Lembranças

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Não me lembro bem porque, porém me lembro que sempre desejei não me lembrar. Costumava dizer que o melhor que pode acontecer a uma pessoa é esquecer. Esquecer-se de tudo e de todos! Lembrar somente daquilo que possa nos alegrar ou distrair, seja sobre qualquer assunto, desde que não venha se apresentar como um cobrador à nossa porta. Parece estranho, portanto, que alguém que sempre proclamava o esquecimento como a melhor coisa que pode acontecer a uma pessoa, resolva registrar suas lembranças.”

por Ademar Barros Franco

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Lembranças... por Ademar Franco

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A meus pais, Adelaide e Mário (in memoriam), que sempre foram exemplo para a minha vida; A meu irmão Hilário (in memworiam), meu orgulho pela grandiosidade de seus trabalhos, reconhecidos mundialmente pelos seus colegas contabilistas; A minha adorada esposa Marina, amor da minha vida, que nos deu os maravilhosos filhos Elizabeth, Edison e Ademar Júnior; A meus filhos, noras, netos e bisnetos, com muito amor, ofereço minhas Lembranças...

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Índice dOS c a p í t u l os

Lembranças - Prólogo Capítulo Um Capítulo Dois Capítulo Três Capítulo Quatro Capítulo Cinco Capítulo Seis Capítulo Sete Capítulo Oito Capítulo Nove Capítulo Dez Capítulo Onze Capítulo Doze Capítulo Treze Capítulo Catorze Capítulo Quinze Capítulo Dezesseis Capítulo Dezessete Capítulo Dezoito Capítulo Dezenove Capítulo Vinte

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Por que lembrar? Pequena História de Itapira, a minha cidade. Meus pais e meus avós. Minha infância em Itapira. Fatos históricos sobre Mogi Mirim. Infância e adolescência em Mogi Mirim. Falecimento de minha avó Cecília. Novas lembranças de Itapira. A Revolução Paulista de 1932. Meu amor pelos livros. Fatos acontecidos em Mogi Mirim. Juventude em Santos. Alguns trabalhos. Juventude em São Paulo. Meus empregos em São Paulo. Noivado e casamento. Primeira morada e nascimento dos filhos. Meus estudos. Minhas poucas horas de sono. Minha vida profissional depois de formado. Meu pai, minha mãe e suas vidas. Meus irmãos e suas famílias. Meus cunhados e suas famílias. Meus tios, irmãos de meu pai, e suas famílias. Aprovação em concurso. Fatos que antecederam as provas.

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Capítulo Vinte e Um Capítulo Vinte e Dois Capítulo Vinte e Três Capítulo Vinte e Quatro Capítulo Vinte e Cinco Capítulo Vinte e Seis Capítulo Vinte e Sete Capítulo Vinte e Oito Capítulo Vinte e Nove Capítulo Trinta

Nomeação e permanência em Joinville (SC).

Capítulo Trinta e Um Capítulo Trinta e Dois Capítulo Trinta e Três Capítulo Trinta e Quatro Capítulo Trinta e Cinco Capítulo Trinta e Seis Capítulo Trinta e Sete Capitulo Trinta e Oito Capitulo Trinta e Nove Capitulo Quarenta Último Capítulo

Volta à atividade de auditoria. Elaboração de livros técnicos

Viagens a serviço na jurisdição de Joinville. Falecimento de meus sogros. Seu legado. Assumindo a Delegacia de Araraquara. Participação em atividades sociais e esportivas, em Araraquara. Início da exploração do sítio herdado. Designação para Campinas. Convocação para curso. Instalação da Delegacia da Receita Federal em Santos. Amizades que ainda perduram em Santos. Nomeação para exercer o cargo de Superintendente da Receita

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Federal da 8a Região Fiscal. Títulos que me foram outorgados. Instituto dos Auditores Independentes do Brasil - IAIB. Casamento dos filhos e nascimento dos netos. Nascimento de meus bisnetos. Misticismo? Místico? Ainda meus passatempos. Como surgiu o Sanatório Américo Bairral. O jornalista Mário Franco. Nossa residência atual. A razão destas lembranças. Resposta à pergunta do PRÓLOGO.

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PRÓLOGO

Por que lembrar? Não me lembro bem porque, porém me lembro que sempre desejei não me lembrar. Costumava dizer que o melhor que pode acontecer a uma pessoa é esquecer. Esquecer-se de tudo e de todos! Lembrar somente daquilo que possa nos alegrar ou distrair, seja sobre qualquer assunto, desde que não venha se apresentar como um cobrador à nossa porta. Parece estranho, portanto, que alguém que sempre proclamava o esquecimento como a melhor coisa que pode acontecer a uma pessoa, resolva registrar suas lembranças. Talvez, com a chegada da idade, que dizem ser, no meu caso, 87 anos, a terceira, perceba-se que nada se terá feito se nada do que se fez tenha sido registrado por alguém. Como não chegou a meu conhecimento que alguém haja registrado meus feitos, creio que eu mesmo deva registrá-los. Mesmo que não se tenha realizado grandes feitos, penso, atualmente, ser interessante registrar as pequenas coisas realizadas, para conhecimento dos pósteros, parentes, ou simplesmente conhecidos.

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Nesse registro de acontecimentos e realizações de cada um, sempre poderão ser transmitidos os agradecimentos àqueles que deveriam merecê-los, porém não ouviram, de viva voz, as palavras que gostariam de ter ouvido. Do mesmo modo, aqueles que por mim foram prejudicados, merecem receber meu pedido de desculpas, ou mesmo, em alguns casos mais graves, meu pedido de perdão. Por outro lado, as pessoas que porventura me tenham prejudicado, também devem ter conhecimento de que foram desculpadas e perdoadas. Não irei enunciar os casos que estão sendo desculpados ou perdoados, bem como não serão citados os meus deslizes e minhas culpas, os quais, quero crer, Deus, em sua infinita bondade, já deve ter desculpado e perdoado. No decorrer deste relato, Minhas lembranças, haverá casos específicos de pedidos de desculpas e de perdão, com a citação do fato e indicação da pessoa prejudicada pela minha displicência ou incompetência, fatos que, se não tivessem acontecido, poderiam ter resultado melhores situações para tais pessoas, atualmente. Meus relatos já tinham sido iniciados, quando meu primo, Nelson Teixeira Franco, falou-me sobre um livro que possuía, o qual ganhara de minha tia Vidica, o qual relatava fatos sobre Itapira, a minha cidade. Pedi-lhe, emprestado, o livro em questão, a fim de refrescar minha memória a respeito de minha querida Itapira. Utilizei, em transcrição, muitos trechos desse álbum. O livro, intitulado Álbum de Itapira, acabou influenciando na minha decisão de somente contar fatos acontecidos comigo e com os meus, para incluir alguns capítulos sobre a História de Itapira. Com essa inclusão, resolvi procurar algo sobre Mogi Mirim, terra de minha esposa, onde passei grande parte de minha infância e juventude. O livro Monografia Geográfica de Mogi Mirim foi-me, também, de grande utilidade, pois também transcrevi muitos trechos desta obra, principalmente toda a parte referente aos jornais que foram publicados em Mogi Mirim. Além dessas obras, meu irmão caçula, o Mário, forneceu-me cópia de registros de nascimento, casamento, batismo e de óbito de várias pessoas da família, os quais acabei também utilizando nestas lembranças.

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I ta p i r a

1 Pequena História de Itapira, minha cidade O livro citado no Prólogo, conta a história de Itapira, desde a emissão de cartas de sesmarias localizadas no território da Itapira de hoje. Os donatários dessas sesmarias foram os ascendentes do iniciador da freguesia de Nossa Senhora da Penha de Mogi Mirim, depois transformada na atual Itapira, e do doador dos terrenos para o patrimônio da povoação. O documento mais antigo que foi encontrado pelo pesquisador, autor do livro, foi o da sesmaria concedida, em território hoje ocupado pelo município de Itapira, a Manoel Pereira Velho, em 1716. Outra sesmaria, referente a Itapira, foi concedida em 28 de setembro de 1728, ao sargento-mór Manoel Gonçalves de Aguiar. Um pouco mais tarde, foi concedida sesmaria a Manoel dos Santos Silva, de meia légua em quadrado, buscando o sertão começando a correr das terras do defunto Manoel Pereira Velho. Segundo o autor do Álbum de Itapira, é dispensável grande perspicácia para identificar em sargento-mór Manoel Gonçalves de Aguiar, Manoel Pereira Velho e Manoel dos Santos Silva, os ascendentes de Manoel Pereira da Silva e João Gonçalves de Moraes que tantos anos mais tarde deveriam ser, um o iniciador da povoação de N.S. da Penha de Mogi Mirim, depois transformada na Itapira de hoje, e outro, o doador dos terrenos para o respectivo patrimônio. João Gonçalves de Moraes, como relata o Álbum, possuía bela imagem da Virgem Santíssima da Penha, que herdara de antepassados, colocara-a sobre móvel, na casa de sua morada, congregando ao redor da Santa, com muita freqüência, outros moradores, dos quais recebia espórtulas. Isso acontecia, segundo o Álbum, por volta de 1800. Ainda segundo a obra citada, Manoel Pereira da Silva, homem simples, bondosíssimo e dotado de profundos sentimentos religiosos, embora de poucas luzes, compreendia a inconveniência de continuarem as coisas desse modo e, procurando João Gonçalves de Moraes propôs-lhe a feitura de modesta capela, na qual a Santa, melhor alojada, continuasse a receber as homenagens do povo.

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Cenas de Itapira ao alto, a Igreja Matriz de Nossa Senhora da Penha.

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Moraes concordou e reunidos os moradores para a escolha do local destinado ao novo templo, foi escolhido o topo de uma colina, em terreno que pertencia ao próprio Moraes. A derrubada do mato, para a construção, foi iniciada, de mão comum, na madrugada de 24 de outubro de 1820, continuando vagarosamente, pois era impossível o pessoal dedicar todo o tempo na empreitada, abandonando as suas lavouras. Esta data de 24 de outubro foi considerada como da fundação da cidade, como se vê na comemoração do Primeiro Centenário da Fundação de Itapira, festejado no dia 24 de outubro de 1920, conforme relatos no Álbum de Itapira, página 75, nos seguintes termos: “Grandes festejos assinalaram a passagem do primeiro centenário da fundação da cidade, em 24 de outubro de 1920. Pela manhã a cidade apareceu ornamentada, vendo-se bandeiras por toda a parte. A chuva torrencial que caía impediu a realização de alvorada, procissão e missa campal no Cruzeiro. Melhorando o tempo, houve sessão solene na Câmara, às 12 horas, presidida pelo snr. Major João Manoel de Oliveira. Às 16 horas, teve lugar grandioso festival esportivo no ground do Parque Municipal. Às 18 horas, na Matriz, coroação da primitiva imagem da Virgem Senhora da Penha, seguindo-se solene Te-Deum. À noite, a cidade foi lindamente iluminada, encerrando-se os festejos com animado sarau dançante no Clube XV de Novembro”. (Ver nota). Somente no mês de março de 1821, a capela foi concluída, sendo a imagem trazida, em procissão, para sua nova morada. A 19 de março de 1821 foi celebrada a primeira missa, dia consagrado ao Patriarca São José, passando o lugarejo a ter o nome de Penha da Boa Vista. A 23 de setembro de 1823, mais de dois anos após a primeira missa,o Bispo Diocesano D. Matheus de Abreu Pereira concedeu a licença ao novo templo tendo, porém, exigido a doação do competente patrimônio. Foi doado, por João Gonçalves de Moraes, “trezentas braças de terras em quadra, para o patrimônio de Nossa Senhora da Penha, citado que no local já se encontrava o Oratório de Nossa Senhora”. Com o aumento do povoado, impôs-se a construção de pequeno campo santo, transferindo o oratório para outro local e localizando o cemitério no ponto deixado pelo templo. Em 1835 era conseguida a capela curada de Nossa Senhora da Penha de Mogi Mirim. Em 1840, conta o Álbum, chegou ao povoado o Comendador João Batista da Araújo Cintra, trazendo idéias avançadas para a época. Adquiriu vasta área de terrenos, abriu fazendas e iniciou a cultura de café, com bastante pasmo dos outros lavradores cujas atividades não iam além da criação de porcos. As casas do povoado eram todas de madeira. O comendador Cintra mandou construir, para sua família, o primeiro prédio de taipas, fato que constituiu acontecimento sensacional. Ao mesmo tempo, decidiu substituir a modesta capela, por um templo maior, inteiramente de taipa, dando início à obra em 1842. Segundo relato da construção, no livro nº 1 de Registro de Ofícios, a fls. 38 e seguintes, do Arquivo da Municipalidade, o Sr. Araújo Cintra contribuiu com 12 contos de réis para a realização da obra. A construção da igreja só foi terminada em 1857, quando foi realizada a transladação da imagem da Virgem padroeira, que havia ficado na pequenina capela primitiva. Pela Lei nº 1, de 8 de fevereiro de 1847, foi criada a Freguesia de Nossa Senhora da Penha, antiga Penha de Mogi Mirim, sendo que, pela Lei nº 4, de 2 de março de 1858, foi criada a Vila de Nossa Senhora da Penha do Município de Mogi Mirim, instalada a 20 de setembro de 1858, tomando posse os NOTA: O Major João Manoel Pereira de Oliveira era irmão de minha avó Cecília Pereira de Oliveira Franco, portanto meu tio-avô.

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vereadores. Em discussão sobre várias medidas a tomar, os edis entenderam que a proibição das armas fosse das principais. Em sessão de 27 de novembro de 1858 ficou estabelecido não ser tolerado o uso, na povoação, de pistolas, bacamartes, facas de ponta, sovelões, punhais, espadas, foices e machados. Nesse mesmo dia iniciou-se a construção de prédio especial para cadeia e câmara, sendo incumbido da direção dos trabalhos o Sr. Comendador Cintra. (Ver nota1). A Câmara deliberou, em 23 de janeiro de 1859, a cobrança do imposto de seis patacas de cada rês abatida. Foi criada, pelo Bispo Diocesano, a Irmandade do Santíssimo Sacramento, em 5 de dezembro de 1860, que foi confirmada por decreto do Presidente da Província em 19 de dezembro de 1860. Em 22 de abril de 1865 a Câmara dos Vereadores solicitou a instalação de uma agência postal, no que foi atendida pelo governo, sendo criada a nova repartição no dia 18 de maio seguinte, com a nomeação de agente do correio e de um ajudante. Em 1865, rebentou a guerra do Paraguai. A municipalidade, em sessão de 24 de setembro de 1865, deliberou convocar o povo para uma grande reunião a fim de ajudar o Brasil na luta. O comício ocorreu em 29 de outubro de 1865, sendo nomeada comissão para angariar fundos, aliciar voluntários, preparar a Guarda Municipal etc. Nos meses de novembro e dezembro foi feito recrutamento geral, o qual fracassou por completo, pois só foram recrutados 15 indivíduos. Em atendimento a uma reivindicação do povo, o governo, pela resolução nº 41, de 20 de abril de 1871, mudou para Penha do Rio do Peixe o nome do município. Foi fundada a Igreja Evangélica, em 10 de janeiro de 1876, tendo seus fiéis solicitado localização de terreno para um cemitério. Em 4 de maio de 1876 foi feita tal designação, bem como para a Irmandade do Santíssimo Sacramento. O Governo do Estado estabeleceu a criação do termo da Penha do Rio do Peixe. A edilidade representou contra essa medida, em 22 de fevereiro de 1877, alegando ser pequeno o número de jurados no município, que contava nessa época com 5985 habitantes. (Ver Nota2). Apesar da representação do governo municipal, as autoridades provinciais criaram o termo em 17 de outubro de 1879, ocorrendo a instalação a 8 de novembro do mesmo ano. A primeira sessão do Júri realizada em Itapira, antes de ser comarca, foi no dia 8 de março de 1880, presidida pelo Dr. João Gonçalves de Oliveira, juiz de Direito de Mogi Mirim, servindo de promotor o Dr. Pedro Nunes Leão Velloso e escrivão interino José Pires Monteiro. Não havia iluminação pública na vila, sendo alvitrada a idéia de efetivar-se esse melhoramento por meio de combustores de querosene. Como não havia verba, o vereador Antonio José Vilas Boas propôs, em sessão de 12 de janeiro de 1881, que se fizesse uma subscrição popular para a aquisição. Aprovada a idéia foram instalados 20 lampiões belgas nas principais ruas. Na semana santa de 1882, o serviço de iluminação pública a querosene estava pronto e a Câmara mandou acender os lampiões. Em 1 de janeiro de 1883 teve lugar a inauguração da iluminação pública a querosene, sendo contratante desse serviço o Sr. João Batista Trani. NOTA 1: Sovela s.f. (Do lat. subella por subula) Instrumento com que os sapateiros furam o couro para cosê-lo. (Grande Dicionário Larousse Cultural da Língua Portuguesa). NOTA 2: TERMO, s.m. Subdivisão da comarca, sob a jurisdição de um juiz.

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O Matadouro Municipal abriu-se no dia 8 de fevereiro de 1881. Em 21 de maio de 1881 a Câmara de Vereadores endereçou representação à Assembléia Legislativa pleiteando a elevação à categoria de Cidade a Vila da Penha, esclarecendo que “possui uma boa Matriz, uma excelente cadeia e casa da Câmara e uma população de mais de 7.000 almas”. Pela Lei nº 89, de 27 de janeiro de 1881, o governo da Província elevou a Penha do Rio do Peixe à categoria de cidade. A instalação solene deu-se a 6 de agosto de 1881 com grandes manifestações da população. Em 15 de setembro de 1880 haviam sido iniciados os trabalhos relativos à construção de um ramal ferroviário ligando Mogi Mirim a Itapira, o qual foi inaugurado a 31 de julho de 1882. Em 15 de outubro de 1891 foi inaugurado o prolongamento da estrada de ferro da Companhia Mogiana de Itapira até Eleutério. A Comarca de Espírito Santo do Pinhal foi criada pela Lei nº 62, de 28 de maio de 1881, porém só foi instalada em sessão da Câmara Municipal de Itapira, em 30 de outubro de 1883. Fato que não deixa de ser interessante. Em 9 de julho de 1882 a Câmara deliberou dar nome às ruas, utilizando as seguintes indicações: À travessa que da casa Vieira & Irmão vai ao chafariz: Rua da Fonte – À que passa pela casa do cônego Thomaz: 28 de setembro – À que da casa de Messias Antonio Franco vai à frente da casa de Frederico Prado: Rua Saldanha Marinho etc. As ruas, portanto, passaram a ter nomes, porém não havia indicação desses nomes nas esquinas, o que foi resolvido em sessão de 25 de fevereiro de 1883. Somente em 1887, os prédios da zona urbana receberam numeração. (Ver nota). A edilidade da época empenhava-se com o maior esforço no sentido de dotar a cidade de abastecimento de água, porém a falta de recursos do erário municipal aniquilava todas as tentativas. Em sessão de 28 de fevereiro de 1887 o vereador Alberto de Azevedo propôs e foi aceito que se angariassem donativos da população. O governo da província, sabendo do problema, autorizou a aplicação do produto de uma loteria destinada a auxiliar as obras da Santa Casa, em favor do abastecimento. Em 11 de fevereiro de 1888, foi assassinado o Sr. Joaquim Firmino, delegado de polícia da cidade, que lutava pela libertação dos escravos. Este fato não foi registrado no Álbum de Itapira, sendo de meu conhecimento, por artigos escritos por meu pai em seu jornal e, ainda, porque minha avó Cecília estava, nessa ocasião, grávida de seu primeiro filho, meu tio Abílio, nascido a 13 de maio de 1888, sendo que meu avô sempre me recontava os fatos ocorridos. Nesse mesmo dia 13 de maio foi extinta a escravidão no Império do Brasil, sendo que, a 14 seguinte, a Câmara reuniu-se para propor uma homenagem à gloriosa Lei do dia anterior, apagando de nossa Pátria essa negra mancha que por tanto tempo nos humilhou perante os povos civilizados. A Câmara suspendeu os trabalhos, os vereadores foram à Matriz, assistindo a um solene te-déum e tomando parte, depois, em grande passeata. Proclamada a República, no dia 15 de novembro de 1889, no dia 17 seguinte realizou-se na Câmara Municipal sessão aberta ao público, presentes todas as autoridades locais. A 28 de janeiro de 1890, a Câmara Municipal convocou concorrentes para a execução do plano de abastecimento de água para a cidade. A Companhia Luz Elétrica de São Paulo propôs ao Conselho de Intendência, que havia substituído a Câmara de Vereadores, que foi dissolvida, dotar a cidade de iluminação por eletricidade. Essa proposta aconteceu no dia 8 de fevereiro de 1890. NOTA: Messias Antonio Franco era meu avô, pai de meu pai, de quem falarei em próximo capítulo.

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Nessa mesma data o intendente Joaquim Pires Monteiro propôs que se representasse ao governo pedindo mudar para Itapira o nome do município. A 1º de abril de 1890, o decreto nº 40 mudou para Itapira o nome de Penha do Rio do Peixe, até então dado ao município. Em abril de 1891 todos os membros do Conselho de Intendência apresentaram seu pedido de demissão, tendo sido nomeados, em substituição, os senhores João Manuel Pereira de Oliveira, presidente; Francisco Ferreira de Mesquita Júnior, Francisco Augusto Gomes da Cunha, Joaquim Albano da Cunha Canto e Joaquim Francisco de Assis Vieira. Pouco mais tarde, o Sr. Mesquita Júnior solicitou exoneração, tendo sido substituído pelo Sr. Jacyntho Franklin da Cunha. (Ver nota1). Instalada em Itapira, desde 30 de outubro de 1883, a sede da Comarca de Espírito Santo do Pinhal permaneceu até que a Lei nº 80, de 25 de agosto de 1892, criou a Comarca de Itapira, que foi instalada em 8 de outubro desse ano pelo Dr. José Maria Bourroul, que havia sido nomeado juiz de direito. Em 29 de setembro de 1892 havia sido empossada a primeira câmara depois do advento da República, composta dos Srs. Francisco Ferreira de Mesquita Júnior, presidente; Bento Ignácio de Alvarenga Cunha, intendente; João Manuel Pereira de Oliveira, meu tio-avô, como já informado anteriormente, David José Pereira da Silva, Francisco Otaviano de Vasconcellos Tavares, Joaquim Albano da Cunha Canto, Deodato Serrano Cintra e Jacyntho Bueno, os demais membros. Em 7 de fevereiro de 1893, a edilidade solicitou do governo a instalação do Telégrafo Nacional na cidade. Em 5 de abril do mesmo ano foi concedida gratificação mensal de 35$000 (trinta e cinco mil réis) ao agente do correio que ameaçava demitir-se em virtude da exigüidade de seus vencimentos. Em setembro de 1893, foi organizada uma guarda cívica, custeada pelos cofres municipais, em virtude do governo haver retirado as poucas praças (soldados) que estavam destacadas para a cidade. Em abril de 1896, a Câmara de Vereadores deliberou desapropriar terreno, anexo ao Cruzeiro, para construção de um bom reservatório para o abastecimento de água. As obras do primeiro abastecimento de água instalado em Itapira foram inauguradas em 25 de dezembro de 1897, com o povo promovendo ruidosa manifestação de apreço aos dirigentes do município. Somente em 25 de maio de 1933 aconteceu o lançamento da pedra fundamental da ampliação do serviço de reabastecimento de água, bem como houve a inauguração do playground do Parque Municipal. A primeiro de janeiro de 1900 teve lugar a solene inauguração do novo mercado e a primeiro de agosto do mesmo ano iniciou-se o serviço de esgotos na cidade. Recenseamento, na época, apurou população de 25.000 almas no município. Em 1º de abril de 1902 foi fundada a Sociedade Beneficente Operária, da qual o primeiro presidente foi meu avô, Messias Antonio Franco. A 23 de setembro de 1905 foi fundada a Societá Italiana di Mutuo Soccorso. Seus fundadores foram os Srs. Ângelo Bertoni, Dr.André Veltri e Pedro Tortima, sendo eleita sua primeira diretoria com a seguinte composição: Virgínio Avanzini, presidente; Victorio Moro, vice-presidente; Júlio Cavenaghi e Antonio Bianchi, 1o e 2o secretários; João Cavenaghi, tesoureiro. (Ver nota2).

NOTA 1: O Sr. João Manuel Pereira de Oliveira era irmão de minha avó, Cecília Pereira de Oliveira Franco, portanto meu tio-avô, como já informei anteriormente. NOTA 2: Júlio Cavenaghi era tio de minha mãe, irmão de seu pai, como é esclarecido em próximo capítulo.

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Conselheiros: Annibal Del Corso, Antonio Donati, João Secchi, João Bianchi, João Trani, José Andreoli, Benjamin Zanovello, José Boretti, Firmino Marconi e Wenceslau Pasquali. Os senhores Américo José Augusto e Francisco da Rocha Campos doaram, em 10 de agosto de 1903, potente cachoeira a ser utilizada na montagem de usina destinada a fornecer energia elétrica à cidade. Ruidosas festas assinalaram, em 14 de maio de 1905, a inauguração da luz elétrica na idade, desaparecendo os lampiões de querosene. A pedra fundamental da Santa Casa de Misericórdia de Itapira foi lançada no dia 24 de fevereiro de 1907, com grandes solenidades. O primeiro pavilhão da Santa Casa foi inaugurado a 5 de julho de 1908, sendo que a 14 de novembro do mesmo ano o hospital iniciou o seu funcionamento regular. O segundo pavilhão foi inaugurado em 14 de abril de 1909. A cidade realizou, em 20 de fevereiro de 1916, grande manifestação de apreço ao escritor Menotti Del Picchia que, a partir de 1936, foi meu patrão em São Paulo, na União Jornalística Brasileira, como será contado em outro capítulo. A Companhia Telefônica Brasileira já operava o serviço de comunicação interurbana, e propôs, em 1º de julho de 1918, encarregar-se da rede telefônica urbana. No dia 5 de novembro de 1921, com a presença do Presidente do Estado, foi inaugurada a rodovia para as Termas de Lindóia.

Estabelecimentos bancários fundados ou instalados em Itapira. O mais antigo estabelecimento bancário instalado em Itapira foi o Banco de Custeio Rural, em 15 de agosto de 1907. Fundada em 1909, a Casa Bancária José de Souza Ferreira representou o Banco do Brasil, na cidade, até 1933, quando este Banco aqui instalou sua agência. Em 1º de julho de 1923 foi inaugurado o Banco Agrícola de Itapira. O Banco Comercial do Estado de São Paulo instalou, em prédio próprio, a sua agência em Itapira, em 2 de dezembro de 1924.

Jornais que surgiram em Itapira. Em 1902, surgiu o jornal A Gazeta de Itapira, dirigido pelo Sr. Avelino Pupo Nogueira. Três jornais surgiram em 1907. Em 1º de janeiro surgiu A Cidade de Itapira, com oficinas próprias, pertencendo a uma associação e tendo como redator o Dr. Mário Fonseca; em março apareceu o Mexe-Mexe, jornalzinho crítico orientado pelo sr. A. R. Gomes e em outubro, O Tempo, sob a redação do Sr. Pedro Eirale. Estes dois últimos tiveram vida efêmera. O Itapirense era impresso em Mogi Mirim, já existindo anteriormente. Em janeiro de 1912 iniciou sua publicação o Commercio de Itapira, jornal dirigido pelo Sr. Ludovico Andrade. Em 1916 surgem mais dois jornais: Patria degli Italiani, dirigido pelo senhor Rodolpho Paladini, que em 1919 foi patrão de meu pai, e o Bandolim, pequeno órgão orientado pelo Sr. Leopoldino Franco. Em 1º de março de 1917 mais um jornal veio a lume: O Porvir, dirigido pelo Sr. Adeodato Neves. Ainda em 1917 circulava O Grito do Povo, pequeno jornal, dirigido pelo Sr. Avelino de Oliveira Carvalho e o Primeiro de Abril, do Sr. Pedro Eirale. Em setembro de 1919 iniciou sua publicação o pequeno

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semanário O Pharol, dirigido pelos senhores Manoel Vieira de Andrade e Albertino da Costa Andrade. Este último trabalhou com meu pai, em Mogi Mirim, no ano de 1934. Em 1920, mais três jornais foram lançados na cidade: Egreja Brasileira, dirigido pelo Sr. Avelino de Oliveira Carvalho, Correio Sportivo, orientado pelo Sr. Leopoldino Franco e Gazeta do Povo, de Albertino Andrade. Em 1º de maio de 1926 iniciou sua circulação o jornal Primeiro de Maio, dirigido pelo Sr. Godofredo Arruda. A 20 de maio de 1928 circulou o Jornal do Commercio, folha dirigida pelo Sr. Ataulpho de Ulhoa Canto. Em 1931, quando minha família voltou a morar em Itapira, papai trabalhou no jornal A Cidade de Itapira, como seu editor. Em março de 1931 iniciou sua publicação o jornal O Município, dirigido pelos Srs. Lázaro Tavares e Ulpiano Del Picchia.

O ensino em Itapira. Escolas fundadas. Até 1858 existia, em Itapira, somente uma escola particular dirigida pela Sra. Thereza Gertrudes do Carmo. A Câmara obteve a localização da primeira escola pública, regida pela professora Elisa Carolina de Toledo Dantas. Em 1868 já funcionavam duas escolas públicas e uma particular, com grande freqüência de estudantes. Foi inaugurado solenemente, em 5 de março de 1883, um colégio dirigido pelo professor Tarquínio da Silva. O coronel José de Souza Ferreira trabalhava ativamente para a criação de um grupo escolar na cidade. Após várias providências, conseguiu a promessa de realização do melhoramento desde que a Câmara Municipal auxiliasse a construção do edifício com 15 contos de réis. Em sessão de 18 de janeiro de 1896, a vereança concordou em entrar com o auxílio desejado pelo governo do Estado. Em 15 de junho de 1898, a Câmara Municipal pediu ao governo que fosse dado o nome do Dr. Júlio de Mesquita, prestigioso jornalista e homem público de extraordinário mérito que muitos e assinalados serviços havia prestado à cidade. No ano de 1931 voltei a morar na cidade, por alguns meses. Matriculei-me no Grupo Escolar Dr. Júlio de Mesquita, no quarto ano primário, tendo sido minha professora a senhora Diva Magalhães Ornellas. Em 20 de fevereiro de 1898, o professor Miguel Lopes Cardim fundou o Externato Itapirense. Segundo o autor do Álbum de Itapira, livro que estou consultando, o Externato Itapirense foi, sem dúvida o primeiro estabelecimento particular de ensino verdadeiramente organizado. Em minha mocidade conheci o professor Miguel Cardim que faleceu em 1934, ou 1935, quando eu já morava em Mogi Mirim. Ainda no Álbum de Itapira, encontro, na página 110, na biografia do Dr. Hortêncio Pereira da Silva, citação sobre ter esse médico realizado os estudos primários na terra natal, no Colégio São Francisco... Como não encontrei dados sobre esse Colégio, verifico que tendo nascido em 21 de junho de 1888, o Dr. Hortêncio o tenha freqüentado até o ano de 1898 ou 1899, tendo seguido para São Paulo e se matriculado no Ginásio Diocesano, onde fez o curso de humanidades. Em 1906 ingressou na Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro... doutorando-se em 1912. Portanto, apesar de não ter conseguido identificar a data da fundação do Colégio São Francisco, é certo de que deve ter sido fundado antes do ano de 1900. Fica aqui o registro a respeito desse Colégio. Em março de 1910 os professores Nicanor Pereira da Silva e Gastão Strang instalaram o Externato

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Modelo. Em janeiro de 1916 a senhorita Maria de Souza Ferreira um Jardim da Infância e os professores Rogério Pereira da Silva e José de Oliveira Camargo abrem o Atheneu Itapirense. Em 1917, as professoras Lucilla Vasconcellos e Anna de Oliveira, fundam a Escola Modelo Particular. Em janeiro de 1922, a professora Maria Angélica Xavier Ferreira iniciou sua escola de datilografia. O professor Ismael de Assis Pinto, que conheci pessoalmente, e que morava em frente à casa de meu avô Messias, deliberou reger aula gratuita aos soldados do destacamento local, iniciando-a em 20 de julho de 1916. Em 10 de fevereiro de 1923 foi inaugurado o Colégio Coração de Jesus, dirigido pelas Irmãs das Escolas Cristãs. Devo ter freqüentado este colégio a partir de 1924. Em 1927 funcionava o Colégio São José, dirigido pela professora Tharcília Pinheiro. No dia 17 de janeiro de 1930 foi inaugurado o prédio do Colégio Santo Antonio, dirigido pelas missionárias de Jesus Crucificado. O Álbum de Itapira relaciona as escolas estaduais providas existentes nos distritos do município de Itapira no ano de 1935, a saber: • Profa. Antonietta I. Monteiro – Eleutério – 30 alunos; • Profa. Maria Francisca Fonseca – Ponte Nova – 31 alunos; • Profa. Cristina Falcione – Eleutério – 30 alunos; • Profa. Emília Vedovello – Santa Joanna – 30 alunos; • Profa. Hermione Lopes – Barão Ataliba Nogueira – 30 alunos; • Profa. Hothmont Pinheiro – Eleutério – 30 alunos; • Profa. Irene A. Trigo – Sartorelli – 32 alunos; • Profa. Maria do Carmo Salgado – Pinheiro – 34 alunos; • Profa. Maria de L. R. Campos – São Roque – 33 alunos; • Profa. Maria da Penha P. Cruz – São Luiz – 30 alunos; • Profa. Maria Vera Fonseca – Barreiros – 28 alunos; • Profa. Matídia I. Monteiro – Palmeiras – 38 alunos; e • Profa. Parcina Nazareth F. Alves – Tanquinho – 32 alunos

Efemérides de Itapira. • 1856: Em 6 de janeiro nasce meu avô Messias Antonio Franco, falecido em nossa casa, em São Paulo, em junho de 1940. • 1866: Nasce minha avó, Cecília Ermelinda Pereira, falecida em 23 de março de 1929. • 1875/1876: Chegada, em 1875, do Reverendo Eduardo Lane que, em 10 de janeiro de 1876, iniciou a organização da Igreja Presbiteriana de Itapira. • 1880: Criada, em 8 de julho, a Coletoria Estadual em Itapira. • 1886: Casamento de meus avós, Messias e Cecília, no dia 6 de janeiro, conforme certidão mostrada em anexo, nas páginas finais deste livro. • 1888: No dia 13 de maio de 1888 nasce o primeiro filho do segundo casamento de meu avô, meu tio Abílio Franco, falecido em Santos, em 14 de fevereiro de 1976. • 1890: Nascimento de meu tio Oscar, falecido em janeiro de 1918, na cidade de Santos.

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• 1894: Nasce meu tio Benedito Otávio, o Doca, no dia 9 de julho desse ano. • 1895: Inaugurado o Teatro Santana, construído pelo Sr. Vitorino Proost de Souza. • 1896: Nascimento de meu pai, Mário, no dia 3 de agosto de 1896, conforme certidão mostrada em anexo, no final deste livro. • 1898: Nasce meu tio Luiz, o Lulu, falecido em São Paulo. • 1898: Fundado, em 15 de novembro de 1898, o Clube Recreativo XV de novembro. Em reunião na casa do major David Pereira da Silva, em 8 de outubro de 1899, foi eleita sua primeira diretoria. Meu tio-avô, João Manoel Pereira de Oliveira foi o tesoureiro eleito nessa primeira diretoria. • 1899: Nascimento de minha mãe, Adelaide, no dia 25 de agosto de 1899. Certidão apresentada em anexo, no final deste livro. • 1902: Em 13 de abril de 1902 foi fundada a Sociedade Beneficente Operária Primeiro de Maio, sendo seu primeiro presidente meu avô, Messias Antonio Franco. • 1905: Fundada, no dia 23 de setembro, a Societá Italiana de Mutuo Soccorso. • 1909: Em 10 de abril de 1909 foi fundada a Banda Musical Lyra Itapirense. • 1911: Em maio desse ano teve início a construção de prédio destinado à sede da Sociedade Espanhola. • 1914: O Centro Espírita Luiz Gonzaga foi fundado em 17 de setembro desse ano. Minha intuição sempre me dizia que esse Centro teria sido a semente para a instalação, em Itapira, do Sanatório Américo Bairral, porém, apesar de ter solicitado a vários amigos que obtivessem, no Sanatório, algum prospecto sobre a sua fundação nada havia conseguido. No mês de julho de 2004, um motorista de praça que se tornou meu amigo, de nome Roberto Silvestre, contou-me ser de Itapira, onde ainda residia sua família, sendo que sua irmã trabalhava no Sanatório. Falei-lhe sobre a intenção de conseguir algum prospecto sobre o Hospital e sua fundação tendo ele oferecido conversar com sua irmã sobre o assunto. Com a informação de sua irmã de que havia um único exemplar de um livro, com 240 páginas, sobre o assunto, sendo que o proprietário permitiria ceder o livro para que se providenciasse cópias xerox, imediatamente solicitei que sua irmã conseguisse essas cópias que eu estaria disposto a pagar por elas. O Roberto trouxe-me as cópias xerografadas desse livro que imediatamente comecei a examinar. Resolvi, então, dedicar um capítulo a essa obra. Como minhas Lembranças estavam completas, o capítulo em questão será o antepenúltimo, de número 38, no qual procurarei contar a história do Sanatório, sem me tornar enfadonho. • 1916: Foram concluídas e receberam a bênção do cônego Guerra Leal, em 24 de fevereiro desse ano, quatro casas para os pobres de São Vicente. • 1916: Fundação, em 9 de julho de 1916, do Ping-pong Clube e do Sport Clube Operário. • 1917: Em 19 de novembro foi realizado um comício contra a Alemanha, que estava em guerra com os aliados, cuja causa o Brasil apoiava. • 1919: Casam-se, em 22 de janeiro desse ano, meus pais, Mário e Adelaide, conforme certidão apresentada em anexo, no final deste livro. • 1919: Festas, promovidas pelo Tiro de Guerra 393, em 25 de janeiro, comemoram o fim da guerra com a Alemanha. • 1919: Instalada, anexa à Coletoria Estadual, a Caixa Econômica Estadual, em 19 de março de 1919. • 1919: Em junho e julho desse ano houve um surto de gripe espanhola. • 1920: O dia 5 de julho registra o meu nascimento.

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• 1921: Nasce, no dia 9 de dezembro deste ano, meu querido irmão Hilário. • 1922: Em 27 de janeiro Itapira registra um tremor de terra, com duração de três segundos, às 3 horas e 50 minutos da manhã. • 1922: A Câmara Municipal decretou feriados os dias 6 e 8 de setembro, em comemoração ao Primeiro Centenário da Independência, ocorrido no dia 7 de setembro de 1922. • 1923: O dia 26 de maio registra o nascimento de minha irmã, Walkyria, a Zica. • 1924: Fundado, em 17 de setembro, o Asilo Espírita Luiz Gonzaga, segundo degrau para a Fundação do Sanatório Américo Bairral. • 1925: Minha irmã Maria de Lourdes, a Dinha, nasce no dia 27 de maio. • 1925: Fundado, em 17 de agosto, o Centro do Comércio e Indústria de Itapira, cuja sede própria é inaugurada em 13 de junho de 1927. • 1926: É instalado o diretório local do Partido Democrático, no dia 14 de novembro. • 1927: No dia 2 de junho nasce minha irmã Alcidema, a Cida. • 1927: Fundada, no dia 9 de outubro, a União dos Moços Católicos. • 1929: Falecimento de minha querida avó, Cecília Ermelinda Pereira de Oliveira Franco, no dia 26 de março do ano de 1929. • 1930: Organizada, em janeiro de 1930, com o nome de Bem-Te-Vi, em seguida oficializado como Jazz Band Follies, em festa realizada nos salões da Sociedade Operária Primeiro de Maio, no dia 26 de março de 1931, essa banda musical. • 1931: Em 20 de setembro foi fundada a Associação Municipal da Lavoura, como conseqüência de reunião dos lavradores em 27 de janeiro desse ano, no Clube Recreativo XV de Novembro. • 1932: Fundação da Federação dos Voluntários, em data de 27 de novembro de 1932 e, logo após, da Liga Eleitoral Católica.

Estação Ferroviária de Itapira, hoje desativada.

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P a i s e A v ós

2 Meus pais e meus avós. Meu pai, Mário, e minha mãe, Adelaide, nasceram em Itapira, interior do Estado de São Paulo; ele, em 1896, ela em 1899, tendo contraído matrimônio naquela cidade, em 22 de janeiro de 1919. Na primavera do ano de 1918, papai havia ficado noivo de minha mãe, começando sua preocupação quanto ao casamento. Por esse motivo, resolveu rabiscar um livrinho a fim de obter algum dinheiro para o casamento. O nome do livro foi a primeira coisa resolvida. Em álbum que encontrei recentemente papai comenta as várias fases de seu livro, começando pela escolha do nome. Em suas próprias palavras, a solução para esse primeiro passo.

ADEMAR Esse nome de Ademar Foi inventado por mim, Que três letras fui tirar, De Adelaide, ficando assim Faltando as letras finais Que do meu nome tirei, E deu certo, demais, Pois parabéns eu ganhei... Havia ADHEMAR com agá, Mas sem ele nunca eu vira, E fez bom sucesso lá Na minha doce Itapira. Em razão do que acima é contado, quando alguém me pergunta se meu nome tem o agá, respondo que não, por ter sido feito em casa. Ainda no pequeno álbum, na página 28, papai fala da realização da obra, bem como do resultado financeiro conseguido, que possibilitaria o seu casamento, no ano seguinte.

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Vejamos seus versos:

ADEMAR Foi escrito na primavera Do ano de dezoito, Numa estranha atmosfera, Este livrinho afoito. A impressão foi facilitada, Eu trabalhava em tipografia, Um colega me ajudava, Só à noite, não de dia... Ele compunha tudo a mão Linotipo não existia, Mas o livrinho nascia e então Minha vontade se concluía A um mil réis cada um Eu vendi toda a tiragem, Sem empecilho nenhum, Sem ninguém achar bobagem. Na página seguinte, papai continua a falar sobre o seu livrinho, assim: Completei trezentos mil réis, Que Adelaide ia guardando, Um ao outro éramos fiéis E o tempo ia passando... Fui comprando meu enxoval, E móveis de um marceneiro, Meu amigo bem legal... Do poema Juca Mulato, Que o Dr. Menotti escreveu, Copiei coisas de fato, Para por no livro meu... Muito antes de marcado O dia do casamento Eu tinha algo guardado Para o sublime advento. Através de pesquisas de meu irmão caçula, Mário, sobre a origem de nossa família, foi localizado o registro de nascimento nº 4.712, à folha 57 verso do livro nº A-9, no Registro Civil das Pessoas Naturais de Itapira, referente a Mário, nascido na data de 3 de agosto de 1896, filho de Messias Antonio Franco e

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de Cecília Pereira Franco. Esse assentamento foi certificado, em data de 4 de setembro de 2001, a pedido de meu irmão, cujo documento é reproduzido, em anexo, no final deste livro. O documento indica os avós paternos de meu pai, José Franco de Brito e Dona Rita Franca, e maternos Francisco Manoel Pereira de Luselas e Dona Maria Celestina de Toledo, que foram meus bisavós. É indicado, também, ter sido Justino da Rocha Franco, o declarante. Tio Justino, segundo é de meu conhecimento, é filho do primeiro casamento de meu avô. O registro teria sido lavrado no dia seguinte ao do nascimento de meu pai, no dia 4 de agosto de 1896. Existem alguns erros na certidão do nascimento de meu pai, fato que talvez tenha acontecido em virtude do registro ter sido manual, sendo a letra do executante não inteiramente decifrada pelo certificante atual. Vejamos: Minha bisavó materna aparece como Rita Franca, quando o certo seria Franco. Meu bisavô materno aparece com o sobrenome Luselas, quando o correto é Queluz. Outra certidão, também obtida em 4 de setembro de 2001, transcreve o nascimento nº 7.467, à folha 153 verso do livro A-13 do Registro de Nascimento de Adelaide, nascida na data de 25 de agosto de 1899, filha de Paulo Cavenaghi e Dona Santa Grelian, sendo avós paternos Ambrozio Cavenaghi e Dona Josepha Callani e maternos Daniel Greliano e Dona Margarida Palma. A certidão é reproduzida, em anexo, no final deste livro. O documento também apresenta algumas divergências, tais como: o sobrenome de minha avó aparece como GRELIAN e o de seu pai, meu bisavô, GRELIANO. Nos arquivos do Memorial do Imigrante, sob o nº 06314, meu irmão localizou o registro da chegada, em 21 de março de 1889, do Vapor La France (registro no livro 018, página 284) da família GLEREAN, com oito membros, entre eles SANTA, com 19 anos. A certidão do Memorial é reproduzida, em anexo, no final deste livro. Ainda com referência à minha avó Santa, meu irmão conseguiu o Certificato di Battesimo de Santa Glerean, realizado em 15 de abril de 1870, na Itália. Certidão datada de 17 de abril de 2002 reproduz o registro do batismo de minha avó. Essa certidão é reproduzida, em anexo, no final deste livro. Meus pais casaram-se no dia 22 de janeiro de 1919. Também em 4 de setembro de 2001, como algumas outras certidões reproduzidas, meu irmão conseguiu a Certidão de Casamento de Mário Franco e de Adelaide Cavenaghi. Papai com 22 anos, mamãe com 19. A certidão é reproduzida, em anexo, no final deste livro. O único reparo a ser feito é quanto à mãe de minha mãe, minha avó Santa, cujo sobrenome aparece como GLERIANI, nome que não coincide com a grafia de nenhum dos outros registros localizados. Meu pai, pelo que me foi contado inúmeras vezes, foi um lutador. Trabalhou como balconista (na época, caixeiro) de uma loja de tecidos, pertencente a um sírio. Foi forçado, pelas circunstâncias, a aprender o idioma árabe para poder entender o patrão, principalmente quando este queria alertar o empregado de que o freguês não deveria ser atendido. O proprietário da loja, Sr. Constantino, tinha imigrado para o Brasil poucos anos antes de meu pai ir trabalhar para ele, nascendo grande estima entre patrão e empregado. Meu avô, Messias, era chamado mestre pelo exercício de várias atividades, sendo a principal a marcenaria. Os móveis que fabricava eram perfeitos, com duração de muitas décadas, como pude comprovar, pois há bem pouco tempo ainda tínhamos, em nossa casa, móveis fabricados por meu avô. Apesar de muito trabalhar, e com perfeição, era pobre. Seus filhos trabalhavam fora para ajudar no sustento da casa, porém todos aprenderam alguma coisa de marcenaria.

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Como vimos na História de Itapira, vovô Messias foi um dos fundadores da Sociedade Beneficente Operária Primeiro de Maio, tendo sido seu primeiro presidente. Além de seu trabalho como marceneiro, vovô era fiscal municipal em Itapira, bem como executava trabalhos de agrimensura (medição de terras) e, ainda, compunha músicas. Casou-se, em segundas núpcias, em 1886, com a idade de 30 anos, com Cecília Pereira de Oliveira, irmã de João Manoel Pereira de Oliveira, que exerceu, durante muitos anos, o cargo de vereador, tendo sido presidente da Câmara, Intendente e Prefeito Municipal em várias legislaturas. Sempre pensei que minha avó, Cecília, segunda esposa de meu avô, tivera apenas cinco filhos de seu casamento, porém, hoje, sei que outros filhos eles tiveram, como esclareço mais adiante. Vovó Cecília foi uma mulher maravilhosa. Sempre a amei, desde meus primeiros anos de vida. Contam, disso não me lembro, que vovó sofria de asma e que, em virtude disso, eu herdara uma bronquite asmática, como relato mais adiante. Quando recomeço a escrever estas lembranças, em 25 de janeiro de 2004, data em que São Paulo completa 450 anos, encontro um Livro de Ouro, deixado por meu pai, e leio, sobre minha avó Cecília, na página 47, o seguinte:

Cecília Pereira de Oliveira Franco Enérgica, forte e prudente, Foi a mãe que me criou, E com isso a minha gente O bem e a paz alcançou. Por tua ternura e bondade, Oh! Mamãe, sou o que sou, Fostes a mãe de verdade, Que Deus, o Pai, abençoou ! Eu brilho com luz emprestada, Que vem de Ti, oh Mãe Amada. No Livro de Ouro, de onde reproduzi os versos acima, encontrei, à página 50, sob o título Meu irmão Oscar, a informação de que esse irmão falecera em janeiro de 1918, após ter sido operado do fígado. Segundo ali está registrado, o tio Oscar falava bem o francês e entendia tudo sobre farmácia, onde trabalhava. Inteligente, inventara uma máquina de escrever que meu pai declara ter visto quase pronta. Fiquei sabendo, ainda, que papai tinha oito irmãos, com ele eram nove os filhos de minha avó Cecília, sendo que três morreram criança. Papai não explica, porém creio que eram recém-nascidos quando faleceram. Dos quatro irmãos de meu pai que conheci, havia só uma mulher, Eduardina, de apelido Vidica. O irmão mais velho, Abílio, nascera no dia 13 de maio de 1888, ou seja, na data da abolição da escravidão no Brasil. Abílio faleceu em Santos, em 14 de fevereiro de 1976, faltando três meses para completar 88 anos. Os outros irmãos foram: Benedito Otávio, o Doca, e Luiz, o Lulu. Todos os irmãos de papai já faleceram; o último a falecer, a tia Vidica, foi há pouco mais de cinco anos. O tio Oscar, segundo papai contava, faleceu com menos de trinta anos de idade, o que aponta seu nascimento possivelmente no ano de 1890.

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Pelo lado materno, minha avó (a nonna), Santa, nasceu na Itália, em Údine, vindo para o Brasil muito jovem. Casou-se com Paulo Cavenaghi, também nascido na Itália, em Milão. O pai de minha mãe, Paulo, foi assassinado quando faltavam apenas vinte e poucos dias para os quatro anos de idade de minha mãe. O motivo do assassinato foi briga entre vizinhos, sitiantes, em virtude de invasão de pasto por animal. A certidão de seu óbito é reproduzida, em anexo, no final deste livro. Mamãe tinha sete irmãos: Angelina, Antonio, Maria, Luiza, Regina, Josefina, a tia Pina, e Gioseppe, o tio Pim. A nonna Santa casou-se novamente, morando em Itapira até as proximidades de seu falecimento, que ocorreu em Mogi Mirim, para onde ela se mudara. Quando papai ficou noivo de Adelaide, minha futura mãe, já não mais trabalhava na loja do Constantino, porém na tipografia do Paladini, onde aprendeu o ofício gráfico. Percebendo que não teria condições para sustentar uma família, com o pequeno ordenado recebido do Paladini, pensou em montar uma tipografia, de sua propriedade, precisando conseguir ajuda financeira para o empreendimento. Procurou ajuda do tio Júlio Cavenaghi, irmão de meu avô Paulo, que, com minha madrinha Remigie, criaram minha mãe, Adelaide, e várias de suas irmãs, a todas ensinando a costurar, em seu atelier, como se diz hoje. Tio Júlio há pouco vendera a Fazenda Santa Tereza, no bairro do Brumado, em Itapira, que tinha uma parte de sua área no Município de Mogi Mirim. Com o capital recebido, passou a emprestar dinheiro a juros. Com um empréstimo de dez contos de réis, papai adquiriu as máquinas gráficas e um pequeno estoque de papéis e papelaria. Se bem me lembro, a dívida com o tio Júlio era assunto constante em casa, o que me faz lembrar os vários anos que foram necessários para pagá-la. Passagem interessante, contada por meu pai, diz respeito à chegada de uma máquina impressora Minerva, pequena, formato máximo para papel de ofício, que se mostrou em ordem e muito eficiente. Na mesma ocasião em que papai comprou a máquina, em São Paulo, outras pessoas da região também adquiriram equipamento igual. Um dos compradores, poucos dias após a chegada da impressora, telefonou ao papai procurando saber como estava a máquina, pois o caixão que trouxera a sua, ao ser aberto, estava totalmente cheio de terços e rosários, sem nenhum sinal da impressora. Nunca mais papai soube como foi solucionado o caso do colega, porém o fato continuou a ser contado aos filhos e amigos. Do casamento de meus avós paternos, Cecília e Messias, meu irmão conseguiu, em 20 de novembro de 2001, a certidão do casamento religioso, que reproduzo, em anexo, no final deste livro. Tenho algumas observações a fazer, quanto aos termos da certidão que, como já afirmei em caso anterior, deve ter havido engano na reprodução do Registro, procedido manualmente, não tendo sido perfeitamente transcrito na recente certidão. O casamento, segundo a certidão, teria sido “em Oratório particular, execto para tal fim em casa de Isidoro Lisboa Franco” etc. A palavra grafada como “execto”, foi, a princípio, entendida como “excepto”. Essa interpretação, porém, não se coadunava com o texto, pois um Oratório particular, não poderia ter como exceção justamente a finalidade da realização do casamento. Se fosse assim, como poderia ter sido ali realizada a cerimônia? Entendeu-se, então, que a palavra correta deveria ser “erecto”, construído, levantado, organizado para tal fim, o que resolve a questão. O casamento foi realizado no dia 6 de janeiro de 1886, exatamente no dia em que meu avô Messias estava completando 30 anos de idade. Minha avó Cecília, tinha, na data do casamento, 20 anos de ida-

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de. Seu nome, na certidão, aparece como Cecília Ermelinda Pereira. Eu desconhecia o segundo nome de minha avó. O nome do pai de minha avó aparece corretamente como Francisco Manoel Pereira de Queluz. Consta, ainda, da certidão, ser meu avô viúvo por óbito de sua mulher Francisca Eluisa da Rocha. O nome correto, da primeira esposa de meu avô, como consta de outros documentos, é Francisca Elvira da Rocha, engano que também deve ser debitado ao registro manual do casamento. O casamento de minha avó materna, Santa, foi realizado em 4 de fevereiro de 1890, cuja certidão foi conseguida, em 25 de outubro de 2001, na Diocese de Amparo, que reúne os assentamentos de toda a região. Nessa certidão, meu avô Paulo Cavenaghi aparece como Pedro Cavenago e minha avó Santa como Santina Gloriam; os pais de meu avô Paulo, Ambrosio Cavenago e Josefa Celulani. De minha avó Santa, Daniel Gloriam e Margarita Palina. Na certidão do Memorial do Imigrante, como já dissemos, o nome de família é Glerean e o do chefe da família, Daniele, com 47 anos e sua esposa Margheritta, com 46 anos. Mais uma certidão, a Certidão de Desembarque, onde se lê que da relação de emigrantes embarcados no porto de Genova, em 10 de fevereiro de 1889, no navio “La France”, consta o nome de Santa Glerean, de nacionalidade italiana, com 19 anos de idade, filha de Daniele Glerean e Margherita, sendo a Data de Desembarque, em Santos, no dia 21 de março de 1889, durando a viagem quase 40 dias. A certidão, reproduzida em 28 de setembro de 2001, é apresentada, em anexo, no final deste livro. Como já foi dito anteriormente, meu avô, Paulo Cavenaghi, foi assassinado quando minha mãe estava para completar quatro anos de idade. A certidão de seu óbito indica a data de sua ocorrência em 2 de agosto de 1903, sendo reproduzida, em anexo, no final deste livro. A avó Santa casou-se novamente, em 2 de novembro de 1907, com André Barro, que faleceu alguns anos após. Seu terceiro casamento, com Luiz Ranzatto, deu-se em 7 de agosto de 1909, do qual não possuo a certidão. O óbito de minha avó deu-se em 23 de maio de 1956, constando a idade de 87 anos, em Mogi Mirim, para onde se mudara. Nessa certidão, reproduzida por transcrição, em 15 de agosto de 2001, consta ser viúva de Luiz Ranzatto, com quem se casara, em terceiras núpcias, em 7 de agosto de 1909. Em observações, a informação de que fora casada, em primeiras núpcias, com Paulo Cavenaghi, há 68 anos, quando o correto teria sido há 66 anos, pois seu primeiro casamento fora a 4 de fevereiro de 1890. Seu segundo casamento, com André Barro, conforme certidão reproduzida, em anexo, no final deste livro, deu-se em 2 de novembro de 1907, há 49 anos de sua morte. A certidão de óbito indica que teria sido casada, com André Barro, há 50 anos. Consta que deixa os filhos: Maria, Angelina, Josefina, Adelaide, Luiza, Regina, Antonio e José, ordem que não obedeceu a idade desses filhos. Pretendo incluir, entre meus avós, como uma homenagem a esse maravilhoso casal, meus tios-avós, Júlio Cavenaghi e Remigie Avancini Cavenaghi, que criaram minha mãe Adelaide, desde a morte de seu pai, aos quatro anos de idade, até o seu casamento com meu pai, nos seus 20 anos de idade. Além de criarem minha mãe, meus tios deram-lhe uma profissão, de excelente dona de casa, ensinando-lhe a costurar e a cozinhar. Meu tio-avô, Júlio Cavenaghi, conforme conta da Certidão de Registro de Estrangeiros, expedida em NOTA: Como vimos no capítulo sobre a História de Itapira, meu tio Júlio Cavenaghi, foi um dos fundadores da Societá Italiana de Mutuo Soccorso, tendo feito parte de sua primeira diretoria.

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Mogi Mirim em 15 de janeiro de 1948, nasceu em Milão, Itália, no dia 28 de dezembro de 1869, sendo seus pais Ambrosio Cavenaghi e Josepha Caloni. Casou-se, em Itapira, a 9 de setembro de 1897, com Remigie Avancini, nascida a 23 de agosto de 1879, em Mantova, Itália, filha de Agostinho Avancini e de Ângela Sorsi. Na certidão de casamento, reproduzida, em anexo, no final deste livro, consta, erradamente, o sobrenome Cavenagli, para o pai de meu tio e Cattuni, para sua mãe, quando o certo seria Cavenaghi e Caloni. O casal não teve filhos, porém criou inúmeros sobrinhos, bem como alguns filhos de seus sobrinhos. Verdadeiros abnegados aos quais presto minhas homenagens póstumas, meus tios-avós merecem meus agradecimentos, bem como de todos os meus irmãos, a quem eles dedicaram imenso carinho como se fôssemos seus filhos ou seus netos. A Certidão do registro de estrangeiros é reproduzida, em anexo, no final deste livro. Nela consta o desembarque do tio Júlio em 25 de janeiro de 1884, no porto do Rio de Janeiro, do navio Polcevera. Termino este capítulo sobre meus pais e meus avós com as Certidões de Óbito de Mário e de Adelaide, meus queridos pais, apresentadas, em anexo, no final deste livro. Papai faleceu no dia 13 de dezembro de 1978, com 82 anos de idade, e mamãe no dia 29 de março de 1987, com 87 anos de idade. Apesar do tempo decorrido, mais de 29 anos da morte de meu pai, e mais de 20 anos da de minha mãe, sua presença e carinho ainda me acompanham diariamente, com se presente ainda eles estivessem. Encerro as homenagens aos meus tios avós, Júlio e Remigie Cavenaghi, reproduzindo; após a página 148, o seu brasão de armas, recentemente conseguido.

Papai usou para a foto acima, a legenda: Sentadinha e bem vestida, vê-se a esposa de minha vida!

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Infância e m I ta p i r a

3 Minha infância em Itapira. Nasci a 5 de julho de 1920, sendo considerado um bebê manhoso, a ponto de minha avó, Cecília, segundo me contaram, reclamar que, após dois meses sem que eu tivesse parado de chorar, não fora possível olhar meu rosto, pois meu choro era constante, não possibilitando comparações de semelhança com meu pai ou com minha mãe. Nessa ocasião papai já tinha a sua tipografia. Em tom de brincadeira, em minha juventude, sempre declarei aos amigos e conhecidos que conhecia as artes gráficas por ter nascido dentro de uma tipografia. A partir dos meus quatro anos de idade, freqüentei, em Itapira, um colégio de freiras que tinha o curso primário misto, para meninas e meninos. Não sei muito bem se realmente me lembro do colégio e dos colegas, ou se apenas tive um vislumbre da época através de fotografias velhas e amareladas, alojadas no fundo de alguma gaveta. Deve ser isso, pois é mais do que certo que eu não poderia estar me lembrando de um tempo decorrido há mais de oitenta anos, pois, como já foi dito, quando rabisco estas notas tenho 87 anos de idade. O certo é que minha prima mais velha, a Francisquinha, como bem me recordo, indicou, em uma antiga fotografia em que aparecem os alunos do Colégio, quem era ela, no meio daquela criançada, bem como qual das crianças era eu, assim como outras crianças que voltei a encontrar vários anos após, já adultos. Depois de haver terminado este capítulo, recebi, sob empréstimo, o livro Álbum de Itapira, do qual comentei vários assuntos no Capítulo Um, incluído agora, com o título de História de Itapira. Na parte correspondente às escolas criadas em Itapira, localizo o Colégio Santo Antonio, com a indicação da inauguração de seu prédio em 17 de janeiro de 1930, sendo dirigido pelas missionárias de Jesus Crucificado. Não entendi, pois em 1930, além de já ter completado 10 anos de idade, eu já morava em Mogi Mirim,

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Paisagens de Itapira, Parque Juca Mulato (acima) e Praça Ana Vieira

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pois mudamos para essa cidade em junho de 1928. Chego à conclusão de que não era esse o colégio que eu freqüentara e sim o Colégio Coração de Jesus, dirigido pelas Irmãs da Escola Cristã, que fora fundado em 1923. Sempre me foi contado que fui acometido de bronquite asmática, até os sete anos de idade. Dizem que dei muito trabalho aos médicos da família, Dr. Waldomiro de Ulhoa Canto, Dr. Miro e Dr. Norberto Fonseca, bem como a uma benzedeira, Dona Michelina, que também, se não me engano, era parteira. Mamãe chamou, para me examinar, por ocasião de uma de minhas crises, o Dr. Firmino Cavenaghi, seu primo, que posteriormente mudou-se para Serra Negra, onde exerceu o cargo de prefeito. Fui medicado algumas vezes, pelo Dr. Firmino, que afiançara a meus pais que quando eu completasse sete anos de idade, aplicar-me-ia uma vacina, feita por ele mesmo, a qual me curaria. Foi o que aconteceu, segundo me contaram, pois nada lembro desses fatos. (Ver nota). Há um fato, ocorrido nos meus seis anos de idade, que nunca contei a ninguém, por timidez e vergonha, porém sempre esteve em minha memória. O Colégio que eu freqüentava, no decorrer do ano, estava preparando uma festa de fim de ano, consistindo na representação de pequena peça de teatro, a ser apresentada em um dos salões da cidade, não sei se da Associação Italiana, ou da Maçonaria. Fui um dos escolhidos para representar um dos personagens, tendo ensaiado, muitas vezes, com todos, durante o ano. No dia em que, à noite, a apresentação seria realizada, durante todo o dia comecei a demonstrar indisposição, talvez até febre, o que preocupou a todos, sendo decidido, pelos meus familiares, que eu não compareceria à representação da peça. O certo é que toda a minha doença era apenas medo de me apresentar a um público que consistisse em mais de quatro ou cinco pessoas, o máximo que comparecia aos ensaios. Esse medo, originário da infância, acompanhou-me durante muitos anos, consistindo em sempre recusar falar em público. A partir de minha entrada para o Serviço Público, com a necessidade de organizar reuniões com contadores e contribuintes, meu medo e minha timidez desapareceram, não mais temendo proferir palestras, às vezes para mais de uma centena de pessoas. O fato nunca foi comentado em minha casa, porém ficou registrado em minha memória e hoje estou reproduzindo nestas notas. Tenho cinco irmãos, quatro nascidos em Itapira e um em Mogi Mirim. Sou o mais velho, vindo em seguida, um ano e meio após, meu querido e saudoso irmão Hilário, falecido no ano de 2000, poucos dias após completar 79 anos de idade. Três irmãs, com diferenças de dois anos de uma para outra, Walkyria, de apelido Zica, Maria de Lourdes, a Dinha e Alcidema, a Cida. O Mário, meu irmão caçula, nasceu em Mogi Mirim, onde voltou a residir. Veio-me à lembrança um período de férias que passei na Fazenda São Joaquim, que pertencia ao Joãzinho Bento, na qual morava meu tio Luiz, o tio Lulu, e que nela trabalhava como guarda-livros. Eu, e os manos Hilário e Walkyria, a Zica, passamos alguns dias na casa da tia Nhazinha, esposa do tio Lulu e mãe de meus primos Oscar e Mauro, que já eram nascidos naquela época. A casa em que ficamos, onde morava a família de meu tio, era no final de um terreiro de café; tinha um quintal com algumas árvores frutíferas, no qual brincávamos.

NOTA: No Álbum de Itapira encontro, à página 79, a informação de que o Dr. Waldomiro de Ulhoa Canto faleceu no dia 31 de janeiro de 1925.

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Durante o dia tudo era alegria, risos e brincadeiras, porém à noitinha, quando começava a escurecer, o medo se apossava de nós. Hilário e Zica choravam muito e eu, também querendo chorar, me esforçava para acalmá-los, às vezes conseguindo somente um pouco antes de dormirmos. Da Fazenda São Joaquim lembro-me de mais dois fatos. Fomos com o titio Lulu conhecer o escritório da Fazenda, localizado no início de outro terreiro de café, distando de sua casa no máximo mil metros. Depois de vermos o escritório, percorrendo todas as suas dependências, titio perguntou-nos se sabíamos voltar sozinhos. Dissemos que sim, despedimo-nos do tio e iniciamos a volta. Mal tínhamos andado cem metros, vimos uma bola preta, pouco maior do que uma laranja baía e, em nossa curiosidade de crianças, pensamos em pegar a tal bola para examinar. O Hilário, porém, segurou a mim e à Zica, pedindo que nos afastássemos do local o mais depressa possível. Quando estávamos a mais de dez metros, o Hilário atirou uma pedra em direção à bola. Não me lembro se a bola foi atingida ou não. O certo é que houve uma saraivada de espinhos em nossa direção, felizmente não nos atingindo, porém caindo a poucos passos de nós. Nossa reação foi um grito de horror, dos três, o que provocou a chegada do tio Lulu, todo assustado, querendo saber o que havia acontecido. Não tínhamos condição de responder, porém o tio, olhando o chão à nossa frente, acalmou-nos informando ter havido um lançamento de espinhos de um ouriço que, felizmente, não nos atingira. Titio acompanhou-nos até sua casa, contando à tia Nhazinha o acontecido. Houve farta distribuição de água com açúcar aos três que, por fim, se acalmaram. Ainda na Fazenda São Joaquim, atrás da casa do tio Lulu tinha início uma estrada, toda ladeada de árvores, bastante altas, o que escurecia um pouco o caminho. A pouco mais de quinhentos metros da casa, iniciava-se um bosque, bastante cerrado, sendo o terreno todo cercado e um portão enorme, fechado, não permitia a entrada. Como existiam muitas árvores nesse bosque, era um pouco escuro, o que nos apavorava. Nunca perguntei se podíamos entrar no bosque, pois nenhuma vontade tínhamos de fazê-lo, parecendo-nos ser um lugar misterioso, talvez guardando horríveis segredos. Durante vários anos, em sonhos, ainda via o portão do bosque e, no sonho, sempre me pergunto o que poderia haver lá dentro. Nunca soube e nunca procurei saber a resposta. As lembranças de minha infância na cidade de Itapira podem não ser daqueles anos de 1924 a 1928, ou mesmo do ano de 1931, quando voltamos a morar, por alguns meses, naquela cidade, porém da continuidade de visitas a essa cidade, feitas na juventude e mesmo depois de meu casamento, em visitas à tia Vidica, que morou em Itapira até sua morte, ocorrida há poucos anos. Essas visitas serão contadas em próximos capítulos. Lembro-me perfeitamente, não por ouvir contar, que nos meus quatro ou cinco anos, um moleque que ajudava meu avô em sua oficina de marcenaria, certa vez aqueceu, no fogão, uma esteirinha de ferro usada, na época, para arear panelas (deve ter sido a antecessora do Bom Bril), jogando-a no quintal e pedindo-me para apanhá-la. Eu o fiz e tive a palma da mão direita toda queimada. Recordo-me, também, que quando minha irmã Dinha tinha pouco mais de dois anos (eu estaria com sete anos) houve um acidente na cozinha de nossa casa e um caldeirão fervendo, com feijão, entornou do fogão e atingiu minha irmã. Principalmente seu rosto foi queimado, com queimaduras penetrantes. Lembro-me de que seu tratamento consistia em acender uma vela, medicinal, pingando a cera em seu rosto, até formar uma máscara espessa de cera, de cor marron. Essa máscara permanecia no rosto de minha irmã até que se soltasse, o que demorava uns dois ou três dias. Novamente era repetido o trata-

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mento. Não me recordo quanto tempo durou esse tratamento, nem como foi o sofrimento de minha irmã, que nada reclamava. O certo é que a Dinha tem uma pele do rosto excelente, sem qualquer cicatriz das queimaduras. Nascidos também em Itapira, meus primos Oscar, filho do tio Lulu e da tia Nhazinha, e Américo, o Deco, e mais a Yolanda, filhos de meu tio Melli e da tia Maria, sempre vinham à nossa casa para brincarmos. Éramos mais ou menos da mesma idade. Tia Maria, era irmã de minha mãe, e o tio Melli, um carpinteiro de mão cheia, já faleceram. Seus outros filhos: Esmeralda, a primogênita, e o Júlio, nasceram em Itapira. Nascidos em São Paulo, a Yara e o Durval. Dos filhos da tia Maria e do tio Melli, só estão vivos a Yara e o Durval, os demais faleceram. Também tiveram filhos em Itapira, minha tia Luiza, irmã de mamãe, casada com o tio Menotti Marconi, de profissão ferreiro. Nasceram em Itapira seus filhos Herminda, a Dinda, e o Paulo, o Lino, ambos já falecidos. Tia Luíza mudou-se para Mogi Mirim, onde nasceram os filhos Nelson, Carlos, o Carlito, Geraldo e Heleninha. Somente o Geraldo é vivo, os demais faleceram, o Carlito faleceu em Mogi Mirim, os demais em São Paulo. Antonio, também irmão de mamãe, casou-se em São Paulo, com a tia Hermínia e tiveram os seguintes filhos: Nair, Moacyr, Edith e Angélica. Meus tios já faleceram, porém há muito tempo não tenho notícias dos meus primos. A tia Angelina, que meu pai informa ter sido uma poeta, casou-se em Itapira com Roque Berto. Mudou-se para Mogi Mirim e o casal teve quatro filhos, a Rosalba, ainda residente em Mogi Mirim, a Anita, residente em São Paulo, o Zeza, falecido em São Paulo, e o caçula, Roberto, falecido em Mogi Mirim. Tia Regina, irmã mais velha de minha mãe, casou-se em São Paulo e teve uma filha, a Guilhermina, de quem tive notícia há pouco tempo. Tia Regina e o marido já faleceram. A tia Giosepina, a tia Pina, casou-se em Oswaldo Cruz, estado de São Paulo, com um senhor de sobrenome Roma, já falecido. Tiveram muitos filhos, meus primos, dos quais só conheci o Romualdo, a Laura e a Otília. Sei que o Romualdo foi gerente de banco em Oswaldo Cruz, já estando aposentado, e a Otília mora em São Paulo. Dos outros não tenho conhecimento. O irmão caçula da mamãe, o tio Pin, faleceu solteiro, em Itapira. Meus primos, filhos dos irmãos de meu pai, tiveram mais contato comigo do que os primos filhos dos irmãos de mamãe.

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Mog i M i r i m h i s t ór i a

4 Fatos históricos sobre Mogi Mirim. No trabalho intitulado “Monografia Geográfica de Mogi Mirim”, de autoria de Antenor Ribeiro, Edição do Arquivo Corográfico Caiapó, comemorativa do 2º Século da fundação oficial de Mogi Mirim e da criação da Paróquia do egrégio Padroeiro São José (1o de novembro de 1951), encontrei alguns dados sobre a cidade e sua fundação. São, portanto, desse trabalho as informações que são dadas sobre Mogi Mirim e sua fundação. Entre 1647 e 1650, informa o livreto, houve a fundação, em terras do oeste de São Paulo, da primeira povoação depois de Jundiaí, que foi denominada Mogi dos Campos. Encontrado ouro em Goiás, Bartolomeu Bueno da Silva seguiu para aqueles lados onde, depois, fundou a cidade de Goiás. Nessa época foi alcunhado de Anhangüera, como conta a história dos bandeirantes. Em outra excursão pelo interior das Províncias de São Paulo, Minas Gerais, Goiás e Mato Grosso, em 1682, instalou-se a bandeira chefiada pelo já referido Bartolomeu Bueno da Silva, porém a fundação definitiva da vila data do século XVII. Foi fundado, em 8 de abril de 1718, o arraial de Cuiabá e, em 1719, aportou nesta região a expedição armada dirigida por Pascoal Moreira Cabral, da qual faziam parte os sertanistas Pires de Campos, Inácio Preto de Morais, Miguel Sutil e Francisco, o Barbudo. Em 1721 e 1722, a bandeira chefiada por Bartolomeu Bueno da Silva, o 2º Anhangüera, se estabeleceu com plantações de cereais e criação de animais na Mogi dos Campos. O 2º Anhangüera procurava as minas há 40 anos descobertas por seu pai, o 1º Anhangüera. Os sertanistas escolheram este local para centro de abastecimento das bandeiras; uniram os territórios sob uma só denominação: Mogi dos Campos. Anos depois os antigos habitantes da povoação, a segunda fundada entre Jundiaí e o Rio Grande (a primeira teria sido o arraial hoje denominado Mogi Guaçu). Acrescentaram ao nome do rio Mogi – O Rio das Cobras – a palavra Mirim – Pequeno, para diferençar do rio Mogi Guaçu, o rio Grande.

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O território, bastante vasto, de Mogi dos Campos, foi dividido com a criação da freguesia de São José de Mogi Mirim, em 1º de novembro de 1751, ficando esta freguesia compreendida em 9 léguas, do Rio Atibaia até o Rio Mogi Guaçu. A freguesia de Conceição de Mogi dos Campos passou a denominar-se Mogi Guaçu que, segundo a tradição, era população autônoma desde 1740. A partir de 1770, a Câmara Municipal de Mogi Mirim estava sujeita ao regime das Ordenações do Reino. As autoridades, segundo a Monografia já citada, compunham-se de Juízes Ordinários, Vereadores, Juiz e Escrivão de Órfãos, Juiz de Vintena, Almotacés, Alcaides, Capitão do Mato, Procuradores e Escrivão. (Vide notas). Em 1º de outubro de 1828, votada lei de acordo com o artigo 69 da Constituição do Império, as Câmaras Municipais passaram a ser constituídas de 9 vereadores nas cidades e 7 nas vilas. A primeira Câmara Municipal de Mogi Mirim, eleita e juramentada na forma da lei de 1º de outubro de 1828, tornouse corporação administrativa com a solene instalação e posse, em 17 de maio de 1829, dos vereadores eleitos para o período de 1829 a 1834, continuando no desempenho de suas funções apenas os Juízes Ordinários até a promulgação do Código do Processo Civil, o que se deu em 1832. Da primeira legislatura fez parte o Ten. Cel. João Teodoro Xavier, pai do Dr. João Teodoro Xavier, nascido em Mogi Mirim no dia 1º de maio de 1828, falecido a 31 de outubro de 1879, com pouco mais de 50 anos de idade. Foi Presidente da Província de São Paulo no período de 1872 a 1875. Sepultado em São Paulo, em 1º de novembro de 1878, teve o translado de seu túmulo e de suas cinzas para Mogi Mirim, em 13 de outubro de 1975, onde permanece. Homenageando o ilustre mogimiriano, foi fundado, em Mogi Mirim, o Museu Histórico-Pedagógico João Teodoro Xavier, por Decreto nº 40.857, de 29 de setembro de 1962. Em outubro de 2002, ano do sesquicentenário (150 anos) de criação da Comarca de Mogi Mirim, a Câmara Municipal do município convidou dois historiadores e professores da cidade, Dr. Sérgio Romanelli Campos e Carmen Lúcia Bridi, para redigirem um trabalho relativo à vida e obra do Dr. João Teodoro Xavier. Desse livreto foram extraídos os comentários sobre esse ilustre personagem pátrio. Não consegui saber a data exata da criação da Comarca de Mogi Mirim. Através do opúsculo acima citado conclui-se que teria sido no ano de 1852 tal criação, eis que 150 anos estavam sendo comemorados em 2002.

Temos, então, algumas efemérides sobre Mogi Mirim, que a seguir relaciono: • 1751 – 1º de novembro. Divisão territorial de Mogi dos Campos, com a criação da freguesia de São José de Mogi Mirim, cujo 2º Centenário foi comemorado em 1º de novembro de 1951. Na mesma data foi criada a Paróquia de São José de Mogi Mirim, que pertenceu ao Bispado de São NOTA: Ordenações do Reino, conjunto de leis portuguesas, organizadas metodicamente por D.João I e posteriormente por outros monarcas, os quais, conforme as promulgavam atribuíam seus nomes à codificação: Ordenações Alfonsinas, Manuelinas e Filipinas. No que respeita ao Direito Civil, essas ordenações tiveram aplicação no Brasil até 1917, quando entrou em vigor o Código Civil Brasileiro de Clóvis Beviláqua. Nelas estavam também contidos os direitos Judiciário, Administrativo, Penal e Civil. (Grande Enciclopédia Larousse Cultural, 18º volume, edição Nova Cultural, 1998, página 4.329). NOTA: Almotacé ou almotacel, s.m. o que avalia os bens alheios; homem a cujo cargo estava antigamente o cuidar da exatidão dos pesos e medidas, taxar e fixar o preço de gêneros e distribuir alimentos. (Caldas Aulete – Dicionário Contemporâneo da Língua Portuguesa – Delta – Edição 1958, 1º volume, página 241). NOTA: Alcaide, s.m. (ant.). Oficial de Justiça, que prendia, fazia penhoras, etc. (Mesma obra citada na nota anterior, página 194).

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Paulo até 1908. A partir de 18 de outubro de 1908, com a criação do Bispado de Campinas, passou a pertencer a esse Bispado. • 1769 – Por provisão de 22 de outubro, a freguesia foi elevada à categoria de vila, sob a invocação de São José. • 1849 – 3 de abril. Elevação da freguesia de Mogi Mirim à categoria de cidade. O 1º Centenário dessa efeméride foi comemorado em 3 de abril de 1949.

Jornais que circularam em Mogi Mirim. A Monografia consultada relaciona 109 jornais que circularam em Mogi Mirim, desde o ano de 1873 até o ano de 1935. Como curiosidade, citaremos alguns desses jornais, seus proprietários e redatores, bem como a data de sua fundação. A publicação acima citada declara que historiadores afirmam que o primeiro periódico que se publicou na cidade veio a lume no dia 19 de março de 1873, de propriedade do Sr. João Alberto de Oliveira Prado, impresso em tipografia de sua propriedade, na rua do Comércio, nº 22, hoje rua Senador José Bonifácio. O jornal se chamava O Progresso. Ainda em 1873, mais 3 jornais iniciaram sua publicação: O Tatu, de propriedade do Sr. Antônio Félix de Sousa Brito, em 30 de março; O Independente, em 1º de junho, de propriedade dos Srs. Dr. Francisco Alves dos Santos e Antônio Félix de Sousa Brito, que fora o responsável pelo O Tatu. O Independente circulou até 1892, portanto 19 anos, e não 13 anos, como declara a Monografia; em 3 de novembro de 1873, os Srs. Artur Archer e Henrique de Oliveira Brito adquiriram as oficinas onde era impresso O Tatu e continuaram a publicar o jornal O Progresso que, segundo historiadores, foi o primeiro periódico publicado na cidade, como já informado em linhas atrás. O 5º jornal foi publicado a partir de 15 de julho de 1875, com o nome de O Mogimiriano, não sendo indicado a quem pertencia. Em 1877 surgiram dois jornais na cidade: O Regenerador, em 1º de maio, de propriedade do Sr. João Filomeno da Silveira Bastos e editor o Sr. Joaquim Manuel Tomás Salgado. O outro jornal, lançado nesta mesma data, Diário de Mogi Mirim, tinha como editor o mesmo Sr. Antônio Félix de Sousa Brito, já citado como proprietário de dois outros jornais. Em 30 de dezembro de 1878 surgiu o jornal A Gazeta de Mogi Mirim, cujo gerente era o Sr. Carlos Eduardo Faling. O jornal Eco Mogiano, de propriedade dos Srs. Antonio Branco e João Teodoro de Macedo, iniciou sua publicação em 9 de maio de 1880. O jornal Situação, de propriedade do Sr. Antônio Martins Teixeira de Carvalho, iniciou sua publicação em 6 de maio de 1882. A publicação foi suspensa em maio de 1883, sendo substituído pelo jornal O Brado da Lavoura, tendo como redatores os Srs. Cel. Antônio Joaquim de Freitas Leitão e Dr. José Oscar de Araújo Cunha. Outros jornais surgiram em 1884: A Imprensa Mogiana, redatores Dr. José Alves Martins dos Santos e advogado Tte. Pedro Paulo de Matos. O Mogiano, sem indicação de propriedade ou direção e O Correio Mogiano que, em 1885, passou a ter a direção do Sr. J. Guelfreire. Em abril de 1885, assumiu a direção do jornal A Voz do Povo o Sr. Joaquim de Andrade Lima, que desempenhou, durante 20 anos, o cargo de Contador, Partidor e Distribuidor do Foro de Mogi Mirim, de 1893 a 1913. Em junho de 1886, tendo como redatores: Dr. João Mendes de Almeida Júnior, Sebastião Dias, Dr.

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Alexandre Florindo Coelho e Teodoro de Macedo. Surgiu A Gazeta de Mogi Mirim, órgão do Clube Cosmopolita. Circulava às quintas-feiras e domingos tendo encerrado sua publicação 7 anos depois, em setembro de 1893. Outros jornais: Tribuna Popular, 1889; O Povo, 1891/1892; O Domingo, 1888; A Tribuna, 1893; O Atleta, 1893/1894; A Ordem, 1894. Em 13 de outubro de 1894 veio à luz o jornal A Imprensa, sendo seus redatores: Deputado Eduardo da Cunha Canto, Francisco Cardona e Dr. Benedito Netto de Araújo. Gerentes: João Teodoro de Macedo e Jerônimo Teixeira Brandão. Circulou até dezembro de 1901. O jornal A Gazeta de Mogi Mirim, em sua 2a fase, voltou a circular em 15 de outubro de 1894, cessando sua circulação em novembro de 1895. O jornal A Comarca, que atualmente ainda circula em Mogi Mirim, foi fundado em 5 de julho de 1900, por Francisco Cardona. Foi dirigida por esse senhor até 28 de fevereiro de 1926, quando passou a propriedade de suas oficinas e a redação aos Srs. Emílio José Pacini, Francisco Piccolomini e Orlando Pacini, os quais vinham colaborando no jornal há muitos anos. O jornal, hoje com 107 anos de existência, é dirigido por Ricardo Piccolomini de Azevedo, neto do Sr. Francisco Piccolomini, já falecido. Em 3 de agosto de 1900 iniciou a sua publicação o jornal A Fé, periódico da Igreja Católica. O Mogiano, órgão do Partido Republicano, iniciou sua publicação em 17 de setembro de 1902, circulando às quartas-feiras e sábados. A partir de março de 1906 passou a circular diariamente, tendo suspendido sua publicação a partir de janeiro de 1908. A Monografia Geográfica de Mogi Mirim, que estou consultando, transcreve, à página 29, um Histórico de Mogi Mirim publicado no jornal O Mogiano, edição de 30 de setembro de 1905, que tomamos a liberdade de reproduzir a seguir:

Histórico de Mogi Mirim “Mogi Mirim deve sua fundação aos heróicos e destemidos sertanistas que desvendaram os sertões de Minas Gerais, Goiás e Mato Grosso, no período de 1719 a 1722. Estes audazes aventureiros, a exemplo de Bartolomeu Bueno, o Anhangüera, guiados pelos Pires de Campos, Pascoal Moreira Cabral, Miguel Sutil e Francisco, o Barbudo, nessas correrias longínquas e perigosas, acostumados, desde pequenos, às fadigas e às privações de todo o gênero, lutavam com dificuldades e riscos inenarráveis. Escalando íngremes montanhas, vadeando mortíferos pantanais, caíam vítimas: uns da fome; outros das intermitentes dos paúis; muitos das flechas ervadas do gentio traidor, que afrontava as expedições naquelas inóspitas paragens, em que não podia ser evitado. Atilas de nova espécie, prosseguiam sempre para a frente. Nada pode conter semelhantes emigrações. Nelas perseveraram os tenazes paulistas, porque a cobiça os cegava, mais do que outra qualquer paixão. As bandeiras borborinhantes que demandaram as minas de ouro de Goiás passavam pelo local, onde hoje está construída a nossa cidade. A beleza empolgante do sítio, a amenidade inigualável do clima, a uberdade prodigiosa do solo, as matas cheias de vida e a extensão a perder de vista dos campos foram o móbil inconteste da preferência dada ao local pelos chefes das bandeiras, que o escolheram para que nele se estabelecessem muitos dos bandeirantes.

NOTA: Apenas como curiosidade, informamos que o Dr. João Mendes de Almeida Júnior, acima citado, tem seu nome imortalizado no Fórum João Mendes, em São Paulo.

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Começaram estes primeiros povoadores a cultivar a terra e a aproveitar os magníficos campos na criação de animais. Alguns anos depois, foi a localidade preferida por muitos filhos da província de Minas para o seu estabelecimento, comprando terrenos, formando lavoura e constituindo família. Assim, de um simples retiro de criadores de gado e outros animais, em breves anos, tornou-se um povoado, cheio de vida e de animação. A princípio, Mogi Mirim era filiada à freguesia de Mogi do Campo, hoje Mogi Guaçu, nome adotado depois da criação da freguesia de Mogi Mirim, desmembrada daquela em 1751; em 1754, continha a freguesia setenta e dois fogos (*) e diversos bairros. Elevada à vila, sob a invocação de São José, por provisão de 22 de outubro de 1769, assinada pelo governador e capitão general D. Luis Antônio de Sousa Botelho Mourão, este deu logo comissão ao ouvidor-mor para instalá-la. Por lei provincial de 3 de abril de 1849 foi elevada a cidade. Enquanto Mogi Mirim foi vila, o seu dilatado território estendia-se do rio Atibaia até o Rio Grande e compreendia a Franca do Imperador, Casa Branca, Belém do Descalvado e Rio Claro – território igual a muitas províncias. Elevada à categoria de cidade, o seu município compreendia a Penha do Rio do Peixe, hoje Itapira e São João da Boa Vista e Mogi Guaçu. Atualmente o município, com os contínuos desmembramentos, tem-se reduzido muito, compreendendo apenas os bairros da Posse, Jaguari e Martim Francisco, que são os mais povoados e ricos; algumas povoações de somenos importância e mais o burgo agrícola de São João da Glória”. Hoje Mogi Mirim registra a perda de território para os seguintes municípios: Artur Nogueira, Conchal, Engenheiro Coelho, Holambra, Jaguariúna e Santo Antônio de Posse. Voltando aos jornais publicados em Mogi Mirim, a Monografia cita que começou a circular, em 12 de julho de 1906, O Município, jornal semanal, imparcial, dedicado aos interesses de todas as classes sociais. Redator-chefe o Sr. José Bonifácio dos Santos Cruz. O jornal O Mogyano, impresso em Campinas, iniciou sua publicação em maio de 1907. A partir de 14 de julho de 1907 até 18 de janeiro de 1908, circulou o jornal A Cidade de Mogy Mirim, publicação bisemanal. O Sr. Jerônimo Teixeira Brandão foi o proprietário e diretor de ambos os jornais. De julho de 1909 até janeiro de 1910 circulou O Patriota, tendo como redatores os Srs. João Augusto Palhares, Otávio Rocha e João Branco de Abreu, este último foi, a partir de 1931, redator do jornal O Popular, de propriedade de meu pai, Mário Franco. Iniciou sua publicação em 21 de abril de 1913, a revista Gutemberg, era publicada em dias de Festa Nacional. Seus diretores, os Srs. Emílio José Pacini, Francisco Piccolomini e Orlando Pacini que, a partir de 1926, passaram a ser os redatores de A Comarca. A revista deixou de circular em fevereiro de 1920. O Mogimiriano iniciou sua publicação em maio de 1913, tendo circulado até julho de 1916. Em 1914 é registrado o aparecimento de três jornais: Mirianinho, órgão de propaganda da Casa Morais. O Democrata, em janeiro, na vila de Jaguari e, na vila de Posse de Ressaca, A Voz de Posse. O Sol da Verdade surgiu em 10 de dezembro de 1915, circulando até 1936. Seu redator, o Revmo. Monsenhor Moisés Nora. Em 1916 surgiu O Progresso, redator o Sr. Joaquim Ricardo Bueno. Circulou, em 1919, na vila de Jaguari, o jornal Gazeta de Jaguari, cujo redator foi o Sr. José Carlos de Ataliba Nogueira. Em 20 de setembro de 1921 e de 1922, circulou o XX de Setembro, órgão de publicação anual. (*) NOTA: Fogo, s .m. ... residência de uma família; ... (Pequeno Dicionário Brasileiro da Língua Portuguesa, Ilustrado, 12ª Edição, 1977, Supervisionado por Aurélio Buarque de Hollanda Ferreira, 2º volume, página 560).

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Inicia-se, em 3 de janeiro de 1918, a publicação do jornal Comércio de Mogi Mirim, de propriedade do Sr. Joaquim Augusto Palhares. Circulou até fevereiro. Em 2a fase, sob a direção do advogado Dr. João Augusto Palhares, circulou a partir de 2 de agosto de 1919. Teve mudança de proprietário, em 21 de maio de 1921. Suspendeu a publicação em 28 de outubro de 1922. A Tribuna iniciou sua publicação em 11 de novembro de 1922, de propriedade dos Srs. Agostinho Alves de Barros (irmão de meu sogro, João da Matta Barros), Dr. Heitor Cintra Machado, Cel. Francisco Ferreira Alves e Cel. Francisco Netto de Araújo. Órgão do Partido Republicano. Em 23 de abril de 1926 surgiu o Cine Brasil Jornal, destinado à propaganda cinematográfica. O jornal O Mogiano, o 4º com o mesmo nome, iniciou sua publicação em 4 de julho de 1927. Começou a circular em 28 de fevereiro de 1926 o jornal denominado O Mariano, fundado pelo Revmo. Padre Vicente Rizo, também seu diretor. Suspendeu a publicação em 4 de julho do mesmo ano. O Democrata veio à luz em 24 de outubro de 1926. Órgão do Partido Democrata, tinha como redatores o Dr. Francisco Barros Penteado e o advogado Sinésio Passos, que conheci pessoalmente. Órgão do Partido Republicano, o jornal Correio de Mogi Mirim iniciou sua publicação em 16 de maio de 1928, sob a direção do Sr. João Augusto Palhares. A partir de 5 de janeiro de 1929, entraram para a redação o dr. Rubem Marcondes e o Sr. Francisco Leite de Morais. Em 7 de fevereiro de 1929, a gerência passou a ser exercida pelo Sr. Antenor Ribeiro, o autor da Monografia que estou consultando. A Caridade, órgão de propaganda espírita dirigido pelo Sr. Alfredo Gonçalves Vieira, apareceu em 5 de março de 1929. (VIDE NOTA). Em 16 de junho de 1929 circulou o jornal Arte Gráfica, órgão de propaganda da tipografia de meu pai, Mário Franco. A Gazeta, órgão independente, publicado aos sábados, iniciou a circulação em 6 de junho de 1931, encerrando, com o número 11, em 15 de agosto do mesmo ano. A Monografia cita o seu DiretorGerente: Sr. R. Ataíde Aranha. COMENTÁRIO: O Sr. Ranulpho de Ataíde Aranha adquiriu, de meu pai, sua tipografia, a prazo, mediante o pagamento mensal de 500 mil réis. Meus pais se mudaram para Itapira, onde papai conseguiu emprego no jornal Cidade de Itapira. Permanecemos na cidade apenas alguns meses, pois o Sr. Aranha não pagou uma prestação sequer, o que obrigou meu pai a retomar a tipografia, quando voltamos a residir em Mogi Mirim. Foi quando papai fundou o jornal O Popular, que é citado a seguir. Em 1º de novembro de 1931 foi fundado o jornal O Popular, de propriedade de Mário Franco, tendo como redator o Sr. João Branco de Abreu e gerente o Sr. João Batista Peres Marques, o Nico Peres. O jornal era publicado aos domingos, tendo interrompido a circulação com o número 52, em 29 de maio de 1932. A Cidade, ex-O Popular, iniciou sua publicação com o número 53, em 2 de junho de 1932. A partir do número 74, em 14 de agosto de 1932, passou a circular somente aos domingos; voltou a circular, às quintas e domingos, em 20 de outubro de 1932. Em 11 de novembro de 1935, edição de nº 404, NOTA: Alfredo Gonçalves Vieira foi vizinho de meus pais, na rua Dr. João Teodoro, em Mogi Mirim, estabelecido com uma pensão. Exercia, também, a profissão de solicitador, ou rábula (que exerce a advocacia sem ser formado). Comentava-se, ao tempo em que morei em Mogi Mirim, que o solicitador defendia um réu primário, que cometera crime bastante leve, quando, dirigindo-se ao magistrado que presidia o Júri, teria dito: Vossa Excelência que ontem soltou um gavião, solta hoje este avinhado. (Na véspera houvera o julgamento e um crime bárbaro, sendo o réu absolvido). Conta-se que o Juiz teria pedido a designação de outro defensor para o acusado, declarando, a viva voz, que o réu estava sem um defensor. Recordo-me que o apelido do solicitador era Alfredo Peru.

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passou a circular diariamente, à tarde, exceto aos domingos. Sua última edição, em 31 de dezembro de 1935, teve o número 447. Em 1933 circulou o jornal O Constitucionalista, e o São Paulo Unido, órgão da Federação dos Voluntários de São Paulo (C.O.P. de Mogi Mirim), quinzenário, iniciou sua publicação em 8 de outubro de 1933, tendo publicado o nº 6, o último, em dezembro do mesmo ano. Seu diretor: Sr. Aprígio Gonçalves da Silveira, ex-pracinha; redator: Sr. Paulo Spósito; gerente: Sr. Januário Contatori, um gentleman que conheci pessoalmente. ANAUÊ! Órgão oficial do Núcleo Integralista de Mogi Mirim, publicado aos domingos, iniciou a publicação em agosto de 1935. Diretor: Dr. Rubem Marcondes; gerentes: Srs. Paulo Spósito e Olavo Marcondes Plessmann. O Sr. Olavo Marcondes Plessmann foi casado com Antonia Barros Bueno, prima de minha esposa, Marina. Sob a direção do Sr. Olavo Marcondes Plessmann, iniciou-se a publicação, em 11 de julho de 1937, do jornal Folha de Mogi Mirim. Jornal independente, defensor dos interesses do município. A 15 de agosto de 1937, na vila de Posse de Ressaca, veio à luz o jornal Idade Nova, órgão católico sob a direção do Padre Antonio Martins e Silva, sendo redator-chefe o Dr. Alberto Fortuna e gerente o Prof. Antonio Azevedo. Nossa Folha, órgão dos alunos da Escola de Reforma (Instituto de Menores) surgiu em 1º de setembro de 1937, com publicação mensal. A seguir, a Monografia relaciona 43 jornais dedicados à mocidade mogimiriana, entre eles destacaremos aqueles que ainda hoje são lembrados, como O Ferrão, A Camélia, O Rouxinol, A Andorinha e O Popularzinho, este último iniciado em 8 de maio de 1932 por mim e meu irmão Hilário, quando tínhamos 12 anos e 10 anos e meio, respectivamente. O Ferrão, órgão crítico e humorístico, foi fundado em 21 de janeiro de 1906, pelos Srs. Luís Antonio Paim e Albertino Costa, este último foi, mais tarde, impressor na tipografia de meu pai. Em sua segunda fase, com início em 11 de setembro de 1927, teve como redator o Sr. Luís Antonio Paim e como gerente o Sr. João Batista Peres Marques, nosso amigo Nico Peres. A Camélia iniciou sua publicação em 7 de julho de 1918 tendo como redator o Sr. Floriano Silva. A partir de 25 de fevereiro de 1923, seu quinto ano, passou a ter como redator o Sr. Mozart Oliveira. A Mocidade circulou de junho a novembro de 1929, identificando-se como órgão crítico, humorístico, literário e noticioso, dedicado ao belo sexo mogimiriano. Os redatores do jornal: Josias Alves da Silva, José Palhares, Alcides Miranda, Amaro de Barros e Elói Alves da Silva. Orientadores: o acadêmico de direito Horácio Neves Júnior e o Sr. Antenor Ribeiro, o autor da Monografia. Os redatores Josias Alves da Silva, Alcides Miranda e Elói Alves da Silva foram colaboradores da oficina tipográfica de meu pai, como tipógrafos e impressores, talvez alguns anos após a existência desse jornal. O jornal O RouxinolL teve sua circulação iniciada em 14 de setembro de 1930, prosseguindo até 12 de janeiro de 1933. Em nova fase, iniciou a publicação em 12 de janeiro de 1933, continuando a existir na época da publicação da Monografia, ou seja, após o ano de 1950. Os redatores, na primeira fase, foram os Srs. Liberato Salvato, Geraldo Cotrim, Guido Furegati, Orlando de Almeida Sales e João Alves. Na segunda fase foi diretor o Sr. Geraldo Cotrim, que teve como orientador o maestro Alberto de Sousa Brito, de quem fui aluno de música por alguns meses. A Andorinha teve como redatores os Srs. Lindolfo Dota, Ernani Calbucci e Liberato Salvato. Circulou

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quinzenalmente, e era dedicado à rapaziada, era crítico, humorístico e literário. Circulou em outubro e novembro de 1930. O Popularzinho, órgão da criançada, teve início em 8 de maio de 1932, tendo como diretores Ademar Franco e Hilário Franco. A partir da mudança do nome do jornal de nosso pai, O Popular para A Cidade, o jornal infantil passou a se chamar A Cidadinha. O jornal O Garoto teve como redatores José do Prado Nogueira, Delfus Gurjão Cotrim, Euclides Brito de Araújo, Alcides Miranda, Edgard Costa, Henrique Miranda Rocha e Manuel Simões. Circulou de setembro de 1933 até 13 de janeiro de 1935 e, em 2a fase, a partir de 1º de setembro de 1935. Identificavase como órgão crítico, literário e humorístico. Atualmente circulam em Mogi Mirim os seguintes jornais: A Comarca, fundado em 5 de julho de 1900 por Francisco Cardona, é hoje dirigido por Ricardo Piccolomini de Azevedo, neto de Francisco Piccolomini, que foi diretor do jornal a partir de 1926; O Impacto, dirigido por Mauro Adorno Filho, e O Regional, jornal impresso em outra cidade circulando em Mogi Mirim.

Estação Ferroviária de Mogi Mirim, desativada, hoje sede da guarda mirim. Frente para a cidade.

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Mog i M i r i m Infância

5 Infância e adolescência em Mogi Mirim. A vida de nossa família, em Itapira, nunca fora fácil. Papai lutou muito para nos criar. Existia, em Mogi Mirim, uma tipografia e papelaria que editava um jornal de nome A Comarca. Representantes dessa tipografia visitavam Itapira, constantemente, e contavam a meu pai que Mogi Mirim era muito melhor para negócios do que Itapira. De tanto ouvir essas conversas, meu pai resolveu se mudar para lá. Em 1928 nossa família mudou-se para Mogi Mirim. Nessa cidade, no ano de 1929, nasceu meu irmão caçula, o Mário Franco Filho, o Marinho. Em minha infância e juventude em Mogi Mirim, nos anos de 1928 a 1934, lembro-me do Grupo Escolar Dr. Oscar Rodrigues Alves, o Grupo Novo, onde estudei com algumas professoras inesquecíveis, como Dona Glorinha, Dona Belinha Berbel, Dona Lourdes Matta e outras, cujos nomes me fogem, sendo o Diretor do Grupo o Prof. Otílio. O outro grupo escolar da cidade, o Grupo Velho, era o Grupo Escolar Coronel Venâncio. Sempre houve muita rixa entre os alunos dos dois estabelecimentos de ensino. Papai resolveu fundar, na cidade de Mogi Mirim, um jornal semanário que denominou O Popular. O jornal passou a concorrer com A Comarca, o que teria provocado a ira de Francisco Cardona, o fundador e proprietário do jornal e da tipografia, sabendo-se que papai nunca foi perdoado pela ousadia. Apenas como curiosidade, registro que o jornal A Comarca ainda circula, em Mogi Mirim, tendo sido fundado, segundo consta de seu cabeçalho, no dia 5 de julho de 1900. Quando eu nasci, a 5 de julho de 1920, A Comarca estava completando 20 anos de existência. Para piorar a situação, papai resolveu passar o jornal que editava para publicação diária, com o nome de A Cidade. Eu e o mano Hilário editávamos um mensário de comentários jocosos a respeito da mocidade mogimiriana, intitulado O Popularzinho. Com a mudança do nome do jornal maior, o pequeno passou a chamar-se A Cidadinha.

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No Livro de Ouro de papai encontro, em versos, nas páginas 94 a 96, anotações sobre os cinco anos de jornalismo, 1931 a 1936, em Mogi Mirim. Papai registrou sua desilusão com os políticos na seguinte quadrinha: Os políticos de bolso vazio, Juraram manter o jornal, Que por cinco anos a fio, Liquidou meu capital. São citados os nomes dos políticos e suas promessas, porém não irei registrar seus nomes, nem suas promessas, pois, como dizem as massas, político não tem consciência, de nada adiantaria essas citações. Ademais, todos eles já faleceram. Além do Grupo Escolar, que cursei em Mogi Mirim, lembro-me da escola do Prof. Avelino, a qual freqüentei por alguns meses. Nessa escola imperava a palmatória. Essa selvagem reprimenda para aqueles que não sabiam as respostas às perguntas do assustador Prof. Avelino, era aplicada, por ordem do professor, pelo aluno que soubesse as respostas corretas. Quando o ignorante foi um garoto mais velho e mais forte, e o sabidão este escrevinhador, mesmo sem explicar o motivo, este solicitou de seus pais que o tirassem da escola. Mogi Mirim, na época, década de trinta, não possuía nenhuma escola onde houvesse possibilidade de se continuar a estudar, a não ser o Colégio Imaculada Conceição, de freiras, que só aceitava meninas. Só se cursava, no Grupo Escolar, até o quarto ano primário. O Instituto de Educação Monsenhor Nora só foi instalado em Mogi Mirim quando não mais morávamos na cidade. Na década de trinta foi instalado, na cidade, o Colégio São José, dirigido por uma senhora idosa, professora, e por seu filho, também professor, vindos de Campinas. Meu pai, imediatamente, procurou matricular, a mim e a meu irmão Hilário nessa escola. Não me lembro quanto tempo durou esse colégio, que funcionou no Largo do Rosário, em um casarão onde morara o poeta Guilherme de Almeida e, posteriormente, na época de meu namoro e noivado, moraram meus sogros, João da Matta e dona Constança. Não houve um segundo ano para os alunos, pois o Colégio fechou no final do ano de sua instalação, não reabrindo no ano seguinte. Recordo-me que o Antoninho Albejante, posteriormente formado médico e exercendo brilhantemente a sua profissão, foi meu colega no Colégio São José. Com o seu fechamento, o Antoninho foi estudar em Campinas. Dos anos trinta lembro-me de alguns amigos, como o Tidinho, o Nini Masotti, o Odilon e o Otelo Fernandes, o Jim (Higino Corrêa, ex-pracinha), o Amílcar Malvezzi, já falecido, o Lino Ricardo, que seguiu a carreira da Aeronáutica, o divertido Dilermando Dotta, o Zé Bernardi, o Antoninho Romanello, o Nicésio Mello e seu irmão, e muitos outros cujos nomes me fogem, no momento. Lembro-me de ouvir meu pai, em outubro de 1930, pronunciar o nome Getúlio Vargas, alegrando-se com sua vitória, porém, nos meus 10 anos de idade, apenas ficou gravado o nome do personagem, sem qualquer registro dos fatos. Eu colecionava borboletas, porém sem técnica alguma, o que me fez ter os olhos inflamados, inúmeras vezes, em virtude do pó de suas asas. Uma passagem que não me esqueço, deve ter ocorrido em 1929 ou 1930. Eu atendia, no balcão da papelaria de meu pai, algumas senhoras quando, olhando para

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a rua, vi uma bela borboleta azul. Não tive dúvidas, larguei as pessoas, saltei o balcão e corri para a rua atrás da borboleta. Não lembro se a peguei. Às vezes comento com o Omar Fernandes, colega que milita na área contábil, tendo exercido cargos importantes nos órgãos da classe, que seus irmãos, Odilon e Otelo, formaram um grupo de garotos para guerrear, utilizando pedras, com o grupo que eu, o mano Hilário, e outros garotos, havíamos organizado na rua Dr. João Teodoro. O grupo dos Fernandes, que era o da Rua Quinze, vinha à nossa rua para enfrentar o grupo da Rua Dr. João Teodoro. O Omar não pode se lembrar desses fatos, pois era um bebê. A família Fernandes era a família dos nomes começados pela letra “O”. Otelo, Odilon, Ondina e Omar, o caçula. Faço um parêntese para declarar que, apesar da guerra entre as ruas, não havia inimizade entre os guerreiros das duas ruas.

Eu, o mais velho, e meus cinco irmãos. O Segundo, logo abaixo de mim, o Hilário, tornou-se uma lenda na contabilidade, em razão de seus livros e de suas pesquisas. Hilário faleceu no ano de 2000.

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Meus avôs, Messias e Cecília e dois netos, meus primos Oscar e Mauro.

Cecília Pereira de Oliveira Franco. minha adorada avó.

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Mog i M i r i m Infância

6 Falecimento de minha avó Cecília. Novas lembranças de Itapira.

Ainda não se completara um ano de nossa residência em Mogi Mirim quando recebemos a notícia do falecimento de minha querida avó Cecília, pessoa que tanto admirei e amei. Dela, tenho certeza, as recordações não foram somente por fotografias, apesar de ter fotos em que ela aparece. Tenho certeza, porém, de que as recordações que guardo são das ocasiões em que estive em sua casa, em Itapira, na rua João Pereira, que tinha nos fundos a marcenaria do vovô Messias. No Livro de Ouro deixado por meu pai, que encontrei há pouco tempo, às páginas 80 e 81, encontro versos de meu pai sobre o amor que dedicava à sua mãe, Cecília, bem como a saudade que sentia de sua falta. Algumas quadrinhas, encontradas nessas páginas, reproduzo a seguir:

Eras minha conselheira, Só em ti eu confiava. Sempre fostes a primeira, Pois em ti me consolava ! ... De tua boca sagrada, Bons conselhos recebi, E minha vida ajustada, Veio inteirinha de ti ! ... Mamãe, nunca me esqueço Das lutas duras, inglórias. Fostes forte, reconheço, Alcançando tantas Vitórias !

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O que sempre nos faltou Foi o indigno dinheiro, Todo o mais se conservou, Forte, puro, altaneiro ! ... Tinhas o dom da energia, Até ao ralhar, eras boa. E as palavras que eu ouvia Nunca as julguei à toa ! Os versos de papai tinham rimas, não métrica, porém traziam à mostra a sua alma, alma de poeta. Vovó Cecília faleceu no dia 26 de março de 1929. A respeito do dia 5 de julho de 1924, quando eu completava 4 anos de idade, ouvi muitas vezes comentários de meus familiares sobre acontecimentos, em Itapira, na revolução dos tenentes. Estávamos hospedados na casa de meus tios, Júlio e Remigie, e os canhões dos revoltosos estavam localizados no bairro do Cubatão, apontando diretamente para essa casa. É o que sempre ouvi contar. Por pura curiosidade, procurei, na Grande Enciclopédia Larousse Cultural, o verbete revolução e encontrei, entre outras revoluções, a Revolução Paulista de 1924. Sobre ela declara a Enciclopédia que se tratava de “Movimento revolucionário que eclodiu em São Paulo, a 5 de julho de 1924, sob a chefia militar do general Isidoro Dias Lopes, secundado por Miguel Costa, João Cabanas e Joaquim Távora. Este, que viria a ser morto em combate, foi o articulador político do movimento, em que houve participação majoritária de jovens militares, os tenentes”. “O caráter de surpresa imprimido pelos revolucionários ao assalto desfechado contra os quartéis da capital paulista confundiu setores que poderiam apoiá-lo, embora produzissem a debandada inicial entre os 15 mil soldados legalistas enviados para esmagar os 3 mil revoltosos. A retirada dos revolucionários, ante a ofensiva governamental, deu origem à Divisão Miguel Costa, que se transformou, a seguir, na Coluna Prestes”. Fiquei sem entender porque, em julho de 1924, canhões localizados no bairro do Cubatão, em Itapira, apontavam para a casa de meus tios ! Através do Álbum de Itapira, tive alguma luz a respeito do assunto. Encontrei, à página 78, o seguinte trecho: “No dia 21, aproveitando-se da circunstância (a cidade estava com somente 15 praças) o tenente João Cabanas, à frente de 200 homens armados de canhões e metralhadoras, chegou a Itapira, depois de tirotear com patrulha do governo na rua do Amparo, encontrando a cidade deserta porque a população refugiara-se nas fazendas”. Aí estava a fonte das histórias dos canhões apontando para a casa de meus tios, que eu ouvira, muitas vezes, a respeito da revolução de 1924, em Itapira, não no dia 5, mas acontecendo alguns dias após o início da refrega, em São Paulo. Lembro-me, ainda, de que, em Itapira, eu e meu irmão Hilário, gostávamos de dormir, de vez em quando, na casa da nonna Santa, na Rua do Amparo, por causa do colchão de palha, usado em suas camas, que afundava quando nos deitávamos, fato que causava uma verdadeira alegria aos dois pirralhos.

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Mesmo morando em São Paulo, visitamos muitas vezes a tia Vidica, em Itapira, ouvindo dela e de seu marido, o tio César, notícias dos acontecimentos na cidade, bem como sobre alterações havidas, como casas antigas demolidas sendo substituídas por novas. A reforma do Grupo Escolar Júlio de Mesquita, onde eu estudara alguns meses, em 1931, em nossa curta temporada na cidade, bem como ouvia sobre as melhorias no parque, o que possibilitava melhor visão do bairro do Cubatão, que crescia a olhos vistos. Também eram relatados fatos sobre pessoas da cidade, como o Joãozinho Bento, o milionário, o Achiles Galdi, o farmacêutico que, posteriormente, cursara medicina e passara a exercer, com bastante sucesso, a nova profissão, o Dr. Hortêncio Pereira e a construção de seu hospital, o Primo Avancini, amigo íntimo de meu pai, na mocidade, a fábrica de chapéus do Sarkis, hoje desativada, a Usina do Virgulino, que acabou transformando as plantações do município, que eram tradicionalmente de café, para cana de açúcar, bem como outras novidades, como a fábrica de enxadas do Albano Pecoraro e a Indústria de Máquinas Agrícolas Nogueira. Abro um parêntesis para citar que talvez Itapira estivesse destinada ao plantio de cana, pois papai relata, em seu Livro de Ouro, à página 51, que meu tio Abílio fabricou aguardente com cana plantada por ele. Pelos meus cálculos, isso ocorreu por volta dos anos de 1918 ou 1919. Além das visitas à tia Vidica, a partir de 1961, morando em Araraquara, passei a mandar confeccionar meus ternos em Itapira, com os alfaiates Secolin e Sartorelli, que se tornaram meus amigos e com os quais também pude me recordar de vários fatos acontecidos em Itapira. Vem-me à mente um fato que, tenho certeza, não me foi contado por ninguém, pois esteve registrado sempre comigo. No ano de 1931, quando voltamos a morar em Itapira, por algum tempo, nossa casa, no Largo do Riachuelo, era muito pequena para nossa família. Um amigo de papai, o Fiori, ofereceu-nos, por um aluguel bem menor do que aquele que pagávamos pela pequena casa, uma enorme casa, com um salão na frente, outrora usado por uma grande loja de ferragens e, internamente, grande sala, bons quartos, cozinha e banheiro bons, além de um porão quase habitável. Resolvemos topar e mudamos para lá, pois a casa era localizada a duas quadras da praça principal da cidade. Não levou um mês para descobrimos porque o aluguel era tão barato. A casa era mal-assombrada, como foi constatado por nós. Entre os fatos contados sobre Itapira, um mais recente, diz respeito a um prefeito da cidade que, sempre que cobrado sobre alguma providência a ser tomada, dizia ao munícipe: pode deixar. Com a continuidade de suas promessas, sua reposta aos munícipes soava como pó-de-chá. O irmão do prefeito tinha uma torrefação de café. Era o pó-de-café. A dupla passou a ser chamada pó-de-chá e pó-de-café. O prefeito em questão veio a falecer em acidente aviatório, em companhia de industrial itapirense, sobrevoando a própria cidade de Itapira.

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Revolução

7 A Revolução Paulista de 1932. Na Revolução Constitucionalista de 1932, os legalistas, vindos de Minas Gerais, entraram no Estado de São Paulo por Eleutério, Barão Ataliba Nogueira e Itapira. No morro do Gravi, localizado entre Itapira e Mogi Mirim, foram travados vários e acirrados combates. Os paulistas foram derrotados. Com isso a cidade de Mogi Mirim foi ocupada pelas forças federais, os chamados legalistas. Antes da ocupação, meu pai resolveu deixar a cidade. Fomos para uma fazenda, a São José da União, de propriedade de primos de minha mãe, os Cavenaghi. Passamos alguns dias naquela fazenda, até que o mesmo caminhão que levara a nossa mudança apareceu com uma intimação dos legalistas para que voltássemos. Meu pai tinha uma tipografia e seus serviços eram necessários para os ocupantes da cidade. Voltamos. A Junta Militar que governava a cidade instalou-se no prédio da Prefeitura Municipal. Meu pai apresentou-se ao comandante administrativo e militar da praça, o Coronel Jerônimo Romariz, que fora o oficial responsável pela nossa volta. Essa autoridade militar passou a encomendar serviços gráficos para a sua tropa, nas oficinas de meu pai. Lembro-me de ter ido buscar, com o Coronel Romariz, algumas vezes, originais para a execução de impressos. Meu avô Messias, que fugira conosco para a Fazenda, logo que chegamos saiu para um passeio, voltando bastante assustado. Descobrira que os bônus paulistas não mais valiam, pois os legalistas estavam na cidade. Na sua surdez, vovô não tomara conhecimento das alterações havidas, nem mesmo da derrota dos paulistas. Dois tios, irmãos de meu pai, Abílio e Doca, se alistaram nas tropas paulistas. Abílio voltou tão logo a revolução terminara, porém meu tio Doca não voltou. Toda a família ficou preocupada até que, alguns meses após o término da refrega, meu tio voltou. Barbudo, velho, cansado, porém ileso. Adentrara o Estado do Paraná e lá ficara, mesmo após o término da revolução.

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Na Revolução Constitucionalista de 1932 Mogi Mirim forneceu o seu herói, Chiquito Venâncio, que morreu em combate. No Álbum de Itapira encontro, entre os voluntários, Olavo Pereira da Silva que, a partir de 1940, trabalhou comigo na Neofarm Limitada, sendo um dos meus cobradores e pagadores que trabalhavam na rua.

A volta do soldado.

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A m or p e l os L i v ros

8 Meu amor pelos livros.

Fatos acontecidos em Mogi Mirim. Na época da revolução, com meus 12 anos de idade, papai me permitiu aprender, em sua oficina, o ofício de tipógrafo, bem como de impressor e de encadernador, fato de que muito me orgulho até hoje. A tipografia de papai, nos últimos tempos de Mogi Mirim, ficava na rua Conde de Parnaíba, ao lado da Farmácia Nossa Senhora da Conceição, na época de propriedade do Sr. João Avancini, na qual trabalhei, por alguns meses. Do tempo da farmácia, lembro-me de duas passagens: a primeira delas diz respeito aos vidros de água oxigenada, que vinham embalados em cartuchos de cartolina, tendo, dentro deles, santinhos para os compradores. Eu e outro empregado da farmácia, abríamos as embalagens para retirar os santinhos e, numa dessas vezes, derrubamos alguns vidros que se quebraram e tivemos de pagar, além da vergonha de termos retirado os santinhos. A segunda passagem, diz respeito a um outro rapaz, que trabalhava na farmácia e que sofria de epilepsia. Estávamos atendendo uma pessoa que sofrera profundo corte em um dos pés, parece-me que com um machado. O rapaz estava por perto, procurando ajudar o farmacêutico, Sr. Oscar. A certa altura, o rapaz teve o início de um ataque epilético, o que atrapalhou o curativo. Quando o rapaz melhorou, o farmacêutico pediu-me que o acompanhasse até sua casa, na rua Paissandu, a poucas quadras da farmácia. Fiquei todo importante por ter visto o ferimento e nada ter acontecido comigo. No dia seguinte, apareceu um garoto com um corte profundo em um dedo da mão. O farmacêutico pediu-me ajuda e, ao olhar o ferimento, eu simplesmente apaguei. Esse fato sempre me vem à lembrança quando penso em desprezar alguém por não ser corajoso, por não suportar ver sangue, etc. O rapaz epilético não agüentara o ferimento a machado nos pés do paciente, enquanto eu desmaiei por ver um pequeno corte em um dedo da mão de outro.

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Nunca mais pensei em caçoar de alguém por não suportar ver sangue ou qualquer tipo de ferimento. Outro emprego, do qual estava me esquecendo, foi no armazém do Sr. Joaquim Brandão, na rua Conde de Parnaíba, esquina da rua João Teodoro. Lembro-me de que ganhava 10 mil réis, o que era muito dinheiro, pois eu só trabalhava depois do almoço. No quarteirão em frente ao armazém do Sr. Brandão, havia uma grande loja de tecidos, de propriedade do Sr. Jorge Baracat. Em sua porta, um turco vendia frutas, em uma cesta de vime, depois que percorria algumas ruas da cidade. Eu e o Hilário vimos a cesta do turco na porta da loja; sem ninguém por perto, pegamos uma pêra para cada um e fugimos. Ao chegar em casa, papai quis saber onde arranjáramos as pêras. Fomos obrigados a contar. Sua reação foi obrigar-nos a voltar, procurar o turco, contar que roubáramos as pêras e pagá-las. Foi um grande vexame para nós, porém aprendemos a lição para sempre. É interessante que tanto eu, como o Hilário, nunca comentamos o assunto com ninguém, ou mesmo entre nós dois, talvez pelo vexame que passamos. Em fins de 1931, quando voltamos de Itapira e papai reassumiu a tipografia que vendera e não recebera, (ver capítulo cinco), papai foi procurado pelo Padre Gióia, vigário da Paróquia de Santo Antonio da Posse. O Padre Gióia trazia os originais de um livro que escrevera e que desejava ver publicado. O título do livro era O Verbo à luz da Filosofia. Com esse título, papai pensou tratar-se de um livro sobre religião, no que estava enganado, pois se tratava de uma gramática da Língua Portuguesa. Nós já conhecíamos o Padre Gióia há algum tempo e, dado esse conhecimento, papai resolveu não aceitar a incumbência, alegando dificuldades técnicas. O Padre Gióia não aceitou a recusa e papai acabou aceitando confeccionar 1.000 exemplares do livro. O autor, o Revdo. Padre Raphael Gióia Martins posteriormente deixou a batina, abraçou outra religião, casou-se e, muito mais tarde, já em São Paulo, viemos a conhecer seu filho, o Dr. Raphael Gióia Martins Júnior, o Gióinha, personalidade pública e política do Estado de São Paulo. No começo de 1934, com menos de catorze anos, enamorei-me de uma menina, com menos de treze, que é hoje a minha esposa querida. Marina foi sempre o amor de minha vida. A família de Marina morava na Fazenda São Manuel, no distrito de Martim Francisco, distante oito ou dez quilômetros da cidade. Marina se hospedava em casa de seus tios, na rua Direita, quando fomos morar na mesma rua, em frente a essa casa. Pouco conversávamos, porém os bilhetinhos voavam pela janela da casa de seus tios, sendo apanhados, algumas vezes, pelas suas primas, Maria José e Maria da Glória, a Glorinha, as quais acobertavam o nosso namoro. Durante o ano de 1934, fui morar em Santos, com meu tido Abílio, tia Mariquinha e meus primos Bila, Francisquinha, Heitor e Hélio. O namoro ficou encubado. Sempre gostei de loja de livros e de coleções de livros, ou bibliotecas, tendo organizado uma pequena biblioteca de aluguel, em Mogi Mirim, nos anos de 1933 e 1934. Com o aluguel, por livro, de quinhentos réis por semana, dos quais eram pagos 20%, cem réis, aos corretores que visitavam os interessados levando a relação dos livros para alugar, consegui formar uma pequena biblioteca de duzentos e poucos livros, que foram vendidos, em 1936, para financiar a mudança de meus pais para São Paulo, em junho desse ano.

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Papai sempre fora muito organizado, registrando os fatos econômicos e financeiros de sua vida em uma espécie de borrador, sem qualquer apuração de resultado. Imitando os seus registros, resolvi criar o meu borrador a respeito de minha iniciante biblioteca. O certo é que, desses meus registros, comecei a idealizar demonstrações e acabei tendo um sistema de escrituração e contabilidade que foi comentado, posteriormente, em artigo de Menotti Del Picchia, distribuído pela UJB, organização em qual falarei em outro capítulo. O artigo foi publicado em vários jornais do Brasil, principalmente no interior do Estado de São Paulo, comentando o sistema contábil desenvolvido por um garoto. A biblioteca fora iniciada com aquisições de livros, da livraria de meu pai, a serem pagos com o próprio aluguel dos mesmos. Graças a Deus a coisa deu certo e consegui aumentar a biblioteca, como acima citado. Meu gosto pelos livros continua até hoje. Possuo uma biblioteca com mais de 800 livros, todos catalogados e fichados, controlados por um programa de computador. Confesso que muitos desses livros ainda não foram lidos, porém sempre existe a esperança de que lerei todos eles.

Estação Ferroviária de Mogi Mirim, desativada. Plataforma de embarque.

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S a n t os Juventude

9 Juventude em Santos. Alguns trabalhos. Em 1934, morando em Santos, entrei em uma livraria e fui apresentado ao poeta Martins Fontes, fato que me deixou muito contente. Conversando com ele queixei-me de não ter podido continuar meus estudos, por falta de dinheiro e de oportunidades. Muito gentilmente, o poeta deu-me pequeno bilhete, endereçado à direção da Escola Noturna Santo Inácio, onde consegui estudar à noite, durante todo o tempo em que morei naquela cidade. Enquanto não tinha emprego, o Mário Amaro da Cruz, marido de minha prima Francisquinha, pediu-me para tomar conta de uma bomba de gasolina, daquelas manuais, localizada na esquina da avenida da praia com a avenida de um dos canais. Tomei conta da bomba, durante algum tempo, ganhando um tostão por litro de gasolina vendido. Consegui, através das amizades de meu tio Abílio, dono do Cartório do Registro Civil do Guarujá, um emprego no escritório de um despachante aduaneiro, Adelson Nogueira Barreto, onde trabalhei até voltar para Mogi Mirim, não permanecendo nesta cidade muito tempo, pois fui morar em São Paulo. Antes desse emprego, trabalhei, em Santos, por um ou dois meses, como ajudante de escritório da Companhia Nacional de Navegação Costeira. Lembro-me de que, em Santos, a casa de meu tio era na rua Dr. Carvalho de Mendonça, nas proximidades do campo do Santos Futebol Clube. Mesmo com essa proximidade, não me lembro de ter assistido qualquer partida de futebol naquele estádio. A casa de meu tio tinha uma parte térrea, que servia de depósito e lavanderia, porém era muito escura, havendo necessidade de se ficar com luzes acesas para ali permanecer. Na minha ânsia de fazer alguma coisa, resolvi escrever um romance policial, gênero meu preferido. Comecei a utilizar aquela parte da casa, que denominávamos porão, para o meu intento. Com isso, as luzes precisavam ficar acesas por muito tempo, o que me trouxe um pedido de meu tio, através de meu primo Heitor, para que não

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permanecesse com as luzes acesas, pois os gastos estariam ficando muito elevados. Atendi ao pedido de meu tio e, com isso, o mundo deixou de conhecer o meu romance, o qual deveria se chamar “A Polícia cometeu um crime premeditado”. Com esse nome e tal enredo, talvez tenha sido mesmo melhor não tê-lo concluído. De Santos, mudei-me para São Paulo, em 1935. Minha ida para São Paulo, sem meus pais e sem meus irmãos foi possível porque fiquei hospedado em casa de meu tio e padrinho, Benedito Otávio, o tio Doca, na Avenida Onze de Junho, na Vila Mariana. Comecei a trabalhar na União Jornalística Brasileira, como é contado nos próximos capítulos.

Prédio da alfândega de Santos inaugurada em 1934 e a partir de 1969 foi a sede da Receita Federal, na foto ao lado a Rua Direita em Santos no século XIX

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S ã o Pa u lo Juventude

10 Juventude em São Paulo. Mudei-me para São Paulo, como adiantei no capítulo anterior, passando a morar na Vila Mariana. A casa de meu tio ficava nos fundos de um imenso terreno, todo cercado com muros, não muito altos e, no lado interno desses muros, uma infinidade de pés de caqui, cercando toda a propriedade. Meus tios, Doca e Otília, casaramse já maduros e, nessa época, tinham sua primeira filha, a Cecilinha, com menos de um ano de idade. Cecília, hoje, é advogada, em Santos, casada com o Dr. José Roberto Minervino, cirurgião-dentista com grande clientela. Têm dois filhos. O irmão mais novo de Cecília, o João Otávio, também é cirurgiãodentista. João Otávio conta que, quando tinha seu consultório dentário em Viracopos, bairro de Campinas, atendeu a artista Regina Duarte, que tivera um acidente com um dente. Em vista da amizade de meu pai com o escritor e poeta Menotti Del Picchia, primeiro pela vizinhança da casa de meus avós com a casa dos pais do poeta, em Itapira, depois por ter papai encadernado, na época em que trabalhava na tipografia do Paladini, a primeira edição do livro de poemas Juca Mulato, de autoria desse grande escritor, tive meu primeiro emprego para valer, isto é, com um ordenado com o qual podia sustentar-me em São Paulo. Esse emprego foi na empresa União Jornalística Brasileira, cujos sócios eram Menotti Del Picchia, José Bento Monteiro Lobato e Arthur Monteiro de Carvalho. Em junho de 1936, meus pais se mudaram para São Paulo, passando a residir no mesmo prédio em que foi instalada sua tipografia, na rua Henrique Dias, no Brás. Muito raramente, pois não havia dinheiro para isso, saíamos para passear, aos domingos, com papai, mamãe e os irmãos. Nossa família, compreendendo oito pessoas, era muito complicada para sair de casa. Mesmo assim, algumas vezes o fizemos. Lembro-me de havermos ido, pelo menos uma vez, na Chácara do Marengo, no Tatuapé. Pagava-se para entrar, com o direito de colher

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e consumir, no local, as deliciosas uvas Marengo, sem qualquer outro pagamento. Apenas não se podiam levar uvas para casa, sem comprá-las, pois não estavam no preço do ingresso. Foi um ótimo passeio. Quando morávamos na rua Henrique Dias, lembro-me de que minha irmã, Alcidema, ficou doente, porém mamãe não permitiu que chamássemos um médico. Mamãe, usando a sua homeopatia, tratou e curou minha irmã. Somente após a cura soubemos que a Cida tivera escarlatina, doença contagiosa que, se conhecida das autoridades, obrigaria a internação da doente em hospital de isolamento. Ao lado da tipografia, ainda na rua Henrique Dias, havia um pequeno armazém. Papai contou-me, quando já havíamos mudado dessa rua, que ao fazer pequena compra no armazém, pois não havia dinheiro para compra maior, o proprietário, um negro, entregou-lhe uma caderneta para compras a prazo, concedendo-lhe um crédito que possibilitaria fazer uma compra para todo o mês. O pagamento seria no mês seguinte. Papai, que sempre fora muito racista e não suportava negro, mudou completamente de opinião, nunca mais pensou em discriminar qualquer pessoa. Da rua Henrique Dias papai mudou sua tipografia para a rua Domingos de Morais, logo após o Largo Ana Rosa. Não me lembro muito bem como foi a nossa vida nesse endereço. Lembro-me apenas de que meus tios, Doca e Otília, vieram morar conosco. Tia Otília era de família portuguesa, de sobrenome Martins. Era muito alegre e muito inteligente. Escrevia e declamava seus versinhos que encantavam a todos. No Capítulo seguinte falo dos meus empregos, sendo que até junho de 1936 minha família ainda morava em Mogi Mirim. Com a vinda de toda a família, eu o meu irmão Hilário nos matriculamos num curso preparatório para Escola de Comércio. O professor Almeida, um português bastante letrado, muito nos ensinou para que conseguíssemos continuar nossos estudos. No curso do professor Almeida, ficamos conhecendo o Ferreira, José Ferreira Dias, natural de Santa Cruz das Palmeiras, que veio a tornar-se nosso grande amigo. O Ferreira, o maior contador de anedotas que já conheci, muito nos honrou com sua amizade. Gostávamos muito de cinema e freqüentávamos, eu e o Ferreira, o Cine Universo, na Avenida Rangel Pestana, hoje um templo da Igreja Universal. Como não tínhamos dinheiro suficiente para grandes gastos, assistíamos às sessões das gerais daquele enorme cinema. Em 1939, eu e o mano Hilário estávamos na idade do Serviço Militar. Ainda existia o Tiro de Guerra, que se cursava para evitar a caserna. O Tiro de Guerra nº 2 tinha sua sede na Praça João Mendes e nós nos inscrevemos. Os exercícios de maneabilidade eram feitos em um terreno, na Avenida do Estado, mais ou menos próximo da Avenida da Independência. Nesse local eram feitos os exercícios, incluindo recreação, com disputa de futebol entre os soldados. Em uma dessas ocasiões em que disputávamos uma partida de futebol, sofri um choque, com um jogador do quadro adversário, caindo imediatamente. Meu joelho esquerdo começou a inchar, havendo necessidade de rasgar o culote da farda, pois sua pressão no joelho era insuportável. Fui removido para um hospital, examinado e, posteriormente, tive minha perna esquerda engessada, o que me impedia de freqüentar as aulas teóricas e práticas do Tiro de Guerra. Minha presença era anotada, sendo dispensado de comparecer. Somente por ocasião da marcha dos vinte e quatro quilômetros fiz-me presente, no início, e no final, sendo que alguém, não me lembro quem, levou-me de automóvel de um ponto a outro. Prestei o juramento à Bandeira e recebi o certificado de reservista sem ter podido freqüentar as

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aulas teóricas e os exercícios práticos, a não ser o de tiro ao alvo, no qual compareci e fui muito bem, tendo sido aprovado. Meu joelho esquerdo, de vez em quando, ainda me dói e incomoda, porém não mais procurei tratamento. Após a retirada do gesso, naquela ocasião, fiquei com a perna esticada, sem movimento, fato que continuou durante muitos anos. Hoje consigo dobrá-la, apesar das dores no joelho, muito pequenas, porém sempre dando o sinal de sua graça. Nesta época do Tiro de Guerra já estávamos morando na Rua do Lavapés, no Cambuci, onde o papai instalou sua tipografia. O primeiro acidente, com vítimas, de que tivemos notícia em São Paulo, foi na Rua do Lavapés, a poucos metros de nossa casa. Um caminhão de bombeiros, ao fazer a curva que existia logo após a nossa casa, em frente aos portões de uma estação de transmissão de energia, esbarrou em um bonde, que vinha em sentido contrário, e cinco ou seis soldados foram derrubados dos estribos do veículo, caindo entre o caminhão e o bonde. Não chegamos até o local do acidente, para ver o acontecido, porém os vizinhos nos contaram que as pessoas estavam muito feridas.

Sala da UJB, sou o terceiro. O endedreço é rua Dr. Falcão, esquina com o largo do Piques, hoje Praça da Bandeira. O prédio ainda existe.

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E m p r e gos

11 Meus empregos em São Paulo. Em Mogi Mirim eu aprendera datilografia com os Peres e, sem falsa modéstia, datilografava com alguma rapidez. Por esse motivo fui contratado como faturista da União Jornalística Brasileira - UJB, por influência de Menotti Del Picchia, a quem papai escrevera pedindo uma oportunidade para o filho primogênito. Pouco tempo depois, nessa empresa, fui promovido a Tesoureiro. Comecei a trabalhar na UJB antes mesmo da vinda de meus pais para São Paulo. A sede da União Jornalística Brasileira era no Prédio Martinelli, no centro de São Paulo, bem distante do bairro de Vila Mariana, onde eu estava hospedado em casa de meu tio Doca. O bonde era a única condução, demorando talvez mais de uma hora da Praça da Sé à rua Domingos de Morais, esquina da Avenida Onze de Junho, onde eu tomava o coletivo, pela manhã, e descia dele, à noite, de volta do emprego, sempre muito assustado para percorrer os 400 ou 500 metros, em descida, até a casa de meu tio. Às vezes, com medo de voltar à noite, eu estendia alguns jornais no chão, no escritório, e ali dormia, deixando preocupados os meus tios por não ir dormir em casa. Não havia telefone em casa deles para poder avisar. Com o tempo, porém, a preocupação de meus tios desapareceu, pois sabiam que eu deveria ter ficado dormindo no escritório. A UJB possuía muitos clientes que contratavam a publicação de anúncios, mormente em jornais do interior. A empresa utilizava-se de escritores, que lhe forneciam artigos, os quais eram distribuídos para publicação em jornais do interior, em troca de espaço de publicidade nesses periódicos. Em minha função de Tesoureiro, cabia-me pagar os escritores, pelos seus artigos, o que me proporcionou conhecer o que havia de melhor entre os escritores da época. Foi na UJB que conheci Mário Donato, Cassiano Ricardo, Oswald de Andrade, Mário de Andrade, Mário Pinto Serpa, Luiz Accioli Neto, Orígenes Lessa, Elsie Lessa, Rômulo Argentieri, Guilherme de Almeida, Flávio de Carvalho e suas

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São Paulo de antigamente, àcima Estação Júlio Prestes

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experiências numeradas, além dos proprietários da empresa, José Bento Monteiro Lobato e Menotti Del Picchia, como também o colunista Belmonte, de saudosa memória. Conheci também o Edgard, filho do Monteiro Lobato, que trabalhava conosco na empresa. Havia me esquecido do Silveira Peixoto, um jovem, de pouco mais de vinte anos, quando eu tinha 16. No dia 29 de julho de 2004, conversei com uma pessoa que conhecia o Silveira Peixoto, o tendo encontrado recentemente, com quase noventa anos de idade. Pelas minhas contas ele estaria hoje com 91 ou 92 anos. As pintoras Tarsila do Amaral e Anita Malfatti também freqüentavam a UJB, pois tinham relação de amizade com os escritores e poetas que conosco conviviam, bem como com o Edgard Lobato. Lembro-me de tê-las visto, mais de uma vez nos escritórios da empresa, no sétimo andar do Prédio Martinelli, porém nunca as vi juntas. Não tenho idéia se elas eram amigas, entre si, ou se não se conheciam. Os quatro anos na UJB foram de muito trabalho, porém de muita alegria por estar convivendo com a nata dos escritores paulistas da época. Como eu datilografava muito bem, um dos escritores, colaborador da UJB, solicitou-me datilografar os originais de um livro que pretendia publicar. O nome do livro era BARTIRA. Esse autor gostava de umas e outras, motivo pelo qual seus companheiros tinham, a seu respeito, a seguinte frase: tudo o que ele ganha, o BAR TIRA. Não gostei e pedi àqueles de quem ouvia a frase, que não mais a usassem, no que fui atendido. Nessa época, o Dr. Menotti Del Picchia entregou-me alguns papéis para que eu pegasse a assinatura de Cassiano Ricardo, que trabalhava no Palácio do Governo. Não me lembro se não me foi explicado corretamente, o certo é que fui até o Palácio Campos Elíseos, a procura da pessoa que devia assinar os papéis. Lá tive a orientação de que deveria me dirigir à Secretaria do Governo, no Pátio do Colégio, no Centro. Voltei como fui, isto é, a pé, encontrando, no Pátio do Colégio, a pessoa que deveria assinar os papéis. Não me lembro se houve alguma interpelação a respeito de minha demora. A respeito de Menotti Del Picchia, lembro-me de haver lido, no jornal A GAZETA, pequena crônica de sua autoria a respeito do andamento das discussões, na Câmara Municipal, da qual fora vereador, de projetos de lei. Entre outras citações, Menotti conta que havia um projeto que se referia à rua Capitão Salomão. O dito cujo estava vivo e, como militar, fora promovido ao posto de Major. O projeto apresentado na Câmara pretendia mudar o nome da rua para Major Salomão. Houve muita discussão, pois a maioria não aprovava tal mudança. No meio de toda a confusão, um gaiato propôs uma lei nos seguintes termos: Fica a rua Capitão Salomão promovida a Major. Com a brincadeira, os vereadores acharam por bem arquivar o projeto de mudança do nome da rua, a qual, até hoje, tem o nome de Capitão Salomão. Lembro-me de meu primeiro contato com um corretor de seguros, no tempo em que trabalhava na UJB. Seu nome: Antonio Bento do Espírito Santo. Como todo corretor, bom ou mau, o Bento falou-me, muitas vezes, sobre as vantagens e garantias que um seguro oferece ao segurado e ao beneficiário, indicado por este. Apesar de continuamente eu recusar, alegando ser solteiro, não possuindo, portanto, uma família a beneficiar, o Espírito Santo continuava a propalar as benesses do seguro. Resolvi consultá-lo sobre valores, bem como sobre a forma de se concretizar o seguro. O Espírito Santo representava a Sul América de Seguros. Informou-me que seria preciso passar por um exame médico. Concordei e compareci ao consultório do médico, na rua de São Bento, quase em

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frente ao Largo do Café, portanto bem próximo dos escritórios da UJB, no Prédio Martinelli. Após examinar-me, o médico passou a me fazer perguntas sobre minha saúde, o que não gostei, pois se o médico era ele, seria ele quem deveria me falar sobre minha saúde, não eu a ele. Resolvi pregar-lhe uma peça, inventando que em todos os fins de semana eu adoecia, com dores de cabeça, vômitos e devolução de todo o alimento ingerido no dia, o que, em parte, era verdade. O médico ficou muito impressionado e... propôs a recusa de meu seguro. O Espírito Santo nunca mais falou comigo a respeito de seguro. Dos colegas da UJB lembro-me do Sr. Lapetina, o capitalista aceito para injetar capital na empresa, quando já estávamos instalados na Ladeira Dr. Falcão, esquina com o Largo do Piques, hoje Praça da Bandeira. Lembro-me, também, do Francarlos, Francisco Carlos de Castro Neves, jornalista, posteriormente eleito Deputado Federal e Ministro do Trabalho do governo Jânio Quadros. Outro jornalista que conheci na época foi o José Carlos de Ribeiro Pena, já falecido, e que após deixar a UJB foi ser o correspondente da Folha da Manhã, hoje Folha de São Paulo, em Londres, Inglaterra, local onde veio a falecer. O Sr. Argemiro Monteiro de Carvalho, irmão do Sr. Arthur, já citado como um dos sócios da empresa, era o chefe da administração. Um gigante de coração mole, boníssimo ao extremo. Lembro-me, ainda, de colegas que ombreavam comigo, no trabalho diário, tais como o Mário Benini e o Hicrólio Campos do Amaral Filho. Deste último lembro-me de tê-lo encontrado na rua, algum tempo depois de sair da UJB. Prestando atenção à sua face, informei-o de que um de seus olhos apresentava-se na cor verde, o outro, na cor azul. Com um sorriso maroto ele me disse: eles sempre foram assim, desde meu nascimento. Em 1940 passei a trabalhar na NEOFARM LIMITADA, uma organização formada pela dissidência de sócios da DROGASIL. Raphael Borba, o capitalista no negócio, e Raymundo Francolive d’Almeida Linhares, o cérebro da organização, fundaram a NEOFARM como uma sociedade de pessoas, não de capital. A NEOFARM, em pouco tempo, estava com 1.746 sócios, a maioria deles empregados da empresa. Aplicaram suas pequenas economias, no capital da empresa e, nos aumentos de capital, suas gratificações recebidas da própria organização. Iniciaram-se contatos com farmácias do interior do Estado, bem como de outros Estados, propondo a seus proprietários que ficassem sócios da nova empresa, entregando o acervo de suas farmácias como integralização de capital. A maioria desses novos sócios continuou dirigindo sua antiga farmácia, agora como sócio-gerente de uma filial da organização. A NEOFARM, tendo adotado tal política, cresceu muito, chegando, na época, a 42 filiais espalhadas pelo Brasil. Minha ida para a NEOFARM deveu-se ao amigo José Ferreira Dias, que já trabalhava nessa organização desde a sua fundação, pois viera da DROGASIL, juntamente com os fundadores da nova empresa. Nessa empresa fiz amizade com o Sérgio Domingos Trevellin, um amigo até hoje; com o Moacyr de Abreu, de quem não tive mais notícias; com o Sr. Miguel Cecci, o chefe de compras; Sr. Lisboa, Sr. Pelicano, Sr. Paulo Vianna, Sr. Mery Freire Júnior, mais o Jesus, o Gonzalez, o Arnaldo, e muitos outros. Lembro-me de nomes de pessoas importantes que freqüentavam a NEOFARM, como o Dr. Lucas Nogueira Garcez, posteriormente Governador do Estado de São Paulo, e Sr. Ubiratan Pamplona, um homenzarrão alegre e espirituoso com quem eu gostava de conversar.

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Meu trabalho inicial na NEOFARM foi criar um departamento que poderia ter tido o nome de Organização e Métodos, pois tal departamento estudava os demais, procurando criar formulários e sistemas para que funcionassem corretamente, além de estabelecer normas para todo o pessoal de cada seção ou departamento, além de mais normas vinculando toda a organização. Apesar de ser o responsável por Organização e Métodos, nunca consegui descobrir o que faziam as pessoas (somente dois) de um dos departamentos que, na minha opinião, nada faziam, tanto que não me foi possível enquadrar tais pessoas e tal departamento nos métodos que preconizávamos para o devido funcionamento dos serviços. Uma das pessoas desse departamento se chamava Benjamin Cattan. Alguns anos após minha saída da NEOFARM, o Cattan foi visto interpretando duas novelas da TV Globo, parecendo-me ser um bom ator. Posteriormente, passei a funcionar como Tesoureiro da empresa, pois movimentava todos os seus recebimentos e pagamentos. Naquele tempo não tínhamos as facilidades de hoje, para liquidação de compromissos bancários ou de cobrança. Eram necessários cobradores, na rua, para receber as faturas, bem como pessoas para efetuar os pagamentos bancários. A prestação de contas desse pessoal era bastante complicada, pois os recebimentos e os pagamentos eram sempre realizados com a movimentação de dinheiro vivo, raramente com o uso de cheques. Entre o pessoal encarregado desse trabalho de cobrança e pagamentos externos, estava o Olavo Pereira da Silva, itapirense, como eu, e que fora voluntário na Revolução de 1932. Recordo-me de uma passagem a respeito de um jovem que me ajudava no recebimento de duplicatas e no pagamento de títulos, quando os cobradores e pagadores efetivos não estivessem dando conta do trabalho. Numa sexta-feira, um nosso diretor solicitou certa importância em dinheiro, que necessitava ser retirada do banco, pois o saldo de caixa já havia sido depositado. Na falta dos empregados mais experientes e mais idosos, mandei o rapaz fazer a retirada de uma importância mais ou menos elevada, pois correspondia a, aproximadamente, dez vezes o meu ordenado mensal. Chegou a hora de encerrarmos o expediente e o rapaz não aparecia. O desespero foi geral. À notinha, descobrimos que o rapaz iria se casar no dia seguinte, um sábado, em determinada hora e em certa igreja e, nessa hora, um advogado, nosso parente, compareceu à cerimônia, localizou os pais do rapaz, e relatou o fato. Sua família concordou em devolver o dinheiro, porém em parcelas, pois o rapaz já havia adquirido os móveis necessários para mobiliar a sua nova casa. Felizmente o pai do rapaz fez um acordo com a empresa, cumpriu o prometido e devolveu todo o dinheiro, em seis meses, sem qualquer acréscimo de juros, pois alegava ter emprego modesto e não poder arcar com qualquer despesa extra.

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No i v os

12 Noivado e casamento. Semana Santa do ano de 1942! Tirei minhas primeiras férias na NEOFARM e fui passar uns dias em Mogi Mirim, onde residiam meus tios e padrinhos, Júlio e Remigie, que haviam se mudado de Itapira para esta cidade, bem como minha tia Nicota, Ana da Rocha Franco, irmã de meu pai, apenas por parte de pai, porque meu avô enviuvara e tornara a se casar. Minha avó Cecília, sua segunda esposa, fora a mãe de meu pai. Voltando à Semana Santa de 1942, no final da tarde em que haveria, à noite, a procissão do enterro, encontrei-me com Marina, a antiga namorada, acompanhada de sua amiga Maria da Glória. Não mais tivera notícias de Marina desde o ano de 1935, quando eu me mudara para São Paulo. Combinamos acompanhar a procissão e o fizemos e nos prometemos trocar cartas periodicamente. Na madrugada seguinte voltei para São Paulo. A correspondência com Marina iniciou-se e prosseguiu. Acertamos que eu viajaria, de quinze em quinze dias, para Mogi Mirim, aos sábados, saindo de São Paulo com o trem das doze horas (para isso foi necessário conseguir autorização para deixar o trabalho, na NEOFARM, às 11,30 horas, para poder alcançar o trem ao meio-dia). A viagem era cansativa, com baldeação em Campinas, onde se tomava o trem da Mogiana. A chegada a Mogi Mirim era às seis horas da tarde. Felizmente, várias amizades foram feitas nessas viagens, principalmente a do Gastão Almada, posteriormente formado cirurgião dentista, e dos irmãos Milano, Luiz, depois procurador do Estado, e Guío, futuro Juiz de Direito. A volta era na segunda-feira, com saída de Mogi Mirim às 4,30 horas da manhã e chegada a São Paulo às 9 horas, o que também necessitou de autorização especial dos diretores da NEOFARM para a entrada mais tarde, na segunda-feira. Eu e Marina resolvemos ficar noivos e marcar o casamento para o ano seguinte. Meus pais, que conheciam os pais de Marina, se propuseram a fazer o pedido a meus futuros sogros, o que foi feito no dia

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29 de junho de 1942. Como eu não tinha condições para me casar logo, foi proposto um noivado de um ano e meio, sendo que o casamento deveria ser realizado no final de dezembro de 1943. Nesse ano e meio as viagens continuaram e a canseira também. Porém, o prazer de estar com Marina e os seus, algumas horas de sábado e todo o domingo, duas vezes por mês, compensava o sacrifício. Dona Constança e o Sr. João da Matta, os pais de Marina, tinham outros filhos, os quais me receberam como a um irmão. Jandira, a mais velha, já falecida, era um doce de pessoa; a Ana Rita, a Aninha, a segunda filha, falecida recentemente, e o único filho homem, o Renato, também já falecido; a Dulce, falecida, a Dúlia, hoje esposa de meu irmão Mário, como será contado adiante, e a caçula Tereza, a Tera. Em dezembro de 1943, no dia 29, faltando dois dias para o início de um ano bissexto, casamo-nos na Igreja Matriz de São José de Mogi Mirim. Foi o segundo casamento realizado nessa nova igreja, construída em virtude da igreja velha ter os fundos voltados para o nascente, e a frente para o ocaso. O primeiro casamento nessa igreja foi no mesmo dia do nosso, algumas horas antes. Lembro-me do desmonte da igreja velha, que teve início em 1928, quando eu ainda era criança. Seus paredões, de pau-a-pique, eram impressionantes. Tinham de oitenta centímetros a um metro de espessura. Em nosso casamento não faltaram os amigos, meus e da Marina, que prestigiaram a cerimônia, bem como todos os meus irmãos, que vieram de São Paulo. Foram para Mogi Mirim, também de São Paulo, meus colegas de escola e de trabalho. Lembro-me, entre meus amigos, do Bernardo, do Marcos, do Walter Eugênio, do Edgard Toledo e de muitos outros. Nossa lua de mel foi passada em Poços de Caldas, Estado de Minas Gerais, a 96 quilômetros de Mogi Mirim. A viagem foi de trem, pela Estrada de Ferro Mogiana, com duração de mais de cinco horas. Foi maravilhosa. Ficamos hospedados no Hotel Aurora, hoje desaparecido, existindo em seu lugar o Hotel Carlton, onde recentemente nos hospedamos. Naquele ano de 1943, início de 1944, ainda funcionavam os cassinos. O de Poços de Caldas, bastante luxuoso, foi por nós visitado e tentado. Não podemos dizer que perdemos dinheiro, mas também não se pode dizer que tenhamos ganhado. Passamos o reveillon de 1943 para 1944, no Cassino de Poços de Caldas e foi maravilhoso. Conhecemos dois casais, também em lua de mel, cuja amizade continuou por alguns anos. Não mais sabemos deles.

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O meu casamento.

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Mor a d a e F i l h os

13 Primeira morada e nascimento dos filhos. Nossa primeira residência em São Paulo foi à rua Ouvidor Portugal, na Vila Monumento. Eram seis sobradinhos geminados. Alugamos o primeiro deles. Sempre sonhei cultivar um jardim, sonho também de Marina. Conseguimos essa façanha em uma área de nove metros quadrados, na entrada do sobradinho, onde plantamos cravos e cravinas de várias espécies e cores, utilizando mudas que ganhamos de minha tia e madrinha Remigie. Não havia muito tempo para cuidarmos do jardim, o que fazíamos somente aos sábados e domingos. No domingo, tínhamos poucas horas livres, pois almoçávamos com meus pais, na rua do Lavapés, nas proximidades do Morro do Piolho (não estranhem, o nome é esse mesmo). A 4 de outubro de 1944 nasceu nossa primeira filha, Lúcia Elizabeth, no Hospital São José, no Brás. Minha cunhada Jandira acompanhou a irmã o tempo todo em que ela esteve no hospital e após sua saída, no período pós-parto. Nosso segundo filho, nascido a 8 de janeiro de 1948, viveu apenas 16 dias, pois nasceu com problema cardíaco, inoperável na época. Lembro-me de que, na última consulta com o Dr. Pedro Refinetti, em seu consultório, na rua Benjamin Constant, ele nos aconselhou a batizarmos, urgentemente, o Ademarzinho, o que fizemos no mesmo dia da consulta, na Igreja Nossa Senhora Rainha dos Apóstolos, localizada na própria rua onde morávamos, a poucos metros de nossa casa. No batizado do Ademarzinho, Jandira e Renato, irmãos de Marina, meus cunhados, foram os padrinhos. Ademarzinho faleceu no dia 23 de janeiro de 1948, no mesmo dia em que foi batizado. Meu pai adorava a Elizabeth, sua primeira neta que, logo em seguida, teve a companhia da prima, a Eneida, filha de minha irmã Walkyria. O maior prazer do avô Mário era levar as duas netas a passeio por toda a cidade de São Paulo.

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Bairro do Morumbi; o autor ao lado das ruínas da casa de pau-à-pique.

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Com quatro ou cinco anos de idade, a Elizabeth precisou ser operada de amidalite. Procuramos um médico especialista, o qual foi recomendado por todos, para a operação. Fui convidado para assistir a operação e fiquei na sala, muito compenetrado, até aparecer o primeiro sangue. Senti-me mal e saí da sala, ficando na sala de espera. Marina continuou ao lado da filha. Terminada a operação, Marina e o médico vieram procurar-me informando que tudo correra bem e que a Elizabeth estava tomando sorvete. Como não havíamos combinado o preço da operação, perguntei, nesse momento, ao médico sobre o preço que me seria cobrado. A resposta teria sido que a operação custaria mil cruzeiros. Sentime zonzo e perdi o sentido. Ao voltar a mim, o médico estava me atendendo e prontamente informoume que seria feito um desconto no preço, que ficaria pela metade. Concordei. Até hoje Marina caçoa de mim declarando que, de duas uma, ou realmente eu me assustara com o preço, ou fingira o desmaio para conseguir o desconto. Nunca respondi a tal gozação. Em março de 1950 nasceu nosso terceiro filho, no Hospital Matarazzo, na Alameda Rio Claro. A Marina havia feito uma promessa a São José e, por esse motivo, o menino recebeu o nome de José Édison. Por minha insistência, o sobrenome de Marina constou do nome desse meu filho, que se chama José Édison Barros Franco. A médica de Marina, a Dra. Mariângela Matarazzo, permitiu-me acompanhar o parto. Fiquei à cabeceira de Marina, segurando suas mãos e procurando animá-la. A certa altura, com um grito mais alto de Marina, eu não suportei a situação e desmaiei. Houve grande alvoroço, pois os médicos e enfermeiras estavam atendendo Marina e precisaram também me atender. Dei vexame, no caso. No mesmo hospital e atendido pela mesma médica, Dra. Mariângela Matarazzo, nasceu meu filho caçula, no dia 6 de outubro de 1952. Marina insistiu para que tivesse o meu nome. Chama-se, portanto, Ademar Franco Júnior. Minha cunhada Ana ficara tomando conta do Édison para que a Marina fosse internada. No mesmo dia do nascimento do Ademar Júnior, a Ana ligou para o hospital, bastante nervosa e, quando eu a atendi simplesmente disse: o nenê morreu. Meu desespero foi grande, pois logo pensei no Édison, que ela estava cuidando, o comecei a chorar, desesperadamente. A Ana imediatamente percebeu o meu engano, pois o nenê que morrera não era o meu filho, porém meu cunhado, Delegado de Polícia em Cambé, Estado do Paraná, José Manoel, cujo apelido era Nenê, que fora assassinado. Um susto que levou algum tempo para passar. Durante o ano de 1948, ainda na NEOFARM, eu e o Sérgio Trevellin gostávamos de fotografar pessoas e lugares de São Paulo. Fazíamos isso em alguns sábados e domingos, algumas vezes levando a Elizabeth como modelo, fotografando-a em cenários pitorescos da cidade. Gostávamos de fotografar cenas da cidade. Nessa época, o Morumbi ainda era uma fazenda, sem a urbanização havida mais tarde, com os loteamentos de alto luxo. Fotografamos várias casas de pau a pique, que certamente deviam ter sido utilizadas pelos colonos das fazendas que ali existiram. Há bem pouco tempo ainda guardávamos várias dessas fotografias. Na página anterior fui fotografdo pelo amigo Sérgio junto a ruína de um casebre que existiu no Morumbi.

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Eu, a Elizabeth e o Sérgio Trevellin, em frente ao Museu do Ipiranga.

Edison

Elizabeth

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Nossa primeira filha, Elizabeth.

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Aprendizado

14 Meus estudos. Minhas poucas horas de sono. Voltei a estudar, em curso regular noturno, na Escola Técnica de Comércio Álvares Penteado, obtendo o Diploma de Técnico em Contabilidade, posteriormente apostilado Contador. Como já foi registrado anteriormente, em Mogi Mirim não havia como estudar depois do quarto ano primário. Por isso, cursei o Propedêutico, que correspondia ao Ginásio, para em seguida matricular-me do Curso Técnico em Contabilidade, formandome em 1948. Do Curso Propedêutico lembro-me de algumas passagens que, na ocasião, me forem bastante penosas. Hoje, consigo lembrá-las como cômicas. Uma delas, em uma aula de Português, onde o professor sempre me considerou em craque, foi-me solicitado citar o nome de uma obra de Eça de Queiroz, ao que respondi, sem pestanejar, As Minas do Rei Salomão, que eu acabara de ler, numa bela tradução desse grande escritor, porém de autoria de Edgard Ridder Haggard. O professor não criticou, porém pediu-me o nome de outras obras de Eça de Queiroz, quando citei O Primo Basílio, Os Maias etc. Ainda do mesmo curso, em prova escrita de Geografia e História, lembro-me de ter caído dissertação sobre o Egito. Sempre gostei da história do Egito, quanto à existência de castas, etc. Fiz uma dissertação enorme, só parando quando o professor pediu os trabalhos, pois o tempo se esgotara. Entreguei a prova incompleta, pois, pretendendo fazer o melhor, não consegui chegar ao final. No segundo semestre, o mesmo tema foi sorteado e, não tive dúvidas, iniciei a prova do ponto em que parara no primeiro semestre, sem tocar na primeira parte. Resumindo, tive nota baixa nos dois semestres, por não ter abrangido todo o trabalho em cada um deles. Em outra ocasião, havia sido pedido um trabalho de Português, a ser desenvolvido em casa, para entrega dentro de alguns dias. No dia da entrega, não me lembrei de trazer o trabalho e o pro-

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fessor não acreditou que o tivesse feito, declarando que me daria nota zero. Pedi licença, saí da sala e fui até em casa, que era na Vila Monumento, e voltei com o trabalho, aguardando na porta da sala, o término da aula, para falar com o professor, o qual acabou aceitando-o e retirando o zero e me dando outra nota. De 1949 a 1952 completei o curso de Ciências Econômicas, pela Faculdade de Ciências Econômicas de São Paulo, da Fundação Escola de Comércio Álvares Penteado, no Largo de São Francisco. Nesses anos de freqüência noturna nos estudos, minha vida foi bastante corrida. Morava, como disse, na rua Ouvidor Portugal, Vila Monumento e estudava no Largo de São Francisco. Do serviço ia diretamente para a escola, indo para casa, após as aulas, chegando em casa por volta de onze horas da noite. Como sempre procurei reavivar as aulas do dia, antes de me deitar, elaborando resumos das matérias abordadas, nunca me deitava antes de uma hora da manhã. Por esse motivo, sempre reconheci o sacrifício de Marina, que nunca se queixou de estar mais tempo sozinha do que comigo. Costumo dizer que se Marina houvesse, uma vez que fosse, reclamado de minha permanente ausência, provavelmente eu não teria completado o curso de Ciências Econômicas, que foi cursado e concluído após o de Contabilidade. A revisão das matérias na mesma noite em que elas eram transmitidas aos alunos, possibilitou, a mim e a alguns colegas, organizar apostilas que vendíamos aos demais alunos. Como ainda não existiam as máquinas de copiar (xerox), nosso trabalho era duplicado com carbono, datilografando quatro ou cinco cópias de cada vez. Sempre me levantei muito cedo, para meu banho diário, barbear-me e tomar o meu café da manhã. Saía de casa, para tomar o bonde, na Avenida Dom Pedro, por volta das sete horas, para chegar aos escritórios da NEOFARM, que era no final da rua de Santa Ifigênia, antes das oito horas. Posteriormente a empresa construiu sua sede própria na rua Júlio Conceição, no Bom Retiro, ficando em pouco mais longe do centro. Minhas horas de sono, portanto, não passavam de cinco horas por noite. Lembro-me de algumas curiosidades do tempo da Faculdade, na época de eleição. O Tesoureiro da Faculdade chamava-se Sr. Branco. Na Faculdade de Direito, havia um candidato negro. Foi lançada uma campanha, naquela Faculdade, nos seguintes termos: Não vote em branco. Vote em Cesarino Júnior. Os alvaristas saíram com um revide que dizia: Vote em Branco. Cédulas na Tesouraria. A brincadeira quase deu briga entre as duas faculdades. Em 1946, o professor Ernani Calbucci, amigo de meus irmãos Hilário e Mário, o primeiro, companheiro na Revisora Gramatical, o segundo, auxiliar dessa empresa, foi contratado pela Editora W. M. Jackson para a revisão de coleções de livros que seriam editados por aquela editora, de renome internacional: O Tesouro da Juventude, em 7 volumes, e Prática Comercial Norte-Americana, em 21 volumes. Como o trabalho era muito grande, o professor Calbucci contratou-me para a revisão gráfica das provas, com pagamento por folha corrigida. Trabalhei vários meses nesse serviço, o que muito me agradou, independentemente da ajuda financeira, que foi muito importante. A revisão ortográfica ficou a cargo do Prof. Calbucci.

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Na Faculdade sempre procurei ser um bom estudante, o que consegui, pois em quase todos os anos fui agraciado com o prêmio Veiga Filho, que além de um Diploma, deva-me o direito de cursar o ano seguinte sem qualquer pagamento. Meu irmão Hilário, apesar de ser um ano e meio mais moço do que eu, cursava a Álvares Penteado um ano mais adiantado. Em todos os anos que freqüentou a escola e a Faculdade, sempre foi o primeiro aluno e sempre recebeu todos os prêmios. Nos últimos anos de sua vida fez parte do Conselho Diretor da Fundação Álvares Penteado.

Hilário, nos tempos da Faculdade.

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O Bacharel em Ciências Econômicas, em sua formatura, em 1952.

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Pro f i ss ã o

15 Minha Vida Profissional depois de formado. A NEOFARM LIMITADA, onde eu continuava trabalhando, associou-se à DROGADADA, sendo por esta engolida. Em 1948, sob nova direção, a NEOFARM começou a demitir os empregados que ganhavam melhores ordenados, para substituí-los por pessoal que se contentasse em ganhar menos. Fui demitido nessa época, juntamente com dezenas de outros. Fui contratado pela Revisora Nacional – Auditores Independentes, que era sediada, na época, na rua Senador Paulo Egídio, esquina da rua José Bonifácio, a uma quadra do Largo de São Francisco, no cargo de revisor, hoje seria o auditor contábil. Trabalhei apenas um ano, pois um diretor da empresa, Francisco Alves Júnior, e um gerente, Luiz de Lima Araújo, deixaram a Revisora, fundando o Escritório Francisco Alves Júnior de Auditoria, sediado na rua José Bonifácio, convidando-me a acompanhá-los. Nesse escritório tive como colega o Edgard Camargo de Toledo, que já tinha sido meu colega na Álvares Penteado. O Edgar faleceu há alguns anos. Outro colega da Faculdade que é amigo até hoje é o Rubens Nicolau Cuccio. Do escritório do Alves, apareceu, em meu escritório atual, o Nelson Sanchez, há poucos anos atrás e até hoje trocamos cartões de boas festas. O chefe do escritório, era o Miguel Fraga Júnior, irascível no trabalho, porém amigo de convidar-me para freqüentar sua casa, onde sua esposa, Lúcia, tornou-se amiga de minha Marina. Tínhamos, ainda, no escritório, os colegas Ferrante, viciado em montar palavras cruzadas para publicação em jornais e revistas, bem como o Rangel, do qual irei falar mais adiante. Entre os clientes do Escritório estava a Peixe, Indústria de Doces e Conservas, com sede no Largo da Concórdia e filiais no Rio de Janeiro e em Pernambuco. A serviço do escritório auditei os escritórios da empresa em São Paulo e no Rio de Janeiro. Lembro-me de uma passagem interessante, no Rio de Janeiro, quando um dos empregados da empresa perguntou-me se jogava

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xadrez. Com minha resposta afirmativa convidou-me para ir ao clube de xadrez, onde ele costumava jogar. Nunca joguei muito bem, porém aceitei o convite e fui enfrentá-lo no Clube. Foi um verdadeiro desastre, pois perdi infantilmente. Meu oponente, após minha derrota, pretextando precisar retirar-se, apresentou-me um seu amigo, bastante jovem, para que com ele eu jogasse outra partida. Concordei. Conversando com o rapaz, antes de iniciarmos a partida, fui informado de que meu adversário tinha sido o campeão estadual de xadrez e ele, era o vice-campeão. Arranjando várias desculpas, desisti de jogar xadrez naquela noite. Ainda no Rio de Janeiro, o colega Rangel, do escritório do Alves, acompanhava-me na auditoria da Indústria Peixe do Rio, que era localizada nas proximidades da Praça Sans Penha. Lembrei-me, quando registrava estas notas, de uma passagem, na companhia do Rangel, em restaurante de um hotel, no Rio, na Cinelândia, onde estávamos hospedados. Há algum tempo eu procurava evitar comer camarões, pois cismava que a alergia que sentia, algumas vezes, era originária da ingestão desse alimento. Meu pedido para o jantar, nessa noite, teria sido macarrão. O Rangel pediu camarões. Ao serem servidos os pratos, o Rangel olhou assustado para mim perguntando se eu estava me sentindo bem, pois meu rosto, segundo ele, estava completamente avermelhado, tomado por manchas de cor carmim, algumas salientes. Eu estava sentido um certo calor no rosto, porém não me preocupara. Com a inquirição do Rangel percebi que minha alergia ao camarão estava se manifestando, mesmo sem eu ter tocado no crustáceo. Fui curado dessa alergia alguns anos após, conforme relato em outro capítulo. Sobre o colega Rangel, eu não tivera mais notícias, porém, há alguns anos atrás me informaram que ele morrera. Sentira uma dor no peito, encaminhara-se para um consultório médico e morrera na sala de espera, antes de ter sido atendido pelo facultativo. Ainda em minha profissão de revisor, lembro-me de ter sido designado, pelo Sr. Alves, a fazer pesquisas sobre o custo de produção da fábrica Peixe. Foi uma luta mostrar que o tempo de cozimento dos doces, bem como o total produzido de cada tipo, deveriam determinar a participação do produto no custo indireto, a ser considerado para cada produto. Essa nossa tese somente veio a ser aceita após havermos deixado o Escritório Francisco Alves Júnior. Outra situação, esta cômica, em outro cliente, uma fábrica de colchões, também com referência à implantação do custo, vai relatada a seguir. Havíamos projetado um borderô, a ser preenchido pelos chefes de cada setor, os quais deveriam registrar o tempo gasto em cada fase das operações realizadas. Para nossa desilusão, um dos chefes nos declarou, alto e bom tom: “com o perdão da palavra, meu rapaz, nós precisamos lavar as mãos para ir ao banheiro, como poderemos preencher esse borderô?” Os Srs. Francisco Alves Júnior e Luis de Lima Araújo, faleceram, este último há bem pouco tempo. Após deixar o escritório desses senhores, associei-me a outros profissionais e passei a executar a escrituração de empresas de pequeno e médio porte, em escritório localizado na Avenida São João, 231, em frente aos Correios. Nesse escritório, veio trabalhar conosco o Marcelo Cassiani, que posteriormente foi o Contador Geral do Estado de São Paulo, tendo se aposentado nesse cargo. O Marcelo era primo do Ernani Calbucci, o amigo, filólogo e poeta de que já falei alguns capítulos atrás. Outro colega que trabalhou no escritório, logo após minha saída, foi o Irineu Desgualdo, posteriormente Conselheiro do CRC-Sp. No início de 1950, deixei esse escritório, passando a ser contador de um de seus clientes, a Fursland Laboratórios, que produzia e distribuía, no Brasil, os produtos da Pfizer.

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A Fursland, nessa época, tinha seus escritórios na Rua Epitácio Pessoa, ao lado do Hotel Hilton, não existente na ocasião e hoje desativado. Lembro-me de haver me encontrado com o Dr. Abreu Sodré, para efetuar o pagamento do aluguel do escritório da empresa. Não me recordo se o Dr. Sodré era o proprietário do imóvel ou um procurador do proprietário. No tempo em que permaneci na Fursland precisei viajar, várias vezes, a serviço, quase sempre de cobrança de clientes inadimplentes (farmácias). Na primeira das viagens, percorri o Estado do Espírito Santo, visitando Vitória, Vila Velha, Cariacica, Colatina, Linhares, Baixo-Guandu, São Matheus, Mimoso do Sul, Cachoeiro do Itapemirim, entre outras. Encantou-me conhecer, mesmo que somente de passagem, a cidade de Nova Venécia, fundada por imigrante italianos, em lindo vale. Em Baixo-Guandu a cidade estava em festa, com a inauguração do serviço de água tratada com flúor, talvez uma das primeiras do Brasil, pois, como vim a saber posteriormente, em Araraquara começou-se a estudar o sistema, naquela cidade paulista, a partir do ano de 1960. Minha visita a Baixo-Guandu foi no ano de 1951. Foi muito interessante conhecer essas cidades, do interior do Espírito Santo, nas duas semanas em que durou a viagem. A viagem seguinte foi para o Estado de Pernambuco. Além de Recife, visitei Garanhuns, Limoeiro, Barreiro e outras. Em Limoeiro, a Cia Melhoramentos de Limoeiro tinha seus bondes puxados a burro (posteriormente achei que poderiam ser jegues). Em 1952 a Pfizer instalou-se em São Paulo, na Rua Dr. Cândido Espinheira, esquina com a Avenida Pacaembu. A Fursland perdeu a autorização para fabricar e comercializar os produtos da Pfizer. Com isso, sua organização precisava ser reduzida, começando com o quadro de vendas, que foi totalmente transferido para a Pfizer. Na parte Administrativa, da qual fazia parte a Contabilidade, propuseram-me assumir um cargo de gerente na Pfizer, pois o gerente americano que estava no País deveria retornar aos EE.UU. Aceitei, mesmo sabendo que não ficaria muito tempo, pois prestara concurso para o Ministério da Fazenda e aguardava a nomeação. Na Pfizer apresentaram-me a um rapaz, talvez com 19 ou 20 anos, que era o Contador da empresa. Seu nome: Dustin Hoffmann. Para mim esse nome não impressionou, mesmo porque o ator que ostenta esse nome ainda não era conhecido. Dustin, era um pequeno rapaz, loiro, magro, porém bastante simpático e conversador. Como previa, fui nomeado para o Serviço Público e deixei a empresa. O período de trabalho no Serviço Público será lembrado em outros capítulos. Em 1976, após aposentar-me do Serviço Público, trabalhando na Revisora Nacional, como chefe do setor de impostos, fui solicitado para atender o contador de um cliente da empresa. Era um gigante, forte e alto. Quando me entregou o seu cartão de visita, lá estava o seu nome: Dustin Hoffmann. Olhei bem para ele, estranhando a coincidência do nome, e declarei que conhecera, na Pfizer, uma pessoa com nome idêntico. O grandalhão, sorrindo, declarou ser ele o antigo contador da Pfizer, ao que declarei ser impossível, pois a pessoa que conhecera era pequeno, magro e bem menor do que ele. Mas era o próprio, como confirmei ali mesmo pelas lembranças que ele tinha da empresa e de fatos nela acontecidos. O caso ficou registrado e, mais tarde, fiquei sabendo que o piloto de corrida Ingo Hoffmann é filho daquele meu antigo conhecido.

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Pa i s

16 Meu pai, minha mãe e suas vidas. Tendo vendido sua tipografia para a NEOFARM, papai passou a ser seu empregado, tendo como ajudantes, também empregados, meus irmãos, Hilário e Maria de Lourdes. Meu pai sempre gostou de escrever. Foi jornalista, em Mogi Mirim, por cinco anos, e suas crônicas eram sempre bem recebidas. Posteriormente, já em São Paulo, passou a comentar as notícias dos jornais, quando se tratasse de fato inusitado. Esses comentários eram registrados, manualmente, em livros encadernados, que eram ilustrados com os clichês das notícias apreciadas. Gostava, também, de comentar suas viagens ao exterior, as quais fazia sempre acompanhado de minha mãe. Seus álbuns de viagens e suas poesias versando sobre assuntos lidos em jornais, formam um acervo de mais de vinte volumes, todos inéditos, que foram distribuídos entre seus filhos, após a sua morte. Após a sua saída da NEOFARM, em virtude da venda do maquinário gráfico para o jornal Shopping News, meu irmão Hilário convidou-o para trabalhar na Revisora Nacional, como encarregado do Expediente. Com sua eficiência e sentido de organização, papai conseguiu ser respeitado por todos, trabalhando até o dia em que completou oitenta anos de idade, em 3 de agosto de 1976. Foi-lhe oferecida uma festa, com presentes e discursos, e papai foi para casa. Viveu pouco mais de dois anos, após sua aposentadoria da Revisora, falecendo em dezembro de 1978, com pouco mais de oitenta e dois anos de idade. Minha mãe viveu mais seis anos, após a morte de papai, sem nunca se abater. Sobre minha mãe, papai escreveu, em 25 de janeiro de 1968, data de seu aniversário, o seguinte acróstico:

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A minha esposa merece De mim todo o carinho, Ela é minha doce prece, Liderando nosso ninho ! Algo mais do que o amor, Imaginamos logo criar, De vida isenta de dor Ela encheu o nosso Lar ! Mamãe sofreu muitos anos de dores no corpo que a impossibilitavam de trabalhar, até que conheceu uma religião, a Ciência Cristã, que passou a freqüentar e que a curou definitivamente. Papai também abraçou, com muito amor e muita convicção, essa maravilhosa religião e, através de seu livro texto intitulado Ciência e Saúde com a Chave das Escrituras, de autoria de Mary Baker Eddy, a descobridora dessa ciência, também teve sua saúde restabelecida. Nem todos os seus filhos adotaram essa religião, porém minhas irmãs, Walkyria e Alcidema até hoje estudam e adotam a Ciência Cristã. O lema principal dessa religião declara: “não há vida, verdade, inteligência, nem substância na matéria. Deus é tudo em tudo e o homem a sua imagem e semelhança. Por isso, o homem não é material, ele é E S P I R I T U A L .” Meus pais seguiram a Ciência Cristã até o seu passamento; papai aos 82 anos de idade, mamãe aos 86. No Livro de Ouro deixado por meu pai encontro, na página 18, fotografia da família reunida, posando para a foto que é reproduzida na página 78. Seis quadrinhas estão reproduzidas na página 19, as quais, como uma homenagem a meus pais e familiares, transcrevo a seguir: Esta foto foi tirada Quando morávamos no Cambuci Na rua Lavapés, na virada Onde duras lutas venci ! Eu possuía tipografia Na qual muito trabalhava, Quer de noite, quer de dia Mas a renda não chegava ! Deus do céu nos amparou E nós pudemos suportar, Nada, porém, nos faltou Nem nos fez desanimar !

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Isso tudo, felizmente, Pertence ao tempo passado, Nossos filhos, minha gente, Trouxeram-me bem amparado ! Acima de tudo, existe Deus Que não se olvidou de mim, Sou um dos filhos seus ! Minha crença não tem fim ! Aí está a nossa riqueza, Os filhos que Deus nos deu, Cuja saúde, amor e beleza São bênçãos do gosto Seu !

Acima: Meus pais. Abaixo: Meus pais com Elizabeth, Eneida e Ivinho.

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Ir m ã os e so b r i n h os

17 Meus irmãos e suas famílias. Meus irmãos, na ordem de idade, são os seguintes: Hilário, nascido a 9 de dezembro de 1921, em Itapira, casou-se em São Paulo com Maria Aparecida Guimarães Franco, a Bebê. Tiveram três filhos: Hilário Franco Júnior, casado com Maria Luiza Faria e Franco, a Isa, de quem tem duas filhas, Beatriz, a Bia, e Heloísa, a Helô. A Helô é psicóloga, casada, morando no norte da França, onde o marido é engenheiro industrial. A segunda filha do casal Hilário e Bebê, a Hilma, faleceu antes de completar um ano de idade. A terceira filha, a Regina Helena, a caçula, é solteira. Hilário faleceu em 2000, alguns dias após completar 79 anos de idade. Meu sobrinho Hilário Franco Júnior, o Hilarinho, é professor catedrático, escritor e historiador consagrado pelas suas obras sobre a Idade Média. Foi ganhador de dois prêmios Jabuti, por Eva Barbada e Cocanha. Desde 2003 ministra cursos sobre a história social do futebol para alunos de pós-graduação da Universidade de São Paulo (USP). Em 2007 publicou seu livro A Dança dos Deuses, considerado o melhor do ano sobre o assunto futebol na sociedade. Minhas três irmãs vieram em seguida a mim e ao Hilário, com diferenças de dois anos entre elas: A Walkyria, a Zica, a Maria de Lourdes, a Dinha e a Alcidema, a Cida. As três casaram-se em São Paulo. A Walkyria Franco Tolezano casou-se com Ivo Tolezano, advogado, já falecido, de quem tem dois filhos: a Eneida Franco Tolezano, advogada, aposentada como Procurador do Município de São Paulo, e Ivo Tolezano Júnior, o Ivinho, meu afilhado de crisma. Ivinho é casado com a psicóloga Hercília Zilli Tolezano. A Walkyria não tem netos. A Maria de Lourdes Franco Bragança, a Dinha, casou-se com Augusto Malo da Silva Bragança, engenheiro, falecido. O casal teve três filhos: o Augustinho, a Celina e a Ana Lúcia, a Dedê. O Augustinho é engenheiro, casado com Yolanda Rodrigues Bragança. Moram em Brasília e têm uma filha, Priscilla. Celina Franco Cláudio é arquiteta, casada com Jair Rosa Cláudio, têm dois filhos: Adriano Bragança Cláudio e Lívia Bragança Cláudio. Ana Lúcia Franco Malo da Silva

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Bragança Winther, arquiteta, a Dedê, é casada com Marco Antônio Cilento Winther, também arquiteto. São seus filhos: Alan Bragança Winther, Laila Bragança Winther e Diana Bragança Winther. Minha irmã tem, portanto, seis netos. A Alcidema Franco Bueno Torres é viúva de Francisco Bueno Torres, procurador do Estado, falecido. Tiveram quatro filhos: Carlos Francisco Bueno Torres, o Tito, falecido, que deixa viúva Maria Elvira S. Bueno Torres, advogada, e a filha Nathalia; Flávio Murilo Bueno Torres, engenheiro, casado com Sônia Tonelotto; têm dois filhos: Pedro Murilo e Flávia. Mário Dino Bueno Torres, advogado, professor universitário, casado com Dulcinéia Braga Dias Bueno Torres, têm um filho, o Daniel; de casamento anterior o Mário Dino tem a filha Emanoelle, a Manô; e Antonio Carlos Bueno Torres, o Cacalo, advogado, é Delegado de Polícia, casado com Giovanna Valenti Clemente, também Delegada de Polícia. Eles têm um filho, Fabrizio Valenti Bueno Torres. A Alcidema tem sete netos. Meu irmão caçula, o Mário Franco Filho, trabalhou na Secretaria da Fazenda do Estado de São Paulo, tendo se aposentado há vários anos; casou-se em Mogi Mirim, com Dúlia da Mata Barros, irmã de minha esposa, Marina. Eles têm 7 filhos: Anamaria Barros Franco, mãe de Ananda; Mário Franco Neto, casado com Lúcia Regina Horta Rodrigues Franco, pais de Tatiana e Tiago; Miriam Franco Vilella, psicóloga, casada com Luiz Eduardo Vilella, engenheiro agrônomo, pais de Mariana, Lilia e Guilherme; Paulo Roberto Barros Franco, casado com Rosângela Paes Franco, são pais de Paulinho, futuro crack de futebol; Margareth Franco Goulart, casada com José Charles Humberto Della Santina Goulart, pais de Carla, Caio e Carem; Hilário Barros Franco, em seu atual casamento tem uma filha; de casamentos anteriores Hilarinho tem os filhos Freddy e Janaína; a filha caçula do Mário, Denise Franco Rubo Ramos, é casada com Alexandre Rubo Ramos, bancário, pais de Letícia, um amor de criança. São 13 os netos do casal Mário e Dúlia, que já têm dois bisnetos.

Minha família. Em pé, Lourdes e Hilário, à esquerda; à direita eu e Valkyria. Sentados, meus pais, ladeados por Mário Filho e Alcidema. A mais bela família do mundo, segundo meu pai.

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C u n h a d os

18 Meus cunhados e suas famílias. Os irmãos de Marina, como já informei em capítulos anteriores, são os seguintes: Jandira, a mais velha, solteira, já falecida. Jandira adotou a Lourdinha, filha de ex-colono do Sítio São Manuel, formada em Pedagogia, hoje residindo em Ribeirão Preto, sendo sócia do Centro de Recuperação Infantil – CRI. Esse Centro trabalha com menores excepcionais, atividade em que a Lourdinha se especializou. É coadjuvada, no trabalho, por um Psicólogo,Dr. Guilherme e por sua mulher, Nelci, também Pedagoga. A Lourdinha, Maria de Lourdes Barros, causou-se com um meu primo, Celso Teixeira Franco, passando a assinar Maria de Lourdes Barros Franco. O casal adotou uma recém-nascida, Eva Maura, a Evinha, hoje com quinze anos, linda, estudiosa e que adora seus pais adotivos. Ana Rita, a Aninha, recentemente falecida, teve duas filhas: Marisa, mãe de Cláudia e de Waldomiro Júnior, e Lúcia, falecida, que teve duas filhas, Luciana e Analúcia. Renato, falecido, não deixou filhos; Dulce, falecida, deixou o filho João Abraão, casado com Maria Estela; têm duas filhas: Estelinha e Priscila, ambas casadas. Estelinha tem uma linda filha, a Manoela, nome dado em homenagem à sua bisavó materna, irmã de meu sogro. A Manoela é o xodó dos avós, João Abrão e Estela. João Abraão especializou-se em Importação, tendo trabalhado na Clark Equipamentos, em Valinhos, na Monroe Amortecedores, em Mogi Mirim e, posteriormente, na Robert Bosch do Brasil, em Campinas, também na área de Importação. Dúlia, casada com meu irmão Mário Filho, têm sete filhos, todos casados, e treze netos, filhos de seus filhos. Seus filhos são: Anamaria, Mário Neto, Miriam, Paulo Roberto, Margareth, Hilário e Denise, como já registrado em capítulo anterior. Têm dois bisnetos. A Tereza, irmã caçula, viúva, tem um filho, o Bill, jovem, fanático por fórmula 1, tendo gravado todas as corridas dessa atividade esportiva desde a primeira corrida do Ayrton Senna.

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Atualmente, torce pelo Rubinho, sendo que nas vésperas das corridas telefona ao tio, eu, pedindo que o ajude a empurrar o carro do Rubinho para que esse brasileiro possa ganhar a corrida. Os netos do Mário e da Dúlia, meus sobrinhos netos, são adoráveis, porém a que mais me encanta é a Letícia, filha da Denise e do Alexandre, que me trata como seu querido avô.

“Meus sogros, seus filhos e genros, fotografados no quintal da casa onde morou Guilherme de Almeida, como comento em outro local”.

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T i os p a t e r n os

19 Meus tios, irmãos de meu pai, e suas famílias. O irmão mais velho de meu pai, meu tio Abílio, de quem já comentei sobre seu nascimento e morte, em capítulo anterior, casou-se em Itapira, mudando-se posteriormente para Santos, onde faleceu. Sua filha mais velha, minha querida prima Francisquinha, casou-se em Santos com Mário Amaro da Cruz, já falecidos. São três os filhos de minha prima: Abílio Franco da Cruz, o Neto, casado com Clara Saorini.O casal tem duas filhas: a Flávia e a Carla. A Flávia tem um filho, que é bisneto da Francisquinha; a Carla mora com os pais. Meu primo Abílio, o Bila, é o segundo filho do tio Abílio; o Bila é casado com Téia, uma adorável criatura. O casal tem dois filhos: o Ênio, solteiro, que mora com os pais, e a Liliam, divorciada, que tem dois filhos, netos do Bila e da Teia, sobrinhos-netos da Francisquinha. O terceiro filho de meu tio Abílio, o Heitor, já é falecido. Deixou viúva a Almeriz e dois filhos. O quarto e último filho de meu tio, o Hélio, falecido, foi engenheiro civil; casou-se com Ofélia. O casal teve três filhos: a Patrícia, hoje Auditora Fiscal do Tesouro Nacional, é casada e tem filhos. São seus irmãos, Marcelo e Marcos. O segundo irmão de papai, o tio Doca, Benedito Otávio, casou-se em Santos com Otília Martins. Ambos são falecidos. Tiveram os filhos Cecília e João Otávio. Cecília, hoje advogada, casou-se com José Roberto Minervino, Cirurgião-dentista. O casal tem dois filhos e três netos. O João Otávio é Cirurgião-Dentista, casado, tem dois filhos. O tio Lulu casou-se em Itapira com Benedita Teixeira, a tia Nhazinha, e tiveram sete filhos homens, que são relacionados a seguir. Oscar Teixeira Franco casou-se com Dalva de Campos Franco e tiveram três filhos: Helena, secretária executiva, Marlene, fonoaudióloga e Oscar Luiz, analista de sistemas. O casal Oscar e Dalva têm cinco netos; Mauro Teixeira Franco (falecido) foi casado com Aidy Siqueira Franco e tiveram dois filhos: Mauro Luiz, contador e Celso Augusto, comerciante. O Celso é casado com minha sobrinha Maria

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de Lourdes Barros Franco, que são os pais da bela Eva Maura, a Evinha. O Mauro Luiz tem dois filhos, um casal. São, portanto, três os netos do Mauro; José Carlos Teixeira Franco, o Zeca. Foi casado com Dirce Vieira Franco, falecida. São seus filhos José Luiz e Marco Antônio, ambos têm a profissão de dentista. O Zeca tem cinco netos; Luiz Franco Filho, o Luizinho, é casado com Maria Aparecida de Angeli Franco. Seus filhos: João Luiz, administrador de empresa, Gilberto, engenheiro mecânico e Flávio, comerciante. São quatro os netos do Luizinho; Renato Teixeira Franco, o quinto filho, é casado com Maria José Bortolacci Franco, têm os filhos Luiz Antônio e Ana Paula, ambos comerciantes. O Renato tem cinco netos; Nelson Teixeira Franco, o Nelsinho, casou-se com Delvina Sel Franco, tendo os filhos Luiz Tadeu, empresário, Antônio Carlos, eletrotécnico, Hélio, Professor de História, Walkíria, pedagoga e Marisa, formada em jornalismo. O casal tem oito netos; O último filho de meu tio, o Antônio Carlos, o Totó, casou-se com Vilma de Oliveira Franco. Têm dois filhos médicos. O Totó é meu afilhado de batismo. O casal tem uma neta. Tio Lulu e tia Nhazinha já faleceram. Titio faleceu deixando o filho caçula muito pequeno. Titia lutou muito para criar todos os filhos. O primo Nelsinho foi quem me emprestou o Álbum de Itapira, o qual me foi de grande utilidade. O Nelsinho é o penúltimo filho de meus tios Lulu e Nhazinha, com foi esclarecido acima. A irmã caçula do papai, Eduardina, a tia Vidica, casou-se em Itapira com César Vieira, ambos já são falecidos; tiveram os filhos Maria José, a Zezé e o José, o Zezinho. Zezinho é falecido deixando viúva e filha; Zezé mora em São Paulo, está viúva de Edyl e tem três filhos, dois médicos e uma cirurgiã-dentista.

Comemoração das Bodas de Ouro de meus pais, Adelaide e Mário.

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Co n c u rso

20 Aprovação em concurso. Fatos que antecederam as provas. Em 1953, logo após terminar o curso de Ciências Econômicas, completado em 1952, resolvi enfrentar um concurso público para o Ministério da Fazenda. O cargo disputado era para Contador do Imposto de Renda (nome da carreira hoje intitulada Auditor Fiscal do Tesouro Nacional). Fui aprovado. As vagas, no Estado de São Paulo, eram somente vinte e duas. Como fui classificado em vigésimo segundo lugar e, no Estado, havia vinte e dois interinos, exercendo a função, necessitando serem nomeados em definitivo, fui obrigado a aceitar a nomeação para outro Estado, como esclareço no Capítulo seguinte. Nos meses que antecederam a realização do concurso público, eu, meu mano Hilário e alguns amigos nos reuníamos, em sua casa, aos sábados à tarde, para estudar as prováveis questões que constariam das provas do Concurso. Minha cunhada Maria Aparecida, a Bebê, sempre se esmerou em atenções com todos os que ali se reuniam e, à tardinha, sempre apresentava um lanche repleto de novidades. Em um desses sábados, a Bebê chamou-nos para lanchar. Quando nos aproximamos da mesa, caprichosamente arrumada, ela informou que fizera um pastelão de camarões, ao que o Hilário, imediatamente, declarou que eu não podia comer camarão em vista de minha alergia. A Bebê ficou muito aborrecida, sendo que eu declarei que não mais tinha qualquer problema quanto ao camarão. Servi-me do pastelão, repeti e nunca mais tive qualquer problema quanto a esse alimento, pois hoje me alimento de camarão e não mais tenho as crises de alergia. Penso que males como esse que eu sentia, são mais da mente mortal do que do próprio corpo físico. Como eliminei o problema da mente, declarando que o alimento não mais me faria mal, o corpo nunca mais apresentou sinais de alergia.

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Joinville

21 Nomeação e permanência em Joinville (SC) Aprovado no Concurso a que me submetera, fui nomeado para exercer a função em Joinville, Estado de Santa Catarina, tomando posse a 10 de novembro de 1953. Depois de dois anos trabalhando na fiscalização externa, fui nomeado para o cargo de Delegado Seccional do Imposto de Renda em Joinville, tendo exercido essa função até o início de 1961. Em Joinville, ficamos por uma semana hospedados no Palace Hotel até alugarmos pequena casa, de madeira, na rua D. Pedro I, no final da Avenida Getúlio Vargas, nas proximidades da bela estação da estrada de ferro. Em menos de um ano, mudamos para uma casa, em frente a esta, de alvenaria e com quintal onde pudemos fazer nossa horta, criar nossas galinhas e colher ovos para o nosso consumo. A verdura, principalmente a alface repolhuda, teve uma produção enorme que passamos a ofertar aos nossos vizinhos, com isso também recebendo deles presentes como carambolas, repolhos etc. No fundo de nossa casa, com frente para a Avenida Getúlio Vargas, havia uma farmácia cujo farmacêutico, de origem alemã, chamava-se Kümelen. Fizemos grande amizade com ele que passou a nos chamar de o vizinho do lado. Na esquina da rua Dom Pedro I com a Avenida Getúlio Vargas, em diagonal com nossa casa, havia uma loja de tecidos e miudezas, de propriedade de um sírio, Sr. Sessim, que tinha três filhos: o Jorge, o Calixto e a Ivone, jovem simpática, muito alegre, bastante atenciosa para com minha família. Meus filhos logo ficaram amigos dos filhos do Sr. Sessim. O Calixto, segundo soubemos, formou-se e foi professor da Faculdade em Joinville, hoje é falecido, como também seus pais. Quanto ao Jorge e à Ivone, não tivemos mais notícias. Fizemos mais uma amizade na Avenida Getúlio Vargas: o Sr. Ismário de Oliveira, um alfaiate competentíssimo, pai de 4 filhos (a Márcia, a Eliane, a Leila e o garoto caçula de cujo nome não me recordo). Tão logo mudamos de Joinville soubemos do falecimento de sua esposa.

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Joinville: o Porto do Bucarein, Marina e nossos três filhos.

Elizabeth e Márcia, sua amiga.

Júnior e Edison

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Da rua D. Pedro mudamos para a rua São Bento, hoje Pastor Bühler. Nosso locador era um advogado bastante famoso em Joinville, o Dr. Paulo. Lembro-me de que, no início do ano seguinte à nossa mudança para essa casa, a minha repartição iniciou um processo fiscal contra o Dr. Paulo, por falta de inclusão de rendimentos. Em seus esclarecimentos ao processo o Dr. Paulo demonstrou que nada deixara de declarar de seus rendimentos, o que resultou melhor verificação do caso na repartição. Foi constatado que a diferença que resultara o processo dizia respeito aos aluguéis declarados pelo Dr. Paulo, em importância inferior ao montante apurado pela repartição, através dos informes dos inquilinos. Ao se checar o informe de cada inquilino verificou-se que a importância por mim informada como paga ao Dr. Paulo era maior do que a informada por ele, que alertou sobre ter havido engano de minha parte, informando o pagamento de um aluguel inteiro no primeiro mês de pagamento, quando eu ocupara a casa no meio do mês e pagara apenas 50% do aluguel. Arquivamos o processo com meu pedido pessoal de desculpas ao Dr. Paulo. Meus filhos, Édison e Júnior, fizeram inúmeras amizades entre os vizinhos dessa rua. Entre esses amigos, os filhos do industrial João Hansen Filho, que era o dono das Indústrias Tigre. O Joãozinho, o João Neto, a Elizeth e o Carlinhos (Cau), foram grandes amigos de meus filhos. O Carlinhos assumiu cargo importante nas Indústrias, após a morte de seus pais, tendo falecido, algum tempo depois, em acidente aviatório. A cidade homenageou o Carlinhos dando o nome de Cau Hansen ao seu principal local para realização de eventos. Outro amigo de meus filhos, o Dráuzio Camargo, hoje engenheiro, bem como seus pais, o Sr. Tertuliano e dona Amália, foram nossos amigos queridos. O Sr. Tertuliano, bom motorista, por várias vezes nos levou, de Joinville a São Paulo, em viagens de férias, em carro que havíamos comprado usado, do Sr. Hansen. Por falar em carro, apesar dos meus 34 anos, na época, não tinha carta de motorista e nunca havia dirigido. Com a compra do carro, o amigo Galdino ofereceu-se para ensinar-me a dirigir. As lições eram no final da rua Ministro Calógeras, na praça em frente ao Cemitério. Lembro-me de que, nas primeiras aulas, perdi a direção, subi na calçada e bati em uma árvore, em frente ao Cemitério. O Galdino não tinha muita paciência e me deu uma verdadeira bronca. No ano seguinte, após algumas aulas teóricas, fui enfrentar o exame para conseguir a carta. Seguindo pela rua 15 de novembro, com o examinador ao lado, o sinaleiro fechou e eu ultrapassei a faixa de pedestre, freiando depois de ultrapassá-la alguns centímetros. Não tive dúvidas, engatei uma marcha-a-ré, e afastei-me da faixa, sem olhar para trás se havia outro carro. O som estridente de uma busina indicou que havia. O examinador apenas me olhou de viés, não me reprovando pela enorme falta de atenção. Consegui a carta. Na mesma época, a Marina conseguiu carta de motorista, tendo tido aulas de direção com sua grande amiga, dona Ondina. Foram maravilhosos os oito anos passados no Estado de Santa Catarina. Joinville é cidade adorável e seus moradores pessoas extraordinárias. Elegemos o Estado de Santa Catarina como nosso segundo Estado. Meus filhos, nascidos em 1944, 1950 e 1952, Elizabeth, José Édison e Ademar Júnior, foram para Joinville com pouca idade e lá granjearam muitos amigos. Seus estudos, com exceção dos da Elizabeth, foram iniciados naquele Estado, cujo ensino é de primeira qualidade. A Elizabeth, em São Paulo, cursara o Colégio Madre Cabrini, até a nossa mudança para Joinville.

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Os meninos freqüentaram o Grupo Escolar Conselheiro Mafra, enquanto minha filha o Colégio Santos Anjos. O Édison sempre foi mais estudioso do que o irmão. Frequentava a escola sempre com muita alegria e disposição, não gostando de faltar às aulas. Já o Júnior não era tão aplicado. Minha filha Elizabeth tinha de 8 para 9 anos quando chegamos em Joinville. Em São Paulo a Beth tinha acessos de bronquite, que a molestavam muito. Com a mudança para Joinville, e com alguns xaropes elaborados por pessoas da cidade, minha filha não mais teve o problema. A bronquite, segundo dizia minha família, fora herdada de mim, que a herdara de minha avó, Cecília, conforme já relatei em capítulos anteriores. Marina fez muitas amizades na cidade, algumas delas perduram até hoje. Ela e suas amigas tinham duas séries de encontros. Um deles era a reunião, que denominavam crochê, realizada semanalmente, em rodízio, na casa de cada uma das amigas. Todas contribuíam com pratos de doces e pratos de salgados e era realizado um lanche. De crochê nada havia. O que talvez houvesse, com certeza, eram os comentários sobre as novidades na cidade. A reunião do crochê, quando já estávamos na casa da rua Ministro Calógeras, da qual falarei mais adiante, era muito agradável e todos os presentes muito apreciavam. O outro encontro, também semanal, em diferente dia da semana, era realizado em uma cancha de bolão (em São Paulo chamado boliche). Havia disputas para escolha, em função de seu jogo, no final de cada mês, de uma rainha e duas princesas e, no final do ano, uma disputa das mulheres contra seus maridos. Geralmente venciam as mulheres. Dos doze casais participantes, somente três ou quatro maridos jogavam bem o bolão. Os demais, como era o meu caso, jogavam mediocremente. Marina, nos últimos três anos que moramos em Joinville, conseguiu classificar-se como princesa, em três anos seguidos. (foto na página 90, ao alto). Não me lembro dos nomes de todos os amigos do bolão. Os mais chegados eram: Alteagas Machado, já falecido, Pedro Stein, Gastão, Bastinho, também falecido, Arno Schoereder, etc. Ficamos sócios do Tênis Clube de Joinville e todos nós, eu, Marina e os filhos, iniciamos, orientados pelo professor Armando, que, na época, era o campeão estadual, a jogar tênis. Logo nos primeiros dias, tive uma queda na quadra, em razão de meu problema no joelho esquerdo, e abandonei as aulas. Marina e os filhos, com exceção da Elizabeth, continuaram. O Júnior se adaptou muito bem, tanto que em Araraquara, como contarei em outro capítulo, enfrentou grandes jogadores da cidade. Na repartição fiz muitos amigos. Um deles, o Galdino, meu professor de direção, seguiu-me na transferência para Araraquara e, posteriormente, para Campinas, onde reside até hoje. Galdino chegou solteiro em Joinville, em 1952, casou-se com a Teresa, criatura adorável que imediatamente tornou-se amiga de minha Marina. Seus filhos, Hilda e Sérgio, nasceram em Joinville. Infelizmente, em Campinas faleceram a Teresa e o Sérgio. Além do Galdino, o Krause, já falecido, o Haroldo, o Valdetaro, o Santa Rita, além de vários servidores subalternos da repartição, tornaram-se meus amigos, dos quais ainda me lembro com saudades. A esposa do Krause, Maria, e suas três filhas, ainda têm contato conosco e as consideramos nossas amigas. Na época em que assumi o cargo de Delegado, as notificações de pessoas físicas eram datilografadas na repartição. Nessa ocasião todos os funcionários se reuniam para que o trabalho fosse executado rapidamente.

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Meu filho Júnior, em festividade no Grupo Escolar Conselheiro Mafra, em Joinville.

Édison, Júnior e Marina.

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Édison, como sempre, lendo ou estudando.

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Como já contei, eu datilografava com muita desenvoltura, o que me proporcionou o respeito de todos os funcionários, pois fiz questão de também datilografar as notificações. Organizou-se uma espécie de disputa, para ver quem mais produzia no dia, com isso o trabalho era rapidamente realizado. Mudamo-nos da rua São Bento (hoje Pastor Bühler), para uma casa na rua Ministro Calógeras, esquina da mesma rua São Bento. Era uma casa maravilhosa, de dois pavimentos, com imenso jardim e plantas frutíferas. Tínhamos dezenas de roseiras, de várias qualidades, bem como outras flores. Tratamos um jardineiro para, uma vez por semana, cuidar do jardim. Na parte da frente, tínhamos grandes árvores, entre elas uma enorme árvore da flor da páscoa, outra menor, e um belíssimo ingazeiro, que, anualmente, ficava carregado de deliciosas bagas da fruta. Na parte dos fundos da casa, tínhamos enorme nogueira pecã, que atingia a parte superior da casa e pela qual, como soubemos recentemente, meu filho Júnior fugia do castigo descendo por essa árvore. Havia, também, bela árvore de carambolas, que produzia bastante, proporcionando-nos as deliciosas sopas geladas dessa fruta. À noite, porém, as frutas atraíam grande quantidade de morcegos, que conseguíamos matar, algumas vezes, utilizando bambu bastante comprido, que ficávamos sacudindo perto da árvore, espantando os morcegos que, ao fugir, eram atingidos pelo bambu e caíam, mortos ou semimortos. Como sempre gostamos de plantar, fizemos um canteiro com pimentas vermelhas e colhemos, durante muito tempo, grande quantidade de maravilhosas pimentas. Tentamos produzir alcachofras. Plantamos, vingaram os pés, que atingiram grande altura, porém não produziram o fruto. No quintal havia um poço, com bomba elétrica para retirada da água, o qual, segundo nos informara o proprietário do imóvel, tinha 91 metros de profundidade. A água saía bastante gelada e muito cristalina. Seu sabor era maravilhoso. Nosso locador morava ao lado e, várias vezes, pedia licença para retirar água do poço, que era muito deliciosa.No fundo do quintal havia uma casa de boneca, apreciadíssima pelos meus filhos e seus amigos, que sempre nos visitavam. Estou me lembrando de que, na ocasião em que morávamos nessa maravilhosa casa, tive a volta de crises de câimbra. Um sargento do exército (o quartel era na própria rua Ministro Calógeras) vinha, três vezes por semana, para fazer-me massagens e aplicar uma injeção, que não sei mais o nome. Em uma dessas vezes, tive um desmaio, na cozinha, onde eu era massageado, após a aplicação da injeção. O sargento assustou-se muito e tentava me reanimar, com massagens no peito, quando a Marina entrou na cozinha e encontrou-me estendido no chão, com o militar massageando-me. Foi um terrível susto e gritos, porém, após alguns minutos, voltei a mim, sem qualquer trauma. Em 26 de setembro de 1959, nossa filha Elizabeth fez o seu debut em Joinville. Estava belíssima. Meu pai, sobre a data compôs os versos que se seguem: Minha neta abafou; foi a mais bela na ocasião; porque quando debutou, tinha Deus no coração. Beth nesse desfile, ganhou fama em Joinville. Foi uma maravilhosa festa a que compareceram nossos amigos, prestigiando-nos.

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Marina em campeonato de boliche.

Júnior e Edison brincando em casa

Elizabeth debutante

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Viagens a trabalho

22 Viagens, a serviço, na jurisdição da repartição de Joinville. Antes de assumir o cargo de Delegado Seccional do Imposto de Renda em Joinville, juntamente com colegas da repartição, viajei por todo o Estado, em fiscalização. Exerci a fiscalização nas cidades de Chapecó, São Matheus, Xanxerê, São Carlos, Joaçaba, Concórdia, Campos Novos, Curitibanos, Videira e Caçador, no centro e no noroeste do Estado. Outras cidades, próximas a Joinville, também foram fiscalizadas, entre elas Mafra, União da Vitória, São Bento do Sul, Campo Alegre, Jaraguá do Sul, Araquari, São Francisco do Sul e muitas outras. Em Curitibanos, recordo-me de que o Exator, ao levar-nos a um bar, e examinando as pessoas presentes declarou-me que em poder dos seis ou sete fregueses deveria haver, no mínimo, oito armas (revólveres) escondidas; como informava, estaria insinuando que alguém deveria estar com mais de uma arma. Sempre gostei de atirar, mesmo sem nunca ter possuído uma arma. No mesmo dia de minha chegada a Curitibanos, o Exator Federal convidou-me para assistir a uma disputa que iria se realizar em um campo, ali perto, entre as pessoas que estavam no bar. Acabei concordando em acompanhar. A disputa nada mais era do que um desafio de tiro ao alvo, havendo, também, testes com armas que iriam ser negociadas entre eles. Entre as armas em negociação estava um revolver, calibre 38, cano longo, que passava de mão em mão para os testes. Foi-me solicitado que também testasse a arma. Fiz-me de rogado, até que não pude mais recusar. O teste consistia em acertar um cigarro, a cerca de vinte metros, espetado no galho de uma árvore. Ninguém tinha, ainda, conseguido acertar. Com bastante displicência, empunhei a arma, caprichei na mira e ... cortei o cigarro ao meio. Apesar da insistência dos novos amigos, não mais usei a arma, enquanto permaneci em Curitibanos.

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Ainda em Curitibanos, lembro-me de ter sido convidado para caçar perdiz, em campo próximo. Emprestaram-me uma arma e fui para o campo, acompanhado dos demais. Lembro-me de ter abatido apenas uma ave. Outro fato, acontecido em Curitibanos, volta à minha memória. Estávamos em um bar, quando dois homens começaram a discutir acaloradamente. Um deles, o gerente do Banco da cidade; outro, um gaúcho arrivista que diziam estar fugindo de seu Estado por haver cometido um crime. Era mais do que certo que o gerente iria levar a pior. Percebendo que não poderia brigar com o gaúcho, a mãos limpas, o gerente sacou uma pequena arma, calibre 22, tambor para sete tiros, e passou a ameaçar o gaúcho. Não sei dizer o que se passou pela minha mente, naquele momento. O certo é que me aproximei do gerente procurando fazê-lo entender que sua atitude, talvez atirando no gaúcho, só poderia prejudicálo e à sua família, enquanto o outro nada tinha a perder. Sempre falando calmamente, fui conversando com o gerente enquanto colocava minha mão esquerda sobre a sua mão que portava o revólver, continuando a conversar e a argumentar sobre o quanto seria prejudicial a ele qualquer atitude impensada que viesse a tomar contra o oponente. Aos poucos, fechei a mão sobre a sua e, continuando a conversar, ordenei que me entregasse aquela arma. Ele, humildemente, a depositou em minhas mãos. Entreguei a arma aos seus amigos e fui para meu hotel. Na manhã seguinte, quando tomava meu café, fui surpreendido pela presença de amigos do gerente que, a seu pedido, vieram entregar-me, de presente, a arma da disputa. Em Araraquara, um funcionário do Banco do Brasil procurou-me querendo adquirir o pequeno revólver. Recusei, enquanto pude, porém a insistência do rapaz foi tão grande que acabei vendendolhe a relíquia. Recordo-me de que em Chapecó, cidade onde exercemos a fiscalização algumas vezes, havia um bar que possuía algumas mesas de xadrez, atraindo pessoas para lá disputarem partidas. O maior freqüentador do bar, e participante nessas partidas, com quem joguei algumas vezes, era o Juiz de Direito da cidade. Pessoa bastante simpática, muito simples, sem qualquer pompa que pudesse identificá-lo como a maior autoridade judicial da Comarca. Em Chapecó, no final da temporada de caça, os aficionados preparavam um enorme jantar com animais caçados na região. Fui a um desses jantares, para 700 pessoas, onde havia mais de 50 espécies de caça servida. Uma festa maravilhosa. Não sei se ainda se faz tal jantar. Creio que não, pois a caça não é mais tão exercida como naquela época. Além de viagens em fiscalização, antes de assumir a chefia, após ter assumido o cargo de delegado percorri várias cidades da jurisdição de minha repartição proferindo palestras sobre imposto de renda, a convite das associações profissionais e comerciais dessas cidades. No ano de 1960 foi realizada, em São Paulo, a Primeira Convenção Nacional dos Agentes Fiscais do Imposto de Renda. Nessa Convenção apresentei uma tese, que foi aprovada, a qual tinha o seguinte título: Sistema variável para determinar a isenção, a obrigação de apresentar declaração, o limite do desconto na fonte e outros assuntos sobre as pessoas físicas. Na ocasião em que a Convenção iria ser realizada, estávamos fiscalizando na cidade de Concórdia, interior do Estado, sede da SADIA, e comentamos sobre a necessidade de irmos a São Paulo participar

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da Convenção. Como estava para levantar vôo um avião cargueiro da empresa, foi-nos oferecida uma carona, o que aceitamos. É impressionante viajar entre a carga, pois apenas dois ou três bancos permanecem, sendo os demais bancos retirados para possibilitar maior espaço para a carga. Apesar da falta de conforto, nossa viagem entre Concórdia e São Paulo foi ótima. Nosso piloto foi o Comandante Omar Fontana, filho do proprietário da empresa. Em carta datada de 31 de dezembro de 1960, o Presidente da Convenção, o colega Iguatemy Jorge de Andrade, dirigiu-me correspondência agradecendo e elogiando o trabalho apresentado. No início do ano de 1961, visitando a Delegacia Regional do Imposto de Renda em São Paulo, encontrei-me com alguns colegas, alguns dos quais eu conhecera na Convenção, realizada no ano anterior. Consultado por alguns colegas que dirigiam a Delegacia Regional do Imposto de Renda em São Paulo, sobre se haveria intenção, de minha parte, de voltar para o Estado, respondi que sim. Sobre a cidade em que gostaria de servir, indiquei Ribeirão Preto. Um dos colegas pediu-me que aguardasse, afastando-se de mim. Em sua volta, alguns minutos após, comunicou-me que o Prof. Carderelli, Delegado Regional, declarara que eu poderia ser designado para Araraquara, se o desejasse. Aceitei. Em nossa viagem de volta para São Paulo, a estrada entre Curitiba e São Paulo estava em término de construção, sem autorização para ser utilizada para o tráfego normal. Havíamos trocado o carro usado por um Aerowillis. No início da estrada, na saída de Curitiba, barreiras impediam a entrada no trecho recém aberto, sem ter ainda havido o asfaltamento. Foi-nos explicado que a estrada ainda não dava condições para uma viagem sem problemas, porém, se o desejássemos, a estrada poderia nos ser liberada. Aceitamos, agradecemos e começamos a viagem. Atolamos várias vezes, tendo sido necessária a intervenção de tratores para nos desencalhar. Nessas intervenções, os tratoristas, descuidados, amassaram o carro novo, o qual acabamos trocando por um Fusca. Mesmo com todos os problemas, a viagem foi divertida e é sempre lembrada, principalmente pelos meus filhos que muito se divertiram com os transtornos havidos.

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Beth segurando o Cláudio

Os três irmãos, meus filhos Júnior, Elizabeth e Édison.

Da esquerda para a direita, o Osmar, a Beth, o Júnior, o Édison, Eu e a Marina.

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Falecimento e legado

23 Falecimento de meus sogros. Seu legado. Meus sogros se casaram no dia 7 de setembro de 1912, em Mogi Mirim, conforme cópia da certidão, obtida em 21 de setembro de 2001, reproduzida, em anexo, no final deste livro. Os pais de meu sogro, João da Matta Barros, segundo a certidão, eram Manoel Alves de Barros e D. Ana Gertrudes da Conceição. Ele tinha, na época, 21 anos de idade. Minha sogra, Constança Silveira, tinha 17 anos de idade e era filha de Joaquim da Silveira Franco, que cheguei a conhecer, e de D. Rita Custódia Leite, que não conheci. O falecimento de ambos deu-se em 1956, conforme consta como anotação na certidão de casamento. Meu sogro faleceu no dia 17 de julho de 1956; minha sogra em 10 de novembro do mesmo ano. Portanto, em menos de 4 meses, minha sogra seguiu o marido. Nesses quatro meses em que D. Constança, doente, viveu sem o marido, ela o via permanentemente, a ponto de alertar sua filha, Jandira, quando se preparava para sentar a seu lado, na cama, que tivesse cuidado, pois seu pai ali se encontrava. Com a morte de meus sogros, coube a minha esposa parte de suas terras, localizadas no distrito de Martim Francisco, município de Mogi Mirim. Seu quinhão media quase onze alqueires, fazendo parte da antiga Fazenda São Manoel, fundada pelo pai de meu sogro, Manoel Alves de Barros que, ao falecer, a deixara para os filhos. Originalmente a Fazenda toda abrangia quase duzentos alqueires de terra, que foram distribuídos entre os filhos do fundador. A tia Sinhá, a irmã solteira de meu sogro, herdou igualmente 10 alqueires, como todos os irmãos. Como essa senhora gostaria de ter uma pequena casa na cidade, construímos uma casinha e a trocamos pelos seus 10 alqueires.

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A nossa área ficou com 21 alqueires, sem termos, porém, quem a pudesse administrar. Somente após minha transferência para Araraquara, mais próxima de Mogi Mirim do que Joinville, foi possível organizar e administrar as terras, como relato em próximo capítulo.

Meus sogros, Dna. Constança e Sr. João da Mata Barros.

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Ass u m i n d o a delegacia

24 Assumindo a Delegacia de Araraquara, interior de São Paulo. Em Joinville permaneci até maio de 1961, quando fui transferido para a cidade de Araraquara, no Estado de São Paulo, para exercer a função de Delegado Seccional do Imposto de Renda. Nos anos em que morei em Joinville, iniciei pesquisas na legislação do imposto de renda e acabei rascunhando um livro, ao qual dei o nome de Organização e Contabilidade das Empresas Imobiliárias. Já em Araraquara, em 1962, esse livro foi publicado pela Editora Atlas, organização que já publicava os livros escritos pelo meu irmão Hilário, e aceitou publicar o meu. Esse livro foi bem recebido, esgotou-se rapidamente, e apesar da insistência da Editora para publicar nova edição, que logicamente deveria ser revista em virtude de inúmeras alterações na legislação tributária do País, nunca pude atender tal solicitação. Confesso que comecei a programar essa revisão, porém nunca consegui completá-la. As aulas ministradas no Curso de Contabilidade de Custo – Custo de terreno loteado, como informarei ainda neste capítulo, foram destacadas do livro que estava em elaboração e que foi publicado no final do ano de 1962, como acima noticiado. Nos anos de 1963 e 1964, realizei conferências sobre o imposto de renda em cidades da jurisdição da Delegacia de Araraquara. Sempre gostei de esclarecer sobre a legislação tributária, ficando bastante satisfeito quando os profissionais presentes faziam perguntas. Minha opinião é de que as perguntas nos fazem pensar, e o pensar leva ao estudo que, por sua vez, leva ao aperfeiçoamento do palestrante sobre o assunto consultado. Em Araraquara, meu gabinete sempre esteve aberto para os contribuintes conversarem comigo, principalmente os contabilistas. Às vezes pequena fila, com duas ou três pessoas, se formava aguardando a oportunidade de falar comigo. Isso me faz lembrar de um fato ocorrido na Delegacia, como a seguir relato.

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Em um determinado dia, quando estava atendendo um contribuinte, e a fila de espera tinha umas três ou quatro pessoas, um contador conhecido chegou à porta de meu gabinete e olhou para dentro, como a esperar que eu o chamasse. Apenas o cumprimentei e solicitei que aguardasse o atendimento daqueles que já estavam na fila. O rapaz retirou-se. Alguns minutos após a sua saída, o telefone tocou e o contabilista em questão, não se identificando, começou a fazer uma consulta. Com muita calma, declinei seu nome, mostrando que reconhecera sua voz, e lhe disse que não era possível furar a fila pelo telefone e que, se ele voltasse à repartição e aguardasse, eu teria muito prazer em atendê-lo. Foi o que ele fez, mais tarde, e tudo ficou resolvido. Eu trouxera de Joinville um esboço de uma aula que pretendia dar, a respeito de atividades imobiliárias. Por esse motivo, muito me alegrou o convite do Sindicato dos Contabilistas de São Paulo para ministrar, em sua sede, em São Paulo, uma aula, no Curso de Contabilidade de Custos que estava realizando, com tema a ser por mim escolhido. Nas noites de 25 e 28 de junho de 1962, viajei para São Paulo e ministrei aulas sobre Custo de Terrenos Loteados, integrando o Curso que estava sendo desenvolvido pelo Sindicato. Em carta datada de 11 de setembro de 1962, assinada pelo seu Diretor-Presidente, Contabilista Emílio Bacchi, que, posteriormente, foi sócio da Revisora Nacional, o Sindicato agradece essa minha participação no Curso em questão. O colega Bachi já é falecido. Em março de 1963 e em 1964, realizei conferências sobre o imposto de renda em cidades da região, entre elas Catanduva, São José do Rio Preto, Fernandópolis, Santa Fé do Sul, etc. Em março de 1965, a convite da Associação Rural de Votuporanga, da Prefeitura Municipal, do Conselho Regional de Contabilidade, do Rotary Clube e da Associação Comercial, Industrial e Agro-Pecuária de Votuporanga, através de ofícios assinados por seus respectivos presidentes e pelo Prefeito da cidade, proferi palestras nos dias 2 e 3 de abril desse ano, nessa cidade, nas quais houve o comparecimento de centenas de contabilistas e de contribuintes. Em abril de 1968 embarquei para os Estados Unidos, para um curso referente aos impostos internos americanos. Permaneci no exterior, entre Washington, Nova Iorque e Boston, sete semanas, voltando a 8 de junho de 1968, quando o verão americano começava a ficar insuportável. Ao chegarmos a Washington, foi-nos recomendado que não nos aproximássemos do bairro dos negros, o Harlem, pois o pastor Martin Lutter King havia sido assassinado, há pouco tempo, e seria perigoso adentrar esse e outros bairros, nos quais os moradores estavam bastante exaltados. Em um domingo de folga, fretamos um ônibus e, acompanhados por um guia brasileiro, a serviço do curso, visitamos a Academia Militar de Anápolis, o que muito nos impressionou pela magnificência de suas instalações. Os cursos foram bastante interessantes, principalmente as aulas práticas no Centro de Processamento de Dados, em Boston, que controla todas as declarações da zona leste do País, incluindo Nova Iorque. Cremos que hoje, no Brasil, o processamento de dados para o Imposto de Renda tem melhor estrutura do que o americano. Nossa entrega de declarações via Internet, nossas pesquisas por essa via, inclusive com solicitação eletrônica de certidões e informações sobre o andamento de processos, em muito supera o sistema americano.

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Passagem interessante, um pouco cômica, ocorreu na Delegacia de Nova Iorque. O Chefe da Repartição levou-nos a uma seção onde as declarações que haviam sido selecionadas para a revisão ocular eram encaminhadas. Era muito impressionante. Uma esteira rolante levava milhares de declarações para uma seção em que elas seriam distribuídas entre os agentes, para a devida convocação dos declarantes, sistema adotado naquele País. O Chefe da repartição, que nos acompanhava na visita, querendo ser gentil, retirou, aleatoriamente, da esteira rolante, uma declaração, para nos mostrar o ponto que o processamento havia detectado, para facilitar o agente que iria completar a verificação. Ao olhar a declaração, que retirara da esteira, o nosso cicerone empalidecera. Nossos colegas que estavam mais próximos, do funcionário americano, preocupados, quiseram saber a razão, ao que o colega americano declarou, sem muito entusiasmo: it is mine, cuja tradução seria: é a minha. Até hoje não chego a uma conclusão: teria sido uma encenação, ou simplesmente uma coincidência inexplicável? Nunca vamos saber. Na repartição de Araraquara fizemos amizades com todos os colegas, como o Galdino, que me acompanhara de Joinville, o Osame, o Rubens, o Mário Setúbal, e vários funcionários subalternos que se mostraram muito eficientes em suas atribuições. O Mário Setúbal e o Osame já faleceram. Este último há poucos anos.

Oficina da Estrada de ferro Araraquara

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As Imperatrizes e os Imperadores.

1968, o último ano em que fui associado da Ferroviaria.

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At i v i d a d e s so c i a i s e e s p or t i v a s

25 Participação em atividades sociais e esportivas, em Araraquara. Nossa mudança de Joinvile para Araraquara trouxe alguma preocupação, pois receávamos não nos adaptarmos, o que não aconteceu, pois imediatamente fizemos grandes amizades, muitas delas perduram até hoje. Alugamos uma casa, na rua Dom Pedro II, nas proximidades da sede de campo do Clube Araraquarense, o mais tradicional da cidade. Logo nos associamos ao Clube Araraquarense e passamos a freqüentá-lo, principalmente nossos filhos, que praticavam esporte e muito aproveitaram freqüentando a sede de campo do clube. O Édison e o Júnior jogavam basquete e voltaram a praticar o tênis, que haviam iniciado em Joinville. O Júnior melhorou bastante e enfrentava bons jogadores, como os irmãos Barbieri, o Sr. Monteiro e outros. Júnior gosta de contar que o pegador de bola, em seus jogos, era o filho da zeladora das piscinas e das quadras de esporte, irmão do Careca, que foi, posteriormente, um grande jogador de futebol. Fui convidado para candidato a conselheiro da Associação Ferroviária de Esportes, aceitei, fui eleito, e, sempre que possível, comparecia, com minha família, aos jogos. No ano de 1964 eu ainda era do Conselho e a Ferroviária, no Campeonato Paulista da Primeira Divisão, ficou em 4º lugar. Um grupo de pessoas da cidade se reuniu para a aquisição de uma área com 51 alqueires, na estrada de Araraquara para Ribeirão Preto, com a finalidade de construir um clube de campo. Entusiasmei-me com a idéia e engajei-me, tendo sido o sócio número 12, o que não era muita vantagem porquanto a relação inicial dos sócios, para receber um número, foi feita em ordem alfabética, o que me proporcionou essa classificação. O Clube de Campo Morada do Sol foi construído, possuindo um açude com mais de 20 alqueires alagados, onde são disputadas provas náuticas, bem como foi iniciada criação de peixes, seguindo todas as regras para esse procedimento, inclusive com escadas para a subida dos peixes, na ocasião da desova.

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Infelizmente, após nossa mudança da cidade, vendemos nosso título e não mais somos sócios desse maravilhoso clube. Um grupo de amigos, chefiados pelos irmãos Michetti (o Bento era o locador da casa em que morávamos), em número de 10, reuniu-se e adquiriu grande área, para ser loteada. A área era situada depois do campo da Ferroviária e do Jardim Primavera. Foi iniciado um loteamento, que foi denominado Jardim Imperador, cujos proprietários passaram a ser apelidados de imperadores e suas esposas de imperatrizes. Havia uma construção, no local, que imediatamente foi adaptada para nossas reuniões semanais, onde se disputava futebol, bem como outros esportes mais violentos, como o truco. Participavam da sociedade, além de mim, os irmãos Bento e Vicente Michetti, Waldemar Zanella, Ivo Zuolo, Geraldo Masiero, Osmar d ́Azevedo Cruz, Wilmo e Dr. José Albiero, o engenheiro do grupo e Dr. Seth-Hur Cardoso, médico. Para quitar a minha participação na sociedade, fui obrigado a tomar financiamento bancário, que não tive condições de quitar. Ao deixar a cidade, passei minha parte a um colega da repartição em troca desse colega ficar responsável pela minha dívida. Em Itapira, visitei o SOS - Serviço de Obras Sociais, entidade fundada naquela cidade e me entusiasmei com as suas realizações. Consegui trazer seus idealizadores para uma palestra sobre o assunto, no Rotary Clube de Araraquara, do qual eu fazia parte. Todos os sócios se encantaram com a idéia e foi resolvido que iríamos iniciar tratativas para fundar organização semelhante na cidade. Uma comissão, formada por vários sócios do Clube, eu entre eles, e por personalidades da cidade, saiu a campo, divulgando a idéia, e pedindo a colaboração financeira para a instalação da entidade. Como resultado dessa coleta, o SOS foi implantado em Araraquara, tendo sido construída sua sede, que hoje abriga uma escola de corte e costura destinada a pessoas carentes, bem como outros cursos e, ainda, um sistema de visitação de todos os bairros, para conhecimento da necessidade das famílias de poucas posses. O lema do SOS consiste em difundir a idéia de que não se deve dar esmola, porém auxiliar as organizações que procuram deixar as ruas sem os pedintes. Todo pedinte seria encaminhado à sede do SOS, fichado e pesquisado, inclusive no local em que morasse. Em seguida haveria orientação de assistentes sociais, inclusive também para seus familiares, no sentido de conhecer uma profissão para ter o seu sustento. Quando o pedinte era de outra cidade, convênio com a Delegacia de Polícia fornecia-lhe passagem para a volta à sua cidade. A idéia do SOS funcionou, não só em Itapira e Araraquara, como em outras cidades e, pelo que temos conhecimento, esse tipo de Instituição ainda é muito importante para a retirada do pedinte das ruas. Em Araraquara, Marina juntou-se a um grupo de senhoras, que se reuniam uma vez por semana, para costurar e bordar. Anualmente era organizado um bazar, para venda do que havia sido produzido, sendo a renda destinada às associações filantrópicas da cidade. A Câmara Municipal de Araraquara outorgou-me título de Cidadão Araraquarense.

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No banquete-homenagem, de minha despedida.

Diretoria do Rotary Clube de Araraquara.

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O Sítio

26 Início da exploração do sítio herdado. Morando em Araraquara, mais próxima de Mogi Mirim, resolvi explorar as terras herdadas pela esposa solicitando, para isso, a ajuda de minha cunhada, Jandira. Com a aceitação da Jandira, fizemos um financiamento no Banco do Brasil para construção de galinheiros, chiqueiros, uma fábrica de ração, caixa d’água e outras benfeitorias. Prontas as obras, foi iniciada a exploração, sob a gerência da Jandira. Para fabricar a ração para os frangos e para os porcos, adquiri máquina para moer cereais e um misturador de ração, com isso montando pequena fábrica de ração que passou a ser utilizada para produzir nossa própria ração. Foram construídos três grandes galpões, com capacidade para a criação de 6.000 frangos em cada um, habitados em períodos com diferença de um mês em cada lote, para que mensalmente pudessem ser entregues, para os frigoríficos, 6.000 aves. Estimava-se que as aves estariam prontas em 50 dias, ficando o galpão, para a retirada da cama e arejamento, com mais dez dias. Construímos um reservatório de água, com capacidade para 20.000 litros, no alto de uma elevação, acima dos galpões de criação dos frangos, com bombeamento da água de um açude, construído com o represamento de pequeno córrego. Começou-se a entregar, aos frigoríficos, mensalmente, 6.000 frangos e cerca de vinte porcos. Além disso, as terras produziam algodão, milho e café, até que uma geada queimou os últimos 5.000 pés. Para o início da criação dos porcos, adquirimos, em Sertãozinho, em criação do Estado, os reprodutores, que levamos para o sítio, que havíamos denominado Sítio São Manoel, pois fora desmembrado da Fazenda São Manoel. Um nosso colono enviuvou, ficando com duas crianças, uma de três anos, outra ainda de colo. Para trabalhar, esse colono levava a filha de três anos, deixando-a à beira da estrada, sentada sobre um pano estendido no chão.

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Certa ocasião, a menina estava à beira da estrada, quando meu irmão Mário a viu e condoeu-se dela, levando-a para a cidade. Jandira encantou-se com a menina e a criou. Quando o pai da menina deixou o sítio, a filha ficou com a Jandira que, posteriormente, viajando até Cambuí, em Minas Gerais, onde a menina nascera, conseguiu sua adoção, com o nome de Maria de Lourdes Barros, o sobrenome da Jandira. A Lourdinha, apelido carinhoso que lhe foi dado por todos, foi criada e educada pela Jandira, chamada de mãe pela garota, formando-se em Campinas como Pedagoga. No capítulo em que comento a respeito de meus cunhados e suas famílias, volto a falar na Lourdinha. Com a morte da Jandira vendemos o sítio para um primo da Marina que, no entanto, não prosseguiu na exploração.

Um dos galpões de criação de frangos.

u. Porcos da raça Pia

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Campinas

27 Designação para Campinas. Convocação para Curso. Em outubro de 1968 aconteceu minha designação para Delegado Seccional do Imposto de Renda em Campinas, onde não permaneci muito tempo, nem mesmo cheguei a levar a família. Instalei-me em pequeno hotel, perto da Estação Ferroviária, juntamente com colegas de São José do Rio Preto que tinham sido designados para trabalhar em Campinas. Como eu estava sem a família, a distração era trabalhar. Ia muito cedo para a repartição e enfrentava milhares de processos que deveriam ser julgados e decididos, que foram herdados da administração anterior. Em dois meses, novembro e dezembro, a situação da repartição ficou bastante melhor, com apenas algumas centenas de processos a serem julgados. No início de 1969 fui convocado para freqüentar o curso de Técnico em Administração Tributária – TAT, a ser realizado no Rio de Janeiro. Nesse curso tive a honra de ter como professor, entre outros, o ilustre economista Dr. Celso Pastore, posteriormente designado Diretor do Banco Central do Brasil. No final desse curso fui nomeado Delegado da Receita Federal em Santos. Até 1969, as repartições fiscalizadoras administravam, separadamente, os impostos internos, sendo o principal o imposto de consumo, hoje IPI, que era controlado pelo Departamento de Rendas Internas; o imposto de renda era controlado pelo Departamento do Imposto de Renda. Quanto aos impostos de comércio exterior, eram controlados pelo Departamento de Rendas Aduaneiras, que administrava as Alfândegas. As Delegacias Regionais e Seccionais do Imposto de Renda eram subordinadas ao Departamento do Imposto de Renda, chefiado pelo Diretor do Imposto de Renda. Em 1968, quando fui designado Delegado Seccional do Imposto de Renda em Campinas, era Diretor do Imposto de Renda o colega e amigo Cleto Henrique Mayer, com quem continuei cultivando amizade até os dias de hoje. Na época em que me encontrava em Joinville, era Diretor do Imposto de Ren-

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da o também colega Noé Winkler, um dos funcionários mais conceituados na classe, tendo publicado, já em terceira edição, o Regulamento do Imposto de Renda com os seus brilhantes comentários. Durante vários anos, em seu aniversário, eu o cumprimentava, pois realmente muito o estimava. Além disso, o colega Noé faz aniversário no mesmo dia de meu falecido pai: 3 de agosto.No mês de maio de 2004 leio, com bastante pesar, a notícia do falecimento desse ilustre colega e amigo. No início de 1969 foi criada a Secretaria da Receita Federal, para coordenar todos os impostos federais, inclusive os impostos de comércio exterior, que vinham sendo controlados pelas Alfândegas. Fui nomeado como primeiro Delegado da Receita Federal em Santos, com a incumbência de instalar a nova Delegacia. Em Araraquara eu pertencera ao Rotary Clube de Araraquara e havia sido indicado para seu próximo presidente, a tomar posse no ano seguinte, quando fui designado para Campinas. Em Campinas, a convite de um colega da repartição, que era o Presidente de um dos Clubes da cidade, freqüentei algumas reuniões. Fui proposto para sócio, sem ter sido consultado e, quando me foi comunicada a aprovação de meu nome, eu já havia sido designado para Santos. A reunião do Rotary Clube Campinas-Sul, na qual eu deveria ser apresentado como novo companheiro foi, também, a reunião de minha despedida da cidade de Campinas.

Viagem de férias até o Rio Grande do Sul, com os filhos Édison e Júnior e o sobrinho João Abrão. O carro é a Jangada.

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Outra Homenagem em Santos.

Eu, Caldeira e Altivo.

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D R F - S a n t os Pr i m e i ro Delegado

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Instalação da Delegacia da Receita Federal em Santos. Seu primeiro Delegado. A 19 de fevereiro de 1969, que foi uma quarta-feira de cinzas, assumi a Delegacia da Receita Federal em Santos, a qual passou a incorporar as antigas Delegacias, do Imposto de Renda, de Rendas Internas, a Alfândega e o Laboratório de Análises de Produtos e de Mercadorias. Felizmente, com a colaboração de colegas que se tornaram meus amigos, a Delegacia foi instalada e funcionou muito bem, tendo sido elogiada pelo Secretário da Receita Federal, na época. Nos meses de agosto e setembro de 1969 freqüentei, à noite, o Curso da Escola Superior de Guerra, em Santos, tendo conhecido várias pessoas, algumas das quais passaram a ser meus amigos. Através de Portaria do Diretor Geral do Departamento Nacional de Portos e Vias Navegáveis, fui designado representante do Ministério da Fazenda na Comissão Especial para Coordenação dos Serviços Portuários de Santos (COSEPS), que foi instalada no dia 30 de maio de 1969, funcionando, a partir dessa data, no controle da movimentação de carga e descarga no porto de Santos. O Comandante Coimbra, presidente da Comissão, sempre foi um verdadeiro cavalheiro, porém dirigia os trabalhos com mão de ferro e muita competência. O Comandante Vicente Conte, Capitão dos Portos, também fazia parte da Comissão, sendo bastante amigável com todos os companheiros do grupo. Talvez por indicação do Capitão dos Portos fui agraciado com a medalha e diploma de Amigo da Marinha. Vários amigos e conhecidos também receberam a homenagem. A cerimônia foi bastante emocionante. O bom funcionamento da Delegacia da Receita Federal em Santos, durante minha gestão, resultou em minha designação para Superintendente Regional da Receita Federal da Oitava Região Fiscal, em São Paulo, cargo que assumi no mês de maio de 1971. No mesmo dia em que assumi a repartição fui convocado para uma recepção, no Rio de Janeiro, em casa do Sr. Antonio Amílcar de Oliveira Lima, que fora o cérebro da criação da Secretaria da Receita Federal.

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Na residência do Sr. Secretário, fui apresentado ao Dr. Antonio Delfin Netto, Ministro da Fazenda. Fiquei muito orgulhoso quando, ao ser apresentado ao Ministro, o Secretário declarou: Sr. Ministro, este é o homem que fez com que Santos não mais nos tenha dado trabalho. Em vista de minha designação para a Superintendência Regional, solicitei a indicação de outro representante do Ministério da Fazenda na COSEPS, em ofício de 13 de setembro de 1972, pois ninguém ainda havia sido designado para essa Comissão, como representante do Ministério. Ao deixar a Delegacia de Santos, em 1971, fui sucedido pelo colega e amigo Altivo Ferreira, homem culto e estudioso, que muito bem administrou aquela repartição. O Prof. Altivo, um palestrante nato, ministrou palestras em muitas cidades brasileiras, inclusive em cidades do exterior, falando sobre a sua querida religião, o Espiritismo.

Sendo homenageado em Santos.

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Amizade e m s a n t os

29 Amizades que ainda perduram em Santos. Em Santos fui aceito no Rotary Clube Santos Praia, que freqüentei durante os dois anos e meio que permaneci naquela cidade. Participei, naquele Clube, das tratativas para a criação do Rotary Clube de Cubatão, que foi instalado ainda durante minha filiação ao Clube de Santos. Nossa primeira morada em Santos foi à Avenida Conselheiro Nébias, na mesma casa em que havia morado o Inspetor da Alfândega, que eu estava substituindo em virtude do desaparecimento de sua repartição. No ano seguinte, através de financiamento da Caixa Econômica Federal, e tendo como fiador meu irmão Hilário, adquiri um apartamento, na Praça Washington, em frente ao Orquidário, no mesmo prédio em que morava o Dr. Amílcar Gaspar, que se tornou nosso grande amigo e sogro de meu filho, Ademar Júnior, que se casou com Renata, sua filha. Em 1970 a Renata, hoje psicóloga com grande clientela, devia ter uns dez ou onze anos; era gordinha e brincava com os meninos de sua idade, parecendo mais um garoto do que uma garota. Ela contoume, recentemente, que em certa ocasião, entrei no elevador, quando ela lá estava, e perguntei-lhe, gentilmente: qual o andar em que a senhorita quer descer? Disse-me ela ter ficado muito emocionada, pois ninguém ainda a tinha chamado de senhorita. O casal Dr. Amílcar e Dona Sisi tiveram quatro filhos: Amílcar, o Amilquinha, Renata, Paulo e Álvaro. Este último, quando chegamos a Santos, tinha apenas dois anos de idade. O Álvaro é, hoje, Engenheiro. O Amilquinha veio estudar em São Paulo, no Colégio Objetivo, na Avenida Paulista, a poucas quadras de onde viemos morar, na Alameda Santos, dando-nos o prazer de morar conosco, por algum tempo. Hoje falecido, deixou viúva a Presci e três filhos: Amílcar Neto, Maria Eduarda e Bruno, que moram com a mãe, em Santos. Como nos foi importante conhecer o Dr. Amílcar! Formado na Escola Politécnica, da USP, foi contemporâneo do Dr. Mário Covas,

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seu amigo e compadre, que se formou na mesma Faculdade. Era um especialista em cálculo de concreto. Bondoso de coração, o Dr. Amílcar passou a atender a Santa Casa de Misericórdia de Santos em todos os casos em que fosse necessário o serviço de um engenheiro. Passou, em seguida, a responder por todo o patrimônio imobiliário da instituição até sua morte, ocorrida no ano de 2003. Muitas amizades foram conquistadas na repartição, em Santos. Entre elas cito Luiz Antonio Lucena de Oliva, posteriormente exercendo a função de meu substituto eventual na Superintendência, em São Paulo e, após seu desligamento, foi o Delegado da Receita Federal em Santos; Manoel de Jesus Gomes dos Santos, amigo até hoje, era o Delegado Seccional do Imposto de Renda em Santos, repartição que estava desaparecendo e, em minha gestão na Superintendência, foi o Delegado da Receita Federal em São Paulo; o Alessio Zanettin, já falecido, foi meu chefe da fiscalização, em Santos e, após sua aposentadoria, foi conselheiro do Conselho Regional de Contabilidade do Estado de São Paulo; o Noronha, que foi meu chefe da tributação, posteriormente designado Delegado da Receita Federal em Sorocaba; o Célio, o Caldeira, o João Augusto, também falecido; o casal Mamede, posteriormente servindo em Brasília; o Felippe Wilson Cardelino, amigo até hoje, posteriormente à sua saída da repartição de Santos, foi o Delegado da Receita Federal em Brasília. Hoje, aposentado, ainda mora em Brasília explorando o ramo de restaurante. Lembrome, ainda, do Dario, meu chefe de gabinete; e de muitos outros colegas naquela repartição. Na minha despedida de Santos foi-me oferecido, bem como à minha família, magnífico jantar para mais de uma centena de pessoas. Estiveram presentes autoridades locais, bem como o General Paulo, comandante militar da praça, e o Coronel Oliva, seu chefe do Estado Maior. A amizade com o Coronel Oliva, hoje General reformado, perdura até hoje, mesmo porque seus pais moravam no mesmo prédio em que morei, em Santos, e é primo de Dona Sisi, mãe de Renata, minha nora. O General Oliva é o pai do extraordinário e combativo Senador Aloísio Mercadante Oliva.

O Prof. Altivo Ferrerira, meu substituto na chefia da Delegacia de Santos, cumprimentando-me da festa de despedida.

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C a rgo e m S ã o Pa u lo

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Nomeação para exercer o cargo deSuperintendente Regional da Oitava Região Fiscal – São Paulo Em maio de 1971, como citei no capítulo anterior, fui nomeado e assumi o cargo de Superintendente Regional da Oitava Região Fiscal, que compreende todo o Estado de São Paulo. Ao deixar a Delegacia de Santos fui substituído pelo ilustre colega e amigo Prof. Altivo Ferreira, que fora meu substituto eventual durante o tempo em que permaneci à frente daquela repartição. Homem culto e estudioso, administrou maravilhosamente a repartição. Posteriormente, foi convocado para trabalhar em Brasília, chefiando um departamento que se especializava no combate ao contrabando. Hoje, aposentado, mora em Santos, onde também moram seus dois filhos e seus netos. Sua esposa faleceu há alguns anos. Na Superintendência conquistei maravilhosos amigos entre os colegas, os quais muito me ajudaram na organização e administração daquela repartição. Como meu substituo eventual, designei o Luiz Antonio Lucena de Oliva, que eu tivera o prazer de conhecer em Santos. Tive, também, a sorte de designar o Geraldo Gama, meu amigo até a presente data, para assessor de relações públicas, e Chefe de Gabinete, funções que lhe assentaram como uma luva, facilitandome bastante nas relações com o público e com os funcionários. Posteriormente, consegui trazer o Gomes como Delegado da Receita Federal em São Paulo, o que me deu grande tranqüilidade nessa área, pois já tivera oportunidade de testar a competência e a honestidade desse maravilhoso servidor público. Na Divisão de Tributação, a dupla Ormezindo Ribeiro de Paiva e Alberto Tebechrani deixaram-me absolutamente à vontade, pois sua competência nunca foi contestada. Na Divisão de Fiscalização, brilhou o Antonio Carlos Rocha, o Rochinha, trazendo-me tranqüilidade nesse setor. Em minha Assessoria, os grandes colegas e que se tornaram meus amigos, Ippo Watanabe e Pigatti, ao lado do Amaury Maciel, do Júlio

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Okuda, do José Martins, do Adherbal, do Fratti, do Rogério Fagundes, que já fora meu colega na Revisora Nacional, do Moreira e de dezenas de outros, fizeram com que o fardo não me fosse insuportável. Fato interessante aconteceu em uma das substituições do Oliva, por ocasião de minhas férias, no cargo de Superintendente. A pedido de um amigo de infância, residente em Mogi Mirim, eu solicitara ao presidente do SESI a nomeação de uma filha desse amigo, dentista formada, para assumir o ambulatório dentário desse órgão em Mogi Guaçu, cidade vizinha a Mogi Mirim. Tendo sido procurado por esse meu amigo, nas minhas férias, perguntando sobre a nomeação da filha, que já havia sido solicitada por mim, o Oliva, o Superintendente Substituto, sempre solícito, oficiou ao presidente do SESI pedindo resposta a respeito do assunto de meu ofício anterior. Quando reassumi, de volta das férias, recebi um telefonema do amigo agradecendo-me pelo interesse na nomeação de sua filha, porém informava que o cargo já havia sido preenchido com a nomeação de uma pessoa, desconhecida na região, que ainda não havia tomado posse, de nome Luiz Antonio Lucena de Oliva. Imediatamente percebi o engano, comuniquei-me com o Presidente do SESI que, prontamente, corrigiu a situação, nomeando a filha de meu amigo. Houve muita gozação com o Oliva, pois os colegas o procuravam dizendo que não tinham conhecimento de que ele era formado na profissão de dentista. Na minha gestão na Superintendência, meus assessores programaram para mim algumas reuniões e palestras no interior do Estado. Permanece em minha lembrança a reunião, na Câmara Municipal de Araçatuba, bem como na Associação Comercial da cidade, onde proferi palestras sobre o imposto de renda. Reuniões parecidas foram feitas em Bauru, Ribeirão Preto, Campinas e na minha pequenina Itapira, a convite da Associação Comercial, na época presidida por um antigo amigo de minha família, parente de minha mãe. No lançamento do Programa do Imposto de Renda – PIR de 1972, concedi entrevista à imprensa, rádio e televisão, na própria sede da repartição. Dois fatos ocorreram em 1972. O primeiro, uma reunião dos Superintendentes Regionais de todo o Brasil, em Fortaleza, Ceará, com a presença do Secretário da Receita Federal, na época o colega Luiz Gonzaga Furtado. A reunião foi bastante interessante, quer do ponto de vista do funcionamento das repartições, quer da recreação e visitas na linda cidade de Fortaleza. O segundo fato, foi meu comparecimento à Feira de Artigos de Couro, no Rio Grande do Sul, como representante do Dr. Furtado, o Secretário da Receita Federal. Em 1975, após freqüentar o Curso de Direito Tributário do Instituto Brasileiro de Direito Tributário, Entidade Complementar à Universidade de São Paulo, foi-me outorgado, em 25 de outubro de 1975, o título de S Ó C I O desse Instituto. A 7 de abril de 1976 fui aposentado no Serviço Público Federal, como Auditor Fiscal do Tesouro Nacional, passando a trabalhar na Revisora Nacional, como irei relatar nos próximos capítulos. Na noite do mesmo dia de minha aposentadoria proferi palestra na reunião mensal do Instituto dos Auditores Internos do Brasil, sob o título de As demonstrações contábeis e os reflexos das recentes alterações na legislação fiscal e tributária, conforme declara certificado desse Instituto, datado de 7 de abril de 1976.

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A u d i t or i a l i v ros t é c n i c os

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Volta à atividade de auditoria. Elaboração de livros técnicos.

Publicações em revistas da área contábil. A sete de abril de 1976 fui aposentado, como noticiei no capítulo anterior. Meu irmão Hilário convidou-me a trabalhar na Revisora Nacional, Auditores Independentes, tradicional empresa de auditoria fundada em 1937 por Íris Miguel Rotundo e Horácio Berlinck, ambos já falecidos. Posteriormente, meu irmão Hilário, Luiz Fernando Mussolini e Emílio Bacchi, também já falecidos, passaram a compor a sociedade que, mais tarde, recebeu como sócio o Ernesto Marra, meu ex-sócio, na minha atual firma, e meu amigo até hoje. Como noticiei no capítulo quinze, eu trabalhara na Revisora Nacional, por um ano, em 1948. A Revisora Nacional associou-se com a Deloitte Haskins & Sells, hoje Deloitte Touche Tohmatsu, nesse mesmo ano de 1976, quando fui recebido em seus quadros na qualidade de sócio. Proferi inúmeras palestras, no período de 16 de agosto a 31 de dezembro de 1976, participando, como orientador, do Curso de Auditoria Externa, promovido pela CEPAEC – Centro Piloto de Aperfeiçoamento e Especialização “Senador João Lyra”, órgão do Sindicato dos Contabilistas de São Paulo. Em 1977 organizei livro, a que dei o nome de Prática do Imposto de Renda de Pessoa Jurídica, também editado pela Editora Atlas. Como nesse ano de 1977, a Revisora Nacional estava completando 40 anos de sua fundação, parte da edição deste livro foi distribuída aos clientes da empresa, gratuitamente, em comemoração à efeméride. Iniciei uma apostila, em agosto de 1976, que seria destinada ao curso do CEPAEC, do qual dou notícia acima. A partir dessa apostila, comecei propriamente a elaboração de meu livro Aspectos Fiscais do Balanço, terminado e lançado em fevereiro de 1978. Nessa obra procurei analisar como um balanço deveria ser levantado, de acordo com a Lei no 6.404, de 15 de dezembro de 1976, bem como qual seria o tratamento e o interesse da fiscalização do Imposto de Renda com referência a cada conta que constasse dos balanços das empresas.

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Duas edições logo se esgotaram e, apesar da insistência da Editora, não consegui tempo para atualizar este livro. Em 1977, compareci à uma reunião internacional de sócios da DELOITTE, realizada em Cartagena, na Colômbia, no Hotel Hilton. Fizemos, em momentos de folga, alguns passeios, inclusive visitando um forte abandonado, que também fora uma prisão. Era construído no mar, junto à costa. Internamente era impressionante, com corredores enormes e celas bastante desconfortáveis. Percorremos seu interior, durante várias horas, com um cicerone que nos punha a par dos fatos acontecidos no local, no século passado. Recentemente, esse forte apareceu em um filme, sendo palco de luta sangrenta entre os personagens do filme. Em 1978, em outra reunião internacional de sócios da DELOITTE, estivemos no México. Além da capital, onde ficamos apenas dois dias, as reuniões foram realizadas em hotel do interior, em cidade próxima de algumas pirâmides, que também visitamos. Em 1980, a reunião internacional dos sócios foi em Nova Iorque, tendo sido a mais insípida de todas. Pouca coisa foi possível ser visitada. Nessa ocasião adquiri um livro sobre Biorritmo, estudo que, segundo era citado na obra, tinha grande aplicação no Japão, onde, como é relatado, as empresas de ônibus e táxis urbanos calculavam o biorritmo de seu pessoal antes de elaborar a escala de trabalho referente a cada dia. Tentei, na época, estudar a técnica, por esse livro, como relatarei em outro capítulo, porém o meu inglês macarrônico não me ajudou. Passei a aguardar as traduções para o Português para satisfazer a minha curiosidade sobre o assunto. Em 26 de dezembro de 1977 foi sancionado o Decreto-Lei no 1.598, o qual procurou adaptar a legislação do Imposto de Renda à Lei no 6.404, de 1976, a qual legislou sobre as sociedades por ações (ou anônimas, na época). Sobre esse Decreto-Lei elaborei o livro Inovações no Imposto de Renda de Pessoa Jurídica, publicado pela Editora Atlas, também em 1978. Em 1979 veio a lume meu livro Imposto de Renda de Pessoa Jurídica, com apreciação da Lei no 6.404 (Lei das S/A) e de acordo com os DecretosLeis nos. 1.598, de 1977 e 1.648, de 18 de dezembro de 1978. A quarta edição do livro Imposto de Renda Pessoa Jurídica – Manual de preenchimento e auditoria da declaração de rendimentos, foi publicada em 1981 e apreciou o Regulamento do Imposto de Renda aprovado pelo Decreto no 85.450, de 4 de dezembro de 1980. Não posso deixar de citar meus colegas do Departamento de Impostos da REVISORA/DELOITTE, aos quais muito devo pelo apoio que me deram nos dez anos em que chefiei esse Departamento. O Dimas, o Tobias e o Paulo Evaristo foram meus principais esteios na solução dos vários problemas que os clientes das duas empresas nos apresentavam. Além deles, pude contar com a competência do Dr. Theodor Edgard Gehrmann, hoje meu sócio, do Mendonça, hoje brilhante advogado, do Nóbrega, do Romeiro, do Amâncio e de outros, que ainda considero meus amigos. Em maio de 1986 reformulei os livros anteriormente publicados tendo lançado novo, que intitulei Imposto de Renda de Pessoas Jurídicas – Para Auditores e Contadores. Esgotada a edição, em setembro do mesmo ano foi lançada uma segunda tiragem deste livro. A segunda edição da obra acima apareceu no início de 1987, sendo que, com o restabelecimento da

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correção monetária do balanço, pelo Decreto-Lei no 2.341, de 29 de junho de 1987, passou-se a distribuir o livro com uma separata tratando desse novo assunto. Em outubro de 1986, com 66 anos de idade, deixei a DELOITTE/REVISORA pois, tradicionalmente, a empresa aposenta os sócios que tenham atingido a idade de 65 anos, o que tinha acontecido no dia 5 de julho de 1985. Quero transmitir meus agradecimentos aos meus sócios, naquelas empresas, citando-os nominalmente, primeiramente os antigos sócios da Revisora, Hilário Franco, meu irmão, Luiz Fernando Mussolini, meu amigo e Emílio Bacchi, também meu grande amigo, todos falecidos. Em seguida, meus agradecimentos ao McManus, ao McDonnell, falecido, ao Bodoh, ao Lyndon Johnson, ao Serafim, ao Neto (Luiz Antonio Bortoluzzo Neto), ao Dimas, ao Barreto, ao Max Elias, ao Germain, ao Barry, ao Ariovaldo, ao Etvaldo, bem como aos sócios sediados em outros estados, dos quais não me lembro os nomes. Os gerentes da organização, com os quais tive bom relacionamento e desejo também deixar o meu agradecimento: Moacyr, falecido. Lippi, Hellmeister, Feitosa, Pena, Wladimir, Ézio Alcântara, Pacheco e outros, cujo nome não me recordo, pedindo escusas por esse meu esquecimento. O Alcides Hellmeister Filho foi, em 2006 e 2007, o Presidente da Deloitte. Após a saída da DELOITTE/REVISORA, instalei-me na rua Conselheiro Crispiniano, 69, Centro, associando-me aos amigos Ernesto Marra, que também fora da Revisora e fora aposentado quatro ou cinco anos antes de mim, e Theodor Edgard Gehrmann, procurador da Fazenda Nacional aposentado. Nosso escritório tinha uma área útil de 180m2. Constituímos em março de 1997, a FMG Assessoria Fiscal e Contábil, o “F” representando o Franco, o “M”, o Marra e o “G”, o Gehrmann. Tínhamos uma secretária e um office-boy. O espaço mostrou-se muito grande para as nossas necessidades. Três colegas que tinham seus escritórios na Avenida Rangel Pestana, tiveram o local assaltado, à noite, com roubo de computadores e outros equipamentos. Procuraram-nos e acertamos para que ocupassem nosso escritório, ficando para nós apenas 40% da área total, o que era o suficiente para nossa atividade. A partir de 1997, portanto, esses colegas têm o seu escritório juntamente com o nosso, executando escrituração contábil e fiscal para mais de 100 pequenas e médias empresas. Luiz R. Marciano e Luiz Antônio Caramano, os sócios da MCR Assessoria Contábil e Fiscal, empresa que eles constitíram, tornaram-se nossos amigos e confidentes. Nossa antiga secretária, Sra. Vânia Maria Estevam de Araújo Jardim, formou-se em Direito, não está mais conosco, porém nos ajuda quando há necessidade de seus serviços profissionais, que se tornaram valiosos para nós. Encerramos a FMG em 31 de dezembro de 2006. Costumávamos dizer que o nosso escritório era o mais “velho” da cidade. Ao sermos contestados, simplesmentes informávamos que os sócios tinham80, 86 e 93 anos, o que dava a idade total de 259 anos. Estamos hoje dividindo a área que nos restou com a empresa Franco Associados Auditores Independente, da qual sou sócio com meu filho Ademar Júnior. Temos nessa empresa, uma secretária, Sra, Aparecida Garcia da Silva Monteiro, que também presta serviços a mim e ao Dr. Theodor, que continua comigo, mesmo após o encerramento da FMG. Localizo ofício recebido de CRC-SP, datado de 29 de março de 1988, no qual nosso saudoso colega Altair Juliano, seu presidente na época, encaminha-me exemplares da edição nº 80, do Boletim do Conselho, onde fora publicado, nas páginas 5, 6 e 7, meu trabalho intitulado Demonstrações das Mutações do Patrimônio Líquido. Registro o fato mais para prestar uma homenagem ao grande amigo e colega que foi o Altair Juliano,

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lembrando seu trabalho em prol do Instituto de Oncologia, órgão onde até hoje seu nome é lembrado, com muito carinho e muita saudade. Do amigo e colega Ynel Alves de Camargo, datado de 5 de julho de 1990, localizo ofício em que é acusado o recebimento de estudo, por mim elaborado, a seu pedido, sobre Normas Brasileiras de Contabilidade, bem como seu agradecimento à colaboração recebida. O colega Ynel, na época era o Coordenador do Grupo de Trabalho que cuidava da atualização das Normas Brasileiras de Contabilidade. Meu trabalho foi bastante modesto, porém me orgulho de tê-lo elaborado e encaminhado ao estimado colega e amigo.

Sendo cumprimentado, na cerimônia de entrega do título de Contabilista Emerito, pelo Sr. Amicis Brandi Bertolotti, tendo ao centro o amigo Emílio Bacchi, ambos falecidos e ex-presidentes do Sindicato dos Cantabilistas de São Paulo.

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Tí t u l os

32 Títulos que me foram outorgados. No ano de 1978, o Sindicato dos Contabilistas de São Paulo houve por bem outorgar-me o título de Contabilista Emérito, homenagem que muito me honra. Na comemoração do 59º aniversário de fundação do Sindicato, a 19 de julho de 1978, em sessão solene, foi-me entregue esse título, com saudação do colega Luiz Bertasi Filho à minha pessoa. Foi uma linda festa, na qual minha esposa esteve presente; bastante emocionado, pronunciei algumas palavras de agradecimento pela honraria representada pelo título recebido. A Fundação Escola de Comércio “Álvares Penteado”, por deliberação de seu Conselho Curador, instituiu, em sua reunião de 8 de dezembro de 1993, a Ordem do Mérito Alvarista, conferindo, a 100 pessoas que tenham prestado serviços relevantes à Entidade e à Educação Nacional, a Medalha do Mérito Alvarista. Diploma, datado de 15 de dezembro de 1993, comprova a outorga da medalha a este escrevinhador. Em Ofício datado de 6 de novembro de 1996, o Conselho Regional de Contabilidade do Estado de São Paulo encaminhou-me o Diploma de Honra ao Mérito, Outorgado aos Contabilistas que atingiram os 70 anos de idade, como reconhecimento pelo muito que contribuíram para os bons caminhos da sociedade em geral, em especial da comunidade contábil. Muito me honrou tal outorga. Foi instituída, através da Resolução CRC SP nº 470/94, de 12 de dezembro de 1994, a ORDEM DO MÉRITO CONTÁBIL, destinada a agraciar Contabilistas que tenham se destacado no âmbito da profissão, bem como personalidades brasileiras ou estrangeiras na prestação de relevantes serviços à classe ou à ciência contábil. As medalhas que compreendem a Ordem do Mérito Contábil recebem o nome de altas personalidades brasileiras, ligadas à Ciência Contábil, como os seguintes:

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• FREDERICO HERMANN JÚNIOR • HORÁCIO BERLINCK • FRANCISCO D’AURIA • PEDRO PEDRESCHI • ERNANI CALBUCCI • JOAQUIM MONTEIRO DE CARVALHO e, também, meu saudoso irmão, HILÁRIO FRANCO.

Em Ofício datado de 26 de novembro de 2002, o Presidente do Conselho Regional de Contabilidade do Estado de São Paulo, o colega Pedro Ernesto Fabri, comunica-me a indicação de meu nome para receber a Medalha PEDRO PEDRESCHI, da Ordem do Mérito Contábil, em solenidade para a Comemoração dos 56 anos de instalação do CRC SP, que seria realizada no dia 16 de dezembro de 2002. A Medalha PEDRO PEDRESCHI é destinada àquele que se distinguir e tenha obtido projeção na militância da profissão contábil, por mais de dez anos, ou liderança da classe, inclusive no setor público ou sindical na área da Contabilidade, Administração Financeira e Gerencial ou Contabilidade Pública. Na solenidade da entrega das medalhas aos agraciados, em número de sete, fui designado para agradecer ao Conselho Diretor do CRC SP, em nome de todos os contemplados. Ao pronunciar o agradecimento, este humilde e acanhado ex-servidor público, teve sua noite de maior nervosismo, porém de muita alegria e felicidade, pois estavam presentes na cerimônia, além dos agraciados, autoridades, colegas e amigos, minha esposa, Marina, meus filhos José Édison e Elizabeth, bem como minha nora Cecília e, também, minha neta querida, Ana Carolina, filha do casal José Édison/Cecília.

Minha neta, Ana Carolina, designer, especialista em editoração de revistas e livros, a quem devo a editoração destas LEMBRANÇAS.

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IAIB

33 Instituto dos Auditores Independentes do Brasil – IAIB Fiz parte da Diretoria do IAIB, posteriormente denominado IBRACON – Instituto Brasileiro de Contadores, na 5a Regional, São Paulo. A Comissão de Normas Técnicas, da 5a Regional, nos anos de 1981 e 1982 foi, talvez, aquela em que seus dezoito membros melhor se entrosaram no período. Pertenceram a essa Comissão, nesses anos, além deste repórter, os seguintes colegas: • Bruno Pedro Andreucci • Édison Rodrigues • Ernesto Marra • Hilário Franco • José Ismar da Fonseca • Luiz Carlos Vaini • Luiz da Costa Boucinhas • Manoel Orlando de Moraes Pinho • Paulo Adolpho Santi • Plínio Biscalchin • Roberto Dreyfuss • Ruy Dell’Avanzi • Sérgio Approbato Machado • Taiki Hirashima • Thomas Gilbert S. Sumner • Vinício Martins Presti • Wilson Grejo Em anos posteriores, a Comissão recebeu outros maravilhosos colegas, citados a seguir em ordem alfabética, a saber: • Antoninho Marmo Trevisan • Arthur Magalhães Andrade • Barry John Westmore • Charles Barnsley Holland • Eliseu Martins

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• Ernesto Rubens Gelbcke • Geraldo Ferreira da Ponte • Gioseppe Nazareno Maiolino • Guy de Almeida Andrade • José Antonio Bortoluzzo Neto • José Rubens Alonso • Paulo Giuliano • Rubens Coltro, entre outros. Foram anos em que tivemos muito trabalho, porém muito coleguismo e participação, aqueles anos em que militamos no Instituto dos Auditores Independentes do Brasil, que posteriormente teve seu nome alterado para IBRACON - Instituto dos Contadores do Brasil, e, atualmente, tem novamente o nome de Instituto dos Auditores Independentes do Brasil, permanecendo, porém, a sigla IBRACON. Não se pode falar do IBRACON sem lembrar de seu Secretário Executivo nos últimos trinta anos: PAULO ELY. Ao Paulo, que dedicou toda a sua vida ao IBRACON, apresentamos as nossas homenagens sinceras e saudosas.

Vaini, Eu, Luiz Hermann, diretor da Editora Atlas, falecido, outro colega e o Charles Holland .

Vinícios, Charles, Eu e outro colega..

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C a s a m e n t os e n a s c i m e n t os

34 Casamento dos filhos e nascimento dos netos. Elizabeth, a Beth, minha primogênita, casou-se em 27 de janeiro de 1962, com 17 anos e alguns meses, em Mogi Mirim, na casa de minhas cunhadas Jandira e Dulce. Seu marido, Osmar d’Azevedo Cruz, que conhecemos em Joinville, é o pai de todos os seus filhos. Após o casamento, Elizabeth adotou o nome de Elizabeth Franco d’Azevedo Cruz, que conserva até hoje, mesmo após o seu divorcio, ocorrido há alguns anos. O casamento da Elizabeth foi considerado a festa do ano. Minhas cunhadas, Jandira e Dulce, não mediram esforços para que tudo fosse perfeito no almoço servido aos convidados. Nossos amigos de Araraquara compareceram, o que muito nos alegrou. Lembro-me do Bento e do Vicente Michetti e de suas famílias, bem como do Waldemar Zanella e Dona Edith. Os amigos de Mogi Mirim, alguns de quem já não me lembrava, compareceram. Os parentes, das famílias Silveira e Barros, residentes em Mogi Mirim e região, estavam todos a postos. Meus irmãos e suas famílias viajaram para Mogi Mirim para prestigiar a cerimônia e participar da festança. Meus pais também compareceram e estavam bastante comovidos com o casamento de sua primeira neta. Minha esposa, Marina, estava muito emocionada, porém agüentou firme, sem muitas lágrimas. Nosso primeiro neto, Cláudio Roberto Franco d’Azevedo Cruz, nasceu a 7 de novembro de 1962, em Araraquara. Em seguida, em 1964, o Fábio Franco d’Azevedo Cruz, depois a Flávia, em 1965 e o Osmar, de apelido Cuca, com o mesmo nome do pai, em 1967. Em 1981 chegou o Carlos Roberto, o Carlinhos, o caçula, hoje o companheiro inseparável da mãe. O José Édison, nosso terceiro filho, casou-se com Cecília Zamith Calazans, cujos pais, Maria Lígia e Prof. Luiz Gonzaga Calazans, falecido, tornaram-se nossos amigos queridos. Formado engenheiro de produção, pela Escola Politécnica, da USP, o José Édison estagiou na Metalurgia La Fonte e trabalhou na Fundação Carlos Alberto Vanzolini, que o encaminhou para um curso de pós-graduação na Lembranças

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Universidade Stanford, no Estado da Califórnia, EEUU. O casal Édison/Cecília morou em Palo Alto e Menlo Park, pequenas cidades próximas da Universidade. Enquanto morou na Califórnia, o Édison desenvolveu trabalhos de pesquisas, em inglês, os quais foram editados, pela Universidade. Ana Carolina Calazans Franco, nossa linda neta, filha do Édison e da Cecília, nasceu no Brasil, após a volta dos pais dos EEUU. Formou-se designer, na FAAP, sendo uma excelente profissional em sua especialidade: a editoração gráfica. Carolina fez vários cursos de pós-graduação, no exterior, na Espanha, França e Itália. A segunda filha do casal nasceu quando eles moravam em Brasília, Juliana teve vida curta, falecendo com menos de dois anos de idade. Até hoje nos lembramos da Juliana com muita saudade, pois foi um amor de criança. Em Brasília o Édison trabalhava na CNEC – Consórcio Nacional de Engenheiros Consultores, do Grupo Camargo Corrêa, no qual trabalha há mais de 30 anos. Foi Diretor-Geral da Camargo Corrêa S/A, holding do Grupo. Hoje exerce a Presidência do Conselho de Administração de algumas empresas do grupo. Em 1998, a empresa o enviou para um curso na Universidade de Harvard. O Édison gosta de praticar corrida. Corre, diariamente, cerca de 10 quilômetros. Participou de várias corridas tendo mais de 90 medalhas de participação nesses eventos. Participou de várias Corridas de São Silvestre, e de três maratonas. A segunda, em Chicago, Illinois, EEUU, no dia 12 de outubro de 2004, da qual participaram cerca de 40.000 corredores. A terceira, a de Paris, em 2007. Em março de 2008 pretende correr a maratona de Barcelona, prova que lhe dará a centésima medalha de participação. O Ademar Franco Júnior, nosso caçula, casou-se em Santos, com Renata Maria Oliva Gaspar, filha de nossos amigos queridos, Dona Sisi (Osita) e Dr. Amílcar, já falecido e de quem já fiz citações anteriormente. O Júnior formou-se Bacharel em Ciências Contábeis, tendo hoje uma empresa de auditoria, a Franco Associados Auditores Independentes, da qual também faço parte. Em 2007 fez cursos de prósgraduação e de MBA na USP. A Renata, sua esposa, formou-se em Psicologia, sendo hoje uma excelente profissional, sempre interessada em novos estudos, que beneficiam seu progresso na profissão que tão amorosamente abraçou. Antes mesmo de se formar, meu filho Ademar Júnior ingressava na REVISORA/DELOITTE como trainee em Auditoria. Trabalhava há menos de um ano quando me procurou, no escritório, anunciando que desejava sair da empresa. Solicitou-me, se possível, consultar algum colega de outra empresa de auditoria que estivesse selecionando trainee. Desejei saber o motivo da decisão, tendo o Júnior contado que os demais colegas o aborreciam, pois, quando se esforçava no trabalho eles lhe diziam que não precisava se esforçar, pois o tio era o dono da empresa, o pai o chefe de Impostos e o avô o encarregado da Administração. No princípio, contou-me ele, não se importou com a brincadeira, porém, com a continuidade ele se aborrecera e resolvera deixar a empresa. Eu sempre tive amizade com os colegas da Price, o resolvi ligar para um deles, o Zornic, e comentei o fato. O Zornic pediu-me que meu filho aguardasse um pouco, pois a Peat, estava se desligando da Price e iria necessitar de inúmeros profissionais, de todas as categorias. Alguns dias depois, a Peat o chamou para uma entrevista, onde foi contratado e lá trabalhou durante alguns anos. O Júnior mora em um condomínio fechado, no quilômetro 26,5 da Raposo Tavares, onde continua praticando esportes, inclusive o tênis, agora tendo como parceiro seu filho, meu neto Ademar Franco Neto.

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A Elizabeth fez um curso de Instrumentadora Cirúrgica e exerce a profissão, há quinze anos, em uma clínica de cirurgia plástica, na rua Curitiba, no Ibirapuera. É muito estimada e conceituada, pois sua dedicação ao trabalho a fez granjear a amizade de todos. O Júnior e a Renata têm três filhos: a Fabiana, formada em Psicologia, tendo cursado pós-graduação em Barcelona, na Espanha, onde mora atualmente, tendo se casado com um colega de turma, Francesc Falcó Faydella, espanhol, industrial, vivendo alegremente naquela bela cidade; Ademar Neto, concluiu o curso de marketing, na Faculdade Trevisan, e a caçula, temporã, pois nasceu quando o irmão já tinha doze anos, a Maria Fernanda, hoje já uma mocinha, com catorze anos de idade, completados no mês de junho de 2007, estuda na Faculdade Rio Branco, na Granja Viana. Quanto aos filhos de meus filhos, meus netos e seus filhos, meus bisnetos, falarei em próximos capítulos.

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1 1) Elizabeth com seus cinco filhos: em pé, Fábio, Flávia, Elizabeth, Cláudio e Carlos; ajoelhado, Osmar (Cuca); 2) Édison, Cecília e Ana Carolina; 3) Júnior, Renata, Fabiana, Ademar Neto e Maria Fernanda.

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B i s n e t os

35 Nascimento de meus bisnetos. Dizem que neto é filho com açúcar. O que será, então, o bisneto? Tenho cinco netos casados, quatro filhos de minha filha Elizabeth, a mais velha. E uma filha, do meu filho caçula. A Kamila é a nossa bisneta mais velha. Nasceu a 6 de janeiro de 1992. Está com dezesseis anos. É filha de meu neto Osmar, o Cuca, e da Karen. Nas férias escolares do ano de 2004, os meus netos, filhos da Elizabeth, e seus filhos, netos da Elizabeth e meus bisnetos, ficaram em Ilhabela, onde a Elizabeth tem casa. Elizabeth contou-nos que a Kamila, sua irmã Rafaela, e os primos, todos seus netos, montaram uma pequena peça de teatro, escrita, dirigida e também interpretada pela Kamila. A Rafaela, segundo nos contou a Elizabeth, estava ótima, interpretando uma das filhas fugitivas da personagem interpretada pela Kamila. A Kamila tem muito jeito para a interpretação, assim como os outros netos da Beth, todos meus bisnetos. A peça era intitulada As Fugitivas. O segundo bisneto, o Victor, nascido a 6 de agosto de 1993, é filho de meu neto Cláudio Roberto, primogênito da Elizabeth, sendo sua esposa a Maria Paula. É muito parecido com pessoas de minha família, inclusive pelos olhos rasgados, tipo oriental. É meigo e muito inteligente. Isabela é a terceira bisneta, seus pais, minha neta Flávia e seu esposo Renato Carvalho Franco, formam um casal que se esmeram na educação de suas filhas, que já falam e escrevem bem em inglês. Isabela nasceu a 22 de abril de 1995. Nascida a 30 de junho de 1995, minha quarta bisneta, irmã do Victor, é a Lorena, adorável garotinha que também tem os olhos puxados, tipo oriental. Em 22 de maio de 1996 nasceu o Yago, loirinho, bastante vivo, muito amoroso, é filho de meu neto Fábio e de sua primeira mulher, a Simone, também mãe de Ayla, nascida a 16 de janeiro de

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Meus bisnetos: Lorena e Victor (foto 1), Julia (2), Isabela (3), Rafaela (4), Kamilla (5), Aila, Gabriel e Yago (6).

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1999, que foi a bisneta caçula até fevereiro de 2004, quando chegou o Gabriel, terceiro filho do Fábio. A bonequinha Rafaela, nasceu a 1º de outubro de 1997, sendo a segunda filha do casal Osmar/Karen. Bastante esperta, foi muito importante, segundo contou sua avó, na peça escrita pela irmã, Kamila. A moreninha Júlia, a Julinha, nasceu a 15 de junho de 1998. Irmã de Isabela, é a segunda filha de Flávia e Renato. Julinha é muita querida e estimada pelos pais, avós e bisavós. Também já está entendendo o inglês. Finalmente, meu nono bisneto, o Gabriel, nasceu a 15 de fevereiro de 2004, filho de meu neto Fábio e de sua nova esposa, a bela Karina. Minha neta caçula, a Maria Fernanda, é mais jovem do que a bisneta mais velha, a Kamilla. Fernanda nasceu em 1993, a Kamilla em 1992. Por essa circunstância, a Fernanda é, para nós, uma mistura de neto com bisneto. Eu e Marina a amamos muito e, temos a certeza, ela também muito nos ama. Diariamente a Fernanda nos liga e, quando não o faz, os velhos avós se entristecem achando que ela não os ama mais. Porém, quando volta a ligar, encantamo-nos com ela e não mais pensamos bobagens. Quando a Fernanda vem à nossa casa, gosta de brincar com os avós, que voltam a ser crianças para acompanhá-la. É muito esperta e muito inteligente; muitas vezes nos põe no chinelo no jogo de dominó, no mico preto ou no jogo de paciência. Sua memória, no jogo de paciência, é fotográfica e, como sua concentração é muito grande, somos derrotados vergonhosamente.

Meu Aniversário de 85 anos e Elizabeth com as netas: Isabela, Lorena e Júlia

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miSticiSmO

36 Misticismo? Místico? Misticismo (mysticismo), s.m. Estudo das coisas divinas ou espirituais; (por ext.) fanático por uma doutrina (V. Carisma). Abreviaturas usadas: s.m. – substantivo masculino; por ext. – por extenso; V. veja. É o que consta do Pequeno Dicionário Brasileiro da Língua Portuguesa – Ilustrado, 12a Edição, 1977, supervisionado por Aurélio Buarque de Holanda, RRP Editorial Ltda., direitos reservados por Editora Civilização Brasileira S. A. Quanto ao vocábulo Místico, o dicionário acima registra três verbetes, com interpretações diferentes: Místico1 (mystico), adj. Espiritualmente alegórico; de sentido oculto, esotérico; que trata da vida espiritual; (V. Testamento); s.m. o que procura pela contemplação espiritual atingir o estado estático de união com a divindade. Místico2 (mystico), adj. (p. us.) Misto; anexo; que faz parte de uma miscelânea. Abreviatura usada: (p. us.) pouco usado. Místico3 (mystico), adj. (gir.) Muito bom; perfeito; guapo. Abreviatura usada: (gir.) gíria. Quanto ao V., indica Veja outro verbete que se relaciona com o verbete examinado. Em Misticismo é indicado o verbete Carisma. Para esse verbete, no já referido dicionário, encontramos: Carisma (charisma), s.m. Dom da graça divina; fanatismo de reformadores sociais que se crêem iluminados pela graça divina; (Med.) epilepsia; (Etmol.) Conjunto de qualidades excepcionais inerentes a um certo tipo de líder ao qual, em virtude da influência extraordinária que dele emana, se atribui origem sobre-humana ou divina. Abreviaturas usadas: (Med.) – Medicina. (Etmol.) – Etmologia. No verbete Místico1 é indicado ver o verbete Testamento. Nesse verbete, entre outros, temos Testamento místico: (V. Testamento secreto); testamento nuncupativo (jur.): testamento oral, feito de viva voz, proibido pelo atual direito brasileiro, a não ser no caso dos militares e pessoas a serviço do país em guerra, durante as operações de campanha,

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ou quando feridas; Abreviatura usada: (jur.) – jurídico. Após a transcrição de toda essa parafernália, será que meu relato, a seguir, tem alguma coisa a ver com misticismo ou místico? Só se for com o verbete Místico2, que significa misto, anexo, que faz parte de uma miscelânea. O melhor seria, provavelmente, chamar de hobby, traduzido por passatempo favorito. Acontece que não tenho apenas um passatempo favorito, porém vários, estando mais de acordo se chamássemos de miscelânea de passatempos. Pretendo relacionar alguns dos meus passatempos e, em seguida, discorrer sobre alguns deles. Principalmente sobre aqueles que já me tenham trazido conhecimentos extras e que ainda utilizo nos meus poucos momentos de distração. Falei, em um dos capítulos anteriores, de haver trazido do exterior, uma obra sobre Biorritmo. Tratase do livro intitulado Biorhythm Compatibility, de autoria de Mort Gale. Como informei naquele capítulo, meu inglês macarrônico não me permitiu progredir no estudo desse sistema. Em 1978 adquiri, em tradução para o Português, uma pequena obra, de autoria de George S. Thommen, intitulada Será hoje o seu dia? – Como o biorritmo lhe possibilita determinar seus ciclos de vida. Na bibliografia relacionada nesse livro, encontram-se estudos sobre o assunto publicados desde 1850, talvez o mais antigo, até trabalhos publicados no ano de 1972, pois a edição foi autorizada pelo autor em 1973 e publicada no Brasil em 1976. O assunto cativou-me, porém, só comecei a organizar, de forma prática, as tabelas, quando adquiri um programa de computador que, com a informação da data completa do nascimento da pessoa e a indicação do mês para o qual se desejavam as tabelas, elas eram impressas. Além desse programa, importei da Itália uma régua especial para desenvolver tabelas de biorritmo. Comecei a registrar a data de nascimento de pessoas conhecidas, especialmente de esportistas, levantando as tabelas referentes ao mês corrente e aos próximos meses. Para que se entenda melhor o assunto, cito alguns trechos do livro, Será hoje o seu dia?, onde se lê que o Dr. Hermann Sowoboda, um austríaco que viveu em Viena, nascido em 1873 e falecido em 1963, psicólogo, teria publicado três livros onde foram explorados, pela primeira vez, os períodos rítmicos de 23 e 28 dias, tendo apresentado, também, nessas obras, documentos com centenas de exemplos. Ainda é informado que o Dr. Sowoboda projetou uma régua de cálculo para determinar os dias críticos dentro dos ritmos de 23 e 28 dias. NOTA: A régua que importei calcula os ritmos de 23, 28 e 33 dias. Citação interessante, nesse livro, é a seguinte: Já Hipócrates, considerado há 2.400 anos atrás como o papa da medicina, costumava aconselhar seus alunos e colegas a que observassem a interferência dos dias positivos e negativos em relação à saúde e à doença, levando em consideração essas oscilações no tratamento dos pacientes. Além dos ritmos de 23 e 28 dias, posteriormente se encontrou o ritmo de 33 dias. Foi observado que o ritmo de 23 dias tem influência na parte física do indivíduo, o de 28 na parte emocional e o de 33, na parte intelectual. O autor informa que, em suas pesquisas, descobriu que o ritmo intelectual de 33 dias tem uma insignificante, pequena contribuição, nas falhas humanas, acidentes e mortes. A teoria do biorrítimo, ritmos da vida, prevê que as pessoas, em seu nascimento, iniciam três ritmos que irão comandar toda a sua existência: o ritmo físico, com duração de 23 dias tem, em seus primeiros 11 dias, uma fase positiva e, a seguir, uma fase negativa até o 23º dia. Os momentos que se deve ter muito cuidado, no caso do ciclo físico, corresponderiam à passagem do 11º para o 12º dia do ciclo e do

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23º para o 1º dia de início do ciclo seguinte. Para o ciclo emocional, de 28 dias, os momentos de cuidado seriam: a passagem de 14º para o 15º dia, e do 28º para o 1o dia de início do ciclo seguinte. No ciclo intelectual, a passagem do 16º para o 17º dia, e do 33º para o 1º dia de início do ciclo seguinte. No estudo do Biorritmo cataloguei as datas de nascimento dos pilotos da Fórmula 1 e da INDI, bem como de jogadores de tênis, de futebol e de outros esportes. Na véspera dos eventos esportivos costumava fazer o biorritmo dos participantes, até que a morte de Ayrthon Senna, que fora indicada em gráfico que eu fizera e mostrara a meus familiares, entristeceu-me e me fez abandonar tais estudos. Ainda hoje, porém, creio que o biorritmo é muito importante e deveria ser aplicado, quanto a todos os esportistas, na véspera, ou nos dias que antecederem as competições importantes. Creio, firmemente, que a mudança de comportamento de um esportista está relacionada com o seu biorritmo, o qual aponta, com bastante precisão, os dias em que haverá necessidade de agir com muito cuidado em qualquer atividade a que a pessoa for se dedicar.

Programa de computador para montar tabelas de bioritmo. O gráfico não mostra o ciclo de 33 dias, o qual foi identificado por último.

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P a ss a t e m p os

37 Ainda meus passatempos. Desde o ano de 1972 compro o Almanaque do Pensamento, possuindo todos os exemplares desses anos, os quais consulto com alguma regularidade. Nesse almanaque tenho estudado a influência da Lua em vários campos, como a seguir esclareço.

I – Saúde para os cabelos. Acompanho, há muito tempo, a tabela do Ciclo das Lunações ou Lua Nova, através da qual programo meus cortes de cabelo, mensalmente, bem como o de alguns familiares que me solicitam a feitura da tabela que devem seguir, durante o ano, nos seus cortes de cabelo. Apesar dos meus 87 anos, ainda tenho cabelos, fato que credito à programação para os cortes mensais, em obediência às fases da Lua. Bastante simples é organizar tais tabelas, bastando estabelecer-se a idade da Lua Nova na data do nascimento da pessoa. A tabela do Ciclo das Lunações, no meu caso, estabelece que em julho de 1920, mês e ano de meu nascimento, a Lua Nova surgiu no dia 16, ou seja, 11 dias depois de meu nascimento. Esse número deverá ser subtraído de um número padrão, o 15, resultando o número 4, que é o meu número-chave para os cortes de cabelo. Ao dia da Lua Nova, em cada mês, será adicionado o número 4 (número-chave), resultando o dia em que deverá acontecer o corte do cabelo. No mês de fevereiro de 2004, por exemplo, a Lua Nova aconteceu no dia 20, com isso, o dia correto para meu corte de cabelo seria do dia 24 de fevereiro. O cálculo acima é utilizado nos casos em que a Lua Nova surgiu após o nascimento da pessoa. Se a Lua Nova surgiu antes do nascimento da pessoa, o cálculo é explicado a seguir. No caso de nascimento em 19 de janeiro de 1978, que foi a data do nascimento de minha neta Ana Carolina, verifica-se que, em janeiro de 1978, a Lua Nova surgiu no dia 9, tendo, portanto, adiantado 10 dias ao seu nascimento. Nesse caso, esse número 10 deverá ser adicionado ao número padrão, 15, resultando o número 25, que

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corresponde ao número-chave para se estabelecer os dias do corte de cabelo de minha neta. Toma-se, no caso, o dia da Lua Nova no mês anterior, janeiro, que foi no 21. A soma do número 21 (dia da lua), com o número-chave, 25, resultará o número 46 que, deduzido de 31 (último dia do mês de janeiro) apontará o dia 15 de fevereiro para o seu corte. Esclarecendo melhor, quando a Lua Nova aparece depois do nascimento, o número excedente é deduzido do número 15 para se apurar o número-chave. No caso da Lua Nova haver surgido antes do nascimento, ou seja, ter adiantado ao nascimento, o número de dias é somado ao número 15 para se apurar o número-chave. Encontrado o número-chave, a organização da tabela consistirá em adicionar esse número ao dia em que surge a Lua Nova, apontando o dia do corte. O número 15 é utilizado por ser a metade de 30 que, com bastante aproximação, seria o número dos dias decorridos para que a fase da lua se repita.

II – Influência da Lua Sobre a Geração Humana. Sempre utilizei os cálculos, a seguir demonstrados, para estabelecer o sexo dos bebês em gestação. De acordo com estudos que, segundo contam, existem há mais de 3.000 anos, e reproduzidos no Almanaque do Pensamento, pode-se saber o sexo do primeiro filho de uma mulher examinando-se a data de seu nascimento. De acordo com o Almanaque, a influência da Lua Nova sobre a geração humana será determinada como a seguir: a) Se a Lua Nova apareceu antes de transcorridos nove dias após o nascimento da mãe, o primeiro filho será do sexo feminino; b) Se a Lua Nova apareceu depois de passados nove dias a contar do nascimento da mãe, a criança será do sexo masculino. Para se saber o sexo dos próximos filhos, deve-se examinar a data de nascimento do filho anterior, sendo necessário contar também os abortos, quanto à data em que ocorreram: a) Se a Lua Nova surgiu a menos de nove dias após o nascimento do último filho (ou do último aborto), o bebê terá sexo diferente desse irmão; b) Se a Lua Nova apareceu mais de nove dias após o nascimento do último filho (ou do último aborto), o bebê será do mesmo sexo que o irmão precedente. Após constatar que as pílulas anticoncepcionais interferiam no cálculo, não mais utilizei o sistema ou, então, quando me pedem para efetuar os cálculos pergunto se a grávida usou, em alguma época, as pílulas anticoncepcionais. Em caso afirmativo, recuso-me fazer os cálculos.

III – I-Ching – O Livro das Mutações. Outro de meus passatempos favoritos é o estudo do I-Ching. Possuo uma dúzia de diferentes livros sobre o assunto que, quando tenho tempo, procuro ler e estudar com muita sofreguidão. O I-Ching é usado como um oráculo, sendo criticável o seu uso em brincadeiras familiares, como é alertado nas várias obras consultadas. No prefácio da edição brasileira do livro de Richard Wilhelm que, na edição original tivera o prefácio de C. G. Jung, Gustavo Alberto Correa Pinto declara: O oráculo possui uma completa autonomia, não está a nosso serviço nem se submete a nossos caprichos e desejos.

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Mais adiante, no mesmo prefácio, encontramos: O oráculo não é uma máquina de informações, mas um ser vivo, que encerra a suprema sabedoria e compaixão. Aproximarmo-nos dele requer humildade, sinceridade e ardor. Só sabiamente caminhando se pode chegar à sabedoria. Ela é seu próprio requisito. É a sabedoria que nos conduz à sabedoria. Realizá-la é possível, tão somente, porque já a possuímos, desde todo o sempre, em nós mesmos. É compreensível, portanto, que eu não mais tenha concordado em consultar o oráculo para assuntos que não me digam respeito, ou seja, por solicitação de meus familiares ou de estranhos.

IV – O Tarô. Aprecio, também, o TARÔ, possuindo meia dúzia de livros a respeito, inclusive um em inglês, The World of Tarot que, como já afirmei, tenho enorme dificuldade em ler e estudar, porém de vez em quando tenho tentado. Os demais, traduzidos, sempre que me sobra tempo, venho consultando-os e estudando-os.

V – Outros Passatempos. Gosto de Numerologia, Pirâmides, Astrologia, Quiromancia, Pedras Preciosas e Semi-preciosas gosto de ler trabalho sobre Reencarnação e sobre Regressão a Vidas Passadas. Tenho vários livros que tratam desses assuntos. São bem variados os assuntos que formam o meu passatempo, pena é que não há muito tempo disponível para ser dissipado nesses tão cativantes temas.

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S a n a t ór i o

38 Como surgiu o Sanatório Américo Bairral. O Sanatório Américo Bairral é, hoje, talvez o maior hospital psiquiátrico da América do Sul. Há algum tempo comecei a pesquisar no sentido de encontrar algum folheto que pudesse me mostrar como se iniciou aquela instituição que é o maior orgulho de Itapira. Após algum tempo, como relatei no capítulo um, que relaciona as efemérides da cidade, recebi uma cópia xerografada do livro, de autoria de César Bianchi, intitulado “A Historia do Sanatório Américo Bairral – Uma contribuição para a História da Psiquiatria”. Tratase de uma edição comemorativa do Centenário do Nascimento de Américo Bairral, ocorrido em 1º de novembro de 1984, editado pelo “Lar da Família Espírita”, entidade espírita de fins filantrópicos. Deixo aqui meus agradecimentos à Sra. D. Lúcia Aparecida Silvestre Ortolan, irmã de meu amigo Roberto Silvestre, que conseguiu e me forneceu cópia do livro acima citado, com isso tornando possível o pequeno relato desenvolvido neste capítulo. Em minha opinião, como já adiantei anteriormente, o “Centro Espírita Luís Gonzaga”, fundado em 17 de setembro de 1914, teria sido a semente para a maravilhosa obra que é o “Sanatório Américo Bairral”, cuja direção doutrinária sempre esteve a cargo de Américo Firmino Machado, filho de João Bairral, assassinado quando Américo era criança, tendo a família substituído o sobrenome do pai. Américo, segundo relata o livro, desejava retificar seu nome, aguardando uma oportunidade para conseguir esse intento. Foi seminarista e sua família desejava fosse ordenado padre. Durante muito anos, até o final de sua existência terrena, exerceu o cargo de escrivão da Coletoria Federal de Itapira. Faleceu com 46 anos de idade, de pertinaz moléstia, a 16 de outubro de 1931. Estudante da Bíblia, passou a estudar o “Magnetismo”, praticando-o também. Voltou-se para o “Espiritismo” tendo formado um grupo que foi o responsável pelo surgimento do “Centro Espírita Luís Gonzaga”, a 17 de setembro de 1914. A atividade que mais

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apreciava era educar a criança, dando aulas de moral cristã aos domingos aos pequerruchos. Preocupava-se sobremaneira com os doentes mentais, mantendo a firme idéia de instalar um hospital para tratamento desses enfermos, bem como a assistência aos necessitados. Com um grupo de companheiros identificados com a necessidade dessa assistência, fundou-se a “Caixa de Assistência aos Necessitados”, que deveria angariar fundos para essa finalidade. Na vila Isaura, que estava sendo loteada, foi dado início ao hospital, levantando-se o primeiro pavilhão do “Asilo Luís Gonzaga”, atualmente “Casa de Repouso Alan Kardec”. Américo já estava muito enfermo e veio a falecer a 16 de outubro de 1931. O autor do livro que estou consultando, César Bianchi, conta que foi companheiro de trabalho de Américo desde 1924, sendo que ouvia dele que se não conseguisse legalizar seu nome na vida terrena, o faria na vida espiritual, pois se identificaria sempre com o nome de Américo Bairral, advertindo que toda mensagem mediúnica assinada com o nome de Américo Firmino Machado não seria sua. Em 1936, em sua primeira mensagem recebida pela senhora Dalila, esposa do autor, que tivera a faculdade psicográfica desenvolvida sob a influência de Américo, iniciava-se: “Eu disse que se não conseguisse assinar o meu legítimo nome em vida terrena, o faria em vida espiritual; meu nome é Américo Bairral”. Como preito de gratidão, diz o autor do livro, e em homenagem pelo muito que Américo fez em prol dos necessitados e por ter sido o idealizador de um hospital para enfermos mentais em Itapira, a instituição fundada pelo casal Onofre e Gracinda Batista, na vila Pereira, em 1936, foi denominada “Fundação Espírita Américo Bairral”. A 10 de maio de 1938, o casal Batista convocou pessoas de boa vontade, ocasião em que foi eleita uma diretoria provisória assim composta: Presidente e Vice-Presidente, Dr. Hortênsio Pereira da Silva e Dr. Aquiles Galdi; para diretora e vice-diretora, Sra. Gracinda Batista e Dalila Batista Bianchi; para secretário, Sebastião Aristeu Ferreira; para tesoureiro, José Primo Avancini; para diretor encarregado da organização do quadro social e elaboração dos estatutos, César Bianchi. No relato sobre uma enferma que não poderia ficar internada, pois também sofria de tuberculose crônica, encontramos os nomes de dois amigos de infância, ambos formados médicos psiquiatras, um diretor clínico do Sanatório, outro trabalhando em Franco da Rocha, que são os médicos Dr. Hélio Sebastião A. Camargo e Dr. José Mário A. Camargo. O Dr. Hélio, como informa o livro, deixou o hospital a que dera enorme prestígio, tendo instalado, também em Itapira, a Clínica de Repouso Santa Fé que é um hospital que serve de padrão aos hospitais congêneres. Bastante feliz fiquei com a homenagem prestada, no livro, ao José Primo Avancini, amigo querido de meu pai, que tinha dois anos a mais de idade do que o amigo, porém foram companheiros, inclusive na prestação do serviço militar. O Primo Avancini, nasceu a 7 de novembro de 1898 e faleceu, com 75 anos, em 29 de junho de 1973. O livro dá notícia, também, da criação do Serviço de Obras Sociais – S.O.S., que dois anos depois foi a inspiração para a criação, em Araraquara, de instituição com o mesmo nome e com o mesmo objetivo. O nome do Dr. José Carlos de Camargo Ferraz, ex-Promotor Público da comarca, me foi lembrado com carinho, pois esse amigo foi quem pronunciou, no Rotary Clube de Araraquara, a meu convite, a palestra que foi a semente da instalação do S.O.S. em Araraquara, como conto em outro capítulo. Nas páginas 120 e 121, encontro fotografias de grupos de diretores, alguns meus conhecidos, como a

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Dra. Vilma Amâncio de Camargo, clínica-psiquiatra, irmã dos doutores Hélio e José Mário, meus amigos de infância. Bem reconheço, entre outros, meu tio César Vieira, 1º Tesoureiro, já falecido, que foi casado com a irmã de meu pai, a Tia Vidica, Eduardina Franco Vieira, também falecida.

As fotos reproduzidas são: abaixo: do antigo prédio do “Asilo Luiz Gonzaga” e, provavelmente, o da “Casa deRepouso Alan Kardec”,células mater do “Instituto Bairral” de hoje.

Pesquisando o site da instituição encontramos, no capítulo intitulado “ Um pouco da História do Bairral”, a foto do asilo agora com a denominação de “Sanatório Américo Bairral”, talvez de 1937, época de sua transformação. Ainda segundo o site: Atualmente o hospital dispõe de 810 leitos, mantendo 511 pacientes do convenio SUS em seu prédio Central (foto no final deste capítulo) e 290 pacientes em suas seis unidades externas, distribuídos de acordo com o perfil diagnóstico dos mesmos. Com o objetivo de oferecer-lhes um atendimento de alto nível, a instituição mantém um quadro de 700 funcionários. O Instituto Bairral, hoje uma Fundação, está instalado em área de 400 mil metros quadrados, dentro da cidade de Itapira (SP).

Edifício Central da Fundação Américo Bairral.

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Ao alto: Hilário, Bebê, eu, Marina, Dúlia e Mário na festa de meus 80 anos, 71 do Mário. Ao centro: eu e Mário. Ao lado: as irmãs Dúlia e Marina.

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J or n a l i s m o

39 O Jornalista Mário Franco Mudamos de Itapira para Mogi Mirim em 1928. Três anos após, meu pai resolveu editar um jornal, com publicação semanal. Em outro capítulo comento a existência desse jornal. O leitor poderá ter uma idéia das dificuldades passadas pela nossa família, nessa ocasião. A citação da promessa não cumprida por um dos partidos políticos da época poderá parecer que papai teria sido um mercenário, ávido por dinheiro, o que nunca aconteceu. Essa promessa foi feita quando papai comentou com amigos que pensava em fechar o jornal, mudando da cidade. A promessa nunca foi cumprida e foi necessário mudarmos para São Paulo, o que aconteceu em setembro de 1936. Eu já estava morando em São Paulo, em casa de um tio, como relato em capítulo anterior. O relato em versos, portanto, foi feito trinta e dois anos depois de nossa mudança para São Paulo. O trabalho vai, a seguir, reproduzido.

Meus Cinco Anos de Jornalismo - 1931 a 1936, EM MOGI MIRIM. Veio-me hoje à lembrança Cinco anos de jornalismo, Que exerci sem esperança E o mais rude pessimismo... Em minha terra, Itapira, Onde feliz eu vivi, E o toque da Banda Lira Por muitos anos, ouvi... Como sempre, a necessidade Mete a lebre em caminho, Mudei-me de minha cidade Para Mogi, bem pertinho...

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Estabeleci-me em Mogi Mirim,

O jornal foi sempre meu,

Onde mais eu sofreria,

E sacrifício me custava,

Com tudo contra mim,

Muito prejuízo me deu

Maltratando-me noite e dia...

E a política aproveitava...

Em junho de vinte e oito

O Partido Republicano

Transportei-me para lá,

Prometeu-me um conto de réis,

Corajoso e muito afoito,

Que eu vi só pelo cano,

Pois moleza em mim não há...

Por culpa dos coronéis...

Oito anos suportei Com amargor a Mogi Mirim

E eu sofrendo, descontente,

Onde quase eu deixei

Já prestes a me entregar,

O pouco que havia em mim...

Assustei a muita gente, Mas consegui me mudar.

O sofrimento aumentou tanto, Com o dinheiro sempre escasso,

Iniciei uma vida nova

Que quase virei um santo

Nesta imensa Capital,

Pintado pelo Picasso...

Querendo mandar pra cova Os políticos em geral...

Premido pela necessidade, Que sofri em Mogi Mirim,

Em setembro de trinta e seis

Fundei o jornal “A Cidade”

Vim morar na Henrique Dias,

Que quase marcou meu fim...

Trabalhando até por treis Com apertos e correrias !

Os políticos, de bolso vazio, Juraram manter o jornal,

Mas como tudo tem fim

Que por cinco anos, a fio

Acabou-se o jornalismo,

Liquidou meu capital...

Deus, com pena de mim, Faz-me viver com otimismo !

No cabeçalho, sempre ostentando: Jornal Livre e independente,

São Paulo, 21 de novembro de 1968.

Ia aos poucos, me matando, Definhando amargamente !

MÁRIO FRANCO Papai, como se vê acima, passava para o papel tudo que lhe ia n’alma, sempre procurando ser sincero consigo mesmo, mesmo que suas palavras pudessem magoar as pessoas citadas em seus escritos.

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Residência

40 Nossa residência atual Em maio de 1971 assumi o cargo de Superintendente da Receita Federal em São Paulo. Continuamos, porém, residindo em Santos, pois nosso filho Júnior estava prestando o Serviço Militar, em quartel, o que o obrigaria a permanecer naquela cidade, pelo menos até o final do ano de 1971. Vim para São Paulo, nessa época, passando a morar, durante a semana, na casa de meus pais, na rua Maria Antonia, em lado do Mackenzie. Às sextas-feiras, ao anoitecer, descia para Santos, permanecendo com minha família até na segunda-feira quando, pela manhã, subia para São Paulo. Nas proximidades do final do ano de 1971 iniciamos, eu e Marina, a procura de apartamento em São Paulo. Precisávamos conseguir, para isso, vender nosso apartamento em Santos, que ainda estava financiado, o que nos reduziria o poder de compra de outro, pois o comprador deveria assumir nosso saldo devedor, pagandonos apenas a diferença, que precisávamos usar integralmente, para a entrada na compra do outro imóvel. Visitamos vários imóveis, a maioria deles com muito uso, o que, na época, nos dificultaria o financiamento para a sua compra. No início de 1972 localizamos um prédio de apartamentos recém terminado, em fase de venda das primeiras unidades, o qual fora construído com financiamento da Caixa Econômica Federal, fato que nos facilitaria a negociação, pois a documentação de toda a construção fora examinada e aceita pela Caixa, desobrigando-nos de seu levantamento e apresentação. Apenas nossa documentação pessoal seria necessária. A venda de nosso apartamento em Santos foi feita a um engenheiro da Petrobrás, o qual nos antecipou a importância para a entrada na compra do outro apartamento. Conseguimos um financiamento de 15 anos que, graças a Deus, terminamos de pagar em fevereiro de 1987.

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Mudamos para o novo apartamento em março de 1972 e até hoje, 2008, nele estamos morando. Fizemos muitas amizades entre os moradores, as quais perduram até o momento. Durante alguns anos, fui membro do Conselho Consultivo do Condomínio, tendo convivido com condôminos que se tornaram meus amigos, alguns já falecerem, outros se mudaram, porém ainda contamos com a amizade de inúmeros moradores. O Condomínio é formado por três blocos, de 13 andares, com dois apartamentos por andar, totalizando 78 apartamentos, representando uma população de quase 400 pessoas. Muito nos agrada a amizade que aqui cultivamos, podemos citar, entre muitos, o Benedito, Sra. Irma e filhos; o Rui Barbosa e família; o Hilton, falecido recentemente e filhos; Dra. Vera, seu pai e filhos; o Gaeta, Sra. Rachel e filhos; o Comandante Cesídio, piloto da Gol, esposa e seus dois filhos gêmeos; o Dr. Rubens, médico, e sua irmã, Sra. Daise, viúva; o Vicenzo Albanesi e esposa, falecidos, deixando os filhos que aqui continuam formando suas famílias; o Jaime Segall, Sra. Anita e filhos; o Flávio e família; o Durval, que se mudou para Brasília, e família; o Sr. Pedro, o Síndico eterno, e sua família; o Rafael e família; o Sr. Júlio Domingues, que já se mudou do prédio, porém continua nosso amigo; e muitos outros, amigos ou simplesmente conhecidos. Parece que não mais sairemos deste apartamento, que é o nosso lar há mais de 35 anos, e que o será para sempre. Gostamos de morar aqui.

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Razão e r e s p os t a s

Último A Razão destas lembranças. Respostas ao primeiro capítulo. Comecei a rabiscar estas lembranças, em meados de dezembro de 2003, não sei bem porque. O certo é que, em 29 de dezembro de 2003, eu e Marina completaríamos 60 anos de casados, meta que meus pais não conseguiram, pois papai faleceu a 40 dias do dia em que completaria os 60 anos de casamento. Procedo a uma revisão de datas, em 2007, esperando não ter complicado o meu relato. Desde a morte de meu pai, Mário, em dezembro de 1978, encontro-me pensando na possibilidade de atingir os 60 anos de casamento, sempre triste por papai e mamãe não o terem conseguido. Minha mãe, Adelaide, viveu seis anos após a morte de papai. Nunca comentou sobre a efeméride não atingida. Creio, porém, que sempre pensou no assunto. Não posso deixar de reconhecer todo o sacrifício de minha esposa, Marina, pelas minhas ausências, às vezes dentro de nossa própria casa, sempre estudando, escrevendo, ou registrando os gastos, ou montando o orçamento financeiro para enfrentar as condições de vida dos meses seguintes. Por isso, não posso deixar de amar a esposa dedicada e amorosa que me acompanha nestes sessenta e tantos anos de um casamento que, devo reconhecer, poderia ter dado a ela, Marina, muito mais alegrias e encantamento do que efetivamente lhe deu. À Marina, meu pedido de desculpas e de perdão, por minhas faltas e falhas no reconhecimento diário de todo o sacrifício que dispensou a este parceiro que não soube estar permanentemente a seu lado, em todas as situações em que minha presença era necessária. À minha filha Elizabeth, hoje instrumentadora cirúrgica, quando poderia ter tido seu diploma de medicina, sua vocação, meu sincero pedido de perdão por não ter lutado pelo reconhecimento de seu curso, no Estado de Santa Catarina, para que pudesse continuar os estudos, no Estado de São Paulo, sem solução de continuidade. Você, Elizabeth voltou, na progressão educacional, fazendo, em Araraquara, um curso que já fizera em Joinville.

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A meu querido filho Édison, peço perdão por não ter podido acompanhar seus passos, enquanto estudava morando sozinho em São Paulo, quando morávamos em Santos. Seu sacrifício, morando em pensão e estudando muito, como sei que o fez e continua fazendo com bastante vontade e dedicação, deveria ter sido acompanhado de perto por mim, o que não aconteceu, pois sempre dei mais atenção ao meu trabalho do que à minha família. Perdoa-me, meu filho. Ao Júnior, meu caçula, também peço perdão pelos mesmos motivos, pois também não o acompanhei, como devia, em seus estudos e em sua vida profissional, o que atualmente estou fazendo, há pouco tempo, com isso procurando mostrar o meu arrependimento e também o meu pedido de desculpas e de perdão. Aos colegas que posso ter prejudicado, ou simplesmente ignorado, quando devia apoiá-los, minhas desculpas pelos aborrecimentos que posso lhes ter causado. Meu perdão a todos aqueles que possam ter tentado me prejudicar, pois não o conseguiram e nem o conseguirão, pois terei, sempre, Deus a meu lado, enquanto um sopro de vida me restar. Amarei a todos os meus, sempre com imensa ternura, procurando demonstrar-lhes o quanto sou grato por existirem. Sei que também sou muito amado, por todos os meus filhos e noras, netos e bisnetos, e por Marina, minha adorada esposa. Prometo trabalhar sempre, enquanto viver, nunca demonstrando preguiça ou má vontade, sendo cordato e compreensivo, procurando ouvir àqueles que me procuram, e tendo sempre a palavra certa a dizer a cada um. Desejo continuar venerando meus irmãos, meus cunhados e cunhadas, seus filhos e netos, como se fossem meus próprios filhos e netos. Seus bisnetos estão chegando e espero conhecê-los e amálos como se fossem meus. E a família está crescendo, o nosso amor por todos tem de ser repartido, porém, como o pão distribuído por Jesus, sempre será suficiente para abranger a todos os atuais, bem como àqueles que estão surgindo. Gostaria de encerrar com uma frase que acabo de ler em um calendário para o Ano de 2006: “Nunca feche os olhos para o mundo, pois alguém espera pelo teu olhar”.

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“Nem sempre as idéias ficam obsoletas com o passar do tempo; por vezes, ganham em vigor.” Celso Furtado

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Reproduzindo documentação noticiada no Livro aneXO

Registro de estrangeiro e de desembarque dos meus avós, Certidões de nascimento, batizado e casamento dos meus pais.

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Certidões de casamento e óbito

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Brasão de armas de Júlio Cavenaghi, irmão de meu avô, Paulo Cavenaghi.

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TEXTO Ademar Franco PROJETO GRÁFICO Nina Franco

Este livro foi impresso em São Paulo, em Abril de 2008, pela gráfica Printon. A fonte usada no miolo é ITC Stone Serif, corpo 8,5. O papel do miolo é Polén Soft Areia 75g/m2, e o da capa é Supremo Alta Alvura 300g/m2.

Edição para circulação restrita, sem qualquer ônus, entre os membros da família. Poderá, também ser entregue a amigos e pessoas citadas no livro, igualmente sem qualquer cobrança.

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com amor...

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Lembranças...

Não me lembro bem porque, porém me lembro que sempre desejei não me lembrar. Costumava dizer que o melhor que pode acontecer a uma pessoa é esquecer. Esquecer-se de tudo e de todos! Lembrar somente daquilo que possa nos alegrar ou distrair, seja sobre qualquer assunto, desde que não venha se apresentar como um cobrador à nossa porta. Parece estranho, portanto, que alguém que sempre proclamava o esquecimento como a melhor coisa que pode acontecer a uma pessoa, resolva registrar suas lembranças.”

por Ademar Barros Franco

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