplo, podem compor um visual sofisticado e moderno para homens que possuem bom gosto e que não têm medo de ousar na hora de se vestir. A renda pode não estar tão presente nos dias de hoje nas peças masculinas, mas a história mostra que antigamente não era bem assim. No período Barroco o tecido figurava com frequência nos “rufos”, espécie de colarinhos plissados com formato circular em torno do pescoço e que davam o aspecto de cabeça erguida e um ar de arrogância. Acabou tornando-se popular entre a nobreza europeia. Com o tempo, sua forma evoluiu bastante, deixando de ser estreito e fechado ao redor do pescoço, passando a ser amplo e aberto, com formato de “U”. Estranhamente ao longo dos séculos o tecido acabou perdendo força nas peças de roupas masculinas, mas essa exclusão pode estar com os dias contados. Recentemente a estilista brasileira Martha Medeiros participou de um desfile no Uruguai na 6ª edição do Conrad Punta Del Este Resort & Casino, e além de apresentar uma coleção de renda com peças femininas, a designer inovou e apresentou tam-

bém uma coleção voltada para os homens através de camisas feitas de renda. Já a grife britânica da estilista Astrid Andersen, apresentou uma coleção para o verão 2015 na semana de moda masculina de Londres, onde a renda e a transparência eram os grandes destaques das roupas. Especialistas de moda apontam que aos poucos a renda está voltando pro vestuário masculino. Em entrevista à revista Xique Xique, a estilista campinense Paula Miranda falou um pouco sobre esse retorno. “As tendências de moda prometem bastante inovação em 2015, e a renda estará presente nas peças para homens, já vimos que as estilistas Astrid Andersen e Martha Medeiros apostaram na utilização da renda na confecção e elaboração de trajes masculinos, isso deve se aprimorar e torna-se comum. Eu particularmente acredito que essa tendência tem espaço sim para cair no gosto masculino, as principais características desse estilo elaborado com transparência e tonalidades apáticas atingem o público alvo mais exigente, homens que não querem passar despercebidos, como por exemplo o homem metrosexual”. Quem aprova o uso de rendas no vestuário masculino por exemplo, é o bancário Edelson Pereira, de 25 anos, que mora no Piauí. Ele contou que já faz uso dessas peças por acreditar que elas evidenciam o estilo mais arrojado: “eu gosto bastante e uso sem problemas, nunca fui criticado, pelo contrário sempre recebo elogios, sou um homem de muito bom gosto e faço questão de me vestir bem, além disso eu trabalho com atendimento ao público e isso exige uma boa aparência de modo geral”. Só nos resta acompanhar o retorno e o possível crescimento dessa tendência. Portanto homens, rendam-se porque a renda está voltando.


32 Cronica


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Renda se Manoel Vicente Neto Viajando para o interior para fazer uma reportagem sobre Rendas, entrevistei várias mulheres, que trabalhavam com o ofício. Em umas dessas entrevistas estava uma senhora que aparentava ter uns 80 anos de idade, sua face ainda tinha traços de mocidade. Vi que a tal senhora me olhava desconfiada e às vezes sorria e perguntei se podia entrevistá-la, as outras disseram: — Moço ela já está gagá e conta umas histórias mentirosas. Já tinha entrevistado todas as rendeiras da cooperativa, quando eu ia saindo, ela me chamou: — Moço quer ouvir uma história? — Respondi: claro que sim, seria um prazer. — Na cidade existia uma moça que era desejada por todos os rapazes da região. O pai dela, um homem de caráter forte e autoritário, disse que ela já estava na idade de casar, mas a moça contou que não havia nenhum homem que ela gostasse. Então seu pai disse: — Você não tem querer, você tem um ano para arrumar um marido ou eu mesmo arrumarei, já marquei a data com o padre da igreja. A moça tinha uma amor secreto e seu pai nunca o aceitaria, por ser pobre e bobo, então ela teve uma ideia e impôs uma condição: — Eu só me caso com o rapaz que comprar aquele vestido de renda que está na vitrine da loja. O vestido de noiva mais bonito da cidade, feito pela mais velha rendeira, na mais linda seda. Todas as mulheres ficaram em polvorosa quando viram o vestido na vitrine, mas era muito caro e nem os pretendentes mais ricos tinham dinheiro para comprar. Os rapazes entraram em desespero, começaram a contar suas economias, mas todos frustraram-se pois não tinham a quantia suficiente. Na cidade existia um bobo, chamado pelos populares de “João o bobo”, que fazia palhaçadas.

Ele ficava no coreto à divertir as pessoas ou a ser xingado, para ele não importava. Ele fazia isso todo domingo, quando sua amada Flora ia para a missa. A paixão dele era ver o sorriso dela enquanto fazia suas palhaçadas, mas ele viu o brilho da sua amada se distanciar ao ver o vestido na vitrine. Na manhã seguinte o bobo da cidade pegou os poucos pertences que tinha e foi embora: ele queria comprar o vestido de renda, para conquistá-la com uma piada. Passara-se onze meses e ninguém conseguiu comprar o tal vestido, muitos desistiram, quando completou exatamente um ano, o pai sentenciou: —Você vai se casar com Carlos Eduardo, filho do vereador, menino estudioso, passou em medicina na capital. Só que João chegara na cidade. Não era mais “João o bobo”, tinha o semblante de um herói quando volta de uma guerra vitoriosa, foi para a loja, o vestido ainda estava lá. João chegou na casa de Flora gritando e ela imediatamente reconheceu sua voz, que correu para o parapeito da janela. Quando ela chegou, João Campos de Toledo - esse era seu nome - com o vestido em mãos ajoelhou-se e disse: — Renda-se a mim Flora e case-se comigo! E Flora com o sorriso mais largo do mundo disse: SIM! Lembra a velha senhora balançando na cadeira e segurando um lenço de renda, eu como sempre aprendi a desconfiar, perguntei: — Essa história é verdadeira? Ela não respondeu, quando uma garotinha entra na sala e diz: — “Vovó Flora, conta de novo a história de Vovô que comprou o vestido mais bonito do mundo para a senhora!” E ela olhou pra mim e riu com um sorriso mais largo do mundo.


34 Editorial

A

lenda e a renda

Muitas são as lendas que o povo fala, que o povo conta, mas uma das versões aqui vou descrever. Marcada pela tragédia de perder seu noivo em pleno altar, uma noiva de branco vive a vagar. O motivo é muito claro e branco, assim como o belo vestido rendado que usava no dia. Após ter notícias sobre o atraso de seu amor naquela noite, a bela jovem cometeria um suicídio. Relatos contam que a alma triste e infeliz desde então, vive sem rumo e direção, que do cemitério ela sai todos os dias, sempre no horário daquele casamento que teria. Moça de pele clara, de olhos profundos e negros, cabelos longos. Nas mãos um buquê com flores secas carrega. No rosto pálido, lágrimas e soluços tomam conta. Infelicidade paira sob seu andar e uma busca para o caminho encontrar. Não há como comprovar se essa lenda é real, variações da mesma existem aos montes pelo mundo afora, mas o caso é de impressionar, e mesmo que não haja como provar, novos relatos irão surgir, e a lenda urbana jamais se extinguir.


Texto/Everton David Produção de Moda/Káio Lenno Araújo Fotos/Agda Aquino/Everton David/Ivan Andrey/ Maria Clara Monteiro/Jéssica Oliveira/Bruna Duarte Maquiagem/Tâmara Rocha Modelo/Amy Nascimento Agradecimentos/Prefeitura Municipal de Campina Grande e administração do Cemitério do Monte Santo Peças/Maison das Noivas








42 Figurino

Rendas se destacam nas novelas Imagem/Reprodução Rede Globo

Mara Chayanne

Em produções simples ou sofisticadas, as peças em renda ajudam a compor os personagens As novelas brasileiras são produtos de exportação. É através delas que boa parte do mundo enxerga o Brasil, suas paisagens e características culturais. E os figurinos são peças-chave nessa representação nacional, pois a moda reflete a sociedade, sendo possível entender um país ou região pelo que se veste. Exibida pela TV Globo de abril a setembro de 2011, Cordel Encantado foi a primeira novela da emissora a utilizar a técnica de gravação em 24 quadros por segundo, o que dá uma imagem mais próxima a do cinema, e foi inspirada na literatura popular de cordel. Mas foi o figurino uma das características mais comentadas e elogiadas do folhetim. Escrita por Thelma Guedes e Duca Rachid, a história tinha como núcleo principal a cidade fictícia de Brogodó, localizada em meio ao Sertão nordestino. E quer coisa mais nordestina do que renda? Pois é. Ela foi um dos principais materiais utilizados para compor o figurino dos personagens, principal-

mente da protagonista Açucena/Aurora interpretada pela atriz Bianca Bin. As figurinistas Karla Medeiros e Marie Salles contam em entrevista a Carolina Bassi para o livro “Diário de Pesquisadores - Traje de Cena” que tiveram 30 dias de pesquisa para proposta do figurino e assistiram a mais de 40 filmes como inspiração, além de desenhos animados, livros de fotografia, revistas de moda antigas e contemporâneas e que foi difícil encontrar material fotográfico que retratasse o sertão na época em que seria ambientada a novela. “A maioria das fotos brasileiras que encontramos do período entre 1890 e 1900 eram fotos de família, fotos ‘posadas’, mas precisávamos de material para criar o povo de Brogodó. Em um site australiano, com uma paisagem parecida com o que acreditávamos que era nossa cidade imaginária, achamos fotos ótimas datadas dessa época”, explica Karla. Por viverem em meio ao sertão, assumiu-se que os personagens fariam suas próprias roupas, por


isso o trabalho de produção foi todo artesanal, feito por um ateliê com oito bordadeiras que trabalharam exclusivamente nos figurinos dos 55 atores. A Brogodó criada por elas foi totalmente feita à mão, com tons claros e materiais naturais. As figurinistas também visitaram feiras de artesanato no Ceará para pesquisa e compra de peças: “Brogodó tinha um colorido próprio e muito trabalho artesanal. A Marie (Salles) foi para Fortaleza no começo da produção e trouxe muito material. Depois tínhamos vários fornecedores de toalhas bordadas, renda de filé, renda irlandesa, renda de bilro, renda renascença... e a renda era o início do trabalho, pois as toalhas de mesa viraram saias e vestidos que eram tingidos e bordados”, acrescenta Karla. O estilo romântico e ao mesmo tempo brejeiro da renda esteve impresso em várias cenas da novela onde a protagonista Açucena usava looks completos, não só na fase de moça pobre, mas principalmente em seus momentos de princesa Aurora, como um vestido branco todo feito em crochê usado por ela em um baile, além das outras moças do núcleo sertanejo, onde a renda exercia um papel fundamental em aliar o regionalismo com a fantasia proposta pela ficção. A renda nordestina também esteve fortemente presente nas peças utilizadas pela personagem principal da novela Flor do Caribe, também da Rede Globo, exibida em 2013. Gravada principalmente no estado do Rio Grande do Norte, a simplicidade e o uso de peças artesanais usadas pela personagem Ester, vivida pela atriz Grazi Massafera, chamou atenção dos telespectadores entendidos ou não do mundo da moda. Ela possuía um estilo romântico e seu figurino era repleto de rendas e bordados, típicos do Nordeste brasileiro, tudo muito leve o que combinou com o clima solar da região. Para enaltecer o artesanato local, as peças utilizadas em Flor do Caribe foram todas produzidas pelas rendeiras do Rio Grande do Norte. “O Rio Grande do Norte prima pelos bordados feitos de renda renascença, que são verdadeiras obras de arte. Um vestido com essa renda leva em média três meses para ficar pronto. Além disso, temos vestidos de renda de bilro, que também é um primor característico da região. Fora isso, tem os bordados que fomos adaptando de peças de colchas e de toalha, transformando em vestido, tingindo e fazendo com que virasse um guarda roupa crível”, explica Severo Luzardo, figu-

rinista da novela, em entrevista ao site da emissora. No decorrer da novela houve mudanças na trajetória da personagem, e com isso seu estilo também sofreu alterações. Mas a renda continuou firme e forte. “Ester continuou seguindo a linha de uma menina criada em Vila dos Ventos. Ela usa as rendas feitas na cidade, mas, em função das atividades na ONG, passou a expor menos o corpo, usando mais vestidos e calças com leitura de alfaiataria. É tudo muito despretensioso. O caráter artesanal do figurino permanece com peças exclusivas feitas à mão”, acrescenta Severo, confirmando que a renda pode sim ser utilizada em produções mais sérias e que as combinações transformam o look. Um dos destaques do figurino foi o vestido de noiva usado pela personagem no final do folhetim. A peça, de renda feita à mão com fitilhos, foi criação do estilista gaúcho Ademir Preschadt. O figurinista Severo Luzardo, explica a escolha: “usamos um fundo nude para fazer uma transparência velada e criar uma silhueta que valorizasse a beleza e a forma longilínea da atriz. O vestido tem um requinte sóbrio, que remete à simplicidade peculiar de Vila dos Ventos. Ele coroa lindamente o trabalho que fizemos ao longo da novela de valorizar o artesanato brasileiro e das nossas bordadeiras e rendeiras”. No início da trama a personagem já havia usado um vestido, feito em renda renascença, em seu primeiro casamento. A renda apareceu mais uma vez em outro vestido de noiva, agora da personagem Natália que foi interpretada pela atriz Daniela Escobar. A estilista baiana Márcia Ganem, que trabalha com vestidos de noiva, assinou a peça que é toda feita em renda de bilro. Seja noiva ou empresária, princesa ou plebeia, as peças utilizadas para compor o estilo das personagens nas novelas provam que a renda pode estar presente nas produções mais simples às mais sofisticadas. Mais do que vestir a personagem, utilizar a renda em peças dos figurinos na TV é uma forma de promover a brasilidade e mostrar ao país e ao mundo a riqueza cultural que existe nas mãos habilidosas das nossas rendeiras.


44 Lingerie

Sensualidade trançada pelo tempo

JĂŠssica Oliveira e Maria Clara Monteiro


Falar de renda e não mencionar lingeries é quase um pecado, já que elas estão relacionadas há quase um século. Mas nem sempre foi assim, e quando pesquisamos um pouco a história vemos que a relação entre as roupas íntimas e a renda é relativamente recente, como também a própria denominação “lingerie”. “A expressão lingerie começou a ser usada em meados do século XIX, antes era roupa de baixo mesmo, e o significado da roupa de baixo, dependendo do período, era de esconder”, explica a socióloga e professora da Universidade Estadual da Paraíba, Waltimar Lula. Considerada um dos grandes segredos de sedução feminina, atualmente as peças com renda movimentam boa parte do mercado de roupas íntimas no Brasil. Porém o uso de rendados nesse segmento é recente, como explica a professora, ao enfatizar que a renda demorou a ser utilizada nas roupas do modo como conhecemos hoje. “A roupa de baixo sempre foi confeccionada com tecidos de algodão, seda ou linho, e o uso da renda vem a partir da década de 20, antes ele não era um tecido usado para roupas de baixo. Agora, na sociedade contemporânea, começa a ter outro significado, que é mostrar, e a renda também entra como um novo significado. A lingerie começa a obedecer a um padrão de moda”. Localizada no Shopping Partage em Campina Grande, a loja Ton de Pele possui clientela diversificada e a agitação típica de um shopping center, e sua vendedora Viviane garante que as peças de renda são as mais populares. “A gente vende muito básico, porque o básico é para o dia-a-dia, e dá também para misturar um pouco o rendando com o básico, mas 80% das vendas são as peças rendadas”. Já a gerente da Hope, Emanuela Dantas diz ter um aumento na venda das peças depois que seus clientes conhecem melhor seu produto. “Temos clientes que compraram, gostaram e estão voltando. Então, crescemos em torno de 40% a venda de renda”. Waltimar explica que esse fato se deve a uma mudança no conceito que a lingerie adquiriu com o passar do tempo. “A renda vai ganhar essa conotação de sensualidade porque a roupa íntima começa a aparecer. Na década de 80, aparecer a alça do sutiã era feio, antiestético, hoje não, você usa um sutiã de renda e ele deve aparecer, e tem cores seguindo uma tendência de moda. Houve uma transformação social do significado da roupa de baixo.”

Uma opinião unanime entre ambas as vendedoras é de que as mulheres não têm pudor nenhum ao comprar uma ou várias lingeries de renda. Para Viviane as clientes “são altamente descoladas, independente da idade. Algumas às vezes ficam receosas de perguntar, mas na verdade elas não têm nenhum pudor. Quando elas entram numa loja de lingerie já sabem o que querem”, e enfatiza como é necessário para esse setor do comércio de vestuário conquistar o público. “Como a gente trabalha com o corpo, então é necessário criar uma cumplicidade com o cliente”. A consumidora Thais Serra dos Anjos confirma esse comportamento. “Não sinto pudor nenhum ao comprar lingerie de renda. Cada dia mais esse material é utilizado nas lingeries do dia-a-dia das mulheres da minha idade. Acho que a renda deixou há muito tempo de ser um tabu.” A socióloga discorda, “Embora a gente procure uma lingerie bonita, dependendo da faixa etária, a busca pela lingerie está ligada à moda. Acho que meninas mais jovens procuram uma lingerie mais fashion, porque elas querem mostrar. Mulheres mais maduras não querem mostrar, querem conforto, embora na intimidade ela queira uma bela lingerie para seduzir. Para perceber qual o consumo da lingerie teríamos que perceber o perfil do consumidor” Tratando-se de como as mulheres se sentem ao comprar lingerie, as comerciantes asseguram que a autoestima é elevada com a compra de peças mais femininas. Ambas admitem que, quando a mulher se vê em uma lingerie ela se sente valorizada. “Muda, com certeza. Usar uma lingerie de renda é totalmente diferente de usar aquelas lingeries beges gigantes que geralmente você usa quando está naqueles dias vermelhos. A transparência da renda, o desenho, a textura, tudo isso faz com que a peça fique especial.” assegura a consumidora Thais. Viviane garante que muitas clientes não acreditavam que os maridos se importavam ou percebiam as peças novas, até comprarem e comprovarem elas mesmas. Thais afirma isso: “Eles reparam, não tem como negar, uns mais que outros. Mas o que importa pra mim é usar a lingerie para mim, me olhar no espelho e me sentir super confiante! Olhar, ver meu corpo e me sentir atraente com todas as curvas e desenhos que o efeito da renda proporciona”. Emanuela fala de como as mulheres saem encantadas dos provadores, “aqui damos a prioridade a elas prova-


rem e quando provam, que se veem naquela lingerie, se sentem o máximo, muito bonitas”. A opinião da professora Waltimar novamente é divergente: “eu acho que poucos homens reparam. É muito raro, na verdade ele está interessado em tirar a lingerie. É até frustrante para mulher quando ela faz toda uma preparação e ele não ‘tá nem aí’. Eu não acredito que o homem vá olhar para a lingerie da mulher, a maioria pelo menos não olha.” A ideia da renda como artifício de sedução surge a partir de uma elaboração mercadológica. “Foi uma construção simbólica, porque ganhamos uma autoestima na medida em que você está com uma lingerie que você considera sexy, que vai seduzir”, afirma a socióloga. “Antes a lingerie não tinha essa conotação de valorizar, de seduzir, isso é uma estratégia de mercado.” Estratégia esta que funciona e talvez por isso as mulheres gostem tanto de comprar lingerie. Algumas chegam a consumir mil reais em uma mesma compra. Viviane diz que isso é mais comum do que imaginamos e as noivas são um público especial, pela arrasadora compra que realizam para a lua de mel. “As noivas gastam em média 1.500 reais aqui na loja. Pelo menos no primeiro mês, ela vai querer todo dia estar com uma peça diferente, ou se repetir, que ela possa misturar com o básico”. Já Emanuela

Fotos/Ivan Andrey

acha que por conta do preço dos produtos de sua loja, é bem mais fácil atingir valores altos, mas que o preço acaba não importando tanto na hora da compra. “Quem vem à procura da renda compra muito”, afirma a gerente. Thais confirma que a renda é um produto para poucos. “Lingerie no Brasil ainda é um pouco caro. O preço de uma lingerie que valoriza seu corpo e te serve perfeitamente é diferente das peças populares. A qualidade e a exclusividade ainda são muito caras em minha opinião”. Mesmo com vendedoras e clientes mais ousadas, seria equivocado generalizar os tipos de consumidora, opiniões divergem por existirem as variantes e exceções, no Brasil e no mundo. Por mais que a indústria cultural tente massificar o vestuário, que está à mostra ou não, o estilo de cada pessoal é um detalhe fundamental. O comportamento da mulher com seu corpo e dentro da sociedade sofreu transformações definitivas e marcantes ao longo do século XX. A moda e as tendências foram essenciais para que essas mudanças ocorressem, e ter poder sobre sua sexualidade é uma conquista feminina recente que ainda lutamos para manter. Seja por uma construção social ou não, o fetiche na lingerie com renda perdura, movimentado capital e gavetas.


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Onde Encontrar? Quem procura peças de tenerife, como toalhas de mesa, almofadas e outros, pode ir à Vila do Artesão em Campina Grande/PB, no chalé 44, na loja de Sandro Gomes, que tem uma grande variedade de produtos produzidos nessa técnica. Já para quem gosta de peças em crochê e labirinto, a dica é ir ao chalé 9, da Associação Economia Solidária, que reúne vários grupos de artesãs da região, com objetivo de promover o artesanato e dar força a economia desses grupos. Na Casa do Artesão, na Rua Venâcio Neiva, no centro de Campina Grande/PB, você pode encontrar blusas, vestidos, cachecóis e outros utensílio, e também pode curtir a pagina no facebook para ficar por dentro das novidades https://www. facebook.com/CasadoArtesaoCG

Foto/Ivan Andrey

Labirinto Se você quer grandes encomendas de renda labirinto, pode entrar em contato com a Associação das Artesãs Rurais, que funciona no município de Ingá/PB, e na Vila do Artesão no chalé 9. Elas promovem também cursos para pessoas que querem aprender a fazer renda, e se você quiser mais informações sobre Labirinto pode entrar em contato com Rita Fernandes, presidente do grupo, pelo telefone (83) 87206497.

Para ler

Foto/Ivan Andrey

memória de ofício paraibana, de Christus Nó-

brega. A obra, publicada em 2005 pelo Sebrae em parceria com o Governo do Estado, é um registro imagético e de história oral, contando o percurso que a renda fez da Europa até chegar ao Cariri paraibano.

Foto/Agda Aquino

Uma das principais referências de leitura sobre o assunto é o livro Renda Renascença: uma

Para assistir E se você quer saber mais sobre renda ou rendeiras pode assistir ao documentário ‘’Mãos que Fazem’’ artesanato de Boa Vista e também acessar a página no Facebook: Retalhos de Boa Vista. O filme está disponibilizado no site da TV Universitária no link http://tv.uvigo.es/gl/playpontenasondas/102479.html


Enderecos s Filé

Crochê

Salgado de São Félix Assoc. das Fileteiras de Salgado de São Félix End: R: José Silveira, s/n – Centro - CEP: 58370-000 Resp: Maria da Guia Rodrigues Salvador (Maria de Nenê) Fone: (83) 3280-1239 (Socorro) / 3280-1140 (Saneide)

Picuí - Assoc. das Crocheteiras de Picuí End: R: Francisco das Chagas Dantas, 93 – Centro CEP: 58187-000 Resp: Edvone da Silva Dantas Fone: (83) 3371-3278 (rosinha) / 3371-2161 / 3371-2527

Renascença Monteiro - ASSOAM – Assoc. dos Artesãos de Monteiro End: R: Projetada, 12 – Vila Santa Maria - CEP: 58500-000 Resp: Marlene Leopoldino Lopes Fone: (83) 3351-1694 / 9995-7777 Camalaú - ASCAMP – Ass. Comunitária das Mulheres Produtoras de Camalaú End: R: Manoel Oliveira Neves, s/n - Centro - Cep: 58530-000 Resp: Mª Marli F. de Araújo Fone(83) 3302-1191 (RES) / 33302-1005 (SEC) São Sebastião do Umbuzeiro ADARTE - Assoc. do Desenvolvimento dos Artesãos de São Sebastião do Umbuzeiro End: R: Artur Costa Leitão, s/n – Centro - CEP: 58510-000 Resp: José Paulo Alves Fone: (83) 3304-1066 / 3304-1008 / 3304-1150 (íris) Zabelê Assoc. dos Produtores de Artesanato de Zabelê End: R: Projetada, s/n - CEP.: 58515-000 Resp: Amélia Ferreira Alves Leite Fone: (83) 3303-1061 (Zeza) / 3303-1036 (trabalho) / 3303-1065 (Amélia) São João do Tigre ASSOART - Associação das Rendeiras de São João do Tigre End: R: Antônio Rodrigues Caraciolo, s/n - Centro - CEP: 58520-000 Resp: Fátima Suelene de Oliveira Medeiros - Tereza Cristina – 3352-1022 (res) Fone: (83) 3352-1129 / 3352-1028 (res) / 3352-1127 Labirinto Ingá - Assoc. das artesãs Rurais de Chã dos Pereira – Z. Rural End: Distrito de Chã dos Pereira – Z. Rural - Cep: 58.380-000 Resp: Antonia Ribeiro de Mendonça Fone: (83) 3394-5004 - Assoc. dos Artesãos Rurais de Pontina End: Distrito de Pontina – Z. Rural - Cep: 58.380-000 Resp: Rita Fernandes da Silva Fone: (83) 3394-7024 (Elisiane) Riachão do Bacamarte Assoc. dos Artesãos Rurais de Serra Rajada End: Sítio Serra Rajada – Zona Rural - CEP: 58382-000 Resp: Terezinha Matias Cristóvão Fone: (83) 3316-2023 (vizinho) / 8812-9107 João Pessoa Inês Albuquerque de Oliveira End: Av: Santa Catarina, 230 – Bairro dos Estados - CEP: 58030-070 Fone: (83) 3224-1335

Pocinhos - ARTECOP – Artesanato da Coop. de Pocinhos Produto: Tecelagem e Crochê End: R: Professor João Rodrigues, 122 – Centro - CEP: 58150-000 Resp: Lindnalva Vasconcelos Fone: (83) 3384-1276 Mamanguape - Assoc. dos Artesãos de Mamanguape Produto: Crochê e Vestuário End: Praça 25 de Outubro, 29 - Centro - CEP: 58280-000 Resp: Fátima Maria Silva de Souza Fone: (83) 3292-1054 (Rosa) / 3294-1107 / 3292-3518 (Rosemary) Areial - ACA – Assoc. das Crocheteiras de Areial End: R: São José, 365 - Centro - Cep: 58140-000 Resp: Maria de Fátima Rodrigues Fone: (83) 3368-1017/ (83) 9113-2899 (res) Areia - Oficina de Artesanato – UFPB Produto: Bordado à mão / crochê End: R: Manoel da Silva, s/n - Centro Administrativo Resp: Tereza de Jesus Maranhão T. Melo Fone: (83) 3362-2275 Dos editoriais Ateliê Renascença - Dorinha Ramos End: Rua João XXIII, 915, Liberdade, Campina Grande/PB Fone: (83) 3321 6413/(83) 8837 4394/(83) 9953 5032 Email: atelierenascenca@yahoo.com.br Babel das Artes End: LOJA 3 - 1º PISO Mercado de Artesanato Paraibano Av. Sen. Ruy Carneiro, 241, João Pessoa/PB Horário de funcionamento: 10h às 19h Fone: (83) 3031-5772 Endereço eletrônico: www.babeldasartes.com.br Maison das Noivas End: Praça Clementino Procópio, 38, Centro, Campina Grande/PB Fone: (83) 3058 2298 Paris Calçados End: Rua Afonso Campos, 48, Centro, Campina Grande/PB Fone: (83) 3321 8394/(83) 9185 8353



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