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Aborto

Independente da sua opinião #PrecisamosFalarSobreAborto Por Camila Raupp

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alar sobre o Aborto nunca é uma tarefa fácil. Mas independente da minha e da sua opinião, precisamos falar sobre o tema. Aproveitei o gancho da Revista TPM desse mês e da hashtag #PrecisamosFalarSobreAborto para abordar o tema com diferentes contrapontos. Espero poder te ajudar a definir o que pensar sobre o assunto, afinal somos todos livres para defender nossas opiniões. Mas é preciso sempre embasa-la com dados. O primeiro e mais importante ponto a ser discutido é o fato de que a Organização Mundial da Saúde (OMS) estima que a cada dois dias uma mulher brasileira morra vítima do aborto ilegal. Isso sem contar as que sobrevivem, mas com marcas físicas e psicológicas terríveis. Portanto, é inegável que estando ou não legalizado o aborto acontece, e diariamente. A discussão precisa girar em torno de quem são essas mulheres que morrem. Pesquisa feita pela Universidade de Brasília constatou que a maioria das mulheres que abortam no Brasil tem de 25 a 39 anos, é casada, tem filhos e é cristã. Ricas, pobres, atéias ou religiosas as mulheres abortam. “Nós estamos falando de 7,4 milhões de mulheres de 18 a 39 anos. É fato comum à vida reprodutiva das mulheres. Esse é o quadro do aborto no Brasil, que, por ser ilegal, leva as mulheres à clandestinidade, onde um procedimento médico sem risco, em termos técnicos, passa a ser de altíssimo risco, porque muitas se submetem a procedimentos com profissionais não regulamentados, não monitorados, não conhecidos”, explicou a professora da Universidade de Brasília e pesquisadora do Instituto de Bioética, Direitos Humanos e Gênero, Débora Diniz. Vale lembrar que no Brasil em alguns casos o aborto é legalizado, como no caso de ter sido estuprada, se a vítima quiser abortar não é preciso apresentar boletim de ocorrência. Se o feto for anencéfalo, não é preciso apresentar autorização judicial. Nestas condições, a mulher pode exigir os seus direitos e ser atendida pelo SUS, porém essa não é uma tarefa fácil. Mesmo amparada pela lei a mulher encontra dificuldades de ser atendida. Existem motivos reais para defender a legalização e a diminuiição da mortalidade de mulheres nos abortos feitos na clandestinidade em clínicas geridas por médicos e enfermeiros despreparados, em um ambiente sujo e humilhante. Com exceção,

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Manuela D`Ávila aderiu a campanha da TPM deste mês

é claro, daquelas de luxo que funcionam muito bem organizadas nas áreas nobres. Sim, elas existem e aos montes dando lucros altíssimos. Prova é a desarticulação da quadrilha de aborteiros pela polícia civil na Operação Herodes com cerca de 60 pessoas presas. A quadrilha é responsável, segundo a polícia pelas mortes de Jandira Magdalena e Elisângela Barbosa uma morta e carbonizada e outra morta e abandonada em uma comunidade em Niterói, para citar apenas dois exemplos. Para refletir, a nossa opinião sobre o aborto não influência em nada no fato de que

as mulheres vão sim continuar abortando independente do que pensamos sobre aborto. O que precisamos discutir é a regulamentação desse aborto, ser contra na sua vida particular é uma bandeira que podemos levantar mesmo com o aborto liberado. Essa luta pode acontecer nas Igrejas, nas ONGs, na sociedade organizada. Conscientizar, ensinar os métodos contraceptivos e evitar a gravidez indesejada são ações que permanecem sempre. O direito de decidir é da mulher principalmente, e nós devemos encabeçar essa discussão, afinal quem engravida somos nós.

Eu, jamais faria um aborto, como mulher, acho uma agressão ao corpo e a mente mas não posso impôr uma opinião minha ás demais mulheres, até porque eu tenho um casamento estruturado e quantos filhos eu venha a ter existe uma estrutura na minha vida pessoal que me protege. Mas eu sou a exceção. Não acho que minha vida particular pode ser parâmetro. Continuarei contra o aborto, mas a favor do direito da mulher de escolher. A mulher precisa ser dona de seu próprio corpo e tomar suas próprias decisões.

De 31 de outubro a 7 de novembro de 2014 – O Perú Molhado


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