Revelação 386

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Ano XIV ... Nº 386 ... Uberaba/MG ... Setembro/Outubro de 2014

Revelação Pronatec

Jovens e adultos entram no mercado de trabalho

Foto: Fábio Fernandes

09

Cultura

Projetos ganham selo da lei Rouanet

17

Políticas Públicas

Tabu

Homens ainda resistem a exames preventivos

20

Direito da mulher é reivindicado em Uberaba


opiniao

02

Maquiavel avisou Gabriela Almeida

6º período de Jornalismo

Desde o começo do século 16, Nicolau Maquiavel tem ditado como conseguir chegar e se manter no poder. O Príncipe é livro de cabeceira de muitos chefes de Estado. Suas valiosas experiências não se tornaram obsoletas e têm sido usadas até hoje, meio milênio depois. Nesse ano, teremos eleições. O novo presidente do

Os

governantes não podem apenas se

apossar das dicas de

manipulação e esquecer

que é preciso ter, e usar a ética

Brasil será escolhido. Os movimentos partidários para arrecadação de dinheiro e para apoio político começaram. Já a determinação de um nome depende de inúmeros interesses e articulações. Com o nome escolhido, começa o trabalho dos marqueteiros, afinal, Maquiavel já dizia que a questão não é ser, mas parecer bom. A receita do sucesso, usada por séculos, pode ter chegado ao fim. Talvez só parecer não seja mais o suficiente. Isso pelo menos é o que acreditamos ser a nova verdade do país. Tantas manifestações refletem a inquietação e o inconformismo do povo brasileiro. Em seu manual de como manipular os súditos, Maquiavel afirma que – “as pessoas comuns são sempre levadas pelas aparências e pelos resultados, e é a massa vulgar que constitui o mundo” – mas, e quando a massa não é mais a mesma? O povo cansou de ser enganado com a imagem de um mundo maquiado. De receber um pouquinho daqui enquanto

lhe é tirado muito de lá. Corrupções descaradas, dificuldade de acesso às necessidades básicas, baixa qualidade de vida? Não. Com certeza, acreditamos que os R$ 0,20 não foi a questão que levou milhares de brasileiros às ruas. Maquiavel alertou sobre as consequências do enriquecimento à custa do povo. E agora, como fazer para reverter esse quadro? Promessas superficiais e impossíveis de serem cumpridas não vão mais conquistar o voto de ninguém. Após essa virada política, Maquiavel teria material suficiente pra escrever outro livro. O príncipe do século 21. Não seria má ideia, até porque o italiano não era tão maquiavélico quanto ficou conhecido. A frase mais famosa do livro – “os fins justificam os meios” – na verdade, não existe. Nunca foi escrita por Maquiavel. Para evitar qualquer confusão, pedimos mais clareza

na escrita do próximo tratado. Os governantes não podem apenas se apossar das dicas de manipulação e esquecer que é preciso ter, e usar, a ética. A parte em que o povo é beneficiado também

é necessária para conseguir manter o processo, sem crise. Neste mês, teremos a confirmação se o gigante realmente acordou. A postura do cidadão deve parecer ter mudado. Resta saber se o eleitor também mudou, ou se a distância das eleições vai esfriar o espírito reacionário.

Revelação • Jornal-laboratório do curso de Comunicação Social da Universidade de Uberaba Expediente. Revelação: Jornal-laboratório do curso de Comunicação Social da Universidade de Uberaba (Uniube) ••• Reitor: Marcelo Palmério ••• Pró-reitora de Ensino Superior: Inara Barbosa ••• Coordenador do curso de Comunicação Social: Celi Camargo (DF 1942 JP) ••• Professora orientadora: Indiara Ferreira (MG 6308 JP) ••• Projeto gráfico: Diogo Lapaiva, Jr. Rodran, Bruno Nakamura (ex-alunos Jornalismo/Publicidade e Propaganda) ••• Orientadora de Designer Gráfico: Isabel Ventura ... Estagiários: Barbara Lemes e Daniela Miranda (4º período) Júlia Campos e Raphael Geraci (2º período) ••• Revisão: Cíntia Cerqueira Cunha (MG 04823 JP) ••• Impressão: Gráfica Jornal da Manhã ••• Redação: Universidade de Uberaba – Curso de Comunicação Social – Sala L 18 – Av. Nenê Sabino, 1801 – Uberaba/MG ••• Telefone: (34) 3319 8953 ••• E-mail: revela@uniube.br


especial

03

Poder público aposta na internet para informar a população Daniela Miranda Mariana Bananal

4º período de Jornalismo

As redes sociais estão entre as ferramentas de fortalecimento de relações diretas entre o povo e o governo. Dos mais de 300 mil habitantes de Uberaba, quase nove mil acompanham a página no Facebook da Prefeitura Municipal. O secretário de Comunicação, Denis Silva, ilustra o papel que a fan page cumpre, lembrando o caso de uma senhora que requisitava um medicamento à prefeitura e não precisou recorrer às vias judiciais para obtê-lo. Outra tentativa em usar a rede é por meio do aplicativo para Facebook Rede do Bem que, embora esteja no ar, não funciona. A expectativa do secretário é de que o aplicativo trabalhe efetivamente como

De 36

pessoas,

apenas duas acessaram

o Portal da

Transparência

uma Prefeitura no Bairro, porém, na rede social e via smartphones. As pessoas poderão enviar fotos de locais, por exemplo, um buraco na rua, e cobrar a recuperação do local. É uma espécie de Serviço de Atendimento ao Consumidor (SAC) 2.0, já adotado por algumas cidades de maneiras diferentes. Existe uma ferramenta formal de prestação de contas sobre os gastos e investimentos da prefeitura, o Portal da Transparência, porém, pouco conhecido da população. Em pesquisa realizada pela reportagem do Jornal Revelação no centro de Uberaba, 36 pessoas foram questionadas se já haviam acessado o Portal. Dos entrevistados, 23 disseram que nunca ouviram falar, 11 já ouviram, mas nunca acessaram, e apenas dois acessaram para obter informações. No site da prefeitura encontram-se também as prestações de conta, licitações, notícias e balancetes sobre a gestão municipal. Entretanto, em alguns casos, é preciso recorrer à burocracia para ter acesso às informações não

Foto: Fernando Gomes

Em contrapartida, as informações prestadas nos portais são de grande complexidade

A prefeitura investe na interatividade, informando a população por meio das redes sociais

disponibilizadas no site, por meio do envio de ofícios que, além de tempo, envolvem custo financeiro. Em 2013, o Ministério Público instaurou inquérito para levantar dados sobre a realidade desses portais dos poderes municipais Executivo e Legislativo. A Prefeitura de Uberaba se comprometeu a aprimorar sua publicação de dados. O inquérito fundamenta-se no princípio de que, para realmente informar

a população, é preciso haver transparência. “Observamos um certo acanhamento na regulamentação da lei, pois o padrão mínimo exigido para o fornecimento de informações ainda é muito pouco”, observa o promotor de Justiça, José Carlos Fernandes, que cuidou do caso na época. A promotoria constatou que os portais da transparência – prefeitura, Câmara Municipal e outros órgãos públicos

de Uberaba – cumprem as exigências, embora necessitem de complementação. Apesar da disponibilidade destas ferramentas on-line, pouca gente sabe que pode ajudar na fiscalização do emprego de recursos públicos. O secretário de Comunicação enfatiza que a população deve explorar estes recursos e participar de sua otimização, repassando erros sempre que forem detectados, possibilitando assim, sua correção.


04

especial

Cômite de Bacias Hidrográficas pretende alterar políticas na região Ana Knychala

e quantidade necessária para

Ianê Arantes

região, inclusive a população

2º período de Jornalismo

atender toda a população da

4º período de Jornalismo

rural, sem comprometer os

Fotos: Mairon Rufino

Água Viva é o principal projeto uberabense, voltado para a gestão dos recursos hídricos

mananciais.

Os diferentes graus de

A cidade de Uberaba, que

desenvolvimento de três

Triângulo Mineiro, é circun-

ficas do Triângulo Mineiro

Paranaíba. De acordo com

do rio Araguari conta com

de Gestão das Águas), nela

mento da bacia e arrecada,

da Bacia Hidrográfica dos

da água, em torno de seis

Paranaíba (que faz parte do

Esses recursos são utilizados

do Rio Paranaíba) e o Comitê

da água, recuperação mi-

Conforme a PMU, as obras na Santos Dumont atendem ao cronograma estabelecido para o projeto

Rio Grande.

e educação ambiental. Já

Hideraldo Buch, presidente

a execução do PBH; aprovar

soas têm conhecimento da

baseada na agropecuária,

Mineiros do Alto e Baixo Pa-

drográficas) Baixo Rio Gran-

rateio dos custos das obras;

dos comitês e que os mes-

área de plantação de cana-

de desenvolvimento para

com grandes usinas de álcool

realizam a cobrança pelo

manda uma atenção maior

envio de recursos do Fundo

nadas às águas e recursos

Desenvolvimento Sustentá-

objetivo de preservar as nas-

do Estado de Minas Gerais

oferecer água em qualidade

Os comitês são, segundo

está localizada na região do

comitês de bacias hidrográ-

dada pelos rios Grande e

merecem destaque. O CBH

o Igam (Instituto Mineiro

um plano de desenvolvi-

estão localizados os Comitês

com a cobrança pelo uso

Afluentes Mineiros do Baixo

milhões de reais por ano.

Comitê da Bacia Hidrográfica

na recuperação da qualidade

dos Afluentes Mineiros do

croambiental, mobilização

A economia da região é

os Comitês dos Afluentes

além de possuir a principal

ranaíba não possuem plano

-de-açúcar de Minas Gerais,

as respectivas bacias e não

e seus derivados, o que de-

uso da água, dependendo do

às políticas públicas relacio-

de Recuperação Proteção e

petências são: aprovar e

hídricos. Tudo isso com o

vel das Bacias Hidrográficas

tadual de Recursos Hídricos

centes dos rios em questão e

(Fhidro).

do CBH (Comitê de Bacias Hide, organismos colegiados

com atribuições normativas,

deliberativas e consultivas, reconhecidos e qualificados por ato do Poder Executivo.

“Suas principais com-

encaminhar ao Conselho Esa proposta do Plano de Bacia

Hidrográfica (PBH) para ser referendado; acompanhar

as condições e critérios de ratificar convênios e contra-

tos relativos aos respectivos

PBH; arbitrar conflitos pelo uso da água; sugerir os valo-

res da cobrança pelo uso da

água e outras competências previstas no art. 55 da Lei

Estadual n°3239/1999, que

existência e da importância mos os representam. Geral-

mente, empresas privadas demonstram uma maior

preocupação com o correto

uso dos recursos hídricos em comparação ao reclame da população.

Um exemplo dessa par-

instituiu os Comitês.”

ticipação é o envolvimento

Iniciativa privada

privadas com os comitês

Hoje, porém, poucas pes-

direto de algumas empresas

reguladores, como explica


especial Cristiano Faturetto, assessor

população e dos usuários da

de esgoto, minimização do

localizada a 100 km de Ube-

tempo, formas de preserva-

da cidade, a ampliação da

não foi criado

lação e o cuidado pelo meio

apenas para

ambiental da Usina Coruripe, raba. Segundo Cristiano, a empresa trabalha de maneira

pró-ativa. Pode ser citada a preocupação da empresa em

reflorestar as Áreas de Preservação Permanente (APP).

A usina planta em torno

de 40 mil mudas de espécies nativas por ano em suas unidades para recuperação de

bacia, planejar, ao longo do ção, manutenção dos recur-

sos hídricos em quantidade

e qualidade, abordando, de várias maneiras, a conscien-

Projeto Água Viva

Na cidade de Uberaba

mais de dois mil hectares,

a maior parte da população

hídricos sejam sempre sustentáveis.

Ele reforça que a partici-

pação da empresa, como dos

outros membros do comitê, está em auxiliar no planejamento a curto, médio e lon-

go prazo dos interesses da

Diferente do que acredita uberabense, o Projeto Água Viva não foi criado apenas

para solucionar o problema

das enchentes, apesar de esse ser seu grande motivo. Dentro do plano, há ações para despoluir o rio

Uberaba e córregos circunvizinhos com o tratamento

solucionar o

Segundo a Prefeitu-

várias obras, entre elas o

existe o projeto Água Viva.

fazendo com que os meios

ambiente.

hídricos estejam disponíveis.

áreas de preservação perma-

nente. Já foram recuperados

oferta de água para a popu-

ra Municipal de Uberaba

que, no futuro, os recursos

O Água Viva

mau cheiro na área central

tização da população, para

problema das

(PMU), já foram realizadas Piscinão (Drenagem Urba-

05

enchentes

O ano da água A preocupação com os

recursos hídricos motivou o Ano Internacional de Co-

na), Emissário e Estação de

rua Conceição das Alagoas

operação pela Água. Foi

implantação de adutoras do

entroncamento, também

edição do Seminário Água,

de água. Foram construídos

de lobo.

no ano passado, para reunir

a Av. Leopoldino de Oliveira

ções de macrodrenagem na

res em torno da política de

Freire e uma caixa hexago-

estão em curso tem previsão

Em uma das apresen-

e três de profundidade para

vereiro de 2015, totalizando

Conselho Mundial da Água,

oriundas da parte superior

Este trecho do projeto

apresentou algumas cons-

metros de galerias entre

tema, como a inconsistência

Oliveira e a praça Professor

pela política do país. Segun-

zes, ou Praça de Esporte da

para a gestão de recursos

também, serão colocados

da pela escassez relativa

res de esgoto nos dois lados

essa escassez deixa de ser

a rede de esgoto da pluvial.

cupações conservacionistas.

timentos ultrapassa os 30

apresentou um cenário em

niente do PAC 1.

ser visualizada uma mu-

foram utilizados, sem contar

vários segmentos da socie-

de 10 milhões de reais que

instalação e as ações pro-

as obras.

Bacias Hidrográficas (CBH).

Tratamento de Esgoto e

e da Nelson Freire. Neste

realizada, em Brasília, a 6ª

sistema de abastecimento

foram implantadas 14 bocas

Comunicação e Sociedade,

1380 metros de galeria entre

Já a realização das opera-

especialistas e comunicado-

e a rotatória da Av. Nelson

avenida Santos Dumont que

recursos hídricos no Brasil.

nal de oito metros de largura

de término previsto para fe-

tações, o governador do

receber as águas pluviais

10 meses de obras.

Lupércio Ziroldo Antônio,

da Guilherme Ferreira, da

terá a duplicação de 1.270

tatações relevantes sobre o

a avenida Leopoldino de

com a qual o tema é tratado

Murilo Pacheco de Mene-

do ele, a política pública

Medalha. Simultaneamente,

hídricos é sempre motiva-

2.688 metros de intercepto-

dos recursos e que quando

da avenida, que vão separar

evidente há somente preo-

O valor total de inves-

Por outro lado, Lupércio

Nas 19 ruas transversais à avenida Santos Dumont serão feitas intervenções, com redes de drenagem

milhões de reais e é prove-

transformação, onde pôde

Deste montante, 40% já

dança comportamental em

com a contrapartida de mais

dade, incluindo aí a criação,

o município repassou para

duzidas pelos Comitês de


06

especial

Falhas na infraestrutura impedem crescimento consolidado de Uberaba Os problemas na infraestrutura nacional afetam também a região Foto: Ianê Arantes

Beethoven de Oliveira Lara Guimarães

8º período de Jornalismo

Uberaba está localizada a 500 km da capital nacional, da capital do Estado e da capital econômica do país. Devido a esta posição estratégica, a cidade conta com uma rede de infraestrutura diversificada. O município conta com rodovias federais e estaduais, aeroporto com voos regulares e ramais ferroviários. De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a cidade possui o maior Produto Interno Bruto (PIB) agrícola de Minas Gerais e está em quarta posição em âmbito nacional. Tais condições favorecem os investimentos para manutenção e recuperação da infraestrutura oferecendo sustentação ao crescimento econômico local. No entanto, as falhas existentes em nível nacional impedem um crescimento mais acentuado do país e da região, especialmente em relação às vias de transporte. Na terra De acordo com o Supervisor do DNIT (Departamento

Vários investimentos estão programados para aplicação no Aeroporto de Uberaba, como ampliação da pista

Nacional de Infraestrutura Terrestre), Elias João Barbosa, as rodovias federais BR-050 e BR-262 encontram-se em boas condições, tanto de pavimentação, quanto de sinalização. Reparos foram feitos nas rodovias para resolver os danos causados pela chuva e a MGO (Concessionária de Rodovias Minas Gerais Goiás)

está em processo de renovação do asfalto, entre outras melhorias. Desde que as rodovias foram concedidas para um consórcio privado, cabe à ANTT (Agência Nacional de Transportes Terrestres) e, muito provavelmente, ao DNIT a fiscalização das concessões, de acordo com o engenheiro

do departamento, José Eduardo Tiberi. Segundo Elias Barbosa, a estimativa de tráfego nas rodovias federais que cortam Uberaba é de aproximadamente 25.000 veículos/dia. No ar O aeroporto de Uberaba é administrado pela Empresa

Brasileira de Infraestrutura Aeroportuária (Infraero), estatal que comanda os principais aeroportos do país. A cidade conta com voos regulares para Campinas, Belo Horizonte e São Paulo (Guarulhos). Nos últimos anos, investimentos foram feitos para melhorias no terminal de passageiros e estão pre-


A Aciu apresentou propostas de pavimentação de estradas e cobranças de aceleração de investimento

Nos trilhos O município ocupa a primeira colocação de Minas Gerais e a quarta do Brasil em produção de grãos. O envio desse material ao porto é bastante dificultado, pois existe praticamente um só canal de entrega. A Vale, através da empresa do grupo Valor da Logística Integrada (VLI), pretende fazer um investimento Foto: Ianê Arantes

vistas obras de ampliação das cabeceiras da pista. Esta obra irá exigir a desapropriação de cerca de 100 casas. Segundo a assessoria de imprensa da Infraero, o processo está sendo feito em conjunto com a Prefeitura de Uberaba e sob supervisão do Ministério Público. De acordo com a estatal, a ampliação da pista de 1.750m x 45m, em 150m em cada cabeceira, é exigência técnica para que a cidade possa receber voos regulares de aeronaves de maior porte. Nos últimos anos, Uberaba vem sofrendo com a falta de

voos regulares para os aeroportos de Congonhas, na capital paulista, e para Brasília. Esforços são feitos no sentido de que a cidade conte com mais opções para viagens áreas. As adequações na pista de pouso e decolagem podem ser determinantes para que haja voos regulares para estes destinos com aeronaves de grande porte. Devido ao crescimento econômico local, a Infraero registrou crescimento médio de mais de 50% no número de passageiros no aeroporto de Uberaba, enquanto que a média nacional é de 20% a 30%.

Cerca de 1,5 milhão de passageiros passam pelo Terminal Rodoviário

em Uberaba para modificar um pouco esse modal de transporte utilizando-se do transporte ferroviário ligado diretamente com o porto. Não só a produção de grãos é afetada pela deficiência dos portos nacionais, como toda a produção de carne, leite e álcool, etc. Toda a produção é afetada em função da má conservação das estradas, o que provoca perdas, calculadas entre 20 e 30%. Ações A Aciu (Associação Comercial, Industrial e de Serviços de Uberaba) apresentou para os representantes de cargos eletivos na Assembleia de Minas Gerais e na Câmara Federal propostas de pavimentação de estradas e cobranças de uma aceleração de investimento para fazer um intermodal que viesse também um trabalho para o aquaviário e o transporte por trem, segundo o presidente da associação, Manoel Rodrigues. A Aciu também se reuniu com o prefeito municipal junto à diretoria da Azul pleiteando que a empresa aumentasse o número de voos utilizando o aeroporto local. A companhia Passaredo começou a operar em novembro do ano passado, fazendo inicialmente conexões Uberaba - Garulhos. Também foi feita uma solicitação para que houvesse outra linha para Belo Horizonte, em função da importância da relação política com a capital mineira.

07

Foto: flickr.com

especial

Desafios do cenário nacional O Brasil apresenta problemas no que diz respeito à infraestrutura, como estradas de má qualidade e questões de transporte e logística. O país errou ao investir no transporte rodoviário. Não houve investimento em transporte ferroviário, nem no aquaviário, visto a grande disponibilidade de recursos hídricos que se tem na região. Segundo a consultoria americana McKinsey & Company, o Brasil necessita de R$ 5 trilhões em 20 anos para atingir o ponto ideal de infraestrutura para se desenvolver. É um número assustador e os investimentos já estão atrasados. A cada dia que passa, o Brasil perde uma boa quantia de dólares. Somente para revitalizar as rodovias, são necessários R$ 355,60 bilhões, segundo estudo da CNT que aponta o alarmante estado em que se encontram os cerca de

97 mil quilômetros de rodovias que cruzam o país. São falhas de pavimentação, sinalização e geometria de via. O modal rodoviário corresponde a mais de 60% do transporte de produtos e mercadorias produzidos no país. Entre 2003 e 2010, o Brasil viveu um dos melhores momentos econômicos de sua história, com crescimento de taxas do PIB (Produto Interno Bruto) da ordem de 4,7% ao ano. Isso ocasio-

O Brasil necessita de R$ 5 trilhões em 20 anos para atingir o ponto ideal de infraestrutura


especial

Erros de infraestrutura estão entre os fatores que impedem o desenvolvimento dos aeroportos, de norte a sul, no território nacional

comportam a quantidade de passageiros que embarcam ou desembarcam, faltam esteiras rolantes para distribuição de malas e assentos nas salas de embarque, os sanitários são insuficientes e a maioria destes terminais não possui vagas de estacionamento que comportem o movimento. As condições dos aeroportos não estão ruins apenas para os usuários, mas Foto: panoramio.com

nou o aumento da renda e, consequentemente, do consumo. O setor aéreo foi um dos privilegiados. Entre 2000 e 2010, o setor apresentou taxas de crescimento da ordem de 10% ao ano, principalmente pela inclusão de passageiros provindos das classes B, C e D. Em 2010, o BNDES – Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social – realizou estudo e concluiu que, desde 2009, a capacidade dos 20 maiores aeroportos do Brasil já está estagnada e são necessários investimentos para dobrar a capacidade destes aeródromos até 2030. Em um país de dimensões continentais como o nosso, o transporte aéreo é vital para movimentar não só passageiros, mas também cargas e mercadorias. A situação atual dos maiores aeroportos do país é precária. Temos terminais ultrapassados, que não

Foto: blogdaconteudo.blogspot.com.br

08

Cerca de 1,5 milhão de passageiros passam pelo Terminal Rodoviário

também para os operadores aéreos, que convivem com uma série de problemas estruturais. Qualquer nevoeiro ou chuva forte ocasiona o fechamento de operações dos maiores terminais, tudo porque faltam investimentos em tecnologia avançada capaz de permitir que pousos e decolagens sejam feitos em condições metrológicas adversas, e que operações sejam executadas simultaneamente. Como exemplo, no maior aeroporto do país, Guarulhos, a distância entre as duas pistas é mínima e não permite que as operações de pouso e decolagem ocorram de maneira simultânea. Muito dinheiro foi gasto para melhoria de terminais, como o do aeroporto Santos Dumont, no Rio de Janeiro, mas foram deixados de lado investimentos em instrumentos de navegação aérea que permitissem operações neste aeroporto em dias de

nevoeiro, fenômeno corriqueiro e que poderia ser resolvido com facilidade. O Estado brasileiro também não realizou significativos investimentos em portos nos últimos 30 anos. O sistema portuário nacional é tido por uma série de especialistas como o modal mais atrasado de nossa infraestrutura. Estimativas do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) apontam que, para evitar um apagão logístico, são necessários investimentos da ordem de R$ 50 bilhões de reais para melhorias estruturais nos portos brasileiros. Outro gargalo estrutural é a situação de nossas ferrovias. O Brasil possui pouco mais de 30 mil quilômetros de linhas férreas, ocupa a décima primeira colocação no mundo, em extensão. Em comparação com outros países dos chamados BRICs (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul), estamos na úl-

Desde

2009, a

capacidade dos 20

maiores

aeroportos do Brasil já está

estagnada tima posição quando se trata do assunto. Em agosto de 2013, o governo anunciou um plano de investimentos da ordem de R$ 91 bilhões em reestruturação e construção de novas ferrovias. A média mundial de investimento em infraestrutura é de 3,8% do PIB. No Brasil, nos últimos anos, a média é de menos de 1%, o que prejudica o crescimento do país em todos os sentidos.


especial

09

Pronatec amplia

a educação profissional técnica

Breno Cordeiro

Fernando Gomes

4º período de Jornalismo

Foto: Thaís Contarin

O Programa Nacional de Acesso ao Ensino Técnico e Emprego (Pronatec) tem alcançado resultados positivos em sua aplicação na cidade de Uberaba. O Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai), uma das instituições

que oferecem os cursos do projeto, já formou mais de 386 alunos neste ano e a expectativa é que outros 1.900 estudantes se formem até dezembro. O programa foi implantado em outubro de 2011 com o objetivo de ampliar a oferta de educação profissional técnica e facilitar o acesso de alunos egressos da rede pública e

O curso de solda é um dos mais procurados pelos alunos no Senai

trabalhadores em cursos capacitantes. Em 2014, cerca de 763 mil estudantes se matricularam no Pronatec Brasil Sem Miséria. Minas Gerais é o segundo estado do país com maior número de matrículas. São mais de 112 mil inscritos, ficando atrás apenas do Rio Grande do Sul, com 125 mil inscrições realizadas. Foram investidos R$ 225 milhões em 477 municípios mineiros para a criação de 242 tipos de cursos técnicos desde o lançamento do projeto. Em Uberaba, além do Senai, os cursos do Pronatec são disponibilizados no Instituto Federal do Triângulo Mineiro (IFTM) e no Centro de Formação Especial em Saúde (Cefores) da Universidade Federal do Triângulo Mineiro (UFTM). A supervisora do Pronatec no Senai, Marita Prado, explica que as empresas uberabenses entram em contato com a instituição frequentemente com a pretensão de contratar futuros profissionais para atuarem no mercado de trabalho. “A demanda crescente por mão de obra diferenciada é um dos fatores que explicam o sucesso do projeto”, diz Marita. A professora do curso de

Foto: Breno Cordeiro

Programa irá formar em Uberaba mais de 2 mil alunos em todos os cursos

A arrematadeira Jovina conseguiu seu emprego graças ao Pronatec

Panificação e Confeitaria no Senai, Flávia Calegari, comemora o sucesso dos seus alunos. “Estou dando aulas à minha terceira turma e vejo que, na maioria dos casos, os alunos terminam os cursos já empregados. É uma iniciativa muito positiva.” A arrematadeira Jovina Marta, ex-aluna do curso de Costura Industrial, salienta sua satisfação com os resultados alcançados. “O Pronatec foi tudo o que eu precisei para juntar o útil ao agradável. Sem o curso, não teria conseguido o meu emprego”, afirma. No Cefores/UFTM, a classificação do Enem (Exame Nacional do Ensino Médio) permite o ingresso nos cursos técnicos

de Enfermagem, Segurança no Trabalho e Farmácia. O coordenador do curso técnico de Farmácia da UFTM, Tony de Paiva, considera que, em termos de conteúdo, o curso é comparável ao curso superior de Farmácia, também oferecido pela UFTM. “A principal diferença diz respeito aos horários: o curso do Pronatec é matutino e o regular é noturno. Isso contribui para o nosso objetivo de disponibilizar cursos para o maior número possível de estudantes.” Ainda segundo Tony, os técnicos em Farmácia recém-formados conseguem empregos bem remunerados, com salários que variam entre R$ 800 e R$ 1.200.


especial

10

Instituições de ensino dedicam-se à inclusão social

A maioria das instituições de educação possui materiais e espaço físico adequados

4º período de Jornalismo

Instituições de ensino básico e superior de Uberaba trabalham com a interação social dos alunos com necessidades especiais. Elas seguem o Art. 2 referente à Lei n 7.853, promulgada em outubro de 1989: “cabe ao Poder Público e seus órgãos assegurar às pessoas portadoras de deficiência o pleno exercício de seus direitos básicos, inclusive dos direitos à educação [...]”. O Colégio Cenecista Dr. José Ferreira recebe estudantes deficientes há quase uma década. Para atendê-los, o colégio conta com estrutura especial, como banheiros adaptados, elevadores, corrimãos e rampas de acesso. O diretor da instituição, Danival Roberto Alves, informa que

Tudo que lhe é oferecido na escola, facilita o seu contexto de vida

foram gastos cerca de R$ 700 mil com a implantação de seis elevadores. “Além disso, nós estamos fazendo a adaptação dos desníveis de acesso em sala de aula. O alargamento dos portais – de 80 cm para 90 cm – também está sendo realizado a fim de que se atenda o limite mínimo para as normas de acessibilidade”, explica o diretor. No ensino infantil do colégio, estão matriculados cinco alunos que apresentam algum tipo de necessidade especial. Um deles, de oito anos, apresenta epilepsia idiopática, acarretando crises convulsivas frequentes. Até hoje, as causas não foram encontradas e, apesar do número de diversas associações medicamentosas, nenhuma consegue diminuir a quantidade de convulsões. Uma dessas crises foi prolongada, causando-lhe uma lesão cerebral e acarretando deficiências neurológica, motora e intelectual. Mesmo assim, os pais dele decidiram colocá-lo em uma escola de ensino regular. “O ganho do meu filho, em relação à escola, foi o convívio social, que é fundamental. Então, tudo que lhe é

Foto: Arquivo Colégio José Ferreira

Thaís Contarin Thaynnara Melo

Lorenzo, portador de eplepsia idopática, e seu professor de circo, durante apresentação teatral

oferecido na escola facilita o seu contexto de vida”, declara a mãe, Luciana Ferreira dos Santos Vaz. O pai do garoto, Valdir dos Santos Vaz, relata que a criança constrói um círculo de amizade cada vez maior no colégio, proporcionando-lhe oportunidades ímpares que o tornam um cidadão. A Escola Estadual Alceu Novaes também possui alunos com necessidades especiais matriculados no ensino regular. No ensino fundamental, sete deles possuem deficiên-

cia visual e dois, deficiência física. A escola é a sede do CAP (Centro de Apoio Pedagógico para Atendimento às Pessoas com Deficiência Visual). “Hoje, o nosso maior desafio é a criança com baixa visão, já que muitas vezes a falta de diagnóstico faz com que ela seja identificada como uma criança indisciplinada”, afirma a coordenadora do CAP, Vânia Ferreira. Durante todo o ano são feitas visitas em escolas municipais e estaduais, a fim de detectar possíveis problemas de visão nos alunos. Para que

todos esses projetos sejam realizados, o CAP recebe, do Governo Estadual, anualmente, cerca de 70 mil reais. De acordo com a secretária de Educação, Silvana Elias, a maioria das instituições do município já possui um espaço físico adequado para atender os deficientes. A verba para as adaptações arquitetônicas provém do PDDE (Programa Dinheiro Direto na Escola), vinda diretamente do MEC (Ministério da Educação). Estima-se que a prefeitura invista cerca de R$ 3 milhões, por ano, em capacitação dos professores,


especial

Inclusão universitária

A Monitoria Inclusiva foi criada pela instituição no segundo semestre de 2011. Seu objetivo é acompanhar individualmente os alunos deficientes que apresentam dificuldades em alguma disciplina. “Os estudantes interessados nas vagas de monitores passam por uma seleção, que é feita pelo professor-orientador. Os

candidatos precisam ter um bom desempenho acadêmico e, ao mesmo tempo, sensibilidade para atender uma pessoa que possui uma condição diferente da dele”, explica Débora. Crei No dia sete de agosto, foi inaugurado o Centro de Referência em Educação Inclusiva (Crei), que atua de forma multiprofissional com as crianças que possuem problemas de aprendizagem ou outras necessidades. A iniciativa é mais um suporte à educação inclusiva da política educacional de Uberaba. A última prática semelhante ao CREI na cidade foi com o Centro de Apoio Diagnóstico, Orientação e Pesquisa em Educação Especial (Cadope), encerrado em 2005. O Crei recebe cerca de 200 alunos semanalmente, entre crianças e adolescentes, de toda a rede pública de ensino. “Aqui, muita gente terá a oportunidade de ter acesso à inclusão pela educação”, conta Foto: Barbara Lemes

As instituições de ensino superior também apresentam recursos para atender os universitários deficientes. A responsável pelo Núcleo de Atendimento Especializado (NAE) da Universidade de Uberaba (Uniube), Cleonice Castor, conta que seis alunos utilizam o material em braille ou material destinado a quem tem baixa visão. “A imprensa Braille de São Paulo manda livros, mas nem sempre batem com que os alunos precisam”, lamenta Cleonice. Sendo as-

sim, a universidade disponibiliza um acervo bibliográfico que está à disposição desses universitários. A UFTM (Universidade Federal do Triângulo Mineiro) possui o Programa de Assessoria e Orientação aos Alunos com Necessidades Educacionais Especiais. “O programa acolhe todos os alunos que se autodeclaram com alguma deficiência e, a partir daí, é feita uma análise do que precisa ser feito dentro da instituição para que ele possa ter a sua aprendizagem garantida”, explica Débora Gontijo, responsável pelo acompanhamento da Monitoria Inclusiva.

Foto: Arquivo CREI

seminários, meios de transporte, material escolar adaptado e, também, no repasse de dinheiro para as instituições especializadas que têm alunos vinculados com as escolas regulares. “Precisamos dar ao ensino regular as condições de fazer uma educação integrada de qualidade com o ensino especial para que as pessoas sejam incluídas”, opina a secretária.

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Aluno de quatro anos em atendimento psciopedagogo no Centro de Referência em Educação Inclusiva

Equipe de profissionais do Crei no desfile de sete de setembro

a diretora de departamento de inclusão educacional e diversidade, Maria Afonsina Colavolpe. O centro possui equipe de profissionais especializados como fonoaudiólogos, psicólogos, neuropediatras, psicopedagogos, pedagogos e profissionais com formação nas áreas sensoriais (surdez e cegueira). A instituição recebe hoje alunos com deficiência intelectual, deficiências físicas e mentais e alunos com baixa visão. Atendimentos fonoaudiólogos e neurológicos especializados também são feitos nas instalações. Toda rede de ensino municipal da cidade recebe o atendimento do AEE (Atendimento Educacional Especializado), realizado no extra turno, onde o aluno é atendido e analisado a fim de verificar se ele precisa de um atendimento clínico especializado. O aluno chega ao Crei com o encaminhamen-

to da escola em mãos. “Nós, como professoras, sabemos que podemos ir até um limite na educação da criança. O aluno às vezes precisa de um atendimento especial. O Crei nasceu para dar suporte a esse atendimento”, complementa a diretora. Afonsina enfatiza também, a necessidade de uma parceria com as universidades da cidade. Ela diz que seria importante, tanto para o crescimento do centro, quanto para a especialização, de novos profissionais. No desfile do dia sete de setembro, na avenida Dr. Fidélis Reis, a equipe de profissionais do Crei marcou presença durante a caminhada. Alguns pais e alunos também participaram do desfile. A participação foi realizada com o intuito de mostrar à comunidade uberabense que existe na cidade um centro de referência especializado em inclusão na educação.


especial Foto: Letícia Morais

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Mulheres saem às ruas em busca de igualdade

Breno Cordeiro Fernando Gomes

4º período de Jornalismo

“O corpo é meu, independentemente da roupa que estou vestindo ou se estou sem roupa. Eu não mereço ser xingada, violentada ou estuprada.” Essa foi uma das ideias defendidas pelas manifestantes da II Marcha das Vadias, ocorrida no último dia 30 de agosto, em Uberaba. O evento reu-

niu aproximadamente 100 pessoas que marcharam da praça da Abadia até à praça Rui Barbosa. O movimento reivindicou a melhoria das políticas públicas municipais para a mulher, incluindo a ampliação do horário de atendimento do Centro Integrado da Mulher (CIM), a implantação de uma casa de acolhimento destinada às mulheres vítimas de violência e a resolução do caso Jaquelaine Arruda, estudante do 2º período de Jornalismo da Universidade de Uberaba (Uniube), assassinada em julho

passado. O tema da II Marcha das Vadias foi Combate e Enfrentamento às Violências de Gênero Contra a Mulher. Foi a conclusão de uma série de eventos, iniciada em junho, que abordou várias temáticas relacionadas à situação da mulher na sociedade atual, como violência de gênero e dominação masculina. Palestras, oficinas e cine-debates integraram o calendário de atividades que antecederam a Marcha. Camila Oliveira, professora e uma das 12 organizadoras do

evento, destaca a importância da iniciativa. “Nossa sociedade ainda é muito patriarcal e machista. Temos muitas dificuldades para tratar determinados assuntos. O intuito da marcha é, justamente, promover uma discussão acerca

Camila ressalta que

o objetivo da Marcha é promover a

discussão sobre os direitos femininos

Foto: Breno Cordeiro

Grupo também clama por justiça no caso da estudante Jaquelaine


Foto: Daniela Miranda

Precisamos quebrar

tabus, como conversar

13

Foto: Letícia Morais

especial

sobre sexo dos direitos femininos e conscientizar as pessoas, mostrar que mulher não é mercadoria”, enfatiza.

Violência em números Em Uberaba, são registradas cerca de 170 agressões contra mulheres, todos os meses. A estudante do curso de Serviço Social da Universidade

Os corpos pintados com frases esclareciam o real objetivo da marcha

Feministas conduzem a manifestação com batuques e músicas Foto: Letícia Morais

Foto: Daniela Miranda

Origem da marcha Em 2011, no Canadá, houve uma onda de casos de assédio sexual ocorrida na Universidade de Toronto. Em um debate sobre segurança nas universidades, o policial Michael Sanguinetti aconselhou as jovens a não se vestirem como “vadias” (sluts) a fim de evitarem estupros e outras formas de abuso. Em resposta, um grupo de estudantes organizou a primeira Marcha das Vadias (Slut Walk). Eram esperadas 200 pessoas, mas a Marcha contou com a presença de mais de 3 mil manifestantes. Desde então, a iniciativa foi conquistando grupos feministas em vários países. O termo “vadia” foi proposital e permaneceu com a finalidade de transmitir outro significado para a palavra, vista como forma de insulto às mulheres.

Os homens também marcaram presença com irreverência

Federal do Triângulo Mineiro (UFTM), Mércia Gonçalves, participou da marcha e chamou a atenção para essa realidade. “Uberaba é uma cidade muito conservadora – a terra do zebu, como a gente costuma falar. Precisamos quebrar tabus, como conversar sobre sexo, por exemplo”, salienta a universitária. Coordenadora Regional do Executivo Nacional dos Estudantes de Serviço Social, Mércia aposta nas atividades relativas à educação que antecederam a marcha. “É por meio dessas oficinas e palestras que

conseguimos atrair um público maior para nossa causa”, avalia. A organizadora Camila classifica a II Marcha das Vadias como bem-sucedida. “Acredito que todos os participantes estavam esclarecidos e conscientes sobre o porquê do nome, para que realmente serve este movimento e o que esperamos conseguir com ele. Apesar disso, as dificuldades são enormes, pois muitas pessoas ainda não têm maturidade suficiente para abraçar este tipo de movimento. Esperamos ultrapassar esses obstáculos nas próximas edições”, conclui.

Jovens protestam por melhorias no direito da mulher em Uberaba


especial

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Caso Jaquelaine na marcha,

retrato da realidade cruel Foto: Fernando Gomes

Felipe Madeira Letícia Reis Mariana Bananal

4º período de Jornalismo

Andressa Santos

6º período de Jornalismo

O assassinato da estudante do 2°período de Jornalismo, Jaquelaine Arruda Mamede, de 30 anos, ganhou ênfase na II Marcha das Vadias em função da

crueldade. Foram feitas e distribuídas 30 camisetas

com a fotografia da vítima e mensagens pedindo justiça.

A intenção foi pedir justiça, já que não existem notícias

sobre o andamento das in-

vestigações policiais. Em 17 de julho, a estudante foi dada como desaparecida. Seu carro foi encontrado na tarde do mesmo dia, sem indícios de furto ou roubo. Por meio das redes sociais, amigos e entes mais

Eu a tive,

mas ela não foi minha, o mundo acabou

tomando ela da gente

próximos pediam ajuda para encontrar a estudante. Pouco tempo depois, no dia 20, a história começaria a ter seu desfecho. Após três dias de ansiedade à procura de informações sobre a filha, Expedito Mamede Reis recebeu uma ligação da Polícia Militar que, ao mesmo passo que poria fim àquela espera, aumentaria sua dor. O corpo de uma mulher com características similares à de sua filha havia sido encontrado em um canavial próximo à MG2595 (antiga avenida Filomena Cartafina), com sinais de brutalidade e um tiro na nuca. Depois do reconhecimento do corpo, constatou-se que se tratava mesmo de Jaquelaine,

estudante da Universidade de Uberaba (Uniube). A jovem vivia em Uberaba há aproximadamente 5 anos e tinha acabado de completar o primeiro período do curso de Comunicação Social. Natural de Canápolis, uma pequena cidade de Minas Gerais, ela sonhava em crescer. “A Jaquelaine nunca gostou daqui, nunca gostou do povo daqui”, relembra o pai, que construiu na cidadezinha todas as suas conquistas. Expedito queria que a filha se casasse e tivesse filhos, mesmo assim, lembra que ela nunca partilhou de seus valores. Este era apenas mais um dos desentendimentos que tinha com o pai, homem sim-

ples e religioso, produtor rural do interior de Minas. “Eu a tive, mas ela não foi minha. Ela foi do mundo e o mundo acabou tomando ela da gente”, conta Expedito, lembrando que a filha saiu cedo de casa para viver com um homem que tinha conhecido na internet. Jaquelaine ganhava a vida de forma pouco convencional. Para pagar a faculdade e seus gastos pessoais ela trabalhava como profissional do sexo. Apesar de antiga, a profissão não foi regulamentada e ainda é um tabu para os mais conservadores. De acordo com o delegado responsável pelo caso, Cyro Outeiro, iniciar uma investigação com tais características

requer um levantamento da vida da vítima para descobrir possíveis ligações e com quem ela convivia. “Por hora, seria equívoco afirmar que a morte de Jaquelaine aconteceu devido à sua profissão, pois não se sabe o motivo e, consequentemente, não se tem a conclusão do caso. Quanto maior o ciclo de convivência da pessoa maior é a complexidade. Por isto, em casos deste teor, existe tal demora para serem solucionados”, explica o delegado. Os pais da estudante, no entanto, têm poucas esperanças de encontrar o culpado. Confiam apenas na justiça de Deus, a quem a família recorre para enfrentar este momento. Já a irmã, Jaqueline Arruda Mamede, apela à comunidade para que denunciem qualquer notícia sobre a morte de Jaquelaine. “Nada justifica a brutalidade deste crime”, afirmou a jovem. Jaquelaine faz parte de uma realidade alarmante no Brasil. Em Uberaba, apenas em 2014, 29 pessoas morreram por arma de fogo até o fim do mês de agosto. Vítimas da impotência da segurança pública e políticas que poderiam ser preventivas mas, como apontam os índices, mostram-se ineficazes.


especial

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Dependência virtual afeta sociedade moderna

Mundo contemporâneo é caracterizado pelo vício da internet Jaquelaine Mamede

* Ex-aluna do 2º período de Jornalismo (in memorian)

Um estudo realizado pela empresa Internet Time Machine revelou que a dependência em relação às mídias sociais está entre os temas mais pesquisados na internet. De acordo com o levantamento, as buscas superam consulta por dependência do cigarro ou vício por sexo. De acordo com a Time, a facilidade de comunicação

Sempre que preciso utilizar a internet perco o foco por conta das redes sociais

nas redes sociais, com a possibilidade de acesso à telefonia móvel e até mesmo de TV, aumentou o grau de dependência. A dependência em relação ao álcool ainda está na primeira colocação entre as buscas. Especialistas avaliam que a preferência pelo acesso às redes sociais, em detrimento do convívio no “mundo real”, é um dos principais sinais do vício. A estudante Victória Souza Santos, de 18 anos, cursa Engenharia Civil e conta que, após a aula, no período noturno, costuma passar até três horas na internet e durante o dia chega a ficar até oito horas. “Sempre que vou fazer algum trabalho, acabo perdendo o foco por conta das redes sociais”, explica ela. Mas Victória diz que nem sempre foi assim. O uso constante da internet começou depois do surgimento do Facebook, rede social que deu início

ao uso constante e exagerado, como ela mesmo ressalta. “Consegui a ajuda de uma psicóloga, mas não resolveu o problema. Depende muito da força de vontade de cada um”, conta. A dona de casa Milena Maria Cristina de Freitas, de 34 anos, diz que há cerca de dois anos, chegava a ficar cerca de 12 horas por dia na internet. “Sempre fui muito tímida e tinha dificuldade em me relacionar com os homens. Depois, comecei a namorar pela internet e

comecei a viver em função dela, ficando sem amigos reais”, lamenta.

Q u a n d o Milena não estava no computador, estava no celular. Foi então que percebeu que o seu vício havia virado doença. O namoro virtual não deu certo e ela viu-se obrigada a procurar ajuda médica. Hoje, Milena está bem melhor, continua com o tratamento psicológico e estabelece horários para usar a internet. De acordo com a psicóloga Claúdia Mazão, toda dependência é um mecanismo de defesa. “A internet , principalmente, as redes sociais, ao invés de unir as pessoas, está afastando cada vez mais umas das outras. As redes sociais - Facebook, WhatsApp, Instagram e inúmeros outros aplicativos, dão a falsa impressão de aproximação e não é bem assim. Você acha que está se comunicando só que, na realidade, não está.” A psicóloga ainda revela

que conhece uma família que mora na mesma casa e só se comunica pelo WhatsApp. “Atualmente, o vício não está só entre os jovens, mas em todas as faixas etárias. É necessário estipular horários para a pessoa não ficar trancada no mundo virtual”, reforça. Quando o grau de dependência é muito grande, é recomendável que a pessoa procure um tratamento psicológico. “Nesse estágio, o paciente sofre com a abstinência da internet e é necessário ir diminuindo as horas de acesso à internet, até a pessoa se acostumar a ficar poucas horas conectado”, finaliza Cláudia Mazão.

* Esta foi a primeira reportagem escrita por Jaquelaine Mamede durante o primeiro semestre de 2014, na disciplina de Introdução ao Jornalismo.


especial

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Pró-Viver Mulher ajuda vítimas a se recuperarem da violência Foto ilustrativa: Hugo Pereira

Larissa Rodrigues Thaís Contarin Thaynnara Melo

4º período de Jornalismo

O programa “Pró-Viver Mulher”, integrado dentro do Centro de Atenção Integral à Saúde da Mulher, foi criado por uma equipe interdisciplinar em novembro do ano passado para acolher, orientar e oferecer atendimento a mulheres e adolescentes a partir de 13 anos que sofrem ou sofreram qualquer tipo de violência. De acordo com a Delegacia de Orientação e Proteção à Família, 226 ameaças contra mulheres foram registradas em Uberaba de janeiro a março de 2014. Desses registros, 146 foram de lesão corporal. Para a coordenadora do

Nós

trabalhamos

para mostrar a elas que existe um caminho.

Pode não ser fácil de

percorrer,

mas existe

Eu me sinto

mais corajosa e me sinto livre para

fazer minhas escolhas.

É como se eu estive me

redescobrindo como mulher

A Delegacia de Orientação e Proteção à Família recebeu, de janeiro a março de 2014, mais de 226 queixas

programa, Rívia Tirone, a violência contra a mulher está enraizada no seio familiar e, na maioria das vezes, as vítimas não possuem mecanismos para sair dessa condição. “Existem os aspectos socioeconômicos, o fato de ela ter muitos filhos, de depender financeiramente do marido por não ter escolaridade e, em alguns casos, ela é cuidadora da mãe ou da sogra. Isso torna tudo mais difícil, então, nós trabalhamos para tentar mostrar a elas que existe um caminho. Pode não ser fácil de percorrer, mas existe.”

O “Pró-Viver Mulher” atende cerca de 10 a 15 novos casos por mês. Segundo a coordenadora, apenas cerca de 20% das vítimas que passam pelo Centro Integrado da Mulher optam por receber atendimento psicossocial. A reportagem do Revelação conversou com uma vítima de agressão, que não quis divulgar seu verdadeiro nome e nem mesmo sua idade. Ela iniciou o acompanhamento psicológico no programa, depois de ter sofrido agressão física, moral e psicológica por mais de 21

anos. A mulher resolveu então colocar um ponto final em seu sofrimento. “Eu morava em outra cidade com o meu marido e meus dois filhos. Eu não podia visitar a minha família aqui em Uberaba e nem receber a visita deles. Nós sempre brigávamos quando eu recebia algum telefonema dos meus familiares. Ele já me agrediu na frente da minha filha e deixou marcas pelo meu corpo.” A mulher também conta que o marido a agredia verbalmente em qualquer lugar, a qualquer hora, sem nem ao

menos se preocupar com quem estava por perto. “Com a ajuda das minhas irmãs eu vim para Uberaba e agora faço parte do programa. Eu me sinto mais corajosa e me sinto livre para fazer minhas escolhas. É como se eu estivesse me redescobrindo como mulher. Me arrependo por não ter procurado ajuda antes.” O Pró-Viver Mulher não conta ainda com uma verba específica e, por isso, tenta consegui-la junto à Secretaria de Políticas Públicas da Presidência da República. “Por enquanto, trabalhamos com serviços da Prefeitura, e acima de tudo, criatividade e boa vontade”, finaliza a coordenadora Rívia Tirone.


especial

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Lei Rouanet fomenta

projetos culturais em Uberaba

Festival Nacional e documentário sobre catira recebem aporte financeiro Foto: catiranobrasil.com.br

Bruna Pessato Bruna Ribeiro Felipe Madeira

4º período de Jornalismo

A lei Rouanet (8.313/91) é uma política pública de incentivo à cultura, que objetiva promover e estimular a regionalização da produção cultural, valorizando os recursos humanos e conteúdos locais. Prevê o incentivo a eventos ou manifestações culturais através de captação de verbas de empresas. De acordo com o Ministério da Cultura (Minc), qualquer pessoa, seja física ou jurídica, pode solicitar este incentivo por meio da aprovação de um projeto. O Ministério da Cultura prioriza os artistas, produtores e entidades culturais ao analisar as propostas, preocupando-se em averiguar se o beneficiário terá condições de realizar o projeto, atender o público-alvo e empregar bem os recursos oferecidos. Se contemplado, poderá abater o valor da verba em até 100% no Imposto de Renda. Gilberto Rezende, empresário e incentivador da cultura, relata a dificuldade de se conseguir

Não existe

uma cultura de imple-

mentação

de projetos

culturais em Uberaba

Grupos de catira se apresentaram para a gravação do documentário “Catira - Uma tradição de 450 Anos”

verbas vinculadas à lei, uma vez que não existe uma cultura de implementação de fortalecimento de projetos culturais no mercado de Uberaba. Na Fundação Cultural de Uberaba, há um setor, denominado Departamento de Fomento, específico para acompanhar os editais que são disponibilizados para patrocinar projetos pela lei Rouanet. O departmento é responsável por captar a demanda junto à comunidade através

de Conselhos, ONGs (Organizações Não Governamentais) e associações. Para custear um projeto aprovado, a fundação conta com o suporte de empresas que estão em um patamar de arrecadação anual elevado, levando em conta o seu lucro real. Em 2013, via Lei Rouanet, foram realizados o II Festival Nacional de Catira - orçado em R$100mil, e também o documentário Catira - Uma tradição de 450 Anos, no va-

lor de R$160 mil. De acordo com a assessora de fomento da Fundação Cultural, Lisete Resende, o projeto do documentário é a realização de um sonho idealizado há mais de 40 anos por Gilberto Rezende, pai dela, no intuito de preservar a cultura. O conteúdo do documentário foi obtido por meio de pesquisa realizada em 30 cidades, de seis Estados brasileiros: Minas Gerais, São Paulo, Goiás, Mato Grosso, Mato Grosso do

Sul e Distrito Federal. O material foi distrubuído em bibliotecas de escolas municipais e em centros de cultura popular. A exemplo do Gilberto Rezende, que conseguiu verba para o documentário e para o festival de Catira, qualquer pessoa pode levar seu projeto para pedir apoio à Fundação Cultural e receber o incentivo da lei Rouanet. “A Fundação sempre atenderá qualquer pessoa que precise de orientação ou que queira desenvolver um projeto e não tenha familiaridade com a lei. Já realizamos vários treinamentos e estamos dispostos a oferecer novos cursos, se necessário. O Departamento de Fomento está à disposição para atender a todas as pessoas’’, diz a presidente da Fundação Cultural, Sumayra de Oliveira.


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especial

Caminhada Pela Vida incentiva doação voluntária de órgãos Fotos: Daniela Miriranda e Neuza das Graças

A campanha, intitulada Dê o melhor de si, se estende durante todo o ano por meio do MPHU

Tendo como vertente a Responsabilidade Social, a Uniube investe na divulgação da campanha que teve como ponto alto a caminhada pela avenida Nenê Sabino

Daniela Miranda

4º período de Jornalismo

Raphael Geraci

2º período de Jornalismo

O acadêmico do 5°período de Engenharia Civil da Universidade de Uberaba (Uniube), Hualley Veludo, participou da 1ª Caminhada Pela Vida, promovida pelo Mário Palmério Hospital Universitário (MPHU) e pela Comissão Intra-hospitalar de Doação de Órgãos e Tecidos para Transplante (CIHDOTT). O movimento contou com a parceria do MG Transplantes e da Uniube. O evento reuniu apoiadores da doação voluntária de órgãos, no último dia

28 de setembro. A caminhada, com duração de uma hora e meia, fechou o Setembro Verde, mês dedicado à informação e divulgação da importância da doação de órgãos. Para Hualley, o percurso de 2,7 quilômetros pela avenida Nenê Sabino teve um significado especial. Seu pai está na fila de transplante renal há um ano. Segundo o universitário, só se entende a importância da doação de órgãos quando realmente se precisa do ato. “Dentro da minha casa, sempre aconteceu esse incentivo e, no momento, nós estamos passando por isso. Ficar esperando na fila e

não chegar a vez de alguém próximo abala a estrutura de toda uma família”, desabafa Hualley. Em nome da causa Na caminhada, marcaram presença integrantes dos cursos da área da Saúde da Uniube. Os profissionais de Educação Física coordenaram alongamentos antes e depois do trecho de caminhada. “A caminhada correspondeu às nossas expectativas. A instituição sempre apoiará boas iniciativas”, destacou o reitor da Uniube, Marcelo Palmério. Segundo o médico espe-

cialista em transplantes renais, membro do CIHDOTT e doador de órgãos, Thomson Marques Palma, a importância do Setembro Verde para a sociedade é de fomentar, explicar e incentivar a doação. “Ainda há muitos tabus em relação à doação voluntária de órgãos que podem ser removidos com a informação clara sobre o assunto.” De ponta Palma ressaltou, ainda, a importância do trabalho de adaptação da estrutura do MPHU para a extração de órgãos, colocando a cidade de Uberaba como polo alimentador da fila de doações.

O CIHDOTT ainda realiza o trabalho de articulação e captação de órgãos dentro de um hospital no âmbito administrativo. “Além do apoio técnico, a comissão realiza o contato com os familiares

Ficar

esperando

na fila e não chegar a

vez de alguém próximo abala a

estrutura de

toda a família


especial

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É menino ou menina? Gabrielle Paiva

6º período de Jornalismo

Setembro é tido como o mês nacional da doação de órgãos

que perderam os seus entes, explicando a importância da doação”, frisou o especialista. Mobilização A pró-reitora de ensino da Uniube, Inara Barbosa, comentou que os alunos da Universidade serão sensibilizados e informados em todos os aspectos acerca da doação. “É preciso informar sobre a existência de um programa de formação de pessoas para a coleta dos órgãos. Essa informação vai desde os alunos até os que dirigem todo o processo.” Inara também enfatizou a necessidade de incentivar a doação espontânea de órgãos como uma questão social. “É uma campanha nacional e nós estamos aderindo a ela. A caminhada é um movimento de sensibilização para mostrar à comunidade a importância de ser um doador. E se meus órgãos não puderem ser usados, doarei meu esforço, minha certeza

e meu empenho em prol da causa.” Em números De acordo com a Associação Brasileira de Transplante de Órgãos (ABTO), existem aproximadamente 945 mil pacientes ativos em lista de espera no país. Entre os órgãos esperados para transplantes, estão os rins – com a maior demanda de pacientes- fígado, coração, pulmão, pâncreas e córnea. O Estado de Minas Gerais é o segundo com o maior número de pacientes na lista de espera. São 266 mil pessoas esperando um doador compatível. “Um fato importante, que mobiliza a nossa emoção, é que Minas é um dos maiores Estados do Brasil e está nos últimos lugares de doação de órgãos. Isso nos deixa muito tristes“, lamentou a presidente da Vamhus (Voluntários e Amigos do Hospital Universitário), Wanda Lepri.

A Alemanha deu um grande passo na luta para uma sociedade menos binária e controladora. O país aderiu a mais uma opção além da definição como sexo feminino e masculino, no ato do registro de nascimento de um filho. há cerca de um ano. Bebês hermafroditas, nascidos com características dos dois sexos, serão registrados como indefinidos. O terceiro sexo alemão é o primeiro a ser aprovado na Europa. Infelizmente, além da Alemanha poucos países possuem legislação sobre essa indefinição, uma vez que a lei é considerada muito revolucionária. Na Austrália e na Nova Zelândia a definição “x”, para bebês hermafroditas, está em vigor desde 2011 e 2012, respectivamente. A medida proíbe a remoção, decidida pelos pais, de um dos órgãos genitais apresentados na criança. A inovação mostra a preocupação de governos com a insatisfação das pessoas operadas precocemente quando crianças. A insatisfação

com o próprio corpo, nesse caso, acarreta sérios danos na vida dessas pessoas. Crianças indefinidas terão, quando adultas, a possibilidade de se registrar como homem ou mulher, pois já estarão aptas para definir sua identidade sexual. A legislação permite, ainda, que se permaneça como sexo indefinido. Dessa forma, países que aceitam o terceiro sexo, além de se desprenderem de uma sociedade quadrada, em que somos considerados apenas como homens ou mulheres, permitem que a própria pes-

soa tenha total controle sobre o seu registro, sem que haja, necessariamente, uma cirurgia para remoção de um dos órgãos. Em contrapartida, o terceiro sexo está muito mais vulnerável a sofrer preconceitos, além de necessitar de uma nova legislação para atos comuns, como a união. A Alemanha, por exemplo, não permite a união entre pessoas do mesmo sexo. O fato de não se encaixarem na legislação do país, pode, posteriormente, causar algum constrangimento nas pessoas indefinidas. Calcula-se que dentre 1,5 mil ou 2 mil bebês, um nasça hermafrodita. Essas crianças hermafroditas, antes da nova legislação imposta na Alemanha e em outros países, sofriam uma ou mais cirurgias para determinar seu gênero. O terceiro sexo evita que essas pessoas, mais tarde, se sintam infeliz com a escolha feita pelos pais e permite que, quando se julgarem qualificados, sejam os próprios responsáveis por essa escolha, e assim, responsáveis por suas consequências.


especial

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Diagnóstico precoce do câncer em homens pode salvar vidas

Cerca de 400 mil homens, entre 45 e 75 anos, têm câncer de próstata e ainda não sabem Foto: Larissa Rodrigues

Letícia Reis Carolina Oliveira

4º período de jornalismo

O Ministério da Saúde apresentou a Política Nacional de Atenção Integral à Saúde do Homem. Ela foi desenvolvida em parceria entre gestores do Sistema Único de Saúde (SUS), sociedades científicas, sociedade civil organizada, pesquisadores, acadêmicos e agências de cooperação internacional. Essa política traduz um longo anseio da sociedade em reconhecer que o agravamento das morbidades que atingem o sexo masculino constitui um verdadeiro problema de saúde pública.

Considera-se que os homens têm mais resistência a procurar médicos e a se prevenir

Os médicos precisam dar mais atenção nas consultas para estabelecer uma relação médico-paciente

Boa parte da população ainda é carente em saúde de boa qualidade, mas percebe-se que o problema não está diretamente ligado apenas à má qualidade da política pública na área. Segundo estudos do Ministério da Saúde, a população masculina geralmente só procura auxílio médico quando algum problema de saúde já foi detectado e se encontra em estado mais

grave. Por motivos culturais, considera-se que os homens têm mais resistência a procurar cuidados médicos e a se prevenir. “Há dois anos, descobri o câncer de próstata. Nunca tinha ido ao médico urologista. Foi um ano e seis meses de tratamento constante. Todos os dias no hospital Hélio Angotti, às 18h, durante 40 dias consecutivos, eu fiz radioterapia. O câncer

começou com 45%, caiu para 40%, depois 38% e agora está em 0,1%. Quase nada, porém, mesmo assim, ainda tenho que me tratar, pois logo vieram outras doenças, como trombose, pressão alta, diabetes, colesterol, mas tudo isso eu superei. Posso dizer que é um milagre”, desabafa Adalto Silvério, de 59 anos, que superou um câncer de próstata. Vários estudos comparati-

vos entre homens e mulheres têm comprovado o fato de que os homens são mais vulneráveis às doenças, sobretudo às enfermidades graves e crônicas, e que morrem mais precocemente que as mulheres. O agravamento pode ser evitado se os homens realizarem, com regularidade, medidas de prevenção primária. A resistência masculina à atenção primária aumenta não somente a sobrecarga financeira da sociedade, mas também o sofrimento físico e emocional do paciente e de sua família. Segundo o médico urologista Sérgio Anacleto Silva, do corpo clínico do Hospital Dr. Hélio Angotti, tem-se observado um aumento muito grande no diagnóstico do câncer de próstata e isso se deve principalmente à conscientização, à quebra do preconceito e do tabu que existem em relação ao exame de próstata. “Obviamente, ainda há populações sem acesso à informação, mas nas camadas com mais informação, notamos um aumento do número de homens que procuram espontaneamente o médico para os exames de prevenção.


Foto: Arquivo Hospital Hélio Angotti

Ainda existem alguns graus de dificuldade e preconceitos, pois muitos homens esclarecidos não fazem exames. Porém, comparado ao ano passado, a procura se tornou maior”, afirma o médico. De acordo com dados do Instituto Nacional do Câncer (Inca), estima-se, em 2014, 68.800 mil novos casos de câncer de próstata em todo o Brasil. Esse valor representa cerca de 70 casos a cada 100 mil homens. Dados do Ministério da Saúde de 2003 revelaram que

Sérgio Anacleto acredita que o tabu vem sendo quebrado

as maiores taxas de câncer de próstata no Brasil estão no Distrito Federal, em Goiânia e São Paulo. Cerca de 400 mil homens, entre 45 e 75 anos, têm a doença e ainda não sabem. Câncer de mama em homens Você sabia que homens também podem ter câncer de mama? O câncer de mama masculino é uma doença rara e pouco estudada, mas, assim como as mulheres, os homens também possuem glândulas mamárias, portanto, também estão propícios a apresentar a doença. Para cada 100 casos de câncer de mama em mulheres, existe um caso em homens. Segundo o Inca, os anos de 2012 e 2013 apontaram 60.180 novos casos de câncer de próstata e 52.680 de mama. Outros estudos também mostram que a média de idade dos homens acometidos pelo câncer de mama varia de 60 a 70 anos, o que mostra que esse tipo de cân-

cer tende a ser diagnosticado em idade mais avançada do que nas mulheres. Na maioria dos casos de câncer de mama masculino, a detecção da doença é feita em estágio avançado, o que dificulta o tratamento, podendo haver metástase (formação de uma nova lesão tumoral) e, por vezes, óbito. Segundo José Luiz Telles, doutor em Saúde Pública, os homens utilizam álcool e outras drogas em maior quantidade do que as mulheres, não praticam atividade física com regularidade e se alimentam pior. Estão também mais expostos a acidentes de trânsito e de trabalho. Por isso, apresentam mais problemas de saúde do que elas e vivem menos, em média, sete anos. Novembro Azul Assim como o mês de outubro é marcado como período de combate ao câncer de mama, chamado de Outubro Rosa, o mês de novembro traz, desde 2012, a campanha de conscientização dirigida

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Foto: Larissa Rodrigues

especial

A cada três pessoas vítimas de câncer no Brasil, duas são homens

ao público masculino sobre a importância da prevenção e do diagnóstico precoce do câncer de próstata, conhecida como Novembro Azul. O mês foi dedicado aos homens para mostrar o quanto é importante fazer o teste que diagnostica o câncer de próstata. Durante todo novembro, a Sociedade Brasileira de Urologia (SBU), em parceria com Instituto Lado

a Lado pela Vida, intensifica o alerta. Mobilizar a população masculina brasileira pela luta e garantia de seu direito social à saúde é um dos desafios dessa política. Ela pretende tornar os homens protagonistas de suas demandas, consolidando seus direitos de cidadania.


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especial

Dependentes químicos lutam contra o vício Órgãos públicos e comunidade trabalham para ver Uberaba livre das drogas Barbara Lemes Larissa Rodrigues 4°período de Jornalismo

A cidade de Uberaba pos-

sui atualmente 14 comu-

nidades terapêuticas para tratamento de dependentes

Municipal de Desenvolvi-

de assistência ao dependente

“fazendinhas”, cada insti-

dependentes. As instituições,

(Seds). Conhecidas como tuição atende em média 30 pacientes por mês, gerando mais de 200 atendimentos.

As comunidades trabalham

para homens e apenas uma

do Fundo Municipal de Assis-

recebendo subsídios mensais

tência Social, que variam de R$ 300 mil a R$ 400 mil.

em sua grande maioria, são

compostas por coordenadores e uma equipe multiprofis-

sional incluindo psicólogos, assistentes sociais e terapeutas ocupacionais.

da Cunha, quando se trata

químico, tem-se uma temática que abrange várias políticas, entre elas a de assistên-

cia social, saúde, segurança pública, vigilância sanitária, habitação, entre outras.

“A sociedade está articula-

De acordo com a psicó-

da com a temática de drogas

Coletiva e Terapia de Família,

poder público é o único que

loga especialista em Saúde

Fotos: Mariana Bananal

conveniadas com a Secretaria

e apoio sociofamiliar aos

dido oferece acolhimento

em parceria com o município,

para mulheres. As clínicas são

Valéria Guimarães Rezende

mento Social de Uberaba

químicos, sendo treze delas

de atendimento exclusivo

O financiamento conce-

desde a década de 80. O

drogas, não amamos

nem a nós mesmos.

Resgatar os

princípios é

um processo demorado

está devagar nessa situação, não querendo abrir os olhos

para a assistência que tende a

hoje, é preciso conscientizar

O número estimado de

apoio maior ao dependente

rapêuticos cadastrados na

bém do apoio das escolas

236 dependentes.

Para um resultado positivo,

uma vez que o dependente

as políticas trabalhassem

bem pode sair quando qui-

Departamento de Progra-

procurando ajuda é grande,

Conselho Antidrogas, Claudia

ser prestada”, afirma Valéria.

a família para oferecer um

internados, nos centros te-

químico. Precisamos tam-

Seds, é de aproximadamente

para trabalhar a prevenção.

Este número é rotativo,

seria necessário que todas

que não estiver se sentindo

juntas”, declara a diretora de

ser. A demanda de pessoas

mas Sociais e conselheira do

assim como a desistência do

Cristina da Silva.

tratamento, e recaídas são frequentes.

“Para diminuir o número

Interno em recuperação trabalha em horta na nova unidade terapêutica do Centro Herd, na MG-427

No uso de

de dependentes químicos

Casas de recuperação

Em Minas Gerais, todas

as comunidades são para


especial Terapeutas desenvolvem

senvolvimento Social e Edu-

pacientes ficam internados

ações contra a dependência

oficinas todos os dias. Lá, os

por, no máximo, sete dias, mas há variações, conforme cada caso.

Crack, é possível vencer

Do ponto de vista político,

uma ação conjunta entre a Secretaria de Governo, representada pelo secretário

Wellington Cardoso Ramos, com apoio do prefeito de

Uberaba, Paulo Piau, e a Secretaria de Saúde, represen-

tada pelo secretário Fahim Internos do Centro Herd dividem as tarefas de organização como parte do tratamento na clínica

Sawan, foi tomada em julho

do ano passado, quando

houve a adesão ao programa

internação voluntária, ou

plantações e animais, como

Apoio Psicossocial de Álcool e

manifesta seu desejo pela

diariamente ocupados. Eles

do com leitos para internação

segundo o secretário de Go-

dimento aos dependentes

órgãos trabalham juntos: as

seja, o próprio dependente

recuperação. Em contrapartida, pode ocorrer a internação

compulsória, indicada através de ordem judicial, alegando

que o dependente precisa ser

uma maneira de mantê-los

também participam de reu-

niões com ex-usuários que

hoje são coordenadores da comunidade.

coordenadores do Centro

As comunidades terapêu-

com as drogas por 16 anos.

ticas não são consideradas clínicas de tratamento, ape-

sar de desenvolverem plano terapêutico, tratamento psi-

cológico, psiquiátrico, entre outros.

As duas unidades da co-

munidade terapêutica Centro

Herd, localizadas na zona rural do município de Ubera-

ba, abrigam 90 dependentes

químicos com idades entre 18 e 60 anos. Todas as ativida-

des são feitas pelos próprios

internos, desde o café da manhã até o cuidado com as

emergencial, além de aten-

que não estão internados.

Crack, é Possível Vencer.

A vantagem do programa,

verno, é a de que diferentes Secretarias de Saúde, De-

cação são interligadas em química.

O Ministério da Saúde

investirá em ações de tratamento aos dependentes quí-

micos, com a possibilidade de criação de novos leitos para atendimento aos usuários

de drogas e CAPS - AD para

atendimento 24 horas. Para as ações de assistência social, o Ministério do Desenvolvi-

mento Social e Combate à Fome fortalecerá o Serviço Especializado de Abordagem

Social. “Talvez, pela primeira vez, a prefeitura terá uma política voltada para a dependência química. Não que antes não havia uma política. Havia, mas não uma política estabelecida”, comenta Wellington Cardoso.

Vagner Mendes, um dos

internado por causar incômo-

dos a quem está ao seu redor.

Drogas (CAPS – AD), equipa-

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Herd, há três anos, sofreu Ele acredita no despertar espiritual, além da força de

vontade para a recuperação. “Para a evolução do trata-

mento, a boa vontade vem em primeiro lugar. O progra-

ma em si motiva a pessoa

voltar a se amar. No uso de drogas, não amamos nem a nós mesmos. Resgatar os

princípios e qualidades é um processo demorado”, afirma. CAPS-AD

A cidade de Uberaba tam-

bém conta com o Centro de

Após a limpeza geral do Centro, os internos realizam de três a quatro reuniões de terapia, diariamente



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