Revista Fraude 12

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Ano 11 - n°12 - Salvador/Bahia - 2014

FRAUDE

CINEMAS DE RUA

da era de ouro às salas em ruína

histórias e personagens que transitam nos becos da cidade

Luis Augusto: um perfil do criador do Fala Menino!

além do erudito com a Orquestra Afrosinfônica

as faces culturais do judaísmo em Salvador



editorial Fraude

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Senhoras e senhores, bem-vindos à magia dos cinemas! Um universo onde as histórias ganham projeção e todas as fantasias podem ser realizadas. É com essa inspiração que fraudamos alguns personagens marcantes de diferentes décadas do cinema. Quase ninguém foi poupado, nem mesmo os representantes dos filmes mudos. Homenageado entre as célebres figuras, o ilustre professor da FACOM/ UFBA e crítico de cinema André Setaro (1950-2014) ficaria feliz ao reviver o tempo áureo das telonas. Este ano, até a Macaquicha ganhou o Oscar, ou melhor, seu troféu pela edição anterior. Fomos premiados como melhor projeto de assessoria de imprensa do país no XXI prêmio Exposição de Pesquisa Experimental em Comunicação (Expocom). Nesta Fraude, continuamos com todas as páginas coloridas e intensificamos o uso do QR Code. Agora o nosso leitor pode acessar o material multimídia no final das respectivas matérias que tenham esse recurso tecnológico e interagir com o experimental que produzimos na Cidade Baixa. A Fraude #12 foi às ruas de Salvador e explorou diferentes contextos urbanos, sem perder o hábito de fraudar os seus conteúdos. Nossos repórteres foram desde os cinemas de rua abandonados, discutindo a situação desses espaços, até os becos da cidade, onde os personagens e as curiosidades ganharam destaque. E não paramos no meio do caminho. O Selo Fraude de Qualidade avaliou os brechós da capital e desembarcamos em Feira de Santana para traçar um perfil do Feiraguai. Durante o percurso, abrimos passagem para os músicos da Orquestra Afrosinfônica da Bahia, o quadrinista Luis Augusto e o cenógrafo Rodrigo Frota, além de mostrar as relações culturais do judaísmo na cidade e o cenário da 3ª Bienal de Arte da Bahia. Fantasiados como nós, os cosplayers também são personalidades que marcam presença nesta edição. A novidade é um conto esportivo destinado principalmente aos apreciadores do futebol. Sinta-se mais do que convidado(a) para conferir o resultado e pegar a sua pipoca, pois a sessão já vai começar!


34 Uma cidade dentro da feira 6 Entra em Beco, sai em Beco

As histórias testemunhadas pelas paredes dos becos de Salvador

11 Fala, menino Luis Augusto!

Perfil do quadrinista que ainda cresce como criança

14 Judeus entre culturas

As relações entre a cultura milenar do judaísmo e Salvador

18 Afrosinfonia que vem da Bahia

Uma entrevista com os integrantes da Orquestra Afrosinfônica da Bahia

22 Cinemas em situação de rua

Um panorama das salas de cinema de rua de Salvador, da Era de Ouro às SalasdeArte

O Feiraguai além das mercadorias

38 Selo Fraude de Qualidade

Selo Fraude vai às ruas garimpar o melhor brechó de Salvador

40 Vestindo personalidades

O universo cosplay: do planejamento à execução Ananda Ikishima/ Labfoto © 2014

44 Come-gols

Conto esportivo dedicado ao futebol do atacante Fred na Copa do Mundo 2014

46 Percepções entre o céu e a terra

Uma experiência visual, sonora e audiovisual pelo bairro da Ribeira

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28 46 anos em 100 dias

As Bienais de Arte da Bahia sob a ótica de quem as viu nascer

Alex Oliveira © 2014

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32 Decifraudando a cidade

As impressões do cenógrafo Rodrigo Frota sobre Salvador

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Lucas Seixas/Labfoto © 2014

Milena Abreu/Labfoto © 2014


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Taylla de Paula/Labfoto © 2014

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Taylla de Paula/Labfoto © 2014

Tutor Petcom: Fabio Sadao Nakagawa Editor-geral: Luciano Marins Editora de Fotografia: Taylla de Paula Editor Multimídia: Diego Yu Editor do Site da Fraude: Ygor Bahia Diretora de Arte: Taylla de Paula Diagramação: Diego Yu, Lucas Amado Gama, Matheus Buranelli, Michelle Vivas, Taylla de Paula e Ygor Bahia. Assessoria de Comunicação: Aline Valadares, Bianca Bomfim, Diego Yu, Laís Melo (coordenação), Lorena Morgana e Michelle Vivas. Produção do Lançamento: Jessica Carvalho, Luciano Marins, Matheus Buranelli, Nathália Luna (coordenação), Vinicius Gericó e Ygor Bahia. Repórteres: Aline Valadares, Bianca Bomfim, Diego Yu, Laís Melo, Lorena Morgana, Lucas Amado Gama, Luciano Marins, Matheus Buranelli, Michelle Vivas, Nathália Luna, Tamiles Alves, Taylla de Paula, Vinicius Gericó e Ygor Bahia. Foto de Capa: Ananda Ikishima/Labfoto Foto do Editorial: Lucas Seixas/Labfoto Foto de Contracapa: Lucas Seixas/Labfoto

agradecimentos À Faculdade de Comunicação da UFBA. Ao Labfoto/ UFBA pela parceria com as fotografias da revista, especialmente ao professor Rodrigo Rossoni e aos fotógrafos Lucas Seixas e Milena Abreu. Ao Centro Técnico do Teatro Castro Alves pelo empréstimo dos figurinos do editorial. Ao fotógrafo Nilton Souza (Imagem Certa) por ceder a fotografia aérea do experimental. Ao cabeleireiro e maquiador Leonardo Monteiro pela assistência na fotografia do editorial. À Fundação Pierre Verger pela concessão dos direitos autorais para uso de fotografia. À comunidade Franciscana da Bahia pelas fotografias do antigo Cine Pax. Ao Pelourinho Cultural, ao Centro de Culturas Populares e Identitárias e à Secretaria de Cultura do Estado da Bahia por cederem o Largo Pedro Archanjo e toda a infraestrutura para realização do nosso evento.

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Ananda Ikishima/Labfoto © 2014

quem faz a fraude

A revista Fraude é uma publicação do Programa de Educação Tutorial da Faculdade de Comunicação (Petcom) da Universidade Federal da Bahia. O PET é um programa mantido pela Secretaria de Ensino Superior do Ministério da Educação. As opiniões expressas neste veículo são de inteira responsabilidade dos seus autores. Ano 11, número 12, nov. de 2014 Salvador - Bahia Tiragem: 2000 exemplares End.: Rua Barão de Geremoabo, s/n, Ondina, Salvador, BA - Brasil. Tel.: 3283-6186 www.petcom.ufba.br petcom@ufba.br


Entra em B sai em E C O

Por dentro dos contrastes e das histórias escondidas nos becos de Salvador texto Luciano Marins e Ygor Bahia

Quando Francisca Siqueira, 71, chegou à sua residência em uma tarde de quinta-feira com alguns sacos e um vaso de plantas nas mãos, ficou evidente: é dela o jardim modesto e ao mesmo tempo vistoso que cerca a extensão próxima à sua porta. “Já fui até para a Justiça por causa dessas plantas. Um vizinho disse que eu teria que acabar com o jardim por bem ou mal, mas a cada dia eu boto uma”. O seu terreno - localizado em um beco adjacente à Av. J. J. Seabra - foi comprado quando o lugar ainda não tinha abastecimento de água e a moradora não sabia o nome da viela. Na tentativa de regularizar a situação com a empresa responsável, foi questionada sobre o seu endereço e as coordenadas indicaram: ela morava no Beco das Gostosas. Surpresa para Dona Francisca e motivo de risadas entre os atendentes. O Beco das Gostosas é um dos 123 registros oficiais desse tipo de logradouro em Salvador, de acordo com o Setor da Base de Dados de Logradouros (SELOG) da prefeitura. Outros nomes peculiares, como Beco do Amor (Pau da Lima), Beco da Gasosa (Santo Antônio Além do Carmo), Beco da Agonia (Saúde) e Beco da Cultura (Nordeste de Amaralina), também integram a lista desses espaços. Porém, o número oficial de becos aumenta consideravelmente ao andar pelos bairros da cidade, onde a própria população os batiza com nomes curiosos e outros logradouros são considerados becos. Ainda que possuam características diferentes, há algo que todos eles têm em comum: suas paredes são testemunhas de diversas histórias.

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Os becos são espaços que costumam promover relações de união e familiaridade entre as pessoas, principalmente se localizados em regiões periféricas. Ao comparar os de Salvador com os de outras cidades, o pesquisador e geógrafo Clímaco Dias diz que “em alguns lugares, os becos são pensados no planejamento da cidade, aqui isso não acontece. Por outro lado, a cultura festiva mais acentuada constata que os becos promovem uma forte interação de vizinhança”. Morador do Beco do Alemão (Campo Grande) desde que nasceu, o funcionário público Cléber Brito, 52, relata que essa sensação já foi maior quando “tinha muita área verde e conhecia todas as pessoas por nome. Hoje isso se perdeu porque foi tudo invadido”. Esse convívio apresenta diferentes faces, como ressalta Clímaco. “Os becos podem ser espaços tanto de festas coletivas quanto do tráfico de drogas, pois ele também se estabelece na relação de parentesco e vizinhança. Os becos têm naturezas paradoxais”.


Milena Abreu/Labfoto © 2014

Acima: Dona Francisca e o jardim que cultiva com devoção no Beco das Gostosas. Ao lado: O Beco do Alemão foi batizado pelos primeiros alemães que chegaram na Rua Visconde de São Lourenço

DUALIDADE ENTRE PAREDES

Os paradoxos presentes nos becos, porém, não se resumem ao binômio violência-acolhimento. Registrado oficialmente como Avenida dos Pés Bel Borba, o beco entre as ruas João Gomes e Borges Reis é limitado de um lado pelo Boteco do França e do outro pela Igreja Batista do Rio Vermelho. Uma citação bíblica, instalada no topo da parede da Igreja, constantemente sugere aos clientes do bar que ocupam a calçada abaixo e apreciam um copo de cerveja: “Arrependei-vos e crede no evangelho”. Para o artista plástico Bel Borba, criador dos mosaicos que ornamentam as paredes do beco, essa é uma

Dudu Assunção/Labfoto © 2014

O carteiro Marcelo Carvalho, há 11 anos na profissão, compartilha de uma opinião semelhante. Ele já sofreu uma experiência violenta em um beco da Av. Barros Reis, onde foi assaltado a mão armada e teve o seu primeiro celular roubado. Por outro lado, guarda impressões e histórias positivas de outros becos por onde já passou. “Nos bairros mais humildes, onde os becos são muitos, a gente conta mais com a solidariedade e o sorriso das pessoas. Uma senhora, por exemplo, que morava em um beco bem estreito, recebeu seu cartão do Bolsa Família através de mim e disse: ‘Deus lhe proteja’. Foi um pequeno prêmio pelo meu dia de trabalho”.

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Sércio Freitas

Taylla de Paula/Labfoto © 2014

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2 Dudu Assunção/Labfoto © 2014

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das peculiaridades mais interessantes do estabelecimento, “além de estar em uma localização privilegiada da cidade e ser um beco com saída”. Bel é um exemplo da clientela típica do bar. De acordo com Antônio Boamorte, garçom mais antigo do estabelecimento, o espaço costuma ser frequentado por intelectuais, políticos e artistas como Ivete Sangalo e Daniela Mercury.

segurança foi falar com ele, o rapaz deu um golpe e os dois saíram rolando pelas escadas”, relembra Boamorte. Segundo ele, os únicos momentos negativos do local foram os dois assaltos que já sofreram. Em um deles, os assaltantes levaram as bebidas, mas esqueceram a sacola com os pertences dos clientes.

Uma das histórias mais engraçadas presenciada pelo funcionário, nos seus 12 anos de serviço, foi protagonizada por um assíduo cliente que começou a frequentar o Boteco vestido de odalisca. “Esse cliente invocou com nosso segurança. Ele subiu nas escadas da Igreja e começou a fazer a dança do ventre. Quando o

Também com o objetivo de acolher o público boêmio da cidade, a boate Off Club utilizou o slogan “As melhores coisas da vida acontecem em Off!”. Esse foi o convite que durante os 15 anos da casa atraiu um público diversificado, na sua maioria homossexual. A boate surgiu por iniciativa da empresária Márcia Franco, que

DAS LEMBRANÇAS À RENOVAÇÃO

na época saiu do seu primeiro clube e foi para a transversal da Marquês de Caravelas na Barra, popularizada como Beco da Off. Logo depois da instalação da casa noturna, o espaço começou a receber bares e, nos últimos oito anos, mesmo com o fechamento da casa em 2014, a creperia Labust e o bar Farol Tropical se destacaram e permanecem no local. Um dos personagens que surgiu no Beco da Off foi “Chiclete”, na figura de Cristiano Lima, “cria da gente”, revela Márcia. “Ele começou a vender suas coisinhas por lá e acabou virando um personagem típico do beco, marcando presença em todas as festas”. A ex-proprietária, com 20 anos de experiência na noite de Salvador, pretende registrar em livro as his-


Lara Perl/Labfoto © 2014

tórias marcantes do beco, que segundo ela são inúmeras, e revelar algumas situações hilárias, sempre omitindo o nome dos envolvidos. Hoje, no lugar da boate Off Club, está o Club On Music Bar, que não deixará de promover a tradicional lavagem do beco - aberta ao público. A intenção é oficializar junto à prefeitura a mudança de nome da Rua Dias D’Ávila para Beco da Off. Em outro canto da cidade, nos dias comuns, as moradias localizadas ao fundo do Beco dos Artistas servem como residência principalmente para estudantes atraídos pela localização estratégica e pelos baixos preços de aluguel no Garcia. Mas o beco ficou mesmo conhecido pela movimentação que atraía o público LGBTT durante os fins de semana. Seu auge foi marcado pela existência do Bar Camarim, que tomava um dos lados do beco do início ao fim. Atualmente, os proprietários dos estabelecimentos lutam para revitalizá-lo e sofrem com o baixo movimento no local. Com sacos de lixo na entrada e asfalto irregular, o Beco é hoje um lugar pouco convidativo para momentos de lazer.

Os becos promovem uma forte interação de vizinhança clímaco dias

Petrúcio Almeida, 47, mais conhecido como Cowboy, investe em uma possível revitalização do espaço. Seu primeiro empreendimento no local foi o Bar Teatro. Posteriormente, adquiriu os dois espaços vizinhos. Um deles pertencia a Aldo Zeck, que se encontrava insatisfeito com o retorno financeiro escasso no All Club Lounge & Bar. Cowboy não considera o local inseguro e, este ano, conseguiu apoio político para melhorar alguns aspectos do beco. Ele acredita ainda que o investimento na segurança pode ajudar a desconstruir a imagem negativa que o local adquiriu. “Acho que quando a violência sai daqui e vai para outro lugar, nêgo diz que é daqui do beco. Às vezes aconteceu longe, mas fica aquela fama ruim”, lamenta. Seu objetivo é ainda diversificar a clientela, levando o público hétero ao local que uniu casais como André Palmeira, 35, e seu esposo, proprietários do bar da frente: o Melancia Blue. Eles se conheceram no Beco dos Artistas e são casados há 12 anos.

UM BECO DE CARNAVAL Enquanto alguns becos da cidade necessitam de mudanças duradouras, o Largo do Rosário (Av. Sete de Setembro) transforma-se provisoriamente em Beco do Eva durante os carnavais. O espaço ganhou reconhecimento através dos admiradores da banda Eva e virou um ponto de encontro dos fãs. Segundo Ari Carvalho, 26, o espaço foi batizado pelo cantor Saulo Fernandes em 2003, quando teve o seu primeiro contato físico com o ídolo e subiu no trio. “O Beco do Eva é um lugar que frequento desde pequeno e concentra muitos amigos. Saulo deu a responsabilidade a mim e a minha irmã para cuidar do Beco e dar continuidade à história, mesmo com a saída dele do Eva”. 1 - Garçom do Boteco do França há 12 anos, Antônio Boamorte testemunhou histórias curiosas no estabelecimento 2 - O cantor Felipe Pezzoni em frente ao Beco do Eva no Carnaval 2014 3 - O Beco dos Artistas tenta se recuperar do período de decadência que tem vivido

Em 2014, com a estreia do vocalista Felipe Pezzoni na banda, a produção do Eva ornamentou o espaço com identificação e a imagem de todos os vocalistas que passaram pelo grupo. “A energia do Beco é maravilhosa, pude receber o carinho dos meus fãs e admiradores do Eva”, revela Pezzoni. Surpresos com toda a decoração que o beco recebeu, alguns fãs de Saulo se manifestaram com o cartaz: “Beco do Saulo”. Felipe avalia que “o Beco é de todo mundo que gosta do grupo, de Carnaval, e de tantas pessoas bacanas que foram do Eva”. Mas para Ari, “o Beco continua sendo de Saulo, apesar do respeito que tenho por todos os artistas que passaram pelo grupo”.

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Taylla de Paula/Labfoto © 2014

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4 - Microempreendedor individual e presidente da Assidvam, Valmir Fonseca conhece os becos da Avenida Sete como poucos 5, 6 - Os vestuários do Beco de Maria Paz e a pouca movimentação no Beco do Mucambinho

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O COMÉRCIO DOS BECOS CENTRAIS Os outros becos da Avenida Sete, no entanto, consagraramse principalmente como um ambiente para o vendedor ambulante, ou “microempreendedor individual”, como prefere Valmir Sales Fonseca, 50 anos, dos quais 40 foram dedicados ao comércio de rua. Hoje, presidente da Associação Integrada de Vendedores Ambulantes e Feirantes de Salvador (Assidvam), ele afirma que lá “os ambulantes vão trabalhar nas transversais ou nos becos, mas algumas áreas merecem atenção especial”. Fonseca cita como exemplo o Beco do Mucambinho, que liga a Av. Sete de Setembro à Rua Carlos Gomes e também passou pela revitalização do centro. Os vendedores de roupas e produtos diversos precisam disputar espaço todos os dias. “Nós temos que colocar um aviso no meio da calçada para chamar atenção dos clientes e atraí-los ao beco para comprar”, afirma a vendedora Bárbara Pereira, 40, com pouco tempo no Mucambinho. De acordo com Roberto Guerreiro, chefe do Setor de Proteção da Estética da Cidade, já existe um plano para desmitificar a imagem do local, que, assim como o Beco das Quebranças na Avenida Sete, é pouco frequentado. Em conjunto com a associação, eles estudam a possibilidade do Beco do Mucambinho ser transformado em Beco do Axé, dedicado à venda de artigos ligados às religiões de matriz africana, já que há grande oferta desse tipo de produto. No Beco de Maria Paz, por exemplo, desde o seu surgimento em 1977, existe uma tendência para a venda de produtos ligados à moda. Os ambulantes afirmam que o beco foi batizado em homenagem a uma senhora que tinha uma casa de prostituição ao lado do espaço. “Acontecem muitas coisas curiosas na Avenida Sete. É como se ela fosse o pulmão de Salvador, pois se não aconteceu aqui, não aconteceu na cidade”, revela Fonseca, que se diz apaixonado pela sua profissão. A localização central e de destaque também foi um dos motivos que levou Reinaldo Santos a morar a alguns metros da Avenida. “Eu não troco esse lugar por nenhum outro”, conta o jovem morador do Beco do Alemão, já no final de tarde, sentado nas escadarias onde costuma fazer rap com os amigos. Dona Francisca, do Beco das Gostosas, pensa de maneira semelhante. Apesar das brigas com o vizinho e das situações engraçadas com o nome do beco, ela não se arrepende de ter comprado o terreno, onde cultiva todos os dias o seu pequeno Éden em meio ao concreto.


o n i n e m Fala,

! o t s u g u A s i Lu

Sobre ser pai, nerd e criador do Fala Menino! texto Aline Valadares e Michelle Vivas fotos Lucas Seixas/Labfoto ilustrações Luis Augusto

Posters do Superman, canecas de super-heróis, enciclopédia de quadrinhos, miniatura do Spock e do ET, o Extraterrestre. Parece um quarto de criança, mas é o escritório de Luis Augusto, 43, criador dos quadrinhos infantis “Fala menino!”. Luis vestia uma blusa com o Thor estampado, que revelava não ter deixado as paixões de criança. Para ele, não somos muito diferentes do que éramos aos 12 anos. “Você pode ter até vergonha do que gostava, mas vai continuar se divertindo e se emocionando. Continuamos sendo a criança que desrespeitamos”. A blusa era apenas uma da coleção de objetos de super-heróis, e confessou ser “compulsivo com o que gosta”. Compulsão visível também com a série Star Trek, que assiste desde os cinco anos. “Sempre fui nerd, com muito orgulho. Sou do pior tipo, porque trabalho com a linguagem que me diverte. Se não estou fazendo quadrinhos, estarei lendo quadrinhos”. Aos 10 anos, quando começou a colecioná-los, guardava até folheto de campanha política feito em gibi. A mãe não via problemas e era até uma forma de acalmar a criança hiperativa que ele era.

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Seus pais o incentivaram a desenhar como hobby e quando decidiu trabalhar com isso, as divergências começaram. “Minha mãe tinha medo que eu fizesse arte e virasse viado e maconheiro, e meu pai - coronel da PM - é conservador e preconceituoso”. A solução foi fazer Arquitetura: tinha relação com desenho e uma carreira na construção civil agradava seus pais. Apesar do quadrinista ser assertivo com a sua sexualidade, quando decidiu se assumir gay, foi proibido pela família de falar sobre o assunto com o pai. “Eu não me assumi para ele. Não conversamos a respeito, mas com certeza ele sabe”. Luis casou-se, viveu com o ex-marido por quatro anos, mas nunca conversou sobre sua orientação sexual com o pai. Mesmo com os desentendimentos, Luis afirma que as relações familiares são boas e que o seu pai ama o neto. Ben participou da entrevista, oferecendo brinquedos e lembrando ao pai de comer uma paçoca antes do almoço. O quadrinista resolveu adotá-lo antes do casamento, mas só conseguiu a guarda quando estava com o ex-marido, que não faz mais parte do convívio familiar. Ben nasceu com seis meses e foi adotado dois meses depois, o que exigiu mais atenção do pai de primeira viagem. Apesar da responsabilidade de cuidar de uma criança, disse que seu objetivo de vida sempre foi ser um bom pai.

continuamos sendo a criança que desrespeitamos

luis augusto JORNADA DE UM ILUSTRADOR: À PROCURA DE TRABALHO No primeiro ano da faculdade de Arquitetura, em 1988, assistiu a uma palestra de Ziraldo na Ufba. Com o portfólio na mão, o calouro foi atrás do artista que o convidou para trabalhar, caso fosse ao Rio. Três meses depois, Luis foi ao estúdio. Para sua surpresa, Ziraldo havia viajado e ninguém tinha ouvido falar de um novo estagiário. Trabalhou mesmo sem a presença do chefe e quando Ziraldo chegou, Luis conhecia bem a equipe e o traço

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dele. Permaneceu lá por mais três meses e voltou para a faculdade em Salvador, onde continuou a criar histórias do “Menino Maluquinho”. Durante todo o curso, Luis se voltou para os quadrinhos e a ilustração. Quando se formou, com 25 anos, foi para Nova York estudar, mas não foi possível por conta dos custos. Relembrou da desaprovação dos pais com o rumo que sua carreira tomava e, como ainda precisava de

ajuda financeira, ficou em NY apenas trabalhando. Depois de sete meses fazendo poucos freelances, Luis percebeu que não seria bem sucedido. Nos anos 90, o mercado de quadrinhos estava saturado nos Estados Unidos e havia um declínio nas vendas. “Neal Adams, um dos maiores ilustradores do Batman, me aconselhou voltar ao Brasil para me estabelecer, já que não é preciso sair de casa para ser reconhecido”.


A MUDEZ QUE FALA Além das coleções, o escritório de Luis tem uma estante só para as publicações do “Fala Menino!”. O quadrinho, criado em 1996, foi baseado em sua experiência como professor de artes para crianças autistas. Diferente dos quadrinhos da época, o “Fala Menino!” é uma história na qual as personagens-crianças lidam com os problemas do cotidiano e não somente com as brincadeiras. Tornou-se pioneira ao incluir, no núcleo principal, crianças com necessidades especiais, como o protagonista Lucas, um menino mudo. Através do “Fala Menino!”, Luis foi premiado com o Troféu HQ Mix de Melhor Álbum Infantil de 1997, Prêmio Ibero Americano de Comunicação pelos Direitos da Infância da UNICEF em 1999 e o Troféu Bigorna de melhor cartunista do Brasil em 2008 com as tiras do jornal A Tarde. Além de ser um trabalho utilizado pelas escolas e reconhecido pelo MEC. Orgulhoso, ele mostrou a coletânea “Ícones dos Quadrinhos”, na qual o “Fala Menino!” foi escolhido como um dos mais importantes do mundo. O autor gosta de explorar as possibilidades de histórias do quadrinho. Enquanto há tirinhas sobre Leonardo, o melhor amigo de Lucas, pensando que será abduzido por alienígenas, há também uma série chamada “Igual a tudo na vida” sobre sexualidade. Um aspecto interessante do quadrinho é o seu público, formado por crianças e adultos. “Se eu uso a perspectiva da criança, não existe assunto inadequado: posso falar sobre homofobia, violência ou AIDS”. O quadrinho também é porta-voz para as angústias do autor, que tenta fugir do didatismo e alfinetar as acomodações dos adultos. “Lucas é uma metáfora à mudez social da criança e também à mudez da infância interior de cada adulto”. Luis tenta passar para seu público a importância do respeito. Ele acredita que deveria ser ensinado o respeito ao próximo, e não criado a partir do medo. “Meu ideal é a SS Enterprise de Star Trek: alienígenas e humanos trabalhando juntos por uma causa, mesmo com as diferenças”, exemplifica. À primeira vista, Luis pode parecer idealista, mas é um idealismo que ele põe em prática. Ben não ficou mudo em nenhuma das perguntas, a sua opinião não é desrespeitada. O filho é incentivado a encontrar os melhores argumentos. “Ontem ele queria andar de cueca, mesmo gripado, e fiquei encantado com a argumentação dele”. Primeiro, com uma bala de menta, disse que se o vento batesse, ela iria bloquear. O pai venceu esse argumento, explicando que não era assim, porém Ben rebateu de novo e, levando dois casacos, disse que já estava até com calor. “Gosto quando ele tenta me convencer, eu não ouço a birra dele, eu quero que ele converse comigo”. O protagonismo de Ben dentro de casa foi notável. Sem aceitar o fim da entrevista, ele nos convidou para brincar na cidade de brinquedos que montou com o pai em um dos quartos. Quando Luis anunciou que íamos mesmo embora, Ben correu na frente para abrir a porta do elevador, apertou o botão e tchau.

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‫‪Judeus‬‬

‫‪entre culturas‬‬

‫ה‪-‬ןִמ ֹונָּבְרָק הָלֹע‪-‬םִא ג‪,‬א ‪.‬םֶכְנַּבְרָק‪-‬תֶא ‪ּ,‬וביִרְקַּת ‪,‬ןאֹּצַה‪-‬ןִמּו רָקָּבַה‪-‬ןִמ ‪,‬הָמֵהְּבַה‪-‬ןִמ‪--‬הָוהיַל ‪,‬ןָּבְרָק םֶּכִמ ביִרְקַי‪-‬יִּכ םָדָא ‪,‬םֶהֵלֲא ָּתְרַמָאְו ‪,‬לֵאָרְׂשִי יֵנְּב‪-‬לֶא רֵּבַּד ב‪,‬א ‪.‬רֹמאֵל דֵעֹומ לֶהֹאֵמ ‪,‬ויָלֵא הָוהְי רֵּבַדְיַו ;הֶׁשֹמ‪-‬‬ ‫לַע םָּדַה‪-‬תֶא ּוקְרָזְו ‪,‬םָּדַה‪-‬תֶא ‪,‬םיִנֲהֹּכַה ןֹרֲהַא יֵנְּב ּוביִרְקִהְו ;הָוהְי יֵנְפִל ‪,‬רָקָּבַה ןֶּב‪-‬תֶא טַחָׁשְו ה‪,‬א ‪.‬ויָלָע רֵּפַכְל ‪ֹ,‬ול הָצְרִנְו ;הָלֹעָה ׁשאֹר לַע ‪ֹ,‬ודָי ְךַמָסְו ד‪,‬א ‪.‬הָוהְי יֵנְפִל ‪ֹ,‬ונֹצְרִל ‪ֹ,‬ותֹא ביִרְקַי ‪,‬דֵעֹומ לֶהֹא חַתֶּפ‪-‬לֶא ;ּוּנֶב‬‫ה‪-‬לַע‪--‬רֶדָּפַה‪-‬תֶאְו ׁשאֹרָה‪-‬תֶא ‪,‬םיִחָתְּנַה תֵא ‪,‬םיִנֲהֹּכַה ןֹרֲהַא יֵנְּב ‪ּ,‬וכְרָעְו ח‪,‬א ‪ׁ.‬שֵאָה‪-‬לַע ‪,‬םיִצֵע ּוכְרָעְו ;ַחֵּבְזִּמַה‪-‬לַע‪ׁ--‬שֵא ‪,‬ןֵהֹּכַה ןֹרֲהַא יֵנְּב ּונְתָנְו ז‪,‬א ‪ָ.‬היֶחָתְנִל ‪ּ,‬הָתֹא חַּתִנְו ;הָלֹעָה‪-‬תֶא ‪,‬טיִׁשְפִהְו ו‪,‬א ‪.‬דֵעֹומ לֶהֹא חַת‬ ‫אי‪,‬א ‪ּ.‬וּנֶביִרְקַי ‪,‬םיִמָּת רָכָז‪--‬הָלֹעְל ‪,‬םיִּזִעָה‪-‬ןִמ ֹוא םיִבָׂשְּכַה‪-‬ןִמ ֹונָּבְרָק ןאֹּצַה‪-‬ןִמ‪-‬םִאְו י‪,‬א }ס{ ‪.‬הָוהיַל ַחֹוחיִנ‪ַ-‬חיֵר הֵּׁשִא הָלֹע ‪,‬הָחֵּבְזִּמַה לֹּכַה‪-‬תֶא ןֵהֹּכַה ריִטְקִהְו ;םִיָּמַּב ץַחְרִי ‪,‬ויָעָרְכּו ֹוּבְרִקְו ט‪,‬א ‪ַ.‬חֵּבְזִּמַה‪-‬לַע רֶׁשֲא‬ ‫הְו בֶרֶּקַהְו גי‪,‬א ‪ַ.‬חֵּבְזִּמַה‪-‬לַע רֶׁשֲא ‪ׁ,‬שֵאָה‪-‬לַע רֶׁשֲא םיִצֵעָה‪-‬לַע ‪,‬םָתֹא ‪,‬ןֵהֹּכַה ְךַרָעְו ;ֹורְדִּפ‪-‬תֶאְו ֹוׁשאֹר‪-‬תֶאְו ‪,‬ויָחָתְנִל ֹותֹא חַּתִנְו בי‪,‬א ‪.‬ביִבָס‪ַ--‬חֵּבְזִּמַה‪-‬לַע ‪ֹ,‬ומָּד‪-‬תֶא םיִנֲהֹּכַה ןֹרֲהַא יֵנְּב ּוקְרָזְו ;הָוהְי יֵנְפִל‪--‬הָנֹפָצ ‪ַ,‬חֵּבְז‬ ‫מּו ‪ַ,‬חֵּבְזִּמַה‪-‬לֶא ‪,‬ןֵהֹּכַה ֹוביִרְקִהְו וט‪,‬א ‪ֹ.‬ונָּבְרָק‪-‬תֶא‪--‬הָנֹוּיַה יֵנְּב‪-‬ןִמ ֹוא ‪,‬םיִרֹּתַה‪-‬ןִמ ביִרְקִהְו ‪:‬הָוהיַל ‪ֹ,‬ונָּבְרָק הָלֹע ףֹועָה‪-‬ןִמ םִאְו די‪,‬א}פ{ ‪.‬הָוהיַל ‪ַ,‬חֹחיִנ ַחיֵר הֵּׁשִא אּוה הָלֹע‪--‬הָחֵּבְזִּמַה ריִטְקִהְו ‪,‬לֹּכַה‪-‬תֶא ןֵהֹּכַה ביִרְק‬ ‫‪texto‬קְמ‪-‬לֶא‪--‬הָמְדֵק ‪ַ,‬חֵּבְזִּמַה לֶצֵא ּהָתֹא ְךיִלְׁשִהְו ;ּהָתָצֹנְּב ‪ֹ,‬ותָאְרֻמ‪-‬תֶא ריִסֵהְו זט‪,‬א ‪ַ.‬חֵּבְזִּמַה ריִק לַע ‪ֹ,‬ומָד הָצְמִנְו ;הָחֵּבְזִּמַה ריִט‬ ‫‪Matheus‬דַה ‪,‬םֹו‬ ‫שְו זי‪,‬א ‪.‬ןֶׁשָּ‬ ‫‪Vinicius‬פָנְ‪e‬כִב ֹותֹא עַּסִׁ‬ ‫‪Gericó‬דְבַי אֹל ‪,‬ויָ‬ ‫םיִצֵעָה‪-‬לַע ‪,‬הָחֵּבְזִּמַה ןֵהֹּכַה ֹותֹא ריִטְקִהְו ‪,‬ליִּ‬ ‫‪Buranelli‬‬ ‫שִמּו ּהָּתְלָּסִמ ֹוצְמֻק אֹלְמ םָּׁשִמ ץַמָקְו ‪,‬םיִנֲהֹּכַה ןֹרֲהַא יֵנְּב‪-‬לֶא ‪ּ,‬הָאיִבֱהֶו ב‪,‬ב ‪.‬הָנֹבְל ָהיֶלָע ןַתָנְו ‪,‬ןֶמֶׁש ָהיֶלָע קַצָיְו ;ֹונָּבְרָק הֶיְהִי ‪,‬תֶלֹס‪--‬הָוהיַל הָחְנִמ ןַּבְרָק ביִרְקַת‪-‬יִּכ ‪ׁ,‬שֶפֶנְו א‪,‬ב }ס{ ‪.‬הָוהיַל‪ַ--‬חֹחיִנ ַחיֵר הֵּׁשִא ‪,‬אּוה‬ ‫שַּב תֹלּולְּב תֹּצַמ תֹוּלַח תֶלֹס‪--‬רּוּנַת הֵפֲאַמ ‪,‬הָחְנִמ ןַּבְרָק בִרְקַת יִכְו ד‪,‬ב }ס{ ‪.‬הָוהְי יֵּׁשִאֵמ ‪,‬םיִׁשָדָק ׁשֶדֹק ‪:‬ויָנָבְלּו ‪,‬ןֹרֲהַאְל‪--‬הָחְנִּמַה‪-‬ןִמ ‪,‬תֶרֶתֹוּנַהְו ג‪,‬ב ‪.‬הָוהיַל ‪ַ,‬חֹחיִנ ַחיֵר הֵּׁשִא‪--‬הָחֵּבְזִּמַה ‪ּ,‬הָתָרָּכְזַא‪-‬תֶא ןֵהֹּכַה ריִטְק‬ ‫‪.‬הֶׂשָעֵּת ‪,‬ןֶמֶּׁשַּב תֶלֹס‪ָ--‬ךֶנָּבְרָק ‪,‬תֶׁשֶחְרַמ תַחְנִמ‪-‬םִאְו ז‪,‬ב }ס{ ‪.‬אוִה ‪,‬הָחְנִמ ;ןֶמָׁש ָהיֶלָע ָּתְקַצָיְו ‪,‬םיִּתִּפ ּהָתֹא תֹותָּפ ו‪,‬ב ‪.‬הֶיְהִת הָּצַמ ‪,‬ןֶמֶּׁשַב הָלּולְּב תֶלֹס‪ָ--‬ךֶנָּבְרָק ‪,‬תַבֲחַּמַה‪-‬לַע הָחְנִמ‪-‬םִאְו ה‪,‬ב }ס{ ‪.‬ןֶמָּׁשַּב םיִחֻׁש‬ ‫‪:‬ויָנָבְלּו ‪,‬ןֹרֲהַאְל‪--‬הָחְנִּמַה‪-‬ןִמ ‪,‬תֶרֶתֹוּנַהְו י‪,‬ב ‪.‬הָוהיַל ‪ַ,‬חֹחיִנ ַחיֵר הֵּׁשִא‪--‬הָחֵּבְזִּמַה ריִטְקִהְו ‪ּ,‬הָתָרָּכְזַא‪-‬תֶא הָחְנִּמַה‪-‬ןִמ ןֵהֹּכַה םיִרֵהְו ט‪,‬ב ‪ַ.‬חֵּבְזִּמַה‪-‬לֶא ‪ּ,‬הָׁשיִּגִהְו ‪,‬ןֵהֹּכַה‪-‬לֶא ‪ּ,‬הָביִרְקִהְו ;הָוהיַל‪--‬הֶּלֵאֵמ הֶׂשָעֵי רֶׁשֲא ‪,‬הָחְנ‬ ‫לָכְו גי‪,‬ב ‪ַ.‬חֹחיִנ ַחיֵרְל ‪ּ,‬ולֲעַי‪-‬אֹל ַחֵּבְזִּמַה‪-‬לֶאְו ;הָוהיַל ‪,‬םָתֹא ּוביִרְקַּת תיִׁשאֵר ןַּבְרָק בי‪,‬ב ‪.‬הָוהיַל הֶּׁשִא ּוּנֶּמִמ ּוריִטְקַת‪-‬אֹל ‪ׁ,‬שַבְּד‪-‬לָכְו רֹאְׂש‪-‬לָכ יִּכ ‪:‬ץֵמָח ‪,‬הֶׂשָעֵת אֹל‪--‬הָוהיַל ּוביִרְקַּת רֶׁשֲא ‪,‬הָחְנִּמַה‪-‬לָּכ אי‪,‬ב ‪.‬הָוהְי‬‫מֶׁש ָהיֶלָע ָּתַתָנְו וט‪,‬ב ‪ָ.‬ךיֶרּוּכִּב תַחְנִמ תֵא ‪,‬ביִרְקַּת ‪,‬לֶמְרַּכ ׂשֶרֶּג ‪ׁ,‬שֵאָּב יּולָק ביִבָא‪--‬הָוהיַל ‪,‬םיִרּוּכִּב תַחְנִמ ביִרְקַּת‪-‬םִאְו די‪,‬ב }ס{ ‪.‬חַלֶמ ביִרְקַּת ‪ָ,‬ךְנָּבְרָק‪-‬לָּכ לַע ;ָךֶתָחְנִמ לַעֵמ ‪ָ,‬ךיֶהֹלֱא תיִרְּב חַלֶמ תיִּבְׁשַת אֹלְו ‪,‬חָלְמִּת‬ ‫והְי יֵנְפִל ּוּנֶביִרְקַי םיִמָּת ‪,‬הָבֵקְנ‪-‬םִא רָכָז‪-‬םִא ‪,‬ביִרְקַמ אּוה ‪,‬רָקָּבַה‪-‬ןִמ םִא‪ֹ--‬ונָּבְרָק ‪,‬םיִמָלְׁש חַבֶז‪-‬םִאְו א‪,‬ג}פ{ ‪.‬הָוהיַל ‪,‬הֶּׁשִא‪ּ--‬הָתָנֹבְל‪-‬לָּכ ‪,‬לַע ‪ּ,‬הָנְמַּׁשִמּו ּהָׂשְרִּגִמ ‪ּ,‬הָתָרָּכְזַא‪-‬תֶא ןֵהֹּכַה ריִטְקִהְו זט‪,‬ב ‪.‬אוִה ‪,‬הָחְנִמ ;הָנ‬ ‫ה‪-‬ןִמ ֹונָּבְרָק הָלֹע‪-‬םִא ג‪,‬א ‪.‬םֶכְנַּבְרָק‪-‬תֶא ‪ּ,‬וביִרְקַּת ‪,‬ןאֹּצַה‪-‬ןִמּו רָקָּבַה‪-‬ןִמ ‪,‬הָמֵהְּבַה‪-‬ןִמ‪--‬הָוהיַל ‪,‬ןָּבְרָק םֶּכִמ ביִרְקַי‪-‬יִּכ םָדָא ‪,‬םֶהֵלֲא ָּתְרַמָאְו ‪,‬לֵאָרְׂשִי יֵנְּב‪-‬לֶא רֵּבַּד ב‪,‬א ‪.‬רֹמאֵל דֵעֹומ לֶהֹאֵמ ‪,‬ויָלֵא הָוהְי רֵּבַדְיַו ;הֶׁשֹמ‪-‬ל‬ ‫אְו ד‪,‬ג ‪.‬בֶרֶּקַה‪-‬לַע רֶׁשֲא ‪,‬בֶלֵחַה‪-‬לָּכ תֵאְו ‪,‬בֶרֶּקַה‪-‬תֶא הֶּסַכְמַה ‪,‬בֶלֵחַה‪-‬תֶא‪--‬הָוהיַל הֶּׁשִא ‪,‬םיִמָלְּׁשַה חַבֶּזִמ ביִרְקִהְו ג‪,‬ג ‪.‬ביִבָס‪ַ--‬חֵּבְזִּמַה‪-‬לַע ‪,‬םָּדַה‪-‬תֶא םיִנֲהֹּכַה ןֹרֲהַא יֵנְּב ּוקְרָזְו ;דֵעֹומ לֶהֹא חַתֶּפ ‪ֹ,‬וטָחְׁשּו ‪ֹ,‬ונָּבְרָק ׁשא‬ ‫לַע םָּדַה‪-‬תֶא ּוקְרָזְו ‪,‬םָּדַה‪-‬תֶא ‪,‬םיִנֲהֹּכַה ןֹרֲהַא יֵנְּב ּוביִרְקִהְו ;הָוהְי יֵנְפִל ‪,‬רָקָּבַה ןֶּב‪-‬תֶא טַחָׁשְו ה‪,‬א ‪.‬ויָלָע רֵּפַכְל ‪ֹ,‬ול הָצְרִנְו ;הָלֹעָה ׁשאֹר לַע ‪ֹ,‬ודָי ְךַמָסְו ד‪,‬א ‪.‬הָוהְי יֵנְפִל ‪ֹ,‬ונֹצְרִל ‪ֹ,‬ותֹא ביִרְקַי ‪,‬דֵעֹומ לֶהֹא חַתֶּפ‪-‬לֶא ;ּוּנֶבי‬ ‫ןִמ‪-‬םִאְו ו‪,‬ג }פ{ ‪.‬הָוהיַל ‪ַ,‬חֹחיִנ ַחיֵר הֵּׁשִא‪ׁ--‬שֵאָה‪-‬לַע רֶׁשֲא םיִצֵעָה‪-‬לַע רֶׁשֲא ‪,‬הָלֹעָה‪-‬לַע ‪,‬הָחֵּבְזִּמַה ‪,‬ןֹרֲהַא‪-‬יֵנְב ֹותֹא ּוריִטְקִהְו ה‪,‬ג ‪.‬הָּנֶריִסְי ‪,‬תֹויָלְּכַה‪-‬לַע ‪,‬דֵבָּכַה‪-‬לַע ‪,‬תֶרֶתֹּיַה‪-‬תֶאְו ;םיִלָסְּכַה‪-‬לַע רֶׁשֲא ‪,‬ןֶהֵלֲע רֶׁשֲא בֶלֵח‬ ‫‪início‬הַא יֵנְּב ּונְתָנְו ז‪,‬א ‪ָ.‬היֶחָתְנִל ‪ּ,‬הָתֹא חַּתִנְו ;הָלֹעָה‪-‬תֶא ‪,‬טיִׁשְפִהְו ו‪,‬א ‪.‬דֵעֹומ לֶהֹא חַת‬ ‫ַע‪ׁ--‬שֵא ‪,‬ןֵהֹּכַה ןֹרֲ‬ ‫‪,sobre‬םיִצֵע ּוכְרָעְו ;ַחֵּבְזִּמַה‪-‬ל‬ ‫לַע‪--‬רֶדָּפַה‪-‬תֶאְו ׁשאֹרָה‪-‬תֶא ‪,‬םיִחָתְּנַה תֵא ‪,‬םיִנֲהֹּכַה ןֹרֲהַא יֵנְּב ‪ּ,‬וכְרָעְו ח‪,‬א ‪ׁ.‬שֵאָה‪-‬לַע‬‫‪No‬תֶא ‪,‬ביִרְקַמ‪-‬אּוה בֶׂשֶּכ‪-‬םִא ז‪,‬ג ‪ּ.‬וּנֶביִרְקַי םיִמָּת ‪,‬הָבֵקְנ ֹוא רָכָז‪--‬הָוהיַל ‪,‬םיִמָל‬ ‫‪de‬ביִרְקִהְו‪ֹ--‬ונָּבְרָק‪-‬‬ ‫‪ֹuma‬ותֹא‬ ‫‪discussão‬הְי יֵנְפִל ‪,‬‬ ‫‪ֹ,‬ומָּד‪-‬תֶא ןֹרֲהַא יֵנְּב ּוקְרָזְו ;דֵעֹומ לֶהֹא יֵנְפִל ‪ֹ,‬ותֹא טַחָׁשְו ‪ֹ,‬ונָּבְרָק ׁשאֹר‪-‬לַע ‪ֹ,‬ודָי‪-‬תֶא ְךַמָסְו ח‪,‬ג ‪.‬הָו‬ ‫‪ַjudaísmo,‬ה‪-‬תֶא ןֵהֹּכַה ריִטְקִהְו ;םִיָּמַּב ץַחְרִי ‪,‬ויָעָרְכּו ֹוּבְרִקְו ט‪,‬א ‪ַ.‬חֵּבְזִּמַה‪-‬לַע רֶׁשֲא ‪ׁ,‬ש‬ ‫‪as‬לֹע ‪,‬הָחֵּבְזִּמַה לֹּכ‬ ‫‪ִrepresentações‬א הָ‬ ‫}ס{ ‪.‬הָוהיַל ַחֹוחיִנ‪ַ-‬חיֵר הֵּׁש‬ ‫י‪,‬א ‪ּ.‬וּנֶביִרְקַי ‪,‬םיִמָּת רָכָז‪--‬הָלֹעְל ‪,‬םיִּזִעָה‪-‬ןִמ ֹוא םיִבָׂשְּכַה‪-‬ןִמ ֹונָּבְרָק ןאֹּצַה‪-‬ןִמ‪-‬םִאְו י‪,‬א‬ ‫‪que‬‬ ‫ַה‪-‬תֶא הֶּסַכְמַה ‪,‬בֶלֵחַה‪-‬תֶאְו ;הָּנֶריִסְי הֶצָעֶה תַּמֻעְל ‪,‬הָמיִמְת הָיְלַאָה ֹוּבְלֶח‪--‬הָוהיַל הֶּׁשִא ‪,‬םיִמָלְּׁשַה חַבֶּזִמ ביִרְקִהְו ט‪,‬ג ‪.‬ביִב‬ ‫‪,vêm‬בֶרֶּק‬ ‫א ‪,‬ןֶהֵלֲע רֶׁשֲא בֶלֵחַה‪-‬תֶאְו ‪,‬תֹיָלְּכַה יֵּתְׁש ‪,‬תֵאְו י‪,‬ג ‪.‬בֶרֶּקַה‪-‬לַע רֶׁשֲא ‪,‬בֶלֵחַה‪-‬לָּכ תֵאְו‬ ‫ָס‪àַ--‬חֵּבְזִּמַה‪-‬לַע ‪ֹ,‬ומָּד‪-‬תֶא םיִנֲהֹּכַה ןֹרֲהַא יֵנְּב ּוקְרָזְו ;הָוהְי יֵנְפִל‪--‬הָנֹפָצ ‪ַ,‬חֵּבְזִּמ‬ ‫‪. estão‬ביִב‬ ‫‪muitas‬תִנְו בי‪,‬א‬ ‫‪vezes‬חָתְנִל ֹותֹא חַּ‬ ‫ֹר‪-‬תֶאְו ‪,‬ויָ‬ ‫‪da‬דִּפ‪-‬תֶאְו ֹוׁשא‬ ‫הְו בֶרֶּקַהְו גי‪,‬א ‪ַ.‬חֵּבְזִּמַה‪-‬לַע רֶׁשֲא ‪ׁ,‬שֵאָה‪-‬לַע רֶׁשֲא םיִצֵעָה‪-‬לַע ‪,‬םָתֹא ‪,‬ןֵהֹּכַה ְךַרָעְו ;ֹורְ‬ ‫‪tona‬‬ ‫‪distantes‬‬ ‫‪ֹre‬וביִרְקִהְו‪ֹ--‬ונָּבְרָק ‪,‬זֵע םִאְו בי‪,‬ג }פ{ ‪.‬הָוהיַל ‪,‬הֶּׁשִא םֶחֶל‪--‬הָחֵּבְזִּמַה ‪,‬ןֵהֹּכַה ֹוריִטְקִהְו אי‪,‬ג ‪.‬הָּנֶריִסְי ‪,‬תֹיָלְּכַה‪-‬לַע ‪,‬דֵבָּכַה‪-‬לַע ‪,‬תֶרֶתֹּיַה‪-‬תֶא‬‫קְרָזְו ;דֵעֹומ לֶהֹא יֵנְפִל ‪ֹ,‬ותֹא טַחָׁשְו ‪ֹ,‬וׁשאֹר‪-‬לַע ‪ֹ,‬ודָי‪-‬תֶא ְךַמָסְו גי‪,‬ג ‪.‬הָוהְי יֵנְפִל ‪,‬‬ ‫‪ַ, alidade‬חֹחיִנ ַחיֵר הֵּׁשִא אּוה הָלֹע‪--‬הָחֵּבְזִּמַה ריִטְקִהְו ‪,‬לֹּכַה‪-‬תֶא ןֵהֹּכַה ביִרְקִה‬ ‫‪ָmas‬ק הָלֹע ףֹועָה‪-‬ןִמ םִאְו די‪,‬א}פ{ ‪.‬הָוהיַל‬ ‫‪: nem‬הָוהיַל ‪ֹ,‬ונָּבְר‬ ‫‪sem‬ביִרְקִהְו‬‫מּו ‪ַ,‬חֵּבְזִּמַה‪-‬לֶא ‪,‬ןֵהֹּכַה ֹוביִרְקִהְו וט‪,‬א ‪ֹ.‬ונָּבְרָק‪-‬תֶא‪--‬הָנֹוּיַה יֵנְּב‪-‬ןִמ ֹוא ‪,‬םיִרֹּתַה‪-‬ןִמ‬ ‫‪soteropolitana,‬הֶּסַכְמַה ‪,‬בֶלֵחַה‪-‬תֶא‪--‬הָוהיַל הֶּׁשִא ‪ֹ,‬ונָּבְרָק ּוּנֶּמִמ ביִרְקִהְו די‪,‬ג ‪.‬ביִבָס‪ַ--‬חֵּבְזִּמַה‪-‬לַע‬ ‫‪elas‬שֲא ‪,‬בֶלֵחַה‪-‬לָּכ תֵאְו ‪,‬בֶרֶּקַה‪-‬תֶא‬ ‫וט‪,‬ג ‪.‬בֶרֶּקַה‪-‬לַע רֶׁ‬ ‫‪,‬תֶרֶתֹּיַה‪-‬תֶאְו ;םיִלָסְּכַה‪-‬לַע רֶׁשֲא ‪,‬ןֶהֵלֲע רֶׁשֲא בֶלֵחַה‪-‬תֶאְו ‪,‬תֹיָלְּכַה יֵּתְׁש ‪,‬תֵאְו‬ ‫‪ְsão‬ב ‪ֹ,‬ותָאְרֻמ‪-‬תֶא ריִסֵהְו זט‪,‬א ‪ַ.‬חֵּבְזִּמַה ריִק לַע ‪ֹ,‬ומָד הָצְמִנְו ;הָחֵּבְזִּמַה ריִטְק‬ ‫‪mais‬שִהְו ;ּהָתָצֹנּ‬ ‫‪judaísmo‬חֵּבְזִּ‪O‬מַה לֶצֵא ּהָתֹא ְךיִלְׁ‬ ‫צֵעָה‪-‬לַע ‪,‬הָחֵּבְזִּמַה ןֵהֹּכַה ֹותֹא ריִטְקִהְו ‪,‬ליִּדְבַי אֹל ‪,‬ויָפָנְכִב ֹותֹא עַּסִׁשְו זי‪,‬א ‪.‬ןֶׁשָּדַה ‪,‬םֹוקְמ‪-‬לֶא‪--‬הָמְדֵק ‪ַ,‬‬ ‫‪ַ pre‬חיֵרְל הֶּׁשִא םֶחֶל‪--‬הָחֵּבְזִּמַה ‪,‬ןֵהֹּכַה םָריִטְקִהְו זט‪,‬ג ‪.‬הָּנֶריִסְי ‪,‬תֹיָלְּכַה‬ ‫‪as‬לֵח‪-‬לָּכ ‪ַ,‬חֹחיִנ‬ ‫‪fiéis.‬זי‪,‬ג ‪.‬הָוהיַל בֶ‬ ‫‪cultura‬תֹבְׁ‪a‬שֹומ‪ e‬לֹכְּב ‪,‬םֶכיֵתֹרֹדְל םָלֹוע תַּקֻח‬ ‫‪,‬ד ‪.‬רֹמאֵּל הֶׁשֹמ‪-‬לֶא ‪,‬הָוהְי רֵּבַדְיַו א‪,‬ד }פ{ ‪ּ.‬ולֵכאֹת אֹל ‪,‬םָּד‪-‬לָכְו בֶלֵח‪-‬לָּכ‪--‬םֶכיֵ‬ ‫‪baiana‬בְרָק ביִרְקַת‪-‬יִּכ ‪ׁ,‬שֶפֶנְו א‪,‬ב }ס{ ‪.‬הָוהיַל‪ַ--‬חֹחיִנ ַחיֵר הֵּׁשִא ‪,‬אּוה ה‬ ‫‪há‬הֶיְהִי ‪,‬תֶלֹס‪--‬הָוהיַל הָחְנִמ ןַּ‬ ‫‪de‬קַצָיְו ;ֹונָּבְרָק‬ ‫‪século‬ןֶמֶׁש ָהיֶלָע‬ ‫‪ְhá‬ל ָהיֶלָע ןַתָנְו ‪,‬‬ ‫שִמּו ּהָּתְלָּסִמ ֹוצְמֻק אֹלְמ םָּׁשִמ ץַמָקְו ‪,‬םיִנֲהֹּכַה ןֹרֲהַא יֵנְּב‪-‬לֶא ‪ּ,‬הָאיִבֱהֶו ב‪,‬ב ‪.‬הָנֹב‬ ‫‪convivem‬הָׂשָעְו ;הָניֶׂשָעֵת אֹל רֶׁשֲא ‪,‬הָוהְי תֹ‍וְצִמ לֹּכִמ הָגָגְׁשִב אָטֱחֶת‪-‬יִּכ ׁשֶפֶנ‪--‬רֹמאֵל‬ ‫‪ִmais‬א ג‪,‬ד ‪.‬הָּנֵהֵמ תַחַאֵמ ‪,‬‬ ‫‪um‬מַה ןֵהֹּכַה ם‬ ‫‪e‬שַאְל ‪,‬אָטֱחֶי ַחיִׁשָּ‬ ‫‪atu‬םָעָה תַמְׁ‬‫רַּפ אָטָח רֶׁשֲא ֹותאָּטַח לַע ביִרְקִהְו ‪:‬‬ ‫‪. almente‬הָוהיַל ‪ַ,‬חֹחיִנ ַחיֵר הֵּׁשִא‪--‬הָחֵּבְזִּמַה ‪ּ,‬הָתָרָּכְזַא‪-‬תֶא ןֵהֹּכַה ריִטְק‬ ‫‪na‬תֶרֶתֹוּנַהְו ג‪,‬ב‬ ‫ַה‪-‬ןִמ ‪,‬‬ ‫מ‬ ‫נ‬ ‫ּ‬ ‫ִ‬ ‫ח‬ ‫ְ‬ ‫ה‬ ‫ָ‬ ‫ְל‪--‬‬ ‫א‬ ‫ה‬ ‫ַ‬ ‫ר‬ ‫ֲ‬ ‫ן‬ ‫ֹ‬ ‫‪,‬‬ ‫ּו‬ ‫ל‬ ‫ב‬ ‫ְ‬ ‫נ‬ ‫ָ‬ ‫י‬ ‫ָ‬ ‫‪:‬ו‬ ‫ֹק‬ ‫ד‬ ‫ש‬ ‫ֶ‬ ‫ׁ‬ ‫ָק‬ ‫ד‬ ‫ש‬ ‫ָ‬ ‫י‬ ‫ׁ‬ ‫ִ‬ ‫‪,‬ם‬ ‫ֵמ‬ ‫א‬ ‫ש‬ ‫ִ‬ ‫י‬ ‫ׁ‬ ‫ּ‬ ‫ֵ‬ ‫ְי‬ ‫ה‬ ‫שַּב תֹלּולְּב תֹּצַמ תֹוּלַח תֶלֹס‪--‬רּוּנַת הֵפֲאַמ ‪,‬הָחְנִמ ןַּבְרָק בִרְקַת יִכְו ד‪,‬ב }ס{ ‪.‬הָו‬ ‫‪ְ Bahia‬ךַמָסְו ;הָוהְי יֵנְפִל‪--‬דֵעֹומ לֶהֹא חַתֶּפ‪-‬לֶא ‪,‬רָּפַה‪-‬תֶא איִבֵהְו ד‪,‬ד ‪.‬תאָּטַחְל‪--‬הָוהיַל‬ ‫‪ַcerca‬ע ֹודָי‪-‬תֶא‬ ‫‪ַde‬ה ׁשאֹר‪-‬ל‬ ‫‪,2300‬רָּפ‬ ‫‪ֶjudeus‬א טַחָׁשְו‬ ‫‪autodeclara‬פִל רָּפַה‪-‬ת‬‫איִבֵהְו ;רָּפַה םַּדִמ ‪ַ,‬חיִׁשָּמַה ןֵהֹּכַה חַקָלְו ה‪,‬ד ‪.‬הָוהְי יֵנְ‬ ‫ֹס‪ָ--‬ךֶנָּבְרָק ‪,‬תַבֲחַּמַה‪-‬לַע הָחְנִמ‪-‬םִאְו ה‪,‬ב }ס{ ‪.‬ןֶמָּׁשַּב םיִחֻׁשְמ‬ ‫‪1010‬לְּב תֶל‬ ‫‪, na‬ןֶמֶּׁשַב הָלּו‬ ‫‪segundo‬ו‪,‬ב ‪.‬הֶיְהִת הָּצַמ‬ ‫‪do‬תְקַצָיְו ‪,‬םיִּתִּפ ּהָתֹא תֹותָּפ‬ ‫‪ִ(2012).‬מ ;ןֶמָׁש ָהיֶלָע ָּ‬ ‫‪.‬הֶׂשָעֵּת ‪,‬ןֶמֶּׁשַּב תֶלֹס‪ָ--‬ךֶנָּבְרָק ‪,‬תֶׁשֶחְרַמ תַחְנִמ‪-‬םִאְו ז‪,‬ב }ס{ ‪.‬אוִה ‪,‬הָחְנ‬ ‫‪dos,‬עַבֶׁש םָּדַה‪-‬ןִמ הָּזִהְו ;םָּדַּב ‪ֹ,‬ועָּבְצֶא‪-‬תֶא ןֵהֹּכַה לַבָטְו ו‪,‬ד ‪.‬דֵעֹומ‬ ‫‪ só‬יֵנְפִל ‪,‬םיִמָעְּפ‬ ‫‪capital,‬תֶא ‪,‬הָוהְי‬ ‫‪dados‬נְו ז‪,‬ד ‪ׁ.‬שֶדֹּקַה תֶכֹרָּפ ‪,‬יֵנְּפ‪-‬‬ ‫‪IBGE‬דַה‪-‬ןִמ ןֵהֹּכַה ןַתָ‬ ‫‪,‬הָוהְי יֵנְפִל ‪,‬םיִּמַּסַה תֶרֹטְק חַּבְזִמ תֹונְרַק‪-‬לַע םָּ‬ ‫ויָנָבְלּו ‪,‬ןֹרֲהַאְל‪--‬הָחְנִּמַה‪-‬ןִמ ‪,‬תֶרֶתֹוּנַהְו י‪,‬ב ‪.‬הָוהיַל ‪ַ,‬חֹחיִנ ַחיֵר הֵּׁשִא‪--‬הָחֵּבְזִּמַה ריִטְקִהְו ‪ּ,‬הָתָרָּכְזַא‪-‬תֶא הָחְנִּמַה‪-‬ןִמ ןֵהֹּכַה םיִרֵהְו ט‪,‬ב ‪ַ.‬חֵּבְזִּמַה‪-‬לֶא ‪ּ,‬הָׁשיִּגִהְו ‪,‬ןֵהֹּכַה‪-‬לֶא ‪ּ,‬הָביִרְקִהְו ;הָוהיַל‪--‬הֶּלֵאֵמ הֶׂשָעֵי רֶׁשֲא ‪,‬הָחְנִּמ‬ ‫תֹיָלְּכַה יֵּתְׁש ‪,‬תֵאְו ט‪,‬ד ‪.‬בֶרֶּקַה‪-‬לַע רֶׁשֲא ‪,‬בֶלֵחַה‪-‬לָּכ תֵאְו ‪,‬בֶרֶּקַה‪-‬לַע הֶּסַכְמַה ‪,‬בֶלֵחַה‪-‬תֶא‪ּ--‬וּנֶּמִמ םיִרָי ‪,‬תאָּטַחַה רַּפ בֶלֵח‪-‬לָּכ‪-‬תֶאְו ח‪,‬ד ‪.‬דֵעֹומ לֶהֹא ‪,‬חַתֶּפ‪-‬רֶׁשֲא ‪,‬הָלֹעָה חַּבְזִמ דֹוסְי‪-‬לֶא ְךֹּפְׁשִי ‪,‬רָּפַה םַּד‪-‬לָּכ תֵאְו ;דֵע‬ ‫‪ָprimeiros‬ח ‪,‬הֶׂשָעֵת אֹל‪--‬הָוהיַל ּוביִרְקַּת רֶׁשֲא ‪,‬הָחְנִּמַה‪-‬לָּכ אי‪,‬ב ‪.‬הָוהְי‬ ‫‪ׁ,que‬שַבְּד‪-‬לָכְו רֹאְׂש‪-‬לָכ יִּכ ‪:‬ץֵמ‬ ‫‪ַcapital,‬ל ‪à‬הֶּׁשִא ּוּנֶּמִמ ּוריִטְקַת‪-‬אֹל‬ ‫‪sé‬קַּת‪o‬תיִׁשאֵר ןַּבְרָק בי‪,‬ב ‪.‬הָוהי‬‫לָכְו גי‪,‬ב ‪ַ.‬חֹחיִנ ַחיֵרְל ‪ּ,‬ולֲעַי‪-‬אֹל ַחֵּבְזִּמַה‪-‬לֶאְו ;הָוהיַל ‪,‬םָתֹא ּוביִרְ‬ ‫‪Os‬לַע ‪,‬דֵבָּכַה‪-‬לַע ‪,‬תֶרֶתֹּיַה‪-‬תֶאְו ;םיִלָסְּכַה‪-‬לַע רֶׁשֲא ‪,‬ןֶהיֵלֲע ר‬ ‫‪grupos‬י‪,‬ד ‪.‬הָּנֶריִסְי ‪,‬תֹויָלְּכַה‪-‬‬ ‫‪chegaram‬וּׁשִמ ‪,‬םַרּוי רֶׁשֲאַּכ‬ ‫‪durante‬הֹּכַה ‪,‬םָריִטְקִהְו ;םיִמָלְּׁשַה חַבֶז רֹ‬ ‫;ויָעָרְּכ‪-‬לַעְו ֹוׁשאֹר‪-‬לַע ‪ֹ,‬ורָׂשְּב‪-‬לָּכ‪-‬תֶאְו רָּפַה רֹוע‪-‬תֶאְו אי‪,‬ד ‪.‬הָלֹעָה חַּבְזִמ ‪,‬לַע ‪,‬ןֵ‬ ‫‪ָ;culo‬ךֶתָחְנִמ לַעֵמ ‪ָ,‬ךיֶהֹלֱא תיִרְּב חַלֶמ תיִּבְׁשַת אֹלְו ‪,‬חָלְמִּת ח‬ ‫ָק‪-‬לָּכ לַע‬ ‫‪criaram‬ךְנָּבְר‬ ‫‪vínculos‬חַלֶמ ביִרְקַּת ‪ָ,‬‬ ‫‪partir‬םִא‪ְa‬ו די‪,‬ב }ס{ ‪.‬‬ ‫‪ִdo‬מ ביִרְקַּת‪-‬‬ ‫‪ comércio‬תַחְנ‬ ‫ָא‪--‬הָוהיַל ‪,‬םיִרּוּכִּב‬ ‫‪pequenas‬ביִב‬ ‫ש ָהיֶלָע ָּתַתָנְו וט‪,‬ב ‪ָ.‬ךיֶרּוּכִּב תַחְנִמ תֵא ‪,‬ביִרְקַּת ‪,‬לֶמְרַּכ ׂשֶרֶּג ‪ׁ,‬שֵאָּב יּולָק‬ ‫‪XX,‬‬ ‫‪nas‬‬ ‫וְצִמ‪-‬לָּכִמ תַחַא ּוׂשָעְו ;לָהָּקַה יֵניֵעֵמ ‪,‬רָבָּד םַלְעֶנְו ‪ּ,‬וּגְׁשִי ‪,‬לֵאָרְׂשִי תַדֲע‪-‬לָּכ םִאְו גי‪,‬ד }פ{ ‪.‬ףֵרָּׂשִי ‪,‬ןֶׁשֶּדַה ְךֶפֶׁש‪-‬לַע ;ׁשֵאָּב ‪,‬םיִצֵע‪-‬לַע ֹותֹא ףַרָׂשְו ‪,‬ןֶׁשֶּדַה ְךֶפֶׁש‪-‬לֶא ‪,‬רֹוהָט םֹוקָמ‪-‬לֶא הֶנֲחַּמַל ץּוחִמ‪-‬לֶא רָּפַה‪-‬לָּכ‪-‬תֶא איִצֹוה‬ ‫‪ּ,lojas‬הָתָרָּכְזַא‪-‬תֶא ןֵהֹּכַה ריִטְקִהְו זט‪,‬ב ‪.‬אוִה ‪,‬הָחְנִמ ;הָנֹב‬ ‫‪ְno‬ל‪-‬לָּכ ‪,‬לַע ‪ּ,‬הָנְמַּׁשִמּו ּהָׂשְרִּגִמ‬ ‫‪ַantigo‬ל ‪,‬הֶּׁשִא‪ּ--‬הָתָנֹב‬ ‫‪ Salvador,‬א‪,‬ג}פ{ ‪.‬הָוהי‬ ‫‪bairros‬רָק ‪,‬םיִמָלְׁש חַבֶז‪-‬םִאְו‬ ‫הְי יֵנְפִל ּוּנֶביִרְקַי םיִמָּת ‪,‬הָבֵקְנ‪-‬םִא רָכָז‪-‬םִא ‪,‬ביִרְקַמ אּוה ‪,‬רָקָּבַה‪-‬ןִמ םִא‪ֹ--‬ונָּבְ‬ ‫‪associações‬רְקִ‪e‬הְו‪ָ--‬היֶלָע ‪ּ,‬ואְטָח רֶׁשֲא ‪,‬תאָּטַחַה ‪,‬הָעְדֹונְו די‪,‬ד ‪ּ.‬ומֵׁשָאְו‪--‬הָנ‬ ‫‪,centro‬רָקָּב‪-‬ןֶּב רַּפ לָהָּקַה ּוביִ‬ ‫‪ֹde‬ותֹא ּואיִבֵהְו ‪,‬תאָּטַחְל‬ ‫‪. em‬דֵעֹומ לֶהֹא יֵנְפִל ‪,‬‬ ‫‪ָcomo‬ה יֵנְקִז ּוכְמָסְו וט‪,‬ד‬ ‫ל ‪,‬רָּפַה‪-‬תֶא טַחָׁשְו ;הָוהְי יֵנְפִל‪--‬רָּפַה ׁשאֹר‪-‬לַע ‪,‬םֶהיֵדְי‪-‬תֶא הָדֵע‬ ‫‪ַNazaré‬א יֵנְּב ּוקְרָזְו ;דֵעֹומ לֶהֹא חַתֶּפ ‪ֹ,‬וטָחְׁשּו ‪ֹ,‬ונָּבְרָק ׁשאֹר‬ ‫‪ֶCampo‬א ‪e‬םיִנֲהֹּכַה ןֹרֲה‬ ‫ַה‪-‬לַע ‪,‬םָּדַה‪-‬ת‬ ‫‪Ao‬יִבָס‪ַ--‬חֵּבְזִּמ‬ ‫‪longo‬ג‪,‬ג ‪.‬ב‬ ‫‪ do‬ביִרְקִהְו‬ ‫‪século‬חַבֶּזִמ‬ ‫‪, se‬םיִמָלְּׁשַה‬ ‫‪inseriram‬הֶּׁשִא‬ ‫‪dinâ‬בֶלֵ‪à‬חַה‪-‬תֶא‪--‬הָוהיַל‬‫ו ד‪,‬ג ‪.‬בֶרֶּקַה‪-‬לַע רֶׁשֲא ‪,‬בֶלֵחַה‪-‬לָּכ תֵאְו ‪,‬בֶרֶּקַה‪-‬תֶא הֶּסַכְמַה ‪,‬‬ ‫‪Grande.‬‬ ‫אְו ;דֵעֹומ לֶהֹאְּב ‪,‬רֶׁשֲא ‪,‬הָוהְי יֵנְפִל רֶׁשֲא ‪ַ,‬חֵּבְזִּמַה תֹנְרַק‪-‬לַע ןֵּתִי םָּדַה‪-‬ןִמּו חי‪,‬ד ‪.‬תֶכֹרָּפַה יֵנְּפ ‪,‬תֵא ‪,‬הָוהְי יֵנְפִל ‪,‬םיִמָעְּפ עַבֶׁש הָּזִהְו ;םָּדַה‪-‬ןִמ ‪ֹ,‬ועָּבְצֶא ןֵהֹּכַה לַבָטְו זי‪,‬ד ‪.‬דֵעֹומ ‪,‬לֶהֹא‪-‬לֶא ‪,‬רָּפַה םַּדִמ ‪ַ,‬חיִׁשָּמַה ןֵהֹּכַה איִב‬ ‫‪, mica‬תֶרֶתֹּיַה‪-‬תֶאְו ;םיִלָסְּכַה‪-‬לַע רֶׁשֲא ‪,‬ןֶהֵלֲע רֶׁשֲא בֶלֵחַה‬ ‫‪da‬דֵבָּכַה‪-‬לַע‬ ‫‪capital‬לַע ‪,‬‬ ‫‪ֶpartir‬ריִ‪a‬סְי ‪,‬תֹויָלְּכַה‪-‬‬ ‫‪das‬הְו ה‪,‬ג ‪.‬הָּנ‬ ‫‪ּescolas‬וריִטְקִ‬ ‫‪ַjudaicas,‬א‪-‬יֵנְב ֹותֹא‬ ‫‪,da‬הָחֵּבְזִּמַה ‪,‬ןֹרֲה‬ ‫‪ָsinagoga‬ה‪-‬לַע‬ ‫‪ָtem‬ה‪–-‬לַע רֶׁשֲא ‪,‬הָלֹע‬‫מ‪-‬םִאְו ו‪,‬ג }פ{ ‪.‬הָוהיַל ‪ַ,‬חֹחיִנ ַחיֵר הֵּׁשִא‪ׁ--‬שֵאָה‪-‬לַע רֶׁשֲא םיִצֵע‬ ‫תֶא איִצֹוהְו אכ‪,‬ד ‪.‬םֶהָל חַלְסִנְו ‪,‬ןֵהֹּכַה םֶהֵלֲע רֶּפִכְו ;ֹוּל‪-‬הֶׂשֲעַי ןֵּכ ‪,‬תאָּטַחַה רַפְל הָׂשָע רֶׁשֲאַּכ‪--‬רָּפַל הָׂשָעְו כ‪,‬ד ‪.‬הָחֵּבְזִּמַה ‪,‬ריִטְקִהְו ;ּוּנֶּמִמ םיִרָי ‪ֹ,‬וּבְלֶח‪-‬לָּכ תֵאְו טי‪,‬ד ‪.‬דֵעֹומ לֶהֹא ‪,‬חַתֶּפ‪-‬רֶׁשֲא ‪,‬הָלֹעָה חַּבְזִמ דֹוסְי‪-‬לֶא‬ ‫‪ religioso‬בֶׂשֶּכ‪-‬םִא ז‪,‬ג ‪ּ.‬וּנֶביִרְקַי םיִמָּת ‪,‬הָבֵקְנ ֹוא רָכָז‪--‬הָוהיַל ‪,‬םיִמָל‬ ‫‪ֶjudaico‬א ‪,‬ביִרְקַמ‪-‬אּוה‬ ‫–ְו‪ֹ--‬ונָּבְרָק‪-‬ת‬ ‫‪ֹSociedade‬ותֹא ביִרְקִה‬ ‫‪da‬דָי‪-‬תֶא ְךַמָסְו ח‪,‬ג ‪.‬הָוהְי יֵנְפִל ‪,‬‬ ‫‪(SIB).‬בְרָק ׁשאֹר‪-‬לַע ‪ֹ,‬ו‬ ‫‪ֹ,‬ומָּד‪-‬תֶא ןֹרֲהַא יֵנְּב ּוקְרָזְו ;דֵעֹומ לֶהֹא יֵנְפִל ‪ֹ,‬ותֹא טַחָׁשְו ‪ֹ,‬ונָּ‬ ‫‪plo‬תאַּטַח ‪:‬ןֹוׁשאִרָה רָּפַה תֵא ףַרָׂש רֶׁשֲאַּכ ‪ֹ,‬ותֹא ףַרָׂשְו ‪,‬הֶנ‬ ‫בכ‪,‬ד }פ{ ‪.‬אּוה ‪,‬לָהָּקַה‬ ‫‪da‬חֶי‪,e‬איִׂשָנ רֶׁשֲא‬ ‫‪Israelita‬לָּכִמ תַחַא הָׂשָעְו ;אָטֱ‬ ‫‪Bahia‬ויָהֹלֱא הָוהְי תֹ‍וְצִמ‪-‬‬ ‫ח רֶׁשֲא ‪ֹ,‬ותאָּטַח ויָלֵא עַדֹוה‪ֹ-‬וא גכ‪,‬ד ‪.‬םֵׁשָאְו‪--‬הָגָגְׁשִּב ‪,‬הָניֶׂשָעֵת‪-‬אֹל רֶׁשֲא‬ ‫א ‪,‬ןֶהֵלֲע רֶׁשֲא בֶלֵחַה‪-‬תֶאְו ‪,‬תֹיָלְּכַה יֵּתְׁש ‪,‬תֵאְו י‪,‬ג ‪.‬בֶרֶּקַה‪-‬לַע רֶׁשֲא ‪,‬בֶלֵחַה‪-‬לָּכ תֵאְו ‪,‬בֶרֶּקַה‪-‬תֶא הֶּסַכְמַה ‪,‬בֶלֵחַה‪-‬תֶאְו ;הָּנֶריִסְי הֶצָעֶה תַּמֻעְל ‪,‬הָמיִמְת הָיְלַאָה ֹוּבְלֶח‪--‬הָוהיַל הֶּׁשִא ‪,‬םיִמָלְּׁשַה חַבֶּזִמ ביִרְקִהְו ט‪,‬ג ‪.‬ביִבָס‬ ‫;הָלֹעָה חַּבְזִמ תֹנְרַק‪-‬לַע ‪,‬ןַתָנְו ‪ֹ,‬ועָּבְצֶאְּב ‪,‬תאָּטַחַה םַּדִמ ןֵהֹּכַה חַקָלְו הכ‪,‬ד ‪.‬אּוה ‪,‬תאָּטַח ;הָוהְי יֵנְפִל ‪,‬הָלֹעָה‪-‬תֶא טַחְׁשִי‪-‬רֶׁשֲא םֹוקְמִּב ֹותֹא טַחָׁשְו ‪,‬ריִעָּׂשַה ׁשאֹר‪-‬לַע ‪ֹ,‬ודָי ְךַמָסְו דכ‪,‬ד ‪.‬םיִמָּת רָכָז ‪,‬םיִּזִע ריִעְׂש ֹונָּבְרָק‪-‬‬ ‫‪bairro‬הֹּכַה ֹוריִטְקִהְו אי‪,‬ג ‪.‬הָּנֶריִסְי ‪,‬תֹיָלְּכַה‪-‬לַע ‪,‬דֵבָּכַה‪-‬לַע ‪,‬תֶרֶתֹּיַה‪-‬תֶא‬ ‫‪ֶNazaré,‬ל‪--‬הָחֵּבְזִּמַה ‪,‬ןֵ‬ ‫‪}hoje‬פ{ ‪.‬הָוהיַל ‪,‬הֶּׁשִא םֶח‬ ‫‪ֹ-comunidade‬ונָּ‪a‬בְרָק ‪,‬זֵע םִאְו בי‪,‬ג‬ ‫רָזְו ;דֵעֹומ לֶהֹא יֵנְפִל ‪ֹ,‬ותֹא טַחָׁשְו ‪ֹ,‬וׁשאֹר‪-‬לַע ‪ֹ,‬ודָי‪-‬תֶא ְךַמָסְו גי‪,‬ג ‪.‬הָוהְי יֵנְפִל ‪ֹ,‬וביִרְקִהְו‪-‬‬ ‫‪No‬בְזִּמַה ריִטְקַי ֹוּבְלֶח‪-‬לָּכ‪-‬תֶאְו וכ‪,‬ד ‪.‬הָלֹעָה חַּבְזִמ דֹוסְי‪-‬לֶא ‪,‬‬ ‫‪ַde‬ה חַבֶז בֶלֵחְּכ ‪,‬הָחֵּ‬ ‫‪ SIB‬ויָ‪a‬לָע רֶּפִכְו ;םיִמָלְּׁש‬ ‫‪ֹabriga‬ותאָּטַחֵמ ןֵהֹּכַה‬ ‫‪ַre‬א ׁשֶפֶנ‪-‬םִאְו זכ‪,‬ד }פ{ ‪ֹ.‬ול חַלְסִנְו ‪,‬‬‫שֲא ‪,‬הָוהְי תֹ‍וְצִּמִמ תַחַא ּהָתֹׂשֲעַּב ‪:‬ץֶרָאָה םַעֵמ ‪,‬הָגָגְׁשִב אָטֱחֶּת תַח‬ ‫‪formista‬הָוהיַל הֶּׁשִא ‪ֹ,‬ונָּבְרָק ּוּנֶּמִמ ביִרְקִהְו די‪,‬ג ‪.‬ביִבָס‪ַ--‬חֵּבְזִּמַה‪-‬לַע ‪,‬‬ ‫‪e‬בֶלֵחַה‪-‬תֶא‪--‬‬ ‫‪ַexiste‬ה ‪,‬‬ ‫‪desde‬תֶא הֶּסַכְמ‬ ‫‪, 1920,‬בֶרֶּקַה‪-‬‬ ‫‪ַenquanto‬ה‪-‬לָּכ תֵאְו‬ ‫‪Beit‬לַע רֶׁשֲא ‪,‬בֶלֵח‬ ‫‪Chabad,‬בֶרֶּקַה‪-‬‬ ‫תֶרֶתֹּיַה‪-‬תֶאְו ;םיִלָסְּכַה‪-‬לַע רֶׁשֲא ‪,‬ןֶהֵלֲע רֶׁשֲא בֶלֵחַה‪-‬תֶאְו ‪,‬תֹיָלְּכַה יֵּתְׁש ‪,‬תֵאְו וט‪,‬ג ‪.‬‬ ‫‪ַas‬ע ‪ֹ,‬ודָי‪-‬תֶא ‪ְ,‬ךַמָסְו טכ‪,‬ד ‪.‬אָטָח רֶׁשֲא ‪ֹ,‬ותאָּטַח‪-‬לַע ‪,‬הָבֵקְנ הָמיִמְּת ‪,‬םיִּזִע תַריִעְׂש ֹונָּבְרָק איִבֵהְו‪--‬אָטָח רֶׁשֲא ֹותאָּטַח ‪,‬ויָלֵא עַדֹוה ֹוא חכ‪,‬ד ‪.‬םֵׁשָא‬‫ה חַקָלְו ל‪,‬ד ‪.‬הָלֹעָה ‪,‬םֹוקְמִּב ‪,‬תאָּטַחַה‪-‬תֶא ‪,‬טַחָׁשְו ;תאָּטַחַה ׁשאֹר ‪,‬ל‬ ‫‪ sociação‬הֶּׁשִא םֶחֶל‪--‬הָחֵּבְזִּמַה ‪,‬ןֵהֹּכַה םָריִטְקִהְו זט‪,‬ג ‪.‬הָּנֶריִסְי ‪,‬תֹיָלְּכַה‪-‬‬ ‫‪judeus‬לֵח‪-‬לָּכ ‪ַ,‬חֹחיִנ ַחיֵרְל‬ ‫‪de‬דְל םָלֹוע תַּקֻח זי‪,‬ג ‪.‬הָוהיַל בֶ‬ ‫‪ortodoxa,‬בְׁשֹומ לֹכְּב ‪,‬םֶכיֵתֹרֹ‬ ‫ד ‪.‬רֹמאֵּל הֶׁשֹמ‪-‬לֶא ‪,‬הָוהְי רֵּבַדְיַו א‪,‬ד }פ{ ‪ּ.‬ולֵכאֹת אֹל ‪,‬םָּד‪-‬לָכְו בֶלֵח‪-‬לָּכ‪--‬םֶכיֵתֹ‬ ‫‪de‬אל‪,‬ד ‪ַ.‬חֵּבְזִּמַה דֹוסְי‪-‬לֶא ‪ְ,‬ךֹּפְׁשִי ּהָמָּד‪-‬לָּכ‪-‬תֶאְו ;הָלֹעָה חַּבְזִמ תֹנְרַק‪-‬לַע ‪,‬ןַתָנְו ‪ֹ,‬ו‬ ‫‪sinagoga‬סָי ּ‪e‬הָּבְלֶח‪-‬לָּכ‪-‬תֶאְו‬ ‫‪ֵvertente‬ח רַסּוה רֶׁשֲאַּכ ‪,‬ריִ‬ ‫‪ֹ.‬ול חַלְסִנְו ‪,‬ןֵהֹּכַה ויָלָע רֶּפִכְו ;הָוהיַל ַחֹחיִנ ַחיֵרְל ‪,‬הָחֵּבְזִּמַה ןֵהֹּכַה ריִטְקִהְו ‪,‬םיִמָלְּׁשַה חַבֶז לַעֵמ בֶל‬ ‫‪localizada‬עֵת אֹל רֶׁשֲא ‪,‬הָוהְי תֹ‍וְצִמ לֹּכִמ הָגָגְׁשִב אָטֱחֶת‪-‬יִּכ ׁשֶפֶנ‪--‬רֹמאֵל ‪,‬ל‬ ‫‪na‬אֵמ ‪,‬הָׂשָעְו ;הָניֶׂשָ‬ ‫‪ Barra,‬תַחַ‬ ‫‪existe‬ג‪,‬ד ‪.‬הָּנֵהֵמ‬ ‫‪há‬הֹּכַה םִא‬ ‫‪pouco‬מַה ןֵ‬ ‫‪,mais‬אָטֱחֶי ַחיִׁשָּ‬ ‫‪de‬תַמְׁשַאְל‬ ‫רַּפ אָטָח רֶׁשֲא ֹותאָּטַח לַע ביִרְקִהְו ‪:‬םָעָה‬ ‫‪sete‬תֶא טַחְׁשִי רֶׁשֲא ‪,‬םֹוקְמִּב ‪,‬תאָּטַחְל ‪ּ,‬הָתֹא טַחָׁשְו ;תאָּטַחַה ׁשאֹר ‪,‬לַע ‪ֹ,‬ודָי‪-‬תֶא ‪ְ,‬ךַמָסְו גל‪,‬ד ‪.‬הָּנֶאיִבְי ‪,‬הָמיִמְת הָבֵקְנ‪--‬תאָּטַחְל ‪ֹ,‬ונָּבְרָק איִבָי‬ ‫חַּבְזִמ תֹנְרַק‪-‬לַע ‪,‬ןַתָנְו ‪ֹ,‬ועָּבְצֶאְּב ‪,‬תאָּטַחַה םַּדִמ ןֵהֹּכַה חַקָלְו דל‪,‬ד ‪.‬הָלֹעָה‪-‬‬ ‫‪anos.‬פִל‪--‬דֵעֹומ לֶהֹא חַתֶּפ‪-‬לֶא ‪,‬רָּפַה‪-‬תֶא איִבֵהְו ד‪,‬ד ‪.‬תאָּטַחְל‪--‬הָוהיַל ‪,‬‬ ‫‪;Apesar‬הָוהְי יֵנְ‬ ‫‪ָdas‬י‪-‬תֶא ְךַמָסְו‬ ‫ֹר‪-‬לַע ֹוד‬ ‫‪serem‬תֶא טַחָׁשְו ‪,‬רָּפַה ׁשא‬ ‫‪parte‬יֵנְפִל רָּפַה‪-‬‬ ‫ה‪,‬ד ‪.‬הָוהְי‬ ‫איִבֵהְו ;רָּפַה םַּדִמ ‪ַ,‬חיִׁשָּמַה ןֵהֹּכַה חַקָלְו‬ ‫‪comunidades‬‬ ‫‪ָde‬והְי יֵּׁשִא לַע ‪,‬הָחֵּבְזִּמַה םָתֹא ןֵהֹּכַה ריִטְקִהְו ‪,‬םיִמָלְּׁשַה חַבֶּזִמ בֶׂשֶּכַה‪-‬בֶלֵח רַסּוי רֶׁשֲאַּכ ‪,‬ריִסָי ּהָּבְלֶח‪-‬לָּכ‪-‬תֶאְו הל‪,‬ד ‪ַ.‬חֵּבְזִּמַה דֹוסְי‪-‬לֶא ‪ְ,‬ךֹּפְׁש‬ ‫כ ׁשֶפֶנְו א‪,‬ה }פ{ ‪ֹ.‬ול חַלְסִנְו ‪,‬אָטָח‪-‬רֶׁשֲא ֹותאָּטַח‪-‬לַע ןֵהֹּכַה ויָלָע רֶּפִכְו ;ה‬ ‫‪,‬םיִמָעְּפ עַבֶׁש םָּדַה‪-‬ןִמ הָּזִהְו ;םָּדַּב ‪ֹ,‬ועָּבְצֶא‪-‬תֶא ןֵהֹּכַה לַבָטְו ו‪,‬ד ‪.‬דֵעֹומ‬ ‫‪mesmo‬נְפִל‬ ‫‪ְuniverso‬פ‪-‬תֶא ‪,‬הָוהְי יֵ‬ ‫‪cultural‬דֹּקַה תֶכֹרָּפ ‪,‬יֵנּ‬ ‫‪religioso,‬ןַתָנְו ז‪,‬ד ‪ׁ.‬שֶ‬ ‫‪ cada‬םָּדַה‪-‬ןִמ ןֵהֹּכַה‬ ‫‪,‬הָוהְי יֵנְפִל ‪,‬םיִּמַּסַה תֶרֹטְק חַּבְזִמ תֹונְרַק‪-‬לַע‬ ‫‪um‬‬ ‫וא ג‪,‬ה ‪.‬םֵׁשָאְו אֵמָט אּוהְו ‪ּ,‬וּנֶּמִמ םַלְעֶנְו ;אֵמָט ץֶרֶׁש תַלְבִנְּב ֹוא ‪,‬הָאֵמְט הָמֵהְּב תַלְבִנְּב ֹוא הָאֵמְט הָּיַח תַלְבִנְב ֹוא ‪,‬אֵמָט רָבָּד‪-‬לָכְּב עַּגִּת רֶׁשֲא ‪ׁ,‬שֶפֶנ ֹוא ב‪,‬ה ‪ֹ.‬ונֹ‍וֲע אָׂשָנְו ‪,‬דיִּגַי אֹול‪-‬םִא ;עָדָי ֹוא הָאָר ֹוא ‪,‬דֵע אּוהְו ‪,‬ה‬ ‫‪uma‬לֶהֹא ‪,‬חַתֶּפ‪-‬רֶׁשֲא ‪,‬הָלֹעָה חַּבְזִמ דֹוסְי‪-‬לֶא ְךֹּפְׁשִי ‪,‬רָּפַה םַּד‪-‬לָּכ תֵאְו ;דֵעֹומ‬ ‫‪ֵtradições‬ח‪-‬לָּכ‪-‬תֶאְו ח‪,‬ד ‪.‬דֵעֹומ‬ ‫‪ַnão‬ה‪e-‬תֶא‪ּ--‬וּנֶּמִמ םיִרָי ‪,‬תאָּטַחַה רַּפ בֶל‬ ‫לְּכַה יֵּתְׁש ‪,‬תֵאְו ט‪,‬ד ‪.‬בֶרֶּקַה‪-‬לַע רֶׁשֲא ‪,‬בֶלֵחַה‪-‬לָּכ תֵאְו ‪,‬בֶרֶּקַה‪-‬לַע הֶּסַכְמַה ‪,‬בֶלֵח‬ ‫‪ִpreserva‬ת יִּכ ׁשֶפֶנ ֹוא ד‪,‬ה ‪.‬םֵׁשָאְו עַדָי אּוהְו ‪ּ,‬וּנֶּמִמ םַלְעֶנְו ;ּהָּב אָמְטִי רֶׁשֲא ‪ֹ,‬ותָאְמֻט לֹכְל‬ ‫‪ֹdiferentes‬וא עַרָהְל םִיַתָפְׂשִב אֵּטַבְל עַבָּׁש‬ ‫הָיָהְו ה‪,‬ה ‪.‬הֶּלֵאֵמ תַחַאְל ‪,‬םֵׁשָאְו עַדָי‪-‬אּוהְו ;ּוּנֶּמִמ םַלְעֶנְו‪--‬הָעֻבְׁשִּב םָדָאָה אֵּטַבְי רֶׁשֲא לֹכְל ‪,‬ביִטיֵהְל‬ ‫‪ֶhá‬ריִסְי ‪,‬תֹויָלְּכַה‪-‬לַע ‪,‬דֵבָּכַה‪-‬לַע ‪,‬תֶרֶתֹּיַה‪-‬תֶאְו ;םיִלָסְּכַה‪-‬לַע רֶׁשֲא ‪,‬ןֶהיֵלֲע רֶׁש‬ ‫י‪,‬ד ‪.‬הָּנ‬ ‫ַכ‬ ‫א‬ ‫ּ‬ ‫ש‬ ‫ֲ‬ ‫ר‬ ‫ׁ‬ ‫ֶ‬ ‫ּוי‬ ‫ר‬ ‫ם‬ ‫ַ‬ ‫‪,‬‬ ‫ִמ‬ ‫ש‬ ‫ו‬ ‫ׁ‬ ‫ּ‬ ‫ר‬ ‫ֹ‬ ‫ֶז‬ ‫ב‬ ‫ח‬ ‫ַ‬ ‫ַה‬ ‫ש‬ ‫ל‬ ‫ׁ‬ ‫ּ‬ ‫ְ‬ ‫מ‬ ‫ָ‬ ‫י‬ ‫ִ‬ ‫;ם‬ ‫ְו‬ ‫ה‬ ‫ק‬ ‫ִ‬ ‫ט‬ ‫ְ‬ ‫י‬ ‫ִ‬ ‫ָר‬ ‫ם‬ ‫‪,‬‬ ‫ַה‬ ‫כ‬ ‫ה‬ ‫ּ‬ ‫ֹ‬ ‫ויָעָרְּכ‪-‬לַעְו ֹוׁשאֹר‪-‬לַע ‪ֹ,‬ורָׂשְּב‪-‬לָּכ‪-‬תֶאְו רָּפַה רֹוע‪-‬תֶאְו אי‪,‬ד ‪.‬הָלֹעָה חַּבְזִמ ‪,‬לַע ‪,‬ןֵ‬ ‫‪entre‬‬ ‫‪comunicação‬אָּטַח לַע הָוהיַל ֹומָׁשֲא‪-‬תֶא איִבֵהְו ו‪,‬ה ‪ָ.‬היֶלָע ‪,‬אָטָח רֶׁשֲא‪--‬הָּדַוְתִהְו ‪:‬הֶּלֵאֵמ ת‬ ‫‪ִconstante‬מ הָבֵקְנ אָטָח רֶׁשֲא ֹות‬ ‫ֹוא ‪,‬הָּבְׂשִּכ ןאֹּצַה‪-‬ן‬ ‫‪elas.‬תַריִעְׂש‪-‬‬ ‫בֵהְו‪--‬הֶׂש יֵּד ‪ֹ,‬ודָי ַעיִּגַת אֹל‪-‬םִאְו ז‪,‬ה ‪ֹ.‬ותאָּטַחֵמ ‪,‬ןֵהֹּכַה ויָלָע רֶּפִכְו ;תאָּטַחְל‪--‬םיִּזִע‬ ‫צִמ‪-‬לָּכִמ תַחַא ּוׂשָעְו ;לָהָּקַה יֵניֵעֵמ ‪,‬רָבָּד םַלְעֶנְו ‪ּ,‬וּגְׁשִי ‪,‬לֵאָרְׂשִי תַדֲע‪-‬לָּכ םִאְו גי‪,‬ד }פ{ ‪.‬ףֵרָּׂשִי ‪,‬ןֶׁשֶּדַה ְךֶפֶׁש‪-‬לַע ;ׁשֵאָּב ‪,‬םיִצֵע‪-‬לַע ֹותֹא ףַרָׂשְו ‪,‬ןֶׁשֶּדַה ְךֶפֶׁש‪-‬לֶא ‪,‬רֹוהָט םֹוקָמ‪-‬לֶא הֶנֲחַּמַל ץּוחִמ‪-‬לֶא רָּפַה‪-‬לָּכ‪-‬תֶא איִצֹוה‬ ‫לַע ‪,‬תאָּטַחַה םַּדִמ הָּזִהְו ט‪,‬ה ‪.‬ליִּדְבַי אֹלְו ‪ֹ,‬וּפְרָע לּוּמִמ ֹוׁשאֹר‪-‬תֶא קַלָמּו ;הָנֹוׁשאִר תאָּטַחַל רֶׁשֲא‪-‬תֶא ביִרְקִהְו ‪,‬ןֵהֹּכַה‪-‬לֶא םָתֹא איִבֵהְו ח‪,‬ה ‪.‬הָלֹעְל דָחֶאְו ‪,‬תאָּטַחְל דָחֶא ‪:‬הָוהיַל ‪,‬הָנֹוי‪-‬יֵנְב יֵנְׁש‪ֹ-‬וא םיִרֹת יֵּתְׁש אָטָח ר‬ ‫‪,‬רָּפַה‪-‬תֶא טַחָׁשְו ;הָוהְי יֵנְפִל‪--‬רָּפַה ׁשאֹר‪-‬לַע ‪,‬םֶהיֵדְי‪-‬תֶא הָדֵעָה יֵנְקִז ּוכְמָסְו וט‪,‬ד ‪.‬דֵעֹומ לֶהֹא יֵנְפִל ‪ֹ,‬ותֹא ּואיִבֵהְו ‪,‬תאָּטַחְל ‪,‬רָקָּב‪-‬ןֶּב רַּפ לָהָּקַה ּוביִרְקִהְו‪ָ--‬היֶלָע ‪ּ,‬ואְטָח רֶׁשֲא ‪,‬תאָּטַחַה ‪,‬הָעְדֹונְו די‪,‬ד ‪ּ.‬ומֵׁשָאְו‪--‬הָניֶׂש‬ ‫ק‪-‬תֶא איִבֵהְו‪--‬הָנֹוי‪-‬יֵנְב יֵנְׁשִל ֹוא ‪,‬םיִרֹת יֵּתְׁשִל ֹודָי גיִּׂשַת אֹל‪-‬םִאְו אי‪,‬ה }ס{ ‪ֹ.‬ול חַלְסִנְו ‪,‬אָטָח‪-‬רֶׁשֲא ֹותאָּטַחֵמ ןֵהֹּכַה ויָלָע רֶּפִכְו ;טָּפְׁשִּמַּכ ‪,‬הָלֹע הֶׂשֲעַי יִנֵּׁשַה‪-‬תֶאְו י‪,‬ה ‪.‬אּוה ‪,‬תאָּטַח ;ַחֵּבְזִּמַה דֹוסְי‪-‬לֶא הֵצָּמִי ‪,‬םָּדַּב ר‬ ‫אְו ;דֵעֹומ לֶהֹאְּב ‪,‬רֶׁשֲא ‪,‬הָוהְי יֵנְפִל רֶׁשֲא ‪ַ,‬חֵּבְזִּמַה תֹנְרַק‪-‬לַע ןֵּתִי םָּדַה‪-‬ןִמּו חי‪,‬ד ‪.‬תֶכֹרָּפַה יֵנְּפ ‪,‬תֵא ‪,‬הָוהְי יֵנְפִל ‪,‬םיִמָעְּפ עַבֶׁש הָּזִהְו ;םָּדַה‪-‬ןִמ ‪ֹ,‬ועָּבְצֶא ןֵהֹּכַה לַבָטְו זי‪,‬ד ‪.‬דֵעֹומ ‪,‬לֶהֹא‪-‬לֶא ‪,‬רָּפַה םַּדִמ ‪ַ,‬חיִׁשָּמַה ןֵהֹּכַה איִב‬ ‫י‪,‬ה ‪.‬אוִה ‪,‬תאָּטַח ;הָוהְי יֵּׁשִא לַע ‪,‬הָחֵּבְזִּמַה ריִטְקִהְו ּהָתָרָּכְזַא‪-‬תֶא ֹוצְמֻק אֹולְמ הָּנֶּמִמ ןֵהֹּכַה ץַמָקְו ‪,‬ןֵהֹּכַה‪-‬לֶא ‪ּ,‬הָאיִבֱהֶו בי‪,‬ה ‪.‬אוִה ‪,‬תאָּטַח יִּכ‪--‬הָנֹבְל ָהיֶלָע ןֵּתִי‪-‬אֹלְו ‪,‬ןֶמֶׁש ָהיֶלָע םיִׂשָי‪-‬אֹל ;תאָּטַחְל ‪,‬תֶלֹס הָפֵאָה תִר‬ ‫א איִצֹוהְו אכ‪,‬ד ‪.‬םֶהָל חַלְסִנְו ‪,‬ןֵהֹּכַה םֶהֵלֲע רֶּפִכְו ;ֹוּל‪-‬הֶׂשֲעַי ןֵּכ ‪,‬תאָּטַחַה רַפְל הָׂשָע רֶׁשֲאַּכ‪--‬רָּפַל הָׂשָעְו כ‪,‬ד ‪.‬הָחֵּבְזִּמַה ‪,‬ריִטְקִהְו ;ּוּנֶּמִמ םיִרָי ‪ֹ,‬וּבְלֶח‪-‬לָּכ תֵאְו טי‪,‬ד ‪.‬דֵעֹומ לֶהֹא ‪,‬חַתֶּפ‪-‬רֶׁשֲא ‪,‬הָלֹעָה חַּבְזִמ דֹוסְי‪-‬לֶא ְך‬ ‫ֶּלֵאֵמ תַחַאֵמ ‪,‬אָטָח‪-‬רֶׁשֲא ֹותאָּטַח‬ ‫ח רֶׁשֲא ‪ֹ,‬ותאָּטַח ויָלֵא עַדֹוה‪ֹ-‬וא גכ‪,‬ד ‪.‬םֵׁשָאְו‪--‬הָגָגְׁשִּב ‪,‬הָניֶׂשָעֵת‪-‬אֹל רֶׁשֲא ויָהֹלֱא הָוהְי תֹ‍וְצִמ‪-‬לָּכִמ תַחַא הָׂשָעְו ;אָטֱחֶי ‪,‬איִׂשָנ רֶׁשֲא בכ‪,‬ד }פ{ ‪.‬אּוה ‪,‬לָהָּקַה תאַּטַח ‪:‬ןֹוׁשאִרָה רָּפַה תֵא ףַרָׂש רֶׁשֲאַּכ ‪ֹ,‬ותֹא ףַרָׂשְו ‪,‬הֶנֲח‬ ‫הָלֹעָה חַּבְזִמ תֹנְרַק‪-‬לַע ‪,‬ןַתָנְו ‪ֹ,‬ועָּבְצֶאְּב ‪,‬תאָּטַחַה םַּדִמ ןֵהֹּכַה חַקָלְו הכ‪,‬ד ‪.‬אּוה ‪,‬תאָּטַח ;הָוהְי יֵנְפִל ‪,‬הָלֹעָה‪-‬תֶא טַחְׁשִי‪-‬רֶׁשֲא םֹוקְמִּב ֹותֹא טַחָׁשְו ‪,‬ריִעָּׂשַה ׁשאֹר‪-‬לַע ‪ֹ,‬ודָי ְךַמָסְו דכ‪,‬ד ‪.‬םיִמָּת רָכָז ‪,‬םיִּזִע ריִעְׂש ֹונָּבְרָק‪-‬ת‬ ‫א ‪,‬הָוהְי תֹ‍וְצִּמִמ תַחַא ּהָתֹׂשֲעַּב ‪:‬ץֶרָאָה םַעֵמ ‪,‬הָגָגְׁשִב אָטֱחֶּת תַחַא ׁשֶפֶנ‪-‬םִאְו זכ‪,‬ד }פ{ ‪ֹ.‬ול חַלְסִנְו ‪ֹ,‬ותאָּטַחֵמ ןֵהֹּכַה ויָלָע רֶּפִכְו ;םיִמָלְּׁשַה חַבֶז בֶלֵחְּכ ‪,‬הָחֵּבְזִּמַה ריִטְקַי ֹוּבְלֶח‪-‬לָּכ‪-‬תֶאְו וכ‪,‬ד ‪.‬הָלֹעָה חַּבְזִמ דֹוסְי‪-‬לֶא ‪ְ,‬ך‬ ‫חַקָלְו ל‪,‬ד ‪.‬הָלֹעָה ‪,‬םֹוקְמִּב ‪,‬תאָּטַחַה‪-‬תֶא ‪,‬טַחָׁשְו ;תאָּטַחַה ׁשאֹר ‪,‬לַע ‪ֹ,‬ודָי‪-‬תֶא ‪ְ,‬ךַמָסְו טכ‪,‬ד ‪.‬אָטָח רֶׁשֲא ‪ֹ,‬ותאָּטַח‪-‬לַע ‪,‬הָבֵקְנ הָמיִמְּת ‪,‬םיִּזִע תַריִעְׂש ֹונָּבְרָק איִבֵהְו‪--‬אָטָח רֶׁשֲא ֹותאָּטַח ‪,‬ויָלֵא עַדֹוה ֹוא חכ‪,‬ד ‪.‬םֵׁשָאְו‪-‬‬ ‫ל חַלְסִנְו ‪,‬ןֵהֹּכַה ויָלָע רֶּפִכְו ;הָוהיַל ַחֹחיִנ ַחיֵרְל ‪,‬הָחֵּבְזִּמַה ןֵהֹּכַה ריִטְקִהְו ‪,‬םיִמָלְּׁשַה חַבֶז לַעֵמ בֶלֵח רַסּוה רֶׁשֲאַּכ ‪,‬ריִסָי ּהָּבְלֶח‪-‬לָּכ‪-‬תֶאְו אל‪,‬ד ‪ַ.‬חֵּבְזִּמַה דֹוסְי‪-‬לֶא ‪ְ,‬ךֹּפְׁשִי ּהָמָּד‪-‬לָּכ‪-‬תֶאְו ;הָלֹעָה חַּבְזִמ תֹנְרַק‪-‬לַע ‪,‬ןַתָנְו ‪ֹ,‬וע‬ ‫בְזִמ תֹנְרַק‪-‬לַע ‪,‬ןַתָנְו ‪ֹ,‬ועָּבְצֶאְּב ‪,‬תאָּטַחַה םַּדִמ ןֵהֹּכַה חַקָלְו דל‪,‬ד ‪.‬הָלֹעָה‪-‬תֶא טַחְׁשִי רֶׁשֲא ‪,‬םֹוקְמִּב ‪,‬תאָּטַחְל ‪ּ,‬הָתֹא טַחָׁשְו ;תאָּטַחַה ׁשאֹר ‪,‬לַע ‪ֹ,‬ודָי‪-‬תֶא ‪ְ,‬ךַמָסְו גל‪,‬ד ‪.‬הָּנֶאיִבְי ‪,‬הָמיִמְת הָבֵקְנ‪--‬תאָּטַחְל ‪ֹ,‬ונָּבְרָק איִבָי ׂש‬ ‫כ ׁשֶפֶנְו א‪,‬ה }פ{ ‪ֹ.‬ול חַלְסִנְו ‪,‬אָטָח‪-‬רֶׁשֲא ֹותאָּטַח‪-‬לַע ןֵהֹּכַה ויָלָע רֶּפִכְו ;הָוהְי יֵּׁשִא לַע ‪,‬הָחֵּבְזִּמַה םָתֹא ןֵהֹּכַה ריִטְקִהְו ‪,‬םיִמָלְּׁשַה חַבֶּזִמ בֶׂשֶּכַה‪-‬בֶלֵח רַסּוי רֶׁשֲאַּכ ‪,‬ריִסָי ּהָּבְלֶח‪-‬לָּכ‪-‬תֶאְו הל‪,‬ד ‪ַ.‬חֵּבְזִּמַה דֹוסְי‪-‬לֶא ‪ְ,‬ךֹּפְׁשִי‬ ‫א ג‪,‬ה ‪.‬םֵׁשָאְו אֵמָט אּוהְו ‪ּ,‬וּנֶּמִמ םַלְעֶנְו ;אֵמָט ץֶרֶׁש תַלְבִנְּב ֹוא ‪,‬הָאֵמְט הָמֵהְּב תַלְבִנְּב ֹוא הָאֵמְט הָּיַח תַלְבִנְב ֹוא ‪,‬אֵמָט רָבָּד‪-‬לָכְּב עַּגִּת רֶׁשֲא ‪ׁ,‬שֶפֶנ ֹוא ב‪,‬ה ‪ֹ.‬ונֹ‍וֲע אָׂשָנְו ‪,‬דיִּגַי אֹול‪-‬םִא ;עָדָי ֹוא הָאָר ֹוא ‪,‬דֵע אּוהְו ‪,‬הָל‬ ‫יָהְו ה‪,‬ה ‪.‬הֶּלֵאֵמ תַחַאְל ‪,‬םֵׁשָאְו עַדָי‪-‬אּוהְו ;ּוּנֶּמִמ םַלְעֶנְו‪--‬הָעֻבְׁשִּב םָדָאָה אֵּטַבְי רֶׁשֲא לֹכְל ‪,‬ביִטיֵהְל ֹוא עַרָהְל םִיַתָפְׂשִב אֵּטַבְל עַבָּׁשִת יִּכ ׁשֶפֶנ ֹוא ד‪,‬ה ‪.‬םֵׁשָאְו עַדָי אּוהְו ‪ּ,‬וּנֶּמִמ םַלְעֶנְו ;ּהָּב אָמְטִי רֶׁשֲא ‪ֹ,‬ותָאְמֻט לֹכְל‬ ‫בֵהְו‪--‬הֶׂש יֵּד ‪ֹ,‬ודָי ַעיִּגַת אֹל‪-‬םִאְו ז‪,‬ה ‪ֹ.‬ותאָּטַחֵמ ‪,‬ןֵהֹּכַה ויָלָע רֶּפִכְו ;תאָּטַחְל‪--‬םיִּזִע תַריִעְׂש‪ֹ-‬וא ‪,‬הָּבְׂשִּכ ןאֹּצַה‪-‬ןִמ הָבֵקְנ אָטָח רֶׁשֲא ֹותאָּטַח לַע הָוהיַל ֹומָׁשֲא‪-‬תֶא איִבֵהְו ו‪,‬ה ‪ָ.‬היֶלָע ‪,‬אָטָח רֶׁשֲא‪--‬הָּדַוְתִהְו ‪:‬הֶּלֵאֵמ תַח‬ ‫ע ‪,‬תאָּטַחַה םַּדִמ הָּזִהְו ט‪,‬ה ‪.‬ליִּדְבַי אֹלְו ‪ֹ,‬וּפְרָע לּוּמִמ ֹוׁשאֹר‪-‬תֶא קַלָמּו ;הָנֹוׁשאִר תאָּטַחַל רֶׁשֲא‪-‬תֶא ביִרְקִהְו ‪,‬ןֵהֹּכַה‪-‬לֶא םָתֹא איִבֵהְו ח‪,‬ה ‪.‬הָלֹעְל דָחֶאְו ‪,‬תאָּטַחְל דָחֶא ‪:‬הָוהיַל ‪,‬הָנֹוי‪-‬יֵנְב יֵנְׁש‪ֹ-‬וא םיִרֹת יֵּתְׁש אָטָח רֶׁש‬ ‫תֶא איִבֵהְו‪--‬הָנֹוי‪-‬יֵנְב יֵנְׁשִל ֹוא ‪,‬םיִרֹת יֵּתְׁשִל ֹודָי גיִּׂשַת אֹל‪-‬םִאְו אי‪,‬ה }ס{ ‪ֹ.‬ול חַלְסִנְו ‪,‬אָטָח‪-‬רֶׁשֲא ֹותאָּטַחֵמ ןֵהֹּכַה ויָלָע רֶּפִכְו ;טָּפְׁשִּמַּכ ‪,‬הָלֹע הֶׂשֲעַי יִנֵּׁשַה‪-‬תֶאְו י‪,‬ה ‪.‬אּוה ‪,‬תאָּטַח ;ַחֵּבְזִּמַה דֹוסְי‪-‬לֶא הֵצָּמִי ‪,‬םָּדַּב רָא‬‫‪,‬ה ‪.‬אוִה ‪,‬תאָּטַח ;הָוהְי יֵּׁשִא לַע ‪,‬הָחֵּבְזִּמַה ריִטְקִהְו ּהָתָרָּכְזַא‪-‬תֶא ֹוצְמֻק אֹולְמ הָּנֶּמִמ ןֵהֹּכַה ץַמָקְו ‪,‬ןֵהֹּכַה‪-‬לֶא ‪ּ,‬הָאיִבֱהֶו בי‪,‬ה ‪.‬אוִה ‪,‬תאָּטַח יִּכ‪--‬הָנֹבְל ָהיֶלָע ןֵּתִי‪-‬אֹלְו ‪,‬ןֶמֶׁש ָהיֶלָע םיִׂשָי‪-‬אֹל ;תאָּטַחְל ‪,‬תֶלֹס הָפֵאָה תִריִׂש‬

‫‪O encontro entre os costumes‬‬ ‫‪judaicos e soteropolitanos‬‬

‫‪14‬‬


Adele Audisio/Labfoto © 2014

PLURALISMO JUDAICO Embora existam diferenças entre as vertentes religiosas, ambas são legítimas no que se refere à tradição judaica. Entre centenas de mandamentos da Torá - livro sagrado - e do Talmud - tradição oral que funciona como código de conduta -, cada comunidade e pessoa preservam os costumes de maior representatividade para si. Na tradição religiosa ortodoxa, apenas é judeu um filho de mãe judia ou convertido por um tribunal de rabinos, enquanto para outras vertentes, como a reformista, pode se considerar judeu quem partilhe hábitos da comunidade, mesmo sem frequentar as rezas nas sinagogas. Assim esclarece o rabino da comunidade reformista, Uri Lam, 44, “o judaísmo não é só uma religião, esse é um aspecto do judaísmo”. Contratado pela comunidade, Lam não só gere o serviço religioso como também desempenha o papel de liderança comunitária. O judaísmo, sobretudo, incorpora outros traços culturais, como o domínio de expressões em hebraico ou a celebração de datas comemorativas judaicas - baseada num calendário próprio, diferente do cristão. “Tudo isso anda junto. Alguns mais, outros menos ou até nada praticantes. O radialista Mário Kertész é judeu e não segue no dia a dia o estilo de vida judaico, mas no Dia do Perdão (Yom Kipur), ele vem e diz querer ser enterrado no cemitério Israelita”, reitera. O shabat, por exemplo, é o período entre o pôr do sol da sexta e do sábado que sugere o mínimo de esforço possível. Dirigir, carregar peso ou até segurar um guarda-chuva em um dia chuvoso, são atividades contraindicadas, mas cada um lida com a recomendação a seu modo. Assim também funciona com a alimenta-

Uri Lam, líder da Comunidade Reformista, é o primeiro rabino brasileiro a atuar em Salvador ção, que ultrapassa a função nutritiva e compõe um modo particular de entender e seguir a vida. A chamada comida kasher se baseia em passagens da Torá e sua preparação deve ser assistida por um rabino, que certifica se está própria para o consumo e se os princípios religiosos foram seguidos, como evitar o sofrimento do animal abatido. A cultura judaica é caracterizada ainda pela diferença na noção do tempo. Enquanto a cultura cristã segue o calendário gregoriano - situado em 2014 d.C. -, no judaísmo o ano atual é 5775. As festas judaicas não coincidem necessariamente com as datas comemorativas soteropolitanas ou brasileiras. O ano novo (Hashaná), por exemplo, ocorre entre setembro e outubro. Os judeus usam os dois calendários para manter suas práticas religiosas e, ao mesmo tempo, as atividades civis, como trabalho e estudo.

INTERCESSÃO CULTURAL Para os adeptos da religião, instalada na cidade há décadas, ainda é difícil manter hábitos culturais, como a alimentação kasher. Por Salvador não dispor de restaurantes ou lojas especializadas em alimentação judaica, Israel Bukiet, 35, rabino ortodoxo, explica: “alguns alimentos acabam sendo preparados em casa, como o pão e a carne”. No entanto, há casos em que é necessário importá-los de São Paulo - onde há a maior comunidade judaica do país.

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Ori Elnek

Grupo de Capoeira Menino Bom aproxima duas culturas separadas pelo oceano

No entanto, a alimentação kasher possui alternativas em Salvador, como faz Rebecca Bukiet, esposa do rabino. Ela aproveita a disponibilidade de alimentos naturais na cidade e adapta a dieta da família. Como carnes, leite e outros produtos de origem animal exigem mais atenção no preparo kasher, acrescenta-se mais frutas, verduras e grãos. O rabino esclarece: “tudo natural é kasher” e, inclusive, a quiabada baiana é um dos pratos que agrada a família. Mas nem sempre é possível adaptar as tradições religiosas à dinâmica social da cidade. Algumas empresas ou escolas não aceitam que judeus se ausentem no shabat, por exemplo. “Eu tenho uma amiga na comunidade que não ia às aulas sexta à noite e a sua faculdade não flexibilizou”, lembra Lam, sobre uma judia reprovada em uma disciplina, mesmo com a instituição de ensino ciente de suas convicções religiosas. Outro caso que envolve o judaísmo e a rotina da cidade diz respeito a uma das características da comunidade ortodoxa. “Quando estourou a greve da Polícia Militar aqui em Salvador, o rabino soube por mim. Ele pouco se comunica com a comunidade”, expõe Rodrigo Nolasco, 37, secretário da Beit Chabad, sobre o hábito do rabino de não assistir a programação local. Embora ortodoxos mantenham certo distanciamento com a cultura local, a marca da Beit Chabad pode simbolizar

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os brasileiros são calorosos como o povo em israel idan shahadi

a aproximação entre as culturas ao unir o candelabro - que representa a chama vista por Moisés - com o Farol da Barra - cartão postal da cidade, que é também referência para turistas israelitas. A recente homenagem a Irmã Dulce, beata católica conhecida pelo trabalho filantrópico, é outro exemplo de aproximação do judaísmo com o universo simbólico-cultural da cidade. Ela foi homenageada pela SIB na cerimônia em memória ao holocausto por lembrar, segundo Lam, pessoas que ajudaram judeus, independentemente da crença. Como símbolo dessa homenagem, uma instituição israelense foi contratada e 12 árvores foram plantadas em memória da beata baiana em um local chamado Bosque Brasil, há 40km de Jerusalém. “Para sempre haverá árvores em homenagem a Irmã Dulce plantadas em Israel.”


ALÉM DAS FRONTEIRAS

DUAS LÍNGUAS, UMA MÚSICA

A composição da cultura judaica envolve aspectos além dos religiosos. Em Israel, por exemplo, há grupos de capoeira que incentivam visitas a Salvador, Fortaleza e São Paulo, para trocas culturais. “Como Jerusalém é para mim, Salvador é para a capoeira”, revela Idan Shahadi, 30, judeu e instrutor de capoeira do grupo Capoeira Menino Bom - com cerca de 150 alunos e sede em Ramla, cidade israelense. Shahadi, ou Instrutor Peito, como é conhecido pelos brasileiros, é formado em fisioterapia, mas prefere rodas de capoeira, das quais participa desde os 15 anos. O primeiro contato com o esporte aconteceu em Israel. A capoeira no país ganhou força em 2008 e atualmente há diversos grupos que ensinam ou praticam o esporte. Para Shahadi, a capoeira jogada em Israel é diferente da vista no Brasil. Ele destaca que a capoeira soteropolitana se assemelha com a capoeira angolana, que tem como característica a matriz cultural africana.

Shahadi também lembra que, além das rodas de capoeira, em Israel é comum encontrar pessoas e festas brasileiras com músicas e danças típicas do país. Nessas festas, Noa Peled, 39, conheceu a música brasileira enquanto servia ao exército. “Era uma grande festa, havia vários ritmos como forró, samba e capoeira”. Noa se interessou por esses gêneros musicais e se dedicou a aprender o português sozinha a partir deles. “Comecei com os ritmos da Bahia como Olodum e Timbalada, depois Gal Costa e Caetano”. Durante dois anos fez cursos de português em Israel, e em 2003 visitou o país pela primeira vez. “Quando fui visitar o Brasil já havia dez anos de música brasileira em mim”.

A capoeira israelense, no entanto, aproxima-se ao estilo de capoeira regional, caracterizado por movimentos novos, se comparados à angolana, e têm elementos das artes marciais. Embora costume frequentar mais as rodas da capoeira paulista, que segue o estilo regional, ele reconhece a importância de Salvador e do Brasil como fonte de aprendizado e inspiração. O capoeirista , que já veio ao Brasil cinco vezes e visitou a capital baiana em quatro delas, lembra de suas impressões sobre a cidade e das semelhanças entre os países: “Os brasileiros são calorosos, como o povo é em Israel”.

A música e o contato com músicos brasileiros e israelenses, tanto em Tel Aviv, terra natal, quanto no Brasil, a aproximou mais do país. Noa passou a cantar músicas brasileiras e, logo em seguida, a fazer versões para o hebraico que vão do samba à bossa nova.

Sigalit Mehaber

O ritmo brasileiro com letras em hebraico é também uma forma de aproximar os israelitas à cultura do Brasil. “Muitas pessoas acham que a música que eu traduzi para o hebraico é nova, mas é uma versão da brasileira. Os israelitas acabam conhecendo a música brasileira por mim”, explica. Embora não viva apenas das apresentações musicais - é educadora ambiental e infantil -, Noa lançou o seu primeiro CD em 2013 de forma independente e se apresentou no Brasil em 2014. No país cantou músicas em hebraico e português, mas em Tel Aviv tem preferência por versões em português.

Noa Peled canta a mesma música em duas línguas

Pouco tempo após sua última viagem, comparou Salvador à sua terra natal. “O calor [da cidade] é parecido e o calor humano também. Sempre vou querer voltar, mesmo com a minha vida aqui”. Noa pretende gravar novas músicas e retornar ao país pela quarta vez. Ela, assim como Shahadi, se aproxima de Salvador na fronteira cultural entre o Brasil e Israel. n

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Afrosinfonia que vem da

Bahia

Essência, sonoridade e estética da Orquestra Afrosinfônica da Bahia

texto Lorena Morgana e Luciano Marins fotos Milena Abreu/Labfoto

Formada em 2008 pelo diretor artístico e maestro baiano Ubiratan Marques, a Orquestra Afrosinfônica da Bahia já gravou dois CDs e mescla arranjos africanos e instrumentos regionais em sua sonoridade. O Pelourinho, no Centro Histórico de Salvador, foi o lugar onde tudo começou. Ubiratan, mais conhecido como Bira, criou o Núcleo Moderno de Música com o percussionista e maestro assistente Gilberto Santiago e o centro de estudos musicais possibilitou o ingresso de alunos e músicos interessados na proposta inédita da orquestra em inserir xequerês e tambores no formato erudito. A Afrosinfônica já passou por diversas cidades e costuma ser bem recebida pelo público, sempre no diálogo com a cultura baiana e trazendo uma estética inovadora com o seu naipe de vozes fixo - formado por quatro cantoras -, que se junta aos 21 músicos da orquestra. Ao representar as próprias raízes, sem copiar o modelo europeu, a Orquestra Afrosinfônica da Bahia revela uma personalidade marcada pela valorização da música brasileira.


revista fraude:

Quem compõe e como são elaboradas as peças Orquestra Afrosinfônica? Há contribuições externas? Bira Marques: Nós aceitamos contribuições externas, mas 90% das composições da Orquestra são feitas por mim. Claro que faço os arranjos, pegando uma peça que já está pronta e trazendo para a Afrosinfônica, mas para ter uma identidade é preciso ter um repertório próprio. Nesse caso, o responsável por isso sou eu e espero continuar compondo por muitos anos, porque eu realmente gosto muito de escrever. O motivo para escrever peças, sinfonias e poemas sinfônicos parte de coisas que estão na minha realidade. da

Como é a relação das duas regências na Orquestra? Gilberto Santiago: É interessante porque temos um respeito muito grande um pelo outro. Bira tem uma atitude de regente completamente diferente da minha, mas a gente acaba se completando e compreendemos que cada um tem sua maneira de ser e agir. Então é um trabalho fortalecido pela nossa amizade e que gera aprendizado mútuo.

A Música é invisível, intocável e fica no mundo das ideias UBIRATAN MARQUES

De que forma é pensada a hierarquia e o posicionamento dos músicos da

Quais são as suas principais referências musicais? Bira Marques: Há três pessoas que tenho uma ligação muito forte: Gerônimo, Lazzo [Matumbi] e Mateus Aleluia. Minha vida mudou muito com Gerônimo, pois toquei com ele por quase 20 anos e aprendi bastante. Eu e Lazzo tocamos um ano juntos e tenho seu timbre de voz como referência. Já Mateus Aleluia é quem chamo de pai musical. Gilberto Santiago: Difícil de falar. Vou resumir em três coisas. Uma grande referência é o meu pai, Messias Santiago, que sempre respeitou todo tipo de música e isso me influenciou. Outro pilar muito importante é a Universidade Federal da Bahia, pois aprendi muito nessa escola. O terceiro pilar é Salvador; nascer numa cidade que tem uma riqueza musical e me fez entrar em contato com músicos maravilhosos. Além de ser músico, você estudou Filosofia. Quais as contribuições que essa formação trouxe para o seu perfil como

Orquestra? Bira Marques: Não abandonei a Filosofia. Até hoje estudo e não me refiro só à academia, mas à literatura transcendental, como as obras Bhagavad Gita, Dhammapada, o Alcorão e a Bíblia. No meu repertório não faltam Platão, Artistóteles, Nietzsche e outros. Aliás, considero-me um admirador do trio “PPP”: Platão, Pitágoras e Plotino. Parece que a música e a arte estão dentro dos filósofos. Eu vejo a música sob uma ótica muito platônica: a música é invisível, intocável e fica no mundo das ideias, até que você a coloca para fora e a traz para o mundo dos sentidos. maestro da

De baixo para cima: Nara Couto, Ubiratan Marques, Renata Pitanga, Tâmara Pessôa e Gilberto Santiago

Afrosinfônica no palco? Bira Marques: É bastante parecido com a orquestra tradicional, que tem uma mixagem natural, na qual os instrumentos que têm pouca potência ficam na frente e os que têm mais potência ficam no fundo. Primeiro as cordas, como os violinos, depois as madeiras [flautas e clarinetes], os metais e a percussão. A diferença é que não utilizamos cordas, apenas contrabaixo. Como funciona o planejamento e a rotina do grupo? Bira Marques: Tentamos fazer um planejamento anual. O que traçamos ano passado, por exemplo, foi a gravação de um disco [Branco]. Já o deste ano é o lançamento dele, com uma estética totalmente diferente, buscando mais referências do Oriente Médio do que da África. Ensaiamos todas as segundas-feiras e seguimos um esquema do que queremos atingir. Uma orquestra comum costuma ensaiar três vezes na semana, e temos apenas um dia. Tudo é seguido com muita disciplina.

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Apresentação da Orquestra Afrosinfônica da Bahia durante o projeto Vozes Negras no Espaço Cultural da Barroquinha

Dificilmente vemos uma orquestra cujo naipe de vozes seja fixo. Por que a Afrosinfônica optou por essa forma? Tâmara Pessoa: A intenção de Bira foi apresentar um diferencial. Além de outros instrumentos percussivos como os atabaques, que foram incluídos na orquestra, ele decidiu usar o canto como instrumento. Temos um naipe de vozes que executa músicas em dialetos africanos e também faz parte do conjunto. O naipe está presente desde a primeira formação da Afrosinfônica, com Aiace Félix [vocalista no grupo Sertanília] sendo chefe dele. Depois da sua saída, ela me indicou para assumir o cargo. Um dos quesitos que mais chama atenção no conjunto é o figurino, principalmente o das cantoras. Quem é responsável pelo figurino e qual a sua ideia? Tâmara Pessoa: O figurino é padrão, não muda de acordo com a apresentação. Dayane Sena - como produtora e também diretora artística - e Bira indicaram Mônica Anjos [figurinista], explicando para ela a concepção da Orquestra. Bira Marques: A ideia do figurino é misturar o clássico, a formalidade dos paletós dos músicos, com os elementos da cultura afro - os vestidos, joias e maquiagem das meninas -, além da faixa de estampa étnica trazida da África por mim, que fica por cima da roupa dos músicos. O nosso próximo figurino, também desenhado por Mônica, é inspirado no trabalho de “Branco”, vai sair um pouco do dourado com vermelho e chegar ao branco com o prateado.

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Como são elaboradas as coreografias para as suas apresentações na Afrosinfônica? Nara Couto: É totalmente improviso. A única coisa que faço é mentalizar uma energia. Sou do candomblé e tenho algumas energias dentro da religião que fazem parte do meu cotidiano. Antes do solo, sempre penso em uma delas para me acompanhar, então nunca estou sozinha. Realizo movimentos mais contemporâneos que remetem a essa essência. Qual a sua visão sobre o cenário da música sinfônica para a mulher na

Bahia e no Brasil? Renata Pitanga: Vejo poucas mulheres nas orquestras, principalmente negras. Então ainda é algo muito fechado. Aqui temos vozes femininas e sou a única musicista do grupo. Mas o número de orquestras hoje é maior do que antes e isso faz com que as possibilidades aumentem.


A Igreja da Barroquinha, um dos símbolos de sincretismo religioso de Salvador, é o local onde a Orquestra está instalada ultimamente. Qual a ligação que o grupo tem com o espaço? Bira Marques: Fomos tocar uma temporada lá e deu certo. A princípio, estávamos pensando em montar uma residência para nós, mas depois da reforma não escolhemos, fomos escolhidos para estar na Barroquinha (risos). Em relação ao sincretismo, principalmente no que diz sobre o caráter sagrado do local, 80% da Orquestra tem esse pensamento circular, essa crença na ligação espiritual com a energia do espaço. Quando Allah, Oxalá, São Joaquim e Buda aparecem em nossos concertos, temos liberdade e sinceridade ao tratar sobre isso, porque realmente acreditamos naquilo que estamos representando. Qual a maior contribuição da Orquestra Afrosinfônica para o legado cultural do estado? Gilberto Santiago: A gente valoriza muito a cultura e a arte local, a essência da música através das composições de Bira e a qualificação dos nossos músicos, que são profissionais que entendem a linguagem rítmica afro-baiana e afro-brasileira. É um papel grandioso que Bira faz como compositor, não só para a música da Bahia, mas para a música brasileira sinfônica. Não podemos viver num país rico como o Brasil dando as costas para a cultura nacional.

Nara Couto é formada em Dança pelo Balé Folclórico da Bahia

FICHA TÉCNICA - ORQUESTRA AFROSINFÔNICA Ubiratan Marques de Souza (Maestro e Diretor Artístico) - Bruno Nery dos Santos (Trombone e chefe do naipe) - José Danilo C. Martinez (Trombone) - Renata Pitanga (Clarinete) - Raquel Monteiro (Cantora) Tâmara Massaranduba Pessôa (Cantora e chefe do naipe) - Nara Lúcia Couto (Cantora) - Vinicius Santos Freitas (Sax barítono, flautas e chefe do naipe de madeiras) - Nerisvaldo Gomes dos Santos (Sax tenor) - Léo Couto (Sax alto e flauta) - Gilberto Gil da Silva Santiago (Maestro assistente, percussão e chefe do naipe) - Jeison Wilde de Jesus Queirós (Percussão) - Heliomar Cardoso dos Santos (Percussão) - Lucas Vieira Pereira (Percussão) - Marcelo Souza Santos (Percussão) - Rogerys Machado Santos (Trompete) - Mateus Aleluia Lima (Trompete e chefe de naipe) - Everaldo do Espírito Santo e Santos (Flugel) - Angelo Roberto da Silva Santiago (Contrabaixo acústico e chefe do naipe) - Marcus V. M. Sampaio (Contrabaixo acústico) - Nilton Vieira (Músico flauta) - Levi Maia (Músico Sax) - Itana Rosa (Cantora)

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CINEMAS

Em situação de rua A Era de Ouro e o declínio dos cinemas de rua de Salvador texto Diego Yu e Vinicius Gericó fotos Ananda Ikishima/Labfoto


Assistir a filmes no cinema, para os que nasceram depois dos anos 90, é uma experiência marcadamente vinculada às salas localizadas em shopping centers. Para os nascidos até a década de 1980, no entanto, a lembrança é outra. As salas de cinema nas ruas de diversos bairros, mesmo após o surgimento da televisão, ainda eram a única forma de se ver filmes fora de casa. Desde 1975, com a construção do Shopping Iguatemi, e a inauguração, no mesmo local, do primeiro sistema de salas Multiplex de Salvador, em 1998, esses lugares passaram gradualmente a concentrar a maior parte das salas e do público dos cinemas. Entre os anos 30 e 70, porém, a cidade viveu a era de ouro dos hoje chamados cinemas de rua, antes apenas cinemas. Dessa época restam as lembranças dos frequentadores, diante das estruturas em ruínas ou lacradas com paredes de concreto e tapumes de madeira. Atualmente, apenas três dos mais de 20 antigos cinemas de rua distribuídos pela cidade ainda estão em funcionamento: o Cine Guarany - inaugurado em 1919 e renomeado para Cine Glauber Rocha em 1982 - hoje funciona como Espaço Itaú de Cinema Glauber Rocha; Tupy, inaugurado em 1956, e Astor, de 1953, sobrevivem exibindo exclusivamente filmes pornográficos. Os outros, espalhados pelos bairros da cidade, como Cine Bahia, Brasil, São Jorge, Nazaré, Tamoio, Aliança, Capri, Liceu, Glória, Excelsior, Jandaia e Pax, foram fechados. Em frente ao Cine Excelsior, Aurelino Conceição, 57, ambulante, que costumava frequentar as salas do Centro, relembra o tempo em que o cinema ainda funcionava: “Fazia fila, tinha até cambista”.

NA BAIXA, EM BAIXA Na região do Centro, as atividades comerciais, administrativas e bancárias contribuíam para manter as pessoas nas ruas. Quase metade dos cinemas estava ali: 11 dos 23 existentes na cidade. Ir aos cinemas era ir ao Centro. Na Av. J.J. Seabra, no bairro da Baixa dos Sapateiros, está o Cine Tupy, único restante dos três cinemas do bairro. Mesmo com o público numeroso que recebia, o Tupy teve de recorrer, há mais de três décadas, à exibição de filmes pornográficos para continuar aberto. O ingresso é válido para as duas sessões diárias, e alguns clientes passam a tarde inteira lá. Moradores e comerciários da região apresentam desconforto em comentar sobre o local, conhecido por ser ponto de prostituição e encontros sexuais. Funcionários do estabelecimento não aceitaram falar sobre o assunto, mas os trabalhadores próximos, que pediram para não ser identificados, descrevem o público do Tupy: “Geralmente são homens gays. A média é de 100 a 150 pessoas por dia”, afirma um ambulante, no local há cerca de 20 anos. “Quem quer ir ao cinema hoje vai ao shopping, lá tem segurança e conforto. No Tupy é para outros objetivos”, conclui. Embora o local seja descrito de maneira negativa pelos comerciantes da região, “nada disso interfere no movimento das lojas e do comércio informal”, relata o dono de um estabelecimento vizinho.


Mais adiante, ainda na J.J. Seabra, está o Cine Theatro Jandaia, inaugurado em 1911, que já foi conhecido como “Palácio das Maravilhas” e recebeu apresentações de Carmen Miranda e Pablo Neruda. Hoje o Jandaia está em ruínas e sem previsão de reformas, mesmo com as obras de requalificação do bairro. Manuel da Silva, 54, comerciante de uma loja ao lado, lembra que a obra de requalificação da Baixa dos Sapateiros irá abranger apenas a calçada e iluminação. “Se ele fosse reformado, poderia até trazer mais movimento à região, mas não como cinema, talvez como um centro cultural.” No entanto, segundo a Companhia de Desenvolvimento Urbano do Estado da Bahia (Conder), o prédio é propriedade privada e, portanto, o projeto não o inclui. Próximo ao Jandaia está, com seu nome em um imponente letreiro, o prédio do Cine Pax, que atualmente pertencente à ordem católica Franciscana. Construído há mais de sete décadas, permanece fechado. Segundo a comunidade Franciscana, ainda não há projetos para uso do espaço nem previsão de reformas, apesar de a fachada ter sido recentemente pintada para a Copa do Mundo.

DE ARTE, DE RUA Iniciativas têm se destacado para tentar restaurar o hábito de frequentar os cinemas de rua, como a reabertura do Cine Glauber Rocha em 2008, dez anos após seu fechamento. O espaço une programação similar às dos multiplexes à exibição de filmes menos comerciais e a projetos como o Panorama Internacional Coisa de Cinema e o Cineclube Glauber Rocha. O Festival de Cinema Francês Varilux, em Salvador desde a estreia nacional em 2010, é outra iniciativa. Da primeira edição à de 2014, o festival alcançou crescimento de 200% do público, com mais de dois mil espectadores. A exibição de obras alternativas às ofertadas pelas salas dos shoppings é o atrativo para uma parcela do público que deseja outro tipo de cinema. Associadas a essa ideia, estão às salas do Circuito SaladeArte, únicos cinemas de rua surgidos após os anos 2000 em Salvador. O circuito existe há 14 anos e possui atualmente quatro salas de exibição. Para Marcelo Sá, diretor do grupo, quem deve dar sustentabilidade à existência da sala são as pessoas que transitam pela rua em que

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O declínio das salas de cinema de rua está ligado ao declínio da cidade André Setaro

está instalada. “Se alguém passa pela porta e não entra, há algo estranho no diálogo com os moradores”. A influência para o surgimento do Circuito Saladearte veio, em parte, de um dos extintos cinemas de rua de Salvador, as salas Art 1 e 2, no Politeama. “Os filmes de Woody Allen e Almodóvar, que mesmo quem não assiste filme de arte reconhece, víamos sempre no Art”, explica Sá. No entanto, ele ressalta: “O cinema de rua sempre foi comercial. Esse cinema mais ‘cult’ começou com a gente. O Art fazia isso, mas não passava só filme de arte. Passavam casualmente, mas era comercial.”


Apesar do público frequente e diverso, Sá ressalta que as Salas de Arte enfrentam dificuldades para se sustentar, por estarem na rua e exibirem filmes externos ao circuito comercial. “Sucesso não significa dinheiro, né?”, brinca o diretor, que também destaca a importância em capitalizar recursos e apoio de instituições: “Todo projeto cultural precisa de patrocínio, e, como ele é cíclico, sempre buscamos novos recursos, para sustentar aquilo que era inicialmente utopia.”

DA RUA À SARJETA Os anos 70 marcaram o declínio das salas de rua em Salvador, quando os shoppings começaram a concentrar os serviços, inclusive os cinemas. “O declínio das salas de cinema de rua está ligada ao declínio da cidade, do ir e vir nela”, explicou André Setaro (IM) crítico, estudioso e frequentador dos cinemas de rua. “O cinema de rua ficou desinteressante na hora que o modelo americano de shopping, o Multiplex, deu certo lá nos EUA. Os empresários daqui notaram que as salas de cinema de rua não tinham segurança e também apostaram nos cinemas nos shoppings”, conclui Marcelo Sá. O Cine Tupy, acima, há três décadas sobrevive exclusivamente com a exibição de filmes pornográficos. Abaixo, o Cine Excelsior, que recebia um público mais velho e de maior poder aquisitivo e teve seu auge entre as décadas de 30 e 50

Além das mudanças na cidade, o crescimento do acesso à TV, o surgimento do VHS - mais tarde substituído por DVD e Blu-Ray - e a internet foram fatores que contribuíram para o enfraquecimento dos cinemas de rua. O espectador não precisava mais sair de sua casa para assistir a um filme, os cinemas não tinham mais o monopólio da exibição. E entre transporte, ingresso e alimentação, ir ao cinema se tornou um passeio caro demais para alguns. Com os anos 80 mudou também o modo de as pessoas ocuparem os espaços da cidade. Hábitos como caminhar nas ruas se transferiram para lugares fechados, devido, entre outros fatores, à falta de segurança. “Algo que está relacionado ao cinema de rua, mas também à cidadania, é que quando você vai em lojas na rua, a vivência é outra. Atravessa, caminha, acaba vendo tudo que está relacionado ao poder público e passa a exercer uma opinião sobre o que viu. É diferente de caminhar no shopping”, acrescenta Sá.

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A ERA DE OURO Nas fachadas, painéis ilustravam as estreias da semana e as próximas atrações. As filas acumulavam pessoas de diferentes classes sociais. Era uma forma de arte e lazer acessível à boa parte da população. “O cinema era um grande veículo de massa”, lembrava André Setaro (IM). Eram nas tardes de segunda-feira que Aurelino Conceição e seu grupo de amigos, jovens ambulantes do bairro de Pernambués, frequentavam o cinema. “Às vezes íamos a mais de um cinema na mesma tarde”. Ele lembra que o Jandaia, embora nem sempre pedisse documentos para entrar, restringia o acesso pelo uso de sandálias. “A gente entrava com o sapato de um e o passava pela janela para todos entrarem. Lá dentro assistíamos aos filmes de sandália”. Em tela, sempre filmes de ação. Geralmente faroestes, como Django, ou filmes de artes marciais, como os de Bruce Lee. Cada sala tinha suas particularidades. O Cine Capri, no Largo 2 de Julho, por exemplo, trazia na decoração elementos da cultura ita-

Se alguém passa pela porta e não entra, há algo estranho no diálogo

Marcelo Sá

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liana. O Art 1 e 2 era decorado com grandes painéis pintados, de acordo com os filmes em exibição. O Cine Bahia, na Carlos Gomes, era conhecido pela elegância e por ter uma sala só para fumantes. Muitos cinemas tinham um espaço de espera, onde ficavam, inclusive, as crianças que não podiam assistir a determinados filmes. Ir ao cinema significava escolher não só o filme, mas o próprio cinema. O ambiente diferente criava uma atmosfera própria e os espectadores se relacionavam também com o espaço. “A ponto de eu conseguir ligar um filme ao local onde o assisti”, lembrou Setaro. As diferenças sociais também eram visíveis. “A diversão da gente era o cinema, tanto do pobre quanto do rico. Mas a diferença de preço era grande, sempre houve. O pobre não ia para o cinema de elite”, relembra

O Cine Pax foi inaugurado na década de 50 e está fechado há quase 20 anos. As cadeiras e a tela, uma das maiores do Brasil, foram retiradas. Hoje, após litígio com os antigos donos, pertence à comunidade da Ordem Primeira de São Francisco


Estudava próximo ao Jandaia, então ia para o Pax, que era mais longe da escola neide da silva

Conceição. Cinemas mais caros, como o Excelsior, tinham bancos estofados, enquanto os mais populares, como o Pax, tinham bancos de madeira e apertados. Na porta do Cine Pax, Neide da Silva, 58, vendedora de bonecas artesanais, relembra quando tinha 15 anos e faltava aulas para ir ao cinema. “Estudava próximo ao Jandaia, então ia para o Pax, que era mais longe da escola”. A lista de filmes se assemelhava aos vistos por Conceição: “filmes de bang-bang e de karatê. Quando virou pornô, parei de ir”, lamenta. As grandes filas são uma lembrança: “tinha muito público e dava muitas filas, como no período da Semana Santa, que lotava com a exibição de filmes bíblicos”. Lembrase de um soldado, porteiro do PAX: “eu paquerava ele e podia entrar de graça no cinema”. Cherryes Alvarez, 43, que hoje trabalha na esquina do Pax como vendedor, lembra-se de sua adolescência no local, já no início do seu declínio, quando já recorreria à exibição de filmes pornográficos: “eu vinha sozinho e via as duas sessões, a do filme de ação e a pornô.” A estrutura do Pax, que já foi considerada uma das mais modernas da cidade, também é

O Espaço Itaú de Cinema Gláuber Rocha foi inaugurado em 1919 como Cine-Teatro Guarany. Rebatizado para Gláuber Rocha em 1982, foi fechado em 1998. Em 2009 foi reaberto como parte da rede Unibanco, hoje Itaú, de cinemas

parte das lembranças: “tinha poltronas de madeira, sem estofado, como no Jandaia, e eram muito próximas umas das outras. Mas era um dos melhores. A acústica era muito boa, e a tela era uma das maiores do Brasil. Penduravam um painel enorme na fachada com as estreias.” Do lado de fora, os seguranças bem vestidos e a bilheteria. Na sala escura, o lanterninha, pipoqueiros, baleiros – com seus chapéus que lembravam os de policiais – e projecionistas chamavam a atenção das pessoas e brincavam com a imaginação das crianças. “Havia magia nos cinemas de rua, naquele ambiente e nas pessoas. Eu queria ser porteiro de cinema quando pequeno”, ria Setaro. As chamadas avant-premières, primeira exibição de um filme nos cinemas, eram eventos sociais. Diretores, atores, celebridades ou personalidades da sociedade baiana da época compareciam bem vestidos e acompanhados. Nos dias seguintes,

os jornais repercutiam nas colunas sociais as impressões sobre convidados e a estreia, mais até do que sobre o filme. As idas ao cinema movimentavam a cidade. A experiência e lembrança de cinema na rua, para os que viveram os seus chamados anos de ouro, hoje é tratada com nostalgia. De muitas salas ficaram apenas as ruínas e as lembranças. O Cine Capri foi tomado por um incêndio, o Cine Bahia e o Art viraram igrejas. Pax, Excelsior, Jandaia, fechados e abandonados. A nostálgica Era de Ouro se foi há muito. No entanto, iniciativas como o Glauber Rocha e o circuito SaladeArte sinalizam que os cinemas ainda vivem nas ruas de Salvador não apenas nas memórias de quem os frequentava.

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46 anos em

100 dias

Continuidade ou rompimento do legado deixado pelas edições anteriores?

3ª Bienal de Arte da Bahia: uma história recontada 46 anos depois texto Laís Andrade e Tamiles Alves

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texto Laís Melo e Tamiles Alves


Alex Oliveira

A 3ª Bienal de Arte da Bahia ocorreu entre os meses de maio e setembro de 2014. Durante 100 dias, reuniu mais de 200 obras de artistas nacionais e internacionais em aproximadamente 80 espaços diferentes em Salvador e outras nove cidades do interior do estado, como Alagoinhas e Canudos. Os números indicam a amplitude e ambição do projeto, mas o seu principal destaque foi o caráter histórico na qual essa edição estava inserida. A 1ª Bienal Nacional de Artes Plásticas ocorreu em 1966, por iniciativa de estudantes da Escola de Belas Artes da UFBA que queriam dar visibilidade ao cenário artístico baiano - como Juarez Paraíso, Chico Liberato e Riolan Coutinho. “Naquela época, eu estava morando no Rio de Janeiro, trabalhando na Galeria Relevo, mas sempre matinha contato com Juarez, Riolan e os outros artistas daqui e de São Paulo”, comenta Chico Liberato, 78 anos, artista plástico e cineasta. Após dois anos, em 1968, aconteceu a 2ª Bienal de Arte da Bahia, que durou poucos dias por ter sido acusada de subversão pelo regime militar. Dez obras foram confiscadas e Paraíso ficou preso por quatro dias. “A nossa intenção era realizar um grande acontecimento em Salvador, pois a Bahia sempre teve destaque no panorama de arte em geral. E conseguimos alcançar isso com as duas bienais, ao trazer artistas de outras cidades do país que trabalhavam com arte contemporânea para a Bahia. Artistas como Hélio Oiticica, Lygia Clark, Rubem Valentim”, acrescenta Liberato. A 3ª edição da Bienal demorou 46 anos para acontecer, isso porque mesmo durante o período de redemocratização o projeto esteve à espera de um contexto político favorável, como explica Marcelo Rezende, diretor do Museu de Arte Moderna da Bahia (MAM) e curador-chefe dessa edição. “Os grupos econômicos, políticos e sociais que apoiaram o golpe militar foram os mesmos que tiveram poder na Bahia nas décadas seguintes, então não existia nenhum tipo de interesse em apoiar uma ação da qual eles tiveram participação para que fosse interrompida”. A Bienal buscou construir um elo entre a década de 1970 e a atualidade, ao movimentar o cenário artístico e cultural do estado e ao reivindicar visibilidade nacional. “Essa Bienal teve o importante papel de resgatar a memória das duas anteriores, depois de 46 anos, e também o mérito de criar uma diferença. Ela procurou seu próprio modelo, e não repetir outros”. Comenta Juarez Paraíso, 80, artista plástico e um dos artistas criadores da primeira edição. No seu primeiro dia, a abertura trouxe uma performance que chamou a atenção do público por conter atores e atrizes com os corpos nus. No Largo 2 de Julho, Irisa, 71, e Solange, 68, conversavam sobre a intervenção sem entender exatamente o contexto, “achávamos que era uma procissão”. A ação, segundo a artista e criadora Luisa Mota,

A Bienal é uma porta aberta para a expressão da artes chico liberatto

não era sobre o corpo, mas sobre o sagrado. Rezende comenta que “a Bienal perseguiu, tentando entender uma tradição libertária da Bahia, um certo desejo libertador que passa pela geração dos anos 60, por uma história em torno disso. A pureza do sagrado impõe esse despojar de qualquer elemento, então é por isso que o nu esteve presente”. Divididas em duas temporadas, as exposições ocuparam espaços como museus, galerias, galpões, solares e igrejas espalhadas por Salvador e pelo interior da Bahia. Cada local foi dividido em seções e essas em departamentos. No período correspondente à primeira temporada, por exemplo, o Solar Ferrão, situado no Pelourinho, recebeu dois departamentos do Museu Imaginário do Nordeste. A galeria 2, “Departamento do Pós-Racialismo seção: Áfricas”, a partir de vídeos, fotografias e instalações, especulou sobre o corpo e as questões raciais e étnicas. Uma das instalações que despertou a curiosidade das pessoas foi uma obra composta por peças metálicas, construída em formas geométricas nas cores primárias: azul, vermelho e amarelo, por Almandrade, 61 anos. O artista baiano participou pela primeira vez da Bienal e sua obra ficou como legado para a Praça das Artes da Universidade Federal da Bahia - Campus Ondina, local onde foi hospedada. “A escultura foi pensada para dialogar com o espaço urbano e aproximar o público. Sua função é marcar a paisagem sem desintegrá-la ou causar estranheza”, comenta.

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CONECTANDO O NORDESTE COM O MUNDO

Alex Oliveira

As obras dos artistas nacionais e internacionais tiveram que dialogar com o tema desta edição: o questionamento “É tudo Nordeste?”. A escolha da temática reflete o momento histórico de expansão econômica que a região tem vivido, investigando as novas relações estabelecidas a partir dessa perspectiva. “O Nordeste é uma condição humana, uma expressão que existe no homem em termos da busca dialética com o equilíbrio. Quem diz isso ao seu modo são os artistas através de uma resposta estética e intelectual”, menciona Juarez Paraíso. Juraci Dórea, 70, artista plástico que desenvolveu vários projetos sobre o sertão e o Nordeste durante sua carreira, foi convidado para desenvolver a identidade visual da Bienal. Segundo ele, não foi fácil sintetizar o conceito da Bienal em uma marca ou um projeto gráfico, mas buscou a simplicidade através de rascunhos em um caderno. “Eu acho que o tema é interessante porque coloca o Nordeste como o centro da produção artística contemporânea”, comenta. Na tentativa de fazer com que o Nordeste fosse visto por perspectivas diferentes, esvaziadas dos aspectos negativos que a história registrou - a exemplo da seca, pobreza, falta de infraestrutura das cidades, vida humilde da população - foi pensado em criar o Museu Imaginário do Nordeste. A ação fez com que o público manifestasse suas ideias sobre o que pensa e espera do Nordeste, através de desenhos e conversas, que foram catalogadas pela equipe do Educativo da Bienal. “O Brasil precisa se reencontrar com o Nordeste, e ele de alguma maneira precisa começar a fazer as pazes com o Brasil, deixar de ser visto como um lugar isolado porque o país nasce aqui”, explica Rezende. 1

o brasil precisa se reencontrar com o nordeste marcelo rezende

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1 - Intervenção dos Homens Invisíveis na abertura da Bienal de Arte 2 - Solar do Ferrão, no Pelourinho, recebeu o Museu Imaginário do Nordeste nesta edição da Bienal de Arte 3 - Marcelo Rezende, diretor do MAM e curadorchefe da 3ª Bienal de Arte da Bahia


DA RELAÇÃO PASSADO-PRESENTE Da ideia de memória surgiu o conceito de reencenação, no qual três eventos expositivos foram reconstruídos: “As Bienais da Bahia de 66 e 68”, a Exposição “Cadastro” de Chico Liberato e o Projeto “Bahia no Ibirapuera” de Lina Bo Bardi (1950). “Reencenar significa refazer e criar uma nova versão dos fatos, entrar em contato com algumas potências e possibilidades que estiveram lá atrás e que hoje estão invisíveis”, conta Rezende.

Bruna Castelo Braco/Labfoto © 2014

2 Jessica Lemos/Labfoto © 2014

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A Exposição Cadastro, segundo Chico Liberato, foi remontada porque quando dirigiu o MAM, entre 1979 e 1991, ele teve a intenção de abrir as portas para que qualquer pessoa interessada nas artes plásticas tivesse a oportunidade de expor suas obras, independentemente de ser artista renomado. “O museu ficou aberto para todos os artistas conhecidos e não conhecidos, pois a arte é o meio em que as pessoas se encontram e fazem a união entre o homem e a sociedade”. Outro projeto remontado foi o curso de mediação idealizado por Lica Moniz, inspirado no curso que foi realizado em 1966, que teve como os professores Hélio Oiticica, Mário Pedrosa e, entre os monitores formados, nomes como Renato da Silveira (antropólogo, artista plástico e professor de Comunicação) e Juca Ferreira (ex-ministro da Cultura). Cerca de 450 pessoas se inscreveram na chamada pública para o curso, mas após atividades eliminatórias, menos de 150 saíram formadas. Enquanto nas duas primeiras edições, Riolan Coutinho conseguiu recurso financeiro com seu irmão Alaô Coutinho, secretário de Cultura na época, para reformar o Convento do Carmo e a Lapa, a terceira Bienal ocorreu com o Museu de Arte da Bahia (MAM) em período de reforma. Esse fato também explica a busca de espaços diferentes dentro da cidade para as exposições. Concluída a 3ª edição da Bienal, a expectativa é que a próxima edição aconteça no prazo de dois anos, como o nome propõe. “A Bienal é uma porta aberta para a expressão da arte. Portanto, espero que os órgãos representativos, a Secretaria de Cultura principalmente, reconheçam o trabalho que Marcelo Rezende fez e tenham o interesse de apoiar a quarta edição, para que possamos concentrar na Bahia um grupo de artistas brasileiros de consagração internacional que ajudem o país a pensar novos rumos para a arte”, conclui Paraíso.

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Decifraudando

a cidade

Salvador sob o olhar do cenógrafo Rodrigo Frota texto Matheus Buranelli e Taylla de Paula foto Taylla de Paula/Labfoto

Há 18 anos trabalhando com teatro e seis assinando cenografias, Rodrigo Frota conta com quase 70 trabalhos, entre eles Pólvora e Poesia e Namíbia, não!, além dos premiados Policarpo Quaresma e Salomé. É cearense de nascença e soteropolitano por opção há 12 anos. Desde criança, considera-se muito observador e usa o desenho para criar e conhecer outras realidades. Abandonou o curso de arquitetura da UNIFOR, no Ceará, para estudar interpretação na UFBA, Bahia. Desde a faculdade se aventurava no trabalho de cenógrafo, mesmo como hobby e atualmente ensina na Escola de Teatro da UFBA. Entusiasta do espaço físico, ele nos passa algumas de suas impressões sobre a capital baiana.

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revista fraude:

Qual lugar mais te inspira na cidade?

Rodrigo frota: Minha grande questão com a paisagem urbana é que tudo me inspira. Olho para tudo o tempo todo, a toda hora. Tento não esquecer das coisas diárias, coloco isso como um exercício. Em Salvador, tenho uma relação muito especial com o Porto da Barra, um grande momento que me despertou o olhar foi a primeira vez que pisei lá. Foi um final de tarde quando o sol se pôs e as pessoas aplaudiram, nunca tinha visto isso na minha vida, achei muito teatral, quase um espetáculo. Essa relação das pessoas convivendo de forma harmônica, mesmo com tanta diferença. Todo mundo vive ali de uma forma muito democrática. Fiquei surpreso.

Salvador é cheia de contrastes, inclusive geográficos, como a divisão entre as cidades baixa e alta. Qual o contraste que mais chama a sua atenção?

Qual lugar você transformaria na cidade? Não seria uma transformação, mas talvez uma relação entre dentro e fora, uma relação de privado e público. Se pudesse fazer alguma mudança, ao invés do Carnaval, haveria sete dias no ano para fazer camarotes e colocar obras de arte no meio da rua. Vou aos museus aqui e dificilmente há uma exposição. Sinto falta disso. Faria um Carnaval de arte, mas não performance: só arte pictórica. Transformaria este espaço público em um espaço de degustação, de exposição ao ar livre.

Em poucos lugares no Brasil há uma mistura de raça como aqui. Católico sai de branco e tem todos os santos em casa, é devoto de Santa Bárbara e Yemanjá. Isso parece ser extremamente político e sociológico, mas essas características convivem muito bem juntas. É um traço da cidade. Tem também o famoso verão. Quando vim morar aqui percebi que a cidade realmente vive essa dicotomia entre quando é ou não verão. Ela muda de cara, vira uma espécie de mercadoria a ser vendida. Nessa época tudo fica muito mais caro e todo mundo está te consumindo o tempo todo. Sinto que ela se transforma completamente nesse período e é uma época que não gosto. No outro período, adoro Salvador, acho maravilhosa. Então vivo sempre nessa briga eterna entre odiar e gostar.

Tem uma fotografia de Pierre Verger do porto dos saveiros no antigo Mercado Modelo. Eles ficavam estacionados num cais com as velas amarradas. As pessoas podiam andar por esses saveiros até o meio do mar. Ficavam tão juntos que formavam quase um palco. Seria uma cenografia bacana se isso ainda existisse hoje. Isso que Caymmi cantou tão bem, que Jorge Amado falou tão bem, são imagens da Bahia e até hoje ficam como ícones baianos. Minha cenografia seria essa imagem.

Fundação Pierre Verger ©

Se tivesse que transformar Salvador num cenário, como faria?

Que lugar representa bem a cidade? Salvador é o sincretismo religioso misturado com a natureza. Na festa de Yemanjá, as pessoas invadem a praia para jogar oferendas no mar - que não é nada ecológico, mas visualmente, é muito forte. Tem vários lugares, como a Feira de São Joaquim, próxima ao mar, e o Rio Vermelho, que tem Yemanjá. O Pelourinho também, embora ache um pouco fabricado. Não conseguiria falar um lugar que represente a cidade visualmente. São tantas leituras. Tem a Salvador contemporânea, a religiosa, a mitológica. Tantos olhares podem abordá-la, que é muito difícil responder que Salvador é essa.

Minha cenografia seria essa imagem 33


Uma cidade dentro da feira Os personagens e o cenário que constroem o cotidiano do Feiraguai

Sete da manhã. De segunda a sábado, inicia-se o trabalho para proprietários e funcionários dos 580 boxes do Feiraguai. Localizado em Feira de Santana, a 116 km de Salvador, o espaço é o maior centro comercial do município. O Feiraguai é uma espécie de miniatura da cidade que o abriga. O lugar é um dos motivos para que o comércio se configure como principal atividade econômica do município, segundo Roberto Lima, economista da Câmara de Dirigentes Lojistas (CDL) de Feira de Santana. Além da própria cidade, o mercado abastece outras vizinhas, incluindo Salvador.

texto Nathália Luna e Ygor Bahia fotos Milena Abreu/Labfoto

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As ruas retas que se cruzam entre as esquinas de Feira de Santana se assemelham com os corredores que dividem os boxes do Feiraguai. Sequenciadas em ordem alfabética, os corredores estreitos abrigam todo tipo de produto: roupas, eletrônicos, artigos eróticos, acessórios, perfumes, CDs e DVDs e cachimbos. A exposição da mercadoria ultrapassa os limites dos boxes e se espalha pelas calçadas que cercam o centro e, com isso, funcionam como extensão do comércio. Elas abrigam também vendedores ambulantes que se beneficiam da clientela do Feiraguai.


EM FAMÍLIA Apesar dos preços de aluguel dos boxes se aproximarem dos cobrados em grandes shoppings da capital, as relações estabelecidas entre comerciantes e clientes não são as mesmas. Alguns vendedores ainda mantêm a abordagem herdada do comércio informal e tentam convencer de forma persuasiva os clientes que circulam pelos corredores a adquirirem seus produtos. No Feiraguai, uma negociação de preço pode facilmente resultar numa conversa descontraída e num produto mais barato. A jornada de trabalho de dez horas aproxima os comerciantes, que convivem como numa comunidade. Muitos funcionários almoçam nos próprios boxes para não precisarem fechar a loja. Além disso, é possível encontrar filhos dos proprietários estudando nas lojas, após saírem da escola. Trata-se de uma forma de mantê-los próximos aos pais durante o horário de trabalho. A rádio comunitária, que intercala informes e programação musical, também ajuda reforçar os laços entre as pessoas desta pequena comunidade. Tudo isso colabora para transformar o ambiente de trabalho em uma segunda casa. Paulo Burati, 31, há sete anos trabalhando no Feiraguai, é um exemplo do espírito familiar que caracteriza muitos boxes. Ele foi apresentado à possibilidade de abrir um estabelecimento no lugar pelos irmãos. Hoje possui seu próprio ponto de venda de eletrônicos. Para seu pai, Edivaldo Cajaíba, 73, que acompanha o filho diariamente no trabalho, lá também é ambiente de socialização: “Ao invés de ficar em casa sem fazer nada, venho pra cá, vejo gente jovem, bonita”. Maria da Conceição, uma das primeiras comerciantes a se estabelecer no Feiraguai, também teve seu primeiro contato com a feira através do seu irmão, que, desde o seu surgimento, era proprietário de um ponto de venda de ferramentas. Conceição é auxiliada pela filha, que pretende assumir seu negócio de venda de roupas.

Lima é um dos fundadores da feira

uma negociação de preço pode facilmente resultar numa conversa descontraída e num produto mais barato

O Feiraguai atrai um público diversificado e fiel

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DOIS PESOS, DUAS MEDIDAS Um dos fundadores do lugar, Lima começou com as barracas do Feiraguai há 35 anos vendendo relógios. “Aqui eu conheço tudo: quem é bom, quem é ruim, quem é direito, quem não é…”. Para quem passou pelo processo de reforma e regulamentação do Feiraguai, a situação de hoje é uma conquista. “Quando fazia sol era só poeira, quando chovia era só lama”, relembra o comerciante que agora trabalha com eletrônicos. O pensamento positivo de Lima em relação à situação da feira, no entanto, diverge dos outros comerciante que chegaram há menos tempo. Para quem vivenciou a época das barracas improvisadas, que estavam sujeitas às intempéries do clima e à fiscalização frequente sobre o comércio informal, a mudança da feira só trouxe benefícios, como a formalização de pessoas jurídicas para legalizar o negócios.

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Os benefícios trazidos pela mudança, em 1996, e a fama de vender produtos populares a preços baixos geraram uma procura maior por parte dos clientes. Ivan Carlos Ferreira afirma comprar no Feiraguai todos os dias desde sua inauguração, e justifica: “O preço continua o mesmo”. Com esse chamariz, mais comerciantes foram atraídos para o lugar, que por muito tempo foi grande fonte de abastecimento de muitas cidades do Nordeste. Embora o número de boxes tenha crescido gradativamente, o comércio de São Paulo tornou-se um concorrente pelo aumento da facilidade de acesso a viagens longas. Muitos donos antigos alugaram ou venderam seus espaços para os novos comerciantes, mas alguns proprietários alegam que o preço baixo não tem sido suficiente para manter a clientela. Dona Isabel é um exemplo desses novos lojistas que acabaram se decepcionando. Segundo a comerciante, o movimento com o passar dos anos tem caído consideravelmente, e as vendas em atacado praticamente não existem mais. Os chamados sacoleiros - compradores que revendem os produtos em outros locais - estão em extinção entre o público do Feiraguai, que concentra agora suas vendas no varejo. Maria José Santos, 65, chegou no Feiraguai durante a mudança para o atual logradouro e é responsável pelo último estabelecimento restante de uma antiga praça de alimentação do espaço. Ela destaca as melhorias pelas quais a feira passou, mas afirma: “Hoje,

O comércio não se limita ao espaço dos boxes


Maria José, dona do restaurante do Feiraguai, é uma dos comerciantes insatisfeitos com o retorno financeiro de seus estabelecimentos

Para quem passou pelo processo de reforma e regulamentação do Feiraguai, a situação de hoje é uma conquista o Feiraguai caiu 50%”. Ela alega que o lucro tem sido irrisório diante dos gastos que a manutenção do ponto demanda, e pretende passá-lo adiante assim que possível.

NEGÓCIO DA CHINA Os produtos oriundos da China chegam ao Brasil através do Paraguai, explica Lima. Pela grande variedade de produtos importados de lá, a feira foi batizada pelos frequentadores com a mistura dos nomes de Feira e Paraguai. Junto ao crescimento, os produtos asiáticos ganharam cada vez mais espaço entre os lojistas. Embora alguns comerciantes ainda mantenham produtos de fabricação própria - já que a cidade também é polo industrial -, os importados são os que mais fazem sucesso com a clientela. Focadas no varejo, as lojas de roupas e produtos eletrônicos pipocam a cada esquina das ruas estreitas do Feiraguai, tomando o espaço de antigos boxes de venda de DVDs e relógios, por exemplo.

Graças à fama que a feira ganhou, muitos comerciantes asiáticos começaram a migrar para a cidade em busca do lucro. Com diferentes níveis de fluência na língua portuguesa, é perceptível a dificuldade de alguns para se comunicar, enquanto outros tentam dificultar a conversa para não negociar o valor da mercadoria. Mas o idioma pode não ser o único obstáculo para a comunicação: alguns, mais reservados, preferem não falar com estranhos. Quem costuma auxiliá-los são vendedores contratados, que fazem o que podem - até mímica, às vezes - para conseguir traduzir o que os patrões dizem. Na maioria dos boxes é notável a relação de proximidade dos vendedores contratados com as famílias dos patrões. Muitas vezes, as crianças também são cuidadas pelos auxiliares enquanto os comerciantes repõem as mercadorias. A comerciante Helen Yan - que possui um box no Feiraguai há

mais de cinco anos -, ao contrário dos lojistas mais reservados, é mais comunicativa com os clientes. Yan conta que já trabalhava no ramo antes de se mudar para Feira de Santana. O que atraiu a comerciante e seus colegas, além das vendas, foi a menor jornada de trabalho e concorrência. “Morava em São Paulo e tinha comércio por lá com minha família, mas queríamos uma vida mais tranquila”, conta a comerciante, que conheceu o Feiraguai através dos antigos clientes da capital paulista que compravam na cidade para revender, como ela faz agora. A jornada de trabalho acaba junto com o dia, às cinco da tarde, quando os boxes fecham as portas. A manhã seguinte espera a mesma diversidade de pessoas que costumam circular pelo lugar: freiras e policiais; crianças e adultos; feirenses, soteropolitanos e chineses. Como consumidores ou a trabalho, esses personagens ajudam a construir mais uma parte da história da feira.

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Selo Fraude de Qualidade

Selo Fraude de Qualidade vai às ruas garimpar o melhor brechó de Salvador

texto Nathália Luna fotos Adele Audisio/Labfoto Ilustrações Michelle Vivas

VANA BRECHÓ Nesta edição, o Selo Fraude de Qualidade saiu pelas ruas de Salvador à procura do brechó mais interessante da cidade. O surgimento dessas lojas especializadas na venda de roupas e acessórios antigos é incerto, mas a história mais conhecida sobre sua origem no Brasil data meados do século XIX, quando um mascate chamado Belchior começou a vender roupas e artigos de segunda mão no Rio de Janeiro. Com o passar do tempo, o nome “Belchior” transformouse em “Brechó” e passou a denominar os lugares de venda de itens usados e/ou antigos. A partir da década de 1970, o mercado dos brechós começou uma mudança gradativa. Inicialmente constituído por pessoas com baixo poder aquisitivo, o público diversificou-se e atingiu, principalmente, aqueles que procuram algo único para compor o estilo pessoal ou a decoração de casa. Com o estilo vintage em evidência atualmente, a procura por “achados” nos brechós aumentou consideravelmente, assim como o número de lojas do ramo. A Macaquicha não perdeu tempo e foi à procura do melhor brechó da cidade para poder se vestir bem a preço de banana!

Se quiser aproveitar o horário de almoço para ir ao Vana Brechó, nem se empolgue: inacreditavelmente, o brechó fecha às 12h e só abre depois das 14h! Embora a variedade de peças seja pequena e existam poucos artigos com ares de relíquia na loja, há uma gama de marcas conhecidas entre as araras e é possível provar a roupa na loja. O ponto forte é a localização de fácil acesso, em frente ao Mercado do Peixe, além do bom atendimento. O preço, em geral é bastante em conta, variando entre R$ 15 e R$ 80, a depender da marca e do estado da peça. Rua Oswaldo Cruz, 2, Rio Vermelho

Nota: 3

RIOCHEL

Praticamente em frente à Praça da Piedade, ele chama a atenção por dois fatores: seu tamanho e o preço. Em cartazes, que podem ser vistos por quem passa do outro lado da rua, estão estampados os valores de R$ 5 e R$ 10 dos balaios que ficam na frente do brechó. Se o preço baixo pode causar desconfiança em relação à qualidade, não tenha medo. Dentro da loja há uma maior variedade de itens e valores. Mas não espere pelo vendedor - achar um disponível é mais difícil que encontrar uma roupa histórica no local -, muito menos para provar a roupa, pois não há provador. Pelo custo/benefício, o Riochel atrai muitos artistas, principalmente os figurinistas, que procuram o brechó para compor seus trabalhos. Avenida Sete de Setembro, 125

Nota: 2,5

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NUGARD

BRECHOLÊ

Ao entrar no brechó, a primeira impressão é que lá habitam os achados mais vintage possíveis. Primeira impressão que não fica. A ambientação tem o toque retrô, mas as peças de roupas nem tanto, a maioria do acervo é bastante atual e contém peças exclusivas das últimas coleções de estilistas baianos. O charme do local fica por conta do conceito do Nugard - a nudez (mostrada nos quadros) e os jardins -, que está impresso nos mínimos detalhes, desde a localização até a decoração com mesinhas de jardins na ampla entrada da loja. Com seções feminina e masculina, o destaque está nos acessórios de ambas as partes e também nos itens de decoração. Tudo que pode ser visto no brechó está à venda.

Sabe o brechó especial para achar marcas internacionais com o preço mais em conta? É o Brecholé. A loja reúne marcas como Gap, Zara e Forever 21 com o preço equivalente aos dos fast-fashion, todas bastante atuais. Aliás, esse é um critério para a construção do acervo, que conta com peças comuns a qualquer outra loja que não seja um brechó. É preciso que as roupas estejam de acordo com as tendências da estação, ou seja, o Brecholé não é o lugar onde se encontrará peças raras ou com história, um ponto fraco para o brechó. Mas um forte diferencial é a presença online do Brecholê, que vende também pelo seu site. Para quem prefere ir à loja física, o atendimento é especial e bastante atencioso.

Rua Maceió, 65, Jardim Brasil - Barra

Rua João Gomes, 87, Free Shop, Rio Vermelho

Nota: 4

Nota: 3,5

SARASTRO Ao entrar na loja, o cheirinho de roupa nova pode até confundir, mas ao mexer nas araras a dúvida se dissipa. Trata-se mesmo de um brechó. Com a melhor e maior variedade de peças e artigos dignos do termo vintage, o Sarastro é o brechó ideal para quem procura um artigo raro. A peça mais antiga do acervo é uma jaqueta de couro preta dos anos 1970. Destaque para as seções de festa, com trajes para todos os tipos de gala e para a seção masculina - uma raridade entre os brechós da cidade –, sendo possível provar tudo na loja. Outro diferencial são as vitrines elaboradas semanalmente, que chamam ainda mais atenção para a casa rosa vibrante. Caso não esteja de carro, prepare-se para uma boa paletada até o local. Rua Belmonte, 118, Rio Vermelho

Nota: 4,5

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Vestindo

João Marcelo Borges, 22, presidente do Conselho Jedi Bahia

personalidades

texto Bianca Bomfim e Diego Yu fotos Ananda Ikishima/Labfoto

O universo e a rotina dos cosplayers em Salvador Anna acordou tarde, quase 11h, mas era sábado e ela só precisava chegar depois do almoço em seu destino. Levantou da cama, pulou o café da manhã e foi logo se arrumar. Levou mais de uma hora para ajeitar o cabelo e a maquiagem. Quando finalmente acabou, colocou o costumeiro vestido e foi almoçar. Seu namorado a buscou de carro e foram juntos ao Parque de Exposições, na Avenida Paralela, onde acontecia o VIII Festival da Cultura Japonesa em Salvador Bon Odori. Anna é a princesa do reino fictício de Arendelle, feita em computação gráfica e dublada pela atriz Kristen Bell, no filme Frozen – Uma Aventura Congelante. Mas essa Anna é de carne e osso, encarnada pela estudante Andréa Chaves, de 23 anos. Andréa é uma cosplayer, entre muitos presentes no evento, e a protagonista de Frozen é apenas uma das diversas personagens por ela já representadas: “sempre que tem eventos de cultura japonesa eu

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faço cosplay. Não consigo me imaginar indo sem”, ela diz. A palavra cosplay deriva da expressão em inglês “costume play”, que significa, numa tradução literal, “brincadeira de fantasia.” Mas, para quem faz, é mais que isso. A irmã de Anna, a rainha Elsa de Arendelle - na mesma ocasião interpretada pela estudante Letícia Andrade, de 17 anos enfatiza: “Tem uma grande diferença entre cosplay e uma fantasia comum. Há todo um ritual de tentar se parecer ao máximo com a personagem, agir como ela, e se preocupar com cada detalhe.” Para grande parte dos praticantes, o cosplay


envolve - além das fantasias detalhadas - certo nível de interpretação. Isso permite uma imersão no papel que se procura representar, a experiência de encarar o mundo sob uma ótica diferente. Para João Marcelo Borges, 22, cosplayer há 6 anos, “muitas características da personalidade de que fazemos cosplay são elementos que gostaríamos de ter”. Contudo, a linha entre pessoa e personagem pode se atenuar. Cosplayer desde os 13 anos, Isabela Trajano, 16, admite às vezes não conseguir se diferenciar das personagens que interpreta. “Quando estou em eventos conversando com amigos, respondo como elas. Acho que acabou se misturando em minha mente.” A representação dos papéis escolhidos faz com que um dos pontos que atraem os cosplayers seja a possibilidade de um escape momentâneo da realidade cotidiana. “Me sentia como minha personagem. Entrei em um mundo só meu, como se fosse de fato uma feiticeira”, comenta, rindo, a estudante de Engenharia Elétrica, Mayda Lucena, 20. Matheus Oliveira, 17, estudante do Ensino Médio, vai além: “Quando estou sem cosplay sou Matheus, que se esforça para passar de ano e entrar em uma boa faculdade. Quando estou de cosplay, me sinto um super-herói, que as pessoas sentem prazer em ver.”

15 MINUTOS DE FAMA Prazer esse que exerce uma influência constante na cultura cosplayer. Muitos apontam como um dos aspectos mais gratificantes da prática o reconhecimento das pessoas ao redor. Para o segurança Frederico Dias, 30, cosplayer há 8 anos, o viés é levemente diferente: “São os 15 minutos de fama. As pessoas param pra tirar foto, lhe reconhecem. Pra mim já é muito.” A vaidade, portanto, influencia: os cosplayers são como celebridades nos eventos. A inspiração para as personagens geralmente vem de elementos das culturas pop, geek e japonesa, como os animes, mangás, jogos e quadrinhos. Levy Cardoso, de 15 anos, fez seu primeiro cosplay no VIII Bon Odori, como Link, protagonista da série de jogos Zelda. A ideia veio enquanto jogava. Para Andréa, interpretar a princesa Anna foi questão de nela se reconhecer: “Me identifiquei muito com ela e com o filme. Costumo amar as personagens que faço.” As amigas Nathália Chaves, 15, Taís Veloso, 15, e Brenda Rosas, 14, em seu primeiro cosplay, interpretaram personagens do anime Sailor Moon, famoso na década de 90. “A gente fez em grupo, então acaba sendo mais divertido”, diz Nathália. Maya Rosas, 33 anos, mãe de Brenda, acompanhou a filha e as amigas no evento. “Me divirto junto com elas. Incentivo, porque acho interessante. É uma cultura, elas não deixam de aprender de alguma forma.” Mas muitos outros cosplayers encontram resistência por parte de familiares e amigos. “A maioria dos meus amigos da escola acha que eu deveria fazer coisas melhores. Meus Andréa Chaves, 23, em cosplay da personagem Mary Jane Watson

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não só uma personagem que gosto mas também o trabalho artístico de fazê-la.” São muitos os que encaram o cosplay como uma arte e como um trabalho. A webdesigner e artista plástica Mariana Valesca, 23, por exemplo, utiliza seus talentos artesanais para realizar serviços de cosmaker: além das suas, também faz e vende roupas e acessórios para outros cosplays. Uma alternativa para quem não quer ou não consegue produzi-los por conta própria.

ENCONTROS & COMPETIÇÕES São três os eventos que concentram os cosplayers de Salvador: o Gamepolitan, feira voltada aos jogos; o Anipolitan, evento sobre cultura pop e oriental, que sedia uma das etapas para o WCS (World Cosplay Summit), um dos maiores concursos do gênero no mundo; além do já citado Bon Odori. Todos contam com competições da área: desfiles, em que a fantasia é julgada em poses específicas; e apresentações individuais e coletivas, com uma encenação julgada em conjunto com as roupas. Os prêmios vão desde troféus e videogames até dinheiro e viagens. Mas não são apenas as competições que trazem os cosplayers para esses eventos. Andréa, apesar de sempre estar de cosplay, não participa dos concursos. “Faço por pura diversão. Às vezes simplesmente faço uma maquiagem e visto uma roupa parecida com a da personagem para tirar fotos em casa.” O grupo Cosplayers - BA, maior do estado, foi fundado no final de 2012 por Victor Karl e possui mais de 2700 membros no Facebook. Seu objetivo é reunir os praticantes na região para compartilhar experiências e dicas e estabelecer vínculos. “Normalmente fazemos cosplay em eventos de Games ou Cultura Japonesa, mas o grupo também organiza encontros, geralmente mensais, para fortalecer laços, como piqueniques, datas comemorativas ou estreias de filmes”, explica Victor.

pais, que eu deveria parar logo, que vou ficar com a imagem de ridícula. Sinto que eles não compreendem muito bem o que é”, diz Letícia. Outros, como o pai de Levy, são mais radicais: “Meu pai não gostou. Ele acha que não é coisa de homem”, conta o garoto.

PLAYERS & MAKERS A confecção das próprias peças é parte importante do universo cosplayer. Muitos criam por conta própria as vestimentas das personagens. “Grande parte dos itens é construída por mim por tutoriais da internet. As roupas são feitas por uma costureira”, explica Victor Karl, 19, criador da maior comunidade sobre o tema no estado da Bahia. Para Mayda, preparar os itens do cosplay a fez adquirir habilidades que nem imaginava ter: “Mistura dons artísticos e manuais, interpretação e até preparo físico - minha fantasia pesava mais de 10kg.” Moisés Resch, 19, estudante de engenharia mecatrônica e cosplayer há 3 anos, encara de forma ainda mais séria: “É a minha arte. Eu represento

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Outro grupo importante na cidade é o Conselho Jedi da Bahia, existente desde 2010, que tenta envolver o cosplay, inspirado em Star Wars, com ações sociais. Os Jedis realizam eventos próprios, voltados para o universo de Star Wars e para a cultura pop/geek, mas também ações filantrópicas para ajudar a instituições carentes. Mais que isso, fazem visitas e doações a hospitais, orfanatos, abrigos e creches. João Marcelo, que é fundador e presidente do grupo, explica que o Conselho não é uma tentativa de fugir da realidade, mas uma maneira de tentar trazer para

gostaríamos de ter muitas das características das personagens de que fazemos cosplay joão marcelo


Mayda Lucena, 20, interpretando a personagem Ahri Foxfire, do jogo League of Legends. Em 2013 ela foi vencedora de um desfile realizado pela empresa criadora do jogo

mais perto dela a ficção pela qual são apaixonados: “É um meio de viver aquela fantasia e fazer outras pessoas se divertirem com a gente”. O objetivo de ajudar o outro se mistura, então, a essa ideia - e, para eles, fazê-lo com a fantasia torna ainda mais especial a ajuda. “É levar, além do donativo, um sorriso, de uma forma diferente,” explica João.

ALL WORK AND ALL PLAY Seja como hobby, arte ou trabalho, é certo que o cosplay envolve e requer paixão e engajamento por parte de seus praticantes. É grande a quantidade de tempo e dinheiro empregada: “Gasta bastante!”, frisa Mayda. Sua preparação e execução são levadas com seriedade. Chama a atenção o alto nível de qualidade das fantasias e interpretações.

para um time, é uma forma de me distrair e quebrar uma rotina estressante.” Mesmo assim, a prática traz mudanças nas vidas de seus adeptos, seja pelas amizades criadas, pelas experiências vividas ou pelas habilidades adquiridas. “Sinto-me mais bonita!”, brinca Andréa. “Pretendo cursar Artes Cênicas, então já é uma experiência”, conta Isabela. Todos esses aspectos mais que justificam, na visão de quem faz, todo o trabalho empregado na confecção e execução dos cosplays.

Para muitos, o desejo de fazer parte dessa cultura surgiu logo ao primeiro contato. Aos 7 anos, Isabela foi ao seu primeiro evento de cultura japonesa, e ficou maravilhada. “Decidi que, quando pudesse, faria também”, conta. E é difícil encontrar um cosplayer que tenha desistido após a primeira experiência. “Não é o tipo de coisa que se faz só uma vez. Você acaba viciando”, explica Matheus. João Marcelo vai além: “É mais que um hobby. É um estilo de vida.” Ainda assim, é quase unanimidade que, apesar da seriedade com a qual muitos o tratam e da competição trazida pelos concursos, o grande objetivo do cosplay é o entretenimento de quem faz. Victor resume: “É importante, mas não vivo para isso. Como quem joga futebol ou torce

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No futebol, há um tipo de jogador que se alimenta de gol. Bonito ou feio. De canela ou de trivela. Para eles, marcar é mais importante do que jogar. Mas nem sempre foram assim. No início da carreira eram jogadores comuns, de gols aqui e ali. O apoio da torcida era decisivo, batizando os mais insaciáveis com nomes que muitos reaproveitavam na camisa e na carteira de identidade. Assim surgiam os fura-redes, desemprega goleiros, come-gols. Cedo ou tarde, eram contagiados pelo poder do gol.

No início da década de 80, por exemplo, um come-gol decidiu gravar e editar a narração radiofônica dos seus jogos e treinava com um walkman, ouvindo a coletânea de seus gols (nos dois lados da fita). Isso se tornou uma febre no futebol e deu o pontapé inicial para todo um ramo de pirataria de gol. No mercado negro da bola, vendiam-se narrações fraudadas de tentos que não tinham acontecido, além de partidas fictícias, jogos surreais. Alguns jogadores não se contentavam com o “Goooooool!” narrado pelo locutor e só conseguiam dormir ouvindo o som do chacoalhar da rede. Foi nessa época que a necessidade por gol começou a ser vista como uma patologia e o come-gol, diagnosticado como viciado.

Iniciaram-se os grupos contra Goal Addiction, inseridos dentro do programa de centros de reabilitação. Lá, come-gols em atividade participavam de sessões terapêuticas ao lado de goleiros que não conseguiam superar certos frangos, árbitros que sofriam por não distinguir a cor vermelha da amarela - um raro daltonismo -, e ex-come-gols.

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Conto esportivo idealizado a partir do futebol de Fred na Copa do Mundo 2014 texto Lucas Gama Ilustrações Michelle Vivas

Foi o que aconteceu no caso do camisa 10, que passou a jogar com a número 02, depois de uma temporada inteira de bolas na trave. Jogando na zaga, marcou um gol contra, sem querer. A torcida, que estava muito ciente do drama do velho artilheiro, não conseguiu ficar chateada e acabou rindo. O time comemorou – inclusivo o 01. Foi o suficiente, pois, ainda no mesmo jogo, marcou mais vezes – os gols da virada –, recebendo alta, decretando-se curado.

Porque para um come-gol, não há nada pior do que não fazer gol. Ele tende a chegar a um ponto na sua carreira em que marcar é levado muito a sério. Ele teme pela sua identidade. É uma crise existencial que vai se tornando uma bola de neve e o craque começa a travar na hora “H”. Ele perde as melhores chances, os gols mais fáceis do mundo. De pirraça, a bola decide por não entrar. Seu pé entorta. As traves se mexem e saem do lugar. O comegol se convence que foi enfeitiçado – alvo de macumba de algum goleiro. Foi assim que muitos dos grandes jogadores chutaram o balde. Outros, simplesmente, decidiram mudar para uma posição mais defensiva e aguardar, de butuca, um golzinho para quebrar o encanto.

Só não se sabe se foi curado por inteiro, pois, por medo de recaída, decidiu deixar o campo, pendurar as chuteiras. Assim, passou a levantar a bandeira do movimento “todo gol é válido”, que incentiva começar os jogos em 1x1, num fairplay entre come-gols, entre outras técnicas alternativas pela cura contra a abstinência.

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Percepções entre o

céu e a terra o Marins texto Lucian Souza foto Nilton


Daqui do alto já dá para imaginar os encantos da Ribeira. Da famosa sorveteria às tradicionais praias e praças da região, sem esquecer suas igrejas e o terminal da travessia RibeiraPlataforma, o bairro soteropolitano é banhado pelas águas da Baía de Todos os Santos e da Enseada dos Tainheiros. Imagem convidativa para que você utilize um aparelho eletrônico com leitor de QR Code e passeie conosco nesse trecho da Península de Itapagipe. Cada ponto escolhido representa sons e imagens que revelam as belezas e os contrastes de um lugar com muitas particularidades. É só decidir por onde começar.


apoio:

www.revistafraude.com.br


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