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Naturale 33a edição Outubro/Novembro - 2015

ISSN 2237-986X 2 Gestão de Resíduos Sólidos 5 Revolução Alimentar

Caros leitores e leitoras Entramos em outubro com a primavera quente, e várias datas sendo comemoradas. A campanha Outubro Rosa e Novembro Azul, da qual participamos por entendermos ser imprescindível auxiliar e incentivar as pessoas a se cuidarem e previnirem-se de uma doença que tem cura se diagnosticada precocemente, merece a atenção de todos. Então deixamos nosso recado, façam o autoexame, procurem seu médico, agendem os exames anuais, sua saúde é seu bem mais precioso. No início de outubro comemoramos o dia dos animais, depois o dia das crianças, dos professores, do turismo e tantas outras datas que nos remetem à gratidão pela vida. A claridade da primavera traz um brilho especial e percebemos a vida pulsando em tudo, e essa energia precisa ser preservada, valorizada, por isso, a atenção amorosa e a gratidão ao que nos rodeia. A nova Agenda 2030 de Desenvolvimento Sustentável apresentada pela ONU (Organização das Nações Unidas) traz metas ousadas, que faço votos sejam alcançadas, pois abrem perspectivas para um mundo mais justo, que precisamos ajudar a construir, principalmente agora, que vivemos no país, uma crise de confiança, desilusão e vergonha. Precisamos mudar este panorama! Como dizem os positivistas, precisamos criar novas formas para seguir adiante. Aproveito para parabenizar todos os voluntários da Resgacti que durante estes seis anos trabalharam incessantemente para o bem-estar dos animais abandonados, que todos permaneçam firmes em seus propósitos e que mais pessoas apareçam para ajudar! A boa notícia é a expansão da Naturale para o interior do Estado de São Paulo, agora abrangendo mais cidades! Para nós, a informação chegar a vários pontos é muito importante, principalmente porque trazemos fatos e experiências reais, que através da Naturale podem ser divulgados e inspirar diversas pessoas, além da promoção de empresas que alcançam novos mercados. Agradecemos os parceiros e apoiadores, por acreditarem e podermos juntos espalhar as boas práticas! Boa leitura! Elaine Pereira

Apoio para distribuição:

7 RESGACTI completa 6 anos! 8 Rodovias: um desafio à fauna silvestre 9 Turismo rural 10 Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável 13 Programa "Escola vai à Câmara" 14 Mulheres fazem a diferença! 15 Outubro Rosa – Novembro Azul 16 Bruxismo – ranger de dentes em crianças com autismo

expediente Naturale é uma publicação da DIAGRARTE Editora Ltda-ME CNPJ 12.010.935/0001-38

Itajubá/MG

Editora: Elaine Cristina Pereira (Mtb 15601/MG) Colaboradores Articulistas: Daniela M. Kramberger, Felipe Feliciani, Dra. Gracia Costa Lopes, Luciana Ribeiro Silva e Nicole B. L. Sigaud. Revisão: Marília Bustamante Abreu Marier Projeto Gráfico: Elaine Cristina Pereira Capa: Imagem Google Vendas: Diagrarte Editora Ltda-ME Impressão: Vox Gráfica

Distribuição Gratuita - impressa e eletrônica Os artigos assinados são de responsabilidade de seus autores. Direitos reservados. Para reproduzir é necessário citar a fonte. Faça parte da Naturale e integre esta corrente pela informação e pelo bem.

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Gestão de Resíduos Sólidos Acordo de Cooperação Técnica Bilateral Brasil – República da Coreia do Sul Por Elaine Pereira

Em agosto de 2010, foi instituída a Lei nº 12.305/2010, conhecida como Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS), regulamentada pelo Decreto 7.404/2010, que estabelece diretrizes para a gestão integrada dos resíduos sólidos gerados nos municípios. Esta gestão engloba o planejamento e a coordenação de coleta, transporte, tratamento e destinação final adequada para os resíduos sólidos. Prevê a redução na geração de resíduos, tendo como proposta a prática de hábitos de consumo sustentável e um conjunto de instrumentos para propiciar o aumento da reciclagem e da reutilização dos resíduos sólidos (aquilo que tem valor econômico e pode ser reciclado ou reaproveitado) e a destinação ambientalmente adequada dos rejeitos (aquilo que não pode ser reciclado ou reutilizado). Institui a responsabilidade compartilhada dos geradores de resíduos: dos fabricantes, importadores, distribuidores, comerciantes, cidadãos e titulares de serviços de manejo dos resíduos sólidos urbanos na Logística Reversa dos resíduos e embalagens pós-consumo. Cria metas para a eliminação dos lixões e institui instrumentos de planejamento nos níveis nacional, estadual, microrregional, intermunicipal, metropolitano e municipal; além de impor que os particulares elaborem Planos de Gerenciamento de Resíduos Sólidos. A questão socioeconômica também é contemplada com a inclusão de catadores de materiais recicláveis e reutilizáveis, tanto na Logística Reversa quanto na Coleta Seletiva.

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O fechamento de todos os lixões do país estava previsto para agosto de 2014, mas até o momento, menos da metade dos 5.564 municípios cumprem esta determinação. A Lei prevê que, os materiais passíveis de reaproveitamento, reciclagem ou tratamento por tecnologias economicamente viáveis (como resíduos recicláveis ou orgânicos) não podem mais ser encaminhados para a disposição final. O município deve possuir um bom sistema de gerenciamento de resíduos sólidos, incluindo coleta seletiva e tratamento de resíduos orgânicos, de forma a enviar o mínimo possível de rejeitos para o aterro sanitário. Deve-se ressaltar que a disposição inadequada dos resíduos sólidos – seja na água ou no solo – constitui crime ambiental previsto pela Lei n° 9.605 (Lei de Crimes Ambientais) desde 1998 e, os municípios têm obrigação constitucional de proteger o meio ambiente e combater a poluição em qualquer de suas formas incluindo a disposição em vazadouros a céu aberto, os lixões. O Ministério do Meio Ambiente (MMA) incentivou a utilização de consórcios públicos, como forma de viabilizar a gestão integrada de resíduos sólidos, principalmente para cidades de pequeno porte, já que o volume de resíduos produzidos determina a viabilidade da coleta seletiva, da reciclagem, da construção de aterros sanitários e da operacionalização e manutenção do sistema de gestão dos resíduos sólidos que é caro para as administrações dos pequenos municípios. Apenas esclarecendo, o Artigo 241

da Constituição Federal rege que: “A União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios disciplinarão por meio de lei os consórcios públicos e os convênios de cooperação entre os entes federados, autorizando a gestão associada de serviços públicos bem como a transferência total ou parcial de encargos, serviços, pessoal e bens essenciais à continuidade dos serviços transferidos”. Para a execução deste artigo foi criada a Lei nº 11.107/05 que dispõe sobre as normas gerais de “contratação de consórcios públicos para a realização de objetivos de interesse comum dos entes federados. As normas de contratação se aplicam neste caso pelo fato do consórcio público constituir pessoa jurídica própria, sob a forma de associação de direito público ou privado”. Tendo em vista muitos municípios pequenos que não possuem área ou estrutura para implantação dos aterros sanitários, quer por questão econômica, quer por estarem em Área de Proteção Ambiental ou por serem produtores de água, o consórcio para implantação da PNRS veio viabilizar a execução da Lei. Em novembro de 2014, foi realizada uma reunião do MMA para discutir a posibilidade de parcerias de cooperação técnica na área ambiental entre o Brasil e a República da Coreia do Sul, quando ficou definindo um Acordo de Cooperação Técnica em Gestão de Resíduos Sólidos. A Coreia custeará o projeto selecionado, a ser executado em 12 meses. O “Acordo de Implementação” definiu o escopo da cooperação

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técnica, as intenções do projeto, sua vigência, cronograma, atividades a serem desenvolvidas, bem como as responsabilidades dos atores envolvidos. O MMA abriu então edital de chamamento público para selecionar um consórcio público intermunicipal que atuasse na gestão de resíduos sólidos para sediar o projeto, valorizando assim as boas práticas que já estavam em andamento no país. Para participar do processo seletivo, os consórcios forneceram informações de acordo com o Texto Orientativo para Manifestação de Interesse, demonstrando a qualificação para prover o suporte necessário para a execução dos trabalhos e das ações previstas no projeto. Para concorrer, a população dos municípios consorciados deveriam somar, no mínimo, 200 mil habitantes, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE-2014). Segundo Caroline Alvarenga, Analista de Infraestrutura do MMA, os critérios de pontuação levaram em conta: ªª Lei de aprovação do consórcio público no âmbito do poder legislativo de cada município. ªª Estatuto Social assinado pelos representantes dos municípios consorciados, abrangendo o tema manejo de resíduos sólidos no escopo de serviços prestados pela entidade. ªª Contrato de Rateio do exercício financeiro de 2014. ªª Contrato de Programa. ªª Outras ações em tipologias de resíduos além dos resíduos sólidos urbanos, como por exemplo, pneus e eletroeletrônicos. Os documentos apresentados deveriam estar de acordo com a Lei Nº 11.107, que dispõe sobre normas gerais de contratação de consórcios públicos, bem como seu decreto regulamentador. Foram inscritos 25 consórcios e

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após avaliação do MMA e MCidades, o vencedor, localizado no Estado de São Paulo, foi o CISBRA (Consórcio Intermunicipal de Saneamento Básico da Região do Circuito das Águas Paulista), que abrange 305 mil pessoas (IBGE-2014). Composto por 12 municípios: Amparo, Águas de Lindóia, Itapira, Lindóia, Monte Alegre do Sul, Morungaba, Pinhalzinho, Pedra Bela, Santo Antônio de Posse, Serra Negra, Socorro e Tuiuti, sendo seis deles estâncias hidrominerais e todos estão localizados em Área de Preservação Permanente.

Mapa das 12 cidades que compõem o CISBRA e localização de seus equipamentos

Segundo Cássio Araújo, Analista Ambiental da Secretaria de Recursos Hídricos e Ambiente Urbano do MMA, “faz parte da cooperação valorizar as boas práticas brasileiras, criando condições para que o consórcio possa se consolidar, ampliar e qualificar a gestão dos resíduos sólidos em seu território, com o engajamento do poder público e da sociedade. Esperamos que os estudos, diagnósticos e projetos realizados durante estes 12 meses possam ser implantados e sirvam de modelo para todo o Brasil”. O acordo de Cooperação Técnica Bilateral assinado pelo MMA e a República da Coreia do Sul, por meio do Instituto de Tecnologia e Indústria Ambiental da República (Keiti), é de US$ 600 mil, e segundo Cássio Araújo "não haverá transferência de valores, os custos serão pagos diretamente pela Repúbli-

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ca da Coreia do Sul. Os recursos serão aplicados para desenvolver estudos, projetos e programas que contribuam com a redução, reutilização, reciclagem e destinação de resíduos sólidos, de maneira ambientalmente adequada e economicamente viável. O projeto inclui a participação de empresas coreanas para mostrar como a gestão de resíduos sólidos é executada na prática". O Sr. Hilário Piffer Júnior, Superintendente do CISBRA, complementa que “após este período, poderemos ter o projeto total do CISBRA implantado nas 12 cidades e a construção do ECOPARQUE na cidade de Amparo/SP, que receberá todo tipo de tecnologia para beneficiamento de resíduos gerados nas cidades. Esta nova etapa será o início do sonho de todos nós do CISBRA e por que não dizer do Brasil, afinal teremos 12 meses de estudos para elaborarmos projetos no que há de melhor para beneficiamento de resíduos sólidos com apoio de quem já realiza 90% de reciclagem de resíduos. Teremos a partir deste acordo um avanço no conceito de reciclagem, aproveita-

mento energético, educação ambiental, para darmos um salto em termos de preservação. Estamos construindo nossa sede própria no município de Amparo, que contará com a área administrativa e dois laboratórios para análise de água e de efluentes das cidades, recursos estes provenientes do Governo Federal, através de convênio firmado com a Fundação Nacional da Saúde (FUNASA), ainda com o mesmo órgão, firmamos um convênio para obtermos uma unidade móvel de saneamento UMCQA (Unidade Móvel de Controle e Qualidade da Água) que contará com veículo equipado com equipamentos para controle de poluição e controle da qualidade da água que fará análises periódicas em todas as cidades, dando maior segurança aos moradores e turistas que visitam nossas cidades. Estaremos nos adaptando a uma nova realidade ao longo deste projeto e serão, sem dúvida, exemplos de boas práticas ambientais para todo o país. O Presidente do CISBRA é o atual prefeito da cidade de Amparo, Luiz Oscar Vitale Jacob, incentivador e apoiador deste projeto.”

Conhecendo o CISBRA O CISBRA foi criado em 2011, elaborou o Plano “Cidades Limpas” com a participação de integrantes de cada município, que dá diretrizes às cidades consorciadas de como executar a gestão dos resíduos sólidos. Segundo o Superintendente, Sr. Hilário Piffer Júnior, o consórcio realiza também: ªª palestras sobre coleta seletiva nas escolas e entidades de classes e clubes de serviços; ªª cursos de compostagem residencial; ªª capacitação técnica de servidores; ªª coleta de embalagens de agrotóxicos; ªª coleta de resíduos de eletroeletrônicos; ªª coleta de pneus através de convênio com a Reciclanip;

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ªª coleta seletiva instituída em 4 cida-

des: Itapira, Santo Antônio de Posse, Morungaba e Socorro; ªª beneficiamento de resíduos de construção civil (RCC), em projeto, para as cidades aproveitarem tudo aquilo que geram na própria cidade; ªª coleta de resíduos de serviço de saúde (RSS) realizado por uma só empresa, fazendo o descarte e o tratamento correto destes resíduos; ªª aterro sanitário localizado em Paulínia/SP e gerenciado pela ESTRE Ambiental que recebe os resíduos de nove municípios, com exceção de Itapira, Pedra Bela e Socorro, que possuem locais próprios licenciados.

Para o Sr. Felipe Feliciani, Presidente do Conselho Municipal de Meio Ambiente de Amparo, “o CISBRA ter sido escolhido como o consórcio para o desenvolvimento deste programa de cooperação, veio coroar as atividades que o consórcio já desenvolve com o Plano Cidades Limpas e implementar os trabalhos para preservação e para a educação ambiental. Este é o futuro para gestão de cidades pequenas”. Desejamos sucesso ao CISBRA e ao MMA nesta empreitada junto à República da Coreia do Sul, mas temos que ter presente que um projeto deste porte só poderá dar certo se toda a população estiver engajada, consciente e atuante, pois estamos falando do bem-estar do local onde vivemos, da preservação do patrimônio natural, da preservação e do uso correto da água e do solo, do encaminhamento correto de todos os tipos de resíduos que geramos. Precisamos tomar consciência que atitudes básicas como guardar o papel de bala para jogar no lixo correto e não na rua é importante, que reciclar o que utilizamos de forma correta é imprescindível, e termos a liberdade de criar formas positivas de reaproveitamento. Não vivemos apenas dentro de nossas casas, a qual zelamos, vivemos dentro do planeta Terra e do ponto de vista planetário não existe fora, tudo está dentro dele e terá que encontrar um caminho menos danoso ao próprio planeta. Então cuidemos para que dentro de nossa casa maior – o planeta – tudo seja tão bem conduzido como dentro de nossas residências. Nossa passagem é curta, a vida segue por gerações e o planeta tem buscado harmonizar os desequilíbrios causados por nós, caso não arregacemos as mangas e coloquemos mãos à obra com nossas atitudes, as próximas gerações sofrerão com nossas escolhas. Pense nisso! Colabore! Faça sua parte!

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Revolução Alimentar Por Nicole B. L. Sigaud

Se buscamos uma forma de vida e uma sociedade mais respeitosa e harmo- naturais que dividem o planeta conosco. Os alimentos orgânicos desperniosa para com a Natureza, a primeira coisa que devemos fazer é repensar nossa alimentação. As refeições por muito tempo foram tidas como momentos sagrados, de taram novas reflexões. Será que o que comunhão junto aos entes queridos, e para alguns povos eram até motivo de celebra- temos praticado é realmente o que se ções em sinal de gratidão à Natureza. Hoje, nós, homens modernos, fazemos nossas pode chamar de orgânico? Qual o verrefeições às pressas, sem prestar atenção e sem nos preocupar com o que estamos dadeiro significado da palavra orgânico? comendo, inclusive sem a curiosidade de saber o que significa o nome difícil na lista Parafraseando o amigo Guaraci Diniz, orde ingredientes nas embalagens, nem pensamos nos processos e percursos que o gânico vem de organismo, que é feito de órgãos, que seguem uma organização. alimento fez para chegar até nós. Os impactos ambientais se evidenciam com o crescente aumento do desperdí- O grande organismo em que vivemos é cio de alimentos. Escolhas invisíveis, como geralmente as que fazemos em frente às o planeta Terra, que é feito de órgãos prateleiras dos supermercados, tem um grande poder de influenciar o mercado e o (pessoas, animais, plantas, solo, ar, etc), nosso modo de vida. Essas escolhas envolvem questões como geração de lixo e reci- ou seja, de diversidade. Todos os órgãos clagem. Ao refletirmos sobre a quantidade de embalagens que possuem os produtos tem uma função e precisam trabalhar em que adquirimos, os materiais de que são feitas, seu processo de extração, fabricação equilíbrio para que haja harmonia. Nee descarte, e quanto e o que necessitamos consumir, vencendo as promoções que nhum organismo é feito apenas de um tentam nos ludibriar, como “leve dois e pague um”, passamos a perceber todo o me- órgão, sendo assim, a monocultura pode ser chamada de orgânica? O que estacanismo envolvido num produto. Se optamos por produtos menos processados, estamos optando também por mos fazendo com o organismo Terra? menor demanda de consumo de energia e água para sua fabricação, menos po- Estamos destruindo os seus órgãos, pois os consideramos imperfeitos. Dirigimos luentes para o ar, os rios, para nós e nosso olhar para as florestas ricas em outros animais. Se optamos por produEstudos estimam que o Brasil biodiversidade e as consideramos imtos orgânicos, sabemos que não houve teria cerca de 10.000 espécies produtivas, um empecilho, como se não utilização de agrotóxicos. Na produção tivessem plantas ou animais para nos do alimento orgânico, os rios, o ar e o nativas com potencial alimentar, remédios para nos oferecer. solo não foram poluídos com fertilizanalimentício. Dados indicam Então desmatamos tudo para dar lugar a tes químicos e contaminantes oriundos que 90% do alimento mundial vêm pastos ou lavouras agrícolas, onde criado processo de mineração (partículas de 20 espécies vegetais. Temos mos apenas uma espécie de animal e um radioativas, ácidos, metais pesados e tipo de planta. A agricultura e a pecuária outros), através do qual se extrai alguns uma alimentação monótona, sem foram responsáveis entre os anos 2000 fertilizantes. A poluição pela queima de personalidade. Imaginem quantas e 2012 por 90% do desmatamento ilegal combustíveis fósseis para transporte, a possibilidades alimentícias pono Brasil, segundo estudo realizado pela degradação da biodiversidade e muitos ONG Forest Trends. outros problemas também entram na deriam oferecer 10.000 espécies Mesmo a madeira que a floresta ofelista de impactos ambientais do modelo vegetais? Isso somente no Brasil. rece não consideramos boa o suficiente, agropecuário atual. a substituímos por eucalipto e pinus que Através desta análise superficial é possível perceber que as práticas e não são nativos do Brasil, mas tem crescimento rápido. Os animais que ali viviam e princípios da agropecuária industrial, daquelas matas se alimentavam, acabam morrendo ou fugindo, para se aglomerar utilizadas ao longo das últimas décadas, em algum outro remanescente. Os que tentam se adaptar passam a se alimentar de e toda a cadeia produtiva que envolve nossas lavouras e animais de criação, então nós os eliminamos também. Escrevo no a produção de alimentos esbarram nos plural, pois, temos parte nesse processo. Se consumimos esses produtos estamos principais problemas ambientais que alimentando essas práticas, uma vez que não existe venda sem demanda. nossa sociedade enfrenta, assim como O Brasil, um dos países mais ricos em biodiversidade do mundo (abriga 20% das problemas sociais, que não deixam de espécies do planeta) é o que apresenta o quadro mais preocupante de perda de bioser ambientais, pois o homem é parte do diversidade. A América Latina já sofreu uma redução populacional dos vertebrados de meio ambiente. Desse modo, a alimenta- 83% desde 1970, segundo o WWF. Segundo os dados do IBGE-2012, originalmente no ção se apresenta como importante tema estado de São Paulo, 80% da área era recoberta por florestas, o intenso processo de a ser abordado, uma vez que a forma ocupação do interior paulista conduzido pela expansão da agropecuária levaram, nos como nos alimentamos reflete na ma- últimos 150 anos, a uma drástica redução dessa cobertura para cerca de 7% da área neira como nos relacionamos com nós do estado. O Brasil, sem contar a Amazônia, ou seja, o território que reúne Cerrado, mesmos, com nossa família, com as pes- Mata Atlântica, Caatinga, Pampa e Pantanal, perdeu 59% da sua vegetação original, o soas, com os animais e com os recursos equivalente às regiões Nordeste e Sudeste juntas. Já na Amazônia as áreas de flores-

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ta desmatadas chegam a 20%, uma área maior que a França e Alemanha juntas. Esse processo teve início a partir da colonização, quando passamos a receber um grande número de imigrantes europeus, os quais trouxeram os alimentos que estavam acostumados a comer. Esse processo de integração entre culturas se intensificou ao longo dos anos, recebendo o nome de globalização. E com ela, incorporamos ao cultivo e criação, espécies vegetais e animais de outros países. Boi, porco, frango e a maioria dos itens que compõem nossa alimentação foram introduzidos no Brasil após o “descobrimento”. Das 20 frutas mais consumidas, somente 3 são nativas, isso sem falar em verduras e hortaliças. Pesquise a origem dos alimentos, praticamente todos que vierem à sua cabeça não são nativos. Grande parte não é nem do nosso continente, 52% ou mais do que consumimos é de origem euroasiática, de clima e ambiente diferente do nosso. Tomemos como exemplo a alface e o boi, alimentos muito consumidos aqui. A alface é uma planta que em climas quentes como o nosso, precisa ser irrigada diariamente, em dias de verão pode precisar ser irrigada até mais de uma vez por dia. O que é antinatural, pois na natureza não há chuva todos os dias. Se nos atentarmos aos dados, segundo Relatório de Conjuntura dos Recursos Hídricos no Brasil de 2012, a irrigação responde por 72% da água consumida, a indústria por cerca de 20% e somente 8% ao uso doméstico. Estamos usando 72% da nossa água para fornecer condições artificiais para plantas de outros continentes produzirem aqui, isso sem falar da produção de alimentos fora de época. Enquanto cultivamos a alface, outras plantas que possuem propriedades nutricionais e medicinais insistem em crescer na terra onde o homem teima em plantar uma única espécie. Essas plantas crescem buscando reestabelecer o equilíbrio e trazer a diversidade, mas são consideradas daninhas e acabam sendo massacradas por enxadas e herbicidas. Arrancamos e destruímos o que é natural da nossa terra porque não fomos ensinados a conhecer o que é nosso. O que é nativo é adaptado ao clima, solo e regime de chuvas, se cultivado da maneira correta não exige gasto de água, adubos químicos e agrotóxicos, muito menos se for obtido por extrativismo sustentável.

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Dos 20% de biodiversidade que o Brasil abriga, quanto disso chegamos a conhecer realmente? Estudos estimam que o Brasil teria cerca de 10.000 espécies nativas com potencial alimentício. Dados indicam que 90% do alimento mundial vêm de 20 espécies vegetais. Temos uma alimentação monótona, sem personalidade. Em vários locais do planeta, se encontram os mesmos ingredientes nos cardápios. Imaginem quantas possibilidades alimentícias poderiam oferecer 10.000 espécies vegetais? Isso somente no Brasil. E os governos insistem em dizer que a agropecuária precisa crescer, para acabar com a fome no mundo. Dois exemplos interessantes são evidenciados na introdução do livro “Plantas Alimentícias Não Convencionais (PANC) no Brasil, de Valdely Ferreira Kinupp e Harri Lorenzi, de onde extrai os dados acima, o das geleias e o das castanhas. Já que o mundo é globalizado, porque em todos os países se come avelãs e amêndoas, mas não se consome castanha de baru, sapucaia e castanhado-maranhão? Quando vamos nos dar conta dessa riqueza? Por sua vez no caso das geleias, observa-se comumente a oferta de geleias de morango, damasco, uva e mirtilo, sendo que mirtilo e damasco são pouco cultivados no Brasil,

são espécies que fazem passeios transoceânicos com gasto de energia fóssil. Pagamos caro por elas, sendo que, somente no livro citado foram elencadas mais de 100 tipos de geleias que podem ser confeccionadas com plantas encontradas no Brasil. Alguém já leu ou ouviu falar que o Brasil é o maior produtor ou exportador de algum alimento vegetal nativo? Somos campeões em diversidade de plantas, iguarias, que temos o privilégio de possuir, mas estamos destruindo toda essa riqueza, sem nem ao menos devidamente conhecê-la. No livro citado há 700 espécies vegetais abundantes, fáceis de encontrar nas ruas, quintais e florestas das diferentes regiões brasileiras, com potencial de cultivo ou extrativismo imediato, alto valor nutricional e alta produtividade, e espécies mais difíceis de encontrar, mas que possuem grande potencial pelo sabor e versatilidade culinária. Vamos buscar o verdadeiro sentido da palavra orgânico. Transformar nossa alimentação envolve redescobrir e respeitar tudo o que nos circunda, a mudança precisa começar, vamos dar início à revolução alimentar. Nicole B. L. Sigaud, Bióloga e Coordenadora do Núcleo Caetê.

Receita de Pastel de Assa-peixe Selecione as folhas jovens, lave e escorra. Prepare o recheio com cogumelos shiitake e shimeji, sal, pimenta e queijo cremoso, à gosto. Recheie as folhas com essas misturas e feche-as. Passe as folhas recheadas no ovo e depois na farinha de mandioca (nativa do Brasil), frite ou asse (mais saudável) até dourar. Assa-peixe (Vernonanthura phosphorica) Arbusto pouco ramificado que atinge cerca de 1 a 3m de altura, com caule de coloração acinzentada ou arroxeada, nativo das regiões Sul, Sudeste e Nordeste (Bahia). Planta pioneira, ou seja, se desenvolve em lugares inóspitos, inicia o processo natural de regeneração de área desmatada, criando um microclima que favorece o desenvolvimento de novas plantas, para formação da floresta. Ocorre frequentemente em pastos e terrenos baldios (às vezes até no meio das calçadas). É considerada planta daninha, contudo é uma planta apícola (produção de mel) de alta qualidade e tem uso alimentício e medicinal. As folhas jovens geralmente são preparadas a milanesa ou à dorê como aperitivo, ficam altamente crocantes e saborosas, com sabor semelhante ao de peixe frito. Podem ser usadas para rechear bolinhos, omeletes e outros. Tem potencial antioxidante e anti-inflamatório, seus brotos são usados em xarope para a tosse e mascados e/ou chás para diarreias. Fonte: Plantas Alimentícias Não Convencionais (PANC) no Brasil, de Valdely Ferreira Kinupp e Harri Lorenzi, 2014. Receita por Andrew Bushee.

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Por Daniela M. Kramberger

A RESGACTI é uma entidade civil, de natureza educacional, artística, esportiva, cultural, social e ambiental com personalidade jurídica de direito privado, sem divisão de lucros e sem fins econômicos e ou lucrativos com autonomia administrativa, financeira e patrimonial. Possui como missão, reavaliar e equilibrar a forma como nos relacionamos com o mundo e a natureza, de modo a proporcionar abrigo, alimento e reconhecimento a toda forma de vida. Fundada em 25 de outubro de 2009, completa em 2015, 6 anos de trabalho ininterruptos. Atualmente, um dos mais importantes projetos da RESGACTI é a causa da proteção dos animais. Desde sua fundação já atendeu as cidades mineiras de Itajubá, Maria da Fé, Marmelópolis, Brazópolis, Pedralva, Piranguinho, Piranguçu, Delfim Moreira, Conceição dos Ouros, Wenceslau Braz, São José do Alegre e Santa Rita do Sapucaí. Segundo registros, foram resgatados 1.476 cães e 174 gatos, sendo castrados 691 animais e doados 409 cães e 72 gatos. Temos em outubro 139 cães e 41 gatos e todos estão para adoção. Castração Vemos a castração como única forma humanizada de reduzir o número de animais abandonados nas ruas. Uma cadela ou gata não castrada pode gerar em torno de 32 descendentes por ano, contando com a cria de seus filhotes. A reprodução de cães e gatos acontece em progressão geométrica e é impossível garantir uma vida inteira de cuidados e bem-estar para todos os descendentes dos animais que nascerão. A RESGACTI consegue a castração a custo menor para famílias de baixa renda. Após marcar a castração, o responsável pelo animal assina um Termo de Responsabilidade Médico-veterinária e recebe um documento de orientações para o pós-operatório. Adoção e Apadrinhamento Adotar um animal que foi abandonado, é dar uma segunda chance para

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que ele tenha uma vida digna, com respeito, amor e carinho. Para adotar, você receberá a visita de um de nossos voluntários, ele dará informações sobre a adoção e cuidados com o animal. Após esta conversa se estiver tudo certo, o animal será entregue e você assinará um Termo de Adoção. Apadrinhar é um ato de amor daquele que não pode adotar um animal, mas se importa em ajudar no bem-estar e proteção do animal que se encontra em nosso abrigo. Para apadrinhar, basta escolher um dos animais abrigados, preencher o Termo de Apadrinhamento e fazer a contribuição mensal por meio de carnê ou por depósito identificado. Este apadrinhamento é pelo tempo que o animal estiver no abrigo ou a combinar. O valor mínimo é de R$ 30,00 que equivale ao seu consumo médio mensal de ração. Também podem ser doados medicamentos, vacinas, cobertores, castração, banho, coleira anti-pulga ou o que propiciar bem-estar ao animal. Você poderá visitá-lo e saber tudo sobre ele. Atendimentos Por termos muitos animais abrigados, neste momento, o resgate de novos animais está suspenso, mas auxiliamos com informações. Caso necessite de ajuda para doar um animal, envie uma foto dele e suas características para nosso e-mail ou facebook, desta forma ajudamos a encontrar um novo lar. Em casos de animais em risco de morte ou sob maus tratos, ligue para Polícia Militar Ambiental (35) 3623-2800. Para animais abandonados na cidade de Itajubá, que estejam causando transtorno para a população ou animais feridos ligue para o Centro de Zoonoses (35) 98871-2486 e no caso de animais mortos na rua ligue para a VINA (35) 3621-3779. O número de animais abandonados está aumentando. Pedimos que antes de abandonar seu amigo, procure um novo lar para ele, não o coloque em risco nas ruas. Lembre-se que abandono e maus tratos a animais é crime ambiental! Seja um voluntário da RESGACTI.

Completar 6 anos de serviço à causa animal é uma vitória e um desafio diário e só podemos realizar este trabalho com a ajuda de cada um dos habitantes das cidades onde atuamos e com a colaboração de voluntários e veterinários, por isso agradecemos a cada um de vocês. Fazemos o convite para que esta Rede do Bem aumente, então participe da RESGACTI como voluntário e/ou fazendo doações e traga com você mais um amigo. Quanto mais pessoas conscientes, mais animais protegidos! Junte-se a nós!

Contato e pontos de arrecadação Resgacti (35) 99945-0494; resgacti@ gmail.com; facebook: Ong Resgacti; www.resgacti.org.br. Doação financeira: depósito identificado no Banco Bradesco, Agência 1275-0, Conta Corrente: 0659150-7, CNPJ: 11.821.282/0001-04, ou através de nossos carnês que se encontram nos postos de arrecadação abaixo que também recebem doação de rações, medicamentos e outros produtos. Os cães consomem por mês 1.200 kg de ração e os gatos 100 kg. Itajubá Mercadinho e Quitanda da Família: Rua da Floresta, 33, Cruzeiro Espaço Pet: R. Coronel Joaquim Francisco, 76, Varginha Clínica Veterinária Itajubá: Av. São Vicente de Paulo, 204, São Vicente Mimos Petshop: Av. Capitão Gomes, 145, Boa Vista (dentro do Alvorada) Mascote e Cia: R. Miguel Viana, 157, Morro Chic Ceamev: R. Irmã São Luiz, 137, Avenida CNA: R. Francisco Masseli, 446, Centro Planeta Bicho: R. Tiago Carneiro Santiago, 395, Centro Piranguinho Nutripet: Avenida Juscelino Kubitscheck de Oliveira, 87, Avenida Maria da Fé Droga Nossa: Praça Getúlio Vargas, 6, Centro

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Rodovias: um desafio à fauna silvestre Por Felipe Feliciani

As rodovias, artérias de uma sociedade em desenvolvimento, canais de escoamento de pessoas e produtos, os trilhos de uma era de asfalto e velocidade! Não vou questionar, nesse artigo, os prós e contras da adoção dessa forma de transporte em nosso país, o que me incomoda é mais denso, mais sombrio, mais triste e muito mais emergencial. É nesse contexto que minha preocupação toma corpo. O resultado da equação que envolve, rodovias, alta velocidade, fragmentos florestais e animais silvestres, é extremamente inquietante! Os processos de ampliações ocorrido em diversas rodovias, as quais cruzam importantes áreas verdes, resultou em aumento da velocidade dos veículos que por ali trafegam, o que aumenta em muito a possibilidade de atropelamentos. Infelizmente, tenho observado animais vitimados, fato que me motivou a juntar informações e percepções, a fim de reavivar a discussão acerca desse tema. De acordo com o Centro Brasileiro de Estudos em Ecologia de Estradas (CBEE), da Universidade Federal de La-

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vras (MG), desde o primeiro dia desse ano até 16 de Outubro, mais de 374 milhões de atropelamentos de animais silvestres foram registrados no país, uma média estarrecedora de aproximadamente 15 animais atropelados por segundo. Isso levando-se em consideração apenas os dados registrados nesse sistema, através do aplicativo colaborativo Urubu, no qual pessoas que encontram animais atropelados, enviam os dados para o CBEE, com informações e localização do incidente, os dados são validados e compõem esse gigantesco banco de dados. São diversos os registros em nossa região: cachorros-do-mato, bugios, saguis, corujas, jiboias, gambás, lebres, capivaras, entre outros. No ano de 2014, os atropelamentos de animais silvestres registrados por esse sistema atingiram a quase inacreditável marca de 473 milhões de animais mortos, para o ano de 2015, a expectativa é de que esse número ultrapasse os 500 milhões de óbitos. Em outro levantamento realizado pelo Instituto de Pesquisas Ecológicas, realizado em três trechos de rodovias da

região central do Brasil (que totalizavam aproximadamente 1.000 km de extensão), por 10 meses, foram encontradas 1.124 carcaças de animais de médio e grande porte atropelados, de 25 espécies diferentes. Segundo o Banco de Dados Brasileiro de Atropelamentos de Animais Silvestres (BASF), coordenado pelo CBEE, são nas rodovias do Estado de São Paulo que se registram a maior quantidade de mortes de animais silvestres por atropelamentos em nosso país. Vale a pena destacar que a fauna silvestre é essencialmente importante na promoção da polinização de culturas e da vegetação, na dispersão de sementes, na ciclagem e movimentação de nutrientes, e no controle biológico. Ambientes equilibrados resultam em melhores condições de vida para todas as espécies que os habitam, inclusive a humana. A falta de planejamento nos processos de ampliação das rodovias acaba por aumentar ainda mais as possibilidades de ocorrências como as comentadas acima. Por exemplo, diversas são as es-

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tradas que dividem fragmentos florestais ao meio, muitas delas separam extensas áreas vegetais (habitadas por inúmeras espécies de fauna) de importantes corpos d´água (utilizados por animais que habitam a área verde), o que impõe à eles a necessária tarefa de atravessar a rodovia para alcançar água. Muitas são as estratégias possíveis de se utilizar para melhoria nesse preocupante cenário, políticas públicas específicas, investimento advindos das concessionárias, campanhas de conscientização e educação ambiental de motoristas, investimentos em infraestrutura para passagens subterrâneas e aéreas, enfim, diversas formas que precisam e devem ser colocadas em prática o quanto antes. Merecem destaques as possibilidades relacionadas à infraestrutura de passagens adequadas. Passagens aéreas, que não deixam de ser mini-passarelas, se apresentam eficientes para diversas espécies de macacos como saguis, bugios, sauás e macacos-prego, gam-

Imagens: google

Passagem aérea

Passagem subterrânea

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bás, ouriços, preguiças, entre outras espécies. Para animais maiores, as passagens subterrâneas são uma alternativa interessante. Onças, lobos-guará, jaguatiricas, gatos-do-mato, capivaras, antas, cachorros-do-mato, tatus, quatis, e outras tantas espécies podem utilizar dessas passagens para realizar suas travessias de forma segura. Logicamente a localização da instalação desses equipamentos deverá ser minuciosamente estudada, a fim de ser o mais eficiente possível. Porém, enquanto tudo isso é discutido, especulado e planejado, diante dos números que temos acesso acerca do tema, tenhamos mais cuidado nas nossas travessias, principalmente durante o amanhecer e o entardecer, esses são os momentos em que os animais se deslocam com maior frequência. Em casos de avistamentos de animais atropelados, avise as autoridades competentes (DER, Polícia Militar Ambiental, Corpo de Bombeiros ou Concessionárias), em alguns casos os animais podem ser resgatados, tratados e soltos de volta à natureza após sua recuperação, porém torna-se extremamente necessária a criação de Centros de Triagem e Reabilitação de Animais Silvestres em algumas cidades da nossa região, para que os animais resgatados tenham um local para serem encaminhados e tratados. Essas atitudes de atenção e cuidado, não são benéficas apenas para os animais silvestres, refletem diretamente na sua segurança e na de seus passageiros. Em um Ecossistema onde todos precisam de equilíbrio, o respeito mútuo entre todas as espécies se apresenta como a maior ferramenta de desenvolvimento conjunto. Pense nisso! Felipe Feliciani, Biólogo, MBA em Desenvolvimento Sustentável, Coordenador Técnico do Núcleo Caetê.

Turismo Rural Foi aprovado na Cãmara dos Deputados, em 29 de setembro, o projeto de incentivo ao turismo rural. Ele dispõe que "Também se considera atividade rural, desde que oferecida em meio rural, comprometida com as atividades da exploração agropecuária, de forma vinculada ou não à exploração de atividade agropecuária: I – administração de hospedagem em meio rural; II – fornecimento de alimentação e bebidas em restaurantes e meios de hospedagem rurais; III – organização e promoção de visitas a propriedades rurais produtivas ou propriedades rurais inativas de importância histórica; IV – exploração de vivência de práticas do meio rural; V – exploração de manifestações artísticas ou religiosas no meio rural." O turismo rural, atividade relativamente nova no país carecia de regulação legal, fato que tem prejudicado seu desenvolvimento face à falta do devido amparo legal. Cumpre registrar que o turismo rural raramente é autossustentável; via de regra, trata-se de complementação de renda para fazendeiros que decidem aproveitar a beleza do sítio onde se localiza sua propriedade, o atrativo representado por cachoeiras, trilhas, montanhas e, assim, acolher os habitantes das cidades próximas que buscam um passeio aprazível, ou o conhecimento e a experiência da vida campestre. Tal complementação de renda – em alguns casos pode significar a diferença entre a continuidade da atividade rural ou seu abandono.

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Agenda 2030 para o

Desenvolvimento Sustentável A ONU (Organização das Nações Unidas) reuniu 193 líderes mundiais em setem- abrangente, de longo alcance e centrabro e lançou a Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável com 17 Objetivos do nas pessoas. Comprometemo-nos a trabalhar incansavelmente para a plena de Desenvolvimento Sustentável a serem alcançados nos próximos 15 anos. Conheça implementação desta Agenda em 2030. alguns pontos desta Agenda. “A Agenda é um plano de ação para as pessoas, para o planeta e para a prosperi- Reconhecemos que a erradicação da dade. Ela também busca fortalecer a paz universal com mais liberdade. Reconhecemos pobreza em todas as suas formas e dique a erradicação da pobreza em todas as suas formas e dimensões, incluindo a mensões, incluindo a pobreza extrema, pobreza extrema, é o maior desafio global e um requisito indispensável para o desen- é o maior desafio global e um requisito indispensável para o desenvolvimento volvimento sustentável. Todos os países e todas as partes interessadas, atuando em parceria colabo- sustentável. Estamos empenhados em rativa, implementarão este plano. Estamos decididos a libertar a raça humana da alcançar o desenvolvimento sustentável tirania da pobreza e da penúria e a curar e proteger o nosso planeta. Estamos de- nas suas três dimensões – econômica, social e ambiental – de forma equilibrada terminados a tomar as medidas ousadas e transformadoras que são urgentemente e integrada. Também vamos dar continecessárias para direcionar o mundo panuidade às conquistas dos Objetivos de ra um caminho sustentável e resiliente. "Nunca antes os líderes Desenvolvimento do Milênio e buscar Ao embarcarmos nesta jornada coletiva, mundiais comprometeram-se atingir suas metas inacabadas. comprometemo-nos que ninguém seja Nós resolvemos, entre agora e deixado para trás. a uma ação comum e um 2030, acabar com a pobreza e a foOs 17 Objetivos de Desenvolviesforço via uma agenda me em todos os lugares; combater as mento Sustentável e 169 metas que espolítica tão ampla desigualdades dentro e entre os paítamos anunciando demonstram a escases; construir sociedades pacíficas, jusla e a ambição desta nova Agenda Unie universal." tas e inclusivas; proteger os direitos huversal. Os Objetivos e metas estimularão a ação para os próximos 15 anos em manos e promover a igualdade de gênero e o empoderamento das mulheres e áreas de importância crucial para a hu- meninas; e assegurar a proteção duradoura do planeta e seus recursos naturais. Resolvemos também criar condições para um crescimento sustentável, inclusivo e manidade e para o planeta. economicamente sustentado, prosperidade compartilhada e trabalho decente para Declaração todos, tendo em conta os diferentes níveis de desenvolvimento. Ao embarcarmos nesta jornada coletiva, comprometemo-nos que ninguém será Nós, chefes de Estado e de Governo e altos representantes, reunidos na deixado para trás. Reconhecendo a dignidade da pessoa humana como fundamental, sede das Nações Unidas, em Nova York, queremos ver os Objetivos e metas cumpridos para todas as nações e povos e para de 25 a 27 de setembro de 2015, no mo- todos os segmentos da sociedade. E faremos o possível para alcançar, em primeiro mento em que a Organização comemora lugar, aqueles que ficaram mais para trás. Esta é uma Agenda de alcance e significado sem precedentes. Ela é aceita seu septuagésimo aniversário, decidimos hoje sobre os novos Objetivos de Desen- por todos os países e é aplicável a todos, levando em conta diferentes realidades nacionais, capacidades e níveis de desenvolvimento e respeitando as políticas e volvimento Sustentável Globais. Em nome dos povos que servimos, prioridades nacionais. Estes são objetivos e metas universais que envolvem todo o nós adotamos uma decisão histórica mundo, igualmente os países desenvolvidos e os em desenvolvimento. Eles são intesobre um conjunto de Objetivos e me- grados e indivisíveis, e equilibram as três dimensões do desenvolvimento sustentável. Os Objetivos e metas são o resultado de mais de dois anos de consulta pública e tas universais e transformadoras que é

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envolvimento junto à sociedade civil e outras partes interessadas em todo o mundo, prestando uma atenção especial às vozes dos mais pobres e mais vulneráveis. Esta consulta incluiu o valioso trabalho realizado pelo Grupo de Trabalho Aberto sobre Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da Assembleia Geral e pelas Nações Unidas, cujo secretário-geral apresentou um relatório síntese em dezembro de 2014. Nossos princípios e compromissos compartilhados A nova Agenda é guiada pelos propósitos e princípios da Carta das Nações Unidas, incluindo o pleno respeito pelo direito internacional. Fundamenta-se na Declaração Universal dos Direitos Humanos, tratados internacionais de direitos humanos, a Declaração do Milênio e os resultados da Cúpula Mundial de 2005. Ela é informada por outros instrumentos, tais como a Declaração sobre o Direito ao Desenvolvimento. Reafirmamos os resultados de todas as grandes conferências e cúpulas das Nações Unidas que estabeleceram uma base sólida para o desenvolvimento sustentável e ajudaram a moldar a nova Agenda. Estas incluem a Declaração do Rio sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento; a Cúpula Mundial sobre o Desenvolvimento Sustentável; a Cúpula Mundial para o Desenvolvimento Social; o Programa de Ação da Conferência Internacional sobre População e Desenvolvimento, a Plataforma de Ação de Pequim; e a Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável (Rio+20). Reafirmamos também a continuidade dada a estas conferências, incluindo os resultados da Quarta Conferência das Nações Unidas sobre os Países Menos Desenvolvidos, a Terceira Conferência Internacional sobre Pequenos Estados Insulares em Desenvolvimento; a Segunda Conferência das Nações Unidas sobre Países em Desenvolvimento Sem Litoral; e da Terceira Conferência Mundial da ONU sobre a Redução do Risco de Desastres. O esgotamento dos recursos naturais e os impactos negativos da degradação ambiental, incluindo a desertificação, secas, a degradação dos solos, a escassez de água doce e a perda de biodiversidade acrescentam e exacerbam a lista de desafios que a humanidade enfrenta. A mudança climática é um dos maiores desafios do nosso tempo e seus efeitos negativos minam a capacidade de todos os países de alcançar o desenvolvimento sustentável. Os aumentos na temperatura global, o aumento do nível do mar, a acidificação dos oceanos e outros impactos das mudanças climáticas estão afetando seriamente as zonas costeiras e os países costeiros de baixa altitude, incluindo muitos países menos desenvolvidos e os pequenos Estados insulares em desenvolvimento. A sobrevivência de muitas sociedades, bem como dos sistemas biológicos do planeta, está em risco. A nova Agenda Nós estamos anunciando hoje 17 Objetivos de

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17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável

Objetivo 1. Acabar com a pobreza em todas as suas formas, em todos os lugares. Objetivo 2. Acabar com a fome, alcançar a segurança alimentar e melhoria da nutrição e promover a agricultura sustentável. Objetivo 3. Assegurar uma vida saudável e promover o bemestar para todos, em todas as idades. Objetivo 4. Assegurar a educação inclusiva e equitativa e de qualidade, e promover oportunidades de aprendizagem ao longo da vida para todos. Objetivo 5. Alcançar a igualdade de gênero e empoderar todas as mulheres e meninas. Objetivo 6. Assegurar a disponibilidade e gestão sustentável da água e saneamento para todos. Objetivo 7. Assegurar o acesso confiável, sustentável, moderno e a preço acessível à energia para todos. Objetivo 8. Promover o crescimento econômico sustentado, inclusivo e sustentável, emprego pleno e produtivo e trabalho decente para todos. Objetivo 9. Construir infraestruturas resilientes, promover industrialização inclusiva e sustentável e fomentar inovação. Objetivo 10. Reduzir a desigualdade dentro dos países e entre eles. Objetivo 11. Tornar as cidades e os assentamentos humanos inclusivos, seguros, resilientes e sustentáveis. Objetivo 12. Assegurar padrões de produção e de consumo sustentáveis. Objetivo 13. Tomar medidas urgentes para combater a mudança climática e seus impactos. Objetivo 14. Conservação e uso sustentável dos oceanos, dos mares e dos recursos marinhos para o desenvolvimento sustentável. Objetivo 15. Proteger, recuperar e promover o uso sustentável dos ecossistemas terrestres, gerir de forma sustentável as florestas, combater a desertificação, deter e reverter a degradação da terra e deter a perda de biodiversidade. Objetivo 16. Promover sociedades pacíficas e inclusivas para o desenvolvimento sustentável, proporcionar o acesso à justiça para todos e construir instituições eficazes, responsáveis e inclusivas em todos os níveis. Objetivo 17. Fortalecer os meios de implementação e revitalizar a parceria global para o desenvolvimento sustentável.

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Desenvolvimento Sustentável com 169 metas associadas que são integradas e indi- por meio do engajamento de homens visíveis. Nunca antes os líderes mundiais comprometeram-se a uma ação comum e e meninos. A integração sistemática da um esforço via uma agenda política tão ampla e universal. Estamos criando juntos perspectiva de gênero na implementaum caminho rumo ao desenvolvimento sustentável, nos dedicando coletivamente à ção da Agenda é crucial. busca do desenvolvimento global e da cooperação vantajosa para todos, que podem Os novos Objetivos e metas entratrazer enormes ganhos para todos os países e todas as partes do mundo. rão em vigor no dia 1º de janeiro de 2016 Reafirmamos que cada Estado tem, e exerce livremente, sua soberania plena e e orientarão as decisões que tomamos permanente sobre toda a sua riqueza, seus recursos naturais e sua atividade econô- ao longo dos próximos 15 anos. Todos mica. Vamos implementar a Agenda para o pleno benefício de todos, para a geração nós vamos trabalhar para implementar de hoje e para as gerações futuras. Ao fazê-lo, reafirmamos nosso compromisso com a Agenda dentro de nossos próprios o direito internacional e enfatizamos que a Agenda deverá ser implementada de for- países e em nível regional e global, ma consistente com os direitos e obrigações dos Estados sob o direito internacional. tendo em conta as diferentes realidaReafirmamos a importância da Declaração Universal dos Direitos Humanos, bem des nacionais, capacidades e níveis de como outros instrumentos internacionais relativos aos direitos humanos e ao direito desenvolvimento, e respeitando as políinternacional. Enfatizamos as responsabilidades de todos os Estados, em conformi- ticas e prioridades nacionais. dade com a Carta das Nações Unidas, de respeitar, proteger e promover os direitos Nossos governos têm a responsahumanos e as liberdades fundamentais para todos, sem distinção de qualquer tipo de bilidade primária de acompanhamento raça, cor, sexo, língua, religião, opinião política ou outra opinião, origem nacional ou e avaliação, nos níveis nacional, regional social, riqueza, nascimento, deficiência e global, em relação ao progresso alcanou qualquer outra condição. çado na implementação dos Objetivos "A efetivação da igualdade de e metas para os próximos 15 anos. Para A efetivação da igualdade de gênero e o empoderamento das mulheres apoiar a prestação de contas aos nossos gênero e o empoderamento e meninas dará uma contribuição escidadãos, iremos fornecer um acompadas mulheres e meninas sencial para o progresso em todos os nhamento e avaliação sistemáticos em dará uma contribuição Objetivos e metas. Alcançar o potencial vários níveis, tal como estabelecido neshumano e do desenvolvimento sustenta Agenda e na Agenda de Ação de Adis essencial para o progresso tável não é possível se para metade da Abeba. O Fórum Político de Alto Nível, em todos os Objetivos humanidade continuam a ser negados sob os auspícios da Assembleia Geral e e metas." seus plenos direitos humanos e opordo Conselho Econômico e Social (ECOtunidades. Mulheres e meninas devem SOC), terá o papel central na supervisão gozar de igualdade de acesso à educa- do acompanhamento e da avaliação em nível global. ção de qualidade, recursos econômicos O que estamos anunciando hoje é uma carta para as pessoas e o planeta no e participação política, bem como a século XXI. As crianças e as mulheres e homens jovens são agentes fundamentais igualdade de oportunidades com os ho- de mudança e encontrarão nos novos Objetivos uma plataforma para canalizar suas mens e meninos em termos de emprego, capacidades infinitas pelo ativismo em prol da criação de um mundo melhor. liderança e tomada de decisões em to‘Nós, os povos’ são as celebradas palavras de abertura da Carta da ONU. E ‘nós, dos os níveis. os povos’ que estamos embarcando hoje na estrada para 2030. Nossa jornada vai Vamos trabalhar para um aumento envolver governos, bem como os parlamentos, o Sistema das Nações Unidas e outras significativo dos investimentos para su- instituições internacionais, autoridades locais, povos indígenas, sociedade civil, os perar o hiato de gênero e fortalecer o negócios e o setor privado, a comunidade científica e acadêmica – e todas as pesapoio a instituições em relação à igual- soas. Milhões já se envolveram com esta Agenda. É uma Agenda do povo, pelo povo dade de gênero e o empoderamento das e para o povo – e isto, acreditamos, irá garantir o seu sucesso.” mulheres nos âmbitos global, regional Este texto foi traduzido pelo Centro de Informação das Nações Unidas para o Brasil (UNIC e nacional. Todas as formas de discri- Rio), última edição em 13 de outubro de 2015. https://sustainabledevelopment.un.org. Você minação e violência contra as mulheres também poderá ler a versão integral em www.nacoesunidas.org/pos2015/agenda2030 e em e meninas serão eliminadas, incluindo www.diagrarte.com.br/noticias.

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Mulheres fazem a diferença! Por Elaine Pereira

Hoje, mais do que nunca na história da humanidade, tem-se levantado o tema da igualdade de gênero para que homens e mulheres tenham acesso aos mesmos direitos e sejam tratados com o mesmo respeito. Infelizmente ainda vemos em regiões do Brasil e em alguns países, mulheres e meninas serem tratadas como objeto do qual o homem tem o poder e domínio. A ONU (Organização das Nações Unidas) está bem empenhada em auxiliar na mudança deste quadro, há anos vem trabalhando neste sentido e renovou seu propósito nas metas da Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável e em suas campanhas lideradas pela ONU Mulheres. Bem, vemos que se trata de uma questão cultural passada por várias gerações e etnias. Civilizações matriarcais e povos onde o direito de homens e mulheres eram iguais, como os celtas por exemplo, foram banidos da história. Apesar de todo o movimento que há décadas vem sendo feito para que mulheres e meninas conquistem o seu espaço, temos que ter presente que em todas as épocas mulheres se destacaram. Vivemos um momento em que a energia planetária passa para a polarização feminina e este é um dos motivos para vermos como este impulso traz à tona vários movimentos de defesa e empoderamento das mulheres, não só em busca de direitos justos e equilibrados, mas para que o planeta possa restabelecer o equilíbrio em sua jornada evolutiva. Não estamos tratando de discurso feminista, mas de uma escala evolutiva em que homens, mulheres e os demais reinos

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da natureza estão em evolução, inclusive o planeta. Evoluir também tem o significado de cada indivíduo conhecer a si próprio e despertar seus potenciais, qualidades, talentos e os colocar a serviço de todos, gerando prosperidade, liberdade e felicidade. Não se trata de discurso utópico, mas sim da oportunidade que é dada a cada um de se expressar e cumprir sua missão, afinal cada um de nós tem um propósito de vida. Para que este passo seja alcançado é importante sim que os líderes dos países, membros da sociedade em seus mais vários ramos e os meios de comunicação abracem esta causa, mas cada uma de nós precisa também abraçá-la. Não adianta querer mudar apenas a mentalidade dos homens, temos que dar visão também às mulheres, pois muitas delas ainda alimentam o modus viventi machista. Lembrem-se que somos nós mulheres que damos à luz e criamos as crianças que se transformarão em adultos e que levarão consigo os valores que nós educadoras lhes passamos, aqui me refiro a “educadoras” a todas as mulheres, mães, tias, avós, irmãs, amigas, esposas, professoras, etc. Só podemos passar para o outro os verdadeiros valores que temos dentro de nós, então precisamos sim repensar nossas atitudes, como nos portamos diante dos valores machistas? Durante toda a história da humanidade encontramos mulheres que despertaram seu potencial e o colocaram a serviço do mundo, algumas pagaram caro por isso, com suas próprias vidas, mas deixaram um legado e cumpriram sua missão. Hoje, vemos com frequência história de mulheres que acreditaram que podiam e fizeram acontecer. São líderes em várias áreas, inclusive nas que eram determinantemente masculinas, e também passaram a ter participação política efetiva. Cada uma há de reconhecer seu talento, seu espaço e conquistar seus objetivos de modo a contribuir com a humanidade, seja no seu bairro ou cidade, servindo um cafezinho ou dirigindo uma grande empresa, o que importa é a atitude, a integridade, o como o trabalho é realizado. São inúmeras as mulheres que tiveram coragem de percorrer este caminho e agora vamos conhecer a história de uma mulher que ainda menina foi faxineira e descobriu sua veia empreendedora e hoje comanda 6 empresas além de exercer neste ano (2015) a função de Presidente da Câmara de Vereadores de Paraisópolis, uma cidade do sul de Minas Gerais. Contaremos um pouco da história de Maura Lúcia dos Santos. Nascida em Delfinópolis (MG), aos 13 anos já era babá e aos 14 seguiu para São Paulo onde trabalhou como faxineira. Tendo o trabalho para se manter foi estudar, fez curso de Telefonista o que lhe rendeu um emprego na Companhia Telefônica de São Paulo, cursou também Costura Industrial, Ótica e Faculdade de Estudos Sociais. Para Maura, “o estudo abre novos horizontes, temos que estar sempre atualizadas, a vida nos dá oportunidades e precisamos estar preparadas para recebê-las”. Mulher dinâmica e empreendedora foi para Paraisópolis em 1.988, trabalhou na ótica do marido e em 2.000 abriu sua própria Ótica. E não parou por ai, abriu outra ótica na cidade de Conceição dos Ouros e em Paraisópolis partiu para outros ramos, tendo loja de Cosméticos, Restaurante e Pastelaria, são seis empresas sob seu comando. Participa ativamente de entidades filantrópicas, como o Hospital da Cidade, a Casa da Criança, o Asilo e faz parte do CONSEP. Foi Presidente da Associação Comercial de Paraisópolis e indicada a fazer parte da Câmara da Mulher Empreendedora do Estado de Minas Gerais. Querendo fazer mais pela cidade entrou para a política e foi eleita vereadora, única mulher da gestão, em 2015 exerce a função de Presidente da Casa. Sempre com um sorriso no rosto e um olhar positivo para a vida, querendo fazer mais e melhor, pretende se candidatar à prefeitura da cidade. Para ela “os desafios trazem grandes oportunidades e com muito trabalho e amor no que se faz é possível criar uma equipe proativa que atenda às necessidades da população”. Para as mulheres deixa a seguinte dica: “invistam em vocês, estudem, tenham iniciativa, sejam dinâmicas, realizem o que acreditam, os desafios sempre existirão mas a determinação, o preparo e a disposição farão toda a diferença”. Com esta dica, confirmamos que todas nós temos potenciais incríveis e precisamos acreditar e investir em nossos talentos e conquistar nosso espaço, para que nossa vida e a das pessoas que nos circundam também seja melhor.

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Outubro Rosa — Novembro Azul Por Luciana Ribeiro Silva

Em outubro em todo o mundo a campanha Outubro Rosa para a prevenção do câncer de mama e do colo de útero é realizada, com eventos de conscientização e maior acesso aos exames de mamografia para mulheres entre 50 e 69 anos. Já o Novembro Azul traz a campanha de prevenção ao câncer de próstata, segundo tipo de câncer que mais acomete os homens. Com o avanço das pesquisas de Código Genético, além dos exames tradicionais, no caso da mulher, do autoexame, da mamografia e do ultrassom de mama, hoje podemos contar com o exame de caráter genético, o BRCA1 e BRCA2. O Projeto de Lei 6262/2013, de autoria da Deputada Carmem Zanotto (PPS/SC), pretende obrigar o Sistema Único de Saúde (SUS) a cobrir o exame de Detecção de Mutação Genética dos genes BRCA1 e BRCA2 em mulheres com histórico familiar de diagnóstico de câncer de mama ou ovário. Este exame é o mesmo realizado por Angelina Jolie, e permite identificar a existência de predisposição genética para cânceres de mama e ovário. Ao ser detectada a mutação genética para os genes BRCA1 e BRCA2, é possível a adoção de medidas terapêuticas profiláticas para prevenir o tumor. A proliferação e a diferenciação celular são processos rigorosamente controlados para atender às necessidades do organismo. Qualquer alteração nos mecanismos que regulam esses processos pode modificar a fisiologia da célula normal e, eventualmente, conduzir ao desenvolvimento de um tumor. O BRCA1 e BRCA2 são genes supressores de tumor. As mutações que inativam estes genes contribuem diretamente para o desenvolvimento do tumor. As prevalências estimadas para portadores de mutações em BRCA1 e BRCA2 são, respectivamente de 0,11% e 0,12% na população geral. E em famílias de alto risco, ou seja, aquelas com três ou mais casos de câncer de mama ou ovário, entre 12,8% a 16%. As estimativas iniciais para o risco de desenvolvimento de câncer de mama ao longo da vida em mulheres portadoras de mutações no gene BRCA1, eram superiores a 85%. Estudos mais recentes, no entanto, sugerem um risco de 50% a 80% para o desenvolvimento de câncer de mama até os 70 anos. O risco para portadores de mutação em BRCA2 se aproxima daquele estimado para BRCA1. Além do câncer de mama, portadores de mutações no gene BRCA1 são susceptíveis ao desenvolvimento de câncer de ovário e próstata, enquanto mutações no gene BRCA2 elevam o risco para câncer de mama em indivíduos de ambos os sexos, em ovário, próstata, pâncreas, estômago e vias biliares. No caso dos homens, desde 1990, se realiza o rastreamento através do PSA e do exame de toque retal. O Antígeno Prostático Específico (PSA) é uma substância produzida pelas células da glândula prostática, encontrado principalmente no sêmen, mas uma pequena quantidade está presente no sangue. A maioria dos homens saudáveis têm níveis menores de 4 ng/ml. A chance de um homem desenvolver câncer de próstata aumenta proporcionalmente com o aumento do nível do PSA, geralmente acima de 4 ng/ml. Entretanto, um nível abaixo desse valor não significa que o câncer não esteja presente. Quase 15% dos homens com PSA abaixo de 4 ng/ml são diagnosticados com câncer de próstata na biópsia. Os homens com nível de PSA na faixa de 4 ng/ml

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e 10 ng/ml, têm uma chance de 1 em 4 de ter a doença. Se o PSA se encontra acima de 10 ng/ml, a possibilidade de ter câncer de próstata é superior a 50%. No entanto, o nível de PSA pode estar aumentado por outras razões. O PSA é utilizado na avaliação diagnóstica de homens com ou sem sinais e sintomas sugestivos de câncer de próstata, na avaliação de recorrência bioquímica após tratamento e no monitoramento de homens com diagnóstico prévio de câncer de próstata. Um novo exame pode determinar a predisposição para o câncer de próstata, o PreventCode, ou, Painel Genético de Predisposição ao Câncer de Próstata. Trata-se de teste genético rápido desenvolvido pelo Laboratório Progenética que se baseia em um painel de polimorfismos cuidadosamente selecionados por apresentarem uma forte correlação estatística com a suscetibilidade ou risco de aparecimento do câncer de próstata. Este Painel faz parte de estratégia para a implementação de medidas preventivas como periodicidade de realização de exames de rastreamento e intervenção precoce baseando-se em avançadas descobertas científicas relacionadas com o código genético. Os resultados do Teste PreventCode não significam que o paciente tenha ou possa desenvolver as patologias investigadas. Sendo assim, vale ressaltar a importância da prevenção e da divulgação de métodos diagnósticos para estas patologias tão incidentes na atualidade. Luciana Ribeiro Silva, farmacêutica generalista.


Bruxismo – ranger de dentes em

crianças com autismo Pela Dra. Gracia Costa Lopes

imagem google

O bruxismo é definido como um hábito não funcional do sistema mastiga- rican Psychiatric Association. Autism Spectório, caracterizado pelo ato de ranger ou apertar os dentes, podendo ocorrer trum Disorder, 2013). O diagnóstico de TEA é essendurante o dia e durante o sono. A etiologia é multifatorial e a literatura sugere vários fatores associados: dentário, fisiológico, psicológico e neurológico. As for- cialmente clínico, feito a partir das obças exercidas pelo bruxismo podem provocar distúrbios em diferentes graus nos servações da criança, entrevistas com dentes e nos tecidos de suporte, na musculatura e na articulação temporomandi- os pais e aplicação de instrumentos esbular. O sinal mais comum é o desgaste na face dos dentes anteriores e oclusais pecíficos. Os critérios usados para diagnos posteriores, além de mobilidade e hipersensibilidade dentárias, fratura de nosticar o TEA são descritos no Manual cúspides e restaurações e hipertonicidade dos músculos mastigatórios. A relação Estatístico e Diagnóstico da Associação Americana de Psiquiatria, o DSM. entre Disfunção Temporomandibular No Brasil, em 2010, estimava-se cerca (DTM) e bruxismo na população ainda de 500 mil pessoas com autismo. é controversa. O bruxismo ou ranger dos denO transtorno do espectro autistes é um distúrbio do sono, podendo ta (TEA) é considerado uma síndrome também ser secundário ao uso de neuropsiquiátrica caracterizada por fármacos comumente observado em manifestações comportamentais que crianças com autismo. Até o momento, acompanham déficits na comunicação e existem poucas pesquisas com relação interação social, padrões de comporao bruxismo em crianças com autismo. tamentos repetitivos e estereotipados Diante das consequências que tais e um repertório restrito de interesses alterações trazem à articulação teme atividades. As anormalidades no poromandibular, a partir de novembro desenvolvimento também são caracde 2015, nós do grupo GAPA (Grupo de terísticas do autismo, as quais podem ser detectadas nos primeiros três anos Amigos e Pais de Autistas) iniciamos um trabalho de pesquisa com o objetivo de vida e persistir até a idade adulta. de avaliar se há relação entre bruxismo e presença de disfunção temporomanApesar da relevância, a etiologia do dibular em crianças com autismo. Esse estudo será submetido à aprovação do TEA ainda permanece desconheci- Comitê de Ética em Pesquisa da C.P.O. SÃO LEOPOLDO MANDIC – SP. Serão avada. Acredita-se que seja multifatorial, liadas crianças do grupo GAPA (autismoitajuba@gmail.com) com diagnóstico de associada a fatores genéticos e neuro- autismo, que procurarem tratamento entre novembro 2015 a abril 2016 e serão biológicos, isto é, anomalia anatômica atendidos, consecutivamente, de acordo com uma lista de espera. A investigação ou fisiológica do sistema nervoso cen- dessa relação permitirá intervenções preventivas em relação aos danos causados tral, problemas constitucionais inatos na ATM em crianças com autismo. O resultado do presente trabalho será dado ao e interação entre múltiplos genes (Ame- conhecimento público pelos meios científicos.

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