Plurale em Revista - Edição 68

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ano doze | nº 68 | novembro / dezembro 2019 R$ 10,00

AÇÃO | CIDADANIA | AMBIENTE

FOTO DE LUCIANA TANCREDO - SEMINÁRIO 12 ANOS DE PLURALE- RIO DE JANEIRO (RJ)

w w w. p l u r a l e . c o m . b r

CHINA, TRINTA ANOS REVISITADOS E RENOVADOS ARTIGOS INÉDITOS

SEMINÁRIO PLURALE 12 ANOS: CASES SUSTENTÁVEIS E JOVENS PROTAGONISTAS


grupoboticario.com.br

Para criar produtos que fazem diferença no mercado, criamos uma empresa que faz diferença na vida das pessoas. Em menos de 10 anos, o Grupo Boticário tornou-se uma das maiores redes de varejo do país. São seis das mais importantes marcas de beleza do mercado, presentes em milhares de pontos de venda no Brasil e em outros 15 países. Uma história de empreendedorismo e inovação que só é possível graças a uma equipe com brilho nos olhos, apaixonada pelo que faz e sempre pronta para fazer a diferença na vida das pessoas e no mundo.



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Foto de Luciana Tancredo – Plurale

Contexto

Ecoturismo, por Isabella Araripe

20.

Seminário Plurale 12 anos – apresentação de Cases sustentáveis, diálogo com jovens protagonistas e palestra do Jornalista André Trigueiro

44.

Foto de Sonia Favaretto

Foto de Sonia Favaretto

China - Trinta anos revisitados e renovados, Por Hélio Rocha, de Pequim

Área de Preservação Permanente de Itaipu tem o status de Reserva da Biosfera, chancela dada pela Unesco Por Nícia Ribas, de Plurale

Medicamento à base de gengibre amargo da Amazônia pode evitar amputação em diabéticos, por Luciana Bezerra de Manaus

50 Papinhas orgânicas, por Nícia Ribas

52 Oslo, capital Sustentável, por Elisabeth Cattapan Reuter

60 Cinema verde, por Isabel Capaverde

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12.

ARTIGOS INÉDITOS: Sônia Consiglio Favaretto e Vera Valente

Foto de Rubens Fraulini/ Itaipu Binacional

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Foto de Egberto Nogueira/ Bradesco

34.

Cidade de Deus, sede do Bradesco em Osasco (SP), ganha espaços de convivência e bem-estar baseados na sustentabilidade


E ditorial

Compartilhar e Dialogar – eixos do Seminário Plurale 12 anos

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Por Sônia Araripe, Editora de Plurale

esde o seu nascimento, em outubro de 2007, este é o quarto Evento que Plurale realiza. A cada rodada, tentamos buscar um foco e trabalhar em torno desta ideia central. Desta vez, pensamos em um evento que tivesse como eixos o compartilhamento de Cases Sustentáveis de sucesso e também o Diálogo de Jovens Protagonistas. Abrindo a manhã inspiradora, palestra incrível do nosso amigo e guru, o Jornalista André Trigueiro, destacando que precisamos fazer ainda mais pela urgente migração para a economia de baixo carbono. Era preciso ainda que a organização fosse alinhada com esta proposta. Reunimos parceiros que nos ajudaram a viabilizar um evento sustentável, sem material descartável, baixa emissão e pouca geração de lixo. Partimos também para a realização de um antigo sonho: exposição de fotos que retratasse alguns dos principais momentos destes 12 anos incríveis mostrando um Brasil tão plural, quanto maravilhoso. Contamos com parceiros – mais do que patrocinadores – que entenderam o nosso propósito e nos ajudaram a concretizar o Seminário no Instituto Brasileiro de Executivos de Finanças (IBEF-Rio): Accor, Ball, Bradesco, Fundação Grupo Boticário, Instituto Claro e Mc Donald`s/ Arcos Dorados. Nossos agradecimentos. A repercussão foi acima de nossas expectativas. Foram geradas diversas matérias e posts nas mídias, tivemos transmissão ao vivo com os parceiros do Razão Social e o púbico presente curtiu e aplaudiu cada momento deste evento. Trazemos aqui nesta edição um Especial sobre os principais momentos deste dia inesquecível em nossa trajetória. Lançamos a Seção “Estudo de Casos” em Plurale em site, com o objetivo de compartilhar estas experiências relevantes de práticas sustentáveis. Não é só. Hélio Rocha acaba de

Palestrantes relevantes no Seminário Plurale 12 anos, realizado no Instituto Brasileiro de Executivos de Finanças (IBEF-Rio)

Equipe Plurale e Produção comemoraram os bons resultados do Seminário #plurale12anos.

voltar da China, onde viveu por seis meses – como bolsista da Associação de Diplomacia Pública da China - a experiência de viajar e conhecer as diferentes regiões e seu povo. Aqui nos apresenta um retrato do que viu, 30 anos após a crise do Socialismo de 1989, que sacudiu não só as economias destes países, mas todo o mundo. Elisabeth Cattapan Reutter conheceu a ecológica e simpática Oslo, com sua busca por mobilidade mais sustentável. Em destaque também artigos inéditos de Sonia Consiglio Favaretto, presidente do Pacto Global BR-ONU e de Vera Valente , Diretora-Executiva da Federação Nacional de Saúde Suplementar (FenaSaúde). Tive o privilégio de acompanhar o inspirador Evento #mulheresprafrente, realizado pelo Bradesco, com mulheres protagonistas e encerramento de ninguém menos do que a diva do teatro brasileiro, a atriz Fernanda Montenegro. Premiação de produtores de café e a participação do Instituto Claro na Assembleia Geral da ONU são outros temas

abordados nesta Edição tão especial. De Manaus, Luciana Bezerra apresenta a pesquisa do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA), à base do gengibre amargo e cúrcuma amarga da Amazônia, que pode ajudar a combater o risco de amputações em diabéticos. Nossa Nícia Ribas esteve em duas missões em diferentes regiões do Brasil: conheceu programas socioambientais entorno de Itaipu Binacional, em Foz do Iguaçu (PR) e ainda conferiu o lançamento de papinhas orgânicas da Nestlé, no interior paulista. Confira ainda as Colunas Ecoturismo, de Isabella Araripe; Cinema Verde, por Isabel Capaverde e Pelas empresas, de Felipe Araripe. Que venha o novo ano, com ainda mais desafios, novas viagens e grandes temas. Por mais e mais anos de vida para Purale. Agradecemos a sua leitura e participação nesta nossa história. Nosso objetivo é falar para você! Juntos na trilha sustentável. Feliz 2020, com muitas alegrias e harmonia!

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Quem faz

Diretora Sônia Araripe soniaararipe@plurale.com.br Fundadores Carlos Franco e Sônia Araripe Plurale em site: www.plurale.com.br Plurale em site no twitter, facebook e instragram: http://twitter.com/pluraleemsite https://www.facebook.com/plurale @revistaplurale Comercial comercial@plurale.com.br Arte Amaro Prado e Amaro Junior Fotografia Luciana Tancredo e Eny Miranda (Cia da Foto); Agência Brasil e Divulgação Colaboradores nacionais Felipe Araripe (Estagiário), Hélio Rocha, Isabel Capaverde, Isabella Araripe, Lília Gianotti e Nícia Ribas. Colaboradores internacionais Aline Gatto Boueri (Buenos Aires), Vivian Simonato (Dublin), Wilberto Lima Jr.(Boston) Colaboraram nesta edição: Egberto Nogueira (Fotografia), Elisabeth Cattapan Reuter (De Oslo), Fabio Rodrigues Pozzebom (Agência Brasil), Luciana Bezerra (De Manaus), Rafaela Cassiano, Sonia Consiglio Favaretto (Do Pacto Global BR), Vera Valente (Da FenaSaúde) e Vinícius Lisboa (Agência Brasil). Os artigos são de inteira responsabilidade dos autores e não refletem necessariamente a opinião da revista.

Impressa com tinta à base de soja Plurale é uma publicação da SA Comunicação Ltda CNPJ 04980792/0001-69 Impressão: Imprimindo Conhecimento Editora e Gráfica

Plurale em Revista foi impressa em papel certificado, proveniente de reflorestamentos e®outras fontes controladas certificados pelo FSC de acordo com rigorosos padrões sociais e ambientais. Rio de Janeiro | Rua Etelvino dos Santos 216/202 CEP 21940-500 | Tel.: 0xx21-3904 0932 Os artigos só poderão ser reproduzidos com autorização dos editores © Copyright Plurale em Revista

Cartas

c a r t a s @ p l u r a l e . c o m . b r

“Parabéns à toda a equipe de Plurale em revista, que está há 12 anos brilhando no jornalismo nacional, com foco em sustentabilidade! Que venham mais 12 anos de excelência. O Brasil merece.” Dra. Denise Pires de Carvalho, Reitora da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), por e-mail “Diante dos desafios que o mundo precisará enfrentar para resolver as mudanças do clima, parabenizo os 12 anos da Plurale pelo seu compromisso com a preservação do meio ambiente, através da divulgação de ideias e notícias relevantes aos seus leitores, sempre com qualidade de informação.” Simon Wood, Cônsul-Geral Britânico no Rio, por e-mail “Parabéns à Plurale pelos 12 anos de luta pelo exercício da cidadania e a defesa e proteção ao meio ambiente.” Bernardo Egas, Secretário de Meio Ambiente da Prefeitura do Rio de Janeiro, por e-mail, do Rio “Querida Sônia e toda equipe da Plurale, Que data feliz a Plurale comemora! E celebra na sua melhor forma, mantendo-se relevante e em destaque, como um dos principais veículos parceiros no desafio de promover o desenvolvimento sustentável do país. Ao longo dessa trajetória tivemos a felicidade de contar com o prestígio da Plurale dando visibilidade às ações do CEBDS em uma caminhada conjunta em prol de um futuro melhor. É gratificante ver que o bom jornalismo resiste, principalmente na área de sustentabilidade! Que venham mais 12 anos de comemorações!” Marina Grossi, Presidente do Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável (CEBDS), por e-mail , do Rio de Janeiro

“Com muito orgulho indiquei a jornalista Sônia Araripe para receber a honraria máxima da Câmara dos Vereadores, a medalha Pedro Ernesto. A homenagem coroa estes anos todos de trabalho independente da Plurale, onde colaboro como colunista, e os mais de 30 anos da querida Sônia como profissional. A revista conta com equipe empenhada em relatar histórias de transformação, de um Rio que tem tudo para dar certo.” Vereador Alexandre Arraes, por carta, do Rio de Janeiro (RJ) “Parabéns pelos 12 anos de excelentes serviços. O IBGC tem grande alinhamento de propósitos com a Plurale nos focos Ambiental, Social e de Governança. Assim, vamos construindo uma sociedade melhor.” Henrique Luz, Presidente do Conselho de Administração do Instituto Brasileiro de Governança Corporativa (IBGC)


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Entrevista

Novo Regime Climático requer o abandono da excepcionalidade humana Alyne de Castro Costa Por: João Vitor Santos / IHU On-Line Foto de Ana Maria Rodrigues

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hega a ser curioso: desde a Modernidade, o ser humano se coloca como senhor do céu e da terra, chamando para si uma centralidade única. Porém, quando o planeta colapsa, há quem argumente que isso não se dá por ações humanas. Seguindo na perspectiva da doutora em Filosofia Alyne de Castro Costa, que trabalha na interconexão entre a Filosofia e as questões ambientais, é esse tipo de postura que inebria o entendimento da sociedade sobre a emergência climática que se vive. Para ela, é preciso encarar o que chama de Novo Regime Climático e assumir outra postura política, que consiste em “abandonar o delírio de excepcionalidade humana e aprender a melhor coexistir com os seres que, até pouco tempo, tratávamos como meros recursos”. Na entrevista concedida à IHU On-Line, Alyne ainda acrescenta: “por isso, em lugar dos costumeiros delírios de controle, precisamos prestar atenção aos seres resultantes dessas conexões não-lineares. E isso não por uma devoção ou respeito, mas porque a época de incertezas que adentramos exige que aprendamos a negociar nossa coexistência com eles”. Nesse sentido, endossa as reflexões de Bruno Latour que, segundo ela, traz contribuições para se pensar em saídas aos problemas gerados em nosso tempo. “Latour argumenta que não podemos atribuir a inércia política diante do aquecimento global a uma suposta falta de consciência dos empresários, dos governantes e

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de grande parte da população. Supor isso significaria acreditar que existe uma humanidade que poderia finalmente entrar em acordo quando se desse conta de que a natureza está em perigo”, observa. Para ela, a própria perspectiva do negacionista climático revela a impossibilidade de acordo. É preciso, sim, mudança de paradigmas, pois estamos em guerra. “O que o negacionismo climático e o lobby das indústrias extrativistas deixam muito claro é que estamos, aqui também, numa guerra de mundos, na qual (ao menos) dois povos

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estão em disputa”, reitera. E como combater essas visões e encarar essa guerra? “Não podemos nos contentar com apenas denunciar os negacionistas como mentirosos e manipuladores e investir em mais divulgação científica”, adverte. Para a Alyne, “mais adequado seria apostar no engajamento social como forma de a ciência não apenas demonstrar a confiabilidade dos métodos que emprega, mas também construir, através desse engajamento, maneiras de garantir que o conhecimento por ela produzido contribua efetivamente para a melhoria da vida das pessoas”.


Alyne de Castro Costa é graduada em Comunicação Social, habilitação em Relações Públicas, pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro - UERJ, mestra e doutora em Filosofia pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro - PUC-Rio. Suas pesquisas se concentram na área de Filosofia e a questão ambiental, com ênfase no Antropoceno e na catástrofe ecológica global, considerando também as repercussões do tema na antropologia e na política. Foi bolsista do Programa de Doutorado-sanduíche no Exterior na Universidade Paris Nanterre. Atualmente é pós-doutoranda do Colégio Brasileiro de Altos Estudos (UFRJ), com pesquisa sobre mudanças climáticas e seu enfrentamento no Brasil. Leia os principais pontos desta entrevista. IHU On-Line – Estamos vivendo uma crise ecológica, segundo conceito de Bruno Latour? Por quê? E quais as implicações para além do meio ambiente? Alyne Costa – A crise ecológica não é um conceito de Bruno Latour. A expressão se refere a alterações ambientais que modificam profundamente determinado ecossistema e/ou ameaçam diretamente uma espécie ou população. Mas, nas últimas décadas, ela vem sendo empregada – muitas vezes com o acréscimo dos adjetivos “global” ou “planetária” – para se referir aos inúmeros processos ecológicos que, devido aos impactos da chamada civilização moderna, estão entrando em colapso um após o outro, ou um junto com o outro, formando uma cadeia de desestabilizações e desarranjos cujos efeitos têm sido já muitíssimo graves tanto para diversas populações humanas, animais e vegetais quanto para os ecossistemas de que elas dependem. Tal colapso, diversos cientistas propõem, teria empurrado o planeta para uma nova época geológica, o Antropoceno: sua nomeação a partir do anthropos – esse queimador de combustíveis fósseis que produz incansavelmente novos fósseis, como diz Donna Haraway – não oferece, portanto, qualquer motivo para nos orgulharmos.

Terraplanismo

A mudança climática é certamente um dos problemas mais emblemáticos desse colapso generalizado, mas há também a altíssima perda de biodiversidade (que leva alguns cientistas a afirmarem que estamos em meio à Sexta Grande Extinção da Terra), a acidificação dos oceanos (considerada pelos cientistas o “irmão gêmeo malévolo” do aquecimento global) e a profunda alteração nos ciclos do nitrogênio e do fósforo pelo uso de fertilizantes agrícolas, para citar só alguns. Para piorar a situação, a influência recíproca entre esses processos e as inúmeras variáveis que deles participam impedem que se possa determinar com precisão a resiliência dos ecossistemas por eles constituídos, tampouco o alcance da devastação que estamos em vias de presenciar. É devido à gravidade e à magnitude desse colapso que Latour chega mesmo a recusar a expressão “crise ecológica”: assim como Isabelle Stengers, ele argumenta que falar em crise ofereceria uma confiança indesejável de que o problema “vai passar”. Por isso, em lugar de crise, ele prefere falar em mutações, as quais, não se restringindo ao domínio da ecologia, exigem também a modificação de nossa concepção corrente (antropocêntrica) de política e de sociedade. Isso porque o colapso ecológico nos retira de uma natureza que simplesmente “está aí”, que não passa de um mero cenário provedor de “recursos” ou de um espaço frágil que precisa de nossa proteção, e nos joga abruptamente num mundo

em que entidades outrora consideradas naturais (como gases atmosféricos, fenômenos meteorológicos e insetos) mostram que são também, como os humanos, agentes políticos. Por isso, precisamos alargar nosso entendimento de política e de sociedade para melhor conviver com eles se quisermos ter alguma chance de sobreviver e produzir regenerações, ainda que parciais, nesse mundo degradado. É por essa razão que podemos afirmar que as implicações dessas mutações vão muito além do meio ambiente: elas decretam o fim da própria ideia de meio ambiente (ou natureza) como um mero palco da ação humana, exigindo também, por conseguinte, que entendamos que não podem existir humanos sem os não-humanos com quem interagimos e de quem dependemos para viver. Ou, como propõe Latour, que nos empenhemos em conhecer quais seres compõem conosco nosso território, nosso meio de vida. IHU On-Line – Tomando como base o livro Face à Gaïa (La Découverte, 2015), de Bruno Latour, podemos afirmar que estamos diante de uma crise climática – e não apenas mudanças climáticas? Por quê? Alyne Costa – Pelas razões mencionadas na resposta anterior, Latour não acha conveniente falar de crise climática. Mas para destacar o quanto esse problema abala terminantemente a concepção de mundo predominante nas sociedades que ele chama de modernas, ele vai se referir às mudanças climáticas como o Novo Regime Climático. Esse regime vem substituir o antigo regime moderno (que Latour chama frequentemente de Constituição), espécie de convenção segundo a qual os seres ou bem são considerados naturais – e, por isso, sem capacidade de agência ou intencionalidade – ou bem são classificados como humanos (ou culturais), dotados de subjetividade e razão, únicos capazes de fazer política e de integrar uma sociedade. Porém, como essa partição poderia se sustentar diante das mudanças climáticas, fenômeno no qual as emissões

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Entrevista

antropogênicas de dióxido de carbono modificam a composição da atmosfera e provocam efeitos tão variados quanto imprevisíveis nos mais diversos seres, ciclos e ecossistemas? O Novo Regime Climático, portanto, diz respeito à tarefa política que se instaura diante das mudanças climáticas: a de abandonar o delírio de excepcionalidade humana e aprender a melhor coexistir com os seres que, até pouco tempo, tratávamos como meros recursos. IHU On-Line – Diante da crise climática, é possível considerar que já vivemos tempos de “guerra dos mundos”? E, no atual cenário, como construir a paz? Alyne Costa – Latour mobiliza esse imaginário da guerra e da paz desde seus primeiros trabalhos: além desses termos, ele fala com frequência em disputas, provas de força (trials), alianças, inimigos, frente de batalha... Mas a ideia de guerra dos mundos aparece explicitamente num livrinho homônimo, publicado logo após os atentados de 11 de setembro de 2001. Ela funciona como um antídoto ao multiculturalismo que faz da concepção de mundo moderna – a ideia de que há apenas uma natureza e muitas culturas, realidade de um lado e crenças do outro – um instrumento de colonialismo. Isto porque a tolerância à diversidade cultural, tão celebrada nos progressismos do assim chamado Ocidente, tem como contrapartida a interdição do acesso dos povos não modernos à realidade objetiva do mundo, realidade essa que residiria na fisicalidade do mundo “natural” e só poderia ser desvendada pela ciência. É como se os modernos dissessem aos outros coletivos: “Vocês podem ter suas crenças, mas não ousem reivindicar estatuto de realidade para isso em que acreditam: isso nós, que temos a ciência para dizer o que a natureza é, não iremos permitir”. A guerra dos mundos se instaura, portanto, quando a partição Natureza/Cultura não pode mais ser imposta como universal: em lugar de uma pluralidade de culturas, se faz preciso reconhecer que há uma pluralidade de mundos; um pluriverso, para falar como William James, no qual

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as diferenças precisarão ser negociadas em bases outras que aquelas presumidas pelos modernizadores. Em outras palavras, a guerra dos mundos explicita a correlação histórica entre universalismo e colonialismo, ao mesmo tempo em que exige o pluralismo ontológico como princípio para uma melhor convivência entre os distintos modos (humanos e não-humanos) de existir na Terra. No contexto do colapso climático, Latour argumenta que não podemos atribuir a inércia política diante do aquecimento global a uma suposta falta de consciência dos empresários, dos governantes e de grande parte da população. Supor isso significaria acreditar que existe uma humanidade que poderia finalmente entrar em acordo quando se desse conta de que a natureza está em perigo; significaria reativar a Natureza indisputável do par Natureza/Cultura como árbitro apaziguador das controvérsias entre os humanos. Ao contrário, o que o negacionismo climático e o lobby das indústrias extrativistas deixam muito claro é que estamos, aqui também, numa guerra de mundos, na qual (ao menos) dois povos estão em disputa. De um lado temos os Humanos, os herdeiros da modernidade, que pensam os seres “naturais” como desprovidos de agência, meros componentes do cenário onde a história humana se desenrola. São Humanos, assim, tanto os que acham que podem seguir explorando indefinidamente os “recursos” da Terra quanto aqueles que confiam numa tomada de consciência que faria “a humanidade” perceber que precisamos “cuidar da natureza”. Do outro lado, estão (estamos) os Terrestres, aqueles que, alheios à lógica da proteção ou da exploração, consideram os não-humanos como agentes políticos que participam da fabricação do mundo, agentes a cuja movimentação é preciso prestar atenção e com quem precisamos, mais que nunca, aprender a compor para seguirmos existindo. IHU On-Line – No que consiste o negacionismo climático? Como compreender essa construção de que, por exemplo, o aquecimento

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global não existe? Alyne Costa – A expressão “negacionismo climático” (em inglês, climate denialism ou mesmo contrarianism) vem sendo empregado para caracterizar os esforços de desqualificação do consenso científico sobre o aquecimento global antropogênico. Originalmente cunhada para evidenciar a insensatez dos argumentos daqueles que, se proclamando revisionistas, negam que o Holocausto tenha acontecido, a palavra “negacionismo” é hoje empregada de forma mais ampla para designar tanto a contestação de acontecimentos históricos quanto a de fatos científicos. Nesse sentido, são também exemplos de negacionismo o terraplanismo, a contestação da teoria da evolução e da Aids ou as teorias conspiratórias a respeito da vacinação. Apresentando-se como céticos, os negacionistas do clima buscam estabelecer uma afinidade com essa atitude crucial da prática científica, expressa na exigência de comprovações para que uma hipótese se converta em fato. Porém, a objeção dos negacionistas ao aquecimento global não possui qualquer embasamento científico: alegando uma suposta prevalência de interesses políticos, ideológicos e/ou econômicos escusos por trás dos fatos enunciados pelos cientistas do clima, eles contestam os procedimentos metodológicos mesmos que garantem a confiabilidade do conhecimento que a ciência produz. No entanto, são os interesses escusos dos negacionistas que ficam evidentes quando atentamos para os financiamentos bilionários da negação... Como o consenso a respeito do aquecimento global é da ordem de 99%, possivelmente o mais alto da história da ciência, é de se presumir que os negacionistas não encontram respaldo na comunidade dos cientistas do clima. E mesmo que possam ser cientistas renomados em suas áreas, empregam argumentos que, considerados infundados, não abalam a robustez das evidências das mudanças climáticas . Muitos negacionistas possuem vínculos não explícitos com setores sociais conservadores e/ ou setores econômicos altamente emis-


sores de gases de efeito estufa, como o de combustíveis fósseis e o agronegócio. Mas mesmo sem desfrutar de credibilidade científica, eles fazem muito estrago: uma pesquisa realizada pelas Universidades de Yale e George Mason em 2009 (e incrementada por estudos subsequentes) mostrou que mesmo aqueles que têm uma percepção mais alta sobre o consenso científico em torno das mudanças climáticas antropogênicas subestimam fortemente o grau desse consenso [ IHU On-Line – Quais as implicações políticas do negacionismo climático? E como esses efeitos se materializam na vida cotidiana? Alune Costa – O efeito mais imediato é incutir na sociedade a dúvida quanto à existência das mudanças climáticas e/ou a seu caráter antropogênico, o que acaba inibindo a mobilização social em torno da questão e obstruindo a implantação de políticas para evitar que o problema se agrave. Como Tatiana Roque vem afirmando recentemente, o negacionismo (não apenas o climático, mas também o científico, de uma forma geral) é uma das faces da crise de confiança generalizada nas instituições democráticas, que abarca também a mídia, as organizações da sociedade civil e as instituições de ensino. Tal desconfiança vem sendo alimentada no Brasil e em outras partes do mundo por campanhas milionárias de desinformação e negação dos fatos científicos, financiadas e endossadas por certos dirigentes políticos, indústrias extrativistas e outros agentes econômicos , que sabem fazer um proveitoso uso da desarticulação social e da atual polarização política para seguir extraindo lucros exorbitantes da devastação ambiental que promovem. Segundo a hipótese levantada por Latour em seu último livro, intitulado Où aterrir , esses grupos entenderam muito bem, e há muito tempo (pelo menos meio século), a ameaça representada pelas mudanças climáticas; no entanto, interessados em assegurar seus privilégios a todo custo, investem na negação dos fatos para dificultar a

Greta Thunberg

adoção de medidas regulatórias, optando deliberadamente por transferir para os outros existentes – sobretudo as populações humanas e não-humanas mais vulneráveis – o alto preço do “retorno da Terra” . E não estamos falando de futuro: a conta por décadas de inação política já vem sendo paga por aqueles que, atingidos por fenômenos climáticos extremos, não dispõem de meios para se adaptar ou escapar; pelos países insulares ameaçados pelo aumento do nível do mar; pelo imenso contingente de pessoas (metade da população mundial, segundo um relatório da ONU) que já enfrenta severa escassez de água ao menos uma vez por ano; pelos habitantes de áreas castigadas por estiagens e em vias de desertificação; pelas espécies animais e vegetais que estão em franco processo de extinção, ou que no mínimo experimentam uma preocupante diminuição de suas populações e a redução de sua distribuição geográfica... IHU On-Line – Como responder ao negacionismo climático? Em que medida mobilizações como a de jovens, inspirados em Greta Thunberg, se constituem como alternativa? Alyne Costa – Acredito que, considerando o tamanho do problema, precisamos empregar estratégias variadas de resposta. Embora surta efeito em diversas ocasiões, não podemos nos contentar com apenas denunciar os negacionistas como mentirosos e manipuladores (o que, contudo, eles efetivamente são) e investir em mais divulgação científica. Isso porque a ampla adesão aos negacionismos e conspiracionismos não se explica apenas ou simplesmente por tolice ou falta de informação, mas sim, como disse an-

teriormente, pela perda de confiança na ciência e na verdade por ela produzida. Mais adequado seria apostar no engajamento social como forma de a ciência não apenas demonstrar a confiabilidade dos métodos que emprega, mas também construir, através desse engajamento, maneiras de garantir que o conhecimento por ela produzido contribua efetivamente para a melhoria da vida das pessoas. Acredito ser importante também investigar os vínculos entre os grupos políticos e econômicos que disseminam o negacionismo (a quem Déborah Danowski chamou de “profissionais da negação”, assim como perseguir os fluxos das altas montas de dinheiro que o financiam: tornar tais redes visíveis contribui para que as pessoas possam se posicionar a respeito do problema de forma mais crítica e melhor fundamentada. Isso não significa, no entanto, que mobilizações como as greves estudantis pelo clima, que em setembro último reuniram mais de 6 milhões de participantes no mundo todo e se consolidaram como o maior protesto climático de todos os tempos, não sejam importantes. Ao contrário, elas são cruciais para chamar a atenção da população para o problema, para engajar setores diversos da sociedade em torno dele, para inspirar e produzir a confiança de que alguma coisa pode mudar, para que inúmeras pessoas experimentem maneiras de fazer essa questão importar para elas mesmas e para outros. Em suma, tais mobilizações constituem oportunidades ímpares para o aprendizado de uma construção coletiva, que abre caminho para a invenção de novos meios de pensar juntos e de fazer política. Leia a entrevista da IHU On-Line na íntegra em Plurale em site.

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Colunista

De tensões, frustrações e otimismo, 10 anos depois FOTOS DO ARQUIVO PESSOAL

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Por Sonia Consiglio Favaretto á dez anos escrevi um artigo aqui na Plurale denominado “De Tensões, Frustrações e Borboletas”. Arrisquei-me naquele momento a falar sobre as competências necessárias para ser um bom profissional de sustentabilidade. Passados todos esses anos, arrisco-me de novo. Após uma década, avançamos a ponto de mudar esse perfil? Sim e não. O artigo era focado em duas qualidades que eu julgava fundamentais para se atuar com sustentabilidade: ser um “gerador de tensão” e ter “resistência a frustração”. Elas seguem mais vivas do que nunca. Vejamos, voltando à redação original: “(...) A construção da cultura e prática de sustentabilidade nas empresas, seja qual for seu histórico com o tema, se dá por movimentos de tensão. Estamos sempre lidando com o que falta, com o que “deveria ser”, com “um pouco mais”. Afinal, a agenda da sustentabilidade é a agenda de uma nova gestão necessária a um novo mundo que se tornou, mais do que urgente, a única possibilidade de sobrevivência no longo prazo. É a agenda do futuro. E não se constrói o futuro sem conflitos, sem tensão. É o movimento. A cada tensão superada, evoluímos um pouco. É o executivo que, antes tão cético, começa a abrir espaço na sua estratégia – e consequentemente na sua mente – para o tema. É aquela área que conseguiu achar seu caminho para inserir aspectos socioambientais no produto ou serviço. Neste momento, tudo o que foi vivido durante o processo, vale a pena. É disso

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que vivemos. É isso o que nos alimenta e nos dá força na caminhada. Por isso, ser um “gerador de tensão” me parece uma boa definição para o profissional de sustentabilidade.” Li e reli esse parágrafo com minha cabeça e vivência atuais. Não subtrairia nem acrescentaria nada. Seguimos tendo que tensionar para evoluir na agenda ESG. E quanto à “resistência à frustração”? Era assim que eu pensava em 2009: “(...) gerar tensão, lidar com um assunto ainda não de domínio de

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todos, um assunto ainda em cheque e carecendo de entendimento e provas, não é algo simples. Quantitativamente, ainda perdemos mais do que ganhamos (...). Arrisco-me a dizer que a frustração a um projeto ou ideia no campo da sustentabilidade tem um peso maior do que uma proposta do “business as usual”. Aqui, há o peso da causa (....). Trabalhamos por um mundo melhor. No fim do dia, é isso. Por isso, o “não” nos pesa como a negação, não só a uma proposta, mas a


um mundo que inequivocadamente precisamos construir.” Sim, ainda perdemos mais do que ganhamos em sustentabilidade. Como num jogo, muitas vezes temos que retroceder várias casas no tabuleiro para depois avançar de novo. Mas o mundo de 2019, pós Rio+20, lançamento dos ODS, COP de Paris, lastimáveis desastres ambientais e éticos, traz mais ganhos, e inquestionáveis avanços. Hoje, o investidor virou voz a favor da sustentabilidade. E isso tem a ver com retorno. Ponto. Hoje, o presidente mundial do maior Fundo de Investimento do mundo, a BlackRock, diz às suas empresas investidas em sua carta anual que quer alocar capital em organizações com propósito. Hoje, os negócios de impacto avançam a passos largos,

mostrando que é possível ter lucro impactando positivamente o ambiente e as pessoas. Hoje, todos os países, e não apenas os emergentes, têm 17 Objetivos comuns e 169 Metas para atingir até 2030. Hoje, tentamos mais do que nunca falar uma única língua. Porque o desafio é global. E é de todos e de cada um de nós. E o perfil do profissional de sustentabilidade nisso tudo? Sim, continuamos sendo por essência geradores de tensão e tendo que resistir aos “nãos” do caminho. Mas hoje somos muito mais universais e pessoas de negócio. Os CFOs e DRIs de nossas empresas sabem que precisamos caminhar de mãos dadas. E nós entendemos isso também. Os mundos se entrelaçaram, necessariamente.

No início de meu artigo de 2009, elenquei ainda uma série de competências para nós, profissionais de sustentabilidade: “visão estratégica e integrada, flexibilidade, empatia, conhecimento do negócio, capacidade de influência e negociação, dinamismo, bom relacionamento, humildade, versatilidade, empreendedorismo, paixão pela causa, liderança, criatividade, obstinação... ufa! Quase um super-homem ou uma super-mulher”. Sim, dez anos depois, esse set de qualidades digno de um herói/heroína continua válido. Mas acrescento uma que mostra bem as premências do mundo atual: “ter pressa”. Como SDG Pioneer e Presidente do Board da Rede Brasil do Pacto Global, tenho o privilégio e a agonia de estar em contato com os desafios da Agenda 2030 da ONU muito de perto. Deste ponto de observação, é que digo: Precisamos avançar, e rápido. Falta pouco mais de 10 anos para alcançarmos os 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável. É possível? Ainda acho que sim, acrescentando, portanto, “otimismo” à lista de nossas competências. Mas não temos tempo a perder. Cada segundo conta neste relógio. Mais do que em outros relógios. Porque, aqui, estamos falando do relógio do mundo que queremos, e precisamos. Do mundo da Agenda 2030. E neste mundo nos comprometemos a não deixar ninguém para trás, lembram? A tarefa é hercúlea, sabemos. Mas temos todas as competências para alcançá-la. Nos vemos daqui a 10 anos para comemorar? (*) Sonia Consiglio Favaretto é jornalista, radialista e pós-graduada em comunicação empresarial. Atua há 20 anos com comunicação, responsabilidade social, Terceiro Setor e Sustentabilidade. Presidente do Board da Rede Brasil do Pacto Global e SDG Pioneer -- reconhecida pelo Pacto Global da ONU em 2016 como uma das dez pessoas do mundo que estão trabalhando pelo avanço dos ODS.

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Artigo

Novos tempos, novas respostas FOTOS DA FENASAÚDE – DIVULGAÇÃO

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Por Vera Valente país vive uma nova era de reformas. Novos tempos pedem novas soluções, novos desafios exigem respostas distintas daquelas que já valeram no passado. É bom que assim seja. Na saúde suplementar, não é diferente: promover saúde e bem-estar para as pessoas é mudar todo dia. Nosso setor sente hoje a pressão de mudanças estruturais que impactam a saúde tanto aqui quanto no resto do mundo. As pessoas, felizmente, estão vivendo mais e, também por isso, demandam mais assistência médica. O perfil epidemiológico concentra-se cada vez mais em doenças crônicas, que, por sua vez, também exigem cuidados prolongados. Por fim, mas não menos importante, a vida cotidiana é cada vez mais influenciada pelas novas tecnologias. Na saúde, onde estão algumas das descobertas mais avançadas da ciência, isso é levado ao paroxismo. É bom porque amplia nosso arsenal para curar e salvar vidas, mas gera custos que, normalmente, são sempre muito, muito altos. Não estamos parados vendo o mundo mudar. Queremos mudar junto. Em fins de outubro, a FenaSaúde (Federação Nacional de Saúde Suplementar) reuniu, em Brasília, as principais lideranças da saúde brasileira para buscar respostas para a seguinte questão: como ampliar o acesso de mais brasileiros à assistência de qualidade prestada pelas operadoras de planos e seguros de saúde privados? As respostas não são simples, mas estão ao alcance das mãos. Basta sabermos trabalhar em conjunto.

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A boa notícia é que é praticamente consenso que, tal como está, a saúde brasileira não pode continuar. Há uma séria crise de financiamento que afeta tanto o setor público quanto o privado. De um lado, os governos, em todos os níveis da federação, estão em severas dificuldades fiscais. Do outro, a queda da renda e o desemprego diminuíram a capacidade de empresas e famílias contratarem coberturas privadas de saúde. Nós também pretendemos ser parte de uma mudança que transforme a saúde brasileira para melhor, a fim de que mais pessoas possam dispor de

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atendimento adequado. Nossas propostas, reunidas no documento “Mais Saúde: Uma nova saúde suplementar para mais brasileiros”, que você pode ler neste link (http://fenasaude.org.br/ publicacoes/uma-nova-saude-suplementar-para-mais-brasileiros.html), buscam abrir as portas dos planos e seguros de saúde para quem hoje só tem o Sistema Único de Saúde (SUS) como alternativa de tratamento. São duas as principais iniciativas neste sentido. A primeira é retomar a comercialização de planos individuais, que hoje atendem apenas 20% dos 47


milhões de beneficiários com assistência médico-hospitalar. Nossa proposta é que eles deixem de ter seus reajustes limitados pela Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS), de modo que o acirramento da concorrência entre as operadoras resulte em preços ao mesmo tempo atrativos para quem quer ter um plano de saúde e sustentáveis para quem for oferecê-los no mercado. Hoje, infelizmente, não é assim. Com as mudanças estruturais às quais me referi acima, os custos médicos sobem numa velocidade muito maior que a inflação geral e mesmo acima dos percentuais que a ANS autoriza aplicar aos preços praticados. Aos números: nos últimos dez anos, para uma variação dos custos médico-hospitalares de 189%, os reajustes permitidos pelo órgão regulador foram de 155%. Assim, não há conta que feche.

Outra medida que defendemos é a ampliação das opções de cobertura que as operadoras podem ofertar aos interessados em um plano de saúde. Hoje a legislação limita-as a apenas cinco modalidades, que, para muitos, estão ficando caras demais. Queremos que o beneficiário possa ter alternativas que melhor se adequem a suas necessidades de saúde e caibam no seu bolso. Em qualquer mercado, vale a máxima: maiores as escolhas, menores os preços. Na saúde suplementar não é diferente. Da mesma forma que nota-se consenso crescente em torno da necessidade de buscar novas soluções para a saúde, pública ou privada, também é nítido que as respostas às dificuldades diagnosticadas também estão convergindo. Operadoras, contratantes, reguladores, beneficiários e, de forma cada vez mais cres-

cente, prestadores de serviço estão conscientes de que a saúde precisa ser mais eficiente, o que se traduz em produzir melhores resultados para os pacientes a custos menores. A palavra de ordem da saúde, aqui como alhures, é prevenir doenças e não apenas dedicar-se a tratá-las. Cada vez mais, o foco precisa estar na qualidade do serviço prestado, nos desfechos produzidos, no desempenho em termos de melhor atendimento às pessoas. A saúde precisa dar alguns passos adiante, e dará. Os 15 grupos de operadoras associadas à FenaSaúde, responsáveis por cuidar de 26 milhões de brasileiros, estão atuando com afinco para que o sistema suplementar seja parte desta solução. (*) Vera Valente, Diretora Executiva da FenaSaúde

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Pelo Brasil Nova rede de investidores estimula a destinação de recursos privados para a conservação da biodiversidade Da Fundação Grupo Boticário de Proteção da Natureza

Projeções da Global Canopy Programme & Crédit Suisse indicam que os esforços do setor público e da filantropia em conservação da natureza não serão suficientes para assegurar a continuidade de 146 mil espécies de plantas e animais. O estudo aponta ainda que o investimento de instituições privadas seria a única alternativa para suprir a defasagem de cerca de 85% do montante necessário – o equivalente a cerca de US$ 250 bilhões – para garantir a sobrevivência de ecossistemas e a provisão de recursos naturais. Neste cenário, a Fundação Grupo Boticário de Proteção da Natureza acaba de lançar Rede de Investimentos de Impacto em Conservação da Natureza, iniciativa que pretende estimular e aumentar o investimento em negócios que geram receita e dividendos associados à conservação da biodiversidade. Negócios de impacto com essa finalidade são modelos inovadores que aliam a geração de lucro, a sustentabilidade financeira e a criação de valor para a conservação da biodiversidade. Com a nova Rede, espera-se criar condições para que iniciativas como o Araucária+ passem a ser consideradas por players da economia como oportunidades de investimento. Idealizado pelas fundações Grupo Boticário e CERTI, o Araucária+ atua na conservação da Floresta com Araucárias por meio da inclusão socioeconômica de proprietários de terras com esse tipo de ecossistema. Aqueles que protegem e promovem melhorias em suas áreas passam a fazer parte de cadeias produtivas inovadoras que agregam valor a produtos nativos cultivados de forma sustentável, como a erva-mate e o pinhão. Embora o Brasil tenha um grande potencial para negócios desse tipo, apenas seis investimentos de impacto em conservação da biodiversidade foram feitos no país entre 2016 e 2017, segundo

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levantamento realizado pela Aspen Network of Development Entrepreneurs (ANDE) e pela Associação Latino-Americana de Private Equity & Venture Capital (LAVCA). Somados, esses seis investimentos representam US$ 131 mil – menos de 1% do total de investimentos de impacto realizados no período. “Mais investimentos de impacto geram mais conservação da natureza. O capital público e o filantrópico não serão suficientes. Se não tivermos mais investimento privado, o Brasil não conseguirá atingir metas de conservação da biodiversidade”, destaca Guilherme Karam, coordenador de Negócios e Biodiversidade da Fundação Grupo Boticário. Para mudar esse cenário, a Rede de Investimentos de Impacto em Conservação da Natureza pretende atuar na produção de outros cases de sucesso para mostrar que é possível gerar lucro a partir da conservação da natureza. “Acreditamos que a conservação gera prosperidade econômica e bem-estar social. Por isso, temos procurado influenciar investidores e potenciais atores dos ecossistemas de investimento de impacto para incluir o cuidado com o meio ambiente em suas estratégias”, conclui Karam.

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Sobre a Fundação Grupo Boticário A Fundação Grupo Boticário é fruto da inspiração de Miguel Krigsner, fundador de O Boticário e atual presidente do Conselho de Administração do Grupo Boticário. A instituição foi criada em 1990, dois anos antes da Rio-92 ou Cúpula da Terra, evento que foi um marco para a conservação ambiental mundial. A Fundação Grupo Boticário apoia ações de conservação da natureza em todo o Brasil, totalizando mais de 1.500 iniciativas apoiadas financeiramente. Protege 11 mil hectares de Mata Atlântica e Cerrado, por meio da criação e manutenção de duas reservas naturais. Atua para que a conservação da biodiversidade seja priorizada nos negócios e nas políticas públicas, além de contribuir para que a natureza sirva de inspiração ou seja parte da solução para diversos problemas da sociedade. A instituição defende que o patrimônio natural bem conservado é a base para o desenvolvimento econômico e bem-estar social. Também promove ações de engajamento e sensibilização, que aproximam a natureza do cotidiano das pessoas.


O vazamento de óleo que tem sido retirado do litoral do Nordeste é a maior agressão ambiental já sofrida pelo Brasil em sua história, disse no dia 29 de outubro, no Rio de Janeiro, o presidente da Petrobras, Roberto Castello Branco. Ele participou de um seminário da Fundação Getúlio Vargas (FGV) sobre a matriz energética brasileira e comentou o desastre ambiental. “[O vazamento] é maior agressão ambiental sofrida por nosso país, creio eu, em nossa história”, disse. Afirmou que o assunto tem sido abordado de forma “politizada e ideologizada”, com “versões falsas” sobre o que poderia ter sido feito. “Na realidade, era impossível combater isso na origem. As empresas de petróleo e a Petrobras estão preparadas para combater vazamentos de petróleo, uma vez identificada a fonte do vazamento”, afirmou. Castello Branco comparou a quantidade de óleo retirada das praias ao desastre ambiental no Golfo do México, em que o vazamento partiu da petrolífera British Petroleum (BP). “É semelhante”, disse.

Vazamento é a maior agressão ambiental do país, avalia Petrobras Foto de Fabio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil - Arquivo

Por Vinicius Lisboa - Repórter da Agência Brasil Rio de Janeiro

Roberto Castello Branco comparou o óleo retirado das praias do Nordeste ao desastre ambiental no Golfo do México

Ainda não se sabe de onde vazou o óleo que atinge as praias brasileiras, mas pesquisadores já apontaram que o vazamento ocorreu no oceano, em uma área entre 600 e 700 quilômetros de distância

da divisa entre Sergipe e Alagoas. Uma das hipóteses é que o óleo foi extraído de três campos na Venezuela e, provavelmente, estava sendo transportado quando ocorreu o acidente. Foto da Agência Brasil – Arquivo

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Pelo Brasil Notícia Sustentável conquista segundo lugar no Prêmio Boas Práticas Sustentáveis De Salvador

Com menos de três meses de lançado, o portal Notícia Sustentável já celebrou a sua primeira conquista: ter chegado na final da primeira edição do Prêmio Boas Práticas Sustentáveis – Salvador 2019. A cerimônia de premiação foi realizada no dia 8 de novembro, durante a abertura oficial da terceira edição da Virada Sustentável Salvador, no Teatro Vila Velha. O Notícia Sustentável obteve a segunda colocação na categoria Campanhas de Comunicação. Presentes no evento, o editor do portal, Murilo Gitel, e a gerente de Marketing Jéssica Ferrari representaram a equipe e comemoraram o reconhecimento. “Estamos muito felizes. Há uma carência de veículos de comunicação especializados nessa área em todo o País e o Notícia Sustentável vem para ajudar a reduzir essa lacuna. Este prêmio é um indicativo de que estamos no caminho certo. Vem muitas novidades por aí”, adianta Gitel.

O idealizador do Notícia Sustentável, o jornalista Murilo Gitel, juntamente com a equipe da Polo Salvador, empresa campeã do Prêmio Boas Práticas Sustentáveis na categoria Produtos e Serviços/Foto: Jéssica Ferrari/Notícia Sustentável

A proposta do Notícia Sustentável é informar, conscientizar e mobilizar a sociedade em prol da sustentabilidade. Moderno e inovador, o portal já nasceu integrado às mídias sociais e ao forma-

to responsivo, a fim de facilitar a leitura através de smartphones. A concepção gráfica é da designer Lorena Santiago, enquanto que a programação do site foi desenvolvida por Evandro Nascimento.

Pesquisa da Ipsos aponta Gentileza, Dignidade, Inteligência, Alegria e Autoconfiança como atributos de beleza mais importantes Para que uma pessoa seja considerada bonita, as características comportamentais podem ser mais importantes do que os atributos físicos, de acordo com a pesquisa Ipsos Global Attitudes Toward Beauty, que ouviu mais de 19 mil homens e mulheres em 27 países. O estudo pediu aos entrevistados que ranqueassem o grau de importância de 19 atributos de beleza. As características que lideram a lista são as mesmas para homens e mulheres, com diferenças apenas de ordem. A beleza masculina depende da Gentileza (73%), Dignidade (71%), Inte-

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ligência (71%), Alegria (69%) e Autoconfiança (68%), enquanto a feminina tem como principais características a Gentileza (71%), Alegria (71%), Dignidade (70%), Autoconfiança (69%) e Inteligência (66%). Quando isolamos o Brasil, a Autoconfiança e a Dignidade aparecem como os atributos mais importantes, tanto para a beleza feminina como para a masculina. Para elas, essas características são apontadas por 79% dos entrevistados. Para eles, os dois atributos, empatados ainda com a Gentileza no topo do ranking,

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são citados por 78%. Globalmente, Força é o único atributo físico que está entre os dez mais importantes citados pelas mulheres em relação à beleza masculina. No top 10 da beleza feminina, os homens consideram, ainda que no fim da lista, Força, Sensualidade e Aparência do Rosto. “O Brasil segue a mesma tendência do resto do mundo. Esta é uma percepção bastante positiva e generosa do que significa beleza, onde valores intrínsecos e comportamentais se destacam”, diz Miriam Steinbaum, diretora na Ipsos.


Sesc Pantanal recebe Certificado de Responsabilidade Social pela 2ª vez consecutiva O polo socioambiental Sesc Pantanal recebeu no dia 14 de novembro o Certificado de Responsabilidade Social da Assembleia Legislativa de Mato Grosso. Este é o segundo ano consecutivo que a instituição é reconhecida pelo cumprimento de cláusulas sociais, forma de interação com a comunidade e a relação com o meio ambiente. A 14ª edição da concessão do selo criado pela Assembleia Legislativa em 2002, por meio da Lei nº 7.687, entregou 55 certificados a empresas, associações e cooperativas, da capital e do interior. O coordenador da Comissão Mista de Responsabilidade Social de Mato Grosso, Sérgio Ricardo Inoui, explica que, para serem certificadas, as instituições tiveram de enviar um relatório social dentro do prazo estabelecido em edital para então ser verificado se as ações

Superintendente do Sesc Pantanal, Christiane Caetano

presentes no balanço realmente são realizadas e se as empresas cumprem todos os requisitos exigidos. No balanço social são apresentadas

informações que dizem respeito à qualidade das relações com os empregados, ao cumprimento das cláusulas sociais, à participação dos empregados nos resultados econômicos e às possibilidades de desenvolvimento pessoal, além da forma de interação com a comunidade e a relação com o meio ambiente. “A atuação do Sesc Pantanal em prol dos seus funcionários, comunidade local e meio ambiente têm impactos socioambientais positivos nas regiões onde está inserido, ou seja, nos biomas Pantanal e o Cerrado. O certificado é um importante reconhecimento público a este trabalho realizado há 22 anos e uma alegria para todos que trabalham diariamente em benefício da conservação da biodiversidade”, diz a superintendente do Sesc Pantanal, Christiane Caetano.

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Especial

Plurale comemora 12 anos com Seminário apresentando Cases Sustentáveis e realizando Diálogo com Jovens Protagonistas De Nícia Ribas e Hélio Rocha, de Plurale Fotos de Luciana Tancredo e Rafaela Cassiano

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ma manhã inspiradora. Este pode ser o resumo para o Seminário 12 anos de Plurale - Compartilhando cases sustentáveis e Dialogando com jovens protagonistas. O evento que marcou os 12 anos de Plurale em revista e Plurale em site – dirigidos e editados pela jornalista Sônia Araripe com relevante equipe - foi realizado na sede do Instituto Brasileiro de Executivos de Finanças (IBEF-Rio), no Centro do Rio, no dia 6 de novembro. O vice-presidente do IBEF-Rio, Marcos Varejão, representando a Diretoria (muitos dos Diretores estavam presentes) deu as boas vindas para os convidados. “Plurale faz um trabalho sério como mídia ambiental. A sustentabilidade é um tema muito presente em nossa agenda”, afirmou. Sônia Araripe agradeceu e ressaltou a relevância da atuação em rede ao longo de 12 anos. “Quando cria-

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André Trigueiro- “Vivemos a maior crise ambiental de todos os tempos.”

mos Plurale, em outubro de 2007, tínhamos muitas dúvidas, mas também várias certezas. Nossa intenção era encontrar um lugar na já relevante mídia sustentável e procurar contribuir com este diálogo. Sabíamos que não chegaríamos a lugar algum sozinhos”, disse. E destacou não só o

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trabalho da equipe, mas também de Colunistas, patrocinadores e parceiros da trilha sustentável. A abertura do evento foi a palestra do Jornalista André Trigueiro, editor do Programa Cidades e Soluções da GloboNews: “Ambientalismo em tempos de crise”. Ele


FOTOS DE LUCIANA TANCREDO – PLURALE

Palestrantes relevantes no Seminário Plurale 12 anos, realizado no Instituto Brasileiro de Executivos de Finanças (IBEF-Rio)

também autografou o seu mais novo livro – “A força do um”. Indignado com os absurdos oficiais cometidos recentemente contra o Planeta, o jornalista André Trigueiro iniciou sua fala no Seminário 12 anos Plurale, lembrando o leilão do pré-sal brasileiro, marcado para o mesmo dia 6 de novembro; o anúncio de saída dos Estados Unidos do Acordo de Paris: e as ocorrências de temperaturas de verão em plena primavera: “Vivemos a maior crise ambiental de todos os tempos.” Ele aproveitou para ressaltar o relevante trabalho realizado por Plurale ao longo de 12 anos no jor-

nalismo sustentável e conclamou a plateia: “a gente precisa fazer mais e melhor e isso requer coragem. Corrupção e escravidão não têm dois lados. Ninguém vai defendê-las como atitudes legais. Da mesma forma, ninguém vai negar a ciência.Temos que ser sustentáveis sempre, começando dentro de casa com a coleta correta do lixo. Já temos o conhecimento, já sabemos quais ajustes são necessários. Agora temos que divulgar na escola do filho, na reunião de condomínio. Ser ecochatos mesmo.” Trigueiro falou sobre a importância de não nos omitirmos e citou

frase de Ariano Suassuna como “o otimista é um tolo. O pessimista, um chato. Bom mesmo é ser um realista esperançoso”. E emendou: “Como podemos denunciar sem prostar as pessoas? Vamos descobrindo os meios de não nos abater. A esperança é o combustível da vida”. Para finalizar com otimismo, André Trigueiro afirmou que a “garotada está interessada na economia verde e as empresas já estão percebendo a mudança, pois os investidores não querem mais investir sem saber em que tipo de produto ou serviço. Eles não querem se arriscar a financiar quem destrói o Planeta.”

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Especial

“Assim deixo para vocês o lado sombrio com o lado alvissareiro, com as bênçãos do Papa Francisco”, finalizou, tendo sido muito aplaudido pela plateia de cerca de 120 formadores de opinião. Empresas trouxeram boas novidades Na sequência, a apresentação de cases sustentáveis inspiradores e com resultados consistentes. A Jornalista Daniella Wagner, Editora do Grupo no Facebook Mais Notícias Boas, por favor, foi a Mestre de Cerimônias do Evento. O Seminário Plurale 12 anos teve o patrocínio de: Accor, Ball, Bradesco, Fundação Grupo Boticário de Proteção à Natureza, Instituto Claro e McDonald`s/ Arcos Dorados. Omar Rodrigues, Gerente de Comunicação Institucional e Engajamento da Fundação Grupo Boticá-

Omar Rodrigues

rio de Proteção à Natureza, revelou que sete espécies da fauna e da flora brasileiras levam o sobrenome Boticário, graças ao apoio que Fundação vem dando à pesquisa.

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Leandro Lima

Dentre as iniciativas proprietárias, citou as áreas da Reserva Natural Salto Morato com 2 mil hectares e mais de 320 espécies, algumas endêmicas da Mata Atlântica, em Guaraqueçaba (PR); e a Reserva Natural Serra do Tombador, nordeste de Goiás, a 20 quilômetros da Chapada dos Veadeiros. As reservas estão localizadas nos dois biomas mais ameaçados do Brasil: Mata Atlântica e Cerrado. Em São José dos Pinhais (PR), onde começou o Boticário, o programa Viva Água está preservando os mananciais da bacia do Rio Miringuava, principal fonte de abastecimento de água do município. O palestrante também apresentou o Case Oásis Lab Baía de Guanabara, um laboratório de inovação com o objetivo de integrar atores de diferentes áreas para desenvolver projetos que fortaleçam a segurança hídrica e a resiliência marítimo costeira na Baía de Guanabara a partir de Soluções baseadas na Natureza. O programa tem parceria com a Firjan e o Inea e visa formar alianças estratégicas para destravar soluções e projetos existentes, bem como desenhar projetos colaborativos, integrando agendas para a geração de impactos positivos na região hidrográfica e nos seus ecossistemas costeiros associados. Leandro Lima, Gerente de Comunicação Corporativa da Arcos Dorados, operadora do McDonald`s na América Latina, acredita que é responsabilidade das empresas promover mudanças no mercado que favoreçam a preservação do Planeta. Seus 1 mil restaurantes no Brasil, recebem dois milhões de clientes. “Levamos conhecimento sustentável a eles.” Decisões como a eliminação dos canudos plásticos envolvem os usuários que são convidados a dar alternativas para o uso ou simplesmente responder à pergunta: “precisamos

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mesmo deles?” O executivo destacou que a própria produção do hamburguer é sustentável: “sem conservantes, sem corantes, sem óleo, feito com carne proveniente da pecuária sustentável”. Leandro é otimista, aposta nos jovens e na educação: “Com o Mc mudamos o mundo!”. E fez um anúncio durante o Seminário: ‘A partir de hoje só compramos ovos de galinhas livres de gaiola. Até 2025, pretendem que todos os animais estejam livres de gaiolas.” Estevão Braga, Responsável pela Área de Sustentabilidade da Ball Embalagens para Bebidas América do Sul, maior produtora de latas de alumínio para bebidas do mundo, com presença no Brasil há 30 anos, destacou a importância da Plurale “não só para o Rio, mas para o Brasil inteiro”. Para reduzir a pegada e conter a sobre-exploração do Planeta, que na metade do ano já entra no vermelho, Estevão disse que é preciso passar da economia linear, com o consumismo exacerbado, para a economia circu-


FOTOS DE LUCIANA TANCREDO – PLURALE

Estevão Braga

lar. No âmbito das latas de alumínio, “é mais fácil reciclar do que explorar a bauxita, transformar em alumínio e produzir as latas.” A reciclagem deu certo porque todos levam vantagem, desde o fabricante até o catador, que está cada vez mais se profissionalizando. A reciclagem no Brasil já envolve 800 mil trabalhadores. São 27 bilhões de latas no mercado este ano, das quais 97% passam pelo processo de reciclagem. Entre as tendências futuras, Estevão anunciou a água em lata, que já existe no mundo e em breve chegará ao Brasil. “Temos fábricas em construção para atender a demanda crescente.” “Precisamos da atuação do consumidor para a preservação ambiental – hábitos saudáveis, bebidas naturais, embalagens recicladas ou reutilizadas, daí a importância do trabalho da Plurale. Para quem quiser conhecer mais a fundo os projetos da Ball, ele sugere acessar as redes sociais do movimento Vá de Lata (facebook.com/vadelata e @vadelata no Instagram).” Luiz Bressan Filho, Vice-presi-

Luiz Bressan Filho

Samantha Souza

dente Administrativo e Financeiro do Instituto Claro, apresentou o case da edição de fevereiro de 2019 do Diálogos Gigantes, que consiste em uma agenda de articulação para criar espaços de conversa que promovam diferentes visões, e estimulem o público a refletir sobre temas nas áreas de educação e cidadania. Bressan explicou o case do Diálogo Gigante realizado no Rio de Janeiro, com o objetivo de incentivar o protagonismo de jovens na criação de manifestos para um futuro sustentável. Convidados a refletir sobre esse tema, a partir da realidade de suas comunidades e dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da ONU, 37 jovens elaboraram três manifestos e foram representados por colegas de seus grupos, que apresentaram os textos desenvolvidos em um evento no Theatro NET Rio. Samantha Souza , Gerente de Impacto Social da Gastromotiva, en-

cantou a plateia do Seminário Plurale 12 Anos falando da Gastromotiva, organização social patrocinada pela Accor e outras empresas. Ela mostrou a ação para combater a fome e dar oportunidade para jovens de baixa renda através de cursos gratuitos de gastronomia e empreendedorismo. Ela contou que a Gastromotiva foi fundada em 2006 pelo chef e empreendedor social David Hertz, e é cocriadora do Movimento da Gastronomia Social. Trata-se de uma iniciativa global que articula as melhores práticas e integrantes da sociedade, empresas, governos e agências internacionais em torno do potencial transformador da comida. Fome, desperdício, falta de oportunidades e má nutrição são desafios globais que demandam ações conjuntas. E emocionou a todos ao contar a vivência de jantares servido por voluntários para os convidados - moradores de rua - na Lapa, área central do Rio.

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Especial

FOTO DE LUCIANA TANCREDO

Da esq para a dir: Cláudio Vinícius (Com Mc Mudamos o Mundo / McDonald`s), Karim Elwasiaa (Diálogos Gigantes/ Instituto Claro), Jornalista Sônia Araripe (Plurale), Rodrigo Sardinha (Gastromotiva/ Apoiada pela Accor) e Maria Vitória Pessoa (Cantos de Leitura/ Ball)

Jovens protagonistas de mudanças Na segunda parte do evento, foi a vez do diálogo de quatro jovens de diferentes origens geográficas e sociais, porém um objetivo em comum: perpetuar a marcha por um mundo mais solidário e preocupado com causas sociais e ambientais. Sentados diante de uma plateia, em clima descontraído, eles se reuniram em círculo, tendo a jornalista Sônia Araripe, Editora de Plurale ao centro, como mediadora. Iniciaram um de-

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bate, apresentando seus projetos e discutindo ideias sobre como construir o mundo que desejam: Maria Vitória de Santana Pessoa tem apenas 18 anos, mas já ajuda a coordenar um projeto relevante na periferia do Recife, em Pernambuco, o Cantos de Leitura da comunidade de Imbiribeira. O Cantos de leitura é uma iniciativa patrocinada pela Ball Corporation, por meio da Lei de Incentivo à Cultura, que busca proporcionar o contato de catadores de material reciclável e de

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toda a comunidade do seu entorno com a literatura. Para isso, constrói bibliotecas populares em cooperativas de materiais recicláveis. Ao todo, já foram inauguradas 11 bibliotecas no Brasil, nos estados do Rio de Janeiro, Amazonas, Goiás, Bahia, Rio Grande do Sul, Minas Gerais, São Paulo e Pernambuco. Os espaços contam com um acervo de 1200 livros de diferentes temas e também são realizadas atividades lúdicas - tendo o livro como principal agente - para estimular a edu-


cação entre os cooperados e a comunidade do entorno. O Cantos de Leitura em Recife está situado na Cooperativa de catadores Pro-Recife e atende aproximadamente 60 crianças por dia. A biblioteca serve como espaço de atividades extraescolares, podendo o aluno ficar na biblioteca da hora em que deixa a escola até o final da tarde, ou desde as 8h da manhã até ir à escola, caso estude à tarde. No entanto, a adesão das crianças é tamanha que, muitas vezes, o horário se estende. “É maravilhoso, porque quando uma criança ou adolescente está ali, está segura dos perigos que a rua representa”, afirmou Vitória. Sobre o conteúdo do projeto em que atua, ela ressaltou que quer espalhar a leitura, que mudou sua vida e pode também transformar a de muitos outros jovens. “Quando a gente abre um livro, é uma nova história que a gente está abrindo. Por isso, a gente vai sempre melhorando.” O Rio de Janeiro foi representado por outros três jovens, a começar por Karim Silvano Elwasiaa, 18 anos, formado em Técnico de Telecomunicações no Programa Dupla Escola, patrocinado pelo Instituto Claro em Pedra de Guaratiba. Karim fez parte do grupo que criou manifestos para um futuro sustentável durante a edição do Diálogos Gigantes realizada no Rio de Janeiro. No evento, jovens se reuniram para debater questões ligadas aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da ONU, como educação, diversidade e sustentabilidade, a partir da observação dos bairros onde moram. Parte de uma juventude cada vez mais preocupada com aspectos sociais e sustentáveis, Karim e seus colegas refletem sobre a sociedade, questionando quais

projetos sociais poderiam existir em suas comunidades. Estudante de moda, um dos seus pontos de atenção está na população que trabalha com costura para se sustentar: “A gente não para e pensa, mas tem uma rede imensa de pessoas que dependem economicamente da costura para viverem, muito longe do glamour das grandes marcas. Essas pessoas precisam de suporte, facilitação para compra de materiais, melhoria de maquinário, logística, e podem se organizar para pleitear esse apoio. Outro jovem presente foi Claudio Vinicius Costa, 23, que trabalha no McDonald’s e participa do Programa “Com Mc Mudamos o Mundo”, que incentiva soluções sustentáveis que impactem as comunidades. Claudio estudou e com um grupo de colegas de trabalho decidiram espalhar “tetos verdes”, isto é, realizar a instalação de jardins suspensos sobre lajes descobertas ou quaisquer áreas cinzentas onde seja possível, dentre as muitas espalhadas pela cidade. “Utilizamos banners de publicidade que eram descartados de forma incorreta e usamos como impermeabilizador para criação de áreas de teto verde, o que diminui a temperatura e a poluição visual de muitas áreas do Rio, especialmente as mais carentes.” Ele contou que o primeiro teste do projeto foi realizado na Casa Ronald do Rio, que dá apoio às famílias de crianças com câncer, e deu muito certo. “Poder olhar para uma criança em dificuldades sérias de saúde e vê-la feliz, pela oportunidade de – mesmo presa dentro de um quarto - olhar todo dia um jardim pela janela, é algo que faz a gente pensar que é capaz. Podemos transformar muita coisa.”

Por fim, Rodrigo Sardinha, 31, é cozinheiro do projeto Refettorio e Gastromotiva, que ajuda a desenvolver a consciência alimentar e a produção de alimentos pelo mundo, sempre tendo por objetivo a sustentabilidade. Através do conceito de “gastronomia social”, o projeto busca ensinar as pessoas a aproveitar melhor os alimentos e evitar o descarte desnecessário, a fim de combater a fome e a má nutrição. Deste modo, o faz através do Refettorio, espaço que recebe estudantes, pessoas de outros restaurantes, quaisquer trabalhadores relacionados a um ponto da produção de alimentos, para transmitir o conceito de gastronomia social. “A busca é por aproveitar o alimento de forma mais integral, mas ainda com os cuidados de sempre, inclusive com a apresentação, já que se come com os olhos também”, disse Sardinha, completando: “Através do conhecimento as pessoas terão uma alimentação mais nutritiva.” O projeto existe em seis cidades de quatro países do mundo (Porto Alegre, São Paulo e Rio de Janeiro – Brasil – além da Cidade do México, San Salvador em El Salvador, e Cidade do Cabo na África do Sul). Para encerrar, Sônia convergiu as palavras dos convidados ao pedir uma resposta rápida sobre um tema: educação. As respostas se completaram. Para Sardinha: “fundamental”. Vitória disse “essencial para a transformação”. Karim respondeu: “um norte. Descobrir uma paixão”. Por fim, Claudio completou: “o que eu faço no dia a dia”. Em comum, um mesmo conceito, de que a educação é o único caminho preciso para um futuro melhor.

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Especial

Lançamento de Nova Seção Estudo de Casos e exposição de fotos O evento marcou também o lançamento de nova seção na Revista e no site – Estudo de Casos. “O objetivo é compartilhar experiências que estão dando certo na prática da sustentabilidade e que possam ser compartilhadas”, explicou Sônia Araripe. A nova seção já está no ar com relevantes estudos de casos. Todos os detalhes do Seminário Plurale 12 anos foram pensados dentro do conceito de baixa emissão, zero descartáveis, pouco uso de papeis, combate ao desperdício e

reaproveitamento de materiais. Ana Cecília Organização de Eventos atuou com a Equipe Plurale neste trabalho, sugerindo opções de materiais e fornecedores. “Há um movimento crescente na área de eventos para buscar soluções mais sustentáveis”, contou Ana Cecília Vidaurre, lembrando que até mesmo casamentos estão seguindo este padrão. Um café de produtos naturais, flores e folhagens naturais, pufes e almofadas coloridas de algodão e materiais de decoração reaproveitados foram FOTO DE RAFAELA CASSIANO

Luciana Tancredo, de Plurale – “Uma alegria poder compartilhar com todos estes momentos inesquecíveis. Cada foto tem uma história.”

alguns dos detalhes que ajudaram a compor a decoração. Os convidados também puderam conferir a exposição de fotos de Luciana Tancredo, Editora de Fotografia de Plurale, com os melhores momentos da revista em um tour por diferentes biomas do Brasil – Amazônia, Pantanal, Mata Atlântica, Caatinga, Cerrado, Pampa e Zonas Litorâneas. “Este era um sonho antigo. Plurale tem uma pegada muito forte de imagens, de fotos incríveis que nos ajudam a contar as histórias. Muitas destas fotos foram feitas pela Luciana Tancredo. Estamos contando um pouco destes 12 anos tão especiais através de imagens”, explica Sônia. Luciana foi muito cumprimentada por todos, que apreciando cada detalhe, pareciam “eleger” qual foto era mais incrível. “Uma alegria poder compartilhar com todos estes momentos inesquecíveis. Cada foto tem uma história. Em alguns casos foi preciso esperar para que o animal pudesse ser fotografado em melhor ângulo ou das dificuldades para ter acesso ao local. Foram sete dias para subir e descer o Monte Roraima, em um esforço que beirou a exaustão. Mas valeu cada minuto! Fotografar natureza exige coragem e também paciência”, destacou. Qualidades, sem dúvida, que Luciana tem. Todos os detalhes do Seminário Plurale 12 anos foram pensados dentro do conceito de baixa emissão, zero descartáveis, pouco uso de papeis, combate ao desperdício e reaproveitamento de materiais.

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Especial

O jornalista André Trigueiro fez a palestra de abertura e foi muito aplaudido. Depois autografou o seu mais novo livro “A força do um”, como para Eduardo Cantidiano (Ibef-Rio) e a blogueira de sustentabilidade, Maria Vitória Cantidiano (Virei Eco).

Jovens protagonistas apreciaram muito a exposição de fotos de Luciana Tancredo representando os 12 anos de Plurale.

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Equipe Plurale – Nícia Ribas e Luciana Tancredo

Colunistas Plurale – o economista Christian Travassos e a publicitária Nádia Rebouças.

Jornalista Daniella Wagner, do “Mais notícias boas, por favor”, foi a Mestre de Cerimônias do Seminário

Diretoria do Ibef-Rio prestigiou o Seminário

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Os troféus de premiações que a Equipe Plurale conquistou ajudaram a decorar o Salão do Ibef-Rio

O púbico lotou o salão do IBEF-Rio Grupo de relevantes Jornalistas

Com o apoio dos patrocinadores – Accor, Ball, Bradesco, Fundação Grupo Boticário, Instituto Claro e McDonald´s/ Arcos Dorados – os convidados foram sorteados de alguns brindes ecológicos, como canudos de inox.

Café saudável servido para os convidados

Ensaio

FOTOS DE LUCIANA TANCREDO E RAFAELA CASSIANO Seminário Plurale 12 anos - Sede do Ibef-Rio

O Vereador Alexandre Arraes (dir) fez questão de acompanhar o Seminário Plurale 12 anos, assim como a sua assessora Malu Fernandes (de branco) e a jornalista Flávia Ribeiro

A analista de investimentos Aireslene Rocha , o segurador Lúcio Marques e o economista Luiz Fernando Bello, da Apimec-Rio e Colunista de Purale

Encontro de xarás que militam na sustentabilidade há anos- Sônia Araripe, de Plurale recebe com alegria Sônia Consiglio Favaretto, Presidente do Pacto Global BR – ONU.

Alfredo Borret, da Ecotampas produziu tampinhas recicladas com a logomarca dos 12 anos de Plurale como brinde para os convidados.

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Mulheres

Evento #mulheresprafrente, realizado pelo Bradesco, emociona plateia de 2 mil convidadas em São Paulo Por Sônia Araripe, Editora de Plurale / De São Paulo Fotos de Alexandre Fatori (Divulgação/Bradesco) e Sônia Araripe (Plurale)

Fernanda Montenegro e várias mulheres protagonistas compartilham histórias em encontro inspirador

ventos costumam acontecer aos borbotões, cada um no seu formato e propósito. Mas poucos - realmente poucos - conseguem não só prender a atenção do público, como ainda inspirar de verdade. Foi este o resultado do #mulheresprafrente, evento realizado pelo Bradesco , no Golden Hall do World Trade Center, em São Paulo, no dia 19 de novembro, para seleta plateia de 2 mil mulheres: clientes, parceiras, funcionárias e convidadas puderem ouvir, se inspirar e se emocionar com o time relevante de palestrantes. A Diretora-Executiva do Bradesco, Glaucimar Peticov, deu as boas vindas, lembrando que este foi o segundo encontro #mulheresprafrente : o primeiro foi realizado no mesmo salão do WTC, em maio. Conclamou para um abraço em quem estava próximo e frisou que mais do que palestrantes, seria um dia para inspiração em torno de testemunhos. “No primeiro, o foco foi mais no comportamental. Ouvimos as convidadas, e, neste agora, procuramos focar no empreendedorismo, no fortalecimento financeiro e na saúde”, explicou Glaucimar à Plurale. Na sequência, o Presidente do Conselho de Administração do Bradesco, Luiz Carlos Trabuco Cappi, destacou o protagonismo de mulheres, não só na sociedade, como também nas corporações. Citou Paulo Freire

A atriz Fernanda Montenegro foi entrevista pela jornalista Ana Paula Padrão

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Fotos de Alexandre Fatori/ Divulgação/Bradesco

- lembrando que as pessoas mudam o mundo - e frisou que “quanto mais mulheres fazendo melhor, vamos melhorar o mundo”. Trabuco alertou para o risco da chamada “síndrome do impostor”, quando a pessoa se autoboicota. “Há oportunidades para todos”, garantiu, lembrando a força do empreendedorismo feminino. De MC Sofia à Fernanda Montenegro A rapper MC Sofia, de apenas

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16 anos, fez a abertura, dando o tom do que estava por vir. A moderação foi da jornalista e apresentadora Ana Paula Padrão, engajada na causa feminista e que ajudou a conduzir, como uma prosa o fio desta história. Porque este não foi um evento comum, destes de começo, meio e fim. Não foi mesmo. Que epílogo... épico e grandioso como momentos assim merecem ser. A atriz Fernanda Montenegro, celebrando 90 anos de vida,


Glaucimar Peticov, Diretora-Executiva do Bradesco - “No primeiro evento, o foco foi mais no comportamental. Ouvimos as convidadas, e, neste agora, procuramos focar no empreendedorismo, no fortalecimento financeiro e na saúde.”

Presidente do Conselho de Administração do Bradesco, Luiz Carlos Trabuco Cappi - “Há oportunidades para todos”, garantiu, lembrando a força do empreendedorismo feminino

brindou as convidadas não só rememorando - como em uma prosa - momentos de sua trajetória pessoal e da carreira de premiada atriz, como ainda encerrou com a leitura do epílogo de seu livro de memórias - “Prólogo, ato e epílogo”, recém-lançado. Foi aplaudida de pé pelas 2 mil mulheres como em cena aberta. De arrepiar. Ela contou sobre os projetos em andamento: três novos filmes a serem lançados e o livro sobre a sua

trajetória. “Ser atriz é o meu ofício”, frisando que nunca foi fácil ser atriz desde os primórdios da História. Deu conselhos para uma jovem atriz, que enviou pergunta pelo celular, reforçando ser preciso sim seguir a vocação, desde que tivesse mesmo certeza, e que ainda “dava tempo de desistir”, provocando risos na plateia. Ana Paula perguntou sobre o momento mais triste e ela lembrou, emocionada, a partida dos que-

ridos familiares e amigos, como seu companheiro de vida e cena, o ator Fernando Torres e da irmã, cinco anos mais nova, que faleceu, aos 69 anos, do coração. “É preciso enfrentar o acaso”, respondeu, admitindo que tem momentos de tristeza e saudades sim, como todos, mas não se deixa abater pelo pessimismo e tristeza. Fernanda Montenegro falou sobre as dificuldades das mulheres ao trabalhar, como na hora de deixar os filhos com alguém da família, creche ou babá para trabalhar . “Isso é sempre muito sofrido”, contando esperar que um dia não exista este sentimento da culpa. Modesta, sem perder a grandiosidade da aura de grande dama da dramaturgia brasileira, entremeava suas falas com frases como “isso é o que eu penso” e “não sei se era isso que você estava me perguntando”. Comparou o evento à uma peça no teatro e ficou emocionada quando uma convidada da plateia - de ascendência japonesa - a comparou com uma deusa. “Será?”, e discorreu sobre o destino, o lado mais espiritual e o que espera ser - “uma longínqua despedida”. O grand finale foi, sem dúvida, a leitura do Epílogo de seu novo livro. Celula-

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Mulheres Fotos de Alexandre Fatori/ Divulgação/Bradesco

Fernanda Montenegro faz a leitura do Epílogo de seu livro de memórias recém-lançado

Nathalia Garcia, Head da Corretora Ágora

res registraram o momento único e muitas convidadas, emocionadas, choraram. Históridas inspiradoras de empreendedoras Giovana Xavier, professora e historiadora da UFRJ contou sobre a plataforma @pretadotora, que estuda a participação de negras na pós-graducação. “Por que só 0,4% das professoras doutoras na pós-gradução no Brasil são negras?“, questionou. E emocionou a plateia ao lembrar da mãe - professora - que pegava livros emprestados na biblioteca da escola para ler para os filhos. “Ela foi uma traficante de sonhos”, resumiu, sendo muito aplaudida. Falaram a seguir, a fazendeira/ dentista Marize Porto e a empreendedora Fernanda Ribeiro . A dentista de formação Marize contou que, da noite para o dia, com a morte do marido, teve que aprender a administrar a fazenda da família. Enfrentou o preconceito de fazendeiros e hoje, 13 anos depois, a Fazenda Santa Brígida,

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localizada em Ipameri (GO), tem sido premiada pela experiência bem sucedida do sistema de integração lavoura-pecuária-floresta. Fernanda falou sobre a Associação AfroBusiness, rede que conecta empreendedores negros e oferece ferramentas para eles se conectarem com grandes empresas da cadeia de valor. “Juntos somos mais fortes”, frisou. A Head da Corretora Ágora, Nathalia Garcia, que integra a Organização Bradesco, falou sobre empoderamento feminino pelo lado das finanças. “Podemos e devemos sim falar e cuidar de investimentos e da gestão de dinheiro”, sentenciou. Duas jovens protagonistas negras de 25 anos encerraram a parte da manhã do #mulheresprafrente. A baiana Monique Evelle apresentou o seu novo livro - ( “Empreendedorismo feminino: Olhar estratégico sem romantismo”, da Coleção Reflete o Feminino - , que procura desmistificar o tema, trabalho didático como o

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de Gabriela Chaves, do No Front, que busca ensinar através de raps como investir. Após o almoço, foi a vez da roda de diálogo com a ativista Mafoane Odara - que combate a violência contra mulheres - e a jornalista Mariana Ferrão, sempre com a delicada e decisiva moderação de Ana Paula Padrão. Mafoane contou sobre o seu trabalho como ativista incansável no enfrentamento à violência contra as mulheres e fez uma rápida enquete com a plateia. Constatou que poucas sabiam realmente “o que faziam bem, no que eram boas”. Glaucimar Peticov, Diretora-Executiva do Bradesco, comemorou os resutados do evento e disse, no encerramento, esperar que, no terceiro encontro, em 2020, este número cresça. “Queremos mais e mais mulheres se encontrando e sabendo empreender no que fazem bem”, destacando que o empreendedorismo também pode ser interno, dentro de corporações,o chamado intraempreendedorismo.


Giovana Xavier faltou sobre a plataforma @pretadotora

Fotos de Sônia Araripe/Plurale

As empresárias Genevieve Junqueira, Solange Leal e Gina Marcocci também comemoravam a oportunidade de terem sido convidadas, como clientes do Bradesco

A reação do público “Estou até agora emocionada, chorei”, comentou a Chef de cozinha Danielle Dahoui, convidada para o evento. “Uau! Foi incrível estar aqui e poder participar deste dia tão inspirador”, disse Danielle, que também veio na primeira edição do evento, em maio. Com 28 anos de experiência profissional, a Chef lembrou não ser fácil para uma mulher empreender e que buscou ajuda profissional em cursos e especialistas para avançar na carreira. “Sou muito boa em gestão de pessoas, na cozinha e em ações criativas. Mas não tinha experiência na gestão do negócio e na parte financeira. Me preparei.” Danielle relatou já ter oferecido oportunidades para ex-presidiários, alcóolatras e prostitutas. “As pessoas precisam só de oportunidades.” Aplaudiu também as outras palestrantes e disse que “é espetacular ver o afroempreendedorismo crescendo forte.” As amigas empresárias Genevie-

Chef Danielle Dahoui – “Foi incrível participar deste dia tão inspirador”

Organização, cenografia e curadoria do evento fizeram diferença A organização, cenografia e curadoria do evento também fizeram toda a diferença. Da delicadeza da fitinha do crachá - cada uma diferente da outra, tecida com uma cor e tons diferenciados - até os detalhes do café natural, com suco detox, muffin de aveia e frutas servidas em grandes tachos de madeira. Sem falar no almoço alinhado com a sustentabilidade sem material plástico servido em potes e copos de mandioca, com garfinhos de madeira reciclada. Ainda do capítulo de guloseimas, uma instalação oferecia donuts como se fossem tintas na paleta de pintores e carrocinhas encantavam pelo lado lúdico de provinhas de brigadeiro de colher. Mais feminino, impossível. A decoração era complementada por bancos de madeira de demolição e uma entrada cenográfica - com fitas coloridas com mensagens como motivação, força e empoderamento - remetia à mata, até mesmo com cheiro.

ve Junqueira, Solange Leal e Gina Marcocci também comemoravam a oportunidade de terem sido convidadas, como clientes do Bradesco. “Evento emocionante e inspirador”, classificou Gina, complementada por Solange e Genevieve, lembrando o cuidado com a escolha das palestrantes e da organização do evento. “Cada detalhe foi pensado”, frisou Genevieve, que tem loja de roupas.

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Arquitetura

Sustentabilidade norteia novas instalações da sede do Bradesco, na Cidade de Deus, em Osasco (SP) Telhado verde, ônibus elétrico, auditório, academia, barbearia e centro comercial fazem parte das mudanças na sede do maior banco privado nacional Por Sônia Araripe, Editora de Plurale Fotos de Egberto Nogueira/ Divulgação Da Cidade de Deus, Osasco/ SP

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a década de 50, quando os pioneiros do Bradesco chegaram à esta região paulista que abriga a sede da maior organização bancária privada do País era tudo tão distante que foi preciso instalar casas dentro do complexo. Um dos fundadores do Bradesco, Amador Aguiar, morou por aqui com a família e esta também foi a rotina de muitos funcionários naqueles tempos iniciais. A gigante Cidade de Deus de hoje, com seus 13 mil funcionários - encravada na Vila Yara, no município de Osasco - pouco lembra àquela dos pioneiros, nascida em 1953. A sede administrativa do Bradesco é composta por 13 prédios administrativos, que estão distribuídos em uma área com 340 mil metros quadrados, entre jardins, bosques, árvores frutíferas, lago, campo de futebol, pista de atletismo, piscina e

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quadras de tênis. Mas há uma cultura organizacional que se mantém perene. O Museu - administrado pela Fundação Bradesco - guarda a memória “da alma” corporativa. A mesa que por tantos anos foi fiel companheira das decisões de Amador Aguiar está em lugar de destaque. Em cima, alguns de seus objetos pessoais. E uma frase que parece nortear as mudanças pelas quais atravessa a Organização - “Pense”. Ninguém jamais imaginaria, há alguns anos, por exemplo, ser bem recebida por uma jovem alegre com uma mecha de cabelos azuis ou por outro jovem de bigode e barba bem aparados na matriz de arraigado e conservador ambiente bancário. Os ternos com gravatas, aos poucos, começam a ser substituídos por camisas sociais e, no caso das mulheres, os terninhos corporativos com sapato fechado alto convivem com roupas mais descontraídas e acessórios coloridos. Por todos os lados nos aparecem sinais dos novos ventos que sopram há alguns anos no processo de renovação desta corporação tradicional. A mais perfeita tradu-

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A sustentabilidade é o pilar que ancora as obras recém-concluídas. Foram inaugurados os Espaços Conviver, Bem Estar e Fitness, que ocupam 3.800 metros quadrados

ção acaba de ser apresentada ao público interno e externo. Plurale esteve na Cidade de Deus, Vila Yara, para conhecer - e entender melhor - as mudanças que também chegaram com as novas instalações. O site corporativo acaba de ganhar áreas coletivas de bem-estar - academia, spa, lavanderia, clínica, salão de beleza, praça de alimentação, drogaria e até mesmo uma antes impossível barbearia. A sustentabilidade é o pilar que ancora as obras recém-concluídas. Foram inaugurados os Espaços Conviver, Bem Estar e Fitness, que ocupam 3.800 metros quadrados. Embarcamos em ônibus elétrico, silencioso, o Move, dirigido por uma motorista mulher. Mais sinais. Todos os dias cerca de 5 mil pessoas se movem na Cidade de Deus com a ajuda deste meio de transporte sustentável. Um novo aplicativo vai indicar exatamente onde está o próximo ônibus: são 10 pontos espalhados pela matriz para evitar que o funcionário ande mais do que 200 metros para pegar o Moov. A nossa anfitriã é ninguém menos do que Glaucima Peticov, Diretora-Executiva do Bradesco, responsável não só pela Área de Recursos Humanos, mas também pelo Marketing e pela Universidade Corporativa. “Ouvimos os funcionários através de pesquisas e esta era uma demanda muito forte. Estamos em área


Fotos de Egberto Nogueira (Divulgação).

Os serviços instalados nos Espaços foram escolhidos com base em pesquisas dos funcionários. As estruturas metálicas foram feitas sob medida, procurando incorporar a luz natural ao máximo. Os telhados das novas instalações são todos verdes, com grama, e as árvores parecem ganhar ainda mais destaque em decks e jardins

fora do eixo e era preciso facilitar a vida das pessoas. Até mesmo para almoçar era preciso sair do complexo. Fazer um exame em laboratório ou ir à academia também não eram tarefas fáceis. Pensamos... por que não trazermos estes serviços para dentro da Cidade de Deus?”, lembra a Diretora. O Conselho de Administração e a Diretoria aprovaram a iniciativa: foram liberados R$ 30 milhões para executar as obras nos módulos de serviços (excluindo a parte do restaurante). Entre licitação para o projeto e as obras efetivas, tudo foi feito em seis meses. As obras, dentro do conceito de engenharia limpa, evitaram resíduos e muito barulho. Era preciso também ter a preocupação em não alterar muito a estrutura da Cidade de Deus, uma verdadeira área preservada em meio à região urbana. “Recorremos ao conceito da biofilia, integrando as instalações à natureza. Não retiramos as árvores existentes, nem mexemos nos terrenos. Ao contrário, incorporamos a natureza e aproveitamos os desníveis”, explica Glaucimar. Assim, o que antes era um telhado passou a ser o novo restaurante corporativo, com seis salas privativas de reunião e também abrigando moderno auditório com 300 lugares para eventos corporativos, integrando muita luz natural e materiais sustentáveis.

“Recorremos ao conceito da biofilia, integrando as instalações à natureza. Não retiramos as árvores existentes, nem mexemos nos terrenos. Ao contrário, incorporamos a natureza e aproveitamos os desníveis”, explica Glaucimar Peticov, Diretora-Executiva do Bradesco

A inauguração externa foi feita hoje para analistas do mercado de capitais, da Apimec. No lugar dos tradicionais banheiros há lavabos com placas que voltam a indicar os novos tempos: há desenhos gráficos de mulher e homem, lado a lado, unissex. Não é só. As estruturas metálicas foram feitas sob medida, procurando incorporar a luz natural ao máximo. Os telhados das novas instalações são todos verdes, com grama, e as árvores parecem ganhar ainda mais destaque em decks e jardins. “Tivemos o cuidado de manter a vegetação e abraçá-la. Temos 12 mil árvores catalogadas de várias espécies. Aqui é uma verdadeira reserva preservada”, comenta a arquiteta Fernanda Matos Pinho, coordenadora das obras, do Departamento de Patrimônio do Bradesco. Madeiras

plásticas no lugar de madeiras tradicionais e outros detalhes, como reúso de água e placas de energia solar na academia para aquecer a água, reafirmam o compromisso com a sustentabilidade. Um novo reservatório de água também está sendo construído para assegurar completamente a autosuficiência da Cidade de Deus. O projeto é do Escritório DMDV e as obras foram feitas pela Construtora It`s Informov. Todos sob supervisão da Equipe Bradesco. Para o ano que vem, está previsto o término do Espaço Clinica Meu Doutor e Odontoprev, que vai oferecer atendimento médico e dentário. “Nossa preocupação é com as pessoas. Colaboradores trabalham ainda mais felizes se tiverem um ambiente de trabalho colaborativo, que promova o bem-estar”, diz Glaucimar.

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Responsabilidade social

Instituto Claro participa pela segunda vez da Assembleia Geral da ONU Qualidade da educação, uso de dados para melhorias da saúde, combate à fome e à pobreza, questões climáticas e a redução de desigualdades, foram alguns dos temas globais abordados Equipe Plurale/ Com informações de Entrevistas da Jornalista Laila Garroni, de Nova York Fotos do Instituto Claro – Divulgação

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Instituto Claro participou, na última semana de setembro, em Nova York, pela segunda vez, de parte da vasta agenda de eventos da Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU), por conta da parceria com o Unicef, o Fundo das Nações Unidas para a Infância no Brasil. No evento, foram discutidas temáticas relacionadas aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), que buscam gerar ações mundiais para atingir, até 2030, as 17 metas globais que contemplam assuntos como a qualidade na educação, o combate à fome e à pobreza e a redução de desigualdades. Em entrevista à Plurale, a diretora de Comunicação e Responsabilidade Social e vice-presidente de Projetos do Instituto Claro, Daniely Gomiero, expli-

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cou a relevância desta agenda. “Foi a segunda vez que participamos e isso deriva de uma forte parceria com o Unicef no Brasil. Acho que além de todas as iniciativas que o Instituto Claro já faz, inclusive com investimentos em indicadores ligados aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável, também entendemos que passamos a ser um canal de articulação importante com a nossa plataforma www.institutoclaro.org.br disseminando esse tema e a importância dessa agenda”, disse. Logo no primeiro dia, Daniely Gomiero teve um importante café da manhã com o diretor do Unicef Gary Stahl. Os dois conversaram sobre a iniciativa que busca a resolução da distorção idade-série – que é quando o aluno deixa de estudar e apresenta um atraso escolar de mais de dois anos. O objetivo é diminuir ao máximo o percentual de crianças fora da sala de aula. “Gary e eu conversamos sobre como esse programa do Unicef, que tem patrocínio do Instituto Claro, tem gerado e um efeito importante nos municípios que aderiram à


DIVULGAÇÃO

FOTO Do UNICEF

Daniely Gomiero, diretora de Comunicação e Responsabilidade Social da Claro e vice-presidente de Projetos do Instituto Claro - “Foi a segunda vez que participamos de parte da programação da Assembleia Geral da ONU e isso deriva de uma forte parceria com o Unicef no Brasil.”

iniciativa”, explicou Daniely, destacando que crianças fora das salas de aulas são um dos principais problemas que enfrentamos na educação no Brasil. Outro tema também abordado neste encontro com o Diretor do Unicef foi a segurança do uso da Internet para crianças e adolescentes. “Como provedores de Internet, consideramos importante acompanhar as ações de responsabilidade social ligadas a esse tema”, frisou Daniely. O terceiro ponto tratado, tão importante quanto os outros, foi a questão das mudanças climáticas. “Na Assembleia, vimos que esse assunto também está em pauta entre crianças e adolescentes. Eles estão preocupados em discutir, cuidar e evoluir nessa agenda climática, que é uma questão social, política e econômica.” Ela destacou a importância da pressão que é feita hoje por crianças e adolescentes, junto à sociedade, na busca de um futuro melhor.

Uso de dados para melhorias na saúde Já no encontro “Iniciativa para Saúde Pública de Precisão”, promovido pela Fundação Rockefel-

Agenda com o Diretor do Unicef, Gary Stahl: conversa sobre a iniciativa que busca a resolução da distorção idade-série – que é quando o aluno deixa de estudar e apresenta um atraso escolar de mais de 2 anos. O objetivo é diminuir ao máximo o percentual de crianças fora da sala de aula.

ler, foi discutido como a instituição, em trabalho conjunto com o Unicef, pretende alavancar dados e ferramentas de análise para agilizar o progresso da saú-

No encontro “Iniciativa para Saúde Pública de Precisão”, promovido pela Fundação Rockefeller, foi discutido como a instituição, em trabalho conjunto com o Unicef, pretende alavancar dados e ferramentas de análise para agilizar o progresso da saúde pública mundial

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Responsabilidade social

bitantes que muitas vezes passavam despercebidos pelas estatísticas oficiais do país. Uma iniciativa similar foi desenvolvida pelo próprio Instituto Claro. “A Claro e o Instituto Claro, junto com o Unicef, foram pioneiros no Brasil em usar a inteligência de dados para a saúde, no combate ao zika vírus, há cerca de dois anos”, lembra Daniely. Direitos e inclusão de pessoas com deficiência Sobre direitos e inclusão de pessoas com deficiência, o Instituto Claro participou de uma mesa que reuniu representantes das mais diferentes organizações para falar sobre o desenvolvimento de estratégias mais eficientes. O objetivo é não somente transformar as vidas das pessoas que têm alguma deficiência, mas, também, engajar a população na causa. Daniely avaliou positivamente a participação do Instituto no evento. “O Instituto Claro quer conectar as pessoas para um futuro melhor. E me deixa muito feliz vir para Assembleia da ONU e ver que as principais discussões passaram pela utilização de dados, da tecnologia e da inovação para gerar impacto social”. de pública mundial. A primeira ação tem como objetivo a redução no índice de mortes de mães e crianças em países de baixa erenda. Um dos casos de sucesso apresentados vem de Bangladesh. Com o uso de mapeamento local e manchas de dados fornecidas por companhias telefônicas, profissionais da área planejaram estrategicamente a disposição de unidades de saúde em lugares mais acessíveis à comunidade. A ação conseguiu contemplar ha-

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Sobre a atuação do Instituto Claro O Instituto nasceu em 2001, como uma organização sem fins lucrativos. Dois anos depois, foi qualificado pelo Ministério da Justiça como Organização da Sociedade Civil de Interesse Público (OSCIP) e, posteriormente tornou-se a segunda organização de responsabilidade social corporativa no Brasil a ser reconhecida pelo Department of Global Communications (DGC) da Organização das Nações Unidas (ONU) com o selo

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de Status Associativo. Esses fatores reforçam o compromisso do Instituto Claro de contribuir com a sociedade, reforçando os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da Agenda 2030 das Nações Unidas, por meio de diferentes ações e parcerias com instituições de peso, como o Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef ), com o qual que atua no combate ao atraso escolar e no uso de dados para para gerar melhorias nos segmentos de cidadania e educação.


FOTO DO INSTITUTO CLARO / DICULGAÇÃO

Junto com Unicef, Instituto Claro comemora 30 anos da Convenção sobre os Direitos da Criança Em novembro, a Convenção sobre os Direitos da Criança, da Organização das Nações Unidas (ONU), completou 30 anos. Assinado por 196 países, o documento ficou conhecido como o tratado de direitos humanos mais ratificado da história. De acordo com o chefe de comunicação e parcerias do Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) no Brasil, Michael Klaus, nas últimas três décadas, o país – que foi um dos primeiros a ratificar o documento – teve grandes avanços em relação à situação das crianças e adolescentes. “O Brasil conseguiu uma redução expressiva da taxa de mortalidade infantil, por exemplo – de 47,1 a cada mil nascidos vivos, em 1990, para 13,4 em 2017 –, assim como da porcentagem de crianças fora das escolas: de quase 20% para 4,7%, no mesmo período. Além disso, em 1990, a escola era obrigatória apenas dos 7 aos 14 anos e,

desde 2009, foi ampliada para dos 4 aos 17 anos”, aponta. “Também houve melhora em aspectos como o aumento da porcentagem de crianças que são registradas em seu primeiro ano de vida e a redução do trabalho infantil”, completa. Klaus, no entanto, destaca que ainda há um longo caminho pela frente: “Mesmo nesses aspectos que apresentaram melhora, ainda existem grandes desafios, principalmente no Nordeste do país e entre a população negra. Além disso, houve um aumento no número de homicídios de adolescentes, em especial meninos e negros. A cada dia, 32 crianças e jovens entre 10 e 19 anos são assassinados”, lamenta. “Também temos, hoje, desafios que não existiam há 30 anos, como a garantia do acesso à internet, a integração de imigrantes e o agravamento de ocorrências relacionadas ao clima.” Com seus programas e projetos, o Instituto Claro tem contribuído no enfrentamento de alguns desses de-

safios. “O direito a uma infância com oportunidade de desenvolvimento e educação, e longe de qualquer tipo de violência, é uma causa que nós defendemos”, aponta a Vice-Presidente de projetos do Instituto e Diretora de Responsabilidade Social Corporativa da Claro, Daniely Gomiero. “Quando falamos do próximo novo, falamos de futuro, e são as crianças que vão construí-lo”, completa. Daniely Gomiero aponta algumas das iniciativas por meio das quais o Instituto faz sua contribuição. “O programa Educonex@o, por exemplo, contribui com o direito a um ensino conectado e com o olhar voltado para as competências do futuro. O Dupla Escola, realizado na rede pública do Rio de Janeiro, atua com alunos do ensino médio e os certifica como técnicos em telecomunicações. Saem preparados para o mercado de trabalho”, exemplifica. “Com o Jovem Aprendiz, adolescentes encontram, aqui na empresa Claro, sua primeira oportunidade profissional. E também apoiamos todos os anos o Teleton, por entendermos que se trata de uma iniciativa que traz qualidade de vida para muitas crianças com deficiência atendidas pela AACD”, conclui.

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Sustentabilidade FOTOS DE EDY FERNANDES – DIVULGAÇÃO/ NESPRESSO

Os premiados pelo Programa Nespresso AAA de Qualidade Sustentável™ foram reconhecidos não só pela café produzido, mas principalmente pelas práticas sustentáveis desenvolvidas

Em um dos maiores eventos do setor, Nespresso homenageou fornecedores de café e debateu questões sustentáveis durante mesa-redonda Marca distribuiu 10 milhões de dólares em Prêmio na Safra 2019 Por Equipe Plurale Fotos de Edy Fernandes e Divulgação - Nespresso

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azendas que se destacaram nos 15 anos do Programa Nespresso AAA de Qualidade Sustentável™ aqui no Brasil foram homenageados pela marca pioneira em cafés porcionados durante o principal evento do setor cafeeiro, a Semana Internacional do Café – SIC, que aconteceu nos dias 20, 21 e 22 de novembro, em Belo Horizonte (MG). São 10 mi-

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lhões de dólares em prêmio sobre a última safra comercializada com a Nespresso e essa premiação anual passa a ser promovida pela empresa como reconhecimento ao bom trabalho de seus fornecedores. “Reconhecer produtores que investem e acreditam nesse ciclo virtuoso e necessário para a perenidade das lavouras de café é o que a Nespresso faz, pois o que nossos fornecedores conseguem atuando de maneira sustentável é mais eficiência e maior produtividade”, afirmou Paulo Barone, Gerente Global de Café Verde e Sustentabilidade da Nespresso. Foram premiadas 1.200 fazendas fornecedoras, das quais, simbolicamente a Nespresso reconheceu 10 produtores de diferentes regiões que fornecem café para a marca, em

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homenagem a todos os produtores, que, ainda puderam acompanhar mesa-redonda debatendo questões sustentáveis. Entre as reconhecidas está a Fazenda Recreio, localizada na região de São Sebastião da Grama, divisa de São Paulo e Minas Gerais, que fornece para a Nespresso o café Bourbon Amarelo há 10 anos. O engenheiro agrônomo Diogo Dias, 41 anos, é a quinta geração da família produtora de café. “Muito orgulho receber esta premiação”, disse, em entrevista à Plurale. De outra região, do Cerrado mineiro, no município de Patrocínio, também foram premiadas as três fazendas da família Montanari, há 100 anos no ramo. “Sou a quarta geração. Nosso compromisso é produzir um café de alta qualidade cuidando sempre da


Produtores rurais puderam acompanhar mesa-redonda sobre questões sustentáveis

sustentabilidade”, destacou Marcelo Montanari, 40 anos, em conversa com Plurale por telefone. Produtores do Sul de Minas, da Cooperativa de Guaxupé, Cooxupé, também foram agraciados com o reconhecimento do Programa Nespresso AAA de Qualidade Sustentável. Para o presidente da Cooxupé, Carlos Augusto Rodrigues de Melo, essa premiação é importante para mostrar ao mercado que ações bem planejadas são capazes de produzir cafés com alta qualidade assegurando a rastreabilidade dos lotes, garantindo níveis seguros de uso de defensivos e proporcionando a segurança de que a mão de obra empregada recebeu todas as condições dadas pela lei , além de propiciar melhoria da qualidade de vida a todos da cadeia de produção, além de oferecer garantia de fornecimento de médio a longo prazo. Ação sustentável Para a Nespresso, a busca é constante para adquirir grãos maduros e perfeitos. E é na ação sustentável de cafeicultores que a companhia garante esse fornecimento. Para auxiliar nessa melhoria de processos e modernização das lavouras, as fazendas produtoras para Nespresso participam do programa de qualidade da empresa. Esses produtores são avaliados em quesitos de gestão de suas propriedades para verificar se fauna e flora estão sendo protegidas; como a colheita é planejada e supervisionada e as condições de trabalho nas fazendas. Os prêmios são fixos em dólar e so-

frem somente diferenças na variação cambial – que é indexada no momento da venda do café. A Nespresso realiza auditorias para garantir que 100% dos prêmios pagos cheguem aos produtores, conforme descrito no sistema de rastreabilidade dos cafés que é parte crucial da operação da empresa. “A Nespresso paga um valor cerca de 40% acima do praticado nessa categoria de cafés que selecionamos para nossas combinações e torras especiais. Além disso, o prêmio para as fazendas que avançam em suas práticas sustentáveis”, explicou Paulo Barone. O que é o Programa Nespresso AAA de Qualidade Sustentável™ e como ele auxilia o produtor O programa promove relacionamento de longo prazo com produtores fornecedores, presta assessoria técnica, promove incentivos financeiros e a diferenciação de cafés na colheita. Além disso, atua com diferentes projetos socioambientais e está sempre agregando novos agentes na melhoria das ações no campo. Lançado em 2003 em colaboração com a ONG Rainforest Alliance e implementado no Brasil pela ONG Imaflora, participam mais de 100 mil fazendas em 13 países. Para auxiliar os produtores, 450 agrônomos trabalham na iniciativa, que tem uma grande operação organizada pela Nespresso. Aqui no Brasil, são 1.200 propriedades cafeicultoras cadastradas e 15 agrônomos atuantes. Todo café comprado aqui no país vem de fazendas incluídas no Programa Nespresso AAA de Qualidade Sustentável™.

Sobre a Semana Internacional do Café Três dias de conexões, aprendizados, atualizações, conversas em meio a 80 mil xícaras de cafés servidas, 23 mil visitantes e a estimativa de que tenham sido iniciados negócios em torno de R$ 50 milhões. Esse foi o balanço da Semana Internacional do Café 2019 (SIC), realizada entre os dias 20 e 22 de novembro, no Expominas, em Belo Horizonte (MG). A Semana Internacional do Café (SIC) é uma iniciativa do Sistema FAEMG (Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de Minas Gerais), da Café Editora, do Sebrae, do Governo de Minas, por meio da Secretaria de Estado de Agricultura, Pecuária e Abastecimento de Minas Gerais (Seapa) e Companhia de Desenvolvimento de Minas Gerais (Codemge). A Nespresso e a Nescafé foram patrocinadoras oficiais. A cada ano o evento se supera. Nesta Edição, estiveram reunidos no Expominas agricultores, torrefadores, compradores, exportadores, empresários, baristas, indústria cafeeira e apreciadores da bebida, além de representantes de mais de 40 países. Este ano, a Semana Internacional do Café teve 220 expositores, 25% a mais que no ano anterior; contou com o Pátio do Produtor, que reuniu maquinário agrícola, além de vários estandes com insumos; mostra de arte, com pinturas que tinham como tema o café; e exposição de embalagens do concurso Espresso Design, para valorização da apresentação dos produtos.

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Sustentabilidade FOTOS DE EDY FERNANDES – DIVULGAÇÃO/ NESPRESSO

FAZENDA RECREIO – SÃO SEBASTIÃO DA GRAMA (MG) A Fazenda Recreio tem sido piloto de muitas das iniciativas da Nespresso junto a produtores, como a recém-anunciada parceria com a SOS Mata Atlântica, que entre várias ações focará na proteção de nascentes (leia mais na próxima página). “Recebi o apelido de `o empreendedor` porque temos atuado como piloto para estas boas iniciativas que depois serão replicadas em outras fazendas produtoras”, conta Diogo Dias, gestor da fazenda, a quinta geração da família no negócio. Há dez anos vendendo para a Nes-

presso, ele já foi premiado anteriormente e ganhou uma viagem para conhecer as instalações da matriz, na Suíça. “Foi incrível.” Na Fazenda, desenvolve ações sustentáveis, como educação ambiental para crianças em escola rural e também teve o apoio da Nespresso para trocar fossas negras por fossas sépticas. “Uma parceria importantíssima. ” Vibrando com a premiação recebida na SIC, Diogo não vê a hora de começar a tocar a ação com a SOS Mata Atlântica. “Queremos ser ainda mais um modelo em sustentabilidade no plantio de café. ”

Diogo Dias (segundo da esq. para a dir.) recebe premiação de Executivos da Nespresso – Paulo Barone e Ignácio Marini - e da Secretária de Estado de Agricultura, Pecuária e Abastecimento de Minas Gerais, Ana Maria Valentini.

FAZENDAS MONTANARI – PATROCÍNIO (MG) Marcelo Montanari ficou muito feliz com a premiação da Nespresso para o café produzido nas fazendas da família há mais de 100 anos – Rainha da Paz, São Paulo, Montanari III e IV . “Já tivemos outras premiações. Mas desta vez foi muito especial. Estamos sendo reconhecidos por praticarmos a sustentabilidade nos seus três vértices – ambiental, social e econômico”, disse em entrevista para Plurale. O plantio fica na região do Cerrado mineiro, onde há várias nascentes

e áreas a serem preservadas. “Protegemos mais de 36% da área. Isso é quase o dobro dos 20% exigidos por Lei. Queremos provar que é possível sim produzir e ainda proteger as nascentes e a vida nativa.” Marcelo lembra que o que não estava já protegido, foi replantado com vegetação natural da região. As fazendas contam com sistema de irrigação com reuso de água da chuva, represada e há manejo do solo para garantir proteção constante, evitando erosão.

Marcelo Montanari (segundo da esq. para a dir.) recebe premiação de Executivos da Nespresso, Paulo Barone e Ignácio Marini, e da Secretária de Estado de Agricultura, Pecuária e Abastecimento de Minas Gerais, Ana Maria Valentini.

COOPERATIVA DE GUAXUPÉ (COOXUPÉ) - MG A Cooxupé teve quatro fazendas e cinco produtores cooperados homenageados dentre os 10 produtores destacados. Foram premiados os cooperados: Alcidez Torezan, Elio Carneiro Júnior, Koiti Hojo e Mamoru Hojo e Marilene Honda. A Cooxupé – com 60 anos de atividades - representa 13,6% da produção nacional e 19,6% da produção de Minas Gerais. A sede da cooperativa está instalada no município mineiro Guaxupé, onde também está situado o Complexo Industrial Japy. O presidente da Cooperativa, Carlos Augusto Rodrigues de Melo, explica que o Programa Nespresso

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AAA™ começou em 2004 e, em setembro de 2005, exportavam os primeiros lotes de café dos cooperados da região do Cerrado de Minas Gerais. Foram 22 produtores neste primeiro ano e depois a parceria só cresceu chegando, em 2016, com mais de 1.400 fazendas. “Esse programa valoriza os produtores que estão, desde 2005, como fornecedores e mostra a real importância do seguimento produtor dentro da cadeia café. É um dos poucos programas que origina cafés que dividem valor ao longo da cadeia”, diz Melo. A recente premiação foi muito comemorada entre os produtores.

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Marilene Honda (segunda da esq. para a dir.), uma das quatro premiadas da Cooxupé, recebe premiação de Executivos da Nespresso, Paulo Barone e Ignácio Marini, e da Secretária de Estado de Agricultura, Pecuária e Abastecimento de Minas Gerais, Ana Maria Valentini.


FOTO DE DIVULGAÇÃO/ NESPRESSO

Nespresso e SOS Mata Atlântica se unem para restaurar a floresta De São Paulo

Em parceria inédita com a Fundação SOS Mata Atlântica, a companhia pioneira em cafés porcionados Nespresso iniciou um projeto de recuperação de paisagem da região da bacia do Rio Pardo, no município de São Sebastião da Grama (SP). A região, da qual advém grande parte dos cafés de alta qualidade adquiridos pela marca e que, por muito tempo, teve sua gestão produtiva desvinculada de responsabilidade ambiental, ganhará em breve novas paisagens. O projeto prevê ao longo de quatro anos a restauração de 277 hectares de Mata Atlântica em fazendas de café. Com investimento inicial de US$ 100.000 (cerca de R$ 400.000) da Nespresso será possível plantar 25 mil mudas em 10 hectares. Esse plantio começa ainda em 2019 e

segue até março de 2020 com alta diversidade de espécies nativas da região - como trema, ipês, jequitibá, palmito-jussara, louro-pardo, angico, cereja-do-rio-grande, quaresmeira, ingá, aroeira-pimenteira, jatobá, entre outras. Para cada muda patrocinada pela Nespresso, a SOS Mata Atlântica doa outra muda. Com isso, será possível chegar em 50 mil mudas, alcançando 20 hectares. E, até o final do próximo ano, a previsão é plantar 120 mil mudas, totalizando 48 hectares. “Investimos para que toda nossa cadeia aconteça em favor do meio ambiente. A Nespresso ajuda parceiros a destinar corretamente a matéria-prima, atuando de forma responsável com o meio e de acordo com cada país em que opera”, explica Guilherme Amado, gerente de café verde da Nespresso Brasil. Aretha Medina, engenheira florestal e coordenadora na Fundação SOS Mata Atlântica, pontua que

a restauração florestal vai muito além do plantio de mudas de espécies nativas da região. “Queremos reproduzir, de fato, um ambiente funcional, com a presença da biodiversidade regional e que exerça serviços ecossistêmicos - como sequestro de carbono, melhoria da qualidade e quantidade de água e recuperação de paisagens naturais, como a floresta exercia em seu estado original. Por isso é essencial estabelecer parcerias com os proprietários rurais e a iniciativa privada para viabilizar financeiramente essa adequação”. No site Aqui Tem Mata, que utiliza dados da ONG e do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), mostra que São Sebastião da Grama tem somente 6,75% de remanescentes de Mata Atlântica atualmente. A iniciativa vai permitir criar corredores ecológicos para unir os fragmentos e recuperar a mata na margem de rios e nascentes.

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Pelo Brasil

No entorno de Itaipu, Por Nícia Ribas, de Plurale (*) De Foz do Iguaçu (PR) Fotos de Nícia Ribas/ Plurale e Rubens Fraulini/ Comunicação Itaipu Binacional

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Mata Atlântica, sua fauna e flora; a população ribeirinha - pequenos agricultores, pescadores; e as aldeias indígenas, que foram atingidas pela inundação na construção da Usina Hidrelétrica Itaipu Binacional há 35 anos, vêm sendo recompensados com um leque de iniciativas de recuperação e preservação na região. O grupo de jornalistas recentemente recebido pelo General Luiz Felipe Carbonell, diretor de Coordenação da Itaipu Binacional, pode sentir seu entusiasmo com os projetos em andamento: “a produção de energia depende do meio ambiente, por isso aqui não

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o renascimento

Com corredores de biodiversidade, que medem 60 metros de largura por quatro quilômetros de extensão, e coexistem com as áreas produtivas (soja, milho, pecuária), a floresta vem sendo restaurada se trata de um processo acessório, mas de um macroprocesso finalístico.” Ele fez um relato sobre o manejo de solo em 54 municípios paranaenses e mais um no Mato Grosso do Sul, por onde passam rios que deságuam no reservatório da Usina. Desde a recuperação de nascentes, conservação de biodiversidade e cercamento de mata ciliar, todo esforço é direcionado para evitar assoreamento, um dos principais fatores que podem encurtar a vida útil de uma

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hidrelétrica. “Anteriormente, 76% da Mata Atlântica estava desmatada, hoje a floresta está de volta”, disse. Em função da estiagem, este ano a produção de energia não foi das melhores: 96,4 milhões de MW/hora, o que garante 15% da energia consumida no Brasil e 90% no Paraguai. O recorde de produção foi em 2016: 103.098.366 MWh. Através do geoprocessamento, um sistema de controle e inteligência de dados, é possível ficar atento e manter


Fotos de Rubens Fraulini/ Comunicação - Itaipu Binacional

General Carbonell: a floresta voltou

a qualidade de vida na região. Mas isso não seria possível não fosse a participação de todos através de parcerias com prefeituras, instituições e cada um dos moradores. Ação integrada Com corredores de biodiversidade, que medem 60 metros de largura por quatro quilômetros de extensão, e coexistem com as áreas produtivas (soja, milho, pecuária), a floresta vem sendo

restaurada. Em visita à Fazenda Santa Maria, os jornalistas puderam ver um exemplo de recuperação de 73 hectares. Como decorrência do plantio de 128 mil mudas, mais de 120 diferentes espécies da fauna, como a Arara Canindé, que estava em extinção, já foram registradas. Na semana da visita dos jornalistas, os empregados da Itaipu vibravam com o registro de uma onça pintada e um puma. Os refúgios biológicos da Itaipu somam mais de 100 mil hectares de florestas protegidos pela usina em ambas as margens - brasileira e paraguaia. A inundação, há 35 anos, atingiu 104 mil ha. As áreas protegidas pela binacional integram a Reserva da Biosfera, chancela dada pelo Programa “O Homem e a Biosfera” da ONU. Para a Fundação SOS Mata Atlântica a empresa é a principal responsável pela regeneração desse bioma no Paraná, chegando a quase 30% da recuperação observada no estado nos últimos 30 anos. O gestor de bacias da Itaipu, Seno Leopoldo Anton, e a engenheira ambiental da prefeitura de Itaipulândia, Rosenei Zaleski, são um bom exemplo de ação integrada pela preservação das microbacias: “ações pontuais não são muito efetivas”, dizem. Como gestora do convênio com Itaipu, Rosenei atende os agricultores numa

área de 328 km² e conta com eles para o relato de problemas e sugestões de melhorias. Itaipulândia é um dos municípios que integram o Programa Socioambiental da Binacional. “Cuidamos da qualidade da água de cima para baixo, protegendo a nascente, recuperando áreas degradadas, protegendo a mata ciliar dos cursos d`água, numa extensão de 720 ha, desde 2003”, explica Seno, que faz questão de destacar a importância de conscientizar o agricultor e contar com sua parceria. Para eles, a educação ambiental é fundamental. No contato com os agricultores, os técnicos incentivam o reuso da água e mostram como evitar o despejo de carga orgânica nos rios – há muita criação de suínos e aves na região - e o cuidado para que os defensivos agrícolas não contaminem o solo. Até ensinam a construir um filtro biológico usando calcário e carvão. Fala, agricultor! Em São Miguel do Iguaçu, o agricultor Luiz Antônio Arruda, 63 anos, garante que sua vida melhorou depois da parceria com Itaipu, que já dura 10 anos. Ele e a mulher, Rose, cuidam sozinhos da plantação de palmito pupunha, feijão, mandioca e frutas, sem nem um pingo de agrotóxico. “A assistência dos técnicos enviados para nos orientar é muito importante e contribuiu para

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Pelo Brasil Foto de Rubens Fraulini/ Comunicação - Itaipu Binacional

O produtor Arruda conta com apoio da Itaipu.

aumentar nosso faturamento”, diz ele, que além de vender os produtos in natura, também fabrica polpa. Além disso, o Sítio do Arruda recebe turistas e turmas de escolas durante todo o ano, para fazer a trilha e saborear o almoço. Simpático e bom de papo, ele conquista cada vez mais visitantes. Capítulo à parte é o talento da Rose na cozinha. Para os jornalistas, ela preparou porco e galinha no fogão à lenha, ensopadinho de palmito, aipim, arroz e o mais saboroso feijão – colhido na véspera. Para beber, suco de araçá roxo, espécie que eles plantam desde que conseguiram uma semente vinda de fora, que deu certo nas suas terras. Aprovado por todos! Arruda recebe orientação da CAPA – Centro de Apoio à Agroecologia, que oferece cursos e diversas atividades para capacitar os agricultores, dando apoio na comercialização e nas parcerias com cooperativas. “Mantemos 10 feiras livres para estimular a agroecologia, com o lema Comida Boa na Mesa”, disse Vilmar Saar aos jornalistas. Todo ano eles participam do show rural em Cascavel. Desde 2008, a Unioeste – Universidade Estadual Oeste do Paraná mantém área específica para agroecologia. “Graças à parceria com a Itaipu, levamos informações aos agricultores, evitando perdas nas plantações”, disse o professor Emerson Fey. Qualidade de vida Às quartas-feiras e aos sábados, das 16h30 às 21h30, acontece a Feira de

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Desenvolvimento Rural Sustentável em Santa Helena, cidade com 25 mil habitantes. Prefeitura e Itaipu, numa parceria de sucesso, garantem assistência técnica aos pequenos agricultores, desde a produção até a comercialização na feira. Eles oferecem kits com barracas e orientam os trabalhos. Ronaldo Pavlak, da Binacional, e a Bio Labore cuidam de tudo. Toda a alimentação para alunos das escolas municipais é fornecida por eles, sempre sob a orientação dos técnicos. Para as merendeiras e nutricionistas das escolas também são oferecidos cursos sobre como evitar desperdício, alimentação saudável e reaproveitamento de alimentos, sempre com produtos da safra. Maior emoção quando foi para Matelândia (PR) o primeiro lugar do Concurso Nacional de Merendeiras. A agricultora Maria Luiza Picco orgulha-se de sua barraca farta de frutas, legumes, linguiças, chouriços e até batata doce assada no fogão à lenha. Ela e o marido trabalham a semana toda no seu minimercado e no abatedouro de suínos e bovinos. Mas a quarta-feira é sagrada. Ela se acorda às 5h para preparar as linguiças. Ferve bem a carne de porco, mói, coloca na tripa, ferve de novo e espera esfriar para embalar e levar para a Feira. Enquanto isso a batata assa. Santa Helena, município mais atingido pela inundação, ganhou uma área de uso múltiplo – serve à Usina e ao lazer. O Balneário Terra das Águas, com praia e outros atrativos, concentra os moradores nos finais de semana. Na virada do ano, vem gente das redondezas, che-

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gando a reunir mais de 60 mil pessoas. Ao todo, há no entorno de Itaipu nove praias como a de Santa Helena. Em Santa Terezinha do Itaipu, outra área de uso múltiplo, a Binacional beneficia os pescadores que perderam seu sustento quando houve a inundação. Ali foram criados 63 pontos de pesca, autorizados pelo IBAMA. O projeto criou um modelo padrão de ocupação, com casas de apoio e tanques para engorda no lago. Cada tanque contém 450 peixes (pacu e lambari), garantindo melhores ganhos para 850 profissionais. Lixo cheiroso Outro exemplo de parceria que está dando muito certo é a que transformou o lixão de Santa Terezinha de Itaipu numa empresa de sucesso. O empenho do prefeito Claudio Eberhard, que está em seu quarto mandato, e a determinação do presidente da Associação de Catadores – Acaresti, Antonio Correia, mais as parcerias feitas com Itaipu e cada um dos moradores da cidade contribuíram para este resultado: apenas 12% da coleta feita por 46 catadores vai para o aterro sanitário e mais de 90% segue para reciclagem. Graças às parcerias, foi possível ampliar os barracões e adquirir caminhões, uniformes e maquinário moderno, como a prensa vertical, e a instalação de placas fotovoltaicas, que garantem toda a energia consumida no FOTO DE NÍCIA RIBAS- PLURALE

Maria Luiza vende seus produtos na feira orgânica


Fotos de Rubens Fraulini/ Comunicação - Itaipu Binacional

A prensa vertical agiliza a reciclagem

FOTO DE NÍCIA RIBAS- PLURALE

Marlene Curtis mergulhou no mundo Guarani

dia-a-dia de trabalho. Mas o que mais faz crescer o entusiasmo dos catadores é a sua profissionalização e o salário, que passou de R$ 400,00 para R$1.800,00. “Agora somos olhados de outra maneira pela população”, diz Antonio, que está animado com a próxima licitação para trabalhar com lixo orgânico. Se ganharem, o salário aumenta e o orgulho de ser catador, também. Aos jornalistas que visitam a Associação, ele garante: “aqui o lixo é cheiroso”. Hoje a Acaresti é referência e tem sido convidada para falar sobre sua experiência em diversos organismos internacionais.

Rubens Fraulini/ Itaipu Binacional

Mundo Guarani Três aldeias dos índios Avá Guarani estão estabelecidas na mata ciliar de Itaipu, desde os reassentamentos feitos na década de 80. Pelo Programa de Sustentabilidade das Comunidades Indígenas, a Binacional atende a cerca de 290 famílias (quase 1.500 pessoas) nas aldeias Ocoy, em São Miguel do Iguaçu; e Añe-

Crianças indígenas Guarani

tete e Itamarã, em Diamante do Oeste. Através de convênios com os municípios e outras instituições, como Funai, Funasa, Sesai e Instituto Ambiental do Paraná, muita coisa boa já foi feita. Para o Cacique Cipriano Alves, o mais importante é o respeito que os brancos têm pela cultura Guarani: “Valorizam nossa língua e vida espiritual”. Da parte de Itaipu, quem atende a população indígena e trabalha pela melhoria da qualidade de vida nas aldeias é uma dupla que mergulhou fundo no mundo guarani e já conquistou dos mais velhos às crianças: João Bernardes e Marlene Curtis. Com a presença do Sesai e o apoio de Itaipu, está garantida a nutrição de crianças e gestantes. O estímulo à agricultura familiar, agropecuária e apicultura é realizado através de visitas periódicas de técnicos, que dão orientação para o plantio de milho, mandioca, abóbora, melancia, batata doce, sem agrotóxicos. O fortalecimento cultural chega com apoio financeiro à educação. “Apenas oferecemos infraestrutura para escolas e casas, pois cada aldeia se desenvolve por si mesma”, explicou Marlene. Eles criaram uma forma de organização que funciona bem: “Nossa associação planeja tudo, o individual e o coletivo, sempre ouvindo a comunidade em assembleia. Pensamos juntos para garantir a preservação do nosso povo que está aqui há mais de 500 anos,” disse o líder Teodoro, que já foi cacique e hoje é professor na escola de ensino fundamental da aldeia. No Ocoy, o artesanato reúne mulheres, homens e crianças, todos empenhados em produzir filtros de sonhos, bijuterias, chocalhos e zarabatanas, que são comercializados no local e na loja do Centro de Recepção de Visitantes da

Cacique Cipriano: nossa língua e nossa cultura são respeitadas.

Itaipu, gerando renda importante para a aldeia. Um coral de crianças encantou o grupo de jornalistas, recebendo aplausos e pedidos para selfies. Através de diálogo, respeito e colaboração, o que está ocorrendo no entorno da Usina em relação aos indígenas é a união de dois mundos, cada um tentando fazer valer a pena sua passagem pelo Planeta. Reenergizados pela pujança da região e pelo trabalho comprometido e dedicado dos funcionários da Itaipu, os jornalistas voltaram para suas bases levando, além da terra vermelha na sola do sapato, a esperança de um Brasil mais forte e justo, com menos desigualdade social. (*) Plurale viajou em grupo de jornalistas a convite da Itaipu Binacional FOTO DE NÍCIA RIBAS- PLURALE

Oficina de artesanato, fonte de renda

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Ecoturismo

Férias curtindo a natureza Férias e dias de folga são perfeitos para tirar as crianças de casa e programar atividades ao ar livre, em contato com a natureza. De acordo com o doutor em Educação, pós-doutor no departamento de Psicologia Social da Universidade de São Paulo (USP) e membro da Rede de Especialistas em Conservação da Natureza, Marcos Sorrentino, o contato com o meio ambiente desde a infância traz inúmeros benefícios para a vida adulta e, para aproveitá-lo da melhor maneira, é preciso desacelerar. “Em geral, o contato com a natureza cria condições para que as crianças tenham momentos mais lentos, de contemplação e observação. As crianças, assim como os jovens e até os adultos, precisam reaprender a usufruir momentos com a natureza, deixando de lado esse modo de vida acelerado a que somos expostos na nossa sociedade”, ressalta. Um dos lugares que o especialista recomenda é o Parque Estadual da Cantareira (São Paulo). Uma floresta pertinho da cidade mais populosa do Brasil. O Parque Estadual da Cantareira foi inaugurado em 1962 e possui mais de 7 mil hectares com remanescentes de Mata Atlântica. O local está a cerca de 10 quilômetros de São Paulo e é refúgio para algumas espécies ameaçadas de extinção, como o bugio e o gavião-pomba. Ingresso: R$ 15 (inteira) e R$ 7,50 (meia). Contato: (11) 2203-3266

Hotel na Noruega em construção está sendo considerado um dos mais sustentáveis do mundo Seguindo o padrão de modelo em sustentabilidade da Noruega, em menos de dois anos será inaugurado hotel que já está sendo considerado como um dos mais sustentáveis do mundo. O chamado Svart Glacier Hotel abrirá suas portas em 2021 e contará com uma localização extremamente privilegiada, com vista para a geleira de Svartisen e para as luzes da aurora boreal durante a temporada de inverno. O planejamento arquitetônico do empreendimento não só resultou em um lindo projeto de prédio circular espelhado, mas também levou em consideração os mais altos padrões de sustentabilidade. Quando pronto, o Svart Glacier Hotel irá gerar mais energia do que consome e não causará impactos negativos à natureza ao seu redor. Para mais informações, acesse: www.visitnorway.com.br e www.svart.no

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isabella araripe

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Jericoacoara: ecopousada de madeira, palha e recicláveis

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Quem passa pela praça de Jericoacoara, área central e mais popular da vila no litoral cearense, não pode deixar de notar a ecoconstrução, com domos geodésicos de palha e outros quatro tipos de cabanas com formatos diferenciados. Ao chegar no local, você já se depara com uma Kombi Bar, reformada pelos proprietários, o casal do Brasil e Suíça, Letícia Alves e Valérian Escher. “Construímos em três meses a pousada. Ela é completamente desmontável, pois trata-se de uma área alugada. O local estava sujo e não trazia uma boa imagem para a vila. Nesse tempo, transformamos um terreno vazio na praça em uma ecopousada inovadora”, contou Letícia. A pousada Raiz Kite Cabana possui apenas 3% de cimento e tijolos na construção das cabanas. Entre os materiais utilizados, quase 80% é o pinus, madeira de reflorestamento utilizada na construção civil para a montagem de andaimes e para fazer moldes para vigas. Também foi utilizada palha de carnaúba e outros materiais recicláveis. Mais informações - http://www.raizkitecabana.com.br

Roteiros turísticos que resgatam a história dos afrodescendentes A cultura negra está presente na maioria dos atrativos e destinos turísticos do país, como igrejas construídas pelos escravos, museus e centros culturais. Entre os estados mais influenciados pela cultura africana estão Maranhão, Pernambuco, Alagoas, Bahia, Minas Gerais, Espírito Santo, Rio de Janeiro, São Paulo e Rio Grande do Sul. Salvador e a capital fluminense criaram roteiros turísticos que resgatam a história dos afrodescendentes por meio do incentivo à visitação de atrativos turísticos com referência a esta vasta cultura. No Ministério do Turismo, ao menos seis quilombos estão registrados em atividade turística no país. Entre eles, a Pasta destaca dois: Cavalcante (GO), com atividades na Comunidade Kalunga e Paraty (RJ), onde está localizado o famoso Quilombo Campinho da Independência, que possui artesanato, festejos tradicionais e é uma referência importante da cultura afro-brasileira.

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Estante PorVentura, de Mauro Ventura, 106 Editora, 240 págs, R$ 39,90 O Rio de Janeiro não é uma cidade qualquer. Tão lindo quanto ardiloso, ela guarda sutilezas que só os escritores com maior sensibilidade conseguem captar — aí estão os livros de Rubens Braga, João do Rio e tantos outros para confirmar. E esse senso aguçado nunca faltou ao jornalista e escritor Mauro Ventura, autor de PorVentura. Nas páginas de PorVentura, que marca estreia do selo 106 Crônicas, o leitor é conduzido por um passeio com destinos tão triviais quanto surpreendentes, como ruas, feiras, delegacias, calçadas e, principalmente, pessoas do Rio de Janeiro. O point pode ser a sala de um apartamento em Ipanema ou um beco de uma comunidade esquecida pelo poder institucional; a celebridade pode ser um político conhecido ou um cidadão (in)comum que realiza um projeto social extraordinário.

Pós-verdade e Fake News, por Gilberto Scofield Júnior e Tatiana Roque - com organização de Mariana Barbosa, Editora Cobogó, 128 págs, R$ 39,00 Desprezo pelo jornalismo tradicional, negação de evidências científicas, disseminação do ódio – na era da pós-verdade e das fake news, o sonho da comunicação sem intermediações que a internet e as redes sociais pareciam anunciar transformou-se em uma realidade tão preocupante quanto perigosa, capaz de ameaçar a existência da democracia tal qual a conhecemos. Entender o funcionamento de elementos como os bots, a indústria de notícias falsas e os algoritmos é o primeiro passo para deter a avalanche de obscurantismo e manipulação que atinge o Brasil e o mundo.

por FELIPE ARARIPE

Relacionamentos Amorosos na Era Digital, por Adriana Nunan e Maria Amélia Penido (coautoras e organizadoras), Editora dos Editores, 138 págs, R$ 48 Uma revolução tecnológica em ritmo acelerado mudou as formas de relacionamento e vem remodelando o comportamento de homens e mulheres. Relacionamentos Amorosos na Era Digital , de Adriana Nunan e Maria Amélia Penido (coautoras e organizadoras) analisa o impacto da interação de indivíduos e casais nos ambientes digitais e como podemos usar a Internet a nosso favor. Ainda indica caminhos, ao final de cada capítulo, de como a Terapia Cognitiva pode contribuir para construirmos relacionamentos mais maduros e duradouros. Com base em uma bibliografia internacional e em estudos da Psicologia Evolucionista, as organizadoras Adriana Nunan e Maria Amélia Penido propõem uma reflexão em dez capítulos dos porquês dos comportamentos atuais entre indivíduos e casais e o uso da Internet. Esse livro é resultado de uma coletânea de artigos escritos por especialistas e acadêmicos que têm estudado cuidadosamente esse movimento.

Filosofia na Praia, por Lucia Koury (organizadora), Editora Outras Letras, 296 págs, R$ 50 Por Nícia Ribas, de Plurale A mistura de praia com filosofia deu tão certo que vai virar livro. Tudo começou em maio do ano passado, quando Jerônimo Moscardo, ex embaixador, passou a distribuir livros numa parceria com um quiosque do Leme. Amigos, conhecidos e frequentadores da praia foram se chegando e o projeto ganhou nome: Filosofia na Praia. Uma das participantes dos encontros, que passaram a acontecer aos sábados, quinzenalmente, a editora Lucia Koury, dona da Outras Letras, empolgou-se tanto com as palestras, que decidiu publicar o livro Filosofia na Praia. “Na primeira vez que fui ao Filosofia na Praia, o sol estava ameno, o vento suave e o tema da palestra era Cinema e Literatura, tudo o que eu mais gosto. Saí de lá feliz e bem impressionada. Desde então, os sábados ganharam um colorido especial. Sábios e sábias, de bermudas e chinelos, num quiosque no Leme, compartilhando seu conhecimento de uma maneira simples, coloquial... quase um sonho”, diz Lucia.

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Amazônia

Medicamento à base de gengibre amargo pode evitar amputação em diabéticos Por Luciana Bezerra – Especial para a Plurale – De Manaus Fotos INPA- Divulgação

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m grupo de pesquisadores do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA) testa uma pomada hidrogel à base de cúrcuma amarga (C. Zerumbet) e gengibre amargo (Zingiber zerumbet) como tratamento fitoterápico para curar ulcerações causadas por doenças crônicas como o diabetes e outras enfermidades. Quem afirma é o farmacêutico-bioquímico, do INPA e, coordenador da pesquisa, Carlos Cleomir de Souza, que estuda as propriedades das plantas medicinais da região há mais de 20 anos. Os pesquisadores conseguiram obter um grau de quase 100% de pureza da Zerumbona, substância capaz de inibir ou bloquear as lesões necrosadas causadas pelo diabetes, impedindo a proliferação e invasão da doença. Para chegar à conclusão dos efeitos benéficos do gengibre amargo sobre vários tipos de doenças crônicas os pesquisadores do INPA trabalharam pesado, cerca de dez anos dedicados ao estudo da planta, até chegarem a 99,95% de pureza da substância Zerumbona. Os dados obtidos pelos pesquisadores do INPA põem o Brasil à frente em relação outras pesquisas realizadas na Europa e na Ásia. O percentual encontrado nesses países, segundo Souza, foi de no máximo 37%, ou seja, índice abaixo do recomendado para a produção industrial de um produto farmacêutico. Apesar de todos esses avanços, o gengibre amargo é mais utilizado, no Brasil, como planta ornamental e não como

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Planta da Amazônia considerada apenas como ornamental pode ser a chave para evitar amputações em diabetes, doença que atinge cerca de 7,6% da população ao ano no Brasil

fins medicinais, diferente de outros países, explica Carlos Cleomir. “No Brasil, o gengibre amargo é usado praticamente na ornamentação, sem fins medicinais. Em outros países, por exemplo, essa mesma espécie é usada na alimentação e na medicina tradicional, para combater vários tipos de enfermidades. Apesar de ser uma planta exótica (não nativa), o fato de ter sido introduzido no Brasil há séculos faz com que o gengibre amargo seja considerado parte da biodiversidade amazônica”. A pesquisa Os testes clínicos com o hidrogel,

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realizados em 27 pacientes diabéticos, do Centro de Saúde Amazonas Palhano, no bairro São José Operário, zona leste de Manaus, foram animadores. De acordo com o pesquisador, o tratamento com o medicamento fitoterápico reduziu e cicatrizou em cerca de 95% as lesões de pacientes com riscos cirúrgicos de amputação, em apenas 53 dias de uso do produto. Outro ponto relevante foi o não reaparecimentos dos ferimentos, o que eleva a eficácia do produto, enfatiza Carlos Cleomir. Segundo ele, inicialmente, a base da pesquisa contou com cerca de 45 pacientes. Contudo, apenas 27 seguiram


no estudo, os 60% restantes, deixaram o programa por outros fatores e não pela ineficiência do produto. A diretora da unidade de saúde Amazonas Palhano, a enfermeira Eurinete Pinheiro, onde as amostras da pesquisa foram coletadas, endossou a eficácia do hidrogel desenvolvido pelos pesquisadores do INPA. “Ficamos surpresos com a evolução das lesões encontradas nos pacientes analisados. Todos tinham riscos cirúrgicos de amputação e com o decorrer do tratamento essas lesões foram minimizando e cicatrizando totalmente. Alguns pacientes vinham na unidade três vezes ao dia para efetuar os curativos com o hidrogel”. Eurinete ressalta ainda que a médica clinica geral da unidade de saúde, Nelsia Luniere acompanhou a equipe de pesquisadores durante o período de amostragem, na unidade. Souza salienta ainda que o grupo de pesquisa desenvolveu dois medicamentos para o tratamento de diabéticos. “Criamos duas formulações para os pacientes com diabetes. O hidrogel de uso tópico e outra via oral em cápsulas de gelatina utilizado como alimento multifuncional a partir do gengibre amargo. Ambos detêm várias atividades terapêuticas que irão beneficiar os pacientes com ulcerações da doença, dentre as quais: anti-inflamatória, analgésica, vasodilatadora, antimicrobiana, cicatrizante, além de citotóxicas para células necrosadas”. Parceria Segundo Carlos Cleomir, o produto foi registrado no Instituto Nacional da

Propriedade Industrial (INPI), em julho de 2018, em parceria entre o INPA, que detém a patente, e a empresa Biozer da Amazônia, que deve certificar o produto e registrá-lo junto à Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). De acordo com o pesquisador, o processo de certificação deve ser concluído ainda no segundo semestre de 2019 e, a Biozer terá a matéria-prima para realizar a produção das primeiras unidades do hidrogel que serão disponibilizadas primeiramente no Sistema Único de Saúde (SUS) do estado do Amazonas e posteriormente a nível nacional de comercialização. Início e novos rumos O estudo faz parte do projeto sustentável desenvolvido pelo INPA para a Amazônia, denominado Unidade Demonstrativa de Cultivo e Bioprospecção de espécies amazônicas para a Cadeia Produtiva, Biofármacos, Biocosméticos e alimentos funcionais com apoio do prêmio FINEP de Inovação Tecnológica / INPA/FDB. O hidrogel foi criado na linha de pesquisa Biofármacos e, testado primeiramente em roedores, posteriormente em células vitro e agora, em casos clínicos. A linha de pesquisa do gengibre amargo é desenvolvida também em outras instituições brasileiras como na Universidade Federal do Amazonas (UFAM), faculdade de medicina do ABC e Unicamp. Para o segundo semestre, Calor Cleomir adianta que foi um acordo de cooperação técnica firmado entre o INPA e a Universidade Estadual do Amazonas (UEA), para implantar jun-

tamente com o grupo de pesquisa do hospital Adriano Jorge, hospital responsável por atender os pacientes diabéticos atendidos pela UEA. A doença O Ministério da Saúde (MS) informa que 7,6% da população adulta das capitais brasileiras é portadora de diabetes. Os dados são da pesquisa Vigitel, que ainda aponta que o indicador de diabetes aumenta com a idade, principalmente entre idosos com mais de 65 anos (24%) e é maior entre aqueles com menor escolaridade, que frequentaram a escola por até oito anos (14,8%). Os números não param de crescer. De acordo com dados do MS, o diabetes vitimou 406.452 pessoas no Brasil entre 2010 e 2016, um crescimento de 11,8% no período, saindo de 54.877 mortes para 61.398. Os dados servem para alertar a população no Dia Nacional de Controle do Diabetes, celebrado anualmente no dia 27 de junho. Como prevenir A quantidade de açúcar no sangue deve ser controlada constantemente. Para isso, existem alguns aparelhos específicos para a tarefa, indicados tanto para diabéticos quanto para pré-diabéticos. As mudanças devem ocorrer também nos hábitos alimentares. Pessoas com diabetes precisam de uma dieta equilibrada. Controlar a obesidade ajuda e muito. Por isso, a prática de atividade física não pode ser desprezada, mas sempre com orientação de profissionais.

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Vida saudável

Papinhas orgânicas: do campo ao supermercado, todo cuidado é pouco Texto e Fotos de Nícia Ribas, de Plurale De São José do Rio Pardo (SP)

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á faz 45 anos que a Nestlé fabrica papinhas e a partir deste ano passa a oferecer o produto inteiramente orgânico. “Nossas papinhas não têm conservantes nem açúcar e agora também são feitas com produtos orgânicos; é a melhor opção para quando os pais não conseguem eles mesmos prepararem o alimento de seus filhos”, disse a gerente de marketing Lívia Reinert ao apresentar a nova marca NaturNes, em setembro. Para garantir a origem saudável dos ingredientes, o técnico em agricultura João Roque de Araujo, há 13 anos no cargo, identifica pequenos produtores ao redor da fábrica de São José do Rio Pardo (SP) e faz parcerias. Em contato constante, ele leva orientação e novas tecnologias que facilitem e incrementem a produção de legumes e frutas: “Fomentamos o plantio, mantendo uma boa relação com as famílias que estão no campo e assim conseguimos qualidade e tempo recorde: o processo leva 48 horas desde a colheita até o produto final, garantindo o frescor dos alimentos”. João mantém 26 pequenos produtores – desde cinco hectares – cadastrados, que lhes fornecem 10 matérias primas. “Alguns já estão conosco há 30 anos e recebem informações e ajuda para melhorar seu plantio”, diz ele. Tratores compartilhados, adian-

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Gerente de marketing Lívia Reinert ao apresentar a nova marca NaturNes – “Nossas papinhas não têm conservantes nem açúcar e agora também são feitas com produtos orgânicos.”

tamentos para comprar sementes e a adoção de aspersores mais eficientes que ajudam a reduzir o consumo de água são apenas alguns resultados dessa boa relação. Além disso, ele faz parcerias com universidades em busca de inovação e treinamento em boas práticas agrícolas. Desde maio deste ano mamães e papais já encontram nas gôndolas de supermercados as papinhas orgânicas em quatro sabores: banana, uva+ banana, maçã, e goiaba+banana, da NaturNes. Confiam na marca mesmo sem terem tido a oportunidade de conhecer cada etapa da fabricação do produto, como

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demonstrou a gerente geral da fábrica, Alexandra Filgueiras, com o entusiasmo de quem faz o que ama. Ela e sua equipe, devidamente uniformizados - com jalecos, botas, toucas, óculos, luvas e até protetor de barba, recebem os produtos orgânicos em ambiente livre de qualquer impureza e cuidam da higienização, descasque, corte e seleção nas esteiras até as misturas e o cozimento. O cuidado também está no envase, desde os testes, higienização e esterilização dos vidrinhos e das tampas, até a colocação dos rótulos e as embalagens para transporte. “Quem faz o teste final das nossas


Luciana Dias Carboni, seu marido Josenil e seu irmão, João Dias, fornecem batatas doces que viram papinhas na fábrica de São José do Rio Pardo

papinhas é a mãe quando ao retirar a tampa, ouve o famoso “ploc”, prova de que estava embalado a vácuo e por isso mantém a validade de um ano sem conservantes”, diz Alexandra. Agrotóxico zero, uma parceria boa com a Nestlé Ninguém merece ingerir veneno, muito menos os bebês. Em tempos de liberação de agrotóxicos no Brasil, cresce a procura por produtos orgânicos. Na Ceagesp – Companhia de Entrepostos e Armazéns Gerais

de São Paulo, onde circulam diariamente cerca de 50 mil pessoas, o box Terra – Frutas Orgânicas, da família de Luciana Dias da Silveira Carboni, faz sucesso. Sua dedicação aos orgânicos começou há 25 anos, quando por recomendação médica, para combater um problema no fígado, ela passou a comer apenas produtos naturais, sem nenhum tipo de veneno. Além das frutas produzidas em diversos sítios da família de Luciana, recentemente, eles se tornaram o primeiro produtor parceiro da Nestlé no projeto Papinhas. Perto dali, na localidade de Monte Azul Paulista, numa área de 15 hectares, a família planta a batata doce que é utilizada nas papinhas. O cuidado começa no preparo do solo: “Se você não quer ficar doente, você cuida da saúde do seu corpo, não é? O solo é um organismo vivo e também precisa de cuidados, como a compostagem com esterco de gado, galinha, seres vivos verdes e pó de rocha – fosfato natural de Araxá.”, explica Luciana. O respeito à vida da safra também é importante. “Periodicamente, fazemos a análise do solo em laboratório, é como o exame de sangue que nós fazemos preventivamente”, completa. Durante todo o ano, Luciana, seu marido Josenil e seu irmão, João Dias, fornecem batatas doces que viram pa-

pinhas na fábrica de São José do Rio Pardo. Segundo eles, se não tiver qualidade no campo, não terá na papinha. As poucas batatas que apresentam lesões causadas por insetos também são utilizadas após análise e corte das partes lesionadas, trabalho manual feito na fábrica. Todo rejeito é reaproveitado na compostagem. Luciana dá a maior importância para o “fazer com amor”. Diariamente, no seu box da Ceagesp, ela entra em contato com mais de mil famílias de produtores rurais, dando dicas e ajudando-se mutuamente na luta contra os agrotóxicos. Na Associação de Agricultura Orgânica, que reúne sítios em torno de São Paulo, eles fazem diversos cursos, aperfeiçoando o plantio. Dona Dita, mãe de Luciana, mora no sítio há 50 anos, entre árvores frutíferas, galinhas, perus, vacas e porcos. Cozinheira de mão cheia, ela recebe visitantes cada vez que o Prefeito de Turvínia quer mostrar a força da agricultura familiar na região. Quando seu marido faleceu, há quatro anos, tentou ir morar com a filha em São Paulo, mas não aguentou as saudades do sítio e voltou. Lá ela vive feliz na companhia de uma cunhada, a Cida, saudável aos 92 anos. Ninguém faz um nhoque de batata doce orgânica como o da dona Dita. “Não leva trigo, é só a batata amassada, que eu levo à geladeira antes de enrolar e cortar”, explica ela. (*) Plurale viajou em grupo de jornalistas a convite da Nestlé Brasil

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Pelo mundo

trinta anos revisitados e renovados Por Hélio Rocha, Correspondente de Plurale na China De Pequim Fotos de Hélio Rocha e Lizeth Gómez

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á 30 anos os países do bloco socialista enfrentavam sua pior crise e, daquele movimento político internacional, pressionado por grandes empresas sedentas de novos mercados e por interesses ideológicos de Governos ocidentais, quase todos os então países do chamado “bloco socialista” viram seus regimes ruírem para uma entrada atabalhoada no neoliberalismo. Em muitos casos, esta entrada não resultou em mais liberdades civis e possibilidade de crescimento econômico, conforme o prometido. Dentre os países que enfrentavam a ebulição da crise do socialismo nos anos 1980 está a que é, hoje, a segunda maior potência econômica mundial, com um Produto Interno Bruto (PIB) de mais de US$ 12 trilhões, apenas abaixo dos gigantescos US$ 19 trilhões da economia dos Estados Unidos. Hoje cortejada por todos os países do mundo, à época a China sofreu seu pior ataque internacional desde a invasão japonesa nos anos 1930. Isto porque, sob o marketing informa-

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Como a China deixou a crise do socialismo em 1989 para se tornar exemplo de crescimento econômico, conservação da cultura, distribuição de riqueza e avanços na cidadania cional que vinha de documentários ilegais sobre uma suposta corrupção no país, grande parte dos estudantes chineses se puseram contra o Governo de Deng Xiaoping, líder do Partido Comunista Chinês e responsável por avanços econômicos após reforma por ele promovida em 1978, que mesclou o sistema político socialista às doutrinas econômicas do capitalismo ocidental. Tal modelo chegara a ser reproduzido tardiamente na União Soviética por Mikhail Gorbachev, com as Glásnost e Perestroika, sem sucesso porque muito tardia a empreitada. Milhares ganharam as ruas em manifestações que tomaram o coração político da China: a Praça Tiananmen, aqui chamada Praça da Paz Celestial. Os fatos são incertos, restando que, da imensa massa que tomou a Praça da

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Paz Celestial e produziu cenas icônicas no imaginário ocidental, sendo a mais conhecida a do cidadão solitário que desafia o carro de combate do Exército Popular de Liberação, surgiu um país que amplia até hoje os seus direitos civis e individuais. Setores da análise política internacional são imprecisos ao afirmar se o uso da Lei Marcial para dispersão dos protestos, adotados pela China em 6 de junho de 1989, teria resultado em um massacre de cidadãos civis ou numa transição pacífica para discussão dos problemas do pais. Apesar de todo o mistério em torno daquele junho de 1989, Plurale em Revista prefere, ao invés de aterse à efeméride dos 30 anos dos grandes protestos da Praça da Paz Celestial, traçar o panorama dos 30 anos depois, isto é, de como a China teve


Fotos de Hélio Rocha

Praça da Paz Celestial

Jardins ao lado da Cidade Proibida

um destino diferente de União Soviética, Alemanha Oriental, Polônia, Romênia e Iugoslávia. Um modelo próprio de organização “Todo o poder aos soviétes”, disse Vladimir Lenin em 1917 em São Petersburgo, onde eclodiu a Revolução Russa. “O povo, e só o povo, constitui

a força motriz na criação da história universal”, disse Mão Tsé Tung no discurso da vitória, quando se instaurou a República Popular da China. Possivelmente as ideias iniciais, que lançaram como palavra de ordem as bases para os dois gigantes, teriam influência nos desdobramentos que se seguiriam nos anos seguintes.

A União Soviética acabou resultando numa ditadura da burocracia do Partido Comunista. Por sua vez, o chamado ao povo de Mao rendeu oscilações entre o sucesso e o fracasso na condução da política e da economia chinesas, como o malogrado plano econômico Grande Salto Adiante, que trouxe a fome em 1959, e a Revolução Cultural dos anos 1960, que num projeto de aprofundamento da ideologia proletária produziu perseguições à intelectualidade e à própria cultura tradicional do país. Porém, restaram dos dois momentos um senso de coletividade que inexistiu nos outros países do socialismo real. “A relação do Governo da China com o povo foi única. Muito além dos movimentos cívicos como a Revolução Cultural. Criou-se um sistema democrático e sete partidos políticos que, além do Partido Comunista Chinês, constroem maioria quanto às conduções das políticas de Governo na Assembleia Nacional do Povo. Como o PC é, de longe, o mais numeroso, é ele quem governa, o que não impede os outros partidos de opinarem, dis-

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Pelo mundo FOTO DE LIZETH GOMÉZ

cordarem, e serem bem aceitos pela gestão central”, explica o professor Shi Zehua, adjunto da Faculdade de Relações Internacionais da Beijing Foreign Studies University (BFSU). No escopo desta relação lançada pela República Popular, centenas de medidas foram tomadas, desde 1989, para tornar o país mais adequado aos novos tempos. O chamado ao esforço coletivo pela nação, de Mao Tsé Tung e Deng Xiaoping, não deveria desaparecer, mas caminhar lado a lado com o desejo de as pessoas serem felizes individualmente, consumindo, empreendendo, exercendo suas profissões, criando suas próprias identidades. O chinês vota, ao contrário do que imaginam muitos dos críticos ou alheios à realidade chinesa. Os cidadãos defendem viver em uma democracia, quando questionados. O voto inicial é dado na assembleia regional, na comuna da qual fazem parte os cidadãos rurais ou no distrito urbano, o que desencadeia votos indiretos provinciais e nacionais, constituindo assim a Assembleia Nacional do Povo, que elege a cúpula do PC e, esta, o Pre-

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Foto de Hélio Rocha

Idosos em bairro popular de Pequim

Comuna rural da Província de Hubei, no Centro da China. No muro está escrito em chinês: “Corredor da construção cultural do Partido.”

sidente da República e seu vice. Este sistema produz um Estado com uma rede de proteção social que cresce para se tornar uma das mais avançadas do mundo, com universidades 100% gratuitas, incluindo aí o ensino da cultura tradicional chinesa e de mais de 30 idiomas, especializando os chineses não somente no inglês, o que eles consideram imperialismo, mas nas línguas dos países estratégicos com os quais a China quer se relacionar.

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Quanto à redução da miséria, a potência oriental caminha a passos largos. O país que iniciou sua trajetória como República Popular da China tinha saído de duas guerras e tinha quase a totalidade de sua população na miséria. Depois de passar pela fome e pelas crises políticas dos anos 1960, desde os planos econômicos de Deng a China vem reduzindo progressivamente a pobreza, tirando 13 milhões de pessoas, em média, da pobreza des-


Foto de Hélio Rocha

Foto de Hélio Rocha

Militar em região tradicional de Pequim

Atendimento médico em Shaanxi

de 2012, o que totaliza 98 milhões e 990 mil emergentes em 2019. Isso significa meio Brasil, embora para padrões chineses represente 8,5% da população, muito aquém dos 20% conquistados pelo Brasil nos anos 2000, que em números absolutos eram 36 milhões. Avança também a tecnologia A China hoje é a recordista número um em usuários da internet: são 800 milhões, o dobro do Brasil e dos Es-

tados Unidos somados. Nas telinhas dos celulares os aplicativos são outros, porém avançados e multifuncionais. O principal deles, o WeChat, é equivalente ao nosso WhatsApp, mas possui o “feed de notícias” para os amigos curtirem, igual ao do Facebook, e uma função especial, o WePay, que funciona como cartão de débito e crédito. Hoje, mais da metade dos chineses utiliza a internet e as facilidades do WeChat, o que é só um indicativo do

quão integrado é o país: pelas ruas, grandes marcas exibem lojas suntuosas, como KFC e McDonalds, que dividem mercado com alimentos tradicionais da culinária de rua chinesa. A toda poderosa Apple está lá, mas em toda a China divide os espaços com lojas das neófitas da informática chinesas Huawei e Xiaomi, que no Oriente já encaram de igual pra igual as gigantes norte-americanas, japonesas e coreanas. A Huawei, inclusive, incomoda tanto os grandes oligopólios que foi vítima de uma ameaça de bloqueio pelos Estados Unidos, quando Donald Trump sinalizou com incentivos às empresas do Vale do Silício para que os sistemas Apple e Android, os mais populares para smartphones e tablets, fossem proibidos de operar em aparelhos chineses. Isso, na prática, inviabilizaria Huawei e Xiaomi no mercado ocidental. Plurale visitou a sede da Huawei e conheceu a tecnologia 5G, que promete revolucionar a velocidade e possibilidade de acesso à internet. Ela, ao invés de operar

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Pelo mundo Fotos de Hélio Rocha

com caríssima rede de antenas, parte do desenvolvimento de minimodens do tamanho e peso de uma bateria portátil, que podem ser carregados numa mochila, dentro de um carro, ou transportados dentro de casa. Sem a obrigatoriedade de instalação de antenas, o preço do uso é muito menor e a velocidade, maior. E, mais, cada modem serve de roteador para todos os demais, de modo que a interconexão em sua potencialidade máxima poderá tornar a sociedade, definitivamente, aquela retratada no desenho “os Jetsons”. O indivíduo poderá sair de casa e passear na rua, o tempo todo monitorando no celular o que ocorre na casa, por meio de sensores e câmeras. Carros poderão se movimentar sozinhos via GPS e leitura inteligente da dinâmica ao redor, pois já poderão ter o modem como ítem de fábrica, de modo que todos os veículos orientem-se pelos aparelhos vizinhos, semelhante ao que acontece hoje com o TCAS, sistema anti-colisão dos aviões. Tudo pode tornar nosso dia a dia incomparável com o que temos hoje. Talvez lembremos da atual internet como pensamos, hoje, no aparelho de som “3 em 1 da National”. E aí reside o problema: se isso tudo pode ser feito pela vida do cidadão, o que não pode ser mudado nos meios militares? Em entrevista a Plurale, o diretor de Comunicação da empresa, Glenn Schloss, defendeu a 5G como primazia da sociedade civil, e também saiu em defesa da China. “O 5G é o desdobramento da criação da internet como a conhecemos hoje, de Tim Berners Lee, um pesquisador britânico. Se nós fomos capazes de aproveitar a pesquisa de outros países e desenvolver a nossa, por que o Ocidente agora nos toma por ameaça? Que façam suas pesquisas para avançar as

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Vice-Presidente do Brasil, General Hamilton Mourão

Monges budistas tibetanos em Labrang

nossas”, questiona e sugere o profissional, que é australiano. China monta sua nova rede de aliados Tendo em vista o cenário pouco otimista das relações entre a China e as potências ocidentais, o presidente Xi Jinping vem lançando uma série de iniciativas para integrar o país aos mais diversos aliados. A mais importante é a Iniciativa Cinturão e Rota, que, inspirada na antiga Rota da Seda, pretende estabelecer caminhos de desenvolvimento por todo o mundo, coordenando necessidades e ofertas de todos os países na América Latina,

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África e Ásia. Plurale esteve na cobertura do II Fórum Cinturão e Rota, com as presenças do presidente da Rússia, Vladimir Putin, do Chile, Sebastián Piñera, além de Xi Jinping e outros 37 chefes de Estado. “A infraestrutura é o alicerce da conectividade e um obstáculo de desenvolvimento enfrentado por muitos países. A construção de infraestruturas de alto padrão pode ajudar as nações a aproveitar ao máximo suas vantagens em recursos e se integrar melhor à oferta, indústrias e cadeias de valor globais em prol do desenvolvimento interconectado”, discursou Xi.


Ópera de Pequim

O poder da China em infraestrutura e compra de commodities para a construção civil não foi negligenciado pelo Brasil. Diante da falta de prumo do presidente Jair Bolsonaro (PSL) na condução das relações internacionais, o vice-presidente Hamilton Mourão (PRTB) fez visita de Estado à potência ocidental para apaziguar os ânimos dos chineses mais preocupados com os rumos do Brasil, país estratégico dos BRICS e que ainda não integra a Cinturão e Rota. Plurale também acompanhou a visita. “Temos procurado construir relações de confiança e criar o ambiente propício para a ampliação e a diversi-

ficação das relações econômicas com a China”, afirmou Mourão, que participou de encontro no Grande Salão do Povo, sede da Assembleia Nacional e palácio diplomático da República Popular, com o vice-presidente chinês Wang Qishan. Mas não é só economia A China também busca globalizar a sua cultura, ciente de que o país que não é visto na grande mídia ocidental não é lembrado no consumo de bens materiais e culturais. Investe milhões na divulgação de suas joias artísticas, que incluem pintura, ópera e sua literatura, sendo os épicos “O Romance dos

FOTO DE LIZETH GOMÉZ

Ator faz a maquiagem para exibição na Ópera de Pequim

Três Reinos” e “A Jornada ao Oeste” tão basilares ao Oriente quanto Ilíada e Odisseia são ao Ocidente. Dessas maravilhas da cultura chinesa, Plurale foi convidada a acompanhar uma apresentação da Ópera chinesa no teatro Liyuan, onde se apresentavam as peças para os aristocratas ingleses no século XIX. O tema apresentado foi, justamente, a Batalha dos Três Reinos, que resultou da luta de três antigas dinastias pelo poder imperial. O resultado foi a fragmentação da antiga dinastia Han, da qual descende todo o povo chinês. A principal citação da história, advinda de sua conclusão, dá o tom da moral chinesa, a qual a China quer apresentar ao mundo: “O Império, unido, sempre deve se dividir. O Império, dividido, sempre deve se unir”. Trocando em miúdos: aquele que está unido é próspero, por isso deve partilhar. Ou, cedo ou tarde, sucumbirá. Aquele que não está, deve buscar a união e o equilíbrio em busca da prosperidade. Trinta anos depois das intempéries de 1989, a China é unida e próspera. E tem muito a partilhar com todos os países do mundo.

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Pelo mundo

Oslo dá exemplo como cidade sustentável

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Texto e Fotos de Elisabeth Cattapan Reuter Especial para Plurale De Oslo, Noruega

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capital da Noruega é um verdadeiro exemplo de cidade sustentável. Os seus 634.293 habitantes - segundo os cálculos do último censo, de 2014 – podem usufruir de uma cidade limpa, florida que oferece muito conforto aos seus moradores. Tive a oportunidade de conhecê-la e fiquei muito bem impressionada. Assim como as outras cidades escandinavas, Oslo é circundada por água e fica situada no final de um fiorde. E como nas outras capitais escandinavas, seus moradores adoram praticar iatismo. Não pensei que veria tão ao norte da Europa tantas marinas, iates e veleiros de todos os gostos e tamanhos enfeitar as margens do longo fiorde. Os dias que passeei em Oslo estavam com uma temperatura de entre 30 e 32 graus centígrados, ótimo para passear ao ar livre. Como outras cidades europeias de médio porte, Oslo investe muito em infraestrutura urbana. Ruas bem tratadas, arborizadas, parques como o que fica em volta do Palácio Real garantem uma melhor qualidade do ar que ali respiramos, um alívio de comparado a outras grandes cidades europeias, mais ao Sul, como Paris. Além do mais, o Mar do Norte garante ventos que limpam a atmosfera da cidade. Menos plásticos - Chamou-me a atenção o empenho da Prefeitura de Oslo para motivar a colaboração dos moradores no sentido de preservar o meio ambiente. Grandes outdoors informam sobre o esforço feito para diminuir o uso de artigos de plástico pelos serviços públicos. Esse esforço atinge a coleta de lixo e até o mobiliário urbano: cestas de papel de madeira, bancos de pedra, apelo para que não se jogue chiclete no chão e que se evite o uso de copos de plástico etc. Um maior esforço também foi realizado para melhorar os transportes


públicos: estão sendo reformados e deverão em breve contar com novos vagões para metrô, bondes e trens para o subúrbio. Cartazes informativos mostram à população o que está sendo melhorado, tanto no conforto, como na frequência, tanto na velocidade como na preocupação com o meio ambiente. Sem falar na acessibilidade. Todas as paradas de trens municipais nesse final de 2019 serão dotadas de elevadores, escadas rolantes para favorecerem o uso pelos deficientes motores, carrinhos de bebês, carrinhos de compras e já se adaptarão à onda das bicicletas e patinetes elétricas que invadem a Europa. Os ônibus e os vagões de bondes serão todos equipados com rampas móveis acionados por um botão quando necessário. Com isso, os cadeirantes podem de novo usar com conforto os meios de transporte coletivos. A frota de ônibus será equipada com energia não poluente e a previsão é que os primeiros movidos a

bateria deverão começar a circular regularmente em 2020. Em Oslo, num futuro próximo os usuários poderão transportar suas patinetes, bicicletas e outras engenhocas futuristas dentro de vagões ou compartimentos postos à sua disposição pela secretaria de transportes. O objetivo é que o uso particular de automóveis diminua, mesmo o dos híbridos ou elétricos. A municipalidade de Oslo também gerencia o aluguel de patinetes e bicicletas elétricas e tradicionais, mas ela não tem a exclusividade do serviço. Já ônibus, metrô e bondes são públicos. Sem motorista - A maior novidade ainda em teste é um ônibus que transportará passageiros, que será elétrico, mas sem motorista. Por enquanto ele está sendo testado na Zona Portuária transitando ao longo do cais dos navios que fazem cruzeiros provocando selfies não só de chineses como também da minha parte. Revitalizar os transportes coletivos e incentivar o uso de veículos de dois ou mais rodas movidos à bateria é sem dúvida uma ótima ideia, para a cidade, o usuário e o clima. No entanto, a realização de boas ideias evidenciam certos problemas estruturais. Em Oslo, tornou-se evidente, o silêncio é um problema! Habituados como estamos à parafernália da poluição sonora nas cidades achamos uma maravilha que, de repente, o barulho diminua, que o trânsito quase se silencie, mas...e como alertar aqueles que dependiam do barulho para se orientar? Como ajudar os cegos e os que sofrem de deficiência ocular?

Em maio de 2019, Oslo foi o palco de uma passeata organizada pelas instituições que apoiam os cegos alertando a população sobre os inconvenientes e perigos do silêncio. Na Alemanha - por ocasião da Semana da Visão, que tradicionalmente se realiza em outubro e informa à população sobre as reivindicações dos que pouco ou nada veem - o assunto voltou à tona e ao mesmo tempo concretizou-se a necessidade de equipar os veículos silenciosos com o aqui se chama AVAS (Acustic Vehicle Alerting System) um sistema de alerta que evita acidentes. É importante salientar que os protestos em Oslo foram levados a sério pela municipalidade embora tivesse que admitir que os excessos no transito silencioso serão difíceis de controlar e que, para tanto, será necessário contar com a colaboração, boa vontade e disciplina dos transeuntes. Oslo entrou na roda das cidades mais visitas e fotografadas do norte da Europa. Virou atração turística nos cruzeiros que passam pelo norte da Europa. Aliás, arquitetura e cultura estão em harmonia nessa agradável cidade e a ópera que é um palácio lindo de mármore e vidro vai sofrer a concorrência no ano que vem do moderníssimo Museu Munch, dedicado ao grande pintor, que vai abrir suas portas no verão europeu de 2020. A capital norueguesa almeja chegar bem equipada numa era importante, a da cidade sustentável, um empreendimento louvável que deveria servir de exemplo a outras cidades.

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CINEMA

Verde

ISABEL CAPAVERDE

i s a b e l c a p a v e r d e @ p l u r a l e . c o m . b r

Canal Acessível no You Tube Além de possibilitar que mais produções audiovisuais cheguem ao público fora das salas de cinema, o You Tube também abriga o Canal Acessível, um canal que se propõe a reunir os principais vídeos, filmes de cinema e trailers com recursos como legenda descritiva, audiodescrição e Libras. O Canal foi criado para atender um público que no Brasil corresponde a mais de 16 milhões de pessoas com algum tipo de deficiência auditiva ou visual. Acesse: https://www.youtube.com/channel/UCifRc-_gbAQHypettmXng1A

Rogéria nos cinemas “Rogéria – Senhor Astolfo Barroso Pinto” é o título do documentário em cartaz no país, dirigido por Pedro Gui, que conta a vida da transformista brasileira, mesclando dramatizações com etapas reais da sua trajetória artística. Aborda questões atuais como preconceito e afirmação de direitos no Brasil. O filme traz entrevistas com personalidades como Bibi Ferreira, Jô Soares, Betty Faria, Nany People, entre outros, além da própria Rogéria – que morreu em setembro de 2017, durante o processo de realização do filme.

Intercâmbio na África vira documentário Miriam Momesso, jovem brasileira que participou do programa MOVE (Musicians and Organizers Volunteer Exchange) de intercâmbio para músicos -por intermédio da Amigos do Guri, iniciativa do governo de São Paulo - esteve em Moçambique por dez meses e gravou sua experiência num documentário ainda em fase de edição. Toda a captação foi feita no último mês em que permaneceu no país e com equipamentos emprestados de outros intercambistas. Miriam trabalhou em diversas iniciativas em Maputo, capital de Moçambique. Uma delas foi no Lounge, espécie de acampamento para meninas de até 12 anos, moradoras da comunidade. Uma vez por semana, ela levava instrumentos e dava aulas para essas jovens. O documentário é para dar visibilidade ao Lounge.

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Santos Dumont é protagonista de série na HBO FOTOS DE DIVULGAÇÃO

Na série brasileira levada ao ar no canal de TV por assinatura HBO, Alberto Santos Dumont é revelado como um ser humano cheio de dramas pessoais e não apenas o genial inventor do avião e do relógio de pulso. Como pano de fundo histórico, a série apresenta o final da escravidão no Brasil. Dirigido por Fernando Acquarone, a história vai da infância aos tempos do brasileiro em Paris. Por isso, muitos dos diálogos são em francês.

O modelo da nova economia Economia circular. Este é o novo modelo econômico apresentado no documentário “Um Presente à Prova de Futuro” dirigido por Eduardo Rajabally e Sylvio Rocha, filmado no Brasil e na Holanda. Hoje vivemos no modelo linear baseado na extração, produção, consumo e descarte de matérias-primas e produtos. O documentário mostra que se pode fechar esse ciclo, transformando lixo em novas matérias-primas, para a mesma ou outras cadeias produtivas. Só que para isso é preciso repensar o design dos produtos e toda a lógica de seu consumo e descarte, além de praticar uma economia mais colaborativa e compartilhada, com novos modelos de negócio. Acesse o trailer em: https://vimeo.com/325514063


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Pelas Empresas Há 30 anos, a primeira latinha de alumínio do Brasil era produzida em Pouso Alegre

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á 30 anos, a primeira latinha de alumínio para bebidas era produzida no Brasil e foi em Pouso Alegre (MG), que essa novidade surgiu. A cidade foi a primeira a receber uma fábrica de latas de alumínio no país, com início das atividades em 26 de outubro de 1989. Além disso, foi pioneira na reciclagem do material, já que a indústria desenvolveu um sistema de troca de latas usadas por re-

compensas na região, o que fomentou a reciclagem da latinha, que, hoje, é a embalagem mais amiga do meio ambiente, com uma taxa de reciclagem de 97.3% no Brasil. Atualmente, Pouso Alegre possui uma fábrica da Ball, maior fabricante de latas de alumínio do mundo. A empresa inaugurou neste mês uma biblio-

FELIPE ARARIPE

teca comunitária na cidade, a partir do projeto Cantos de Leitura – espaços que visam proporcionar o contato de catadores de materiais recicláveis e de toda a comunidade com a literatura. Foi a primeira vez que a Ball lançou uma unidade de um Cantos de Leitura em uma instituição de ensino. A Escola Municipal Professora Isabel Coutinho Galvão foi contemplada e o ambiente poder ser útil para até 980 crianças da comunidade. O objetivo é ampliar o acesso aos livros e incentivar o hábito da leitura de forma lúdica.

Grupo Boticário é destaque no Prêmio ABRE 2019 De São Paulo

A história de cada produto e a percepção do consumidor passam diretamente pelos atributos de embalagem. E o melhor do design, textura, sustentabilidade e tecnologias aplicadas é avaliado anualmente pela Associação Brasileira de embalagens, via Prêmio ABRE – um dos reconhecimentos mais relevantes do setor, que dá direito

aos vencedores participarem da premiação mundial da World Packaging Organisation, o WPO Award. O Grupo Boticário foi o grande premiado em sua categoria, recebendo o reconhecimento máximo (prêmio ouro) em design estrutural, sustentabilidade, embalagem de perfumes e tecnologia de produtos. “O storytelling de cada produto começa

na embalagem. Ela é a camada inicial de comunicação e apresentação ao consumidor. É ali que começam as histórias únicas e especiais que os nossos produtos constroem com cada um dos nossos consumidores. O Grupo Boticário tem um time de especialistas dedicado a esse trabalho, garantindo a tradução da essência de cada criação. Por isso, esse reconhecimento é muito importante”, comenta Paulo Roseiro, diretor de Pesquisa e Desenvolvimento do Grupo Boticário.

Em um ano sem canudos, Arcos Dorados reduz impacto no meio ambiente equivalente a 200 toneladas de plástico Depois de completar 12 meses sem entregar proativamente os canudinhos junto com as bebidas em toda a região, a Arcos Dorados (NYSE: ARCO) anunciou que já evitou o consumo de cerca de 200 toneladas de plástico de um só uso — o que equivale aproximadamente ao peso de 100 carros. A empresa é a maior franquia independente do McDonald’s no mundo e opera a marca em 20 países da América Latina e do Caribe. A iniciativa, que começou no Brasil e foi rapidamente estendida

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para outros países, segue a diretriz global da marca em utilizar sua grande escala para promover ações socioambientais que façam a diferença. “Este é um claro exemplo de como podemos aproveitar a força de nossa marca. A responsabilidade assumida com o meio ambiente faz parte de nossos valores e nós vamos continuar desenvolvendo essa forma de agir. Enquanto

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isso, também buscamos transmitir uma mensagem que ultrapasse nossos restaurantes. Com esse tipo de iniciativa, contribuímos para incentivar milhões de pessoas a terem pequenos hábitos amigáveis com o planeta, a fim de que todos nós possamos fazer parte da solução” destaca Gabriel Serber, Diretor de Compromisso Social e Desenvolvimento Sustentável da Arcos Dorados.


Bradesco torna-se signatário dos Princípios para Responsabilidade Bancária da Organização das Nações Unidas O Bradesco anunciou, em 23 de setembro, que tornou-se signatário dos Princípios para Responsabilidade Bancária (PRB) da Organização das Nações Unidas (ONU), comprometendo-se a alinhar suas estratégias de negócios com as principais agendas nacionais e internacionais de desenvolvimento sustentável. O lançamento dos Princípios aconteceu em paralelo à Assembleia Geral

da ONU, em Nova York, com a participação de mais de 40 CEOs de bancos, e marca o início de uma das mais relevantes parcerias entre o setor bancário global e a ONU. Ao assinar os Princípios, o Bradesco se une a uma coalizão global de 130 bancos, representando mais de US$ 47 trilhões em ativos, que se comprometem a assumir papel crucial na construção de um futuro mais sustentável.

Isabel Clemente e Sandro Rego fundam agência de comunicação voltada para impacto social De Braga/ Portugual

Santa Teresa Hotel RJ - MGallery é destaque do evento da Câmara de Comércio França Brasil sobre práticas de luxo sustentável Do Rio

“Como integrar a sustentabilidade à narrativa da sua marca” foi o tema abordado durante o evento Comissão Arte de Viver, promovido pela Câmara de Comércio França Brasil, realizado no dia 9 de outubro. Para ilustrar como isso funciona em um hotel, a gerente de marketing do Santa Teresa Hotel RJ – MGallery, Pascale Fabart, foi convidada para falar sobre as ações da marca de luxo, operada pela Accor. Durante o bate-papo Pascale falou sobre o hotel ser além de um

refúgio urbano com ambiente original e inspirador, mas também refletir na cultura local do lugar onde está inserido e manter as iniciativas de sustentabilidade e responsabilidade social. “Nosso compromisso envolve questões socioambientais, sustentáveis e sociais. Buscamos empregar as pessoas das comunidades de Santa Teresa, como é o caso do Morro dos Prazeres, no qual contratamos colaboradores para setores como governança, cozinha, dentre outras funções”, revelou Pascale durante seu discurso.

Criar uma nova geração de projetos de comunicação que ajudem a construir uma sociedade mais solidária, justa e sustentável. Essa é a missão da Priori, agência de comunicação dedicada a causas fundada pelos jornalistas Isabel Clemente e Sandro Rego. Sediada em Portugal, a Priori vai conectar o propósito dos clientes a resultados por meio de iniciativas que fortaleçam a marca e inspirem pelo exemplo. A proposta é trabalhar com clientes não só do mercado português, mas também do Europeu e brasileiro. “A nossa prioridade é dar visibilidade a pessoas e instituições que criam soluções para fazer do mundo um lugar melhor”, explica Isabel. “A Priori vai apoiar as empresas a adotarem iniciativas de comunicação e engajamento dentro de suas estratégias de negócio”, complementa Sandro. A agência estreou no mercado português atendendo o Greenfest, o maior evento de sustentabilidade de Portugal, realizado há mais de uma década. A Priori realizou consultoria de planejamento estratégico e criativo para a construção de legado e da causa do movimento.

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I m a g e m FOTO DE RAFAELA CASSIANO

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sta foto de RAFAELA CASSIANO – feita no dia do Seminário Plurale 12 anos - representa bem o espírito que marcou esta virada de 2019 para 2020. Queremos celebrar com você e cada um de nossos leitores a alegria de termos comemorado 12 anos de Plurale. Juntos, na primeira pessoa do plural! Porque nada teria acontecido sem uma rede forte de leitores, parceiros, anunciantes, colunistas e todos que nos fizeram chegar até aqui. Feliz 2020! Sigamos juntos pela trilha sustentável! 66

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