Revista Vírgula - Edição de Março

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írgula V

Edição nº 1 Mar.2011

portugalmundoeuropaeconomiapolíticacultura

Teatros adaptam-se a cortes orçamentais

OK Estudante Inovação em tempo de crise

Nuno Valério «Se Portugal não

fosse membro da UE a recessão teria sido mais funda.»

Ajuda Externa: é hora?


Índice Editorial Esta é a primeira edição da Vírgula, um projecto criado por quatro estudantes do Ensino Secundário. A Vírgula surge da necessidade de apresentar a Economia e assuntos da actualidade de uma perspectiva interessante para os jovens, combatendo o desinteresse. No decorrer da realização desta revista, o grupo deparou-se com vários desafios. Felizmente, tivemos a oportunidade de contactar com pessoas que se prontificaram em nos ajudar sempre que precisámos. Aqui está o produto final de um longo período de trabalho. Esperemos que gostem, Francisco Inês Mariana Rui

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Crónica: Cerveja e Tremoço Cronologia Como anda o AR? Artigo da Edição Ajuda Externa - é a hora? Investir em Tempo de Crise Dez Dicas Poupança Poupar - A Arma Secreta Figura da Edição Nuno Valério Product of Portugal A Vida Portuguesa Empreendedorismo OK Estudante


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Cultura: Turista Almadense Teatro da Edição - Teatro Nacional D. Maria II Amor pelo Teatro A Hipocrisia da Piscina

Vírgula - Porque há sempre algo mais DIRECÇÃO E REALIZAÇÃO Francisco Silva, Inês Raposo, Mariana Mendes, Rui Gueifão REVISÃO Mariana Mendes DESIGN&FOTOGRAFIA Todas as imagens e fotografias da revista por Inês Raposo, excepto: - Imagem da Capa e das pp. 4,10,14,19,22 AGRADECIMENTOS André Rosendo Carlos Melo Graça Vilhena Luís Martins Luís Marques Maria João Brilhante Nuno Valério

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Cerveja e Tremoço

Há quem jure a pés juntos dizer EgiPto; será que esses escrevem EgiPto e aqueles que não pronunciam o “p” dizem Egito, ou todos se regem pelo mesmo? A questão tem causado alguns distúrbios na imprensa e nos jornais, e aparentemente a solução será Egito. Eu cá digo Egito, e portanto escrevo e pronuncio exactamente da mesma forma. Quem diz Egipto certamente estará revoltado. Enquanto a questão oral/escrita se abate sob o mundo Lusitano, abate-se sob o mundo Árabe uma outra questão, a das revoltas contra os regimes. A verdade é que tudo começou no Egito, mas agora que neste país a situação se viu resolvida, a crise revolucionária alastrou-se para os países circundantes que se consideravam em situação semelhante e que adoptaram o mesmo tipo de comportamento. Assim como aconteceu no Egito, países como a Líbia ou o Irão estão a recorrer às redes sociais para preparar revoltas idênticas e o espírito de luta contra os regimes parece ter-se tornado algo cíclico e contagiante. Estas revoluções nos países Árabes levam o mundo Árabe a uma intensa e profunda revolução sociológica. Tempos de mudança recaem sobre os países e as pessoas que desencadearam a renovação social e política. Pessoas que acreditam agora em algo melhor, que esperam ansiosamente por algo diferente, que necessariamente influencie a sua vida, o seu quotidiano. . A estrutura social, em paralelo com a estrutura política, está prestes a alterar-se. Resta-nos, em prol de um mundo melhor, esperar que as alterações tragam benesses. Em todos os sentidos. F.S

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o que se passou no Mundo

Grandes dúvidas abatem-se sob o mundo da escrita, com a entrada em vigor do novo acordo ortográfico. Uma das dúvidas que surge deste acordo é da palavra Egipto. Ou Egito. À medida que vou escrevendo o computador vai-me corrigindo, dizendo que não existe palavra Egi(p)to, que se escreve com o “p”, mas o que é facto é que o novo acordo ortográfico se posiciona de forma bastante clara relativamente a este assunto. As palavras devem ser escritas como são pronunciadas.

Cronologia

A revolta no Egi(p)to


Crono logia

9Fev11 Cavaco veta pela primeira vez um diploma do executivo 11Fev11 É revelado um Estudo que diz que 70 % dos estudantes Universitários cabulam ou copiam. 13Fev11 Egipto é livre. Revolução pacífica retira Mubarak do poder. 19Fev11 Convocada manifestação contra o sistema político. 21Fev11 PCP e PSD consideram acordo para aprovação da moção de censura 23Fev11 Francisco Louçã afirma que caso o FMI entre, deve haver eleições.

24Fev11 Marques Mendes diz que a entrada do FMI é inevitável Obama admite intervenção na Líbia 27Fev11 Sócrates apela à estabilidade política dizendo que “qualquer crise política prejudicaria a economia”

1Mar11 Estágios sofrem cortes de 20 %. Quem ganhava 838 passa a ganhar 581€

9Mar11 - Empresas públicas já dispensaram 95 chefes, continuam no entanto a ressalvar os cargos mais elevados 10Mar11 Cavaco Silva toma posse da Presidência da República, dirigindo discurso de forte ataque ao Governo

12Mar11 São anunciadas novas medidas de austeridade Manifestação ‘Geração à Rasca’ mobiliza milhares de pessoas na Avenida da Liberdade

21 de Março de 2011 - Fala-se de crise política e da queda do Governo

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Crónica

Como anda o AR? Francisco Silva analisa os acontecimentos recentemente vividos na Assembleia da República. Vai sendo cada vez mais pesado o ar que se respira na AR. Muitas divergências políticas surgem e insurgem-se perante o poder governativo, e as discussões acendem-se desencadeando lutas partidárias intensas, não necessariamente com sentido e propósito. Essa, de facto, devia ser umas das regras da Assembleia: os deputados só podem falar se tiverem algo de construtivo para acrescentar à discussão; arriscando-nos assim a que nada se dissesse. Ultrapassando estes contratempos que se sobrepõem às adversidades sociais e económicas do país, a Assembleia da Republica tem registado alguma confusão extra, relativamente ao que é comum. Digam-se comuns as discussões constantes e a “berraria infernal” que é o parlamento. Ao que parece, o Bloco de Esquerda vai avançar com uma moção de censura ao governo. Uma decisão que me parece pouco acertada do professor Francisco Louçã, ele que me costuma surpreender com a sua capacidade consistente e constante de julgar bem as coisas. Desta vez não o fez, surpreendeu-me precisamente pela incapacidade de compreender que Portugal precisa de mais estabilidade e menos tumultos completamente desnecessários e sem fundamento. De facto, a vida política em Portugal não sofre nada

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com isto. Isto é, o BE vai apresentar uma moção de censura, à qual todos os partidos (ou pelo menos aqueles que interessam) vão responder com abstenção, significando que a moção de censura não altera em nada a vida dos Portugueses e não defende os direitos sociais. A moção de censura é, sem tirar nem pôr, uma verdadeira perda de tempo. Não faz qualquer sequer sentido que o BE resolva apresentar uma moção sem que antes tenha conversado com os restantes colegas partidários para definir uma solução comum. Aquilo que acontece é que a moção é só uma moção. Sem consequências evidentes para Portugal, a não ser a grande perda de tempo que a política em Portugal já nos habituou a encarar. A verdade é que enquanto a política Portuguesa se vai preocupando com estas mesquinhices e fantochadas, o país vai-se envolvendo num estado mais profundo de crise. O problema é recorrente, mas bastante concreto. O AR promete continuar pesado. FS


Portugal a correr contra o rel贸gio


Artigo FMI

FMI: É a hora? Há meses que ouvimos falar da possível intervenção do Fundo Monetário Internacional no nosso país. A Vírgula foi saber mais sobre esta entidade.

«Pouco mais de dois anos após a entrada do FMI em Portugal, (...) o país estabilizara»

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O FMI (Fundo Monetário Internacional) é uma organização que visa assegurar o bom funcionamento do sistema financeiro internacional, assim como orientar a coordenação de alguns elementos reguladores das finanças dos países. Foi criado em 1945 e o seu objectivo principal é garantir a estabilidade do sistema monetário internacional, nomeadamente através da promoção da entre-ajuda dos 187 países que o constituem. Pode ainda, em algumas situações, conceder recursos a alguns dos seus membros para que dificuldades financeiras sejam ultrapassadas. É suposto que, com o objectivo de conceder estas assistências técnicas, o Fundo Monetário Internacional esteja alerta da realidade financeira de cada nação. Para que isto aconteça a instituição presta apoios técnicos e treinos aos seus funcionários tornandoos capazes de analisar e interpretar as necessidades de cada país, garantindo

sempre uma renovação da base de dados. A primeira grande entrada do Fundo no panorama internacional deu-se aquando do término da Segunda Guerra Mundial. Já nessa altura o seu objectivo era idêntico ao dos dias de hoje: Proporcionar um impulso financeiro e económico aos países que necessitassem de encorajamento no sentido de eliminar barreiras ao seu próprio desenvolvimento sustentável. O FMI já desempenhou papéis de grande relevo em vários países, sendo as medidas impostas muito semelhantes em todos os casos. Coloca-se a grande questão relativamente ao que pode acontecer se o país não respeitar ou não aceitar as medidas que o FMI impõe. Aconteceu, durante os anos oitenta, com o Peru, e o país viu-se numa situação dificílima porque mais ninguém lhe emprestou dinheiro e este teve de voltar-se, novamente, para o FMI (continua na página seguinte)


desta vez quase implorando a sua intervenção. Um dos exemplos mais próximos da intervenção no Fundo está situado na Grécia, que teve de austerizar ainda mais as medidas que já tinha tomado, com uma subida dos impostos (que tinham acabado de subir), cortes nas pensões e cortes ainda mais substanciais daqueles que tinha já feito sob os salários pagos por entidades estatais. A instituição em causa desempenhou já em Portugal um papel fulcral durante os anos 70 e 80.Em 1977 o país deparou-se com golpes militares sucessivos que derrubavam governos atrás de governos. Entre outros males, Portugal padecia de um défice de 13 % e o escudo desvalorizava até aos 20%. Entre 1977 e 1978 venderam-se 172 toneladas em barras de ouro do Banco de Portugal. Apesar de tudo, pouco mais de dois anos após a entrada do FMI em Portugal, a crise deu-se por resolvida e o país que parecera tonto com as convulsões do choque petrolífero do início dos anos 70 e do 25 de Abril de 74 estabilizara. No entanto, em 1988 Portugal voltava a ter de recorrer ao Fundo. Voltava a não ter capacidade para manter regular o seu abastecimento e portanto tinha que recorrer a dinheiro

estrangeiro para ser capaz de comprar alimentos. As dificuldades foram semelhantes às de 1977 e as medidas tomadas produziram grande impacto sobre a sociedade Portuguesa, outra vez. Deuse um aumento de taxas de juro, limitação ao crédito, redução real dos salários da função pública e todo um conjunto de medidas que se fizeram sentir entre os portugueses. No entanto, e segundo Ramalho Eanes, então Presidente da República, as medidas permitiram-nos retomar “um certo reequilíbrio orçamental” e foram positivas. Portugal parece estar em vias de poder vir a recorrer novamente ao FMI (seria a terceira vez), e nesse caso as medidas a tomar seriam idênticas às de 1983, que levaram ao desemprego, salários em atraso, descida drástica do consumo privado...

Apesar da conjuntura actual ser completamente diferente e da situação nada ter em comum com 83 (a não ser se fizermos uma análise muito superficial dos problemas), caso Portugal se veja obrigado a recorrer à assistência do Fundo, as medidas impostas vão ser muito semelhantes. De facto, aquilo que sucede é que as medidas não são, supostamente, nem necessitam de ser de carácter inovador. É somente necessário que sejam accionadas as quatro políticas de regulação (monetária, orçamental, cambial e de rendimento de preços) em simultâneo e de forma convergente para que a sua actuação ocorra durante um curto período de tempo e possa ser capaz de corrigir erros e maus comportamentos que se verificaram ao longo de vários anos.

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Artigo FMI

O que não é novidade é que estas políticas reflectem miséria e pobreza e, apesar da sua rápida actuação, provocam desequilíbrio social. A entrada do FMI em Portugal não é necessariamente positiva. No entanto, há que ter em conta as diversas perspectivas que analisam a sua actuação. Os países que melhor lidaram com as crises e que neste momento ultrapassaram as suas dificuldades e se encontram já em crescimento são aqueles que optaram por não escolher o Fundo como solução para os seus problemas financeiros. De uma forma ou de outra, encontraram soluções próprias, internas, para um problema que era seu, e conseguiram lucrar com isso. Por outro lado, muitos daqueles que defendem a entrada do FMI em Portugal, defendem-no mais por razões políticas do que propriamente económicas: a entrada do FMI seria uma óptima forma de demitir José Sócrates. A instabilidade social, depois da entrada do Fundo, seria enorme, assim como (à semelhança do que se passa com os gregos) a desconfiança permaneceria. O país perderia a sua soberania entregando-a ao FMI, e as medidas contempladas no Orçamento de Estado 2011 acentuar-seiam.

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É necessário que se pondere quanto à questão de o FMI ser ou não uma boa ajuda para Portugal, como foi nas últimas duas vezes que interveio. As circunstâncias não são as mesmas, os mecanismos reguladores não são os mesmo, sendo a derradeira questão o orgulho, a autonomia Portuguesa e do povo Português, sobretudo porque recorrer ao Fundo seria reconhecer perante a Europa e o Mundo que somos, enquanto nação, enquanto povo, incapazes de lidar com os problemas do nosso próprio país, do nosso interesse. É importante para Portugal que, num tempo de crise, as suas entidades, os seus líderes, os vários partidos, se concentrem em torno de uma causa maior que ultrapasse os interesses partidários e interesses financeiros e se concentre num acto patriótico que é o de salvar o país da profunda crise em que se está a afundar. Será inevitável a entrada do Fundo em Portugal se a vida política por cá continuar tão austera como se tem vindo a demonstrar, então não se trata somente de uma entrada do Fundo e de uma salvação oportuna (já pela terceira vez), trata-se sobretudo de Portugal mostrar ao Mundo, contrariar a Europa, e afirmar bem alto que é capaz e eficiente ao ponto e ultrapassar as

contrapartidas.É uma questão de orgulho patriótico em torno de uma causa maior, o povo Português. Enquanto for possível evitar a entrada do FMI e estabelecer medidas do nosso foro interno para combater a crise, melhor! Se o FMI tiver de vier aí, pois estejamos preparados… FS/RG

«É uma questão de orgulho patriótico.»


Economia

Investir em Tempo de Crise Investir em tempo de crise pode parecer arriscado, sendo a instabilidade dos mercados capaz de atemorizar os mais conservadores. No entanto, ser criativo na escolha dos produtos financeiros pode compensar, desde que se ponham em prática alguns princípios básicos do investimento. Conheça-os neste artigo e aprenda como e onde investir. Diferentes objectivos traduzem-se em diferentes investimentos. Assim sendo, o primeiro passo está em estabelecer uma meta - qual a finalidade do seu investimento? Pode considerar objectivos de diferentes horizontes temporais, quer seja poupar para educação, a longo-prazo, ou para umas férias, a curto-prazo. De seguida, determine como será feita a alocação de recursos , ou seja, qual o montante a investir em cada produto. Uma boa forma de organizar a sua carteira de investimentos é através da organização de um portefólio, composto por vários produtos financeiros, como acções ou obrigações. Após determinar quanto dinheiro quer investir e quando quer obter os lucros , é tempo de escolher o produto que mais se adequa às suas necessidades específicas. Independentemente do objectivo do investimento, os produtos devem ser escolhidos em função do horizonte temporal, incluindo o tempo que tem até começar a utilizar os recursos e o tempo de resgate. Quanto menor o horizonte temporal, mais recomendável será diversificar a carteira de produtos. A curto prazo, deve ser conservador e apostar em investimentos de retorno seguro, tais como certificados de aforro, depósitos, obrigações. As obrigações são uma opção menos arriscada que as acções, porque possibilitam o retorno constante através de pagamentos anuais de juros. Assim, o rendimento é fixo, a diversidade de obrigações existentes no mercado é maior e também são negociáveis na bolsa. A longoprazo (10-15 anos), aposte na compra de acções do grupo PSI 20. É necessário um suporte estável para enfrentar o actual mercado volátil. Para investidores

iniciantes, fazer depósitos regulares é a chave para construir essa base. Os investimentos estão sujeitos a diversos graus de risco, quer sejam eles de mercado ou de inflação - o seu investimento pode diminuir de valor no mercado ou, com a inflação, pode diminuir o seu valor real caso não esteja dentro do conjunto de produtos inflacionados. A subida de preços nas matérias-primas e alimentos fez aumentar a inflação, o que pode afectar o retorno de alguns investimentos. Na zona euro, a inflação acelerou para 2,4% em Janeiro, realçando a necessidade de criar uma carteira de investimentos que seja imune a esta situação. Tal é possível através de um portefólio que abranja uma diversidade de produtos menos sujeitos a instabilidades, como activos imobiliários. Por outro lado, investir em commodities pode ser uma boa aposta, já que de acordo com os dados da agência Bloomberg, matérias-primas como o algodão e o açúcar subiram mais de 150% entre 2007 e 2010, à semelhança de outros produtos alimentares e matérias-primas. Outra opção é a compra de títulos de dívida pública, cujos juros são anunciados mensalmente no site do Instituto Gestão da Tesouraria e do Crédito Público. Aguarde pelos últimos dias do mês para comparar se os juros do mês actual serão ou não mais vantajosos dos do mês que se segue . Acima de tudo, qualquer estratégia de investimento em tempo de crise deve se centrar no estabelecimento prévio de objectivos, na diversificação dos investimentos, em assumir perdas para minimizar maiores danos e em ser paciente. IR

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Economia

Dez dicas para poupar 1. Organize um orçamento familiar Um orçamento familiar, ao fornecer melhor controlo das fontes de receita e despesa, ajuda a planear financeiramente o mês e poupar. Felizmente, existem vários programas gratuitos disponíveis na Internet que podem ser utilizados com esse fim. Um exemplo é o Orçamento Pessoal 2011, com interface intuitiva que permite registar todas as receitas e despesas a efectuar de uma forma personalizada - não só é possível classificar as receitas e despesas (por exemplo: contas da luz, água, telefone, salário, alimentação, saúde, etc), como também disponibiliza um calendário e bloco de tarefas que permite saber quando vai receber. Através do registo destes dados, o programa pode fazer uma previsão do saldo da sua conta numa data específica, ou até imprimir relatórios, que incluem históricos ou até gráficos. O programa foi desenvolvido pela VBB Software, uma empresa brasileira. http://www.vbbsoftware.com/orcpes.htm

2. Reduza a factura da electricidade A EDP diversificou a sua oferta de tarifas e disponibilizou um simulador que permite ao consumidor descobrir on-line qual a opção que melhor se adequa ao seu perfil de consumo. A tarifa bi-horária apresenta valores mais competitivos para quem utiliza uma maior potência nas "horas vazias". Consulte o site da empresa e confira se o que paga corresponde ao que devia pagar. http://www.edp.pt/pt/particulares/edp5D/simular/Pages/PriceSimulator.aspx

3. Compre com cabeça Para evitar tentações e surpresas à hora de pagar, faça uma lista de compras antes da ida ao supermercado. Ao encontrar o produto que precisa, compare o preço com os que lhe estão próximos - experimente olhar para a prateleira mais alta ou baixa, e confirme que os preços dos bens lá colocados são mais baratos. Uma conhecida técnica de marketing dos hiper e supermercados é colocar os produtos mais caros ao nível dos olhos do consumidor, influenciando as suas escolhas.

4. Esqueça o ginásio Pagar a mensalidade de um ginásio que mal frequenta não é boa política para a sua carteira. Em vez disso, porque não experimenta os planos de exercícios disponíveis na Internet gratuitamente?

5. Evite o carro Se tiver acesso a transportes públicos, use-os. Mas se o carro for imprescindível, faça uma lista das tarefas à sua espera e pense no melhor percurso. Assim poupará tempo e nas despesas do combustível.

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6. Telecomunicações Telemóveis, internet e televisão tornaram-se bens de primeira necessidade. A concorrência existente no mercado é portanto cada vez mais forte, o que levou a uma redução ou pelo menos, a uma adaptação dos tarifários das várias operadoras ao tipo de cliente. Mesmo assim, se quer gastar menos neste sector, compare preços. Quanto ao telefone fixo, se for prescindível em casa, então retire-o; se não, escolha um tarifário fixo com chamadas gratuitas durante o período em que se encontra em casa.

7. Experimente as marcas brancas Muitas vezes, existem produtos no supermercado que custam metade daqueles que normalmente compramos por hábito e que, na realidade, não apresentam qualquer diferença na qualidade, apenas na sua carteira. Opte também pelas embalagens familiares, a diferença entre quantidade e preço compensa muito mais.

8. Acabe com as prestações Se conseguir e tiver condições, pague tudo a pronto. Muitas vezes, as prestações podem ser reduzidas e suportáveis mas se começar a acumular muitas, pode muito bem “estourar”o seu orçamento.

9. Viagens para todas as carteiras Mesmo em tempos de crise, não prescinda das suas férias e do seu descanso anual. Talvez só precise de se adaptar e estabelecer um novo orçamento. Em vez de ir para o estrangeiro, prefira “ir para fora cá dentro” e existem também diferentes modas de fazer turismo alternativas à crise que estão a pegar. Por exemplo, já experimentou trocar de casa? Isto é, passe umas férias fantásticas numa casa fantástica sem ter que gastar qualquer dinheiro em alojamento, basta ceder a sua casa em troca pelo mesmo período de tempo. Veja em www.trocacasa.com. Actualmente, temos também à nossa disposição várias “low-cost” no caso de querer presentear-se com uma viagem ao seu destino de sonho. Basta estudar as suas opções!

10. Abasteça aos fins-de-semana Existem várias formas de poupar quando abastece o carro. Algumas empresas, como a ZON ou Continente proporcionam talões de desconto de 6 cent/l. aos seus clientes. Por outro lado, alguns postos da Repsol têm promoções com o mesmo valor todos os fins-de-semana. Se quiser encontrar o posto mais próximo de si com o melhor preço, aconselha-se uma visita ao site http://www.maisgasolina.com/, que disponibiliza uma listagem de postos/preços/promoções por distrito e concelho. IR/MM

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Economia

Poupança - a arma secreta para a sua carteira A população activa portuguesa recebe um rendimento mensal que justifica o trabalho por ela desempenhado e que contribuiu para a criação de riqueza no país. Este rendimento pessoal tem dois destinos: o consumo ou a poupança. A maior parte dos rendimentos dos portugueses destina-se ao consumo, só assim todos os cidadãos podem satisfazer as suas necessidades, sejam elas básicas ou supérfluas, gastando parte do seu salário/ordenado para adquirir esses bens e serviços. No entanto, a poupança NUNCA deve ser esquecida e deve fazer parte da sua rotina mensal, sem qualquer excepção. Os portugueses têm de compreender a importância de pôr de lado uma quantia todos os meses, que em situações de crise ou de desemprego pode salvar uma família. E além do mais, este é um acto muito simples e fácil de se concretizar, só tem de ganhar o hábito. Agora que já interiorizou o impacto que um gesto tão simples como a poupança pode ter na sua vida quotidiana, só tem que arriscar um pouco e pode vir a multiplicar as suas poupanças sem qualquer esforço. Primeira regra, não guarde o seu dinheiro debaixo do colchão porque isso representa apenas dinheiro parado, não está a render nada. O objectivo é sempre valorizar o seu património, através do investimento ou colocação financeira. A colocação financeira consiste na aplicação da poupança em produtos financeiros como as acções, obrigações, certificados de aforro ou fundos de investimento. Muitas famílias confiam as suas poupanças apenas a depósitos a prazo ou aos planos de poupança, mas os vários produtos financeiros supracitados também são uma

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opção para si. Nos últimos anos, a população portuguesa tem enfrentado situações complicadas no que toca às suas contas bancárias, fruto da grande crise financeira que assolou o mundo, em 2008. Os portugueses viram o conteúdo das suas carteiras ser drasticamente reduzido devido às medidas de austeridade impostas pelo governo e ao aumento do desemprego, que atingiu valores máximos desde então, situando-se nos 11,1% no último trimestre de 2010. Tendo em conta a situação económica e social em que Portugal se encontra, ninguém sabe como irá ser o futuro e quando e como vai o país conseguir erguer-se e permitir o melhoramento das condições de vida dos portugueses. Estas expectativas e incertezas quanto ao futuro poderiam revelar-se um factor determinante para o aumento da poupança, no entanto, esta tendência não se tem verificado em 2011, visto que a poupança das famílias registou uma acentuada quebra no início deste ano (a taxa de poupança em Fevereiro 2011 foi de 92,4 pontos). Comece já hoje a trabalhar para um futuro melhor e estude a nossa rubrica 10 Dicas, que tem como tema desta edição 10 preciosas dicas que o ajudarão a não desperdiçar o seu rendimento, com alternativas para todos os seus gastos diários. MM


P么r de lado uma quantia todos os meses, pode salvar uma fam铆lia

O objectivo 茅 sempre

valorizar o seu patrim贸nio.


Figura da Edição

Prof. Doutor Nuno João de Oliveira Valério, professor catedrático de História no ISEG e membro da Ordem dos Economistas, conta com uma vasta experiência nas áreas da História Económica e Monetária e é autor de várias obras, entre as quais "História da Economia Mundial Contemporânea" e "O escudo - a unidade monetária portuguesa 19112001", assim como também publicou artigos em revistas económicas internacionais.

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Nuno Valério Nesta edição, o Professor concede à Vírgula uma perspectiva sobre a crise actual, as relações de Portugal com a UE e a possível vinda do FMI. Leia abaixo.

V: Quase três anos após a falência do Lehman Brothers, o que diria que provocou o alargamento da crise à escala mundial e, mais especificamente, o que é que levou a maioria dos grandes bancos internacionais a enfrentar grandes dificuldades? Seria possível em 2008 antecipar os efeitos que se vivenciaram desde então? NV: O que provocou o alargamento da crise à escala mundial foi a existência de uma economia mundial. Existindo uma economia mundial, na qual qualquer economia nacional depende de todas as outras, se alguma entra em crise, todas são prejudicadas; e, se quem entra em crise é a economia mais importante, como foi o caso, a crise torna-se necessariamente global. Nestas circunstâncias, quase tudo o que de importante se passou desde 2088 poderia ser então antecipado. V:Tendo em conta a interdependência das economias nacionais, é possível que isso venha a facilitar a uma ruptura dos princípios teóricos do sistema capitalista? NV: Ruptura dos princípios teóricos do sistema capitalista, certamente que não. Mesmo da sua concretização na economia mundial actual, estou convencido que não. Por razões que não cabe explicar aqui, penso que as rupturas estruturais não podem ser consequência de crises conjunturais. Por isso, se algo pode abalar as estruturas capitalistas da economia

mundial, não será uma crise como aquela de que a economia mundial está a sair, mas apenas verdadeiros problemas estruturais (como os problemas do equilíbrio do meio técnico com o meio natural vulgarmente chamados ecológicos). V: Actualmente, vivemos num período de instabilidade social e económica. No entanto, acha que é possível assumir que “a tempestade já passou”? Ou seja, será que os piores efeitos, como o desemprego, o risco de deflação e a retracção no consumo, já não se verificam com tanta intensidade e o país está pronto a entrar em fase de renovação? NV:A nível da economia mundial, penso que a tempestade já passou (o que não quer dizer que outras não possam vir; virão de certeza, mas provavelmente não tão cedo). Por razões específicas, a nível nacional português a tempestade não passou e é possível que os piores efeitos ainda estejam para vir. V: Em retrospectiva, considera que existe um certo paralelismo entre a Grande Depressão de 29-33 e a actual? NV: Certamente que há paralelismos, mas, por razões que seria uma vez mais demasiado longo explicar aqui, até creio que esses paralelismos são menores do que geralmente se pensa. (continua na página seguinte)

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Figura da Edição

V: No seu artigo “Monetary Policy during two crises in a semi-peripheral economy", é possível tomarmos conhecimento das políticas adoptadas no crash de 29, entre elas a contenção do consumo (público e privado), medidas fiscais, obras públicas como estímulo ao investimento, e o assegurar da competitividade externa através do ajuste das taxas de câmbio. Como avalia as políticas adoptadas agora em comparação com as anteriores? NV: As políticas possíveis no final da primeira década do século XXI eram necessariamente diferentes das que foram adoptadas na viragem dos anos 20 para os anos 30 do século XX, por causa do muito diferente enquadramento internacional da economia portuguesa. Nos anos recentes, tratou-se sobretudo de estimular a actividade económica de forma concertada a nível europeu através de medidas de expansão da oferta de moeda (na zona euro e nos membros da União Europeia não integrados nessa zona) e de aumento dos saldos negativos das contas públicas (em cada um dos membros da União Europeia). No caso português, esta política suscitou vários problemas: o aumento do saldo negativo das contas públicas foi excessivo em relação ao que era razoável como estímulo à actividade económica (particularmente em 2009); a ausência de solidariedade europeia na assunção dos custos desta política em termos de dívida pública e o volume excessivo do saldo negativo das contas públicas desencadeou uma ameaça de crise da dívida soberana portuguesa em 2010; e tudo isto pôs em relevo o que é o principal problema estrutural da economia portuguesa há muitos anos, a saber, o desequilíbrio dos pagamentos externos. São estas as razões específicas fundamentais que fazem com a tempestade ainda esteja sobre a economia portuguesa e não vá, quase certamente, deixar-nos nos próximos tempos.

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V: Até que ponto Portugal beneficiou do seu estatuto de Estado-Membro da UE na recuperação da crise? NV: A abertura das economias nacionais dos países da União Europeia às exportações portuguesas tem sido o principal estímulo à actividade económica portuguesa. Isso significa que, se Portugal não fosse membro da União Europeia, a recessão teria certamente sido mais funda e a recuperação que se esboça ainda mais débil. Infelizmente, os benefícios a nível da garantia contra algumas más consequências das medidas tomadas para combater a crise não foram tão grandes, com os resultados evocados na resposta anterior. V: Dia 6 de Fevereiro, o Professor Marcelo Rebelo de Sousa comentou que “Actualmente a Europa é presidida a meias pela França e a Alemanha”. Será que as políticas desenvolvidas para Portugal aconselhadas pela UE pretendem ser um reflexo das políticas internas destes países? iNV: É claro que as políticas económicas seguidas pelos membros da União Europeia, que há todo o interesse em coordenar, são o resultado de um compromisso, no qual todos têm influência, mas necessariamente os maiores têm mais influência. Nestas circunstâncias, é de esperar as políticas recomendadas para Portugal sejam influenciadas pelos maiores países da União, naturalmente procurando defender o que entendem ser os seus interesses, mais do que os de Portugal. Apesar disso, creio que Portugal ganha com o processo, não em termos de definição conjuntural da política económica, mas em termos de capacidade estrutural de modernização por inserção num espaço altamente desenvolvido e de participação, ainda que marginal, na definição da política europeia.


·V: Nos últimos meses, Portugal tem sido alvo de pressões externas para recorrer à ajuda do Fundo Monetário Internacional. No seu entendimento, o nosso país terá dinâmicas internas para responder à crise por si só ou impõe-se uma intervenção do FMI? NV: Penso que seria desejável que Portugal tivesse dinâmicas internas para responder à crise e que fosse apoiado nesse processo pela solidariedade europeia. Infelizmente, não me parece verificar-se nem uma coisa nem outra, pelo menos no grau que seria necessário para evitar o recurso ao apoio do Fundo Europeu de Estabilização (apoio que tem sido associado por exigência europeia ao apoio simultâneo do Fundo Monetário Internacional). V: Num artigo datado de Novembro no semanário Sol, o Professor referiu que as medidas do FMI iriam “cair na flexibilização do mercado de trabalho e na sinalização de um corte de salários no sector privado, com a baixa do salário mínimo nacional”. De que modo é que estas medidas iriam ajudar o país a ultrapassar uma crise económica mas, por outro lado, correndo o risco de provocar uma crise social? NV: Nos últimos anos do século XX e na primeira década do século XXI, o nível de

«Mais cedo ou mais tarde, os investidores externos deixariam de confiar e conceder crédito.»

de vida subiu em Portugal sobretudo graças ao crédito externo e não ao aumento da produção. Ora, esta evolução não era sustentável, porque, mais cedo ou mais tarde, os investidores externos deixariam de confiar e conceder crédito. Esse momento chegou na viragem para a segunda década do século XXI. O resultado é a necessidade de conter, e mesmo reduzir, o consumo e recuperar a sustentabilidade dos pagamentos externos. O cenário mais favorável de resolução desta situação seria a aceitação social da contenção do consumo e um apoio significativo da União Europeia para ultrapassar o que surge à primeira vista como um problema de endividamento do Estado, mas é realmente um problema de endividamento dos agentes económicos portugueses no seu conjunto. Um cenário intermédio (o qual, pelo que disse na resposta anterior, me parece mais provável), é o recurso ao apoio dos Fundos, com a exigência de políticas de austeridade do género das evocadas na pergunta, sem uma crise social profunda e com efeitos positivos em termos de competitividade externa; nesse caso, seria possível recuperar a médio prazo o equilíbrio externo e retomar, ainda na segunda década do século 21, um processo de crescimento e aproximação aos níveis de vida dos países mais desenvolvidos da Europa e do Mundo. O cenário mais desfavorável é o recurso ao apoio dos Fundos e a austeridade resultante desencadearem uma crise social profunda ou não conseguirem atingir os objectivos em termos de competitividade e de recuperação do equilíbrio externo a médio prazo; então, a tendência seria para Portugal deixar de ser um país altamente desenvolvido e regredir em relação à média mundial. Há ainda um quarto cenário imaginável, o da ruptura com a Europa, voluntária ou imposta, em especial com a saída da zona euro; estou convencido de que as consequências em termos de nível de vida e de desenvolvimento seriam semelhantes aos do terceiro cenário, isto é, francamente desfavoráveis. IR/MM

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Empreendedorismo

A Vida Portuguesa Recuperar o gosto pelo que é nosso Numa época em que se apela ao consumo nacional num mar de produtos importados, surge um projecto inovador corporizado por Catarina Portas, jornalista e empresária. Através d' A Vida Portuguesa, as empresas tradicionais portuguesas desde o sector da conserveira ao da cerâmica são louvadas e vêm ser lhes dado um novo brilho, num autêntico saudosismo benéfico para o país. Foi em 2004 que Catarina Portas iniciou um intenso trabalho de pesquisa e recolha de informação sobre marcas tipicamente portuguesas cuja luz se foi extinguindo com a massificação do consumo em grandes superfícies. Em Maio de 2007 nasce a marca A Vida Portuguesa, com o espaço inaugurado no Chiado que, rapidamente, começou a atrair um leque vasto de clientes, desde moradores lisboetas à procura de produtos de limpeza que deixaram de encontrar nas drogarias, estudantes de Belas-Artes interessados nas aguarelas de grafite ou nos Lápis Viarco, até turistas à procura de um souvenir único. Gradualmente, os clientes, ao percorrerem a loja, tomavam conhecimento da diversidade de produtos "made in Portugal", que resistiram aos tempos modernos pela sua qualidade - era perceptível, nas palavras da ex-jornalista d'O Independente, "a história do país contada na perspectiva do consumo". O conceito agradou aos media e aos consumidores, fazendo com que fosse possível em 2009 abrir uma loja no Porto, situada no prédio da antiga loja de tecidos Fernandes, Matos & Companhia,

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aproveitando e recuperando a decoração original. Pouco tempo depois, o negócio tinha-se estendido à Internet, permitindo ao consumidor escolher os produtos que desejasse e recebê-los na comodidade do lar, pagando à cobrança nos CTT, ou através do Paypal. Esta iniciativa permitiu reavivar o gosto pelos produtos nacionais, tornando-se a nostalgia patriótica um verdadeiro nicho de mercado, do qual têm vindo a despontar negócios semelhantes, mas também apelar a um consumo ética e ambientalmente responsável. De facto, os benefícios não se resumem em auxiliar a sobrevivência de postos de trabalho e de um espólio nacional é de reforçar que o ambiente é poupado no método de distribuição. Num árduo processo que dura há quase uma década, Catarina Portas pode orgulhar-se dos frutos do seu trabalho e inspirar pessoas retiramos da sua história que o primeiro passo começa com uma ideia original, genuína, inovadora. IR


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Voar durante a crise


Numa época de crise, continuam a existir jovens empreendedores que conseguem concretizar as suas ideias independentemente dos obstáculos com que se deparam. A Vírgula entrevistou a OK Estudante, empresa fundada por dois jovens em pleno despoletar da crise no ano 2008. Numa conversa semi-formal, André Rosendo explicou-nos o processo de criação e evolução da empresa, assinalando as dificuldades que enfrentaram e o percurso que percorreram.


Empreendedorismo

OK Estudante Numa conversa semi-formal, André Rosendo explicou-nos o processo de criação e evolução da empresa, assinalando as dificuldades que enfrentaram e o percurso que percorreram.

Em Portugal, a “Ok Estudante” é um projecto único e muito original que, na realidade, pode ter um grande impacto na qualidade de vida dos jovens portugueses que idealizem estudar no estrangeiro mas não sabem como tornar isso possível. Como surgiu esta ideia e quais são os objectivos que estão na origem da concretização deste projecto? A OK Estudante surgiu em 2008, com base na experiência de vida dos dois fundadores, que rumaram para Inglaterra para viver uma aventura num país totalmente desconhecido, numa língua completamente nova. No Reino Unido, os dois estudantes concluíram os seu estudos a nível superior e voltaram a Portugal com a ambição de apostarem nos seus próprios projectos, nomeadamente na área do design gráfico. A OK Estudante surge, no entanto, apenas como um projecto secundário que rapidamente se afirmou e conquistou os jovens portugueses, tornando-se o projecto principal. Dois estudantes reúnem-se e pretendem criar um negócio totalmente novo em Portugal. Depararam-se com muitas dificuldades para conseguirem realizar o vosso projecto? Os principais obstáculos que se atravessaram no caminho destes empresários foram, em primeiro lugar, as questões burocráticas. No entanto, André Rosendo afirma que a burocracia envolvida na criação de novos projectos, hoje em dia,

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está muito mais simplificada graças à criação de novas leis que vieram facilitar o processo de implementação das empresas em Portugal. A segunda grande dificuldade foi conseguir “atingir” o público português, visto que a OK Estudante apresenta uma gama de ofertas que não são muito “convencionais/correntes/ normais” em Portugal pois uma das condições oferecidas ao público é o estudo gratuito em Inglaterra, visto que as propinas são subsidiadas pela União Europeia. Com tudo pronto a funcionar e sendo esta uma ideia/iniciativa muito original, como evoluiu e cresceu o negócio? Foi fácil chegar junto do vosso público-alvo e captar o seu interesse e atenção? A OK Estudante é, na verdade, um projecto muito recente e inovador em Portugal. Portanto, foi essencial fazer esta iniciativa chegar junto dos jovens, aproximação/contacto que foi estabelecido através da apresentação da OK Estudante em programas de televisão, na rádio e revistas. No decorrer do vosso trabalho, aperceberam-se das motivações que levam os estudantes portugueses a deixar o país? Quais são as razões preponderantes na escolha entre ir para um país desconhecido ou permanecer em Portugal? Na realidade, estas não são as únicas opções que se apresentam para os jovens que se candidatam a este projecto. Após a conclusão dos seus estudos superiores,


os estudantes, na maioria das vezes, rumam aos quatro cantos do mundo devido à riquíssima experiência vivida em Inglaterra, algo que só lhes é proporcionado uma vez na vida e que resulta de três principais factores: a credibilidade e a força que uma licenciatura tirada no estrangeiro tem; a independência e autonomia que se adquire, e a verdade é que a situação actual vivida em Portugal também não é muito atractiva. Um jovem português chega a Londres, uma cidade europeia muito diferente de Lisboa, quais são as principais dificuldades/diferenças com que se depara? As principais dificuldades que o jovem português sente aquando da sua chegada a Inglaterra são mesmo encontrar casa, emprego e conseguir assim sustentar-se durante o período em que está a tirar o curso. A “OK Estudante” pretende facilitar o acesso dos estudantes portugueses ao ensino superior em Inglaterra e a sua inserção no novo país. Em que medida, é que a “OK Estudante” auxilia o jovem ao longo de todo este processo, em termos de alojamento, por exemplo? Tendo em conta os principais obstáculos que se impõem ao estudante em Inglaterra, a OK Estudante tenta ajudar ao máximo o jovem na sua integração no novo país. Através de parcerias que a

«Hoje em dia, a burocracia está muito mais simplificada graças à criação de novas leis.»

OK Estudante estabeleceu com várias entidades portuguesas, a procura de casa e de emprego é algo que pode ser muito mais fácil e simples- esta entidade estará ao dispor do estudante português para lhe fornecer quaisquer informações. Numa primeira fase, os vossos clientes vão para Inglaterra apenas com o intuito de tirarem um curso superior mas, depois de inseridos num novo estilo de vida, os jovens manifestam interesse em voltar a Portugal depois de concluírem os seus estudos ou colocam como opção permanecerem no país de destino? Na realidade, a situação que acontece mais frequentemente não é nenhuma das duas supracitadas. A Inglaterra é um país com uma grande diversidade cultural, onde se concentram pessoas vindas dos quatro cantos do mundo por isso os contactos feitos neste país não se limitam apenas a portugueses e ingleses. Desta forma, a tendência é para os jovens progredirem para outros países e, o facto destes estudantes serem muito fluentes na língua inglesa é uma porta aberta para entrarem no mercado de trabalho de mais de 70 países. Actualmente, “OK Estudante” é um projecto que orienta os jovens para prosseguir a sua vida académica em Inglaterra. No futuro, não colocam a hipótese de expandirem este projecto a outros países de língua inglesa, como os Estados Unidos ou a Austrália? Que projectos é que têm para o futuro? Não, a OK Estudante não tem em vista expandir o seu projecto para outros países de língua inglesa por dois factores principais. A OK Estudante é uma empresa que nasceu de uma experiência muito pessoal vivida pelos seus dois fundadores, que fazem questão de falarem na primeira pessoa,

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Empreendedorismo

de se identificarem pela sua experiência com o que promovem. O cunho pessoal que André Rosendo e Tiago Pereira imprimem ao seu trabalho é o que caracteriza este projecto e atrai os jovens portugueses a quererem participar e interagir com a empresa. O outro grande factor é de cariz económico, uma vez que, a vida e a educação em países como os Estados Unidos da América é algo muito dispendioso, que chega a rondar os 100 mil euros. Para um jovem, deixar o seu país, a sua família e amigos pode revelar-se uma decisão muito difícil, no entanto, pela vossa experiência, depreendemos que certamente aconselham todos os estudantes a viver esta experiência. Qual é o impacto (benefícios e recompensas) que esta decisão tomada aos 18 anos pode ter na vida de um jovem? Num mundo cada vez mais global, em que tudo evolui de uma forma tão acelerada, é essencial que cada um de nós acompanhe esta evolução mundial e cresça rapidamente. O que se verifica em Portugal é precisamente o contrário, pois ainda existe um grande atraso no nosso país quanto ao desenvolvimento dos jovens quando comparado outros. Revelase, assim,essencial que os jovens tenham uma atitude pro-activa e que se apercebam que para crescerem e evoluírem, é crucial que quebrem o laço com a sua zona de conforto (a casa dos pais) e quanto mais cedo, melhor.

Toda esta experiência e sensação de independência e autonomia que lhes é proporcionada são as maiores recompensas que um jovem que ingresse nesta viagem, nesta aventura pode ter. É o crescimento pessoal e o grande passo em frente que cada um vai dar. Nos últimos anos, a crise financeira e económica tem sido uma constante na vida da população portuguesa. Sentiram que a crise poderá ter afectado a quantidade de pessoas que querem sair de Portugal? De que forma? A OK Estudante é um projecto que tomou forma e apresentou-se ao público em 2008, no decorrer da crise financeira, portanto, não temos dados anteriores para comparar essa situação. No entanto, os jovens portugueses têm aderido bastante bem à nossa iniciativa. Como descreveriam, então, o candidato ideal para o vosso programa? Os jovens portugueses só têm primeiro de visitar o nosso site e consciencializarem-se de toda a envolvência que caracteriza esta experiência e, em segundo, conhecerem-se a eles próprios e questionarem-se se se consideram aptos, isto é, se têm a força necessária para mudar completamente a sua vida e enfrentá-la - Os primeiros tempos são os mais difíceis, em que passamos por uma fase de “isolamento” daquilo que nos é conhecido e familiar. O candidato ideal é, portanto, alguém com uma enorme força de vontade para dar o passo inicial, porque o à-vontade vai-se adquirindo ao longo do processo de adaptação. IR/MM

«É crucial que [os jovens] quebrem o laço com a sua zona de conforto.»

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VĂ­rgula

Cultura


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A cidade de Almada tem diversificado a sua oferta turística - actualmente, quem visita a cidade pode contar com muito mais que o Cristo Rei. Quer em termos arquitectónicos, gastronómicos ou culturais, Almada está renovada. A Vírgula fez-se às ruas da cidade e elaborou um roteiro turístico para uma visita rápida , mas inesquecível.

Texto: Francisco Silva Fotos: Inês Raposo

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Turista Almadense

O Elevador Panorâmico Boca de Vento (na foto) faz a ligação entre a parte alta de Almada Velha e o Ginjal, proporcionando uma vista soberba para o Rio Tejo. O custo de utilização é de 1€

A cidade de Almada tem vindo a renovar e diversificar a sua oferta turística. Quem visita Almada pode contar com um conjunto de ofertas a nível turístico muito interessantes. Em vários planos a cidade tem alargado os seus horizontes e perspectivas ,investido no turismo e nos seus habitantes, no seu conforto e comodidade.

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O nosso passeio inicia-se por Almada Velha. Almada tem conservado a sua identidade nas ruelas da parte antiga da cidade, fazendo questão de preservar o seu património histórico e cultural com sucesso. Os becos transpiram um espírito de bairro que se tem vindo a perder com a crescente anonímia própria das grandes cidades. Passamos por restaurantes e tascas típicas que prometem uma refeição num ambiente caseiro e a um preço acessível. No Restaurante «Trapo Azul» (R. Capitão Leitão), o preço médio por prato ronda os 6€. Um pouco mais à frente, o «Fonte da Pipa» transforma-se em bar após as 23 horas de Sextas e Sábados.

Cultural e artisticamente, Almada alberga grandes nomes da cultura nacional (escrita,pintura) e esforça-se por manter os teatros, traços arquitectónicos típicos e restaurantes com comida caseira.

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Turista Almadense

A Casa da Cerca - Centro de Arte Contemporânea conta com várias exposições ao longo do ano. Informações em http://www.malmada.pt/portal/page/portal/CA SA_CERCA/AGENDA/

Subindo pelas ruas de Almada Velha, vamos dar a um dos símbolos emblemáticos da cidade.

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Bem almoçados, seguimos até à Rua da Cerca para encontrarmos um dos ex-libris da cidade. A Casa da Cerca é um belo exemplo daquilo que Almada tem de bom para se visitar. Um pequeno jardim botânico, uma casa de exposições, uma vista magnífica sobre o Tejo e um ambiente estupendo, a Casa da Cerca concentra em si vários atributos que lhe atribuem o estatuto de “sítio a conhecer”. Próximo passo - uma ida ao Teatro, actividade cultural de excelência da cidade. Todos os anos, durante a primeira quinzena de Julho, realiza-se o Festival Internacional de Teatro de Almada, que conta com a presença de companhias de todo o mundo. Por agora, deslocamo-nos ao «Teatro Extremo», não muito longe.

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Turista Almadense

O Teatro Extremo tem duas peças em cena - «O Rei Vai Nu» e «Quando as Máquinas Param». Mais informações em http://www.teatroextremo.com/

A noite não acaba quando a peça termina. Na noite, a cidade tem alguns bares e locais interessantes para desfrutar de boa música. Locais agradáveis, calmos, que espelham o ambiente da cidade; também ela calma, parecendo conseguir serenar o mundo tão tenso á sua volta. Sugerem-se os pontos «Acerca da Noite», bar localizado em frente à Casa da Cerca, e «Manga Rosa», na figura ao lado. Com o céu estrelado sobre nós, regressamos a casa. Almada é, sem dúvida, uma cidade a visitar e, mas mais que isso, a conhecer. É uma cidade a explorar, porque merece ser explorada e conhecida. Almada, como cidade, é algo único, maravilhoso. FS/IR

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Teatro da Edição

Teatro Nac

Um tea

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cional D. Maria II

m olhar rĂĄpido para um dos atros mais imponentes do paĂ­s.

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Teatro da Edição

Teatro Nacional D. Maria II Um pouco de história… Foi no Pós-Invasões Francesas e Guerra Civil (lutas liberais), em 1836, que Joaquim Larcher (governador de Lisboa) apresentou o seu projecto artístico, juntamente com o respectivo plano financeiro para a criação de um Teatro Nacional que substituísse os antigos teatros do Salitre e da Rua dos Condes e que se integrasse no âmbito mais lato da reforma da educação. O Teatro Nacional acabou por abrir definitivamente as suas portas a 13 de Abril de 1846, durante as comemorações do 27º aniversário da Rainha Dona Maria II (1819-1853), passando por isso a exibir o seu nome na designação oficial. Na inauguração, foi apresentado o drama histórico em cinco actos O Magriço e os Doze de Inglaterra, original de Jacinto Aguiar de Loureiro.

O teatro e o seu público… Com um público-alvo cada vez mais abrangente e considerada uma das principais instituições culturais portuguesas na actualidade, O Teatro Nacional D. Maria II destaca-se pela qualidade dos seus espectáculos e por estreitar a relação entre arte e o público. No entanto, as reacções da plateia diferem consoante as peças. Quando convidada pela Vírgula a destacar uma peça apresentada no Teatro que, pelas suas características, tenha sido objecto de polémica, a Presidente do Conselho de Administração do TNDM II, Professora Maria João Brilhante, escolhe «por exemplo a peça Os Gladiadores de Alfredo Cortez, estreada em 1934 e pateada pelos espectadores, tendo suscitado polémica pelas suas características expressionistas não entendidas pelos espectadores.»

As dificuldades orçamentais e respectivos efeitos Face aos recentes cortes orçamentais de 10% nos apoios financeiros aos teatros, é natural que estas entidades tenham de tomar medidas. No caso do Teatro Nacional Dona Maria II, a Profª Maria João Brilhante afirma que as estratégias se centram em repensar a programação «no que respeita à quantidade das iniciativas a produzir e nunca na redução da qualidade das produções, que deve ser intocável». Assim sendo, os espectadores poderão esperar a mesma qualidade em relação às peças no que resta desta temporada. Todavia, a Presidente do Conselho de Administração alerta que talvez a próxima temporada (2011-2012) «reflectirá talvez mais as restrições financeiras impostas ao Teatro» RG

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O Amor Pelo Teatro Convidado da Edição - Carlos Melo Em todas as edições, neste espaço, a Vírgula convida personalidades do Teatro a expressarem os seus pensamentos relativamente ao meio em que trabalham. Nesta edição, convidámos Carlos Melo, encenador no Teatro da Trindade, a comentar as possíveis consequências do corte de 10% dos apoios financeiros aos teatros. Leia abaixo.

O teatro, esplendoroso na Grécia Antiga, logo sofreu uma crise de dinheiros no século III, antes de Cristo, quando a polis grega deixou de subvencioná-lo. No entanto, a sua sobrevivência não estará nunca em perigo, pois o Teatro é um efeito, por excelência, da máscara coletiva humana. E enquanto houver humanidade, lá haverá teatro. Quanto aos problemas concretos da falta de apoios, aqui e agora, a questão é-me colateral, pois nunca auferi subsídios artísticos do Estado.

Para mim a crise, se não vem do século III, é apenas porque nasci alguns séculos depois. Faz parte da minha existência. Soluções? Talvez nascermos com direito a casa, saúde e escola. Mas, como dizia alguém, "quando nasci já tinham tomado tudo" e eu próprio reconheço alguma dificuldade em convencer os demais deserdados que, em vez de jogarem ao euro-milhões, talvez pudessem construir outra História. Obrigado pela entrevista.

«O Teatro é um efeito, por excelência, da máscara coletiva humana»

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Crónica

A Hipocrisia da Piscina Vives a pensar que realmente poderás no teu brilhante futuro mudar algo. Ser um revolucionário, e que todos irão louvar à tua grande vida. Que todos te irão seguir misericordiosamente como um herói. Pensas que o sangue que te corre no coração, é diferente, que tu, e só tu poderás escolher o teu destino, e que escolhes ser a mudança, escolhes ser sonhador, ser um amante do romântico. Tomas-te por uma agradável anomalia, devido a te destacares no meio de todos, e todos te apresentarem fracos elogios às tuas fracas virtudes, que francamente, não existem. Isto sou eu, outrora sonhador, e elite neste irrelevante mundo. Tomamos a ciência da arte e de quem a pratica por diferentes, por, passo a expressão, "crânios" deste mundo, onde predomina a criatividade e o livre arbítrio. Onde se levantam às horas que querem, deitam-se às horas que querem, e fazem o que fazem porque gostam, porque realmente gostam, e porque ao fim ao cabo, são superiores, e corre-lhes a arte nas veias. Que fazem o que fazem, porque esse é o seu "destino", o de mostrar ao mundo o que nunca viu, o de mostrar ao mundo o que só poucas pessoas vêem. Que eles, sem querer, mudam as pessoas, populações e gerações. E mais importante que tudo, fazem o que fazem, porque estão a seguir um SONHO...

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E tu... tu, que és inutilmente Burro, segues ilusões, auto intitulas-te de idealista e de revolucionário, cheio de ideias e formas de mudar toda esta merda, porque não passa disso, uma grande Merda. Idolatras pessoas simplesmente pelo que ouves e pelo que te contam, sem qualquer tipo de experiência no quer que seja. És Messias dos teus ideais e serás tu, o primeiro a corrompê-los, serás tu o primeiro a provar que vives em mentiras. Não existe espaço para artistas e sonhadores, tudo leva ao mesmo: monotonia, método, horários e por fim, dinheiro. Todos os artistas/sonhadores que idolatras, que abonam de uma anormal criatividade, simplesmente o faziam, por dinheiro, porque não há alternativa. Camões escreveu a tamanha epopeia d’Os Lusíadas para a vender, Miguel Ângelo pintava pois esse era o seu ganha-pão, e como estes são os outros todos... Tomamo-nos por Deuses, onde o limite não existe. Mas não somos, a nossa criatividade tem limites, a nossa coragem tem limites, e até o sonho, que é onde o Mundo é nosso, tem limites. Somos uma raça limitada e ridícula por pensarmos que não. O Ser Humano não passa de um meio termo entre Deus e um Cão. Mas qual seria a beleza da juventude se não pudéssemos ser assim... simples sonhadores? RG


És Messias dos teus ideais e serás tu o primeiro a corrompê-los.

Mas qual seria a beleza da juventude se não pudéssemos ser assim... simples sonhadores?


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