Pedal N.º19

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Inverno

2013

Gratuito

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Jornal

Pedal

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Capa: Mariana Marques mariana­marques.tumblr.com

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NÚMERO DEZANOVE – INVERNO 2013 / Ficha Técnica: Director: Bráulio Amado ba@jornalpedal.com / Director Adjunto: Luís Gregório lg@jornalpedal.com / Editor: João Bentes jb@jornalpedal.com / Redacção: Maílis !"#$%&'()*+,"-.-+/0$12"3"*+4%-&"+5-$6-32"+7+5-8-9+:-$%-.-+:-$;'()+7+5"3-<"$-$-=+.()1-+(#%>?"9+@"1"&$-A-9+!%B-$#"+@%32"+#(+,")(A.-+7+C3')1$->?"9+D'E)+@-6-)*+FG".)"+5$'H*+4($()-+5"$1(H+7+4(I1")9+FG".)"+5$'H*+/-31-H-$+ Wu, / Revisão: Helena César / Design e Direcção de Arte: Estúdio HHH / Comunicação: Helena César hc@jornalpedal.com / Publicidade: Carla Cantante cc@jornalpedal.com, Diogo da Cunha Matos dcm@jornalpedal.com / J%)1$%<'%>?"9+F.-+K-<%."+-)LM"$.-38(#-3NB"=+D%)<"-9+5-=%)"3-+F=-$(3-*+5-$3")+O-6-$$"+F3&-$6(9+/%P(+Q")1-3*+:-$PP"+/%P(+:())(.&($N+Q"$1"9+!"#-+D%6$(+7+J(8-$1-=(.1"+@%.-.B(%$"9+Q(#$"+/')1"$GG+@($$(%$-+7+,R!OFD+QSJFD+ 0+'=-+=-$B-+$(&%)1-#-+7+:"$-#-9+4$-6())-+#"+F3(B$%=*+T*+!75+U+K-3-+T+TVWWUWTX+D%)<"-+4(39+XYYZT[ZW\+(U=-%39+%.G"LM"$.-38(#-3NB"=+](<9+G-B(<""PNB"=7,"$.-3Q(#-3+7+M"$.-38(#-3NB"=+7+1]%11($NB"=7,"$.-3Q(#-3+7+C=8$())?"9+ S=8$()-+^$_AB-+@'.B2-3(.)(+KNFN+G'.B2-3(.)(N81+`+(=-%39+&($-3L(&GNB"=N+81+4(3N+VTX\aa[ZW+@-I+VTX\aa[ZX+7+4%$-&(=9+ZNWWW+(I(=83-$()+7+J(8b)%1"+D(&-39+Y[WTTa7TV+7+R+,R!OFD+QSJFD+G-H+8-$1(+#-+5""8($-1%6-+QRK4+ postcoop.org / Jornal Pedal é uma publicação gratuita que não pode ser vendida.


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Editorial: Atravessar a chuva

A água que se faz tropeçar nas nuvens não vai fazer parar aquele estranho de caracóis ensopados que escorre o Inverno pela cabeça. Há que sacar rapidamente o impermeável verde enquanto se leva ao cinto o cadeado pingado e se vai. Sim, andar com pés nos pedais pela urbe mesmo com chuva a jorrar do céu e de peito cheio, com orgulho por ter entre as pernas o poder de atravessar as gotas da trovoada e chegar lá com a face mais lavada que noutros dias. Uns receiam e outros sentem desconforto assumindo o ciclo composto como objecto de utilização sazonal. Mas há os que se mostram fortes e, por vezes, quase indiferentes à meteorologia do Inverno. Neste Pedal, assumimos a bicicleta como uma ferramenta da urbe, passamos por uma "Gloriosa Bicicleta" de arrumar em estantes secas e deixamos escorrer a água das palavras sábias “da chuva” de Carvalho. Incentivamos as saídas molhadas mas servimos uma alleycat para disputar junto à lareira ao som dos Linda Martini por entre o barulhento aguaceiro a bater no telhado. Há também abrigo em guarda-chuvas enamorados de Joana Bértholo ao mesmo tempo que se convive com bocados do "Para onde vão os guarda-chuvas" de Afonso Cruz. Sintam-se levados pelas rajadas cortantes e gélidas dos caminhos chuvosos e encharquem os olhos neste Pedal.

Curtas: RCICLA+GRÉMIO+CAMISOLA AMARELA

BI+CA

A RCICLA, espaço de reciclar bicicletas do Vítor era ao pé estação ferroviária de Algés. Na baixa Lisboeta, num primeiro andar da Rua do Carmo, havia o Grémio do Carmo. A Camisola Amarela nasceu na Lx Factory e estendeu-se depois ao Marquês de Pombal, despachando encomendas com estafetas em bicicleta. Agora, juntaram-se em Santos, no número 86B da Avenida 24 de Julho num espaço amplo, no interior de um antigo armazém recuperado. A RCICLA !"#$#%&'$"'(%)*$+"$*,-&.%/$#%&'$0&-&-1"!%'/$#%&'$2*+%'/$ mais quadros e mais componentes à vista. O Grémio tirou o 3%2#*$+*$.*#"$#%'$-*.!&.4%$%$!"2$*$5%#*'*$-%56$+"$,1!2*$ e as iguarias do Marco. Por baixo desta delícia, junta-se a central da Camisola Amarela. É aparecer logo de manhã para %54.+%2$7$!%2+"$.4#$'*58$%*$'*#$+%$%,.%)9*$+"$0&-&-1"!%': — rcicla.wordpress.com; camisolaamarela.com

BI de bicicleta e CA de café. É o novo guardião máximo da Alpina, selo bonito e bem urbano que faz pedalar muitos pelas cidades portuguesas. Pode consumir-se a bicicleta na loja, através do aluguer ou levar para casa se comprada. É também um sítio para estar à conversa e meter coisas à boca ali no seio da Lx Factory de Alcântara para além de um parque de bicicletas que promete aparecer. O conceito estende-se ao atelier de design DOI com direito a showroom. Espreitem, há coisas de ver por todo o lado! — doi.pt

BIKE.POP Num novo espaço no Largo do Intendente, o bike.Pop disponibiliza actividades e serviços destinados a quem utiliza a bicicleta na cidade e a quem ainda não o faz, mas pretende vir a fazê-lo. Com uma gama crescente de artigos e acessórios, uma *,-&.%$+"$0&-&-1"!%'$"$;82&*'$#*+"1*'$-&!%+&.*'$(%2%$%14<%2/$ incluindo bicicletas dobráveis e um showroom da Brompton. Foi ainda apresentado o Urban Fix, o primeiro posto self-service gratuito para reparação de bicicletas em Lisboa. Equipado com uma bomba de ar, ferramentas e um suporte para bicicleta, o Urban Fix – desenvolvido pela Biciway - servirá para pequenas reparações, estando disponível 24 horas por dia. A partir de agora, existe também o Pedicab, o primeiro táxi a pedais da cidade (com capacidade até três passageiros), que também terá capacidade para o transporte de cargas até 250kg. Por último, mas não menos importante, o bike.Pop realiza os cursos "Aprender a andar de Bicicleta", "Condução de Bicicleta na Cidade" e "Mecânica Simples e Manutenção de Bicicleta". Mais informações no site. O bike.Pop é um projecto coordenado pela Cooperativa POST, com o apoio da Câmara Municipal de Lisboa, através do BIP/ ZIP (Programa Bairros e Zonas de Intervenção Prioritária) e está aberto de Segunda a Sexta, das 10h00 às 13h00 e das 15h00 às 19h00 e aos Sábado das 10h00 às 13h00. — bikepop.pt

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BUILD MY BIKE A Rua da Boavista une Santos ao Cais do Sodré e está minada de galerias e pastelarias. Surge agora uma nova loja dedicada à bicicleta. O nome é Build My Bike, antes estava na Voz do Operário na Graça e agora no número 146 da Rua da Boavista. Para além de uma montra bonita, desdobra-se em componentes diversos em montagem de bicicletas. — buildmybike.pt

RODA LIVRE A Roda Livre é um serviço de estafetas em bicicleta, do Norte, que existe desde 2012 e promete durar e alastrar. Cem por cento ecológico, zero por cento de emissões de carbono nas entregas que fazem. Há entregas simples e em tempo prede,.&+*$-*#$'"2;&)*$.*$=*2!*$"/$+"'+"$>"!"#02*/$!%#06#$"#$ Viana do Castelo. Mais, a Roda Livre é um modo de vida, experimentem! — rodalivre.pt

RODA GIRA A Roda Gira é uma das mais antigas mercearias do carreto ,?*$"$+*$-%22"!*$'&#(1"':$>%&4$+%$&.!"2."!$(%2%$*$3@&%+*$+"$ Lisboa e, ainda no Chiado, tem nova loja mais luminosa, espaçosa e da montra dá para espreitar as miúdas novas. Há novas geometrias a serem estudadas, novos produtos nacionais e do estrangeiro. Em destaque, o novo quadro rodagira titânio que já mereceu viagem ao norte do país, à DouroBike. Atenção que o melhor cliente de Dezembro tem direito a um quadro Lx1 ou Lx2 depois da passagem de ano. Para meter os olhos dentro da loja 37 do Espaço Chiado, na Rua da Misericórdia no número 14. — bicirodagira.com

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Para onde vão os guarda-chuvas CALL ME AZRAEL Também podem chamar-me outros nomes, como Malak al-maut, ou simplesmente Anjo da Morte, tanto me faz, ;%&$0"#$-*#$A*2"'$"$(%2%$-*#(1&-%+*$B8$0%'!%$%$#&.@%$ actividade extremamente especializada e técnica, que consiste em retirar a alma da corpo, exercício que faço a todo o instante e em todos os lugares de todos os 4.&;"2'*'/$#%'$-4B%$+&,-41+%+"/$C$&#".'428;"&'$#*2tais, além da carga emocional envolvida, do nervosismo que não consigo evitar e do equilíbrio/absurdamente/ moralmente/esteticamente desequilibrado do universo, %$+&,-41+%+"/$+&D&%/$2"'&+"$.%$+"1&-%+"D%$."-"''82&%$(%2%$ separar algo que não pode ser separado, separar uma gota de água da água que a compõe, separar uma folha verde da sua cor, separar uma vela da sua luz, separar. Ó doces efémeros, pergunto-vos, como é que se retira a alma do corpo, sem qualquer contaminação, ela que está aninhada como um gatinho no colo de uma velha? É que separá-los é como separar o dia da noite. Onde é que está a linha divisória entre ambos, a linha precisa? Para que compreendam a natureza deste milagre, porque é disso que se trata, de um milagre, este consiste, atentai, em separar as palavras do seu '&<.&,-%+*:$E$F4"$"4$1";*$+"$#9*'$+%+%'$(%2%$ o lugar para onde vão os guarda-chuvas (como "4$-@%#*$7$-%'%$+"$!*+*'$.C'/$7$+",.&!&;%G$6$ &''*$#"'#*/$'&<.&,-%+*':$E$#"-%.&'#*$6$%!2*D$ ao mesmo tempo que é admirável: primeiro a dierese, que é o corte dos tecidos que possibilita o acesso à região a ser operada, neste caso "'("-H,-*/$%$%1#%I$+"(*&'/$%$"?62"'"/$F4"$6$*$ 2"!&2%2$+%$%1#%I$"/$(*2$,#/$%$'H.!"'"/$F4"$6$5"-@%2$ os tecidos e deixar o corpo tal como o encontrámos, sem qualquer trauma evidente, pois o meu trabalho é imaculado. Brinquei muitas vezes com Salim, abri os braços como os aviões, edfashdshhhhhh, dsafasdhkkkkkkkk, sadfhhhhhhhh, andei pela sala de Fazal Elahi, pelas ruas da cidade, pelo mercado, visitei o túmulo dos dervixes ladrões. Passei os meus dedos pelos dentes de Aminah, tão desalinhados que chegam a ser sedutores — gosto de usar irregularidades para aliviar o stress, gosto de superfícies difíceis. Adoro — é mesmo paixão, vocação, o que quiserem chamar-lhe — conviver com seres vivos, mas, repetindo-me, é tão difícil realizar a operação derradeira e depois ter de levar o que se extrai, chamemos-lhes almas para facilitar a comunicação, de mãos dadas em direcção ao lugar para onde vão os guarda-chuvas. Meu Deus!, a ligação sentimental, as mães a chorar! Sim, as mães é o mais difícil. Ah, se eu fosse um anjo economicista ou assim, daqueles que só vêem números, mas não, tenho um coração que ainda por cima é mole, um saco de lágrimas e afectos. O CÃO PEQUENINO O cão pequenino, de pêlo crespo, corria atrás da cauda e Isa achava piada. Riram-se todos. O padre também se riu. E acrescentou que aquele cão a correr daquele modo, em círculos, como fazem os planetas, era uma forma de teologia. —É como a cauda de um cão — disse o Padre. — Deus é como a cauda de um cão. Está sempre ali, mas quando nos voltamos para ver o seu rosto, desaparece. Deus só está presente quando estamos ausentes, disse Silesius. Reparo que o seu primo come com a mão esquerda.

— Ele consegue ouvi-lo, padre, pode falar com ele. É mudo, mas eu traduzo os gestos. Tudo o que o meu primo Badini faz são palavras. Quando mexe as mãos, são palavras. Não há diferença, para ele, entre o gesto e o discurso, entre o acto e o pensamento, entre a matéria e o espírito. Accha! É muito bonito que as mãos dele sejam frases e o corpo dele sejam parágrafos. Tenho pena que não o compreenda, com as suas mãos a ondular, pois saem-lhe dos dedos frases tão bonitas. Diz palavras de pendurar na parede, diz palavras de pendurar na sala. — Vejo que come com a mão esquerda — disse o padre na direcção de Badini. Badini desviou o olhar da comida e, sem as suas sobrancelhas, sorriu para o padre.

— O meu primo está acima dessas leis todas, com a graça de Alá, come com a esquerda como se fosse a direita, como se essa mão fosse pura e não servisse para limpar o rabo. O padre fez uma cara pensativa e disse: — Deus gosta de sujidade, gosta da mão esquerda, ou não nos teria feito nascer a todos no meio de fezes, urina, sangue, suor e lágrimas. Ou não é assim que todos nascemos do útero? Lotário de Conti, que depois se tornou Inocêncio III, dizia que nós somos uns sacos de vermes e de mucos. De fezes e de cheiros fétidos. E falava das plantas e das árvores, comentando o facto de exalarem perfume, de escorrerem seiva, vinho, óleos

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E XC E R TO S D E " PA R A O N D E VÃO O S G UA R DA- C H U VA S" ( A L FAG UA R A , 2 0 1 3 ) D E A FO N S O C R U Z I LU ST R AÇÃO : A FO N S O C R U Z A FO N S O - C R U Z . B LO G S P OT.C O M

essenciais, enquanto nós, por mais banhos que tomemos, por mais cosméticos que usemos, não passamos +"'!"$'%-*$+"$'4*2"'$(2*.!*'$%$'%1!%2/$+"$A4&+*'/$<%D"'/$ fezes, mucos, urina, dejectos, constantemente a serem produzidos. A verdade é que cheiramos mal e esta mania das higienes, essa que se prolonga para lá do que seria saudável, não passa da hipocrisia de esconder essa condição tão humana que é ser nauseabundo. Já reparou na areia? Aquilo é terra limpinha. E o que o é que cresce nessa terra? Nada, é o deserto. É na terra estrumada que a vida se envolve e desenvolve como a carne num folhado. Adão quer dizer, literalmente, barro, terra vermelha. Somos feitos de lama. Com areia, nem Deus Criador seria capaz de moldar coisa nenhuma. Não há assepsia nenhuma no ser humano. O padre parou uns instantes para encher a boca com um bocado de borrego. O caril escorria-lhe pelo queixo. — Não quer lentilhas? — ofereceu Fazal Elahi. — Obrigado, mas as lentilhas embaciam-me o estômago. Deus, é mais do que sabido, prefere o pecador que se arrepende às ovelhas que obedecem: um pastor tinha cem ovelhas, conta 2"+*.+%/$"$54<&4J1@"$4#%$+"1%'/$,-*4$-*#$ noventa e nove. E largou tudo para encontrar a tresmalhada. Quando a encontrou, abraçou-a comovido e confessou-lhe: quero-te mais do que às outras noventa e nove. Isto disse o Senhor Jesus, está escrito no Livro. O pecador, tal como o gado que suja as patas no erro e na errância, é mais agradável aos olhos do Senhor. Repare na higiene que assombra as mentes civilizadas e que já fez estragos históricos: Séneca morreu nos banhos. Lucano, poeta e seu sobrinho, também. Fausta, mulher de Constantino, idem. E a minha avó, que Deus a tenha, partiu o fémur na banheira. O rol é <2%.+"$+"#%&'$(%2%$'"2$".4#"2%+*/$#%'$,-%#$ "'!"'$"?"#(1*'/$F4"$'"29*$'4,-&".!"'$(%2%$%1"2tar a humanidade do terror que a espreita na banheira e no bidé. Nada disto augura nada de bom no que concerne à higiene. Este esforço épico contra os germes deu sempre péssimo resultado. Péssimo! Basta dizer que Jesus Cristo .9*$!"2&%$'&+*$-24-&,-%+*$'"$=&1%!*'$.9*$!&;"''"$ resolvido lavar as mãos. Já pensou nisso? Se ele não tivesse lavado as mãos? POR FALAR EM PÃO De manhã, o percurso de Isa, sempre que caminhava pelas ruas, era cheio de pássaros de todo o tipo, desde corvos a pardais. Isa nunca comia *$(9*$+*$("F4".*J%1#*)*$%!6$%*$,#:$K4%2+%;%$ sempre um bocado, que partia em pedacinhos e que ia deixando cair atrás de si enquanto caminhava. Os pássaros pousavam e comiam as migalhas que o rapaz atirava para o chão. Isa gostava muito de criar pássaros atrás de si. FLORES DE TECIDO Isa dizia que preferia as histórias dos livros que Fazal Elahi, o padre e Nachiketa Mudaliar lhe contavam, do que as que habitam as ruas e as vidas das pessoas. Ao ouvir isso, Elahi levantou-se, desceu as escadas (demasiado íngremes), voltou passados uns minutos -*#$4#%$!*%1@%$+"$A*2"'/$F4"$+"'+*02*4/$"$+&''"L$ — Não faz mal, Isa, não faz mal nenhum. Fazal Elahi apontou para os buracos na toalha: — As traças, por "?"#(1*/$(2"5"2"#$%'$A*2"'$+"$(%.*$7'$+"$B%2+&#:


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Da chuva

O uso habitual da bicicleta como meio de transporte redunda numa prática com largas consequências na maneira como vivemos o corpo que somos, ou seja, a maneira como nos vivemos a nós próprios. O que aliás é comum a todos os artefactos, uma vez que toda e qualquer forma de vida está estreitamente ligada a um conjunto de objectos que a determinam. Experimentem adoptar um martelo e em breve dividirão a realidade naquilo que é ou não semelhante a um prego. O facto é que após alguns meses de pedalada, tal rotina alterará a maneira como vivemos o mundo. A ladainha habitual da apologia da bicicleta omite este potencial transformativo e os seus arautos repetem os seus indubitáveis préstimos aos leigos até que eles emprenhem dos *4;&+*'L$%$0&-&-1"!%$6$",-%D/$"1"<%.!"/$"-*1C<&-%$"$%$!2*!"$ nesta panaceia politicamente correcta lá caminharemos nós para o paraíso das boas intenções. Esta receita para %$5"1&-&+%+"$6$!9*$58-&1$F4"$*$.*''*$(%1%+%2$+"'-*.,%$+"$ tamanha promessa pantagruélica. Porquê? Porque se a bicicleta é reconhecida por ser uma tecnologia alternativa para pequenas deslocações com benfeitorias assinaláveis, resta contudo abordar e precisar as experiências pessoais e na aquisição de vivências mais salutares. Michel Foucault apelida de "tecnologias de si" aquelas técnicas ou exercícios que permitem aos indivíduos efectuaram um certo número de operações nos seus próprios corpos e almas, pensamentos, condutas e maneiras de ser, de maneira a transformarem-se com o propósito de alcançarem certos estados de felicidade, sabedoria, pureza, perfeição ou imortalidade. Numa palavra, a bicicleta pode ser o "como" de um percurso ético. E como poderemos então aquilatar as mudanças que a bicicleta traz ao nosso quotidiano? Creio que é necessário assinalar o diferencial que ela introduz. Vivemos rodeados de parafernálias tecnológicas a que avidamente cedemos vários pedaços esquartejados da nossa vida, "#$.*#"$+"$4#%$(2"!".'%$",-&M.-&%$*4$;"1*-&+%+"$ comunicacional. A questão é que pode não haver nada que partilhar, nada a dizer. Para mal dos nossos pecados, podemos não ser assim tão interessantes, ou podemos até escolher ser recatados e silenciosos. A narrativa das redes sociais funda-se no consumo constante das novas engenhocas telecomunicativas e no apelo a uma parti-

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cipação maciça do gentio mediada através de teclados "$#*.&!*2"'I$-*.54.+"J'"$"'!"$.*;*$#*+"1*$+"$".;*1;&mento social com as próprias e minuciosas campanhas publicitárias que sublinham a juventude e a participação de todos, num afã igualitário que por vezes só produz ruído em forma de imagens. O corpo retrai-se e desaparece destes novos espaços privados e este abandono corre paralelo ao aumento da obesidade e à estranheza perante esta carne que nos acompanha. Quando a economia dispensa o uso do corpo em escritórios e balcões e se torna cada vez mais informatizada, ocorre a cisão laboral da união existencial entre corpo e mente. Os corpos podem mourejar e suar, mas que o façam debaixo dos lençóis, em ginásios ou em provas desportivas. O assombro perante a evidência dos seus odores e exalações dá-nos a medida de quanto rejeitamos a nossa corporeidade, entrevendo-se a utopia asséptica e cartesiana em que alguns de nós achamos possível viver. Neste ponto, e apesar de algumas marcas já falarem em bicicletas que dispensam o esforço, eis que surge o ("+%1%2I$(*2$"1"$;%#*'$-*.@"-".+*J.*'$'"#$%15%0"!*/$.%$ linguagem de cadências, fôlegos e sudações. Descobrimos o quão purgante pode ser a exposição aos elementos para a nossa higiene através de um simples passeio +"$0&-&-1"!%I$1%;%#*J.*'$F4%.+*$'4%#*'$"$+"';"1%#*'$ como algum exercício físico diário, mais do que putativamente nos remeter para a meta abstracta da “saúde”, dá-nos aquele orgulho são que advém de conquistas e explorações autónomas. A chuva é um desses elementos e é tida como uma das #%&*2"'$+&,-41+%+"'$(%2%$*$-&-1&'!%$#".*'$-%1"B%+*:$N'$ primeiras lágrimas das nuvens plúmbeas que pesam o céu e parece que o noviço terá ou de fugir dela como da peste ou aperaltar-se com um escafrando antes de sair de casa. Mas é precisamente no seu convívio que desco02&#*'$F4%.!%'$-%#0&%.!"'$%(2"'".!%#$%'$'4%'$(&.<%'I$ +"'+"$*$-%1&02"$,.*$*4$(&.<4"$+"$-%+%$<*!%/$%*$'"4$2&!#*$ cadenciado na pele, experimentamos com excitação pueril o seu efeito na distância de travagem, na necessidade de guarda-lamas (ou poupa-cus) e de um agasalho &#("2#"8;"1I$+%$(*%1@%$@O#&+%$%*$+&1O;&*/$(%''%.+*$ pelo nevoeiro ou sob canivetes, vamos dando força ao

adágio que garante que nos molharemos se debaixo dela pedalarmos. Quão mais reais não nos sabemos teimando em nos precipitarmos no asfalto e resistindo apesar de encharcados? Há um heroísmo qualquer nestas pequenas odisseias que decoram o tédio fácil que nos repoltreia .*'$'*58'$+*$.*''*$-*.5*2!*I$(*2F4%.!*$7$F4"+%$+%$ chuva dar-se a concomitante ascese interior daquele que pedala. É um baptismo laico e constante. É porém na sua aliança com a gravidade e com o tempo que a chuva demonstra quão próximos estão a cidade e o ciclista. Um curso de água, seja ela um pequeno regato ou um rio possante, não é nada mais que a acumulação, na área receptora, da drenagem das águas pluviométricas, que naturalmente escorrem dos pontos mais altos, desde as linhas de festo, para os mais baixos, linhas de talvegue. Séculos de erosão ajudaram a que escorrência das águas da chuva escavasse leitos e neles depositasse sedimentos, o que tornou as partes baixas da cidade aptas para hortas, como no caso de Lisboa, pro+4D&.+*$4#$0&.C#&*$+"$;%1"'$"$-*1&.%'I$'"$"'!%'$5*2%#$ escolhidas para as primeiras habitações, aqueles foram sempre usados como as vias naturais de circulação, por "'!%2"#$.%$5%1+%$+*'$#*.!"'I$(2"'"2;%2%#J'"$%!6$!"#(*'$ recentes da construção por serem as terras com maior aptidão hortícola, precisamente por estarem próximas de bicas e fontes que ainda hoje podemos encontrar na rua do Benformoso, Intendente, São José e Andaluz. O ciclista alfacinha, quando sobe da Baixa, fá-lo invariavelmente através de estradas radiais, ou seja, através dos vales suaves por onde corria a antiga ribeira de Valverde (Avenida de Liberdade) ou através da Almirante Reis (onde a toponímia assinala a presença de hortas "$2"<%!*'/$-*#*$*'$P22*&*'/$*$Q"<4"&29*$"$*'$3%.*'GI$ poderia fazê-lo também ao longo do vale da ribeira de Alcântara, do vale de Santo António ou do vale de Chelas, se as estradas não fossem pistas de corrida ou as pendentes abruptas. O ponto é que cada vez que vencemos uma subida estamos a pedalar sobre séculos de acção da chuva e a contrariar o caminho natural das águas F4"$@*B"$-*22"#$".-%.%+%'I$+"(".+".+*$+%$".-*'!%$F4"$ treparmos, podemos estar a entrar no domínio de uma ou outra antiga ribeira tributária do nosso Tejo. A chuva fala, é preciso escutá-la.


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Método pluvioso para encontrar alma-gémea O Sr. Umbrela é um homem de uma seriedade rigorosa, cujos argumentos caem sempre sobre o mundo no ângulo e na frequência exactas. O Sr. Umbrela chove argumentos, teoremas, as epifanias nele acontecem como os raios num dia de tempestade, iluminando e lançando o pavor em redor. Maior parte do tempo o Sr. Umbrela troveja: nuvens de cogitação pairam sobre a sua cabeça enquanto caminha pelo seu bairro, em percursos criteriosamente estudados consoante o vento, a altura das nuvens e a posição do sol. É que o Sr. Umbrela estuda os ângulos da chuva, sendo internacionalmente considerado como *$<2%.+"$"'("-&%1&'!%$+"'!%$+&'-&(1&.%$-&".!&,-%$F4"$"1"$ próprio fundou: a pluviologia angular. Disciplina a que, potencialmente, ninguém mais se não ele presta atenção. É uma vida solitária, a do Sr. Umbrela. Este homem - inteligentíssimo! - é dono de um rigor de

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argumentação invulgar, mas os seus argumentos caem todos ao chão. Quer dizer, não tem ninguém com quem falar. Ninguém apanha os ângulos das suas frases, a poesia que cai dele a conta-gotas, os dias nublados pelo mau humor, porque vocifera contra o sol como se o alimentasse a tempestade. Quando o Sr. Umbrela chove pelo bairro, ninguém sai de casa. Quando argumenta mais alto ainda as pessoas correm para longe, para debaixo de algum abrigo onde já não o ouçam, e os ciclistas viram o rosto para o chão e ("+%1%#$#%&'$28(&+*:$N'$;"D"'$&22&!%J'"$!%.!*$-*#$*$'"4$ +"'(2"D*$F4"$*'$5%D$+"22%(%2I$%!6$#"'#*$J$-%&2:$ - Que deserto. Pensou um dia. O Senhor Umbrela estava por demais farto de andar sozinho pelo mundo. Queria poder chover sobre alguém, encharcá-la de carinho. Foi nesse dia que:

A bicicleta como instrumento de várias funções I – Três rapazes e duas bicicletas vermelhas no cimo de uma rua de inclinação considerável. Preparam-se para descer a rua, um de cada vez, numa das bicicletas vermelhas e à maior velocidade de que são capazes. Estão uns metros antes da rua de inclinação considerável para tomarem balanço. O acto de arrancar necessita de uma preparação mental, todos os rapazes olham uns segundos (%2%$*$("2-42'*$%!6$%*$,.%1$+%$24%$+"$&.-1&.%)9*$-*.'&+"rável. Daquela perspectiva, o desenvolver da rua representa a expectativa que cada um tem no acto de a descer na bicicleta vermelha à maior velocidade que é capaz. É nesse momento de preparação que os rapazes acumulam coragem, para esta ser superior ao medo. Quando a coragem é superior ao medo os rapazes cometem loucuras. Uma grande quantidade de medo torna qualquer rapaz menor. Uma expectativa boa faz aumentar a coragem. O primeiro rapaz parte, pedala, pedala com mais força, quando começa a descer deixa de pedalar. Atingiu a velocidade que o deixou extasiado. O segundo rapaz parte de forma semelhante, pedala, deixa de pedalar, chega ao ,#$"#$<2%.+"$".!4'&%'#*:$E$!"2-"&2*$2%(%D/$B8$-*#$%$0&cicleta vermelha do primeiro, demora mais na preparação, (%2!"$-*#$*$#%&'$F4"$(*+"/$.9*$F4"2$,-%2$%F46#$+*'$*4tros dois rapazes, deixa de pedalar, vai a uma velocidade F4"$(%2"-"$'4("2&*2$7$+*'$*4!2*'/$-@"<%$%*$,#$52".6!&-*:$ Os três rapazes em conjunto, extasiados, felizes, gritam coisas de rapaz que comete loucuras. P<*2%/$.*$,#$+%$24%$+"$&.-1&.%)9*$-*.'&+"28;"1/$&#(2*visam uma pequena rampa, vão apostar nos saltos. Descer

a rua é já pouco para aqueles rapazes. Superaram a prova. Passaram de nível. Para aqueles três rapazes, a bicicleta é um instrumento de fazer adrenalina. II — Um grupo de ciclistas junta-se à noite num largo da cidade. De dia nenhum deles se conhece no fato e gravata que veste. Ali são um grupo. Numa outra altura e ocasião, aquele podia ser um grupo secreto, mas não, naquela noite e naquele largo era um grupo de pessoas com bicicletas. Quem os visse diria exactamente isso: ali está um grupo de pessoas com bicicletas. Vistos de cima, formavam uma pequena multidão com cerca de cinquenta pessoas. Alguns estão ali pela primeira vez. Outros, não estando ali, estariam na solidão, buscam companhia. Vê-se um homem mais introvertido, chega e não procura de imediato ninguém. Rapidamente alguém o integra num círculo. Conversam e trocam impressões sobre aquela extensão de corpo que é a bicicleta, ou sobre outras matérias, não ouvimos o que dizem. Naquela noite e naquele largo, a bicicleta é um instrumento de socializar, uma autêntica rede social. III — Ainda na mesma noite e no mesmo grupo. A atenção está agora nas bicicletas. São variadas, de vários e diferentes feitios. Cada uma daquelas bicicletas é uma só. Cada um daqueles ciclistas é igualmente único. Nota-se que a estética é importante, têm cores diferentes, apetrechos. Uma delas tem um sistema sonoro, espalha música. Outra é capaz de levar carga. Existem algumas mais

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desportivas, enquanto outras são bichos urbanos. Existe, porém, uma que se destaca, é mais alta, como se tivesse dois andares. Percebe-se agora que tem dois corpos, um por cima do outro, ligados a duas rodas e aos restantes componentes. A diferença anatómica está nos dois corpos sobrepostos. Aquele ciclista, dono da bicicleta de dois andares, está mais próximo do céu que qualquer outro ciclista naquela noite e naquele grupo. Ali, a bicicleta é também um instrumento de manter a originalidade. IV — Recordo-me da primeira vez que pedalei convenientemente. Não me recordo desse momento enquanto pedalo, sentado na antiga bicicleta de cor escura. Não penso nos momentos em que pedalo enquanto pedalo, ou penso que não penso, mas existo. Ambos existimos. Quando estou sentado na bicicleta a pedalar existe apenas um. Eu e a bicicleta de cor escura somos um só, unimo-nos. Ambos existimos em separado mas, naquele acto, fazemos parte do mesmo corpo, para o mesmo movimento. É uma acção simples por esse motivo, por sermos um 'C:$R9*$"?&'!"#$+&,-41+%+"':$P'$+&,-41+%+"'$%!2%(%1@%#$ o movimento. A bicicleta é, para quem se une a ela, um modo despreocupado. Sem limitações. Pedalo para onde quero, vejo o que quero, permaneço onde desejo. Não penso no acto de pedalar, nem no acto de a conduzir. É uma acção natural, como respirar. É uma acção despreocupada. As acções despreocupadas são uma forma de liberdade. É isso. Para mim a bicicleta é um instrumento de alcançar a liberdade.


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Dicas para pedalar à chuva:

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Aceitar que a chuva é húmida e fria. Atravessar pingas é uma experiência que pode tornar-se agreste mas recompensadora.

Escolher vestuário interior que não esfrie quando molhado, por exemplo lã ou poliamide.

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Usar casaco impermeável com aberturas nas costas e nas axilas.

Desaconselham-se conjuntos de calças e casaco impermeáveis assim como galochas: fazem calor, Usar ténis, sapatos ou dificultam a pedalada e criam uma logísbotas impermeáveis, luvas tica mais complicada (vestir, despir, e e levar uma muda de roupa, secar o equipamento molhado). uma t-shirt extra, meias, calças e toalha. Analisar as Cobrir o selim com previsões de uma capa ou saco Para evitar forma a escolher de plástico e retirar o suor, pedalar a melhor altura a cada nova pedacom mais calma. para sair. lada de forma a não molhar o rabo. O uso do pára-lamas Mais cromice molhada: S$T;&!%2$C1"*$.%$"'!2%+%$*4$(*)%'$#41!&-*2"' ajuda a reduzir o encharque S Tapar a zona frontal das pernas S Baixar a pressão dos pneus para ter mais aderência corporal e as manchas Consultores: Duarte Nuno, S Usar óculos para que as gotas não magoem as pálpebras S Travão de pastilha funciona melhor com chuva Filipe Correia e Ricardo Cruz na parte traseira. www.match-attack.com




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Linda Martini: A turbulência com que se fazem canções Há dez anos que nos dão rock, há dez anos que nos espantam com a força e entrega que têm em cada concerto. Este ano, comemoram a data redonda com álbum novo, "Turbo Lento", que reflecte o equilíbrio caprichoso de um disco que entrelaça rock duro, rápido e vigoroso com melodias feitas para sonhar. Hélio Morais, o baterista de Linda Martini, falou-nos de música, composição, concertos e, claro, bicicletas. Os Linda Martini continuam em tour para apresentar o novo álbum. É estar atento e segui-los por onde eles andem, dá-se preferência a fãs de pedais.

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Se nunca foram a um concerto de Linda Martini não sabem o que perdem. Não fosse a música razão mais do F4"$'4,-&".!"/$*$#%&'$0*.&!*/$#"'#*/$6$;"2$%$+"+&-%)9*/$ a entrega e o amor que os fãs de Linda Martini esbanjam em cada concerto. A uma hora da abertura das portas, lá estão eles, em grupo, impacientes mas respeitosos, a <4%2+%2$*'$14<%2"'$+%'$,1%'$+%$52".!":$R*'$-*.-"2!*'$+"$ Linda Martini há gente de todas as idades, há gerações que convivem e se organizam metricamente pela sala de concertos, mas na frente, mesmo junto ao palco estão sempre enormes grupos de adolescentes. “É estranho quando lhes perguntas o ano em que nasceram. Isso é "'!2%.@*:$N'$;"D"'$+8'$(*2$!&/$!".'$%1&$4#%$("''*%$7$!4%$ frente que é de, sei lá, 96, é muito estranho. Em 96 já tocávamos nós juntos! Eu e o André tocamos na mesma banda sem parar desde 98, portanto já passaram 15 anos, e nós temos fãs de 15 anos. Mas é bom, porque também, na verdade quem renova, quem passa a palavra da banda para outras gerações são os mais novos, não é?”, diz-nos Hélio Morais. É também desta maneira que eles, os mais novos, vão conhecendo bandas que são uma referência (%2%$*'$U&.+%$V%2!&.&:$WX$,?"/$%!6$(*2F4"$*$.*''*$'*#$ não é propriamente da moda, tem muito dos anos 90 e da cena punk hardcore. É engraçado perceber que pessoas que se calhar nunca ouviram isso na vida, esse tipo de som, nunca ouviram as nossas referências que gostam da nossa música.” Esta base de fãs inabalável, no entanto, requer muita dedicação também da parte da banda e eles tentam, ao máximo, chegar a todos os que os ouvem, “o veículo mais fácil para nós é o Facebook. Antigamente, tínhamos um fórum que era um fórum de fãs e nós fazíamos questão de interagir bastante com as pessoas que faziam parte desse fórum. Mas continuamos a fazer isso, respondemos sempre que podemos. Começa %$,-%2$#%&'$-*#(1&-%+*/$6$4#$5%-!*/$#%'$'"#(2"$F4"$ podemos respondemos às pessoas e interagimos com elas. É importante. Tu, na verdade, não fazes música para as pessoas mas são essas pessoas que te alimentam e permitem continuar a fazer música, portanto tens de ter atenção não podes descurar quem te alimenta e, então, claro que temos esse cuidado sempre.” Esta dedicação é visível quando estão em palco, os Linda Martini interagem e tratam todos por tu. Apesar disso, e de funcionarem tão bem ao vivo, ainda não há discos gravados ao vivo. Hélio recorda que o mais próximo que estiveram foi no disco "Intervalo", “foi uma proposta da Optimus. Na altura, gravámos um disco em directo "$,D"#*'$4#$(%''%!"#(*/$%'$(2&#"&2%'$YZ$("''*%'$%$ responder tinham direito a ir ao estúdio. Nós gravámos

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no Namuche, gravámos em directo com o público e o público também cantou connosco e foi uma espécie de ao vivo mas não foi mesmo um concerto grande ao vivo, foi o mais parecido. Não é nada que não tenhamos pensado, não surgiu ainda uma oportunidade de fazer uma coisa assim, se calhar”. O nome do álbum, "Turbo Lento", foi sugerido por Pedro Geraldes, “ele tinha um livrinho com nomes e disparou 'Turbo Lento' e, pronto, nós gostámos e, na altura, nem sequer sabíamos se era de turbulência ou se eram duas palavras separadas. Depois começámos a olhar para o disco, para as músicas que tínhamos e vimos que tínhamos momentos muito rock que seriam o turbo e que tinha momentos mais lentos e fomos de encontro ao nome. Por outro lado, também a parte fonética de turbo lento, de turbulência, também faz sentido porque somos quatro, o nosso processo de composição é sempre complicado porque somos uma banda em que toda a gente opina, toda a gente compõe, as coisas são feitas na sala de ensaio, então é mais complicado chegar a um consenso e daí ser mais turbulento não é?” Para apresentação +"$[\420*$U".!*[$,D"2%#$+*&'$-*.-"2!*'/$*$(2&#"&2*$.*$ Porto “correu muito bem. A Cláudia fazia anos nesse dia e mal entrámos em palco, o público cantou-lhe os parabéns, então quebrou logo ali o gelo e o concerto foi todo muito intenso”, explica-nos Hélio. O segundo, em Lisboa, não fugiu à regra, “já vínhamos contentes e #%&'$-*.,%.!"'/$*$F4"$5"D$-*#$F4"$*$-*.-"2!*$+"$U&'0*%$ corresse muito bem”. Quando falamos da recepção ao disco, as boas notícias continuam: “é óptimo, o disco entrou para número dois de vendas, o que é estranho, uma banda de rock tão barulhenta, não é? Superou as expectativas para já. Nós também nunca temos grandes expectativas, porque não gostamos depois de levar um tombo grande, mas o mais importante é gostarmos do disco e depois disso estar feito, é importante que as pessoas também gostem e isso tem acontecido, então, está a correr muito bem”, refere. Em dez anos e, apesar de quase todos os elementos da banda terem projectos paralelos, os Linda Martini ensaiam todas as semanas. Hélio conta que “quase todas as semanas estamos juntos e mesmo que não ensaiemos, o mais provável é estarmos juntos. Ensaiamos sempre. Agora, nesta fase, estamos a ensaiar coisas do disco novo mas daqui a uns três meses, já estamos a fazer coisas novas. Aliás, já temos algumas coisas que estamos a começar a trabalhar, mas também é sempre assim, como é tão lento, nós começamos sempre muito cedo, só que depois só assumimos, à séria, muito mais

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perto da data que queremos editá-lo em disco. Então aí B8$,-%$#4&!*$#%&'$%("2!%+*$"$B8$.*'$%(1&-%#*'$#%&']:$ Os Linda Martini são os seus próprios produtores, para "'!O+&*$'C$;9*$F4%.+*$B8$"'!8$!4+*$+",.&+*/$'C$+"(*&'$ de muita maceração, “infelizmente os tempos também já não são os de antigamente. Já não podes estar um mês a compor e a gravar, não é? Compomos tudo, há depois detalhes de produção que depois acertamos no estúdio, mas já levamos as músicas feitas, até porque nós gostamos sempre de gravar em take directo, a base, pelo menos. O "Casa Ocupada" foi todo gravado em take directo e depois gravámos a voz e um apontamento ou outro de guitarra. Este gravámos tudo em take directo também, só que depois só deixámos a bateria e o baixo, e as guitarras regravámos todas.” E, passado dez anos o som de Linda Martini é sempre diferente? “Sim, muito mesmo. Aliás, de ano para ano, nós sentimos e, de disco para disco, vais aprendendo coisas, depois todos temos outras bandas. O André, acho que é o único que não tem tido outras coisas, mas todos os outros têm tido outras bandas e isso também faz evoluir. Acabamos por ter mais valias e estamos habituados a tocar outro tipo de coisas com outras pessoas e acabamos por conseguir incorporar essas coisas depois também em Linda Martini e, sim, claramente estamos a milhas. O que não quer +&D"2$F4"$,F4"$#%&'$58-&1$5%D"2$+&'-*'/$'"$%.!&<%#".!"$ havia menos pressão porque era o primeiro disco e não tínhamos prazos, não tínhamos nada, a nossa agilidade técnica também não era a mesma, então havia alguma +&,-41+%+"$."''"$'".!&+*:$^*B"$"#$+&%/$%&.+%$F4"$ estejamos muito melhores músicos também somos mais exigentes, então isso acaba por não facilitar. _4%.!*$#%&'$<%.@%'/$#%&'$"?&<".!"$,-%'/$".!9*$%-%0%'$ (*2$!"2$*$#"'#*$<2%4$+"$+&,-41+%+"]: Há cerca de um ano colaboraram com Rui Carvalho, Filho da Mãe, num vinil a meias. O processo não foi fácil: “não nos é fácil esse tipo de experiência porque como nós compomos os quatro na sala de ensaios e é um processo sempre muito moroso, essa foi a primeira vez que nos vimos numa situação semelhante a compor em estúdio com o Rui. A coisa não correu de uma forma A4&+%$(*2F4"$+"$2"(".!"$"'!%#*'$%1&$-*#$4#$"1"#".!*$ estranho e, para nós, não é fácil. Talvez agora numa segunda vez que façamos isso com alguém, seja mais 58-&1$"$%'$-*&'%'$'"B%#$#%&'$A4&+%']:$`&-%#*'$7$"'("2%$ de novidades. A relação com a bicicleta começa com o André, explica-nos Hélio, ele próprio utilizador assíduo. “De Linda Martini, quem começou primeiro a andar de bicicleta foi

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o André, o André montou duas bicicletas com o Sota, na Roda Gira e havia também esta relação com o Sota já desde os tempos do hardcore. E depois de quebrado o mito de que não é possível andar de bicicleta em Lisboa, porque é tudo a subir e a descer, tu dás por ti e, de facto, fazes a tua vida toda assim. Há muitas subidas, sim, mas também há muitas descidas, portanto acabas por compensar. Eu acho que o problema é quando começas a andar de bicicleta numa cidade como Lisboa, achas que tens de subir tudo de bicicleta e não tens. Qual é a diferença entre eu chegar ali àquela rua e sair da bicicleta e levar a bicicleta à mão? Vai dar ao mesmo. Só que uma pessoa quando se agarra a uma bicicleta mete na cabeça que tem de chegar a pedalar a todo o lado. E não tem que ser assim. Dá muito jeito, Lisboa tem bastante trânsito, então acaba por ser muito prático.” Hélio refere, no entanto, que falta ainda muita sensibilização, sensibilização por parte dos automobilistas que já estão “um bocadinho diferentes, porque nós também. Eu acho que nós tínhamos muito receio quando andávamos de bicicleta. Andávamos demasiado encostados ao passeio, com receio, e tu deves andar o mais à direita possível mas deves zelar pela tua segurança e a verdade é que se tu fores demasiado encostado ao passeio basta um toquezinho e não tens escapatória. Vais ganhando truques, não é o desejável mas vais arranjando artimanhas para te safar. Com o tempo, acho que vai mudando. Com o tempo, se isto não for uma moda passageira do pessoal andar de bicicleta, eu acho que a coisa há-de implantar-se a sério. Deixa lá ver.” E há bons indícios de mudança, para começar a nova lei que entra em vigor em Janeiro e que obriga os condutores a guardarem 1.5 m de distância quando ultrapassam um ciclista, mas é preciso que essa informação seja interiorizada pelos condutores. Hélio conta-nos: “apresentei uma queixa na polícia recentemente contra um condutor da Câmara por isso mesmo, que me abalroou propositadamente. Fui parar à faixa do bus. Por burrice, porque não conhece o código, porque achava que eu tinha de ir na faixa do bus quando não sabe que as bicicletas não podem andar nessa faixa. E então ainda há muita mentalidadezinha a mudar”, mas “a verdade é que a cidade também não está construída para andar de bicicletas e daí a necessidade de legislação de tráfego para que os condutores respeitem as bicicletas. Não é fácil, mas a coisa faz-se. É andar com cuidado também, com muito cuidado. Logo na primeira semana mandei um espalho, mas também mandei esse espalho e aprendi a lição, aprendes a conhecer melhor os teus caminhos”.


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T E X TO E FOTO G R A F I A : J OÃO B E N T E S

A capa é cor de laranja. Podia ter sido feito como manual escolar dos anos 40, um compêndio, um conjunto de textos que oferece tanto devaneios quanto dicas ao ciclista, seja ele iniciante ou veterano da licra: "A Gloriosa Bicicleta - Compêndio de Costumes, Emoções e Desvarios em Duas Rodas" está nas livrarias do país.


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"Hoje já não consigo fazer essa separação entre BTT ou urbana", diz Pedro e explica: "Para mim, andar de bicicleta é andar de bicicleta". Tem uma colecção de quatro, uma de estrada, uma roda livre de carreto único e duas de montanha. Acrescenta ainda: "Ando de bicicleta porque me dá prazer, não ando para contar quilómetros, não ando para ir para o trabalho. Vou de bicicleta porque me dá prazer pedalar". P#0*'$%,2#%#$F4"$(%2%$"'-2";"2$4#$1&;2*$+"'!"'$6$ preciso efectivamente andar de bicicleta. E já depois da apresentação do livro em Lisboa e no Porto, nota-se o carinho e apoio por parte dos que pedalam, diz Laura que "as pessoas sentiam já a necessidade de ter um livro deste género". Há ainda notas e elogios sobre a linguagem utilizada e há, obviamente "quem não se reveja em algumas partes do livro", o que para Laura é saudável ao debate. Acrescenta ainda, entre risos, que "há sempre coisas que faltam dizer ou escrever, mas o que falta ,-%28$(%2%$*$;*14#"$+*&'[: Aceitando este como um marco para a cultura urbana -&-18;"1$"$%-"2-%$+"$4#$54!42*$-&-18;"1/$="+2*$%,2#%$F4"$ é "um defensor e não o único de que esta obsessão de fazer ciclovias não faz sentido, tem custos elevados e, por vezes, são mal feitas. Sou adepto de dar a entender às pessoas que é possível andar de bicicleta, mostrar-lhes que é seguro. Tentar construir uma massa de ciclistas na estrada para que os automobilistas sejam obrigados a #4+%2$+"$%!&!4+"$"$!4+*$,-%28$#%&'$58-&1:$R9*$%-@*$F4"$ o caminho seja só fazer ciclovias. Passar a mensagem sim. Sinto que o livro é uma das formas, a Revista B é outra". Laura defende que já existe mais consciência por parte dos automobilistas mas que "há muitas vezes ainda um ódio prestes a explodir". Pedro acrescenta: "isto tem a ver ainda com uma questão cultural de como as pessoas encaram as bicicletas. Um exemplo: há uns dias li um post na internet de um indivíduo que defendia que deveria haver um limite horário para percorrer a marginal de Cascais de bicicleta, uma vez que os engarrafamentos de ,#$+"$!%2+"$.%$#%2<&.%1$!&.@%#$*2&<"#$.*$5%-!*$+%'$0&-&cletas andarem devagar." Gargalhada geral e de regresso à "Gloriosa Bicicleta", Laura diz que "é um livro que todos podem ler, quer quem começou a pedalar agora, quem já pedala há 20 anos ou quem não pedala de todo. Fala de -*&'%'$'&#(1"'$-*#*$%$%,.%)9*$+*$'"1&#/$(*2$"?"#(1*/$ ou o que se deve comer quando se pedala. Há espaço para regras de trânsito, como lidar com taxistas, colinas e buracos. Há brincadeiras com a licra que quando vão longe demais são censuradas pelo Pedro". ="+2*$%(2"''%J'"$%$B4'!&,-%2$F4"$[%$1&-2%$6$#%&'$ confortável quando se fazem quilómetros e mais fácil +"$%224#%2$.*'$%15*2<"'[$#%'$6$U%42%$F4"#$,-%$-*#$%$ última palavra: "Está bem, mas o que eu não entendo é a malta que vai andar de bicicleta ao Domingo de manhã +"$1&-2%$(%2%$%$-&-1*;&%[:$b"$1&-2%$*4$<%.<%$".,%+%$.%'$ pernas ele está aí nas livrarias.

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SPRINT

1.Qual é a vossa cidade ciclável de eleição? PEDRO: Estocolmo, na Suécia, LAURA: Lisboa, em Portugal e Montreal, no Canadá. 2.Qual é o vosso herói das duas rodas? LAURA: Rui Costa. PEDRO: Um amolador. 3.Qual é a bicicleta mais bonita que já vos passou à frente? LAURA: Pashley Guv'nor. PEDRO: Em aço, estrada, vintage. Cor: laranja. 4.Como vêem a bicicleta em 2025? PEDRO: Tantas mais pessoas a andar de bicicleta que o assunto vai ser banal. LAURA: "As cidades do futuro não vão existir sem bicicletas."

A “Gloriosa Bicicleta” é de leitura fácil e rápida, não há muito que digerir. É um dos livros indicados para os mais tímidos a iniciar a sua ciclo-vida, um objecto de conforto para os que se sentem mais sozinhos nessa vontade de pedalar a cidade. Com uma razoável abordagem histórica da bicicleta no mundo e em Portugal assim como vocabulário e conselhos práticos para pedalar na cidade é uma boa introdução e incentivo, quer para semear vontade de experimentar a bicicleta na urbe, quer para abraçar os que já se converteram à ideia de utilizar a bicicleta como ferramenta urbana. Funciona, em relação a esta informação histórica e de conceitos básicos, como uma reunião em papel português do que há disperso noutras publicações e na internet podendo até considerar-se uma extensão retórica das mesmas. Há ainda lugar para a descrição e definição de alguns dos ciclo-preconceitos: “o hipster da roda fixa”, “o salteador urbano” ou “o profissional” num tom descontraído e brincalhão, muitas vezes, quase forçado. Chega-se a apurar quem é ou não ciclista ou até quem não passa de um “pedalador circunstancial”, pretendendo assinalar uma diferença dos que têm uma relação mais real com a bicicleta. Neste livro existe humor, um humor passivo que aponta para as piadas sexuais ligeiras ou o gozo da vestimenta ciclista já ouvido e lido. Talvez possa dividir-se o livro em duas vertentes, tendo em conta os seus leitores: “as prováveis novidades e conselhos úteis” para os iniciantes e uma “confirmação de referências” aos que já montam selins desde há muito. É, certamente, um objecto que há-de pôr mais portugueses em bicicletas, a querer saber mais sobre as mesmas e é esse o seu valor insubstituível. Parabéns à Laura, ao Pedro e à Texto Editores - Leya.

ENTRE PÁGINAS

"A Gloriosa Bicicleta" é o nome do livro que se desdobra em compêndio de costumes, emoções e desvarios em duas rodas. Os autores são Laura Alves e Pedro Carvalho, dois que cruzaram caminho na Revista B e foram +"'%,%+*'$("1%$T+&!*2%$U"a%$%$"'-2";"2$4#$1&;2*: b"'%,*$%-"&!"/$*'$+*&'$B4.!%#$5"22%#".!%'$(%2%$#*.!%2$ a gloriosa bicicleta. "A Laura escreveu mais do que eu", confessa Pedro e acrescenta: "eu ajudei mais na parte técnica no que respeita às bicicletas". Entre risos, Laura esclarece que o processo criativo passou por pensar a estrutura e o "tom" do livro em conjunto e que foi o trabalho de um Verão. Neste processo, Pedro refere ainda a &#(*2!c.-&%$+%$(%2!"$<28,-%$+*$1&;2*$"$U%42%$%-2"'-".!%L$ "Não queríamos que fosse um livro denso de ler e desde *$(2&.-H(&*$F4"$'"$(".'*4$.%$(%2!"$<28,-%$"$+"$&14'!2%)9*$ como uma parte forte do livro". Acerca do título, Laura, que é jornalista, aponta-nos: "o título é sempre uma coisa difícil de encontrar, neste caso, surge de um processo de escrever vários num bloco de notas e 'Gloriosa Bicicleta' pareceu ser interessante" e ter potencial para os dois autores. Acrescenta ainda Laura: "eu queria ter um título composto, uma parte chamativa e depois algo que completasse. É composto por: 'compêndio de costumes, emoções e desvarios', tem um toque de humor, vintage, remete para a ideia de um manual". O livro, que é também manual, contém, para além de uma abordagem histórica, uma parte tutorial onde se exploram diversas dicas aos ciclistas urbanos entre apontamentos em jeito de crítica. Estas dicas "são conceitos gerais que partem de uma experiência de ciclar "#$U&'0*%[/$-*#*$"?(1&-%#:$U%42%$2"%,2#%L$[P$(2&#"&ra parte do livro foca-se numa parte histórica, segue-se uma parte mais emocional e depois o livro foca-se em Portugal, sempre num tom informal mas procurando dar conhecimento de matéria”. Acerca do antepassado ciclista de cada um, Laura diz-nos que cicla desde pequena, conta-nos até que o irmão chumbou de ano por andar de bicicleta uma vez que depois de aprender não se entretinha com outra coisa. "Sempre andei de bicicleta, foi desde os oito anos de idade e foi o meu irmão Pedro que me ensinou a andar". Em Lisboa, Laura começou a andar em 2007. "Tinha um colega fotógrafo que vinha de Algés para o trabalho, na Baixa. Então pensei: se ele vem porque é que eu não hei-de vir? Comprei uma bicicleta na Decathlon, que ainda tenho e comecei a ir para o trabalho de bicicleta." Acrescenta ainda: "Tenho carta, não conduzo nem tenho carro nem nunca conduzi em Lisboa." Para Laura, a bicicleta é um instrumento urbano, é um meio de transporte para se deslocar na cidade mas, diz-nos: "é sobretudo um meio de me deslocar de forma mais feliz". A outra metade da "Gloriosa Bicicleta", Pedro, começou pela bicicleta de todo-o-terreno em 1992, altura em que funda a Bike Magazine Portugal, uma das publicações mais longas da ciclo-história editorial portuguesa.

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Produtos: Bashô Cycling Club É uma oficina artesanal de malas dedicadas à bicicleta. Há mochilas, malas de meter a tira-colo, de levar pendurado à cintura, entre outras. Os tecidos são produzidos em Portugal, cortados à mão e cosidos pela mão da Bashô. Para além disso, o seu desenho vem de uma leitura urbana, da prática de ciclar com bagagem e pretende-se que seja confortável, prático e bonito. Disponível na Velo Culture, Bike Check, Roda Gira, BK, Build My Bike, bike.Pop e através do site. bashocyclingclub.com FOTO G R A F I A : B A S H Ô CYC L I N G C LU B

Le Loup Garou Pensadas para o Inverno e inspiradas nas noites a cortar o ar frio da cidade de bicicleta, as golas Le Loup Garou são feitas à mão numa velha máquina Singer, com materiais confortáveis e a pensar na sensação de aconchego, mas sem, no entanto, asfixiar ou apertar o pescoço. O sistema de fecho da gola permite que esta fique numa posição rígida na zona frontal, o que proporciona um corta-vento ideal para quem pedala, sem impedir a respiração. Le Loup Garou é também a história de Denis, um lobo curioso que se transforma em homem nas noites de lua cheia, pela mão de de Boris Vian, e que vai conhecer a cidade e os homens de bicicleta. Este é o pretexto para começar esta aventura. Disponível na Roda Gira. www.gardeloup.com FOTO G R A F I A : V E R A M A R M E LO

À Capucha! É uma marca independente que cria objectos de design contemporâneo inspirados na cultura tradicional portuguesa. A primeira colecção À Capucha! é uma série de seis capuchas originais que são feitas integralmente à mão, em burel (100% lã), são quentes, impermeáveis e altamente resistentes. A forma e a paleta de cores foram cuidadosamente redesenhadas para se tornarem mais funcionais e adaptadas ao uso contemporâneo. Cortadas, cosidas e bordadas com a mesma arte de há centenas de anos, as capuchas vieram das pequenas aldeias portuguesas para o mundo. acapucha.pt FOTO G R A F I A : A LO Í S O B R I TO

Jornal

Pedal

#19


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#19

Festa Pedal! Numa noite de números pares, o Jornal Pedal apresenta o Pedal Duplo, numa festa de duplas no Teatro do Bairro, em Lisboa, a partir das 23h30: música e bicicletas, concertos e dj sets. Concertos de PISTA, o primeiro power-duo de pedalcore - música para chegar mais longe - composto por Cláudio Fernandes (guitarra) e Bruno Afonso (bateria) e de QUELLE DEAD GAZELLE, também a dois: Miguel Abelaira (bateria) e Pedro Ferreira (guitarra), rock puro e duro com um pouco de tudo à mistura. A festa continua com mais duas duplas em formato dj set: BANDIDO$, detentores de um gosto musical destemido que ultrapassa limites e de uma capacidade de esquizo-dançar e de esquizo-fazer-dançar, dentro e fora da cabine e o duo YOUAMP WINTUBE, responsável pela desconstrução da complexidade do devir musical através de um minimalismo assombroso e que resulta, invariavelmente, numa pintura de matizes invulgar e assaz. E como as bicicletas são as principais homenageadas, estão convocadas e convidadas a entrar na festa, havendo um estacionamento especial no interior do Teatro do Bairro. Para além de música, há ainda surpresas e, antes disto tudo, há alleycat. É aparecer de pés em pedais às 19h00 junto ao Teatro do Bairro. Os prémios e presentes oferecidos durante a festa são ofertas Bang Bang Tattoos, Bashô Cycling Club, Bike Check, bike.POP, Bina Clínica, BK, Brompton, Buid My Bike, Camisola Amarela, Fred Perry, FPCUB - Federação Portuguesa de Cicloturismo e Utilizadores de Bicicleta, Editorial Caminho, Grémio, Happy Bicycles, Le Loup Garou, Lucky Basterds, Mega Aventura, Mercado 560, Party Glasses, RCICLA, Roda Gira, Slow Fast Cycles, Texto Editores - Leya, UVP Federação Portuguesa de Ciclismo e Velocité Café. Bilhetes: 4€: Alleycat (seguro de acidentes pessoais incluído); 5€: Festa ou 8€: Festa+Alleycat. teatrodobairro.org

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