Projeto dos Meninos(as)

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Meninos(as) PROJETO DOS

Ano I • Nº I • dezembro de 2011 - Uberaba/MG

As esculturas de argila produzidas na oficina de arte em barro revelam a sensibilidade dos alunos


editorial

índice Comer para Crescer: alimentação saudável, criançada feliz

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Aprender Brincando: os ingredientes e métodos da educação

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Palavra de Especialista: Psicopedagoga dá dicas sobre educação

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Galeria de Artes: o talento dos pequenos artistas

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Valores Humanos: o direcionamento para o caminho certo

Famílias em ação: a participação dos parentes

18 Meninos de Sucesso: depoimentos de jovens que participaram da instituição Extensão do Projeto: as atividades realizadas no Residencial 2000

19 expediente Projeto dos Meninos(as) Magazine - Trabalho de Conclusão de Curso de Comunicação Social - Habilitação para Jornalismo - Universidade de Uberaba dezembro de 2011. Estudande do 8º Período de Jornalismo: Bárbara Caretta Projeto Gráfico e Diagramação: Alex Maia Orientadora: Indiara Ferreira Fotos: Capa (Natália Melo) - Arquivo Projeto dos Meninos(as)

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“Quais meninos?” Crônica: Irmã Anita conta história do Projeto dos Meninos (as)

Durante quase um ano de desenvolvimento deste Trabalho de Conclusão de Curso, a pergunta que mais ouvi foi: “Quais meninos?”. Então, respondo... O Projeto dos Meninos(as) é um trabalho desenvolvido, há 18 anos, nos bairros Gameleira e Residencial 2000, em Uberaba, Minas Gerais. Recebe, atualmente, cerca de 300 crianças e adolescentes, mas, nestas quase duas décadas de existência, mais de mil crianças e adolescentes foram atendidas. Cerca de 15% deles se perderam no caminho, segundo a direção. Outros 75% conseguiram construir um futuro melhor. Convidamos você para um mergulho nesta história. Na crônica de Irmã Anita, fundadora do Projeto dos Meninos(as), saiba como nasceu a instituição. Na página quatro, a psicopedagoga Glaucia Eli faz uma análise sobre a importância da educação na atualidade. O tema continua em pauta, na página seis, com a material Aprender brincando, que conta sobre as oficinas de Apoio a Leitura e Escrita. Você também irá conhecer, nas páginas 10 e 11, na Galeria de Artes, as esculturas em barro dos pequenos artistas. Não poderíamos deixar de falar do trabalho de formação humana que é desenvolvido com temas distintos. Família é outro assunto importante na instituição e abordado por nós. A boa notícia é que o projeto foi ampliado para o bairro Residencial 2000. No fim desta edição da revista, apresentamos Victor e Renato. São dois jovens que participaram do projeto e dão seus depoimentos sobre a importância desse trabalho. Bem-vindo ao Projeto dos Meninos(as)! Por Bárbara Caretta


Tudo começou...

Crônica

Por Irmã Anita Rocha – Fundadora do Projeto dos Meninos(as) ...No início dos anos 90. Nós participávamos da CEB’s (Comunidades Eclesiais de Base) do bairro Gameleira, um projeto que acontecia em toda Arquidiocese de Uberaba. Nos encontros, tínhamos formação humana para famílias e discutíamos o que era melhor para a realidade de cada local. Foi a partir dessas reuniões que, junto com a comunidade, percebemos a necessidade de se criar espaços para as crianças do bairro. Começamos sem lugar fixo, no fundo da nossa casa ou na igreja, reuníamos desde os bebês até os adolescentes. Pouco tempo depois, ganhamos três casas que, em mutirão, com as famílias, foram derrubadas para a construção da creche. Aos poucos, fomos nos organizando e descobrindo que precisávamos de um lugar específico para as crianças maiores, a par tir dos sete anos. Na mesma época, uma família que conhecíamos voltava de um trabalho realizado na África, Marco e Júlia Cury com seus filhos. Surge então o Projeto dos Meninos, que é um dos princi-

pais braços de diversas atividades que temos do Centro Comunitário do bairro Gameleira. Dom Benedito Ulhôa, na época Arcebispo de Uberaba, direcionou uma verba para a compra do terreno onde hoje funcionam as atividades do Projeto dos Meninos. Na época, só existiam as magueiras e uma casa pequena no local. As aulas eram embaixo das árvores, ao ar livre. Quando chovia, era uma bagunça. Juntávamos todos na casa, apertadinhos. Aos poucos, arrumamos uma verba aqui, outra ali e construímos a estrutura física da instituição. Mas, o mais importante é a estrutura organizacional que conseguimos ao longo desses 20 anos. Uma diretoria formada por membros da comunidade e ex-alunos do projeto que estão sempre em busca do melhor. Tudo o que conseguimos até hoje é uma grande vitória e foi conquistado com muito esforço. Mas a alegria maior é ver os nossos alunos formados e com um futuro melhor. Somos felizes pelo que temos e continuamos em busca de melhorar cada vez mais, pois ainda há muito a ser feito.

O Projeto dos Meninos(as) nasceu em 1994 e já recebeu mais de mil crianças ao longo desses 18 anos

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O B-A-BÁ da formação Especialista em psicopedagogia explica a importância e as responsabilidades na educação da criança e do adolescente É inegável a importância da Educação Básica na formação de um cidadão crítico e consciente. Mas, durante os nove anos (período regulamentar para a finalização dessa etapa), alguns obstáculos podem surgir no processo de ensino-aprendizagem. Nesse momento, o professor precisa experimentar novas didáticas e dinâmicas em sala de aula e construir novas formas de inclusão do saber na vida dos alunos. Nem sempre a educação básica é suficiente para formar cidadãos conscientes e garantir o aprendizado de uma pessoa. Glaucia Eli da Silva é formada em

De que modo acontece a educação de uma pessoa? Glaucia: A educação não acontece só no modo tradicional, na sala de aula, acontece também na vida. O aluno precisa aprender a lidar com o outro, ter conhecimento sobre ética, responsabilidade, compromisso, estabelecimento de rotina, respeitar o limite do seu colega, criar uma visão de futuro, onde eu quero chegar, como eu quero chegar, quais caminhos são viáveis para isso, o que eu preciso trabalhar para chegar nesse lugar, aprender que eu não vou chegar trapaceando, tentando ir pelo caminho mais fácil. Isso é também aprendizagem, e talvez algumas das mais valiosas. Cada criança vem com uma bagagem, um problema diferente. Como tratar o todo, diante de tantas diferenças? Glaucia: As diferenças, na verdade, são as maiores riquezas que nós temos no contexto de ensino apren-

pedagogia pela Faculdade de Filosofia e Ciências de Ituverava e especializou-se em Psicopedagogia Institucional pela Universidade Castelo Branco. Trabalhou por 28 anos na rede municipal de ensino de Uberaba e fala sobre o olhar atento do professor, como perceber que uma criança está com alguma dificuldade e transformar o problema em aliado no processo de aprendizagem. Ela destaca a importância do processo de educação não só como transferência de ensino e sim como troca de aprendizagens. Confira na entrevista a seguir.

dizagem. Por exemplo, quando temos uma criança deficiente em um processo de educação infantil, as outras crianças se envolvem para ajudar e fazer com que ela cresça. Em primeira instância, nós precisamos lembrar que as diferenças são altamente positivas. Mas é claro que também tem aquelas que são negativas, então como trabalhar isso em um contexto tão diverso? Quando eu estou em um ambiente não tão formal quanto a sala de aula comum, posso propor estratégias que levem o grupo para um mesmo lugar. Eu preciso analisar de acordo com cada idade, o que aquela criança, o desenvolvimento dela, permite que ela realize que ela faça para crescer e melhorar a dificuldade. É impor tante propor atividades grupais, para que as crianças se aproximem e as diferenças se tornem menores, valorizar a potencialidade da criança. É fundamental o trabalho do adulto, da pedagoga, que aplica diferentes dinâmicas, diferentes leituras, a par tir do olhar atento pra cada uma dessas par ticularidades.

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O professor é fundamental na vida do aluno. É a primeira pessoa com quem ele estabelece uma ligação afetiva depois da família.


Palavra de Especialista

humana Quais são os sinais que ajudam a diagnosticar esses problemas? Glaucia: Existem sinais que são ligados à par te orgânica. Esses são mais fáceis de perceber. Já os sinais de par te emocional são mais difíceis de diagnosticar, mas, mesmo assim, tem um momento, um limite que fica aparente. A criança apresenta alguns deles. A criança muito quieta, ou a que sempre se destaca, quer sempre estar em evidência, aquela que não para quieta, a que chora muito fácil, que estraga o brinquedo do colega sempre. Tudo isso é sinal de que há alguma coisa acontecendo com essa criança e é preciso ter uma atenção especial para poder ajudar.

Como o trabalho do professor pode influenciar na vida dessa criança que está com algum problema? Glaucia: De várias formas, altamente positivas. O professor não pode separar o aluno, com a função de aprender, do seu lado emocional. A pessoa é uma só. Não vai pra um lugar e desliga da tomada os problemas. Por isso que eu preciso ter a compreensão do aluno em todas as suas dimensões, para perceber que a afetividade é um dos fatores que o ajudam a desenvolver. Se eu sou uma professora afetiva, que conheço meus alunos e, no início do ano, consigo fazer um diagnóstico deles, de quem são, onde moram e quem são os pais. Se ouço aquela criança quando ela fala alguma coisa, desenvolvo uma relação afetiva com ela. Essa relação afetiva é altamente positiva no processo de aprendizagem. A criança não quer decepcionar aquela pessoa que gosta e admira. O professor é fundamental na vida do aluno. É a primeira pessoa com quem ele es-

tabelece uma ligação afetiva depois da família. De que forma projetos semelhantes ao Projeto dos Meninos podem somar na educação básica? Glaucia: Esses projetos podem enriquecer principalmente em se tratando de áreas culturais, como música, teatro, que a escola geralmente não consegue contemplar, principalmente pelo currículo que eles precisam obedecer, os prazos e metas de um cronograma feito para o ano todo. Nesses projetos, posso estabelecer dinâmicas e estratégias que fazem os alunos enxergarem que, o que eles acham ruim, ou não gostam, como um livro, tem um outro lado. Podemos, por exemplo, trabalhar a história de cer to livro em teatro. Em projetos como esse é possível trabalhar muito melhor o lado lúdico, sem contar os inúmeros benefícios, tanto na par te educacional, como na par te de formação de valores e caráter de uma criança e adolescente.

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Aprender brinc Criatividade e empenho são ingredientes da educação no Projeto dos Meninos(as) Igor Ferreira Gonçalves tem 15 anos e mora com a avó Ilza Ferreira dos Santos. Em abril de 2011, saiu de casa em sua bicicleta para visitar a mãe. No caminho, perdeu o equilíbrio após ser ultrapassado por um caminhão e caiu. Com o acidente, quebrou os dois braços, teve várias escoriações e cortou a cabeça. Cursando o sétimo ano do ensino fundamental, antiga sexta série, na Escola Municipal Joubert de Carvalho, Igor perdeu mais de um mês de aula e ganhou um boletim cheio de notas vermelhas. Graças à parceria do Projeto dos Meninos (as) com as escolas em que os alunos da instituição estudam, a coordenação pedagógica recebe o boletim das crianças e adolescentes e, desse modo, pode identificar a maior dificuldade de cada um para ajudar. “A ajuda das professoras do projeto foi fundamental para minha recuperação na escola. Elas ‘pegaram no meu pé’ e me incentivaram. Minhas notas melhoraram muito”, reconhece Igor. São duas turmas, manhã e tarde, divididas em três grupos, de acordo com a idade. Os primeiros alunos, com idade entre seis e 12 anos, chegam às 8h e saem entre 11h30 e 12h. Os maiores, de 11 a 14 anos, chegam depois das 13h, quando saem da escola, e voltam para casa às 17h. As aulas são preparadas conforme análise do boletim escolar e reuniões semanais. As professoras

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analisam o comportamento dos alunos e as notas que recebem na escola, assim elaboram uma estratégia que melhor atenda às necessidades das crianças e adolescentes. Tudo isso ajuda as professoras Sueli, Márcia e Valéria a identificar as dificuldades e elaborar dinâmicas, grupos de estudo e estratégias pedagógicas para as aulas de reforço escolar. “Temos que saber um pouquinho de tudo aqui por que os meninos trazem diferentes tarefas e trabalhos. Cada um tem dificuldade em uma área”, conta Sueli, que trabalha nos dois turnos. A criatividade na elaboração das aulas também entra em pauta no Projeto dos Meninos(as). A permanência e freqüência na instituição não são obrigatórias. Para manter as crianças ativas é preciso jogo de cintura e boas idéias. “Sempre procuramos trazer livros interessantes, montar a aula de um jeito diferente, atrativo, com muitas dinâmicas. Assim, eles gostam e sentem vontade de voltar todos os dias”, explica a professora Valéria Fernandes de Souza Silva.


cando

Educação

As professoras do Projeto dos Meninos(as) realizam reuniões semanais para planejamento das oficinas de apoio a leitura e escrita

A coordenadora do projeto, Júlia Cury, afirma que a preocupação da instituição é a educação. “A nossa intenção é formar cidadãos conscientes, que saibam opinar e se posicionar perante as discussões sociais e, para isso, é importante que eles tenham uma boa formação, que leiam muito e se informem”, enfatiza a coordenadora.

Os responsáveis pelos alunos (pais, mães e parentes mais próximos) reconhecem a importância do trabalho realizado na instituição. Vani Maria Paiva tem três netos no projeto. “Esse projeto é uma bênção na vida dos meus netos. Eles melhoraram na escola, não só nas notas, mas também no comportamento”.

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Comer para Crescer

Alimentação saudável, criançada feliz

Convênios e doações garantem comida na mesa

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Cerca de 100 crianças almoçam todos os dias no Projeto dos Meninos(as) São em média 210 quilos de arroz, 60 de feijão, 200 de carne e 240 de verdura por mês para alimentar as cerca de 100 crianças que almoçam, todos os dias, no Projeto dos Meninos(as). Os alimentos são preparados pelas mãos da cozinheira Maria Fernandes Souto de Paula, que trabalha na instituição há dois anos. Dona Maria chegou quando o restaurante foi aberto, em 2010, por meio da parceria com a Fundação Abrinq. A parceria durou um ano. No início de 2011, a direção decidiu promover eventos com as famílias, como jantares, bingos. Além disso, o restaurante é aberto para a comunidade comprar o marmitex por R$6,00 e tem 50% de lucro, revertendo para gastos com a alimentação. Eles ainda contam com ajuda dos recursos dos convênios com a Secretaria Municipal de Desenvolvimento Social e doações. “A maioria das crianças vem de famílias de baixa renda, que não têm condições de uma alimentação completa, com carne, verdura e legume, ingredientes fundamentais para um crescimento saudável”, relata Júlia. Ela ainda conta que assim que o refeitório foi inaugurado, em 2010, a direção teve que limitar a quantidade de vezes que podia repetir, pois muitas crianças estavam passando mal por comer muito. Foi limitado então a três vezes para cada aluno. “A comida é muito boa. Podemos


SEGUNDA-FEIRA Arroz, feijão, carne de porco, salada de macarrão, molho de abobrinha, bife a rolê, salada. TERÇA-FEIRA Arroz, feijão, strogonoff, batata frita, abóbora cabotiá, salada. QUARTA-FEIRA Arroz, feijão, carne moída com legumes, macarronada, espinafre, quibe assado, salada.

repetir e comer de tudo: arroz, feijão, carne, que nem sempre tem em casa, muita salada e verdura. Coisas que fazem bem pra saúde”, conta Josué Henrique de Souza Paiva, de sete anos. Comidas simples, mas que agradam a criançada. Para os pequenos, o prato preferido é galinhada, servida às sexta-feiras. Outro preferido é o strogonoff, de terça-feira. “É muito bom saber que estamos ajudando a construir um futuro melhor para eles”, finaliza dona Maria.

QUINTA-FEIRA Arroz, feijão, bisteca de porco, farofa, couve, mandioca, salada. SEXTA-FEIRA Galinhada, carne de panela, creme de milho, maionese, tutu de feijão e carne moída e verduras.

O Restaurante Park foi construido em parceria com a Fundação Abrinq

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Galeria de Artes

Arte em barro Crianças e adolescentes reconstituem a história de Chico Rei em esculturas em argila

As instruções são com sotaque estrangeiro. Pela terceira vez, Geneviève Le Phuizic vem da França para ministrar o curso de arte em argila na instituição. Neste ano, o tema é a saga de Chico Rei. Em pouco menos de dois meses, os 24 participantes do Projeto dos Meninos contaram a história do africano, que foi vendido como escravo para o Brasil e lutou pela liberdade. Os ingredientes para as obras de arte são simples: argila e um pouco de água, somados a alguns instrumentos de modelagem e desenho. Para finalizar, a tinta que ajuda a dar a tonalidade exata para as peças. Aos poucos, surgem as formas. Na primeira visita, em 2007, ela ensinou a mexer com a argila e foram fabricados jarros. Já em 2009, foi criado um painel mural, inspirado nas características do projeto. A ideia de ministrar esses cursos veio da própria artista. Geneviève é sobrinha de uma das fundadoras, Irmã France Jougla. Em uma visita à tia, conheceu o projeto e quis voltar para ensinar as crianças. Ela diz que, neste ano, pretende inscrever os trabalhos realizados em Uberaba no Festival de Filmes de Cerâmica, realizado na cidade de Montpellier na França. Lá, ela também produz esculturas para exposições. Além disso, realiza trabalho voluntário ensinando principalmente mulheres adultas. A artista afirma que o bacana das atividades desenvolvidas nesses anos é ser um trabalho em grupo que motiva os alunos a colaboração e respeito ao serviço do outro. “Cada aluno faz um pedacinho e, no final, quando todos os trabalhos estão juntos, é que forma um todo”, comenta Geneviéve. O estudante Hiago Fernandes da Cruz foi um dos selecionados para participar da oficina, graças ao seu interesse nas artes e pelo bom comportamento no projeto. Ele diz que foi uma experiência inesquecível em sua vida. “Foi ótimo participar da oficina de argila porque me ajudou a agregar conhecimento e experiência em uma área que eu ainda não conhecia”, relata Hiago.

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Valores

HUMANOS A cada mês, uma temática é escolhida para ser trabalhada no Projeto dos Meninos(as), de acordo com as necessidades diagnosticadas nas aulas e reuniões semanais. O importante é o incentivo à produção de materiais que conscientizem e informem sobre temas importantes na sociedade. Poemas, paródias e trabalhos são apresentados

Pequenos No Projeto dos Meninos(as), os alunos aprendem principalmente a valorizar o ser humano, respeitar o próximo e o direcionamento para o caminho certo.

no final de cada mês e o melhor é premiado com balas e chocolate. Os juízes da premiação são as professoras e a coordenação pedagógica. Confira a produção das crianças e adolescentes dos meses de agosto, setembro e outubro de 2011 sobre os temas: pipa, Projeto dos Meninos (as) e inclusão social.

Cartaz produzido pelos alunos do turno da tarde sobre o respeito aos portadores de deficiência física

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Cidadãos Agosto,

mês conhecido por ter muito vento é a época perfeita para a fabricação de pipas, um brinquedo antigo que ainda hoje faz sucesso com a criançada. No Projeto dos Meninos(as), foi trabalhada a conscientização para que os alunos não usem cerol, material perigoso encontrado na brincadeira.

Pipa que voa levando e trazendo lembranças boas Hiago Fernandes da Cruz Esta brincadeira que vou falar agora é a mais divertida de todas que já brinquei. A minha mais preferida. Logo ao entardecer, escuto o vento uivando, Larga tudo e vou correndo, serelepe, pulando. Meus amigos fazem o mesmo. Vamos todos brincar, brincadeira tão divertida, não tem hora para acabar. Que alegria minha pipa vou soltar. Logo minha pipa sobe e se mistura com o azul do céu, com o azul do mar. O sonho de ser criança acabou de começar. Lá no céu que nem um passarinho veja minha pipa a voar com a sua linda rabiola que os garotos da minha rua vivem a invejar. Minha pipa vive flutuando no céu enfeitar. Minha mãe não gosta muito e vive a emplicar: -‘’Oh meu filho tudo bem que é bricandeira, mas largue disso vem para casa estudar’’. Ciente do meu dever, não vou demorar. Aproveito mais um pouco e já vou entrar. Minha tia já velhinha, bem fraquinha, vive a falar. ‘’Hoje eu conheço a felicidade, pois um dia fui criança e pipa pude soltar’’. Soltar pipas é para todas as crianças e adultos e até mesmo os pequeninos. Foi isso que aprendi lá no Projeto dos Meninos(as). No projeto, pude aprender que cerol não pode usar. Pois as pessoas inocentes podem se machucar. Pensar no próximo, nunca é demais. Isso só mostra que para mudar o mundo só basta ser capaz. Depois de todo esse aprendizado, volto para casa exausto, já muito cansado, mas logo começo a me animar. Pois brinquei o dia inteiro e agora é hora de estudar. Depois de tudo, quero realizar. E se papai do céu puder me abençoar e um dia lindo poder me proporcionar. Amanhã, alegremente, pipas com os meus colegas eu vou soltar.

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Setembro,

No mês de foram feitas paródias sobre o Projeto dos Meninos(as), o que ele representa na vida dos adolescentes. Confira a vencedora do mês.

Paródia - Eu queria mudar Eu queria mudar, eu queria mudar, Eu queria mudar, eu queria mudar... O projeto me ensinou ser assim, viver sem preconceito, vai ser muito bom pra mim. Aprendi a ter respeito e cuidar da minha vida, ir pra faculdade pra estudar... No meio do projeto é a gente que escolhe, amigo de confiança com certeza vou achar... Eu queria mudar, eu queria mudar, eu queria mudar, eu queria mudar... O projeto me ensinou ser assim viver, sem preconceito, vai ser muito bom pra mim. Pulei o muro do preconceito pra ser alguém na vida. Sem preconceito melhor agora fica. Respeitar a mulherada, respeitar seu vizinho. É muita influência pra um só menininho. É divertido estudar, fazer o que é divertido. Boneca no telhado brincadeira de menina, cadeira de madeira, mocinho sentadinho. Vida boa, descendo atrás dos amigos, mais empolgados da rua, tipo engraçado, jeitinho de marrento, carinha de engraçado. Adorava a escola, classe ou centro de ensino. Dá meu carrinho, dá meu brinquedo de alegrar, menininho. Esse mundo me ensinou Respeitar Esse mundo me ensinou Trabalhar Esse mundo me ensinou a Viver De um jeito que dá pra mudar... Eu queria mudar, eu queria mudar, eu queria mudar, eu queria mudar... O projeto me ensinou ser assim viver sem preconceito, vai ser muito bom pra mim!

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Famílias em ação

Projeto dos Meninos(as) trabalha com a família Os parentes tem participação ativa na instituição por meio de reuniões e eventos

Os Encontros de Famílias são realizados mensamente e, além de proporcionar diversão, tratam de temas sociais

O envolvimento das famílias dos alunos no Projeto dos Meninos(as) sempre foi uma preocupação da direção da instituição. Para a direção, é importante que todos estejam envolvidos no processo de educação de cada criança e adolescente que participa ali. Para isso, eles realizam os Encontros de Famílias, que acontecem a cada dois meses. São desenvolvidos eventos que chamem o maior número de pais e responsáveis possível. A coordenadora do projeto, Júlia Cury, afirma que uma reunião de pais comum, como na escola normal, não consegue fazer que os pais se interessem. “Por isso, pensamos em eventos: jantares, bingo, noite de talentos e noite de forró. Assim, conseguimos trazer toda a família para uma noite agradável e aproveitamos para passar as informações e atualizar cada um sobre seu filho, sobrinho, neto”, conta Júlia. Além dos eventos, acontecem também palestras sobre temas sociais, como higiene, drogas, doenças sexualmente transmissíveis, além de especialistas em serviço social, que orientam os pais sobre as necessidades e os cuidados com os filhos. Foi assim que a dona de casa Valéria Inês Martins Silva ficou sabendo que o filho Guilherme estava com mau comportamento no Projeto dos Meninos. O adolescente, de 15 anos, segundo a mãe, é inteligente e adora futebol, mas não tinha disciplina nenhuma. Há um ano frequentando a instituição, Kibinho, como Guilherme é conhecido, quase chegou a ser desligado do projeto. Com o acompanhamento feito com as famílias e a parte pedagógica, a coordenação decidiu dar uma última chance ao adolescente e o encaminhou para a Unidade II, onde os jovens aprendem a se comportar em um ambiente de trabalho.

Lá, Kibinho melhorou a disciplina, além das notas na escola. “O projeto é um alicerce na vida de todas as crianças e são elas que constroem o futuro. É bom ver que meu filho está seguindo um caminho bom”, conclui Valéria. Quem também valoriza o trabalho realizado no Projeto é a família do jovem Leonardo Alves Chaves, de 27 anos. Léo está na instituição há aproximadamente nove anos e tem o desenvolvimento motor lento, o que atrasa o seu aprendizado, mas isso é uma mera informação. Léo é muito querido entre todos, graças à sua facilidade de fazer amizade e encantar as pessoas. Ele gosta de participar de tudo que o projeto oferece: futebol, violão, dança e o oficina de Olodum, sua grande paixão. Seus pais, Vanda Lúcia Alves Chaves e Paulo Roberto Chaves, garantem que o Projeto dos Meninos(as) é o segundo lar para o filho. “O Léo é o maior presente que Deus colocou na nossa vida. É muito bom saber que no projeto as pessoas convivem bem com ele e o respeitam”, diz a mãe. Sempre que podem, os pais dos jovens Leonardo e Kibinho estão no Projeto para participar dos eventos, saberem como os filhos estão. “Tentamos sempre estar presentes para mostrar para o Léo que nos importamos com o que ele gosta, o que o deixa feliz”, conta Paulo Roberto. Além de mostrar para as famílias a rotina dos seus filhos, os Encontros de Família também ajudam a arrecadar renda para a alimentação dos pequenos. “Toda a renda que arrecadamos nos eventos é revertida para a compra dos alimentos”, garante a coordenadora.

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Recreação

Brincar é preciso Os alunos do projeto, além de apoio e reforço na educação e valores humanos, têm tempo reservado para a diversão

Não só de estudo sobrevive o Projeto dos Meninos(as). Dividido em dois horários, o segundo turno é dedicado às brincadeiras e atividades de recreação para as crianças e adolescentes. “Geralmente, é a parte que eles mais gostam, pois é o espaço que podem viver a infância, brincar”, confirma a coordenadora Júlia Cury. Dos esportes aos jogos de tabuleiro, a ordem é se divertir.

FUTEBOL

Nove a cada dez dos meninos dizem: “O que eu mais gosto é o futebol”. Os jogos são na quadra da instituição, acompanhados pelo professor Loreno Pessato, que ensina as regras e organiza a criançada. Todo dia tem jogo para os meninos, no segundo horário.

DANÇA

As aulas de dança acontecem toda terça-feira. A responsável por ensinar os ritmos aos alunos é Alineriane de Oliveira, ex-aluna do projeto. Axé, jazz, samba e forró são os estilos mais pedidos.

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NATAÇÃO

Essa modalidade chegou ao projeto há pouco menos de um ano. A piscina foi construída com parceria firmada entre a instituição e a Petrobras. Toda terça e toda sexta feira, as crianças têm aulas de natação com a professora Andrezza Alves.

JOGOS DE TABULEIRO

Torrinha e dama são os preferidos entre os jogos de tabuleiro. Um passatempo que existe antes das crianças do projeto nascerem e que faz sucesso entre os alunos, sob a supervisão das professoras Valéria de Souza, Márcia da Silva e Sueli Leal.

VÔLEI

O vôlei também é acompanhado pelo professor Loreno Pessato. A modalidade agrada os meninos e as meninas. Os jogos não têm data fixa para acontecer, basta os alunos demonstrarem interesse e a rede é montada para eles se divertirem e exercitarem.

VIOLÃO

A música também tem muitos adeptos. As aulas de violão ficam por conta do professor Anderson Carrijo. Ele também é ex-aluno do Projeto dos Meninos(as) e agora repassa o que aprendeu.

OLODUM

Em um ritmo harmonioso, os adolescentes do Projeto dos Meninos(as) embalam sons diferentes no Olodum. As aulas e ensaios acontecem às sextas-feiras. PROJETO DOS MENINOS(AS) - 17


Meninos de Sucesso As conquistas dos Meninos do Projeto Durante 18 anos, mais de mil crianças e adolescentes passaram pelo Projeto dos Meninos(as). Cerca de 15% deles se perderam no caminho, mas os outros 75% conseguiram construir um futuro melhor. Você vai conhecer dois personagens da vida real: Renato Aleixo, que já se formou e agora trabalha na sua área, e Vitor Ferreira, estudante de Publicidade e Propaganda, que sonha alto.

Renato Quando o Projeto dos Meninos (as) começou a funcionar aqui no bairro, meu irmão mais velho decidiu participar das atividades desenvolvidas. Na época, como estava iniciando, não tinha muitas atividades. Eram seus primeiros passos como centro de formação. Contava com apenas algumas crianças. Com o passar de pouco tempo, eu também decidi fazer parte do projeto, que começou a partir de nossas Irmãs Anita, Terezinha e Irmã França. Quando cheguei, por ser ainda pequeno, não pude de imediato fazer parte, pois, ainda não tinha idade suficiente para participar. No começo, era só brincadeira como jogar “bolinha de gude” debaixo das mangueiras, pois, ainda a estrutura física era precária, mas, com o tempo, foram construídas salas de aula e disponibilizados professores para ministrar reforço escolar e atividades como informática, música e outras. O projeto evoluía e crescia juntos com os nossos sonhos. O projeto se desenvolveu, as crianças também cresceram e surgiu a preocupação de oportunizar empregos para os adolescentes. O projeto fez grandes parcerias com empresas para a contratação de menores aprendizes, como por exemplo, o Banco do Brasil. Eu fiz parte desta parceria. Assim também como nascia a preocupação de geração de renda, trabalho e emprego nasciam as ideias de inserção dos jovens no ensino superior. Com esse apoio, cursei e me formei em Direito, pela Universidade de Uberaba. O projeto deu boas bases a essas crianças. A cada ano o grupo tem crescido e o Projeto dos Meninos(as), colocando mais jovens nas universidades. Hoje, com orgulho, também faço parte do grupo na Diretoria Executiva. O Projeto é parte da minha vida, pois foi aqui que eu cresci, comecei a participar do Projeto desde

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seis anos de idade mais ou menos, e foi aqui que recebi grande apoio e base pra vida adulta, não só para formação acadêmica, mas, como também formação pessoal e de um bom caráter, com os valores familiares e solidariedade com amor ao próximo. Foi e é muito bom participar do Projeto dos Meninos(as). Renato Aleixo Medeiros Formado em Direito pela Universidade de Uberaba.

Vitor Antes de entrar no projeto, minha vida era monótona, só ficava em casa, até que um amigo me chamou para ir participar do Projeto dos Meninos. No começo, era completamente diferente do que é hoje. Quando cheguei, achei que seria um lugar para eu farrear muito, mas não foi só isso. Tinha a hora de divertir e também de estudar e fazer os deveres. Eu tive a oportunidade de conhecer mais pessoas e perder a timidez. O bom do projeto é essa interatividade com pessoas diferentes. Essa pluralidade que tem lá é uma das melhores coisas, na minha opinião. O projeto fez diferença na minha vida, porque quando nós recebemos o incentivo da sociedade faz com que nós nos esforcemos mais para chegar mais longe. Lá eu recebi o apoio necessário para que eu acreditasse que era possível fazer um curso superior e ter um futuro melhor. Hoje faço Publicidade e Propaganda na Universidade de Uberaba e pretendo depois me graduar também em Jornalismo, que é meu grande sonho. O Projeto é uma base para a pessoa ter um objetivo na vida. E espero que cada uma das crianças que estão lá aproveitem as oportunidades que a instituição oferece e saiba crescer na vida de forma digna e ética. Vitor Ferreira Santos Estudante Publicidade e Propaganda na Universidade de Uberaba


Extensão do Projeto Projeto dos Meninos II contempla crianças do Residencial 2000 Diretoria procura parceiros para construção da sede própria

Em 2010, a Prefeitura Municipal de Uberaba doou uma área de 31.700 m² para construção da sede do Projeto dos Meninos(as) II

No início do novo milênio, surgia também um novo bairro em Uberaba, o Residencial 2000. Situado na periferia da cidade, é composto por um conjunto de casas populares. Várias famílias, que moravam no Gameleira e migraram para o conjunto vizinho em busca da casa própria. Porém, projeto contemplava apenas os moradores do Gameleira, o que significava que as crianças não poderiam ir mais a instituição. Em 2002, nasceu então o Projeto dos Meninos II, a extensão do trabalho realizado no bairro Gameleira para o Residencial 2000, com a finalidade de acolher as crianças e adolescentes dali. Com poucos recursos e sem a sede própria no local, as aulas aconteciam na Escola Municipal Esther Limírio Brigagão, que fica no bairro, todos os sábados, das 9h às 11h. Os professores da Unidade I ministravam reforço escolar,

brincadeiras e jogos esportivos. Em 2010, com parceria firmada com a Prefeitura de Uberaba, o Projeto dos Meninos II ganhou um espaço de 31.700 m² para construir a nova sede. Foi o primeiro passo para uma nova conquista. Porém, contando apenas com emendas parlamentares como recursos financeiros, a construção não pode sair do papel. Isso não significa que o trabalho perdeu forças. As aulas continuam aos sábados, no mesmo horário, ainda na escola municipal, mas agora conta com um time de estagiários que auxilia nas atividades com as crianças. Ao todo, são 13 estudantes que estão se formando pela Universidade Federal do Triângulo Mineiro (UFTM) e Universidade de Uberaba, nos cursos de psicologia, nutrição, terapia ocupacional, enfermagem e educação física, que utilizam as técnicas aprendidas com os alunos.

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