Plurale em Revista - Edição 71

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ano treze | nº 71 | setembro / outubro 2020 R$ 10,00

AÇÃO | CIDADANIA | AMBIENTE

LONGEVIDADE, ARTIGOS INÉDITOS E A RECUPERAÇÃO VERDE ENTREVISTA COM MARCELO NERI: PROGRAMA DE RENDA BÁSICA PARA OS MAIS POBRES

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anos

PARAÍSO NA FLÓRIDA QUE POUCOS BRASILEIROS CONHECEM: TEN THOUSAND ISLANDS

FOTO DE PAULA MARTINELLI - GOLFINHO NARIZ-DE-GARRAFA – TEN THOUSAND ISLANDS – FLÓRIDA (EUA)

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OS “INVISÍVEIS” E A GRAVE CRISE ECONÔMICA E SOCIAL – ENTREVISTA COM MARCELO NÉRI, DA FGV SOCIAL, por Sônia Araripe

50.

Ten Thousand Islands, paraíso ainda pouco explorado por brasileiros na Flórida (EUA) Por Paula Martinelli

44.

Artigos inéditos

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Brumadinho e Mariana: Muito marketing e poucas soluções,

#EnelFocusOn Recuperação Verde

24 As ações socioambientais do Instituto Neoenergia

por hélio rocha ELISABETH CATTAPAN REUTER/ VENEZA (ITÁLIA)

32 O que pode a dança na tela?, por Maurette Brandt

38 Ecoturismo, por Isabella Araripe

49 Cinema Verde, por Isabel Capaverde

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56.

Veneza sem tristeza, Por elisabeth cattapan reuter

28.

Longevidade: brasileiros vivem mais e com qualidade, por Nícia Ribas FOTO DE ARQUIVO PESSOAL

10.

PAULA MARTINELLI/ TEN THOUSAND ISLANDS- FLÓRIDA (EUA)

Contexto


E ditorial JÚNIA RÓNAI

Nora Rónai

Elisabeth Cattapan Reuter

Paula Martinelli PLURALE EM AÇÃO - Nora Rónai, 96 anos, campeã brasileira, sul americana e mundial de natação master, foi entrevistada para esta Edição Especial de Plurale, como um dos belos exemplos de longevidade com saúde e energia. Em Veneza, Elisabeth Cattapan Reuter comemora a vida e as Bodas de Ouro, sem tristeza. O Grupo Enel, fortíssimo em energias renováveis, realizou o evento virtual #EnelFocusOn para discutir a recuperação verde, com a participação da Editora de Plurale, a jornalista Sônia Araripe. Na Flórida, Paula Martinelli (a blogueira Paulapinstheplanet) nos apresenta um verdadeiro paraíso pouco explorado por brasileiros, Ten Thousand Islands.

13 anos de Plurale: Longevidade, Veneza sem tristeza, #EnelFocusOn sobre recuperação verde, Ten Thousand Islands, artigos inéditos e muito mais Por Sônia Araripe, Editora de Plurale

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uis o destino que comemorássemos os 13 anos de Plurale justamente em meio à pandemia. Se, por um lado, a data não pôde marcar também seminário e festa, por outro, foi hora de reforçarmos as reflexões e conexões. Nesta Edição 71, nossa Repórter Especial Nícia Ribas nos brinda com matéria maravilhosa e alto astral com “jovens” e suas receitas para uma vida longeva e com saúde. Como Nora Rónai, 96 anos, que esbanja vitalidade nadando até hoje e também por onde passa. Não está sozinha: Gilda Vieira de Mello ultrapassou a barreira dos centenários e faz questão de ler cada nova Edição de Plurale, sempre arrumadinha e sem óculos! Nícia conversou também com outros nonagenários para contar como chegar até aqui tão feliz e saudável. Moradora de Hamburgo, Alemanha, a colaboradora Elisabeth Cattapan Reuter poderia ter passado as Bodas de

Ouro triste em casa, após a partida de seu Peter, mas resolveu sacudir a tristeza e seguir para Veneza, destino tantas vezes visitado pelo casal. Veneza sem tristeza é a bela reportagem-crônica que marca esta edição tão singular. Da Itália, trazemos outra matéria especial sobre a chamada recuperação verde, processo de transformação da economia global – especialmente na Europa – após a pandemia. A ENEL, grupo forte em energias renováveis, realizou o evento #EnelFocosOn, pela primeira vez virtual, com representantes de vários países, inclusive do Brasil, com a minha presença, acompanhando como jornalista especializada. Não é só. Temos também artigos inéditos de Adriana Boscov, Christian Travassos e Pedro Garrido, assim como entrevista exclusiva com o economista Marcelo Neri, Diretor da FGV Social. De Minas Gerais, o repórter Hélio Rocha relembra os maiores acidentes ambientais do Brasil – em Mariana e Brumadinho – provocados pela Samarco (união das gigantes de mineração BHP e Vale) e novamente pela Vale, deixando centenas de mor-

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tos, desabrigados, atingidos e aproximadaanos mente 800 quilômetros de devastação da biodiversidade. Muito pouco foi feito até agora em termos de pagamento de indenização e reparação para famílias e à natureza, restando tristes histórias e um emaranhado jurídico ainda muito longe de ser encerrado. Destacamos ainda reportagem sobre as ações em 2019 do Instituto Neoenergia e matéria de Maurette Brandt sobre o “novo normal” na área cultural, focando, especificamente, nas novas formas de dançar – sem o grupo e a proximidade do grupo – afastados pelas novas regras de isolamento social. Além das colunas Cinema Verde, por Isabel Capaverde, Ecoturismo, por Isabella Araripe e Pelas empresas, de Felipe Araripe. De Manaus (AM), Luciana Bezerra nos apresenta opções de ecoturismo. Agradecemos ter em nossa jornada destes 13 anos empresas apoiadoras, parceiros, colaboradores, colunistas e leitores tão fiéis! Que venham outros tantos anos na trilha sustentável. Sigamos juntos!

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QUANDO O MUNDO PEDE POSITIVIDADE, UM BRINDE É O MELHOR PRESENTE Agora você pode presentear quem ama com mensagens positivas em forma de arte criadas por um dos poetas mais curtidos do Instagram, o @UMCARTÃO, e enviadas com bebidas especiais de diversas marcas. Essa é a ideia do mais novo lançamento da Ball, a VADELATA STORE, que acaba de inaugurar com o parceiro Cerveja Box, um hotsite exclusivo de venda de bebidas em lata: a embalagem mais amiga do meio ambiente e do seu delivery. Na plataforma, você pode escolher o seu kit de bebidas e o seu cartão favoritos, e presentear amigos, familiares, parceiros e até a si mesmo. Afinal, nada melhor do que brindar à vida com positividade, arte e o prazer de uma bebida de qualidade. Acesse vadelatastore.com.br @vadealata

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Quem faz

Diretora e Editora-Chefe Sônia Araripe soniaararipe@plurale.com.br Fundadores Carlos Franco e Sônia Araripe Plurale em site: www.plurale.com.br Plurale em site no twitter, facebook e instragram: http://twitter.com/pluraleemsite https://www.facebook.com/plurale @revistaplurale Comercial comercial@plurale.com.br Arte Amaro Prado e Amaro Junior Fotografia Luciana Tancredo e Eny Miranda (Cia da Foto); Agência Brasil e Divulgação Colaboradores nacionais Felipe Araripe (Estagiário), Hélio Rocha, Isabel Capaverde, Isabella Araripe, João Victor Araripe, Lília Gianotti e Nícia Ribas. Colaboradores internacionais Aline Gatto Boueri (Buenos Aires), Elisabeth Cattapan Reuter (Hamburgo/Alemanha), Vivian Simonato (Dublin), Wilberto Lima Jr.(Boston) Colaboraram nesta edição: Agência Brasil. Anatrícia Borges, Bruno Silva (Arte Memória instituto Neoenergia), Christian Travassos, Elisabeth Cattapan Reuter (De Veneza/ Itália), Luciana Bezerra (de Manaus), Maurette Brandt, Paula Martinelli (Blog Paulapinstheplanet), Dr. Pedro B. Garrido e Ricardo Oliveira (fotos da Amazônia). Os artigos são de inteira responsabilidade dos autores e não refletem necessariamente a opinião da revista.

Impressa com tinta à base de soja Plurale é uma publicação da SA Comunicação Ltda CNPJ 04980792/0001-69 Impressão: Imprimindo Conhecimento Editora e Gráfica

Plurale em Revista foi impressa em papel certificado, proveniente de reflorestamentos e®outras fontes controladas certificados pelo FSC de acordo com rigorosos padrões sociais e ambientais. Rio de Janeiro | Rua Etelvino dos Santos 216/202 CEP 21940-500 | Tel.: 0xx21-3904 0932 Os artigos só poderão ser reproduzidos com autorização dos editores © Copyright Plurale em Revista

Cartas “Parabéns pela Edição 70 da revista com artigos variados, em particular aqueles relativos à “Governança: saindo do freio de arrumação“, por Henrique Luz (Presidente do Conselho de Administração do Instituto Brasileiro de Governança Corporativa) e ao “Bom Exemplo da Alemanha” no enfrentamento da pandemia”, por Elisabeth Cattapan Reuter. Oswaldo Mário de Azevedo. Conselheiro do Sindicato das Seguradoras do RJ/ES, do Rio de Janeiro (RJ), por e-mail “A Edição 70 de Plurale em revista deixa aquela certeza que podemos revisitar, em qualquer tempo, as reflexões apresentadas, porque são fundamentais para, de fato, vivermos um “novo normal”! E que ótimo poderá ser isto. Histórias inspiradoras, críticas necessárias, bons exemplos, fotos de tirar o fôlego e dicas diferenciadas.” Victória Roza Cruz, jornalista, do Rio de Janeiro (RJ), pelo Instagram “Mais uma belíssima edição (70) da Plurale em revista. Leitura prazerosa, artigos e matérias maravilhosas. Parabéns à toda equipe pelos 13 anos de relevante trajetória no jornalismo sustentável”. Hierânia Ramos, comunicadora, do Rio de Janeiro (RJ), pelo Instagram “Fiquei muito feliz ao ler na Edição 70 de Plurale em revista os maiores bancos privados brasileiros e empresas com o comprometimento empresarial, dando exemplo com as comunidades, as ruas, os mais vulneráveis. Estimulará outras doações e empresas engajadas. Criamos o Projeto “Sem Fome”, a partir do exemplo de pessoa humilde no Centro do Rio, doando 200 quentinhas, com água por dia. Gostaria de ver isso replicado em outros bairros. Este é o meu desejo. Plurale nos inspira ao apresentar tantas ações relevantes nesta crise humanitária. ” André Simões, gestor financeiro, do Rio de Janeiro (RJ), pelo Instagram

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“Excelente o artigo “Governança, saindo do “freio de arrumação”, de Henrique Luz, do IBGC. Também gostaria de elogiar o artigo “Unidades de conservação - Patrimônio em risco”, por Carlos Eduardo Frickmann e Maíra Luisa Spanholi, que trata, com tanta clareza, da importância de manter o equilíbrio ecológico das áreas silvestres. Por fim, neste dia das avós a sugestão de uma coluna fixa dirigida às crianças a quem devemos deixar não só um mundo sustentável mas como cuidar de mantê-lo.” Por Glória Faria, advogada, do Rio de Janeiro, por e-mail “Ao ler a Edição 70 de Plurale em revista lembrei da Copa do Mundo de 70 e a felicidade que trouxe para todos os brasileiros. Plurale é uma revista que trata da cidadania, meio ambiente e ação, com vários artigos e reportagens excepcionais, como a destacada nesta Edição sobre o Seu João do Borboletário do Hotel Sesc Pantanal (MT). A borboleta é o símbolo de transformação e da liberdade. A borboleta nasceu e quis saber porque. Procurei respostas e me iludi, e quando achei que não havia sentido, a vida me leva à metamorfose. Foi quando descobri, o verdadeiro sentido que tanto buscava e estava dentro de mim. A vida é a potência que me faz evoluir. Quando eu estiver pronta abrirei minhas asas e voarei rumo a serenidade de ser que eu nasci para ser. Esta metáfora é incrível. A terra é um casulo cheio de lagartas em metamorfose e nós, brasileiros aí estamos. Parabéns Plurale por mais este gol fantástico. ” Lúcio Antônio Marques, Diretor da Associação Nacional de Seguros e Previdências - ANSP para o Rio de Janeiro, do Rio de Janeiro, por e-mail “Além do conteúdo primoroso, como sempre, Plurale em revista traz, na quarta capa da última edição, um anúncio institucional certeiro, criação da minha amiga Sônia Araripe e do designer Amaro Júnior: utilizando a hashtag #essaboiadanãovaipassar, numa folha de máquina de escrever, iluminada por uma spotlight, deixa claro e inequívoco posicionamento da Plurale contra a política destrutiva do atual governo. Nunca o jornalismo ambiental foi tão necessário.” Antônio Augusto Brito, escritor e jornalista, do Rio de Janeiro (RJ), pelo Instagram


Pelo Brasil Jornalista Nelson Tucci estreia coluna Via Sustentável no Portal Acionistas.com Via Sustentável é o nome do novo produto do Portal Acionista.com.br, que acaba de estrear, editada pelo Jornalista Nelson Tucci. Tratará do universo ESG (Environmental, Social and Governance Corporate), mostrando o dia a dia das companhias em suas ações ambientais, sociais e, sobretudo, de governança. “Trabalharemos em parceria com Plurale, que replicará semanalmente em seu Portal a coluna, em uma demonstração de total parceria que poucas vezes eu vi nesta vida. Se somados os 13 anos de Plurale com os 20 de Acionista quase dá o tempo que tenho colocado o pé na estrada”, afirma Nelson Tucci, Editor da Coluna Via Sustentável.

Conferência Ethos se renova em 2020 Evento migra para plataforma virtual e propõe reflexões sobre o cenário pós-pandêmico De São Paulo

A Conferência Ethos 2020 chega revelando questões que o mundo passou a lidar com o “novo normal”. Totalmente virtual, por conta do necessário distanciamento físico para evitar a disseminação da Covid-19, o evento traz ainda reflexões sobre temáticas que ganharam destaque no atual cenário. A principal problematização dessa abertura será quanto às assimetrias da sociedade, potencializadas com a pandemia. “O que acontecerá com a estrutura social brasileira, quando, além do desemprego, subemprego e desalento, a vulnerabilização dos direitos civis se tornaram latentes?”, questiona Caio Magri, diretor-presidente do Ethos. A Conferência Ethos 2020, teve início no dia 2 de julho e seguirá até 17 dezembro, todas as quintas-feiras, no canal do Ethos no YouTube: https:// bit.ly/2CENdjB.

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Entrevista FOTO DA FGV- DIVULGAÇÃO

“ACREDITO QUE POSSAMOS USAR O ESFORÇO DOS PARLAMENTARES E DA SOCIEDADE CIVIL EM TORNO DO TEMA DA RENDA BÁSICA PARA CRIARMOS, POR EXEMPLO, UM BOLSA FAMÍLIA 2.0 OU UM BOLSA ESCOLA 3.0” MARCELO NERI, DIRETOR DA FGV SOCIAL Por Sônia Araripe, Editora de Plurale Fotos da FGV- Divulgação

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e nos gabinetes de autoridades do Governo Federal e do Congresso ainda há quem duvide da necessidade de programas de transferência de renda, uma voz forte tem insistido na urgência deste tipo de ação para combater as perversas consequências para os mais vulneráveis da crise humanitária após a pandemia do coronavírus. O economista Marcelo Neri, diretor da FGV Social, Professor da EPGE/FGV, tem sido um dos mais veementes defensores dos atuais programas de transferência de renda. “Em termos econômicos, aumento de desigualdade significa menos crescimento econômico presente e futuro, uma vez que é o consumo dos mais pobres que mantém as rodas da economia girando, visto que eles têm uma propensão a gastar muito maior do que os ricos”, afirma

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nesta entrevista à Plurale. O ex-presidente do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada, ex-Ministro de Assuntos Estratégicos do Governo Dilma Rousseff e ex-secretário do CDES (Conselhão) vai além. Adverte, nesta conversa por e-mail, que será preciso ir além e migrar para um programa ainda mais reforçado, um Bolsa Família 2.0 ou Bolsa Escola 3.0. “O Auxílio Emergencial foi fundamental para proteger os mais pobres e vulneráveis durante o auge do distanciamento social, mas seu custo fiscal é elevado. Os R$ 200 bilhões usados até hoje pelo programa correspondem praticamente a sete vezes o custo anual do Bolsa Família (R$ 30 bilhões). Portanto, o fim do Auxílio Emergencial precisa ser acompanhado de um processo de expansão da cobertura e do valor médio do benefício oferecido pelo Bolsa Família.” Marcelo Neri é doutor em economia pela Universidade de Princeton.

PLURALE EM REVISTA | Setembro / Outubro 2020

Avaliou políticas públicas em duas dezenas de países e implementou políticas públicas em três níveis de governo no Brasil. Publicou 12 livros. Sua proposta de mecanismo de crédito social vinculado ao Desenvolvimento do Milênio recebeu o prêmio da Network Meeting, em Dacar, no Senegal. Atua ativamente na proposição e no debate de políticas públicas. Foi escolhido um dos 50 cariocas mais influentes pela revista Veja e duas vezes como um dos 100 brasileiros mais influentes pela revista Época. Plurale - Que análise o professor faz deste momento atual de pandemia e do começo de relaxamento das regras de isolamento social no Brasil? Marcelo Neri - Nada é mais devastador do que a perda de vidas e, infelizmente, vemos que o Brasil não enfrentou a crise do coronavírus com a seriedade devida. Estamos a dois meses em um platô de mil mor-


tes por dia por conta da pandemia, fato que torna qualquer política de flexibilização ainda mais delicada. Por outro lado, a manutenção do isolamento social, apesar de importante para conter o avanço do vírus, gera uma parada na economia que provavelmente impactará mais a vida dos mais pobres e vulneráveis. Estamos, portanto, entre a cruz e a espada. A necessidade de retomarmos a atividade econômica para não tornar a crise sanitária também uma crise social vai na contramão da necessidade de baixarmos a curva de contágio e de mortes. Deixo, portanto, a minha palavra de cautela para o relaxamento do isolamento social no Brasil. Por sermos um país de dimensões continentais, que apresenta localidades em diferentes momentos do contágio e da exposição ao vírus, precisamos entender que a flexibilização precisa ser feita com parcimônia e baseada em evidências claras. Plurale – O professor está otimista ou pessimista sobre os próximos desdobramentos da economia e do cenário social? Teremos uma crise mais severa dos que os piores anos de desemprego forte no Brasil, como no fim dos anos 90? Marcelo Neri - Avaliações empíricas mostram que o impacto da pandemia no emprego foi fortíssimo. Enquanto em fevereiro de 2020 tínhamos 93,4 milhões de brasileiros ocupados, esse número chegou a 83,5 milhões em maio de 2020, o nível mais baixo registrado na série desde janeiro de 2012. Dados da PNAD Covid mostram que a população ocupada chegou a níveis ainda mais baixos entre o começo de maio e o começo de julho, com redução da população ocupada para 81,8 milhões e taxa de ocupação em 48,1%, ou seja, menos de 1 em cada 2 brasileiros em idade de trabalhar estão ocupados. Por outro lado, políticas de flexibilização começam a surtir efeito: a taxa de trabalhadores afastados pelo isolamento caiu 50% nesse período de dois meses (de 16,6 para 8,3 milhões).

Plurale - O Brasil sempre foi um pais desigual... Estamos novamente próximos daquela imagem que Edmar Bacha desenhou lá atrás, em 1974, de Belíndia (uma mistura de Bélgica e Índia)? Ou será que agora podemos acentuar essa desigualdade e nos aproximar de níveis da África subsaariana em algumas regiões? Marcelo Neri - Com base na PNADC anual de 2019, pesquisa que apresenta um retrato social do primeiro ano do governo Bolsonaro e a última foto do país antes da pandemia do Covid-19, o FGV Social revelou que a desigualdade no país parecia ter chegado no seu pico no fim de 2019 (em um patamar bastante elevado), após crescer por praticamente 20 trimestres consecutivos. Para piorar, entre 2014 e 2019, os 50% mais pobres no Brasil perderam 19% da renda, enquanto a média total da população perdeu 3%. Ou seja, a recessão dos mais pobres foi seis vezes pior que a da média. Além disso, dados da PNUD mostram que o país tinha a 2ª maior concentração de renda no mundo, só perdendo

para o Catar. Com a pandemia ainda impactando a saúde e a economia dos brasileiros, somada ao provável fim do auxílio emergencial, a situação tende a piorar, se nada for feito para reverter essa tendência. Plurale - Qual foi o impacto de tudo isso principalmente para os mais pobres e necessitados? Há quem fale em “invisíveis”, mas, na verdade, estas pessoas sempre estiveram aí, à margem da economia formal há anos... Só não via quem não queria, não é isso, professor? Marcelo Neri - Em termos econômicos, aumento de desigualdade significa menos crescimento econômico presente e futuro, uma vez que é o consumo dos mais pobres que mantém as rodas da economia girando, visto que eles têm uma propensão a gastar muito maior do que os ricos. Portanto, qualquer aumento de desigualdade significa, em termos econômicos, jogar areia nas rodas da economia. É uma armadilha. A esperança é que temos programas focados na base da distribuição, que não só combatem a pobreza hoje mas visam a uma redução da desiFOTO DE ANTONIO CRUZ - AGÊNCIA BRASIL

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Entrevista FOTO DA FGV- DIVULGAÇÃO

gualdade futura, ao promoverem transferências de renda vinculadas à educação e à saúde das crianças das famílias beneficiárias. Os “invisíveis”, aqueles fora dos registros administrativos do Governo, se tornam potenciais beneficiários deste tipo de programa, principalmente quando vemos a necessidade de acoplar o CadÚnico aos novos registros do Auxílio Emergencial. Agora que já incorremos no custo de localizar essas pessoas por conta da pandemia, precisamos criar processos de validação desses dados (por exemplo, biometria), para então incluí-las definitivamente no sistema de seguridade social. Plurale – O professor chamou os “atingidos” - como comerciantes, informais, etc. - de “novos pobres”. O que seria este “fenômeno”? Se a economia vai demorar a reagir, como será a vida destas pessoas? Marcelo Neri - É preciso reverter a tendência dos últimos anos, nos quais o Brasil desaprendeu a cuidar dos mais pobres e vulneráveis, e aproveitar o momento de solidariedade

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em volta do Auxílio Emergencial e da construção de uma Frente Parlamentar Mista em Defesa da Renda Básica, para fortalecer nossa rede de proteção social. A boa notícia é que o Brasil já tem uma rede de proteção social estabelecida, com capacidade imediata de chegar aos mais pobres, e que teve sua cobertura expandida com o Auxílio Emergencial. Acredito que devemos expandir a partir dessa base, cobrindo os mais vulneráveis de uma maneira mais efetiva e seguindo caminhos já conhecidos. A necessária retomada da economia tem que vir acompanhada de um cuidado redobrado com os mais pobres, principalmente após o fim do Auxílio Emergencial. Plurale - O atual Governo Federal criticou severamente políticas de transferência de renda como as que existiam nos governos petistas de Lula e Dilma Rousseff. Esta nunca foi a “cartilha” neoliberal do Ministro Paulo Guedes. Mas não houve saída. Foi preciso recuar e defender o Auxílio Emergencial - com o apoio do Congresso - para evitar o caos. Como o senhor vê este processo polí-

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tico? O ideal seria estender por mais tempo o Auxílio Emergencial? Marcelo Neri - Acredito que possamos usar o esforço dos parlamentares e da sociedade civil em torno do tema da renda básica para criar, por exemplo, um Bolsa Família 2.0 ou um Bolsa Escola 3.0. O Auxílio Emergencial foi fundamental para proteger os mais pobres e vulneráveis durante o auge do distanciamento social, mas seu custo fiscal é elevado. Os R$ 200 bilhões usados até hoje pelo programa correspondem praticamente a 7 vezes o custo anual do Bolsa-Família (R$ 30 bilhões). Portanto, o fim do Auxílio Emergencial precisa ser acompanhado de um processo de expansão da cobertura e do valor médio do benefício oferecido pelo Bolsa-Família. Plurale - Qual será o impacto destes desembolsos para o controle fiscal das contas públicas? Ou, melhor, mesmo atingindo em cheio o regime fiscal, não há outra saída para a sobrevivência de milhões de brasileiros... Marcelo Neri - A necessidade de pensarmos uma transição para o fim


do Auxílio Emergencial não significa gerarmos um novo ajuste fiscal sobre os ombros dos mais pobres, como foi feito nos últimos 5 anos. Evidências mostram que as perdas reais do Bolsa-Família e o surgimento de filas para recebimento do programa foram fatores importantes para se entender o crescimento vertiginoso de 67% no contingente de extremamente pobres no país, entre 2014 e 2019. Por um lado, o benefício médio perdeu 18,8% de poder de compra. Isso se deu por que o valor oferecido pelo programa não foi corrigido segundo à inflação em 2015, nem em 2017. Ademais, o número de beneficiários vinha caindo, num momento em que mais pessoas precisavam ser atendidas. O resultado foi o surgimento de uma fila de 1,5 milhão de pessoas esperando para serem cobertas pelo programa, no final de 2019. Não podemos repetir esses velhos erros. Até porque precisamos reativar a economia - e esse programa é o que melhor faz as rodas da economia girarem. Plurale - Vivemos uma crise humanitária; milhões passam fome. Grandes centros, mas também pequenas e médias cidades, foram severamente atingidas. Talvez, pela primeira vez na história, tenha realmente funcionado o tão sonhado esforço em rede de parcerias entre o setor público e o privado. Empresas entraram com caixa ajudando na construção de hospitais, de equipamentos...E uma rede de solidariedade de pessoas físicas também se formou. O senhor acredita que isso fará parte do “novo normal” ou, tão logo a situação se restabeleça, cada um cuidará de si? Marcelo Neri - A crise do coronavírus é uma crise global. Se houver cooperação entre países, níveis de governo, entre sociedade, setor privado e Estado, os resultados vão ser muito melhores. A crise evidenciou também o fato de o mercado não liderar iniciativas que ajudem a conter e mitigar os impactos da epidemia; isso é papel do Estado. Não é saudável, porém, num

“Em termos econômicos, aumento de desigualdade significa menos crescimento econômico presente e futuro, uma vez que é o consumo dos mais pobres que mantém as rodas da economia girando, visto que eles têm uma propensão a gastar muito maior do que os ricos. ” MARCELO NERI, diretor da FGV Social

um mundo tão polarizado, criar uma oposição entre mercado e Estado. A gente precisa combinar esses dois elementos juntos. No caso do Brasil, o Estado está praticamente quebrado e, mesmo assim, vai ter que usar todas as reservas que ainda tem nessa crise. Assim, acredito que o setor privado tem um papel fundamental para acelerar a nossa saída dessa situação. - De que forma o senhor analisa a reação e os resultados da rede pública do SUS para esta pandemia? Sai fortalecido ou enfraquecido? Marcelo Neri - Os Estados Unidos, líderes em casos e mortes do coronavírus, têm problemas de saúde pública muito sérios, que mostram a fragilidade desse sistema de mercado em lidar com a saúde. Eles têm um sistema de saúde privado que funciona mal, que desperdiça recursos, que faz lobby etc. Na Inglaterra, o sistema público de saúde talvez seja o melhor que se conheça - e tem semelhanças com o do Brasil. Apesar de nossa posição lamentável no

ranking de casos e mortes da doença, o SUS [Sistema Único de Saúde] se mostrou uma peça rara, que nos ajudou muito nesse momento delicado que vivemos como nação. A Fundação Oswaldo Cruz, liderando iniciativas de tratamento e busca por vacinas do Covid, mostrou-se também fundamental. Espero que a defesa da saúde pública saia fortalecida da pandemia. - Educação é, sem dúvida, uma das áreas que mais sentirá os efeitos desta desigualdade...alguns tinham computador e internet...outros nem uma coisa, nem outra. Como o senhor avalia os impactos da pandemia e do “ensino à distância” para um Brasil ainda tão desigual? Marcelo Neri - Especialistas apontam que a pandemia deve aumentar a desigualdade educacional no país. Claudia Costin, diretora do CEIPE FGV, diz que o Brasil já vivia uma crise de aprendizagem antes da pandemia (ela cita, por exemplo, que 55% das crianças brasileiras saíam analfabetas do terceiro ano do Ensino Fundamental nas escolas públicas e que, no final do Ensino Médio, só 9% saíam sabendo o necessário de Matemática). Dada a desigualdade no acesso à internet e a falta de iniciativas lideradas pelo Ministério da Educação durante a crise do coronavírus, acredito que o cenário pós-pandemia é de um provável aprofundamento na desigualdade educacional país afora. Somada às atuais dificuldades de encontrar emprego, principalmente para os jovens (grupo que já havia sofrido relativamente mais com a crise econômica iniciada no fim de 2014), corremos o risco de ver a parcela de jovens “nem-nem” - que nem estudam, nem trabalham - seguir aumentando, visto que no 4º trimestre de 2019 eram 24,54%, enquanto no mesmo período de 2014 representavam 21,19%. Ao fim e ao cabo, o resultado da pandemia pode ser uma perda de capital humano nessa população, com efeitos negativos para o país no longo prazo.

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Colunista Adriana Boscov

A (IR)RESPONSABILIDADE DE CADA UM

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os últimos meses tenho refletido muito sobre o que significa a (IR)responsabilidade de cada um. Mas essa reflexão não vem de hoje. Tudo começou em 2012 quando fui convidada pela Fundação BMW para fazer parte de um encontro para apoiar um empreendedor a desenrolar seu grande desafio. Com tudo pago, lá fui eu para uma ilha no meio dos grandes lagos no Canadá encontrar pessoas que eu nunca havia ouvido falar, de todos os lugares do mundo e especialidades tão diversas como cientistas, diretores da indústria de agronegócios e empresários de comunicação. O desafio do empreendedor era criar um modelo para medir e demonstrar como os riscos de um país influenciam outros países com base em dados sobre população, economia, saúde e outros tantos. Foi uma jornada incrível de aprendizado e troca. Nossas competências complementares e conhecimentos em áreas tão diversas ajudaram o empreendedor a enxergar saídas que sozinho ou em seu grupo de trabalho ele nunca conseguiria ver. Começou aí minha trajetória como líder responsável da Rede de Líderes Responsáveis da Fundação BMW. Desde então, muita coisa aconteceu nesse nosso planeta. Coisas boas e coisas ruins. Mas uma questão sempre emerge nos momentos trágicos: de quem é a responsabilidade? Como uma líder responsável, sempre busquei entender o impacto das minhas decisões nos outros, nas empresas em que atuei ou com as quais trabalhei, nas comunidades onde os impactos seriam sentidos, e em mim mesma. Ser um líder responsável significa não só ter responsabilidade

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pelo outro, mas também sobre si, pois um líder exaurido não vai conseguir ser responsável com os demais. Nessa rede conheci muitos líderes que vou chamar de “diferentes” e que pareciam ser a minha tribo - porque sempre fui vista e dita como a diferente. Esses/as líderes trabalham em empresas, órgãos públicos, academia e organizações sem fins lucrativos em diversos setores, temas e áreas de conhecimento. Porque eles são diferentes? Primeiro porque eles nunca querem fazer o que o status quo determina. Eles tem uma energia transformadora inquieta dentro de si que exige uma mudança, uma transformação para o melhor e para todos. E segundo, porque eles tomam a responsabilidade pelo outro para si e seguem mesmo com obstáculos que parecem ser intransponíveis. O diferencial de um líder responsável é que ele pondera todas as suas atitudes e decisões pensando no impacto no outro - outro podendo ser pessoas, animais, florestas, etc. Perguntados sobre o que significa a Liderança Responsável, muitos deles/as dizem ser uma resposta às necessidades do outro, respeitando seus limites, valorizando suas qualidades, apoiando no percurso e sempre sendo um exemplo de conduta e inspiração. Não se trata de buscar o que é melhor para si ou para seu grupo, mas sim o que é melhor para a maioria, mesmo que com isso se “perca” algo, porque no fim todos ganharemos. O diferente é que esses líderes nunca tomariam uma decisão que pudesse prejudicar uma só vida, uma só árvore ou comunidade. Segundo os dicionários, a palavra responsável quer dizer aquele que é ca-

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paz de responder pelos próprios atos. Ser responsável significa responder às necessidades dos outros. Não aos desejos, mas as reais necessidades de garantia de direito e igualdade. Mas nos últimos tempos temos visto um incremento no número de tragédias que derivam exatamente de tomadas de decisão IRresponsáveis, que tem levado milhões de pessoas a morte, a buscar refúgio em outros países e danos ambientais que persistem por décadas, inutilizando regiões enormes do nosso planeta. Estamos vivendo um surto mundial de IRresponsabilidade. Essa semana tivemos mais um exemplo disso com uma notícia que nos chocou: uma explosão devido ao mal armazenamento de nitrato de amônia que deixou centenas de mortos e milhares de feridos e desabrigados em Beirute no Líbano. O choque vem depois de muitos outros que aconteceram a bem pouco tempo atrás, alguns inclusive que estamos vivendo neste instante em que escrevo essas palavras: um vírus que se propaga rápida e descontroladamente matando milhões de pessoas; uma barragem que se rompe espalhando morte e destruição por centenas de quilômetros; uma boate que pega fogo ceifando a vida de centenas jovens; um time de futebol que morreu em um acidente com avião fretado; um edifício que desaba matando trabalhadores que trabalharam uma vida para pagar a casa própria; e tantos outros que vemos todos os dias nas notícias e que tomamos como normal. Todos esses “eventos” ocorreram nos últimos 10 anos em nosso amado país, mas se olharmos mais atrás na história, veremos que essas “fatalidades” acontecem há centenas de anos por uma única questão:


a IRresponsabilidade dos tomadores de decisão que levaram a essas tragédias. E se os executivos de mineradoras que tiveram suas barragens rompidas tivessem acatado os relatórios de gerenciamento de riscos que previam tudo o que aconteceu? E se os donos de boates que se incendiaram tivessem pago mais caro por materiais não inflamáveis? E se os executivos de petroleiras e navios cargueiro de óleo tivessem seguido todas as normas e decidido interromper as atividades ou melhorar a manutenção? E se, e se, e se....Mas como diz minha mãe, com “e se” a gente mudava o mundo. Mas “e se” executivos, policiais, médicos, professores, e todas as pessoas como eu e você que está lendo este artigo, passassem a tomar suas decisões pensando que os impactos dessas decisões seriam sobre suas famílias, seus filhos, seus pais? Será que as decisões que levaram tantas vidas e destruíram tantos biomas teriam sido evitadas? Muitos seres humanos IRresponsáveis perderam sua humanidade, o respeito e empatia ao próximo. Nos tornamos uma sociedade onde a humanização é vista como fraqueza e não como uma competência necessária para nossa sobrevivência como espécie. Já dizia Saint-Exupery no livro O Pequeno Príncipe “Tu te tornas eternamente responsável por aquilo que cativas”. Somos todos responsáveis por nossas decisões, atitudes e tudo que deriva delas, positivas ou negativas. Não se pode responsabilizar o político corrupto se você pedir um recibo de maior valor ao taxista; não se pode responsabilizar o presidente da

empresa pela poluição dos rios e mares se você opta por comprar um apartamento que não tem esgoto tratado; não se pode responsabilizar o funcionário que deixou de cumprir com as normas de segurança causando a morte de colegas se você mesmo não as cumpre no dia a dia em sua vida pessoal. E eis que entra 2020 com uma pandemia que colocou milhões de pessoas trancadas em seus lares. Uma quarentena forçada por um vírus que se espalha rapidamente e não escolhe raça, classe social, nível educacional ou qualquer outra característica. Todos podemos ser a próxima vítima, todos podemos levar a morte de outros, inclusive daqueles que amamos. A pandemia trouxe o melhor e o pior de cada um de nós. Corrupção nas decisões IRresponsáveis dos gestores que “ganharam em cima da desgraça alheia” e benfeitoria nas decisões responsáveis de gestores que tomaram para si o chamado de responder às necessidades dos mais vulneráveis. A pandemia nos mostrou que somos seres humanos capazes de apoiar uns aos outros, de ser responsáveis não só por nós mesmos, mas também para com outros. Muitos se responsabilizaram por pessoas desconhecidas simplesmente porque se sentiram privilegiados e capazes de fortalecer aqueles que mais precisam. E voltando para o início deste artigo e a história do empreendedor e seu grande desafio, fica claro hoje que decisões tomadas em outros países podem afetar drasticamente muitos outros. Uma decisão IRresponsável de um gestor do agronegócio pode acabar com a expor-

tação de um determinado produto e ceifar a renda e o emprego de centenas de pessoas. Uma decisão IRresponsável de empresas multimilionárias da moda americana pode causar a morte e degradação de trabalhadores em situação análoga à escravidão em Bangladesh. Assim como uma provável decisão tomada em um laboratório de pesquisas de doenças na China, pode levar a morte de milhões de pessoas em quase todos os países do mundo! O planeta é um só e está mais conectado do que nunca. Decisões IRresponsáveis vão continuar contribuindo para mortes que poderiam ser evitadas e destruição que nunca deveria acontecer. A responsabilidade por uma sociedade mais justa e igualitária é de cada um de nós, a cada decisão e atitude que tomamos, por menor que seja. É pensar que tudo o que fazemos tem um impacto no(s) outro(s) e que esse impacto pode mudar para sempre a vida deste outro ser humano. Sejamos mais responsáveis pela sociedade que queremos. Sejamos mais responsáveis pelos seres humanos que estão à nossa volta. Sejamos mais responsáveis e não toleremos mais a IRresponsabilidade. (*) Adriana Boscov tem mais de 30 anos de experiência dos quais 15 anos em investimento social privado, responsabilidade social corporativa e sustentabilidade. É mestra em Relações Internacionais pela Georgetown University e bacharel em Administração de Empresas pela FAAP. Em sua carreira profissional Adriana ocupou diversas posições de liderança com representante do GIFE pelo Instituto ibi, Presidente da Comissão de Sustentabilidade do Setor de Seguros pela CNseg e Conselheira da iniciativa Princípios para a Sustentabilidade de Seguros (PSI) da UNEP-FI, além de ser professora em cursos de Responsabilidade Social e Sustentabilidade. Atualmente Adriana é consultora nas áreas de responsabilidade empresarial, sustentabilidade e investimento social privado, atuando em temas como gestão, estratégia e captação de recursos. Adriana é Colunista Colaboradora de Plurale.

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Colunista Christian Travassos

O FUTURO JÁ COMEÇOU

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e você é brasileiro, já se emocionou ao menos uma vez com a campanha de fim de ano da TV Globo. A frase que a sintetiza dá o tom da marca. E título a este artigo. No clima veraneio de dezembro, a letra fala em sonhos ao alcance do telespectador via telinha, embalada numa melodia sincopada longe do convencional. Quando você descobre os compositores, entende a obra. Um novo tempo (Hoje é um novo dia) é muito mais que um jingle prestes a completar meio século – foi lançado em 1971 -, repetido uma vez ao ano pelo elenco da emissora. A valsa moderna composta pelos irmãos bossa-novistas Marcos Valle e Paulo Sérgio Valle, em parceria com o onipresente e multi-talentoso Nelson Motta, capta pela sensibilidade, bem ao estilo sonho de verão. A campanha nunca fez tanto sentido quanto em sua última edição. Não exatamente por um clima idílico a marcar a nova temporada, mas, afinal, quem diria que o futuro chegaria tão ligeiro como neste ano de 2020? As transformações e as tendências mais relevantes à análise já se encontravam no cenário pré-pandemia, plasmadas no universo das novas tecnologias. A migração de sistemas presenciais para a Web não chega a ser novidade, mas foi acelerada abruptamente pela Covid-19. E desvelou potenciais para novos modelos de negócio, além de outro patamar de eficiência de processos. Uma das ferramentas que já per-

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meava nossas vidas alcançou protagonismo ainda mais absoluto no enredo. Claro que já vivíamos nas redes sociais, pesquisávamos produtos e serviços, comprávamos e fazíamos pagamentos pela Web – se não todos, ao menos, muitos de nós. Para ficarmos no exemplo do conglomerado de comunicação, o Grupo Globo lançou o portal de notícias na Internet G1 em 2006 e a plataforma digital de streaming de vídeos Globoplay no ano de 2015. Tudo muito além da conexão TV x telespectador. Na “vazante da infomaré”, como diria Gilberto Gil em verso de sua Pela Internet, primeira música lançada e transmitida via Web, no Brasil, em 14 de dezembro de 1996. É fato, no entanto, que a pande-

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mia catapultou o meio virtual numa velocidade impensável poucos meses atrás, antecipando o que se previa para o setor em pelo menos uma década. Essas novas configurações ainda estão em formação, mas algumas observações são possíveis. A despeito do modus operandi da cúpula federal, a emergência médico-sanitária escancarou a importância do embasamento técnico-científico à tomada de decisão num período particularmente fértil em improvisos e bizarrices de alto custo – inclusive, em vidas. Os que apostaram contra a Ciência, no antagonismo entre preservação da vida e da economia, foram confrontados pelos fatos. E pelos dados.


No Brasil, achismos populistas, conformados na epidemia das Fake News, são desmentidos diariamente por cientistas, especialistas, jornalistas, fortalecidos na construção de um debate mais qualificado. Do contrário, um consórcio de veículos de imprensa não precisaria se organizar para substituir a autoridade do Ministério da Saúde na contabilidade da doença. Sintomático. Na contramão, o IBGE e sua pesquisa Pnad-Covid-19 evidenciaram, mais uma vez, a competência e a resiliência do corpo técnico estatal a devaneios. Fundação Oswaldo Cruz, Instituto Butantan e outros centros de pesquisa tupiniquins também comprovaram a relevância de seu trabalho à sociedade. O “vale quanto pesa” ganha ainda mais espaço no planejamento das empresas. Se as bases da CLT já haviam sido abaladas no cenário recente, o modelo tradicional de direitos e garantias sai combalido da pandemia. A terceirização, os conceitos ad hoc, “hora-aula”, “consultoria”, já turbinados por crises econômicas e reformas na Legislação, são (serão) cada vez mais privilegiados. O número recorde de falências será usado como argumento a favor da flexibilização. Um debate fundamental e em aberto. Os serviços de logística se mostram mal calibrados nas bases atuais. Apenas na 1ª quinzena de julho de 2020, entregadores de aplicativos cruzaram

os braços pelo país em duas greves por melhores condições de trabalho e mudanças na forma de pagamento das principais empresas do setor – iFood, Rappi, Loggi e Uber Eats. A adesão maciça de clientes à campanha favoreceu o pleito dos entregadores. Enquanto drones ainda não realizam o serviço no Brasil, como em entregas da rede Domino’s que repercutiram nas redes sociais, o mercado precisará adequar a remuneração na ponta. Justo. Ou a festa não é sua, não é nossa, não é de quem quiser? Durante a pandemia, ex-ministros da Fazenda e ex-presidentes do Banco Central assinaram carta em defesa de um crescimento econômico em harmonia com o meio ambiente. Acordos comerciais e decisão de compra em mercadinhos europeus já influenciam a preservação na Floresta Amazônica, monitorada em tempo real via satélite. Um consumidor mais atento a seu impacto e ao propósito das organizações emerge nas redes. As distâncias diminuíram. O mundo encolheu. A empatia, ou a falta dela, elegeu cases instantâneos, como o da empresa do vestuário que sofreu revés de imagem ao lançar uma máscara gourmet contra a Covid; o do restaurante excluído de guias especializados após garçons dançarem “meme do caixão”; e o da influenciadora digital que perdeu patrocínios ao banalizar a doença. Deixada em segundo plano em meio à derrocada econômica da

década, a responsabilidade social corporativa sai fortalecida. As empresas que logo compreenderam a gravidade da crise e o envolvimento que precisavam demonstrar sobressaíram ante uma minoria que minimizou a doença a qualquer custo e manchou a reputação de marcas até então em ascensão. Também não há dúvidas de que o home office veio para ficar, ao menos parcialmente. Trará economia à operação, exigirá equilíbrio entre vida pessoal x rotina profissional, poupará energia do time no deslocamento casa x trabalho. Por outro lado, representará obstáculo extra à retomada até então incipiente do mercado imobiliário – por que empresas manteriam espaços subutilizados? Outro ingrediente a se considerar aqui são os restaurantes localizados em centros empresariais. Além dos efeitos da pandemia, precisam contabilizar o movimento provavelmente menor adiante. O modelo delivery não exige grandes espaços. Os serviços a domicílio seriam impulsionados de qualquer forma pelo envelhecimento da população, em curso. Alimentação e cuidados pessoais no domicílio avançam. As plataformas de conexão virtual também não têm do que reclamar. É o boom do Zoom. Para além dos eletrodomésticos mais demandados num primeiro momento, como lava-louças e fritadeira elétrica, já se insinua a revolução por vir via impressoras 3D. Entre o que fica, o talento e a capacidade de superar adversidades como por ora fazem milhões de brasileiros merecem arrematar esse breve panorama. Não caberiam aqui os tantos exemplos de trabalhadores e empresas que lançam mão de criatividade e jogo de cintura made in Brazil contra a crise. A ginga no jingle é coisa nossa. (*) Christian Travassos, economista (Puc-Rio) e mestre em Ciências Sociais (CPDA/UFRRJ). É Colunista Colaborador de Plurale.

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Artigo Pedro B. Garrido

PSICANÁLISE E SUSTENTABILIDADE

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s profundas transformações engendradas pela cultura contemporânea aumentaram a incidência de pessoas que sofrem de transtorno de ansiedade, depressão, síndrome de burnout, cutting, toxicomania, entre outras patologias. Em relação às taxas de suicídio, o governo dos EUA divulgou crescimento de 33% entre os anos de 1999 e 2017. É o maior índice registrado desde a 2a Guerra Mundial. No meio desse cenário também se observa a degradação do planeta Terra em função da ação do homem: o aumento assustador do desmatamento da Amazônia, que se acentuou nos últimos dois anos; adoecimento de rios, em que a vida animal deixa de existir; o inacreditável aparecimento e crescimento das ilhas de plástico no oceano; entre outros fenômenos assustadores que acompanhamos diariamente. Recentemente, uma foto aérea da Amazônia causou-me enorme impacto: um tronco-esqueleto espalhado no solo evidenciava o contraste entre a natureza viva e a natureza morta. Era um sinal de SOS da Mãe Terra para nós: estão me (des)matando! Logo pensei: mais uma evidência do fator destrutividade do eu no não-eu, fenômeno presente nas relações humanas que testemunho por vezes no consultório. Depois depurei o pensamento, o que me despertou um susto maior: temos um esqueleto; portanto, falamos da morte do não-eu, da Mãe Terra.

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Há reparação possível para esse fenômeno? Há exatos cem anos, Freud desenvolvia seu conceito de pulsão, apontando para a existência de um dualismo: pulsão de vida e pulsão de morte. De forma simples e coesa poderíamos dizer que a pulsão se refere a uma quantidade de energia (Q) que gera tensão. Ao atravessar o aparelho psíquico a pulsão busca descarregar ou dissipar essa tensão. Segundo ele, a regulagem das tensões no aparelho psíquico exige a descarga. Ela pode se dar de duas formas: 1- com gasto de energia para efetivar ligações simbólicas a partir de rememorações de lembranças, traços mnêmicos, símbolos – tudo aquilo que envolve construção de sentido;

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2- com gasto de energia direta, sem mediação simbólica, que se dá através de formações psicossomáticas ou ações motoras repetitivas, tais como correr sem parar, fumar, comer sem parar, dopar-se, desmatar sem parar, cortar-se... A pulsão de morte se caracteriza evidentemente pelo formato 2. O funcionamento mental vigente neste estado revela um aparelho psíquico empobrecido. Parafraseando Descartes em seu célebre postulado penso, logo existo; temos: não penso, logo desmato, logo me mato. Há uma diferença entre o que Descartes concebe como pensamento e como a Psicanálise o concebe. Para Descartes a existência está atrelada à capacidade de questionar (pensar). A verdade é


FOTO DO GREENPEACE BRASIL

concebida a partir do pensamento e do uso do método científico que constrói evidências empíricas sobre os fenômenos naturais. Para a Psicanálise o pensamento implica a capacidade de criar e sustentar redes simbólicas e afetivas que nos constituem. A verdade sobre quem somos implica uma realidade psíquica; portanto, subjetiva. O trabalho do psicanalista justamente impõe à pulsão a necessidade de se ligar à palavra, ao campo simbólico e afetivo. Ou seja, através da construção de ligas simbólicas, o aparelho psíquico gasta energia produzindo sentido (pulsão de vida); e não dissipando tensão de maneira impulsiva e desordenada (pulsão de morte), comprometendo a preservação do eu e do seu entorno (o meio ambiente). Como síntese, temos: penso, logo preservo. E aqui cabe a concepção cartesiana e psicanalítica do pensar. Retomando a imagem do desmatamento da Mãe Terra amazônica, trago a psicanalista Melanie Klein, que identificou o fator destrutividade como constitucional no ser humano. Seguindo o caminho do conceito de pulsão de morte postulado por Freud, ela descreve o funcionamento mental imaturo como sádico e cruel, e o nomeia de esquizo-paranóide. Neste funcionamento, meca-

nismos de cisão e projeção imperam e o ódio é o afeto mais apropriado para qualificar a relação entre o eu e o não-eu. Em fantasia, o eu ataca o outro, que é tido como objeto persecutório, sugando-o até exaurir suas qualidades, mordendo-o por pura maldade, escavando-o e assaltando o seu corpo ou território, despojando-o de seus conteúdos bons. Ele expulsa substâncias perigosas e destrutivas, para dentro do corpo ou território do outro com o objetivo não apenas de danificar, mas também de controlar e tomar posse. É o que nos revela a experiência clínica do funcionamento esquizo-paranóide. Alguma semelhança com o que observamos na relação do ser humano em relação à Mãe Terra? A extração de conteúdos valiosos; a demarcação de áreas ambientais como propriedade privada; a expulsão de lixo, dejetos e produtos químicos em rios e oceanos; e a própria relação entre humanos absolutamente permeadas por servidão (garimpo), violência (grilagem) e desrespeito (invasão de área indígenas). Vivemos justamente um momento histórico em que se revela o aumento de formações psicopatológicas com incidência significativa de suicídio e isso não é sem relação com o uso exploratório e devastador do

meio ambiente; do meio que, em última análise, fornece-nos o meio de vida. É ao mesmo tempo um homicídio e um suicídio, e é regido pelo funcionamento esquizo-paranóide. O ser humano tem cura? Não diria cura; mas tratamento, sim. É necessário interesse não apenas do Estado, mas também de ONGs, empresariado e elite detentora do capital, para se investir na estrutura de saúde mental coletiva. Há formas de gerar valor sem ser de maneira destrutiva: é o que apontam os profissionais que trabalham com o conceito de sustentabilidade. Nesse sentido, os conceitos de saúde mental e sustentabilidade caminham de mãos dadas: visam à preservação do eu e seu entorno (meio ambiente), produzindo valor. Também me parece fundamental investir em cultura. O contato com grandes obras artísticas e a sua compreensão oferecem ao ser humano a capacidade de pensar, no sentido de integrar as redes simbólicas e afetivas que nos constituem: penso, logo preservo. (*)Pedro B. Garrido é Psicólogo e Psicanalista. Mestrando do Instituto de Psicologia da USP – PSC e Coordenador da rede Gesto Psicanálise

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Especial

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anos

LIVES PLURALE: ESPECIALISTAS DIALOGAM E TRAÇAM CENÁRIO PARA O “NOVO NORMAL”

U Do Rio

ma série de lives – pelo Instagram - marcou as comemorações pelos 13 anos de Plurale. As conversas com especialistas em diferentes temáticas – sempre com um olhar na Sustentabilidade – aconteceram a partir da Semana do Meio Ambiente, no começo de junho, e avançaram nos meses seguintes. O “novo normal”; a força do coletivo com o objetivo de encontrar soluções para a pandemia; a união de diferentes setores conservadores em torno da agenda do desmonte ambiental e a resistência #essaboiadanãovaipassar; consumo consciente; a reinvenção digital do Terceiro Setor; a questão dos Transportes Coletivos foram alguns dos assuntos abordados nestes diálogos. “Nossa intenção foi compartilhar ansiedades que eram não só nossas, mas de muitos. E ouvir de relevantes nomes em cada assunto soluções e cenários daqui para a frente, dentro do que estamos chamando de “novo normal” ou “novo novo”, como alguns chamam”, explicou Sônia Araripe, Editora de Plurale, que foi moderadora de todas estas entrevistas. Com toda a segurança, a parceira Gráfica Walprint confirmou seu padrão de excelência, imprimindo as Edições ao longo do período de pandemia sem qualquer risco para o leitor. Sempre com a missão de democratizar o conteúdo de Plurale em revista, todas as 70 Edições também podem ser lidas e compartilhadas virtualmente através do Portal. “Temos este compro-

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misso desde o nascimento do projeto. O Brasil e o mundo são vastos. Depois da prioridade dada aos assinantes e parceiros, disponibilizamos a edição em formato flip e em pdf com o público em geral. É a nossa colaboração com a causa e com a democratização de informação de qualidade, como estabelece o ODS 17”, reforça Sônia Araripe. Foram entrevistados protagonistas na transição para a tão sonhada economia de baixo carbono, mais justa e ética, e avaliação do cenário do chamado “novo normal”: - o jornalista André Trigueiro, da TV Globo, GloboNews, CBN e autor de vários livros; - as executivas Glaucimar Peticov (Diretora-Executiva do Bradesco) e Daniely Gomiero (Diretora de Responsabilidade-Social e Comunicação da Claro e Vice-Presidente do Instituto Claro); - Sonia Favaretto (Conselho Consultivo do GRI) e Adriana Boscov (Consultora) sobre ESG; - Christiane Caetano (Superintendente do Sesc Pantanal) e Virgínia Londe Camargos (Gestora da Estação Veracel) sobre turismo na natureza; - os Professores Marcus Quintella (FGV Transportes) e Ronaldo Balassiano (Coppe-UFRJ) sobre transportes públicos no pós-pandemia; - a ativista Fe Cortez e a blogueira publicitária Maria Vitoria Cantidiano (@vireieco) com foco em consumo consciente; - Renata Chagas (Diretora-Presidente do Instituto Neoenergia) e Andréa Gomides (Fundadora do Instituto Ekloos) em torno do Terceiro Setor e a

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Em live especial para Plurale, André Trigueiro falou da resistência ao desmonte ambiental #essaboiadanãovaipassar – e sobre o “novo normal”.

transformação digital; - a nutricionista Priscila Ribeiro e a jornalista Raquel Ribeiro sobre alimentação saudável; - os jornalistas – correspondentes internacionais - Viviane Faver (de várias mídias, inclusive Plurale) e Vinícius Assis (GloboNews) sobre a cobertura de manifestos contra o racismo;


As xarás Sonia Favaretto e Sônia Araripe conversaram sobre governança, na mesma live que também contou com mais uma Colunista Plurale, Adriana Boscov, consultora nesta temática.

A transformação digital do Terceiro setor após a pandemia foi o tema da live com Renata Chagas, Diretora-presidente do Instituto Neoenergia e Andréa Gomides, fundadora do Instituto Ekloos

Livros para ler na quarentena: David Grimberg, autor do livro “Rotina de ferro” e VP de Comunicação Corporativa da Arcos Dorados na América Latina e a jornalista Jacqueline Farid, que lançou Prana, sobre a Índia.

Glaucimar Peticov, Diretora-Executiva do Bradesco (esq) e Daniely Gomiero (dir), Vice-Presidente do Instituto Claro foram convidadas para a Live sobre a força do coletivo – investimentos de empresas para enfrentar a pandemia

Os jornalistas Vinícius Assis (GloboNews) e Viviane Faver (Colaboradora de várias mídias, entre as quais Plurale) falaram sobre as recentes coberturas de movimentos antirracistas (#blacklivesmatters) na África do Sul e Nova York, onde trabalham e moram como correspondentes internacionais.

Live zen, com a especialista em “mindfulness”, Barbara Boselli, e a jornalista Giane Gatti, que pratica meditação há 10 anos

Alimentação saudável e vegetarianismo foi o foco da live com a jornalista/ escritora Raquel Ribeiro e a nutricionista Priscila Ribeiro

Os professores Marcus Quintella (FGV) e Ronaldo Balassiano (CoppeUFRJ) foram ouvidos sobre transportes públicos

rolo compressor de flexibilização no arcabouço ambiental; - Uma live zen, com a especialista em “mindfulness”, Barbara Boselli, e a jornalista Giane Gatti, que pratica meditação há 10 anos. - Diálogo com os autores de recentes livros – David Grinberg (autor de “Rotina de ferro” e VP de Comunicação Corporativa da Arcos Dorados na América Latina) e Jacqueline Farid (jornalista e escritora, autora de “Prana”). Todo este material está salvo no IGTV, do Instagram @revistaplurale. E para marcar os 13 anos, e tentar ajudar o nosso leitor a entender melhor este cenário da pandemia e do pós-pan-

demia, o Portal Plurale também está com diversos artigos e matérias especiais. Além de realizar lives, Plurale também participou, como convidado de lives de parceiros – como “Mulheres 50 +, Blog sobre empreendedorismo da Professora Maria Torres, da FGV; Blog Botapragirar, de Fernanda Cubiaco e Portal da escritora Alessandra Pimentel. E aguardem! Virão outras tantas novidades ainda pela frente! Que possamos comemorar muitos mais anos juntos. Conectados, mesmo sem não estarmos fisicamente próximos! Gratidão, toda a nossa gratidão por estes 13 anos de cumplicidade, parceria e irmandade. Juntos na trilha sustentável!

A ativista Fe Cortez e a blogueira Maria Vitória Cantidiano – a @vireieco - abordaram a questão do consumo consciente e da moda que polui.

Turismo na natureza foi o tema da Conversa com Christiane Caetano, Superintendente do Sesc-Pantanal (MT) e Virgínia Londe Camargos, gestora da Estação Veracel (BA).

- Márcio Astrini (Observatório do Clima) e Dal Marcondes (Presidente da Rede Brasileira de Jornalismo Ambiental e Editor da Envolverde) com foco no movimento de resistência ao

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Especial FOTOS DE GIANE CARVALHO –PLURALE

Relevante trio fez a abertura do Seminário de 10 anos de Plurale, em outubro de 2017 FOTO DE RENATA MONDELO - PLURALE

ALFREDO SIRKIS, Por Sônia Araripe, Editora de Plurale Fotos de Plurale e Divulgação

o descarbonário

izem que as pessoas não cruzam o nosso caminho impunemente. Foi exatamente assim quando conheci o político, ambientalista, jornalista e escritor ALFREDO SIRKIS há cerca de 20 e poucos anos. Já tinha lido seu célebre livro autobiográfico – “Os carbonários” – sobre a militância política desde a juventude (aos 17 anos) e fui escalada para entrevistá-lo em campanha política, já totalmente engajado na causa ambiental. Em anos recentes, estivemos juntos, em rede, trabalhando pela

transição para a tão sonhada economia do baixo carbono. Sirkis esteve em todas as rodadas de negociações climáticas – as chamadas COPs – e foi voz mais do que ativa como Diretor Executivo do think tank Centro Brasil no Clima (CBC) e depois - entre outubro de 2016 e maio de 2019 - foi o Coordenador Executivo do Fórum Brasileiro de Mudança do Clima (FBMC), tendo organizado a campanha Ratifica Já! que propiciou a ratificação, pelo Brasil, em tempo recorde, do Acordo de Paris; do processo para a elaboração da Proposta Inicial

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para Implementação da NDC brasileira e da avaliação Brasil Carbono Neutro 2060. Quando Deputado Federal (2011-2015) presidiu a Comissão Mista de Mudança do Clima do Congresso Nacional (CMMC) e foi um dos vice-presidentes da Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional da Câmara dos Deputados. Decidiu não se candidatar à reeleição, em 2014. Mais do que relacionamento de fonte e jornalista, nos tornamos amigos. Assim foi ao longo de todos estes anos. Sirkis sempre nos aten-


FOTOS DO ARQUIVO PLURALE

Sirkis no lançamento do livro da esposa, Ana Borelli, recebe a Edição Especial de 10 a nos de Plurale

A imensa maioria da humanidade tem a perder com as mudanças climáticas. Vai provocar guerras, como a da Síria. Mas apesar dos constantes furacões e incêndios – sinais climáticos extremos –, a boa notícia é que nos últimos três anos o PIB mundial tem crescido e as emissões de gases de efeito estufa encontram-se estáveis com ligeira queda. Estarão erradas as estatísticas? Só temos uma certeza: lutar é necessário!”

Livro “Descarbonário”, a última obra.

Tive a honra de receber o Prêmio Lagoa Viva, em fevereiro de 2019, ao lado de Alfredo Sirkis

Evento sobre Clima realizado por Alfredo Sirkis – Agosto de 2018

ALFREDO SIRKIS, secretário executivo do Fórum Brasileiro de Mudanças Climáticas/ EVENTO 10 ANOS DE PLURALE – OUTUBRO DE 2017

Alegre, ao lado da natureza, no sítio em Engenheiro Paulo de Frontin (RJ), onde gostava de ir com a família e amigos

deu com toda a cordialidade: em entrevistas, seminários e fez questão de participar – como especial convidado – do relevante trio de palestrantes que abriu, em outubro de 2017, na Gávea (Zona Sul do Rio), o inesquecível Evento pelos 10 anos de Plurale, ao lado de André Trigueiro e Sérgio Besserman. Sirkis foi vereador em quatro mandatos, secretário municipal de urbanismo, presidente do Instituto Municipal de Urbanismo Pereira Passos (IPP), entre 2001 e 2006, e secretário municipal de meio ambiente no Rio de Janeiro, entre 1993

e 1996. Foi membro da delegação brasileira nas conferências do Clima de Montreal, Bali, Copenhagen, Durban, Varsóvia, Lima, Paris, Marrakech e Bonn. Era casado há 25 anos com a arquiteta, curadora, cenógrafa e editora Ana Borelli. Ele deixa os filhos Guilherme, Noah e Anna. Não tinha netos. Em fevereiro de 2019 recebemos, na mesma solenidade, o Prêmio Lagoa Viva. Que honra! Bem recentemente, em 2020, conversamos por troca de mensagens sobre o lançamento de mais um livro – “Descarbonário”. Falou também

sobre o filme em homenagem à sua mãe – a polonesa D. Liliana. Combinamos uma entrevista com mais calma, no entanto, como o lançamento coincidiu com a pandemia, combinei que acompanharia suas lives. Brilhante, bem-humorado, estava no auge da trilha. Tão violentamente interrompida por um acidente de carro quando seguia para a casa de campo para estar com a sua esposa, mãe e filhos. Fica o incrível legado, companheiro. Gratidão. Sua história não terminou. Tocaremos a boa luta. Sirkis, presente.

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Sustentabilidade

#EnelFocusOn Recuperação verde na Europa pode transformar a crise pós-Covid em oportunidade Por Sônia Araripe, Editora-Chefe de Plurale Do Rio de Janeiro Fotos - Divulgação

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omo sempre reforça o provérbio chinês, uma crise pode trazer também uma oportunidade. Especialistas em Sustentabilidade e Energias Renováveis participaram, no dia 6 de julho, do webinar #EnelFocusOn, para dialogar virtualmente sobre a chamada recuperação verde. Na Europa, vários países estão discutindo pacotes de ações e incentivos a investimentos renováveis para acelerar o processo de migração para a economia de baixo carbono, em transportes e também em energia verde. Os principais palestrantes foram a economista norte-americana Stephanie Kelton, professora da Universidade de Stony Brook, localizada em Nova York, e o CEO da Enel Green Power, Antonio Cammisecra. A empresa integra o Grupo Enel, com foco nos investimentos em energias renováveis, como hidrelétrica, eólica e solar, inclusive no Brasil. Hidrogênio é outra aposta da empresa, mas ainda não há investimento em nosso país. Após anos de participação presencial, desta vez os convidados interagiram com os moderadores neste novo formato virtual. Stephanie Kelton é hoje uma das principais defensoras da “Teoria Monetária Moderna”. Seu livro (ainda não editado no Brasil), que é considerado um best-seller, apresenta uma nova forma de abordar e estudar a economia. Foi assessora econômica da cam-

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Webinar realizado pelo Grupo Enel traz debate sobre o “New Green Deal” com a Professora norte-americana Stephanie Kelton, da Universidade de Stony Brook, e o CEO da Enel Green Power, Antonio Cammisecra

panha de Bernie Sanders e é considerada uma das principais vozes no debate econômico atual, alertando que a pandemia tem impacto severo não só em vidas, mas também em muitas das ideias do pensamento econômico liberal. Kelton defende a recuperação global baseada na economia sustentável, no modelo que está sendo chamado de New Green Deal. A moderação do webinar foi realizada por Isabella Panizza, Head de Mídias Digitais no Grupo Enel, em Roma. A executiva explicou que, tradicionalmente, este tipo de encontro

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estratégico é feito presencialmente, cada vez num país diferente; mas, por conta da pandemia, esta 17ª rodada foi realizada pela primeira vez em formato digital. Logo a seguir, o CEO da Enel Green Power, Antonio Cammisecra, fez um alerta: - Há um risco de que, na urgência da recuperação, o setor privado diga que ”não é a hora de gastar dinheiro e cérebro em energia verde, sustentável, porque estamos no modo sobrevivência; vamos botar de lado e pensar no que é importante.” - Seria um erro traumático, porque colocaria


FOTOS DA ENEL GREEN POWER - DIVULGAÇÃO

Parque Eólico Delfina Município De Campo Formoso (BA)

de lado a aceleração no caminho da sustentabilidade – reiterou. Cammisecra reforçou que, atualmente, todo mundo quer um aliado, quer o hidrogênio, quer eletrizar os motores. Em sua fala no webinar, destacou que é preciso lembrar que “o hidrogênio ajuda a sustentabilidade porque é renovável, limpo e verde”. - Agora - continuou o CEO da Enel Green Power - há uma discussão, principalmente na Europa, que aponta para a crescente importância do setor de hidrogênio, que ajudará na recuperação da transição – diz. - É muito importante ter clareza de que a recuperação verde é o único caminho. É rapidamente aplicável. Você vai fechar usinas de carvão e subsidiar a energia verde em todos os lugares do mundo. Minha mensagem é que é importante não esquecer que nós representamos a solução tecnológica para o mundo, e que também o somos setor mais fácil e rápido para criar empregos e oportunidades econômicas - frisou Cammisecra. Questionado por Sônia Araripe, de Plurale, sobre os investimentos da Enel Green Power na América do Sul no cenário pós-pandemia,

Parque solar Ituverava Município de Tabocas do Brejo Velho (BA)

Cammisecra respondeu: - Será uma oportunidade para a energia verde; a América Latina precisa de energia verde. Assim que a pandemia estiver sobre controle, não há dúvidas de que haverá o retorno de investimento na recuperação verde - afirmou. A Enel Green Power não tem investimentos em hidrogênio no Brasil. Quatro especialistas em Sustentabilidade e Energias Renováveis par-

ticiparam do webinar remotamente - em segurança, cada um de sua casa, interagindo com os dois palestrantes: o professor Stefano Pogutz, da Universidade de Bocconi; a Editora-Chefe de Plurale, jornalista Sônia Araripe; Kelly Speakes-Backman, Associação de Armazenamento de Energia dos EUA; e Pablo Bustamante, diretor da Geocyl, da Espanha, especializada em Consultoria Sustentável.

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Sustentabilidade

Apresentação de Stephanie Kelton no webinar #EnelFocusOn Crise traz oportunidade - “Vou começar usando uma metáfora esportiva. Vamos pensar em hóquei no gelo e no que fazem os melhores jogadores. Eles não patinam da direção de onde o disco está; deslizam para onde o disco se encaminha. Acredito que a Enel fez exatamente isso. Vocês são uma companhia que enxergou, desde cedo, para onde as coisas se encaminhavam - e seguiu na mesma direção. É por isso que vocês são líderes na produção de energia limpa. Essa crise nos dá uma oportunidade. Tivemos uma oportunidade na crise financeira de 2008 e acredito que não aproveitamos. Agora temos uma nova chance. Alguns acreditam que não é possível criar tantos empregos na área de impacto climático. Pois eu acho que estão errados. É um momento para agir, para ser ousado, para se reconstruir de maneira forte, para garantir o nosso futuro coletivo neste planeta. E para fazer isso, para desencadear a Revolução Verde, precisamos investir, numa escala sem precedentes, em tecnologia verde e renovável. E temos que fazer isso de tal forma que ninguém seja deixado para trás. Antes do coronavírus, tínhamos políticos colocando em pauta propostas climáticas que pela primeira vez eram compatíveis, em escala, com o tamanho do desafio que enfrentamos, tanto na Europa como nos EUA. Eram propostas de um Green New Deal, que inclui aspectos-chave da Revolução Verde de que estamos falando hoje.” Green New Deal - “O Green New Deal é uma metáfora de ideais e ideias contidas no New Deal original, do presidente Franklin Delano Roosevelt, aqui nos EUA, no final da década de 1920. Tais ideias e ideais incluem proteger postos de trabalho e lidar com a crise que hoje enfrentamos. A proposta mais ambiciosa foi

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um plano de 116 trilhões de dólares para transformar a economia americana - não só em termos de energia, mas para tornar tudo verde e sustentável, inclusive habitação, transportes e agricultura. Claro, críticos disseram que seria muito difícil, que custaria muito, que empregos seriam cortados, que seria necessário muito sacrifício, que nunca apoiariam. E aí veio o coronavírus.” Problemas coletivos - “Agora tentamos solucionar esse problema coletivo achatando a curva em todos os países. Isso exigiu enorme sacrifício e vocês viram que as pessoas fizeram sacrifícios. Nos custou empregos, mas muitos governos mostraram que é possível proteger postos de trabalho mesmo lutando contra o coronavírus. Então nós estamos gastando trilhões de dólares, sacrificando pessoas, lidando com a perda de empregos - e estamos indo bem em algumas partes do mundo. Vamos conviver com a Covid-19 até haver vacina. Muitos países estão prontos; outros ainda lutam para controlar o vírus. Assim como estamos lutando juntos contra o vírus, precisamos lutar contra o aquecimento do planeta juntos. Do mesmo jeito que haverá pouco benefício se apenas um país controlar o coronavírus dentro das suas

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fronteiras, fará pouco efeito se apenas um país atingir zero emissões de carbono. Covid e clima são exemplos de um problema coletivo. Só podem ser resolvidos com esforços coletivos numa escala global. Nós temos que ouvir os cientistas sobre o coronavírus e sobre o aquecimento do planeta. Temos que nos unir e apoiar a ciência para que se torne prática.” Mudanças climáticas - “Países ricos têm responsabilidade de investir recursos para lutar contra mudanças climáticas e financiar países que estão na linha de frente, mas que não causaram a crise. Os países industrializados, como os EUA, estão poluindo há um século - e esses países têm uma responsabilidade de investir nos países pobres, para que esses países possam ter energia verde. Países ricos têm a responsabilidade de ajudar outros países a se desenvolverem, para manter o petróleo no solo, o carvão nas minas e as florestas intactas. Tem que haver um fundo climático. Essa transformação vai exigir um comprometimento financeiro da esfera pública. Agora que gastamos trilhões com a Covid, haverá pessoas que nos dirão que não há mais dinheiro para salvar o planeta. Isso não é verdade para a maioria dos líderes políticos.” Revolução verde - “Para onde iremos? Se vamos reconstruir tudo, por que não construir uma economia justa ao mesmo tempo? Muitos dos problemas que enfrentamos estão ligados entre si. Não é apenas um uma crise climática; há uma crise igualitária, uma crise de racismo em muitos países. Temos que olhar de modo diferente para o que olhamos no passado. Os governos têm que ser protagonistas. O lado positivo é que a Covid nos fez ver o governo como parte da solução. A crença nas instituições é vital para se dar a Revolução Verde. E companhias como a Enel vão ter muitas oportunidades e muito potencial para escalar, aumentar, se conseguirmos ter os líderes mundiais alinhados em um esforço coordenado para salvar o planeta.”


Apresentação de Antonio Cammisecra, CEO da Enel Green Power, no webinar #EnelFocusOn O evento – “Estamos fazendo muitas coisas na área de Sustentabilidade nas nossas rotinas. A primeira é o novo formato virtual desse #EnelFocusOn. Todos nós sabemos o que ainda está acontecendo; ainda existem países que estão contando as mortes da pandemia, e muitos que estão no meio disso, como a América Latina. Falar de recuperação parece prematuro, mas não é porque os primeiros passos a serem dados nessa direção têm a ver com a solução que a Europa discute hoje em dia. Pouco antes do início da Covid, o número de artigos relacionados às mudanças climáticas era provavelmente o maior até então. Hoje, claro, porque encaramos um problema global, essa produção foi quase a zero. Agora que a luz no fim de túnel está aparecendo, há uma recuperação do interesse da população em como vamos resolver esse grande problema e também o problema de antes, o grande problema político: o aquecimento global. Na Europa há uma discussão sobre Green Recovery, que significa, basicamente, tentar acelerar a recuperação econômica o máximo possível, mas também do jeito certo.” Recessão – “Esta é, provavelmente, a maior recessão desde a Segunda Guerra e a maior em tempos de paz. É ainda mais difícil entender onde estão - e o que são as infraestruturas e os setores econômicos. Precisamos trocar a engrenagem, ir mais rápido no caminho da transição energética, acelerar a velocidade de implementação, para tentar conter a aceleração do aquecimento climático. Há poucos setores - como o energético, particularmente - que podem combinar a necessidade da recuperação econômica e a necessidade da mudança completa do nível de sustentabilidade de economias modernas que decidiram, antes da pandemia, mudar a engrenagem, tentar descarbonizar. Eu acho que a combinação é clara.” Energia verde – “Há um risco, em meio à urgência da recuperação, que o setor privado diga: “não é a hora de gastar dinheiro e cérebro em energia ver-

de, sustentável, porque estamos no modo sobrevivência; vamos botar isso de lado e pensar no que é importante”. Seria um erro traumático, porque colocaria de lado a aceleração no caminho da sustentabilidade. Hoje todo mundo quer um aliado, quer o hidrogênio, quer eletrizar os motores. Mas é preciso lembrar que o hidrogênio ajuda a sustentabilidade porque ele é renovável, limpo e verde. Agora há uma discussão, principalmente na Europa, sobre a importância do setor de hidrogênio, pois ajudará na recuperação da transição. É muito importante ter clareza de que a recuperação verde é o único caminho. É rapidamente aplicável. Você vai fechar usinas de carvão e subsidiar a energia verde em todos os lugares do mundo. Minha mensagem é que é importante não esquecer que nós representamos a solução tecnológica para o mundo, mas também somos o setor mais fácil e rápido em gerar empregos e oportunidades econômicas. ” Cenário da Europa – “Nas discussões políticas, nas discussões gerais, achamos que estamos pensando na segunda e na terceira fase. Infelizmente, na América Latina, essa discussão está atrasada pelo menos três meses. Digo isso porque, de um lado, foi um tremendo desperdício de oportunidade não aprender com a Europa. Este foi um erro que a Europa também cometeu, internamente. A Itália foi o primeiro país que viveu a dramática pandemia e, mesmo assim, muitos outros países europeus não seguiram imediatamente as medidas. Talvez se tivessem levado o

problema a sério antes, salvando vidas e aplicando um longo lockdown, fosse diferente. Mas a América Latina ainda está no meio disso. Ainda não estamos vendo a desaceleração e a queda da curva.” América Latina – “Então, para responder à sua pergunta, teremos de entender quais serão as consequências dessa pandemia. Há duas coisas: de um lado, as oportunidades que existiam antes da pandemia ainda estão lá, intocadas. Então a necessidade de energia limpa, as oportunidades e o crescimento demográfico em diversas áreas do mundo, como na América Latina, ainda existem. A América Latina precisa de energia, com certeza. No curto prazo deverá haver uma freada, com certeza. Tem sido bem difícil para nós continuar trabalhando em nossos projetos. Alguns tiveram que parar, claro, para proteger a saúde das pessoas neles envolvidas. Mas assim que a pandemia estiver sob controle, não há dúvida de que haverá uma recuperação de investimentos em energias sustentáveis. Então, acredito que partindo desse ponto de vista, a recuperação pode ser ainda mais tranquila na América Latina - porque não estamos apenas transformando, estamos fazendo algo. E quando você já está [fazendo] é sempre mais fácil do que quando ainda precisa demolir e reconstruir, o que é basicamente o que teremos que fazer em economias mais avançadas, porque precisamos transigir e migrar da energia fóssil para a energia renovável. O importante é reconhecer que haverá consequências no futuro e que haverá setores em que será praticamente impossível acelerar [a produção]; e a energia renovável oferece oportunidade para criar empregos e prosperidade. O fundamental é que estamos confiantes quanto à América Latina. Acreditamos que o continente vai se transformar muito rapidamente. O importante é aprender com os erros que inevitavelmente foram cometidos na Europa.”

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Saúde

3 LONGEVIDADE,

anos

DESEJO ANTIGO DOS HUMANOS: QUANTO MAIS TEMPO MELHOR Por Nícia Ribas, de Plurale Fotos de Arquivo Especial e Júlia Rónai (foto de Nora Rónai)

U

ltrapassar os 90 anos de idade com lucidez e alegria é uma realidade para cada vez mais brasileiros. O último Censo do IBGE revelou que são quase 500 mil e a expectativa é que esse número aumente em mais de 10 vezes até 2060, chegando a cinco milhões de pessoas bem vividas. Os centenários já são 24 mil e o sonho da longevidade permanece bem vivo entre humanos. Foi o progresso nas Ciências e na Tecnologia que permitiu esse aumento da expectativa de vida. No entanto, nessa preciosa prorrogação, nem todos conseguem livrar-se de uma sucessão de dores e lamentações e manter a capacidade física e mental. Em seu livro A chave da Longevidade, o médico Helion Póvoa Filho indica a medicina ortomolecular para combater os radicais livres e cuidar do equilíbrio químico. Além de ficar atento aos minerais, ele recomenda: dormir sempre bem; cuidar do intestino e exercitar-se sempre: “Sob a ótica da bioquímica e da fisiologia celular, estamos construindo um modelo preventivo de saúde, em que o equilíbrio químico de cada indivíduo é sua principal defesa contra os fatores que provocam o

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Exemplos de quem vive bem aos 90 anos não deixam dúvidas que estamos sim indo mais longe e com qualidade de vida FOTO DE JÚLIA RÓNAI

envelhecimento precoce e as doenças”, diz em seu livro. Mais recentemente, além de alimentação balanceada, bons hábitos e prática regular de atividades físicas, surgiram outros fatores importantes para a longevidade saudável. Um estudo publicado recentemente no International Psychogeriatrics destaca características consideradas fundamentais, como o estado de espírito, a positividade diante da vida, ética no trabalho, teimosia e um forte laço com família, religião e terra. Em plena atividade Nora Rónai, 96, arquiteta, foi professora na UFRJ e é campeã brasileira, sul americana e mundial de natação. Ela começou a participar de torneios aos 69 anos. Suas últimas competições internacionais foram em Montreal, em 2014, e em Assunção, no ano passado. Nora se orgulha dos seus títulos na natação, porém faz questão de dizer que é amadora. Seu cotidiano inclui práticas de natação e musculação. Agora, durante a pandemia, ela apenas desce e sobe diariamente quatro andares do prédio onde mora, no Rio de Janeiro. À pergunta da Plurale sobre

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se a pandemia a tem incomodado muito, impedindo-a de treinar, disse: “Já passei por tanta coisa que isso é café pequeno; o que não tem remédio, remediado está”. Talvez esteja aí o segredo de Nora para se manter tão saudável. Mãe da jornalista Cora e da musicista Laura, avó de quatro e bisavó de sete, Nora é viúva do filólogo, tradutor, crítico literário, professor e escritor Paulo Rónai, um judeu húngaro que se tornou brasileiro e muito contribuiu para a cultura do País. Italiana da antiga cidade de Fiume, região que hoje pertence à Croácia, veio para o Brasil aos


Vale a pena viver tanto? Plurale conversou com vários integrantes desta seleta turma de nonagenários e centenários, fazendo a mesma pergunta: Vale a pena? Por que? Cely Cortes Gallotti Peixoto, 93, viúva, mãe de seis filhos, avó de nove e bisavó de sete. Carioca, mora há muitos anos em Florianópolis, onde vivem os filhos – uma das filhas mora com ela - e uma bela coleção de amigos. Dia 11 de dezembro nunca passa em branco, pois ela recebe todos para celebrar mais um ano de vida. Já superou dores profundas, como a perda de dois filhos,

FOTOS DE ARQUIVO PESSOAL

17 anos, com a família, fugindo do nazismo. Logo ela e o irmão começaram a prática de esportes no Clube Ginástico. Sua autobiografia Memórias de um Lugar Chamado Onde (Casa da Palavra) foi lançada em 2014. Este ano lançou o livro O Desenho do Tempo – Memórias (Editora Bazar do Tempo). Antes já havia lançado um livro infantil, O Roubo da Varinha de Condão e Outras Histórias (Nova Fronteira). Nas redes sociais, mais um bom exemplo de nonagenária em plena atividade: Maria Soares, mineira, negra, 95 anos, é ativista pela justiça e igualdade do ser humano. Ela diz que hoje não tem mais medo da morte, pois já viveu bastante, e acha que vale a pena se arriscar, defendendo suas ideias. Inconformada com a mortandade de jovens e com o feminicídio crescente na sociedade brasileira, Santinha, como é conhecida, defende os injustiçados por onde passa, Recentemente faleceu a atriz Ruth de Souza, com 98 anos. Ativa até o final, 15 dias antes de uma pneumonia a levar, gravou suas últimas cenas para um filme. Oriunda do engenho de Dentro, no Rio de Janeiro, Ruth viveu com a mãe numa vila de lavadeiras e jardineiras, em Copacabana. Dedicou-se ao teatro, fez 20 novelas e vários filmes, tornando-se um ícone da dramaturgia brasileira.

mas mantém com garbo a alegria de viver. Internauta super ativa, posta mensagens frequentes no Facebook. Cely, vale a pena viver tanto? Sim, vale pela alegria de conviver com netos e bisnetos, todos muito carinhosos. Gosto de perceber o jeito de cada um e respeito suas personalidades. Não é tudo como a gente quer, mas minha palavra-chave é perdão. Gilda Furtuna, 91, mineira moradora de Teresópolis, viúva, três filhos, três netos e uma bisneta. Orgulha-se de ter trabalhado como cabelereira, radialista e na bilheteria do cinema de Santos Dumont (MG), onde morava quando solteira. Depois de casada, o marido a proibiu de trabalhar e o máximo que conseguiu foi vender Avon sem ele saber. Em sua casa na Serra, mora também a filha mais velha, mas quem vai para a cozinha, com o maior prazer, é ela. Gilda costuma passar temporadas na casa da filha Vânia, no Rio, frequentando cinemas, teatros e restaurantes. Muito católica, é telespectadora fiel da TV Aparecida. Gilda, vale a pena ultrapassar os 90? “Como vale! Sempre com Deus

no coração, com o carinho dos netos e a bisneta, vibrando com as conquistas deles e rezando para que sejam felizes como eu sou.” Gilberto de Abreu Pires. 94, curitibano de raiz, três filhos, seis netos e duas bisnetas, é católico praticante. Viúvo, já passava dos 70 quando reencontrou uma prima querida e está até hoje casadíssimo e feliz. Sua intensa vida profissional na área administrativa levou-o a cargos de destaque na esfera federal, obrigando-o a morar por 10 anos em Brasília. Ele continua na ativa, participando de reuniões no Instituto Histórico do Paraná e no Movimento Pró Paraná. Bem disposto, desloca-se bem pela cidade e mantém-se informa-

do, dando opiniões sobre todos os assuntos. Nas reuniões do conselho do Clube Curitibano “convivo com uma rapaziada de 50 anos e eles me ouvem e respeitam.” Pudera! Com tanta experiência acumulada, Gilberto soma sempre. Gilberto, vale a pena viver tanto? Vale muito a pena! Eu me sinto premiado e agradeço todo segundo pela vida que levo. Enquanto

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Saúde

for útil, sigo colaborando e dou minhas opiniões, porém sempre respeitando as opiniões alheias. Vivo um dia de cada vez, sem planos futuros. Carmilde Araripe, 91, carioca da Tijuca, moradora de Ipanema, viúva, uma filha, um genro e uma neta. Filha de portugueses, está aguardando sair sua cidadania para facilitar suas viagens. Numa época em que a maioria das mulheres ficava em casa, Carmilde sempre trabalhou: primeiro em cartório e depois na área administrativa do Supremo Tribunal Militar. Aposentou-se aos 55 anos. Católica, síndica há anos do seu prédio, ela adora ir à rua, seja para visitar a família, passear, ir à missa ou fazer feira. Carmilde dispensa brilhantemente a tecnologia das redes sociais. Sua foto para a matéria só mesmo no bom e velho

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FOTOS DE ARQUIVO PESSOAL

papel. Ela garante que a Internet não lhe faz nenhuma falta. Carmilde, vale a pena? Sim, quanto mais melhor! Adoro conversar com amigos e familiares. Viajar também é maravilhoso. Aqui no Brasil e no exterior. Maria Alice de Moraes Paiva, 92, viúva, três filhos, dois netos, vive sozinha em Copacabana. Sempre acompanhou e ajudou os idosos da família e hoje se orgulha de ser auto suficiente, pois não quer dar trabalho aos filhos. Muito curiosa, destrincha tecnologias modernas até dominá-las. Só pede ajuda aos filhos em último caso. Acompanha, horrorizada e combativa, os malfeitos do governo e costuma lembrar todos os aniversários no grupo da família pelo whatsapp. Diante dos problemas, tem uma técnica: analisar com calma, fazer o que for possível e esperar passar. Ativa, começou recentemente a estudar árabe on line, com os filhos. Pelo andar da carruagem, Alice vai longe: sua mãe viveu 101 anos. Alice, vale a pena? Sim, vale a pena. Fundamental é manter o bom humor e a auto suficiência, aproveitando as vantagens da modernidade. Sei que estou velha, mas não me sinto.

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Gilda Vieira de Mello, 102, viúva, moradora de Copacabana, dois filhos, Sônia e Sergio Vieira de Mello, (que morreu no Iraque, em ataque terrorista provocado pela Al Qaeda, quando trabalhava pela ONU, em 2003), três netos e seis bisnetos. Essa dor profunda acompanha Gilda, mas o amor pela vida permanece. Lúcida, vaidosa, lê muito bem sem precisar de óculos – nos orgulhamos por tê-la como leitora assídua de Plurale - todos os dias acompanha o noticiário e gosta de conversar sobre todos os assuntos. Tem uma cultura geral vastíssima, tendo sido casada com Diplomata. Adora a visita da família. Canta, gosta de ouvir piadas e assiste filmes clássicos. “Ler é um eterno exercício para continuar raciocinando”, diz.


FALA, ESPECIALISTA Professor de Gerontologia da USP EACH, comentarista de longevidade da TV Globo e fundador do Centro de Estudos da Economia da Longevidade, Jorge Félix, falou sobre longevidade especialmente para Plurale: FOTOS DE DIVULGAÇÃO

Plurale: Com sua experiência e seus estudos sobre a longevidade, como vê a possibilidade de manter a capacidade física e mental nessa fase da vida? Jorge Felix: A primeira ideia que devemos ter em mente é que existe uma heterogeneidade na velhice. São vários envelhecimentos. Chegar aos 90 anos hoje já é bem comum e será cada vez mais, graças à ciência, que popularizou medicamentos e tratamentos e ao SUS, que garantiu o aumento de nossa expectativa de vida de maneira extraordinária dos anos 1990 para cá. Poderíamos melhorar ainda mais se o Estado fizesse campanhas de saúde para reduzir o sedentarismo, o consumo de álcool e de cigarro. Vi agora, na rede social, a Fernanda Montenegro em vídeo recomendando o uso da máscara no combate à Covid. Sabe o que mais me chamou a atenção? A agilidade dela nos dedos para esticar o elástico e colocá-lo atrás da orelha. Ela faz esse gesto de forma muito rápida, ágil. Isso é extraordinário. Para que mais pessoas, de todas as classes sociais possam desfrutar de um envelhecimento de qualidade, dependemos de saúde pública, com proteção social. Garantir uma velhice melhor depende de o Estado oferecer saúde integral e universal de qualidade. Plurale: Há mais mulheres longevas? Para essa reportagem, encontramos mais mulheres nonagenárias do que homens. Jorge Felix: A diferença de ex-

pectativa de vida entre homens e mulheres é real e os cientistas ainda procuram explicações, embora existam muitas evidências genéticas favoráveis ao sexo feminino. Os motivos do século passado estão perdendo força, como a exposição às doenças do trabalho, por exemplo, para explicar a maior longevidade das mulheres. Há também uma diferença epidemiológica, principalmente em relação a doenças cardiovasculares, que incidem mais nos homens. Outro fator importante, no Brasil, é a violência urbana e mortes que poderiam ser evitadas pelo estilo de vida e sujeição ao risco. Plurale: Cada vez mais teremos centenários no Brasil? Jorge Felix: Mesmo com pandemias e doenças novas, a ciência está pronta para responder a esses eventos extremos de maneira muito mais rápida do que no passado. Acredito também que a pandemia atual irá provocar uma mudança nos hábitos

de higiene, por exemplo, o que pode melhorar a higiene e a saúde. Por outro lado, aumentará muito mais a incidência e prevalência de doenças crônicas não transmissíveis, como alzheimer, parkinson etc. Um ponto importante na sociedade com maior número de “mais idosos” (como chamamos tecnicamente os maiores de 80 anos) é a “doença da solidão”. Temos 5,7 milhões de idosos que vivem sozinhos no Brasil. Portanto, é preciso politizar o cuidado. O que é isso? Regulamentar a profissão de cuidadora e de gerontóloga (o gestor da velhice) e, principalmente, incluir o cuidado como um pilar a mais da seguridade social, permitindo que o Estado amplie a sua oferta de cuidados, seja no cuidador que visita os idosos, aplicando testes de avaliação multidimensional de saúde, ou na oferta de instituições de longa permanência para idosos (ILPIs), chamados antigamente de asilos.

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Social

Instituto Neoenergia lança sua primeira memória de atividades Da Equipe Plurale Fotos de Divulgação – Instituto Neoenergia

A

energia que move os negócios também inspira as ações socioambientais. É o que podemos perceber com a primeira Memória Anual do Instituto Neoenergia, divulgada no fim de junho. O documento apresenta resultados de projetos realizados em parceria com as organizações da sociedade civil e alinhados aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), para o alcance das metas da Agenda 2030, nas regiões onde a Neoenergia está presente. Entre os projetos apoiados estão, por exemplo, vários com foco na educação e cultura – e outros tantos voltados para educação ambiental, mudanças climáticas, proteção da biodiversidade e redução das desigualdades. Com cinco ODS prioritários, o Instituto Neoenergia totalizou, em 2019, mais de R$ 4,9 milhões em investimentos sociais no país, por meio de parcerias em cinco estados, com organizações sociais reconhecidas globalmente, como a WWF/Brasil (World Wide Nature) e a SAVE Brasil, braço da Bird Life International. Organizações da sociedade civil nacionais também foram contempladas. Uma delas é o Instituto Ekloos, que atua no fortalecimento e na profissionalização do terceiro setor, como via principal de inclusão e de conexão do tecido social. Além disso, a Memória apresenta os dados de um dos editais de

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Documento apresenta resultados de projetos que atuam em aliança com as organizações da sociedade civil, em linha com os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), para o alcance das metas da Agenda 2030 nas regiões onde a Neoenergia está presente

“Entendemos que para construir novas parcerias é preciso ir além da nossa visão sobre o que acreditamos ser o caminho para a melhoria de vida das pessoas, seja na dimensão social, econômica ou ambiental. E nosso primeiro passo, ao pensar na criação e gestão de novos editais, ações e projetos, é estabelecer o diálogo com as organizações sociais, associações de moradores, lideranças comunitárias e poder público local, para compreendermos suas necessidades e atuarmos de forma eficaz para a sustentabilidade dessas comunidades.” RENATA CHAGAS Diretora-Presidente do Instituto Neoenergia

arte e cultura mais importantes do Rio Grande do Norte, realizado em parceria com a Cosern – distribuidora de energia do estado - via Lei Estadual de Incentivo à Cultura Câmara Cascudo. O edital “Transformando Energia em Cultura” apoia projetos socioculturais que contribuam com os ODS (Objetivos do Desenvolvimento Sustentá-

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vel) e valorizem a cultura local. Desde 2015, o grupo já tinha ações socioambientais no país, a partir do Instituto Iberdrola Brasil - braço das Fundações da Iberdrola no Brasil que, em 2018, passou a se chamar Instituto Neoenergia. O Diretor-Presidente da Neoenergia, Mario Ruiz-Tagle, explica que o Instituto atua em áreas que promovem a inclusão so-


ARTE DE BRUNO SILVA

cial e a redução das desigualdades, com base nos pilares de Formação e Pesquisa, Biodiversidade e Mudanças Climáticas, Arte e Cultura, Ação Social e Colaboração Institucional. “Posso dizer que esse é mais um importante marco para mostrar nossa articulação, engajamento e diálogo com a sociedade civil, que entendemos como prioritário para avançarmos rumo a um crescimento sustentável. 2019 foi um ano importante na orientação dessa gestão, alinhada aos Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS) e ao alcance das metas da Agenda 2030, com o trabalho da equipe do Instituto Neoenergia. Em seus pilares de atuação, há excelentes projetos que vêm colaborando e transformando comunidades de municípios e estados onde estamos presentes”, afirma Mário.

Para o ciclo 2018-2022, o desafio do Instituto Neoenergia é colaborar diretamente com o alcance dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), estabelecidos pela ONU. Os principais objetivos são a contribuição para a melhoria da qualidade de vida das pessoas mais vulneráveis e a aposta no desenvolvimento sustentável, por meio da realização e apoio de projetos dentro dos seguintes pilares. “Entendemos que para construir novas parcerias é preciso ir além da nossa visão sobre o que acreditamos ser o caminho para a melhoria de vida das pessoas, seja na dimensão social, econômica ou ambiental. E nosso primeiro passo, ao pensar na criação e gestão de novos editais, ações e projetos, é estabelecer o diálogo com as organizações

sociais, associações de moradores, lideranças comunitárias e poder público local, para compreendermos suas necessidades e atuarmos de forma eficaz para a sustentabilidade dessas comunidades”, diz Renata Chagas, Diretora-Presidente do Instituto Neoenergia. Renata ainda complementa: “Queremos conectar pessoas, fortalecer as redes da sociedade civil e contribuir para a redução da desigualdade social, apoiando ações e projetos para o alcance das metas da Agenda 2030. Esse é o legado que queremos deixar no mundo.” Acesse a Memória 2019 em – https://www.neoenergia.com/pt-br/sobre-nos/instituto-neoenergia/Documents/transparencia/ Memoria_2019_Instituto_Neoenergia.pdf

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Social

CONHEÇA ALGUNS DOS PROJETOS APOIADOS PELO INSTITUTO NEOENERGIA DIVULGAÇÃO/ INSTITUTO NEOENERGIA – INSTITUTO EKLOOS

O Programa de Aceleração Social Impactô, realizado em parceria com o Instituto Ekloos, maior aceleradora social do Brasil, tem como objetivo impulsionar o desenvolvimento de Organizações da Sociedade Civil e Negócios Sociais. Lançada em 2019, a iniciativa aconteceu em

Salvador, com o apoio da Coelba, distribuidora da Neoenergia na Bahia. Cinco organizações da cidade – Acopamec, Associação Clara Amizade, Bankman e CIPÓ - Comunicação Interativa e Punk Hazard Studios – foram selecionadas para participar de capacitações e mentorias nas áre-

as de gestão estratégica, negócios e inovação. Num período de quatro meses, foram realizadas 864 horas de atividades que impactaram diretamente 2.145 crianças, adolescentes e jovens atendidos pelas instituições aceleradas. Indiretamente, o projeto teve mais de 10 mil beneficiados. DIVULGAÇÃO/ INSTITUTO NEOENERGIA

O Programa de Iluminação Cultural, que integra o pilar de Arte e Cultura, tem como objetivo principal valorizar edificações históricas, a partir de um projeto de iluminação ecoeficiente que ajude a transmitir à população e aos visitantes sua representatividade e seus valores artísticos e culturais. Por meio da iniciativa, o Instituto Neoenergia busca aproximar as pessoas de sua história, pelo reconhecimento de patrimônios culturais, ajudando a despertar um senso de pertencimento que se traduz no cuidar, além de ampliar o potencial turístico e de ocupação nas cidades beneficiadas. O programa começou em 2015,

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com a iluminação da Cruz de Cabrália, na Bahia, monumento que é um marco da história brasileira. Em 2018 foi concluída a nova iluminação do Forte das Cinco Pontas, em Recife (PE), monumento que registra o breve período da ocupação holandesa no país, no século XVII, e onde funciona o Museu da Cidade do Recife. Já em 2019, o Instituto inaugurou a

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nova iluminação da Fortaleza da Barra Grande, no Guarujá, em São Paulo única fortificação espanhola no Brasil, erguida no ano de 1584 e tombada pelo Instituto de Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN), em 1964. O Forte ganhou uma iluminação que permite a troca de tonalidades de cores de acordo com datas temáticas do calendário brasileiro.


DIVULGAÇÃO/ INSTITUTO NEOENERGIA – SAVE BRASIL

A organização não governamental SAVE Brasil integra a aliança global BirdLife Internacional e é apoiada pelo Instituto Neoenergia desde 2018, no Projeto Flyways Brasil - de conservação e mapeamento de aves limícolas migratórias. Flyways é o termo em inglês usado para designar as rotas migratórias, que são sete no mundo. A parceria dá sequência à formalizada em 2015, com o Instituto Iberdrola Brasil, para o mapeamento e identificação das áreas importantes para espécies de aves que usam as rotas migratórias do país, a Atlântica e a Central. Em 2019, o projeto focou na importância do Nordeste brasileiro para as aves migratórias que vêm do Ártico, onde nascem e se reproduzem. Finalizada a reprodução, essas aves migram e vêm passar, na América do Sul, o inverno do Hemisfério Norte. Na Bacia Potiguar,

no estado do Rio Grande do Norte, a SAVE Brasil lidera um grupo de ornitólogos e biólogos que vão a campo realizar o censo das espécies e fazer um mapeamento das áreas onde elas são encontradas. A maior concentração de aves ocorre no período entre setembro e maio,

Durante o primeiro ano do projeto, o Balcão de Ideias e Práticas Educativas apoiou os planos das redes municipais de educação de cinco cidades – São Francisco do Conde (BA), Itapebi (BA), Itaparica (BA), Caieiras (SP) e Francisco Morato (SP). Esse apoio impactou diretamente 1.181 professores e gestores escolares, totalizando 620 horas de formação e beneficiou mais de 18 mil alunos das redes municipais das cidades envolvidas. Nas 89 oficinas realizadas, 258 práticas educativas foram cocriadas e levantadas de forma colaborativa, a partir da construção conjunta de conhecimento entre professores e gestores escolares, de modo a incentivar a inovação das estratégias pedagógicas. O projeto é realizado em parceria com o Centro Integrado de Estudos e Programas de Desenvolvimento Sustentável (CIEDS).

meses que marcam as épocas de migração e o período não reprodutivo das espécies. Além do trabalho com as aves, o grupo aproveita as viagens para estreitar o relacionamento com as pessoas locais que residem na rota das aves, e assim informar e conscientizar a comunidade.

DIVULGAÇÃO/ INSTITUTO NEOENERGIA - CIEDS

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Ecoturismo

TURISMO DE NATUREZA PÓS-PANDEMIA Por Luciana Bezerra - Especial para Plurale Fotos de Ricardo de Oliveira, Especial para Plurale De Manaus (AM)

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quarentena adiou o sonho de muita gente que esperava a tão sonhada viagem de férias, para aproveitar o feriado ou apenas passar um fim de semana longe da rotina diária das atividades profissionais. Parafraseando o saudoso Tom Jobim, ao invés de vermos as águas de março fechando o verão, este ano, o que vimos foi uma enxurrada de restrições de circulação imposta pelas medidas para impedir a propagação do novo Coronavírus e, o setor do turismo foi um dos mais afetados pela pandemia. De acordo com a Organização Mundial de Turismo (OMT), o setor apresentou uma queda de 97% nas viagens turísticas na comparação com o mesmo período do ano passado. Apesar desse declínio, a OMT vê sinais de retomada do turismo no país nos próximos meses. Mesmo que muitos turistas estejam ainda preocupados com a circulação do vírus ou de entrar em um avião. No entanto, ninguém aguenta mais ficar em casa, já se vão quatro meses de confinamento. O que antes víamos somente em reality show, se tornou realidade no Brasil e no mundo. O turismo está parado, sim, mas se você ficar parado também, muito provavelmente quando as coisas voltarem ao normal você não estará preparado para as mudanças que já estão acontecendo. Portanto, é hora de aproveitar o isolamento social e planejar a próxima viagem, mesmo que ela aconteça apenas em 2021 ou quiçá, em 2022.

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Conheça o point do verão Amazônico Embora o número de óbitos e de infectados pela covid-19 venha caindo no Amazonas, segundo dados da Fundação de Vigilância em Saúde (FVS-AM), o Estado já foi o epicentro da doença na região Norte e teve os sistemas de Saúde e de Necrotérios colapsados, em abril e maio. Mesmo assim, a temporada de verão, já começou por aqui. É neste período do ano, onde os rios atingem sua capacidade máxima, que a região Amazônica fica ainda mais bonita. Apesar de inúmeras praias ficarem submersas em diversos municípios do Estado, há lugares, próximo a Manaus, como o município de Novo Airão (a 194 quilômetros da capital amazonense), que é possível apreciar de perto a exuberância da Amazônia. Se você busca uma imersão intensa pela floresta, com aprendizados na selva, mergulho no Rio Negro, ter a experiência de morar nesse bioma e nenhum contato com a vida exterior, você escolheu o lugar certo. Novo Airão é o destino final para

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muita gente que visita a Amazônia. A simpática cidadezinha de cerca de 18 mil habitantes é o endereço de alguns dos melhores hotéis de selva amazônicos. O Anavilhanas Jungle Lodge está a 10 quilômetros do Centro; já o Mirante do Gavião fica ainda na cidade, mas no meio do mato. Mas, se o visitante preferir se hospedar no melhor estilo ribeirinho, tem as casas ‘Madadá’ e ‘Apuaú’, em estilo rústico-chique semelhante a residência de um caboclo amazônico, porém, com todo o conforto, luxo e mordomia de um hotel. O que ambos têm em comum, além da arquitetura rústico-muito-chique, é a experiência na selva, aquele cardápio clássico que inclui explorações na floresta, saídas noturnas de barco para ver os bichos da região, pesca de piranha, passeios de canoa pelos igarapés e até, na época da vazante, um dia na praia. Afinal, a localização é estratégica: o quintal de Novo Airão é o Parque Nacional de Anavilhanas, segundo maior arquipélago fluvial do mundo, formado por mais de 400 ilhas espalhadas pelo Rio Negro.


FOTOS DE RICARDO DE OLIVEIRA

No trajeto de Anavilhanas, estão o Parque Nacional do Jaú, declarado Patrimônio Natural da Humanidade pela Unesco e a Reserva do Xixuaú, acessível pelo Rio Jauaperi, pequeno afluente do Rio Negro que marca a divisa dos estados do Amazonas e de Roraima. As casas ‘Madadá’ e ‘Apuaú’ têm como vista principal a entrada do Parque Nacional de Anavilhanas, imagina acordar com esse belo cartão postal da natureza Amazônica? Outra atração do espaço, é no final da tarde, contemplar o lindo pôr do sol e levar de brinde o bailado dos botos rosa que se exibem no flutuante próximo a casa. De Acordo com a diretora da Amazon Best Homes (AMH), Geyna Brelaz, empresa responsável pelo local, a proposta das casas ‘Madadá’ e ‘Apuaú’ é fazer com que o visitante se envolva com atmosfera da região Amazônica e passe a viver como um nativo. “A proposta das casas é levar o visitante a ter uma experiência única de morar em uma casa típica estilo pescador. Diferente de hotéis de selva, onde há outros hóspedes no local, o ambiente foi projetado para o hóspede cozinhar, ir na feira orgânica da região, comprar o peixe fresco nos barcos pesqueiros, cultivar a horta como se ele fosse um nativo da região. O mais importante é que ele se sinta à vontade como se estivesse em casa, porém, cercado pela natureza exuberante da floresta Amazônica”, destacou a empresária. Geyna enfatizou ainda que os visi-

tantes estrangeiros, seguido dos amazonenses, são os que mais buscam o espaço. Primeiro, pela experiência de viver como um caboclo nativo das comunidades ribeirinhas do Amazonas. E segundo, porque querem conhecer de perto a exuberância da Amazônia -maior floresta tropical e a maior reserva de biodiversidade do planeta. Sobre a região A região do Madadá não é segredo para quem visita o município de Novo Airão. No coração de Anavilhanas, o lugar é um laboratório de espécimes da fauna e flora da maior floresta tropical do mundo e também dos diferentes cenários da região nos períodos de cheias e vazantes dos rios, além, de ter uma grande variedade de paisagens e locais impressionantes. O Centro de Novo Airão é outro ponto de destaque, onde o visitante encontra as melhores hospedagens, restaurantes e centros turísticos para marcar os passeios pelos parques de Anavilhanas e Jaú. No passeio pelo centro, o visitante pode conferir as lojas de artesanato locais, em que são confeccionados objetos como esteiras, conhecidas como tupés, cestos, balaios, bolsas, luminárias, cadeiras revestidas de fibra e peças utilitárias com matéria-prima da flora local. O Mirante do Madadá, outro ponto imperdível na região, abriga um quiosque de dois andares e sem paredes laterais, no meio da floresta, para alguns pode ser um tanto desconfortável se pensarmos nos bichos e insetos que

podem surgir no meio da madrugada. Contudo, dormir ouvindo os sons da mata e sentindo a refrescante brisa da selva faz o visitante sentir parte dessa gigantesca natureza que é a floresta Amazônica. O ponto alto da trilha são as Grutas do Madadá - conjunto de rochas (formadas por grandes blocos de arenitos) envoltos pela vegetação local. Ruínas de Velho Airão Não deixe de visitar a cidade fantasma de Velho Airão, fundada no ano de 1694 e que servia como ponto comercial de borracha, extraídas da região do Médio e Alto do rio Negro. Segundo a lenda local, a cidade foi tomada por formigas de fogo, e os habitantes foram forçados a sair da cidade e formar a Novo Airão. Por lá, é possível visitar as ruínas de casarões que hoje se misturam com a floresta, formando assim uma paisagem impressionante. Parque Nacional de Anavilhanas O Parque Nacional de Anavilhanas é o segundo maior arquipélago fluvial do mundo, com 400 ilhas, diversos lagos, rios e iguapós, além de uma variedade de fauna e flora impressionantes. Um passeio interessante no parque é alugar um barco movido a motor para viajar pelo labirinto de rios, entre as ilhas, e chegar até o rio Negro – em sua vazante, existem praias incríveis. Na época das cheias, é impressionante observar as florestas inundadas, quando o nível da água chega à copa das árvores.

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Cultura

FOTO DE RUNE ABRO – DANÇA EM TRÂNSITO – DIVULGAÇÃO

AFINAL, O QUE PODE A DANÇA NA TELA? Maurette Brandt – Especial para PLURALE Fotos de Divulgação e Rune Abro (Dança em Trânsito)

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bailarina pede ao menino de uma pequena cidade, do outro lado do país, que mostre a ela qual é o lugar de sua casa onde ele adquire conhecimento. Orgulhoso, o menino dirige o celular até onde está sua avó e mostra. - É aqui que eu adquiro conhecimento! – diz, de boca cheia. – Mas este é o lugar? – admira-se a bailarina. – É sim – confirma o garoto, em torno da avó. – É aqui que eu aprendo tudo. Esta é apenas uma dentre as centenas de experiências afetivas e artísticas que a bailarina e coreógrafa Flávia Tapias, co-diretora do Festival Dança em Trânsito com a mãe, Giselle Tapias, vem colecionando desde que começou a fase online do evento, em março deste ano. Um festival que já vai para 18 primaveras e que tem por tradição acontecer maciçamente na rua, como o nome indica, se redescobre ao reunir centenas de pessoas online para um almoço, por exemplo.

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– O projeto Morada, que é uma das iniciativas do Dança em Trânsito Online, tem mais de 100 participantes de várias partes do Brasil e do mundo. Outro dia, organizamos um almoço online – e almoçamos juntos, em conexão, cada um na sua tela, com seu prato especial. Não é o máximo? – comemora. Solos On, projeto que reúne coreógrafos e bailarinos dos mais diferentes lugares, teve nove trabalhos selecionados, que estão sendo apresentados em agosto. O festival tem ainda uma mostra internacional, com apresentação de espetáculos completos, seguidos de bate-papo com os coreógrafos, além de residências online e muito mais. - Pra mim é estranho, revela Flávia Tapias. – É porque, antes, parecia impossível; mas agora eu sei que é possível a gente se emocionar e passar sentimento online – admira-se. Flávia destaca que nada substitui o presencial na arte, sobretudo na dança. – Online é outro método, outro lugar de presença – explica. – Não substitui, é simplesmente diferente. E esse novo método veio para ficar, pois rompe fronteiras. É um novo leque de pessoas que estão se conectando – e isso não seria

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Surpreendida pela pandemia, a dança abraça novos percursos, invade o mundo digital e encontra novos lugares de presença e aprendizado possível se fosse presencial. Sem o toque, a presença, o cheiro, tão fundamentais, surgem espetáculos que são criados para as telas. É como um filme de dança – define. – E como é interessante a “coabitação” das pessoas online! - constata. Giselle Tapias não conseguia se ver dando uma aula online, mas experimentou. – “Por que não se conectar, afinal?”, eu pensei – diz. – Para mim era muito duro pensar em tantos artistas desempregados, em casa, sem poder fazer muita coisa. Então começamos a criar possibilidades. Acabamos percebendo que o trabalho online abre muitas portas novas - por exemplo um coreógrafo, que está na França poder trabalhar com um bailarino que está em Erechim, no Ceará, com um resultado magnífico – diz. Giselle conta que recebeu telefonemas de vários coreógrafos querendo participar, e o trabalho foi crescendo. – Fomos abrindo para outros lugares e criamos as residências online em várias cidades onde não poderíamos chegar, se não fosse online – diz. – É um trabalho que envolve muita disciplina de parte a parte, com encontros duas vezes por semana – detalha. - Quando é que conseguiríamos


Bailarinos internacionais criam projeto para ajudar escolas de dança do Rio reunir Brasil x Chipre, Índia x Suíça, Rio Grande do Sul x Rio Grande do Norte, como está acontecendo? – anima-se. – O trabalho online tem muita riqueza. As pessoas se uniram e mandaram suas propostas. O resultado a gente vai ver em agosto, na mostra internacional – antecipa. Flávia e Giselle asseguram que a fase presencial do Dança em Trânsito vai acontecer. – Ainda não temos uma data em função da pandemia – explica Flávia. – Mas sabemos que a magia do espetáculo ao vivo, diante de uma plateia, é fundamental. E com certeza teremos isso, assim que as condições permitirem! – conclui. FOTO - DIVULGAÇÃO

Bete Spinelli, presidente do Sindicato dos Profissionais da Dança do RJ, Coreógrafa, mâitre de ballet e dona de renomada escola dança há 30 anos

Escolas de dança: uma revolução online Coreógrafa, mâitre de ballet e dona de uma renomada escola de dança há 30 anos, Bete Spinelli não tem tempo de respirar: é uma aula atrás da outra – e quando dá tempo de tomar uma água entre elas, está no lucro. Tudo na telinha do Zoom ou do Google Meet. – Todas as pessoas da dança se reconstruíram com a pandemia – desabafa a artista, que ainda concilia a presidência do Sindicato dos Profissionais da Dança do RJ com suas atividades diárias. - Professor é chato mesmo; tem que corrigir o aluno, acertar po-

sições, observar os detalhes. Pra gente, é uma transição difícil, mas estamos sempre aprendendo – avalia. – É complicado, porque dança é uma atividade muito específica, em casa não tem o piso adequado... Enfim, é uma guerra que temos que vencer a cada dia. Para Bete, é um desafio manter a concentração dos alunos online, mas a criatividade tem feito milagres. – Todas as escolas vêm sofrendo com isso, e ainda não temos como avaliar o impacto, pois ninguém sabe quanto tempo vai levar até que possamos abrir as escolas. Temos de entender que os pais também ficam preocupados com a segurança dos filhos. Mas as aulas online têm sido surpreendentes para nós – conta. – Os alunos curtem, é uma coisa nova para eles, que são “filhos” da geração tecnológica. O protocolo para o retorno das aulas envolve muitos detalhes técnicos – e as escolas terão de se adaptar. – A distância em torno de cada aluno é de 4 metros quadrados – explica Bete. – Além disso há outros detalhes a serem observados. Isso afetará o tamanho das turmas. Muito provavelmente, haverá revezamento de alunos – admite. Com relação às atividades do Sindicato, Bete Spinelli conta que houve avanços, por incrível que pareça. – A pandemia facilitou a obtenção do registro profissional. Antes havia uma prova presencial, com avaliação física e artística, que era homologada pela Secretaria do Trabalho. Agora, as provas são online e incluem análise de currículo, certificados que o candidato tenha e declarações online. Cada candidato faz uma aula gravada de 50 minutos, que é avaliada por uma banca – explica, mas assegura que, ao final da pandemia, as provas presenciais votarão a ser aplicadas. – Para o candidato e para o Sindicato, a prova presencial é muito importante. Assim que possível, vamos garantir o retorno do exame nos mesmos moldes de antes.

Uma grata surpresa vem emocionando os dirigentes de quatro das mais tradicionais escolas de dança da cidade: Escola de Dança Spinelli, Centro Cultural de Dança Ilha, Escola de Dança Alice Arja e Studio de Dança COMPASSOS. A iniciativa partiu de bailarinos que frequentaram essas escolas e hoje estão em posições de destaque em companhias nos EUA, na Inglaterra e aqui no Brasil. O projeto, que pretende arrecadar 30 mil dólares para as escolas, promoveu um workshop com professores internacionais, que foi ao ar de 13 a 19 de julho. Os mestres doaram seu tempo, mas os participantes pagaram - e o valor reverteu para as escolas. Além disso, os organizadores criaram uma vaquinha virtual no site Go.Fund. Me. O projeto conquistou, inclusive, o apoio de Misty Copeland, bailarina do American Ballet Theatre, que gravou um vídeo para incentivar as doações. E mais: a trilha original do vídeo do projeto – a canção When the rains fall – foi presente da pianista e compositora Haley Wright. Nathália Arja – Miami City Ballet

Bailarinos que criaram o projeto: Aldeir Monteiro (American Repertory Ballet) Andrei Chagas (Broadway dancer) Edson Barbosa (Joffrey Ballet) Jonathan Batista (principal dancer, Oklahoma City Ballet) Junior Souza (primeiro-solista do English National Ballet) Mirna Nijs (Ballet de Niterói) Nathália Arja, Kleber Rebello e Renan Cerdeiro (principal dancers, Miami City Ballet) Stephano Candrevas (Atlanta Ballet) Yuri Marques (demi-soloist, Sarasota Ballet)

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Cultura

Um choque para todos É assim que Gisela Vaz, a presidente do Conselho Brasileiro da Dança, define a pandemia. – Foi um baque – declara. – Aula sempre foi presencial: a gente tem que ensinar a postura correta, treinar saltos, diagonais... Uma aula sem isso é uma aula incompleta - explica a rigorosa professora e bailarina, que dirige sua própria escola em Goiânia, a Dançarte. – No início foi muito difícil pra gente. Tem um delay de 2 tempos no vídeo – e isso dava uma agonia muito grande, principalmente nas sequências rápidas. Nas lentas era um pouco melhor. Aos poucos a gente foi se acostumando com as diferenças de andamento e consegue superar um pouco a dificuldade. Para Gisela, a maior dificuldade é para as crianças menores de cinco anos. – Elas não conseguem ficar na aula – e dependem do celular da mãe. É compreensível, são muito pequenas. Já as de 10 anos em diante conseguem assistir paradas, em posição – explica. - Mesmo assim, é preciso a gente se virar para inventar atividades diferentes toda semana. Trabalhamos a proposta “Dançando com a mamãe”; as alunas fizeram fotos em pose com as mães, postaram e ficamos entre os Top 10 da internet. Teve também o Dançarte Web Fashion, em que cada criança criava a sua coreografia, com música enviada por nós. Fizemos também uma série de áudios contando as histórias mais famosas dos ballets de repertório: quem era a Clara do Quebra-Nozes, por exemplo. Tem sido divertido explorar a criatividade dos alunos – conta. Como será o amanhã Gisela Vaz é otimista, mas não está muito esperançosa quanto ao futuro das escolas de dança. – Avaliando por alto, posso dizer que centenas de escolas em todo o Brasil provavelmente quebraram ou vão quebrar com a pan-

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demia. Os pais trancam as matrículas, os alunos têm aulas online do colégio também – e existe o medo do vírus. Mesmo voltando a funcionar, as escolas já não vão conseguir atender todo mundo, por causa dos protocolos: só pode funcionar com 30% da capacidade e há uma série de exigências a cumprir. As despesas são grandes e há muitos professores que precisam receber. O futuro é incerto ainda –suspira. Novos rumos Apesar das dificuldades, tem muita novidade acontecendo online: o FIDA (Festival Internacional de Dança da Amazônia), de Belém/PA, está realizando uma seletiva online; o FENDAFOR, de Fortaleza, criou o Fendafor Home Experience, com inscrições concorridas e prêmios em dinheiro; o Festival Mery Rosa Lockdown, em Itajaí/SC, concedeu prêmios em dinheiro e mais 30 prêmios, entre bolsas, descontos em inscrições, residências e cursos. O evento, 100% online, aconteceu nos dias 27 e 28 de junho 2020, totalmente ao vivo, com as pessoas dançando direto de suas casas. – São iniciativas potentes, que movimentam os alunos e permitem que pessoas de todo o Brasil e de outros países possam participar – anima-se Gisela. Não é surpresa que a atividade de coaching tenha crescido no ambiente virtual. – Eu dou aula o dia inteiro para grupos profissionais – diz Gisela. - As atividades online têm a vantagem de atingir muito mais pessoas, e isso é estimulante – avalia. – Nem tudo é desânimo – sorri. – Mas uma aula completa só pode acontecer, mesmo, com alunos dentro da sala de aula – dispara. Projetos do CBDD Gisela aponta várias iniciativas que o CBDD vem desenvolvendo. – O CBDD Conecta promove, todos os sábados, duas aulas de professores renomados. A cada semana, quatro de-

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legadas se encarregam de convidar o professor. As aulas custam 20 reais e a arrecadação se transforma em cestas básicas para distribuir aos bailarinos que mais precisam. O CBDD Conhecimento promove aulas sobre figurinos, história da dança, companhias famosas etc. O CBDD Personalidades envolve a memória: o objetivo é gravar entrevistas com importantes personalidades da dança brasileira – como, por exemplo, Rodrigo Pederneiras, diretor artístico do Grupo Corpo. O projeto mais abrangente da entidade é o Mapeamento de Escolas de Dança de todo o país. Basta a escola preencher um formulário online e fazer seu cadastro. – Estamos só começando – alegra-se Gisela. – Depois de mapear as escolas de dança, vamos mapear os professores de todas as modalidades. Depois dos professores será a vez das companhias de dança; em seguida virão os examinadores, depois os ensaiadores, figurinistas, iluminadores... e por aí FOTO - DIVULGAÇÃO

A professora Gisela Vaz corrige a postura da aluna em sala de aula, em Goiânia. A foto foi feita antes da pandemia.


vai. Será o maior banco de dados de profissionais ligados à atividade da dança do país. Estamos empenhados nisso – anima-se. Gisela sente que essa “sacudida” que a pandemia promoveu trouxe muita força para a classe. – Tem havido mais solidariedade e criatividade, maior cooperação entre as pessoas. Na hora das dificuldades, é preciso achar o ponto bom. A tecnologia vai continuar no processo, e cada vez mais forte. Aquele caminho que a gente fazia já não existe mais; todo mundo está com medo das perdas, mas penso que, daqui pra frente, o lema é solidariedade e generosidade, para crescermos juntos e vencer – define. É susto pra todo lado A cearense Jane Ruth tinha acabado de inaugurar uma escola de dança novinha, arrojada, a 70 km de sua antiga sede em Fortaleza, após um investimento considerável. A mudança para um bairro nobre e as instalações top de linha alimentavam muitas esperanças, mas foram abalroadas pela pandemia. – Foi um susto enorme – conta a diretora e delegada do CBDD para o Ceará. - A gente escuta falar da doença e nunca pensa que vai ser atingida com a violência que foi. Hoje somos um dos epicentros da pandemia. As pessoas não podiam acreditar que, em julho, ainda estaríamos nessa situação – relata. Para Jane, as mudanças são muito difíceis, sobretudo para as pessoas mais antigas. – Quando for presencial, será um novo normal – avalia. – Muitos pais, inclusive, preferem as aulas online. O ensino à distância tem sido muito criticado, mas parece que já existe mais qualidade nas imagens, e as pessoas estão se adaptando – pensa Jane. – Agora, aula de adulto é uma coisa; outra bem diferente é o infantil, e sobretudo o baby. Tem que ter uma grande criativida-

de para fazer as crianças se divertirem. Fizemos o Desafio das Princesas, com aulas à fantasia, que pegou bem. Mas todo mundo começou a trocar modelos de aula online também; a febre foi em março e abril. E assim o online começou a entrar com força total na nossa vida. Agora até exame médico, sorriso e abraço são online – brinca. Jane compara a pandemia a uma tempestade. – Uma tempestade não afeta todos na mesma medida; alguns a enfrentam em transatlânticos, outros em iates, outros em barcos, outros em pequenos botes – e outros se afogando e morrendo – explica. – E as escolas de dança estão aí em pequenos botes, ou morrendo. Creio que a nossa retomada passa por “antes e depois” da vacina. E pensar que a cultura, onde a dança se insere, representa 16% do PIB e é uma das mais afetadas – resume. Para agitar a cena e trazer de volta os alunos, Jane e a filha Caira criaram o Fendafor Home Experience, segundo ela o primeiro festival online do Brasil. Foram três festivais só de solos. – Atingiu do Oiapoque ao Chuí – comemora. – E de fora também: da Argentina, da Suíça, de Portugal, do Senegal... tivemos 420 inscrições. É o lado bom de tudo isso: maratona de lives, duas mil visualizações numa delas, emoção na hora da

premiação. Houve 36 premiações em dinheiro, para os 12 primeiros lugares, os 12 segundos e os 12 terceiros. – Por sorte tivemos patrocínio e pudemos oferecer esses prêmios – conta Jane. Na segunda fase, all online, o Fendafor Home Experience abre inscrições para pessoas desde os cinco anos até a terceira idade, em todas as modalidades. – É em casa, é na escola, é no palco... é em todo canto! – emociona-se. A programação inclui cursos online com profissionais do Brasil e do exterior no YouTube, várias lives, Mostra de Dança com cachê de R$10 mil para os grupos convidados e Mostra Competitiva com

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Cultura

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prêmios de R$ 12 mil. – O Regulamento saiu em meados de agosto – antecipa. Além de ser jurada de dois festivais e de concorrer em outros dois, Jane Ruth está empenhada no mapeamento das escolas de dança do país, um trabalho do CBCDD. – Já temos 700 escolas cadastradas nessa primeira fase – conta. – Creio que o momento que vivemos fortaleceu este trabalho. Hoje, mais de mil escolas estão conectadas com o CBDD. O trabalho cresce e vamos oferecer residências e cursos, no Brasil e no exterior. A pandemia, afinal, está aproximando as pessoas de todos os lugares do mundo – conclui. A gente enlouqueceu, mas está de pé - Eu tive que reinventar a Clara Pinto! – exclama a própria, sorrindo. – Para mim, a pandemia está sendo, na verdade, um curso intensivo de mídias sociais: não paramos de dar aulas e de fazer lives – afirma a pioneira da dança na Amazônia. Criadora de uma rede de escolas que é referência no Pará e do Festival Internacional de Dança da Amazônia (FIDA), Clara Pinto trouxe para o norte do país o método de ensino de dança da Royal Academy de Londres. Empreendedora e decidida, Clara Pinto passou pelo susto, parou para pensar – e percebeu que o cenário se transformaria muito rapidamente. Buscou as ferramentas, treinou professores, idealizou uma série de lives – a primeira com Ana Botafogo – e direcionou sua equipe para as aulas online. - Tem um lado desgastante e extremamente doloroso, que é ser impedido de sair – desabafa. – Mas tem o

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A professora Clara Pinto mantém escola de renome em Belém

crescimento, que é sempre necessário. As professoras da escola dão aulas o dia inteiro pelo Google Meet – conta. – O interessante é que o link das aulas vai para o país inteiro e quem quiser pode ver. Várias professoras – Cristina Rocha, Adriana Vilela, Myriam Marques... – têm dado aulas. Fizemos um festival online do CBDD, muito criativo, o CBDD 90 segundos, gratuito e dedicado a solos de 90 segundos, com premiação e tudo. Tivemos também, para os alunos avançados e integrantes da Cia. de Danças Clara Pinto, aulas, do Ballet Jovem do RJ com professores internacionais. Agora começamos a primeira Seletiva FIDA Online – anima-se. Criação de Clara Pinto, o FIDA – Festival Internacional de Dança da Amazônia – vai para sua 28ª Edição. É o maior do norte brasileiro e tem estabelecido, ao longo dos anos, um ciclo regular de trabalho e formação para muitos profissionais da região e professores de várias partes do país. – Esta é a primeira seletiva que

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fazemos, para todas as modalidades, com descontos progressivos, gratuidades específicas e até direito a participação em oficinas de balé clássico - conta. – Para a Seletiva, solicitamos um vídeo entre 30 segundos e 1 minuto – informa Clara, que está empenhada em fazer o FIDA 2020 nos mesmos moldes de sempre: presencial e com plateia. – Eu desejo muito fazer isso, mas se não puder, paciência: faço o FIDA online! – afirma. – Aqui em Belém a situação da pandemia está melhorando muito, e eu tenho esperança de que tudo dê certo – confia. – As comemorações dos 50 anos da Escola Clara Pinto também terão de esperar, mas vão acontecer! Para Clara, este é um movimento novo na dança: aulas online, festivais online, Semana da Dança... – A Escola Clara Pinto está vivenciando com muito interesse essa transformação. Nossas alunas fazem aulas e até ensaiam no Zoom, pra você ver. Mas o momento de abrir, quando chegar, vai ter que seguir um protocolo grande. Já elaboramos tudo, com a orientação que o CBDD recomenda para o país inteiro, e estamos aguardando. Vamos cumprir as diretrizes e nos adaptar – afirma. Na avaliação de Clara Pinto, a Escola de Danças que leva o seu nome vem conseguindo manter 50% dos alunos. – Nós conseguimos mantê-los conosco, e esta é uma boa experiência para a escola. Só não conseguimos o pagamento das mensalidades. Mas estamos investindo na nossa história e no nosso tempo, inovando e nos aliando à tecnologia para continuar oferecendo o melhor de nós à Dança e aos nossos alunos – diz. – É preciso paciência e sabedoria para esperar o tempo de Deus – confia.


Estante Descarbonário, por Alfredo Sirkis, Editora Ubook, R$ 80 Quarenta anos depois de “Os Carbonários”, um clássico sobre a geração que enfrentou a ditadura de 1967 a 1971, Alfredo Sirkis, recentemente falecido, deixa outro robusto depoimento geracional. Descarbonário, sua décima obra, tem narrativa ágil e relatos curiosos de sua trajetória como político e ambientalista. O livro estará disponível no aplicativo de audiolivros Ubook, em e-book e impressões sob encomenda. “Os carbonários”, vencedor do Prêmio Jabuti de 1981, também vai ganhar uma edição em versão eletrônica para marcar suas quatro décadas de sucesso. Descabornário não é uma desconstrução da obra prima de 1980. A espinha dorsal do novo livro é o tema crucial ao qual Sirkis dedicou-se nas últimas décadas: a redução de gás carbônico na atmosfera para desacelerar as mudanças climáticas, dinamizar a economia e gerar empregos. Mas a causa ambiental não é o único assunto. Longe disso. O livro traz preciosas histórias pessoais e reflexões sobre temas diversos como drogas, milícias, corrupção, ascensão e queda da esquerda, ressurgimento e vitória da extrema-direita e a sobrevida curta das duas “vacas sagradas” da economia brasileira: o petróleo e o boi.

A Diversidade: Aprendendo a Ser Humano, por Mario Sergio Cortella, Selo Littera da Editora 3DEA, R$ 39,90 As grandes conquistas da nossa espécie se deram pela cooperação, não pela competição”. Essa frase é um dos ensinamentos que o professor e palestrante Mario Sergio Cortella apresenta em A Diversidade: Aprendendo a Ser Humano. Publicada pelo selo Littera da editora 3DEA, a obra traz uma importante discussão sobre os reais impactos na estrutura da sociedade atual, com a intolerância, polarização, hostilidade e o desprezo como objetos de estudo. Leitura indispensável na era de excesso de informações, opiniões divididas e pouca aceitação, o filósofo explica conceitos básicos para a construção do coletivo saudável. Por meio de estudos, o autor aborda os sintomas que estão presentes em nosso cotidiano e que abalam o convívio saudável de uma sociedade. Pequenas atitudes que se transformam em preconceito, como olhar o outro, mas como estranho, intruso e muitas vezes, como inferior. Com total clareza, Cortella também explica as diferenças entre reconhecer e tolerar, conflito e confronto, divergir e anular e o que faz dessas opiniões gatilhos de preconceito e atos de violência.

POR FELIPE ARARIPE

Rotina de ferro, por David Grinberg, Editora Planeta, R$ 25,00. Em Rotina de ferro, lançamento da Editora Planeta exclusivamente no formato digital, cujos direitos autorais serão revertidos para a Abrale, Associação Brasileira de Linfoma e Leucemia, o executivo de Comunicação Corporativa, David Grinberg, aborda sua convicção de que todos nós podemos superar os desafios colocados à nossa frente. Sejam eles físicos, psicológicos ou de saúde, temos a capacidade de canalizar os esforços necessários para chegar lá. Esse processo não é fácil. É preciso muita paciência, resiliência e, acima de tudo, vontade de querer realizar os sonhos. Afinal, nada é impossível quando estamos empenhados em atingir os objetivos. Na obra, David narra que nunca pensou que poderia enfrentar uma doença tão agressiva como um câncer. Difícil cair a ficha para alguém que sempre foi tão saudável, ativo e disciplinado e que tinha como hobby disputar provas de Ironman, a mais temida e longa modalidade de triatlo. Ele entendeu que não deveria perder tempo buscando explicações sobre o por que havia sido acometido e que o melhor a fazer era canalizar todos os esforços para superá-lo, criando um paralelo entre os aprendizados adquiridos na prática esportiva de alta resistência com a realidade de ter que superar o que seria o seu maior desafio na vida.

Pequeno manual antirracista, por Djamila Ribeiro, Editora Companhia das Letras, 136 págs, R$ 25,00. Neste pequeno manual, a filósofa e ativista Djamila Ribeiro trata de temas como atualidade do racismo, negritude, branquitude, violência racial, cultura, desejos e afetos. Em onze capítulos curtos e contundentes, a autora apresenta caminhos de reflexão para aqueles que queiram aprofundar sua percepção sobre discriminações racistas estruturais e assumir a responsabilidade pela transformação do estado das coisas. Já há muitos anos se solidifica a percepção de que o racismo está arraigado em nossa sociedade, criando desigualdades e abismos sociais: trata-se de um sistema de opressão que nega direitos, e não um simples ato de vontade de um sujeito. Reconhecer as raízes e o impacto do racismo pode ser paralisante. Afinal, como enfrentar um monstro desse tamanho? Djamila Ribeiro argumenta que a prática antirracista é urgente e se dá nas atitudes mais cotidianas. E mais ainda: é uma luta de todas e todos.

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Mineração

A dor e o perigo por trás da propaganda

Vítimas de Samarco, Vale e BHP relatam abandono e barganha. Enquanto isso, o Brasil segue ameaçado por 54 barragens em risco Por Hélio Rocha, Especial para Plurale Fotos de José Cruz e Tânia Rego, da Agência Brasil, Luiz Paulo Ferraz (foto de Cristina Serra), MAB, Arte da ANM/ Divulgação

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s vésperas de se completarem cinco anos do desastre de Mariana, que deixou 19 mortos, vilarejos destruídos e 500 km de devastação no Rio Doce, as ações de publicidade da Vale e da Samarco vão surtindo efeito. Através da Fundação Renova, elas afirmam negociar com atingidos e recuperar o meio ambiente. Dos milhões investidos, porém, colhe-se o esquecimento dos danos causados, sobretudo, às atividades econômicas e ao ecossistema do Rio Doce. A mesma propaganda não fala sobre 54 barragens em risco no país. A maioria pertencente à Vale e em Minas Gerais. Essas e outras informações restariam esquecidas sem o trabalho do Ministério Público e da Justiça, além de movimentos sociais e da imprensa. Nesta edição, Plurale em Revista buscou depoimentos de pessoas cuja vida erodiu junto à lama da Samarco, além de dados oficiais de repositórios das agências reguladoras, que documentam informações sobre a ameaça em que vivem populações rurais brasileiras. Não esquecendo Brumadinho, mas voltando a atenção para a tra-

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gédia humana e ambiental de Mariana, Plurale conta histórias como as de Antônio Rodrigues, Marino D’Angelo, Patrícia Monteiro; Benilde Madeira e Neuza Batista. Entre cidadãos que perderam familiares, moradia, profissão e ganhos mensais, uma mesma história de tristeza e revolta, dada a forma como se conduzem as negociações com as empresas. Tal lacuna opõe-se aos milhões em propaganda da Vale calculados pelo site Brasil de Fato, que, com tabelas de preço de anúncios do jornal Estado de Minas e do Jornal Nacional (JN) em 2019, calculou R$ 1 milhão para páginas inteiras no impresso e R$ 875 mil por cada trinta segundos no intervalo do JN, isso além de dezenas ou centenas de milhares para rádios e TVs afiliadas locais, e valores totais imensuráveis acumulados sobre R$ 0,40 para visualizações no YouTube.

Atingidos perdem identidade e sentem suas vidas negociadas “Eu era Marino D’Angelo, hoje eu sou um atingido”, conta o agricultor de 51 anos, que perdeu suas terras e animais em Paracatu. Marino fazia parte de uma cooperativa que chegou a descarregar 10 mil litros de leite numa só entrega. Com o desastre, metade dos produtores abandonaram o ofício, resultando no empobrecimento e na dependência das ajudas da Vale e da Samarco através da Fundação Renova. “Eu me sinto um objeto, usado, no centro de um grande negócio que faz muito dinheiro, mas quando vem aqui conta cada centavo”, revolta-se Marino. Geralmente, são pagos um salário mínimo, além de acréscimos por familiares dependentes, mas há também indenizações e outras reparações ainda pendentes. A maior parte dos desabrigados vive em apartaREPRODUÇÃO/TVT

Mariano D’angelo, atingido de Paracatu

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TÂNIA RÊGO/AGÊNCIA BRASIL

mentos alugados pela fundação em Mariana, visto que a reconstrução dos vilarejos está atrasada. A indenização por automóveis perdidos também causou polêmica em 2016, porque a empresa, ainda antes da criação da Renova, ressarciu as perdas pela tabela Fipe, em alguns casos valores aquém do preço de mercado. Caso em que ressarcimento não se pode mensurar, porém, é o da dona de casa Patrícia Monteiro, 33, que foi arrastada pela lama em Bento Rodrigues. Grávida, Patrícia sofreu um aborto e não teve direito a indeniza-

ção. Segundo a legislação, seu filho não era “nascido vivo” e, portanto, não cabia indenização por morte, do que a Renova se valeu para eximir-se de despesa. “O sentimento de perder tudo não é maior que perder um filho. Menos ainda quando o filho é tratado como nada, como se não tivesse existido.” O caso de Patrícia e do marido, o operário de construção civil Wesley Patrick, 28, segue na Justiça como um imbróglio quase sem solução. Líder da Associação de Moradores de Bento Rodrigues, o moDIVULGAÇÃO/O2FILMES

Patrícia Monteiro, atingida de Bento Rodrigues

torista Antônio Pereira Gonçalves, 50, afirma que o acúmulo de problemas pessoais é agravado pela perda de identidade por falta de um lugar para morar, dado o caráter eternamente provisório dos aluguéis na área urbana. Os atrasos na construção do novo distrito também são alvo de críticas. Luz, asfalto e construções básicas estão instalados, mas não há casa para todos. “Até a casa simbólica, do primeiro tijolo, o pessoal foi lá, fez foto, saiu em tudo que é lugar e até hoje não está pronta.” A conclusão dos moradores é de que ninguém vai para lá enquanto não houver lugar para todos. “A Samarco nos tirou juntos de lá. Ela que nos faça voltar juntos para lá”, declara Antônio. Pescadores denunciam aniquilamento do Rio Doce Serra abaixo, no curso do Rio Doce, a lama que assoreou as águas que abasteciam cidades e sustentavam milhares de agricultores e pescadores deixou o ecossistema aniquilado. E, com ela, abatida a vida de inúmeros pescadores. Um deles, Benilde Madeira, 53, presidente da Associação dos Pescadores de Ay-

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Mineração REPRODUÇÃO/ULTIMOS REFÚGIOS

morés/MG, conta que espécies podem ser extintas e que as águas estão ocupadas por piranhas. Com desespero evidente na voz e expressando tristeza, ele mostra peixes mortos pelo assoreamento ou mutilados pelo numeroso predador. “Não se encontra mais curimba, surubim, só piranha. Com o assoreamento, a piranha, um peixezinho menor que consegue sobreviver na água cheia de lama, foi o que sobrou”. O relato é assustador na proporção apresentada por Benilde. “Eu vejo 80% de piranha e 20% de outros peixes”. Sem alimento, é esperado que as próprias piranhas morram, podendo extinguir a vida animal no Rio Doce, no longo prazo. Neuza dos Santos, 53, pescadora de Santana do Paraíso/MG, mostra outro problema: o transporte fluvial. “Há lugares onde o rio sumiu. Precisamos ir de barco para a cidade e não dá mais pro barco passar.” Ocupados por terra e pedras deixadas há cinco anos pelos rejeitos de minério, córregos afluentes do Doce até hoje não estão recuperados, impedindo o acesso das embarcações que buscavam populações dos distritos mais afastados do município. “Agora, tem que andar até bem longe para pegar o barco.” O coordenador de Integração do Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio Doce (CBH-Doce), Humberto Segalli, argumenta que estudos mostram melhora no rio, mas que os motivos devem ser naturais. “Perce-

Benilde Madeira, pescador do Rio Doce

bemos as ações da Renova, mas são poucos resultados apresentados. A natureza tem seu processo natural de regeneração, mas leva tempo e as pessoas daqui precisam do rio, o que preocupa.” Em consonância, o coordenador do curso de Engenharia Civil e Ambiental da Univale, Hernani Santana, afirma que “o rio tem apresentado capacidade natural de se recuperar, o que está dentro do esperado. Mas, trabalhando com as comunidades atingidas, a gente não entende direito como vai melhorar a ponto de restaurar a economia das pessoas. Da Renova, são muitas ações, números, mas pouca informação para a população”. Recentemente, a Renova, mesmo com a fragilização da economia braAMN E GOOGLE EARTH

sileira, em virtude da pandemia da Covid-19, chegou a suspender o pagamento do subsídio aos pescadores e agricultores atingidos, afirmando que eles já estavam aptos a manter suas próprias despesas. A Justiça determinou que tal decisão fosse suspensa e que a fundação voltasse a pagar o auxílio. Barragens de alto risco se espalham pelo Brasil e ameaçam milhares de pessoas O cenário da mineração hoje, no Brasil, é perigoso, com 54 barragens em iminência de ruptura. Segundo relatório da Agência Nacional de Mineração (ANM) o risco está disperso por todo o país. É o que mostra mapa divulgado pela ANM, em parceria com o Google Earth, com marcações que destacam a distribuição das barragens de risco pelo Brasil. Os ícones que apontam esses locais cobrem o mapa. Conforme a Agência Nacional de Águas (ANA), R$ 1,3 milhões de brasileiros foram prejudicados pelas 7 mil barragens já construídas no país. Segundo Letícia Oliveira, coordenadora-estadual do Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB), que há mais de trinta anos faz a defesa nacional de comunidades afetadas pela mineração, “o MAB pressiona por ações como a criação de


DIVULGAÇÃO/MAB

um estatuto legal para segurança dos atingidos, e incentiva mobilizações contra muitas construções. A situação da segurança é dramática”. Entre abril e julho, sete barragens causaram remoção de pessoas. Em junho Forquilha I e III, no município de Ouro Preto, entraram em estado de alerta. Em abril, o mesmo ocorreu com a Mina de Timbopeba, mesmo município. Quase noventa pessoas foram removidas. Em ambos os casos, para apartamentos alugados na área urbana de Ouro Preto. Conforme documento da ANM, o risco varia de aumento da pressão interna até concreto fragilizado. O protocolo aponta materiais errados como uma das causas, exemplificando tipos de cimento que erodem pela ação de umidade e temperatura, ficando como pele de crocodilo, com rachaduras entrecruzadas. O órgão aponta três tipos de manutenção: preventiva, que é a avaliação periódica; preditiva, aplicando equipamentos para encontrar danos; corretivas, com suspensão de atividades para consertos. Os

três requerem acompanhamento por empresa especializada, que foi uma das principais falhas nos dois desastres recentes da mineração, já que tinha sido atestada a confiabilidade das barragens. Em nota, Renova afirma ter investido quase R$ 9 bilhões Procurada por Plurale, a Renova afirma “ter investido R$ 8,85 bilhões em compensação e recuperação, sendo R$ 2,5 bilhões em indenizações e auxílios financeiros para 321 pessoas”. Disse que pagou mais de R$ 100 milhões sobre lucro cessante em 2019. Quanto ao caso de Patrícia, a Fundação Renova informou que “não comenta casos individuais”. Sobre a reconstrução dos vilarejos, sustenta que ela obedece a decisões com participação do MP, dos atingidos e de assessoria técnica. Quanto ao Rio Doce, a Renova alega que a situação da água é similar ao momento anterior ao desastre, estando apta ao consumo, mas não apontou o estudo. Também diz que realiza contratação local de

mão de obra, a fim de incentivar a economia das regiões afetadas, com apoio de ONGs, Universidades e outros parceiros. A Vale afirma que se responsabiliza pelo caso, como sócia da Samarco e parte mantenedora da Renova. Defende suas despesas com publicidade “porque elas fazem parte dos esforços da empresa de dar transparência ao trabalho de reparação e segurança”, como a investigação detalhada das barragens e a adoção de métodos mais seguros de construção, com desativação de estruturas inseguras. Também contatado, o Instituto Brasileiro de Mineração (Ibram) afirma “se esforçar pela sustentabilidade da mineração”. Na nota, informa que não é responsável por fiscalização e atestado de confiabilidade, mas “que atua por legislação adequada e independência das empresas de segurança”. Afirma zelar pela transparência nos trabalhos das empresas e pela fiscalização também pela sociedade civil organizada.

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Mineração

Entrevista – Cristina Serra, jornalista, autora do livro “Tragédia em Mariana – A História do maior desastre ambiental do Brasil” (Editora Record) FOTO DE LUIZ PAULO FERRAZ

Por Hélio Rocha, Especial para Plurale

Plurale – Que síntese você faz após cinco anos cobrindo Mariana? Cristina Serra - Comecei imediatamente no caso. Na semana seguinte já estava em Mariana. O assunto principal ainda era a contagem das vítimas e o minério seguindo pelo Rio Doce. Depois, na investigação do caso, comecei a perceber que não havia causas naturais, que era o argumento da Samarco. Apareceram negligências que imaginava-se servir de alerta. Até 2018 eu trabalhei meu livro com esse objetivo, mas aí veio Brumadinho. Desfocou de Mariana e não permitiu que o livro acontecesse da forma esperada. Passamos à imensa irresponsabilidade dessas empresas, que Mariana não deu conta de mostrar. Plurale – Como você compara os dois desastres? Cristina Serra - Às vezes se mede mais de 200 mortos em Brumadinho e 19 em Mariana. É errado. Não se mede vidas por quantidade. Devemos analisar em conjunto. Dois desastres com o fundamento na negligência com a contenção de minérios e o cenário institucional do poder econômico das mineradoras sobre a normatização e fiscalização. Plurale – Qual é esse cenário, mais detalhadamente? Cristina Serra - Vale e a BHP Billiton são gigantes da economia. Também têm alto impacto social e ambiental. Uma cadeia forte de segurança deve atuar, com o Estado. Os laudos são fundamentais pra gente entender, porque nas barragens da Samarco e da Vale eram positivos. Vale, BHP ou Samarco são muito maiores que a empresa de segurança, o que costuma fazer dela dependente do contrato.

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Esse caso está na Justiça e só ela pode dizer, mas em geral pode haver um problema sistêmico. Tanto o Executivo, como a ANM, como a Legislação, estão colocando o cadeado na casa arrombada, porque não interessa ao poder político pressionar uma empresa desse porte. Enquanto houver esse conflito do privado das empresas com o público das populações atingidas e do meio ambiente, não haverá equação que dê sustentabilidade social e ambiental a essa atividade econômica. Plurale – No caso da Fundação Renova, como você vê a atuação na reparação dos atingidos? Cristina Serra - Me preocupa a origem da Renova e o que ela pode implicar. Lembro que foi uma negociação entre as empresas e o Poder Público, sem participação da população. Surgiu uma “testa de ferro” das empresas, num acordo com Governo e Justiça em que a vítima negocia diretamente com o algoz. Em termos práticos, negocia com a Vale, porque a Samarco zerou o caixa ainda em 2016, portanto a Vale começou a bancar os custos.

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Plurale – E que implicações isso tem? Cristina Serra - Tento me colocar no lugar da vítima. Pedir dinheiro, moradia, à empresa que destruiu a minha vida. E os casos mais subjetivos, como um trabalhador informal que perdeu o emprego na zona turística de Regência, no Espírito Santo. Como ele vai pedir ressarcimento, sem poder provar nada, porque trabalhava sem vínculo? Plurale – Assim como a questão da demora nas reparações? Cristina Serra - O resultado fala por si só. Já são cinco anos desde o acidente e a Renova não conseguiu colocar as vilas em pé. Para quem conta com recursos de grandes mineradoras, como pode não ser possível construir 200 casas, um posto de saúde e uma escola? Plurale – Você pretende continuar trabalhando nesse tema? Cristina Serra - Claro. Essa cobertura teve impacto total na minha vida. Vi o tamanho dessa questão e agora cuido de temas ambientais. Quero escrever sobre Brumadinho, quem sabe focando nas memórias, nas histórias pessoais que nunca serão as mesmas. Plurale – Que papel você acha que a imprensa tem nesse problema da mineração? Cristina Serra - O país tem mais de 50 barragens de alto risco, algumas de massas falidas de empresas. Uma delas me chama a atenção por ter rejeitos de extração de ouro (Mina Engenho, Rio Acima/MG), que deixa resíduos altamente tóxicos. Estado e Justiça enxugam gelo por todas as questões que a gente falou aqui. Também o jornalismo, mas é nosso papel ser ferramenta para evitar que o cadeado seja colocado, outra vez, quando já é tarde demais.


ISABELLA ARARIPE

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Ecoturismo

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JEFFERSON BERNARDES/MTUR

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Um passeio pela Mata Atlântica sem sair de casa Do Rio

Que tal aproveitar a quarentena para fazer uma trilha pela Mata Atlântica? E com direito a um guia super especializado e muitas informações sobre a fauna, a flora e tudo que faz parte deste importante bioma. É possível fazer isso sem sair de casa, através de um tour virtual. Lançado para celebrar a Semana do Meio Ambiente, o passeio é a forma encontrada pelo Projeto Guapiaçu, uma iniciativa da Reserva Ecológica de Guapiaçu, no município de Cachoeiras de Macacu, para manter sua atuação na área de educação ambiental. Durante a jornada, é possível observar as pegadas dos animais que vivem neste ecossistema, inclusive mamíferos como a anta, capivara, tatu-galinha, paca e cachorro-do-mato, assim como os sons de aves da região. E quatro espécies de árvores são consideradas as estrelas da trilha: Pau Brasil, Cajá-mirim, Jequitibá-rosa e Vinhático. TRILHA: www.projetoguapiacu.com

Parque Histórico Nacional das Missões recebe obras de conservação O Parque Histórico Nacional das Missões, no Rio Grande do Sul, está recebendo obras do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), responsável pelo trabalho de conservação nos sítios históricos e arqueológicos do local. Ao todo, serão investidos de mais de R$ 656 mil no parque, que reúne os sítios arqueológicos de São Miguel Arcanjo, São Lourenço Mártir, São Nicolau e São João Batista. FOTO DE PORTO DE GALINHAS/ CRÉDITO: BOOKING.COM/DIVULGAÇÃO

ISABELLA ARARIPE

Parques nacionais sem sair de casa

Destinos mais desejados durante a quarentena

Em tempos de parques fechados, o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), em parceria com o Google StreetView, disponibilizou várias fotos em 360º, possibilitando uma visitação on-line. Para acessar, basta entrar no Google StreetView e digitar o nome do parque. Entre as opções, estão: Parque Nacional do Iguaçu, Parque Nacional da Serra da Capivara e Parque Nacional Itatiaia.

Uma pesquisa da Booking.com, empresas de e-commerce de viagens, revelou a lista de destinos dos sonhos dos viajantes em sua plataforma neste período de quarentena, entre maio e junho. Os destinos nacionais mais desejados pelos brasileiros foram Gramado (RS), Rio de Janeiro (RJ), Campos do Jordão (SP), Monte Verde (MG) e Porto de Galinhas (PE).

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Ecoturismo

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DEZ MIL ILHAS, UM PARAÍSO ECOLÓGICO ESCONDIDO NA FLÓRIDA Texto e Fotos por Paula Martinelli, Especial para Plurale Blog Paula Pins the Planet Da Flórida (EUA)

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ocê certamente já ouviu falar, e talvez, já até visitou a Flórida nos Estados Unidos – Um destino conhecido por suas praias de águas cristalinas e areias brancas, onde o sol brilha fortemente quase o ano todo, é conhecido pelos locais de Sunshine State (Estado do Sol) e a casa do morador mais ilustre, Mickey Mouse e toda sua turma nos parques da Disney. Mas a Flórida esconde um paraíso, que ainda não é explorado pelo turismo internacional, e mantém esse santuário ecológico longe do foco,

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inclusive das próprias pessoas locais. Eu moro na Flórida há exatamente 14 anos e nunca tinha ouvido falar; com as restrições de viagens nesse momento, a parte positiva é que resolvi fazer viagens de carro, e procurar por locais isolados onde é possível respeitar o distanciamento social. Felizmente encontrei esse refúgio ecológico escondido, e que agora trago a vocês para que também possam conhecer, e quem sabe um dia, também explorar. Você também vai se surpreender e se apaixonar por esse destino. O Refúgio Nacional de Vida Selvagem das Dez Mil Ilhas (Ten Thousand Islands National Wildlife Refuge) é um labirinto de manguezais, onde as águas do Everglades se encontram com a Costa do Golfo, formando a segunda maior floresta de manguezais do mundo, ape-

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nas superada por Bangladesh. Estabelecido em 1996, este refúgio de 35.000 hectares, protege importantes habitats de manguezais e uma rica diversidade de vida selvagem nativa, incluindo várias espécies ameaçadas de extinção. O Everglades National Park existe há aproximadamente 5.000 anos, e é visto como um lugar místico, não só na Flórida, mas em toda a América. É o maior deserto subtropical remanescente nos estados, onde é possivel encontrar muitas florestas de mangue, pântanos e uma grande variedade de vida selvagem. A história das ilhas Apesar do nome, as ilhas são centenas e não milhares e abrigam muita vida selvagem, como: espécies marinhas e vida vegetal; tudo entre o con-


tinente e o Golfo do México. Aproximadamente dois terços do refúgio são florestas de mangue, pântanos de água doce e salgada, lagoas salobras, canais sinuosos, praias arenosas e baías pouco profundas que dominam as numerosas ilhas. Algumas destas ilhas são do tamanho de uma quadra de futebol de salão, enquanto outras são do tamanho de um campo de futebol. Os nativos americanos habitavam a região das Dez Mil Ilhas há mais de 3.500 anos. A abundância de frutos do mar foi o que os atraiu para a área durante séculos, e os índios escavaram canais e construíram ilhas feitas com conchas descartadas e usavam a área como refúgio. No final do século XIX,

os colonos europeus ocupavam várias das ilhas maiores, e a pesca comercial era a principal fonte de renda. Com o surgimento das cidades, as pessoas migraram para Marco Island, Nápoles, e Everglades City. Hoje, ninguém mais vive nas ilhas e a área é tão intacta como costumava ser quando os primeiros colonos chegaram de acordo com o Serviço de Proteção Ambiental da Flórida. O trabalho de preservação ambiental das ilhas O Refúgio Nacional de Vida Selvagem das Dez Mil Ilhas, ajuda a proteger o habitat e as múltiplas espécies de animais, incluindo muitas ameaçadas como o falcão-peregrino, a cegonha-

-madeira e a tartaruga-cabeça-de-mestre do Atlântico. Os voluntários do refúgio participam em atividades de investigação e monitorização envolvendo a fauna e flora local. Múltiplas espécies de animais encontram abrigo no Refúgio de Preservação das ilhas, incluindo quase 200 espécies de aves como garças, pelicanos e águias pesqueiras e mais de 200 espécies de peixes, dentre eles a garoupa. Outros moradores das ilhas são alguns animais inusitados como os mamíferos marinhos mais frequentemente encontrados, o peixe-boi da Flórida e os golfinhos-nariz-de-garrafa . Outros mamíferos tais como guaxinins, lontras de rio, bobicat, ursos negros e a pantera da Flórida podem ser vistos nas ilhas dos manguezais e nas áreas continentais do Refúgio. Os répteis são frequentemente encontrados durante o ano todo, incluindo tartarugas marinhas, cágados de dorso de diamante, várias espécies de tartarugas, uma grande variedade de cobras e muitos jacarés, que curiosamente nadam em sua direção para observar de perto, o que me deixou aliviada pois esse é um ótimo indicativo de que os animais nessa região são protegidos e não se sentem ameaçados pelo homem. Os trabalhos de proteção Ambiental nos refúgios proporcionam proteção às aves migratórias e espécies ameaçadas e educam, monitorizam e informam

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o público sobre utilizações e recursos desse santuário ecológico. Como conhecer as dez mil ilhas Uma das melhores formas de ver e explorar a região das Dez Mil Ilhas é por barco. Esse labirinto está cheio de lagoas, ilhotas, túneis de manguezais e passagens pouco profundas do oceano. A área também é difícil de navegar, por isso, é aconselhado contratar um guia local especializado para poder aproveitar todos os cenários exóticos que a área oferece, e de maneira segura. O highlight de uma visita as Dez Mil Ilhas é - sem dúvida alguma - o encontro com os golfinhos em um passeio a bordo do barco catamarã. Existem mais de 300 golfinhos bottlenose (nariz-de-garrafa) nessa região. É possível contemplar os animais em seu habitat natural. Os golfinhos, além de animais superinteligentes, são também muito sociáveis, e assim que o barco faz uma onda, eles vem em direção para brincar e mostrar suas habilidades, o que é um espetáculo imperdível. O ecossistema dos manguezais também pode ser explorado pelo público numa variedade de atividades recreativas, incluindo a pesca esportiva, a observação de aves, o acampamento em

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uma das ilhas, ou simplesmente desfrutar das belezas naturais desse paraíso. Além disso, existem diversas atividades em terra, tais como uma variedade de caminhadas e a escalada na torre de observação de dois andares com vista para o pântano. Uma outra experiência imperdível é explorar a cidade histórica de Everglades City e a Ilha Chokoloskee de carro, bicicleta ou a pé, e poder apreciar de perto um passado lendário como visitar edifícios dos anos 20. E finalmente, uma outra atração imperdível é dirigir pela Loop Road, uma rua de cascalho de 40 quilômetros atra-

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vés dos Everglades, que durante todo o ano é possível observar a vida selvagem - jacarés, aves, lontras, veados, mesmo as raramente vistas panteras da Flórida. A oportunidade de apreciar a floresta de ciprestes e os altos pinheiros requer uma atenção silenciosa à beleza das pequenas coisas. O Refúgio Nacional de Vida Selvagem das Dez Mil Ilhas na Flórida, é um Paraiso Escondido na Flórida, com um rico ecossistema e uma grande área ambiental preservada e remota, onde poucos têm o privilégio de visitar, e é possível ter uma experiência muito privada e serena.


POR PAULA MARTINELLI, DA FLÓRIDA (EUA)

E n s a i o SERVIÇO

Quando visitar – A melhor época para visitar é entre outubro e maio, quando o clima está mais fresco e seco - e há menos mosquitos. Se for entre junho e setembro, reserve as suas caminhadas e aventuras náuticas para a manhã, para evitar as partes mais quentes do dia e as frequentes tempestades de verão da tarde. Como chegar: O refúgio ecológico fica no Condado de Collier, na costa sudoeste da Flórida. Está localizado a cerca de 40 minutos da cidade de Napóles e Marco Island, e apenas a 90 minutos de Miami, Fort Lauderdale e Fort Myers. Eu recomendo alugar um carro e dirigir até o santuário das Dez Mil Ilhas, e um serviço que sempre uso e recomendo é pela RentalCar pois reúne o preço de várias locadoras e você pode comparar as melhores opções. Opções de passeios: Fazer reservas antecipadas para uma viagem guiada de canoa ou caiaque, um ecotour de golfinhos, ou um passeio de barco a motor com um operador autorizado

do Parque Nacional Everglades, tais como Everglades Área Tours (https:// www.evergladesareatours.com/) Onde se hospedar: Há várias opções de acomodações e preços, dependendo do que cabe melhor no seu bolso (uma média de US$150 por dia para 2 pessoas). A opção mais próxima é ficar em Everglade City, no tradicional hotel Rod and Gun Club, que também tem um restaurante excelente. Outra opção é se hospedar em Marco Island ou em Napóles, oferecem uma variedade de acomodações, desde grandes redes de hotel, até pequenas cabanas ou pousadas. Eu sempre uso e recomendo o Booking.com por ser uma fonte confiável de reservas. (*) Blog: Paula Pins the Planet Website: https://www.paulapinstheplanet.com/ Paula Pins the Planet é um blog de viagens focado em experiências autenticas nos lugares menos explorados do Planeta, priorizando um turismo sustentável e viagens éticas.

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E n s a i o

POR PAULA MARTINELLI, DA FLÓRIDA (EUA)

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Beth e Peter – 50 anos de muito amor, lembranças e alegrias

Veneza sem tristeza Uma viagem após a pandemia - cheia de lindas memórias e afeto - marca as lembranças das Bodas de Ouro desta brasileira, com alma italiana e germânica, na sempre romântica Veneza Texto e Fotos por Elisabeth Cattapan Reuter, de Veneza (Itália) Especial para Plurale

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oi de repente. Sentada em um domingo de junho, em casa, em Hamburgo, na Alemanha, imaginando como seria a próxima semana, fiquei triste. Estava chegando o dia, em que, no começo de julho, em outras circunstâncias, meu marido, Peter, e eu comemoraríamos, felizes, nossas Bodas de Ouro. No entanto, se o seu coração parara de bater, o meu batia triste. Não quero ficar assim, pensei. Dei uma olhada na estante de livros da

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nossa sala e vi uma edição da Revista GEO, onde meu marido trabalhara por tantos anos, temática sobre Veneza. Será que foi ele quem me fez olhar? Quem sabe? E porque não? Peguei a revista, folheei, lembrando, cogitando, relembrando. Li na revista uma lista restrita de hotéis e lembrei que dias antes eu havia lido na imprensa alemã que Veneza estava vazia e muitos hotéis fechados. Três telefonemas e fui apurando como estava a vida por esta cidade que vive em torno do Turismo cultural: um hotel estava aberto e poderia me alojar quando quisesse, a partir do dia que escolhesse. Combinamos que iria comprar a passagem aérea e depois re-

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tornava a ligação. Era domingo, na Alemanha estava tudo fechado, fora...o aeroporto. Corri para lá, onde quase tudo estava fechado, mas no guichê de informações, um solícito rapaz disse-me que duas agências de viagens estavam abertas no 2º andar do Terminal 2. Foi a minha sorte: em uma hora consegui um voo de ida-e-volta para Veneza, via Munique. Meu voo foi no seguinte sábado, no começo de julho, e nem sei como consegui passar a semana de tanta ansiedade. Veneza ainda estava vazia - Veneza – à qual eu vira pela primeira vez com 14 anos – é, para mim, e minha família, um lugar muito especial. Para Peter, meu marido, Paris ainda era mais especial, afinal, foi lá que nos conhecemos, mas, Veneza, que visitamos várias vezes juntos, era para nós dois a cidade do amor e da beleza. Meu coração disparou, quando meu


A lua vermelha ilumina a Veneza ainda esvaziada, que está – aos poucos – se recuperando dos meses de isolamento social, sem turistas

táxi-lancha chegou ao Canal Grande! A emoção foi imensa, a garganta apertou ... mas a beleza do céu, a cor da água, e, por mais incrível que, pareça, a calma, o quase silêncio, me encheu de amor e alegria. Me acalmei, não chorei. A calma que senti era decorrente da falta de trânsito, da falta de barulho, pois, fora o meu táxi, nenhuma outra lancha zarpava no canal. Os vaporetti - ônibus locais que cruzam os canais da cidade - iam de parada em parada, deslizando sozinhos pelo Canal Grande. Gondoleiros sentados - esperando clientes, que não chegavam - olhavam tristes para suas gôndolas vazias. Sim, Veneza estava vazia. Sem os turistas russos, sem americanos (do Norte e do Sul) sem ingleses, sem chineses, sem navios-cruzeiros, e sem guias turísticos gritando em vários idiomas brandindo bandeiras e guarda-chuvas - para serem ouvidos e seguidos pelas suas tropas.

Incrível essa primeira sensação de vazio. No hotel, logo fui informada sobre as regras sanitárias de praxe: fora dos aposentos, era preciso sempre usar a máscara, ao entrar ou sair de o hotel desinfetar as mãos com os desinfetantes postos à disposição. Os serviços no hotel eram prestados de máscara. Rita, chefe da portaria, trabalha no Hotel Savoya & Yolanda há sete anos e estava alegre, pois, na semana em que cheguei, chegaram também mais dois casais de hóspedes. Veneza ficou fechada pelo lockdown - isolada de meados de março até final de maio: sem trens, aviões e literalmente ilhada. Com isso, teve a sorte de contar com poucos óbitos embora a Covid-19 tivesse feito tantas vítimas no norte da Itália. Rita contou que ficou sem trabalhar dois meses, assim como toda a equipe do hotel. Aos poucos, estão recomeçando. Minha camareira, originária

de Bangladesh, trabalha no hotel há 20 anos e estava alegre e feliz por poder retomar seu trabalho. À direita do hotel no qual estava hospedada, fica o Danieli, onde eu já me hospedara com Peter, ainda fechado, destino idêntico do Cipriani e outros hotéis de muitas estrelas. O mesmo ainda acontecia com todos os museus da cidade, com todos os restaurantes de luxo, com a maior parte dos bacari - os famosos pé-sujos de Veneza. Luna rossa - Porém, não senti falta de quase nada. Na minha primeira tarde, a cidade me deu de presente a luna rossa – a mais vermelha e gigantesca - que eu já vi em todos estes anos na Europa. Uma lua cheia de arrebatar corações e deixou o meu desenfreado. Como se Peter estivesse também comigo. Aproveitei o luar para começar minha estadia indo tomar um aperitivo na Praça São Marcos, lugar romântico por excelência. Lá, os três grandes cafés da cidade – Quadri, Lavenna (à direita da Basilica) e Florian (à esquerda) - tinham muitos garçons, poucos clientes e as mesas vazias. As orquestram se alternavam, como sempre, tocando músicas dos anos sessenta. Como “Com`È triste, Venezia”, eternizada por Charles Aznavour. Fiquei pensando sobre Peter, a vida, tudo o que vivemos juntos e como Veneza é linda, eterna e romântica. Quis o destino que Peter tenha partido pouco antes de nossas Bodas de Ouro..., mas estaremos sempre unidos e conectados. Até as famosas pombas eram poucas, apesar da lua, do verão, do excelente Pinot Grigio. O momento, para mim era mágico: um resto de luz banhava a Basílica dourada, crianças corriam pela praça e Veneza me fez reviver os momentos tão felizes que vivemos juntos. Os demais dias da viagem correram como deveriam: visitei todos os sestriere, os bairros de Veneza, fui até a rua que leva o meu nome de família, visitei o ghetto e visitei também minha amiga Renata que mora há 17 anos em Veneza.

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Pelo mundo

Com Renata, fiquei sabendo do empenho dos venezianos na luta contra os navios-cruzeiros que navegavam pelo Canale della Giudecca abalando os alicerces dos prédios e palazzi seculares. Atualmente, eles estão proibidos de navegarem, mas, também não navegam em mar nenhum da Europa. Ilhas na Laguna - Aproveitei meu bilhete semanal para revisitar várias ilhas na Laguna. Resolvi também comemorar o dia das nossas Bodas de Ouro na Locanda Cipriani - restaurante e albergue situado em Torcello, uma linda ilha ao largo de Burano. A Locanda, que continua sendo albergue e restaurante, é a memória viva do turismo de luxo dos anos 50 em Veneza. Por ali, passaram escritores como Ernest Hemingway, artistas de cinema em visita à Mostra Veneza - que aproveitavam a calma do lugar para recompor as forças e se dar ao luxo de comer maravilhosamente bem. Por minha vez, gostei tanto que voltei dois dias depois para saborear mais um menu do dia inspirado nos peixes e frutos do mar da laguna veneziana. Quis conhecer o outro extremo da Laguna indo à Pellestrina, ilha tão comprida como o Lido, onde moram ainda os pescadores, mas o dia era de um calor abrasador e me refugiei para almoçar em Chioggia, lembrando tempos antigos com meus pais e irmãos. Já que estava próxima de Pádua, não resisti à tentação de visitá-la. Fui de trem, sozinha no meu vagão, e, na Basílica de Santo Antônio, aproveitei para pedir uma graça, como fazia na minha adolescência quando morei em Pádua. Naquela época, pedia ao Santo que me arranjasse namorado... Visitei também a lindíssima Capella degli Scrovegni, com os afrescos de Giotto. Infelizmente, a Covid-19 fez estragos em Pádua: o prédio da Universidade não abria nem para visitas, muitos hotéis fecharam, restaurantes foram a falência e o famoso Caffè Pedrocchi só abria às tardes no fim de semana. Voltei para Veneza de trem, em um

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A Basílica de São Marcos estava fechada e a Praça também estava bem vazia

vagão com somente três passageiros, pensando o quanto que a epidemia está espantando os turistas no norte da Itália. Lendo os jornais vi a preocupação generalizada sobre a retomada dos negócios que se anuncia bem difícil, o medo da recessão é grande. Nos meus passeios por Veneza, usei máscaras como muitos outros também o fizeram, embora seja obrigatório só nos transportes públicos e no comércio. Museu e Ópera seguindo as regras - Quando no meu último fim de semana, o Museu Punta della Dogana reabriu fui conhecê-lo e lá também as regras de higiene foram respeitadas, mede-se a temperatura, desinfetam-se as mãos e usa-se máscaras. Aproveitei também a reabertura da Opera La Fenice para assitir Orfeo in

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A camareira Rita estava feliz por poder voltar ao trabalho no Hotel Savoya & Yolanda após dois meses em casa


Locanda Cipriani

E n s a i o villa. Achei estranho sentar em um teatro para assistir uma ópera numa sala quase vazia, com a orquestra reduzida ao essencial e no palco só os cantores que não se tocavam, numa apresentação sucinta, sem cenário. A regra era a de praxe: isolamento um metro e meio entre uma poltrona e outra, nas frisas, só a primeira fila, termômetro e desinfetantes na entrada, endereço e telefone de contato quando se comprava o bilhete, o que tinha que ser feito com antecedência. Apesar do rigor, não me senti tolhida em nada, senti-me até protegida. Oito dias inesquecíveis numa cidade marcada pela pandemia, mas lutando pela volta à normalidade. Sem dúvida, infelizmente, o comércio lojista parece estar à beira da falência coletiva. Por outro lado, os esforços das autoridades para frear a invasão de turistas poluidores, desinteressados e ávidos de má comida e souvenires de pacotilha poderá trazer uma reestruturação do setor. A Prefeitura de Veneza baixou uma portaria, ainda antes da chegada do coronavírus, em que previa aumentar uma série de impostos locais nos produtos made in China e subvencionar a produção artesanal e veneziana de artigos ditos de turismo. O decorrer dos meses de verão europeu deverá servir de barômetro para o comércio local. Economistas acreditam que se os turistas volta-

POR ELISABETH CATTAPAN REUTER, VENEZA, ITÁLIA rem, e se comportarem, a retomada de atividades deverá provocar um aumento dos lucros. Se os turistas não voltarem, devido a recessão que se alastrará pela Europa, ou com medo do coronavírus, muitas lojas deverão permanecer fechadas. A situação dos hotéis, bares e restaurantes é semelhante: muitos já falam em arriar para sempre suas grades. Verdade é que os centros turísticos europeus deverão repensar o futuro, investindo em conforto, higiene e levantando o nível. O que aumentará também os custos. A mim me pareceu estranho ver espalhado pela cidade de Veneza a portaria municipal que proibia o uso de indumentárias próprias a uma praia, andar de biquíni, sunga, sem cami-

sa ou descalço pelas ruas da cidade, que, como sabemos, não tem praia. Foi preciso proibir e multar para levar o turista diarista como são chamados os que vêm só um dia, a se vestir com acato. No meu último domingo, um desatento e descalço turista europeu foi impedido de entrar no vaporetto da Linha 1, a do Canal Grande, mas, tranquilamente, ele tirou uma havaiana da mochila, pediu desculpas, calou e pode entrar. Confesso, que não senti falta dos que não puderam vir. Peter carrego sempre no meu coração... Achei maravilhoso parar, andar, parar, olhar parar, respirar fundo, contemplar, sentir um perfume de Acqua di Selva e não de canal poluido. Adorei tirar fotos sem ser empurrada, sem ser incomodada por uma multidão que só olha o que o celular mostra. Senti-me segura e dizem que até os batedores de carteira sumiram. Minha estadia em Veneza foi maravilhosa! O que eu via era a realidade linda de uma cidade que esteve à beira do colapso e renascia, pulsava novamente. Apesar das emoções que senti, apesar da beleza que chegava quase doer quando se estalava na frente dos meus olhos, tive a sensação que Veneza era como uma amiga de longa data, fiel e compreensiva, que me abraçava e consolava. Peter esteve comigo. Voltei leve e exausta.

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E n s a i o

POR ELISABETH CATTAPAN REUTER, VENEZA, ITÁLIA

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CINEMA

Verde

ISABEL CAPAVERDE

i s a b e l c a p a v e r d e @ p l u r a l e . c o m . b r

#Juntospelocinema une o setor

Uma praça e 13 nascentes

Pela primeira vez no mercado brasileiro, exibidores, distribuidores, produtores, criativos e parceiros da indústria estão envolvidos em um projeto único com o intuito de preparar e implementar a retomada do cinema no Brasil pós-pandemia, num movimento chamado #JuntosPeloCinema. Respeitando a individualidade de cada empresa e mantendo a livre concorrência, a campanha busca ações para manter acesa a magia do cinema. O grupo de profissionais voluntários envolvidos no projeto tem como meta retomar o diálogo entre a experiência da sala de cinema e o público, de agora até o momento de reabertura das salas pelas autoridades, respeitando os protocolos aplicáveis de segurança e bem-estar já determinados ou em elaboração pelos governos locais. Saiba mais em www.juntospelocinema.com.br .

Dirigido e roteirizado pela cineasta Gabriela Nassar, o documentário “A Nascente Mora Aqui” retrata a Praça Nascente que na Zona Oeste da cidade de São Paulo, abriga 13 nascentes remanescentes do cerrado. O curta com depoimentos de frequentadores, especialistas e coletivos, pede atenção da população e dos órgãos públicos para a proteção daquele oásis em pleno bairro da Pompéia. A praça se destaca não apenas peça presença das águas, mas por ser palco de atividades culturais como o Carnaval e shows. Só que tudo está ameaçado pela construção de um empreendimento vizinho a praça que, ao rebaixar o lençol freático, pode afetar drasticamente as águas e a vegetação, alterando o ecossistema local. O curta pode ser assistido no You Tube acessando o link: www.youtube. com/watch?v=1TreGrojtJ8&feature=youtu.be

A importância de rios e várzeas da Amazônia A Revista Pesquisa Fapesp divulgou o interessante documentário “Como rios e várzeas influenciam a formação de espécies na Amazônia?” . Ao longo dos milênios, cursos d’água e mudanças na paisagem favorecem a diversificação de plantas e animais amazônicos. A bióloga Camila Ribas, do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa) e o geólogo André Sawakuchi, do Instituto de Geociências da Universidade de São Paulo (IGc-USP), explicam esse processo.

Discussão sobre o tempo O assunto nunca foi tão debatido em meio ao isolamento social provocado pela pandemia. No documentário “Quanto Tempo o Tempo Tem”, disponível para assinantes do Netflix, são discutidas questões que envolvem as diferenças do conceito de tempo entre as civilizações. Especialistas explicam e refletem sobre o tempo e os seus significados. “Quanto Tempo o Tempo Tem” é estruturado como uma pesquisa, com base filosófica.

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A trajetória dos cães-guias no Brasil O documentário Olhar de Cão, produção da Prosperidade Content, revela a trajetória dos cães-guia no Brasil, destacando diferentes fases da jornada do animal: do nascimento, passando pela socialização e treinamento, formação da parceria com a pessoa com deficiência visual e a aposentadoria. Um caminho que envolve muitos profissionais, trabalho e desenvolvimento de um profundo laço entre ser humano e cão. Com a direção de Renato “Nego” Lima, “Olhar de Cão” apresenta histórias de homens e mulheres que se dedicam a treinar esses cães e pessoas que têm sua vida completamente transformada por eles. Uma delas, que é destaque no documentário, é a advogada Thays Martinez, ativista pelos direitos da pessoa com deficiência, que há 20 recebia seu primeiro cão-guia.


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Pelas Empresas

FELIPE ARARIPE

Bradesco, Itaú Unibanco e Santander lançam plano conjunto para promover o desenvolvimento sustentável da Amazônia

O De São Paulo

s três maiores bancos privados do País, Bradesco, Itaú Unibanco e Santander, divulgam em julho um plano integrado com o objetivo de contribuir efetivamente para o desenvolvimento sustentável da Amazônia. O material inclui 10 medidas, construídas a partir de três frentes de atuação identificadas como prioritárias para a região: conservação ambiental e desenvolvimento da bioeconomia; investimento em infraestrutura sustentável; e garantia dos direitos básicos da população da região amazônica.

O plano foi apresentado nesta quarta-feira (22) ao governo federal e, a partir de agora, os três bancos trabalharão em conjunto no detalhamento das iniciativas e no estabelecimento de metas. Entre as ações que farão parte desse plano, estão: • Estimulo às cadeias sustentáveis na região (ex: cacau, açaí e castanha)

por meio de linhas de financiamento diferenciadas e/ou ferramentas financeiras e não financeiras • Viabilização de investimentos em infraestrutura básica para o desenvolvimento social (ex: energia, internet, moradia e saneamento) e ambiental (ex: transporte hidroviário) • Fomento de um mercado de ativos e instrumentos financeiros de lastro verde • Atração de investimentos e promoção de parceiras para o desenvolvimento de tecnologias que impulsionem a bioeconomia • Apoio para atores e lideranças locais que trabalhem em projetos de desenvolvimento socioeconômico na região

Coca-Cola Brasil se une a outras instituições para dar suporte a catadores de materiais recicláveis durante a pandemia De Rio de Janeiro

Os catadores de materiais recicláveis estão entre os trabalhadores mais vulneráveis em meio à pandemia da Covid-19. Tanto pela redução do volume de resíduos — com o comércio, escritórios, escolas e restaurantes fechados — como, na outra ponta da cadeia, pela falta de compradores, com muitas fábricas fechadas ou com a produção reduzida. Além disso, a manipulação de resíduos coloca essas pessoas em contato direto com superfícies potencialmente contaminadas. E há ainda que se considerar que, dentre os catadores, estão idosos, diabéticos, fumantes ou pessoas que têm problemas respiratórios ou do coração, sendo recomendável que sejam afastadas do trabalho. Com uma longa e sólida relação com esses profissionais, fundamentais para a cadeia da economia circular, o Sistema Coca-Co-

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la Brasil e o Instituto Coca-Cola Brasil criaram o fundo “Estamos nessa juntos”, que destinará parte de seus recursos para ajudar os agentes de reciclagem a enfrentarem este momento crítico. Serão feitas contribuições para iniciativas diversas, com a intenção de impactar cerca de 15 mil catadores, entre cooperados e autônomos. A primeira medida para auxílio aos agentes de reciclagem foi realocar in-

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vestimentos do programa Reciclar pelo Brasil — maior plataforma de reciclagem inclusiva do país — para garantir uma renda mínima aos associados de 170 cooperativas em 21 estados. A verba, que seria aplicada em melhorias para as cooperativas, como reformas e compra de equipamentos, está sendo dividida entre os cooperados, para ajudá-los no sustento de suas famílias. “Cada cooperado já recebeu R$ 1.200, em parcelas em abril e maio. Estamos avaliando se será possível realizar um terceiro repasse no final de junho”, conta Edy Merendino, secretário-executivo do Reciclar pelo Brasil, programa criado em 2017, que conta com o apoio de outras 17 empresas além da Coca-Cola Brasil.


E-commerce de bebidas em lata inicia uma corrente de surpresas à distância e espalha positividade De São José dos Campos (SP)

Imagine estar em casa e ser surpreendido por um presente de quem está longe? E se pudesse levar essa corrente adiante e enviar uma mensagem positiva para outras pessoas que você ama? Essa é a ideia do vadelatastore.com.br, e-commerce exclusivo para bebidas em lata, que inicia suas atividades com o apoio do @umcartão, poeta com uma legião de fãs no Instagram, a partir da campanha “Um brinde é o melhor presente”. Durante a ação, consumidores poderão enviar packs de latinhas acompanhados de cartões físicos exclusivos do artista, estimulando a troca de presentes entre amigos, familiares, casais, crushs e por aí vai – mesmo que de longe. Desenvolvido pela Ball, líder mundial em embalagens sustentáveis de

alumínio, o vadelatastore.com.br investe no e-commerce para atender aos novos hábitos de consumo gerados pelo isolamento social. Dados da Revista Época revelam que as vendas online de bebidas cresceram 800% na quarentena. Já a pesquisa Edelman Trust Barometer 2020 aponta que 83% dos entrevistados esperam que as marcas conectem pessoas e ajudem a fica-

Sesc Pantanal atua na prevenção de incêndios na maior Reserva Natural do país e combate ao fogo em áreas vizinhas De Várzea Grande (MT)

Monitoramento por satélite, aéreo, terrestre e fluvial, aceiros, limpeza de estradas de acesso e campanha de sensibilização da população do entorno estão entre as principais ações realizadas pelo Polo Socioambiental Sesc Pantanal na prevenção dos incêndios florestais. Responsável pela conservação da maior Reserva Particular do Patrimônio Natural (RPPN) do país, a

instituição também colabora com o combate a incêndios em áreas vizinhas. Nesta semana, a atuação da equipe acontece na terra indígena Perigara, na comunidade do Distrito São Pedro de Joselândia, em Barão de Melgaço, e em uma propriedade vizinha na região do Porto Cercado, em Poconé. O período da seca começou mais cedo neste ano e é propício para a propagação do fogo, que já atinge o Pantanal mato-grossense nas proximidades

rem mais próximas emocionalmente, enquanto 84% desejam que marcas usem redes sociais para promover comunidade e oferecer apoio para quem não pode se reunir fisicamente. “Sabemos que a compra online se firmou como canal efetivo neste momento, devido à praticidade e segurança de não precisar sair de casa para consumir. A partir dessa plataforma será possível, por exemplo, surpreender amigos e familiares enviando bebidas de diferentes categorias com uma mensagem descolada, de uma forma totalmente segura. Temos a expectativa de criar essa corrente positiva utilizando a embalagem mais apropriada para o canal de vendas online”, explica Hugo Magalhães, Gerente de Marketing e Novos Negócios da Ball da Transpantaneira. “O Sesc Pantanal tem experiência, há mais de 20 anos, com planejamento, estratégia de atuação e treinamento de combate ao fogo, por isso nos colocamos à disposição de moradores e também do setor turístico, que já sofre com incêndios próximos a Transpantaneira. Nossa atuação é voltada para a conservação do Pantanal e Cerrado e o trabalho de prevenção é parte disso. Todo o trabalho, porém, não garante que o fogo chegue e avance. Por isso, a conscientização na manipulação do fogo é tão importante”, diz a superintendente do Sesc Pantanal, Christiane Caetano.

ENEL BRASIL publica Relatório Anual de Sustentabilidade 2019 De Niterói (RJ)

A Enel Brasil, maior grupo privado do setor elétrico nacional, publicou esta semana o Relatório Anual de Sustentabilidade 2019 da companhia. O documento é uma importante ferramenta de interface com as partes interessadas, em que

são divulgados os impactos e o desempenho operacional, financeiro e socioambiental das operações da Enel no País, além do avanço das metas da companhia com os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da Agenda 2030 da Organização das Nações Unidas (ONU). O Relatório é elaborado com base

na metodologia internacional GRI e verificado pela EY. Em 2019, a Enel Brasil investiu cerca de R$ 55 milhões em projetos e ações sociais externos com renda gerada de mais de R$ 9,5 milhões para as comunidades onde a empresa atua, por meio do Enel Compartilha, maior programa de sustentabilidade do Grupo.

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I m a g e m ARTE DE BRUNO LIBERATI

A

rtistas são eternos. Tivemos o privilégio de trabalhar nos melhores tempos do Jornal do Brasil com o designer/artista/ cartunista BRUNO LIBERATI, que recentemente partiu, aos 71 anos. Deixa saudades e uma obra incrível. Pedimos autorização para a sua família para publicarmos uma de suas centenas de trabalhos belíssimos. À família, legião de amigos e a todos os que foram tocados pelos traços poéticos de Liberati o nosso abraço solidário. Formado em ciências sociais, o ilustrador trabalhou nas redações do Jornal do Brasil, Jornal da Tarde, O Estado de São Paulo, Movimento, Versus, La Repubblica, Uomiuri Shimbum, e nas revistas Visão, Veja Rio, Graphis Annual 84/86 e Print. Como tão bem resumiu o jornalista e escritor Carlos Franco. “Sensível, genuinamente humano, demasiadamente humano, Liberati era, ainda o é, aquilo que cariocamente aprendemos a chamar de “um tremendo boa praça”. Uma figura doce, que sabia ouvir, mais do que falar. Que amava a literatura e o desenho, que tinha uma visão aguda, crítica, sem perder a ternura, do mundo que o rodeava. O legado que hoje nos deixa para a perenidade, nos encanta. Encantado, deixa nos seus traços a vivacidade de um olhar e de um discurso sensível. Ele que deu asas a Jamelão, quando a voz do sambista emudeceu, ficou encantada, também ao escritor Ariano Suassuna, agora ganha asas, voa à Pasárgada de Manuel Bandeira, onde lá, tremendo boa praça que é, será amigo de todos e desenhará todos com a precisão dos seus traços, dos quais hoje nos sentimos órfãos, abençoados órfãos que tivemos o prazer e o privilégio da convivência. Seu traço é luz, Liberati. Nos ilumina e alumeia.” 66

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