Lado Direito IV EDIÇÂO

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Dezembro 2011| Lado Direito

SEGUE-O

El cambio ha llegado—Actualidade espanhola | 4 A viragem polĂ­tica da vizinha Espanha tem sido motivo para tabloids, capas de revista e vĂĄrias crĂ­ticas jornalĂ­sticas. Nesta edição, Daniel Albino, traz-nos as boas novas que marcam o novo rumo espanhol.

Rubrica Internacional Editorial de Joana Rodrigues:

Conflitos do Futuro:

Descuido irreversĂ­vel | 3

A competição energÊtica por Miguel Turnbull |6

O

s jovens que contribuem para o desenvolvimento do Jornal Lado Direito têm-se debruçado sobre as grandes problemåticas da actualidade, desde a conhecida iliteracia política, atÊ às questþes energÊticas que são transversais quer ao mundo ocidental, quer ao mundo oriental. Militantes assíduos como Samuel de Paiva Pires, Daniel Albino, Miguel Turnbull e João Empis dão o seu contributo nesta nova edição.


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nesta edição Página 4

El cambio ha llegado A mudança chegou Por Daniel Albino Página 6

Rubrica Internacional: Conflitos do Futuro A competição energética por Miguel Turnbull Página 8

Tribuna da Liberdade por Samuel de Paiva Pires Página 10

Coluna literária

equipa

por Samuel de Paiva Pires Página 11

Opinião

Editor

João Empis

Joana Martins Rodrigues

Página 12

Agenda

Colaboradores Filipe Carneiro de Almeida João Empis Joaquim Henriques

Corrector Linguístico Ricardo Raposo


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EDITORIAL

universitários no que diz respeito ao foro cultural, cinematográfico, entre outros temas.

JOANA RODRIGUES | EDITOR DE “LADO DIREITO”

Creio que muitos dos leitores tiveram a maravilhosa oportunidade de observar o mesmo que eu. Mas será relevante referir que o mais impressionante não foi a demonstração de algum (o eufemismo sempre foi o meu recurso estilístico favorito) desconhecimento, mas a forma como aqueles jovens aceitam a sua ignorância. Aceitam-na com alegria e algum entusiasmo.

Descuido irreversível Nos dias que correm, poderei afirmar que “qualquer um vai para a Universidade”. É um facto. O número de vagas, na generalidade dos cursos, dispara e, inclusivamente, o número de cursos. Licenciaturas que são especificidades de outras mais abrangentes. Actualmente podemos “ter um canudo” em Artes e Humanidades e/ou em “Metodologias de tudo e mais alguma coisa”. Todavia, esta panóplia de cursos não integra a parte mais gravosa do estado em que o Ensino Superior se encontra. Como será possível exigir qualidade quando a permissividade é imensa e pouco ou nada selectiva? Os jovens portugueses anseiam por integrar o mundo universitário, anseiam por dignificar o seu bom nome revelando o que estão a estudar. Isto faz -me alergia. Uma alergia que é provocada pelo desprendimento que se denota nos nossos alunos. Aqui não refiro a assiduidade dos alunos nem sequer a sua pontualidade, refiro sim o seu interesse pela aprendizagem, o seu interesse na possibilidade de se tornarem um pouco mais do que o que os rodeia.

Na primeira edição deste Jornal, no editorial, referi que se premeia a mediocridade. Cada vez creio mais nessa afirmação que, infelizmente, considero uma verdade irrefutável. Hoje o desconhecimento é encarado de uma forma benevolente. É aceite e desculpável. Hoje são alvos de alguma troça aqueles que verdadeiramente sabem ou têm ânsia pela sabedoria. Que país é este que não reconhece o que é verdadeiramente digno? Que país é este que abraça os ignorantes e lhes incute a ignorância vitalícia? É algo que nunca irei compreender. Por vezes, confesso, sou tentada a seguir esta ceita de “brutos”, por vezes penso para comigo porque valerá a pena querer ser diferente; querer “ter olho nesta terra de cegos”? Contudo, tenho-me guiado pelos que, verdadeiramente, se distinguem demonstrando a sua vontade por atingirem a superioridade intelectual.

Depois de muito reflectir sobre os objectivos da maioria da juventude portuguesa, lembro-me que, para meu desagrada, serão eles uma grande parte da geração que “governará” este país. Muito lamento ter de deixar os destinos do país nas mãos de indivíduos que nunca quiseram, nem nunca quererão, contribuir para o seu próprio bem (contribuir para o bem comum seria pedir demasiado). A iliteracia política, cultural, intelectual é dão vasta e cada vez mais requisitada que este país corre para um buraco negro cuja solução não Não há muitos dias tive a oportunidade de observar passará, absolutamente, pelo uso dos nossos um vídeo feito pela Revista “Sábado” onde brandos costumes. demonstrava o conhecimento de alguns


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‘El cambio ha llegado’ – A Mudança Chegou

Actualidade Espanhola

A Espanha Eleitoral… Tendo antecipado as Eleições Legislativas, as mesmas só deveriam realizar-se em 2012, Zapatero deixa a liderança do Governo Espanhol. Decidido a não se recandidatar ao cargo que ocupa desde 2004, o então Presidente do Governo deixa a quarta maior economia Europeia estagnada. Não sabendo lidar com a crise internacional, a situação economico-financeira deteriorou-se durante o segundo mandato do PSOE, - Governo sem maioria absoluta. Com a maior taxa de desemprego da zona euro, um dos maiores défices públicos, com vigilância das Instituições Internacionais e com as taxas de juro a baterem recordes nos Mercados Financeiros, é este o cenário das próximas eleições de 20 de Novembro. Ao acto, candidatam-se 10 forças políticas, destacando-se o PP liderado por Mariano Rajoy, destacado nas sondagens realizadas e o PSOE já com liderança de Alfredo Pérez Rubalcaba, que substitui Zapatero. A campanha…

‘Súmate al cambio’, o mote lançado pelo Partido Popular Espanhol para concorrer as eleições gerais do passado dia 20 de Novembro uniu o Partido em torno de Mariano Rajoy, candidato pela terceira vez ao cargo de Primeiro-Ministro, depois de em 2004 José Maria Aznar ter inicado o seu nome como candidato as eleições Legislativas. Tendo perdido na altura para o PSOE, na sequência dos Atentados Terroristas de Março e não conseguindo a eleição em 2008, mas tendo retirado a maioria absoluta a Zapatero. Após a vitória nas eleições Municipais de Maio, do presente ano, confirmando a ânsia de mudança em Espanha e depois da confirmação que Zapatero não se recandidataria ao lugar de PrimeiroMinistro, a campanha do partido Popular, acompanhada pelas sondagens divulgadas, levou o PP à vitória mais expressiva do Partido em Espanha. O Resultado…

Votantes: 24.590.557 (71,69%); Abstenção: 9.710.775 (28,31%); Votos válidos: 24,272,671 (98,71%); Votos nulos: 317.886 (1,29%); Votos em branco: 333.095 (1,37%);

"El PP consigue la mayoría absoluta más amplia de nuestra historia", foi assim que a Secretária-Geral do PP classificou o resultado obtido nas eleições. Depois de quase oito anos de governação Socialista, de uma maioria Absoluta e de paralisia da Economia Espanhola, o PP assume agora um país com graves problemas economicos. O PP obteve 44,62% dos votos, uma variação positiva de 4,69% dos votos, representando um aumento de 32 deputados e o PSOE, principal derrotado da noite, perdeu 59 deputados, representando uma variação negativa de 15,14% dos votos, registando apenas 28,73% do total dos votos. Entre os vencedores, encontram-se ainda a Esquerda Unida, a União Progresso e Democracia, a Convergência e União e o Amaiur, ambos tendo aumentado mais do que um deputado na Câmara baixa do parlamento, - o Congresso. Este novo quadro parlamentar permite ao novo Executivo liderar sem necessidade de recorrer a nenhum tipo de coligação governativa.


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O vencedor...

do Primeiro-Ministro Italiano e do Primeiro-Ministro Grego, substituidos por Governos de Unidade Nacional; - Os juros das dívidas soberanas bateram já recordes em países como Portugal, Espanha, França, Itália, Bélgica, Grécia.

Nascido em Santiago de Compostela em 1955, Mariano Rajoy Brey, assumiu diversas pastas governativas nos Governos, liderados por José Maria Aznar, tendo-se distinguido como bom governante, enquanto Ministro do interior, tendo alcançado importantes vitórias na luta contra o terrorismo da ETA. Destacando-se na fase final do mandato de Aznar, foi nomeado Secretário-Geral e candidato às eleições gerais de 2004. Não conseguido, contudo, a eleição como Presidente do Governo nas eleições de 2004. Falhou igualmente a eleição em 2008, mas evitando a maioria absoluta do PSOE. Neste período, desempenhou o cargo de lider da oposição aos Governos Socialistas, tendo-se entendido com o PSOE, na fase final da última legislatura Socialista, quanto aos limites Constitucionais de endividamento, umas das exigências da Comissão Europeia.

Outros aspectos relevantes… - A Península Ibérica volta a ter um Governo do mesmo quadrante político, depois de o mesmo ter acontecido em 2002-2004 com Aznar e Durão Barroso/Santana Lopes e em 2005-2010 com Zapatero e Sócrates, - A Crise das dívidas Soberanas já levou ao afastamento

Daniel Albino Vice-Presidente da Comissão Política da Concelhia de Lisboa


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A

situação económica calamitosa que tem assolado Portugal, colocou em evidência o peso que irá cair sobre os ombros da nossa geração nos anos vindouros. Seremos nós a pagar a factura das decisões nefastas tomadas quando ainda nem éramos nascidos. Infelizmente estas não serão os únicos problemas herdados com os quais teremos de lidar. Um dos assuntos que irá certamente dominar a agenda política, quer nacional quer internacional, durante a vigência da nossa liderança no mundo será a segurança energética.

d e petróleo provêm dos países

Conflitos do A competição por Miguel

pertencentes à OPEP, que funciona como um verdadeiro cartel fixador de preços e de produção. Quando recursos tão globalmente fundamentais ficam dependentes de mediadas Os rec urso s en ergéticos são proteccionistas, conflitos podem surgir fundamentais para sustentar o estilo de pelo controlo e acesso aos mesmos. vida moderno. Petróleo, gás natural e carvão são alguns dos principais recursos A limitação do acesso aos recursos, tem para as economias desenvolvidas e em recorrentemente servido de arma política por estados que pretendem assumir desenvolvimento. Aliás, estas últimas têm certas posições na comunidade colocado uma enorme pressão sobre a internacional. Mesmo na Europa temos exploração, contribuindo para uma maior assistido recorrentemente a tensões competição à escala global. provocadas pela monopolização de recursos. Lembremo-nos da situação Um grande problema na geopolítica dos entre a Rússia a Ucrânia no inverno de recursos energéticos, consiste na 2008, quando por estar a perder distribuição irregular destes recursos por influência junto do governo ucraniano, entre as populações do mundo. Os Moscovo cortou o abastecimento de gás natural para a Europa do Leste. Esta maiores utilizadores de energia estão medida teve também repercussões na muitas vezes dependentes da importação Europa Ocidental lançando o alarme nos a um grupo restrito de países. O caso do governos europeus que sentiram a petróleo é paradigma desta situação. necessidade de mitigar a dependência Cerca de 60% das exportações mundiais face ao gás vindo dos Urais. Ainda desse


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não foi mais do que uma forma de t e n t a r influenciar o governo de um país que é Turnbull atravessado por um dos principais oleodutos abastecedores da Europa. Veja-se que este oleoduto irá substituir o actual, que passa em solo russo. À utilização do controlo de recursos como arma política junta-se também a militarização deste controlo. No caso do conflito russo-georgiano, a utilização de hard power1 para controlo directo ou indirecto de recursos energéticos está bem patente. Uma outra zona vital para os fluxos de recursos energéticos é o Golfo Pérsico. Por aqui passam diariamente cerca de 2/3 dos fluxos internacionais. É portanto uma zona em constante risco de conflito pelo controlo de energético. Já em 2001, Michael T. Klare, num artigo para a Foreign Affairs2, alertava para uma mudança de estratégia geopolítica americana, que passaria a considerar a protecção das rotas dos recursos energéticos no Golfo como prioritário e que qualquer ataque a essas rotas seriam vistas como um ataque ao bem-estar do povo americano.

Futuro

energética

Apesar de se irem procurando soluções tecnológicas para suprimir as

dependências face a recursos energéticos não renováveis, a sua implementação a larga escala ainda não é viável. Assim, as soluções políticas serão por agora as únicas formas que teremos de prevenir os efeitos adversos da competição pelos recursos. “ Se os bens não atravessarem fronteiras, os exércitos fá-lo-ão”, esta frase, atribuída a Frederic Bastiat3, retrata muito bem aquilo que poderá acontecer se não forem encontradas formas de liberalizar o acesso aos recursos. Será o papel da nossa geração garantir que exista uma verdadeira cooperação e multilateralismo no acesso aos recursos, procurando evitar escaladas de conflito que coloquem em causa a segurança internacional. 1

Conceito desenvolvido por Joseph Nye que denomina a utilização do plano militar por para pressionar a actuação de outros estados. 2 Foreign Affairs; Maio/Junho 2001 3

Pensador francês de índole liberal do inicio do século XIX

Miguel Turnbull Colaborador do Gabinete de Estudos e Formação Política


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dever-se ao credo religioso, sendo Burke um seguidor do cristianismo e Hayek um agnóstico.

Tribuna da Liberdade por Samuel de Paiva Pires Vice-Presidente da Mesa da Concelhia de Lisboa da JP

Liberalismo e conservadorismo: Edmund Burke e Friedrich Hayek

entre

Liberalismo e conservadorismo são duas das mais importantes correntes da teoria política, cujos pontos em comum, pese embora algumas divergências, são de salientar. Para este propósito, nada melhor do que analisar Edmund Burke, o chamado pai do conservadorismo, e Friedrich Hayek, um dos mais importantes liberais do século XX, que em muito se inspirou em Burke. Aliás, mais do que catalogar os autores de acordo com categorias por nós atribuídas a posteriori, importa realmente estudar as ideias destes, já que os pontos coincidentes são muitos. Burke e Hayek subscrevem a mesma filosofia política, havendo uma partilha de valores comuns. Embora existam diferenças entre alguns dos seus pontos de vista, partilham “visões similares quanto à natureza da sociedade, o papel da razão na conduta humana e as tarefas do governo, bem como, até certo ponto, quanto à natureza das regras morais e legais”1. As parcas diferenças parecem ficar a

De certa forma, Hayek tentou completar o pensamento de Burke com uma base científica, para além da espiritual, o que fica patente no entendimento hayekiano quanto à natureza da sociedade que, tal como o entendimento de Burke, deriva das ideias dos iluministas escoceses que contribuíram para desenvolver a doutrina Whig (partido político britânico de que Burke foi a figura maior). Para Adam Ferguson, David Hume e Adam Smith, a sociedade e as suas instituições são o resultado de um processo de crescimento cumulativo em que a ordem social é um produto da interacção entre instituições, hábitos, costumes, lei e forças sociais impessoais. Tanto Burke como Hayek possuíam uma visão idêntica, de que as instituições sociais são o produto de um complexo processo histórico, caracterizado pela experimentação, ou seja, por tentativa e erro. Para ambos, as condições para que uma sociedade floresça consubstanciam-se no necessário respeito e compreensão pelas forças que mantêm a ordem social, que não deve ser alvo de manipulação e controlo por parte de teorias que pretendam acabar com ela, sendo o desejo de apagar o que existe e desenhar a sociedade de novo apenas a demonstração de uma profunda ignorância quanto à natureza da realidade social. Esta mesma acepção inspira a forma como encaram o papel da razão, considerando que a civilização não é uma criação resultante de uma construção racional, mas o imprevisto e não intencionalmente pretendido resultado da interacção espontânea de várias mentes numa matriz de valores, crenças e tradições não racionais ou supra racionais, o que não significa que o liberalismo e conservadorismo sejam irracionais, mas apenas que não o são no sentido cartesiano, socialista, preferindo reconhecer limites ao poder da razão humana e considerando o “homem não como um ser altamente racional e inteligente mas sim muito irracional e falível, cujos erros individuais são corrigidos apenas no decurso do processo social”2.


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Ambos são defensores do mercado livre e objectores à manipulação por parte do governo dos processos do mercado, dado que violam as regras e princípios do comércio livre, sendo, por isso, uma intervenção arbitrária corrosiva da liberdade e da justiça.

“boa sociedade” destrói o que resta da sabedoria acumulada que torna tal sociedade possível. Não é, por isso, surpreendente que pensadores conservadores britânicos – notavelmente, Hume, Smith, Burke e Oakeshott – tendam a não ver qualquer tensão entre a defesa do mercado livre e uma visão tradicionalista da ordem social. Eles puseram a sua fé nos limites espontâneos que o consenso moral da comunidade coloca ao mercado. Talvez este consenso esteja agora a quebrar-se. Mas esta quebra resulta, em parte, da interferência estatal, e é certamente improvável que venha a ser reparada pela mesma”3.

No que à já referida divergência concerne, se no entendimento de Burke a sociedade civil fundamenta-se no cristianismo e, logo, também o estado, instituição sagrada providenciada pela Vontade Divina, Hayek, por seu lado, sendo agnóstico, não partilhava da mesma acepção por temer a antropomorfização da Vontade Divina, em que uma particular vontade humana – ou várias – ficaria a dirigir o curso da vida Por tudo isto, nada como terminar social, inspirando esforços equivocados para subscrevendo José Adelino Maltez, quando este controlar o processo social espontâneo através afirma que partilhamos de “uma concepção do da direcção consciente. mundo e da vida anti-construtivista, antiEsta divergência, contudo, não constitui revolucionária e anti-estadista, segundo a qual obstáculo a uma defesa da tradição e do não é a história que faz o homem, mas o mercado, que ambos realizam, inclusivamente homem que faz a história, mesmo sem saber em termos morais. Em Hayek encontramos a que história vai fazendo.” defesa da tradição, do costume e de uma moralidade baseada no senso comum, de índole prática, como aponta Roger Scruton. Este filósofo conservador britânico assinala que Hayek encara o mercado livre como sendo parte de uma ordem espontânea alargada, fundada na livre troca de bens, ideias e interesses – o jogo da cataláxia, na terminologia hayekiana. Este jogo acontece ao longo do tempo e para além dos vivos tem nos mortos e nos ainda por nascer os restantes jogadores, como Burke também havia afirmado, que se manifestam através das tradições, instituições e leis. . A assertividade dos argumentos apresentados por Scruton quanto à compatibilidade entre a tradição, a moral e o mercado é por demais evidente: “Aqueles que acreditam que a ordem social exige restrições ao mercado estão certos. Mas numa verdadeira ordem espontânea as restrições já lá estão, sob a forma de costumes, leis e princípios morais. Se essas coisas boas decaem, então de forma alguma, de acordo com Hayek, pode a legislação substituí-las, pois elas surgem espontaneamente ou não surgem de todo, e a imposição de éditos legislativos para a

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Linda C. Raeder, Linda C. Raeder, “The Liberalism/ Conservatism Of Edmund Burke and F. A. Hayek: A Critical Comparison”, in Humanitas, Vol. X, N.º 1, 1997. Disponível em http://www.nhinet.org/raeder.htm. 2 F. A. Hayek, “Individualism: True and False”, in Individualism and Economic Order, Chicago, The University of Chicago Press, 1996, pp. 8-9. 3

Roger Scruton, “Hayek and conservatism”, in Edward Feser (ed.), The Cambridge Companion to Hayek, Cambridge, Cambridge University Press, 2006, p. 219.


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Critica Literária As perspectivas daqueles que pretendem partilhar com os leitores as suas experiências literárias. Este mês, Samuel de Paiva Pires Vice-Presidente da Mesa da Concelhia de Lisboa da JP

Obra: Servidão Humana Autores: W. Somerset Maugham

Romance intemporal de um dos mais célebres escritores do século XX, Servidão Humana é um registo autobiográfico que relata a história de Philip Carey, alter ego de Maugham, focado particularmente na sua entrada na idade adulta e nos dilemas pessoais por que todos somos atingidos nessa fase da vida em que a nossa personalidade fica mais definitivamente formada. Sem uma escrita floreada ou com demasiados recursos estilísticos, Maugham leva-nos directamente ao âmago da sua existência e aos dilemas que se consubstanciam na eterna necessidade de liberdade, virtude a que qualquer ser humano aspira. A subtil narração principia com o duro processo que leva a que Philip fique órfão com apenas 9 anos de idade, indo posteriormente viver com os tios na província. Após alguns anos, passados essencialmente na biblioteca do tio, vigário de Blackstable, e no colégio onde os colegas gozam com o seu pé deficiente, algo que o marcará para sempre, Philip lança-se ao mundo começando por ir estudar para Heidelberg durante uma temporada, passando por Paris, onde tenta singrar como pintor, e regressando a Londres, onde trabalha em diversos ofícios e estuda medicina. Levando-nos pelo seu próprio percurso intelectual, de onde há a salientar a aprendizagem dos clássicos e as reflexões sobre religião e filosofia, Maugham presenteia-nos com uma das mais poderosas histórias sobre o amor, não no sentido quase banal a que muita da literatura e cinematografia contemporânea habituaram as sociedades modernas, mas num plano porventura mais verdadeiro, mais cru e mais doloroso, em que Philip se vê perdidamente apaixonado por Mildred, uma mulher que se pode dizer ser quase desprezível e desinteressante, da qual não se consegue libertar e pela qual contraria o seu eu mais racional incontáveis vezes. No fundo, ficamos perante o dilema que o filósofo Isaiah Berlin enunciou ao afirmar que existe em cada indivíduo uma dicotomia interior entre o seu carácter racional e os seus impulsos irracionais, ou seja, os seus desejos mais primários, que levam à busca do prazer imediato, pelo que ficará sempre a questão: conseguirá um ser humano alcançar um nível de consciência tal que lhe permita ser dono das suas próprias paixões, e não escravo delas? A dor de Philip é também aquela por que muitos passamos. A todo o momento queremos que ele se liberte, mas compreendemos exactamente o porquê de agir como age. Acaba até por haver uma certa universalidade no comportamento humano, uma idiossincrasia masculina, dado que a história de Philip nos relembra as palavras que Ramalho Ortigão utilizou para caracterizar o amor na sociedade portuguesa: «O impulso amoroso no coração lusitano, em vez de impelir a fantasia a voejar por instantes no país do azul, excita apenas o temperamento a marrar a fundo, espesso e resfolegante, nas trevas. (…) Na evolução patológica dos sentimentos o amor é o antraz maligno da nossa raça. Uma vez apaixonado, o português é um enfermo, é quase um irresponsável. Perde a faculdade de estar alegre e de estar atento. Torna-se estúpido e sombrio.» Maugham não desilude e, apesar de ter confessado que a escrita de Servidão Humana serviu para se libertar de vários demónios pessoais, deixa-nos com um desfecho agradável. No fim, fica aquele vazio de sabermos que acabámos de ler um grande livro com uma intemporal reflexão sobre o comportamento humano. Relê-lo será sempre uma boa ideia.


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Opinião Na quarta edição do Jornal “Lado Direito”, João Empis — colaborador do Jornal e membro da Concelhia de Lisboa da Juventude Popular — demonstra a sua indignação com o movimento dos “Indignados”. NOTA: A Direcção do Jornal “Lado Direito” não se responsabiliza pela forma nem pelo conteúdo dos textos aqui apresentados.

Indignado com os indignados Já passa a fazer parte da minha rotina de todos os dias. Levanto-me, saio de casa rumo à faculdade e tenho de passar pela Assembleia da República. Quem é que lá está? Os indignados, aqueles que gostam de se intitular de “geração à rasca”. Saio da universidade e, rumo a casa, passo pela Assembleia da República. Quem lá está? Novamente, os indignados. Tudo começou no dia 15 de Outubro. Passava por aquele local tão emblemático e via o protesto ocupar um pequeno passeio da rua de São Bento, em frente à Casa da Democracia Portuguesa. As condições eram muito precárias, muito agravadas com a chuva: apenas sacos de cama para dormir e cartazes para dar voz ao protesto. Tudo dava a entender que aquele movimento tão espontâneo iria acabar com igual espontaneidade. Acontece que, com o avançar do tempo, aquele protesto parece, afinal, não ter fim à vista: a espontaneidade inicial, que indicava uma "auto-aniquilação" imediata do protesto, transformou-se em insistência indeterminada de prolongamento da sua vida.

partilhando da opinião de um antigo director do Banco Mundial. Irónico: a “geração à rasca” diz-se desesperada com o desemprego, com as condições precárias e insatisfeita com as condições de vida, contudo, perdem tempo indispensável para porem “mãos à obra”, edificarem novos projectos, criarem novas ideias e transformarem este país numa escola de dinamismo impaciente, invertendo aquela situação. Estão desempregados e, em vez de procurarem emprego, estão a acampar às portas da Assembleia da República, recebendo subsídios pagos por todos nós. Pergunto-me: será que eles querem mesmo trabalhar? A resposta parece-me evidente: NÃO. Na actual conjuntura nacional, é preferível ter um emprego precário ou não ter nenhum? A resposta parece-me evidente: É preferível o emprego precário. Contudo, o resto da população não intervém, mostrando-se impávida e serena, perante o facto de tal protesto não dinamizar em nada a criação de um Portugal mais empreendedor e menos dependente dos subsídios do Estado.

Os protestantes reivindicam mais subsídios, mais intervenção do Estado, no que toca à precariedade e à redistribuição do rendimento, esquecendo-se da máxima: “Não perguntes o que Agora passo por aquele local e vejo o mesmo passeio, com as é que o Estado pode fazer por ti, pergunta antes aquilo que tu mesmas pessoas, mas com condições diferentes: há podes fazer pelo Estado”. computadores, secretárias, tendas, comida, colchões e, É preciso consciencializar os protestantes que, com a actual cúmulo dos cúmulos, até um estendal da roupa. Este situação do país, não há espaço para um Estado social ainda movimento tem sido notícia diária nos telejornais nacionais. mais social, pelo que, o protesto se Esta cobertura mediática de tal protesto é preocupante: as resume a uma imensa perda de pessoas já o encaram com naturalidade e com indiferença tempo. Isto tudo para mostrar a (mais ou menos o que se passa com a indiferença da minha indignação com aquela sociedade mundial, ao assistir aos maiores atentados à indignação. dignidade da pessoa humana, através da larga, constante e intensa intervenção dos media). Há tempos, li um artigo de grande relevância para o tema, escrito pelo Professor Jorge Vasconcellos e Sá (para o Jornal Vida Económica) que frisa a falta de respeito dos portugueses pelo tempo, tornando Portugal “uma escola de paciência”,

João Empis Colaborador do Jornal “Lado Direito” e membro da Concelhia de Lisboa da


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Agenda 12 dezembro Tomada de posse da Comissão Política Distrital de Lisboa da Juventude Popular

14 dezembro Juventude Popular Lisboa — Missa de Recolha de Produtos Alimentares

10 janeiro |5.ª Edição “Lado Direito”|

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