Plurale em Revista - Edição 70

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ano treze | nº 70 | junho / julho 2020 R$ 10,00

SEU JOÃO DO BORBOLETÁRIO DO HOTEL SESC PANTANAL: METÁFORA DAS BORBOLETAS

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ESPECIAL O ‘NOVO NORMAL’:

COMO SERÁ DAQUI PARA A FRENTE?

FOTO DE ISABELLA ARARIPE – PLURALE – BORBOLETÁRIO DO HOTEL SESC PORTO CERCADO – POCONÉ - PANTANAL (MT)

ARTIGOS INÉDITOS, ISLÂNDIA E A PAZ DO BREJAL

AÇÃO | CIDADANIA | AMBIENTE




Contexto

50.

A NATUREZA CONSERVADA NO BREJAL, PETRÓPOLIS/RJ FOTO DE LUCIANA TANCREDO – PLURALE – BREJAL - RJ

18.

ESPECIAL “O NOVO NORMAL”: Como será o que chamamos de ‘novo normal’? Análise, entrevistas, exemplos internacionais e como empresas estão ajudando a combater a pandemia. Por Sônia Araripe, Nícia Ribas, Maurette Brandt, Hélio Rocha, Viviane Faver (NYC) e Elizabeth Reuter (Alemanha) ISABELLA ARARIPE – HOTEL SESC PANTANAL (MT)

PAULA MARTINELLI - ISLÂNDIA

38.

56.

O LEGADO DE SEU JOÃO DO BORBOLETÁRIO DO HOTEL SESC PANTANAL

ISLÂNDIA, A TERRA DO FOGO E DO GELO, por Paula Martinelli Ecoturismo, por Isabella Araripe

48 Cinema verde, por Isabel Capaverde

62 Pelas empresas, por Felipe Araripe

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12.

ARTIGOS INÉDITOS, Por Henrique Luz, Carlos Eduardo Young e Maira Luiza Spanholi e Flávio Seixas


E ditorial

Como será o novo normal? Por Sônia Araripe, Editora de Plurale Arte de Amaro Prado Junior

E

m 35 anos de profissão esta, sem dúvida, é a edição mais difícil de ser concluída. Na virada de 2019 para 2020, em planejamento anual, projetamos que poderíamos comemorar em uma edição ainda mais especial pela efeméride do número 70 de Plurale em revista, completando 13 anos em outubro deste ano. Jamais poderíamos esperar uma pandemia global. Decidimos que protocolos internacionais precisariam ser imediatamente seguidos, evitando colocar em risco vidas de nossos repórteres e colaboradores. Garantimos o isolamento social e a quarentena em segurança, em nossas casas. O que para muitos foi uma espécie de choque cultural, para nós, na verdade, já era uma rotina. Viajamos muito em busca de matérias incríveis, mas já temos a rotina do home-office e reuniões virtuais há alguns anos. Menos emissões, menos deslocamentos, todos conectados em rede. Temos repetido em várias entrevistas e lives às quais participamos ao longo destes meses que já éramos convertidos ao novo mundo. Não sabíamos, é claro, conviver com as regras de segurança diante do vírus desconhecido, envolvendo máscaras, luvas e todo um conjunto de ações preventivas. Muito além apenas de equipamentos de segurança, sabíamos que era urgente e necessário repensar o estilo de vida enlouquecido e desenfreado. Não voltaremos ao antigo

normal porque simplesmente ele não fazia sentido: precisamos realmente ter propósito e verdadeiras causas. Algo que nós, de Plurale, temos como regra e padrão há anos. Mantivemos o plano de ter uma Edição bem especial, norteando como será o novo normal, com visões plurais, um propósito de nossa Plurale ao longo destes anos tão diversos, quanto incríveis. Trazemos artigos inéditos de Carlos Eduardo Frickmann Young e Maira Luiza Spanholi; Flávio Seixas e Henrique Luz. Não é só. Também um incrível Especial sobre a ação de várias empresas e Institutos que estão ajudando a combater a pandemia em parceria com o poder público e com ONGs. Empresas e Institutos como Bradesco, Coca-Cola, Grupo Accor, Grupo Boticário, Instituto Claro, Veracel e tantas outras que estão fazendo diferença. Dos Estados Unidos, mais especificamente de Nova Iorque, um dos epicentros desta crise, Viviane Faver conta a iniciativa de fotógrafos para relatar em arte o impacto da pandemia e de Hamburgo/ Alemanha, Elisabeth Reuter Catappan traz o relato de como está o processo de começo da volta ao “novo normal”. Hélio Rocha, que voltou no fim de 2019 de viagem de interâmbio como jornalista pela China relata como tem sido o impacto da pandemia por lá e o conflito com os EUA. O novo normal também alterou a forma de consumir cultura, como mostra a repórter Maurette Brandt. E, reportagens dos parceiros da IHU On-Line trazem a relação entre o coronavírus e o

aquecimento global, assim como a ameaça para povos indígenas na Amazônia. Ao planejar esta edição – que, assim como as anteriores de Plurale, tem a valorosa criatividade do designer gráfico Amaro Prado Junior - percebemos que também seria preciso “respirar” e dar uma mensagem de esperança para nossos leitores. Foi quando nos chegou a notícia do falecimento do pantaneiro João do Borboletário do Hotel Sesc Porto Cercado, Poconé (MT), nosso entrevistado de destaque em reportagem de capa na Edição 66 da revista. Seu João partiu depois de lutar bravamente contra um câncer. Percebemos que havia uma metáfora forte entre o “encantador de borboletas”, como o chamamos, e este momento atual que estamos vivendo. Fotos lindas de José Medeiros (Livro “No pulso das Águas”) e Isabella Araripe. Trazemos ainda um ensaio poético – de ar puro e colorido da natureza – por Luciana Tancredo, apresentando o Brejal, joia encravada no alto da Serra de Petrópolis. Ela fez a migração da grande cidade para o campo no ano passado. E como estamos ainda com limitações para viajar, nossa colaboradora Paula Martinelli conta como foi deslumbrante a sua viagem à Islândia – terra do fogo e do gelo – em 2019. Também são destaques, a coluna Cinema Verde, por Isabel Capaverde e Pelas empresas, por Felipe Araripe. Respire fundo. Vai passar! E seguiremos juntos nesta jornada sustentável pelo novo normal.

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Quem faz

Diretora e Editora-Chefe Sônia Araripe soniaararipe@plurale.com.br Fundadores Carlos Franco e Sônia Araripe Plurale em site: www.plurale.com.br Plurale em site no twitter, facebook e instragram: http://twitter.com/pluraleemsite https://www.facebook.com/plurale @revistaplurale Comercial comercial@plurale.com.br Arte Amaro Prado e Amaro Junior

Cartas D. Gilda Vieira de Mello, 101 anos, mãe de Sérgio Vieira de Mello, AltoComissário da ONU, morto em atentado em Bagdá em 2003 Sem dúvida a nossa mais fiel e longeva leitora. Esteve no lançamento de Plurale, em outubro de 2007, em Copacabana, com o neto André Simões, economista (sobrinho e afilhado de Vieira de Mello). Detalhe – D. Gilda lê sem óculos!

Fotografia Luciana Tancredo e Eny Miranda (Cia da Foto); Agência Brasil e Divulgação Colaboradores nacionais Felipe Araripe (Estagiário), Hélio Rocha, Isabel Capaverde, Isabella Araripe, Lília Gianotti e Nícia Ribas. Colaboradores internacionais Aline Gatto Boueri (Buenos Aires), Vivian Simonato (Dublin), Wilberto Lima Jr.(Boston) Colaboraram nesta edição: Carla Águas e José Medeiros (Livro “No pulso das Águas), Carlos Eduardo Frickmann Young (UFRJ) e Maira Luiza Spanholi (Unemat), Elisabeth Catappan Reuter (Hamburgo/ Alemanha), Flávio Seixas (Awá Desperta), Gabriela Sant`Anna (Sesc Pantanal), Guilherme Cavalli (CIMI), Henrique Luz (IBGC), Hélio Rocha, Maurette Brandt , Paula Martinelli (Blog – Paula Pins The Planet), Ricardo Machado, Patricia Fachin e João Vitor Santos (IHU On-Line) e Viviane Faver (de Nova Iorque). Os artigos são de inteira responsabilidade dos autores e não refletem necessariamente a opinião da revista.

Impressa com tinta à base de soja Plurale é uma publicação da SA Comunicação Ltda CNPJ 04980792/0001-69 Impressão: Imprimindo Conhecimento Editora e Gráfica

Plurale em Revista foi impressa em papel certificado, proveniente de reflorestamentos e®outras fontes controladas certificados pelo FSC de acordo com rigorosos padrões sociais e ambientais. Rio de Janeiro | Rua Etelvino dos Santos 216/202 CEP 21940-500 | Tel.: 0xx21-3904 0932 Os artigos só poderão ser reproduzidos com autorização dos editores © Copyright Plurale em Revista

“Parabéns para toda a equipe de Plurale pela Edição 69. Adoramos receber a revista! Destaque para a matéria sobre um ano da tragédia de Brumadinho, aqui em Minas.” D. Darcy e Seu Joaquim Mendonça, aposentados, Juiz de Fora (MG), avós do nosso repórter Hélio Rocha, pelo Facebook “Amando muito a matéria sobre Ibitipoca, publicada na mais recente edição 69 de Plurale em revista! Eu e Paulo já fomos duas vezes para esta cidadezinha mineira super acolhedora e subimos até a Janela do Céu. Se existe visão do paraíso...é de lá, viu?” Jaíra Reis e Paulo Clemen, sócios da Nós da Comunicação, do Rio de Janeiro (RJ), pelo Instagram

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“Uma alegria ter a companhia da Edição 69 de Plurale em revista neste período de isolamento social. Excelentes artigos sobre água e reportagens de fôlego sobre sustentabilidade e governança corporativa. Plurale é sempre leitura relevante nestes seus 12 anos de História.” Professor Marcus Vinícius Quintella, da FGV, do Rio de Janeiro, pelo e-mail “A edição 69 de Plurale em revista foi companheira neste período de isolamento social. Artigos excepcionais e reportagens incríveis. Destaque para as matérias sobre jovens do Instituto Claro e também sobre turismo em Botsuana. Parabéns a todos!” Aireslene Rocha, economista, do Rio de Janeiro (RJ), por e-mail “Valeu, Sônia Araripe e equipe pelo destaque em Imagem Plurale!” Evandro Teixeira, fotojornalista, do Rio de Janeiro, pelo e-mail “Amei a Edição 69 de Plurale em revista. Não só pela minha matéria sobre Salta (Argentina), mas também artigos e matérias sobre sustentabilidade. Parabéns à equipe.” Renata Mondelo, comunicadora, do Rio de Janeiro, pelo instagram



Entrevista

“NÃO DÁ PARA TERCEIRIZAR O QUE CABE À NOSSA SOCIEDADE, DE MANEIRA ORGANIZADA E CONSCIENTE, PARA UM VÍRUS.” ALEXANDRE ARAÚJO COSTA REPRODUÇÃO YOUTUBE

Por Ricardo Machado Edição: Patricia Fachin e João Vitor Santos, da IHU On-Line

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ma das principais diferenças entre as crises climática e sanitária é a escala de tempo, mais curta nesta última e, apesar de mais longa, de impactos absolutamente nocivos e mais profundos na primeira. Ambas, contudo, estão interligadas. “A pandemia atual, assim como outros surtos virais recentes, está intrinsecamente ligada à crise ecológica, à degradação ambiental, à destruição de florestas e ao consumo de carne (e tudo isso, óbvio, se relaciona ao aquecimento global)”, avalia o professor doutor e pesquisador Alexandre Araújo Costa, em entrevista por telefone à IHU On-Line. O pior cenário, no entanto, seria aquele em que houvesse, ao mesmo tempo, o cruzamento das crises. “Nesse caso, precisamos estar preparados para catástrofes bem piores, porque imagine que seremos obrigados a enviar sinais completamente contraditórios. No caso de um furacão ou evento extremo parecido, a recomendação vai ser ‘evacuem suas casas’ e no caso de uma crise similar à da pandemia de SARS-CoV-2, a orientação vai ser ‘fiquem em casa’. Como lidar com uma situação como essa quando, para salvar a vida das pessoas de um extremo climático, aglomerações são inevitáveis e, ao mesmo tempo, vão ser justamente as medidas que favoreceriam o contágio por um vírus, eventualmente tão ou mais letal do que o SARS-CoV-2”, questiona o entrevistado. Estar atentos a estes sinais é funda-

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mental para que possamos, a tempo de salvar vidas, desarmar as armadilhas criadas por nós mesmos. Além disso, para que haja possibilidade de um futuro em uma terra habitável, é necessário não voltar à antiga “normalidade”. A questão que se impõe é “se, de fato, aprendemos minimamente as lições, achatamos esse conjunto de curvas exponenciais e voltamos a ser seres que cabem na biosfera à qual pertencemos ou se vamos seguir nessa rota suicida e genocida”, provoca Costa. “É isso, justamente, que está em jogo. As analogias que fizemos entre pandemia e crise climática precisam ser levadas a sério. A disputa pelo futuro é hoje”, conclui. Alexandre Araújo Costa é professor da Universidade Estadual do Ceará. Formado em Física, Ph.D. em Ciências Atmosféricas pela Universidade do Estado do Colorado, com pós-doutorado na Universidade de Yale. Foi um dos autores principais do primeiro relatório do Painel Brasileiro de Mudanças Climáticas. Militante ecossocialista e ativista climáti-

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co, edita o blog “O Que Você Faria se Soubesse o Que Eu Sei”, assim como o canal no YouTube de mesmo nome. É um dos coordenadores do fórum de articulação Ceará no Clima. Confira a entrevista. IHU On-Line – Que relações podemos estabelecer entre o aquecimento global e o surgimento de pandemias como da covid-19? É possível estabelecer conexões? Alexandre Araújo Costa – Embora sejam duas crises distintas, elas guardam diversos pontos de contato. A pandemia atual, assim como outros surtos virais recentes, está intrinsecamente ligada à crise ecológica, à degradação ambiental, à destruição de florestas e ao consumo de carne (e tudo isso, óbvio, se relaciona ao aquecimento global). Ao mesmo tempo, não teria sido possível a rápida disseminação do vírus sem a hipermobilidade, que permite que quaisquer duas cidades grandes do mundo hoje estejam conectadas em no máximo 48 horas (e é justamente o uso intensivo


de energias fósseis que sustenta essa hipermobilidade). A crise climática segue se agravando justamente em função de um modo de vida intensivo em carbono, desde a demanda de energia para produção de bens de consumo, passando pelo transporte, até chegar num sistema de produção alimentar altamente predatório, com desmatamento para expansão da fronteira agrícola e consumo de carne em uma quantidade cada vez mais insustentável. Então as causas, embora não sejam exatamente as mesmas, guardam ligação entre si. As duas crises são também semelhantes em vários aspectos. Em ambos os casos, trata-se de uma emergência, e o entendimento da gravidade do problema e o tempo de ação fazem toda a diferença. Em vários países, a recusa e/ou a demora em agir na pandemia levaram ao colapso do sistema de saúde e à multiplicação das mortes. No que diz respeito ao clima, a recusa e a demora em agir estão cada vez mais nos levando a uma condição de desestabilização irreversível do sistema climático. Em ambos os casos é preciso “achatar a curva”, seja o gráfico de contágio do coronavírus, seja a concentração de CO² atmosférico. As principais diferenças estão na escala de tempo (que é obviamente mais longa no caso da crise climática) e na escala dos impactos (que, no caso do clima, têm tudo para fazer a pandemia parecer um problema menor e de fácil resolução). IHU On-Line – Como os cuidados com a covid-19, com quarentena forçada em várias partes do mundo, podem impactar o clima global? Alexandre Araújo Costa – É verdade que a quarentena interrompeu ou reduziu diversas atividades que, além de produzirem poluentes de vida curta, como óxidos de nitrogênio ou material particulado, também implicam emissões

de CO² ou outros gases de efeito estufa. Mas é preciso reconhecer que, no que diz respeito a poluentes de vida longa, cujo efeito é cumulativo, como é o caso do CO², a quarentena apenas arranha a superfície do problema. A analogia que gosto de fazer é com um muro: imagine que cada tijolo represente um bilhão de toneladas de CO². Se imaginarmos que acumulamos de emissão, desde o início do período industrial, 2,4 trilhões de CO² ou que construímos um muro com 2.400 tijolos, o que acontece na pandemia é que ao invés de colocarmos os 43 tijolos que temos colocado todo ano, colocaremos somente 40 e, portanto, não só o muro continua lá, como não diminui. Ele apenas cresce mais devagar do que vinha crescendo; não podemos ter ilusão quanto a isso. O que é fundamental entender é que a queda projetada este ano de 6 a 7% nas emissões de CO² é justamente aquilo que precisamos fazer ano após ano para resolver a questão do aquecimento global, ou seja, manter uma trajetória compatível com limitar o aquecimento global a 1,5 grau. Nesse caso, portanto, assim como o problema é cumulativo de longas datas, a solução também vai ser cumulativa e não vai emergir de algo episódico como a pandemia. Precisamos ter políticas para garantir que ano após ano cortemos de 6 a 7% as emissões globais para chegarmos com essas emissões reduzidas à metade em 2030 e mantermos o ritmo a fim de descarbonizarmos completamente a economia global em meados do século. Fora isso não tem salvação, e não dá para terceirizar o que cabe à nossa sociedade, de maneira organizada e consciente, para um vírus. IHU On-Line – Qual a possibilidade de termos uma desaceleração no aquecimento global em 2020, devido à diminuição de circulação de pessoas nas

ruas, especialmente em países como a China e, até mesmo, o Brasil? Alexandre Araújo Costa – Exatamente porque as emissões são cumulativas e o CO² permanece lá, a redução delas em 2020 não vai trazer efeito apreciável sobre o aquecimento global. Nós vamos chegar ao final do ano com uma média, provavelmente, de 414 partes por milhão de CO² na atmosfera em contraste com a previsão inicial do UK Met Office, que era de 414,2, e projeções como a feita pelo doutor Gavin Schmidt, do NASA Goddard Institute for Space Studies, segundo as quais, 2020 pode até mesmo quebrar recorde de temperatura. Então, a desaceleração é necessária, mas é apenas um início que precisa ser feito de maneira consistente e articulada com a transformação radical do sistema energético em escala global e do sistema de produção de alimentos também em escala global. Fora isso não teremos, de fato, impacto climático significativo, mesmo que a pandemia se estenda até o final de 2020 ou além. IHU On-Line – O discurso da necessidade de retomada do crescimento é muito forte por parte de governos e de empresários dos grandes setores comerciais. Quais as consequências para o planeta de uma retomada muito intensa de atividades econômicas que são agressivas ao planeta? Alexandre Araújo Costa – É evidente que o sonho dos executivos das corporações capitalistas e dos políticos e economistas que lhes dão suporte é a retomada da “normalidade”. Mas essa “normalidade” é tudo aquilo a que não podemos voltar. Primeiro, porque o pouco benefício ambiental que podemos de fato falar que se obteve a partir da redução das atividades econômicas na pandemia, que é a redução na concentração de poluentes de vida curta, como óxido de nitrogênio e material particulado, especialmente nos grandes centros urbanos, vai para o brejo. Basicamente o que acontece é que uma vez retomadas as atividades de produção industrial a todo vapor, a circulação de automóveis e outros veículos nos centros urbanos, os níveis de poluição vão retornar e teremos de volta a

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Entrevista

mesma situação que perdurava antes em locais como Nova Deli, Pequim e outras cidades da China, e nos centros urbanos do nosso país, como São Paulo. Além disso, essa retomada nos tira da rota de redução das emissões de CO² em que, por este evento fortuito, nós entramos. Nesse sentido, a lógica de retorno à “normalidade” é tudo aquilo que não podemos querer. Deveríamos estar, justamente, nesse contexto de pandemia, impulsionando as bandeiras de uma retomada de outra economia, em que a garantia da vida, do emprego e respeito ao ambiente fossem os parâmetros fundamentais e em que houvesse um giro radical no que produzimos e como produzimos. IHU On-Line – Dentre as muitas consequências do aquecimento global, o derretimento das calotas polares é uma delas. Há o risco de os seres humanos entrarem em contato com vírus da era glacial aos quais nossa espécie não está imune? Do ponto de vista geológico, o que pode acontecer? Alexandre Araújo Costa – O eventual despertar de bactérias e vírus adormecidos há milhares de anos por conta do derretimento de geleiras e do permafrost é apenas uma das facetas através da qual nós conectamos a possibilidade de aquecimento global com o risco de novas pandemias. Há outros fatores aí em jogo: um deles é o fato de que o aquecimento global impulsiona a migração de espécies. Por que isso é grave? Porque hoje espécies que não tinham contato no passado, passam a ter, por conta dessa migração. Aí os vírus podem saltar de uma espécie para outra, algo que não era possível na condição anterior. O que isso significa? Que podemos passar a ter um fluxo viral entre espécies cada vez maior e, eventualmente, isso abre e aumenta a possibilidade de transmissão para a própria espécie humana. Esse é um aspecto. O outro, como sabemos, é a mudança ou expansão da área de atuação de vetores de doenças infecciosas, como o caso do Aedes aegypti e da dengue, que cada vez mais penetram em latitudes médias. Outro aspecto ainda é o risco de cruzamento das duas crises. Nesse caso, precisamos estar preparados para catástrofes bem piores, porque imagine que seremos

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obrigados a enviar sinais completamente contraditórios diante de uma crise ao mesmo tempo sanitária e climática. No caso de um furacão ou evento extremo parecido, a recomendação vai ser ‘evacuem suas casas’ e no caso de uma crise similar à da pandemia de SARS-CoV-2, a orientação vai ser ‘fiquem em casa’. Como lidar com uma situação como essa quando, para salvar a vida das pessoas de um extremo climático, aglomerações são inevitáveis e, ao mesmo tempo, vão ser justamente as medidas que favoreceriam o contágio por um vírus, eventualmente tão ou mais letal do que o SARS-CoV-2? É esse tipo de pergunta que fica em aberto quando a sociedade se recusa a enfrentar, de fato, com a devida profundidade, os dois tipos de crises que vão ameaçar a nossa própria existência enquanto civilização ao longo do século XXI. IHU On-Line – O senhor costuma dizer, em suas entrevistas e conferências, que não há “Plano B” em relação ao clima do planeta? Por quê? Alexandre Araújo Costa – Não há Plano B porque é impossível negociar com as leis físicas que regem o clima planetário. Não podemos chegar na natureza e pedir um desconto na “constante de Stephan-Boltzmann” ou implorar para que as moléculas de CO² absorvam menos radiação infravermelha do que o fazem. Exatamente por isso, nós precisamos seguir a única rota compatível com aquilo que as leis da Física nos impõem, que é a de que justamente não há como resolver a crise climática sem primeiro reduzir as emissões de gases de efeito estufa e, depois, iniciar uma longa batalha – por conta das futuras gerações – de remoção do excedente de dióxido de carbono da atmosfera. Isso implica, portanto, que a nossa tarefa imediata seja a do plano “A”, que é o único: reduzir drasticamente essas emissões. A fim de que, pegando o embalo, as gerações futuras possam herdar o planeta com outro sistema energético, muito menos intensivo em carbono e muito mais reduzido, enxuto e destinado apenas para demandas de fato essenciais, para que se possa seguir num rumo de avanço da agroecologia, da recuperação de biomas, de reflorestamento com ou

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sem ajuda de soluções tecnológicas para a remoção de carbono. Fora disso, não dá para esperar uma solução mágica. De novo, existe uma analogia com a pandemia. Como não há vacina disponível, medicamento disponível no momento, o que podemos fazer? A única maneira, de fato, é garantir o isolamento social até achatar a curva. Como não há solução mágica, não existe “cloroclima”, nós não podemos simplesmente seguir como seguíamos antes com relação às emissões de gases de efeito estufa. É preciso achatar a curva, ou as curvas, sejam elas as da concentração de CO² ou de aumento de temperatura global. Isso para assegurar que as gerações futuras não arquem com todo o ônus da sobrecarga sobre o sistema climático. IHU On-Line – Que lição a covid-19 pode nos ensinar? Em suma, qual a importância de não voltarmos às formas de exploração ambiental e humana antes da covid-19? Alexandre Araújo Costa – A pandemia deixa diversas lições que deveriam ser de fato apreendidas pela nossa sociedade. Uma delas é o fato de que boa parte da produção e circulação de mercadorias e boa parte da demanda de energia associada a elas é absolutamente predatória, perdulária e supérflua, podendo ser naturalmente dispensada. Mostra, também, que a hipermobilidade humana é um risco imenso e que é um desastre a conjunção de degradação ambiental, desmatamento (que nos expõe ao contato com os vírus abrigados em outras espécies) e – não no caso da covid-19, mas de outras pandemias como as de H1N1, H5N1, H7N9 etc. – o boom de pandemias ligadas à indústria da carne. Essa é a primeira lição, precisamos pensar que atividades econômicas de fato precisam subsistir e que atividades econômicas precisam desaparecer para


garantir a segurança à humanidade. Outra lição evidente é que boa parte dos combustíveis fósseis efetivamente pode ficar no subsolo. A crise do petróleo com preços negativos, com navios petroleiros estacionados ao redor do mundo e estruturas de armazenamento de petróleo em terra saturadas demonstra o quanto esse combustível poderia ter permanecido justamente no chão. Nós temos que seguir o que a ciência revela: 88% do carbono fóssil precisa permanecer exatamente onde está se quisermos preservar o estoque de carbono para que não ultrapassemos o aquecimento de um grau e meio. Outro ponto é que a pandemia nos trouxe evidências de que é possível haver políticas públicas que incidam diretamente nas condições de subsistência e sustento das famílias de trabalhadores e trabalhadoras que ficaram sem emprego. Surgiu quase um consenso, com exceção dos “pensadores” ultraliberais, de que a renda universal mínima – no caso, emergencial – é uma necessidade e uma possibilidade real. E por que não usar desse expediente para garantir a dignidade, o sustento de famílias de trabalhadores e trabalhadoras num processo de transição, para não desaparecer a possibilidade de futuro? Falamos, claro, de mineiros, de petroleiros, de trabalhadores de frigoríficos. Por que não garantir que essas famílias tenham a sua dignidade assegurada enquanto nós convertemos a indústria suja dos combustíveis fósseis em indústrias de energia limpa, enquanto os petroleiros são retreinados para deixar de lidar com venenos fósseis e passem a produzir e instalar painéis solares, para que os trabalhadores que lidam com a carnificina de 70 bilhões de animais todos os anos para dar vazão à nossa fome enlouquecida de carne possam aprender outras atividades como, por exemplo, agroeco-

logia, agricultura urbana e periurbana, garantindo a produção e circulação de alimentos saudáveis e sustentáveis? Há várias lições nesse sentido. Outra questão que nós precisamos imediatamente abordar é a reconversão e adaptação das estruturas industriais para produzir bens que não sejam bens supérfluos. Indústria de armas, por exemplo. Não vamos querer essa produção de armas. Então, vamos ter que falar que essas indústrias terão que reconverter suas estruturas para produzir outras coisas. Ao invés de produzirem revólveres, que produzam camas, leitos de UTI. Ao invés de produzirem morte, salvem vidas. Ao invés de indústrias que produzam uma multiplicidade de aparelhos eletrônicos supérfluos, sempre sujeitos à obsolescência programada e ao descarte rápido, que estejam voltadas para a produção de equipamentos como respiradores, monitores de sinais vitais e outros tantos bens essenciais, além de equipamentos duráveis. Que nós possamos falar de indústrias como a automobilística, que ao invés de continuar colocando carcaças de uma tonelada de aço nas ruas para transportar uma ou duas pessoas, possam estar voltadas à produção de bens que de fato sejam necessários, incluindo transporte público eletrificado. Que possamos falar muito diretamente que a maioria do trabalho realizado hoje na sociedade é perdulário e dispensável! Além de emitir muito menos, podemos ainda trabalhar muito menos. Por que não falar de jornadas de trabalho bem mais curtas, até por conta da produtividade do trabalho que nós temos hoje? Por que não falar de jornadas de trabalho semanais de 20 horas, fim de semana de três dias, dois períodos de férias de 45 dias no ano? Isso é perfeitamente viável, mantendo, ao mesmo tempo, todo mundo empregado e produzindo de fato os bens necessários à nossa sociedade. É fundamental que, portanto, para desarmar as bombas-relógio de novas pandemias e da crise climática e ambiental, nós não voltemos à normalidade de antes. Isso é tudo que não pode acontecer e essa disputa precisa ser travada desde já. IHU On-Line – Há mundo por vir? Que mundo?

Alexandre Araújo Costa – Todo crescimento exponencial produz crise, instabilidade e ruptura. É por isso que o contágio em progressão geométrica dentro da pandemia nos trouxe esse quadro tão alarmante. Isso vale para todas as outras crises de crescimento exponencial que estão sendo impulsionadas pela sede expansionista do modo de produção do sistema econômico vigente, seja o aumento acelerado da concentração dos gases de efeito estufa, seja a curva de extinção de espécies, sejam os demais processos de degradação ambiental. Dito isto, há, sim, um mundo por vir, cujas características estão em aberto. Certamente será um mundo com uma biosfera mais empobrecida em relação àquela que tivemos acesso durante todo o Holoceno, será um mundo com temperaturas mais altas – o quanto ainda é uma questão em aberto –, será um mundo em que nós teremos menos bens naturais à nossa disposição. O que está muito mais em aberto, no entanto, além desses aspectos objetivos, será a nossa maneira de existir neste mundo. Se, de fato, aprendemos minimamente as lições e achatamos esse conjunto de curvas exponenciais e voltamos a ser seres que cabem na biosfera à qual pertencemos ou se vamos seguir nessa rota suicida e genocida, dado que a desigualdade de nossa sociedade impõe que os impactos de qualquer pandemia sejam sempre desiguais. É isso, justamente, que está em jogo. As analogias que fizemos entre pandemia e crise climática precisam ser levadas a sério. A disputa pelo futuro é hoje.

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Colunista Henrique Luz

GOVERNANÇA: SAINDO DO “FREIO DE ARRUMAÇÃO”

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á tempos que o mundo vem tentando enfrentar os enormes desafios sociais e ambientais que se nos impõem, independentemente dos sistemas políticos e econômicos. De repente, somos instados a vivenciar algo que nenhuma organização do globo conseguiu mapear em suas matrizes de risco. Imprevisível e incomensurável, altamente devastador, atingindo mais de 4 milhões de pessoas e ceifando 300 mil vidas até este momento no mundo, o Coronavírus 19 parece também ter chegado para marcar um novo começo. Refiro-me à maneira pela qual as organizações interagem para assegurar uma convivência pacifica com o próprio planeta em que vivemos, suas fauna, flora e imensa biodiversidade de forma geral. O entendimento pleno de que a vida de todos os seres, inclusive os humanos, é altamente dependente da harmonia e do respeito que devem balizar as relações entre todos. Com isso, fica mais fácil entender os desafios que estamos enfrentando e, numa agenda positiva, o que precisamos fazer para recolocar o trem nos trilhos. Um bom sistema de governança visa a assegurar que organizações sejam dirigidas, monitoradas e incentivadas em direção ao seu propósito, por meio de uma relação eficaz entre seus agentes, sejam acionistas e investi-

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dores, diretoria executiva, conselho de administração, órgãos de fiscalização e controle ou quaisquer outros de seus demais stakeholders. A crise está mostrando que nunca foi tão importante ter esta estrutura chamada governança operando de forma harmoniosa, como se uma grande orquestra sinfônica fosse. Entretanto, os dias vão passando e observa-se que a analogia é muito mais com músicos reunidos em uma jam session. A improvisação da criatividade fértil em mãos competentes. A adaptabilidade em alta escala. A coragem de ousar elementos novos. Todas as crises têm começo, meio e fim. Sabemos que estamos em mais uma. Cruel e de proporções gigantescas, mas com sabido fim. Das primei-

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ras iniciativas de proteção dos colaboradores e seus familiares, da grande adesão das organizações àquilo que se constitui o seu próprio rol de responsabilidade social - ambas levadas a cabo com grande ênfase e efetividade – migraram para a óbvia necessidade de proteção de seus caixas. Resultado econômico contábil, quando ruim, dói. Caixa, quando inexistente, “mata”. Como se o primeiro fosse a tão propalada “gripezinha” e o segundo, o próprio COVID-19. Bem, mesmo ainda nos estágios acima, as organizações precisam migrar para a arquitetura de suas operações futuras. A visão estratégica que precisa ser desenhada à luz de tudo o que está ocorrendo. E pode-se ter certeza de que o mundo muda de forma rele-


vante após uma crise dessa proporção. E para acompanhar isso, haverá um “novo normal” emergindo, inclusive na governança. Me parece óbvio que os Conselhos de Administração serão bem mais próximos dos seus diretores executivos. A postura, durante a crise, já estabeleceu essa necessidade e mostrou que essa proximidade é positiva para as organizações. O advento das reuniões de conselho e assembleias de acionistas de maneira virtual pode mesmo definir um novo padrão nas relações corporativas e processos decisórios colegiados. Mais do que a tecnologia em si, precisaremos aprender a garantir informação, reflexão, debate simultâneo, confiança e confiabilidade nas tomadas de decisão e deliberações. No que toca ao mercado de consumo, me parece também definitivo que os consumidores mudam de forma relevante os seus hábitos. Algumas organizações estão antevendo a agilização da tendência, que já vinha em curso, de consumo mais “consciente”, transformando hábitos em relação a alimentos, vestuário e transporte, por exemplo. Na França, cada vez mais consumidores querem consumir menos. Na Suécia, aeroportos indicaram menor tráfego de passageiros no ano de 2019. As pessoas passarão a valorizar mais o consumo de alimentos saudáveis. Menos produtos de origem animal e mais vegetais. É bem provável que isso nos leve, finalmente, a um encontro da classe empresarial e de investidores com os aspectos ambientais, sociais e aqueles da própria governança, o ASG. Alguns, mais espiritualizados, entendem que essa parada já foi uma conclamação para que todos nós olhemos mais para o modo como temos tratado o próprio planeta, a sua fauna, os seus mares, a sua flora e riquezas naturais. Que assim seja. Certamente, podemos ser muito mais responsáveis com os aspectos ambientais. Da mesma forma, em um país com dezenas de milhões de miseráveis, as grandes organi-

É bem provável que isso nos leve, finalmente, a um encontro da classe empresarial e de investidores com os aspectos ambientais, sociais e aqueles da própria governança, o ASG. Alguns, mais espiritualizados, entendem que essa parada já foi uma conclamação para que todos nós olhemos mais para o modo como temos tratado o próprio planeta, a sua fauna, os seus mares, a sua flora e riquezas naturais. Que assim seja. Certamente, podemos ser muito mais responsáveis com os aspectos ambientais. ”

zações precisam de ações na dimensão da responsabilidade corporativa social, para contribuir com a amortização dessa grande divida social. Esperar que somente o governo o faça seria como aceitar conviver com enorme violência urbana, derivada de um péssimo sistema de educação básica e de hospitais sem capacidade e preparo para prover adequada assistência de saude a este segmento da população. Num outro prisma, os investidores continuarão a pressionar – provavelmente com maior veemência – para que as mulheres assumam mais e mais posições em conselhos. No Brasil, somente 9% dos assentos nos boards são ocupados por mulheres. Se extrairmos dessa base as herdeiras e donas de empresas, este percentual cai para 5% - o que é, convenhamos, extremamente baixo, seja qual for o padrão de comparação adotado; tanto em relação à quantidade de mulheres profissionais hoje em dia quanto em relação aos países da Europa ou da América do Nor-

te. Acredito, porém, que essa tendência se deve principalmente, ao fato de que um conselho formado por membros independentes e que expressem diversidade estará sempre mais apto a produzir melhor e de forma mais inteligente do que boards compostos por conselheiros com experiências parecidas, monoformação. Está mais do que claro, também, que outros aspectos não financeiros além dos já citados - como conduta ética e capacidade de inovação – impactarão, cada vez mais, os resultados e a estratégia das empresas. Se, ainda hoje, poucas empresas incorporam métricas não financeiras aos seus programas de remuneração variável, entendo que o pós-crise vai nos mostrar que muito mais empresas procurarão formas de acelerar a transformação dessa cultura. De certa forma, e em suma, me parece que as empresas se tornarão mais fiéis aos seus raisons d’ être, aos seus propósitos. Em empresas que servem a um propósito maior, em benefício da sociedade, fica mais fácil pensar na importância de sua longevidade. E é natural que surjam debates sobre qual é o bem maior de uma empresa. Nessas discussões, longevidade tem levado vantagem. Por trás dessa escolha - urge entender - existe, sim, uma equação econômica que a justifique. Parece que, pelos movimentos que temos visto de investidores em todas as partes do mundo desenvolvido, caminharemos em direção a um capitalismo mais consciente, que, espero, delimitará, de maneira mais inequívoca, a nossa nova relação com o mundo a partir deste “freio de arrumação” imposto pelo Covid 19. (*) Henrique Luz é Colunista Colaborador de Plurale, Membro independente de Conselhos de Admiistração, Conselheiro Certificado do Instituto Brasileiro de Governança Corporativa (IBGC) e Presidente de seu Conselho de Administração.

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Colunista Carlos Eduardo Frickmann Young (UFRJ)

UNIDADES DE CONSERVAÇÃO: PATRIMÔNIO EM RISCO

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anter a biodiversidade e os ecossistemas é um dos grandes desafios da atualidade, tendo em vista a grande pressão provocada por ações antrópicas, como o crescimento urbano desordenado, o desmatamento ilegal, as mudanças climáticas e diversos outros fatores. O bem-estar da sociedade depende de maneira significativa do fluxo de bens e serviços que resultam da dinâmica dos ecossistemas, os chamados serviços ambientais. As Unidades de Conservação (UCs) são os principais instrumentos de política pública para a conservação da biodiversidade e serviços ecossistêmicos associados. Entre esses serviços estão os de suporte, necessários para produzir todos os outros serviços ambientais, como a formação dos solos e os ciclos de nutrientes, a polinização e a dispersão de sementes; os serviços de provisão, que se referem a bens ou produtos extraídos dos ecossistemas, tais como água, alimento e madeira; os serviços de regulação, que são os benefícios promovidos pela regulação dos processos dos ecossistemas, como a purificação do ar, regulação do clima e desintoxicação e controle de pragas e doenças; e os serviços culturais, que se relacionam aos

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benefícios não materiais providos pelos ecossistemas, como a recreação, a educação, o valor espiritual e o valor religioso. O estudo “Quanto vale o verde: a importância econômica das unidades de conservação brasileiras”1 apresenta estimativas da importância das atividades de extrativismo, uso público, transferência de recursos através do ICMS Ecológico, reserva de carbono, proteção de recursos hídricos e erosão evitada. O valor de cada um desses serviços foi estimado na casa de bilhões de reais anuais. Por exemplo, a presença de cerca de 17 milhões de visitantes em 2016 nas UCs, com impacto total sobre a economia estimado entre R$ 2,5 e 6,1 bilhões anuais, e gerando entre 77 e 133 mil ocupações de trabalho. A atual pandemia mostra como é importante manter o equilíbrio ecológico das áreas silvestres, e que uma das consequências desastrosas do distúrbio dessas áreas é a potencial irradiação de zoonoses de grande impacto nas sociedades humanas. Por causa do uso inadequado de recursos silvestres, o novo coronavírus migrou de espécies silvestres para o ser humano, e a COVID-19 transformou-se no maior desastre econômico e social deste século. Como consequência, o isolamento social, principal forma de defesa de vidas humanas,

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Maira Luiza Spanholi (UNEMAT)


obrigou o fechamento de inúmeras atividades. Isso incluiu a visitação em UCs, paralisando quase totalmente o setor de ecoturismo e turismo de natureza. Esse problema é, contudo, temporário. O afastamento de pessoas das UCs pode, inclusive, trazer benefícios quando ocorrer a reabertura da visitação das áreas protegidas, pois a maioria das espécies animais se sente mais confortável com a redução do contato humano. Mais: o longo período em casa está gerando uma demanda reprimida das pessoas por viagens, e o turismo de natureza pode se beneficiar bastante disso. Contudo, durante a pandemia, diversas ameaças às UCs têm se agravado. Em primeiro lugar, é evidente o descaso com que as UCs estão sendo tratadas pelo setor público, especialmente o federal. Uma série de medidas administrativas no ICMBio, órgão gestor das UCs federais, reduziu o poder de ação de técnicos qualificados, cuja liderança e experiência nas ações de conservação têm sido inexplicavelmente substituídos por militares e policiais militares que nunca tinham antes trabalhado no setor. O desmatamento está aumentando, inclusive nas áreas protegidas, destruindo habitats e ameaçando espécies animais e vegetais. O desmatamento é estimulado por diversos projetos legislativos, no Congresso Nacional e Assembleias Estaduais, buscando reduzir as áreas das UCs e restringir o poder de fiscalização e controle dos órgãos ambientais. Diante da crise econômica induzida pela pandemia, há o aproveitamento político para o retrocesso ambiental, com o argumento falacioso de que conservação florestal impediria o desenvolvimento econômico – exatamente o oposto do que prova a

literatura sobre Economia do Meio Ambiente. Além disso, há campanhas contra parcerias com Organizações Não-Governamentais da área ambiental. Essas parcerias envolvem apoio operacional, conscientização das comunidades do entorno e pesquisa científica, facilitando intercâmbio de informações com instituições de todo o mundo. Portanto, além de todas as perdas humanas e econômicas que a COVID-19 está nos trazendo, estamos reduzindo ainda mais o patrimônio natural riquíssimo e único protegido pelas UCs. Entre os inúmeros efeitos negativos que isso traz para a economia e o bem-estar humano, deve-se alertar que isso traz o risco adicional de expor a sociedade a novas pandemias, por desequilibrar habitats com desmatamento e outras interferências que aproximam perigosamente seres humanos aos micro-organismos ainda desconhecidos que habitam nesses locais. (*) Carlos Eduardo Young é membro da Rede de Especialistas em Conservação da Natureza (RECN), professor titular do Instituto de Economia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), coordenador do Grupo de Economia do Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável (GEMA) da UFRJ e coordenador do estudo “Quanto Vale o Verde: a Importância Econômica das Unidades de Conservação Brasileiras” (*) Maira Luiza Spanholi é mestre em Ciências Ambientais pela Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), doutoranda pela Universidade do Estado de Mato Grosso (UNEMAT) e pesquisadora do GEMA/UFRJ.

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Especial Flávio Seixas

“OS IMPACTOS DA PANDEMIA NA SAÚDE MENTAL DO BRASILEIRO”

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agravamento contínuo da crise estrutural que estamos vivendo há alguns anos recebeu recentemente um novo ator, o vírus COVID-19. Acompanhando a propagação do vírus em escala planetária, podemos verificar que tem se intensificado questões de ordem social, sanitárias, econômicas, políticas e afetivas. Questões estas sempre presentes, mas agora com a Pandemia ganharam a grande cena, se tornando emergentes, já que podem influenciar diretamente o número de mortes pelo vírus. Os países historicamente com maior investimento em políticas públicas, principalmente na área de ciência, tecnologia, saúde, desenvolvimento social e educação, conseguem, ainda que também com dificuldades, lidar com o vírus de forma mais ágil, criando estratégias de proteção e atendimento a população, e aqueles que historicamente negligenciaram e continuam a negligenciar o investimento em políticas públicas tem agora um desafio muito maior pela frente. No Brasil, lidamos com a realidade de sermos o sétimo país mais desigual do mundo, ficando atrás apenas dos pa-

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íses africanos, segundo o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD). Ao mesmo tempo somos um dos países mais deprimidos do mundo, o topo do ranking na América Latina. De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), cerca de 12 milhões de brasileiros, ou 5,8% da população, sofrem com a doença (a média global é de 4,4%). Também de acordo com a OMS, o Brasil sofre uma epidemia de ansiedade. Segundo dados da organização, o país tem o maior número de pessoas ansiosas do mundo: 18,6 milhões de brasileiros (9,3% da população, convivem com o transtorno. Segundo a Internacional Stress Manegement Association, cerca de 32% dos trabalhadores brasileiros sofrem atualmente com efeitos do estresse associado ao trabalho. Uma das verdades inconvenientes que essa realidade nos coloca é a de que somos cegos ao sofrimento psíquico causado pela desigualdade econômica e social. Se faz necessário o alargamento de consciência em torno da saúde mental do brasileiro, já que estes são os números pré-COVID-19. De acordo com a Fundação Oswaldo Cruz (FIOCRUZ), é esperado que durante a pandemia es-

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tejamos frequentemente em estado de alerta, preocupados, confusos, estressados e com sensação de falta de controle frente às incertezas do momento. Estima-se que de um terço a metade da população exposta a uma epidemia possa vir a sofrer alguma manifestação psicopatológica, caso não seja feita nenhuma intervenção de cuidado específico para as reações e sintomas manifestados. Ou seja, quando articulamos os fenômenos crise mundial estrutural, extrema desigualdade econômica e social, população com alto índice de sofrimento psíquico, o país liderando os rankings de depressão e ansiedade e o surgimento da Pandemia com forte potencial de impacto em saúde mental, estratégias de cuidado psíquico deveriam ser adotadas. Sabendo que ainda pode estar distante a descoberta de uma vacina, assim como o interesse político para um investimento estrutural em saúde mental coletiva, trago aqui alguns cuidados breves, porém importantes, alinhados as recomendações da FIOCRUZ, OMS e PNUD para lidar com o sofrimento psíquico provocado por situações de Pandemia.


O autocuidado ■ Investir em exercícios e ações que auxiliem na redução do nível de estresse agudo, como meditação, leitura, escrita, exercícios de respiração, movimento do corpo (mesmo em casa) e atividades artísticas. ■ Buscar fontes confiáveis de informação e mesmo fazer a gestão do uso de redes sociais. O excesso do consumo de coberturas midiáticas, muitas vezes desencontradas e com viés sensacionalista, tem impacto direto no aumento da ansiedade e do estresse. ■ O uso de álcool, tabaco, medicações, excessos alimentares para lidar com as emoções tende a aumentar. Nesses casos a orientação é procurar meios de conseguir realizar uma boa gestão das emoções. ■ Devemos reconhecer e acolher receios e medos em nós mesmos, procurando pessoas de confiança para conversar, ou mesmo procurando profissionais de saúde ou serviços de acolhimento emocional, público ou privado. Agora é um momento importante para se cuidar procurando ou dando continuidade a processos de psicoterapia online. Os relacionamentos e a vida coletiva ■ Investir e estimular ações compartilhadas de cuidado, evocando a sensação de pertença social (como as ações solidárias e de cuidado familiar e comunitário, por exemplo, revezamento de idas ao mercado para pessoas que fazem parte do grupo de risco). ■ Manter ativa a rede socioafetiva, estabelecendo contato, mesmo que virtual, com familiares, amigos e colegas. ■ O momento é de distanciamento social, porém em alguns casos há intensificação dos relacionamentos. As famílias que passavam grande parte do tempo fora de casa, com a quarentena, agora convivem juntas numa frequência muito maior. Em alguns países já houve aumento dos pedidos de divórcio. Reservar um tempo para ficar atento as próprias necessidades, buscando repactuar tarefas e dedicação ao trabalho e a família é agora vital. Por outro lado, a intensificação também pode acontecer devido ao excesso de eventos online, como lives, webiná-

rios, cursos, e mesmo trabalho remoto. Deve-se buscar perceber e reconhecer o que é possível dar conta, evitando assim possíveis crises de ansiedade. Formas de lidar com o trabalho ■ Em relação ao trabalho três situações distintas podem surgir durante a Pandemia: ■ Na primeira situação, ao trabalhar remotamente pode-se perceber o aumento da jornada de trabalho, seja para lidar com a ansiedade ou mesmo porque as empresas no geral têm buscado formas emergenciais de lidar com a crise econômica intensificada pelo surgimento do COVID-19 no mundo. Neste último caso, deve-se buscar renegociar a dedicação em prol da saúde mental individual e da equipe; ■ Na segunda situação, há o fantasma do desemprego, já que os impactos econômicos diminuem recursos e consequentemente postos de trabalho; ■ No terceiro caso, há aqueles que precisam se submeter a subempregos, a um trabalho no formato da precarização ou uberização, serviços de entrega ou atendimento, e nestes casos há maior exposição ao vírus. ■ Em todas as situações, é importante reenquadrar os planos de vida de forma a seguir produzindo de forma adaptada às condições associadas a Pandemia. Um importante exercício é pensar como se fortalecer profissionalmente para um momento de retomada da economia. A certeza de que em algum momento isso vai acontecer também nos ajuda a continuar. Com isso, consideramos que a magnitude da epidemia e o grau de vulnerabilidade em que uma pessoa se encontra no momento podem desencadear problemas de ordem psicossocial. Entretanto, é importante destacar que nem todos estes problemas poderão ser qualificados como doenças. A maior parte dos casos poderão ser classificadas como reações momentâneas e naturais diante de uma situação anormal, tendo em vista que a Pandemia COVID-19 impacta os seres humanos de maneiras diferentes, visto suas características individuais. E por fim, uma das mais básicas perguntas que devemos nos fazer em

um processo de busca por saúde mental e equilíbrio é: qual a nossa parcela de responsabilidade pelo sofrimento que vivenciamos? O que podemos fazer daquilo que fizeram de nós? A vida mostra frequentemente a sua impermanência, principalmente neste momento sociopolítico delicado. É necessário percebermos o que de fato é importante para nós e o que é acessório, para além dos planos e ideais. A vida se manifesta dia a dia no real a nossa volta. Reconhecendo as contingências a que estamos expostos e o que nos entristece, nos resta buscar se compor, se aliar e se encontrar com aquilo que nos potencializa e fortalece, mesmo depois que a quarentena passar. Fontes:

Saúde Mental e Atenção Psicossocial na Pandemia COVID-19. Abril de 2020. Em www.fiocruzbrasilia.fiocruz.br Recomendações da Organização Mundial de Saúde para cuidados de saúde mental durante a Pandemia de COVID-19. Março de 2020. Em https://news.un.org/pt/ story/2020/03/1707792 Relatório de Desenvolvimento Humano do Programa de Desenvolvimento das Nações Unidas. 2019. Em http://hdr.undp.org/ sites/default/files/hdr_2019_pt.pdf Para obter ajuda em casos de emergência em saúde mental, ligue para o CVV (Centro de Valorização da Vida): 188.

Sobre o autor:

Flávio Seixas, é psicoterapeuta, facilitador organizacional e de processos de mudança pelo programa Germinar, especialização em Ciências Sociais pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Possui extensão em Psicologia Social (USP) e Psicodrama (Sedes) e Aprimoramento em Liderança pela LUMO e Instituto EcoSocial. Experiência de mais de 10 anos na gestão de projetos sociais, investimento social, mentoria e desenvolvimento de grupos e lideranças. Já desenvolveu oficinas no Brasil, Argentina, Equador, Portugal e Moçambique, e com empresas como Camargo Corrêa, Santista Têxtil, InterCement, Alpargatas, Instituto C&A, Instituto BRF e PepsiCo. Atualmente é sócio fundador da consultoria em desenvolvimento humano e social, Awá Desperta. ( e-mail: flaviocseixas@gmail. com - instagram: @flavioseixaspsi )

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Especial

O caminho das parcerias: empresas e institutos ajudam a combater o coronavírus no Brasil e a encontrar solução para a pandemia

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uitas dúvidas rondam o cenário atual e futuro. Não só em relação à pandemia em si, mas também os vários desdobramentos. Como o planeta irá se comportar dentro do que estamos chamando de “novo normal”? Neste quadro, como os consumidores irão consumir daqui para a frente? E as marcas, como deverão agir? A consultoria HSR Specialist Researchers acaba de divulgar que desenvolveu um indicador sobre o comportamento das marcas durante este período, segundo a percepção do consumidor. O indicador é calculado com base em três informações: lembrança espontânea da marca em ações voltadas para a crise da Covid-19; associação da marca aos seis atributos essenciais para construção de imagem de marca transformadora e power of voice, ou seja, o potencial de comunicação da marca considerando o número de seguidores dela nas redes sociais. Algumas marcas, que se engajaram e se expuseram mesmo durante a pandemia foram mais lembradas pelo universo de 1 mil entrevistados, como Magazine Luiza, Boticário, Nestlé e Coca-Cola. Decidimos que esta Edição Especial – diante da pandemia e da efeméride do número 70 - precisaria trazer reflexão sobre o impacto de tantas mudanças para o planeta, mas, principalmente para as pessoas e como se relacionarão com as marcas daqui para a frente. Empresas e institutos empresariais estão apoiando pesquisas essenciais através do modelo de parceria público-privada e também a hospitais públicos. Algumas chegaram a participar da construção – em tempo recorde – de hospitais de campanha para tratar os doentes contaminados. Mais do

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Ações práticas de Responsabilidade Social Corporativa mostram ser possível construir “pontes” - através de parcerias público-privadas - em várias frentes para reduzir os impactos na sociedade brasileira, especialmente para os mais vulneráveis, da maior pandemia já vista na História

que nunca, ficou claro que pessoas – e saber cuidar destas pessoas, sejam colaboradores diretos, consumidores ou não – é o centro do debate. “As marcas que se destacarem neste momento de crise e perplexidade deverão ser mais lembradas por diferentes stakeholders após a crise. Empresas que possuíam planos de comunicação robustos antes da crise já tinham uma vantagem maior em relação aos concorrentes que não estavam na mídia ou tinham uma presença mais tímida. Agora, com as ações de combate ao vírus, iniciativas de solidariedade e de cidadania empresarial ganhando interesse e mais holofotes, acredito que ganharão ainda mais espaço na lembrança e uma maior admiração por parte dos clientes, consumidores, parceiros e também dos próprios empregados e seus familiares”, avalia o consultor e Colunista de Plurale, Luiz Antônio Gaulia, diretor da Race Comunicação. A também Colunista de Plurale, a consultora de Sustentabilidade Adriana Boscov, frisa que o antigo normal não voltará a ser como antes, “porque aque-

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le modelo não era normal.” E destaca o forte impacto positivo que as empresas estão conseguindo na busca de soluções rápidas para combater a pandemia. “Inovação na linha de produção e portifólio de produtos atendendo a necessidades de vida ou morte da população. Não mais planejamentos estratégicos elaborados por meses e meses envolvendo dezenas de pessoas para se chegar a números mágicos de quanto temos que vender e cortar de despesas para auferir mais lucro. Não! Simplesmente olhando a demanda gerada por uma crise e buscando soluções de impacto positivo.” Conversamos com executivos de algumas destas grandes corporações envolvidas nestas ações e acompanhamos bons exemplos. Empresas capazes de pensar “fora da caixa”, com ações sólidas mostrando que sustentabilidade pode e deve sim ser praticada. Confira também no portal Plurale em site também temos um Especial com vários artigos, entrevistas e matérias sobre este tema.


Bradesco em rede solidária

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uem poderia imaginar que os três maiores bancos privados brasileiros – Bradesco, Itaú e Santander - pudessem se unir em torno de uma causa com foco diferente do financeiro? Pois foi o que aconteceu em plena pandemia. Bradesco, Itaú e Santander anunciaram ações conjuntas para auxiliar o poder público no enfrentamento desta que pode ser a maior crise de saúde da história do planeta. No fim de março, Bradesco, Itaú e Santander uniram esforços para ajudar as autoridades de saúde no combate à propagação do Covid-19 no País. As instituições assumiram a responsabilidade de importar 5 milhões de testes rápidos de detecção da doença, além de equipamentos médicos, como tomógrafos e respiradores, observando as orientações do Ministério da Saúde e a disponibilidade no mercado. As instituições também estão doando R$ 50 milhões para a compra de aproximadamente 15 milhões de máscaras, que estão sendo produzidas por microempreendedoras dentro de processos que garantirão o cumprimento dos protocolos de segurança e higienização. Confeccionadas em tecido, as máscaras serão doadas às Secretarias Estaduais de Saúde e também a comunidades vulneráveis. A Bradesco Seguros também participou do esforço conjunto de empresas privadas que investiram ao todo R$ 45 milhões para a construção - em tempo recorde - de hospital público de campanha para atender até 200 vítimas do coronavírus (sendo 100 de UTI e 100 de enfermaria), no Leblon, Zona Sul do Rio. “Juntos somos mais fortes. Era preciso agir e rápido”, contou em entrevista por videoconferência para Plurale, Glaucimar Peticov, Diretora-Executiva do Bradesco, responsável pelas Áreas de RH, Marketing, Ouvidoria e PMO Corporativo. As principais lideranças destes bancos puxaram o movimento. No centro, as pessoas: sem a preocupação se se-

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Glaucimar Peticov, Diretora-Executiva do Bradesco, responsável pelas Áreas de RH, Marketing, Ouvidoria e PMO Corporativo: doações do pool dos três maiores bancos privados brasileiros – Bradesco, Itaú e Santander - para a compra de aproximadamente 15 milhões de máscaras, que estão sendo produzidas por microempreendedoras dentro de processos que garantirão o cumprimento dos protocolos de segurança e higienização.

riam correntistas, clientes ou parceiros. O movimento que uniu o setor bancário privado acabou inspirando outros segmentos empresariais, que passaram. Glaucimar destaca que no caso do Bradesco, desde o nascimento da organização, sempre fez parte “a consciência cidadã”, com o nascimento da Fundação Bradesco e toda a história de ações sociais. A Diretora-Executiva lembra que foi preciso agir em várias frentes simultâneas, com a tecnologia apoiando as ações home-office: dos empregados; dos clientes (pessoas físicas e jurídicas com dificuldades momentâneas) e ainda a questão da segurança física e da saúde mental de todos. “Fomos desenhando as soluções todas ao mesmo tempo, como prorrogação de até 120 dias para empréstimos e taxas reduzidas para crédito em folha. Mas não somente isso. Nos preocupamos especialmente com as pessoas. Es-

tão no centro de nossas atenções”, frisou a executiva do Bradesco. As campanhas publicitárias espelharam este foco nas pessoas e na segurança. “Temos que garantir o lado positivo desta crise”, lembrou Glaucimar, citando o mote da campanha mais recente “Aguente firme”. Para os mais de 100 mil funcionários do Bradesco, foram criadas ações que não tão somente garantissem a segurança trabalhando nas agências – metade a cada semana, com higienização diária dos espaços físicos de atendimento – mas também o lado da saúde mental. “A situação atual é como um jogo de baralhos, no qual as cartas se embaralharam. Nada será como antes. Mas acredito que a sociedade possa voltar com bases mais solidárias e sempre com propósito”, diz Glaucimar. E espera que, neste contexto, sejam reforçadas as atitudes responsáveis e baseadas na pluralidade e diversidade.

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Claro e Instituto Claro: conectando pessoas

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ssim que a pandemia foi confirmada no Brasil, a Claro percebeu que tinha um compromisso com seu público e com milhões de brasileiros que sequer tinham acesso à internet: prover conexão com qualidade para que pessoas e empresas em isolamento social pudessem se conectar. “Fazemos parte da lista de serviços fundamentais”, lembra Daniely Gomiero, diretora de Responsabilidade Social e Comunicação da Claro e vice-presidente de Projetos do Instituto Claro, em entrevista por videoconferência para Plurale. Entre essas ações estão a liberação de sua rede de Wi-Fi disponível em locais públicos, inclusive para quem não é cliente da operadora. Para se conectar, o usuário precisa apenas aceitar a exibição dos vídeos de prevenção ao vírus disponibilizados pelo Ministério da Saúde. Já para clientes pré-pago de celular que consumirem toda a sua franquia de dados, será disponibilizado um bônus diário de 100MB para continuar navegando. A mecânica para liberar o acesso é a mesma do Wi-Fi: assistir conteúdo disponibilizado pelo Ministério da Saúde. A operadora também disponibilizou aos seus clientes, sem custo ou desconto na franquia de Internet do plano, o aplicativo Coronavírus SUS, desenvolvido pelo Ministério da Saúde. Disponível para Android e IOS, o app oferece informações de utilidade pública, dicas de prevenção e um mapa dos postos públicos de saúde mais próximos. Além disso, a Claro liberou canais de TV por assinatura para todos os clientes, sendo de entretenimento ou jornalísticos, fazendo com que a população se mantenha informada e conectada durante a quarentena. A executiva conta que era preciso também avançar em outras frentes, não

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só no negócio, mas também atuando em rede de solidariedade. As frentes do Instituto Claro são Educação e Cidadania. Já vinham conversando com a Central Única das Favelas (CUFA). Com a pandemia, a Claro e o Instituto passaram a apoiar a ação “Mães da Favela” , com foco especialmente em mulheres de favelas de diferentes estados brasileiros, muitas chefes de família e sem condições de fazer, agora, qualquer tipo de trabalho. “Este programa dá autonomia para a mulher escolher o que precisa”, destaca Daniely. A iniciativa da CUFA volta o olhar justamente a essas mulheres, chefes de família, moradoras de regiões periféricas de 17 estados e do Distrito Federal, atingidas pelos reflexos da pandemia. Desde o lançamento, em 3 de abril deste ano, a campanha ajudou milhares de famílias de cinco mil favelas com cestas básicas e vales-mães no valor de R$ 120. Mulheres como Valdeti da Silva, moradora da comunidade 1° de Abril, em João Pessoa (PB) passa por uma situação parecida. Ela e os três filhos viviam dos bicos que o marido fazia, mas que, com o isolamento social, deixaram de aparecer. “Falo por mim e por algumas pessoas, se não fosse esse valor que a gente recebeu, eu não sei o que seria. Peço a essas pessoas que estão

DIVULGAÇÃO

Especial

Daniely Gomiero, diretora de Responsabilidade Social e Comunicação da Claro e vice-presidente de Projetos do Instituto Claro

colaborando que continuem com essa luta. Não só por mim, mas por todas as pessoas que foram ajudadas.” Com poder de atuar em rede, através do programa Conexão Voluntária, o Instituto Claro e a Claro incentivam seus colaboradores e suas famílias, clientes e parceiros da organização a fazerem doações em dinheiro ao Mães da Favela. A expectativa é continuar as arrecadações e seguir beneficiando famílias que precisam. Lives solidárias de artistas famosos, como Anitta, Michel Teló e Gusttavo Lima também ajudaram a arrecadar recursos para os mais vulneráveis. Daniely Gomiero conta que também tem sido realizado um trabalho intenso com o time interno, onde foi preciso tomar decisões rapidamente. “Cuidamos da segurança dos cerca de 40 mil colaboradores, para que pudessem trabalhar de casa, em regime de home-office. Nos preocupamos também com a saúde mental, oferecendo um canal de ajuda com psicólogos e especialistas. Os tempos são outros e os cuidados precisam ser reforçados.” Ela acredita que o conjunto de todas estas ações vão reforçar a reputação da Claro, mas garante que o objetivo não foi este. “É preciso ser verdadeiro e coerente. Nós acreditamos nisso. Esperamos que o novo normal venha com mais generosidade e compaixão. ”

ARQUIVO PESSOAL

Valdeti da Silva, da comunidade 1° de Abril, em João Pessoa (PB) com o marido Luciano e os filhos Kauã, Maria Luiza e a bebê Alicia: uma das beneficiárias do “Mães da Favela”, programa da Central Única das Favelas (CUFA), com o apoio do Instituto Claro e da Claro.

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Suzano e Veracel selam parceria para construção de hospital na Bahia

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urante muitos anos, economistas, políticos e empresários se debruçaram no modelo de parceria chamado PPP – parceria-público-privado. Diante da pandemia – com um inimigo em comum, o vírus e um objetivo único, salvaguardar vidas – este modelo tem se consolidado como um sucesso, viabilizando compras de equipamentos hospitalares, artigos de primeira necessidade, ajudando em pesquisas científicas e até mesmo auxiliando na construção de hospitais públicos. É o que tem sido visto na Bahia. As empresas Suzano e Veracel – do mesmo grupo – atuaram em parceria e anunciaram a construção de um hospital para atender casos de covid-19 no município de Teixeira de Freitas, próximo de Salvador. As duas empresas lançaram um conjunto de ações que incluem a montagem de um hospital de campanha na cidade de Teixeira de Freitas, na Bahia, que contará com 20 leitos de UTI. A iniciativa inclui a doação de 20 respiradores, fixos e móveis, e toda a estrutura física que será construída contígua ao Hospital Municipal de Teixeira de Freitas. A manutenção da unidade será realizada pelo Governo do Estado. “É uma honra para a Suzano poder ser parceira do Governo em um momento como este, prezando pela saúde e bem-estar da população do extremo sul da Bahia, que será assistida - em casos suspeitos de COVID-19 - por este hospital”, reforça a Head de Relações e Gestão Legal da Suzano, Mariana Lisbôa. As empresas doaram 35 respiradores para o território baiano (27 para o Governo do Estado e 8 para a Prefeitura Municipal de Salvador), 80 mil máscaras hospitalares importadas da China e distribuirão 83 mil litros de álcool 70% glicerinado em diversos municí-

FOTOS DA ASCOM - GOVERNO DA BAHIA

Suzano e Veracel doaram 35 respiradores na Bahia (27 para o Governo do Estado e oito para a Prefeitura Municipal de Salvador), 80 mil máscaras hospitalares importadas da China e distribuirão 83 mil litros de álcool 70% glicerinado em diversos municípios do estado.

pios do estado. O produto, essencial para este momento, será direcionado aos hospitais e instituições, tais como Corpo de Bombeiros e Polícia Militar. “A Veracel está comprometida desde o início com a luta contra os efeitos da pandemia e com o apoio às comunidades da nossa região, a Costa do Descobrimento”, afirma Andreas Birmoser, CEO da companhia. Na avaliação do secretário da Saúde da Bahia, Fábio Vilas-Boas, a solidariedade do empresariado brasileiro é fundamental neste momento. “A rede de relacionamento, logística e recursos financeiros do setor privado auxilia estados e prefeituras de sobremaneira. Estes respiradores serão usados em casos graves de contaminação pelo novo coronavírus, em especial no Extremo Sul da Bahia”, afirma Vilas-Boas. Além dessas iniciativas em parceria com a Suzano, a Veracel está

implementando um conjunto integrado de ações, com diversas frentes de atividades. A companhia adotou uma série de medidas de prevenção e ajustes na rotina de trabalho, dentro do compromisso de não medir esforços para assegurar a segurança e o bem-estar de seus colaboradores. Também está organizando iniciativas coletivas de apoio às comunidades locais, em parceria com outras empresas, autoridades, universidades, movimentos populares e organizações sociais. Entre as iniciativas, a Veracel organizou uma ação conjunta com empresas parceiras para a doação de mais de 86 mil itens de saúde e higiene para as secretarias de Saúde dos municípios de Porto Seguro e Eunápolis. Os materiais doados incluem itens como máscaras descartáveis, toucas, luvas cirúrgicas, óculos de proteção e aventais.

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Especial

Coca-Cola Brasil cria fundo para comunidades de baixa renda

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Coca-Cola Brasil e o Instituto Coca-Cola Brasil criaram um fundo para beneficiar comunidades de baixa renda e catadores de resíduos com ações diretas contra o coronavírus. Os recursos vão para ONGs e instituições que, nos últimos 20 anos, são parceiras em programas de capacitação de emprego, acesso à água e reciclagem da empresa. Numa frente, o objetivo é ajudar a combater a Covid-19 em 71 comunidades de 14 estados e Distrito Federal, onde vivem 2,8 milhões de pessoas. Para os catadores, o foco é contribuir na garantia da renda mínima a cerca de 11 mil cooperados e autônomos. O modelo de parceria permite que entidades voltadas a populações vulneráveis usem seu conhecimento para cuidar de quem mais precisa. “Reconhecemos que o momento é difícil para todos e garantimos que nossas decisões são baseadas em empatia e solidariedade. Buscamos contribuir, man-

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tendo nossas operações e direcionando nossos recursos para ajudar os segmentos mais vulneráveis da população com os quais já temos um relacionamento sólido e de longos anos. A Coca-Cola Brasil sempre esteve junto das pessoas e, agora, não poderia ser diferente”, afirma Henrique Braun, presidente da Coca-Cola Brasil. Há dez anos, a Coca-Cola Brasil mantém uma rede de relacionamento ativa e próxima com organizações em comuni-

Grupo Boticário doa 20 toneladas de álcool em gel para comunidades do Rio O Grupo Boticário - que reúne as marcas O Boticário, Eudora, quem disse, berenice?, Vult, Eume, Beautybox e Beleza na Web e mantém a Fundação Grupo Boticário de Proteção à Natureza e o Instituto Grupo Boticário - intensificou a produção e o envase de álcool em gel, álcool líquido 70% e sabonetes para ajudar na prevenção da COVID-19 e aumentar o acesso a itens de higiene à população. A expectativa é doar cerca de 200 toneladas de produtos. Parte dessa doação tem endereço definido. Em parceria com a União Rio - movimento voluntário da sociedade civil do Rio de Janeiro, que reúne organizações não governamentais comprometidas com o esta-

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do – o Grupo destinará 20 toneladas de álcool em gel aos profissionais que estão na linha de frente da pandemia, bem como às pessoas em situação de vulnerabilidade social nas comunidades cariocas. Também estão sendo doadas – através do Instituto Boticário, 30 toneladas de álcool em gel para a CUFA (Central Única das Favelas), que doará em comunidades carentes de nove estados e para o Distrito Federal: Acre, Amazonas, Amapá, Ceará, Espírito Santo, Rio Grande do Norte, Rio Grande do Sul, Roraima e Santa Catarina.. “Essas doações se conectam com o nosso propósito de valorização das pessoas e estas parcerias reforçam uma das premissas que acredito vivamente - a colaboração e a co-

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dades por meio do Coletivo Jovem, programa que oferece a jovens condições de empregabilidade e de geração de renda. Com essa rede, a empresa quer ajudar a combater os efeitos da COVID-19 em 71 comunidades de 14 estados e Distrito Federal, onde vivem 2,8 milhões de pessoas. Serão priorizados os recursos para as regiões urbanas, pelo maior risco de contaminação devido à alta densidade populacional. FOTO DE DIVULGAÇÃO

operação constroem uma sociedade mais unida e fortalecida”, endossa o CEO do Grupo Boticário, Artur Grynbaum.


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McDonald’s Brasil doa refeições para profissionais de saúde e caminhoneiros Pão, hambúrguer e outros complementos não são os únicos ingredientes das cozinhas do McDonald´s no Brasil. Na pandemia, com as lojas fechadas para atendimento, mas abertas para retiradas ou para delivery, o engajamento se deu na forma de solidárias doações para profissionais de hospitais e caminhoneiros. Desde o início da pandemia provocada pelo novo coronavírus a marca, operada pela Arcos Dorados no país, aderiu à campanha global Thank you Meal, lançada nos Estados Unidos. Por aqui, a meta é chegar a 100 mil combos doados, o que equivale a um investimento de cerca de R$ 2,5 milhões de reais. O nome também foi ajustado: será o McObrigado e os proOs hotéis e restaurantes operados pelo Grupo Accor estão promovendo uma onda de solidariedade na América do Sul doando perecíveis, roupas de cama, kits de beleza que seriam utilizados para hóspedes (amenities) e móveis para colaboradores e instituições de caridade. Em alguns casos, a ajuda vai mais além. No Mercure Florianópolis Convention, por exemplo, um casal recém-chegado à capital catarinense, teve problemas com sua mudança e não encontrou lojas de móveis abertas para comprar mobiliário para a casa nova. Como o casal se hospedou antes no hotel para esperar a mudança chegar, o hotel emprestou gratuitamente móveis e acessórios como roupas de cama, TV, frigobar, mesa, entre outros. Além disso, também receberam um apoio da equipe de manutenção do hotel, por conta da eletricidade da nova casa. “Acreditamos que tempos de turbulência são uma ótima oportunidade para exercer nossos valores, acolhendo as pessoas e ajudando sempre que possível. Esse é o nosso espírito Heartist. Estamos muito felizes em ver muitos de nossos hotéis empreendendo ini-

dutos serão entregues nos hospitais e unidades de saúde numa embalagem especial. “Trata-se de uma forma de levar, além de comida, solidariedade e mensagens de encorajamento para estes profissionais que tem tido uma atuação incansável e excepcional”, explica Paulo Camargo, presidente da Divisão Brasil da Arcos Dorados. Até o dia 24 de abril tinham sido realizadas mais de 22 mil doações para profissionais de saúde de mais de 70 instituições, em 44 cidades, e caminhoneiros nas autoestradas. Todas têm sido preparadas pelos funcionários da rede, que também estão se mobilizando para colocar recados de agradecimento juntos das refeições.

Nesta nova onda de doações, a rede deve estender também a entrega de alimentos para ONGs que atuam no combate à fome.

Hotéis Accor promovem onda de solidariedade em meio à pandemia FOTO DE DIVULGAÇÃO – GRUPO ACCOR

Colaboradores do hotel ibis São Paulo Tatuapé doam alimentos perecíveis para o Centro Social Menino Jesus

ciativas solidárias no continente sul-americano”, afirma Patrick Mendes, CEO Accor América do Sul. Em São Paulo, os hotéis ibis e ibis budget São Paulo Morumbi doaram seus perecíveis para o Centro Cambuci, que atende moradores de rua. Ao todo, o hotel encaminhou para a entidade 160 kits de alimentos e bebidas, como leite, doces (delicatessen),

pão, frutas e legumes. Além disso, a operadora francesa de hotéis Accor disponibilizou uma tarifa solidária em suas unidades para parcerias com hospitais e órgãos do governo. No Brasil, por exemplo, uma das modalidades do apoio é para hospitais que precisam hospedar seus profissionais que estão na linha de frente no combate ao COVID-19 no país.

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Especial

Sesc Pantanal mobiliza campanha de doação coletiva

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falta de alimento nas mesas é uma realidade na pandemia e a mobilização para minimizá-la também. No Pantanal (MT), nos municípios de Poconé, Rosário Oeste e nos distritos de São Pedro de Joselândia (Barão de Melgaço) e Bom Jardim (Nobres), centenas de famílias estão sendo beneficiadas com a campanha de doação coletiva, que começou no dia 25 de maio. A iniciativa do Sesc Pantanal e apoiadores será realizada por meio da rede de banco de alimentos Mesa Brasil Sesc e destinada a instituições que atendem nestes municípios. A contribuição pode ser feita de qualquer lugar, sem precisar sair de casa, pelo site www.sescpantanal.com. br/doe. Nesta campanha, o Sesc Pantanal mobiliza fornecedores, parceiros, sociedade civil e todos aqueles que já visitaram as unidades para juntos,

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amenizar a fome de centenas de famílias. As doações serão exclusivamente de alimentos. Pode ser da cesta básica mais simples à mais completa. A distribuição será feita pelo Mesa Brasil Sesc que contribui, desde 1994, para mudar o cenário da fome no Brasil, transfor-

Copapa doa papéis sanitários para comunidades carentes A Copapa (Companhia Paduana de Papéis), fabricante de papéis sanitários localizada no município de Santo Antônio de Pádua (RJ), está promovendo uma série de doações e parcerias para apoiar pessoas em situação de vulnerabilidade social. A empresa está comprometida com o combate à pandemia do Covid-19 e suas consequências sociais desde o início da determinação das medidas de distanciamento social no estado do Rio de Janeiro. No município onde está localizada, foram beneficiados o Hospital Hélio Montezano de Oliveira e os asilos Nossa Sra do Carmo e Lean: receberam doações de estoques de papel higiênico,

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papel toalha e guardanapos. O asilo também recebeu cestas básicas para garantir a alimentação dos moradores. Fernando Pinheiro, diretor-presidente da Copapa, destacou que a empresa firmou parceria com a Fiocruz, que coordena iniciativas de apoio humanitário ao conjunto de favelas de Manguinhos e Maré. Assim, garantiu o abastecimento de papéis sanitários para 6 mil famílias que vivem abaixo da linha da pobreza, durante três meses. Também foram realizadas lives solidárias, transmitidas pelas mídias sociais. O projeto “Música que acolhe” apoiou vários artistas locais e foi liderada pelos cantores Junior&Gustavo e Mauro Teixeira e contabilizou uma audiência de

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mando a vida de crianças, jovens, adultos e idosos. “Boa parte da renda dessas regiões vem do turismo ou de trabalhos informais e hoje, nesse momento de pandemia, elas precisam de ajuda. Se você ou um grupo de amigos pode contribuir, doe uma cesta básica e ajude uma família a sorrir”, convoca a superintendente do Sesc Pantanal, Christiane Caetano. De acordo com a superintendente, a iniciativa faz a conexão, já consolidada pela instituição, entre natureza e ser humano num novo formato. “A fome é real e ajudar é uma oportunidade de praticar a solidariedade. Além de poder dar esse auxílio para as famílias, as pessoas estarão contribuindo com o pequeno comércio de Poconé, numa rede do bem. Nossa missão é contribuir para a conservação do meio ambiente e também para o bem-estar das pessoas. Afinal, tudo está conectado”, diz. cerca de 70 mil pessoas. Além das 4 toneladas e meia de alimentos doada pela própria empresa, a live arrecadou mais 6 toneladas, além de 1300 máscaras, 1500 luvas de proteção, 1000 kits de higiene bucal, 75 unidades de álcool em gel e 75 unidades de materiais de limpeza. A mobilização também arrecadou cerca de R$ 10 mil em dinheiro, que foram destinados à classe artística do município. FOTO DE DIVULGAÇÃO


A força do coletivo: ONGs e voluntários são decisivos para reduzir a fome e as desigualdades FOTOS DE DIVULGAÇÃO

O chamado Terceiro Setor – ONGs, Oscips, Institutos e a sociedade civil organizada – tem sido decisivo para fazer chegar na ponta, para quem mais precisa, as doações e ajuda neste período de isolamento social e quarentena da pandemia. Sem falar na rede do bem, voluntários que se engajaram na causa e estão procurando amenizar a fome e o sofrimento dos mais vulneráveis. Como milhões destes necessitados estão em comunidades ou áreas de difícil acesso, esta ponte entre os doadores e beneficiários tem sido determinante. É a tão sonhada rede funcionando como nunca. Vários movimentos tem se mobilizado e conseguido excelentes resultados. Como a Central Únicas das Favelas (Cufa), com foco nas mães de favela, que conta com o apoio do Instituto Claro, Instituto Unibanco, Supergasbrás e outros e o #coronanoparedao , do Instituto Gerando Falcões, com patrocinadores de peso como Jorge Paulo Lemann, controlador das Lojas Americanas e Ambev e Satya Nadella, CEO da Microsoft. Projeto sem fome – Também voluntários pessoas físicas estão arregaçando as mangas e se engajando na causa da redução das desigualdades. Como o gestor financeiro André Simões, morador de Copacabana, que foi muito impactado com as necessidades urgentes de homens, mulheres e crianças em situação de rua no Centro do Rio. Com lojas, firmas, escritórios, restaurantes e bares fechados, o outrora movimentado “coração” do Rio mais parecia uma cidade fantasma. Ao chegar ao trabalho todos os dias, André ficava impressionado com a grande quantidade de pessoas que pediam qualquer ajuda. Comprou sozinho algumas quentinhas e depois foi em uma das poucas padarias abertas para levar todos os pães disponíveis para doar. Ele é sobrinho e afilhado do Alto Comissário da

André Simões, do Projeto Sem Fome (no alto), entrega quentinha para morador em situação de rua no Centro do Rio. O catador João (à dir) foi um dos beneficiados por doações coordenadas por Fernanda Cubiaco, do Botapragirar

ONU, Sérgio Vieira de Mello, carioca morto em atentado em Bagdá (Iraque) em 2003, que entrou para a História por missões humanitárias em lugares devastados por guerras. “Acho que foi um chamado do Sérgio. Era preciso fazer algo e urgente. Não dava para ir em frente e esquecer estas pessoas. Alguns nem conseguem se levantar de tanta fome”, contou à Plurale. Mandou as fotos para amigos e em poucos dias já tinha um verdadeiro “exército” de voluntários . A rede Spoleto ficou sabendo sobre o destino da compra das quentinhas de massas e doou o suficiente para 1 mil marmitas. A La Carioca Cevicheria entrou com o foodtruck , um amigo doou freezers e galpão e muitos braços e mãos se uniram para preparar as massas quentinhas para serem doadas. Ge Buffara, do Instituto Bees of Love, entrou com disposição para somar e chamou suas

amigas para fazer a diferença na rede de solidariedade. Plurale é voluntária na divulgação. Desde então, a teia do bem só cresce: Doar Fashion mobilizou para doação de roupas e cobertas, houve doação de frutas, bolos e também material de limpeza. Cestas básicas para Catadores – A ativista e jornalista Fernanda Cubiaco, do BotapraGirar, também tem sido incansável para tentar diminuir as dificuldades que catadores de material reciclável estão passando. Engajada há anos na causa ambiental, ela tem atuado na capacitação e fortalecimento de cooperativas de reciclagem. “Durante a pandemia os catadores não puderem ir à rua e foi muito reduzida a coleta sem os restaurantes e outros pontos”, explicou. Se organizou em rede e passou a fazer vaquinha entre amigos para ajudar aos poucos algumas das Cooperativas mais necessitadas do Rio.

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Especial

China pede diplomacia e cooperação com Ocidente Por Hélio Rocha, de Plurale (*) Fotos Governo da República Popular da China/ Divulgação e Governo dos Estados Unidos da América

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pandemia da Covid-19, que inicialmente se mostrava um problema chinês, toma proporções internacionais imensuráveis, multiplicando-se o número de contaminados em questão de dois meses e meio. Se a marca de aproximadamente 3500 pessoas atingida pela China quando se iniciaram os casos na Europa parecia inatingível, visto o Ocidente estar distante do epicentro da doença e o controle da entrada e saída de cidadãos chineses parecer solução viável, no início de maio só os Estados Unidos já contavam mais de 10 vezes o número de óbitos chineses, em torno de 4600. Desde então, o debate ocidental sobre o começo da doença e os procedimentos adotados pela China ao tomar conhecimento dela têm se tornado cada vez maiores. Se, por um lado, é descartada a possibilidade de que a origem do novo coronavírus seja laboratorial, restando mais provável a hipótese de que se trate de um problema de ingestão de carne contaminada de animais exóticos e sem cuidados sanitários, conforme já previa relatório de 2007 da American Society of Microbiology sobre a Síndrome da Insuficiência Respiratória Aguda (SARS) de 2002, por outro a potência oriental é questionada quanto à sua suposta negligência em assumir o surto de Wuhan. Os principais vocalizadores dessa suspeita são os Estados Unidos, sobretudo na figura de seu presidente, Donald Trump, e de senadores e agentes de Estado. No final de março o sena-

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Potência oriental rechaça insinuações de negligência e ocultação de dados e oferece colaboração sanitária e econômica

dor republicano Josh Hawley e a líder do Conselho de Representantes Republicano, Elise Stefanik, apresentaram moção ao Congresso americano para iniciarem-se investigações sobre a suposta ocultação do então surto de síndrome respiratória, existente desde meados do mês de dezembro. No início de maio, o secretário de Estado americano, Mike Pompeo, disse ter evidências abundantes de que a origem do vírus seria um laboratório de pesquisa em Wuhan. “A China é conhecida por sua propensão a infectar o mundo e a utilizar laboratórios que não respeitam as normas. Esta não é a primeira vez que o mundo é ameaçado por um vírus proveniente de um laboratório”, disse o representante dos Estados Unidos, sem apresentar provas. Tais suspeitas vão de encontro à defesa feita pelo porta-voz de Governo da República Popular da China, Geng Shuang, que enfatizou em nota oficial

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que “a China sempre adotou as medidas mais rigorosas e abrangentes para prevenir e controlar a epidemia” e que “os países que estão criticando a China no momento já elogiaram sua luta no controle da epidemia”. O reconhecimento oficial pelo Governo chinês se deu em 18 de janeiro, quando iniciaram-se as operações para conter o avanço da doença. O próprio Estado chinês admitiu que tinha conhecimento de que era algo grave desde 7 de janeiro, mas, ainda sim, nesse intervalo até dia 18 Wuhan chegou a realizar evento público para 40 mil pessoas. Entretanto, é fato que o Governo chinês, até o momento, foi aquele que melhor combateu a pandemia, com construção de hospital em tempo recorde, imposição de isolamento social com quase total adesão, fechamento de limites regionais internos e interrupção dos meios de transporte, algo desafiador e, até o momento, somente


O porta-voz de Governo da República Popular da China, Geng Shuang, que enfatizou em nota oficial que “a China sempre adotou as medidas mais rigorosas e abrangentes para prevenir e controlar a epidemia.”

O secretário de Estado americano, Mike Pompeo, disse, em maio, “ter evidências abundantes de que a origem do vírus seria um laboratório de pesquisa em Wuhan.”

praticado no Ocidente em casos extremos como o de Itália e Espanha. No mesmo tom está Tan Xiaodong, cientista da Faculdade de Ciências da Saúde da Universidade de Wuhan. “O bloqueio de Wuhan, uma megacidade com mais de 10 milhões de pessoas, mostrou a grande importância que o país atribuiu à prevenção e controle da doença e sua determinação no combate à epidemia. Ao todo, por exemplo, foram mobilizados mais de 40 mil profissionais da saúde de todo o país, para se reunirem aos cerca de 60 mil profissionais locais no enfrentamento à doença”, afirma o acadêmico ao Diário do Povo, jornal oficial do Partido Comunista Chinês. O porta-voz do Ministério da Defesa Nacional, Wu Qian, afirmou à agência estatal Xinhua que a China “tem agido de forma aberta, transparente e responsável na batalha contra a surto, compartilhando as informações com a comunidade global e tendo iniciado a cooperação internacional desde o princípio da pandemia”. Ainda declarou que “é extremamente egoísta e irresponsável que alguns políticos dos Estados Unidos fujam de suas responsabilidades e mudem a culpa. A China nunca assumirá a culpa por eles”, aparentemente referindo-se à negligência de Donald Trump em aceitar a gravidade da Covid-19 e do poder de contágio do novo coronavírus, em situação simi-

lar àquela em que se baseia a acusação ao Governo chinês. Presidente segue em discrição Como de hábito, enquanto agentes de Estado chineses tomam frente no combate às acusações de negligência e ocultação de informações no país, o presidente Xi Jinping atua discreta e pragmaticamente para, ao mesmo tempo, manter debelado o surto interno e controladas a economia e as relações externas. Mesmo ante o fogo cruzado de acusações e estigmas, tendo Trump chegado a cognominar o novo coronavírus como “chinese virus”, ou “vírus chinês”, Xi fez contato com o presidente americano num segundo momento, para tratar da colaboração no combate à pandemia, em primeiro lugar, e em segundo plano buscar a manutenção das parcerias econômicas e apaziguamento dos ânimos diplomáticos, aplainando o terreno para após a pandemia. Neste mesmo cenário, em que a China se prepara para exercer protagonismo econômico mundial, por ter sido a economia menos afetada e que primeiro controlou o surto, Xi Jinping também falou com o Presidente da República, Jair Bolsonaro (sem partido), tratando dos mesmos temas. O fato se deu após saia justa causada por declarações conspiratórias do filho do presidente, Eduardo Bolsonaro (sem partido-SP), do ministro das Relações

Exteriores, Ernesto Araújo, e do ministro da Educação, Benjamin Weintraub. As conversas foram confirmadas pelos Governos de China, Estados Unidos e Brasil, mas não houve detalhamentos. Na imprensa oficial, fala Mourão Apesar dos laços diplomáticos estarem mantidos e de as aparências indicarem bandeira branca entre o Grande Salão do Povo e o Palácio do Planalto, a voz ouvida pelos chineses é a do vice-presidente Hamilton Mourão (PRTB). Mourão comparou as relações bilaterais sino-brasileiras a um “casamento inevitável”, dadas as circunstâncias econômicas, prescindindo as eventuais diferenças ideológicas. A afirmação se deu em entrevista ao canal do banco Itaú na rede social YouTube. Contudo, a metáfora não soou bem entre os especialistas chineses, que esperavam adesão maior aos propósitos sanitários e econômicos do país. O pesquisador do Instituto Latino-Americano da Academia Chinesa de Ciências Sociais, Zhou Zhiwei, comentou no Diário do Povo que “talvez essa epidemia seja um teste importante das relações sino-brasileiras, mas escolho ter expectativas mais positivas e que se assemelham com a fala do vice-presidente Mourão: como um casamento inevitável, a melhor maneira para mentê-lo depende de haver o amor recíproco e o zelo”.

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Especial

Pandemia deixa um legado importante:

CIÊNCIA NA BOCA DO POVO Por Nícia Ribas, de Plurale Do Rio

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avalanche de notícias e bate papos virtuais sobre causas, efeitos e busca de resultados positivos no combate ao Covid-19 aguçou o interesse dos brasileiros pela ciência e sua importância. De agora em diante, espera-se, as novidades e os avanços científicos do Brasil e do mundo disputarão espaço nas mentes brasileiras com temas corriqueiros como política, futebol, novelas, etc... Em recente encontro virtual sobre a pandemia promovido pelo Instituto Serapilheira, o secretário Marcelo Morales, do Ministério de Ciências, Tecnologia, Inovação e Comunicações, afirmou: “Nunca se falou tanto em ciência como agora, o que é muito bom porque a ciência tem que fazer parte da linguagem popular; a comunidade científica brasileira é robusta, dá resposta imediata, veja o caso do óleo no mar. No mundo pós pandemia, os países terão que investir mais em ciência e tecnologia. Os financiamentos públicos deverão se manter em patamares elevados.” Pelo visto viveremos a era da popularização da ciência. Um tremendo ganho para todos. No mesmo encontro, Luiz Mello, da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP), disse que a crise revelou a solidariedade da sociedade - exemplificou com as fábricas de bebidas que produziram álcool gel – e a baixa valorização da ciência em tempos normais: “Nessa pandemia estamos colhendo os frutos dos investimentos público e privado no setor: A ciência é demorada, precisa de aportes constantes, pois desenvolver uma vaci-

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na, por exemplo, é um processo científico rigoroso.” Para ele, o investimento em pesquisas científicas deverá ser constante e primordial. Novos patamares Na corrida dos cientistas por resultados no combate ao vírus, surgiram soluções que servirão também para outras doenças e representam um avanço nas ciências brasileiras. Um exemplo é a técnica chamada de transferência passiva de imunidade, também testada na China, França, Itália e Estados Unidos. No Hemocentro de Ribeirão Preto, 45 pacientes receberam plasma sanguíneo com os anticorpos que combatem o novo coronavírus. A transfusão de anticorpos produzidos por pacientes curados da COVID-19 pode se tornar um tratamento para casos moderados e graves da doença. “Vamos verificar se a transferência de anticorpos é segura e se auxilia na neutralização do vírus e, portanto, na recuperação da doença”, diz Rodrigo Calado, coordenador do estudo e um dos pesquisadores principais do Centro de Terapia Celular da USP, em Ribeirão Preto, um centro de pesquisa apoiado pela FAPESP. Outra iniciativa que veio para ficar foi a Brigada Emergencial da Saúde, um comitê científico que reúne o neurocientista Miguel Nicolelis e nove estados nordestinos. Eles formaram um verdadeiro exército com até 15 mil médicos de família, profissionais que aguardavam validação do diploma porque são formados em outros países. A estratégia de ataque inicia com o formulário Monitora Covid para ser preenchido com os sintomas e determinar grupos de pacientes doentes. “Em seguida, alocamos médicos e insumos para os focos do vírus, achatamos a

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curva nas sub-regiões e ganhamos essa batalha”, entusiasma-se Nicolelis. O professor Saulo Güths, do Departamento de Engenharia Mecânica da Universidade de Santa Catarina - UFSC desenvolveu um protótipo de um ventilador pulmonar alternativo, com peças nacionais ou acessíveis no Brasil. Brasil afora, trabalhos em profusão. No Departamento de Engenharia Mecânica da Universidade de Santa Catarina - UFSC, o professor Saulo Güths desenvolveu um protótipo de um ventilador pulmonar alternativo, com peças nacionais ou acessíveis no Brasil, fácil de fabricar e que atende às necessidades médicas. Dos projetos desenvolvidos por mais de 100 pesquisadores, além dos respiradores, destaca-se o que automatiza balões de reanimação a partir de um conceito simples, utilizando componentes hospitalares bem conhecidos pelo mercado. Já no Rio de Janeiro, o Laboratório de Virologia Molecular (LVM) da UFRJ sob a coordenação do professor Amilcar Tanure, com recursos da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro – FAPERJ, desenvolveu vários projetos. Um deles foi o estudo de avaliação do teste rápido. Outro, considerado importantíssimo pelo professor, foi um estudo da varia-


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Um diagnóstico bilidade genética do vírus. Em parceria com outros pesquisadores do estado, o LVM sequenciou 19 genes do vírus no Brasil inteiro, incluindo vários do Rio que foram diagnosticados no laboratório. “Você começa a abrir espaço para outras coisas. Nós conseguimos isolar vírus do Rio e isso pode ajudar a gente em pesquisas de drogas e outras coisas”, diz Tanure. Com recursos da Faperj, pesquisas vêm sendo feitas pelo LVM da UFRJ e pelo Instituto Alberto Luiz Coimbra de Pós-Graduação e Pesquisa de Engenharia (Coppe), outra unidade da UFRJ, com o objetivo de desenvolver um teste brasileiro de sorologia para que o país não precise mais importar. “Começamos a fazer testes de mapeamento molecular e, obviamente, quando a gente começa a fazer um diagnóstico do coronavírus, abre espaço também para fazer as pesquisas científicas, como, por exemplo, saber a história natural da doença no Brasil, como ela se apresenta”, completa o virologista molecular. Mais um ganho para a ciência brasileira. Na Unicamp, uma das frentes de trabalho na luta contra a pandemia foi a que garantiu a manutenção e produção de equipamentos. Uma força-tarefa com 45 professores e pesquisadores, mais 500 voluntários, passou a consertar e produzir equipamentos como aparelhos respiradores por meio de impressão 3D. Além de reparar os equipamentos, usados em Unidades de Terapia Intensiva (UTI) para os casos graves da doença, eles também passaram a fabricar peças de reposição para as máquinas voltarem a funcionar. E descobriram novas técnicas de trabalho, já incorporadas ao seu cotidiano. Enchendo o baú de bens deixado pela crise. Para o teólogo Leonardo Boff, “de-

pois do coranavirus não é mais possível levar avante o projeto do capitalismo como modo de produção, nem do neoliberalismo como sua expressão política. O capitalismo é somente bom para os ricos; para os demais é um purgatório ou um inferno e para a natureza, uma guerra sem tréguas”. E explica em artigo: “Já que o vírus ameaçador provém da natureza, o isolamento social nos deu oportunidade de nos questionarmos sobre qual deve ser nossa relação com a natureza. Não são suficientes a medicina e a técnica, por mais necessárias, pois sua função é atacar o vírus até exterminá-lo. Mas se continuarmos a agredir a Terra viva, “nosso lar com uma comunidade de vida única”, como diz a Carta da Terra (Preâmbulo), ela contra-atacará de novo com pandemias mais letais, até uma que nos exterminará. Já o economista de Bangladesh, Muhammad Yunus, em artigo publicado por La Repubblica, em abril último, diz: “A extensão dos desastres causados pela pandemia de coronavírus no mundo foi devastadora. Apesar disso, e apesar dos enormes danos, estamos enfrentando uma oportunidade sem precedentes. Inútil dizer que, antes do coronavírus, o mundo não estava indo bem. Estávamos literalmente contando os dias até o planeta inteiro se tornar inabitável devido à catástrofe climática. Falávamos sobre a gravidade da ameaça de desemprego em massa causada pela inteligência artificial e como a concentração de riqueza nas mãos de poucos estava atingindo um nível explosivo”. No mundo pós pandemia, a ciência precisa ser vista como algo que fique acima das correntes ideológicas. Isso é fundamental para evitar problemas vividos durante a terrível crise da saúde humana neste ano de 2020.

O médico Luiz Gallotti Póvoa, com a vasta experiência adquirida dentro do laboratório do pai Helion Póvoa Filho, espanta-se com o gigantesco número de artigos e pesquisas publicados sobre o novo coronavírus em pouquíssimo tempo. Sem conseguir dar conta de ler tudo, ele revela à Plurale que no meio médico que frequenta, muitos, foram contaminados pelo Covid, declarando, em pleno pico da pandemia: “Não é a medicina que está de joelhos, é a ciência. Temos que ter a humildade de admitir que se trata de uma situação que desconhecemos, temos que sentar juntos e buscar soluções.” Ele diz que não há testes suficientes nem mesmo para os mais expostos (Ex.: profissionais de saúde), quanto mais para o povo em geral. “Além disso, os testes existentes são de sorologia, testes rápidos, pouco confiáveis, não se sabe a qualidade”. Em relação à imunidade de rebanho – contaminar bastante pessoas para conter o alastramento -, diz: “Isso não se faz com vírus selvagem como este, devido ao risco grande”. Quanto ao uso da cloroquina, trata-se de um medicamento de livre acesso, utilizado há muito tempo, que deve ser visto como mais uma possível alternativa a ser experimentada de forma isolada ou em combinação a algumas dezenas de outras que estão sendo aplicadas em pesquisas sérias. Definitivamente não se trata de uma “poção mágica”, nem muito menos seu uso deve ser explorado politicamente. Estupefato com a postura do atual presidente da República frente à crise de saúde, lamenta: “Pobre povo brasileiro, é desesperador!”

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Especial

Garimpeiros, grileiros e madeireiros não fazem quarentena e avançam sobre a floresta e povos indígenas Por João Vitor Santos, da IHU On-Line Fotos de Guilherme Cavalli e do Conselho Indigenista Missionário (CIMI)

Entrevista especial da IHU On-Line com Dom Roque Paloschi, Arcebispo de Porto Velho (Rondônia)

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nquanto o mundo se recolhe e segue as recomendações dos órgãos de saúde para manter o distanciamento social como forma de conter o avanço do novo coronavírus, a quarentena parece não ter o mesmo efeito sobre quem pratica ações ilegais na região amazônica. “Ao contrário, aproveitam a falta de fiscalização e de gestão política e administrativa no país para continuar com as ações ilícitas nas terras indígenas”, denuncia o arcebispo de Porto Velho, Dom Roque Paloschi, em entrevista concedida por e-mail à IHU On-Line. Mas o religioso lembra que não é só a quarentena que faz crescer os ataques a povos indígenas, havendo um agravante ainda maior: “os contínuos discursos do governo do Brasil em incentivar as invasões, com sua retórica desenvolvimentista”. “Outra grande preocupação são os projetos de emenda constitucional e projetos de lei, como o PL 191/20, que regulamenta a exploração de recursos minerais, hídricos e orgânicos em reservas indígenas”, acrescenta Paloschi. A equação é sempre desfavorável aos povos originários. Além dos objetivos ataques a reservas e aldeias, com requintes de violência e crueldade, esses garimpeiros, grileiros e madeireiros que avançam sobre a floresta são os principais vetores que levam a covid-19 para os povoados. Situação que se agrava ainda mais diante dos desmontes que os setores de atenção à saúde indígena vêm sofrendo. “Há uma situação de desmonte e descontinuidade da política da saú-

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de indígena, e isso já vem de um tempo atrás. A saúde indígena é um subsistema do SUS, o que provoca um esvaziamento das unidades gestoras e o enfraquecimento dos distritos sanitários”, explica o religioso. Paloschi reconhece que a situação da covid-19 e as disputas políticas que se criaram em torno da pandemia são um desafio para todos os setores. Mas lembra que, no caso dos indígenas, que já vinham sofrendo, a questão é ainda mais desesperadora. Ainda assim, defende que não se perca a esperança. Aliás, supõe que do próprio modo de vida indígena podem vir respostas para que concebamos resistências e um novo horizonte. “Uma liderança indígena daqui de Rondônia, diante das tantas ameaças e retiradas de direitos, levantou a voz e disse: ‘são 520 anos de resistência, não é

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esse presidente que vai meter medo na gente’. Eles continuarão lutando contra toda ameaça a sua integridade física, cultural e territorial”, reflete. Dom Roque Paloschi é gaúcho da cidade de Lajeado, arcebispo de Porto Velho, Rondônia, desde 2015, e presidente do Conselho Indigenista Missionário (Cimi). É formado em Filosofia pela Universidade Católica de Pelotas, no Rio Grande do Sul, e em Teologia pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, e desde 2005 vem atuando no episcopado da região Norte do país, quando acompanhou de perto a demarcação da terra indígena Raposa Serra do Sol. Confira os principais trechos da entrevista. IHU On-Line – Como o senhor define a atual situação de povos indígenas da região amazônica, ainda agravada pela pandemia do novo coronavírus? Dom Roque Paloschi – Os povos indígenas são vulneráveis às doenças imunes e respiratórias. Considerando as condições de contato forçado com a sociedade envolvente, com as inúmeras políticas de incorporação dos povos indígenas à “sociedade brasileira”, em todos os casos, o resultado foi desastroso. Inúmeros povos foram completamente dizimados. No momento que se vive atualmente, com a pandemia, os povos indígenas têm ameaçada a sua integridade física, cultural e territorial. A falta de proteção dos territórios e a permanente fiscalização favorecem a invasão por grupos inescrupulosos, podendo levar o con-


tágio pelo coronavírus às comunidades e povos indígenas na Amazônia e em todo o Brasil. A saúde indígena é ligada ao Sistema Único de Saúde - SUS e o atendimento específico e diferenciado é apenas para a assistência básica. Atendimentos de média e alta complexidade estão inteiramente ligados ao SUS, que se encontra fragilizado e em alguns estados do Brasil já está colapsado com as demandas de outras doenças, a exemplo da dengue e da malária, que acometem a população na Amazônia e em todo o país. A situação de vulnerabilidade dos povos indígenas se agrava quando se fala de uma pandemia tão letal como a da covid-19. IHU On-Line – Que informações tem sobre a morte de indígenas por covid-19 no Amazonas e de um jovem Yanomami de 15 anos que morreu em Roraima, e como esse caso pode servir para evidenciar a atual situação? Dom Roque Paloschi – A informação que temos é que o jovem era natural da aldeia Rehebe, localizada na Terra Indígena Yanomami, mas passou a residir na Terra Indígena Boqueirão, dos povos Macuxi e Wapichana, no município de Alto Alegre, a 87 quilômetros de Boa Vista. O motivo da mudança foi dar continuidade aos estudos. Ao apresentar os primeiros sintomas da covid-19, o jovem foi atendido no Hospital Municipal de Alto Alegre. Posteriormente, acabou sendo encaminhado ao hospital geral, já com um quadro de Síndrome Respiratória Aguda Grave - SRAG. Ele refez o teste para diagnóstico de coronavírus e somente a contraprova detectou a infecção. Em diversos povos, infelizmente, já há registro de contágio por covid-19. O Conselho Indigenista Missionário - Cimi tem denunciado a subnotificação de casos da covid-19 entre os índios. E alertam que ao menos outros dois indígenas contaminados pelo novo coro-

navírus já foram a óbito e que o Governo não registrou as ocorrências no balanço. IHU On-Line – Quais são as maiores ameaças aos povos indígenas e quais os desafios para a proteção desses povos diante desse cenário? Considerando seus modos de vida, que medidas poderiam ser adotadas? Dom Roque Paloschi – A principal preocupação e ameaças com relação aos povos indígenas é que garimpeiros, grileiros, madeireiros e invasores em geral, não fazem a quarentena. Ao contrário, aproveitam a falta de fiscalização e de gestão política e administrativa no país para continuar com as ações ilícitas nas terras indígenas, com um agravante maior, os contínuos discursos do governo do Brasil em incentivar as invasões, com sua retórica desenvolvimentista. Outra grande preocupação são os projetos de emenda constitucional e projetos de lei, como o PL 191/20, que regulamenta a exploração de recursos minerais, hídricos e orgânicos em reservas indígenas. Os povos indígenas vivem uma situação de total violência e violações de direitos pela ausência do Estado brasileiro e sua ineficácia em coibir os atos ilícitos de invasões e desconstituição dos artigos 231 e 232 da Constituição Federal. Isso tudo coloca em risco a integridade física, cultural e territórios dos povos e, consequentemente, compromete diretamente o modo próprio de vida dos povos indígenas. IHU On-Line – Qual a sua avaliação quanto à reposta do atual governo federal aos povos indígenas diante da ameaça da covid-19? Dom Roque Paloschi – A exemplo do que ocorre no Brasil como um todo, em relação às respostas e às políticas adotadas pelo governo federal, vemos um desgoverno e a falta de ações eficazes

no combate à covid-19. Com os povos indígenas, a situação é mais grave. Há uma situação de desmonte e descontinuidade da política da saúde indígena, e isso já vem de um tempo atrás. A saúde indígena é um subsistema do SUS, o que provoca um esvaziamento das unidades gestoras e o enfraquecimento dos distritos sanitários. Com uma situação de pandemia causada pela covid-19, essas unidades ficam mais fragilizadas pela falta gestão e de recursos humanos e financeiros para atender a grandes demandas dos povos indígenas. IHU On-Line – Nessa pandemia do novo coronavírus, governadores e prefeitos têm se destacado positivamente pelas ações que têm tomado, tentando frear o avanço da doença e o colapso do sistema de saúde. Mas como o senhor observa a ação de prefeitos e governadores na proteção aos povos indígenas? Dom Roque Paloschi – Estados e municípios, em relação à covid-19, têm tomado ações para frear o avanço da doença, mas não tem sido suficiente. O que vemos na Amazônia como um todo é a falta de atenção de média e alta complexidade. O que havia antes já não dava conta da grande demanda. Falo isso a partir do que observo no estado e município onde vivo. A situação do sistema de saúde já era grave antes desta pandemia. O que vivemos agora chega à beira do colapso das unidades de saúde, seja ela de atenção básica, média ou alta complexidade. Como pensar a situação dos povos indígenas se a saúde indígena é um subsistema do SUS? Vemos com preocupação a ameaça que hoje paira sobre os povos indígenas, pois os estados e municípios pouco se empenharam em atender as demandas dos povos, relegando este atendimento à esfera federal. Muitos indígenas se queixam de não serem atendidos na rede pública, sobretudo os povos que vivem em contexto urbano. (*) Leia a entrevista completa em Plurale em site

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Especial

CULTURA E PANDEMIA:

o ano em que vivemos em perigo Por Maurette Brandt, Especial para Plurale Fotos de Divulgação

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alvez seja uma boa hora para rever o filme O poder vai dançar (Cradle will rock, 1999), de Tim Robbins. A analogia com o tempo de agora é inevitável; os EUA entram na década de 1930 sob os efeitos da Grande Depressão e um programa de teatro popular, mantido por um projeto de garantia de emprego do governo, sofre censura e perseguição, afetando diretamente os vulneráveis e entusiásticos artistas. O mundo de 2020 não imaginava que enfrentaria uma pandemia. Lockdown, cidades-fantasma, muita gente resguardada em casa... tudo isso já virou cena comum nos telejornais. É um mundo diferente que não se sabe ao certo para onde vai. Uma coisa, porém, é líquida e certa: a indústria cultural e seus artistas vivem momentos de grande incerteza. O setor, que movimenta bilhões todos os anos, está li-

teralmente parado, em escala mundial. No Brasil, que vem vivendo um desmonte progressivo de suas políticas culturais nos últimos meses, a crise é mais aguda. Sem mecanismos públicos de suporte, a classe artística como um todo e as empresas de produção cultural estão vendo as dificuldades se multiplicarem, como num roteiro de cinema-catástrofe. Na mesma cadeia, uma legião de pessoas que dependem diretamente da economia da cultura se vêem diante do fantasma do desamparo e, em muitos casos, da fome. Muitos países, em meio à crise do coronavírus, dão exemplo e protegem a classe artística dos efeitos da pandemia. Na Alemanha, a Chanceler Angela Merkel endossou a Ministra da Cultura, Monika Grütters, ao anunciar um apoio de 50 bilhões de euros para pequenas empresas e profissionais freelancers, destinado a fortalecer os setores cultural, criativo e de mídia. O financiamento é do Kreditanstalt für Wiederaufbau, banco de desenvolvimento estatal. Segundo o Atlas Econômico da

Metropolitan (NY): Uma ópera por dia para assistir de graça no site, durante a pandemia

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Cultura Brasileira, os recursos gerados pela indústria cultural brasileira respondiam, em dados de 2017, por 2,64% do PIB nacional. Não resta, portanto, qualquer dúvida quanto à relevância do setor na economia. A virada das lives: Tempo de resistir Uma nova forma de intimidade entre artista e público está se espalhando pelas redes: são as lives, transmitidas ao vivo e acompanhadas por milhares de pessoas em suas casas. Para muitos artistas de grande projeção, essas lives se tornaram um filão para arrecadação de recursos por meio de patrocínio e também para campanhas beneficentes, que vêm amealhando doações de alimentos e outros itens, como álcool gel e produtos de higiene, destinados às populações mais vulneráveis. Os sertanejos Jorge & Matheus, Marília Mendonça e Gusttavo Lima estão entre os pioneiros e campeões de arrecadação de donativos. A baiana Ivete Sangalo, o sambista Diogo Nogueira e o pernambucano Alceu Valença também aderiram. No exterior, a estrela pop Beyoncé e o Cirque du Soleil promoveram movimentadas lives beneficentes também. Para artistas com menos projeção na cena musical, as lives funcionam mais como uma forma de romper o isolamento e gerar maior interação com o público, ao atingir mais e mais pessoas. Grupos teatrais como o Oficina, dirigido por Zé Celso Martinez Corrêa, trabalham e ensaiam online. O Balé da Cidade de São Paulo apresenta, gratuitamente, vários espetáculos de seu repertório dentro do programa #culturaemcasa. A Focus Cia. de Dança lança uma campanha para


FOTOS DE DIVULGAÇÃO

Alceu Valença em live: artista e público rememoram canções e histórias

manutenção da companhia. Nos EUA, o Metropolitan Opera (MET) vem disponibilizado, diariamente, óperas de seu repertório que podem ser assistidas gratuitamente no site. O Royal Ballet (Londres) e o Teatro Mariinsky (São Petersburgo) têm feito o mesmo e oferecem, gratuitamente, grandes ballets de repertório. Mas como será o amanhã? Ninguém sabe ao certo quando – e como – a cultura vai reassumir seu papel gerador de beleza, arte e recursos expressivos. Tampouco se sabe quando as pessoas vão topar lotar os cinemas, participar de grandes festivais de música ou de megaconcertos ao ar livre. Para descobrir o que anda pela cabeça de artistas e profissionais do setor, Plurale convidou alguns deles a expressar seus sentimentos em relação a este momento da cultura, por meio de uma urgência, um desejo e um conselho. Fundo de amparo, políticas públicas e engajamento Para a autora roteirista Sylvia Palma, vice-presidente da Associação Brasileira de Autores Roteiristas, as pessoas não conseguem viver sem a cultura. - A cultura, sobretudo a popular, é a identidade de um povo – reflete. - Nessa pandemia, as pessoas estão entendendo que podem viver sem roupas novas, viagens ou gastronomia requintada, mas não podem viver sem boa música, sem um bom filme. Isso só mostra que a cultura é essencial para o desenvolvimento humano – ressalta.

– É urgente criar e manter um Fundo de Amparo à Cultura, que numa hora dessas seria fundamental – diz. – Isso representaria 1% do orçamento destinado às outras áreas. É muito pouco, mas fundamental – alerta. – É preciso também desemperrar as políticas públicas da Ancine, com a liberação de projetos á aprovados. E solicitar ao comitê gestor que volte a implantar as políticas públicas para o audiovisual: editais para produção de filmes, roteiros e políticas de formação de plateias – destaca. - Meu conselho é que todos se engajem, para cobrar dos estados políticas públicas de amparo. Precisamos comover as pessoas para esse segmento de artistas e técnicos; temos que mostrar a elas que, por trás da novela ou da série de que tanto gostam, há milhares de profissionais dedicados, que merecem reconhecimento e suporte. – Meu maior desejo é que a cultura seja reconhecida e desenvolvida como algo essencial para o ser humano, para que as pessoas cultivem sua sensibilidade, a empatia pelo outro e possam construir uma sociedade mais igualitária – afirma. Campanha de impacto, teatros mais solidários, reinvenção de clássicos O bailarino e coreógrafo Antonio Bento acha que o momento é de reflexão e de sobrevivência. – Estados e municípios, hoje, talvez tenham mais condições de apoiar seus artistas; este pode ser um caminho. Outra proposta seria uma ampla campanha, com

grandes nomes de todas as artes, que mostre à população como é importante e salvador ter os artistas em plena atividade. Hoje, o que mais desejo é que todos fiquem em suas casas e se cuidem bastante. Não adianta desespero: é tempo de se preparar para a hora da revanche – dispara. Para Caio Neves, ator do badalado “Filme de verão”, urgente é que as casas de espetáculos adotem uma forma bem carinhosa, em suas palavras, de cobrar pela temporada dos artistas. – O custo do teatro, ao ser reduzido, reflete no preço dos ingressos e facilita a rotatividade – explica. Caio deseja que os artistas antigos - Dalva de Oliveira, Elizeth Cardoso e Aracy de Almeida etc. - ressurjam fortes, interpretados pelos novos artistas. – É preciso cantar agora o repertório desses grandes pilares da nossa música – diz, destacando o trabalho que a sambista Teresa Cristina tem feito nesse sentido. - Sugiro que os artistas façam muitas lives, que usem o instagram e o facebook como canais para fazer bastante promoção e ampliar o contato com o público. É o melhor caminho para serem lembrados e aumentar sua visibilidade - diz. Em uma frase, a artista visual Carmela Gross resume o sentimento de muitos. - A gente sabe que é preciso ter respeito pela cultura e acreditar no seu imenso poder transformador da sociedade.

Sylvia Palma, vice-presidente da Associação Brasileira de Autores Roteiristas: engajamento e políticas públicas para a cultura.

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Especial FOTO DE ALE RUARO/ BRASIL

Imagens para

REFLETIR

Por Viviane Faver Especial para Plurale De Nova Iorque Fotos de Ale Ruaro e Federico Pestilli

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fotografia na imprensa, na maioria das vezes, tende a ser mais reativa do que proativa. O fotojornalismo também tem sido frequentemente usado para destacar o ‘outro’ como vitimizado, e um bom exemplo é quando começou a pandemia.

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Grande parte da fotografia que vemos não é realmente cobertura, mas imagens fortes. Para isso, o mais fácil fazer uma imagem alarmante de uma máscara branca que leva o leitor a clicar na próxima tela em vez de refletir. Pensando nisso, o professor Fred Ritchin, do International Center of Photography (ICP) de Nova Iorque, criou o projeto chamado Fotodemic, como uma resposta à pandemia de coronavírus, que alterou profundamente a vida dita normal em escala global.

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Segundo Ritchin ao explorar diferentes estratégias visuais, o objetivo é levantar questões sobre os eventos atuais, refletir sobre um futuro incerto e nos aproximar em um momento de isolamento. “Nós abraçamos o humanismo que vem surgindo em todo o mundo, bem como visões mais ressonantes de qual deve ser o nosso futuro pós-pandemia. Apostamos em estratégias experimentais de mídia baseadas em imagens de todos os tipos e estamos abertos a qualquer pessoa


FOTOS DE FEDERICO PESTILLI/ ITÁLIA

que deseje participar.” Entre os trabalhos já publicados estão obras de fotógrafos do México, Itália, República Dominicana, Argentina e Brasil (os trabalhos dos fotógrafos da Argentina e do Brasil foram feitos em seus próprios países; os demais foram feitos em Nova Iorque). O professor Fred Ritchin enfatiza que muitos falam sobre o “voltar ao normal” quando essa pandemia diminuir. “Não acho que o mundo pré-pandêmico fosse normal, a menos que se considere normal

destruir o meio ambiente, exacerbar as mudanças climáticas, promover uma classe de super-ricos e abusar dos pobres. Em vez disso, podemos usar esse momento extraordinariamente doloroso para nos perguntar se podemos identificar uma versão mais saudável do normal e avançar coletivamente nessa direção. Minha esperança é que o Fotodemic nos ajude nessa busca”, desabafa. Um dos participantes do projeto é o paulista Ale Ruaro, fotógrafo com 24 anos de experiência e que

acredita que fotografia é a arte que documenta e faz refletir sobre novas formas de se comunicar e enxergar e mundo. Ruaro descreve sua foto como uma reflexão do momento que estamos vivendo no Brasil; a máscara está caindo. “Gostaria que minha foto fizesse com que as pessoas refletissem sobre como o brasileiro age diante de um momento tão sério em nível mundial.” Outro participante é o italiano Federico Pestilli. Nascido em Roma, estudou na Sorbonne em Paris, depois mudou-se para Nova Iorque e, mais tarde, para Londres. Sobre sua foto, é uma folha de contato de um negativo desta série. O autor escolheu usar filme analógico, que mostra a destruição gradual da rosa retratada e o processo de seleção de imagens em uma folha de contato. “Esse projeto Flores é uma metáfora de como a civilização nos separa de nossa natureza primordial. Os méritos e deficiências do plástico refletem as próprias virtudes e limitações da humanidade. Para governar nossas vidas diárias, criamos materiais duráveis. Do bronze ao ferro e ao plástico, desafiamos os poderes transformadores da própria natureza. Em nosso desejo de controlar a natureza, inventamos uma ferramenta para nos separar dela. A principal função do plástico é a separação. Sua propriedade de isolar, conter, proteger a matéria interna da matéria externa fornece soluções para muitas necessidades humanas. Sua durabilidade ou resistência à degradação, por outro lado, representa uma ameaça para os organismos vivos. Enquanto aparentemente protege as flores, o manto sintético acaba destruindo sua beleza orgânica. Parece que apenas a luz tem a chance de jogar nos dois lados da barreira translúcida”, explica Federico Pestilli. Site do Projeto: https://www.fotodemic.org

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Especial

O bom exemplo da

ALEMANHA

Texto e fotos de Elisabeth Catappan Reuter, Especial para Plurale De Hamburgo, Alemanha

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o dia 18 de março deste ano, a Alemanha assistiu na televisão a um pronunciamento da Chanceler Angela Merkel que deixou a maioria em estado de alerta. Terminando uma série de boatos, especulações e desmandos relativos à urgência sanitária, Angela Merkel disse clara e pausadamente, nesse raro pronunciamento televisivo, que a situação era grave e que envolvia todos sem exceção. Angela Merkel alertou que se não fossem tomadas medidas graves - cuja observância seria obrigatória - a Alemanha caminharia para o maior surto epidêmico de sua História depois da Segunda Guerra Mundial. A chanceler destacou que a pandemia provocada pelo Covid-19 ameaçava a todas e todos, uma vez que poderia implicar na saturação dos hospitais e tornar ineficiente a rede de saúde pública. Para impedir que acontecesse na Alemanha o que já acontecia, naquela altura, na Itália, Espanha e Suíça, a Chanceler pediu a participação de todos na observância de critérios básicos de higiene em tempo de epidemia isolamento nos lares, saídas só para atividades essenciais como idas à farmácia, médicos, compra de alimentos ou de artigos de primeira necessidade. Caso fosse necessário sair do isolamento, isso deveria acontecer individualmente e de maneira rápida. Foi recomendado ainda que fossem suspensas as visitas aos idosos e doentes em hospitais. Angela Merkel explicou que era necessário observar, estritamente, o isolamento social, mantendo a necessária distância, lavando as mãos, desinfetando roupas e artigos de consumo e, principalmente, cuidando

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A socióloga, jornalista e pesquisadora brasileira Elisabeth Reuter, que mora em Hamburgo, norte da Alemanha, há mais de 40 anos, conta como foi entrar e sair da pandemia neste país considerado um dos modelos no tratamento da doença

Legenda bilíngue alemão-inglês pede que o usuário observe distância de 1,50 m entre os passageiros e que compre seu bilhete nas máquinas específicas fora do ônibus, ou no app da empresa HVV

das crianças em casa. Em alguns estados da República Federal da Alemanha, escolas estavam de férias, chamadas de final de inverno, no entanto, em outros estados, deveriam em breve começar férias chamadas de primavera. Como educação e outras atividades econômicas na Alemanha são da alçada dos Estados, a Chanceler explicou que todos os governadores tinham aceito sua proposta de fechar universidades, escolas, creches, jardins de infância e escolas profissionalizantes, assim como o comércio lojista, academias, teatros, cinemas, salas de concerto, óperas e demais atividades culturais, sociais ou esportivas que implicavam em encontros entre indivíduos. O choque foi grande. A lista era longa Logo depois, foram fechadas as fron-

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teiras europeias e as fronteiras interestaduais. As empresas foram chamadas a colaborar e a instalar home offices, esvaziando os escritórios. A imprensa, muito presente em Hamburgo, se organizou: programas em rádios e TVs, talkshows e telejornais só aconteceram com distanciamento. Programas de auditório ficaram fora do ar, assim como nada de futebol e outros esportes em conjunto. Nos grandes polos industriais, a produção diminuiu tanto, que praticamente parou. Nossa cidade-estado de Hamburgo não tem indústrias com grande número de operários, como é o caso de Munique com a fábrica da BMW, Stuttgart com a Mercedes ou Wolfsburg com a Volkswagen. A crise ficou óbvia porque o tráfico de mercadorias encolheu, e o porto de Hamburgo, o maior da Alemanha, foi obrigado a diminuir a carga horária de seus operários e assalariados. Houve demissões em todos os setores, fora o serviço público. A cidade parou. Ou melhor, quase parou. Hamburgo conta com quase 2 milhões de habitantes espalhados por uma superfície de 755 km². Tem uma excelente infraestrutura, inclusive hospitalar. É uma cidade rica e bem administrada. Hamburgo tem um Prefeito-Governador, Peter Tschentscher, um médico, que tomou medidas claras para impulsionar o isolamento social e proteger a rede estadual de serviços, hospitalares e outros. A cidade é monopolista no setor de transporte urbano e orgulha-se de ter uma frota de ônibus silenciosa e confor-


tável alguns já elétricos. Uma das primeiras medidas tomadas pelo Prefeito-Governador foi isolar os motoristas de ônibus dos usuários e a porta dianteira foi bloqueada. Se os ônibus ficassem muito cheios, o Prefeito-Governador de Hamburgo prometeu aumentar o número de ônibus em circulação. Mas, no geral, os ônibus começaram a circular com poucos passageiros, sentados bem longe uns dos outros. O mesmo aconteceu com o metrô, também municipal. O tráfego ferroviário entre os estados foi reduzido e a estação central de Hamburgo, a de maior movimento de passageiros da Alemanha, ficou quase às moscas. Também foi pedido que, nos meios de transporte, todos os passageiros usassem máscaras domésticas e que desinfetassem as mãos. Todo mundo o fez. Desde 18 de março o que mais se pediu em Hamburgo foi que a população observasse as regras sanitárias básicas: desinfetantes e distância social. A partir de 12 de maio, tornou-se obrigatório o uso de máscaras nos transportes e no comércio. Farmácias, floristas e supermercados marcaram no chão linhas de distância de 1,5 m para orientar o comportamento do consumidor. Na frente do caixa, uma proteção de plástico, o mesmo nos setores onde se vendia comestíveis. E funciona: as pessoas fazem fila na porta, um funcionário desinfeta carrinhos de compra, se a loja fica muito cheia, espera-se que esvazie. Realmente os hamburgueses mostraram e mostram respeito uns aos

Na porta de supermercado uma placa azul informa que os carrinhos são desifetados após o uso. Uma placa no chão, em frente de uma loja, pede que quem quiser entrar desinfete as mãos e observe distância de 1,5 m

outros, educação e civilidade. Sem pânico Com as crianças em casa, os pais, além de todas as tarefas ligadas ao isolamento, ainda viraram professores primários e secundários. A secretaria de Educação acudiu os alunos que não tinham como acessar online os deveres, laptops foram colocados à sua disposição. Como as salas de aula ficaram vazias, as aulas passaram todas a acontecer nas telas. As pracinhas e playgrounds reabriram no dia 5 de maio mas uma placa na entrada lembra aos pais e acompanhantes sua responsabilidade em desinfetar e observar a distância entre as crianças. Aos poucos, a vida escolar recomeçará. Um grande desafio aos professores e diretores de escola será como organizar o distanciamento social. A partir de 12 de maio, o comércio lojista foi liberado em Hamburgo. Mas, continua tendo que garantir as precauções sanitárias primordiais: distância e desinfetantes. E é obrigatório usar uma máscara protetora. Cabeleireiros começaram a trabalhar, de máscara, desde 5 de maio. Salões de beleza voltaram em 15 de maio e para tratamento de peles é necessário que a tratadora use máscara, bem como a manicure ou pedicure. E como estamos? Como ficamos? Em Hamburgo, desde o início da pandemia, foram registrados 4.972 casos de contágio (a estatística é de 13 de maio) e infelizmente 223 óbitos. Na Alemanha inteira, também até o dia 13 de maio, foram 173.273 casos de contágio e 7.754 óbitos. Contam-se, felizmente, com 144.451 casos de recuperados ou em recuperação. São números que mostram que foi possível na Alemanha limitar e/ou retardar o contágio e achatar a curva da pandemia. Mas ainda não temos um sistema perfeito para testar, ou acompanhar e isolar novos casos. A partir do dia 15 de maio, hotéis passaram a voltar a receber hóspedes, mas, devem anotar a proveniência e os endereços de contato. O mesmo acontecerá com os restaurantes. E o setor deverá garantir que os clientes observem o necessário distanciamento de 1,5 m. A ideia é facilitar o rastre-

amento de futuros contágios. Discotecas, piscinas, academias, lojas de jogo (inclusive loterias) continuarão fechadas. Bibliotecas. museus, Jardim Botânico e Zoológico reabriram. Praças e parques sempre ficaram abertos. Igrejas e outros lugares de culto reabriram, mas sempre exigindo o distanciamento obrigatório de 1,5 m. Pode-se rezar sem máscaras. A prefeitura pede a quem passeie, a pé ou de bicicleta que use máscaras no mínimo as domésticas. Pede-se! É obrigatório só quando acontece contato direto: como é o caso no comércio, tanto vendedor, quanto o comprador e nos transportes, inclusive nos táxis, que não podem transportar pessoas que não sejam de mesma família. As farmácias já vendem as máscaras do tipo FFP2, as que são aconselhadas pela OMS. Eu uso. As fronteiras europeias começaram a ser abertas aos poucos. Na segunda quinzena de maio, o controle do tráfego de de viaturas e pessoas entre a Alemanha e a Suíça, Áustria e França começou a diminuir. Os residentes em regiões fronteiriças sempre puderam circular. As fronteiras dentro da Alemanha foram abertas e será possível, no fim de semana longo de Pentecostes, ir às praias do Mar Báltico ou do Mar do Norte. Uma grande apreensão paira em relação ao setor turístico: quantos conseguirão sobreviver? O governo Federal e os governos estaduais prontificaram-se a ajudar todo o setor terciário, Na semana que começou na segunda-feira 11 de maio, foram registradas apenas duas novas contaminações por dia em Hamburgo.

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O encantador de

BORBOLETAS Seu João da Silva, do Borboletário do Hotel Sesc Porto Cercado, no Pantanal, deixa legado de amor à natureza e sua biodiversidade FOTOS DE DIVULGAÇÃO -SESC PANTANAL - POR JOSÉ MEDEIROS - LIVRO “NO PULSO DAS ÁGUAS “

Por Sônia Araripe, Editora de Plurale Fotos de José Medeiros (Livro “No pulso das águas”), Isabella Araripe e Luciana Tancredo (De Plurale)

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uando começamos a desenhar esta edição, o coronavírus estava ainda começando a desembarcar no Brasil, sem o impacto de pandemia que acabou se espalhando rapidamente de Norte a Sul, Leste a Oeste do país. Foi quando nos chegou a notícia tão triste da passagem do Seu João da Silva, mais conhecido como o Seu João do Borboletário do Hotel Sesc Porto Cercado, em Poconé, Mato Grosso. Faleceu de câncer, aos 59 anos, depois de lutar valentemente. Ao longo dos 12 anos de história de nossa Plurale em revista, poucos personagens – que é como nós, jornalistas, chamamos os entrevistados mais marcantes – deixaram uma marca tão profunda quanto Seu João. Com o seu chapéu de abas largas, marca dos tempos de boiadeiro e o sorriso largo, ele nos apresentou, sempre com muito orgulho, a sua razão de viver tão conectado com a natureza: as borboletas.

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ISABELLA ARARIPE - PLURALE FOTOS DE DIVULGAÇÃO -SESC PANTANAL POR JOSÉ MEDEIROS - LIVRO “NO PULSO DAS ÁGUAS “

FOTO DE DIVULGAÇÃO -SESC PANTANAL POR JOSÉ MEDEIROS - LIVRO “NO PULSO DAS ÁGUAS “

FOTOS DE DIVULGAÇÃO -SESC PANTANAL - POR JOSÉ MEDEIROS - LIVRO “NO PULSO DAS ÁGUAS “

Percebemos que havia ali uma conexão muito forte entre o momento que vivenciamos – de mutação, do fortalecimento de valores e de propósito, de reconexão com a natureza – e o Seu João. Era uma metáfora, quase uma poesia. Para a borboleta surgir, a lagarta precisa morrer. O ciclo de vida é curto, mas também intenso e colorido. O Pantanal e sua gente - Nos conhecemos em 2019, quando estive no Pantanal para contar a história dos 20 anos de ação do Sesc na região e, principalmente, ouvir essa história contada pelos pantaneiros. Porque se é uma história de transformação, são pessoas que podem relatar esse causo: a exuberante conservação da natureza, tão próxima do avanço da agropecuária e das cidades vizinhas, se apresenta como cenário. Conhecemos a RPPN Sesc Pantanal, a maior do país, com 108 mil hectares, localizada no município de Barão de Melgaço (MT) e também o Hotel Sesc Porto Cercado, além de outras ações do Sesc Pantanal (leia matéria na página seguinte). Encantador de borboletas, passei a chamá-lo. Seu João da Silva cuidava do borboletário do Hotel Sesc Porto

Cercado – estrutura imensa que abriga aproximadamente 3 mil borboletas de 20 a 30 espécies diferentes – quase como se fosse o “pai” ou o amigo dos animais. Tinha uma conexão incrível, como vi com poucos: era levantar a mão e as borboletas chegavam perto dele, quase como se pudessem saber que estava ali o seu protetor. “São minhas crias”, brincou Seu João. E logo completou neste encontro: “Quer que eu mostre as que eu mais gosto?”. E veio com um prato grande, cheio de uma espécie linda, com as asas que parecem camufladas. Um detalhe nos chamou a atenção: a camisa que ele usava naquele dia tinha a imagem aérea da Reserva. Essa é uma foto que também marca a história de Plurale: foi clicada por Luciana Tancredo, nossa Editora de Fotografia, quando esteve em nossa primeira visita à região, há nove anos. Seu João era filho de um índio guató, Júlio, e da pantaneira Iva, da região de Mimoso. Os pais tiveram ao todo 16 filhos, em uma vida difícil e nômade, plantando o que a terra permitia, como mandioca e milho, e pescando para garantir o sustento da grande família. Quando a colheita já não bastava para alimentar todo mundo, era hora

Eu vim para as borboletas e não fui só eu que agradeci por isso. A minha esposa agradeceu mais, porque a mudança foi completa com ela, dentro de casa, com os filhos, com tudo! Eu soube ter mais amor, soube ter mais respeito com eles. [...] Eu acho que a borboleta trouxe isso para mim por causa da sensibilidade, do carinho que eu precisava ter com elas. Esse carinho que elas mostraram que eu precisava ter foi a mudança que eu tive pra ser mais leve, mais tranquilo. JOÃO DO BORBOLETÁRIO em depoimento para o livro “No pulso das águas”

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de partir em busca de novos destinos, entre o Rio Cuiabá e o Rio Piquiri. O relato da vida pantaneira vem detalhado no livro “No pulso das águas”, escrito por Carla Águas. A organização e o design são assinados por Maria Teresa Carrión Carracedo, também editora da obra. O livro rendeu fama para o Seu João: esteve em evento paralelo da famosa Festa Literária Internacional de Paraty, em julho de 2019. Contou sua história de amor com as borboletas e a natureza, emocionando o público. Conhecimento dos antepassados Da avó índia, Dona Maria, Seu João herdou o conhecimento das ervas e dos segredos da mata alagada. Da mãe, Dona Iva, a religiosidade e o gosto pelas festas religiosas. Do pai, Seu Júlio, a força e a conexão com a lida pantaneira e a disposição para acordar cedo e trabalhar com vontade. No livro, Seu João conta que, ainda rapaz, com 18 anos, viu sua chance de conhecer a cidade grande quando um peão boiadeiro da tropa ficou adoentado e ele pediu ao pai para substitui-lo. A mãe não queria deixá-lo partir, mas depois de uma boa dose de negociação, acabou cedendo, diante da promessa do chefe da comitiva – Seu Florêncio - de fazer os documentos do rapaz. Lá se foi o jovem João conhecer Aquidauana, viagem de setenta dias, conduzindo umas mil cabeças de gado. Após muita chuva e perrengues, chegaram em 48 dias, prazo bem inferior ao previsto. “Até hoje eu não me esqueço, Eu fiquei desorientado, abismado de estar lá dentro da cidade.” Tudo era novidade para o jovem, como cerveja, os avanços do progresso e a pressa da cidade. Dos tempos de peão, que sabia amansar cavalo e conduzir o gado mais bravio, ficou conhecido como João Ribeirinho. Chegou a passar 15 anos longe de casa. O relato do seu reencontro com a mãe, D. Iva, às margens do Rio Paraguai, é de deixar mesmo o mais firme embargado. Muitos anos se passaram. Depois de trabalhar como boiadeiro e caminhoneiro, Seu João da Silva soube que tinha vaga para trabalhar em Poconé, no hotel que viria a ser o Hotel Sesc Por-

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Personagem de livro (da esq. para a dir.) – Em evento paralelo na famosa Festa Literária de Paraty, em julho de 2019, Christiane Caetano, superintendente do Sesc Pantanal, Seu João do Borboletário do Hotel Sesc Porto Cercado com Carla Águas, autora do livro “No pulso das águas” e a organizadora, designer e editora do livro, Maria Teresa Carrión Carracedo. Seu João foi um dos principais personagens do livro que conta a história do Pantanal e sua gente

to Cerrado; desde então, sua história se mistura com a própria história dos mais de 20 anos de atuação do Sesc no Pantanal. “Tinha um porém”, me confidenciou quando estivemos proseando. Seu João, mesmo com toda essa experiência, ainda não sabia ler e escrever fluentemente. Era um analfabeto funcional, como milhões de brasileiros. O Sesc escalou uma professora especialmente para resolver esta lacuna no conhecimento do pantaneiro e, em pouco tempo, rápido e dedicado, ele já estava dando conta não só de assinar orgulhoso o seu nome, mas também de ler jornal e revista. “Gosto de aprender e saber do que está acontecendo”, disse. No Sesc Pantanal, Seu João começou trabalhando como uma espécie de faz-tudo e acabou tornando-se quase um embaixador do elo mágico deste projeto que envolve ecoturismo e proteção à natureza. Na cidade de Poconé foi criada a Associação de Criadores de Borboletas, com 25 famílias que recebem, em média, um salário mínimo do Sesc Pantanal para cuidar das crisálidas nos seus quintais, plantando pés de maracujá, jaborandi e bananeiras para alimentar os animais. A família de Seu João, a princípio, estranhou o ofício, mas o próprio Seu João nos contou que as borboletas o ensinaram a ser “um homem menos duro” com a família e a vida. O amor é tanto que ele tinha as borboletas tatuadas no corpo. Seu João contou, em depoimento para Carla Águas, no livro sobre o Pantanal, que ficou emocionadíssimo quando viu a metamorfose de uma borboleta por completo pela primeira vez: começan-

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do com o ovo e passando para a lagarta, até chegar à crisálida, última etapa antes de bater as asas. Chegou a chorar. “Fiquei muito emocionado. Aquilo me tocou muito. Mudei também em casa com a esposa e filhos. Soube ter mais amor e respeito com eles. Acho que a borboleta trouxe isso para mim por causa da sensibilidade, do carinho que precisava ter com elas.” A superintendente do Sesc Pantanal, Christiane Caetano, confirma esta forte ligação. “Falar do João do Borboletário é falar da história do Sesc Pantanal, pois ele esteve conosco desde o início. E foi se transformando nestes 20 anos e transformando cada hóspede que passava pelo hotel. O amor pelo trabalho, pelas borboletas, estava na pele, no sorriso e, principalmente, no coração dele, que pulsava essa conexão com a natureza. Tudo está conectado, pessoas e natureza, e ele representava isso com sua simplicidade e sabedoria. Iletrado, ele aprendeu com os pesquisadores sobre o mundo desses pequenos insetos e compartilhava seu saber. Nosso querido João do Borboletário cumpriu sua jornada brilhantemente e ficará para sempre em nossa memória”, reforça Christiane à Plurale. O poeta Manoel de Barros, um pantaneiro de nascimento, escreveu certa vez, “Eu penso renovar os homens usando borboletas.” Não se conheceram no Pantanal, mas estamos certos de que Seu João e Manoel de Barros estão juntos, em outro plano, zelando pelo povo pantaneiro, suas águas, animais, plantas e borboletas.


FOTO DE ISABELLA ARARIPE - PLURALE - HOTEL SESC PORTO CERCADO E RPPN SESC PANTANAL(MT)

RPPN Sesc Pantanal é a maior do Brasil A margem direita do Rio Cuiabá, no Mato Grosso, abriga nada menos que a maior Reserva Particular do Patrimônio Natural do Brasil, a RPPN Sesc Pantanal. Ao todo são quase 108 mil hectares, no município de Barão de Melgaço (MT). Por conservar grande parcela da maior planície alagada do planeta, o Pantanal, é designada internacionalmente como Sítio Ramsar e Núcleo da Reserva da Biosfera – UNESCO. Além da RPPN, integram o Sesc Pantanal o Hotel Sesc Porto Cercado, com 142 unidades habitacionais; o Parque Sesc Baía das Pedras, com 4.200 hectares; o Sesc Poconé, com 4.350 metros quadrados; o Parque Sesc Serra Azul, com 5.700 hectares; e a Base Administrativa, em Várzea Grande, vizinha a Cuiabá, capital do estado de Mato Grosso. Em 22 anos a Reserva recebeu inúmeros projetos de instituições de ensino do Brasil e do

exterior, que resultaram em mais de 130 publicações científicas. Para aceitar qualquer projeto, o Sesc tem como requisito básico que ele apresente uma contrapartida social ou ambiental para as comunidades locais. Para quem ainda não conhece, o Hotel Sesc Porto Cercado – onde está o Borboletário - e a RPPN Sesc Pantanal ficam na parte norte do bioma alagado, próximo da capital mato-grossense, Cuiabá, após uma tranquila e rápida viagem de carro por mais ou menos duas horas, dependendo do trânsito. A gigantesca área – antes ocupada por fazendas de gado - foi comprada há 22 anos pelo Departamento Nacional do Sesc, com o objetivo de conservação da biodiversidade, e também para iniciativas de desenvolvimento de turismo sustentável em pequena área. Interessante também entender o conceito por trás de tudo. Como o Sesc tem foco nos trabalhadores do comércio de bens, serviços e turis-

mo, as ações estão voltadas para um turismo financeiramente sustentável para este segmento. Ao contrário de outras iniciativas do Pantanal – com valores em dólar e direcionadas principalmente para estrangeiros – o foco, neste caso, está mesmo nos turistas brasileiros, em sua maioria comerciários, que respondem por 75% das reservas feitas até hoje, em mais de 20 anos de história. Há ações voltadas também para a comunidade local, conjugando os chamados três vértices que formam o tripé da sustentabilidade – o ambiental, o social e o econômico. “Fomos crescendo e consolidando o projeto aos poucos. Hoje, 22 anos depois, temos o reconhecimento de um trabalho sólido e consistente de que semeamos lá atrás. Estamos certos de que o turismo sustentável é uma ótima solução para a conservação do Pantanal”, afirma Christiane Caetano, superintendente do Sesc Pantanal.

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FOTOS DE DIVULGAÇÃO -SESC PANTANAL - POR JOSÉ MEDEIROS - LIVRO “NO PULSO DAS ÁGUAS”

ISABELLA ARARIPE - PLURALE

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LUCIANA TANCREDO - PLURALE


ISABELLA ARARIPE – HOTEL SESC PANTANAL (MT)

FOTO DE ISABELLA ARARIPE - PLURALE - BORBOLETÁRIO HOTEL SESC PORTO CERCADO

Ensaio JOSÉ MEDEIROS (LIVRO “NO PULSO DAS ÁGUAS), ISABELLA ARARIPE E LUCIANA TANCREDO (PLURALE)

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FOTO DE ISABELLA ARARIPE - PLURALE - BORBOLETÁRIO HOTEL SESC PORTO CERCADO


Pelo Brasil Sergio Vieira de Mello, um brasileiro para nos orgulharmos FOTOS DE DIVULGAÇÃO

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Por Sônia Araripe, Editora de Plurale

caba de ser lançado no Netflix o filme “Sergio”, sobre a história verdadeira do brasileiro - carioca da gema - Sergio Vieira de Mello (1948-2003). Ele chegou ao cargo de Alto Comissário de Direitos Humanos da ONU , trabalhando como emissário para tentar resolver confrontos em regiões de guerra deflagradas , como Ruanda, Líbano, Cambodia , Kosovo, Timor Leste e Iraque. O filme mostra toda a narrativa da vida real e também o incrível talento diplomático de Sergio nestas situações de conflito - muitas vezes com lideranças sanguinárias. É história com H maiúsculo. A produção tem ponto alto em Wagner Moura, um artista sensacional emprestando seu talento para compor o charme e emoção de Sergio. Ficaram até parecidos, embora o verdadeiro fosse bem mais bonito e charmoso. Outro destaque é a história de amor de Sergio e a economista argentina Carolina Larriera, que conheceu no Timor Leste quando ela trabalhava também para a ONU com microcrédito e empoderamento feminino. Muito não contarei para que cada um veja o filme e sinta a emoção desta história. Estão lá os dois filhos dele com a primeira esposa, a francesa Annie, a mãe - D Gilda - e todo o “caldo” que as histórias verdadeiras sempre tem. Ana de Armas , como Carolina , está também irrepreensível . O público é levado a entender a missão de Sergio, pelas regiões deflagradas de missões, embora as gravações não tenham sido exatamente nos lugares por onde eles passaram - as filmagens aconteceram na Tailândia e Jordânia. A cena com uma mulher real do Timor Leste, “Senhorinha”, é uma das mais poéticas de toda a narrativa. Ajudam a compor o roteiro cenas do tão amado Rio de Janeiro - onde Sergio nasceu e viveu

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FOTO DE DIVULGAÇÃO

a adolescência - takes verdadeiros de telejornais da época e gravações deixadas por Sergio para os arquivos da ONU na voz de Moura. Apesar de ter sido criticado por alguns especialistas - por ter “glamuralizado” e “romantizado” a vida do brasileiro com tantos ingredientes políticos e de Relações Internacionais - gostamos do filme nem tanto pelo lado romântico, mas principalmente por ter destacado a história e trajetória de Vieira de Mello. Como toda narrativa, há pontos em branco e vagos, como o que traz um suposto conflito com o líder da guerrilha, depois tendo assumido o Timor Leste, Xanana Gusmão e a informação que teria sido colega na Sorbonne do sanguinário líder do Khmer Vermelho, no Cambodja, Ieng Sary (eles teriam se

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conhecido sim, mas não foram contemporêneos na Universidade francesa). Informações que parecem não serem amparadas na vida real. Mas, dando como desconto o lado da ficção, estão lá as suas crenças, anseios e lutas. O filme também apresenta as intrigas e políticas do xadrez internacional tendo a ONU, o Governo de George W. Bush e a Coalizão de países ricos. Quem gostar e quiser conhecer mais a sua biografia, recomendamos o Documentário “O homem que queria salvar o mundo”, do mesmo Diretor, Greg Barker, e o livro biográfico pela premiada jornalista americana Samantha Power, com o mesmo nome, que deu origem ao documentário e também serviu de base para o filme de agora da Netflix. Como muitos sabem, tive o privilégio de fazer a última grande entrevista com Sergio (ele não gostava de aparecer e dar entrevistas) publicada no Jornal do Brasil de melhores épocas, em um domingo de agosto de 2003, somente um dia antes do atentado fatal em Bagdá. Assisti com a respiração entrecortada e coração apertado . Foi como reviver aqueles dias. Em tempos de tão pouco para nos orgulharmos, de poucos herois de verdade, Sergio é, sem dúvida, um brasileiro para reverenciarmos. A última entrevista de Vieira de Mello em 2003 pode ser acessada em Plurale em site.


Artur Grynbaum, CEO do Grupo Boticário, integra Pacto Global da ONU de compromisso para o desenvolvimento sustentável De São Paulo

Artur Grynbaum, CEO do Grupo Boticário, é o mais novo embaixador do programa “Liderança com ImPacto”, iniciativa da Rede Brasil do Pacto Global da ONU que atua junto a empresas para o desenvolvimento sustentável, composta por CEOs que estão inovando o jeito de fazer negócio, com propósito e alinhando suas práticas à agenda dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS). . “As empresas enfrentam desafios constantes para uma produção mais sustentável. É preciso empreender em suas operações, trabalhar em rede e fortalecer a cadeia de valor. Nosso compromisso é promover a inovação de ponta a ponta, adotar práticas com foco na gestão sustentável, investir em pesquisa

com tecnologia e influenciar colaboradores, rede de parceiros e toda sociedade para o desenvolvimento sustentável”, comentou o CEO do Grupo Boticário. Grynbaum será porta-voz do ODS 12, um dos 17 objetivos estabelecidos

pela Agenda 2030 da ONU para um desenvolvimento sustentável. Neste item, a meta é assegurar padrões de produção e de consumo responsáveis, algo que faz parte da essência do Grupo Boticário. Em 1990, a empresa criou a Fundação Grupo Boticário de Proteção à Natureza, uma organização sem fins lucrativos que nasceu do entendimento de que a natureza em equilíbrio é imprescindível para a garantia de vida de todos os seres e para o futuro do negócio. O Grupo não usa animais como cobaias em testes de produtos desde 2000 e os laboratórios da empresa produzem pele 3D, que simula a pele humana. “Adotamos atitudes sustentáveis por acreditarmos firmemente neste propósito e por ser algo que está na essência da nossa empresa desde sua fundação”, completa Grynbaum.

GroupCaliber lança o estudo What’s Next? De Rio

A Caliber, gestão de marca e reputação acaba de divulgar um estudo super relevante. Para entender o que está por vir, fundamento do trabalho de todas as organizações nesse período de (re)planejamento estratégico, convidou um grupo de 28 profissionais que estão na linha de frente do cenário nacional da Comunicação e Marketing, para compartilharem suas visões dos desafios para as marcas no contexto pós-COVID19. A jornalista Sônia Araripe, Editora de Plurale, participou deste grupo de profissionais. A lista com-

pleta pode ser conferida abaixo: O estudo conta com uma visão geral, destacando os conceitos mais apresentados como protagonismo, confiança e coerência, proximidade, porto seguro, humanização, da-

ta-driven, autenticidade e reinvenção. O resumo de todo esse brainstorming entre profissionais de renome está apresentado no estudo What’s Next? A Caliber entende que esse coletivo de conhecimentos e pensares irá ajudar as organizações na construção de um futuro melhor para si e para a sociedade, angariando confiança, relevância, engajamento e impacto social. Segundo Dario Menezes, diretor executivo da Caliber, o estudo está sendo divulgado tanto para empresas quanto para escolas de negócios como forma de proposição de debate entre os alunos de MBAs.

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Pelo Brasil Fundação Grupo Boticário disponibiliza livros paradidáticos destinados a professores e alunos do Ensino Fundamental Abril é o mês do livro infantil, com duas datas que comemorativas (Dia Internacional e Dia Nacional do Livro Infantil, respectivamente 2 e 18). Por isso, a Fundação Grupo Boticário de Proteção à Natureza escolheu o período para lançar o formato digital da coleção ‘Meu Ambiente’. São dezoito livros paradidáticos, com referencial teórico e propostas de atividades (nove para professores e nove para estudantes). Os conteúdos foram desenvolvidos para auxiliar os professores do Ensino Fundamental (1º ao 9º ano) a trabalharem com a nova geração, de forma lúdica e interdisciplinar, ressaltando a importância da natureza bem conservada e sua relação com o bem-estar social. “Já tínhamos essa programação e o cenário atual só reforçou essa necessidade”, afirma Melissa Barbosa, coordenadora de Comunicação da Fundação Grupo Boticário. “O Ensino Fundamental é a fase em que os alunos constroem a base de seu conhecimento. Tão importante quanto a base para cálculos e leituras, é essencial que estabeleçam uma conexão com a natureza e que a conheçam não apenas pela beleza, mas para aprender sobre a relação com tudo que faz parte do nosso dia a dia. O conteúdo da coleção ‘Meu Ambiente’ foi desenvolvido para integrar o processo de aprendizagem de forma interdisciplinar, e não como um tema separado”. Desenvolvido com a coordenação pedagógica do Sistema Educacional Família e Escola (Sefe), a coleção pode contribuir para o desenvolvimento de competências da Base Nacional Comum Curricular (BNCC), como o exercício da curiosidade intelectual e abordagem própria das ciências para investigar causas, elaborar hipóteses, resolver problemas e criar soluções. “Uma das vantagens é que o material não precisa seguir a sequência de capítulos, o professor pode adequar a abordagem de acordo com o tema

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que está trabalhando em sala de aula. Houve uma atenção especial para que o professor também pudesse explorar oportunidades, possibilidades”, avalia a coordenadora da Fundação. Ainda diante das competências da BNCC o material pode ser utilizado para que os alunos construam suas argumentações com base em fatos, dados e informações confiáveis na defesa dos direitos humanos, da consciência socioambiental e do consumo responsável. Entre os recursos pedagógicos utili-

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zados na elaboração do material está a Turma do Miguel. Os 12 personagens têm em comum a paixão pela natureza e de maneira lúdica podem ajudar o professor a abordar o tema em sala de aula. Com representantes de São Paulo, Pará, Mato Grosso e Rio Grande do Sul, entre outros estados, a diversidade é um dos aliados desses personagens ao apresentar a biodiversidade brasileira. A coleção ‘Meu Ambiente’ ficará disponível no site da Fundação Grupo Boticário.


Cientistas brasileiras recebem o maior prêmio da conservação ambiental do mundo De Nazaré Paulista (SP)

Considerado o maior prêmio da conservação ambiental do mundo, e por isso chamado de Oscar Verde, o prestigiado Whitley Awards, do Whitley Fund for Nature (Reino Unido), divulgou no dia 29 de abril os seus grandes vencedores do ano. Duas brasileiras, em diferentes categorias, foram reconhecidas por seu trabalho científico para a conservação da biodiversi-

dade no país: Patrícia Medici (com o Gold Award, principal premiação da fundação), e Gabriela Cabral Rezende (com o Whitley Award, oferecido também a mais cinco conservacionistas de outros países). Ambas são pesquisadoras da ONG IPÊ - Instituto de Pesquisas Ecológicas, e dedicam-se à conservação da anta brasileira e do mico-leão-preto (respectivamente). Essas espécies da fauna enfrentam importantes ameaças causadas por ações humanas.

O prêmio é entregue anualmente em cerimônia oficial em Londres, pelas mãos da Princesa Real Princess Anne. Entretanto, este ano a Premiação Whitley 2020 foi adiada em função da pandemia do COVID-19. De qualquer maneira, os vencedores receberão seus respectivos prêmios: reconhecimento por seus feitos na conservação de espécies ao redor do mundo e recursos financeiros a serem aplicados na continuidade de seus projetos.

Patrícia Medici (esq), que dedica sua vida à conservação da anta brasileira, leva o Whitley Gold Award e Gabriela Cabral Rezende (dir), que pesquisa o mico-leão-preto, recebe o Whitley Award. Ambas são do time de cientistas da ONG IPÊ - Instituto de Pesquisas Ecológicas

Acordo de Paris: o mundo está 22 bilhões de toneladas de CO² além da meta Do Rio

Estudo publicado pela revista Nature Communications, nessa quarta-feira, 29 de abril, aponta que, em 2030, a emissão mundial de gases do efeito estufa será 22,4 bilhões de toneladas de CO²equivalente (22,4 GtCO²eq) acima do limite necessário para que o aquecimento global não supere 2º Celsius acima dos níveis pré-industriais. O artigo “Taking stock of national climate policies to eva-

luate implementation of the Paris Agreement” é assinado por pesquisadores de vários países, entre eles os professores da Coppe/UFRJ Roberto Schaeffer e Pedro Rochedo, e o pesquisador Alexandre Koberle, doutor em Planejamento Energético pela Coppe. Em resumo, se mantidas as políticas climáticas atuais, os países não cumprirão o Acordo de Paris. A situação fica ainda mais crítica se levado em conta a recomendação do Painel

Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC), de o aquecimento global não superar 1,5º C. Nesse caso, o gap será ainda maior: 28,2 gigatoneladas de CO². Segundo o professor da Coppe, Roberto Schaeffer, para fechar este hiato até 2030, o uso de energia renovável deveria crescer 6,9%, a eficiência energética deveria crescer 9,6% (cenário de 2º C) ou, respectivamente, 13% e 17,5% (cenário de 1,5ºC). O estudo foi baseado nas bases de dados de políticas públicas dos sete países (Brasil, China, Estados Unidos, Índia, Japão, Rússia e União Europeia) que mais emitem gases causadores de efeito estufa (GEE) e uma análise de cenários multimodelos.

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Ecoturismo

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Ecoturismo ganha força

Ilhas Seychelles, no Índico: livre da Covid-19

PARQUE SESC SERRA AZUL - ISABELLA ARARIPE - PLURALE

Especialistas ouvidos por esta coluna acreditam que o ecoturismo deve ganhar ainda mais força no cenário do novo normal. “Estamos vendo o surgimento de um novo normal, que embora ainda com contornos não totalmente claros, já começa a desenhar algumas tendências. Uma delas é que, depois que isso tudo passar, as pessoas vão valorizar a natureza, vão querer se expor menos a situações de estresse, não vão querer perder horas diárias no trânsito. E a sociedade precisa estar preparada para isso”, afirma o engenheiro florestal e membro da Rede de Especialistas em Conservação da Natureza Miguel Milano. Na avaliação de Christiane Caetano, superintendente do Sesc Pantanal – que abriga a maior RPPN do Brasil e administra o Hotel Sesc Porto Cercado, no bioma Pantanal, e o Parque Serra Azul (confluência dos biomas do Cerrado, da Amazônia e do Pantanal) com foco no ecoturismo – a tendência é que mais e mais turistas brasileiros foquem neste tipo de lazer. “Temos muito para conhecer aqui mesmo nos biomas brasileiros”, lembra Christiane.

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Teia, soluções para a natureza

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RESERVA NATURAL SALTO MORATO (PR) – FOTO DE JOSÉ PAIVA- FUNDAÇÃO GRUPO BOTIÁRIO - DIVULGAÇÃO

ROYAL BOTANICAL GARDENS, KEW – DIVULGAÇÃO

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Após nove semanas ILHAS SEYCHELLES – PORTAL TURISMO lutando contra a pandeILHAS SEYCHELLES - DIVULGAÇÃO mia de Covid-19, Seychelles - destino de férias no Oceano Índico - agora é Covid-19 Free e não tem mais nenhuma ocorrência da doença em seu território. O país, que teve um número total de 11 casos, anunciou que o último paciente infectado testou negativo por vários dias e está considerado curado. A pandemia da Covid-19 alcançou Seychelles em março de 2020, quando o anúncio dos dois primeiros casos foi feito no dia 14. O número de casos na ilha aumentou lentamente durante as três semanas seguintes e atingiu seu pico em 6 de abril, quando o 11º caso foi confirmado, incluindo os únicos dois casos locais transmitidos, após os quais não houve outros casos positivos relatados nas ilhas. Seychelles tem sido um destino muito procurado por celebridades brasileiras e internacionais por conta de suas praias paradisíacas e pelos cuidados com o turismo sustentável.

Jardins e Museus virtuais Se as viagens presenciais estão ainda em ritmo de incertezas neste período de isolamento social e quarentena, a saída, por enquanto, são os passeios virtuais. Há várias opções para todos os gostos sem sair de casa. O famoso e belíssimo Jardim Botânico Real, ou Kew Gardens , em Londres – tema de reportagem há alguns anos aqui mesmo em Plurale em revista – pode ser visitado no site (https:// www.kew.org/about-us/virtual-kew-wakehurst ) . A maioria dos grandes museus também podem ser conhecidos com um clique. Seja no Brasil ou no exterior. Em São Paulo, a incrível Pinacoteca tem o seu acervo permanente “aberto” virtualmente no link (http://www.iteleport.com.br/tour3d/pinacoteca-de-sp-acervo-permanente/ ). Sem falar nos mega famosos museus do Louvre (https://www.youtube.com/watch?v=JkPcA8dngB4) , em Paris e o American Museum of Natural History, em Nova Iorque (https://www.amnh.org/plan-your-visit/field-trips )

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ISABELLA ARARIPE

Está sendo concluído o processo de cocriação do “Teia – soluções para a natureza”, envolvendo vários atores da sociedade para apontar os desafios para aprimorar o turismo em áreas naturais. Ao final de quatro etapas, o objetivo é viabilizar inovações com o propósito de aliar o turismo com a proteção da biodiversidade brasileira. As soluções selecionadas receberão, ao todo, R$ 2 milhões da Fundação Grupo Boticário de Proteção à Natureza, realizadora da chamada. “Com a inscrição dos desafios, queremos que toda a sociedade – especialmente os públicos que estão diretamente em contato com esta temática em qualquer lugar do Brasil – indique quais são os principais gargalos para desenvolvermos no País um turismo responsável em áreas naturais. Uma atividade que, além de gerar renda e desenvolvimento para comunidades locais, contribua com a proteção do nosso patrimônio natural. Acreditamos que o contato com a natureza desperta o interesse em cuidá-la”, explica a diretora-executiva da Fundação Grupo Boticário, Malu Nunes. O resultado será divulgado no site : www.fundacaogrupoboticario.org.br


Meio Ambiente

Ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, surpreende com discurso de desmonte ambiental em reunião ministerial Da Equipe Plurale/ Foto de Marcos Corrêa/ PR- Secom

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lém de todo o cenário político e institucional na divulgação de gravações da Reunião Ministerial ocorrida em 22 de abril, não foram só as falas do Presidente da República que surpreenderam autoridades e a sociedade civil. Também os discursos de ministros causaram espanto e indignação. Como a intervenção feita pelo Ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles. O ministro falou na reunião ministerial de abril, que, aquele momento era perfeito para acelerar as mudanças nas chamadas reformas supralegais da área ambiental, aproveitando o que ele chamou de “alívio” da imprensa com a cobertura das mortes provocadas pelo coronavírus. E que era para “passar a boiada” e aprovar tudo na base “da canetada”. Observatório do Clima - Em nota, o Observatório do Clima - coalizão que reúne várias ONGs e entidades da sociedade civil em torno da pauta do clima - alertou que o Ministro “Salles deve ser afastado imediatamente por tramar contra a própria pasta.” A nota do Observatório do Clima avança: “Esperamos que Ministério Público federal, STF e Congresso tomem medidas imediatas para o afastamento do ministro Ricardo Salles. Ao tramar dolosamente contra a própria pasta, demonstra agir com desvio de finalidade. “ ONGs - No domingo, dia 24 de maio, seis ONGs - WWF Brasil, Greenpeace Brasil, SOS Mata Atlântica, ISA e Clima Info - di-

vulgaram anúncio em jornais, reiterando que o Ministro Salles deveria deixar o cargo - utilizaram a #essaboiadanãopassará - e que estão atentas e irão lutar contra esta estratégia do Ministério do Meio Ambiente e do Governo Federal. Em nota, o Greenpeace reiterou: “A fala de Ricardo Salles evidencia os perigos que a sociedade vem denunciando desde o primeiro dia de mandato do governo Bolsonaro e cujos resultados já são comprovados no chão da floresta. O desmatamento da Amazônia aumentou 30% em 2019 e, nos primeiros meses de 2020, os alertas

já apontam crescimento de 62%..” Mídias ambientais - Também a Rede Brasileira de Jornalismo Ambiental (RJBA) divulgou manifesto, endossado por Plurale. De acordo com a nota da RJBA, “a mídia e os jornalistas ambientais estão atentos a tudo o que esse ministro faz, e antes que o golpe ambiental seja consumado é preciso agir contra o desmonte da legislação ambiental e das instituições de fiscalização e pesquisa ambiental.” #essaboiadanãovaipassar #midiasambientais

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Pelos caminhos do

BREJAL Da Equipe Plurale Fotos de Luciana Tancredo – Editora de Fotografia de Plurale

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e tem um sonho coletivo recorrente de muitos é, sem dúvida, sair das grandes cidades e poder morar junto da natureza, podendo contemplar tudo o que a biodiversidade nos reserva. E atualmente, com a possibilidade real do home-office, o sonho está mais próximo do que parece. Bem antes do período da pandemia – e do isolamento social – a nossa Editora de Fotografia, LUCIANA TANCREDO, já acalentava esta vida menos estressante e mais saudável em região bem próxima do Rio. Há alguns anos, ela e o marido, o administrador José Luiz Farani, compraram um sítio no Brejal, no alto das montanhas, entre três municípios, Petrópolis, São José do Vale do Rio Preto e Areal. Sem falar que Teresópolis está logo ali. A região é forte na agricultura orgânica, em haras e recantos para apreciar boa comida. “Descobrimos o Brejal há pelo menos 20 anos, em um Carnaval que passei na Serra. De lá para cá, foi um caminho sem volta. A ideia de nos mudarmos definitivamente só foi crescendo até que, em 2019, conseguimos realizar este sonho”, conta Luciana. Assim, quando veio a necessidade de isolamento social, o casal já estava em seu “paraíso” particular. As obras foram feitas aos poucos, ao longo dos anos até que a propriedade pudesse mesclar o melhor da natureza e as necessidades da vida moderna, como

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E n s a i o uma boa internet e gerador para dias de interrupção de luz. Este ensaio foi pensado por Luciana não só para apresentar os caminhos do Brejal. Mas também para que cada um possa refletir e quase respirar o ar puro tão desejado por todos. “A vida por aqui é assim. Um grande encontro com a Mãe Natureza, todo dia temos uma surpresa, ou um pássaro diferente aparece, ou uma

FOTOS DE LUCIANA TANCREDO DO BREJAL – PETRÓPOLIS - RJ flor desabrocha, ou é a lua que nasce. Cada detalhe me mostra que, se bem cuidada a Natureza te devolve com amor o alimento para vida e para alma. Esse é o nosso lugar”, resume Luciana. Quando precisa trabalhar, basta descer a serra e, em menos de duas horas já está novamente na cidade do Rio de Janeiro. Gratidão. Suas fotos transmitem muita paz e harmonia. Quando tudo passar, a dica para quem quiser conhecer este paraíso é pegar a estrada na direção à BR 040, até Pedro do Rio: dali só seguir até a Posse pela Estrada União Indústria. Dali tem indicação. A estrada é sinuosa, mas boa. O roteiro “Caminhos do Brejal”, projeto turístico eco rural, envolve vários pontos lindos para serem conhecidos, como o Restaurante Provence, o Sítio Katsumoto, a Floricultura Brejal, Escargots Invernada e o Haras Massangana. Mais informações no site http:// mapadecultura.rj.gov.br/manchete/caminhos-do-brejal


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E n s a i o

FOTOS DE LUCIANA TANCREDO DO BREJAL – PETRÓPOLIS - RJ


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E n s a i o

FOTOS DE LUCIANA TANCREDO DO BREJAL – PETRÓPOLIS - RJ

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Ecoturismo

ISLÂNDIA A Terra do fogo e gelo Texto e Fotos por Paula Martinelli Especial para Plurale Da Ring Road- Islândia

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Islândia é conhecida como a Terra do fogo e do gelo. Onde você encontra vulcões ativos e fumegantes e geleiras azuis vivas lado a lado. Um país pouco povoado, com uma das áreas vulcânicas mais ativas do mundo, e de nomes impronunciáveis (tente dizer Eyjafjallajökull). Cachoeiras majestosas, montanhas escarpadas, cavalos e ovelhas que dividem os campos e baleias rompendo as agitadas águas do Atlântico que envolvem essa pequena ilha. Ainda são poucos os

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Blogueira atravessa a famosa Ring Road e se encanta com a exuberância da natureza no país ainda pouco visitado por turistas brasileiros brasileiros que se aventuram por esta região tão exuberante, talvez por falta de conhecimento ou pelo custo. Mas posso garantir: a viagem vale muito! Durante a primavera de 2019, bem antes desta pandemia, dirigi pela famosa Ring Road (Estrada do Anel) e visitei lugares inusitados, que representam perfeitamente a definição da Islândia como a terra do fogo e do gelo. O cenário muda a cada quilômetro percorrido - de campos verdejantes, montanhas nevadas e geleiras brilhantes a aparên-

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cia de Marte. Na minha opinião, é um dos lugares mais bonitos do mundo. Como uma ilha tão pequena pode ter paisagens tão diversas? A Islândia é um destino perfeito para os amantes da natureza e com algumas das paisagens mais marcantes do nosso planeta. A Ring Road tem este nome porque tem a forma de um anel, que faz um loop em torno da ilha. Com 1.332 km de extensão e aproximadamente 30 horas de direção, essa estrada é a melhor maneira de conhecer o que a Islândia tem de


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mais incrível a oferecer. Sem falar que esta também é considerada uma das melhores viagens de carro do mundo, com uma grande variedade de paisagens e natureza de tirar o folego. Ao longo do caminho, é possível ver uma parte emocionante da paisagem rural islandesa; vulcões, geleiras, as encantadoras aldeias à beira-mar e os fiordes solitários. Dirigindo pela Ring Road: as experiências mais marcantes Durante a minha viagem de carro ao redor da Islândia, vi e vivi inúmeras aventuras – e me senti isolada no meio de

TEXTO E FOTOS POR PAULA MARTINELLI DA RING ROAD, ISLÂNDIA

uma das mais belas e fascinantes naturezas que já visitei em todos esses meus mais de 20 anos de viagens pelo planeta. Dirigir pela Ring Road quer dizer que você terá contato direto com várias oportunidades de sentir, ver e ouvir o poder na natureza. Dos 100 vulcões mais ativos da Islândia, 25 entraram em erupção na história recente e 35 nos últimos 10.000 anos. Em alguns pontos da viagem pela Ring Road é possível visitar alguns desses vulcões e ver a transformação da natureza à sua volta. A Islândia abriga também alguns

dos maiores gêiseres do mundo. Aliás, a própria palavra gêiser teve origem num grande gêiser da Islândia, conhecido como “Great Geysir”. As auroras boreais são a principal atração turística da Islândia; o fenômeno óptico pode ser observado nos céus noturnos de regiões polares. Mas não pense que poderá ver esse espetáculo incrível da natureza o ano todo, pois as auroras boreais só podem ser vistas nos meses de inverno. Para que esta extraordinária exibição possa ser testemunhada, é necessário haver forte atividade solar, céu limpo e o mínimo de luz possível. Um fato interessantíssimo da Islândia é que a ilha situa-se na fronteira das placas tectónicas norte-americana e eurasiática, conhecida como a Crista do Médio-Atlântico. O movimento destas placas nos últimos 180 milhões de anos resultou na separação do continente europeu da América do Norte e do continente africano da América do Sul. Se você tiver a oportunidade de dirigir pela Ring Road, poderá visitar o Þingvellir National Park e ver a separação das placas com seus próprios olhos e poder caminhar entre dois continentes.

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Ecoturismo

A Islândia é também um paraíso para amantes de cachoeiras, cada uma com sua beleza única. Uma das minhas cachoeiras favoritas é a Dettifoss, que também pode ser vista na série Game of Thrones; a cada segundo, 193 metros cúbicos de água despencam uma altura de 45 metros, fazendo dessa cachoeira a mais poderosa do continente europeu. Outra visão deslumbrante durante a viagem pela Ring Road é visitar a Diamond Beach (Praia dos Diamantes). A lagoa glacial corre por um pequeno canal de água até ao Oceano Atlântico, deixando pedaços de icebergs numa praia de areia preta, o que faz com que pareçam mesmo diamantes gigantes. É um cenário dinâmico, em constante mudança, moldado diariamente pelas forças da natureza. Ao longo deste trajeto também é possível observar várias fazendas e animais. E um dos residentes de quatro patas mais ilustres é sem dúvida alguma o cavalo islandês. Instantaneamente reconhecível por sua baixa estatura, pernas curtas e musculatura, esta raça isolada é famosa pela sua fiabilidade e resistência aos elementos naturais. O cavalo islandês é uma raça de cavalos única, de tal forma que é proibida sua reprodução externa, a fim de manter intacta sua genética exclusiva; por isso, qualquer animal que abandone o país

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TEXTO E FOTOS POR PAULA MARTINELLI DA RING ROAD, ISLÂNDIA

E n s a i o nunca poderá regressar. Outro encontro único foi na cidade de Húsavík, no nordeste da Islândia. Fui informada sobre a possibilidade de 99% de chances de avistar baleias e resolvi ver com meus próprios olhos. Estava a bordo de um barco e com um guia com bastante experiência em observação de baleias quando, de repente, delicadamente, uma cauda sobe ao ar e todas os olhos se voltam para a mesma direção. As estatísticas estavam certas. Podemos avistar várias baleias jubartes que migram para essa costa da ilha para se alimentar. Uma experiência marcante para crianças de todos as idades. Agora, atração preferida de todas durante a minha viagem à Islândia foi fazer escalada nas paredes das geleiras gigantes. Além da adrenalina dessa aventura tão inédita para mim, foi também uma experiência fantástica me sentir tão pequena diante desse espetáculo da natureza. A Islândia é uma terra que passou a ser definida por suas paisagens congeladas e é um país de icebergues flutuantes, geleiras e cavernas de gelo azul deslumbrantes, que podem ser explorados com a ajuda de guias profissionais locais. A Islândia é um país com muitas maravilhas naturais e se você é um amante da natureza que busca aventuras inusitadas, a Islândia está à sua espera para que a explore.

SERVIÇO Quando visitar - De maio a setembro é a melhor época para visitar a Islândia, se você quiser observar baleias; dá para combinar orcas com a aurora boreal no final de setembro a Junho e Agosto oferecem dias intermináveis, com temperaturas amenas e festivais de verão. A neve chega já em setembro (e pode demorar até maio). Os invernos podem ser brutais, mas oferecem a aurora boreal, por terem noites mais longas. Mas se se estiver pensando em dirigir no inverno, atenção: o fechamento de estradas nessa época do ano dificulta o acesso a algumas áreas. Como alugar um carro: Saiba que se você também quiser se aventurar pela Ring Road e alugar e dirigir o seu próprio carro, os desafios de dirigir na Islândia dependem inteiramente das condições meteorológicas, da estação do ano e da qualidade das estradas. Dirigir durante a primavera e o verão é bem mais fácil do que no inverno. Por isso, escolha um itinerário e reserve um tempo de viagem que seja adequado à experiência que procura. O carro deve ser alugado com antecedência, e você faz a retirada já no Aeroporto. Eu uso e recomendo a RentalCar pois reúne o preço de vá-

rias locadoras e você pode comparar as opções. Onde se hospedar: Quanto à hospedagem, as opções são muitas e variam muito de preço, dependendo do que cabe melhor no seu bolso. A opção mais comum e também com melhores preços (média de US$100 por dia para duas pessoas) é se hospedar em guesthouses. São normalmente agricultores que constroem casas de hóspedes nas suas propriedades; assim, você ficará hospedado em fazendas com cavalos, ovelhas, vacas, galinhas e cães, o que lhe dá uma ideia de como vivem os habitantes locais. Alguns deles servem um delicioso café da manhã e têm cozinha onde você pode cozinhar suas próprias refeições. Eu sempre uso e recomendo o Booking.com, por ser uma fonte confiável de reservas. •Paula Martinelli •Blog: Paula Pins the Planet •Website: https://www.paulapinstheplanet.com/ •Paula Pins the Planet é um blog de viagens focado em experiências autênticas nos lugares menos explorados do planeta, priorizando um turismo sustentável e viagens éticas.

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CINEMA

Verde

ISABEL CAPAVERDE

i s a b e l c a p a v e r d e @ p l u r a l e . c o m . b r

Sugestão 1 O isolamento social que estamos passando por conta da pandemia do Covid-19, pode ser um momento para aproveitar o que os serviços de streaming (plataformas de distribuição digital) têm a oferecer em seus catálogos. Uma boa pedida são os documentários. Na Amazon Prime Video, uma sugestão é o documentário “Humano – Uma Viagem pela Vida”, onde pessoas comuns falam espontaneamente o que pensam sobre amor, morte, ódio, discriminação, desigualdade, fome, esperança, sexo e muitos outros assuntos ligados à natureza humana. Além dos relatos, o filme apresenta paisagens dos mais remotos lugares do mundo.

Sugestão 2 No popular serviço de streaming Netflix, a dica é a série documental da National Geographic apresentada pelo ator Will Smith, “One Strange Rock”, que mostra as maiores curiosidades sobre a Terra do ponto de vista de oito astronautas. Destaque para a participação da primeira mulher negra a pisar no espaço, a astronauta Mae Jemison.

Sugestão 3 “Nosso Planeta”, também disponível para assinantes do Netflix, é outra série documental, mas com imagens deslumbrantes das belezas naturais ao redor do mundo. Dos mesmos criadores de “Planeta Terra” e “Planeta Azul”, a fotografia primorosa revela do Ártico, as profundezas misteriosas dos oceanos, as vastas paisagens da África e as selvas variadas da América do Sul.

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Sugestão 4 Vencedor do Grande Prêmio do Júri do Sundance U.S. de 2019, no documentário “One Child Nation”, as cineastas nascidas na China, Nanfu Wang (Hooligan Sparrow) e Jialing Zhang, expõem as consequências da Política do Filho Único da China através das histórias de pessoas que a vivenciaram. Vítimas e instigadores de atos violentos. Para assinantes da Amazon Prime Video.

Sugestão 5 Ganhador de vários prêmios, “Virunga” conta a história verídica dos guardas que arriscam a vida para proteger o parque nacional mais precioso da África, no Congo, e seus gorilas em risco de extinção. O país abriga os últimos gorilas das montanhas. Para assinantes do Netflix.

Sugestão 6 Mais do que nunca a humanidade está em busca de espiritualidade, então, no Netflix é possível assistir “A história de Deus com Morgan Freeman”. A série documental apresenta uma viagem pelo mundo das religiões à procura de respostas sobre as questões primordiais da fé. Em cada episódio, Morgan Freeman explora um aspecto sobre o divino com a ajuda de especialistas, descobrindo o que liga as diferentes religiões nos diferentes países.


Estante Coronavírus e as cidades no Brasil: reflexões durante a pandemia, Por Andrea Borges e Leila Marques (organizadoras), Editora Outras Letras, 208 págs, Ebook disponível na Amazon e em todas as lojas virtuais, Pré-venda do livro físico R$ 40, sem frete, no site da editora: https://outrasletras.com.br/product/reflexoesdurante-a-pandemia/ As arquitetas e urbanistas Andrea Borges e Leila Marques reuniram 40 mestres e doutores – entre arquitetos, urbanistas, economistas, historiadores, cientistas sociais, engenheiros, filósofos envolvidos com planejamento urbano para, em até cinco páginas, exporem suas reflexões sobre o momento atual nas cidades. E o que encontramos nessas reflexões? Fazer quarentena em condomínio, com um sistema de delivery batendo à sua porta para lhe trazer alimentos prontos ou por preparar, em ambiente propício para a assepsia das mercadorias e das mãos com sabão e álcool 70º, é uma realidade intangível para grande parte da população. Desde quem divide os poucos cômodos da casa com um número muito grande de parentes, como para quem desempenha atividades informais cujo ganho diário é necessário para levar o “pão nosso de cada dia” para os familiares, chegando, por fim, naqueles que sequer têm casa onde se quarentenar. Gente com dificuldades básicas em casa, ordem de despejo, população de rua, reforma necessária nas prisões, violência doméstica, caos dos transportes coletivos, modelos econômicos equivocados, retração do Estado, ausência de políticas públicas sociais, o neoliberalismo em cheque, falta de sustentabilidade, despejos residenciais, impacto no turismo, janelas e sacadas, legislação antiquada, retrato da moradia da classe média urbana no Brasil, e, felizmente, solidariedade e espírito de coletividade.

Memórias de um aluno totalmente dividido, Por Alexandre de Castro Gomes, Editora: Paulus, 120 págs, R$ 37 A obra infantojuvenil Memórias de um aluno totalmente dividido, escrita por Alexandre de Castro Gomes, e com ilustrações de Veruschka Guerra, narra à história de Mosquito, um jovem dividido entre duas paixões: o esporte e o meio ambiente. A escola em que Mosquito estuda tem um bosque, que alguns alunos querem derrubar para poder construir uma quadra esportiva, porém outros estudantes querem preservar o espaço de mata atlântica. Mosquito está no meio de um grande conflito, já que, os alunos que apoiam a derrubada das árvores são do seu time de futebol, que precisam de espaço para treinar. Do outro lado, está sua irmã, uma jovem apaixonada pelo meio ambiente, que defende a permanência do bosque. O jovem mosquito precisa encontrar uma resposta: ou defende a derrubada do bosque, e isso significa uma quadra para seu time treinar, ou defende a manutenção do bosque, e fica bem com a sua família.

POR FELIPE ARARIPE

Prana, Por Jacqueline Farid, Páginas Editora, 178 págs, R$ 39 Uma narrativa que mistura relato de viagem e ficção, com cenários belíssimos em um dos países mais encantadores e instigantes do mundo, a Índia. Prana, novo livro de Jacqueline Farid, tem tudo isso e mais um pouco. A escritora e jornalista, que encantou o público com seu romance “No reino das girafas”, semifinalista do Prêmio Oceanos, acaba de lançar a publicação pela Páginas Editora. Ao viajar pela Índia, em 2018, Jacqueline Farid colheu material para escrever o livro, cuja escritura teve início logo que retornou ao Brasil. A obra conta com elementos da vivência, das experiências de viagem que se misturam a personagens fictícios. O desafio, para o leitor, é imaginar o que é ficção ou realidade. “Não dá pra dizer o que é verdade ou ficção, porque a graça da brincadeira é exatamente mesclar as duas coisas, sem que o leitor saiba o que é realidade e o que não é. Eliminar ou ocultar a tênue fronteira entre ficção e realidade é um exercício instigante pra mim. Mas as informações sobre os locais visitados, sobre a Índia na visão de um viajante, são parte de um relato de viagem que também me interessa, de apresentar esse maravilhoso país ao leitor a partir dos olhos dos personagens”.

TÂPUI ÑYATA, Por Rodrigo Medeiros e João Alegria, Editora: Andrea Jakobsson Estúdio, 80 págs, R$ 51 Imagine se, um dia, a Mãe Natureza pudesse falar por meio das pessoas e finalmente encontrasse um canal para demonstrar sua preocupação com os destinos do Planeta. Em “TÂPUI ÑYATA - A Voz da Natureza”, Rodrigo Medeiros e João Alegria transformam o sonho em realidade com Clara, uma jovem deficiente auditiva que, sem saber muito bem como, ganha a missão de escutar as vozes da Terra e despertar os jovens para defender a Natureza. Tudo isso tendo como pano de fundo a Floresta da Tijuca, que envolve o Rio de Janeiro e torna a cidade única. Um livro para adolescentes de até 90 anos, capaz de despertar o sentimento de que ainda é possível fazer a Humanidade mudar de rumo. “O livro nasceu do desejo de falar sobre esse afastamento que crianças e adolescentes, que crescem no meio urbano, têm da natureza, e de como esse afastamento não é uma escolha deles, mas sim dos seus pais”, conta Rodrigo Medeiros, biólogo e doutor em Ecologia e Biodiversidade pelo Museu Nacional de História Natural de Paris, cuja trajetória se confunde com a da Conservação Internacional Brasil. ‘TÂPUI ÑYATA’ é inspirado na campanha “A natureza está falando”, da Conservation International.

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FELIPE ARARIPE

Ball Corporation anuncia aprovação de metas baseadas na ciência para reduzir emissões de gases do efeito estufa

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De Denver/ EUA

Ball Corporation (NYSE: BLL) anunciou em 22 de abril a aprovação da iniciativa “Metas Baseadas na Ciência” (Science Based Targets initiative SBTi), que consiste em suas metas para reduzir em 55% as emissões absolutas de carbono em suas próprias operações e em 16% em sua cadeia de valor até 2030, em comparação com dados de referência de 2017. Sendo a primeira no setor, esse marco confirma os esforços da Ball em ajudar a acelerar a transição para uma economia de baixo carbono e restringir o aquecimento global a 1,5ºC, atendendo os objetivos do Acordo de Paris.

A Ball é a primeira empresa do setor de produção de latas a ter uma meta baseada na ciência aprovada. “O setor privado tem um papel essencial na aceleração da economia de baixo carbono e, como o fornecedor líder mundial de embalagens para be-

Instituto Claro anuncia projetos vencedores da 8ª edição do Campus Mobile De São Paulo

O Instituto Claro divulgou, no dia 6 de maio, os projetos vencedores da 8ª edição do Campus Mobile, concurso de inovação e empreendedorismo, realizado pela Associação do Laboratório de Sistemas Integráveis Tecnológico (LSI-TEC), com patrocínio do Instituto Claro e apoio da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (USP), que busca estimular os estudantes universitários e jovens recém-formados a desenvolverem soluções por meio de aplicativos, produtos e serviços do segmento mobile que promovam impacto social e benefícios à população. O anúncio foi feito após a banca final, realizada com profissionais do mercado representando as diferentes categorias para avaliar e computar todos os votos e informações necessárias para a escolha dos vencedores. Os au-

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tores dos projetos escolhidos terão a oportunidade de conhecer o Vale do Silício, na Califórnia, EUA. Em data a ser confirmada, a viagem possibilitará que os estudantes façam uma imersão em algumas das maiores empresas de tecnologia do mundo, além de receberem uma quantia destinada para o aperfeiçoamento de seus projetos.

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bidas sustentáveis de alumínio, estamos empenhados em fazer a nossa parte em prol dos clientes e do planeta”, declarou Kathleen Pitre, Diretora Comercial e de Sustentabilidade. “Essas metas aprovadas com base na ciência demonstram nosso compromisso em ajudar os clientes a atingirem seus objetivos de sustentabilidade e entregarem embalagens de baixo carbono, que possibilitam a economia circular.” Organizada pelo CDP, Pacto Global da ONU, Instituto de Recursos Mundiais e World Wide Fund for Nature, a iniciativa Metas Baseadas na Ciência é uma colaboração de mais de 800 empresas globais que estabeleceram objetivos corporativos bem definidos para a redução de emissões alinhadas com a ciência do clima mais atual. “Selecionamos um número recorde de projetos participantes da 8ª edição do Campus Mobile, isso mostra que cada vez mais o programa possui representatividade e uma abrangência enorme em todo o Brasil. Ficamos muito felizes em proporcionar aos estudantes universitários essa oportunidade de empreender e investir em projetos que trarão muitos benefícios à população”, afirma Daniely Gomiero, diretora de Comunicação e Responsabilidade Social da Claro e vice-presidente de Projetos do Instituto Claro. FOTO DE DIVULGAÇÃO


Marcas brasileiras estão no topo relatório BrandZTM das Marcas Latino-americanas Mais Valiosas em 2020 De São Paulo

Idealizada pelo publicitário e empresário brasileiro Márcio Escudeiro, Fleekus acaba de ser lançada no Brasil e nos Estados Unidos. Mais do que uma rede social, Fleekus é uma plataforma colaborativa de conteúdo onde os usuários são os próprios editores e curadores das informações (matérias, notas, dicas, opiniões, histórias, e tudo mais que seja interessante.).

Além de ajudar a impulsionar as publicações, Fleekus também colabora para identificar de forma muito eficaz, responsável e séria conteúdos inapropriados, ofensivos, e pornográficos. Outra novidade e certamente o grande diferencial é o poderoso e eficaz algoritmo que usa inteligência

artificial, cruzamento de dados e, uma série de cálculos, para ajudar a identificar as “fake news”. Em tempos de redes sociais quentes, polarizadas e com cada vez mais importância nas nossas vidas, Fleekus surge para dar voz a todos e combater a divulgação das notícias falsas.

ABAMEC e APIMEC - 50 anos dedicados ao mercado de capitais Da Apimec

Há exatos 50 anos, mais especificamente em 18 de maio de 1970, era fundada no Rio de Janeiro a ABAMEC - Associação Brasileira dos Analistas do Mercado de Capitais, hoje APIMEC - Associação dos Analistas e Profissionais de Investimento do Mercado de Capitais. Neste dia também foi proclamado o Dia Nacional dos Analistas e Profissionais de Investimento do Mercado de Capitais.

Idealizada da necessidade de integrar, estimular, interagir e apoiar qualquer tipo de ação em prol do crescimento e amadurecimento do mercado financeiro e de capitais brasileiro, sua liderança logo assis-

tiram à fundação de coirmãs a nível nacional em um processo de desenvolvimento e fomento para o crescimento da economia e forte expansão do mercado financeiro e de capitais.

Nasce o 50º filhote de harpia no Refúgio Biológico da usina de Itaipu FOTO DE DIVULGAÇÃO

De Foz do Iguaçu (PR)

O Refúgio Biológico Bela Vista, da Itaipu Binacional, na fronteira do Brasil com o Paraguai, registrou, no dia 26 de abril, a chegada do 50º filhote do Programa de Reprodução de Harpias (Harpia harpyja), mantido pela usina. O nascimento do bebê harpia consolida a iniciativa como o maior programa de reprodução em cativeiro da ave símbolo do Paraná no mundo. Para o diretor de Coordenação, Luiz Carbonell, essa é mais uma grande conquista da Itaipu, que é referência em

vários projetos e ações socioambientais. “Logo essa ave estará ajudando em outros programas de reprodução no planeta, o que para nós é motivo de grande orgulho”, diz Carbonell. O filhote tem apenas 89 gramas. Por causa de seu pequeno porte, ainda não é possível determinar se é fêmea ou macho. “O recém-nascido foi tirado do ninho no dia 27 de abril, mas, devido ao seu tamanho e comportamento, acreditamos que o ovo tenha eclodido no domingo, dia 26”, explicou o biólogo da Divisão de Áreas Protegidas da Itaipu Marcos de Oliveira, especialista no ma-

nejo de aves de rapina.O pai do filhote é o primeiro macho nascido no RBV, em 2009. A mãe veio do Parque Zoobotânico Vale, no Pará, em 2014. Eles formam um dos seis casais reprodutores do plantel, que conta, atualmente, com 36 aves.

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I m a g e m ARTE DE BANKSY

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enhuma outra categoria profissional foi mais exigida nesta pandemia – a de profissionais da saúde, sejam eles médicos, enfermeiros, fisioterapeutas e outras profissões que trabalharam arduamente para tentar salvar vidas. Refletindo sobre esta realidade, o famoso artista de rua BANKSY homenageou enfermeiros com obra chamada de “Quem vira o jogo”. A obra apareceu “misteriosamente” em Hospital em Southampton, cidade da Inglaterra, em maio. No grafite, um menino deixa de lado os super-heróis tradicionais, como o Super-Homem e pega uma boneca enfermeira, com capa. A notícia foi destaque no mundo todo, inclusive no Brasil. “Obrigado por tudo que vocês estão fazendo. Espero que isto ilumine um pouco o local, mesmo que seja apenas em preto e branco”, escreveu o artista em uma nota dirigida aos funcionários do estabelecimento. Quando terminar o confinamento, a obra será exposta ao público e depois será leiloada. O dinheiro arrecadado será destinado ao Sistema Nacional de Saúde (NHS), informou uma porta-voz de Banksy.


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AMARO JUNIOR / PLURALE

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