Revista Palavra de Jornalista - Abril de 2012

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Palavra de Jornalista

ABRIL|2012

Impasse no turismo religioso de Nova Trento Pรกgina 06

Chope ou cerveja?

ร procura da companhia perfeita

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Palavra da Editora Inúmeras são as atrações desta Palavra de Jornalista, revista experimental do Curso de Comunicação Social: habilitação em Jornalismo. Entre os destaques, a Maria Fumaça de Apiúna, que volta a percorrer 28 quilômetros da antiga Estrada Ferro de Santa Catarina; as mudanças no Santuário de Madre Paulina, em Nova Trento, que desagradam muitos devotos; a prefeitura de Turismo de Itajaí que promove uma série de ações em busca de espaço no mapa turístico do Estado; e o mercado de apartamentos de alto luxo em Balneário Camboriú, cujos preços são comparáveis aos praticados em Miami, nos EUA. Para quem gosta de animais, há uma reportagem sobre os benefícios da relação entre seres humanos e cães, gatos e outros. Vale conferir o perfil de Dona Ritinha, uma senhora de 101 anos de idade, que mora em Itapema e ajuda a comunidade local com chás e benzeduras para uma série de doenças. Além disso, a Palavra apresenta uma matéria especial sobre o passado glorioso de algumas revistas brasileiras, como Manchete e O Cruzeiro, que deixaram lições fundamentais para o mercado editorial de hoje e a prática da reportagem em profundidade. Uma boa viagem com a leitura da Palavra de Jornalista!

Vera Sommer


Sumário 2012/I Sumário 2012/I

Pequena volta ao passado Nossa bela e grande América Guardiões de memórias De onde vem o marreco da festa em Brusque? Chope ou cerveja? Símbolos de fé O que a fé atrai, a economia afasta As margens do Itajaí-Mirim Dona Ritinha: lucidez aos 101 anos de idade De repente, tudo para e muda para sempre Experiência de vida Vida após a morte À procura da companhia perfeita Luiz Corredor: bem estar físico...

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Palavra de Jornalista

Histórias de luta e conquista À procura de emprego e qualidade de vida Mercado de luxo em Balneário Camboriú Moda ao alcance de todos A família toda embarca nesta... Súditas de Neymar e Ronaldinho... A menor máscara do mundo Aguce seus sentidos... (não) Quero ser grande E se bastassem três acordes? Itajaí luta por espaço no mapa... Molhe de Itajaí: um ponto turístico... Um longo e árduo caminho a ser... A bela e a fera unidas na paixão... O banquete da reportagem

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Pequena volta ao passado

A Maria Fumaça está restaurada para percorrer um trecho de 28 quilômetros da antiga Estrada de Ferro Apiúna - Segundo Albert Einstein, físico alemão e sua teoria da relatividade, as viagens no tempo, principalmente ao futuro, são possíveis graças à dilatação no tempo. Só o viajante acelerar até as velocidades próximas a da luz e pronto. Há a possibilidade também de entrar no mundo mágico do cinema e acelerar um carro adulterado, como era o Delorean, construído pelo Doutor Emmett Brown, em 1985, na trilogia Back to the Future (De volta para o

futuro), e, em momentos, ir e voltar ao ano desejado. Teorias à parte, uma verdadeira viagem ao passado já é possível ser realizada, e não precisaremos de máquinas, invenções ou estudos complicados. Para quem passa pelo Vale do Itajaí, no km 117 da BR 470, que corta boa parte do estado catarinense, não consegue imaginar onde futuro e passado se encontram. Da rodovia, a primeira vista do lugar é


Pequena volta ao passado uma obra recém construída. A Usina Hidrelétrica de Salto Pilão, que gera 182,3 mega-watts, situada entre os municípios que compõem o Médio e o Alto Vale do Itajaí, (Apiúna, Ibirama e Lontras). É mais um cenário que compõe o passeio de trem que leva moradores e turistas a retornarem no tempo. A locomotiva, ou Maria Fumaça, responsável pela viagem, é uma Baldwin de 1920, totalmente restaurada. Na composição, dois vagões de passageiros, também reparados e prontos para emocionar qualquer viajante saudosista. No caminho, um tapete verde, composto pela mata nativa da região, acompanha os trilhos da estrada, que rasga os morros, construída na década de 20. Túneis, viadutos, casas, pontes. Os olhos ficam paralisados. O apito do trem dá o toque final à cena completada pelos acenos dos moradores da região, orgulhosos em ter agora uma verdadeira máquina do tempo. A região, com sua paisagem exuberante, traz à mente dos visitantes um sentimento de estar andando por outro país, por lugares só vistos em filmes e fotografias. O silêncio dos passageiros, dentro dos vagões, mostra a exata reação a tudo que acontece, boquiabertos e surpresos a cada curva. A calmaria só é quebrada no momento em que o primeiro túnel elimina o brilho do sol. Ouvem-se assovios, palmas e gritos vindos de todos os cantos das composições. “Não tem explicação até você andar. É muito especial, o Brasil está perdendo tempo em não apostar neste tipo de transporte”, afirma Carol de Oliveira, 24 anos,

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natural de Xanxerê – SC. A ferrovia, inaugurada em 1929, compreendia o trecho que ia até Lontras. Só em 1932, chegaria a Rio do Sul. A última viagem realizada nos trilhos, antes da recuperação, foi em 1971. Willy Wessler, 60, morador de Apiúna, relembra o clima de perda e comoção que tomou conta da comunidade. Não era só um meio de transporte, era uma parcela da própria história. A iniciativa de revitalizar um trecho de 28 quilômetros, da antiga Estrada de Ferro Santa Catarina, surgiu da ideia de implantar o Museu Ferroviário Vivo do Vale do Itajaí, uma forma de aumentar, além das atividades econômicas, outras que transmitam a riqueza histórica, cultural e ambiental, recuperando e preservando valores que construíram toda a região. Uma das propostas para a melhoria sócioeconômica da região é a construção de novas ferrovias e a restauração de antigos corredores ferroviários margeando corredeiras do Rio ItajaíAçú. Olga Zanella, diretora executiva da Associação Empresarial de Itajaí, integrante da Comisssão Pró Ferrovias de Santa Catarina, relata que há uma preocupação em buscar novos caminhos para o escoamento de toda produção do estado. “Ao mesmo tempo em que pensamos no turismo. Afinal, muitos são os visitantes que chegam ao nosso litoral através das estradas federais, como a BR 470, e o trem margearia a rodovia. Temos que também pensar no desenvolvimento econômico do Estado”, completa Olga. Ela afirma que o turismo estaria paralelamente ligado à cons-


08 Palavra de Jornalista trução de novas ferrovias, já que a pretensão é a edificação da linha oceânica, que ligaria os oceanos Atlântico ao Pacifico, (Brasil ao Chile, passando pela Argentina). Enquanto a construção dessas velhas novas estradas não sai do papel, passeios, como o realizado em Apiúna, vão continuar. Luiz Carlos Henkels, presidente da Associação Brasileira de Preservação Ferroviária do Vale do Itajaí (ABPFVI), afirma que o projeto naquela localidade, para os próximos anos, será concluir

primeiro o trecho de Apiúna (estação Ferroviária Matador) até o trevo de Ibirama, margeando a BR 470. Em 2010, foi realizado o primeiro passeio depois da restauração. Apenas três mil e duzentos metros fizeram parte da rota da extinta Estrada de Ferro Santa Catarina, agora chamada de ferrovia das Bromélias, aberto para os passeios. Para levar o projeto adiante, serão necessários novos apoiadores e patrocinadores. PJ

Saiba mais

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Duração da viagem - 40 minutos (ida e volta, realizada de hora em hora, sempre no segundo domingo do mês); Trecho compreende 3,2 quilômetros, ligando a Estação Ferroviária Matador à Usina Salto Pilão; Crianças de até 5 anos viajam gratuitamente; Crianças de 6 até 10 anos pagam R$ 6,00; Adultos pagam R$ 15,00; No local, há venda de souvenires, além de artesanato, produtos coloniais (mel, vinho, pães) pastel caseiro, buffet de sorvetes e bebidas. Reservas: TREMTUR (47) 3521-9972

Texto | Alessandro Carlos Isotton Fotos | Jaime Batista da Silva, Divulgação


Nossa bela

e grande

América Grupos do Vale do Itajaí resgatam narrativas italianas com músicas Gaspar - “Merica, Merica, Merica, Cossa saràlo sta Merica?” A estrofe da música de Ângelo Giusti, da primeira geração de imigrantes da Colônia Caxias, no sul do Brasil, declama a expectativa dos imigrantes italianos ao chegar a terras brasileiras – “America, America, America, o que será desta América?”. A pequena Ana Catarina Zuchi, de oito anos, dá melodia à música que ouve de seus avôs e pais. Com vestido bordô, branco e detalhes em a-marelo ouro, Ana Catarina usa típicos trajes italianos e, com a família, se reúne para cantar músicas tradicionais da Itália. As tonalidades estampadas em sua roupa representam as cores da bandeira da província de Trento, na Itália. A menina é

um dos mais de 45 integrantes, que fazem parte do Círcolo Trentino di Gasparin, em Gaspar. A prática do canto e da música é a principal atividade desenvolvida pelo Círcolo. As canções narram a chegada dos imigrantes italianos ao Brasil, e descrevem a terra de onde vieram, a Itália. Uma mistura dos dois países. Muitas cantam modos italianos, como La Bela Polenta, que mostra, em gestos e melodia, os passos para se fazer uma polenta italiana. Na voz que ainda mistura o idioma italiano com o português, Hercílio Bertoldi, de 84 anos, o mais velho membro do Círcolo Trentino de Gaspar, conta que já conhecia as músicas que compõem o repertório dos grupos. “Quando era criança,


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Palavra de Jornalista minha família sentava à porta de casa e passava horas cantando músicas em italiano”. Seus avôs, Bárbara e Marcelo Bertoldi, vieram da Itália e ensinaram o dialeto e algumas tradições. Círcolos são grupos que desenvolvem atividades de resgate cultural, social e formativo da cultura italiana. Os Trentinos estão relacionados à província de Trento, no norte da Itália, origem da maioria dos antepassados dos integrantes dos grupos. Os trabalhos envolvem folclore, música, dança, teatro e eventos sociais. “Nos encontramos pelo mesmo motivo, e todos que participam se envolvem com algo que gostam: cantar em italiano”. A explicação é de Celina Bertoldi, 49 anos, integrante do Círcolo de Gaspar, desde 1992, quando foi criado. Há alguns meses, Monique Graciolo, de 19 anos, entrou para o Círcolo de Gaspar. “Venho da família Graciola, que é de descendência italiana”. Monique conta que já fez um curso básico de italiano, porque gostava do idioma, e ouvia músicas tradicionais da Itália. “Não pratiquei e esqueci grande parte do que aprendi. Ouvir músicas italianas era um hobby, agora que entrei para o Círcolo, preciso voltar a estudar a língua.” O ingresso nos grupos é voluntário, assim como as apresentações. Além de atividades relacionadas à música, os integrantes jovens podem participar de soggiornos, que são aulas que trabalham instrução, cultura e turismo na Itália e no Brasil. “A província de Trento sempre colabora, no sentido de estimular as comunidades trentinas ao seu desenvolvimento de for-

ma integrada”, conta Iracema Moser, presidente da Trentino nel Mondo do Brasil. Este tipo de intercâmbio já organizou a formação de técnicos em queijos e vinhos. Família Trentino nel Mondo Os Trentinos formam a maior associação italiana no mundo, a de maior número de sócios e de projeções culturais mais abrangentes. Somente no Vale do Itajaí, são 12 Círcolos Trentinos ativos. Os grupos iniciaram em 1975, ano do Centenário da Imigração Trentina para o Brasil. Justamente no Vale, foram fundados, no mesmo ano, os primeiros grupos trentino-italianos. “O objetivo era estimular o resgate das origens dos descendentes trentinos do Vale e coligá-los à associação madre com sede em Trento: A Associazione Trentini nel Mondo”, explica Iracema. Ela esclarece que a Trentino nel Mondo é uma rede mundial, que une mais de 250 cidades espalhadas no mundo, com as mesmas origens do norte da Itália. Trento na Itália A província autônoma de Trento encontra-se no extremo norte da Itália. Suas paisagens são de um lugar rodeado por montanhas e castelos antigos. A língua Trentina, historicamente italiana, é sua principal característica. As demais regiões, são de origem alemã, devido à divisão entre a Áustria e a Itália, após a I Guerra Mundial. A Província é conhecida mundialmente pela tradição de corais populares e profissionais de canções antigas. PJ Texto | Bárbara Caroline Bernardo Manuella Perrone Marques Fotos | http://migre.me/819fZ


Guardiões da memória Tradição na Festa do Divino, o Boi de Mamão está desaparecendo do litoral em Santa Catarina Piçarras - A luz fraca da tarde chuvosa, refletida na cozinha de pouca iluminação, revela a silhueta de três pessoas: Marcelo Pocidônio, 39; Bernardina de Castrom Pocidônio, 71; e José Pocidônio, 77. Uma família marcada por uma tradição já esquecida. Há dez anos, seu José teve que deixar para trás o bambu, o crânio de boi e os tecidos coloridos, materiais necessários para a fabricação dos bonecos do Boi de Mamão. Estes personagens eram seus companheiros fiéis e, a cada ano, faziam parte da sua vida e de sua família, durante as danças da Festa do Divino. “Infelizmente, a cultura está se acabando”, assim seu José se desprende da timidez e conta a história. Passou 40 anos fazendo bonecos para a dança do Boi de Mamão. Foi pioneiro a usar esta forma de arte na cidade de Piçarras, ainda criança. Mais tarde, a esposa passou a ajudálo na confecção dos bonecos. “Era tão bonito. As brincadeiras, Pau-deFita, o Boi-de-Mamão. Era tudo bem

organizado e todos ajudavam”, lembra, com saudades, dona Bernardina. A Festa do Divino é uma tradição açoriana encontrada na região litorânea de Santa Catarina. Herança dos imigrantes da Ilha Terceira, esta manifestação chegou ao Brasil na época de 1756, via Nossa Senhora do Desterro, hoje Ilha de Santa Catarina. A explicação é da pesquisadora da história de base de cultura açoriana, Maria do Carmo Ramos Krieger. Paulo dos Santos, 45, que ainda mantém um grupo de danças do Boi de Mamão, conta que, antigamente, os participantes viviam mais este costume. “Era mais valorizada, porque passava de pai para filho”. De volta às lembranças, os olhos de seu José Pocidônio parecem estar longe, em uma época distante. Ele relembra com detalhes os preparativos para os festejos. Buscava crânios de boi e os pintava, para que as cabeças ficassem parecidas com um boi de verdade. “A armação do corpo era feita com bambu cur-


vado, que dava mais elasticidade, e era formada uma concha, como um barco”. A concha era preenchida com espuma, forrada para proteger as costas de quem a vestia. Por fora, era cheia de panos coloridos. “Ia até meia-noite, fazendo os bonecos do boi de mamão”. Antigamente, nas escolas, o folclore da Festa do Divino, assim como as danças e o artesanato, era ensinado às crianças. Seu José ensaiava danças, como o Pau de Fita. “As danças era ensaiadinhas. Seis meninas e seis meninos, que começavam a ensaiar com semanas de antecedência”. Os bonecos eram todos feitos à mão, com materiais artesanais e que exigiam um bom tempo de confecção. “Levava uns 15 dias, mais ou menos ,pra fazer os bonecos”. A perpetuação da cultura por gerações é destacada por Paulo. “Há alguns anos, meu filho mais novo fazia parte de um grupo infantil. Fazia rimas e versos.” O resgate histórico do Boi de Mamão nas escolas seria

uma forma de aprenderem sobre a sua origem cultural. “É importante manter esta tradição porque é uma brincadeira sadia e divertida. Nela, procuramos sempre mostrar às pessoas que não devemos maltratar os animais”. A história com o Boi de Mamão de seu José e dona Bernardina foi passada para o filho. Com as mãos no jornal e os olhos concentrados nos movimentos, Marcelo Pocidônio, 39 anos, demonstra passo-a-passo como se faz um personagem. “Era tudo muito bem feitinho. Todo mundo esperava para ver a dança do Boi-de-Mamão. As crianças tinham medo, mas ficavam ansiosas para ver o boi”. Cego há 20 anos, suas mãos reproduzem, com simplicidade, mas exatidão, os movimentos para confeccionar o boneco. Hoje em dia, porém, estas lembranças fazem parte de uma época distante na vida da família. “Faz uns dez anos que a gente não faz mais os bonecos do Boi de Mamão”, conta


seu José. “Uma vez uma moça apareceu pedindo pra gente fazer. A gente disse ‘traz aqui que a gente faz pra você’. Mas, aí, a moça desistiu e ninguém mais fez”, lembra dona Bernardina. A família não possui mais os bonecos, que, depois de anos guardados, foram doados para escolas e amigos. A igreja e o povo, apoiados na fé católica, sustentavam e davam continuidade à Festa do Divino. Porém, a herança cultural açoriana acabou sendo esquecida. “Hoje em dia, tem poucos jovens que ainda se interessam por essa cultura. A juventude não quer mais saber disso. Eles não têm tempo para estas coisas que eram de seus avós”, lamenta dona Bernardina. Um dos fatores do desinteresse pela cultura está ligada às novas tecnologias, usadas cada vez mais, como forma de entretenimento. O casal aponta a falta de divulgação e apoio da cidade como determinantes no descaso e esquecimento. “Algumas cidades continuam

com a festa, mas aqui ainda falta um incentivo por parte das autoridades, que nunca mais procuraram a nossa família pra fazer o Boi de Mamão”. As crianças que, antes tinham as tradições enraizadas desde cedo, hoje participam muito pouco da cultura local. “Os jovens estão trocando as brincadeiras, o folclore, pela internet. Hoje em dia, eles acham tudo o que interessa na internet”, explica seu José. Assim como vai caindo no esquecimento, a cultura também não é levada adiante e outras pessoas não têm a oportunidade de conhecer o Boi-de-Mamão. Seu José lembra de um fato engraçado. “Estava com as crianças brincando, à noite, na frente de um hotel. Nós tínhamos um dos personagens do Boi de Mamão, uma onça. Ela era muito bem feitinha. Uma das crianças estava brincando com ela e, então, um homem parou o carro. Saiu com uma arma para atirar na onça, porque pensou que ela era de verdade”, conta aos risos. “Nós


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Palavra de Jornalista fazíamos os personagens bem parecidos. Era muito bem feito”. Um cafezinho, servido por dona Bernardina ao entardecer, dá uma pausa na conversa. “Se você for fazer o Boi de Mamão novamente hoje em dia, vai precisar de pessoas para brincar e ajudar. Mas o problema é que a gurizada não quer mais saber disso, e os pais também deixaram de incentivar”, lamenta dona Bernardina, após tomar um gole. Enquanto o pássaro da família canta alegremente na gaiola próxima à porta, as histórias continuam. A família permanece unida em volta da mesa, assim como fazia quando criava os personagens do Boi-de-Mamão. Entre os meses de maio e junho, começam os preparativos para a Festa do Divino. As poucas pessoas

que ainda mantém esta tradição comemoram os festejos. O clima de nostalgia fica no ar. As lembranças vêm à mente. “Nas apresentações, a gente vê as diferentes reações do público. Têm aqueles que se emocionam e choram. E têm os que nunca viram. Mas todos se divertem com risos e aplausos”, lembra Paulo. Os personagens entram em cena. Começa o espetáculo da morte e ressurreição do Boi. Iniciam as cantigas. “Vamos baianinha / Vamos passear / Vamos lá na vila / Pra ver meu boi brincar.” É o Boi de Mamão que acaba de chegar. PJ

Texto| Bruna A. Osmari Leonardo Costa Fotos| Bruna A. Osmari Leonardo Costa Eduardo F. Rosa


Palavra de Jornalista

De onde vem o marreco da festa em Brusque? Da criação à venda, o animal é abatido, embalado, colocado em caixas, descongelado e assado

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Palavra de Jornalista Brusque - Marreco assado, acompanhado de repolho roxo, chucrute, purê de batata, macarrão e recheio do marreco. Este é um dos pratos saboreados pela professora Claudia Maria Mendes de Sá e sua família, da Baixada Santista, na Festa Nacional do Marreco (Fenarreco). “Minha família visita a festa pela 4ª vez e vem de tão longe só por causa do marreco. E do chope, é claro”, ressalta brincando, o marido. Mas de onde vem esta carne tão apreciada pela família Mendes de Sá? O marreco, utilizado na festa, é do tipo exportação e vem da granja Vila Germânica, na cidade de Indaial, a 58 quilômetros de Brusque. Lá, ele é embalado individualmente em caixas de oito unidades cada e também temperado. Da criação até a venda, o animal é abatido, embalado, colocado em caixas, descongelado e assado. O coordenador do restaurante responsável pelo cardápio da festa, Claudio Geres, explica que os marrecos são criados de modo diferenciado. Para a carne

ficar macia e suculenta, o animal é confinado, ou seja, criado em aviário. Além disso, vive em local plano, tem uma ração balanceada e é abatido com 2, 200 quilos. A partir desse peso, ele se torna adulto e a carne já não é mais tão macia. O restaurante Ataliba, de Florianópolis, é responsável pelos pratos da festa desde 1992. Além do marreco com acompanhamentos, tem risoto de marreco e marreco recheado. Quem prefere outras carnes, há salsichas especiais, filé à brasileira, frango alemão, entre outros, sempre preservando a gastronomia alemã. É a primeira vez que Elza Aparecida Dias, também de São Paulo, visita a Fenarreco. A organização da festa chama a atenção e, em relação à comida, revela: “O tempero do marreco é bom. Para quem não gosta de comida apimentada como eu. Mas deveria ter algum molho ou creme para acompanhar”. Ela e a família dividem três pratos: salsichas, frango alemão e marreco com complementos. Já a dona do restaurante Schumacher, de Guabiruba, revela o tempero do marreco recheado, uma das especialidades da churrascaria. ”É bem fácil de temperar. Utiliza-se sal, pimenta moída e limão. Ao invés do limão, pode-se optar pelo vinagre”. Depois de instantes, e, em um prato, separa cebola, tomate picado e cebolinha verde. Esfrega-se a pimenta e o sal por dentro e fora do marreco e deixa-se ele no molho, da noite até o próximo dia, quando é assado.” Para a festa de 2011, foram encomendados de 8 a 10 mil marrecos. A procura pelo marreco não é de hoje. Antes mesmo da primeira edição da


De onde vem o marreco da festa em Brusque? festa, na década de 80, turistas que passavam pela cidade de Brusque, perguntavam a uma central de informações turísticas em que local havia carne de marreco. Esse, segundo o assessor administrativo da Secretaria de Turismo de Brusque, Rolf Kaestner,

é um dos motivos para a criação da Fenarreco. Naquela época, não havia nem local para se realizar algum evento, e a única festa, que se podia buscar uma referência, era a Oktoberfest. PJ Texto e Fotos| Jéssica Aparecida Gamba

Como faz? Ingredientes

Massa

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Em um moedor de carne ou processador, passe os miúdos do marreco, a cebola, o tomate, o bacon, o lombinho, a maçã e o dente de alho. Misture bem, e acrescente o ovo, o pãozinho molhado em água, cebolinha verde, farinha de trigo, sal, pimenta do reino. Misture tudo novamente. Recheie o marreco com esta massa e costure firmemente com linha grossa.

1 marreco (com miúdos); 2 colheres (sopa) de farinha de trigo; 50 g de bacon; 100 g de lombinho suíno; 1 cebola média; 1 dente de alho; 1 pãozinho; 1 tomate;

Assado

½ maçã; 1 ovo; Sal, pimenta do reino e cebolinha verde a gosto.

Preparo Tempere o marreco com sal, pimenta-doreino e cebolinha verde picada, por dentro e por fora. Deixe marinando por, no mínimo, 12 horas, e, então, recheie com a massa. Se o marreco já for temperado, esta etapa deve ser eliminada.

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Coloque o marreco para assar, com o peito para cima numa assadeira profunda (ferro ou alumínio). Adicione ½ copo de água. Quando estiver dourado, retire o líquido que se formou na assadeira. Adicione ½ copo de água. Regue o marreco com o molho, que se formou, para ficar bem dourado. Retire do forno e aguarde aproximadamente dez minutos antes de cortar. Ao servir, corte o marreco em partes e retire o recheio por inteiro, fatiando a carne.


Chope ou cerveja? A presenรงa de marcas estrangeiras, no mercado nacional, agrada consumidores


Chope ou cerveja? Itajaí - Quem não gosta de uma cervejinha? Para Vilson Sandrini Filho, procurador da Univali, a paixão pela bebida foi além. Aos 43 anos, Vilson abriu a própria cervejaria, a Othomania Catarina. Uma microcervejaria, que engatinha com alguns meses de idade, e conquista os adeptos com três tipos diferentes de chope puro malte: Trigo, Pilsen e Brown Ale, esse último exclusivo em todo o estado. Vilson é amante da cerveja desde sempre. Há cinco anos, estuda o assunto a fundo. Em 2010, o procurador tomou 209 rótulos diferentes. Uma garrafa de cada, sempre visando à qualidade. A Othomania Catarina tem produção de seis mil e 600 litros por mês e só aumentará este número se puder manter o gosto e a textura originais: “Não queremos ser ricos. Queremos ser bons”, explica o cervejeiro. Por este motivo, a Otho-mania não pasteuriza, filtra ou aditiva seus produtos, abrindo mão da durabilidade em detrimento da qualidade. O procurador esclarece que o mercado brasileiro está se aculturando. Entre sete e oito por cento da população bebem cervejas artesanais. A maioria ainda prefere quantidade à qualidade, mas isto está mudando, por causa da massificação das cervejarias artesanais no país. Por isso, as grandes marcas sentiram a necessidade de trazer opções internacionais para as prateleiras brasileiras. Um bom exemplo disso é a Oktoberfest. Antes de ser a festa da alegria e da tradição alemã, a Oktober é da cerveja. Em 2011, ofereceu aos visitantes cinco marcas de chope artesanal, o da Brahma e quatro de outras

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estrangeiras. Norberto Mette, presidente da fundação, explica que a marca mais vendida é Brahma, com cerca de 50% do consumo total. Entre as artesanais, a top em vendas é a blumenauense e premiada Eisenbahn, seguida por Bierland, Das Bier, Schornstein e Wunder Bier. Quatro marcas estrangeiras completam o menu da Oktober: Franziskaner, da Alemanha; e as belgas Stella Artois, Leffe e Hoegarden. Norberto afirma que Blumenau busca ser referência nacional em cerveja. Para isso, conta com o Museu da Cerveja, o roteiro das cervejarias artesanais e o Festival Brasileiro da Cerveja, buscando alternativas para a economia da região. Blumenau impulsionou cidades vizinhas a abrirem cervejarias e gerarem empregos, aumentando o consumo em bares, choperias e distribuidoras. Além de lucrarem mais, dão à população a oportunidade de apreciarem cervejas de ótima qualidade no Vale do Itajaí. Mas será que esse investimento vale a pena? O que os consumidores dizem sobre a qualidade do chope na Oktoberfest? E fora dela? Edgard Macedo tem 52 anos, mora em Blumenau, e bebe cerveja desde os 15. Fã das marcas internacionais vendidas na Oktober, gosta também da Brahma e da Eisenbahn. Seu chope preferido, na festa alemã, é o da Bierland, mas ele faz uma ressalva: “O chope vendido nos supermercados têm mais qualidade que o da Oktoberfest. Parece aguado”. Essa opinião não vem de um consumidor qualquer. Edgard compra cervejas diferentes todo sábado: “Final de semana é sagrado”. Ele já to-


20 Palavra de Jornalista mou mais de 150 marcas diferentes de cerveja. A eleita é a La Chouffe, uma cerveja belga, pilsen. Apesar disso, seu tipo preferido é a cerveja de trigo (Weizen). Muitos jovens, quando tomam cerveja pela primeira vez, acham a bebida amarga demais. Com Edgard, “foi amor à primeira vista”. Para ele, muita gente só bebe por beber, para se enturmar, sem ver diferença entre os tipos e as marcas de cerveja. Essa opinião parece ir ao encontro do que diz Rafael Silveira, professor de criação publicitária na Univali. Para Rafael, um número de pessoas valoriza a quantidade ao invés da qualidade, querendo beber muito cervejas menos encorpadas para não se estufarem. Um exemplo disso é a Skol 360, que, em sua propaganda, afirma ser mais leve para agradar o grande público. Rafael Silveira é gaúcho, tem 40 anos e mora em Blumenau há 24. A exemplo de muitos apreciadores de cerveja, prefere as bebidas mais subs-

tanciosas. Para ele, o chope mais gostoso é o Pale Ale, da Eisenbahn, além de outras boas opções. A maioria também da própria cervejaria. Quanto ao chope de vinho, sua expressão negativa fica evidente, quase um consenso entre os amantes de cerveja. A blumenauense Eisenbahn não agrada apenas os moradores da cidade. Jair Norberto da Silveira, conhecido como Pezão, mora em Balneário de Piçarras, e também elogia a cervejaria. A Brahma está na lista de chopes preferidos, quando se fala em Oktoberfest. Em casa, as cervejas que Jair gosta de ter na geladeira são Skol, Brahma, Antártica e Bohemia. Às vezes, algumas marcas internacionais também. Pezão aprecia a Leffe e a Stella Artois, duas marcas importadas vendidas na Oktober em 2011. Jair acredita que a maioria bebe o que mais agrada o seu paladar, embora admita que algumas pessoas só se importem com o preço. PJ Texto| Guilherme Felipe Furtado Soares Fotos| http://migre.me/84Epc Guilherme Felipe Furtado Soares


Símbolos de

O poder das promessas feitas diante da ameaça de morte

Balneário Camboriú - Ao amanhecer, saindo de sua casa rústica de madeira, Berta Munaro vai à procura de um momento de silêncio e espiritualidade. De seu quintal, é possível avistar a igreja azul e branca, na qual sua sobrinha se casou há muitos anos. Entretanto, não é para lá que ela se dirige. Hoje, a peregrinação é maior. Saindo da estrada, ela começa a percorrer o caminho que vem fazendo nos últimos 19 anos, em meio às árvores e ao som dos pássaros. Passada meia hora de caminhada, ela avista uma gruta. Pedras grandes, acinzentadas e desgastas pela erosão,

formam a moradia da santa branca. Nossa Senhora está ali, cobrando uma promessa feita por Berta em novembro de 1992. E começam as orações. As sobrinha de Berta, Caroline Maurina, teve sérios problemas em seu primeiro ano de vida. Nascida no dia 13 de fevereiro do ano em que a promessa foi feita, a garota teve o cordão umbilical enroscado no pescoço, causando falta de ar no cérebro e risco grave de morte. Apesar de ter sobrevivido ao incidente, nove meses mais tarde, teve obstrução intestinal, e precisou ser operada.


22 Palavra de Jornalista O bloqueio intestinal ocorre quando os alimentos não podem passar nos intestinos, impedindo sua eliminação. A causa é variada, podendo ser por conta de paralisação nos músculos. É uma emergência médica que, se não tratada imediatamente, pode levar à morte. Há 19 anos, a Medicina não estava avançada a ponto de garantir que a operação fosse realizada com sucesso, e as chances estavam contra Caroline. A família, sem saber que medidas tomar ou como ajudar a menina, recorreu à fé. Berta prometeu que, se a sobrinha sobrevivesse à cirurgia, iria periodicamente à pequena gruta e agradeceria à Nossa Senhora por poupar a vida da menina. Seja pela promessa feita, seja pela dedicação médica ou ainda por uma questão de sorte, a garota saiu da mesa de cirurgia com uma cicatriz na barriga, e nada mais. Estava curada. Ali, na pequena cidade de Iomerê, interior de Santa Catarina, a senhora de cabelos escuros até a altura do pescoço, verruga no queixo, óculos na ponta no nariz e chapéu de palha, agradece as bênçãos recebidas. Casada, porém, sem filhos, busca na religião uma forma de consolo. Acredita que, enquanto a santa estiver com ela, nenhum mal vai lhe atingir. Cerca de 390 quilômetros dali, Gema Maurina dorme tranquila, com uma estátua de Nossa Senhora à cabeceira. Mãe de Caroline, a dona de casa fez a intenção de que, depois da cirurgia da filha, compraria uma santa e a deixaria ao lado de sua cama até o dia de sua morte. Hoje, a estátua e a filha já têm 19 anos.

Enrolada em seis terços e símbolos de fé, a santidade permanece ali, ao lado dos livros de oração de São Judas Tadeu e do radiorrelógio. Em 2009, faltando 10 dias para o aniversário de Caroline, a doença voltou a se manifestar, e a garota teve o mesmo problema de criança. Um novo caso de obstrução intestinal fez com que voltasse para a mesa de cirurgia. No caso de um adulto, apesar de maiores chances de sobrevivência, a doença se manifesta de forma mais grave, uma vez que existe a ingestão de alimentos mais pesados. Com a festa cancelada, a garota comemora o 17º aniversário no leito do hospital. A família acredita que a garota só sobreviveu à segunda cirurgia porque as promessas, feitas quando não completara um ano de vida, foram cumpridas. Saindo do hospital com uma cicatriz maior na barriga, sobre a primeira, Caroline está mais uma vez curada. A família visita, sempre que pode, a Igreja Matriz de Balneário Camboriú. Ali, encontra outras pessoas com histórias para contar, como Rosa Nespoli. A aposentada de 90 anos, vinda do interior do Paraná, faz penitência até hoje devido a promessas passadas. Há 40 anos, não come carne na sexta-feira. Bebida alcóolica, só vinho e em datas especiais. E ainda assiste à missa todos os domingos, ajoelhada nos bancos de madeira do começo ao fim da celebração. Em 2008, Rosa saía da igreja quando tropeçou nas escadas e quebrou a perna esquerda. Mas isso não a desmotivou. Começou a usar cadeira de rodas e, depois, uma bengala.


Símbolos de fé Hoje, não precisa mais de nada para caminhar, e continua indo às missas todos os domingos. Ajoelha-se e agradece o fato de poder caminhar novamente. Não sente nenhuma dor. Enquanto isso, outros, que esperam a igreja abrir, comentam sobre sua devoção. “Prometi que, se meu marido estivesse bem de saúde, imprimiria mil cópias desta oração e entregaria na igreja”. “Todo ano, vou até Nova Trento a pé. São 68 quilômetros, mas vale a pena”. “No ano passado, fui fazer o caminho de Santiago da Compostela. Consegui andar mais de 200 mil metros. Sentime realizada”. Quando a Igreja Matriz fecha as portas, e a família de Caroline vai embora, só se ouvem as conversas do outro lado da rua, no camelódromo da cidade. Em meio ao tumulto,

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surge dona Ismar. A aposentada vem homenagear a irmã Zilda, que completa aniversário de morte naquele 28 de setembro. Acende o pacote de velas e, em meio às orações, a senhora comenta sobre a perda. “Deus sabe o que faz, mas minha irmã não merecia ter partido. Era uma santa”. Zilda Alexandre Pereira morreu ao telefone, enquanto falava com a irmã. Ataque cardíaco fulminante, provocado por estresse e cansaço emocional. O marido sofria de mal de Alzheimer, e tornara-se agressivo com Zilda. Ismar tenta, por meio de suas velas e orações, prestar homenagem àqueles que já não estão presentes. Em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo. Amém. PJ

Texto e Fotos | Guilherme Altvater da Luz


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O que a fé atrai, a Mudança no santuário de Santa Paulina divide opinião Nova Trento - A fé mobiliza milhares de pessoas por todo o país. Em Santa Catarina, não é diferente. Só a cidade de Nova Trento recebe cerca de 30 mil pessoas por mês por causa dos santuários. O movimento atinge seu auge no segundo domingo de julho, dedicado à Santa Paulina, e nas datas consagradas pela Igreja, como Corpus Christi, Finados e Sexta-feira da Paixão. Nestes dias, os devotos rezam junto às fontes naturais, próximas ao santuário, e aos monumentos em sua homenagem. O santuário, que inicialmente contava com algumas trilhas, igrejas e casas simples, onde alguns pertences da Santa eram expostos, tem mais 15 atrações em referência à vida e à história da Madre Paulina. Além de toda a estrutura montada para orações, pedidos e agradecimentos, o santuário conta com restaurantes, lojas e outras atrações para quem visita o local. São várias as cidades que possuem grutas e belas igrejas, que atraem devotos de todas as partes de Santa Catarina. No litoral, a colonização é de maioria açoriana, sendo que, a partir do século XIX, ocorreu

um novo fluxo de imigração constituído por colonos alemães e italianos. Estes deram origem às cidades de São João Batista, Rodeio, Ascurra, Nova Trento, Criciúma, Nova Veneza, entre outras. Esta colonização se deu por volta de 1836 e, de 1875. Nova Trento se destaca por causa da fé, conhecida como a “Capital Catarinense do Turismo Religioso”. Possui dois Santuários: o de Santa Paulina e o da Nossa Senhora do Bom Socorro. Colonizada a partir de 1875, recebeu principalmente imigrantes da província de Trento, Itália. Dentre os novos habitantes, a pequena cidade recebeu Amábile Lúcia Visintainer, na época com apenas 9 de idade. Ela foi trazida para o Brasil. Desde garota, Amábile se dedicava aos serviços da Igreja Católica. Com o passar dos anos e o aumento das responsabilidades, foi se entregando cada vez mais à Igreja. Em 1890, com a ajuda de uma amiga, deu início à Congregação das Irmãzinhas da Imaculada Conceição. A partir daí, recebeu o apoio de padres e responsáveis pela Igreja, sendo nomeada para vários cargos importantes. Foi eleita Superiora


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economia afasta de devotos

Geral em 1903, ano destinado ao cuidado com ex-escravos, idosos e crianças órfãs em São Paulo. Junto com as irmãs, realizou outros trabalhos, como o de evangelizadora na educação e na catequese. Morreu aos 77 anos com fama de santidade e foi beatificada em 1991. Desde então, até a sua canonização em 2002, Nova Trento se consolidou como o segundo mais importante destino turístico religioso do Brasil. Comércio religioso A pequena cidade, com pouco mais de 12 mil habitantes, tem cerca de 30 igrejas e capelas, que são o motivo de ser considerada a segunda maior Estância Turístico Religiosa do Brasil. Muitos visitantes vuem a cidade como potência comercial. Se instalam nela, criando novos negócios, que se sustentam com o giro mensal de turistas movidos pela fé. Orlando Borges Farias atua como comerciante, na cidade, há 10 anos. Ele vende cachorro-quente. Conta que as dificuldades, para manter o comércio na região, são as mesmas enfrentadas em qualquer outro lugar. Questionado sobre a influência da fé nos bons resultados financeiros de seu negócio, Orlando diz que, assim como é mais fácil vender devido ao giro de pessoas na cidade, ficou mais difícil conseguir espaço ade-

quado para os negócios. O aumento das dependências do santuário e a valorização do metro quadrado na cidade fizeram com que os preços de qualquer estabelecimento aumentassem. E isso gerou mais gastos e preocupações por parte dos comerciantes. - Agora, para se instalar em Nova Trento, qualquer comerciante precisa de CNPJ. Eu sou de São João Batista, mas tenho meu negócio aqui. Por consequência disso, conheço mais o pessoal neotrentino do que os batistenses. Mas, nem por isso, tenho problemas. Como já estou aqui há bastante tempo, tenho a confiança dos meus clientes, que me indicam para os turistas. Não fosse isso, seria bem complicado, porque, como tem muita gente nova abrindo comércio aqui e se aproveitando da fé das pessoas para vender, a disputa por clientes, às vezes, fica bem acirrada. Além dos comércios menores, que giram em torno dos santuários, têm muitos devotos que percebem, na cidade, a possibilidade de grandes empreendimentos. Como foi o caso do casal de Camboriú, Juliana Tedesco dos Santos, 34 anos, e Aristides dos Santos Junior, 40. Eles visitaram o santuário da Santa Paulina, algumas vezes, e tiveram a ideia de construir um teleférico no local. Apresentaram o projeto para as Irmãzinhas da Ima-


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culada Conceição, elas aprovaram e a construção teve início em 2010. O teleférico foi inaugurado em setembro de 2011 e causou muita polêmica entre os devotos. O caminho, que antes podia ser feito a pé até o Morro da Colina, agora só pode ser feito pelo bondinho, já que a estrada de acesso foi fechada para visitantes. Devotos e mudanças Geni Pian, Neli Furlanetto e Jairi Paniz são irmãs e visitam Nova Trento, no mínimo, uma vez por ano. Católicas praticantes, esta é uma viagem que as irmãs costumam fazer juntas para se reencontrarem, pois moram em cidades diferentes. Elas contam entusiasmadas que se programam durante todo o ano, e geralmente, escolhem a primavera para visitar o local. Nesta época, segundo elas, a cidade fica muito mais bonita e as fotos, que levam de recordação, mais coloridas. - A gente veio, pela primeira, em 2002. Era tudo muito simples, e o custo da viagem era baixinho. Eu, a Jairi e a Neli vínhamos de excursão e gastávamos cerca de 500 reais em tudo, viagem, alimentação e lembrancinhas. Com o passar dos anos, o santuário foi ficando cada vez mais bonito, porém, mais caro também. As novas capelas, as novas atrações e

até as novas acomodações sempre justificaram o aumento dos nossos gastos. Mas esse ano, depois que colocaram este bondinho, o preço ficou exagerado. Sem contar que os comerciantes têm piorado a qualidade dos produtos que vendem e aumentado os preços. Antes, a gente comprava lembranças para a família toda e sobrava dinheiro. Hoje, se a gente levar algo a mais do que chaveiros e essas fitinhas de pulso, ficamos sem dinheiro para voltar para casa. Além da indignação com o aumento dos gastos, as irmãs confessam que adoravam o caminho percorriam a pé até o Morro da Colina. Elas faziam o trajeto, rezando seus terços, pedindo graças e agradecendo aquelas já alcançadas. Hoje, tiveram que pagar para fazer o percurso, em um passeio rápido que as deixou inclusive com medo. “Pode até ser mais seguro, como dizem os guias e os funcionários da estação, mas, para mim, seguro mesmo era ir andando e rezando com a Jairi e a Geni. Em 2012, não sei se eu volto. Acho que vou começar a ir para São Paulo, no Santuário da Nossa Senhora de Fátima, ou para Santa Maria, visitar a Mãe Três Vezes Admirável, de Schoenstatt”. PJ Texto | Alexssandra Caroline Enderle Mezzomo Fotos | Secretaria de Turismo de Nova Trento Janari Piva


As margens do

Itajaí-Mirim

Sustento, lazer e tragédia do pequeno grande rio Itajaí - Pequeno, estreito, mas importante. Nasce em Vidal Ramos, percorre as cidades de Botuverá, Brusque e, por fim, Itajaí. Faz parte da bacia hidrográfica do Itajaí. Mantenedor de comunidades ribeirinhas e sustento de muitos, hoje tem, em suas águas, um gosto de mágoa. Ações do passado e do presente têm modificado o pequeno gigante. Esse tímido Itajaí-Mirim não nasce, nem morre. Flui. Passa pela vida das pessoas sempre correndo, sem nunca chegar. Às vezes, quando chove demais, chora. Transborda de ale-

gria, por se tornar um rio maior, mas prejudica muita gente. Há dez anos, crianças nadavam tranqüilas no Itajaí-Mirim. Moradores ribeirinhos pescavam e não se preocupavam com as chuvas. A abençoada água, vinda dos céus, apenas refrescava a todos. A poluição, o descaso e as construções irregulares fizeram desse companheiro um vilão. Nove de setembro de 2011, Michelle Priscila Arruda de Lima, 29 anos, olha apreensiva pela janela. A chuva cai insistentemente e está cada vez mais forte. O rio Itajaí-Mirim, a menos de


28 Palavra de Jornalista seis metros de seu casebre de madeira, está revolto e mais próximo. A noite chega. Os moradores, a família e os vizinhos reúnem-se e decidem procurar outro abrigo. Pela manhã, mesmo sem chuva, o rio continua a subir. Michelle, que mora com o marido, o tio e duas crianças, está na região há apenas um ano e três meses. Já observou atividades que põem em risco a saúde da população local. “Eu já vi uns meninos entrando na água. Vão até lá pro outro lado. É fundo, entram pra nadar, pra ir atrás de pipa”. Os moradores do bairro Cidade Nova, na região da Avenida Nilo Simas, sabem que as águas, que correm ali, são poluídas. Osmar Antunes, 42 anos, vê pessoas jogando lixo no ribeirão. “Eu não, não jogo. Lá, tudo jogam, né? Porque isso aí é normal. Eles passam em cima da ponte e jogam, lá de cima.” Osmar veio para Itajaí em busca de trabalho e viu seus filhos brincarem tranquilos no rio. Conviviam em harmonia com a ‘natureza’. Alexandro Maçaneiro, de 21 anos, mora do outro lado da Nilo Simas, com a mulher e dois filhos. Tira o tempo, em que não trabalha, para reconstruir a cerca, destruída na última cheia. Eles moram a menos de três metros do rio. Segundo a Secretária de Habitação de Itajaí, Neusa Maria Vieira, o problema maior é o risco em que essas pessoas se encontram, além do dano ao meio ambiente. Apesar dos problemas, as comunidades ribeirinhas não conseguem abandonar suas residências. Enquanto as alterações não são feitas, o Itajaí-Mirim também se prejudica.


As margens do Itajaí-Mirim Segundo João Luiz de Carvalho, oceanógrafo, uma das alterações foi o canal retificado, que funciona como uma comporta. O projeto surgiu para sanar os problemas das cheias no município de Brusque, porém, Itajaí foi afetada. De acordo com ele, a construção do canal retificado ocasionou a morte do Itajaí-mirim. Hoje, é um rio de águas poluídas, não aconselhadas para nenhum tipo de consumo. Mas não é o que pensam os moradores da Colônia Japonesa. Para os horticultores, o rio é, e sempre foi, uma bênção. Há 40 anos, desde que se mudou para a região, serve para irrigar as hortaliças de seu Cataofo Nae, de 78 anos. “Viver só da chuva não dá.” César Augusto Lana, 24 anos, mora desde o nascimento, em frente ao rio. Filho de José Carlos Lana, presidente da Associação de Agricultores da Colônia Japonesa, pôde perceber, ao longo da vida, as modificações ao redor. “Existiu muito desbarrancamento. Eu pescava no rio até meus 10 anos. Não existe mais vida ali. É perda de tempo”. Em casa, mora com os pais e a irmã. O

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pai acorda todo dia às seis horas da manhã, toma café e trabalha no campo até meio-dia. Para a plantação, usa a água do rio e, para o consumo interno da casa, água encanada. A associação de agricultores se reúne para efetuar, em conjunto, a venda das hortaliças. Eles são responsáveis por abastecer 30% das creches do município de Itajaí. Por falta de apoio e incentivo, os mais jovens acabam saindo da comunidade à procura de outros trabalhos. Apenas os mais velhos continuam com o serviço. O canal, construído na década de 70, pode ser utilizado em benefício dos itajaienses. “Toda vez que a maré baixar, as autoridades locais deveriam trancar o canal para escoar a água parada. Mas o que vem acontecendo é que, a água que des-ce, fica parada, contribuindo para o aumento da sedimentação (lama) e, conseqüente, maior facilidade de cheias. Antes disso, a água fluía me-lhor”, explica Carvalho. PJ Texto e Fotos| Sidnei Almeida Isadora Cruz


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Dona Ritinha: lucidez aos 101 anos de idade Itapema - Sabedoria é o que faz a Rita Maria da Costa, ou simplesmente Dona Ritinha, levar a vida de forma serena. A aposentada de 101 anos tem uma rotina leve, mas faz tudo sozinha. Acorda todos os dias, às sete da manhã, abre a casa, arruma a cama, e se veste. Aliás, a vaidade está presente na vida dela. Cabelo penteado, o “cheirinho”, como chama seu perfume, roupa limpa e bem passada são indispensáveis. A partir das oito da manhã, ela começa a atender as pessoas que, algumas vezes, vêm de longe em busca de auxílio. Dona Ritinha é benzedeira desde muito jovem. Nem lembra quando começou a benzer. E faz isso até hoje. Ela toma café da manhã, almoça, janta, lava e torce roupa, com as mãos calejadas do trabalho pesado na roça. Limpa a casa sozinha, e “areia” as panelas de alumínio penduradas na parede da cozinha. A casa é simples. Um ranchinho de madeira construído pelo marido Joaquim, quando se casaram, há mais de 80 anos. Não tem pintura ou outro acabamento qualquer. No pátio, sem calçada, tem cachorro, gato e um garnizé. Dona Ritinha gosta muito de animais e fica triste quando perde um deles. Ritinha também cultiva plantas medicinais, ervas, temperos e sa-


Perfil ladas. Vive cercada pela família, mas faz questão de cuidar de “suas coisas” sozinha. Todo sábado pela manhã, faz a “quitanda”, como chama, a compra para a semana no mercadinho perto de casa. Com mais de um século de vida, ela guarda muitas histórias. Cada um que a visita, sai da casa sabendo de alguma. Ela conta a de uma casa branca, que existia antigamente em frente ao hospital de Itapema, e as pessoas acreditavam ser mal assombrada. Dona Ritinha explica com a voz trêmula e sotaque peixeiro: “A casa não era mal assombrada nada, nega. Acontece que tinha uma mulher lá (que era casada, conta ela sussurrando), e tinha um amante. Um dia, o marido chegou, de repente, e o cara saiu da casa correndo, enrolado num lençol. Como Itapema, na época, não tinha energia elétrica, quem viu o homem se assustou, pensando que era fantasma”. Ela se diverte ao contar a história. Nem só de lembranças boas se baseia a vida. Dona Ritinha relata que as experiências mais difíceis são as perdas de pessoas queridas. Ela perdeu três de seus seis filhos, dois ainda bebês, e uma há três anos. Alzira era a segunda filha, e muito apegada à mãe. Dona Ritinha sofreu muito com as perdas da filha e do marido, que a deixou viúva aos 60 anos. Ela observa que nem as mais dolorosas perdas diminuíram sua vontade de viver. A neta Juciane Trindade conta que, um dia após

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o enterro da tia Alzira, foi visitar “vó Ritinha”. Logo pela manhã, e ao chegar na casa dela, ficou surpresa: a avó estava como sempre, com a casa aberta, bem arrumada, e tomando seu café da manhã. Juciane diz que questionou a avó, se estava se sentindo bem, e a resposta dela foi: “Tô, né? As pessoas vão, mas a gente fica e a vida continua”. A força de Dona Ritinha se estende sobre quem a rodeia. Conselheira dos netos e bisnetos, até os vizinhos e amigos, que frequentam sua casa, pedem a orientação da aposentada ao passarem por momentos difíceis. Ela sempre oferece uma palavra, um abraço, e até um benzimento para acalmar os corações aflitos. Aliás, Dona Ritinha tem benzimento para quase tudo, desde doenças graves até casamentos. Dona Ritinha não gosta de festas de aniversários e casamentos, por se emocionar com facilidade. Mas não esquece de nenhum aniversário de filho, neto ou bisneto, e sempre leva uma lembrancinha. Ela diz ter uma saúde de ferro. Reclama de uma dorzinha nas costas, mas não é coluna, ela diz. Caiu de um degrau que separa a cozinha da sala e deu um mal jeito. “Mas logo vai passar”. Ela atribui a boa saúde à alimentação do corpo e da alma. “Benzer as pessoas é alimento para a alma”. E assegura que, enquanto tiver saúde, vai continuar. Garante viver ainda por muitos anos. PJ Texto e Foto| Amanda Fumegali


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De repente, tudo para e muda para sempre Deterioração de funções na linguagem impede que as vítimas de AVE se comuniquem normalmente Itajaí - Ele abre a porta para as mulheres. Um legítimo cavalheiro. Exemplo para os mais novos e mais velhos, aos 58 anos, faz questão de mostrar sua força de vontade e amor incondicional pela esposa e pelos dois filhos. Outro tem 65 anos é pai e trabalhador. Já ela é solteira, cozinha e limpa. Aos 39 anos, é quem manda na casa dos pais e irmãos. O avô de duas crianças tem 63 anos, aposentadoria com cara de férias. Essas são histórias completamente distintas, pessoas diferentes. Sentimentos diversos. Dificuldades i-guais. Não que uma coisa complete a outra, ou que essas pessoas se conheçam, mas a vida lhes reservou uma mesma surpresa. Julci Mara Zalusti é um caso. Profissionais de diversas áreas discutem a causa de suas dificuldades. Com Mario Tolentino de Souza e Luiz Humberto Luthern, aconteceu de repente. Já para Os-


De repente, tudo para e muda para sempre mar, foi por conta do esquecimento mesmo. Mario teve um desmaio e, por teimosia, não quis ir ao hospital. No dia seguinte, acordou com o corpo paralisado. A queda no bom colesterol e a elevação do ruim causaram em Luiz um Acidente Vascular Encefálico, popularmente chamado de derrame. A falta de remédios, deixados de lado, fez Osmar sofrer dois derrames em sequência. Julci passou por inúmeros exames incapazes de detectar acidentes neurológicos. A Afasia é um problema que geralmente sucede um AVE ou um aneurisma. Uma deterioração nas funções da linguagem que impede a pessoa de se comunicar normalmente. Um afásico não tem exatamente a mesma dificuldade do outro. Existem diversas formas de a

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Afasia se manifestar. Entre as mais comuns está a dificuldade de nomear objetos e pessoas. Na mente, o afásico sabe muito bem que bola é bola. Mas o caminho que a palavra faz do cérebro à boca fica conturbado. As letras se misturam, os acentos se perdem e bola se transforma num emaranhado sem fim. Durante anos, as pessoas constroem planos, almejam sonhos, estudam, amam e constituem uma família. Estabilizam-se em um emprego, ou simplesmente vivem suas vidas normalmente. Quem se atreve a mexer na felicidade alheia e faz com que alguém, bem aventurado, se veja sozinho em meio à multidão? A Afasia. Luiz, após o AVE, ficou cinco dias em coma. Depois, percebeu que falar já não era tão simples. “A dificul-


34 Palavra de Jornalista dade é grande, mas eu tô falando. Tem gente que não fala, né? Mas eu tô legal”. Emocionado, ele conta que, passando de um médico para o outro, encontrou seu chará, Dr. Luis Antonio Flores. “Ele me ajudou muito. Graças a Deus, consegui ficar vivo. Tô assim, né? Tô vivo, lutando, trabalhando”. Além da Afasia, Luiz teve também a hemiplegia como sequela do AVE. Ao seu lado Vera Lúcia, fiel companheira que, na doença e na luta, para reconquistar a autoestima do marido, segue firme. Lágrimas escorrem no rosto dela, quando ouve o esposo dizer, em meio a soluços e meias palavras, que o filho e a família foram

essenciais nos momentos mais difíceis. Antes de ser interrompido por Dona Vera, preocupada em não fazer o marido relembrar do que viveu em março de 2010, Luiz afirma que faz tudo sozinho. “Eu tenho que trabalhar. Porque se eu parar, eu vou cair. Tem que trabalhar, tem que fazer tudo. Eu troco de roupa sozinho, eu faço tudo sozinho”. Osmar viveu três dias no absoluto silêncio, mesmo pensando em tudo que queria dizer. Comerciante de Itajaí, ele é proprietário de uma loja de material de construções. Vivia para a loja. Os primeiros sintomas apareceram no momento em que conversava com o irmão na porta do estabelecimento. Foi em meados de 2010. Ele acredita que a principal causa foi o esquecimento dos remédios para a pressão. “Faz um ano e dois meses. Esquecimento de remédios. Ele tava conversando com o irmão e, na conversa, o irmão dele viu ele entortando a boca. Aí, chamou o meu filho e já correu pro hospital. No Marieta. Mas o Marieta não atendeu na hora. Aí, foram pra Balneário, no Hospital do Coração. Daqui até Balneário, deu dois. Não falava mais. Três dias. Mas conseguia apertar a mão. Não falava nada. Aí, começou na fono, em sequência. “As pessoas não sabem. Eu fui fazer exame da carteira e cheguei lá, e eu não conseguia. E eles não entendiam. Aí mandaram pra outro médico. Aí, assinou a carteira como se tivesse deficiência na visão”. Os netos são pequenininhos, de 1 ano e 2 anos. A menina fala


De repente, tudo para e muda para sempre bem e o menino também. Até eles ajudam. Julci cresceu daquele jeito, quie-tinha, contida. A Afasia nasceu com ela, sem explicação, sem cau-

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sa, sem cura, mas com melhorias. “Eu já atendo até o telefone,” diz ela, radiante. PJ Texto e Fotos| Tairine Maiara Trainotti Marcela Amaral Viecelli

“Meu nome com é Ma a Re rio g ina, Enge Tole nhar p a ntin i ia E d e o de létr dois No d Souz ica. i f a ilho a, t fiqu 17 d T r s enho a , ei s e no balh Tiag e v 58 a a m e v dois o m a a b e Da ndar nos, ro d na C mese , n e E sou i L el. s. N ESC sem 2003 mese casa e d S , f sses s, j e o alar u s do I ofri taja form á co dois e por í a u s mece . d m e o m seis m eses derr em reco i a , pr mese ame. nhec me v Desd e s c . C e i i o r sava rar Sem mo s e o meus a fr sozi fala eque de a iníc fami eqüe n r la, j h i , u o o d l . , p a n i o t a r ma Na c grup para faço ar o res i o, o a s p t d fono grup or udo. eira ou m utra se r o de e fi Em t enos de r s pe eúne r s o c ê n io. das, ssoa onve s ove m pa trab s, q rsaç A pa mese fiqu ra j alha ã u r s e o e o t . i gar ir d r co tamb para memó domi e 20 ém t m nú afás ria n 04, i ó m v , i e e e c r r b tros o o c a come a s s ompr m al ralh da U e le . cei eens o g , u n t m i r r v as. ão d ecor dano ali. Atua T t e a ar n neur No mbém lmen metá otíc ológ dido te, fora faze ias ico, s, p pela nas mos de j alav quin soci ativ espo orna ras tasação idad sa d l, cruz feir . O es p o Sr e Re a a a n . Am das, s, n ra a ome gião aro. os r ). L dela entr outr euni á di Esta e ou é AA as a mos m s os t cuti tivi fas e m m e d Ness (Ass os a ntan ades um e a o d s . ciaç o co sunt spaç sema espe ão d os b nstr o ce na, cial e u u n i r o . r o A sába crát expl fási Vamo u ma a do, icos icar cos s fa s dia , co zer de I para 5, p mo o uma taja a po e l A í e a ç pula stat ão S manh ção u ocia ã Gost t , o o tere e l pa amos que mos ra d você é a muit u i m v . Ag a a u o fasi lgar ativ de r ora a. idad a as eceb espe e s e o ramo r su c i ação s su a ca e a rta. Um a resp braç osta cont o do ando e, q grup uem um p o AA sabe ouco fas. , um sobr ” a vi e sita .


Experiência de

vida

Depois de perderem entes queridos em acidentes na BR-470, famílias ensinam a conviver com a rodovia Blumenau - Às 06h15min, o ônibus da linha Joinville-Lages parte da Rodoviária Prefeito Hercílio Deeke, em Blumenau. Devido ao cansaço, a família Moreira acorda às sete horas e perde o horário. É sexta-feira e Giliard Martinelli Moreira está feliz, pois fez cinco anos, e vai visitar os avós, no Planalto Serrano, junto com o pai. Durante o café da manhã, Giliard conta aos pais, Gilmar e Viviane, que sonhou com ET’s e helicópteros. Como tinham perdido o ônibus das 06h15min, resolvem pegar o próximo, às 08h30min. Giliard veste calça jeans comprida, blusa pólo azul listrada e camiseta vermelha. Calçava tênis marrom, “que acendia luzinha”. Ao entrar no ônibus, o menino olha

para a mãe e diz: - Não vai chorar, mãezinha. O Gi te ama. Logo após a saída do ônibus, Viviane vai para o trabalho. Mas nem consegue chegar ao local. Tem uma crise de choro. Às 09h30min, em sua própria facção, ouve o som do plantão da TV e sente algo estranho. O repórter informa que uma carreta colidiu com um ônibus no Km 107,6, entre Ascurra e Apiúna: 29 feridos e nove mortos. Inclusive Giliard, que dormia na quinta fileira, segurando o Homem Aranha. Hoje, com 37 anos, Viviane tenta se acostumar com a perda. Separada do marido, conheceu João Carlos, a quem deve todo o amparo. A princípio não queria mais ser mãe, mas, há


Experiência de vida quatro anos, teve Gabriel. - Toda vez que perguntamos para o Gabriel, onde está o mano Gi, ele responde que está no Papai do céu, cuidando de nós. Nove anos se passaram desde o acidente, que matou Giliard e ou-tras 28 pessoas. Nada foi feito na BR-470. O trajeto entre Ascurra e Apiúna não é o mais perigoso. Conforme a Polícia Rodoviária Federal (PRF), esse trecho é relativamente tranqüilo, apesar das curvas perigosas. Jorge Lacerda é mais segura Todos os dias, às 22h15min, ele encosta o micro-ônibus em frente ao ponto da Biblioteca Central, na Avenida Abrahão João Francisco. Aproximadamente 30 jovens esperam o veículo, após um dia exaustivo de trabalho e estudo. Quando a “gurizada” entra, ele conversa com cada um, soltando uma tirada à medida que percorre o corredor do veículo. Após 12 anos trabalhando pela Guarda Municipal de Trânsito, Paulo Wencelau Abreu se aposentou. A experiência de um ano e meio, como caminhoneiro, ajudou na escolha da futura profissão. Resolveu, então, atuar no transporte escolar e de turismo para não ficar parado: “Era a única coisa que sabia fazer”. Desde 1999, trafega pela Rodovia Jorge Lacerda para transportar os estudantes de Blumenau até a Univali, em Itajaí. Para o senhor de 56 anos, a SC470 é mais fiscalizada e iluminada. “Na BR, existem apenas dois postos da polícia: um, em Blumenau, e outro, em Rio do Sul. Aqui, eu me sinto mais seguro”.

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Magno Andrade, superintendente do Deinfra em Blumenau, confirma que a SC-470 é bastante fiscalizada nos 40 quilômetros de extensão. “A vigilância é constante e um dos motivos é que a Polícia Rodoviária Estadual (PRE) possui um pequeno trecho para cuidar”. De acordo com Magno, o baixo número de vítimas se deve à iluminação pública em toda a via. Outro fator é a passagem interna em Gaspar e Ilhota. “Se mantém bem cuidada com drenagens, placas e jardinagem”. Sobre os problemas da BR-470, Paulo Abreu elenca dois como principais: a imprudência do motorista e a pista simples, com movimento intenso. Mas não defende a SC: “Toda vida, ali, na Ilhota, tem saliências. Eles arrumam e nunca sai certo. Pelo imposto que pagamos, isso aqui deveria ser um tapete”. Magno Andrade explica que, pela BR, passa mais o transporte de carga. “Na SC, o motorista, que trafega, é aquele que passeia, vai para o litoral”. Enquanto isso, Paulo Abreu percorre atento a rápida BR-101, antes de adentrar nos 40 quilômetros da Rodovia Jorge Lacerda. Deixa todos os passageiros em suas respectivas residências e retorna para casa. Já passam 30 minutos do dia seguinte, e o motorista dorme com um sentimento de vitória: “Fiz o que precisava ser feito. Cumpri com a minha promessa”. PJ

Texto| Felipe Adam Fotos| http://migre.me/818AG http://migre.me/818OV


Vida após a morte Os cadáveres, recém-chegados aos laboratórios de anatomia, iniciam uma nova e longa jornada Itajaí - Alguns dizem que ele era um marginal condenado à morte. A verdadeira identidade do cidadão pouco importa para os alunos que assistem, atentos, aos ensinamentos do professor. Os sete estudantes, homens, aproximam-se ao máximo do braço esquerdo dissecado do cadáver, que está deitado sobre a mesa de madeira. Eles parecem espectadores deslumbrados no meio de um espetáculo. A sala é pouco iluminada. As luzes concentram-se ao longo da extensão do corpo, destacando os elementos mais importantes da cena. A realidade pintada por Rembrandt Harmenszoon van Rijn no quadro “A lição de anatomia do Dr Tulp”, de 1632, é diferente da presenciada atualmente. As salas de anatomia da Universidade do Vale do

Itajaí (Univali), em Itajaí, são claras e bem iluminadas, por diversas lâmpadas fluorescentes. Já o interesse dos alunos do curso de Fisioterapia, que se enfileiram entre os corpos para acompanhar a explicação do professor, não difere muito do representado por Rembrandt. O mestre usa o power point como recurso para expor a teoria, antes dos acadêmicos começarem a prática com os próprios cadáveres. Esfenóide é um deles. Seu nome não pôde ser revelado, apenas o último destino de seu corpo: o forno crematório. Cremar é um sinal de respeito com o corpo, ou parte dele, que passou por uma longa jornada nos laboratórios de anatomia e auxiliou os estudos de acadêmicos das mais diversas áreas da saúde. Eles ficam, em média, de quatro a seis anos na


Vida após a morte Universidade, apesar da Univali contar com corpos que estão há 15 ou 20 anos no centro. O que determina o tempo de utilização dos corpos é a forma como eles são manuseados pelos alunos. Quem acompanha o percurso de Esfenóide, e de diversos outros que chegam à Universidade, é o biólogo e técnico em Anatomia Fábio Aureliano Rafael. Enquanto explica sobre a conservação dos mortos, o método de ensino e a estrutura dos laboratórios de Anatomia ele manuseia despreocupadamente os pulmões de um dos corpos, depois encaixa o órgão em seu devido lugar, com a prática de quem, aos 41 anos, trabalha desde 1996 na Univali. Nesse período, uma média de 250 corpos já passaram pelas suas mãos, sem contar os fetos, em torno de 150. Esfenóide ainda é objeto de estudo e está conservado numa solução à base de glicerina. Ao contrário do formol, a glicerina não é cancerígena, evita a desidratação e o desenvolvimento de colônia de fungos, além de exalar um aroma menos desconfortável. Os alunos, que participaram da sua dissecação, foram os dos cursos de Medicina e Odontologia, sob a supervisão de professores e monitores. Reinaldo Oliveira do Nascimento, 24 anos, cursa Medicina e comenta que a aula de Anatomia é a primeira vivência dos estudantes com o corpo humano. Os alunos participam do processo de dissecação a partir do segundo período. “A dissecação, nós consideramos, como uma anatomia cirúrgica, porque pegamos um corpo íntegro, que nunca foi utilizado,

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cortado, e, com um bisturi, vamos conhe-cendo as camadas do nosso corpo, como pele, gordura, aponeurose, músculos, até chegarmos às cavidades, onde estão os órgãos”. A “Oração ao cadáver desconhecido” é uma das mais conhecidas na área da saúde e simboliza o respeito que estudantes e profissionais devem ter com o corpo em estudo. Nas salas de Anatomia, sempre há algum símbolo religioso como um crucifixo, ou uma oração num quadro. Apesar de não haver um ritual específico, os alunos aprendem a respeitar os cadáveres, já que são fontes para aprimorar suas habilidades profissionais. A chegada de Esfenóide à Universidade ocorreu da seguinte maneira. Ele morreu e foi levado para o Instituto Geral de Perícia (IGP), onde ficou entre 15 a 20 dias para reconhecimento. Um carro especial o trouxe até a instituição. Alguns de seus companheiros vieram do hospital Marieta Konder Bornhausen, em Itajaí. Para ser utilizado pelos profissionais, o corpo costuma levar entre 24 e 48 horas para ser descongelado. Quando finalmente atinge o descongelamento, ele está pronto para outro processo. Totalmente sem vida e expressão, Esfenóide é fotografado com e sem vestes para um futuro reconhecimento. Ele recebe um acesso na região inguinal (área pertencente à virilha), pegam-lhe a artéria femoral (responsável pela irrigação da maior parte da musculatura da coxa, por meio de seus ramos) e nela é injetada uma solução de formol, num total de 20 litros. Para identificar, sem


40 Palavra de Jornalista erro, seu corpo ganha seis etiquetas (duas nas orelhas, duas nos polegares e duas nos dedões do pé). Depois de tantas atividades, parte para a etapa mais solitária: fica armazenado dentro de um tanque de formol por mais de dois anos. Durante este tempo, ninguém pode tocá-lo, por medida de segurança, caso alguém venha a reconhecê-lo. Após esse período de provação, Esfenóide é retirado do formol, para onde nunca voltará. Ele está numa nova fase. Pronto para ser dissecado e estudado. Apesar disso, ele nunca se torna propriedade da Universidade. Se algum parente vier buscá-lo, ele pode ir embora do Campus, e a qualquer momento. Esfenóide é, na verdade, parte de alguns números. Provavelmente

um dos cadáveres de andarilhos do sexo masculino, com idade média entre 25 e 30 anos, que chegam ao Campus. Também faz parte da média de 14 cadáveres masculinos para cada cadáver feminino. Há também os companheiros de Esfenóide, que não chegam com tanta frequência. Quatro ou cinco por ano. Geralmente de idade mais elevada, doados pela família. Ele será estudado por inteiro enquanto for possível. Depois, as partes de seu corpo poderão ser analisadas separadamente. Sendo fonte de conhecimento para alunos tão atentos quanto os do Dr. Tulp, e tendo a certeza que ainda será muito útil, antes de virar cinzas. PJ Texto| Alan Vignole Rodrigo Ramos da Silva Fotos| Alan Vignole http://migre.me/818Yz


À procura da

companhia

perfeita

A relação do homem com o animal existe há milhões de anos e se estreita cada vez mais Balneário Camboriú - Morava sozinha até adotar três filhos de quatro patas. Os gatinhos, há anos, dividem o mesmo apartamento de Tania Henicka, de 45 anos. “Desde criança, gosto de gatos. É uma relação de amizade, respeito profundo pelo jeito de ser que cada um tem. Melhora a vida deles, através da adoção, e vira uma companhia que anima meu dia a dia.” Além de contar a relação com esses filhotes de sete quilos, ela recorda do primeiro encontro. “O Fredi busquei na casa de uma senhora. Ela encontrou a ninhada de filhotes abandonados na rua e os levou para sua casa. Em seguida, colocou um

anúncio no pet-shop e, ao ler o cartaz, fui buscá-lo. Já Zequinha foi um acaso. Tenho costume de ir ao Viva Bicho, pra fazer doação. Mas teve um dia que tudo mudou, foi quando eu e Zequinha nos escolhemos. E, por fim, Sofia, que conheci assim que nasceu, filhote da gata do meu irmão”. Fiel amiga dos animais, Tania adotou três gatos não só pelo “amor à primeira vista”. Foi também pensando em fazer companhia um ao outro, principalmente quando a dona não sai de casa. A veterinária Simone Aleixo explica que essa relação faz bem tanto para a saúde humana como para


42 Palavra de Jornalista a saúde animal. “Como ser humano, temos o instinto de cuidar e cativar todos à nossa volta. A relação do homem com o animal existe há milhões de anos e se aproxima cada vez mais no decorrer dos anos. A amizade é extremamente pura, porque o ser humano oferece todo seu afeto e o animal retribui com carinho, sem interesse ou algo a mais.” Ao manter uma boa relação, os animais domésticos ganham um padrão de vida melhor e longevidade.

O psicólogo Eduardo José Legal esclarece que os animais são seres que precisam de cuidado e carinho, motivadores para as pessoas se apegarem a eles. Com estes cuidados, tornam-se dependentes de seus cuidadores, o que pode impedir deles desenvolverem algumas características peculiares do grupo ao qual pertencem. “Eles acabam se parecendo, em parte, ao seu cuidador e podem sofrer por isso também. Como desenvolver sintomas de estresse e


ansiedade, por exemplo”. Além disso, o professor ressalta que alguns animais podem ter problemas “comportamentais”. Os gatos têm problemas com convivência social, precisam de locais tranquilos para dormir de dia. São animais de hábitos noturnos. Também os cães podem passar a marcar território com urina, esfregar-se e latir para demarcar sua área de segurança. Eduardo afirma que os melhores animais para estimação, além de gatos e cachorros, são os hâmsteres, gerbilos, coelhos e, até mesmo, ratos albinos. “Desde que tratados com os devidos cuidados, eles podem ser excelentes animais de estimação e uma rica fonte de aprendizagem sobre o mundo natural, ética e finitude da vida.“ Animais em apartamento Algumas pessoas dão-se conta, outras não. Realmente, criar animais em apartamento parece ser uma coisa ruim, principalmente para os animais. Como diz o velho ditado, “nem tudo o que parece ser, é”. Tânia mora em apartamento na cidade de Balneário Camboriú, antes mesmo de adotar os gatos. “Pra mim, é natural

tê-los em casa. Afinal, eduquei eles desde filhotes e não me arrependo”. A doutora Simone afirma que, hoje em dia, é grande o número de pessoas que criam animais domésticos em apartamento. “Eles não se estressam. O comportamento deles para conosco é sempre de positividade. Acontece, às vezes, de o animal não ser tão apegado ao dono. Mas, quando este passa por alguma dificuldade ou angústia, o animal absorve esses sentimentos. Muitos apresentam quadros de vômito, diarréia e até automobilização”. Além da saúde animal, ela explica alguns dos pontos positivos para se criar um animal de estimação, independente da moradia. Como, por exemplo, a terapia, em que o animal pode ajudar em casos de pessoas autistas, com síndromes, perda de ente querido, e até em determinados distúrbios mentais. “Na verdade, não importa o animal e o ambiente em que vai criá-lo. O importante é saber desfrutar da companhia e cuidar, ao máximo, desses seres que são maravilhosos”. PJ

Texto e Fotos| Tamiris Sibele Schlegel


Luiz Corredor: bem estar fĂ­sico e mental aos 63 anos de idade


Luiz Corredor Balneário Camboriú - O par de tênis laranja, tecido fino, número 37, não dura mais do que três meses nos pés de João Luiz Ramos Filho. João Luiz do quê? Nem mesmo ele lembra que esse é o seu nome de batismo. Se chamá-lo de Luiz Corredor, ele atende. Aliás, o apelido não é por acaso. Todos os dias, às 6h, corre cerca de 20 quilômetros pela Rodovia Interpraias, em Balneário Camboriú. “É o seguinte. Certa noite, Deus conversou comigo e disse para eu parar de fumar e começar a correr”. E foi assim que virou maratonista. Na primeira prova, Luiz correu 18 quilômetros. No dia seguinte, não conseguia nem mesmo levantar da cama, mas resolveu continuar. João Luiz tem 63 anos, nasceu em Itajaí e há 40 mora na praia do Estaleiro, em Balneário Camboriú. A paixão pela corrida nasceu há, mais ou menos, 30 anos. Atualmente, além de correr, trabalha como chacreiro e vigia”. Cinco e meia da manhã, eu acordo. Arrumo meu tênis e saio de casa. Me aqueço, atravesso a Interpraias até o teleférico, volto para casa, tomo um banho, capino a

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chácara e, à noite, trabalho de vigia. Por isso, digo: sou um herói”. Durante esse tempo de esporte, Luiz realizou muitas façanhas, como por exemplo, correr 19 quilômetros de costas. Ele solicitou o auxílio da Polícia para acompanhá-lo no trajeto, mas o tenente de plantão não acreditou na estória até ver com os próprios olhos. “Eles disseram que eu ia ter um infarto se corresse de costas. Então, passei correndo de frente pelo batalhão e, depois de três horas, estava de volta”. Prestes a completar 64 anos de idade, ele participa, pela quinta, e última vez, da Corrida de São Silvestre, no dia 30 de dezembro, em São Pau-


46 Palavra de Jornalista lo. Em 2010, o maratonista Marílson Gomes dos Santos venceu a prova com 44m07. Luiz completou com 1h09. “Tu imaginas o vencedor com 28 anos, faz esse tempo e eu demoro meia hora a mais com 63 anos. Eu que deveria ganhar a me-dalha”, brinca Luiz. “Ih, é bom não falar nada disso para a Maria, ela não gosta que eu corra”. A mulher de Luiz, Maria Pereira, sofreu uma trombose há, mais ou menos, dois anos e, desde então, ela controla os horários do marido para que passe mais tempo em casa. Algo impossível para ele, pois a corrida faz parte da rotina do maratonista. “O Luiz já é velho! Daqui a pouco, ele aparece com algum problema de saúde de tanto que corre. Eu até já tentei avisar, mas fazer o quê se ninguém segura aquele homem”. A saúde do atleta Quem acompanha Luiz é o doutor Nilceu Rocha Loures, diretor do Hospital Santo Antônio de Blumenau, e especialista na área cardiovascular. Há oito anos, Luiz trabalha de cha-

creiro na casa de veraneio dele. E o médico acompanha a saúde do atleta. “Luiz tem o esporte como um vício. Eu o conheci correndo e, hoje, comparando com outros pacientes, tenho certeza de que a corrida o tornou uma pessoa muito melhor”. Para se manter saudável, a alimentação é um dos principais quesitos. Além de tomar um litro e meio de água por dia, pela manhã Luiz come metade de um mamão e duas fatias de pão com mel. Ao meio-dia, duas folhas de alface, algumas fatias de tomate e cebola e frango grelhado. À tarde, Maria prepara um café com pão de casa para o atleta. E, à noite, ele come duas maças, ou uma laranja antes de ir para o trabalho de vigia. A dieta do maratonista não tem acompanhamento de nutricionista. A comida simples e caseira da esposa, mais o esporte físico que pratica diariamente, tornam Luiz um exemplo de juventude aos 63 anos. PJ Texto| Ana Carolina Maykot Fotos| Diogo S. Campos


Histórias de luta e conquista

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Histórias de luta e conquista Pessoas buscam trabalho autônomo para garantir maior estabilidade financeira Porto Belo - Ela sai de casa às 8 da manhã e trabalha até uma da tarde, de terça a sábado. É diarista. Tem registro na carteira, salário fixo por mês e uma história de luta por uma vida melhor para ela e o filho. Dos 39 anos de Lourdete Aparecida Vanelli, os últimos sete foram de rotina pesada. A jornada de trabalho não acaba às 13h. Durante a tarde, Dete escorrega para a estatística de trabalhadores autônomos no Brasil. Segundo o IBGE, são 28,2% de empregados sem carteira assinada. A Lei Federal n° 8.212/91 considera trabalhador autônomo a pessoa física que exerce função, com ou sem fins lucrativos, por conta própria. Este tipo de trabalhador não possui direitos como 13° salário, FGTS, férias, dentre outros benefícios.


48 Palavra de Jornalista Há sete anos, o casamento de Dete acabou. A família, por alguns anos, manteve uma peixaria na frente da casa, onde moravam. Com a separação, veio a responsabilidade de administrar tudo sozinha. Ela entra, assim, para mais uma estatística brasileira. No ano 2000, o IBGE apontou que 24,9% dos lares no Brasil são comandados por mulheres. O salário do emprego regular não é suficiente. Alugou a casa e foram morar na antiga peixaria. Alguns ajustes aqui, uma parede ali e tudo se ajeitou, mas o lugar estava longe de ser o que queria. O trabalho, no horário oposto ao da carteira assinada, foi o recurso para se aproximar da tão sonhada vida estável. Dete tira o pó da estante da sala, numa das casas, enquanto conta um pouco de sua história. -Limpo cinco casas fixas por semana. Fora aquela em que trabalho com carteira assinada. Eu sei direitinho quanto gastei na reforma da minha casa. Foram R$ 31,300. Paguei o valor em dois anos, graças ao di-nheiro das faxinas. A casa é mais alta (para não correr o risco de enchentes), ganhou telhado novo, janelas, portas e até reboco, que antes não tinha. Vida de trabalhadora autônoma não é fácil, mas traz benefícios. Lourdete paga escola particular para o filho. “Gasto em torno de R$ 650,00 por mês com o estudo dele, entre mensalidades, transporte e despesas extras. É uma garantia para o futuro”. Em 2009, Dete terminou o ensino médio, no Eja, Educação para Jovens e Adultos. Em 2008, viajou para Porto Seguro, na Bahia, com as ami-

gas. Agora, a casa está, mais uma vez, em reforma: a sala será conjugada à cozinha e a porta ganhará detalhe em vidro. Ainda há muito o que conquistar. Diferente de diaristas e profissionais braçais, há aqueles que passam as noites em claro, levando diversão para as casas noturnas. São os Deejay’s, que nem sempre são vistos como trabalhadores autônomos. Jessé Augusto Varela, 28 anos, trabalha como Dj profissionalmente há dez anos. -Venho de uma família de músicos. Meu pai era instrumentista e tinha uma empresa que locava sonorização para eventos. Eu o acompanhava e, assim, fui me envolvendo. Eu ficava do lado dos Djs, observando detalhes e fazendo perguntas. Segundo o Dj, tudo o que possui vem do trabalho autônomo. Com o dinheiro que ganha, paga contas e vive normalmente. Aos 16 anos, Jessé tocava em festinhas na escola e em casas de amigos, em Balneário Camboriú, cidade onde morava. A renda mensal varia entre R$ 800,00 e R$ 1700,00. “Não é fácil viver sem salário fixo. Não trabalho em uma empresa fechada, mas tenho deveres e obrigações iguais”. É o trabalhador autônomo quem decide como e quando prestará o serviço. Tendo liberdade, inclusive, para compor seus preços, mas de acordo com o mercado. -Responsabilidade é fundamental para se destacar como um bom profissional. Nessa área, nada é garantido. Tenho que fazer acontecer: pesquisar, estudar, treinar, gravar e divulgar. É trabalho!


Histórias de luta e conquista Aposentadoria Todo trabalhador que exerce atividade remunerada, e não possui registro na Carteira de Trabalho, deve contribuir para a Previdência Social. É uma forma de garantir acesso aos benefícios e serviços oferecidos pelo INSS. Izaul Neves Guerreiro, 85 anos, trabalhou boa parte da vida como jardineiro em casas de família. Com o dinheiro do trabalho autônomo, criou cinco filhos. A aposentadoria só chegou aos 65 anos. Ele pagou 30 anos de INSS e hoje ganha R$ 540,00 por mês. Dez anos antes de se aposentar, Izaul decidiu abrir negócio próprio. A “Casa das Empadas” tornou-se uma lanchonete conhecida na região. Foi com o dinheiro das em-

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padas que se estabilizou. “A aposentadoria não dá para quase nada. Não pagaria nem a farmácia”. Com o que recebe do governo, fica difícil pagar contas, alimentação, roupas e principalmente remédios. Izaul gasta bastante com sua esposa, com quem está casado há 55 anos. -O INSS é uma garantia do autônomo. É o que o sustenta depois que não puder mais trabalhar. A previdência social é importante principalmente para quem não tem registro em carteira. Pagar INSS é ter a certeza que conseguirá se aposentar sem que haja problemas. Ainda assim, corre-se o risco de complicações. PJ Texto e Fotos| Ana Maria Cordeiro


À procura de emprego e qualidade de vida

Metade dos trabalhadores na construção civil de Balneário Camboriú, Camboriú e Itapema vive na informalidade Balneário Camboriú - Depois de 20 horas de viagem de ônibus, 1.513 quilômetros de estrada entre Chuí, cidade do extremo sul do país, e Londrina, no Paraná, o uruguaio Marcelo Cejas Nuñes, 37 anos, começa a peregrinação. Destino final: Curitiba. Cidade onde um conterrâneo lhe promete uma vaga de açogueiro. Na perspectiva de conseguir um bom emprego, Nuñes tem que continuar o caminho a pé, pois não conta com o acaso. Caminhando pela rodovia em direção à capital, Nuñes se surpreende

com um barranco que não enxerga na escuridão da noite. A queda rende alguns hematomas e a perda de documentos pessoais. Ainda assim, ele persiste. São 388 quilômetros, somente neste percurso. Na cidade, ele tem certeza de que não pode trabalhar sem a documentação, principalmente sendo estrangeiro. A saída seria retornar a Chuí, refazer os documentos e, quem sabe, retornar. Porém, ainda faltam 12 dias de caminhada até a fronteira sul do país. Vinte e cinco dias e 2.213 quilômetros percorridos, com paradas


À procura de emprego e qualidade de vida em Curitiba e Guaratuba, no Paraná, Nuñes acaba em Balneário Camboriú. Depois de cinco dias dormindo nas ruas da cidade litorânea, é acolhido pela equipe do Resgate Social, um programa de acolhimento de migrantes e moradores de rua da Secretaria de Desenvolvimento e Inclusão Social do município. Resgate Social Os migrantes acolhidos na cidade são levados à Casa de Passagem para se alimentar, fazer a higiene pessoal, e passar, no máximo, duas noites no local. Após esta etapa, são encami-nhados para as cidades de origem. Nuñes é um dos 15 atendidos na estatística mensal do programa na baixa temporada. Já no verão, este número aumenta para 20 atendimentos por dia. O diretor do Resgate Social, Paulo Roberto de Souza, conta que os abrigados costumam relatar a mesma história. “Vim à procura de emprego, fui roubado e acabei na rua”. Explicações nada convincentes. O diretor conhece a realidade das ruas. Ele próprio já foi acolhido pelo programa, há alguns anos, sofreu e apanhou. Após dar a volta por cima, foi convidado a reverter a situação da cidade, hoje reconhecida em diferentes estados

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brasileiros pela eficácia do serviço social. Desde 2009, foram mais de cinco mil atendimentos. “Balneário Camboriú é um atrativo”, afirma Souza. A maioria dos atendidos pelo programa são pessoas que buscam diversão, e acabam na dependência química ou prostituição. Entretanto, a missão do programa é acolher e não investigar a vida do migrante. Nuñes não consegue passagem de volta para Chuí. Porém, através de um convênio do programa, ele trabalhará em uma empreiteira no município de Camboriú. Em dez dias, terá dinheiro para retornar a Chuí, até de avião, se preferir. Migrantes à procura de emprego Apesar do trabalho da Secretaria, e ao contrário do exemplo de Nuñes e de outros migrantes, muitos


52 Palavra de Jornalista conseguem emprego e se instalam na cidade. O coordenador do Sistema Municipal de Emprego (Sime), da Secretaria de Desenvolvimento e Inclusão Social, Luiz dos Santos, diz que, além da comunidade local, a maior parte das pessoas que procuram o serviço do Sime é do Rio Grande do Sul e do Paraná. “Os famosos aventureiros que vêm com a impressão errada da cidade”. Muitos vêm para o litoral com a ilusão de que aqui se tem qualidade de vida e emprego fácil. Emprego até tem, mas não há mão de obra qualificada. O Sime atende até 500 pessoas por mês, 60% provenientes de outros municípios e estados brasileiros, principalmente gaúchos, paranaenses e paulistas. Ainda 40% dos atendimentos são de pessoas com baixa renda e sem escolaridade. Outro problema, segundo Santos, é o aumento da procura na baixa temporada. O Sime recebe até 50 casos em um único dia no inverno. Contrução civil é atrativo Ao caminhar pela orla da praia central, por volta do meio dia e meia, é possível ver grupos de trabalhadores uniformizados descansando à beira-mar. Alguns cochilam sob a tenda de um quiosque de milho e churros fechado, outros se agrupam para conversar. Há ainda aqueles que aproveitam o horário de almoço para praticar o jogo argentino tejo, conhecido também como bocha argentina, no Pontal Norte. Everaldo Ferreira Lima, 25 anos, e o primo José de Souza dos Santos, 22 anos, são migrantes que vieram para ficar. Na região desde 5 de feverei-

ro de 2009, os alagoanos de Maceió vieram passar umas férias com o pai de José, morador de Navegantes. A visita resultou em uma estadia prolongada e na oportunidade do primeiro emprego de José, como armador no Porto de Itajaí. Há três meses em Balneário Camboriú, eles trabalham como serventes de pedreiro em uma conhecida construtora da cidade. Fazem parte dos mais de cinco mil trabalhadores formais do setor em Balneário Camboriú. Porém, este número é ainda maior. De acordo com o Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias da Construção e do Mobiliário de Balneário Camboriú, Camboriú e Itapema


À procura de emprego e qualidade de vida (Siticom-BC), mais de 50% dos trabalhadores estão na informalidade. Everaldo e José garantem que muitos dos colegas de trabalho são nordestinos. O atrativo é a oportunidade de emprego bem remunerado. Entretanto, segundo o Siticom, parte dos trabalhadores do setor é do interior dos estados do Sul do país. Os do Norte e Nordeste são trazidos ao Sul para obras grandes e rápidas, como a construção do Balneário Camboriú Shopping e do supermercado Big. Pelo menos é o que diz o vice-presidente do sindicato, Sanção Souza Ferreira. Morar no litoral pode ser vantajoso, mas o custo costuma ser alto.

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Além da saudade da família, o próprio custo de vida na cidade, se comparado com municípios do interior, é elevado. Por isso, José e Everaldo admitem ser praticamente impossível montar um negócio aqui. “Lá é bom também, mas, aqui, o salário é melhor. Dá para juntar dinheiro, voltar e montar um negócio lá”, conta José. Enquanto isso não acontece, José e Everaldo retornam a Alagoas no Natal, visitam amigos e familiares, e depois retornam. Ainda têm um ano de contrato para cumprir, e um ano de sossego à beira-mar, de segunda a sexta-feira, durante o intervalo do almoço. PJ Texto e Fotos| Karina da Cunha Pizzini


Mercado de luxo em Balneário Camboriú

Morar à beira-mar não é para quem quer, só para quem pode Balneário Camboriú - O que você faria se ganhasse na megassena? O último sorteio estimou um prêmio de R$ 2 milhões. Uau! Dois milhões só pra mim? Conseguiria trocar de carro, viajar para a Europa, pedir meu namorado em casamento e ainda realizar o sonho da casa própria. Quer dizer, não! Se esse sonho fosse na Av. Atlântica de Balneário Camboriú! Para comprar um apartamento à beira-mar de Balneário, precisaria ganhar duas vezes na megassena... Isso mesmo! A construção civil é a segunda maior fonte de receita de Balneário Camboriú, que tem os imóveis mais caros do Brasil. Para

ter uma ideia, a cidade tem o metro quadrado mais valorizado do país: média de R$ 5.710,45 o metro quadrado. Enquanto no Rio de Janeiro, é de R$ 5.473,00. A região, além de concentrar o maior número de Construtoras e Incorporadoras do país, tem moradores e investidores de alto poder aquisitivo, com “cacife” para bancar apartamentos de luxo que podem ir muito além dos R$ 8 milhões. Para a moradora Francinny Zimmermann, a valorização do seu apartamento também está ligada à qualidade de vida da cidade. Os atrativos, como a rede gastronômi-


ca, as opções de lazer e o comércio, ajudam a gostar de morar em Balneário. “Unidos à tecnologia, ao alto padrão de acabamento, ao espaço e ao conforto, resultam nos empreendimentos luxuosos e com preços altos que temos hoje em Balneário Camboriú”, completa o corretor de imóveis André Silva. De fato! Isso explica os investidores milionários, principalmente catarinenses, gaúchos e paulistas, que ganham um salário de, pelo menos, R$ 50 mil por mês. Alguém que ganha isso vai querer pouca grandeza? Não. Realmente. Os apartamentos não são qualquer coisa. Tem muito luxo! Amplo espaço privado com várias suítes, banheiras, salas, automação residencial. Botões que desligam o ar-condicionado, fecham as cortinas, acendem as luzes e podem ser acionados do celular. Sim! O morador pode estar na garagem e ligar a TV, apertando um botão do celular. Além de gigantes ambientes coletivos do prédio, como sauna, salões de festa, salas de cinema, playground, academia. É o caso do novo lançamento da construtora FG Procave: o Millennium Palace. Um edifício com um apartamento por andar, que inclui quatro suítes com hidromassagem panorâmica, quatro vagas de garagem, piscina privativa com vista para o mar, hall social e de serviço independentes, e outros espaços, que totalizam 587,63m². O edifício ainda não está pronto, será concluído em 2014 e já vale uma fortuna. Quatro milhões de reais foi o que o jogador de futsal Falcão pagou para garantir o seu andar. “É o somatório de profis-


56 Palavra de Jornalista sionais qualificados, constante busca por tecnologia e processos diferenciais que dão forma aos nossos projetos”, explica a Relações Públicas da Construtora, Francieli dos Santos. Estima-se que, quando o Millennium estiver pronto, um andar poderá valer R$ 10 milhões. Por que custa tão caro? Balneário Camboriú tem muita área nobre urbanizada e pouco espaço para novas obras. “A tendência é que não só esses preços altos permaneçam, mas que ainda evoluam, uma vez que a disponibilidade de terrenos está cada vez mais difícil, encarecendo as construções”, afirma o presidente do Sinduscon (Sindicato das Indústrias da Construção Civil) de Balneário Camboriú, Carlos Haacke. Uma explicação, já que as construtoras dificilmente tem seu próprio espaço para construir. Hoje na Av. Atlântica, um terreno, com cerca de dois mil metros quadra-

dos, vale R$ 80 milhões. Ainda para o presidente, os preços tendem a subir. “Para que isso não se concretize, só mudando a ‘lei da oferta e da procura’, e isto me parece impossível”. Pensando assim, fica mais fácil entender. Quase uma fórmula: preço do terreno + sauna, piscina, cinema, boate, sala de jogos, suítes, automação residencial + matéria-prima e mão de obra superior, etc, dividido por unidades exclusivas de apartamento = milhões por um andar. E isso sem somar a supervalorização do CUB (custo unitário básico – valor base para o metro quadrado de área construída) da região, que encarece o valor do imóvel. Ainda mais em Santa Catarina, onde o CUB cresceu 3,03% chegando a valer R$1.018,00, o maior do Brasil. Enfim... Morar na av. Atlântica não é pra quem quer, só pra quem pode! PJ Texto e Fotos| Tatiana H. Sandri da Silva

Brava Beach Em Itajaí, na divisa com Balneário Camboriú, a ousadia do empreendimento Brava Beach surpreende o mercado há um ano. Com área de 131.000m², o conjunto de seis condomínios residenciais e um hotel resort tem 15 opções de lazer: piscinas adulto e infantil, centro esportivo com campo de futebol society, ginásio poliesportivo e quadra de tênis, playground, brinquedoteca, cinema, centro de compras “Open Shopping”,

e opções de serviço como bar na piscina, atendimento gourmet, camareira e jardinagem, tecnologia de identificação por senhas e automação residencial. Os primeiros apartamentos prevêem áreas de 137m² a 301m². Se você quiser um desses, estão à venda a partir de R$ 500 mil, e a cobertura por R$ 6,2 milhões. As obras iniciaram em agosto de 2009 e dois residenciais serão entregues em setembro de 2014.


Moda

ao alcance

todos Blogs são uma tendência nos últimos anos. Deixam de ser diários de rotina e viram negócio Itajaí - Em apenas 12 segundos, o site de busca localiza mais de 700 milhões blogs de moda. Um bombardeio de informação e entretenimento. Cada um com seu estilo e público. Alguns são apenas para mulheres, outros para homens; muitos trabalham com moda jovem, enquanto outros falam de acessórios para gordinhos(as). Mas todos têm algo em comum: a simplicidade dos textos. É uma conversa, o que gera uma fidelidade por parte dos leitores. Os blogs sobre moda vêm como

tendência forte nos últimos anos. Deixaram de ser “diários de rotina” e viraram emprego de verdade. E não são só desconhecidos que entram nesse meio. Grandes empresas ou marcas do mundo da moda hoje utilizam essa ferramenta para, além de divulgar produtos, manter o público por dentro do que acontece no cenário da moda. Sâmia Michelin Locatelli, 27 anos, é designer de moda com especialização em gestão empresarial e professora da PUC de Curitiba. Ela acredita que a moda é a melhor for-


58 Palavra de Jornalista ma de comunicação “entre nós mesmos e o mundo”. Uma fonte inesgotável de mensagens subliminares e uma forma eficiente de expressão. “Concordo que a moda seja uma manifestação artística, mas, ao contrário da arte emoldurada ou esculpida, a moda caiu na banalização, se vulgarizou e marginalizou parte da sociedade. Então, vejo milhões de pessoas que deixam sua personalidade de lado para seguir um padrão inatingível para a grande parte da civilização”. A empresária fala sobre peças de roupas ou acessórios que custam muito mais do que casas e carros. A designer acredita na moda mais acessível, de uma moda para todos. “Moda para valorizar o que temos de melhor, esconder o que não temos de tão belo”. Ela vê a moda como um aproximador de gerações, bandeira de causas nobres e justas. E é exatamente isso que a moda vem se tornando: acessível para todos! Além de blogs de moda, que ajudam a divulgar tendências, exis-

tem programas de TV com quadros fixos, discutindo o assunto. Colunas de jornais e telenovelas são difusores de moda e popularizam as tendências, aproximando o tema da sociedade. Luiza de Souza está no quarto período da faculdade de moda. Ela acredita que o conceito de moda é composto de diversos estilos influenciados sob diversos aspectos. Para ela, a moda acompanha o vestuário e o tempo, e se integra ao simples uso das roupas no dia a dia. Uma forma passageira e, facilmente mutável, de se comportar e, sobretudo, de se vestir ou pentear. Ela conta que, na faculdade, se aprende a criar estilo. E os figurinistas utilizaram-se de cinco elementos básicos: a cor, a silhueta, o caimento, a textura e a harmonia. “Acho que moda hoje precisa muito de harmonia, uma combinação de tudo, o jeito da pessoa, o local, tudo. Acredito que a pessoa deve, em primeiro lugar, se sentir bem com o que está usando”.


Moda ao alcance de todos Luiza salienta que hoje está muito mais fácil acompanhar a moda no mundo. Os blogs são atualizados diariamente, trazem informações que, antes, as pessoas não recebiam. “Talvez esse seja um dos motivos do crescimento da moda e do seu conceito no mundo”, observa a estudante. Deboráh Caroline Klug Moreira, estudante de jornalismo, 21 anos, é uma das blogueiras de moda e investe na área. Com o blog “cadê meu blush?”, em parceria com outra colega de curso, pretende informar e entreter o público. O “cadê meu blush?” começou em agosto de 2011, está há apenas alguns meses no ar, e já conta com publicidade de algumas lojas da região do Vale e futuros parceiros. “Eu tinha um blog e minha amiga, outro. Como temos vários compromissos, ele não era levado a sério. Resolvemos juntar os dois e, assim, dividir as tarefas. Isso deixou o blog mais próximo das leitoras, pois, agora, respondemos e-mails, recados, trocamos dicas em redes sociais, tudo em muito menos tempo”. Para Deboráh, o melhor em trabalhar no blog é fazer o que gosta com uma amiga que também curte moda. Elas divertem-se escolhendo tema, fotos, produzindo montagens,

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fazendo pesquisa de moda e buscando sempre novidades. Investimentos A empresa Fato Básico, de Navegantes, aderiu à moda dos blogs desde 2010. São três funcionárias da empresa que atualizam o blog www.fatobasico.com.br/blog, e trazem informações sobre o mundo da moda, cultura, lazer e entretenimento. O objetivo, desde o princípio, não era divulgar peças da própria marca, mas manter os clientes informados sobre tendências. Outra grande empresa que investe no blog é a FARM, marca famosa de roupas, que ficou mais conhecida ainda pela delicadeza e pelos “mimos” que traz para as leitoras. O “Adoro FARM”, nome que o blog recebe, é atualizado diariamente e várias vezes. Informa às garotas antenadas na moda sobre tendências, estampas, cores, novidades da FARM, além de manter em dia notícias sobre o “mundo da moda”. Para deixar as leitoras mais fiéis ao blog, realizam sorteios, promoções e oferecem agrados que, só quem acompanha o blog, recebe descontos nos produtos das lojas. PJ Texto e Fotos| Gabriele Elene da Silva Heloísa Pena Paganelli


A família toda embarca nesta aventura cultural Agências de viagens do Brasil já oferecem intercâmbio familiar para vários países Navegantes - A saudade da família faz com que muitos intercambis-tas retornem para casa antes do previsto. Aqueles que tentam ficar longe dos pais, mas não conseguem, agora podem comemorar. Agências de viagens de todo o Brasil oferecem o intercâmbio familiar. Pais e filhos podem embarcar juntos para outros países e vivenciar a experiência do aprendizado, sem ter que sofrer com a ausência familiar. Para quem acha que essa é uma realidade distante e difícil, está enganado. Fabrício Gomes Bertoldo, consultor de viagens, garante que a procura pela novidade está aumen-

tando a cada dia. “Antes, eram duas opções de pacote. Hoje em dia, são mais de dez devido à grande procura. ’’ Isabela Zanini, de seis anos, já entrou para a escola de inglês. A família quer que ela tenha fluência no idioma, desde pequena, e sabe que a melhor maneira de praticar é ficando um tempo fora do país. Mas só de pensar em ficar longe da filha, Viviane Zanini se desespera: ‘’Não vai ser fácil nem quando ela crescer. ’’ Ela e o pai decidiram ir a uma agência de viagem perto de casa. Sem saber da nova alternativa, procuravam um lugar para passar as férias quando


A família toda embarca nessa aventura cultural descobriram o intercâmbio familiar. Fabrício sabe das dificuldades que as crianças e os adolescentes passam longe da família. ‘’Já aconteceu até com pessoas maduras, de 30 anos, largarem tudo e voltarem por saudade”. Sabendo disso, foi fácil ajudar. Ele apresentou um roteiro e ofereceu os melhores destinos e as diferentes condições para viajar. ‘’Você pode parcelar os valores. Existem várias condições de pagamento, e principalmente vários preços.’’ Sem pensar duas vezes, pai, mãe e filha fizeram as malas e partiram para a experiência em Brighton, na Inglaterra. A escolha pelo destino não foi difícil. José Carlos, pai de Isabela, morou por anos na Inglaterra e sabia da facilidade de deslocamento para outras partes do mundo. Foi ele mesmo quem sugeriu, e as mulheres da casa aprovaram. Com tudo organizado pela agência de viagem, ficou mais fácil e a família viveu essa aventura. Apesar de simples, a estadia em um flat trouxe conhecimentos difíceis de serem calculados pelos aventureiros. Eles dividiam o local com mais famílias que realizavam o mesmo programa. Viviane garante que o aprendizado foi único: ‘’A troca de experiências com essas famílias já valeu a viagem. ’’

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Com o mesmo programa, os três aproveitaram cada minuto. Assim que chegaram ao destino, Isabela foi direto para o intercâmbio Teen, direcionado para crianças e adolescentes. Enquanto isso, Viviane e José Carlos realizavam o curso de língua inglesa em uma escola conhecida na cidade. Mas o período não foi só de estudos. Os três garantiam folgas semanais para também adquirirem outras experiências. “Fomos para vários lugares, fizemos compras e conhecemos a Alemanha”, conta Viviane. Para o pai de Isabela, a experiência da família durou um ano, período de lições aprendidas, objetivos concluídos e novas amizades formadas. ‘’Tudo foi válido. Além de arriscarmos a falar outras línguas, tínhamos amigos turcos e até suíços”. Aliás, eles acreditam que poderiam ter ficado muito mais tempo. O período pode até ter sido curto, mas não vai se apagar da memória tão cedo. E antes que terminem de pagar a viagem, os três pensam na próxima. ‘’Vai ser logo, assim que a gente puder. Já estamos até brigando para decidir o local”, adianta Viviane. Ilva Maila dos Santos Gaya, 36 anos, funcionária da prefeitura de Navegantes, nunca pensou em fazer um intercâmbio, nem ficar fora do


62 Palavra de Jornalista país por algum tempo. Ela confessa que nem pensava sobre o assunto. “Quando eu era solteira, nunca tive esse tipo de interesse. Sempre fui mais caseira, gostava de programas mais tranquilos”. Casada e com dois filhos, começa a mudar de ideia. “Meu filho mais velho demonstra total interesse em participar de um intercâmbio. Estou pensando nisso, até porque sei que é importante para ele. Agora, sabendo que a família pode ir junto, melhor ainda.” Até porque Ilva não deixaria o menino ir sozinho. “Ele tem só 10 anos, muito cedo para ficar longe dos pais.” Mesmo a família indo junto, ela acredita que é preciso esperar um pouco mais. “Quando meus filhos crescerem, quem sabe? Até porque, para isso, é preciso planejar, e nós estamos amadurecendo a ideia.” Mas o destino também já foi escolhido pela família. Eles querem ir para a Inglaterra. Pretendem ficar alguns meses. “Queremos, porém, esse

é um projeto que vai ser rea-lizado mais para frente.” Enquanto isso, a família vai se preparando. “Na próxima semana, farão uma viagem ao Nordeste, de avião. Será uma experiência nova para as crianças.” Ela faz questão de sempre levá-los junto. “Primeiro, para que possamos ficar a maior parte do tempo juntos, e, por outro lado, acho que eles enriquecem os seus conhecimentos”. Durante a viagem, a mãe faz questão que aprendam algo, além das brincadeiras de criança. “Por exemplo, a cada viagem que fazemos, mostramos pra eles a cultura do lugar, o sotaque, a comida, os costumes, a geografia, as distâncias de um lugar para outro. É uma forma de aprender na prática. Estou falando tudo isso pra dizer que, ao realizarmos um intercâmbio, poderemos ensinar e aprender em família!” PJ Texto| Déborah Carolina Klug Moreira M. Gabrielle Ravasco da Costa Fotos| Acervo da família http://migre.me/7FS5r


de Neymar s a t i Súd

e Ronaldinho, galãs do futebol brasileiro Joinville - Elas são capazes de tudo. Absolutamente tudo. São capazes de escrever cartas de amor quilométricas. De pedir em casamento e prometer amor eterno. De convidar para uma noite no motel. De lançar calcinhas ao gramado com os telefones escritos a canetão. De furar o bloqueio policial por um beijo. De pagar, seja qual for a quantia, por

uma camiseta autografada. De fazer greve de fome. De enfeitar todas as paredes do quarto com fotos dos ídolos. De, inclusive, dar a própria vida por eles. Thais Santos, 15 anos, lança ao gramado uma carta quilométrica, declarando todo o seu amor por Neymar. “Meu amor, realiza o meu sonho. Deixa eu ficar bem pertinho


64 Palavra de Jornalista de você, mesmo que só por alguns minutos. Mas, se você perceber que sou a mulher da sua vida, e quiser ficar comigo, vou ser a mulher mais feliz do mundo”.

Pouco menos sonhadora, porém mais criativa, original e cômica, Tamirys de Liz, 17 anos, ameaça: “Neymar, você cometeu o artigo 157 por ter roubado o meu coração. Você pegará prisão perpétua e ficará preso nele para sempre”. Já Paula Tomé decide arriscar e apela: “Sou assanhadinha, mas queria ser invisível para no teu quarto entrar e...”

Responsáveis por inúmeras manifestações de paixão aos jogadores de futebol, as mulheres estão em peso nos treinos da seleção brasileira. Instalam barracas em frente ao hotel, onde os jogadores ficam hospedados; correm ensandecidas pelas ruas das cidades, atrás do ônibus que conduz os craques; e permanecem em vigília nos aeroportos. Tudo pelo prêmio que podem conquistar: um abraço, um beijo ou um autógrafo do ídolo. As mais sortudas, que conse-guem se aproximar dos astros da bola, assediam-nos e enlouquecem com a “beleza” de Neymar e Ronaldinho Gaúcho. Convenhamos, são retrato da boa estética e colírio só aos olhos de quem os veem. Gritos histéricos. Berros estridentes. Choros apaixonados. Declarações de amor. Pedidos de casamento. Cartas com sugestão de encontro. Presentes dos mais variados tipos, de ursinhos de pelúcia a calcinhas

vermelhas. Neymar e Ronaldinho Gaúcho são os galãs da seleção brasileira e atraem o público feminino por onde passa o time canarinho. “Maldade dizer que são feinhos, dentuços, desagradáveis à vista, e que têm pés calejados, chulezentos e unhas encravadas. Tem jogador que tem o pé que até dá nojo e vocês sabem de quem eu tô falando, né?” Já disse Xuxa, ao entrevistar Neymar, dia desses, no seu programa aos sábados pela tarde. Óbvio que ninguém imaginou que ela estivesse falando do Pelé, certo? Maldade mesmo fez uma emissora de TV peruana que resolveu eleger o jogador mais feio da Copa América. Felipe Caicedo, do Equador, foi o eleito, e o segundo lugar ficou com Neymar, para desespero das “Neymarzetes”. Alguns dizem que é por causa do dinheiro deles que a mulherada se assanha desse jeito. “Quando eu era empacotador de supermercado e ainda não era famoso, nem olhavam pra mim”. Assim Rafinha Bastos, do CQC ou ex-CQC, falou fora do ar segundos antes de entrar ao vivo para todo Brasil, quando três ou quatro maluquinhas berraram no estúdio “lindo, tesão, bonito e gostosão”, depois de o diretor ter pedido silêncio absoluto. Para a psicóloga Radmila Martins, os homens endeusam os craques porque, desde meninos, adoram futebol, idolatram os jogadores e sonham ser um deles. Quem nunca marcou um gol e saiu comemorando como se realmente fosse o gol de um título de Copa do Mundo? Nas mulheres, essa idolatria surge, de acordo com a psicóloga, por causa de


Súditas de Neymar e Ronaldinhos, os galãs do futebol brasileiro um comportamento típico feminino. As mulheres, em geral, idealizam o homem perfeito, a estatura dele, a cor dos olhos, o cabelo, o porte, o charme, o carro que dirige, o emprego que tem ou o limite de crédito, caso casasse com ele. Não se idealiza o homem perfeito assim, a menos que você queira qualquer outra coisa que não seja sentimento. Idealizamse sentimentos, o respeito, o que se espera, o quanto as coisas podem ser transparentes, comparam-se ideias, planos, cumplicidade. O jogador João Maria Lima do Nascimento, o Lima, atacante do Joinville Esporte Clube, gosta desse assédio das fãs e dos torcedores em geral. “Nunca fico chateado com torcedor. Sempre que pedem um autógrafo, eu dou. Conheço muito jogador que vira a cara e fica se achando. Acho uma baita hipocrisia isso”. Jogador de futebol precisa se acostumar com a tietagem das fãs. Em casas noturnas, festas e baladas, o que mais se vê é mulher paqueran-

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do jogador de futebol. São as MariaChuteiras. Pelo que parece, Neymar é assim. Retribui os mimos que ganha. Dá atenção às fãs e, em suas declarações, sempre demonstra afeto à torcida e reconhece a importância do apoio das milhares de vozes, incentivando-o num jogo de futebol. Emotivo, chora durante a execução inflamada do Hino Nacional e não cansa de distribuir piscadas e beijinhos para as torcedoras que se jogam aos seus pés. Mas o jogador está mesmo namorando a atriz Daniela Carvalho, “ex-Malhação”. Os dois tentam manter o relacionamento em segredo mas, sob os holofotes da mídia, fica difícil manter sigilo. Segundo o site de famosos “Ego”, o romance tem alguns meses e, sempre que pode, Neymar vai ao Rio para rever a atriz. Para Diego Santos, comentarista esportivo, o futebol no Brasil é referência de sucesso. “Se o homem trabalha no meio esportivo, ainda mais como atleta, é muito paquerado pe-


66 Palavra de Jornalista las mulheres. E, se esse jogador está na seleção brasileira e tem os holofotes direcionados para ele, pode ter certeza que o assédio aumenta 100%”. Em setembro passado, por exemplo, no duelo entre Brasil e Argentina, no Superclássico das Américas, os paraenses protagonizaram um espetáculo nas arquibancadas do estádio Mangueirão, em Belém do Pará. “Milhares de vozes entoaram o Hino Nacional brasileiro de forma inesquecível, empolgante e emocionante. Incontestavelmente, uma verdadeira demonstração de patriotismo que, há tempos, não se via ou ouvia. O Brasil ainda é motivo de orgulho para muitos”, comenta emocionado o torcedor Gilmar Hoffmann. Antes disso, como registra o Blog Futebol Paraense, a mulherada já tinha feito o seu showzinho à parte, interrompendo a passagem do ônibus da seleção pela avenida que culminaria com o estádio. A regra delas era clara: os jogadores são nossos reféns e não saímos da frente do ônibus se, pelo menos, um deles não descer para nos abraçar. A polícia veio e conteve os ânimos das mais assanhadas, das torcedoras apaixonadas. Tudo num clima de euforia e descontração. Nada de tumulto. “A gente não gosta de baderna, mas fazemos de tudo por um beijo de um dos nossos heróis”, afirma a presidente da torcida Rosa do Figueirense, Larissa da Rosa, Correa, 25 anos. Não se pode tirar o mérito de que são bons e talentosos. Mas dizer que são bonitos, há uma distância grande. Se não fossem jogadores de futebol, talvez estivessem por aí, sem

nenhuma candidata por perto. Claro que o conceito de beleza é particular de cada um, mas, ao conceito padrão, eles não atendem. Não atendem mesmo! PJ Texto| Wellington Nardes Fotos| Wellington Nardes http://migre.me/7GyF8 http://migre.me/7Gzxr


A menor máscara do mundo A magia e a festa de gente que leva a sério a arte do nariz vermelho Porto Belo - Cortinas fechadas, luz apagada. Na sala em total escuridão, o silêncio é pontuado apenas pela respiração ansiosa de dezessete pessoas dispostas em roda, que nada veem. Entre elas, uma esfera de luz brilhante surge próxima ao chão, e arranca algumas exclamações tímidas. Corre para o alto e vira um risco, e rapidamente outras duas esferas se revelam, estáticas, suspensas no ar. Uma flauta soa ao fundo, e as três luzes caem e viram um círculo. Mais duas saem do bolso do homem ao centro do círculo e as cinco des-

crevem movimentos variados. Pulam no ar, cortam o que era breu. Os rastros de luz revelam rostos em sorrisos abertos e queixos caídos. Em segundos, a roda é só risadas, urros e corpos que dançam ao compasso da flauta. Nada poderia fazer o homem ao centro do círculo mais feliz. Sua mágica está feita e a festa pode começar. As esferas mágicas são os malabares fosforescentes de Camilo Talavera, artista que passa os dias fazendo o que mais gosta: animar festas e pessoas. Cresceu na cidade


68 Palavra de Jornalista argentina de Jesús María, na província de Córdoba, e desde criança tem paixão por palhaços e malabaristas. Filho único, costumava ir ao circo acompanhado da mãe e dois amigos, vizinhos de rua. Por vezes, o espetáculo da companhia pequena da cidade era repetido, e Camilo conhecia alguns números de cor, mas isso não importava. Sonhava ser chamado ao picadeiro pelos palhaços. Queria participar do show. Aos 19 anos, deixou a Argentina e veio ao Brasil, a convite de um amigo e instalou-se em Curitiba, Paraná. Conheceu estudantes de arte, músicos e atores. Em um bar, foi apresentado a Juliano, rapaz com quem tinha muitas semelhanças. Os dois queriam passar a vida divertindo pessoas. Juliano apresentou-lhe um grupo de Clown, e a caminhada de Camilo começou. “Ter um filho palhaço não é exatamente o sonho de toda mãe”.

O artista conta que Dona Lucia não aceitou a decisão de pronto. Depois de alguns anos argumentando, entendeu que nada mais podia ser feito. O sonho de seu filho era claro, e ele estava resolvido a segui-lo. Camilo estudou circo, aprendeu malabares e se aperfeiçoou na arte de clown. Hoje vive em Porto Belo, no litoral norte de Santa Catarina. Trabalha como palhaço, animando festas de aniversário e faz bicos como malabarista em festas noturnas, normalmente eletrônicas. “O prazer de entreter as pessoas me vale o pouco dinheiro que isso me dá.” Camilo perdeu as contas de quantas vezes o mandaram “parar com a palhaçada” e arranjar um emprego sério. Muitas vezes, sentiu vontade de largar Curió, seu nome de palhaço, e ser só Camilo Talavera. Mas não consegue. Ama o que faz. Duas coisas em especial o alegram


A menor máscara do mundo – o sorriso enérgico das crianças que assistem a seus números de palhaço, e a expressão admirada dos jovens e adultos ao verem a dança de suas esferas iluminadas e suas brincadeiras com os malabares de fogo. Se o dinheiro falta, corre para os semáforos e faz sua arte. E garante: “Tem sempre alguém de boa vontade e que gosta da minha arte. Fome eu nunca passei”. Encontro de palhaços Em Itajaí, o calçadão da rua Hercílio Luz pulsa. Um homem com o nariz vermelho e pernas de dois metros dança ao batuque das alfaias. Ao som do Grupo de Maracatu Encanto do Sul, os passantes e lojistas da mais tradicional rua de comércio da cidade assistem a uma animada “palhaceata”. Quarenta crianças do ensino básico municipal participam das brincadeiras promovidas por cerca de 20 palhaços. Eles

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colorem o calçadão de vermelho ao usar a menor máscara do mundo – o nariz de palhaço – para divulgar seu encontro. É a abertura oficial do 2º Ospália Encontro de Palhaços. Aline Silva Meira, 25, é integrante do grupo de maracatu que fez intervenções durante o encontro. Conta que nunca tinha ido a um evento assim e se surpreendeu. “Veio muita gente de fora, e o maracatu agitou muito a abertura, deu um gás ao festival.” Segundo a assessoria de imprensa do evento, o Ospália foi concebido em meio a um movimento de estudo de vários palhaços na região do Vale do Itajaí. Desse movimento, nasceu o projeto, que engloba um coletivo de palhaços em pesquisa, o encontro de palhaços, uma revista e o curso de palhaço “Nos primeiros tropeços…”. Além da “palhaceata” de abertura, espetáculos e oficinas teatrais, debates e o lançamento de um livro e da revista “Ospália”. A atriz Mônica Longo, 32, destacou a oficina de teatro de rua, ministrada pelo baiano Toni Edson. “Foi uma experiência maravilhosa, porque, além de trabalhar a questão individual, que normalmente trabalhamos no teatro, trabalhou o grupal. É muito especial se ver como grande grupo antes de ser ver como indivíduo. Eu tinha vontade de acordar oito horas da manhã – porque tudo acontecia cedo – e ir correndo pra oficina.” PJ

Texto| Marina Dutra Fotos| http://migre.me/7GAxl http://migre.me/7GAyU http://migre.me/7GAAZ


70 Palavra de Jornalista

Aguce os sentidos: o maracatu provoca a alma e o corpo

Música instrumental permite conhecer sons agradáveis e tonalidades serenas Itajaí - Do maracatu ao rock, a música sempre traz, para quem a escuta, sensações e energia. Se o maracatu convida o corpo para se embalar ao som da percussão, a música instrumental permite conhecer uma composição de sons e tonalidades agradáveis e serenas. Seja no som do tambor, na harmonia do violoncelo ou na guitarra do rock, toda melodia carrega um significado. O sentido depende de quem a ouve. É impossível não soltar os ombros, e cair no batuque ao escutar o som forte e contagiante. Essa e-ner-

gia também é sentida através das cores quentes e vivas, como o amarelo e o vermelho paixão. O maracatu do grupo de Núcleo Experimental de Formas Animadas - NEFA traz, para perto da comunidade, culturas outrora presentes em Itajaí. O ritmo teve dificuldades para se desenvolver. O coordenador do grupo, Cidval Batista, conta que algumas pessoas ainda têm receio em prestigiar, porque vinculam o ritmo e o Candomblé à macumba. O Maracatu, na verdade, é uma manifestação cultural, em celebração


Aguce os sentidos: o Maracatu provoca a alma e o corpo aos antigos reis. Bonecos gigantes e fantasias misturam-se com a dança e o ritmo frenético da percussão. Junto desses adereços, os pés descalços e as saias esvoaçantes acompanham o calor e a vivacidade da percussão. Em Itajaí, oito pessoas ensaiam o maracatu todos os domingos com um largo sorriso no rosto. A alegria é traduzida nos adereços de quem pratica. É possível perceber como um sentimento de felicidade toca cada um. Mas não é preciso um batuque forte para um coração acompanhar o compasso animado. Para a cantora Leide, esse alento é algo que pode ser traduzido na voz. Quem a via apenas andando nos corredores da Universidade do Vale do Itajaí, surpreende-se com o vozeirão escondido atrás do jeitinho meigo. As saias abaixo do joelho, a meia fina e o sapato formal combinam o visual da apresentação no 2º Festival de Talentos da Univali. A aparência

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doce e suave é característica da voz durante o dia-dia, que pode ter sido esculpida de tanto atender o telefone. Antes de explorar o dom, Leide trabalhava no 0800 da Universidade. Marzileide dos Santos, de registro, ela prefere Leide. Mesmo acostumada a cantar na igreja e em congressos evangélicos, com alegria contagiante, o nervosismo vem à tona quando se apresenta. Mas nada atrapalha, o talento vence qualquer obstáculo. Ela acredita que é Deus quem lhe dá essa capacidade, já que nunca fez aula de canto. Fazer com que as pessoas sintam a música não é uma tarefa fácil. Mesmo para aqueles que, desde pequenos, têm esse dom, é preciso batalhar e estudar. O músico, compositor e produtor musical Arnou de Melo não esconde os cabelos grisalhos que demonstram maturidade e serenidade. Não que tenham sido adquiridos pelos dias que decorrem


72 Palavra de Jornalista ao longo da vida, mas pelas noites sem dormir. Arnou costumava tocar em bares e casas noturnas. “É nesses lugares que se atinge a maturidade musical. Esses ambientes proporcionam, através do público, melhorar sua música e chegar mais próximo da qualidade e da perfeição que se procura até hoje”. O instrumentista conta que, quando começou a tocar, a música já tinha um sentido muito maior, o de espiritualização e sensibilidade. Arnou compartilha com Johann Sebastian Bach, famoso violinista do século XVI, que a boa música é uma arte que pode levar direto aos céus. A metáfora do músico, que morreu há tempo, traduz muito do que Arnou sente ao tocar o seu estilão instrumental. Basta fechar os olhos. O que os ouvidos percebem é emoção. Uma composição de sons e tonalidades agradáveis. Para o instrumentista, poucos lugares valorizam esse estilo, porque não é pop, nem comercial. Por esse motivo, muitos trabalhos caem no esquecimento. Não é de agora que tocar deixa Arnou com um sorriso de orelha a outra. Com olhar brilhante e perdido, a nostalgia invade quando relembra do início da carreira, há 40 anos. Teve a alegria de encontrar alguém para lhe abrir as portas. Seu professor e ídolo, o pianista Oscar Nicolau Kleis, Neni, como o apelidou carinhosamente, ensinou muito do que sabe. Para muitos músicos, o destino não se realiza do mesmo modo. Quando o estudante de música Thales Godoi Nunes ganhou o primeiro instrumento, um cavaquinho, logo

começou a tirar chorinhos antigos. A vontade de tocar foi crescendo a cada dia. Ele começou a estudar música com 8 anos. Foi agregando outros instrumentos de percussão, indo do samba ao rock. Thales sempre levou o dom informalmente, como um hobby. Tanto que, quando entrou na faculdade, estudava Comunicação. A música não poderia ficar em segunda plano na vida do violinista. Tudo o que fazia tentava relacionar com as melodias. Não deu outra. O ziriguidum-telecoteco do samba entrou de vez na vida, e ele mudou da Comunicação para a Música. Hoje ele respira som o dia todo. Dá para perceber que escolheu o caminho certo: Thales faz música com paixão. O olhar brilhante, o sorriso sempre no rosto e a intensidade com que toca o violão impressionam quem o assiste ou até mesmo quem passa rapidinho por onde ele se apresenta. A arte de fazer música pode ser usada até como terapia. Independente do gosto, ela desperta uma nova forma de expressão. Pesquisas realizadas pela Associação de Musicoterapia do Estado do Rio de Janeiro, por exemplo, indicam que ela pode ser uma aliada no combate à dor, porque traz bem estar e relaxamento. Colabora para retardar o Alzheimer justamente pela necessidade de gravar letras e melodias, Isso ajuda na circulação do sangue e no efeito de contentamento e felicidade, afastando a depressão. PJ

Texto e Fotos | Gabriela Florêncio Stéphanie da Rocha


Palavra de Jornalista

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(não) Quero

ser

grande Pela imposição de deveres e responsabilidades, crianças tendem a desenvolver sintomas de estresse cada vez mais cedo Timbó - Em um pub local, um braço lentamente desliza pela guitarra, sutilmente transformando acordes em sons. O mesmo ocorre um pouco mais atrás com o teclado, dedos rápidos combinam-se para formar uma harmonia e levar o público a um estado de contemplação. Conheça Chico e Diego Rodrigues, irmãos e músicos da banda Calvin,

de Timbó. Com 13 anos de estrada, os músicos da Calvin têm feito fãs pelo Brasil afora, conquistando uma audiência fiel no cenário do rock independente e sendo referência em Santa Catarina. A banda lançou, meses atrás, seu terceiro CD, intitulado ‘O Albatroz’. Chico e Diego concordaram em conceder uma breve entrevista, pois tem conhecimento


74 Palavra de Jornalista do tema a ser abordado. A escolha foi baseada em um único e simples critério: sua história explica o papel que a família deve ter. Segundo Chico, um momento que ilustra este caso do contato com os pais e suas escolhas foi quando tinha 13 anos e decidiu falar ao pai sobre seu interesse musical: “Em literalmente 30 segundos, ele apareceu com uma guitarra nas mãos e me deu. Ele estava com a guitarra no apartamento dele. Fiquei com a boca aberta por um tempão. Pareceu coisa de filme”. Neste caso, o incentivo veio da forma correta. O filho procura pelo pai e expõe o que pensa abertamente. Diálogos estão sumindo na relação familiar, substituídos por monólogos. Pais têm seus problemas. Filhos têm seus problemas. A família não busca apoio em sua base. O exemplo dos irmãos Rodrigues representa uma situação em família que deve ser tratada como referência. O pai deve assumir a posição de incentivador. A psicóloga Graciela Ciappino comenta sobre casos assim. “O apoio familiar, muitas vezes, é confundindo com a aceitação das vontades dos filhos. Apoiar é respeitar as esco-lhas dos seus filhos como seres humanos e pensantes que são. Quem tira dos seus filhos a capacidade de escolher, está tirando a capacidade de pensar, de empoderamento, de responsabilidade”. A dificuldade para a família Rodrigues aumentou com o tempo. Os ouros do esforço começaram a aparecer e, com isso, as oportunidades de shows até fora do estado. “Minha mãe ficou apavorada quando come-

çamos a viajar para Minas Gerais, Goiás, espremidos num carro. Continua se preocupando da mesma forma, mas lida melhor com isso”, comenta Chico, entre diversas histórias sobre viagens. Toda mãe se preocupa com o bem estar dos filhos, mas sabe que, a busca pelo que lhes é precioso, só os faz crescer como pessoas. É esse tipo de atitude que prepara um filho para a vida e não uma sobrecarga de aulas. O papel dos pais é construir uma ponte entre o sonho dos filhos e a realidade do mundo. A única coisa necessária é um sorriso e palavras de apoio sempre ao lado. Apoio familiar Tem se tornado mais comum ver crianças frequentando aulas de artes marciais, língua estrangeira, música e até aulas de reforço com idades cada vez mais baixas. Olhe para fora e veja quantas crianças estão brincando. Sim, procure, o texto espera. Olhou e voltou a ler? Ótimo, estamos estabelecendo uma boa comunicação. Provavelmente você conhece pessoas que justificam o excesso de tarefas dos filhos com frases prontas como “ele gosta” ou até “le precisa”. Segundo Ciappino, a relação entre pais e filhos altera e muito o rumo que a criança terá em sua vida quando crescer, “Quando os pais apóiam seus filhos, estão propiciando a eles o desenvolvimento de sua identidade enquanto seres no mundo”, comenta. Porém, para tudo, existe um limite. O estresse pode atingir níveis elevados até em crianças, tendo as mesmas consequências que em


(não) Quero ser grande adultos. O que foi dito até agora é só a ponta do iceberg. Muitos males vêm em consequência. Tal pressão imposta pode levar a quadros clínicos de bulimia, anorexia, depressão e, em alguns casos, dependência química, à violência e até ao suicídio. Não estamos mais falando de algo que a criança faz “porque gosta” e nem “porque precisa”. Ciappino relata que existem casos extremos. “Há crianças que são chantageadas emocionalmente, e acabam cedendo às vontades dos pais para não vê-los tristes e até mesmo para se tornar um orgulho para eles”. A carga emocional é imensa. Se muitos adultos têm problemas em lidar com isso, imagine tendo apenas poucos anos de idade. Porém, nem tudo está perdido. Existem casos em que pais acertam e, por sorte, não são poucos”. Iniciar uma grande história nunca é fácil. Você deseja, com todas as forças, que ela atinja proporções gigantescas e que conquiste a todos, porém esquece que não está tratando de uma história, ao menos não de uma em que você é o personagem principal. Por melhor que sejam as intenções, muitos pais acabam falhando no relacionamento com filhos, o que pode trazer consequências graves para toda a vida. O titulo desta reportagem faz menção ao filme de 1988, da diretora Penny Marshall, estrelado por Tom Hanks. Para os que se não recordam deste clássico filme da televisão vespertina, a história gira em torno de um garoto de 13 anos, Josh Baskin, que tinha como sonho ser adulto e, por isso, acabou perdendo a melhor

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fase de sua vida. Com a vivência de uma criança, ele acabou conquistando um bom emprego, tudo porque continuou com sua inocência. Uma cena interessante diz respeito ao que ele cria: uma história em quadrinhos capaz de ter diferentes rumos dependendo da escolha do leitor. Ele não poderia voltar e refazer o conto, mas poderia lê-lo quantas vezes quisesse. Isso mesmo, a vida em uma máquina. PJ Texto| Alberto Mergen Fotos| http://migre.me/7HqQE http://migre.me/7HsfH


E se bastassem três acordes?

Muito mudou o mundo nas últimas décadas e, como ele, o rock Balneário Camboriú - Pete Townshend, certa vez, disse: “o Rock n’ Roll é uma das chaves, uma das muitas, muitas chaves de uma vida complexa. Não fique se matando, tentando todas as outras chaves. Sinta o Rock n’ Roll, e então, provavelmente, você vai descobrir a melhor chave de todas”. Talvez o líder do The Who ainda não pudesse imaginar o quanto sua frase seria significativa, mas o rock sobrevive entre tantos estilos musicais para provar que pode, mesmo, ser a melhor chave de uma vida complexa. Ana Rosa Egídio vai além. É mais radical do que o próprio Townshend. “Sem o rock, não haveria como des-

crever a vida”. A adolescente de 18 anos tenta, com dificuldade, se lembrar de quando começou a curtir Rock. “Acho que foi aos 13 anos, quando decorei Faroeste Caboclo”. Sem o gênero, não teríamos uma avenida para o inferno e tampouco uma escadaria para o céu. Sem o Rock, não haveria bandas, e, sem elas, não haveria emprego. Cainã Moreira é integrante da banda Helvéticos, junto com Valmor Silveira e Murilo Costa. Desde o início, a música e o rock foram encarados como coisa séria, não apenas para deleite, mas como compromisso, uma maneira de se tornar alguém. “A ideia nunca foi passar muito tempo na


E se bastassem três acordes?

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garagem. Desde o começo, já pensava em chegar a algum lugar com minhas composições. Quando achei os caras certos, a coisa ficou mais fácil. Era só fazer”, conta o vocalista. “A gente toca rock. Se a gente não tocasse rock, a gente não tocaria nada. Jamais escolhemos tocar rock, não teve uma decisão: ‘Ó pessoal, vamos tocar rock e formar uma banda’. Nós somos roqueiros, não tem outra coisa a se fazer. É só ver o Jimi Hendrix, o Doors, o The Who tocarem, que você vai sentir vontade de fazer a mesma coisa”. O discurso de Cainã flui com facilidade, e essa firmeza acaba superada pela segurança, quando sobe no palco e começa o show. “O Rock é o bicho!”.

Muitas bandas compõem já em formato de rádio. Três, quatro minutos no máximo”, opina Carlos Coria, 55, um admirador do “velho rock”. Coria é da época em que se fazia Rock n’ Roll com três acordes. “Sou admirador das bandas de carreira. Acompanhava os lançamentos de LP’s como Black Sabbath, Led Zeppelin e Nazareth. Hoje o que se pode observar são bandas produzidas, bandas descartáveis. Tantos são os ‘Restarts’, por aí afora”, comenta Carlos. Ele admira o velho estilo de se fazer uma banda, como os Helvéticos, de Cainã, formada no inverno de 2009. “Gravamos as primeiras músicas já em fevereiro de 2010”, conta o roqueiro.

Velho e bom rock Raphaella Cabral, de 31 anos, mora em Balneário Camboriú. A cidade ganhou fama entre os jovens, nos anos mais recentes, devido ao som do sertanejo universitário, o pagode e as músicas eletrônicas. Mas Raphaella continua fiel ao Rock n’ Roll. Frequentadora do Open Bar Music House, ela diz ter visto muita coisa mudar na última década. “A própria maneira de fazer rock mudou um pouco. Temos, sim, coisas boas se apresentando no Open, mas muitos estão se tornando um tanto pop”. A mudança é impulsionada por tudo aquilo que move o mundo, e até mesmo o Rock n’ Roll começa a se tornar uma vítima do capitalismo e do consumismo, aquém de uma juventude que ainda não decidiu que gênero vai escutar e por qual se apaixonar. “Acontece que fazer música hoje se tornou um negócio.

Sinta o rock No livro O Cristão e a Música Rock, o dr. Samuele Bacchiocchi cita um trabalho realizado pela Fundação de Pesquisa da Música. A conclusão é que a audição, mais do que os outros sentidos, exerce maior impacto no sistema nervoso autônomo através de seus trajetos auditivos. Estudos mostram que o impacto da música no sistema nervoso e as mudanças emocionais afetam processos como frequência cardíaca, respiração, pressão sanguínea, digestão, equilíbrio hormonal, humor e atitudes. “Isto nos ajuda a entender porque as intensas batidas rítmicas da música, mais notadamente o rock, podem ter uma gama tão extensa de efeitos físicos e emocionais”, afirma o estudioso. A roqueira Débora Demori, de 20 anos, confirma a teoria, e diz sentirse mais animada nas baladas, e à


78 Palavra de Jornalista vontade para paquerar e beijar devido à música. “Tipo, é bem legal. A gente fica só ouvindo aquele som de fundo, e, se está no banheiro ou em outro lugar ouve o entra e sai de gente. Muito louco”. Além do estímulo natural na música, ela ainda força um pouquinho, usa de bebidas alcoólicas para se sentir mais livre. Já um rapaz, que aqui iremos chamar de Jimi, fala sobre o uso da maconha por ouvintes do rock: -Fuma? -Fumo. -Por quê? -Cara, é normal. Todo mundo que curte rock fuma, ou, pelo menos, já fumou. À beira do palco Não interessa se vai enxergar, se a viagem vai ser ruim ou se você vai estar lá no fundo. Quando se está diante do palco, torna-se um com toda aquela gente, torna-se parte do show. “Eu gritei muito! Chorei o show inteiro, entrei em êxtase. Diziam que eu parecia estar drogada”. É como Julia Zolet, de 18 anos, descreve a sensação de assistir ao show da banda irlandesa U2, no Estádio

do Morumbi, em São Paulo. “Gastei aproximadamente R$1.200, e, apesar de a viagem ter sido ruim, escutar Moment of Surrender fez tudo valer a pena”. Pitter Hurmann, de 27 anos, prestigiou a World Magnetic Tour, do Metallica, no palco de Porto Alegre. “Foi muito bom. Eu montei a playlist do show antes de ir assistir para saber que músicas eles iam tocar. A surpresa foi eles terminarem o show, apagarem as luzes, e depois voltarem tocando Master of Puppets”, comenta o estudante sobre o grande momento do show. “Fui porque há muito eu não os escutava. Foi muito bonito, e dava para notar que o público era como eu. Pessoas que já escutavam a banda nos tempos antigos”. Conta Carlos Coria sobre o momento em que viu Nazareth subir ao palco no Maria’s, em Camboriú. Foi como retroceder alguns anos, um momento que aquela adolescente apaixonada pela música, Ana Rosa, teria afirmado: “Tem coisas na vida que apenas o rock consegue descrever”. PJ Texto e Foto| Diogo S. Campos


Itajaí luta por espaço no mapa turístico de Santa Catarina Secretaria Municipal de Turismo implanta projetos para transformar a cidade portuária em destino para férias Itajaí - Reconhecida nacionalmente por ser portuária, a cidade tem o maior centro pesqueiro e é o principal exportador de congelados do país. Também possui belezas naturais, como seis lindas praias: Brava, Atalaia, Cabeçudas, Geremias, Amores e Morcego. Porém, é pouco conhecida da maioria dos turistas, e até dos seus moradores. Os frequentadores dos pontos

turísticos reclamam da falta de divulgação da cidade. Na opinião de Rodrigo Lins, morador de Itajaí há cinco anos, o que prejudica o turismo local é a falta de investimento no município. “Em poucas praias, há quiosques e chuveiros. Para quem mora aqui, até dá para contornar a situação, mas para as pessoas de outras cidades, que vêm um dia? Não há o que fazer”.


80 Palavra de Jornalista Uma pesquisa informal aponta que seis entre 10 moradores da região não visitam Itajaí por receio. Alegam que o município não tem praia apropriada para banho, apenas para pesca. Para Aline Rogério, de Blumenau, Itajaí está fora de seu roteiro turístico durante as férias: “Nem sei que praias há na cidade”. Para Doris Raizer, proprietária de restaurante em frente à praia de Cabeçudas, os principais clientes são moradores de Itajaí e cidades vizinhas. “Eles não vêm para passar alguns dias ou aproveitar semanas, apenas para passar o dia. Ficam na praia de manhã, almoçam, voltam à praia e depois vão embora”. Doris explica que o restaurante não pode depender dos turistas na temporada de verão, pois não conseguiriam mantê-lo. Sua clientela é de itajaienses, que, mesmo sem sol, vem passar o dia na praia e almo-

çam em seu restaurante. “Se fôssemos depender exclusivamente de turistas, o restaurante já estaria fechado”. Para a proprietária, o que falta para Itajaí é a divulgação de eventos. Conta que a cidade tem muito a oferecer, mas o poder público deixa de usar isto a seu favor. “Há tantos lugares bonitos, como praia da Atalaia, que tem surf noturno; a trilha ecológica do Farol, no pontão esquerdo da Cabeçudas; entre outros lugares que muitos turistas iriam aproveitar durante suas férias”. De acordo com Rodrigo Luiz Flamia, da Secretaria de Turismo de Itajaí, a prefeitura está realizando ações para incentivar e incrementar o turismo. Cita a conclusão do projeto de sinalização turística, a ampliação do Píer turístico, que vai transformá-lo em um terminal de embarque e desembarque de


Itajaí luta por espaço no mapa turístico de Santa Catarina passageiros. Além das ações de urbanização (chuveiros ecológicos, passarelas e quiosques) e a regulamentação do uso de áreas preservadas. “Em relação à divulgação, a partir de eventos, procuramos elencar todos nossos atrativos, além da divulgação conjunta com o Consorcio Intermunicipal de Turismo (Citmar) e da Associação dos Municípios da Foz do Rio Itajaí (Amfri)”. Rodrigo afirma que, infelizmente, a cidade é reconhecida por suas atividades portuárias e não turísticas. Mas, através destas ações, o objetivo é mudar a visão dos turistas e tornar Itajaí um dos destinos principais de passeio. Para quem gosta de conhecer a história do lugar, tem a Fundação Cultural de Itajaí, o Centro de Documentação e Memória Histórica, além de outros lugares importantes para a cidade. Ainda há o Roteiro do Caminhante, com aproximadamente 2,5 quilômetros no Centro do município. Nesta caminhada, é possível ver o acervo do patrimônio histórico cultural, tirar fotos dos casarões do início do século XIX, além de igrejas, palácios e monumentos. Para os aventureiros, há duas opções: cicloturismo Costa Verde & Mar, com percurso de 270 quilômetros, passando no litoral e dentro da cidade, e Cicloturismo Rural de Itajaí, que passa pela parte rural da cidade com trechos mais acidentados; além do surf noturno e a caminhada pelo Farol. Depois de passar um dia na praia ou fazendo caminhadas por Itajaí, vale ir a um bar, restaurante ou a

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casas noturnas. O município apresenta uma variedade para o turista. Para isto, a Secretaria de Turismo da cidade criou um site com informações sobre onde comprar, comer, ficar, dicas do que fazer e serviços oferecidos pela cidade. O intuito é chamar a atenção dos turistas e moradores e, assim, divulgar a cidade. Saiba mais sobre Itajaí no site: www.visiteitajai.com.br PJ Texto| Gabriela de Godoy Fotos| Wagner Heinzen Raquel da Cruz


Molhe de Itajaí: ponto turístico requer mais atenção Moradores reclamam de baderneiros e da falta de segurança no local

Itajaí - O Molhe de Itajaí é um dos locais mais procuradores por moradores e turistas da região no verão. A entrada e saída de navios, barcos pesqueiros, a pesca de arremesso, a praia, o farol, o surf, quiosques e chuveiros à beira mar, e a bela vista da união do rio Itajaí-Açu com o Oceano Atlântico. Nos últimos meses, tem se discutido sobre a movimentação à noite no local. Ponto de encontro de baderneiros e vândalos, que se reúnem no local para beber,

consu-mir drogas e colocar o som dos carros no último volume. Isso atormenta a vizinhança e afasta os turistas. O local está sob responsabilidade do Porto Municipal de Itajaí ,fiscalizado pela Guarda Portuária. O diretor Anibal Aragão observa que a fiscalização é dever do Porto, mas a segurança é uma questão bem maior, de Estado. “ Temos apenas um guarda que faz a segurança. É preciso mais policial naquela região. Não


Molhe de Itajaí: um ponto turístico que pede mais atenção conseguimos coibir a ação com apenas uma pessoa”. A sargento Kaísa diz que, sempre que solicitado ao Copom, são encaminhados policiais. O local é constantemente monitorado pela guarda municipal. Para Anibal Aragão, o ponto turístico é utilizado de forma inadequada. Por isso, considera importante a instalação de luminárias maiores e melhores. O advogado do Porto de Itajaí, Guilherme Alípio Nunes, admite que a solução para a área é a instalação de câmeras de monitoramento atrás do pátio de estacionamento situado na praia. Essas câmeras devem ficar ligadas à Polícia Militar 24 horas por dia. A instalação da câmera de segurança é de responsabilidade do Porto de Itajaí. Nunes espera que a câmera de monitoramento seja instalada na antena da Rádio Costeira (hoje sob responsabilidade da Univali) e diretamente ligada ao Copom da PM. “Será um trabalho de investigação, onde a polícia poderá

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identificar os carros com sons altos e punir seus donos”. A Associação dos Moradores do Saco da Fazenda, representada por Francisco Ivan Ramos, proprietário de estabelecimento no local, já buscou, em todas as estâncias legais, coibir a ação dos baderneiros. As reclamações chegaram ao Ministério Público por meio de um abaixo-assinado com aproximadamente cem assinaturas. Francisco afirma que isso dura o ano todo, mas que, no verão, a intensidade da desordem é ainda maior. Outro problema é a situação do meio ambiente. De acordo com o diretor da Fundação do Meio Ambiente de Itajaí, Francisco Carlos do Nascimento, a degradação e a sujeira deixada na praia são lamentáveis. “Esses vidros e plásticos de garrafas ficam anos no meio ambiente. A limpeza é realizada, mas muito lixo acaba chegando até o mar”. Elizenia Caetano, 44 anos, moradora do local, diz que é impossível caminhar


84 Palavra de Jornalista ou até mesmo passar por ali. “Tem dias que essas pessoas passam dos limites. Não só com o som alto, que não deixa ninguém dormir, mas a sujeira, que deixam, é muito nojenta”. Ela reclama também do abandono do local por autoridades municipais. “Eles mandam uma viatura. Os policias passam na rua. Todos se escondem ou se comportam e eles vão embora. Eles viram na primeira esquina e começa tudo de novo. Deveria ter policiamento fixo aqui”. O desleixo de algumas pessoas acaba interferindo na vida dos moradores do local, e até mesmo de frequentadores assíduos. Marcelo de Carvalho, 26 anos, surfista, diz que o lixo deixado na praia chega ao mar e prejudica a prática do surfe”. Gosto muito de surfar. Muitas vezes, prefiro vir à noite, porque, antigamente, era sossegado. Mas hoje não tem mais condições. Tenho até medo”. Marcelo ressalta que, no local, além do uso de drogas e o consumo de bebidas

alcoólicas, há prostituição infantil. Crianças e adolescentes utilizam o local pelo fato de haver pouco monitoramento policial. “Claro, eles vêm aqui porque a prostituição infantil é crime. Sem o cuidado da polícia, eles podem agir normalmente, sem perigo de serem presos”. O que mais preocupa os moradores é que o local seja abandonado por turistas. A população tem esperança de que a segurança seja redobrada, durante todo o dia e à noite também. Everton Blásio, 20 anos, frequentador da praia, salienta que ali o visitante tem tudo do que precisa: praia, sol, e bares e restaurantes, lojas e locais para se divertir. “Eu não acredito que a praia se acabe por causa de uns e outros. Ela tem muito a oferecer aos turistas, desses problemas têm solução”. PJ

Texto| Andressa Sabedot Fotos| Wagner Heinzen Raquel da Cruz


Um longo e árduo caminho a ser trilhado

Escritores estreantes se ressentem da falta de apoio para publicar seus livros Nova Trento - A máquina de escrever serve com ferramenta para registrar o que a timidez não permite. Um verdadeiro desafio quando o assunto é comunicar. Ao longo de anos, ele reúne textos de sua autoria, datilografados em papel de carta e guardados em envelopes. José Paulo Bernardi é operador de máquinas em uma fábrica têxtil em Brusque. Publicou o primeiro livro aos 44 anos, sonho acalentado du-

rante anos de espera e dedicação em setembro de 2011, em Nova Trento. A obra representa um marco na história de Paulinho, como é conhecido. O processo de edição dura aproximadamente um ano e custa cerca de sete mil reais. “Publicar um livro era meu maior sonho. É uma história de amor e carinho que tenho pelas letras”, comenta emocionado. Ele conta com a ajuda de


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Maria do Carmo Tridapalli Facchini, poetisa e presidente da Academia de Letras de Nova Trento. Ela auxiliou Paulinho, que não sabia por onde começar. “Me interessei pela história dele. Então, pedi que me entregasse seus textos, para organizar, revisar e enviar o material à editora”. Devido à demora na publicação, o autor imaginou que seu sonho não seria concretizado. Isto porque o prazo estimado para a publicação de uma obra depende de suas características, ou seja, de seu projeto gráfico. “Este processo dura de oito

meses a um ano, dependendo do conteúdo, dos números de páginas, das cores e das imagens utilizadas”. A editora é responsável pela revisão e pela diagramação completa. Em seguida, envia a cópia para o cliente. “Com esta parte concluída, já pode ser impresso”, explica Daniella Haendchen, assistente administrativo da Editora Univali. Assim como Paulinho, o jornalista Waldir Gomes assumiu sozinho as despesas de seu livro de poesias. “Paguei tudo do meu bolso. Gastei dois mil reais. Isso porque ele é todo em preto e branco, inclusive as fotografias”. Em busca de apoio, Waldir fez contato com a prefeitura de Canelinha, onde mora. Em vez de recursos para a publicação, a administração municipal, comprou 30 unidades e promoveu a divulgação com coquetel e noite de autógrafos. Waldir enfatiza a importância do incentivo à cultura. “Academias de letras municipais são uma forma de investir nesta área. As secretarias de educação e cultura recebem verbas do estado para isto. O que falta é investimento adequado”. Adilson Amaral, escritor e proprietário de uma editora, explica que a produção literária em Itajaí é de dez obras por ano. Para ele, o maior desafio são os recursos financeiros. “Muitas pessoas não têm verbas para a publicação, que pode variar de 5 a 30 mil reais.” Depois de publicar, há outras dificuldades, como a distribuição e comercialização. São poucas as livrarias da região que abrem espaço para a divulgação do conteúdo local.


Longo e árduo caminho a ser trilhado Sendo assim, o próprio escritor tem que custear o lançamento, divulgar e oferecer o livro ao comércio. Por outro lado, há a vantagem de o autor ficar com todo o valor arrecado com a venda. Em Itajaí, a editora e livraria Casa Aberta abre as portas para autores e permite que escritores deixem os livros em consignação para a venda. Aliás, existe um espaço especial só para esses produtos. “O material local não consegue competir com grandes ícones nacionais e internacionais e a procura também é pequena”, garante o funcionário Enzo Bondía. No Brasil, uma obra que vende dez mil exemplares é considerada um bestseller. Nos Estados Unidos, para atingir essa marca, o

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título precisa, no mínimo, chegar a 500 mil exemplares. As grandes editoras do país são responsáveis por toda a parte de assessoria de comunicação até chegar aos pontos de venda, o que dá mais visibilidade e atrai a atenção do público. Para entender a realidade editorial de Santa Catarina, é preciso pensar no contexto nacional. O custo é elevado para produzir um livro, o número de leitores é baixo. Dados da UNESCO indicam que cerca de 14 milhões de brasi-leiros são analfabetos, e, dos 190 milhões de habitantes do país, somente 20 milhões tem o hábito de comprar livros. PJ Texto| Marcia Peixe Fotos| http://migre.me/7JwOv http://migre.me/7JxUj Acervo pessoal

Quem pode ajudar Editora Univali

Projeto “Cem Cópias Sem Custo

Editora e Livraria Casa Aberta

A editora Univali publica gratuitamente teses de dissertações e monografias, da comunidade acadêmica e também externa. Interessados devem trazer duas cópias sem identificação do autor. Depois de aprovado, entra para o cronograma de atividades. Contato: (47) 3341-7645

O Projeto “Cem Cópias Sem Custo” da Imprensa Oficial do Estado de Santa Catarina prevê a publicação gratuita. As obras são avaliadas, revisadas, organizadas e diagramadas. Interessados podem enviar, também, capas de Cd’s em papel, trabalhos acadêmicos, literários, científicos entre outros. Contato: (48) 2229-6011

Casa Aberta é um dos mais antigos sebos de Santa Catarina. Abriga rico acervo da produção literária que circulou por Itajaí. Além disso, publica obras com financiadamento obtido pelas leis de incentivo à cultura. Contato: (47) 3045-5815


A bela e a fera unidas na paixão pela reportagem Ícone do jornalismo brasileiro, Zé Hamilton autografa o caderno de notas de uma estudante da Univali Florianópolis - Jornalista também erra. Ele errou o nome duas vezes. Nicole? Dominique? Monique, por fim, esquecendo-se de um detalhe: Monike com k. A irritação de costume, de quando erram o nome, não aparece. Desta vez, o franzido na testa dá lugar ao sorriso. Afinal, é um erro perdoável, ainda mais vindo de José Hamilton Ribeiro. Ícone do jornalismo, ele falha na grafia do nome, porém, não peca na produção de uma reportagem. Zé Hamilton é o homem que vê pauta jornalística até em arco-íris. Diante do fascínio por José, desafio a timidez para receber o autógrafo do editor do Globo Rural (TV Globo). E, no rabisco da escrita de Zé, recomenda-me os melhores votos em um autógrafo que outros têm vergonha de pedir. Zé Hamilton pacientemente escreve na caderneta de notas que carrego. O papel com a assinatura

está guardado com carinho. Penso até em emoldurar. A emoção me leva a conversar com ele e faz o coração quase sair pela boca. Denuncia o nervosismo idêntico ao de uma garota apaixonada. Não o amor platônico, aquele pelo príncipe de cavalo branco das fábulas, mas pelo príncipe dos repórteres. Ao vê-lo – em carne e osso – não aguento e a lágrima rola. Uma histeria interna, como a de um fã diante do ídolo de cinema. No caso, o encontro de uma estudante de jornalismo com um célebre repórter. O êxtase de ouvir a voz de quem faz jornalismo de qualidade, profundidade e originalidade. Arrepiar-se com as histórias do Repórter do Século, como é chamado Zé Hamilton. Ele chega logo narrando uma. A de Dona Emiliana, Seu Dirceu, o moço da fazenda do Ceará. Fala no-


A bela e a fera unidas na paixão pela reportagem mes, enumera as reportagens e conta as façanhas de seus pupilos na vida do campo. Zé Hamilton gosta da vida simples. Do campo, da mata e de pessoas. Aprende técnica, crença e superstição com curiosidade. “Só sei que a torneira do lado esquerdo do hotel é a de água quente, o resto vou aprendendo”. A modéstia de Zé instiga estudantes de jornalismo do Brasil inteiro. Se este repórter, com mais de 50 anos de profissão, tem dúvidas, quiçá os alunos. E vendo-o assim, tão de pertinho, tudo nele transparece simplicidade. “Fui ao Mato Grosso, certa vez, fazer uma matéria sobre a reprodução das galinhas caipiras. E eu conheci um senhorzinho danado. Ele falou do galo safado, que tinha no quintal, e que o dono era igualzinho. Fiquei sabendo outro dia que o veinho faleceu. Fiquei chateado, afinal, tomei café com ele e ele me contou as travessuras daquela matança”. Enquanto relata suas andanças por esse Brasil, percebo como é bom sentir o vento na cara e o frio na barriga quando se é repórter e se sai à rua. Identifico-me com esse homem que tem aspiração pelo jornalismo contador de histórias. Acho graça de Zé Hamilton. Muitas vezes, ele dá trabalho, de sobra, aos colegas de equipe. “Tem câmera que trabalha comigo e até reclama de que me aproximo muito das fontes”. Naquela mesmo manhã, ele estava na televisão. É bom ouvir a fala mansa de um homem vivido. A narração sobre a cachoeira e a mata. Mais tarde, ele aparece na tela falando sobre uma fazenda e criação

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de cavalos. Assisto e me perco na locução de Zé. O jeito dele levar o curso da reportagem é envolvente e deixa-me extasiada na poltrona da sala de TV. Esse homem de 76 anos, cabelos grisalhos e pele enrugada, consegue prender minha atenção por mais uma manhã. José Hamilton, na televisão ou ao vivo, ministra sempre uma aula de jornalismo. A experiência das várias mídias, em que já trabalhou, tornou-o um repórter multimídia. E eu, em plena mediocridade, pensando ser minha a geração da convergência midiática. Zé me ensina que prevalece o repórter, independente do caminho e do meio. Seu andar parece perfeito. Quem não o conhece que o diga. “Andar perfeito que ele tem”. Mas, se a calça é levantada 20 centímetros, a ausência torna-se visível. Herança da guerra do Vietnã. A perna esquerda é mecânica. O ano de 1968 foi marcado pela explosão da mina vietcongue perto de Quand Tri. “Este meu pé esquerdo sempre me deu problemas”. Os cabelos brancos são resquícios da época tumultuada de quando trabalhou na revista Realidade. Nos anos 60, da explosão da MPB e da renúncia de Jânio Quadros, a revista se fortaleceu com a influência do New Journalism; movimento que privilegia os personagens com uma narrativa mais literária. José Hamilton Ribeiro viveu na efervescência da Realidade. “Cobriria outra guerra. Mas tinha de ter uma perna boa”. O riso contagiante logo reaparece, pois só brota naqueles que veem graça na vida. PJ Texto| Monike Furtado


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O banquete da Revelam os anos que o jornalismo brasileiro sabe produzir ‘sabor’ por diferentes meios. Em seletas revistas, o tempero permanece seduzindo em bancas convencionais ou não Itajaí - Assis Chateaubriand era esfomeado por informação. Se fosse o único a encher seu prato, Robertos seriam solteiros de redação, Josés virariam quadrúpedes e realidades perderiam a descrição. Haveria pouca cor perto de hospitais. Logo, um tropeço em pedra causaria a exclamação: “Gutemberg!” É vantagem para o leitor o plural de publicações. “Produz concorrência”, diz o jornalista Markus Ferreira. “O ponto chave em que as revistas contribuem para a comunicação é a informação mais apurada. Então, quem lê vai receber um trabalho com profundidade.” O apetite nasce à mesa – diz um ditado português. Logo, o lugar de se fartar são as bancas de jornal. Antes dos anos 2000, estavam em toda esquina. Fechadas, caixote gigante. Abertas, álbum do mundo. Fotos de toda gente. Palavras sobre qualquer assunto. Em frente ao Hospital e Maternidade Marieta Konder Bornhausen, de Itajaí, havia uma. “Eu sei que vender coisas de ler é cada vez menos um bom modelo de negócio no Brasil”,

reconhece o viciado em bancas de jornal, Marcelo Soares. Sim, ela fechou. Mas a banca dos fundos era mais folclórica. Nos anos 1990, ficava onde hoje é entrada do prontossocorro. Tinha degrau de tábua que bambeava até com pouco peso. Era permitido espalhar revistas na frente e nos dois lados. Ninguém roubava, não. Jornais ficavam empilhados em caixotes, apertando a entrada. No balcão, vidros com balas e caixinhas de chicletes. Um dos rostos pendurados por lá era o da Desfile, nascida em 1969, renovação de Jóia - revista de moda lançada em 1957. A publicação, da Bloch Editores do Rio de Janeiro, cruzou os anos 1970, batendo a casa dos 200 mil exemplares por mês. Nos anos 1980, seu conteúdo superava as 300 páginas envoltas com algumas das mais incríveis capas já produzidas no Brasil. Da morenice pantaneira de Luíza Brunet à loirice gaúcha de Xuxa Meneghel. Fechada no ano 2000, como fiadora das dívidas da TV Manchete, reconheceu-se: o capitão afundava com o navio. Ou melhor, um capitão que, dos des-


Palavra de Jornalista

reportagem troços, reconstruía o barco. Roberto Barreira, da direção editorial, continuou na revista junto com a massa falida – um grupo que se propôs a não tirar de circulação algumas das publicações da editora. “Sua lente, apelidada pela redação de ‘o olho do diabo’, não deixava escapulir nada”, revela Gilda Chataignier, jornalista e companheira de trabalho sobre a dedicação do ex-chefe. A partir da revista 367, somaram-se modelos como Isabelli Fontana e Mariana Weickert em, pelo menos, mais 20 números. Roberto Barreira (19432002) e Desfile marcam um casamento de 33 anos, separados apenas pela morte. Boa leitura alimenta o pensamento. Assim como a comida fortalece o corpo. Constrói. Reconstrói. Manchete – nas bancas por 48 anos e três meses – é carimbada como revista ilustrada do fotojornalismo. Mas a ousada criação de Adolpho Bloch contrapõe essa imagem e publica, de 1972 a 1977, a série de artigos “As obras-primas que poucos leram” – em parte, relançadas em quatro livros, a partir de 2005. “Como foi possível? Não sei. Talvez corresse um tempo que era mais das palavras e menos da imagem”, conta Heloísa Seixas. Ela é a escritora que organizou a obra, espantada em saber que uma revista popular dedicasse cinco ou seis páginas, todas as semanas, a artigos de literatura.

O acervo universal tem peso de ‘Em busca do tempo perdido’, de Marcel Proust (por Paulo Mendes Campos – Manchete 1074); ‘Édipo’, de Sófocles (por Otto Maria Carpeaux – 1243); ‘Autobiografia’, de Benjamin Franklin (1223), ‘O tartufo’, de Molière (por R. Magalhães Júnior – 1092); ‘Esplendores e misérias das cortesas’, de Balzac (por Paulo Rónai – 1109); entre outros. “É um atrativo a linguagem jornalística que transita com entretenimento, ou seja, que diversifica as matérias e agrega valor para vários públicos”, reconhece Markus Ferreira, que além de jornalista, é produtor teatral. “É a voz dos clássicos”. *O rosto rosado e bochechudo de bebês se enfrentaram, em junho de 1966, pelo cinturão da boa em vendas. De um lado, Realidade, em seu terceiro mês. Do outro, Manchete. Que soe o gongo! “Posei nu, à revelia, num ensaio sobre o primeiro ano de vida baseado nos ensinamentos do dr. Delamare”, decorre, no livro ‘Os Iramãos Karamabloch’, o então modelo mirim, hoje jornalista e escritor, Arnaldo Bloch. A nudez rendeu polêmica e debate em programa televisivo: “Considerado imoral pela maioria dos presentes, o peru foi salvo pelo mais ilustre deles: ‘Crianças são como anjos: não têm sexo’ – foi a palavra final de Nelson Rodrigues.” Já a revista Realidade, é uma marmita de peão. Feijão bem cozido.

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92 Palavra de Jornalista Arroz de fartas colheradas. Ovo de galinha caipira. Farinha de mandioca para dar “sustância”, como dizem muitos dos amantes da refeição que se apóia na palma da mão. A edição número 26, de maio de 1968, mostra José Hamilton Ribeiro, que, como repórter no Vietnã, perde parte da perna esquerda ao pisar em uma mina terrestre. Na volta ao Brasil, em um programa de TV, é questionado pelo apresentador: “Zé Hamilton, você perdeu uma perna na guerra e continua repórter. É difícil ser repórter com uma perna só?” Zé Hamilton responde: “É mais difícil que com duas, é mais fácil do que com quatro.” O auditório ficou mais de dez segundos em silêncio. Depois foi uma risada só. Realidade apresentou três fases. A primeira e mais brilhante pode ser degustada a se lamber os dedos - e os beiços - nas 33 primeiras edições, como revela o livro “Revista Realidade, 1966-1968: tempo da reportagem na imprensa brasileira”, de José Salvador Faro. Os dois anos – de um total de 10 não completos – são comentados pelo jornalista Sandro Fortunato: “Na primeira página, ao lado do sumário, no expediente, da edição de novembro de 1968 - número 32 - ainda não se sabia, mas era a última vez em que apareceriam os nomes de Paulo Patarra e Sérgio de Souza, como diretor e editor de texto, respectivamente. Quase toda a redação se demitiria.” Chegava, no mês seguinte, o endurecimento do regime militar. A edição número 10, que trazia um raio X da mulher brasileira da época, foi apreendida e não circulou.

Aquela “obscenidade” – segundo um juiz de menores – iria às bancas 42 anos depois, em tiragem especial. Mas a mordaça, quem diria, volta, passados 26 anos de um Brasil democrático. O semanário de celebridades Caras, de 1º. de abril de 2011, traz uma tarja preta na chamada de capa e em reportagem sobre o suicídio da atriz Cibele Dorsa. Ordem judicial proibiu a revista de fazer referência a uma determinada pessoa, próxima da atriz. Tiros velados de censura continuam matando a liberdade de expressão e ameaçando o trabalho jornalístico. Na última revista Manchete, número 2519, de 29 de julho de 2000, nada apontava seu final. Tanto que a redação concluiu a edição seguinte, não impressa pelo fim das negociações para salvar a Bloch Editores. A última revista O Cruzeiro a se exibir prosa nas bancas – onde esteve por 46 anos e oito meses começa assim: “Nesta Casa, só não existe um pensamento, o de fechar O CRUZEIRO” (que...) “Nunca pensou em morrer. Pelo contrário. Está vivinho-da-silva.” Era junho de 1975, e o semanário apresentavase reestruturado, prometendo ser mensal, superar a crise dos Diários Associados e os sete anos de ausência de seu homem forte, Assis Chateaubriand. Na última página, a premonitória despedida tentava ser uma volta. Mas não foi: “Que sua falta seja sentida em cada lar, como seria sentida a ausência da luz ou do alimento. Porque, em suma, O CRUZEIRO há de ser, ele próprio, ao mesmo tempo, para o leitor, ambas essas coisas”.


O banquete da reportagem

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O primeiro número de Realidade e os últimos de Manchete (2519) e O Cruzeiro (ano XLVII n º. 20)

Em O Cruzeiro, David Nasser (1917 – 1980) e Jean Mazon (1915 – 1990) ganham prestígio. É da dupla de repórter e fotógrafo a reportagem “Chico Xavier, detetive do além”, da edição de 12 de agosto de 1944, destacada no filme “Chico Xavier”. Também é de Nasser o texto “Carmem, volte para os bugres”, de 12 de abril de 1952, crítica à Carmem Miranda. Aliás, chama-se “Cobras criadas” a biografia do jornalista, escrita por Luis Marklouf de Carvalho. Dinossauro da reportagem, Joel Silveira (1918 – 2007), “a víbora”, como o apelidou Chatô, por seu estilo ferino e impactante, foi correspon-

dente na 2ª Guerra Mundial para os Diários Associados. O texto “Eram Assim os Grã-Finos em São Paulo” – que está no livro “A Milésima Segunda Noite da Avenida Paulista” – é considerado um clássico do seu estilo. Joel tem mais de 30 livros publicados. Desfile, Realidade, Manchete e O Cruzeiro deixaram de circular, mas podem ser encontradas em bibliotecas e compradas em sebos – lojas de revistas e livros usados. Seus preços “são de troco de pinga”, como dizem seus frequentadores. O mercado virtual de revistas antigas também é opção, mas com faixa de preço maior. PJ

Desfile (300), de Roberto Barreira, e Realidade (03), que enfrentou Manchete (737), em junho de 1966, ambas sobre o primeiro ano de vida do bebê

Texto e Foto| Wagner Heinzen


Palavra de Jornalista A revista Palavra de Jornalista é uma publicação do Curso de Jornalismo da Universidade do Vale do Itajaí.

Expediente 2012/I Reportagem Alan Vignoli; Alberto R. Mergen Neto; Alessandro Carlos Isotton; Alexssandra C. Enderle Mezzomo; Amanda Fumegali; Ana Carolina Maykot; Ana Maria Cordeiro; Andressa Sabedot; Bárbara C. Bernardo; Bruna Osmari; Déborah C. K. Moreira; Diogo S. Campos; Felipe Adam; Gabriela Camara Florencio; Gabriela de Godoy; Gabriele Elene da Silva; Guilherme Alvater da Luz; Guilherme Felipe Furtado Soares; Heloísa Pena Paganelli; Isadora Cruz; Jéssica Aparecida Gamba; Karina da Cunha Pizzini; Leonardo Costa; Manuella Perrone M.; Marcela Amaral Viecelli; Marcia G. R. da Costa; Marcia Peixe; Marina Dutra Garcia da Silva; Monike Furtado; Rodrigo Ramos da Silva; Sidnei Almeida; Stephanie Wrubleski da Rocha; Tairine M. Trainotti; Tamiris Sibele Schlegel; Tatiana H. Sandri da Silva; Wagner Heinzen; Wellington Nardes.

Editora Chefe Vera Sommer Disciplina Jornalismo de Revista Capa Raquel da Cruz Diagramação Raquel da Cruz Projeto Gráfico Diogo S. Campos Tiragem 1.000 exemplares Foto de Capa: Secretaria de Turismo de Nova Trento

Gráfica Gráfica Regente Ltda.




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