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Litografia, no sítio da Cruz da Pedra, norte de Portimão

LUÍS DE

MENEZES

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Investigador e Documentalista

Alitografia, situava-se no sítio da Cruz da Pedra, rua do Moinho, a norte de Portimão, distrito de Faro, destinando-se à estampagem e gravação das latas em folha-de-flandres, à criação dos logotipos das marcas e das figuras e às embalagens necessárias ao transporte e expedição das conservas. Inicia-se em 1904, tendo «7 motores de potência de 110 cavalos, com 124 operários, que estão anexas a algumas das fábricas mais importantes de conserva» e «ocupa uma área de 25m de fachada e 60 m de comprimento o que perfaz uma superfície de 1.500 m²».1

A litografia era constituída em 1911, por sete dependências: vestíbulo, escritório, oficina de transportadores, oficina de moer tintas, casa dos geradores a vapor, 3 prensas litográficas de mão, 1 máquina de redução, 1 de granear pedras, movida por um eletromotor de 2 1/2 cavalos, 2 geradores de vapor de 30 e 50 cavalos, a oficina das máquinas, que tinha 3 estufas e existiam ainda 5 máquinas de impressão litográfica « sendo 2 de Jesus e 3 Colombier, um torno mecânico e uma bomba aspirante completam a montagem d’esta fabrica cujo maquinismo é todo movido por eletromotores (…)». A fábrica, fazia a impressão de 10.000 folhas

Imp Rio J Dice Fialho

de Flandres por ano e era «iluminada por 4 arcos voltaicos de 400 velas e 220 lâmpadas de 10 velas». Tinha ainda um horário laboral de 10 horas, com hora e meia de intervalo para almoço, com um total de 39 pessoas: 2 empregados de escritório, 1 desenhador litográfico, 3 operários, 1 graneador e 1 aprendiz na oficina dos transportadores, 1 mestre e 30 operários nas outras oficinas, com uma média de salários de 460 réis diários.2

Refira-se ainda que a maior parte desta unidade fabril, era alimentada por eletricidade, uma modernidade para a época. Em 1913, Júdice Fialho, amplia a central elétrica que fornecia a fábrica, que era bastante elogiada pelo seu equipamento e tecnologia e pela qualidade final dos seus produtos.3

Em 1924 e 1932, temos conhecimento de projetos de ampliação da instalação elétrica na litografia.

A 8-3-1937, a litografia foi autorizada a montar uma prensa excêntrica destinada ao fabrico de lata embutida; a 9-1-1945, a instalar 2 prensas rotativas multicolores Chambron, tipo I.C. e 1 máquina de colar Ritchie na sua secção de litografia e fabricação de lata vazia, sendo publicado no Diário do Governo, IIª Série, n.º 29 de 5-2-1945; e em 1958, temos conhecimento do projeto da instalação de um motor Sulzer tipo C D D P 22 de óleos pesados de 280 C.V. na litografia.4

Num inventário realizado a

3-3-1938, descrevem-se os eletromotores (motores elétricos) existentes nas diversas secções:

«Litografia 15, com 38,40 C.V.; Lata Vazia 9, com 69,00 C.V.; Fabricação de Caoutchouc 4, com 48,95 C.V.; Frutos ou Sirop 2, com 6,5 C.V.; Serração de madeira 3, com 128,5 C.V.; Moenda do Pimentão 6, com 216 C.V.; Depósito do Pimentão 1, com 4,5 C.V.; Serralharia 4, com 31,25 C.V.; Fundição 2, com 8 C.V.; Garagem 3, com 14,25 C.V.; Fabricação de Caoutchouc 4, com 48,95 C.V.; Frutos ou Sirop 2, com 6,5 C.V.; Serração de madeira 3, com 128,5 C.V.; Moenda do Pimentão 6, com 216 C.V.; Depósito do Pimentão 1, com 4,5 C.V.; Serralharia 4, com 31,25 C.V.; Fundição 2, com 8 C.V.; Garagem 3, com 14,25 C.V».5 A litografia afamada em todo o País, estava dividida por uma série de sectores (o mais importante era o da lata vazia, cujas máquinas eram todas acionadas a eletricidade, e estavam em instalações anexas à fábrica de S. José), a maior parte deles com tarefas complementares em relação à indústria conserveira ou com atividades necessárias ao desempenho do grupo empresarial, com o fabrico de algumas máquinas e equipamentos, como é o caso das máquinas de azeitar, que vão ser instaladas em todas as empresas do grupo em 1935. Além disso, funcionava como a oficina da empresa, e a par da sua principal função de litografar a

Máquinas - Guilhotinas e soldadeiras e máquina litográfica da litografia da Júdice Fialho (colecção do Museu de Portimão) folha-de-flandres e as latas, desenhava as marcas e as figuras das latas, e fornecia toda a lata vazia para as diferentes fábricas.

-flandres branca, 20 - depósito de moldes de ferragem, 21 - depósito de carvão de forja e coke (?), 22 - gasómetro de acetileno, 23 - depósito de trapo para limpeza, 24 - ruas de serviço, 25 - casa de 2 geradores de vapor de 2 cavalos, 26 - chaminé de tijolo, 27 - retretes.

Planta da litografia da Júdice Fialho em 1912 (colecção do Museu de Portimão)

Segundo a planta da litografia da Júdice Fialho esta era constituída em 1912: 1 - vestíbulo, 2 - escritório, 3 - oficina de transportadores, 4oficina de moer tintas, 5 - oficina de impressão litográfica, 6 - fabricação mecânica de lata vazia oficina, 7Central, 8 - serralharia mecânica, 9 - vestíbulo, 10 - serralharia, 11vestíbulo, 12 - depósito de carvão, 13 - tanque para alvenaria para água, 14 - poço, 15 - casa com uma bomba a vapor, 16 - depósito de folha-de-flandres ilustrada, 17 - escritório do desenhador, 18 - residência do guarda, 19 - depósito de folha-de-

Operários na Litografia (colecção do Museu de Portimão)

1cf. Para a Litografia, consulte-se a monografia de Luís Miguel Pulido Garcia Cardoso de Menezes - João António Júdice Fialho (1859-1934) e o Império Fialho (1892-1981), Lisboa: Academia dos Ignotos, 2022, pp. 39-42; e Thomaz Cabreira - O Algarve Económico, Lisboa: Imprensa Libânio da Silva, 1918, p. 164 e Alvará n.º 3123 de 19 [??].

2cf. José Gonçalves Vieira - Memoria Monographica de Vila Nova de Portimão, Porto: Typographia Universal, 1911, p. 91.

3cf. Jorge Miguel Robalo Duarte Serra - O Nascimento de um império conserveiro: “A Casa Fialho” (1892-1939) [Texto Policopiado], tese de Mestrado em História Contemporânea pela Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade do Porto, 2007, pp. 60-61.

4cf. Ministério do Mar, Direção-Geral de Recursos Naturais, Segurança e Serviços Marítimos (DGRM), Arquivo do Instituto de Conservas de Peixe (1936-1986), Júdice Fialho, Conservas de Peixe, SARL. Portimão (S. Francisco). Fab. 4.701.108, 1934 e Olhão, Portimão, Sines, 1936. 5cf. Museu Municipal de Portimão (MMP), Arquivo Júdice Fialho, caixa 484, documento 7438 e caixa 432, documento 5549 e Jorge Miguel Robalo Duarte Serra, op. cit., pp. 102-103.