REVISTA HIBISCO EDIÇÃO 01/2024

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IGOR E VITOR

ENTREVISTA COM OS

MAIORES COSPLAYERS HEATSTOPPER DO BRASIL Colunas: A Arte e o “Câncer Gay” ● Adaptações literárias ● Foco nas Rodas ● Estrelasdo-mar não usam sapatos ● Mundos Literários ● Vida por olhos LGBT

Sumário

Arsênio

O

FUNDADOR:

Éden Luna

Ravison Dilam

Willian Matos

COLUNISTAS:

Ravison Dilam

Éden Luna

Charles Santos

Willian Matos

Jéssica Souza

Matheus Corrêa

ENTREVISTADORES:

Nanda Ericca

Vinicius Pereira

DESIGN E DIAGRAMAÇÃO:

Tobias Vicente Gomes

Esther Maia

ILUSTRADOR:

Jefferson (@imaginearte)

REVISÃO E ADAPTAÇÃO:

Willian Matos

Charles Santos

WED DESIGN:

Mah (@Mahstudioz)

Fotos: Freepick, Canva e Google Chrome

Por favor, envie-nos seus comentários, críticas, opiniões ou sugestões. Nós teremos enorme prazer em responder. Acesse nosso site

https://revistahibisco.weebly.com/

A Arte e o “Câncer Gay” ...................................................... 03
literárias O que pode dar errado? ...................................................... 05
Adaptações
mundo dos cosplayers: Paixão, criatividade e comunidade..................................... 07 Foco nas Rodas Caneca de aventuras ............................................................ 11 Estrelas-do-mar não usam sapatos
que cavalos-marinhos não falam português? ............. 13
Um romance “Noalie - o Poeta e a Surfista” ...................... 15 Mundos Literários As Hq’s na Comunidade Literária ......................................... 16 Vida por olhos LGBT Coluna de Éden Luna ............................................................ 18
Por
DESTAQUE

A Arte e o “Câncer Gay”

Quando eu soube que redigiria uma coluna, entrei em um profundo limbo, ponderando sobre o que escolher para abordar, já que teria que ser sobre algo que eu goste. Depois de muito tempo indeciso, optei por explorar o tema da arte. Ótimo, restava definir o que escrever. Refleti por um bom tempo e pensei: “porque não escrever sobre o primeiro cantor assumidamente gay?”. Gostei e comecei a pesquisar sobre. Então me deparei com algo intrigante: sua morte. Isso suscitou dúvidas e mais curiosidade. Continuei pesquisando e notei um padrão lastimável, que me fez reconsiderar o tema sobre o qual eu escreveria. Assim, decidi explorar a causa da morte do primeiro cantor assumidamente gay. Minha narrativa se inicia da seguinte maneira:

O século XX facilmente pode ser visto como o mais turbulento da história, e não

é à toa: duas guerras mundiais, o surgimento e a decadência da antiga União Soviética, inovações radicais na tecnologia em todas as áreas do conhecimento, lutas sociais e culturais, como nas artes. Contudo, é também nesse século que vimos a volta de um dos maiores medos da humanidade, um ini migo invisível: a pestilência.

Foi no fim da década de 1910, no final da Primeira Guerra Mundial, que o vírus influenza começou a matar milhões de pessoas por todo o mundo, era a Gripe Espa nhola. A medicina em 1920 não era a mesma de 2020, quando enfrentamos a CO VID-19, obviamente, mas nós conseguimos vencê-la.

No final do século, no entanto, uma nova ameaça invisível surge, mas dessa vez atacando não apenas a saúde de um indivíduo, mas todo um grupo social, o que corroborou para a aversão desse grupo na época, atin gindo, inclusive, a arte que surgia no período. Era o vírus

da imunodeficiência humana (HIV), causador da síndrome da imunodeficiência adquirida, a tão temida AIDS.

A AIDS é uma doença que compromete o sistema imunológico da pessoa, o que acaba deixando o organismo vulnerável a diversas ameaças patológicas, inclusive uma simples gripe. Uma das vítimas dessa doença foi Jobriath, o primeiro cantor assumidamente gay nos anos 1970. Ser homossexual hoje em dia é desafiador, mas no século passado era ainda mais complicado.

Quem conhece o cantor sabe quão difícil foi sua trajetória, sendo ignorado e

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Segundo o pensamento da população da época, acreditava-se que “o castigo de Deus vem para os pecadores”, justificando sua morte pela doença. Mas por que pecadores? Aí vemos o problema: a doença que levou Jobriath ficou conhecida popularmente como “câncer gay”.

Se analisarmos bem, em uma breve pesquisa na internet, encontramos nomes como Michel Foucault, um dos maiores nomes da sociologia,

e Freddie Mercury, vocalista do Queens, uma das maiores bandas de rock de todos os tempos, ambos vítimas da AIDS.

No Brasil, artistas como Cazuza e Renato Russo também foram vítimas do vírus. O que tinham em comum? Não eram exatamente heterossexuais. A AIDS acabou sendo estigmatizada como uma doença exclusivamente gay, uma visão que hoje sabemos não ser correta, mas que na época não era assim óbvio.

Ninguém sabia do que se tratava, acreditavam até que era transmitido através do toque (o que levou a Princesa Diana, da Inglaterra, querer desmentir esse mito em 1987). Na mídia, os casos destacados de pessoas que contraíram o novo vírus que surgia eram invariavelmente homossexuais. Embora o vírus também fosse transmitido a heterossexuais, isso não era tão chamativo para os jornais da época, até alguns famosos heterossexuais, como Sandra Bréa, renomada atriz brasileira das décadas de 1970 e 1980, contraírem a doença, chocando a população.

Considerar um vírus como um castigo divino e estigmatizar toda uma comunida-

de por isso foi terrível. Toda essa discriminação acabou erguendo vozes contra o preconceito relacionado ao estigma da AIDS.

Keith Haring, por exemplo, um artista estadunidense que contraiu a AIDS, incorporava em suas obras certo ativismo social. Suas obras traziam o sexo como algo maravilhoso e não como um tabu. Ele celebrava a comunidade LGBT, desvinculando-a da sombra da doença, que não deveria estar ali para manchar a sua imagem perante a sociedade.

É essencial reconhecermos que a AIDS não escolhe vítimas usando como principal requisito a sexualidade. Casos de artistas, como Jobriath, lembram-nos da importância de combater o preconceito relacionados ao HIV e de promover a conscientização sobre o assunto.

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Asfalto é cidadania e qualidade de vida

Dessa forma, enquanto a AIDS não possuir uma cura, que a arte e a história possam nos inspirar a continuar lutando por um mundo mais inclusivo, onde o estima é substituído pela compreensão, e o medo vencido pela solidariedade. Vale ressaltar que a proteção ainda é a melhor forma de prevenir a AIDS.

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@_willian__matos_ @_ars_willian_ 4 • Revista Literária Hibisco

Para um fã nato de literatura, não existe nada melhor do que sentar no sofá (ou em uma poltrona numa sala de cinema) e assistir aquela adaptação tão esperada de um de seus livros preferidos.

O medo e nervosismo se entrelaça junto com a expectativa de que a essência do conteúdo original esteja ali. E quando filme ou série é fiel, é como ouvir um coro de aleluia tocar no fundo. O medo da lugar a uma ale-

gria sem fim que se instala no peito.

Uma adaptação literária têm o intuito de atrair mais fãs para aquela obra. E quando é fiel, é um deleite para os apaixonados por aquela obra.

Tenho certeza que sabemos o que é isso.

Falar sobre adaptações literárias é algo tão complicado quanto que polêmica, porque para isso primeiramente é preciso que quem esteja por trás da adaptação tenha um respeito e consideração pela obra e pelo ponto de vista do autor, respeitando os limites, e, principalmente a essência enquanto se adapta as demandas e possibilidades do meio audiovisual.

E sabemos que nem sempre isso acontece. Podemos citar os filmes (Eragon - 2006), (Percy Jackson e o ladrão de raios e o mar

de monstros 2010 – 2013), (Amor e gelato - 2022) entre outros. Que para os fãs (com todo o respeito) foi uma desgraça, um trauma desnecessário. Que atraiu mais hates do que fãs.

Alguns dos motivos pelos quais as adaptações podem se desviar da fidelidade aos livros incluem: restrições de tempo, diferenças de mídia, (não querendo culpar nós fãs mas já culpando) expectativas do público, interpretação criativa e restrições orçamentárias.

É importante lembrar que cada adaptação é única e traz consigo desafios específicos.

A fidelidade à fonte original é um equilíbrio delicado que os criadores audiovisuais tentam manter enquanto buscam criar uma experiência significativa para o público do cinema e da televisão.

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Para finalizar, gostaria de deixar algumas adaptações que se destacam por serem fies as suas obras originais, que seguiram e ainda seguem arrecadando fãs por onde passam como:

• “Game of Thrones” –Baseado na série de livros “As Crônicas de Gelo e Fogo” de George R.R. Martin, a adaptação para a TV foi um grande sucesso, conquistando milhões de fãs em todo o mundo.

• “O Senhor dos Anéis” – A trilogia de livros de J.R.R.

Tolkien foi adaptada para o cinema, com a trilogia de filmes dirigida por Peter Jackson se tornando um dos maiores sucessos do cinema de fantasia.

• “The Handmaid’s Tale”

– A série baseada no livro “O Conto da Aia” de Margaret Atwood é uma adaptação intensa e impactante que tem recebido muitos elogios da crítica.

• “Harry Potter” – A série de livros de J.K. Rowling

foi adaptada para o cinema e se tornou um fenômeno cultural, gerando uma franquia de filmes que conquistou fãs em todo o mundo.

• “Orgulho e Preconceito” – O romance de Jane Austen foi adaptado para o cinema várias vezes, com destaque para a versão de 2005 dirigida por Joe Wright e estrelada por Keira Knightley.

@ccomlivros

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O mundo dos cosplayers: paixão,

criatividade e comunidade

No vasto universo da cultura pop, existe um grupo de entusiastas que vai além da simples apreciação de personagens icônicos: os cosplayers. Para eles, vestir-se como seus heróis e vilões favoritos vai muito além de uma simples fantasia; é uma expressão de paixão, criatividade e pertencimento a uma comunidade vibrante e acolhedora.

Desde a sua ascensão nas décadas passadas, o cosplay tornou-se uma forma de arte por direito próprio, com praticantes dedicados em todo o mundo. De convenções épicas a encontros locais, os cosplayers encontram espaços para

exibir suas habilidades de costura, maquiagem e interpretação, cativando não apenas os fãs de suas respectivas franquias, mas também aqueles que apreciam o esforço e a dedicação por trás de cada traje meticulosamente elaborado.

Explorando mundos imaginários

Cada vez que um cosplayer entra em cena, ele não apenas encarna um personagem, mas também transporta consigo uma parte do mundo imaginário que ele habita. Dos heróis dos quadrinhos aos guerreiros dos videogames, dos personagens de anime aos protagonistas de filmes de fantasia, os cosplayers abraçam uma variedade de fontes de inspiração, refletindo a diversidade e a riqueza da cultura pop contemporânea.

Para muitos, o processo de criação de um traje de cosplay é uma jornada cria-

tiva e transformadora. Desde a pesquisa inicial até a escolha dos materiais e a execução dos detalhes finais, os cosplayers investem tempo e energia para garantir que suas representações sejam precisas e impressionantes. Através de técnicas de costura, modelagem, maquiagem e até mesmo construção de adereços, eles dão vida aos seus personagens favoritos, capturando não apenas sua aparência, mas também sua essência e personalidade.

No entanto, o cosplay vai além do aspecto visual. Para muitos praticantes, é também uma oportunidade de explorar diferentes aspectos de si mesmos, de desafiar limites criativos e de construir confiança e autoestima. Ao se transformarem em personagens fictícios, os cosplayers têm a chance de experimentar novas identidades, de contar histórias e de se conectar com outras pessoas que compartilham seus interesses e paixões.

Comunidade e conexão

Um dos aspectos mais cativantes do mundo cos-

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play é a forte sensação de comunidade que o envolve. De fóruns online a grupos de cosplay locais, os cosplayers se reúnem para compartilhar dicas, truques e experiências, formando laços duradouros com outros membros da comunidade. Em convenções e eventos, eles têm a oportunidade de se encontrar pessoalmente, trocar ideias e admirar o trabalho uns dos outros, criando uma atmosfera de camaradagem e apoio mútuo.

Além disso, o cosplay também desempenha um papel importante na promoção da diversidade e inclusão na cultura pop. Ao permitir que pessoas de todas as idades, origens e habilidades participem, o cosplay celebra a individualidade e a expressão pessoal, desafiando estereótipos e promovendo a aceitação e o respeito mútuo.

Um exemplo de cosplayers que tem chamado atenção do público no Instagram, especialmente da comunidade LGBTQIAPN+, são Igor e Vitor, casal da qual tivemos o prazer de entrevistar.

Entrevista

Então, conta para nós, como vocês se conheceram?

“Foi pelas redes sociais, o Vitorfoicomcosplaydewiccano para a CCXP de 2022

e tirou foto com uma amiga nossa e viralizou no Twitter com esse cosplay. Eu procurei ele para podermos fazer um ensaio juntos, custei a achar as redes sociais dele mesmo, quando achei foi pelo perfil da daywonder e mandei mensagem. Ele me respondeu um dia depois e marcamos o nosso primeiro ensaio, hulkling e wiccan. Euchamei ele pra tentar um cosplaydeCharlieSpring,de Heartstopper, também para esse mesmo ensaio”.

Como é fazer cosplay de uma das maiores sensações do momento como Charlie Spring e Nick Nelson? E que os atraiu inicialmente em Heartstopper?

“A gente acha incrível! No ano passado, na Tudum, a gente percebeu o quão grandeefenomenaleratudo

o que fazíamos. Quando chegamos, fomos a sensação, formaram filas e mais filaspratirarfotocomagente. Depois disso focamos ainda mais nos personagens, fizemos vários outros outfits, e hoje em dia estamos com o uniforme da escola, com o derugbydetreinoedecampeonatos, com as roupas de Paris e alguns pijamas dos personagens. No geral, a paixão pela série e pelos livrosfezaumentaraindamais avontadedefazerospersonagens com mais intensidade,entãoinvestimosbastante e é o nosso carro chefe no momento. Somos extremamente gratos por tudo que conquistamos,graçasàobra e à série. É surpreendente todo amor e carinho que recebemos no último ano”.

Como foi o primeiro contato de vocês com a obra?

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“O Vitor conhecia a obra antes de sair a série; ele acompanhava edits e artes da Alice antes de ser comprado pela Netflix para asérie.Euconhecipelasérie;depoisdeterminardelerolivro “Vermelho, Branco e Sangue Azul”, apareceu na Netflix como indicação, comecei a assistir e descobri que tinha a saga de livros. Comprei os quetinhamnaépocaefiquei apaixonado. Eu me identifiquei com o Nick no primeiro instante, e já planejei o cosplay. Comprei as roupas, mandei a uma costureira para bordar a logo da escola e fiz o meu primeiro ensaio solo de Nick Nelson”.

Como vocês vêem a relevância da representação LGBTQIAPN+ na série?

“É de extrema importância. O que Alice Oseman e See Saw Films fizeram nessa série foi incrível. Eles trabalharam todas as letras da sigla com uma delicadeza incrível, tratando de forma respeitosa todas as temáticas. A sensibilidade da série torna ela ainda maior e melhor. Faz a gente sentir orgulho de ser parte da comunidade LGBTQIAPN+, eu mesmo fui inspirado a sair do armário graça a essa série e a leitura de VBSA. Ver Nick se assumir para a mãe na primeira temporada me deuforçasqueeunemsabia

queeuprecisavaparasairdo armário”.

Qual personagem mais os impactou?

“Para o Vitor, em Heartstopper,foioCharlie.Nogeral, wiccano. Para mim, no geral, acho que o Henry de VBSAmexeu muito comigo, e em Heartstopper. com toda certeza foi o Nick (meio óbvio e sem surpresas), mas eles foramosprotagonistasqueme ajudaram a me resolver com a minha família em relação a minha sexualidade”.

Na visão de vocês, como descreveriam a importância da obra no ponto de vista da literatura, especialmente na literatura LGBTQIAPN+?

“Acho que é uma abertura para inspiração, livros de romance LGBTQIAPN+ são em sua maioria algo muito pop, ouseja,umcasalgaysócom pegaçãoecoisasmaisinten-

sas, o famoso hot, enquanto Heartstopper aborda todos os temas com delicadeza e sutileza, trazendo temas de extrema importância de uma forma simples e suave que funciona muito para obra”.

Há alguma cena em específico com algum significado especial para vocês?

“Para o Vitor, a cena da praia na primeira temporada, quandoNickpegaCharlieno colo e grita que gosta dele de um jeito romântico e não só como amigo. Para mim, com toda certeza, foi a cena do final da segunda temporada com Nick e Charlie no chão do quarto, Charlie falando sobre o bullying, os problemas de saúde e Nick quase falando que amava ele, são as cenas mais marcantes com toda certeza”.

O que os inspiraram a fazer conteúdos juntos?

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“Dependemuitodoconteúdo e da mídia. Geralmente, se temos algum gosto específicoporalgumamídia,mostramos um pro outro (caso ainda não conheçamos) e pensamos na possibilidade. Avaliamos gastos, se seria viável no momento, tendo a discussão sobre o projeto, e se for viável colocamos em prática. O importante é a gente se divertir e entregar ao máximo nosso melhor em todo e cada projeto”.

Quais foram os maiores desafios durante todo esse processo? E quanto às recompensas?

”Acho que os maiores desafios são a atuação e a timidez em frente às câmeras. Quantoàsrecompensas,estamos cada vez mais felizes, porque nossa arte vem atingindo ramos cada vez mais inimagináveis, com contratos com editoras grandes graçasaocosplayeaalegria dosfãsquandoveemagente em algum evento”.

Alguma vez enfrentaram ataques ou críticas do público? Como vocês lidaram com isso?

”Haterssemprevãoexistir, ojeitoélevarnumaboa,com leveza, mas a única “crítica” são as pessoas me compararem ao Ben Hope por ser parecido com o Sebastian Croft (o ator que faz o Ben

na série), mas fora isso as pessoas aceitam numa boa, essa é a melhor coisa no mundo dos cosplays literários, as pessoas são receptivas porque é uma forma de estarem próximas de seus personagensfavoritos”.

E como o conteúdo dos dois impactam a comunidade LGBTQIAPN+?

“Aparentemente,opúblico gosta bastante e vivem pedindopraqueadotemoseles como nossos filhos, é bastante engraçado essa parte. Muita gente veio agradecer a gente também por trazer esses personagens à vida aqui no Brasil, o que para a gente é extremamente incrível, porque aparentemente trazemos algum tipo de inspiração para membros mais novos da comunidade, e isso deixa a gente muito feliz e muito bem com a gente mesmo!”.

O que mais gostariam de ver na literatura LGBTQIAPN+ nos próximos anos?

“Espero mais histórias leves, de forma a inspirar confiança na comunidade LGBTQIAPN+. Precisamos de histórias com protagonismo leve, não história apenas para nos rotular”.

O que diriam para os novos criadores de conteúdo

LGBTQIAPN+ que começaram a trabalhar nisso recentemente?

“Para irem sem medo, críticas todos vamos ter. Precisamos saber interpretar o que é para construir algo melhoreoqueéapenastroll de internet para disseminar ódio. Mas o importante é se concentrar em criar seu melhor conteúdo, fazer as coisas sem medo e entregar o melhor sempre que puder”.

Vocês se veem criando conteúdo daqui há dez ou vinte anos?

“Euesperoquesim,acriaçãodeconteúdoémuitoimportante para poder inspirar as pessoas e levar voz para as minorias. Acho que é algo que ajuda de forma indireta muitas pessoas”.

Alguma mensagem que queiram compartilhar com seus fãs e com os amantes de Heartstopper, assim como vocês?

“Vivam o amor de forma intensa. Hoje em dia todos temos medo de mostrarmos nossos sentimentos, mostre seu amor, demonstre amor, para sua família, para quem você ama, para amigos, mas não tenha medo e nunca deixe ninguém tentar apagarvocê!Mostrequesualuz não pode ser apagada”.

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“Para um cadeirante como eu”, Ravison Dilam

Éum verdadeiro deleite observar as calçadas altas se er-guendo majestosamente sobre a paisagem urbana. É como se os planejadores urbanos tivessem se reunido em uma mesa redonda e decidido:

“Vamos criar algo que desafie até mesmo o mais intrépidodoscadeirantes.”

Afinal, quem precisa de acessibilidade quando se pode ter degraus ornamentais?

É fascinante como as calçadas elevadas conseguem combinar a praticidade de uma montanha-russa com a elegância de uma corrida de obstáculos. A impressão que passa é que os engenheiros estivessem participando de uma competição, onde o desafio é ver quem consegue tornar a vida dos pedestres e cadeirantes mais emocionante.

Adivinha quem está sempre no topo da lista de acessibilidade? Exatamente, nós, os amantes da adrenalina com mobilidade reduzida!

E não podemos deixar de apreciar a forma como essas maravilhas arquitetônicas nos desafiam a superar

nossos próprios limites. Porque, vamos encarar, quem precisa de ginástica quando se pode praticar suas habilidades de equilíbrio em uma passarela estreita, com o tráfego ziguezagueando ao seu redor? É como participar de um jogo de Tetris da vida real, só que com cadeiras de rodas em vez de blocos.

Nivel de dificuldade: Desrespeito

Quando olhamos para essas obras primas de design urbano, não podemos deixar de nos maravilhar com sua habilidade de transformar simples passeios em uma experiência de sobrevivência. Porque, afinal, quem não gosta da emoção de descer uma rampa íngreme a uma velocidade digna de uma pista de esqui? Quem se importa com a acessibilidade quando se pode ter uma corrida de

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obstáculos em direção ao mercado local?

Sim, porque a vida de um cadeirante já não é emocionante o suficiente, certo?

Nós clamamos por mais emoção em nossas rotinas diárias, e essas altas calçadas atendem a esse chamado de uma maneira verdadeiramente espetacular, nos colocando como paratletas mesmo quando tudo o que buscamos é ir na padaria buscar nosso pão para o desjejum.

E claro, não podemos deixar de apreciar a forma como essas maravilhas arquitetônicas nos desafiam a superar nossos próprios limites. Somos obrigados a encarar tais desafios.

Quem precisa de ginástica quando se pode praticar suas habilidades de equilíbrio em uma passarela estreita, com o tráfego ziguezagueando ao seu redor? É como participar de um jogo de Tetris da vida real, só que

com cadeiras de rodas em vez de blocos.

Mas, é claro, não podemos esquecer o aspecto social das calçadas elevadas.

Com elas não existem pessoas tímidas e introspectivas, pois são verdadeiras facilitadoras de conversas, proporcionando oportunidades únicas para interações espontâneas com nossos colegas pedestres quando precisamos pedir por ajuda.

Afinal, quem não adora parar no meio do caminho para trocar algumas palavras amigáveis enquanto tenta encontrar uma maneira de navegar por uma série de degraus abruptos?

Nivel de dificuldade: Muito grande

Então, vamos todos levantar nossas xícaras de café – ou melhor, nossas canecas de aventura – e brindar às maravilhas das

calçadas elevadas. Porque, afinal, quem precisa de acessibilidade quando se pode ter uma experiência de parque de diversões a cada passo?

Aqui está um brinde a todas as calçadas elevadas lá fora, elevando literalmente nossas expectativas sobre o que é possível em termos de acessibilidade.

Já que no final do dia, quem precisa de praticidade quando se pode ter uma aventura involuntária? Quem precisa de acessibilidade quando o que ganhamos são desafios diários?

Vida longa às calçadas elevadas, ou, como gosto de chamar, o parque de diversões urbano para os destemidos viajantes de cadeira de rodas! @ravison_dilam

12 • Revista Literária Hibisco DESCASO PÚBLICO
12 • Revista Literária Hibisco

Por que cavalos-marinhos não falam português?

Escritor por Matheus Corrêa

“Não basta apreciar a beleza de um jardim, sem ter queimaginarqueháfadas nele?”, Douglas Adams

Contemplar a natureza é buscar entendê-la ou não? Quando contemplo uma obra de arte e constato que ela é produto de seu tempo, percebo o que para isso preciso buscar compreender a percepção de quem a fez e o contexto. O contexto amplia as camadas do invólucro.

E para contemplar há necessidade inteiramente do uso da mente, não apenas como algo passageiro, mas como experiência: “Sentado na árvore, olhando para seus parentes próximos e distantes, considere um conjunto específico de animais, aqueles que comumente pensamos ser “inteligentes” — que têm cérebros

grandes e comportamento complexo e adaptável.

e papagaios são inteligentes. Não são mamíferos, mas são vertebrados, e por isso estão ainda bem próximos de nós, embora muito menos que os chimpanzés.

Tendo reunido todas essas aves e todos esses mamíferos, podemos perguntar: como era seu ancestral comum mais recente e quando ele viveu? Se olharmos para baixo da árvore, onde todas essas linhas de ancestralidade se fundem, o que encontraremos vivendo lá?”. (GODFREY-SMITH, Peter; Outras Mentes: O Polvo e a origem da consciência; Todavia; 1 edição, 17 de janeiro de 2019).

Entre estes, certamente incluem-se os chimpanzés e os golfinhos, além de cães e gatos, juntamente com os humanos. Todos esses animais estão bem perto de você na árvore. São primos bastante próximos, do ponto de vista evolucionário.

Se estivéssemos fazendo este exercício da forma correta, deveríamos acrescentar as aves também. Um dos desdobramentos mais importantes da psicologia animal nas últimas décadas tem sido a constatação do quanto corvos

E acreditar piamente que tudo está ao nosso alcance é no mínimo tolo, a nossa realidade é exatamente o que os meus sentimentos me proporcionam ao encarar a natureza; quando um cientista compara a amplitude desse fenômeno ele escreve: “Átomos de tungstênio, aumentados dois milhões de vezes por um microscópio. Na extrema direita, as manchas ao centro da gravura são as galáxias mais distantes que podemos ver. Não importa até onde o homem estenda os seus sentidos, sempre haverá um limite à sua percepção consciente.” (JUNG, Carl; O homem e seus símbolos;

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HarperCollins; 2 edição, 8 de abril de 2016; s/p)

Então por que os Cavalos marinhos não falam português? Não sei se ao certo eles não falam português, porque não consigo escutá-los, mas acredito que não falem, não por uma crença sem base, mas porque consigo contemplar a partir de indícios e assim é feita a ciência. Através da lógica, da repetição e do empirismo.

Uma vez, Carl Sagan falou sobre um dragão que estava na garagem, quem poderia provar a sua existência? O dragão se adapta a cada necessidade da prova de sua existência; preciso o ver, mas como se ele é invisível? Preciso o sentir, mas como se ele é intangível, quero sentir seu odor, mas nada sai dali. E muita das vezes vemos um cavalo marinho falando português, mas como provar a sua existência? A melhor pergunta seria “como provar a sua não existência?”. E aí que mora a grande preocupação de hoje em dia. Cientistas são obrigados a provar as suas teorias, e são confrontados por pessoas que não estão com vontade e energia para provar algo que afirmam.

Pessoas acreditam em coisas, e tudo bem, necessitamos da metafísica, até para o aprendizado, mas obrigar outros a terem a mesma visão de mundo, sem provas consideráveis, é algo em prática hoje em dia, que faz com que pessoas percam a sua individualidade e o seu pensamento crítico.

O ser humano, além de ter a sua capacidade de pensar, tem a de ser condicionado. Para a Skinner, “O condicionamento operante considera que as consequências de um comportamento podem influenciar a probabilidade de este ocorrer novamente.” Sendo assim, se há prêmio, se há prazer, sendo ele subjetivo, o sujeito deseja repetir a ação para que a satisfação ocorra novamente, uma geração que está se entupindo de dopamina.

destino dos reis e das nações; hoje existem lugares que não aceitam pessoas do signo de escorpião por serem vingativas, de câncer por terem tendência à “melancolia” e alguns absurdos mais.

Há tantos cavalos marinhos falando português por aí, condicionando pessoas ao prazer de estar em um grupo, e o grupo exerce um poder significativo sobre quem está pertencente a ele. O ambiente é aquilo que está lá fora, as palavras bem estruturadas, a narrativa eloquente que sim, realmente parece que o cavalo marinho está falando português. Em 3000 a.C, às margens do rio Eufrates e Tigris, babilônios e mesopotâmios acreditavam que os planetas, o sol e a Lua, com seus movimentos, alteravam o

E como Haruki Murakami, escreveu em seu livro O Incolor Tsukuru Tezaki e suas peregrinações: “Nem tudo se perdeu no fluxo do tempo”. Era isso o que Tsukuru deveria ter dito a Eri na despedida, à beira do lago na Finlândia. Mas não conseguira colocar em palavras. “Naquela época nós acreditávamos em algo, éramos capazes de acreditar fortemente em algo. Esse sentimento não iria desaparecer em vão.” Ele acalmou o coração, fechou os olhos e caiu no sono. A luz do fim da consciência foi diminuindo aos poucos, como o último trem expresso que se afasta aumentando a velocidade, e foi sugada noite adentro.

Restou apenas o som do vento soprando entre as bétulas brancas. - Algo se perde quando se aprende que a vida é poesia e que para contempla-la não há necessidade alguma de acreditar que cavalos Marinhos falam português, porque de verdade, eles não falam e se falassem, talvez a gente não teria capacidade de escutar o que eles teriam para nos dizer. @theustorrestari

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DESTAQUE DA EDIÇÃO

MUNDOS LITERÁRIOS

As HQ’s na Comunidade Literária

Jéssica de Souza

O que vem à sua mente ao ouvir “histórias em quadrinho”? Turma da Mônica? Óbvio, sabia!

Um grande clássico criado por Maurício de Sousa em 1959. Mas quero falar sobre outras HQ’s de gênero textual e recursos únicos. Cada vez mais elas têm aparecido nas listas de leituras de diversos leitores abordando temas que vão do drama familiar a uma simples história abordada de modo mais intenso e profundo.

As ilustrações ganham destaque sempre, entretanto, o conjunto de toda a obra (os temas, o uso de tons

e cores combinados com os cenários criados) atraem um olhar mais maduro. Há alguns anos atrás a leitura referente à HQ’s encontrava-se uma resistência maior por ser infantilizada, sendo assim comparada a uma leitura voltada ao público infantil. Era comum ouvir, por exemplo, perguntas como: “Quando você vai começar a ler coisas de gente grande?”

Atualmente há uma produção em larga escala de HQ’s voltadas para todos os gêneros literários, agradando assim grande quantidade de leitores. Um verdadeiro clássico da literatura foi transformado em quadrinhos e desperta a curiosidade

dos pequenos. A presença de leitores, bem como escritores mirins contribui para o crescimento da conscientização. Algo de extrema necessidade e importância na educação. Questões ambientais abordadas de forma leve, clara e objetiva auxiliam na construção de caráter do futuro cidadão.

Uma forte polêmica se instalou: ‘Quadrinho não é literatura.” e de modo mais técnico digamos assim, de fato não é.

Calma, vamos por partes; a ilustração em si é essencial pois é uma das principais ca-

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racterísticas de uma revista em quadrinhos, os balões de fala tão típicos e exclusivos compõem a elaboração final do produto.

Cada elemento é precisamente aplicado tornando portanto recursos únicos de produção Sabia que até mesmo o papel e a diagramação são analisadas e testadas?

“Sendosinceracomvocê,eu mesma”,JéssicadeSouza.

Tinha meus preconceitos em relação a presença dos quadrinhos dentro da comunidade literária. Aproximadamente cerca de 60% dos leitores ainda não os consi-

deram como uma boa leitura, contudo alguns lançamentos recentes vêm mostrando nos textos referências literárias e uma certa complexidade e, como já dito antes, profundidade. Além também das dimensões e das ambientações das histórias.

Quadrinistas de todas as partes do mundo mostram seu país e sua cultura através dos traços e linguagem empregada e resultando em uma bela obra.

Nosso país é imenso e mal o conhecemos, não é verdade?

Pois bem, nos quadrinhos, autores e ilustradores nacionais retratam com uma dose de humor, sagacidade e críticas construtivas, o lugar em que vivem. Juntar tudo isso mostra quão trabalhoso é a fabricação de uma história em quadrinho.

Em todas as mídias sociais pode-se encontrar leitores dedicados especialmente às HQ’s seja mais infantil ou mais madura vale a pena sair da sua zona de conforto e dar uma chance para novas histórias que adentram o mundo literário e que nos surpreendem quando menos esperamos. Esse foi o tema dessa edi-

ção, espero que tenham gostado e até a próxima.

@umahistoriadoraleitora

Dica de leitura:

Mordida, Sarah Andersen

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VIDA POR OLHOS LGBT

Não posso guardar para mim

Prazer, sou Éden Luna e essa é minha coluna

Esses dias eu falei para mim mesma: “vouconseguir”.

Sinto-me um vagão que as pessoas vão e vem. Outras vêm e ficam, outras vêm e vão. No final, minha companhia estática são só os mendigos que dormem nos corredores.

Minha solidão é difícil de explicar, talvez até horrível de suportar. Por mais que

Caetano Veloso e Gilberto Gil digam que tudo é divino e maravilhoso, não senti isso.

Foi um fracasso. Tentei escrever mais: nãoconsegui Tentei aproveitar mais a minha vida: nãoconsegui. Tentei fazer o que eu precisava: tambémnãoconsegui

O fracasso humano consegue ser doloroso igual a uma facada que espalha todo sangue da vítima na cena do crime.

Mas o que eu realmente queria era um amor pra amar. Mas também não consegui. Com isso resolvi tentar reviver algumas coisas pra saber mais de mim. Até meu anjo da guarda apareceu pra mim e falou: Revivendo as coisas, repara-se que não viveu nem experimentou. Não riu nem chorou, apenas um corpo vazio. Tua vida passastes como furacão. Será que serás socorrido dele?

18 • Revista Literária Hibisco
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https://revistahibisco.weebly.com/ @revista_hibisco Representando a diversidade e a multiplicidade de vozes e experiências EDIÇÃO 01/2024
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