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A CATÁSTROFE DOS REFUGIADOS URBANOS

Temos lido e visto nos noticiários internacionais o martírio dos refugiados, fugindo de seus países por motivos de guerra, fome, perseguições políticas, raciais ou religiosas. tentando entrar na Europa e nos EUA. Os que usam o Mediterrâneo como caminho acabam perdendo suas vidas em naufrágios por causa da precariedade das embarcações que utilizam. São imagens que nos envergonham e colocam à prova nossa humanidade. Mas, o Mediterrâneo e as fronteiras entre México e EUA estão distantes e enfrentamos uma sensação de impotência por não podermos atuar nestes casos.

Entretanto, há outras praias onde corpos estão sendo jogados e estas estão muito próximas de nós. São as calçadas das cidades onde pessoas tentam sobreviver depois de terem perdido seus empregos, suas casas, suas famílias. São os moradores de rua, esses nossos refugiados urbanos. Estes estão muito próximos de nós. Passamos por eles todos os dias, muitas vezes lhes damos alguma esmola ou roupas. Na verdade, eles são, antes de tudo, um problema social a ser tratado e resolvido pelo Estado, pela cidade onde moramos, pelas políticas sociais de cada prefeitura. Entretanto, na falta de uma política social eficiente, grupos de cidadãos tentam sanar a falta de pre- sença do Estado, criando redes de apoio aos moradores de rua. São soluções à margem do Estado que tentam minorar a sorte desses cidadãos.

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Então, a pergunta é, por que a política social das cidades falha neste atendimento?

Bem, muitas vezes, é questão de gerenciamento. Não há um planejamento estratégico estruturado para enfrentar o problema. As falhas começam pelas estatísticas. Não sabemos direito quantos eles são e onde estão. Trabalhamos com projeções muito fora da realidade.

Não há casas de acolhimento, casas de passagem suficientes e bem gerenciadas, até que eles sejam integrados novamente numa situação de trabalho estável. E aqui surge uma questão importante. É preciso respeitar as estruturas afetivas que eles criam entre si para sobreviver. Na verdade, eles criam grupos de amizades fortes, em uma espécie de novas famílias estendidas, que surpreendem pelos arranjos encontrados e que lhes garantem alguma estabilidade. Aqui inclui-se os animais de estimação desses moradores de rua no conceito de “família estendida”, pois são seus companheiros fieis. Muitas vezes, esses animais são os únicos elos afetivos que eles possuem na dura jornada de cada dia, com os quais chegam a dividir seu próprio alimento.

Dissolver esses arranjos afetivos e psicológicos é um erro.

*Walter Cezar Addeo

Eles precisam continuar juntos. Foi a forma que encontraram para garantir suas sanidades mentais e psicológicas. Uma maneira de se defenderem dos perigos das ruas. Toda uma mentalidade deve mudar nas políticas sociais públicas para enfrentar esses refugiados urbanos e verbas precisam ser destinadas para manter os pontos de acolhimento, cursos profissionalizantes devem ser oferecidos a eles, seus filhos devem ter matrícula escolar especialmente garantida e, principalmente, devem ser criadas estratégias de inclusão para que eles se emancipem e voltem a ser autônomos.

Só assim, poderemos cum-

*Mestre em Filosofia pela USP. Membro da APCA - Associação Paulista de Críticos de Arte. Autor de “Um Passeante pelas Mostras de Arte: Ensaios Críticos”, Editora Penalux. Escritor e ensaísta. waddeo@uol.com.br prir com a nossa obrigação humanitária junto aos nossos refugiados urbanos. Enquanto isso, procure ajudar algum morador de rua por quem você passa regularmente. Ele é um irmão perdido.

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