Revista CONCERTO#175

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Os melhores CDs do mês • Ingrid Fliter • Nicholas Angelich Entrevista exclusiva com o maestro Gustavo Dudamel

CONCERTO Guia mensal de música clássica

Agosto 2011

ATRÁS DA PAUTA por Júlio Medaglia

ENTREVISTA Fernando Portari

ROTEIRO MUSICAL LIVROS • CDs • DVDs

PALCO Pablo Rossi

VIDAS MUSICAIS Serguei Prokofiev BRASIL MUSICAL Conservatório de Tatuí

ISSN 1413-2052 - ANO XVI - Nº 175

R$ 11,90

TEATRO MUNICIPAL DE SÃO PAULO Ópera Menina das nuvens estreia temporada lírica

MARIN ALSOP Acompanhamos os ensaios e concertos da nova regente titular da Osesp

ENTREVISTA Tenor Fernando Portari fala de sua carreira e projetos

FILARMÔNICA DE MINAS GERAIS Orquestra faz apresentações no Rio de Janeiro e em São Paulo


“Sem a música, a vida seria um erro.” Friedrich Nietzche

Sinfônica Heliópolis e Orquestra Jovem da Filarmônica de Israel vivendo a música juntas.

Tendo o maestro Zubin Mehta como elo de ligação, esse concerto reúne dois projetos de ensino de música: os jovens músicos da Orquestra Acadêmica da Filarmônica de Israel e os da Sinfônica Heliópolis. O encontro dessas duas orquestras reflete a concretização do trabalho do Instituto Baccarelli, já que quatro de seus alunos deram continuidade a seus estudos na Escola de Música Buchmann-Mehta da Universidade de Tel Aviv. Três deles estarão no palco para celebrar os resultados dessa feliz parceria.

“Os Prelúdios” - F. Liszt “Romeu e Julieta” - P.I.Tchaikovsky “Sinfonia Fantástica” - H.Berlioz 18 de agosto às 20h Theatro Municipal de Paulínia Rua Prefeito José de Araújo, 1551 Paulínia, SP INGRESSOS SETOR A: R$250,00 SETOR B: R$175,00 SETOR C: R$85,00 ESTUDANTES, APOSENTADOS E MORADORES DE PAULÍNIA: 50% DE DESCONTO INGRESSOS: BILHETERIA DO TEATRO OU INGRESSO RÁPIDO Vendas:

Sujeito à taxa de conveniência

Zubin Mehta, regente

Realização e Produção


Sinfônica Heliópolis e os jovens solistas do Instituto Baccarelli Franz Joseph Haydn Concerto para violoncelo, em dó M Solista: Luiz Fernando Venturelli Wolfgang Amadeus Mozart Concerto para trompa nº 3, em mi bemol M Solista: Thiago Martins Rodrigues Nino Rota Concerto para trombone Solista: Aline Alcântara Wolfgang Amadeus Mozart Concerto para clarinete, em lá M Solista: Danilo Agostinho Wolfgang Amadeus Mozart Concerto para flauta nº 1, em sol M Solista: Leandro Oliveira

Isaac Karabtchevsky, regente Sob o comado de Isaac Karabtchevsky, a Sinfônica Heliópolis sobe ao palco da Sala São Paulo para o quarto concerto de sua temporada, apresentando 5 jovens solistas integrantes do Instituto Baccarelli. Em mais uma participação na série Concertos Matinais, da Fundação OSESP, a orquestra terá em seu repertório obras de Haydn, Mozart e Nino Rota.

Série Clássicos Centro Cultural São Paulo 7 de agosto às 11h30 Orquestra Juvenil Claudia Feres, regente 4 de setembro às 11h30 Quarteto de Cordas Luiz Amato e Eliane Tokeshi, violinos / Renato Bandel, viola / André Micheletti, violoncelo 23 de outubro às 11h30 Quinteto de Metais Thiago Lopes e Thiago Araújo, trompetes / Thiago Rodrigues, trompa / Aline Ancântara, trombone / Deivid Peleje, tuba 6 de novembro às 11h30 Coral Juvenil Gisele Cruz, regente Adriano Contó, piano

Música nos CEU’s Crianças dos corais e orquestras do Instituto Baccarelli realizam, desde julho, uma série de 45 apresentações em todos os CEUs da cidade de São Paulo. Com o objetivo de levar a música de coro e orquestra para os alunos da rede municipal de ensino, essa ação tem encantado a garotada de todas as regiões da cidade, que ganhou uma nova opção cultural. Aos sábados, às 15 horas, os espetáculos das orquestras de Heliópolis são abertos ao público em geral: 6 de agosto CEU Água Azul 13 de agosto CEU Azul da Cor do Mar 27 de agosto CEU Quinta do Sol

14 de agosto, às 11h Sala São Paulo Praça Júlio Prestes,16 São Paulo, SP ENTRADA GRATUITA INGRESSOS DISPONÍVEIS NA BILHETERIA DA SALA SÃO PAULO A PARTIR DE 08/08


Prezado leitor, A maestrina norte-americana Marin Alsop, que a partir do ano que vem será a nova regente titular da Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo, ilustra a capa desta edição da Revista CONCERTO. Em junho passado, o jornalista Leonardo Martinelli acompanhou, na Sala São Paulo, os primeiros ensaios e concertos de Marin Alsop depois do anúncio de sua contratação. Satisfeito com o que viu e ouviu, Leonardo redigiu a reportagem que você poderá ler a partir da página 28 (“Cenas de um noivado”). Alsop e a Osesp se reencontram neste mês para um programa com obras de Korngold e Prokofiev (dias 25 a 28 de agosto). Na seção “Em conversa” desta edição, publicamos uma entrevista com o grande tenor brasileiro Fernando Portari (página 20). Recém chegado da Europa – onde tem interpretado importantes papéis em prestigiosos teatros de ópera –, Portari viverá o protagonista de Romeu e Julieta de Gounod, no Teatro São Pedro, em São Paulo. (Aliás, Portari se alternará no papel com o jovem tenor paraense Atalla Ayan, que acaba de estrear em Nova York em um recital promovido pelo Metropolitan Opera House, como noticiado na página 10.) Outro jovem artista brasileiro abordado nesta edição é o pianista catarinense Pablo Rossi (página 18). Aos 22 anos, Pablo está se formando no Conservatório de Moscou sob orientação da renomada pianista Elisso Virsaladze e tem se apresentado em diversos países da Europa. Neste mês, o talentoso músico é um dos destaques da série do Teatro Cultura Artística-Itaim. Também o Teatro Municipal de São Paulo começa a engrenar sua programação e estreia em agosto a primeira ópera de sua temporada lírica. A menina das nuvens, elogiada produção do Palácio das Artes de Belo Horizonte, será apresentada a partir do dia 7 de agosto, com direção musical do maestro Roberto Duarte e direção cênica de William Pereira. Outra atração de Belo Horizonte que empreende viagem em agosto é a Filarmônica de Minas Gerais. O jovem conjunto, que tem direção artística e regência titular do maestro Fabio Mechetti, apresenta-se no Teatro Municipal do Rio de Janeiro (dia 17) e de São Paulo (dia 18), com a participação do pianista francês Pascal Rogé. Trata-se de uma ótima oportunidade para conferir um dos mais bem-sucedidos projetos musicais dos últimos anos. Como todos os meses, publicamos a seção especial “Gramophone”, com os melhores textos da prestigiosa revista inglesa: notícias internacionais com uma breve entrevista da pianista argentina Ingrid Fliter (página 64); melhores lançamentos do mercado internacional (página 66); um artigo sobre o pianista Nicholas Angelich (página 67); e uma entrevista especial com o maestro Gustavo Dudamel (página 68), que recentemente se apresentou no Brasil com a Orquestra Sinfônica Simón Bolívar da Venezuela. Leia ainda nesta edição os textos de nossos articulistas Júlio Medaglia (sobre os 90 anos de Vasco Mariz) e João Marcos Coelho (que analisa o novo livro de Alex Ross). E as ricas contribuições de Marco Aurélio Scarpinella Bueno (que gostou de um concerto especial da Orquestra Experimental de Repertório) e do musicólogo Flavio Silva (que tem outra opinião acerca de Schoenberg). Confira ainda os lançamentos de livros, CDs e DVDs e consulte centenas de programações clássicas das principais cidades do país. Leia a Revista CONCERTO e desbrave com a gente o maravilhoso mundo da música!

Nelson Rubens Kunze diretor-editor 2 Agosto 2011 CONCERTO

foto: divulgação / Alessandra Fratus

COLABORARAM NESTA EDIÇÃO Camila Frésca, jornalista e pesquisadora Clóvis Marques, jornalista e crítico musical Flavio Silva, musicólogo e pesquisador Guilherme Leite Cunha, professor e artista plástico Irineu Franco Perpetuo, jornalista e crítico musical João Marcos Coelho, jornalista e crítico musical Júlio Medaglia, maestro Leonardo Martinelli, jornalista e compositor Marco Aurélio Scarpinella Bueno, médico e pesquisador musical

ACONTECEU EM agosto Nascimentos Alexander Glazunov, compositor 10 de agosto de 1865 Antonio Salieri, compositor 18 de agosto de 1750 Leonard Bernstein, maestro e compositor 25 de agosto de 1918 Falecimentos John Cage, compositor 12 de agosto de 1992 Josquin Desprez, compositor 27 de agosto de 1521 Oscar Lorenzo Fernandez, compositor 27 de agosto de 1948 Estreias Beatriz e Benedito, de Hector Berlioz 9 de agosto de 1862 Yerma, de Heitor Villa-Lobos 12 de agosto de 1971 Aroldo, de Giuseppe Verdi 16 de agosto de 1857 Siegfried, de Richard Wagner 16 de agosto de 1876 Oratório Eliah, de Felix Mendelssohn 26 de agosto de 1846 Missa Solemnis, de Franz Liszt 31 de agosto de 1856


CONCERTO Agosto de 2011 nº 175

20 20

24

2 Carta ao Leitor 4 Cartas 6 Contraponto Notícias do mundo musical 12 Atrás da Pauta Coluna mensal do maestro Júlio Medaglia 14 Opinião O blues e os clássicos, por Marco Aurélio Scarpinella Bueno

76

16

16 Brasil Musical Tatuí, capital da música 18 Palco A promissora carreira do jovem pianista Pablo Rossi 20 Em Conversa Entrevista com o tenor Fernando Portari 22 Música Viva João Marcos Coelho leu o novo livro de Alex Ross

28 68

73 18

24 Vidas Musicais Serguei Prokofiev, 120 anos de nascimento 26 Opinião Flavio Silva reflete sobre Schoenberg e a tonalidade 28 Capa Marin Alsop e as cenas de um noivado 32 Roteiro Musical Destaques da programação musical no Brasil 34 Roteiro Musical São Paulo 48 Roteiro Musical Rio de Janeiro 54 Roteiro Musical Outras Cidades

Uma seleção exclusiva do melhor da revista Gramophone

64 Gramophone Uma seleção exclusiva do melhor da revista Gramophone 73 Lançamentos de CDs e DVDs

64 Notas Sonoras Notícias internacionais – Ingrid Fliter

76 Livros

66 A escolha do editor James Inverne aponta os dez melhores CDs do mês

79 Classificados

77 Outros Eventos

67 Entrevista Conversa com Nicholas Angelich

79 Scherzo O espaço de humor da Revista CONCERTO

68 Reportagem

80 Minha Música A música que inspira o jornalista Ethevaldo Siqueira

Gustavo Dudamel, a música em primeiro lugar

CONCERTO Agosto 2011 3


Leonard Bernstein

Getúlio Vargas

Parabéns pela excelente Revista CONCERTO, cada vez melhor, sempre inovando. Quanto à matéria de Leonardo Martinelli sobre Leonard Bernstein (CONCERTO nº 174, páginas 20 e 21), permita-me acrescentar mais fatos relevantes de sua brilhante carreira. Bernstein fez uma verdadeira revolução nos meios musicais da época ao lançar, em 1958, um programa dedicado aos jovens, o “Young People’s Concerts”, inicialmente apresentado no Carnegie Hall, transmitido em rede de televisão pelos Estados Unidos. Nesses programas, que continuariam até 1973, a meninada aprendeu a gostar de música clássica. Tão famosos foram que ainda hoje é possível encontrar em lojas especializadas um álbum de nove CDs dando uma amostragem dessas verdadeiras aulas de música apresentadas pelo então jovem Bernstein. Em janeiro de 1960, ele teve a “ousadia” de apresentar para a garotada a música de Gustav Mahler, um desconhecido na época. Bernstein estava começando a mostrar Mahler para o público em sua temporada de concertos com a Filarmônica de Nova York. Foi novamente um pioneiro ao gravar o ciclo completo da obra de Mahler, que hoje é conhecido mundialmente em grande parte devido ao trabalho desse grande desbravador. A partir dos anos 1960, multiplicaram-se pelo mundo todo, inclusive no Brasil, concertos dirigidos aos jovens para fins educativos e de formação de novo publico, inspirados no bem-sucedido projeto de Bernstein. O mundo musical deve muito a esse extraordinário maestro e compositor.

Comentando os acontecimentos de 1932, Júlio Medaglia retoma o velho chavão ao referir-se a Getulio Vargas como “execrável ditador” que “havia jogado no lixo [...] os ideais democráticos” (CONCERTO nº 174, página 14). A partir de 1930, era urgente uma nova constituição, cuja definição foi dificultada pela disparidade de interesses em jogo e pelo adesismo dos que sonhavam ressuscitar a política do “café com leite”. A ditadura, que começou em fins de 1937, não existia em 1932 e tem relação direta com o golpismo de 1935, açulando o direitismo dos integralistas, num conturbado contexto internacional de ascensão de messianismos nazistas, fascistas e comunistas. Essa observação não absolve barbaridades ocorridas a partir de 1937, e não antes. A melhor prova de que Getúlio não tinha alma de ditador está no mandato para o qual foi eleito em 1950.

Florisval Pedroso, São Paulo, por e-mail

Música antiga Muito interessante a matéria sobre a música antiga no Brasil. É importante que se saiba que temos músicos de altíssima formação realizando concertos e projetos. Pena que tenham esquecido de citar o nosso maior ícone, a gambista Eunice Brandão – pioneira da música antiga em nosso país, super importante nos anos 1980 e 1990, inclusive por ter sido a primeira brasileira a integrar o “Hesperion XX” –, e também a soprano Marília Vargas, muito ativa tanto no Brasil quanto no exterior. Michel Moraes, São Paulo, por e-mail

Flavio Silva, pesquisador, Rio de Janeiro

Bar municipal Fui ao Teatro Municipal de São Paulo assistir ao Ballet Stagium. O teatro, totalmente reformado, está realmente lindo! Antecipando a sessão, ouvimos os anúncios usuais sobre segurança etc., destacando a proibição de entrar portando líquidos e mantimentos. Para minha grande surpresa, observei, no camarote ao meu lado, uma moça retirar de sua enorme bolsa um litro de vidro, que deveria conter alguma bebida alcoólica, engolir um longo trago e, logo a seguir, entrar em intimidades além do normal com a companheira a seu lado. Ora, é necessário que a vigilância intervenha antes que o Teatro Municipal se transforme num bar, como nos atuais cinemas.

Guia mensal de música clássica www.concerto.com.br AGOSTo 2011 Ano XVI – Número 175 Periodicidade mensal ISSN 1413-2052 Redação e Publicidade Rua João Álvares Soares, 1.404 04609-003 São Paulo, SP Tel. (11) 3539-0045 – Fax (11) 3539-0046 e-mail: concerto@concerto.com.br Realização diretor-editor Nelson Rubens Kunze (MTb-32719) editoras executivas Cornelia Rosenthal Mirian Maruyama Croce textos Biancamaria Benazzi revisão Thais Rimkus site e projetos especiais Marcos Fecchio apoio de produção Luciana Alfredo Oliveira, Priscila Martins, Vanessa Solis da Silva, Vânia Ferreira Monteiro projeto gráfico BVDA Brasil Verde editoração e produção gráfica Lume Artes Gráficas / Gilberto Duobles As datas e programações de concertos são fornecidas pelas próprias entidades promotoras, não nos cabendo responsabilidade por alterações e/ou incorreções de informações. Inserções de eventos são gratuitas e devem ser enviadas à redação até o dia 10 do mês anterior ao da edição, por fax (11) 3539-0046 ou e-mail: concerto@concerto.com.br. Artigos assinados são de respon­sa­bi­li­dade de seus autores e não refletem, neces­sariamente, a opinião da redação. Todos os direitos reservados. Proibida a reprodução por qualquer meio sem a prévia autorização.

Viviano Ferrantini, São Paulo, por e-mail

e-mail: cartas@concerto.com.br Cartas para esta seção devem ser remetidas por e-mail: cartas@concerto.com.br, fax (11) 3539-0046 ou correio (Rua João Álvares Soares, 1.404 – CEP 04609-003, São Paulo, SP), com nome e telefone. Escreva para nós e dê sua opinião! A cada mês, uma correspondência será premiada com um CD de música clássica. (Em razão do espaço disponível, reservamo-nos o direito de editar as cartas.)

Site e Revista CONCERTO

Todos os textos e fotos publicados na seção “Gramophone” são de propriedade e copyright de Haymarket. www.gramophone.co.uk

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4 Agosto 2011 CONCERTO



Companhia Brasileira de Ópera terá Karabtchevsky

divulgação

Após a temporada inaugural com Isaac Karabtchevsky O barbeiro de Sevilha e a posterior saída do maestro John Neschling, a Companhia Brasileira de Ópera anuncia para 2012 sua segunda temporada: será montada a ópera Madama Butterfly, de Puccini, com a direção musical e regência do maestro Isaac Karabtchevsky. Segundo José Roberto Walker, diretor da Companhia, a nova temporada manterá a itinerância por cidades de todo o país, com o uso de recursos tecnológicos de última geração, telas e projetores, e o formato versátil da montagem, que poderá ser apresentada tanto em grandes teatros quanto em espaços menores. Assim como no ano passado, o elenco será misto, com cantores brasileiros e estrangeiros – selecionados por Karabtchevsky –, que se revezarão nas diferentes fases de apresentações. O maestro Isaac Karabtchevsky, de 76 anos, é um dos grandes regentes brasileiros da atualidade. Diretor artístico e regente titular da Orquestra Petrobras Sinfônica do Rio de Janeiro, no início do ano Karabtchevsky assumiu também a direção da Sinfônica Heliópolis do Instituto Baccarelli. O maestro já ocupou a direção das principais orquestras brasileiras e paralelamente desenvolveu uma destacada carreira internacional. A nova temporada da Companhia Brasileira de Ópera, que vai de maio a novembro de 2012, deve passar por Brasília, Belo Horizonte, São Paulo, Rio de Janeiro, Manaus, Belém, Fortaleza, João Pessoa, Recife, Maceió, Salvador, Porto Alegre, Curitiba, Ribeirão Preto e Santos. Assim como em 2010, além das récitas para o público adulto, a Companhia prepara apresentações para as crianças. Porém, dada as dificuldades de se adaptar a temática trágica de Madama Butterfly para o público infantil, optou-se por um novo espetáculo montado especialmente para o universo das crianças e dos jovens, com um “passeio” lúdico pela história da ópera recheado de árias famosas. A Companhia Brasileira de Ópera acaba de ganhar o Prêmio Carlos Gomes pela montagem de O barbeiro de Sevilha, apresentada por todo o país em 2010, dentro de uma louvável proposta de popularização da ópera.

Dimos Goudaroulis lança integral das Suítes de Bach nos “Encontros Clássicos” No sábado dia 6 de agosto, às 11 horas, o violoncelista Dimos Goudaroulis fará o lançamento de álbum duplo com as Seis suítes para violoncelo solo de Johann Sebastian Bach na série “Encontros Clássicos” da Loja CLÁSSICOS da Sala São Paulo. O principal diferencial da gravação de Dimos é que ela é baseada no manuscrito da Anna Magdalena Bach. “As arcadas no manuscrito da Anna Magdalena [...] são extremamente bem pensadas e construídas e fazem parte integral da composição e do discurso”, explica o músico. “Elas são de uma variedade e uma riqueza surpreendentes, propondo e definindo soluções musicais na interpretação do texto e construindo um discurso musical muito eloquente”, completa. Dimos Goudaroulis utiliza um violoncelo barroco construído na França no final do século XVIII e ainda, exclusivamente na Suíte nº 5, como expresso na partitura, um violoncelo piccolo de 5 cordas (instrumento construído em 2007 pelo luthier brasileiro Saulo Dantas Barreto). 6 Agosto 2011 CONCERTO

O compositor e violonista brasileiro João Luiz teve duas de suas obras estreadas em julho durante o New York Guitar Seminar at Mannes pelo celebrado Newman and Oltman Guitar Duo, formado por Michael Newman e Laura Oltman. As peças Djavan’s Portrait e Improvisations on Luiz Bonfa foram apresentadas no Mannes Concert Hall. João Luiz foi integrante do grupo Quaternaglia e é membro do premiado Duo João Luiz e Douglas Lora. O maestro Carlos Veiga, que foi regente das sinfônicas da Bahia, da Paraíba e de Pernambuco, além de assistente de Isaac Karabtchevsky na Orquestra Sinfônica Brasileira, faleceu no último dia 25 de junho, aos 71 anos. Veiga iniciou sua vida musical aos 10 anos de idade, com aulas de piano. Na década de 1950, enquanto recebia aulas de trompete, criou a orquestra Bazooka Joe Jazz. Durante os anos de 1960, Carlos Veiga entrou para os Seminários Livres de Música da Universidade Federal da Bahia, nos quais estudou regência e percussão. Em seguida, aprimorou-se na Espanha com o maestro Igor Markevich e, de volta ao Brasil, foi regente assistente da Orquestra Sinfônica da Universidade Federal da Paraíba. Carismático e comunicativo, amigo de Jorge Amado, Carlos Veiga estava internado no Hospital Português, em Salvador, e sofria de câncer de pulmão. O jovem regente brasileiro Roberto Ondei foi um dos selecionados para participar ativamente do London Conduct­ ing Workshop, disputado curso de aperfeiçoamento em regência da Royal Academy of Music de Londres. Ele terá como professores John Farrer e Neil Thomson. O secretário de Cultura do Pará, Paulo Chaves, anunciou a criação da Orquestra Sinfônica de Santarém. O anúncio foi feito na presença do governador Simão Jatene, por ocasião da apresentação da Orquestra Sinfônica do Theatro da Paz em Santarém, como parte das comemorações pelos 350 anos da cidade. O Centro Cultural Pró Música de Juiz de Fora, uma das mais importantes instituições brasileiras dedicadas à música clássica, oficializou a doação de todo seu patrimônio à Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF). A partir de agora, a entidade torna-se Órgão Suplementar da UFJF, mesma categoria em que se enquadram o Museu de Arte Moderna Murilo Mendes e o Cine-Theatro Central. O patrimônio doado inclui o Teatro Pró-Música, a Galeria Renato de Almeida, o acervo da instituição, centenas de instrumentos musicais e todas suas realizações, como o Festival Internacional de Música Colonial Brasileira e Música Antiga. Para Maria Isabel de Sousa Santos, diretora-presidente do Pró-Música, a incorporação representa a garantia de continuidade da instituição e de suas ações. O vice-presidente Júlio César de Sousa Santos destacou as possibilidades de ampliação da atuação, tendo em vista o potencial físico e intelectual da UFJF. O musicólogo, historiador e escritor Vasco Mariz, autor de obras referenciais da música clássica no Brasil, completou 90 anos de idade em 2011. Para homenageá-lo, a Academia Brasileira de Música, da qual faz parte, organizou para o dia 23 de agosto uma sessão especial. A Academia irá publicar o livro de Mariz intitulado Vida musical IV, com artigos e registros de palestras sobre música. (Leia mais sobre Vasco Mariz na coluna “Atrás da pauta”, do maestro Júlio Medaglia.)


Notícias do mundo musical

Osvaldo Lacerda (1927-2011) Último grande representante do nacionalismo musical brasileiro faleceu em São Paulo, aos 84 anos o último dia 18 de julho, faleceu Osvaldo Lacerda, importante compositor do nacionalismo musical brasileiro, movimento do século XX que teve como representantes músicos ilustres como Villa-Lobos, Nepomuceno, Mignone e também Camargo Guarnieri, que foi professor de Lacerda. Osvaldo Costa Lacerda nasceu em São Paulo no dia 23 de março de 1927. Estudou piano com Ana Veloso de Rezende, Maria dos Anjos Oliveira Rocha e José Kliass. Teve aulas de harmonia com Ernesto Kierski e de canto com a russa Olga Urbany de Ivanow. Seu professor de composição e tutor foi Camargo Guarnieri, que o ajudou a formar uma base sólida tanto da técnica composicional quanto no extenso conhecimento das características da música brasileira. Em 1963, com o apoio de Guarnieri, Osvaldo Lacerda passou um ano nos Estados Unidos, como bolsista da Fundação Guggenheim, onde prosseguiu os estudos de composição com Vittorio Giannini e Aaron Copland. Osvaldo Lacerda escreveu música para orquestra, de câmara e instrumental, mas tinha predileção pela música vocal de

câmara. Dentre suas obras destacam-se as mais de cem canções sobre textos de importantes poetas brasileiros, que representam um valioso documento da música brasileira e uma referência a cantores e apreciadores da canção de câmara em todo o mundo. Além da atuação como compositor, Osvaldo Lacerda dedicou-se ao ensino e à difusão da música. Fundou e dirigiu a Mobilização Musical de Juventude Brasileira, a Sociedade Paulista de Arte da Sociedade Pró-Música Brasileira de São Paulo, e o Centro de Música Brasileira em São Paulo. Mais tarde, tornou-se professor da Escola Municipal de Música de São Paulo. Osvaldo Lacerda, que ocupava a cadeira de número 9 da Academia Brasileira de Música, recebeu prêmios como o de Melhor Obra Sinfônica em 1994, por Cromos para piano e orquestra; o Prêmio Guarani de 1997 da Secretaria do Estado da Cultura como Personalidade do Ano; e o Grande Prêmio da Música 1997 da APCA. Osvaldo Lacerda era casado com a pianista Eudóxia de Barros, sua antiga aluna e companheira de toda a vida. divulgação

N


Edmundo Villani-Côrtes conquista Troféu Guarany do Prêmio Carlos Gomes

Morre o compositor mineiro Calimerio Soares

8 Agosto 2011 CONCERTO

Calimerio Soares

divulgação

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Aconteceu no último dia 11 de Edmundo Villani-Côrtes julho, na Sala São Paulo, a cerimônia de premiação da 14ª edição do Prêmio Carlos Gomes, realização da Algol Editora. O evento reuniu alguns importantes representantes da cena clássica nacional, entre eles os maestros Luiz Fernando Malheiro, Ligia Amadio, Roberto Tibiriçá, Roberto Duarte e Marcos Arakaki, o compositor Mario Ficarelli e os cantores Fernando Portari, Rosana Lamosa, Marcelo Vanucchi e Rubens Medina. A festa, que teve a apresentação da jornalista Mônica Waldvogel, contou com a participação da Orquestra Sinfônica de Santo André e do barítono Rodrigo Esteves, sob regência do maestro Carlos Moreno. O principal prêmio da noite, o Troféu Guarany – reconhecimento por uma carreira ou por uma realização cultural de excelência – foi para o compositor Edmundo Villani-Côrtes, que no ano passado completou 80 anos de vida. A montagem itinerante de O barbeiro de Sevilha, produção da Companhia Brasileira de Ópera, conquistou o prêmio de melhor espetáculo de ópera. O violoncelista Antonio Meneses, o Quarteto de Cordas da Cidade de São Paulo e a nova Orquestra do Teatro São Pedro foram alguns dos vencedores. Um momento emocionante da noite foi o recebimento do prêmio de regente sinfônico pelo maestro Roberto Tibiriçá, por seu trabalho frente à Sinfônica Heliópolis e à Sinfônica de Minas Gerais. Muito aplaudido, o maestro Tibiriçá, que no início do ano foi substituído na direção da Sinfônica de Heliópolis, disse, visivelmente emocionado: “aos meninos de Heliópolis, só quero dizer que eles seguem em meu coração”. Em uma tocante fala da soprano Niza de Castro Tank, presidente da comissão organizadora, o Prêmio Carlos Gomes também prestou homenagem a três grandes personalidades musicais recentemente falecidas: o compositor Almeida Prado, o maestro Cyro Pereira e o tenor Benito Maresca. Veja a seguir a lista completa dos vencedores da 14ª edição do Prêmio Carlos Gomes: Espetáculo de ópera: O barbeiro de Sevilha (Produção da Cia. Brasileira de Ópera, produção itinerante); Cenário: William Pereira (por Romeu e Julieta, no Teatro Amazonas, e por A viúva alegre, no Teatro São Pedro); Figurino: Olintho Malaquias (por Don Pasquale e A viúva alegre, ambas no Teatro São Pedro); Iluminação: Fábio Retti (por Rigoletto, no Teatro São Pedro, e por Andrea Chénier, no Palácio das Artes de Belo Horizonte); Solista instrumental: Antonio Meneses (violoncelo, pelo espetáculo Concerto para violoncelo, de Friederich Gulda, com a Orquestra Petrobras Sinfônica); Conjunto de câmara: Quarteto de Cordas da Cidade de São Paulo (pela interpretação do Réquiem sem palavras de Almeida Prado, em Campos do Jordão); Orquestra sinfônica: Orquestra do Teatro São Pedro, em São Paulo (pela qualidade atingida ainda no primeiro ano de existência); Regente: Roberto Tibiriçá (pelo trabalho à frente da Sinfônica Heliópolis e da Sinfônica de Minas Gerais); Direção de cena: André Heller-Lopes (por Andrea Chénier, no Palácio das Artes de Belo Horizonte); Regente de ópera: Luiz Fernando Malheiro (por Il Guarany, no Teatro Municipal do Rio de Janeiro, Andrea Chénier, no Palácio das Artes, e por Lo Schiavo e Romeu e Julieta em Manaus); Cantor solista: Marcello Vannucci (por Pollione, em Norma, no Teatro São Pedro, por Peri, em Il Guarany, no Teatro Municipal do Rio de Janeiro, e por Turiddu em Cavalleria Rusticana, no Auditório Ibirapuera); Cantora solista: Edna D’Oliveira (por sua participação em A viúva alegre, no Teatro São Pedro, e em Andrea Chénier, em Belo Horizonte; Troféu Guarany: Edmundo Villani-Côrtes (pela excepcional carreira de compositor).

Faleceu no dia 22 de junho passado, aos 67 anos, o compositor mineiro Calimerio Soares. Durante muitos anos, o artista lecionou no Departamento de Música e Artes Cênicas da Universidade Federal de Uberlândia, onde desenvolveu intensa atividade como docente. Ao longo de sua carreira, dirigiu vários conjuntos especializados em música antiga e contemporânea. Calimerio Soares nasceu em 1944 em São Sebastião do Paraíso, Minas Gerais, onde iniciou os estudos musicais, prosseguindo-os no Conservatório Musical de Ribeirão Preto. Graduou-se em piano e licenciou-se em música pela Universidade Federal de Uberlândia. Formou-se Doutor em Música pela Universidade de Leeds (Inglaterra), onde estudou com Philip Wilby, David Cooper e Julian Rushton. No Brasil, estudou cravo com Helena Jank, música contemporânea com Paulo Affonso de Moura Ferreira e composição musical com Estércio Marquez Cunha. Especializou-se em órgão nos Estados Unidos, com Mallory Bransford e em cravo no País de Gales, com Andrew Wilson-Dickson. Calimerio Soares era membro da Associação Nacional de Pesquisa e Pós-Graduação em Música (Anppom), da Academia Brasil-Europa da Cultura e da Ciência (ABE), conselheiro do Institut für Studien der Musikkultur des portugiesischen Sprach­ raumes e sócio honorário da Associação Pró-Música de Uberlândia. Suas composições foram executadas e gravadas por renomados intérpretes tanto no Brasil como em vários países da Europa, das Américas, da Ásia e da Oceania, destacando-se participações no World Music Days/ISCM (Moldávia, 1999), no Annual Festival of New Organ Music (Londres, Inglaterra, 2007 e 2009) e em diversas bienais de Música Brasileira Contemporânea do Rio de Janeiro. Em 2003, Calimerio Soares recebeu da Câmara Municipal de Uberlândia o título de Cidadão Honorário.


Notícias do mundo musical

Belém anuncia nova edição do Festival de Ópera do Theatro da Paz Evento irá de 8 de novembro a 3 de dezembro e terá montagens de Tosca e Carmina Burana

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om direção artística de Gilberto Chaves em parceria com Mauro Wrona, a Secretaria de Estado da Cultura do Pará anuncia uma nova edição do Festival de Ópera do Theatro da Paz. O evento abre no dia 8 de novembro com uma nova produção de Tosca, de Puccini, dirigida por Carlos Moreno e Mauro Wrona (com Rodrigo Esteves, Silviane Bellato e Eric Herrero nos papéis principais). No dia 16 será apresentado um espetáculo dedicado aos balés de óperas, com coreografia de Ana Hunger. Um concerto lírico, com a Orquestra Jovem Vale Música, será regido por Filippe Forget no dia 22. No dia 26 estreia uma versão encenada de Carmina Burana, dirigida por Maria Sylvia Nunes, sob a regência de Miguel Campos Neto (com os solistas Liz Nardotto, Federico Sanguinetti e Flavio Leite). Oficinas de figurino e iluminação, assim como uma palestra sobre ópera, completam a programação, que se encerra no dia 3 de dezembro, com um grande concerto ao ar livre.

divulgação

Silviane Bellato

Brasileiro ganha concurso internacional Em junho passado foi realizado em Burgas, na Bulgária, a quarta edição do Blue Danube International Opera Conducting Competition, importante concurso que visa a revelar jovens regentes de ópera. A presença de brasileiros na competição foi especialmente notável, e foi coroada pela vitória de Vinícius Kattah, de apenas 25 anos de idade. Outro brasileiro que participou do certame foi Juliano Suzuki, ex-assistente de Jamil Maluf junto à Orquestra Experimental de Repertório. Paulistano, Vinícius Kattah é formado em regência pela Faam, onde estudou com Abel Rocha e Naomi Munakata. Desde 2006, o artista mora em Viena, onde, paralelamente a outras atividades musicais, realiza seu mestrado em regência e correpetição de óperas no Konservatorium Wien Privatuniversität. Como premiação pelo primeiro lugar no concurso, Kattah vai dirigir produções em teatros da Eslováquia, da Ucrânia e da Bulgária. Kattah também regerá a performance de gala da ópera La traviata da Bulgarian State Opera.


Tenor brasileiro Atalla Ayan faz sucesso em programação do Metropolitan de Nova York Gounod, da Traviata de Verdi, bem como uma impressionante interpretação de ‘Che gelida manina’ de La bohème”. O recital teve uma reapresentação dois dias depois, no Brooklyn Bridge Park. O futuro reserva importantes oportunidades para o jovem Atalla Ayan. Segundo o comunicado de imprensa do Metropolitan Opera House, Atalla cantará Rodolfo em La bohème na temporada 2011-12 da Glyndebourne on Tour, companhia de ópera inglesa, e iniciará um contrato de três anos com a Ópera Estatal de Stuttgart, na Alemanha, onde fará Ottavio em Don Giovanni, Tamino na Flauta mágica, Alfredo em O morcego e mais uma vez Rodolfo, em uma nova produção de La bohème. Este mês, Atalla Ayan está em São Paulo, onde alternará com o tenor Fernando Portari o papel principal de Romeu e Julieta da temporada lírica do Teatro São Pedro (entre os dias 10 e 14 de agosto; confira no Roteiro Musical).

Atalla Ayan

divulgação

Atalla Ayan, nascido em Belém do Pará há 25 anos, está vivendo um grande momento de sua carreira artística. Morando em Nova York há dois anos – como estudante do prestigiado Lindemann Young Artist Development Program do Metropolitan Opera House –, Atalla foi convocado no dia 8 de julho, de última hora, para substituir Dimitri Pittas, que estava indisposto, em um recital no Central Park, um evento da série de verão do Metropolitan. O tenor apresentou-se com a soprano Angela Meade e a mezzo Jennifer Johnson Cano, acompanhado ao piano por Bradley Moore. No dia seguinte, o crítico musical do The New York Times Allan Kozinn, escreveu no site da publicação: “Ele é um achado. Jovem e em boa forma, tem um som quente e arredondado, com uma qualidade que lembra à do jovem Plácido Domingo; ele apresentou poderosas leituras de árias do Romeu e Julieta e do Fausto de

Orquestra Sinfônica Juvenil da Bahia se apresenta na Alemanha e Suíça Sob comando de Ricardo Castro, principal grupo do projeto Neojiba se apresenta nas cidades de Berlim e Genebra com solos da pianista Maria João Pires

A

Orquestra do Neojiba

10 Agosto 2011 CONCERTO

divulgação / Tatiana Golsman

pós a aclamada apresentação no Royal Festival Hall, em Londres, no início do ano, a Orquestra Sinfônica Juvenil da Bahia (Youth Orchestra of Bahia – YOBA), principal conjunto do projeto Neojiba, volta à Europa para concertos em dois importantes festivais: o Young Euro Classic, em Berlim (dia 5 de agosto), e o Festival Musiques en Éte (Músicas no verão), em Genebra (dia 7 de agosto).

Sob a regência do maestro Ricardo Castro, fundador do Neojiba, a turnê contará com solos da exímia pianista portuguesa Maria João Pires. O repertório terá obras de compositores latino-americanos e europeus como Liszt, Chopin, Villa-Lobos e Silvestre Revueltas. Entre as obras inéditas, destaca-se Sonhos percutidos do baiano Wellington Gomes. “Estamos com grande expectativa sobre a recepção do público europeu a esta composição, que surpreende pela originalidade com que une a música clássica à percussão baiana”, afirmou o maestro Ricardo Castro. Criado em 2007 como um dos programas prioritários do governo do Estado da Bahia, o Neojiba (Núcleos Estaduais de Orquestras Juvenis e Infantis da Bahia) tem por objetivo alcançar a excelência e a integração social por meio da prática coletiva da música. Além de ser uma iniciativa de cunho artístico-cultural, o Neojiba é uma importante ação de formação e capacitação de crianças e adolescentes. Trata-se do primeiro programa governamental brasileiro inspirado pelo El Sistema, da Venezuela, projeto criado há 36 anos e responsável pelo aparecimento de estrelas da música clássica, como Gustavo Dudamel e a Orquestra Simón Bolívar, que recentemente estiveram em turnê pelo Brasil. As apresentações da Orquestra Juvenil da Bahia na Europa contam com o patrocínio da Braskem.


Notícias do mundo musical

Roberto Minczuk deixa direção artística da Orquestra Sinfônica Brasileira Nova direção artística será exercida de forma compartilhada pelo ex-diretor do Teatro Municipal do Rio de Janeiro, Fernando Bicudo, e pelo produtor e compositor Pablo Castellar maestro Roberto Minczuk pediu demissão da direção artística da Orquestra Sinfônica Brasileira (OSB). A decisão, anunciada em 19 de julho, veio alguns dias após o anúncio da criação de um comitê artístico que deveria assessorá-lo. Roberto Minczuk, que segue como regente titular da orquestra, sofreu grande desgaste em decorrência da crise que assola a OSB desde o primeiro semestre, por conta de um processo de profissionalização imposto pela Fundação OSB (Fosb). Descontentes, mais de trinta músicos boicotaram uma avaliação de desempenho e acabaram demitidos, gerando grande repercussão e protestos. A temporada foi suspensa e, após audições internacionais, novos membros foram contratados. A série da OSB está prevista para

estrear neste mês de agosto, com um Festival Beethoven e concertos na Sala São Paulo (leia mais nas páginas 41 e 48). A direção artística da OSB passa a ser exercida pelo ex-diretor do Teatro Municipal do Rio de Janeiro, Fernando Bicudo, e pelo produtor e compositor Pablo Castellar, de forma compartilhada. De acordo com nota da assessoria de imprensa da orquestra, “ambos já estavam em negociação com a Fundação para montar um modelo de curadoria musical e foram convidados pelo presidente da Fosb, Eleazar de Carvalho Filho, para assumir a função. A partir de agora, Bicudo e Castellar serão os responsáveis pela elaboração das temporadas da orquestra e pela relação entre os músicos e o Conselho Curador da Fosb”.

Roberto Minczuk

divulgação / carlos goldgrub

O

Reflexões sobre a crise da OSB

Bom mesmo no Brasil é o Carnaval! Vamos começar pelo começo: é preciso decidir se queremos ou não uma grande orquestra sinfônica de qualidade internacional no Rio de Janeiro. Não é possível que um objetivo natural e desejado por todos (vide esforços por todo o Brasil) seja visto como um capricho de um grupo alienado e autoritário. Não, não é! Se há uma forma de contribuirmos, dentro de nossa área, com o desenvolvimento do Brasil, então é almejando padrões cada vez mais altos de comprometimento artístico e qualidade – isso, para nós, é a tal da “responsabilidade social”! Queremos, sim, uma orquestra sinfônica de qualidade internacional para o Rio de Janeiro, uma orquestra pujante e moderna, geradora de cultura, propondo visões para um mundo em conflito, com instigantes programas semanais, comprometida com a cultura e a inserção social, dialogando com a contemporaneidade, aberta ao mundo, com a cara do Rio de Janeiro e do Brasil do século XXI. E esse é o DNA da Orquestra Sinfônica Brasileira (OSB), que nasceu cosmopolita e já viveu glórias que transcendiam em muito os limites da Baía da Guanabara... Mas, como vemos, não é fácil, e a crise da OSB escancara nossas deficiências. Sempre acreditamos que os entraves ao nosso desenvolvimento cultural eram a dependência de secretarias de Cultura e de governos despreparados e pouco esclarecidos sobre assuntos musicais. Descobrimos que não são só esses. Sozinhos também não damos conta do recado. E agora, com a OSB, percebemos que, mesmo após o acentuado desenvolvimento institucional e artístico dos anos Minczuk, ainda faltavam alguns requisitos básicos para dar o salto rumo à grande e moderna orquestra sinfônica. Talvez uma falha determinante tenha sido a falta de um verdadeiro gestor cultural, um profissional de visão estratégica, conhecedor da área, competente nos assuntos administrativos e preparado para lidar com artistas. Aquela peça chave de vital importância na estrutura administrativa de uma orquestra sinfônica. Julgo altamente elogiável

Por Nelson Rubens Kunze

o compromisso e o engajamento do presidente do Conselho da Fosb, Eleazar de Carvalho Filho, na crise da OSB; mas, antes dele, quem deveria conduzir o processo e responder por acertos e erros seria justamente o gestor cultural, um diretor executivo de plenos poderes. Agora, pressionada, a Fosb recuou (ainda sem gestor cultural), o maestro Roberto Minczuk pediu demissão e uma nova diretoria artística compartilhada foi contratada. Se a saída de Minczuk pode significar um gesto concreto de reconciliação com a comunidade musical carioca, a contratação desta diretoria artística compartilhada não parece, objetivamente, ser um substituto à altura do currículo internacional do maestro demissionário. Fica a dúvida se Fernando Bicudo (um nome que não está ligado ao universo da música sinfônica) e Pablo Castellar (jovem produtor, professor e compositor) são de fato os melhores indicados para a função. (Apenas a título de comparação, lembro que quando a Osesp demitiu o maestro John Neschling, a direção artística da orquestra foi temporariamente compartilhada por Timothy Walker, diretor artístico e executivo da Filarmônica de Londres, por Henry Fogel, ex-diretor da Sinfônica de Chicago e ex-diretor da Liga de Orquestras Americanas, e por Marcelo Lopes, diretor executivo da Osesp.) As recentes notícias indicam que o projeto de criação de uma sinfônica de qualidade internacional para o Rio de Janeiro sofreu um revés. Com essa “nova velha” OSB que se desenha, talvez tenhamos de volta Nelson Freire, Cristina Ortiz e Antonio Meneses (que, como sabemos, trabalham na Europa e nos Estados Unidos com orquestras de qualidade). E eles também ficarão contentes, pois terão de volta esse ambiente caloroso e informal que caracteriza a vida musical brasileira. E, no fim, poderemos compartilhar juntos e lamentar, que pena!, que o Brasil não muda, que a corrupção, que as traquinagens dos políticos, que a Cidade da Música, que os escândalos federais... Mas temos aquele consolo de sempre: bom mesmo no Brasil é o Carnaval (e o futebol – quando não dá vexame nos pênaltis contra o Paraguai...)! CONCERTO Agosto 2011 11


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